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<p>Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins</p><p>1ª CÂMARA CÍVEL</p><p>APELAÇÃO CÍVEL Nº 0006169-20.2016.827.0000.</p><p>ORIGEM: 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE GURUPI.</p><p>REFERÊNCIA: AÇÃO INDENIZATÓRIA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER Nº</p><p>0000776-33.2015.827.2722.</p><p>APELANTE: DELFINO BRITO AGUIAR NETO.</p><p>APELADO: EDIVALDO CERQUEIRA DE AGUIAR.</p><p>RELATORA: JUÍZA CÉLIA REGINA REGIS.</p><p>EMENTA</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÕES. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.</p><p>ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO NEGÓCIO. IMÓVEL SUPOSTAMENTE PERTENCENTE A</p><p>PROGRAMA DE REFORMA AGRÁRIA. NÃO COMPROVAÇÃO. VEDAÇÃO DE</p><p>COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO. VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM. 1- Não</p><p>tendo o Apelante comprovado que o imóvel objeto do contrato de</p><p>compra e venda, à época da alienação, pertencia a programa de</p><p>Reforma Agrária, não há que se falar em nulidade do negócio</p><p>jurídico. 2- Tendo o comprador de imóvel conhecimento de eventual</p><p>vedação legal para realização do contrato de compra e venda, em</p><p>virtude de o imóvel supostamente pertencer a programa de Reforma</p><p>Agrária, não pode, após o pacto, furtar-se ao cumprimento do</p><p>obrigado ao argumento de nulidade do negócio jurídico, pois tal</p><p>atitude caracteriza tentativa de beneficiar-se da própria torpeza,</p><p>o que é vedado pelo ordenamento e jurisprudência pátria. 3-</p><p>Apelação conhecida e não provida.</p><p>ACÓRDÃO</p><p>Sob a Presidência da Excelentíssima Senhora Desembargadora</p><p>JACQUELINE ADORNO DE LA CRUZ BARBOSA, a 1ª Turma da 1ª Câmara</p><p>Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins, por</p><p>unanimidade de votos, NEGOU PROVIMENTO ao recurso, nos termos do</p><p>voto da Relatora Juíza CÉLIA REGINA REGIS.</p><p>Votaram acompanhando o voto da Relatora os Desembargadores LUIZ</p><p>APARECIDO GADOTTI e JACQUELINE ADORNO DE LA CRUZ BARBOSA.</p><p>Compareceu representando a Procuradoria Geral de Justiça, o Exmo.</p><p>Sr. Dr. JOSÉ DEMÓSTENES DE ABREU.</p><p>Julgado da 20ª Sessão Ordinária Judicial, realizada no dia</p><p>22.06.2016.</p><p>Palmas-TO, 08 de julho de 2016.</p><p>Juíza CÉLIA REGINA REGIS</p><p>RELATORA</p><p>ESTADO DO TOCANTINS</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GAB. DES. AMADO CILTON</p><p>APELAÇÃO CÍVEL Nº 0006169-20.2016.827.0000</p><p>ORIGEM: 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE GURUPI</p><p>REFERÊNCIA: AÇÃO INDENIZATÓRIA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER Nº</p><p>0000776-33.2015.827.2722</p><p>APELANTE: DELFINO BRITO AGUIAR NETO</p><p>APELADO: EDIVALDO CERQUEIRA DE AGUIAR</p><p>RELATORA: JUÍZA CÉLIA REGINA REGIS</p><p>RELATÓRIO</p><p>Trata-se de Apelação Cível interposta por DELFINO BRITO AGUIAR</p><p>NETO, inconformado com a sentença1 proferida em ação indenizatória com pedido de</p><p>obrigação de fazer ajuizada em seu desfavor por EDIVALDO CERQUEIRA DE</p><p>AGUIAR, a qual julgou parcialmente procedente a demanda, determinando ao ora</p><p>Apelante o cumprimento da “cláusula quarta” do pacto firmado entre as partes, no</p><p>prazo de 30 dias, sob pena de incidência de multa diária no valor de R$ 50,00</p><p>(cinquenta reais) por dia de atraso, até o limite de 120 (cento e vinte) dias, afastando o</p><p>pedido de condenação ao pagamento de indenização por danos morais.</p><p>Em suas razões recursais2, sustenta, em suma, a nulidade do negócio</p><p>jurídico firmado entre as partes, tendo em vista a proibição de alienar imóvel</p><p>pertencente a programa de Reforma Agrária, afirmando que a sentença teria se</p><p>equivocado ao entender que o ora Apelante não comprovou que o referido bem se</p><p>amoldaria à hipótese legal de nulidade do contrato.</p><p>Foram apresentadas as contrarrazões3 ao presente recurso pugnando</p><p>pelo não provimento da apelação.</p><p>É o relatório.</p><p>VOTO</p><p>Preenchidos os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade</p><p>1</p><p>Evento 27, autos de origem</p><p>2</p><p>Evento 41, autos de origem.</p><p>3</p><p>Evento 48, autos de origem.</p><p>ESTADO DO TOCANTINS</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GAB. DES. AMADO CILTON</p><p>recursal, conheço da apelação em apreço.</p><p>Conforme relatado, busca o Apelante obter a reforma da sentença</p><p>objurgada, a fim de obter o julgamento improcedente dos pedidos Autorais formulados</p><p>em seu desfavor, sob o argumento de que o negócio jurídico firmado entre as partes</p><p>seria nulo, porquanto firmado em ofensa à legislação, quanto ao seu objeto.</p><p>Isso porque, segundo alega o Apelante, o imóvel objeto do contrato de</p><p>compra e venda firmado entre as partes ora litigantes pertence a Programa de Reforma</p><p>Agrária, e, por essa razão, seria vedada sua alienação, constituindo tal prática,</p><p>inclusive, conduta criminosa.</p><p>Todavia, como bem explanado pelo julgador a quo, não houve</p><p>comprovação alguma quanto à alegação de o imóvel objeto do pacto pertencer a</p><p>Programa de Reforma Agrária, não sendo tal situação presumível diante dos elementos</p><p>acostados aos autos.</p><p>Ora, as únicas provas trazidas aos autos foram colacionadas pelo</p><p>Apelado, e apenas dizem respeito ao referido contrato de compromisso de compra e</p><p>venda de imóvel rural denominado por chácara, além de outros que atestariam a dívida</p><p>decorrente do PRONAF, assumida pelo Apelante quando da aquisição do imóvel.</p><p>Não foi juntado aos autos de origem qualquer título de domínio da terra ou</p><p>certidão cartorária que evidenciasse a origem do imóvel como sendo próprio de</p><p>programa de Reforma Agrária. Não obstante, o simples fato de constar no contrato que</p><p>o imóvel em comento está situado em Projeto de Assentamento, por si só, não</p><p>comprova que, quando da efetivação do contrato, este pertencia a Programa de</p><p>Reforma Agrária.</p><p>Com efeito, a Constituição Federal/1988, em seu art. 189, prevê que “os</p><p>beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de</p><p>domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos”. Logo,</p><p>apenas se houvesse prova contumaz de que não se passaram mais de 10 anos entre a</p><p>entrega do título de domínio do imóvel pelo Programa de Reforma Agrária e sua efetiva</p><p>alienação pelo contrato discutido nos autos de origem seria possível reconhecer a</p><p>alegada nulidade do negócio jurídico.</p><p>ESTADO DO TOCANTINS</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GAB. DES. AMADO CILTON</p><p>Logo, conforme sabiamente verificado pelo julgador singular, o ora</p><p>Apelante não logrou comprovar que o negócio jurídico firmado com o Apelado padecia</p><p>de qualquer mácula, razão pela qual se mostra válido e, portanto, passível de ter</p><p>concretizados seus efeitos.</p><p>E mais, ainda que existisse comprovação de que o imóvel objeto do</p><p>contrato de compra e venda firmado entre os litigantes era inalienável à época do</p><p>pacto, entendo que não poderia eximir-se o Apelante de cumprir com a cláusula</p><p>contratual discutida na origem, porquanto, se conhecia a vedação legal para proceder</p><p>com o contrato, e, mesmo assim, o assinou, certamente não pode, agora, valer-se de</p><p>sua própria torpeza para beneficiar-se.</p><p>É inconcebível que o contratante, mesmo ciente da impossibilidade do</p><p>negócio jurídico, assuma a obrigação e, posteriormente tente furtar-se ao seu</p><p>cumprimento alegando justamente tal impossibilidade. Tal comportamento é repudiado</p><p>pelo ordenamento e jurisprudência, conforme a teoria venire factum proprium.</p><p>A propósito:</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. INSTRUMENTO</p><p>PARTICULAR DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. DEVEDOR</p><p>SOLIDÁRIO.LEGITIMIDADE PASSIVA PARA FIGURAR NA</p><p>EXECUÇÃO. VERIFICAÇÃO. NULIDADE DO TÍTULO. NÃO</p><p>OCORRÊNCIA. INSTRUMENTO ASSINADO POR APENAS UM DOS</p><p>SÓCIOS DA EMPRESA. OFENSA AO CONTRATO</p><p>SOCIAL.IRRELEVÂNCIA PERANTE TERCEIROS DE BOA-FÉ. PARTE</p><p>QUE NÃO PODE BENEFICIAR- SE DA PRÓPRIA TORPEZA.</p><p>EXIGIBILIDADE DO TÍTULO. RECONHECIMENTO. 1. Possui</p><p>legitimidade para responder por cobrança de débito não pago o</p><p>representante legal de empresa que 2firma instrumento particular de</p><p>confissão de dívida, não só na qualidade de representante legal da</p><p>pessoa jurídica, mas também na qualidade de devedor solidário. 2. É</p><p>vedado à parte alegar a nulidade de título executivo quando o</p><p>suposto vício decorre de sua própria desídia, em razão do princípio</p><p>segundo o qual ninguém pode valer-se da própria torpeza. 3.</p><p>Apelação cível conhecida e</p><p>não provida. (TJPR - 15ª C.Cível - AC -</p><p>1441347-3 - Campo Mourão - Rel.: Luiz Carlos Gabardo - Unânime - - J.</p><p>16.12.2015) (TJ-PR - APL: 14413473 PR 1441347-3 (Acórdão), Relator:</p><p>Luiz Carlos Gabardo, Data de Julgamento: 16/12/2015, 15ª Câmara</p><p>Cível, Data de Publicação: DJ: 1725 22/01/2016)</p><p>Logo, entendo que a sentença é irreparável, porque não houve, de fato,</p><p>comprovação da nulidade do negócio jurídico firmado entre as partes e, ainda que</p><p>ESTADO DO TOCANTINS</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GAB. DES. AMADO CILTON</p><p>houvesse, tal nulidade não eximiria o Apelante do cumprimento da obrigação que</p><p>assumiu ciente do suposto vício.</p><p>Por todo o exposto, CONHEÇO da apelação, pois presentes os</p><p>pressupostos de admissibilidade, e, no mérito, NEGO-LHE PROVIMENTO, mantendo</p><p>incólume a sentença recorrida por seus próprios fundamentos acrescidos dos aqui</p><p>alinhavados.</p><p>É como voto.</p><p>Palmas-TO, 22 de junho de 2016.</p><p>Juíza CÉLIA REGINA REGIS</p><p>Relatora em substituição</p>

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