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<p>Indaial – 2020</p><p>Farmacologia i</p><p>Profª. Iandra Holzmann</p><p>Prof. Marcus Vinicius Pereira dos Santos Nascimento</p><p>1a Edição</p><p>Copyright © UNIASSELVI 2020</p><p>Elaboração:</p><p>Profª. Iandra Holzmann</p><p>Prof. Marcus Vinicius Pereira dos Santos Nascimento</p><p>Revisão, Diagramação e Produção:</p><p>Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI</p><p>Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri</p><p>UNIASSELVI – Indaial.</p><p>Impresso por:</p><p>H762f</p><p>Holzmann, Iandra</p><p>Farmacologia I. / Iandra Holzmann; Marcus Vinicius Pereira</p><p>dos Santos Nascimento. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.</p><p>220 p.; il.</p><p>ISBN 978-65-5663-431-9</p><p>ISBN Digital 978-65-5663-432-6</p><p>1. Farmacologia. - Brasil. I. Nascimento, Marcus Vinicius</p><p>Pereira dos Santos. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.</p><p>CDD 615.1</p><p>apresentação</p><p>Olá, acadêmico! Preparado para iniciar seus estudos na Farmacolo-</p><p>gia? Este livro didático está dividido em três unidades, e em cada uma de-</p><p>las serão abordados temas específicos referentes à farmacologia. A ideia do</p><p>livro é apresentar a você, caro acadêmico, os principais conceitos aplicados</p><p>nesta ciência. Estes conceitos serão utilizados no seu cotidiano acadêmico</p><p>e profissional.</p><p>Para que você entenda como cada grupo de medicamento atua é</p><p>necessário que, inicialmente, você compreenda a linguagem empregada</p><p>nesta ciência. Conceitos outrora desconhecidos por você, caro acadêmico,</p><p>serão apresentados para que suas discussões envolvendo medicamentos</p><p>possam ser o mais ricas o possível.</p><p>A primeira unidade consiste em uma introdução da ciência da farma-</p><p>cologia. Nesta unidade conceituaremos a farmacologia, além de discutirmos</p><p>de forma breve a história desta ciência e seu panorama atual. Na sequência,</p><p>você será apresentado a algumas das principais subdivisões da farmacolo-</p><p>gia e suas aplicações práticas. Já no tópico final da unidade, discutiremos o</p><p>desenvolvimento de novos fármacos. Neste tópico você entendera como um</p><p>fármaco é desenvolvido, desde a prancheta do pesquisador no laboratório</p><p>de pesquisa, passando pela indústria para produção em larga escala até che-</p><p>gar no balcão da farmácia.</p><p>Na segunda unidade iremos focar nos conceitos necessários para que</p><p>você, caro acadêmico, entenda a linguagem que esta ciência fala. No primeiro</p><p>tópico você conhecerá os princípios gerais da farmacocinética. Neste tópico</p><p>você aprenderá algumas vias de administração e suas particularidades, além</p><p>das fases que envolvem a farmacocinética. No segundo tópico discutiremos</p><p>os alvos mais comuns para ação de fármacos, focando em receptores,</p><p>canais iônicos, enzimas e transportadores. Já no terceiro tópico, você será</p><p>introduzido ao conceito de farmacodinâmica, para que futuramente consiga</p><p>compreender o mecanismo de ação dos fármacos disponíveis no mercado.</p><p>A terceira, e última unidade tem como objetivo dar um foco maior</p><p>para ação de fármacos específicos no organismo. Por este motivo, no Tópico</p><p>1 desta unidade serão discutidos conceitos de mecanismo de ação. Além</p><p>disso, no Tópico 2, o tema central são os fármacos que atuam sobre o sistema</p><p>nervoso autônomo e periférico. Já no Tópico 3, o foco dos estudos está</p><p>voltado para fármacos que atuam nos processos alérgicos e inflamatórios.</p><p>Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para</p><p>você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-</p><p>dades em nosso material.</p><p>Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é</p><p>o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um</p><p>formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.</p><p>O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-</p><p>mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui</p><p>para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.</p><p>Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,</p><p>apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-</p><p>de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.</p><p>Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para</p><p>apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-</p><p>to em questão.</p><p>Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas</p><p>institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa</p><p>continuar seus estudos com um material de qualidade.</p><p>Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de</p><p>Desempenho de Estudantes – ENADE.</p><p>Bons estudos!</p><p>NOTA</p><p>Esta será uma jornada de muitos aprendizados relacionados à</p><p>farmacologia. Sem sombra de dúvidas esta disciplina irá servir como norte</p><p>para seu desenvolvimento como profissional farmacêutico!</p><p>Bons estudos!</p><p>Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela</p><p>um novo conhecimento.</p><p>Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro</p><p>que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você</p><p>terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-</p><p>tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.</p><p>Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.</p><p>Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!</p><p>LEMBRETE</p><p>sumário</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA .................................................................. 1</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA: A CIÊNCIA DOS MEDICAMENTOS .................................. 3</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3</p><p>2 O QUE É FARMACOLOGIA? ........................................................................................................... 4</p><p>3 BREVE HISTÓRIA DA FARMACOLOGIA ................................................................................... 5</p><p>4 A CIÊNCIA ATUALMENTE .............................................................................................................. 9</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 11</p><p>AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 12</p><p>TÓPICO 2 — SUBDIVISÕES DA FARMACOLOGIA ................................................................. 13</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 13</p><p>2 FARMACOLOGIA BÁSICA ............................................................................................................ 14</p><p>3 FARMACOCINÉTICA ...................................................................................................................... 14</p><p>4 FARMACODINÂMICA ................................................................................................................... 16</p><p>5 FARMACOLOGIA DE SISTEMAS ................................................................................................ 17</p><p>6 FARMACOLOGIA EXPERIMENTAL ........................................................................................... 18</p><p>7 FARMACOLOGIA CLÍNICA .......................................................................................................... 19</p><p>8 ETNOFARMACOLOGIA ................................................................................................................. 20</p><p>9 TOXICOLOGIA .................................................................................................................................</p><p>são conduzidos mudaram</p><p>drasticamente. Imagine, por exemplo, que ensaios conduzidos por Paul Ehrlich,</p><p>no século XIX, eram vagarosos, e conseguiam elucidar respostas a respeito de suas</p><p>“balas mágicas”, uma a uma, frente a sistemas biológicos. Estes estudos levavam</p><p>literalmente uma vida para apresentar respostas sobre uma ou duas moléculas.</p><p>Não existem dúvidas de que a contribuição de todos os farmacologistas</p><p>clássicos nos possibilitaram chegar até este momento na história da ciência,</p><p>mas até mesmo as mentes mais brilhantes da época ficariam estarrecidos com</p><p>a capacidade de pesquisa que a farmacologia ganhou. Adventos tecnológicos</p><p>permitem que uma série de novas moléculas sejam testadas em questão de horas.</p><p>Sistemas biológicos serão testados somente após softwares contendo algoritmos</p><p>refinados apresentarem altas probabilidades de o fármaco em questão ser viável,</p><p>ou seja, não apresentar toxicidade em concentrações acima daquelas necessárias</p><p>para que o efeito terapêutico ocorra. A farmacologia, com o advento da indústria</p><p>farmacêutica, tornou-se uma ciência passível de ser quantificada e, assim, a</p><p>descoberta de novos fármacos passa por diversas fases, como em uma linha de</p><p>produção, para que sejam lançados para o mercado.</p><p>Neste tópico, nós discutiremos ensaios biológicos aplicados à ciência que</p><p>estuda os fármacos, inicialmente discutindo modelos em softwares (in silico),</p><p>na sequência modelos aplicados em células ou enzimas (in vitro) e modelos em</p><p>animais (in vivo). Abordaremos, na sequência, os desafios científicos que existem</p><p>nestes modelos para que seus resultados possam ser extrapolados para ensaios</p><p>em humanos. Finalmente, neste tópico, discutiremos a respeito das fases que</p><p>existem para que um fármaco seja testado em humanos e chegue até o mercado.</p><p>30</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>2 FERRAMENTAS FARMACOLÓGICAS – O CAMINHO PARA</p><p>UM NOVO FÁRMACO</p><p>Para que um novo fármaco se torne de fato um medicamento, diversas</p><p>etapas serão conduzidas pela indústria farmacêutica. Todas estas etapas visam</p><p>a uma molécula que apresente efeito biológico promissor, com baixo potencial</p><p>de toxicidade, mas também viabilidade econômica para produção em larga</p><p>escala. Nada adianta para a indústria descobrir uma molécula inovadora para</p><p>uma doença se o processo de produção industrial desta molécula não for viável,</p><p>ou seja, gere um mínimo de receita. Além disso, estima-se que de cerca de 100</p><p>moléculas em potencial para se tornarem futuros medicamentos, somente um</p><p>chegue à fase final de ensaios clínicos, e estes estudos, entre ensaios laboratoriais</p><p>e processos burocráticos junto a agências reguladoras não costumam demorar</p><p>menos que 10 anos (PANKEVICH et al., 2014; RITTER et al., 2020).</p><p>Então, caro acadêmico, raciocine conosco, se de cada 100 moléculas</p><p>apenas uma é aprovada, o que acontece com as outras 99? E todo o investimento</p><p>que foi feito em estrutura laboratorial e mão de obra qualificada para pesquisa?</p><p>Infelizmente, quando uma molécula não apresenta resultados promissores em</p><p>algum estudo ela vai para biblioteca do laboratório que a descobriu e fica lá,</p><p>até que seja utilizada novamente para alguma outra pesquisa comparativa, ou</p><p>análise da relação de sua estrutura química com atividade. Na maioria das vezes</p><p>estas moléculas servirão somente como base comparativa para outros estudos, e</p><p>não irão tornar-se medicamentos.</p><p>FIGURA 8 – ESTÁGIOS NO DESENVOLVIMENTO DE UM NOVO FÁRMACO E SUA RELAÇÃO</p><p>COM TEMPO E QUANTIDADE DE MOLÉCULAS QUE SE TORNAM MEDICAMENTOS</p><p>FONTE: Adaptado de RITTER et al. (2020, p. 751).</p><p>É por este motivo que a indústria, na busca por novas moléculas, cos-</p><p>tuma dividir suas pesquisas em diferentes etapas. Os estudos atualmente ini-</p><p>ciam-se com uso de softwares simulando a interação de moléculas com alvos</p><p>conhecidos. Na sequência, as moléculas com resultados promissores são testa-</p><p>das em ensaios biológicos e aí, depois de todos os estudos, podem ser testadas</p><p>em humanos. Vamos começar discutindo os ensaios in silico, ou seja, aqueles</p><p>conduzidos em softwares.</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>31</p><p>3 ENSAIOS IN SILICO – ALVOS VS COMPOSTOS</p><p>Com os conhecimentos adquiridos pelas ciências, como a bioquímica,</p><p>genética e a fisiologia, entende-se hoje a relação que existe entre a expressão</p><p>de determinadas proteínas e funções biológicas, ou processos patológicos nos</p><p>organismos. Além disso, já se encontram disponíveis no mercado uma série de</p><p>medicamentos com diferentes efeitos biológicos e conhecimento profundo a</p><p>respeito de suas interações moleculares (farmacocinética e farmacodinâmica).</p><p>Com estas informações disponíveis em bancos de dados, tornou-se</p><p>imprescindível no desenvolvimento de um novo fármaco a definição de qual será</p><p>o seu alvo. Por exemplo, sabe-se que uma das vias biológicas que controlam os</p><p>processos inflamatórios deriva da atividade das enzimas ciclooxigenases (COX)</p><p>e suas isoformas (COX-1, COX-2 e COX-3). Com estudos no decorrer das últimas</p><p>décadas a relação de inibição destas enzimas com anti-inflamatórios já disponíveis</p><p>no mercado ficou clara. Nestes estudos, percebeu-se que alguns medicamentos</p><p>inibiam todas as isoformas, o que acarretava o aparecimento de alguns efeitos</p><p>adversos, principalmente problemas gástricos. Sabendo que, a isoforma COX-2</p><p>seria a com maior relação em processos inflamatórios, farmacologistas iniciaram</p><p>pesquisas para desenvolver moléculas que fossem inibidoras seletivas desta</p><p>isoforma, ou seja, inibiriam somente a COX-2, sem afetar a atividade biológica</p><p>da COX-1. Desta forma foram desenhadas e lançadas as moléculas classificadas</p><p>como Coxibes (Celecoxibe, Etoricoxibe, Parecoxibe, entre outros), que apresentam</p><p>diferentes graus de seletividade para COX-2. Esta série de moléculas passou a</p><p>apresentar outros eventos adversos a medicamentos após sua comercialização,</p><p>veremos este assunto de forma mais específica no tópico sobre moléculas anti-</p><p>inflamatórias (KUMMER; COELHO, 2002).</p><p>Com a definição de um alvo específico para um novo fármaco, ferramen-</p><p>tas de bioinformática são cada vez mais aplicadas para acessar a probabilidade</p><p>desta molécula apresentar um bom efeito em sistemas biológico. Desta forma,</p><p>uma série de moléculas que apresentam baixa probabilidade de gerar um efeito</p><p>já são descartadas antes mesmo de serem testadas em sistemas biológicos (in</p><p>vitro e in vivo).</p><p>Como um programa de computador consegue identificar estas relações</p><p>apenas com o desenho da molécula em questão? Os dados obtidos de experimentos</p><p>com moléculas inovadoras e estruturas de receptores, ou outras proteínas alvo,</p><p>são arquivados em diferentes bancos de dados on-line. Este é um esforço conjunto</p><p>da comunidade científica para que novas moléculas possam ser geradas com</p><p>maior facilidade e velocidade, evitando inclusive o uso desnecessário de testes</p><p>in vivo (em animais). No quadro a seguir, encontram-se alguns bancos de dados</p><p>disponíveis on-line para desenho de novas moléculas (Quadro 1).</p><p>32</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>QUADRO 1 – BASES DE DADOS QUÍMICAS PARA DESENHO DE NOVAS MOLÉCULAS IN SILICO</p><p>Nome URL</p><p>ACD http://www.mdli.com/</p><p>CHemDB http://cdb.ics.uci.edu/</p><p>DrugBank http://www.drugbank.ca/</p><p>PubChem http://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/</p><p>LIGAND http://www.genome.jp/ligand/</p><p>WOMBAT http://www.sunsetmolecular.com/</p><p>ZINC http://zinc.docking.org/</p><p>FONTE: Adaptado de Bernardo e Tong (2012)</p><p>Achou interessante a ferramenta in silico para desenvolvimento de novos</p><p>fármacos? Que tal desenhar a molécula da figura ao lado (ácido acetilsalicílico) utilizando</p><p>o site PubChem? Lá, além de definir o nome da molécula, todas as informações físico-</p><p>químicas, farmacológicas e toxicológicas listadas para a estrutura em questão estão</p><p>compiladas. E, caso a molécula seja inédita, o site ainda elenca moléculas similares que</p><p>podem apresentar atividades semelhantes. Link: http://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/.</p><p>INTERESSANTE</p><p>Os algoritmos executados por estes softwares são informados de quais são</p><p>as características que um novo fármaco deve</p><p>apresentar. Algumas regras já são</p><p>bem estabelecidas e utilizadas por estes softwares, como a “Regras dos cinco de</p><p>Lipinski” (chama-se desta forma por todos os parâmetros numéricos serem múl-</p><p>tiplos de 5) (POLLASTRI, 2010). Estas regras, determinadas por Christopher Li-</p><p>pinski em 1997, determinam que, para que um fármaco seja bem absorvido e tenha</p><p>atividade por via oral, precisa apresentar as seguintes características químicas:</p><p>• Coeficiente de partição octanol-água (log P) maior ou igual a 5.</p><p>• Massa Molecular menor ou igual a 500 daltons.</p><p>• Aceptores de ligação de Hidrogênio menor ou igual a 10.</p><p>• Doadores de ligação de hidrogênio menor ou igual a 5.</p><p>É claro que os softwares utilizados pela indústria possuem uma capacidade</p><p>enorme de processamento de dados, e provavelmente não estão disponíveis para</p><p>uso público. Além disso, estas indústrias possuem bibliotecas de compostos</p><p>próprios e seus respectivos resultados em análises in silico.</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>33</p><p>Os parâmetros que citamos até o momento são apenas preliminares e di-</p><p>versas outras informações podem ser geradas por estes algoritmos. Por exemplo,</p><p>é comum que estudos avançados in silico usem ferramentas de “docagem molecu-</p><p>lar”. A docagem molecular (do inglês molecular docking: ancoragem molecular) é</p><p>uma metodologia onde, aplicando conhecimentos sobre a molécula a ser testada</p><p>com a proteína alvo em questão, avalia-se a orientação preferencial tridimensio-</p><p>nal para melhor ligação das duas. Desta forma, modificações estruturais podem</p><p>ser sugeridas ainda na fase de in silico para que o fármaco em análise tenha uma</p><p>ligação mais efetiva com o alvo (Figura 9) (MORRIS; LIM-WILBY, 2008).</p><p>FIGURA 9 – ESQUEMA REPRESENTATIVO DE DOCAGEM MOLECULAR</p><p>FONTE: <http://bit.ly/39fYvXZ>. Acesso em: 22 jun. 2020.</p><p>Quanto maior for o poder de previsão da atividade farmacológica por uma</p><p>plataforma in síilico, maior será a economia da indústria com possíveis fracassos</p><p>experimentais em fases adiante do desenvolvimento do novo medicamento. Não</p><p>é por menos que a bioinformática é hoje uma das áreas que mais crescem no ramo</p><p>das pesquisas biológicas, exigindo conhecimento multidisciplinar do profissional</p><p>que atuar nesta área.</p><p>O domínio de ferramentas tecnológicas é uma necessidade presente em</p><p>praticamente todas as áreas de desenvolvimento profissional, desde as ciências da saúde</p><p>até mesmo as tecnológicas. Não poderia ser diferente para a farmácia. Cada vez mais o</p><p>mercado farmacêutico, principalmente na área de pesquisa e desenvolvimento de novos</p><p>produtos, requer profissionais que dominem o manuseio da bioinformática para as mais</p><p>diversas finalidades, como o docking molecular, a análise de sequenciamento genético e a</p><p>simulação da expressão de genes e proteínas.</p><p>IMPORTANTE</p><p>34</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>Ao fim dos testes realizados in silico, a próxima fase do estudo será uma</p><p>análise preliminar em um sistema biológico. É comum que, antes de aplicar o</p><p>composto em questão em células, um ensaio enzimático seja conduzido somente</p><p>com o composto escolhido e com a enzima (ou outro alvo qualquer) em questão.</p><p>Em alguns casos, pode-se aplicar o teste diretamente em células também, ficando</p><p>a critérios do farmacologista definir o próximo passo, baseado nas respostas que</p><p>experimento em si quer responder. Embora os experimentos possam diferir,</p><p>ensaios biológicos de forma geral tem alguns princípios importantes a serem</p><p>seguidos para que gerem uma resposta passível de avaliação.</p><p>4 ENSAIOS PRÉ-CLÍNICOS</p><p>Chamamos de ensaios pré-clínicos, ou ensaios não clínicos, aqueles que</p><p>são conduzidos em matrizes biológicas (in vitro ou in vivo) e antecedem os estudos</p><p>clínicos. Os ensaios clínicos, caro acadêmico são aqueles que são conduzidos</p><p>diretamente em humanos e, portanto, ensaios pré-clínicos visam juntar o máximo</p><p>de informações possível a respeito do fármaco em questão antes de administrá-</p><p>lo em humanos (RITTER et al., 2020). Nos ensaios pré-clínicos geralmente são</p><p>conduzidos os seguintes estudos:</p><p>• Testes para análise de possíveis efeitos agudos danosos, como constrição</p><p>brônquica, disritmias cardíacas ou grandes alterações da pressão sanguínea.</p><p>• Testes preliminares relacionados à toxicidade do fármaco, principalmente a</p><p>genotoxicidade e a determinação da dose não tóxica máxima.</p><p>• Testes de farmacocinética, incluindo aqui estudos a respeito de como este</p><p>fármaco é absorvido, distribuído, biotransformado e eliminado pelo organismo</p><p>e se gera algum metabólito ativo ou tóxico que possa de alguma forma modificar</p><p>seu efeito inicial.</p><p>• Desenvolvimento químico para análise da viabilidade em larga escala da</p><p>extração ou síntese, além da purificação e estabilidade do fármaco.</p><p>Mesmo após a conclusão dos ensaios que possibilitam a entrada do</p><p>fármaco em ensaios clínicos, os ensaios pré-clínicos continuam a serem realizados,</p><p>especialmente aqueles que dizem respeito à toxicidade de longo prazo e</p><p>reprodutiva dos animais.</p><p>Veremos nas próximas páginas alguns ensaios que são conduzidos na fase</p><p>pré-clínica da pesquisa de um novo fármaco, empregando ensaios enzimáticos,</p><p>cultura de células e, posteriormente, animais. No entanto, para isso, devemos</p><p>incialmente entender alguns dos princípios gerais que regem ensaios biológicos.</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>35</p><p>4.1 PRINCÍPIOS GERAIS DOS ENSAIOS BIOLÓGICOS</p><p>O próximo passo na análise de um novo fármaco aplica-se em ensaios</p><p>biológicos. Define-se ensaio biológico como a determinação da potência de</p><p>uma substância com atividade farmacológica a partir da magnitude do efeito</p><p>que produz. Em um primeiro momento a definição pode parecer simples, mas</p><p>lembre-se, caro acadêmico, de que muitas vezes na farmacologia o pesquisador</p><p>está buscando respostas de efeito biológico para fenômenos onde medidas exatas</p><p>não são aplicáveis. Um exemplo disso é a dor: como podemos determinar a dor</p><p>em uma escala, uma vez que diferentes indivíduos respondem a este fenômeno</p><p>de formas diferentes? São diversos exemplos na área da saúde onde as medidas</p><p>muitas vezes devem levar em considerações critérios multifatoriais e subjetivos,</p><p>mas o importante é que as medidas adotadas para que “a magnitude do efeito”</p><p>do fármaco em si seja analisada sejam padronizadas e uniformes.</p><p>Para que estas medidas de efeito biológico sejam de fato descritas,</p><p>assim como em outras ciências, a farmacologia usa na maior parte das vezes a</p><p>comparação do efeito com outras substâncias já conhecidas. Por exemplo, em</p><p>uma situação hipotética, um novo fármaco X está sendo testado para analgesia</p><p>(diminuição da dor) em seu laboratório. Como definir o tamanho do seu efeito?</p><p>Ora, uma maneira simples de medir a eficácia, neste caso, é comparar o novo</p><p>fármaco X a um fármaco conhecidamente analgésico, como a morfina. Assim,</p><p>ao empregar tanto a morfina como o novo fármaco X, nas mesmas doses e em</p><p>condições biológicas similares (mesmas linhagens de cultura de células, mesma</p><p>espécie de cobaias etc.) pode-se chegar à conclusão de quantas vezes maior ou</p><p>menor deve ser a dose do fármaco X para causar um efeito igual ao da morfina.</p><p>Chamamos a morfina neste ensaio de Padrão. O uso de ao menos um fármaco</p><p>“padrão” em ensaios biológicos é de extrema importância, pois ensaios que não</p><p>fazem uso desta ferramenta geralmente não são confiáveis, e acabam não sendo</p><p>passíveis de comparação com outros dados da literatura (RITTER et al., 2020).</p><p>Continuando as ferramentas utilizadas nos princípios gerais dos ensaios</p><p>biológicos, o nosso fármaco X precisa ser testado em uma população que apre-</p><p>sente dor, uma vez que estamos testando o seu provável efeito biológico. Ora,</p><p>se testarmos este fármaco X, ou mesmo a morfina (o nosso padrão), em um</p><p>determinado grupo experimental que não apresente dor, a maior probabilidade</p><p>é que seus efeitos analgésicos não sejam tão evidentes. Assim, em ensaios bio-</p><p>lógicos, principalmente naqueles conduzidos in vitro (em linhagens de células)</p><p>ou in vivo (em diferentes espécies de animais) utiliza-se</p><p>um grupo chamado</p><p>de “Controle Negativo”. A este grupo experimental é induzida uma resposta</p><p>biológica para que os efeitos biológicos do fármaco a ser testado sejam postos a</p><p>prova (GAD, 2007).</p><p>Por exemplo, no caso de um teste de analgesia aplicado em camundongos</p><p>(in vivo), uma metodologia muito comum é o teste de von Frey, onde a sensibilidade</p><p>a um estímulo mecânico na pata dos animais é aplicada. Podemos separar os</p><p>grupos deste experimento da seguinte forma (Figura 10):</p><p>36</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>• Ao grupo de animais que recebeu o fármaco X, denominamos de “Grupo</p><p>Experimental”, pois este grupo é de fato o objetivo do experimento.</p><p>• Ao grupo que receber o fármaco padrão, a morfina, chamamos de “Controle</p><p>Positivo”, pois conhecemos os efeitos analgésicos da morfina e esperamos,</p><p>diante deste tratamento, um desfecho positivo, neste caso, a analgesia.</p><p>• Ao grupo “Controle Negativo”, nenhum tratamento é administrado, assim,</p><p>espera-se que este grupo responda normalmente diante do estímulo nas patas,</p><p>gerando um desfecho negativo: a dor.</p><p>FIGURA 10 – DIVISÃO COMUM DE GRUPOS UTILIZADOS COMO CONTROLES EM</p><p>EXPERIMENTOS BIOLÓGICOS</p><p>FONTE: O autor (2020)</p><p>Todas estas condições experimentais que comentamos, como a definição</p><p>de grupos experimentais (controle negativo, positivo e grupo experimental),</p><p>a quantidade de indivíduos que irá compor cada grupo, o fármaco padrão a</p><p>ser aplicado como fator de comparação (padrão), tempos de tratamentos e</p><p>muitas outras variáveis devem ser definidas muito antes do início do ensaio. A</p><p>organização destas variáveis chama-se desenho experimental, ou planejamento</p><p>experimental e é, possivelmente, mais importante que o ensaio em si (CURTIS</p><p>et al., 2015).</p><p>O maior problema que enfrentamos em ensaios farmacológicos é a grande</p><p>variação implícita a sistemas biológicos. Como supracitado, algumas medidas</p><p>são subjetivas e diferentes indivíduos reagem das mais variadas formas. Planejar</p><p>o experimento antes de iniciá-lo visa principalmente:</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>37</p><p>• Minimizar ao máximo a variação implícita ao sistema biológico.</p><p>• Evitar erros sistemáticos resultantes desta variação.</p><p>• Estimar os limites de erro dos resultados que foram obtidos.</p><p>Desenhar um experimento pode parecer tarefa simples aos olhos do</p><p>leigo, mas tentar controlar de todas as formas possíveis as variáveis de um</p><p>ensaio biológico pode-se mostrar extremamente desafiador. Mesmo com todo</p><p>planejamento, é comum problemas relacionados à imprevisibilidade da ação de</p><p>novos fármacos ocorrerem no meio do ensaio, impossibilitando sua continuidade.</p><p>Para esta tarefa, o farmacologista deve dominar, além da farmacologia</p><p>e fisiologia, ferramentas estatísticas e matemáticas. Definir qual é o tamanho de</p><p>uma população a ser testada para que o efeito observado possa ser extrapolado à</p><p>população de forma geral, decidir quais modelos estatísticos serão aplicados para</p><p>testar se a hipótese em questão é verdadeira ou não e interpretar a base de dados</p><p>gerada pelo ensaio são apenas algumas das tarefas do farmacologista. Ronald</p><p>Fisher, grande nome da estatística, dizia com razão que consultar um estatístico</p><p>após o fim do ensaio sem que um desenho experimental tenha sido previamente</p><p>aplicado, é comparável à realização de um exame post-mortem. Neste caso, o</p><p>estatístico pode apenas dizer do que o experimento “morreu”, e não mais salvá-lo.</p><p>Um dos grandes nomes das ciências biológicas do século passado e que</p><p>definiu grande parte dos fundamentos do desenho experimental e métodos estatísticos foi</p><p>Sir Ronald Fisher. Seu livro de 1935, The Design of Experiments, aborda de forma didática</p><p>como conduzir um desenho experimental e testar hipóteses para comprovar se um</p><p>fenômeno biológico ocorre ao acaso ou por influência de alguma intervenção.</p><p>INTERESSANTE</p><p>4.2 ENSAIOS IN VITRO – ENZIMAS E CÉLULAS</p><p>Agora que conhecemos os princípios gerais dos ensaios biológicos (uso de</p><p>controles e padrões), podemos separar estes ensaios naqueles que são realizados</p><p>in vitro e in vivo. Nesta seção abordaremos ensaios in vitro que, por sua vez, compõe</p><p>um vasto leque de diferentes técnicas laboratoriais. Inicialmente, vamos definir</p><p>o termo “in vitro”: o termo aplica-se a ensaios biológicos que acontecem fora de</p><p>sistemas vivos, em ambiente controlado, onde o número de variáveis muitas</p><p>vezes é conhecido. In vitro, do latim “em vidro”, usa esta nomenclatura, pois os</p><p>testes fora de sistemas vivos muitas vezes são realizados em recipientes de vidro.</p><p>Por exemplo, ao testar a atividade de uma determinada substância sobre uma</p><p>38</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>cultura de células, como uma população de macrófagos, estamos excluindo uma</p><p>série enorme de variáveis que seriam encontradas em um sistema vivo (múltiplos</p><p>compartimentos, células com especializações diferentes, enzimas específicas a</p><p>outros grupos celulares, entre outras).</p><p>4.2.1 Ensaios enzimáticos</p><p>Uma ferramenta experimental corriqueiramente utilizada tanto por sua</p><p>versatilidade, precisão e facilidade de execução são ensaios empregando somente</p><p>enzimas específicas e o fármaco em questão. Na sessão a respeito dos ensaios</p><p>in silico explanamos a respeito dos caminhos iniciais que um experimento em</p><p>farmacologia geralmente toma, como a definição de um alvo relacionado a um</p><p>processo patológico para desenvolvimento de um novo fármaco. Definimos que</p><p>nestes ensaios in silico, algoritmos são aplicados para definir as probabilidades de</p><p>uma molécula interagir ou não com uma proteína alvo. Estes ensaios otimizam e</p><p>aceleram o processo de desenvolvimento de novas moléculas, porém, como são</p><p>realizados apenas em plataformas virtuais, trabalham com probabilidades. Por</p><p>exemplo, um software que aplica um algoritmo para identificar a probabilidade de</p><p>uma molécula desconhecida interagir com uma certa enzima, neste caso o alvo do</p><p>fármaco, não pode afirmar com 100% de certeza que aquele fenômeno irá ocorrer</p><p>em condições fisiológicas, somente com a realização de uma série de ensaios reais</p><p>com a enzima e a molécula pesquisada que este fato pode ser comprovado. Não</p><p>é por acaso que novos fármacos demoram anos para serem lançados, estudos in</p><p>silico (como já mencionado) aceleram e otimizam a pesquisa, mas ainda estão longe</p><p>de substituir sistemas biológicos em pesquisas (STRELOW et al., 2004).</p><p>É comum encontrar no mercado a disponibilidade de uma infinidade de</p><p>testes para a inibição ou atividade das mais variadas proteínas alvo (enzimas,</p><p>receptores, proteínas carreadoras etc.). No entanto, ainda existe a possibilidade</p><p>de o teste enzimático ser realizado “in house”, ou seja, os kits com os reagentes</p><p>podem ser montados no próprio laboratório de pesquisa.</p><p>Assim, estes testes enzimáticos realizados in vitro possuem no sistema</p><p>de análise somente a proteína alvo purificada e, ao meio em que a enzima se</p><p>encontra, é adicionado o fármaco em análise. Por exemplo, um determinado</p><p>fármaco X está sendo testado para sua provável atividade anti-inflamatória, e já</p><p>apresentou alta probabilidade de se ligar à enzima COX-2 e inibir a sua atividade</p><p>em modelo in silico. Já sabemos, por exemplos citados nas sessões anteriores, que</p><p>a COX-2 é uma isoforma da enzima Ciclooxigenase e está intimamente ligada a</p><p>processos inflamatórios. Desta forma, uma molécula que tenha a capacidade de</p><p>diminuir sua atividade poderá ter como efeito biológico a diminuição de processos</p><p>inflamatórios. Após a triagem inicial in silico, o próximo passo a ser conduzido na</p><p>pesquisa poderia ser a realização do teste deste fármaco X diretamente com a</p><p>enzima COX-2, a fim de comprovar a probabilidade indicada in silico. Neste caso,</p><p>como a COX-2 é uma enzima que em sistemas biológicos tem como substrato</p><p>o ácido araquidônico e como produto intermediário a prostaglandina E2, ao</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>39</p><p>adicionar um fármaco X que possui a capacidade de inibir a ação desta enzima,</p><p>ao final da reação da enzima na presença de seu substrato, a concentração</p><p>do</p><p>produto, prostaglandina E2, deve ser menor quando comparada a um controle</p><p>sem adição do fármaco X. Assim, a inibição da COX-2 pelo fármaco X, já indicada</p><p>incialmente in silico, apresenta-se como real em um sistema biológico (STRELOW</p><p>et al., 2004).</p><p>Estes sistemas experimentais costumam ser ótimos para gerar resultados</p><p>preliminares, uma vez que são relativamente baratos e rápidos de serem condu-</p><p>zidos. A indústria já realiza nos dias de hoje um processo chamado de triagem de</p><p>produção ultra-alta, onde pode testar neste modelo de ensaio até 100.000 molécu-</p><p>las em um dia, claro, sendo este processo robotizado (RITTER et al., 2020).</p><p>Embora sejam amplamente utilizadas, as limitações destes modelos</p><p>enzimáticos são evidentes. No caso do nosso fármaco X, que interage com a</p><p>COX-2, inibindo sua atividade biológica, lembre-se, caro acadêmico, de que</p><p>um sistema vivo é imensamente mais complexo que apenas uma enzima, um</p><p>substrato e a geração de um produto. Nosso organismo possui uma infinidade</p><p>de enzimas com as mais variadas interações entre si, com a geração de produtos</p><p>intermediários que irão servir como substrato para outras reações enzimáticas.</p><p>Além disso, nosso organismo apresenta diferentes características fisiológicas para</p><p>diferentes compartimentos, com presença de mais ou menos microrganismos,</p><p>pH diferentes, barreiras biológicas com diferentes níveis de seletividade, entre</p><p>outros. Assim, o fármaco X, embora tenha apresentado resultados promissores in</p><p>silico e em um ensaio biológico enzimático in vitro, ainda tem um longo caminho</p><p>pela frente para que possa ser ao menos testado em seres humanos. À medida</p><p>que um fármaco a ser testado apresenta bons resultados, o nível de complexidade</p><p>dos sistemas em que é testado tende a aumentar.</p><p>4.2.2 Ensaios em cultura de células</p><p>Talvez, o próximo nível de complexidade a se testar um novo fármaco</p><p>não seja outro que não uma célula. Uma célula nada mais é do que a unidade</p><p>microscópica estrutural e funcional dos seres vivos, constituída por enzimas,</p><p>proteínas, material genético, citoplasma, membrana plasmática, organelas e</p><p>diversos outros componentes. Nos ensaios de cultura celular é possível controlar</p><p>as variáveis através do isolamento de somente uma linhagem celular e, a partir</p><p>daí, analisar as interações que o fármaco a ser pesquisado apresenta.</p><p>Nestes ensaios é possível utilizar células oriundas de um ser vivo, como</p><p>um camundongo ou mesmo um ser humano. Células estabelecidas a partir de</p><p>tecidos (sangue, fígado, pele, entre outros) são chamadas de culturas celulares</p><p>primárias. Neste caso, diversas técnicas podem ser empregadas para captação</p><p>destas células. Por exemplo, para isolamento de macrófagos de camundongos,</p><p>diferentes reagentes e protocolos para extração estão disponíveis na literatura</p><p>científica. Alguns empregam aparelhos com metodologias modernas de cell</p><p>40</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>sorting (classificação celular), outros protocolos empregam diferentes reagentes</p><p>e processos de centrifugação em série. Independentemente de como for isolada,</p><p>esta célula a partir do tecido, ao final deste processo ela precisara ser cultivada</p><p>em condições semelhantes aquelas que são encontradas no organismo para</p><p>que não sofra morte celular. Células aderentes, como macrófagos, deverão</p><p>ser cultivadas em frascos específicos na presença de nutrientes como glicose,</p><p>aminoácidos e antibióticos que inibam o crescimento de microrganismos. Além</p><p>disso, a temperatura e concentração de CO2 também deve ser controlada (Figura</p><p>11) (GERAGHTY et al., 2014).</p><p>FIGURA 11 – FRASCOS E PLACAS DE CULTURA CELULAR DISPOSTOS EM UMA ESTUFA DE CO</p><p>2</p><p>FONTE: <https://www.eppendorf.com/BR-pt/novidades/detail/title/free-webinar-everyday-</p><p>culture-practice/>. Acesso em: 2 jun. 2020.</p><p>Uma metodologia relativamente nova que vem sendo utilizada para</p><p>separação de populações heterogêneas celulares em subpopulações homogêneas é o Cell</p><p>Sorting (Classificação Celular). Baseada nas características como tamanho, complexidade</p><p>e antígenos expressos nas membranas celulares, a metodologia consegue separar com</p><p>alta eficiência diferentes populações para serem empregadas em diferentes pesquisas</p><p>– inclusive as farmacológicas. Ficou interessado? No link a seguir, conceitos básicos de</p><p>citometria de fluxo e sorting são explicados com maiores detalhes: http://www.ioc.fiocruz.</p><p>br/picf/PROD_LITERAT/Apostilas/ApostilaCMFprincipios_sorting.pdf.</p><p>INTERESSANTE</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>41</p><p>Outro tipo de cultura celular que pode ser empregada para aplicação de</p><p>metodologias in vitro são as culturas de linhagem celular contínua. Estas células,</p><p>diferentes daquelas da cultura primária, apresentam mecanismos de proliferação</p><p>e muitas vezes são extraídas de tumores (ambiente este onde as células não param</p><p>de se multiplicar, gerando danos ao hospedeiro). A vantagem do uso destas</p><p>células é sua durabilidade, já que possuem a capacidade de se proliferar, além de</p><p>estrem disponíveis comercialmente e, por serem mais purificadas que as culturas</p><p>primárias, apresentarem um controle de variáveis experimentais ainda maiores.</p><p>Assim como as células de cultura primária, estas linhagens contínuas precisam</p><p>de nutrientes e condições semelhantes às fisiológicas para que possam sobreviver</p><p>e se proliferar (GERAGHTY et al., 2014).</p><p>Um exemplo de linhagem celular contínua empregada para diversos estudos</p><p>são as células HeLa. Esta linhagem é utilizada desde os anos 1950, e desde lá continua a se</p><p>multiplicar de forma incessante. Curiosamente, as células recebem este nome, pois foram</p><p>extraídas de um tumor maligno de útero da paciente Henrietta Lacks. Para saber mais sobre</p><p>a história e aplicação desta linhagem celular, acesse o seguinte link: https://kasvi.com.br/</p><p>hela-celulas-imortais-legado-ciencia/.</p><p>INTERESSANTE</p><p>Com todas as requisições fisiológicas cumpridas pelo pesquisador, estas</p><p>células agora representam, ao menos em parte, um sistema biológico mais comple-</p><p>xo que aquele gerado pela presença unicamente de uma enzima e seu substrato.</p><p>A primeira possibilidade de experimentação neste ensaio biológico com</p><p>células é a interação do fármaco a ser testado com as células no que diz respeito</p><p>a sua citotoxicidade, ou seja, a toxicidade que este fármaco vai apresentar a</p><p>estas células. Apenas porque um fármaco é citotóxico não necessariamente ele é</p><p>inútil. Algumas classes de fármacos devem apresentar citotoxicidade seletiva a</p><p>tumores, como é o caso de fármacos desenvolvidos com atividade antitumoral.</p><p>No caso de nosso exemplo, o fármaco X, que está sendo testado para sua atividade</p><p>anti-inflamatória, não deve apresentar alta citotoxicidade, ou pelo menos deve</p><p>apresentar seu efeito biológico de inibição de parâmetros inflamatórios abaixo</p><p>das concentrações que causem morte celular significativa. Veja, caro acadêmico,</p><p>que, neste sentido, a pesquisa do fármaco já começa a tomar forma muito próxima</p><p>de sua aplicação real, uma vez que os medicamentos que consumimos, em sua</p><p>maioria, apresentam efeitos tóxicos. No entanto, a farmacologia, através de longos</p><p>estudos, determinou doses seguras para estes medicamentos, sendo que seus</p><p>efeitos tóxicos aparecem na maioria das vezes somente quando são consumidos</p><p>acima das doses estipuladas.</p><p>42</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>Após definida qual a concentração máxima que o fármaco X pode ser</p><p>aplicado sobre a cultura de células sem que estas sofram morte celular, deve-se</p><p>definir de que forma estas células serão induzidas ao processo inflamatório (ou</p><p>outro processo fisiopatológico em questão).</p><p>Para nosso exemplo, existem diversas formas de induzir o processo</p><p>inflamatório numa linhagem de células do sistema imunológico, como</p><p>macrófagos. Uma das formas mais utilizadas é através do estímulo destas</p><p>células através da aplicação de lipopolissacarídeo (LPS) na cultura. O LPS é</p><p>uma endotoxina estrutural da parede celular de bactérias gram-negativas, que,</p><p>quando reconhecida por receptores específicos do sistema imunológico,</p><p>gera uma</p><p>resposta de defesa do organismo, com a liberação de diversos mediadores que</p><p>desencadeiam a inflamação. Assim, um dos mediadores ativados pelo estímulo</p><p>gerado pelo LPS nos macrófagos da cultura em exemplo é justamente a enzima</p><p>COX-2, além de diversos outros (FUJIWARA; KOBAYASHI, 2005).</p><p>No caso do exemplo do fármaco X, para que o efeito dele outrora constatado</p><p>in silico e, posteriormente num ensaio biológico enzimático com a COX-2, seja</p><p>comprovado, quando adicionado a uma cultura celular de macrófagos induzidos</p><p>ao processo inflamatório pelo LPS, a concentração de prostaglandina E2 (produto</p><p>da enzima COX-2) deve estar menor do que um grupo que não recebeu tratamento</p><p>pelo fármaco X. Relembrando os grupos que definimos em princípios gerais</p><p>aplicados a ensaios biológicos:</p><p>• O grupo de células designado como controle negativo é aquele que sofrerá</p><p>somente o processo de indução a inflamação sem nenhum tratamento, gerando</p><p>um desfecho negativo (a inflamação).</p><p>• O grupo experimental é aquele que receberá o fármaco X, pois é ao redor deste</p><p>grupo que o experimento está orbitando, além de receber também o LPS com</p><p>intuito de gerar inflamação e testar a capacidade do fármaco X de inibir este</p><p>fenômeno.</p><p>• Ainda, neste experimento, podemos incluir um grupo controle positivo, no</p><p>qual um fármaco conhecidamente anti-inflamatório e inibidor da COX-2 será</p><p>administrado gerando um desfecho positivo, neste caso, podemos utilizar o</p><p>Celecoxibe (ver capítulos seguintes para mecanismo) para inibir a inflamação.</p><p>Assim como qualquer experimento, aqueles conduzidos in vitro que são</p><p>aplicados em culturas celulares também apresentam suas limitações. Embora</p><p>estejam muito mais próximos da realidade de um sistema vivo do que um</p><p>simples ensaio de enzimas isoladas, as culturas celulares não apresentam todas</p><p>as variáveis que um organismo complexo deve apresentar. Um humano, por</p><p>exemplo, ou mesmo um camundongo, possui uma infinidade de células com</p><p>as mais variadas especializações, que vão desde defesa (sistema imunológico),</p><p>absorção (sistema digestório), sensorial (sistema nervoso), e a interação entre</p><p>estas células, as proteínas que expressam e a forma que interagem podem</p><p>influenciar drasticamente os efeitos de um fármaco. Em uma cultura de células,</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>43</p><p>por exemplo, o fármaco não irá sofrer os processos de farmacocinética que um</p><p>organismo apresenta, desta forma sua ação poderá sofrer alterações (este assunto</p><p>é abordado mais a fundo na Unidade 2).</p><p>Independentemente de suas limitações, as metodologias empregadas in</p><p>vitro são parte importante do desenvolvimento de novos fármacos, uma vez que</p><p>agilizam e direcionam o processo de decisão, além de funcionar como processo</p><p>de triagem para que moléculas com maiores probabilidades de reproduzirem os</p><p>efeitos in silico e in vitro em modelos in vivo (RITTER et al., 2020).</p><p>4.3 ENSAIOS IN VIVO – ÉTICA E MODELOS ANIMAIS</p><p>DE DOENÇA</p><p>Os ensaios em animais compõem ainda nos dias de hoje parte importante</p><p>da pesquisa pré-clínica de novos fármacos. O farmacologista deve conhecer</p><p>diferentes modelos que sejam passíveis de aplicação em espécies específicas, com</p><p>intuito de mimetizar processos patológicos desenvolvidos em humanos. O uso de</p><p>animais na pesquisa é rigorosamente controlado, e cada vez mais se evolui neste</p><p>campo, buscando o bem estar animal e resultados robustos e confiáveis.</p><p>4.3.1 A Ética no uso de animais para experimentação</p><p>Finalmente, caro acadêmico, após a comprovação do efeito de um</p><p>determinado fármaco em modelos in silico e in vitro, podemos iniciar a parte de</p><p>experimentação em um nível biológico mais complexo – neste caso in vivo, ou</p><p>seja, em animais.</p><p>Embora seja componente da farmacologia e outras ciências, a</p><p>experimentação animal é um assunto sensível, e tem gerado polêmicas cada vez</p><p>maiores no decorrer dos últimos anos. A grande questão por trás da experimentação</p><p>animal é: o uso desta ferramenta é de fato insubstituível? Esta pergunta tem gerado</p><p>interesse de uma grande quantidade de pesquisadores da comunidade científica,</p><p>que tenta criar modelos matemáticos ou mesmo métodos alternativos in vitro,</p><p>que sejam passíveis de substituir integralmente um organismo. Apesar do fato de</p><p>que até o momento nenhum modelo tenha se apresentado como um substituinte</p><p>integral destes experimentos, muitos avanços foram feitos nas últimas décadas.</p><p>Não era incomum nos séculos passados os experimentos serem conduzidos</p><p>desde o início em animais. Muito disso se dava pelas limitações tecnológicas que</p><p>existiam na época, claro, mas também pela falta da organização de comitês de ética</p><p>que regulam o uso de animais. Veja, caro acadêmico, um pesquisador não pode</p><p>simplesmente iniciar uma criação de camundongos, testar qualquer fármaco em</p><p>qualquer modelo em animais e publicar seu trabalho em uma revista científica de</p><p>impacto. Não existe revista científica (desde as com menores fatores de impacto</p><p>44</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>até as mais citadas), que aceite um trabalho com experimentação animal que não</p><p>tenha sido protocolado junto a um órgão regulador. Todo e qualquer experimento</p><p>publicado em revistas científicas deve necessariamente apresentar um termo</p><p>de conformidade com normas internacionais de bioterismo (uso de animais de</p><p>laboratório para a pesquisa biomédica) e ética animal (MCGRATH et al., 2010).</p><p>Estas normas de bioterismo e ética animal são aplicadas para impedir</p><p>o uso desnecessário de animais quando outros sistemas de triagem de efeitos</p><p>biológicos são possíveis (como testes em células). No entanto, a aplicação destas</p><p>normas visa também manter a saúde destes animais em condições ideais. Veja,</p><p>caro acadêmico, a realização de um modelo animal para um fármaco X anti-</p><p>inflamatório deve ser conduzido em animais saudáveis e em condições sanitárias</p><p>ideais. Somente, desta forma, o pesquisador pode assegurar que as variáveis do</p><p>experimento estão controladas. Testar um fármaco em animais que estejam, por</p><p>exemplo, parasitados ou mesmo sobre o estresse de estarem mal alimentados</p><p>ou em condições de higiene precárias não gera resultados confiáveis. Inúmeros</p><p>estudos apontam como o nível de estresse nestes animais pode influenciar</p><p>seus parâmetros biológicos e, consequentemente, resultados de experimentos</p><p>(MCGRATH et al., 2010).</p><p>Um conceito muito utilizado atualmente para estudos in vivo nas</p><p>ciências biomédicas é o 3R. Embora seja um conceito já antigo (1959), a ideia</p><p>vem cada vez mais cobrada de órgãos reguladores. O 3R, que deriva do inglês</p><p>de Reduction, Replacement e Refinement, busca justamente reduzir, substituir e</p><p>refinar o uso de animais ao máximo. Através de ações como uso de protocolos</p><p>iniciais para triagem de moléculas com potencial efeito biológico, busca pela</p><p>qualidade genética, sanitária e ambiental dos animais possibilitando uma menor</p><p>dispersão dos resultados, portanto, diminuição do número de animais utilizados</p><p>e treinamento adequado antes de executar qualquer experimento para diminuir</p><p>o estresse infligido sobre os animais o emprego de testes in vivo torna-se ético e</p><p>passível de aplicação (ASKE; WAUGH, 2017).</p><p>Em nível internacional, órgãos como o European Community Guidelines, o</p><p>US guidelines (NIH – National Institutes of Health) e até mesmo a OECD (Organização</p><p>para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), através de protocolos para</p><p>testes de agentes químicos, regulam como conduzir estes testes da melhor forma</p><p>possível. No Brasil, o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal</p><p>(CONCEA), órgão integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia, é responsável</p><p>por emitir normativas que regem como conduzir a prática de experimentação</p><p>animal. Entre as suas várias competências vale destacar a formulação de normas</p><p>relativas à utilização de forma humanitária de animais, seja para fins de ensino ou</p><p>pesquisa científica, e estabelecer procedimentos para instalação e funcionamento</p><p>de centros de criação, biotérios e de laboratórios que realizam</p><p>qualquer tipo</p><p>de experimento em animais. Além disso, o CONCEA é responsável pelo</p><p>credenciamento de instituições que realizem atividades nesta área, além de gerir</p><p>o cadastro de protocolos experimentais aplicáveis aos procedimentos de pesquisa</p><p>científica do Brasil (DITTRICH et al., 2019).</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>45</p><p>Quer conhecer mais sobre as competências e obrigações do CONCEA e</p><p>órgãos de regulamentação afins? Acesse o seguinte site para obter mais informações:</p><p>http://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/institucional/concea/index.html.</p><p>INTERESSANTE</p><p>Em nível local, os institutos de pesquisa e universidades que realizam</p><p>algum tipo de atividade com experimentação animal devem constituir uma Co-</p><p>missão de Ética no Uso de Animais (CEUA). Esta comissão é composta por uma</p><p>equipe multidisciplinar como pesquisadores, veterinários, representantes do</p><p>Conselho Regional de Medicina Veterinária e outros, a depender de cada institui-</p><p>ção e dos experimentos ali conduzidos. Cabe a esta comissão fazer cumprir em</p><p>nível local o disposto na legislação aplicável à criação e utilização de animais para</p><p>o ensino e a pesquisa, sendo a sua atuação educativa, consultiva, de assessoria e</p><p>fiscalização nas questões relativas ao uso de animais para experimentação cientí-</p><p>fica. Ou seja, é comum que biotérios em universidades recebam visitas surpresa</p><p>da CEUA local para averiguar se todas as instalações e protocolos experimentais</p><p>são aplicados de forma correta, empregando as boas práticas experimentais. Caso</p><p>o biotério em questão não cumpra com as suas obrigações este é imediatamente</p><p>interditado (DITTRICH et al., 2019).</p><p>Além destes órgãos, existem também outras entidades nacionais e</p><p>internacionais relacionados ao uso de animais como a Sociedade Brasileira de</p><p>Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL), o National Centre for the Replacement,</p><p>Refinement and Reduction of Animals in Research (NC3Rs) e a Rede Nacional de</p><p>Métodos Alternativos (RENAMA).</p><p>4.3.2 Modelos animais de doença</p><p>Quando cumpridas todas as requisições éticas junto aos órgãos</p><p>competentes para uso de animais na experimentação com intuito de gerar um</p><p>novo fármaco, o farmacologista pode começar a organizar a prática e execução de</p><p>seus experimentos. Para tanto, precisa definir exatamente qual modelo irá usar</p><p>para testar o novo fármaco.</p><p>O que seria um “modelo animal de doença”? Veja, caro acadêmico, já vimos</p><p>que para realizar um teste farmacológico para análise do possível efeito biológico</p><p>de uma determinada molécula inovadora precisamos colocar esta molécula</p><p>a provas e comparações (princípios dos ensaios biológicos). Analisamos, até o</p><p>momento, metodologias in silico, que averiguam a probabilidade desta molécula</p><p>46</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>ligar-se virtualmente a um determinado alvo. Na sequência aprendemos a respeito</p><p>de modelos enzimáticos, in vitro, que buscam comprovar a atividade apresentada</p><p>in silico, e até modelos com cultura de células. No entanto, para que esta molécula</p><p>tenha seu efeito comprovado em células, definimos que a esta cultura de células</p><p>se faz necessário um estímulo inicial para simular uma resposta danosa, ao qual</p><p>o fármaco em questão seria útil para atenuar.</p><p>O mesmo princípio aplica-se em modelos in vivo, com utilização de</p><p>animais. A maioria dos animais utilizados com a finalidade de experimentação</p><p>não apresentam naturalmente as doenças que humanos apresentam, e, quando</p><p>apresentam, muitas vezes, a doença não se desenvolve de forma homogênea na</p><p>população analisada. Desta forma, faz-se necessária a indução da doença que está</p><p>sendo estudada no animal-teste, através de alguma metodologia padronizada.</p><p>Alguns autores inclusive acham o termo “modelo animal de doença” errôneo,</p><p>e acreditam que o mais correto seria empregar o termo “modelo humano de</p><p>doença”, uma vez que o intuito é mimetizar uma doença humana em algum</p><p>organismo vivo (FAGUNDES; TAHA, 2004).</p><p>Embora a doença em estudo não se desenvolva de forma natural no</p><p>animal, o modelo deve ser semelhante o suficiente à condição clínica estudada,</p><p>e ter capacidade o suficiente de ser manipulada (coletar amostras) sem as</p><p>limitações que a doença apresentaria. Em outras palavras, para que o modelo</p><p>animal seja de fato útil e de uso justificável, deve ser o mais simples possível</p><p>de ser executado, porém que carregue características biológicas que imitem da</p><p>forma mais fidedigna o possível a doença em estudo. Este modelo animal deve</p><p>atender aos seguintes pressupostos:</p><p>• Permitir o estudo das condições biológicas ou comportamentais do animal.</p><p>• Permitir que a condição patológica instaurada seja investigada de forma o</p><p>suficiente a gerar resultados robustos e reprodutíveis.</p><p>• Permitir que o fenômeno se aproxime ao máximo daquele encontrado no ser</p><p>humano.</p><p>Estes pressupostos são necessários, pois os resultados apresentados em</p><p>animais serão de alguma forma interpretados e, se possível, extrapolados para</p><p>humanos. Assim, na próxima fase do estudo, informações preciosas a respeito</p><p>de metabólitos gerados pelo organismo em contato com o fármaco, toxicidade e</p><p>efeitos colaterais já serão conhecidos pela equipe de pesquisadores (FAGUNDES;</p><p>TAHA, 2004).</p><p>Modelos animais vêm sendo desenvolvidos há mais de cento cinquenta</p><p>anos, não só para o estudo de fármacos, procedimentos cirúrgicos e demais terapias</p><p>aplicáveis, mas também para o entendimento de mecanismos fisiopatológicos</p><p>das doenças, seja das mais comuns até as mais raras. As primeiras utilizações</p><p>de animais para modelos experimentais datam de antes de Cristo (Quadro 2)</p><p>(ERICSSON; CRIM; FRANKLIN, 2013).</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>47</p><p>QUADRO 2 – PESQUISADORES E SEUS RESPECTIVOS ESTUDOS E DESCOBERTAR UTILIZANDO</p><p>MODELOS ANIMAIS NO DECORRER DOS ÚLTIMOS SÉCULOS</p><p>Ano Autores Estudo</p><p>Séc. VI a.C. Alcmeão de Crotona</p><p>Determinou que o cérebro é órgão res-</p><p>ponsável pela inteligência e integração</p><p>sensorial baseado em estudos utilizan-</p><p>do cães.</p><p>Séc. IV a.C. Aristóteles Estudou a embriogênese em pintinhos.</p><p>Séc. III a.C. Erasístrato</p><p>Estudou o sistema cardiovascular em</p><p>animais vivos e deduziu as funções de</p><p>bombeamento do coração.</p><p>Séc. II a.C. Galeno de Pérgamo</p><p>Estudou extensivamente o sistema</p><p>cardiovascular e a neuroanatomia em</p><p>animais vivos.</p><p>Séc. XII Ibn Zuhr</p><p>Aperfeiçoou procedimentos cirúrgicos</p><p>em animais que outrora foram utilizados</p><p>em humanos, como a traqueotomia.</p><p>Séc. XVII William Harvey</p><p>Estudou a anatomia de diversas</p><p>espécies de animais e forneceu descrição</p><p>detalhada das funções de diversos</p><p>sistemas, como o cardiovascular.</p><p>1902 William Castle Inicia a criação de camundongos para</p><p>estudos genéticos.</p><p>1909 Clearence Little</p><p>Inicia a criação de camundongos</p><p>consanguíneos para eliminar variações</p><p>genéticas.</p><p>1920 Frederick Banting Isolou a insulina canina e tratou cães</p><p>diabéticos com eficácia</p><p>1940 John Cade</p><p>Estudou o uso de sais de lítio como</p><p>anticonvulsivante em cobaias e usou</p><p>seus resultados para tratamentos de</p><p>depressão.</p><p>1976 Rudolf Jaenisch Desenvolveu o primeiro camundongo</p><p>transgênico.</p><p>48</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>1987 Capecchi, vans e</p><p>Smothies</p><p>Desenvolveram primeiros camundon-</p><p>gos “knock-out” (que não expressam um</p><p>determinado gene).</p><p>1997 Wilmut e Campbell Primeiro clone animal de uma célula</p><p>somática adulta, a ovelha Dolly.</p><p>FONTE: Adaptado de Ericsson, Crim e Franklin (2013)</p><p>Assim, com tanto conhecimento sólido adquirido nos últimos séculos, é</p><p>comum encontrar hoje protocolos sugeridos por diversos órgãos reguladores e</p><p>institutos de pesquisas para simular as mais variadas condições clínicas.</p><p>Um exemplo de pesquisa muito desenvolvida no Brasil é a respeito de abordagens</p><p>terapêuticas para a doença de Chagas. No site a seguir (FIOCRUZ), você pode observar</p><p>diferentes modelos animais empregados para pesquisa de novas condutas farmacológicas</p><p>em relação a esta doença. Link: http://chagas.fiocruz.br/modelos-experimentais/.</p><p>DICAS</p><p>A espécie mais utilizada hoje em laboratório para estudos in vivo é, sem</p><p>dúvidas,</p><p>o Mus musculus, conhecido como camundongo. Em grande parte, este</p><p>fato se dá pela facilidade de manuseio e baixo custo para manutenção em relação</p><p>ao biotério. Além disso, esta espécie apresenta similaridade filogenética aceitável</p><p>para grande parte das doenças expressas em humanos (Figura 12) (ERICSSON;</p><p>CRIM; FRANKLIN, 2013).</p><p>Na sequência, o Rattus norvegicus, os ratos, também são ainda bastante</p><p>utilizados. Embora apresentem um tamanho consideravelmente maior que os</p><p>camundongos, para algumas finalidades cirúrgicas esta diferença em estatura</p><p>pode ser necessária. Além disso, a similaridade filogenética é também adequada</p><p>(Figura 12) (ERICSSON; CRIM; FRANKLIN, 2013).</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>49</p><p>FIGURA 12 – MUS MUSCULUS E RATTUS NORVEGICUS, DUAS ESPÉCIES COMUMENTE</p><p>UTILIZADAS EM MODELOS ANIMAIS DE DOENÇA</p><p>FONTE: <http://bit.ly/2XknunL>. Acesso em: 22 jun. 2020.</p><p>É importante ressaltar que, tanto camundongos como ratos, apresentam</p><p>linhagens diferentes que podem ser adequadas para diferentes modelos. Por</p><p>exemplo, os camundongos (Mus musculus), são comumente utilizados em uma</p><p>das seguintes linhagens: Black-C57 (C57/BL6), Swiss ou Balb/C. Modelos de</p><p>pesquisa de câncer podem ser mais aplicáveis em linhagens C57/BL6, enquanto</p><p>modelos de asma alérgica irão ser mais facilmente padronizados em Balb/C.</p><p>Esta diferença de linhagens na mesma espécie serve também para ratos, e outras</p><p>mamíferos utilizados em experimentação animal (KRUISBEEK, 2001).</p><p>Outras espécies também são empregadas na experimentação animal.</p><p>Entre elas podemos citar porcos, cães, coelhos, gatos e símios. Uma espécie</p><p>que tem ganho atenção especial nos últimos anos na experimentação animal,</p><p>principalmente para análise toxicológica, são os peixes-zebra (Zebrafish), que</p><p>apresenta cerca de 70% de homologia genética com os seres humanos. Grandes</p><p>nomes da ciência acreditam que esta espécie pode substituir uma série de</p><p>experimentos conduzidos em mamíferos (Figura 13) (DAS et al., 2013).</p><p>FIGURA 13 – PEIXES-ZEBRA VÊM SENDO UTILIZADOS CADA VEZ MAIS COMO ANIMAIS EM</p><p>MODELOS DE EXPERIMENTAÇAO FARMACOLÓGICA E TOXICOLÓGICA</p><p>FONTE: <http://bit.ly/3nlj4HK>. Acesso em: 22 jun. 2020.</p><p>50</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>A partir do momento que uma molécula é desenvolvida para uma</p><p>determinada finalidade e passa com resultados satisfatórios pelos experimentos</p><p>preliminares, que justifiquem o uso de animais, é feita a decisão de qual modelo</p><p>será utilizado e a espécie. Por exemplo, o fármaco X apresentou resultados</p><p>satisfatórios in silico e in vitro (tanto em ensaios enzimáticos como em cultura de</p><p>células) para ação anti-inflamatória, e agora é hora de colocar este fármaco a prova</p><p>de um modelo biológico mais complexo – ou seja – in vivo. Para tanto, existe uma</p><p>infinidade de modelos inflamatórios em camundongos e ratos, desde os mais</p><p>específicos, como asma neutrofílica e doença e de Crohn, até os mais genéricos,</p><p>como um modelo de peritonite induzida. Para primeira análise é interessante</p><p>que seja feita uma abordagem mais genérica, assim, escolhemos um modelo de</p><p>peritonite induzida. Chamamos este modelo de mais genérico, pois apresenta</p><p>mediadores inflamatórios comuns a diversos fenômenos fisiopatológicos, não</p><p>somente a uma condição clínica específica. O modelo consiste em causar uma</p><p>inflamação no peritônio do camundongo através de um estímulo com um</p><p>determinado agente flogístico (substância capaz de causar a inflamação). Para</p><p>tanto, podemos utilizar uma série de substâncias que desencadearão o processo</p><p>inflamatório. Uma das mais utilizadas é o LPS. A partir do momento que o animal</p><p>recebe uma injeção intraperitoneal de LPS, as células do sistema imunológico</p><p>ali presentes irão iniciar uma resposta de defesa, tal qual em um processo</p><p>inflamatório causado por bactérias gram-negativas, com a expressão de enzimas,</p><p>citocinas e estresse oxidativo. Em algumas horas, o processo inflamatório chega</p><p>a seu pico, com grande concentração de mediadores inflamatórios, e em seguida</p><p>sofre a eutanásia. Na sequência, sua cavidade peritoneal é lavada com salina</p><p>estéril tamponada e, os mediadores inflamatórios ali presentes, serão coletados</p><p>neste lavado para posterior análise da expressão de mediadores inflamatórios.</p><p>Os parâmetros também podem ser analisados no sangue deste animal (DE</p><p>ALMEIDA; DORFLEUTNER; STEHLIK, 2016).</p><p>Ora, a partir da definição e conhecimento do modelo a ser utilizado, basta</p><p>que os grupos sejam separados de acordo com os princípios dos ensaios biológicos.</p><p>Antes de iniciar os experimentos, pode-se separar os grupos da seguinte forma:</p><p>• Grupo controle negativo: grupo de animais que recebera somente o agente</p><p>flogístico, sendo esperado o desfecho negativo, neste caso a inflamação.</p><p>• Grupo controle positivo: grupo de animais que recebera um tratamento</p><p>conhecidamente efetivo para inflamação, como o celecoxibe, sendo esperado</p><p>um desfecho positivo para comparação.</p><p>• Grupo experimental: grupo de animais que receberá o fármaco X para que</p><p>seja feita uma análise comparativa com os dados obtidos do grupo controle</p><p>negativo (se houve de fato uma melhora em relação à inflamação) e controle</p><p>positivo (se o fármaco apresenta efeito maior que um fármaco já padronizado).</p><p>É claro, caro acadêmico, que a experimentação e o desenho experimental</p><p>infelizmente não são tão simples assim. Vários outros fatores devem ser levados</p><p>em consideração para que o modelo animal seja aplicado. Cálculos estatísticos</p><p>devem ser empregados para definição de quantos animais devem compor cada</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>51</p><p>grupo e quantas doses devem ser testadas do fármaco em questão, uma extensa</p><p>pesquisa bibliográfica deve ser realizada para definir qual fármaco irá compor</p><p>o grupo controle positivo, os profissionais que irão realizar o modelo precisam</p><p>ser treinados e habilitados para administração de fármacos e manuseio animal,</p><p>entre tantos outros detalhes de extrema importância para que os resultados se-</p><p>jam robustos, reprodutíveis e acima de tudo, confiáveis. Além disso, é comum</p><p>que órgãos reguladores permitam que fármacos prossigam nas análises somente</p><p>quando apresentam resultados promissores em ao menos duas espécies de ani-</p><p>mais diferentes (um roedor e um não roedor). Afinal de contas, a próxima fase de</p><p>experimentação, se o fármaco apresentou resultados promissores até o momento,</p><p>é a fase de ensaios clínicos, com ensaios conduzidos diretamente em humanos.</p><p>Se você tem curiosidade de como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária</p><p>(ANVISA) regula estas metodologias de ensaio não clínicos (ou ensaios pré-clínicos), veja o</p><p>link a seguir para ter acesso ao GUIA PARA A CONDUÇÃO DE ESTUDOS NÃO CLÍNICOS DE</p><p>TOXICOLOGIA E SEGURANÇA FARMACOLÓGICA NECESSÁRIOS AO DESENVOLVIMENTO</p><p>DE MEDICAMENTOS. Link: https://bit.ly/3nqZsCa.</p><p>DICAS</p><p>5 ENSAIOS CLÍNICOS</p><p>Os ensaios clínicos são parte importante dos ensaios biológicos, afinal de</p><p>contas nestes ensaios empregam-se como objeto de pesquisa os humanos que,</p><p>muitas vezes, são a população para o qual o fármaco em desenvolvimento está</p><p>sendo estudado. Mesmo após o cumprimento de todas as etapas dos ensaios pré-</p><p>clínicos dentro do que a ética e a legislação preconizam, os ensaios clínicos precisam</p><p>também cumprir com estas questões. Na realidade, nesta fase dos estudos, o</p><p>fato de utilizar voluntários, sejam saudáveis ou apresentando alguma condição</p><p>clínica, levanta considerações éticas de grande importância e impõe uma série de</p><p>restrições. Todos os voluntários incluídos em algum ensaio clínico concordam</p><p>com o princípio do consentimento informado, através do qual o paciente recebe</p><p>informações precisas acerca da natureza e riscos atrelados ao ensaio. Os estudos</p><p>conduzidos em humanos seguem as regras estabelecidas pela “Declaração de</p><p>Helsinki” (RITTER et al., 2020; UMSCHEID; MARGOLIS; GROSSMAN, 2011).</p><p>O ensaio clínico busca comparar objetivamente os resultados terapêuticos</p><p>de um determinado fármaco em humanos, além de determinar doses terapêuticas</p><p>e tóxicas e margens de segurança. Para isto, o uso de controles é tão importante</p><p>como nas fases pré-clínicas. Por exemplo, em estudo clínico é aplicado comparando</p><p>52</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>um grupo de pacientes recebendo um novo tratamento (novo fármaco) para</p><p>uma condição clínica com outro grupo recebendo um tratamento padrão para</p><p>aquela condição. Esta comparação pode ser realizada também com um grupo não</p><p>recebendo nenhum tratamento, ou um tratamento placebo – intervenção inerte</p><p>que visa anular efeitos de expectativa do paciente sobre o tratamento (RITTER et</p><p>al., 2020; UMSCHEID; MARGOLIS; GROSSMAN, 2011).</p><p>É normal que pacientes que compõem o estudo clínico não saibam a qual</p><p>grupo pertencem, não tendo identificado se estão recebendo tratamento do novo</p><p>fármaco, padrão ou placebo. A este estudo chamamos “cego”. É comum também,</p><p>quando possível, que nem mesmo o próprio pesquisador saiba o tratamento</p><p>administrado ao paciente, com intuito de minimizar a tendenciosidade subjetiva</p><p>ainda mais. A esta técnica chamamos de “duplo-cego” – o pesquisador terá acesso</p><p>aos tratamentos somente ao final da fase de coleta de dados (RITTER et al., 2020;</p><p>UMSCHEID; MARGOLIS; GROSSMAN, 2011).</p><p>Estes grupos de pacientes que apresentam a condição clínica em análise são</p><p>distribuídos nos grupos de forma aleatória (randomizada), com intuito também</p><p>de evitar a tendenciosidade de resultados. A este ensaio clínico com grupos</p><p>controle distribuídos de forma aleatória chamamos de ensaio clínico controlado</p><p>randomizado (podendo ser ainda cego ou duplo-cego), e é considerado hoje</p><p>ferramenta indispensável para avaliação de novos fármacos (RITTER et al., 2020;</p><p>UMSCHEID; MARGOLIS; GROSSMAN, 2011).</p><p>De forma geral, estes ensaios são divididos em quatro fases distintas, que</p><p>cumprem objetivos diferentes (RITTER et al., 2020) (Figura 14). São elas:</p><p>• Estudos de fase I: são realizados geralmente em um pequeno grupo de</p><p>voluntários (não mais que 80). Geralmente compõem o grupo jovens saudáveis</p><p>do sexo masculino. O objetivo desta fase é identificar potenciais efeitos perigosos</p><p>do novo fármaco (grandes alterações em sistemas), sintomas desagradáveis</p><p>como cefaleia, náuseas ou sonolência e propriedades farmacocinéticas</p><p>preliminares como absorção do fármaco em diferentes situações e concentração</p><p>plasmática.</p><p>• Estudos de fase II: são realizados em amostragem populacional maior (de</p><p>100 a 300 pacientes). O objetivo é determinar os efeitos farmacodinâmicos nos</p><p>pacientes e, se confirmado, pré-estabelecer um regime de dosagem para ser</p><p>utilizado na próxima fase (fase III). É comum que esta fase dos estudos tenha</p><p>uma grande abrangência clínica, englobando diferentes condições patológicas</p><p>para identificar possíveis usos terapêuticos para novo composto (por exemplo,</p><p>depressão, ansiedade e fobias). É nesta fase que os resultados referentes à</p><p>hipótese inicial do estudo começam a aparecer e, caso o efeito esperado não se</p><p>concretize, as análises podem ser interrompidas.</p><p>• Estudos de fase III: são os ensaios clínicos definitivos (randomizados e duplo-</p><p>cegos), realizados geralmente em diferentes centros de pesquisa espalhados</p><p>pelo mundo em milhares de pacientes. O objetivo é comparar novo fármaco</p><p>com os comumente utilizados para a condição clínica em análise. Estes estudos</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>53</p><p>são extremamente dispendiosos, exigem um esforço organizacional enorme</p><p>e levam vários anos para que sejam concluídos. É comum que fármacos que</p><p>apresentem resultados muito promissores nas fases anteriores cheguem, neste</p><p>momento da pesquisa e apresentem resultados aquém do esperado, uma vez</p><p>que as condições experimentais e variáveis analisadas neste momento são</p><p>consideravelmente mais rigorosas.</p><p>• Estudos de fase IV: nesta fase é realizado o acompanhamento pós</p><p>comercialização (sempre obrigatório). O objetivo é identificar efeitos adversos</p><p>raros e relacionados ao longo prazo que são resultado do uso do novo fármaco</p><p>em cenário clínico com milhares de pacientes. Os eventos relatados ainda na</p><p>fase IV podem limitar o uso de fármacos a grupos específicos de pacientes, ou</p><p>mesmo suspender o uso desta substância.</p><p>FIGURA 14 – AS DIFERENTES FASES REFERENTES A UM ENSAIO CLÍNICO PARA</p><p>DESENVOLVIMENTO DE UM NOVO MEDICAMENTO</p><p>FONTE: O autor (2020)</p><p>Veja o breve vídeo no link a seguir para entender de forma resumida a história</p><p>e aplicação dos ensaios clínicos: https://www.youtube.com/watch?v=6KkJQZ0Qyv8.</p><p>DICAS</p><p>54</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>FARMACOECONOMIA DEFINE O TRATAMENTO?</p><p>Considerada uma ciência nova, a farmacoeconomia está baseada na</p><p>economia da saúde – especialidade surgida nos países desenvolvidos no período</p><p>pós-guerra, como uma estratégia para melhorar a eficiência dos gastos no sistema</p><p>de saúde. Ela pode ser definida como sendo a descrição e a análise dos custos da</p><p>terapia farmacêutica para os sistemas de assistência à saúde e para a sociedade.</p><p>A atividade identifica, mede e compara os custos e consequências de produtos e</p><p>serviços farmacêuticos.</p><p>De acordo com o diretor de Acesso da Associação da Indústria</p><p>Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Pedro Bernardo, a farmacoeconomia</p><p>consiste no desenvolvimento de ferramentas para a tomada de decisões: “Os</p><p>gestores de saúde, quando estão gerindo recursos, precisam decidir em quais</p><p>tratamentos investir. A farmacoeconomia combina as evidências científicas e os</p><p>benefícios que as tecnologias proporcionam com o custo que elas geram. Com</p><p>isso, podemos comparar as escolhas”.</p><p>A farmacoeconomia representa um valioso instrumento que envolve</p><p>avaliação e direcionamento de investimentos baseados numa distribuição</p><p>mais racional de recursos. Isso permite aos profissionais da saúde a chance de</p><p>conciliar as necessidades terapêuticas com possibilidades de custeio individual,</p><p>seja das empresas provedoras de serviços ou de sistemas de saúde. “Isso tem</p><p>permitido incorporar um novo critério – o econômico – na escolha de alternativas</p><p>terapêuticas”, fala o professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da</p><p>Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador do Instituto</p><p>de Avaliação de Tecnologia em Saúde da UFRGS, Giácomo Balbinotto Neto.</p><p>Ele explica que a função da farmacoeconomia é identificar, medir e valorizar</p><p>os custos e consequências das alternativas terapêuticas partindo do juízo de valor</p><p>de que os recursos devem ser preferencialmente utilizados na produção de bens</p><p>e serviços que geram maiores ganhos de saúde, em relação aos seus respectivos</p><p>custos, observando, deste modo, o princípio normativo da eficiência econômica.</p><p>“A importância dos estudos nessa área provém não de justificativas acadêmicas</p><p>ou políticas, mas da constatação de que os gastos com saúde vêm crescendo em</p><p>ritmo acelerado”, destaca ele.</p><p>O campo de pesquisa de farmacoeconomia está em evolução e torna-</p><p>se cada vez mais necessário na avaliação de tecnologias em saúde. O objetivo</p><p>de uma avaliação econômica não dever ser cortar custos, mas usar os recursos</p><p>escassos de forma mais eficiente para melhorar a qualidade no cuidado à saúde</p><p>da população. Neste sentido a farmaconomia é um instrumento indispensável a</p><p>todos os profissionais envolvidos na área da saúde.</p><p>55</p><p>Tomada de decisões</p><p>Para Bernardo, existem diversas ferramentas usadas como referência</p><p>para a tomada de decisões, como a custo-minimização, custo-efetividade,</p><p>custo-utilidade, custo-benefício, entre outras. “Precisamos desses estudos</p><p>para responder a perguntas que são complicadas. Existem situações em que a</p><p>tecnologia gera um benefício ligeiramente maior, mas o custo é muito mais alto.</p><p>Como se toma uma decisão com relação a isso?”, indaga ele.</p><p>O princípio básico é unir estudos, pesquisas clínicas e demais evidências</p><p>disponíveis com os custos. O custo é numérico e mais simples de comparar. Já os</p><p>benefícios requerem outros critérios, como a sobrevida sem progressão da doença,</p><p>por exemplo. É preciso eleger parâmetros. Os médicos, por meio</p><p>de questionários,</p><p>conseguem mensurar o benefício de uma terapia ao paciente. Existem diversos</p><p>modelos para isso. E, assim, chega-se a parâmetros que ajudam a tomar decisões.</p><p>Muitas coisas pesam, entre elas o fato de a doença ser crônica ou</p><p>contagiosa. Isso implica em avaliações diferentes. “Uma doença contagiosa, por</p><p>exemplo, não representa risco apenas para a pessoa contaminada, mas para as</p><p>pessoas que possam ter contato com ela. É o caso do ebola. Quanto vale tratar o</p><p>ebola? É preciso pensar no tamanho do problema, nos danos que uma epidemia</p><p>possa provocar”, provoca Bernardo.</p><p>Já Balbinotto enfatiza que a indústria farmacêutica é um dos setores</p><p>da sociedade que mais tem incorporado os estudos farmacoeconômicos como</p><p>suporte nas decisões de investigar e desenvolver novos medicamentos. Eles</p><p>ajudam na definição de estratégias de marketing, auxiliam na definição de preços,</p><p>na inclusão de medicamentos em formulários e recomendações terapêuticas junto</p><p>ao Ministério da Saúde ou agências de vigilância sanitária.</p><p>“Outra finalidade desses estudos é auxiliar as comissões de farmácia e</p><p>terapêutica existentes nos serviços públicos e hospitais na decisão de incorporar</p><p>medicamentos nos guias farmacoterápicos”, comenta ele. Essas comissões são</p><p>responsáveis pela elaboração e manutenção atualizada de guias de medicamentos.</p><p>A aplicação clínica dos estudos farmacoeconômicos pode, também,</p><p>beneficiar pacientes, profissionais envolvidos na assistência e à sociedade como</p><p>um todo, incrementando a qualidade da assistência prestada e racionalizando</p><p>os recursos. “Os planos de saúde têm aplicado os estudos farmacoeconômicos</p><p>na prática de gerenciamento da doença, que significa estudar quais as doenças</p><p>crônicas e opções de tratamento que permitem aumentar a sobrevida e reduzir os</p><p>custos globais”, diz Balbinotto.</p><p>Ética</p><p>A questão que não quer calar: é ético utilizar o critério econômico na</p><p>escolha de alternativas terapêuticas? “Toda escolha tem embutida uma renúncia.</p><p>Por mais que se pense se é certo fazê-la, é preciso fazer escolhas; e não apenas na</p><p>56</p><p>área de saúde. Para isso, são necessários critérios. Saúde é uma área de muitas</p><p>incertezas, por isso procuramos evidências científicas para diminuir ao máximo</p><p>o grau de incertezas”, defende Bernardo.</p><p>Para ele não existe mágica. Só se pode fazer aquilo que os recursos</p><p>permitem. Não basta querer fazer mais. Na gestão de um hospital, por exemplo,</p><p>é preciso conhecer o recurso disponível para administrá-lo e, com isso, otimizar</p><p>esse valor. A farmacoeconomia ajuda na tomada de decisões deste tipo.</p><p>“Se isso é ético? Eu acredito que sim. Porque buscamos a melhor maneira</p><p>de usar o recurso que está à mão. Procuramos tratar mais pessoas, curar mais</p><p>doenças e resolver mais problemas com o recurso disponível”, pondera o diretor.</p><p>Para ele, a farmacoeconomia reúne ferramentas para a tomada de decisões</p><p>que sejam benéficas à sociedade. Por isso, pode-se associar esta ciência a uma</p><p>melhor gestão da saúde, em que mais pessoas recebam melhores terapias.</p><p>As soluções que a farmacoeconomia promove</p><p>A ciência e as ferramentas da farmacoeconomia ajudam o gestor a</p><p>responder perguntas fundamentais, como:</p><p>• Qual a melhor droga para um determinado paciente?</p><p>• Qual a melhor droga para uma indústria farmacêutica desenvolver ou para um</p><p>país investir?</p><p>• Quais drogas devem ser incluídas num protocolo médico?</p><p>• Qual o custo por qualidade de vida por uma droga?</p><p>• A qualidade de vida do paciente irá sofrer uma melhoria pela adoção de uma</p><p>determinada terapia?</p><p>• Quais são os resultados para o paciente das várias modalidades de tratamento?</p><p>FONTE: <https://www.ictq.com.br/industria-farmaceutica/268-farmacoeconomia-define-o-</p><p>tratamento>. Aceso em: 16 jun. 2020.</p><p>57</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem</p><p>pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao</p><p>AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.</p><p>CHAMADA</p><p>• O lançamento de uma molécula com potencial efeito biológico no mercado</p><p>leva tempo e é extremamente criteriosa. De forma geral, geralmente podemos</p><p>dividir este desenvolvimento conforme a seguir:</p><p>○ Fase de desenvolvimento da molécula: através de testes in silico empregando</p><p>um alvo específico e moléculas inovadoras busca-se acessar a probabilidade</p><p>de ligação (alvo e molécula) e potencial efeito biológico.</p><p>○ Fase pré-clínica: fase em que são conduzidos experimentos em matrizes</p><p>biológicas e antecedem os estudos clínicos. Tem como objetivo gerar dados</p><p>de segurança e eficácia preliminares antes de testes serem conduzidos em</p><p>humanos. Geralmente são:</p><p>▪ Testes in vitro: ensaios enzimáticos ou em culturas celulares;</p><p>▪ Testes in vivo: conduzidos em animais.</p><p>○ Fase clínica: ensaios biológicos conduzidos em humanos que, através da</p><p>divisão em quatro fases distintas (I, II, III e IV), busca definir a margem de</p><p>segurança para uso do fármaco em teste, além de relatar possíveis eventos</p><p>adversos ao futuro medicamento.</p><p>58</p><p>1 O processo de descoberta de um novo fármaco é longo e, hoje em dia, conta</p><p>com diversas formas de conduzir os estudos. A evolução, nesta ciência,</p><p>possibilitou que a tecnologia coopere para que o processo de geração de</p><p>um medicamento seja otimizado e acelerado. Levando em consideração a</p><p>condução dos estudos para geração de moléculas inovadoras com potencial</p><p>efeito farmacológico, o que são e para que servem os estudos in silico na</p><p>farmacologia?</p><p>a) ( ) Estudos conduzidos em órgãos sintéticos, muitas vezes adquiridos</p><p>através da impressão 3D de biotecidos, para acessar o efeito</p><p>farmacológico de uma determinada substância.</p><p>b) ( ) Ensaios conduzidos em animais de laboratório que tem como objetivo</p><p>observar os efeitos tóxicos das substâncias em análise.</p><p>c) ( ) Ensaios que empregam células de linhagem continua para analisar a</p><p>ação de um fármaco frente a um ou mais alvos específicos.</p><p>d) ( ) Estudos que utilizam como plataformas analíticas softwares para</p><p>predição do comportamento de moléculas frente a alvos terapêuticos.</p><p>e) ( ) Testes realizados em humanos, mas que empregam softwares para</p><p>fazer levantamento de dados estatísticos e extrapolar os dados para</p><p>grandes populações.</p><p>2 É comum que os ensaios farmacológicos sejam divididos em fases pré-</p><p>clínicas e fases clínicas. Isto ocorre para evitar que riscos inerentes ao uso</p><p>de substâncias desconhecidas sejam expostos a grandes populações, com</p><p>consequências que poderiam ser catastróficas e irreversíveis. Sobre os</p><p>ensaios que pertencem à fase pré-clínica, analise as afirmativas a seguir:</p><p>I- Testes para análise de possíveis efeitos agudos danosos, como constrição</p><p>brônquica, disritmias cardíacas ou grandes alterações da pressão</p><p>sanguínea.</p><p>II- Testes preliminares relacionados à toxicidade do fármaco, principalmente,</p><p>a genotoxicidade e a determinação da dose não tóxica máxima.</p><p>III- Testes de farmacocinética, incluindo aqui estudos a respeito de como</p><p>este fármaco é absorvido, distribuído, biotransformado e eliminado</p><p>pelo organismo e se gera algum metabólito ativo ou tóxico que possa de</p><p>alguma forma modificar seu efeito inicial.</p><p>IV- Desenvolvimento químico para análise da viabilidade em larga escala da</p><p>extração ou síntese, além da purificação e estabilidade do fármaco.</p><p>Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>59</p><p>a) ( ) Somente a afirmativa III está correta.</p><p>b) ( ) Somente a afirmativa IV está correta.</p><p>c) ( ) Somente a afirmativa I está correta.</p><p>d) ( ) Somente a afirmativa II está correta.</p><p>e) ( ) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas.</p><p>3 Embora os estudos farmacológicos pré-clínicos sejam necessários para que</p><p>ensaios clínicos sejam futuramente realizados, todos apresentam certas</p><p>limitações inerentes à metodologia empregada. Quais as limitações que um</p><p>experimento conduzido em células pode apresentar quando comparado a</p><p>um ensaio in vivo?</p><p>4 Nas fases que antecedem a pesquisa clínica de uma nova molécula com</p><p>provável efeito biológico encontramos</p><p>diversas ferramentas e formas de</p><p>se obter resultados que indicam qual a próxima conduta a ser tomada na</p><p>jornada da pesquisa. Assim, defina as diferenças entre ensaios in silico, in</p><p>vitro e in vivo.</p><p>5 Ensaios clínicos são aqueles que irão definir se um fármaco irá ou não se</p><p>tornar um medicamento. É comum, nesta fase, devido à rigorosidade dos</p><p>testes conduzidos, que muitas moléculas promissoras nas fases pré-clínicas</p><p>sejam descartadas pela indústria farmacêutica. Qual é a população alvo e as</p><p>fases de um ensaio clínico?</p><p>60</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ANEESH, T. P. Pharmacogenomics: The Right Drug to the Right Person. 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Cambridge: Cambridge</p><p>University Press, 1996. p. 246–277.</p><p>63</p><p>UNIDADE 2 —</p><p>CONCEITOS GERAIS DE</p><p>FARMACOLOGIA</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• descrever conceitos gerais necessários para o estudo futuro de fármacos</p><p>específicos aplicados a sistemas biológicos;</p><p>• definir os principais conceitos de farmacocinética, aplicando cada fase</p><p>relacionada a este estudo, desde a fase de administração do fármaco até</p><p>sua completa eliminação do organismo;</p><p>• identificar os principais alvos utilizados para ação de fármacos,</p><p>relacionando conhecimentos adquiridos na Unidade 1;</p><p>• compreender a farmacodinâmica e suas principais características, como</p><p>interações farmacológicas entre alvos e fármacos e alguns conceitos</p><p>aplicados à farmacoterapia.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,</p><p>você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo</p><p>apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>TÓPICO 2 – ALVOS PARA AÇÃO DE FÁRMACOS</p><p>TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>64</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos</p><p>em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá</p><p>melhor as informações.</p><p>CHAMADA</p><p>65</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Prezado acadêmico! Até o momento estudamos o que é a farmacologia,</p><p>um pouco de sua história, algumas áreas de atuação e algumas ferramentas</p><p>utilizadas para descobrir novas moléculas com potencial efeito biológico, que</p><p>podem vir a se tornar novos medicamentos.</p><p>Neste primeiro tópico, nós vamos focar nossos conhecimentos na</p><p>farmacocinética. Como abordamos rapidamente na primeira unidade deste</p><p>22</p><p>10 FARMACOEPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................... 23</p><p>11 FARMACOECONOMIA ................................................................................................................ 23</p><p>12 FARMACOGENÔMICA ................................................................................................................ 23</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 24</p><p>AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 26</p><p>TÓPICO 3 — DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS .............................................. 29</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 29</p><p>2 FERRAMENTAS FARMACOLÓGICAS – O CAMINHO PARA UM NOVO FÁRMACO ....... 30</p><p>3 ENSAIOS IN SILICO – ALVOS VS COMPOSTOS .................................................................... 31</p><p>4 ENSAIOS PRÉ-CLÍNICOS .............................................................................................................. 34</p><p>4.1 PRINCÍPIOS GERAIS DOS ENSAIOS BIOLÓGICOS ............................................................. 35</p><p>4.2 ENSAIOS IN VITRO – ENZIMAS E CÉLULAS........................................................................ 37</p><p>4.2.1 Ensaios enzimáticos ............................................................................................................. 38</p><p>4.2.2 Ensaios em cultura de células .......................................................................................... 39</p><p>4.3 ENSAIOS IN VIVO - ÉTICA E MODELOS ANIMAIS DE DOENÇA ................................... 43</p><p>4.3.1 A Ética no uso de animais para experimentação ........................................................... 43</p><p>4.3.2 Modelos animais de doença ............................................................................................... 45</p><p>5 ENSAIOS CLÍNICOS ....................................................................................................................... 51</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 54</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 57</p><p>AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 58</p><p>REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 60</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA ................................................. 63</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA ............................................... 65</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 65</p><p>2 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO ........................................................................................................ 67</p><p>2.1 VIA ORAL ...................................................................................................................................... 68</p><p>2.2 MUCOSA ORAL (SUBLINGUAL E BUCAL) ........................................................................... 69</p><p>2.3 VIA RETAL .................................................................................................................................... 69</p><p>2.4 APLICAÇÃO EM SUPERFÍCIES EPITELIAIS.......................................................................... 70</p><p>2.4.1 Administração cutânea ....................................................................................................... 70</p><p>2.4.2 Colírios .................................................................................................................................. 70</p><p>2.4.3 Via nasal ................................................................................................................................ 71</p><p>2.4.4 Inalação ................................................................................................................................. 71</p><p>2.5 INJETÁVEL .................................................................................................................................... 72</p><p>2.5.1 Subcutânea ............................................................................................................................ 72</p><p>2.5.2 Intramuscular ....................................................................................................................... 72</p><p>2.5.3 Intravenosa ........................................................................................................................... 73</p><p>2.5.4 Intratecal ............................................................................................................................... 73</p><p>3 ABSORÇÃO ........................................................................................................................................ 74</p><p>3.1 MECANISMOS DE ABSORÇÃO................................................................................................ 74</p><p>3.1.1 Difusão .................................................................................................................................. 75</p><p>3.1.2 Transporte ativo ................................................................................................................... 75</p><p>3.1.3 Endocitose ............................................................................................................................. 75</p><p>3.2 FATORES QUE INFLUENCIAM NA ABSORÇÃO ................................................................. 76</p><p>3.2.1 Potencial Hidrogeniônico (pH) .......................................................................................... 76</p><p>3.2.2 Fluxo sanguíneo, superfície e tempo de contato ............................................................ 77</p><p>3.2.3 Expressão de glicoproteína P ............................................................................................. 78</p><p>3.3 BIODISPONIBILIDADE E BIOEQUIVALÊNCIA .................................................................... 78</p><p>4 DISTRIBUIÇÃO ................................................................................................................................ 79</p><p>5 BIOTRASNFORMAÇÃO (METABOLISMO) ............................................................................. 81</p><p>5.1 REAÇÕES DE FASE I ................................................................................................................... 82</p><p>5.2 REAÇÕES DE FASE II .................................................................................................................. 84</p><p>6 EXCREÇÃO E ELIMINAÇÃO ......................................................................................................... 84</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 88</p><p>AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89</p><p>TÓPICO 2 — ALVOS PARA AÇÃO DE FÁRMACOS .................................................................. 91</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 91</p><p>2 PRINCIPAIS ALVOS FARMACOLÓGICOS ............................................................................... 91</p><p>2.1 RECEPTORES ................................................................................................................................ 92</p><p>2.1.1 Receptores ionotrópicos ......................................................................................................</p><p>livro, definimos a farmacocinética como o estudo do movimento dos fármacos dentro</p><p>dos compartimentos corpóreos, uma vez que o corpo em questão foi exposto a estes. Em</p><p>termos simples, a farmacocinética compreende o estudo de como o organismo</p><p>interage com o fármaco, ou seja, os mecanismos pelos quais o corpo absorve,</p><p>distribui, transforma e, finalmente, elimina o fármaco. Ora, os organismos vivos</p><p>costumam absorver micro e macronutrientes (carboidratos, lipídeos, proteínas,</p><p>entre outros) com o intuito de gerar energia ou, de alguma forma, participar</p><p>de funções estruturais e/ou regulatórias. Isso ocorre, pois estes nutrientes</p><p>possuem características químicas específicas que fazem com que organismos</p><p>vivos reconheçam e interajam com essas moléculas para essas finalidades. Os</p><p>fármacos, muitas vezes, não apresentam características químicas que os tornam</p><p>passíveis de serem transformados em energia ou componentes estruturais, assim,</p><p>o objetivo do organismo uma vez que entra em contato com tais substâncias são</p><p>prontamente eliminados de circulação.</p><p>Classicamente, a farmacocinética é definida através de um acrônimo,</p><p>ADME, descrito pela primeira vez por Nelson (1961) (Figura 1). Este acrônimo,</p><p>utilizado ainda hoje, descreve os seguintes fenômenos (RANG et al., 2020):</p><p>• Absorção (A): a entrada do fármaco no corpo, por quais locais ele será absorvido</p><p>e quais características químicas da substância e fisiológicas do organismo que</p><p>irão influenciar neste fenômeno.</p><p>• Distribuição (D): o movimento que este fármaco irá realizar no corpo, quais</p><p>compartimentos irá conseguir acessar, a depender de suas características</p><p>físico-químicas.</p><p>• Metabolismo (M): também chamado de biotransformação, são as transforma-</p><p>ções químicas que o organismo irá impor à molécula do fármaco, através de</p><p>sistemas enzimáticos, para que ela possa ser eliminada através de algum fluido.</p><p>TÓPICO 1 —</p><p>PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>66</p><p>• Eliminação (E): também referida como excreção (veremos a diferença adiante).</p><p>A fase eliminação propriamente dita do fármaco do corpo, por quais vias será</p><p>excretado e de que forma isso pode influenciar na sua finalidade clínica.</p><p>FIGURA 1 – ADME: OS FENÔMENOS QUE COMPÕEM O ESTUDO DA FARMACOCINÉTICA</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>Atualmente, caro acadêmico, discute-se o uso de outro acrônimo para definição</p><p>da farmacocinética, que seria capaz de expressar melhor as relações da fração ativa do</p><p>fármaco no organismo com o tempo. Este acrônimo é ABCD, sendo A para administração,</p><p>B para biodisponibilidade, C para clearence (do inglês, no sentido de remoção) e D para</p><p>distribuição. Este sistema descritivo da farmacocinética está aos poucos sendo introduzido</p><p>e leva em consideração fatores de grande importância, como aderência do paciente ao</p><p>tratamento, rota de administração, metabolismo de primeira passagem, entre outros fatores</p><p>(DOOGUE; POLASEK, 2013).</p><p>INTERESSANTE</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>67</p><p>Nas próximas páginas, nós vamos entender cada um destes fenômenos</p><p>que compõem o acrônimo ADME, por quais características físico-químicas dos</p><p>fármacos são influenciadas, condições clínicas que podem alterar rotas, quais</p><p>enzimas medeiam os produtos do metabolismo/biotransformação, entre outros.</p><p>Para tal, vamos iniciar apresentando as vias de administração de fármacos mais</p><p>comuns e suas características.</p><p>2 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO</p><p>Como discutimos, caro acadêmico, o primeiro fenômeno que compõe</p><p>o acrônimo ADME (que separa didaticamente as fases da farmacocinética) é a</p><p>absorção. A absorção, por definição, é a passagem do fármaco em questão do</p><p>seu local de administração para o plasma. Diferentes vias de administração</p><p>irão acarretar diferentes níveis de absorção pelo organismo. Existem vias de</p><p>administração onde a absorção é completa, como a via intravenosa (onde o</p><p>fármaco é administrado diretamente na circulação sanguínea do paciente),</p><p>e outras onde o fármaco irá agir localmente sem nem ao menos ser absorvido</p><p>pela circulação sanguínea, como é o caso de pomadas para tratar processos</p><p>inflamatórios ou infecciosos. Ora, como diferentes abordagens terapêuticas</p><p>apresentam finalidades específicas, é comum então que existem várias vias de</p><p>administração, com intuito de modular a quantidade de fármaco que deve ser</p><p>absorvido pelo organismo e, por consequência, exercer seus efeitos terapêuticos.</p><p>Além disso, alguns fármacos apresentam características físico-químicas que</p><p>tornam impossível o uso de algumas vias de administração (RANG et al., 2020).</p><p>A seguir, vamos comentar, brevemente, as principais vias de absorção e algumas</p><p>de suas características.</p><p>É comum, caro acadêmico, que as vias de administração também sejam</p><p>classificadas em dois grupos distintos: enteral e parenteral. A via de administração enteral</p><p>(do grego enteron – intestino) diz respeito a fármacos (ou qualquer outra terapia, como</p><p>uma dieta), que são administrados via trato digestivo, passando pelo intestino de forma</p><p>natural, ou sonda. Ao passo que, a via parenteral é qualquer outra forma de administração</p><p>onde o fármaco será absorvido sistemicamente, porém sem passar pelo trato digestivo,</p><p>como no caso de injeções intramusculares ou adesivos transdérmicos.</p><p>IMPORTANTE</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>68</p><p>2.1 VIA ORAL</p><p>Pela conveniência e facilidade que apresenta, a via oral costuma ser</p><p>a de primeira escolha para administração de fármacos. Esta via não apresenta</p><p>grande desafio ao paciente, uma vez que basta ingerir o medicamento no horário</p><p>correto conforme a prescrição médica. Se compararmos com uma administração</p><p>subcutânea, na qual o paciente precisa utilizar material estéril, fazer a assepsia do</p><p>local onde irá administrar o medicamento e realizar um procedimento invasivo,</p><p>fica claro o motivo da preferência da via oral sempre que possível (RANG et al.,</p><p>2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Fármacos administrados por esta via serão absorvidos majoritariamente</p><p>pelo intestino delgado, embora possam apresentar absorção em menor grau</p><p>ao longo de todo aparelho gastrointestinal (a depender das características</p><p>moleculares do fármaco). Uma vez absorvidos por estes tecidos, os fármacos</p><p>atravessam diversas membranas biológicas para que possam alcançar o sistema</p><p>circulatório portal hepático. A partir daí estas moléculas serão processadas pelas</p><p>enzimas presentes nas membranas do sistema gastrointestinal e principalmente</p><p>pelo fígado antes que sejam distribuídas pelo organismo. A este processamento</p><p>inicial que os fármacos sofrem quando entram em contato com as enzimas do</p><p>aparelho gastrointestinal e hepático antes de serem distribuídos chamamos de</p><p>metabolismo de primeira passagem (Figura 2). Este fenômeno transforma as</p><p>moléculas dos fármacos com intuito de torná-las passíveis de eliminação/excreção.</p><p>No entanto, este processo de biotransformação acaba, muitas vezes, limitando a</p><p>eficácia dos fármacos, pois diminui significativamente a fração ativa do fármaco a</p><p>ser distribuído (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>O termo biodisponibilidade diz respeito justamente a essa fração ativa</p><p>do fármaco que é distribuída pelo corpo. Veja, caro acadêmico, que embora a</p><p>via oral apresente vantagens que facilitam a adesão do paciente ao tratamento,</p><p>pelo fato de apresentar metabolismo de primeira passagem acaba apresentando</p><p>uma diminuição considerável na biodisponibilidade dos fármacos administrados</p><p>(RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>FIGURA 2 – A VIA DE ADMINISTRAÇÃO ORAL E O METABOLISMO DE PRIMEIRA PASSAGEM</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>69</p><p>2.2 MUCOSA ORAL (SUBLINGUAL E BUCAL)</p><p>A administração pela mucosa oral pode ser realizada pela via sublingual</p><p>ou bucal, e em ambas o fármaco deve ser solúvel na saliva. Na administração</p><p>sublingual, o medicamento é colocado sob a língua do paciente para ser</p><p>absorvido, já na via bucal o medicamento é colocado em contato com</p><p>a mucosa</p><p>das bochechas e gengivais do paciente (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>Esta via é comumente utilizada quando o fármaco a ser administrado é</p><p>instável no pH estomacal ou rapidamente metabolizado pelo fígado, diminuindo</p><p>muito sua eficácia. Os fármacos absorvidos pela mucosa oral passam diretamente</p><p>para a circulação sistêmica, desviando então do metabolismo de primeira</p><p>passagem e apresentando seus efeitos farmacológicos rapidamente, sendo esta</p><p>então uma grande vantagem desta via de administração (RANG et al., 2020;</p><p>WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Medicamentos para condições cardíacas, que necessitam de uma rápida</p><p>absorção, são empregados pela via sublingual. Por exemplo, em alguns casos de suspeita</p><p>de infarto agudo do miocárdio ou insuficiência, o paciente pode receber nitroglicerina na</p><p>forma de comprimido ou spray sublingual. O dinitrato de isossorbida também é administrado</p><p>por via sublingual, e é indicado para a profilaxia e tratamento das crises de angina de peito.</p><p>INTERESSANTE</p><p>2.3 VIA RETAL</p><p>Embora esta via de administração não seja muito utilizada, devido a sua</p><p>baixa popularidade, a via retal apresenta algumas vantagens tais quais a via de</p><p>absorção oral. O contato com pH estomacal e enzimas presentes nas porções</p><p>superiores do sistema gastrointestinal é desviado nesta via, além de desviar em</p><p>parte também o metabolismo de primeira passagem e apresentar efeitos mais</p><p>rápidos quando comparados a via oral (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>Além disso, a via retal pode ser utilizada tanto para causar efeitos locais</p><p>como sistêmicos, através do uso de supositórios ou enemas. Em pacientes que</p><p>apresentam êmese constante, ou estejam de alguma forma impedidos de receber</p><p>o medicamento pela boca (oral ou bucal) esta via pode ser uma alternativa para</p><p>administração (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>70</p><p>2.4 APLICAÇÃO EM SUPERFÍCIES EPITELIAIS</p><p>Uma série de fármacos pode ser administrada diretamente em superfícies</p><p>epiteliais. Em algumas situações o intuito é realizar um tratamento medicamentoso</p><p>local, ao passo que, em outras, a administração em superfícies epiteliais tem como</p><p>objetivo alcançar a circulação sistêmica (como no caso de adesivo transdérmicos).</p><p>Vejamos a seguir algumas dessas vias de administração.</p><p>2.4.1 Administração cutânea</p><p>A administração cutânea é, na maior parte das vezes, utilizada quando</p><p>se busca um efeito local do fármaco. Por exemplo, fármacos anti-inflamatórios</p><p>tópicos para contusões ou antibióticos tópicos para infecções cutâneas, nas</p><p>apresentações de cremes, pomadas, emplastros, entre outros (RANG et al., 2020;</p><p>WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Ainda assim, é cada vez mais comum o uso de medicamentos com</p><p>apresentações transdérmicas, no qual um adesivo é funcionalizado como</p><p>fármaco em questão e, quando em contato com a pele, o fármaco é absorvido</p><p>sistemicamente. É o caso de hormônios como estrógeno e testosterona</p><p>para tratamento de reposição hormonal. A vantagem destes adesivos é a</p><p>estabilidade da liberação do fármaco, evitando metabolismo pré-sistêmico.</p><p>No entanto, este tipo de apresentação ainda é relativamente caro e, talvez por</p><p>este motivo, não tão comum ainda (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>2.4.2 Colírios</p><p>Colírios são formas farmacêuticas específicas para administração local</p><p>na mucosa ocular. A vantagem desta via de administração reside justamente</p><p>neste fato, pois existe uma série de condições clínicas relacionadas a esta</p><p>mucosa. A partir do momento que via de administração é uma alternativa</p><p>viável para sanar a condição local sem apresentar efeitos colaterais sistêmicos,</p><p>seu uso é imprescindível. Todavia, em alguns casos, fração do fármaco pode ser</p><p>absorvido e apresentar efeitos sistêmicos (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>71</p><p>Embora seja uma forma farmacêutica bastante difundida e utilizada, os colírios</p><p>exigem cuidado na sua utilização para evitar danos à mucosa ocular. Alguns destes cuidados</p><p>normalmente negligenciados pelos pacientes: são lavar bem as mãos antes e depois de</p><p>aplicar qualquer medicamento aos olhos; seguir as instruções previstas na prescrição</p><p>médica; retirar as lentes de contato antes da administração; pingar a solução gota a gota</p><p>e nunca encostar o aplicador na mucosa ocular (CBO, 2020). A maioria dos pacientes</p><p>encosta o aplicador nos olhos o que pode tornar a solução do colírio que, incialmente era</p><p>estéril, uma solução contaminada e passível de gerar lesões oculares.</p><p>IMPORTANTE</p><p>2.4.3 Via nasal</p><p>A via de administração tem como finalidade efeitos locais, através da</p><p>administração de medicamentos na forma de gotas, sprays ou aerossóis. Em sua</p><p>maioria, para efeitos locais, estes medicamentos são vasoconstritores, anestésicos</p><p>locais ou anti-inflamatórios. No entanto, alguns hormônios peptídicos, como os</p><p>hormônios diurético e o liberador de gonadotrofina, podem ser aplicados com</p><p>intuito de absorção sistêmica através de sprays nasais. Neste caso, a absorção</p><p>ocorre através da mucosa que recobre o tecido linfoide nasal (RANG et al., 2020;</p><p>WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>2.4.4 Inalação</p><p>Fármacos administrados por esta via podem apresentar efeitos locais, nos</p><p>pulmões, ou sistêmicos. Como exemplo de fármacos com efeito local temos os</p><p>broncodilatadores e glicocorticoides, que são comumente utilizados em pacientes</p><p>asmáticos. Embora sua administração local diminua de fato a ação sistêmica,</p><p>devido à grande extensão do epitélio pulmonar e sua expressiva vascularização</p><p>uma fração do fármaco pode ser absorvida e, na sequência, distribuída pelo</p><p>organismo, ocasionando efeitos colaterais. Anestésicos voláteis e gasosos são</p><p>exemplos de fármacos administrados por esta via, mas com intuito de alcançar</p><p>efeitos sistêmicos. A rápida absorção e eliminação característica desta via de</p><p>administração torna o uso de anestésicos por esta rota bem comum (RANG et al.,</p><p>2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>72</p><p>A inalação é corriqueiramente uma via de administração utilizada para</p><p>pacientes que apresentam problema de asma e/ou bronquite crônica. É comum que</p><p>estes pacientes tenham em casa o aparelho para nebulização dos fármacos. Também</p><p>ocorre de alguns pacientes procurarem serviços de saúde, como farmácias, para realizar a</p><p>nebulização no local, caso tenham a aparelhagem necessária. Se você ficou curioso para</p><p>saber como funciona o processo, assista ao vídeo “Inalação: técnica é usada para tratar</p><p>doenças respiratórias como asma e bronquite”, no seguinte link: https://www.youtube.com/</p><p>watch?v=TBGseCTPiCQ.</p><p>IMPORTANTE</p><p>2.5 INJETÁVEL</p><p>As vias de administração passíveis de injeção são evidentemente invasivas.</p><p>No entanto, estas vias apresentam grande potencial para absorção/distribuição</p><p>de fármacos. Além disso, algumas formulações apresentam características físico-</p><p>químicas muito frágeis, que impossibilitam sua administração por outras vias com</p><p>grandes variações de pH e temperatura, como a via oral. Para estes casos, as vias</p><p>injetáveis são as mais indicadas. Vamos conhecer algumas vias passiveis de injeção.</p><p>2.5.1 Subcutânea</p><p>Injeções subcutâneas são aplicadas na camada adiposa, que fica logo</p><p>abaixo da derme do paciente. Assim, apresentam absorção mais lenta quando</p><p>comparadas à injeção intravenosa, porém, geralmente, vão apresentar efeitos</p><p>mais rapidamente comparados à via oral (a depender do local em que é</p><p>administrado o medicamento). Como vantagens, este tipo de injeção diminui</p><p>de forma significativa o risco de hemólise ou trombose que são associados a</p><p>administrações intravenosas. Além disso, a injeção subcutânea apresenta os</p><p>efeitos do medicamento administrado constantes e prolongados ao paciente.</p><p>Apesar disso, esta via deve ser evitada por medicamentos que causam irritação dos</p><p>tecidos, pois nestes casos pode haver necrose tecidual. A insulina</p><p>administrada a</p><p>pacientes diabéticos é normalmente administrada através desta via (RANG et al.,</p><p>2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>2.5.2 Intramuscular</p><p>Injeções intramusculares, como o nome já deixa claro, são administradas</p><p>no tecido muscular do paciente, ou seja, são mais profundas que injeções</p><p>subcutâneas. A depender da formulação em que o medicamento foi produzido, a</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>73</p><p>velocidade de absorção e distribuição podem variar nesta via de administração.</p><p>Formulações em soluções aquosas, por exemplo, irão ser absorvidas e</p><p>distribuídas mais rapidamente no tecido muscular, ao passo que formulações</p><p>especializadas de depósito podem ser absorvidas gradativamente durante um</p><p>período, como anticoncepcionais. Assim como as injeções subcutâneas, a injeções</p><p>intramusculares irão apresentar efeitos mais tardiamente comparados a injeções</p><p>intravenosas, porém seus efeitos ocorrerão mais rapidamente comparando-se a</p><p>via oral (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>2.5.3 Intravenosa</p><p>A injeção intravenosa tem como característica principal a velocidade de</p><p>resposta ao medicamento que o paciente apresenta. Isso ocorre, pois, nesta via de</p><p>administração, o fármaco é introduzido diretamente na circulação do paciente,</p><p>sem a necessidade de ser absorvido, sendo prontamente distribuído pelos</p><p>compartimentos e órgãos do corpo de acordo com a sua irrigação sanguínea.</p><p>A injeção em bolus (em curto espaço de tempo) produz alta concentração</p><p>do fármaco, alcançando primeiramente o coração e vasos pulmonares e, na</p><p>sequência, a circulação sistêmica. Quando administrado por infusão, o fármaco</p><p>pode ser administrado por um período maior, causando um pico e concentração</p><p>plasmática menor que o gerado pela injeção e bolus, e o consequente aumento da</p><p>duração da concentração de fármaco circulante (RANG et al., 2020; WHALEN;</p><p>FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Esta via de administração pode ser a única alternativa para fármacos</p><p>que apresentam irritação quando em contato com mucosas, já que quando</p><p>administrado intravenosamente o fármaco se dilui rapidamente no sangue. Apesar</p><p>disso, esta via de administração requer cuidados, pois a injeção intravenosa pode</p><p>causar a precipitação de constituintes do sangue, causar hemólise e outras reações</p><p>danosas ao paciente (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>2.5.4 Intratecal</p><p>A injeção intratecal se faz necessária quando existe a necessidade que</p><p>o fármaco administrado acesse diretamente o líquido cefalorraquidiano e,</p><p>consequentemente, o sistema nervoso central. Esta via de administração é feita</p><p>pela injeção do fármaco no espaço subaracnoideo e é usada para propósitos</p><p>especiais, como administração de fármacos para alguns tipos de leucemia e</p><p>anestesias (por exemplo, a anestesia raquidiana utilizada em cesarianas)(RANG</p><p>et al., 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>74</p><p>O uso de medicamentos analgésicos de maior potência é comum em</p><p>condições clínicas que geram dor extrema, porém, é comum o aparecimento de efeitos</p><p>indesejados e toxicidade relacionados ao uso destes fármacos. Uma das alternativas</p><p>utilizadas para pacientes apresentando quadro de dor aguda e incessante é o uso destes</p><p>medicamentos analgésicos, como a morfina, através de uma bomba de infusão intratecal.</p><p>Neste procedimento, o medicamento chega diretamente ao sistema nervoso central,</p><p>evitando o uso de doses elevadas, e mantendo-se em concentrações estáveis (devido ao</p><p>processo de infusão controlada). Um cateter é implantado na região da coluna e libera</p><p>quantidades controladas do medicamento diretamente no líquido cefalorraquidiano. Este</p><p>cateter é conectado a um reservatório do medicamento que fica implantando na região</p><p>abdominal, abaixo da pele e, periodicamente, é reabastecido através de uma punção com</p><p>o medicamento utilizado.</p><p>INTERESSANTE</p><p>3 ABSORÇÃO</p><p>Agora, caro acadêmico, conhecemos algumas das vias mais comuns para</p><p>administração de fármacos. A partir do momento que o fármaco em questão</p><p>é introduzido no organismo de um paciente, ele deverá primeiramente ser</p><p>absorvido, para que aí seja distribuído e exerça sua função farmacológica no</p><p>órgão alvo. Define-se como absorção o processo de transferência do fármaco do</p><p>local onde foi inicialmente administrado para a corrente sanguínea (ALAGGA;</p><p>GUPTA, 2020).</p><p>O organismo possui alguns mecanismos fisiológicos para que substâncias</p><p>sejam absorvidas. Como já definimos anteriormente, a via de administração</p><p>intravenosa tem sua absorção completa, uma vez que neste caso o fármaco é</p><p>administrado diretamente na corrente sanguínea do paciente. Por outro lado, a</p><p>via de administração mais comum nos fármacos é a oral e, nesta via, diferentes</p><p>fatores devem ser observados.</p><p>3.1 MECANISMOS DE ABSORÇÃO</p><p>A depender das características químicas do fármaco, este pode ser</p><p>absorvido por diferentes mecanismos celulares. O conhecimento destes</p><p>mecanismos é importante pois algumas estruturas químicas serão mais</p><p>rapidamente absorvidas, enquanto outras irão passar por este processo de forma</p><p>mais vagarosa. Um dos fatores cruciais para esta maior ou menor velocidade de</p><p>absorção, e consequente ação farmacológica, é justamente o mecanismo envolvido</p><p>nesta fase da farmacocinética. Vejamos cada um destes mecanismo a seguir.</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>75</p><p>3.1.1 Difusão</p><p>O processo de difusão do fármaco pode ser dividido em passiva ou</p><p>facilitada. Na difusão passiva o gradiente de concentração do fármaco age como</p><p>principal força indutora do fenômeno. Ou seja, o fármaco irá passar do meio</p><p>mais concentrado para o menos concentrado. Neste tipo de difusão, não há gasto</p><p>energético e a maioria dos fármacos é absorvida por este mecanismo. Fármacos</p><p>hidrossolúveis (solúveis em água) são difundidos através de membranas celulares</p><p>por canais ou poros aquosos, ao passo que fármacos lipossolúveis (solúveis em</p><p>lipídeos) atravessam barreiras biológicas com maior facilidade devido à afinidade</p><p>das camadas lipídicas com estas moléculas. A difusão facilitada ocorre por meio</p><p>de proteínas transportadoras que permeiam as membranas biológicas e têm</p><p>como função facilitar a passagem de grandes moléculas. Embora seja utilizado</p><p>o transporte através de proteínas, neste mecanismo não há gasto energético</p><p>(RANG et al., 2020).</p><p>3.1.2 Transporte ativo</p><p>As membranas celulares possuem, na sua maioria, mecanismos</p><p>especializados de transporte que regulam a entrada e saída de diversas substâncias</p><p>de valor fisiológico (glicose, aminoácidos, neurotransmissores etc.) através de</p><p>proteínas específicas. Estas substâncias não podem ter seu transporte condicionado</p><p>aos gradientes de concentração, uma vez que são de extrema importância para</p><p>o funcionamento do organismo. Fármacos, que estruturalmente se assemelham</p><p>a estas substâncias, podem ser transportados por proteínas transmembranas,</p><p>mesmo contra o gradiente de concentração. Neste caso, o processo envolve gasto</p><p>energético e, por este motivo, denomina-se transporte ativo (RANG et al., 2020).</p><p>3.1.3 Endocitose</p><p>O processo de endocitose se dá a partir do engolfo da molécula do</p><p>fármaco pela membrana lipídica da célula e seu posterior transporte para o</p><p>meio intracelular. Este mecanismo ocorre em fármacos que apresentam grandes</p><p>estruturas moleculares, que excedem o tamanho máximo para a difusão ou</p><p>passagem por proteínas transportadoras (RANG et al., 2020).</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>76</p><p>Uma das áreas na pesquisa de medicamentos que mais cresceu nos últimos</p><p>anos é a aplicação de nanotecnologia a fármacos já conhecidos. A ideia, neste caso, é</p><p>otimizar mecanismos farmacocinéticos de absorção e distribuição destes fármacos. O uso</p><p>de nanopartículas poliméricas e inorgânicas, nanossuspensões, dendrímeros, lipossomos,</p><p>nanoemulsões e nanotubos de carbono têm gerado perspectivas interessantes para novas</p><p>formas farmacêuticas. Se você se interessa por esta área da tecnologia farmacêutica, leia o</p><p>artigo disponível em: http://bit.ly/3qcLvJF.</p><p>INTERESSANTE</p><p>3.2 FATORES QUE INFLUENCIAM NA ABSORÇÃO</p><p>Embora pareça simples, a absorção de fármacos está condicionada também</p><p>a fatores que envolvem as características físico-químicas da molécula e a via de</p><p>administração. Estas questões podem alterar drasticamente a biodisponibilidade</p><p>do fármaco, além da velocidade com que irá gerar seus efeitos.</p><p>3.2.1 Potencial Hidrogeniônico (pH)</p><p>O primeiro destes fatores, caro acadêmico, é o potencial hidrogeniônico</p><p>(pH) no local onde o fármaco será administrado. Fármacos são, em sua maioria,</p><p>ácidos ou bases fracas. Assim, fármacos ácidos (HA) liberam um próton (H+),</p><p>causando a formação de um ânion (A-). Já bases fracas (BH+) também podem</p><p>liberar um H+, entretanto, a forma protonada dos fármacos básicos é geralmente</p><p>carregada, e a perda do próton produz a base (B) não ionizada. Os fármacos vão</p><p>atravessar as membranas com maior facilidade nas suas formas não ionizadas.</p><p>Desta forma, para ácidos fracos, a forma HA consegue permear com maior</p><p>facilidade membranas, e no caso das bases fracas, a forma B apresenta este mesmo</p><p>padrão de permeabilidade. A relação entre as formas ionizadas e não ionizadas</p><p>de fármacos ácidos e bases fracas está condicionado a pH no local da absorção</p><p>e a força que este ácido ou base fraca apresenta (representada pela constante</p><p>de ionização pKa) (Figura 3) (ALAGGA; GUPTA, 2020; WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>77</p><p>FIGURA 3 – MUDANÇAS DE ACORDO COM pK</p><p>a</p><p>DO FÁRMACO E pH DO MEIO</p><p>FONTE: Adaptado de Whalen, Finkel e Panavelil, (2016)</p><p>Em termos práticos, o pKa de um determinado fármaco expressa o pH em</p><p>que esta molécula estará 50% na sua forma ionizada e 50% na sua forma molecular.</p><p>Por exemplo, um fármaco X que tem seu pKa de 3.0, quando administrado por via</p><p>oral irá entrar em contato com o estômago, onde o pH costuma ser próximo de 3.0</p><p>(1.5-3.5). Neste caso, no compartimento estomacal, o fármaco X estará 50% na sua</p><p>forma ionizada e 50% na sua forma molecular, ou seja, metade da concentração</p><p>administrada do fármaco não será passível de absorção (WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>3.2.2 Fluxo sanguíneo, superfície e tempo de contato</p><p>Outro fator a ser observado que interfere diretamente na absorção dos</p><p>fármacos é o fluxo sanguíneo local. Se compararmos o nível de irrigação sanguínea</p><p>do compartimento estomacal com o intestinal, nós podemos constatar que o</p><p>segundo recebe um fluxo sanguíneo de maior importância quando comparado ao</p><p>primeiro. Então, podemos afirmar que o intestino será mais favorável à absorção</p><p>de fármacos quando comparado ao estomago. Além disso, a superfície de contato</p><p>disponível para absorção também é de grande importância. As microvilosidades</p><p>presentes no intestino tornam sua área de contato com fármacos ingeridos muito</p><p>maior quando comparados ao estômago, e por este motivo, o intestino novamente</p><p>tem a absorção de fármacos maior. O tempo que um fármaco passa em contato</p><p>com a superfície do compartimento também é importante para a absorção.</p><p>Quanto menor for o tempo de contato entre superfície e fármaco menor será sua</p><p>absorção. Assim, em condições em que há evacuação muito rápida no aparelho</p><p>gastrointestinal, como uma diarreia intensa, o fármaco poderá ter sua absorção</p><p>comprometida. Importante ressaltar que a presença de alimento no estômago,</p><p>por exemplo, irá diluir o fármaco e retardar o esvaziamento gástrico e, como</p><p>consequência, o fármaco terá sua absorção mais lenta (ALAGGA; GUPTA, 2020;</p><p>RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>78</p><p>3.2.3 Expressão de glicoproteína P</p><p>Finalmente, a expressão de glicoproteína P, uma proteína transportadora</p><p>transmembrana responsável pelo transporte de diversas moléculas, também</p><p>é fator condicionante para absorção de fármacos. Esta proteína encontra-se em</p><p>diferentes órgãos e é responsável pelo efluxo (saída) de fármacos de dentro</p><p>das células. Assim, em regiões onde há alta expressão destas proteínas, haverá</p><p>também menor possibilidade de absorção dos fármacos (WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>3.3 BIODISPONIBILIDADE E BIOEQUIVALÊNCIA</p><p>Como já descrito previamente, caro acadêmico, fica claro que, a depender</p><p>da via de administração do fármaco, nem toda a fração administrada será</p><p>absorvida pelo organismo. A esta relação do quanto é administrado pelo quanto</p><p>que de fato é absorvida chamamos de biodisponibilidade, ou seja, a fração</p><p>biodisponível é aquela que é absorvida pelo organismo e chega à circulação</p><p>sistêmica do paciente. Por exemplo, se administramos a um paciente 100 mg</p><p>de um fármaco X, e somente 50 mg são absorvidos, podemos afirmar então</p><p>que sua biodisponibilidade é de 50%. Para determinar a biodisponibilidade de</p><p>um fármaco, compara-se a concentração deste na circulação sistêmica quando</p><p>administrado por via intravenosa (em que o fármaco tem biodisponibilidade de</p><p>100%) com a concentração, na mesma dosagem, administrado por via oral (ou</p><p>qualquer outra via em que a biodisponibilidade possa ser afeada pela absorção).</p><p>De forma geral, podemos definir então como fatores que influenciam diretamente</p><p>na biodisponibilidade de um fármaco o metabolismo de primeira passagem, a</p><p>solubilidade e a estabilidade físico-química do fármaco nos compartimentos em</p><p>que é administrado (Figura 4) (PRICE; PATEL, 2020; RANG et al., 2020).</p><p>FIGURA 4 – A FRAÇÃO BIODISPONÍVEL DO FÁRMACO NO ORGANISMO É INFLUENCIADA POR</p><p>FENOMENOS FARMACOCINÉTICOS</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>79</p><p>O termo bioequivalência também é utilizado na farmacocinética, e diz</p><p>respeito a um critério para comparação de formulações de fármacos que possuem</p><p>biodisponibilidades comparáveis e tempos semelhantes para que alcancem o pico</p><p>de concentração plasmática após sua administração, independente da via utilizada.</p><p>Já o termo equivalência terapêutica se refere a formulações que apresentam</p><p>a mesma dosagem, com a mesma substância ativa e são utilizadas através da</p><p>mesma via de administração, com perfis clínicos e de segurança equivalentes.</p><p>Perceba, caro acadêmico, que um fármaco X pode ser bioequivalente a um</p><p>fármaco Y, já que alcança as mesmas concentrações plasmáticas no mesmo tempo</p><p>após absorvido, mas se forem administrados por vias diferentes, por exemplo,</p><p>mesmo sendo bioequivalentes, o fármaco X e o fármaco Y não serão equivalentes</p><p>terapêuticos (CHOW, 2014; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>4 DISTRIBUIÇÃO</p><p>O corpo é constituído de diferentes compartimentos, pelos quais um</p><p>fármaco deve migrar para que alcance diferentes órgãos e, dentre estes, o alvo</p><p>de sua ação farmacológica. É importante lembrar neste momento, que nosso</p><p>organismo é composto de cerca de 70% de água, que está distribuída por</p><p>estes compartimentos corpóreos. Após a absorção ter ocorrido e o fármaco ter</p><p>alcançado a circulação sistêmica, o fármaco irá se distribuir pelo compartimento</p><p>plasmático, mas mesmo neste compartimento ele irá apresentar diferentes perfis</p><p>de distribuição, a depender de alguns fatores. O padrão de homogeneidade de</p><p>distribuição plasmática irá depender, por exemplo, das ligações que este fármaco</p><p>irá realizar com proteínas plasmáticas e tissulares, além da sua lipofilicidade</p><p>(RANG et al., 2020).</p><p>Assim como na absorção, a distribuição sofre influência de diversos fatores.</p><p>Estes fatores podem alterar de forma significativa a concentração da fração ativa do</p><p>fármaco que irá chegar de fato às células que apresentam os alvos farmacológicos. Um dos</p><p>fatores mais estudados que podem de alguma forma alterar a farmacocinética é a ingestão</p><p>de fármacos concomitante ao alimento. Se você quer se aprofundar neste tema leia o</p><p>artigo de revisão Interação fármaco-nutriente: uma revisão, de MOURA; REYES, (2002).</p><p>Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1415-52732002000200011.</p><p>DICAS</p><p>O fluxo sanguíneo nos tecidos que compõe os diferentes órgãos do</p><p>corpo afeta diretamente a quantidade de fármaco que alcança</p><p>estes. Ora, se os</p><p>fármacos são distribuídos principalmente através do compartimente plasmático</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>80</p><p>(corrente sanguínea), logicamente órgãos com maior fluxo sanguíneo irão receber</p><p>maiores concentrações deste fármaco. Então, órgãos como fígado, rins e pulmões</p><p>irão apresentar maior exposição a fármacos absorvidos do que, por exemplo,</p><p>ossos e a pele. A permeabilidade capilar específica de cada um destes órgãos</p><p>também determina a distribuição dos fármacos. Por exemplo, no fígado, grande</p><p>parte da membrana basal fica exposta, pois seus capilares são descontínuos e</p><p>grandes para que proteínas de alto peso molecular possam atravessar estes</p><p>capilares, a fim de realizar fenômenos homeostáticos. Assim, fármacos também</p><p>serão mais permeáveis nestes órgãos. No cérebro, estas estruturas capilares</p><p>são contínuas, e não há existência de frestas para passagem de substâncias. As</p><p>macromoléculas essenciais ao funcionamento cerebral devem ser transportadas</p><p>ativamente (proteínas carreadoras), ou através de células endoteliais (a barreira</p><p>hematoencefálica). Assim, fármacos que devem acessar o sistema nervoso central</p><p>devem ser desenhados para apresentarem alta lipofilicidade ou semelhança</p><p>com macromoléculas essenciais, a fim de serem transportados por proteínas</p><p>carreadoras. De qualquer forma, este fato altera drasticamente o perfil de</p><p>distribuição do fármaco para o sistema nervoso central (RANG et al., 2020;</p><p>WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>A distribuição do fármaco também depende da ligação que ele faz com</p><p>proteínas do plasma e dos tecidos. No plasma, por exemplo, a proteína com maior</p><p>concentração é a albumina, e é justamente nesta proteína que fármacos tendem</p><p>a se ligar. Embora o fármaco ligado à albumina esteja de fato sendo distribuído</p><p>pela circulação plasmática, somente a fração livre, ou seja, aquela que não está</p><p>ligada à albumina, é que apresenta atividade. À medida que a concentração livre</p><p>de um fármaco diminui em decorrência da sua ligação com o sítio alvo ou da sua</p><p>eliminação, o fármaco ligado à albumina dissocia-se desta. Assim, a concentração</p><p>plasmática do fármaco livre acaba sendo sempre uma fração constante do</p><p>fármaco em sua totalidade no compartimento plasmático. A ligação de fármacos a</p><p>proteínas de tecidos também influencia na distribuição. Alguns fármacos tendem</p><p>a se acumular em tecidos, devido a ligações que fazem com lipídeos ou proteínas,</p><p>e estas ligações levam a este acúmulo. A consequência disto, muitas vezes, é o</p><p>prolongamento da ação farmacológica ou o aparecimento de sinais de toxicidade</p><p>(RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>A clássica regra da química que diz “semelhante dissolve semelhante” tam-</p><p>bém se aplica na distribuição de fármacos. Membranas biológicas são compostas</p><p>em grande parte por lipídeos, assim, apresentam um caráter apolar (lipofílicas). É</p><p>natural então que fármacos com caráter apolar atravessem estas membranas com</p><p>maior facilidade (semelhante dissolve semelhante). Em contraste, fármacos com</p><p>caráter polares (hidrofílicos) penetram nestas membranas somente com auxílio</p><p>de junções com fendas (HOLFORD; YIM, 2016; RANG et al., 2020; WHALEN;</p><p>FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Uma das ferramentas utilizadas para mensurar a distribuição de um</p><p>fármaco é a equação do volume de distribuição aparente (Vd). Esta equação</p><p>define o volume de líquido hipoteticamente necessário para conter todo o fármaco</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>81</p><p>do organismo, na mesma concentração presente no plasma. O Vd (L) é calculado</p><p>dividindo a quantidade de fármaco no organismo (mg) pela concentração no</p><p>plasma (mg/L), conforme a seguinte equação (HOLFORD; YIM, 2016):</p><p>Se o Vd é apenas uma medida aparente, ou seja, um valor hipotético, qual a</p><p>importância de sua determinação? Veja, caro acadêmico, o valor do Vd determina</p><p>a relação de ligação dos fármacos aos componentes teciduais comparados com</p><p>as proteínas plasmáticas. É correto afirmar então que fármacos com Vd mais alto</p><p>são geralmente mais lipossolúveis, já que estarão em maior concentração ligados</p><p>a componentes teciduais, ao passo que fármacos com Vd mais baixos estarão</p><p>ligados a proteínas plasmáticas (HOLFORD; YIM, 2016).</p><p>5 BIOTRASNFORMAÇÃO (METABOLISMO)</p><p>Com o decorrer dos milhares de anos de evolução, os animais</p><p>desenvolveram mecanismos celulares para eliminar do organismo quaisquer</p><p>substâncias que não tenham utilidade metabólica, ou seja, aquelas que não</p><p>apresentam importância para geração de energia ou estruturas celulares. Neste</p><p>grupo de substâncias encontram-se, além de substâncias do meio ambiente,</p><p>também os fármacos.</p><p>Como vimos anteriormente, para que alguns fármacos sejam absorvidos</p><p>eles devem apresentar, entre suas várias características, ao menos um certo</p><p>grau de lipofilicidade. A regra do “semelhante dissolve semelhante” corrobora o</p><p>fato de que estes fármacos terão maior facilidade para atravessar membranas</p><p>biológicas e chegarem ao seu local de atividade. No entanto, esta lipoficilidade</p><p>é justamente o que torna a eliminação destes fármacos um desafio. Veremos no</p><p>próximo item que as principais vias de eliminação de fármacos são através de</p><p>líquidos com perfis polares (que têm afinidade com a água) e, assim, moléculas</p><p>lipofílicas (apolares) consequentemente apresentarão maior dificuldade para</p><p>serem eliminadas (PHANG-LYN; LLERENA, 2020; RANG et al., 2020).</p><p>Como então fármacos lipofílicos são eliminados do organismo? É</p><p>justamente por este motivo que a biotransformação, ou o metabolismo de</p><p>fármacos, é importante. O objetivo principal deste processo farmacocinético é</p><p>biotransformar moléculas através da ação de sistemas enzimáticos para que se</p><p>tornem mais hidrossolúveis e, na sequência, sejam eliminadas do organismo. É</p><p>comum então que, fármacos que já são hidrossolúveis sejam eliminados com maior</p><p>facilidade e na sua forma íntegra na urina, ao passo mais lipossolúveis necessitem</p><p>de uma mudança estrutural maior para que sejam eliminados (PHANG-LYN;</p><p>LLERENA, 2020).</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>82</p><p>O estudo da farmacocinética dos fármacos é de suma importância para que</p><p>sejam lançados como medicamentos no mercado após a Fase III da pesquisa clínica.</p><p>Embora seja difícil prever todas as variáveis biológicas, o metabolismo dos fármacos</p><p>deve ser abordado com cautela e cuidado, uma vez que alguns fármacos vão apresentar</p><p>sinais de toxicidade justamente pelos metabólitos que geram ao entrar em contato com</p><p>os sistemas enzimáticos do organismo. Se você quer se aprofundar neste tema, leia o</p><p>artigo Importância do metabolismo no planejamento de fármacos, de PEREIRA, (2007).</p><p>Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-40422007000100029.</p><p>DICAS</p><p>Antes de discutirmos as fases que compõem a biotransformação, é</p><p>importante relembrar rapidamente alguns conceitos de cinética da química.</p><p>O processo de biotransformação pode ocorrer de duas formas diferentes, a</p><p>depender das características químicas da molécula. A cinética da reação de</p><p>biotransformação pode ser de primeira ordem ou de ordem zero. No caso de</p><p>processos de biotransformação que seguem uma cinética de primeira ordem (ou</p><p>cinética linear), onde a maioria dos fármacos se enquadram, a velocidade das</p><p>reações que irá ocorrer é diretamente proporcional à concentração do fármaco</p><p>livre, ou seja, à medida que a concentração de fármaco diminui no organismo,</p><p>assim também diminui a velocidade destas reações. Já processos que seguem</p><p>uma cinética de ordem zero (não linear) isso não ocorre, pois como as enzimas</p><p>neste caso são saturadas pela elevada concentração dos fármacos, a velocidade</p><p>da biotransformação permanece constante, independente da concentração do</p><p>fármaco (WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Os processos de biotransformação ocorrem geralmente de forma</p><p>sequencial, e podemos dividi-los em reações de Fase I e reações de Fase II.</p><p>Veremos na sequência detalhes sobre estas reações.</p><p>5.1 REAÇÕES DE FASE I</p><p>Nas reações de Fase I ocorre o processo</p><p>de funcionalização molecular.</p><p>Neste processo, a molécula do fármaco sofre reações catabólicas, como oxidação,</p><p>redução e/ou hidrólise, e é adicionado a sua estrutura um grupo reativo, como</p><p>uma hidroxila ou amina (Figura 5). Este grupo reativo irá funcionar como ponto</p><p>de ataque para Fase II, onde será introduzido um grupamento químico neste</p><p>local, com objetivo de conferir ainda mais hidrossolubilidade à molécula. Após</p><p>as reações de Fase I, o fármaco pode ser inativado, porém, em alguns casos, pode</p><p>também se tornar uma molécula ativa. Em algumas situações estas moléculas que</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>83</p><p>sofrem ativação na Fase I podem conferir toxicidade ao fármaco. Em outros casos,</p><p>o fármaco é administrado ao paciente em uma forma inativa, e tornar-se-á ativo</p><p>somente após sua biotransformação, sendo estes chamados de pró-fármacos</p><p>(RANG et al., 2020; ZHANG; TANG, 2018).</p><p>As reações de Fase I são majoritariamente catalisadas por um sistema</p><p>enzimático chamado de citocromo P450. As enzimas que compõem este sistema</p><p>são diferenciadas entre si pela sua estrutura molecular, sensibilidade a inibidores</p><p>e indutores, e na especificidade das reações que catalisam. Estas diferentes</p><p>isoformas recebem o nome de CYP seguida por um conjunto de números e uma</p><p>letra, e encontram-se principalmente no fígado e no trato gastrointestinal. Foram</p><p>identificadas mais de 50 isoformas de CYP humanas, porém apenas doze destas</p><p>já são responsáveis por mais de 90% do metabolismo conhecido de fármacos.</p><p>No quadro a seguir temos alguns exemplos de fármacos que são substratos de</p><p>isoenzimas P450 (Quadro 1) (LI et al., 2019; RANG et al., 2020).</p><p>QUADRO 1 – EXEMPLO DE FÁRMACOS/SUBSTÂNCIAS QUE SERVEM COMO SUBSTRATOS</p><p>PARA ENZIMAS P450</p><p>Isoenzima P450 Fármaco</p><p>CYP1A2 Paracetamol</p><p>CYP2C19 Omeprazol</p><p>CYP2C9 Ibuprofeno</p><p>CYP2D6 Codeína</p><p>CYP2E1 Álcool</p><p>FONTE: Adaptado de RANG et al., (2020)</p><p>Um mesmo fármaco pode servir como substrato para mais de uma</p><p>isoenzima, e estas isoenzimas ainda podem apresentar significativa variabilidade</p><p>genética entre indivíduos e grupos raciais. Este fato explica, ao menos em parte,</p><p>a diferença que existe na resposta ao mesmo fármaco que a população de forma</p><p>geral apresenta (RANG et al., 2020).</p><p>Ainda, como estas enzimas podem interagir com diferentes sustâncias</p><p>químicas, sejam elas fármacos ou qualquer outro xenobiótico (molécula externa</p><p>ao organismo), é comum que estas sejam alvos de interações farmacocinéticas.</p><p>Existem substâncias que são indutoras destas enzimas, aumentando a síntese de</p><p>uma ou mais isoenzimas deste grupo. O resultado desta indução enzimática é a</p><p>menor concentração do fármaco no compartimento plasmático, com consequente</p><p>menor atividade (se seu metabólito é inativo), ou aumento da atividade (se seu</p><p>metabólito é ativo) ou ainda da toxicidade (se o metabólito é tóxico). Algumas</p><p>substâncias podem apresentar perfil inibitório sobre a atividade das enzimas</p><p>CYP, e esta inibição pode levar ao quadro contrário daquele visto por substâncias</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>84</p><p>indutoras: a concentração do fármaco no compartimento plasmático tende a</p><p>aumentar, podendo apresentar efeito exacerbado ou mesmo tóxico. No caso de</p><p>um pró-fármaco tem-se a perda ou retardo do efeito (PHANG-LYN; LLERENA,</p><p>2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Saiba, caro acadêmico, que diversos fármacos podem ter atividade</p><p>indutora ou inibitória sobre este grupo de enzimas e, desta forma, o conhecimento</p><p>da farmacologia para entendimento de possíveis interações medicamentosas é de</p><p>extrema importância. Não é incomum que alguns pacientes utilizem diariamente</p><p>mais de dez medicamentos diferentes.</p><p>5.2 REAÇÕES DE FASE II</p><p>Ao contrário das reações de Fase I, as reações de Fase II são anabólicas</p><p>e chamadas de reações de conjugação. Como o nome já descreve, nestas</p><p>reações são conjugadas às moléculas um grupo substituinte. Alguns fármacos</p><p>podem entrar diretamente na Fase II da biotransformação, porém, aqueles que</p><p>passam pela Fase I, vão ter seus grupos funcionalizados da primeira fase agora</p><p>conjugados. Estas reações ocorrem principalmente no fígado, mas outros tecidos</p><p>como pulmões e rins também podem estar envolvidos. Os grupos químicos a</p><p>serem conjugados podem ser glicuronil, sulfato, metila ou acetila e, não somente</p><p>fármacos passam por este tipo de reação, algumas substâncias endógenas, como a</p><p>bilirrubina são conjugados também por esta via. Alguns fármacos já se encontram</p><p>suficientemente hidrossolúveis após a Fase I, aqueles que não, após a Fase II estão</p><p>prontos para serem eliminados pelos rins ou, em alguns casos, pela bile (Figura</p><p>5) (PHANG-LYN; LLERENA, 2020; RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>FIGURA 5 – AS FASES DO METABOLISMO/BIOTRANSFORMAÇÃO DO FÁRMACOS</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>6 EXCREÇÃO E ELIMINAÇÃO</p><p>Finalmente, caro acadêmico, chegamos à fase final daquelas que compõem</p><p>a farmacocinética (ADME). Antes de tudo, é importante que conceituemos</p><p>algumas questões. Embora componham a parte final do ADME, as expressões</p><p>eliminação e excreção dizem respeito a diferentes ações farmacocinéticas, e,</p><p>segundo Rang et al., (2020), significam o seguinte:</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>85</p><p>• Eliminação: a perda irreversível de uma droga pelo corpo, que pode ocorrer</p><p>por dois processos: metabolismo (biotransformação) e excreção.</p><p>• Excreção: eliminação pelo organismo de uma substância química inalterada ou</p><p>seus metabólitos.</p><p>Não é incomum que diferentes autores façam uso destas expressões</p><p>de diferentes formas, alguns, por exemplo, costumam considerar a excreção</p><p>como um processo de eliminação somente de substâncias química inalteradas</p><p>(SHARGEL; WU-PONG; YU, 2012). No entanto, o consenso, neste caso, é que</p><p>estes fenômenos compõem a parte final da farmacocinética e dizem respeito a</p><p>fenômenos que propiciam a saída da droga do organismo.</p><p>Na toxicologia a pesquisa de metabólitos de medicamentos e drogas ilícitas são</p><p>realizadas muitas vezes na urina do paciente. O conhecimento das fases da farmacocinética</p><p>da substância em análise se faz necessário, uma vez que, procurar a molécula em questão</p><p>na sua forma inalterada na urina pode acabar indicando um falso negativo. Se você quer</p><p>saber mais sobre a detecção de substâncias por testes toxicológicos, acesse o seguinte link:</p><p>https://www.analysislaboratorio.com.br/triagem-toxicologica-na-urina/.</p><p>DICAS</p><p>Como já vimos na biotransformação, embora diferentes órgãos possam</p><p>executar esta tarefa, é o fígado que a faz majoritariamente. A mesma lógica se aplica</p><p>à excreção: diferentes sítios no organismo podem cumprir a função excretória</p><p>de fármacos, mas o principal sistema envolvido é o sistema renal e, assim, uma</p><p>disfunção neste sistema pode causar acúmulo do fármaco e/ou seus metabólitos</p><p>no organismo. A eliminação renal de fármacos pode ser quantificada pela formula</p><p>da depuração renal (ou clearence), que é definida como o volume plasmático que</p><p>contém a quantidade da substância removida pelos rins em uma determinada</p><p>unidade de tempo (RANG et al., 2020). A depuração é calculada levando em</p><p>consideração a concentração plasmática do fármaco (Cp), a concentração urinária</p><p>(Cu) e a velocidade do fluxo urinário (Vu), conforme a fórmula a seguir:</p><p>A eliminação de fármacos pelo sistema renal se faz a partir de alguns</p><p>processos, que são a filtração glomerular, secreção tubular e reabsorção tubular</p><p>(PICHAI; LAKSHMANAN, 2019; RANG et al., 2020).</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>86</p><p>Na filtração glomerular, fármacos pequenos (menores que 20 kDa) e que</p><p>não se encontram ligados à albumina são difundidos para a cápsula de Bowman.</p><p>A estrutura glomerular, em condições fisiológicas, é praticamente impermeável</p><p>à albumina. Assim, é correto afirmar que fármacos que apresentam grandes</p><p>frações ligadas à albumina irão apresentar uma excreção via filtração glomerular</p><p>diminuída. É importante frisar que, o pH e a lipossolubilidade molecular do</p><p>fármaco não influenciam</p><p>na passagem do fármaco par ao filtrado glomerular,</p><p>uma vez que o processo neste momento leva em consideração o tamanho das</p><p>moléculas (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Já no processo de secreção tubular as moléculas dos fármacos serão</p><p>transportadas para os túbulos através de dois mecanismos distintos que levam</p><p>em consideração o estado iônico das moléculas. Os transportadores de ânions</p><p>orgânicos, como o nome já diz, faz o transporte de fármacos ácidos para o lúmen</p><p>tubular na sua forma aniônica negativa. Enquanto transportadores de cátions</p><p>orgânicos, são responsáveis pelo transporte de bases orgânicas na forma protonada</p><p>catiônica. Ao menos 80% dos fármacos que chegam aos rins irão passar pelo</p><p>processo de secreção tubular e, assim, este mecanismo é de grande importância</p><p>para a eliminação de moléculas. Ao contrário da filtração glomerular, na secreção</p><p>tubular, a ligação da molécula do fármaco com a albumina não causa grande</p><p>alteração no processo de eliminação. No entanto, como o transporte depende de</p><p>proteínas transportadoras, podem ocorrer interações medicamentosas causadas</p><p>pela competição de diferentes fármacos com o transportador (RANG et al., 2020;</p><p>WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Na reabsorção tubular, grande parte da água é reabsorvida no túbulo</p><p>contorcido distal. Se o fármaco a ser eliminado apresentar caráter neutro, este</p><p>pode retornar para a circulação sistêmica. Além disso, a eliminação de moléculas</p><p>lipossolúveis, neste processo, é mínima, enquanto fármacos hidrossolúveis</p><p>(que possuem permeabilidade tubular baixa) permanecem na luz do túbulo. É</p><p>importante ressaltar que a estado iônico de muitos fármacos é pH-dependente e,</p><p>desta forma, o pH afeta significativamente sua eliminação renal. Na prática, um</p><p>fármaco com caráter alcalino (base fraca) é excretado mais rapidamente em urina</p><p>ácida, já que nesta ocorre a indução da forma carregada, inibindo sua reabsorção.</p><p>Já ácidos fracos são eliminados mais rapidamente se a urina estiver alcalina.</p><p>Alterar o pH da urina para tratar, por exemplo intoxicações, é um procedimento</p><p>comum em atendimentos de urgência (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>É claro, cara acadêmico, que outras vias também podem ser utilizadas</p><p>pelo organismo para eliminar os fármacos. Uma destas vias que, embora não</p><p>seja a principal também pode ocorrer, é a eliminação biliar. Assim como ocorre</p><p>o transporte de cátions e ânions no túbulo renal, as células hepáticas também</p><p>são capazes de gerar o mesmo efeito de transporte, porém, o fluxo ocorre do</p><p>plasma para a bile, que fica armazenada na vesícula biliar. No caso da eliminação</p><p>biliar, moléculas hidrofílicas, conjugadas a um radical glicuronídeo, podem</p><p>se concentrar na bile e, quando são secretadas para o intestino, estas mesmas</p><p>TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACOCINÉTICA</p><p>87</p><p>moléculas podem sofrer hidrólise, regenerando o fármaco na sua forma ativa.</p><p>Este fármaco pode ser reabsorvido e novamente gerar seu efeito biológico. Este</p><p>processo cíclico acaba por aumentar o tempo de efeito do fármaco e é um processo</p><p>denominado de circulação entero-hepática. A fração que não é reabsorvida será</p><p>eliminada nas fezes do paciente (RANG et al., 2020).</p><p>É importante que você saiba, caro acadêmico, que para expressar</p><p>esse aumento ou diminuição de tempo que um determinado fármaco fica no</p><p>organismo usa-se a expressão tempo de meia vida (t1/2). O t1/2 expressa quanto</p><p>tempo é necessário para que um fármaco chegue a 50% da sua concentração</p><p>plasmática máxima alcançada. Este conceito possibilita estimar a diferença com</p><p>que os processos farmacocinéticos ocorrem com diferentes fármacos, ou mesmo</p><p>vias de administração diferentes.</p><p>88</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>• A farmacocinética é o estudo do movimento dos fármacos dentro dos</p><p>compartimentos corpóreos.</p><p>• Existem diversas vias de administração para medicamentos, e todas elas</p><p>apresentam vantagens e desvantagens, sendo empregadas então de acordo com</p><p>as características farmacocinéticas do fármaco a ser utilizado e particularidades</p><p>clínicas do paciente.</p><p>• A farmacocinética pode ser separada didaticamente a partir da sigla</p><p>ADME, que descreve os fenômenos de absorção, distribuição, metabolismo</p><p>(biotransformação) e eliminação/excreção.</p><p>• A absorção é processo de transferência do fármaco do local onde foi inicialmente</p><p>administrado para a corrente sanguínea.</p><p>• A distribuição é a passagem do fármaco da corrente sanguínea para líquido</p><p>intersticial e intracelular, isso após sua absorção (exceto em injeção intravenosa</p><p>onde o fármaco já é 100% absorvido).</p><p>• A biotransformação (metabolismo) é o processo químico que o fármaco irá</p><p>sofrer pelas enzimas do organismo para tornar-se mais facilmente eliminado,</p><p>ou, no caso dos pró-fármacos, ativos. É dividida em Fase I e II e torna o fármaco,</p><p>quando necessário, mais polar.</p><p>• A eliminação é a perda irreversível do fármaco pelo corpo.</p><p>89</p><p>1 No estudo dos fármacos, é comum separar as perspectivas de análises em</p><p>duas principais áreas, sendo elas a farmacocinética e a farmacodinâmica.</p><p>A respeito do foco principal da farmacocinética, assinale a alternativa</p><p>CORRETA:</p><p>a) ( ) O estudo da interação dos fármacos com membranas lipídicas que</p><p>compõe os sistemas celulares.</p><p>b) ( ) A observação da forma com que o efeito farmacológico é gerado a</p><p>partir das interações moleculares com o organismo.</p><p>c) ( ) A análise de possíveis efeitos tóxicos gerados pelas transformações</p><p>químicas que um fármaco irá sofrer num determinado organismo.</p><p>d) ( ) O estudo dos fenômenos de absorção, distribuição, biotransformação</p><p>e eliminação de fármacos, uma vez que administrados a um</p><p>organismo vivo.</p><p>e) ( ) O relato de interações que podem ocorrer pelo uso concomitante de</p><p>medicamentos com diferentes perfis físico-químicos.</p><p>2 Dos fenômenos farmacocinéticos que ocorrem num organismo ao qual</p><p>um fármaco é administrado, a absorção é geralmente o primeiro. Este</p><p>fenômeno pode sofrer alterações de acordo com a via de administração</p><p>utilizada, porém, em uma destas vias pode-se afirmar que o processo de</p><p>administração gera 100% biodisponibilidade. Qual é a via pela qual este</p><p>fato ocorre?</p><p>a) ( ) Oral.</p><p>b) ( ) Sublingual.</p><p>c) ( ) Intravenosa.</p><p>d) ( ) Nasal.</p><p>e) ( ) Intramuscular.</p><p>3 A distribuição do fármaco pelo organismo sofre influência de diversos</p><p>fatores, que vão desde os intrínsecos a molécula do fármaco até a</p><p>características inerentes ao organismo vivo. Um destes fatores é a ligação</p><p>com que os fármacos fazem proteínas plasmáticas. Qual é a principal</p><p>proteína plasmática a qual um fármaco pode se ligar?</p><p>a) ( ) Albumina.</p><p>b) ( ) Lipoproteína.</p><p>c) ( ) Glicoproteina.</p><p>d) ( ) ɑ-globulina.</p><p>e) ( ) Citocina.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>90</p><p>4 Os processos de metabolismo dos fármacos no organismo, também</p><p>conhecidos como biotransformação, ocorrem para que estas moléculas</p><p>se tornem hidrossolúveis e sejam eliminadas do organismo. Para isto,</p><p>geralmente as reações ocorrem em duas fases. Explique as reações que</p><p>pertencem às duas fases e que tipo de fenômeno ocorre em cada uma delas.</p><p>5 Além da via urinaria, que é a mais comum, alguns fármacos são eliminados</p><p>pela via biliar. Neste caso, os produtos de biotransformação serão excretados</p><p>no intestino para posterior eliminação nas fezes do paciente. No entanto,</p><p>nesta via de eliminação, o fenômeno de circulação entero-hepática pode</p><p>ocorrer, ocasionando algumas mudanças na farmacocinética da molécula</p><p>a ser eliminada. Explique este fenômeno e que mudança pode causar na</p><p>farmacocinética.</p><p>91</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Como estudamos no tópico anterior, princípios básicos da farmacocinética,</p><p>o próximo passo lógico de nossa jornada pela ciência da farmacologia seria a</p><p>farmacodinâmica. Todavia, antes de adentrarmos nos princípios básicos da</p><p>farmacodinâmica em si, é importante que aproveitemos para discutir “o que” e</p><p>“quais” são os principais alvos farmacológicos.</p><p>Ora, já entendemos que um determinado fármaco precisa</p><p>ser, após sua</p><p>administração, absorvido, distribuído, talvez biotransformado e, finalmente,</p><p>eliminado. No entanto, estes fenômenos cinéticos, como você já deve ter percebido,</p><p>caro acadêmico, nada dizem a respeito do efeito biológico em si do fármaco. Para</p><p>que estes efeitos biológicos ocorram de fato, em quais locais exatamente o fármaco</p><p>deve agir? Ou seja, quais são os alvos para que este efeito ocorra?</p><p>Neste tópico vamos nos concentrar neste assunto.</p><p>TÓPICO 2 —</p><p>ALVOS PARA AÇÃO DE FÁRMACOS</p><p>2 PRINCIPAIS ALVOS FARMACOLÓGICOS</p><p>A farmacologia hoje em dia, com toda sua história e evolução como</p><p>ciência, é baseada no fato de que uma determinada molécula de um fármaco</p><p>precisa exercer influência química sobre um ou mais parâmetros celulares para</p><p>gerar o efeito esperado. Esta influência é gerada, na maioria das vezes, com a</p><p>interação das moléculas com alvos proteicos, que podem ser receptores, enzimas,</p><p>moléculas carregadoras ou canais iônicos. “Corpora non agunt nisi fixata”, resumiu</p><p>Dr. Paul Ehrlich, traduzido como “Um fármaco não agirá, a menos que esteja</p><p>ligado”. Claro que toda regra tem sua exceção, caro acadêmico. Por exemplo,</p><p>alguns fármacos irão agir diretamente sobre o material genético das células,</p><p>porém, para começarmos a entender a relação que existe entre “fármaco vs.</p><p>alvo”, vamos nos concentrar nos principais parâmetros celulares que podem</p><p>sofrer influência farmacológica.</p><p>92</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>2.1 RECEPTORES</p><p>Receptores, caro acadêmico, são estruturas proteicas presente nas células</p><p>que têm como função “receber” um determinado estímulo, processar este e gerar</p><p>uma resposta celular de acordo com o estímulo recebido. Este estímulo pode ser</p><p>endógeno ou exógeno, e todo sistema de comunicação celular do organismo é</p><p>baseado neste tipo de interação.</p><p>Por exemplo, hormônios exercem suas funções estimulantes (ou inibitó-</p><p>rias) ao se ligarem com seus receptores específicos. O sistema imunológico inato</p><p>do organismo de humanos consegue processar informações de padrões mole-</p><p>culares associados a patógenos justamente através de receptores especializados</p><p>(os receptores do tipo Toll), e a partir de ali sinalizar para células de defesa a ne-</p><p>cessidade de migração para o sítio da infecção e geração de mediadores capazes</p><p>de eliminar o agente causal da infecção. Como fatores exógenos também podem</p><p>exercer influência química sobre a resposta gerada via estes receptores, é eviden-</p><p>te que fármacos podem utilizar tais estruturas proteicas como alvo. Modular a</p><p>resposta celular através do estímulo ou inibição de um determinado receptor é</p><p>uma estratégia comum na farmacologia (RANG, 2006; RANG et al., 2020).</p><p>Estes receptores são capazes de exercer as mais variadas respostas</p><p>biológicas, desde as mais rápidas (como no sistema nervoso central), até as mais</p><p>vagarosas (em nível hormonal). Baseado na estrutura molecular do receptor e tipo</p><p>de resposta que pode gerar, podemos classificá-los em quatro principais famílias.</p><p>2.1.1 Receptores ionotrópicos</p><p>Também conhecidos como canais iônicos controlados por ligantes, estes</p><p>tipos de receptores são comuns para que neurotransmissores de ação rápida</p><p>exerçam sua função, como a acetilcolina em receptores nicotínicos. Os ligantes</p><p>podem ser tanto extras como intracelulares. Seu mecanismo de funcionamento, ao</p><p>ser estimulado, assemelha-se muito a um sistema de comportas. Após o estímulo</p><p>do receptor, o canal iônico torna-se mais permeável de forma transiente a certos</p><p>íons que, por sua vez, possuem atividade moduladora sobre diferentes sistemas</p><p>celulares. Os receptores ionotrópicos apresentam diversas famílias estruturais,</p><p>sendo que destas, a mais comum é a organização heteromérica com quatro ou</p><p>cinco subunidades, compostas de hélices transmembrana posicionadas em torno</p><p>de um canal central (Figura 6) (ALEXANDER et al., 2017a; RANG et al., 2020).</p><p>TÓPICO 2 — ALVOS PARA AÇÃO DE FÁRMACOS</p><p>93</p><p>FIGURA 6 – FUNCIONAMENTO DOS RECEPTORES IONOTRÓPICOS</p><p>FONTE: Adaptado de RANG et al., (2020).</p><p>Você verá nos próximos assuntos da farmacologia, que um exemplo destes</p><p>receptores ionotrópicos que se encontra no cérebro é o receptor GABAA. Este receptor é</p><p>ativado pelo seu ligante endógeno, o ácido gama-aminobutírico (GABA), e é responsável</p><p>por atividades depressoras sobre o sistema nervoso central. É comum então que este</p><p>receptor acabe funcionando para alvo farmacológico de algumas classes de medicamentos,</p><p>como benzodiazepínicos, barbitúricos e anestésicos. Curiosamente, o etanol também tem</p><p>alguma atividade sobre estes receptores, explicando então as atividades depressoras sobre</p><p>o sistema nervoso central das bebidas alcoólicas.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>2.1.2 Receptores metabotrópicos</p><p>Ás vezes referidos na literatura como receptores acoplados a proteína G</p><p>(GPCR) ou receptores com sete domínios transmembrana (7-TDM), esta classe de</p><p>receptores é um dos alvos mais comuns na farmacologia. Alguns fármacos podem</p><p>agir sobre receptores ionotrópicos e GPCR, sendo que o primeiro seria responsável</p><p>por uma resposta rápida, e o segundo por uma resposta mais lenta. Sua estrutura,</p><p>como a sigla 7-TDM já indica, é composta de sete α-hélices que atravessam a</p><p>94</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>membrana celular. Uma parte da estrutura destes receptores encontra-se no</p><p>exterior, que responde a um estímulo externo e sinaliza para a parte interna desta</p><p>estrutura. Esta parte interna, por sua vez, interage com uma proteína G (ou alguma</p><p>outra molécula efetora). Existem diferentes tipos de proteína G, no entanto, todos</p><p>são formados de três subunidades proteicas (α, β e γ). A subunidade α é capaz</p><p>de ligar trifosfato de guanosina (GTP), e as subunidades β e γ são responsáveis</p><p>pela ancoragem da proteína G na membrana celular. O estímulo do receptor por</p><p>meio de um agonista aumenta a ligação de GTP na subunidade α, causando a</p><p>dissociação desta subunidade do completo βγ. Desta forma, estes dois complexos</p><p>encontram-se livres para interagir com outros efetores celulares (como enzimas</p><p>ou canais iônicos) responsáveis por ações específicas no interior da célula. Em</p><p>algumas situações, os efetores ativados por este fenômeno produzem segundos</p><p>mensageiros (por exemplo: AMP cíclico, GMP cíclico e cálcio) que, por sua vez,</p><p>são capazes de ativar outros mecanismos efetores celulares, gerando, desta</p><p>forma, um efeito cascata. Os principais sistemas capazes de serem modulados</p><p>através da ativação dos GPCR (e consequente interação com a proteína G) são</p><p>adenilato ciclase, fosfolipase C, canais iônicos, (principalmente cálcio e potássio),</p><p>Rho A/Rho quinase e proteínas quinases ativadas por mitógenos (MAPK) (Figura</p><p>7) (ALEXANDER et al., 2017b; RANG et al., 2020).</p><p>FIGURA 7 – FUNCIONAMENTO DOS RECEPTORES ACOPLADOS À PROTEÍNA G (GPCR)</p><p>FONTE: Adaptado de RANG et al., (2020)</p><p>TÓPICO 2 — ALVOS PARA AÇÃO DE FÁRMACOS</p><p>95</p><p>Talvez um dos sistemas de receptores acoplados à proteína G mais estudados</p><p>nas últimas décadas seja o dos receptores canabinoides. Esta família de receptores já é</p><p>conhecida por ser alvo dos produtos psicoativos da planta Canabis sativa (maconha), como</p><p>o Δ9-tetra-hidrocanabinol. No entanto, com as pesquisas conduzidas no decorrer das</p><p>últimas décadas foi possível elucidar que nosso corpo possui ligantes endógenos para este</p><p>sistema, que são chamados de ligantes endocanabinoides (anandamida e 2-araquidonoil</p><p>glicerol). Hoje estes receptores são alvo de pesquisa como possíveis alvo terapêuticos para</p><p>transtornos que vão desde a depressão até processos neurodegenerativos.</p><p>INTERESSANTE</p><p>2.1.3 Receptores ligados a quinases</p><p>Este grupo de receptores apresenta diferenças significativas em relação</p><p>aos receptores ionotrópicos e aos GPCR, tanto na estrutura como em função. São</p><p>responsáveis por mediar uma vasta gama de proteínas mediadoras, que vão desde</p><p>citocinas e fatores de crescimento até hormônios como a insulina. Os principais tipos</p><p>destes receptores são os receptores tirosinoquinase (RTK), receptores de serina/</p><p>treoninoquinase</p><p>e receptores de citocinas. Apesar dos diferentes grupos, todos eles</p><p>apresentam estrutura comum e localizam-se em pares na membrana plasmática,</p><p>onde um grande domínio extracelular (que se liga ao ligante) está conectado a um</p><p>domínio intracelular através de uma hélice transmembrana. Para que exerçam a</p><p>transdução de sinal, estes receptores, ao serem estimulados, sofrem um processo</p><p>de dimerização e, na sequência, uma série de fosforilações intracelulares ocorre</p><p>após o estímulo do receptor. Geralmente, esta cascata intracelular culmina na</p><p>ativação de fatores de transcrição que irão transcrever informações armazenadas</p><p>no código genético da célula, para que seja posteriormente traduzido e secretado</p><p>o mediador em questão. Uma via importante mediada por esse tipo de receptores</p><p>é a da Jak/Stat, que é ativada por muitas citocinas para liberação de mediadores</p><p>inflamatórios (Figura 8) (ALEXANDER et al., 2017c; RANG et al., 2020).</p><p>96</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>FIGURA 8 – FUNCIONAMENTO DOS RECEPTORES LIGADOS A QUINASES</p><p>FONTE: Adaptado de Rang et al., (2020)</p><p>Como proteínas quinases desencadeiam cascatas de sinalização intracelular</p><p>que podem resultados numa infinidade de efeitos biológicos, receptores que de alguma</p><p>forma estão ligados a esta classe de proteínas são de grande interesse para indústria</p><p>farmacêutica na criação de moléculas inovadoras. Pequenas moléculas que sejam capazes</p><p>de impedir a fosforilação intracelular destas proteínas são testadas diariamente nos centros</p><p>de pesquisa, e o intuito costuma ser buscar a influência sobre processos inflamatórios ou</p><p>neoplásicos.</p><p>INTERESSANTE</p><p>2.1.4 Receptores nucleares (NR)</p><p>Diferentemente dos demais grupos de receptores discutidos até o mo-</p><p>mento, os receptores nucleares interagem diretamente com o DNA celular e,</p><p>desta forma, são considerados fatores de transcrição ativados por ligantes es-</p><p>pecíficos. Assim, estes receptores (extremamente lipofílicos devido às barreiras</p><p>que precisam atravessar) são capazes de regular, quando ativados, uma série</p><p>de mediadores pela indução direta da transcrição gênica e posterior tradução.</p><p>Ainda, é importante ressaltar que seu efeito pode levar horas a aparecer quando</p><p>comparado a efeitos mediados por outras classes de receptores, pois este inter-</p><p>fere na função gênica. A esta família de receptores pertencem quarenta e oito</p><p>TÓPICO 2 — ALVOS PARA AÇÃO DE FÁRMACOS</p><p>97</p><p>estruturas solúveis e podem ser divididas em duas categorias principais, sendo</p><p>os receptores nucleares de Classe I, presentes na forma solúvel no citoplasma</p><p>tendo como ligantes principalmente moléculas de natureza endócrina, e recep-</p><p>tores nucleares de Classe II, que geralmente se encontram presentes no núcleo,</p><p>tendo como principais ligantes lipídeos (Figura 9) (ALEXANDER et al., 2017d;</p><p>RANG et al., 2020).</p><p>FIGURA 9 – FUNCIONAMENTO DOS RECEPTORES NUCLEARES (RN)</p><p>FONTE: Adaptado de Rang et al., (2020)</p><p>2.2 CANAIS IÔNICOS</p><p>Diferente dos canais iônicos ativados por ligantes (canais ionotrópicos),</p><p>os discutidos neste tópico não necessariamente sofrem ação de algum ligante</p><p>direto para exercer suas funções biológicas. Ainda assim, alguns fármacos têm a</p><p>capacidade de modular a abertura e fechamento destes alvos proteicos (RANG</p><p>et al., 2020).</p><p>Em resumo, os canais iônicos são moléculas proteicas transmembranas</p><p>que podem alterar sua conformação em “aberto” e “fechado”. Íons não conseguem</p><p>atravessar as bicamadas lipídicas e, desta forma, para acessarem os compartimentos</p><p>celulares dependem destes canais (ou proteínas transportadoras). Estes canais</p><p>podem ser caracterizados de acordo com sua seletividade por espécies de íons,</p><p>pela natureza do estímulo que pode controlar o sistema de abertura/fechamento</p><p>do canal e pela sua estrutura molecular (RANG et al., 2020; WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELIL, 2016).</p><p>98</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>De acordo com as características de seletividade, os canais iônicos podem</p><p>ser seletivos para cátions (+) ou ânions (-). Canais que sejam seletivos para cátions</p><p>podem selecionar para adentrar nas células cátions como Na+, Ca2+ ou K+. Ainda,</p><p>estes canais podem ser também não seletivos, sendo permeáveis a todos os três.</p><p>Canais que apresentem seletividade para ânions permitem a entrada principal-</p><p>mente de Cl-, sendo este o ânion com funções moduladoras mais comuns no or-</p><p>ganismo. Dependendo da quantidade de íons que adentram uma célula, esta irá</p><p>sofrer alterações nas funções e no perfil secretório de mediadores. Este fenômeno</p><p>é resultado no efeito biológico (ALEXANDER et al., 2017e; RANG et al., 2020).</p><p>A natureza do estímulo que irá definir se o canal iônico irá se abrir ou</p><p>não pode variar. Alguns canais, por exemplo, são controlados por voltagem</p><p>(canais voltagem dependentes). Neste caso, estes canais irão se abrir quando a</p><p>membrana celular for despolarizada. Os mais comuns que pertencem a este grupo</p><p>são os canais seletivos para sódio, potássio ou cálcio. Além dos canais voltagem</p><p>dependentes, ainda existem canais que podem sofrer o processo de abertura</p><p>dependendo da liberação/concentração de cálcio. E, como já abordamos, no</p><p>item anterior (receptores), ainda existem canais iônicos que são controlados por</p><p>ligantes. Finalmente, alguns fármacos possuem a capacidade de bloquear estes</p><p>canais, impedindo a passagem dos íons. Assim, os canais podem ser modulados</p><p>parar abrir em diferentes graus, ou ainda podem ser bloqueados (Figura 10)</p><p>(ALEXANDER et al., 2017e; RANG et al., 2020).</p><p>Com relação à estrutura molecular, os canais iônicos apresentam grande</p><p>diversidade em relação a sua arquitetura. De forma geral, estes canais são</p><p>grandes moléculas com vários domínios (em torno de quatro geralmente), que se</p><p>organizam de forma elaborada de acordo com as funções biológicas que devem</p><p>cumprir (RANG et al., 2020).</p><p>FIGURA 10 – FUNCIONAMENTO DOS CANAIS IÔNICOS COMO ALVO DE FÁRMACOS</p><p>FONTE: Adaptado de Rang et al., (2020)</p><p>TÓPICO 2 — ALVOS PARA AÇÃO DE FÁRMACOS</p><p>99</p><p>2.3 ENZIMAS</p><p>Enzimas são importantes proteínas que funcionam como biocatalisadores</p><p>para reações metabólicas em organismos vivos. Devido a esta grande importância,</p><p>e a possibilidade de interação que existe entre o sítio ativo enzimático e fármacos,</p><p>estas proteínas também servem como alvos para diferentes substâncias com ação</p><p>farmacológica (ALEXANDER et al., 2017f; RANG et al., 2020).</p><p>É comum que fármacos sejam moléculas análogas a substratos enzimá-</p><p>ticos e, a partir de sua ligação com esta enzima, possam alterar de diferentes</p><p>formas seu funcionamento. Primeiramente, a natureza desta ligação pode ser</p><p>tanto competitiva como não competitiva, e reversível ou irreversível (aborda-</p><p>remos este assunto de forma mais profunda no próximo tópico). Além disto, o</p><p>fármaco irá exercer suas funções na enzima alvo como um inibidor, como um</p><p>falso substrato, ou ainda como um pró-fármaco (Figura 11) (ALEXANDER et al.,</p><p>2017f; RANG et al., 2020).</p><p>Um exemplo de ação farmacológica inibitória sobre uma determinada</p><p>enzima é a do ácido acetilsalicílico (AAS) sobre a enzima ciclooxigenase 2 (COX-</p><p>2). Neste caso, o AAS liga-se ao sítio ativo da COX-2 de forma não competitiva</p><p>e irreversível. O resultado desta ligação fármaco e AAS é a inibição da ligação</p><p>da COX-2 com ácido araquidônico e consequente interrupção da geração de</p><p>prostaglandinas (mediadores inflamatórios)(ALEXANDER et al., 2017f; RANG</p><p>et al., 2020).</p><p>Além da ação inibitória, agindo como falso substrato um fármaco</p><p>metabolizado por uma enzima pode gerar um produto anormal que, de alguma</p><p>forma, irá causar interferência em alguma via metabólica. Este é um mecanismo</p><p>comumente observado em fármacos antineoplásicos (como a fluoruracila)</p><p>(ALEXANDER et al., 2017f; RANG et al., 2020).</p><p>Finalmente, como já discorremos a respeito, um fármaco pode ser</p><p>administrado a um paciente na sua forma inativa. Somente após o efeito de alguma</p><p>enzima, transformando este substrato (fármaco inativo) em um produto (fármaco</p><p>ativo), que o fármaco exercerá sua função terapêutica. Estes</p><p>são os pró-fármacos,</p><p>e como exemplo podemos citar o enalapril que, somente se torna ativo após ação</p><p>de esterases sobre sua molécula, sendo transformado então em enaprilato que,</p><p>por sua vez, tem ação inibitória sobre a enzima conversora de angiotensina (ECA)</p><p>(ALEXANDER et al., 2017f; RANG et al., 2020).</p><p>100</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>FIGURA 11 – FUNCIONAMENTO DAS ENZIMAS COMO ALVO DE FÁRMACOS</p><p>FONTE: Adaptado de Rang et al., (2020)</p><p>Uma enzima que serve como alvo para diversos fármacos é a acetilcolinesterase.</p><p>Esta enzima é responsável pela quebra da acetilcolina, um importante neurotransmissor,</p><p>remanescente na fenda sináptica após sua secreção. A inibição desta enzima em algumas</p><p>condições clínicas, como na miastenia gravis, pode ser benéfica nas devidas dosagens. No</p><p>entanto, é comum também que ocorra intoxicação por inibidores da acetilcolinesterase</p><p>presentes como ativos em agrotóxicos. Nestes casos, o paciente apresenta um quadro</p><p>conhecido como síndrome colinérgica, que requer tratamento e atenção médica, pois se</p><p>não tratado pode levar o paciente a óbito rapidamente.</p><p>INTERESSANTE</p><p>2.4 TRANSPORTADORES</p><p>A entrada na célula de íons, grandes moléculas, ou pequenas moléculas</p><p>polares orgânicas se dá, ao menos em parte, a partir de proteínas transportadoras</p><p>(ou, como vimos, canais). Este mecanismo é comum, por exemplo, para entrada</p><p>de moléculas orgânicas através da barreira hematoencefálica, ou mesmo para</p><p>atravessar o epitélio intestinal. A indução farmacológica destas proteínas pode</p><p>tanto induzir como inibir o transporte de substâncias endógenas para o interior</p><p>ou exterior das células (Figura 12) (ALEXANDER et al., 2017g; RANG et al., 2020).</p><p>TÓPICO 2 — ALVOS PARA AÇÃO DE FÁRMACOS</p><p>101</p><p>A energia necessária para ativar o transporte realizado por estas proteínas</p><p>é adquirida, na maioria das vezes, através de moléculas de ATP. Transportadores</p><p>dependentes de ATP são capazes de agir contra o gradiente de concentração e</p><p>podem ser divididos em três classes principais: ATPases do tipo P, que transportam</p><p>principalmente cátions inorgânicos, ATPases do tipo V, que podem funcionar</p><p>tanto como transportadores ou motores, e transportadores ABC (cassete de</p><p>ligação de ATP), que estão envolvidos com efluxo de drogas de dentro de células</p><p>como também no transporte endógeno de solutos (ALEXANDER et al., 2017g;</p><p>RANG et al., 2020).</p><p>FIGURA 12 – FUNCIONAMENTO DAS PROTEÍNAS TRANSPORTADORAS COMO ALVO DE</p><p>FÁRMACOS</p><p>FONTE: Adaptado de Rang et al., (2020)</p><p>102</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Fármacos irão exercer suas funções somente quando ligados a um determinado</p><p>alvo, que por sua vez irá causar uma resposta direta ou indireta, induzindo ao</p><p>efeito farmacológico esperado.</p><p>• Estes alvos farmacológicos geralmente são proteínas e compreendem</p><p>receptores, canais iônicos, enzimas ou proteínas transportadoras.</p><p>• Receptores podem ser ionotrópicos, acoplados a proteína G (GPCR), ligados a</p><p>quinases e receptores nucleares.</p><p>• Canais iônicos são moléculas proteicas transmembranas, que podem alterar</p><p>sua conformação em “aberto” e “fechado”. Apresentam seletividade para</p><p>cátions (Na+, Ca2+ e/ou K+) ou ânions (Cl-).</p><p>• Fármacos que se ligam a enzimas podem agir como indutores ou inibidores</p><p>desta proteína. Além disto, o fármaco também pode como agir como um falso</p><p>substrato ou como um pró-fármaco.</p><p>• Transportadores podem realizar a transporte de grandes moléculas ou</p><p>moléculas que sejam muito hidrofílicas, para o interior da célula. Estas</p><p>proteínas podem agir contra o gradiente de concentração e são, ao menos em</p><p>parte, dependentes de energia.</p><p>103</p><p>1 Existem diferentes formas de um fármaco exercer suas interações com o</p><p>organismo e causar seus efeitos biológicos esperados. Alguns fármacos são</p><p>administrados ao organismo na sua forma inativa e, somente após sofrer</p><p>biotransformação, irão apresentar atividade farmacológica. Sobre o nome</p><p>que se dá a estes fármacos, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Biofarmacos.</p><p>b) ( ) Pró-farmacos.</p><p>c) ( ) Imunofarmacos.</p><p>d) ( ) Terapia gênica.</p><p>e) ( ) Fármacos biotransformados.</p><p>2 Os receptores servem como canais para sinalizarem através de substâncias</p><p>endógenas e como alvos para fármacos. Uma das classes de receptores mais</p><p>comuns na farmacologia é a de receptores acoplados a proteína G (GPCR).</p><p>Estes receptores podem ser referidos na literatura também de acordo com</p><p>suas características estruturais. Sobre o exposto, assinale a alternativa</p><p>CORRETA:</p><p>a) ( ) Receptores ionotrópicos com três domínios de membrana.</p><p>b) ( ) Receptores de ácido gama-aminobutírico.</p><p>c) ( ) Receptores com sete domínios transmembrana.</p><p>d) ( ) Receptores dependentes de voltagem com dois domínios</p><p>intracelulares.</p><p>e) ( ) Receptores com três domínios transmembrana.</p><p>3 Para que um fármaco exerça seus efeitos, deve obrigatoriamente interagir</p><p>com alguma estrutura que compõe o organismo. A respeito dos alvos</p><p>farmacológicos que se enquadram como canais iônicos, assinale a alternativa</p><p>CORRETA:</p><p>a) ( ) É através destes canais que mediadores como a insulina entra</p><p>na célula.</p><p>b) ( ) Grandes moléculas hidrossolúveis só acessam o citosol celular através</p><p>destas estruturas.</p><p>c) ( ) São responsáveis por mediar a entrada na célula de cátions e ânions.</p><p>d) ( ) Moléculas com potencial farmacológico usam estes canais para acessar</p><p>o núcleo celular.</p><p>e) ( ) São estruturas acopladas ao complexo de Golgi e, por isso, modulam</p><p>a síntese proteica.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>104</p><p>4 Enzimas são proteínas catalíticas que exercem grande função fisiológica</p><p>em organismos vivos. Não é por menos que tais estruturas servem como</p><p>alvos de grande interesse nas ciências farmacológicas. A respeito destas</p><p>estruturas, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) A inibição de uma enzima por uma molécula biologicamente ativa irá</p><p>gerar um efeito no organismo, que pode ser terapêutico ou tóxico.</p><p>b) ( ) Uma enzima quando induzida terá sua ação biológica diminuída,</p><p>uma vez que a cinética enzimática ocorre de forma inversamente</p><p>proporcional.</p><p>c) ( ) Um fármaco, ao ligar-se a uma enzima, está agindo como um produto,</p><p>e desta interação um substrato será gerado</p><p>d) ( ) Enzimas possuem função exclusiva de quebrar produtos, e assim</p><p>gerar substratos menores.</p><p>e) ( ) Fármacos que agem sobre enzimas o fazem sem gerar nenhum</p><p>produto, estabilizando todas estas proteínas no seu estado inativo.</p><p>5 Classes de receptores que são utilizados na farmacologia são aquelas que</p><p>geram interação direta com o núcleo da célula. Diversos fármacos interagem</p><p>com estes mediadores para que seus efeitos sejam gerados. A respeito dos</p><p>receptores nucleares, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Apesar de serem nucleares, apresentam domínios na</p><p>membrana celular.</p><p>b) ( ) São receptores onde somente substâncias endógenas tem a</p><p>capacidade de ligar-se.</p><p>c) ( ) Receptores nucleares e classe I geralmente encontram-se no núcleo.</p><p>d) ( ) Ao serem ativados agem como fatores de transcrição.</p><p>e) ( ) São capazes de mediar a entrada de íons na membrana nuclear.</p><p>105</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico, nós iremos abordar a farmacodinâmica em si, caro acadêmi-</p><p>co. Até o momento definimos conceitos gerais de farmacocinética e, na sequên-</p><p>cia, estruturas biológicas presentes nos organismos que irão servir como alvos de</p><p>ação para os fármacos. Sabemos até agora que um fármaco irá interagir com re-</p><p>ceptores, canais iônicos, enzimas e/ou proteínas transportadoras. Já conseguimos</p><p>discernir que alguns destes processos vão causar respostas diretamente em uma</p><p>célula, enquanto outros irão gerar uma reação em cadeia que irá acarretar efeito</p><p>esperado de forma indireta. Além disso, ainda definimos que alguns fármacos</p><p>podem apresentar mais de um alvo para causar seus efeitos.</p><p>O presente tópico, caro acadêmico, irá explanar a respeito das interações</p><p>que ocorrem dos fármacos (como ligantes) com os seus alvos. Por exemplo,</p><p>um fármaco pode agir em um dado receptor induzindo a sua ativação,</p><p>92</p><p>2.1.2 Receptores metabotrópicos ................................................................................................ 93</p><p>2.1.3 Receptores ligados a quinases............................................................................................ 95</p><p>2.1.4 Receptores nucleares (NR) ................................................................................................. 96</p><p>2.2 CANAIS IÔNICOS ....................................................................................................................... 97</p><p>2.3 ENZIMAS ..................................................................................................................................... 99</p><p>2.4 TRANSPORTADORES ............................................................................................................... 100</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 102</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 103</p><p>TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA .......................................... 105</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 105</p><p>2 RELAÇÕES DOSE-RESPOSTA .................................................................................................... 107</p><p>2.1 DOSE-RESPOSTA GRADUADA .............................................................................................. 107</p><p>2.2 DOSE-RESPOSTA QUANTAL .................................................................................................. 108</p><p>3 INTERAÇÕES FÁRMACO E ALVO ............................................................................................ 109</p><p>3.1 AGONISTAS ................................................................................................................................ 109</p><p>3.1.1 Agonistas totais .................................................................................................................. 109</p><p>3.1.2 Agonistas parciais .............................................................................................................. 109</p><p>3.1.3 Agonistas inversos ............................................................................................................. 110</p><p>3.2 ANTAGONISTAS ....................................................................................................................... 111</p><p>3.2.1 Antagonistas de receptores .............................................................................................. 111</p><p>3.2.2 Antagonistas sem receptores ............................................................................................ 114</p><p>4 CONCEITOS EM TERAPIA .......................................................................................................... 114</p><p>4.1 JANELA TERAPÊUTICA .......................................................................................................... 115</p><p>4.2 ÍNDICE TERAPÊUTICO ............................................................................................................ 116</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 118</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 123</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 124</p><p>REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 126</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO</p><p>AUTÔNOMO E PERIFÉRICO ............................................................................ 129</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO .......................... 131</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131</p><p>2 NEURÔNIOS DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO ........................................................ 132</p><p>3 SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO ............................................................................................ 133</p><p>4 SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO............................................................................... 134</p><p>5 SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO ............................................................................................. 137</p><p>6 COMUNICAÇÃO NEURONAL ................................................................................................... 138</p><p>6.1 NEUROTRANSMISSÃO COLINÉRGICA .............................................................................. 139</p><p>6.1.1 Agonistas colinérgicos de ação direta ............................................................................. 140</p><p>6.1.2 Agonistas colinérgicos de ação indireta: anticolinesterásicos (reversíveis) .............. 141</p><p>6.1.3 Agonistas colinérgicos de ação indireta: anticolinesterásicos (irreversíveis) ........... 141</p><p>6.1.4 Antagonistas colinérgicos ................................................................................................. 143</p><p>6.2 NEUROTRANSMISSÃO ADRENÉRGICA............................................................................. 147</p><p>6.2.1 Receptores adrenérgicos (adrenoceptores) .................................................................... 148</p><p>6.2.2 Antagonistas ou bloqueadores α-adrenérgicos ............................................................. 151</p><p>6.2.3 Bloqueadores β-adrenérgicos ........................................................................................... 153</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 156</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 157</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL ............................... 161</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 161</p><p>2 ANSIOLÍTICOS E HIPNÓTICOS ................................................................................................ 162</p><p>2.1 BENZODIAZEPÍNICOS (BDZ) ................................................................................................ 163</p><p>2.1.2 Mecanismo de ação dos BDZs ......................................................................................... 163</p><p>3 ANTIEPILÉPTICOS ........................................................................................................................ 165</p><p>3.1 MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIEPILÉPTICOS ............................................................ 167</p><p>4 ANTIDEPRESSIVOS ...................................................................................................................... 170</p><p>4.1 MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIDEPRESSIVOS ........................................................... 171</p><p>4.2 TRATAMENTO DA MANIA E DO DISTÚRBIO BIPOLAR ................................................ 175</p><p>5 ANTIPSICÓTICOS ......................................................................................................................... 175</p><p>5.1 MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIPSICÓTICOS .............................................................. 177</p><p>6 DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS ..................................................................................... 179</p><p>6.1 DOENÇA DE PARKINSON ...................................................................................................... 179</p><p>6.2 DOENÇA DE ALZHEIMER ...................................................................................................... 181</p><p>7 FÁRMACOS OPIOIDES ................................................................................................................</p><p>e</p><p>consequentemente aumentando sua função, ou inibindo a ativação deste mesmo</p><p>receptor, impedindo que seu ligante endógeno realize seu estímulo.</p><p>Fato é que, a farmacodinâmica é responsável justamente por este estudo</p><p>da interação do fármaco com os seus alvos. Em resumo, podemos definir a</p><p>farmacodinâmica como a parte da farmacologia que estuda o que o fármaco</p><p>irá causar no organismo, ou seja, o seu efeito. Para que este efeito ocorra e seja</p><p>visível, é necessário que uma quantidade razoável de receptores expressos</p><p>sobre as células tenha sido “ligada” pelos fármacos. A partir desta lógica, se um</p><p>fármaco é administrado, e sua biodisponibilidade é baixa ou a dose utilizada não</p><p>é suficiente, não haverá ligação fármaco-receptor o suficiente para que o efeito</p><p>biológico ocorra. Da mesma forma, se este fármaco é administrado numa dose</p><p>alta, onde todos os receptores disponíveis para esta molécula sejam ligados, seu</p><p>efeito máximo terá sido alcançado, e administrar doses maiores não trará nenhum</p><p>benefício terapêutico (na realidade, o risco maior seria de intoxicação) (GOLAN;</p><p>TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; RANG et al., 2020).</p><p>TÓPICO 3 —</p><p>PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>106</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>Em resumo, podemos dizer que a farmacodinâmica tem como princípio</p><p>o fato de que à medida que aumenta a concentração de fármaco no organismo,</p><p>a concentração de receptores ligados também aumentará. Assim, quanto maior</p><p>a dose administrada do fármaco, tanto maior também será a magnitude do seu</p><p>efeito. Algumas condições clínicas, ou mesmo predisposições genéticas, podem</p><p>aumentar ou diminuir a quantidade de receptores nas células de algumas</p><p>pessoas. Assim, estas pessoas expressariam respostas além ou aquém da esperada</p><p>(GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; RANG et al., 2020).</p><p>A farmacologia convencional atualmente baseia-se no princípio da alopatia.</p><p>Segundo Christian Friedrich Samuel Hahnemann, criador deste termo, a alopatia segue o</p><p>princípio do “Contraria contrariis curantur”. Este princípio preconiza que remédios aplicados</p><p>ao corpo apresentariam efeitos contrários aos da doença, como um antipirético baixando</p><p>a temperatura corporal de um paciente com febre. Além disso, quanto maior a dose do</p><p>medicamento, maior seria a resposta do organismo. Embora pareça a única forma de</p><p>terapia, outras formas de administrar substâncias ao organismo com intuito de curar de</p><p>alguma condição clínica também existem. Uma delas, criada justamente por Hahnemann,</p><p>é a homeopatia, que leva em consideração o princípio do “Similia similibus curentur”, onde</p><p>a cura é causada por uma substância que cause sintomas semelhantes ao da doença,</p><p>mas em doses extremamente diluídas. Se você quer saber mais sobre a homeopatia e</p><p>sua história, leia o artigo Similia Similibus Curentur: notação histórica da medicina</p><p>homeopática, de CORRÊA; SIQUEIRA-BATISTA; QUINTAS, (1997). Disponível em: https://</p><p>www.scielo.br/pdf/ramb/v43n4/2026.pdf.</p><p>INTERESSANTE</p><p>É importante ressaltar que a ação farmacológica também irá sofrer</p><p>influência da velocidade que a molécula do fármaco se desliga de seu receptor.</p><p>Este fator depende de propriedades intrínsecas da relação fármaco-receptor, e</p><p>chamamos a este parâmetro de constante de dissociação (Kd). Apesar de que em</p><p>reações químicas a Kd pode variar drasticamente de acordo com a temperatura,</p><p>o corpo humano tem sua temperatura relativamente constante, desta forma</p><p>podemos estabelecer que a Kd é uma constante para cada combinação fármaco-</p><p>receptor. Em termos práticos, a Kd também pode ser definida como a concentração</p><p>fármaco (ligante) em que 50% dos receptores disponíveis (alvos) encontram-se</p><p>ocupados (GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; RANG et al., 2020).</p><p>TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>107</p><p>2 RELAÇÕES DOSE-RESPOSTA</p><p>Na farmacodinâmica, existem diversas formas de analisar as relações</p><p>que existem entre a dose administrada e a resposta gerada pelo organismo. Na</p><p>sequência, iremos abordar as duas principais: a dose-resposta graduada e a dose-</p><p>resposta quantal. A diferença entre as duas é que a dose-resposta graduada se</p><p>limita a descrever o efeito de várias doses de um fármaco sobre um determinado</p><p>indivíduo, ao passo que, a dose-resposta quantal demonstra efeito de várias</p><p>doses de um fármaco sobre uma determinada população de indivíduos.</p><p>2.1 DOSE-RESPOSTA GRADUADA</p><p>As curvas de dose-resposta graduadas são capazes de gerar respostas</p><p>acerca de dois parâmetros de grande importância para a farmacodinâmica: a</p><p>potência e a eficácia. A potência (EC50) de um fármaco diz respeito à concentração</p><p>deste em que são produzidos 50% da sua resposta máxima. Já a eficácia (Emáx) se</p><p>refere à resposta máxima que este fármaco pode gerar no organismo (GOLAN;</p><p>TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; RANG et al., 2020).</p><p>Veja na Figura 13 como estes parâmetros podem ser utilizados para</p><p>comparar a potência e eficácia de dois fármacos, que tenham a mesma finalidade</p><p>clínica. Podemos afirmar que o fármaco X é mais potente que o fármaco Y, uma</p><p>vez que precisou de uma concentração menor que o fármaco Y parar gerar</p><p>metade do seu efeito máximo. Apesar da diferença na potência, os fármacos X e Y</p><p>expressam a mesma eficácia, uma vez que ambos apresentam o mesmo padrão de</p><p>resposta máxima ao fármaco. Observe aqui, caro acadêmico, como os parâmetros</p><p>de potência e eficácia não estão intrinsicamente relacionados, já que um fármaco</p><p>pode apresentar uma baixa eficácia, porém ser extremamente potente (e vice-</p><p>versa) (GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; RANG et al., 2020).</p><p>FIGURA 13 – PARÂMETROS DE POTÊNCIA (EC50) E EFICÁCIA (EMAX) DOS FÁRMACOS X E Y</p><p>OBSERVADOS EM UM GRÁFICO DE CONCETRAÇÃO EM FUNÇÃO DO EFEITO</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>108</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>2.2 DOSE-RESPOSTA QUANTAL</p><p>Diferente da dose-reposta gradual, a dose-resposta quantal irá expressar a</p><p>fração populacional que responde a uma dose estabelecida de um fármaco. Desta</p><p>forma, este tipo de análise da dose pela resposta irá descrever as concentrações</p><p>de um fármaco que irá de fato produzir o efeito esperado na população. Este tipo</p><p>de relação é capaz de exprimir informações de grande valia para a farmacologia,</p><p>pois define na população doses que irão gerar o efeito esperado, além de doses</p><p>potencialmente tóxicas e letais (GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009;</p><p>RANG et al., 2020).</p><p>Pelo fato de indivíduos responderem de diferentes formas ao mesmo</p><p>fármaco, as análises quantais são realizadas em uma faixa de doses. Além disso,</p><p>as respostas são definidas de forma de presentes ou ausentes, como análise</p><p>de um fármaco sendo estudado para possível efeito hipnótico – neste caso, os</p><p>parâmetros finais seriam ausência ou presença de sono (GOLAN; TASHJIAN;</p><p>ARMSTRONG, 2009; RANG et al., 2020).</p><p>A partir das análises, pode-se chegar a parâmetros como a efetividade</p><p>(efeito terapêutico), a toxicidade (efeito adverso) e a letalidade (efeito letal). Como</p><p>fármacos geram diferentes respostas, que não necessariamente são lineares (e sim</p><p>senoides), é comum utilizar o valor de 50% do parâmetro analisado como fator</p><p>de comparação. Sendo assim, as análises quantais geram resultados para dose</p><p>efetiva mediana (ED50), dose tóxica mediana (TD50) e dose letal mediana (LD50)</p><p>(GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; RANG et al., 2020).</p><p>FIGURA 14 – PARÂMETROS DE DOSE EFETIVA (ED</p><p>50</p><p>), DOSE TÓXICA (TD</p><p>50</p><p>) E DOSE LETAL</p><p>(LD</p><p>50</p><p>) EM UM GRÁFICO DE DOSE EM FUNÇÃO DA PORCENTAGEM DE INDIVÍDUOS QUE</p><p>RESPONDEM</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>109</p><p>3 INTERAÇÕES FÁRMACO E ALVO</p><p>Os alvos farmacológicos encontram-se, na maioria das vezes, dentro de</p><p>dois possíveis estados: ativos ou inativos. O processo de ativação ou inativação</p><p>costuma ser reversível, ou seja, um fármaco ao ligar-se em um receptor pode ativá-</p><p>lo e, ao dissociar-se deste, o receptor volta para seu estado inativo. A atividade</p><p>biológica expressa pelos fármacos baseia-se em grande parte na capacidade destas</p><p>moléculas alterarem o estado</p><p>dos seus alvos entre ativos ou inativos (GOLAN;</p><p>TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>É importante definir então, caro acadêmico, alguns conceitos sobre a</p><p>atividade intrínseca dos fármacos. Esta atividade intrínseca determina se o fármaco</p><p>será capaz de ativar total ou parcialmente os receptores com que interage. Neste</p><p>contexto, nós vamos aproveitar as próximas páginas para descrever a diferença</p><p>entre fármacos agonistas, antagonistas e suas respectivas subdivisões (GOLAN;</p><p>TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>3.1 AGONISTAS</p><p>Classicamente, fármacos agonistas são aqueles que se ligam a seus</p><p>receptores estabilizando-os no seu estado ativo. No entanto, veremos a seguir que</p><p>alguns fármacos pertencentes à classe dos agonistas não irão necessariamente se</p><p>comportar desta forma, como o caso dos agonistas inversos (GOLAN; TASHJIAN;</p><p>ARMSTRONG, 2009; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>3.1.1 Agonistas totais</p><p>Define-se como agonista total um fármaco que, ao ligar-se a seu receptor,</p><p>gera uma resposta biológica máxima, tal qual seu ligante endógeno. Assim, es-</p><p>tas moléculas expressam 100% da atividade biológica gerada pelo receptor que</p><p>ativam, por este motivo é comum dizer que estes fármacos possuem atividade in-</p><p>trínseca unitária (Emax = 1). Quando comparados entre si, todos os agonistas totais</p><p>de uma mesma classe de ligantes deve gerar o mesmo Emax (Figura 15) (GOLAN;</p><p>TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>3.1.2 Agonistas parciais</p><p>Agonistas parciais, como o próprio nome sugere, apresentam atividade</p><p>biológica “parcial”. Ou seja, estes ligantes possuem atividade intrínseca maior</p><p>que zero, porém menor que um (0 < Emax < 1). Em termos práticos, mesmo</p><p>administrados em doses maiores que ocupem todos os receptores disponíveis</p><p>nas células, quando comparados a agonistas totais os agonistas parciais não</p><p>terão a capacidade de gerar o mesmo Emax (Figura 15) (GOLAN; TASHJIAN;</p><p>ARMSTRONG, 2009; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>110</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>Ainda assim, os agonistas parciais podem ter uma afinidade maior</p><p>com os receptores do que os agonistas totais. Desta forma, se administrados ao</p><p>mesmo tempo, o agonista parcial se ligaria aos receptores impedindo a ligação</p><p>dos agonistas totais. A consequência deste tratamento seria a diminuição do Emax.</p><p>É correto afirmar então que, agonistas parciais possuem a capacidade de agir</p><p>como antagonistas competitivos (GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009;</p><p>WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>3.1.3 Agonistas inversos</p><p>Geralmente, receptores que não estão ligados a alguma molécula que</p><p>o coloque em estado de atividade encontram-se inativados. Entretanto, alguns</p><p>receptores podem entrar em estado de atividade mesmo na ausência de ligantes</p><p>agonistas. Agonistas inversos são responsáveis por estabilizar os receptores aos</p><p>quais se ligam na forma inativa. Esta atividade intrínseca diminui a concentração</p><p>de receptores ativados para menos do que a observada na ausência de tratamento</p><p>farmacológico. Podemos afirmar então que, agonistas inversos possuem atividade</p><p>intrínseca menor do que zero (Emax < 0) e exercem efeito farmacológico contrário ao</p><p>dos agonistas totais e parciais (Figura 15) (GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG,</p><p>2009; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>FIGURA 15 – COMPORTAMENTE DE FÁRMACOS AGONISTAS TOTAIS, PARCIAIS E INVERSOS</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>111</p><p>Um exemplo de agonista inverso utilizado na clínica é a Naloxona, que se</p><p>liga a receptores opioides do tipo µ para exercer suas funções. Na prática, este fármaco é</p><p>utilizado para tratamento de emergência para overdose ou intoxicação aguda por opioides.</p><p>Assim, a administração da Naloxona pode reverter o quadro de depressão respiratória</p><p>causada por opioides, como a morfina, tramadol ou buprenorfina.</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>INTERESSANTE</p><p>3.2 ANTAGONISTAS</p><p>Definimos como fármacos antagonistas aqueles que são capazes de inibir a</p><p>ação de uma molécula agonista, seja ela endógena ou exógena (fármaco), mas que</p><p>na ausência desta molécula agonista não tem a capacidade de gerar efeito algum.</p><p>Estes fármacos antagonistas ainda podem ser divididos em diferentes classes</p><p>de acordo com as interações que realizam com seus receptores. Primeiramente,</p><p>dividimos de acordo com o fato de possuírem receptores ou não (GOLAN;</p><p>TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009).</p><p>3.2.1 Antagonistas de receptores</p><p>Antagonistas de receptores ortostérico exercem suas funções ligando-</p><p>se diretamente ao sítio ativo onde o agonista se ligaria (ligação ortostérica),</p><p>impedindo a ligação agonista-receptor. Já antagonistas alostéricos são aqueles</p><p>que se ligam a sítios diferentes daqueles aos quais o agonista se ligaria, e desta</p><p>ligação antagonista-sítio alostérico ocorre uma mudança conformacional no</p><p>sítio ativo ortostérico que irá impedir a conformação necessária para que este</p><p>seja ativado (Figura 16) (GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; WHALEN;</p><p>FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>112</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>FIGURA 16 – FUNCIONAMENTO DAS LIGAÇÕES ALOESTÉRICAS</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>Ainda, antagonistas de receptores podem ser classificados como</p><p>irreversíveis. Chamamos de antagonistas irreversíveis aqueles que</p><p>independentemente da concentração de agonista que exista no local, a ligação</p><p>entre o antagonista e seu sítio não irá se reverter, pois estes se ligam de forma</p><p>covalente. Antagonistas irreversíveis causam diminuição na eficácia do fármaco,</p><p>sem alterar sua potência e, pelo fato de não competirem pelo sítio ativo, são</p><p>classificados também como antagonistas não competitivos (Figura 17) (GOLAN;</p><p>TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>Diferente dos antagonistas irreversíveis, os antagonistas competitivos irão,</p><p>como o nome deixa claro, competir pelo local de ligação. Assim, as concentrações</p><p>de agonista e antagonista competitivo irão influenciar em qual atividade irá</p><p>prevalecer. Dessa forma, antagonistas competitivos, quando administrados</p><p>juntamente a um agonista, irão diminuir a potência dos agonistas, sem afetar</p><p>sua eficácia (Figura 17) (GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; WHALEN;</p><p>FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>113</p><p>FIGURA 17 – ATIVIDADE DOS FÁRMACOS ANTAGONISTAS IRREVERSÍVEIS E COMPETITIVOS</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>Um exemplo de antagonistas classicamente utilizado na farmacoterapia de</p><p>pacientes que apresentam arritmias cardíacas ou hipertensão é a classe do β-bloqueadores.</p><p>Como o nome desta classe já deixa claro, estes fármacos apresentam como mecanismo</p><p>de ação central o antagonismo competitivo por receptores beta adrenérgicos, responsáveis</p><p>por receber sinais de indução da noradrenalina. Ou seja, fármacos pertencentes a essa</p><p>classe vão competir com o ligante endógeno, a noradrenalina, pelos receptores, desta</p><p>forma quanto maior forem suas concentrações em relação à noradrenalina, maior será</p><p>o efeito. O bloqueio dos receptores β-adrenérgicos irá gerar diminuição da frequência e</p><p>velocidade da contração cardíaca. Fármacos que pertencem a essa classe são, por exemplo,</p><p>o propranolol e o atenolol.</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>INTERESSANTE</p><p>114</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>3.2.2 Antagonistas sem receptores</p><p>Antagonistas sem receptores não se ligam aos receptores dos agonistas,</p><p>assim causam seu efeito antagonista de forma indireta. Isso pode ocorrer de</p><p>algumas formas diferentes, como a inibição direta da molécula agonista (exemplo:</p><p>anticorpos), através da modulação de uma molécula que interfira na via de</p><p>ativação do agonista, ou mesmo ativando uma via metabólica que se oponha ao</p><p>efeito do agonista. De acordo com estas ações, esta classe de antagonistas pode ser</p><p>dividida ainda em antagonistas químicos ou fisiológicos (funcionais), sendo que</p><p>os químicos impedem a ativação do agonista antes mesmo deste ter oportunidade</p><p>de gerar seu efeito, já os fisiológicos produzem um efeito fisiológico</p><p>oposto aquele</p><p>induzido pelo agonista (GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009; WHALEN;</p><p>FINKEL; PANAVELIL, 2016).</p><p>A intoxicação por mercúrio apresenta sinais clínicos como falta de ar, febre/</p><p>calafrios, tosse, náusea, vômito, diarreia, paladar metálico, dores de cabeça, fraqueza e</p><p>visão embaçada. Se não tratada rapidamente com um antídoto e tratamento de suporte,</p><p>o paciente pode vir a óbito. Isso ocorre, pois o mercúrio é capaz de se ligar com grupos</p><p>sulfidrila do sistema enzimático piruvato-oxidase, e assim inibe a função normal das</p><p>enzimas que dependem dos grupos sulfidrila livres para sua ação. O fármaco Dimercaprol</p><p>é um antídoto para intoxicações causadas pelo mercúrio, uma vez que é capaz de se ligar</p><p>a metais pesados, tendo efeito quelante. Assim, este fármaco é um exemplo de antagonista</p><p>químico. Esta molécula, quando administrada por via intramuscular, é utilizada como</p><p>antídoto também em intoxicações por bismuto, níquel, antimônio e arsênico.</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>INTERESSANTE</p><p>4 CONCEITOS EM TERAPIA</p><p>A ideia das análises farmacocinéticas e farmacodinâmicas realizadas</p><p>sobre uma molécula com efeitos farmacológicos, caro acadêmico, é definir se esta</p><p>substância apresenta potencial terapêutico que supere os riscos relacionados ao</p><p>seu uso. Este fato já deve estar claro agora para você, já que este é o assunto central</p><p>desde o início deste livro, onde começamos por definições de Paracelso e agora</p><p>estamos discutindo como antagonistas competitivos interagem com agonistas</p><p>totais a níveis moleculares.</p><p>TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>115</p><p>Ainda assim, existem alguns conceitos aplicados a terapias farmacológicas</p><p>que são de extrema importância para seus conhecimentos acadêmicos. Os dois</p><p>conceitos mais aplicados neste caso são a janela terapêutica e o índice terapêutico.</p><p>Vejamos a seguir um pouco mais sobre eles.</p><p>4.1 JANELA TERAPÊUTICA</p><p>Definimos como janela terapêutica a faixa de dose que um determinado</p><p>fármaco apresenta em que é eficaz, ou seja, apresenta efeito terapêutico, porém</p><p>sem efeitos adversos de grande importância (toxicidade). É claro que, como cada</p><p>fármaco apresenta diferentes finalidades e características físico-químicas, as</p><p>janelas terapêuticas de cada fármaco tendem a diferir. É importante notar que</p><p>fármacos que se encontram dentro da sua janela terapêutica estão causando seu</p><p>efeito terapêutico sem nenhum efeito adverso de grande importância. Fármacos</p><p>que extrapolam sua janela terapêutica provavelmente irão apresentar sinais de</p><p>toxicidade, e fármacos que não alcançam a faixa de dosagem da janela terapêutica</p><p>não irão apresentar efeito terapêutico e nem tóxico (Figura 18) (GOLAN;</p><p>TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009).</p><p>FIGURA 18 – JANELA TERAPÊUTICA E DIFERENTES SITUAÇÕES</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>Fármacos que apresentam janelas terapêuticas maiores tendem a ser mais</p><p>seguros, já que a faixa de dose para serem terapêuticos é grande e, assim, acabado</p><p>é mais difícil que um paciente acidentalmente extrapole a dose terapêutica e</p><p>116</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>apresente sinais de toxicidade. Por outro lado, fármacos com janela terapêutica</p><p>muito estreita podem exigir um cuidado maior com a farmacoterapia, já que um</p><p>pequeno erro de dose pode levar o paciente a um quadro de intoxicação. Para</p><p>estes fármacos com pequenas janelas terapêuticas, algumas técnicas podem ser</p><p>empregadas em terapia clínica para manter as concentrações plasmáticas sob</p><p>controle (GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009).</p><p>4.2 ÍNDICE TERAPÊUTICO</p><p>Agora que você entende o conceito de janela terapêutica, vamos ao Índice</p><p>Terapêutico (IT), às vezes, referido na literatura também como relação terapêutica.</p><p>O índice terapêutico é um valor que expressa numericamente a janela terapêutica</p><p>de um determinado fármaco, e se dá dividindo o valor da dose tóxica mediana</p><p>(TD50) pela dose efetiva mediana (ED50) em uma população (Figura 19) (GOLAN;</p><p>TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009). A fórmula do IT é a seguinte:</p><p>O IT é útil, pois é capaz de fornecer numericamente a margem de segurança</p><p>relativa de um fármaco. Um alto valor de IT representa uma janela terapêutica</p><p>grande, onde a dose tóxica pode ser, por exemplo, cem vezes maior que a dose</p><p>terapêutica. Já um valor de IT baixo representa uma janela terapêutica mais</p><p>estreita, onde a dose terapêutica e a dose tóxica acabam estando mais próximas</p><p>(GOLAN; TASHJIAN; ARMSTRONG, 2009).</p><p>FIGURA 19 – ÍNDICE TERAPÊUTICO</p><p>FONTE: Os autores (2020)</p><p>TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>117</p><p>Na prática podemos aplicar o IT da seguinte forma. Se compararmos o</p><p>fármaco X, que possui sua ED50 de 5 mg/kg e sua TD50 de 10 mg/kg, com o fármaco</p><p>Y que tem sua ED50 de 1 mg/kg e sua TD50 de 5 mg/kg, qual seria mais seguro?</p><p>Se não prestarmos atenção logo podemos indagar que o fármaco Y é mais</p><p>tóxico, uma vez que com 5mg/kg apresenta sinais de toxicidade em metade da</p><p>população em que foi testado (dose tóxica mediana (TD50)). Já o fármaco X, apre-</p><p>senta a sua XX de 10 mg/kg, nos levando a concluir que seria necessário o dobro</p><p>da dose para causar toxicidade a metade da população analisada, certo? Errado!</p><p>Embora a análise da toxicidade de forma isolada esteja correta, quando</p><p>avaliamos os dados de TD50 com os dados de dose eficaz mediana (ED50) para</p><p>gerar o índice terapêutico, chegamos à conclusão de que o fármaco Y é mais</p><p>seguro. Vejamos, se aplicarmos a fórmula do IT logo temos:</p><p>• ITfármaco X = 2</p><p>• ITfármaco Y = 5</p><p>Ora, o IT do fármaco Y é maior que o expresso pelo fármaco X, assim</p><p>podemos concluir que o fármaco Y possui uma janela terapêutica maior e, desta</p><p>forma, é mais seguro. Com estes resultados podemos inferir também que a TD50</p><p>do fármaco Y é cinco vezes maior que sua ED50, ao passo que a TD50 do fármaco X</p><p>é apenas duas vezes maior que sua ED50.</p><p>118</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>RECEPTORES OPIOIDES ATÉ O CONTEXTO ATUAL POR</p><p>MARTINS et al., (2012)</p><p>Rodrigo Tomazini Martins</p><p>Daniel Benzecry de Almeida</p><p>Felipe Marques do Rego Monteiro</p><p>Pedro André Kowacs</p><p>Ricardo Ramina</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Desde os tempos remotos, o ópio já vinha sendo utilizado nas diversas</p><p>culturas, tanto como componente de fórmulas terapêuticas como também com</p><p>finalidade recreativa. Com os avanços de técnicas biomoleculares e o consequente</p><p>descobrimento de receptores opioides, houve maior compreensão de seus efeitos</p><p>e a possibilidade da síntese de novos derivados, tendo grande impacto sobre</p><p>a população, pela possibilidade de tratar a dor de forma sem precedentes. A</p><p>identificação dos receptores opioides em laboratório muito contribuiu para essa</p><p>evolução, sendo o enfoque atual de diversas pesquisas para o descobrimento de</p><p>novos receptores e seus subtipos, na esperança de compreender os diversos efeitos</p><p>terapêuticos e colaterais dessa classe medicamentosa, visa permitir a criação de</p><p>fármacos mais específicos e de melhor tolerabilidade.</p><p>OPIOIDES: ASPECTOS HISTÓRICOS</p><p>O ópio é conhecido desde a antiguidade, e tem sido usado pelo homem</p><p>muito provavelmente antes da história escrita. Existem imagens arqueológicas</p><p>que sugerem o seu emprego nas culturas sumérias. Além disso, diversos estudos</p><p>demonstram que a maioria dos povos antigos já conhecia e utilizava esta substância,</p><p>incluindo os assírios, árabes, egípcios, gregos, romanos, chineses e persas. Desde</p><p>3400 a.C. a papoula parece ter sido cultivada na baixa Mesopotâmia. Os Sumérios</p><p>se referem a ela como Hul Gil, a "planta da alegria" e eles logo ensinariam aos</p><p>assírios os efeitos eufóricos deste extrato vegetal. Essa arte seria repassada para</p><p>os babilônios, que por sua vez, passariam seu conhecimento aos egípcios.</p><p>Em 1300 a.C. na capital de Tebas, os egípcios começaram o cultivo</p><p>de ópio thebaicum. O comércio de ópio floresce durante o reinado de Tutmés</p><p>IV, Akhenaton e Tutankhamon. A rota de comércio incluía os fenícios, que</p><p>transportariam o item para o Mar Mediterrâneo e Europa. Hipócrates, em 460</p><p>a.C., rejeitou os atributos mágicos do ópio, mas concordou que era útil</p><p>como um</p><p>narcótico. Em 330 a.C. Alexandre, o Grande, introduziu o ópio para o povo da</p><p>Pérsia e da Índia. Os hinos religiosos hindus (Vedas) já citavam os poderes do</p><p>ópio. Vários textos médicos antigos, tais como os descritos por Avicena e Galeno</p><p>revelavam seu uso como analgésico potente.</p><p>TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>119</p><p>O ópio thebaicum, é introduzido pela primeira vez na China por</p><p>comerciantes árabes em 400 d.C. No século XII, antigos tratados médicos indianos</p><p>como Sarangdhar Samhita descreve o uso de ópio para diarreia e disfunções</p><p>sexuais. Por volta de 1500, os portugueses iniciam o hábito de fumar ópio. Os</p><p>efeitos eram instantâneos. Um século após, moradores da Pérsia e da Índia</p><p>começam a comer e beber misturas de ópio com finalidade recreativa.</p><p>No início do século XVI, o ópio é reintroduzido na literatura médica</p><p>europeia por Paracelsus como láudano: um composto de ópio, sucos cítricos</p><p>e quintessência de ouro. Denominadas de pílulas pretas ou "Pedras da</p><p>Imortalidade", eram feitas de thebaicum, sendo receitadas como analgésicos.</p><p>Em 1680, o botânico inglês, Thomas Sydenham, após estudar as variedades da</p><p>papoula, introduz o Laudanum Sydenham, um composto de ópio, vinho de</p><p>cerejas e ervas, recomendando-o como poderoso analgésico e antidiarreico e</p><p>cita: "de todos os remédios que o poderoso Deus favoreceu a dar ao homem</p><p>para aliviar seus sofrimentos, nenhum é tão universal e eficaz como o ópio".</p><p>Na metade do século XVIII, Lineu, discípulo de Paracelsus foi o primeiro a</p><p>classificar a papoula, Papaver somniferum – "indutor de sono". A sua extração é</p><p>feita pelo seu látex, retirado por pequenas escarificações em suas flores ainda</p><p>verdes, de onde sai um líquido leitoso. As variedades mais tradicionais contêm</p><p>neste sumo até 10% de alcaloides medicinais, em especial, a morfina, além</p><p>de outras substâncias como a tebaína, a codeína, a papaverina e a noscapina,</p><p>identificadas anos mais tarde.</p><p>Em 1803, Friedrich Sertürner, na Alemanha, descobriu o ingrediente ativo</p><p>do ópio, dissolvendo-o em ácido, em seguida, neutralizando-o com amônia. O</p><p>resultado: um alcaloide – principium somniferum ou morfina. Alguns anos mais</p><p>tarde, em 1827, a companhia Merck & Co, na Alemanha, começa a produção</p><p>comercial de morfina. Em 1843, Alexander Wood, de Edimburgo, na Escócia,</p><p>descobre nova forma de administrar a morfina, pela aplicação através de uma</p><p>seringa. Seus efeitos são instantâneos e três vezes mais potentes. Charles Romley</p><p>A. Wright, pesquisador inglês, em 1874, foi o primeiro a sintetizar a heroína,</p><p>ou diacetilmorfina, pela fervura da morfina. No início do século XIX, em várias</p><p>revistas médicas, os médicos discutem os efeitos colaterais do uso de heroína e</p><p>os sintomas de abstinência. Atualmente, a Austrália, a Turquia e a Índia são os</p><p>maiores produtores de ópio para fins medicinais.</p><p>OS RECEPTORES</p><p>Desde a metade do século XX, existia o conceito da provável existência</p><p>de estruturas celulares que reconhecessem as diversas moléculas, permitindo</p><p>assim a sua ativação. Essas estruturas, denominadas receptores, demonstravam</p><p>alto grau de especificidade para cada substância. No entanto, somente com</p><p>o desenvolvimento de modernas técnicas de biologia molecular seria possível</p><p>conhecer os seus detalhes.</p><p>120</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>Na década de 1940, os primeiros antagonistas opioides surgiram: a</p><p>naloxona e posteriormente a naltrexona. Ainda nesse período foi desenvolvido o</p><p>primeiro opioide sintético: a meperidina. O interesse nesta área aumentou ainda</p><p>mais com o franco investimento do governo americano, em especial na era Nixon,</p><p>o qual declarou Guerra contra a Heroína, estimulando a criação de centros de</p><p>pesquisa sobre os opioides. Em meados da década de 1960, Paul Janssen sintetizou</p><p>pela primeira vez o fentanil em seu laboratório e, nos anos 1970, foram isolados</p><p>e purificados os primeiros polipeptídeos endógenos (encefalinas e β-endorfinas).</p><p>O estudo pioneiro de Candace Pert e Solomon Snyder, publicado em março de</p><p>1973 demonstrou a existência de receptores específicos da naloxona no cérebro de</p><p>mamíferos e no intestino de cobaias.</p><p>Um ano após esta descoberta, em maio de 1974, vários pesquisadores de</p><p>diversos centros se reuniram em Boston, no Neuroscience Research Program. Foram</p><p>discutidos temas como: detalhes sobre a ligação dos receptores opioides e as</p><p>primeiras publicações sobre os opioides endógenos. Os estudos farmacológicos</p><p>da nalorfina em seres humanos demonstravam um resultado interessante. Em</p><p>doses pequenas, esta substância antagonizava os efeitos analgésicos da morfina.</p><p>No entanto, em doses maiores, o efeito analgésico retornava. Com esse achado,</p><p>ficava aparente a existência de mais de um receptor para explicar esta dualidade.</p><p>A importância dos opioides tem papel marcante na analgesia e a imagem</p><p>da papoula do ópio aparece em símbolos tradicionais de entidades médicas, tais</p><p>como o Royal College of Anaesthetists. Por convenção, denominam-se opiáceo a</p><p>todas as substâncias de origem natural, presentes no ópio da papoula, enquanto,</p><p>os opioides seriam todas as moléculas, naturais ou sintéticas, que tenham ação em</p><p>seus receptores específico. Outras papoulas, em especial a Papaver bracteatum e a</p><p>Papaver orientale são ricas em tebaína e servem para a produção de hidromorfona,</p><p>hidrocodona e outros opioides sintéticos. Por meio de pesquisas com preparados</p><p>de íleo de roedores foi possível identificar três receptores da classe dos opioides</p><p>e foram nomeados com letras gregas de acordo com a correspondente inicial de</p><p>cada substância específica utilizada para estimulá-lo. Com isso, foi denominado</p><p>receptor µ (mu) ao receptor ativado pela morfina; κ (kappa) àquele responsivo</p><p>a cetociclazocina e; σ (sigma) pela substância SKF 10047. Esta última mais tarde</p><p>viria a ser provada como não sendo da classe dos receptores opioides. Os efeitos</p><p>psicomiméticos descritos relacionados à fenciclidina, que a princípio pareciam ser</p><p>relacionados aos receptores sigma foram posteriormente reanalisados, chegando-</p><p>se à conclusão de que seriam, na verdade, decorrentes de bloqueio de receptores</p><p>glutamatérgicos do tipo NMDA. Da mesma maneira, estudos subsequentes</p><p>falharam em demonstrar a existência do receptor do tipo sigma.</p><p>Na década de 1980, outro grupo de polipeptídeos endógenos foi</p><p>identificado e foram chamados de dinorfinas. Esses peptídeos derivam de</p><p>precursores maiores que em mamíferos são: a proencefalina A, a prodinorfina e</p><p>a proopiomelanocortina. Mais tarde, Kosterlitz e colaboradores utilizando-se de</p><p>ratos vas deferens determinou um novo tipo de receptor e, seguindo a mesma</p><p>regra de nomenclatura, denominou δ (delta), com isso, perfazendo novamente</p><p>TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS GERAIS DE FARMACODINÂMICA</p><p>121</p><p>um total de três receptores opioides. O receptor δ foi o primeiro a ser clonado</p><p>em laboratório. Possui como agentes agonistas principais a encefalina (deltorfina)</p><p>cuja seletividade é baixa, mas possui alta afinidade, e também o SIOM, derivado</p><p>da naltrexona, mais seletivo e potente. Antagonizando tal substância, encontra-</p><p>se o naltrindol, também derivado da naltrexona, sendo este, o primeiro a ser</p><p>sintetizado em laboratório.</p><p>Nos receptores κ, o primeiro agonista identificado foi a cetociclazocina</p><p>e como antagonista possui a nor-binaltorfimina, de potente ação. Por fim,</p><p>nos receptores µ, teve como primeiro agonista identificado a morfina, e</p><p>como antagonista, a naloxona. De acordo com o subtipo dos receptores e sua</p><p>localização no sistema nervoso, algumas ações são bem definidas. Os receptores</p><p>δ são responsáveis primariamente pela analgesia, mas também por modular</p><p>funções cognitivas e de dependência física. São localizados nos núcleos pontinos,</p><p>amígdalas, bulbo olfatório, córtex cerebral profundo e nos neurônios sensitivos</p><p>periféricos. Cabem aos receptores κ as funções de nocicepção, termorregulação,</p><p>controle de diurese e secreção neuroendócrina. Estão localizados no hipotálamo,</p><p>substância cinzenta periaquedutal,</p><p>substância gelatinosa na medula espinhal,</p><p>além de neurônios sensitivos periféricos. Quanto aos receptores µ, estes regulam</p><p>funções como a nocicepção, o ciclo respiratório e o trânsito intestinal, estando</p><p>localizados nas lâminas III e V do córtex cerebral, no tálamo, substância cinzenta</p><p>periaquedutal, substância gelatinosa e trato gastrintestinal.</p><p>Em humanos, os genes que codificam a transcrição destes receptores</p><p>estão localizados da seguinte maneira: no cromossomo 1 para os receptores δ,</p><p>no braço longo do cromossomo 8 para os receptores κ e por fim os receptores</p><p>µ são codificados pelo cromossomo 3. Estes receptores, na membrana celular,</p><p>são acoplados à proteína G. Quando estimulados por um fármaco opioide,</p><p>ocorre a inibição da enzima adenilato ciclase, reduzindo o nível intracelular de</p><p>adenosil monofosfato cíclico. Com isso há o fechamento dos canais de cálcio</p><p>voltagem dependentes nas terminações pré-sinápticas, reduzindo a liberação de</p><p>neurotransmissores e ainda a ativação dos receptores, porém não os canais de</p><p>K+ na membrana pós-sináptica. Isso causa uma hiperpolarização desse neurônio,</p><p>bloqueando parcialmente a transmissão do estímulo doloroso.</p><p>Existe uma proposta defendida por biologistas moleculares de mudança</p><p>na nomenclatura dos receptores δ, κ e µ, os quais foram estabelecidos por</p><p>farmacologistas. Por esta proposta, os receptores passariam a serem chamados</p><p>de DOR, KOR e MOR (delta, kappa e mu respectivamente). No entanto, tal</p><p>nomenclatura ainda continuou sendo fonte de controvérsias. Por fim, a International</p><p>Union of Pharmachologists (IUPHAR) definiu uma nova nomenclatura de acordo</p><p>com a sequência histórica de clonagem dos receptores. Denominou-se que os</p><p>receptores seriam nomeados por OP, seguidos de um número subscrito referente</p><p>a ordem cronológica de clonagem e, quando necessário, uma letra a seguir para</p><p>os subtipos. Sendo assim os receptores DOP passaram a ser denominados OP1,</p><p>KOP seriam descritos como OP2 e assim sucessivamente.</p><p>122</p><p>UNIDADE 2 — CONCEITOS GERAIS DE FARMACOLOGIA</p><p>Em estudos de atividade com radioligantes, foi determinada a presença</p><p>de dois subtipos de receptores µ. O receptor µ1 tem o sítio de ligação sensível</p><p>à naloxonazina e os receptores µ2 são seletivos para morfina. Dois antagonistas</p><p>dos receptores δ foram comparados, o naltrindol e a encefalina. O subtipo δ1</p><p>foi designado ao local onde o naltrindol bloqueou os efeitos da deltanorfina e</p><p>δ2, o local onde uma encefalina (DALCE) bloqueou seletivamente a ação de</p><p>outra encefalina (DPDPE). A presença de dois subtipos de receptores κ foi</p><p>demonstrada utilizando-se de cetociclazocina radiomarcada. Determinou-se</p><p>de subtipo κ1 o local sensível a substância U50,488H, enquanto o κ2 acabou</p><p>por ser considerado um dímero do receptor κ1. Dentre os receptores κ1, há</p><p>outra subdivisão, sendo categorizada de acordo com a afinidade do receptor</p><p>pela dinorfina. Com isso, designou-se κ1a o de menor afinidade e κ1b o de</p><p>maior afinidade. O subtipo κ3 decorreu de estudos com uma solução contendo</p><p>agonista e antagonista (naloxona benzoil-hidrazona), determinando o local</p><p>onde esta teria ação antagonista à morfina.</p><p>Novos subtipos de receptores têm sido estudados, determinando que os</p><p>receptores ε (épsilon) têm sua localização em linfócitos e tem alta afinidade por</p><p>β-endorfina20. Outro subtipo, denominado ζ (zeta), está presente nas células da</p><p>pele, córnea e cérebro, sendo seletivos para met-encefalina. São relacionados ao</p><p>crescimento de algumas células tumorais. Ainda outros subtipos de receptores</p><p>são descritos como o: ι (iota), cuja encefalina apresenta alta afinidade, estando</p><p>presente no íleo de coelhos e; λ (lambda) com afinidade por epoximorfina, sendo</p><p>encontrado em preparados frescos de membranas celulares de ratos.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>No futuro, maiores avanços nas técnicas de biologia molecular e</p><p>isolamento de DNA complementar trarão, provavelmente, novos conhecimentos</p><p>e uma melhor compreensão e identificação dos receptores opioides, incluindo</p><p>suas ações.</p><p>FONTE: Adaptado de <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-</p><p>00132012000100014&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 3 dez. 2020.</p><p>123</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem</p><p>pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao</p><p>AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.</p><p>CHAMADA</p><p>• A farmacodinâmica é responsável pelo estudo da interação do fármaco com os</p><p>seus alvos.</p><p>• As relações dose-resposta graduais se limitam a descrever o efeito de várias</p><p>doses de um fármaco sobre um determinado indivíduo, e determinam</p><p>parâmetros como a potência e a eficácia.</p><p>• As relações dose-resposta quantais demonstram o efeito de várias doses de um</p><p>fármaco sobre uma determinada população de indivíduos, e determinam parâ-</p><p>metros como dose efetiva mediana, dose tóxica mediana e dose letal mediana.</p><p>• Com base nas suas características intrínsecas, um fármaco pode agir como</p><p>agonista ou antagonista.</p><p>• Fármacos agonistas são aqueles que se ligam a seus receptores estabilizando-os</p><p>no seu estado ativo. Podem ser subdivididos em totais, parciais e inversos.</p><p>• Fármacos antagonistas são aqueles que são capazes de inibir a ação de uma</p><p>molécula agonista, seja ela endógena ou exógena (fármaco), mas que na ausência</p><p>desta molécula agonista não tem a capacidade de gerar efeito nenhum. Podem</p><p>ser divididos em antagonistas com receptores e sem receptores. Ainda, aqueles</p><p>com receptores, em irreversíveis e competitivos.</p><p>• Janela terapêutica é a faixa de dose que um determinado fármaco apresenta em</p><p>que é eficaz, ou seja, apresenta efeito terapêutico, porém sem efeitos adversos</p><p>de grande importância (toxicidade).</p><p>• Índice terapêutico é um valor que expressa numericamente a janela terapêutica</p><p>de um determinado fármaco, e se dá dividindo o valor da dose tóxica mediana</p><p>(TD50) pela dose efetiva mediana (ED50) em uma população.</p><p>124</p><p>1 Relações entre dose e respostas de fármaco podem ser analisadas de várias</p><p>formas e sob diferentes perspectivas. Isso ocorre pelo fato de que no estudo</p><p>da farmacodinâmica o máximo de informações acerca do fármaco analisado</p><p>deve ser levantando antes de tornar-se um medicamento no mercado</p><p>farmacêutico. Assim, a respeito das relações dose-resposta, uma curva de</p><p>análise dose-resposta graduada é capaz de estimar quais valores?</p><p>a) ( ) Dose efetiva mediana populacional.</p><p>b) ( ) Potência e eficácia.</p><p>c) ( ) Clearence e biodisponibilidade.</p><p>d) ( ) Tempo de resposta e bioequivalência.</p><p>e) ( ) Coeficiente de partição óleo: água.</p><p>2 As interações que ocorrem entre fármacos e seus receptores são</p><p>determinadas, em parte, pela atividade intrínseca do fármaco. Ou seja, a</p><p>atividade intrínseca do fármaco irá determinar se este possui atividade</p><p>como um agonista ou antagonista. A respeito dos agonistas totais e sua</p><p>eficácia, podemos afirmar que possuem:</p><p>a) ( ) Emax > 1</p><p>b) ( ) Emax = 1</p><p>c) ( ) 0 < Emax < 1</p><p>d) ( ) Emax < 0</p><p>e) ( ) Emax = 0</p><p>3 Dividimos agonistas em totais, parciais e inversos. Todos possuem</p><p>características farmacológicas que fazem com que possam ser utilizados</p><p>terapeuticamente. No que diz respeito a agonistas parciais, assinale a</p><p>alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Possuem atividade intrínseca unitária.</p><p>b) ( ) Exercem efeito farmacológico contrário aos agonistas totais.</p><p>c) ( ) Possuem baixa afinidade com seus receptores.</p><p>d) ( ) São também conhecidos como superagonistas.</p><p>e) ( ) Podem agir como antagonistas competitivos.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>125</p><p>4 Fármacos antagonistas podem apresentar afinidade com receptores</p><p>específicos ou não. Podem realizar ligações alostéricas ou ortostéricas e</p><p>ainda serem reversíveis ou competitivos. A respeito do comportamento dos</p><p>antagonistas competitivos e sua influência sobre a potência de um fármaco</p><p>agonista, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) A potência irá aumentar.</p><p>b) ( ) A potência irá ser mantida.</p><p>c) ( ) A potência do fármaco irá diminuir.</p><p>d)</p><p>( ) A potência será igual a eficácia.</p><p>e) ( ) A eficácia será menor que a potência.</p><p>5 O fármaco X apresenta os seguintes resultados em uma análise de dose-</p><p>resposta quantal:</p><p>• TD50 = 50 mg/kg</p><p>• ED50 = 5 mg/kg</p><p>Sobre estes dados, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Este fármaco não é seguro para ser utilizado pela população de forma</p><p>geral.</p><p>b) ( ) Na dose de 5 mg/kg o fármaco é capaz de causar efeito terapêutico</p><p>em todos os indivíduos testados.</p><p>c) ( ) Na dose de 50 mg/kg metade da população testada apresentou sinais</p><p>terapêuticos.</p><p>d) ( ) Se comparado a um fármaco com índice terapêutico de 5, conclui-se</p><p>que o fármaco X é mais seguro.</p><p>e) ( ) Este fármaco é seguro para ser utilizado até doses de 100 mg/kg.</p><p>126</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALAGGA, A. A.; GUPTA, V. Drug Absorption. [s.l.] StatPearls Publishing, 2020.</p><p>ALEXANDER, S. P. H. et al. The concise guide to pharmacology 2017/18: Ligand-</p><p>gated ion channels. British Journal of Pharmacology, v. 174, p. S130–S159, 1</p><p>dez. 2017a.</p><p>ALEXANDER, S. P. H. et al. The concise guide to pharmacology 2017/18: G</p><p>protein-coupled receptors. British Journal of Pharmacology, v. 174, p. S17–S129,</p><p>1 dez. 2017b.</p><p>ALEXANDER, S. P. H. et al. The concise guide to pharmacology 2017/18: Catalytic</p><p>receptors. British Journal of Pharmacology, v. 174, p. S225–S271, 1 dez. 2017c.</p><p>ALEXANDER, S. P. H. et al. The concise guide to pharmacology 2017/18: Nuclear</p><p>hormone receptors. British Journal of Pharmacology, v. 174, p. S208–S224, 1</p><p>dez. 2017d.</p><p>ALEXANDER, S. P. H. et al. The concise guide to pharmacology 2017/18:</p><p>Voltage-gated ion channels. British Journal of Pharmacology, v. 174, p. S160–</p><p>S194, 1 dez. 2017e.</p><p>ALEXANDER, S. P. H. et al. The concise guide to pharmacology 2017/18: Enzymes.</p><p>British Journal of Pharmacology, v. 174, p. S272–S359, 1 dez. 2017f.</p><p>ALEXANDER, S. P. H. et al. The concise guide to pharmacology 2017/18:</p><p>Transporters. British Journal of Pharmacology, v. 174, p. S360–S446, 1 dez. 2017g.</p><p>CBO. CBO - Conselho Brasileiro de Oftalmologia - Uso correto dos colírios.</p><p>Disponível em: https://www.cbo.net.br/novo/publico-geral/uso-colirios.php.</p><p>Acesso em: 23 jul. 2020.</p><p>CHOW, S. C. Bioavailability and bioequivalence in drug development. Wiley</p><p>Interdisciplinary Reviews: Computational Statistics, v. 6, n. 4, p. 304–312, 2014.</p><p>CORRÊA, A.; SIQUEIRA-BATISTA, R.; QUINTAS, L. Similia Similibus Curentur:</p><p>notação histórica da medicina homeopática. Revista da Associação Médica</p><p>Brasileira, v. 43, n. 4, p. 347–51, 1997.</p><p>DOOGUE, M. P.; POLASEK, T. M. The ABCD of clinical pharmacokinetics.</p><p>Therapeutic Advances in Drug Safety, v. 4, n. 1, p. 5–7, 2013.</p><p>GOLAN, D. E.; TASHJIAN, A. H.; ARMSTRONG, A. W. Princípios de</p><p>farmacologia: a base fisiopatológica da farmacoterapia. 2. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Guanabara Koogan, 2009.</p><p>127</p><p>HOLFORD, N.; YIM, D. S. Volume of distribution. Translational and Clinical</p><p>Pharmacology, v. 24, n. 2, p. 74–77, 22 jul. 2016.</p><p>LI, Y. et al. Current trends in drug metabolism and pharmacokinetics. Acta</p><p>Pharmaceutica Sinica B, v. 9, n. 6, p. 1113–1144, 1 nov. 2019.</p><p>MARTINS, R. T. et al. Receptores opioides até o contexto atual. Revista Dor, v. 13,</p><p>n. 1, p. 75–79, mar. 2012.</p><p>MOURA, M. R. L.; REYES, F. G. R. Interação fármaco-nutriente: Uma revisão.</p><p>Revista de Nutricao, v. 15, n. 2, p. 223–238, maio 2002.</p><p>NELSON, E. 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Rio de Janeiro: Guanabara</p><p>Koogan, 2020.</p><p>SHARGEL, L.; WU-PONG, S.; YU, A. B. C. Applied Biopharmaceutics &</p><p>Pharmacokinetics. 6. ed. Nova York: MC Graw Hill Education, 2012.</p><p>WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed.</p><p>Porto Alegre: Artmed, 2016.</p><p>ZHANG, Z.; TANG, W. Drug metabolism in drug discovery and development.</p><p>Acta Pharmaceutica Sinica B, v. 8, n. 5, p. 721–732, 1 set. 2018.</p><p>128</p><p>129</p><p>UNIDADE 3 —</p><p>FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O</p><p>SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO</p><p>E PERIFÉRICO</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• identificar os princípios básicos que regem a comunicação neuronal entre</p><p>neurônios e nervos periféricos;</p><p>• conhecer os principais fármacos que atuam no sistema nervoso central,</p><p>seus mecanismos de ação, aplicações clínicas, efeitos adversos e as</p><p>interações medicamentosas mais relevantes;</p><p>• entender como atuam os fármacos no sistema nervoso periférico,</p><p>suas utilidades clínicas, efeitos colaterais e as principais interações</p><p>medicamentosas;</p><p>• compreender como ocorrem os mecanismos inflamatórios e alérgicos no</p><p>organismo;</p><p>• entender os aspectos fundamentais do tratamento farmacológico da</p><p>inflamação e da alergia.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,</p><p>você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo</p><p>apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>TÓPICO 2 – FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>TÓPICO 3 – FARMACOLOGIA DOS PROCESSO INFLAMATÓRIOS</p><p>E ALÉRGICOS</p><p>130</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos</p><p>em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá</p><p>melhor as informações.</p><p>CHAMADA</p><p>131</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos os principais fármacos utilizados</p><p>no Sistema Nervoso Periférico (SNP), mas antes disso precisamos relembrar e</p><p>aprofundar os conhecimentos essenciais sobre o funcionamento fisiológico deste</p><p>sistema. Você sabia que o sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central</p><p>(SNC; cérebro e medula espinal) e sistema nervoso periférico (SNP; tecidos</p><p>neuronais fora do SNC)? Por sua vez, o sistema nervoso periférico é subdividido</p><p>em porções de neurônios eferentes e aferentes.</p><p>Os neurônios eferentes levam os sinais do SNC (cérebro e medula espinal)</p><p>para a periferia. Mas, que periferia? Periferia, nada mais é que os tecidos periféricos</p><p>(sistema digestivo, respiratório, locomotor, endócrino, entre outros). Diante desta</p><p>informação, você é capaz de imaginar o que fazem os neurônios aferentes, então?</p><p>Acertou se pensou no transporte contrário, isso mesmo, os neurônios aferentes</p><p>levam as informações dos tecidos periféricos para o SNC.</p><p>Se não bastassem tantas divisões, a porção motora eferente é subdividida</p><p>em autônoma e somática. O sistema nervoso autônomo (SNA) é independente,</p><p>pois suas atividades não podem ser controladas pela nossa consciência. Ele</p><p>controla, por exemplo, a digestão, o débito cardíaco e o fluxo sanguíneo. O</p><p>sistema nervoso somático (SNS) é responsável pelas funções que desenvolvemos</p><p>de forma consciente e controlada, como os movimentos musculares e a respiração</p><p>(KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>Quando você sente fome, é o SNA avisando para ir comer, mas a atitude</p><p>de se levantar do sofá para buscar comida é obra do seu SNS (voluntário). Na</p><p>figura a seguir, você conseguirá decifrar melhor como ocorrem as divisões do</p><p>sistema nervoso.</p><p>TÓPICO 1 —</p><p>FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>132</p><p>FIGURA 1 – ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>2 NEURÔNIOS DO SISTEMA</p><p>NERVOSO AUTÔNOMO</p><p>Caro acadêmico, respire fundo agora, vamos abordar alguns termos que</p><p>no início podem parecer bastante complexos, mantenha a calma! No decorrer da</p><p>leitura tudo ficará mais claro, tenha paciência com seu processo de aprendizado,</p><p>releia o texto, busque materiais complementares, estude o assunto nos livros</p><p>indicados nas referências até que compreenda o assunto. Vamos lá!</p><p>O que são os neurônios eferentes? O SNA faz a transmissão dos impulsos</p><p>nervosos do SNC para os órgãos efetores através dos neurônios eferentes pré-</p><p>ganglionares (localizados no interior do SNC) e pós-ganglionares (localizados</p><p>no SNP, que se originam em gânglios). Geralmente, os neurônios eferentes não</p><p>têm bainha de mielina e terminam nos órgãos efetores, como o músculo cardíaco,</p><p>os músculos lisos das vísceras e glândulas exócrinas (WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELLI, 2016).</p><p>Podemos dizer que os neurônios eferentes são uma espécie de “correio”</p><p>entre o SNC e o tecido periférico. Quer um exemplo? No momento que você</p><p>decidiu levantar do sofá para abrir a geladeira, seu cérebro deu um comando ao</p><p>seu sistema locomotor dizendo: “levante do sofá”, esse comando foi transportado</p><p>pelos neurônios eferentes.</p><p>O que são os neurônios aferentes? Atuam na sinalização reflexa ao SNC</p><p>para solicitar a resposta dos nervos eferentes. Como acima citado, eles fazem o</p><p>transporte contrário de informações, do tecido periférico para o SNC (WHALEN;</p><p>FINKEL; PANAVELLI, 2016).</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>133</p><p>Vamos citar um exemplo para você nunca mais esquecer. Digamos que</p><p>você abriu a geladeira e não havia nada para comer, você resolve então fazer</p><p>um empadão de frango (hum, deu água na boca só de imaginar, né?), pois bem,</p><p>o empadão fica pronto e no momento em que você vai abrir o forno, esquece</p><p>de colocar a luva de proteção e retira a forma com suas próprias mãos numa</p><p>temperatura de 180 graus. Você dá um grito e imediatamente retira a mão que</p><p>fica levemente queimada. Agradeça aos seus neurônios aferentes, que a partir</p><p>do estímulo quente na pele transportaram a mensagem de queimadura até o seu</p><p>SNC que, por sua vez, deu o comando aos neurônios eferentes para você retirar a</p><p>mão imediatamente, isso tudo numa fração de segundos.</p><p>Onde se originam os neurônios simpáticos e parassimpáticos? Os</p><p>neurônios simpáticos se originam do SNC e emergem de duas regiões diferentes</p><p>da medula espinal (torácica e lombar). Os neurônios parassimpáticos emergem</p><p>dos nervos craniais e da região sacral da medula espinal e fazem conexão com os</p><p>gânglios próximos dos órgãos efetores (KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>Com tantos termos técnicos e informações novas, acreditamos que</p><p>um mnemônico (auxiliar de memória) possa ajudar você a memorizar (e</p><p>consequentemente aprender) o principal conceito da anatomia do SNA.</p><p>Memorize o seguinte: as fibras simpáticas emergem da região toracolombar,</p><p>as fibras parassimpáticas emergem da região craniossacral. Percebeu que os</p><p>dois “ss” ocorrem em “parassimpáticas” e “craniossacral”? Ótimo, fixando este</p><p>conceito em sua memória, ficará mais fácil aprender os demais termos técnicos.</p><p>O que são os neurônios entéricos? O sistema nervoso entérico (SNE)</p><p>inclui as fibras nervosas que inervam o trato gastrintestinal (TGI), o pâncreas e a</p><p>vesícula biliar. Esse sistema funciona de forma independente do SNC e controla</p><p>a motilidade, as secreções e a microcirculação do TGI. Tanto o sistema nervoso</p><p>autônomo simpático (SNAS) quanto o sistema nervoso autônomo parassimpático</p><p>(SNAP) modulam o SNE (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016).</p><p>Calma, acadêmico! Muitos termos técnicos são indispensáveis e difíceis</p><p>de compreender no primeiro contato, mas ao longo do texto você vai entender</p><p>melhor a diferença e função de cada tipo de neurônio. Fique tranquilo, respire e</p><p>vamos em frente!</p><p>3 SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO</p><p>Pensou em sistema simpático, pensou em adrenalina. A principal função</p><p>do SNAS é modular a resposta a situações de estresse, como o frio, o medo, o</p><p>trauma, hipoglicemia, exercícios etc. Quando este sistema é estimulado, ocorre</p><p>aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, mobilização de reservas</p><p>energéticas, aumento do fluxo sanguíneo para os músculos e coração, dilatação</p><p>das pupilas e dos brônquios, ele também altera a motilidade do TGI e a função da</p><p>bexiga e dos órgãos sexuais (RANG et al., 2016).</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>134</p><p>Você já ouviu falar da reação de luta ou fuga? O sistema simpático prepara</p><p>o organismo para lidar com estímulos inesperados. Imagine que você está acampando</p><p>numa floresta com seus amigos e de repente vê um leão se aproximando. Não é preciso</p><p>compreender farmacologia para saber que o seu coração irá disparar imediatamente.</p><p>Quando o organismo se depara com situações de emergência como esta, ele experimenta</p><p>alterações denominadas reações de luta ou de fuga. Tais reações são impulsionadas por</p><p>ativação do sistema simpático dos órgãos efetores e pela estimulação da liberação de</p><p>epinefrina pela medula suprarrenal.</p><p>INTERESSANTE</p><p>FIGURA 2 – ILUSTRAÇÃO SOBRE O MECANISMO DE LUTA OU FUGA</p><p>FONTE: <https://www.dragonherbs.com/tao-in-a-bottle>. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>4 SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO</p><p>Podemos dizer que o SNAP é o “oposto” do simpático. Ele está</p><p>relacionado com a manutenção do equilíbrio do organismo, ou seja, regula o</p><p>sistema homeostático. Ao contrário do SNAS, o SNAP é essencial para a vida,</p><p>pois mantém funções corporais fundamentais como a digestão. Na maioria</p><p>das vezes, também exerce predominância sobre o SNAS. As fibras neuronais</p><p>parassimpáticas inervam e afetam os órgãos como intestinos, coração e olhos de</p><p>forma individual. Para Janig e Mclachlan (1992), o SNA atua de forma contínua,</p><p>exercendo controle do ajuste do organismo às alterações de postura, ao exercício</p><p>físico ou a variações de temperatura ambiente.</p><p>Você já ouviu falar de resposta reflexa?</p><p>É como a história da queimadura na mão, mas vamos citar outro exemplo.</p><p>Imagine que você tem uma queda abrupta da sua pressão arterial, isso avisa os</p><p>barorreceptores (neurônios sensíveis à pressão) para reduzir o envio de impulsos</p><p>aos centros cardiovasculares no cérebro. Eis então a resposta reflexa, pois ocorre</p><p>aumento da resposta simpática ao coração e aos vasos e redução da resposta</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>135</p><p>parassimpática para o coração, resultando em aumento compensatório da</p><p>pressão arterial e taquicardia. A maioria dos órgãos é inervada tanto pelo SNAS</p><p>quanto pelo SNAP. A inervação parassimpática vagal reduz frequência cardíaca,</p><p>e a inervação simpática a aumenta. Apesar da inervação dupla, geralmente um</p><p>sistema é predominante no controle de um certo órgão. Como exemplo podemos</p><p>citar o coração: o nervo vago controlado pelo SNAP é o fator que prevalece no</p><p>controle da frequência. Esse controle dinâmico é uma espécie de antagonismo</p><p>e tem um ajuste fino, controlado e contínuo para a manutenção da homeostase.</p><p>Por isso normalmente seu coração não está disparado, pois o SNAP é o que</p><p>predomina, se fosse o contrário você viveria ofegante e com taquicardia.</p><p>FIGURA 3 – ILUSTRAÇÃO SOBRE O EQUILÍBRIO DOS SISTEMAS SIMPÁTICO E PARASSIMPÁTICO</p><p>FONTE: <https://pt.slideshare.net/MauroCunhaXavierPint/aula-sna-introduo-ao-sistema-nervoso-</p><p>autnomo>. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>No quadro a seguir, há um resumo para você compreender melhor a</p><p>atuação de cada sistema (simpático ou parassimpático) em cada órgão efetor,</p><p>vamos lá!</p><p>QUADRO 1 – AÇÃO DOS SISTEMAS NERVOSOS PARASSIMPÁTICO E SIMPÁTICO NOS ÓRGÃOS</p><p>EFETORES</p><p>Órgãos efetores O que faz o sistema</p><p>simpático?</p><p>O que faz o sistema</p><p>parassimpático?</p><p>Olhos</p><p>Dilatação da pupila</p><p>devido à contração do</p><p>músculo radial da íris.</p><p>Constrição da pupila devido</p><p>à contração</p><p>do músculo</p><p>esfíncter.</p><p>Acomodação do cristalino</p><p>para visão próxima devido à</p><p>contração do músculo ciliar.</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>136</p><p>Traqueia e bronquíolos Dilatação. Constrição, aumento das</p><p>secreções.</p><p>Medula suprarrenal Secreção de epinefrina e</p><p>norepinefrina. -</p><p>Rins</p><p>Secreção da renina</p><p>(hormônio relacionado</p><p>com a pressão arterial).</p><p>-</p><p>Ureter e bexiga</p><p>Relaxamento da bexiga</p><p>e contração do esfíncter</p><p>(segura o “xixi”).</p><p>Contração da bexiga e</p><p>relaxamento do esfíncter (faz</p><p>“xixi”).</p><p>Genitália (masculina) Estimula a ejaculação. Estimula a ereção.</p><p>Glândulas salivares</p><p>Boca seca (xerostomia),</p><p>secreção espessa e viscosa</p><p>da saliva.</p><p>Secreção abundante e</p><p>aquosa.</p><p>Coração Aumenta a frequência e a</p><p>contratilidade.</p><p>Diminui a frequência e a</p><p>contratilidade.</p><p>Gastrintestinal</p><p>Diminui a motilidade e o</p><p>tônus muscular.</p><p>Contração dos esfíncteres.</p><p>Aumenta a motilidade e o</p><p>tônus muscular.</p><p>Genitália (feminina) Relaxamento do útero.</p><p>Vasos sanguíneos</p><p>(Músculo esquelético) Dilatação.</p><p>Vasos sanguíneos (pele e</p><p>membranas mucosas) Constrição.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>137</p><p>FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO E PARASSIMPÁTICO NO</p><p>ORGANISMO</p><p>FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/sistema-nervoso.htm>. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>5 SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO</p><p>Ao contrário do SNA, o SNAS eferente tem um único neurônio motor</p><p>mielinizado, proveniente do SNC, que vai diretamente ao músculo esquelético,</p><p>sem conexão com gânglios, atuando de forma voluntária. A ausência de gânglios</p><p>e a mielinização dos nervos motores permitem uma resposta rápida pelo sistema</p><p>nervoso somático. Quer um exemplo? O ato de levantar um peso na musculação</p><p>é você ordenando o seu sistema nervoso somático a trabalhar.</p><p>FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR DO SISTEMA</p><p>NERVOSO AUTÔNOMO</p><p>FONTE: Adaptado de <http://bit.ly/35AHhnt>. Acesso em: 6 ago. 2020.</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>138</p><p>6 COMUNICAÇÃO NEURONAL</p><p>Acadêmico, a partir de agora vamos estudar como ocorre a sinalização</p><p>química, ou seja, a comunicação dos neurônios e tecido periféricos no SNA,</p><p>vamos lá?</p><p>A comunicação neuronal ocorre principalmente através da liberação de</p><p>hormônios, neurotransmissores e mediadores locais:</p><p>1. Os hormônios são secretados na corrente sanguínea por células endócrinas</p><p>especializadas, atuam em células alvos.</p><p>2. Os mediadores locais atuam localmente, isto é, nas células ao seu redor, e são</p><p>metabolizados rapidamente.</p><p>3. Os neurotransmissores são liberados por neurônios do SNC e difundem-se ra-</p><p>pidamente pela fenda sináptica ativando receptores específicos pós-sinápticos.</p><p>Os neurotransmissores, grande parte dos hormônios e mediadores locais</p><p>são hidrofílicos e não conseguem ultrapassar a bicamada lipídica das membranas</p><p>plasmáticas. Desta forma, a sinalização celular ocorre através da ligação destes</p><p>aos seus respectivos receptores na superfície das células dos órgãos-alvo (RANG</p><p>et al., 2016).</p><p>Quais são os principais neurotransmissores?</p><p>Mais de 50 moléculas foram identificadas na sinalização do sistema ner-</p><p>voso, mas as principais responsáveis pelas ações dos fármacos são a epinefrina,</p><p>norepinefrina, acetilcolina, serotonina, dopamina, histamina e ácido γ-aminobu-</p><p>tírico (GABA). Cada mediador se liga a um grupo específico de receptores.</p><p>No SNA, a acetilcolina e a norepinefrina são os principais sinalizadores</p><p>químicos envolvidos. A fibra nervosa autônoma é dividida em fibra colinérgica</p><p>(que libera acetilcolina) e fibra adrenérgica (que libera epinefrina e norepinefrina).</p><p>No sistema simpático, quem modula a transmissão dos impulsos nervosos pós-</p><p>ganglionares autônomos para o órgão efetor é a norepinefrina. A acetilcolina</p><p>modula a neurotransmissão através de gânglios autônomos nos sistemas</p><p>simpático, parassimpático e na medula da suprarrenal. A liberação de acetilcolina</p><p>também está presente na transmissão dos impulsos nervosos para órgãos efetores</p><p>no sistema parassimpático e para alguns órgãos do sistema simpático. No sistema</p><p>nervoso somático, a acetilcolina modula a transmissão entre a fibra nervosa e</p><p>o músculo esquelético voluntário (junção neuromuscular) (RANG et al., 2016;</p><p>KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>Uma dica para você se familiarizar com os termos, é usar alguns esquemas</p><p>de memorização, os tais “mnemônicos”: Quando você ler sobre acetilcolina na</p><p>placa motora, junção neuromuscular, sistema somático, lembre-se da musculação</p><p>da academia, ok? Pois estes termos envolvem a contração muscular voluntária, e</p><p>você não vai à academia de forma involuntária, vai?</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>139</p><p>Agora vamos estudar os principais receptores do sistema nervoso</p><p>periférico, são eles:</p><p>Receptores metabotrópicos: conforme você estudou nas unidades ante-</p><p>riores, os receptores metabotrópicos são acoplados a uma proteína G, que quan-</p><p>do ativada, promove a liberação de segundos mensageiros. Temos os receptores</p><p>muscarínicos (ativado pela acetilcolina) e adrenérgicos (ativado pela norepinefri-</p><p>na) como exemplos de receptores metabotrópicos. Os receptores metabotrópicos</p><p>sinalizam ligações de neurotransmissores, hormônios e peptídeos dando início a</p><p>uma cascata de eventos intracelulares, que resultam em uma resposta intracelular</p><p>específica. Segundos mensageiros são assim denominados porque sinalizam a</p><p>mensagem inicial (neurotransmissor ou hormônio) e traduzem em um efeito final</p><p>na célula com a participação de uma proteína G. Adenosina monofosfato cíclico</p><p>(AMPc), trifosfato de inositol (IP3) e diacilglicerol (DAG) são os segundos men-</p><p>sageiros mais amplamente envolvidos nos processos de sinalizações intracelular</p><p>dos fármacos (RANG et al., 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>Receptores ionotrópicos: são receptores de membrana que afetam a</p><p>permeabilidade iônica. Como exemplo, temos os receptores nicotínicos pós-</p><p>sinápticos presentes nas células musculares esqueléticas, eles estão ligados a</p><p>canais iônicos de membrana e por isso, a ligação do neurotransmissor ocorre</p><p>rapidamente (em milissegundos), alterando diretamente a permeabilidade iônica</p><p>(RANG et al., 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>6.1 NEUROTRANSMISSÃO COLINÉRGICA</p><p>Acadêmico, seguindo nossos estudos, agora vamos entrar nas etapas</p><p>envolvidas na neurotransmissão colinérgica. Vamos por etapas, são elas:</p><p>1) Síntese da acetilcolina (ACh): a enzima colina acetiltransferase catalisa a</p><p>síntese de ACh a partir da colina e acetil-CoA.</p><p>2) Armazenamento em vesículas sinápticas: a ACh fica protegida da degradação</p><p>enzimática dentro das vesículas.</p><p>3) Liberação da ACh: ocorre pelo aumento de cálcio intracelular a partir de um</p><p>potencial de ação.</p><p>4) Ligação ao receptor: uma vez liberada na fenda sináptica, a ACh liga-se a um</p><p>receptor pós-sináptico (nicotínico ou muscarínico) e ativa-o.</p><p>5) Degradação da ACh: a ACh é hidrolisada na fenda sináptica pela enzima</p><p>acetilcolinesterase (AChE).</p><p>6) Reciclagem da Colina: a colina é recaptada pelo neurônio para ser reutilizada</p><p>na síntese de ACh; (NICHOLLS et al., 2012; RANG et al., 2016; KATZUNG;</p><p>TREVOR, 2017).</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>140</p><p>Quando um potencial de ação chega a um neurônio pré-sináptico, canais de</p><p>cálcio voltagem-dependentes se abrem promovendo um aumento nos níveis intracelulares</p><p>de cálcio. Concentrações altas de cálcio dentro da célula levam à fusão das vesículas</p><p>sinápticas com a membrana celular e a liberação de ACh na fenda sináptica. A toxina</p><p>botulínica é capaz de bloquear a liberação de ACh temporariamente e consequentemente</p><p>inibir a contração muscular que causam as “rugas”. Ao contrário do “botox”, a toxina da</p><p>aranha viúva-negra causa a liberação de toda a ACh guardada nas vesículas, jogando-a</p><p>na</p><p>fenda sináptica.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Os receptores que participam da neurotransmissão colinérgica são</p><p>descritos a seguir:</p><p>Receptores colinérgicos muscarínicos: pertencem à família de recep-</p><p>tores metabotrópicos (acoplados à proteína G). Além da ACh, esses receptores</p><p>também reconhecem a muscarina, um alcaloide encontrado em alguns cogume-</p><p>los venenosos. De forma simplificada, quando os receptores muscarínicos são</p><p>ativados, eles sofrem uma mudança conformacional e interagem com diferentes</p><p>proteínas G, que podem ativar vias de sinalização como a fosfolipase C e a ade-</p><p>nilatociclase. A pilocarpina é um exemplo de agonista muscarínico não seletivo</p><p>usada para o glaucoma e a xerostomia (boca seca) (KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>Receptores colinérgicos nicotínicos: pertencem à família de receptores</p><p>ionotrópicos (ligados a canais iônicos disparados por ligantes). Além de se</p><p>ligarem a ACh, também reconhecem a nicotina. A ACh promove uma alteração</p><p>conformacional do receptor permitindo a entrada de íons sódio, que despolarizam</p><p>a célula efetora. Os receptores nicotínicos estão presentes no SNC, na glândula</p><p>suprarrenal, nos gânglios autônomos e na junção neuromuscular (JNM) dos</p><p>músculos esqueléticos (KALAMIDA et al., 2007; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>6.1.1 Agonistas colinérgicos de ação direta</p><p>Finalmente, daremos início aos estudos dos fármacos que atuam no</p><p>sistema periférico. Os agonistas colinérgicos são fármacos que se ligam aos</p><p>receptores muscarínicos ou nicotínicos e mimetizam as ações da ACh. Os fármacos</p><p>colinérgicos de ação direta têm efeitos mais prolongados do que a própria ACh.</p><p>Entretanto, os agonistas de ação direta apresentam baixa especificidade (se</p><p>ligam em outros receptores), o que limita seu uso clínico (WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELLI, 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>141</p><p>A ACh é um composto amônio quaternário que não penetra as membranas.</p><p>Apesar de ser o neurotransmissor de nervos parassimpáticos, somáticos e dos gânglios</p><p>autônomos, têm baixa importância terapêutica quando administrada de forma exógena, isso</p><p>em razão das suas múltiplas e difusas ações e a sua rápida inativação pelas colinesterases.</p><p>NOTA</p><p>6.1.2 Agonistas colinérgicos de ação indireta:</p><p>anticolinesterásicos (reversíveis)</p><p>Conforme vimos anteriormente, a AChE é uma enzima que hidrolisa</p><p>de forma específica a ACh na fenda sináptica. Os fármacos inibidores da AChE</p><p>(anticolinesterásicos ou inibidores da colinesterase) causam efeitos colinérgicos</p><p>de forma indireta, impedindo que a ACh seja degradada. Importante salientar</p><p>que os inibidores da AChE podem promover efeitos em todos os colinoceptores</p><p>do organismo, incluindo os muscarínicos e nicotínicos do SNA, bem como no</p><p>SNC e nas JNMs (RANG et al., 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>6.1.3 Agonistas colinérgicos de ação indireta:</p><p>anticolinesterásicos (irreversíveis)</p><p>Compostos organofosforados sintéticos ligam-se de forma covalente à</p><p>AChE, resultando em um aumento prolongado dos níveis de ACh em todo o</p><p>organismo. Essas substâncias são altamente tóxicas, gases organofosforados,</p><p>como o sarin, foram utilizados com fins militares em armas químicas de guerra.</p><p>Há também organofosforados utilizados como inseticidas (paration e malation)</p><p>e frequentemente são usados para fins suicidas e homicidas (RANG et al., 2016;</p><p>KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>QUADRO 2 – PRINCIPAIS CLASSES DOS AGONISTAS COLINÉRGICOS</p><p>Classe dos fármacos Mecanismo de ação Exemplos</p><p>Agonista colinérgico de ação</p><p>direta</p><p>Mimetizam a ação da</p><p>ACh</p><p>Acetilcolina</p><p>Betanecol</p><p>Carbacol</p><p>Pilocarpina</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>142</p><p>Agonistas colinérgicos de ação</p><p>indireta: Anticolinesterásicos</p><p>(reversíveis)</p><p>Inibem a AChE (enzima</p><p>que degrada acetilcolina)</p><p>de forma reversível</p><p>Edrofônio</p><p>Fisostigmina</p><p>Neostigmina</p><p>Piridostigmina</p><p>Tacrina</p><p>Donepezila,</p><p>Rivastigmina</p><p>Galantamina</p><p>Agonistas colinérgicos de ação</p><p>indireta: Anticolinesterásicos</p><p>(irreversíveis)</p><p>Inibem a AChE (enzima</p><p>que degrada acetilcolina)</p><p>de forma irreversível</p><p>Ecotiofato</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>QUADRO 3 – RESUMO DOS EFEITOS DOS PRINCIPAIS AGONISTAS COLINÉRGICOS</p><p>Acetilcolina:</p><p>Usada para produzir</p><p>miose em cirurgias</p><p>oftálmicas.</p><p>Edrofônio:</p><p>Usado no diagnóstico de</p><p>miastenia gravis.</p><p>Usado como antagonista</p><p>de bloqueadores</p><p>neuromusculares</p><p>competitivos.</p><p>Tem ação curta (10-20 min).</p><p>Ecotiofato:</p><p>Usado no tratamento do</p><p>glaucoma.</p><p>Betanecol:</p><p>Usado no tratamento da</p><p>retenção urinária</p><p>Liga-se</p><p>preferencialmente aos</p><p>receptores muscarínicos;</p><p>Carbacol:</p><p>Usado para produzir</p><p>miose durante a</p><p>cirurgias oculares</p><p>Usado topicamente</p><p>para diminuir a</p><p>pressão intraocular no</p><p>glaucoma em pacientes</p><p>que desenvolveram</p><p>tolerância à pilocarpina.</p><p>Fisostigmina:</p><p>Aumenta a motilidade</p><p>intestinal e da bexiga.</p><p>Inibe os efeitos dos</p><p>antidepressivos tricíclicos</p><p>no coração e no SNC.</p><p>Inibe os efeitos da atropina</p><p>no SNC.</p><p>É uma amina terciária não</p><p>ionizada capaz de entrar no</p><p>SNC.</p><p>Pralidoxima:</p><p>Antídoto dos</p><p>organofosforados, pois</p><p>é capaz de reativar a</p><p>acetilcolinesterase (AchE)</p><p>inibida.</p><p>Incapaz de ultrapassar a</p><p>barreira hematoencefácila,</p><p>não é útil no tratamento</p><p>dos efeitos dos</p><p>organofosforados no SNC.</p><p>Se for administrada antes</p><p>da estabilização da enzima</p><p>AChE alquilada, ela é</p><p>capaz de reverter os efeitos</p><p>periféricos muscarínicos</p><p>e nicotínicos, mas não os</p><p>efeitos no SNC.</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>143</p><p>Pilocarpina:</p><p>Reduz a pressão</p><p>intraocular no glaucoma</p><p>Liga-se</p><p>preferencialmente nos</p><p>receptores muscarínicos</p><p>É uma amina terciária</p><p>não ionizada capaz de</p><p>entrar no SNC.</p><p>Rivastigmina, galantamina,</p><p>Donepezila:</p><p>Usadas como tratamento</p><p>paliativo na doença de</p><p>Alzheimer.</p><p>Neostigmina:</p><p>Previne a distenção</p><p>abdominal pós-cirúrgica e</p><p>a retenção urinária.</p><p>Usada no tratamento da</p><p>miastenia gravis.</p><p>Usada como antagonista</p><p>dos bloqueadores</p><p>neuromusculares</p><p>competitivos.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>Você já ouviu falar da miastenia gravis? É uma doença autoimune, na qual</p><p>são produzidos anticorpos contra os receptores nicotínicos, inativando-os. Essa condição</p><p>causa fraqueza muscular e pode acometer diferentes partes do corpo, como braços, pernas</p><p>e rosto, inclusive a região dos olhos. O paciente costuma ter dificuldade de visão e até em</p><p>movimentar a pálpebra (VROLIX et al., 2010).</p><p>IMPORTANTE</p><p>6.1.4 Antagonistas colinérgicos</p><p>São fármacos que bloqueiam os receptores muscarínicos ou nicotínicos e</p><p>impedem as ações da ACh e de agonistas colinérgicos. Os mais usados na clínica</p><p>são os bloqueadores seletivos dos receptores muscarínicos, sendo denominados</p><p>também como fármacos antimuscarínicos ou parassimpaticolíticos. A inervação</p><p>parassimpática é interrompida, e os efeitos do sistema simpático atuam livremen-</p><p>te. Os bloqueadores ganglionares são outro grupo de fármacos que apresentam</p><p>maior seletividade pelos receptores nicotínicos dos gânglios, mas são os fármacos</p><p>menos utilizados entre os anticolinérgicos. Por fim, temos os antagonistas nico-</p><p>tínicos ou bloqueadores neuromusculares (BNMs) que impedem a transmissão</p><p>dos impulsos eferentes aos músculos esqueléticos. Atuam como adjuvantes na</p><p>anestesia e outros procedimentos para relaxar a musculatura esquelética.</p><p>Antimuscarínicos: os antimuscarínicos são antagonistas de receptores</p><p>muscarínicos, inibem os efeitos muscarínicos no organismo. Também bloqueiam</p><p>neurônios simpáticos colinérgicos que inervam as glândulas salivares e sudoríparas.</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>144</p><p>Importante salientar que os antimuscarínicos não bloqueiam os receptores</p><p>nicotínicos, por isso têm pouca ou nenhuma ação nas junções neuromusculares</p><p>(JNMs) e nos gânglios autônomos. Um exemplo clássico de antimuscarínico é</p><p>a atropina. É um alcaloide amina terciária extraída da planta beladona que</p><p>apresentam alta afinidade</p><p>pelos receptores muscarínicos, impedindo a ligação da</p><p>ACh aos seus receptores. Atua em nível de SNC e periférico.</p><p>Bloqueadores ganglionares: antagonizam especificamente os receptores</p><p>nicotínicos dos gânglios parassimpático e simpático, mas não apresentam seleti-</p><p>vidade nestes, por isso não são úteis como bloqueadores neuromusculares. O blo-</p><p>queio ganglionar praticamente não é usado clinicamente, mas com frequência é</p><p>útil como ferramenta farmacológica experimental, como exemplo temos a nicotina.</p><p>Bloqueadores neuromusculares: os BNMs interrompem a transmissão</p><p>da ACh entre o terminal nervoso motor e o receptor nicotínico no músculo</p><p>esquelético. Podem ser classificados como antagonistas (tipo não despolarizante)</p><p>ou agonistas (tipo despolarizante) nos receptores nicotínicos da placa motora da</p><p>JNM. Os BNMs são usados em cirurgias para facilitar a intubação endotraqueal</p><p>e induzir relaxamento muscular completo com baixas doses de anestésicos,</p><p>permitindo recuperação mais rápida da anestesia e diminuindo a depressão</p><p>respiratória pós-cirúrgica (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2012; RANG</p><p>et al., 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>QUADRO 4 – RESUMO DOS PRINCIPAIS ANTAGONISTAS COLINÉRGICOS</p><p>Classe dos fármacos Mecanismo de ação Exemplos</p><p>Antimuscarínicos ou</p><p>antagonistas muscarínicos.</p><p>Bloqueiam os receptores</p><p>muscarínicos.</p><p>Atropina, escopolamina,</p><p>ipratrópio, tiotrópio,</p><p>ciclopentolato,</p><p>triexifenidila, oxibutinina,</p><p>solifenacina, tolterodina.</p><p>Bloqueadores ganglionares.</p><p>Bloqueiam</p><p>completamente os</p><p>receptores nicotínicosdos</p><p>gânglios autônomos</p><p>parassimpático e</p><p>simpático.</p><p>Nicotina.</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>145</p><p>Bloqueadores</p><p>neuromusculares não</p><p>despolarizantes.</p><p>Bloqueiam</p><p>competitivamente a ACh</p><p>nos receptores nicotínicos.</p><p>Eles competem com</p><p>a ACh pelo receptor</p><p>sem estimulá-lo.</p><p>Assim, impedem a</p><p>despolarização da</p><p>membrana da célula</p><p>muscular e inibem a</p><p>contração muscular.</p><p>Cisatracúrio, pancurônio,</p><p>rocurônio e vecurônio.</p><p>Bloqueadores</p><p>neuromusculares</p><p>despolarizantes.</p><p>Os BNM despolarizantes</p><p>ligam-se ao receptor</p><p>nicotínico e atuam como</p><p>a ACh, despolarizando</p><p>a junção neuromuscular.</p><p>Mas ao contrário da</p><p>ACh, que é degradada</p><p>pela AChE, o fármaco</p><p>despolarizante persiste</p><p>em alta concentração</p><p>na fenda sináptica,</p><p>permanecendo ligado ao</p><p>receptor por um tempo</p><p>maior e causando uma</p><p>estimulação constante do</p><p>receptor.</p><p>Succinilcolina.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>Você sabe ou já ouviu falar do curare?</p><p>Foi a primeira substância descoberta capaz de bloquear a JNM, ela era usada pelos caçadores</p><p>nativos da América do Sul na região da Amazônia para paralisar a presa. A partir do curare</p><p>foi desenvolvida a tubocurarina, que em seguida foi substituída por outros fármacos com</p><p>menos efeitos colaterais.</p><p>INTERESSANTE</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>146</p><p>QUADRO 5 – RESUMO DOS PRINCIPAIS ANTAGONISTAS COLINÉRGICOS</p><p>Atropina</p><p>No olho, exerce efeito</p><p>midriático e cicloplégico,</p><p>permitindo a mensuração</p><p>de erros de refração.</p><p>Tem efeitos</p><p>antiespasmódico para</p><p>relaxar o TGI.</p><p>É usada para tratar</p><p>bradicardias de várias</p><p>etiologias.</p><p>Bloqueia as secreções do</p><p>trato respiratório, útil</p><p>para usar previamente</p><p>às cirurgias. Usada como</p><p>antídoto na intoxicação</p><p>por organofosforados,</p><p>de doses altas de</p><p>anticolinesterásicos</p><p>usados na clínica (como a</p><p>Fisostigmina), e de alguns</p><p>tipos de envenenamentos</p><p>por cogumelos.</p><p>Escopolamina</p><p>Usada na prevenção</p><p>da cinetose (enjoo de</p><p>andamento) e de náuseas e</p><p>emeses pós-cirúrgicas.</p><p>Tem o efeito incomum de</p><p>bloquear a memória de</p><p>curta duração.</p><p>Produz sedação, e em</p><p>doses mais altas pode</p><p>produzir excitação.</p><p>Pode causar euforia e está</p><p>sujeita à abuso.</p><p>Ipratrópio e tiotrópio</p><p>Atuam como</p><p>broncodilatadores para o</p><p>tratamento de manutenção</p><p>do broncoespasmo</p><p>na doença pulmonar</p><p>obstrutiva crônica (DPOC).</p><p>O ipratrópio também</p><p>é usado para tratar o</p><p>broncoespasmo agudo na</p><p>asma.</p><p>Ambos são administrados</p><p>por inalação.</p><p>Ciclopentolato e</p><p>Tropicamida</p><p>Na oftalmologia, são</p><p>usados para produzir</p><p>midríase e cicloplegia</p><p>antes da refração.</p><p>Darifenacina,</p><p>Fesoterodina Oxibutinina,</p><p>Solifenacina Tolterodina</p><p>Usados no tratamento da</p><p>bexiga urinária hiperativa.</p><p>Benzotropina e</p><p>triexifenidila</p><p>São usadas em</p><p>associação com outros</p><p>antiparkinsonianos no</p><p>tratamento do mal de</p><p>Parkinson e em sintomas</p><p>extrapiramidais causados</p><p>por antipsicóticos.</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>147</p><p>Cisatracúrio, pancurônio,</p><p>rocurônio e vecurônio</p><p>Aumentam a segurança</p><p>da anestesia, pois</p><p>possibilitam que se</p><p>use doses menores</p><p>de anestésicos para</p><p>alcançar relaxamento da</p><p>musculatura, permitindo</p><p>recuperação mais rápida</p><p>após a cirurgia.</p><p>Succinilcolina</p><p>Por sua ação de início</p><p>rápido, é usada quando</p><p>é necessária a intubação</p><p>endotraqueal rápida</p><p>durante a indução da</p><p>anestesia (a ação rápida é</p><p>fundamental para evitar</p><p>que ocorra a aspiração do</p><p>conteúdo gástrico durante</p><p>a intubação).</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>6.2 NEUROTRANSMISSÃO ADRENÉRGICA</p><p>Você já sabe que os neurônios adrenérgicos são encontrados no SNC e</p><p>no sistema simpático e liberam norepinefrina como neurotransmissor principal.</p><p>Os agonistas de receptores adrenérgicos/adrenoceptores ativam receptores que</p><p>são estimulados pela epinefrina (adrenalina) ou norepinefrina (noradrenalina).</p><p>Os agonistas adrenérgicos também são denominados simpaticomiméticos.</p><p>Há os simpaticomiméticos que ativam diretamente os receptores adrenérgicos</p><p>(agonistas de ação direta) e os simpatomiméticos que atuam de forma indireta,</p><p>aumentando a liberação ou inibindo a recaptação de norepinefrina (agonistas de</p><p>ação indireta). Os fármacos adrenérgicos atuam em receptores localizados nos</p><p>neurônios pré-sinápticos ou no órgão efetor pós-sináptico (COOPER; BLOOM,</p><p>2002; BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2012; WHALEN; FINKEL;</p><p>PANAVELLI, 2016).</p><p>Acadêmico, a partir de agora vamos estudar as etapas que constituem a</p><p>neurotransmissão adrenérgica.</p><p>1. Síntese de norepinefrina: a tirosina é hidroxilada em di-hidroxifenilalanina</p><p>(Dopa) pela tirosina hidroxilase. Esta etapa é limitante na velocidade na</p><p>formação de norepinefrina. Por sua vez, a Dopa é descarboxilada, formando</p><p>dopamina no neurônio pré-sináptico.</p><p>2. Captação nas vesículas de armazenamento: a dopamina é transportada para</p><p>dentro de vesículas sinápticas e é hidroxilada pela dopamina hidroxilase,</p><p>formando norepinefrina.</p><p>3. Liberação de norepinefrina: o aumento de cálcio intracelular após um potencial</p><p>de ação provoca a fusão das vesículas sinápticas com a membrana celular</p><p>resultando em exocitose do conteúdo das vesículas para a fenda sináptica.</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>148</p><p>4. Ligação aos receptores: na fenda sináptica, a norepinefrina se liga aos</p><p>receptores pós-sinápticos no órgão efetor ou aos receptores pré-sinápticos no</p><p>terminal nervoso resultando em uma cascata de eventos intracelulares. Os</p><p>receptores adrenérgicos ativam o monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) e o</p><p>fosfatidilinositol como segundos mensageiros para transduzir a comunicação</p><p>do neurotransmissor até a resposta final da célula efetora. Importante salientar</p><p>que a norepinefrina também modula a sua própria liberação no terminal</p><p>nervoso ao se ligar a receptores pré-sinápticos (principalmente do subtipo α2).</p><p>5. Remoção da norepinefrina: a norepinefrina pode entrar na circulação</p><p>sistêmica ao se difundir para fora do espaço sináptico, ser inativada pela</p><p>catecol-O-metiltransferase (COMT) no espaço sináptico ou sofrer recaptação</p><p>para o neurônio.</p><p>6. Metabolização da norepinefrina captada: quando a norepinefrina é captada</p><p>de volta para o neurônio, ela pode ser captada para o interior das vesículas</p><p>sinápticas e ser reutilizada posteriormente, ou pode permanecer no citoplasma</p><p>e ser oxidada pela monoaminoxidase</p><p>183</p><p>7.1 MECANISMO DE AÇÃO DOS AGONISTAS OPIOIDES .................................................... 184</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 188</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 190</p><p>TÓPICO 3 — FARMACOLOGIA DOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E ALÉRGICOS ......... 193</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 193</p><p>2 ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES ........................................................................ 196</p><p>2.1 INIBIDORES SELETIVOS DA COX ......................................................................................... 198</p><p>2.2 INIBIDORES NÃO SELETIVOS DA COX .............................................................................. 199</p><p>3 ESCOLHA DO ANTI-INFLAMATÓRIO NÃO ESTEROIDE ................................................. 200</p><p>4 ANTI-INFLAMATÓRIOS ESTEROIDAIS (GLICOCORTICOIDES) .................................. 201</p><p>5 PROCESSOS ALÉRGICOS ............................................................................................................ 204</p><p>5.1 ANTAGONISTAS DE RECEPTORES H1 (ANTI-HISTAMÍNICOS H1) ............................ 205</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 208</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 215</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 216</p><p>REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 218</p><p>1</p><p>UNIDADE 1 —</p><p>INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• compreender a história da farmacologia e como chegamos às atuais</p><p>ferramentas tecnológicas que possibilitam o desenvolvimento de</p><p>moléculas inovadoras;</p><p>• distinguir os campos e subdivisões das ciências farmacológicas como a</p><p>farmacologia básica, experimental, clínica, entre outras;</p><p>• conhecer como novos medicamentos são pesquisados, desenhados e,</p><p>enfim, lançados no mercado;</p><p>• distinguir estudos conduzidos in silico, in vitro, e in vivo, além de entender</p><p>limitações e vantagens de cada uma destas abordagens;</p><p>• entender as etapas envolvidas no desenvolvimento de um novo</p><p>medicamento, desde a descoberta da molécula inovadora e testes</p><p>preliminares em culturas celulares até a chegada ao mercado farmacêutico</p><p>e a contínua farmacovigilância.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,</p><p>você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo</p><p>apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – FARMACOLOGIA: A CIÊNCIA DOS MEDICAMENTOS</p><p>TÓPICO 2 – SUBDIVISÕES DA FARMACOLOGIA</p><p>TÓPICO 3 – DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>2</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos</p><p>em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá</p><p>melhor as informações.</p><p>CHAMADA</p><p>3</p><p>TÓPICO 1 —</p><p>UNIDADE 1</p><p>FARMACOLOGIA: A CIÊNCIA DOS MEDICAMENTOS</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Iremos iniciar nossos estudos na farmacologia, tendo como objetivo,</p><p>neste primeiro momento, familiarizar você, acadêmico, com a história desta</p><p>ciência complexa e em constante evolução. Embora pareça ser restrita somente a</p><p>questões médicas, ou diretamente relacionada a profissionais da área de saúde,</p><p>a farmacologia faz parte do cotidiano de todos. As interações entre moléculas</p><p>do meio ambiente e nosso organismo ocorrem a todo momento, desde o café da</p><p>manhã (rico em cafeína, uma molécula estimulante), até a hora de dormir, com</p><p>um chá de camomila (planta conhecida por seus efeitos calmantes). Weatherall</p><p>diz que a ciência dos fármacos, no caso, a farmacologia, tornou-se imprescindível</p><p>quando a primeira pessoa a ficar bêbada vislumbrou o que estava acontecendo</p><p>com ela mesma (WEATHERALL, 1996).</p><p>O conhecimento destas interações moleculares é de extrema importância</p><p>para o farmacêutico, uma vez que a raiz da profissão deriva justamente dos seus</p><p>conhecimentos científicos a respeito desta relação entre moléculas e o organismo.</p><p>Neste tópico, você terá contato com uma breve história da farmacologia</p><p>e como esta ciência vem sendo desenvolvida nos últimos anos, com intuito de</p><p>gerar moléculas promissoras para as mais variadas condições clínicas, fato que</p><p>a tornou uma das maiores potências em termos industriais da nossa era. Ainda,</p><p>neste tópico, discutiremos as subdivisões da farmacologia, por qual motivo</p><p>elas existem e quais as funções de cada uma das áreas desta ciência. Final-</p><p>mente, ainda nesta primeira unidade, abordaremos quais as etapas necessá-</p><p>rias para que um fármaco seja desenvolvido, desde a descoberta de uma nova</p><p>molécula até a chegada desta na forma de um medicamente nas gôndolas das</p><p>farmácias comerciais.</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>4</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos a respeito da ciência dos medicamentos?</p><p>Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim,</p><p>absorverá melhor as informações. Não esqueça de acessar a trilha interativa da disciplina</p><p>para acompanhar melhor seus estudos.</p><p>CHAMADA</p><p>2 O QUE É FARMACOLOGIA?</p><p>Inicialmente, antes de começarmos a discutir sobre a história e ferramen-</p><p>tas utilizadas na farmacologia temos que entender de que trata essa ciência e</p><p>alguns termos nela empregados. É comum utilizarmos em nosso dia a dia termos</p><p>como “remédio”, “medicamento”, “fármaco” e “droga”. Você sabe diferenciar</p><p>cada um destes termos e no que implicam estas diferenças?</p><p>Vamos definir primeiramente o que é um remédio. Um remédio é qualquer</p><p>recurso utilizado para se obter a cura, seja uma abordagem utilizando alguma</p><p>substância, dieta, terapias ocupacionais, alguma técnica manual, entre outros.</p><p>Analisando este conceito entendemos como remédio então uma determinada</p><p>substância química com fórmula definida, ou mesmo uma massagem, para o</p><p>alívio da dor (Figura 1) (DUTRA et al., 2010).</p><p>Na sequência, analisamos o termo droga. É comum o uso desse termo</p><p>legalmente para definir substâncias entorpecentes de uso recreativo e que podem</p><p>causar dependência química. No entanto, na ciência da farmacologia, chamamos</p><p>de droga uma substância ou matéria-prima que tenha finalidade medicamentosa</p><p>ou sanitária (ANVISA, 2020).</p><p>O próximo termo que temos que conhecer é medicamento. A ANVISA</p><p>define como medicamento um produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou ela-</p><p>borado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico</p><p>(DUTRA et al., 2010).</p><p>E, finalmente, definimos fármaco. Define-se fármaco como uma</p><p>determinada substância química de estrutura conhecida, que não seja um</p><p>nutriente, que, quando administrado a um organismo, produz um certo efeito</p><p>biológico (ANVISA, 2020).</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA: A CIÊNCIA DOS MEDICAMENTOS</p><p>5</p><p>FIGURA 1 – DEFINIÇÕES DE REMÉDIO, DROGA, MEDICAMENTO E FÁRMACO</p><p>FONTE: O autor (2020)</p><p>Agora que definimos estes simples termos podemos discorrer a respeito da</p><p>ciência da farmacologia, sua história e aplicações. A farmacologia é a ciência que</p><p>estuda o efeito dos fármacos no funcionamento de sistemas vivos. Grande parte</p><p>da terapêutica empregada hoje no mundo por médicos é baseada em evidências</p><p>observadas justamente pelas ciências farmacológicas e suas subdivisões (conforme</p><p>iremos observar no Tópico 2) (RITTER et al., 2020).</p><p>3 BREVE HISTÓRIA DA FARMACOLOGIA</p><p>O uso de plantas medicinais com objetivo de curar diferentes condições</p><p>patológicas data de aproximadamente 4000 anos a.C. com pinturas rupestres em</p><p>sítios arqueológicos. Talvez, o mais famoso registro histórico dos princípios da</p><p>ciência da farmacologia seja o Papiro de Ebers,</p><p>(MAO) (BRUNTON; CHABNER;</p><p>KNOLLMANN, 2012; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>6.2.1 Receptores adrenérgicos (adrenoceptores)</p><p>Diferentes classes de adrenoceptores podem ser diferenciadas</p><p>farmacologicamente no sistema nervoso simpático. As principais famílias de</p><p>receptores são denominadas de α e β. São classificados conforme seus graus de</p><p>afinidade pelos agonistas adrenérgicos epinefrina, norepinefrina e isoproterenol.</p><p>Cada um dos receptores α e β tem uma quantidade específica de subtipos de</p><p>receptores identificados. O que determina a afinidade dos receptores para</p><p>diferentes fármacos são as alterações nas suas estruturas primárias (BRUNTON;</p><p>CHABNER; KNOLLMANN, 2012; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>QUADRO 6 – RESUMO DOS EFEITOS MODULADOS PELOS DIFERENTES SUBTIPOS DE</p><p>RECEPTORES ADRENÉRGICOS</p><p>α1 α2 β1 β2</p><p>Vasoconstrição.</p><p>Inibição da</p><p>liberação de</p><p>insulina.</p><p>Aumento da</p><p>lipólise.</p><p>Diminuição da</p><p>resistência vascular</p><p>periférica.</p><p>Aumento da</p><p>pressão arterial.</p><p>Inibição da</p><p>liberação de</p><p>acetilcolina.</p><p>Taquicardia. Vasodilatação.</p><p>Aumento da</p><p>resistência</p><p>periférica.</p><p>Inibição da</p><p>liberação de</p><p>norepinefrina.</p><p>Aumento da</p><p>contratilidade do</p><p>coração.</p><p>Aumento da</p><p>glicogenólise</p><p>hepática e muscular</p><p>e da liberação de</p><p>glucagon.</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>149</p><p>Midríase. Aumento da</p><p>liberação de renina.</p><p>Dilatação dos</p><p>brônquios.</p><p>Fechamento do</p><p>esfíncter interno</p><p>da bexiga.</p><p>Relaxamento do</p><p>útero.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>Agora vamos aprofundar um pouco mais, tudo bem? Recomendamos</p><p>mais de uma leitura quando há muitos termos técnicos e complexos como a partir</p><p>de agora. Vamos lá!</p><p>Receptores α1: estão localizados na membrana pós-sináptica dos órgãos</p><p>efetores e modulam vários dos efeitos envolvendo contração de músculo liso.</p><p>A ativação dos receptores α1 ativa a fosfolipase C (ativada pela proteína G),</p><p>formando o inositol-1,4,5-trifosfato (IP3) e de diacilglicerol (DAG) como segundos</p><p>mensageiros. O IP3 inicia a liberação de Ca2+ do retículo endoplasmático para</p><p>o citosol, e o DAG ativa outras proteínas no interior da célula (BRUNTON;</p><p>CHABNER; KNOLLMANN, 2012; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>Receptores α2: estão presentes nas membranas dos neurônios pré-</p><p>sinápticos e controlam a liberação de norepinefrina. A ativação de receptores</p><p>α2 promove retroalimentação inibitória, inibindo a liberação adicional de</p><p>norepinefrina dos neurotransmissores quando o sistema está superativado. Nesta</p><p>situação, os receptores atuam como autorreceptores inibitórios. Ao contrário dos</p><p>receptores α1, com a ativação de receptores α2 ocorre inibição da adenililciclase</p><p>e redução nos níveis intracelulares de AMPc (BRUNTON; CHABNER;</p><p>KNOLLMANN, 2012; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>Receptores β: são subdivididos em três subtipos principais, β1, β2, e</p><p>β3, com base nas suas afinidades por agonistas e antagonistas adrenérgicos. A</p><p>ativação de um neurotransmissor a qualquer dos três receptores β causa ativação</p><p>de adenililciclase e aumenta a concentração de AMPc no interior da célula</p><p>(BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2012; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>Catecolaminas: são aminas simpaticomiméticas que contêm o grupo</p><p>3,4-di-hidroxibenzeno, podem ser produzidas pelo próprio organismo e tam-</p><p>bém por meio sintético (epinefrina, norepinefrina e dopamina). Apresentam alta</p><p>potência, rápida inativação, pois são metabolizadas pela COMT na fenda pós-</p><p>-sináptica e pela MAO no citoplasma do neurônio. São polares e, por isso, não</p><p>ultrapassam facilmente as barreiras do SNC. Importante ressaltar que a exposi-</p><p>ção prolongada às catecolaminas diminui a sensibilidade dos receptores adre-</p><p>nérgicos, esse fenômeno é conhecido como dessensibilização (down-regulation) de</p><p>receptores (COOPER; BLOOM, 2002; BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN,</p><p>2012; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>150</p><p>Aminas não catecólicas: são aminas que não têm os grupos</p><p>hidroxicatecólicos, possuem tempo de ação superior às catecolaminas, pois não</p><p>são inativadas pela COMT e são maus substratos para a MAO. A ausência dos</p><p>grupos hidroxila confere maior lipossolubilidade, facilitando o acesso destas</p><p>ao SNC. Os principais exemplos incluem a fenilefrina, efedrina e anfetamina</p><p>(COOPER; BLOOM, 2002; BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2012;</p><p>KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>QUADRO 7 – RESUMO DOS PRINCIPAIS AGONISTAS ADRENÉRGICOS</p><p>Classe dos fármacos Mecanismo de ação Exemplos</p><p>Agonistas de ação direta.</p><p>Ativam diretamente</p><p>os receptores α ou β,</p><p>produzindo efeitos</p><p>semelhantes à estimulação</p><p>simpática ou à liberação</p><p>de epinefrina da medula</p><p>suprarrenal.</p><p>Epinefrina e</p><p>norepinefrina</p><p>(também produzidas</p><p>endogenamente),</p><p>isoproterenol e</p><p>fenilefrina.</p><p>Agonistas de ação</p><p>indireta.</p><p>Podem bloquear a captação</p><p>de norepinefrina ou</p><p>estimular sua liberação das</p><p>vesículas dos neurônios</p><p>adrenérgicos.</p><p>Anfetaminas e cocaína.</p><p>Agonistas de ação mista.</p><p>Ativam os adrenoceptores</p><p>de forma direta e liberam</p><p>norepinefrina do neurônio</p><p>adrenérgico.</p><p>Efedrina e</p><p>pseudoefedrina.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>QUADRO8 – RESUMOS DOSPRINCIPAIS AGONISTAS ADRENÉRGICOS</p><p>Agonista Receptores ativados Ações farmacológicas</p><p>Epinefrina α1, α2, β1, β2</p><p>Usada para broncodilatação;</p><p>tratamento de choque</p><p>anafilático; para aumentar a</p><p>duração da anestesia local.</p><p>Norepinefrina α1, α2, β1 Tratamento do choque</p><p>anafilático.</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>151</p><p>Isoproterenol β1, β2 Aumenta contratilidade</p><p>cardíaca.</p><p>Dopamina α1, β1, receptor</p><p>dopaminérgico</p><p>Tratamento do choque.</p><p>Tratamento da insuficiência</p><p>cardíaca congestiva.</p><p>Aumenta a pressão arterial.</p><p>Dobutamina β1 Tratamento da insuficiência</p><p>cardíaca congestiva.</p><p>Oximetazolina α1 Descongestionante nasal.</p><p>Fenilefrina α1</p><p>Descongestionante nasal.</p><p>Aumento da pressão arterial.</p><p>Tratamento da taquicardia</p><p>supraventricular paroxística.</p><p>Clonidina α2 Tratamento da hipertensão.</p><p>Salbutamol</p><p>Terbutalina</p><p>β2 Broncodilatador (ação curta).</p><p>Salmeterol</p><p>Formoterol</p><p>β2 Broncodilatador (ação longa).</p><p>Anfetamina α, β</p><p>Estimulante do SNC</p><p>usado para hiperatividade,</p><p>narcolepsia e redução de</p><p>apetite.</p><p>Efedrina</p><p>Pseudoefedrina</p><p>α, β</p><p>Descongestionante nasal.</p><p>Elevação da pressão arterial.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>6.2.2 Antagonistas ou bloqueadores α-adrenérgicos</p><p>A partir de agora vamos estudar as substâncias que “reduzem” os efeitos</p><p>do sistema adrenérgico no organismo. Os antagonistas dos receptores α também</p><p>denominados α-bloqueadores ou bloqueadores α-adrenérgicos, exercem um</p><p>papel fundamental no controle da pressão arterial. Não esqueça que o controle</p><p>simpático basal ocorre principalmente pelos efeitos dos agonistas endógenos dos</p><p>receptores α-adrenérgicos, o bloqueio desses receptores impede este mecanismo</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>152</p><p>e diminui o tônus simpático dos vasos sanguíneos, promovendo uma menor</p><p>resistência vascular periférica. Por sua vez, esse processo pode induzir taquicardia</p><p>reflexa devido à redução da pressão arterial (ALEXANDER et al., 2013; BRUNTON;</p><p>CHABNER; KNOLLMANN, 2012; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016);</p><p>QUADRO 9 – RESUMO DOS PRINCIPAIS ANTAGONISTAS ADRENÉRGICOS</p><p>α-bloqueador Receptores</p><p>bloqueados Usos terapêuticos Efeitos adversos</p><p>Fenoxibenza-</p><p>mina</p><p>Bloqueador não</p><p>seletivo α1 e α2</p><p>Usada no tratamento</p><p>do feocromocitoma</p><p>(tumor da suprarrenal</p><p>que produz altas</p><p>concentrações de</p><p>catecolaminas).</p><p>Geralmente é</p><p>administrada antes da</p><p>remoção cirúrgica do</p><p>tumor para prevenir</p><p>crise hipertensiva.</p><p>Também é útil no</p><p>tratamento crônico de</p><p>tumores não operáveis.</p><p>Pode causar</p><p>hipotensão</p><p>postural, congestão</p><p>nasal, náuseas e</p><p>êmese. Também</p><p>pode causar</p><p>taquicardia</p><p>reflexa e inibir a</p><p>ejaculação.</p><p>Fentolamina</p><p>Bloqueador</p><p>competitivo α1</p><p>e α2</p><p>Útil no tratamento da</p><p>crise hipertensiva aguda</p><p>pós-retirada abrupta de</p><p>clonidina</p><p>e na ingestão</p><p>de alimentos contendo</p><p>tiramina em pacientes</p><p>sob uso de inibidores da</p><p>monoaminoxidase.</p><p>Pode causar</p><p>arritmias, dor</p><p>anginosa e</p><p>hipotensão</p><p>postural.</p><p>Prazosina</p><p>Terazosina</p><p>Doxazosina</p><p>Tansulosina</p><p>Alfuzosina</p><p>Bloqueador</p><p>competitivo</p><p>seletivo α1</p><p>São usados</p><p>principalmente como</p><p>alternativa para a</p><p>cirurgia em pacientes</p><p>com hiperplasia</p><p>prostática benigna.</p><p>Tontura, falta de</p><p>energia, congestão</p><p>nasal, cefaleia,</p><p>sonolência e</p><p>hipotensão</p><p>ortostática.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>153</p><p>6.2.3 Bloqueadores β-adrenérgicos</p><p>Os β-bloqueadores usados terapeuticamente são todos antagonistas</p><p>competitivos. Os β-bloqueadores não seletivos atuam em receptores β1 e β2, e os</p><p>β-bloqueadores cardiosseletivos bloqueiam receptores β1. Não há bloqueadores β2</p><p>utilizados na clínica. Importante destacar que os β-bloqueadores têm a vantagem</p><p>de não causar hipotensão ortostática apesar de reduzirem a pressão arterial,</p><p>isso porque não afetam os receptores α-adrenérgicos. São muito utilizados para</p><p>reduzir pressão arterial, na profilaxia de enxaquecas, no tratamento de arritmias,</p><p>anginas, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, glaucoma e hipertireoidismo</p><p>(KATZUNG; TREVOR, 2017; RANG et al., 2016).</p><p>Os β-bloqueadores terminam em “olol”.</p><p>DICAS</p><p>QUADRO 10 – RESUMO DOS β-ANTAGONISTAS ADRENÉRGICOS</p><p>β-bloqueadores Receptores</p><p>bloqueados Usos terapêuticos Efeitos adversos</p><p>Propranolol β1, β2</p><p>Hipertensão</p><p>Enxaqueca</p><p>Hipertireoidismo</p><p>Angina</p><p>Infarto do miocárdio.</p><p>Broncoconstrição</p><p>que contraindica</p><p>o uso na asma e</p><p>doenças obstrutivas</p><p>das vias aéreas.</p><p>Hipoglicemia</p><p>acentuada em</p><p>pacientes que usam</p><p>insulina.</p><p>Atenuação</p><p>da resposta</p><p>fisiológica normal à</p><p>hipoglicemia.</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>154</p><p>Timolol β1, β2 Usado principalmente</p><p>no glaucoma.</p><p>Irritação ocular,</p><p>contraindicado</p><p>em pacientes com</p><p>asma, doenças</p><p>obstrutivas das vias</p><p>aéreas, bradicardia</p><p>e insuficiência</p><p>cardíaca congestiva.</p><p>Atenolol</p><p>Bisoprolol</p><p>Metoprolol</p><p>β1</p><p>Os β-bloqueadores</p><p>cardiosseletivos</p><p>são úteis em</p><p>hipertensos com</p><p>função respiratória</p><p>comprometida.</p><p>Também são primeira</p><p>escolha contra a</p><p>angina crônica</p><p>estável e muito</p><p>usados no manejo da</p><p>insuficiência cardíaca</p><p>crônica.</p><p>Nebivolol β1</p><p>Hipertensão</p><p>Em adição a sua</p><p>ação β-bloqueadora</p><p>cardiosseletiva, o</p><p>nebivolollibera óxido</p><p>nítrico das células</p><p>endoteliais e causa</p><p>vasodilatação.</p><p>Carvedilol</p><p>Labetalol</p><p>α1, β1, β2</p><p>Hipertensão</p><p>Insuficiência cardíaca</p><p>crônica estável.</p><p>Além da ação</p><p>β-bloqueadora,</p><p>também são α1-</p><p>bloqueadores</p><p>que promovem</p><p>vasodilatação</p><p>periférica.</p><p>Hipotensão</p><p>ortostática e</p><p>tonturas que</p><p>estão. relacionadas</p><p>com o bloqueio</p><p>dos receptores</p><p>α-adrenérgicos.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO</p><p>155</p><p>* O carvedilol reduz a peroxidação lipídica e o engrossamento da parede</p><p>vascular.</p><p>* O labetalol é uma alternativa à metildopa no tratamento da hipertensão</p><p>em gestantes. Por via endovenosa é usado no tratamento de emergências</p><p>hipertensivas, devido à rápida redução da pressão arterial.</p><p>Você já ouviu falar da reserpina? É uma substância extraída de um alcaloide</p><p>vegetal que bloqueia o transporte de aminas biogênicas (norepinefrina, dopamina e</p><p>serotonina) do citoplasma para as vesículas de armazenamento, deixando-as expostas</p><p>no citoplasma à degradação enzimática. Foi usada no tratamento da hipertensão, mas</p><p>atualmente tornou-se totalmente obsoleta na prática clínica devido aos intensos efeitos</p><p>colaterais como depressão grave.</p><p>INTERESSANTE</p><p>156</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>• O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central e sistema nervoso</p><p>periférico. Por sua vez, o sistema nervoso periférico está subdividido em</p><p>autônomo e somático. Os fármacos autonômicos (colinérgicos e adrenérgicos)</p><p>atuam estimulando porções do sistema autônomo ou bloqueando as ações dos</p><p>nervos autônomos.</p><p>• Os agonistas colinérgicos ativam receptores colinérgicos, compostos</p><p>importantes incluem a própria acetilcolina (produzida pelo organismo), o</p><p>carbacol e a pilocarpina. Os principais efeitos provocados são: bradicardia e</p><p>vasodilatação com queda da pressão arterial; contração da musculatura lisa das</p><p>vísceras (intestino, bexiga, brônquios etc.); aumento das secreções exócrinas,</p><p>constrição da pupila e contração do músculo ciliar, que reduzem a pressão</p><p>intraocular. O principal uso terapêutico é para o glaucoma (pilocarpina).</p><p>• Os antagonistas colinérgicos bloqueiam receptores colinérgicos e impedem</p><p>os efeitos da acetilcolina ou outros agonistas. Os compostos mais importantes</p><p>são a atropina, a escopolamina e o ipratrópio. Os principais efeitos incluem</p><p>inibição das secreções; taquicardia, dilatação da pupila, relaxamento da</p><p>musculatura lisa (intestino, brônquios, trato biliar e bexiga), efeitos antiemético</p><p>e antiparkinsonianos.</p><p>• Agonistas adrenérgicos ativam receptores adrenérgicos que são estimulados</p><p>pela norepinefrina ou pela epinefrina. Agonistas α-adrenérgicos causam queda</p><p>da pressão arterial pela inibição da liberação de norepinefrina. Agonistas β1-</p><p>adrenérgicos (dobutamina) promovem aumento da contratilidade cardíaca,</p><p>mas podem causar arritmias. Agonistas β2 seletivos (salbutamol, salmeterol)</p><p>são como broncodilatadores no tratamento da asma.</p><p>• Antagonistas adrenérgicos bloqueiam a ativação dos receptores adrenérgicos</p><p>impedindo os efeitos da epinefrina ou norepinefrina no organismo.</p><p>Antagonistas seletivos α1 (prazosina, doxazosina, terazosina) são usados no</p><p>tratamento da hipertensão e da hipertrofia benigna da próstata. Antagonistas</p><p>β-adrenérgicos não seletivos (propranolol) e seletivos para β1 (atenolol,</p><p>nebivolol) são usados no tratamento de anginas, infarto agudo do miocárdio,</p><p>prevenção de arritmias recorrentes, insuficiência cardíaca (em pacientes bem</p><p>compensados), hipertensão, glaucoma (p. ex., timolol em colírio), profilaxia da</p><p>enxaqueca. Os efeitos adversos mais importantes incluem broncoconstrição</p><p>(para β-bloqueadores não seletivos) e bradicardia.</p><p>157</p><p>1 O Sistema Nervoso Periférico (SNP) é constituído por nervos e gânglios</p><p>nervosos, sua principal função é conectar o Sistema Nervoso Central (SNC)</p><p>aos órgãos do corpo para realizar o transporte de informações. Com base no</p><p>que você aprendeu sobre o sistema nervoso periférico, assinale a alternativa</p><p>CORRETA:</p><p>a) ( ) O sistema parassimpático exerce controle sobre a atividade</p><p>da glândula suprarrenal.</p><p>b) ( ) Os gânglios simpáticos liberam norepinefrina como neurotransmissor.</p><p>c) ( ) A acetilcolina é liberada pelos neurônios simpáticos nos</p><p>órgãos efetores.</p><p>d) ( ) A norepinefrina é liberada pelos neurônios parassimpáticos</p><p>nos órgãos efetores.</p><p>e) ( ) Os neurônios aferentes transportam sinais dos órgãos efetores</p><p>para o SNC.</p><p>2 Os neurotransmissores do SNA promovem eventos intracelulares após</p><p>se ligarem a receptores de membrana nas células dos órgãos efetores.</p><p>Com base nos conhecimentos adquiridos ao longo da unidade, assinale a</p><p>alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Receptores nicotínicos colinérgicos são exemplos de receptores</p><p>ionotrópicos.</p><p>b) ( ) Receptores muscarínicos colinérgicos são exemplos de receptores</p><p>metabotrópicos que ativam os canais iônicos.</p><p>c) ( ) O sistema parassimpático é ativado pelo SNC quando há redução</p><p>brusca da pressão arterial.</p><p>d) ( ) Os gânglios dos neurônios motores somáticos inervam os músculos</p><p>lisos de forma mais lenta que o sistema autônomo.</p><p>e) ( ) A ativação do sistema simpático reduz frequência cardíaca, causa</p><p>constrição da pupila, salivação e aumento da motilidade gástrica.</p><p>3 Uma mulher idosa tentou se suicidar com a ingestão de vários comprimidos</p><p>de um agonista colinérgico desconhecido, um dos efeitos observados foi a</p><p>redução</p><p>da frequência cardíaca. Com o que foi estudado até aqui, quais são</p><p>os principais efeitos colaterais dos agonistas colinérgicos?</p><p>4 Os agonistas colinérgicos são caracterizados por produzirem efeitos</p><p>semelhantes aos da acetilcolina, são também denominados de</p><p>parassimpaticomiméticos ou colinomiméticos. Com base no que você</p><p>estudou sobre os agonistas colinérgicos, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>158</p><p>a) ( ) A ativação de receptores muscarínicos por um agonista promove</p><p>bradicardia, miose, constipação e diminuição da frequência urinária.</p><p>Nas células endoteliais dos vasos sanguíneos, a ativação muscarínica</p><p>causa aumento da pressão arterial.</p><p>b) ( ) A tox ina botulínica bloqueia a liberação de ACh dos terminais</p><p>nervosos colinérgicos.</p><p>c) ( ) Fármacos que aumentam as concentrações de ACh na JNM como os</p><p>anticolinesterásicos agravam os sintomas da miastenia grave.</p><p>d) ( ) O sarin é um gás organofosforado que reduz os níveis de ACh por</p><p>inibir as enzimas colinesterases (que degradam ACh). Por isso,</p><p>pacientes intoxicados apresentam aumento da micção, redução da</p><p>frequência cardíaca, aumento das secreções, constrição da pupila.</p><p>e) ( ) Um homem tentou se suicidar com a ingestão de um líquido misterioso</p><p>encontrado no seu banheiro. Ele chegou ao hospital com diarreia,</p><p>convulsões, dificuldade respiratória, midríase e salivação excessiva.</p><p>Após exames toxicológicos os médicos concluíram que a intoxicação</p><p>foi causada por um organofosforado.</p><p>5 Um oftalmologista que precisa dilatar a pupila do seu paciente para realizar</p><p>exame de fundo de olho deverá utilizar um antagonista muscarínico que</p><p>praticamente não terá efeitos sistêmicos, apenas no local de aplicação</p><p>(pupila). Caso o paciente ingerisse por engano esse antagonista muscarínico,</p><p>quais seriam os efeitos colaterais?</p><p>6 Os organofosforados são substâncias tóxicas que causam aumento dos</p><p>níveis de ACh, causando a crise colinérgica pela superativação de receptores</p><p>muscarínicos e nicotínicos. Com relação aos agonistas e antagonistas</p><p>colinérgicos, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) A intoxicação por organofosforados pode ser revertida pelo uso de</p><p>antagonistas colinérgicos como a atropina.</p><p>b) ( ) A escopolamina não é o fármaco mais eficaz para prevenção da</p><p>cinetose para uma pessoa que planeja um cruzeiro.</p><p>c) ( ) O bloqueio dos gânglios parassimpáticos pode diminuir a</p><p>frequência cardíaca.</p><p>d) ( ) Os inibidores da colinesterase aumentam os efeitos dos BNMs não</p><p>despolarizantes.</p><p>e) ( ) A neostigmina (inibidor da colinesterase) aumenta os níveis de ACh</p><p>na JNM e reverte o efeito dos BNMs não despolarizantes, também é</p><p>capaz de reverter o efeito dos BNMs despolarizantes.</p><p>7 Os agonistas adrenérgicos atuam sobre receptores que são estimulados pe-</p><p>las catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), também são denominados</p><p>simpatomiméticos. Com base no que você estudou sobre os agonistas adre-</p><p>nérgicos, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>159</p><p>a) ( ) A epinefrina é o principal neurotransmissor liberado pelos neurônios</p><p>simpáticos e a norepinefrina é liberada pela medula suprarrenal.</p><p>b) ( ) A dopamina é metabolizada em norepinefrina pela enzima dopamina</p><p>β-hidroxilase dentro da célula neuronal.</p><p>c) ( ) Uma mulher idosa hipertensa está se tratando com um bloqueador do</p><p>receptor β1 para reduzir sua pressão arterial. Entretanto, ela tem crises</p><p>de asmas recorrentes e ao se consultar com um médico da família, ele</p><p>indica o uso de salmeterol, o qual não é indicado por aumentar sua</p><p>pressão arterial apesar do uso do β-bloqueador.</p><p>d) ( ) Os agonistas de receptores α2 ativam seus receptores nos terminais</p><p>pré-sinápticos dos neurônios simpáticos e causam aumento da</p><p>pressão arterial. Por isso, os α2-agonistas não devem ser usados em</p><p>indivíduos hipertensos.</p><p>e) ( ) A ativação de receptores α1 nos vasos sanguíneos, causa vasodilatação</p><p>com aumento da pressão arterial.</p><p>8 Sintomas como constipação, contração da pupila, aumento da pressão</p><p>arterial e coração acelerado são comuns com o uso de agonistas adrenérgicos.</p><p>Com base no que você aprendeu sobre os agonistas adrenérgicos, assinale a</p><p>alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Os bloqueadores α-adrenérgicos causam bradicardia devido à</p><p>redução brusca da pressão arterial.</p><p>b) ( ) Um idoso de 67 anos trocou de medicação anti-hipertensiva na</p><p>semana passada e voltou ao consultório com queixa de sonolência,</p><p>cansaço e desmaios quando levanta da cama (hipotensão ortostática).</p><p>É mais provável que ele esteja usando um β-bloqueador do que um</p><p>α1-bloqueador.</p><p>c) ( ) A anfetamina é um agonista adrenérgico direto que aumenta a</p><p>liberação de norepinefrina nos neurônios simpáticos periféricos. Ativa</p><p>todos os tipos de receptores adrenérgicos (α e β) e causa um aumento</p><p>da pressão arterial.</p><p>d) ( ) O β-bloqueador mais indicado para pacientes hipertensos que tam-</p><p>bém são asmáticos é um β-bloqueador cardiosseletivo (antagonista</p><p>seletivo β1) e que não bloqueie receptores β2 nos bronquíolos como o</p><p>metoprolol.</p><p>e) ( ) Os β-bloqueadores reduzem a resistência periférica devido ao</p><p>relaxamento dos vasos, por isso são mais propensos a causar</p><p>hipotensão ortostática.</p><p>160</p><p>161</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Acadêmico, vamos dar início ao estudo mais empolgante da graduação</p><p>(na nossa humilde opinião, claro). O sistema nervoso central (SNC) é formado</p><p>pelo encéfalo e pela medula espinal e é responsável por infinitos mecanismos</p><p>para a sobrevivência da espécie humana.</p><p>Nós, seres humanos, temos cerca de 100 bilhões de neurônios interco-</p><p>nectados que formam um imenso circuito regulatório de transmissão de infor-</p><p>mações. Esta rede complexa, pode ser denominada de “neurotransmissão”, e de</p><p>forma muito simplificada, devemos ter em mente que a comunicação entre os</p><p>neurônios se dá pela liberação de um neurotransmissor pelo neurônio pré-sináp-</p><p>tico que se difunde na fenda sináptica até se ligar a um receptor de membrana em</p><p>um neurônio pós-sináptico.</p><p>A comunicação dos neurônios no SNC ocorre por meio de múltiplos</p><p>neurotransmissores, que atuam em uma rede poderosa de neurônios envolvidos</p><p>na modulação da transmissão neuronal (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN,</p><p>2012; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>TÓPICO 2 —</p><p>FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>FIGURA 6 – NEURÔNIO PRÉ-SINÁPTICO EM UM POTENCIAL DE AÇÃO LIBERANDO</p><p>NEUROTRANSMISSORES</p><p>FONTE: <http://bit.ly/3qhIkQT. Acesso em: 30 jul. 2020.</p><p>162</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>Você lembra que os neurotransmissores exercem seus efeitos através</p><p>da ligação a duas classes distintas de receptores? Recapitulando tais conceitos</p><p>brevemente, são eles:</p><p>1) Canais regulados por ligantes ou receptores ionotrópicos: os receptores</p><p>da maioria das sinapses no SNC são acoplados a canais iônicos. A ligação</p><p>do neurotransmissor ao receptor pós-sináptico causa a abertura rápida e</p><p>transitória de canais iônicos, onde os íons entram ou saem da célula conforme</p><p>o gradiente de concentração. Tal flutuação de íons através da membrana do</p><p>neurônio altera o potencial de ação pós-sináptico, promovendo despolarização</p><p>ou hiperpolarização das células neuronais (CATTERALL, 2000; KATZUNG;</p><p>TREVOR, 2017).</p><p>2) Receptores metabotrópicos: são os receptores acoplados a proteína G, com</p><p>sete domínios transmembrana. A ligação do neurotransmissor a um receptor</p><p>metabotrópico envolve a formação de segundos mensageiros que modulam</p><p>diferentes cascatas de sinalização intracelulares. Os fármacos que afetam o</p><p>sistema nervoso central (SNC) atuam em sua maioria modulando alguma etapa</p><p>do processo de neurotransmissão, seja na etapa pré-sináptica, onde alteram</p><p>a produção, o armazenamento e a liberação dos neurotransmissores, seja na</p><p>ativação ou</p><p>bloqueio dos receptores pós-sinápticos (KATZUNG; TREVOR,</p><p>2017; RANG et al., 2016).</p><p>2 ANSIOLÍTICOS E HIPNÓTICOS</p><p>Em algum momento de sua vida, você já deve ter sentido medo ou</p><p>ansiedade. No mínimo, você deve conhecer alguém ansioso. Segundo a American</p><p>Psychology Association (APA, 2014), o medo é uma emoção desencadeada pela</p><p>detecção de uma ameaça iminente, que promove uma reação imediata de</p><p>alarme, ocorrem alterações fisiológicas como taquicardia, redirecionamento do</p><p>fluxo sanguíneo para o intestino, tensão muscular, sudorese e mobilização do</p><p>organismo para lutar ou fugir.</p><p>Atualmente (2020), estamos vivendo uma situação inédita de uma</p><p>pandemia com dimensões nunca vistas pela nossa geração, o sentimento de</p><p>medo e insegurança é uma emoção experimentada por todos (ou quase) todos</p><p>nós. Entretanto, não podemos deixar que este sentimento se intensifique a ponto</p><p>de prejudicar nossa rotina, o que poderia caracterizar um quadro de ansiedade.</p><p>Os transtornos de ansiedade são distúrbios mentais bastante comuns</p><p>atualmente. A ansiedade é um estado de medo exacerbado e desagradável,</p><p>sentimento de tensão, apreensão e inquietação, sua origem pode ser de fontes</p><p>conhecidas ou não. Na ansiedade grave, os sintomas físicos são contínuos e</p><p>envolvem ativação simpática com taquicardia, sudorese, palpitações, tremores</p><p>e, muitas vezes, dificuldades para dormir. Somente casos de ansiedade intensa,</p><p>crônica e debilitante podem justificar o uso de fármacos ansiolíticos (SILVA, 2005).</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>163</p><p>2.1 BENZODIAZEPÍNICOS (BDZ)</p><p>São os ansiolíticos mais usados clinicamente e são relativamente seguros,</p><p>uma vez que a dose letal é mais de mil vezes superior do que a dose terapêutica.</p><p>Apesar disso, não são necessariamente a primeira escolha no tratamento contra</p><p>ansiedade ou insônia. Alguns antidepressivos apresentam atividade ansiolítica e</p><p>são escolhas mais seguras em vários casos, os hipnóticos não benzodiazepínicos e</p><p>os anti-histamínicos também podem ser utilizados no tratamento contra a insônia</p><p>(HOFFMAN; MATHEW, 2008; BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2012).</p><p>2.1.2 Mecanismo de ação dos BDZs</p><p>Caro acadêmico! É fundamental você ter em mente que o ácido</p><p>γ-aminobutírico (GABA) é o principal neurotransmissor inibitório no SNC. Para</p><p>alcançarem seus efeitos, os BDZs atuam justamente nos receptores do GABA</p><p>(gabaérgicos). Para compreender o mecanismo dos BDZs é preciso entender</p><p>que quando o neurotransmissor GABA se liga ao seu receptor, ele promove a</p><p>abertura do canal iônico, permitindo a entrada de íons cloreto. O influxo do íon</p><p>cloretopromove hiperpolarização da célula neuronal e consequente redução da</p><p>neurotransmissão, inibindo a formação de novos potenciais de ação. Os BDZs se</p><p>ligam a um local específico de alta afinidade no receptor que é diferente do local de</p><p>ligação do GABA, uma vez ligados, eles aumentam a frequência de abertura dos</p><p>canais produzida pelo GABA, ou seja, a ligação do BDZ ao receptor aumentará</p><p>a afinidade do GABA e consequentemente aumentará o influxo de cloro para</p><p>dentro do neurônio (HOFFMAN; MATHEW, 2008; BRUNTON; CHABNER;</p><p>KNOLLMANN, 2012).</p><p>Então, quais são os principais efeitos dos BDZs?</p><p>Redução da ansiedade: em doses baixas, os BDZs são ansiolíticos devido</p><p>à potencialização da neurotransmissão gabaérgica;</p><p>Efeito hipnótico/sedativo: todos os BDZs têm efeitos sedativos e</p><p>calmantes, em doses mais altas produzem hipnose (induzem o sono de forma</p><p>“artificial”).</p><p>Amnésia anterógrada: a perda temporária da memória recente é um</p><p>efeito adverso dos BDZs, por isso eles podem ser utilizados indevidamente como</p><p>drogas de estupro.</p><p>Efeito anticonvulsivante: grande parte dos BDZ apresentam atividade</p><p>anticonvulsivante.</p><p>Relaxamento da musculatura: em altas doses, os BDZs reduzem os</p><p>espasmos do músculo esquelético, provavelmente pelo aumento da inibição pré-</p><p>sináptica na medula espinal.</p><p>164</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>Dependência: pacientes que usam BDZs podem desenvolver dependência</p><p>física e psicológica com doses elevadas por longos períodos, por isso, todos os BDZs</p><p>são fármacos controlados. A interrupção abrupta pode levar ao desenvolvimento</p><p>de síndrome de abstinência, incluindo ansiedade, agitação confusão mental,</p><p>insônia, raramente convulsões. Importante destacar que os BDZ com tempo</p><p>de ação mais curto (geralmente usados como hipnóticos), induzem reações de</p><p>abstinência mais graves do que as observadas com fármacos de eliminação mais</p><p>lenta (KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016).</p><p>Você sabe o que tolerância farmacológica? É a redução da resposta</p><p>farmacológica após tratamento prolongado. É quando medicamento “para de fazer efeito”,</p><p>na verdade o efeito pode ser reduzido quando o uso se estende por algumas semanas.</p><p>A tolerância está associada a uma redução na densidade de receptores GABA. Os efeitos</p><p>ansiolíticos dos BDZs são menos propensos à tolerância do que os efeitos sedativos e</p><p>hipnóticos. Ou seja, pacientes que usam os BDZs em doses para ansiedade continuam</p><p>tendo os efeitos desejados por muito mais tempo do que os pacientes que usam os BDZs</p><p>para dormir (JACOB et al., 2012; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Além dos BDZs, fármacos de outras classes são usados para o tratamento</p><p>de ansiedade e insônia, que estão resumidos no quadro a seguir:</p><p>QUADRO 11 – RESUMO DOS PRINCIPAIS FÁRMACOS ANSIOLÍTICOS E HIPNÓTICOS</p><p>Fármaco Mecanismo de</p><p>ação</p><p>Efeitos</p><p>esperados Usos clínicos Efeitos</p><p>adversos</p><p>BDZs:</p><p>Alprazolam;</p><p>Clordiazepó-</p><p>xido;</p><p>Clonazepam;</p><p>Clorazepato;</p><p>Diazepam;</p><p>Estazolam;</p><p>Flurazepam;</p><p>Lorazepam;</p><p>Midazolam;</p><p>Oxazepam;</p><p>Quazepam;</p><p>Temazepam;</p><p>Triazolam.</p><p>Nas sinapses</p><p>neuronais do</p><p>SNC, ligam-se</p><p>a subunidades</p><p>específicas do</p><p>receptor GABA,</p><p>facilitando a</p><p>frequência de</p><p>abertura dos</p><p>canais iônicos</p><p>de cloreto</p><p>mediados pelo</p><p>GABA, causando</p><p>hiperpolarização</p><p>da membrana.</p><p>Causam efeitos</p><p>depressores</p><p>no SNC dos</p><p>dependentes,</p><p>incluindo</p><p>sedação,</p><p>redução da</p><p>ansiedade,</p><p>hipnose,</p><p>amnésia.</p><p>Ansiedade</p><p>aguda, ataques</p><p>de pânico,</p><p>transtorno</p><p>de ansiedade</p><p>generalizada,</p><p>insônia,</p><p>relaxamento da</p><p>musculatura,</p><p>atuam como</p><p>adjuvantes</p><p>na anestesia e</p><p>em distúrbios</p><p>convulsivos.</p><p>Apresentam</p><p>tendência à</p><p>dependência</p><p>e a tolerância,</p><p>depressão aditiva</p><p>do SNC com o</p><p>etanol; Amnésia</p><p>anterógrada</p><p>(perda da</p><p>memória recente)</p><p>e perturbação da</p><p>função intelectual</p><p>e da destreza</p><p>manual.</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>165</p><p>Antagonista</p><p>de BDZs:</p><p>Flumazenil.</p><p>Atuam</p><p>bloqueando os</p><p>sítios de ligação</p><p>dos BDZs no</p><p>receptor GABA.</p><p>Bloqueia os</p><p>efeitos dos</p><p>BDZs e do</p><p>zolpidem, mas</p><p>não de outros</p><p>sedativos-</p><p>hipnóticos.</p><p>Tratamento de</p><p>intoxicações por</p><p>BDZs.</p><p>Agitação,</p><p>confusão,</p><p>possíveis</p><p>sintomas de</p><p>abstinência na</p><p>dependência de</p><p>BDZs.</p><p>Barbitúricos:</p><p>Amobarbital;</p><p>Butabarbital;</p><p>Mefobarbital;</p><p>Pentobarbital;</p><p>Fenobarbital;</p><p>Secobarbital.</p><p>Ligam-se a</p><p>subunidades</p><p>específicas</p><p>do receptor</p><p>GABA no SNC,</p><p>aumentando</p><p>a duração de</p><p>abertura dos</p><p>canais iônicos de</p><p>cloreto mediados</p><p>pelo GABA com</p><p>aumento da</p><p>hiperpolarização</p><p>da membrana.</p><p>Efeitos</p><p>depressores</p><p>sobre o SNC,</p><p>incluindo</p><p>sedação e alívio</p><p>da ansiedade,</p><p>amnésia,</p><p>hipnose,</p><p>anestesia, coma</p><p>e depressão</p><p>respiratória.</p><p>Atualmente não</p><p>são usados no</p><p>tratamento da</p><p>ansiedade.</p><p>Tiopental: Usa-</p><p>do na anestesia;</p><p>Secobarbital:</p><p>Usado para</p><p>insônia;</p><p>Fenobarbital:</p><p>Anticonvulsi-</p><p>vante.</p><p>Graves efeitos</p><p>depressores</p><p>sobreo SNC</p><p>dependendo da</p><p>dose.</p><p>Alta tendência à</p><p>dependência.</p><p>Grave síndrome</p><p>de abstinência.</p><p>Depressão aditiva</p><p>do SNC com</p><p>etanol.</p><p>Indução</p><p>enzimática</p><p>severa causando</p><p>várias interações</p><p>medicamentosas.</p><p>Hipnóticos</p><p>de última</p><p>geração:</p><p>Eszopiclona;</p><p>Zaleplona;</p><p>Zolpidem.</p><p>Ligam-se</p><p>seletivamente</p><p>a um subgrupo</p><p>de receptores</p><p>GABA, atuando</p><p>como os BDZ,</p><p>com aumento</p><p>da</p><p>hiperpolarização</p><p>da membrana.</p><p>Rápido início</p><p>da hipnose com</p><p>menos efeitos</p><p>amnésicos,</p><p>menor</p><p>depressão</p><p>psicomotora</p><p>e menor</p><p>sonolência no</p><p>dia seguinte do</p><p>que os BDZs.</p><p>Distúrbios do</p><p>sono, particular-</p><p>mente aqueles</p><p>caracterizados</p><p>por dificuldade</p><p>em adormecer.</p><p>Extensão</p><p>dos efeitos</p><p>depressores</p><p>sobreo SNC.</p><p>Tendência à</p><p>dependência.</p><p>Depressão aditiva</p><p>do SNC com o</p><p>etanol.</p><p>Agonistas</p><p>serotonérgicos</p><p>Buspirona.</p><p>Mecanismo</p><p>incerto: Agonista</p><p>parcial dos</p><p>receptores de</p><p>5-HT, com</p><p>afinidade pelos</p><p>receptores D2.</p><p>Início lento dos</p><p>efeitos ansiolí-</p><p>ticos.</p><p>Menor com-</p><p>prometimento</p><p>psicomotor.</p><p>Estados de</p><p>ansiedade</p><p>generalizada.</p><p>Taquicardia.</p><p>Parestesias.</p><p>Desconforto</p><p>gastrintestinal.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>3 ANTIEPILÉPTICOS</p><p>Agora que você já tem uma base sobre o tratamento para os distúrbios</p><p>de insônia e ansiedade, vamos começar a estudar o tratamento da epilepsia.</p><p>Atualmente, a epilepsia é o terceiro distúrbio neurológico mais prevalente no</p><p>mundo, atrás apenas da doença cerebrovascular e da doença de Alzheimer. Os</p><p>166</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>distúrbios epilépticos são caracterizados por convulsões provenientes de vários</p><p>mecanismos que têm em comum uma atividade elétrica anormal com descargas</p><p>excessivas e sincronizadas dos neurônios cerebrais. A descarga neuronal</p><p>resulta do disparo de um grupo de neurônios em determinada área do cérebro</p><p>denominada foco primário. As consequências desses prejuízos nos neurônios</p><p>podem incluir perda de consciência, fortes contrações musculares, movimentos</p><p>anormais, percepção distorcida do tempo, alucinações visuais, auditivas e</p><p>olfatórias (KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>Dependendo do local em que os disparos neuronais se originam, os sin-</p><p>tomas apresentados são diferentes. Como exemplo podemos citar uma descar-</p><p>ga elétrica nos neurônios do córtex motor, em que o paciente é acometido por</p><p>movimentos involuntários e convulsão generalizada. Felizmente, as convulsões</p><p>podem ser controladas com tratamento medicamentoso em aproximadamente</p><p>75% dos pacientes. Geralmente, o tratamento engloba uma associação de medi-</p><p>camentos para otimizar os resultados. Você deve se perguntar, mas o que causa</p><p>a epilepsia, afinal? Na maioria dos casos, a causa da epilepsia é desconhecida,</p><p>sabe-se que alguns casos são provenientes de alterações genéticas, estruturais ou</p><p>metabólicas (BROWNE; HOLMES, 2008; FISHER et al., 2014; KATZUNG; TRE-</p><p>VOR, 2017). As crises epilépticas são classificadas em dois grupos:</p><p>Crises focais: envolvem somente uma parte do cérebro, geralmente a</p><p>porção de um dos lobos. Os sintomas dependem do local da origem e da extensão</p><p>da descarga neuronal. As crises focais podem evoluir para crises tônico-clônicas</p><p>generalizadas.</p><p>Crises generalizadas: podem iniciar num local específico e avançar para</p><p>os dois hemisférios cerebrais. Normalmente, o paciente tem perda imediata da</p><p>consciência. Observe o quadro a seguir.</p><p>QUADRO 12 – TIPOS DE CRISES EPILÉPTICAS</p><p>Tônico-</p><p>clônicas:</p><p>Ocorre</p><p>perda da</p><p>consciência,</p><p>seguida das</p><p>fases tônica</p><p>(contração</p><p>contínua)</p><p>e clônica</p><p>(contração e</p><p>relaxamento).</p><p>Ausências:</p><p>Envolvem</p><p>uma perda</p><p>breve e</p><p>autolimitada</p><p>da consciência.</p><p>Normalmente</p><p>acometem</p><p>crianças,</p><p>as quais</p><p>permanecem</p><p>com o olhar</p><p>fixo com</p><p>piscadas</p><p>rápidas.</p><p>Mioclônicas:</p><p>Episódios</p><p>curtos de</p><p>contração</p><p>muscular</p><p>que podem</p><p>durar vários</p><p>minutos.</p><p>Geralmente,</p><p>ocorrem após</p><p>o despertar</p><p>com breves</p><p>contrações</p><p>espasmódicas</p><p>dos membros.</p><p>Clônicas:</p><p>Se dife-</p><p>renciam</p><p>das crises</p><p>mioclônicas</p><p>pelo maior</p><p>comprome-</p><p>timento da</p><p>consciência.</p><p>Tônicas:</p><p>Envolvem</p><p>aumento</p><p>do tônus</p><p>muscular.</p><p>Atônicas:</p><p>Ocorre</p><p>perda súbita</p><p>de tônus</p><p>muscular.</p><p>Também são</p><p>denominadas</p><p>de ataques de</p><p>queda.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>167</p><p>3.1 MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIEPILÉPTICOS</p><p>Os fármacos antiepilépticos (ou anticonvulsivantes) suprimem as crises,</p><p>mas não curam a epilepsia. Os principais mecanismos envolvem:</p><p>1) Potencialização da neurotransmissão inibitória GABAérgica.</p><p>2) Bloqueio dos canais de sódio ou cálcio dependentes de voltagem.</p><p>3) Redução da neurotransmissão excitatória mediada pelo glutamato (principal</p><p>neurotransmissor excitatório do SNC).</p><p>QUADRO 13 – RESUMO DOS PRINCIPAIS FÁRMACOS ANTIEPILÉPTICOS</p><p>Fármaco Mecanismo de</p><p>ação</p><p>Efeitos</p><p>esperados Usos clínicos Efeitos adversos</p><p>Carbamaze-</p><p>pina</p><p>Bloqueio dos</p><p>canais de sódio.</p><p>Inibem os</p><p>potenciais de</p><p>ação repetitivos</p><p>no foco epilético</p><p>e evitam seu</p><p>alastramento.</p><p>É eficaz nas</p><p>crises focais,</p><p>nas convulsões</p><p>tônico-clônicas</p><p>generalizadas,</p><p>na neuralgia</p><p>do trigêmeo e</p><p>nos transtornos</p><p>bipolares (uso</p><p>off label).</p><p>Hiponatremia,</p><p>fadiga, tonturas,</p><p>sonolência e visão</p><p>turva. Neutropenia,</p><p>leucopenia,</p><p>trombocitopenia,</p><p>pancitopenia</p><p>e anemias.</p><p>Raramente pode</p><p>estar associada</p><p>com síndrome de</p><p>Steven-Johnson.</p><p>Ácido</p><p>valproico</p><p>Múltiplos meca-</p><p>nismos que in-</p><p>cluem bloqueio</p><p>dos canais de</p><p>sódio, bloqueio</p><p>da gabatransa-</p><p>minase e ações</p><p>nos canais de</p><p>cálcio tipo T.</p><p>Produz um am-</p><p>plo espectro de</p><p>ações contra as</p><p>crises epilépti-</p><p>cas.</p><p>Inibem os po-</p><p>tenciais de ação</p><p>e aumentam a</p><p>neurotransmissão</p><p>mediada pelo</p><p>GABA.</p><p>Eficaz no</p><p>tratamentodas</p><p>epilepsias focais</p><p>e primárias</p><p>generalizadas.</p><p>Aumento de</p><p>peso, náuseas,</p><p>tremores, queda de</p><p>cabelos, distúrbios</p><p>gastroinstestinais,</p><p>lesão hepática e</p><p>sedação. Podem</p><p>causar insuficiência</p><p>hepática,</p><p>pancreatite e efeitos</p><p>teratogênicos.</p><p>168</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>Benzodiaze-</p><p>pínicos</p><p>Conforme</p><p>já estudado</p><p>no capítulo</p><p>anterior, os</p><p>BDZ se ligam</p><p>aos receptores</p><p>do GABA, que</p><p>são inibitórios,</p><p>aumentando a</p><p>hiperpolarização</p><p>da célula</p><p>neuronal.</p><p>O aumento da</p><p>neurotransmissão</p><p>inibitória media-</p><p>da pelo GABA</p><p>reduz a taxa de</p><p>disparos neuro-</p><p>nais.</p><p>São usados</p><p>principalmente-</p><p>em emergências</p><p>ou em crises</p><p>agudas, devido</p><p>a sua tolerância.</p><p>Entretanto,</p><p>clonazepame</p><p>clobazam-</p><p>podem ser</p><p>prescritos como</p><p>adjuvantes no</p><p>tratamento.</p><p>Tendência à</p><p>dependência</p><p>e à tolerância,</p><p>depressão aditiva</p><p>do SNC com o</p><p>etanol e outras</p><p>substâncias.</p><p>Podem causar</p><p>perda da</p><p>memória recente,</p><p>perturbação da</p><p>função intelectual e</p><p>da destreza manual;</p><p>A interrupção</p><p>abrupta pode</p><p>causar convulsões.</p><p>Barbitúricos</p><p>Também já</p><p>foram estudados</p><p>no capítulo</p><p>anterior, os</p><p>barbitúricos</p><p>como o</p><p>fenobarbital</p><p>se ligam a</p><p>subunidades</p><p>dos receptores</p><p>GABA,</p><p>aumentando</p><p>a duração</p><p>de abertura</p><p>dos canais de</p><p>cloreto.</p><p>Aumentam a</p><p>hiperpolariza-</p><p>çãoda membrana</p><p>neuronal.</p><p>Apresentam</p><p>efeitos em</p><p>todos os tipos</p><p>de epilepsia,</p><p>exceto crises</p><p>de ausência.</p><p>Atualmente têm</p><p>sido largamente</p><p>substituídos por</p><p>antiepilépticos</p><p>mais modernos.</p><p>Graves efeitos</p><p>depressores sobreo</p><p>SNC dependendo</p><p>da dose.</p><p>Alta tendência à</p><p>dependência.</p><p>Grave síndrome de</p><p>abstinência.</p><p>Depressão aditiva</p><p>com o etanol;</p><p>Induçãoenzimática</p><p>severa causando</p><p>várias interações</p><p>medicamentosas.</p><p>Etossuxi-</p><p>mida</p><p>Bloqueio dos</p><p>canais de cálcio.</p><p>Reduz a</p><p>propagação da</p><p>atividade elétrica</p><p>anormal no</p><p>cérebro.</p><p>É usada no</p><p>tratamento</p><p>de crises de</p><p>ausência.</p><p>Sonolência,</p><p>hiperatividade,</p><p>náuseas, distúrbios</p><p>gastrointestinais,</p><p>aumento de peso,</p><p>letargia, erupções</p><p>cutâneas. A</p><p>interrupção abrupta</p><p>pode causar</p><p>convulsões.</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>169</p><p>Felbamato</p><p>Apresenta múl-</p><p>tiplosmecanis-</p><p>mos: bloqueio</p><p>de canais de</p><p>sódio e de cálcio,</p><p>competem com</p><p>o local de liga-</p><p>ção daglicina no</p><p>receptor de glu-</p><p>tamato N-me-</p><p>til-D-aspartato</p><p>(NMDA), poten-</p><p>cializam a ação</p><p>do GABA.</p><p>O amplo espectro</p><p>de ação é devido</p><p>aos diferentes</p><p>efeitos inibitórios</p><p>mediados</p><p>pelos múltiplos</p><p>mecanismos de</p><p>ação.</p><p>Usado apenas</p><p>em epilepsias</p><p>refratárias</p><p>(particularmen-</p><p>te a síndrome</p><p>Lennox-Gas-</p><p>taut) devido aos</p><p>graves efeitos</p><p>adversos.</p><p>Insônia, tonturas,</p><p>cefaleia, ataxia,</p><p>aumento de peso e</p><p>irritabilidade.</p><p>Anemia aplástica</p><p>e insuficiência</p><p>hepática.</p><p>Fenitoína</p><p>Bloqueio dos</p><p>canais de sódio.</p><p>Inibem os</p><p>potenciais de</p><p>ação repetitivos.</p><p>É eficaz no</p><p>tratamento</p><p>das crises</p><p>focais e crises</p><p>tônico-clônicas</p><p>generalizadas</p><p>e no estado</p><p>epilético.</p><p>Hiperplasia</p><p>gengival,</p><p>hirsutismo,</p><p>confusão mental,</p><p>visão dupla, ataxia,</p><p>sedação, tonturas.</p><p>Raramente pode</p><p>ocorrer síndrome</p><p>de Stevens Johnson,</p><p>potencialmente</p><p>fatal.</p><p>Gabapen-</p><p>tina</p><p>O mecanismo</p><p>de ação exato é</p><p>desconhecido.</p><p>É um análogo</p><p>do GABA,</p><p>mas não atua</p><p>nos receptores</p><p>gabaérgicos. Os</p><p>efeitos causados</p><p>não foram</p><p>elucidados.</p><p>Atua como</p><p>auxiliar nas</p><p>crises focais e no</p><p>tratamento da</p><p>neuralgiapós-</p><p>herpética.</p><p>Sonolência branda,</p><p>tonturas, ataxia,</p><p>aumento de</p><p>peso e diarreia.</p><p>Tem a vantagem</p><p>de apresentar</p><p>poucasinterações</p><p>medicamentosas.</p><p>Lamotrigina</p><p>Bloqueio dos</p><p>canais de sódio e</p><p>de cálcio.</p><p>Amplo espectro</p><p>de efeitos anti-</p><p>convulsivantes.</p><p>É eficaz em</p><p>vários tipos</p><p>de crises,</p><p>incluindo focais,</p><p>generalizadas,</p><p>de ausência</p><p>e deLennox-</p><p>Gestaut.</p><p>Também eficaz</p><p>no transtorno</p><p>bipolar.</p><p>Sonolência,</p><p>tonturas, náusea,</p><p>cefaleia e diplopia.</p><p>Síndrome de</p><p>Stevens-Johnson,</p><p>potencialmente</p><p>fatal.</p><p>Oxcarbaze-</p><p>pina</p><p>Bloqueio dos</p><p>canais de sódio.</p><p>Previne o</p><p>alastramento</p><p>das descargas</p><p>elétricas</p><p>anormais.</p><p>É usada em</p><p>adultos e</p><p>crianças com</p><p>crises de ataque</p><p>focal.</p><p>Hiponatremia,</p><p>náuseas, urticária,</p><p>cefaleia, diplopia,</p><p>sedação, tonturas,</p><p>vertigens, ataxia.</p><p>170</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>Pregabalina</p><p>Se liga a uma</p><p>subunidade</p><p>específica nos</p><p>canais de cálcio.</p><p>Inibe a neuro-</p><p>transmissão</p><p>excitatória.</p><p>Apresenta</p><p>eficácia em</p><p>crises de</p><p>início focal,</p><p>neuropatia</p><p>periférica</p><p>diabética,</p><p>neuralgia</p><p>pós-herpética e</p><p>fibromialgia.</p><p>Aumento de</p><p>peso, sonolência,</p><p>tonturas, cefaleia,</p><p>diplopia e ataxia.</p><p>Topiramato</p><p>Bloqueio dos</p><p>canaisde sódio,</p><p>redução das</p><p>correntes de</p><p>cálcio, inibe</p><p>a anidrase</p><p>carbônica e pode</p><p>atuar em locais</p><p>do glutamato</p><p>(NMDA).</p><p>Múltiplos</p><p>mecanismos</p><p>que reduzem a</p><p>neurotransmissão</p><p>excitatória.</p><p>Eficaz em</p><p>epilepsias</p><p>parciais e</p><p>primárias</p><p>generalizadas.</p><p>Também usada</p><p>no tratamento</p><p>da enxaqueca.</p><p>Sonolência,</p><p>perda de peso,</p><p>parestesias, cálculos</p><p>renais, glaucoma,</p><p>sudorese reduzida,</p><p>hipertermia.</p><p>Vigabatrina</p><p>Inibe de forma</p><p>irreversível</p><p>a GABA-</p><p>transaminase</p><p>(enzima que</p><p>metaboliza o</p><p>GABA).</p><p>Aumenta a</p><p>neurotransmissão</p><p>inibitória gabaér-</p><p>gica.</p><p>Praticamente</p><p>não é usada.</p><p>Causa perda leve</p><p>ou moderada do</p><p>campo visual em</p><p>cerca de 30% dos</p><p>pacientes.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>4 ANTIDEPRESSIVOS</p><p>Em depressão, você já deve ter ouvido falar. Quem nunca sentiu uma</p><p>tristeza profunda que atire a primeira pedra. Mas cuidado, tristeza passageira</p><p>não é depressão, mas tristeza profunda contínua pode ser. A depressão é uma</p><p>doença que inclui sintomas de desesperança, incapacidade de sentir prazer em</p><p>situações que normalmente eram prazerosas, alterações de sono e apetite, fadiga,</p><p>ideias suicidas e a tal da tristeza intensa e contínua. Por outro lado, a mania é</p><p>caracterizada por um comportamento de entusiasmo, raiva, pensamentos</p><p>acelerados e autoconfiança exacerbada (APA, 2014; RANG et al., 2016).</p><p>A partir de agora estudaremos a depressão e os episódios de mania</p><p>(transtorno bipolar), os mecanismos neurobiológicos subjacentes, as classes</p><p>de fármacos disponíveise os mecanismos pelos quais eles exercem seus efeitos</p><p>farmacológicos.</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>171</p><p>4.1 MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIDEPRESSIVOS</p><p>Os antidepressivos úteis clinicamente potencializam, de forma direta</p><p>ou indireta, as ações dos neurotransmissores norepinefrina e/ou da serotonina</p><p>(5-HT) no SNC. Tal achado, em conjunto com outras evidências, deu origem à</p><p>teoria das aminas biogênicas, que explica a depressão como uma patologia</p><p>proveniente do déficit de monoaminas, (norepinefrina, dopamina, serotonina)</p><p>nas sinapses neuronais. Em contrapartida, episódios de mania parecem ser frutos</p><p>da produção excessiva e descontrolada desses neurotransmissores. Todavia,</p><p>apenas essa teoria não explica por que os efeitos farmacológicos dos fármacos na</p><p>neurotransmissão ocorrem imediatamente, ao passo que a resposta terapêutica</p><p>observada no paciente só é vista após semanas. Vários estudos sugerem que a</p><p>inibição da captação dos neurotransmissores é apenas o primeiro passo para a</p><p>obtenção dos efeitos antidepressivos. Em geral, os efeitos na melhora do humor</p><p>só são observados após duas semanas do início do uso e o benefício máximo pode</p><p>demorar até 12 semanas ou mais. (KATZUNG; TREVOR, 2017; RANG et al., 2016).</p><p>FIGURA 7 – NEUROTRANSMISSÃO NORMAL COM LIBERAÇÃO ADEQUADA DE</p><p>NEUROTRANSMISSORES</p><p>FONTE: Adaptado de <http://bit.ly/3qiXmpG>. Acesso em: 10 ago. 2020.</p><p>172</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>FIGURA 8 – NEUROTRANSMISSÃO COM DÉFICIT DE NEUROTRANSMISSORES NA FENDA</p><p>SINÁPTICA</p><p>FONTE: Adaptado de <http://bit.ly/3qiXmpG>. Acesso em: 10 ago. 2020.</p><p>QUADRO 14 – RESUMO DOS PRINCIPAIS FÁRMACOS ANTIDEPRESSIVOS</p><p>Fármaco Mecanismo</p><p>de ação</p><p>Efeitos</p><p>esperados Usos clínicos Efeitos adversos</p><p>Antidepressi-</p><p>vos tricíclicos</p><p>(ADTs):</p><p>Imipramina;</p><p>Amitriptilina;</p><p>Clomipramina;</p><p>Doxepina;</p><p>Trimipramina;</p><p>Desipramina;</p><p>Nortriptilina.</p><p>Bloqueiam a</p><p>captação de</p><p>norepinefrina</p><p>e serotonina</p><p>no neurônio</p><p>pré-sinápti-</p><p>co, também</p><p>bloqueiam</p><p>receptores</p><p>serotoninér-</p><p>gicos, α-a-</p><p>drenérgicos,</p><p>histamínicos e</p><p>muscarínicos.</p><p>Aumentam as</p><p>concentrações</p><p>serotonérgicas e</p><p>noradrenérgicas</p><p>nas sinapses</p><p>neuronais.</p><p>São eficazes</p><p>na depressão</p><p>moderada a</p><p>grave. Podem</p><p>ser usados em</p><p>alguns pacientes</p><p>com transtorno</p><p>de pânico. A</p><p>imipramina</p><p>parece controlar</p><p>a enurese em</p><p>crianças. A</p><p>amitriptilina, tem</p><p>sido utilizada</p><p>como prevenção</p><p>de crises de</p><p>enxaqueca e</p><p>dorneuropática.</p><p>Visão turva,</p><p>xerostomia,</p><p>retenção urinária,</p><p>taquicardia</p><p>sinusal,</p><p>constipação,</p><p>agravamento</p><p>do glaucoma,</p><p>arritmias;</p><p>hipotensão</p><p>ortostática,</p><p>tonturas e</p><p>taquicardia</p><p>reflexa. A</p><p>sedação pode</p><p>ser significativa,</p><p>também</p><p>apresentam</p><p>estreita janela</p><p>terapêutica.</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>173</p><p>Inibidores da</p><p>Mono</p><p>-aminoxidade</p><p>(IMAOS):</p><p>Fenelzina;</p><p>Tranilcipro-</p><p>mina;</p><p>Isocarboxazi-</p><p>da;</p><p>Selegilina.</p><p>A MAO é a</p><p>enzima que</p><p>degrada os</p><p>excessos de</p><p>neurotransmis-</p><p>sores no SNC</p><p>e substâncias</p><p>tóxicas como</p><p>a tiramina no</p><p>intestino.</p><p>Os IMAOs ina-</p><p>tivam a enzima</p><p>MAO.</p><p>Aumentodos</p><p>estoques de</p><p>norepinefrina,</p><p>serotonina e</p><p>dopamina no</p><p>interior dos</p><p>neurônios com</p><p>subsequente</p><p>difusão do</p><p>excesso destes</p><p>paraa fenda</p><p>sináptica.</p><p>São indicados</p><p>para pacientes que</p><p>não respondema</p><p>antidepressivos</p><p>mais seguros.</p><p>Os IMAOs são</p><p>os fármacos de</p><p>última escolha</p><p>devido aos</p><p>graves efeitos</p><p>adversos e ao</p><p>risco de interações</p><p>medicamentosas e</p><p>alimentares (com</p><p>alimentos que</p><p>contém tiramina).</p><p>O acúmulo de</p><p>tiramina causado</p><p>pelos IMAOs,</p><p>além do aumento</p><p>de catecolaminas</p><p>circulantes,</p><p>pode causar</p><p>grave “crise</p><p>hipertensiva”.</p><p>Outros potenciais</p><p>efeitos adversos</p><p>incluem</p><p>sonolência,</p><p>hipotensão</p><p>ortostática, visão</p><p>turva, xerostomia</p><p>e constipação.</p><p>Devido ao risco</p><p>de síndrome de</p><p>serotonina, o</p><p>uso de IMAO</p><p>com outros</p><p>antidepressivos é</p><p>contraindicado.</p><p>Inibidores</p><p>seletivos da</p><p>captação de</p><p>serotonina</p><p>(ISCS):</p><p>Fluoxetina;</p><p>Citalopram;</p><p>Escitalopram;</p><p>Fluvoxamina;</p><p>Paroxetina;</p><p>Sertralina.</p><p>Inibem de</p><p>forma seletiva</p><p>a captação de</p><p>serotonina</p><p>pelo bloqueio</p><p>do seu</p><p>transportador,</p><p>apresentam</p><p>uma</p><p>seletividade</p><p>até 3 mil vezes</p><p>maior para</p><p>otransportador</p><p>de serotonina</p><p>do que</p><p>para o de</p><p>norepinefrina.</p><p>Aumentam a</p><p>concentração de</p><p>serotonina na</p><p>fenda sináptica.</p><p>A primeira</p><p>indicação dos</p><p>ISCSs é para a</p><p>depressão. Outros</p><p>transtornos</p><p>psiquiátricos que</p><p>respondem bem</p><p>aos ISCSs, incluem</p><p>o transtorno</p><p>obsessivo-</p><p>compulsivo,</p><p>pânico, ansiedade</p><p>generalizada,</p><p>estresse pós-</p><p>traumático,</p><p>transtorno</p><p>disfórico pré-</p><p>menstruale</p><p>bulimia.</p><p>Geralmente, os</p><p>ISCSs apresentam</p><p>efeitos adversos</p><p>de menor</p><p>gravidade</p><p>que outros</p><p>antidepressivos</p><p>(ADTs e IMAOs),</p><p>mas não são</p><p>isentos de</p><p>efeitosadversos,</p><p>pode ocorrer</p><p>cefaleia, sudorese,</p><p>ansiedade,</p><p>agitação, náuseas,</p><p>êmese, diarreia,</p><p>disfunções</p><p>sexuais, alterações</p><p>de peso e</p><p>distúrbios do</p><p>sono.</p><p>174</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>Inibidores da</p><p>captação de</p><p>serotonina e</p><p>norepinefrina</p><p>(ICSN):</p><p>Venlafaxina;</p><p>Desvenlafaxi-</p><p>na;</p><p>Duloxetina.</p><p>Inibem a</p><p>captação tanto</p><p>de serotonina</p><p>como de nore-</p><p>pinefrina pelo</p><p>bloqueio dos</p><p>transportado-</p><p>res. Ao contrá-</p><p>rio dos ADTs,</p><p>não bloqueiam</p><p>receptores</p><p>serotoninér-</p><p>gicos, α-a-</p><p>drenérgicos,</p><p>histamínicos e</p><p>muscarínicos</p><p>(causando</p><p>menos efeitos</p><p>adversos).</p><p>Aumentam a</p><p>concentração</p><p>tanto de</p><p>serotonina</p><p>como de</p><p>norepinefrina</p><p>na fenda</p><p>sináptica.</p><p>Podem ser eficazes</p><p>na depressão em</p><p>pacientes que</p><p>não responderam</p><p>aos ISCSs.</p><p>Algumas vezes</p><p>podem aliviar a</p><p>dor neuropática</p><p>diabética</p><p>periférica, a</p><p>neuralgiapós-</p><p>herpética, a</p><p>fibromialgia e a</p><p>dor lombar.</p><p>Os efeitos</p><p>adversos são</p><p>parecidos aos</p><p>ISCSs. Incluem</p><p>cefaleia, mal-</p><p>estar, sintomas de</p><p>gripe, agitação,</p><p>irritabilidade,</p><p>nervosismo,</p><p>alterações no</p><p>sono.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>Antidepressivos atípicos: são um grupo misto de fármacos com diferentes</p><p>mecanismos de ação mostrados no quadro a seguir:</p><p>QUADRO 15 – MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS</p><p>Bupropiona:</p><p>Inibe a captação</p><p>de dopamina e</p><p>norepinefina,</p><p>aliviando os</p><p>sintomas de</p><p>depressão.</p><p>Também é útil</p><p>em atenuar os</p><p>sintomas de</p><p>abstinência da</p><p>nicotina. Seu uso</p><p>deve ser</p><p>Evitado em</p><p>pacientes</p><p>com risco de</p><p>convulsões ou</p><p>que sofrem de</p><p>transtornos</p><p>alimentares,</p><p>como bulimia.</p><p>Mirtazapina:</p><p>Mecanismo</p><p>incerto, é</p><p>antagonista nos</p><p>receptores pré-</p><p>sinápticos α2 e</p><p>5-HT2, parece</p><p>aumentar a</p><p>neurotransmissão</p><p>serotonérgica e</p><p>noradrenérgica.</p><p>Tem acentuada</p><p>ação sedativa</p><p>devido a sua</p><p>potente atividade</p><p>anti-histamínica.</p><p>Pode aumentar o</p><p>apetite e o peso.</p><p>Nefazodona e</p><p>trazodona:</p><p>São inibidores</p><p>fracos da captação</p><p>de serotonina.</p><p>Seus efeitos</p><p>parecem devido</p><p>ao bloqueio dos</p><p>receptores 5-HT2A</p><p>pós-sinápticos.</p><p>São sedativos</p><p>devido à atividade</p><p>bloqueadora</p><p>histaminérgica.</p><p>Ambos são</p><p>antagonistas</p><p>nos receptores</p><p>α1, que pode</p><p>causar hipotensão</p><p>ortostática e</p><p>tonturas.</p><p>Vilazodona:</p><p>Inibe a</p><p>captação de</p><p>serotonina</p><p>e é agonista</p><p>parcial</p><p>5-HT1A</p><p>(o que a</p><p>diferencia dos</p><p>ISCSs).</p><p>Vortioxetina:</p><p>Inibe a</p><p>captação de</p><p>serotonina, é</p><p>agonista</p><p>5-HT1A e</p><p>antagonista</p><p>5-HT3 e</p><p>5-HT7 (o que</p><p>a diferencia</p><p>dos ISCSs e da</p><p>vilazodona).</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>175</p><p>4.2 TRATAMENTO DA MANIA E DO DISTÚRBIO BIPOLAR</p><p>Você já disse ou ouviu alguém falar: “Fulano só pode ser bipolar”? Con-</p><p>sidero essa expressão um tanto pejorativa e não deveria ser usada desta forma.</p><p>Pessoas com transtorno bipolar podem necessitar de tratamento farmacológico</p><p>e merecem todo o respeito da sociedade. O tratamento do transtorno bipolar</p><p>teve significativo aumento nos últimos anos, em parte devido ao maior entendi-</p><p>mento do transtorno, mas também pelo aumento de medicamentos disponíveis</p><p>no mercado. O lítio é usado nas crises agudas e como profilaxia em pacientes</p><p>bipolares. Embora vários processos celulares sejam modulados, seu mecanismo</p><p>de ação não é totalmente elucidado. O índice terapêutico (grau de segurança) do</p><p>lítio é extremamente baixo. Os efeitos adversos são diversos e incluem cefaleia,</p><p>polifagia, xerostomia, poliúria, distúrbios do trato gastrintestinal, tremores, ton-</p><p>turas, cansaço, dermatites e sedação. Em doses elevadas causam toxicidade com</p><p>ocorrência de ataxia, confusão mental e convulsões. A eliminação do lítio é pela</p><p>via renal, por isso seu uso em pacientes com insuficiência renal não é indicado.</p><p>Outros estabilizadores de humor usados no transtorno bipolar incluem os an-</p><p>tiepilépticos como a carbamazepina, ácido valproico e lamotrigina. Há também</p><p>os antipsicóticos que podem amenizar os sintomas de mania, entre ele estão a</p><p>clorpromazina, haloperidol, risperidona, olanzapina, ziprasidona, aripiprazol e</p><p>quetiapina (PHIEL; KLEIN, 2001; APA, 2014; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>5 ANTIPSICÓTICOS</p><p>Outra expressão muita usada na nossa sociedade é: “Fulano está louco;</p><p>Fulano é maluco”. Precisamos entender que a loucura não é um termo científico</p><p>e não é sinônimo de esquizofrenia. O significado da loucura depende muito de</p><p>interesses pessoais. Quando não concordamos com alguém, sobretudo, quando a</p><p>ideia nos prejudica, logo exclamamos um: “Você está louco?”</p><p>Diferente da loucura, que tem diversas faces e vieses filosóficos,</p><p>a esquizofrenia é um estado de psicose crônica incapacitante que produz</p><p>alucinações, principalmente, na forma de vozes e transtornos de pensamento</p><p>e de comunicação. Geralmente, o quadro envolve componente genético, inicia</p><p>na adolescência ou início da vida adulta e acomete aproximadamente 1% da</p><p>população. Os medicamentos antipsicóticos, também denominados neurolépticos</p><p>ou tranquilizantes maiores, são usados no tratamento da esquizofrenia e de outras</p><p>condições psicóticas e estados de mania, não curam o paciente, apenas aliviam a</p><p>intensidade e frequência de alucinações, mas infelizmente inclui um amplo leque</p><p>de efeitos adversos (APA, 2014; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>São inúmeras as hipóteses e teorias que tentam explicar a etiologia dos</p><p>distúrbios esquizofrênicos, atualmente são três as teorias mais aceitas:</p><p>176</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>1) Hipótese dopaminérgica: defende uma atividade exacerbada e descontrolada</p><p>de neurônios dopaminérgicos nas vias mesolímbicas por várias evidências:</p><p>a) Vários antipsicóticos bloqueiam os receptores D2, sobretudo, no sistema</p><p>mesolímbico e no estriado, o que inclui agonistas parciais da dopamina, como</p><p>o aripiprazol; b) É comprovado que fármacos que aumentam a atividade</p><p>dopaminérgica, como a levodopa e as anfetaminas, agravam a esquizofrenia; c)</p><p>A densidade de receptores dopaminérgicos post mortem no cérebro de pacientes</p><p>esquizofrênicos sem tratamento é elevada.</p><p>2) Hipótese serotonérgica: aponta para uma estimulação excessiva de receptores</p><p>serotonérgicos 5-HT2A e 5-HT2C, os quais parecem constituir a base dos</p><p>efeitos alucinatórios. Estudos constataram que o bloqueio dos receptores</p><p>5-HT2A representa a chave no mecanismo de ação dos antipsicóticos atípicos</p><p>e por coincidência ou não, as drogas alucinógenas indólicas, como o LSD</p><p>(dietilamida do ácido lisérgico) e a mescalina, são agonistas da serotonina.</p><p>3) Hipótese glutamatérgica: é uma hipótese complexa e incerta. Sabemos que o</p><p>glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do SNC. Substâncias que</p><p>inibem os receptores glutamatérgicos NMDA como a fenciclidina e a cetamina,</p><p>exacerbam tanto o comprometimento cognitivo como a psicose em pacientes</p><p>com esquizofrenia. Acredita-se que uma hipofunção dos receptores NMDA</p><p>também contribui para a esquizofrenia (STAHL, 2008; GROSS e GEYER, 2012;</p><p>RANG et al., 2016).</p><p>FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS VIAS ENVOLVIDAS NOS SINTOMAS DA</p><p>ESQUIZOFRENIA</p><p>FONTE A autora (2020)</p><p>Importante você não esquecer que os antipsicóticos são divididos em</p><p>duas gerações:</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>177</p><p>Antipsicóticos de primeira geração ou típicos: também denominados</p><p>antipsicóticos tradicionais, típicos ou convencionais, inibem de forma</p><p>competitiva os receptores D2 da dopamina. São os que mais causam os sintomas</p><p>extrapiramidais (transtornos de movimento).</p><p>Antipsicóticos de segunda geração: também conhecidos como</p><p>antipsicóticos atípicos, apresentam menor incidência de sintomas extrapiramidais</p><p>e por isso são a primeira escolha no tratamento. Por outro lado, são relacionados</p><p>com maior risco de desenvolvimento de diabetes, aumento de colesterol e de</p><p>peso. Estes fármacos exercem sua ação devido ao bloqueio dos receptores de</p><p>serotonina e dopamina.</p><p>5.1 MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIPSICÓTICOS</p><p>Tanto os antipsicóticos de primeira, quanto os de segunda geração parecem</p><p>reduzir as alucinações (sintomas “positivos”), devido ao bloqueio dos receptores</p><p>D2 no sistema mesolímbico do SNC. Por outro lado, os sintomas “negativos”,</p><p>(embotamento emocional, apatia, desatenção, isolamento social, déficit</p><p>cognitivo) não respondem de forma efetiva ao tratamento com antipsicóticos</p><p>de primeira geração. Fármacos de segunda geração, como a clozapina, podem</p><p>reduzir parcialmente os sintomas negativos. Grande parte dos antipsicóticos de</p><p>segunda geração parecem atuar por um misto de mecanismos, especialmente pela</p><p>inibição dos receptores serotonérgicos, principalmente o 5-HT2A. A clozapina,</p><p>por exemplo, apresenta elevada afinidade pelos receptores dopaminérgicos D1</p><p>e D4, serotonérgicos 5-HT2, muscarínicos e α-adrenérgicos, mas também atua</p><p>como fraco antagonista no receptor D2. Assim como a olanzapina, a risperidona</p><p>bloqueia os receptores 5-HT2A de forma mais intensa do que o receptor D2. Por</p><p>outro lado, a quetiapina bloqueia de forma menos potente os receptores 5-HT2A</p><p>do que os receptores D2 (STAHL, 2008; BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN,</p><p>2012; RANG et al., 2016).</p><p>Principais efeitos adversos dos antipsicóticos: sem dúvida, os sintomas</p><p>extrapiramidais são um dos mais incapacitantes, incluem distonias (contrações</p><p>musculares com posturas distorcidas), sintomas parkinsonianos, acatisia</p><p>(intranquilidade do sistema motor) e discinesia tardia (movimentos involuntários</p><p>de língua, lábios, pescoço, tronco e membros). O bloqueio dos receptores</p><p>dopaminérgicos na via nigroestriatal provavelmente é responsável por tais</p><p>movimentos indesejados. Os antipsicóticos de segunda geração mostram menor</p><p>incidência de sintomas extrapiramidais e por isso são a primeira escolha. Para</p><p>muitos indivíduos, a discinesia tardia pode ser irreversível e persistir mesmo</p><p>após a interrupção do tratamento. Acredita-se que ela é resultado do aumento na</p><p>expressão de receptores dopaminérgicos que são sintetizados por um mecanismo</p><p>compensatório devido ao bloqueio prolongado desses receptores (BRUNTON;</p><p>CHABNER; KNOLLMANN, 2012; RANG et al., 2016).</p><p>178</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>Alguns antipsicóticos causam efeitos anticolinérgicos (visão turva, boca</p><p>seca, confusão mental, constipação e retenção urinária). Tais efeitos anticolinérgicos</p><p>podem diminuir o risco de aparecimentos dos sintomas extrapiramidais por um</p><p>mecanismo de equilíbrio compensatório. Isto ocorre porque há um fino equilíbrio</p><p>entre os efeitos inibitórios dos neurônios dopaminérgicos e os efeitos excitatórios</p><p>dos neurônios colinérgicos. O bloqueio dopaminérgico altera esse equilíbrio,</p><p>aumentando a influência excitatória colinérgica, que promove os sintomas</p><p>motores extrapiramidais.</p><p>Os antipsicóticos também podem bloquear os receptores α-adrenérgicos</p><p>e promover hipotensão ortostática, além de alterar os mecanismos de regulação</p><p>da temperatura corporal. Com o bloqueio dos receptores D2 na hipófise, os</p><p>antipsicóticos aumentam a liberação de prolactina (hormônio que estimula</p><p>a secreção de leite materno). Além disso, ocorre sedação devido ao bloqueio</p><p>de receptores de histamina H1 e disfunção sexual (STAHL, 2008; BRUNTON;</p><p>CHABNER; KNOLLMANN, 2012; RANG et al., 2016).</p><p>Você já ouviu falar da síndrome neuroléptica maligna? É uma reação</p><p>idiossincrática potencialmente fatal aos antipsicóticos/neurolépticos, também conhecida</p><p>como síndrome da deficiência aguda de dopamina, ocorre forte rigidez muscular, aumento</p><p>da temperatura corporal, confusão mental, inconsciência, pressão arterial instável, disfunção</p><p>autonômica, insuficiência respiratória, podendo ainda ocorrer rabdomiólise, leucocitose e</p><p>mioglobinemia. Deve ser feita interrupção imediata do antipsicótico e medidas de apoio.</p><p>Os principais agentes implicados na síndrome são o haloperidol e a clorpromazina. O uso</p><p>de dantrolenoou bromocriptinapodem ajudar na reversão do quadro.</p><p>NOTA</p><p>QUADRO 16 – RESUMO DOS PRINCIPAIS ANTIPSICÓTICOS DISPONÍVEIS</p><p>Antipsicóticos</p><p>de primeira</p><p>geração</p><p>Mecanismo</p><p>de ação Uso clínico Efeitos adversos</p><p>Clorpromazina</p><p>Flufenazina</p><p>Tioridazina</p><p>Bloqueio dos</p><p>receptores D2.</p><p>Alívio dos sintomas</p><p>positivos na</p><p>esquizofrenia, fase</p><p>maníaca do</p><p>transtorno bipolar.</p><p>Efeitos antieméticos.</p><p>Moderado a alto risco</p><p>em causar sintomas</p><p>extrapiramidais.</p><p>Aumento de peso,</p><p>ortostasia, sedação,</p><p>efeitos antimuscarínicos,</p><p>hiperprolactinemia.</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>179</p><p>Haloperidol</p><p>Bloqueio dos</p><p>receptores D2.</p><p>Alívio dos</p><p>sintomas positivos</p><p>na esquizofrenia, fase</p><p>maníaca do transtorno</p><p>bipolar, coreia de</p><p>Huntington, síndrome</p><p>deTourette.</p><p>Alto risco em causar</p><p>sintomas extrapiramidais;</p><p>Baixo potencial para causar</p><p>efeitos antiadrenérgicos</p><p>(ortostasia) ou</p><p>antimuscaríncios; baixo</p><p>potencial para aumento de</p><p>peso e sedação.</p><p>Antipsicóticos de</p><p>segunda geração</p><p>Mecanismo de</p><p>ação Uso clínico Efeitos adversos</p><p>Aripiprazol;</p><p>Clozapina;</p><p>Olanzapina;</p><p>Quetiapina;</p><p>Risperidona;</p><p>Ziprasidona.</p><p>Bloqueio dos</p><p>receptores</p><p>5-HT2A</p><p>mais acentuado</p><p>que o bloqueio</p><p>dos receptores</p><p>D2.</p><p>Melhora dos sintomas</p><p>tanto positivos</p><p>como negativos na</p><p>esquizofrenia.</p><p>Efetivos no transtorno</p><p>bipolar (olanzapina ou</p><p>risperidona).</p><p>Efetivo na depressão</p><p>maior (aripiprazol).</p><p>Baixo risco em causar</p><p>sintomas extrapiramidais;</p><p>Agranulocitose</p><p>(clozapina), diabetes</p><p>(clozapina, olanzapina),</p><p>aumento de colesterol</p><p>(clozapina, olanzapina),</p><p>hiperprolactinemia</p><p>(risperidona),</p><p>prolongamento do</p><p>intervalo QT (ziprasidona),</p><p>ganho de peso (clozapina,</p><p>olanzapina).</p><p>FONTE A autora (2020)</p><p>6 DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS</p><p>Você sabe qual é a principal característica das doenças neurodegenerativas?</p><p>São doenças graves caracterizadas pela morte progressiva de neurônios em áreas</p><p>específicas, resultando em diversos distúrbios.</p><p>A partir de agora, iremos focar na doença de Alzheimer (DA) e na</p><p>doença de Parkinson (DP) que são os exemplos de doenças degenerativas</p><p>mais comuns atualmente. Peden e Ironside (2012), defendem que os erros no</p><p>dobramento proteico com agregação de variantes erroneamente dobradas de</p><p>proteínasfisiológicas constituem o gatilho inicial nas doenças degenerativas. As</p><p>intervenções terapêuticas atuais são paliativas, estão voltadas para a compensação,</p><p>pois não conseguem atuar na prevenção ena reversão da morte neuronal.</p><p>6.1 DOENÇA DE PARKINSON</p><p>É um distúrbio neurológico progressivo, caracterizado por tremores, rigi-</p><p>dez muscular, lentidão ao iniciar e executar movimentos voluntários (bradicinesia)</p><p>e anormalidades de postura e de marcha. A maioria dos pacientes acometidos são</p><p>180</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>homens acima de 65 anos. A causa dessa patologia não é totalmente elucidada, mas</p><p>parece estar relacionada com a degeneração de neurônios dopaminérgicos na subs-</p><p>tância negra com consequente diminuição das atividades da dopamina na região</p><p>do estriado (porção dos gânglios basais relacionados com o controle motor).</p><p>A substância negra faz parte do sistema extrapiramidal, onde se originam</p><p>os neurônios dopaminérgicos que terminam no neoestriado. Neurônios inibitórios</p><p>GABAérgicos também conectam a substância negra ao neoestriado. As vias</p><p>dopaminérgicas e GABAérgicas atuam mantendo um grau inibitório de ambas</p><p>as áreas. Na doença de Parkinson, a degeneração dos neurônios dopaminérgicos</p><p>na substância negra resulta na redução da influência inibitória normal da</p><p>dopamina nos neurônios colinérgicos no neoestriado, causando hiperatividade da</p><p>acetilcolina pelos neurônios estimulantes. Tais alterações complexas promovem</p><p>perda do controle dos movimentos.</p><p>Conforme vimos anteriormente, fármacos</p><p>antipsicóticos de primeira geração que bloqueiam receptores de dopamina no</p><p>cérebro, podem produzir sintomas de parkinsonismo (também denominado de</p><p>pseudoparkinsonismo, parkinsonismo secundário ou sintomas extrapiramidais).</p><p>De forma simplificada, a teoria mais aceita que explica a etiologia da doença</p><p>de Parkinson aponta para um desequilíbrio entre os neurônios colinérgicos</p><p>excitatórios e o número reduzido de neurônios dopaminérgicos inibitórios. Por</p><p>isso, o principal objetivo do tratamento é reestabelecer os níveis de dopamina</p><p>nos gânglios basais e bloquear o efeito excitatório dos neurônios colinérgicos,</p><p>retomando, assim, um certo equilíbrio entre dopamina e acetilcolina (APA, 2014;</p><p>RANG et al., 2016).</p><p>Terapia farmacológica na Doença de Parkinson: os fármacos disponíveis</p><p>elevam os níveis de dopamina no SNC, oferecendo um alívio temporário dos</p><p>sintomas, mas não interrompem nem revertem o mecanismo de neurodegeneração.</p><p>QUADRO 17 – RESUMOS DOS FÁRMACOS UTILIZADOS NA DOENÇA DE PARKINSON</p><p>Fármaco Mecanismo de ação Efeitos Efeitos adversos</p><p>Levodopa</p><p>+ carbidopa</p><p>A levodopa é precursora</p><p>da dopamina, é</p><p>transportada até o SNC</p><p>e lá é convertida em</p><p>dopamina pela dopa-</p><p>descarboxilase.</p><p>A carbidopa impede</p><p>que a levodopa seja</p><p>convertida em dopamina</p><p>antes de chegar no</p><p>SNC, ela reduz a</p><p>dose necessária e a</p><p>toxicidade da levodopa;</p><p>a carbidopa não penetra</p><p>no SNC.</p><p>A associação levodopa</p><p>+ carbidopareduz</p><p>significativamente a</p><p>gravidade dos sintomas</p><p>do Parkinson nos</p><p>primeiros anos de uso.</p><p>Mas infelizmente, ocorre</p><p>redução da resposta</p><p>farmacológica após o</p><p>terceiro, quarto ou quinto</p><p>ano de tratamento. Não</p><p>impede a progressão da</p><p>degeneração neuronal.</p><p>Desconforto</p><p>gastrintestinal,</p><p>arritmias,</p><p>discinesias,</p><p>fenômenos de</p><p>liga-desliga e</p><p>de desgaste,</p><p>transtornos do</p><p>comportamento.</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>181</p><p>Pramipexol</p><p>Bromocriptina</p><p>Apomorfina</p><p>Atuam como agonistas</p><p>de receptores</p><p>dopaminérgicos.</p><p>Reduzem os sintomas</p><p>doParkinsonismo,</p><p>atenuamas flutuações</p><p>naresposta a levodopa.</p><p>Náuseas, vômitos,</p><p>hipotensão</p><p>postural,</p><p>discinesias,</p><p>confusão,</p><p>transtornos</p><p>do controle</p><p>de impulso,</p><p>sonolência.</p><p>Rasagilina</p><p>Seleginina</p><p>Inibem a enzima</p><p>monoaminoxidade</p><p>(MAO), enzima que</p><p>degrada dopamina.</p><p>Aumenta as reservas de</p><p>dopamina nos</p><p>neurônios.</p><p>Pode causar</p><p>síndrome</p><p>serotoninérgica</p><p>com os inibidores</p><p>seletivos da</p><p>recaptação de</p><p>serotonina e</p><p>antidepressivos</p><p>tricíclicos.</p><p>Entacapona</p><p>Talcapona</p><p>Inibem a catecol-o-metil</p><p>transferase (COMT)</p><p>na periferia, (enzima</p><p>que também degrada a</p><p>dopamina).</p><p>Reduzem o metabolismo</p><p>da levodopa nos tecidos</p><p>periféricos e prolongam</p><p>a sua atividade.</p><p>Náuseas,</p><p>discinesias,</p><p>confusão.</p><p>Benzatropina</p><p>Biperideno</p><p>Triexifenidil</p><p>Antagonizam receptores</p><p>muscarínicos.</p><p>Diminuem o tremor e a</p><p>rigidez, pouco efeito</p><p>sobre a bradicinesia.</p><p>Efeitos</p><p>antimuscarínicos</p><p>clássicos (sedação,</p><p>midríase,</p><p>retenção urinária,</p><p>constipação</p><p>intestinal,</p><p>xerostomia.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>6.2 DOENÇA DE ALZHEIMER</p><p>A doença de Alzheimer (DA) é caracterizada por demência, perda</p><p>progressiva da memória, alterações cognitivas e pode levar a um quadro</p><p>vegetativo, resultando em morte prematura. A prevalência aumenta com o</p><p>avançar da idade e pode acometer cerca de 20% dos idosos acima de 85 anos</p><p>(APA, 2014; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>A DA não tem uma causa bem definida, mas apresenta três características</p><p>diferenciais no cérebro dos pacientes:</p><p>182</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>1) Acúmulo de placas β-amilóides, também denominadas placas senis no córtex</p><p>cerebral.</p><p>2) Formação de emaranhados neurofibrilares compostos de proteína tau.</p><p>3) Morte de neurônios corticais e hipocampais, especialmente neurônios</p><p>colinérgicos com adelgaçamento do córtex.</p><p>Os tratamentos disponíveis apresentam efeitos paliativos, não são</p><p>capazes de impedir a progressão da neurodegeneração e não revertem o quadro</p><p>instalado, têm como objetivo aumentar a transmissão colinérgica no SNC e</p><p>impedir as ações excitotóxicas resultantes da superestimulação dos receptores de</p><p>glutamato (NMDA) em certas áreas do cérebro. As intervenções farmacológicas</p><p>oferecem um benefício modesto e de curta duração (QUERFURTH; LAFERLA,</p><p>2010; RANG et al., 2016).</p><p>Inibidores da acetilcolinesterase: a DA é associada com a degeneração</p><p>progressiva de neurônios colinérgicos e consequentemente com a redução da</p><p>neurotransmissão colinérgica no córtex, que resulta em perda da memória e da</p><p>função cognitiva. Acredita-se que a inibição da acetilcolinesterase (AChE) que</p><p>degrada acetilcolina no SNC potencializa a transmissão colinérgica nos neurônios</p><p>ainda preservados. Os inibidores da AChE usados na DA incluem donepezila,</p><p>galantamina e rivastigmina. A galantaminaparece aumentar também a ação da</p><p>acetilcolina nos receptores nicotínicos no SNC. No melhor dos cenários, esses</p><p>fármacos promovem diminuição modesta na velocidade de perda cognitiva</p><p>nesses pacientes. A rivastigminaé o único fármaco disponível em formulação</p><p>transdérmica e o único aprovado para a demência associada com a doença</p><p>de Parkinson. Os efeitos adversos mais comuns são diarreia, náuseas, êmese,</p><p>anorexia, tremores, bradicardia e cãibras musculares.</p><p>Antagonistas de receptores N-metil-D-aspartato (NMDA): a estimulação</p><p>excessiva de receptores glutamatérgicos (principalmente NMDA), parece</p><p>promover efeitos neurotóxicos, e por isso é apontada como um importante</p><p>mecanismo dos processos neurodegenerativos. A ativação do receptor NMDA</p><p>pelo glutamato promove a abertura dos canais de cálcio, o excesso de cálcio no meio</p><p>intracelular pode ativar mecanismos apoptóticos (morte celular programada). A</p><p>memantina é um antagonista do receptor NMDA usada no tratamento da DA</p><p>moderada a grave. O bloqueio do receptor NMDA pela memantina limita o</p><p>influxo de cálcio nas células neuronais, impedindo os mecanismos citotóxicos.</p><p>Apresenta poucos efeitos adversos e no geral é bem tolerada, frequentemente é</p><p>associada com um inibidor da AChE (COLLINGRIDGE et al., 2013; RANG et al.,</p><p>2016; KATZUNG; TREVOR, 2017).</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>183</p><p>Para quem deseja assistir a um bom filme e aprender mais sobre a DA,</p><p>recomendamos “Para Sempre Alice”. É uma história emocionante que conta a vida de Alice,</p><p>uma mulher jovem e ativa de 50 anos que inicia com os primeiros sintomas do Alzheimer.</p><p>O filme faz com que o espectador sinta a dificuldade que a doença causa para o paciente</p><p>e para a família.</p><p>DICAS</p><p>7 FÁRMACOS OPIOIDES</p><p>Qual é o desafio mais difícil para a medicina? Entre diversos exemplos</p><p>que podemos citar, alcançar o controle da dor é um dos principais. A dor pode</p><p>ser aguda, crônica, inflamatória, neuropática, pós-operatória, entre outras,</p><p>caracterizadas por uma sensação desagradável que é consequência de alterações</p><p>neuroquímicas complexas no SNC e periférico. Por ser um sintoma subjetivo,</p><p>isto é, a intensidade varia em cada indivíduo, o tratamento deve basear-se na</p><p>percepção e descrição de intensidade de cada paciente. A dor é dividida em dois</p><p>tipos principais: Nociceptiva e neuropática. A dor neuropática (como a neuralgia</p><p>pós-herpética, diabética ou causada por HIV), pode ser tratada com opioides,</p><p>mas muitas vezes respondem melhor a anticonvulsivantes e antidepressivos.</p><p>Para o tratamento da dor crônica (como a dor causada pelo câncer), os opioides</p><p>constituem o tratamento terapêutico em alguns pacientes. Na dor nociceptiva,</p><p>que é causada por doenças como a artrite reumatoide, por exemplo, o uso de</p><p>analgésicos não opioides, como os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), em</p><p>geral apresentam boas respostas (ALCOCK, 2017; KATZUNG; TREVOR, 2017;</p><p>RANG et al., 2016).</p><p>Caro acadêmico!</p><p>Você sabia que a morfina é o protótipo dos agonistas</p><p>opioides? Ela é conhecida há mais de 200 anos por sua capacidade promissora em aliviar</p><p>a dores intensas. A planta papoula é a fonte do ópio. Em 1803, o estudioso Serturner isolou</p><p>um alcaloide puro da papoula que recebeu o nome de morfina em homenagem ao Deus</p><p>grego dos sonhos, Morfeu. Mais de dois séculos se passaram e a morfina continua sendo</p><p>o padrão ouro a partir do qual todos os fármacos com acentuada ação analgésica são</p><p>comparados.</p><p>INTERESSANTE</p><p>184</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>Os fármacos opioides são análogos à morfina e podem ser naturais,</p><p>sintéticos ou semissintéticos. Todos os opioides ligam-se a receptores opioides</p><p>específicos no SNC para promover efeitos que mimetizam a ação dos peptídeos</p><p>endógenos (como as endorfinas, encefalinas ou dinorfinas). Os opioides</p><p>apresentam diversos efeitos, mas sua principal utilização é para amenizar a dor</p><p>intensa. Infelizmente, a grande disponibilidade de opioides acarretou ao abuso</p><p>dos que podem causar euforia (KATZUNG; TREVOR, 2017; RANG et al., 2016).</p><p>Receptores opioides: os efeitos mediados pelos opioides envolvem três</p><p>famílias de receptores: μ (mi), κ (capa) e δ (delta). A ação analgésica dos opioides</p><p>é modulada principalmente pelos receptores μ, que participam das respostas</p><p>nociceptivas térmicas, mecânicas e químicas. Os receptores κ contribuem para</p><p>a analgesia modulando a nocicepção química e térmica. Os neurotransmissores</p><p>endógenos, como as encefalinas ligam-se a receptores δ na periferia. Não se</p><p>esqueça de que os receptores opioides podem ser metabotrópicos, (acoplados</p><p>à proteína G) e inibir a adenililciclase ou estar associados a canais iônicos,</p><p>aumentando o efluxo pós-sináptico de íons potássio ou reduzindo o influxo pré-</p><p>sináptico de íons cálcio, o que inibe o potencial de ação neuronal e a liberação do</p><p>neurotransmissor (CORBETT et al., 2006; RANG et al., 2016).</p><p>7.1 MECANISMO DE AÇÃO DOS AGONISTAS OPIOIDES</p><p>A morfina é o principal composto analgésico encontrado no ópio e é o</p><p>protótipo do agonista μ. A codeína é outro opioidepresente no ópio, mas em</p><p>concentrações menores, e é menos potente que a morfina. A morfinae os opioides</p><p>em geral, interagem com os receptores opioides em neurônios no SNC e em</p><p>células do trato gastrintestinal (TGI) e da bexiga. A morfinatambém interage</p><p>com receptores κ do corno dorsal da medula espinal, reduzindo a liberação</p><p>de substância P (responsável pela percepção da dor na medula espinal). Nos</p><p>terminais nervosos, parece inibir a liberação de transmissores excitatórios que</p><p>promovem os estímulos dolorosos (CORBETT et al., 2006; RANG et al., 2016).</p><p>Principais usos terapêuticos dos agonistas opioides:</p><p>Analgesia: os opioides assim como a morfina, promovem analgesia,</p><p>aliviam a dor aumentando o seu limiar na medula espinal e reduzem a percepção</p><p>da dor no cérebro. É como se os pacientes continuassem com a presença da dor,</p><p>mas a sensação não é mais desagradável.</p><p>Euforia: os opioides causam sensação de bem-estar e contentamento que</p><p>pode ser proveniente da desinibição dos neurônios dopaminérgicos.</p><p>Respiração: no centro respiratório, causam depressão respiratória pela des-</p><p>sensibilização ao dióxido de carbono. A depressão respiratória é a causa mais co-</p><p>mum de morte em casos de intoxicação por opioides. A tolerância a esse efeito ocor-</p><p>re rapidamente, o que permite o uso seguro no tratamento da dor nas doses corretas.</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>185</p><p>Depressão do reflexo da tosse: morfina e codeína apresentam ações</p><p>antitussígenas por mecanismos não bem elucidados.</p><p>Miose: a pupila puntiforme é uma característica do uso da morfina que resul-</p><p>ta do estímulo dos receptores μ e κ. Praticamente não há tolerância para este efeito.</p><p>Êmese: a morfina ativa a zona quimiorreceptora na área postrema que</p><p>causa êmese (vômitos).</p><p>TGI: em geral, a morfinae outros opioides causam constipação, com baixo</p><p>potencial à tolerância. Aliviam a diarreia pela redução da motilidade e aumento</p><p>do tônus do músculo liso intestinal e do esfíncter anal.</p><p>Sistema cardiovascular: em altas podem causar hipotensão e bradicardia.</p><p>Estão contraindicados em pacientes com lesões graves no cérebro, uma vez que</p><p>devido à depressão respiratória e à retenção de dióxido de carbono, os vasos</p><p>cerebrais dilatam e aumentam a pressão intracraniana.</p><p>Liberação de histamina: nos mastócitos, a morfina libera histamina</p><p>causando urticária, sudorese e vasodilatação. Deve ser usada com cuidado em</p><p>pacientes asmáticos.</p><p>Ações hormonais: aumentam a secreção de prolactina e a liberação</p><p>de hormônio do crescimento. Provocam retenção urinária pelo aumento do</p><p>hormônio antidiurético. Os opioides em geral não devem ser usados no trabalho</p><p>de parto, pois reduzem a força, a duração e a frequência das contrações uterinas</p><p>(CORBETT et al., 2006; KATZUNG; TREVOR, 2017; RANG et al., 2016).</p><p>Efeitos adversos: a classe de opioides estão sujeitas a causar vários efeitos</p><p>adversos, como grave depressão respiratória e a dosagem excessiva pode causar</p><p>óbito. A morfinadeve ser utilizada com cautela em pacientes asmáticos, com</p><p>doenças renais e hepáticas. O uso prolongado de opioides promove tolerância</p><p>aos efeitos de depressão respiratória, de analgesia, de euforia e sedação. Por</p><p>outro lado, a tolerância aos efeitos de constrição pupilar e de constipação não são</p><p>comuns. A dependência física e psicológica com os opioides é bastante comum e</p><p>a retirada abrupta promove respostas autônomas, motoras e psicológicas graves</p><p>(KATZUNG; TREVOR, 2017; RANG et al., 2016).</p><p>186</p><p>UNIDADE 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E PERIFÉRICO</p><p>QUADRO 18 – RESUMO DOS PRINCIPAIS OPIOIDES E SEUS ANTAGONISTAS</p><p>Fármaco Mecanismo</p><p>de ação Efeitos Usos clínicos Efeitos</p><p>adversos</p><p>Agonistas</p><p>opióides:</p><p>Morfina;</p><p>Codeína;</p><p>Fentanila;</p><p>Meperidina;</p><p>Metadona.</p><p>Agonistas for-</p><p>tes em recepto-</p><p>res μ.</p><p>Afinidadevari-</p><p>ável em recep-</p><p>toresκ e δ.</p><p>Analgesia; Alívio</p><p>daansiedade e</p><p>sedação.</p><p>Redução da</p><p>motilidade intes-</p><p>tinal.</p><p>Dor intensa.</p><p>Adjuvante na</p><p>anestesia (fentanila,</p><p>morfina).</p><p>Edemapulmonar</p><p>(morfina).</p><p>Reabilitação de</p><p>usuários adictos</p><p>(metadona).</p><p>Depressão</p><p>respiratória.</p><p>Constipação</p><p>intestinal grave.</p><p>Tendência à</p><p>adição.</p><p>Convulsões.</p><p>Codeína;</p><p>Hidrocodona.</p><p>São agonistas</p><p>mais fracos do</p><p>que amorfina.</p><p>Semelhantes aos</p><p>agonistas fortes.</p><p>Efeitos menos</p><p>intensos.</p><p>Dor leve a</p><p>moderada.;</p><p>Tosse(codeína).</p><p>Semelhantes aos</p><p>dos agonistas</p><p>fortes.</p><p>Agonistas-</p><p>antagonistas</p><p>opioides</p><p>Buprenorfina.</p><p>Agonista</p><p>parcial em</p><p>receptor μ.</p><p>Antagonista</p><p>em receptor κ.</p><p>Semelhante aos</p><p>agonistas fortes,</p><p>mas podem anta-</p><p>gonizar os efeitos</p><p>destes.</p><p>Reduz o desejo-</p><p>compulsivo por</p><p>álcool.</p><p>Dor moderada.</p><p>Podem</p><p>precipitar</p><p>síndrome de</p><p>abstinência.</p><p>Antitussíge-</p><p>nos</p><p>Dextrometor-</p><p>fano;</p><p>Levopropoxi-</p><p>feno.</p><p>Mecanismo</p><p>pouco</p><p>elucidado.</p><p>Reduz o reflexo</p><p>da tosse.</p><p>Dextrometorfano</p><p>e</p><p>levopropoxifeno</p><p>não atuam como</p><p>analgésicos.</p><p>Tosse debilitante</p><p>aguda.</p><p>Efeitos adver-</p><p>sos mínimos</p><p>quandoadminis-</p><p>trados correta-</p><p>mente.</p><p>Antagonistas</p><p>Opioides</p><p>Naloxona;</p><p>Naltrexona.</p><p>Atuam</p><p>bloqueando os</p><p>receptores μ,</p><p>κ e δ.</p><p>Antagoniza rapi-</p><p>damentetodos os</p><p>efeitos opioides.</p><p>Intoxicação por</p><p>opioides.</p><p>É usada no</p><p>tratamento da</p><p>dependência de</p><p>álcool e nicotina e</p><p>quando associada a</p><p>bupropiona, pode</p><p>ser efetiva na perda</p><p>de peso.</p><p>Podem</p><p>precipitar</p><p>síndrome</p><p>deabstinência</p><p>em usuários</p><p>dependentes.</p><p>TÓPICO 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL</p><p>187</p><p>Outros</p><p>analgésicos</p><p>centrais</p><p>Tramadol.</p><p>Efeitos mistos:</p><p>Agonistafraco</p><p>em receptores</p><p>μ, inibidor</p><p>moderado do</p><p>transportador</p><p>de recaptação</p><p>de serotonina,</p><p>inibidor</p><p>fraco do</p><p>transportador</p><p>de recaptação</p><p>de</p><p>norepinefrina.</p><p>Analgesia.</p><p>Dor moderada.</p><p>Adjuvante</p><p>dosopioides</p><p>nasdorescrônicas.</p><p>do Egito, que data aproximadamente</p><p>de 1500 a.C. (Figura 2). Neste papiro existem cerca de 700 formulações com extratos</p><p>de diferentes plantas como romã, babosa e coentro, sendo utilizados com as mais</p><p>variadas finalidades. É importante ressaltar que nesta época a farmacologia ainda</p><p>era considerada uma forma de ciência oculta, e seu conhecimento era permitido</p><p>a poucos membros das sociedades antigas. O termo utilizado pelos detentores</p><p>destes conhecimentos das interações de substâncias químicas e do corpo era</p><p>Alquimia (HAAS, 1999).</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>6</p><p>FIGURA 2 – O PAPIRO DE EBERS, UM DOS MAIS ANTIGOS REGISTROS DO USO DE</p><p>MEDICAMENTOS</p><p>FONTE: <https://maestrovirtuale.com/wp-content/uploads/2019/10/Papyrus_Ebers.png>.</p><p>Acesso em: 11 maio 2020.</p><p>À medida que os séculos passaram, a ciência continuou evoluindo na</p><p>utilização de produtos derivados de plantas. Grandes nomes merecem destaque,</p><p>como o grego Pedânio Dioscórides (77 d.C.), que deixou um vasto material em</p><p>seu livro “De Materia Medica”, com mais de 900 preparações de uma infinidade</p><p>de plantas. Claudio Galeno, médico e filosofo romano, escreve em 150 d.C. "De</p><p>succedanus" ou “drogas paralelas”, sendo este um material contendo uma lista</p><p>de substâncias químicas que apresentavam ações idênticas, além de novas</p><p>formulações não indicadas por Dioscórides, alguns anos antes (MANDAL;</p><p>MANDAL; DAS, 2015).</p><p>Mesmo com o rico conhecimento desenvolvido nos séculos anteriores,</p><p>foi com Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, conheci-</p><p>do como Paracelso, no século XV, que a farmacologia ganha contribuições mais</p><p>relevantes. Considerado por muitos como pai da Farmacologia, Bioquímica e</p><p>Toxicologia, é famoso por definir que “o que difere o veneno do remédio é a</p><p>dose”. Suas observações somadas aos movimentos iluministas, que ocorreriam</p><p>nos próximos séculos, contribuíram muito para o pensamento científico e conhe-</p><p>cimento fisiológico, sendo estes pilares fundamentais para o desenvolvimento</p><p>da farmacologia como a ciência que é atualmente (COCKAYNE, 2002).</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA: A CIÊNCIA DOS MEDICAMENTOS</p><p>7</p><p>A partir do século XIX, a farmacologia começa a tomar formas diferentes,</p><p>e a utilizar substâncias químicas sintéticas, ou seja, aquelas que são desenvolvidas</p><p>em laboratório, começam a ser foco de maior interesse dos cientistas da época. Foi</p><p>nesse século que a farmacologia começou a ser vista como a ciência que estuda</p><p>o efeito dos fármacos nos sistemas vivos. Podemos citar que nesse século, por</p><p>exemplo, ocorreu o isolamento da morfina derivada da Papaver somniferum por</p><p>Friedrich Sertürner, em 1804. Em 1818, Joseph Bienaimé Caventou e Pierre Joseph</p><p>Pelletierisola isolam a estriquinina derivada da Strychnos nux-vomica (Pesticida,</p><p>muito usado para matar ratos e responsável por inúmeros envenemantos). Em</p><p>1820, a mesma dupla de cientistas isola com sucesso o quinino, sendo este a base</p><p>até hoje para tratamento de malária e algumas doenças autoimunes. Em 1928,</p><p>Johann Buchner isola a salicilina da casca do salgueiro, usada no tratamento de</p><p>dores e febre, e que serviria como base para formulação da aspirina anos mais</p><p>tarde, em 1897, por Felix Hoffmann. Ainda no final deste século, em 1900, o</p><p>médico Paul Ehrlich introduzia neste ano o termo “receptor” para designar locais</p><p>na superfície das células em que substâncias químicas interagem e, desta forma,</p><p>geram efeitos fisiológicos específicos (Figura 3). Diversos outros estudos notáveis</p><p>foram desenvolvidos no século XIX e permitiram avanços consideráveis no século</p><p>seguinte (RITTER et al., 2020).</p><p>FIGURA 3 – PAUL EHRLICH, CONHECIDO COMO UM DOS PAIS DA FARMACOLOGIA,</p><p>INTRODUZIU O CONCEITO DE RECEPTORES A ESTA CIÊNCIA</p><p>FONTE: <https://www.britannica.com/biography/Paul-Ehrlich>. Acesso em: 11 maio 2020.</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>8</p><p>Ficou interessado no processo de descoberta de medicamentos conduzidos</p><p>no século passado? O documentário “A aventura do antibiótico” relata como estas</p><p>substâncias farmacologicamente ativas foram descobertas e posteriormente desenvolvidas</p><p>para produção em larga escala. Além disso, o documentário ainda aborda a microbiologia.</p><p>Link: https://www.youtube.com/watch?v=XtP7WF8XjXU&t=2631s.</p><p>DICAS</p><p>No século XX, iniciou-se a era biotecnológica da ciência, com a indústria</p><p>de biotecnologia Genetic Engineering Technology (EUA), produzindo insulina hu-</p><p>mana a partir de uma bactéria da espécie Escherichia coli com DNA recombinan-</p><p>te. Nos anos seguintes, a mesma indústria de biotecnologia produz o hormônio</p><p>de crescimento (GH), também com DNA recombinante. Atualmente, a indús-</p><p>tria farmacêutica tem focado grande parte de seus esforços em terapia gênica e</p><p>na imunoterapia, que é o desenvolvimento de anticorpos monoclonais voltados</p><p>para uma série de condições patológicas, como doenças autoimunes, neurodege-</p><p>nerativas e câncer (Figura 4) (BAESHEN et al., 2014; RITTER et al., 2020).</p><p>FIGURA 4 – A IMUNOTERAPIA É UMA DAS VERTENTES ESTUDADAS DA IMUNOFARMACOLOGIA</p><p>FONTE: <https://estudio.r7.com/cura-do-cancer-as-terapias-que-renovam-a-</p><p>esperanca-13112019>. Acesso em: 11 maio 2020.</p><p>TÓPICO 1 — FARMACOLOGIA: A CIÊNCIA DOS MEDICAMENTOS</p><p>9</p><p>Se você quer conhecer mais sobre a história da farmacologia, leia o artigo</p><p>Farmacologia no século XX: a ciência dos medicamentos a partir da análise do livro de</p><p>Goodman e Gilman. Neste artigo, as autoras analisam a apresentação da farmacologia</p><p>como ciência a partir do livro “As bases farmacológicas da terapêutica de Louis</p><p>Goodman e Alfred Gilman”. Link: https://www.scielo.br/pdf/hcsm/v20n2/0104-5970-</p><p>hcsm-S0104-59702013005000007.pdf.</p><p>DICAS</p><p>4 A CIÊNCIA ATUALMENTE</p><p>A indústria farmacêutica é hoje uma das maiores potências mundiais, com</p><p>receitas anuais na casa dos bilhões de dólares. Esta mesma indústria investe todos</p><p>os anos parte de seus lucros na pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas,</p><p>sejam elas derivadas de produtos naturais ou sintéticas. A sociedade vem</p><p>adotando hábitos mais saudáveis à medida que os séculos passam, e isso resulta</p><p>no aumento da expectativa de vida populacional. No entanto, com o aumento da</p><p>sobrevida da população, novas doenças começam a aparecer, que outrora não</p><p>eram tão comuns ou simplesmente não eram diagnosticadas corretamente por</p><p>falta de condições tecnológicas. É o caso de doenças neurodegenerativas, doenças</p><p>autoimunes e câncer (DE MEIJER et al., 2013).</p><p>Atualmente, a indústria farmacêutica vê sua receita mais concentrada</p><p>na produção de medicamentos voltados para combate ao câncer, contando com</p><p>mais de 14% deste valor. Na sequência temos medicamentos antirreumáticos,</p><p>antidiabéticos, antivirais e outros. As perspectivas de crescimento de receita para</p><p>esta indústria são de 864 bilhões de dólares em 2018 para 1.222 bilhões de dólares</p><p>já em 2024, um crescimento anualizado de aproximadamente 7% (Figura 5). Estes</p><p>números demonstram um setor industrial sólido, mas que depende inteiramente</p><p>de desenvolvimento tecnológico e conhecimento científico de seus profissionais</p><p>nas mais diferentes áreas da farmacologia (BUCHHOLZ, 2020).</p><p>FIGURA 5 – RECEITA GERADA PARA A INDÚSTRIA POR CLASSE DE MEDICAMENTOS EM 2018 E</p><p>PROJETADO PARA 2024 (BILHÕES DE DÓLARES)</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>10</p><p>FONTE: Adaptado de <https://www.statista.com/chart/18311/sales-revenues-of-drug-classes/>.</p><p>Acesso em: 11 maio 2020.</p><p>Os desafios para a farmacologia no panorama atual são a busca por</p><p>moléculas inovadoras para condições patológicas novas e antigas, porém com</p><p>efeitos adversos mais brandos ou, se possível, inexistentes, quando comparados</p><p>a moléculas já disponíveis no mercado. Além disso, facilitar a adesão terapêutica</p><p>dos pacientes, ou seja, diminuir, a quantidade de comprimidos que um paciente</p><p>deve tomar de um determinado medicamento, sem que sua eficácia terapêutica</p><p>seja afetada. Buscam-se também terapias com alvos específicos, como no câncer,</p><p>onde a quimioterapia (abordagem farmacológica) acaba interagindo não somente</p><p>com as células do tumor, que</p><p>Crises</p><p>convulsivas.</p><p>Risco de causar</p><p>síndrome</p><p>serotoninérgica.</p><p>FONTE: A autora (2020)</p><p>188</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• O sistema nervoso central (SNC) é formado pelo encéfalo e pela medula espinal,</p><p>que comanda infinitas funções dentro de um imenso circuito regulatório de</p><p>transmissão de informações. A comunicação entre os neurônios ocorre pela</p><p>liberação de um neurotransmissor no neurônio pré-sináptico que se difunde na</p><p>fenda sináptica até se ligar a um receptor no neurônio pós-sináptico.</p><p>• A ansiedade é um distúrbio do SNC onde a neurotransmissão GABAérgica</p><p>(inibitória) parece estar comprometida, além de inúmeros outros mecanismos</p><p>ainda não completamente elucidados. Os benzodiazepínicos são fármacos</p><p>utilizados para os sintomas de ansiedade e insônia, além disso podem ser</p><p>eficazes no tratamento da epilepsia e também são usados como adjuvantes</p><p>nas anestesias. O mecanismo de ação dos benzodiazepínicos consistem na sua</p><p>ligação a um local específico no receptor GABA, causando aumento do influxo</p><p>de íons cloro para dentro do neurônio e consequente hiperpolarização das</p><p>células neuronais.</p><p>• A epilepsia é caracteriza por convulsões provenientes de várias alterações na</p><p>atividade elétrica neuronal, ocorrem descargas excessivas e sincronizadas nos</p><p>neurônios cerebrais. Os fármacos antiepilépticos (ou anticonvulsivantes) não</p><p>são capazes de curar a epilepsia, mas são eficientes em suprimir as crises. Os</p><p>principais mecanismos de ação destes fármacos envolvem a potencialização da</p><p>neurotransmissão inibitória mediada pelo GABA, o bloqueio dos canais de sódio</p><p>ou cálcio dependentes de voltagem e a redução da neurotransmissão excitatória</p><p>mediada pelo glutamato (principal neurotransmissor excitatório do SNC).</p><p>• A depressão é caracterizada por tristeza intensa e ininterrupta, sentimento de</p><p>desesperança, alterações de sono e apetite, fadiga e ideias suicidas. O tratamento</p><p>disponível atualmente inclui o uso de antidepressivos que potencializam,</p><p>direta ou indiretamente, as ações dos neurotransmissores norepinefrina e/</p><p>ou da serotonina (5-HT) no SNC. Por mecanismos desconhecidos, também</p><p>parecem ser efetivos em alguns transtornos de ansiedade e dores neuropáticas.</p><p>• A esquizofrenia é uma doença crônica que produz alucinações, principalmente</p><p>na forma de vozes e transtornos de pensamento e de comunicação. O tratamento</p><p>com antipsicóticos não cura o paciente, apenas alivia a intensidade e frequência</p><p>de alucinações. Os antipsicóticos de primeira geração atuam bloqueando os</p><p>receptores dopaminérgicos no sistema mesolímbico do SNC e os de segunda</p><p>geração parecem atuar pela inibição dos receptores serotonérgicos. Os</p><p>principais efeitos adversos desses fármacos são os sintomas extrapiramidais.</p><p>189</p><p>• As doenças neurodegenerativas do SNC estudadas neste tópico incluem a do-</p><p>ença de Alzheimer e a doença de Parkinson. São doenças graves caracterizadas</p><p>pela morte progressiva de neurônios em áreas específicas do cérebro, resul-</p><p>tando em diversos distúrbios. Os fármacos disponíveis são paliativos, aliviam</p><p>apenas os sintomas de forma muito discreta e não são capazes de interromper</p><p>os mecanismos de morte neuronal.</p><p>• Por fim, estudamos o uso dos opioides no tratamento da dor, fármacos análogos</p><p>à morfina que podem ser naturais, sintéticos ou semissintéticos. Todos os</p><p>opioides ligam-se a receptores opioides específicos no SNC para causar efeitos</p><p>que simulam a ação dos nossos peptídeos endógenos (endorfinas, encefalinas</p><p>ou dinorfinas).</p><p>190</p><p>1 Os transtornos de ansiedade incluem características de medo e ansiedade</p><p>exacerbados junto com perturbações comportamentais. O medo ocorre</p><p>como uma resposta à ameaça iminente real, por outro lado a ansiedade é</p><p>a antecipação de ameaça futura que pode ou não se concretizar. Com base</p><p>no que você aprendeu sobre os fármacos ansiolíticos e hipnóticos, assinale</p><p>a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Os benzodiazepínicos aumentam a ligação do neurotransmissor</p><p>GABA ao seu receptor, que aumenta a permeabilidade ao cloreto</p><p>causando despolarização do neurônio.</p><p>b) ( ) A naloxona é antagonista dos receptores de benzodiazepínicos usada</p><p>como antídoto nas intoxicações por estes fármacos.</p><p>c) ( ) Um homem que apresenta convulsões devido à abstinência do álcool</p><p>não deve ser tratado com benzodiazepínicos devido ao risco de</p><p>depressão respiratória.</p><p>d) ( ) O fenobarbital pode causar depressão respiratória, que é potencializada</p><p>pelo consumo de álcool.</p><p>e) ( ) O triazolam é um fármaco de ação curta, por isso causa muita sedação</p><p>durante o dia.</p><p>2 A depressão inclui sintomas de tristeza profunda, anedonia, desânimo e</p><p>oscilações de humor. Geralmente é confundida com ansiedade e pode levar</p><p>a pensamentos suicidas. Com base no que você aprendeu sobre os fármacos</p><p>antidepressivos, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Uma mulher de 30 anos apresenta sintomas depressivos acompanha-</p><p>dos de dor secundária a um acidente doméstico há quatro anos. Os</p><p>exames realizados não apresentaram alterações significativas. Para o</p><p>caso apresentado, o uso de fluoxetina é uma opção mais efetiva que</p><p>a duloxetina.</p><p>b) ( ) A imipramina é um antidepressivo ISCS que apresenta alto risco de</p><p>ortostasia em idosos e deve ser evitada devido aos perigos de quedas.</p><p>c) ( ) A mirtazapina é um ISCS usada no tratamento do transtorno bipolar.</p><p>d) ( ) A duloxetina é um ICSN que apresenta melhor perfil terapêutico para</p><p>o manejo de depressão acompanhada de sintomas de dor.</p><p>3 Os antidepressivos são fármacos usados no tratamento da depressão e/</p><p>ou ansiedade que atuam no controle e modulação de neurotransmissores</p><p>do sistema nervoso central. Baseado no que você aprendeu sobre os</p><p>antidepressivos, associe os itens, utilizando o código a seguir:</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>191</p><p>I- Inibição seletiva da captação de serotonina.</p><p>II- Inibição da captação de serotonina e noraepinefrina.</p><p>III- Inibição da monoaminoxidade.</p><p>IV- Inibição da captação de serotonina e norepinefrina com bloqueio</p><p>muscarínico e histamínico.</p><p>V- Inibição da captação de dopamina e norepinefina.</p><p>( ) Bupropiona.</p><p>( ) Fluoxetina, sertralina, citalopram e paroxetina.</p><p>( ) Desvenlafaxina, duloxetina e venlafaxina.</p><p>( ) Fenelzina e seleginina.</p><p>( ) Amitriptilina e imipramina.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a) ( ) V – I – II – III – IV.</p><p>b) ( ) I – II – III – IV – V.</p><p>c) ( ) III – V – IV – II – I.</p><p>d) ( ) V – IV – I – III – II.</p><p>4 Os fármacos antiepilépticos reduzem a excitabilidade da membrana</p><p>neuronal e aumentam a inibição pós-sináptica, alterando a sincronização das</p><p>redes neurais para reduzir a excitabilidade neuronal excessiva associada à</p><p>epilepsia. Com base no que você aprendeu sobre os antiepilépticos, assinale</p><p>a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) O topiramatoé um antiepilético de amplo espectro indicado como</p><p>primeira escolha nas crises tônico-clônicas generalizadas primárias.</p><p>b) ( ) A etossuximidanão deve ser usada nas crises de ausência.</p><p>c) ( ) O topiramato é reservado contra crises refratárias, devido ao alto risco</p><p>de causar anemia aplástica e insuficiência hepática.</p><p>d) ( ) A vigabatrina é indicada em crises generalizadas, mas está relacionada</p><p>com alterações no campo visual.</p><p>e) ( ) Para uma criança com dificuldades de prestar atenção nas aulas</p><p>devido a crises de ausência, o tratamento mais indicado é a associação</p><p>de carbamazepina e clonazepam.</p><p>5 Os antipsicóticos constituem os fármacos mais usados no tratamento</p><p>sintomático das psicoses, sobretudo da esquizofrenia, mas também são</p><p>usados como anestésicos e em outros distúrbios psiquiátricos, como o</p><p>distúrbio bipolar. Com base no que você aprendeu sobre os antipsicóticos,</p><p>assinale a alternativa CORRETA:</p><p>192</p><p>a) ( ) O aripiprazol é um</p><p>seria o desejável, mas também com outras células</p><p>do corpo, causando danos reversíveis, porém extremamente desconfortáveis</p><p>para o paciente (perda de cabelos, ressecamento de mucosas, enjoos, entre</p><p>outros). E, finalmente, cumprir com todos estes desafios e gerar fármacos que</p><p>sejam acessíveis financeiramente para população de forma geral, empregando</p><p>técnicas de química verde (sustentáveis) e de baixo custo operacional para</p><p>indústria (PANKEVICH et al., 2014).</p><p>Apesar de todos os desafios, as perspectivas são animadoras. As</p><p>ferramentas tecnológicas têm avançado em progressão geométrica e a cada ano</p><p>que passa, novos conhecimentos das interações bioquímicas entre substâncias</p><p>químicas e organismos surgem. Estas ferramentas permitem acelerar experimentos</p><p>que agregam conhecimento para geração de novos fármacos.</p><p>Agora, caro acadêmico, você sabe como chegamos até os desafios atuais</p><p>da farmacologia. Nos próximos tópicos vamos abordar algumas das subdivisões</p><p>da farmacologia e quais as funções e especificações técnicas de cada uma destas,</p><p>além de conhecer melhor algumas ferramentas empregadas para pesquisa de</p><p>novos fármacos, diferentes metodologias (in silico, in vitro e in vivo) e fases do</p><p>desenvolvimento dos fármacos (pré-clínico e clínico).</p><p>11</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>• A farmacologia é uma ciência relativamente moderna, embora seja objeto de</p><p>estudo e fascínio da humanidade deste muito antes do nascimento de Cristo.</p><p>• O século XIX serviu como berço para descoberta de conceitos e aplicações</p><p>científicas que são utilizados até hoje na farmacologia.</p><p>• O estudo de novas moléculas com atividade farmacológica hoje faz uso de</p><p>ferramentas de biotecnologia visando à otimização de terapias direcionadas e</p><p>com menos efeitos adversos.</p><p>• O aumento da expectativa de vida da população de forma geral leva ao</p><p>aparecimento de novas doenças e, para tal, novas moléculas e abordagens</p><p>farmacológicas são necessárias.</p><p>• A indústria farmacêutica é uma das maiores geradoras de receita, e este</p><p>crescimento nos últimos anos tem se dado pelo mercado de fármacos com ação</p><p>anticâncer.</p><p>• A farmacologia é uma ciência em constante evolução, e tem como maiores</p><p>desafios atualmente a busca por moléculas eficazes que apresentem baixo</p><p>potencial de apresentar efeitos adversos, além de promover uma melhor</p><p>adesão terapêutica e tratamento direcionado a alvos específicos.</p><p>12</p><p>1 Desde o início da História existem relatos do uso de remédios pela huma-</p><p>nidade. Naturalmente, com o decorrer dos séculos este uso tornou-se uma</p><p>ciência e, hoje, continua a passar por grande evolução. A respeito desta ci-</p><p>ência, defina o que é a farmacologia e qual o objeto de estudo desta ciência.</p><p>2 O médico Paul Ehrlich, em 1900, introduziu um conceito inovador na</p><p>farmacologia que até hoje é utilizado nos estudos modernos. Qual é a</p><p>palavra que define este conceito?</p><p>a) ( ) Molécula.</p><p>b) ( ) Bioquímica molecular.</p><p>c) ( ) Receptores.</p><p>d) ( ) Imunoglobulinas.</p><p>e) ( ) Antibióticos.</p><p>3 No século XX se iniciou uma nova era para farmacologia, com buscas</p><p>por terapias gênicas e drogas com alvos específicos. Qual foi principal</p><p>característica deste período?</p><p>a) ( ) O emprego de ferramentas de biotecnologia.</p><p>b) ( ) O uso de fármacos derivados de plantas medicinais.</p><p>c) ( ) O uso de produtos naturais.</p><p>d) ( ) O emprego de moléculas exclusivamente sintéticas.</p><p>e) ( ) A utilização de terapias baseadas unicamente em abordagens</p><p>holísticas.</p><p>4 A indústria farmacêutica é um setor que não para de crescer, sendo resiliente</p><p>mesmo em períodos de recessão econômica severa. Cite dois fatores que</p><p>influenciam este crescimento.</p><p>5 Diversos são os desafios relacionados à criação de novas moléculas com</p><p>potencial ação farmacológica. Cite e explique ao menos um dos desafios do</p><p>farmacologista moderno na criação de novos fármacos.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>13</p><p>TÓPICO 2 —</p><p>UNIDADE 1</p><p>SUBDIVISÕES DA FARMACOLOGIA</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Agora, caro acadêmico, você já conhece um pouco mais da história da</p><p>ciência dos fármacos e quais foram os fatos e grandes nomes que nos trouxeram</p><p>ao panorama atual. Acredito que, a esta altura, você concorde que a farmacologia</p><p>é um tanto quanto complexa se levarmos em consideração que ela, por si só, é</p><p>responsável por estudar e definir o que os fármacos fazem com os sistemas vivos.</p><p>É justamente por essa enorme complexidade que é comum observarmos uma</p><p>grande variedade de subdivisões para esta ciência.</p><p>Reflita: para um fármaco interagir com um sistema vivo devemos levar</p><p>em consideração, inicialmente, se este fármaco está sendo ingerido, inalado,</p><p>administrado diretamente na circulação do paciente ou por uma injeção na</p><p>musculatura. Todos estes fatores implicam diferentes magnitudes de efeitos.</p><p>Na sequência, devemos levar em consideração se este fármaco está sendo</p><p>administrado na forma pura, ou com alguma outra substância, que pode também</p><p>alterar a qualidade dos seus efeitos. A seguir nos perguntamos, por qual motivo</p><p>este fármaco gera especificamente este efeito? Com quais células do nosso corpo</p><p>ele pode interagir? Antes mesmo de todas essas perguntas, para este fármaco ser</p><p>utilizado em seres humanos, fizeram-se necessários estudos em softwares, em</p><p>cultura de células, em animais, em humanos que participem de ensaios clínicos,</p><p>para finalmente, ser aprovado e chegar às farmácias e/ou hospitais. Em conjunto</p><p>com todos estes fatores, estudos da viabilidade econômica para produção desta</p><p>substância devem ter sido levados em consideração e, futuramente, ao estar já no</p><p>mercado, será que este fármaco não poderá causar algum efeito tóxico ou ainda</p><p>ser utilizado como droga de abuso e causar algum grau de dependência?</p><p>Confuso, não é? Se tentarmos colocar todas as respostas relacionadas ao</p><p>desenvolvimento de novos fármacos sob responsabilidade de uma única ciência</p><p>este provavelmente é o resultado. E é justamente por este motivo que obser-</p><p>vamos tantas divisões na farmacologia. A seguir, discutiremos algumas destas</p><p>áreas da farmacologia, o que realizam e como atuam na contribuição do conhe-</p><p>cimento dos fármacos.</p><p>14</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>2 FARMACOLOGIA BÁSICA</p><p>Será comum, caro acadêmico, você ouvir no decorrer de sua vida acadê-</p><p>mica e posterior carreira profissional, profissionais da área da saúde dividindo</p><p>diversas ciências em “básicas”, “clínicas” e ainda “aplicadas”. Isso é comum, no-</p><p>vamente com intuito de organizar os conhecimentos adquiridos. Veja as ciências</p><p>básicas, por exemplo, têm como objetivo responder a questões independente-</p><p>mente de suas aplicações.</p><p>Por exemplo, em farmacologia básica buscam-se compreender</p><p>integralmente os mecanismos de ação dos fármacos, bem como suas rotas</p><p>metabólicas e forma de distribuição através dos compartimentos corpóreos. Você</p><p>julga este conhecimento desnecessário? Acredito que não, certo? Porém, para</p><p>as ciências aplicadas, como a farmacologia clínica, nem sempre o conhecimento</p><p>de todos os mecanismos de ação que um fármaco pode ter farão diferença. Veja</p><p>a dipirona (metamizol), um fármaco utilizado como antipirético e analgésico</p><p>aqui em nosso país, ainda tem seu mecanismo de ação considerado como pouco</p><p>conhecido. Seus efeitos clínicos em diminuir a febre e dor de pacientes que fazem</p><p>uso desta substância são claros, porém, por qual motivo exatamente isto ocorre</p><p>ainda é um mistério. O mesmo ocorre com uma infinidade de medicamentos</p><p>dispostos no mercado farmacêutico mundial (RITTER, 2009).</p><p>Conhecer os mecanismos pelos quais um fármaco gera seus efeitos</p><p>engrandece a ciência da farmacologia como um todo. É função da farmacologia</p><p>básica desvendar estes mistérios moleculares. Aos olhos do leigo parece tolice</p><p>conhecer os meios uma vez que o que importa de fato são os fins na terapêutica,</p><p>mas entenda, caro acadêmico, que as ciências básicas são aquelas que pavimentam</p><p>os caminhos para as aplicadas (RITTER, 2009).</p><p>3 FARMACOCINÉTICA</p><p>A farmacocinética é o estudo do movimento dos fármacos dentro dos</p><p>compartimentos corpóreos, uma</p><p>vez que o corpo em questão foi exposto a estes.</p><p>Para simplificar o entendimento desta subdivisão dar farmacologia, podemos</p><p>descrever a farmacocinética como a ciência que estuda o que nosso corpo faz</p><p>com um determinado fármaco após a exposição. Por exemplo, uma vez que um</p><p>paciente ingere por via oral um comprimido de paracetamol, para onde este</p><p>comprimido vai? A princípio, para o estômago, certo? E depois que chegar no</p><p>estômago, como ele se dissocia da forma de comprimido e chega até o local de</p><p>ação? Após seu efeito, ele fica para sempre circulando em nosso organismo?</p><p>O conhecimento detalhado deste tipo de interação é de extrema</p><p>importância para que doses seguras de medicamentos sejam definidas antes</p><p>de chegarem a hospitais e farmácias. No estudo da farmacocinética é comum</p><p>dividirmos as fases de interação do organismo com o fármaco em: exposição,</p><p>absorção, distribuição, biotransformação e excreção (MEIBOHM; DERENDORF,</p><p>2002; RITTER et al., 2020).</p><p>TÓPICO 2 — SUBDIVISÕES DA FARMACOLOGIA</p><p>15</p><p>Com o passar dos anos, as bulas de medicamentos foram se tornando cada</p><p>vez mais fáceis de serem interpretadas por leigos, para que a adesão terapêutica</p><p>dos pacientes seja mais eficaz e intoxicações relacionadas a medicamentos sejam</p><p>cada vez mais raras. No entanto, é comum na maioria das bulas constar um campo</p><p>descrito como “informações técnicas”. Neste campo estão informações a respeito</p><p>da farmacocinética e farmacodinâmica (próximo item). Veja o exemplo desta bula</p><p>de dipirona a respeito de suas propriedades farmacocinéticas:</p><p>Propriedades farmacocinéticas</p><p>A farmacocinética da Dipirona Monoidratada e de seus metabólitos</p><p>não está completamente elucidada, mas as seguintes informações podem ser</p><p>fornecidas:</p><p>Após administração oral, a Dipirona Monoidratada é completamente</p><p>hidrolisada em sua porção ativa, 4-Nmetilaminoantipirina (MAA). A</p><p>biodisponibilidade absoluta da MAA é de aproximadamente 90%, sendo um</p><p>pouco maior após administração oral quando comparada à administração</p><p>intravenosa. A farmacocinética da MAA não se altera em qualquer extensão</p><p>quando a Dipirona Monoidratada é administrada concomitantemente a</p><p>alimentos. Principalmente a MAA, mas também a 4-aminoantipirina (AA),</p><p>contribuem para o efeito clínico. Os valores de exposição total de fármaco ao</p><p>longo do tempo (AUC – Area Under Curve) para AA constituem aproximadamente</p><p>25% do valor de AUC para MAA. Os metabólitos 4-Nacetilaminoantipirina</p><p>(AAA) e 4-N-formilaminoantipirina (FAA) parecem não apresentar efeito</p><p>clínico. São observadas farmacocinéticas não-lineares para todos os metabólitos.</p><p>São necessários estudos adicionais antes que se chegue a uma conclusão sobre</p><p>o significado clínico destes resultados. O acúmulo de metabólitos apresenta</p><p>pequena relevância clínica em tratamentos de curto prazo.</p><p>O grau de ligação às proteínas plasmáticas é de 58% para MAA, 48%</p><p>para AA, 18% para FAA e 14% para AAA. Após administração intravenosa,</p><p>a meia-vida plasmática é de aproximadamente 14 minutos para a Dipirona</p><p>Monoidratada. Aproximadamente 96% e 6% da dose radiomarcada administrada</p><p>por via intravenosa foram excretadas na urina e fezes, respectivamente. Foram</p><p>identificados 85% dos metabólitos que são excretados na urina, quando da</p><p>administração oral de dose única, obtendo-se 3% ± 1% para MAA, 6% ± 3%</p><p>para AA, 26% ± 8% para AAA e 23% ± 4% para FAA. Após administração oral</p><p>de dose única de 1g de Dipirona Monoidratada, o clearance renal foi de 5mL ±</p><p>2 mL/min para MAA, 38mL ± 13mL/min para AA, 61mL ± 8mL/min para AAA,</p><p>e 49mL ± 5 mL/min para FAA. As meias-vidas plasmáticas correspondentes</p><p>foram de 2,7 ± 0,5 horas para MAA, 3,7 ± 1,3 horas para AA, 9,5 ± 1,5 horas para</p><p>AAA, e 11,2 ± 1,5 horas para FAA.</p><p>FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2LwmyK4>. Acesso em: 6 jun. 2020.</p><p>16</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>Ficou confuso com as informações desta bula? Abordaremos o assunto</p><p>farmacocinética de forma específica na Unidade 2 deste livro.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>4 FARMACODINÂMICA</p><p>A farmacodinâmica, como o próprio nome já deixa claro, é o estudo</p><p>da dinâmica dos fármacos no organismo. Simplificando a terminologia,</p><p>podemos entender esta ciência como a subdivisão da farmacologia que estuda</p><p>especificamente o que o fármaco faz com o organismo. Encontra-se no escopo</p><p>desta ciência então desvendar o mecanismo de ação dos fármacos e compreender</p><p>de que forma estes mecanismos acabam gerando os efeitos clínicos desejados. É</p><p>através deste conhecimento também que a interação entre diferentes fármacos num</p><p>mesmo organismo acaba sendo elucidada, lembre-se de que é comum pacientes,</p><p>principalmente idosos, fazerem uso de mais de três ou quatro medicamentos por</p><p>dia para doenças crônicas (MEIBOHM; DERENDORF, 2002; RITTER et al., 2020).</p><p>Veja o exemplo a seguir das informações sobre as propriedades farmacodinâmicas</p><p>da dipirona:</p><p>Propriedades farmacodinâmicas</p><p>A Dipirona Monoidratada é um derivado pirazolônico não narcótico</p><p>com efeitos analgésico, antipirético e espasmolítico. A Dipirona Monoidratada</p><p>é uma pró-droga cuja metabolização gera a formação de vários metabólitos</p><p>entre os quais há 2 com propriedades analgésicas: 4-metil-aminoantipirina (4-</p><p>MAA) e o 4-amino-antipirina (4-AA). Como a inibição da ciclo-oxigenase (COX-</p><p>1, COX-2 ou ambas) não é suficiente para explicar este efeito antinociceptivo,</p><p>outros mecanismos alternativos foram propostos, tais como a inibição de</p><p>síntese de prostaglandinas preferencialmente no sistema nervoso central,</p><p>dessensibilização dos nociceptores periféricos envolvendo atividade via óxido</p><p>nítrico-GMPc no nociceptor, uma possível variante de COX-1 do sistema</p><p>nervoso central seria o alvo específico e, mais recentemente, a proposta de que</p><p>a Dipirona Monoidratada inibiria uma outra isoforma da ciclo-oxigenase, a</p><p>COX-3. Os efeitos analgésico e antipirético podem ser esperados em 30 a 60</p><p>minutos após a administração e geralmente duram cerca de 4 horas.</p><p>FONTE: Adaptado de <https://consultaremedios.com.br/dipirona-monoidratada/bula>. Acesso</p><p>em: 6 jun. 2020.</p><p>TÓPICO 2 — SUBDIVISÕES DA FARMACOLOGIA</p><p>17</p><p>Ficou confuso com as informações desta bula? Abordaremos o assunto</p><p>farmacodinâmica de forma específica na Unidade 2 deste livro didático.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>5 FARMACOLOGIA DE SISTEMAS</p><p>A farmacologia de sistemas não necessariamente é uma subdivisão da</p><p>farmacologia, mas é comum dividirmos os estudos dos fármacos em relação aos</p><p>sistemas em que estes geram seus efeitos terapêuticos. Por exemplo, na Unidade 3</p><p>deste livro didático, iremos discutir o “Estudo da ação de fármacos no organismo”</p><p>e, um dos tópicos refere-se a “Fármacos que atuam sobre o sistema nervoso</p><p>autônomo e periférico”. Estamos nos referindo, neste caso, à farmacologia que</p><p>estuda especificamente a interação de fármacos com o sistema nervoso central,</p><p>e podemos designar este tópico também como neurofarmacologia (estudo de</p><p>fármacos com ação sobre o sistema nervoso central) (RITTER et al., 2020).</p><p>Outras áreas comuns da farmacologia referente especificamente a sistemas</p><p>são, por exemplo (Figura 6):</p><p>• Imunofarmacologia: estudo de fármacos que, de alguma forma, interagem</p><p>com o sistema imunológico através de processos inflamatórios sejam estes</p><p>processos de caráter infeccioso, alérgico ou degenerativo.</p><p>• Farmacologia cardiovascular: estudo de fármacos que atuam diretamente</p><p>ou indiretamente sobre o sistema cardiovascular. Compreende este estudo</p><p>principalmente a classe de anti-hipertensivos como: diuréticos, antagonistas</p><p>adrenérgicos, vasodilatadores e inibidores do sistema renina-angiotensina-</p><p>aldosterona.</p><p>• Farmacologia respiratória: estudo de fármacos que atuam diretamente ou</p><p>indiretamente sobre o sistema respiratório. Compreendem estes estudos</p><p>classes de medicamentos como descongestionantes nasais, antitussígenos,</p><p>expectorantes e mucolíticos, broncodilatadores, entre outros.</p><p>• Farmacologia gastrointestinal: estudo de fármacos que atuam diretamente ou</p><p>indiretamente sobre o sistema gastrointestinal. Compreendem estes estudos</p><p>classes</p><p>de medicamentos como inibidores da bomba de prótons, antiácidos,</p><p>protetores da mucosa gástrica, antieméticos, purgativos, antiespasmódicos,</p><p>entre outros.</p><p>18</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>FIGURA 6 – ALGUMAS DAS ESPECIFICAÇÕES DA FARMACOLOGIA DE SISTEMAS</p><p>FONTE: O autor (2020)</p><p>6 FARMACOLOGIA EXPERIMENTAL</p><p>A farmacologia experimental é uma subdivisão da farmacologia voltada</p><p>para experimentação de novos fármacos, com intuito de elucidar seus mecanismos</p><p>farmacocinéticos e farmacodinâmicos. Para tal, o farmacologista lança mão de</p><p>diversas ferramentas tecnológicas e conhecimentos multidisciplinares. Veremos</p><p>mais à frente em nosso livro didático que, antes de se tornar um medicamento</p><p>de fato, um fármaco deve ser testado sob diversas condições, para que gere seus</p><p>efeitos terapêuticos dentro de dosagens seguras em que o benefício de suas</p><p>aplicações sobreponha os riscos (SALOMONE, 2010).</p><p>Para esta análise, conhecimentos de diversas áreas são aplicados</p><p>pelo farmacologista, principalmente fisiologia, bioquímica e estatística (sim,</p><p>matemática faz parte do cotidiano do farmacologista). Além disso, toda essa</p><p>análise experimental dos fármacos é sistematicamente dividida em fase pré-</p><p>clínica, que compõe estudos em softwares, células e animais, e fase clínica (fases</p><p>I, II, III e IV), em que os testes são conduzidos em humanos (Figura 7). Um estudo</p><p>TÓPICO 2 — SUBDIVISÕES DA FARMACOLOGIA</p><p>19</p><p>experimental de um determinado fármaco, desde sua primeira análise de relação</p><p>estrutura atividade in silico, até sua chegada na forma de um medicamento nas</p><p>gôndolas de uma farmácia, costuma demorar não menos que dez anos. Diante</p><p>deste fato, fica evidente a complexidade desta subdivisão da farmacologia</p><p>(SALOMONE, 2010).</p><p>FIGURA 7 – AS FASES DE ESTUDO DE UM NOVO FÁRMACO PARA QUE SE TORNEM UM</p><p>MEDICAMENTO: FASE PRÉ-CLÍNICA E FASE CLÍNICA</p><p>FONTE: O autor (2020)</p><p>7 FARMACOLOGIA CLÍNICA</p><p>A farmacologia clínica é a subdivisão onde o foco de atenção é o uso</p><p>racional de medicamentos e otimização da terapia farmacológica para o paciente.</p><p>Aqui, nesta subdivisão, busca-se analisar o efeito final do fármaco, já na forma</p><p>de medicamento, sempre levando em consideração informações técnicas de</p><p>farmacocinética e farmacodinâmica. O resultado da otimização da farmacoterapia</p><p>é refletido em saúde para o paciente, além da diminuição do risco de intoxicações</p><p>e efeitos indesejados causados por interações farmacológicas (RITTER, 2009).</p><p>Perceba, caro acadêmico, que o uso racional de medicamentos, embora</p><p>pareça algo simples e de fácil solução é, na realidade, um dos maiores problemas</p><p>no que diz respeito ao uso de medicamentos no mundo. A própria Organização</p><p>Mundial da Saúde (OMS) estima que mais da metade de todos medicamentos</p><p>são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada e que metade dos</p><p>pacientes, quando em contato com estes medicamentos, não os utiliza da forma</p><p>correta. Não é por acaso que o próprio Conselho Federal de Farmácia (CFF)</p><p>fomente tanto o uso racional de medicamentos, visando à educação quanto aos</p><p>cuidados com medicamentos e a saúde geral da população (BRASIL, 2015).</p><p>20</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>O dia 5 de maio, de todos os anos, é o Dia Nacional pelo Uso Racional de</p><p>Medicamentos. A data foi criada para conscientizar as pessoas quanto os riscos que a</p><p>automedicação pode acarretar a saúde. O objetivo da data é reforçar o papel do uso</p><p>indiscriminado de medicamentos e a automedicação, sendo estas as principais responsáveis</p><p>pelos altos índices de intoxicação por medicamentos.</p><p>FONTE: <http://bit.ly/3oC951W>. Acesso em: 18 maio 2020.</p><p>IMPORTANTE</p><p>8 ETNOFARMACOLOGIA</p><p>Você já deve ter ouvido de algum conhecido, provavelmente mais velho,</p><p>que chá de quebra pedra (Phyllanthus acutifolius) é bom para pedra nos rins. Ou</p><p>que chá de pata de vaca (Bauhinia forficata) é bom para “o diabetes”. Ou ainda</p><p>que, gargarejo com chá de malva (Malva sylvestris) é bom para amigdalite. Estes</p><p>são conhecimentos populares que, muitas vezes embora apresentem de fato os</p><p>efeitos relatados, não possuem pesquisas que comprovem cientificamente os</p><p>relatos (PATWARDHAN, 2005).</p><p>TÓPICO 2 — SUBDIVISÕES DA FARMACOLOGIA</p><p>21</p><p>O campo da etnofarmacologia é responsável por estudar o conhecimento</p><p>popular de determinado grupo étnico ou social acerca de drogas vegetais, produtos</p><p>naturais e demais remédios usados pela população. Como descrito no início do</p><p>livro didático, o uso de plantas medicinais data de milhares de anos antes de Cristo,</p><p>e no decorrer destes muitos anos, a humanidade aprendeu na prática o uso de</p><p>certas substâncias, sem necessariamente o emprego da sistemática utilizada pela</p><p>ciência moderna. A etnofarmacologia busca unir estes dois mundos: a tradição e a</p><p>ciência, comprovando (ou não) a eficácia de terapias empregadas popularmente,</p><p>ou ainda, isolando moléculas inovadoras de produtos naturais que podem servir</p><p>como protótipos para futuros novos fármacos (PATWARDHAN, 2005).</p><p>A etnofarmacologia é, em nosso país, uma grande fonte de publicações</p><p>científicas abordando a medicina tradicional de comunidades indígenas, do serrado e</p><p>quilombolas. A Journal of Ethnopharmacology é uma das revistas científicas internacionais</p><p>que se propõe a publicar estudos nesta área.</p><p>FONTE: <https://www.journals.elsevier.com/journal-of-ethnopharmacology>. Acesso em:</p><p>18 maio 2020.</p><p>NOTA</p><p>22</p><p>UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA</p><p>9 TOXICOLOGIA</p><p>Assim como a farmacologia é a ciência que estuda a relação dos fármacos</p><p>com organismos vivos, a toxicologia estuda a relação de agentes tóxicos e venenos</p><p>sobre estes mesmos organismos.</p><p>As duas ciências são parentes próximas, e até pouco tempo atrás eram</p><p>uma só, sendo a toxicologia considerada um braço da farmacologia até hoje. A</p><p>necessidade da separação dos estudos veio com o aumento da população a agentes</p><p>tóxicos no decorrer dos anos, processo acelerado pela Revolução Industrial e</p><p>todos os processos de intoxicação ocupacional causado por estes. Além disso, a</p><p>população mundial tem cada vez mais exposição a novos medicamentos e drogas</p><p>de abuso, e agora que você, caro acadêmico, já sabe que um dos maiores problemas</p><p>no que tange aos medicamentos é justamente seu uso de forma irracional, entenda</p><p>que a toxicologia é responsável pelo estudo dos efeitos tóxicos destes. Paracelso</p><p>já definia que “a diferença entre o remédio e o veneno reside na dose”, e hoje,</p><p>uma das maiores causas por internações hospitalares relacionadas a intoxicações</p><p>advém intoxicações causadas por medicamentos (GUNDERT-REMY et al., 2015).</p><p>A toxicologia ainda pode ser dividida em várias subáreas, como a</p><p>toxicologia clínica, experimental, ocupacional, forense, entre outras. A esta última</p><p>subárea, a toxicologia forense, reside grande interesse dos acadêmicos. É nesta</p><p>ciência em que se empregam conhecimentos multidisciplinares, como química</p><p>analítica e farmacologia, para ajudar investigações médicas ou criminais acerca</p><p>de mortes relacionadas ao abuso de drogas e envenenamentos (intencionais ou</p><p>acidentais) (GUNDERT-REMY et al., 2015).</p><p>Uma das áreas onde o farmacêutico irá atuar exercendo a farmacologia e</p><p>toxicologia no seu cotidiano é com análises forenses. Atuando como Perito Criminal o</p><p>farmacêutico trabalha principalmente em laboratórios que empregam rotinas analíticas</p><p>processando vestígios que servem como provas para resolução de crimes. Para atuar</p><p>como perito criminal é necessário a realização de concurso, podendo este ser de âmbito</p><p>estadual ou federal. Ficou curioso? Acesse o link para saber mais sobre a profissão: https://</p><p>bioquimicabrasil.com/2019/02/17/analises-forenses/.</p><p>NOTA</p><p>TÓPICO 2 — SUBDIVISÕES DA FARMACOLOGIA</p><p>23</p><p>10 FARMACOEPIDEMIOLOGIA</p><p>Embora raramente ensinada a profissionais da área de saúde, a</p><p>farmacoepidemiologia é uma das subdivisões da farmacologia de grande</p><p>importância. Podemos definir esta ciência, de forma simplificada, como a</p><p>aplicação de métodos epidemiológicos para análise dos efeitos de medicamentos,</p><p>incluindo vacinas e tratamento com</p><p>biofármacos. Assim, esta ciência tem fortes</p><p>laços científicos com a farmacologia clínica, sendo a principal diferença entre</p><p>as duas o fato de que a farmacoepidemiologia não trata diretamente de um</p><p>indivíduo, e sim de grandes populações, para gerar dados que guiem, muitas</p><p>vezes, políticas de saúde pública (EVANS, 2012).</p><p>11 FARMACOECONOMIA</p><p>Os estudos referentes à viabilidade econômica da produção, dispensação e</p><p>implementação de medicamentos no mercado é responsabilidade da farmacoeco-</p><p>nomia. Como já abordado em nosso livro didático, a indústria farmacêutica é uma</p><p>das que mais geram receita anual e possui ainda perspectivas de só crescer nos</p><p>próximos anos. Isso se dá, ao menos em parte, pelo envelhecimento populacional</p><p>e consequente aparecimento de novas doenças. De forma geral, é correto afirmar</p><p>então que medicamentos consomem grande parcela de recursos de um país, cau-</p><p>sando um impacto considerável nas despesas totais de saúde. No caso do Brasil,</p><p>especificamente, um dos desafios é manter o sistema único de saúde (SUS) em</p><p>funcionamento, atendendo a toda a população no território nacional (que possui</p><p>dimensões continentais), com recursos limitados. Assim, diferentes estudos farma-</p><p>coeconômicos devem ser empregados, como: a minimização de custos, a análise</p><p>do custo-utilidade, custo-benefício e custo-efetividade (PACKEISER; RESTA, 2014).</p><p>12 FARMACOGENÔMICA</p><p>Com a evolução nos conhecimentos a respeito da genética que vem</p><p>ocorrendo de forma exponencial com as ferramentas disponibilizadas pela</p><p>biologia molecular, a farmacogenômica visa unir esta ciência a farmacologia,</p><p>buscando responder de que forma os genes influenciam nas respostas individuais a</p><p>determinados fármacos. Diferentes pessoas podem responder ao mesmo fármaco</p><p>de heterogênea, e a farmacogenômica busca as respostas para esta diferença</p><p>na informação genética de cada um. Diversas evidências embasam esta ciência</p><p>e, até o momento, o polimorfismo genético de receptores ou das enzimas que</p><p>metabolizam os fármacos parecem ser o maiores responsáveis por estas respostas</p><p>heterógenas (ANEESH, 2009; RITTER et al., 2020).</p><p>Em um mundo ideal, quem sabe em um futuro longínquo, as terapias</p><p>farmacológicas poderiam ser direcionadas para cada indivíduo com base no seu</p><p>genótipo. Problemas relacionados ao aparecimento de efeitos adversos seriam</p><p>praticamente extintos.</p><p>24</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A farmacologia pode ser dividida em diversas subáreas para que cumpra com</p><p>seus objetivos de estudo de fármacos a partir de diferentes perspectivas. Nestas</p><p>subáreas podemos incluir:</p><p>○ Farmacologia básica: busca-se compreender integralmente os mecanismos de</p><p>ação dos fármacos, bem como suas rotas metabólicas e forma de distribuição</p><p>através dos compartimentos corpóreos, independente de aplicações clínicas</p><p>para a substância em questão.</p><p>○ Farmacocinética: estuda “aquilo que nosso corpo faz com o fármaco”, ou</p><p>seja, quais serão os fenômenos biológicos que nosso corpo irá realizar para</p><p>absorver, distribuir, biotransformar e elimina o fármaco, uma vez que a</p><p>substância não é um nutriente.</p><p>○ Farmacodinâmica: estuda “aquilo que o fármaco faz com o nosso corpo”,</p><p>desta forma, refere-se aos efeitos propriamente ditos que o fármaco irá</p><p>causar num determinado sistema biológico, mecanismo de ação e interações</p><p>com elementos moleculares.</p><p>○ Farmacologia de sistemas: umas das formas de separar o estudo da</p><p>farmacologia através do estudo de sistemas que compõe o organismo.</p><p>Por exemplo: farmacologia do sistema nervoso central estuda justamente</p><p>fármacos que agem de alguma forma sobre este sistema;</p><p>○ Farmacologia experimental: tem como objetivo a experimentação, através</p><p>de diferentes ferramentas, de novos fármacos ou a aplicação de fármacos</p><p>para doenças específicas em outras condições patológicas;</p><p>○ Farmacologia clínica: analisa o padrão de resposta farmacológica do paciente,</p><p>visando otimizar a terapêutica e promover o uso racional de medicamentos,</p><p>evitando eventos adversos a medicamentos;</p><p>○ Etnofarmacologia: o objetivo da etnofarmacologia é estudar o conhecimento</p><p>popular de determinado grupo étnico ou social acerca de drogas vegetais,</p><p>produtos naturais e demais remédios usados pela população;</p><p>25</p><p>○ Toxicologia: a toxicologia estuda a relação de agentes tóxicos e venenos</p><p>sobre sistemas biológicos vivos;</p><p>○ Farmacoepidemiologia: a junção entre a epidemiologia e a farmacologia</p><p>clínica, nesta subárea o alvo de estudo são grandes populações, para gerar</p><p>dados que guiem, muitas vezes, políticas de saúde pública;</p><p>○ Farmacoeconomia: estudos referentes a viabilidade econômica da produção,</p><p>dispensação e implementação de medicamentos no mercado;</p><p>○ Farmacogenômica: busca nas informações genéticas dos indivíduos as</p><p>respostas para diferenças e particularidades nas reações a farmacoterapia.</p><p>26</p><p>1 A farmacologia pode ser dividida em diferentes subdivisões. Estas</p><p>subdivisões ajudam a organizar o conhecimento adquirido por esta ciência</p><p>otimizando a atuação dos profissionais que empregam esta ciência no seu</p><p>cotidiano. Dentre estas subdivisões, podemos destacar a farmacocinética. A</p><p>respeito da farmacocinética, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) É a subdivisão da farmacologia que estuda a interação dos</p><p>medicamentos com sítios ativo, ou seja, explana seus mecanismos de</p><p>ação.</p><p>b) ( ) Tem como foco principal compreender fenômenos de absorção,</p><p>distribuição, biotransformação e excreção.</p><p>c) ( ) Estuda as melhores formas de tornar um fármaco economicamente</p><p>viável para sua produção industrial.</p><p>d) ( ) Emprega métodos analíticos de pesquisa para determinar os melhores</p><p>excipientes a serem utilizados na fase pré-analítica do fármaco.</p><p>e) ( ) Através de seus estudos chega à conclusão da eficácia terapêutica de</p><p>remédios tradicionalmente utilizados por população.</p><p>2 Uma das subdivisões da farmacologia que recentemente tem tido destaque</p><p>é a farmacoeconomia. Com a crescente expectativa de vida da população</p><p>novas doenças têm surgido, e problemas com uso contínuo de medicamentos</p><p>para doenças crônicas se tornam cada vez mais problemáticos para o sistema</p><p>de saúde, seja ele público ou privado. A respeito da farmacoeconomia,</p><p>defina quais são suas atribuições.</p><p>3 Relatos do uso de remédios e substâncias com atividade biológica são</p><p>datadas de antes mesmo de Cristo. Além disso, é comum que diferentes</p><p>comunidades espalhadas pelo globo façam uso de produtos naturais com</p><p>finalidades terapêuticas. Qual é o ramo da farmacologia que estuda este uso</p><p>tradicional de remédios e tenta comprovar se são de fato eficazes ou não?</p><p>a) ( ) Farmcogenômica.</p><p>b) ( ) Farmacologia experimental.</p><p>c) ( ) Farmacologia de sistemas.</p><p>d) ( ) Etnofarmacologia.</p><p>e) ( ) Farmacologia básica.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>27</p><p>4 Uma das áreas de maior aplicação da farmacologia dentro de hospitais hoje é</p><p>a farmacologia clínica. É comum que seja empregada para observar e relatar</p><p>prováveis eventos adversos aos medicamentos e exige uma especialização</p><p>do profissional que for exercer esta subdivisão da farmacologia. Quais são</p><p>as atribuições da farmacologia clínica?</p><p>5 Espera-se que o uso de medicamentos no futuro seja específico para cada</p><p>pessoa baseada no seu genótipo. Isto ajudaria muito a reduzir problemas</p><p>relacionados à adesão terapêutica, além de otimizar a ação destes</p><p>medicamentos. Qual é a subdivisão da farmacologia responsável por este</p><p>tipo de desenvolvimento?</p><p>a) ( ) Farmcogenômica.</p><p>b) ( ) Farmacologia experimental.</p><p>c) ( ) Farmacologia de sistemas.</p><p>d) ( ) Etnofarmacologia.</p><p>e) ( ) Farmacologia básica.</p><p>28</p><p>29</p><p>TÓPICO 3 —</p><p>UNIDADE 1</p><p>DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico, caro acadêmico, iremos abordar quais são os caminhos</p><p>para que um novo fármaco seja desenvolvido. No primeiro tópico, deste livro</p><p>didático, conversamos brevemente a respeito de grandes nomes da farmacologia,</p><p>suas descobertas e contribuições para que a farmacologia chegasse até aqui. Nos</p><p>dias de hoje, a forma com que ensaios farmacológicos</p>