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<p>Idealismo</p><p>alemão</p><p>Prof. Rodrigo Perez Oliveira</p><p>Descrição</p><p>Você vai compreender a escola filosófica do século XIX, que emergiu</p><p>como uma resposta às questões colocadas pela modernidade</p><p>cartesiana e iluminista, conhecida como idealismo alemão, e</p><p>caracterizada pela crítica ao concreto. O niilismo presente nas obras de</p><p>Nietzsche e Schopenhauer representa a resposta da intelectualidade</p><p>alemã aos desafios teóricos e práticos da modernidade. O idealismo</p><p>alemão teve desdobramentos significativos no pensamento do século</p><p>XX, influenciando diversas áreas da filosofia e das ciências humanas.</p><p>Propósito</p><p>Abordar o idealismo alemão a partir de uma perspectiva menos rígida</p><p>cronologicamente e menos dependente das biografias dos “grandes</p><p>autores”, buscando compreender como o pensamento idealista alemão</p><p>respondeu aos desafios lançados pela modernidade cartesiana e</p><p>iluminista. Este estudo visa destacar a relevância e o impacto desse</p><p>movimento filosófico na resposta aos desafios intelectuais do período.</p><p>Objetivos</p><p>Módulo 1</p><p>Idealismo alemão e tradição</p><p>iluminista</p><p>Categorizar o idealismo alemão a partir de seu diálogo com a</p><p>tradição iluminista.</p><p>Módulo 2</p><p>Idealismo alemão sob a ótica de</p><p>Schopenhauer e Nietzsche</p><p>Identificar as teses do idealismo alemão no niilismo de</p><p>Schopenhauer e Nietzsche.</p><p>Módulo 3</p><p>Idealismo alemão e seus</p><p>desdobramentos</p><p>Reconhecer os desdobramentos do idealismo alemão no século XX.</p><p>Introdução</p><p>Geralmente, as famílias intelectuais são construções feitas</p><p>posteriormente por estudiosos interessados em entender</p><p>determinada forma de pensamento, que atribuem a escritores do</p><p>passado identidades intelectuais manifestadas na forma de</p><p>“ismos”. Essas identidades intelectuais não estavam disponíveis</p><p></p><p>na época em que os autores estudados viveram. Tal</p><p>procedimento é muito comum nos estudos em história da</p><p>filosofia. Assim, Marx e Engels se tornam autores do marxismo,</p><p>Francis Bacon é vinculado ao racionalismo, e Platão e Aristóteles</p><p>são fundadores do classicismo.</p><p>Mais interessante seria tentar entender como esses autores</p><p>responderam aos dilemas de seus respectivos tempos,</p><p>reconstruindo, na medida do possível, as questões que</p><p>provocaram seus esforços de pensamento. Todo pensamento é</p><p>um ato social em diálogo com outros atos sociais e, como tal,</p><p>deve ser tratado para que não caiamos na tentação de cultuar</p><p>autores, endossando a máxima: “Fulano estava à frente do seu</p><p>tempo”. Todos estamos dentro do nosso tempo, que sempre é</p><p>plural, heterogêneo e permite diversas manifestações do</p><p>pensamento.</p><p>É a partir dessa perspectiva que estudaremos o idealismo</p><p>alemão, fazendo o esforço de tratá-lo mais como um conjunto de</p><p>respostas aos dilemas da modernidade ocidental do que como</p><p>uma corrente filosófica rígida, claramente delimitada.</p><p>Podcast</p><p>Vamos conferir como o idealismo alemão, surgido da desconfiança nas</p><p>promessas iluministas, moldou a filosofia moderna e influencia nossas</p><p>concepções atuais de poder e conhecimento.</p><p>Material para download</p><p></p><p>Clique no botão abaixo para fazer o download do</p><p>conteúdo completo em formato PDF.</p><p>Download material</p><p>1 - Idealismo alemão e tradição iluminista</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de categorizar o idealismo alemão a</p><p>partir de seu diálogo com a tradição iluminista.</p><p>A herança iluminista</p><p>O filósofo norte-americano Josiah Royce é autor de um estudo</p><p>fundamental sobre o idealismo alemão. Para Royce, essa corrente de</p><p>pensamento se constitui entre a publicação do livro Crítica à razão pura,</p><p>o texto mais conhecido da obra de Kant, em 1781, e a morte de Hegel,</p><p>em 1831.</p><p>Vejamos o que diz Royce sobre esse período de 50 anos.</p><p>javascript:CriaPDF()</p><p>O autor ainda argumenta que quatro autores podem ser definidos como</p><p>os principais representantes do idealismo alemão:</p><p>Immanuel Kant (1724-1804)</p><p>Johann Fichte (1762-1814)</p><p>Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)</p><p>Friedrich Schelling (1775-1854)</p><p>Para compreender melhor as teses do idealismo alemão, é importante</p><p>entender a utopia iluminista, que prometia que a razão seria o motor do</p><p>progresso humano.</p><p>No livro A modernização dos sentidos, o historiador alemão Hans Ulrich</p><p>Gumbrecht fala sobre a experiência histórico-cultural da modernidade.</p><p>Segundo o autor, o termo moderno deriva do latim hodiernus, que é</p><p>usado desde a antiguidade para designar um tempo presente que se</p><p>entende como diferente do passado. A grande novidade existencial</p><p>trazida pela história europeia foi a radicalização desse sentimento de</p><p>ruptura com o passado.</p><p>A partir do século XVI, o presente começou a se desvincular cada vez</p><p>mais do passado. O acúmulo das experiências humanas ao longo do</p><p>tempo deixou de servir como fonte de exemplo para a ação</p><p>contemporânea. No século XIX, o político e escritor francês Alexis de</p><p>Tocqueville testemunhou com precisão esse sentimento moderno de</p><p>ruptura. Embora a revolução no estado social, nas leis, nas ideias e nos</p><p>sentimentos dos seres humanos estivesse longe de terminar, ele</p><p>observou que já não era possível comparar suas obras com nada do que</p><p>foi visto anteriormente no mundo. Observe!</p><p>Podemos perceber um tom melancólico nas palavras de Tocqueville,</p><p>especialmente em sua crítica às democracias de massa criadas na</p><p>modernidade. No entanto, essa melancolia tocquevilliana é uma</p><p>exceção no contexto mais amplo do pensamento moderno, que</p><p>geralmente era bastante otimista em relação às transformações</p><p>modernas.</p><p>Aquilo que hoje chamamos de Iluminismo reuniu esse otimismo</p><p>moderno entre os séculos XVIII e XIX, depositando suas esperanças de</p><p>realização do progresso da humanidade na razão e na ciência (Cassirer,</p><p>1997).</p><p>Um dos iluministas que destacam fortemente o papel da educação e</p><p>sua organização, Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, o marquês de</p><p>Condorcet, manifestou essa perspectiva otimista da história, uma visão</p><p>compartilhada, em certa medida, por outros "escritores iluministas",</p><p>como Voltaire, D’Alembert e Diderot.</p><p>Aquele era um momento de intenso desenvolvimento científico. A</p><p>Revolução Industrial trouxe novidades técnicas que potencializaram a</p><p>capacidade de produção a níveis nunca vistos. Novas tecnologias de</p><p>transporte e comunicação encurtaram a distância. A colonização da</p><p>América dava aos europeus a certeza de que estavam universalizando</p><p>as luzes da razão. A revolução médica aumentou a expectativa e a</p><p>qualidade de vida, pelo menos para as elites, aqueles setores da</p><p>sociedade em que a intelectualidade é recrutada.</p><p>Entretanto, esse ambiente cultural otimista encontrou também seus</p><p>críticos, que desconfiavam do potencial emancipatório da razão. Entre</p><p>esses, destaca-se o filósofo britânico David Hume (1711-1786). Em</p><p>grande medida, o idealismo alemão foi inspirado no ceticismo de Hume</p><p>(Dudley, 2007).</p><p>O ceticismo de Hume</p><p>Os escritos de Hume são interpretados por diversos estudiosos desde o</p><p>século XIX, com a maioria destacando a importância do ceticismo na</p><p>compreensão filosófica desenvolvida pelo autor.</p><p>Veja como Robert Fogelin define o ceticismo de Hume.</p><p>Um cético filosófico lida com</p><p>argumentos e, em particular, os</p><p>argumentos que põem em questão</p><p>os supostos fundamentos para</p><p>algum sistema de crenças. O</p><p>sistema de crenças pode ser mais</p><p>ou menos amplo, e a forma do</p><p>desafio cético pode variar de acordo</p><p>com o assunto.</p><p>(Fogelin, 2007, p. 21)</p><p>O ceticismo de Hume tem como objeto o sistema de crenças iluminista,</p><p>fundado no culto à razão. Seu principal projeto filosófico consiste em</p><p>denunciar a ausência de fundamentos racionais nessa crença,</p><p>argumentando contra sua adoção.</p><p>A crítica de Hume não se restringe ao âmbito da filosofia pura; ela</p><p>também possui objetivos políticos, visando enfraquecer a influência do</p><p>pensamento iluminista sobre o senso comum.</p><p>Desde o século XVI, vinha se processando na Europa uma mudança</p><p>epistemológica estrutural que alguns autores costumam chamar de</p><p>revolução cartesiana.</p><p>Conheça alguns aspectos dessa revolução!</p><p> Cognição humana</p><p>A revolução cartesiana implodiu o preceito</p><p>epistemológico medieval, segundo o qual</p><p>o</p><p>conhecimento humano era sempre incompleto e</p><p>lacunar, cabendo apenas a Deus o conhecimento</p><p>total e perfeito. A modernidade</p><p>cartesiana/iluminista acabou com a limitação</p><p>preliminar que a episteme medieval impunha à</p><p>cognição humana.</p><p> Insu�ciência metodológica</p><p>A partir da revolução cartesiana, qualquer eventual</p><p>incapacidade de conhecimento se justifica pela</p><p>insuficiência metodológica, e não pelo mistério</p><p>divino. Hume confronta exatamente essa ambição</p><p>i i il i i P i i</p><p>Immanuel Kant se apropriou do ceticismo de Hume para formular as</p><p>bases da corrente de pensamento que seria conhecida como idealismo</p><p>alemão.</p><p>De Hume ao Iluminismo: as</p><p>bases da Modernidade</p><p>Neste vídeo, falaremos sobre como o ceticismo de Hume e o iluminismo</p><p>contribuíram para a formação do idealismo alemão.</p><p>Kant e a crítica à razão pura</p><p>cognitiva iluminista. Portanto, seu ceticismo</p><p>assume a forma de uma advertência que destaca</p><p>os limites cognitivos humanos.</p><p> Ceticismo humano</p><p>Ao negar a certeza iluminista, Hume não está</p><p>rejeitando completamente toda possibilidade de</p><p>conhecimento. Ele destaca que todo conhecimento</p><p>possui uma dimensão de probabilidade, pois a</p><p>própria inteligência humana é incapaz de alcançar o</p><p>conhecimento perfeitamente verdadeiro.</p><p></p><p>Uma das principais características do pensamento filosófico é a</p><p>abstração, o que, muitas vezes, dificulta nossa compreensão. Uma</p><p>solução para tornar o texto filosófico mais compreensível é reconstruir a</p><p>concretude das experiências que lhe deram vida em seu contexto social</p><p>original. No que se refere ao pensamento de Kant, foi fundamental a</p><p>leitura dos textos de Hume. Foi no ato de leitura e apropriação do</p><p>ceticismo de Hume que Kant construiu as formulações que, mais tarde,</p><p>inspirariam outros autores que passariam a ser reconhecidos como</p><p>representantes do idealismo alemão.</p><p>No tratado Os prolegômenos a toda metafísica futura, publicado em</p><p>1883, Kant vê o conceito humano de causa como um “bastardo da</p><p>imaginação”, como filho ilegítimo da cognição moderna, que, na</p><p>contramão das inclinações metafísicas, tão caras ao Iluminismo, apelou</p><p>para a experiência como instância mediadora do conhecimento.</p><p>Segundo Kant, Hume apresentou colaboração imprescindível para o</p><p>mesmo pensamento moderno, apresentando uma espécie de regulação</p><p>capaz de mitigar os exageros da imaginação metafísica, demonstrando</p><p>que a razão não pode pensar a priori a partir de conceitos de relação</p><p>causa e efeito (Monteiro, 1993).</p><p>Ao questionar o procedimento dedutivo do Iluminismo francês, Hume</p><p>abriu caminhos para a legitimação de um procedimento indutivo que,</p><p>ressonado por Kant, iria tornar-se fundamental para o pensamento</p><p>moderno. Dedução significa elaborar uma teoria do plano da</p><p>imaginação, ou da “metafísica pura”, como diria Kant, e aplicá-la ao</p><p>“mundo fenomênico”, ao plano das coisas concretas.</p><p>Na avaliação de Hume, endossada por Kant, o Iluminismo francês é</p><p>exclusivamente dedutivo e, por isso, frágil. Já o procedimento indutivo</p><p>opera pela via contrária. O plano fenomênico é tratado como a base</p><p>apriorística incontornável para a elaboração metafísica. Em termos mais</p><p>simples e diretos: somente é possível teorizar depois de um cuidadoso</p><p>exame da realidade concreta. Não se trata de negar a elaboração</p><p>metafísica, mas condicioná-la à experiência, não a considerando um fim</p><p>em si, como exercício de pura especulação.</p><p>Esse é o fio central da filosofia de Kant, sendo o fundamento</p><p>argumentativo das suas principais obras, A crítica à razão pura e a</p><p>Fundamentação da metafísica dos costumes, publicadas,</p><p>respectivamente, em 1781 e 1785. Nos dois textos, fica bem clara a</p><p>impossibilidade, para Kant, de um conhecimento a priori, produzido pela</p><p>pura razão, uma metafísica completamente independente dos</p><p>costumes.</p><p>Assim diz Kant em A crítica à razão pura. Vamos analisar!</p><p>Não possuímos o mínimo conceito a</p><p>priori de como algo possa ser</p><p>mudado, de como seja possível que</p><p>um estado, em um dado momento</p><p>do tempo, possa suceder outro</p><p>estado em um outro momento do</p><p>tempo. Para tanto, é necessário o</p><p>conhecimento de forças reais, que</p><p>só podem ser dadas empiricamente,</p><p>por exemplo; das forças motrizes,</p><p>ou, o que é indiferente, de certos</p><p>fenômenos sucessivos (enquanto</p><p>movimentos) que tais forças</p><p>indicam. [...] Não há dúvida de que</p><p>todo nosso conhecimento se inicia</p><p>com a experiência [...], nenhum</p><p>conhecimento precede a experiência</p><p>e todo conhecimento começa por</p><p>ela.</p><p>(Kant, 2011, p. 65)</p><p>Se é inegável que o empirismo de Hume exerceu uma influência crucial</p><p>sobre Kant e o idealismo alemão, seria simplista considerar que a</p><p>apropriação de Hume por Kant foi apenas de forma elogiosa. A relação</p><p>entre esses filósofos vai além de meros louvores, e as críticas de Kant a</p><p>Hume desempenham um papel igualmente significativo no</p><p>desenvolvimento posterior do idealismo alemão (Dudley, 2007).</p><p>A discordância central reside no conceito de "causa" de Hume, em que</p><p>Kant percebe uma visão ingênua e fetichizada da experiência, como se</p><p>esta pudesse ocorrer de forma pura, independente de qualquer</p><p>elaboração conceitual prévia. Veja!</p><p>Perder-se-ia completamente o tal</p><p>conceito de causa, se quisesse</p><p>derivá-lo, como Hume o fez, de uma</p><p>frequente associação daquilo que</p><p>acontece com aquilo que o</p><p>antecede e do hábito daí decorrente</p><p>de conectar representações. Ao</p><p>invés disso, o mais correto seria</p><p>formular um conceito a priori capaz</p><p>de iluminar as experiências, não</p><p>necessariamente enquadrando-as</p><p>em uma rigidez conceitual</p><p>metafísica, mas, ciente da</p><p>artificialidade cognitiva da</p><p>elaboração intelectual, trata o</p><p>conceito com via essencial, e</p><p>irremediável, de acesso à</p><p>experiência.</p><p>(Kant, 2011, p. 43)</p><p>Kant se apropria do empirismo humeano, pois vê um caminho crítico</p><p>ideal para confrontar a metafísica pura do Iluminismo francês, que “trata</p><p>a realidade como se fosse mera equação matemática, matéria a ser</p><p>enquadrada e violada pela razão” (Kant, 2011, p. 42).</p><p>É exatamente esse esforço de Kant em encontrar um meio-termo entre a</p><p>razão pura do Iluminismo francês e a ortodoxia empirista humeana,</p><p>entre a pura abstração e a total rejeição da teorização, que se tornou o</p><p>fio condutor da tradição de pensamento que hoje chamamos de</p><p>idealismo alemão, podendo ser encontrado também nos textos de</p><p>outros de seus principais representantes: Fichte, Hegel e Schelling.</p><p>Fichte, leitor de Kant</p><p>Trinta anos mais jovem que Kant, Johann Fichte tinha à sua disposição</p><p>a obra daquele que é considerado o pai do idealismo alemão. É</p><p>importante analisar com atenção a leitura que Fichte fez de Kant para</p><p>entender os desdobramentos do idealismo alemão para além da crítica</p><p>kantiana.</p><p>O problema da subjetividade cognoscente é central no pensamento</p><p>filosófico moderno, fundamentado no esforço de compreender as</p><p>condições humanas e a subjetividade no conhecimento da realidade. A</p><p>filosofia moderna, portanto, não trata a subjetividade como mero ponto</p><p>de partida para o conhecimento, mas se preocupa com seus</p><p>dispositivos próprios e suas estruturas internas.</p><p>A construção do sujeito do conhecimento e a maneira como ele tenta</p><p>conhecer a realidade foram temas centrais para os filósofos modernos,</p><p>que apresentaram diversas soluções para esse problema. É nesse</p><p>contexto que podemos identificar o diálogo de Fichte com a obra de</p><p>Kant (Rockmore, 2013).</p><p>Kant se apropriou parcialmente do ceticismo de Hume ao afirmar que a</p><p>experiência é o ponto de partida para a produção de todo conhecimento.</p><p>Segundo Kant, não existe um estado racional puro, imune a qualquer</p><p>influência ordinária, no qual o sujeito cognoscente pudesse se inserir</p><p>para pensar a realidade idealmente.</p><p>Johann Fichte.</p><p>Para Kant, os homens estão no mundo, representando a si mesmos em</p><p>seus esforços de representar a realidade. Em termos mais claros, o</p><p>sujeito se constrói como sujeito de conhecimento ao longo de sua vida,</p><p>sensibilizado pelas experiências que marcam sua trajetória. Ao produzir</p><p>conhecimento, o sujeito representa tanto a realidade observada quanto</p><p>o repertório de experiências que o</p><p>constitui. Portanto, o conhecimento é</p><p>duplamente representacional.</p><p>Fichte se apropria, também parcialmente, dessa elaboração kantiana em</p><p>seus principais textos: os livros Sobre o espírito e a letra na filosofia e A</p><p>Doutrina da Ciência, publicados, respectivamente, em 1794 e 1795.</p><p>O conceito de estado de ação é fundamental na teoria fichteana, que é,</p><p>ao mesmo tempo, tributária e crítica à discussão kantiana. A teoria de</p><p>Fichte é tributária porque ele também nega o idealismo puro do</p><p>Iluminismo francês, que supõe a existência de ideias desencarnadas,</p><p>sem sujeitos.</p><p>Vamos entender a diferença entre o sujeito na teoria desses filósofos.</p><p>Acompanhe!</p><p></p><p>Sujeito kantiano</p><p></p><p>Sujeito �chteano</p><p>É o resultado do</p><p>acúmulo de</p><p>experiências. Todas as</p><p>vivências, desde a</p><p>infância, os professores,</p><p>até frustrações afetivas</p><p>inconscientes,</p><p>influenciam sua</p><p>filosofia. Ao produzir</p><p>sua filosofia, o filósofo</p><p>representa a si mesmo</p><p>como um conjunto de</p><p>experiências. O</p><p>conhecimento gerado é</p><p>duplamente</p><p>representacional: reflete</p><p>tanto a realidade</p><p>analisada quanto o</p><p>sujeito, cuja</p><p>subjetividade é moldada</p><p>por um repertório de</p><p>experiências. Essas</p><p>experiências formam a</p><p>ideia com a qual o</p><p>sujeito se debruça</p><p>sobre a realidade.</p><p>É o resultado da ação</p><p>epistemológica original,</p><p>quando o sujeito</p><p>conscientemente se</p><p>torna um sujeito de</p><p>conhecimento. O</p><p>conhecimento</p><p>produzido pelo filósofo</p><p>hipotético é afetado</p><p>apenas pelas</p><p>experiências vividas</p><p>durante a</p><p>racionalização</p><p>epistêmica. O que</p><p>realmente importa é o</p><p>momento em que, ao se</p><p>descobrir filósofo, ele se</p><p>debruça sobre</p><p>determinada realidade.</p><p>Esse é o momento que</p><p>Fichte chama de estado</p><p>de ação, quando o</p><p>sujeito reconhece sua</p><p>posição como sujeito</p><p>do conhecimento.</p><p>Como podemos perceber, Kant e Fichte rejeitam a metafísica pura, que</p><p>supõe a possibilidade de ideias autônomas, desencarnadas. Ambos</p><p>chamam atenção para o fato de que as ideias só existem a partir da</p><p>ação subjetiva.</p><p>Kant e Fichte: a fundação do</p><p>idealismo alemão</p><p>Neste vídeo, vamos entender a importância do pensamento de Kant e de</p><p>Fichte para a fundação do idealismo alemão.</p><p></p><p></p><p>De Schelling a Hegel</p><p>A �loso�a da natureza e da</p><p>religião</p><p>Vamos entender o que é chamado de natureza. Enquanto Fichte e Kant</p><p>estavam especialmente preocupados com a subjetividade cognoscente,</p><p>Schelling foca o objeto dessa subjetividade, que ele chama de natureza.</p><p>O projeto da filosofia de Schelling era corrigir a dicotomia entre natureza</p><p>e espírito, conforme a definição recorrente de Aristóteles que divide o</p><p>conhecimento entre física (natureza) e metafísica (pensamento). No</p><p>alemão, espírito se aproxima de Kultur, não se referindo à ideia de algo</p><p>espectral nem à cultura no sentido ocidental. Esse foi o principal erro da</p><p>modernidade filosófica inaugurada por Descartes.</p><p>Aristóteles.</p><p>Descartes.</p><p>O pensamento cartesiano partia da premissa de que o conhecimento</p><p>era construído a partir de uma separação vertical entre sujeito e objeto,</p><p>espírito e natureza. Descartes, com seu Cogito ergo sum – Penso, logo</p><p>existo – fundamentou essa separação, diferenciando a ação no mundo</p><p>da ação pessoal, e destacando a capacidade do sujeito de construir seu</p><p>pensamento.</p><p>A partir da premissa cartesiana, o sujeito faria uma intervenção</p><p>metodológica sobre o objeto, sendo o conhecimento produzido derivado</p><p>do método. O objeto, a natureza, apenas se deixaria explorar, pois</p><p>Descartes não reconhecia a possibilidade de a natureza resistir à</p><p>exploração. Na episteme cartesiana, a natureza, o objeto, é sempre</p><p>passivo. É essa visão que Schelling critica e, nessa crítica, reside a</p><p>originalidade de sua obra (Coelho, 2018).</p><p>Para Schelling, o significado de natureza não consiste, necessariamente,</p><p>em florestas, mares, fauna e flora. Natureza é toda a realidade que se</p><p>torna objeto da intervenção filosófica. Esse foi o argumento que</p><p>Schelling desenvolveu nos livros Ideias para a filosofia da natureza e Da</p><p>alma e do mundo, publicados, em 1797 e 1798.</p><p>Para Schelling, o pensamento cartesiano marca a "primeira decadência</p><p>moral" da humanidade. Ele acredita que esse pensamento tentou</p><p>separar de forma radical o espírito (sujeito cognoscente) da natureza</p><p>(objeto), transformando a natureza em um objeto passível de</p><p>manipulação pelo espírito. Segundo essa visão, a natureza seria</p><p>destituída de razão, completamente destituída de significado, enquanto</p><p>o espírito seria o único detentor da razão.</p><p>Schelling levanta duas críticas ao argumento cartesiano:</p><p>Questiona a real possibilidade de separação entre espírito e</p><p>natureza, sujeito e objeto.</p><p>Contesta a premissa de que a natureza, enquanto objeto, é passiva</p><p>e não influencia o conhecimento que se tem dela.</p><p>Natureza e espírito, sujeito e objeto, segundo Schelling, são</p><p>indissociáveis. Ele argumenta que ao tentarmos compreender a</p><p>realidade, o sujeito já está sendo influenciado pela própria realidade.</p><p>Para Schelling, a realidade é a força organizadora da vida, a autoridade</p><p>que regula todas as possibilidades de conhecimento. Portanto, a noção</p><p>cartesiana de um sujeito cognoscente separado da natureza é não só</p><p>pretensiosa, mas também ingênua.</p><p>Comentário</p><p>Na filosofia da natureza de Schelling, uma dimensão teológica está</p><p>presente, pois ele considera que, em última instância, natureza é</p><p>equivalente a Deus. No entanto, a concepção de divindade de Schelling</p><p>difere significativamente do monoteísmo típico, como no cristianismo</p><p>ou no islamismo, por exemplo (Coelho, 2018). Schelling adota uma visão</p><p>panteísta, na qual Deus está imanente em todas as coisas.</p><p>A manifestação de Deus no mundo, na visão de Schelling, é inata e se</p><p>manifesta através da natureza, independentemente da consciência</p><p>humana. Quando a inteligência humana reconhece a presença divina em</p><p>todas as coisas, ela alcança plena liberdade. Schelling argumenta que é</p><p>essa comunhão com a presença divina que capacita o ser humano a</p><p>compreender as coisas do mundo. As religiões, para Schelling,</p><p>funcionam como formas pelas quais as pessoas buscam conscientizar-</p><p>se da presença divina em tudo. Assim, a filosofia da natureza se</p><p>entrelaça com a filosofia da religião (Coelho, 2018).</p><p>Nos escritos de Schelling, percebe-se uma preocupação em demonstrar</p><p>que o processo de construção do conhecimento não é meramente ideal,</p><p>ou seja, não se limita à manifestação de uma metafísica pura e</p><p>desencarnada.</p><p>Enquanto Kant e Fichte priorizavam a análise do sujeito (espírito),</p><p>Schelling adotou uma abordagem diferente, enfatizando a racionalidade</p><p>intrínseca ao objeto (natureza). A próxima etapa dessa discussão é</p><p>observar como Hegel se posicionou a respeito.</p><p>A fenomenologia do espírito e</p><p>a �loso�a do direito</p><p>Nos manuais de história da filosofia, há um relativo consenso de que</p><p>Hegel seja o grande representante do idealismo alemão, aquele que</p><p>melhor teria sistematizado as diretrizes gerais dessa corrente filosófica.</p><p>Mas por que exatamente Hegel é considerado o principal representante</p><p>do idealismo alemão? A resposta pode residir no imenso esforço que</p><p>Hegel dedicou à leitura e assimilação das obras dos outros filósofos</p><p>idealistas. Entre os pensadores alemães dessa corrente, nenhum outro</p><p>foi tão meticuloso na sua interação com os colegas quanto Hegel</p><p>(Kervergan, 2007).</p><p>A interlocução de Hegel com os outros idealistas é evidente, por</p><p>exemplo, em seu conceito de realidade como espírito, que se</p><p>desenvolveu a partir da leitura das obras de Fichte e Schelling. Seguindo</p><p>a mesma linha, Hegel também criticou a dicotomia cartesiana entre</p><p>espírito versus natureza/sujeito versus objeto, atribuindo à natureza uma</p><p>racionalidade própria e uma capacidade de influenciar o conhecimento</p><p>produzido sobre ela.</p><p>Essa é a tese central de sua principal obra, a Fenomenologia do espírito,</p><p>publicada em 1807. Segundo Hegel: “a natureza pensada, embora</p><p>permaneça a mesma em si, encontra-se em dois estados diferentes e</p><p>opostos.</p><p>Primeiro, no estado de natureza concreta no real individual, como a</p><p>natureza animal neste cão.</p><p>Segundo, no</p><p>estado de natureza abstrata na ideia universal, como no</p><p>conceito de animalidade. A natureza do ser, permanecendo o que é,</p><p>pode identificar-se efetivamente com modos de ser diversos e</p><p>exclusivos ao mesmo tempo e sem contradição, porque em si mesma é</p><p>indiferente. Por exemplo, é indiferente ao infinito e ao finito, à vida e à</p><p>morte; para ser, não é necessário ter a vida nem excluí-la, mas pode</p><p>exigi-la (se é uma árvore, por exemplo) ou excluí-la (se é uma pedra).”</p><p>Georg Wilhelm Friedrich Hegel.</p><p>O estado ideal ou abstrato dessa natureza do ser, ou seja, o que lhe</p><p>convém como pensada por nós, permite-lhe essa indiferença, que não</p><p>pode ter se a considerarmos no seu estado real, no ser atualmente</p><p>existente. Tudo na natureza é inteligível para o ser que, idêntico em seu</p><p>fundo com o espírito ou a ideia infinita, manifesta-se no universo</p><p>concreto graças ao movimento dialético: tese, antítese, síntese (Hegel,</p><p>2010, p. 71).</p><p>Tal como Schelling, Hegel define a natureza de uma perspectiva</p><p>panteísta. A natureza está presente em todos os lugares, até mesmo no</p><p>espírito, entranhada na subjetividade cognoscente. Entender a realidade</p><p>como espírito, segundo a filosofia de Hegel, é vê-la não apenas como</p><p>substância, mas também como sujeito. Isso significa pensar na</p><p>realidade como um processo, como movimento, e não apenas como</p><p>uma coisa (substância).</p><p>Como já sabemos, essa é a contribuição de Schelling. Hegel, porém, dá</p><p>um passo adiante ao elaborar metodologicamente como essa relação</p><p>entre o espírito e a natureza deve ocorrer.</p><p>Vamos conferir como ocorre esse movimento dialético!</p><p>Tese</p><p>Quando o sujeito cognoscente</p><p>experimenta a natureza e faz</p><p>uma afirmação, ele não apenas</p><p>observa, como sugere a cartilha</p><p>cartesiana, criando assim a tese.</p><p>Antítese</p><p>Quando a própria realidade</p><p>reage, pois, diferente do</p><p>processo cartesiano, no</p><p>processo epistemológico</p><p>hegeliano ela não é passiva</p><p>naquilo que ele chama de</p><p>antítese.</p><p>Síntese</p><p>Q d í i j i</p><p>O processo cognitivo, na perspectiva hegeliana, é marcado pela relação</p><p>tensa e complementar entre sujeito e objeto, entre espírito e natureza.</p><p>Essa abordagem conclui a crítica ao cogito cartesiano e à metafísica</p><p>pura do Iluminismo francês, caracterizando o idealismo alemão</p><p>(Kervergan, 2007).</p><p>Mais adiante estudaremos os desdobramentos das teses do idealismo</p><p>alemão nas gerações posteriores aos primeiros idealistas. Veremos</p><p>como Arthur Schopenhauer (1788-1860) e Friedrich Nietzsche (1844-</p><p>1900) se apropriaram do núcleo central do pensamento idealista alemão</p><p>para desenvolver uma abordagem filosófica que, posteriormente, seria</p><p>conhecida como "niilista". É na recepção dessas teses que essa tradição</p><p>foi sendo criada, a ponto de, hoje, ser lição obrigatória em todo estudo</p><p>sobre a história da filosofia moderna.</p><p>Schelling, Hegel e o</p><p>fortalecimento do idealismo</p><p>alemão</p><p>Neste vídeo, vamos explorar por que o pensamento de Schelling e Hegel</p><p>é considerado o auge do idealismo alemão.</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Quando o espírito, o sujeito</p><p>cognoscente, responde à reação,</p><p>adaptando sua tese ao</p><p>contraditório natural, criando,</p><p>assim, a síntese.</p><p></p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>A modernidade iluminista é marcada por um sentimento</p><p>hegemônico que pode ser encontrado nos escritos de autores como</p><p>Marquês de Condorcet, Voltaire e Diderot. Assinale a alternativa que</p><p>melhor define esse sentimento hegemônico.</p><p>Parabéns! A alternativa D está correta.</p><p>A</p><p>O sentimento hegemônico no Iluminismo foi a</p><p>melancolia, pois os pensadores iluministas estavam</p><p>convencidos de que a Idade Média havia sido o</p><p>apogeu do progresso humano.</p><p>B</p><p>O sentimento hegemônico no Iluminismo foi a</p><p>nostalgia, pois os pensadores iluministas estavam</p><p>convencidos de que a Antiguidade havia sido o</p><p>apogeu do progresso humano, um legado</p><p>considerado irrecuperável.</p><p>C</p><p>O sentimento hegemônico do Iluminismo foi a</p><p>religião, pois os pensadores iluministas estavam</p><p>convencidos de que o catolicismo medieval era o</p><p>apogeu da cultura humana e, por isso, deveria ser</p><p>preservado.</p><p>D</p><p>O sentimento hegemônico no Iluminismo foi o</p><p>otimismo, pois os pensadores iluministas estavam</p><p>convencidos de que viviam um momento de</p><p>aceleração a história rumo ao progresso.</p><p>E</p><p>O sentimento hegemônico no Iluminismo foi o</p><p>pessimismo, pois os pensadores iluministas</p><p>estavam convencidos de que o período das trevas</p><p>demoraria a ser superado.</p><p>O Iluminismo foi marcado por um ambiente de intenso</p><p>desenvolvimento tecnológico e ampliação das fronteiras europeias,</p><p>o que fez com que a intelectualidade da época tendesse a</p><p>verbalizar um sentimento de otimismo e crença no potencial da</p><p>razão científica em conduzir o progresso da humanidade.</p><p>Questão 2</p><p>O pensamento filosófico de David Hume é marcado pelo ceticismo.</p><p>Assinale a alternativa que melhor define o ceticismo de Hume.</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>A</p><p>O ceticismo de Hume tinha a religião católica como</p><p>alvo, o que nos permite dizer que se relaciona ao</p><p>ateísmo do autor.</p><p>B</p><p>O ceticismo de Hume tinha a crença iluminista no</p><p>potencial emancipatório da razão como algo, o que</p><p>nos permite dizer que se relaciona a um projeto</p><p>filosófico e político de esvaziamento da hegemonia</p><p>iluminista.</p><p>C</p><p>O ceticismo de Hume tinha dimensão política e</p><p>defendia a ideia de que a monarquia era incapaz de</p><p>garantir a paz social, devendo, por isso, ser</p><p>substituída pela democracia.</p><p>D</p><p>O ceticismo de Hume tinha dimensão cultural e</p><p>questionava a capacidade da civilização ocidental</p><p>em instaurar a paz universal.</p><p>E</p><p>O ceticismo de Hume, ao trazer a dimensão de</p><p>probabilidade como característica do saber, reforçou</p><p>a ambição cognitiva que marcou o pensamento</p><p>iluminista.</p><p>Hume questionou a ambição cognitiva característica do</p><p>pensamento iluminista, afirmando a dimensão de probabilidade que</p><p>caracteriza todo saber.</p><p>2 - Idealismo alemão sob a ótica de Schopenhauer</p><p>e Nietzsche</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as teses do idealismo</p><p>alemão no niilismo de Schopenhauer e Nietzsche.</p><p>O niilismo em Schopenhauer</p><p>Como vimos, em sua origem, com Kant, Fichte, Schelling e Hegel, o</p><p>idealismo alemão não era exatamente uma corrente de pensamento,</p><p>mas um conjunto de respostas às questões levantadas pela</p><p>modernidade cartesiana/iluminista. Especialmente, essas respostas</p><p>tratavam da dicotomia cartesiana entre sujeito e objeto e da crença</p><p>iluminista na possibilidade de uma racionalidade pura e emancipatória.</p><p>Enquanto a modernidade hegemônica francesa prometia progresso e o</p><p>domínio da razão por volta do século XVIII, alguns alemães</p><p>expressavam desconfiança e formulavam um idealismo alternativo.</p><p>Essa crítica perdurou no século XIX, sendo radicalizada por escritores</p><p>como Schopenhauer e Nietzsche.</p><p>Niilismo é um conceito filosófico que remete à</p><p>formulação do mundo contemporâneo, buscando</p><p>intensamente romper com a naturalização de valores</p><p>considerados como componentes do ser, como os</p><p>valores morais, as verdades do mundo e os exercícios</p><p>de verdade. O niilismo é o exercício do nada, a marcha</p><p>para o abismo, sendo vinculado ao pessimismo.</p><p>Poucos autores desconfiaram mais da crença francesa no potencial</p><p>emancipatório da razão que Arthur Schopenhauer, autor do livro O</p><p>mundo como vontade e representação, publicado pela primeira vez em</p><p>1818.</p><p>As categorias vontade e representação são centrais na sua filosofia.</p><p>Vamos entender melhor cada uma dessas categorias nas palavras do</p><p>próprio autor. Veja!</p><p>Vontade</p><p>"Imaginemos que a humanidade fosse transportada a um país</p><p>utópico, onde os pombos voem já assados, onde todo o alimento</p><p>cresça do solo espontaneamente, onde cada homem encontre</p><p>sua amada ideal e a conquiste sem qualquer dificuldade. Ora,</p><p>nesse país, muitos homens morreriam de tédio ou se enforcariam</p><p>nos galhos das árvores, enquanto outros se dedicariam a lutar</p><p>entre si e a se estrangular, a se assassinar uns aos outros. Para a</p><p>maioria dos homens, a vida não é outra coisa senão um combate</p><p>perpétuo pela própria existência, que ao final</p><p>será derrotada.</p><p>Definitivamente, o homem não está programado para ser feliz."</p><p>(Schopenhauer, 2013, p. 88).</p><p>Representação</p><p>“Todo objeto, seja qual for a sua origem, é, enquanto objeto,</p><p>sempre condicionado pelo sujeito e, assim, essencialmente,</p><p>apenas uma representação do sujeito.” Em outras palavras, tudo</p><p>o que existe para mim é o que eu percebo a partir de formas a</p><p>priori de consciência (tempo, espaço etc.). O real, enquanto coisa</p><p>em si, é impenetrável a nosso conhecimento, que atinge apenas</p><p>as representações. Essas representações se interpõem entre nós</p><p>e o real como um véu que o encobre. Qualquer pretensão do</p><p>espírito em se distanciar da natureza para visualizá-la em</p><p>perspectiva não passa de um ato de ingenuidade arrogante</p><p>elaborado pelos modernos na sua vã pretensão de serem</p><p>melhores que os antigos." (Schopenhauer, 2013. P. 57).</p><p>É a partir das categorias da vontade e da representação que</p><p>Schopenhauer rejeita a promessa iluminista de que a razão seria o</p><p>impulsionador do progresso e da felicidade humana.</p><p>Schopenhauer argumenta que, na essência, tudo o que percebemos é</p><p>uma representação condicionada pelo sujeito, enquanto o real</p><p>permanece inacessível ao nosso conhecimento. Como ele afirma:</p><p>Schopenhauer, partindo do ceticismo de Hume, refuta a possibilidade de</p><p>o espírito se relacionar diretamente com a natureza, sem a mediação de</p><p>seus próprios sentidos. Em sua filosofia, o sujeito do conhecimento</p><p>sempre carrega consigo suas próprias representações ao tentar</p><p>conhecer qualquer aspecto da realidade.</p><p>Não há, na visão schopenhaueriana, o sujeito</p><p>cognoscente universal cartesiano, que, destituído de</p><p>subjetividade, apenas executa um procedimento</p><p>metodológico. Todo conhecimento resulta das</p><p>representações internalizadas no sujeito, traduzindo,</p><p>antes de tudo, suas vontades inconscientes. Assim, a</p><p>ciência e a razão, tão exaltadas no pensamento</p><p>iluminista, são vistas como projeções dos desejos</p><p>humanos mais instintivos.</p><p>Schopenhauer confronta diretamente a ontologia iluminista: enquanto</p><p>os iluministas atribuem uma essência imutável ao humano, defendendo</p><p>sua essencial racionalidade, Schopenhauer argumenta que o humano é</p><p>naturalmente um ser desejante, impulsionado por vontades pré-</p><p>racionais.</p><p>A humanidade, segundo Schopenhauer, veria sua essência realizada em</p><p>um mundo ideal onde todas as necessidades humanas seriam</p><p>satisfeitas sem esforço. Nesse cenário, o desejo se extinguiria, pois só</p><p>desejamos o que não temos, e quanto mais distante o objeto de desejo,</p><p>mais forte é o desejo por ele. No entanto, uma vez alcançado, o objeto</p><p>não sacia a vontade, que prontamente busca um novo objeto para si.</p><p>Ontologia</p><p>Definição de uma essência imutável ao ser.</p><p>O desejo, por sua natureza, é dor:</p><p>sua realização traz rapidamente a</p><p>saciedade; a posse mata todo o</p><p>encanto; o desejo ou a necessidade</p><p>de novo se apresentam sob nova</p><p>forma: senão, é o nada, é o vazio, é o</p><p>tédio que chega”. Se nós</p><p>matássemos toda a nossa vontade,</p><p>nosso destino seria inevitavelmente</p><p>o tédio. Eis a condição trágica da</p><p>vida humana.</p><p>(Schopenhauer, 2013, p. 102)</p><p>Schopenhauer conclui que, se o humano é impulsionado irracionalmente</p><p>pela vontade e, ao conquistar um desejo, passa a almejar o que não tem,</p><p>a humanidade não está destinada à felicidade, afastando-se do</p><p>otimismo iluminista. No entanto, o niilismo do autor permite a</p><p>possibilidade de compensação para esse dilema. Essa compensação</p><p>reside na arte, na experiência estética, especialmente na música, que,</p><p>segundo Schopenhauer, suaviza o sofrimento, uma condição humana</p><p>resultante da busca interminável pela satisfação da vontade, que, no</p><p>limite, é insaciável.</p><p>Ao defender a ideia de que o humano não é um ser unificado e racional,</p><p>mas fragmentado, passional e guiado pelos instintos pré-racionais da</p><p>vontade, a filosofia de Schopenhauer lançou uma pista que seria</p><p>seguida pelos fundadores da psicologia clínica, sendo crucial, por</p><p>exemplo, para os estudos psicanalíticos de Freud.</p><p>Schopenhauer e a visão</p><p>niilista</p><p>Neste vídeo, falaremos sobre a importância de Arthur Schopenhauer na</p><p>fundamentação do idealismo alemão, destacando sua percepção do</p><p>homem para além de sua tradicional visão como ser meramente</p><p>racional. Assista!</p><p>O niilismo em Nietzsche</p><p>Nietzsche talvez seja um dos autores mais traduzidos e publicados na</p><p>atualidade, é um reflexo marcante de como nossa época acolhe de</p><p>forma favorável um tipo de pensamento filosófico que se distancia da</p><p></p><p>lógica racional que fundamentou a modernidade. Hoje, ele é celebrado</p><p>como um pensador revolucionário, um crítico incisivo da tradição</p><p>filosófica precedente.</p><p>No entanto, uma análise mais detalhada de seus textos revela diálogos</p><p>e apropriações de outras correntes de pensamento, incluindo o</p><p>idealismo alemão, embora Nietzsche não tenha hesitado em criticar</p><p>Kant e Hegel. Essa aparente contradição se dissolve quando</p><p>compreendemos que o idealismo alemão, mais do que uma corrente</p><p>filosófica isolada, é uma série de respostas aos dilemas enfrentados</p><p>pela modernidade. Nietzsche se distancia de algumas dessas respostas</p><p>e se aproxima de outras.</p><p>Portanto, é plausível afirmar que ele assimilou a essência do idealismo</p><p>alemão, apesar de suas críticas a alguns representantes dessa escola</p><p>de pensamento (Collares, 2012).</p><p>Nietzsche e o idealismo</p><p>alemão</p><p>Neste vídeo, falaremos sobre como Nietzsche utilizou o ceticismo em</p><p>relação às promessas emancipatórias da modernidade do idealismo</p><p>alemão como fonte impulsionadora da sua obra. Não deixe de conferir!</p><p>Os modernos, segundo Nietzsche, têm o privilégio de reconhecer que</p><p>não existe uma verdade intrínseca às coisas, e toda busca por essa</p><p>verdade é apenas uma crença, semelhante a qualquer crença religiosa,</p><p>pois a verdade seria tão ilusória quanto qualquer divindade.</p><p>O próprio Nietzsche expressa essa ideia. Acompanhe!</p><p></p><p>Se o conhecimento construído pela inteligência humana, o espírito, não</p><p>é a verdade substancial das coisas, o que seria? A resposta a esse</p><p>questionamento é relatada pelo próprio Nietzsche no livro Vontade de</p><p>poder, publicado em 1901. Confira um trecho da obra!</p><p>Toda vontade de saber é</p><p>impulsionada por uma vontade de</p><p>poder sobre a qual o espírito não</p><p>tem controle, não tendo sequer</p><p>ciência. O espírito deseja saber</p><p>porque deseja poder, a pulsão</p><p>demiúrgica do conhecimento não</p><p>tem nenhuma relação com a</p><p>curiosidade, ou com o método, tal</p><p>como prometeram os primeiros</p><p>modernos. Tem relação com</p><p>vontade de dominação. Todo</p><p>conhecimento é também ato de</p><p>violência.</p><p>(Nietzsche, 2006, p. 21)</p><p>Nietzsche não tinha o hábito de mencionar os autores que influenciavam</p><p>seu pensamento. Suas citações eram geralmente direcionadas para</p><p>criticar figuras canonizadas na tradição ocidental, desde Platão e</p><p>Montesquieu até Descartes e Kant. Todos, em algum momento, foram</p><p>alvos das críticas afiadas de Nietzsche.</p><p>No entanto, ao ler entrelinhas, é possível encontrar Nietzsche</p><p>assimilando ideias do idealismo alemão. A negação da possibilidade de</p><p>conhecer uma verdade substancial, mediante a afirmação da presença</p><p>de um filtro cognitivo que transforma todo conhecimento em expressão</p><p>de conceitos previamente formados pelo sujeito cognoscente, por</p><p>exemplo, ecoa a leitura que Kant fez de Hume e ela também pode ser</p><p>encontrada em Fichte. A ideia de que o gesto cognitivo é movido por</p><p>uma pulsão pré-racional de dominação já tinha sido elaborada, de</p><p>alguma forma, por Schopenhauer.</p><p>Na trajetória da evolução do espírito humano, pode-se interpretar que,</p><p>fundamentalmente, trata-se da evolução do corpo: é como se a história</p><p>estivesse se tornando consciente de que um corpo mais avançado está</p><p>sendo moldado. O processo orgânico ascendente atinge novos</p><p>patamares. Nossa incessante busca pelo conhecimento da natureza</p><p>surge como um meio pelo qual o corpo busca aprimorar-se.</p><p>Como demonstram as palavras do próprio Nietzsche. Veja!</p><p>Ou melhor: centenas de milhares de</p><p>experiências são feitas para</p><p>modificar a alimentação, o modo de</p><p>morar e de viver do corpo: nele, a</p><p>consciência e as apreciações</p><p>de</p><p>valores, todos os tipos de prazer e</p><p>desprazer, são indícios dessas</p><p>modificações e dessas</p><p>experiências.</p><p>(Nietzsche, 2006, p. 72)</p><p>Na perspectiva nietzscheana, a história do conhecimento é a história da</p><p>pulsão do corpo em busca de sobrevivência, no desejo incansável de</p><p>dominar a natureza. Todo conhecimento é mediado por experiências</p><p>que se materializam na carne, no corpo. Esse chamado ao corpo aponta</p><p>para o projeto nietzscheano de negação do observador cartesiano</p><p>universal, incorpóreo.</p><p>Nietzsche não somente replica o idealismo alemão; ele radicaliza a tal</p><p>ponto que se torna um crítico desse mesmo idealismo alemão. Ao</p><p>criticarem a metafísica idealista, os idealistas alemães não negaram a</p><p>possibilidade do conhecimento em dar conta de uma realidade</p><p>substantiva. O binômio razão versus verdade que funda o racionalismo</p><p>ocidental foi resguardado.</p><p>Vamos entender melhor a crítica nietzscheana ao conceito de razão e</p><p>verdade de Kant, tão basilar do idealismo alemão:</p><p>Kant criticou a ortodoxia empirista de Hume ao defender a</p><p>capacidade da razão subjetiva em conhecer a verdade substantiva</p><p>através da mediação conceitual.</p><p>Nietzsche critica Kant precisamente por negar a existência de uma</p><p>verdade substancial. Ao levar a crítica dos idealistas alemães ao</p><p>pensamento cartesiano/iluminista ao extremo, Nietzsche acaba se</p><p>opondo ao próprio idealismo alemão, estabelecendo com essa</p><p>tradição uma relação ambígua: ao mesmo tempo herdeiro e crítico.</p><p>Nesse sentido, engana-se quem pensa que os argumentos do idealismo</p><p>alemão se manifestaram apenas na filosofia, ecoando essas ideias</p><p>também na literatura.</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>No livro O mundo como vontade e representação, Schopenhauer</p><p>radicaliza a crítica que Kant, Fichte, Schelling e Hegel fizeram à</p><p>metafísica moderna. Assinale a alternativa que melhor define essa</p><p>crítica radicalizada.</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>Schopenhauer rejeitava a promessa iluminista da emancipação</p><p>humana pela razão, questionando também a ontologia iluminista,</p><p>definida pelo termo homo sapiens. Sua perspectiva partia do</p><p>rompimento com a perspectiva do século das ciências, destituindo</p><p>a formulação da razão como central e partindo para a condição do</p><p>homem em sua percepção de sujeito.</p><p>Questão 2</p><p>Nietzsche estabeleceu uma relação ambígua com o idealismo</p><p>alemão. Assinale entre as alternativas a seguir aquela que melhor</p><p>apresenta tal ambiguidade.</p><p>A</p><p>Schopenhauer radicaliza a crítica quando defende</p><p>as tradições católicas medievais e rejeita o projeto</p><p>de laicização idealizado pelos iluministas.</p><p>B</p><p>Schopenhauer radicaliza a crítica quando</p><p>transforma a representação e a vontade como os</p><p>afetos humanos elementares, negando, assim, a</p><p>ontologia iluminista fundada no conceito de homo</p><p>sapiens.</p><p>C</p><p>Schopenhauer radicaliza a crítica quando defende a</p><p>laicidade moderna e rejeita o iluminista, que era</p><p>conservador e propunha o resgate dos valores</p><p>medievais.</p><p>D</p><p>Schopenhauer radicaliza a crítica quando define a</p><p>república presidencialista como a melhor forma de</p><p>governo, enquanto o Iluminismo defendia a</p><p>monarquia absolutista.</p><p>E</p><p>Schopenhauer valorizava o Iluminismo como o</p><p>tempo das ciências, enfatizando a razão como</p><p>ferramenta central para a emancipação humana.</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>Os idealistas alemães criticaram a tradição cartesiana/iluminista,</p><p>mas sem negar a possibilidade de conhecimento da realidade. Ao</p><p>radicalizar a crítica, Nietzsche negou a existência da verdade como</p><p>dado substantivo à realidade e, com isso, criticou também o</p><p>idealismo alemão. Nietzsche se caracteriza pela anti-ideologia,</p><p>A</p><p>Ao radicalizar a crítica do idealismo alemão ao</p><p>catolicismo medieval, Nietzsche defendeu o</p><p>ateísmo, afastando-se também do catolicismo</p><p>moderado, que era defendido pelos idealistas</p><p>alemães.</p><p>B</p><p>Ao radicalizar a crítica do idealismo alemão ao</p><p>pensamento iluminista/cartesiano, Nietzsche negou</p><p>a existência da verdade como dado substantivo da</p><p>realidade, afastando-se, assim, da racionalidade</p><p>subjetiva defendida pelos idealistas alemães.</p><p>C</p><p>Ao radicalizar a crítica do idealismo alemão ao</p><p>pensamento iluminista/cartesiano, Nietzsche</p><p>reforçou a existência da verdade como dado</p><p>substantivo da realidade, afastando-se do</p><p>empirismo e do negacionismo defendidos pelos</p><p>idealistas alemães.</p><p>D</p><p>Ao radicalizar a crítica do idealismo alemão ao</p><p>ateísmo moderno iluminista, Nietzsche defendeu as</p><p>tradições do catolicismo medieval, afastando-se,</p><p>assim, do racionalismo cético defendido pelos</p><p>idealistas alemães.</p><p>E</p><p>Ao radicalizar a crítica do idealismo alemão acerca</p><p>da possibilidade de se conhecer a realidade,</p><p>Nietzsche defende uma ideologia fundamentada na</p><p>verdade objetiva, apesar dos sentidos apontarem o</p><p>oposto disso.</p><p>partindo da construção e do significado do ser e sua fragilidade</p><p>como ser capaz de mudar sua condição primordial.</p><p>3 - Idealismo alemão e seus desdobramentos</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os desdobramentos</p><p>do idealismo alemão no século XX.</p><p>A literatura de Franz Ka�ka</p><p>Quando pensamos o idealismo alemão não como uma corrente rígida</p><p>de pensamento filosófico, que poderia ser claramente identificada nos</p><p>escritos de alguns autores, mas como um conjunto de respostas aos</p><p>desafios concretos, percebemos seu caráter pessimista.</p><p>O idealismo alemão se caracteriza pelo pessimismo</p><p>com o qual encara as promessas epistemológicas e</p><p>políticas feitas pela modernidade</p><p>cartesiana/iluminista: conhecimento puro e regrado</p><p>metodologicamente, a afirmação da ciência e da razão</p><p>como vetores do progresso e da felicidade humana.</p><p>Os idealistas alemães encaram toda a euforia da modernidade com</p><p>algum ceticismo, ainda que o nível desse ceticismo varie de autor para</p><p>autor. Foi esse ceticismo, algo melancólico, que caracterizou a cena</p><p>intelectual alemã ao longo dos séculos XIX e XX, sendo caracterizado</p><p>como “idealismo pós-kantiano”.</p><p>Esse ambiente intelectual inspirou não apenas filósofos, mas também</p><p>literatos alemães, como é o caso de Franz Kafka, autor de alguns dos</p><p>romances mais importantes do século XX, como:</p><p>A metamorfose (1915)</p><p>O processo (1925)</p><p>O castelo (1925)</p><p>Apesar de ter vivido e produzido no início do século XX, Kafka só</p><p>alcançou notoriedade intelectual após sua morte, especialmente após o</p><p>término da Segunda Guerra Mundial. Isso não é surpreendente, pois a</p><p>primeira metade do século XX foi marcada por guerras mundiais,</p><p>nazifascismo e pelo uso nefasto da tecnologia para práticas genocidas,</p><p>o que desacreditou a promessa iluminista de que a razão e a ciência</p><p>impulsionariam o progresso.</p><p>O desencanto e o sentimento trágico predominantes nesse período</p><p>criaram o ambiente propício para a recepção do ceticismo e da</p><p>melancolia kafkaniana, ambos inspirados pelo idealismo alemão</p><p>(Wagenbach, 2001).</p><p>De acordo com as análises de Klaus Wagenbach, especialista na prosa</p><p>de Kafka, um resumo dos principais romances do autor nos ajuda a</p><p>identificar alguns dos argumentos do idealismo alemão presentes em</p><p>sua obra.</p><p>Vamos conferir essas análises!</p><p>A metamorfose</p><p>O caixeiro viajante, Gregor Samsa, provedor de sua família e amado por</p><p>seus pais e por sua irmã, é o protagonista de A metamorfose. Gregor é o</p><p>que podemos chamar de homem comum, levando uma vida comum,</p><p>como outra qualquer. Tudo estava normal até o dia em que ele se</p><p>transforma em um inseto nojento.</p><p>Se antes era o arrimo amado, Gregor se torna objeto de vergonha e da</p><p>rejeição de sua família. Lá pelas tantas no enredo, os familiares de</p><p>Gregor também se transformam em insetos, e sua casa se modifica</p><p>radicalmente. Observe o que diz Klaus Wagenbach sobre a obra!</p><p>A metamorfose é uma alegoria da</p><p>temporalidade moderna,</p><p>caracterizada pela aceleração e</p><p>pelas constantes transformações.</p><p>No mundo moderno, no mundo da</p><p>técnica, tudo está constantemente</p><p>se transformando e, tal como</p><p>Gregor, mudando para pior. Se a vida</p><p>pregressa de Gregor já não era</p><p>perfeita, se ele já era um homem</p><p>infeliz com seu ofício</p><p>e sufocado</p><p>pelas necessidades materiais de</p><p>sua família, a metamorfose em</p><p>inseto tornou as coisas ainda piores.</p><p>(Wagenbach, 2001, p. 32)</p><p>Ao formular o ceticismo do idealismo alemão em relação às promessas</p><p>da modernidade cartesiana/iluminista de forma ainda mais melancólica,</p><p>no livro A metamorfose, Kafka não apenas questiona a busca pela</p><p>felicidade, mas também sugere que o próprio movimento, concebido</p><p>como transformação, tende inevitavelmente para a tragédia,</p><p>representando o oposto exato da felicidade. A melancolia da prosa</p><p>kafkaniana não deixa nada a dever à filosofia de Schopenhauer.</p><p>A metamorfose e o idealismo</p><p>alemão</p><p>Neste vídeo, falaremos sobre como a obra A metamorfose, de Franz</p><p>Kafka, incorpora elementos do idealismo alemão, como a alienação, a</p><p>identidade e o absurdo existencial. Assista!</p><p></p><p>O processo</p><p>O protagonista é outro homem comum, um bancário chamado Josef K.,</p><p>que é processado sem saber o motivo. Na manhã de seu aniversário,</p><p>Josef K. foi detido sem que tivesse cometido crime algum. O enredo do</p><p>livro é a saga do personagem em busca de informações sobre o</p><p>processo no qual era réu. Josef K. se debate contra a complexa</p><p>burocracia do Estado moderno.</p><p>O enredo de O processo traz a burocracia do</p><p>Estado moderno para o centro da crítica de</p><p>Kafka. Por mais que tente, Josef K. não</p><p>consegue descobrir quem o está acusando e</p><p>qual o motivo da acusação. As instituições</p><p>do Estado moderno, criadas para serem a</p><p>manifestação da racionalidade na esfera</p><p>pública, em contraponto ao Estado do antigo</p><p>regime, regido pela lógica do privilégio, são</p><p>caricaturadas por Kafka como manifestação</p><p>predatória do poder contra os direitos</p><p>individuais. [...] O Estado ilustrado, que</p><p>prometia ser o gerenciador do progresso, é</p><p>pintado por Kafka como a morada de</p><p>burocratas preguiçosos, incompetentes e</p><p>autoritários.</p><p>(Wagenbach, 2001, p. 64)</p><p>O castelo</p><p>Kafka alegoriza e critica a burocracia moderna nessa obra. O</p><p>protagonista é K, tão somente K. O indivíduo moderno é reduzido a uma</p><p>letra, diante dos aparelhos do Estado que a ilustração prometeu que</p><p>seriam movidos pela razão e pelos instrumentos de libertação.</p><p>K é um agrimensor contratado pelo dono de um castelo para medir suas</p><p>terras. O enredo consiste no périplo de K pelos corredores do castelo,</p><p>em busca de seu contratante e de informações sobre o trabalho. Ele</p><p>encontra vários departamentos e diversos funcionários, mas enfrenta</p><p>desencontros e informações truncadas, o que o leva à angústia. Veka o</p><p>que diz Wagenbach sobre K!</p><p>K é um homem destituído de sua</p><p>humanidade, quase sem identidade,</p><p>embrutecido por uma busca eterna</p><p>pela verdade, busca que é</p><p>impossibilitada pelas estruturas</p><p>burocráticas que, ao invés de</p><p>pavimentar o progresso e o</p><p>desenvolvimento da razão, criam</p><p>confusão, erro e desinformação.</p><p>(Wagenbach, 2001, p. 64)</p><p>Kafka não era um filósofo; seu procedimento de trabalho não se encaixa</p><p>na esfera filosófica. Vamos entender melhor!</p><p>O filósofo especula sobre a realidade e cita outros filósofos para</p><p>confrontá-los ou continuar seus legados.</p><p>O literato não está comprometido com a realidade. Esse</p><p>profissional cria personagens fictícios, enredos e situações</p><p>fantasiosas. No entanto, isso não significa que a ficção seja</p><p>simplesmente uma mentira. Ao imaginar a fantasia, o literato</p><p>sempre alegoriza a realidade, refletindo sua própria visão do mundo</p><p>e os conceitos que influenciam sua percepção.</p><p>Kafka foi influenciado pelo ambiente cultural do idealismo alemão,</p><p>caracterizado pela desconfiança em relação à euforia iluminista, pela</p><p>melancolia e pela descrença de que a ciência cartesiana seria a fonte da</p><p>felicidade humana. Essas percepções permeiam a prosa de Kafka,</p><p>moldando a maneira como o autor desenvolve seus enredos e constrói a</p><p>personalidade de seus personagens.</p><p>Portanto, podemos observar que o idealismo alemão não é apenas uma</p><p>corrente de pensamento adotada por filósofos eruditos. É uma</p><p>determinada maneira de perceber a realidade e interpretar a</p><p>modernidade, que começou a se desenvolver na cena intelectual</p><p>germânica no final do século XVIII, persistiu ao longo do século XIX e se</p><p>fortaleceu ainda mais ao longo do século XX.</p><p>De Freud à pós-modernidade</p><p>No futuro imaginado pelo Iluminismo no século XVIII, o século XX seria</p><p>o momento da apoteose, da realização da utopia possibilitada pela</p><p>razão e pelo desenvolvimento científico. Porém, a história, no século XX,</p><p>contrariou a previsão otimista feita pelos iluministas, trazendo à luz o</p><p>espetáculo da destruição em massa e da engenharia do genocídio,</p><p>sofisticada racionalmente e impulsionada pela tecnologia.</p><p>O clima geral foi de decepção, o que fez com que a segunda metade do</p><p>século XX se transformasse em terreno fértil para o ceticismo e a</p><p>melancolia do idealismo alemão.</p><p>Freud costuma ser reconhecido como o médico que criou a psicanálise,</p><p>mas sua contribuição vai além disso. Em sua extensa obra, Freud</p><p>apresentou uma interpretação da tradição ocidental que, em muitos</p><p>aspectos, foi influenciada pelo idealismo alemão.</p><p>Ao confrontar a ontologia cartesiana/iluminista, que define a existência</p><p>humana a partir de uma capacidade racional intrínseca (homo sapiens),</p><p>Freud definiu o humano com base em sua irracionalidade e</p><p>inconsciência, ecoando claramente as vozes de Schopenhauer e</p><p>Nietzsche.</p><p>Portanto, enquanto o racionalismo define o humano por aquilo que ele é</p><p>e sabe que é, Freud o define por suas pulsões desejosas (id),</p><p>disciplinadas e reprimidas pela consciência e pelo superego.</p><p>Sigmund Freud.</p><p>Essa é a premissa existencial que Freud busca nas críticas dos</p><p>idealistas alemães ao racionalismo desde o final do século XVIII, ao</p><p>fundar a psicanálise. Em linhas gerais, a psicanálise defende que as</p><p>doenças mentais não são exclusivamente patologias físicas, mas o</p><p>resultado da repressão de desejos e afetos. A terapia consiste em trazer</p><p>à consciência o que antes estava no inconsciente, pois, dessa forma, o</p><p>paciente teria mais capacidade de lidar com seus desejos, traumas e</p><p>frustrações.</p><p>No livro O mal-estar na civilização, publicado em 1930, momento em que</p><p>começa a escalada nazista na Alemanha, Freud combina com clareza</p><p>sua interpretação da modernidade com suas discussões médicas sobre</p><p>a psicanálise. Vamos conferir!</p><p>O avanço técnico até tem a sua importância</p><p>para a economia da nossa felicidade, mas,</p><p>por si só, não aumentou a quantidade de</p><p>satisfação dos modernos, nem os tornou</p><p>mais felizes por não ser nem a única pré-</p><p>condição da felicidade humana, nem o único</p><p>objetivo do esforço cultural. [...] A Revolução</p><p>Industrial e o progresso tecnológico, o</p><p>progresso quantitativo (técnico)</p><p>desacompanhado do progresso qualitativo</p><p>(humanitário), não tornaram o homem mais</p><p>feliz. Esse progresso não diminuiu nosso mal-</p><p>estar e essa frustração cultural e fará</p><p>exigências severas à nossa obra científica e</p><p>nos alerta que, se todas essas perdas não</p><p>forem compensadas, sérios distúrbios</p><p>podem surgir.</p><p>(Freud, 2011, p. 118)</p><p>O avanço técnico e o desenvolvimento industrial, que a ilustração</p><p>monumentalizou como molas propulsoras do desenvolvimento humano,</p><p>foram considerados por Freud incapazes de cumprir sua promessa.</p><p>Ecoando Schopenhauer, Freud denuncia que a</p><p>Revolução Industrial não tornou a humanidade mais</p><p>feliz; pelo contrário, fomentou frustração e mal-estar. A</p><p>civilização industrial aprimorou as práticas de controle</p><p>do pensamento e do desejo, transformando o superego</p><p>em uma potência ainda mais censora e geradora de</p><p>neuroses.</p><p>Freud explorou os desdobramentos psicanalíticos da frustração com as</p><p>promessas emancipatórias do Iluminismo anteriormente no livro</p><p>sugestivamente intitulado O Futuro de uma Ilusão, de 1927. Veja!</p><p>Na modernidade, teria havido um</p><p>recrudescimento tanto das medidas</p><p>repressoras contra a sexualidade polimorfa</p><p>proscrita e até repudiada quanto das</p><p>restrições até para a sexualidade genital</p><p>heterossexual, apenas tolerada e confinada</p><p>ao casamento monogâmico. Essa super-</p><p>repressão sexual gerou neurose, revolta e</p><p>hipocrisia. A culpa</p><p>é o mais importante</p><p>problema no desenvolvimento da civilização,</p><p>na medida em que um superego muito rígido</p><p>produzirá revolta, neurose ou infelicidade. A</p><p>troca de “uma parcela de suas possibilidades</p><p>de felicidade por uma parcela de segurança,</p><p>realizada pelo “homem civilizado” em geral,</p><p>tornou-se ainda mais problemática e dolorosa</p><p>na modernidade porque o sofrimento do</p><p>sujeito moderno provavelmente poderia ser</p><p>evitado.</p><p>(Freud, 1974, p. 125)</p><p>Para Freud, a culpa, resultado da superação do superego, a potência</p><p>racional/moral, cuja função é reprimir os desejos primários, pré-</p><p>racionais, é uma consequência da vida social. Desde os primórdios da</p><p>organização social dos primeiros homens, o superego começou a</p><p>desempenhar seu papel, atuando como uma espécie de polícia</p><p>internalizada, impedindo que as pessoas expressem livremente seus</p><p>desejos, o que inviabilizaria a vida em sociedade. O superego, em Freud,</p><p>equivale à razão, concebida como consciência. Com o desenvolvimento</p><p>das sociedades modernas de massa, a moral tornou-se um tribunal</p><p>ainda mais poderoso e vigilante.</p><p>Para a tradição racionalista, que tem suas raízes na antiguidade grega, a</p><p>razão é a essência da natureza humana. Já para a modernidade</p><p>cartesiana/iluminista, a razão é tanto a natureza humana quanto uma</p><p>vocação para o progresso e a felicidade. Porém, para Freud, a razão é</p><p>uma invenção da civilização e, além disso, é o preço a ser pago por ela</p><p>– um fardo pesado e a causa principal das doenças mentais.</p><p>A imagem do homem moderno traçada por Freud difere</p><p>consideravelmente daquela idealizada pela imaginação iluminista. Em</p><p>vez de ser um ser emancipado, ele é retratado como melancólico e</p><p>angustiado, carregando o peso de uma racionalidade que, em vez de</p><p>libertadora, é opressiva e controladora. No entanto, Freud não descarta</p><p>completamente a ideia de emancipação pela razão, evitando um</p><p>niilismo radical. Seu objetivo era transformar a psicanálise em uma</p><p>ciência natural.</p><p>O sujeito moderno freudiano, angustiado, tem uma</p><p>oportunidade de libertação: na terapia, na intervenção</p><p>psicanalítica, na qual o médico auxilia o paciente a</p><p>conscientizar-se do que foi reprimido, a iluminar o que</p><p>estava perdido nas sombras do id, no mundo do</p><p>inconsciente. A felicidade possível, para Freud, é a</p><p>libertação terapêutica, que difere significativamente da</p><p>utopia coletiva propagada pelo pensamento iluminista.</p><p>A segunda metade do século XX transformou a dúvida metodológica e a</p><p>descrença com as promessas da ilustração no fundamento da filosofia</p><p>contemporânea. Isso não quer dizer exatamente que o idealismo</p><p>alemão tenha influenciado a contemporaneidade, mas que a história do</p><p>século XX confirmou o ceticismo e as dúvidas que os idealismos</p><p>alemães colocaram na modernidade lá no século XVIII.</p><p>Vários autores, não exatamente tributários do idealismo alemão,</p><p>produziram um pensamento cético e crítico à imaginação iluminista. De</p><p>Ludwig Wittgenstein a Jean-Paul Sartre, passando pela Escola de</p><p>Frankfurt, várias correntes de pensamento apontaram para a falência</p><p>das promessas iluministas e delinearam um ambiente intelectual</p><p>marcado pela dúvida e pela desconfiança.</p><p>Esse cenário é exemplificado pelo movimento filosófico conhecido</p><p>como Existencialismo, no qual Sartre é uma figura proeminente.</p><p>Estamos vivendo a era do declínio das metanarrativas universalizantes,</p><p>como afirmou François Lyotard (2009). O termo comumente utilizado</p><p>para descrever esse período é pós-modernidade.</p><p>A herança do idealismo</p><p>alemão</p><p>Neste vídeo, falaremos sobre como o idealismo alemão persistiu ao</p><p>longo do século XX, destacando como Sigmund Freud, fundador da</p><p>psicanálise, desempenhou um papel fundamental nesse processo.</p><p>Confira!</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p></p><p>Questão 1</p><p>A literatura de Kafka foi inspirada pelo ambiente do idealismo</p><p>alemão pós-kantiano. Assinale a alternativa que melhor define essa</p><p>inspiração.</p><p>Parabéns! A alternativa D está correta.</p><p>O ambiente cético e melancólico característico do idealismo</p><p>alemão foi alegorizado na literatura kafkaniana. Kafka faz um</p><p>trabalho alegórico, literário, sem o compromisso de constituir um</p><p>tratado filosófico. O que percebemos é como se constitui o campo</p><p>A</p><p>Escrevendo na primeira metade do século XX, Kafka</p><p>alegorizou a euforia moderna com o progresso</p><p>científico, apropriando-se, portanto, do otimismo</p><p>racionalista característico do idealismo alemão.</p><p>B</p><p>Escrevendo na primeira metade do século XX, Kafka</p><p>alegorizou o nacionalismo alemão, apropriando-se,</p><p>portanto, do conceito de “grande pátria”</p><p>desenvolvido pelo idealismo alemão.</p><p>C</p><p>Escrevendo na primeira metade do século XX, Kafka</p><p>alegorizou a política revolucionária iluminista,</p><p>apropriando-se, portanto, do conceito de monarquia</p><p>absolutista desenvolvido pelo idealismo alemão.</p><p>D</p><p>Escrevendo na primeira metade do século XX, Kafka</p><p>alegorizou o ceticismo do idealismo alemão com as</p><p>promessas emancipatórias feitas pela modernidade</p><p>artesiana/iluminista.</p><p>E</p><p>Escrevendo na primeira metade do século XX, Kafka</p><p>alegorizou o caráter otimista do idealismo alemão</p><p>acerca do conhecimento da verdade, e propôs,</p><p>assim, uma literatura que visava tornar-se um novo</p><p>tratado filosófico.</p><p>intelectual, como o que é produzido na história influencia a</p><p>pedagogia, como a filosofia dialoga com literatura e permite</p><p>representações singulares do que fora debatido.</p><p>Questão 2</p><p>A obra de Freud apresenta um projeto ontológico distinto daquele</p><p>apresentado pela modernidade cartesiana/iluminista. Assinale,</p><p>entre as alternativas a seguir, aquela que melhor define as</p><p>diferenças entre esses dois projetos.</p><p>A</p><p>A ontologia iluminista/cartesiana define o homem</p><p>como homo faber, como se o trabalhado fosse o</p><p>elemento definidor da natureza humana, enquanto</p><p>Freud define como homo sapiens, que traz a razão</p><p>para o centro da ontologia.</p><p>B</p><p>A ontologia iluminista/cartesiana definiu o homem</p><p>como um ser movido por desejos irracionais,</p><p>enquanto Freud definiu como homo sapiens,</p><p>trazendo a razão para o centro da ontologia.</p><p>C</p><p>A ontologia iluminista/cartesiana definiu o homem</p><p>como homo sapiens, como se a razão fosse o</p><p>elemento definidor da natureza humana, enquanto</p><p>Freud define-o a partir das pulsões desejosas pré-</p><p>racionais.</p><p>D</p><p>A ontologia iluminista/cartesiana definiu o homem a</p><p>partir dos desejos pré-racionais, enquanto Freud</p><p>definiu como homo sapiens, trazendo a razão para o</p><p>centro da ontologia.</p><p>E</p><p>A ontologia iluminista/cartesiana definiu o homem</p><p>um ser contraditório, incapaz de conseguir conciliar-</p><p>se com a busca da verdade. E é neste ponto que</p><p>Freud apresenta um contraponto, buscando definir o</p><p>homem a partir de uma racionalidade objetiva.</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>Freud contrariou a tradição racionalista ao não definir o humano a</p><p>partir de uma consciência racional elementar, mas a partir de</p><p>pulsões desejantes. Considerado o pai da psicanálise, em seu</p><p>livro O mal-estar na civilização, Freud acaba por provocar uma</p><p>ruptura da estrutura do pensamento estruturalista – seja em</p><p>concepções tradicionais, como família, propriedade, seja em</p><p>concepções revolucionárias. Quando nos concentramos enquanto</p><p>indivíduo, temos um vazio inconciliável.</p><p>Considerações �nais</p><p>Estudamos um dos mais importantes capítulos da história da filosofia</p><p>moderna de uma perspectiva um tanto diferente da usual, mais</p><p>interessada na concretude das ideias do que na resenha de filósofos</p><p>eruditos e herméticos. Aprendemos que aquilo que chamamos de</p><p>modernidade foi, antes de qualquer coisa, um ambicioso projeto de</p><p>futuro, prometendo felicidade e redenção para a humanidade através do</p><p>desenvolvimento tecnológico e científico. A razão, portanto, seria, ao</p><p>mesmo tempo, intrínseca aos humanos e o motor do progresso e da</p><p>felicidade. Já no século XVIII, algumas vozes começaram a desconfiar</p><p>dessa promessa, sem necessariamente negá-la por completo.</p><p>O idealismo alemão foi o resultado dessa desconfiança. Conforme o</p><p>tempo passava e o século XX avançava,</p><p>a realidade histórica solapava</p><p>ainda mais a promessa iluminista, fertilizando o terreno para o</p><p>fortalecimento da melancolia e da desconfiança, também presentes no</p><p>idealismo alemão.</p><p>Seria um exagero dizer que foi "o idealismo alemão" que veio do século</p><p>XVIII para influenciar a segunda metade do século XX e o início do</p><p>século XXI, como se a filosofia contemporânea fosse uma tábula rasa a</p><p>ser simplesmente influenciada. Mais apropriado seria afirmar que a</p><p>realidade histórica contemporânea fortaleceu os sentimentos de</p><p>desesperança e dúvida, levando o pensamento contemporâneo, de</p><p>forma ativa, a buscar soluções no repertório disponível. Entre as</p><p>diversas tradições de pensamento disponíveis, o idealismo alemão</p><p>ressoa com a atmosfera contemporânea, o que nos ajuda a entender</p><p>sua importância em nossos dias.</p><p>Neste vídeo, você revisitará os principais aspectos do Idealismo Alemão,</p><p>no contexto da filosofia moderna (séculos XVI ao XVIII) e da filosofia</p><p>contemporânea (séculos XIX e XX), com ênfase nos seus principais</p><p>pensadores. Não deixe de conferir!</p><p>Explore +</p><p>Para se aprofundar no conceito de ceticismo de Hume, leia o artigo O</p><p>ceticismo esquecido de David Hume: antídoto ao fanatismo. Disponível</p><p>no site do Estadão.</p><p>Para conhecer mais sobre Franz Kafka, leia os artigos disponíveis no</p><p>site da revista Cult.</p><p>Conheça mais sobre Sigmund Freud assistindo ao vídeo Sigmund Freud</p><p>— Unidiversidade — Canal Saúde. Disponível no Canal Saúde Oficial,</p><p>canal da Fiocruz no Youtube.</p><p>Para construir sua própria relação com os autores abordados,</p><p>indicamos a leitura das obras:</p><p>Assim falava Zaratustra, de Friedrich Nietzsche.</p><p>A metamorfose, de Franz Kafka.</p><p>O mal-estar na civilização, de Sigmund Freud.</p><p>O lobo da estepe, de Hermann Hesse.</p><p>Referências</p><p>BONACCINI, J. A. Nietzsche e o idealismo alemão. Cadernos Nietzsche</p><p>28, 2011. Consultado na internet em: 6 mar. 2019.</p><p>CASSIRER, E. A filosofia do Iluminismo. Campinas: Unicamp, 1997.</p><p>COELHO, H. S. O monismo complexificado de Schelling. In: Cadernos de</p><p>Filosofia Alemã, 2018. Consultado na internet em: 29 jun. 2020.</p><p>COLLARES, R. L. A digestão do idealismo alemão pelo pensamento de</p><p>Nietzsche. Estudos Nietzsche, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 49-64, jan./jun. 2012.</p><p>Consultado na internet em: 29 jun. 2020.</p><p>CONDORCET, A. O progresso do espírito humano. In: GARDNER, Patrick.</p><p>Teorias da História. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995.</p><p>DUDLEY, W. O idealismo alemão. Petrópolis: Vozes, 2007.</p><p>FREUD, S. O futuro de uma ilusão. São Paulo: Imago Ed, 1974.</p><p>FREUD, S. A doutrina da ciência. São Paulo: 34, 2010.</p><p>FOGELIN, R. A tendência do ceticismo de Hume. Sképsis. Ano 1, vol. 1,</p><p>2007. Consultado na internet em: 29 jun. 2020.</p><p>GUMBRECHT, H. U. Modernização dos sentidos. São Paulo: Estação</p><p>Liberdade, 2010.</p><p>HEGEL, G. Fenomenologia do espírito. São Paulo: Estação Liberdade,</p><p>2010.</p><p>HUME, D. Diálogos. São Paulo: 34, 2013.</p><p>KANT, I. Os prolegômenos a toda metafísica futura. São Paulo: Estação</p><p>Liberdade, 2012.</p><p>KANT, I. Crítica à Razão Pura. São Paulo: Estação Liberdade, 2011.</p><p>KANT, I. Metafísica dos costumes. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.</p><p>KERVERGAN, J. O Estado de direito no idealismo alemão: Kant, Fichte,</p><p>Hegel. Doispontos. Curitiba, São Carlos, vol. 4, n. 1, p. 107-135, abril,</p><p>2007. Consultado na internet em: 29 jun. 2020.</p><p>LYOTARD, F. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio,</p><p>2009.</p><p>MONTEIRO, J. P. Kant leitor de Hume ou o “bastardo da imaginação”.</p><p>Revista USP, vol. 1, n. 1, 1993. Publicado em: 9 jun. 1983.</p><p>NIETZSCHE, F. Além do bem e do mal. Rio de Janeiro: Companhia das</p><p>Letras, 2006.</p><p>NIETZSCHE, F. Vontade de poder. Rio de Janeiro: Companhia das Letras,</p><p>2005.</p><p>ROCHAMONTE, C. Metafísica e moralidade em Schopenhauer e Kant.</p><p>Argumentos Revista de Filosofia, Fortaleza, v. 2, n. 3, p. 136-140, 2010.</p><p>Consultado na internet em: 29 jun. 2020.</p><p>ROCKMORE, T. Através do espelho kantiano: as observações sobre</p><p>Fichte e o idealismo alemão. Revista de Estud(i)os sobre Fichte, 6. 2013.</p><p>Consultado na internet em: 29 jun. 2020.</p><p>ROYCE, J. Lectures on Modern Idealism. New Haven: Yale University</p><p>Press 1967.</p><p>SCHELLING, F. Ideias para uma filosofia da natureza. Centro de Filosofia</p><p>da Universidade de Lisboa, 2010.</p><p>SCHELLING, F. Da alma e do mundo. São Paulo: Clandestina, 2010.</p><p>SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação. Rio de</p><p>Janeiro: Contraponto, 2007.</p><p>WAGENBACH, K. A Praga de Franz Kafka. Lisboa: Fenda Edições, 2001.</p><p>Material para download</p><p>Clique no botão abaixo para fazer o download do</p><p>conteúdo completo em formato PDF.</p><p>Download material</p><p>O que você achou do conteúdo?</p><p>Relatar problema</p><p>javascript:CriaPDF()</p>