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<p>UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ</p><p>CENTRO DE HUMANIDADES</p><p>CURSO DE GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA</p><p>THIAGO CAVALCANTE DA SILVA</p><p>A SUPERAÇÃO QUALITATIVA DA RACIONALIDADE TECNOLÓGICA EM</p><p>HERBERT MARCUSE</p><p>FORTALEZA – CEARÁ</p><p>2023</p><p>THIAGO CAVALCANTE DA SILVA</p><p>A SUPERAÇÃO QUALITATIVA DA RACIONALIDADE TECNOLÓGICA EM</p><p>HERBERT MARCUSE</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso</p><p>apresentado ao Curso de Graduação em</p><p>Filosofia do Centro de Humanidades da</p><p>Universidade Estadual do Ceará, como</p><p>requisito parcial para à obtenção do grau</p><p>de Licenciado em Filosofia.</p><p>Orientador: Prof. Dr. Alberto Dias</p><p>Gadanha</p><p>FORTALEZA – CEARÁ</p><p>2023</p><p>Universidade Estadual do Ceará</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação</p><p>Sistema de Bibliotecas</p><p>Silva, Thiago Cavalcante da.</p><p>A superação qualitativa da racionalidade tecnológica em</p><p>Herbert Marcuse [recurso eletrônico] / Thiago Cavalcante da</p><p>Silva. - 2023.</p><p>56 f.</p><p>Trabalho de conclusão de curso (graduação) - Universidade</p><p>Estadual do Ceará, Centro de Humanidades, Curso de Filosofia,</p><p>Fortaleza, 2023.</p><p>Orientação: Prof. Dr. Alberto Dias Gadanha.</p><p>1. Racionalidade Tecnológica. 2. Falsas Necessidades. 3.</p><p>Universo Totalitário . I. Título.</p><p>Gerada automaticamente pelo SidUECE, mediante os dados fornecidos pelo(a)</p><p>THIAGO CAVALCANTE DA SILVA</p><p>A SUPERAÇÃO QUALITATIVA DA RACIONALIDADE TECNOLÓGICA EM</p><p>HERBERT MARCUSE</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso</p><p>apresentado ao Curso de Graduação em</p><p>Filosofia do Centro de Humanidades da</p><p>Universidade Estadual do Ceará, como</p><p>requisito parcial para à obtenção do grau</p><p>de Licenciado em Filosofia.</p><p>Aprovado em: 16 de junho de 2023.</p><p>BANCA EXAMINADORA</p><p>________________________________________________________</p><p>Prof. Dr. Alberto Dias Gadanha (Orientador)</p><p>Universidade Estadual do Ceará – UECE</p><p>__________________________________________________________</p><p>Prof. Dr. John Karley de Sousa Aquino</p><p>Instituto Federal do Ceará – IFCE</p><p>__________________________________________________________</p><p>Prof.ª M.ª Eliana Sales Paiva</p><p>Universidade Estadual do Ceará – UECE</p><p>Stamp</p><p>Stamp</p><p>Stamp</p><p>AGRADECIMENTOS</p><p>As minhas duas mães, que me deram todo o possível, sabedoria e o dom da vida.</p><p>A minha namorada e amiga, Marina Lopes, que me apoia e foi fundamental nos</p><p>aprendizados e companheirismo. Que tenho a alegria de compartilhar a vida.</p><p>Ao Alberto Dias Gadanha, por toda sua amizade e humildade, a que devo muito pelos</p><p>aprendizados acadêmicos e da vida. Que me apresentou o Marcuse e desde então</p><p>transformou minha jornada.</p><p>Ao Camarada John Aquino, por sua paciência, ensinamentos e contribuições.</p><p>A todos do Grupo de Estudos e Pesquisas Atualidade do Pensamento de Herbert</p><p>Marcuse.</p><p>A todos meus amigos da Universidade Estadual do Ceará, que sempre estiveram ao</p><p>meu lado. A Carla Barreto, Felipe Ericles, Joelson Matias, Laiz Fidelis, Percidia</p><p>Holanda, e outros.</p><p>A meus amigos, Humberto Castro, Hyrvine Hudson, Marcela Lopes, Marcos Vitor, e</p><p>tantos outros que estão comigo, vocês são essenciais para minha caminhada.</p><p>“Somente por causa dos que não têm</p><p>esperança é que nos é dada a esperança.”</p><p>(Walter Benjamin)</p><p>RESUMO</p><p>Este trabalho tem como finalidade esclarecer a noção de Racionalidade Tecnológica</p><p>no pensamento de Herbert Marcuse (1898-1979) e suas implicações na sociedade</p><p>capitalista. Temos como referência a principal obra do autor: O Homem</p><p>Unidimensional, do qual fizemos pesquisa bibliográfica como metodologia. Vivemos e</p><p>morremos em um universo com contradições, mas não por uma ditatura explicita, mas</p><p>sim na medida que as alternativas são ditas como não existentes, um outro mundo</p><p>não é possível na lógica dominante, uma ideologia que pertence ao mundo</p><p>estabalecido justamente para a sua reprodução como único modo de vida, no</p><p>pensamento de Herbert Marcuse isso se resume a ser um universo totalitário.</p><p>Segundo o autor, o todo existente se perpetua com uma falsa racionalidade, pois é</p><p>instrumentalizada de modo político para reproduzir o estado de coisas vigentes, e se</p><p>converte em irracionalidade, visto que o “viver bem” não é sua finalidade, mas a</p><p>acumulação capitalista, que acabam por criar falsas necessidades. Por isso a</p><p>necessidade de maiores explicações, uma vez que há a tese a qual a razão deve</p><p>servir para a vida boa. A sociedade existente, a partir de uma lógica marcuseana,</p><p>acaba por reproduzir um modo de vida falso, com toda sua contradição diária e a</p><p>labuta existente, em que tal razão é instrumento para reprodução da sociedade</p><p>estabelecida. Deste modo a importância de investigar como o racional se converte em</p><p>irracional e de que modo corrigir seu fracasso, visto que a arte e a imaginação podem</p><p>cooperar para uma vida melhor, na medida que o bem viver é pré-requisito para a</p><p>existência humana.</p><p>Palavras-chave: Racionalidade Tecnológica; Falsas Necessidades; Universo</p><p>Totalitário.</p><p>ABSTRACT</p><p>This work aims to clarify the notion of Technological Rationality in the thought of</p><p>Herbert Marcuse (1898-1979) and its implications in capitalist society. We have as</p><p>reference the main work of the author: The Unidimensional Man, of which we did a</p><p>bibliographical research as a methodology. We live and die in a universe with</p><p>contradictions, but not because of an explicit dictatorship, but to the extent that the</p><p>alternatives are said to not exist, another world is not possible in the dominant logic,</p><p>an ideology that belongs to the world established precisely for its reproduction as the</p><p>only way of life, in Herbert Marcuse's thinking, this boils down to being a totalitarian</p><p>universe. According to the author, the existing whole is perpetuated with a false</p><p>rationality, as it is politically instrumentalized to reproduce the current state of affairs,</p><p>and becomes irrational, since “living well” is not its purpose, but capitalist accumulation</p><p>, which end up creating false needs. Hence the need for further explanations, since</p><p>there is the thesis that reason must serve for the good life. The existing society, from</p><p>a Marcusean logic, ends up reproducing a false way of life, with all its daily</p><p>contradiction and the existing toil, in which such reason is an instrument for the</p><p>reproduction of the established society. Thus, the importance of investigating how the</p><p>rational becomes irrational and how to correct its failure, since art and imagination can</p><p>cooperate for a better life, as good living is a prerequisite for human existence.</p><p>Keywords: Technological Rationality; False Needs; Totalitarian Universe.</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9</p><p>2 O UNIVERSO DA RACIONALIDADE TECNOLÓGICA ................................... 13</p><p>2.1 As falsas necessidades .................................................................................. 13</p><p>2.2 Um universo totalitário ................................................................................... 16</p><p>2.3 O irracional se tornou justificável a partir da sociedade industrial</p><p>avançada ......................................................................................................... 17</p><p>2.4 Pensamento positivo, análise insuficiente do existente ............................ 19</p><p>3 A RACIONALIDADE SE TORNOU INSTRUMENTAL E ELEMENTO DE</p><p>DOMINAÇÃO PARA A SOCIEDADE CAPITALISTA ..................................... 23</p><p>3.1 A epistemologia da operacionalização da natureza enfraqueceu as</p><p>possibilidades de uma vida feliz, na medida em</p><p>da liberdade são</p><p>enfraquecidos há a necessidade de apresentar o que deveria significar a racionalidade</p><p>enquanto tal, que há a potencialidade de sua capacidade de realmente servir a vida</p><p>boa, e de mostrar para que ela realmente serve. Logo, há a necessidade de, a partir</p><p>de Whitehead, discutir quais valores a racionalidade deve responder, a partir da</p><p>imaginação, e como conquistar o universo da liberdade a partir da filosofia de Herbert</p><p>Marcuse.</p><p>35</p><p>4 A NOÇÃO DE CAUSAS FINAIS E SUA IMPORTÂNCIA PARA A CONSTRUÇÃO</p><p>DE UMA RACIONALIDADE ÉTICA</p><p>A análise acerca da sociedade industrial avançada, a partir de Marcuse,</p><p>estabelece uma linha que se tornou ponto fundamental em nossa discussão, que é o</p><p>racional como promotor da irracionalidade. Verifica-se que a finalidade de uma vida</p><p>boa não é prioridade na sociedade existente, enquanto a acumulação for o objetivo</p><p>social. Para esclarecer melhor, o irracional como forma de vida só é possível quando</p><p>nas bases da ideologia capitalista, a eliminação dos obstáculos naturais ou humanos</p><p>seja fundamental para o progresso do capital, isto é, o acumular se tornou mais</p><p>importante do que garantir necessidades básicas e verdadeiras; comer vestir e morar.</p><p>Desta maneira, a afirmação de Whitehead: “A função da razão é promover</p><p>a arte da vida” (WHITEHEAD, 1988, p. 5) tal ideia pode significar duas coisas, primeiro</p><p>que há uma razão que ‘deve ser’, ou seja, ainda não se concretizou enquanto</p><p>realidade, segundo, que o todo existente está incoerente com o modelo de</p><p>racionalidade mostrado pelo matemático, que o modelo da promoção da vida boa,</p><p>seja finalidade e motivo de sua existência. O conceito escolhido pelo autor é</p><p>totalmente conflitante com a realidade da sociedade existente, que Marcuse apresenta</p><p>em sua obra. Por isso há a possibilidade de indicar um caminho, o que pode ser, na</p><p>medida que a existência não o é.</p><p>É importante ressaltar o significado de arte da vida que Whitehead escreve,</p><p>tal noção está diretamente ligada a segunda tese do autor, o bem viver, deste modo</p><p>a finalidade da razão é necessariamente manter um universo do bem-viver para a</p><p>existência humana. Precisamos a partir da afirmação de Whitehead, que os seres</p><p>vivos de uma forma ou de outra alteram o local em que estão vivendo, é de certo modo</p><p>concebível, mas homens e mulheres o fazem de modo violento, atacam o meio</p><p>ambiente, que é diferente de conviver com a natureza12. Destacamos que após a</p><p>revolução industrial a destruição do meio em que vivemos foi multiplicada, chegando</p><p>a níveis irreversíveis. Segundo o matemático:</p><p>12 Cabe salientar que estamos tomando como pressuposto a analise de Whitehead. Que apresenta a</p><p>convivencia hostil entre humanos e a natureza.</p><p>36</p><p>Os animais superiores perseguem o seu alimento, capturam-no e mastigam-</p><p>no. Agindo dessa maneira, estão transformando o ambiente em seu próprio</p><p>benefício. Alguns animais fazem escavações em busca de alimento, outros</p><p>emboscam suas presas. Naturalmente, todas essas operações se</p><p>enquadram na doutrina comum de adaptação ao meio ambiente, mas elas</p><p>são expressas de forma muito inadequada por essa afirmação, que mascara</p><p>facilmente a realidade dos fatos. As formas mais elevadas de vida estão</p><p>ativamente empenhadas em modificar o seu meio ambiente. No caso da</p><p>espécie humana esse ataque efetivo ao meio ambiente é o fato mais notável</p><p>de sua existência. (WHITEHEAD, 1988, p. 5)</p><p>Fica entendido, a partir do que o matemático nos apresenta, a noção de</p><p>viver e transformar. Na medida em que seres vivos, sejam racionais ou não, eles</p><p>acabam por adaptar o meio em que vivem para preservar a sua espécie. A partir de</p><p>Whitehead, temos com mais clareza acerca da característica humana e sua relação</p><p>com a natureza, a noção de que a humanidade está mais associada à destruição do</p><p>que o oposto, a busca pelo viver bem.</p><p>Desta maneira, o que realmente se apresenta é a forma como nos</p><p>organizamos irracionalmente para conviver com a natureza, por isso a necessidade</p><p>de definir o que deve ser, ou seja, a racionalidade, o que é ela. Pois desde seu</p><p>princípio, e neste ponto que estamos debatendo, seu surgimento significa; a partir de</p><p>como nos organizamos para explorar a natureza, o fazemos de forma irracional.</p><p>Após definirmos a partir de Marcuse, que a racionalidade existente está</p><p>irracional, e mais ainda que as bases que permitem o seu surgimento, e que de certo</p><p>modo há uma forma de desenvolvimento ao longo da história, são os pontos que nos</p><p>levam ao problema de ter uma sociedade com contradições históricas, em que a</p><p>destruição é o preço do progresso, porém, a partir de Whitehead, temos um</p><p>complemento para a análise do projeto de racionalidade.</p><p>Se trata de que há a necessidade de alterar as bases da sociedade</p><p>existente, que é justamente a promoção de mais contradições diárias, mas que</p><p>homens e mulheres em seu convívio social fazem de forma irracional o seu elo com</p><p>natureza, novamente, ao invés de o fazer com a finalidade de uma vida melhor, a</p><p>destruição é o princípio de tudo, se tornando um ataque a natureza. Ou seja, se trata</p><p>de o que fazemos efetivamente é destruir a natureza e o meio em que vivemos, tal</p><p>movimento é a negação da forma racional de viver.</p><p>Mas cabe destacar que racionalidade é diferente de destruição, ou pelo</p><p>menos deveria ser. É a partir da razão que podemos ter um contraponto ao que está</p><p>estabelecido enquanto um convívio irracional com o meio ambiente, a partir de definir</p><p>37</p><p>o que é, ou deveria ser, podemos contrapor ao que realmente acontece desde o</p><p>surgimento e permeia a sociedade industrial avançada, e o faz de maneira mais</p><p>danosa, na medida que a exploração é desenvolvida para mais acumulação e se</p><p>estende para homens e mulheres. Segundo Marcuse:</p><p>Pode até ser justificável, tanto lógica quanto historicamente, definir a Razão</p><p>em termos que incluem escravidão, a Inquisição, o trabalho infantil, campos</p><p>de concentração, câmaras de gás e preparação nuclear. Estas podem muito</p><p>bem ter sido partes integrantes dessa racionalidade que tem governado a</p><p>história registrada da humanidade. Se é assim, a própria ideia de Razão está</p><p>em questão; revela-se como uma parte em vez do todo. Isso não significa que</p><p>a razão abdica sua pretensão de enfrentar a realidade com a verdade sobre</p><p>a realidade. Pelo contrário, quando a teoria marxiana toma forma como uma</p><p>crítica da filosofia de Hegel, ela o faz em nome da Razão. É consonante com</p><p>o esforço mais profundo do pensamento de Hegel se sua própria filosofia é</p><p>“cancelada”, não substituindo da razão por padrões extrarracionais, mas</p><p>conduzindo a razão ela própria a reconhecer o quanto ela ainda é irrazoável,</p><p>cega, vítima de forças não dominadas. A Razão, como o desenvolvimento e</p><p>conhecimento aplicado do homem – como “pensamento livre” – foi</p><p>instrumental para a criação do mundo em que vivemos. Ela também foi</p><p>instrumental para sustentar a injustiça, a fadiga laboral e o sofrimento. Mas a</p><p>Razão, e somente Razão, contém o seu próprio corretivo. (MARCUSE, 2019,</p><p>p. 16)</p><p>É de suma importância destacar um ponto fundamental, a forma como</p><p>conclui Herbert Marcuse e sua noção de razão, tal ideia define qual compreensão está</p><p>presente em nosso texto acerca da racionalidade. Mesmo diante da Racionalidade</p><p>Instrumental, que permeia a administração total da sociedade capitalista, ainda sim é</p><p>elevado o conceito máximo de razão, a sua potencialidade de converter para um todo</p><p>verdadeiro, que promova a pacificação da existência, mas a frase final de Marcuse é</p><p>mais uma vez essencial, segundo ele: “Mas a Razão, e somente Razão, contém o seu</p><p>próprio corretivo.” (MARCUSE, 2019, p. 16) Complementando, só ela pode corrigir o</p><p>falso em verdadeiro, mas apenas uma nova pode negar o existente, por isso a</p><p>necessidade de forjar uma nova racionalidade.</p><p>A partir de Whitehead, temos a noção de</p><p>que a racionalidade, surge com a</p><p>finalidade de permitir a vida. Esta noção foi compreendida na medida em que se</p><p>distingue racionalidade de racionalidade instrumentalizada. Mas a partir do conceito</p><p>de Whitehead compreedemos o verdadeiro objetivo da racionalidade e universal,</p><p>promover a vida. A razão tem como pressuposto permitir que seres humanos vivam,</p><p>o contrário pode ser definido como irracional. Assim na sociedade industrial avançada</p><p>analisada por Herbert Marcuse, que apresentamos, há uma luta diária na tentativa de</p><p>38</p><p>atingir o primeiro objetivo da razão, também nos mostra o primeiro problema acerca</p><p>da razão existente.</p><p>A racionalidade surge para permitir a vida, mas caso a primeira noção seja</p><p>estabelecida. Whitehead, nos mostra o segundo movimento que é estar vivo em</p><p>condições satisfatórias e o terceiro momento de buscas por mais satisfação. É com a</p><p>definição das duas noções apresentadas pelo matemático que temos o conceito de</p><p>razão estabelecido, primeiro ela permite a vida e segundo a possibilidade de</p><p>condições cada vez mais satisfatórias. Por uma racionalidade coerente deve</p><p>compreender a racionalidade coerente com a finalidade efetiva de promoção</p><p>qualitativa da vida, como definiu o matemático.</p><p>É interessante o terceiro movimento que o autor nos apresenta, de</p><p>“conquistar um aumento de satisfação”, esta ideia permite dizer que inserida na</p><p>própria racionalidade deve estar a noção da busca por promover uma vida feliz, faz</p><p>parte de seus objetivos enquanto reprodução na sociedade vigente. A partir dessa</p><p>definição de como surge e como funciona a razão é que podemos conceber o que</p><p>significa dizer o que a racionalidade deve ser, pois seus fins devem ser deste modo,</p><p>pois o que existe contingencialmente compreende-se como forma irracional. O que o</p><p>autor destaca, é o como do que deve ser a razão, apesar de todo o existente estar</p><p>irracional.</p><p>Assim, a partir de Whitehead podemos estabelecer que a razão tem como</p><p>finalidade promover a vida boa, se o não faz deve ter algum problema com tal ideia,</p><p>pois o conceito universal de razão necessariamente, e cabe destacar que neste ponto</p><p>a ideia de Whitehead e Marcuse se convergem, na medida em que ambos apontam a</p><p>razão como solução para os problemas existentes. Whitehead nos indica o problema</p><p>e a solução da racionalidade existente e sua relação com o real:</p><p>Uma harmonização na discussão desses dois aspectos da Razão pode ser</p><p>possível através do exame da relevância do conceito de causação final, no</p><p>comportamento dos animais. Poderemos, então, ver como a Razão prática e</p><p>teórica de fato operam nas mentes dos homens. (WHITEHEAD, 1988, p. 5)</p><p>O que o matemático sugere é justamente a inserção de causação final na noção de</p><p>razão e é justamente acerca de tal ideia que Marcuse levanta a problemática acerca</p><p>do conceito, que a exclusão de causas finais permite todo elemento negativo da razão.</p><p>39</p><p>A ideia de causa final é de suma importância, como elemento para construção de uma</p><p>nova razão mais abrangente.</p><p>4.1 A grande recusa, de negar uma realidade que não é verdadeira</p><p>Para o surgimento de uma sociedade coerente se faz necessário que não</p><p>exista o outro que ameace a existência humana. Desta forma a primeiro requisito e</p><p>que pode tornar possível é justamente quando somos capazes de nos conter, de</p><p>reprimir a nossa destruição. Segundo Marcuse e sua leitura acerca de Freud:</p><p>Segundo Freud, a civilização começa com a inibição metódica dos instintos</p><p>primários. Podem-se distinguir dois modos principais de organização</p><p>instintiva: a) a inibição da sexualidade, resultando em duradouras e</p><p>crescentes relações grupais; e b) a inibição dos instintos destrutivos,</p><p>conduzindo ao domínio do homem e da natureza, à moralidade individual e</p><p>social. (MARCUSE, 1975, p. 104)</p><p>O ponto é que vivemos em uma sociedade que a vida boa não só é</p><p>colocada de lado, para satisfazer falsas necessidades e reproduzir o estado de coisas</p><p>vigentes. Mas como a negação de viver bem significa progresso, pois não se trata</p><p>mais de que o prazer ou viver bem pode levar a destruição dos humanos, no sentido</p><p>de que sem limites poderia significar mais destruição. Mas ele não é garantido em</p><p>uma sociedade que o não tem como prioridade. A gratificação não é postergada, ela</p><p>é negada em nome do progresso. A felicidade, e traduzida em nosso texto em viver</p><p>bem é requisito em uma sociedade bem-sucedida, segundo Sigmund Freud (1856 –</p><p>1939):</p><p>Então passaremos à questão menos ambiciosa: o que revela a própria</p><p>conduta dos homens acerca da finalidade e intenção de sua vida, o que</p><p>pedem eles da vida e desejam nela alcançar? É difícil não acertar a resposta:</p><p>eles buscam a felicidade, querem se tornar e permanecer felizes. Essa busca</p><p>tem dois lados, uma meta positiva e uma negativa; quer a ausência da dor e</p><p>desprazer e, por outro lado, a vivência de fortes prazeres. No sentido mais</p><p>estrito da palavra, felicidade" se refere apenas à segunda. Correspondendo</p><p>a essa divisão das metas, a atividade dos homens se desdobra em duas</p><p>direções, segundo procure realizar uma ou outra dessas metas -</p><p>predominantemente ou mesmo exclusivamente. (FREUD, 2011, P.19)</p><p>Para o psicanalista, é bem visível que tal finalidade tenha dois lados:</p><p>negativo e positivo, na medida que a busca pela realização de seus desejos, os</p><p>humanos podem se frustrar, que tendo como ponto de partida a sociedade capitalista</p><p>40</p><p>é praticamente uma regra. Para Freud a busca por uma vida feliz, os homens e</p><p>mulheres tentam se distanciar de desprazer e dessa forma apenas o prazer é objeto</p><p>de seu interesse. Freud apresenta uma noção psicanalítica do problema que é viver</p><p>uma vida baseada apenas em prazeres.</p><p>Basicamente tal ideia tem como pressuposto o princípio de prazer, que</p><p>significa, os seres humanos sendo governados pelo desejo da gratificação, uma força</p><p>psíquica que motiva as pessoas a buscarem a satisfação de seus desejos, de forma</p><p>bem simples podemos sintetizar que o princípio de prazer é a busca por realizar</p><p>impulsos instintivos e libidinosos. Além de ser praticamente impossível se manter em</p><p>plena satisfação de tais desejos, estamos em constante conflito e movimentos com</p><p>outros seres, assim encontramos no outro a barreira para a satisfação total e nas</p><p>limitações físicas. Porém na não satisfação total aparece o "sofrer" que para Freud é</p><p>uma ameaça e pode vir por três lados, segundo ele: do próprio corpo, do mundo</p><p>externo, e com relações com outros seres humanos.</p><p>Dessa forma o psicanalista sintetiza muito bem acerca de como nós</p><p>estamos inclinados a finalidade da felicidade a partir do princípio de prazer, enquanto</p><p>algo instintivo, porém é impossível os homens e mulheres permanecerem em total</p><p>felicidade a todo momento, se convertendo em princípio de realidade. Na sociedade</p><p>capitalista existente, a busca por satisfação se converteu em escassez, na medida</p><p>que as necessidades básicas não são garantidas. Mas Freud, nos apresenta uma</p><p>noção importante, que é a felicidade como uma necessidade humana, tendo em vista</p><p>seus problemas, eis a importância de alterar o meio em que vivemos.</p><p>Desse modo, e tendo como pressuposto a nossa discussão acerca do</p><p>modo de vida existente, podemos enfim tratar acerca de um novo mundo ou a</p><p>possibilidade de uma racionalidade totalmente diferente da existente. É a esperança</p><p>de que a partir da irracionalidade possamos contrapor e forjar a razão verdadeira que</p><p>definimos a partir de Herbert Marcuse.</p><p>É justamente a possibilidade de viver bem, da vida boa e da razão. Tais</p><p>noções são possíveis na realidade existente. A partir de Marcuse e sua ideia de que</p><p>os estados de coisas vigentes promovem a leitura de uma falsa realidade:</p><p>Assim, na análise de uma economia, capitalista ou não, que opera como um</p><p>poder "independente" acima dos indivíduos, os aspectos negativos</p><p>(sobreprodução, desemprego, insegurança, desperdício, repressão)</p><p>não são</p><p>compreendidos desde que apareçam somente como subprodutos mais ou</p><p>41</p><p>menos inevitáveis, como "o outro lado" da história de crescimento e</p><p>progresso. (MARCUSE, 2015, p. 215)</p><p>As análises da sociedade existente não apresentam um todo, que</p><p>apresente contradições. Então a correção da racionalidade necessita de maiores</p><p>investigações. De antemão podemos apresentar as possibilidades que Marcuse</p><p>apresenta para a esperança de um mundo melhor. São duas: Arte e Metafisica. Que</p><p>podem permitir imaginar um novo mundo, no nosso caso uma nova ideia de razão,</p><p>são elas que podem apresentar novas qualidades para o conceito universal de razão,</p><p>que seria uma mudança, com resultados políticos práticos e teóricos. Marcuse</p><p>escreve:</p><p>Tal mudança qualitativa seria a transição para um estágio mais elevado de</p><p>civilização se a técnica fosse projetada e utilizada para a pacificação da luta</p><p>pela existência. De modo a indicar as implicações perturbadoras dessa</p><p>afirmação, sugiro que tal nova direção do progresso técnico seria a catástrofe</p><p>da direção estabelecida, não somente a evolução quantitativa da</p><p>racionalidade predominante (cientifica ou tecnológica), mas sua</p><p>transformação catastrófica, a emergência de uma nova ideia de razão, teórica</p><p>e prática. (MARCUSE, 2015, p. 217)</p><p>Como já debatido anteriormente no texto, a técnica pode nos proporcionar</p><p>um novo universo qualitativamente melhor, Marcuse levanta tal ideia na medida que</p><p>indica suas implicações, isto é, uma transformação total do existente. Deste modo na</p><p>citação é estabelecido o critério necessário para uma existência que permita o viver</p><p>bem de Whitehead, que é o surgimento de uma nova ideia de razão, tal noção requer</p><p>mais implicações para seu funcionamento.</p><p>Mas cabe destacar os critérios que Marcuse levanta em sua obra para a</p><p>defesa de um novo estado de coisas vigentes, que é a noção de um todo que é falso</p><p>e reproduz um sistema que tem como fim a si mesmo. Racionalidade tecnológica tem</p><p>um fim específico o do melhor fazer, subordinado a um sujeito histórico, mas não</p><p>critico abrangente do viver bem. Eis que há a necessidade de mudar a direção de tal</p><p>razão. Pois a existente não é suficiente a partir dos critérios aqui apresentados.</p><p>Segundo Marcuse: “...pois a tecnologia estabelecida se tornou um instrumento da</p><p>política destrutiva.” (MARCUSE, 2015, p. 217)</p><p>Mas a grande questão que estamos buscando responder ao longo de toda</p><p>nossa discussão é: como transformar a racionalidade existente, que Herbert Marcuse</p><p>define como sendo irracional, para servir um modo de vida que promova o bem viver.</p><p>42</p><p>Tal noção, de certo modo, também é apresentada na definição de Whitehead quando</p><p>associada a “arte da vida”.</p><p>Marcuse levanta uma diferença fundamental entre arte e racionalidade</p><p>(existente) que a racionalidade da sociedade industrial avançada tem como fim o</p><p>respeito a uma série de leis, a mais simples seriam as próprias leis físicas ou</p><p>matemática, mas também a leis econômicas ou ao sistema financeiro. Mas</p><p>principalmente a ideia de que deve estar sujeita a razão científica, que como já</p><p>debatido pode ser uma racionalidade insuficiente à “arte da vida”.</p><p>Já a arte tem em sua qualidade o não respeito às leis que apresentamos</p><p>aqui, noções essas que devem ser respeitadas para uma única finalidade: a</p><p>reprodução do estado de coisas vigentes. A arte enquanto libertação da labuta diária</p><p>que o establishment promove. Marcuse esclarece acerca da relação entre arte e</p><p>razão, segundo o filósofo:</p><p>Razão, em sua aplicação à sociedade, fora assim muito oposta à arte,</p><p>enquanto à arte foi concedido o privilégio de poder ser irracional – de não</p><p>estar não sujeitada à Razão cientifico, tecnológica e operacional. A</p><p>racionalidade da dominação separou a Razão da ciência e a Razão da arte,</p><p>ou falsificou a Razão da arte por integrar a arte no universo da dominação.</p><p>(MARCUSE, 2015, p. 218)</p><p>Na citação o alemão sintetiza duas afirmações da nossa investigação, que</p><p>justamente acerca do caráter da racionalidade existente está totalmente atrelada à</p><p>sociedade industrial avançada e em segundo lugar sobre a irracionalidade da arte,</p><p>que no universo existente ser irracional pode significar justamente o contrário, na</p><p>medida que o todo é falso. Todavia, Marcuse faz uma afirmação interessante, que é</p><p>“falsificou a razão da arte por integrar a arte no universo da dominação”. Tal ideia</p><p>define a arte no universo da dominação, não o seu todo verdadeiro.</p><p>Isto significa diretamente sobre o significado de arte na sociedade industrial</p><p>avançada, que é um objeto, tal como o pensamento positivo que falsifica a realidade,</p><p>a arte acaba por embelezar as falsas verdades do universo existente. Contudo, não</p><p>consiste dizer que ela o é assim em sua essência, mas que há tal característica no</p><p>universo existente, e é fortalecido. Um movimento de que as expressões artísticas</p><p>amparam no sentido de distrair o sujeito da realidade de dor e sofrimento. Como</p><p>Marcuse esclarece, acerca do que ela pode ser ao negar o existente: “Em vez de ser</p><p>serva do aparato estabelecido, embelezando seu negócio e sua miséria, a arte se</p><p>43</p><p>tornaria uma técnica para destruir esse negócio e essa miséria.” (MARCUSE, 2015,</p><p>p. 226)</p><p>Mas a arte não o é assim de forma essencial. Ariano Suassuna (1927 –</p><p>2014) em sua obra Iniciação à estética, que é resultado de sua disciplina na</p><p>Universidade Federal do Pernambuco, quando sintetiza Hegel, define muito bem o</p><p>papel da arte que estamos tentando apresentar, ele diz: “A Arte é o escalão inicial,</p><p>através do qual, nesse processo de espiritualização do mundo, o homem procura</p><p>humanizar as coisas, inserindo a Ideia no sensível.” (SUASSUNA, 2018, p. 85) A</p><p>noção de arte que o professor e dramaturgo explica a partir de Hegel converge na</p><p>noção de transformação da realidade que Marcuse apresenta.</p><p>Todavia é de extrema importância salientar a principal característica da arte</p><p>que Hegel define: apenas a arte e a filosofia dispõem do elemento de liberdade</p><p>enquanto categoria necessária. Deste modo é que nos leva novamente a comparação</p><p>entre razão e arte. Suassuna resume de forma excelente a noção que estamos</p><p>tentando explicar, segundo o autor:</p><p>De acordo com a visão hegeliana do mundo, a Arte, a Religião e a Filosofia</p><p>são as etapas fundamentais neste caminho do homem à procura do Absoluto.</p><p>À Arte, cabe a espiritualização do sensível" (cf. Esthétique, textos escolhidos,</p><p>p. 16).À Religião, compete a captação interior daquilo que a Arte faz</p><p>contemplar como objeto exterior. É como se a primeira representasse a tese,</p><p>da qual a segunda seria a antítese, cabendo à Filosofia o papel de síntese</p><p>entre as duas: A Arte e a Religião estão unidas na Filosofia." (Esthétique,</p><p>textos escolhidos, p. 207-208.) (SUASSUNA, 2018, p. 85)</p><p>Marcuse esclarece que houve a ruptura entre razão e Arte com o intuito de negar a</p><p>liberdade da razão. Segundo Marcuse:</p><p>[...]do inicio, a ciência continha uma Razão estética, o livre jogo e mesmo a</p><p>loucura da imaginação, a fantasia da transformação; a ciência cedeu à</p><p>racionalização das possibilidades. Entretanto, esse livre jogo reteve o</p><p>compromisso da não-liberdade predominante na qual nasceu e da qual se</p><p>separou; as possibilidades com qual a ciência jogou foram também aquelas</p><p>da libertação - de uma verdade superior. (MARCUSE, 2015, p. 218)</p><p>Marcuse evidencia o que significa tal ruptura aqui apresentada, é</p><p>justamente mais uma confirmação de como a racionalidade se tornou</p><p>instrumentalizada para servir ao establishment. O que realmente há é a negação da</p><p>liberdade da razão resultando em uma realidade que o bem viver nunca é a finalidade</p><p>dessa razão. Apenas um meio para a engrenagem financeira. Mas a real importância</p><p>44</p><p>e o que estamos denunciando, a partir de pensamento de Herbert Marcuse, é</p><p>justamente acerca da estagnação da razão no mundo presente. É necessário incluir</p><p>a imaginação na razão que permita a liberdade da razão, libertação das leis</p><p>econômicas, mas com a pretensão de uma transformação total.</p><p>Imaginação que está presente no reino das artes, que fazem o elo entre o</p><p>que é e o que pode ser, noção que foi excluída na sociedade existente, o que é pode</p><p>ser chamado do fim da história, porém um outro modo de vida é possível e é</p><p>justamente na arte que pode ser apresentado o conteúdo da diferença, uma negação</p><p>ao que está estabelecido. Marcuse esclarece:</p><p>Aqui está o vínculo original (dentro do universo de dominação e escassez)</p><p>entre ciência, arte e filosofia. É a consciência da discrepância entre o real e o</p><p>possível, entre a verdade aparente e a verdade autêntica, e o esforço de</p><p>compreender e dominar essa discrepância. Uma das formas primárias nas</p><p>quais essa discrepância encontrou expressão foi a distinção entre deuses e</p><p>homens, finitude e infinito, mudança e permanência. (MARCUSE, 2015, p.</p><p>218)</p><p>Um novo mundo pode surgir desde que a arte, com seu poder de conceber</p><p>um novo mundo associada a uma ideia de razão diferente a estabelecida, a partir de</p><p>sua capacidade de imaginar. Segundo Marcuse isso é uma ruptura entre o que está</p><p>posto, sendo assim totalmente, uma racionalidade. Baseado no pensamento de</p><p>Whitehead e sua definição do conceito de razão e para que ela serve, é que a arte</p><p>pode indicar que tal razão realmente possa existir.</p><p>Mas é importante destacar que a relação entre Arte e Racionalidade não</p><p>foi uma ruptura natural, tendo em vista ao que está posto na sociedade industrial</p><p>avançada. Segundo o filosofo alemão, tal elo foi quebrado na medida em que as</p><p>ciências provaram suas abstrações no mundo real e as outras assim não fizeram. Tal</p><p>ideia pode está diretamente associada ao pensamento iluminista, que formou o elo</p><p>entre razão e mundo real, o empirismo. As noções matemáticas e físicas fizeram suas</p><p>afirmações de modo verificável, já a filosofia não. Marcuse esclarece:</p><p>[...] as abstrações científicas entraram e provaram sua verdade na conquista</p><p>e na transformação efetivas da natureza, enquanto as abstrações filosóficas</p><p>não - e nem poderiam. Pois a conquista e a transformação ocorreram dento</p><p>de uma lei e de uma ordem de vida que a filosofia transcendeu, subordinando-</p><p>as à "boa vida" de uma lei e uma ordem diferentes. E essa outra ordem, que</p><p>pressupôs um alto grau de libertação da labuta, da ignorância e da pobreza,</p><p>era irreal nas origens do pensamento filosófico e por todo seu</p><p>desenvolvimento, enquanto o pensamento científico continuou a ser aplicável</p><p>45</p><p>a uma realidade crescentemente poderosa e universal. Os conceitos</p><p>filosóficos finais permaneceram, de fato, metafísicos; não foram e não</p><p>poderiam ser verificados nos termos do universo estabelecido do discurso e</p><p>da ação. (MARCUSE, 2015, p. 218)</p><p>Na citação é possível identificar outra característica e diferença entre o</p><p>pensamento científico racional e a filosofia ou arte, que o autor esclarece. Se trata de</p><p>que a razão não quebrou seu vínculo com a realidade existente, tal noção seria</p><p>suficiente se o todo não fosse qualitativamente ruim. Ao não negar seu elo com o</p><p>mundo real, segundo Marcuse, a razão acabou por cooperar com um todo que</p><p>reproduz a luta diária como modo de vida. A filosofia e arte são vistas apenas como</p><p>ideias metafisicas, que não são capazes de alterar o mundo real, mas apenas</p><p>enquanto o viver bem não é uma prioridade na ideologia existente.</p><p>Porém, é neste ponto que a arte apresenta a sua potencialidade de</p><p>transformar o mundo real. Com a sua capacidade de nos mostrar o novo. As</p><p>potencialidades negadas da arte para o fortalecimento de uma racionalidade</p><p>instrumental, aparece aqui como uma força motriz para o surgimento de um novo</p><p>universo, segundo Marcuse:</p><p>A noção grega da afinidade entre arte e técnica pode servir como uma</p><p>ilustração preliminar. O artista possui as ideias que, como causas finais,</p><p>guiam a construção de certas coisas - tal como o engenheiro possui ideias</p><p>que guiam, como causas finais, a construção de uma máquina. Por exemplo,</p><p>a ideia de uma abóbada para os seres humanos determina a construção pelo</p><p>arquiteto de uma casa; a ideia de explosão nuclear em larga escala determina</p><p>a construção do aparato que deve servir a esse propósito. A ênfase sobre a</p><p>relação essencial entre arte e técnica aponta para a racionalidade específica</p><p>da arte. (MARCUSE, 2015, p. 220)</p><p>Neste ponto, podemos concluir acerca da potência da arte de transformar</p><p>a realidade da irracionalidade existente, a sua capacidade mudar uma existência</p><p>ainda não realizada, é justamente disso que se trata nossa discussão, a ruptura entre</p><p>o irracional e a possibilidade da arte, de forjar uma nova razão, que foi a foi negada.</p><p>Uma transformação total, que possibilite um novo universo, segundo Marcuse uma</p><p>catástrofe, mas tal catástrofe resulta em uma libertação, da labuta e da violência, uma</p><p>razão da justiça e do bem viver, a esperança de um novo mundo.</p><p>Sob estas circunstâncias, a libertação da sociedade afluente não significa a</p><p>volta à pobreza saudável e robusta, à limpeza moral e à simplicidade. Ao</p><p>contrário, a eliminação do desperdício rentável aumentaria a riqueza social</p><p>disponível para distribuição, e o fim da mobilização permanente reduziria à</p><p>46</p><p>necessidade social de negação das satisfações que são próprias dos</p><p>indivíduos - negações que agora encontram sua compensação no culto da</p><p>boa forma, da força e da simetria. (MARCUSE, 2015, p. 220)</p><p>A arte possui a potencialidade de negar o mundo existente, na medida que</p><p>sua característica, de ter uma linguagem original, a sua capacidade de propor um novo</p><p>mundo, conforme o ausente é um elemento importante para este campo. É justamente</p><p>na arte que nos é dado o diferente, a negação a efetividade. A arte pertence uma</p><p>linguagem autêntica de se opor ao mundo real. Segundo Marcuse, sobre a</p><p>importância daquilo que está ausente:</p><p>O elemento comum é a pesquisa por uma “linguagem autêntica” – a</p><p>linguagem da negação como a Grande Recusa em aceitar as regras de um</p><p>jogo em que as cartas estão marcadas. O ausente precisa ser feito presente</p><p>porque grande parte da verdade está naquilo que está ausente. (MARCUSE,</p><p>1960, p. 167)</p><p>Cabe destacar, aquilo que não está presente é menos importante para esse</p><p>universo, pois significa o contraditório, põem o existente em xeque. A ausência pode</p><p>significar o elemento da diferença, que reivindica um novo mundo. O trecho, de</p><p>Marcuse, evidencia a necessidade de apresentar aquilo que não está aparente, todas</p><p>as contradições de uma sociedade mantida pelo aumento de exploração da</p><p>humanidade e da na natureza. Assim a negação é o elemento que tem a</p><p>potencialidade de apresentar a verdade, o que não está diante de nossos olhos. É a</p><p>capacidade de apresentar o novo, e dialeticamente superando o existente. Em</p><p>primeiro lugar, a linguagem do universo estabelecido é de aceitar o sistema vigente,</p><p>para sua reprodução. Assim sendo o único modelo possível. Segundo, o que não está</p><p>diante de nossos olhos serve de justificativa para a crescente exploração, mesmo com</p><p>o avanço técnico, desta forma, segundo Marcuse, a recusa pode significar a</p><p>apresentação do ausente, que é o elemento diferente a sociedade estabelecida. Mais</p><p>uma vez Marcuse:</p><p>Na autêntica linguagem, a palavra N‟est pas l‟expression d‟une chose, mais</p><p>l‟absence de cette chose... Le mot fait disparaître les choses et nous impose</p><p>le sentiment d‟une manque universel et même de son propre manque. Não é</p><p>a expressão de algo, mas de sua ausência... A palavra faz desaparecer as</p><p>coisas e nos impõe o sentimento de uma falta universal e até de sua própria</p><p>falta. (MARCUSE, 1960, p. 167)</p><p>47</p><p>A negação não significa dizer que o todo existente está sujeito ao fim, é</p><p>justamente para combater um determinismo que aceita as coisas como estão. A</p><p>ausencia evidencia aquilo que pode vir a ser, as</p><p>verdadeiras necessidades</p><p>estabelecidas por Marcuse que não são satisfeitas de modo universal, mostra de</p><p>forma prática aquilo que deveria ser presente na sociedade. Mas é justamente sobre</p><p>a falta de percepção de que algo está errado no sistema capitalista que Marcuse nos</p><p>alerta, a autentica linguagem da negação da Arte pode corrigir os rumos fracassados</p><p>do mundo existente:</p><p>Poesia é então, o poder de negar as coisas. (“de nier les choses‟) – poder</p><p>que Hegel afirma, paradoxalmente, como único pensamento autêntico.</p><p>Afirma Valéry: La pensée est, en somme, le travail qui fait vivre en nous ce</p><p>qui n‟existe pas. O pensamento, em suma, é o trabalho que faz viver em nós</p><p>o que não existe. (MARCUSE, 1960, p. 167)</p><p>Aquilo que é negado deve necessariamente apresentar a esperança de um novo</p><p>mundo que permita o bem viver:</p><p>Ele faz uma pergunta retórica: “que sommes-nous donc sans le secours de</p><p>ce que n‟existe pas. (O que somos nós sem o recurso ao que não existe?)</p><p>Isto não é "existencialismo". É algo mais vital e mais desesperado: o esforço</p><p>para contradizer uma realidade em que toda lógica e todo discurso são falsos,</p><p>na medida que são parte de um todo mutilado. (MARCUSE, 1960, p. 168)</p><p>É necessário estabelecer que o mundo existente alcançou um</p><p>desevolvimento, que é possível uma relação saudável de homens e mulheres com</p><p>seus trabalhos e o tempo livre, negar dialeticamente, uma noção que podemos fazer</p><p>a partir de Marcuse, da esperança que o mundo existente não é o do fim da história,</p><p>de não aceitar uma vida qualitativamente ruim. Na peça A Pena e a Lei de Ariano</p><p>Suassuna, depois de que os personagens são levados ao julgamento final e diante</p><p>dos seus erros cometidos em vida, todos são questionados se escolheriam viver</p><p>novamente:</p><p>Então o Cristo foi entregue aos homens para ser crucificado. Era naquele</p><p>instante quase a hora sexta, e toda a Terra ficou coberta de trevas até a hora</p><p>nona. E Jesus, dando um grande brado, disse: "Pai, nas suas mãos</p><p>encomendo meu espírito. Tudo está consumado!" E, dizendo estas palavras,</p><p>48</p><p>inclinou a cabeça e rendeu o espírito. Assim, terminou o maior de todos os</p><p>acontecimentos. E diz a última pergunta do Acusador: estão vocês dispostos</p><p>a aceitar o mundo, sabendo que o centro dele é essa Cruz, que a vida importa</p><p>em contradição e sofrimentos, suportados na esperança? Que diz você,</p><p>Joaquim, você, pobre retirante que morreu de fome e que tem o nome do avô</p><p>de Deus? Você acha que valeu a pena? Se pudesse escolher, viveria de</p><p>novo? (SUASSUNA, 2019, p. 170)</p><p>E todos os personagens respondem “sim”, que lutariam por suas vidas,</p><p>quando estamos diante da morte, lutamos até o último momento pelo dom de viver.</p><p>Mesmo o vilão da história escolhe o caminho da vida. Tudo perde a importância diante</p><p>de algo maior que é a própria existência. Mas a mensagem que Suassuna transmite</p><p>em sua história é justamente da esperança, pois ao longo do texto ele evidencia todos</p><p>os problemas dos personagens, mas no final todos escolhem viver novamente. E a</p><p>conclusão da peça:</p><p>Pois, uma vez que julgaram favoravelmente a Deus, assim também ele julga</p><p>vocês. Erros, cegueiras, embustes, enganos, traições, mesquinharias, tudo o</p><p>que foi a trama de suas vidas, perde a importância de repente, diante do fato</p><p>de que vocês acreditaram finalmente em mim e diante da esperança que</p><p>acabam de manifestar. Como zombaria, disseram isso de você, Madalena,</p><p>mas todos vocês nasceram na fé, viveram na esperança, foram agora salvos</p><p>pela caridade, que é um dos nomes divinos do Amor (SUASSUNA, 2019, p.</p><p>172)</p><p>Mesmo diante de todas as contradições que a peça apresenta ao leitor, ou</p><p>de todos os problemas que existem na sociedade, há uma resposta que talvez seja a</p><p>única correta, que é a de continuar neste mundo, mas como Marcuse nos apresenta</p><p>e assim Ariano Suassuna faz em sua ficção, a alternativa é senão transformar o</p><p>mundo. Na história contada pelo Pernambucano a religião pode ser a luz para um</p><p>mundo melhor, já levando em conta Marcuse, podemos demonstrar que a partir da</p><p>arte, do elemento que não está diante de nossos olhos, temos a possibilidade de</p><p>construir o novo. Mesmo com métodos e objetivos diferentes, e em campos distintos,</p><p>as duas respostas chegam a uma conclusão em comum, que viver requer lutar, e que</p><p>não aceitar as coisas como estão é um requisito, seja na arte ou na religião, a</p><p>esperança está presente e é pré-requisito.</p><p>49</p><p>5 CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Dessa forma podemos concluir de que modo a racionalidade tecnológica</p><p>está associada a sociedade existente, e mais especificamente em uma organização</p><p>social que a acumulação é sua finalidade, na medida que o objeto de estudo de</p><p>Herbert Marcuse é tal universo. Portando ao longo de nossa discussão apresentamos</p><p>como a racionalidade é, mas não aquilo que é verdadeiramente, apenas no mundo</p><p>vigente e como pode existir uma reconciliação com categorias que promovam a arte</p><p>da vida, a sua potência de ser boa, a partir do pensamento Marcuseano.</p><p>No primeiro capítulo nos delimitados a debater acerca de como está</p><p>organizada a sociedade industrial avançada, a partir de Herbert Marcuse, definimos</p><p>aquilo que o filósofo elabora, como os problemas de tal sociedade. Primeiramente o</p><p>autor nos apresenta um universo extremamente problemático com contradições, etc.</p><p>Segundo o filósofo alemão a sociedade existente tem problemas na medida que não</p><p>satisfaz necessidades básicas. Marcuse diz: “Enquanto liberdade para trabalhar ou</p><p>morrer de fome, isso significou labuta, insegurança e medo para uma grande maioria</p><p>da população.” (MARCUSE, 2015, p. 42) A racionalidade tecnológica tem papel</p><p>fundamental, na medida que ao investigarmos sua relação com a sociedade existente</p><p>na filosofia de Marcuse, chegamos à conclusão que ela acaba por colaborar para a</p><p>reprodução do estado de coisas vigentes.</p><p>Desse modo no começo da discussão tivemos o pressuposto de apresentar</p><p>tais noções que são o ponto de partida de Marcuse, as contradições da sociedade</p><p>existente. Assim as falsas necessidades, conceito apresentado por Marcuse, é um</p><p>ponto fundamental em nosso texto, pois mostra duas ideias do autor a partir de tal</p><p>discussão. Primeiramente a própria questão de um universo que acaba por criar</p><p>necessidades que tem utilidade enquanto reprodução do capitalismo, alimentando um</p><p>estado de acumulação. Posteriormente, tal ideia está associada a questões sociais</p><p>que colaboram para um estado totalitário, na medida que representam uma</p><p>mobilização para o fechamento de alternativas, por integrar sujeitos a sociedade</p><p>industrial avançada, que Marcuse nomeia como unidimensional.</p><p>Logo de início se estabelece um problema que reflete exatamente acerca</p><p>da incapacidade da razão estabelecida, que serve de instrumento para falsificar a</p><p>realidade e reproduzir a sociedade capitalista, ao invés de servir para uma elevação</p><p>50</p><p>qualitativa do existente. Marcuse em sua obra nos mostra de que maneira e qual a</p><p>importância da racionalidade tecnológica para sociedade existente. É certo que o</p><p>desenvolvimento científico traz resultados satisfatórios para o aumento de expectativa</p><p>de vida de homens e mulheres, porém como foi mostrado ao longo do texto, não é de</p><p>modo universal e também o seu preço é a crescente fadiga dos trabalhadores e a</p><p>dominação da natureza de forma irracional. Como bem define Isabel Loureiro:</p><p>A crítica da civilização fundada na ética do trabalho, da eficiência, da</p><p>produtividade, do progresso contínuo das forças produtivas – valores que só</p><p>serviram até agora para destruir a natureza produzindo cada vez mais riqueza</p><p>para um número cada vez menor de pessoas. (LOUREIRO, 2005, p. 19)</p><p>O que Herbert Marcuse esclarece é justamente acerca da falsificação da</p><p>razão em nome de reproduzir o status quo, sendo o conceito de falsas necessidades</p><p>um elo importante de tal noção. A criação de falsas necessidades é um</p><p>pilar na</p><p>perpetuação do sistema existente. O alto consumo é priorizado, em uma sociedade</p><p>que a acumulação é mais importante que qualidade de vida. Homens e Mulheres se</p><p>sacrificam para defender sua existência em um universo que comer, vestir e morar</p><p>não é garantido a todos que fazem parte desse mundo, mesmo que se esforcem,</p><p>evidenciando que o problema está na base da sociedade capitalista.</p><p>Na discussão de nossa pesquisa um outro aspecto também foi necessário</p><p>para a compreensão da sociedade industrial avançada, que é a integração de sujeitos</p><p>a sociedade existente. Após a revolução industrial as contradições eram mais nítidas,</p><p>ao longo do desenvolvimento do capital tais elementos que são a negação viva de tal</p><p>sociedade ficam mais complexos, o trabalhador existente, por meio do consumismo,</p><p>acaba se aproximando de um padrão de vida que não era comum para a classe</p><p>trabalhadora, deixando de ser uma negação visível para o sistema capitalista, nas</p><p>palavras de Marcuse: “O proletário dos estágios anteriores do capitalismo era, na</p><p>verdade, a besta de carga, que proporcionava pelo trabalho de seu corpo as</p><p>necessidades e luxos da vida enquanto vivia na imundície e na miséria. Assim, ele era</p><p>a negação viva de sua sociedade.” (MARCUSE, 2015, p. 60) Isso não significa que o</p><p>trabalhador deixou de ser explorado mas que tais processos foram amenizados, a</p><p>exploração ainda existe.</p><p>Na segunda parte de nossa discussão nos propomos a responder como a</p><p>racionalidade tem papel político, mesmo que se apresente como isenta de</p><p>51</p><p>responsabilidades com o mundo existente. Definimos, a partir de Marcuse, que seu a</p><p>priori é político. “O a priori tecnológico é um a priori político...” (MARCUSE, 2015, p.</p><p>161) Logo, a racionalidade tem um papel fundamental na organização social e se há</p><p>algum problema com tal conceito, provavelmente está servindo a um sujeito</p><p>específico. Assim, a partir dessa noção, estabelecemos que a razão tem uma função</p><p>no mundo existente e que aparentemente, se não está sendo cumprida a sua</p><p>finalidade verdadeira, deve haver mais explicações.</p><p>Estabelecemos a partir de Whitehead acerca da função da razão, na</p><p>medida que tal conceito deve responder a uma causa verdadeira, isso significa dizer</p><p>que diante dos problemas da sociedade industrial avançada apontados por Marcuse,</p><p>a racionalidade merece explicações sobre o que ela verdadeiramente deve</p><p>representar.</p><p>De forma que a Racionalidade se converteu em reproduzir toda a</p><p>contradição existente se tornando, como Marcuse nos apresentou, em Irracionalidade.</p><p>A definição de Whitehead nos mostra o verdadeiro sentido do que deve ser a razão:</p><p>“A função da razão é promover a arte da vida.” (WHITEHEAD, 1988, p. 5) Mas também</p><p>nega o cotidiano existente, na medida que a luta pela sobrevivência e que o crescente</p><p>aumento de expectativa de vida não é universal, revela como tal razão tem problemas.</p><p>Whitehead define racionalidade deste modo e assim apresenta uma razão</p><p>que pode ser, mesmo que ela tenha sido utilizada para a destruição, quando, por</p><p>exemplo, na criação de bombas atômicas, na mesma há a potencialidade de corrigir</p><p>seus rumos. Como Marcuse também defende, a própria razão pode alterar o seu elo</p><p>com a destruição. Mesmo que esteja sendo um meio para propagar o existente e uma</p><p>vida qualitativamente ruim, a única solução possível só pode ser por meio do que é</p><p>racional.</p><p>Porém se torna de suma importância esclarecer que a correção do</p><p>irracional existente para o que é racional e tenha a vida boa como objetivo passa por</p><p>uma redefinição de razão. Isso significa imaginar uma racionalidade totalmente</p><p>diferente a que está estabelecida, pois a existente foi criada para servir um sujeito</p><p>histórico específico e assim sendo necessário uma transformação radical, um novo</p><p>conceito de razão</p><p>A partir de definir os problemas da sociedade industrial avançada em uma</p><p>leitura de Herbert Marcuse e considerar a vinculação da racionalidade tecnológica</p><p>52</p><p>nesse universo como noção política, nos delimitamos a definir o que seria a função</p><p>verdadeira da razão, mas eis que nos deparamos com a seguinte pergunta: Como</p><p>reconciliar a razão com a vida boa? Para responder esse questionamento é que</p><p>apresentamos a arte como um ponto chave, e arte enquanto imaginação tem sua</p><p>importância:</p><p>O caráter racional e científico da Imaginação foi há muito reconhecido na</p><p>matemática, em hipóteses e experimentos das ciências físicas. E, do mesmo</p><p>modo, reconhecido na psicanálise, que é em teoria baseada na aceitação da</p><p>racionalidade específica do irracional; a imaginação compreendida se torna,</p><p>redirecionada, uma força terapêutica. (MARCUSE, 2015, p. 235)</p><p>O conceito de arte é muito necessário na aproximação da racionalidade</p><p>com aquilo que deve ser a sua função, que é responder o que é satisfatório. A arte</p><p>aparece como um meio para imaginar um novo mundo, ou a reeconciliação do que a</p><p>racionalidade verdadeiramente tem a potencialidade de ser. A arte nos é mostrada a</p><p>capacidade de imaginar, as noções de causas finais é muito importante para um artista</p><p>e portanto essa caracteristica se torna um elemento crucial quando o bem viver é um</p><p>fim. Imaginar o elo da diferença, ela pode projetar um universo que ainda pode ser</p><p>alcançado e tendo como pressuposto a finalidade estabelecida para a razão</p><p>anteriormente, se torna um ponto crucial, Marcuse sobre a arte e sua potência de</p><p>alterar os rumos da racionalidade: “A racionalidade arte, sua habilidade de “projetar”</p><p>a existência, de definir possibilidades ainda não realizadas...” (MARCUSE, 2015, p.</p><p>226) Portanto, no último capítulo tivemos como objetivo apresentar a importância da</p><p>arte e a imaginação, para reencoliar a racionalidade com aquilo que dever ser a sua</p><p>verdadeira função.</p><p>A negação do existente pela imaginação e de possibilitar um novo mundo</p><p>é o elo mais importante, é justamente a partir daí que ela pode iluminar o que pode</p><p>ser uma verdadeira razão. Marcuse apresenta justamente acerca de tal noção, que</p><p>na ruptura entre razão e arte foi excluído o caráter de causas finais, mas a arte pode</p><p>recuperar e nos apresentar uma nova definição de racionalidade, a partir da</p><p>imaginação.</p><p>Portanto é a partir da Arte que nos é dada a esperança de um novo mundo,</p><p>com a sua potencialidade de imaginar os rumos da razão. É justamente acerca disso</p><p>que todo o trabalho se trata, da concessão de imaginar um todo diferente, em que o</p><p>53</p><p>racional seja promotor da vida boa ao invés de reproduzir a acumulação capitalista. A</p><p>arte pode corrigir o rumo da razão estabelecida.</p><p>A partir da arte é nos dado o universo da imaginação, tal categoria pode</p><p>permitir, justamente, elencar novos conceitos para a racionalidade. Ideias essas que</p><p>podem contribuir para uma nova realidade. A racionalidade, associada aquilo que</p><p>pode ser, é capaz de está vinculada a ideia de resolver contradições, desigualdades.</p><p>Responder aos fatos dados do cotidiano.</p><p>Imaginar que a racionalidade pode contribuir para o bem viver e que a arte</p><p>tem tal potencialidade, é importante na medida que pode ter uma nova ideia de</p><p>racionalidade a partir da imaginação. Destacamos que a arte é o elemento que permite</p><p>a ideia na medida que tem como categoria a liberdade, contudo é a imaginação, que</p><p>é o componente da potencialidade de uma nova razão. Permitir que novos valores</p><p>estejam associados a ideia de racionalidade e a que a esperança de uma</p><p>reconciliação da razão com a vida boa seja possível.</p><p>54</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. São Paulo: Penguin Classics</p><p>Companhia das Letras, 2011.</p><p>GADANHA, Alberto Dias. Razão e revolução: de Herbert Marcuse, por uma</p><p>dialética de alteração institucional. 2014. Tese (Doutorado em Filosofia)</p><p>Departamento de Filosofia, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade</p><p>Federal da Paraíba, João Pessoa, 2014.</p><p>HORKHEIMER, Max. Eclipse</p><p>da razão. São Paulo: Editora Unesp, 2015.</p><p>LIMA, Renê Ivo. O conceito de racionalidade tecnológica no pensamento de</p><p>Herbert Marcuse: origem, desenvolvimento e implicações sociais. 2020.</p><p>Dissertação (Mestrado Acadêmico em Filosofia) – Departamento de Filosofia,</p><p>Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Federal do Ceará.</p><p>Fortaleza, 2020.</p><p>LOUREIRO, Isabel Maria. Herbert Marcuse – Anticapitalismo e Emancipação.</p><p>Transformação, São Paulo, v.28, n. 2, p.7-20, set. 2005.</p><p>MARCUSE, Herbert. Algumas implicações sociais da tecnologia moderna. In:</p><p>MARCUSE, Herbert. Tecnologia, guerra e fascismo. São Paulo: Fundação Editora</p><p>da UNESP, 1999a. cap 1, p. 71 – 104.</p><p>MARCUSE, Herbert. Eros e civilização: uma interpretação filosófica do pensamento</p><p>de Freud. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999b.</p><p>MARCUSE, Herbert. O homem unidimensional: estudos da ideologia da sociedade</p><p>industrial avançada. São Paulo: Edipro, 2015.</p><p>MARCUSE, Herbert. Uma nota sobre a dialética. Dissonância, São Paulo, v.2, n1,</p><p>p. 9-19, jun. 2018.</p><p>MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. São Paulo: Editora Nova</p><p>Cultural Ltda. 1996</p><p>MARX, Karl. Trabalho Assalariado e Capital e Salário Preço e Lucro. São Paulo:</p><p>Expressão Popular, 2006.</p><p>PISANI, Marilia Mello. Algumas considerações sobre ciência e política no</p><p>pensamento de Herbert Marcuse. scientiae zudia, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 135-58,</p><p>jan. 2009.</p><p>RIOS, Kênia. Campos de Concentração do Ceará: isolamento e poder na seca de</p><p>1932. Fortaleza: Museu do Ceará, 2001.</p><p>SUASSUNA, Ariano. A pena e a lei. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.</p><p>55</p><p>SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.</p><p>WHITEHEAD, Alfred. A Função da Razão. 2. ed. Brasília-DF: Editora Universidade</p><p>de Brasília, 1988.</p><p>14aa74567cbb86c4e0fa51d9722b086d74868984004cf491cf063a0979ffb4ca.pdf</p><p>913ffe657cfdb18bb209d5cfb210d8c2fda0b6df6eb12abfae13cd7c90591c4d.pdf</p><p>46212da838e5a6391892580369b53cf4e0142361c3fcf5eeb34d68d1b6f5d10e.pdf</p><p>14aa74567cbb86c4e0fa51d9722b086d74868984004cf491cf063a0979ffb4ca.pdf</p><p>que as abragências da</p><p>razão são enfraquecidas ................................................................................ 27</p><p>4 A NOÇÃO DE CAUSAS FINAIS E SUA IMPORTÂNCIA PARA A</p><p>CONSTRUÇÃO DE UMA RACIONALIDADE ÉTICA ................................... 35</p><p>4.1 A grande recusa, de negar uma realidade que não é verdadeira ............... 39</p><p>5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 49</p><p>REFERÊNCIAS.................................................................................................54</p><p>9</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Na realização do presente trabalho temos como base teórica o filósofo</p><p>Herbert Marcuse e sua principal obra: “O Homem Unidimensional”, o autor fornece o</p><p>universo de nossa discussão, que é uma sociedade que tem como pretensão a</p><p>acumulação e a reprodução do estado de coisas vigentes para o seu mantimento, e</p><p>que a exploração de homens e mulheres é necessária para a defesa do status quo.</p><p>Para estabelercemos nosso objeto de estudo, a noção de sociedade</p><p>industrial avançada é de suma importância, na medida que define o universo a qual</p><p>estamos inseridos e como é a relação entre sujeitos. São ideias que estão em sua</p><p>obra que é a base de estudo da pesquisa. Desse modo, surge o conceito de</p><p>racionalidade tecnológica, que merece uma investigação a partir do pensamento</p><p>Marcuseano para definir sua relação com a sociedade industrial avançada.</p><p>Logo, nos delimitamos a explicar as noções presentes na obra citada</p><p>anteriormente, temos como ponto de partida os conceitos elaborados por Marcuse no</p><p>livro em questão. Uma sociedade de avanços técnicos e que possui contradições,</p><p>como aponta o filósofo. Dessa forma é justamente na obra em questão que temos</p><p>como ponto de partida as noções que estão presente em nossa discussão.</p><p>Cabe destacar que, estabelecendo como obra de nossa nossa pesquisa o</p><p>livro “O Homem Unidimensional” e a sociedade industrial avançada sendo a base para</p><p>os estudos do filósofo, nossa discussão não se trata apenas sobre os anos pós-guerra,</p><p>mas é justamente a lógica e conceitos que Marcuse apresenta em sua análise que</p><p>estão presente até hoje nos Estados Unidos e em países que estão na periferia</p><p>mundial, tendo em vista a desigualdade, no caso o Brasil, na medida que a relação de</p><p>trabalho em ambos é a mesma.</p><p>Nosso objetivo geral se propõe a apresentar e discurtir a relação entre</p><p>racionalidade tecnológica e sociedade na obra de Herbert Marcuse, na medida que o</p><p>conceito é um elemento para a reprodução de estados de coisas vigentes, é</p><p>importante investigar o seu vínculo com tal universo.</p><p>Os objetivos especificos são três: Esclarecer a relação entre contradições</p><p>no mundo existente e a harmonização de tais elementos; definir o conceito de razão</p><p>a partir de uma lógica que não seja de dominação e; como a imaginação através da</p><p>arte pode permitir uma esperança diante das contradições da sociedade existente. Na</p><p>10</p><p>medida que a arte tem o elemento de permitir imaginar um outro mundo, a categoria</p><p>da liberdade.</p><p>É de suma importância situar os leitores do presente trabalho de como será</p><p>desenvolvida nossa tese, primeiramente se trata de, a partir Herbert Marcuse, definir</p><p>a noção de racionalidade tecnológica na sociedade capitalista, assim as critícas</p><p>elaboradas pelo autor estão ao longo do desenvolvimento e temos como ponto de</p><p>partida as respectivas noções sobre as contradições da razão no mundo existente.</p><p>Temos como pressuposto a seguinte afirmação de Marcuse: “Nós estamos</p><p>novamente diante de um dos mais irritantes aspectos da civilização industrial</p><p>avançada: o caráter irracional de sua racionalidade.” (MARCUSE, 2015, p. 47)</p><p>No primeiro momento vamos discutir a situação, ou seja, como está a</p><p>relação entre racionalidade e sociedade na visão do filósofo. Posteriormente temos</p><p>como pretensão apresentar aquilo que a racionalidade deve responder, logicamente</p><p>após apresenter os problemas da razão existente na ótica de Herbert Marcuse, assim</p><p>já adiantamos que as noções que devem ser colocadas como finalidade para a razão</p><p>responder são a de uma vida boa e tal conceito é apresentado a partir de Alfred</p><p>Whithead (1861 – 1947) e que podem ser recuperadas por meio da arte.</p><p>Assim a arte e a imaginação, tem papel fundamental na redefinição daquilo</p><p>que é apontado como um problema segundo o filósofo Marcuse, é justamente a</p><p>imaginação que tem a potencialidade de responder as verdadeiras causas que a razão</p><p>pode atender, tendo em vista sua relação com causas finais. Um artista elabora sua</p><p>obra pensando naquilo que deve ser como causa final desde o início da execução. Se</p><p>a arte tem a potência de imaginar as possibilidades e a razão deve responder aquilo</p><p>que é bom, logo sua associação com o diferente ao estabelecido. Destacando que a</p><p>arte pode permitir imaginar um outro mundo e que na filosofia de marcuse e sua</p><p>análise da sociedade capitalista é de extrema importância.</p><p>Nossa metodologia consiste em revisão bibliográfica, temos como autor</p><p>principal para a pesquisa o filósofo Herbert Marcuse, e sua obra “O homem</p><p>unidimensional” é nosso objeto de estudo. Outros autores são importantes como o</p><p>matemático e filósofo Alfred Whitehead e sua obra “A função da Razão”.</p><p>Após o avanço do nazismo Herbert Marcuse se refugiou em terras norte</p><p>americanas, Marcuse era judeu e marxista, pertencente de dois grupos que eram</p><p>vistos como uma ameaça ao regime, ou seja, ele era um alvo a ser combatido, a sua</p><p>11</p><p>existência estava em xeque. O Filósofo Alemão tem como ponto de partida, países</p><p>desenvolvidos e que gozam do estado de bem-estar social, especificamente os</p><p>Estados Unidos, país em que residia.</p><p>É importante pontuar, pois muitos países em desenvolvimento não</p><p>chegaram a usufruir da plenitude do estado de bem-estar social que o filósofo critica,</p><p>então um alto padrão de consumo que é presente na sociedade capitalista avançada,</p><p>e faz parte de nossa discussão, talvez não faça tanto sentido, quando a periferia</p><p>mundial não consegue satisfazer necessidades básicas1, e não digo necessidades</p><p>verdadeiras pois em países desenvolvidos também há tal contradição para a</p><p>população no geral.</p><p>Destacamos a sociedade a qual Marcuse estava inserido, pois alguns</p><p>conceitos façam mais sentido naquele país.2 Mas tendo em vista o desenvolvimento</p><p>capitalista e sua integração, que tem como fim a reprodução do sistema vigente,</p><p>países periféricos passam por problemas semelhantes. Marcuse apresenta tal</p><p>conceito, que é muito característico do sistema capitalista avançado e sua capacidade</p><p>de se adaptar para seu mantimento enquanto único sistema possível, assim surgindo</p><p>a integração capitalista.</p><p>Se antes empregados e patrões consumiam de modo totalmente</p><p>antagónico, principalmente antes da revolução industrial, a partir do desenvolvimento</p><p>de tal sociedade e de seus métodos para aumentar o consumo, se tem a falsa noção</p><p>a partir do consumismo que ambos, patrões e empregados, tem o mesmo padrão de</p><p>vida pela compra do mesmo carro ou aparelho televisor.</p><p>Ou a partir da exploração do planeta enquanto um risco a natureza, os</p><p>mesmos países em desenvolvimento, acabam por sofrer mais, pois são, em alguns</p><p>casos, a base para tal extração de seus recursos, ou pagam o preço abuso a natureza</p><p>a partir do aquecimento global, por exemplo, mesmo sem utilizar do mesmo modo,</p><p>mostrando assim o preço do progresso. A contradição se mostra presente. Passemos</p><p>para alguns pontos importantes numa sociedade em que a racionalidade tecnológica</p><p>é meio de desenvolvimento técnico e administrativo.</p><p>1 Necessidades básicas referem-se às necessárias para que o homem consiga seu sucesso corporal e</p><p>mental para poder aproveitar de uma vida plena de saúde e liberdade.</p><p>2 Aqui significa dizer que o padrão de vida pode ser diferente, um exemplo é o estilo de vida americano</p><p>que pode significar um padrão de consumo que não é garantido em todo o mundo</p><p>12</p><p>Antes de iniciarmos nossa investigação acerca da racionalidade</p><p>tecnológica cabe pontuar que o conceito a qual vamos investigar é um procedimento</p><p>abstrato mas não independente dos processos socias, implicando ainda o debate</p><p>sobre outros temas diretamente ligados ao assunto, desta forma ao investigarmos</p><p>racionalidade tecnológica precisamos compreender os temas ligados a própria</p><p>racionalidade, na medida em que são anteriores ao problema, ou são implicações.</p><p>A importância de investigar o conceito de racionalidade tecnológica</p><p>consiste em como a sua relação política com a sociedade estabelecida é estreita, ao</p><p>longo do texto vamos esclarecer acerca de seus princípios e como essas noções</p><p>afetam a vida de sujeitos, podendo aumentar as contradições existentes. “A sociedade</p><p>unidimensional avançada altera a relação entre o racional e o irracional.” (MARCUSE,</p><p>2015, p. 233)</p><p>13</p><p>2 O UNIVERSO DA RACIONALIDADE TECNOLÓGICA</p><p>Para Marcuse, a dominação do homem pelo homem se torna elemento de</p><p>suma importância para nossa investigação, na medida que significa exploração3 e</p><p>uma vida menos feliz, homens e mulheres deixam de viver com a finalidade de uma</p><p>vida qualitativamente boa para servir ao establishment, não conseguindo satisfazer</p><p>suas verdadeiras necessidades. O prazer é colocado em xeque na medida que é o</p><p>preço do progresso. Para o desenvolvimento da sociedade existente se faz necessária</p><p>mais exploração em nome de falsas necessidades e uma noção de vida feliz que só</p><p>faz sentido na lógica existente, da sociedade industrial avançada.</p><p>A noção de falsidade surge no contexto em que a sociedade industrial</p><p>avançada, necessariamente se adapta para reproduzir um único sistema possível, as</p><p>alternativas não existem ou são utópicas. Criando assim um universo fechado.</p><p>Totalitário porque oferece uma falsa liberdade, liberdade para escolher produtos</p><p>desnecessários. Logo, já temos duas questões no universo existente para esclarecer:</p><p>1. Sociedade que cria falsas necessidades</p><p>2. Um sistema totalitário que se fecha para as alternativas.</p><p>2.1 As falsas necessidades</p><p>Antes da crítica à noção de falsas necessidades há de se pontuar que</p><p>aparentemente não há motivos para se colocar em xeque a livre distribuição e a</p><p>concorrência competitiva entre sujeito livres que escolherem ou produziram seu</p><p>consumo.Porém, o seu resultado é uma sociedade individualista na qual liberdade</p><p>significa a livre escolha entre a labuta, trabalho produtor de mais-valia ou morrer de</p><p>fome. Segundo Karl Marx (1818 – 1883):</p><p>A força de trabalho em ação, o trabalho, é a própria atividade vital do operário,</p><p>a própria manifestação da sua vida. E é essa atividade vital que ele vende a</p><p>um terceiro para se assegurar dos meios de vida necessários. A sua atividade</p><p>vital é para ele, portanto, apenas um meio para poder existir. Trabalha para</p><p>3 Aqui exploração significa que homens e mulheres deixam de atender às suas necessidades vitais</p><p>(comer, vestir e morar) para sobreviver no sistema capitalista, sem a garantia de tais primordialidades.</p><p>Satisfazem as carências de outros sujeitos.</p><p>14</p><p>viver. Ele nem sequer considera o trabalho como parte da sua vida, é antes</p><p>um sacrifício da sua vida (...) E o operário – que, durante 12 horas tece, fia,</p><p>perfura, torneia, constrói, cava, talha a pedra e a transporta etc. – valerão</p><p>para ele essas 12 horas de tecelagem, de fiação, de trabalho com arco de</p><p>pua, ou com o torno, de pedreiro, ou escavador, como manifestação da sua</p><p>vida, como sua vida? Ao contrário. A vida para ele, começa quando termina</p><p>essa atividade, à mesa, no bar, na cama. (MARX, 2006, p.36-37).</p><p>Um sistema que não apenas cria falsos produtos, mas também falsas</p><p>necessidades, isto significa que eles são falsos pois não tem como fim a sua serventia</p><p>técnica, mas a única finalidade de serem comercializados, produto como valor de</p><p>troca, útil não para ele produtor, sob a ideia de serem necessários. A consequência</p><p>social, de mais trabalho desnecessário e para o planeta, enquanto seus recursos</p><p>finitos estão sendo destinados para efemeridades. Mas não se trata apenas de falsos</p><p>produtos, mas falsas necessidades, criando assim um falso padrão de vida. E o que</p><p>são as falsas necessidades?</p><p>As falsas necessidades são todas aquelas que os sujeitos não dependem</p><p>dela para sobreviver. Pode parecer de antemão um pensamento confuso, mas</p><p>estamos fazendo tal afirmação para esclarecer que as falsas são aquelas impostas e</p><p>as verdadeiras são concebidas como essenciais à vida, dependendo do dominador,</p><p>assim pode se parecer que as necessidades são interpretadas, mas é bom atentar se</p><p>a característica aqui apresentada que necessidades são impostas, construídas pela</p><p>liberdade.</p><p>É importante destacar que para Herbert Marcuse as necessidades</p><p>verdadeiras são determinadas historicamente. Então, não se trata de simplesmente</p><p>homens e mulheres terem que satisfazer suas necessidades para se manter vivos no</p><p>mesmo nível que um animal selvagem, mas desde que humanos compartilham suas</p><p>vidas e trocam suas experiências tais necessidades passam a ser históricas e dessa</p><p>forma, necessidades são condicionadas. Para Herbert Marcuse:</p><p>A intensidade, a satisfação e até mesmo as características das necessidades</p><p>humanas, para além do nível biológico, foram sempre condicionadas. Se a</p><p>possibilidade de se fazer algo ou de se deixar de fazê-lo, de desfrutar ou de</p><p>destruir, de possuir ou rejeitar algo é tomada como uma necessidade, isso</p><p>depende de se ela pode ou não ser vista como desejável e necessária para</p><p>as instituições e interesses predominantes da sociedade. Nesse sentido, as</p><p>necessidades humanas são necessidades históricas e à medida que a</p><p>sociedade exige o desenvolvimento repressivo do indivíduo, suas próprias</p><p>necessidades e a sua demanda por satisfação estão sujeitas aos padrões</p><p>críticos dominantes. (MARCUSE, 2015 p. 44)</p><p>15</p><p>A partir daí já temos um conceito estabelecido acerca das necessidades</p><p>humanas, que elas são condicionadas, dependente da construção social entre</p><p>homens e mulheres e são o reflexo da sociedade ou a ideologia dominante. A</p><p>importância de tal afirmação está diretamente ligada a ter a diferenciação entre</p><p>necessidades verdadeiras das falsas, se elas são o reflexo de uma sociedade e</p><p>dependentes da ideologia predominante, é aceitável que estejam em ordem com a</p><p>reprodução do estado das coisas vigentes, assim podemos afirmar que na sociedade</p><p>capitalista avançada existem dois tipos de necessidades, as verdadeiras e as falsas.</p><p>As falsas necessidades são todas aquelas que são criadas e impostas aos</p><p>indivíduos tendo como finalidade satisfazer os interesses da dominação vigente, a</p><p>capitalista. Já as verdadeiras necessidades só podem ser definidas como:</p><p>indispensáveis para a vida humana e de acordo com a noção histórica daquele local.</p><p>Assim podemos citar três elementos como essenciais e verdadeiros: Comer, Vestir e</p><p>Morar, contudo sem esquecer da questão histórica, atualmente a energia (seja ela</p><p>elétrica ou combustivéis) são também essenciais para a sociedade. “As únicas</p><p>necessidades que possuem uma pretensão absoluta à satisfação são as</p><p>necessidades vitais - alimentação, vestuário e moradia...” (MARCUSE, 2015, p. 44)</p><p>Há uma certa dificuldade de definir as verdadeiras necessidades, Apenas</p><p>pessoas livres podem estabelecer o conceito de liberdade. Neste caso há um</p><p>problema lógico de definir as verdadeiras necessidades no mundo real, tendo em vista</p><p>que (não estamos livres). Assim ficamos com o “Comer, vestir e morar.” Mas sempre</p><p>destacando que não são necessariamente biológicas e que são históricas, assim em</p><p>uma sociedade verdadeiramente livre poderíamos estabelecer necessidades</p><p>verdadeiras para além disso.</p><p>Logo Marcuse</p><p>nos apresenta três necessidades vitais enquanto</p><p>verdadeiras e em grande parte as necessidades reproduzidas pelo capital tem como</p><p>a finalidade da perpetuação da labuta, sendo consideradas como as falsas</p><p>necessidades. As necessidades na sociedade existente estão ligadas a escolhas de</p><p>objetos não necessários e mesmo enquanto um momento de lazer e repouso do</p><p>trabalho alienante também é para tal fim, necessidades falsas cujo seu objetivo é</p><p>reproduzir a sociedade capitalista.</p><p>16</p><p>2.2 Um universo totalitário</p><p>O Universo existente tendo como fim a sua reprodução, como o único</p><p>sistema possível e que todas outras alternativas são utópicas, cria um discurso de</p><p>mobilização total como objetivo de sua defesa, de sua manutenção e perpetuação.</p><p>Para Marcuse, o filósofo além de expor as diversas maneiras de mobilização, nos</p><p>apresenta um conceito interessante acerca da inexistência da crítica no universo</p><p>existente, que é a integração de homens e mulheres ao sistema.</p><p>Significa que o capitalismo se adaptou, e se adapta, para continuar a sua</p><p>perpetuação, de maneira que a violência diária não é exposta, pode até não ser</p><p>visível4, mas está lá. O que estamos querendo dizer é, que a partir do consumo o</p><p>capitalismo acaba por criar uma falsa integração, se antes5, homens e mulheres</p><p>tinham que viver em um quarto sem saneamento básico e com uma jornada exaustiva,</p><p>agora tem folga e podem morar e consumir os mesmos produtos que seus patrões.</p><p>Porém, tal modo de vida seria suficiente apenas sob uma análise positivista</p><p>que não considera a contradição como elemento que pode alterar os fatos, pois o</p><p>consumo e um falso padrão de vida não é suficiente para definir qualitativamente a</p><p>vida de sujeitos que são explorados diariamente. O consumo é uma forma de integrar</p><p>pessoas a sociedade capitalista, com a finalidade de reproduzir o estado de coisas</p><p>vigentes como se fosse um sistema capaz de suprir as verdadeiras necessidades6. A</p><p>integração por meio do consumo é um modo de mobilização do sistema capitalista</p><p>que assim o faz por ser totalitário.</p><p>Esperam que por usar o termo totalitário para definir a sociedade industrial</p><p>avançada, que realmente seja visivelmente uma ditatura sangrenta, mas totalitário</p><p>aqui significa a sua negação de alternativas e a sua mobilização para manter sua</p><p>perpetuação, que significa em outras palavras o fim da história, totalitária pois não há</p><p>alternativas e com formas de controle que limita a negação do existente.</p><p>4 Na verdade, é sim visível, não é apenas para um modo de pensamento e comportamento</p><p>estabelecido, que vamos explorar posteriormente, o pensamento positivo.</p><p>5 Após a revolução industrial.</p><p>6 Cabe pontuar que a integração por meio do consumo tem seu aspecto prejudicial tanto para a natureza</p><p>quanto para o trabalho, porém em países como Brasil o estado de consumo é um problema na medida</p><p>que é uma necessidade para muitos brasileiros, que não conseguem ter acesso, e que tem seu aspecto</p><p>positivo na diminuição de desigualdade e acesso à educação, cultura, etc. Estamos discutindo</p><p>especificamente acerca do consumo em excesso em sociedades como os EUA e a noção de produtos</p><p>eletrônicos descartáveis, produzidos para quebrar.</p><p>17</p><p>É justamente neste estado de coisas que está inserido o conceito de</p><p>Racionalidade Tecnológica, Como já dissemos, se trata de um modo de pensar,</p><p>administrar e o fazer técnico (know-how) que respondem ao existente. É de extrema</p><p>importância ter como pressuposto o seu caráter politico e sua mobilização para uma</p><p>sociedade mais produtiva e com mais desenvolvimento irracional. Marcuse afirma:</p><p>A racionalidade tecnológica revela seu caráter político quando ela se torna o</p><p>grande veículo da mais perfeita dominação, criando um universo</p><p>verdadeiramente totalitário, na qual a sociedade e a natureza, o espirito</p><p>(mind) e o corpo são mantidos em um estado de permanente mobilização</p><p>para a defesa desse universo. (MARCUSE, 2015, p. 54)</p><p>Na citação talvez fique mais claro a característica totalitária da sociedade</p><p>existente. Mas para que não restem duvidas: primeiro, assim é pois não permite e de</p><p>forma velada, qualquer crítica. e a negação não é permitida, seja por falta de</p><p>alternativas ou por uma falsificação do modo de analisar o existente. A racionalidade</p><p>tecnológica tem papel fundamental e político na defesa do existente.</p><p>Segundo Marcuse:</p><p>Surge assim um padrão de pensamento e comportamento unidimensional, no</p><p>qual as ideias, aspirações e objetivos que, por seu conteúdo, transcendem o</p><p>universo estabelecido do discurso e da ação, são ou repelidos ou reduzidos</p><p>aos termos desse universo. Eles são redefinidos racionalidade do sistema</p><p>dado e de sua extensão quantitativa. (MARCUSE, 2015, p. 50)</p><p>O que está acontecendo é que qualquer modo de vida diferente do</p><p>estabelecido é repelido na medida que não é compatível com a reprodução do modo</p><p>de vida atual. É uma ameaça. Por isso o termo unidimensional empregado pelo autor,</p><p>pois se trata de apenas um único modo de pensar, que tenham como finalidade a</p><p>defesa do sistema capitalista. Unidimensional significa apenas uma dimensão, a</p><p>exclusão do elemento negativo. Mas o que queremos é justamente a superação do</p><p>existente, a esperança de um mundo melhor.</p><p>2.3 O irracional se tornou justificável a partir da sociedade industrial avançada</p><p>A exploração é o “continuum” que une razão pré-tecnológica a</p><p>tecnológica, porém a dependência social é outra, sujeitos respondem não aos seus</p><p>chefes, mas ao ‘mercado’. Herbert Marcuse afirma que a racionalidade tecnológica da</p><p>18</p><p>sociedade capitalista permite o mais alto grau de desenvolvimento que nunca antes</p><p>foi visto ao longo da história, assim como o próprio sistema capitalista, mas tal</p><p>afirmação só é suficiente, é uma análise positivista7. A razão tecnológica na medida</p><p>que tem um desenvolvimento, também significa mais exploração, segundo Marcuse:</p><p>[...]É verdade que a dominação agora gera uma racionalidade maior – aquela</p><p>de uma sociedade que sustenta sua estrutura hierárquica enquanto explora</p><p>ainda mais eficientemente as fontes naturais e mentais, e distribui os</p><p>benefícios dessa exploração em escala cada vez maior. Os limites dessa</p><p>racionalidade, e de sua força sinistra, aparecem na escravização progressiva</p><p>do homem por um aparato produtivo que perpetua a luta pela existência e a</p><p>estende a uma luta internacional total que arruína a vida daqueles que</p><p>constroem e usam esse aparato. (MARCUSE, 2015, p.153)</p><p>Na citação é possível identificar uma noção muito clara que o filósofo</p><p>alemão nos apresenta, que é a racionalidade tecnológica enquanto um</p><p>desenvolvimento da exploração, há dois movimentos que o filosofo descreve, primeiro</p><p>o de uma exploração que permite o próprio surgimento da racionalidade tecnológica</p><p>enquanto exploração de humanos e da natureza, neste caso significa dizer que o</p><p>resultado é palpável, pode ser observado nos bens que a sociedade industrial</p><p>avançada pode conceber, mesmo que de forma qualitativamente e quantitativamente</p><p>ruim, e segundo, de uma razão que permite o desenvolvimento da exploração, de</p><p>como fazer de forma mais eficiente, cujo sua finalidade é a reprodução da sociedade</p><p>existente. A partir daí podemos inferir que para Marcuse racionalidade tecnológica</p><p>enquanto prática8 significa isto, explorar pessoas e a natureza para reproduzir o</p><p>estado das coisas vigentes. Pontuando que tal noção é parcial, a razão não se resume</p><p>a isso, ela pode obdecer a fins racionais.</p><p>É interessante a questão do “manter”, e isto significa a reprodução do</p><p>sistema capitalista enquanto tal, como única possibilidade histórica. Uma sociedade,</p><p>segundo Marcuse, que se fecha para as alternativas. Pois na medida que as</p><p>contradições são a negação do ‘fim da história’ e com isso queremos dizer que há a</p><p>necessidade de alternativas que não seja a realidade</p><p>de dor e sofrimento, é que</p><p>podemos questionar como a sociedade industrial se mantém imune. A racionalidade</p><p>tecnológica não se trata apenas de processos, mas ela é a base de uma sociedade</p><p>7 Posteriormente vamos debater acerca da análise positivista na sociedade industrial avançada em</p><p>Herbert Marcuse</p><p>8 Utilizamos o termo “prática” no sentido de afetar a vida de pessoas, pois pode significar além disso.</p><p>19</p><p>exploradora, ela reproduz a exploração e a mantém. Um bom exemplo são seus falsos</p><p>produtos com suas qualidades questionáveis. Como que o modo de pensamento</p><p>existente permite que uma organização social qualitativamente ruim se coloque como</p><p>superior? Segundo Marcuse:</p><p>Na medida em que eles correspondem à racionalidade dada, pensamento e</p><p>comportamento expressam a falsa consciência, respondendo e contribuindo</p><p>para a preservação de uma falsa ordem dos fatos. E essa falsa consciência</p><p>tem sido corporificada nos aparatos tecnológicos dominantes que, por sua</p><p>vez, a reproduzem. (MARCUSE, 2015, p.154)</p><p>Temos que ter como pressuposto que o estado histórico existente é o mais</p><p>alto grau alcançado, mas há muito tempo a luta diária não pode justificar os avanços</p><p>que a sociedade industrial foi capaz de satisfazer, é justamente acerca disso que,</p><p>aparentemente não faria o menor sentido que seus produtos embelezassem diante de</p><p>tanta contradição, com isto queremos dizer que para uma racionalidade</p><p>verdadeiramente racional nada disso seria justificável, apenas para a irracionalidade,</p><p>que destruição significa desenvolvimento.</p><p>2.4 Pensamento positivo, análise insuficiente do existente.</p><p>Uma sociedade que o irracional é defendido. O que deveria ser objeto de</p><p>crítica e um apontamento para a sua superação, é harmonizado, ou seja, é colocado</p><p>de lado para a elevação de elementos falsos. Vamos compreender como elementos</p><p>que antes eram negativos se tornam positivos e permitem a reprodução de uma</p><p>racionalidade que tem como fim a acumulação. Neste contexto surge o conceito do</p><p>pensamento positivo, que para o Marcuse serve para introduzir o casamento feliz do</p><p>negativo com o positivo.</p><p>O que esse tipo de análise faz é a falsificação do mundo real. Pois, ao não</p><p>considerar ou diminuir a importância de elementos negativos de sua análise, resulta</p><p>em uma fragmentação. Em outras palavras, o que o pensamento positivo realmente</p><p>faz é elevar elementos bons, que alteram a noção de realidade, para transmitir a</p><p>imagem de que o existente é suficiente, mas para isso diminui a importância dos</p><p>elementos contraditórios. Segundo Marcuse:</p><p>20</p><p>Esse elemento não pode ser assimilado ao positivo. Ele muda o conceito em</p><p>seu conjunto, em sua intenção e validade. Assim, na análise de uma</p><p>economia, capitalista ou não, que opera como um poder “independente”</p><p>acima dos indivíduos, os aspectos negativos (sobreprodução, desemprego,</p><p>insegurança, desperdício, repressão) não são compreendidos desde que</p><p>apareçam somente como subprodutos mais ou menos inevitáveis, como “o</p><p>outro lado” da história de crescimento e progresso. (MARCUSE, 2015, p.215)</p><p>O pensamento positivo e sua análise perturbada não podem ser</p><p>considerados para uma elevação e superação qualitativa do status quo e da</p><p>racionalidade tecnológica, na medida que ele visa a harmonização do estado das</p><p>coisas vigentes. Em uma análise positivista o negativo não é considerado como fator</p><p>que pode alterar o seu resultado, pois ele não está contido e não é um elemento de</p><p>relevância, para esse tipo de análise, ao ser absorvido pelo positivo.</p><p>Na medida que fazem a análise mutilada da realidade, eles caminham para</p><p>a direção contrária da história. De acordo com o filósofo alemão: "O pensamento</p><p>positivo e sua filosofia neopositivista contrariam o conteúdo histórico de</p><p>racionalidade." (MARCUSE, 2015, p.215) O bem/conforto exclui o preço pago, na</p><p>análise positivista, que deveria ser levado em consideração, dessa maneira a visão</p><p>positivista em uma análise, é a única que tem um aspecto importante, ficando de fora</p><p>o elemento negativo, que invalida a tese. Por exemplo: O bem-estar social em uma</p><p>análise positivista não coloca em xeque o preço para tal, a labuta exercida para a sua</p><p>manutenção, na prática: o estilo de vida estado-unidense é suficiente para descrever</p><p>aquela sociedade, ficando de fora da análise as repressões a países na periferia</p><p>mundial e a contradição diária.</p><p>Ou seja, o positivismo resulta em uma absorção do negativo para uma</p><p>falsa realidade. A força do pensamento negativo permite uma alternativa ao mundo</p><p>estabelecido. O negativo altera totalmente a análise e assim o positivismo faz a sua</p><p>falsificação. O pensar negativo pode permitir imaginar uma sociedade diferente e com</p><p>alternativa de uma vida sem exploração do homem pelo homem, para isso é</p><p>necessário a superação ao universo estabelecido via transformação qualitativa e</p><p>quantitativa. Marcuse nos apresenta a oposição entre pensamento positivo e negativo:</p><p>A tolerância do pensamento positivo é tolerância forçada - forçada não por</p><p>qualquer agência terrorista, mas pelo poder e eficiência opressivos e</p><p>anônimos da sociedade tecnológica. Como tal, permeia a consciência geral –</p><p>e a consciência do crítico. A absorção do negativo pelo positivo é validada na</p><p>experiencia diária, que ofusca a distinção entre aparência racional e realidade</p><p>irracional. (MARCUSE, 2015, p.216)</p><p>21</p><p>O positivismo não considera o elemento negativo em sua análise, porém o</p><p>pensar negativo altera o resultado, incluindo uma noção mais integral da realidade, na</p><p>medida em que está contido na experiência cotidiana. O pensamento positivo e sua</p><p>análise da sociedade exclui o que não está facilmente diante da pesquisa, ficando de</p><p>fora o pensar negativo. Cada ponto contribui com o que está posto, sendo assim altera</p><p>totalmente o resultado de sua análise. Mesmo que o negativo não esteja contido na</p><p>análise ainda se faz presente na realidade, não na mente unidimensional</p><p>harmonizadora. Nessa sociedade fechada as alternativas o oculto é o elemento</p><p>negativo.</p><p>Dessa forma o negativo não é uma comparação ao positivo, mas a</p><p>invalidação de sua tese ao alterar o resultado. Partindo do pressuposto filosófico</p><p>baseado no positivismo a administração ideológica das coisas, inegavelmente, leva a</p><p>uma vida com mais conforto e bem estar, mas isso seria suficiente em uma análise</p><p>superficial positivista, não dando conta da exploração, obsolescência programada etc.</p><p>O negativo é administrado na sociedade existente e impossibilita pensar uma</p><p>sociedade diferente. Certo movimento pode ser visto em uma análise histórica da</p><p>cidade de Fortaleza, onde existiam campos de concentração para pessoas vindas do</p><p>interior do estado do Ceará, assim pessoas com posses ‘ajudava’ outras que vinham</p><p>para a capital, assim:</p><p>Entre os pontos turísticos da cidade em 1932 estava o campo de</p><p>concentração. a miséria tornava-se espetáculo para os excursionistas. Como</p><p>"tipo exóticos" devidamente enjaulados, os flagelados eram expostos aos</p><p>olhares do sul. Ao que parece, os cinco contos de réis deram aos turistas a</p><p>sensação de dever cumprido. mais uma vez a burguesia amenizava a</p><p>imagem trágica do sofrimento dos pobres em nome da caridade e, afinal,</p><p>colocava em dia o privilégio cristão de "dar mais do que receber" e a sensação</p><p>do dever cumprido (SOUSA, 2001, p. 27)</p><p>E caso o exemplo histórico não seja suficiente, Marcuse também exemplifica a</p><p>harmonização existente:</p><p>Viajo em um automóvel novo. Experimento sua beleza, seu brilho, sua</p><p>potência, sua conveniência – mas então me torno consciente de que num</p><p>tempo relativamente curto ele se deteriorara e necessitara de reparos; que</p><p>sua beleza e superfície baratas, sua potência é desnecessária, seu tamanho</p><p>absurdo; e que eu não encontrarei uma vaga para estaciona-lo. Chego a</p><p>pensar no meu carro como um produto</p><p>das Três Grandes corporações de</p><p>automóveis. Isso determina a aparência de meu carro e produz sua beleza</p><p>22</p><p>tanto quanto seu preço baixo, sua potência tanto quanto sua fragilidade, seu</p><p>funcionamento tanto quanto sua obsolescência. De certo modo, sinto-me</p><p>enganado. Acredito que o carro não é o que poderia ser, que melhores carros</p><p>poderiam ser feitos por menos dinheiro. Mas as outras pessoas também</p><p>precisam viver. Salários e impostos são muito altos; recontratações são</p><p>necessárias; estamos muito melhor do que antes. A tensão entre aparência</p><p>e realidade se dissipa e ambas convergem num sentimento mais agradável.</p><p>(MARCUSE, 2015, p. 216)</p><p>Nas citações fica esclarecido que mesmo diante de um momento de tensão</p><p>a visão positiva das coisas tira a relevância do elemento que nega essa análise, no</p><p>momento que o sujeito diminui o sofrimento do outro com um gesto que ameniza a</p><p>situação na sua mente, mas a realidade continua desordenada, dessa forma a crítica</p><p>na sociedade tecnológica é administrada. Nos dois exemplos existe a seguinte</p><p>sequência: primeiro temos a realidade dada, neste momento o sujeito tende a</p><p>enxergar um todo, mas então passa a reavaliar o elemento negativo, com a finalidade</p><p>de aceitar o existente, excluindo as alternativas.</p><p>A transformação do elemento negativo como parte fundamental da análise</p><p>dessa sociedade estabelecida revela o pensamento unidimensional, os fatos são e</p><p>sempre serão, logo coloca fora da realidade, o torna impossível, as possibilidades de</p><p>uma sociedade qualitativamente superior. Fazendo necessário a filosofia e o pensar</p><p>negativo para mostrar a irracionalidade do racional que nesse universo estabelecido</p><p>aparentam ser o mesmo, o negativo é absorvido.</p><p>O negativo nunca é algo que pode alterar uma análise positivista na</p><p>sociedade existente, ele não apenas altera como faz uma transformação total de um</p><p>todo, na medida que o existente é falso. O que o positivismo em Herbert Marcuse faz</p><p>é falsificar a realidade para que sujeitos, dito livres, aceitam um mundo de dor e</p><p>sofrimento. Marcuse nos aponta três necessidades verdadeiras que são comer, vestir</p><p>e morar, como já esclarecemos, a sociedade existente é o mais alto desenvolvimento</p><p>social e industrial, até hoje, mas mesmo assim a contradição é que as necessidades</p><p>básicas não são supridas, desta forma se torna necessária a falsificação do existente</p><p>e é justificado a partir do pensar positivo, apenas enquanto reprodução da sociedade</p><p>capitalista e não para uma mudança tendo em vista uma vida melhor.</p><p>23</p><p>3 A RACIONALIDADE SE TORNOU INSTRUMENTAL E ELEMENTO DE</p><p>DOMINAÇÃO PARA A SOCIEDADE CAPITALISTA</p><p>A racionalidade existente, tornou-se instrumento de reprodução das coisas</p><p>como elas estão, em outras palavras, o racional serve para um sujeito histórico</p><p>específico, o establishment, o que já está estabelecido. Tal afirmação seria definitiva</p><p>se não compreendêssemos a racionalidade existente negativamente, isto é, que</p><p>permitisse pensar um outro universo, concebido como outra potencialidade. Quando</p><p>o conceito de razão é debatido, e aqui podemos utilizar a definição do filósofo e</p><p>matemático Alfred Whitehead (1861 – 1947) que define que: “A função da razão é</p><p>promover a arte da vida.” (WHITEHEAD, 1988, p. 5) Deduzimos que a razão existente</p><p>não se compromete com tal noção, mas além de não incluir em seus cálculos a</p><p>proposta de uma vida boa e o que realmente aqui estamos expondo é a sua falta de</p><p>comprometimento político com o existente, de promover a arte da vida, ou pelo menos</p><p>se apresenta isenta dos valores da vida em suas equações. Marcuse, ratifica o</p><p>significado da racionalidade instrumental vigente, “os negócios têm que continuar”:</p><p>Nós vivemos e morremos racionalmente e produtivamente. Nós sabemos que</p><p>a destruição é o preço do progresso, assim como a morte é o preço da vida,</p><p>que a renúncia e o esforço são os pré-requisitos para a gratificação e o prazer,</p><p>que os negócios têm que continuar, e que as alternativas são utópicas. Essa</p><p>ideologia pertence ao aparato social estabelecido; ela é requisito para seu</p><p>funcionamento contínuo e faz parte da sua racionalidade (MARCUSE,</p><p>2015,p. 154)</p><p>Na citação “a destruição é o preço do progresso” estabelece uma linha</p><p>muito importante do que estamos debatendo, que é a racionalidade enquanto um</p><p>processo que não pode ser questionado, que seus resultados são a priori justificáveis.</p><p>Por ter definido um tipo de pensamento que defende o existente enquanto falsificação,</p><p>a noção de que para o desenvolvimento é necessário que homens e mulheres</p><p>abdiquem de suas vidas para sobreviver neste tipo de sistema e que não a utilização9</p><p>da natureza, mas a sua utilização destrutiva, sem uma noção real de reduzir os danos,</p><p>é necessária para uma vida melhor, expõe muito claramente a redução ao caráter</p><p>9 A palavra “utilizo” no sentido de que podem imaginar um romance entre humanos e natureza, que a</p><p>sua utilização é necessária, e realmente é, mas não o fazem tal como nativos, mas a destroem. Não</p><p>com o fim de a utilizar, mas de acumular, significando assim destruição.</p><p>24</p><p>quantitativo dos valores da sociedade industrial existente, característica que permite</p><p>a valorização da acumulação, que se converte em exploração. Esclarece Isabel</p><p>Loureiro:</p><p>Além disso, vivemos uma situação paradoxal: o progresso técnico, em vez de</p><p>libertar os seres humanos, só intensificou a submissão ao trabalho daqueles</p><p>que ainda têm uma ocupação remunerada. A fim de manter a competitividade</p><p>e os lucros, as empresas capitalistas intensificaram os ritmos de produção</p><p>em todos os níveis, diminuíram o número de trabalhadores, etc. o que leva à</p><p>superexploração dos que têm a sorte de manterem o emprego. (LOUREIRO,</p><p>2005, p. 19)</p><p>Escancara-se que não há uma finalidade de vida melhor, o universo</p><p>existente se frusta ou nos frusta. Primeiro, se sua finalidade é promover uma vida feliz,</p><p>Como, pois, estamos cada vez mais desprovidos de saúde, sem a garantia de uma</p><p>vida boa e que não há alternativas. A destruição é o preço do progresso. Se seus fins</p><p>são estes, realmente frustrantes, sua perpetuação realiza-se com êxito. Tal termo de</p><p>que há um preço para algo só faz sentido no sistema existente em que a crítica deixa</p><p>de existir e o que resta são as justificativas para o irracional. Sobre isso Marcuse</p><p>estabelece:</p><p>Contudo, o aparato frusta seu próprio propósito caso este seja criar uma</p><p>existência humana com base em uma natureza humanizada. E se esse não</p><p>é seu propósito, sua racionalidade é ainda mais suspeita. Mas é também mais</p><p>lógica porque, desde o início, o negativo está no positivo, o inumano está na</p><p>humanização, a escravidão está na libertação. Esta dinâmica é a da realidade</p><p>e não da mente, mas de uma realidade na qual a mente cientifica tem um</p><p>papel decisivo na união entre razão teórica e prática. (MARCUSE, 2015, p.</p><p>154)</p><p>Cabe destacar, a partir de Marcuse, o papel das ciências naturais enquanto</p><p>um universo de efetivação prática das possibilidades pretendidas, pois seu objetivo é</p><p>a verificação e realização do como (know how) alterar a sociedade isto é, a ciência</p><p>apresenta os meios para a execução dos resultados políticos pretendidos. A</p><p>verificação empírica ao excluir seu elo com perspectivas ou objetivos da ação,</p><p>possibilita a afirmação de que a racionalidade é simplesmente instrumental, não</p><p>incluindo desde suas bases, o vínculo implícito com a ideologia do existente.</p><p>O caráter político desta racionalidade evidencia-se porque o todo que</p><p>incluiria as possibilidade reduz-se à irracionalidade existente. Pensamento e ação</p><p>25</p><p>resultam em mudança política, seja ela boa ou ruim10. Vamos iniciar este nosso</p><p>pensamento a partir da afirmação de que a racionalidade é política, após ter</p><p>estabelecido que em Marcuse a razão se caracteriza a partir da ideologia dominante.</p><p>Precisamos</p><p>estabelecer o papel político da maquinaria moderna, o papel</p><p>da própria técnica. Existe uma diferenciação da máquina, antes da revolução industrial</p><p>e após. E mesmo depois da revolução poderia se imaginar a máquina enquanto isenta</p><p>de qualquer vínculo com o mundo real, mas não há diferença entre os dois universos</p><p>neste aspecto quando analisamos que o trabalhador está inserido em ambos. Marx a</p><p>define como o instrumento antes do capitalismo, do modo que temos hoje, era</p><p>associado ao trabalhador tal qual sua arte, uma costureira preparava a peça de tal</p><p>modo que os três movimentos que tornam uma máquina ser o que é, era totalmente</p><p>elaborado por ela.</p><p>A máquina moderna já não é do mesmo modo, os três movimentos que</p><p>Marx nos apresenta é feito pela maquinaria, a técnica manual se torna automatizada,</p><p>o que pode levar a uma falsa conclusão de que a máquina é restrita à ideologia</p><p>existente e mais ainda, que ela por si é suficiente nos processos industriais. Mas</p><p>mesmo que seus processos sejam automatizados ainda é dependente do trabalhador,</p><p>é certo que com um número menor, o que leva ao debate acerca da máquina moderna</p><p>resultar em uma vida miserável, mas tal noção só é possível em um universo que a</p><p>máquina é forjada para a acumulação capitalista. Desta maneira Marx define a</p><p>maquinaria moderna:</p><p>Ora, se examinamos mais detalhadamente a máquina ferramenta, ou</p><p>máquina de trabalho propriamente dita, nela reencontramos, no fim das</p><p>contas, ainda que frequentemente sob forma muito modificada, os aparelhos</p><p>e ferramentas usados pelo artesão e pelo trabalhador da manufatura, porém</p><p>não como ferramentas do homem, mas ferramentas de um mecanismo ou</p><p>mecânicas. Ou a máquina inteira é uma edição mecânica mais ou menos</p><p>modificada do antigo instrumento artesanal, como no tear mecânico, ou os</p><p>órgãos ativos anexados à armação da máquina de trabalho são velhos</p><p>conhecidos, como os fusos na máquina de fiar, as agulhas no tear para a</p><p>confecção de meias, as serras na máquina de serrar, as lâminas na máquina</p><p>de picar etc. A diferença entre essas ferramentas e o corpo propriamente dito</p><p>da máquina de trabalho existe desde o nascimento delas, pois continuam, em</p><p>sua maior parte, a ser produzidas de modo artesanal ou manufatureiro e</p><p>apenas posteriormente são afixadas no corpo da máquina de trabalho, o qual</p><p>é o produto da maquinaria. A máquina-ferramenta é, assim, um mecanismo</p><p>que, após receber a transmissão do movimento correspondente, executa com</p><p>suas ferramentas as mesmas operações que antes o trabalhador executava</p><p>com ferramentas semelhantes. (MARX, 2013, p. 550)</p><p>10 Porém, já sabemos qual é o seu resultado, a irracionalidade.</p><p>26</p><p>Desta maneira podemos apontar o uso político da máquina, da técnica, e</p><p>cabe destacar que a tecnologia e não a técnica pode ser alterada, pois é justamente</p><p>na primeira que existe o caráter ideológico ficando o segundo dependente do primeiro,</p><p>na medida que é resultado da ideologia existente, respondendo a ordem de fatos, no</p><p>caso, como já estabelecemos, a racionalidade tecnológica está associada a um sujeito</p><p>histórico especifico, a técnica como esclarece Renê Ivo em sua dissertação, é:</p><p>Nesse sentido, a técnica é um instrumento de dominação e não pode deixar</p><p>de sê-lo enquanto estiver sob o controle da tecnologia enquanto modo de</p><p>produção capitalista. A técnica inserida no interior da tecnologia existente não</p><p>pode impor qualquer tipo de resistência eficaz e nem muito menos solapar as</p><p>relações sociais capitalistas nas quais está inserida, a sua contribuição limita-</p><p>se a seguir a organização tecnológica. (LIMA, 2020, p. 39)</p><p>Significa dizer que a técnica é um modo de fazer, e que a racionalidade já</p><p>é resultado de um todo, que está associada a ideologia dominante, justamente por</p><p>isso que há a incompatibilidade com a vida boa, pois o problema existe desde suas</p><p>bases. Podemos claramente afirmar que para Marcuse uso político não significa</p><p>necessariamente a utilização de modo técnico, que as possibilidades estão restritas</p><p>apenas ao uso, podem ser usadas para vida justa ou não, mas não depende apenas</p><p>disso.</p><p>A utilização instrumental de modo político é assim para a reprodução da</p><p>sociedade capitalista, mas o contrário para reproduzir uma sociedade racional não é</p><p>garantido, na medida, como já esclarecemos, é forjada para o universo existente,</p><p>desde suas bases que está associada ao universo estabelecido, a sociedade industrial</p><p>avançada.</p><p>O elemento político na racionalidade está inserido quando há a negação de</p><p>tratar sob a ótica de fazer a crítica, no momento que o empirismo é suficiente e que</p><p>qualquer noção idealista é apenas um pensamento, Marcuse afirma acerca de tal</p><p>noção: "O empirismo total revela sua função ideológica na filosofia contemporânea."</p><p>(MARCUSE, 2015, p. 172) A razão existente não seria coerente consigo se fosse</p><p>alterar a realidade de maneira qualitativa, mas é assim para que as necessidades da</p><p>ideologia sejam mantidas e dessa maneira cumpre seu papel político. Segundo</p><p>Marcuse:</p><p>O a priori tecnológico é um a priori político na medida em que a transformação</p><p>da natureza envolve aquela do homem, e na medida em que as “criações do</p><p>27</p><p>homem” são resultado e se reinserem no conjunto social. Pode-se ainda</p><p>insistir que a maquinaria do universo tecnológico é “como tal” indiferente em</p><p>relação aos fins políticos - ela pode revolucionar ou retardar a sociedade. Um</p><p>computador eletrônico pode servir igualmente a uma administração</p><p>capitalista ou socialista; um acelerador de partículas pode ser uma ferramenta</p><p>igualmente eficiente para um partido de guerra ou um partido de paz.</p><p>(MARCUSE, 2015, p. 161)</p><p>Estamos esclarecendo o caráter restrito ideológico de comprometimento da</p><p>racionalidade com a defesa do existente irracional como um todo irracional. A partir</p><p>da afirmação de Marcuse que o a priori tecnológico é um priori político é que podemos</p><p>compreender o elo entre uma racionalidade restrita e o mundo tecnológico capitalista,</p><p>com suas potencialidades, é verdade que é pode servir a sociedade capitalista ou</p><p>socialista, mas é uma falsa verdade. Na medida em que a racionalidade tecnológica</p><p>é instrumentalizada à subordinação ao existente ela deixa de contemplar as</p><p>potencialidades que ultrapassam o existente, o aparato vigente.</p><p>Cabe à metafísica apontar enquanto ponto crucial, seu papel fundamental</p><p>é importante aqui. Ela é que nos apresenta o “bem” e que pode estar contido na</p><p>ciência, para que a definição apresentada por Whitehead faça sentido, precisamos</p><p>compreender em que momento não o fez mais, não apresentou qualidades para o</p><p>mundo real. Assim política e metafísica na ciência moderna podem convergir para um</p><p>mundo melhor, ou assim deveria ser, precisamos compreender como houve uma</p><p>falsificação. Tal noção precisa de uma melhor explicação.</p><p>3.1 A epistemologia da operacionalização da natureza enfraqueceu as</p><p>possibilidades de uma vida feliz, na medida em que as abragências da razão</p><p>são enfraquecidas.</p><p>Neste ponto já estamos com uma noção pré-estabelecida, que é a ideia</p><p>que precisamos investigar e explicar melhor é a concepção pela qual a ciência</p><p>moderna não tem o resultado como parte de sua objetividade11, as causas finais. Mas</p><p>há de se pontuar que não se trata de não entregar respostas no mundo real, pois é</p><p>exatamente isso que faz e é o seu critério, enquanto conceito de ciência na sociedade</p><p>moderna.</p><p>11 “Resultado” significa dizer que os seus fins não são estabelecidos enquanto um critério que altere</p><p>seus cálculos.</p><p>28</p><p>Isso é, se mostrar presente no aparato enquanto objeto verificável, quando</p><p>o modelo de empirismo é apresentado em sua metodologia. Para que não exista uma</p><p>contradição em nosso pensamento, dizemos que a razão altera, de modo não</p><p>dialético, a sociedade industrial avançada, dentro</p><p>de suas limitações que são impostas</p><p>desde seu surgimento, a ciência enquanto instrumental.</p><p>Quando sujeitos livres deixam de responder aos critérios das causas finais,</p><p>seus padrões passam a ser cobrados por leis abstratas, ou instituições fictícias, fica</p><p>claro o que significa dizer que objetividade estaria independente de critérios críticos</p><p>independentes de qualificação fundamentada em valores que não permitiriam a, a</p><p>repressão. Então quando não se considera o elemento de causas finais como</p><p>objetividade da ciência moderna, significa dizer que a operacionalização da natureza,</p><p>necessária para o funcionamento da sociedade deixa de considerar a análise de seus</p><p>fins, propiciando o não posicionamento em relação à possibilidade de repressão de</p><p>suas possibilidades reais. Para esclarecer melhor:</p><p>A quantificação da natureza, que levou à sua explicação em termos de</p><p>estruturas matemáticas, separou a realidade de todos os fins inerentes e.</p><p>consequentemente, separou o verdadeiro do bom, a ciência da ética. Não</p><p>importa o quanto a ciência é capaz de definir a objetividade da natureza e as</p><p>inter-relações entre suas partes, ela não pode concebe-las cientificamente</p><p>em termos de “causas finais”. (MARCUSE, 2015, p. 155)</p><p>Considerando que a racionalidade existente não abrange as questões</p><p>referentes à dominação, na citação fica de forma mais compreensível as divergências</p><p>entre ciência e mundo real. O que está em jogo é precisamente o enfraquecimento de</p><p>valores que podem alterar a compreensão do mundo real, análise dos valores que</p><p>foram deixados de lado na medida que as causas finais foram excluídas de suas</p><p>fórmulas.</p><p>O senso-comum e a ciência liberam-se desta contradição; mas o pensamento</p><p>filosófico inicia com o reconhecimento de que os fatos não correspondem aos</p><p>conceitos impostos pelo senso comum e pela razão científica – em suma,</p><p>inicia-se pela recusa em aceitá-los.” (MARCUSE, Herbert. A note on Dialectic</p><p>– In: Reason and Revolution – Hegel and the rise of social theory. Tradução</p><p>do prefácio de Alberto Dias Gadanha. Boston: Beacon Press, 1960).</p><p>A recusa em aceitar uma realidade que não é verdadeira, por mais que as</p><p>noções científicas definam o todo como racional, uma análise mais profunda é capaz</p><p>de apresentar as contradições entre racionalidade e mundo real. Este é o primeiro</p><p>29</p><p>momento de uma negação ao existente, na medida que o sujeito é capaz de</p><p>compreender as condições existentes, e a diferença entre racional e mundo</p><p>estabelecido. Segundo Marcuse:</p><p>À proporção que tais conceitos desconsideram as inevitáveis contradições</p><p>que constituem a realidade eles abstraem-se do próprio processo da</p><p>realidade.” (MARCUSE, Herbert. A note on Dialectic – In: Reason and</p><p>Revolution – Hegel and the rise of social theory. Tradução do prefácio de</p><p>Alberto Dias Gadanha. Boston: Beacon Press, 1960).</p><p>Assim é mais importante a comprovação pela especulação do quê deve</p><p>ser. O filósofo e matemático Whitehead em sua obra A função da razão nos alerta</p><p>acerca da potencialidade da racionalidade:</p><p>Nessa rejeição da causação final, a evidência parece irresistível, até nos</p><p>lembremos de que foram evidências exatamente como essa mesma força e</p><p>caráter que levaram o segmento educado da sociedade, no mundo clássico,</p><p>a rejeitar a visão cristã, e fizeram com que o educado mundo escolástico</p><p>desprezasse a nova perspectiva científica dos séculos dessezeis e</p><p>dezessete. É necessário levar-se sempre em conta os dois aspectos da</p><p>Razão, a Razão de Platão e a Razão de Ulisses, a Razão que busca uma</p><p>compreensão integral, e a Razão que busca um método de ação imediato.</p><p>(WHITEHEAD, 1988, p. 6)</p><p>Logo, o momento da experiência, quando um cientista avalia</p><p>empiricamente as suas pesquisas, é elevada. Deste modo, a comprovação de que o</p><p>movimento especulativo resulte no cálculo realizado anteriormente, a afirmação de</p><p>que a ciência moderna não tem causas finais em suas fórmulas serve justamente para</p><p>levar à luz que a verificação de suas hipóteses é suficiente para a metodologia</p><p>existente.</p><p>Noções de bom, belo e uma vida boa já não são suficientes (ou exigidas)</p><p>para definir os valores da racionalidade da ciência moderna. A partir desta afirmação</p><p>passaremos a investigar acerca do enfraquecimento de conceitos que tem e já tiveram</p><p>potencialidade para alterar o mundo, mas aparentemente não são necessários para</p><p>os negócios, não agregam em valores acumulativos de troca.</p><p>O que (propomos colocar) em evidência é o elemento qualitativo a</p><p>avaliação das causas finais pelos critérios do bem, do justo e do belo. Sendo</p><p>estabelecido o critério lógico que a racionalidade tecnológica é diferente da</p><p>representação de tais noções, pois apenas o modelo de comprovação empirista</p><p>30</p><p>importa, isso se tornou realidade, na medida que elementos não comprovados, a partir</p><p>da realidade, não são importantes para suas formulações.</p><p>Assim, Marcuse consegue sintetizar, o que significa dizer que o existente é</p><p>irracional, o mundo vigente pode até ser justificável, mas apenas enquanto o bom e o</p><p>justo não fazem parte da razão, a racionalidade existente foi reduzida à</p><p>operacionalização e a matematização. Até enquanto na própria ciência em questão, a</p><p>qual estamos debatendo, elementos que estavam presentes enquanto possibilidades</p><p>deixam de ser importantes. Desta forma há uma negação do ‘dever ser’ separando a</p><p>ciência de causas finais. Marcuse diz:</p><p>A união entre Logos e Eros conduziu já em Platão à supremacia do Logos;</p><p>em Aristóteles, a relação entre deus e o mundo movida por ele é “erótica”</p><p>apenas em termos e analogia. Assim, a ligação ontológica precária entre</p><p>Logos e Eros é quebrada, e a racionalidade científica emerge como</p><p>essencialmente neutra. Aquilo pelo que a natureza (incluindo o homem) pode</p><p>estar lutando é cientificamente racional apenas em termos gerais de</p><p>movimento - físico, químico, ou biológico. (MARCUSE, 2015, p. 155)</p><p>No momento em que há uma noção de que o racional estabelecido é</p><p>definido apenas enquanto lógico ou matemático, de que apenas a sua comprovação</p><p>técnica é suficiente para o seu funcionamento, há a ruptura entre o que é, aquilo que</p><p>está estabelecido, com o que pode ser e não deveria ser, assim exclui a possibilidade</p><p>crítica em seus processos racionais.</p><p>Justamente acerca disso que estamos tentando esclarecer ao longo de</p><p>nosso (exposição), que a suspensão entre racionalidade científica e o mundo real, os</p><p>valores aos quais deveria se comprometer são negados e assim é apresentada como</p><p>neutra, sem a responsabilidade pela qualidade da vida das pessoas, mas apenas</p><p>enquanto instrumentalidade, são forjadas para funcionar, para a operacionalização,</p><p>qualquer elemento diferente já não faz parte de seus cálculos.</p><p>A própria ideia de verdade foi reduzida ao propósito de uma ferramenta útil</p><p>no controle da natureza, e a realização das infinitas potencialidades inerentes</p><p>ao homem foi relegada ao estatuto de luxo. O pensamento que não serve aos</p><p>interesses de qualquer grupo estabelecido ou que não serve aos negócios de</p><p>qualquer indústria não tem lugar, é considerado vão ou supérfluo.</p><p>(HORKHEIMER, 2015, p. 158)</p><p>O que significa dizer que a racionalidade técnica e científica, na sociedade</p><p>industrial avançada, é instrumental. Tal definição surge na medida que é forjada e</p><p>utilizada de maneira quantitativa. Não importa o que pode significar a fabricação de</p><p>31</p><p>mais armas, o que realmente vai contar para a defesa de seu desenvolvimento é que</p><p>aquele país, a partir do desenvolvimento de mais bombas, vai poder exercer seu papel</p><p>imperialista, de maneira que a razão é instrumentalizada, mas ao mesmo tempo não</p><p>tem nenhum vínculo com o mundo como tal, são apenas cálculos e que podem servir</p><p>para o bem ou não, se tornando neutra e passível de decisões. Acerca de seu caráter</p><p>instrumental Marcuse aponta:</p><p>Como as leis e os mecanismos da racionalidade tecnológica estão</p><p>difundidos</p><p>por toda a sociedade, desenvolvem um conjunto de valores de verdade</p><p>próprios que serve bem ao funcionamento do aparato – e para isto apenas.</p><p>Afirmações relativas a comportamento competitivo ou conivente, métodos</p><p>comerciais, princípios de organização e controle efetivos, conduta correta,</p><p>uso da ciência e tecnologia são verdadeiros ou falsos em termos deste</p><p>sistema de valores, quer dizer, em termos de instrumentalidades que ditam</p><p>seus próprios fins. Estes valores de verdade são testados e perpetuados pela</p><p>experiência e devem guiar pensamentos e ações de todos os que desejam</p><p>sobreviver. A racionalidade aqui pede submissão e coordenação</p><p>incondicional e, consequentemente, os valores de verdade relacionados a</p><p>esta racionalidade implicam a subordinação do pensamento a padrões</p><p>externos preestabelecidos. Podemos chamar verdade tecnológica este</p><p>conjunto de valores de verdade, tecnológica no duplo sentido de que é um</p><p>instrumento de eficácia em vez de um fim em si, e de que segue o padrão do</p><p>comportamento tecnológico. (MARCUSE, 1999, p. 84)</p><p>Ao apresentarmos a razão como neutra significa dizer, em Herbert</p><p>Marcuse, que a razão da sociedade capitalista é neutra, na medida que não se</p><p>compromete em alterar o mundo, com a finalidade de uma vida melhor, da vida boa e</p><p>da vida justa. Estamos fazendo duas afirmações, primeiro que a razão é neutra porque</p><p>libera-se da decisão dos valores, apenas enquanto efetividade técnica e segundo, que</p><p>ela não se compromete com uma vida boa.</p><p>Para esclarecer melhor tal noção; significa dizer que a razão não é neutra,</p><p>ao fazermos a afirmação anterior de sua neutralidade também estamos a negando,</p><p>pois na modernidade a ciência se apresenta como neutra para não haver o</p><p>comprometimento com o mundo real, que seus cálculos são abstratos e a verificação</p><p>na natureza, o empirismo, é suficiente para este tipo de efetividade, que todo o resto</p><p>não é de seu juízo. Marcuse esclarece:</p><p>Essa neutralidade é contestada na afirmação controversa de Marx de que</p><p>“moinho manual nos dá uma sociedade com o senhor feudal; o moinho a</p><p>vapor, a sociedade com o capitalista industrial.” E essa afirmação é</p><p>modificada posteriormente na própria teoria marxiana: modo social de</p><p>produção, não a técnica, é o fator histórico básico. Contudo, quando a técnica</p><p>se torna a forma universal da produção material, ela circunscreve uma cultura</p><p>32</p><p>inteira; ela projeta uma totalidade histórica - um “mundo”. (MARCUSE. 2015,</p><p>p. 161)</p><p>Na tentativa de separar a quantificação da natureza com o existente</p><p>político. A crítica que estamos apresentando, a partir de Marcuse, é justamente de</p><p>saber quando houve essa ruptura, pois, a razão existente, não pode conceber um</p><p>mundo melhor, na medida que não é neutra e por não ser, se compromete com a</p><p>sociedade industrial avançada do capitalismo. Como bem esclarece Marillia Pisani:</p><p>Para ele, a ciência deixou de ser apenas instrumento de conhecimento e</p><p>verdade e, enquanto instrumento neutro e puro, enquanto instrumento livre</p><p>de valor, a ciência torna-se o melhor veículo para a efetivação de valores</p><p>externos, não científicos, valo res sociais. Tendo em vista que os valores</p><p>sociais que regem o mundo de hoje são os valores do capital, a ciência se</p><p>torna um veículo de apropriação e acumulação no novo estágio das</p><p>sociedades industriais avançadas. Ela incrementa o processo produtivo com</p><p>aparatos e máquinas ao mesmo tempo em que realiza uma grande</p><p>reestruturação no mundo do trabalho, no modo de produção material da</p><p>existência. (PISANI, 2009, p.141)</p><p>Quando a racionalidade se apresenta como neutra, não se fica a par dos</p><p>valores de uma vida boa, pois ao se mostrar desta forma, acaba por negar qualquer</p><p>responsabilidade com o mundo real, pois se afirma como instrumento para a</p><p>sociedade industrial avançada vigente a capitalista, a racionalidade existente é</p><p>instrumental, mas só é assim pois permite o tipo de justiça da contradição existente.</p><p>Por isso precisamos compreender como e quando os valores de uma vida boa foram</p><p>negados para a elevação de uma racionalidade instrumental.</p><p>Fora dessa racionalidade, vive-se num mundo de valores, e valores</p><p>separados da realidade objetiva se tornam subjetivos. A única forma de</p><p>resgatar alguma validade abstrata e inofensiva para eles parece ser a sanção</p><p>metafisica (lei divina e natural). Mas, tal sanção não é verificável e assim não</p><p>é realmente objetiva. Valores podem ter uma dignidade mais elevada</p><p>(moralmente e espiritualmente), mas eles não são reais e portanto contam</p><p>menos nos negócios reais da vida – quanto menos eles valem aqui, mais alto</p><p>são elevados acima da realidade. (MARCUSE, 2015, p. 156)</p><p>Marcuse nos mostra como valores que deveriam ser tomados como,</p><p>pressupostos, deixam de ser um ponto considerado como crucial no surgimento do</p><p>pensamento, pois não há validade em seus feitos, enquanto noções que podem ser</p><p>colocadas em xeque. Uma crítica que procure legitimar necessariamente deveria ter</p><p>uma autenticação do pensamento, mas houve uma mudança onde a verificação</p><p>metodológica dos fatos é mais importante, pois são elas que são valores, representam</p><p>33</p><p>as finanças, a manutenção do universo estabelecido. As ideias que apresentamos são</p><p>consideradas não científicas. Marcuse aponta:</p><p>O caráter não-cientifico dessas ideias acaba fatalmente por enfraquecer a</p><p>oposição à realidade estabelecida; as ideias se tornam meros ideais, e seu</p><p>conteúdo concreto, crítico evapora em uma atmosfera ética ou metafisica.</p><p>(MARCUSE, 2015, p. 156)</p><p>Desta maneira o que acontece efetivamente, é que a racionalidade</p><p>tecnológica tendo como predicado a instrumentalização termina por enfraquecer ou</p><p>invalidar valores que tem a potencialidade de fundamentar a crítica e nos apresentar</p><p>o que deve ser uma vida boa e feliz. O enfraquecimento de tais noções ocorre na</p><p>medida em que não são necessários e não agregam aos negócios, à livre</p><p>concorrência, na metodologia da ciência moderna. O empirismo é elevado a juiz que</p><p>define o útil. Segundo Marcuse, acerca da ruptura entre ciência e mundo real:</p><p>Eu não estou insinuando que a filosofia da física contemporânea negue ou</p><p>mesmo questione a realidade do mundo externo, mas que, de um modo ou</p><p>de outro, ela suspende o juízo sobre o que a própria realidade possa ser, ou</p><p>considere a própria questão insignificante e irresponsável. Tornada um</p><p>princípio metodológico, essa suspensão tem uma dupla consequência: (a) ela</p><p>fornece a troca da ênfase teórica do metafísico “O que é...? pelo funcional</p><p>“Como é...? e (b) ela estabelece uma certeza prática (embora de modo algum</p><p>absoluta), que, em suas operações com a matéria, está livre com boa</p><p>consciência do comprometimento com qualquer substancia fora do contexto</p><p>operacional. (MARCUSE, 2015, p. 159)</p><p>Justamente, pois a racionalidade existente responde a um certo tipo de</p><p>comportamento e sujeito específico, que é a sociedade industrial avançada, pois tais</p><p>valores com sua enorme potencialidade são excluídos na medida que não são</p><p>suficientes para os negócios. Porém, tal questão apresenta também o caráter</p><p>irracional do racional, pois a razão deveria significar justamente o conteúdo crítico</p><p>presente na metafísica para uma vida melhor.</p><p>Qual a grande questão que queremos esclarecer? Se trata de a</p><p>Racionalidade Tecnológica ter como pretensão o bem viver, definição realizada por</p><p>Whitehead: “A função da Razão é promover a arte da vida.” (WHITEHEAD, 1988, p.</p><p>5) Nesta frase pode indicar a razão efetiva e a razão que pode ser, tendo em vista</p><p>que a partir de Marcuse e sua tese acerca da sociedade industrial avançada, sistema</p><p>que propaga uma vida infeliz e que a Racionalidade Tecnológica tem papel</p><p>fundamental, então se trata de algo que pode vir a ser, promover a arte da vida.</p><p>34</p><p>Então há um problema filosófico em tal questão, se a racionalidade deve</p><p>promover uma vida boa, mas valores que podem indicar o âmbito</p>