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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E MÉTODOS DE AUTOAPRENDIZADO UNIASSELVI-PÓS Autoria: Maira Bernardi Indaial - 2019 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: B523e Bernardi, Maira Educação a distância e métodos de autoaprendizado. / Maira Bernar- di. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 133 p.; il. ISBN 978-85-7141-408-2 ISBN Digital 978-85-7141-409-9 1. Educação a distância. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................05 CAPÍTULO 1 EAD: HIstórico, Modelo e Características ...............................7 CAPÍTULO 2 Conceitos, Papéis, Tendências, Possibilidades e Desafios para a EAD .....................................................................................49 CAPÍTULO 3 Metodologias de Aprendizagem para a EAD ............................91 APRESENTAÇÃO Este livro didático apresenta para o leitor aspectos considerados relevantes sobre a Educação a Distância (EAD). Organizados para que você, aluno, possa aprender e também refletir sobre a sua experiência nessa modalidade de ensino. No primeiro capítulo, são elucidadas as mudanças ocorridas no decorrer da história da educação a distância, enfatizando sua trajetória e repercussão no processo de ensino aprendizagem. Além disso, são identificadas as diferentes gerações da Web que surgiram nesse percurso histórico. É destacado ainda o potencial de diferentes tecnologias de informação e comunicação (TIC), buscando assim, auxiliar na seleção e avaliação da sua utilização e a forma como estes se relacionam nos cursos na modalidade a distância. Também são analisados os formatos de cursos ofertados na EAD, destacando seus fundamentos epistemológicos e evidenciando as concepções teóricas acerca dos modelos e abordagens pedagógicas, a partir das referências das teorias de aprendizagem. O segundo capítulo é iniciado com a abordagem de concepções, termos e práticas vigentes que estão sendo desenvolvidas na EAD, enfatizando as características, vantagens e desvantagens da modalidade. A seguir, são apresentados os sujeitos (professores, tutores e alunos) e agentes (equipe e suporte) envolvidos na EAD, enfatizando suas funções para a prática educativa, sendo ainda ressaltados os diferentes estilos de aprendizagem. Trata-se também sobre a compreensão, a partir da perspectiva de diferentes autores, acerca das competências na EAD, finalizando com a discussão sobre as tendências, possibilidades e desafios da modalidade. E, encerrando o livro, o último capítulo resgata os estudos sobre os conceitos de aprendizagem, métodos e metodologias a partir da sua análise e articulação no contexto da educação a distância. São também abordadas as diferentes metodologias de aprendizagem (com ênfase para as metodologias ativas) aplicadas na EAD. Dessa forma, espera-se que o leitor possa obter um panorama histórico, conceitual, teórico e prático a respeito da educação a distância, e das diversas possibilidades que podem ser utilizadas pelos professores para o aprendizado nessa modalidade. CAPÍTULO 1 EAD: HIstórico, Modelo e Características A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • apresentar as mudanças ocorridas a partir do histórico da educação a distância, enfatizando sua trajetória e repercussão no processo de ensino e aprendizagem; • identificar o potencial das tecnologias de informação e comunicação estudadas, selecionando e avaliando a sua utilização em cursos na modalidade EAD; • descrever os formatos de cursos a distância, destacando seus fundamentos epistemológicos e abordagens pedagógicas. 8 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 9 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A educação, como um todo, está passando por um momento de grandes transformações, por isso, a Educação a Distância (EAD) é uma modalidade que vem sendo muito estudada por teóricos e especialistas. São estudos que vêm transformando os processos de ensino e aprendizagem, ampliando seus sentidos, retomando e atualizando algumas práticas pedagógicas, mas também favorecendo a criação de novas formas de compreender e de lidar com a construção dos conhecimentos. O foco, portanto, tem sido atender às novas demandas da EAD a fim de garantir a formação de sujeitos capazes de aprender constantemente e de enfrentar as novas situações sociais e seus desafios. Para isso, é importante conhecer a sua história e os caminhos já trilhados, as tecnologias empregadas e suas bases pedagógicas para construir um futuro ainda mais promissor. Assim, o objetivo é que você reflita sobre a EAD e as mudanças ocorridas e possa relacionar com a sua história de vida escolar. 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS Para tratar sobre o percurso histórico da Educação a Distância (EAD), é necessário relacionar à história da Educação, seguindo uma perspectiva linear de tempo para compreender a sua evolução. Trata-se de um tema que vem sendo discutido e analisado por diversos autores que são referência nessa área e que tem organizado as gerações da EAD em três ou cinco divisões, dependendo da orientação teórica e da configuração de suas abordagens para apontar as práticas educativas de cada época. Nesse estudo, vamos apresentar os trabalhos desenvolvidos por Maia e Mattar (2007), Moore e Kearsley (2008). 2.1 AS GERAÇÕES DA EAD PARA MAIA E MATTAR (2007) No livro ABC da EAD: a educação a distância hoje, Maia e Mattar (2007) estabeleceram três gerações para a educação a distância. De acordo com os autores, existem também registros sobre cursos de taquigrafia a distância 10 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado divulgados em jornais desde 1720. A Primeira Geração iniciou com a oferta de cursos por correspondência desde o século XVIII, sendo que a maior oferta de cursos ocorre no século XIX, em países europeus como Suécia, Reino Unido e Espanha. Foi o surgimento dos correios como meio de comunicação e do trem como transporte que impulsionaram a EAD, que tem o ano de 1728 como seu marco inicial. Ainda de acordo com os autores, começam a ser criadas propostas de cursos a distância, dando-se destaque para os cursos técnicos de extensão universitária. No entanto, os cursos não foram bem aceitos pela sociedade, o que culminou em poucas experiências mais duradouras. A Segunda Geração é marcada pela inclusão de novos recursos midiáticos como rádio, televisão, o uso de fitas de áudio e vídeo e o telefone. No Brasil, iniciou a partir da década de 20, com o uso de áudio (rádio e fitas cassete), e, posteriormente (anos 60), do vídeo, com a televisão. Outro marco dessa geração é o surgimento de universidades abertas na Europa, com uma nova organização de ensino em EAD. Destaca-se, assim, a abertura da British Open University, na Inglaterra, em 1969, considerada como a pioneira do que se entende até hoje como um modelo de ensino superior a distância. Tratou-se na época de um avanço acerca das experiências de EAD, pois foram desenvolvidos cursos acadêmicos de qualidade com a utilização dos meios de comunicaçãocomo TVs, rádios, fitas cassetes e vídeos entre professores e alunos. Essas ações foram importantes para que se começasse a repensar acerca da função das universidades e também em novas mudanças na educação, o que de fato somente veio a ocorrer na década de 90, quando empresas, universidades e setores governamentais começam a demonstrar interesse por essas metodologias. A Terceira Geração foi iniciada pela introdução do microcomputador, sua utilização em redes, e de tecnologias multimídias, como videotexto e hipertexto. Começa, assim, a EAD on-line, caracterizada pela integração dessas novas mídias com as que já vinham sendo usadas pelas primeiras gerações. Ou seja, deu-se início a uma nova fase na história da educação a distância. A Terceira Geração da evolução da EAD seria marcada pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação. Por volta de 1995, com o desenvolvimento explosivo da Internet, ocorre um ponto de ruptura na história da educação a distância. Surge então um novo território para a educação, o espaço virtual da aprendizagem, digital e baseado 11 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 na rede. Surgem também várias associações de instituições ensino a distância [...] a EAD, assim, nos ajudaria a romper com a tradição e planejar o futuro (;MAIA; MATTAR, 2007, p. 22-23). Maia e Mattar (2007) também salientam que vários países têm práticas de EAD em todos os níveis de ensino, entendendo que o investimento em EAD, muitas vezes, independe do seu grau de desenvolvimento econômico. 2.2 AS CINCO GERAÇÕES DA EAD PARA OS AUTORES MOORE E KEARSLEY (2008) Os autores Moore e Kearsley (2008) descrevem no livro Educação a distância: uma visão integrada, a história da EAD dividida em cinco gerações, sendo observados os períodos históricos e os avanços tecnológicos de cada época, apontando experiências de diferentes países como Estados Unidos, Grã- Bretanha e Inglaterra. Para esse estudo, serão enfatizadas as ações, atividades e programas desenvolvidos no Brasil. Dessa forma, será possível ainda observar aspectos semelhantes aos que Maia e Mattar (2007) já apresentaram. De acordo com Moore e Kearsley (2008), a Primeira Geração ocorreu no período entre o início da década de 1880 e início da década de 1920, considerada como o primeiro modelo pedagógico de EAD, centrado em uma prática individualizada, com estudo independente, pautados na comunicação textual e impressa. Como nessa época o correio era a tecnologia mais avançada como meio de comunicação, os estudantes recebiam os materiais por correspondência, em formato de apostilas para estudo e testes de avaliação. Depois de preenchidos, deveriam ser novamente postados via correio para a correção das atividades. Caracterizava-se, assim, a atividade de ensino pela instrução, pela transmissão de informações, sendo o correio a única ferramenta de comunicação entre os alunos e o professor. Mesmo que limitada, considera-se que esse modelo permitiu o acesso para aqueles que queriam realizar seus estudos, mas estavam geograficamente afastados das instituições educativas. Essa foi uma das primeiras maneiras que se teve de ampliar o ensino, sendo que, também, foi uma oportunidade efetiva de acesso para educação de mulheres, que tinham somente a opção de estudar em casa. 12 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Primeira Geração - Ensino por correspondência: • Primeiro Modelo Didático de EAD: os cursos faziam uso de material impresso entregue aos alunos através do correio. • Atividade de ensino baseada nos princípios da autoinstrução e pela transmissão passiva de conhecimentos e informações. • 1941: Criação do Instituto Universal Brasileiro – oferecimento de formação profissional nos níveis fundamental e médio em todo território nacional. É considerada como primeira notícia sobre a modalidade a distância no Brasil, em 1891, a propaganda de um curso de datilografia via correio oferecido através de anúncio de jornal. Outros dados apontam que, a partir de 1900, foi utilizada a mídia impressa, com envio de materiais instrucionais via correio (LITWIN, 2001). Mais tarde, no ano de 1941, foi criado o Instituto Universal Brasileiro, instituição que ficou muito conhecida pela oferta de formação profissional via correspondência nos níveis fundamental, médio e técnico em todo o país. 2.2.1 Segunda Geração da EAD: meios de comunicação de massa A introdução dos meios de comunicação de massa é o que marca o surgimento da Segunda Geração. Essa teve seu início no Brasil ainda na década de 20, quando se começa a fazer uso de rádio (áudio e fitas cassete), até os anos 60 e 70, com a utilização do vídeo, através da televisão. Houve, portanto, uma ampliação de recursos, o que modificou o modelo pedagógico, que passava a contar uma maior variedade de tecnologias para a gravação e transmissão de aulas. Entretanto, o acesso aos materiais (além de livros, também eram fitas cassetes e de vídeo) e o meio de comunicação entre professores e alunos permanecia ocorrendo via correio. Somente mais tarde é que surge o telefone e o fax, ampliando as formas de comunicação (já entrando na Terceira Geração da EAD). Dessa forma, pode-se compreender que a educação acompanhava o surgimento e a familiarização dos recursos tecnológicos da época, utilizando-se dos seus potenciais para o desenvolvimento das atividades educativas (MOORE; KEARSLEY, 2008). 13 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 A seguir, são destacadas algumas das principais ações de educação via rádio que foram desenvolvidas no Brasil: • Henrique Morize e Roquete Pinto são considerados os responsáveis pelas primeiras atividades de educação via rádio quando esse começou a ser usado no país, em 1923, com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. • Em 1937, com a doação da rádio por Roquete Pinto, o Ministério da Educação cria o Serviço de Radiodifusão Educativa, destinado para promover, de forma permanente, a irradiação de programas de caráter educativo. A partir da sua criação, as emissoras brasileiras receberam a exigência de transmitir, diariamente, textos educativos elaborados pelo Ministério da Educação e Saúde. • Em 1947, é criada a Universidade do Ar pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), no Rio de Janeiro e São Paulo que, em 1950, atingia mais de 300 localidades brasileiras. • Em 1959, a Diocese da cidade de Natal, RN, criou as escolas radiofônicas, destinadas para alfabetizar e conscientizar o povo rural. As aulas ocorriam durante a noite, horário propício para os trabalhadores. • Em 1961, surge o Movimento de Educação de Base (MEB), apoiado por um acordo entre o Governo Federal e a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) para a alfabetização de jovens e adultos através da transmissão de atividades e aulas em programas de rádio para estudantes das regiões rurais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país que tinham indicadores econômicos e sociais em situação de pobreza. • Em 1962, foi fundada em São Paulo, a Ocidental School, uma instituição de ensino americana e atuante no campo da eletrônica, que atendia alunos no Brasil e em Portugal. • Em 1967, o Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM) e em 1970, surge o Projeto Minerva (descrito nos parágrafos seguintes), que iniciaram atividades de educação a distância, usando o ensino por correspondência e por rádio. É a partir dos anos 60 e 70 que a televisão passa a ser usada para a educação brasileira, através de diferentes iniciativas e projetos, tendo como principal finalidade o treinamento dos professores e a oferta do ensino supletivo nos níveis primário e secundário, o que tornou possível associar o conceito de educação a distância com a comunicação de massa. Surgiram, nesse período, os telecursos. Esses, em sua grande maioria, 14 Educação a Distância e Métodosde Autoaprendizado Segunda Geração – Educação a distância via rádio e TV: • Introdução dos novos meios de comunicação de massa. • No Brasil - década de 20: uso de áudio (rádio e fitas cassete) e anos 60 (vídeo e televisão). • Comunicação permanecia sendo pelo envio de correspondência e, mais tarde, foram somados o uso do telefone e do fax. • Educação pelo rádio no Brasil desde 1923. • Uso da TV na educação - anos 60 e 70: voltado para treinamento dos professores e a oferta do ensino supletivo nos níveis primário e secundário, voltados para aqueles que não puderam estudar no ensino regular. desenvolviam atividades de estudo individualizado, mas existiram propostas de cursos que oportunizavam a reunião em grupo dos alunos e tutores, para o estudo do conteúdo das aulas. Entre os anos 70 e 80, houve um significativo número de associados e de seções estaduais da Associação Brasileira de Teleducação (ABT). Esse fato levou o Brasil a ter reconhecimento internacional, através de estudos realizados sobre educação a distância, juntamente com países considerados líderes dessa modalidade como a Índia, a Espanha e o Reino Unido. Dentre as iniciativas da época, dá-se destaque para o Projeto Minerva. Esse foi desenvolvido em 1970, através de uma ação em conjunto do MEC, da Fundação Padre Anchieta e da Fundação Padre Landell de Moura, seguindo a orientação e ênfase para a educação de adultos. O objetivo principal do Projeto Minerva era atender os interesses do governo militar brasileiro que almejava causar um impacto no sistema educativo. Tratava-se de uma tentativa de solucionar os problemas através da utilização do rádio e da televisão, com transmissão em rede nacional, pelas emissoras de todo o país, com a finalidade de capacitar e preparar os estudantes para a realização de exames supletivos. Sob fortes críticas, o projeto foi encerrado no início dos anos 80, pelos baixos resultados obtidos em termos de aprovação dos inscritos. 15 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 2.2.2 Terceira Geração da EAD: experiências em EAD Conforme é abordado pelos autores Moore e Kearsley (2008), no final dos anos 60, a Terceira Geração é reconhecida pela reorganização da educação sob o ponto de vista pedagógico da EAD, que resultou em uma nova modalidade. Fazia- se o uso associado e integrado das tecnologias disponíveis elaborando “kits” de materiais (recursos impressos, transmissões via rádio e TV e vídeos pré-gravados, telefone e conferências por fone) para a realização de experiências práticas que foram muito utilizadas na capacitação e formação profissional na área da EAD. No entanto, permanecia a relevância do material impresso como principal recurso de transmissão de conteúdo, apesar da existência de novas tecnologias. Nesse período também surgiram as universidades abertas, com ensino totalmente a distância. Como já mencionado, essa reorganização das práticas educativas impulsionou novas experiências e a difusão de acesso para outros níveis de ensino, através da ampliação de técnicas de instrução e geração de novos estudos teóricos sobre a modalidade a distância. A partir dos anos 80, foram possibilitadas novas formas de comunicação com o surgimento da informática e a popularização do computador pessoal, quando se passou a usar o correio eletrônico, os chats, os fóruns de discussão e a realização de videoconferências. • Terceira Geração: final dos anos 60 - caracterizada pelas experiências em EAD • Investimentos na capacitação profissional com a área da EAD. • Uso integrado das tecnologias disponíveis, elaboração dos “kits” com materiais para a realização de experiências práticas. • Ponto de vista pedagógico da EAD: período de análise e reorganização das práticas educativas. • 1980 - advento da informática e a do computador pessoal: novas formas de comunicação, com o uso do correio eletrônico, salas de bate-papo, fóruns de discussão e videoconferências. 16 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 2.2.3 Quarta Geração da EAD: uso da videoconferência Na Quarta Geração, fez-se o uso mais efetivo da videoconferência (conferência a distância). Essa tecnologia viabilizou a interação em tempo real, transformando o processo de ensino e aprendizagem e as relações de comunicação entre professores e alunos. No início da década de 70, é criado, no Brasil, como uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC), do Centro Nacional de Pesquisas e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o projeto Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares (SACI), com o objetivo de estabelecer um sistema nacional de teleducação, via satélite. O projeto destinava-se para o oferecimento de programas educacionais para atendimento das quatro séries do primeiro grau, através de um sistema integrado de TV, rádio e material impresso. Eram disponibilizadas aulas pré- gravadas via satélite, usando a linguagem de telenovela e suporte de material impresso para os alunos. O projeto SACI também foi utilizado para o treinamento de professores em regiões remotas do país. Como já citado, idealizava-se a implantação desse sistema de educação por satélite, principalmente para uso nas regiões Norte e Nordeste como uma forma de combater o analfabetismo brasileiro, considerado um dos principais fatores que vinha prejudicando o desenvolvimento do país. Um projeto piloto foi aplicado no Rio Grande do Norte, atendendo 510 escolas de 71 municípios. Sua extinção ocorreu em 1978, devido à dificuldade de atendimento das demandas e diferenças culturais das regiões brasileiras a partir do formato adotado nos programas produzidos em São Paulo. Além disso, havia um alto custo de manutenção dos equipamentos de satélites. Dessa iniciativa, destaca-se o pioneirismo e o aspecto inovador, bem como a qualidade do planejamento e do design instrucional empregado para a época. Ressalta-se ainda que esse projeto fazia parte de um programa espacial brasileiro que avaliava o uso de satélite de comunicação para atividades educacionais. Além desse projeto, o sistema Telecurso da Educação Secundária do Maranhão e os programas do Telecurso da Fundação Roberto Marinho foram outras iniciativas que chamaram a atenção. Alguns desses permaneceram mantidos pelo setor público e outros foram encerrados. Um dos exemplos é a TV Escola, criada pelo Ministério da Educação que, desde 1996, visa capacitar e atualizar os professores da rede pública de ensino a fim de enriquecer o processo de ensino e aprendizagem. Atualmente, a TV Escola é uma plataforma de comunicação 17 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 Quarta Geração - uso da teleconferência (conferência a distância): • Oferecimento de educação primária escolar para todo o país via satélite. • Uso de sistema via satélite integrado com outros meios de comunicação como TV, rádio e material impresso, para atendimento das quatro séries do primeiro grau e treinamento de professores em regiões remotas do Brasil. • Sistemas Telecurso - Fundação Roberto Marinho. • Anos 70, Brasil, Projeto SACI, Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares, e os sistemas estaduais de ensino e a criação de uma alternativa de concretização da educação básica através dos Centros de Ensino Supletivo (CES) distribuída pela televisão, por satélite aberto, analógico e digital para o território nacional e pela internet. Em sua programação, exibe séries e documentários estrangeiros e produções próprias. Também nos anos 70, foi institucionalizado no Brasil os Centros de Ensino Supletivo (CES), nos sistemas estaduais de ensino para oferta da educação a distância e concretização da educação básica. Entretanto, os CES ficaram conhecidos como uma modalidade educativa inferior, na tentativa de suprir a necessidade de acesso à educação para os menos favorecidos. O modelo pedagógico era baseadoem atividades de instrução programada e uso de materiais de apoio como livros-texto e exercícios organizados por módulos. As críticas eram pelo fato do modelo de EAD ir em sentido contrário à promoção de uma educação mais democrática. 2.2.4 Quinta Geração da EAD: redes de computadores e internet Moore e Kearsley (2008) escreveram em seu livro que se vivia na Quinta Geração da EAD, (e ainda podemos considerar que vivemos, claro que, de forma mais ampliada), caracterizada pelo uso das redes de computadores e internet e através de ambientes virtuais de aprendizagem (que abordaremos em outra seção). Desta forma, incorporam-se os benefícios de cada tecnologia empregada, 18 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado desde as gerações anteriores, para cada vez mais, ultrapassar as distâncias geográficas, garantindo o acesso às formas de comunicação. Também houve um aumento expressivo na oferta de cursos e programas de EAD desenvolvidos por diversas instituições, como será abordado nas seções seguintes. Quinta Geração - Uso da internet e das redes de computadores • Uso Internet e as redes de computadores. • Proliferação programas de EAD. • Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) e Webconferência. Através da apresentação da retrospectiva histórica, podem ser percebidos os avanços e retrocessos que permeiam a história da educação a distância no Brasil. Observa-se que as práticas de EAD, na realidade brasileira foram marcadas por momentos descontínuos. Contudo, acredita-se que a situação atual possa garantir o aproveitamento de oportunidades antes desperdiçadas, e, quem sabe, colocar novamente o Brasil numa posição de liderança com relação às experiências bem-sucedidas na área da EAD. Pode-se, assim, entender que, pouco a pouco, está havendo uma maior aceitação e compreensão sobre EAD no Brasil. Entretanto, é imprescindível manter na memória as experiências vivenciadas para não se repetir os mesmos erros cometidos como a descontinuidade de projetos e a falta de uma avaliação consistente dos resultados obtidos. O Quadro 1 sintetiza as gerações da EAD abordadas pelos autores. 19 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Maia e Mattar (2007) 1ª Geração 2ª Geração 3ª Geração ENSINO Via correio Via rádio e TV Universidades abertas Microcomputador e redes Tecnologias multimídias Moore e Kearsley (2008) 1ª Geração 2ª Geração 3ª Geração 4ª Geração 5ª Geração ENSINO Via correio Rádio e TV Uso integrado de tecnologias dis- poníveis Tele conferência Uso da internet e Redes de computadores QUADRO 1 – HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E SUAS GERAÇÕES FONTE: Adaptado de Bernardi (2011) 2.3 GERAÇÕES E FORMATOS DA INTERNET Conforme já abordado, a difusão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) foi responsável pela criação de experiências nas quais as informações foram sendo criadas, distribuídas, usadas e manipuladas de acordo com a evolução tecnológica. As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) são constituídas pelo conjunto de recursos tecnológicos utilizados de maneira integrada nos processos informacionais e comunicativos. Na educação, são consideradas também como recursos didáticos que podem oportunizar novas trocas, possibilidades de interação do aluno com o professor e com a realidade social através de suas ferramentas. 20 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado A internet e seu uso na sociedade tem sido um tema constantemente abordado na sociedade, através de matérias e reportagens. Entretanto, também já foi tema de música! Veja a seguir um trecho da música Pela Internet de Gilberto Gil. “Criar meu Web site Fazer minha home page Com quantos gigabytes Se faz uma jangada Um barco que veleje [...] Um barco que veleje nesse informar Que aproveite a vazante da infomaré Que leve meu e-mail até Calcutá. Depois um hot-link Num site de Helsinque Para abastecer Eu quero entrar na rede Promover um debate Juntar via Internet Um grupo de tietes de Connecticut [...]”. A Web 1.0 (surgimento da internet até os anos 90) marca o início do uso da internet, suas funcionalidades e recursos, através do uso de páginas estáticas para repassar informações. Naquele momento, tratava-se de um grande avanço, mas era mantido um caráter distributivo unidirecional do conhecimento, tendo somente possibilidade de utilizar mecanismos de download (OREILLY, 2007). Não havia, assim, condições dos usuários interagirem ou até mesmo produzirem e disponibilizarem algum tipo de conteúdo. Altavista, Cadê e Geocities eram sites famosos nessa época. A Web 2.0 (anos 90) oportunizou um novo tipo de experiência para o usuário da internet, dando poder para qualquer pessoa produzir, publicar e compartilhar conteúdos via internet. Criou-se, assim, uma comunicação “de mão dupla”, com um maior potencial de participação, colaboração e interação através da ampliação de uso das TICs. Ultrapassava a passividade que se tinha na Web 1.0, quando somente era possível ser um receptor de informações. De acordo com Oreilly (2007), as principais características dessa Geração da Web foi a possibilidade de autoria, o compartilhamento de informações e a construção coletiva do conhecimento. A Web 2.0 também é reconhecida pela criação das redes sociais, 21 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 dos MOOCs (que serão abordados com maiores detalhes) e da aprendizagem em rede. Para Magdalena e Costa (2003, p. 106), a internet “é muito mais do que uma infovia ou um lugar por onde podemos surfar e recolher informações, ela é um destino, um novo espaço que amplia nossas possibilidades de interação social”. A Web 3.0 (anos 2000) ampliou ainda mais a interatividade através da organização e uso inteligente de todo conhecimento e das ferramentas já disponíveis na internet, o que acarretou no acesso de melhor qualidade pela potencialização da linguagem e do uso de meios mais interativos (Web Semântica também conhecida como Web Inteligente). Um exemplo são os assistentes inteligentes como a Siri, da Apple e o Google Assistente. São aplicativos capazes de reunir uma grande quantidade de informações e gerar conhecimento útil para o usuário. Entende-se que estamos vivendo um momento de transição da Web 3.0 com o início do surgimento do que se considera como a Web 4.0 (ou será que estamos na Web 5.0?), que traz perspectivas ainda mais inovadoras pelo uso complexo da inteligência artificial. Trata-se da criação de um sistema operacional ainda mais inteligente e dinâmico, com capacidade de dar conta das interações dos usuários, usando para isso, dados disponíveis em históricos ou criados de forma instantânea, propondo possibilidades de tomada de decisão ou realizando a maior parte do trabalho de forma automática. Como é possível observar no quadro a seguir, a principal diferença entre os formatos e gerações da internet está na possibilidade que foi sendo ampliada de garantir maior dinamicidade e interatividade para seus usuários. QUADRO 2 – EVOLUÇÃO DA WEB - GERAÇÕES E FORMATOS Web 1.0 Web 2.0 Web 3.0 Web 4.0 Início da internet Novo tipo de ex- periência do usuário Interatividade Perspectivas inovadoras Comunicação unidi- recional Comunicação bidire- cional Potencialização da linguagem e do uso de meios mais inter- ativos (Web Semân- tica) Uso da inteligência artificial Páginas estáticas Produção, publi- cação e compartilha- mento de conteúdo via web Personalização de conteúdo a partir das preferências do usuário Tomada de decisão Realização do tra- balho de forma au- tomática FONTE: A autora 22 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 1 ( ) A Primeira Geração surge no século XIX pelo surgimento dos meios de comunicação via pombo correio e de transporte, com carros. 2 ( ) De acordo com Maia e Mattar (2007), o surgimento da Terceira Geraçãoda Educação a Distância é marcado pela introdução dos meios de comunicação de massa – rádio e tv. 3 ( ) Os telecursos sugiram nos anos 60/70, no Brasil, quando a televisão era utilizada na EAD. Os mais conhecidos foram os cursos da Fundação Roberto Marinho. 4 ( ) Foi na Quarta Geração da EAD que se começou a se fazer um uso mais efetivo da te- leconferência. Além disso, cita-se como inovação dessa época a realização do projeto SACI que visava o desenvolvimento de educação por satélite, o que foi um avanço pelo planejamento pedagógico empregado. 5 ( ) Na Web 1.0, o conceito principal é a interatividade, tornando possível a personalização de conteúdo. 6 ( ) A Web 2.0 tornou possível um novo tipo de experiência de uso da Internet, possibili- tando atividades de autoria, compartilhamento de informações e a construção coletiva do conhecimento, principalmente via redes sociais. 7 ( ) Na Web 2.0, somente era possível criar páginas e sites estatísticos. 8 ( ) Vivemos hoje entre a Web 3.0 e a Web 4.0, pois cada vez mais a inteligência artificial tem sido usada também para finalidades educacionais. Nesta seção, foram tratados aspectos referentes à história da educação a distância, apresentando as experiências vivenciadas no decorrer dos tempos e que podem servir de subsídio aos professores dessa modalidade nos dias de hoje. Acredita-se que, analisando a história EAD, seja possível pensar as práticas adotadas anteriormente, encaminhando-se para sua transformação. Instruções de preenchimento do teste: Leia atentamente cada uma das afirmações e responda V para verdadeiro e F para falso: 3 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO UTILIZADAS NA EAD Conforme foi mencionado na seção anterior, a evolução da educação a distância ocorreu, em muitos casos, a partir do uso de diferentes recursos e mídias 23 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 que foram sendo criadas, e que começaram a ser incorporados para potencializar o processo de ensino e aprendizagem, sendo o sucesso da EAD atribuído às tecnologias empregadas. De acordo com Moran (2004), pode-se considerar a existência de um “antes e outro depois” a partir da inserção das tecnologias na educação. Segundo ele, anteriormente o professor tinha a preocupação com o aluno no momento da sala de aula, ficando restringido a esse espaço. Agora, existem outros ambientes físicos e virtuais e suas atividades para serem acompanhadas. Para isso, é preciso aprender a gerenciar as atividades, adequando a carga horária, mas também flexibilizando o tempo de aprendizagem. A seguir, são apresentados alguns recursos, mídias e tecnologias que foram e ainda são empregadas nas atividades e cursos na modalidade a distância para modernizar as formas de ensino, aproximando-se da realidade tecnológica em que vivemos. FIGURA 2 – NUVEM DE TAGS – TICS NA EAD FONTE: A autora 24 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado • E-mail ou correio eletrônico: o e-mail (eletronic mail) é um recurso que permite a escrita e troca de mensagens, textos, figuras e outros arquivos via internet. O correio eletrônico funciona por meio da comunicação assíncrona, ou seja, remetente e destinatário da mensagem não precisam estar conectados simultaneamente. As mensagens ficam registradas, podendo ser lidas e respondidas de acordo com a disponibilidade de acesso. Pode-se dizer que o correio on-line revolucionou esse tipo de comunicação, aproximando pessoas remotamente distantes. • Videoaulas: é a gravação de aulas em vídeo (antigamente em fitas e atualmente via Web) para serem transmitidas on-line. Quando disponibilizadas, podem ser acessadas pelos alunos. Existem diferentes formatos de videoaulas com a gravação do professor, de entrevista, mesa redonda, uso de recursos gráficos com imagens, sons e interatividade. Seu uso visa proporcionar um conteúdo mais atrativo, contribuindo para a aprendizagem do aluno, através dos recursos audiovisuais. • Podcasts: são conteúdos de mídia no formato de áudio que apresentam características de programas de rádio, sendo sua principal diferença, a possibilidade de escutá-lo sob demanda. Da mesma forma que as videoaulas, os podcasts podem ser criados em diferentes formatos, desde uma fala, entrevista ou até mesmo no formato de radionovela (com enredo, uma história e uso de efeitos sonoros). Sua vantagem é que, normalmente, geram arquivos menos robustos que as videoaulas, sendo mais fácil de serem baixados/ouvidos. • Webconferência: é um tipo de tecnologia que permite a transmissão simultânea de imagens e sons através de dispositivos de comunicação (câmera, fones e microfones). Sua utilização viabiliza uma comunicação bidirecional entre professores, tutores e alunos, possibilitando interação em tempo real. Dependendo da ferramenta utilizada, pode haver recursos para o uso simultâneo de uma sala de bate-papo, compartilhamento de telas, imagens e arquivos e anotações. Oportuniza, assim, a realização de uma aula ou mesmo de uma reunião on-line, gravada ou não. • Fóruns e chats: são ferramentas de comunicação, sendo o fórum utilizado de modo assíncrono e chats de modo síncrono e simultâneo. Permitem, principalmente, pelo recurso da escrita, o debate, a interação de professores, tutores e alunos e o compartilhamento de ideias, dúvidas, atividades etc. Em ambos os casos, as conversas e demais escritas normalmente ficam armazenadas e disponíveis para acesso posterior. São recursos que podem contribuir para uma aprendizagem mais colaborativa e engajadora voltada para a construção do conhecimento. • Bibliotecas Virtuais: são formatos por acervos virtuais, em que é possível visualizar e/ou baixar materiais de estudo e de consulta em formato digital como livros, revistas, artigos, entre outros formatos. Seu uso visa garantir o acesso a uma maior variedade de fontes de 25 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 informação e pesquisa. • Sites e Blogs: são páginas de acesso via internet. Sites divulgam informações e conteúdos on-line sobre os mais variados e diferentes assuntos. Os blogs normalmente têm um formato mais simples, o que permite a criação e edição, sem haver a necessidade de conhecimentos em programação. Esses últimos foram inicialmente usados como diários eletrônicos, mas atualmente são também usados para fins pedagógicos, como material complementar às aulas, com a possibilidade de inserção de comentários em cada publicação. • Objetos de aprendizagem: são encontradas diferentes concepções de Objetos de aprendizagem (OA). Normalmente, é compreendido como qualquer material ou recurso digital (que pode ser formado por textos, animações, vídeos, imagens, aplicações, páginas web etc.) que tem uma finalidade educativa. Na maioria das vezes, são materiais educacionais projetados e construídos numa estrutura modular para sua utilização em diferentes situações de aprendizagem. Existem repositórios de objetos educacionais, que permitem a publicação e utilização dos OA através de um sistema de catalogação. • Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA): são as plataformas computacionais que reúnem ferramentas e recursos destinados a oportunizar acesso a um curso/disciplina e sua sala de aula virtual através da internet. Possibilitam a inserção de conteúdos e tarefas por meio de documentos nos mais variados formatos: bibliotecas virtuais, vídeos e videoaulas, podcasts, fóruns, bate-papo e o gerenciamento de todas as informações, entre outros aspectos. O AVA constitui uma plataforma de EAD definida pela coleção de ferramentas que permite a criação, disponibilização e gerenciamento de materiais educacionais. Desta maneira, são possibilitadas diferentes formas de comunicação, de interação e mediação pedagógica entre os participantes. • Realidade Virtual (RV): é um tipo de interface que utiliza aplicações computacionais avançadas que podem permitir,por exemplo, a movimentação e interação em tempo real em ambientes tridimensionais. Podem ser utilizados equipamentos como tablets e smartphones, luvas, capacetes e óculos com recursos de RV para proporcionar e oferecer ao usuário uma experiência de navegar por um ambiente tridimensional como um simulador de voo. • Realidade Aumentada (RA): é a integração do mundo virtual com o mundo real. Pode-se, por exemplo, usar imagens geradas por computador, juntamente com o mundo real. Sua utilização estimula a imaginação e a criação, o que pode oportunizar uma aprendizagem mais lúdica e interessante. Esse recurso vem sendo utilizado em livros e aplicativos que permitem a visualização de animações, demonstrações, vídeos, exercícios, entre outros, e podem auxiliar na explicação e 26 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado compreensão dos conteúdos. • Jogos/Games e Gamificação: normalmente é utilizado o termo “game” para os tipos de jogos eletrônicos, a fim de diferenciar dos jogos físicos (tabuleiro, cartas, trilhas etc.). Em ambos podem existir regras, narrativas e estratégias, visando a mobilização dos alunos em busca do desenvolvimento ou aprendizado de um determinado conhecimento ou habilidade. Já o termo “gamificação” é utilizado para a metodologia que se utiliza das dinâmicas, mecânicas e componentes dos jogos com a finalidade de estimular a motivação e o engajamento dos alunos. E, para isso, podem ser usadas recompensas, prêmios, medalhas, entre outros artifícios a fim de incentivar o envolvimento numa determinada atividade. • Internet das Coisas: ou Internet of things foi um termo usado para descrever um sistema no qual objetos que usamos no mundo físico são conectados via internet através de sensores (por exemplo: eletrodomésticos, tênis, dispositivos através de celulares etc.). Dessa forma, torna-se possível registrar a preferência dos alunos, fazendo um controle e/ou agendamento de atividades como reuniões, acesso a livros e também informações para os pais como faltas, alimentação dos alunos, entre outros. Ou seja, o uso da Internet das Coisas pode ampliar as formas de acessibilidade, segurança e acesso à informação. • Inteligência Artificial (IA): é uma área das ciências da computação que tem como objetivo a produção de dispositivos simuladores das capacidades humanas de percepção e raciocínio para tomada de decisões e resolução de problemas. Ou seja, a ideia é que os computadores simulem o pensamento e a inteligência humana. Esses recursos podem ser aplicados em programas de computador, jogos, aplicativos, robótica, podendo ser usados como mecanismos de segurança ou para reconhecimento de voz, de escrita, diagnósticos médicos, entre outros. Dentre os usos na educação, está a possibilidade de substituir tarefas cotidianas e repetitivas, além de poder dar maior motivação para o processo de aprendizagem de forma que professores possam usar ferramentas para aperfeiçoar as dinâmicas de aula e garantir maior autonomia para os alunos. • Robótica: é definida por César e Bonilla (2007, p. 240), como “a ciência dos sistemas que interage com o mundo real com ou sem intervenção dos humanos”. Ela está em expansão e é considerada multidisciplinar, são aplicados conhecimentos de diferentes ciências como a microeletrônica (peças eletrônicas do robô), a engenharia mecânica (projeto de peças mecânicas do robô), a física cinemática (movimento do robô), a matemática (operações quantitativas), a inteligência artificial (operação com proposições), entre outras. Seu uso como um recurso pedagógico se deve em grande parte pelo potencial multidisciplinar e o desenvolvimento de habilidades relacionadas com raciocínio lógico, 27 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 criatividade, atividades grupais e voltadas à resolução de problemas. Além disso, a robótica também tem sido utilizada para a acessibilidade e inclusão de alunos e na educação a distância. E você, conhece outras tecnologias usadas na educação a distância? Pesquise em sites educacionais sobre o uso dessas e de outras tecnologias nas práticas educativas! Nesta seção, foram trazidas algumas tecnologias conhecidas, utilizadas e outras que fazem parte das tendências mais inovadoras. A partir do que foi exposto, observa-se que as tecnologias usadas na educação a distância vêm possibilitando experiências significativas, além de auxiliar na organização do processo pedagógico, que ficou mais atrativo para os alunos e mais amigável para professores e gestores. Por isso, é importante destacar que, como já vem ocorrendo na história da EAD, conforme novas tecnologias forem sendo criadas, muito provavelmente, em pouco tempo, podem ser inseridas nas suas práticas educacionais. A seguir, serão apresentados os tipos e formatos de cursos a distância e as diferentes abordagens pedagógicas que embasam as práticas da EAD. 4 TIPOS E FORMATOS DE CURSOS EAD E AS DIFERENTES ABORDAGENS PEDAGÓGICAS A Educação a distância no Brasil é regulamentada pelo Ministério da Educação (MEC), que estabelece as orientações e regras que as instituições de ensino devem seguir para ofertar cursos nessa modalidade. São apontados critérios para carga horária presencial e/ou virtual, organização dos polos, avaliações, entre outros aspectos. 28 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Muitas mudanças têm ocorrido na legislação que regulamenta as atividades de Educação a distância. Por isso, acesse o site do Ministério da Educação e pesquise para conhecer as orientações atuais dessa modalidade: <https://www.mec.gov.br/>. A seguir, são descritos os principais tipos de cursos que podem ser encontrados na modalidade a distância. • Cursos universitários: têm uma regulamentação específica para serem ofertados por instituições de ensino (públicas ou privadas). São voltados para a formação em nível de graduação (bacharelados, licenciaturas ou tecnológicos) ou pós-graduação (lato ou stricto senso) e também podem ser ofertados como cursos de extensão universitária. • Cursos corporativos: são promovidos por empresas (e suas universidades corporativas) e/ou instituições de ensino são direcionados para capacitação e formação dos colaboradores de assuntos/conteúdos relacionados ao perfil da empresa, na maioria das vezes, focados na resolução de problemas corporativos e resultados. • Cursos técnicos: têm como finalidade a formação para exercício profissional. Também devem seguir a regulamentação exigida pelo MEC para serem aprovados e ofertados em instituições de ensino autorizadas. • Cursos preparatórios, de acordo com a nomenclatura, são voltados para a preparação de alunos com um objetivo definido, como aprovação em concurso ou exames como ENEM, OAB ou vestibular, por exemplo. Existem ainda cursos preparatórios para seleção de emprego. • Cursos livres: abordam qualquer assunto ou temática, podendo também servir para treinamentos e capacitações. Não seguem uma regulamentação ou lei específica que faça determinações sobre sua abordagem ou da necessidade de haver carga horária presencial, diferente dos demais citados. Pode também ter ou não algum tipo de certificação. • Atualmente, os mais conhecidos são os cursos massivos (oferta para um grande número de alunos) e disponíveis através de sites ou plataformas on-line, com conteúdo aberto (uso de diferentes plataformas), os Massive Open On-line Courses (MOOCs). A maioria desses cursos é gratuito e utiliza, principalmente, videoaulas e testes on-line elaborados por especialistas, sendo pensados para uma autoformação. Os estudantes podem interagir livremente e, por isso, não necessitam de tutoria. 29 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 Agora que você conheceu os tipos de cursos que são realizados, teste seus conhecimentos, associando os cursos listados com as alternativas: I- Cursos técnicos. II- Cursosuniversitários. III- Cursos preparatórios. IV- MOOCs. V- Cursos corporativos. VI- Cursos livres. ( ) Voltados para uma aprendizagem autônoma e o compartilhamento de conhecimentos, usam principalmente videoaulas. ( ) Têm legislação específica para serem ofertados por instituições de ensino superior. ( ) Destinados para a formação profissional. ( ) Voltados para formação continuada e/ou treinamento e capacitação nas empresas. ( ) Podem também ser utilizados para seleção de emprego. ( ) Podem abordar diferentes temas, ter ou não certificação e não precisam seguir nenhuma regulamentação vigente. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: ( ) III – I – VI – IV – II – V. ( ) II – V – I – VI – III – IV. ( ) VI – V – IV – III – II – I. ( ) IV – II – I – V – III – VI. De acordo com Carbonell (2016, p. 31), “existem diferentes tipos de MOOC em função dos objetivos, metodologias e resultados que se esperam”. Seu propósito é garantir a ampliação e o compartilhamento de conhecimentos, para que seja possível contribuir com a melhoria da qualidade da educação. Sites como o Coursera: <http://www.coursera.org/> e o Veduca: <www.veduca.com. br/browse/certified>, reúnem conteúdos variados, com possibilidade de gerar certificação do curso. 30 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Além dos tipos de cursos, existem diferentes formatos de educação a distância, sendo os mais conhecidos, os cursos totalmente a distância, a modalidade híbrida, as atividades semipresenciais e a modalidade presencial com atividades a distância (TORI, 2010). De acordo com a legislação vigente, os cursos com oferta totalmente a distância têm a maior parte da sua carga horária via internet precisando, por determinação do Ministério da Educação (MEC), que as avaliações sejam realizadas presencialmente, sendo a maior porcentagem da nota final, a avaliação presencial. Na maioria das vezes, trata-se de cursos de graduação ou pós- graduação (MEC, 2019). A modalidade híbrida, também conhecida como bimodal, ou Blended- Learning, caracteriza-se por uma aprendizagem mista, mesclando atividades virtuais e presenciais, que “consegue unir o melhor de cada uma dessas formas de acompanhamento” (TORI, 2010, p. 33). A compreensão dessa modalidade defende a realização de encontros presenciais significativos, dando ênfase para atividades práticas, muitas vezes realizadas em laboratórios de aprendizagem nas diferentes áreas do conhecimento. A modalidade semipresencial é semelhante ao entendimento da modalidade híbrida, com parte das atividades a distância e parte presencial, sendo esse percentual definido de acordo com o nível de ensino e a necessidade de seguir a regulamentação da EAD. A nomenclatura de cursos semipresenciais é mais utilizada para cursos que seguem um modelo mais semelhante aos cursos presenciais, mas que tenham carga horária a distância. E, finalmente, tem-se os cursos presenciais com atividades a distância. Esses são, em sua grande maioria, os cursos de nível superior presenciais que, de acordo com a legislação brasileira responsável por regimentar a EAD, oportuniza, atualmente, que até 40% da sua carga presencial possa ser realizada com atividades na modalidade a distância. Até pouco tempo, a porcentagem era de 20%, sendo ampliada e possibilitada para instituições de ensino superior que atendam aos requisitos relacionados à avaliação da instituição e do curso, deve ser igual ou superior a 4, seguindo os parâmetros estabelecidos pelo MEC, além de não estar em processo de supervisão. A carga horária presencial é utilizada para apresentação de trabalhos ou aplicação de exames finais. Teóricos e pesquisadores da área educacional como Moran (2004) e Tori (2010) já vêm defendendo a EAD e aconselhando que as instituições de ensino intensifiquem a reformulação de seus currículos, viabilizando cada vez mais a integração de atividades presenciais e a distância com uso das tecnologias e o desenvolvimento de atividades práticas, de pesquisa e de estudos de campo, 31 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 promovendo a inserção profissional ou experimental. A seguir serão abordadas as bases epistemológicas e pedagógicas relacionadas à EAD. 4.1 BASES EPISTEMOLÓGICAS E PEDAGÓGICAS RELACIONADAS COM A EAD O objetivo agora é desvendar os fundamentos teóricos e pedagógicos da EAD a partir dos conceitos de modelos pedagógicos, bases epistemológicas e pedagógicas e teorias de aprendizagem, a fim de analisar a origem da transformação ocorrida nos processos de ensino e aprendizagem nessa modalidade. Epistemologia é uma expressão que vem do grego episteme (conhecimento, ciência) e logos (discurso, estudo). É a ciência que estuda a origem e a construção do conhecimento. Também chamada de teoria do conhecimento. 4.2 MODELOS PEDAGÓGICOS Conforme já foi citado nas seções anteriores, existem diferentes formatos de cursos de EAD. Esses cursos são delineados a partir de modelos pedagógicos distintos. Afinal, o que são modelos pedagógicos? Dentre os aspectos que podem influenciar na sua definição, está a concepção epistemológica, as tecnologias, a abordagem pedagógica e tecnológica adotada e o modelo pedagógico da instituição. Vamos abordar as definições de modelo pedagógico a partir das concepções de Zabala (1998), Duart e Sangrá (apud MIRANDA, MORAIS e DIAS, 2005) e Behar (2009). 32 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Zabala (1998) utiliza a expressão Modelo Teórico, compreendendo-o como uma condição ideal e, portanto, não leva em conta o contexto real das práticas educativas. Por esse motivo, torna-se, muitas vezes, um modelo idealizado, composto por aspectos condicionantes que dificultam a concretização na sua totalidade. Na perspectiva educativa, esses aspectos podem estar relacionados ao ambiente físico da instituição, o perfil de professores e alunos, a determinação de um modelo de gestão, entre outros (BATISTA, 2010; ZABALA, 1998). Na figura a seguir, podem ser visualizados os elementos que, de acordo com Zabala (1998), compõem o modelo. Como pode ser observado, trata-se de uma estrutura complexa que é composta por variáveis metodológicas que necessitam de uma flexibilidade para a elaboração de sua interpretação. FIGURA 3 – MODELO TEÓRICO PARA ZABALA, 1998 FONTE: Adaptado de Bernardi (2011) A complexidade apresentada na figura está relacionada às diferentes composições de cursos e disciplinas, o perfil dos alunos e as escolhas determinadas pelos professores de acordo com o embasamento teórico adotado. Zabala (1998) ainda ressalta que a melhoria da prática pressupõe o conhecimento e utilização de alguns marcos teóricos. De acordo com as considerações do autor, estes irão conduzir a um efetivo processo de reflexão sobre esta prática. Desta forma, será possível intervir de forma significativa, levando à elaboração 33 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 de um pensamento estratégico coerente com as intenções e os saberes docentes (BERNARDI, 2011). Os autores Sangrá e Duart (apud MIRANDA, MORAIS e DIAS, 2005) apresentam um modelo tridimensional elaborado a partir do estudo acerca da crescente virtualização das instituições de ensino. Esse modelo é formado pelos modelos conceituais centrados em três elementos: meios (tecnológicos); na figura do professor; e no aluno. • Modelo centrado nos meios: enfatiza o uso de uma ou mais tecnologias, atribuindo para o conteúdo o destaque principal, em detrimento do professor e aluno. Desta forma, apoia-se um processo de autoformação, no qual a relevância é dada à produção dos materiais. Esses devem ser implementados por recursos midiáticos como áudios, vídeos e imagens, a fim de incrementar a escrita dos materiais. Como o foco dado é para o visual e a expressividade dos assuntos abordados, os materiais podem contar ainda com listas, esquemas,marcadores, cores e formatos de fontes que tornem os textos e ilustrações mais atrativos. Nesse caso, todos os recursos são voltados para garantir uma melhor interação dos usuários (professor e alunos) com os materiais. • Modelo centrado no professor: enfatiza a transmissão das informações através de uma abordagem tradicional de ensino. Nessa ótica, ocorre somente uma transposição do ensino presencial para o virtual, com mínimas adaptações nas metodologias, estratégias e nas formas de ensino. Reforça-se, assim, que o uso de recursos tecnológicos não garante, por si só, mudanças de cunho pedagógico. E semelhante ao modelo anterior, os materiais e conteúdo são produzidos por especialistas, sem haver um cuidado com sua integração às tarefas de tutoria. • Modelo centrado no aluno: apresenta uma tendência mais contemporânea do que é almejado para a prática pedagógica, ao colocar o aluno numa posição central no processo de ensino e aprendizagem. Vislumbra-se uma aprendizagem constituída de forma colaborativa, relacionada à construção dos conhecimentos, a produção dos conteúdos e o processo de tutoria. Com isso, visa-se possibilitar a realização de atividades autônomas e críticas, sendo uma prática que permanece na intenção. Assim, o modelo tridimensional, proposto por Sangrá e Duart (apud MIRANDA, MORAIS e DIAS , 2005), propõe o equilíbrio entre os modelos descritos anteriormente, através da convergência entre meio/professor/aluno, sendo considerados os aspectos principais de cada um dos elementos, podendo 34 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Paradigma - do grego parádeigma, significa padrão, exemplo ou modelo. Thomas Kuhn (1996), no livro A estrutura das Revoluções Científica, traz a definição de paradigma como sistema de referências e teorias que são testadas, avaliadas e, caso necessário, revistas. Paradigmas podem ser definidos como um conjunto de normas que limita e orienta os comportamentos a serem adotados pelos integrantes de grupos (sociais, científicos etc.) na realização de uma atividade. ocorrer uma ênfase, dependendo do contexto, dos objetivos e da temática do curso (BERNARDI, 2011). Behar (2009) traz uma interpretação que agrega as concepções anteriores, considerando que o Modelo Pedagógico (MP) é representado como “um sistema de premissas teóricas que representa, explica e orienta a forma como se aborda o currículo e que se concretiza nas práticas pedagógicas e nas interações professor/ aluno/objeto de estudo” (BEHAR, 2009, p. 24). A autora destaca ainda ser necessário levar em conta a questão paradigmática para uma melhor compreensão do conceito de modelo e que a construção do MP pode haver reinterpretações de mais de uma teoria de aprendizagem, concebidas pela formação e reflexão de cada professor em sua apropriação teórica. Por isso, é importante elucidar os significados atribuídos por cada docente para os elementos e concepções que fundamentam seu MP. A Figura a seguir sintetiza a concepção de modelo pedagógico elaborada por Behar (2009): FIGURA 4 – CONCEPÇÃO DE MODELO PEDAGÓGICO ELABORADA POR BEHAR (2009) FONTE: A autora 35 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 Desta forma, pode-se compreender que a construção do modelo pedagógico é “um processo exclusivo, único de cada professor, adquirido pela experiência profissional, sendo também intransferível” pois, conforme escreve Nóvoa (2007, p. 16 apud BERNARDI, 2011, p. 56), “cada um tem seu próprio modo de organizar as aulas, de se dirigir aos alunos, de utilizar os meios pedagógicos (e tecnológicos), um modo que se constitui uma espécie de segunda pele profissional”. Como sugestão de leitura sobre Modelos Pedagógicos: BEHAR, Patricia Alejandra et al. Modelos Pedagógicos em Educação a Distância. Porto Alegre: Artmed, 2011. Na sequência, são apresentadas as teorias de aprendizagem consideradas mais expressivas e que influenciam as práticas pedagógicas da educação a distância. 4.3 TEORIAS DE APRENDIZAGEM O estudo das teorias de aprendizagem fundamenta a análise dos processos educativos em todos os níveis e áreas do conhecimento. Na educação a distância, não poderia ser diferente. No decorrer da história da EAD, como mencionado ao longo do capítulo, o desenvolvimento das práticas pedagógicas teve influência direta dos meios de comunicação e das tecnologias que eram vigentes em cada época, sendo seu uso incorporado nas atividades educativas. Além disso, as transformações ocorridas na sociedade e no trabalho também refletiram na evolução da EAD. Entretanto, como bem aponta Mattar (2013), algumas das teorias de aprendizagem, principalmente as mais tradicionais, não foram elaboradas levando- se em conta o contexto da EAD. E, por isso, tem-se buscado a criação de novas teorias que melhor fundamentem o processo de aprendizagem desenvolvido através dos ambientes virtuais e suas tecnologias. Serão apresentadas a seguir as abordagens pedagógicas, os pensadores e 36 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado suas principais considerações que foram e estão subsidiando e influenciando as práticas de educação a distância. Entretanto, para compreendê-las, é importante, primeiramente, apontar os primeiros paradigmas históricos da educação – o inatismo ou apriorismo, o empirismo e o racionalismo. 4.3.1 Paradigmas históricos O Inatismo (ou apriorismo – a priori – que vem antes) tem como pressuposto que cada pessoa já nasce tendo, em sua bagagem hereditária, uma programação para o seu aprendizado. Ou seja, desconsidera a contribuição dos fatores ambientais e sociais na formação e no desenvolvimento das potencialidades de cada indivíduo. De acordo com Becker (2000, 2001) essa teoria embasa as práticas educativas da pedagogia não diretiva, que entende que se deva somente respeitar a capacidade e o ritmo de cada um, desconsiderando a necessidade de intervenção do professor no aprendizado dos alunos. Na sala de aula os saberes estão adormecidos, por isso o trabalho do professor é despertar no aluno. O trabalho docente é ajudar e ao mesmo tempo interferir o mínimo possível no processo de aprendizagem, essa é a ação de renúncia. A visão empirista, considera que cada pessoa nasce como uma folha em branco e que, para aprender, é necessário ter a influência dos fatores sociais e ambientais para o desenvolvimento e formação de cada pessoa. O empirismo apoia uma pedagogia diretiva, a qual considera que o processo de aprendizagem ocorre a partir dos fatores externos. A compreensão dessa teoria vem destacar a importância do planejamento pedagógico, a definição dos objetivos e técnicas de aprendizagem, sendo essas centradas em práticas de instrução programada e uso de mecanismos de reforço da aprendizagem. Com essa compreensão, “a aprendizagem é entendida como uma modificação do comportamento que aquele que ensina gera (ou impõe) naquele que aprende” (FRANCO, 2000, p.19). 37 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 Na sala de aula o professor acredita no mito da transferência do conhecimento – transmissão. O aluno “recebe o conhecimento” de forma passiva, cabendo a repetição tantas vezes quantas forem necessárias. Conhecimentos absorvidos tal como uma esponja: basta acumular informações para aprender. Na sala de aula a influência no paradigma educacional é que fundamenta uma visão compartimentada e linear: ensino seriado, aulas por períodos, memorização do conteúdo, atividades de fixação. O racionalismo tem seu fundamento pautado no pensamento Newtoniano- Cartesiano. Ele influencia os campos do conhecimento científico, e foi responsável pela fragmentação dos saberes, pela reprodução e memorização dos conhecimentos. E, dessa forma, “o conhecimento, ao ser dividido, ao ser fragmentado, isolou o homem das emoções que a razão desconhece. Deixou de contemplar, em nome do racionalismo, sentimentos como: a solidariedade,a humanidade, a sensibilidade, o afeto, o amor e o espírito de ajuda mútua” (BEHRENS, 2011, p. 22). 4.4 TEORIAS E SUAS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS PARA A EAD Algumas das abordagens pedagógicas foram fundamentadas, no decorrer a história, nas concepções defendidas pelos paradigmas históricos, influenciando não só a comunidade científica, mas também as práticas educativas. Nesse sentido, vamos tratar sobre a abordagem pedagógica do behaviorismo, pautado na teoria skinneriana, do construtivismo, nos princípios da teoria interacionista, do socioconstrutivismo e os estudos da Vygotsky e do Conectivismo, sendo essa uma teoria de aprendizagem mais contemporânea. 38 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 4.4.1 Behaviorismo O behaviorismo (behavior, comportamento em inglês), conhecido também como comportamentalismo ou instrucionismo baseia-se nos estudos teóricos de Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). Sua concepção defende que a aprendizagem ocorre por meio do reforço de aspectos positivos ou punição dos negativos (BEHRENS, 2011). O entendimento da teoria de Skinner incentiva a necessidade de uma prática educativa reprodutivista e mecânica, através de exercícios de memorização. O reconhecimento da teoria skinneriana também está associado à criação das máquinas de ensinar. Essas permitiam o desenvolvimento de um ensino programado, através de questões de múltipla escolha sobre um assunto, no qual cabia ao aluno responder corretamente as perguntas para passar para a seguinte. Mesmo tendo passado por críticas pela sua orientação estar voltada para uma educação tradicional e conservadora, a teoria de Skinner foi muito estudada em disciplinas e atividades relacionadas com o desenvolvimento de currículos escolares e planejamento do ensino (BEHRENS, 2011). No contexto da EAD, ainda se tem fundamentado algumas práticas de ensino instrucional, com foco na aprendizagem individual e na educação em larga escala. Como exemplo, os bancos de questões de avaliação também podem ser aproximados da compreensão acerca das máquinas de ensinar pela possibilidade de programação e feedback automático para a comprovação da aprendizagem. Na sala de aula o uso de questionários é comum para testagens, na EAD há o banco de questões e exercícios com feedback automático. 4.4.2 Construtivismo O construtivismo (ou cognitivismo) fundamenta-se na teoria interacionista de Jean Piaget (1896-1980), que defende a construção do conhecimento permanentemente, pois considera que esse vai sendo incorporado aos esquemas mentais que são colocados para “funcionar” diante de situações desafiadoras e problematizadoras. Observa-se que, 39 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 [...] para o construtivismo o conhecimento é sempre uma interação entre a nova informação que nos é apresentada e o que já sabíamos, e aprender é construir modelos para interpretar a informação que recebemos [...] assume-se o papel essencial da aprendizagem, como produto da experiência, na natureza humana (POZO, 2002, p. 48-49). O construtivismo piagetiano é interacionista, pois se entende que a aprendizagem e o conhecimento ocorrem por meio da interação do sujeito com o objeto. A interação é, portanto, entendida como um processo simultâneo que possibilita novas leituras, novas contextualizações teóricas, promovidas pelas relações vivenciadas entre sujeitos e meio social, sendo a cada relação, reorganizado o conhecimento anterior e promovidos novos saberes. Dessa forma, pode-se considerar várias contribuições dessa teoria para os estudos e práticas da educação a distância. Piaget partiu sempre na defesa da inteligência como processo de adaptação, “é adaptando-se às coisas que o pensamento se organiza e é organizando-se que estrutura as coisas” (PIAGET, 1987, p. 19). E defendeu ainda a importância das interações sociais nos processos e ambientes de aprendizagem. Além disso, o construtivismo respeita a individualidade do aluno, sobre sua forma de pensar, dando-lhe condições para que ele próprio procure estabelecer o que já é conhecido e o que ainda precisa ser aprendido, mas também trata da necessidade de atividades em grupo, para compreensão acerca do entendimento sobre o compartilhamento, a colaboração e a cooperação. É por esses e outros aspectos que a teoria de Piaget enriquece e fundamenta as metodologias ativas de ensino, compreendendo que essas vão além de uma atividade ativa concreta, envolvendo também o processo cognitivo, o pensar e refletir. Na sala de aula deve haver atividades em grupo que levem em consideração o processo de aprendizagem de cada aluno, e realização de projetos de aprendizagem trabalhando a interdisciplinaridade. 40 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Através dos estudos da teoria piagetiana, diferencia-se cooperação e colaboração: Cooperação - combinação que se desenvolve entre as ações e pensamentos do sujeito e das demais pessoas, repercutindo numa relação mútua, e dada dentro de um determinado tempo. Observa-se que agir em cooperação pressupõe os princípios de respeito mútuo, reciprocidade, liberdade e autonomia entre as pessoas (PIAGET, 1973). Para Piaget (1973, p. 105), “cooperar na ação é operar em comum”, ou seja, co-operar. Colaboração - ação de contribuir e, para isso, não se faz necessário haver um objetivo comum entre os sujeitos. Dessa maneira, verifica-se que a aprendizagem colaborativa se desenvolve de maneira pouco estruturada, mesmo que se tenha inicialmente a intenção de construir algo em comum. 4.4.3 Socioconstrutivismo O socioconstrutivismo está centrado na teoria de Lev Vygotsky (1896-1934), que considera o desenvolvimento da aprendizagem a partir de um processo sócio-histórico, construído através da interação entre sujeito e meio. Esse processo interativo ocorre por meio da linguagem, considerada como o sistema simbólico dos sujeitos e a ferramenta psicológica mais importante, porque dispõe as formas de organização e os conceitos, ao permitir ao sujeito a abstração e generalizações sobre a realidade, como também a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Ou seja, a linguagem é considerada como importante instrumento de pensamento. A mediação também aparece nessa teoria com papel destacado, pois a construção do conhecimento desenvolve-se pela interação mediada pelas várias relações produzidas através das ações do sujeito na realidade. Ou seja, a linguagem e a interação social têm importância decisiva para o desenvolvimento humano. O sujeito além de ter um papel ativo, é também interativo e social. A internalização dos conhecimentos se dá através do processo que parte do plano social, passando pelas relações interpessoais desenvolvidas com outros sujeitos, encaminhando-se para o plano individual interno e, assim, para as relações intrapessoais. 41 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 A principal contribuição de Vygotsky (1984), como base pedagógica para a EAD é a do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), considerando a interação social como uma condição para a aprendizagem. “Zonas de Desenvolvimento Proximal (ZDP): distância entre aquilo que o sujeito já faz sozinho e o que ele é capaz de fazer com a intervenção de outro, ou seja, uma potencialidade que ainda precisa ser aprendida” (VYGOTSKY, 1984, p. 97). O aluno é caracterizado como sujeito da aprendizagem que aprende junto aos demais sempre em relação direta com a produção do seu grupo social em termos de valores, a própria linguagem e demais conhecimentos, pois ele participa da construção de sua cultura e de sua história. O professor tem papel relevante no processo de aprendizagem a fim de instigar o aluno na promoção de avanços. No entanto, os demais membros que fazem parte do grupo social do aluno também são considerados de grande importância por auxiliar na mediação entre a cultura e os sujeitos.O professor enquanto mediador – desafia seus alunos, auxilia na resolução de problemas, realiza juntamente com eles, propicia a apropriação do conhecimento, propondo para isso também atividades em grupo. Assim, para a teoria de Vygotsky, a aprendizagem exige um planejamento constante a fim de reorganizar as atividades a partir das experiências significativas dos alunos, pois estes só aprendem aquilo que tiver sentido para eles. E as instituições de ensino são reconhecidas como espaços que favorecem a intervenção pedagógica de forma intencional, desencadeando o processo de aprendizagem. Uma das críticas que aparece quando da relação entre teoria piagetiana e vygotskiana, é que Piaget não demonstrava, em seus escritos, uma atenção maior às questões sociais e relativas ao meio em que vive o sujeito, sendo que Vygotsky já tem como um dos pontos centrais de sua teoria o contexto social e histórico e sua importância para o processo de aprendizagem. 42 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Na sala de aula deve haver a realização de um planejamento consistente e atividades de resolução de problemas reais. 4.4.4 Conectivismo De acordo com Carbonell (2016, p. 12), o Conectivismo “é uma teoria de aprendizagem superadora do behaviorismo e do construtivismo, que incorpora elementos das teorias dos sistemas, da complexidade, do caos, das redes e da neurobiologia”. Ainda, segundo o autor, sua prática e formação exige muito conhecimento, interação e diálogo, participação social, visão horizontal e dimensional, aprendizagem autônoma e contínua, inteligência coletiva, empoderamento e cidadania digital (CARBONELL, 2016). O Conectivismo surgiu no decorrer da Web 2.0, apresentada anteriormente, quando começam a ser utilizadas tecnologias mais interativas como as redes sociais, o uso de plataformas e ambientes virtuais de aprendizagem e o desenvolvimento da aprendizagem em rede, o que acarreta em um grande volume de informações. Trata-se, pois de uma teoria ainda recente. Os principais pensadores dessa teoria são George Siemens seguido por Stephen Downes. Segundo Siemens (2005), alguns dos princípios do Conectivismo ressaltam que: • O desenvolvimento da aprendizagem e do conhecimento ocorre através da multiplicidade de opiniões. • A aprendizagem é um processo distribuído por conexões entre nós (nodos) ou fontes de informação, que lida também com os diferentes níveis: biológico, sociais e conceitual. • O processo de tomada de decisão é considerado um processo de aprendizagem, pois pressupõe a seleção e escolha de informações, mas que precisa lidar com as mudanças que podem afetá-lo. O Conectivismo também tem sofrido críticas que questionam se pode ser considerado realmente como uma teoria de aprendizagem ou uma nova pedagogia e pelo fato de seus princípios também estarem presentes em outras teorias de aprendizagem. 43 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 Como sugestão de leitura sobre os temas abordados neste capítulo tem-se os seguintes livros: CARBONELL, J. Pedagogias do século XXI: bases para a inovação educativa. 3. ed. Porto Alegre: Penso, 2016. FILATRO, A.; CAVALCANTI, C. C. Metodologias inov-ativas na educação presencial, a distância e corporativa. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. GÓMEZ, Á. I. P. Educação na Era Digital: A Escola Educativa. Porto Alegre: Penso, 2016. Com base na exposição das principais teorias de aprendizagem que fundamentam as práticas pedagógicas na modalidade a distância, é apresentado o quadro a seguir com o apontamento das principais ideias e seus pensadores para uma melhor comparação. QUADRO 3 – TEORIAS DE APRENDIZAGEM RELACIONADAS COM A EAD TEORIA PENSADOR PRINCIPAIS IDEIAS BEHAVIORSIMO Skinner Ensino por instrução CONSTRUTIVISMO Jean Piaget Construção do conhecimento pela interação SOCIOCONSTRUTIVISMO Vygotsky Aprendizagem e interação social CONECTIVISMO George Siemens e Stephen Downes Aprendizagem em rede FONTE: A autora A explanação realizada sobre os paradigmas históricos, as teorias, suas abordagens pedagógicas e principais teóricos visou, assim, subsidiar a análise, identificação e compreensão acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas na educação a distância. 44 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Marque V para verdadeiro e F para falso: 1 ( ) A inteligência artificial e a robótica são algumas das tendências inovadoras de uso das tecnologias de informação e educação para EAD. 2 ( ) As instituições de ensino brasileiras que ofertam cursos de nível superior totalmente a distância, devem seguir as orientações da legislação do Ministério da Educação (MEC). 3 ( ) As atividades dos cursos semipresenciais precisam ocorrer obrigatoriamente em laboratórios de aprendizagem. 4 ( ) A educação bimodal ou híbrida é caracterizada pela aprendizagem mista, no qual os encontros presenciais podem ser direcionados para atividades práticas. 5 ( ) É importante estudar as teorias de aprendizagem e suas abordagens para poder anali- sar e identificar as práticas desenvolvidas nos cursos na modalidade a distância. 6 ( ) O Modelo pedagógico Tridimensional definido por Duart e Sangrá (apud MORAIS, 2005) propõe a relação equilibrada entre os modelos centrados nos meios tecnológi- cos, no professor e no aluno, por serem esses os principais elementos do processo de ensino e aprendizagem. 7 ( ) Behar (2009) defende que a construção do modelo pedagógico ocorre por meio de um processo coletivo e passível de ser transferido entre os professores. 8 ( ) A teoria da aprendizagem que considera como fator principal a hereditariedade do sujeito é o Inatismo ou Apriorismo. 9 ( ) A visão empirista que cada pessoa nasce com todos os conhecimentos acumulados, dependendo somente de serem despertados. 10( ) O empirismo é a base da pedagogia diretiva, que acredita no processo de aprendiza- gem construído através dos fatores externos. 11( ) O racionalismo tem base no pensamento Newtoniano-Cartesiano, que fundamentou a divisão das áreas de conhecimentos e dos saberes, defendendo um processo de aprendizagem por reprodução e memorização dos conhecimentos. 12( ) O uso de reforço é colocado por Skinner como um dos principais elementos que não deve ser utilizado para potencializar a aprendizagem. 13( ) Um dos pressupostos da teoria de Skinner é a ideia de que a aprendizagem ocorre por meio da transmissão de informação e repetição de comportamentos. 14( ) Segundo Piaget, a aprendizagem é um processo passivo que ocorre por meio da decoreba. 15( ) De acordo com a teoria construtivista, para haver cooperação, é necessário ser cons- truída uma escala comum de valores entre os sujeitos, além da existência de respeito mútuo, reciprocidade, liberdade e autonomia entre as pessoas. 16( ) A interação é entendida no construtivismo como um processo de trocas simultâneas entre sujeitos e meio social. 45 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 17( ) A teoria de Vygotsky aposta no uso da recompensa como forma de garantir e estimular a aprendizagem dos alunos. 18( ) A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) está entre o que já é conhecido pelo sujeito e a potencialidade do que pode ser aprendido. 19( ) O Conectivismo reúne elementos de outras teorias e também considera a aprendiza- gem a partir de aspectos biológicos, sociais e conceituais. 20( ) O Conectivismo surge junto com o desenvolvimento da Web 1.0 e a criação das redes sociais. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, foram elucidados os aspectos históricos e sociais do surgimento da educação a distância e as gerações da Internet. Na sequência, foram apontadas as tecnologias de informação e comunicação (TICs) utilizadas ao longo dos anos bem como suas possibilidades pedagógicas. Também foram apresentados os tipos, formatos e modalidades de cursos que vêm sendo ofertados a distância.E, finalmente, foram destacadas as teorias, os paradigmas e suas abordagens pedagógicas para analisar e identificar as práticas pedagógicas desenvolvidas na educação a distância. Com isso, convidamos você a uma reflexão sobre as mudanças ocorridas no decorrer da história da educação a distância, relacionando também com sua trajetória de estudos. No próximo capítulo, vamos abordar os conceitos, papéis e autores, tendências, possibilidades e desafios para a educação a distância. REFERÊNCIAS BATISTA. S. C. F. M-Learning: Modelo para aprendizagem de matemática em M-Learning. 2 0 1 0 . Projeto de tese apresentado ao Programa de Pós- Graduação em Informática da Educação do Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na educação. Porto Alegre: 2010. BECKER, F. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. 46 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado BECKER, F. A Epistemologia do Professor: o cotidiano da escola. Rio de Janeiro, Petrópolis: Vozes, 2000. BEHAR, P. A. Modelos pedagógicos para a educação a distância. Porto Alegre: Artmed, 2009. BEHRENS, M. A. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2011. BEHRENS, M. A. Paradigma da complexidade: metodologia de projetos, contratos didáticos e portfólios. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. BERNARDI, M. Prática pedagógica em EAD: uma proposta de arquitetura pedagógica para formação continuada de professores. 2011. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. CARBONELL, J. Pedagogias do século XXI: bases para a inovação educativa. 3. ed. Porto Alegre: Penso. 2016. p.263. CÉSAR, D. R.; BONILLA, M. H. S. Robótica Livre: Implementação de um Ambiente Dinâmico de Robótica Pedagógica com Soluções Tecnológicas Livres no Cet CEFET em Itabirito, Minas Gerais. In: Jornada Nacional da Produção Científica em Educação Profissional e Tecnológica, 2006, Brasília, D.F. Disponível em: http://www.br-ie.org/pub/index.php/wie/article/ viewFile/953/939. Acesso em: 3 fev. 2019. DUART, J.; SANGRÁ, A. Aprendizaje y virtualidad: um nuevo paradigma formativo? In: DUART; SANGRÁ. Aprender en la virtualidad. Barcelona: Editorial Gedisa, 2000. p.13-20. FRANCO, S. R. K. O Construtivismo e a Educação. Porto Alegre: Mediação, 2000. FILATRO, A.; CAVALCANTI, C. C. Metodologias inov-ativas na educação presencial, a distância e corporativa. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. GÓMEZ, Á. I. P. Educação na Era Digital: A Escola Educativa. Porto Alegre: Penso, 2016. KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1996. 47 EAD: HIstórico, Modelo e Características Capítulo 1 LITWIN, Edith (org). Educação a distância. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. MAGDALENA, B. C.; C.; Í. E. T. Internet na sala de aula: com a palavra, os professores. Porto Alegre: Artmed, 2003. MAIA, C.; MATTAR, J. ABC da EAD: a educação a distância hoje. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. MATTAR, J. Web 2.0 e redes sociais na educação. São Paulo: Artesanato Educacional, 2013. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Educação Superior a Distância. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/instituicoes-credenciadas/educacao-superior-a-distancia. Acesso em: 3 fev. 2019. MIRANDA, L.; MORAIS, C.; DIAS, P. Abordagens pedagógicas para ambientes Online. VII Simpósio Internacional de Informática Educativa- SIIE05. Leiria, Portugal, novembro de 2005. MORAN, J. M. Os novos espaços de atuação do professor com as tecnologias. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 4, n. 12, maio-ago. 2004. MOORE, M.; KEARSLEY, G. Educação a distância: uma visão integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2008. NÓVOA, A. 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Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e aprendizagem. São Paulo: Editora SENAC, 2010. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. ZABALA, A. A prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. CAPÍTULO 2 Conceitos, Papéis, Tendências, Possibilidades e Desafios para a EAD A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • discutir e interpretar as concepções e fundamentos teórico-metodológicos relacionados com a EAD, analisando sua aplicação prática; • diferenciar e examinar os papéis, sujeitos e agentes envolvidos na EAD, enfatizando suas competências para a prática educativa dessa modalidade; • debater sobre as tendências, possibilidades e desafios da EAD na atualidade. 50 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 51 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O crescimento tecnológico criado pela humanidade, através da globalização e das transformações das relações sociais, tem originado profundas mudanças na educação tanto na sua função quanto na sua estrutura. Nesta perspectiva, a educação tem adquirido novos formatos que buscam uma redefinição de papéis, tanto de professores como de alunos, e novas formas de ensinar e aprender. A educação a distância torna-se, assim, uma nova forma de ver e fazer educação, sendo que esse “ver” remete a um novo paradigma educacional e o “fazer”, a uma nova forma de ser professor e aluno em tempos tão tecnológicos. Neste capítulo, serão apresentados conceitos e terminologias relacionadas à educação a distância. Também serão discutidas as características, destacando as potencialidades da educação na modalidade a distância. Na sequência, serão abordados os principais agentes da EAD, com destaque para os papéis do professor, do tutor e dos alunos. E, no subtópico final, serão trazidas reflexões sobre as tendências e desafios que acompanham a EAD atualmente. 2 CONCEITOS, TERMINOLOGIAS E NOVAS PRÁTICAS RELACIONADAS COM A EAD Na sociedade atual, pode-se considerar que “a educação é um processo de desenvolvimento humano que ocorre na aprendizagem 360 graus: uma aprendizagem ampla, integrada, desafiadora” (MORAN, 2015, p. 32). Como o autor salienta, a aprendizagem passou por importantes mudanças e atualizações. Hoje em dia, não se trata apenas de aprender para acumular conhecimentos e informações, mas é preciso saber para promover relações entre os conhecimentos e a realidade que está em constante transformação. Em função disso, é que se faz ainda mais necessário estar sempre aprendendo. E o ensino? Conforme já foi estudado, o ensino, inicialmente, era caracterizado pela instrução, transmissão de conhecimentos e informações numa espécie de expressão de adestramento ou treinamento, centralizado na figura de um professor. Atualmente, o ensino não pode ser dissociado da aprendizagem, compreendendo que esse processo ocorre através das práticas educativas com os professores e alunos. Desta forma, o processo de ensino e a aprendizagem necessitam de ações voltadas para o “aprender a aprender”, o “saber pensar”, 52Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado o “criar”, o “refletir” e o “inovar”. Essas ações, entretanto, são implementadas através da construção de conhecimentos e a participação ativa dos seus atores para garantir seu próprio desenvolvimento. Nesse contexto, a Educação a distância (EAD), somada ao surgimento frenético das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) como resultados dos progressos das ciências e das tecnologias, necessita responder aos anseios da vida moderna e sua complexidade. Como é sabido, ainda permanecem grandes desigualdades social, econômica e cultural, mas, ao mesmo tempo, existe uma demanda crescente por novas formas de educação. Ainda no resgate histórico anterior, foi possível observar a transformação que a própria EAD teve nos diferentes períodos da sua história. Inicialmente, fez- se uso dos recursos tradicionais como rádio, televisão, e de outros audiovisuais numa mera transposição do ensino presencial, até porque pouco se tinha de embasamento da área científica para dar suporte e respaldo teórico para o estabelecimento de um programa de EAD. A EAD, através de sua evolução, foi se consolidando como uma modalidade de educação que tem diferenciais quando comparada ao ensino presencial. Acesse o site do Ministério da Educação (MEC) para conhecer a legislação vigente para a Educação a Distância: <https://www.mec. gov.br/>. O quadro a seguir apresenta um comparativo entre o ensino presencial e a EAD, tendo como referência as ideias apresentadas por autores como Moran (2015); Maia e Mattar (2007) e Tori (2010). 53 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 QUADRO 1 – DO ENSINO PRESENCIAL PARA A EAD ENSINO PRESENCIAL EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Aula Ministrada pelo professor. Coordenação do professor e acompanhamento do tutor. Interação Face a face com discussão e apresentação do conteúdo pelo professor. Através das tecnologias e recursos tecnológicos. Atendimento às necessidades dos alunos, debates em grandes ou pequenos grupos Metodologia adotada Centrada no professor. Centrada no aluno. Conteúdo Fonte de conhecimento, normalmente com uso de materiais físicos. Uso de diferentes formatos e mídias para acesso ao conteúdo (objetos de aprendizagem, podcasts, videoaulas, e-books etc.). Relacionamento Convivência em espaços físicos (sala de aula, laboratórios etc.). Interatividade através de recursos tecnológicos como fóruns, chat, webconferência, encontros presenciais. Carga horária Horários fixos estabelecidos pela institui- ção. Prazos estabelecidos, com alguns horários definidos para as atividades síncronas e demais carga horária livre respeitando o ritmo do aluno. Comunicação Presencial entre professores e alunos. Diferentes formas e formatos (textual, imagem, vídeo etc.) e com uso de recursos tecnológicos. FONTE: A autora A EAD também impulsionou a criação de novas denominações e terminologias, o que vem exigindo um estudo mais aprofundado e detalhado para a sua compreensão. Uma das primeiras necessidades é, exatamente, diferenciar as definições de “educação a distância” e de “educação aberta”. Esta última pode ser ministrada presencial ou a distância e não exige a conclusão de um determinado grau de escolaridade como pré-requisito. Sua ideia principal é a de garantir a oportunidade do próprio aluno organizar seu currículo e ir desenvolvendo as atividades de acordo com seu próprio ritmo. Já a educação a distância é compreendida como uma modalidade educativa que é mediada ou estabelecida por meio da utilização de tecnologias de informação e comunicação pelos estudantes e professores para o desenvolvimento de atividades educativas em lugares ou tempos diversos. 54 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Acesse no link a seguir um estudo sobre Modelos de curadoria de recursos educacionais digitais desenvolvido pelo professor Cristian Cechinel da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a convite do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB). FONTE: <http://www.cieb.net.br/wp-content/uploads/2017/10/ CIEB-Estudos-5-Modelos-de-curadoria-de-recursos-educacionais- digitais-31-10-17.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2019. Entende-se, assim, que a proposta contemporânea de EAD pressupõe um processo educativo sistematizado e organizado, no qual é estabelecida a comunicação em via dupla entre os participantes do processo para a promoção de interações. A constituição desse processo educativo sistematizado e organizado começa pelo seu desenho instrucional. Trata-se, pois, do processo de planejamento pedagógico, ou seja, a organização ou adaptação dos conteúdos de ensino e demais recursos tecnológicos para o desenvolvimento de disciplinas e/ou cursos. Normalmente, esse processo parte da identificação de um problema ou necessidade de aprendizagem e, para o atendimento dessa demanda, é desenhada, implementada e avaliada uma ou mais possíveis soluções. A proposição do desenho instrucional pode ser organizada em uma série de etapas, níveis a serem seguidos pelos professores para implementar e planejar suas atividades. Esse planejamento segue a definição de metas e objetivos educacionais voltados para o atendimento do perfil dos alunos (FILATRO; CAIRO, 2015). Em termos de conteúdo, é desenvolvido uma curadoria de conteúdo ou curadoria digital. Esse termo, que vem da área jurídica e do universo das artes (museus e galerias), foi migrado para a área educacional. No início, o processo de curadoria era principalmente voltado para a padronização e roteirização de materiais, na maioria das vezes, sendo disponibilizado no formato de apostilas. Com a evolução dos estudos e das práticas em EAD, o enfoque da curadoria foi sendo direcionado para a promoção de orientações e estratégias que visam a organização, o compartilhamento e a pesquisa de textos e demais materiais através de uma seleção mais refinada a fim de potencializar e qualificar o processo de ensino e aprendizagem. Atualmente, inclusive, existem diferentes modelos de curadoria de recursos educacionais. 55 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 Ainda se tratando sobre as diferentes formas de se garantir a qualidade das propostas de atividades na modalidade a distância, considera-se importante discutir e analisar suas principais características, o que será tratado na seção a seguir. 2.1 CARACTERÍSTICAS DA EAD Para trazer um levantamento das características da educação a distância, foi realizado um estudo nas obras de Nunes (1998); Peters (2004) e Maia e Mattar (2007). Os autores apontam que uma das principais características da EAD é exatamente a possibilidade que se tem de estabelecer uma comunicação multidirecional, ultrapassando as distâncias espaciais por meio do uso de diferentes recursos. A separação física entre professor e aluno é outro aspecto que caracteriza a EAD. Como essa separação pode ser tanto geográfica quanto espacial, tem-se assim a ampliação do entendimento sobre espaços educativos. Essa ampliação acarretou também no questionamento sobre a sala de aula tradicional e sua atribuição como o que, até então, era concebido como um único espaço propício para o desenvolvimento da educação formal. Desta forma, a EAD oportunizou a compreensão dessa multiplicidade dos espaços de aprendizagem. Além da separação espacial, a EAD é caracterizada por um novo entendimento acerca da concepção de tempo. Nessa perspectiva, o tempo permanece sendo utilizado como uma forma de medir a aprendizagem, mas é preciso levar em conta as especificidades do tempo virtual. De acordo com Lévy (1999), o tempo virtual pode ser definido pela ausência de limites e obstáculos que são comuns na vida cotidiana, oportunizando uma realidade virtual capaz de representar um mundo “sempre acordado”. A comunicação síncrona é caracterizada pela simultaneidade, realizada em tempo real. Na EAD, é importante que momentos síncronos como a realizaçãode um bate-papo (chat) ou webconferência seja agendada para que alunos, tutores e professores estejam conectados no mesmo dia e horário. 56 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Características da EAD: • Relação entre professor e aluno para além dos espaços convencionais e com tempos diferenciados. • Ampliação dos espaços de interação entre estudantes através das ferramentas e recursos de comunicação. • Espaços privados ou coletivos para comunicação, orientação e ampla possibilidade de acompanhamento de processo através dos recursos tecnológicos. Há, portanto, maior liberdade para conhecer e participar desse novo contexto. Assim, o tempo virtual pode contribuir para o atendimento das necessidades individuais de cada aluno e dos diferentes ritmos de aprendizagem. Entretanto, como cita Oliveira (2003, p. 180), a EAD “não representa uma solução simples para quem não tem tempo para um curso presencial. A modalidade de educação a distância proporciona uma certa plasticidade por superar a questão do espaço e não a falta de tempo”. Mais uma vez, a utilização dos recursos tecnológicos auxilia e permite os meios para a comunicação (face a face, assíncrona etc.). Ressalta-se ainda a concretização de um novo modelo de comunicação constituído pelo diálogo. Desta forma, extrapola-se a lógica da aula tradicional em que o aluno é um ouvinte receptor, sendo incentivado a assumir uma atitude de abertura e de interação permanente por meio do debate. Tori (2010, p. 62-63) contribui com esse entendimento ao considerar que, “criando-se as condições adequadas, é possível o desenvolvimento de atividades locais altamente dialógicas, como ocorre com dinâmicas desenvolvidas em pequenos grupos, que são difíceis de reproduzir a distância”. A flexibilidade é também uma marca da EAD. Esta pode ser entendida pela expansão dos espaços e tempos, e da criação de formas alternativas de assistência para a realização das aulas (como o agendamento de encontros virtuais, a promoção de atividades extras etc.). Desta forma, a flexibilidade da EAD pode auxiliar o aluno para desenvolver suas capacidades de aprendizagem e de autonomia. Sob uma perspectiva social, pode-se também considerar que a EAD traz, através de suas características, a possibilidade de democratizar o acesso à educação e de atender as demandas de inclusão de alunos com diferentes tipos de deficiência. 57 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 • Clara proposta de trabalho e com disponibilização de conteúdo didático (maior que em situações presenciais). • Flexibilidade de tempo e de comunicação - favorece o respeito aos diferentes ritmos de aprendizagem. • Ênfase para a autonomia e para o diálogo. Dentre as vantagens e desvantagens da EAD, observam-se aspectos que fazem parte da sua história, e que dependendo do ponto de vista, podem em um momento ser considerado uma vantagem e, em outro, apresentar indicadores que o tornem uma desvantagem (BELLONI, 2008; LITWIN, 2001; NUNES, 1998). Conforme já mencionado anteriormente, a EAD pode democratizar e ampliar o acesso à educação a um público cada vez mais amplo. Uma das vantagens está exatamente na possibilidade de oferta de uma maior diversidade de cursos direcionados para diferentes públicos, contextos e níveis de ensino. Além disso, abrem-se oportunidades para novos cursos voltados para grupos, áreas e interesses específicos. Outra vantagem é a abertura de novos espaços e ambientes de aprendizagem. Muitas empresas já criaram suas universidades corporativas e realizam formações associadas à permanência do profissional em seu ambiente de trabalho. O importante, nesse caso, é favorecer a socialização entre os participantes das formações (por exemplo, funcionários de diferentes unidades da empresa) e também a interação, entendida como o estabelecimento de relações que visam o aprofundamento dos conhecimentos, sejam esses de nível profissional, pessoal ou social. E, ainda, pode-se destacar uma maior viabilidade de personalizar a formação, centrando o processo de aprendizagem no aluno/ participante, favorecendo, assim, o desenvolvimento da autonomia. Na seção seguinte, serão apresentados os papéis e funções dos diferentes agentes da EAD, evidenciando o professor, o tutor e o aluno. Além disso, serão abordadas diferentes concepções de competências e suas abordagens no contexto da EAD. 58 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 3 PAPÉIS, SUJEITOS E AGENTES DA EAD: UM ESTUDO SOBRE AS COMPETÊNCIAS No universo da Educação a Distância, assim como na modalidade presencial, os principais atores permanecem sendo o professor e o aluno. Entretanto, surgem novos papéis e funções para atender às demandas relacionadas aos aspectos organizacionais, técnicos e de suporte, além de uma visão atualizada do que se espera do professor e do aluno na EAD. Assim, neste subtópico, serão descritos os principais agentes da EAD, suas funções e atividades, enfatizando, principalmente, os perfis do professor e do aluno, pelas particularidades da modalidade. 3.1 AGENTES E SUJEITOS DA EAD Em linhas gerais, quando se trata de uma situação formal e presencial de prática educativa numa instituição de educação, tem-se as funções ligadas à gestão (diretor, coordenador, supervisor etc.), à sala de aula (professores e alunos) e outras à manutenção do ambiente educacional. Na EAD, além desses agentes, surgem novas funções e atividades que estão relacionadas às questões operacionais, tecnológicas e pedagógicas. Nessa abordagem, será enfatizada a educação superior na modalidade a distância por já ser uma realidade bem consolidada e com diferentes modelos pedagógicos constituídos. Dependendo do modelo pedagógico adotado pela instituição, ela pode usar diferentes denominações para seus agentes e também ter mais ou menos recursos humanos para atender à demanda da sua estrutura. Partindo de uma das principais características da EAD, destaca-se o uso dos recursos tecnológicos como: Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), Materiais Educacionais Digitais (MEDs), ferramentas de comunicação, entre outros aspectos. E, por isso, surge a necessidade de haver uma equipe de implantação e suporte desses recursos. Dependendo do modelo pedagógico, pode ser necessário um maior número de profissionais envolvidos com diferentes formações e conhecimentos tecnológicos. 59 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 Em grande parte das instituições, há um setor de tecnologia responsável pela implantação dos recursos e ferramentas utilizados, que deve se manter atento às novidades que surgem a cada momento no mercado, para fins educacionais. Além disso, existe normalmente uma equipe de suporte para atender alunos e professores via telefone, e-mail ou outro recurso on-line. Também estão sendo utilizadas tecnologias para automatizar algumas situações (mandar lembretes e avisos para os alunos) e dúvidas que já são frequentes e puderam ser mapeadas e agora podem contar com o envio de respostas via Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), por exemplo. Caso a instituição também tenha adotado um modelo no qual ela que desenvolve os MEDs, precisa ter uma equipe multidisciplinar. Essa, por sua vez, pode ser constituída por profissionais da área da educação, de programação e design. Desta forma, a equipe é responsável pelo desenvolvimento e elaboração dos materiais educacionais digitais para tornar os conteúdos mais atrativos e criativos, com o uso de animações, ilustrações, áudio, entre outros, indo além da escrita. Trata-se, pois, de uma estrutura de maior complexidade e que exige recursos humanos, físicos (computadores, softwares e programas específicos) e também financeiros. Existem empresas especializadas que desenvolvem os conteúdos, disciplinas e cursos que podem ser comercializados para uso das instituições de ensino. Mais uma vez, dependendo do modelo delineado,pode haver também uma estrutura com estúdios para gravação de áudios e vídeos e, assim, profissionais com formação na área de filmagem e gravação. A figura a seguir apresenta um organograma com a estrutura básica de uma equipe de EAD de uma instituição de ensino, conforme já mencionado. FIGURA 1 – ESTRUTURA BÁSICA DE EAD DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO FONTE: Adaptado de Filatro (2018) e Filatro e Cairo (2015). 60 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado A partir do que foi exposto, com essa ampliação de espaços, profissionais e demandas de produção, uso dos materiais e recursos tecnológicos, pode-se dizer que a EAD expandiu o mercado educacional, o que levou à criação de novas empresas que fazem uso das profissões e funções, agora com viés educativo. Pesquise sites de diferentes instituições de ensino superior que tenham cursos na modalidade a distância. Acesse as informações relacionadas ao modelo pedagógico adotado, estrutura da EAD e nomenclaturas utilizadas para definir seus agentes. Após, compare- as e reflita: na sua opinião, que tipo de estrutura e modelo pedagógico de EAD deve ter uma instituição de ensino superior para ofertar cursos de qualidade? Nas seções seguintes, serão abordados os principais sujeitos da EAD, professor, tutor e aluno, respectivamente. 3.2 PROFESSOR E O TUTOR DA EAD Na EAD, pode-se considerar que a ação docente é redimensionada, sendo exigido que o professor assuma uma nova postura e novas atividades no processo de ensino e aprendizagem. Assim como no ensino presencial, o trabalho do professor deve atender às expectativas dos estudantes. Uma das suas principais atividades é a de levar seus alunos a criar soluções e respostas para problemas reais, trazidos para aula (virtual) pelos próprios estudantes. Assim, precisa assumir o papel de mediador que também aprenderá com o aluno para construir novos conhecimentos. Ou seja, o professor/educador deve, inclusive: [...] perder a vergonha de assumir a sua insegurança em lidar com as TIC, mas também sem velar seu receio de cometer erros. A posição educativa proposta, através da introdução das TIC, necessita preparar um educador, de modo que ele saiba lidar com a situação de, em alguns momentos, ser menos conhecedor que o aluno que está sendo formado por ele dos recursos disponíveis e possibilidades a serem executadas através das TIC (BERNARDI, 2004, p. 160). 61 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 Todavia, isso não deve impedi-lo de aprender a lidar com o novo (e temos, a cada momento, muitas novidades e inovações), pois o professor tem a possiblidade de expandir sua prática, atuando de forma mais criativa, reflexiva e construtiva, conforme é apresentado na figura a seguir. FIGURA 2 – AÇÃO DO PROFESSOR NA EAD FONTE: A autora O trabalho do professor, por exemplo, pode ser direcionado para diferentes tarefas relacionadas ao planejamento e execução das aulas, recebendo, assim, outras denominações. A seguir, serão destacadas as principais nomenclaturas utilizadas pelas instituições EAD para o professor devido aos múltiplos papéis assumidos. • O professor conteudista ou autor: é aquele responsável pela concepção, definição metodológica, elaboração de materiais ou conteúdos e avaliação de uma disciplina, atividade ou curso. Seu trabalho é, portanto, realizar todo o planejamento pedagógico das aulas, seguindo as orientações repassadas pela instituição em função do modelo adotado. Desta forma, pode ser responsável pela escrita de um livro, gravação de videoaulas, elaboração de conteúdos (que depois serão utilizados para a criação dos materiais educacionais digitais), questões objetivas e/ou discursivas, entre outras atividades. O curso ou disciplina pode ser ministrado por ele mesmo ou por outro professor da área de conhecimento. Vê-se aqui, uma das primeiras mudanças que exigem do professor a abertura de suas concepções sobre sua ação docente, pois sua atividade pode tomar diferentes contextos de atuação. 62 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado • O professor on-line ou formador: é aquele que irá ministrar a disciplina. Na maioria das vezes, esse professor trabalha em equipe com o tutor. Nessa equipe, cabe ao professor, coordenação, acompanhamento do curso ou disciplina e ao tutor, as atividades de interação, tendo ação mais direta com os alunos e também a correção das avaliações. O uso das denominações citadas e suas funções irá depender das orientações e do modelo pedagógico da instituição. • O professor pesquisador: também é um formador, normalmente ministra as capacitações e realiza o trabalho de curadoria de conteúdos. Também participa e integra grupos de pesquisa da instituição, podendo atuar também na pós-graduação. Seu trabalho, portanto, é voltado para o desenvolvimento de metodologias a partir da reflexão sobre as práticas pedagógicas realizadas na instituição. A partir das considerações realizadas, ressalta-se que o professor pode atuar na mesma instituição assumindo, de forma concomitante, diferentes papéis na EAD. De qualquer forma, como ressalta Bezerra e Carvalho (2011, p. 239) “a ação educativa do professor deve estar centrada na construção de um processo educativo alicerçado na interatividade e na criatividade, na qual deverá provocar discussões, dúvidas e instigar a aprendizagem dos estudantes”. Na figura a seguir, é apresentado um mapa conceitual sintetizando as ações e papéis assumidos pelo professor na EAD. FIGURA 3 – PROFESSOR NA EAD FONTE: Adaptado de Bezerra, Carvalho (2011), Moran (2015) e Litwin (2001) 63 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 Moran (2015, p. 42) contribui com as ideias mencionadas sobre as atividades do professor e o processo de curadoria, ao compreender que: O papel do professor é mais o de curador e de orientador. Curador, que escolhe o que é relevante em meio a tanta informação disponível e ajuda os alunos a encontrarem sentido no mosaico de materiais e atividades disponíveis. Curador, no sentido também de cuidador: ele cuida de cada um, dá apoio, acolhe, estimula, valoriza, orienta e inspira. Orienta a classe, os grupos e cada aluno. Por isso, considera-se imprescindível que o professor assuma uma nova atitude frente ao processo ensino e aprendizagem na EAD, que pode ser entendido através de metáforas como “a navegação e o surfe, que implicam uma capacidade para enfrentar as ondas, os turbilhões, as correntes e os ventos contrários numa extensão plana, sem fronteiras e sempre mutante” (LÉVY, 1993, p. 23). E é esta a representação atual que tem a aprendizagem e a educação. A seguir, será abordado o papel do tutor na EAD. 3.3 TUTOR DA EAD Conforme mencionado anteriormente, além do professor, a modalidade a distância traz a configuração do papel do tutor. Entretanto, existem diferentes entendimentos sobre a terminologia e a função do tutor. Segundo Bezerra e Carvalho (2011, p. 240), a palavra “‘tutor vem do latim tutore e sua origem está relacionada à área jurídica, significando defensor, protetor, alguém que é encarregado legalmente de exercer a tutela”. Na EAD, conforme escreve Litwin (2001, p. 93), “o tutor – seu papel, suas funções, as tarefas que têm de realizar, as responsabilidades que assume – é um desses pontos-chave nos quais costumam aparecer mais perguntas que respostas”. De acordo com a autora, a compreensão sobre o papel do tutor foi sendo aprofundada no decorrer da história da EAD. Nas suas perspectivas iniciais, “sustentava-se que o tutor não ensinava, quando ‘ensinar’ era sinônimo de transmitir informação ou de estimular o aparecimento de determinadas condutas” (LITWIN, 2001, p. 96). Através das novas concepções pedagógicas, o trabalho do tutor passou a ser de “promover a realização de atividades e apoiar sua resolução, e não apenas mostrar a resposta correta, oferecer novas fontes de informação e favorecer sua compreensão” (LITWIN,2001, p. 99). Assim, a diferença na designação do trabalho do tutor atualmente é mais por questões institucionais do que pedagógicas. Por isso, passa a ser atribuído ao tutor, a interpretação de conselheiro, orientador de aprendizagem do aluno, multiplicador, ou ainda de monitor. 64 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Entende-se que, independente do significado, sua atividade é desafiadora e complexa e está relacionada à ação educativa, por ser responsável pela mediação entre os conteúdos a serem estudados e os alunos. Para isso, indica caminhos e possíveis direcionamentos, respondendo às dúvidas e estabelecendo uma relação direta com os estudantes. Conforme Bezerra e Carvalho (2011, p. 243): podemos perceber a amplitude das atribuições da tutoria que vão além do simples acompanhamento pedagógico. Ao profissional, cabe criar um ambiente que possibilite a construção do conhecimento por parte dos estudantes, buscando envolvê- los ativamente no processo de aprendizagem. A figura a seguir aborda as funções do tutor apresentadas através de um mapa conceitual. FIGURA 4 – FUNÇÕES DO TUTOR FONTE: Adaptado de Bezerra e Carvalho (2011), Moran (2015) e Litwin (2001) Além da inexistência de unidade sobre a definição da função do tutor, também há uma discussão sobre a sua ação e a do professor. De acordo com Litwin (2001, p. 104): é errôneo pensar que um tutor tem de saber “menos” que um docente que ensinar os mesmos conteúdos na educação presencial [...] o tutor deverá atuar em contextos que requerem uma análise fluida, rica e flexível de cada situação, a partir de oportunidades e dos riscos que imprimem as condições institucionais da educação a distância. Sua formação teórica, disciplinar e pedagógico-didática deverá ser atualizada com a formação na prática dos espaços tutoriais, aspecto que não 65 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 deveria ser deixado ao acaso. A partir dos aspectos já expostos, destacam-se, a seguir, algumas das principais atividades e funções desenvolvidas pelo tutor, na maioria das instituições de ensino, no seu trabalho nos cursos a distância: • Atualizar informações e conteúdos no ambiente virtual de aprendizagem. • Contribuir com a elaboração do plano de ensino. • Mediar, moderar e supervisionar as discussões e debates nas ferramentas de comunicação. • Acompanhar a avaliar os projetos individuais e dos grupos. • Avaliar e atribuir nota para as atividades e exercícios. • Fornecer feedback constante acerca do processo de aprendizagem dos alunos. • Fazer registros sobre seus contatos com alunos. • Atender questões administrativas, técnicas e pedagógicas solicitadas pela instituição. 3.4 ALUNO DA EAD Segundo Moore e Kearsley (2008, p. 198), um aluno a distância é diferenciado de um aluno presencial, pela necessidade de ter aptidões específicas voltadas para o estudo de forma autônoma e da existência de habilidades de comunicação. Em linhas gerais, a modalidade a distância acaba por atender um público diferente do que estuda na educação formal, na modalidade presencial. Para os autores: Muitos fatores afetam o sucesso dos alunos nos programas de aprendizado a distância, incluindo: formação educacional, características da personalidade, interesses extracurriculares e problemas relacionados ao curso. Fatores como a entrega pontual de tarefas, o histórico da conclusão do curso anterior e o esforço para concluí-lo podem ser usados para prever o sucesso. Desta forma, observa-se que os alunos que fazem um planejamento e organização do tempo de estudo com o estabelecimento de horários e de um cronograma de atividades terão maior possibilidade de sucesso na conclusão de um curso na modalidade a distância. Peters (2004, p. 185) escreve que: Isso significa que os estudantes devem estar prontos para e serem capazes de reconhecer metas e possibilidades concretas de aprendizagem com base nas modificações que podem causar em suas vidas e no trabalho, estar dispostos a planejar e organizar sua aprendizagem de forma independente e a absorvê-la e organizá-la em grande parte independentemente dos professores. 66 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Com base nos argumentos expostos, pode-se apontar como características essenciais para um aluno de curso a distância: a motivação para o aprendizado, ter visão de futuro, realizar o planejamento de suas ações, ter comprometimento, disciplina e perseverança. Precisa, portanto, ter consciência de suas responsabilidades, sendo capaz de ser o gestor de sua aprendizagem, mantendo uma direção e foco para seus objetivos. Em um viés mais sociológico, traz-se a contribuição de Freire (1996, p. 26), quando escreveu que “não temo dizer que inexiste a validade no ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido não pode ser realmente aprendido pelo aprendiz”. Por parte da instituição, do curso, dos professores e tutores, torna-se necessário oportunizar ao estudante condições para vivenciar e assumir esse novo perfil de aluno virtual. O quadro a seguir apresenta, de forma resumida, as características apontadas por Palloff e Pratt (2004) que retratam o aluno virtual de sucesso. QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS DO ALUNO VIRTUAL DE SUCESSO CARACTERÍSTICAS DO ALUNO VIRTUAL DE SUCESSO Acesso às diferentes tecnologias. Sabe utilizar e explorar as potencialidades dos recursos tecnológicos. Mantém sua mente aberta e capacidade de reflexão. Utiliza suas experiências no processo de aprendizagem. É comprometimento consigo próprio e com o grupo. Está preparado para compartilhar detalhes de sua vida, trabalho e outras experiências educacio- nais para contribuir no processo de ensino. Dedica-se aos seus estudos com tempo e qualidade necessárias. Estabelece comunicação permanente com professor e colegas. Tem automotivação e autodisciplina. Sabe trabalhar coletivamente com os colegas para atingir seus objetivos de aprendizagem e do curso. Considera que a aprendizagem pode ocorrer em quaisquer espaços e tempos diferentes. FONTE: Adaptado de Paloff e Pratt (2004) De acordo com o que foi exposto sobre os agentes da EAD, percebe-se a importância de preparar tanto os professores e tutores como os alunos para produzir novos sentidos, além de tirar proveito do intercâmbio de diferentes culturas para favorecer o processo educativo. Na seção seguinte, serão abordados os estilos de aprendizagem e a relevância desse estudo para o desenvolvimento de materiais e atividades na modalidade a distância. 67 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 3.4.1 Estilos de aprendizagem dos alunos na EAD Aprendemos de modos diferentes, essa é a primeira e principal ideia para se abordar os estilos de aprendizagem. Alguns querem que o professor escreva tudo no quadro, outros gostam de se reunir em pequenos grupos e discutir assuntos de interesse comum e tem aqueles que gostam de participar de palestras e fazer anotações do que ouvem. De acordo com Barros et al. (2010, p. 138), “o espaço virtual possibilita formas de aprendizagem diferenciadas das ocorridas no presencial e os estilos de aprendizagem possuem algumas características possíveis de serem identificadas nesse contexto”. Assim, torna-se possível identificar perfis sobre as formas de aprendizagem virtual, com a possibilidade de indicar caminhos e direções para as estratégias didáticas e pedagógicas nessa modalidade. Ainda segundo os autores, os estilos de aprendizagem trazem importantes contribuições para o processo de ensino e aprendizagem e o uso das tecnologias, “pois considera as diferenças individuais e é flexível, permitindo estruturar as especificidades voltadas às tecnologias atendendo as necessidades dos indivíduos envolvidos no processo” (BARROS et al., 2010, p. 137). Os estilos de aprendizagem são definidos por Alonso,Gallego e Honey (2002) como traços cognitivos, afetivos e fisiológicos, servindo como indicadores relativamente estáveis sobre a forma de relacionamento dos alunos (percepção, interação e respostas) nos seus ambientes e recursos de aprendizagem. É importante também esclarecer o que são estilos de aprendizagem. Não se trata, portanto, de um método ou de uma metodologia e também não deve se confundir com as inteligências múltiplas ou com uma teoria psicológica. Estilos de aprendizagem, numa compreensão pedagógica, significa destacar os diferentes comportamentos reunidos de como as pessoas agem e que podem ser úteis para classificar e analisar seus comportamentos. Ainda segundo estes autores (ALONSO e GALLEGO, 2002 apud BARROS et al., 2010, p. 137), existem quatro estilos definidos: O ativo que valoriza dados da experiência, entusiasma-se com tarefas novas e é muito ágil.O reflexivo que atualiza dados, estuda, reflete e analisa. O teórico que é lógico, estabelece teorias, princípios, modelos, busca a estrutura, sintetiza. O pragmático que aplica a ideia e faz experimentos . 68 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Palloff e Pratt (2004) trazem em seu livro O aluno virtual: um guia para trabalhar com alunos on-line os estilos de aprendizagem, que, segundo Litzinger e Osif (1993), são o modo pelo qual as pessoas pensam e aprendem. De acordo com os autores, “em vez de considerar os estilos de aprendizagem como meios restritivos e estreitos pelos quais os alunos aprendem, é melhor vê-los como uma preferência entre muitas outras” (PALLOFF; PRATT, 2004, p. 51). Eles ainda consideram que “o fundamental é reconhecer as diferenças que existem e que devem ser levadas em consideração na sala de aula on-line. Adotar a mesma abordagem para todos os alunos não funcionará” (PALLOFF; PRATT, 2004, p. 53). A seguir, são destacadas, com base nos estudos de Palloff e Pratt (2004) e dos demais autores pesquisados sobre o tema, algumas técnicas e dicas que podem ser utilizadas para atender os diferentes estilos de aprendizagem dos alunos visuais, auditivos, tácticos ou físicos, autodidatas, linguísticos, lógico- matemáticos, musicais e gregários, apresentados no Quadro 3. QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS E DICAS PARA OS DIFERENTES ESTILOS DE APRENDIZAGEM Alunos Visuais Características - Uso de cores: senso artístico. - Podem ter habilidades artísticas. - Dificuldade em ouvir comandos. - Dificuldade em compreender palestras. - Interpretam mal as palavras. Dicas - Uso de gráficos, filmes, slides, ilus- trações, tabelas, resumos etc. - Criação de códigos de cores/símbo- los para resumos. - Atividades de interpretação de recur- sos gráficos. - Palestras, diagramas e tabelas para organizar anotações. Alunos Auditivos Características - Informações auditivas. - Dificuldade em compreensão de co- mandos escritos. Dicas - Uso de fitas para ouvir palestras ou livros. - Realização de entrevistas. - Participação de discussões. Alunos Tácticos ou Físicos Características - Aprender tocando/sentindo. - Dificuldade em ficar sentado por lon- gos períodos. - Participação de atividades físicas. - Boa coordenação e habilidade motora. Dicas - Aprendizados experimentais. - Aulas práticas. - Uso de simulações. - Pausas frequentes nas horas de estudo. - Uso do computador. - Aulas virtuais. - Aprendizado com atividade motora. 69 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 Alunos Autodidatas Características - Trabalho e estudo individual. - Interesses próprios. - Refletem sobre si mesmos. - Persistentes e determinados. - Busca pela originalidade. - Alunos Autodidatas Intrapessoal. Dicas - Estudo individualizado. - Uso de livros, recursos multimídia. - Realização de projetos individuais. - Ritmo de aprendizado personaliza- do. - Realização de trabalhos de pesqui- sas com interesse específico. - Resolução de problemas. Alunos Linguísticos Características - Gosto pela leitura, escrita. - Contação de estórias. - Facilidade em memorizar nomes, lug- ares e datas. - Boa fluência verbal e facilidade para se expressar. - Alunos Linguísticos. - Intrapessoal. Dicas - Incentivo à leitura e escrita. - Atividades de apresentação de sín- tese para o grande grupo. - Escrita de textos nos mais variados estilos – dissertativo. - Realização de debates de temas polêmicos. Alunos Lógico-Matemáticos Características - Gosto por experiências. - Problemas lógicos ou matemáticos. - Facilidade no uso de cálculos, equações, estatísticas. Dicas - Uso de jogos. - Uso de categorias. - Criação de classificações. - Padrões. - Assuntos tratados que possam ser comprovados. - Desenvolvimento e compreensão de processos complexos. 70 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Alunos Musicais Características - Canto. - Tocam instrumentos. - Gosto por músicas, ritmos e melodias. - Interação e compreensão de sons. - Alunos Musicais. Dicas - Atividades com ritmo. - Uso de sons. - Letras de música. - Relação com estilos musicais ou épo- cas. - Criação de trabalhos em multimídia. Alunos Gregários Características - Fluência pessoal -Interesse em dialog- ar. - Trabalhar em grupos – liderança. - Bom ouvinte – conhecimento na relação pessoal. - Organização de eventos. - Diplomático. Dicas - Jogos em Equipe. - Trabalhos de Pesquisa em grupo. - Pequenas equipes. - Debates. - Entrevistas. FONTE: Adaptado de Palloff e Pratt (2004) 3.5 COMPETÊNCIAS NA EAD Conforme é ressaltado por Behar et al. (2013), o termo competência enfrentou críticas e resistências no campo da educação, devido a sua aproximação com a palavra e a ideia de competição. O uso dessa palavra começou a ser utilizada na área jurídica sendo associado à concepção de ter competência para exercer um julgamento. Também é utilizada na área administrativa, articulada aos processos de gestão por competências. Na educação, a palavra competência foi primeiramente usada no ensino profissionalizante, sendo depois aplicada em outras modalidades educacionais (BEHAR et al., 2013). Neste sentido, torna-se relevante, primeiramente, conhecer as diferentes definições sobre competências, partindo do senso comum até a visão educacional atual. 71 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 No dicionário Luft (1995), competência é entendida como: “1 Qualidade de competente. 2 Alçada; autoridade; jurisdição. 3 Idoneidade; aptidão. 4. Habilidade; saber”. E, no dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2008-2013), competência é referenciada como: “1. Direito, faculdade legal que um funcionário ou um tribunal têm de apreciar e julgar um pleito ou questão. 2. Capacidade, suficiência (fundada em aptidão). 3.Atribuições. 4. Porfia entre os que pretendem suplantar-se mutuamente”. Através dos significados atribuídos pelos dicionários, observa-se que, no senso comum, a competência é entendida como aptidão, ou ainda habilidade. Na área da educação, os estudos sobre as competências ganharam mais robustez e aprofundamento teórico, sendo discutidos e abordados por diferentes autores que fazem referência aos termos sob diferentes aspectos. Para Le Boterf (1994, p. 43): A competência não é um estado, mas um processo. Se a competência é uma forma de saber agir, como é que ela funciona? O operador competente aquele capaz de mobilizar, de aplicar de forma eficaz as diferentes funções de um sistema no qual intervêm recursos tão diversos quanto operações de raciocínio, conhecimento, ativações da memória, avaliações, capacidades relacionais ou esquemas comportamentais. Em grande parte, essa alquimia continua sendo uma terra incógnita. Perrenoud (1999, p. 8), considera que as competências “são formadas por habilidades, conhecimentos e atitudes, requer saber tomar decisão, mobilizar recursos e ativar esquemas (revendo ou atualizando hábitos) em um complexo de complexidade”. A partir das ideias do autor, são estabelecidos os três elementos,ou dimensões, como aponta Chaves Filho (2006), que compõem a compreensão defendida de competência, a saber: Conhecimentos, Habilidades e Atitudes, formando a sigla CHA, como é comumente citada e que pode ser visualizada na figura a seguir. Torna-se relevante, agora, entender cada um dos elementos. 72 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado FIGURA 5 – ELEMENTOS OU DIMENSÕES DA COMPETÊNCIA FONTE: Adaptado de Perrenoud (2001) e Behar (2013) Sobre saberes e conhecimentos, Perrenoud (2001, p. 18) escreve que: são representações organizadas do real, que utilizam conceitos ou imagens mentais para descrever e eventualmente, explicar, às vezes antecipar ou controlar, de maneira mais ou menos formalizada e estruturada, fenômenos, estados, processos, mecanismos observados na realidade ou inferidos a partir da observação. O autor também define a habilidade como: uma inteligência capitalizada, uma sequência de modos operatórios, de analogias, de intuições, de induções, de deduções, de transposições dominadas, de funcionamentos heurísticos rotinizados que se tornaram esquemas mentais de alto nível ou tramas que ganham tempo, que inserem a decisão (PERRENOUD, 1999, p. 30). Pode-se, assim, compreender, como também ressalta Behar et al. (2013), que as habilidades têm uma natureza mais prática e técnica. Chaves Filho et al. (2006, p. 67) apresentam uma conceituação que complementa as ideias ressaltadas, considerando que a “habilidade está relacionada à aplicação produtiva do conhecimento, ou seja, à capacidade da pessoa de instaurar conhecimentos armazenados em sua memória e utilizá-los em uma ação”. 73 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 É nesse mesmo autor, apoiado nos estudos de Durand (2000), que destacamos o entendimento de atitude como “àquilo que se quer fazer [...] refere- se a aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho”. Diz respeito a um “sentimento ou à predisposição da pessoa, que determina a sua conduta em relação aos outros, ao trabalho ou a situações” (CHAVES FILHO, 2006, p. 66-67). Zabala e Arnau (2010, p. 17) trazem uma percepção acerca do uso do conceito de competência na área educacional como uma possibilidade de atualizar o entendimento sobre processo de ensino. Para os autores: O uso do termo competência é uma consequência da necessidade de superar um ensino que, na maioria dos casos, reduziu-se a uma aprendizagem cujo método consiste em memorização, isto é, decorar conhecimentos, fato que acarreta na dificuldade para que os conhecimentos possam ser aplicados na vida. Os autores estabelecem também uma compreensão que se aproxima das ideias de Perrenoud (1999) sobre os conhecimentos e as competências, mas dando um sentido mais prático, ao entender que, para ter competência na vida: [...] é necessário dispor de conhecimentos (fatos, conceitos e sistemas conceituais), embora eles não nos sirvam de nada se não os compreendermos nem se não somos capazes utilizá-los. Para isso devemos dominar um grande número de procedimentos. A melhoria da competência implica a capacidade de refletir sobre sua aplicação, e para alcançá- la, é necessário o apoio do conhecimento teórico (ZABALA; ARNAU, 2010, p. 49). Compreende-se, entretanto, que a definição que mais se aproxima da realidade da educação a distância é escrita por Coronado (2009, p. 25-26), citando a competência como: uma construção subjetiva, portanto, individual e intransferível, um esquema de ação altamente complexo desenvolvido em e pelo próprio sujeito através do conjunto de conhecimentos e pela experiência (ao longo da história pessoal). Então, é impróprio afirmar que se formam competências, pois é somente possível gerar dispositivos que promovem seu desenvolvimento, que acontece no sujeito. Neste contexto, a abordagem pedagógica das competências tem centrado suas discussões acerca da qualidade do processo de ensino e aprendizagem nos diferentes níveis educacionais e nas questões relacionadas ao planejamento pedagógico. O objetivo tem sido, portanto, atender um perfil de aluno egresso que responda às necessidades profissionais e sociais atuais. 74 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Na educação a distância, os estudos sobre competências têm levado as instituições a realizarem uma revisão de seus programas curriculares. E uma das tendências tem sido a proposição curricular através de competências. Sobre o trabalho docente, a concepção de competência pode ser relacionada a essa mudança de perfil que vem sendo discutida ao longo desse texto. Pode- se, assim, considerar, por exemplo, a urgência por um aprendizado tecnológico de ferramentas e recursos para além de uso técnico, de modo que o professor possa aplicá-los de forma produtiva e inovadora nas suas práticas pedagógicas. Segundo Moran (2015, p. 42), “o professor precisa ser competente nos pontos de vista intelectual, afetivo e gerencial (gestor de aprendizagens múltiplas e complexas). Isso exige profissionais mais bem preparados, remunerados, valorizados”. Pode-se, portanto, considerar que a compreensão atual acerca das competências não está mais relacionada à ideia de competição e sim à ideia de evolução do processo educativo para uma perspectiva mais coletiva e direcionada à construção de conhecimentos. Para aprofundar seus estudos sobre as competências na Educação a Distância, sugere-se o livro: BEHAR, P. A.; et al. Competências em Educação a Distância. Porto Alegre: Penso. 2013. 4 TENDÊNCIAS, POSSIBILIDADES E DESAFIOS DA EAD NA ATUALIDADE As tendências, possibilidades e desafios da Educação a Distância (EAD) têm íntima relação com as questões sociais, com o avanço tecnológico e científico nas diferentes áreas do conhecimento e sua repercussão no mercado (e aqui estamos tratando dos diferentes contextos de serviços, educação, trabalho e financeiro). Dessa forma, não há como falar de um desses aspectos sem considerar os demais. Por isso, essa seção traz tanto aspectos conceituais já apresentados 75 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 anteriormente, bem como novas abordagens que se fazem presentes nas atividades e práticas da educação a distância. Portanto, a EAD é ainda uma grande tendência como modalidade de educação, que traz novas possibilidades de compreensão e de atividades educacionais e que também vivencia desafios para sua aceitação, valorização e reconhecimento como formação nos diferentes níveis educativos. Sobre as questões conceituais, a EAD promoveu uma transformação ou revolução na compreensão e entendimento acerca do significado atribuído aos termos distância e presencial? Atualmente, muito tem sido discutido sobre a implicação desses aspectos para o processo de ensino e aprendizagem na modalidade EAD. Para tratar sobre a distância, citam-se as considerações de Moore (2002) e sua análise sobre a teoria da distância transacional. Para o autor, o termo transacional é compreendido de acordo com as ideias de Dewey sobre transação, que significa a interação entre os sujeitos, o meio ambiente e os padrões de comportamento existentes numa determinada situação. A distância transacional é caracterizada como o espaço criado pela separação (física e/ou temporal) entre professor e alunos e suas consequências psicológicas e comunicacionais no processo de ensino e aprendizagem (MOORE, 2002; MOORE; KEARSLEY, 2008). E essa separação gera influência no grau, intensidade e forma como a distância transacional se manifesta. Isso pode ser observado através de fatores como a escolha e utilização de recursos tecnológicos, a determinação de estratégias pedagógicas e outros aspectos de ordem psicológica e ambiental. Conforme descrevem Tori (2010), Moore (2002), Moore e Kearsley (2008), algum nível de distância transacional também pode ser observado em atividades educativas desenvolvidas na modalidade presencial. Quanto à forma de se percebere medir a distância transacional, os autores apontam as três variáveis: Diálogo, Estrutura e Autonomia do aluno para identificar através dos procedimentos e comportamentos que podem ser observados no desenvolvimento de programas e cursos. Segundo Moore (2002, p. 241): O termo diálogo é empregado para descrever uma interação ou uma série de interações tendo qualidades positivas que outras interações podem não ter. Um diálogo tem uma finalidade, é construtivo e valorizado por cada participante. Cada participante de um diálogo é um ouvinte respeitoso e ativo; cada um contribui e se baseia na contribuição de outro(s) participante(s). 76 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Ou seja, o termo Diálogo não é entendido como interação, mas essa é necessária para a sua promoção e a criação de uma relação de sinergia entre os envolvidos (BERNARDI, 2011). Além disso, para diminuir a distância transacional pode ser importante considerar diferentes aspectos, como a escolha de recursos para viabilizar a comunicação, a relação entre o número de alunos por turma ou atividade, o local e ainda os fatores emocionais, como o apoio dado aos professores e aos alunos. Os aspectos destacados podem incidir diretamente no impacto e na qualidade do diálogo (TORI, 2010; MOORE, 2002; MOORE; KEARSLEY, 2008). Conforme escreve Tori (2010, p. 63), “a interatividade é condição necessária ao diálogo, sendo, portanto, uma medida de seu potencial, e a presença de interatividade pode ser identificada de forma mais objetiva que a de diálogo”. O autor aborda também a distância interativa, que pode ser minimizada através do uso de recursos tecnológicos e estratégias pedagógicas adequadas a essa finalidade. A organização de um programa ou atividade educativa é uma variável qualitativa sobre a forma estruturante. Programas com uma delimitação de sua base podem não fornecer o espaço e condições suficientes para uma ação dialógica. Nessa compreensão, a estrutura de um curso ou programa é que indicará ou não sua abertura para o emprego de determinado tipo de atividade e estratégia (TORI, 2010). Os aspectos apontados sobre o diálogo também podem interferir na estrutura de um curso ou programa como a seleção de recursos comunicacionais e metodológicos e as características emocionais dos sujeitos envolvidos. Entende-se, assim, a importância de haver uma decisão equilibrada, que leve em conta a relação entre os recursos selecionados, a estrutura e a autonomia propiciada aos alunos de forma que eles possam contribuir para a constituição de um diálogo mais efetivo entre os sujeitos. A presencialidade pode ser compreendida como a presença do aluno/ professor no ambiente (de aprendizagem) virtual efetivada pela sua interação com os demais participantes na realização das atividades propostas (BEHAR; SILVA, 2012). Ou seja, é estabelecida pelas ações e reflexões de convivência, o que pode levar a percepção e sentimento de pertencimento no grupo. Tori (2010, p. 103) identifica, através dos estudos de Biocca (1997), três formas de presença: • A presença física: sentindo-se presente no ambiente físico. • A presença social: estabelecida no contato e na relação com os outros. • A autopresença: através da autoconsciência. 77 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 Tori (2010, p. 103-104), traz a definição de presença como “um processo mediado por tecnologia no qual, em algum nível, a pessoa que deste participa não considera a intermediação tecnológica”. E enfatiza a presença social como tendo íntima relação à EAD, considerando que a intensidade da sua sensação é “diretamente proporcional ao grau de acesso, percebido por uma pessoa, à inteligência, às intenções e impressões sensórias de outra”. Biocca (1997 apud TORI, 2010), definiram oito fatores que possibilitaram realizar a avaliação do grau de presença social. Esses fatores foram delimitados em três domínios: • Copresença: a intensidade ou nível de ciência focal ou periférica, que o observador não se considera só. • Envolvimento psicológico: intensidade ou grau de empatia emocional, de compreensão mútua ou de atenção para com o outro. • Engajamento comportamental: intensidade que se acredita quanto à interdependência, conexão ou reação às ações de outrem. Já a autonomia é conceituada a partir das considerações de Piaget (1977) e Freire (1996). Para sua manifestação, entende-se que deve haver sentimento de reciprocidade e respeito mútuo, assumindo um comportamento de “tratar os outros como gostaria de ser tratado” (PIAGET, 1977, p. 172). E isso somente é possível quando cada sujeito tem consciência de si e da presença do outro como representação das relações sociais, assumindo, portanto, uma postura ativa no processo de ensino e aprendizagem que pressupõe a existência de responsabilidade sobre seus atos. Além dos conceitos de distância, presencialidade e autonomia, sugiram novos termos como a virtualização e a hibridização. A virtualização torna possível transpor a prática pedagógica desenvolvida numa sala de aula presencial para uma aula virtual, através da utilização de recursos tecnológicos e ferramentas de comunicação. Obviamente que essa transposição não ocorre de maneira direta, sendo necessárias adaptações didáticas e metodológicas voltadas à mediatização dos conhecimentos a fim de garantir a execução e o gerenciamento das atividades (MOURA; CRUZ, 2008). Ressalta-se ainda que essa transposição não pode ser baseada em ações improvisadas, mas deve ser pautada na proposição de um planejamento bem delineado e alinhado com a utilização dos recursos tecnológicos e que tenha um alto potencial interativo e significativo para o processo de aprendizagem e construção de conhecimentos dos alunos. O movimento de hibridização da educação ainda é considerado como tendência (TORI, 2010). Trata-se, pois, de “convergir aprendizagem eletrônica e convencional, rumo a uma coexistência harmoniosa entre presencial e virtual, em 78 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado variadas proporções, na educação do futuro”. (TORI, 2010, p. 20). Moran (2015, p. 28-29) aprofunda a discussão sobre o movimento de hibridização, ampliando o seu entendimento sobre hibridismo, ao escrever que: na educação, acontecem vários tipos de mistura, blended ou educação híbrida: de saberes e valores, quando integramos várias áreas de conhecimento; de metodologias, com desafios, atividades, projetos, games, grupais e individuais, colaborativos e personalizados [...]. Híbrido também pode ser um currículo mais flexível, que planeje o que é básico e fundamental para todos e que permita, ao mesmo tempo, caminhos personalizados para atender às necessidades de cada aluno. Híbrido também é a articulação de processos de ensino e aprendizagem mais formais com aqueles informais, de educação aberta e em rede. Implica misturar e integrar áreas, profissionais e alunos diferentes, em espaços e em tempos distintos. Assim, a educação híbrida, bimodal ou Blended-Learning, é caracterizada por uma aprendizagem mista e tem sido considerada como a modalidade mais promissora, principalmente no ensino superior, por conseguir criar uma junção do melhor de cada modalidade (TORI, 2010). Destaca-se como aspectos positivos da educação híbrida, a possibilidade de incentivar uma maior interação e aproximação entre professor e os alunos; como também para se trabalhar os diferentes estilos de aprendizagem (PALLOFF; PRATT, 2004). Além dos aspectos conceituais já citados, deve-se considerar também o período histórico no qual estamos vivendo. Afinal, a geração de estudantes da atualidade vive o contexto da Internet cada vez mais cedo. E essa realidade tem exigido dos professores uma adequação nas formas de ensinar nos seus diferentes níveis, desde a educação infantil até, e principalmente, no ensino superior. Entretanto, isso não significa somente garantir o acesso para salas deaula conectadas e gadgets tecnológicos. O mais relevante no processo de ensino e aprendizagem é repensar as metodologias e estratégias pedagógicas, de forma que sejam coerentes com o avanço digital. Gadgets trata-se de uma gíria (bugiganga ou engenhoca) para dispositivos eletrônicos portáteis que tenham utilidade e funções cotidianas específicas consideradas inovações tecnológicas, seja pela forma de produção ou design avançado. Desta forma, defende-se a adoção de uma postura ativa e protagonista dos alunos no processo de aprendizagem, empoderando suas atitudes, ao invés da mera 79 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 transmissão passiva de conteúdo. Nesse contexto, o professor assume o papel de guia e mediador. A aprendizagem ativa valoriza e se apoia em processos que visem desenvolver ações de cooperação, socialização e autonomia através de atividades que tem como base o trabalho em equipe, o incentivo ao pensamento crítico, criativo e associativo de ideias, o levantamento e solução de problemas ou desafios e a tomada de decisões. Dentre as formas utilizadas está o uso de estudos de casos ou trilhas de aprendizagem para promover e articular a teoria e a prática através de situações reais. As tecnologias e aplicativos passam a ser utilizados a fim de expandir o processo de ensino e aprendizagem e gerar melhores resultados através de funcionalidades variadas. A figura a seguir destaca algumas das principais tendências da EAD. FIGURA 6 – TENDÊNCIAS DA EAD FONTE: A autora 80 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Dentro das instituições de ensino, uma tendência tecnológica tem sido o uso de diretórios e repositórios através da Internet para garantir o acesso às diferentes mídias. Todo esse aparato em termos de recursos tecnológicos passou também a exigir novas metodologias de pesquisa bem como a realização e entrega dos trabalhos através de recursos digitais, associando o mundo real, virtual e também o ficcional para a aprendizagem dos alunos. Para saber mais sobre metodologias ativas e educação inovadora, indicamos o livro: CAMARGO, F.; DAROS, T. A sala de aula inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo. Porto Alegre: Penso, 2018. Dentre as práticas que são consideradas tendências na educação, está a personalização do ensino, que trata da oferta de um aprendizado que leve em conta as necessidades e características do perfil dos alunos. Atenta-se para atividades que busquem trabalhar com as demandas de cada estudante, identificando características na sua história de vida e experiências. E, para isso, consideram-se aspectos relacionados aos ambientes de aprendizagem, conteúdos e interesses individuais. Cabe ao professor, portanto, auxiliá-lo a direcionar seu processo de aprendizagem, na escolha do que for mais adequado para o perfil de cada aluno. Em algumas tecnologias e recursos tecnológicos como os ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), existem ferramentas que permitem ao aluno acompanhar sua evolução na realização de tarefas, permitindo o acesso de informações e feedbacks sobre seu rendimento ou acesso aos conteúdos e atividades. Retome o Capítulo 1 sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para relacionar as tecnologias abordadas às tendências da EAD. 81 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 Orientações pedagógicas para uma aula com o byod: • Clareza na definição dos objetivos para a aula. • Possibilidade real de sua concretização. • Foco no conteúdo ou na ferramenta/aplicativo? • Planejamento antecipado e detalhado. • Garantia de acesso aos recursos e a uma conexão wireless. • Recursos tecnológicos “extras”. • Testagem dos aplicativos e ferramentas. • Preferência para recursos on-line que não necessitem de instalação ou levar em consideração o tempo de instalação necessária. Outra prática que pode ser considerada uma tendência na área educacional é a preocupação com as questões socioafetivas, como a tomada de consciência (conscientização), autonomia, resiliência, empatia, fluência de ideias (e não somente a digital), relações interpessoais, entre outras. Tratam-se, pois, de habilidades a serem trabalhadas pensando no desenvolvimento de competências socioemocionais. Conforme escreve Moran (2015, p. 33), “a comunicação afetiva – com apoio das tecnologias – nos ajuda a aprender a partir das histórias de vida e dos sonhos de cada um dos alunos. O clima de acolhimento, confiança, incentivo e colaboração é decisivo para uma aprendizagem significativa e transformadora”. Com relação ao uso de recursos tecnológicos, uma das tendências é conhecida como o BYOD, sigla em inglês Bring Your Own Device, que significa “Traga seu próprio dispositivo”. Ou seja, os alunos fazem uso dos seus notebooks, tablets ou smartphones nas aulas, acessando os conteúdos e realizando as atividades em formato digital e, muitas vezes, em sincronia com seus colegas. Desta forma, ampliam-se as possibilidades de formatos para a disponibilização dos conteúdos como a utilização de apresentações dinâmicas, animações, vídeos, imagens em movimento e também o uso de plataformas, softwares e aplicativos para a realização de atividades, sendo tudo isso utilizado para promover uma maior interação e engajamentos dos alunos. 82 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Somados ao uso dos recursos próprios dos alunos, a gamificação também pode ser considerada como uma ação inovadora no ambiente educacional. Trata- se, pois, de oportunizar atividades lúdicas, muitas delas sendo organizadas ou propostas, para o avanço dos conteúdos através de níveis, desafios ou conquistas que trazem um caráter mais atual e diferenciado, no qual se “aprende brincando”. Dentro dessa tendência de gamificar a aprendizagem, vê-se também o desenvolvimento de novas formas de aprender como, por exemplo, através das linguagens programação (e, muitas vezes, também com a robótica). O ensino de coding é uma forma de trabalhar as habilidades dos alunos através da lógica e do uso de algoritmos, associando os conteúdos de matemática, programação (informática) e de inglês para conhecer a linguagem dos computadores. Trata- se de uma aprendizagem bastante conectada com a realidade e o mundo do trabalho, com a expansão e criação de vagas nessa área. Observa-se, assim, que a tendência é enriquecer e favorecer as formas de cultura através do uso dos meios tecnológicos. Desta forma, considera-se que a fluência digital, para os professores, passa a ser uma necessidade dentro de suas rotinas de ensino nos espaços educativos. E a fluência digital também amplia e torna necessário a realização de trabalhos e estudos em conjunto, de forma colaborativa. Ressalta-se que a aprendizagem colaborativa aqui pode ser considerada na perspectiva da relação dos professores com seus alunos como entre eles, para o desenvolvimento de projetos e ações interdisciplinares voltado para a concretização de um processo de ensino e aprendizagem globalizado e integrativo. Dentre os temas que passam a ter mais atenção junto aos demais conteúdos curriculares está o empreendedorismo como forma de instrução para se pensar na inserção no mercado e no mundo dos negócios (FILATRO; CAVALCANTI, 2018). Para que seja efetivada essa visão empreendedora, alguns conhecimentos e atitudes são importantes de serem abordados na sala de aula como o estudo autônomo e autodirigido, a criatividade, a proatividade e o protagonismo, pensando na formação dos alunos também para atividades de liderança e desenvolvimento pessoal. Junto ao empreendedorismo, a educação financeira também passa a ser um conteúdo de grande relevância social e econômica. Com essa ampliação de recursos e também com o aumento do volume de dados gerados, surge a tendência analítica da aprendizagem (FILATRO; CAVALCANTI, 2018). Essa, por sua vez, orienta as atividades de medição, coleta, análise(estatística) e reporte dos dados sobre a aprendizagem dos alunos e os diferentes espaços em que ela ocorre, indo além da simples coleta de informações para alimentar relatórios escolares, exemplo no quadro a seguir. Essa tem sido uma tendência adotada pelas instituições de ensino superior, ao utilizar os 83 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 relatórios gerados a partir do uso de ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs). Na sequência, apresentam-se alguns dos desafios da EAD na atualidade. QUADRO 4 – ANALÍTICA DA APRENDIZAGEM Questões que a analítica da aprendizagem pode responder Passado Presente Futuro Informação O que aconteceu? O que está aconte- cendo agora? Para onde as tendências estão apontando? Relatórios e de- scrições de dados Alertas e lembretes (em tempo real) Alertas para o futuro Insights Como e por que isso aconteceu? Qual é a melhor ação a tomar? O que é provável que aconteça? Modelos e expli- cações Geração de uma ou mais recomendações Previsão, simulação de caminhos al- ternativos de ação ou identificação de caminho ideal de ação. FONTE: Adaptado de Filatro e Cavalcanti (2018) 4.1 DESAFIOS DA EAD Além de problemas comuns e cotidianos existentes na educação presencial, como a dificuldade em atender e minimizar as desigualdades sociais e a necessidade de ampliação da oferta e acesso para toda a população, a Educação a distância também é cobrada com algumas responsabilidades que vêm sendo atribuídas no decorrer de sua história. Litwin (2001) e Belloni (2008) tratam sobre alguns desses desafios da EAD e realizam essa análise a partir da abordagem dos aspectos: cultural, social e processual-pedagógico (BERNARDI, 2011). Um dos desafios da EAD é conseguir integrar a pluralidade de culturas e suas diversidades presentes no cenário brasileiro. Dessa forma, instituições que atuam em diferentes estados, por exemplo, podem ter dificuldade em reproduzir seu modelo pedagógico em função das diferenças culturais. O mesmo pode ocorrer entre as distintas áreas de atuação, sendo necessário o atendimento das especificidades do contexto de cada abordagem educativa para a escolha das concepções, recursos e metodologias a serem utilizadas para se garantir a qualidade almejada. 84 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Quanto ao aspecto social, assim como o ensino presencial, o desafio permanece sobre como democratizar e garantir o acesso à educação nessa modalidade. Uma das alternativas das instituições de ensino é participar dos programas governamentais para ampliação do acesso, precisando, para isso cumprir e atender questões legais que estão descritas na legislação e nos programas. Sob o aspecto processual-pedagógico, os desafios também estão relacionados à gestão da EAD e aos demais aspectos já citados. Ainda pode- se mencionar a necessidade da formação continuada do corpo docente para o uso pedagógico das TIC, ultrapassando práticas de ensino descontextualizadas, visando a proposição de práticas pedagógicas mais inovadoras. Além disso, permanece o desafio de atender aos critérios estabelecidos pela legislação vigente. Outro desafio está na mudança de perspectiva, voltando-se em garantir a permanência do aluno ao invés de somente se preocupar com os números estatísticos e causas da evasão. Para isso, a inovação pedagógica pode ser entendida como uma das formas de manter a motivação e o interesse de cada estudante e [...] desenvolver diferentes abordagens para o seu aprendizado – de maneira que ele se torne capaz de “aprender a aprender” com as diferentes situações que enfrentará na vida, não apenas em uma instituição de ensino formal (MOORE; KEARSLEY, 2008, p. 84). Como Litwin (2001) e Belloni, (2008) já apontavam, o desenvolvimento dessas propostas necessita da formação de equipes multidisciplinares com pessoal técnico e profissionais qualificados para dar conta das exigências da educação a distância. Além dos desafios apontados pelas autoras, existem outros a serem enfrentados no contexto macro da educação a distância. Um deles é o preconceito e a ideia que ainda persiste sobre a falta ou má qualidade do ensino a distância quando comparado com o presencial. O mito sobre a presença física do professor em sala de aula como uma forma de garantia do aprendizado está sendo cada vez mais repensado, quanto mais se entende que a aprendizagem é um processo único e desenvolvido por cada sujeito a partir do que é significativo para sua existência. Além disso, as avaliações como o ENADE vêm mostrando melhores resultados dos alunos de cursos a distância e também por não haver diferença na emissão do diploma para os cursos dessa modalidade. 85 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) é um sistema de avaliação, aplicado através de uma prova e que ocorre anualmente para a avaliação dos cursos de ensino superior no Brasil. Pesquise mais sobre o ENADE e as edições anteriores no site do Ministério da Educação. Questões relacionadas à falta ou cortes de investimentos na área da educação e, com isso, a dificuldade de acesso aos recursos tecnológicos também podem ser fatores que contribuem para a estagnação da qualidade da EAD, o que pode acarretar em outros aspectos desafiadores a serem superados. No próprio contexto dos cursos a distância podem ser apontados, como já mencionado anteriormente, desafios relacionados à organização e dinâmicas de ações na sua realização para propiciar o desenvolvimento da autonomia dos alunos. Mesmo havendo tantos desafios a serem superados, observa-se um movimento crescente de adaptações e de novas práticas que estão contribuindo para a ascensão da EAD e a evolução das propostas dos cursos e cada vez mais atender as necessidades do seu público e do mercado. Censo EAD.br – pesquisa organizada pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED). A realização dessa pesquisa é desenvolvida através do envio de questionários para coleta de dados e informações com Instituições de Ensino e do mercado relacionadas à área da EAD. 86 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Leia atentamente cada uma das afirmações e marque V para as alternativas verdadeiras e F para as alternativas falsas. a) ( ) A aprendizagem deve favorecer a promoção de relações entre os conhecimentos teóricos e a realidade que está em constante transformação. b) ( ) O desenho instrucional começa sempre pelo planejamento das atividades. c) ( ) O entendimento sobre as competências na educação permanece relacionado à ideia de competição. d) ( ) Uma das principais características da EAD é a distância geográfica e temporal entre professor e alunos. e) ( ) A curadoria de conteúdos visa a promoção de orientações e estratégias voltadas para a organização, o compartilhamento, pesquisa e seleção mais refinada de textos e demais materiais para a EAD. f) ( ) Acompanhar a avaliar os projetos individuais e dos grupos e fornecer feedback constante acerca do processo de aprendizagem dos alunos são algumas das atividades a serem desenvolvidas pelo tutor. g) ( ) A EAD não passou por mudanças significativas, mantendo-se as mesmas práticas de antigamente. h) ( ) O “aprender a aprender”, o “saber pensar”, o “criar”, o “refletir” e o “inovar” devem ser ações desenvolvidas no processo de ensino e aprendizagem. i) ( ) Os estilos de aprendizagem permitem reconhecer as diferenças sobre os modos pelos quais as pessoas pensam e aprendem e que devem ser levadas em consideração na sala de aula on-line. j) ( ) O professor conteudista é responsável por ministrar a disciplina. k) ( ) O tutor é responsável pela mediação entre os conteúdos a serem estudados e os alunos. l) ( ) As dimensões que formam as competências são os conhecimentos, as habilidades e atitudes, formando a sigla CHA. m) ( ) Os estilosde aprendizagem são definidos pelos próprios alunos para a realização das atividades. n) ( ) O BYOD é uma tendência na qual os alunos usam seus notebooks, tablets ou smartphones nas aulas, para acessar conteúdos e realizar atividades em formato digital. 87 Conceitos, Papéis, Tendências, Capítulo 2 o) ( ) Na personalização do ensino não é necessário considerar as necessidades e características do perfil dos alunos e sim dos professores. p) ( ) Conforme foi estudado, pode haver um nível de distância transacional em atividades educativas desenvolvidas na modalidade presencia. q) ( ) Um dos desafios da EAD é a formação de equipes multidisciplinares com pessoal técnico e profissionais qualificados. r) ( ) Na EAD, a proposta contemporânea é pautada num processo educativo sistematizado e organizado, no qual é estabelecida a comunicação em via dupla entre os participantes do processo para a promoção de interações. s) ( ) O tempo virtual pode ser definido pela presença das limitações comuns da vida cotidiana. t) ( ) O aluno virtual precisa ter automotivação e autodisciplina, além de saber utilizar e explorar as potencialidades dos recursos tecnológicos. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, procurou-se trazer discussão das concepções e dos fundamentos teórico-metodológicos relacionados à EAD. Evidenciou-se, também, as características da EAD que auxiliam na definição de suas especificidades e diferenciais como uma modalidade de educação. Além disso, foram apresentados os principais agentes envolvidos no universo da EAD, enfatizando seus papéis, funções e competências a serem trabalhadas para sua plena atuação nas práticas educativas dessa modalidade. Também foram destacadas e debatidas as tendências e possibilidades da EAD nos dias atuais, partindo das questões conceituais e também abordando as principais tecnologias que vêm sendo consideradas relevantes na EAD. E, finalmente, foram levantados os desafios que são enfrentados por essa modalidade. No próximo capítulo, serão abordadas as metodologias de aprendizagem para a EAD, trazendo um aprofundamento acerca da compreensão conceitual sobre aprendizagem, metodologias de ensino voltadas para o desenvolvimento da autonomia dos alunos. 88 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado REFERÊNCIAS ALONSO, C. G.; GALLEGO, D. J.; HONEY, Peter. Los Estilos de Aprendizaje: procedimientos de diagnóstico y mejora. Madrid: Mensajero, 2002. BARROS, D. M. V. et al. Estilos de Aprendizagem e Educação a Distância: algumas perguntas e respostas?! Revista de Estilos de Aprendizagem, v. 3, n. 5, abr. 2010. Disponível em: http://learningstyles.uvu.edu/index.php/jls/article/ view/124. Acesso em: 25 mar. 2019. BEHAR, P. A.; SILVA, K. K. A. Mapeamento De Competências: um foco no aluno da Educação a Distância. Novas Tecnologias na Educação, v. 10, n. 3, s. p., 2012. Disponível em: http://www.cinted.ufrgs.br/ciclo20/artigos/5a-ketia.pdf. Acesso em: 24 fev. 2017. BEHAR, P. A. et al. Competências em Educação a Distância. Porto Alegre: Penso. 2013. BELLONI, M. L. Educação a Distância. 5. ed. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2008. BERNARDI, M. Prática pedagógica em EAD: uma proposta de arquitetura pedagógica para formação continuada de professores. 2011. 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CAPÍTULO 3 Metodologias de Aprendizagem para a EAD A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • estudar os conceitos de aprendizagem, método e metodologia;• identificar as metodologias de aprendizagem aplicadas na EAD; • compreender a importância na autoaprendizagem na educação a distância; • conhecer alguns tipos de materiais, softwares e aplicativos para a proposição de atividades com uso das tecnologias na educação. 92 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 93 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO As concepções e aspectos relacionados ao processo de ensino e aprendizagem na educação a distância e também nas demais modalidades vêm passando por profundas transformações ocasionadas pelo avanço tecnológico que mudou significativamente a vida em sociedade. A mobilidade conectada promovida pelo uso de dispositivos móveis em rede (celulares, laptops, tablets, entre outros) afetou não somente os processos produtivos e o mercado, como também as práticas culturais e educacionais e as formas de relações entre as pessoas. Em meio a todo esse contexto, é importante estudar e conhecer as diferentes interpretações existentes sobre a aprendizagem. Neste capítulo, esses temas serão abordados levando em consideração as perspectivas didática e sociológica, responsáveis pelos sentidos atribuídos na relação de ensinar e aprender e pela visão democrática, que trata o processo de aprendizagem como a melhor maneira de formar sujeitos politizados que exerçam a sua cidadania. Também serão apresentadas as concepções de aprendizagem que emergiram através das práticas pedagógicas desenvolvidas na educação a distância. No entanto, as mudanças ocorridas não ficaram somente no campo conceitual, por isso também é preciso repensar a forma de planejar as ações educativas. Em função disso, muito se tem debatido sobre a importância da aplicação de métodos e metodologias mais condizentes com o perfil e as necessidades dos alunos de hoje. O próprio surgimento e o processo evolutivo da educação a distância vêm exigindo novas formas de organizar e promover suas atividades. Nesse sentido, serão apresentadas diferentes metodologias que estão sintonizadas com essa nova proposta de educação. 2 CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM, METODOLOGIA E AUTONOMIA A compreensão sobre o entendimento do que é aprendizagem tem influência direta das diferentes correntes pedagógicas e de seus pressupostos epistemológicos. No Capítulo 1, estudamos os modelos e as teorias pedagógicas, buscando apresentar a compreensão de diferentes concepções de aprendizagem. Nesta seção, vamos apresentar a concepção de aprendizagem, primeiramente, 94 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado a partir das perspectivas didática e sociológica e, em seguida, as definições abordadas através das práticas pedagógicas da educação a distância. No Capítulo 1, estudamos os modelos pedagógicos e as teorias de aprendizagem. Retome a leitura e relacione com o capítulo em questão. FIGURA 1 – RELAÇÕES ESTABELECIDA PARA O ESTUDO DAS CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM FONTE: A autora 2.1 PERSPECTIVA DIDÁTICA Primeiramente, é importante esclarecer a compreensão sobre o termo “didática”. Parte-se de uma perspectiva contemporânea, considerando a didática como a área de conhecimento que estuda a complexidade do processo de ensino e aprendizagem. Considera-se, assim, que a didática tem no ensino e na aprendizagem dos alunos, o seu principal objetivo. De acordo com Veiga (2006, p. 13) “ensinar e aprender envolvem o pesquisar. E essas três dimensões necessitam do avaliar”. 95 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 Na abordagem didática, o conceito de aprendizagem pode ser compreendido como um processo de mudança. Essa mudança é interpretada sob diferentes aspectos. De acordo com as teorias de aprendizagem, sob uma perspectiva psicológica, a visão empirista e behaviorista defende a necessidade de haver novos estímulos e experiências para que a pessoa aprenda. Já a visão construtivista pressupõe um processo cognitivo ativo, pautado na interação, para a produção de novos conhecimentos e da própria aprendizagem. Em linhas gerais, pode-se afirmar que a aprendizagem acompanha o desenvolvimento de cada sujeito ao longo de sua vida, sendo também influenciada pelo seu amadurecimento cognitivo que pode lhe garantir a consolidação de conhecimentos. Nesse sentido, a aprendizagem tem relação direta com o desenvolvimento das capacidades humanas, o que pode ocasionar mudanças de comportamento através das diferentes experiências vivenciadas. Na perspectiva didática abordada, está sendo enfatizada a ação de aprender a partir da relação estabelecida com um conhecimento sistematizado, compreendido como aquele saber organizado e selecionado através das ciências e da experiência acumulada historicamente pela humanidade, por meio de um processo de ensino e aprendizagem e pela interação entre os sujeitos. Nessa compreensão, leva-se também em conta os fatores afetivos e sociais. Pode-se assim dizer que falar de aprendizagem na visão didática pressupõe considerar a sua íntima relação com o ensino. Partimos da definição de Veiga ao considerar o ensino como: Uma atividade profissional complexa que exige preparo, compromisso e responsabilidade do educador para instrumentalizar, política e tecnicamente, o aluno, ajudando-o a constituir-se como sujeito social. Ensinar para a compreensão significa a existência de uma estreita relação entre professor e aluno. É um processo de caráter sistemático, intencional e flexível, visando à obtenção de determinados resultados. O ensino não existe por si mesmo, mas na relação com a aprendizagem (VEIGA, 1996, posição 2417 de 3145). A autora ainda ressalta que a tarefa essencial do ensino, relacionada com a organização do trabalho pedagógico, é oportunizar as orientações didáticas que favoreçam o desenvolvimento e a compreensão acerca da aprendizagem (VEIGA, 1996). Veiga (1996, posição 2419 de 3145) traz uma definição de aprendizagem que “conversa” com as perspectivas psicológicas interacionistas ao considerá-la “como um processo de assimilação/apreensão de determinados conhecimentos, habilidades intelectuais e psicomotoras, atitudes e valores, organizados e 96 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Quantas vezes você ouviu, mencionou ou pensou: “O professor Fulano não tem didática!”. Todavia, o que está sendo considerado como “ter didática”? A partir das ideias apresentadas, entendemos que ter didática vai além de ser um profundo conhecedor de técnicas e dinâmicas (muitas vezes, deturpadas) se elas não forem planejadas com o objetivo de oportunizar condições de aprendizagem para os alunos. O importante, portanto, é conhecer as categorias integrantes (e sua inter-relação) do processo de ensino e aprendizagem, sem deixar de considerar o contexto no qual se está inserido e demais aspectos que se tornam fundamentais para o aprendizado. orientados no processo de ensino”. Dessa forma, observa-se que, na abordagem didática, a aprendizagem assume uma intencionalidade e que por isso precisa ser planejada e organizada. Nesse sentido, a aprendizagem realizada nas instituições de ensino apresenta características específicas que a diferencia das demais ocorridas no decorrer da vida cotidiana. Através das concepções que foram sendo trabalhadas no decorrer dos capítulos, é possível também relacionar a aprendizagem com a construção de competências. Nesse caso, a aprendizagem desenvolve um processo progressivo que parte da incapacidade para o desenvolvimento da competência e da ação de ignorar para o conhecimento e seu entendimento. Dessa forma, para o desenvolvimento da aprendizagem na visão didática, o primeiro passo está na definição dos seus objetivos (de aprendizagem), pois são eles que irão direcionar as ações que devem ser vivenciadas e promovidas e que irão auxiliar na estruturação do processo educativo, viabilizando as mudanças, transformações e adaptaçõesnecessárias para o exercício do processo de ensino e aprendizagem. Esse, por sua vez, é entendido como um sistema de interações e comportamentos dos professores e dos alunos, ou seja, o ensinar e o aprender, destacando a interdependência existente entre eles. 97 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 2.2 PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA COM BASE NOS ESTUDOS DE PAULO FREIRE Assim como é defendida pela visão construtivista, a visão sociológica apoiada nos escritos de Paulo Freire (1996) parte da premissa que, para aprender, é preciso que o sujeito assuma uma postura ativa. No entanto, Freire (1996) vislumbra um processo de ensino e aprendizagem voltado para a superação da consciência ingênua como a melhor forma de o sujeito superar a ação das forças dominantes opressoras, que fundamentam a educação bancária. Essa expressão foi cunhada por Freire (1996), para caracterizar a educação pautada em uma relação verticalizada entre professor, detentor do conhecimento, e os alunos, considerados como aqueles que nada sabem e que irão receber passivamente o conhecimento do seu professor. O autor, assim como outros pensadores, artistas e profissionais foram exilados no período da Ditadura Militar, em 1964, por suas ideias revolucionárias e libertadoras que defendiam a educação e aprendizagem que, nessa época, estava voltada para a obediência. Na sua concepção, Freire (1996) defende uma aprendizagem resultante do método dialógico que visa transformar o modelo educacional. Entende-se, assim que, é por meio da reflexão e ação e da conscientização que o sujeito começa a enxergar a realidade tal como de fato se apresenta. Segundo Freire (1996), pelos caminhos da aprendizagem, homens e mulheres vão assumindo uma postura ativa e tomando consciência da sua ação na e sobre a realidade. Ao analisar a relação mediadora humana com a natureza e com a cultura, torna-se possível interpretar a educação como um ato político e uma atividade fundamentalmente humana. Freire, citado por Becker (1993, p. 101), escreve que “[...] tanto no ato político quanto no educativo é fundamental ter clareza sobre a favor de quem e do quê, portanto, contra quem e contra o quê, desenvolvemos a atividade política” e educacional. Ao conceber o ensinar e o aprender como atitude política, é ultrapassada a visão de neutralidade do ato educativo que acaba por assumir uma postura ética e comprometida com a transformação social. O autor ainda salienta a relação indissociável do processo de ensino e aprendizagem. Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender. Não temo dizer que inexiste a validade no ensino de que não 98 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido não pode ser realmente aprendido pelo aprendiz (FREIRE, 1996, p. 26). Nesse sentido, o ato de ensinar tem como sua principal responsabilidade instigar a curiosidade, o gosto por aprender mais no aluno, de forma que esse se assume como um sujeito criador, criativo e crítico, que enfrenta os preceitos da educação bancária que visa imobilizar a ação humana, desenvolvendo, assim, um senso de conscientização e mantendo uma atitude de vontade de aprender. 2.3 APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA As atividades desenvolvidas na Educação a Distância impulsionaram a necessidade de realizar um processo de revisão e adoção de novos sentidos para o entendimento da ação pedagógica. Afinal, estudar a distância pressupõe bem mais do que simplesmente transpor as práticas educativas presenciais para o universo da EAD. Desses novos sentidos, surgiram estudos e a proposição de novas concepções de aprendizagem. Vamos agora abordar algumas dessas concepções. 2.3.1 Aprendizagem Colaborativa Em termos pedagógicos, a aprendizagem colaborativa pode ser entendida como uma metodologia de aprendizagem ou estratégia de ensino voltada para incentivar a participação dos alunos e, assim, tornar o processo de ensino e aprendizagem mais ativo e efetivo, no qual todos aprendem juntos. A aprendizagem colaborativa concebe assim o conhecimento como o resultado de uma construção elaborada por meio de trocas entre sujeitos, que podem ou não serem pertencentes de um mesmo grupo ou comunidade aprendente (em alguma medida), e que podem também estar atuando de forma conjunta com o objetivo de solucionar um determinado problema, concluir um projeto ou estudo. Para tratar da aprendizagem colaborativa, é importante esclarecer o significado dos termos “colaboração” e “cooperação” que, numa visão de senso 99 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 comum, por vezes são usados como sinônimos. Nessa abordagem, colaboração está sendo compreendida como a ação de contribuir, sendo as relações de colaboração relevantes para a socialização das atividades entre os sujeitos, que pode ou não ter a necessidade de algum tipo de hierarquia entre os integrantes do grupo. A cooperação (co-operar = operar em comum) é compreendida como um nível mais aprofundado do que a colaboração. Na cooperação, é necessário que os integrantes do grupo ou equipe construam uma escala comum de valores que vise o alcance do objetivo em comum, sendo essa uma ação pautada no respeito mútuo, na reciprocidade, na liberdade e na autonomia. Dessa forma, o ato de cooperar pressupõe o estabelecimento de um diálogo dos participantes, que devem discutir, apresentar seus diferentes pontos de vista e coordenar as ações entre os sujeitos. Assim, cada integrante desenvolve uma reflexão sobre seu próprio pensamento e sobre os demais, mantendo uma atitude respeitosa e de aceite sobre os posicionamentos divergentes. Essa compreensão é baseada nos estudos piagetianos que aponta a indissociabilidade existente entre a colaboração e cooperação. A partir das considerações apresentadas, pode-se dizer que a aprendizagem colaborativa pode evoluir para uma aprendizagem cooperativa, sendo esse o primeiro passo para essa relação, visto que a aprendizagem cooperativa se concretiza quando é assumida uma maior estruturação por meio da definição de regras e uso de técnicas para aperfeiçoar as relações do grupo. Na atividade educativa a distância, entende-se que a mediação colaborativa é construída através de um processo de interações entre os membros, na maioria delas, ocorridas através da utilização das ferramentas colaborativas (wiki, Google Docs, glossário, entre outras) e das ferramentas de comunicação (fórum, chat e webconferência) que é desenvolvida a partir de uma liderança partilhada que resulta na elaboração de novas aprendizagens. É, portanto, nessa compreensão de aprendizagem colaborativa que o conhecimento acerca da distância transacional se faz mais necessário e presente. 100 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado A distância transacional é caracterizada como o espaço criado pela separação (física e/ou temporal) entre professor e alunos e suas consequências psicológicas e comunicacionais no processo de ensino e aprendizagem (MOORE; KEARSLEY, 2008). Para a realização de uma aprendizagem colaborativa na modalidade a distância, é preciso uma ação efetiva do tutor e do professor que devem adotar estratégias pedagógicas a fim de propiciar, além de uma maior interação entre os participantes, incentivem também a participação de todos nas atividades. Observa-se assim, a importância de uma ação motivadora que promova as trocas sociais e que leve os alunos a expor suas ideias e considerações, dúvidas e demais questões que possam contribuir para o aprendizado colaborativo. 2.3.2 Aprendizagem Multimídia A aprendizagem multimídia é uma definição utilizada para tratar da aquisição do conhecimento por meio de recursos tecnológicos. A terminologia multimídia tem suabase nas ciências da informação e trata da convergência e integração de múltiplas mídias e tecnologias digitais como recursos de áudio, vídeo e imagens como os infográficos, por exemplo. Essas, por sua vez, são caracterizadas pelo seu elevado grau de interatividade, o que viabiliza a comunicação. Interatividade, nesse contexto, está sendo entendida como a capacidade de compartilhamento de comunicação através dos diferentes recursos tecnológicos, entre duas ou várias pessoas, ampliando, assim, os espaços de criação, debates e discussões e construções coletivas. Tori (2010) ressalta que a interatividade é um dos princípios fundamentais de um curso na modalidade a distância. Entretanto, para promover a interatividade numa proposta de aprendizagem compreendida como uma atividade multimídia, é necessário ter o embasamento de um modelo pedagógico constituído e fundamentado para viabilizar um processo de aprendizagem que leve em consideração os aspectos cognitivos e também os emocionais dos alunos. Assim, o modelo deve propor o uso pedagógico dos recursos midiáticos indo além da sua finalidade técnica o que, muitas vezes, acaba sendo enfatizado na adoção dessas pelos cursos e instituições. 101 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 Richard Mayer, professor da Universidade da Califórnia, realiza estudos e pesquisas na área das ciências da educação e da aprendizagem, sendo um dos seus livros mais conhecidos intitulado Aprendizagem multimídia (SILVA, 2017). Mayer (2009) esclarece que o uso da expressão “mídia” abrange, além dos textos escritos ou áudios, as mídias gráficas como vídeos, imagens e ilustrações, jogos e animações. O autor defende que a aprendizagem se torna mais rica quando são utilizados esses recursos midiáticos integrados, indo-se além da simples produção escrita. Entretanto, não pode ser restringida a uma atividade sem um planejamento aprofundado que ultrapasse a mera conjunção de mídias (SILVA, 2017). De acordo com Mayer, a eficiência da aprendizagem mediada por materiais multimídia, através da associação da escrita e de imagens, pressupõe que o aluno realize os seguintes processos cognitivos: • Seleção das palavras relevantes – processamento na memória operacional verbal. • Seleção das imagens significativas – processamento na memória operacional visual. • Organização das palavras selecionadas através de um modelo verbal. • Organização das imagens selecionadas através da criação de um modelo visual. • Integração das representações verbais e visuais e os conhecimentos prévios. Através de seus estudos, o autor Mayer (2009 apud SILVA, 2017, p. 2) apresenta princípios relevantes a serem considerados na elaboração de recursos didáticos multimídia, a fim de potencializar uma aprendizagem mais significativa: • Concentração (destacar ideias chave nas figuras e textos). • Concisão (minimizar detalhes desnecessários/alheios nos textos e figuras). • Correspondência (colocar figuras e textos correspondentes próximos). • Concretude (apresentar textos e figuras de maneira a facilitar a visualização). • Coerência (construir uma linha de raciocínio e uma estrutura clara). • Compreensibilidade (utilizar textos e figuras familiares). • Codificabilidade (utilizar textos e figuras cujas características chave facilitem a memorização). Os princípios supracitados desdobram-se em princípios da aprendizagem multimídia, também definidos por Mayer (2009), a partir da análise da eficácia 102 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado dos diferentes recursos textuais e visuais que caracterizam seus efeitos na aprendizagem. A seguir, são destacados alguns desses princípios: Para garantir a redução de informações desnecessárias: • Princípio da Coerência: a seleção é realizada pela relevância de imagens, palavras ou sons para abordagem do assunto (sem poluir ou usar recursos superficiais), priorizando uma apresentação simples e objetiva. • Princípio da sinalização: organização do material é explicita e com destaques que auxiliam como um guia, o que favorece a organização mental. Exemplo: sinais como números no texto e na imagem como indicativos das etapas de um processo, uso de cores (na palavra e numa determinada parte da imagem etc.). • Princípio da Redundância: as pessoas aprendem melhor quando são usados desenhos (imagens) e narração ao invés de imagem, narração e texto escrito (no caso, a legenda do que está sendo dito) por ocasionar sobrecarga visual. • Princípio de Proximidade Espacial: palavras e imagens correspondentes são utilizadas e estão próximas umas das outras, o que contribui para o estabelecimento de conexões mentais (contiguidade espacial). • Princípio da Proximidade Temporal: palavra narrada ou escrita e imagens surgem simultaneamente em uma apresentação (contiguidade temporal). Para favorecer a administração do processamento essencial da aprendizagem: • Princípio da segmentação: aprende-se melhor quando o material é organizado em unidades sequenciais, sendo possível definir o ritmo para o processamento. • Princípio do pré-treinamento: importância de haver compreensão prévia e inicial das denominações, conceitos e suas características para depois serem aprofundadas. • Princípio da modalidade: ênfase para o uso de animação e narração ao invés de animação e texto escrito. Para promover o processamento gerador: • Princípio multimídia: há melhoria na aprendizagem que utiliza palavras e imagens combinadas ao invés de usar só palavras. No entanto, a imagem deve agregar sentido para a compreensão escrita ou verbal. 103 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 • Princípio da personalização: sugere que a aprendizagem melhora quando a escrita é conversacional e menos formal. Os princípios da voz e da imagem são extensões desse princípio - voz humana é preferível à voz de máquina e a imagem do locutor/autor não é relevante para a aprendizagem. Observa-se assim, que os aspectos enfatizados por Mayer (2009) são relevantes para todos aqueles interessados em estudos sobre a aprendizagem e o uso de recursos multimídia no ensino. 2.3.3 Aprendizagem em Rede De acordo com Siemens (2005), o entendimento sobre o conceito de aprendizagem em rede é anterior ao desenvolvimento tecnológico. Como alerta o autor, existe um uso bastante amplo da palavra “rede” atribuindo diferentes significados, sem necessariamente haver um cuidado sobre a delimitação de conceitos que são contidos na definição cientifica. Ainda segundo Siemens (2005), podem ser entendidas como práticas de aprendizagem em rede aquelas desenvolvidas, por exemplo, na área da agricultura em que a nova geração aprendia os ofícios da lida no campo a partir do compartilhamento das experiências dos seus antecessores. No entanto, atualmente, a aprendizagem em rede pode ser observada de forma mais efetiva em função do crescimento e evolução das tecnologias como a Internet e a telefonia móvel. Siemens (2005) diz que houve, ao longo das últimas décadas, também uma evolução das próprias redes de aprendizagem em função do desenvolvimento global da humanidade. O interesse em incorporar o uso da Internet nos contextos educativos ocorreu a partir dos anos 80 aos anos 2000, quando o uso de rede de computadores começa a ser considerado como um investimento por escolas e universidade que adquirem computadores, redes e tecnologia. Nesse momento, a visão de redes era pautada na infraestrutura física. Houve, assim, o desenvolvimento da estrutura física das redes nas escolas e universidades através do uso da Internet, o que possibilitou ampliar a compreensão acerca das redes de aprendizagem. Pesquisadores como Castells e Barabási, juntamente com outros, são responsáveis pelas divulgações científicas e estudos que exploram o papel da comunicação através dos computadores e redes como agentes de transformação social e por contribuírem pelapopularização acerca da compreensão sobre 104 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado as redes de interação. Conforme já foi estudado, o Conectivismo é a teoria de aprendizagem que fundamenta as concepções da aprendizagem em rede. Retome a leitura do Capítulo 1 sobre o Conectivismo. Dessa forma, podemos considerar que as interpretações acerca da aprendizagem em rede estão diretamente relacionadas com as produções e interações sociais e a convergência de interesses e objetivos dos sujeitos que nesse processo formam uma comunidade de aprendizagem. 2.4 APRENDER A APRENDER Vive-se em uma sociedade em que a aprendizagem é um dos principais requisitos. Não se trata apenas de aprender sobre o que está relacionado aos interesses pessoais, mas, principalmente, saber relacionar os conhecimentos com a realidade que está em constante transformação. E por essa transformação que a cada momento gera novas informações, faz-se necessário estar sempre aprendendo. “Aprender a aprender” tem sido utilizado no decorrer da história educacional como forma de defesa de um posicionamento pedagógico progressista que defende uma educação não fragmentada e em sintonia com as necessidades das pessoas e da sociedade como um todo. Segundo Duarte (2004, p. 30), usa- se a expressão “[...] como uma palavra de ordem que caracteriza uma educação democrática”. Dessa forma, o autor defende uma visão de educação que legitima o papel da escola como espaço de socialização dos conhecimentos socialmente construídos no decorrer da história e de ampliação dos horizontes culturais, em detrimento de uma compreensão de aprendizagem restrita e voltada para atender o sistema produtivo (mercado). Atualmente, a concepção de “aprender a aprender” toma novos sentidos, também fazendo referência à necessidade de os alunos saberem como se deve estudar. Observa-se, assim, o entendimento do aprender como ter disciplina, saber buscar as informações para o estudo, agindo de forma criativa e responsável. Ou seja, o aprender a aprender visa potencializar o desenvolvimento de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes). E no contexto da educação a distância, 105 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 o desafio para o aluno é “[...] desenvolver diferentes abordagens para o seu aprendizado – de maneira que ele se torne capaz de aprender a aprender com as diferentes situações que enfrentará na vida, não apenas em uma instituição de ensino formal” (MOORE; KEARSLEY, 2008, p. 84). Visa-se, assim, promover a mobilização de conhecimentos numa atitude proativa, cooperativa e aberta para as diferentes situações da vida. Behrens (2011) apresenta na obra Paradigma emergente e a prática pedagógica, os desafios da ação docente e propõe o que a autora denomina de metodologia do “aprender a aprender” a partir de uma concepção pautada no paradigma emergente. A seguir, são apresentados aspectos a serem refletidos pelos professores: • Desenvolver mais tarefas de pesquisa ao invés de aulas teóricas e expositivas. • Planejar atividades que garantam o engajamento dos alunos como trabalhos em grupo (que podem ter uma produção individual e coletiva). • Promover ações educativas baseadas em desafios que viabilizem processos de criação e produção de artefatos ou produtos pelos próprios alunos que precisarão aprender a sociabilizar seus conhecimentos. • Ter participação ativa em congressos, seminários e debates, exercendo a sua cidadania e seu compromisso como profissional da educação. • Oportunizar o uso de recursos tecnológicos para incrementar suas aulas e também desenvolver atividades e exercícios para os alunos. • Repensar as suas formas de avaliação e de proposição dos seus instrumentos, buscando novas possibilidades que valorizem mais a produção própria dos alunos em detrimento de provas e testes. • Trabalhar com dinâmicas que ultrapassem os limites da sala de aula e que aproveitem os recursos da comunidade. • Estabelecer relações entre a teoria e prática, incentivando e oportunizando o uso de laboratórios e outros espaços escolares como a biblioteca a fim de desenvolver nos alunos o gosto pelo estudo e pela pesquisa para uma ação mais investigativa e construtora de conhecimentos. 3 CONCEPÇÃO DE MÉTODO E METODOLOGIA Você sabe o que significa metodologia? Vamos, primeiramente, compreender as definições de método e metodologia a partir das suas etimologias. 106 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado O termo “método” deriva do grego Methodus – Metá – (atrás, em seguida, através); e hodós – percurso, trajeto, meios para alcançar, ou seja, caminho para chegar ao fim. Ou, conforme escreve Rangel (2005, p. 9), sua origem evidencia a “existência de um caminho, de um meio, para se chegar a um ou a vários objetivos”. Encontramos, nos escritos de Haydt (2011), a definição de método de ensino como o conjunto organizado de procedimentos didáticos para conduzir a aprendizagem do aluno, visando ao alcance dos objetivos propostos para processo de ensino e aprendizagem. Todo método é embasado em pressupostos teóricos, tendo como base o modelo conceitual e fundamentando-se numa determinada concepção de educação. Novamente, de acordo com Rangel (2005, p. 10), a escolha do método deve ser definida levando em conta o processo de ensino e a constituição do seu planejamento bem como o perfil dos alunos, “suas características cognitivas e escolares, o conteúdo, natureza, lógica, e com o contexto, ou seja, as circunstâncias e condições do aluno do professor, da escola, da comunidade”. Afirmação semelhante também é compartilhada por Libâneo (1994), ao destacar que a escolha do método de ensino deve ser feita de acordo com o tipo de aula, matéria, objetivos dentre outros aspectos. Essa escolha, portanto, deve levar em conta o tipo de atividades a serem propostas para os alunos, bem como os objetivos, tempo disponível e as especificidades do conteúdo. Para o autor, não existe um único processo de ensino, mas, sim, processos determinados de acordo com as peculiaridades do conteúdo e demais circunstâncias (LIBÂNEO, 1994). Através da definição de método, é possível compreender que as metodologias indicam ou apontam os caminhos definidos, a serem trilhados para a obtenção de um resultado ou objetivo. Segundo dicionário Houaiss (2001), o sentido etimológico da palavra metodologia advém do grego, sendo composta por – metá (atrás, em seguida, através); hodós (caminho); e logos (ciência, arte, tratado ou tratamento sistemático de um tema). Trata-se, pois, de um processo que se constitui para alcançar um determinado conhecimento. Mesmo que muitas vezes “método” e “metodologia” sejam tratados como termos sinônimos, a concepção de metodologia na área da educação toma um sentido mais profundo, pois cabe a ela sistematizar e executar as relações entre o processo de ensino e aprendizagem, seus aspectos e atores: planejamento de ensino – levando em conta os objetivos, conteúdos, métodos e técnicas de ensino, avaliação, recursos com ênfase para as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), professor e alunos, idade e nível de ensino, conhecimentos prévios, realidade e as intenções educativas. 107 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 Nesse sentido, afirma-se que a metodologia, quando adotada à área de ensino, traz, de forma implícita, as concepções de educação, homem, sociedade, entre outros aspectos que fundamentam o sentido filosófico, epistemológico e didático. No campo da educação, o termo “metodologia” também está relacionado às atividades de pesquisa e à escolha dos melhores meios para sua condução como: tipo de pesquisa (qualitativa ou quantitativa), o método de pesquisa adotado (estudo de caso, pesquisa ação, entre outros), os instrumentos de coleta de dados (questionários, entrevistas, protocolos, formulários, observações etc.), a forma de organizaresses dados e de realizar a sua análise, tudo isso de acordo com a área de conhecimento em questão. Portanto, as metodologias podem ser empregadas para a real- ização da prática docente – as metodologias de ensino ou de aprendiza- gem ou metodologias didáticas, sendo as últimas compostas pelo conjunto de métodos e técnicas direcionadas às atividades do processo de ensino e aprendizagem ou ainda para os trabalhos de pesquisa (trabalhos esco- lares ou acadêmicos de cunho científico como o trabalho de conclusão de curso – TCC). Ao tratarmos da situação atual da educação, são conhecidas muitas das transformações ocorridas nas formas de ensinar e aprender a partir da utilização das tecnologias e da educação a distância. Para os professores, são impostas novas ações e conhecimentos que desafiam sua atividade docente, mas, ao mesmo tempo, ampliam-se as oportunidades com a inserção de novas formas e meios que se concretizam em novas metodologias de aprendizagem. Em linhas gerais, podemos considerar as seguintes categorizações das metodologias de aprendizagem: • Metodologias de aprendizagem interativas: é aquele em que existe uma espécie de comunicação entre o aluno e objeto ou outro aluno, prendendo a atenção e aprimorando o processo de aprendizagem, como é o caso dos jogos, desafios e animações. • Metodologias ativas: o aluno é o maior responsável por aprender o conteúdo através da participação, interagindo e pensando para aumentar a absorção, por exemplo, estudo de caso, projetos e debates 108 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Aprendizes (nativos digitais) do século 21 utilizarão tecnologias interativas em ambientes de aprendizagem voltados para a investigação e o trabalho colaborativo, com professores capazes de usar a tecnologia para ajudá-los a transformar conhecimento e competências em produtos, soluções e novas informações. Aprendizes do século XXI: https://www.youtube.com/ watch?v=G9V4NS1DGZE. entre equipes, diferente da passiva, em que o aluno acompanha as aulas expositivas e depois é avaliado através de provas e trabalhos. FONTE: <https://www.educamundo.com.br/blog/cursos-online- metodologias-de-aprendizagem>. Acesso em: 21 ago. 2019. Vamos agora conhecer um pouco mais sobre as metodologias ativas. 3.1 METODOLOGIAS ATIVAS Podemos dizer que vivemos em um descompasso pedagógico. Muitas instituições de ensino seguem desenvolvendo práticas ultrapassadas; o professor que está nas salas de aula (presenciais e virtuais) teve uma formação voltada para o século passado. Mas, e os alunos? Ah! Os alunos nasceram e vivem em um mundo conectado e em constante transformação. É necessário, portanto, desenvolver um trabalho pedagógico centrado em uma abordagem didática ressignificada, capaz de transcender os reducionismos históricos educativos, através de uma visão pluralista, comunicativa e interativa, que possibilite relações mais complexas com as ciências, as disciplinas e os conhecimentos cotidianos. Essa aprendizagem mais significativa e contextualizada deve também levar em conta o uso das tecnologias. Busca-se, assim, novas possibilidades através da aplicação de metodologias ativas (FILATRO, 2018). Você já ouviu falar sobre elas? Essas metodologias, como o próprio termo aponta, são baseadas na atividade interativa do aluno que é estabelecida com as pessoas, com os conteúdos e tecnologias. Elas vislumbram, portanto, um processo de ação e 109 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 reflexão desenvolvido por meio de atividades coletivas, grupais e colaborativas. A prática educativa mediada pelas metodologias ativas visa, assim, possibilitar o protagonismo do aluno, que assume o controle do seu próprio aprendizado. “Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino” (FREIRE,1996, p. 85). As metodologias ativas podem ser consideradas como uma possibilidade de resposta às necessidades vigentes de se obter soluções educativas para o mundo VUCA. A Sigla VUCA é formada pelas palavras: Volatilidade (volatility), Incerteza (uncertainty), Complexidade (complexity) e Ambiguidade (ambiguity) (FILATRO, 2018). Dentre suas principais características, está a promoção do engajamento dos alunos bem como a possibilidade de favorecer o desenvolvimento da criticidade, da reflexão e da capacidade criadora sobre suas ações e relações vivenciadas no processo de ensino e aprendizagem. Além disso, as atividades implementadas por meio de MA contribuem para o desenvolvimento de atitudes proativas, o senso de responsabilidade e comprometimento, raciocínio lógico e o estabelecimento de vínculos entre as atividades educacionais e situações cotidianas significativas, de modo a torná-los aptos para intervir na realidade e para agir de forma colaborativa e cooperativa. A aplicação das metodologias ativas vem sendo adotada como uma estratégia para se trabalhar com a integração dos saberes nas diferentes áreas de conhecimento, sendo possível encontrar relatos e publicações sobre essa prática na formação de professores e de outros profissionais como na área da saúde. Com relação ao trabalho docente, visa-se enfatizar a ação mediadora do professor que coloca o aluno no centro do processo de ensino, buscando incentivar 110 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Por que usamos metodologias ativas na educação? • Promoção do interesse provocado nos alunos. • Possibilidade de relacioná-las para execução de uma atividade. • Fácil implementação com uso de tecnologias. • Desenvolvimento de ações reflexivas que podem acarretar num processo de tomada de consciência. • Pautadas em atividades colaborativas, mas que também visam garantir a autonomia dos alunos. • Diversidade e flexibilidade na realização das tarefas, permitindo aplicá-las para desenvolvimento de diferentes competências e habilidades dos alunos. o desenvolvimento da sua autonomia. Conforme apontado anteriormente, através das MA, os alunos são incentivados a partilhar seus saberes através de trabalhos em equipe, participar ativamente de atividades de debate com a exposição de suas opiniões e posições. Reflita sobre as práticas pedagógicas e as propostas das metodologias ativas. Quais competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), estudadas no Capítulo 2, você entende que elas ajudam a desenvolver? Observa-se que a relação estabelecida entre a educação e uso das tecnologias impulsionou as metodologias ativas, atribuindo-lhes novos significados através de atividades e dinâmicas que necessariamente não precisam mais ocorrer numa sala de aula presencial. Assim, atividades gamificadas, de estudo individual e/ou coletivo e de pesquisas realizadas por meio de tecnologias em cursos semipresenciais, híbridos ou a distância são cada vez mais difundidas como ações eficientes para auxiliar o aluno na assimilação dos conteúdos, além do desenvolvimento de atitudes e habilidades autônomas, permitindo ao professor um acompanhamento mais personalizado das atividades realizadas pelos alunos. 111 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 • Pressupõe o desenvolvimento de uma ação educativa pautada na discussão de problemas e formulação de soluções fundamentadas. • Mobiliza a interdisciplinaridade entre as áreas do conhecimento, permitindo seu aprofundamento. • É importante levar em conta o tempo necessário para a reflexão e estudo, a necessidade de fornecer feedbacks frequentes, bem como a oportunidades de se praticar o que foi apreendido. • Existem estratégias para desenvolver a aprendizagem baseada em problemas, sendo as mais comuns: o estudo de caso e as simulações. Dessa forma, observa-se que o professor pode utilizar diferentes metodologias de aprendizagem, como: Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), Aprendizagem Baseada em Projetos, Design Thinking, Sala de aula invertida, Aprendizagempor pares, Educação “mão na massa”. 3.1.1 Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) Como a própria denominação já aponta, é uma metodologia que tem o início das suas atividades através da proposição de um problema e pode ser de uma determinada área do conhecimento ou de um tema interdisciplinar, verídico ou fictício. O principal objetivo dessa atividade é, portanto, chegar na solução do problema. Seu foco está na ação do estudante que precisa exercer um papel ativo, sendo responsável pelo seu aprendizado. O professor assume a função de facilitador, dando o auxílio e as orientações necessárias no desenvolvimento das atividades bem como a indicação de materiais de estudo (em seus diferentes formatos). A ABP é desenvolvida com a formação de um grupo de alunos coordenado pelo facilitador que indica um problema. Esse deve ser lido e estudado pelos alunos a fim de identificar os termos que devem ser pesquisados para auxiliar na sua identificação. Deve ser realizada ainda a elaboração dos objetivos do estudo e o levantamento de hipóteses. A partir daí os alunos realizam estudos individuais, retornando novamente ao grupo para discutir e apresentar apontamentos sobre os dados coletados, relacionando-os com o problema. Existem estratégias para desenvolver aprendizagem baseada em problemas, sendo as mais comuns: o estudo de caso e as simulações (FILATRO, CAVALCANTI, 2018). 112 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 3.1.2 Aprendizagem baseada em projetos A criação da Aprendizagem Baseada em Projetos é atribuída para Willian N. Bender, reconhecido como pesquisador do ensino ativo. A sua proposta é centrada na problematização de questões e situações que fazem parte do cotidiano dos alunos usando-as como um meio de favorecer o engajamento em sala de aula. De acordo com o autor, “é um formato de ensino empolgante e inovador, no qual os alunos selecionam muitos aspectos de sua tarefa e são motivados por problemas do mundo real que podem e, em muitos casos, irão contribuir para sua comunidade” (BENDER, 2014, p. 15). Na aprendizagem baseada em projetos, a autonomia é o diferencial que atrai. Os alunos são livres para montar, planejar e desenvolver seus projetos, contando com a tutoria dos professores. Além disso, o conteúdo trabalhado deve ser relevante, fazendo surgir nos alunos a curiosidade pelo tema. Trabalhar esses requisitos não só forma alunos mais dedicados e independentes. A aprendizagem baseada em projetos é uma escola de líderes que forma profissionais mais capazes de encontrar problemas e desenvolver soluções. No século dos empreendedores, a escola ganha protagonismo na descoberta e lapidação de talentos. A ideia, portanto, é de desenvolver projetos autênticos e reais, pautados numa questão que seja provocativa e envolvente que deve ser investigada pelos alunos. Esse é o meio utilizado para ensinar conteúdos através de um trabalho cooperativo (BENDER, 2014). Bender (2014, p. 16-17) apresenta um conjunto de termos comumente utilizados na aprendizagem baseada em projetos. Âncora: é a base para a pergunta, sendo utilizada para fundamentar o ensino a partir de um cenário do mundo real. Como materiais, podem ser utilizados reportagem de jornal, vídeo, apresentação multimídia ou ainda um problema verídico exposto por alguma figura pública. Artefatos: materiais criados no decorrer do projeto que podem representar possíveis soluções para problema. De acordo com autor, o termo é utilizado pois nem sempre a conclusão do projeto se dará por meio de relatório ou apresentação. Desta forma, os artefatos podem se caracterizar como vídeos, portfólios, áudios (podcast ou músicas), atividades artísticas ou projetos de arte (peças, teatro, personagens etc.) ou ainda a produção de alguma produção escrita para ser utilizada num website ou jornal. 113 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 Desempenho autêntico: ênfase dada para uma aprendizagem voltada para uma ação real e efetiva na sociedade. Brainstorming: processo pelo qual os alunos formulam o planejamento das tarefas. Seu objetivo é gerar o maior número de ideias que auxiliem a se chegar na resolução do problema. O importante é manter o foco no problema. Questão motriz: problema principal, tarefa geral ou meta declarada. Delícia resposta de forma clara e motivadora, de forma que os alunos a considerem interessante e significativa. Aprendizagem expedicionária: uma das formas de aprendizagem baseado em projetos que é realizada por meio de viagens ou expedições para diferentes localidades relacionadas ao projeto. Voz e escolha do aluno: ênfase dada ao poder de decisão dos alunos na escolha do projeto e da sua questão fundamental. Web 2.0: identificação das tecnologias que, com o advento da Internet, possibilitaram uma forma de utilizar ambientes virtuais e tecnologias para o desenvolvimento do trabalho colaborativo, tornando os alunos coparticipantes do processo de aprendizagem. Pelas caraterísticas já apontadas, a Aprendizagem Baseada em Projetos tem sido identificada como uma prática de grande eficácia para a educação do século XXI. Parte de questionamentos e promove um estudo a partir da realidade relacionando aos conteúdos de ensino. Dessa forma, torna-se possível incentivar a criatividade, o engajamento e o trabalho coletivo e colaborativo como meios de viabilizar o processo de ensino. 3.1.3 Design Thinking Vamos começar entendendo o que é design. De forma geral, design é interpretado como um projeto, um plano ou uma criação. O importante é compreender que o termo pode ter diferentes atribuições de significados conforme a forma de uso. Já o termo thinking é o verbo em inglês que se traduz em pensar ou ainda achar. Juntando as palavras, pode-se considerar como a forma de pensar o design. Podemos considerar que se trata de uma nova maneira de pensar ou abordar e entender um problema através de um modelo de pensamento. O uso da expressão Design Thinking também tem auxiliado na ressignificação sobre o sentido do que é metodologia, que antes era definida pela obtenção de um passo a passo, com uma visão estática. Por isso, o Design Thinking acaba sendo entendido como uma abordagem (metodológica) que tem algumas etapas, mas que essas podem passar por reinterpretações e diferentes usos agregados ou divididos. Um dos aspectos que caracteriza o Design Thinking é a ênfase ao pensamento 114 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado visual tanto para a identificação como para o estabelecimento da solução dos problemas. Para sua realização, podem ser aplicadas diferentes estratégias e atividades experimentais, mas o foco principal é o de buscar inspirações pessoais (através das motivações e necessidades das pessoas) numa atividade coletiva. Por isso, o Design Thinking também é compreendido como uma estratégia de ação prática e criativa, desenvolvida colaborativamente, tornando possível conhecer as necessidades com profundidade e, assim, possibilitar a criação de soluções mais inovadoras. FIGURA 2 – ETAPAS DO DESIGN THINKING FONTE: Adaptado de: <https://www.dtparaeducadores.org.br/site/>. A seguir, apresentamos as fases do processo de Design Thinking: • Descoberta: observação e levantamento das necessidades das pessoas envolvidas antes de iniciar propriamente o projeto. • Interpretação: momento no qual devem ser expressas as percepções surgidas no diálogo com o grupo. Torna-se imprescindível o compartilhamento das observações, anotações e registros sobre as histórias e pensamentos. • Ideação: momento de brainstorming para geração de ideias que podem ser apresentadas por palavras ou desenhos. Deve-se deixar as ideias fluírem pois nessa fase importante garante a quantidade. • Experimentação: momento de se materializar as ideias, através da 115 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 criação de protótipos a serem apresentadospara que possam ser analisados e, assim, auxiliar no processo de refino das ideias. • Evolução: a partir da criação do projeto, é possível pensar nos passos seguintes, compreendendo que o processo de criação/construção é contínuo. FONTE: < https://www.dtparaeducadores.org.br/site/>. Acesso em: 17 set. 2019. 3.1.4 Sala de aula invertida Assista: Sala de aula invertida -Transformando a educação tradicional na sua cabeça, no link: https://www.youtube.com/ watch?v=qaLeIQM1Hz0. A sala de aula invertida (Flipped Classroom, em inglês) pode ser compreendida como um sistema híbrido de educação (blended learning). Sua dinâmica é fundamentada na tríade aluno/conteúdo/professor, sendo desenvolvidas atividades fora do ambiente educacional. É importante ressaltar que a sua proposta prevê a inversão completa do processo de ensino. Ou seja, não deve ser resumida como uma simples tarefa de estudo do aluno para ocorrer em casa. Com essa definição pormenorizada, fica a dúvida sobre como pode ser considerada uma metodologia inovadora. Entretanto, sua concepção pressupõe o desenvolvimento de aulas mais produtivas e interativas em detrimento das aulas puramente expositivas, além de enfatizar um melhor aproveitamento do tempo. Também exige o trabalho de curadoria dos conteúdos que deve ser realizado pelo professor, buscando formatos variados de explicação do conteúdo (afinal, como vimos, os alunos têm diferentes estilos de aprendizagem). Esses podem ser disponibilizados através de videoaulas, games, slides, e-books, podcasts ou mesmo textos de forma integrada que possa ser um meio para se oportunizar uma aprendizagem mais dinâmica. As atividades devem ser planejadas com o intuito de provocar o pensamento crítico e analítico, a ação de pesquisa constante (de forma que o aluno aprenda a selecionar as informações úteis para seu aprendizado). O todo dessa proposta 116 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Vantagens da sala de Aula Invertida: • Alunos ativos. • Aproveitamento do tempo. • Respeito ao ritmo de aprendizagem dos alunos. • Atividades virtuais junto a atividades presenciais. • Produção colaborativa. • Diversidade de materiais didáticos digitais. • Uso de Tecnologias de Informação e Comunicação. deve, portanto, propiciar um espaço de aprendizagem que seja relevante e significativo para os alunos. Por ser uma metodologia de ensino híbrida, o desafio do professor é de realizar um planejamento que faça a junção das atividades virtuais com os encontros presenciais. Nos momentos on-line, deve-se levar em consideração que o aluno irá realizar, em parte, um estudo individual, dentro do seu ritmo, no seu tempo, no local a sua escolha e ainda usando os recursos tecnológicos que tem disponíveis (sejam esses livros – físicos ou digitais smartphone, tablet ou computador). No encontro presencial, é importante desenvolver ações que oportunizem o trabalho em grupo, atividades de apresentação do que foi estudado a distância, as conclusões e concepções aprendidas e também um espaço para as dúvidas, tudo isso por meio da interação com os colegas e professores. Relevante é produzir “ganhos” para a aprendizagem. A integração das atividades virtuais e presenciais podem se complementar, o que potencializa o trabalho docente bem como a aprendizagem dos alunos. 3.1.5 Aprendizagem por pares (Peer Instruction) A aprendizagem por pares (Peer Instruction) foi desenvolvida pelo professor de física de Harvard, Eric Mazur. Assim como muitos professores, Mazur utilizava de aulas expositivas para trabalhar os conteúdos de física e partia do entendimento de que havia compreensão por parte dos alunos. Entretanto, o professor, ao ler artigos e resultados de pesquisa sobre o ensino de física e as 117 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 dificuldades apresentadas pelos alunos, e através da sua própria experiência, passou a questionar seu método de ensino. Dessa forma, em uma aula de Física Geral, ao perceber a falta de compreensão dos alunos, pediu que sentassem em duplas para debater o tema de estudo e buscar soluções. Veja a entrevista com Eric Mazur, autor da metodologia Aprendizagem por Pares (Peer Instruction). Instruções pelos pares na aprendizagem ativa (legendado), no link: https://www.youtube.com/watch?time_ continue=1&v=iCDXyIrYNS8. A seguir, são apresentados os passos ou etapas do planejamento da metodologia Aprendizagem por Pares – criada por Mazur (ARAÚJO e MAZUR., 2013) com o incremento de sugestões de tecnologias para a aplicação metodológica: QUADRO 1 – Sugestões de tecnologias para aplicação da Aprendizagem por Pares Antes da aula O professor realiza o planejamento da aula, selecionando e organizando os materiais (textos e videoaulas) para o acesso e estudo de casa dos alunos. Seleção de textos, links, sites, videoau- las. Na aula O professor apresenta questiona- mentos para os alunos no grande grupo (uso de cartelas impressas ou recursos digitais. Pelas respos- tas obtidas, é possível identificar a compreensão dos alunos. Se a maioria responder corretamente é possível avançar no conteúdo. Se não, aplica-se a próxima etapa. Mentimeter ou Kahoot 118 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Mentimeter: recurso digital gratuito destinado para promover interações em tempo real, através de questões, nuvem de palavras ou enquete. Através da ferramenta e das diferentes atividades citadas, é possível aplicá-las em grandes grupos, obtendo resultados instantâneos que podem ser visualizados por todos participantes. FONTE: <https://www.mentimeter.com>. Acesso em: 20 ago. 2019 Kahoot: recurso gratuito que permite a criação de questionários on-line com perguntas de múltipla escolha (com quatro alternativas), como um gameshow. O acesso para os alunos é dado através de um código (gamepin). O aplicativo está disponível para sistema Android e iOS em: https://kahoot.com/. Na aula O professor organiza os alunos em grupos (agregando os que sabem com os que não compreenderam o conteúdo). Os alunos devem apresen- tar suas argumentações, chegando a novas compreensões. É aplicado novamente um conjunto de questões para a turma. Se os alunos continuam com dúvidas, parte-se para a próxima etapa. Ferramentas para registros de ano- tações (on-line) como Google docs ou Goo- gle sites ou Padlet. Na aula O professor apresenta novas elu- cidações do conteúdo para o grande grupo por meio de uma aula expositiva ou ainda pode solicitar que os alunos realizem um trabalho de pesquisa a partir de suas orientações para depois retomar o conteúdo com a turma. FONTE: a autora. 119 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 Características da aprendizagem por pares: • Aulas centradas nos alunos, com foco no processo de aprendizagem, oportunizando a identificação das dificuldades e a realização de novas ações. • Favorece a colaboração e a interação (troca de informações) entre os alunos, o que também contribui para a motivação de estudar e o desenvolvimento de competências emocionais. • Enfatiza a manifestação acerca das ideias dos alunos através da sua compreensão do conteúdo, permitindo um processo de reflexão, de pesquisa e construção de novos conhecimentos. É importante analisar e acompanhar todas as etapas, principalmente as que os alunos devem responder. Em linhas gerais, a aprendizagem por pares contribui para que o conhecimento seja construído a partir da interação entre alunos. A sua dinâmica e a organização de duplas (ou grupos) de trabalho é realizada com intencionalidade pedagógica a fim de promover o intercâmbio e a complementaridade da compreensão do conteúdo. É importante que o professor tenha definição clara acerca dos seus objetivos de ensinoe os resultados almejados, bem como realize o acompanhamento das etapas da metodologia. 3.1.6 Educação “mão na massa” (Educação Maker) No início da nossa vida escolar, as atividades passam pela manipulação de objetos e materiais, trabalhos manuais com uso de massa de modelar e outros recursos sendo voltadas para uma aprendizagem pela descoberta e pela ludicidade. Tais práticas, no entanto, no decorrer dos anos escolares, vão sendo substituídas por atividades centradas principalmente na escrita e na oralidade, e muitas vezes pautadas na repetição e na memorização. As metodologias “mão na massa” buscam exatamente resgatar o que ficou para trás nas aulas de educação infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental. Retoma-se a importância da aprendizagem pautada na prática e na 120 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado experimentação através da criação artefatos, produtos ou protótipos que sejam resultado de construções e soluções criativas. Entretanto, o mais importante não é o produto e sim o processo de ensino e aprendizagem percorrido. A realização dessas metodologias pressupõe o protagonismo dos alunos. As atividades nessa ótica envolvem trabalhos coletivos e são voltadas para o desenvolvimento da criatividade, da empatia, do senso empreendedor (e o potencial inventivo), da atitude crítica, e da autonomia, entre outras competências cognitivas e socioemocionais. No processo inventivo do “faça você mesmo”, torna-se natural, por exemplo, que o artefato produzido pelos alunos possa não funcionar perfeitamente no início. É exatamente pela análise, pela desconstrução, e reconstrução que o aluno irá aprender, ao levantar hipóteses, testá-las, e mesmo quando existe erros. Pode-se dizer que aqui o erro é uma possiblidade para produzir novas descobertas/novas aprendizagens). De acordo com a reportagem da revista Nova escola (2018), “estudos realizados por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, demostram que estudantes que vivenciaram a aprendizagem mão na massa tiveram um desempenho 30% mais alto do que colegas que seguiram o aprendizado de maneira convencional”. FONTE: GAROFALO, Débora. Como a educação mão na massa favorece o aprendizado na escola. Revista Nova Escola, 2018. Disponível em: <https:// novaescola.org.br/conteudo/11768/como-favorecer-o-aprendizado-mao-na- massa>. Acesso em: 20 ago. 2019. Algumas escolas estão investindo na aquisição e montagem de laboratório de criação ou mesmo fazendo adaptações nas salas de aula. No entanto, a Educação Maker pode ser realizada com ações que começam pela própria reorganização da ergonomia da sala de aula, pela utilização de materiais recicláveis ou de sucata, não exigindo necessariamente altos investimentos. Em se tratando do uso de recursos digitais, pode ser usado o software (livre e gratuito), Scratch que permite a aprendizagem de programação (visual e multimídia) de forma simples, pois, oferece uma interface intuitiva e de fácil compreensão pelo fato da programação ser inteiramente visual. Através dessa ferramenta, é possível desenvolver projetos interdisciplinares, construir animações ou mesmo circuitos elétricos, tudo isso de forma prazerosa pautada no espírito lúdico. É importante relembrar que atividades de gamificação e a personalização do ensino também podem ser consideradas como metodologias ativas. 121 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 • Gamificação é uma metodologia que se utiliza das dinâmicas, mecânicas e componentes dos jogos com a finalidade de estimular a motivação e o engajamento dos alunos. Para isso, podem ser usadas recompensas, prêmios, medalhas, entre outros artifícios a fim de incentivar o envolvimento numa determinada atividade. • Personalização do ensino é pautada na compreensão que o aluno deve participar ativamente da construção da sua aprendizagem, inclusive tomando consciência sobre ela. Cabe ao professor planejar a trilha de aprendizagem a ser percorrida pelo aluno. Além disso, deve acompanhá-lo na sua jornada educativa auxiliando a desenvolver sua autonomia. Trata-se, assim, do planejamento de aulas baseadas em trabalhos de pesquisa, debates ou ainda a construção de algum produto da aprendizagem (protótipo, caso, material etc.). 3.2 AUTOAPRENDIZAGEM Na educação a distância, conforme já foi estudado, uma de suas principais características e também entendida como uma vantagem é a possibilidade que o aluno tem de organizar seu tempo e lugar para realizar seus estudos, ou seja, ele tem liberdade para decidir como será essa condução e assume a postura de protagonista da sua aprendizagem. Ao realizar o estudo etimológico dessa denominação, autoaprendizagem tem o prefixo “auto” de origem grega do termo “autos” que significa “por si próprio”, de si mesmo. Mesmo havendo diferentes significados e interpretação, o prefixo tem relação direta com o perfil de quem estuda na modalidade a distância, pelo fato dessa não exigir a presença física numa sala de aula e o acompanhamento e intervenção constante do professor. Entendida como uma metodologia, a autoaprendizagem é realizada por meio de uma proposta pedagógica planejada com ênfase para a atividade autônoma do aluno. Para isso, esse planejamento deve ser de favorecer o encadeamento entre os conteúdos e atividades e, para isso, faz uso de: textos, vídeos, links, artigos ou e-books, animações e infográficos, entre outros recursos que são disponibilizados no ambiente virtual de aprendizagem. O importante é garantir a construção de conhecimentos e a efetivação da aprendizagem através da preparação didática do planejamento. Para sua realização, o aluno é responsável por fazer a gerência 122 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado do seu tempo, cabendo ainda definir a necessidade ou não de aprofundamento dos estudos. De maneira geral, existem duas concepções de autoaprendizagem: autônoma e dirigida. A autoaprendizagem autônoma é um tipo de aprendizagem em que o aluno exerce pleno controle sobre seu processo de conhecimento. Nesse processo, o aluno seleciona os materiais, estuda, faz suas pesquisas sem necessitar do apoio de pessoas, ou seja, por conta própria. Quem segue este tipo de aprendizagem é um autodidata. Dentre alguns autodidatas famosos, podemos citar: Bill Gates (fundador da Microsoft), Henry Ford (fundador da Ford), Alexander Graham Bell (cineasta e inventor), Walt Disney (produtor, animador e cineasta), Albert Einstein (físico), José Saramago (escritor), Machado de Assis (escritor) e tantos outros. Sobre esse tipo de aprendizagem, os estudantes que buscam cursos a distância têm as seguintes atitudes: [...] reconhecem suas necessidades de estudo, formulam objetivos para o estudo, selecionam conteúdos, projetam estratégias de estudo, arranjam materiais e meios didáticos, identificam fontes humanas e materiais adicionais e fazem uso delas, bem como quando eles próprios organizam, dirigem, controlam e avaliam o processo de aprendizagem (PETERS, 2001, p. 95). Essas são atitudes que caracterizam uma aprendizagem autônoma, pois são estudantes que buscam informações que complementam o seu trabalho ou sua formação. A preocupação principal não é simplesmente obter um título ou um diploma, mas serem conhecedores de determinado assunto e abertos para o futuro. Ao contrário da aprendizagem autônoma, a autoaprendizagem dirigida ou guiada é organizada e sistemática. Geralmente, esse tipo de aprendizagem é organizado por uma instituição de ensino que prepara os materiais de estudos para serem seguidos pelos seus alunos e tem um objetivo a ser alcançado, que é 123 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 fazer um determinado curso com formação específica ou seguir um programa de ensino. Além do mais, a instituição organiza determinado curso com antecedência e prepara todas as suas etapas para que seja realizadonum tempo pré- determinado. Para esse tipo de aprendizagem, é necessária uma equipe multidisciplinar que pense e organize todo o processo, produzindo materiais de estudos especialmente para este fim, com conteúdo específico a cada curso e atividades que facilitem a autoaprendizagem, além de guias que orientem o estudante em todas as etapas de estudos. Enfim, esse é um método de aprendizagem cuja preocupação não está centrada no professor, mas no aluno, que é o foco de todo este processo. Sobre a questão da aprendizagem em EAD, Maia e Mattar (2007, p. 83-84) apresentam duas ideias sobre as quais é importante refletirmos: Em primeiro lugar, em EAD o centro do processo de ensino e aprendizagem não é mais o interesse do professor na disciplina, mas sim o que o aluno precisa aprender. O aprendiz, portanto, deve ser levado em conta na fase do planejamento e da implementação da experiência de aprendizado a distância, e não apenas no final, quando o conteúdo de um curso a distância já estiver pronto. Em segundo lugar, esse aprendiz não precisa mais estar fisicamente presente em um ambiente para aprender: ele o faz em qualquer lugar. Além disso, seu aprendizado é também contínuo e permanente: o estudo não é mais encarado, em nossa sociedade como algo que deva ocorrer somente em determinado momento da vida, mas sim algo que deve nos acompanhar por toda a vida, isto é, tempo e espaço não são mais limites para as ambições de conhecimento do aprendiz virtual. Em suma, a preocupação principal das instituições que oferecem EAD é com o aprendizado do aluno. Além do mais, o aluno pode aproveitar todos os momentos de que dispõe para dedicar-se aos seus estudos, já que a aprendizagem é entendida como algo contínuo e permanente. Na EAD, exige-se “um aprendiz autônomo e independente, mais responsável pelo processo de aprendizagem e disposto à autoaprendizagem” (MAIA; MATTAR, 2007, p. 85). No Capítulo 2, você encontra um maior detalhamento sobre o perfil do aluno que estuda na EAD. 124 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 1 O que é autoaprendizagem e como está relacionada à EAD? R.: ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2 Relacione as colunas, indicando quais afirmações estão de acordo com a autoaprendizagem autônoma e a autoaprendizagem dirigida. (1) Autoaprendizagem autônoma (2) Autoaprendizagem dirigida. a) ( ) Tipo de aprendizagem que tem uma organização e é sistemática. Geralmente, é organizada por uma instituição de ensino que prepara os materiais de estudos e tem um tempo determinado para ser concluída. b) ( ) O aluno é quem formula os objetivos para o estudo, seleciona os conteúdos, projeta as estratégias de estudo, arranja os materiais e meios didáticos. c) ( ) Tipo de aprendizagem em que o aluno exerce pleno controle sobre seu processo de conhecimento. d) ( ) A preocupação principal não é simplesmente obter um título ou um diploma, mas ser conhecedor de determinado assunto e aberto para o futuro. e) ( ) É necessária uma equipe multidisciplinar que pense e organize todo o processo. A alternativa CORRETA é: a) ( ) 2, 2, 1, 1, 2. b) ( ) 2, 1, 1, 1, 2. c) ( ) 1, 2, 2, 2, 1. d) ( ) 1, 2, 1, 2, 1. 125 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 3.3 METODOLOGIAS INOV-ATIVAS Filatro e Cavalcanti (2018) utilizam a expressão “metodologias inov-ativas” para fazer referência ao conjunto de conceitos e estratégias que englobam abordagens inovadoras. Segundo as autoras, trata-se do conjunto de quatro grupos de metodologias que expressam as inovações na educação: • Metodologias ativas: apresentam uma visão mais humanista e menos tecnicista, mesmo assim, propõem uma inovação incremental (pode ser entendida como uma releitura de uma determinada atividade ou ainda a inserção de melhorias e de atualização para “incrementar” as versões atuais). • Metodologias ágeis (aprendizagem just in time: método de solução de problemas ou educação sob medida, trilhas de aprendizagem): assim como as metodologias ativas, podem promover algum nível de inovação nas atividades educativas sem ser necessariamente uma grande revolução, mas contribui pela sua ênfase no melhor aproveitamento do tempo. São consideradas como propostas menos pedagógicas e mais andragógicas pelo fato de repassarem para os aprendizes o controle das ações educacionais. • Metodologias imersivas (realidade aumentada e virtual): juntamente com as metodologias analíticas, são aquelas que promovem mudanças estruturais significativas: o aluno no centro do processo, novos agentes/ atores (técnicos e especialista, por exemplo) e maiores investimentos em softwares e equipamentos. • Metodologias analíticas: promovem uma interpretação completamente diferenciada sobre a forma de ensinar e aprender, através da personalização do ensino e do acompanhamento da aprendizagem. Em linhas gerais, a definição inov-ativa corresponde a formação de uma “matriz de planejamento ou design instrucional” que abrange a concepção de inovação e os aspectos do processo de ensino e aprendizagem (FILATRO e CAVALCANTI, 2018, p. 4). De acordo com as autoras, a inserção das metodologias inov-ativas em sala de aula apresenta desafios por ser necessário garantir aprendizagens diferenciadas bem como o desenvolvimento da autonomia do aluno, ultrapassando uma visão técnica ou conteudista de aprendizagem (FILATRO e CAVALCANTI, 2018). 126 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado 3.4 OUTRAS ESTRATÉGIAS PARA AULAS INOVADORAS A seguir, serão apontadas e descritas algumas estratégias pedagógicas apoiadas no uso de recursos tecnológicos ou outros materiais educacionais que podem contribuir para o desenvolvimento de aulas mais dinâmicas e inovadoras: Estratégias pedagógicas são ações planejadas que o professor emprega em situações de ensino e aprendizagem para atingir os objetivos pretendidos. 3.4.1 Contrato pedagógico Seja na Educação Básica ou no Ensino Superior (presencial ou EAD), é importante que os papéis de professores e alunos sejam bem compreendidos. Seguindo as orientações das metodologias ativas e da educação a distância, entende-se que a elaboração de um contrato pedagógico se torna ainda mais significativo para promover o engajamento dos alunos, bem como contribuir para o desenvolvimento de ações mais cooperativas e colaborativas. Nesse documento, são estabelecidas as “regras do jogo” do processo de ensino e aprendizagem que deverá orientar tudo que se faz necessário para o bom andamento das atividades de sala de aula (virtual). Pelo termo utilizado, pressupõe que sua construção tenha a participação ativa dos alunos e do professor, de forma que viabilize a tomada de decisões, que devem corresponder ao consenso sobre as responsabilidades de cada um e também outros aspectos considerados relevantes. Orientações para elaboração de um contrato pedagógico para cursos EAD: • Fazer menção aos documentos institucionais e demais regulações legais para o nível de ensino. • Reforçar a importância de acessar a plataforma virtual e realizar as atividades propostas. 127 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 • Caso ocorra encontros presenciais ou atividades síncronas, registrar as informações necessárias para sua realização. • Estabelecimento de prazos de entrega. • Permissão ou não de entrega atrasadas (se terá ou não penalidade). • Orientações sobre a realização das tarefas e exercícios (fontes de pesquisa, formatação e outros aspectos). • Forma e prazo de correção e/ou feedbacks. • Realização das atividades – necessidade ou não de complementação e em qual prazo. • Formas de comunicação – Fórum, chat, e-mail, telefone. •Orientações para as atividades avaliativas virtuais. • Informações, prazos e demais orientações sobre as avaliações presenciais. Observa-se que o contrato pedagógico necessita levar em conta o modelo pedagógico da instituição e algumas definições que precisam ser cumpridas em função de orientações legais. 3.4.2 Uso de softwares, aplicativos e outros recursos digitas para desenvolvimento de materiais didáticos digitais e proposição de atividades Enfatiza-se o uso de recursos digitais para incrementar as atividades de aula. No caso da EAD, sua utilização pode contribuir para o desenvolvimento de materiais didáticos digitais elaborados pelos professores e/ou pela equipe da EAD para a confecção de diferentes formatos de conteúdo, mas que também pode ser utilizado como uma ferramenta para a realização de tarefas pelos alunos. Se na aula presencial o professor pode complementar a explanação dos conteúdos trazendo recursos visuais como mapas conceituais e mentais, histórias em quadrinho, charges, infográficos etc., na EAD esses formatos podem ser trabalhados por meio de softwares e ou aplicativos para sua construção. O importante é que tanto seu uso como a proposição de uma tarefa que solicite a construção de recursos visuais, a atividade em si tenha como objetivo desenvolver a criticidade e a criatividade. A seguir, são elencados alguns tipos de materiais, softwares e aplicativos para sua criação: 128 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado QUADRO 2 – Softwares, materiais e aplicativos para proposição de atividades com uso das tecnologias Material Características/orientações Softwares História em quadrinho e charges Fazem parte do cotidiano de leitura. Uso de metáfora, casos ou exemplos práticos que associam imagens e tex- tos. Necessidade de um planejamen- to que estabeleça as estratégias de acordo com a faixa etária dos alunos. Usadas para a introdução de um tema. Complemento de um conceito. Meio de provocar debates e dis- cussões. Pixton, Toondoo e Hagaquê. Mapas conceituais Estratégia de estudo. Apresentação de conteúdo. Instrumento para a avaliação. Mapeamento de projetos de pesqui- sa. Seleção de palavras, conceitos, ex- pressão-chave, sem preocupação hierárquica. Indicação de conectores. Definição de tema central. Uso de imagens e links, dependendo da ferramenta CmapCloud. 129 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 Mapas mentais Tipo de diagrama para a gestão de informações. Ferramenta de brainstorming (tem- pestade de ideias) semelhante aos mapas conceituais. Planejamento. Ensino (recurso de preparação ou apresentação). Aprendizagem (revisão como método de estudo). Redação (pré-estruturação de tex- tos). Criatividade (ferramenta de brain- storm). Documentação. Coogle, Mindo- mo. Infográficos Representações visuais de infor- mação através da associação de im- agens como fotografia ou ilustrações e texto escrito. Usados onde a informação precisa ser explicada de forma mais dinâmi- ca, como em mapas, jornalismo e manuais técnicos, educativos ou científicos. Easel.ly e Info- gram. Linha do tempo Trabalhar a noção de temporalidade. Expressão gráfica que propõe uma compreensão visual sequencial. Levantamento de fatos históricos. Também presente nas redes sociais. Timetoast e My- Histro (integração do Google Maps). 130 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado Portfólios Coletâneas de trabalhos realizados durante um determinado período. Desenvolvimento do pensamento crítico. Solução de problemas complexos. Planejamento de projetos e pesqui- sas. Trabalho coletivo. Formulação pessoal dos objetivos para o alcance do aprendizado do aluno. Google sites e weebly.com. Mural digital Aplicativo gratuito para montar Painéis ou Murais digitais de forma individual ou compartilhada. Colaboração com outros usuários, fornecendo textos, fotos, links e out- ros conteúdos. Padlet - Há versão para com- putador e mobile. 131 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 Webquest Atividade investigativa em que as in- formações com as quais os alunos interagem provêm da Internet. Proposta metodológica para uso da Internet de forma criativa. Atividades de aprendizagem orien- tadas para pesquisa elaborada pelo professor. Fonte principal de informação – Web. Parte de um tema – tarefa – consultar fontes de pesquisa. Apropriação tecnológica. Informações autênticas e atualizadas. Promoção da aprendizagem cooper- ativa. Síntese das ideias. Incentivo à criatividade. Trabalho de autoria. Compartilhamento de saberes ped- agógicos. Pode ser desen- volvido em difer- entes ferramentas e formatos. 4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, iniciamos pelo estudo das concepções de aprendizagem sob a perspectiva didática sociológica. A seguir, foram enfatizadas as concepções de aprendizagem na educação a distância, com destaque para as concepções de Aprendizagem Colaborativa, Aprendizagem Multimídia, Aprendizagem em Rede e o Aprender a Aprender. Na sequência, foram apresentados os conceitos de “método” e “metodologia”, buscando suas relações com o processo de ensino e aprendizagem. Foram ainda abordadas as metodologias de aprendizagem, com ênfase para as metodologias 132 Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado ativas, a metodologia da autoaprendizagem (caracterizando a autoaprendizagem autônoma e dirigida) e as inov-ativas, destacando sua relevância para o contexto da educação a distância. Para finalizar, foram apresentadas outras estratégias pedagógicas que podem ser implementadas para o desenvolvimento de aulas inovadoras a partir da elaboração de materiais didáticos digitais e uso de softwares e aplicativos. REFERÊNCIAS ARAUJO, I. S.; MAZUR, E. Instrução pelos colegas e ensino sob medida: uma proposta para o engajamento dos alunos no processo de ensino-aprendizagem de física. Caderno brasileiro de ensino de física. Florianópolis, v. 30, n. 2, p. 362-384, ago. 2013. BECKER, F. Da ação à operação: o caminho da aprendizagem. Porto Alegre: EST: Palmarinca: Educação e Realidade, 1993. BEHRENS, M. O Paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2011. BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014. DUARTE, N. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. FILATRO, A. Como preparar conteúdos para EAD. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. FILATRO, A.; CAVALCANTI, C. C. Metodologias Inov-ativas na educação presencial, a distância e corporativa. São Paulo: Saraiva, 2018. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. HAYDT, R. C. C. Metodologias Inov-ativas na educação presencial, a distância e corporativa. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2011. 133 Metodologias de Aprendizagem para a EAD Capítulo 3 HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. MAIA, C.; MATTAR, J. ABC da EAD: a educação a distância hoje. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. MAYER, R. Multimedia Learning. 2 ed., New York: Cambridge University Press, 2009. MOORE, M.; KEARSLEY, G. Educação a distância: uma visão integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2008. PETERS, O. Didática do ensino a distância. São Leopoldo: Unisinos, 2001. RANGEL, M. Métodos de ensino para a aprendizagem e a dinamização das aulas. Campinas: Papirus, 2005. SILVA, A. C. da. Resenha do Livro: Aprendizagem Multimídia. In: Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências. Belo Horizonte v. 19, Epub, 2017. 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