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<p>Integração, Interpretação e Aplicação das Leis Trabalhistas.</p><p>-Integração, interpretação e aplicação das leis trabalhistas: A norma</p><p>jurídica não é elaborada para regular um determinado caso concreto, mas</p><p>toda e qualquer situação que, por ela prevista de forma abstrata, realize -se</p><p>concretamente. A conduta prevista abstratamente pela norma é a que deve</p><p>ser observada pelos indivíduos em suas relações jurídicas.</p><p>A integração: Para o ordenamento jurídico funcionar plenamente, ele deve</p><p>ser completo e coerente. Trata-se dos dogmas da completude e da coerência</p><p>do ordenamento jurídico, com aduz Norberto Bobbio. Em outros termos, o</p><p>ordenamento é coerente quando as normas que o compõem não sejam</p><p>antinômicas ou conflituosas, pois elas devem guardar relação de coerência</p><p>entre si. Já “um ordenamento jurídico é completo quando o juiz pode</p><p>encontrar nele uma norma para regular qualquer caso que se lhe apresente,</p><p>ou melhor, não há caso que não possa ser regulado com uma norma tirada do</p><p>sistema”.</p><p>A integração, portanto, diz respeito ao suprimento das lacunas dos sistemas</p><p>jurídicos. Integrar tem o sentido de completar, inteirar, colmatar lacunas</p><p>encontradas no interior de um ordenamento jurídico. Pode-se, assim, dizer</p><p>que é o fenômeno que mantém a plenitude da ordem jurídica, ainda que</p><p>inexistente uma norma jurídica específica a ser utilizada diante de um</p><p>determinado caso concreto a ser decidido pelo juiz. Nestes casos, deve-se</p><p>integrar as normas existentes por meio de métodos específicos, com a</p><p>finalidade de solucionar o conflito decorrente do caso concreto. pois é</p><p>impossível que as normas consigam prever todos os futuros e possíveis casos</p><p>que o juiz seja chamado a resolver. Assim, denomina-se lacuna o “vazio”</p><p>normativo concernente a um estado incompleto do sistema jurídico. Três são</p><p>os tipos de lacuna:</p><p>■ lacuna normativa: decorre de ausência de norma sobre determinado caso;</p><p>■ lacuna ontológica: verifica -se sempre que, embora existente, a norma não</p><p>corresponde aos fatos sociais, tendo em vista, por exemplo, o grande</p><p>desenvolvimento das relações sociais e o progresso tecnológico;</p><p>■ lacuna axiológica: decorre da ausência de norma justa, isto é, existe um</p><p>preceito normativo, mas, se for aplicado, sua solução será insatisfatória ou</p><p>injusta.</p><p>O juiz, ainda que a norma seja omissa, não pode se escusar de decidir a</p><p>questão que lhe é submetida a julgamento. Caberá a ele, portanto, integrar as</p><p>lacunas da norma, dando a solução jurídica ao caso concreto</p><p>(indeclinabilidade da jurisdição).</p><p>O Código de Processo Civil de 2015 contém previsão semelhante no art. 140:</p><p>“O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do</p><p>ordenamento. Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos</p><p>previstos em lei”. Assim, fala -se em integração das normas jurídicas sempre</p><p>que, por inexistir uma norma prevendo o fato a ser decidido, o aplicador do</p><p>direito, por meio de certas técnicas, promova a solução do caso, preenchendo</p><p>as lacunas decorrentes da falta de norma jurídica.</p><p>A analogia, o costume, a equidade e os princípios gerais do direito são</p><p>indicados pelo próprio legislador como procedimentos ou métodos de</p><p>integração das normas jurídicas, conforme disposto nos arts. 4º e 5º da Lei</p><p>de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB):</p><p>■ Analogia: procedimento pelo qual se aplica, a um caso não regulado direta</p><p>e especificamente por uma norma jurídica, uma prescrição normativa para</p><p>uma hipótese distinta, porém semelhante ao caso cuja solução se está</p><p>buscando. Trata -se de procedimento que serve para integrar a norma jurídica</p><p>a partir de um exame comparativo entre duas situações jurídicas similares,</p><p>aplicando -se à não normatizada a solução dada pela norma à outra que tem</p><p>característica essencial semelhante.</p><p>São pressupostos da analogia:</p><p>■ existência de um caso previsto em lei e de um outro não previsto;</p><p>■ semelhança real entre os casos.</p><p>As modalidades da analogia são:</p><p>■ analogia legis: busca da solução para a lacuna em uma determinada norma;</p><p>■ analogia juris: toma por base um conjunto de normas do qual se extrai</p><p>elementos que possibilitem sua aplicabilidade ao caso concreto não previsto,</p><p>mas similar.</p><p>■ Costume: pode ser utilizado pelo magistrado como método de integração</p><p>da norma jurídica quando, nos termos do art. 4º da LINDB, esgotarem -se</p><p>todas as possibilidades legais para preenchimento da lacuna. Diante de uma</p><p>lacuna, o costume exerce, juntamente com a prática jurisprudencial e a</p><p>doutrina, uma valiosa função reveladora do Direito decorrente do povo,</p><p>principalmente nos casos de lacuna axiológica (quando há lei aplicável ao</p><p>fato, mas ante a injustiça ou inconveniência que sua aplicação traria, deve</p><p>ser afastada) e de lacuna ontológica (quando há desajuste entre os fatos e as</p><p>normas, caindo estas em desuso).</p><p>■ Princípios gerais do direito: são diretrizes para a integração da norma</p><p>jurídica que devem ser utilizados sempre que a analogia e o costume não</p><p>tiverem sido suficientes para o preenchimento da lacuna. Adotando os</p><p>princípios gerais de direito, o magistrado supre a deficiência da ordem</p><p>jurídica e realiza a função normativa desses princípios</p><p>■ Equidade: é elemento de adaptação da norma ao caso concreto e apresenta</p><p>-se como a capacidade que a norma tem de atenuar o seu rigor, adaptando -</p><p>se ao caso sub judice. A equidade, à medida que autoriza o juiz a apreciar,</p><p>segundo a lógica do razoável, interesses e fatos não determinados a priori</p><p>pelo legislador, estabelecendo uma norma individual para o caso concreto,</p><p>confere àquele um poder discricionário (mas não arbitrário). Trata-se de um</p><p>poder conferido ao magistrado para revelar o direito latente.</p><p>A interpretação da norma jurídica é necessária sempre que sua aplicação</p><p>concreta se distancie da ideia abstrata do legislador quando da sua</p><p>elaboração. Toda norma requer interpretação, isto porque a clareza de uma</p><p>norma é sempre relativa, à medida que a mesma disposição normativa pode</p><p>ser clara em sua aplicação a casos mais imediatos e pode ser duvidosa quando</p><p>for aplicada a outras questões que nela possam se enquadrar. Os contornos</p><p>imprecisos das normas jurídicas é que levam à necessidade de interpretação</p><p>de todas elas.</p><p>Interpretar a norma jurídica significa atribuir-lhe um significado, estabelecer</p><p>sua exata extensão e definir a possibilidade de sua aplicação a um</p><p>determinado caso concreto. Várias são as correntes doutrinárias que</p><p>compõem a hermenêutica, delas resultando os seguintes sistemas</p><p>interpretativos:</p><p>■ Sistema Exegético: parte do pressuposto de que o intérprete está preso à</p><p>lei, devendo definir exatamente o seu significado em conformidade com a</p><p>vontade do legislador. Todo direito está na lei, sendo esta, apenas, a</p><p>expressão da vontade do legislador.</p><p>■ Sistema Histórico: parte da premissa de que não basta inquirir a vontade</p><p>geradora da lei, sendo necessário observar também a evolução histórica da</p><p>sociedade para se compreender a vontade da norma no momento de sua</p><p>aplicação. Não se deve apenas observar o que o legislador quis, mas também</p><p>o que ele quereria se vivesse no meio atual e tivesse que enfrentar</p><p>determinado caso concreto, ou se tivesse consciência das necessidades</p><p>contemporâneas de garantias, sequer suspeitadas pelos antepassados.</p><p>■ Sistema Teleológico (ou Finalístico): afirma que a interpretação deve ser</p><p>feita conforme a finalidade da norma, “devendo o intérprete orientar-se pelas</p><p>necessidades práticas a que o direito visa a atender, considerando e</p><p>procurando preservar o necessário equilíbrio entre os interesses em jogo”.</p><p>■ Sistema da Livre Pesquisa Científica: admitindo que a lei não se</p><p>constitui em uma fonte completa e suficiente do direito, tal sistema proclama</p><p>que o juiz, no silêncio</p><p>da lei, deve procurar a solução na natureza objetiva</p><p>das coisas.</p><p>■ Sistema do Direito Livre: a interpretação é um problema metajurídico, “e</p><p>não contendo a lei todos os comandos necessários para abranger todos os</p><p>fatos que ocorrem na vida concreta, a sentença é, também, um ato criativo,</p><p>de justa distribuição do direito. A lei só pode governar para o presente e não</p><p>para o futuro. Sua interpretação é uma constante adaptação da norma às</p><p>contingências”. Portanto, este sistema admite a possibilidade de que o juiz</p><p>possa decidir contra legem.</p><p>A análise acima torna evidente que se interpreta a lei ou segundo a vontade</p><p>do legislador ou segundo as necessidades sociais do momento. Mas o</p><p>problema referente à interpretação da lei não se limita à análise dos sistemas,</p><p>sendo necessário estudar também as técnicas (ou métodos) que podem ser</p><p>utilizadas pelo intérprete na atuação do direito, que são as seguintes:</p><p>■ Interpretação gramatical: pela qual o intérprete busca o sentido literal</p><p>do texto normativo, tentando estabelecer o alcance das palavras empregadas</p><p>pelo legislador que são, em regra, ambíguas ou vagas e não apresentam,</p><p>quase nunca, um sentido unívoco.</p><p>■ Interpretação lógica: pela qual o intérprete emprega raciocínios lógicos</p><p>que levam em consideração os períodos da norma, combinando-os entre si</p><p>com o objetivo de atingir o perfeito alcance e sentido dela. Fazem parte do</p><p>método lógico de interpretação, entre outras, as regras gerais relativas à</p><p>aplicação da lei no espaço (lex loci) e no tempo (lei posterior revoga a</p><p>anterior), bem como o critério da especialidade (lei especial revoga a geral).</p><p>As regras lógicas de interpretação permitem a adoção de uma solução mais</p><p>justa ou precisa para um determinado caso concreto.</p><p>■ Interpretação sistemática: busca estabelecer uma conexão entre os</p><p>diversos textos normativos, ou seja, considera o sistema em que se insere a</p><p>norma, relacionando-a com outras normas que tratam do mesmo objeto.</p><p>Trata -se de uma das técnicas de interpretação mais importantes, pois revela</p><p>uma das tarefas da ciência jurídica, que é estabelecer as conexões</p><p>sistemáticas existentes entre as diversas normas que compõem o</p><p>ordenamento jurídico. Deve o intérprete, portanto, “comparar o texto</p><p>normativo, em exame, com outros do mesmo diploma legal ou de leis</p><p>diversas, mas referentes ao mesmo objeto; pois por umas normas pode-se</p><p>desvendar o sentido das outras. Examinando as normas, conjuntamente, é</p><p>possível verificar o sentido de cada uma delas”.</p><p>■ Interpretação histórica: baseia-se nos antecedentes da norma, referindo-</p><p>se ao seu processo de elaboração, incluindo o aspecto formal (por exemplo,</p><p>tratando-se de lei, o projeto, a exposição de motivos, as emendas) e o aspecto</p><p>fático (condições culturais ou psicológicas sob as quais a norma surgiu).</p><p>■ Interpretação sociológica ou teleológica: tem por objetivo adaptar a</p><p>finalidade das normas às novas exigências sociais e, para atingir este</p><p>objetivo, o intérprete deve procurar o fim, a ratio do preceito normativo para,</p><p>a partir dele, determinar o seu sentido.</p><p>O estudo da interpretação das normas exige ainda a análise dos efeitos que o</p><p>ato interpretativo pode ter e, nesse sentido, fala -se nas seguintes técnicas de</p><p>interpretação:</p><p>■ Interpretação restritiva: as palavras da norma abrangem hipóteses que</p><p>não fazem parte do seu conteúdo, ou seja, o legislador disse mais do que</p><p>queria dizer. Assim, deve o intérprete limitar a incidência do comando</p><p>normativo, impedindo que produza efeitos não pretendidos.</p><p>■ Interpretação extensiva: deve ser utilizada sempre que uma determinada</p><p>norma usar de expressões menos amplas do que a mens legislatoris,</p><p>abrangendo apenas de forma implícita certas hipóteses pretendidas pelo</p><p>legislador; visa atingir-lhe o verdadeiro alcance. O fato já está contido na</p><p>norma, mas suas palavras foram insuficientes para alcançá -lo. Assim, o</p><p>intérprete, agindo dentro das fronteiras da própria norma, vai definir -lhe o</p><p>sentido exato, abarcando todas as situações que a norma contém.</p><p>■ Interpretação autêntica: denominada também interpretação legal ou</p><p>legislativa, é aquela realizada pelo próprio órgão que elaborou a norma</p><p>interpretada e que, por meio de outra norma jurídica, tem por finalidade</p><p>declarar o seu sentido e conteúdo.</p><p>A aplicação: Consiste em fazer incidir a norma jurídica, prevista de forma</p><p>abstrata e genérica, a uma determinada situação concreta. Trata -se de</p><p>operação a ser efetuada pelo juiz, que parteda premissa maior (norma</p><p>jurídica), passa pela premissa menor (fato), para chegar a uma conclusão</p><p>(sentença). Ao aplicar a norma jurídica ao caso concreto, o juiz deve, porém,</p><p>ater-se à sua eficácia temporal (aplicação da norma jurídica no tempo) e à</p><p>sua eficácia espacial (aplicação da norma jurídica no espaço).</p><p>Outro aspecto importante em relação à aplicação da norma diz respeito às</p><p>hipóteses em que há duas ou mais normas possíveis de serem aplicadas ao</p><p>caso concreto, cada uma delas com previsão distinta sobre um mesmo</p><p>aspecto, ou seja, o aplicador do direito se vê diante de duas normas</p><p>conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que possa</p><p>dizer, de plano, qual delas deve ser aplicada na situação específica a ser</p><p>solucionada. Trata-se da chamada antinomia de normas. Segundo a doutrina,</p><p>três são os critérios que podem ser levados em conta para a solução das</p><p>antinomias:</p><p>a) critério cronológico (norma posterior prevalece sobre a anterior);</p><p>b) critério da especialidade (norma especial prevalece sobre norma geral);</p><p>c) critério hierárquico (norma superior prevalece sobre norma inferior).</p><p>-Aplicação no tempo: A questão da aplicação da norma trabalhista no tempo</p><p>refere -se à sua eficácia, à sua vigência. O estudo da eficácia das normas</p><p>trabalhistas deve levar em conta não só as leis, mas também as chamadas</p><p>normas coletivas.</p><p>-Eficácia da lei trabalhista: A lei trabalhista nasce com a promulgação, mas</p><p>somente começa a vigorar com sua publicação no Diário Oficial (art. 3º,</p><p>LINDB). Salvo se dispuser de forma contrária, a lei trabalhista começa a</p><p>vigorar quarenta e cinco dias após oficialmente publicada (art. 1º, caput,</p><p>LINDB). Portanto, a lei torna -se aplicável no dia por ela indicado, ou, na</p><p>falta de indicação expressa, quarenta e cinco dias depois da publicação. No</p><p>entanto, a lei pode fixar um prazo maior entre a data da publicação e o início</p><p>efetivo de sua vigência (aplicabilidade). Este interregno é chamado de</p><p>vacatio legis e destina-se a tornar a lei melhor conhecida e a facilitar a sua</p><p>execução.</p><p>Não é comum a ocorrência da vacatio legis no Direito do Trabalho, dada a</p><p>premência dos fatos sociais que as normas trabalhistas regulam, iniciando -</p><p>se sua vigência normalmente na data de sua publicação. Como exceção, cita-</p><p>se a Lei n. 13.467/2017 (Reforma Trabalhista), que indica vacatio legis de</p><p>120 (cento e vinte) dias (art. 6º). Em relação ao período de vigência, as</p><p>normas jurídicas podem ter:</p><p>■ vigência temporária ou determinada, o que ocorrerá na hipótese de seu</p><p>elaborador fixar seu tempo de duração; ou</p><p>■ vigência para o futuro, sem prazo determinado, com duração até que sejam</p><p>modificadas ou revogadas por outra norma (art. 2º, LINDB). As leis</p><p>trabalhistas normalmente têm vigência para o futuro, não contendo prazo</p><p>determinado de vigência. OBS.: isso não ocorre com as normas coletivas</p><p>(convenção coletiva, acordo coletivo e sentença normativa), que, por suas</p><p>próprias características, têm vigência temporária.</p><p>-Imediatidade e irretroatividade: As leis de proteção ao trabalho são de</p><p>aplicação imediata, atingindo, desde o início de sua vigência, as relações de</p><p>trabalho em curso, imprimindo-lhes, desde logo, os novos preceitos, pouco</p><p>importando que tenham se iniciado sob a égide da lei anterior. A</p><p>imediatidade da aplicação</p><p>da lei no Direito do Trabalho decorre da sua</p><p>natureza de regra imperativa e cogente, sobre a qual se apoiam todos os</p><p>contratos de trabalho. Importante ressaltar, porém, que a imediatidade das</p><p>leis trabalhistas não significa retroatividade.</p><p>Retroatividade: é a aplicação da lei a relações jurídicas já extintas ou</p><p>consumadas.</p><p>Irretroatividade: a lei não atinge os efeitos de atos jurídicos praticados</p><p>anteriormente ao início de sua vigência (as normas trabalhistas têm esta</p><p>característica).</p><p>Isto porque, de acordo com o disposto no art. 5º, XXXVI, da CF e no art. 6º</p><p>da LINDB, a nova norma em vigor tem efeito imediato e geral, mas deve</p><p>sempre respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.</p><p>O princípio da irretroatividade das normas foi adotado expressamente pelo</p><p>legislador trabalhista no art. 912 da CLT que, embora se refira</p><p>expressamente ao texto consolidado, indica o entendimento que deve ser</p><p>adotado em relação a todas as novas normas trabalhistas que entrem em</p><p>vigor: “Os dispositivos de caráter imperativo terão aplicação imediata às</p><p>relações iniciadas, mas não consumadas, antes da vigência desta</p><p>Consolidação”.</p><p>-Revogação e direito adquirido: Segundo o disposto no art. 2º da LINDB,</p><p>a lei terá vigência até que outra a modifique ou revogue. Revogar é tornar</p><p>sem efeito uma norma jurídica, retirando a sua obrigatoriedade. A revogação</p><p>pode ser:</p><p>■ total (ab -rogação); ou</p><p>■ parcial (derrogação);</p><p>■ expressa: quando a nova norma declara extintos os efeitos da norma antiga;</p><p>■ tácita: se houver incompatibilidade entre a lei nova e a antiga, tendo em</p><p>vista que a nova passa a regular inteiramente a matéria tratada na anterior.</p><p>No entanto, diante do disposto no art. 5º, XXXVI, da CF e no art. 6º da</p><p>LINDB, revogada a norma, independentemente da espécie de revogação de</p><p>que se trate, os direitos adquiridos durante sua vigência permanecerão.</p><p>Direito adquirido é aquele que já se incorporou definitivamente ao</p><p>patrimônio e à personalidade de seu titular, que dele não pode ser privado</p><p>pela vontade de terceiros (art. 6º, § 2º, LINDB).</p><p>-Aplicação no espaço: Em razão da soberania estatal, o sistema de direito</p><p>positivo de cada Estado é aplicável no espaço delimitado por suas fronteiras.</p><p>Portanto,as normas jurídicas têm uma vigência espacial, obrigando, como</p><p>regra, somente no território nacional. Trata -se do princípio da</p><p>territorialidade, portanto, a previsão de aplicação é a da lei trabalhista</p><p>brasileira, salvo se a legislação estrangeira for mais favorável,</p><p>independentemente do local da prestação dos serviços.</p><p>■ Técnicos estrangeiros domiciliados ou residentes no exterior e que sejam</p><p>contratados para a execução de serviços especializados no Brasil, em caráter</p><p>provisório: assegurada a aplicação das normas trabalhistas brasileiras.</p><p>■ Trabalhadores brasileiros que vão prestar serviços no exterior: a Lei n.</p><p>7.064/82, determina a aplicação da legislação trabalhista brasileira “quando</p><p>mais favorável do que a legislação territorial, no conjunto de normas e em</p><p>relação a cada matéria” (art. 3º, II). Assim, aplica -se ora a lei brasileira, ora</p><p>a lei do local da prestação dos serviços, conforme a que seja mais favorável</p><p>ao trabalhador (aplicação concomitante de dois elementos de conexão).</p><p>■ As diretrizes fixadas pela Lei n. 7.064/82 são universais, devendo ser</p><p>aplicadas a todo trabalhador brasileiro contratado ou transferido para prestar</p><p>serviços no exterior.</p><p>■ Marítimos em geral: em relação a este tipo de trabalhadores, Délio</p><p>Maranhão esclarece que é aplicável a lei do pavilhão da embarcação. No</p><p>entanto, afirma que não se trata de regra absoluta, que “pode sofrer</p><p>limitações impostas pela lex loci executionis ou pela lex loci contractus.</p><p>■ Marítimos e aeronautas de empresas brasileiras, contratados no Brasil,</p><p>prestando serviços nas embarcações ou aeronaves em viagens internacionais:</p><p>aplica -se a legislação trabalhista brasileira, salvo se houver estipulação mais</p><p>favorável expressa.</p><p>Princípios no Processo do Trabalho</p><p>Princípios processuais trabalhistas</p><p>A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)é um diploma normativo</p><p>híbrido, tendo em vista que possui normas de direito material e de direito</p><p>processual, nos planos individual e coletivo, e por isso estabelece princípios</p><p>próprios no direito material e processual trabalhista. Nesse contexto,</p><p>emergem os princípios processuais trabalhistas, sendo eles: o da</p><p>informalidade; o da conciliação; o da celeridade; o da simplicidade; o da</p><p>supletividade e subsidiariedade; o da oralidade; e o da normatização coletiva.</p><p>Celeridade</p><p>Tendo em vista que o objeto tutelado pelo processo do trabalho é justamente</p><p>o trabalho que o homem realiza e dele depende para sua sobrevivência,</p><p>inclusão social e melhoria da condição socioeconômica, naturalmente que o</p><p>seu procedimento deve ser permeado de celeridade.</p><p>Nesse tópico destacam-se os arts. 785 e 841, § 2°, da CLT, que determinam</p><p>que o reclamante receberá, no ato da distribuição da demanda, um recibo que</p><p>constará essencialmente o seu nome e o da reclamada, a data da distribuição,</p><p>o objeto da demanda e a Vara do Trabalho em que ela foi distribuída, bem</p><p>como ficará intimado da data e do horário da audiência.</p><p>A celeridade fica cristalina no processo do trabalho por meio do art. 841,</p><p>caput, da CLT, que estabelece a sistemática da citação e da designação da</p><p>audiência trabalhista, informando que, ajuizada a ação trabalhista, o escrivão</p><p>ou o secretário, dentro de 48 horas, remeterá a segunda ria da petição, ou do</p><p>termo, ao reclamado, notificando-o, ao mesmo tempo, para comparecer à</p><p>audiência de julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de cinco</p><p>dias.</p><p>Aliás, a celeridade processual trabalhista fica cabalmente demonstrada com</p><p>a existência do depósito recursal estabelecido no art. 899 da CLT, que tem</p><p>como escopo precípuo garantir a tutela satisfativa, obrigando a parte</p><p>sucumbente, para recorrer (em sede de recurso ordinário, recurso de revista</p><p>e agravo de instrumento), a depositar em juízo valor pecuniário estipulado</p><p>do Tribunal Superior do Trabalho ou substituí-lo por fiança bancária ou por</p><p>seguro garantia judicial, que serão utilizados na fase de cumprimento da</p><p>sentença de maneira imediata.</p><p>Outro exemplo da celeridade processual é a irrecorribilidade imediata das</p><p>decisões interlocutórias, prevista no art. 893, § 1º, da CLT e na Súmula 214</p><p>do TST. Justamente por esse contexto que o crédito advindo do processo do</p><p>trabalho possui natureza alimentar (art. 100, § 1º, da CF/88).</p><p>Simplicidade</p><p>O destinatário final das normas processuais trabalhistas é trabalhador e, por</p><p>isso, seu procedimento é mais simples, informal e de melhor compreensão</p><p>por todos da sociedade civil, facilitando assim o acesso à justiça e a</p><p>interpretação dos direitos que lhes são destinados. Ou seja, o processo do</p><p>trabalho é simples por sua própria natureza e não poderia ser de outra forma</p><p>quando se assegura aos leigos o jus postulandi e em face mesmo de sua</p><p>natureza instrumental. Não seria admissível criar procedimentos</p><p>demasiadamente formais, acessíveis apenas aos técnicos, e, ao mesmo</p><p>tempo, permitir que os leigos possam pessoalmente se dirigir à Justiça do</p><p>Trabalho, seja como autor, seja como réu.</p><p>Diga-se, ainda, que a aplicação de normas que estabelecem ritos ou atos</p><p>processuais excessivamente formais apenas desfigura o processo do</p><p>trabalho, aproximando-o do civil e, pois, burocratizando-o e fugindo à sua</p><p>essência, qual seja, a de servir de instrumento ágil e célere à satisfação do</p><p>direito material trabalhista, tutelar por natureza.</p><p>Informalidade</p><p>Os artigos 791, 825, 840, 841, 846, 899, todos da CLT , constituem a base</p><p>normativa desse princípio, fazendo com que o processo do trabalho seja mais</p><p>informal e ágil e menos burocrático quando comparado ao processo</p><p>civil. O</p><p>acesso à justiça é mais fácil, a linguagem estabelecida nas normas</p><p>trabalhistas é mais simples e a prática dos atos processuais é objetiva e menos</p><p>burocrática, permitindo assim que o trâmite processual seja de maior</p><p>celeridade, facilitando até mesmo a compreensão por parte do</p><p>jurisdicionado.</p><p>Conciliação</p><p>A conciliação, modelo de autocomposição, é uma das principais</p><p>características do processo do trabalho, sendo que a sua prática é prevista em</p><p>diversos comandos celetistas, como é o caso dos arts. 764, e 850, sendo que</p><p>esses dois últimos artigos obrigam que a conciliação seja ofertada em dois</p><p>momentos distintos durante a audiência: antes do recebimento da defesa e</p><p>após o prazo das razões finais.</p><p>Destaca-se que, na ausência de qualquer proposta conciliatória na audiência</p><p>(arts. 846 e 850, ambos da CLT), decreta-se a sua nulidade, corolário lógico</p><p>de todos os demais atos praticados, inclusive da sentença que dela advém.</p><p>Na verdade, a conciliação faz parte e acompanha a Justiça do Trabalho desde</p><p>o seu nascedouro, representando um protagonismo na resolução dos</p><p>conflitos trabalhistas, permitindo que as partes participem ativamente na</p><p>construção do comando decisório.</p><p>Impende salientar que o juiz trabalhista não é obrigado a homologar o</p><p>acordo, tendo em vista a homologação não constituir direito líquido e certo</p><p>das partes, conforme Súmula 418 do TST. Por isso, o magistrado, antes de</p><p>homologar, deve analisar com bastante acuidade o acordo extrajudicial, não</p><p>podendo permitir a renúncia de direitos trabalhistas (tendo em vista o</p><p>princípio da irrenunciabilidade), as matérias de ordem pública, devendo</p><p>observar também a extensão da quitação (não podendo ser admitida a</p><p>eficácia liberatória geral).</p><p>A decisão homologatória do acordo é irrecorrível, havendo o trânsito em</p><p>julgado no momento da homologação (parágrafo único do art. 831 da CLT),</p><p>salvo quanto aos valores devidos à Previdência Social. Por isso, caso a parte</p><p>queira impugnar o termo conciliatório, deverá ajuizar uma ação rescisória</p><p>(Súmula 259 do TST).</p><p>Supletividade e subsidiariedade</p><p>Por meio desses princípios, permite-se que as normas do Código de Processo</p><p>Civil sejam aplicáveis ao Direito Processual do Trabalho; mas, para que isso</p><p>ocorra, é fundamental o preenchimento de dois requisitos: omissão</p><p>normativa trabalhista brasileira e compatibilidade nas normas do CPC/15</p><p>com os princípios e com as regras trabalhistas, conforme assim determinam</p><p>o art. 769 da CLT e o art. 15 do CPC. A subsidiariedade é quando a omissão</p><p>normativa trabalhista temática é total e existe a compatibilidade com os</p><p>princípios e as regras trabalhistas.</p><p>Oralidade</p><p>O processo do trabalho em sua essência é constituído por um procedimento</p><p>que essencialmente é oral, tendo em vista uma série de sustentáculos que</p><p>assim o conduzem, como é a concentração dos atos processuais em</p><p>audiência, a possibilidade de apresentação da petição inicial dos dissídios</p><p>individuais e coletivos, (art. 791 c/c art. 840, ambos da CLT), da defesa (art.</p><p>847 da CLT), do recurso para o TRT (Súmula 425 do TST) e apresentação</p><p>de razões finais de maneira verbal (art. 850 da CLT) e a identidade física do</p><p>juiz (art. 850 da CLT).</p><p>Normatização coletiva</p><p>Esse princípio decorre do poder normativo da Justiça do Trabalho, que é a</p><p>capacidade que ela possui de solucionar os conflitos coletivos de maneira</p><p>abstrata, criando normas dentro dos parâmetros constitucionais, destinadas e</p><p>aplicáveis às categorias profissional e económica envolvidas no conflito. Por</p><p>meio do dissídio coletivo económico, com instância originária no Tribunal</p><p>Regional do Trabalho ou no Tribunal Superior do Trabalho, a Justiça do</p><p>Trabalho faz uso do poder normativo, uma competência anómala que lhe é</p><p>atribuída (art. 114, § 2°, da CF/88), e soluciona um conflito coletivo via</p><p>sentença normativa, criando normas que irão regulamentar os contratos</p><p>individuais de trabalho da categoria representada, constituindo direitos e</p><p>deveres para as categorias profissional e económica.</p>

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