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<p>3</p><p>CAROLINA UNIVERSITY</p><p>PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA</p><p>CURSO DE MESTRADO EM MINISTÉRIOS</p><p>FABIÃO MESSIAS MANHIQUE</p><p>UNIÃO HIPOSTÁTICA:</p><p>Jesus: o Deus-Homem</p><p>Winston-Salem</p><p>2023</p><p>FABIÃO MESSIAS MANHIQUE</p><p>UNIÃO HIPOSTÁTICA:</p><p>Jesus: o Deus-Homem</p><p>Trabalho de pesquisa apresentado à disciplina de Estudos no Novo Testamento, do Curso de Mestrado em Ministérios, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Teologia da Carolina University, como requisito obrigatório para aprovação.</p><p>Prof. Dr. Claiton Kunz</p><p>Winston-Salem</p><p>2023</p><p>SUMÁRIO</p><p>EPÍGRAFE 4</p><p>I. INTRODUÇÃO 5</p><p>II. UNIÃO HIPOSTÁTICA 6</p><p>1. União hipostática: conceito 6</p><p>2. Opiniões sobre a união hipostática 6</p><p>2.1. Negações da união hipostática fora da igreja 7</p><p>2.1.1. A opinião do espiritismo e do panteísmo 7</p><p>2.1.2. A opinião do islamismo 7</p><p>2.2. Negações da união hipostática dentro da igreja 7</p><p>2.2.1. Opiniões sobre a negação da humanidade de Jesus Cristo 8</p><p>2.2.2. Opiniões sobre a negação da humanidade de Jesus Cristo 8</p><p>2.2.3. Opiniões sobre a distinção entre o Pai e o Filho 9</p><p>2.3. Opiniões a favor da união das duas naturezas 10</p><p>III. CONSIDERAÇÕES FINAIS 11</p><p>REFERÊNCIAS 12</p><p>EPÍGRAFE</p><p>“Para que a redenção concretizada na cruz valha para a humanidade, deve ser a obra do Jesus humano. Mas para que tenha o valor infinito necessário para expiar os pecados de todos os seres humanos em relação a um Deus infinito e perfeitamente santo, é preciso que também seja a obra do Cristo divino” (Erickson)</p><p>I. INTRODUÇÃO</p><p>O presente trabalho consiste na exposição das várias opiniões sobre a natureza de Jesus Cristo, a união hipostática. Portanto, depois da tentativa de definição do termo “união hipostática”, segue-se a apresentação das diferentes visões emergidas. Por um lado, há as religiões e por outro, a própria igreja. Assim entendido, dentro da igreja, houve debate tanto por um quanto por outro extremo, ora negando a humanidade ora a divindade de Jesus e, por vezes, as duas naturezas. Por causa disso, vários concílios foram convocados para o estudo das opiniões levantades e posterior resposta a respeito. Por isso, convém que depois de cada opinião se destaque a posição do concílio convocado.</p><p>O trabalho é bastante sintético, mas houve o esforço de se reunir nele as informaçoes cruciais a respeito do assunto.</p><p>II. UNIÃO HIPOSTÁTICA</p><p>A doutrina da união hipostática de Jesus vem sendo debatida desde o primeiro século até a actualidade. A despeito de a Igreja ter combatido as heresias que se levantavam contra esta doutrina, sempre se levantaram hereges em cada época ora trazendo novos conceitos ora reformulando os já existentes.</p><p>Abaixo, após a apresentação do conceito da união hipostática, apresentar-se-á as principais teorias heréticas, em ordem cronológica, que levaram à necessidade de um trabalho apoloético do lado da Igreja, com respeito à plena humanidade e plena deidade de Jesus.</p><p>1. União hipostática: conceito</p><p>Ao lado do conceito de Trindade, o conceito de união hipostática é dos mais difíceis de entender na teologia. Com efeito, tanto a deidade quanto a humanidade perfeita (conforme Adão antes da queda), são conceitos estranhos, conhecidos apenas conforme as Escrituras revelam. Por união hipostática, refere-se à união, em uma única pessoa, das naturezas divina e humana. Portanto, biblicamente, união hipostática é a doutrina de que na única pessoa de Jesus existem duas naturezas: a divina e a humana[footnoteRef:1]. [1: https://defendendoafe.com.br/uniao-hipostatica (visitado aos 1.09.2023, às 09h25)]</p><p>Em outras palavras, “a Pessoa singular do Cristo encarnado mantinha todos os atributos divinos e todos os atributos humanos essenciais a um perfeito ser humano” (RYRIE, 2012, p.145). O que torna este conceito difícil de entender é o facto de que os atributos não podem se misturar nem podem ser transferidos de uma natureza para a a outra. Ora, Cristo pode ser visto como uma Pessoa fraca mesmo sendo omnipotente, ignorante mesmo sendo omnisciente, limitado mesmo sendo infinito (cf. RYRIE, id.).</p><p>2. Opiniões sobre a união hipostática</p><p>Ao longo da história da igreja, foram várias as opiniões que se levantaram com respeito à natureza de Cristo, ora negando a sua divindade ora negando a sua humanidade ou até mesmo ambas. Levando em consideração o facto de que estas opiniões vieram tanto de fora quanto de dentro da igreja, começar-se expondo as visões de algumas relgiões e, de seguida, as visões de seitas antigas, de dentro da igreja.</p><p>2.1. Negações da união hipostática fora da igreja</p><p>2.1.1. A opinião do espiritismo e do panteísmo</p><p>De acordo com o kardecismo, Jesus é um dos mais exaltados e evoluídos espíritos, o qual serve de grande exemplo para a humanidade, tendo-a mostrado como louvar o Bem e o Belo. Allan Kardec[footnoteRef:2] tem três abordagens principais sobre a Pessoa de Jesus: [2: Allan Kardec, O livro dos espíritos, p.308-468 apud FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. Vida Nova. São Paulo. 2007, p.484-487]</p><p>Primeiro, Ele não se torna o Deus-homem único, mas um guru altamente desenvolvido que se tornou Cristo por ocasião do seu batismo. Segundo, a natureza crística pode se encarnar ocasionalmente no corpo de um homem santo para lhe trazer sabedoria e revelação sobrenaturais; portanto, Cristo não é necessariamente Jesus. Terceiro, Jesus não é revelação única de Deus porquanto todas as religiões são, igualmente, revelações de Deus.</p><p>Actualmente, os adeptos da Nova Era são os maiores proponentes desta opinião.</p><p>2.1.2. A opinião do islamismo</p><p>Para Maomé, a doutrina da divindade de Cristo é uma deturpação do ensino de Jesus; com efeito, “Jesus era homem, até mesmo um grande profeta, mas não possuia os atributos divinos. Ele era, de fato, um apóstolo de Alá, que fazia milagres e ensinava o islamismo” (FERREIRA & MYATT, 2007, p.485).</p><p>Portanto, entendendo Alá como uma unidade absoluta, o islamismo considera impossível que Ele una a sua natureza com a do ser humano.</p><p>2.2. Negações da união hipostática dentro da igreja</p><p>Dentro da igreja, a união hipostática foi combatida em três vertentes; efectivamente, enquanto uns negavam a humanidade de Jesus Cristo e outros negavam a sua divindade, outros, ainda, negavam a distinção entre este e o pai. Em ordem de parição para cada um dos grupos, seguem abaixo.</p><p>2.2.1. Opiniões sobre a negação da humanidade de Jesus Cristo</p><p>· O docetismo (Sec. I): O nome vem do grego, dokeo, e significa “aparência” ou “aparentar”. Este movimento iniciou no fim do primeiro século, com Marcião e os gnósticos, que ensinaram que Cristo apenas parecia ser homem.</p><p>Segundo Charles Ryrie (op. cit., p.146), “o apóstolo João referiu-se a esse falso ensino em 1João 4.1-3, porquanto essa heresia não apenas a realidade da encarnação, mas também a validade do sacrifício”.</p><p>· O apolinarianismo (Sec. IV): esta teoria veio com Apolinário, bispo de Laodicéia, que defendia a divindade de Jesus, mas sacrificava a sua humanidade. Para si, “em Cristo, a alma divina (ou Logos) tomou o lugar da alma humana” (FERREIRA & MYATT, id., p.487).</p><p>Este ensino foi refutado por Gregório de Naziano e foi condenado pelo Concílio de Constantinopla, em 381.</p><p>· O eutiquianismo (Sec. V): levantado por Eutiques, monge de Constantinopla, esta teoria defendia que “a natureza divina de Cristo absorveu a natureza humana; assim, Cristo teria somente uma natureza após a união, a divina, revestida de carne humana” (FERREIRA & MYATT, ibid., p.487).</p><p>Mesmo depois de Flávio, o bispo de Constantinopla, ter banido Eutiques de Constantinopla, por volta de 449, a sua teoria contunuou com um novo nome, monofisismo. Por sua vez, esta foi condenada pelo Concílio de Éfeso no ano 431 (RYRIE, op. cit., p.146).</p><p>2.2.2. Opiniões sobre a negação da humanidade de Jesus Cristo</p><p>· O ebionismo (Sec. II): ainda que tenha surgido no final do primeiro século, o ebionismo teve sua força no segundo. O nome vem do hebraico, ‘ebyôn, que significa “pobre”, “necessitado”, “miserável”, “mendigo”,</p><p>“pedinte de esmolas”. Por conseguinte, esta teoria ensinava que Jesus era um profeta extraordinário, que se identificava com os pobres, mas não era Deus. (FERREIRA & MYATT, ibid., p.487).</p><p>De acordo com Ryrie (ibid), “essa heresia negava a divindade de Cristo e considerava Jesus o filho natural de José e Maria, mas que fora eleito para ser Filho de Deus no seu batismo, quando foi unido ao Cristo eterno”. Actualmente, esta teoria é defendida pelos adeptos do unitarismo, alguns teólogos liberais e pelos adeptos da teologia da libertação.</p><p>· O adocismo: contrariando o docismo, que negava a humanidade de Jesus, os adocionistas, que, às vezes são chamados de modalistas, crêem na humanidade de Jesus, mas negam a sua divindade. Para eles, “Jesus era um homem tão submisso ao Pai, que o Pai o adotou como o seu Cristo e Salvador dos homens. Assim, Jesus tornou-se Cristo, e agora possui uma posição exaltada e divina” (FERREIRA & MYATT, ibid., p.487).</p><p>· O arianismo (Sec. IV): esta foi a principal heresia dos primeiros séculos da história da igreja e foi levantada por Ário, um diácono de Alexandria, que ensinava que Cristo era apenas uma criatura, não o Deus eterno. Para os arianos, “houve um tempo quando Cristo não era”[footnoteRef:3]; portanto, ele era similar a Deus e não igual a Ele. [3: (FERREIRA & MYATT, ibid., p.488).]</p><p>Como explica Ryrie (ibidem, p.146), os arianos usavam de duas palavras gregas para descrever a natureza de Cristo em relação ao Pai: omiousios (similar ou semelhante) e homoousios (igualdade); portanto, afirmavam que “a natureza divina de Cristo era similar a Deus, omoiousios, mas não igual, homoousios”. Esta teoria foi condenada pelo Concílio de Niceia, em 325, afirmando que Jesus possuía a mesma natureza que Deus, o Pai.</p><p>2.2.3. Opiniões sobre a distinção entre o Pai e o Filho</p><p>· O sabelianismo: enquanton Ário identificou o Ser de Deus com a pessoa do Pai, Sabélio, presbítero de Ptelomaida, sacrificou todas as três pessoas da Divindade. De acordo com esse ensino, as três pessoas, Pai, Filho e Esirito, não são realidades eternas contidas no Ser de Deus, mas são formas e manifestações nas quais o único Ser divino se manifesta sucessivamente no curso dos séculos, ou seja, no Velho Testamento, no ministério terreno de Cristo e depois do Pentecostes.[footnoteRef:4] Tertuliano e Epifânio, bispo de Salamis, refutaram esta posição em fins do século III e começo do século IV.[footnoteRef:5] [4: BAVINCK, Herman. Teologia Sistemática: Fundamentos Teológicos da Fé Cristã. SOCEP. São Paulo. 2001, p.352] [5: (FERREIRA & MYATT, ibid., p.488).]</p><p>· O modalismo (Sec. III): este pensamento surgiu com Paulo de Sasomata, bispo de Antioquia, e entendia que Deus apresentou-se em três modos, mas não existe eternamente como três pessoas.[footnoteRef:6] Na altura, em 268, este ensino foi rejeitado pelo Sínodo de Antioquia, mas hoje permanece através dos Pentecostais Unidos. [6: Idem.]</p><p>2.3. Opiniões a favor da união das duas naturezas</p><p>Considerando todas as opiniões anteriores como obviamente heréticas, visto que negam, por um lado, a humanidade de Jesus e, por outro, a sua divindade e sua igualdade com o Pai, convém agora analisar duas opiniões que parecem concordar na união hipostática.</p><p>· O nestorianismo (Sec. V): para Nestório, Jesus Cristo era o proposon (forma ou aparência) da união das duas naturezas. Portanto, as duas naturezas coexistem em Jesus, porém de forma searada. Como explica Bavinck (2021, p.395), “Nestório concluiu que, se havia duas naturezas em Cristo, deveria haver também duas pessoas, dois sujeitos, que poderiam se tornar uma pessoa apenas pelo vínculo moral, como o casamento entre um homem e uma mulher)”. O Concílio de Éfeso condenou este ensino, em 431.</p><p>· A visão ortodoxa (desde o Sec. V): Depois de uma longa e acirada disputa acerca da pessoa de Jesus Cristo, sua dupla natureza e igualdade com o Pai, a Igreja superou os conflitos levantados. De acordo com Banvick (op. cit., p.353), no Concílio de Calcedónia, foi afirmado que “a pessoa única de Cristo consistia de duas naturezas, que não podem ser alteradas nem misturadas, e nem separadas ou divididas e que essas naturezas existem uma ao lado da outra, sendo unidas em uma só pessoa”.</p><p>III. CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Ao longo do presente trabalho, procurou-se apresentar as várias opiniões que foram emergindo no cusro da história da igreja, com relação à Cristologia, mais especificamente a natureza de Cristo. Foram apresentadas opiniões de certas religiões e, depois, de diversas personalidades da igreja, desde o primeiro século ao quinto.</p><p>Foi possível concluir, baseado no ensino bíblico, que todas as teorias levantadas são heréticas e que o Concílio de Calcedónia, em 451, trouxe uma abordagem reconhecida como ortodoxa, a qual refuta aqueles ensinos heréticos e oferece uma que é de acordo com o exposto nas Escrituras: Jesus é uma Pessoa, que é perfeitamente humano e totalmente Deus.</p><p>Assim entendido, “na mesma pessoa há atributos e obras divinos e humanos, eternidade e tempo, onipresença e limitação, onipotência criadora e fraqueza própria da criatura”; ou seja, “nessa união, Cristo controla todos os atributos e poderes que são próprios de ambas as naturezas”[footnoteRef:7]. [7: BANVICK (2021, p.401-402)]</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BAVINCK, Herman. As maravilhas de Deus: Instrução na religião cristã de acordo com a Confissão Reformada. Vida Melhor. São Paulo. 2021</p><p>BAVINCK, Herman. Teologia Sistemática: Fundamentos Teológicos da Fé Cristã. SOCEP. São Paulo. 2001</p><p>FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. Vida Nova. São Paulo. 2007</p><p>RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos: um guia sistemático popular para entender a verdade bíblica. 1ª edição. Mundo Cristão. São Paulo. 2012</p><p>image1.png</p>