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<p>CANTAREIRA Criada e mantida por alunos da area de Historia da Uff ISSN 1677-7794 Vol Ano 02 Abr-Ago 2004 CINEMA E HISTÓRIA: o imaginário norte americano através de Hollywood. Por: Priscila Aquino Neste artigo procuramos entender os processos de interação da sétima arte com seu contexto histórico, tendo em vista perceber o nascimento de uma Era da Imagem. A escolha do período de estudo, entre 1910/ 1940, se dá por corresponder ao período inicial de florescimento da técnica e da indústria cinematográfica. A relevância do assunto consiste na possibilidade de melhor entendimento das articulações e influências do contexto histórico no cinema numa época em que vemos o advento da sociedade de consumo norte-americana e às transformações ocorridas que levaram ao incremento do "american way of Trata-se de ver o cinema como uma forma de discurso público, o que nos direciona para a necessidade da construção de uma alfabetização crítica com relação à imagem. A necessidade de decodificar e interpretar a mensagem por trás da imagem. * Estudante do curso de graduação de História da Universidade Federal Fluminense desenvolve pesquisa vinculada ao Scriptorium Laboratório de Estudos Medievais e Ibéricos da UFF sob a orientação da professora doutora Leite Página 1 de 18</p><p>Cinema: Indústria ou Arte? chama Gramsci, ao lançarmos nosso A historiografia durante muito olhar para o fordismo; a questão da tempo negou a legitimidade do filme construção da nação americana; a como documento histórico. Uma história Primeira Guerra Mundial e, como não de cunho positivista teimava em podia deixar de ser, o cinema como considerar o cinema como um válvula de escape e formador de uma instrumento de distorção do passado, nova mitologia e simbologia para aquela que quando não o falsificava, trivializava- época e para aquelas pessoas. Contudo, O. Somente a partir de 1970, com a antes de começar o estudo da sociedade "revolução francesa da em si, faz-se necessário esclarecer ou seja, com Escola dos Annales e a nossos pressupostos teóricos ao reformulação do conceito e dos métodos analisarmos as produções da História, é que a historiografia passou cinematográficas com as quais a encontrar no filme um importante canal trabalhamos. através do qual conseguiu apreender Em primeiro lugar gostaria de testemunhos da sociedade, de sua definir o tipo de conceito de ideologia mentalidade, de seus costumes e de sua que estamos nos imbuindo, já que o ideologia. Nosso objetivo de estudo campo que está sendo tratado aqui é nesse artigo, é justamente tentar, através justamente esse. Tentaremos, como do cinema, abrir uma janela que nos conceber a ideologia como permita entrar em contato com a representação do real, nunca o real em sociedade norte- americana do início do si e por ser uma representação ela não século XX - e assim empreender consegue abarcar a realidade em sua também análise do nascimento do plenitude, é sempre reducionista e cinema. Nesse sentido tentaremos formadora de estereótipos. Ou seja, desvelar o significado histórico de alguns consideramos o real sempre mais rico de filmes escolhidos por serem possibilidades e por isso ao lançarmos paradigmáticos. Esperamos esclarecer nosso olhar para o cinema e para sua questões concernentes ao advento de influência na sociedade norte- americana uma economia programática, como 2 DUBY, Georges, História social e ideologia das sociedades, in História: Novos Problemas. Rio de BURKE, Peter. A Escola dos Annales 1929- Janeiro: Francisco Alves, 1995. 1989. A Revolução Francesa da Historiografia. Editora Unesp,São Paulo. 1997. Página 2 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>não o enxergaremos como reflexo estruturas sociais, políticas e fechado e cristalino desta. Assim, o econômicas - difundindo hábitos e cinema está para a sociedade americana costumes e influenciando a sociedade. tal qual a religião estava para a Insere-se no mundo da máquina como sociedade européia do século anterior, um instrumento de coerção moral mas ele representa um modelador do isso não o descaracteriza como arte. inconsciente coletivo -através de seus Segundo George Sadoul: "é impossível heróis, de suas sagas, de seu glamour, estudar a história do Cinema como arte, ele criou uma simbologia e uma forma de sem evocar os seus aspectos industriais. se relacionar com o público que conduz E a indústria é inseparável da sociedade, o receptor a internalização desse da sua economia, da sua técnica"4 E se significado. Tem uma missão civilizatória, o cinema é uma indústria o filme é uma narrando e atualizando o mito "América arte. Portanto, esse será o nosso olhar, para os americanos", estabelecendo um imbuídos desses pressupostos teóricos código de ética próprio e cumprido uma que tentaremos chegar à sociedade de função expansionista ao conquista novas consumo norte- americana e às fronteiras transformações ocorridas que levaram Porquanto, a pergunta que se faz ao incremento do "american way of life". mister, pois sua resposta norteará a No bojo dessa análise tentaremos nossa análise, é: afinal, o cinema é uma entender historicamente os primórdios do indústria maquiavélica que a mando da cinema, enquanto técnica e como essa burguesia controla a vida dos pobres nova forma de relação pode modificar trabalhadores, ou ele seria uma inocente radicalmente a percepção humana da obra de arte? Acreditamos que nem uma realidade. Portanto utilizaremos uma nem outra. Consideramos sim, o cinema análise profunda do discurso veiculado como arte, que tal qual a arte através da imagem sem as renascentista, precisa de um mecenas. E técnicas utilizadas para a construção como qualquer arte, é preciso historicizá- dessa imagem. la. Muitas vezes sua produção tem um quê de industrial; arregimentando em A construção de uma nação torno de si todo um complexo de 3 KEHL, Maria Rita. "Cinema e 4 SADOUL, George. Appud GÓES, Laércio XAVIER, Ismael. (org) Cinema no século. Rio Torres de. O mito cristão no cinema: verbo se de Janeiro, Imago. 1996. fez luz e se projetou entre nós" Salvador: EDUFBA, 2003. Pg 13. Página 3 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>Quando lançamos nosso olhar atividades da Ku Klux Klan no Sul dos para o início do século XX nos Estados Estados Unido, uma associação branca Unidos nos deparamos com diversos de combate violento a qualquer tentativa fatores que levam à exacerbação do negra de exercer seus direitos. Não patriotismo nacional. A primeira guerra obstante, a realidade para a população foi, obviamente, um dos fatores negra daquele tempo era ainda mais principais, visto o poder de união cruel, visto que enfrentavam o racismo nacional contra um outro desencadeado institucionalizado. As leis Jim Crow pela guerra. Assim, fazia-se imperativo consubstanciavam o ostracismo racial, construir e reiterar a idéia de nação para impedindo os negros de um povo evidentemente múltiplo em estudar, ou trabalhar em lugares suas origens. Neste contexto insere-se o destinados a população branca. filme "O nascimento de uma nação" de Porquanto, tentaremos mostrar D. W. Griffith um dos pais do cinema por meio do filme como o nacionalismo americano. Nele podemos ver o advento americano nasce sob o véu do de uma linguagem cinematográfica que segregacionismo. Contudo, seria um servirá de modelo narrativo para os reducionismo encarar a idéia de nação demais filmes que o seguiram. Desta de Griffith como o pensamento geral de forma este filme representa um toda sociedade. É importante salientar, paradigma no cinema mundial e então a classe social, o lugar social principalmente hollywodiano.O filme desse agente da história do cinema, pois produzido em 1915, portanto um ano a sua concepção de mundo está ligada a após a eclosão da primeira Grande essa origem. filme é um olhar sob o Guerra na Europa, nos mostra o cineasta meio social imbuído de pressupostos e concebendo uma "idéia" de nação. Foi preconceitos ligados àqueles que o escolhido para esse trabalho por sua criaram. Não queremos aqui dizer que extrema repercussão nos Estados precisa-se desvelar a intenção do autor, Unidos, sendo o pioneiro na utilização de pois conforme Martine Jolly5 ninguém diversas técnicas de filmagem como o tem a menor idéia do que o autor quis close mas principalmente por dizer muito menos o próprio autor tem evidenciar o racismo extremado que domínio completo do significado da acompanhava de perto a formação da imagem. Mas é preciso inserir certos nova sociedade de consumo em massa. 5 JOLLY, Martine. "A análise da imagem: Esta época noticia o crescimento das desafios e métodos". In. Introdução à análise da Imagem. Página 4 de 18</p><p>dados autorais para que percebamos privilegiavam a dramaticidade, e um tipo que o filme (ou a arte) não é uma de narrativa peculiar que ainda hoje é invencionice maluca que nasce do nada utilizada. O cinema mudo, que teve sua ela possui uma materialidade no aurora na Europa, com os irmãos cotidiano e na realidade do autor. O Lumière apresentando pequenos nosso diretor, especificamente é um documentários sobre o cotidiano da sulista, filho de um aristocrata falido após cidade - a chegada do trem na estação e a Guerra de Secessão, além de ser a saída da fábrica são as películas mais evidentemente apegado a valores famosas desta época -, experimentou protestantes. Talvez isso explique o sua apoteose na montagem narrativa ressentimento contra o Norte que feita a partir de Griffith, diretor que perpassa a película. É um filme transformou seus filmes em sucessos institucional uma vez que legitima o absolutos de público em seu tempo. racismo do Estado transformando os Após esses preâmbulos negros historicamente em inimigos da fundamentais começaremos a análise do nação. Um outro grande sucesso do filme em si. A película começa com uma nosso diretor foi "Intolerância" (1916), frase de impacto: "Se conseguirmos uma ode contra as barbáries do entre- transportar os horrores da guerra para guerras. suas mentes este trabalho não terá sido Ademais, o cinema nesta época em vão". A partir daí, a tela passa a nos era um fato novo que começava a mostrar as terras do Sul, no Piemont, grandes investimentos de banqueiros e explicitando o posicionamento do diretor industriais. E Griffith foi um dos quanto a esse lugar: "onde a vida é primeiros diretores dessa época bela". A harmonia nessas terras reina, os primordial onde o cinema ainda era escravos negros vivem em condição de mudo a vislumbrar as possibilidades subserviência amistosa com os brancos. lucrativas dessa atividade e utilizar uma Duas famílias amigas se encontram: a técnica de montagem das seqüências de família sulista Cameron, e a família forma industrial. Nessa perspectiva esse nortista Stoneman. Ressalta-se, contudo diretor é considerado o criador de uma que o chefe da família Stoneman, é linguagem própria do cinema que ditou membro da Casa Nacional dos regra na indústria hollywodiana. Ele Representantes e não compartilha da inaugura a utilização de flash backs, do amizade de seu filho com a família close movimentos de câmera que sulista, não estando ele presente ao Página 5 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>encontro. O encontro se dá sem maiores seja, o papel da mulher se restringe transtornos com Margareth, a filha mais unicamente ao lar e às dores que ele velha dos Cameron que se apaixona possa lhe causar. Não obstante, os pelo filho mais velho dos Stoneman. As apelos da mãe do rapaz comovem o duas famílias se despedem e logo após presidente que concede a ele a liberdade aparece em cena o presidente Lincoln - vemos aí a figura de Lincoln como o assinando a Proclamação da bondoso e sábio chefe de governo. Emancipação (1863). Uma grande festa Ao voltar à sua cidade natal junto dos negros sulistas é vista na tela. Tanto com sua amada o jovem Benn encontra os irmãos Stoneman quanto os irmãos muita coisa diferente, os negros agora se Cameron partem para guerra. No campo dirigem "desrespeitosamente" aos de batalha os irmãos caçulas atiram um brancos. Vemos por duas vezes a no outro e, ao se reconhecerem, morrem marcante diferença entre o abraçados, numa cena impressionante. comportamento nortista e sulista diante Benn, filho mais velho dos Cameron é da presença do negro como igual. Em um dos líderes da Confederação dos uma das vezes a menina Stoneman Estados do Sul. Quando o norte ataca o aperta a mão do negro e Benn se recusa Piemont os confederados vão em sua a sequer olhar para ele. A mesma defesa e perdem a batalha mas, como situação se repete com a caçula de não podia deixar de ser, perdem Benn. Em 14 de abril de 1865, Lincoln é bravamente, lutando até o fim. Benn é assassinado e a cena é apresentada na capturado e levado para uma enfermaria tela. Com a morte de Lincoln, Stoneman onde conhece a filha mais velha dos se transforma no maior poder da Stoneman e se apaixona por ela. É ela América, conferindo mais liberdades aos que o salva do seu destino de morte por negros, inclusive o direito de voto. Lynch, ser prisioneiro de guerra, chamando a um negro, é apresentado como braço mãe de Benn para implorar a Lincoln a direito de Stoneman no Sul e é vida do filho. Nesta parte aparece um apaixonado por sua filha. "A indefesa intertexto muito interessante: "o papel da minoria branca" é impedida de votar mulher" e logo após surge a de pelos negros e com isso Lynch se elege. Benn chorando em casa pelo possível A "opressão" e a "anarquia" negra contra destino de seu irmão. Podemos perceber os brancos é evidenciada com cenas de uma visão altamente machista e negros matando brancos e de desordem. moralista refletida nesse comentário, ou A jovem de Benn morre ao se atirar Página 6 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>de um precipício por causa da no filme, notadamente Stoneman e sua perseguição de um negro que, aliás, só filha, foi explicitado o quanto são pouco queria se casar com ela. Triste com a confiáveis tanto para cargos públicos morte da Benn tem a inspiração quanto como pessoas. "Nascimento de que irá salvar o Sul da "anarquia negra": uma nação" deixa claro e evidente que o a Ku Klux Klan. E o primeiro ato de negro tem o seu lugar na sociedade vingança é contra o algoz de sua americana, o de servir o branco. Outra Lynch, que aparece como covarde marca evidente da exclusão racial no beberrão e vingativo, rapta a filha de filme está na não utilização de atores Stoneman, pois a quer como sua negros para representarem os principais esposa. Os negros que permaneceram personagens negros. Esse detalhe nos subservientes aos brancos, assim como revela que:1) aos negros americanos na época da escravidão, são saudados estava interditada as condições ou pelo filme como "almas fiéis". Uma cena oportunidade de ingressar na indústria mostra bem como a figura do negro no cinematográfica por questões filme de Griffth é estigmatizada: um evidentemente racistas e; 2) ao mostrar branco luta no bar contra seis negros e um filme, no qual a maioria dos ganha a briga revelando-nos a visão de personagens negros são interpretados que os brancos são fisicamente por atores brancos, o cineasta nos passa superiores aos negros mas no final da a imagem de uma "nação branca" - o luta é assassinado pelas costas por um que aliás parece ser seu intento, seu negro, exortando-nos da covardia negra. ideal de nação. Neste aspecto o nosso final triunfante do filme nos diretor está apenas de acordo com as mostra Benn com centenas de teorias racialistas de sua época que cavalheiros brancos encapuzados saudavam a superioridade da raça braça salvando sua amada das mãos negras em detrimento das raças inferiores de Lynch, e salvando também todo o sul onde se inseria obviamente a raça negra. da tirania negra. Ora, o filme legitima os A tentativa de construir uma idéia de atos de crueldade contra os negros, visto nação branca não foi exclusividade em sua narrativa eles são historicamente norte-americana, perpassando políticas culpados e merecedores desta crueldade como na Argentina, em Cuba e no isso numa época de crescimento de Ku próprio Brasil. Porém, os negros norte- Klux Klan era extremamente perigoso. americanos lutaram fortemente contra Aos brancos que confiaram nos negros esse ideal excludente, fundando em Página 7 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>1910 a National Association for the oposição masculina, reiterando-a e Advancement of Colored People apoiando-a. Assim, espero que (NAACP), a mais importante organização tenhamos deixado claro o quanto o filme de luta pelos direitos civis negros no analisado revela de sua época e como país; e defenderam sua cultura negra ele é importante para perceber o tipo de através do Jazz e do Blues, que nos nação que se pretendia construir anos 20 se transformaram em linguagem branca e viril. Contudo, historicamente, crítica contra a exclusão do negro. não à revelia de nossos pequenos atores Além disso, a questão da figura sociais: os negros e as mulheres. da mulher é posta no filme com o papel Por fim, é importante discorrer de cuidar do lar e de seus malogros. É sobre a questão desse filme representar preciso salientar que apenas em 1920 é um paradigma, um modelo para diversos aprovada a Emenda Constitucional para filmes que se seguiram. A partir dele o sufrágio universal feminino. Portanto, à podemos falar de uma narrativa fílmica época de produção do filme as mulheres clássica que incorpora certas estavam em plena luta pelos seus características industriais como a direitos políticos e a sutil observação do produção para grande massa, a divisão papel feminino feita pelo filme, talvez nos do trabalho, a distribuição de tarefas ou revele como o elemento masculino seja, uma série de atividades que exigem encarava essa luta. Mais do que isso, a a elaboração de regras e princípios que cena revela um moralismo explícito no possibilitem e estruturem o produto filme, que diz respeito ao fato das mulheres como já havíamos colocado. Nele vemos estarem saindo de casa para a instalação da continuidade narrativa, enfrentarem o mercado de trabalho onde o modelo para a construção da fato, esse que se exacerba com a linguagem não é mais o teatro e sim o entrada dos Estados Unidos na Primeira romance. Outras características desse Grande Guerra. A oposição masculina foi cinema são: a homegeinização do apenas uma das vicissitudes que o significante visual e do signo narrativo de movimento sufragista feminino teve de modo a formar uma unidade, um todo enfrentar, mas o voto para as feministas homogêneo como podemos ver na era fundamental visto que em sua luta linguagem linear usada por Griffith, onde pela justiça social essa seria uma arma as de planos possuem um decisiva para influenciar os políticos. vínculo narrativo uno. Outras inovações filme nos revela um pouco dessa que foram amplamente utilizadas por Página 8 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>Griffith são a montagem alternada, que sistema transforma a organização do permite a narração de dois eventos trabalho e a dispõe em termos concomitantes como vimos que foi feito científicos, estabelecendo a "gerência durante o filme, com a orquestração da científica". Ou seja, é a separação entre história entre sul e norte. E a técnica do as fases de planejamento, concepção e insert que dá ao espectador um plano direção que evidentemente fica com as detalhe mostrando-lhe a importância de classes dominantes e os detentores do determinado objeto. Portanto vemos com trabalho intelectual das tarefas de Griffith o florescimento não apenas uma execução e produção destinadas ao de idéia de nação socialmente proletariado, aperfeiçoando a divisão demarcada, mas também de uma técnica social do trabalho. Em 1914, Henry Ford que prima pela homogeneidade, pela introduz seu dia de oito horas e cinco linearidade, e pela coerência da dólares para os trabalhadores de sua narrativa. linha de montagem. Com isso, Ford incrementa o método de Taylor em dois aspectos, primeiro utilizando a produção homem e a máquina em série o que possibilita maior início do século XX foi, produtividade; e, segundo, percebe que marcantemente, a época da fábrica nos produção em massa significa consumo Estados Unidos. Em 1911 Taylor publica em massa. Mais do que isso, o fordismo "Os princípios da administração significava um novo sistema de científica", livro que prega a reprodução de força, um novo tipo de decomposição do trabalho para o política, uma nova estética, uma nova aumento da produção, retirando do psicologia, enfim, a formação de um trabalhador sua capacidade de reflexão novo modo de agir e pensar, a formação sobre os movimentos que estava de um novo indivíduo/trabalhador. E para fazendo, ou seja, transformando o garantir a existência desse novo homem, trabalhador em um "macaco amestrado". Ford criou abrangentes mecanismos de taylorismo implantou a racionalização coerção, que regulavam a vida dos da produção, possibilitando o aumento trabalhadores através de assistentes da produtividade do trabalho através de sociais controlando e vigiando como e novas técnicas e do controle do tempo onde os trabalhadores da fábrica iam por meio do cronômetro e da introjeção gastar seu salário e o seu tempo. da disciplina no trabalhador. Este controle, lógicamente, tinha um cunho Página 9 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>moralista de proteção à família e de não Rocha, "Chaplin conta a dialética aceitação de vícios como o alcoolismo. histórica de um proletariemigranteuropeu Assim, nos deparamos com uma série de que pratica, através do cinema, a medidas para reprimir sexualmente o revolução humanista do povo." trabalhador, com o fim de que ele não Chaplin prefere os gaste sua energia senão de forma personagens marginalizados socialmente racional, consubstanciando uma moral como o operário, o vagabundo, e o puritana refletida no proibicionismo. próprio imigrante. Seus mais famosos Esta foi também a época do filmes foram: imigrante; Aventureiro progressivismo nos EUA. A Era (1917); Em busca do ouro (1925); Luzes Progressista politicamente propiciou um da cidade (1931); Tempos Modernos movimento que visava reformas; (1936); e Grande Ditador (1940). Para intelectualmente se funda no nós, contudo, Chaplin é antes de tudo crescimento das novas ciências sociais e um humanista, um artista que consegue significou uma ruptura com os velhos colocar na tela todo desassossego princípios absolutistas; e culturalmente humano quanto às transformações inspirou uma nova forma de expressão. ocorridas em sua época. Consideramos A mudança mais drástica dessa época Tempos Modernos essencial para nossa ocorreu no âmbito das idéias que análise justamente por essa desafiavam o status quo e exigiam peculiaridade. reformas. Acreditavam no progresso, na O filme inicia sua história com a moralidade individual e na ação coletiva. seguinte frase: "Tempos Modernos é Ou seja, a ação para os progressistas uma História sobre a industria, a deveria vir dos aparelhos privados de iniciativa privada e a humanidade em hegemonia, da sociedade civil. Como busca da felicidade". A primeira cena do disse Gramsci, no sistema fordista filme é um rebanho de carneiros indo americano a hegemonia vem da fábrica e para o matadouro seguido de uma cena é ela que dita as medidas desse novo de uma turba de homens entrando na indivíduo que nasce. A moral fábrica. A comparação metafórica é individualista concilia-se com uma 6 sociedade civil organizada que influencia ROCHA,Glauber. século do cinema, Rio de o Estado. É nesse contexto que iremos Janeiro: Editorial Alhambra/ Embrafilmes, 1983, inserir o filme "Tempos Modernos" (1936) pág 11. de Charles Chaplin. Para Glauber Página 10 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>explícita: o homem animalizado; o quanto a luta pela produtividade muitas homem comparado a uma besta. A vezes ultrapassava os níveis de fábrica animaliza o homem essa é a humanidade. mensagem por nós decodificada. filme As cenas que se seguem são as possui falas. Porém a conversação não é mais significativas do filme: Carlitos feita pelo vagabundo - o filme é então preso a uma peça da linha de montagem predominantemente mudo. Na primeira é levado esteira abaixo para dentro da parte do filme, quando Carlitos está na máquina e seus colegas de trabalho o fábrica, o chefe fala pelo microfone, tiram de lá, mas ao sair vemos um controlando não só a velocidade das Carlitos enlouquecido, ou melhor, máquinas, mas também todos os bestificado. Mais uma vez a metáfora da movimentos de seus operários, inclusive bestialização do homem através da a ida de nosso protagonista ao banheiro máquina. Tudo que nosso protagonista nesta hora o chefe fala a seguinte faz agora é repetir os movimentos que frase: "Pare de vadiar, volte ao trabalho". ele fazia na linha de montagem em todo Ora, essa vigilância extremada reflete objeto parecido com um prego que lhe muito bem a técnica fordista de controle apareça à frente e colocar óleo em todos de seus operários, de rígida disciplina os seus colegas de trabalho, como se dos instintos sexuais, de proteção à eles próprios fossem máquinas na família, regulamentando as relações verdade enxergamos aí uma crítica sexuais e os hábitos ditos libertinos contundente do ideal taylorista de como aliás já havíamos colocado. A essa transformar o tempo do homem no cena se segue outra onde um grupo de tempo da máquina. Nosso personagem vendedores tentam eles também não consegue, como seus colegas, possuem o dom da fala no filme vender introjetar o tempo fabril onde o tempo ao capitalista dono da fábrica uma do trabalho não é o tempo da vida - e máquina que dava de comer ao por isso todo seu desespero. Ao perder trabalhador. Afinal, porque parar para o a razão, Carlitos teve seu momento de almoço? Carlitos, logicamente é o maior lucidez, pois consegue escolhido para que os vendedores momentaneamente vislumbrar as demonstrem a praticidade da máquina. distorções humanas de seu tempo. Tudo dá errado e o chefe os dispensa Mandado para o hospício, nosso com a frase: "Não serve, não é prática." vagabundo se cura da crise de nervos e Esse episódio nos revela um pouco do desempregado sai para uma nova vida. Página 11 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>Na cena que segue, nosso protagonista a cena nos revela o sonho americano de percebe que uma bandeira cai de um vida e explicita também o consumismo caminhão. Pega-a do chão e sacode-a inerente a essa sociedade. A seguir, o seguindo o caminhão para devolvê-la. nosso casal passa a sonhar com uma Logo atrás dele, entretanto, dobra a vida semelhante, mas o filme nos mostra esquina uma manifestação que o quanto é difícil consegui-la na carregava cartazes como os seguintes sociedade do zero ou um. Ou seja,ou dizeres: União; Liberdade; Liberdade ou você é um zero, um perdedor (loser), ou Morte. A polícia chega e Carlitos é visto é o um, o vencedor (winner) que está como líder da manifestação. sempre no perigo iminente da queda; Preso, o vagabundo se torna o não existe meio termo. vagabundo detento exemplar, tendo uma ótima consegue, então, um emprego numa loja relação com os policiais e impedindo que de departamentos como vigia noturno. um preso perigoso fuja. Enquanto isso, a Nosso protagonista e a moça passam a tela nos apresenta a moça - "uma noite se divertindo na loja. vagabundo menina do cais que se recusa a passar é mais uma vez preso por ficar bêbado, fome". pai desempregado dessa enquanto ladrões roubavam a loja. Solto, menina é morto em uma manifestação Carlitos recomeça sua vida de trabalho de rua. Suas duas irmãs são mandadas na fábrica e novamente o movimento para um orfanato a moça foge e passa grevista aparece como fator a viver na clandestinidade. Carlitos é determinante para nosso personagem solto da prisão por bom comportamento ser preso. A moça consegue emprego a frase por ele proferida nessa hora é em um café, e quando Carlitos é solto, significativa: "posso ficar mais um pouco, ela o indica como cantor e garçom. estou tão feliz aqui" - e logo o destino Entretanto as autoridades descobrem junta os dois. Querendo ser preso, afinal a pequena clandestina e isso Carlitos assume a culpa de um pão que acaba com a vida de sucessos que os a menina havia roubado. Por fim, os dois dois começavam a ter. A vida de conseguem fugir da polícia. Sentados na peregrinação clandestina continua, com relva os dois vêem sair da casa em a fuga do nosso casal antítese do frente o marido, enquanto a mulher o modelo americano e na cena final os enche de beijos e abraços e volta para dois andam por uma estrada que talvez sua bela casa. casal antítese dessa simbolize a estrada da vida e o encontro cena olha pasmo sentado na relva. Ora, com o mundo. Página 12 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>"Tempos Modernos" nos passa, fábrica fordista fez surgir um novo então, uma visão crítica do modelo indivíduo, uma nova sociedade, baseada fordista de produção ao nos fazer refletir no puritanismo e num moralismo sobre o quanto essa alienação do hipócrita que regulava a vida sexual dos trabalho incomoda o homem e como isso de baixo mas fechava os olhos para os pode leva-lo à loucura. O filme nos casos que viessem de cima. revela o consumismo, a marginalização proibicionismo foi um exemplo imposta por uma sociedade onde o lema contundente dessa forma de repressão, é "vencer ou vencer", a alienação do desta feita nas mãos do Estado que mundo e de si imposta pelo novo modo consistiu na proibição de bebidas de produção vigente, a repetição alcoólicas, o que na realidade serviu maçante dos movimentos, comparando o para o aumento da criminalidade nos homem com a máquina - e a constante anos 20. A Lei Seca contribuiu para que vigilância com a qual os operários as bebidas fossem contrabandeadas fordistas tinham de conviver. O filme pela máfia para as mãos daqueles que pensa a relação homem/ máquina da tinham dinheiro para pagar. Outra mesma forma que essa relação tinha característica desta época é o marcante sido pensada por Marx ao por em xeque anticomunismo do governo americano a alienação. Contudo, concordamos com que aliado aos códigos religiosos de Gramsci quando este afirma que não censura e preservação moral pública, existe o suposto macaco amestrado de acusou Chaplin de comunista pela cena Taylor. O homem sempre está com a da "bandeira vermelha" (note-se: o filme mente em funcionamento, muito embora é em preto e branco!). o trabalho para ele já não signifique construção, ou melhor, ele constrói A guerra no imaginário norte- partes de um objeto sem saber sua americano relação com o todo. Mas, enquanto seus No início do século XX, os EUA braços estão mecanicamente estão a caminho de se transformarem programados para um movimento, sua numa potência mundial. Com a eclosão mente tem o poder de abstração e de da primeira guerra na Europa em 1914 o criação - - e quiçá, de revolução. O poder governo norte americano toma uma coercitivo exercido sobre o indivíduo posição de neutralidade apoiada pelos através dos aparelhos privados de progressistas que viam a entrada na hegemonia, mais especificamente pela guerra uma interdição das inúmeras Página 13 de 18</p><p>reformas exigidas. Não obstante, a sobre a guerra e que, como o guerra mexia com o imaginário da Nascimento de uma nação, é um população norte-americana por sua paradigma ou modelo para os filmes de ligação tanto nas instituições quanto na guerra feitos posteriormente a ele. língua em comum com os aliados. A Contudo, visto que esse curta será de Alemanha era via de regra vista como rápida análise, gostaríamos também de culpada pela guerra. Ademais, a posição falar um pouco de outros filmes que de neutralidade pregada por Wilson foi refletem essa duramente atacada por grupos que filme Ombros, Armas começa defendiam medidas belicistas urgentes. com Carlitos no campo de treinamento Contudo, a reeleição de Wilson em 1916 com o esquadrão, seguindo os com o lema "ele nos manteve fora da comandos dirigidos a eles e logo depois guerra" mostra que grande parte da vão ao abrigo. Ora, esse é o começo população americana apoiava a típico da maioria dos filmes de guerra. neutralidade. Com o ataque de navios exército germânico também é posto em americanos por submarinos alemães em cena e o sargento alemão é um furioso 1917, a coisa mudou de figura. Wilson, baixinho porquanto, o inimigo é não podendo mais manter a apresentado como um pequeno e furioso neutralidade, declara guerra a 2 de abril problema, e é de certa forma rebaixado. de 1917 com a bandeira que é utilizada Com isso, temos a inter relação entre os em todas as guerras norte-americanas: inimigos brutais e os bons lanques, a defesa da democracia. Assim, toda a numa tendência maniqueísta comum nos nação se mobilizou patrioticamente filmes de guerra. A correspondência numa guerra que exigiria também um chega, mas nosso vagabundo não forte investimento de capital. recebe nenhuma carta. Quando a noite A Primeira Guerra foi um marco cai a água invade o abrigo tornando o que coloca em evidência a não sono impossível: estas cenas têm o neutralidade do cinema e sua intrínseca poder de revelar, com o humor típico de relação com a política, muitas vezes Chaplin, as dificuldades da guerra e o sendo um fator de forte influência sobre sentimento de solidão que envolve o ser ela. Analisaremos nessa parte um curta- humano nessas ocasiões. Carlitos então metragem de Charles Chaplin datado de 1918, que mostra um pouco do que 7 E que não puderam ser utilizados pelo difícil passava pelo imaginário norte-americano acesso no mercado brasileiro. Página 14 de 18</p><p>se apresenta como voluntário para até Kaiser aparece em visita ao posto onde a a linha inimiga. O sargento o parabeniza menina está presa. É preciso prestar e fala a seguinte frase: "Você nunca atenção nessa figura que aparece deve voltar". Nosso personagem, que de estereotipada em todos os filmes de bravo não tem nada, tenta voltar atrás, guerra dessa época. Carlitos, disfarçado mas acaba tendo que ir para as linhas agora de oficial germânico consegue inimigas. Essa passagem contêm em si o salvar heroicamente a menina francesa e início da idéia da "guerra privada" aonde os dois fogem no carro do Kaiser. Nosso um único soldado, com seu heroísmo herói consegue cruzar a linha de guerreiro e patriótico, vai de encontro ao combate e volta para o lado dos aliados. exército inimigo derrotando-o sozinho. É carregado triunfalmente pelo exército Estamos diante então do precursor aliado. Ora, a seqüência mostra como o histórico do próprio Rambo, ou dos homem certo no lugar certo pode salvar heróis de guerra que permeiam as telas o mundo, pode ganhar uma batalha - dos cinemas atuais. Ironias à parte, a como, aliás, ainda hoje nos mostram os idéia individualista de um único soldado filmes de guerra norte-americanos. vencendo a guerra é justamente herança Agora passaremos à parte na narrativa dos filmes desta época. qual, sempre tendo como parâmetro o Nas linhas inimigas Carlitos se filme Ombros, Armas, citaremos outros disfarça de árvore, mas é descoberto filmes que poderiam ter sido usados pelos inimigos germânicos. Foge e explicando o porquê. É preciso antes de consegue despistá-los, derrotando tudo salientar que as nações aliadas alguns deles pelo caminho. Em sua fuga, levaram vantagem ao representarem os nosso protagonista acha uma casa em alemães - os hunos, os boches - como ruínas onde se esconde. Quando a demônios de olhos semicerrados, moradora da casa, uma menina bigodudos, lúbricos, com todos os francesa, entra, ele a avisa que é instintos voltados para rapina e o americano. Os alemães chegam, e vandalismo, como também aconteceu Carlitos consegue escapar, mas a em Ombros, Armas na cena em que a menina é presa e levada ao oficial menina francesa é maltratada. Assim, os alemão que age com ela de forma filmes retratavam a virgindade feminina, violenta. Ora, essa cena nos mostra o a inocência infantil e a velhice inimigo como o malvado oficial que não desprotegida sendo violadas pelos respeita nem a pureza feminina. O sádicos inimigos. Temos um exemplo Página 15 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>clássico disto em A Pequena Americana de guerra é justamente sua na cena que provocou indignação particularidade belicista, mesmo quando nacional, onde Mary Pickford caminha o governo americano ainda primava pelo para sua sina nas mãos dos hunos, isolacionismo. Talvez isso seja explicado enquanto o coronel prussiano falava pois muitas companhias sorridente: "Meus homens precisam cinematográficas eram ligadas a setores relaxar". Os filmes dessa época foram econômicos que se beneficiariam com a armas eficientes na guerra psicológica, guerra. Temos entre esses filmes que ganhando a simpatia dos neutros e moldaram a opinião pública em favor da inflando o nacionalismo. No caso dos entrada americana na guerra, o filme norte-americano, nos meses que se Gritos de Guerra e de Paz, de J Stuart seguiram à guerra em 1914, os filmes Blackton (1915). Nele, os alemães adotam uma atitude de neutralidade e aparecem sitiando Nova York e pacifismo, como o filme de Thomas Ince, reduzindo os edifícios em ruínas - ou Civilização, onde Cristo permitiu-se seja, desde os primórdios do cinema encarnar no corpo de um engenheiro norte-americano vemos a tendência submarino morto, para poder pregar de extremamente atual de filmes onde a novo seu evangelho de paz e amor. cidade de Nova York, do mais interessante, contudo, é que de nacionalismo desse povo e de sua acordo com a imprensa do Partido democracia, é tomada e destruída. Democrático, Civilização foi um dos Assim, o pacifismo das películas fatores por trás da reeleição de Wilson, anteriores a 1914 se transformou em por incorporar o slogan: "ele nos militarismo apoiado em grandes manteve fora da guerra". Isso porque, interesses econômicos. Por exemplo, no num epílogo ao filme, o presidente filme Noivas de Guerra de 1916 a Wilson aparece oferecendo ao diretor mocinha grávida que ama a paz prefere seus bons ofícios. Entretanto, mesmo o suicídio a botar no mundo mais um esse filme, declaradamente pacifista, soldado. Este filme foi proibido por ser deixava claro os sentimentos perigoso aos ideais militaristas. Em The estigmatizando-os como Spirit of 76 que por narrar a guerreiro bárbaros e brutais. Vemos aí o independência americana da Inglaterra filme influindo politicamente na realidade. um pouco antes dos EUA entrarem na Uma característica da indústria guerra ao lado dos ingleses, custa ao cinematográfica americana nesses anos produtor Robert Goldstein uma sentença Página 16 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>de 10 anos de prisão baseada no artigo Vemos, então, o nascimento de um novo 11 do Código de Espionagem. tipo de sociedade onde o simulacro e a Sepultadas as vozes do pacifismo, o fantasia possuem a potência tantas cinema americano se tornou uma vezes negada pela sociedade ocidental. declaração patriótica de guerra contra os Aprender a ler o sentido e a alemães. Mas podemos ver o ápice intencionalidade, mesmo inconscientes, desse sentimento antigermânico em que subjazem a imagem cinematográfica Kaiser, a fera de Berlim e com Kaiser é uma proposta que precisa ser para o inferno, ambos de 1917, onde o incorporada pela sociedade título já nos diz muita coisa de como a Decerto que a imagem e a narrativa que figura do Kaiser era vista pelos nascem com o advento do cinema não americanos. No último, o fiel amigo do são possuidoras de neutralidade - o Kaiser, encorajava-o a afundar o trabalho que fizemos revela que por trás Lusitânia, usar gás venenoso e atacar de cada filme pudemos toda hospitais da cruz vermelha. Portanto, a uma complexa rede de relações e guerra mostrou o quanto o cinema e a interesses de classes específicas ou do fotografia são importantes instrumentos próprio Estado. Ditar comportamentos de persuasão e como foram amplamente socialmente aceitos e legitimar utilizados com esses fins pelo governo posicionamentos políticos fazem parte norte americano. integrante do nascimento da narrativa O cinema, utilizado como cinematográfica hollywodiana. Mas não instrumento patriótico de incentivo à podemos ignorar a existência de espaço guerra, ou de repúdio à ela - o que fosse para a crítica social, como foi inúmeras mais interessante para o governo - é o vezes feito por Chaplin. Ver o cinema que se nota nesta primeira fase da como uma forma de discurso público nos indústria cinematográfica. Ele adquiriu, direciona para a necessidade da assim, aspectos industriais e um alcance construção de um alfabetismo crítico enorme na população - o que logo foi com relação à imagem. Decodificar e percebido pelos industriais que o interpretar a mensagem por trás da financiaram e pelo próprio governo imagem - eis o grande desafio dos americano. Enfim, o cinema marca o homens que estão imersos na avalanche início de uma era onde irão imperar os de imagens da contemporaneidade. meios de comunicação de massa, onde o maior capital será a informação. Página 17 de 18 www.historia.uff.br/cantareira</p><p>Bibliografia: FERRO, M. A história vigiada. São Paulo: Martins Fontes, 1989. GRAMSCI, Antonio, Americanismo e Fordismo in Maquiavel, a Política e o Moderno Estado, Civilização Brasileira. PAMPLONA, Marco Antônio. Revendo o sonho Americano, 1890-1972. São Paulo, Atual, 1996. ROCHA, Glauber. século do cinema, Rio de Janeiro: Editorial Alhambra/ Embrafilmes, 1983. FURHAMMAR, Leif e ISAKSSON, Folke. Cinema e Política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. SÁ, Irene Tavares. Cinema em debate 100 filmes em carta. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1974. KAFAN, Norman, The War Films, Nova Pyramid publication. BERNARDET, Jean- Claude, que é cinema, São Paulo: Editora brasiliense, 1981. 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