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<p>História das Religiões</p><p>Cristianismo</p><p>Material Teórico</p><p>Responsável pelo Conteúdo:</p><p>Prof. Dr. Ney de Souza</p><p>Revisão Textual:</p><p>Prof. Ms. Claudio Brites</p><p>Cristianismo na Idade Média</p><p>• Formação da cristandade medieval</p><p>• Aliança do Papado com os Francos</p><p>• Religião revestida de poder</p><p>• Fissuras no modelo medieval de cristandade</p><p>• Vivência cristã no período medieval</p><p>· Apresentar as relações do poder espiritual com o poder temporal e</p><p>suas consequências para a religião cristã.</p><p>OBJETIVO DE APRENDIZADO</p><p>Cristianismo na Idade Média</p><p>Orientações de estudo</p><p>Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem</p><p>aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua</p><p>formação acadêmica e atuação profissional, siga</p><p>algumas recomendações básicas:</p><p>Assim:</p><p>Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte</p><p>da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e</p><p>horário fixos como o seu “momento do estudo”.</p><p>Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma</p><p>alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.</p><p>No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e</p><p>sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também</p><p>encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua</p><p>interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.</p><p>Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,</p><p>pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato</p><p>com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.</p><p>Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte</p><p>Mantenha o foco!</p><p>Evite se distrair com</p><p>as redes sociais.</p><p>Mantenha o foco!</p><p>Evite se distrair com</p><p>as redes sociais.</p><p>Determine um</p><p>horário fixo</p><p>para estudar.</p><p>Aproveite as</p><p>indicações</p><p>de Material</p><p>Complementar.</p><p>Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma</p><p>Não se esqueça</p><p>de se alimentar</p><p>e se manter</p><p>hidratado.</p><p>Aproveite as</p><p>Conserve seu</p><p>material e local de</p><p>estudos sempre</p><p>organizados.</p><p>Procure manter</p><p>contato com seus</p><p>colegas e tutores</p><p>para trocar ideias!</p><p>Isso amplia a</p><p>aprendizagem.</p><p>Seja original!</p><p>Nunca plagie</p><p>trabalhos.</p><p>UNIDADE Cristianismo na Idade Média</p><p>Introdução</p><p>A Igreja Católica Apostólica Romana foi a única instituição que sobreviveu à queda</p><p>do Império Romano do Ocidente. Sua história é complexa e com diversas nuances.</p><p>O fato é que a religião cristã acabou por se tornar a herdeira tanto da cultura</p><p>quanto da história do grande Império que sucumbiu pelos seus próprios erros e</p><p>desmandos. Sendo assim, é necessário estudar tanto a história do Cristianismo</p><p>quanto a da derrocada do Império.</p><p>A Formação da Cristandade Medieval</p><p>No século IV, Roma estava em plena decadência. Diversos autores destacam os</p><p>problemas do Império que chegou em sua máxima extensão e não estava conseguin-</p><p>do mais defender seu território. Ao longo do tempo, diversas rebeliões e levantes</p><p>desgastaram os exércitos romanos, mercenários e dependentes de novas conquistas.</p><p>Quer saber mais sobre a decadência do Império Romano? Veja: https://goo.gl/CBKSPZ</p><p>Ex</p><p>pl</p><p>or</p><p>Existiam problemas econômicos como os exorbitantes impostos, o aumento dos</p><p>gastos públicos, baixo rendimento agrícola, abandono de terras e enriquecimento</p><p>às custas do povo. Também são citados problemas morais, como a perda dos</p><p>costumes, da ética militar e do vínculo familiar. Além disso, os últimos imperadores</p><p>foram incapazes e indecisos, concorrendo com a falta de lealdade do exército, dos</p><p>muitos mercenários e de pessoas de todas as origens (não romanos).</p><p>Em síntese, os problemas foram:</p><p>• Corrupção;</p><p>• Amotinamento das tropas;</p><p>• Invasões bárbaras;</p><p>• Fim do sistema escravista;</p><p>• Falência da indústria e comércio;</p><p>• Aumento da Criminalidade;</p><p>• Epidemias;</p><p>• Fuga para os campos.</p><p>8</p><p>9</p><p>Em 395, Teodósio divide o Império em Império Romano do Ocidente, com cen-</p><p>tro em Roma, e o Império Romano do Oriente ou Império Bizantino, com capital</p><p>em Constantinopla. O Império do Ocidente subsistiu por 80 anos e se extinguiu em</p><p>476, sua queda marcou o fim da Antiguidade e o início da Idade Média.</p><p>Diversas migrações de tribos e grupos bárbaros foram ao longo do tempo se</p><p>fixando nas fronteiras do Império. No século V, os bárbaros já haviam se fixado</p><p>nas principais regiões da Europa. Esses povos eram pagãos, mas os seus chefes</p><p>acabaram por se converter ao Catolicismo. A Igreja Católica, então, se tornou a</p><p>instituição mais importante da Idade Média.</p><p>Para uma visão histórica dos acontecimentos, apresentamos:</p><p>Tabela 1 – Referente ao Declínio do Império Romano</p><p>Linha do Tempo – Declínio do Império Romano</p><p>Acontecimento Data</p><p>Constantino transfere-se de Roma para Constantinopla 330</p><p>Honório transfere a Capital do Império de Roma para Ravenna 402</p><p>A partir do século V, diversas tribos bárbaras invadem o Império</p><p>e desmobilizam suas fronteiras 400</p><p>Os visigodos saqueiam Roma 410</p><p>Os vândalos saqueiam Roma e tomam o controle do norte</p><p>da África e a Espanha 455</p><p>Os godos entram em Roma e declaram o seu líder Odoacro imperador romano 476</p><p>Fonte: AUTOR, 2017. [Baseado: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. 2. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.; CLOUSE, Robert. G. (Et. Al). Dois</p><p>Reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo: CEP, 2003.; DAVIES, J.G. The Secular Use of Church Buildings. New York: The</p><p>Seabury Press, 1968.; FERRERO, Gluglielmo. Grandeza e decadência de Roma. 5 Vols. Porto Alegre: Globo, 1965.; FINLEY, Moses. A política no Mundo</p><p>Antigo. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.; GRIMAL, Pierre Paris. A Civilização Romana. Lisboa: Edições 70, 1984.].</p><p>A desintegração do Império acabou por criar uma série de territórios que</p><p>foram divididos pelas diversas tribos bárbaras. Os vândalos se fixaram no Norte</p><p>da África. Esse reino foi absorvido pelo Império Bizantino no século VI. No</p><p>século seguinte, a região passaria para o controle dos muçulmanos.</p><p>Quer conhecer mais sobre as tribos barbaras? Veja: https://goo.gl/ZmkmMq</p><p>Ex</p><p>pl</p><p>or</p><p>Em 711, os mouros (árabes do Norte da África) começaram a conquista da</p><p>Península Ibérica. Os visigodos recuaram e mantiveram um Estado independen-</p><p>te (Reino das Astúrias).</p><p>9</p><p>UNIDADE Cristianismo na Idade Média</p><p>Surgem, no espaço físico do Antigo Império, ao longo do tempo, os seguin-</p><p>tes territórios:</p><p>• Imperio Bizantino;</p><p>• Reino Ostrogodo;</p><p>• Reino Visigodo;</p><p>• Reino Franco;</p><p>• Reino Burgundio;</p><p>• Reino Suevo e Vândalos;</p><p>• Reinos Celtas;</p><p>• Jutos, Anglos e Saxões;</p><p>• Bascos;</p><p>• Jázaros;</p><p>• Eslavos;</p><p>• Imperio Persa.</p><p>Uma estratégia da Igreja foi o envio de missionários para a “evangelização dos</p><p>bárbaros”, mas essa ação era ao mesmo tempo política-religiosa e com bases muitas</p><p>vezes em acordos comerciais. Porém, essa estratégia foi bem-sucedida, podemos</p><p>notar pelas datas de conversão das tribos barbaras:</p><p>Tabela 2 – Referente à Conversão das Tribos Bárbaras ao Cristianismo</p><p>Síntese Histórica da Conversão das Tribos Bárbaras ao Cristianismo</p><p>Tribo Data</p><p>Godos 340</p><p>Pictos 400</p><p>Irlandeses 435</p><p>Francos 496</p><p>Escoceses 563</p><p>Anglos e saxões 600</p><p>Frígios 690</p><p>Fonte: AUTOR, 2017. [Baseado: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. 2. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.; CLOUSE, Robert. G. (Et. Al). Dois</p><p>Reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo: CEP, 2003.; DAVIES, J.G. The Secular Use of Church Buildings. New York: The</p><p>Seabury Press, 1968.; FERRERO, Gluglielmo. Grandeza e decadência de Roma. 5 Vols. Porto Alegre: Globo, 1965.; FINLEY, Moses. A política no Mundo</p><p>Antigo. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.; GRIMAL, Pierre Paris. A Civilização Romana. Lisboa: Edições 70, 1984.].</p><p>Junto a esse turbilhão, parte dos cristãos opta por uma fuga da realidade a</p><p>partir do isolamento. Surge, então, o monasticismo cristão, uma resposta à</p><p>secularização da igreja.</p><p>A crise no Império Romano e a união do Movimento de</p><p>Jesus, transformando-o em uma instituição do Império, fizeram com que muitos</p><p>vissem nessa decisão o fim dos tempos. Um cristão denominado Antão (251-356</p><p>d.C.) decidiu junto com seus discípulos renunciar ao mundo.</p><p>10</p><p>11</p><p>Quer conhecer mais sobre o monasticismo? Veja: https://goo.gl/RVmrHI</p><p>Ex</p><p>pl</p><p>or</p><p>O monasticismo era uma prática judaica de formação de comunidades</p><p>espiritualistas com a intuito de buscar na pequena comunidade o ideal de</p><p>aproximação da divindade, a fuga das tentações das cidades e da contemplação em</p><p>contato com a natureza.</p><p>A criação de ordens monásticas durou toda Idade Média. Para uma visão de</p><p>conjunto, apresentamos:</p><p>Tabela 3 – Referente à Criação das Ordens Monásticas</p><p>Síntese histórica das ordens monásticas</p><p>Data Acontecimento Fundador</p><p>250 – 356 Antônio, um dos primeiros monges a se isolar no Egito Antônio ou Antão</p><p>529 Criação da Ordem dos beneditinos São Bento</p><p>1084 Fundação da Ordem dos Cartuxos São Bruno</p><p>1098 Ordem de Cister Roberto de Champanhe</p><p>1182-1226</p><p>Ordem das Carmelitas Santa Tereza de Ávila</p><p>Criação da Ordem Franciscana Francisco de Assis</p><p>1224 Ordem dos Agostinianos Eremitas de São João Bono</p><p>1260 Criação da Ordem dos Dominicanos Domingos de Guzmán</p><p>Fonte: AUTOR, 2017. [Baseado: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. 2. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.; CLOUSE, Robert. G. (Et. Al). Dois</p><p>Reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo: CEP, 2003.; DAVIES, J.G. The Secular Use of Church Buildings. New York: The</p><p>Seabury Press, 1968.; FERRERO, Gluglielmo. Grandeza e decadência de Roma. 5 Vols. Porto Alegre: Globo, 1965.; FINLEY, Moses. A política no Mundo</p><p>Antigo. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.; GRIMAL, Pierre Paris. A Civilização Romana. Lisboa: Edições 70, 1984.].</p><p>Os monastérios no Ocidente seguiam a lógica de organização espacial semelhante</p><p>aos acampamentos romanos. Aos poucos, os monastérios se tornaram uma estrutu-</p><p>ra de referência tanto no ensino como na manutenção de pesquisas, experimentos e</p><p>conhecimento acumulado na Idade Média.</p><p>O ensino da nobreza ficou a cargo da Igreja Católica que doutrinou a elite em</p><p>seus ensinamentos e preceitos teológicos. Aos poucos, o conhecimento cristão</p><p>se tornou hegemônico e mesclou-se nas diversas regiões com o conhecimento</p><p>popular, dando lugar a uma religião hibrida (erudita e popular).</p><p>Os pobres e camponeses também estavam sob a tutela da Igreja, seja pelo</p><p>assistencialismo (escola, creche e asilo), seja pela educação básica (moral) dada pela</p><p>mesma. Dessa forma, o povo no medievo teve na Igreja seu principal sustentáculo</p><p>ideológico e cultural.</p><p>A queda do Império Romano trouxe uma série de consequências para o Ocidente.</p><p>Uma delas foi o declínio da língua oficial e o retorno de diversos dialetos e línguas</p><p>regionais. A quebra da ordem pública trouxe instabilidade social e pilhagens,</p><p>violências e roubos. Por conta disso, as cidades foram abandonadas e ocorreu um</p><p>êxodo para os campos e para os lugares mais remotos do antigo império.</p><p>11</p><p>UNIDADE Cristianismo na Idade Média</p><p>Com o fim da unidade imperial, surgem pequenos grupos armados que forne-</p><p>cem apoio e proteção em troca de serviços agrícolas e subserviência dos menos</p><p>abastados. Com a desintegração do Império Romano, pequenos senhores (nobres</p><p>e guerreiros) formaram seus colonatos, sistema de proteção aos trabalhadores</p><p>rurais em troca de proteção.</p><p>Esse sistema romano foi se mesclando ao sistema de comitatus germânico, que</p><p>consistia na doação do uso da terra em troca da vassalagem (fidelidade e pagamento).</p><p>A fragmentação da sociedade romana deu lugar ao territorialismo partilhado por</p><p>grandes vilas e grupos em um sistema de colonatus. Os que detinham o poder das</p><p>armas cuidavam da segurança e os pobres pagavam tributos pelo uso das terras e</p><p>da segurança.</p><p>Estavam colocadas as bases da cultura medieval: a suserania e a vassalagem e</p><p>o servilismo ou colonatos. Ao longo de quatrocentos anos, as culturas foram se</p><p>mesclando e se hibridizando e formando a Cultura Medieval.</p><p>Aos poucos, a sociedade desse período foi se configurando de forma hierárquica.</p><p>Surge a figura do rei (senhor de uma série de regiões) que estava no topo da</p><p>pirâmide, juntamente com os nobres (senhor de uma determinada região) e o alto</p><p>clero (bispos da Igreja Católica). Na base da pirâmide, vinham os camponeses.</p><p>Abaixo de todos, os salteadores, ladrões e assassinos.</p><p>Rei</p><p>Bispos e Nobres</p><p>Trabalhadores Rurais e Camponeses</p><p>Pobres, Bandidos e Salteadores</p><p>Figura 1 – Referente à Estrutura da Idade Média</p><p>Fonte: AUTOR, 2017. [Baseado: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. 2. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.;</p><p>CLOUSE, Robert. G. (Et. Al). Dois Reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo: CEP, 2003.;</p><p>DAVIES, J.G. The Secular Use of Church Buildings. New York: The Seabury Press, 1968.; FERRERO, Gluglielmo.</p><p>Grandeza e decadência de Roma. 5 Vols. Porto Alegre: Globo, 1965.; FINLEY, Moses. A política no Mundo Antigo.</p><p>Rio de Janeiro: Zahar, 1983.; GRIMAL, Pierre Paris. A Civilização Romana. Lisboa: Edições 70, 1984.]</p><p>12</p><p>13</p><p>Ao longo do tempo, a estrutura social foi se especializando e tornando-se</p><p>complexa. No século X, a Idade média tinha uma sociedade estratifica no setor</p><p>da alta classe, com diversos títulos de nobreza e divisões. Para uma visão do</p><p>todo, apresentamos:</p><p>Tabela 4 – Referente à Divisão Social na Nobreza</p><p>Os diversos títulos de nobreza na Idade Média</p><p>Título Defi nição</p><p>Rei Comandante e chefe do território. Título de nobreza herdado de família ou por casamento.</p><p>Duque Era o nobre mais poderoso depois do rei. Recebia grandes extensões de terra para administrar.</p><p>Conde Assessor do rei. Administrava os condados, áreas menores que os marquesados.</p><p>Visconde Substituto do conde. Título de nobreza do século X. Em termos administrativos, os viscondes</p><p>podiam dirigir pequenos territórios do tamanho de vilas.</p><p>Marquês Governava os marquesados, áreas do tamanho dos estados atuais. Alguns tomavam conta de</p><p>territórios reais localizados em fronteiras, lutando para evitar invasões.</p><p>Barão Honraria concedida aos súditos fieis aos reis (homens ricos). As terras governadas pelos barões</p><p>eram do tamanho de sítios ou fazendas.</p><p>Fonte: AUTOR, 2017. [Baseado: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. 2. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.; CLOUSE, Robert. G. (Et. Al). Dois</p><p>Reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo: CEP, 2003.; DAVIES, J.G. The Secular Use of Church Buildings. New York: The</p><p>Seabury Press, 1968.; FERRERO, Gluglielmo. Grandeza e decadência de Roma. 5 Vols. Porto Alegre: Globo, 1965.; FINLEY, Moses. A política no Mundo</p><p>Antigo. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.; GRIMAL, Pierre Paris. A Civilização Romana. Lisboa: Edições 70, 1984.]</p><p>Após a invasão do Império Romano do Ocidente pelos povos germânicos,</p><p>Constantinopla continuou à frente do mundo romano. Constantinopla, ou Bizâncio,</p><p>foi a capital do Império Romano do Oriente durante toda a Idade Média. O Império</p><p>continuava sendo romano:</p><p>• A organização administrativa seguia os padrões criados por Roma;</p><p>• O Império do Oriente utilizava as leis romanas, criadas ao longo de mil anos;</p><p>• A cultura romana do período final, antes das invasões germânicas, foi</p><p>preservada pelo Oriente.</p><p>A existência do Império Romano do Oriente protegeu a Europa dos ataques dos</p><p>persas, búlgaros, árabes e turcos. Essa proteção permitiu a formação de estados</p><p>nacionais na Europa Ocidental, Bizâncio resistiu aos ataques dos povos asiáticos</p><p>durante oito séculos.</p><p>O Império Bizantino foi uma grande potência militar. Sua marinha foi invencível</p><p>durante séculos, foi centro do comércio mundial durante a Idade Média, fazia a</p><p>ponte entre o extremo Oriente, o Oriente Médio e o Ocidente.</p><p>13</p><p>UNIDADE Cristianismo na Idade Média</p><p>A capital adotou seu antigo nome, Bizâncio, a Língua Grega substituiu o Latim.</p><p>Em 850, o bispo Fócio, estimulado pelo imperador, proclamou a “superioridade”</p><p>dos patriarcas de Bizâncio, assim o Império Oriental não reconhecia mais a</p><p>autoridade do papa romano.</p><p>Aliança do Papado com os Francos</p><p>Ao longo da Idade Média, o Reino Franco tornou-se o mais importante dos</p><p>reinos germânicos. Sucessivos soberanos buscaram a anexação e unificação das</p><p>diversas tribos e territórios. A aliança com a Igreja Católica teve grande importância</p><p>para o fortalecimento do poder real e para sua política de conquistas territoriais.</p><p>O Reino Franco foi criado por descendentes do rei Meroveu. Porém, os gover-</p><p>nantes eram os “mordomos reais” do palácio. Pepino, o Breve, se proclamou rei</p><p>dos Francos. Com ele, iniciou-se a Dinastia dos Carolíngios. Para fortalecer o rei-</p><p>no, Pepino selou alianças com a Igreja, guardiã da ordem e da cultura nessa época.</p><p>Na trajetória entre os francos e a Igreja Católica, destacamos que em 496, o rei</p><p>Clóvis, rei dos francos, converte-se ao Cristianismo, em 732, Carlos Martel impôs</p><p>derrota aos mulçumanos e fortaleceu os laços com a Igreja Católica.</p><p>Em 751, Pepino, iniciador da Dinastia Carolíngia, é coroado rei pelo Papa e</p><p>em troca defendeu o papado e doou terras na península itálica para a Igreja. A</p><p>Península Itálica tornou-se o campo de batalha entre os lombardos e os bizantinos.</p><p>Em 756, o Papa viu-se ameaçado pelos lombardos e pediu auxílio de Pepino, que</p><p>derrotou os lombardos e ofereceu um território na província de Ravena à Igreja. Foi</p><p>assim que surgiram os estados pontifícios, ou seja, os estados da Igreja.</p><p>Na aproximação de Pepino, a Igreja Católica era a legítima representante de</p><p>autoridade moral para a consagração real. Para Pepino, o Papa (bispo de Roma) era</p><p>o chefe da Igreja. Em 800, Carlos Magno recebeu o título de Imperador Coroado</p><p>por Deus, dado pelo Papa após esse doar terras à Igreja. Assim, a formação do</p><p>Império Carolíngio e a aproximação com a Igreja Católica transcorreu durante três</p><p>gerações: Carlos Martel (690-741), Pepino, o Breve (714-768), Carlos Magno</p><p>(742-814), coroado rei do Sacro Império Romano-Germânico, em 800, pelo Papa</p><p>Leão III – consolidando a aliança entre a Igreja Católica e o Reino Franco.</p><p>Carlos Magno procurou preservar a cultura greco-romana, investiu na construção</p><p>de escolas, criou um novo sistema monetário e estimulou o desenvolvimento</p><p>das artes. Nas áreas cultural, educacional e administrativa, o Império Carolíngio</p><p>demonstrou grande avanço. Carlos Magno dividiu o Império em 300 províncias,</p><p>que passaram a ser governadas por condes. As províncias de fronteira, as marcas,</p><p>eram governadas por marqueses e duques.</p><p>14</p><p>15</p><p>Carlos Magno pretendia restaurar o antigo Império Romano. Com a apoio da</p><p>Igreja, ele foi considerado o “eleito de Deus”.</p><p>Após a morte de Carlos Magno, o poder passou a seu filho Luís, que acabou</p><p>por dividir o Império entre seus filhos. Logo, esses o destronaram e iniciaram uma</p><p>guerra civil. O resultado dessas disputas foi que os nobres deixaram de obedecer</p><p>aos reis, tornando-se praticamente independentes.</p><p>Após a morte de Luís, seus filhos entraram em um acordo e assinaram o</p><p>Tratado de Verdun, em 843, dividindo o Império de Carlos Magno em três par-</p><p>tes. Carlos ficou com a França, Luís com as terras alemãs e Lotário ficou com</p><p>a Itália, a coroa imperial e uma faixa de terras entre a França e a Alemanha. O</p><p>poder dos reis estava enfraquecido e esses dependiam dos duques e marqueses,</p><p>assim os feudos se fortaleceram.</p><p>Religião Revestida de Poder</p><p>Quando tudo parecia ter chegado em uma relativa paz, os vikings invadem a</p><p>Europa, saqueando e trazendo terror ao continente. Por duzentos anos, os vikings</p><p>tomam terras da Rússia, da França, do sul da Itália e toda a Inglaterra. Os húnga-</p><p>ros, aproveitando a debilidade das monarquias, atacaram os reinos da Germânia,</p><p>França e Itália.</p><p>Vedes desabar sobre vós a cólera do Senhor [...]. Só há cidades</p><p>despovoadas, mosteiros em ruínas ou incendiados, campos reduzidos ao</p><p>abandono [...]. Por toda a parte o poderoso oprime o fraco e os homens</p><p>são semelhantes aos peixes do mar que indistintamente se devoram uns</p><p>aos outros (relatos do Bispo da província de Reims, 909 d.C).</p><p>Vindos dos países nórdicos, os vikings alcançam por via marítima os países e as</p><p>regiões dos reinos combalidos e instáveis da Europa Medieval. Rapidamente, o flagelo</p><p>vindo do Norte passa a aterrorizar as populações costeiras e a ampliar o medo.</p><p>O Islamismo surgiu no século VI no Oriente Médio em meio a grupos sedentários</p><p>e nômades, organizados em tribos e clãs. A população era em sua maioria politeísta,</p><p>mas existiam algumas tribos judaicas e outras de tradição cristã. Maomé tornou-se</p><p>profeta da nova fé a partir do que ele descreveu como um encontro com o anjo</p><p>Gabriel. Passou a se dedicar a retiros espirituais e ter visões divinas com mensagens</p><p>que deveria divulgar. As primeiras pregações públicas de Maomé em Meca (sua</p><p>cidade natal) geraram atritos locais.</p><p>15</p><p>UNIDADE Cristianismo na Idade Média</p><p>Monoteísta, ele criticava a peregrinação dos idólatras, que adoravam as várias</p><p>divindades dos templos locais. Passou a pregar a crença num único deus, Alá, e</p><p>reuniu suas mensagens num livro sagrado para os muçulmanos, o Alcorão.</p><p>Perseguidos em Meca, o profeta e seus adeptos fugiram para criar a primeira</p><p>comunidade islâmica em Medina. Aos poucos, o profeta atraiu cada vez mais</p><p>seguidores até ter força para derrotar os rivais que o expulsaram de Meca. Após</p><p>conquistarem a Península Arábica, o Islã parte para a evangelização da África e</p><p>chega à Península Ibérica. Para entender esse período, apresentamos:</p><p>Tabela 5 – Referente à Trajetória do Islã nos seus Princípios</p><p>O Nascimento do Islã</p><p>Data Acontecimento</p><p>570 Nasce em Meca Mohamed, o futuro profeta</p><p>611 Primeiras revelações</p><p>622 Perseguido, vai para o exílio com sua família e seguidores</p><p>630 Conquista de Meca e triunfo da nova fé</p><p>634 Morte do profeta e início da Jihad que irá levar a Palavra ao norte da África,</p><p>o Oriente Médio e parte da Europa</p><p>Fonte: Autor, 2009. [Baseado em: DEANESLEY, Margaret. A History of the Medieval Church 590-1500. London: Methuen, 1969.; MURRAY, Bruno. As Ordens</p><p>Monásticas e Religiosas. Lisboa: PEA, 1986.; ORLANDIS, José. Historia de la Iglesia. 6. ed. Madrid: Ediciones Palabra, 1987.; ROPS, Daniel. A Igreja</p><p>dos Tempos Bárbaros. São Paulo: Quadrante, 1991.; SOUTHERN, R.W. A Igreja Medieval: história da Igreja. Lisboa: Ulisses, 1970.].</p><p>Entre os séculos VIII e XI, as ondas de invasões bárbaras vikings destruíram</p><p>politicamente a Europa Ocidental. A partir do século XI, os senhores de terras</p><p>(conhecidas por feudos) possuíam o poder sobre sua população que estava em</p><p>miséria. A cultura e o comércio estagnaram. Isso aprofundou ainda mais as relações</p><p>servis entre camponeses e nobres. Esses trabalhavam e os nobres garantiam sua</p><p>proteção. A vassalagem se tornou o sistema que ia da realeza aos camponeses.</p><p>Diversos fatores transformaram a Idade Média e deram início ao processo feudal.</p><p>A insegurança social, por conta da desintegração do Império Carolíngio, levou à</p><p>ruralização, perda de espaços de comércio, levando a um comércio de subsistência</p><p>e sem moeda única.</p><p>Os reis eram incapazes de defender as pessoas dos ataques vikings e húngaros.</p><p>Cada vez mais, as populações buscam proteção na nobreza territorial. Em troca</p><p>dessa proteção, juravam prestar fidelidade e ajuda mútua aos senhores. Esse sistema</p><p>ficou conhecido como feudalismo e durou da morte de Carlos Magno até o final da</p><p>Alta Idade Média (séc. XIII).</p><p>As fortificações foram cada vez maiores, fruto da insegurança e da violência das</p><p>invasões no período conhecido como Feudalismo. Os camponeses eram a grande</p><p>força motriz da economia feudal, seja pelo produto de seu trabalho ou pela alta</p><p>carga de impostos que pagavam.</p><p>16</p><p>17</p><p>Foram instituídas diversas taxas sobre a produção para se manter a estrutura</p><p>social. Para uma visão de conjunto:</p><p>Tabela 6 – Referente às Taxas Cobradas no Feudalismo</p><p>Taxas no Feudalismo</p><p>Taxa Defi nição</p><p>Talha Metade de tudo o que se produzia nas terras que ocupava no feudo</p><p>Corveia</p><p>De três a quatro por semana, o servo era obrigado a cumprir diversos trabalhos</p><p>Banalidades Correspondia ao pagamento pela utilização das instalações do castelo</p><p>Mão Morta Taxa de permanência com a morte do servo principal</p><p>Tostão de Pedro Dez por cento para a igreja – dízimo</p><p>Fonte: Autor, 2009. [Baseado em: DEANESLEY, Margaret. A History of the Medieval Church 590-1500. London: Methuen, 1969.; MURRAY, Bruno. As</p><p>Ordens Monásticas e Religiosas. Lisboa: PEA, 1986.; ORLANDIS, José. Historia de la Iglesia. 6. ed. Madrid: Ediciones Palabra, 1987.; ROPS, Daniel. A</p><p>Igreja dos Tempos Bárbaros. São Paulo: Quadrante, 1991.; SOUTHERN, R.W. A Igreja Medieval: história da Igreja. Lisboa: Ulisses, 1970.].</p><p>Essa estrutural piramidal, sustentada pelos mais pobres, era, também, imóvel.</p><p>Um camponês não alcançaria a nobreza ou seria senhor de terras. Assim, o nobre</p><p>era nobre e continuaria nobre, o senhor feudal era o senhor feudal e assim por</p><p>diante. Nesse sentido, a Igreja partilhava do poder entre os nobres e muitos clérigos</p><p>eram senhores feudais com grandes quantidades de terras.</p><p>Fissuras no Modelo Medieval de Cristandade</p><p>Ao longo da Idade Média, a Igreja Católica Apostólica Romana buscou se</p><p>configurar e consolidar seu poder. Havia uma série de dificuldades internas e</p><p>externas em relação a essa situação. Internamente, muitos grupos buscavam o</p><p>poder papal. O cargo de Papa era cobiçado por muitos e a venda de bispados</p><p>começaram a se tornar uma grande moeda de troca.</p><p>As interferências dos reis também se faziam sentir em grande parte da Europa,</p><p>alguns insistiam na nomeação de bispos e padres e, muitas vezes, conseguiam seus</p><p>intentos pela proximidade com líderes influentes dentro da Igreja ou mesmo às</p><p>custas de suborno e pressões.</p><p>A Igreja contava com uma hierarquia que a possibilitava atuar nas diversas</p><p>camadas sociais. Havia o clero secular, padres, bispos, arcebispos, cardeais e o</p><p>Papa. Havia também o clero regular, formado por noviços, freis, irmãos, abades e</p><p>sacerdotes, todos submetidos à ordem do Papa.</p><p>17</p><p>UNIDADE Cristianismo na Idade Média</p><p>Para uma visão sintética, apresentamos:</p><p>Papa</p><p>Cardeal</p><p>Arcebispo</p><p>Bispo</p><p>Padre</p><p>Diácono</p><p>Leigo</p><p>Gráfico 2 – Referente à Estrutura da Igreja Católica Apostólica Romana</p><p>Fonte: Autor, 2009. [Baseado em: DEANESLEY, Margaret. A History of the Medieval Church 590-1500. London: Methuen, 1969.; MURRAY, Bruno. As</p><p>Ordens Monásticas e Religiosas. Lisboa: PEA, 1986.; ORLANDIS, José. Historia de la Iglesia. 6. ed. Madrid: Ediciones Palabra, 1987.; ROPS, Daniel.</p><p>A Igreja dos Tempos Bárbaros. São Paulo: Quadrante, 1991.; SOUTHERN, R.W. A Igreja Medieval: história da Igreja. Lisboa: Ulisses, 1970.].</p><p>No século X, o grande acontecimento que desencadearia profundas mudanças na</p><p>Europa seria as Cruzadas, movimento de guerra do Ocidente contra os mulçumanos</p><p>que culminaria em uma nova era.</p><p>A Igreja vivia um embate contra as arbitrariedades de governantes na intromissão</p><p>desses em relação aos assuntos da Igreja. A Igreja Oriental (Ortodoxa) rivalizava em</p><p>poder e autoridade coma Igreja Católica (Ocidental).</p><p>Quer saber mais sobre a igreja ortodoxa? Veja: https://goo.gl/xHvKuo</p><p>Ex</p><p>pl</p><p>or</p><p>As pretensões do grupo de Roma era transformar o papado em chefe de toda a</p><p>cristandade, e o poder do Patriarca de Constantinopla era um empecilho. Em 1054,</p><p>as duas Igrejas foram oficialmente separadas. Havia, também, dentro da Igreja, os</p><p>revolucionários, utópicos e reformadores; pessoas e grupos que discordavam da</p><p>condução da Igreja Católica, tornando-se, assim, inimigos do Papado.</p><p>Os heréticos eram os remanescentes do Cristianismo Ariano (que não cria em</p><p>Jesus como Deus, mas como filho de Deus). Muitos dos burgúndios e vândalos</p><p>que controlavam o norte da África eram arianos. No final do século VII, a maioria</p><p>dos lombardos arianos tornou-se católica. A Igreja conseguiu impor a derrota e</p><p>destruição às igrejas cristãs arianas e submeter os outros arianos à sua doutrina.</p><p>18</p><p>19</p><p>Havia, ainda, a preocupação com populações e com grupos considerados</p><p>pagãos, ou seja, todos os não católicos. Esses eram contados entre os pagãos, os</p><p>judeus, os ciganos e os que seguiam suas religiões não-cristãs.</p><p>Outro enorme problema para a Igreja era o Islã. O Islã era um enorme desafio</p><p>à Igreja Católica pois apresentava uma alternativa à Fé Cristã. Instalado no Oriente</p><p>Médio e na Península Ibérica, o Islã era a grande preocupação do Papa quanto ao</p><p>seu domínio europeu.</p><p>Inicia-se então na Igreja um movimento reformador do Papado que seria</p><p>conhecido como Movimento de Cluny. Dois Papas realizaram reformas para</p><p>combater a desordem da Igreja de Roma: Nicolau II (1058-1061) e Gregório VII</p><p>(1073-1085). Nicolau regulamentou a eleição dos Papas pelos cardeais. Gregório</p><p>submeteu o imperador do Sacro Império Romano-Germânico à autoridade Papal,</p><p>proclamou o celibato dos padres, proibiu as simonias e deu ao Papado o direito</p><p>de nomear e demitir os bispos e até os reis. Em 1075, Gregório lança o Didactus</p><p>Papae, uma bula que definia que o Papa era a autoridade máxima sobre a Terra.</p><p>Gregório VII alcança uma libertação do julgo dos reis germânicos e impõe a toda a</p><p>cristandade o projeto da autoridade máxima do Papa. Com ele, o papado alcança</p><p>seu grande sonho.</p><p>Trechos do Didactus Papae nos mostram a força de seu projeto:</p><p>Que somente o pontífice romano é corretamente chamado de universal;</p><p>Que somente ele tem o poder de depor ou restaurar ao cargo os bispos;</p><p>Que ele tem o poder de depor imperadores; Que seu decreto não pode</p><p>ser anulado por ninguém e que ele pode anular o decreto de qualquer um;</p><p>Que ele não pode ser julgado por ninguém; Que a Igreja Romana nunca</p><p>errou e jamais irá errar até à eternidade; Que ele tem o poder de absolver</p><p>súditos de seus juramentos de fidelidade a governantes perversos.</p><p>No auge do século XI, a Palestina foi tomada pelos turcos que fecham as portas</p><p>de Jerusalém para os cristãos. Esse foi o pretexto para se iniciar as chamadas</p><p>guerras santas (cruzadas). O Papa Urbano II (1088 e 1099) convocou a 1ª Cruzada</p><p>com o intuito de reconquistar Jerusalém. Iniciaram-se assim expedições militares</p><p>que partiam da Europa Cristã a fim de combater os muçulmanos no Oriente.</p><p>Os estudiosos apresentam diversos fatores que, conjugados, levaram às cruzadas.</p><p>Dentre elas, destacamos: o sentimento religioso, as condições da Europa no ano</p><p>mil, o aumento populacional, os interesses das elites medievais.</p><p>No século X, a Europa vivia um crescimento populacional ocorrido por três</p><p>séculos pela implementação da tecnologia agrícola vinda do Oriente. Isso permitiu</p><p>um aumento na produção, saúde melhor e aumento da fertilidade e da longevidade.</p><p>Esse crescimento trouxe diversos problemas, aumento dos mendigos, dos</p><p>assaltantes, do excesso de filhos para os nobres e falta de terras.</p><p>19</p><p>UNIDADE Cristianismo na Idade Média</p><p>A peregrinação à Terra Santa (Jerusalém) era o grande momento do Cristianismo.</p><p>Havia um grande fluxo de pessoas por toda a Europa que fazia o trajeto de sua</p><p>região para conhecer o santo sepulcro.</p><p>As diversas casas reais se interessaram pela convocação do Papa. Cada grupo</p><p>tinha seus interesses em relação às guerras. Havia grupos querendo tomar o ouro</p><p>e as riquezas dos árabes, outros tinham interesse em novas terras, outros ainda no</p><p>controle do mediterrâneo e das rotas comerciais por terra.</p><p>Para uma síntese das cruzadas, apresentamos:</p><p>Tabela 7 – Referente às Cruzadas</p><p>As Cruzadas</p><p>N. Data Principal acontecimento</p><p>I 1096-1099 Cruzada popular (dizimada pelos turcos), cruzada</p><p>dos cavaleiros toma Jerusalém em 1099</p><p>II 1147-1149 Reconquista turca pelo sultão Saladino</p><p>III 1189-1192 Pacto para o direito de peregrinação</p><p>IV 1202-1204 Conquista de Constantinopla e reabertura do mediterrâneo</p><p>V 1218-1221 Sem sucesso</p><p>VI 1228-1229 Acordo diplomáticos</p><p>VII e VIII 1250-1270 Sem sucesso</p><p>Fonte: Autor, 2009. [Baseado em: DEANESLEY, Margaret. A History of the Medieval Church 590-1500. London: Methuen, 1969.; MURRAY, Bruno. As</p><p>Ordens Monásticas e Religiosas. Lisboa:</p><p>PEA, 1986.; ORLANDIS, José. Historia de la Iglesia. 6. ed. Madrid: Ediciones Palabra, 1987.; ROPS, Daniel.</p><p>A Igreja dos Tempos Bárbaros. São Paulo: Quadrante, 1991.; SOUTHERN, R.W. A Igreja Medieval: história da Igreja. Lisboa: Ulisses, 1970.].</p><p>A mais importante consequência das Cruzadas foi a tomada do controle das</p><p>rotas do mediterrâneo pela aristocracia italiana, aliada da Igreja e com o apoio dos</p><p>exércitos cruzados. A Quarta Cruzada garantiu o monopólio comercial do Oriente</p><p>para a Itália e a prosperidade da Igreja na Itália.</p><p>O controle do Mediterrâneo pelos italianos mudou a face da Europa e revitalizou as</p><p>feiras em diversos países. Nesse processo, diversos grupos de artesãos uniram-se em</p><p>cooperativas e sindicatos para regularizar o comércio que se tornava internacional.</p><p>Outro desdobramento das cruzadas foi a criação da ordem dos cavaleiros</p><p>templários. Essa ordem foi criada pela ideia de guerra santa. Com os exércitos</p><p>cruzados, foi possível ao Papa retomar a península ibérica. Somente no século XI,</p><p>os cristãos conseguiram avançar na Península e retomar parte dela. A reconquista</p><p>total se dará apenas no século XII. Em 1304, Dom Diniz pede ao Papa que</p><p>transforme a Ordem dos Templários situada na Península em Ordem de Cristo. Em</p><p>1417, o infante Dom Henrique determina que a Missão da Ordem é a conquista da</p><p>Ásia através da via marítima. Inicia-se, assim, as Grandes Navegações portuguesas.</p><p>20</p><p>21</p><p>Vivência Cristã no Período Medieval</p><p>Como dito acima, a Igreja Católica tinha uma ampla gama de influência na</p><p>sociedade feudal, muitos bispos eram também senhores feudais ou detinham ter-</p><p>ras e muitas riquezas; mas não era apenas com as classes abastadas que a Igreja</p><p>tinha influência.</p><p>As diversas ordens e o chamado baixo clero, padres e noviços atuavam junto</p><p>ao povo camponês e pobre, agindo com atendimento médico e em ações de mi-</p><p>sericórdia além de estabelecerem escolas junto às igrejas e aos mosteiros. Dessa</p><p>forma, a Igreja detinha a influência e o poder tanto nas camadas mais altas da so-</p><p>ciedade feudal quanto nas mais baixas, que necessitavam do apoio da Igreja.</p><p>Ao longo do tempo, a Igreja criou uma série de dogmas e uma elaborada liturgia</p><p>que pretendia cobrir todos os momentos da vida dos fiéis. O termo sacramento</p><p>não tem correspondência no texto sagrado cristão (Bíblia). Essa palavra é de ori-</p><p>gem latina: sacramentum. Em sua gênese, essa palavra era utilizada em três acep-</p><p>ções: jurídica, militar e espiritual.</p><p>Na acepção jurídica, conotava a ideia do dinheiro depositado em uma demanda,</p><p>pelas duas partes. Atualmente, esse é o conceito jurídico de caução. Já em relação</p><p>ao significado na área militar, tinha duas funções: uma função moral e uma função</p><p>material. Na questão moral, era entendida como um voto ou compromisso pelo</p><p>qual um soldado jurava obediência ao seu comandante; na questão material, era</p><p>utilizada como nome dado a uma moeda de cerâmica partida em dois, como sinal de</p><p>autenticação. Por fim, na conotação espiritual, a palavra sacramento denominava-se</p><p>com a palavra grega mysterion, que em português significa mistério ou segredo.</p><p>Santo Agostinho imprimirá na teologia católica a ideia de sacramento como:</p><p>“um sinal exterior e visível de uma graça interior e espiritual”. Nos escritos de</p><p>Tertuliano (século III), aparece a primeira evidência de chamar sacramentos os</p><p>ritos cristãos do batismo e da ceia do Senhor. No século seguinte, Jerônimo usou</p><p>a palavra sacramentum em sua versão da Vulgata Latina para traduzir müsterion</p><p>(mistério) de Efésios 5:32 e outras poucas passagens do Novo Testamento.</p><p>No século V, aprofundou-se a doutrina de sacramentos. Agostinho definiu o sa-</p><p>cramento como “a forma visível de uma graça invisível”. Ele ensinou que os sacra-</p><p>mentos são necessários para a salvação e que os ritos da Igreja eram sacramentais:</p><p>confirmação, eucaristia, batismo, a ordenação, penitência e a extrema-unção.</p><p>Os sacramentos, de acordo com a Teologia Católica, operam ex opere operato,</p><p>pela graça e pelo poder divino, sem importar quão indigno seja o ministrante que realiza</p><p>o rito. O sacerdote, mesmo em pecado, é digno da ministração. Para o historiador Will</p><p>Durant 1, a Liturgia Cristã foi construída a partir de influências pagãs, gregas e judaicas.</p><p>A construção do arcabouço doutrinário católico primitivo teve diversas influências. A</p><p>filosofia greco-romana, os cultos pagãos e a cultura romana foram elementos decisivos</p><p>para a configuração do que se conheceria mais tarde como Fé Cristã Católica.</p><p>1 Cf. DURANT, Will. Caesar to Christ. New York: Simon & Schuster, 1950. p. 599.</p><p>21</p><p>UNIDADE Cristianismo na Idade Média</p><p>A Filosofia Greco-Romana era considerada a mais alta capacidade do pensa-</p><p>mento humano e a própria verdade. A Igreja Católica teve de construir seu pen-</p><p>samento teológico levando em conta que era necessário adequar a fé à estrutura</p><p>filosófica grega.</p><p>No sínodo de Lyon, em 1274, e no concílio de Florença, em 1439, a Igreja</p><p>assumiu oficialmente a doutrina dos sacramentos. O Concílio de Trento, em 1542,</p><p>estabeleceu que o número dos sacramentos “não é mais nem menos que sete“.</p><p>O batismo que no Movimento de Jesus era considerado uma manifestação de</p><p>adesão à mensagem de Cristo, ao longo do tempo, passou a significar a entrada</p><p>para a Igreja, marca visível do Reino de Deus. O batismo, antes realizado por qual-</p><p>quer cristão, passa a ser reservado apenas aos sacerdotes.</p><p>As religiões de mistério só aceitavam novos membros depois de um processo de</p><p>introdução do candidato aos mistérios iniciais. Assim, nasce a ideia de “introdução</p><p>ao catecumenato”, purificação do fiel que deve recitar a “fórmula batismal” no ato</p><p>do batismo. A confirmação torna-se, assim, a introdução nos mistérios de Cristo.</p><p>A confirmação, segundo o dogma católico, concede aos batizados a Fortaleza do</p><p>Espírito Santo para que confessem sua fé em Jesus Cristo. Já a eucaristia tornou-se</p><p>a participação no sacrifício de Jesus. A eucaristia é a celebração da Igreja.</p><p>O Concílio de Laodiceia, no ano 318, decretou que o drama de Jesus no Gól-</p><p>gota passasse a ser encarado como um sacrifício de sangue, hostiae piaculares</p><p>(vítimas sacrificadas para expiar o pecado de outrem).</p><p>Foi instituída a missa, onde seria realizado, a título de sacrifício, o que passou a</p><p>se denominar “eucaristia”, sendo considerado como “hóstia”, isto é, como vítima,</p><p>o corpo e o sangue de Jesus, representado pelo pão e pelo vinho.</p><p>Já a confissão tornou-se um dos sacramentos da Igreja que proclamava que os</p><p>legítimos sucessores de Cristo (padres) têm o poder de perdoar e de reter os peca-</p><p>dos para reconciliar os fiéis caídos, Cristo deu assim à sua Igreja o poder. A unção</p><p>é também um ato de transmissão do poder curador e miraculoso do Senhor Jesus</p><p>por meio da ministração do sacerdócio instituído.</p><p>A Ordem é a entrada para o sacerdócio da Igreja e da formação da hierarquia da</p><p>liderança do povo de Deus. A ordenação seguiu os moldes romanos.</p><p>O matrimônio seguiu os parâmetros do casamento romano. Esse, por sua vez,</p><p>era tratado como uma ação comercial entre famílias. O interesse político e econô-</p><p>mico era o que prevalecia. Nos Cultos de Mistério, o matrimônio era uma cerimô-</p><p>nia religiosa de fertilidade e benção das divindades aos casais.</p><p>O Cristianismo Estatal assumiu para si o matrimônio como ato religioso e mes-</p><p>clou os diversos elementos que foram se agregando ao longo dos séculos até se</p><p>tornar uma forma oficial e padronizada cristã.</p><p>22</p><p>23</p><p>As alianças foram introduzidas por influência dos povos nórdicos (vikings) no es-</p><p>tabelecimento do pacto nupcial. As velas, as flores, o vestido branco (prova externa</p><p>da virgindade) foram elementos agregados ao longo do tempo pelo Catolicismo.</p><p>O costume da pregação e benção dos noivos foi extraído dos costumes pagãos</p><p>na Inglaterra, principalmente nas bênçãos dadas pelos druidas aos nubentes. Esse</p><p>costume acabou por impregnar o Cristianismo Católico com sua chegada nas Ilhas</p><p>Britânicas e foi incorporado.</p><p>Na Igreja Católica, o casamento se torna parte</p><p>dos sacramentos no século XIII</p><p>d.C. Assim, o casamento, na Igreja Católica, tornou-se parte da doutrina da salvação.</p><p>A extrema-unção era o ato de uma absolvição no leito de morte dos pecados</p><p>do moribundo. Dessa forma, a Igreja detinha o controle espiritual do nascimento,</p><p>com o batismo infantil, à velhice, com a extrema-unção, passando pelos dias e</p><p>meses com a missa e a eucaristia, quando ao casamento ou os votos para entrada</p><p>na Igreja.</p><p>Assim, a Igreja controlava a vida dos fiéis desde o seu nascimento até a hora</p><p>de sua morte. Os ritos fúnebres, estabelecidos também ao longo do tempo, esta-</p><p>beleciam uma hegemonia no cotidiano das pessoas. O batismo, o casamento, o</p><p>funeral eram ritos sob a supervisão e administração da Igreja. Os cemitérios eram</p><p>católicos, controlados pela Igreja. No final, tanto ricos quanto pobres estavam sob</p><p>a administração da Igreja.</p><p>23</p><p>UNIDADE Cristianismo na Idade Média</p><p>Material Complementar</p><p>Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:</p><p>Livros</p><p>O Cristianismo através dos Séculos</p><p>CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. 2. ed. São Paulo: Vida</p><p>Nova, 1995.</p><p>Dois Reinos: A Igreja e a Cultura Interagindo ao Longo dos Séculos</p><p>CLOUSE, Robert. G. (Et. Al). Dois Reinos: a igreja e a cultura interagindo ao</p><p>longo dos séculos. São Paulo: CEP, 2003.</p><p>História da Igreja em Quadros</p><p>HOUSE, H. Wayne. História da Igreja em quadros. São Paulo: Vida, 1999.</p><p>Caminho das Civilizações</p><p>MORAES, José Geraldo. Caminho das civilizações. São Paulo: Atual, 1994.</p><p>História da Igreja</p><p>PIERRARD, Pierre. História da Igreja. São Paulo: Paulus, 1982.</p><p>24</p><p>25</p><p>Referências</p><p>DEANESLEY, Margaret. A History of the Medieval Church 590-1500. London:</p><p>Methuen, 1969.</p><p>HIRSCHBERGER, Johannes. História da Filosofia na Idade Média. São Paulo:</p><p>Herder, 1966.</p><p>LOHSE, B. A fé cristã através dos tempos. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1981.</p><p>McGIFFERT, Arthur Cushman. A History of Christian Thought. v. II. New York:</p><p>Scribner’s sons, 1950.</p><p>MURRAY, Bruno. As Ordens Monásticas e Religiosas. Lisboa: PEA, 1986.</p><p>ORLANDIS, José. Historia de la Iglesia. 6. ed. Madrid: Ediciones Palabra, 1987.</p><p>PEREIRA DE FIGUEIREDO, Antônio. Bíblia Sagrada. Londres: SBBE, 1937.</p><p>ROPS, Daniel. A Igreja dos Tempos Bárbaros. São Paulo: Quadrante, 1991.</p><p>SOUTHERN, R.W. A Igreja Medieval: história da Igreja. Lisboa: Ulisses, 1970.</p><p>25</p>