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<p>Direito Administrativo</p><p>e Constitucional</p><p>Créditos</p><p>Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância</p><p>Diretor Regional</p><p>Luiz Francisco de Assis Salgado</p><p>Superintendente Universitário</p><p>e de Desenvolvimento</p><p>Luiz Carlos Dourado</p><p>Reitor</p><p>Sidney Zaganin Latorre</p><p>Diretor de Graduação</p><p>Eduardo Mazzaferro Ehlers</p><p>Diretor de Pós-Graduação e Extensão</p><p>Daniel Garcia Correa</p><p>Gerentes de Desenvolvimento</p><p>Claudio Luiz de Souza Silva</p><p>Luciana Bon Duarte</p><p>Roland Anton Zottele</p><p>Sandra Regina Mattos Abreu de Freitas</p><p>Coordenadora de Desenvolvimento</p><p>Tecnologias Aplicadas à Educação</p><p>Regina Helena Ribeiro</p><p>Coordenador de Operação</p><p>Educação a Distância</p><p>Alcir Vilela Junior</p><p>Professor Autor</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Revisor Técnico</p><p>Elci Maria Camargo dos Santos</p><p>Técnico de Desenvolvimento</p><p>Elizabeth Ribeiro</p><p>Coordenadoras Pedagógicas</p><p>Ariádiny Carolina Brasileiro Silva</p><p>Izabella Saadi Cerutti Leal Reis</p><p>Nivia Pereira Maseri de Moraes</p><p>Otacília da Paz Pereira</p><p>Equipe de Design Educacional</p><p>Alexsandra Cristiane Santos da Silva</p><p>Ana Claudia Neif Sanches Yasuraoka</p><p>Angélica Lúcia Kanô</p><p>Anny Frida Silva Paula</p><p>Cristina Yurie Takahashi</p><p>Diogo Maxwell Santos Felizardo</p><p>Flaviana Neri</p><p>Francisco Shoiti Tanaka</p><p>Gizele Laranjeira de Oliveira Sepulvida</p><p>Hágara Rosa da Cunha Araújo</p><p>Janandrea Nelci do Espirito Santo</p><p>Jackeline Duarte Kodaira</p><p>João Francisco Correia de Souza</p><p>Juliana Quitério Lopez Salvaia</p><p>Jussara Cristina Cubbo</p><p>Kamila Harumi Sakurai Simões</p><p>Katya Martinez Almeida</p><p>Lilian Brito Santos</p><p>Luciana Marcheze Miguel</p><p>Mariana Valeria Gulin Melcon</p><p>Mônica Maria Penalber de Menezes</p><p>Mônica Rodrigues dos Santos</p><p>Nathália Barros de Souza Santos</p><p>Rivia Lima Garcia</p><p>Sueli Brianezi Carvalho</p><p>Thiago Martins Navarro</p><p>Wallace Roberto Bernardo</p><p>Equipe de Qualidade</p><p>Ana Paula Pigossi Papalia</p><p>Josivaldo Petronilo da Silva</p><p>Katia Aparecida Nascimento Passos</p><p>Coordenador Multimídia e Audiovisual</p><p>Ricardo Regis Untem</p><p>Equipe de Design Audiovisual</p><p>Adriana Mitsue Matsuda</p><p>Caio Souza Santos</p><p>Camila Lazaresko Madrid</p><p>Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo</p><p>Christian Ratajczyk Puig</p><p>Danilo Dos Santos Netto</p><p>Hugo Naoto Takizawa Ferreira</p><p>Inácio de Assis Bento Nehme</p><p>Karina de Morais Vaz Bonna</p><p>Marcela Burgarelli Corrente</p><p>Marcio Rodrigo dos Reis</p><p>Renan Ferreira Alves</p><p>Renata Mendes Ribeiro</p><p>Thalita de Cassia Mendasoli Gavetti</p><p>Thamires Lopes de Castro</p><p>Vandré Luiz dos Santos</p><p>Victor Giriotas Marçon</p><p>William Mordoch</p><p>Equipe de Design Multimídia</p><p>Alexandre Lemes da Silva</p><p>Cristiane Marinho de Souza</p><p>Emília Correa Abreu</p><p>Fernando Eduardo Castro da Silva</p><p>Mayra Aoki Aniya</p><p>Michel Iuiti Navarro Moreno</p><p>Renan Carlos Nunes De Souza</p><p>Rodrigo Benites Gonçalves da Silva</p><p>Wagner Ferri</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 01</p><p>O ordenamento jurídico brasileiro e a Constituição</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender quais fatores históricos nos levam ao conceito de Constituição</p><p>na atualidade.</p><p>• Aprender o sentido etimológico da palavra.</p><p>• Compreender a Constituição enquanto norma e como instrumento político.</p><p>• Compreender a origem do Poder Constituinte originário.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 O que é uma Constituição?</p><p>2 Elementos de constituição de um Estado</p><p>3 Objeto da Constituição</p><p>4 Classificações</p><p>5 O Constitucionalismo</p><p>6 Qual a importância da Constituição?</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>Introdução</p><p>O assunto a ser apresentado nesta aula trata do início do estudo do Direito Constitucional,</p><p>tanto no Brasil como no mundo. Partindo-se do questionamento do que é uma constituição,</p><p>estudaremos o conceito da palavra, as principais concepções de constituição existentes, os</p><p>elementos para a constituição de um Estado e o objeto (conteúdo) que deve ser inserido na</p><p>constituição a ser formada. Realizaremos também a classificação das constituições das mais</p><p>variadas formas.</p><p>Com essas primeiras definições, será possível entender as bases do movimento</p><p>constitucionalista mundial que culminou na própria constituição brasileira.</p><p>Poderemos compreender também, a partir do conceito, a importância da constituição</p><p>para a formação de uma nova nação, através da visão dos estudiosos do Direito Constitucional,</p><p>próximo tema a ser estudado.</p><p>Desejo a você um bom estudo.</p><p>1 O que é uma Constituição?</p><p>1.1 Conceito de Constituição</p><p>Primeiramente, a palavra constituição, em sentido amplo, não diz respeito somente à</p><p>disciplina de Direito Constitucional, pois significa constituir, organizar, firmar algo ou mesmo</p><p>organizar um grupo de pessoas, formando um organismo.</p><p>Devemos, porém, entender a palavra “constituição” em seu sentido jurídico. Neste</p><p>sentido, a Constituição é a norma fundamental de um Estado, é a lei suprema que define as</p><p>bases de uma nova nação. Na Constituição, portanto, devem existir princípios que compõem</p><p>a estrutura do Estado, a formação do Poder Público, a forma de governo, além dos direitos,</p><p>garantias e deveres dos cidadãos nacionais.</p><p>A Constituição é que estabelecerá a divisão dos Poderes do Estado, indicando quais serão</p><p>os órgãos de Poder e que terão a incumbência, inclusive, de criar novas normas.</p><p>Determinadas as primeiras linhas do conceito de Constituição, os doutrinadores separam</p><p>três principais concepções para definir juridicamente a palavra “Constituição”.</p><p>1.1.1 Constituição em sentido político</p><p>O principal expoente que trata da acepção política da Constituição é Carl Schmitt.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>Este renomado autor distingue a Constituição da chamada “lei constitucional”. A respeito</p><p>da Constituição, refere-se que esta é a decisão política fundamental que estrutura e organiza</p><p>o Estado, apresenta os direitos e deveres individuais e os princípios basilares (SCHMITT apud</p><p>LENZA, 2012, p. 17).</p><p>Por outro lado, as “leis constitucionais” seriam regras inseridas no documento</p><p>“Constituição” sem conter qualquer matéria relevante para a formação e organização do</p><p>Estado. Portanto, não teriam cunho político profundo, fundamental.</p><p>1.1.2 Constituição em sentido sociológico</p><p>Para Ferdinand de Lassale, a Constituição na concepção sociológica somente é legítima</p><p>quando representa a soma dos fatores reais de poder dentro de uma sociedade. É dizer,</p><p>somente será Constituição aquele documento que refletir o poder social; caso contrário, será</p><p>uma mera folha de papel (LASSALE apud LENZA, 2012, p. 17).</p><p>1.1.3 Constituição em sentido jurídico</p><p>Podemos verificar a concepção de Constituição proposta por Hans Kelsen.</p><p>O autor afirma que a Constituição deve apresentar a forma do “dever ser”, ou seja, fruto</p><p>da vontade racional do homem que a conduz. Entende que a Constituição não deve apenas</p><p>“ser” fruto das vontades das leis da natureza, sem o domínio humano (KELSEN apud LENZA,</p><p>2012, p. 19).</p><p>Com esse pensamento, escalonam-se, portanto, as normas jurídicas, uma constituindo o</p><p>fundamento de validade da outra, em uma legítima verticalização de hierarquias normativas,</p><p>como uma pirâmide, em que o topo é a Constituição e as demais normas formam os</p><p>escalonamentos abaixo, cada uma retirando, do nível imediatamente acima, seus fundamentos</p><p>de validade.</p><p>Como exemplo, temos o topo da pirâmide como a Constituição de uma nação. Na parte</p><p>intermediária da pirâmide estão as normas infraconstitucionais, isto é, as leis; e na base da</p><p>pirâmide estão os regulamentos e demais atos infralegais.</p><p>2 Elementos de constituição de um Estado</p><p>Para a formação de um Estado-nação, deve-se obrigatoriamente possuir quatro</p><p>elementos, que, sem os quais, não há formação, constituição, daquilo que se denomina</p><p>comumente de país.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>Figura 1 – Elementos para a formação de um Estado-nação</p><p>Povo</p><p>Território</p><p>Poder</p><p>Soberano</p><p>Finalidade</p><p>• O primeiro elemento necessário é o povo. Todo Estado deve ter seus nacionais,</p><p>ligados entre si jurídica, política ou socialmente.</p><p>•</p><p>o Legislativo é formado por somente uma casa</p><p>(sistema unicameral), as Assembleias Legislativas (nos estados) e as Câmaras Municipais (nos</p><p>municípios). No Distrito Federal o Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>2.1 Câmara dos Deputados</p><p>A Câmara dos Deputados é composta por representantes do povo, eleitos pelo sistema</p><p>proporcional, sendo que para cada Estado-membro é garantido o mínimo de oito e o máximo</p><p>de 70 Deputados Federais. O sistema proporcional consagra a representação de cada partido</p><p>proporcionalmente ao número de votos obtido nas eleições. No tocante ao número de</p><p>Deputados por Estado e pelo Distrito Federal, a representação é fixada por Lei Complementar,</p><p>proporcionalmente às populações. O mandato dos Deputados Federais é de quatro anos. A</p><p>Lei Complementar nº 78/93 estabelece o número máximo de 513 Deputados, cabendo ao</p><p>IBGE, no ano anterior às eleições, proceder às atualizações estatísticas populacionais dos</p><p>Estados, para que o Tribunal Superior Eleitoral possa fixar o número de vagas correspondente</p><p>a cada Estado e ao Distrito Federal (BRASIL, 1993). Atualmente, o número de representantes</p><p>de cada Estado-membro é o seguinte:</p><p>Tabela 1 – Número de representantes de cada Estado-membro</p><p>Acre 8 Alagoas 9 Amazonas 8</p><p>Amapá 8 Bahia 39 Ceará 22</p><p>Distrito Federal 8 Espírito Santo 10 Goiás 17</p><p>Maranhão 18 Minas Gerais 53 Mato Grosso do Sul 8</p><p>Mato Grosso 8 Pará 17 Paraíba 12</p><p>Pernambuco 25 Piauí 10 Paraná 30</p><p>Rio de Janeiro 46 Rio Grande do Norte 8 Rondônia 8</p><p>Roraima 8 Rio Grande do Sul 31 Santa Catarina 16</p><p>Sergipe 8 São Paulo 70 Tocantins 8</p><p>2.2 Senado Federal</p><p>O Senado Federal é composto por três representantes por cada Estado e pelo Distrito</p><p>Federal. Os Senadores são eleitos pelo sistema majoritário (maior número de votos). Os</p><p>mandatos são de oito anos, elegendo-se dois suplentes. A renovação dos cargos ocorre de</p><p>forma alternada, de quatro em quatro anos, por um terço e dois terços. Quando se dá por</p><p>dois terços, os eleitores escolhem dois candidatos. O número total de Senadores é de 81.</p><p>2.3 Principais atribuições do Congresso Nacional</p><p>• Legislativa: a principal função do Poder Legislativo é a elaboração das leis. No caso</p><p>do Congresso, sua atribuição se dá em âmbito federal, compreendendo as matérias</p><p>legislativas de interesse da União. O processo legislativo compreende a elaboração</p><p>de: Emendas à Constituição; Leis Complementares; Leis Ordinárias; Leis Delegadas;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>Medidas Provisórias; Decretos Legislativos e Resoluções.</p><p>• Fiscalização e controle: é atribuição do Congresso Nacional fiscalizar e controlar os</p><p>atos do Poder Executivo (conforme o art. 49, X, da Constituição). Essa fiscalização pode</p><p>ocorrer de diversas formas, como: a) No caso do art. 50, parágrafo 2º, da Constituição</p><p>de 1988, em que as Mesas da Câmara e do Senado pedem, por escrito, informações</p><p>aos Ministros de Estados; b) No caso do art. 50, parágrafo 1º, da Constituição, em que</p><p>o Senado e a Câmara convocam Ministros de Estado para prestar informações; c) Nas</p><p>instaurações de Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs), art. 58, parágrafo 3º;</p><p>d) Com o controle externo dos recursos públicos, com o auxílio do Tribunal de Contas</p><p>da União (art. 71 da Constituição).</p><p>• Julgamento dos crimes de responsabilidade: conforme o art. 52, inciso I, da</p><p>Constituição, cabe, privativamente, ao Senado Federal processar e julgar o Presidente</p><p>da República e o vice, nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de</p><p>Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os Ministros do</p><p>Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho</p><p>Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral</p><p>da União. À Câmara dos Deputados, compete, privativamente, autorizar, por dois</p><p>terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-</p><p>Presidente da República e os Ministros de Estado (art. 51, I, da Constituição).</p><p>3 Poder Executivo</p><p>A função típica do Poder Executivo é administrar e implementar as políticas públicas</p><p>do Estado, sempre de acordo com a legislação criada pelo Poder Legislativo. Dentre as</p><p>funções administrativas, encontram-se as de comandar a atividade econômica, implementar</p><p>as necessárias obras de infraestrutura, as atividades de assistência social, dentre inúmeras</p><p>outras (saúde, previdência, seguridade social, segurança pública etc.).</p><p>Conforme a doutrina de Moraes (2006, p. 430):</p><p>O Poder Executivo constitui órgão constitucional cuja função precípua é a prática dos</p><p>atos de chefia de estado, de governo e de administração. A chefia do Poder Executivo</p><p>foi confiada pela Constituição Federal ao Presidente da República, a quem compete</p><p>seu exercício, auxiliado pelos Ministros de Estado [...].</p><p>No Brasil, vigora o presidencialismo como sistema de governo, sendo que o chefe do</p><p>Poder Executivo acumula dupla função: de Chefe de Estado, compreendendo a representação</p><p>externa e interna do Estado, e de Chefe de Governo, competindo-lhe dirigir as políticas e</p><p>administrar a máquina pública. O Chefe do Executivo é eleito pelo sistema de maioria absoluta</p><p>(art. 77 e seguintes, da Constituição Federal), com mandato fixo de quatro anos (art. 82, CF),</p><p>podendo haver reeleição uma única vez (CF, art. 14, § 5º). A eleição por maioria absoluta</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>pode compreender a realização de dois turnos de votação. Se um dos candidatos obtiver,</p><p>no primeiro turno, mais da metade dos votos, sem contar os votos brancos e nulos, será</p><p>considerado eleito para o cargo de Chefe do Executivo.</p><p>Na esfera federal, o Chefe do Executivo é o Presidente da República, sendo que nas</p><p>esferas estaduais e municipais o Chefe do Executivo é o Governador do Estado e Prefeito</p><p>Municipal, respectivamente. No Distrito Federal, a chefia do Executivo cabe ao Governador</p><p>Distrital. As atribuições do Presidente da República estão elencadas no art. 84 da Constituição</p><p>Federal.</p><p>Poder regulamentar: dentre as atribuições do Presidente da República (igualmente para</p><p>os Governadores e Prefeitos), está a de expedir decretos e regulamentos para a fiel execução</p><p>das leis (art. 84, IV, última parte, da CF).</p><p>Linha de sucessão: sucede o Presidente da República, nas suas ausências e impedimentos,</p><p>o Vice-Presidente. Em caso do impedimento de ambos ou de vacância dos cargos, a Constituição</p><p>estabelece que a Presidência caberá, em ordem, ao Presidente da Câmara dos Deputados,</p><p>ao Presidente do Senado Federal e ao Presidente do Supremo Tribunal Federal (art. 80). Nos</p><p>estados, deve-se adotar ordem semelhante, seguindo-se ao Governador do Estado, o Vice-</p><p>Governador, o Presidente da Assembleia Legislativa e o Presidente do Tribunal de Justiça. No</p><p>caso dos municípios, ressalvada disposição distinta na Lei Orgânica que rege cada Município,</p><p>ausente o Prefeito e o Vice, caberá ao presidente da Câmara de Vereadores assumir o cargo.</p><p>Crimes de responsabilidade e o processo de “impeachment”: crimes de responsabilidade</p><p>são infrações político-administrativas cometidas pelo Presidente da República e outras</p><p>autoridades. São punidas com a perda do cargo e a inabilitação para o exercício da função</p><p>pública. As hipóteses de crimes de responsabilidade do Presidente da República estão</p><p>enumeradas no art. 85 da Constituição, sendo o rol meramente exemplificativo. Prevalece</p><p>na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal o entendimento de que os crimes de</p><p>responsabilidade possuem natureza jurídica criminal e, nos termos da Súmula 722 do STF,</p><p>a competência para definição dos crimes de responsabilidade e para editar normas de seu</p><p>procedimento é da União. A Lei nº 1.079/50 regula o procedimento para julgamento dos</p><p>crimes de responsabilidade cometidos pelo Presidente, pelo Vice, pelos Ministros de Estado</p><p>e do Supremo Tribunal Federal e pelo Procurador-Geral da República. A Constituição prevê</p><p>como sanções a perda do cargo e, cumulativamente, inabilitação, por oito anos, para exercício</p><p>de função pública.</p><p>Prerrogativas do Presidente da República: enquanto estiver no mandato, o Presidente da</p><p>República não poderá ser preso antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória</p><p>(art. 86, § 3º, da CF), nem poderá ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de</p><p>suas funções (art. 86, § 4º). Somente será processado no Supremo Tribunal Federal (art. 102,</p><p>I, “b”) por crimes comuns, mediante licença dos Deputados, com quórum de dois terços dos</p><p>votos (art. 51, I, da CF). A Lei 8.038/90 regulamenta o procedimento da ação penal, por crime</p><p>comum, cometido pelo Presidente da República. Em caso de condenação, perderá o cargo e</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>seus direitos políticos, conforme o art. 15, III, da Constituição.</p><p>4 Poder Judiciário</p><p>Ao Poder Judiciário compete a função típica de julgar os conflitos de interesses, aplicando</p><p>a lei aos casos concretos que lhe são submetidos pelas partes conflitantes.</p><p>No Brasil, vigora o sistema de jurisdição única. Significa dizer que todos podem recorrer</p><p>ao Judiciário para que este assegure a aplicação da lei ao caso concreto, não podendo a lei</p><p>mitigar esse direito. Diz o art. 5º, inciso XXXV, da Constituição: “A lei não excluirá da apreciação</p><p>do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988).</p><p>Vale citar outro importante princípio relativo à função jurisdicional, inscrito no art. 5º,</p><p>inciso LIV: é o Princípio do Devido Processo Legal. Diz o dispositivo: “Ninguém será privado de</p><p>sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (BRASIL, 1988).</p><p>Significa dizer que a prestação jurisdicional deve ser prestada nos termos da lei,</p><p>assegurando-se aos litigantes todos os meios e recursos a garantir seus direitos. Desse</p><p>princípio decorrem outros importantes princípios, como os princípios do contraditório e</p><p>da ampla defesa (art. 5º, LIII): “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos</p><p>acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos</p><p>a ela inerentes” (BRASIL, 1988).</p><p>Investidura: a regra para o ingresso na carreira de membro do Poder Judiciário, seja</p><p>Federal ou Estadual, é a aprovação em concurso público de provas e títulos, com a participação</p><p>da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exigindo-se do bacharel em</p><p>Direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica, obedecendo-se, rigorosamente, a ordem</p><p>de classificação no certame (art. 93, I, da Constituição Federal). As promoções de magistrados</p><p>ocorrerão, alternadamente, observando-se os critérios de antiguidade e merecimento (art.</p><p>93, II, CF).</p><p>Os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores são nomeados</p><p>pelo Presidente da República, após sabatina pelo Senado Federal (conforme os artigos 52, III,</p><p>“a”, 84, XIV, 101, parágrafo único, 104, parágrafo único, 111-A e 123, todos da Constituição</p><p>Federal).</p><p>O artigo 94 da Constituição garante acesso a um quinto das vagas dos Tribunais da</p><p>seguinte maneira:</p><p>Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos</p><p>Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros do Ministério</p><p>Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e</p><p>de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados</p><p>em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao</p><p>Poder Executivo, que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus integrantes</p><p>para nomeação. (BRASIL, 1988).</p><p>Garantias e vedações aos membros do Poder Judiciário: constam do art. 95 da</p><p>Constituição:</p><p>Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:</p><p>I. vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício,</p><p>dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz</p><p>estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;</p><p>II. inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;</p><p>III. irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º,</p><p>150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de</p><p>1998)</p><p>Parágrafo único. Aos juízes é vedado:</p><p>I. exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de</p><p>magistério;</p><p>II. receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;</p><p>III. dedicar-se à atividade político-partidária.</p><p>IV. receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas,</p><p>entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; (Incluído</p><p>pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)</p><p>V. exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos</p><p>três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela</p><p>Emenda Constitucional nº 45, de 2004)</p><p>Supremo Tribunal Federal: é o órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro, suas</p><p>atribuições estão previstas nos arts. 101 a 103, da Constituição Federal. Ao STF, compete o</p><p>julgamento das questões constitucionais, assegurando a supremacia da Constituição no país,</p><p>dentre outras importantes funções. É composto por 11 Ministros, nomeados pelo Presidente</p><p>da República após sabatina pelo Senado Federal. São exigidos o mínimo de 35 anos de idade</p><p>para se exercer a função de Ministro, além de notável saber jurídico e reputação ilibada,</p><p>sendo que somente brasileiros natos podem integrar a respectiva corte de justiça.</p><p>Considerações finais</p><p>Você teve a oportunidade de aprender a respeito da separação dos Poderes, desde sua</p><p>origem histórica até a aplicação no Brasil.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>11</p><p>Para o regime republicano e democrático funcionar, é necessário separar os Poderes</p><p>Legislativo, Executivo e Judiciário, tal como é no nosso país.</p><p>A contribuição de Montesqueiu para a formação do Estado é vital, inclusive aplicável</p><p>atualmente em nossa formação. O Poder Legislativo é aquele responsável pela criação das</p><p>leis, inovação da ordem jurídica.</p><p>Por sua vez, o Poder Executivo, como foi visto, é o Poder responsável por administrar a</p><p>coisa pública. Por fim, o Poder Judiciário é o poder responsável por aplicar o direito ao caso</p><p>concreto, resolvendo o conflito surgido entre as partes.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível</p><p>em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso</p><p>em: 8 mar. 2015.</p><p>______. Lei complementar nº 78, de 30 de dezembro de 1993. Disciplina a fixação do número</p><p>de Deputados, nos termos do art. 45, § 1º, da Constituição Federal. Brasília: 1993. Disponível</p><p>em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp78.htm>. Acesso em: 28 ago. 2015.</p><p>______. Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950. Define os crimes de responsabilidade e regula o</p><p>respectivo processo de julgamento. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/</p><p>L1079.htm>. Acesso em: 28 ago. 2015.</p><p>______. Lei nº 8.038, de 28 de maio de 1990. Institui normas procedimentais para os processos</p><p>que especifica, perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal. Brasília:</p><p>1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8038.htm>. Acesso em: 28</p><p>ago. 2015.</p><p>MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2010.</p><p>MENDES, Gilma Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso</p><p>de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2014.</p><p>MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2006.</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 05</p><p>Divisão de competências entre os entes federativos na</p><p>Constituição de 1988.</p><p>- Executivo, Legislativo e Judiciário nos entes federativos.</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Analisar as competências exclusivas e concorrentes dos entes federativos.</p><p>Estudar a divisão de bens entre os entes federativos.</p><p>• Compreender as atribuições das competências administrativas dos entes</p><p>federativos.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Divisão de competências entre os entes federativos na Constituição Federal</p><p>de 1988</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>O Brasil é uma federação, formada pela união indissolúvel dos estados, dos municípios e</p><p>do Distrito Federal, constituindo-se em um Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput, da</p><p>Constituição Federal).</p><p>Tradicionalmente, os Estados podem se organizar adotando determinadas “formas”.</p><p>Podem os Estados ser “simples” ou “compostos”. Os Estados simples ou unitários são</p><p>formados por um único Estado-membro, em que existe apenas uma fonte de poder político,</p><p>centralizada. São exemplos: Itália, França, Uruguai e Portugal.</p><p>Os Estados compostos ou complexos são formados por mais de um Estado-membro,</p><p>como ocorre no Brasil, que, no caso, adotou a forma de federação. Na Federação, ocorre a</p><p>união entre dois ou mais Estados-membros (26 mais o Distrito Federal, no caso do Brasil)</p><p>para a formação de um novo Estado soberano, em que os Estados-membros conservam sua</p><p>autonomia política, transferindo a soberania ao poder central (União, no caso do Brasil). São</p><p>exemplos: Brasil, Argentina, Estados Unidos.</p><p>Nesse sentido, devemos estudar como é realizada a divisão de Poder, melhor chamada</p><p>de divisão de competências entre os entes da federação brasileira. Então, vamos aos estudos!</p><p>1 Divisão de competências entre os entes federativos na</p><p>Constituição Federal de 1988</p><p>1.1 Principais características do Estado Federal</p><p>Para que se possa compreender a repartição das competências no Brasil, é necessário</p><p>compreender, antes, sua forma de Estado Federado. A Federação possui as seguintes</p><p>características:</p><p>a. Descentralização política: como visto, em uma federação há uma união entre os</p><p>Estados-membros, os quais conservam sua autonomia, transferindo a soberania</p><p>ao poder central. Essa autonomia autoriza os Estados-membros a regerem-se por</p><p>constituições e leis próprias, observados os preceitos estabelecidos pela Constituição</p><p>Federal (art. 25 da Constituição Federal);</p><p>b. Constituição rígida como base jurídica: a Constituição Federal rege a distribuição</p><p>das competências, sendo que o seu mecanismo de alteração deve ser mais rígido do</p><p>que o de criação da legislação ordinária, sendo a forma federativa de Estado cláusula</p><p>imutável, a conferir maior estabilidade e segurança à federação;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>c. Inexistência de direito de secessão: não é permitido aos Estados-membros se</p><p>retirarem da federação;</p><p>d. Soberania do Estado Federal: a soberania é transferida ao poder central (União, no</p><p>Brasil), sendo que os Estados-membros conservam sua autonomia política, financeira</p><p>e administrativa.</p><p>A título de conhecimento, vale compreender que o Brasil adotou a república como</p><p>forma de governo. A república caracteriza-se pela eleição da Chefia do Estado, bem como,</p><p>pela temporariedade de seu mandato e responsabilidade por seus atos. Ao contrário do que</p><p>ocorre em uma monarquia, em que existe a hereditariedade do chefe de Estado, bem como,</p><p>sua vitaliciedade e irresponsabilidade por seus atos.</p><p>Quanto ao sistema de governo, o Brasil adotou o presidencialismo, em que os Poderes</p><p>Constituídos do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário) são independentes, sendo a Chefia</p><p>de Estado e de Governo reunidas na mesma pessoa, o Presidente da República (na órbita</p><p>Federal), o Governador do Estado (na órbita Estadual) e o Prefeito Municipal (no âmbito</p><p>Municipal). O Chefe de Estado e de Governo é eleito pelo povo, por seus representantes</p><p>também eleitos democraticamente, com mandato certo.</p><p>No sistema de governo do parlamentarismo, não há independência entre os Poderes e</p><p>sim, interdependência, sendo a Chefia de Estado e de Governo atribuídas a pessoas distintas,</p><p>com o Chefe de Governo dependendo do parlamento para continuar no poder, sem mandato.</p><p>É o exemplo típico da Monarquia Parlamentarista britânica, em que existe o Chefe de Estado</p><p>(no caso, a Rainha) e o Chefe de Governo (no caso, o Primeiro Ministro).</p><p>1.2 Repartição de competências</p><p>A autonomia dos Estados-membros de uma federação, como no caso do Brasil, pressupõe</p><p>a repartição de competências administrativas, políticas e legislativas. Essa repartição é feita</p><p>pela Constituição Federal e obedece à predominância dos interesses, princípio básico atinente</p><p>à matéria.</p><p>1.3 Princípio da predominância de interesses</p><p>É princípio básico que fundamenta a repartição de competências no Brasil. Esse princípio</p><p>fundamenta a atribuição, à União, da competência referente a assuntos de interesse geral e</p><p>nacional. Aos estados é reservada a atribuição da competência para assuntos de interesse</p><p>regional e aos municípios é atribuída competência legislativa, política e administrativa no que</p><p>se refere a assuntos de interesse local. Vale mencionar a doutrina de Moraes (2012, p. 270):</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>Pelo princípio da predominância do interesse, à União caberá aquelas matérias e</p><p>questões de predominância do interesse geral, ao passo que aos Estados referem-</p><p>se as matérias de predominante interesse regional e aos municípios concernem os</p><p>assuntos de interesse local. Em relação do Distrito Federal, por expressa disposição</p><p>constitucional (CF, art. 32, § 1º), acumulam-se, em regra, as competências estaduais e</p><p>municipais, com a exceção prevista no art. 22, XVII, da Constituição.</p><p>1.4 Critérios horizontal e vertical</p><p>Dois foram os critérios adotados pela Constituição Federal na repartição de competências:</p><p>o horizontal e o vertical.</p><p>Pelo critério horizontal, a Constituição Federal atribui competências exclusivas ou</p><p>privativas para cada entidade da federação (União, estados e municípios). Essas competências,</p><p>como dito, serão exercidas de maneira exclusiva ou privativa, conforme o caso. Exemplo: art.</p><p>22 da Constituição (elenca as matérias de competência privativa da União).</p><p>Pelo critério vertical, as competências são distribuídas de forma que ambas as entidades</p><p>possam exercê-las de maneira compartilhada. São as chamadas competências concorrentes,</p><p>comuns e suplementares. Exemplo: art. 24 da Constituição (elenca as matérias de competência</p><p>concorrente entre União, estados e Distrito Federal).</p><p>Interessante compreender que a nossa Constituição, ao repartir as competências, optou</p><p>por enumerar as atribuições da União (nos artigos 21 e 22) e dos municípios (no artigo</p><p>30). Utilizando-se do critério residual, reservou o restante aos estados (art. 25, § 1º: “São</p><p>reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição”).</p><p>As competências podem ser classificadas em material (administrativa) ou legislativa.</p><p>A competência material ou administrativa é, basicamente, a que se refere à administração</p><p>política (gestão). A competência legislativa é a que se refere ao poder de elaboração do sistema</p><p>normativo (legislação). Vale ressaltar que nem todas as competências estão expressas na</p><p>Constituição. Como mencionado anteriormente, a competência dos Estados é residual, não</p><p>está expressa na Constituição. Existem outras competências que são implícitas (não estão</p><p>expressas), decorrem da natureza do ente federativo.</p><p>Quanto à sua extensão, as competências podem ser:</p><p>a. Exclusivas: exercidas por um único ente, sendo impossível a delegação e suplementação</p><p>dessa competência (ex.: arts. 21 e 30, I, da Constituição). Exemplo: compete à União</p><p>declarar a guerra e celebrar a paz.</p><p>b. Privativas: exercidas por um único ente, sendo possível haver delegação dessa</p><p>competência quando expressamente previsto (ex.: art. 22 e parágrafo único, que diz:</p><p>“Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas</p><p>das matérias relacionadas neste artigo”). Exemplo: compete à União legislar sobre</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>nacionalidade, cidadania e naturalização.</p><p>c. Comuns, cumulativas ou paralelas: todos os entes podem exercê-las (ex.: art. 23</p><p>da Constituição). Exemplo: compete à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos</p><p>municípios, de maneira comum, cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e</p><p>garantia das pessoas e conservar o patrimônio público.</p><p>d. Competências concorrentes: União, estados e Distrito Federal podem exercer.</p><p>Porém, ressalva-se à União o estabelecimento de normas gerais, podendo os estados</p><p>e o Distrito Federal suplementar a legislação sobre essas competências. Na falta</p><p>do estabelecimento de normas gerais pela União, os estados e o Distrito Federal</p><p>exercerão a competência plena, sendo que a superveniência de legislação geral, pela</p><p>União, suspenderá a legislação específica dos estados e do Distrito Federal, no que</p><p>lhe for contrário. Exemplo: compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar</p><p>concorrentemente sobre direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e</p><p>urbanístico.</p><p>1.5 Repartição administrativa das competências</p><p>A repartição das competências no que diz respeito à administração da coisa pública é</p><p>feita pela Constituição Federal, sendo guardada para a União, conforme Lenza (2008, p. 255-</p><p>256):</p><p>Internamente, ela é uma pessoa jurídica de direito público interno, componente</p><p>da Federação brasileira e autônoma na medida em que possui capacidade de auto-</p><p>organização, autogoverno, autolegislação e auto-administração, configurando,</p><p>assim, autonomia financeira, administrativa e política. Internacionalmente, a União</p><p>representa a República Federativa do Brasil (vide art. 21, I a IV). Observe-se que a</p><p>soberania é da República Federativa do Brasil, representada pela União Federal.</p><p>Nesse caso, a Constituição Federal atribui, exclusivamente à União, as seguintes</p><p>competências político-administrativas (art. 21):</p><p>I. manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações</p><p>internacionais;</p><p>II. declarar a guerra e celebrar a paz;</p><p>III. assegurar a defesa nacional;</p><p>IV. permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras</p><p>transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;</p><p>V. decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;</p><p>VI. autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>VII. emitir moeda;</p><p>VIII. administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza</p><p>financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de</p><p>seguros e de previdência privada;</p><p>IX. elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de</p><p>desenvolvimento econômico e social;</p><p>X. manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;</p><p>XI. explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os</p><p>serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos</p><p>serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; (Redação</p><p>dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)</p><p>XII. explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:</p><p>a. os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; (Redação dada pela</p><p>Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)</p><p>b. os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético</p><p>dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os</p><p>potenciais hidroenergéticos;</p><p>c. a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;</p><p>d. os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e</p><p>fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;</p><p>e. os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de</p><p>passageiros;</p><p>f. os portos marítimos, fluviais e lacustres;</p><p>XIII. organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal</p><p>e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; (Redação dada pela Emenda</p><p>Constitucional nº 69, de 2012) (Produção de efeito)</p><p>XIV. organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros</p><p>militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal</p><p>para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela</p><p>Emenda Constitucional nº 19, de 1998)</p><p>XV. organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e</p><p>cartografia de âmbito nacional;</p><p>XVI. exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas</p><p>de rádio e televisão;</p><p>XVII. conceder anistia;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>XVIII. planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas,</p><p>especialmente as secas e as inundações;</p><p>XIX. instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir</p><p>critérios de outorga de direitos de seu uso;</p><p>XX. instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,</p><p>saneamento básico e transportes urbanos;</p><p>XXI. estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;</p><p>XXII. executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;</p><p>(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)</p><p>XXIII. explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer</p><p>monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento,</p><p>a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os</p><p>seguintes princípios e condições:</p><p>a. toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins</p><p>pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;</p><p>b. sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização</p><p>de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;</p><p>(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)</p><p>c. sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização</p><p>e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;</p><p>(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)</p><p>d. a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de</p><p>culpa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)</p><p>XXIV. organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;</p><p>XXV. estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de</p><p>garimpagem, em forma associativa.</p><p>A competência administrativa dos Municípios está relacionada no art. 30 da Constituição.</p><p>Cabe ressalvar que o rol não é exaustivo, cabendo-lhe, por força do princípio da predominância</p><p>de interesses, dispor sobre assuntos de interesse local.</p><p>Art. 30. Compete aos Municípios:</p><p>I. legislar sobre assuntos de interesse local;</p><p>II. suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;</p><p>III. instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas</p><p>rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos</p><p>prazos fixados em lei;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>IV. criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;</p><p>V. organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os</p><p>serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter</p><p>essencial;</p><p>VI. manter, com a cooperação técnica e financeira</p><p>da União e do Estado, programas</p><p>de educação infantil e de ensino fundamental; (Redação dada pela Emenda</p><p>Constitucional nº 53, de 2006)</p><p>VII. prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de</p><p>atendimento à saúde da população;</p><p>VIII. promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante</p><p>planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;</p><p>IX. promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação</p><p>e a ação fiscalizadora federal e estadual.</p><p>A competência administrativa comum, da União, dos estados, Distrito Federal e</p><p>municípios está elencada no art. 23 da Constituição Federal:</p><p>Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos</p><p>Municípios:</p><p>I. zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e</p><p>conservar o patrimônio público;</p><p>II. cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas</p><p>portadoras de deficiência;</p><p>III. proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e</p><p>cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;</p><p>IV. impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros</p><p>bens de valor histórico, artístico ou cultural;</p><p>V. proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia,</p><p>à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)</p><p>VI. proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;</p><p>VII. preservar as florestas, a fauna e a flora;</p><p>VIII. fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;</p><p>IX. promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições</p><p>habitacionais e de saneamento básico;</p><p>X. combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a</p><p>integração social dos setores desfavorecidos;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>XI. registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e</p><p>exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;</p><p>XII. estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.</p><p>Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a</p><p>União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do</p><p>desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda</p><p>Constitucional nº 53, de 2006)</p><p>Estas, portanto, são as competências de administrar aquelas acima listadas. Devemos</p><p>observar também as competências para criar leis, conforme abaixo.</p><p>1.6 Competências legislativas da União, dos estados e dos municípios</p><p>Ao lado da competência político-administrativa, temos a competência legislativa, que é o</p><p>poder de elaborar o sistema legal, a ser exercido pelo Poder Legislativo dos entes federativos:</p><p>Congresso Nacional (no âmbito da União), Assembleias Legislativas (no âmbito dos Estados)</p><p>e as Câmaras Municipais (no âmbito dos Municípios). No Distrito Federal, o Poder Legislativo</p><p>é representado pela Câmara Legislativa, com competência estadual e municipal.</p><p>O art. 22 da Constituição elenca a competência legislativa privativa da União. Vale</p><p>relembrar que a competência privativa é aquela que admite delegação, por lei complementar,</p><p>para os estados e Distrito Federal.</p><p>Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:</p><p>I. direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,</p><p>espacial e do trabalho;</p><p>II. desapropriação;</p><p>III. requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;</p><p>IV. águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;</p><p>V. serviço postal;</p><p>VI. sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;</p><p>VII. política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;</p><p>VIII. comércio exterior e interestadual;</p><p>IX. diretrizes da política nacional de transportes;</p><p>X. regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;</p><p>XI. trânsito e transporte;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>XII. jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;</p><p>XIII. nacionalidade, cidadania e naturalização;</p><p>XIV. populações indígenas;</p><p>XV. emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;</p><p>XVI. organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de</p><p>profissões;</p><p>XVII. organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios</p><p>e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes;</p><p>(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012) (Produção de efeito)</p><p>XVIII. sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;</p><p>XIX. sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;</p><p>XX. sistemas de consórcios e sorteios;</p><p>XXI. normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e</p><p>mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;</p><p>XXII. competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;</p><p>XXIII. seguridade social;</p><p>XXIV. diretrizes e bases da educação nacional;</p><p>XXV. registros públicos;</p><p>XXVI. atividades nucleares de qualquer natureza;</p><p>XXVII. normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as</p><p>administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito</p><p>Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas</p><p>e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; (Redação dada pela</p><p>Emenda Constitucional nº 19, de 1998)</p><p>XXVIII. defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e</p><p>mobilização nacional;</p><p>XXIX. propaganda comercial.</p><p>Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre</p><p>questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.</p><p>A competência legislativa concorrente (entre União, estados e Distrito Federal) está</p><p>elencada no art. 24 da Constituição. Aqui, a competência da União limita-se a estabelecer</p><p>normas de conteúdo geral, devendo os estados e o Distrito Federal suprirem, especificamente,</p><p>as normas editadas pela União. Na falta de norma geral, os estados e o Distrito Federal</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>11</p><p>exercerão a competência plena, sendo que a posterior edição de normas gerais pela União</p><p>suspenderá a eficácia da legislação estadual/distrital, no que lhe for contrário.</p><p>Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente</p><p>sobre:</p><p>I. direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;</p><p>II. orçamento;</p><p>III. juntas comerciais;</p><p>IV. custas dos serviços forenses;</p><p>V. produção e consumo;</p><p>VI. florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos</p><p>recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;</p><p>VII. proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;</p><p>VIII. responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de</p><p>valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;</p><p>IX. educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,</p><p>desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de</p><p>2015)</p><p>X. criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;</p><p>XI. procedimentos em matéria processual;</p><p>XII. previdência social, proteção e defesa da saúde;</p><p>XIII. assistência jurídica e Defensoria pública;</p><p>XIV. proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;</p><p>XV. proteção à infância e à juventude;</p><p>XVI. organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.</p><p>§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a</p><p>estabelecer normas gerais.</p><p>§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais</p><p>não exclui a</p><p>competência suplementar dos Estados.</p><p>§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência</p><p>legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.</p><p>§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>12</p><p>estadual, no que lhe for contrário.</p><p>1.7 Dos bens da União e dos estados</p><p>A União é pessoa jurídica de direito público interno (art. 41, I, do Código Civil). Sendo</p><p>assim, pode ser titular de direitos, obrigações e pode possuir patrimônio. A Constituição, em</p><p>seu art. 20, arrola, de maneira não exaustiva, os bens da União. Como segue:</p><p>Art. 20. São bens da União:</p><p>I. os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;</p><p>II. as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e</p><p>construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental,</p><p>definidas em lei;</p><p>III. os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que</p><p>banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a</p><p>território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias</p><p>fluviais;</p><p>IV. as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias</p><p>marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede</p><p>de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental</p><p>federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46,</p><p>de 2005)</p><p>V. os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;</p><p>VI. o mar territorial;</p><p>VII. os terrenos de marinha e seus acrescidos;</p><p>VIII. os potenciais de energia hidráulica;</p><p>IX. os recursos minerais, inclusive os do subsolo;</p><p>X. as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;</p><p>XI. as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.</p><p>O art. 26 da Constituição define, também de forma não exaustiva, os bens dos estados,</p><p>conforme segue:</p><p>Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:</p><p>I. as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,</p><p>ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>13</p><p>II. as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas</p><p>aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;</p><p>III. as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;</p><p>IV. as terras devolutas não compreendidas entre as da União.</p><p>Portanto, estes são os bens destinados pela Constituição Federal à União e aos estados,</p><p>não havendo destinação específica com relação aos municípios.</p><p>Considerações finais</p><p>Um Estado federado possui divisão de competências, tanto administrativas quanto</p><p>legislativas. Ou seja, é a divisão de competências para administrar a máquina pública e para</p><p>criar leis a respeito dos temas delimitados.</p><p>No caso da Constituição da República, foram listadas competências administrativas</p><p>exclusivas da União no artigo 21, dentre elas, a título de exemplo, a competência para declarar</p><p>guerra e celebrar a paz.</p><p>Basicamente, com relação aos municípios, foram resguardadas as competências para</p><p>dispor de assuntos de interesse local.</p><p>Mais à frente, a Constituição da República tratou das competências que são comuns aos</p><p>entes federados, União, estados, Distrito Federal e municípios, conforme o artigo 23.</p><p>Com relação à competência para criar novas leis, a competência legislativa, a Constituição</p><p>também relacionou expressamente a competência da União, a quem compete privativamente,</p><p>sem a participação dos demais entes, no artigo 22. Após, tratou da competência concorrente</p><p>entre as entidades no artigo 24.</p><p>Tratou, por fim, a Constituição, dos bens pertencentes à União, como exemplo os</p><p>terrenos de marinha, e dos bens pertencentes aos Estados-membros, as terras devolutas não</p><p>compreendidas entre as da União.</p><p>Todas essas competências são fundamentais para a perfeita divisão do poder do Estado.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível</p><p>em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso</p><p>em: 4 abr. 2015.</p><p>LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2008.</p><p>MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2012.</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 06</p><p>O processo legislativo e a hierarquia normativa no Brasil</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender a natureza de cada tipo legislativo existente no sistema</p><p>legislativo brasileiro e a hierarquia do sistema.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 O processo legislativo e a hierarquia normativa no Brasil</p><p>2 As espécies normativas e as especificidades do processo de criação</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>O presente tema a ser desenvolvido trata do processo legislativo brasileiro e sua</p><p>importância para o próprio Estado de Direito, isto é, aquele regido por normas.</p><p>Nesse ponto, estudaremos o processo legislativo, conceituando-o além das fases do</p><p>processo de criação das leis, para, inclusive, ter condições de analisar eventual falha no</p><p>processo de produção legislativa.</p><p>Em continuação, é de suma importância conhecer das espécies normativas brasileiras,</p><p>desde as Emendas Constitucionais até as Medidas Provisórias, para então perceber o papel</p><p>fundamental realizado pelo Poder Legislativo e até, por vezes, pelo Poder Executivo.</p><p>Conhecendo tais espécies legislativas, será possível analisar brevemente a hierarquia das</p><p>normas. Bons estudos.</p><p>1 O processo legislativo e a hierarquia normativa no Brasil</p><p>1.1 Conceito</p><p>Conforme a doutrina de Moraes (2012, p. 130), o conceito de processo legislativo</p><p>desdobra-se em duas tendências, a sociológica e a jurídica.</p><p>Juridicamente, consiste no conjunto coordenado de disposições que disciplinam</p><p>o procedimento a ser obedecido pelos órgãos competentes na produção de leis</p><p>e atos normativos que derivam diretamente da própria constituição, enquanto</p><p>sociologicamente podemos defini-lo como o conjunto de fatores reais que impulsionam</p><p>e direcionam os legisladores a exercitarem suas tarefas.</p><p>O processo legislativo, entendido como o procedimento a ser seguido para a produção</p><p>do sistema normativo, está previsto na Constituição Federal, no seu artigo 59 e seguintes.</p><p>O processo legislativo brasileiro compreende a elaboração de: Emendas à Constituição; Leis</p><p>Complementares; Leis Ordinárias; Leis Delegadas; Medidas Provisórias; Decretos Legislativos;</p><p>Resoluções. A título de cultura jurídica, vale citar a Lei Complementar nº 95/1998, modificada</p><p>pela Lei Complementar nº 107/2001, que dispõe sobre as técnicas de elaboração, redação,</p><p>alteração e consolidação das leis, nos termos do parágrafo único do art. 59 da Constituição</p><p>Federal.</p><p>Com relação aos tipos de processo legislativo, podem ser realizados de quatro formas</p><p>diferentes:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>a. Autocrático: característico de regimes não democráticos, em que as leis são</p><p>impostas pelo governante sem participação popular;</p><p>b. Direto: o próprio povo elabora o sistema normativo diretamente, como na Grécia</p><p>antiga. Inviável nos dias de hoje;</p><p>c. Indireto ou representativo: aqui o sistema normativo é elaborado pelos</p><p>representantes do povo, democraticamente eleitos, como ocorre no Brasil, via</p><p>de regra;</p><p>d. Semidireto: existente no Brasil, de maneira excepcional. Ocorre quando as leis</p><p>são elaboradas pelos representantes do povo e após são submetidas a este por</p><p>referendo popular.</p><p>Por sua vez, o procedimento legislativo pode ser: ordinário, aplicado para as Leis</p><p>Ordinárias; sumário, utilizado na edição</p><p>de Leis Ordinárias em regime de urgência, de iniciativa</p><p>do Chefe do Executivo (art. 64, § 1º da Constituição); ou especial, utilizado para a criação</p><p>de Emendas Constitucionais, Leis Complementares, Leis Delegadas, Medidas Provisórias,</p><p>Decretos Legislativos, Resoluções e Leis Financeiras (Lei do Plano Plurianual, Lei de Diretrizes</p><p>Orçamentárias, Lei do Orçamento Anual e de Abertura de Créditos Adicionais).</p><p>1.2 Fases do processo legislativo</p><p>Cada espécie de norma possui um procedimento a ser seguido para sua elaboração.</p><p>Iniciaremos nosso estudo com o procedimento relativo às Leis Ordinárias, por ser a norma</p><p>mais comumente utilizada no nosso ordenamento. Vale ressaltar que o procedimento é o</p><p>mesmo para a elaboração das Leis Complementares, somente muda o quórum de aprovação,</p><p>que para as Leis Complementares é de maioria absoluta, contra o quórum de maioria simples</p><p>das Leis Ordinárias.</p><p>O processo legislativo de elaboração de Leis Ordinárias compreende as seguintes etapas:</p><p>Figura 1 – Etapas do processo legislativo</p><p>Sanção</p><p>ou veto</p><p>Promulgação</p><p>Votação ou</p><p>deliberação</p><p>EmendasIniciativa Publicação� � � � �</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>a. Iniciativa: é a possibilidade de apresentar a proposta de projeto de lei. A iniciativa</p><p>pode ser concorrente ou comum; reservada ou privativa; e popular. Vale ressaltar</p><p>que a não obediência às regras de iniciativa ocasiona vício formal à elaboração da lei,</p><p>causando sua inconstitucionalidade.</p><p>A concorrente ou comum (geral) é deferida a mais de uma pessoa ou órgão, que podem</p><p>exercê-la em conjunto ou isoladamente (art. 61, caput, da Constituição). Exemplo: a iniciativa</p><p>de Lei Ordinária cabe a qualquer Deputado Federal e, ao mesmo tempo, ao Presidente da</p><p>República.</p><p>A iniciativa privativa é aquela exclusiva de determinada pessoa ou órgão. Essas hipóteses</p><p>estão expressamente previstas na Constituição. Algumas, devido a suas repercussões políticas</p><p>ou orçamentárias, são de iniciativa do Presidente da República (art. 61, § 1º, da CF). Outras,</p><p>devido a seu exclusivo interesse, são atribuídas ao Supremo Tribunal Federal, Tribunais</p><p>Superiores e Tribunais de Justiça (art. 96, II, da CF). Exemplo: é de iniciativa privativa do</p><p>Presidente da República projetos de lei que fixem ou modifiquem o efeito das forças armadas.</p><p>Quanto à iniciativa popular, tal instrumento está expressamente previsto no art. 14,</p><p>III, da Constituição. Regulamentada pela Lei nº 9.709/98, consiste na possibilidade de</p><p>apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por</p><p>cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco estados, com não menos</p><p>de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles (art. 61, § 2º, da Constituição). O</p><p>art. 27, § 4º, da Constituição traz a possibilidade de iniciativa popular em âmbito estadual, a</p><p>ser regulamentada por Lei Ordinária. Nesse sentido, a Câmara dos Deputados disponibiliza</p><p>informações a respeito do projeto de lei de iniciativa popular. Consulte e saiba mais: http://</p><p>www2.camara.leg.br/participe/sua-proposta-pode-virar-lei.</p><p>b. Fase de emendas: as emendas são alterações no projeto de lei propostas por</p><p>parlamentares visando à sua modificação;</p><p>c. Votação ou deliberação: a votação é precedida de debates e estudos por parte das</p><p>comissões existentes em cada uma das Casas do Congresso Nacional. No âmbito</p><p>Federal vigora o sistema bicameral (Câmara dos Deputados e Senado Federal). Após,</p><p>o projeto vai à discussão e votação em plenário, o qual será aprovado ou não. As</p><p>Leis Ordinárias são aprovadas por maioria simples, ou seja, maioria dos presentes na</p><p>sessão. O quórum de aprovação das Leis Complementares é de maioria absoluta, ou</p><p>seja, é preciso o voto de mais da metade dos membros de cada Casa do Congresso</p><p>Nacional. O projeto de lei aprovado em uma das Casas do Congresso Nacional será</p><p>encaminhado para revisão na outra Casa, ocasião em que poderá ser aprovado sem</p><p>emendas. Sendo enviado ao Presidente da República para sanção ou veto, poderá</p><p>ser rejeitado, ou, caso aprovado com emendas, voltará à casa iniciadora para nova</p><p>votação (art. 65 da CF);</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>d. Sanção ou veto: estão previstos no art. 84, IV e V da Constituição. São atos de atribuição</p><p>exclusiva do Presidente da República. A sanção é a concordância do Presidente com</p><p>o projeto de lei, pode ser expressa ou tácita, sendo o silêncio considerado como</p><p>aprovação (art. 66, § 3º da Constituição). Veto é a discordância do Presidente da</p><p>República com o projeto de lei apresentado, por motivos de inconstitucionalidade</p><p>(jurídico) ou contrariedade ao interesse público (político), devendo ser devidamente</p><p>fundamentado (art. 66, § 1º, da CF). Pode ser total ou parcial, devendo incidir sobre</p><p>texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. De acordo com o art. 66,</p><p>§ 4º, o veto poderá ser rejeitado por maioria absoluta dos Deputados e Senadores,</p><p>em sessão conjunta.</p><p>e. Promulgação: é a declaração de que a lei aprovada passará a existir no ordenamento</p><p>jurídico. De acordo com o parágrafo sétimo do art. 66: “Se a lei não for promulgada</p><p>dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e §</p><p>5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá</p><p>ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo”.</p><p>f. Publicação: é a publicidade dada à nova lei no Diário Oficial. Ela deve ser publicada</p><p>na íntegra. A princípio, a lei começa a valer 45 dias após sua publicação (art. 1º,</p><p>da Lei de Introdução ao Código Civil), salvo disposição em contrário. A própria lei</p><p>pode estabelecer prazo superior para o início de sua validade, sendo denominado</p><p>“vacatio legis” o prazo que decorre da publicação da lei até o início de sua validade.</p><p>A publicação da lei presume o conhecimento por todos os cidadãos (art. 3º da Lei de</p><p>Introdução ao Código Civil).</p><p>Interessante também conceituar o Princípio do Paralelismo Federativo, que está implícito</p><p>na expressão “observados os princípios desta Constituição”, do caput dos artigos 25, 29 e</p><p>32, da Constituição Federal. Tal princípio indica que as regras básicas do processo legislativo</p><p>federal devem ser aplicadas, tanto quanto possível, nos estados, Distrito Federal e municípios.</p><p>Assim, tanto no tocante ao procedimento quanto nas hipóteses de iniciativa exclusiva etc.</p><p>devem ser aplicadas pelos estados, Distrito Federal e municípios.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>2 As espécies normativas e as especificidades do processo</p><p>de criação</p><p>O art. 59 da Constituição Federal menciona a existência de sete espécies de normas</p><p>(BRASIL, 1988).</p><p>Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:</p><p>I. emendas à Constituição;</p><p>II. leis complementares;</p><p>III. leis ordinárias;</p><p>IV. leis delegadas;</p><p>V. medidas provisórias;</p><p>VI. decretos legislativos;</p><p>VII. resoluções.</p><p>2.1 Emendas à Constituição</p><p>As Emendas Constitucionais são alterações da Constituição. É manifestação do Poder</p><p>Constituinte Derivado de Reforma.</p><p>A iniciativa para a proposta de alteração da Constituição é concorrente, visto que atribuída</p><p>a mais de um ente/pessoa. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:</p><p>I. de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado</p><p>Federal;</p><p>II. do Presidente da República;</p><p>III. de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação,</p><p>manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.</p><p>A proposta de Emenda deve ser discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional,</p><p>em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos</p><p>respectivos membros.</p><p>A emenda à Constituição será promulgada, conjuntamente, pelas Mesas da Câmara dos</p><p>Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem (art. 60, § 2º e 3º da</p><p>Constituição).</p><p>Senac São Paulo - Todos</p><p>os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>O cuidado que se deve tomar é que nesta não há o encaminhamento para sanção ou</p><p>veto pelo Presidente da República. A Emenda é promulgada no próprio Congresso Nacional e</p><p>sua publicação se dá pela própria incorporação do texto da Emenda ao texto constitucional. A</p><p>matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser</p><p>objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa (art. 60, § 5º, da Constituição).</p><p>O parágrafo 4º do art. 60 estabelece limites às matérias que podem ser objeto de</p><p>Emenda Constitucional (limites materiais): “Não será objeto de deliberação a proposta</p><p>de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto,</p><p>universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais”. Tais</p><p>limites são chamados de “Cláusulas Pétreas”. Vale lembrar que a Constituição não pode ser</p><p>emendada na vigência de intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio (limitações</p><p>circunstanciais) (art. 60, § 1º, da CF).</p><p>2.2 Leis Ordinárias e Leis Complementares</p><p>Diferente de como são as Leis Ordinárias, já explicadas anteriormente, as Leis</p><p>Complementares, que abrangem determinadas matérias importantes, exigem quórum</p><p>qualificado para sua criação. A Constituição exige, para a aprovação das Leis Complementares,</p><p>o quórum qualificado de maioria absoluta, que significa mais da metade dos membros de</p><p>cada Casa do Congresso Nacional. O procedimento é o mesmo da Lei Ordinária, com exceção</p><p>do quórum de aprovação de maioria absoluta. As matérias a serem disciplinadas por Lei</p><p>Complementar estão expressamente arroladas na Constituição, como no parágrafo único dos</p><p>arts. 22, 23 e 79, no inciso XXII do art. 84, dentre inúmeros outros.</p><p>2.3 Leis Delegadas</p><p>As Leis Delegadas são elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a</p><p>delegação ao Congresso Nacional. A delegação ocorre por resolução e deve especificar a</p><p>respectiva matéria a ser delegada e os termos de seu exercício (art. 68, § 2º).</p><p>Contudo, existem limites nos quais o Congresso Nacional poderá delegar ao Presidente</p><p>da República, quais sejam: não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva</p><p>do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado</p><p>Federal (arts. 49, 51 e 52 da CF); a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação</p><p>sobre: I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de</p><p>seus membros; II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; III -</p><p>planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.</p><p>O Congresso Nacional pode determinar a submissão do projeto de lei delegado à sua</p><p>aprovação, por votação única, sendo vedadas quaisquer emendas (art. 68, § 3º da CF). É</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>bem verdade que há controle do próprio Congresso Nacional, o chamado “Controle Político</p><p>de Legalidade”. No caso de a Lei Delegada extrapolar os limites estipulados pela resolução, o</p><p>Congresso Nacional pode sustar os efeitos da parte excedente mediante decreto legislativo</p><p>(art. 49, V).</p><p>2.4 Medidas Provisórias</p><p>São normas, com força de lei, editadas pelo Presidente da República em casos de</p><p>relevância e urgência, devendo ser submetidas, de imediato, ao Congresso Nacional, sob</p><p>pena de perda da eficácia se não forem convertidas em lei no prazo de 60 dias, prorrogáveis</p><p>por mais 60 dias.</p><p>Possuem como limites materiais (art. 62, § 1º, da CF): É vedada a edição de medidas</p><p>provisórias sobre matéria:</p><p>I. relativa a: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito</p><p>eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil; c) organização do</p><p>Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;</p><p>d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e</p><p>suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;</p><p>II. que vise à detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro</p><p>ativo financeiro;</p><p>III. reservada a lei complementar;</p><p>IV. já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de</p><p>sanção ou veto do Presidente da República.</p><p>As Medidas Provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados, conforme</p><p>determina o art. 62, § 8º, da Constituição da República.</p><p>Além disso, as Medidas Provisórias, salvo o caso dos parágrafos 11 e 12 do mesmo</p><p>artigo 62, perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de</p><p>60 dias, prorrogável, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar,</p><p>por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes. Esse prazo de 60 dias contar-</p><p>se-á da publicação da medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do</p><p>Congresso Nacional.</p><p>A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das</p><p>medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos</p><p>constitucionais de relevância e urgência. Se a medida provisória não for apreciada em até</p><p>45 dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em</p><p>cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação,</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando. Prorrogar-se-á</p><p>uma única vez por igual período a vigência de Medida Provisória que, no prazo de 60 dias,</p><p>contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso</p><p>Nacional.</p><p>Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória,</p><p>esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.</p><p>2.5 Decretos Legislativos</p><p>São atos que se destinam a viabilizar as matérias de atribuição exclusiva do Congresso</p><p>Nacional.</p><p>As matérias às quais podem disciplinar estão elencadas no art. 49 da Constituição. Dentre</p><p>elas estão a aprovação do estado de defesa e a intervenção federal, autorização do estado de</p><p>sítio ou suspensão de qualquer uma dessas medidas. A regulamentação prevista no art. 62, §</p><p>3º, da Constituição, também deve ser feita por Decreto Legislativo.</p><p>Percebe-se que não há participação do Presidente da República na elaboração dos</p><p>Decretos Legislativos, visto tratar de matérias de interesse exclusivo do Congresso.</p><p>O procedimento de elaboração dos Decretos Legislativos é regulamentado pelo regimento</p><p>interno do Congresso Nacional e compreende a votação nas duas Casas e, se aprovados,</p><p>serão promulgados pelo Presidente do Senado Federal, que, na qualidade de Presidente do</p><p>Congresso Nacional, determinará sua devida publicação (art. 48, nº 28, do Regimento Interno</p><p>do Senado Federal).</p><p>2.6 Resoluções</p><p>São normas de atribuição privativa do Congresso Nacional e suas respectivas Casas.</p><p>Possuem, via de regra, efeitos internos.</p><p>Dentre suas hipóteses de cabimento estão os arts. 51 e 52 da Constituição Federal. Como</p><p>ato de efeitos externos, citam-se as resoluções do Congresso Nacional relativas à delegação</p><p>legislativa (Leis Delegadas, art. 68, § 2º, CF), as resoluções do Senado fixando alíquotas</p><p>para a cobrança do ICMS (art. 155, § 2º, IV da Constituição) e as resoluções do Senado que</p><p>suspendem a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão</p><p>definitiva do Supremo Tribunal Federal (art. 52, X, da CF).</p><p>A Constituição não estabelece o procedimento para a edição das Resoluções, cabendo ao</p><p>regimento interno de cada Casa e do Congresso discipliná-lo. O que se conclui, logicamente,</p><p>é que, tratando-se de Resolução do Congresso Nacional, a aprovação deverá ser bicameral,</p><p>bem como, não há a participação do Presidente da República na edição das Resoluções.</p><p>Senac São Paulo - Todos os</p><p>Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>2.7 Hierarquia entre as normas</p><p>É tema bastante controverso na doutrina e prevalece a discussão, especificamente, entre</p><p>as Leis Complementares e Leis Ordinárias.</p><p>Há quem defenda a existência de hierarquia entre essas duas normas e um de seus</p><p>fundamentos seria o quórum de aprovação, que, por ser mais qualificado (maioria absoluta),</p><p>sugeriria prevalência da Lei Complementar, hierarquicamente, em relação à Lei Ordinária.</p><p>Porém, os defensores da tese da inexistência de hierarquia entre as leis explicam que</p><p>ambas possuem âmbitos materiais diferentes, atribuídos constitucionalmente. Por isso, não</p><p>se poderia falar em hierarquia.</p><p>Assim, a atuação em matérias específicas e diversas prejudicaria eventual comparação</p><p>hierárquica entre as duas espécies normativas. Esse é o entendimento adotado pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal.</p><p>Considerações finais</p><p>Tivemos oportunidade de conhecer as espécies normativas previstas no artigo 59 da</p><p>Constituição da República. Foi possível entender a importância de cada uma e seu papel</p><p>no regime brasileiro de normas, a exemplo da própria Emenda Constitucional, que altera,</p><p>quando aprovada, o próprio texto da Constituição da República – daí sua vital importância.</p><p>Nesse mesmo sentido, pudemos observar que as Medidas Provisórias pedem urgência e</p><p>relevância da matéria, sendo expedida pelo próprio Presidente da República, em uma função</p><p>atípica de legislar.</p><p>Ao conhecermos as espécies legislativas, foi tratada a questão polêmica da hierarquia</p><p>entre Leis Ordinárias e Leis Complementares, fixando-se o posicionamento do Supremo</p><p>Tribunal Federal de que cada qual tem seu âmbito de competência e que a mera diferença de</p><p>quórum de aprovação não é suficiente para se falar em hierarquia entre as normas.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível</p><p>em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso</p><p>em: 7 abr. 2015.</p><p>MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2012.</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 07</p><p>Os Direitos Fundamentais: a Relação entre o Estado e o</p><p>Particular</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender os direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988.</p><p>• Analisar os direitos e garantias.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Direitos Fundamentais</p><p>2 Direitos Sociais</p><p>3 Nacionalidade</p><p>4 Direitos Políticos e Partidos Políticos</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>A Constituição Federal, como norma maior do Estado brasileiro, possui em seu texto</p><p>os Direitos e Garantias Fundamentais assegurados a todos os indivíduos. Tais Direitos e</p><p>Garantias estão descritos no Título II da Constituição da República, que abrange o Capítulo I –</p><p>Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos; o Capítulo II – Dos Direitos Sociais; o Capítulo</p><p>III – Da Nacionalidade; o Capítulo IV – Dos Direitos Políticos; e o Capítulo V – Dos Partidos</p><p>Políticos.</p><p>Basicamente, são disposições que conferem ao indivíduo garantias contra eventuais</p><p>ingerências prejudiciais do Estado nas suas vidas. Ou seja, funcionam como uma proteção</p><p>contra o próprio Estado. Servem também como uma obrigação ao Estado para que realize</p><p>políticas públicas em prol do indivíduo, como é caso dos Direitos Sociais.</p><p>Portanto, este Título II da Constituição da República é de fundamental importância e não</p><p>pode ser suprimido de qualquer forma. Daí advém a importância do estudo da matéria em</p><p>questão.</p><p>Bons estudos!</p><p>1 Direitos Fundamentais</p><p>Os Direitos e Garantias Fundamentais iniciam-se no Título II da Constituição Federal de</p><p>1988. O artigo 5º da nossa Constituição, Capítulo I, inaugura os Direitos e Deveres Individuais</p><p>e Coletivos. Em seguida, no art. 6º, Capítulo II, temos os Direitos Sociais. No art. 12, Capítulo</p><p>III, a Constituição trata da Nacionalidade. Nos Capítulos IV e V, temos os Direitos Políticos e</p><p>os Partidos Políticos.</p><p>O termo “Direitos Fundamentais” é visto pela doutrina como um gênero, do qual</p><p>constituem espécies os Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, os Direitos Sociais, a</p><p>Nacionalidade, os Direitos Políticos e os Partidos Políticos.</p><p>Nossa Constituição Federal inovou em dar destaque aos Direitos e Garantias</p><p>Fundamentais, certamente pelo trauma da ditadura, que imperou na Constituição</p><p>anterior, de 1967, elaborada pelo regime autoritário. A Constituição Federal de 1988 é</p><p>conhecida como “Constituição Cidadã”, devido à ênfase dada aos Direitos e Garantias</p><p>Fundamentais.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>1.1 Conceito</p><p>Os Direitos Fundamentais são aqueles considerados mais importantes aos cidadãos</p><p>de determinado Estado, garantidores de liberdade e dignidade. Vale ressaltar que não</p><p>basta que esse Estado reconheça os Direitos e Garantias Fundamentais. Ele deve almejar a</p><p>implementação dessas garantias na prática, como um princípio fundamental a ser observado</p><p>dentro de seu território.</p><p>1.2 Características</p><p>Os Direitos Fundamentais surgem da evolução histórica de certo povo, que, não raro,</p><p>experimentou períodos de violações de direitos, características de regimes não democráticos</p><p>que vigoraram no seu passado. Dessa forma, os Direitos Fundamentais são inegociáveis e</p><p>intransferíveis, não sendo lícita a disposição desses direitos. Além disso, não deixam de existir</p><p>pelo desuso, ainda que haja violações constantes ou costumeiras.</p><p>Outra característica importante é a irrenunciabilidade, ou seja, não podem os cidadãos</p><p>renunciar os Direitos e Garantias Fundamentais. Também possuem como característica a</p><p>universalidade, isto é, valem para todos os seres humanos. Não se pode condicioná-los a</p><p>determinados grupos sociais.</p><p>Embora relevantes, os Direitos e Garantias fundamentais não são absolutos, podendo</p><p>ser limitados, caso ocorram conflitos com outros Direitos Fundamentais ou havendo motivos</p><p>relevantes e de interesse geral.</p><p>1.3 Gerações de Direitos Fundamentais</p><p>A doutrina identifica ao menos a existência de três gerações de Direitos Fundamentais,</p><p>ocorridas em momentos históricos distintos.</p><p>A primeira geração é identificada com a luta pela liberdade e surgiu a partir de postulados</p><p>do final da Idade Média, como a Magna Carta da Inglaterra, em 1215, que reconheceu</p><p>direitos aos Barões, restringiu o poder do Monarca e após, das grandes revoluções burguesas</p><p>do final do século XVIII. Como expoentes citam-se a Revolução Americana, em 1776 e</p><p>a Revolução Francesa, em 1789. Sua primordial característica foi a imposição de limites à</p><p>atuação do Estado, um “não fazer”, por parte deste, em prol dos cidadãos, que deixaram de</p><p>ser considerados súditos, para serem considerados sujeitos de direitos, com tutela garantida</p><p>pelo próprio Estado.</p><p>A segunda geração foi a geração da conquista dos Direitos Sociais, que dizem respeito à</p><p>melhoria das condições econômicas e de trabalho dos cidadãos. Os cidadãos demandavam</p><p>uma ação positiva do Estado, um “fazer”, em prol da melhoria das condições de vida e trabalho</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>do povo. A Revolução Industrial, no século XIX, foi o grande marco dos direitos dessa segunda</p><p>geração.</p><p>A terceira geração dos Direitos Fundamentais diz respeito ao atendimento das</p><p>necessidades dos cidadãos, coletivamente considerados, e da proteção de bens, interesses</p><p>e direitos inerentes a toda sociedade, como a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à</p><p>saúde pública, à segurança pública etc.</p><p>1.4 Direitos e Garantias Fundamentais propriamente ditos</p><p>Como visto nas páginas anteriores, os Direitos Fundamentais iniciam-se na nossa</p><p>Constituição no artigo 5º, que trata, especificamente, dos Direitos e Deveres Individuais</p><p>e Coletivos. Esses direitos possuem aplicabilidade imediata (art. 5º, § 1º, da Constituição</p><p>Federal). Ou</p><p>seja, são autoaplicáveis, não dependendo de nenhuma outra lei ou norma para</p><p>serem exercidos e assegurados.</p><p>Direitos Individuais são tidos como restrições impostas ao poder Estatal, em prol dos</p><p>cidadãos e no seu legítimo interesse. Nossa Constituição estabelece Direitos Individuais</p><p>do cidadão (individualmente considerado), os direitos Coletivos (considerando o</p><p>interesse geral da sociedade e de grupos de pessoas, considerados coletivamente)</p><p>assim como os Difusos também.</p><p>Como Direitos Individuais Básicos, a Constituição, no art. 5º, arrola cinco, rediscutidos</p><p>em vários incisos e em outros artigos também: o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à</p><p>segurança e à propriedade. Esses direitos destinam-se aos brasileiros e estrangeiros residentes</p><p>no Brasil (art. 5º, caput, da Constituição). Os Direitos e Deveres Individuais e Coletivos aplicam-</p><p>se, também, às pessoas jurídicas, como proteção à honra, ao patrimônio etc. Aplicam-se,</p><p>também, aos estrangeiros não residentes no Brasil (turistas ou imigrantes ilegais), pois são</p><p>seres humanos e a eles também são assegurados direito à vida, ao patrimônio etc.</p><p>1.4.1 Direito à vida</p><p>O direito à vida, considerado o principal dos direitos, de maior relevância jurídica,</p><p>abrange o direito à integridade física, à honra, à dignidade etc., sendo tipificados como crime,</p><p>pelo Código Penal, o homicídio e a lesão corporal, consumados ou tentados, bem como o</p><p>induzimento ou auxílio ao suicídio, o aborto e injúria, a calúnia e a difamação. A tortura</p><p>também teve especial destaque, sendo proibida no inciso III, do art. 5º, e tipificada como</p><p>crime pela Lei nº 9.455/97. A Constituição proíbe a pena de morte, salvo em caso de guerra</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>declarada (art. 5º, XLVII, “a”).</p><p>1.4.2 Direito à liberdade</p><p>Abrange a liberdade de locomoção (inciso XV, art. 5º), bem como a liberdade de</p><p>pensamento, de consciência, de crença (incisos IV e VI) e a liberdade de fazer o que quiser</p><p>desde que não se contrarie as leis (inciso II). A censura foi constitucionalmente proibida no</p><p>inciso IX do art. 5º. As liberdades de reunião e de associação encontram-se protegidas nos</p><p>incisos (XVI e XVII, do art. 5º da Constituição). A Constituição prevê a ação de habeas corpus</p><p>para tutela da liberdade de locomoção (art. 5º, inciso LXVIII).</p><p>1.4.3 Direito à igualdade</p><p>Quanto à igualdade, diz o caput do art. 5º que todos são iguais perante a lei, sem distinções</p><p>de qualquer natureza. O inciso I consagra a igualdade em direitos e obrigações entre homens</p><p>e mulheres. O conceito de igualdade está relacionado ao tratamento igualitário daqueles</p><p>que se encontram em igualdade de condições e desigualmente àqueles que se encontram</p><p>em condições desiguais. É o princípio da isonomia. Assim, por esse princípio, justificam-se</p><p>as hipóteses de tratamento diferenciado existentes na Constituição, como aposentadoria</p><p>com menor idade e menos tempo de contribuição para as mulheres; exclusividade de certos</p><p>cargos a brasileiros natos; exclusão das mulheres do serviço militar obrigatório, dentre outras.</p><p>A Constituição veda o tratamento discriminatório por motivo de raça ou cor, considerando o</p><p>racismo como crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão (inciso XLII, do</p><p>art. 5º e Lei nº 7.716/89).</p><p>1.4.4 Direito à segurança</p><p>Considera-se que o Estado deve, além de prever os direitos dos cidadãos, promover e</p><p>pôr em prática tais direitos. Assegurar os principais direitos do povo é uma das funções do</p><p>Estado, afinal, de que adiantaria tutelar a vida e o patrimônio e não prover meios para sua</p><p>devida proteção.</p><p>Assim, considera-se que o direito à segurança engloba o direito à segurança pública, com</p><p>o estabelecimento e manutenção das polícias e do exército, à segurança em matéria pessoal,</p><p>com a proteção da intimidade, da vida privada (art. 5º, X, CF), a inviolabilidade do domicílio</p><p>(art. 5º, XI, CF), a proteção às comunicações pessoais (inciso XII, art. 5º, CF), bem como a</p><p>segurança jurídica, prevendo e viabilizando os meios ao exercício e proteção jurídica dos bens</p><p>mais importantes aos cidadãos.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>1.4.5 Direito à propriedade</p><p>Por fim, o direito à propriedade significa que o indivíduo tem garantido pelo Estado a</p><p>proteção à propriedade privada e de não ser incomodado nela, tanto por outros indivíduos</p><p>quanto pelo próprio Estado. O artigo 5º, XXII, da Constituição afirma que “é garantido o</p><p>direito de propriedade” (BRASIL, 1988). Gera como consequência também outro direito</p><p>fundamental, que é o direito de herança. Isto porque somente pode deixar de herança no</p><p>momento do falecimento em benefício dos herdeiros aquele que possui garantido em vida o</p><p>direito à propriedade.</p><p>2 Direitos Sociais</p><p>São direitos relacionados à melhoria da situação econômica e laboral dos cidadãos.</p><p>São considerados direitos fundamentais de segunda geração, em que o Estado tem o dever</p><p>de prever e prover meios para a melhoria da situação dos trabalhadores, econômica e</p><p>socialmente.</p><p>O artigo 6º da Constituição prevê alguns direitos básicos, são eles: o direito à educação,</p><p>à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social,</p><p>à proteção à maternidade e à infância e à assistência aos desamparados. Tais direitos serão</p><p>mais bem estudados no próximo capítulo.</p><p>Outros artigos da Constituição também disciplinam Direitos Sociais, como os relativos</p><p>à seguridade social, saúde, previdência e assistência social (arts. 193 a 204). A educação, a</p><p>cultura e o esporte são disciplinados nos arts. 205 a 217. Os direitos relacionados à família,</p><p>à criança, ao adolescente, ao idoso e às pessoas portadoras de deficiência são disciplinados</p><p>nos arts. 226 a 230.</p><p>O art. 7º da Constituição prevê inúmeros direitos muito conhecidos dos brasileiros, como</p><p>o salário mínimo (inciso IV), seguro-desemprego (inciso II), Fundo de Garantia por Tempo</p><p>de Serviço (inciso III), décimo terceiro salário (inciso VIII), férias anuais remuneradas (inciso</p><p>XVII), dentre outros.</p><p>3 Nacionalidade</p><p>Pode-se conceituar como o “[...] vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a</p><p>determinado Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o povo daquele Estado,</p><p>e, por consequência, desfrute de direitos e submeta-se a obrigações” (LENZA, 2008, p. 669).</p><p>A Constituição Federal, no artigo 12, estabelece as condições para aquisição da</p><p>nacionalidade brasileira:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>Art. 12. São brasileiros:</p><p>I. natos:</p><p>a. os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,</p><p>desde que estes não estejam a serviço de seu país;</p><p>b. os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer</p><p>deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;</p><p>c. os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam</p><p>registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República</p><p>Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade,</p><p>pela nacionalidade brasileira;</p><p>A nacionalidade pode ser primária ou secundária. A primária adquire-se pelo nascimento.</p><p>São as hipóteses do inciso I, do art. 12, acima transcrito. A nacionalidade secundária se</p><p>adquire pela naturalização, conforme o inciso II do art. 12, abaixo transcrito:</p><p>II - naturalizados:</p><p>a. os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos</p><p>originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto</p><p>e idoneidade moral;</p><p>b. os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa</p><p>do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que</p><p>requeiram a nacionalidade brasileira.</p><p>§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade</p><p>em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos</p><p>O segundo elemento é o território. Sem território, o povo estaria espalhado pelo</p><p>mundo sem identificação própria, sem localização definida.</p><p>• O terceiro elemento é o poder soberano, ou seja, o Estado necessita possuir o poder</p><p>de se autogovernar, sem a interferência de outro país, sob pena de dependência</p><p>descaracterizadora de uma nação. Portanto, o conceito de Estado traz consigo a</p><p>necessidade de soberania.</p><p>• Por fim, o último elemento constante de um Estado é a finalidade. Tal elemento</p><p>refere-se que o Estado deve ter objetivos definidos na Constituição, que delimita</p><p>quais constituem o bem comum.</p><p>Todos esses elementos devem estar descritos na Constituição que forma o país.</p><p>3 Objeto da Constituição</p><p>Falar em “objeto da Constituição” é definir o que será tratado em termos de conteúdo.</p><p>Ou seja, é responder à pergunta sobre o que a Constituição deve conter.</p><p>Nesse sentido, Mendes, Coelho e Branco (2014, p. 57) afirmam, citando José Afonso da</p><p>Silva, que:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>Exposto esse conceito de Constituição, sobre o qual falaremos adiante, José Afonso</p><p>da Silva aponta como objeto das constituições parte do que já se contém no próprio</p><p>conceito e algo mais, como se vê a seguir: “as constiutições têm por objeto estavelecer</p><p>a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do poder</p><p>e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantias</p><p>dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins socioeconômicos do Estado,</p><p>bem como os fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais”.</p><p>Portanto, o objeto da Constituição adentra no próprio conceito de Constituição, isto é,</p><p>de definir as bases primárias do Estado-nação que se forma.</p><p>4 Classificações</p><p>As constituições podem ser agrupadas, classificadas, de diversas maneiras, de acordo</p><p>com o critério definidor que se pretende utilizar.</p><p>Os critérios mais comuns identificados pela doutrina são: a forma, o conteúdo, a origem,</p><p>o modo de elaboração, a estabilidade e a extensão das constituições (MENDES; COELHO;</p><p>BRANCO, 2014, p. 61).</p><p>4.1 Quanto à forma</p><p>As constituições podem ser escritas ou não escritas.</p><p>Temos basicamente um exemplo marcante de Constituição não escrita: a Constituição</p><p>Inglesa, que se baseia em usos e constumes.</p><p>Por outro lado, a grande maioria das constituições atuais são escritas, as quais obedecem</p><p>a uma solenidade, a formalidades pertinentes a cada Estado.</p><p>4.2 Quanto ao conteúdo</p><p>Mendes, Coelho e Branco (2014, p. 62) ensinam que: “Quanto ao conteúdo, dizem-se</p><p>materiais as constituições cujo texto contém apenas normas materialmente constitucionais,</p><p>sendo formais aquelas cartas políticas onde, a par dessas normas, também existem preceitos</p><p>cuja matéria não é constitucional”.</p><p>4.3 Quanto à origem</p><p>Denomina-se popular, democrática ou promulgada aquela Constituição gerada por uma</p><p>assembleia constituinte livremente escolhida pelo povo, este sim detentor de poder. É o caso</p><p>da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que derivou de uma assembleia</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>constituinte designada para elaborar a nova Constituição do país.</p><p>Por outro lado, as constituições podem ser outorgadas, que decorrem da imposição do</p><p>governo ditador e são consequências de suas vontades, não contando com a participação do</p><p>povo na elaboração.</p><p>4.4 Quanto ao modo de elaboração</p><p>Consideram-se constituições dogmáticas, também chamadas de ortodoxas, as</p><p>constituições “[...] intencionalmente elaboradas à luz de determinados credos, princípios ou</p><p>dogmas” (MENDES; COELHO; BRANCO, 2014, p. 62).</p><p>Por outro lado, consideram-se históricas as constituições que decorrem de um vasto</p><p>período de tempo na história daquele país. Constituições estas que são formadas lentamente,</p><p>com o passar dos anos e da formação gradual advinda da vontade da nação.</p><p>4.5 Quanto à estabilidade</p><p>Nesta classificação, as constituições podem ser imutáveis, rígidas, flexíveis e semirrígidas.</p><p>Obviamente, nas constituições imutáveis, pouco ou nada utilizadas ao longo da história</p><p>humana, torna-se impossível sua alteração, devendo permanecer intocadas em seu conteúdo</p><p>ao passar do tempo. Dessa forma, ao povo que eventualmente não concordasse com seus</p><p>ditames, não haveria alternativa senão a revolução, para a criação de um novo Estado ou</p><p>nova Constituição.</p><p>Para as constituições rígidas, que é o caso da Constituição da República Federativa</p><p>do Brasil, está prevista no texto a possibilidade de alteração. Contudo, tal possibilidade é</p><p>dificultada em virtude de ser um preceito considerado de maior importância e relevância</p><p>com relação a uma lei que lhe é inferior, cujo requisito de mudança é mais brando.</p><p>Por outro lado, nas constituições flexíveis existe a possibilidade de alteração do</p><p>texto constitucional e tal alteração ocorre nos mesmos casos em que se altera uma lei</p><p>infraconstitucional. Logo, os requisitos para alteração da Constituição e da Lei se equivalem.</p><p>Por fim, nas constituições semirrígidas existe uma parte rígida e outra parte flexível, de</p><p>forma que os requisitos para alteração do texto constitucional por vezes são dificultados, por</p><p>vezes são equivalentes àqueles requisitos necessários para alterar uma lei.</p><p>4.6 Quanto à extensão</p><p>Dividem-se as constituições em sintéticas (concisas) ou analíticas (prolixas).</p><p>Caso enunciem apenas as normas básicas de constituição de um Estado, como exemplo</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>a respeito da estruturação, da divisão do poder e dos direitos e deveres fundamentais, são</p><p>consideradas constituições sintéticas.</p><p>Por outro lado, caso as constituições enunciem muito além das matérias de suma</p><p>importância, tratando das mais diversas questões, estamos diante de constituições prolixas.</p><p>5 O Constitucionalismo</p><p>Podemos conceituar constitucionalismo como o movimento político-constitucional</p><p>que pretendeu difundir a necessidade de criação, elaboração, de Constituições escritas, e</p><p>que essas Constituições regulassem as nações com normas limitantes do poder em prol de</p><p>garantias à população.</p><p>A origem do constitucionalismo remonta à Antiguidade Clássica. Historicamente, fala-</p><p>se que os hebreus timidamente pretenderam criar o movimento constitucionalista com a</p><p>finalidade de limitar o poder político dos governantes frente à população, tudo com base em</p><p>um Estado teocrático.</p><p>Já na Idade Média, ocorreram grandes avanços nas ideias constitucionalistas por conta da</p><p>Carta Magna inglesa de 1215, documento historicamente importante que tratou, de maneira</p><p>mais eficiente, dos direitos individuais.</p><p>Avançando no tempo, na Idade Moderna o movimento constitucionalista aumentou e</p><p>teve destaque com o Petition of Rights, de 1628; o Habeas Corpus Act, de 1679 e o Bill of</p><p>Rights, de 1689, leis que gradativamente aumentaram o poder do povo contra o poder estatal.</p><p>As ideias iluministas do Século XVIII conferiram avanço ao constitucionalismo, que passou</p><p>a ser denominado de “constitucionalismo moderno”, durante a Idade Contemporânea, com</p><p>destaque para a Constituição norte-americana, de 1787, e a Constituição francesa, de 1791.</p><p>A partir do Século XVIII até o advento da Segunda Guerra Mundial, o constitucionalismo</p><p>chamado de moderno, originado na Europa, tinha por objetivo básico acreditar na Constituição</p><p>como documento supremo e soberano, sem o qual o Estado não se formaria. A Constituição</p><p>deveria, então, estabelecer os fundamentos do Estado, forma de estruturação, poderes</p><p>políticos, direitos e garantias individuais, além dos deveres.</p><p>Nesse sentido, os Estados eram considerados legalistas, ou seja, o direito provinha</p><p>totalmente da Constituição, que estabelecia a legislação pátria, sem a busca da justiça, mas</p><p>meramente a busca daquilo que estava descrita no seu texto. Dessa forma, ainda que injusta,</p><p>a norma criada deveria ser cumprida na sua totalidade.</p><p>inerentes ao brasileiro, salvo os</p><p>casos previstos nesta Constituição.</p><p>§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados,</p><p>salvo nos casos previstos nesta Constituição.</p><p>A Constituição estabelece algumas diferenças entre brasileiros natos e naturalizados.</p><p>Alguns cargos, como de Presidente e Vice-Presidente da República, Presidente da Câmara</p><p>dos Deputados, Presidente do Senado Federal e Ministro do Supremo, além de Oficial das</p><p>Forças Armadas, profissionais da carreira diplomática e Ministro da Defesa são privativos de</p><p>brasileiros natos (art. 12, § 3º, CF).</p><p>Somente o brasileiro naturalizado poderá ser extraditado por crime cometido antes da</p><p>naturalização ou comprovado envolvimento em tráfico de drogas (art. 5º, LI). Ainda, somente</p><p>brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos podem ser proprietários de empresa</p><p>jornalística ou de radiodifusão sonora e de sons e imagens (art. 222, da CF). Aos portugueses</p><p>com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão</p><p>atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição (art.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>12, § 1º, CF).</p><p>A perda da nacionalidade pode ocorrer para o brasileiro nato ou para o brasileiro</p><p>naturalizado. Assim, será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro, naturalizado, que</p><p>tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao</p><p>interesse nacional e dos brasileiros natos e naturalizados que adquirirem outra nacionalidade,</p><p>salvo nos casos de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira e de</p><p>imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado</p><p>estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de</p><p>direitos civis (art. 12, § 4º, CF).</p><p>4 Direitos Políticos e Partidos Políticos</p><p>Com relação aos Direitos Políticos, conceitua-se como: “instrumentos por meio dos</p><p>quais a Constituição Federal garante o exercício da soberania popular, atribuindo poderes</p><p>aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta ou indiretamente”</p><p>(LENZA, 2008, p. 683).</p><p>Os Direitos Políticos englobam os direitos de votar (capacidade eleitora ativa) e ser</p><p>votado (capacidade eleitoral passiva).</p><p>Conforme a Constituição Federal, o voto é direto, secreto (art. 14, caput), universal e</p><p>periódico (art. 60, § 4º, II, da Constituição). Assim, temos que os representantes do povo são</p><p>eleitos diretamente por este, sem intermediários. O eleitor vota em cabine individual, de</p><p>modo que não se pode identificar em quem ele votou, sendo que cada voto tem o mesmo</p><p>valor. Todos os cidadãos podem votar, via de regra, desde que cumpram os requisitos legais,</p><p>como idade, capacidade e pleno exercício dos Direitos Políticos. O alistamento eleitoral e o</p><p>voto são obrigatórios, via de regra, são facultativos para os analfabetos, os maiores de 70 anos</p><p>de idade e os maiores de 16 e menores de 18 anos de idade (art. 14, § 1º, II). A periodicidade</p><p>é característica do regime republicano, em que os representantes do povo exercem mandato</p><p>com prazo certo.</p><p>Para ser votado, há que se obedecer ao comando do parágrafo 3º do art. 14 da</p><p>Constituição:</p><p>Art. 14. São condições de elegibilidade, na forma da lei:</p><p>I. a nacionalidade brasileira;</p><p>II. o pleno exercício dos direitos políticos;</p><p>III. o alistamento eleitoral;</p><p>IV. o domicílio eleitoral na circunscrição;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>V. a filiação partidária;</p><p>VI. a idade mínima de:</p><p>a. trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;</p><p>b. trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;</p><p>c. vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,</p><p>Vice-Prefeito e juiz de paz;</p><p>d. dezoito anos para Vereador.</p><p>§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.</p><p>Quanto aos inalistáveis, são aqueles que não cumprem os requisitos necessários para</p><p>exercer o voto, presumindo-se quanto aos estrangeiros e, durante o serviço militar obrigatório,</p><p>os conscritos (art. 14, § 2º, CF).</p><p>A cassação de Direitos Políticos é proibida no Brasil (art. 15 da Constituição),</p><p>sendo que a perda ou suspensão dar-se-ão nos seguintes casos: I - cancelamento da</p><p>naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III -</p><p>condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa</p><p>de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º,</p><p>VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.</p><p>Já para os Partidos Políticos, a Constituição, em seu art. 17, considera livre a criação, a</p><p>fusão, a incorporação e a extinção, resguardados a soberania nacional, o regime democrático,</p><p>o pluripartidarismo e os direitos fundamentais. Ainda ressalvada a necessária obediência aos</p><p>seguintes preceitos: caráter nacional; proibição de recebimento de recursos financeiros de</p><p>entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; prestação de contas à Justiça</p><p>Eleitoral; funcionamento parlamentar de acordo com a lei.</p><p>Os Partidos Políticos são pessoas jurídicas de direito privado, devendo registrar seus</p><p>estatutos no Tribunal Superior Eleitoral (art. 17, § 2º). Possuem autonomia para definir sua</p><p>estrutura interna, organização e funcionamento, além de terem liberdade para escolher</p><p>suas coligações eleitorais, sem necessidade de vinculação em âmbito federal, estadual e</p><p>municipal. Seus estatutos devem estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária,</p><p>sendo absolutamente vedada a utilização pelos Partidos Políticos de organização paramilitar.</p><p>Conforme o parágrafo 3º do art. 17, §, os Partidos Políticos têm direito a recursos do fundo</p><p>partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>Considerações finais</p><p>De tudo que foi apresentado nesta aula, podemos concluir que os Direitos e Garantias</p><p>Fundamentais do indivíduo estão abarcados na nossa Constituição da República de 1988. Não</p><p>poderia ser diferente, pois constituem a base de uma nação organizada.</p><p>Dentre os principais direitos fundamentais aqui levantados estão o direito à vida, à</p><p>liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.</p><p>Além disso, também os Direitos Sociais são considerados fundamentais, por isso, não</p><p>podem deixar de aparecer na presente aula.</p><p>A Constituição da República traz as linhas mestras a respeito da nacionalidade, isto é,</p><p>como tornar-se um cidadão nacional de um país, delimitando aquilo que torna um brasileiro</p><p>como cidadão nato ou naturalizado.</p><p>Ainda, para qualquer nação democrática progredir, é necessária a previsão dos Direitos</p><p>Políticos de definir os rumos do país. Nesse sentido, estão o direito de votar, ser votado e</p><p>participar, como um todo, das decisões fundamentais da nação.</p><p>Juntamente com os Direitos Políticos, advém a necessidade de regular os Partidos</p><p>Políticos, definir o pluripartidarismo como preceito fundamental e regular como se organizam</p><p>e funcionam.</p><p>Com tais direitos expostos, existem fundamentos para a nação crescer organizadamente.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível</p><p>em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 27 abr.</p><p>2015.</p><p>LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2008.</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 08</p><p>Texto de revisão para avaliação</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Revisar os conceitos trabalhados na disciplina.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Revisão dos principais conceitos</p><p>2 Histórico das Constituições de 1967 e Emenda nº 1 de 1969</p><p>3 Poder Constituinte Derivado de Reforma</p><p>4 A separação do Poder no Estado brasileiro</p><p>5</p><p>A divisão de competências entre os entes federativos</p><p>6 Medidas Provisórias</p><p>7 Da nacionalidade na Constituição Federal de 1988</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>O estudo a ser desenvolvido nesta aula refere-se a um resumo dos principais temas</p><p>estudados nas aulas passadas. Será visto um tema de cada aula, aproveitando-se para</p><p>aprofundar o assunto e apresentar exemplos de casos existentes.</p><p>Serão analisados, dentro dos exemplos, julgamentos proferidos pelo Supremo Tribunal</p><p>Federal (STF) a respeito da matéria, uma vez que o STF é o responsável pela guarda da</p><p>Constituição, a norma máxima do país.</p><p>Primeiramente, serão estudadas as bases do Estado e da Constituição. Após, uma análise</p><p>aprofundada da Constituição de 1967 e da Emenda Constitucional nº 1 de 1969.</p><p>A respeito do Poder Constituinte, vamos analisar o Poder Constituinte Derivado</p><p>de Reforma, aquele responsável pela alteração da Constituição através das Emendas</p><p>Constitucionais.</p><p>Ainda, uma análise da separação dos Poderes no Estado brasileiro, em Poder Judiciário,</p><p>Poder Executivo e Poder Legislativo. Após, a divisão de competências entre os entes</p><p>federativos, União, estados, Distrito Federal e municípios.</p><p>A respeito das diferentes espécies de legislação, é interessante estudar aquela que tem</p><p>importância destacada atualmente, a Medida Provisória.</p><p>Por fim, o estudo a respeito da nacionalidade e de casos específicos julgados pelo</p><p>Supremo Tribunal Federal.</p><p>1 Revisão dos principais conceitos</p><p>1.1 Principais informações a respeito da Constituição</p><p>Um Estado-nação se forma em torno de uma norma máxima de observância obrigatória</p><p>pelos seus nacionais, tal norma é chamada de Constituição. Portanto, em sentido jurídico, a</p><p>Constituição é a norma suprema que define os princípios a serem obedecidos pela nação.</p><p>É necessário lembrar que devem estar inseridas nesta Constituição normas que definem</p><p>a estrutura do Estado, a formação do Poder Público, sistema e forma de governo, além dos</p><p>direitos e garantias fundamentais do cidadão.</p><p>Ademais, é na Constituição que é definida a forma de repartição dos Poderes do Estado.</p><p>Neste sentido de formação de um Estado, é interessante observarmos quais são os</p><p>elementos formadores, divididos em quatro: povo, território, poder soberano e finalidade.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>Ainda, é de suma importância observar as diferentes classificações das Constituições</p><p>para, com essa informação, definir como a Constituição da República Federativa do Brasil de</p><p>1988 é classifacada.</p><p>A primeira classificação a s er comentada é quanto à forma: s e a s Constituições são</p><p>escritas ou não escritas. Por óbvio, no Brasil sabemos que a Constituição é escrita.</p><p>Com relação ao conteúdo das Constituições, elas podem ser materiais ou formais.</p><p>No caso da brasileira, a Constituição é formal, ou seja, todas as normas que estão lá</p><p>descritas são oriundas da Constituição, e, assim, conhecidas como normas constitucionais,</p><p>independentemente do conteúdo que contenham.</p><p>A origem das Constituições determina se foram promulgadas (isto é, fruto de regime</p><p>democrático de criação) ou se foram outorgadas (isto é, impostas unilateralmente pelo</p><p>governante). No caso da Constituição brasileira, esta foi promulgada em 1988 pelos membros</p><p>do Congresso Nacional convocados para uma Assembleia Nacional Constituinte.</p><p>O modo de elaboração das Constituições pode ser dogmático, ou seja, à luz de</p><p>determinados dogmas daquela sociedade. Ainda, pode ser histórico, isto é, fruto de evolução</p><p>histórica daquela sociedade em questão. A Constituição brasileira foi dogmática, o que</p><p>significa que foi fruto do pensamento político dominante da época de sua elaboração.</p><p>A estabilidade das Constituições informa se poderão ser alteradas e de qual maneira.</p><p>Podem ser imutáveis, rígidas, flexíveis ou semirrígidas. A Constituição brasileira é do tipo</p><p>rígida, o que significa que seu processo de alterações é distinto e mais dificultoso que o</p><p>modo de alteração de uma lei infraconstitucional. Para alterá-la, necessita-se de quórum</p><p>qualificado de votação.</p><p>Em relação à extensão das Constituições, a brasileira é considerada analítica, também</p><p>chamada de prolixa. Quer dizer que as mais variadas disposições estão contidas na Constituição,</p><p>não tratando apenas das matérias fundamentais de criação de um Estado.</p><p>Com base neste conhecimento, é possível analisarmos o caso específico da Constituição</p><p>de 1937, também conhecida como Constituição “Polaca”. Isto porque, conforme fatos</p><p>narrados historicamente, Getúlio Vargas ascendeu ao Poder em 1930, elaborando um nova</p><p>Constituição em 1934, reconhecidamente como uma Constituição “democrática”.</p><p>Contudo, liderou o golpe de 1937, outorgando uma nova Constituição que limitou em</p><p>muito os direitos do cidadão, tornando-o praticamente um ditador. Nesse viés, a Constituição</p><p>de 1937 é classificada como “outorgada”, ou seja, não é fruto de decisão democrática</p><p>da Assembleia Nacional Constituinte, mas sim da imposição do governante para se manter</p><p>no poder.</p><p>Tal Constituição manteve-se até a promulgação de uma nova Constituição em 1946.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>2 Histórico das Constituições de 1967 e Emenda nº 1 de 1969</p><p>Estudando o histórico das Constituições brasileiras, tomam especial importância a</p><p>Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional nº 1 de 1969. Isto poque inauguraram no</p><p>país o período conhecido como Ditadura, ou Ditadura Militar, uma vez que o país passou a</p><p>ser governado pelos militares.</p><p>Dessa forma, cumpre analisarmos um pouco mais dessa história constitucional brasileira.</p><p>O Golpe Militar de 1964 derrubou João Goulart da Presidência do Brasil sob a suspeita</p><p>de pretender instalar o comunismo no Brasil. Com medo das consequências, o movimento</p><p>oposicionista, com apoio dos militares, tomou o poder e implantou o Ato Institucional nº 1,</p><p>vigorando de 1964 a 1967.</p><p>Em momento seguinte, estabeleceu-se o Ato Institucional nº 2 com eleições indiretas</p><p>para Presidente da República, seguido do AI nº 3 e AI nº 4, para aprovação da Constituição</p><p>de 1967.</p><p>Conforme LENZA (2008, p. 51):</p><p>Na mesma linha da Carta de 1937, a de 1967 concentrou, bruscamente, o poder no</p><p>âmbito federal, esvaziando os Estados e Municípios e conferindo amplos poderes ao</p><p>Presidente da República. Houve forte preocupação com a segurança nacional.</p><p>Diversos direitos e garantias fundamentais dos indivíduos foram suprimidos ainda mais</p><p>com a instituição do AI nº 5 em 1968, por exemplo: o Presidente da República poderia, após</p><p>investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tivessem enriquecido ilicitamente,</p><p>no exercício do cargo ou função; suspendeu-se a garantia de habeas corpus; excluem-se de</p><p>qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional e</p><p>seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos (LENZA, 2008, p. 53-54).</p><p>Foi aprovada logo em seguida a Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de</p><p>1969, que alterou completamente a Constituição de 1967. Constuma-se dizer que a Emenda</p><p>Constitucional nº 1, de 1969, é propriamente uma nova Constituição, uma vez que alterou</p><p>todos os pontos da Constituição anterior.</p><p>Instalou-se no país um governo de Juntas Militares, por eleições indiretas, sendo</p><p>sucessivas as entradas de Presidentes Militares no Poder. Mantiveram-se as restrições de</p><p>direitos apresentadas pela Constituição de 1967.</p><p>3 Poder Constituinte Derivado de Reforma</p><p>Como pudemos estudar, o Poder Constituinte significa o poder conferido a um Estado</p><p>para elaborar a sua Constituição ou mesmo alterar a Constituição vigente. Nesse sentido,</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>também é o Poder Constituinte Derivado de Reforma, que significa a possibilidade</p><p>de reformar</p><p>a Constituição vigente adequando seus dispositivos à evolução da sociedade.</p><p>Entende-se que esta forma de alteração é importante, visto que a sociedade evolui e,</p><p>deste modo, a Consituição pode ser alterada para atendimento desta evolução da sociedade.</p><p>Contudo, para que ocorra a alteração é necessário que haja um quórum qualificado,</p><p>isto é, um nível de exigência maior de modificação com relação às Leis Ordinárias ou</p><p>Complementares. Por isso, a Constituição estabelece que o quórum de aprovação de Emenda</p><p>à Constituição é votação em cada Casa do Congresso Nacional, Câmara de Deputados e</p><p>Senado Federal, em dois turnos de votação, obtendo aprovação com voto de três quintos dos</p><p>membros existentes.</p><p>Esta é a proposição descrita no artigo 60, §2º, da Constituição Federal, que diz:</p><p>§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois</p><p>turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos</p><p>respectivos membros.</p><p>Pela importância que assumem, as Emendas à Constituição são merecedoras de registro.</p><p>4 A separação do Poder no Estado brasileiro</p><p>As três funções conhecidas (administrar, legislar e julgar) não podem recair sobre a</p><p>mesma pessoa ou órgão. Nesse sentido, foi desenvolvida a Teoria da Separação dos Poderes,</p><p>adotada pelo Brasil, inclusive na Constituição de 1988.</p><p>Portanto, a Constituição Federal de 1988 determina, em seu artigo 2º, que são Poderes</p><p>da União o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.</p><p>E mais, a Constituição estabelece, ainda, que tais poderes devem ser harmônicos e</p><p>independentes. Falar em independência significa que um dos poderes não pode se sobressair</p><p>em relação ao outro, desequilibrando a balança. Falar em harmonia significa dizer que devem</p><p>atuar de tal maneira que alcancem o equilíbrio.</p><p>Com base nesse conhecimento, podemos perceber atualmente vários casos em que</p><p>ocorre o desequilíbrio do Poder, sendo corrigido pela atuação do outro Poder prejudicado,</p><p>a reequilibrar a balança. Toda vez que um Poder adentra na esfera de atuação de outro é</p><p>necessário corrigir, a exemplo de quando o Poder Judiciário declara a inconstitucionalidade</p><p>de uma lei criada pelo Poder Legislativo, no chamado controle de constitucionalidade.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>5 A divisão de competências entre os entes federativos</p><p>É interessante relembrar que, sendo uma Federação, o Brasil é formado pela união</p><p>indissolúvel dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Constitui-se um Estado</p><p>Democrático de Direito.</p><p>Dizer estas palavras possui significado maior do que se pensa. Sendo um Estado de</p><p>Direito, no país imperam a lei e a Justiça. Sendo um Estado democrático, adota-se, portanto,</p><p>a democracia, conferindo-se ao povo o título de detentor do Poder.</p><p>A Federação, por sua vez, possui as seguintes características:</p><p>a. Descentralização política: como visto, em uma federação há uma união entre os</p><p>Estados-membros, que conservam sua autonomia, transferindo a soberania ao poder</p><p>central. Essa autonomia autoriza os Estados-membros a regerem-se por constituições</p><p>e leis próprias, observados os preceitos estabelecidos pela Constituição Federal (art.</p><p>25 da Constituição Federal);</p><p>b. Constituição rígida como base jurídica: a Constituição Federal rege a distribuição</p><p>das competências, sendo que o seu mecanismo de alteração deve ser mais rígido do</p><p>que o de criação da legislação ordinária, sendo a forma federativa de Estado cláusula</p><p>imutável, a conferir maior estabilidade e segurança à federação;</p><p>c. Inexistência de direito de secessão: não é permitido aos Estados-membros se</p><p>retirarem da federação;</p><p>d. Soberania do Estado Federal: a soberania é transferida ao poder central (União, no</p><p>Brasil), sendo que os Estados-membros conservam sua autonomia política, financeira</p><p>e administrativa.</p><p>No que pertine à separação de competências, de acordo com a Constituição, cada</p><p>entidade fica responsável por determinada competência, não podendo nenhuma interferir</p><p>no campo de competências da outra.</p><p>Como exemplo, as competências político-administrativas exclusivas da União estão</p><p>descritas no artigo 21 do texto constitucional. No artigo, inciso VI, cabe à União autorizar e</p><p>fiscalizar a produção e o comércio de material bélico.</p><p>Portanto, a nenhum outro Estado-membro ou município é dado o direito de legislar a</p><p>respeito do assunto ou mesmo administrar quando necessário. Nesse sentido, o Supremo</p><p>Tribunal Federal julgou inconstitucional Lei do Estado de Rondônia que autorizada a utilização,</p><p>pelas polícias civis e militares, de armas de fogo apreendidas, entendendo que competência</p><p>para legislar e administrar a questão era exclusiva da União, não cabendo ao Estado dispor:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>Competência da União para legislar sobre direito penal e material bélico. Lei nº</p><p>1.317/2004 do Estado de Rondônia. Lei estadual que autoriza a utilização, pelas</p><p>polícias civil e militar, de armas de fogo apreendidas. A competência exclusiva da União</p><p>para legislar sobre material bélico, complementada pela competência para autorizar</p><p>e fiscalizar a produção de material bélico, abrange a disciplina sobre a destinação de</p><p>armas apreendidas e em situação irregular.</p><p>(ADI 3.258, Rel. Min.Joaquim Barbosa, julgamento em 6-4-2005, Plenário, DJ de 9-9-</p><p>2005). Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.</p><p>asp?item=291</p><p>Nesse mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional lei do</p><p>Estado de Santa Catarina que tratava a respeito do Sistema Financeiro Nacional, que é de</p><p>competência exclusiva da União, conforme artigo 21, inciso VIII:</p><p>Lei nº 12.775/2003 do Estado de Santa Catarina. Competência legislativa. Sistema</p><p>financeiro nacional. Banco. Agência bancária. Adoção de equipamento que,</p><p>embora indicado pelo Banco Central, ateste autenticidade das cédulas de dinheiro</p><p>nas transações bancárias. Previsão de obrigatoriedade. Inadmissibilidade. Regras</p><p>de fiscalização de operações financeiras e de autenticidade do ativo circulante.</p><p>Competências exclusivas da União. Ofensa aos arts. 21, VIII, e 192 da CF.</p><p>(ADI 3.515, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 1º-8-2011, Plenário, DJE de 29-</p><p>9-2011.) Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.</p><p>asp?item=291.</p><p>Portanto, é de suma importância o respeito às competências de cada entidade. Tratando-</p><p>se de competência da União, somente ela possui o Poder de regular a matéria. O mesmo vale</p><p>para os demais entes federativos, estados, Distrito Federal e municípios.</p><p>6 Medidas Provisórias</p><p>As Medidas Provisórias possuem fundamental relevância no modelo de processo</p><p>legislativo adotado pelo Estado brasileiro. Sabe-se que as Medidas Provisórias não são leis,</p><p>contudo, possuem força de lei.</p><p>Conforme artigo 62 da Constituição da República, cabe ao Presidente da República,</p><p>em casos de relevância e urgência, expedir as Medidas Provisórias com força de lei,</p><p>devendo submetê-las ao Congresso Nacional de imediato para apreciação, mantendo-as ou</p><p>derrubando-as. Por essas regras, as MPs têm duração de 60 dias, e não mais de 30 – como</p><p>ocorria anteriormente –, podendo sua vigência ser prorrogada por igual período, caso não</p><p>sejam aprovadas no prazo inicial. A MP que não obtiver aprovação na Câmara e no Senado até</p><p>o prazo final perde a validade desde a edição, ficando o presidente da República impedido de</p><p>reeditá-la na mesma sessão legislativa.</p><p>http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=3258&CLASSE=ADI&cod_classe=504&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M&EMENTA=2204</p><p>http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628104</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>E mais, trata ainda, o artigo 62 das matérias que não podem ser vinculadas através de</p><p>Medida Provisória, a exemplo do Direito Penal, Processual Penal e Processual Civil.</p><p>Portanto, não pode o</p><p>Presidente da República expedir Medida Provisória pretendendo</p><p>alterar normas dessas três matérias. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal julgou</p><p>inconstitucional Medida Provisória que pretendeu alterar dispositivos processuais, o que é</p><p>vedado:</p><p>Inconstitucionalidade. Ação direta. Art. 9 da MP, 2.164-41/2001. Introdução do art.</p><p>29-C na Lei nº 8.036/1990. Edição de medida provisória. Sucumbência. Honorários</p><p>advocatícios. Ações entre FGTS e titulares de contas vinculadas. Inexistência de</p><p>relevância e de urgência. Matéria, ademais, típica de direito processual. Competência</p><p>exclusiva do Poder Legislativo. [...] É inconstitucional a medida provisória que,</p><p>alterando lei, suprime condenação em honorários advocatícios, por sucumbência, nas</p><p>ações entre o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e titulares de contas</p><p>vinculadas, bem como naquelas em que figurem os respectivos representantes ou</p><p>substitutos processuais.</p><p>(ADI 2.736, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 8-9-2010, Plenário, DJE de 29-3-</p><p>2011.) Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp</p><p>Pela leitura, é possível perceber que deve ser declarada inconstitucional qualquer</p><p>Medida Provisória que trata de Direito Processual, uma vez proibido o tratamento nesta</p><p>espécie legislativa.</p><p>Nesse mesmo sentido é o julgamento a seguir, que nega o uso da Medida Provisória em</p><p>matéria de Direito Penal:</p><p>Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal, extraída pela doutrina</p><p>consensual da interpretação sistemática da Constituição, não compreende a de</p><p>normas penais benéficas, assim, as que abolem crimes ou lhes restringem o alcance,</p><p>extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção de pena ou de extinção</p><p>de punibilidade.</p><p>(RE 254.818, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 8-11-2000, Plenário, DJ de</p><p>19-12-2002.) Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp</p><p>Portanto, algumas matérias não podem ser veiculadas por Medidas Provisórias, sob pena</p><p>de inconstitucionalidade.</p><p>7 Da nacionalidade na Constituição Federal de 1988</p><p>Primeiramente, cumpre relembrar o conceito de nacionalidade, em sentido jurídico,</p><p>disposto por Lenza (2008, p. 669): “[...] vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a</p><p>determinado Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o povo daquele Estado,</p><p>e, por consequência, desfrute de direitos e submeta-se a obrigações”</p><p>http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=621140</p><p>http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?SEQ=258412&PROCESSO=254818&CLASSE=RE&cod_classe=437&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=&EMENTA=2096</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>Pela leitura, nacionalidade é o vínculo que une o indivíduo ao país, passando a integrar</p><p>o povo daquele Estado.</p><p>O artigo 12 da Constituição retrata quem é nacional brasileiro, distinguindo a nacionalidade</p><p>origiária da nacionalidade secundária, ou seja, o brasileiro nato do brasileiro naturalizado.</p><p>Portanto, será brasileiro nato (BRASIL, 1988):</p><p>a. os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,</p><p>desde que estes não estejam a serviço de seu país;</p><p>b. os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer</p><p>deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;</p><p>c. os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam</p><p>registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República</p><p>Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade,</p><p>pela nacionalidade brasileira.</p><p>Por sua vez, será brasileiro naturalizado (BRASIL, 1988):</p><p>a. os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos</p><p>originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto</p><p>e idoneidade moral;</p><p>b. os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa</p><p>do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que</p><p>requeiram a nacionalidade brasileira.</p><p>Várias questões surgem a respeito do assunto. Cita-se, a título de exemplo, o julgamento</p><p>proferido pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 418.096:</p><p>São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira,</p><p>desde que venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade</p><p>brasileira. A opção pode ser feita a qualquer tempo, desde que venha o filho de pai</p><p>brasileiro ou de mãe brasileira, nascido no estrangeiro, a residir no Brasil. Essa opção</p><p>somente pode ser manifestada depois de alcançada a maioridade. É que a opção, por</p><p>decorrer da vontade, tem caráter personalíssimo. Exige-se, então, que o optante tenha</p><p>capacidade plena para manifestar a sua vontade, capacidade que se adquire com a</p><p>maioridade. Vindo o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira,</p><p>a residir no Brasil, ainda menor, passa a ser considerado brasileiro nato, sujeita essa</p><p>nacionalidade a manifestação da vontade do interessado, mediante a opção, depois</p><p>de atingida a maioridade. Atingida a maioridade, enquanto não manifestada a opção,</p><p>esta passa a constituir-se em condição suspensiva da nacionalidade brasileira.</p><p>(RE 418.096, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 22-3-2005, Segunda Turma, DJ</p><p>de 22-4-2005.) Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp</p><p>http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=368429&idDocumento=&codigoClasse=437&numero=418096&siglaRecurso=&classe=RE</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>Pela leitura, percebe-se que o estrangeiro, de pai ou mãe brasileiro, quando maior,</p><p>venha a residir no país poderá adquirir a nacionalidade originária brasileira, ou seja, tornar-</p><p>se brasileiro nato.</p><p>Registrou também o Supremo Tribunal que o mero casamento civil não confere direito à</p><p>naturalização do estrangeiro, conforme abaixo:</p><p>Não se revela possível, em nosso sistema jurídico-constitucional, a aquisição da</p><p>nacionalidade brasileira jure matrimonii, vale dizer, como efeito direto e imediato</p><p>resultante do casamento civil. Magistério da doutrina.</p><p>(Ext 1.121, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 18-12-2009, Plenário, DJE de 25-</p><p>6-2010.)</p><p>Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp</p><p>Isto porque as possibilidades de naturalização estão expressamente previstas no inciso</p><p>II do artigo 12 da Constituição. Qualquer outra maneira não prevista ali não será admitida.</p><p>Considerações finais</p><p>Tivemos a oportunidade de analisar nesta aula os principais conceitos do Direito</p><p>Constitucional, desde o início da formação do Estado, passando pelo processo legislativo,</p><p>divisão de competências e Direitos Fundamentais, Sociais e Políticos, terminando em</p><p>nacionalidade.</p><p>Pudemos estudar casos julgados pelo Supremo Tribunal Federal, em seu acervo de</p><p>jurisprudência. O enriquecimento do estudo é realizado com o estudo de casos, como visto</p><p>aqui.</p><p>Iniciando-se com a caracterização do Estado brasileiro, pode-se concluir o que se</p><p>considera um Estado Democrático de Direito, baseado na lei e no direito.</p><p>Após, analisando-se a Constituição de 1967, conclui-se que foi outorgada pelo</p><p>governando, não sendo resultado de produção democrática.</p><p>Sobre o Poder Constituinte Derivado de Reforma, este é exercido através das Emendas</p><p>Constitucionais, com importância maior ao quórum de aprovação diferenciado, o que confere</p><p>rigidez ao texto constitucional.</p><p>Viu-se o equilíbrio fundamental entre os três Poderes, o que mantém o Estado brasileiro</p><p>incólume. Passou-se à divisão de competências entre a União, os estados, o Distrito Federal e</p><p>os municípios, estudando-se casos julgados pelo Supremo Tribunal Federal.</p><p>Pela análise das Medidas Provisórias, concluiu-se que são de expedição exclusiva do</p><p>Presidente da República, ficando, este, adstrito às matérias delimitadas pela Constituição,</p><p>http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=612467</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>11</p><p>sob pena de inconstitucionalidade.</p><p>Por fim, aprofundamento no tema da nacionalidade, separando-se os nacionais</p><p>originários dos nacionais derivados.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível</p><p>em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 9 maio</p><p>2015.</p><p>______. Supremo Tribunal Federal. A Constituição e o Supremo. Disponível em: <http://www.</p><p>stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp?item=291>. Acesso em: 10 maio 2015.</p><p>LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2008.</p><p>http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp?item=291</p><p>http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp?item=291</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 09</p><p>Relação Executivo e Legislativo na produção de políticas</p><p>públicas: aspectos jurídicos.</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender a relação do Executivo e Legislativo no processo decisório do</p><p>presidencialismo de coalizão brasileiro sob a ótica jurídica.</p><p>• Estudar essa relação para além da configuração normativo-constitucional,</p><p>integrando o processo político na análise.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Das políticas públicas na Constituição</p><p>2 Comandos constitucionais dirigentes na definição de políticas públicas</p><p>3 Do papel do Presidente da República na execução das políticas públicas</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>Assunto intrigante no mundo jurídico-político são as formas de integração entre o Poder</p><p>Executivo e o Poder Legislativo na elaboração e aplicação das políticas públicas.</p><p>Considerando a função de cada Poder – ao Legislativo criar leis e ao Executivo gerir</p><p>a máquina pública, com base nas leis criadas pelo Legislativo – fica claro que deve haver</p><p>harmonia entre os Poderes, sob pena de por tudo a perder.</p><p>Portanto, é de grande interesse estudarmos os dispositivos constitucionais que lançam</p><p>as diretrizes das políticas públicas, para entendermos o jogo político-jurídico entre os citados</p><p>Poderes.</p><p>Para tanto, estudaremos primeiramente as normas de eficácia plena, contida e limitada,</p><p>na classificação de José Afonso da Silva.</p><p>Após, veremos as disposições constitucionais dirigentes na Constituição.</p><p>Por fim, o papel do Presidente da República nas políticas públicas.</p><p>Para que possamos iniciar a abordagem do tema, é necessário compreender a nossa</p><p>Constituição no que toca aos Poderes Constituídos.</p><p>Nossa Constituição Federal adotou o princípio da separação de Poderes e, para tanto,</p><p>criou os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Diz o artigo 2º da Constituição Federal:</p><p>“São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o</p><p>Judiciário” (BRASIL, 1988).</p><p>Como se sabe, cada um dos três Poderes tem funções primordiais. O Poder Legislativo</p><p>tem a atribuição de fazer as leis, o Executivo de administrar as políticas públicas, nos termos</p><p>das leis, e o Judiciário de julgar os conflitos de interesses que lhe são submetidos.</p><p>Por fim, podemos dizer que a Constituição brasileira é classificada como “dirigente”,</p><p>classificação dada às constituições que instituem diretrizes, valores a serem alcançados, ou</p><p>políticas a serem seguidas pelo Estado.</p><p>1 Das políticas públicas na Constituição</p><p>Para que possamos falar sobre políticas públicas, é necessário conhecer a Constituição</p><p>Federal, nossa norma de maior importância, que institui os valores e objetivos a serem</p><p>alcançados pelo Estado brasileiro. É importante, também, destacar o papel do Poder Executivo,</p><p>que é o responsável pela administração das políticas públicas.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>1.1 Normas de eficácia plena</p><p>Alguns dos valores/objetivos existentes na Constituição possuem aplicação imediata</p><p>e plena, como a maior parte dos dispositivos que enunciam os direitos e as garantias</p><p>fundamentais dispostas no artigo 5º da Constituição Federal, não dependendo de qualquer</p><p>outra espécie de norma para produzir seus efeitos. Devem ser observados e obedecidos,</p><p>plenamente, por todos os cidadãos e por todas as entidades públicas. Essas normas são</p><p>chamadas de normas de eficácia plena.</p><p>1.2 Normas de eficácia contida</p><p>Outros dispositivos, no entanto, apesar de disciplinarem direitos e garantias fundamentais,</p><p>necessitam de uma atuação do Poder Legislativo para funcionar adequadamente. Tais</p><p>normas são conhecidas como normas de eficácia contida. Mas, cuidado, possuem aplicação</p><p>imediata e direta, contudo, são sujeitas a restrições legais ou regulamentares, que limitam</p><p>ou regulamentam sua eficácia e aplicabilidade. Em conclusão, podem ser restringidas pelo</p><p>legislador. Por exemplo, o artigo 5º, inciso LVIII, da Constituição afirma que o civilmente</p><p>identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em</p><p>lei. Nesse exemplo, aplica-se diretamente a norma. Contudo, a Lei nº 10.054/00 veio para</p><p>restringir a norma constitucional como a “Lei de identificação”.</p><p>1.3 Normas de eficácia limitada</p><p>Outras normas, apesar de estarem expressas na Constituição, não produzem, de</p><p>imediato, seus efeitos essenciais. Somente valerão por completo após serem regulamentadas</p><p>pelo Poder Legislativo. São as normas de eficácia limitada. O professor José Afonso da Silva</p><p>classifica as normas de eficácia limitada em dois grupos distintos: as de eficácia limitada</p><p>definidoras de princípios institutivos ou organizativos; e as de eficácia limitada definidoras de</p><p>princípios programáticos. Vale a pena conhecer.</p><p>As normas constitucionais definidoras de princípios institutivos ou organizativos são</p><p>aquelas que abordam temas gerais relativos à estruturação e organização dos órgãos estatais.</p><p>São exemplos: art. 33, art. 88 e art. 113 da Constituição.</p><p>Já as normas constitucionais definidoras de princípios programáticos, nas palavras de</p><p>Paulo e Alexandrino (2014, p. 64):</p><p>[...] são aquelas em que o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente,</p><p>determinados interesses, limitou-se a lhes traçar os princípios e diretrizes, para serem</p><p>cumpridos pelos órgãos integrantes dos poderes constituídos (legislativos, executivos,</p><p>jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas atividades, visando</p><p>à realização dos fins sociais do Estado. Constituem programas a serem realizados pelo</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>Poder Público, disciplinando interesses econômico-sociais, tais como: realização da</p><p>justiça social; valorização do trabalho; amparo à família; combate ao analfabetismo,</p><p>etc. Esse grupo é composto pelas normas que a doutrina constitucional denomina</p><p>normas programáticas, de que são exemplos o art. 7º, XX; o art. 7º, XXVII; o art. 173,</p><p>§ 4º; o art. 216, § 3º.</p><p>Interessante destacar que as normas constitucionais de eficácia limitada são destinadas</p><p>ao Poder Legislativo, principalmente, visto que esse Poder é o responsável pela edição das</p><p>leis infraconstitucionais regulatórias, que deverão sem cumpridas pelo Poder Executivo</p><p>na administração das políticas públicas, e pelo Judiciário no julgamento dos conflitos de</p><p>interesses.</p><p>2 Comandos constitucionais dirigentes na definição de</p><p>políticas públicas</p><p>No tocante aos comandos constitucionais “dirigentes”, relativo às políticas públicas</p><p>delineadas pela Constituição, a serem buscadas e obedecidas pelos Poderes Constituídos,</p><p>vale a pena fazer uma breve análise, com o intuito de aferir a participação e integração dos</p><p>Poderes no processo de definição dessas políticas, conforme artigo 7º da Constituição da</p><p>República descrito abaixo:</p><p>Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à</p><p>melhoria de sua condição social:</p><p>[...]</p><p>XX - proteção do mercado de trabalho da mulher,</p><p>mediante incentivos específicos, nos</p><p>termos da lei;</p><p>[...]</p><p>XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;</p><p>Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e</p><p>imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à</p><p>identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade</p><p>brasileira, nos quais se incluem:</p><p>[...]</p><p>§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores</p><p>culturais.</p><p>§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.</p><p>(BRASIL, 1988).</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>Note que todos os dispositivos constitucionais acima citados referem-se à lei, que deve</p><p>ser elaborada pelo Poder Legislativo, responsável por tornar efetivos e regulamentar os</p><p>comandos constitucionais.</p><p>Por isso, é necessário haver um mínimo de harmonia entre os Poderes em questão para o</p><p>avanço das políticas públicas, uma vez que o Poder Legislativo é o responsável pela produção</p><p>das leis que irão complementar a própria Constituição, cabendo ao Poder Executivo aplicá-las</p><p>na prática.</p><p>Nesse sentido, cumpre mencionar a participação dos Poderes Legislativo e Executivo</p><p>na elaboração do sistema legal. Isso porque, conforme o texto Constitucional ensina,</p><p>o procedimento de elaboração da legislação ordinária – Lei Ordinária: é feito através dos</p><p>membros do Poder Legislativo que deliberam sobre o projeto de lei, o aprovam e encaminham</p><p>para o Chefe do Poder Executivo – Presidente da República, para sanção ou veto.</p><p>Havendo veto pelo Presidente da República, o projeto de Lei retornará para o Congresso</p><p>Nacional e será posto em nova votação, com a finalidade de manter o veto do Presidente</p><p>intacto ou derrubá-lo, voltando o projeto de lei à vida. Tudo em sessão conjunta do Congresso</p><p>Nacional.</p><p>Tal procedimento consagra a participação dos dois Poderes na elaboração das leis,</p><p>devendo haver integração entre eles, dada a importância da regulamentação dos temas</p><p>previstos na Constituição, para a melhor execução das políticas públicas.</p><p>Veja se o texto da Constituição:</p><p>Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só</p><p>turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora</p><p>o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.</p><p>Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.</p><p>Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao</p><p>Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.</p><p>§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte,</p><p>inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no</p><p>prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de</p><p>quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.</p><p>§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso</p><p>ou de alínea.</p><p>§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará</p><p>sanção.</p><p>§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu</p><p>recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>e Senadores. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 76, de 2013)</p><p>§ 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao</p><p>Presidente da República.</p><p>§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na</p><p>ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação</p><p>final. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)</p><p>§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente</p><p>da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se</p><p>este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. (BRASIL,</p><p>1988).</p><p>Além das leis ordinárias, vale citar, também, as leis delegadas, que são elaboradas pelo</p><p>Presidente da República (Chefe do Poder Executivo), que deverá solicitar a delegação ao</p><p>Congresso Nacional (Poder Legislativo). A delegação deve especificar a respectiva matéria</p><p>a ser debatida e os termos de seu exercício (art. 68, § 2º). O Congresso Nacional pode</p><p>determinar a submissão do projeto de lei delegada à sua aprovação, por votação única, sendo</p><p>vedadas quaisquer emendas (art. 68, § 3º da CF).</p><p>Também há controle político (e não jurídico) de legalidade. Ora, no caso de a lei delegada</p><p>extrapolar os limites estipulados pelo Congresso Nacional através da Resolução que concedeu</p><p>à delegação, o próprio Congresso Nacional poderá sustar os efeitos da parte excedente</p><p>mediante Decreto Legislativo (art. 49, V). É um exemplo de lei delegada à nº 13, de 27 de</p><p>agosto de 1992, que institui gratificações de atividades para os servidores civis do Poder</p><p>Executivo.</p><p>Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá</p><p>solicitar a delegação ao Congresso Nacional.</p><p>§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso</p><p>Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado</p><p>Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:</p><p>I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de</p><p>seus membros;</p><p>II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;</p><p>III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.</p><p>§ 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso</p><p>Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.</p><p>§ 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este</p><p>a fará em votação única, vedada qualquer emenda.</p><p>Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>[...]</p><p>V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar</p><p>ou dos limites de delegação legislativa. (BRASIL, 1988).</p><p>3 Do papel do Presidente da República na execução das</p><p>políticas públicas</p><p>Na execução das políticas públicas, primordial é o papel do Presidente da República,</p><p>chefe do Poder Executivo no âmbito federal. No âmbito estadual, o chefe do Executivo é o</p><p>Governador do Estado, e, no âmbito municipal, o chefe do Executivo é o Prefeito Municipal.</p><p>As atribuições constitucionais atribuídas ao Presidente da República também valem para os</p><p>governadores e prefeitos, no que for aplicável. Vale a pena conferir o texto constitucional.</p><p>Das Atribuições do Presidente da República</p><p>Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:</p><p>I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;</p><p>II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração</p><p>federal;</p><p>III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;</p><p>IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e</p><p>regulamentos para sua fiel execução;</p><p>V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;</p><p>VI – dispor, mediante decreto, sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº</p><p>32, de 2001);</p><p>a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar</p><p>aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; (Incluída pela</p><p>Emenda Constitucional nº 32, de 2001);</p><p>b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; (Incluída pela Emenda</p><p>Constitucional nº 32, de 2001);</p><p>VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes</p><p>diplomáticos;</p><p>VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do</p><p>Congresso Nacional;</p><p>IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;</p><p>X - decretar e executar a intervenção federal;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da</p><p>abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências</p><p>que julgar necessárias;</p><p>XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos</p><p>instituídos em lei;</p><p>XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da</p><p>Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los</p><p>para os cargos que lhes são privativos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº</p><p>23, de 02/09/99).</p><p>XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal</p><p>Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-</p><p>Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores,</p><p>quando determinado em lei;</p><p>XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da</p><p>União;</p><p>XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-</p><p>Geral da União;</p><p>XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;</p><p>XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional;</p><p>XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso</p><p>Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas,</p><p>e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;</p><p>XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;</p><p>XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;</p><p>XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras</p><p>transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;</p><p>XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes</p><p>orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição;</p><p>XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a</p><p>abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;</p><p>XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;</p><p>XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;</p><p>XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.</p><p>Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas</p><p>nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas</p><p>respectivas delegações. (BRASIL, 1988).</p><p>Portanto, na realização das políticas públicas, a função essencial cabe ao próprio</p><p>Presidente da República, podendo este delegar parte de suas atribuições aos Ministros de</p><p>Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União.</p><p>Atente-se ao fato de que, em diversos dispositivos transcritos acima, a Constituição</p><p>ressalvou a necessidade de criação de lei quando disse: “na forma da lei” (BRASIL, 1988).</p><p>Portanto, a interação com o Poder Legislativo deve ser harmônica, uma vez que é esse Poder</p><p>que realizará a elaboração das leis ordinárias ou complementares.</p><p>Considerações finais</p><p>Por toda leitura que se realizou, podemos concluir a premente necessidade de interação</p><p>entre os Poderes Legislativo e Executivo na produção das políticas públicas, cada qual com</p><p>o seu papel, restando ao Poder Legislativo inovar à ordem jurídica, criando leis, e ao Poder</p><p>Executivo administrar a coisa pública, com base nas leis criadas pelo Poder Legislativo.</p><p>Para tanto, existem normas constitucionais que possuem plena eficácia, eficácia contida</p><p>e eficácia limitada, pois produzem efeitos imediatamente ou necessitam de regulação por lei,</p><p>a depender do caso concreto.</p><p>Os comandos dirigentes são, portanto, aqueles dispositivos constitucionais que apontam</p><p>objetivos, metas a serem cumpridas e, por isso mesmo, são a essência da política pública.</p><p>Nesse sentido, o citado artigo 7º da Constituição Federal.</p><p>Por fim, verificamos o importante papel do Presidente da República ao lermos as</p><p>atribuições que a própria Constituição Federal lhe reservou.</p><p>Referências</p><p>ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado. 12. ed. São</p><p>Paulo: Método: 2014.</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial</p><p>da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 23 maio 2015.</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 10</p><p>O controle de constitucionalidade: ADINs</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender a supremacia da Constituição no escalonamento normativo.</p><p>• Analisar o processo de verificação de compatibilidade e adequação entre um</p><p>ato jurídico e a Constituição.</p><p>• Entender os conceitos de controle preventivo e repressivo, bem como de</p><p>controle difuso e concentrado.</p><p>• Estudar as vias de controle de constitucionalidade.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Conceito de controle de constitucionalidade</p><p>2 Da inconstitucionalidade</p><p>3 Controle de constitucionalidade preventivo e repressivo</p><p>4 Controle de constitucionalidade difuso ou concentrado</p><p>5 Sistemas de controle de constitucionalidade em concreto e em abstrato</p><p>6 Modalidades de ação para o controle de constitucionalidade</p><p>7 Modulação de efeitos</p><p>8 Declarações de nulidade total, parcial ou parcial sem redução de texto</p><p>9 Princípio da reserva de plenário</p><p>10 Irrecorribilidade no controle de constitucionalidade</p><p>11 Controle de constitucionalidade de leis municipais</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>De acordo com o escalonamento das normas no Brasil, a Constituição Federal é norma</p><p>suprema, sendo que todas as demais devem obedecer a seus preceitos, sob pena de serem</p><p>expurgadas do sistema normativo.</p><p>Em caso de eventual discordância de legislação infraconstitucional com relação à</p><p>própria Constituição, será necessário expurgar a norma discordante através de controle de</p><p>constitucionalidade.</p><p>Dessa forma, é necessário o estudo do controle de constitucionalidade dos atos</p><p>normativos, pois não podem contrariar a Constituição Federal que lhes dá validade.</p><p>Serão estudados, a partir desse momento, as principais nuances do controle de</p><p>constitucionalidade, passando-se por conceitos e adentrando-se no mérito das ações</p><p>existentes para realizar tal controle.</p><p>Bons estudos.</p><p>1 Conceito de controle de constitucionalidade</p><p>É o controle da adequação que deve existir entre as normas infraconstitucionais e a</p><p>Constituição.</p><p>Para Moraes (2012, p. 637), “[...] controlar a constitucionalidade significa verificar a</p><p>adequação (compatibilidade) de uma lei ou ato normativo com a constituição, verificando</p><p>seus requisitos formais e materiais”.</p><p>A Constituição, ao mencionar o controle de constitucionalidade, no art. 102, I, “a”, refere-</p><p>se à “lei ou ato normativo”. Para efeito de controle de constitucionalidade, considera-se a</p><p>expressão “lei” em sentido amplo. Assim, o termo “lei” pode ser entendido como qualquer</p><p>dos atos legislativos previstos no art. 59 da Constituição (emendas constitucionais, medidas</p><p>provisórias, leis complementares etc.). Quanto à expressão “ato normativo”, tem-se que se</p><p>trata de todos os atos expedidos pelos três Poderes, como portarias, normas regimentais,</p><p>instruções normativas, decretos, regulamentos, editais etc.</p><p>O controle de constitucionalidade tem fundamento na classificação “rígida” que possui a</p><p>nossa Constituição. Na classificação das constituições, a Constituição Brasileira é considerada</p><p>como escrita, sendo reunida em um texto único, e “rígida”, visto que possui um mecanismo</p><p>de alteração qualificado, mais rigoroso do que o da legislação infraconstitucional. Para alterar</p><p>a Constituição, é preciso uma Emenda Constitucional,</p><p>que é votada em dois turnos, em cada</p><p>casa do Congresso Nacional, exigindo-se, em cada votação, o quórum qualificado de três</p><p>quintos dos respectivos membros. Para a modificação da legislação ordinária, por exemplo,</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>é necessário votação em turno único, em cada casa do Congresso Nacional, sendo o quórum</p><p>necessário, de maioria simples, dos membros presentes na votação.</p><p>Assim, por possuir um mecanismo de alteração mais rigoroso, significa dizer que a</p><p>Constituição possui status superior, hierarquia superior, balizando todo o ordenamento</p><p>jurídico infraconstitucional, que não poderá ser contrário a seus ditames.</p><p>Daí a necessidade de se estabelecer um mecanismo de verificação da constitucionalidade</p><p>das leis e dos atos normativos criados pelos Poderes Constituídos.</p><p>Dois pressupostos são imprescindíveis para que se possa exercer o controle de</p><p>constitucionalidade: a existência de uma Constituição rígida, de hierarquia superior em</p><p>relação à legislação infraconstitucional, e a existência de um órgão responsável por realizar,</p><p>legitimamente, essa verificação.</p><p>2 Da inconstitucionalidade</p><p>Dito tudo isso, precisa-se conhecer o conceito de inconstitucionalidade:</p><p>Inconstitucionalidade é a contrariedade à Constituição, seja de uma lei, seja de um ato</p><p>normativo. Para Alexandrino e Paulo (2014, p. 775):</p><p>Inconstitucional é, pois, a ação ou omissão que ofende, no todo ou em parte, a</p><p>Constituição. [...] Inconstitucionalidade é qualquer manifestação do Poder Público</p><p>(ou de quem exerça, por delegação, atribuições públicas), comissiva ou omissiva, em</p><p>desrespeito à Carta da República.</p><p>A inconstitucionalidade pode ocorrer por ação ou por omissão. Por ação, ocorre quando</p><p>da elaboração de uma lei ou norma contrária à Constituição. Por omissão, ocorre quando</p><p>da omissão do Poder Público resultar na impossibilidade do cumprimento de preceitos</p><p>constitucionais. Sempre que um comando Constitucional não puder ser cumprido por inércia</p><p>do Poder Público haverá inconstitucionalidade. A inconstitucionalidade por omissão pode</p><p>ser combatida por meio de duas ações previstas na Constituição, são o mandado de injunção</p><p>(art. 5º, LXXI, da CF) e a ação de inconstitucionalidade por omissão (art. 103, § 2º, da CF).</p><p>O mandado de injunção é ação constitucional e visa a tornar efetivo um direito previsto na</p><p>Constituição, relativo à nacionalidade, soberania ou cidadania, que não pode ser exercido por</p><p>inércia do Poder Público em regulamentar o assunto. Pode ser proposto por qualquer pessoa,</p><p>física ou jurídica, contra o órgão responsável pela omissão. O procedimento será o mesmo</p><p>do mandado de segurança, enquanto não houver lei específica (art. 24, parágrafo único, da</p><p>Lei nº 8.038/90). A decisão tem efeito de declarar a mora do órgão responsável pela omissão</p><p>para que tome as providências necessárias. Falaremos sobre a ação de inconstitucionalidade</p><p>por omissão adiante.</p><p>A inconstitucionalidade pode ser também material ou formal (procedimental). Será</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>material quando a matéria (assunto) da lei ou do ato normativo for contrária à Constituição.</p><p>Será procedimental quando a forma de elaboração da lei ou do ato normativo estiver em</p><p>desacordo com a forma determinada na Constituição (quórum de votação de maioria absoluta</p><p>das leis complementares, por exemplo, previsto no art. 69 da Constituição).</p><p>A inconstitucionalidade pode ser total ou parcial. Será total quando a lei ou ato for</p><p>integralmente inconstitucional, ocorrendo normalmente quando há vício de forma ou</p><p>procedimento. A inconstitucionalidade parcial é a que atinge apenas parte da lei ou do ato</p><p>normativo.</p><p>A respeito da inconstitucionalidade circunstancial, em determinados casos, a aplicação</p><p>de uma lei considerada constitucional pode gerar uma situação de inconstitucionalidade</p><p>em um determinado caso concreto, devido às suas circunstâncias peculiares. Essa</p><p>inconstitucionalidade é denominada circunstancial, visto que só ocorre na aplicação da lei</p><p>para determinadas situações específicas. Por isso, o Supremo Tribunal Federal, em suas</p><p>decisões, adota para esses casos a declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução</p><p>de texto ou a interpretação conforme a Constituição, institutos que conheceremos adiante.</p><p>3 Controle de constitucionalidade preventivo e repressivo</p><p>O controle de constitucionalidade pode ser preventivo ou repressivo.</p><p>O controle preventivo ocorre antes da elaboração da lei ou norma. No tocante às leis,</p><p>o controle preventivo incide sobre o projeto de lei e é exercido no Legislativo por meio das</p><p>Comissões de Constituição e Justiça (art. 58 da CF), que são os órgãos responsáveis por</p><p>analisar a constitucionalidade dos projetos de lei na Câmara dos Deputados e no Senado</p><p>Federal. O Poder Executivo exerce o controle preventivo através do instituto do veto (art. 84,</p><p>V, da Constituição), impedindo que leis inconstitucionais entrem em vigor.</p><p>Controle preventivo pelo Poder Judiciário: de maneira excepcional, o Supremo</p><p>Tribunal Federal entende ser legítima a concessão de mandado de segurança impetrado</p><p>por parlamentares, contra de projeto de lei considerado inconstitucional. Tal ação tem por</p><p>objetivo impedir a tramitação de projeto de lei com matéria contrária à Constituição.</p><p>O controle repressivo ocorre após a elaboração da lei considerada inconstitucional e</p><p>é exercido, via de regra, pelo Poder Judiciário. Excepcionalmente, a Constituição admite o</p><p>controle repressivo pelo Poder Legislativo, nas hipóteses do art. 49, V, (sustação de atos do</p><p>Poder Executivo pelo Congresso Nacional) e do art. 62, § 5º (medidas provisórias rejeitadas</p><p>pelo Congresso Nacional por não atenderem aos pressupostos de relevância e urgência).</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>4 Controle de constitucionalidade difuso ou concentrado</p><p>Quanto aos critérios de controle de constitucionalidade vigentes no Brasil, são dois: o</p><p>critério difuso, que ocorre pela via incidental ou de defesa; e o critério concentrado, que</p><p>ocorre por meio de ação. No critério difuso, o controle de constitucionalidade é exercido</p><p>pelos integrantes do Poder Judiciário (juízes e tribunais), na apreciação de casos concretos,</p><p>judiciais, em que se questiona a constitucionalidade de uma lei ou de um ato normativo. No</p><p>critério concentrado, o controle é exercido por um único órgão, visto que, no Brasil, esse</p><p>órgão é o Supremo Tribunal Federal.</p><p>São as vias de ação para o controle de constitucionalidade a incidental ou a defesa.</p><p>Via de ação significa o modo pelo qual a lei será questionada perante o Judiciário. A via</p><p>incidental ou de defesa ocorre na discussão de um caso concreto (controle difuso), levado ao</p><p>Judiciário pelas partes, em que ocorre o questionamento da constitucionalidade da lei ou do</p><p>ato normativo. Aqui a decisão terá efeito entre as partes litigantes. Na via de ação (controle</p><p>concentrado), o objeto é declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade de uma</p><p>lei ou ato normativo. A decisão, nesse caso, terá efeitos erga omnes. Por exemplo, a decisão</p><p>proferida na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.424 pelo Supremo Tribunal Federal</p><p>conferiu efeitos vinculantes e contra todos no sentido de manter a ação penal fundada na Lei</p><p>Maria da Penha como pública e incondicionada.</p><p>5 Sistemas de controle de constitucionalidade em concreto e</p><p>em abstrato</p><p>Quando o controle de constitucionalidade ocorre por meio do critério difuso, por via de</p><p>defesa (incidental), a doutrina o classifica como “em concreto”. Nesse caso, a declaração de</p><p>inconstitucionalidade acontece no meio de um processo judicial, em um caso concreto, em</p><p>que as partes, ao discutirem determinada relação jurídica, alegam a inconstitucionalidade</p><p>de determinada lei ou norma. A decisão judicial, nesse caso, pela declaração de</p><p>inconstitucionalidade, tem efeito somente</p><p>entre as partes do processo (decisão inter partes).</p><p>Por exemplo, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 820.442/SP, o Supremo Tribunal</p><p>Federal entendeu inconstitucional a criação de cargos em comissão que não possuem caráter</p><p>de assessoramento, chefia ou direção, valendo apenas entre as partes do processo e não</p><p>contra todos.</p><p>Caso, nesse processo, haja recurso extraordinário e a causa vá ao Supremo Tribunal</p><p>Federal (recurso extraordinário), se este decidir pela inconstitucionalidade da lei, haverá</p><p>necessidade de comunicação ao Senado Federal, para que este suspenda a executoriedade</p><p>da lei declarada inconstitucional (art. 52, X, da CF).</p><p>Quando o controle de constitucionalidade ocorre por via de ação (ação direta de</p><p>inconstitucionalidade, por exemplo), por via concentrada, a doutrina o classifica como “em</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>abstrato”. Aqui, o objeto é a própria declaração de inconstitucionalidade da lei, de forma</p><p>direta. A decisão, nesse caso, valerá para todos, efeito erga omnes.</p><p>6 Modalidades de ação para o controle de</p><p>constitucionalidade</p><p>Existem cinco modalidades de ação direta no controle em abstrato. São elas:</p><p>a. Ação direta de inconstitucionalidade;</p><p>b. Ação declaratória de constitucionalidade;</p><p>c. Ação de inconstitucionalidade por omissão;</p><p>d. Representação interventiva;</p><p>e. Arguição de descumprimento de preceito fundamental.</p><p>6.1 Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)</p><p>É a principal via de declaração de inconstitucionalidade de lei e atos normativos federais</p><p>e estaduais, perante a Constituição Federal. É ação de competência originária do Supremo</p><p>Tribunal Federal (art. 102, I, “a”, da CF). Está regulamentado na Lei nº 9.868/99. Nos Estados,</p><p>a competência para julgar a ADI, em face de lei estadual ou municipal contrária à Constituição</p><p>Estadual, é do Tribunal de Justiça (art. 125, § 2º, CF). O efeito da decisão que declara a</p><p>inconstitucionalidade é erga omnes. Os legitimados para propositura da ADI estão elencados</p><p>no art. 103, da Constituição Federal. São eles:</p><p>I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara</p><p>dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do</p><p>Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-</p><p>Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII</p><p>- partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical</p><p>ou entidade de classe de âmbito nacional. (BRASIL, 1988).</p><p>De acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF), alguns legitimados necessitam</p><p>comprovar a relação existente entre a norma impugnada e o interesse jurídico em obter a</p><p>declaração de inconstitucionalidade. Tal requisito se chama pertinência temática e deve ser</p><p>cumprido pelas mesas das assembleias legislativas, pelos governadores de Estado e pelas</p><p>confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional. Os demais legitimados</p><p>para ingressar com a ADI não necessitam cumprir esse requisito.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>6.2 Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC)</p><p>Essa ação visa à declaração de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal. Não</p><p>há previsão dessa modalidade de ação para declaração de lei ou ato normativo estadual.</p><p>Os legitimados são os mesmos da ADI (art. 103 da CF). Aqui, todos os legitimados devem</p><p>demonstrar a existência de séria divergência jurisprudencial que justifique a propositura da</p><p>ação, conforme entendimento do STF. A ADC também está regulamentada na Lei nº 9.868/99.</p><p>O efeito da decisão também é erga omnes.</p><p>6.3 Ação de Inconstitucionalidade por omissão</p><p>Prevista no art. 103, § 2º, da Constituição Federal. O objeto dessa ação é remediar a</p><p>omissão do Poder Público, ante sua inércia em elaborar as devidas normas, ocasionando</p><p>a impossibilidade do exercício de direitos constitucionalmente previstos. Assim, declarada</p><p>a inconstitucionalidade por omissão, será dada ciência ao Poder competente para que</p><p>providencie a criação da lei ou norma. Em se tratando de órgão administrativo, o prazo</p><p>será de trinta dias (art. 103, § 2º, CF). Vale destacar que a decisão proferida em caso de</p><p>omissão administrativa possui caráter mandamental, gerando responsabilidade por crime de</p><p>desobediência, caso não seja cumprida. Nos casos de inércia dos Poderes Executivo, Legislativo</p><p>e Judiciário, não haverá sanção ao responsável face à autonomia dos Poderes (art. 2º da</p><p>Constituição). Difere do mandado de injunção por ser ação de controle de constitucionalidade</p><p>em abstrato, enquanto que o mandado de injunção é modalidade de controle em concreto.</p><p>Além disso, os legitimados para a ação de inconstitucionalidade por omissão são os mesmos</p><p>para ADI e ADC (art. 103, da CF), enquanto que, no mandado de injunção, a ação pode ser</p><p>proposta por quem quer que tenha sido prejudicado pela inércia do Poder Público. Os efeitos</p><p>da decisão também são diversos. Enquanto no mandado de injunção a decisão possui efeitos</p><p>inter partes, a decisão, na ação de inconstitucionalidade por omissão, tem efeitos erga omnes.</p><p>6.4 Representação interventiva (art. 129, IV, CF)</p><p>Essa ação tem por objetivo a recomposição da ordem constitucional no estado ou</p><p>no município. A ação pode ser federal (intervenção da União nos estados) ou estadual</p><p>(intervenção dos estados nos municípios). A intervenção federal é de competência originária</p><p>do Supremo Tribunal Federal, no âmbito Federal, e do Tribunal de Justiça, no âmbito Estadual.</p><p>6.5 Arguição de descumprimento de preceito fundamental</p><p>Prevista no art. 102, § 1º da Constituição e regulamentada pela Lei nº 9.882/99, essa ação</p><p>(controle concentrado de constitucionalidade) serve para evitar ou reparar lesão a preceito</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>fundamental decorrente de omissão do Poder Público. É ação subsidiária, só podendo ser</p><p>proposta quando não houver outra ação que possa servir para sanar a lesão ao preceito</p><p>fundamental violado. Os legitimados são os mesmos para a ADI e ADC (art. 103, CF).</p><p>7 Modulação de efeitos</p><p>Como visto, no controle abstrato de constitucionalidade, o objeto da ação é a declaração</p><p>de inconstitucionalidade ou constitucionalidade de lei ou ato normativo e a supressão da</p><p>omissão do Poder Público. Assim, cumpre-nos examinar as espécies de decisões proferidas</p><p>nesses tipos de ações. Já vimos que o órgão competente para o julgamento, quando na</p><p>esfera federal, é o Supremo Tribunal Federal, e, na esfera estadual, é o Tribunal de Justiça.</p><p>Vimos, também, que os efeitos das decisões nessas ações é erga omnes (vale para todos).</p><p>Via de regra, a decisão tem efeitos retroativos (ex tunc), pois ou a lei ou o ato normativo é</p><p>considerado inconstitucional, não produzindo efeitos desde a sua criação, ou é considerado</p><p>constitucional, devendo continuar a viger desde a sua criação. Porém, de acordo com o art.</p><p>27 da Lei nº 9.868/99, o STF pode restringir o efeito retroativo das decisões:</p><p>Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista</p><p>razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo</p><p>Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos</p><p>daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em</p><p>julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. (BRASIL, 1999).</p><p>8 Declarações de nulidade total, parcial ou parcial sem</p><p>redução de texto</p><p>De acordo com o Supremo Tribunal Federal, podem as decisões declarar a nulidade:</p><p>a. Total;</p><p>b. Parcial; ou</p><p>c. Declaração de nulidade parcial sem redução de texto.</p><p>A declaração de nulidade total ocorre, normalmente, quando a lei ou o ato normativo</p><p>possui vício formal quanto ao procedimento de sua criação, ocorrendo sua total nulidade.</p><p>A declaração de nulidade parcial apenas declara inconstitucional parte</p><p>da lei ou do ato</p><p>normativo, aproveitando-se as demais que permanecem intactas, e produzindo seus efeitos,</p><p>normalmente.</p><p>A declaração de nulidade parcial sem redução de texto está prevista na Lei nº 9.868/99,</p><p>no art. 28, parágrafo único. Aqui, o Supremo Tribunal Federal declara a inconstitucionalidade</p><p>da lei ou do ato normativo apenas com relação a determinada interpretação dessa lei ou</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>desse ato, que não poderá ser interpretado de tal maneira, pois assim será inconstitucional.</p><p>A lei continuará em vigor, com o mesmo texto, sendo vedada sua interpretação, considerada</p><p>inconstitucional.</p><p>A “interpretação conforme a Constituição” também é modalidade de decisão adotada</p><p>pelo Supremo Tribunal Federal, semelhante à declaração de nulidade parcial sem redução de</p><p>texto. A interpretação conforme é utilizada quando houver duas interpretações possíveis de</p><p>uma lei ou ato normativo, indicando-se qual interpretação é compatível com a Constituição</p><p>e deve ser adotada.</p><p>9 Princípio da reserva de plenário</p><p>Conforme previsto no art. 97 da Constituição, o princípio da reserva do plenário significa</p><p>que:</p><p>Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do</p><p>respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei</p><p>ou ato normativo do Poder Público. (BRASIL, 1988).</p><p>Assim, as decisões em ações de controle de constitucionalidade, nos tribunais, devem</p><p>ser tomadas por maioria absoluta.</p><p>10 Irrecorribilidade no controle de constitucionalidade</p><p>As decisões proferidas em sede de controle de constitucionalidade são irrecorríveis,</p><p>salvo embargos declaratórios, tendo em vista que o seu resultado é dúplice, nos termos do</p><p>art. 24, da Lei nº 9.868/99:</p><p>Proclamada à constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou</p><p>procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-</p><p>se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória. (BRASIL,</p><p>1999).</p><p>Portanto, havendo o julgamento pela constitucionalidade de determinada norma,</p><p>automaticamente, eventual ação direta pela inconstitucionalidade será improcedente, e a</p><p>ação declaratória pela constitucionalidade será procedente.</p><p>11 Controle de constitucionalidade de leis municipais</p><p>Não há previsão expressa de ação direta de inconstitucionalidade no Supremo</p><p>Tribunal Federal de leis municipais perante a Constituição Federal. O STF já se posicionou</p><p>contrário a essa hipótese, por impossibilidade jurídica. Assim, no caso de legislação ou ato</p><p>normativo municipal, contrário à Constituição Federal, somente será possível o controle</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>de constitucionalidade difuso, em concreto, por via de defesa ou incidental. No caso de a</p><p>legislação municipal contrariar a Constituição Estadual, poderá, nesse caso, haver controle</p><p>por via de ação (concentrado), com ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade no</p><p>Tribunal de Justiça (art. 125, § 2º, CF).</p><p>Art. 125 [...] § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de</p><p>inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da</p><p>Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.</p><p>(BRASIL, 1988).</p><p>Ainda nesse caso, tendo a Constituição Estadual reproduzido em seu texto preceito da</p><p>Constituição Federal, de observância obrigatória nos estados, caso a ação verse sobre esse</p><p>assunto, haverá a possibilidade de recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal,</p><p>que, nesse caso, terá competência para julgar ação de controle de constitucionalidade em</p><p>face de lei municipal.</p><p>Considerações finais</p><p>Pode-se concluir com o estudo do tema que o controle de constitucionalidade é aquele</p><p>existente para expurgar do sistema jurídico eventual norma que contrarie a Constituição, ou</p><p>que registre eventual norma que declare-se de acordo com o texto constitucional.</p><p>Tivemos a oportunidade de estudar o conceito de controle de constitucionalidade e a</p><p>própria inconstitucionalidade em suas principais características.</p><p>Por vezes, a constitucionalidade da norma é analisada antes mesmo de ela entrar em</p><p>vigor, através do controle preventivo de constitucionalidade. Quando tal controle é realizado</p><p>após a entrada em vigor da norma, como visto, o controle será repressivo, visando a expurgá-</p><p>la do sistema jurídico pátrio.</p><p>O estudo das modalidades de ações existentes também é de fundamental importância,</p><p>pois são os instrumentos que, na prática, determinam o resultado final da norma, se pela</p><p>manutenção no sistema jurídico ou se pela retirada.</p><p>Por fim, é interessante registrar a impossibilidade de se realizar o controle de</p><p>constitucionalidade de normas municipais frente à Constituição Federal por impossibilidade</p><p>jurídica.</p><p>Referências</p><p>ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado. São Paulo:</p><p>Método, 2014.</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>11</p><p>da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.</p><p>______. Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999. Dispõe sobre o processo e julgamento da</p><p>ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o</p><p>Supremo Tribunal Federal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 nov. 1999. Disponível em:</p><p><http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9868.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.</p><p>MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2012.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>1</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 11</p><p>O que é o direito administrativo? A administração pública e os</p><p>serviços públicos - Ato administrativo: conceito, requisitos e</p><p>atributos - Ato administrativo: discricionariedade e vinculação</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender a origem do direito administrativo.</p><p>• Discutir os princípios da administração pública e a prestação de serviços</p><p>públicos.</p><p>• Elucidar o conceito de ato administrativo, suas classificações, seus requisitos</p><p>e atributos.</p><p>• Compreender os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,</p><p>publicidade e eficiência que regem a administração pública.</p><p>• Aprender os conceitos e as situações em que se verifica o ato administrativo</p><p>discricionário.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 O que é direito administrativo?</p><p>2 A administração pública e os serviços públicos</p><p>3 Ato administrativo: conceito, requisitos e atributos</p><p>4 Ato administrativo: discricionariedade e vinculação</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>O direito administrativo é o ramo do direito que estuda, principalmente, o desempenho</p><p>das atividades pelo Estado. Assim, regula a atuação do Poder Público, esclarecendo quais as</p><p>leis que disciplinam essa matéria, bem como os princípios que a regem.</p><p>O objetivo principal da administração pública deve sempre ser a busca pelo interesse</p><p>público. A partir dessa premissa, presta serviços públicos, sempre respeitando aquilo que é</p><p>determinado pela legislação.</p><p>A atuação do Estado é retratada através dos atos administrativos, pelos quais ele mostra</p><p>a sua vontade, que, de forma indireta, é a manifestação daquilo que a sociedade almeja e</p><p>necessita. Entretanto, certos requisitos devem ser cumpridos.</p><p>1 O que é direito administrativo?</p><p>O ramo do direito, propriamente dito, refere-se a um conjunto de normas que determina</p><p>a conduta que cada indivíduo deve adotar no que diz respeito à convivência em sociedade.</p><p>Em outras palavras, tais regramentos são impostos pelo Estado, sendo que a busca primordial</p><p>deve ser a paz social.</p><p>Com base nesse entendimento, a Constituição passou a ser o centro das atenções do</p><p>Estado, e não o povo que o compõe.</p><p>Na Europa, logo após a Segunda Guerra Mundial surgiu o “novo” constitucionalismo</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>como movimento social que definiu muitas das principais constituições, como a brasileira</p><p>de 1988. Este movimento passou a se chamar de neoconstitucionalismo. Possui como</p><p>característica a incorporação de valores relacionados à dignidade da pessoa humana, redução</p><p>de desigualdades sociais, intervenção do Estado na saúde e na educação do seu povo. É um</p><p>movimento aceito até os dias atuais.</p><p>6 Qual a importância da Constituição?</p><p>A Constituição é a lei máxima de uma nação e trata das disposições mais importantes</p><p>daquele Estado. Nenhuma outra norma poderá, então, contrariá-la. Porém, a Constituição é</p><p>mais do que apenas uma baliza legislativa, pois possui o poder de influenciar a sociedade que</p><p>a cerca.</p><p>Diversos autores pretenderam definir outras formas de visualizar a importância</p><p>da Constituição de um Estado. Dessa forma, veremos agora outros modos de definir sua</p><p>importância de acordo com a influência exercida sobre a sociedade.</p><p>6.1 Constituição como garantia do status quo econômico e social</p><p>Entendendo a expressão status quo como a “manutenção do estado que se encontra”,</p><p>percebe-se que a Constituição de um Estado é meramente uma formalidade para manter a</p><p>forma de economia e a forma social às quais aquele povo está submetido. Contudo, diversos</p><p>autores apresentam críticas a esta forma de visualizar a importância da Constituição, uma vez</p><p>que não é capaz de refletir os anseios da sociedade a que está vinculada.</p><p>6.2 Constitiução como instrumento de governo</p><p>A Constituição pode ser vista como um mero instrumento processual cujo texto</p><p>estabelece competências, processos e limites para atuação política, sem viés econômico ou</p><p>mesmo social. Portanto, o governante utiliza-se do documento ao seu favor e como bem</p><p>entende, para fazer valer suas ideologias políticas, apoiado no fato de a Constituição não</p><p>apresentar nada além de regras formais.</p><p>6.3 Constituição como processo público</p><p>Ganha importância nesta forma de análise quando a Constituição torna-se aberta à</p><p>pluralidade de interpretes que lhe darão o melhor sentido. É, no fundo, um processo público</p><p>de democratização através do texto constitucional.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>6.4 Constituição como ordem fundamental</p><p>A melhor definição da importância da Constituição retratada como ordem fundamental</p><p>de um Estado é trazida por Mendes, Coelho e Branco (2014, p. 52):</p><p>Nessa perspectiva, a Constituição não é um simples instrumento de proteção das</p><p>relações existentes, mas a norma fundamental em que se projeta e se realiza uma</p><p>sociedade em dever e transformação, uma lei superior onde se indicam as mudanças</p><p>e se definem os processos de conformação do sistema político, das relações sociais e</p><p>da própria ordem jurídica.</p><p>Concretamente, além de ser a lei básica do Estado (perspectiva jurídica), a</p><p>Constituição é também a norma fundamental ordenadora e conformadora da vida</p><p>social (perspectiva sociopolítica), em cujo âmbito se formulam os fins sociais globais</p><p>mais significativos, onde se fixam limites às tarefas da comunidade e onde, afinal, se</p><p>ordena o processo político como um todo.</p><p>Logo, percebe-se nesse sentido que a Constituição é, ao mesmo tempo, uma ordem</p><p>fundamental do Estado e um pacto de ação para o futuro.</p><p>6.5 Constituição como programa de integração e representação</p><p>nacionais</p><p>A importância que a Constituição assume diz respeito apenas à matéria constitucional,</p><p>isto é, à nação, ao povo e à política. Pretende relegar as disposições econômicas, trabalhistas</p><p>ou sociais ao que se chama de subconstituições.</p><p>Com isso, a Constituição tende a ser mais duradoura, uma vez que não contém</p><p>dispositivos, ou estes estão em menor quantidade, que oscilam com a evolução do seu povo.</p><p>6.6 Constituição como poder soberano</p><p>A Constituição tem a importância de criar o “Estado de Direito”, isto é, o Estado em que</p><p>se impera uma ordem, impondo aos governantes e donos do poder o papel de prepostos da</p><p>vontade política da constituição, e não efetivamente os senhores do poder.</p><p>6.7 Constituição como ordem jurídica fundamental, material e</p><p>aberta, de determinada comunidade</p><p>Tem como expoente Konrad Hesse (apud MENDES; COELHO; BRANCO, 2014, p. 55), que</p><p>formulou a Constituição como a “[...] ordem jurídica fundamental de uma comunidade ou o</p><p>plano estrutural para a conformação jurídica de uma comunidade, segundo certos princípios</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>11</p><p>fundamentais”.</p><p>Nesse sentido, a Constituição define os princípios formadores da unidade política, os</p><p>procedimentos para pacificação dos conflitos, a organização e atuação estatais e cria os</p><p>princípios da ordem jurídica global.</p><p>Considerações finais</p><p>Pelo exposto, tivemos a oportunidade de iniciar o estudo do Direito Constitucional,</p><p>conceituando o termo Constituição e indo além. Foi possível identificar as principais</p><p>características que tal documento possui, uma vez que foram analisados o objeto, os</p><p>elementos e as principais classificações.</p><p>Com essas informações, o aluno já tem a possibilidade de avançar no estudo do tema,</p><p>futuramente aprendendo a história constitucional brasileira, desde as primeiras constituições</p><p>até a Constituição atual de 1988.</p><p>Foi importante também o estudo do constitucionalismo, desde seu início histórico até</p><p>a influência do neoconsitucionalismo sobre as constituições atuais, inclusive a brasileira. É</p><p>neste movimento constitucionalista que está a formação básica e fundamental dos Estados-</p><p>nação como conhecidos hoje – por isso sua importância histórica.</p><p>Por fim, pudemos abrir o leque de opções a respeito de como enxergar a importância das</p><p>constituições, deixando de lado a visão meramente formal de Constituição como lei máxima</p><p>e percebendo que ela pode influenciar a sociedade que a cerca.</p><p>Referências</p><p>LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2012.</p><p>MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo. Gustavo Gonet. Curso</p><p>de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2014.</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 02</p><p>Histórico de mudanças nas Constituições. Por que o conteúdo</p><p>das Constituições passa de sintético para um modelo</p><p>analítico? Da divisão de poderes e da garantia de direitos</p><p>fundamentais à incorporação de novas dimensões de direitos.</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender a origem do Poder Constituinte, histórico e sua natureza.</p><p>Compreender as transformações nas constituições brasileiras à luz dos</p><p>fatores históricos condicionantes do Brasil e geral.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Por que o conteúdo das Constituições passa de sintético para um modelo</p><p>analítico?</p><p>2 Constituição de 1824</p><p>3 Constituição de 1891</p><p>4 Constituição de 1934</p><p>5 Constituição de 1937</p><p>6 Constituição de 1946</p><p>7 Constituição de 1967</p><p>8 Constituição de 1969 – Emenda nº 1, de 17 de outubro de 1969</p><p>9 Constituição de 1988</p><p>10 Evolução das Constituições do modelo sintético ao analítico</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>A presente aula ensinará a respeito das evoluções das Constituições ao longo da história</p><p>brasileira, desde a primeira Constituição, ainda no Período Imperial, até a atual Constituição</p><p>de 1988.</p><p>Com o histórico em vista, será possível perceber a evolução dos direitos da nossa</p><p>sociedade a partir dos direitos mais básicos (ou seja, aqueles relacionados ao indivíduo frente</p><p>ao Estado, chamados de direitos de 1ª Geração), passando-se para os direitos de 2ª Geração</p><p>(relativos às prestações positivas do Estado) até os direitos de 3ª Geração (previstos na atual</p><p>Constituição</p><p>Assim sendo, o direito foi dividido em dois ramos: o privado e o público. O direito privado</p><p>visa à defesa de interesses particulares, enquanto que o direito público disciplina normas de</p><p>interesse público. Nesse sentido, o direito administrativo se encontra nesse segundo ramo.</p><p>Além disso, também se deve destacar que o direito é dividido em dois outros campos</p><p>de atuação: o direito internacional, que regula a forma que o Estado brasileiro se relaciona</p><p>com os demais, ou seja, as relações com países estrangeiros. Já o direito interno estipula o</p><p>tratamento dentro do próprio território nacional, determinando a atuação do Estado frente</p><p>a toda sociedade.</p><p>Portanto, diante dos esclarecimentos acima, conclui-se que o direito administrativo é</p><p>um ramo do direito público interno, sendo que o objetivo primordial é a defesa do interesse</p><p>público dentro do território nacional, sempre buscando o bem de toda a coletividade.</p><p>A partir desses preceitos escritos, vários conceitos foram definidos para o ramo em</p><p>estudo, sendo que divergências persistem até os dias atuais. Entretanto, a definição mais</p><p>aceita atualmente é a elaborada pelo doutrinador Hely Lopes Meirelles (2003, p. 38),</p><p>declarando que o direito administrativo “[...] sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios</p><p>jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades tendentes a realizar concreta, direta</p><p>e imediatamente os fins desejados pelo Estado”.</p><p>E, apesar de ser um ramo do direito que está diretamente relacionado com a atuação do</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>Estado, ele não possui uma codificação específica, como as demais matérias. Todas as regras</p><p>e todos os princípios se encontram previstas em legislações esparsas. Outra característica que</p><p>também o difere dos demais é a inexistência de tribunais ou juízes específicos para solução</p><p>dos possíveis conflitos que podem existir acerca dessa matéria, sendo caracterizado como</p><p>não contencioso por esse motivo.</p><p>Inclusive, o direito administrativo dispõe sobre as normas que determinam o exercício</p><p>da função administrativa. A Constituição Federal, em seu artigo 2º, prevê que “São Poderes</p><p>da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”</p><p>(BRASIL, 1988). Todos esses poderes exercem suas funções típicas e consistem em criar</p><p>normas, administrar e julgar, respectivamente. O Poder Executivo possui como atividade</p><p>típica a função de administrar. Porém, os demais a possuem como função atípica, ou seja,</p><p>não é a principal função.</p><p>2 A administração pública e os serviços públicos</p><p>Administração pública pode ser definida como todos os mecanismos que estão ao</p><p>alcance do Estado para que consiga gerir a máquina pública, no intuito de atender ao interesse</p><p>público, sendo que o faz através da edição de atos administrativos. Ademais, a expressão</p><p>administração pública pode significar também a atividade desempenhada pelo Estado.</p><p>O interesse público é satisfeito através das atividades materiais feitas pela administração</p><p>pública, as quais são definidas como serviços públicos. José dos Santos Carvalho Filho (2011,</p><p>p. 297) define serviço público como sendo “[...] toda atividade prestada pelo Estado ou</p><p>por seus delegados, basicamente sob regime de direito público, com vistas à satisfação de</p><p>necessidades essenciais e secundárias da coletividade”.</p><p>Vale destacar que os serviços públicos não podem ser confundidos com os atos praticados</p><p>pelo Poder Público que se destinam à exploração da atividade econômica e à intervenção no</p><p>domínio econômico.</p><p>Os serviços públicos são regidos pelo regime jurídico-administrativo. É inegável que a</p><p>prestação dos serviços públicos deve ser prestada respeitando os princípios previstos no artigo</p><p>37, caput, da Constituição Federal, quais sejam: legalidade, impessoalidade, moralidade,</p><p>publicidade e eficiência.</p><p>Em síntese, o princípio da legalidade determina que a administração pública deve prestar</p><p>os serviços públicos dentro dos ditames da lei. Já o princípio da impessoalidade dispõe que</p><p>não poderá o agente público fazer qualquer distinção entre os administrados, devendo seus</p><p>atos seguir o postulado da isonomia, o qual explicita que todos são iguais perante a lei.</p><p>O princípio da moralidade, por sua vez, determina que o administrador deve agir</p><p>segundo os conceitos morais da sociedade, utilizando-se da boa-fé, da legalidade e da</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>ética, basicamente. Os princípios da publicidade definem que todos os atos praticados pela</p><p>administração pública devem ser públicos, com exceção das situações previstas em lei. Por</p><p>fim, o princípio da eficiência, que foi acrescentado na Constituição Federal pela Emenda</p><p>Constitucional nº 45/2005, estabelece que o Estado busque obter o melhor resultado possível</p><p>com o menor gasto dos recursos públicos.</p><p>Além desses, outros vários devem ser observados, sendo destaque o princípio da</p><p>continuidade. Este expõe que a prestação do serviço público não deve ser interrompida. Em</p><p>qualquer situação que o serviço público possa ser comprometido, deverá a administração</p><p>pública garantir, ao menos, a prestação daqueles que sejam necessários e essenciais para a</p><p>coletividade.</p><p>Vale citar que a legislação somente prevê situações em que os serviços públicos poderão</p><p>ser interrompidos, mas que não serão considerados como descontinuidade de sua prestação.</p><p>Como exemplo, pode-se citar os estados de emergência, desde que haja prévia comunicação</p><p>aos usuários, quando houver inadimplência ou não oferecer as condições necessárias para</p><p>que o serviço público seja prestado.</p><p>A Constituição Federal define a competência para a prestação dos serviços públicos,</p><p>estando disciplinada entre os artigos 21 e 30 de mencionado diploma legal. Logo, a</p><p>competência dos serviços públicos é definida para a União, o estado e os municípios,</p><p>respeitando o âmbito de interesse de cada ente federativo. O rol previsto na Carta Magna é</p><p>somente exemplificativo, sendo que em outros serão definidos os conceitos utilizados pelo</p><p>constituinte para enumeração daqueles já previstos.</p><p>Porém, apesar da divisão expressa prevista em lei, alguns serviços públicos podem ser</p><p>delegados, sendo que podem ser executados pelo Estado ou por particulares. A delegação</p><p>será feita pelo poder concedente, por meio de um contrato, e desde que a lei autorize. Antes</p><p>da firmação de um contrato administrativo, deverá ser realizada uma licitação, se a prestação</p><p>dos serviços não estiver disciplinada como uma hipótese de dispensa ou inexigibilidade.</p><p>Contudo, existem serviços públicos que não podem ser delegados, eles poderão ser</p><p>prestados somente pelo próprio Estado.</p><p>3 Ato administrativo: conceito, requisitos e atributos</p><p>Ato administrativo, como já definido, são as ações praticadas pelo Estado para o</p><p>cumprimento de sua função essencial: atender ao interesse público. Assim sendo, ato</p><p>administrativo é:</p><p>[...] nada mais do que um ato jurídico, tratando-se de uma manifestação de vontade</p><p>que produz efeitos jurídicos, caracterizando-se como uma espécie do gênero ato</p><p>jurídico, por ser marcado por peculiaridades que o individualizam, como é o caso</p><p>das condições para sua válida produção, ou ainda, quanto às regras para sua eficácia.</p><p>(MARINELA, 2013, p. 265, grifo do autor).</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>Para tanto, é necessária a realização de uma distinção. Ato administrativo é</p><p>diferente de fato administrativo. O primeiro refere-se a uma declaração ou enunciados</p><p>pronunciados pelo Estado, que podem ser revogados e anulados, sendo presumidos</p><p>como legítimos, visto que a vontade é importante. Diferentemente do fato administrativo</p><p>que representa a ausência de todas essas diretrizes.</p><p>Além disso, não podem confundir atos administrativos com ato da administração. Este</p><p>é expedido pelo Poder Executivo, no desempenho de sua função administrativa, podendo ser</p><p>tanto de direito público quanto de direito privado. Já o ato administrativo, apesar de poder ser</p><p>elaborado pelo Poder Executivo, também pode ser feito pelos Poderes Legislativo e Judiciário,</p><p>sendo somente de direito público. Desse modo, pode-se dizer que ato da administração</p><p>é gênero do qual o ato administrativo é espécie. Exemplo: na locação de um imóvel, para</p><p>instalar seu novo prédio, a administração realiza “ato da administração”. Contudo, quando</p><p>expede um ato de contratação de servidores, é realizado o “ato administrativo”.</p><p>Todavia, para que um ato administrativo seja realizado, deverão ser cumpridos e</p><p>respeitados cinco requisitos: o sujeito, a forma, o motivo, o objeto e a finalidade.</p><p>É importante citar que o sujeito que cria o ato administrativo deve ser competente, sendo</p><p>considerado como tal todo aquele que exerça uma função pública, independentemente se de</p><p>maneira temporária ou permanente, remunerada ou voluntária. Esse sujeito é denominado</p><p>de agente público, sempre que precisar possuir relação com a administração pública para ser</p><p>considerado como tal. A previsão para definir o sujeito competente normalmente decorre de</p><p>lei. Vale ressaltar que o agente público não poderá se negar a praticar ato administrativo que</p><p>esteja descrito na lei para fazê-lo. Em outras palavras, agente público é aquele que age em</p><p>nome da administração pública, buscando a realização do interesse público, não podendo</p><p>dele dispor. Por isso, deve fazer aquilo que a lei determina.</p><p>A forma é maneira como o ato administrativo é exteriorizado, sendo condição para que</p><p>possa produzir seus efeitos no mundo jurídico. A simples manifestação de vontade não é o</p><p>suficiente para que o ato administrativo possa produzir seus efeitos, devendo respeitar a</p><p>forma prevista em lei. Caso não respeite, contraria o princípio da legalidade, sendo o ato</p><p>considerado como inválido.</p><p>Já o motivo, outro requisito do ato administrativo, é a causa pela qual o agente público</p><p>o editou. Para que o ato seja considerado válido, o motivo que justifica a sua prática deve</p><p>ser verdadeiro, não podendo o agente se utilizar de outras causas que não sejam as reais</p><p>para a sua criação. Além disso, também é condição indispensável para a validade do ato</p><p>administrativo que o motivo seja compatível com o previsto em lei, bem como a finalidade no</p><p>mundo dos fatos ser congruente com o motivo que foi declarado.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>Nesse momento, uma diferenciação importante deve ser explicada. O motivo do ato e a</p><p>sua motivação são expressões distintas. O motivo, como acima demonstrado, são as razões e o</p><p>fundamento jurídico que levaram à realização do ato. Por outro lado, motivação é a obrigação</p><p>que a administração pública possui para justificar a prática do ato administrativo.</p><p>Outro requisito é o objeto, sendo que os doutrinadores Marcelo Alexandrino e Vicente</p><p>Paulo (2010, p. 954) revelam:</p><p>O objeto do ato administrativo identifica-se com o seu conteúdo, por meio do qual a</p><p>administração manifesta sua vontade, ou atesta simplesmente situações preexistentes.</p><p>Pode-se dizer que o objeto do ato administrativo é a própria alteração no mundo</p><p>jurídico que o ato provoca, é o efeito jurídico imediato que o ato produz.</p><p>Portanto, o objeto do ato administrativo significa o efeito jurídico imediato que produz</p><p>no mundo jurídico e fático.</p><p>Por fim, o último requisito refere-se à finalidade. Diante de todos os requisitos estudados,</p><p>conclui-se que a finalidade é o bem jurídico objetivo com a prática do ato administrativo.</p><p>Quanto aos atributos de um ato administrativo, também são descritos em quatro outros</p><p>conceitos.</p><p>Primeiramente, o ato administrativo possui presunção de validade, legitimidade e</p><p>veracidade. Em outras palavras, o ato administrativo produzido será considerado como</p><p>legal e legítimo, além de ser também presumido como verídico, uma vez que é visto como</p><p>verdadeiro por seu conteúdo.</p><p>Outro atributo é a autoexecutoriedade, o que permite que a administração pública execute</p><p>o ato administrativo feito a partir do momento do término de sua criação, não necessitando</p><p>recorrer a outros órgãos ou preencher outros requisitos além dos acima expostos para que</p><p>seja praticado.</p><p>Também existe a imperatividade, que permite que a administração pública imponha de</p><p>maneira unilateral suas determinações que sejam válidas. Assim, conclui-se que esse atributo</p><p>não está diretamente relacionado ao ato administrativo, mas sim ao administrador que o</p><p>executa.</p><p>Por último, há a tipicidade, que decorre do princípio da legalidade. Evita que o</p><p>administrador pratique atos inominados, somente realizando-os de acordo com os termos</p><p>previstos em lei.</p><p>4 Ato administrativo: discricionariedade e vinculação</p><p>Os atos administrativos possuem uma classificação, a qual os define sob o grau de</p><p>liberdade do administrador. Sob essa perspectiva são divididos em dois tipos: vinculados e</p><p>discricionários.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>Os atos administrativos vinculados, que também são denominados de regrados, são</p><p>aqueles em que o administrador não tem opção, devendo agir dentro dos limites da lei.</p><p>Nesse caso, portanto, para a administração pública a legislação não deixa opções para que</p><p>escolha sobre qual poderá se comportar. Assim sendo, a partir do momento que há previsão</p><p>em lei que o ato administrativo deve ser praticado, a administração pública deverá executá-</p><p>lo, concedendo aquilo que é requerido.</p><p>De outra forma, os atos administrativos também podem ser classificados como</p><p>discricionários. Nesse aspecto, a lei permite que a administração pública aja de mais de</p><p>uma forma, dando-lhe uma opção a partir do caso concreto. Assim, existe certa liberdade,</p><p>podendo o administrador utilizar-se da oportunidade e conveniência. Todavia, nunca poderá</p><p>agir fora do que é permitido e assegurado em lei.</p><p>Considerações finais</p><p>O direito administrativo, portanto, é um ramo que se destina ao estudo do direito</p><p>público interno, regulamentando a relação do Estado com a sociedade. Através de todo o</p><p>ordenamento jurídico, esclarece a forma que a administração pública deve atuar.</p><p>A prestação dos serviços públicos é uma das principais formas de atender o interesse</p><p>da sociedade, respeitando os princípios previstos no artigo 37 da Constituição Federal. Além</p><p>disso, deve dispender tratamento igualitário a todos os administrados, de maneira contínua,</p><p>somente podendo paralisá-los em determinadas situações previstas em lei.</p><p>Nesse sentido, a manifestação da vontade do poder público se dá por meio dos atos</p><p>administrativos, devendo cumprir alguns requisitos descritos em lei para que sejam</p><p>considerados como válidos. Destaca-se que os atos administrativos possuem certos atributos</p><p>que permitem que sejam executados a partir do momento que são publicados.</p><p>Referências</p><p>ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. Rio de</p><p>Janeiro: Impetus, 2010.</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial</p><p>da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 23 maio 2015.</p><p>CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual Direito Administrativo. 24. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Lumen Juris, 2011.</p><p>MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 7. ed. Niterói: Impetus, 2013.</p><p>MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>1</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 12</p><p>Instrumentos para desenvolvimento das ações administrativas.</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender os instrumentos para desenvolvimento das ações</p><p>administrativas a partir de casos.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Atos e processos administrativos</p><p>2 Contratos da administração</p><p>3 Bens, recursos públicos e agentes da administração pública</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>Na maioria das vezes, somente um ato administrativo não é suficiente para que o</p><p>interesse público seja atendido pela administração pública. A sucessão de edição de atos</p><p>administrativos é o que permite que a atuação do poder público resulte na finalidade para a</p><p>qual se destina.</p><p>Os contratos administrativos permitem que a administração pública efetive os interesses</p><p>púbicos. Além disso, também fazem com que o Estado possa desempenhar suas atividades,</p><p>a partir do momento que abrangem os contratos privados por ele firmados. Devem ser</p><p>acordados respeitando os princípios e requisitos determinados em lei.</p><p>Finalmente, deve-se lembrar que os agentes públicos agem em nome da administração</p><p>pública. Além disso, a sua existência também se dá através dos recursos públicos que possuem,</p><p>os quais também são influenciados por atos administrativos editados pelos agentes públicos</p><p>competentes.</p><p>1 Atos e processos administrativos</p><p>O processo administrativo é formalização de vários atos e atividades praticados tanto</p><p>pela administração pública quanto pelos administrados e terceiros.</p><p>Vale frisar que o procedimento administrativo é a sucessão de atividades realizadas</p><p>pelo Estado, objetivando alcançar a finalidade prevista em lei. Refere-se a uma atividade</p><p>continuada, não tendo a concretização de sua finalidade de forma imediata, mas que, de</p><p>forma continuada e ordenada da prática dos atos administrativos, resultará no fim pretendido</p><p>pela legislação.</p><p>Segundo José dos Santos Carvalho Filho (2010, p. 140):</p><p>Quando a lei o exige, o procedimento regular é condição de eficácia e validade do ato</p><p>final. Normalmente é constituído de fases, de modo que em cada uma destas pode</p><p>haver a verificação da validade. Não deixa de ter aplicação aqui o princípio do devido</p><p>processo legal, em face da obrigatoriedade que tem a Administração de observar o</p><p>que dispõe a lei a respeito.</p><p>Assim sendo, o processo administrativo é o conjunto de atos praticados pela administração</p><p>pública para que alcance os objetivos descritos em lei, seguindo os seus termos, vinculando</p><p>tanto os agentes públicos como os interessados.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>2 Contratos da administração</p><p>Os contratos feitos pela administração pública podem ser tanto de natureza privada</p><p>como público, sendo considerados ambos os tipos como contrato administrativo. De acordo</p><p>com Fernanda Marinela (2013, p. 459):</p><p>Pode-se conceituar “contrato administrativo” como a convenção estabelecida entre</p><p>duas ou mais pessoas para constituir, regular ou extinguir, entre elas, uma relação</p><p>jurídica patrimonial, tendo sempre a participação do Poder Público, visando à</p><p>persecução de um interesse coletivo, sendo regido pelo direito público. É o ajuste</p><p>que a Administração Pública firma com o particular ou outro ente público, para a</p><p>consecução do interesse coletivo. O instrumento é regulado pelas cláusulas e pelos</p><p>preceitos de direito público, aplicando-se a eles, supletivamente, os princípios da</p><p>teoria geral dos contratos e as disposições de direito privado.</p><p>Portanto, o contrato administrativo sempre exigirá que uma das partes que o esteja</p><p>pactuando seja a administração pública. O poder público deverá sempre buscar a realização</p><p>e proteção do interesse público, como foi bastante frisado até aqui. Dessa forma, justifica-se</p><p>o tratamento diferenciado dispendido aos contratos administrativos, sendo eles regidos pelo</p><p>regime público.</p><p>Além disso, também deve ser:</p><p>a. Formal — para que um contrato administrativo seja pactuado deverá respeitar de</p><p>maneira irrestrita determinações previstas em lei;</p><p>b. Consensual — as partes que firmam o contrato administrativo devem fazê-lo de livre</p><p>e espontânea vontade;</p><p>c. Oneroso — o contratado deverá ser remunerado pelos serviços prestados da forma</p><p>prevista no contrato administrativo feito;</p><p>d. Comutativo — exige-se que as obrigações e atividades previamente fixadas, além de</p><p>conhecidas pela parte que deverá cumpri-las, sejam correspondentes com aquelas</p><p>descritas no contrato administrativo pactuado;</p><p>e. Sinalagmático — deve existir a reciprocidade das obrigações, ou seja, sendo elas</p><p>realizadas, a administração pública também deverá cumprir com os seus deveres;</p><p>f. De adesão — o contratado não poderá discutir as cláusulas contratuais previstas,</p><p>as quais são descritas pelo próprio poder público. Este irá impor de forma unilateral</p><p>todo o contrato administrativo, tendo a parte contrária a opção de anuir ou não com</p><p>a maneira de contratação. Caso não concorde, não poderá requisitar a mudança</p><p>do que se encontra disposto, simplesmente podendo ou não participar da relação</p><p>jurídica;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>g. Personalíssimo — a pessoa que firmou o contrato administrativo deverá cumpri-</p><p>lo, sendo que é uma pactuação realizada com base na confiança. Assim, existem</p><p>restrições quanto à subcontratação do contratado para que outro, que não seja ele,</p><p>efetue o que é determinado nas cláusulas.</p><p>Os contratos administrativos podem ser firmados tendo um prazo determinado ou</p><p>indeterminado. O prazo deve estar previsto no edital que formalizou o procedimento</p><p>administrativo, sendo compatível com a previsão orçamentária, uma vez que o contrato tem</p><p>que cumprir com suas obrigações, devendo o Estado remunerá-lo pelos serviços prestados.</p><p>Ressalta-se que o pacto administrativo não poderá superar uma lei orçamentária, visto</p><p>que a administração pública não terá previsão de recurso para poder garantir o adimplemento</p><p>do contrato.</p><p>Entretanto, excepcionalmente poderá o contrato administrativo ser prorrogado, desde</p><p>que haja expressa previsão no edital e respeito por parte da administração pública do prazo</p><p>máximo previsto na lei. Ademais, toda prorrogação deverá ser motivada, devendo ser efetuada</p><p>por meio de um termo aditivo ao contrato, respeitando o princípio da publicidade.</p><p>Vale citar outra previsão que deve constar no contrato administrativo, o valor que deverá</p><p>ser pago pelo poder público diante do cumprimento da obrigação do contratado, bem como</p><p>a forma que deverá ser feita esse adimplemento. A quantia estipulada poderá ser alterada,</p><p>observando a variação da correção monetária, o reajustamento e a recomposição dos preços.</p><p>O primeiro são as variações que são previsíveis em virtude do mercado, sendo aquelas que</p><p>ocorrem de forma periódica e que alteram o preço daquilo que deve ser cumprido. Já o</p><p>segundo se refere a situações imprevisíveis, sendo aplicável quando o reajustamento não for</p><p>suficiente.</p><p>No contrato administrativo, é permitida a previsão de cláusulas exorbitantes, as quais</p><p>extrapolam o padrão comum e conferem à administração pública certa vantagem frente ao</p><p>particular. São determinações consideradas abusivas se descritas em contratos particulares,</p><p>uma vez que resultam na diferenciação entre as partes.</p><p>Essas cláusulas permitem que a administração pública altere de maneira unilateral o</p><p>contrato administrativo, somente devendo respeitar como limites: que a alteração seja em</p><p>razão de interesse público e que não desrespeite direitos do contratado (artigo 65 da Lei nº</p><p>8.666/93).</p><p>Também poderá rescindir o contrato administrativo de forma unilateral, em virtude de</p><p>interesse público e frente a descumprimento de uma ou mais cláusulas contratuais por parte</p><p>do particular.</p><p>A administração possui como dever a fiscalização da efetivação do que fora pactuado,</p><p>podendo terceirizar esse serviço. Observando algum descumprimento, poderá aplicar as</p><p>sanções arroladas no artigo 87 da Lei nº 8.666/93.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>Importante citar que, também devido a essas cláusulas exorbitantes, a administração</p><p>pública pode ocupar provisoriamente bens de qualquer natureza,</p><p>desde que possuam relação</p><p>com a finalidade contratual, garantindo a prestação dos serviços públicos. No entanto, para</p><p>essa prerrogativa, deverá observar um procedimento administrativo que permita ao contrato</p><p>o exercício do contraditório e da ampla defesa. Logo, antes que o contrato administrativo seja</p><p>rescindido, poderá ocupar os bens de propriedade do contrato de forma temporária, a fim de</p><p>garantir a continuidade do serviço público.</p><p>Os tipos de contratos administrativos:</p><p>a. Contratos propriamente ditos</p><p>Estão enumerados no artigo 6º da Lei nº 8.666/93. O primeiro é o contrato de obra,</p><p>que, como o próprio nome sugere, destina-se ao pacto de reformas e construções, além de</p><p>fabricação para produtos dessa natureza. O rol descrito na lei sobre esse tipo de contratação é</p><p>taxativo, não podendo outros serem realizados. É um exemplo o contrato entre a administração</p><p>contratante e uma construtora particular para a construção de um viaduto.</p><p>Já o contrato de prestação de serviços, outro desse gênero, serve para a contratação</p><p>de atividades normalmente privadas, mas que a administração pública necessita para</p><p>o desempenho de suas atividades. O rol é exemplificativo. O contratado é meramente</p><p>prestador de serviços, não mantendo qualquer relação jurídica com o usuário, mas sim com</p><p>o poder público. Por exemplo, quando a administração contrata empresa de informática para</p><p>manutenção de computadores da própria administração pública.</p><p>Por fim, o último pacto previsto como sendo desse tipo é o contrato de fornecimento.</p><p>Este somente se dedica ao fornecimento de bens móveis e semoventes para a administração</p><p>pública, necessários para o exercício de sua função. Por exemplo, a contratação de empresa</p><p>para fornecimento de materiais de escritório.</p><p>b. Contratos de concessão</p><p>Esse tipo de contrato possibilita que a administração pública entregue ao particular a</p><p>execução de um serviço ou de uma obra; o uso de um bem público. É o exemplo do contrato</p><p>para duplicação e manutenção de uma rodovia com a cobrança de pedágio em retorno.</p><p>No caso do contrato de concessão para uso de bem público, ele visa à concessão de um</p><p>bem público para uma finalidade específica, podendo ser um pacto gratuito ou oneroso. É um</p><p>ato unilateral e não precário. A administração pública tem o direito de rescindir esse contrato</p><p>devido a interesses públicos, sendo que, se for por prazo determinado, deverá indenizar.</p><p>Já o contrato de concessão de serviço comum se destina a atribuir a execução de um</p><p>serviço público a pessoas jurídicas ou a um grupo delas, sendo que correrão os riscos dessa</p><p>prestação, realizando-o em nome próprio e por um determinado prazo.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>O contrato de concessão de serviço público precedido de obra pública é aquele que visa</p><p>à realização de atividades que se relacionem a qualquer tipo de obras, como a reforma.</p><p>O contrato de concessão patrocinada é uma forma de outorga dos serviços públicos e</p><p>obras públicas. Porém, nesse caso, o contratado poderá cobrar uma tarifa dos usuários, pois</p><p>se refere à parceria público-privada.</p><p>Por fim, o contrato de concessão administrativa também se traduz em uma parceria</p><p>público-privada. Todavia, o usuário é a própria administração pública.</p><p>c. Contrato de permissão de serviço público</p><p>Nesse caso, a administração pública pode firmar um contrato administrativo de forma</p><p>precária, existindo um prévio procedimento licitatório. O serviço público poderá ser delegado</p><p>tanto para pessoa física como jurídica, desde que possa desempenhar por sua conta e risco.</p><p>Um exemplo é o contrato de permissão de serviço público de transporte de passageiros entre</p><p>um município e uma empresa de transportes.</p><p>d. Contrato de gestão</p><p>É o tipo de contrato administrativo que permite a formação de um pacto contratual entre</p><p>entes da própria administração pública, assim como entre esta e particulares. O contrato</p><p>de gestão ainda não possui um conceito, pois não há definição em lei, e a doutrina ainda</p><p>discute sobre ele. Isso porque esse contrato não estabelece critérios rígidos, concedendo</p><p>grande liberdade para o poder público quando a esse tipo de contratação e, consoante</p><p>os doutrinadores, grande margem para cometimento de abusividade. Por exemplo, a</p><p>administração contrata empresa particular para realizar a gestão de um hospital público.</p><p>Existem, ainda, tipos de contratos que não são classificados como administrativos. Por</p><p>exemplo, os convênios, que constituem um acordo pactuado por entidades políticas ou entre</p><p>estas e particulares. Refere-se a um pacto que objetiva ao alcance de interesses comuns.</p><p>Outro exemplo é o consórcio, um acordo de vontades realizado entre instituições estatais,</p><p>possuindo as demais características semelhantes aos convênios.</p><p>3 Bens, recursos públicos e agentes da administração pública</p><p>São considerados como bens públicos aqueles que pertencem à administração pública,</p><p>ou seja, às pessoas jurídicas de direito público. Entretanto, não somente a eles podem</p><p>pertencer, mas também aqueles que façam parte da administração indireta de direito privado,</p><p>quando estiverem diretamente relacionados à prestação do serviço público para o qual fora</p><p>designado.</p><p>São classificados como federais, estaduais e distritais, além dos municipais, sendo que</p><p>serão assim designados a depender de qual ente federativo pertence. Também podem ser</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>determinados segundo a sua destinação, sendo os bens de uso comum do povo aqueles</p><p>que podem ser utilizados por todos da sociedade. São bens de uso especial que se destinam</p><p>a possibilitar a prestação dos serviços públicos. Por fim, os dominicais, que não possuem</p><p>qualquer destinação.</p><p>Os bens públicos podem ser afetados ou desafetados a partir de fatos jurídicos que</p><p>alterem as suas utilidades, respeitando a classificação prevista no artigo 99 do Código Civil.</p><p>A afetação consiste na transformação de um bem que antes era dominical, para um bem</p><p>de uso comum do povo ou de uso especial. Assim, o que antes era alienável, não poderá</p><p>ser vendido. A desafetação é o contrário, subtraindo o objetivo que tinha o bem público,</p><p>transformando-o em dominical, o qual poderá ser alienado. É um exemplo de desafetação</p><p>quando um hospital deixa de funcionar como tal, e, portanto, torna-se abandonado e a</p><p>administração pública então resolve vendê-lo.</p><p>Aos bens públicos é dispendido uma maior proteção, somente podendo ser alienado se</p><p>preenchidos requisitos previstos em lei, e não podendo ser objeto de penhora, arresto ou</p><p>sequestro. Além disso, também não podem sofrer penhor ou hipoteca, além de não poderem</p><p>ser adquiridos através de usucapião.</p><p>Nesse momento, cabe uma observação. No caso de pessoas jurídicas de direito privado</p><p>que prestam serviços públicos, se retirar o bem que lhe pertence prejudicar a prestação</p><p>do serviço público, esse bem será impenhorável. Porém, caso não seja indispensável para</p><p>continuidade da prestação de serviços públicos, o bem será penhorável.</p><p>A administração pública pode adquirir bens por motivos contratuais, devido a fenômenos</p><p>da natureza ou pelo resultado de uma decisão jurídica.</p><p>Os bens públicos podem ser destinados para uma utilização especial privativa, quando</p><p>são utilizados para interesse particular para eventos temporários e ocasionais. Trata-se da</p><p>autorização de uso, que é feita por meio de ato administrativo unilateral, discricionário e</p><p>precário.</p><p>Além disso, também podem ser objeto de permissão de uso, havendo a possibilidade</p><p>existir tanto para fins de interesse público ou privado. São situações que são constantes, mas</p><p>que podem ser desfeitas com facilidade. É um ato unilateral, discricionário e precário.</p><p>A concessão de uso é outro meio de utilização especial privada, sendo realizada somente</p><p>por interesse público. Trata-se de situações mais permanentes, com grande investimento. É</p><p>formalizada através de contrato administrativo com licitação.</p><p>Destaca-se que os bens públicos são espécie dos recursos públicos, os quais consistem</p><p>em todo o patrimônio pertencente ao Estado.</p><p>A gestão fica a cargo dos agentes públicos. Ela é uma ampla descrição para explicar</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>de maneira genérica os indivíduos que servem ao poder público como instrumentos de sua</p><p>vontade ou ação, ainda quando apenas de maneira ocasional e temporária. Em vista dos</p><p>contratos, a função pública pode ser exercida de forma temporária ou permanente, com ou</p><p>sem remuneração, independentemente do vínculo.</p><p>Os agentes públicos são classificados em agentes políticos, servidores estatais,</p><p>particulares em colaboração com a administração.</p><p>O agente público é o indivíduo que representa a vontade do Estado e está no comando</p><p>de cada um dos poderes definidos no artigo 2º da Constituição Federal. É o titular de cargo</p><p>público, sendo que é regido pelo regime legal e jurídico administrativo.</p><p>São o presidente, os governadores e prefeitos, assim como os respectivos vices. Também</p><p>são agentes políticos os auxiliares imediatos do Poder Executivo, sendo que consistem nos</p><p>ministros de estados, dos secretários estaduais e municipais. Além desses, tem-se também</p><p>os parlamentares, consistindo nos senadores, deputados federais, deputados estaduais e</p><p>vereadores.</p><p>Também se tem os magistrados e membros do Ministério Público. Esses agentes não têm</p><p>escolha meritória, mas sim por meio de concurso público, sendo que alguns não se consideram</p><p>como agentes políticos. Porém, o Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento no</p><p>sentido de que também manifestam a vontade do Estado e, por isso, mesmo que não sendo</p><p>escolhidos por meios políticos, são agentes políticos.</p><p>Além desses, são agentes políticos os agentes diplomáticos e os conselheiros dos</p><p>Tribunais de Contas.</p><p>São igualmente agentes públicos os servidores estatais, sendo todo aquele que atua</p><p>no poder público, seja na administração pública direta, seja na indireta. Divide-se em duas</p><p>categorias: servidor público e servidor de entidade governamental.</p><p>O servidor público atua em qualquer uma das pessoas jurídicas de direito público. O</p><p>regime adotado atualmente é o único, sendo que todos serão estatutários ou celetistas, não</p><p>podendo haver servidores em uma instituição regidos pelos dois regimes, por exemplo, haver</p><p>certa categoria de servidores em regime estatutário e outra categoria em regime celetista.</p><p>Já os servidores de entidade governamental atuam em pessoas jurídicas de direito</p><p>privado, mas que possuem relação com a administração pública e prestam serviço público</p><p>em seu nome. Nesse caso, os servidores são regidos pelo regime celetista. Logo, não é titular</p><p>de cargo, mas sim, emprego.</p><p>Todavia, em algumas situações, os servidores de entes governamentais equiparam-se ao</p><p>servidor público. Tais situações são:</p><p>a. Concurso público — mesmo que seja conhecido como servidor de ente governamental,</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>deverá realizar concursos públicos, como é o caso, por exemplo, do Banco do Brasil,</p><p>Anatel etc.;</p><p>b. Acumulação de cargos — somente poderá acumular cargos, sendo essa regra.</p><p>Algumas são as exceções previstas na Constituição Federal. Essas determinações</p><p>também são aplicadas aos servidores de entes governamentais;</p><p>c. Teto remuneratório — atualmente, não poderá receber salário que seja maior que o</p><p>do Ministro da STF, salvo se o ente para que labora não receber dinheiro para custeio</p><p>– despesas diárias (art. 39, §9º, da CF);</p><p>d. Improbidade administrativa — estão sujeitos à Lei nº 8.429/92;</p><p>e. Lei Penal — o art. 327 do CP enumera quem são considerados funcionários públicos,</p><p>incluindo os servidores de entes governamentais, sofrendo, desse modo, as</p><p>imposições desse diploma;</p><p>f. Remédios constitucionais — em face do dirigente, podem ser impetrados os</p><p>remédios constitucionais, estando esses servidores a tais.</p><p>Por fim, os particulares em colaboração referem-se ao particular que, apesar de estar</p><p>nessa condição, exerce função pública. Podem exercer o cargo mediante convocação, como</p><p>é o caso do mesário, jurado, serviço militar obrigatório etc. Entretanto, também podem ser</p><p>voluntários. São exemplos: os dirigentes dos entes de classe, entre outros.</p><p>Existe também os contratados por locação civil de serviços, os trabalhadores de</p><p>concessionárias e permissionárias (condição de particular em colaboração) ou que praticam</p><p>atos de força jurídica oficial (são considerados os serviços de saúde e ensino, despendendo</p><p>a Constituição tratamento diferenciado, sendo que tanto o Estado como o particular podem</p><p>exercer esse tipo de serviço. Porém, apesar do poder ser exercido por particulares, considera-</p><p>se que prestam serviços públicos e seus funcionários são particulares em colaboração).</p><p>Ressalta-se que também são particulares em colaboração os titulares de serviços</p><p>notariais, sendo a única hipótese de delegação de função na atual Constituição, prevista no</p><p>art. 227 desse diploma.</p><p>Considerações finais</p><p>Desse modo, os atos administrativos praticados pela administração pública resultam em</p><p>um conjunto deles, formando o processo. A consequência é o alcance da finalidade principal</p><p>visada e determinada em lei para o Estado: o alcance do interesse público.</p><p>A partir dele, os contratos administrativos são firmados, necessitando da realização de</p><p>um prévio procedimento licitatório, assegurando que os serviços públicos sejam prestados,</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>respeitando os princípios e as determinações previstas em lei.</p><p>Vários tipos de contratos podem ser firmados pelo Estado, podendo ser pactuados</p><p>entre entes da própria administração pública ou entre estes e particulares. As atividades são</p><p>desempenhadas pelos agentes públicos, sendo que estes atuam em nome do poder público</p><p>para que possam cumprir as funções descritas em lei.</p><p>Por fim, merece destaque os bens públicos, que também são influenciados por atos</p><p>administrativos, uma vez que a mudança de finalidade, quando necessária, é realizada por</p><p>meio de atos administrativos. Além disso, são os recursos públicos que permitem a realização</p><p>de contratos administrativos, visto que caracterizam todo o patrimônio público, sendo</p><p>destinados ao alcance do interesse público da melhor forma.</p><p>Referências</p><p>CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual Direito Administrativo. 24. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Lumen Juris, 2010.</p><p>MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 7. ed. Niterói: Impetus, 2013.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>1</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 13</p><p>Controle das ações e atividades administrativas.</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender os instrumentos para desenvolvimento das ações</p><p>administrativas a partir de casos. Conhecer os tipos, as formas e os órgãos</p><p>que compõem o sistema de controle das ações e atividades administrativas</p><p>existentes no Brasil.</p><p>• Estudar o princípio de controle mútuo baseado na separação de poderes.</p><p>• Estudar o princípio da legalidade administrativa e da juridicidade.</p><p>• Bordar os meios e recursos (habeas corpus, habeas data, mandato de</p><p>injunção, mandado de segurança, ação popular, ação civil pública) utilizados</p><p>para o controle das ações e atividades administrativas</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Conceito de controle administrativo</p><p>2 Formas de controle administrativo</p><p>3 Controle administrativo propriamente dito</p><p>4 Controle legislativo</p><p>5 Controle jurisdicional</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>Nesta aula, você terá a oportunidade de conhecer os tipos, as formas e os órgãos</p><p>existentes para efetivar o controle das ações e atividades realizadas pela administração</p><p>pública. Nesse sentido, será necessário estudar a separação</p><p>dos Poderes, pois são eles que</p><p>exercem o controle dos atos.</p><p>Para tanto, você estudará o controle realizado pela própria administração pública no</p><p>chamado “controle interno”.</p><p>Contudo, também estudará outras formas de controles externos, isto é, realizados por</p><p>um Poder distinto do que aquele que praticou o ato, tudo conforme determina a Constituição</p><p>da República de 1988. Culminam, por fim, nas ações ajuizadas perante o Poder Judiciário para</p><p>controle dos atos administrativos.</p><p>Tenha bons estudos!</p><p>1 Conceito de controle administrativo</p><p>De acordo com o conceito de Alexandrino e Paulo (2014, p. 296):</p><p>Pode-se conceituar controle administrativo como o conjunto de instrumentos que o</p><p>ordenamento jurídico estabelece a fim de que a própria Administração Pública, os</p><p>Poderes Judiciário e Legislativo, e ainda o povo, diretamente ou por meio de órgãos</p><p>especializados, possam exercer o poder de fiscalização, orientação e revisão da</p><p>atuação administrativa de todos os órgãos, entidades e agentes públicos, em todos os</p><p>Poderes e níveis da Federação.</p><p>É importante destacar que toda atuação do Estado, seja por qualquer um de seus Poderes,</p><p>em qualquer esfera de atuação, é balizada pela Constituição Federal, princípios de Direito e</p><p>todo um sistema legislativo e normativo que deve ser devidamente observado. Qualquer</p><p>atuação fora desses parâmetros pode ser considerada inconstitucional, ilegal ou irregular,</p><p>passível de controle, seja por parte do próprio Estado, seja pelos cidadãos.</p><p>Ao mencionar os princípios do Direito Administrativo, vale a pena citar um, de especial</p><p>importância: o princípio da legalidade, previsto no caput do art. 37 da Constituição Federal.</p><p>A atuação da administração pública, diga-se do Estado e qualquer um de seus Poderes, é</p><p>condicionada à existência de lei ou norma, que preveja e autorize seus atos. Não se admite</p><p>qualquer atuação estatal sem que haja lei ou norma que a autorize e preveja. Contrariamente,</p><p>aos cidadãos é permitido fazer tudo o que não for proibido por lei ou norma. Vejamos o inciso</p><p>II do art. 5º, da Constituição, juntamente com o art. 37, que regem:</p><p>Art. 5º, II: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em</p><p>virtude de lei;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>Art. 37: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,</p><p>dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de</p><p>legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]. (BRASIL, 1988).</p><p>Pela leitura, percebe-se que a administração pública deve agir de acordo com a lei, sob</p><p>pena de controle.</p><p>2 Formas de controle administrativo</p><p>O controle dos atos administrativos pode ser interno, caso exercido dentro do próprio</p><p>Poder que praticou o ato, ou externo, caso o controle seja exercido por outro Poder Estatal,</p><p>que não aquele que praticou o ato. O controle popular é o exercido pelos cidadãos, conforme</p><p>os meios que estão à sua disposição, os quais veremos mais adiante. Por ora, vale citar o</p><p>art. 74 da Constituição Federal, quanto ao controle da fiscalização contábil, financeira e</p><p>orçamentária, como segue:</p><p>Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada,</p><p>sistema de controle interno com a finalidade de:</p><p>I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos</p><p>programas de governo e dos orçamentos da União;</p><p>II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da</p><p>gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração</p><p>federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;</p><p>III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos</p><p>direitos e haveres da União;</p><p>IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional.</p><p>§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer</p><p>irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob</p><p>pena de responsabilidade solidária.</p><p>§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima</p><p>para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de</p><p>Contas da União. (BRASIL, 1988).</p><p>O controle pode ser prévio, realizado antes da prática do ato; concomitante, no momento</p><p>da prática do ato, como na fiscalização de um contrato administrativo; e subsequente,</p><p>realizado após a prática do ato.</p><p>Quanto ao objeto a ser controlado, o controle pode ser de legalidade ou de mérito.</p><p>O controle de legalidade é o que verifica se o ato está de acordo com o ordenamento</p><p>jurídico (leis, princípios e demais normas), visto que é exercido pela administração ou pelo</p><p>Judiciário. A ilegalidade resulta na anulação do ato administrativo. O controle de mérito</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>avalia a oportunidade e conveniência do ato praticado. Aqui, via de regra, o controle será</p><p>interno, visto que somente o próprio Poder é que pode avaliar os critérios de conveniência</p><p>e oportunidade dos atos que editou. Quando resolver por invalidar o ato, por motivo de</p><p>conveniência e oportunidade, ocorrerá a sua revogação.</p><p>Quanto ao órgão que realiza o controle, este pode ser: administrativo, Legislativo ou</p><p>Judiciário.</p><p>Meirelles (2012, p. 568) menciona a existência do controle hierárquico, que diz respeito</p><p>ao escalonamento dos órgãos do Poder Executivo, e o controle finalístico, que é o controle</p><p>exercido pela administração direta sobre as entidades que compõem a administração indireta.</p><p>Para que se possa compreender o controle administrativo, é necessário compreender o</p><p>princípio da autotutela.</p><p>Autotutela é o poder que possui a administração pública, por qualquer um de seus três</p><p>Poderes, de anular seus próprios atos, quando possuírem nulidades, podendo revogá-los</p><p>ou alterá-los por motivos de conveniência e oportunidade, devendo respeitar os direitos</p><p>adquiridos, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Podemos mencionar a Súmula 473 do</p><p>Supremo Tribunal Federal, que diz:</p><p>A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os</p><p>tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de</p><p>conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em</p><p>todos os casos, a apreciação judicial. (BRASIL, 1969).</p><p>3 Controle administrativo propriamente dito</p><p>O termo controle administrativo, aqui, está empregado considerando toda a atuação</p><p>administrativa dos três Poderes do Estado. É referente à atuação administrativa interna dos</p><p>Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O controle administrativo poder ser realizado de</p><p>ofício ou por provocação. As modalidades de controle de ofício são: a) fiscalização hierárquica;</p><p>b) supervisão superior; c) controle financeiro; d) pareceres vinculantes; e) ouvidoria.</p><p>a. Fiscalização hierárquica: o poder hierárquico é poder da administração que organiza e</p><p>escalona os seus órgãos, definindo as atribuições de cada um, com base no princípio</p><p>da hierarquia. O superior hierárquico possui atribuição de fiscalizar, avocar e delegar</p><p>atos a seus subordinados. Exemplo: pode o prefeito municipal anular ato ilegal</p><p>praticado por funcionário público municipal.</p><p>b. Supervisão superior: é conhecida por “supervisão ministerial”. É aplicada às entidades</p><p>vinculadas aos ministérios (Decreto-Lei nº 200/67, art. 19 e seguintes).</p><p>c. Controle financeiro: é a hipótese do art. 74 da Constituição, acima citado.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>d. Pareceres vinculantes: é o controle preventivo realizado sobre certos atos e contratos</p><p>administrativos. É realizado, via de regra, por órgão técnico da administração que</p><p>emite um parecer técnico vinculante.</p><p>e. Ouvidoria: é o órgão especializado em receber reclamações, sugestões e críticas aos</p><p>serviços prestados</p><p>e tem a atribuição de encaminhá-las aos responsáveis.</p><p>Passaremos agora ao estudo do controle interno da administração por provocação. As</p><p>formas de provocação da administração podem ser por: a) direito de petição; b) pedido de</p><p>reconsideração; c) reclamação administrativa; d) recurso administrativo.</p><p>a. Direito de petição: previsto no art. 5º, inciso XXXIV, “a”. É assegurado a todos os</p><p>cidadãos o direito de peticionar aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra</p><p>ilegalidade ou abuso de poder. Exemplo: petição do beneficiário ao INSS para revisão</p><p>de benefício previdenciário.</p><p>b. Pedido de reconsideração: é o direito genérico, à disposição do cidadão, de pedir</p><p>a reconsideração de determinado procedimento ou decisão administrativa. Aqui, é</p><p>necessário ter interesse processual legítimo para o pedido, devendo ser requerido</p><p>pela parte a quem interessar a revisão do ato ou decisão. Exemplo: caso haja</p><p>indeferimento do pedido de revisão feito ao INSS, o beneficiário poderá pedir a</p><p>reconsideração da decisão.</p><p>c. Reclamação administrativa: é a oposição formal e escrita a ato administrativo ou</p><p>decisão contrária aos interesses do reclamante. A administração tem obrigação de</p><p>conhecer e responder a reclamação.</p><p>d. Recurso administrativo: é o meio que proporciona o reexame de decisão</p><p>administrativa. As decisões da administração devem ser sempre fundamentadas,</p><p>sob pena de nulidade. A decisão proferida em sede de recurso produz coisa julgada</p><p>administrativa, encerrando-se a instância administrativa, o que não veda sua</p><p>apreciação pelo Judiciário. Exemplo: havendo decisão contra pedido de revisão de</p><p>benefício previdenciário, o prejudicado poderá apresentar recurso administrativo à</p><p>Junta de Recursos do INSS, que reapreciará a matéria.</p><p>4 Controle legislativo</p><p>É a modalidade de controle externo exercido pelo Poder Legislativo em todas as esferas</p><p>de atuação (federal, estadual e municipal). É uma das funções típicas do Poder Legislativo,</p><p>juntamente com a função de legislar. O controle é exercido, em sua maior parte, sobre o</p><p>Poder Executivo, e, em raras hipóteses, sobre o Poder Judiciário. Somente pode ocorrer nas</p><p>hipóteses expressamente previstas na Constituição. Diz o art. 49, V, IX e X, da Constituição:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: [...]</p><p>V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar</p><p>ou dos limites de delegação legislativa; [...]</p><p>IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os</p><p>relatórios sobre a execução dos planos de governo;</p><p>X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder</p><p>Executivo, incluídos os da administração indireta; […]. (BRASIL, 1988).</p><p>Exemplos de controle pelo Legislativo: comissões parlamentares de inquérito; pedidos de</p><p>informações (art. 50, § 2º da Constituição); convocação de autoridades para esclarecimentos</p><p>(art. 50 da CF); exercício da fiscalização financeira, contábil e orçamentária dos demais</p><p>Poderes, auxiliado pelo Tribunal de Contas (art. 71, CF).</p><p>Previstas no art. 58, § 3º, as comissões parlamentares de inquérito:</p><p>[…] que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de</p><p>outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara</p><p>dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante</p><p>requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado</p><p>e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério</p><p>Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. (BRASIL,</p><p>1988).</p><p>4.1 Tribunais de contas</p><p>Os tribunais de contas são órgãos vinculados ao Poder Legislativo e servem para auxiliar</p><p>o exercício do controle externo da administração pública. As competências do Tribunal</p><p>de Contas da União estão previstas no art. 71 da Constituição Federal e dentre elas está a</p><p>atribuição de apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República (inciso</p><p>I), a serem julgadas pelo Congresso Nacional.</p><p>5 Controle jurisdicional</p><p>Modalidade de controle externo exercida pelo Poder Judiciário. No Brasil, vigora o sistema</p><p>de jurisdição una, em que qualquer conflito de interesse pode ser levado ao Judiciário, que</p><p>possui o monopólio do exercício da jurisdição. Vale citar o art. 5º, inciso XXXV: “A lei não</p><p>excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988).</p><p>O controle jurisdicional é amplo e pode incidir sobre atos, contratos, decisões</p><p>administrativas etc. Pode ser preventivo ou repressivo e pode ser provocado pelos cidadãos,</p><p>por meio de ações constitucionais, como habeas corpus, habeas data, mandado de segurança,</p><p>mandado de injunção, ação popular e ação civil pública. Apesar de amplo, o controle possui</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>limites, sendo que, ao judiciário, não cabe substituir o administrador público em questões de</p><p>mérito (conveniência e oportunidade). O controle judicial deve se ater a questões de legalidade</p><p>e à observância dos princípios de direito administrativo. Assim, os atos administrativos, via de</p><p>regra, não podem ser revistos pelo Judiciário quanto ao seu mérito, somente quanto à sua</p><p>legalidade.</p><p>5.1 Mandado de segurança</p><p>Visa à proteção de direito líquido e certo, quando não for caso de habeas corpus ou</p><p>habeas data. De acordo com o art. 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal:</p><p>Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não</p><p>amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade</p><p>ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de</p><p>atribuições do Poder Público. (BRASIL, 1988).</p><p>O mandado de segurança está regulamentado pela Lei nº 12.016/2009 e deve ser</p><p>impetrado no prazo decadencial de 120 dias a partir do ato ilegal cometido pelo agente</p><p>público. O titular do direito pode ser pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira. Pode</p><p>ser pessoa jurídica pública (autarquia, por exemplo) ou privada. A autoridade coatora será</p><p>notificada para prestar informações em juízo no prazo de dez dias. Particulares que atuem</p><p>por delegação ou autorização do Poder Público também podem figurar como autoridades</p><p>coatoras, como estabelecimentos privados de ensino, sindicatos, concessionários de serviços</p><p>públicos etc.</p><p>5.2 Ação popular</p><p>Prevista no art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal, que diz:</p><p>Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato</p><p>lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade</p><p>administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o</p><p>autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.</p><p>(BRASIL, 1988).</p><p>A ação popular é o meio de controle de atos e contratos ilegais e prejudiciais ao patrimônio</p><p>público, à moralidade administrativa e ao meio ambiente. Está regulamentada na Lei nº</p><p>4.717/95. A ação popular possui três requisitos para ajuizamento: a) o autor, necessariamente,</p><p>deve ser cidadão brasileiro, nato ou naturalizado, em pleno gozo de seus direitos políticos; b)</p><p>o ato ou contrato impugnado deve ser ilegal ou imoral; c) o ato impugnado deve ser lesivo ao</p><p>patrimônio público, à moralidade ou ao meio ambiente.</p><p>O autor da ação popular pode ser maior de 16 e menor de 18 anos, visto que são cidadãos</p><p>em pleno gozo dos direitos políticos (podem votar). Pessoas jurídicas ou estrangeiros não</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>podem ajuizar a ação popular, bem como o Ministério Público. Pessoas que tiveram seus</p><p>direitos políticos suspensos ou perdidos (art. 15 da Constituição Federal) não podem ser</p><p>autores.</p><p>A ação é proposta contra o agente público ou contra qualquer responsável pela</p><p>prática</p><p>do ato lesivo. A entidade pública prejudicada deverá ser citada para participar do processo,</p><p>podendo assumir o polo ativo ou passivo da ação.</p><p>5.3 Ação civil pública</p><p>É a ação que serve para controle da administração, bem como para defesa de direitos</p><p>coletivos. É regulamentada pela Lei nº 7.347/85. Serve para proteger o meio ambiente, o</p><p>consumidor, a ordem urbanística, o patrimônio público, o patrimônio histórico, dentre outros.</p><p>Podem ajuizar ação civil pública: o Ministério Público (art. 129, III, da CF); a Defensoria Pública;</p><p>a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios; as autarquias, empresas públicas e</p><p>sociedades de economia mista; os órgãos públicos (quando houver vínculo entre seus fins</p><p>e o objeto da ação); as associações constituídas há pelo menos um ano e que tenham por</p><p>finalidade a defesa do interesse objeto da ação; os sindicatos.</p><p>5.4 Mandado de injunção</p><p>O mandado de injunção é ação constitucional e visa a suprir norma regulamentadora, com</p><p>a finalidade de tornar efetivo um direito previsto na Constituição, relativo à nacionalidade,</p><p>soberania ou cidadania, que não pode ser exercido por inércia do Poder Público em</p><p>regulamentar o assunto. Está previsto no art. 5º, inciso LXXI:</p><p>Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora</p><p>torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas</p><p>inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;</p><p>Pode ser proposto por qualquer pessoa, física ou jurídica, contra o órgão responsável</p><p>pela omissão. (BRASIL, 1988).</p><p>O procedimento será o mesmo do mandado de segurança enquanto não houver lei</p><p>específica (art. 24, parágrafo único, da Lei nº 8.038/90). A decisão tem efeito de declarar a mora</p><p>do órgão responsável pela omissão para que tome as providências necessárias e regulamente</p><p>o assunto. A competência para julgamento do mandado de injunção é estabelecida em</p><p>razão da entidade estatal a quem cumpre a regulamentação do assunto. Por exemplo, será</p><p>competente o Supremo Tribunal Federal para o julgamento do mandado de injunção quando</p><p>a elaboração da norma regulamentar for do Presidente da República.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>5.5 Habeas corpus</p><p>Previsto no art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, que dispõe:</p><p>Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de</p><p>sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso</p><p>de poder. (BRASIL, 1988).</p><p>Essa ação constitucional visa a garantir a liberdade das pessoas decorrente de prisão</p><p>ilegal. O habeas corpus pode ser preventivo, quando alguém tiver sua liberdade ameaçada por</p><p>ato ilegal do Estado; ou repressivo, quando a prisão ilegal já se concretizou. O habeas corpus é</p><p>ação gratuita (art. 5º, LXXVII), podendo ser impetrado por qualquer pessoa, em nome próprio</p><p>ou de terceiro, maior ou menor de idade. A ação de habeas corpus está regulamentada no</p><p>Código de Processo Penal, nos arts. 647 e seguintes. Diz o art. 647 do referido Código:</p><p>Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer</p><p>violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição</p><p>disciplinar. (BRASIL, 1941).</p><p>5.6 Habeas data</p><p>Previsto no art. 5º, inciso LXXII:</p><p>Conceder-se-á habeas data:</p><p>a. para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,</p><p>constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de</p><p>caráter público;</p><p>b. para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,</p><p>judicial ou administrativo. (BRASIL, 1988).</p><p>Conforme o art. 7º, inciso III, da Lei nº 9.507/97, o habeas data pode ser ajuizado “[...]</p><p>para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre</p><p>dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável” (BRASIL,</p><p>1997). O habeas data é uma ação constitucional e está regulamentado pela Lei nº 9.507/97.</p><p>A competência para julgamento é determinada pela entidade estatal que mantém o registro</p><p>ou banco de dados. A ação pode ser proposta contra entidades da administração direta ou</p><p>indireta, dos órgãos públicos e de entes despersonalizados que mantenham banco de dados</p><p>sobre a pessoa. A autoridade será notificada a prestar informações no prazo de dez dias,</p><p>sendo que, após, deverá o Ministério Público se manifestar no prazo de cinco dias.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>Considerações finais</p><p>Podemos concluir com o estudo do controle administrativo que a administração pública,</p><p>em todas as suas formas, quando pratica a atividade de administrar, está sujeita ao controle</p><p>dos seus atos, tanto internamente quanto externamente.</p><p>Isso se dá, inicialmente, através do princípio da legalidade, estudado nos artigos 5º e 37</p><p>da Constituição Federal. Dentre as formas de controle estão: o controle pelo Poder Legislativo,</p><p>juntamente com o Tribunal de Contas; pelo Poder Judiciário, através das ações existentes; e</p><p>o próprio controle exercido pela administração pública.</p><p>No estudo do controle dos atos administrativos, é de suma importância analisar as</p><p>ações judiciais que podem ser ajuizadas a fim de afastar ilegalidades. Para tanto, foram vistas</p><p>as seguintes ações: mandado de segurança, ação popular, ação civil pública, mandado de</p><p>injunção, habeas corpus e habeas data.</p><p>Referências</p><p>ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. São Paulo:</p><p>Método, 2014.</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial</p><p>da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 1jun. 2015.</p><p>______. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial</p><p>da União, Brasília, DF, 3 out. 1941. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 29 set. 2015.</p><p>______. Lei nº 9.507, de 12 de novembro de 1997. Regula o direito de acesso a informações e</p><p>disciplina o rito processual do habeas data. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 nov. 1997.</p><p>Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9507.htm>. Acesso em: 29 set.</p><p>2015.</p><p>______. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 473. Diário de Justiça, 12 dez. 1969. Disponível</p><p>em: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/75/STF/473.htm>. Acesso em: 29 set. 2015.</p><p>MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2009.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>1</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 14</p><p>Controle judicial.</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Analisar as formas de controle judicial e órgãos responsáveis.</p><p>• Compreender os sistemas de jurisdição.</p><p>• Analisar as prerrogativas e sujeições da administração pública.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Controle Judicial</p><p>2 Sistemas administrativos</p><p>3 A Fazenda Pública em juízo</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>Na presente aula, teremos a oportunidade de estudar o controle judicial da administração</p><p>pública através das ações constitucionalmente previstas, a exemplo da ação de mandado de</p><p>segurança contra ato coator realizado pela autoridade administrativa.</p><p>Ainda, analisaremos os sistemas de jurisdição que um país pode adotar, criando ou não</p><p>tribunais administrativos. Inclusive, estudar a situação jurídica no Brasil no ponto em questão.</p><p>Por fim, estudaremos as prerrogativas e sujeições que estão afetas à Fazenda Pública</p><p>quando em Juízo. Isso porque a Fazenda Pública necessita de prerrogativas em virtude de sua</p><p>própria condição de detentora da coisa do povo. Bons estudos!</p><p>1 Controle Judicial</p><p>Segundo Alexandrino e Paulo (2014, p. 918):</p><p>[...]</p><p>controle judiciário, ou judicial, é o controle realizado pelos órgãos do Poder</p><p>Judiciário, no desempenho de atividade jurisdicional, sobre os atos administrativos</p><p>praticados pelo Poder Executivo, bem como sobre os atos administrativos editados,</p><p>no exercício de função administrativa, pelo Poder Legislativo e pelo próprio Poder</p><p>Judiciário.</p><p>O controle realizado pelo Poder Judiciário é um controle de legalidade e legitimidade dos</p><p>atos praticados pelo poder público, ainda que esses atos sejam discricionários. O Judiciário,</p><p>via de regra, não tem poder para controlar o mérito dos atos praticados pelo Poder Executivo,</p><p>somente os aspectos relativos à sua legalidade. Assim, visto que o Judiciário faz controle de</p><p>legalidade e legitimidade dos atos administrativos, quando esses atos forem considerados</p><p>ilegais, ocorrerá a sua anulação.</p><p>É importante citar Alexandrino e Paulo (2014, p. 919), acerca do controle de legalidade</p><p>e não de mérito, realizado pelo Judiciário:</p><p>[...] não faria sentido o juiz, órgão voltado à atividade jurisdicional, muitas vezes</p><p>distante da realidade e das necessidades administrativas, substituir, pela sua, a ótica</p><p>do administrador. Significa que, se fosse dado ao juiz decidir sobre a legitimidade de</p><p>valoração de oportunidade e conveniência realizada pelo administrador na prática de</p><p>atos discricionários de sua competência, estaria esse juiz substituindo o administrador</p><p>no exercício dessa atividade valorativa [...].</p><p>O controle judicial dos atos da administração pública é realizado sempre por provocação</p><p>do interessado. Algumas ações podem ser citadas como meios de controle judicial dos atos</p><p>da administração, são elas: habeas corpus (art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal),</p><p>habeas data (art. 5º, inciso LXXII, da CF), mandado de segurança (art. 5º, inciso LXIX, da CF),</p><p>mandado de injunção (art. 5º, inciso LXXI, da CF), ação popular (art. 5º, inciso LXXIII, CF), ação</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>civil pública (Lei nº 7.347/85).</p><p>1.1 Mandado de segurança</p><p>A própria Constituição Federal, em seu art. 5º, LXIX, conceitua:</p><p>Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não</p><p>amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade</p><p>ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de</p><p>atribuições do Poder Público. (BRASIL, 1988).</p><p>O mandado de segurança pode ser individual ou coletivo, possui rito especial sumário e</p><p>está regulamentado pela Lei nº 12.016/09.</p><p>Considera-se direito líquido e certo aquele que é facilmente comprovado, sem</p><p>necessidade de instrução processual; é dizer, sem necessidade dos trâmites de um processo</p><p>comum, como produzir novas provas ou ouvir testemunhas, por exemplo; instrução essa que</p><p>não ocorre no mandado de segurança. A ação deve ser impetrada no prazo decadencial de</p><p>120 dias a partir do ato ilegal cometido pelo agente público.</p><p>O titular do direito pode ser pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira. Pode</p><p>ser pessoa jurídica pública (autarquia, por exemplo) ou privada. A autoridade coatora será</p><p>notificada para prestar informações em juízo no prazo de dez dias. Particulares que atuem</p><p>por delegação ou autorização do poder público também podem figurar como autoridades</p><p>coatoras, como estabelecimentos privados de ensino, sindicatos, concessionários de serviços</p><p>públicos etc.</p><p>1.2 Ação popular</p><p>Prevista no art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição, que diz:</p><p>Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato</p><p>lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade</p><p>administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o</p><p>autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.</p><p>(BRASIL, 1988).</p><p>A ação popular é meio de controle de atos e contratos ilegais e prejudiciais ao patrimônio</p><p>público, à moralidade administrativa e ao meio ambiente. Está regulamentada na Lei nº</p><p>4.717/95. A ação popular possui três requisitos para ajuizamento:</p><p>a. O autor, necessariamente, deve ser cidadão brasileiro, nato ou naturalizado, em pleno</p><p>gozo de seus direitos políticos;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>b. O ato ou contrato impugnado deve ser ilegal ou imoral;</p><p>c. O ato impugnado deve ser lesivo ao patrimônio público, à moralidade ou ao meio</p><p>ambiente.</p><p>Cita-se, por exemplo, a ação popular ajuizada contra a Prefeitura de Macapá e contra o</p><p>Prefeito Municipal para que providenciem, no prazo de 24 horas, coleta da totalidade do lixo</p><p>disposto nas ruas da capital. Para saber mais, acesse o link disponível na Midiateca da aula.</p><p>1.3 Ação civil pública</p><p>É ação que serve para controle da administração, bem como para defesa de direitos</p><p>coletivos. É regulamentada pela Lei nº 7.347/85. Serve para proteger o meio ambiente, o</p><p>consumidor, a ordem urbanística, o patrimônio público, o patrimônio histórico, dentre outros.</p><p>Podem ajuizar ação civil pública o Ministério Público (art. 129, III, da CF); a Defensoria</p><p>Pública; a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios; as autarquias, empresas</p><p>públicas e sociedades de economia mista; os órgãos públicos (quando houver vínculo entre</p><p>seus fins e o objeto da ação); as associações constituídas há pelo menos um ano e que tenham</p><p>por finalidade a defesa do interesse objeto da ação; e, por fim, os sindicatos.</p><p>Por exemplo, o Ministério Público ajuizou ação civil pública contra a Companhia de</p><p>Saneamento de Sergipe em virtude de irregularidades em estação de tratamento de esgoto,</p><p>causando poluição no Rio Poxim, que banha a região. Para saber mais, acesse o link disponível</p><p>na Midiateca da aula.</p><p>1.4 Mandado de injunção</p><p>O mandado de injunção é uma ação constitucional que visa a suprir norma</p><p>regulamentadora, com a finalidade de tornar efetivo um direito previsto na Constituição,</p><p>relativo à nacionalidade, soberania ou cidadania, que não pode ser exercido por inércia do</p><p>poder público em regulamentar o assunto. Está previsto no art. 5º, inciso LXXI, da Constituição</p><p>Federal:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora</p><p>torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas</p><p>inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Pode ser proposto por qualquer</p><p>pessoa, física ou jurídica, contra o órgão responsável pela omissão. (BRASIL, 1988).</p><p>O procedimento será o mesmo do mandado de segurança enquanto não houver lei</p><p>específica (art. 24, parágrafo único, da Lei nº 8.038/90). A decisão tem efeito de declarar a mora</p><p>do órgão responsável pela omissão para que tome as providências necessárias e regulamente</p><p>o assunto. A competência para julgamento do mandado de injunção é estabelecida em</p><p>razão da entidade estatal a quem cumpre a regulamentação do assunto. Por exemplo, será</p><p>competente o Supremo Tribunal Federal para o julgamento do mandado de injunção quando</p><p>a elaboração da norma regulamentar seja do Presidente da República.</p><p>O Unafisco vai entrar, em breve, no STF (Supremo Tribunal Federal) com Mandado de</p><p>Injunção – instrumento jurídico apropriado para garantir o direito de alguém prejudicado</p><p>diante da omissão legislativa na regulamentação de normas da Constituição – para garantir</p><p>aposentadoria especial aos Auditores-Fiscais, uma vez que exercem “atividade de risco”. Para</p><p>saber mais, acesse o link disponível na Midiateca da aula.</p><p>Por exemplo, mandado de injunção ajuizado pelo Sindicato dos Servidores do Poder</p><p>Judiciário para dar efetividade ao artigo 37, VII, da Constituição, permitindo o direito de greve</p><p>dos servidores públicos.</p><p>1.5 Habeas corpus</p><p>Previsto no art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal:</p><p>Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de</p><p>sofrer violência</p><p>ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso</p><p>de poder. (BRASIL, 1988).</p><p>Essa ação constitucional visa garantir a liberdade das pessoas decorrente de prisão ilegal.</p><p>O habeas corpus pode ser preventivo, quando alguém tiver sua liberdade ameaçada por ato</p><p>ilegal do Estado; ou repressivo, quando a prisão ilegal já se concretizou.</p><p>O habeas corpus é ação gratuita (art. 5º, LXXVII, CF/88), podendo ser impetrado</p><p>por qualquer pessoa, em nome próprio ou de terceiro, maior ou menor de idade. Está</p><p>regulamentada no Código de Processo Penal, no artigo 647 e seguintes. Diz o mencionado</p><p>artigo 647:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer</p><p>violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição</p><p>disciplinar. (BRASIL, 1941).</p><p>1.6 Habeas Data</p><p>Previsto no art. 7º:</p><p>Conceder-se-á habeas data:</p><p>I. para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,</p><p>constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de</p><p>caráter público;</p><p>II. para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,</p><p>judicial ou administrativo; [...] (BRASIL, 1997).</p><p>Ainda, conforme o art. 7º, inciso III, da Lei nº 9.507/97, o habeas data pode ser ajuizado</p><p>“[...] para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre</p><p>dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável” (BRASIL,</p><p>1997).</p><p>O habeas data é ação constitucional, está regulamentado pela Lei nº 9.507/97. A</p><p>competência para julgamento é determinada pela entidade estatal que mantém o registro</p><p>ou banco de dados.</p><p>A ação pode ser proposta contra entidades da administração direta ou indireta, órgãos</p><p>públicos e entes despersonalizados que mantenham banco de dados sobre a pessoa. A</p><p>autoridade será notificada a prestar informações no prazo de dez dias, sendo que, após,</p><p>deverá o Ministério Público se manifestar no prazo de cinco dias.</p><p>2 Sistemas administrativos</p><p>Podemos conceituar sistema administrativo como o regime adotado pelo Estado com</p><p>a finalidade de controle dos atos administrativos ilegais ou ilegítimos praticados pelo poder</p><p>público em todas as esferas e de todos os Poderes. São dois os sistemas existentes: sistema</p><p>inglês e sistema francês.</p><p>Sistema de jurisdição única, também chamado de sistema inglês, em que todos os</p><p>litígios, sejam eles entre Estado e cidadão ou entre cidadãos, podem ser levados ao Poder</p><p>Judiciário, que possui o monopólio da jurisdição. Somente o Judiciário tem competência para</p><p>resolver, em última instância, definitivamente, os conflitos de interesses, produzindo, por</p><p>suas decisões, a denominada coisa julgada. É o sistema adotado pelo Brasil.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>O sistema de jurisdição única não impossibilita a existência de instâncias administrativas,</p><p>alternativas, para a resolução dos conflitos de interesses. O que o sistema visa a proteger</p><p>é o amplo direito de acesso ao Judiciário, sem a dependência do esgotamento da via</p><p>administrativa na resolução dos conflitos. A propósito, vale citar o inciso XXXV, do art. 5º, da</p><p>Constituição, que diz: “XXXV - A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou</p><p>ameaça a direito” (BRASIL, 1988).</p><p>Assim, ainda que o conflito tenha, ou não, sido decidido administrativamente, restará,</p><p>sempre, ao cidadão, a opção de levar seu caso ao Judiciário, para que este decida a questão</p><p>definitivamente e com poder legítimo de coerção de seus julgados.</p><p>Por outro lado, o sistema do contencioso administrativo é o reconhecido sistema francês.</p><p>Nesse sistema, é vedado ao Judiciário o conhecimento dos atos da administração</p><p>pública, sendo estes sujeitos unicamente à jurisdição especial do contencioso administrativo,</p><p>composta por tribunais de âmbito administrativo. Aqui existem duas jurisdições: a jurisdição</p><p>competente para o julgamento dos atos da administração; e a competente para julgamento</p><p>dos demais conflitos de interesses, conhecida por jurisdição comum.</p><p>Como dito, o Brasil adotou o sistema inglês, de jurisdição única, prestigiado pelo princípio</p><p>da inafastabilidade da jurisdição, previsto no artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal de 1988,</p><p>que é direito fundamental e considerado cláusula pétrea.</p><p>Por fim, vale mencionar os ensinamentos de Alexandrino e Paulo (2014, p. 8) sobre o</p><p>assunto dos sistemas de jurisdição:</p><p>Afirmar que no Brasil o controle de legalidade da atividade administrativa é efetivado</p><p>pelo Poder Judiciário não significa retirar da administração pública o poder de controlar</p><p>seus próprios atos. É evidente que não. No Brasil, temos órgãos administrativos que</p><p>decidem litígios de natureza administrativa. A diferença é que, no sistema de jurisdição</p><p>única, como é o nosso, as decisões dos órgãos administrativos não são dotadas da</p><p>força e da definitividade que caracterizam as decisões do Poder Judiciário. Os órgãos</p><p>administrativos solucionam litígios dessa natureza, mas as suas decisões não fazem</p><p>coisa julgada em sentido próprio, ficando sujeitas à revisão pelo Poder Judiciário,</p><p>desde que este seja provocado.</p><p>Pela leitura, percebe-se novamente que o sistema de jurisdição adotado pelo Brasil é o</p><p>sistema inglês.</p><p>3 A Fazenda Pública em juízo</p><p>O termo “Fazenda Pública” refere-se tradicionalmente como o ramo do Estado</p><p>responsável por gerir as finanças e a administração das políticas econômicas.</p><p>Denomina-se Fazenda Pública, o Estado, quando em juízo, por qualquer de seus entes</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>(autarquias, fundações públicas), em qualquer das esferas estatais (federal, estadual e</p><p>municipal), visto que é o erário público que suportará os encargos patrimoniais da demanda.</p><p>Visto que a Fazenda Pública tutela o interesse público, a lei lhe confere uma condição</p><p>processual diferenciada. Assim, para que a Fazenda Pública possa atuar de maneira ampla,</p><p>justifica-se o estabelecimento de determinadas prerrogativas processuais.</p><p>O foro competente para julgamento das causas em que a administração pública é</p><p>parte possui atribuição Constitucional. Na esfera Federal, está previsto no art. 109, I, da</p><p>Constituição, na Lei de Organização da Justiça Federal (Lei nº 5.010/66) e nas normas de</p><p>organização judiciária estaduais de cada Estado da Federação.</p><p>Assim, de acordo com o art. 109, I, da Constituição, compete à Justiça Federal conhecer</p><p>as ações em que a União, suas autarquias e empresas públicas forem interessadas.</p><p>Quanto aos estados, quando tiverem interesse na causa, ou em suas autarquias e</p><p>empresas públicas, litigarão na Justiça Estadual, na capital do Estado, salvo nas ações reais e</p><p>mandados de segurança, em que o foro competente para julgamento é o da situação da coisa</p><p>ou da sede da autoridade coatora.</p><p>Os municípios litigarão na respectiva comarca a que fizer parte a sua sede.</p><p>Vale destacar que as autarquias possuem o mesmo foro e juízo da respectiva entidade</p><p>estatal a que pertencem e gozam de todas as prerrogativas processuais inerentes à Fazenda</p><p>Pública quanto a prazos, custos, prescrição etc., ocorrendo quanto às fundações públicas.</p><p>Quanto às empresas estatais (empresas públicas, sociedades de economia mista, serviços</p><p>sociais autônomos e entes de cooperação em geral), elas não possuem as mesmas prerrogativas</p><p>processuais inerentes à Fazenda Pública, visto que, via de regra, apesar de serem entidades</p><p>públicas, possuem regime de direito privado.</p><p>3.1 Representação em juízo</p><p>Nos termos do Código de Processo Civil, a representação da Fazenda Pública em juízo é</p><p>feita da seguinte forma:</p><p>Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:</p><p>I. a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, por seus procuradores;</p><p>II. o Município, por seu Prefeito ou procurador; [...] (BRASIL, 1973).</p><p>A Fazenda Pública</p><p>brasileira).</p><p>Visto o assunto, você já terá uma noção formada a respeito da evolução constitucional</p><p>brasileira. Bons estudos.</p><p>1 Por que o conteúdo das Constituições passa de sintético</p><p>para um modelo analítico?</p><p>Histórico das Constituições brasileiras</p><p>Para iniciar os estudos do Direito Constitucional brasileiro, é necessário detalhar as</p><p>Constituições brasileiras existentes desde o período Imperial, em legítima evolução histórica,</p><p>até a última Constituição aprovada em 1988.</p><p>Com isso, passaremos a perceber a evolução da Constituição do modelo sintético para o</p><p>modelo prolixo, analítico, através das gerações de direitos.</p><p>2 Constituição de 1824</p><p>Iniciamos o estudo com a Constituição de 1824.</p><p>A História conta que a França invadiu Portugal, em 1808, o que motivou a transferência</p><p>da Família Real Portuguesa para o Brasil, elevando o status brasileiro de mera colônia para</p><p>“Reino Unido a Portugal e Algarves”.</p><p>Pouco tempo depois, em 1821, o Rei de Portugal, D. João VI, retornou ao seu país de</p><p>origem, deixando no Brasil o filho D. Pedro. Pressionado pelos liberais da época, em 1822, o</p><p>filho de D. João decidiu ficar no Brasil, desrespeitando ordens de retorno a Portugal – episódio</p><p>que ficou conhecido como “Dia do Fico”.</p><p>No mesmo ano, em 7 de setembro, D. Pedro declarou a Independência do Brasil com</p><p>relação a Portugal, convocando, logo em seguida, a primeira “Assembleia-Geral Constituinte</p><p>e Legislativa”. Contudo, tal Assembleia não teve sucesso, sendo dissolvida sem concluir seus</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>trabalhos.</p><p>Dessa forma, restou ao Imperador D. Pedro, agora D. Pedro I, outorgar a Constituição</p><p>Política do Império do Brasil em 25 de março de 1824. Esta outorga significou a aprovação e</p><p>a imposição de sua vontade.</p><p>A próxima Constituição a ser editada ocorreu apenas em 1891, o que faz a Constituição</p><p>de 1824 a mais duradoura até o presente momento, com 67 anos de existência.</p><p>Apesar das ideias liberais que já vinham crescendo à época, sob influência da Constituição</p><p>francesa de 1814, a primeira Constituição brasileira foi imposta pela vontade do Imperador</p><p>e foi marcada pela centralização do poder em suas mãos. É o que se chamou de Poder</p><p>Moderador.</p><p>Logo, podemos classificar o Brasil regido por tal Constituição como um Estado Unitário,</p><p>ou seja, de poder centralizado, diferente, então, do Estado Federado em que existe legítima</p><p>divisão dos poderes.</p><p>Reinando absoluto, classificamos também o governo como absolutista, isto é, o poder</p><p>nas mãos do Imperador, figura central do Império.</p><p>Outras características podem ser extraídas desse contexto inicial: o poder era hereditário,</p><p>de pai para filho, como qualquer monarquia; as chamadas “Capitanias Hereditárias” passaram</p><p>a ser províncias, com governantes indicados pelo Imperador.</p><p>Contudo, e gradativamente, as ideias de República se fortaleceram à medida em que a</p><p>Monarquia perdia forças, culminando, enfim, na Constituição de 1891.</p><p>3 Constituição de 1891</p><p>A Constituição de 1891 nasceu em virtude do descontentamento de diversos setores, a</p><p>partir de 1860, com a Monarquia estabelecida. Até mesmo a Igreja Católica se distanciou de</p><p>D. Pedro II. Movimentos sociais surgiram, como o Manifesto do Centro Liberal e o Manifesto</p><p>Republicano, de 1869 e 1870, respectivamente. A Guerra do Paraguai de 1868 enfraqueceu o</p><p>apoio dos militares à Monarquia.</p><p>Com o envelhecimento de D. Pedro II e da própria Monarquia, sem as bases de apoio</p><p>para lhe sustentar, foi enfim proclamada a República brasileira por Marechal Deodoro da</p><p>Fonseca, em 1889.</p><p>De 1889 a 1891, instalou-se no Brasil o chamado “Governo Provisório”, até que a nova</p><p>Constituição fosse promulgada em 24 de fevereiro de 1891, através da lavra de Rui Barbosa,</p><p>com forte influência da Constituição norte-americana de 1787.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>A Constituição de 1891 foi a primeira Constituição na era da República e foi</p><p>elaborada pela Assembleia Constituinte eleita em 1890 para este fim.</p><p>Uma das principais características desta primeira Constituição Republicana do Brasil foi,</p><p>por óbvio, o fim da Monarquia e do Poder Moderador e a instalação do sistema de governo</p><p>presidencialista. O Estado passou de unitário para federado, isto é, com poder descentralizado.</p><p>Nesse sentido, adotou-se a divisão orgânica do Poder proposta por Montesquieu, também</p><p>chamada de Teoria da Tripartição do Poder, que estabeleceu serem poderes da República o</p><p>Legislativo, o Judiciário e o Executivo, harmônicos e independentes entre si.</p><p>Outra importante característica da nova Constituição foi a ausência de religião oficial no</p><p>país, tornando o Brasil um Estado laico, não confessional. Dessa forma, institucionalizou-se a</p><p>separação da Igreja com relação ao Estado.</p><p>Houve a ampliação do leque de direitos e garantias individuais, a exemplo do habeas</p><p>corpus, previsto pela primeira vez na Constituição de 1891. Dessa forma, os direitos do</p><p>indivíduo frente às intervenções malfadadas do Estado começaram a ganhar força. Tais</p><p>direitos são chamados de 1ª Geração.</p><p>A Constituição em voga é classificada como rígida, isto é, para ser alterada necessita de</p><p>um processo legislativo mais complexo, que obedeça a solenidades maiores daquelas exigidas</p><p>para alteração de uma lei infraconstitucional.</p><p>Ainda que influenciada pela Lei Áurea, de abolição à escravatura, a Constituição de 1891</p><p>não trouxe grandes avanços na questão trabalhista. Por outro lado, as liberdades civis já</p><p>conquistadas foram consolidadas.</p><p>4 Constituição de 1934</p><p>A Constituição de 1934 começou a tomar forma através da Revolução de 1930, que</p><p>instituiu o que se chamou de “Governo Provisório”, marcando o final da “República Velha”.</p><p>A própria Revolução de 1930 ganhou força pelo fracasso na “Política do café com leite”,</p><p>em que os estados de São Paulo e Minas Gerais se revezavam no Poder. Teve influência</p><p>também o assassinato de João Pessoa, em julho de 1930, e a grave crise econômica de 1929.</p><p>Tais fatores levaram à Revolução, que deu poderes ao Governo Provisório de convocar</p><p>uma Assembleia Constituinte para elaboração de uma nova Constituição.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>Apareceu em cena Getúlio Vargas, que instituiu o Código Eleitoral de 1932, trazendo</p><p>grandes avanços neste campo, como o sufrágio universal, o voto direto e o escrutínio secreto,</p><p>além do voto feminino, até então não permitido.</p><p>Em 16 de julho de 1934 foi promulgada uma nova Constituição, sob influência da</p><p>Constituição Alemã de Weimar de 1919, que trouxe como avanços os direitos sociais, também</p><p>chamados de 2ª Geração ou Estado Social de Direito.</p><p>Basicamente, foram inseridos direitos sociais do trabalho, da família, educação e</p><p>cultura, da ordem econômica e social, dentre outros. Essa foi a principal contribuição desta</p><p>Constituição, que pouco durou no cenário nacional.</p><p>Manteve-se incólume a República Federativa, a tripartição dos Poderes e o regime</p><p>presidencialista, não havendo retrocesso nesses pontos. Foram previstos, pela primeira vez,</p><p>os remédios constitucionais do mandado de segurança e da ação popular.</p><p>5 Constituição de 1937</p><p>Como podemos observar, a Constituição de 1934 teve curtíssima duração, apesar dos</p><p>avanços sociais e democráticos por ela trazidos.</p><p>Em 1934, foi eleito presidente Getúlio Dorneles Vargas, com mandato de quatro anos,</p><p>ou seja, com término previsto para 1938. Durante este período, apresentaram-se no cenário</p><p>nacional dois lados políticos contrários: a Ação Integralista Brasileira (AIB), considerada de</p><p>direita fascista; e a Aliança Nacional Libertadora (ANL), de esquerda. O governo de Getúlio,</p><p>não contente com o lado oposicionista, determinou o fechamento da ANL, gerando repúdio</p><p>através do “Manifesto” de Luiz Carlos Prestes.</p><p>Outros movimentos surgiram em resposta à decisão autoritária de Getúlio, como exemplo</p><p>a Intentona Comunista, o que levou o Governo de Getúlio</p><p>é representada em juízo por procuradores judiciais, titulares de cargos</p><p>públicos privativos de advogados regularmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil</p><p>(OAB). Como essa representação decorre de lei, que cria os cargos e que rege os concursos</p><p>para sua investidura, é desnecessário o uso de procuração por parte dos procuradores para</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>exercer o seu mister, que é a defesa dos interesses da administração.</p><p>A Advocacia-Geral da União (AGU) é a instituição que, de maneira direta ou por</p><p>intermédio de algum órgão vinculado, possui a atribuição de representar, judicialmente, a</p><p>União (Lei Complementar nº 73/1993). A Procuradoria-Geral Federal, entidade vinculada à</p><p>Advocacia Geral da União, é a entidade responsável pela representação judicial e extrajudicial</p><p>das autarquias e fundações públicas federais.</p><p>Na esfera Estadual, a representação da Fazenda Pública fica a cargo dos procuradores</p><p>dos estados, organizados em carreira. Os procuradores dos estados integram a Procuradoria</p><p>Geral do Estado, órgão pertencente à Administração Pública Estadual.</p><p>Quanto aos municípios, são representados em juízo por seus procuradores ou por seu</p><p>prefeito. A atuação por procuradores municipais depende de Lei Municipal. Em municípios</p><p>de pequeno porte em que não há o cargo de procurador, entende-se que o prefeito poderá</p><p>constituir advogado para exercer a função de defesa do município, mediante procuração.</p><p>Processualmente, a Fazenda Pública, como autora ou ré, demanda, via de regra, em</p><p>condições de igualdade com relação aos particulares, exceto quanto a prazos para contestar</p><p>ações, que serão quadruplicados, bem como para interpor recursos, que serão dobrados (art.</p><p>188 do Código de Processo Civil).</p><p>Quanto às citações para responder a ações ou execuções, bem como as notificações</p><p>repressoras para a prática ou abstenção de ato, só podem ser realizadas na pessoa dos</p><p>procuradores devidamente autorizados a recebê-las, conforme regulamentação interna.</p><p>Porém, as intimações referentes ao andamento dos processos são realizadas na pessoa do</p><p>procurador que estiver funcionando no respectivo feito.</p><p>Com relação à instrução de provas a serem colhidas nos processos da Fazenda Pública,</p><p>ocorre com os meios de prova previstos na legislação comum civil e processual civil, com a</p><p>apresentação, via de regra, de eventual procedimento administrativo relativo à causa, como</p><p>nas causas previdenciárias, por exemplo.</p><p>A participação do Ministério Público, embora não seja obrigatória, poderá ocorrer nos</p><p>termos do art. 82, III, nos casos em que “[...] houver interesse público evidenciado pela</p><p>natureza da lide ou da qualidade da parte” (BRASIL, 1973).</p><p>3.2 Duplo grau de jurisdição (recurso de ofício)</p><p>De acordo com o Código de Processo Civil, em seu artigo 475, inciso II, as decisões</p><p>proferidas contra a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, bem como suas</p><p>entidades autárquicas e fundações públicas estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição, não</p><p>produzindo efeito senão depois de julgadas em segunda instância. Via de regra, os recursos</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>de ofício produzem efeito suspensivo, ou seja, não podem ser executadas as decisões até o</p><p>julgamento do recurso, salvo nos mandados de segurança.</p><p>3.3 Execução contra a Fazenda Pública</p><p>Quanto às execuções dos julgados contra a Fazenda Pública, seus bens não estão sujeitos</p><p>a penhora, nem a arresto, mas poderá haver sequestro de eventual importância devida caso</p><p>não seja atendida a requisição do Poder Judiciário quanto à ordem dos precatórios expedidos</p><p>(art. 731 do Código de Processo Civil).</p><p>O procedimento para a execução contra a Fazenda Pública está previsto no art. 730 do</p><p>Código de Processo Civil. Quando a Fazenda Pública for a exequente, o procedimento será o</p><p>da Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80).</p><p>A Constituição Federal determina que a administração pública inclua no seu orçamento</p><p>verbas necessárias ao pagamento de precatórios, que, apresentados até 1º de julho de</p><p>cada ano, deverão ser pagos até o final do exercício seguinte, devidamente atualizados</p><p>monetariamente (art. 100 e parágrafos).</p><p>Se a dotação orçamentária for insuficiente, deverá ser suplementada com crédito</p><p>adicional, diretamente consignado ao Poder Judiciário para o pagamento das requisições em</p><p>rigorosa ordem cronológica. Caso desatendidas as requisições ou não respeitada a ordem</p><p>de pagamento, poderá ocorrer a intervenção federal no Estado, a intervenção do Estado no</p><p>Município ou o sequestro da respectiva quantia preterida, podendo o responsável incidir em</p><p>crime funcional.</p><p>A Fazenda Pública não é citada para pagar, como nas execuções contra particulares. É</p><p>citada para opor embargos. Quando não forem opostos ou forem julgados improcedentes,</p><p>serão expedidos os precatórios.</p><p>Considerações finais</p><p>Tivemos a oportunidade de estudar mais a fundo as ações constitucionais existentes</p><p>com vistas a exercer o controle judicial sobre a administração pública, com destaque para a</p><p>Ação Civil Pública destinada a proteger bens e direitos difusos e coletivos.</p><p>Com relação ao sistema de jurisdição adotado pelo Brasil, percebemos que adota o</p><p>sistema inglês de jurisdição única, não cabendo a tribunais administrativos darem a última</p><p>palavra a respeito do direito controverso, mas sim ao próprio Poder Judiciário.</p><p>Analisamos também as prerrogativas da Fazenda Pública quando em juízo contra</p><p>particulares, tanto na sua estrutura de defesa quanto nas prerrogativas processuais do duplo</p><p>grau de jurisdição e o pagamento de suas dívidas através do sistema de precatórios disposto</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>11</p><p>no artigo 100 da Constituição da República.</p><p>Referências</p><p>ALEXANDRINO, Marcelo; VICENTE, Paulo. Direito Administrativo Descomplicado. São Paulo:</p><p>Método, 2014.</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial</p><p>da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 8 jun. 2015.</p><p>______. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial</p><p>da União, Brasília, DF, 3 out. 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.</p><p>______. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial</p><p>da União, Brasília, DF, 11 jan. 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/</p><p>L5869.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.</p><p>______. Lei nº 9.507, de 12 de novembro de 1997. Regula o direito de acesso a informações e</p><p>disciplina o rito processual do habeas data. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 nov. 1973.</p><p>Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9507.htm>. Acesso em: 20 set.</p><p>2015.</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 15</p><p>Controle do Poder Legislativo.</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender a finalidade e a função fiscalizadora do Poder Legislativo sobre</p><p>as ações do Executivo.</p><p>• Estudar as modalidades de controle legislativo: convocação de autoridade</p><p>pública, CPI, fiscalização financeira e orçamentária, utilização e alienação de</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Controle Judicial</p><p>2 Sistemas administrativos</p><p>3 A Fazenda Pública em juízo</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>Na presente aula, teremos a oportunidade de estudar as formas de controle realizadas</p><p>pelo Poder Legislativo com o auxílio dos Tribunais de Contas sobre o Poder Executivo.</p><p>Para tanto, estudaremos que o Poder Legislativo possui a função típica de criar normas</p><p>jurídicas, a exemplo das Leis Ordinárias e das Leis Complementares. Contudo, o Poder</p><p>Legislativo também possui outra</p><p>função expressamente determinada pela Constituição</p><p>Federal, que é a função de fiscalizar o uso do dinheiro público e dos bens públicos.</p><p>Essa função é sim uma forma de ingerência do Poder Legislativo sobre o Poder Executivo,</p><p>contudo, não se mostra contrária à Constituição, que preza pelo equilíbrio da balança de</p><p>Poderes. Isso se dá justamente porque a autorização para fiscalização do Poder Executivo</p><p>pelo Poder Legislativo advém da própria Constituição, que autoriza a fiscalização e também</p><p>impõe limites, a fim de evitar abusos.</p><p>Uma das formas de fiscalização é através da criação de Comissões Parlamentares de</p><p>Inquérito, tanto pela Câmara de Deputados como pelo Senado Federal ou ainda pelo</p><p>Congresso Nacional.</p><p>Vamos aprofundar a respeito? Bons estudos!</p><p>1 Controle do Poder Legislativo</p><p>Ao prestigiar a tripartição de Poderes do Estado, a Constituição Federal delineou as</p><p>funções específicas de cada um desses Poderes. Os Poderes do Estado (Legislativo, Executivo</p><p>e Judiciário) possuem suas funções precípuas, típicas, que são suas funções essenciais ou</p><p>principais. Possuem também funções secundárias, também chamadas de atípicas, isto é, não</p><p>lhes são inerentes, mas acabam por realizar pelos mais diversos motivos.</p><p>As funções típicas do Poder Legislativo são: legislar, ou seja, inovar a ordem jurídica</p><p>criando leis; e fiscalizar a gestão da coisa pública com auxílio dos Tribunais de Contas, tanto</p><p>da União como dos estados e até mesmo de alguns municípios.</p><p>Ao desempenhar a função legislativa, cabe ao Poder Legislativo criar as normas jurídicas</p><p>(Leis Ordinárias, Emendas Constitucionais, Leis Complementares etc.), nos termos do processo</p><p>legislativo previsto na própria Constituição.</p><p>Já no exercício da função fiscalizatória, cabe ao Poder Legislativo proceder à fiscalização</p><p>política, contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Poder Executivo.</p><p>Com relação ao Poder Judiciário, são poucas as possibilidades de controle pelo Poder</p><p>Legislativo. A função fiscalizatória desse Poder pode ser classificada em controle político-</p><p>administrativo, relativo à própria gestão da coisa pública, e controle financeiro-orçamentário,</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>referente à prestação de contas.</p><p>As funções atípicas do Poder Legislativo, isto é, aquelas funções anormais, são: administrar</p><p>e julgar. O Legislativo exerce a função de administrar quando promove sua organização</p><p>interna, constitucionalmente prevista. Ainda, exerce a função de julgamento quando, por</p><p>exemplo, o Congresso Nacional julga as contas dos administradores e demais responsáveis</p><p>por verbas públicas (art. 71, II, CF) e o Senado Federal julga determinadas autoridades nos</p><p>crimes de responsabilidade (art. 52, I e II e parágrafo único).</p><p>O controle legislativo, ou parlamentar, por ser modalidade de controle externo, só pode</p><p>ocorrer nos casos expressamente previstos pela Constituição. A legislação infraconstitucional</p><p>não pode criar novas modalidades de controle de um Poder sobre outro, sob pena de</p><p>desequilíbrio da balança.</p><p>Vale mencionar que, nos âmbitos Estadual, Distrital e Municipal, o controle Legislativo</p><p>é exercido pelas Assembleias Legislativas, pela Câmara Distrital e pelas Câmaras Municipais.</p><p>Quanto ao controle exercido pelo Congresso Nacional, podemos citar o art. 49, inciso X,</p><p>da Constituição, que diz:</p><p>Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: [...]</p><p>X. fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do</p><p>Poder Executivo, incluídos os da administração indireta; [...]. (BRASIL, 1988).</p><p>O citado artigo prevê modalidade de controle político do Legislativo sobre os atos do</p><p>Poder Executivo. Tal controle não é ilimitado, pois há de ser observado que os Poderes são</p><p>independentes e harmônicos, impondo-se limites a esse controle, quais sejam, o próprio</p><p>texto constitucional.</p><p>Vale citar o art. 49, V, da CF, que prevê hipótese de sustação, pelo Congresso Nacional, de</p><p>atos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou da delegação legislativa.</p><p>Trata-se de controle de legalidade e legitimidade.</p><p>Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:</p><p>V. sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder</p><p>regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; [...]. (BRASIL, 1988).</p><p>Esse artigo deve ser interpretado em conjunto com os artigos. 84, IV, e 68 § 2º da</p><p>Constituição.</p><p>O art. 84, IV, disciplina o poder regulamentar do Presidente da República para editar</p><p>decretos e regulamentos, visando ao fiel cumprimento das leis. Em outras palavras,</p><p>especificam determinada lei, que, por sua natureza, é genérica.</p><p>O art. 68 trata das leis delegadas, elaboradas pelo Presidente da República, o qual deverá</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>solicitar a delegação ao Congresso Nacional. O parágrafo segundo estabelece que a forma</p><p>da delegação será por resolução, documento que especificará o conteúdo da delegação e os</p><p>termos do seu exercício.</p><p>Por fim, o art. 71, § 1º, da Constituição, prevê forma de controle de contratos considerados</p><p>ilegais ou irregulares, como segue:</p><p>Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio</p><p>do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: [...]</p><p>§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso</p><p>Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis. (BRASIL,</p><p>1988).</p><p>De acordo com o inciso X do mencionado art. 71 da Constituição Federal, o Tribunal de</p><p>Contas da União tem competência para sustar, diretamente, a execução de atos administrativos,</p><p>dando ciência à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal.</p><p>Quando se tratar de contratos administrativos, a sustação será feita pelo Congresso</p><p>Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo, as medidas cabíveis. Caso não</p><p>sejam tomadas as medidas cabíveis, poderá o Tribunal de Contas da União decidir a respeito</p><p>da sustação do contrato (art. 71, §§ 1º e 2º da Constituição).</p><p>2 Julgamento das contas do Presidente da República</p><p>De acordo com o art. 49, IX, cabe ao Congresso Nacional julgar, anualmente, as contas</p><p>prestadas pelo Presidente da República, bem como apreciar os relatórios sobre a execução</p><p>dos planos de governo. É interessante verificar que o Congresso será auxiliado pelo Tribunal</p><p>de Contas da União, ao qual compete apreciar as contas prestadas pelo Presidente mediante</p><p>parecer. Mas, cuidado, o Tribunal de Contas da União apenas aprecia as contas e elabora</p><p>parecer sobre elas. O julgamento da regularidade ou não fica a cargo do Congresso Nacional.</p><p>Nos âmbitos estadual, distrital e municipal, caberão às Assembleias Legislativas, à Câmara</p><p>Distrital e às Câmaras Municipais efetivar esse controle quanto às contas dos governadores</p><p>e dos prefeitos.</p><p>3 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI)</p><p>Previstas no art. 58, § 3º, da Constituição Federal, as Comissões Parlamentares de</p><p>Inquérito são comissões temporárias, ou seja, criadas com prazo certo para terminar, tanto</p><p>pela Câmara dos Deputados quanto pelo Senado Federal, ou ainda pelo Congresso Nacional,</p><p>conjuntamente, com a finalidade de investigar fatos determinados de interesse público.</p><p>Portanto, a CPI é criada já com a destinação de investigar um fato supostamente ocorrido,</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>não sendo possível a criação para investigação genérica, sem delimitação dos fatos.</p><p>A CPI é a manifestação de função típica do Poder Legislativo na sua atribuição fiscalizatória,</p><p>sendo que sua atuação se classifica em controle político-administrativo.</p><p>Vale citar o parágrafo 3º do art. 58 da Constituição Federal:</p><p>Art. 58. As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação</p><p>próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das</p><p>respectivas Casas, serão criadas pela</p><p>Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em</p><p>conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros,</p><p>para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for</p><p>o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade</p><p>civil ou criminal dos infratores. (BRASIL, 1988).</p><p>São três os requisitos para criação da CPI:</p><p>a. Requerimento de um terço dos membros da casa que pleiteia a criação (Câmara dos</p><p>Deputados; Senado Federal; ou Congresso Nacional em caso de Comissão Parlamentar</p><p>Mista);</p><p>b. Indicação de fato determinado a ser investigado;</p><p>c. Fixação de prazo certo para término da investigação.</p><p>Nos estados, Distrito Federal e municípios, as comissões parlamentares de inquérito</p><p>serão criadas por requerimento de um terço dos membros da Assembleia Legislativa, da</p><p>Câmara Distrital e da Câmara Municipal respectiva.</p><p>Quanto aos poderes de investigação, há alguns limites, não podendo as CPIs</p><p>determinarem interceptação de conversas telefônicas nem decretar a indisponibilidade de</p><p>bens dos investigados, matérias que só poderão ocorrer em caso de determinação judicial.</p><p>A respeito do assunto, o Supremo Tribunal Federal menciona a cláusula de reserva de</p><p>jurisdição, em que certas ações, como as citadas acima, são de competência do Judiciário,</p><p>não podendo ser praticadas pelas CPIs. Podem as CPIs, porém, determinar a quebra dos</p><p>sigilos fiscais, bancários e de registros de dados telefônicos dos investigados. As CPIs não</p><p>podem determinar prisão dos investigados, exceto em casos de flagrante delito.</p><p>As Comissões são autônomas, ou seja, não dependem nem possuem relação com</p><p>eventuais investigações das polícias judiciárias ou mesmo do Ministério Público.</p><p>Não podem ser criadas CPIs pelas casas do Congresso Nacional para investigação de fatos</p><p>ligados, exclusivamente, à competência de estados e municípios, sob pena de interferência</p><p>indevida por parte da União, o que seria ofensivo à autonomia desses entes federativos.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>As CPIs possuem competência para convocar e inquirir quaisquer pessoas, seja como</p><p>testemunha, seja como investigada, utilizando-se, para tanto, das regras do Código de Processo</p><p>Penal. Podem ordenar a condução coercitiva, obrigatória, de testemunha que, intimada,</p><p>não compareça. O Supremo Tribunal Federal entende que o silêncio pode ser utilizado por</p><p>testemunha caso esta entenda que a resposta às perguntas possam lhe incriminar, visto que</p><p>ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo.</p><p>Existe a possibilidade também de serem convocadas para prestar depoimento as</p><p>autoridades públicas. Nesse caso, de acordo com o art. 50 da Constituição Federal, a Câmara</p><p>dos Deputados, o Senado Federal ou qualquer uma de suas Comissões poderão convocar o</p><p>Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência</p><p>da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente</p><p>determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada.</p><p>Cuida-se, aqui, de controle político-administrativo.</p><p>Além disso, o Poder Legislativo poderá pedir informações a Ministros de Estado ou</p><p>qualquer pessoa anteriormente citada, nos termos do artigo 50, § 2º, da Constituição:</p><p>Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões,</p><p>poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente</p><p>subordinados à Presidência da República para prestarem, pessoalmente, informações</p><p>sobre assunto previamente determinado, importando crime de responsabilidade a</p><p>ausência sem justificação adequada.</p><p>[...]</p><p>§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão encaminhar</p><p>pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas</p><p>referidas no caput deste artigo, importando em crime de responsabilidade a recusa,</p><p>ou o não atendimento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações</p><p>falsas. (BRASIL, 1988).</p><p>Com relação aos estados e aos municípios, havendo previsão equivalente nas respectivas</p><p>Constituições e Leis Orgânicas, poderão ser convocadas autoridades para prestarem</p><p>informações.</p><p>4 Fiscalização financeira e orçamentária</p><p>A fiscalização contábil, financeira e orçamentária exercida pelo Poder Legislativo está</p><p>prevista no art. 70 da Constituição. Esse controle é realizado sobre os atos de todas as pessoas,</p><p>físicas ou jurídicas, que administrem bens ou dinheiro público. Leia-se o mencionado artigo</p><p>70 da CF:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial</p><p>da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade,</p><p>legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será</p><p>exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de</p><p>controle interno de cada Poder.</p><p>Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada,</p><p>que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos</p><p>ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de</p><p>natureza pecuniária. (BRASIL, 1988).</p><p>O controle financeiro externo, exercido pelo Poder Legislativo, com auxílio dos Tribunais</p><p>de Contas, tem o intuito de fiscalizar a probidade da atuação da administração pública e,</p><p>especialmente, fiscalizar o uso do dinheiro público. O controle abrange as áreas contábil,</p><p>orçamentária, financeira, patrimonial e operacional.</p><p>Os Tribunais de Contas são órgãos autônomos, vinculados ao Poder Legislativo e servem</p><p>para auxiliar no exercício do controle externo da administração pública. Não há relação de</p><p>hierarquia entre os Tribunais de Contas e o Poder Legislativo. As atribuições dos Tribunais de</p><p>Contas estão previstas no art. 71 da Constituição, a seguir:</p><p>Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio</p><p>do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:</p><p>I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante</p><p>parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;</p><p>II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens</p><p>e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e</p><p>sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles</p><p>que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao</p><p>erário público;</p><p>III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a</p><p>qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas</p><p>e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento</p><p>em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões,</p><p>ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato</p><p>concessório;</p><p>IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,</p><p>de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil,</p><p>financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos</p><p>Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;</p><p>V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a</p><p>União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;</p><p>VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito</p><p>Federal ou a Município;</p><p>VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de</p><p>suas Casas, ou por qualquer das respectivas</p><p>Comissões, sobre a fiscalização contábil,</p><p>financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias</p><p>e inspeções realizadas;</p><p>VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de</p><p>contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa</p><p>proporcional ao dano causado ao erário;</p><p>IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao</p><p>exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;</p><p>X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à</p><p>Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;</p><p>XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.</p><p>(BRASIL, 1988).</p><p>O controle realizado pelos Tribunais de Contas é posterior, subsequente aos atos</p><p>praticados, via de regra, não sendo lícito condicionar, previamente, os contratos assinados</p><p>pelo Poder Executivo ao crivo dos Tribunais de Contas, conforme reiterados julgamentos</p><p>proferidos pelo Supremo Tribunal Federal nesse sentido. Quanto à função desempenhada</p><p>pelo Tribunal de Contas, tem-se que é técnica e administrativa, o que significa que não exerce</p><p>poder de jurisdição, embora seja designado como “Tribunal”.</p><p>Com relação aos bens públicos, diz o parágrafo único do art. 70 da Constituição, que</p><p>prestará contas ao Congresso Nacional qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada,</p><p>que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiro, bens e valores públicos ou</p><p>pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza</p><p>pecuniária.</p><p>Considerações finais</p><p>Por toda a leitura do texto, tivemos a oportunidade de aprender sobre o controle que o</p><p>Poder Legislativo exerce sobre o Poder Executivo no que pertence à fiscalização das contas</p><p>públicas. Além da função de criar novas leis, cabe ao Poder Legislativo proceder à fiscalização</p><p>política, contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Poder Executivo.</p><p>Com o auxílio do Tribunal de Contas da União, cabe ao Congresso Nacional julgar as</p><p>contas apresentadas pelo Presidente da República. Poderá também o mesmo Congresso</p><p>Nacional, conjuntamente, ou pela Câmara de Deputados, ou pelo Senado Federal, criar uma</p><p>Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), destinada a apurar fato determinado a respeito do</p><p>uso do dinheiro público e com prazo certo para término. Ressalta-se que as CPIs não podem</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>determinar a prisão de pessoas, salvo em caso de prisão em flagrante, nem determinar a</p><p>apreensão de bens dos investigados.</p><p>O controle exercido pelo Poder Legislativo é feito com o auxílio dos Tribunais de Contas</p><p>respectivos, tanto na esfera Federal quanto na esfera Estadual e até na esfera Municipal.</p><p>A própria Constituição Federal delimita a atuação dos Tribunais de Contas através do</p><p>artigo 70, acima transcrito.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial</p><p>da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 20 jun. 2015.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>1</p><p>Objetivos Específicos</p><p>Temas</p><p>• Revisar os conceitos trabalhados na disciplina.</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 16</p><p>Professor Autor</p><p>Revisão para avaliação</p><p>Introdução</p><p>1 Eficácia das normas constitucionais</p><p>2 Controle de constitucionalidade</p><p>3 Atos administrativos</p><p>4 Contratos administrativos e cláusulas exorbitantes</p><p>5 Controle jurisdicional dos atos da administração</p><p>6 A Fazenda Pública em juízo</p><p>7 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs)</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>Na presente aula, teremos a oportunidade de rever os principais assuntos tratados até</p><p>o momento.</p><p>De início, é importante rever a eficácia das normas fundamentais, isto é, quando podem</p><p>ser aplicadas imediatamente e quando necessitam de regramento infraconstitucional.</p><p>Após, estudaremos como se dá o controle de constitucionalidade das leis e normas</p><p>infraconstitucionais, principalmente a ação direta de inconstitucionalidade, movida para</p><p>expurgar do ordenamento jurídico pátrio aquela norma que não esteja em consonância com</p><p>a Constituição Federal.</p><p>Os atos e contratos administrativos serão objeto de estudo também, pois toda vez que</p><p>a administração pública se manifesta para atender ao interesse público o faz através de</p><p>atos administrativos ou mesmo firmando contratos, quando então possuem prerrogativas</p><p>inerentes à sua própria condição de administração, as chamadas cláusulas exorbitantes.</p><p>É relevante estudar também o controle que o Poder Judiciário exerce sobre os atos da</p><p>administração pública, incluídos aí principalmente os atos do Poder Executivo. Basicamente,</p><p>o controle é feito através do ajuizamento perante o Poder Judiciário de ações constitucionais.</p><p>Serão vistos os principais tópicos da Fazenda Pública em juízo, uma vez que, por defender</p><p>o próprio interesse público, possui prerrogativas processuais que lhe conferem verdadeira</p><p>vantagem, não disponíveis ao litigante comum, por exemplo, o pagamento de suas dívidas</p><p>através do regime de precatórios.</p><p>Por fim, teremos a oportunidade de estudar a respeito das Comissões Parlamentares de</p><p>Inquérito, forma de controle do Poder Legislativo sobre os atos do Poder Executivo.</p><p>Bons estudos!</p><p>1 Eficácia das normas constitucionais</p><p>As políticas públicas descritas na Constituição de 1988 estão delimitadas pela eficácia</p><p>das normas constitucionais; e falando em eficácia das normas, caso estas não a tenham, não</p><p>podem ser utilizadas para implantação das referidas políticas.</p><p>A questão é a seguinte: para uma norma constitucional ser aplicada, ela necessita ser</p><p>eficaz. Algumas das normas possuem eficácia plena, isto é, aplicam-se de maneira total e</p><p>imediata. Outras normas possuem eficácia contida, que também se aplicam de maneira total</p><p>e imediata, contudo, poderão sofrer limitação ou restrição por outras normas a critério do</p><p>legislador. E, por fim, as normas de eficácia limitada, que não se aplicam até que venha outra</p><p>norma criada pelo legislador informando como será aplicada.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>Vamos a exemplos de cada eficácia das normas.</p><p>1.1 Normas de eficácia plena</p><p>As normas de eficácia plena possuem aplicação imediata, sem limitações e sem depender</p><p>de qualquer outra norma que lhe restrinja. Por exemplo, o artigo 2º da Constituição Federal</p><p>determina: “art. 2º. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo,</p><p>o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988). Veja que o próprio artigo da Constituição é aplicado</p><p>de maneira plena e imediata, sem a possibilidade de ser criada uma norma pelo legislador que</p><p>restrinja, sob pena de ser considerada inconstitucional, isto é, em desacordo com a própria</p><p>Constituição, que é norma máxima.</p><p>1.2 Normas de eficácia contida</p><p>Como dito, são as normas que possuem eficácia imediata. Contudo, podem ser</p><p>restringidas pela atividade do legislador.</p><p>Perceba o seguinte exemplo: o artigo 5º, inciso XII, da Constituição Federal afirma que:</p><p>XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de</p><p>dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,</p><p>nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou</p><p>instrução processual penal; [...]. (BRASIL, 1988).</p><p>Porém, a Lei de Execução Penal restringiu a eficácia desse inciso afirmando que, em</p><p>hipóteses excepcionais, quando haja fundadas suspeitas de que um crime esteja sendo</p><p>cometido, o diretor do presídio poderá violar as correspondências do preso suspeito. Com essa</p><p>medida, pode-se dizer que é inviolável o sigilo das correspondências,</p><p>e que existem exceções,</p><p>restrições criadas pelo próprio legislador que diminuem o alcance da norma constitucional.</p><p>1.3 Normas de eficácia limitada</p><p>São normas que não produzem seus efeitos enquanto não regulamentadas, integradas,</p><p>por outras normas que lhe dão eficácia. Por exemplo, o artigo 37, inciso VII, da Constituição</p><p>Federal afirma: “VII – o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em</p><p>lei específica” (BRASIL, 1988).</p><p>Pela leitura, percebe-se que somente será possível exercer o direito de greve quando</p><p>houver lei específica determinando os limites do direito.</p><p>No caso, a Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989, “Dispõe sobre o exercício do direito de</p><p>greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da</p><p>comunidade, e dá outras providências” (BRASIL, 1988).</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>2 Controle de constitucionalidade</p><p>Pode-se conceituar o controle de constitucionalidade como a adequação de normas</p><p>entre a norma inferior com relação à norma constitucional. Toda vez que uma lei estiver em</p><p>confronto de ideias com a Constituição será necessário expurgar a lei do sistema através do</p><p>controle de constitucionalidade.</p><p>Isso ocorre em virtude da rigidez constitucional, é dizer, a Constituição possui um quórum</p><p>qualificado para alteração, tornando sua mudança muito mais difícil. Por sua vez, uma norma</p><p>infraconstitucional possui quórum mais simples de alteração, dada sua menor importância.</p><p>Em conclusão, havendo rigoroso quórum de alteração, significa que a Constituição possui</p><p>hierarquia superior com relação às normas infraconstitucionais.</p><p>Nessa toada, o controle de constitucionalidade de uma lei poderá ser preventivo ou</p><p>repressivo.</p><p>Preventivo é o controle que ocorre antes da elaboração da lei ou norma. Por exemplo,</p><p>quando o projeto de lei é reprovado na Comissão de Constituição e Justiça.</p><p>Repressivo é o controle que ocorre após a elaboração da lei considerada inconstitucional.</p><p>Por exemplo, sustação do ato praticado pelo Poder Executivo pelo Congresso Nacional, nos</p><p>termos do artigo 49, V, da Constituição Federal.</p><p>Dentre as modalidades de ação para o controle de constitucionalidade, vale registrar</p><p>aquela de maior destaque, qual seja, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI).</p><p>Inicialmente, sendo o Supremo Tribunal Federal o órgão responsável pela guarda da</p><p>Constituição, caberá a ele julgar as ações diretas de inconstitucionalidade, nada mais justo.</p><p>Portanto, a competência para processar e julgar a ação será do Supremo.</p><p>A Lei nº 9.868/99 dispõe sobre a forma de processo e julgamento perante o Tribunal. O</p><p>efeito da decisão proferida será erga omnes, isto é, deverá ser obedecida por todos.</p><p>De acordo com o artigo 103 da Constituição Federal, podem propor a ação direta de</p><p>inconstitucionalidade:</p><p>Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória</p><p>de constitucionalidade:</p><p>I. o Presidente da República;</p><p>II. a Mesa do Senado Federal;</p><p>III. a Mesa da Câmara dos Deputados;</p><p>IV. a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>V. o Governador de Estado ou do Distrito Federal;</p><p>VI. o Procurador-Geral da República;</p><p>VII. o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;</p><p>VIII. partido político com representação no Congresso Nacional;</p><p>IX. confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. (BRASIL, 1988).</p><p>Apenas lembrando que o artigo 97 da Constituição informa sobre o princípio da reserva</p><p>do plenário, que diz:</p><p>Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do</p><p>respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei</p><p>ou ato normativo do Poder Público. (BRASIL, 1988).</p><p>Logo, caberá ao Supremo Tribunal Federal, por votação de maioria absoluta dos membros,</p><p>declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, não sendo possível nessa forma de</p><p>controle o julgamento monocrático, isto é, realizado por apenas um ministro.</p><p>3 Atos administrativos</p><p>Podemos conceituar atos administrativos como ações praticadas pelo Estado com a</p><p>finalidade de atender ao interesse público. Em outros termos, atos administrativos são as</p><p>manifestações de vontade da administração para a prestação de serviços públicos e afins.</p><p>Para praticar um ato administrativo, o sujeito de ser competente, isto é, aquele apontado</p><p>pela lei como o responsável pela prática do ato, sob pena de incompetência.</p><p>Definir a forma do ato é exteriorizar a maneira como ele será produzido. Muitas vezes, a</p><p>forma do ato está prevista em lei, e, quando isso ocorre, é obrigatório que sejam respeitados</p><p>os termos legais para que o ato possa produzir seus efeitos. Não sendo respeitada a forma</p><p>do ato, este será considerado inválido. Por exemplo, alguns atos administrativos devem ser</p><p>necessariamente escritos e assinados por duas autoridades distintas para serem válidos. Se</p><p>tais requisitos não forem cumpridos, não há que se falar em validade do ato.</p><p>Na análise dos atos administrativos, é importante que sejam definidos os motivos de</p><p>sua expedição. Basicamente, motivo do ato administrativo é a causa que levou a expedição</p><p>do ato; são os acontecimentos fáticos e jurídicos prévios à própria expedição do ato que o</p><p>levaram a ser praticado.</p><p>Mas, cuidado, o motivo de se expedir um ato não se confunde com motivação. O motivo</p><p>é a razão prévia que levou à prática do ato; por sua vez, motivação é a obrigação que a</p><p>administração possui em justificar expressamente a necessidade de praticá-lo.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>Há ainda o objeto do ato administrativo. Isto é, o que se busca com a prática do ato.</p><p>Juridicamente, se diz que é o efeito jurídico imediato que o ato praticado produzirá. Para</p><p>identificar o objeto do ato, basta fazer a seguinte pergunta: o que se pretende alcançar com</p><p>a prática desse ato específico? A resposta é a definição do objeto do ato.</p><p>Por fim, todo ato administrativo deve procurar a finalidade de atender ao interesse</p><p>público. Portanto, falar em finalidade é pretender atingir ao interesse de todos. Nenhum ato</p><p>praticado pode ter finalidade distinta desta. Ainda que o objeto do ato não seja uma atuação</p><p>geral e impessoal, o que aparentemente leve a considerar que o ato não cumpre o requisito</p><p>do interesse público, deve-se atentar para o fato de a finalidade administrar bem a coisa</p><p>pública para o interesse geral.</p><p>No que tange ao grau de liberdade que o administrador possui para expedir o ato, a</p><p>doutrina classifica o ato administrativo em vinculado e discricionário.</p><p>Ato vinculado é o ato administrativo regrado em que o administrador não tem espaço</p><p>para fazer algo distinto do que a lei determina. Por exemplo, aquele que cumpre todos os</p><p>requisitos determinados em lei para adquirir a licença para dirigir terá direito à obtenção da</p><p>Carteira Nacional de Habilitação. Nesse exemplo, não cabe ao administrador negar o direito</p><p>à licença se o candidato preencheu todos os requisitos em lei. Diferente é no caso de ato</p><p>discricionário, como será visto agora.</p><p>O ato discricionário é aquele em que a lei determina que seja praticado pelo administrador,</p><p>contudo, confere ao administrador variadas maneiras de praticá-lo, havendo espaço para</p><p>avaliação pessoal do administrador sobre qual a melhor forma de agir, tudo com vistas a</p><p>atingir o interesse público. Mas, cuidado, não é dado ao administrador agir fora dos limites</p><p>da lei. Por exemplo, autorização para porte de arma de fogo. Ainda que o solicitante cumpra</p><p>todos os requisitos determinados em lei, a autoridade poderá, se julgar de interesse público,</p><p>negar a autorização para o porte.</p><p>4 Contratos administrativos e cláusulas exorbitantes</p><p>Conceitua-se contrato administrativo como o contrato estabelecido em que pelo menos</p><p>uma das partes seja a administração</p><p>pública, sendo regido pelo direito público. Significa dizer</p><p>que o contrato será regulado pelo direito público, e não o privado, que confere direitos extras</p><p>protetivos à administração, que são as cláusulas exorbitantes.</p><p>Cláusulas exorbitantes são cláusulas contratuais inseridas no contrato que a administração</p><p>pública elabora com particular e que extrapolam o padrão comum dos contratos civis. Essas</p><p>cláusulas conferem vantagem em virtude do interesse público presente ao se contratar com</p><p>a administração.</p><p>São as cláusulas exorbitantes do artigo 58 da Lei nº 8.666/93:</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>I. modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse</p><p>público, respeitados os direitos do contratado;</p><p>II. rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso I do art. 79 desta</p><p>Lei;</p><p>III. fiscalizar lhes a execução;</p><p>IV. aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste;</p><p>V. nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis,</p><p>pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de</p><p>acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na</p><p>hipótese de rescisão do contrato administrativo. (BRASIL, 1993).</p><p>Pela leitura, pode a administração pública alterar unilateralmente o contrato para</p><p>melhor adequar-se às finalidades do interesse público quando houver modificação do projeto</p><p>ou das especificações ou ainda quando for necessária a modificação do valor contratual em</p><p>decorrência de acréscimo ou diminuição da quantidade do seu objeto, nos limites permitidos</p><p>pela lei.</p><p>Pode também a administração rescindir unilateralmente sem necessidade de recorrer ao</p><p>Poder Judiciário para tanto ou mesmo sem o consentimento do particular.</p><p>Além disso, é interessante afirmar que a administração pública pode aplicar diretamente</p><p>sanções em virtude de irregularidades do particular na execução do contrato, mesmo sem</p><p>manifestação do Poder Judiciário a respeito, por exemplo, aplicação de multa pelo atraso em</p><p>determinada construção de obra.</p><p>Quando o objeto do contrato for a prestação de um serviço essencial, a administração</p><p>pode ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto</p><p>do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas</p><p>contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.</p><p>Além de tudo isso, cabe também a exigência de que os particulares contratados (e</p><p>também os licitantes) prestem garantias à administração, visando a assegurar o adequado</p><p>adimplemento do contrato ou, na hipótese de inexecução, facilitar o ressarcimento dos</p><p>prejuízos sofridos pela administração.</p><p>A lei prevê três diferentes modalidades de garantia, ficando a critério do contratado</p><p>optar por uma delas. São elas:</p><p>a. Caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, devendo estes ter sido</p><p>emitidos sob a forma escritural, mediante registro em sistema centralizado</p><p>de liquidação e de custódia autorizados pelo Banco Central do Brasil e</p><p>avaliados pelos seus valores econômicos, conforme definido pelo Ministério</p><p>da Fazenda;</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>b. Seguro-garantia;</p><p>c. Fiança bancária.</p><p>5 Controle jurisdicional dos atos da administração</p><p>Inicialmente, podemos afirmar que o controle exercido pelo Poder Judiciário sobre os</p><p>atos da administração pública se dá pelo simples fato de que nenhuma matéria pode ser</p><p>intencionalmente afastada da apreciação judicial, nos termos do artigo 5º, inciso XXXV, da</p><p>Constituição da República, que diz: “XXXV - A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário</p><p>lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988).</p><p>Nesse sentido, o controle judicial exercido sobre os atos da administração poderá incidir</p><p>sobre quaisquer tipos de atos, contratos ou mesmo decisões administrativas.</p><p>Pelo princípio da inércia da jurisdição, o Poder Judiciário não se manifesta, a não ser que</p><p>seja provocado pela parte que interessa. Dito isso, levando-se as ações ao Poder Judiciário,</p><p>este poderá, então, julgar de acordo com o livre convencimento motivado, através das</p><p>seguintes ações:</p><p>5.1 Mandado de segurança</p><p>Ação criada para proteger direito líquido e certo, quando não cabível habeas corpus ou</p><p>habeas data. Somente será possível o ajuizamento de mandado de segurança contra ato de</p><p>autoridade pública ou mesmo de agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do</p><p>Poder Público que fira direito líquido e certo do indivíduo pleiteante. Não cabe mandado de</p><p>segurança contra atos de pessoas privadas. Por exemplo, havendo nomeação para assumir</p><p>cargo em concurso público de pessoa de fora da lista sequencial de aprovados, caberá ação</p><p>de mandado de segurança daquela pessoa prejudicada contra o ato da autoridade.</p><p>5.2 Ação popular</p><p>Ação destinada a anular ato lesivo ao patrimônio público. Portanto, qualquer ato que</p><p>lese o patrimônio público, em especial nos assuntos referentes à moralidade administrativa,</p><p>ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, poderá ser objeto de ação popular.</p><p>Para o ajuizamento da ação, é necessário que o proponente seja cidadão, isto é, pessoa</p><p>física em pleno exercício dos direitos políticos. Por exemplo, ação popular ajuizada por cidadão</p><p>contra autoridade pública que venha a conceder alvará ambiental para desmatamento de</p><p>forma ilegal.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>5.3 Ação civil pública</p><p>A ação civil pública é destinada a proteger o meio ambiente, o consumidor, a ordem</p><p>urbanística, o patrimônio público, o patrimônio histórico, dentre outros, podendo ser ajuizada</p><p>pelas seguintes pessoas jurídicas: Ministério Público, Defensoria Pública, União, estados e</p><p>municípios, autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, órgãos públicos</p><p>e associações constituídas há pelo menos um ano e que tenham por finalidade a defesa</p><p>do interesse objeto da ação, além dos sindicatos. Por exemplo, ação civil pública ajuizada</p><p>pelo Ministério Público contra empresa de telefonia em defesa do consumidor usuário da</p><p>telefonia móvel.</p><p>5.4 Mandado de injunção</p><p>Quando não existe norma que regulamente determinada matéria e, por isso, torne inviável</p><p>o exercício de direito ou liberdade constitucionais ou torne inviável exercer prerrogativas</p><p>referentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, caberá o ajuizamento de mandado de</p><p>injunção solicitando providências ao Supremo Tribunal Federal.</p><p>5.5 Habeas corpus</p><p>Sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação no</p><p>direito de locomoção em virtude de ilegalidade ou abuso de poder poderá impetrar a ação</p><p>de habeas corpus com vistas à liberação. Pode ser preventivo, quando antes do ato ilegal ser</p><p>praticado ou mesmo repressivo, quando houve ato impeditivo de locomoção. Por exemplo,</p><p>indivíduo condenado à prisão e que fique mais tempo do que determinado na sentença.</p><p>Nesse caso, caberá ajuizamento de habeas corpus.</p><p>5.6 Habeas data</p><p>O habeas data é ação movida para assegurar o conhecimento de informações relativas</p><p>à pessoa do impetrante, quando constantes em registros ou bancos de dados de entidades</p><p>públicas ou de caráter público; ainda, movida para retificação de dados de mesma natureza.</p><p>Por exemplo, havendo determinado documento em arquivo público que não é apresentado</p><p>pela autoridade que possui a guarda, caso tenha relação com determinada pessoa, esta</p><p>poderá ajuizar habeas data para visualizar o documento.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>10</p><p>6 A Fazenda Pública em juízo</p><p>Considerando que a defesa do Estado é propriamente a defesa do interesse público, a lei</p><p>confere à Fazenda Pública tratamento diferenciado nas questões processuais.</p><p>Primeiramente, cabe à Justiça Federal processar e julgar ações em que a União ou suas</p><p>autarquias</p><p>e empresas públicas sejam parte.</p><p>A representação em juízo da Fazenda Pública é conferida aos procuradores titulares de</p><p>cargos públicos e regularmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil.</p><p>A Advocacia-Geral da União (AGU) é a instituição que, de maneira direta ou por intermédio</p><p>de algum órgão vinculado, possui a atribuição de representar, judicialmente, a União (Lei</p><p>Complementar nº 73/1993). A Procuradoria-Geral Federal, entidade vinculada à Advocacia</p><p>Geral da União, é responsável pela representação judicial e extrajudicial das autarquias e</p><p>fundações públicas federais.</p><p>É conferido à Fazenda Pública o prazo em quádruplo para contestar ações na Justiça,</p><p>além do prazo em dobro para apresentação de recursos a decisões judiciais, conforme artigo</p><p>188 do Código de Processo Civil.</p><p>Salvo exceções, as decisões proferidas contra a Fazenda estão sujeitas ao duplo grau de</p><p>jurisdição para sua confirmação, isto é, precisam ser confirmadas pelo tribunal respectivo,</p><p>ainda que não haja recurso voluntário.</p><p>A Fazenda não está sujeita a penhora ou a nenhum tipo de restrição judicial de seus bens,</p><p>pagando suas dívidas através do regime de precatório, em que os credores entram em lista</p><p>cronológica para recebimento dos valores devidos pela Fazenda. Para tanto, a Constituição</p><p>Federal determina que a Fazenda deverá incluir em seu orçamento verbas necessárias para</p><p>pagamento dos precatórios que, se apresentados até 1º de julho de determinado ano, deverá</p><p>ser quitado até o final do ano seguinte.</p><p>O procedimento para execução contra a Fazenda Pública está descrito no artigo 730 do</p><p>Código de Processo Civil.</p><p>7 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs)</p><p>As Comissões Parlamentares de Inquérito, função típica de fiscalização conferida ao</p><p>Poder Legislativo, são comissões criadas para investigação de determinados fatos, sendo</p><p>suas conclusões encaminhadas para o Ministério Público para fins de promoção da eventual</p><p>responsabilidade civil ou criminal dos investigados.</p><p>São criadas pela Câmara de Deputados, pelo Senado Federal ou, conjuntamente, pelo</p><p>Congresso Nacional, quando serão consideradas CPIs mistas.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>11</p><p>Há que prestar atenção para o detalhe: devem ser criadas para apurar fato determinado,</p><p>não cabendo à criação para investigações genéricas, sem especificações definidas.</p><p>Ademais, são comissões criadas com prazo determinado, sendo vedada a criação com</p><p>prazo indeterminado de conclusão.</p><p>Das conclusões extraídas da investigação, a única medida cabível é a apresentação ao</p><p>Ministério Público, para que este dê os prosseguimentos que entender pertinentes, inclusive</p><p>podendo determinar o arquivamento, sendo o caso.</p><p>Para a criação, é necessário o requerimento de um terço dos membros da casa respectiva;</p><p>a indicação de fato determinada a ser investigado; e a fixação do prazo para término dos</p><p>trabalhos.</p><p>Em regra, são conferidos poderes de investigação próprios das autoridades judiciais.</p><p>Contudo, não pode a CPI determinar a interceptação de conversas telefônicas, nem decretar</p><p>a indisponibilidade de bens dos investigados, pois são decisões que somente podem ser</p><p>tomadas por autoridade judicial.</p><p>As comissões podem convocar e inquirir quaisquer pessoas, tanto como testemunhas</p><p>quanto como investigadas. Além disso, poderão ser convocadas autoridades públicas para</p><p>depor.</p><p>Considerações finais</p><p>Pela leitura da presente aula, tivemos a oportunidade de relembrar os principais</p><p>assuntos comentados em nosso curso, dando-se ênfase à eficácia das normas fundamentais,</p><p>isto é, quando passam a ter validade, eficácia. Após, é importante o estudo do controle de</p><p>constitucionalidade em sua principal ação, qual seja, a ação direta de inconstitucionalidade,</p><p>com o objetivo de expurgar do ordenamento jurídico pátrio aquelas normas infraconstitucionais</p><p>que não estejam de acordo com o texto constitucional.</p><p>Foram lecionados os principais conceitos dos atos administrativos e dos contratos</p><p>administrativos, inclusive referente às cláusulas exorbitantes, que conferem à administração</p><p>pública poderes que extrapolam os contratos civis, a exemplo do direito de rescisão unilateral</p><p>do contrato.</p><p>Ademais, tivemos a oportunidade de estudar ações constitucionais existentes para</p><p>possibilitar o controle pelo Poder Judiciário dos atos da administração pública, principalmente</p><p>exercidos pelo Poder Executivo, tudo de acordo com a Constituição Federal de 1988.</p><p>O estudo da Fazenda Pública em juízo é de grande importância, uma vez ser esta a maior</p><p>litigante perante o Poder Judiciário brasileiro, momento em que foram vistas as diferenças e</p><p>os privilégios que a Fazenda possui, em virtude de defender o interesse público em si.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>12</p><p>Por fim, foram estudadas as Comissões Parlamentares de Inquérito, mecanismo de</p><p>controle do Poder Legislativo perante os atos da administração pública, que constituem outra</p><p>forma de controle principalmente destinada ao Poder Executivo.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial</p><p>da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 20 jun. 2015.</p><p>______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição</p><p>Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras</p><p>providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 jun. 1993. Disponível em: <http://www.</p><p>planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm>. Acesso em: 21 set. 2015.</p><p>DIR_ADM_CON_01_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 O que é uma Constituição?</p><p>2 Elementos de constituição de um Estado</p><p>3 Objeto da Constituição</p><p>4 Classificações</p><p>5 O Constitucionalismo</p><p>6 Qual a importância da Constituição?</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_02_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Por que o conteúdo das Constituições passa de sintético para um modelo analítico?</p><p>2 Constituição de 1824</p><p>3 Constituição de 1891</p><p>4 Constituição de 1934</p><p>5 Constituição de 1937</p><p>6 Constituição de 1946</p><p>7 Constituição de 1967</p><p>8 Constituição de 1969 – Emenda nº 1, de 17 de outubro de 1969</p><p>9 Constituição de 1988</p><p>10 Evolução das Constituições do modelo sintético ao analítico</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_03_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Assembleia Nacional Constituinte</p><p>2 Poder Constituinte</p><p>3 Poder Constituinte Derivado Decorrente</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_04_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Histórico da separação de Poderes</p><p>2 Poder Legislativo (art. 44 e seguintes da Constituição Federal)</p><p>3 Poder Executivo</p><p>4 Poder Judiciário</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_05_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Divisão de competências entre os entes federativos na Constituição Federal de 1988</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_06_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 O processo legislativo e a hierarquia normativa no Brasil</p><p>2 As espécies normativas e as especificidades do processo de criação</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_07_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Direitos Fundamentais</p><p>2 Direitos Sociais</p><p>3 Nacionalidade</p><p>4 Direitos Políticos e Partidos Políticos</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_08_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Revisão dos principais conceitos</p><p>2 Histórico das Constituições de 1967 e Emenda nº 1 de 1969</p><p>3 Poder Constituinte Derivado de Reforma</p><p>4 A separação do Poder no Estado brasileiro</p><p>5 A divisão de competências entre os entes federativos</p><p>6 Medidas Provisórias</p><p>7 Da nacionalidade na Constituição Federal de 1988</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_09_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Das políticas públicas na Constituição</p><p>2 Comandos constitucionais dirigentes na definição de políticas públicas</p><p>3 Do papel do Presidente da República na execução das políticas públicas</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_10_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Conceito de controle de constitucionalidade</p><p>2 Da inconstitucionalidade</p><p>3 Controle de constitucionalidade preventivo e repressivo</p><p>4 Controle de constitucionalidade difuso ou concentrado</p><p>5 Sistemas de controle de constitucionalidade em concreto e em abstrato</p><p>6 Modalidades de ação para o controle de constitucionalidade</p><p>7 Modulação de efeitos</p><p>8 Declarações de nulidade total, parcial ou parcial sem redução de texto</p><p>9 Princípio da reserva de plenário</p><p>10 Irrecorribilidade no controle de constitucionalidade</p><p>11 Controle de constitucionalidade de leis municipais</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_11_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 O que é direito administrativo?</p><p>2 A administração pública e os serviços públicos</p><p>3 Ato administrativo: conceito, requisitos e atributos</p><p>4 Ato administrativo: discricionariedade e vinculação</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_12_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Atos e processos administrativos</p><p>2 Contratos da administração</p><p>3 Bens, recursos públicos e agentes da administração pública</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_13_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Conceito de controle administrativo</p><p>2 Formas de controle administrativo</p><p>3 Controle administrativo propriamente dito</p><p>4 Controle legislativo</p><p>5 Controle jurisdicional</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_14_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Controle Judicial</p><p>2 Sistemas administrativos</p><p>3 A Fazenda Pública em juízo</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>DIR_ADM_CON_15_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Controle Judicial</p><p>2 Sistemas administrativos</p><p>3 A Fazenda Pública em juízo</p><p>DIR_ADM_CON_16_PDF_2015</p><p>Introdução</p><p>1 Eficácia das normas constitucionais</p><p>2 Controle de constitucionalidade</p><p>3 Atos administrativos</p><p>4 Contratos administrativos e cláusulas exorbitantes</p><p>5 Controle jurisdicional dos atos da administração</p><p>6 A Fazenda Pública em juízo</p><p>7 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs)</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Vargas a decretar o “Estado de</p><p>Guerra”.</p><p>Em momento seguinte, declarando ter descoberto um suposto plano para tomada do</p><p>Poder pelos Comunistas, Getúlio Vargas então realiza o golpe de Estado para manutenção no</p><p>Poder, sob o fundamento de que salvaria o país do Comunismo.</p><p>Tal golpe veio através da outorga da Constituição de 1937, também chamada de</p><p>“Constituição Polaca”, que, com apoio dos militares, Getúlio centralizou para si o poder e</p><p>determinou o fechamento do Congresso Nacional, dominando também o Poder Judiciário.</p><p>Apesar de trazer avanços nos direitos sociais de 2ª Geração, a Constituição de 1937 foi</p><p>imposta, típica de um regime ditatorial, o que mancha a República. Inclusive, a Federação</p><p>restou diminuída, na medida em que o Poder não era mais descentralizado. Muito pelo</p><p>contrário, o Poder foi centralizado na figura do presidente, havendo um legítimo esvaziamento</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>do Poder Legislativo e do Poder Judiciário.</p><p>Portanto, tal Constituição representou um retrocesso à democracia, à própria República</p><p>Federativa do Brasil, inclusive restringindo-se direitos como o direito à manifestação do</p><p>pensamento e à liberdade de imprensa. Foram proibidos, também, os direitos de greve e lock</p><p>out (greve perpetrada pelo patrão).</p><p>Por fim, cita-se a própria tortura como forma de repressão da população que apresentasse</p><p>oposição ao governo.</p><p>6 Constituição de 1946</p><p>Marcada pelo advento da Segunda Guerra Mundial, a Constituição de 1946 teve como</p><p>precedente a insurreição das Forças Armadas contra Getúlio Vargas, que o expulsaram da</p><p>Presidência em 1945, passando o poder a ser exercido pelo, então, presidente do Supremo</p><p>Tribunal Federal, Ministro José Linhares.</p><p>Dessa forma, uma nova Assembleia Constituinte foi instalada em fevereiro de 1946 com</p><p>a finalidade de promulgar uma nova Constituição. Em 18 de setembro de 1946 o texto final</p><p>foi aprovado e promulgado, trazendo legítima redemocratização do país.</p><p>Mendes, Coelho e Branco (2014, p. 238-239) afirmam, com relação a esta nova</p><p>Constituição, que:</p><p>Julgando-a, favoravelmente, no entanto, Paulo Bonavides e Paes de Andrade destacam,</p><p>desde logo, que a Constituição de 1946 recuperou com decisão o princípio federativo,</p><p>que praticamente desaparecera sob a Carta de 1937, com a entrega do governo dos</p><p>Estados a prepostos do poder central. No plano das liberdades, em geral, observam</p><p>que aquela Carta declarou, solenemente, inviolável a liberdade de consciência e de</p><p>crença, assim como livre o exercício dos cultos religiosos, ressalvados os que fossem</p><p>contrários à ordem pública e aos bons constumes.</p><p>Além disso, completam:</p><p>Mais, ainda, deixou assente que as liberdades e garantias individuais, de resto</p><p>declaradas mais amplas do que as constantes, exemplificativamente, no corpo da</p><p>Constituição, não poderiam ser cerceadas por qualquer expediente autoritário, razão</p><p>por que a aprovação do estado de sítio fora reservada, com exclusividade, ao Congresso</p><p>Nacional, composto novamente, pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.</p><p>Portanto, como se pode perceber, a Constituição de 1946 recuperou parte da democracia</p><p>perdida na Constituição de 1937, deixando de lado o retrocesso da Constituição anterior</p><p>voltada para o autoritarismo, e trazendo à superfície os ditames democráticos da República</p><p>Federativa novamente.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>7 Constituição de 1967</p><p>A Constituição de 1967 foi influenciada pelo golpe militar de 1964, movimento que</p><p>derrubou João Goulart da presidência sob a suspeita de pretender instalar o comunismo no</p><p>país.</p><p>Nesse sentido, de 1964 até 1967, o país foi regido pelo Ato Institucional (AI) nº 1, que</p><p>trouxe severas restrições à democracia, inclusive com o fechamento do Congresso Nacional</p><p>em 1966, sendo reaberto apenas para aprovar a Constituição de 1967, que, no fundo, não foi</p><p>promulgada, mas sim imposta, outorgada.</p><p>Assim como todas as constituições outorgadas, esta também restringiu os direitos e</p><p>garantias individuais, como o habeas corpus, o Estado Democrático de Direito, a própria</p><p>República Federativa. Novamente, os Poderes Legislativo e Judiciário foram suprimidos, ainda</p><p>que formalmente continuassem existindo.</p><p>Implantou-se, afinal, a já conhecida Ditadura no país, endurecida cada vez mais até o</p><p>advento do AI nº 5.</p><p>8 Constituição de 1969 – Emenda nº 1, de 17 de outubro de</p><p>1969</p><p>Dois anos após a outorga da Constituição de 1967, foi aprovada a Emenda Constitucional</p><p>nº 1, de 17 de outubro de 1969, que alterou completamente a Constituição de 1967.</p><p>Por esse motivo, constuma-se dizer que a Emenda Constitucional nº 1, de 1969, é</p><p>propriamente uma nova Constituição, uma vez que alterou todos os pontos da Constituição</p><p>anterior.</p><p>Instalou-se, no país, um governo de Juntas Militares, por eleições indiretas, tornando</p><p>sucessivas as entradas de presidentes militares no poder. Mantiveram-se as restrições de</p><p>direitos apresentadas pela Constituição de 1967.</p><p>9 Constituição de 1988</p><p>Passado o período chamado de “Milagre Econômico”, instala-se grave crise econômica</p><p>no país e tem início, em 1978, o processo de redemocratização, com uma série de medidas</p><p>com vistas a por fim ao Governo Militar.</p><p>Em sequência, o movimento “Diretas Já”, de 1983, teve fundamental importância para</p><p>que a escolha de nossos representantes voltasse a ser feita diretamente pelo povo, e não</p><p>mais indiretamente.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>Com a eleição de Tancredo Neves, e seu falecimento antes mesmo de tomar posse, o</p><p>primeiro presidente civil desde o Golpe Militar tomou posse, José Sarney.</p><p>Convocou-se, então, uma Assembleia Constituinte para aprovação da atual Constituição</p><p>de 1988, em 5 de outubro. Tal Constituição, em antítese ao regime militar, é apelidada de</p><p>“Constituição Cidadã”, uma vez que retoma os direitos e garantias individuais, a democração,</p><p>a República Federativa e abre inclusive para o pluripartidarismo político.</p><p>Esta Constituição possiu valores supremos de uma sociedade fraterna, garante direitos</p><p>individuais e coletivos, sociais, do trabalho e da família, além de regular as bases da economia.</p><p>Podem ser observados direitos das três gerações consolidadas, inclusive aqueles de 3ª</p><p>Geração, considerados metaindividuais, a exemplo do direito ao meio ambiente equilibrado.</p><p>Voltaram aos seus devidos lugares os Poderes Legislativo e Judiciário, em harmonia e</p><p>separação em relação ao Poder Executivo.</p><p>10 Evolução das Constituições do modelo sintético ao</p><p>analítico</p><p>Pela análise do histórico das Constituições, percebe-se que as primeiras Constituições</p><p>preocuparam-se em garantir os direitos individuais de cada um. Ou seja, pretenderam garantir</p><p>a não intervenção do Estado sobre o indivíduo. Tem-se como exemplo marcante a inserção do</p><p>habeas corpus, recurso utilizado para garantir o direito de locomoção do indivíduo.</p><p>Os direitos básicos do indivíduo frente ao Estado são de 1ª Geração e entendem-se</p><p>negativos, pois determinam o não fazer estatal frente à liberdade do indivíduo.</p><p>Portanto, as primeiras Constituições, ainda não evoluídas, pregavam apenas direitos de</p><p>1ª Geração, daí serem consideradas sintéticas.</p><p>Contudo, com a natural evolução da sociedade, principalmente a brasileira, outros direitos</p><p>foram sendo inseridos para que ocorresse uma prestação positiva do Estado em benefício do</p><p>indivíduo, sob influência da Revolução Industrial, inclusive a partir da Constituição de 1934,</p><p>como sendo direitos de 2ª Geração, que são os sociais, econômicos, trabalhistas.</p><p>Nesse sentido, as Constituições foram aumentando em gênero e número de disposições,</p><p>característica típica da transição de sintéticas para prolixas, quando são inseridos direitos</p><p>cada vez mais numerosos e de elevado grau de importância.</p><p>Tal foi a evolução que atualmente a Constituição de 1988 é considerada prolixa, com</p><p>mais de 250 artigos, com diversas</p><p>subdivisões, apresentando direitos de 1ª, 2ª e 3ª Gerações</p><p>(individuais, sociais e metaindividuais).</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>Considerações finais</p><p>Pode-se concluir que, desde o início da história constitucional brasileira em 1824, houve</p><p>uma evolução de direitos e garantias, passando-se por gerações de direitos até a presente</p><p>Constituição, que abarca as três gerações consolidadas.</p><p>Foram muitos os momentos em que ocorreu retrocesso nas garantias mais básicas do</p><p>indivíduo, por conta de períodos considerados ditatoriais. Porém, tais retrocessos foram</p><p>revertidos por movimentos históricos posteriores que procuraram devolver a democracia e</p><p>o regime republicano ao país.</p><p>Podemos perceber, também, que na história constitucional brasileira ocorreu um aumento</p><p>gradativo nos direitos dos indivíduos frente ao Estado e frente aos detentores momentâneos</p><p>do Poder, quando observamos as gerações de direitos que fortalecem a democracia cada vez</p><p>mais, até o advento da “Constituição Cidadã” de 1988.</p><p>Referências</p><p>MENDES, Gilma Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo. Gustavo Gonet. Curso</p><p>de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2014.</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 03</p><p>A Constituição de 1988 e a Assembleia Nacional Constituinte</p><p>Estudo das ramificações do Direito</p><p>O Poder Constituinte: originário, derivado e decorrente</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender a Assembleia Constituinte como expressão da vontade popular.</p><p>Analisar as diferenças entre o Poder Constituinte: originário, derivado e</p><p>decorrente.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Assembleia Nacional Constituinte</p><p>2 Poder Constituinte</p><p>3 Poder Constituinte Derivado Decorrente</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>Em uma República Democrática, como a brasileira, é necessário que o poder venha do</p><p>povo, e não de um governante que detenha para si o poder. Nesse sentido, para se elaborar</p><p>uma Constituição que imponha limites ao próprio governante, deve ser realizada uma</p><p>Assembleia Nacional Constituinte que legitime a Constituição como vontade de um povo.</p><p>Nesse sentido foi elaborada a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,</p><p>conforme será apresentado.</p><p>O poder de elaborar uma nova Constituição deve ser estudado por meio do Poder</p><p>Constituinte Originário, assim como também do Poder Constituinte Derivado para fins de</p><p>futura alteração.</p><p>Com isso em mente, você terá oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história</p><p>constitucional brasileira. Bons estudos!</p><p>1 Assembleia Nacional Constituinte</p><p>Em 1988, o Brasil consolidou sua evolução política com a passagem do regime militar</p><p>para o regime democrático em um processo consensual de transição, com a elaboração de</p><p>um novo regime, disciplinado pela nova Constituição. Ocorre que essa transição consensual</p><p>não ocorreu do dia para a noite, foi resultado de longas discussões e análises, fruto de uma</p><p>reunião de representantes do povo, denominada Assembleia Nacional Constituinte. Como</p><p>bem descrevem Backes e Azevedo (2008, p. 19):</p><p>Os membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal reuniram-se unicameralmente</p><p>em Assembleia Nacional Constituinte no dia 1º de fevereiro de 1987, em sessão presidida</p><p>pelo presidente do Supremo Tribunal Federal. A instalação e o funcionamento da Assembleia</p><p>representavam um passo decisivo na superação do regime autoritário implantado em 1964, uma</p><p>vitória do movimento pela democratização do país. A eleição dos parlamentares constituintes,</p><p>em 1986, foi um momento importante neste processo, marcando um significativo avanço</p><p>da capacidade do Congresso Nacional de representar a sociedade brasileira. A liberdade de</p><p>organização partidária, recém-conquistada, levou a que 13 partidos alcançassem representação</p><p>e à eleição de representantes de setores sociais excluídos da esfera política pelo regime autoritário</p><p>implantado em 1964, entre eles, um número considerável de pessoas que haviam tido seus</p><p>direitos políticos cassados. Interesses específicos de cunho regional, étnico/racial, econômico</p><p>e outros encontraram, então, lugar para se expressarem. O vigoroso movimento sindical, que</p><p>ressurgira no final dos anos 70, elegeu vários representantes. Setores historicamente excluídos</p><p>dos espaços de poder, com destaque para as mulheres, atingiram representação expressiva. A</p><p>Assembleia era composta de 559 parlamentares, sendo 72 senadores (48 eleitos em 1986 e 24</p><p>que haviam sido eleitos em 1982) e 487 deputados. As deliberações eram tomadas em sessão</p><p>unicameral, em que os votos de senadores e deputados tinham o mesmo valor.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>1.1 Conceito</p><p>A Assembleia Nacional Constituinte é o resultado de um poder, denominado Poder</p><p>Constituinte, que é, basicamente, o poder que um Estado/povo possui de elaborar a</p><p>sua Constituição, que é a sua principal “lei”, estabelecedora e disciplinadora de todo o</p><p>regime de organização social, política e jurídica de um Estado. Esse poder é exercido</p><p>por um órgão, composto por representantes do povo, eleitos democraticamente, aos</p><p>quais se atribuem as funções de deliberar e, ao final, de promulgar a nova Constituição.</p><p>A doutrina destaca duas formas básicas de transição para um novo regime, como explica</p><p>Saldanha (apud MORAES, 2012, p. 22):</p><p>Há possibilidade de apontar duas básicas formas de expressão do poder constituinte</p><p>originário: Assembleia Nacional Constituinte e Movimento Revolucionário (outorga).</p><p>Tradicionalmente, a primeira Constituição de um novo país, que conquiste em</p><p>sua liberdade política, será fruto da primeira forma de expressão: o movimento</p><p>revolucionário. Entretanto, as demais constituições desse mesmo país adotarão a</p><p>segunda hipótese, ou seja, as assembleias nacionais constituintes.</p><p>Especificamente sobre Assembleia Nacional Constituinte, disse o autor:</p><p>A Assembleia Nacional Constituinte, também denominada convenção, nasce</p><p>da deliberação da representação popular, devidamente convocada pelo agente</p><p>revolucionário, para estabelecer o texto organizatório e limitativo de Poder. (Exemplo:</p><p>Constituições de 1891, 1934, 1946, 1967 e 1988).</p><p>Assim, no Brasil, em 1º de fevereiro de 1987, em sessão presidida pelo presidente do</p><p>Supremo Tribunal Federal, foi formada a Assembleia Nacional Constituinte, composta por</p><p>deputados e senadores, representantes do povo. No início do funcionamento da Assembleia</p><p>foi eleita sua Mesa Diretora, encarregada da coordenação dos trabalhos (definir a pauta,</p><p>conduzir as reuniões, decidir as questões de ordem, encaminhar as votações, entre outras</p><p>tarefas). Membros da Mesa Diretora da Assembleia Nacional Constituinte: Presidente Ulysses</p><p>Guimarães (PMDB – SP); 1º Vice-Presidente Mauro Benevides (PMDB – CE); 2º Vice-Presidente</p><p>Jorge Arbage (PDS – PA); 1º Secretário Marcelo Cordeiro (PMDB – BA); 2º Secretário Mário</p><p>Maia (PDT – AC); 3º Secretário Arnaldo Faria de Sá (PTB – SP) (BACKES; AZEVEDO, 2008).</p><p>Essa Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988, de que resultou na nossa</p><p>Constituição Cidadã de 1988, foi marcada por forte mobilização política e social.</p><p>Como fenômeno sociológico e político o processo constituinte deriva de anteriores</p><p>movimentos em setores organizados da sociedade brasileira de oposição ao regime</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>de exceção instalado em 1964, de luta pela reconstitucionalização do país e de</p><p>convocação de uma “Assembleia Nacional Constituinte, livre e soberana”. Já do ponto</p><p>de vista jurídico-formal, o processo constituinte é resultado do Ato Convocatório e se</p><p>refere à eleição e se refere à eleição do corpo constituinte, instalação de seus trabalhos,</p><p>Regimento Interno e elaboração, discussão e votação do texto promulgado como</p><p>nova Constituição Federal. A mobilização</p><p>social pela convocação de uma Constituinte</p><p>desemboca no processo e sobre ele exerce profundas influências. Para entender o</p><p>processo constituinte em todo o seu significado é preciso também se debruçar sobre</p><p>o movimento que o precedeu e, em algum grau, o gerou. A mobilização dos brasileiros</p><p>pela convocação de uma Constituinte foi muito rica e variada, não sendo possível</p><p>fazer dela um adequado resumo neste texto. Envolveu organizações sociais, grupos</p><p>políticos atuando na clandestinidade durante o regime autoritário, algumas das</p><p>principais entidades da sociedade civil e a oposição que operava legalmente. (BACKES;</p><p>AZEVEDO; ARAÚJO, 2009, p. 22).</p><p>O nosso texto Constitucional é precedido de um preâmbulo, elaborado pelos membros</p><p>da Assembleia Nacional Constituinte, cuja redação é a seguinte:</p><p>Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte</p><p>para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos</p><p>sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a</p><p>igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e</p><p>sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e</p><p>internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção</p><p>de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (BRASIL,</p><p>1988).</p><p>Assim, de uma maneira simplificada, tem-se que a Assembleia Nacional Constituinte</p><p>é uma manifestação do poder que um Estado possui, pelos representantes do seu povo,</p><p>reunidos em um órgão, de elaborar a sua Constituição, de forma democrática, definindo sua</p><p>ordem política, social de jurídica.</p><p>2 Poder Constituinte</p><p>Inicialmente, antes de adentrar no tema, cumpre explicar no que consiste a</p><p>expressão “Poder Constituinte”. Poder Constituinte é o poder que um determinado</p><p>Estado possui de elaborar a sua Constituição ou de reformar a sua Constituição vigente.</p><p>Para Moraes (2012, p. 21), Poder Constituinte é “[...] a manifestação soberana da suprema</p><p>vontade política de um povo, social e juridicamente organizado”.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>Como conceitua Lenza (2008, p. 83),</p><p>[...] o poder constituinte pode ser conceituado como o poder de elaborar (e neste</p><p>caso será originário), ou atualizar uma Constituição, mediante supressão, modificação</p><p>ou acréscimo de normas constitucionais (sendo nesta última situação derivado do</p><p>originário). A titularidade do poder constituinte, como aponta a doutrina moderna,</p><p>pertence ao povo.</p><p>Assim, destes conceitos iniciais, entende-se que o titular do Poder Constituinte é o povo.</p><p>Porém, muito embora o titular do Poder Constituinte seja o povo, este poder não é exercido</p><p>diretamente por ele, mas sim por seus representantes eleitos, que têm a atribuição de o</p><p>exercer conforme a vontade política predominante em determinado momento da história de</p><p>uma nação.</p><p>Vale fazermos uma breve análise para compreender o conceito de Constituição. Para</p><p>Moraes (2012), no sentido jurídico:</p><p>Constituição deve ser entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado,</p><p>que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes</p><p>públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de</p><p>competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos. Além disso, é a Constituição</p><p>que individualiza os órgãos competentes para a edição de normas jurídicas, legislativas</p><p>ou administrativas.</p><p>Assim, temos que Constituição é a principal norma de um Estado democraticamente</p><p>organizado, que rege como ele funcionará, dita os direitos e deveres dos cidadãos, sendo que</p><p>não pode ser contrariada por nenhuma lei, visto que possui “hierarquia” superior.</p><p>Dados os conceitos iniciais, cumpre agora verificar as espécies de Poder Constituinte. O</p><p>Poder Constituinte pode ser: Originário e Derivado.</p><p>Quadro 1 – Diferentes formas de Poder Constituinte</p><p>O Poder Constituinte</p><p>é o poder que um Estado organizado</p><p>possui de elaborar, inicialmente,</p><p>a sua Constituição e é exatamente</p><p>isso o que consiste o Poder</p><p>Constituinte Originário. É o poder</p><p>de criação de uma</p><p>nova Constituição.</p><p>Poder Constituinte Originário</p><p>Subdivide-se em</p><p>Poder Constituinte Derivado</p><p>De Reforma e Poder Constituinte</p><p>Derivado Decorrente.</p><p>Poder Constituinte Derivado</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>6</p><p>É aquele que</p><p>modifica uma Constituição</p><p>já existente. Ele não cria uma nova</p><p>Constituição, apenas modifica</p><p>uma Constituição que</p><p>já existe.</p><p>Poder Constituinte Derivado De Reforma</p><p>Em um Estado Federado,</p><p>como o Brasil, que é formado</p><p>pela união de vários estados,</p><p>cada um possui autonomia para</p><p>elaborar a sua Constituição Estadual</p><p>(que não poderá contrariar a</p><p>Constituição Federal). Assim, o Poder</p><p>Constituinte Derivado Decorrente é o</p><p>poder que cada Estado-membro</p><p>de uma Federação possui de elaborar</p><p>a sua própria Constituição.</p><p>Poder Constituinte Derivado Decorrente</p><p>Agora, vamos analisar cada uma dessas espécies separadamente.</p><p>2.1 Poder Constituinte Originário (também conhecido como Poder</p><p>Constituinte de 1º Grau ou Inaugural)</p><p>De uma maneira geral e abstrata, pode-se definir o Poder Constituinte Originário como</p><p>“[...] a força política consciente de si que resolve disciplinar os fundamentos do modo de</p><p>convivência na comunidade política” (MENDES; COELHO; BRANCO, 2010, p. 50).</p><p>Conforme o conceito trazido por Lenza (2008, p. 84), Poder Constituinte Originário “[...] é</p><p>aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica</p><p>precedente”.</p><p>Para Moraes (2012, p. 22):</p><p>[...] o Poder Constituinte originário estabelece a Constituição de um novo Estado,</p><p>organizando-o e criando os poderes destinados a reger os interesses de uma</p><p>comunidade. Tanto haverá Poder Constituinte no surgimento de uma primeira</p><p>Constituição quanto na elaboração de qualquer Constituição posterior.</p><p>Assim, ainda que haja, anteriormente, uma Constituição e o Estado decida fazer uma</p><p>nova, ao invés de reformar a vigente, estar-se-á falando de Poder Constituinte Originário,</p><p>visto que este é o poder que estabelece uma nova ordem constitucional.</p><p>A doutrina menciona duas formas básicas do surgimento do Poder Constituinte Originário.</p><p>Pode ele surgir a partir de uma revolução, em que determinado movimento revolucionário</p><p>conquiste a soberania política e, unilateralmente, outorgue a nova Constituição, autolimitando</p><p>seu poder; ou pode o Poder Constituinte surgir de uma Assembleia Nacional Constituinte,</p><p>como ocorreu no Brasil em 1988, em que as forças políticas representantes de um povo se</p><p>unem para criar, democraticamente, uma nova ordem constitucional.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>7</p><p>O Poder Constituinte Originário é um poder de fato e possui caráter absoluto, porque não</p><p>está condicionado a nenhum limite jurídico anterior. Assim, diz-se que o Poder Constituinte é</p><p>inicial, ilimitado, autônomo e incondicionado.</p><p>É inicial, pois origina uma nova ordem constitucional, que é a base da nova ordem jurídica</p><p>e política. É ilimitado e autônomo, visto que não está submetido a nenhuma limitação jurídica</p><p>anterior, podendo dispor de qualquer assunto conforme os interesses prevalecentes no</p><p>momento. É incondicionado, pois não possui forma preestabelecida para sua manifestação e</p><p>nem deve observar algum procedimento específico quando de sua ocorrência.</p><p>A respeito do Poder Constituinte Material e Formal, é matéria de criação doutrinária e que</p><p>distingue ambos como: Material, aquele que consiste no próprio poder de auto-organização</p><p>do Estado. “É o orientador da atividade do Poder Constituinte Originário Formal que, por sua</p><p>vez, será o responsável pela ‘roupagem’ constitucional. O material diz o que é constitucional;</p><p>o formal materializa e sedimenta como constituição. O material precede o formal, estando</p><p>ambos interligados” (LENZA, 2008, p. 175).</p><p>2.2 Poder</p><p>Constituinte Derivado de Reforma (também conhecido</p><p>como de 2º grau ou Secundário)</p><p>É o poder de alteração/revisão de uma Constituição. Vale citar a explanação de Mendes,</p><p>Coelho e Branco (2010, p. 289):</p><p>Embora as constituições sejam concebidas para durar no tempo, a evolução dos</p><p>fatos sociais pode reclamar ajustes na vontade expressa no documento do poder</p><p>constituinte originário. Para prevenir os efeitos nefastos de um engessamento de todo</p><p>o texto constitucional, o próprio poder constituinte originário prevê a possibilidade de</p><p>um poder, por ele instituído, vir alterar a Lei Maior.</p><p>Assim, tem-se que o Poder Constituinte Derivado de Reforma é previamente estabelecido</p><p>pelo Poder Constituinte Originário, que insere na própria Constituição os regramentos</p><p>para reforma de seu texto. “É, portanto, criado pelo Poder Constituinte Originário, que</p><p>lhe estabelece o procedimento a ser seguido e limitações a serem observadas” (MENDES;</p><p>COELHO; BRANCO, 2010, p. 289).</p><p>O Poder Constituinte Derivado de Reforma é subordinado e condicionado. É subordinado</p><p>porque é limitado pelo Poder Constituinte Originário. É, também, Condicionado porque é</p><p>preestabelecido pelo Poder Constituinte Originário no texto da Constituição, devendo seguir,</p><p>rigorosamente, o procedimento de alteração.</p><p>No Brasil, o Poder Constituinte Derivado de Reforma é realizado por meio das emendas</p><p>constitucionais e da revisão constitucional. As emendas constitucionais estão previstas no</p><p>art. 60 da Constituição e são alterações de determinados dispositivos, exigindo, para sua</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>8</p><p>aprovação, quórum de três quintos, duas vezes, em ambas as Casas do Congresso Nacional</p><p>(Câmara dos Deputados e Senado Federal). A revisão constitucional, prevista no art. 3º do</p><p>Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, previa a possibilidade de</p><p>alteração do texto da Constituição, por maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional,</p><p>em sessão unicameral, no prazo de cinco anos após a sua promulgação, sendo que já foi</p><p>realizada.</p><p>Como visto, o Poder Constituinte Derivado de Reforma é subordinado e condicionado,</p><p>sendo que seus limites e procedimentos, previstos na Constituição, foram impostos pelo</p><p>Poder Constituinte Originário. É isso que ocorre com o processo de alteração de nossa</p><p>Constituição atual, ele possui alguns limites. Esses limites podem ser classificados em: limites</p><p>circunstanciais, limites materiais, limites temporais ou formais, limites procedimentais e</p><p>limites implícitos ou tácitos.</p><p>Os limites circunstanciais impedem que a Constituição seja alterada em determinadas</p><p>situações, por exemplo, nos casos de intervenção federal, estado de sítio e estado de defesa</p><p>(art. 60, § 1º, da Constituição). Os limites materiais referem-se a determinadas matérias, que</p><p>não podem ser objeto de alteração, como a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto,</p><p>universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais, considerados</p><p>cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, da Constituição). Em virtude da máxima importância que</p><p>adquirem, tais cláusulas são essenciais para a manutenção da ordem constitucional. Quanto</p><p>aos limites temporais, algumas constituições estabelecem a impossibilidade de alteração</p><p>durante algum tempo após sua entrada em vigor ou autorizam sua alteração somente após</p><p>algum prazo. A Revisão Constitucional (art. 3º do ADCT) pode ser considerada um exemplo.</p><p>Quanto aos limites procedimentais, há que se observar o procedimento adequado para a</p><p>alteração da Constituição. No caso do Brasil, deve-se observar o procedimento específico</p><p>das Emendas Constitucionais (art. 60, § 2º da Constituição). Quanto aos limites implícitos</p><p>ou tácitos, estes decorrem dos próprios princípios adotados pela Constituição, como os</p><p>referentes ao titular do Poder Constituinte (povo por seus representantes), os relativos ao</p><p>processo de emenda. Justificam-se, logicamente, porque se pudessem ser alteradas, de nada</p><p>adiantaria impor limites materiais, procedimentais ou circunstanciais ao Poder Constituinte</p><p>de Reforma.</p><p>3 Poder Constituinte Derivado Decorrente</p><p>O Brasil é um Estado Federado, formado pela União de Estados-membros (art. 1º</p><p>da Constituição), sendo que cada um deles possui autonomia para elaborar sua própria</p><p>Constituição, e é exatamente isso que consiste o Poder Constituinte Derivado Decorrente. Diz</p><p>o art. 25 da Constituição: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e</p><p>leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição” (BRASIL, 1988).</p><p>Vale citar a doutrina de Lenza (2008, p. 87):</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>9</p><p>O Poder Constituinte Derivado Decorrente, assim como o reformador, por ser derivado</p><p>do originário e por ele criado, é também jurídico e encontra os seus parâmetros de</p><p>manifestação nas regras estabelecidas pelo originário. Sua missão é estruturar a</p><p>Constituição dos Estados-membros. Tal competência decorre da capacidade de auto-</p><p>organização estabelecida pelo poder constituinte originário. [...] a eles foi atribuída</p><p>autonomia, manifestada pela capacidade de auto-organização (art. 25, caput);</p><p>autogoverno e autoadministração.</p><p>Assim, o Poder Constituinte Derivado Decorrente deriva do Poder Constituinte Originário,</p><p>visto que é criado por este, e consiste no poder de os Estados-membros da Federação criarem</p><p>suas próprias Constituições, devendo, obviamente seguir os preceitos da Constituição Federal,</p><p>jamais podendo contrariá-la.</p><p>Considerações finais</p><p>Portanto, pudemos analisar a Assembleia Constituinte brasileira, que deu origem à atual</p><p>Constituição de 1988. Tal Constituição, portanto, foi promulgada pela vontade do povo e não</p><p>outorgada pelo governante, típica de regimes ditatoriais.</p><p>Verificamos que o Poder Constituinte é aquele responsável e forte o bastante para</p><p>criação dessa nova ordem jurídica de um país.</p><p>Por fim, pudemos analisar as formas de Poder Constituinte como sendo Poder Constituinte</p><p>Originário, Poder Constituinte Derivado de Reforma e Poder Constituinte Derivado Decorrente,</p><p>o que deu melhor compreensão da própria formação da Constituição brasileira e como ela</p><p>pode ser alterada.</p><p>Referências</p><p>BACKES, Ana Luiza; AZEVEDO, Débora Bithiah (Org.). A Sociedade no Parlamento: Imagens</p><p>da Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições</p><p>Câmara, 2008. (Coleções Especiais Obras Comemorativas).</p><p>BACKES, Ana Luiza; AZEVEDO, Débora Bithiah; ARAÚJO, José Cordeiro. Audiências Públicas na</p><p>Assembleia Nacional Constituinte: A Sociedade na Tribuna. Brasília: Câmara dos Deputados,</p><p>Edições Câmara, 2009. (Coleções Especiais Obras Comemorativas).</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: 1988.</p><p>Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.</p><p>htm>. Acesso em: 28 ago. 2015.</p><p>LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2008.</p><p>MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso</p><p>de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010.</p><p>MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2012.</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>Aula 04</p><p>Divisão dos poderes: Executivos, Legislativo e Judiciário</p><p>Objetivos Específicos</p><p>• Compreender as diretrizes normativas do exercício do poder político e</p><p>jurídico.</p><p>Temas</p><p>Introdução</p><p>1 Histórico da separação de Poderes</p><p>2 Poder Legislativo (art. 44 e seguintes da Constituição Federal)</p><p>3 Poder Executivo</p><p>4 Poder Judiciário</p><p>Considerações finais</p><p>Referências</p><p>Bruno Bianchini</p><p>Professor Autor</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>2</p><p>Introdução</p><p>A separação de Poderes é fundamental a todo Estado que pretende adotar a forma</p><p>republicana e o regime democrático, uma vez que é vital ao controle dos governantes haver</p><p>controle</p><p>de outros Poderes aos seus atos.</p><p>Nesse sentido, é proposta a separação dos Poderes em três, o Poder Executivo, o Poder</p><p>Legislativo e o Poder Judiciário.</p><p>No Brasil não é diferente. A sepração dos Poderes é vigente e organiza a democracia.</p><p>Portanto, vamos estudar agora o histórico do assunto e também como é aplicado ao Brasil.</p><p>Bons estudos!</p><p>1 Histórico da separação de Poderes</p><p>Para que possamos abordar o tema dos três Poderes do Estado, primeiramente devemos</p><p>compreender o que é a separação de Poderes.</p><p>O Princípio da Separação de Poderes do Estado foi desenvolvido pelo político e</p><p>filósofo francês Charles Montesquieu, que, utilizando-se das bases teóricas do filósofo</p><p>grego Aristóteles, menciona a separação das atribuições de fazer as leis, executá-las e</p><p>julgar os conflitos decorrentes da sua aplicação.</p><p>Vale citar a obra de Mendes, Coelho e Branco (2014), retomando as palavras de</p><p>Montesquieu:</p><p>“Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais ou dos</p><p>nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer as leis, o de executar as</p><p>resoluções públicas, e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos”. (Charles</p><p>Montesquieu)</p><p>Podemos destacar, a título de conhecimento, que Aristóteles identificou e distinguiu</p><p>as três conhecidas funções, de fazer as leis, administrar, executando-as e julgar os conflitos</p><p>decorrentes de sua aplicação. Porém, até mesmo pelo contexto circunstancial da época em</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>3</p><p>que vivia, atribuía a uma única figura a concentração dessas funções. Montesquieu, como se</p><p>sabe, defendia a separação dessas funções.</p><p>A intenção da separação de Poderes é não permitir a concentração de poder nas mãos</p><p>de uma só entidade ou pessoa, o que pode gerar situações de abuso de poder. A propósito,</p><p>a concentração de poderes era a principal característica dos Estados absolutistas (antigas</p><p>monarquias), em que todo o poder se reunia nas mãos de uma só pessoa, o monarca. O</p><p>Princípio da Separação de Poderes é característica dos Estados liberais e, em especial, dos</p><p>regimes democráticos.</p><p>Com relação ao Estado Brasileiro, a separação dos Poderes do Estado (Legislativo,</p><p>Executivo e Judiciário) está prevista na Constituição Federal de 1988, mais</p><p>especificamente no art. 2º, que diz:</p><p>“Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo,</p><p>o Executivo e o Judiciário”. (BRASIL, 1988).</p><p>Vale citar as palavras de Moraes (2006, p. 373), a respeito dos Poderes Constituídos do</p><p>Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário):</p><p>Independentes e harmônicos entre si, repartindo entre eles as funções estatais e</p><p>prevendo prerrogativas e imunidades para que bem pudessem exercê-las, bem como</p><p>criando mecanismos de controles recíprocos, sempre como garantia da perpetuidade</p><p>do Estado democrático de Direito.</p><p>Ainda, no que concerne à separação de poderes (MORAES, 2006, p. 373):</p><p>A divisão segundo o critério funcional é a célebre “separação de Poderes”, que consiste</p><p>em distinguir três funções estatais, quais sejam, legislação, administração e jurisdição,</p><p>que devem ser atribuídas a três órgãos autônomos entre si, que as exercerão com</p><p>exclusividade [...].</p><p>Cabe informar que a separação de poderes é cláusula pétrea, assim, de acordo com a</p><p>Constituição Brasileira de 1988, em seu art. 60, parágrafo 4º, não é possível modificar ou</p><p>excluir esse princípio do ordenamento jurídico pátrio (BRASIL, 1988).</p><p>Assim, é de se concluir que, no Brasil, vigoram três poderes estatais, cada um com uma</p><p>função específica: sendo o Poder Legislativo o responsável pela criação das leis; o Poder</p><p>Executivo responsável pela Administração do Estado, cumprindo as leis elaboradas pelo</p><p>Legislativo; ficando o Poder Judiciário com a atribuição de julgar os conflitos de interesses</p><p>decorrentes da aplicação das leis.</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>4</p><p>Figura 1 – Os três Poderes</p><p>Poder Legislativo Poder Executivo Poder Judiciário</p><p>Poder Legislativo: o</p><p>responsável pela criação</p><p>das leis.</p><p>Poder Executivo:</p><p>responsável pela Administração</p><p>do Estado, cumprindo as</p><p>leis elaboradas pelo Legislativo.</p><p>Poder Judiciário:</p><p>tem a atribuição de</p><p>julgar os conflitos de</p><p>interesses decorrentes</p><p>da aplicação das leis.</p><p>Ainda, antes de dar início ao estudo, é interessante compreendermos o Sistema de Freios</p><p>e Contrapesos.</p><p>O Sistema de Freios e Contrapesos, conhecido como “checks and balances” na doutrina</p><p>norte-americana, menciona a flexibilização nas funções dos Poderes Constituídos, indicando</p><p>a existência de funções típicas e atípicas de cada um dos Poderes. Conforme explica Meirelles</p><p>(2010, p. 55-56), a cada um dos Poderes corresponde:</p><p>[...] uma função que lhe é atribuída com precipuidade. Assim, a função precípua do</p><p>Poder Legislativo é a elaboração da lei (função normativa); a função precípua do Poder</p><p>Executivo é a conversão da lei em ato individual e concreto (função administrativa); a</p><p>função precípua do Poder Judiciário é a aplicação coativa da lei aos litigantes (função</p><p>judicial). Referimo-nos à função precípua de cada Poder de Estado porque, embora o</p><p>ideal fosse a privacidade de cada função para cada Poder, na realidade isso não ocorre,</p><p>uma vez que todos os Poderes têm necessidade de praticar atos administrativos, ainda</p><p>que restritos à sua organização e ao seu funcionamento, e, em caráter excepcional</p><p>admitido pela Constituição, desempenham funções e praticam atos que, a rigor,</p><p>Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados</p><p>Direito Administrativo e Constitucional</p><p>5</p><p>seriam de outro Poder. O que há, portanto, não é separação de Poderes com divisão</p><p>absoluta de funções, mas, sim, distribuição das três funções estatais precípuas entre</p><p>órgãos independentes, mas harmônicos e coordenados no seu funcionamento,</p><p>mesmo porque o poder estatal é uno e indivisível.</p><p>Assim, ainda que cada um dos Poderes tenha a sua função principal, todos eles podem</p><p>exercer outras funções que, em regra, caberiam a outro Poder. Como exemplo, pode se</p><p>mencionar edição de normas administrativas pelo Poder Judiciário e pelo Executivo, função</p><p>precípua do Legislativo. Ou no caso de o Legislativo ou o Executivo processar e julgar seus</p><p>funcionários em processos administrativos ou, ainda, no caso do art. 62 da Constituição, que</p><p>autoriza o Chefe do Poder Executivo a editar medidas provisórias, com força de lei. Por fim,</p><p>nos casos em que o Poder Legislativo, pelo Senado Federal, julga o Presidente da República</p><p>nos crimes de responsabilidade (art. 52, I, da Constituição).</p><p>Note-se que ainda que determinado Poder exerça função atípica, não há ofensa ao</p><p>Princípio da Separação dos Poderes, visto que tal possibilidade sempre é regulamentada por</p><p>leis, pela Constituição ou por outros atos normativos. Vale destacar, também, que embora haja</p><p>uma “Separação de Poderes”, deve-se considerar que tal “separação” é apenas do exercício</p><p>das funções, pois o Poder do Estado é uno e indivisível. Cada um dos Poderes representa,</p><p>diretamente, o Estado.</p><p>Passa-se, agora, ao estudo de cada um dos Poderes, especificamente.</p><p>2 Poder Legislativo (art. 44 e seguintes da Constituição</p><p>Federal)</p><p>A função típica do Poder Legislativo é criar as leis, que são normas gerais e abstratas a</p><p>serem seguidas por todos. Além da função de legislar, é atribuída a este Poder a importante</p><p>tarefa de proceder a fiscalização financeira e administrativa dos atos do Poder Executivo (art.</p><p>49, X, da Constituição Federal).</p><p>O Poder Legislativo exerce suas atribuições nos âmbitos federal, estadual e municipal.</p><p>No âmbito federal, o Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, composto por duas</p><p>casas, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal (CF, art. 44). A Câmara dos Deputados é</p><p>formada por representantes do povo, enquanto que o Senado é formado por representantes</p><p>dos Estados-membros. Por ser formado por duas casas, diz-se que o Congresso Nacional é</p><p>bicameral. Nos estados e nos municípios,</p>