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<p>COLEÇÃO</p><p>PSICOLOGIA TRANSPESSOAL</p><p>1</p><p>Orientação editorial</p><p>DR. PIERRE WEIL</p><p>A CONSCIÊNCIA</p><p>CÓSMICA</p><p>Introdução à Psicologia</p><p>Transpessoal</p><p>PIERRE WEIL</p><p>3’ edição</p><p>PETRÓPOLIS</p><p>EDITORA VOZES LTDA.</p><p>1982</p><p>© 1976, Editora Vozes Ltda.</p><p>Rua Frei Luís, 100</p><p>25.600 Petrópolis, RJ.</p><p>Brasil</p><p>8' CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE S FRANCISCO DE ASSIS 1181- 1981</p><p>Sumário</p><p>1. PSICOLOGIA TRANSPESSOAL, 7</p><p>Histórico, 7</p><p>Definição da Psicologia Transpessoal, 8</p><p>Metodologia da Psicologia Transpessoal, 9</p><p>Resumo das Primeiras Hipóteses e Descobertas, 10</p><p>Importância da Psicologia Transpessoal no Mundo Moderno, 13</p><p>Algumas Observações Importantes, 14</p><p>2. A CONSCIÊNCIA CÓSMICA, 17</p><p>O Problema dos Sinônimos, 17</p><p>Descrição Sumária e Exemplos, 19</p><p>Análise de Conteúdo, 23</p><p>Os Critérios da Consciência Cósmica, 25</p><p>Sugestões para Investigações Futuras, 27</p><p>3. FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS</p><p>DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL, 29</p><p>Duas Maneiras de Pesquisar a Realidade, 29</p><p>Comparação das Duas Abordagens, 30</p><p>Lei da Causalidade e Determinismo, 30</p><p>Toda Objetividade é Subjetiva, 31</p><p>Se Eu Penso não Sou, 32</p><p>Validação Consensual, 32</p><p>O Segredo Protetor, 33</p><p>Observadores Treinados, 33</p><p>Semelhanças e Diferenças, 34</p><p>Ciências de Estados de Consciência CEC 1 e CEC 2, 35</p><p>Algumas Hipóteses Básicas, 30</p><p>4. HIPÓTESES BÁSICAS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL, 37</p><p>Enunciado das Hipóteses, 37</p><p>Um Postulado Subjacente, 39</p><p>Consciência Cósmica e Física Moderna, 39</p><p>Outros Sentidos, 41</p><p>Aparelhos do Homem e no Homem, 42</p><p>A Mente como Nave Espacial, 43</p><p>Além da Fronteira do Nascimento, da Morte e da Energia, 48</p><p>Os Três Caminhos, 49</p><p>Ego, Self e Metaprograma, 53</p><p>PSI, PK e Consciência Cósmica, 54</p><p>Ondas alfa, teta e delta, 56</p><p>Importância da Vibração Sonora, 59</p><p>A Pulsão de Procura da Unidade, 60</p><p>A Saudade do Paraíso Perdido como Força Propulsora</p><p>da Procura da Consciência Cósmica, 61</p><p>Alucinação, Realidade Quotidiana e Cósmica, 63</p><p>Economia Energética, 67</p><p>Fé e Efeito Placebo, 70</p><p>Relax, Respiração e Dissolução do Pensamento, 71</p><p>Dissolução do Ego e Ampliação do Campo da Consciência, 72</p><p>Cosmopsicologia, Cosmoterapia e Cosmoeducação, 72</p><p>Contribuição dos Ramos da Psicologia, 75</p><p>5. DUAS REALIDADES OU UMA SÓ?, 77</p><p>Certeza Experimental e Experiencial, 77</p><p>O Problema das Duas Realidades, 77</p><p>Qual das Duas Realidades é Real?, 81</p><p>Índice Alfabético das Citações Bibliográficas, 83</p><p>Programa de Leitura de Artigos Agrupados por Ramos</p><p>da Psicologia Transpessoal, 87</p><p>1</p><p>A Psicologia Transpessoal</p><p>Histórico</p><p>Ao longo de toda a história da humanidade, têm surgido</p><p>certas pessoas, mais particularmente sábios e santos, que</p><p>declaram ter tido contato direto com a Verdade, ter tido uma</p><p>intuição muito forte e indescritível de uma dimensão</p><p>diferente daquela vivida pelo comum dos mortais. As es-</p><p>crituras sagradas de todas as religiões narram tais casos,</p><p>tanto na antiguidade como na época moderna.</p><p>Muitas destas pessoas são por demais conhecidas como</p><p>Krishna, Gautama o Buda, Moisés, Ezequiel, Ramakrishna,</p><p>Rama Maharishi, Teresa d’Avila, João da Cruz e são repre-</p><p>sentativos de correntes filosóficas ou religiosas; outros, no</p><p>entanto, são desconhecidos e fazem parte do comum dos</p><p>mortais; em geral guardam este tipo de experiência para si,</p><p>seja por considerá-la assunto demasiado íntimo, seja por</p><p>medo de não serem compreendidos ou tachados de loucos.</p><p>De vez em quando, homens de ciência são sujeitos a ela, (’ às</p><p>vezes a tornam pública em caráter póstumo como foi por</p><p>exemplo o caso de Jung.</p><p>Vários nomes foram dados a este tipo de experiência,</p><p>tais como: êxtase místico, experiência mística, experiência</p><p>cósmica, consciência cósmica, experiência oceânica,</p><p>experiência transcendental, Nirvana, Samadhi, Satori, Reino</p><p>do Céu, Sétimo Céu, etc.</p><p>Métodos e técnicas bastante antigos foram elaborados</p><p>para se chegar a obter os seus resultados. Entre eles pode-</p><p>mos assinalar os diferentes métodos de Ioga, o Sufismo, o</p><p>Za-zen, o Tai-Chi, diferentes técnicas de meditação, a Teo-</p><p>sofia, o Rosa-Cruzismo, a Cabbala judaica, a Maçonaria, a</p><p>Alquimia, os exercícios de Inácio de Loiola. A história e</p><p>antropologia da Religião, mais particularmente Mircea Elia</p><p>de, têm demonstrado haver bastante semelhança e conver-</p><p>gência entre todos estes modos. René Guénon insiste mesmo</p><p>na existência de um tronco comum que ele chama de “a</p><p>Tradição”.</p><p>Nestes quinze últimos anos, tem-se notado, particular-</p><p>mente nos Estados Unidos, um aumento de interesse em torno</p><p>deste tipo de experiência, mas desta vez nos meios científicos.</p><p>Vários fatores têm contribuído para isto. Em Psiquiatria, o uso</p><p>de drogas psicodélicas, mais particularmente o ácido lisérgico</p><p>LSD, colocou em relevo a existência de uma entrada em outra</p><p>dimensão e de um alargamento do campo da consciência,</p><p>provocando a chamada experiência cósmica ou ASC (Altered</p><p>State of Consciousness). Os trabalhos de Einstein e dos Físicos</p><p>modernos colocaram em evidência a existência de dimensões</p><p>fora do tempo e do espaço, de antimatéria e mesmo de</p><p>antiuniversos. As viagens espaciais por sua vez parecem</p><p>também excitar a imaginação do público sobre estes assuntos,</p><p>provocando indagações sobre a posição do homem no cosmo.</p><p>A facilidade das comunicações aproximou o Oriente do</p><p>Ocidente e inúmeras pesquisas psicofisiológicas colocaram em</p><p>destaque modificações somáticas mais particularmente</p><p>bioelétricas de grandes místicos em estado de êxtase. Em</p><p>psicoterapia, por sua vez, tem-se notado a influência</p><p>terapêutica de certos tipos de experiência culminante (Peak-</p><p>Experience de Maslow) com modificação do sistema de valores.</p><p>Todos estes fatos têm contribuído para que surja um novo</p><p>ramo da Psicologia, a Psicologia Transpessoal que passaremos</p><p>a definir agora.</p><p>Definição da Psicologia Transpessoal</p><p>A psicologia transpessoal é um termo que parece ter sido usado</p><p>pela primeira vez por Roberto Assagioli, o criador da</p><p>Psicossíntese, e também por Jung.</p><p>Em 1969 surge nos Estados Unidos a primeira Associação</p><p>de Psicologia Transpessoal que publica uma revista de</p><p>Psicologia Transpessoal, tendo como editores entre outros</p><p>Anthony Sutich, Michael Murphy e James Fadiman. Entre os</p><p>seus membros, figuram nomes tais como: Charlotte Buhler,</p><p>Abraham Maslow, Allan Watts, Arthur Koestler, Viktor Frankl.</p><p>Convém lembrar que já em 1966 surgia no Canadá uma</p><p>revista consagrada ao estudo da consciência cósmica, sob a</p><p>direção de um psiquiatra, Raymond Prince.</p><p>A Psicologia Transpessoal é um ramo da Psicologia es-</p><p>pecializada no estudo dos estados de consciência; ela lida mais</p><p>especialmente com a “experiência cósmica” ou os estados ditos</p><p>“superiores” ou “ampliados” da consciência.</p><p>Estes estados consistem na entrada numa dimensão fora</p><p>da do espaço-tempo tal como costuma ser percebida pelos</p><p>nossos cinco sentidos. E’ uma ampliação da consciência co-</p><p>mum com visão direta de uma realidade que se aproxima muito</p><p>dos conceitos da física moderna.</p><p>Metodologia da Psicologia Transpessoal</p><p>Pelos artigos e livros que estão saindo numa progressão geo-</p><p>métrica, pode-se delinear um conjunto de tendências meto-</p><p>dológicas. De um lado, reconhece-se facilmente a influência</p><p>direta ou indireta dos diferentes ramos da psicologia ocidental:</p><p>experimental, fisiológica, patológica, clínica, evolutiva,</p><p>behaviorista, gestaltista, psicanalítica, existencial,</p><p>humanística.</p><p>De outro lado, pode-se diagnosticar uma forte influência</p><p>dos métodos orientais tais como o Ioga, o Zen e o Sufismo seja</p><p>como objeto de estudo, seja como fonte de inspiração.</p><p>Além disto a Psicologia Transpessoal lança mão de outras</p><p>ciências tais como: a Física, Biofísica, Genética, Farmacologia,</p><p>Hipnologia, Neurologia, Psiquiatria, Sociologia, Antropologia,</p><p>entre outras.</p><p>Convém dar um destaque à Parapsicologia. Esta ciência</p><p>tem, como se sabe, o objetivo de estudar certos “poderes”</p><p>chamados “paranormais”, usando mais especialmente mé-</p><p>todos psicométricos tradicionais.</p><p>fato nos leva a emitir uma outra hipótese.</p><p>A Mente como Nave Espacial</p><p>4ª HIPÓTESE: A investigação de áreas lineares ou fora da dimensão tempo-</p><p>espaço só pode ser feita a partir de função ou funções existentes no homem.</p><p>A teoria da relatividade de Einstein, como já o disse-</p><p>mos, foi intuída por ele antes de ser demonstrada matema-</p><p>ticamente. Ela insiste sobre a noção de “campo”, sendo po-</p><p>rém difícil fundamentar a física sobre esta teoria, o que a</p><p>obriga a continuar a operar na dualidade campo-matéria. Em</p><p>estado de “consciência cósmica”, como já o mostramos</p><p>ulteriormente, o homem percebe diretamente uma unidade</p><p>que transcende a dualidade matéria-energia.</p><p>A própria geometrodinâmica, a partir da teoria especial</p><p>da relatividade, já demonstrou que uma nave espacial que</p><p>quereria alcançar a velocidade da luz, a fim de poder chegar</p><p>à galáxias mais longínquas, se veria reduzida a zero no</p><p>tamanho, isto é, passaria a não existir. A sua massa alcançaria</p><p>o infinito, a duração cairia a zero; em outras palavras, não</p><p>existe veículo capaz de entrar numa zona fora do tempo-</p><p>espaço. Nesta zona ou “superespaço” existem Black Holes”</p><p>localizados por Joseph Weber de Princeton • “White Holes”,</p><p>por onde desaparecem e reaparecem estrelas das galáxias.</p><p>Estes “buracos” pretos e brancos seriam u porta de entrada e</p><p>saída neste superespaço. As galáxias formariam, segundo</p><p>Wheeler, um anel que caracterizaria o universo. Passar por</p><p>este anel seria impossível, pois ele está na dimensão tempo-</p><p>espaço, e uma nave à escala humana jamais poderia fazer esta</p><p>travessia. Porém seria ma- tematicamente possível efetuar a</p><p>travessia dentro do anel, onde existem estes “buracos” fora</p><p>do espaço-tempo. Eis, a título ilustrativo, uma demonstração</p><p>matemática da dimi- nuição da espaçonave, do aumento da</p><p>massa e da diminui- ção tempo, em função do aumento da</p><p>velocidade (cf. p.48).</p><p>A nossa hipótese é de que a espaçonave reduzida a zero,</p><p>e capaz entrar nos “buracos pretos” fora do espaço-tempo, é</p><p>a própria mente humana. Com efeito, já ficou comprovado que ela</p><p>gera um fator PSI, que é capaz de entrar ins- tantaneamente</p><p>em contato com qualquer ponto do univer- so. Não é por</p><p>acaso que o astronauta Mitchell acaba de publicar uma</p><p>enciclopédia sobre a exploração psíquica (Mihhell, 1974).</p><p>Em que ponto ou nível de consciência se situa esta</p><p>capacidade de perceber esta realidade? E’ para oferecer uma</p><p>tentativa de resposta que propomos a hipótese seguinte.</p><p>Velocidade da</p><p>espaçonave em % da</p><p>velocidade da luz</p><p>Comprimento da</p><p>espaçonave em metros</p><p>Massa em</p><p>toneladas</p><p>Duração em</p><p>minutos, da “hora”</p><p>na espaçonave</p><p>(Terra = 60)</p><p>0 91,40 100,00* 60,00</p><p>10 90,95 100,50 59,52</p><p>20 89,55 102,10 58,70</p><p>30 87,18 104,83 57,20</p><p>40 83,70 109,11 55,00</p><p>50 79,15 115,47 52,10</p><p>60 73,12 125,00 48,00</p><p>70 05,20 140,03 42,75</p><p>80 54,84 166,67 36,00</p><p>90 39,84 229,42 26,18</p><p>95 28,53 320,26 18,71</p><p>99 12,89 708,88 8,53</p><p>99,9 4,08 2.236,63 2,78</p><p>99,997 0,64 14.142,20 1,17</p><p>100 zero infinito zero</p><p>Além da Fronteira do Nascimento, da Morte e da Energia</p><p>5ª HIPÓTESE: A consciência cósmica se situa num nível existente antes do início</p><p>da filogênese ou no fim da ontogênese. isto é, antes do nascimento, depois da</p><p>morte.</p><p>São vários os fatos que nos levam a emitir este postulado:</p><p>1º) Como já o vimos, um dos critérios usados para</p><p>reconhecer a realidade da experiência cósmica é o completo</p><p>desaparecimento do medo da morte. As pessoas viveram uma</p><p>experiência demonstrativa da existência de uma realidade</p><p>eterna, da qual somos parte integrante.</p><p>2º) Como já o vimos também, a macro e a microfísica</p><p>insistem na existência de uma “zona” fora do tempo e espaço</p><p>de onde emana a energia, do átomo ao quasar.</p><p>3º) Os grandes Ioguins que viveram dimensão desta na-</p><p>tureza descrevem um “ciclo” de eterno recomeço: emana-</p><p>ção-manifestação-reabsorção, ciclo simbolizado pelos</p><p>antigos e no esoterismo atual pela serpente ou o dragão que</p><p>se morde a cauda.</p><p>Retomamos esta idéia para demonstrar de modo visual</p><p>este nosso postulado. Simbolizamos o ponto de partida pelo</p><p>sinal de infinito, de onde parte e onde chega o círculo; é o</p><p>ponto que corresponde à zona fora do tempo-espaço. O ciclo</p><p>emanação-manifestação-reabsorção no universo pode ser</p><p>representado da seguinte forma:</p><p>Assim também podemos simbolizar o ciclo nascimento-</p><p>existência-morte:</p><p>Chegar à consciência cósmica consiste em alargar o</p><p>campo da percepção de tal modo a entrar nas condições da</p><p>zona simbolizada pelo infinito. Isto nos leva à sexta hipótese.</p><p>Os Três Caminhos</p><p>6ª HIPÓTESE: Todos os processos de entrada na consciência cósmica</p><p>consistem em chegar “in vivo" e com plena consciência de vigília no nível</p><p>definido pela quinta hipótese; eles implicam, por conseguinte, uma via</p><p>evolutiva, regressiva ou direta.</p><p>Diferentes correntes estão se delineando em Psicologia</p><p>Emanação Reabsorção</p><p>Transpessoal, cada uma advogando ou colocando em relevo</p><p>determinado processo de se chegar à consciência cósmica.</p><p>Para uns, mais particularmente os psicanalistas a partir</p><p>de Freud, a consciência cósmica seria uma regressão à união</p><p>primordial com a mãe, ao estado de fusão com o primeiro</p><p>objeto parcial que é o seio, ou mesmo uma regressão intra-</p><p>uterina. Seria, segundo Prince e Savage, uma “regressão a</p><p>serviço do ego”. Os trabalhos de Leary e mais recentemente</p><p>de Stanislaw Grof confirmaram este ponto de vista</p><p>regressivo; mas falam de uma possibilidade de se chegar a</p><p>regressões extremamente arcaicas, não somente onto-</p><p>genéticas, mas também filogenéticas. Baseado nestes e ou-</p><p>tros trabalhos, emitimos a hipótese (Weil 1974) de que a</p><p>verdadeira “fusão” não se situa em nível intra-uterino, mas</p><p>num nível regressivo pré-energético; a regressão passaria por</p><p>cinco fases, a saber:</p><p>1. Pós-uterina, bem conhecida dos psicanalistas.</p><p>2. Intra-uterina.</p><p>3. Pré-uterina (Fecundação).</p><p>4. Programa genético (ancestral, animal, vegetal, mineral, atômico e</p><p>energético).</p><p>5. Metaprograma (Zona fora do tempo-espaço, de potencialização da</p><p>energia).</p><p>Esta hipótese se fundamenta na existência de uma con-</p><p>tinuidade de vida e de uma memória celular extracerebral e</p><p>nervosa, onde o ARN seria depositário de memórias an-</p><p>cestrais e filogenéticas, incluindo o metaprograma, usando</p><p>uma expressão de John Lilly, tirada do seu sistema de</p><p>“Biocomputador”.</p><p>Como já o mostrei em outro trabalho, o ioga, através dos</p><p>seus exercícios psicofísicos, também é um método que leva a</p><p>uma regressão intra-uterina e pré-uterina; não me refiro ao</p><p>ioga superficial de emagrecimento e manutenção da saúde,</p><p>mas ao ioga tomado como ascese mística, incluindo a</p><p>meditação.</p><p>A hipnose permite também chegar a certos estágios de</p><p>regressão profunda em que alcança vidas passadas e mesmo</p><p>estados lembrando a consciência cósmica (Tart, 1969).</p><p>No nosso esquema simbólico todos estes métodos</p><p>consiste ui em voltar no túnel do tempo ao ponto de origem</p><p>do átomo c das estrelas.</p><p>Uma tese oposta é a segundo a qual a consciência cós-</p><p>mica seria um estágio “superior” de consciência, fruto de um</p><p>longo trabalho de escola sobre si mesmo. Encontramos este</p><p>ponto de vista em todas as escolas esotéricas, e ele é</p><p>magnificamente desenvolvido por Ouspanski, inspirado no</p><p>seu mestre Gurdjieff; a evolução para consciência cósmica</p><p>passaria por três estágios iniciais que corresponderiam a três</p><p>tipos de homem:</p><p>- O instintivo</p><p>- O emocional</p><p>- O mental</p><p>Só a partir de um quarto estágio de consciência destes</p><p>três primeiros é que começa a pessoa a se aproximar da</p><p>consciência cósmica. O homem “adormecido” nos seus três</p><p>primeiros degraus precisa “acordar” de um estado quase</p><p>Hipnótico. Este acordar se faz graças a métodos e técnicas de</p><p>constante conscientização, no aqui e agora do campo total em</p><p>que o indivíduo atua.</p><p>Os sistemas de Ioga, hinduísta ou budista, também se</p><p>apresentam como sendo sistemas evolutivos, variando de</p><p>cinco, sete ou mesmo nove estágios</p><p>diferentes. Mas se nós</p><p>olharmos mais de perto as técnicas utilizadas, vamos</p><p>constatar que muitas delas são geradoras de estados</p><p>regressivos; elas aplicam o princípio de Jesus que afirmava</p><p>que para ganhar o “reino do céu” é preciso voltar a ser criança</p><p>pequena. Além de isolar o indivíduo das percepções do</p><p>mundo exterior, de descondicionar e desautomatizar o</p><p>adepto, elas o levam a estados de profunda regressão. Aqui</p><p>convém ressaltar que se trata de regressões conscientes e</p><p>Evolução</p><p>Regressão</p><p>Caminho direto</p><p>acompanhadas de um progresso notável na adoção de</p><p>sistemas de valores dos mais altos da humanidade; assim</p><p>sendo, tudo indica que se trata de “regressões evolutivas”, em</p><p>direção a esta zona isenta de tempo-espaço onde, por</p><p>conseguinte, não tem mais sentido falar em evolução ou</p><p>regressão, já que nela não existe nem passado nem futuro...</p><p>Tudo indica que esta noção de evolução-regressão seja</p><p>mais uma das dualidades que caracterizam o nosso mundo de</p><p>cinco sentidos e a nossa CEC 1.</p><p>Resta a examinar um terceiro “caminho”; no nosso es-</p><p>quema teórico o chamamos de caminho direto. Este caminho</p><p>é o do sono profundo. Há inúmeros índices disto na literatura</p><p>esotérica, confirmados em parte pelos estudos sobre os</p><p>diferentes estados de consciência existentes entre o estado de</p><p>vigília e o de sono profundo. Paul Brunton insiste muito sobre</p><p>a existência de um ponto situado entre o sono e o estado de</p><p>vigília que, se for dominado, leva à consciência cósmica.</p><p>Sabemos que os grandes ioguins conseguem dormir ficando</p><p>completamente conscientes de tudo que se passa ao redor;</p><p>eles afirmam que neste estado saímos do nosso corpo ou nos</p><p>colocamos em contato com qualquer ponto das galáxias ou</p><p>fora do espaço-tempo. E’ lá que todas as noites nós iríamos</p><p>buscar as nossas novas forças energéticas. Além disto, já se</p><p>demonstrou que é possível, dentro do Ioga, produzir ondas</p><p>delta específicas do sono profundo, em estado de vigília;</p><p>normalmente estas ondas nunca aparecem neste estado.</p><p>E’ possível que mesmo o caminho direto do sono</p><p>profundo, consciente, seja também acompanhado de</p><p>fenômenos regressivos; basta citar a este respeito a postura</p><p>fetal em que ficam muitos durante o sono.</p><p>Algumas palavras ainda a respeito do êxtase amoroso</p><p>Alguns autores insistem sobre certos fenômenos de natureza</p><p>“cósmica” que acontecem em alguns casais durante o coito.</p><p>Estas observações coincidem com as vistas do Ioga Tântrico,</p><p>que inclui certas técnicas de retenção do orgasmo, levando à</p><p>consciência cósmica (Weil 1973). Parece se tratar também de</p><p>uma via direta; convém lembrar, porém, os caracteres</p><p>regressivos da relação amorosa já assinalados por Ferenczi</p><p>que sugere até que a relação amorosa seria uma regressão a</p><p>estágios filogenéticos marinhos (regressão talassiana).</p><p>Ego, Self e Metaprograma</p><p>7ª HIPÓTESE: Existe dentro de cada pessoa um "algo” preexistente ao seu</p><p>nascimento e integrado dentro da área fora do Tempo-espaço.</p><p>Esta hipótese decorre diretamente da precedente, pois se</p><p>o homem consegue, em nível de consciência cósmica, se</p><p>perceber a si mesmo como fazendo parte una com o cosmo e</p><p>ao mesmo tempo eterno, é que “algo” dentro dele é realmente</p><p>eterno.</p><p>Em termos de teoria da relatividade, o corpo humano,</p><p>sendo matéria, é por conseguinte um corpo energético. Como</p><p>tal ele é tão eterno quanto a própria energia. O “algo” a que</p><p>.... refiro seria então a própria energia. A experiência cós-</p><p>mica seria então um fenômeno paradoxal, a energia se con-</p><p>templando a si própria.</p><p>A ilusão da dualidade ou mundo exterior está muito bem</p><p>ilustrada por uma comparação tirada da tradição budista. O</p><p>mar constitui uma unidade; mas as ondas, comparadas umas</p><p>com as outras, são pluralidade. As ondas podem ser</p><p>comparadas com o nosso ego; cada ego olhando para outro</p><p>ego, cada onda olhando para outra onda, tem a ilusão de ser</p><p>diferente; na realidade faz parte de um só mar; o ego</p><p>.... da e mar ao mesmo tempo; ele é individualidade e</p><p>unidade simultaneamente.</p><p>Una outra comparação tirada também do budismo é a</p><p>seguinte: se nós colocamos dentro da água um vaso vazio, ele</p><p>se enche de água; ele está cercado de água e tem água dentro</p><p>de si; se quebramos este vaso, só resta o mar; o vaso é o ego</p><p>que nos impede de ver que somos também o mar. A</p><p>experiência cósmica consiste numa dissolução do vaso.</p><p>Assim sendo, o ego individual funda-se num ego universal; o</p><p>self de Jung tem como correspondência o que Assagioli</p><p>chama de “Self” universal com maiúscula. A inteligência, o</p><p>pensamento, a imaginação individual fariam assim parte de</p><p>um grande pensamento universal. Mesmo para o físico, como</p><p>expressou com ênfase Sir James Jean, o universo “começa a</p><p>parecer mais um grande pensamento do que uma grande</p><p>máquina”. Esta afirmação nos coloca muito perto do Atman</p><p>e Brahman hinduístas; Atman é o Brahman dentro de cada</p><p>pessoa; Brahman é a mente universal enquanto que Atman é</p><p>a mente individual; dualidade apenas aparente.</p><p>As teorias da física moderna vêm ao encontro desta con-</p><p>cepção; depois da fragmentação do tão cômodo ternário:</p><p>elétron, próton, nêutron em partículas menores ainda, surgiu</p><p>a descoberta de uma delas, já antevista por Pauli: o neu-</p><p>trino, que não é atraído por campo eletromagnético e pode</p><p>alcançar velocidade da luz ou superior a ela; o neutrino foge</p><p>às dimensões tempo-espaço e atravessa qualquer matéria</p><p>sem nenhuma resistência. A partir desta descoberta, físicos,</p><p>aceitando as descobertas de Rhine, já estão falando na</p><p>existência de “mindons” (do inglês “Mind”) e de Psitrons.</p><p>Como o mostra Koestler (1972), a palavra PSI se tornou</p><p>comum aos físicos e aos parapsicólogos.</p><p>Estas ou outras partículas poderiam muito bem consti-</p><p>tuir o elemento universal ou servir de veículo ou possuir</p><p>dentro deles todos os programas ou metaprogramas do pen-</p><p>samento universal, impregnando constantemente o pensa-</p><p>mento individual o qual por sua vez seria também constituído</p><p>das mesmas partículas. Estas partículas seriam também os</p><p>agentes estimuladores do sistema nervoso humano e de um</p><p>vasto sistema nervoso universal, do qual todos nós faríamos</p><p>parte.</p><p>PSI, PK e Consciência Cósmica</p><p>8ª HIPÓTESE: Existe uma relação de coexistência entre a consciência</p><p>cósmica de um lado, e de outro lado o PSI e PK, isto é, os poderes chamados</p><p>paranormais.</p><p>É fato notório em todas as culturas que os grandes santos</p><p>e místicos eram e são dotados de “poderes” ditos</p><p>“sobrenaturais”, tais como clarividência, clariaudiência, ti-</p><p>locação, telepatia, viagem “astral”, levitação, psicocinesia,</p><p>cura à distância etc.</p><p>Os grandes ioguins afirmam todos que no caminho da</p><p>consciência cósmica, como resultado da prática da meditação</p><p>e das técnicas correlatas, surgem estes poderes. Para eles</p><p>estes poderes são normais e constituem prova de que o</p><p>discípulo está no bom caminho. Insistem eles, no entanto, no</p><p>perigo, para a evolução do adepto, de se deixar absorver pelo</p><p>entusiasmo destes novos poderes; não somente há o risco de</p><p>se esquecer do objetivo final, mas ainda isto cons- tituiria</p><p>deslocamento de forças energéticas, forças estas necessárias</p><p>para tirar o véu da ilusão dos cinco sentidos.</p><p>Sabe-se também que, nas escolas esotéricas ocidentais,</p><p>tais poderes são também considerados como fazendo parte</p><p>da “senda”, e são, na sua maioria, encarados com bastante</p><p>naturalidade.</p><p>Tudo indica, porém, que o contrário nem sempre se dá:</p><p>enquanto parece ser a regra que os que chegaram à</p><p>consciência cósmica possuem poderes “sobrenaturais”, não</p><p>se pode afirmar que todos os que possuem poderes</p><p>sobrenaturais sejam capazes de entrar na consciência</p><p>cósmica. Muitos de nós conhecem pessoas desta natureza</p><p>que não têm nada de minto ou de místico; alguns são mesmo,</p><p>ao contrário, exemplares de mau caráter.</p><p>Pesquisas de natureza psicométrica se revelam possíveis e</p><p>necessárias para conhecer com maior precisão a correlação</p><p>entre os dois fenômenos. Uma tentativa neste sentido está em</p><p>andamento junto ao nosso curso</p><p>de Psicologia Trans- pessoal</p><p>na Universidade Federal de Minas Gerais.</p><p>Na espera dos resultados deste inquérito feito sobre mais</p><p>de trezentas pessoas, podemos emitir certas hipóteses quanto</p><p>à relação que já constitui um fato empírico.</p><p>Na minha prática de Psicoterapia de grupo, tenho obser-</p><p>vado que certos fenômenos PSI se dão durante as fases mais</p><p>regressivas, seja de clientes isolados, seja de todo o grupo.</p><p>Freud e inúmeros psicanalistas observaram fenômeno de</p><p>telepatia e de sonhos telepáticos entre cliente e terapeuta.</p><p>Nas experiências de LSD de Stanislaw Grof também foram</p><p>notados fenômenos PSI nas fases de regressões mais</p><p>profundas. Grof chega mesmo a afirmar que, a partir da</p><p>regressão intra-uterina, o homem entra numa dimensão fo-</p><p>ra do alcance dos conceitos e métodos da psicologia e psi-</p><p>quiatria tradicional.</p><p>Podemos aí emitir a hipótese de que estes estados de</p><p>regressão mais adiantada correspondem a níveis de atividade</p><p>eletroencefalográfica diferente do beta de atividade cerebral</p><p>normal.</p><p>Com efeito sabe-se, hoje, que o fenômeno PSI se dá</p><p>quando os indivíduos se encontram em “estado alfa”, isto é,</p><p>quando emitem ondas alfa; é possível inclusive treinar</p><p>pessoas não somente para entrar em estado alfa por meio de</p><p>biofeedback, mas ainda de, neste estado, produzir volun-</p><p>tariamente fenômenos de clarividência, de diagnóstico ou de</p><p>cura à distância; estes processos são realizados por qualquer</p><p>um, como o mostra de modo experimental e experiencial, de</p><p>modo insofismável, José Silva e suas experiências do sistema</p><p>já conhecido por mais de 300.000 pessoas como o “Silva</p><p>Mind Control” (Mc Knight 1973). Outras tentativas de síntese</p><p>chegam a resultados e conclusões análogas (Anderson and</p><p>Savary, 1972), (Buryl Payne 1973).</p><p>Tudo indica que as ondas alfa são a porta de entrada para</p><p>uma regressão mais profunda, passando por teta para se</p><p>chegar às ondas delta que correspondem ao sono profundo.</p><p>Isto nos leva à hipótese seguinte:</p><p>Ondas Alfa, Teta e Delta</p><p>9ª HIPÓTESE: OS estágios que levam à consciência cósmica têm</p><p>correspondência no registro eletroencefalográfico sendo que esta se situa no</p><p>nível das ondas delta.</p><p>Desde os primeiros trabalhos da missão francesa na</p><p>índia, dirigida por Thérèse Brosse, muitos experimentos têm</p><p>evidenciado concomitantes fisiológicos nos estados de êxta-</p><p>se. Os mais frutíferos até o presente momento ainda são os</p><p>registros eletroencefalográficos. O lugar de uma explanação</p><p>detalhada das experimentações não é este, pois pretendemos</p><p>fazê-lo mais tarde. Queremos apenas mostrar aqui como se</p><p>apresenta o assunto atualmente (1975).</p><p>• O ritmo beta é encontrado em pessoas acordadas, de</p><p>olhos abertos. São ondas características da atividade dos cin-</p><p>co sentidos, da agitação mental e do pensamento. O ritmo</p><p>beta é consciente.</p><p>• O ritmo alfa é característico de estados de profundo</p><p>relax, de bem-estar; é produzido com mais freqüência com</p><p>olhos fechados embora ioguins e pessoas treinadas por bio-</p><p>feedback consigam produzi-lo de olhos abertos. Em alfa é</p><p>possível produzir atividades de PSI. O ritmo alfa é produzido</p><p>em estado consciente.</p><p>• O ritmo teta é característico dos estados hipnagógi- cos</p><p>e de sonho. Estas atividades já começam com o ritmo alfa</p><p>muito lento. O ritmo teta é normalmente inconsciente.</p><p>• O ritmo delta é característico do sono profundo e é</p><p>normalmente totalmente inconsciente, se tomamos como</p><p>paradigma a consciência de vigília. No entanto, Elmer Green</p><p>(1972) obteve produção de ondas delta num grande ioguin riu</p><p>estado comprovadamente consciente.</p><p>Ora, já vimos que parece ser justamente no sono</p><p>profundo, como o mostramos na 6ª hipótese, que se situa a</p><p>experiência cósmica. A experiência de Elmer Green com o</p><p>Swami Rama vem confirmar a possibilidade de obter o ritmo</p><p>delta em estado consciente. O problema é saber como</p><p>conseguir esta proeza de dormir acordado.</p><p>Para responder a esta pergunta, há necessidade de inú-</p><p>meros estudos e experimentos, mais particularmente será</p><p>preciso conhecer melhor as correlações entre os ritmos lentos</p><p>de um lado e de outro lado os fenômenos regressivos em</p><p>transe hipnótico consciente, em psicanálise, sob efeito de</p><p>LSD e nas relações amorosas. Importante será também</p><p>confrontar ondas eletroencefalográficas no animal e no ho-</p><p>mem, especialmente em estado de produção onírica.</p><p>Este confronto das ondas entre o homem e o animal</p><p>permitiria talvez confirmar a natureza arcaica e filogené- tica</p><p>dos estados inconscientes; o ritmo do rato parece, por</p><p>exemplo, ser equivalente ao ritmo delta do homem. Há muito</p><p>que pesquisar neste terreno.</p><p>Para terminar, vamos agora resumir as hipóteses secun-</p><p>dárias que podem ser feitas dentro desta hipótese geral que</p><p>acabamos de expor, isto é, vamos tentar colocar em corres-</p><p>pondência correlações ou concomitâncias que “a priori” nos</p><p>parecem válidas mas que carecem ainda de maior com-</p><p>provação experimental; estamos ainda, por conseguinte, no</p><p>domínio da especulação. O quadro-resumo que damos a se-</p><p>guir é, de certo, rico em hipóteses de trabalho.</p><p>Preobjetais</p><p>e anobjetais</p><p>Insistimos sobre o fato de que este quadro constitui</p><p>apenas uma tentativa de colocar em correspondência dados e</p><p>variáveis até agora disseminados na literatura especializada.</p><p>Dezenas de anos de pesquisa se revelarão necessários para</p><p>confirmar ou contradizer o que está aqui esboçado. Tudo que</p><p>podemos dizer é que para nós ele constitui algo que</p><p>poderíamos chamar de razoável.</p><p>Importância da Vibração Sonora</p><p>10ª HIPÓTESE: A produção de certas vibrações sonoras favorece a entrada</p><p>na consciência cósmica.</p><p>Esta hipótese foi emitida por nós após um exaustivo</p><p>estudo sobre o nome secreto de Jehovah (Weil e Pilosof,</p><p>1974). Como se sabe, os antigos judeus não tinham o direito</p><p>de pronunciar este nome “em vão”; a sua pronúncia correta</p><p>era passada de sacerdote a discípulo no pé do ouvido. Fize-</p><p>mos um cotejo entre esta tradição e a do Mantra do Ioga,</p><p>onde também existem nomes secretos como por exemplo o</p><p>AUM cuja pronúncia verdadeira e conveniente é comunicada</p><p>em iniciação secreta entre o discípulo e seu guru.</p><p>Este estudo comparativo nos levou à convicção da impor-</p><p>láncia destas palavras e da sua influência vibratória no sis-</p><p>tema energético humano. Vários fatos vêm apoiar esta hi-</p><p>pótese:</p><p>— A importância da música em Psicoterapia e na produção de certos estados</p><p>de espírito.</p><p>— O uso de sons vibratórios na hipnose.</p><p>— O uso de trombetas em Jerico para derrubar muralhas.</p><p>— A existência de tratamentos por “ultra-sons”.</p><p>— O uso do ritmo do tambor nos rituais iniciáticos em todas as culturas,</p><p>ritmo semelhante ao do coração.</p><p>— O uso de certos gritos nas lutas orientais (Kl AI, por exemplo) para</p><p>concentrar a energia no centro físico do abdômen.</p><p>— A repetição de certas rezas com uso do rosário no cristianismo e islamismo</p><p>e do Japa-Mala no hinduísmo e budismo.</p><p>— 0 radiotelescópio comprovando a existência de sons cósmicos c de ritmos</p><p>cósmicos (No início era o Verbo).</p><p>— O uso de conchas e chifres nas cerimônias judaicas (Cho- far) e tibetanas.</p><p>No “Silva Mind Control” um som de 10,5 ciclos por</p><p>segundo é usado para provocar a entrada em ritmo alfa, o que</p><p>leva a supor haver uma relação direta entre ondas ele-</p><p>troencefalográficas e produção de sons (Mc Knight 1973).</p><p>Outros autores usam músicas selecionadas com a mesma fi-</p><p>nalidade (Bonny and Savary, 1973).</p><p>A Pulsão de Procura da Unidade</p><p>11ª HIPÓTESE: Há no homem uma tendência à procura da unidade da</p><p>existência universal, unidade que ele deixou de perceber e viver por uma</p><p>hipertrofia do uso do neocéfalo em detrimento do paleocéfalo, dos cinco</p><p>sentidos em detrimento do “sexto” sentido, do raciocínio em detrimento da</p><p>intuição.</p><p>Esta procura de unidade, de fusão é um dos aspectos</p><p>descobertos pelos psicanalistas, que a situam conforme o ca-</p><p>so na união com a mãe, na fusão sujeito-objeto no estágio</p><p>oral. Tudo indica que esta procura tem raízes muito mais</p><p>arcaicas; a nossa</p><p>hipótese é de que esta fusão oral é ainda</p><p>uma pseudofusão, ao mesmo título que a da vida intra-ute-</p><p>rina, pois nos dois casos temos ainda duas pessoas; mostra-</p><p>mos que mesmo antes da concepção ainda existem dois ele-</p><p>mentos, o espermatozóide e o óvulo; podemos assim regredir</p><p>na filogênese inscrita no ADN e ARN, sempre encontraremos</p><p>uma pluralidade. Isto nos levou a descrever em outro</p><p>trabalho o que resumimos na hipótese 5 como sendo cinco</p><p>fases regressivas. Só a quinta, a do metaprograma ou zona de</p><p>potencialização da energia ou da fonte da sua emanação fora</p><p>do tempo-espaço, é que apresenta este caráter de unidade.</p><p>Esta unidade que existiria permanentemente no aqui e</p><p>agora da vivência intuitiva direta é que é experimentada na</p><p>experiência da consciência cósmica. A “Queda de Adão” é,</p><p>provavelmente, o símbolo da perda da consciência cósmica</p><p>na filogênese.</p><p>A percepção dos cinco sentidos e o nosso raciocínio nos</p><p>impedem de ter a percepção direta de que fazemos parte</p><p>integrante de um ser único que está ao mesmo tempo em nós.</p><p>E’ uma relação bem semelhante à do feto que é, ao mesmo</p><p>tempo, ele próprio em relação à placenta vista como objeto</p><p>externo, parte integrante da mãe, e recebe a mãe dentro dele</p><p>através do cordão umbilical. Isto lembra muito as figuras de</p><p>topologia, mais particularmente a garrafa de Klein.</p><p>Como já o vimos na quinta hipótese, o homem poderia</p><p>reencontrar a unidade na regressão-evolução, no sono pro-</p><p>fundo e na morte.</p><p>A Saudade do Paraíso Perdido como Força Propulsora</p><p>da Procura da Consciência Cósmica</p><p>12ª HIPÓTESE: A força que leva á procura desta unidade fundamental é a</p><p>consciência profundamente gravada no homem da existência da felicidade</p><p>absoluta.</p><p>Freud foi no Ocidente, neste século, quem mais insistiu</p><p>nesta força, que ele chamou de libido. Para ele o homem <•</p><p>regido pelo princípio do prazer; ele procura o prazer, e foge à</p><p>dor. Mais tarde, a este eros, ele acrescentou a noção de</p><p>thánatos; haveria nele também uma força ou instinto de</p><p>morte. Se nós olhamos este conceito em relação à hipótese 5,</p><p>podemos constatar, se comprovada esta, que tanto eros como</p><p>thánatos levam à felicidade já que a morte é apenas uma das</p><p>entradas na dimensão fora do tempo-espaço tal como a</p><p>percebemos. O instinto de vida seria então instinto de</p><p>existência e o instinto de morte seria o instinto de vida.</p><p>Outro enfoque que está marcando toda uma geração de</p><p>psicólogos é o enfoque comportamentalista de Skinner que</p><p>descobriu uma lei fundamental e indiscutível: todo com-</p><p>portamento animal e humano é modelado pelas conseqüên-</p><p>cias que produz; estas conseqüências se chamam “reforço”; o</p><p>reforço é o que aumenta a freqüência do comportamento; por</p><p>exemplo, uma criança deixa cair um objeto; o adulto o</p><p>apanha; se a cada vez ou de vez em quando, quando o objeto</p><p>cair, o adulto o apanhar, a criança terá reforçado o seu</p><p>comportamento de deixar cair um objeto, já que isto é um</p><p>meio de obter atenção (vista como carinho, afeto) do adulto;</p><p>a criança que chora e é reforçada pela mamadeira ou pelo</p><p>ninar a cada vez que chora aumentará a freqüência de</p><p>comportamento de chorar. Esta lei se revela, através dos</p><p>inúmeros experimentos, como sendo universal.</p><p>Poucos são, no entanto, os que se perguntam o que se</p><p>esconde por detrás desta lei. Na realidade o comportamento</p><p>só se forma ou se modela quando é reforçado ou seguido de</p><p>“algo” que lhe proporciona felicidade, sob forma física,</p><p>emocional, mental ou espiritual. Tudo que, pelo contrário, é</p><p>seguido de reforço “negativo”, seja sob forma de privação, de</p><p>infelicidade, provocará comportamento esquivo, próprio dos</p><p>estímulos aversivos. O princípio de conservação ou de</p><p>sobrevida é apenas uma outra forma de procura da felicidade;</p><p>mais existência significa mais felicidade, para todos os que</p><p>ignoram o que se passa depois da morte, por não terem vivido</p><p>na consciência cósmica.</p><p>No Hinduísmo, e no Ioga mais particularmente, encon-</p><p>tramos uma noção equivalente a Freud e sobretudo a</p><p>Fairbairn: é a de “Satchitananda”. Sat ou Existência, Chit ou</p><p>Força consciente e Ananda ou Felicidade, formam um</p><p>conjunto indissolúvel e do qual fazemos parte integrante.</p><p>Fazemos parte de uma existência energética feliz, infinita no</p><p>tempo e espaço. Ao procurar, neste mundo da energia densa,</p><p>uma felicidade cada vez maior, estamos necessitados de sair</p><p>dos nossos cinco sentidos ampliando o campo da consciência,</p><p>até a percepção da realidade total, dentro da experiência da</p><p>consciência cósmica.</p><p>Quem teve esta experiência percebe o verdadeiro sentido</p><p>da dor. A dor tem como função alertar o ser vivo que ele está</p><p>se afastando de alguma lei universal, que a sua “ananda” está</p><p>ameaçada. Todo comportamento reflexo é defesa contra</p><p>ameaças ao organismo; quando este funciona bem existe uma</p><p>sensação de bem-estar físico; bem-estar do qual não temos</p><p>mais consciência, tão corriqueiro ele é: bem-estar de respirar,</p><p>digerir ou simplesmente viver; qualquer ameaça a este bem-</p><p>estar se traduz por uma dor. A maioria, senão todas as formas</p><p>de dor, são produto direto ou indireto da ignorância de leis</p><p>naturais e do ato de infringir tais leis. Mas há também dores</p><p>que provêm da fricção ou da absorção de formas diferentes</p><p>de energia, da mesma energia; um animal que ataca o outro</p><p>para o comer, por exemplo, produz evidentemente dor; um</p><p>cataclismo ou erupção vulcânica pode ferir ou queimar seres</p><p>vivos. Tais fenômenos nos parecem absurdos no nosso nível</p><p>de percepção; mas se os compararmos às ondas do mesmo</p><p>mar que se chocam ou se absorvem entre si, temos de</p><p>reconhecer que, no nível do mar, isto representa apenas</p><p>alguns movimentos da própria água. E’ assim que os que</p><p>entram em consciência cósmica percebem a realidade.</p><p>Alucinação, Realidade Quotidiana e Cósmica</p><p>13ª HIPÓTESE: OS fenômenos psicopatológicos conhecidos como alucinação</p><p>são, numa proporção ainda ignorada, manifestações ou visões de formas</p><p>diferentes da realidade quotidiana e constituem sinais de entrada ou</p><p>aproximação da consciência cósmica.</p><p>Já há muito tempo que autores como William James,</p><p>Freud e Alexander, têm notado relações entre os estados</p><p>místicos e a psicose, mais particularmente a esquizofrenia. A</p><p>necessidade de isolamento, o retraimento e perda de contato</p><p>com o mundo exterior, as visões celestes ou dantescas e</p><p>infernais, o contato com seres, as viagens em outros planetas</p><p>ou universos, são pontos comuns entre a esquizofrenia c a</p><p>experiência mística. Podemos também citar certos estados de</p><p>euforia da psicose maníaco-depressiva e os estados de</p><p>beatitude do místico. Há talvez também certa semelhança</p><p>entre estados depressivos e de angústia e certas crises de</p><p>místicos passando por “provas” de abandono por parte da</p><p>divindade.</p><p>Todas estas semelhanças têm levado inúmeros psiquia-</p><p>tras e psicólogos a qualificar os estados místicos de psicopa-</p><p>tológicos e rotular os místicos de esquizofrênicos.</p><p>Mas os mesmos fatores que catalizaram o advento da</p><p>Psicologia Transpessoal levaram progressivamente à idéia de</p><p>que talvez o contraditório é que seja verdadeiro, justificando</p><p>a formulação da hipótese acima enunciada. Vamos</p><p>resumir a seguir os pontos de vista ou pesquisas realizados</p><p>neste sentido.</p><p>1’) Já falamos do ponto de vista de Prince e Savage, se-</p><p>gundo os quais a experiência mística seria uma regressão a</p><p>serviço do Ego; a diferença com a esquizofrenia consistiria</p><p>essencialmente no fato de que o místico volta para a realidade</p><p>do nosso mundo dos cinco sentidos, enquanto o esquizofrê-</p><p>nico não volta.</p><p>Se aceitarmos a hipótese dos psicanalistas, mais parti-</p><p>cularmente de Fairbairn e Melaine Klein, há sempre, em todo</p><p>“objeto” da primeira infância, aspectos bons e ruins. A</p><p>regressão é um mecanismo de volta à fase do objeto “bom”</p><p>que precede a fase do objeto «ruim». No caso do psicótico, as</p><p>frustrações provocadas pelo objeto “ruim” foram tão sérias,</p><p>que o psicótico prefere ficar nesta fase boa, por medo de</p><p>enfrentar e reviver as terríveis frustrações</p><p>posteriores.</p><p>Quando estas frustrações já começaram com o nascimento</p><p>(Traumatismo do nascimento de Rank), haverá uma tendên-</p><p>cia a querer ficar na vida intra-uterina.</p><p>Ora, os trabalhos de Grof e outros demonstram que é</p><p>justamente neste nível intra-uterino que começam os</p><p>fenômenos de entrada na dimensão cósmica.</p><p>2’) Como o mostra mais particularmente Laing, o con-</p><p>teúdo das chamadas alucinações é, em muitos casos, idêntico</p><p>às descrições dos grandes místicos. O caso de Jesse Watkins,</p><p>escultor, é bastante ilustrativo de visões tipicamente regres-</p><p>sivas a estágios filo e ontogenéticos; ele se sente, às vezes,</p><p>neném chorando, ou rinoceronte numa paisagem, ou ainda</p><p>em outra vida; encontra seres divinos; percebe várias cama-</p><p>das da realidade, sendo que o comum dos mortais se encontra</p><p>na antecâmara; ele acha que todo mundo deveria passar por</p><p>essa experiência “a fim de alcançar um estágio mais elevado</p><p>de evolução”. “As coisas precisam impor-se a nós até que gra-</p><p>dualmente nos preparemos para uma aceitação da realidade,</p><p>uma aceitação cada vez maior da realidade e do que real-</p><p>mente existe... e que qualquer fuga poderia adiar, e é exa-</p><p>tamente como se a pessoa se fizesse ao mar num barco in-</p><p>capaz de enfrentar as tempestades que poderiam surgir”</p><p>(Laing, 1974). Um místico não se expressaria melhor.</p><p>3’) A Psicoterapia de esquizofrênicos em que se acom-</p><p>panha a «viagem» interior, do mesmo modo que se faz para</p><p>o LSD, tem dado excelentes resultados, como o mostra Laing.</p><p>Laing descreve esta viagem do seguinte modo:</p><p>1. de fora para dentro</p><p>2. da vida para uma espécie de morte</p><p>3. do progresso para o regresso</p><p>4. do movimento temporal para a imobilidade temporal</p><p>5. do tempo mundano para o tempo cônico</p><p>6. do ego para o self</p><p>7. do lado de fora (pós-nascimento) de volta ao seio de todas as coisas (pré-</p><p>nascimento).</p><p>A viagem de regresso se faz, então:</p><p>1. do interior para o exterior</p><p>2. da morte para a vida</p><p>3. do movimento retroativo para o movimento novamente progressivo</p><p>4. da imortalidade de volta à mortalidade</p><p>5. da mortalidade de volta ao tempo</p><p>6. do self para um novo ego</p><p>7. de uma fetalização cósmica para um renascimento existencial.</p><p>Um lama tibetano ou um sacerdote egípcio não</p><p>descreveria uma iniciação completa de modo muito</p><p>diferente, pois no domínio esotérico também o tema</p><p>nascimento-morte-renascimento é um leitmotiv.</p><p>Enquanto que a Psiquiatria e a Psicoterapia tradicionais</p><p>procuram curar os chamados “doentes” desta viagem, Laing</p><p>pergunta com ênfase: “Não vemos que não é desta viagem</p><p>que precisamos curar-nos, mas que ela é, em si mesma, um</p><p>meio natural de curar o nosso espantoso estado de alienação</p><p>chamado normalidade?”</p><p>E’ este o ponto de vista da terapia transpessoal em que se</p><p>procura justamente acompanhar o “doente” na sua viagem</p><p>ida e volta.</p><p>4’) Existem até hoje métodos esotéricos de tratamento de</p><p>casos psiquiátricos. A medicina oficial, até data recente,</p><p>rotulava estes tratamentos de “charlatanescos”, mandando</p><p>muitas vezes prender os “curandeiros” por exercício ilegal da</p><p>medicina; não me admiraria que o mesmo acontecesse hoje</p><p>em relação à Psicologia.</p><p>Mircea Eliade mostrou, no seu famoso estudo sobre os</p><p>Xamãs do mundo inteiro, que grande parte deles são doentes</p><p>mentais que foram recuperados graças ao êxtase místico;</p><p>uma vez “curados”, eles mesmos se acham muito mais em</p><p>condição de tratar dos outros. Eu mesmo pude constatar que</p><p>o mesmo se dá em muitos terreiros de Umbanda brasileiros.</p><p>Inúmeros estudos se revelariam necessários para confrontar</p><p>os resultados destes tratamentos com os tratamentos oficiais</p><p>da Psiquiatria e Psicoterapia tradicional; talvez tais estudos</p><p>nos reservem surpresas.</p><p>Certos meios de higiene mental nos Estados Unidos to-</p><p>maram consciência de que há muito que aprender neste</p><p>terreno; por exemplo, um monge tibetano, Tartang Tulku</p><p>Rimpoche, acaba de dar um curso para psiquiatras e psicólo-</p><p>gos ensinando mais de oitenta técnicas diferentes de</p><p>prevenção e tratamento da chamada “doença mental”.</p><p>Aqui mesmo no Brasil, no Congresso Nacional de Psi-</p><p>quiatria (1973), houve uma corajosa comunicação do Prof.</p><p>Denizard Souza sobre “Percepção Extra-Sensorial e Aluci-</p><p>nações”; neste trabalho o autor compara três grupos de pes-</p><p>soas: Um de psicóticos, um de médiuns e um de drogas ditas</p><p>“alucinógenas”; afirma ele haver fenômenos parapsicológi-</p><p>cos idênticos nos três grupos; e além disto o grupo de psi-</p><p>cóticos teve as suas alucinações conceituadas como faculda-</p><p>des parapsicológicas e foi submetido a um desenvolvimento</p><p>destas faculdades. Eis um quadro-resumo desta experiência:</p><p>Diagnóstico Abandono Alta Em desenvolvi-</p><p>mento</p><p>Esquiz. simples 0 0 3</p><p>Esquiz. paranóide 1 1 2</p><p>Surto delirante agudo 0 0 2</p><p>Psicose alcoólica 0 1 2</p><p>Psicose depressiva</p><p>Psicose obsessiva</p><p>0 1 2</p><p>Compuls. 0 1 1</p><p>Toxicomania 0 0 3</p><p>Diz Denizard que “o caso de abandono” afastou-se das</p><p>atividades do “psicogrupo” sendo internado num sanatório;</p><p>os casos de alta curaram-se das alucinações e retiraram-se</p><p>66</p><p>das atividades dos psicogrupos; o restante continua partici-</p><p>pando como “médiuns”, sendo que, entre esses casos, 3 con-</p><p>tinuam com tratamento clássico.</p><p>Pesquisas como estas precisam ser desenvolvidas, ainda</p><p>mais num país como o Brasil que oferece uma riqueza de</p><p>tradições de nível CEC 2 que precisariam ser tratadas pelas</p><p>autoridades de nível CEC 1 com mais seriedade e critério</p><p>científico.</p><p>Na realidade se trata não somente de evitar que pessoas</p><p>em caminho da consciência cósmica sejam internadas (*</p><p>irremediavelmente perdidas, mas ainda de descobrir novas</p><p>vias de tratamento dos fenômenos ditos “alucinatórios”. Por</p><p>detrás destas pesquisas se encontra também um recolocar em</p><p>questão da nossa percepção dita “normal”.</p><p>Economia Energética</p><p>14ª HIPÓTESE: OS altos estágios da experiência cósmica exigem uma</p><p>concentração energética tal que implicam num desaparecimento ou</p><p>minimização dos gastos de energia comuns ao ego, mais particularmente no</p><p>que se refere à energia sexual.</p><p>Durante os meus trabalhos de análise da esfinge fiquei</p><p>bastante intrigado pelo Uraeus frontal, ou serpente que se</p><p>encontra na testa da figura do homem. Isto me levou à análise</p><p>simbólica da serpente em todas as grandes culturas;</p><p>verifiquei que a serpente simboliza a energia, e quando</p><p>acompanhada de asas, ou colocada na cabeça humana, a</p><p>energia é sublimada, ou melhor ainda, transmutada.</p><p>A importância dada a essa transmutação da energia</p><p>sexual como um dos meios ou o grande meio de alcance da</p><p>consciência cósmica é atestada sob inúmeras formas nos</p><p>textos, iconografia ou rituais. Fizemos uma explanação de-</p><p>talhada deste assunto no livro: A Mística do Sexo (Ed. Itatiaia).</p><p>Vamos aqui apenas resumir alguns aspectos principais :</p><p>• Todos os grandes santos da Igreja católica eram totalmente abstinentes.</p><p>• A recomendação de castidade para os padres da Igreja católica, baseada</p><p>na de São Paulo, quando aconselha aos solteiros a não se casar.</p><p>• 0 pedido de Moisés, antes da promulgação do decálogo, para que os</p><p>homens se mantivessem abstinentes durante os três dias precedentes a este ato.</p><p>• O isolamento e a abstinência é de regra no preparo ou “firmar a cabeça”</p><p>dos Pais de Santo do Candomblé da Bahia, durante várias semanas.</p><p>• Mesmo os rituais orgiásticos antigos e atuais, contrariamente a fantasias</p><p>e imaginação de pessoas mal informadas, tinham e têm por objetivo reter a</p><p>ejaculação de tal forma que se opere uma transformação e subida energética</p><p>visando ao êxtase.</p><p>• Todos os grandes ioguins insistem na impossibilidade de coexistir relação</p><p>sexual com desenvolvimento do êxtase e recomendam o “Brahmacharya” ou</p><p>ascese que implica a abstenção de relações sexuais.</p><p>Poder-se-iam multiplicar os exemplos. Interessante é</p><p>notar que a Psicanálise, contrariamente ao que podem pensar</p><p>os leigos, vem ao encontro destas observações. Com efeito,</p><p>nós sabemos que Freud emitiu a teoria da libido; a libi- do é</p><p>a força energética de natureza sexual</p><p>que pode ser sublimada</p><p>na arte, no trabalho, ou em sentimentos amorosos; Freud</p><p>chega mesmo a afirmar que os casais que querem manter a</p><p>ternura têm que limitar as suas relações sexuais. Está aqui a</p><p>idéia de transformação da energia em sentimento. Pode-se</p><p>imaginar que a mesma energia pode ser sublimada até atingir</p><p>o êxtase que acompanha a abertura da consciência cósmica.</p><p>Como o mostra Jung, o sistema do Ioga é um método de</p><p>sublimação energética através dos chakras ou centros</p><p>energéticos.</p><p>Esta energia se situa num centro sexual chamado mu-</p><p>lhadara de onde a kundalini (nome dado a ela e simbolizada</p><p>por uma serpente) sobe em torno da coluna vertebral até se</p><p>encontrar, no nível em cima da cabeça, com a energia</p><p>cósmica que desce do espaço, realizando então a união</p><p>cósmica de Shiva e Shakti.</p><p>Encontramos a mesma idéia na Cabbala hebraica, em</p><p>cujo sistema chamado sefirótico há um centro chamado o</p><p>Iesod que simboliza o sêmen. No nível superior há também o</p><p>casamento cósmico de Barouch-Hou com a Shekina.</p><p>Teilhard de Chardin afirma que o homem tem como</p><p>função essencial a transformação ou propagação de uma</p><p>energia universal; ele seria um posto avançado no cosmo, e</p><p>precisaria manter uma certa tensão energética interna.</p><p>Também Freud afirmava que a cultura foi criada às expensas</p><p>da satisfação dos instintos, fato que Marcuse aproveitou para</p><p>apontar o aproveitamento da libido em proveito do princípio</p><p>de rendimento. Wilhelm Reich, como discípulo de Freud,</p><p>também trabalhou sobre a libido, embarcando num</p><p>pansexualismo cósmico quando emite a sua teoria do</p><p>Orgone, fazendo do orgasmo uma lei cósmica.</p><p>Paralela e conjuntamente a esta ascese sexual, outras</p><p>medidas costumam ser preconizadas para ascensão à cons-</p><p>ciência cósmica. Entre outras podemos citar:</p><p>• Restrições alimentares que vão da limitação de certos alimentos (Carnes,</p><p>ovos, condimentos) até o jejum ou supressão pura e simples de toda e qualquer</p><p>alimentação. Parece que tais restrições têm por finalidade não somente ancorar o</p><p>jejum sexual por medidas e diminuindo a excitação, como também diminuir o gas-</p><p>to energético do próprio trabalho de digestão. Além disto o jejum provoca, como</p><p>se sabe, certas visões ou alucinações, devidas possivelmente à hipoglicemia.</p><p>• O isolamento e confinamento em celas ou quartos afastados de luz e ruído</p><p>visando economizar o gasto de energia em atividades ligadas aos cinco sentidos.</p><p>Assim poderá funcionar o “sexto sentido”, com uma reserva de energia muito</p><p>maior.</p><p>Experiências já clássicas, de Heron e Hebb, colocaram em evidência a</p><p>influência do isolamento sobre a produção do que eles chamam de alucinações,</p><p>devidas a uma parada da estimulação da formação reticular mesencefálica.</p><p>• O desapego de todo e qualquer interesse ou ligação com coisas ou</p><p>pessoas. São João da Cruz, por exemplo, chega a recomendar o desapego dos</p><p>próprios sentimentos, ligados e provocados pela iluminação e estado de beatitude.</p><p>Fala da “noite” dos sentidos, da inteligência, memória e vontade. No Ioga este</p><p>desapego é cultivado através dos processos chamados de lama e Nyama.</p><p>Tudo se passa como se houvesse, por parte dos mestres</p><p>místicos, uma preocupação em economizar toda a energia</p><p>para dispor dela na obtenção da percepção do Absoluto.</p><p>Como disse João da Cruz: “Guardarei toda a minha força</p><p>para Ti". Seria, guardadas as devidas proporções, uma ope-</p><p>ração comparável à do motorista, cuja bateria enfraqueceu,</p><p>de apagar a luz para ligar o motor.</p><p>Fé e Efeito Placebo</p><p>15ª HIPÓTESE: Existe um fator essencial à entrada na dimensão da</p><p>experiência cósmica, fator conhecido na linguagem popular como "fé", e na</p><p>medicina experimental como "efeito placebo”.</p><p>A importância dada à fé nas principais correntes místicas</p><p>ocidentais e orientais é bastante grande.</p><p>Várias são as observações ou experiências que demons-</p><p>tram a importância deste fator. Vamos enumerá-las aqui de</p><p>modo resumido:</p><p>• Em medicina é bastante conhecido e aceito o efeito do prestígio do</p><p>terapeuta ou do medicamento sobre a cura de certos pacientes; todos os</p><p>laboratórios de produtos farmacêuticos têm que demonstrar experimentalmente</p><p>que a cura dos seus produtos é devida à eficácia destes e não ao que se costuma</p><p>chamar de “efeito placebo”. Constitui-se um grupo experimental em que se usa o</p><p>medicamento e um grupo de controle em que se afirma ao paciente que se trata de</p><p>medicamento mas, na realidade, se trata de uma substância inócua. Na maioria das</p><p>vezes os grupos de placebo também acusam uma certa percentagem de curas,</p><p>mesmo eliminando todas as outras variáveis possíveis.</p><p>• A pesquisa de Pahnke que relatamos mais acima (ver Capítulo sobre a</p><p>consciência cósmica) nos mostra que o grupo placebo também acusou uma certa</p><p>percentagem (2 a 33%) de pessoas que relataram experiências místicas, o que</p><p>tende a colocar em evidência a influência deste fator “fé”, ainda mais que se tratava</p><p>de estudantes de teologia.</p><p>• Os que lidam com experiências parapsicológicas sabem o quanto é</p><p>prejudicial e perturbador a atitude racionalista de ceticismo em relação aos</p><p>resultados.</p><p>As experiências de Parapsicologia são bastante claras e</p><p>evidentes a este respeito. Mais particularmente, Schmeidler</p><p>(1943-1952) fez pesquisas exaustivas demonstrando que os</p><p>sujeitos que acreditam no fator PES acusam resultados mais</p><p>elevados nos testes objetivos de clarividência, do que os que</p><p>não acreditam. As significâncias de diferenças são bastante</p><p>elevadas (P:./01 a ./00000001).</p><p>Outra pesquisa relatada (Mangan 1958) colocou em</p><p>evidência correlações elevadas entre a confiança em si</p><p>mesmo e os resultados nos testes de clarividência. (+ 55). A.'</p><p>correlações aumentam com o número de ensaios, o que vem</p><p>confirmar ainda mais a relação existente entre percepção</p><p>extra-sensorial e a confiança em si mesmo, que é uma espécie</p><p>de fé.</p><p>Todas estas experiências vêm de encontro às mais an-</p><p>tigas tradições quanto à importância do fator fé. “A fé remove</p><p>montanhas”, já dizia Cristo. Os gurus indianos, por seu lado,</p><p>exigem na sua maioria uma rendição e fé incondicional na</p><p>sua orientação, até o cheia ou discípulo se tornar autônomo.</p><p>Relax, Respiração e Dissolução do Pensamento</p><p>16ª HIPÓTESE: Técnicas de relax aliadas á respiração e dissolução de toda</p><p>atividade intelectual constituem fatores relevantes na entrada da dimensão</p><p>cósmica.</p><p>Em praticamente todos as sistemas de desenvolvimento</p><p>da consciência cósmica encontramos referências à necessi-</p><p>dade de relax muscular acompanhado de um correspondente</p><p>relaxamento da mente. Podemos supor que se trata, aqui, de</p><p>evitar desgaste de energia em nós, de tensão, o que vai muito</p><p>ao encontro da 14» hipótese sobre economia de energia.</p><p>Também têm finalidade energetizante os exercícios de</p><p>respiração que, além de oxigênio, introduziríam no organis-</p><p>mo uma força energética cósmica chamada “Prana” no Ioga.</p><p>A concentração da atenção sobre um só ponto, assim</p><p>como a supressão da dispersão do pensamento até o seu</p><p>desaparecimento, também parecem se inscrever nesta linha</p><p>de economia energética.</p><p>Este conjunto de técnicas integram os chamados méto-</p><p>dos de concentração e meditação que encontramos no Ioga,</p><p>Zen, Sufismo, Cabbala hebraica, Rosa-Cruz etc. Na mística</p><p>cristã, os reconhecemos nos exercícios de Inácio de</p><p>Loyola, ou na subida ao Carmelo de João da Cruz. O intro-</p><p>dutor à edição francesa das obras completas deste grande</p><p>místico católico diz textualmente a este respeito: “Si saint</p><p>Jean de la Croix avait connu certaines techniques modernes</p><p>d’expression, il aurait certainement parlé de relaxation”.</p><p>Interessante notar que uma técnica moderna de relax, o</p><p>Training Autógeno de Schultz que na origem era um método de</p><p>terapia de doenças psicossomáticas através do relax</p><p>profundo, chega, no seu ciclo superior, a níveis experienciais</p><p>de fenômenos psíquicos que, segundo o autor, têm muitos</p><p>pontos comuns com a experiência mística.</p><p>Dissolução do Ego e Ampliação do Campo da Consciência</p><p>17ª</p><p>HIPÓTESE: A dissolução do Ego através da ampliação do campo da</p><p>consciência dos níveis de realidade, da desidentificação dos diferentes planos</p><p>experienciais e do controle dos diferentes degraus da consciência, é o</p><p>caminho para a consciência cósmica.</p><p>Esta hipótese nos leva a pensar na possibilidade de</p><p>construir uma cosmopsicologia que serviria de base para</p><p>estabelecer uma cosmoeducação e uma cosmoterapia.</p><p>Cosmopsicologia, Cosmoterapia, cosmoeducação</p><p>A cosmopsicologia é o estudo da unidade homem-cosmo. A</p><p>cosmoeducação é o desenvolvimento vivencial ou experiencial</p><p>desta unidade. A cosmoterapia é a devolução ao homem da sua</p><p>paz interior através da vivência da unidade homem- cosmo.</p><p>Para testar esta hipótese construímos o modelo em</p><p>anexo, em que encontramos as três dimensões em que con-</p><p>vém trabalharmos simultaneamente para desenvolver a</p><p>consciência cósmica.</p><p>Segundo esta hipótese, a consciência cósmica é o resul-</p><p>tado de uma ampliação do campo da consciência simulta-</p><p>neamente nos níveis da pessoa, da realidade exterior e dos</p><p>níveis de consciência propriamente ditos.</p><p>E</p><p>X</p><p>P</p><p>E</p><p>R</p><p>E</p><p>N</p><p>C</p><p>• No plano horizontal temos a dimensão dos níveis de</p><p>consciência e de controle, a saber:</p><p>a. Sono profundo</p><p>b. Sonho</p><p>c. Devaneio</p><p>d. Estado de vigília</p><p>e. Despertar da consciência e controle</p><p>f. Consciência cósmica</p><p>0 estado f inclui consciência e controle de todos os outros</p><p>graus de consciência. Trata-se, por conseguinte, de alcançar</p><p>o grau ao completamente desperto; é, possivelmente, o</p><p>alcance do nível eletroencefalográfico delta em nível beta</p><p>simultâneo.</p><p>• No plano vertical representamos os diferentes planos</p><p>experienciais ou vivenciais, em que o homem pode dirigir a sua</p><p>atenção consciente e exercer um controle da energia.</p><p>Estes planos já foram amplamente descritos no nosso</p><p>livro sobre a Esfinge. Vamos apenas lembrá-los aqui:</p><p>1. Plano físico</p><p>2. Plano emocional</p><p>3. Plano mental</p><p>4. Plano energético</p><p>5. Plano do ego consciente ou self.</p><p>O plano 5 consiste em realizar uma consciência e con-</p><p>trole da energia nos três primeiros planos, da forma que</p><p>tínhamos descrito no nosso livro e que reproduzimos aqui.</p><p>Físico</p><p>Emocional</p><p>Mental</p><p>Trata-se, evidentemente, aqui de um modelo esquemá-</p><p>tico visando fins didáticos. Esta observação vale para o</p><p>conjunto do modelo.</p><p>Self ----------</p><p>5</p><p>Energia</p><p>4</p><p>1. Plano</p><p>2. Plano</p><p>3. Plano</p><p>• No terceiro plano temos os níveis de realidade, apresentados</p><p>voluntariamente de forma etnocêntrica (como aliás o modelo</p><p>inteiro), por motivos pedagógicos. Partimos do plano pessoal</p><p>(microcosmo) para chegar ao plano macrocós- mico, com os</p><p>seguintes níveis:</p><p>A. Pessoal</p><p>B. Interpessoal</p><p>C. Social</p><p>D. Cósmico</p><p>E. Transpessoal</p><p>O nível cósmico abrange a conscientização da energia,</p><p>do átomo, dos reinos mineral, vegetal e animal. O nível</p><p>transpessoal se refere aqui à experiência fusional na fonte da</p><p>energia.</p><p>A descrição detalhada deste modelo é objeto de um outro</p><p>trabalho em fase de experimentação e redação. Neste tra-</p><p>balho mostramos como o modelo é usado em</p><p>cosmoeducação. Há possibilidade, com este modelo, de o</p><p>educador ter plena consciência do nível em que está</p><p>trabalhando, podendo elaborar uma verdadeira estratégia de</p><p>desenvolvimento da consciência cósmica.</p><p>Contribuição dos Ramos da Psicologia</p><p>Cada uma das hipóteses que acabamos de expor é atualmente</p><p>objeto de verificação no nível da CEC 1. Os diferentes ramos</p><p>da Psicologia estão sendo utilizados para esta finalidade;</p><p>durante a explanação de cada hipótese, o leitor,</p><p>provavelmente, já os reconheceu.</p><p>A explanação das hipóteses constitui, ao mesmo tempo,</p><p>um pequeno resumo dos resultados alcançados até hoje por</p><p>estes diferentes ramos da psicologia; esta explanação, se</p><p>desenvolvida, constituiria sem dúvida, um tratado de Psi-</p><p>cologia Transpessoal.</p><p>Para os interessados, anexamos à nossa bibliografia uma</p><p>coletânea de artigos selecionados e agrupados em função das</p><p>diferentes disciplinas da Psicologia e que passam agora a</p><p>integrar a Psicologia Transpessoal. Ali o leitor encontrará</p><p>trabalhos muito especializados. Por exemplo, a análise</p><p>fatorial da experiência de meditação como primeiro</p><p>ensaio ou estudos de farmacopsicologia aplicada à</p><p>experiência cósmica.</p><p>Os ramos da Psicologia que já têm dado alguma ou às</p><p>vezes muita participação nos problemas da Psicologia</p><p>Transpessoal são os seguintes:</p><p>Psicometria</p><p>Psicofisiologia</p><p>Farmacopsicologia</p><p>Psicologia Comportamental (Reflexologia c Biofeedback) Psicopatologia</p><p>Psicanálise</p><p>Psicologia Existencial</p><p>Psicologia Evolutiva</p><p>Psicossociologia e Antropologia</p><p>Hipnologia</p><p>Onirologia</p><p>Tanatologia</p><p>Síntese de vários destes métodos</p><p>A experiência tem mostrado que cada uma destas dis-</p><p>ciplinas tem efetivamente grande contribuição a dar à Psi-</p><p>cologia Transpessoal. O maior problema ainda é a barreira</p><p>dos estereótipos, dos preconceitos existentes entre Psicólo-</p><p>gos a respeito do assunto; interessante é notar que a recep-</p><p>tividade em relação à Psicologia Transpessoal é muito maior</p><p>entre os físicos do que entre os psicólogos. Enquanto os psi-</p><p>cólogos ainda se agarram ao modelo da física do século XIX,</p><p>modelo limitado ao nosso espaço tridimensional, a física saiu</p><p>deste modelo entrando, ao seu modo, nas fronteiras da</p><p>consciência cósmica.</p><p>Isto, sem dúvida, reforça ainda mais o valor da Psicologia</p><p>Transpessoal e a sua contribuição para uma renovação dos</p><p>conceitos da Psicologia contemporânea.</p><p>Vamos, ao terminar, mostrar quais os problemas levan-</p><p>tados pelas hipóteses deste trabalho, mais particularmente</p><p>no que se refere à existência de duas espécies de realidade</p><p>que se apresentam como tais ao observador ou leitor não</p><p>preparado para tal descoberta.</p><p>76</p><p>5</p><p>Duas Realidades</p><p>ou uma só?</p><p>Certeza Experimental e Experiencial</p><p>As hipóteses que acabamos de expor podem ser considera das</p><p>como tais quando vistas do ponto de vista da ciência de nível</p><p>de consciência baseada nos cinco sentidos, nível que</p><p>chamamos de CEC 1. Em nível de CEC 2, no nível da cons-</p><p>ciência cósmica, elas constituem certezas experienciais. Per-</p><p>guntando a qualquer pessoa que tenha entrado em nível de</p><p>consciência cósmica se ela concorda com estas hipóteses ela</p><p>responderá de certo que para ela a maioria, senão todas elas,</p><p>constituem algo que ela mesma experimentou.</p><p>A maior dificuldade, em nível de CEC 1, consiste jus-</p><p>tamente em aceitar, mesmo como hipótese, a existência de</p><p>uma dimensão fora do tempo-espaço em que inexiste sepa-</p><p>ração entre objetos, nem entre o eu e o não-eu.</p><p>Estamos aqui diante de um velho quebra-cabeça em</p><p>relação ao qual o Ioga assim como as diversas metodologias</p><p>orientais ou ocidentais de meditação deram uma resposta</p><p>experiencial, ao alcance de quem tenha paciência, abertura e</p><p>motivação suficientes para realizar tal experiência.</p><p>O Problema das Duas Realidades</p><p>O quebra-cabeça consiste em perguntar como o cognoscente</p><p>pode conhecer o cognoscido, como o “eu” pode conhecer o</p><p>“não-eu”, se ambos são feitos da mesma energia ou da mesma</p><p>essência. E’ a essência se conhecendo a si mesma... Eu sou</p><p>feito de um corpo físico, que é constituído de um conjunto de</p><p>aparelhos sensoriais receptores das impressões visuais,</p><p>auditivas, tácteis, gustativas, olfativas; estas impres-</p><p>sões são transmitidas ao cérebro por vias nervosas aferen-</p><p>tes; outras vias eferentes transmitem respostas adaptativas</p><p>automáticas ou através do analisador racional. Estes órgãos</p><p>sensoriais têm como função permitir ao cérebro se formar</p><p>uma imagem da realidade externa tanto quanto possível</p><p>exata. Em outras palavras, “eu” posso perceber a realidade de</p><p>uma árvore, de um alimento ou de um pinheiro através das</p><p>informações recebidas através dos meus órgãos sensoriais.</p><p>Ao realizar esta operação informativa, “eu” estou ao mesmo</p><p>tempo informado do aspecto ou qualidade “externo” do</p><p>objeto sentido; assim se forma a convicção difícil de</p><p>desenraizar, de que “eu” sou diferente do mundo exterior.</p><p>Esta</p><p>diferença entre o mundo exterior e o “eu” se acentua</p><p>ainda mais, sob efeito das informações propriocetivas,</p><p>cinestésicas e cenestésicas entre outras. O alimento uma vez</p><p>percebido pela forma, cor, cheiro, sabor e textura provoca</p><p>uma série de respostas condicionadas ou incondicionadas</p><p>como por exemplo boas lembranças, alegria ou tristeza, sa-</p><p>livação ou sensação de fome, ou ainda associações de idéias</p><p>com fatos relacionados com experiências passadas; todas es-</p><p>tas informações interiores reforçam ainda mais a convicção</p><p>da existência real de um mundo interior e de um mundo</p><p>exterior de um “eu” e de um “não-eu”.</p><p>Esta divisão entre os dois mundos é o que constitui a</p><p>base psicológica da ciência ocidental e do nível de CEC 1. Ela</p><p>até reforça esta separação quando exige formalmente que</p><p>deve se eliminar toda influência do mundo subjetivo, como</p><p>por exemplo a imaginação ou a emoção.</p><p>Sob efeito da meditação, qualquer que seja a técnica</p><p>usada para entrar neste estado, a divisão entre os dois mun-</p><p>dos, entre o “subjetivo” e o “objetivo”, desaparece. O me-</p><p>ditante começa a tomar consciência de que existe nele uma</p><p>parte do “eu”, um observador que permanece o mesmo, que</p><p>não se modifica e que toma conhecimento com uma certa</p><p>distância tanto das percepções esteroceptivas como inte-</p><p>roceptivas; numa fase mais adiantada, este “eu” se percebe</p><p>como sendo idêntico quanto à sua essência ao mundo</p><p>exterior. Neste momento ele é sujeito a “insight”: o mundo tal</p><p>como ele o percebia é ilusório, havendo uma dicotomia que</p><p>Le Shan (1973) intitulou de “Individual reality”; segundo ele,</p><p>há duas espécies de “realidades individuais”: a realidade</p><p>individual “sensorial” e a realidade individual “cla-</p><p>rividente”. Damos a seguir um quadro-resumo que tradu-</p><p>zimos do seu excelente trabalho sobre uma teoria geral do</p><p>“Paranormal”.</p><p>QUADRO COMPARATIVO ENTRE A</p><p>REALIDADE INDIVIDUAL SENSORIAL</p><p>E A REALIDADE INDIVIDUAL CLARIVIDENTE</p><p>EM RELAÇÃO A CERTOS PRINCÍPIOS BÁSICOS</p><p>(Sea- Le Shan 1973)</p><p>(S-IR)</p><p>Sensory Individual</p><p>Reality</p><p>1. Objetos e eventos separados no</p><p>tempo e/ou no espaço são</p><p>primariamente individuais e separados,</p><p>mesmo se são vistos de modo</p><p>secundário — como sendo relacionados</p><p>em unidades maiores.</p><p>2. A informação vem através dos</p><p>sentidos, e estes são as únicas fontes</p><p>válidas de informação.</p><p>3. 0 tempo é dividido em passado,</p><p>presente e futuro e se move de modo</p><p>irreversível numa só direção do futuro,</p><p>através do presente, no passado. E’ o</p><p>tempo de uma-coisa-que-é-seguida-</p><p>por-outra.</p><p>4. Um evento ou uma opção podem</p><p>ser bons, neutros ou maus, mesmo se as</p><p>suas conseqüências freqüentemente só</p><p>são percebidas somente muito tempo</p><p>após o evento.</p><p>(C-IR) Clairvoyant</p><p>individual Reality</p><p>A identidade individual é essen-</p><p>cialmente ilusória. Primariamente,</p><p>objetos e eventos fazem parte de uma</p><p>configuração que por sua vez é parte de</p><p>uma configuração maior e assim por</p><p>diante até que tudo esteja incluído no</p><p>grande plano e configuração do</p><p>universo. Eventos individuais e objetos</p><p>existem, mas a sua individualidade é</p><p>bastante secundária em relação ao fato</p><p>de ser parte integrante da unidade da</p><p>configuração.</p><p>A informação é conhecida através do</p><p>cognoscente, e do objeto fazendo parte</p><p>da mesma configuração unitária. Os</p><p>sentidos nos dão apenas informação ilu-</p><p>sória.</p><p>O tempo não tem divisões; presente,</p><p>passado e futuro são ilusórios. Existe</p><p>sequência de ação, mas isto acontece</p><p>num eterno agora. E’ o tempo de tudo-</p><p>de- uma-vez.</p><p>O mal é uma ilusão, tal como o bem. O</p><p>que é “é”, e não é nem bom nem mau,</p><p>mas faz parte de um plano cósmico</p><p>eterno e harmonioso, o qual, pela força</p><p>da sua existência, está acima do bem ou</p><p>do mal.</p><p>5. A vontade livre existe, e se pode</p><p>fazer decisões que alteram o futuro. A</p><p>ação pode ser realizada através da</p><p>vontade.</p><p>6. A percepção pode ser focalizada em</p><p>qualquer direção desejada, salvo se</p><p>bloqueada, e aquele conhecimento</p><p>específico pode ser adquirido.</p><p>7. O espaço pode impedir o in-</p><p>tercâmbio de informação e energia</p><p>entre dois objetos individuais a não ser</p><p>que haja uma “média”, uma “coisa-</p><p>entre”, que transmite a energia ou a</p><p>informação de um a outro.</p><p>8. O tempo pode impedir o in-</p><p>tercâmbio de energia ou informação</p><p>entre dois objetos individuais.</p><p>Intercâmbios só podem realizar-se no</p><p>presente, e não do presente ao passado</p><p>ou do presente ao futuro.</p><p>A vontade livre não existe já que o que</p><p>será “é”, e que o começo e o fim de tudo</p><p>se fundem um no outro. Decisões não</p><p>podem ser tomadas já que isto envolve</p><p>ação-no-futuro e que o futuro é ilusório.</p><p>Não podemos agir mas apenas observar</p><p>a configuração das coisas.</p><p>A percepção não pode ser focalizada,</p><p>pois isto envolve a vontade, a decisão e</p><p>ação-em-direção-ao-futuro; todos estes</p><p>impossíveis. Conhecimento vem quan-</p><p>do a gente “é” na configuração das</p><p>coisas e não do desejo de conhecer uma</p><p>informação especifica. A percepção não</p><p>pode ser exteriormente bloqueada já</p><p>que o conhecimento vem do fato de ser</p><p>parte do Todo, e que nada pode aparecer</p><p>entre cognoscente e cognoscido, já que</p><p>eles são a mesma coisa.</p><p>O espaço não pode impedir o</p><p>intercâmbio de energia entre dois</p><p>objetos individuais, já que a sua</p><p>separatividade e individualidade são</p><p>subordinadas à sua unidade e</p><p>relatividade.</p><p>O tempo não pode impedir o</p><p>intercâmbio de energia e informação</p><p>entre dois objetos individuais, já que a</p><p>divisão em passado, presente e futuro</p><p>são ilusões, e que todas as coisas ocor-</p><p>rem num “eterno agora”.</p><p>Como já mostramos numa das nossas hipóteses, a pri-</p><p>meira na relação, há uma semelhança muito grande e uma</p><p>quase-identidade de pontos de vista entre as visões dos mís-</p><p>ticos e as da física moderna; Le Shan o demonstra claramente</p><p>(1973). Não vamos voltar ao assunto; queremos apenas</p><p>mostrar que já em nível CEC 1 existe uma brecha que tende a</p><p>fazei’ cair a balança a favor do (C-IR) que se confunde aliás</p><p>em grande parte com a nossa CEC 2. Em outras palavras a</p><p>mística e a física nos descrevem um mundo totalmente</p><p>diferente do que estamos percebendo; as coincidências entre</p><p>as descrições das duas disciplinas forçam uma aceitação da</p><p>CEC 2.</p><p>Resulta disto que a ciência atual e do futuro tem e terá</p><p>que levar em consideração esta realidade fora do tempo-</p><p>espaço. A ciência passará progressivamente ao nível de CEC</p><p>2, à medida que a Psicologia se dispuser a integrar este mes-</p><p>mo nível; é o que explica a criação da Psicologia Transpes-</p><p>soal, cuja função essencial será de efetuar uma verdadeira</p><p>revolução nos conceitos atuais desta ciência.</p><p>Qual das Duas Realidades é Real?</p><p>Surge então um último problema: Qual dos dois modos de</p><p>perceber é mais verdadeiro?</p><p>Diante desta pergunta, parece surgir uma divisão na</p><p>percepção entre os que entraram na consciência cósmica; es-</p><p>ta divisão tem gerado inúmeras correntes filosóficas, tanto no</p><p>Ocidente quanto no Oriente; ela está também na base da</p><p>distinção entre o “materialismo” e o “espiritualismo” e é ela</p><p>que distingue, num certo sentido, as posições do Ioga</p><p>Hinduísta e do Ioga Budista. Nas grandes linhas os materia-</p><p>listas defendem as posições da CEC 1, embora devam sentir-</p><p>se bastante embaraçados diante de certas posições recentes</p><p>da física moderna. Os espiritualistas defendem as posições da</p><p>CEC 2. Os budistas insistem no caráter ilusório, tanto do</p><p>mundo exterior quanto do mundo interior, e negam, em sua</p><p>tendência niilista, toda realidade de nossa experiência do eu,</p><p>qualquer que seja a sua forma, enquanto que os hinduístas</p><p>tendem a negar apenas a realidade do “eu” ou ego dos cinco</p><p>sentidos; para a maioria deles só é real o nível de CEC 2.</p><p>Tudo indica que a percepção e a aceitação de duas rea-</p><p>lidades são apenas o</p><p>reflexo de uma fase evolutiva em que se</p><p>encontram ou se encontravam os místicos na sua caminhada.</p><p>Sri Aurobindo, por exemplo, insiste muito neste ponto; ele</p><p>mostra que as pessoas que vivem intensamente a realidade</p><p>da consciência cósmica têm uma tendência a negar à nossa</p><p>realidade quotidiana; mas que progressivamente estas</p><p>pessoas passam a aprender a viver e a experimentar os dois</p><p>planos como sendo uma só realidade, pois a divisão segundo</p><p>ele é apenas aparente. Há em nós um</p><p>“eu” que faz parte integrante do “eu” universal; uma parte</p><p>deste “eu” está em contato com o mundo, isto é, com outras</p><p>partes de outros “eus”, através dos cinco sentidos, os quais</p><p>dão a este “eu” parcial a impressão de separatividade. Como</p><p>o afirma William James, há inúmeras verdades mas só há</p><p>uma realidade; ele queria expressar com isto o mesmo</p><p>pensamento que Sri Aurobindo; percebermos o mundo em</p><p>relação à nossa mente, que é por sua vez apenas uma parte</p><p>do “eu” total; assim sendo o mundo é ilusório apenas no</p><p>sentido de uma relatividade; é uma parte do nosso eu, a</p><p>mente, que percebe uma parte do universo; à medida que nos</p><p>aprofundamos e alcançamos níveis subliminais, subcons-</p><p>cientes e superconscientes é que a realidade nos aparece de</p><p>modo cada vez mais amplo; a parte interior do “eu” (o “ego”</p><p>freudiano) dos cinco sentidos passa a ser percebida como</p><p>fazendo parte integrante da parte do “eu” retraído (o “Self” de</p><p>Jung); por um processo de conhecimento por identificação,</p><p>bastante diferente do conhecimento intelectual, o “eu” total</p><p>interior passa a ter a vivência da sua pertinência ao “eu”</p><p>universal e o eu universal passa a existir dentro do “eu”</p><p>individual o qual ao mesmo tempo se percebe como sendo</p><p>todos os “eus” individuais de todas as partes do universo. Isto</p><p>é que caracterizaria os estágios mais adiantados da</p><p>consciência cósmica.</p><p>índice Alfabético</p><p>das Citações Bibliográficas</p><p>1. ANDERSON, M. S. e SAVARY, L. M. Passages. Harper and Row. Nova</p><p>Iorque 1972.</p><p>2. ASSAGIOLI, R. The act of will. Penguin books. Baltimore 1973.</p><p>3. BAPTIST, E. C. Buddhism and Science. Mahabodhi Soc. of índia. Varanasi</p><p>1959.</p><p>4. BAUDOUIN, Ch., BAZIN, G., CLAUDEL, P., ELIADE, M. etc. “Nos sens et</p><p>Dieu”. Eludes carmélitaines. Descleé de Brouwer. Bruges 1954.</p><p>5. BÉGUIN, A., BURAUD, G., BRUNO, J. M., DALI, S. “Magie des extrèmes”.</p><p>Etudes Carmélitaines. Desclée de Brouwer. Bruges 1952.</p><p>6. BONNY, H. L., e SAVARY, L. M. Music and your mind. Harper and Row.</p><p>Nova Iorque 1973.</p><p>7. BROWN, B. Neu) mind-new body. Harper e Row. Nova Iorque 1974.</p><p>8. BROSSE, Th. Etudes instrumentales des techniques du yoga.</p><p>Maisonneuve. Paris 1963.</p><p>9. BUCKE, R. M. Cosmic Consciousness. Dutton. Nova Iorque 1969.</p><p>10. DEIKMANN, A. J. “Deautomatization and the mystic experien- ce”, in Tart,</p><p>Altered States of Consciousness. Wiley. Nova Iorque 1969. p.23-43.</p><p>11. EINSTEIN, A. e INFELD, L. L'évolution des idées en Physique. Payot. Paris</p><p>1963.</p><p>12. FISCHGOLD, H. e GASTAUT, H. Conditionnement et réactivité en</p><p>Electroencéphalographie. Masson. Paris 1957.</p><p>13. FLAMMARION, C. Après la mort. Flammarion. Paris 1922.</p><p>14. GOLEMAN, D. “The Buddha on Meditation and States of consciousness.</p><p>Part. II: A typology of Meditation techniques”. In The Journal of transpersonal</p><p>psychology. Vol. 4, N» 2. 1972.</p><p>15. GREEN, E. E., GREEN, A.- M., WALTERS, E. D. “Voluntary control of</p><p>internai States: Psychologicab and physiological”. The Journal of Transpersonal</p><p>Psychology. Vol. 2, N? 1. 1970.</p><p>16. GREEN, E. Biofeedback for Mind-Body Self Regulation...</p><p>17. HERON e HEBB. “A patologia do tédio”, p.192, in Psicobiologia. Ed.</p><p>Univers. de São Paulo. 1970.</p><p>18. HOSSRI, C. M. Treinamento Autônomo c Equilíbrio Psicotônico. Mestre</p><p>Jou. São Paulo 1970.</p><p>19. JEAN DE LA CROIX. Oeuvres complètes. Desclée de Brouwer. Paris 1967.</p><p>20. KAHN, H. e WIENER, J. O ano 2.000. Melhoramentos. São Paulo 1967.</p><p>21. KOESTLER, A. AS razões da coincidência. Nova Fronteira. Rio 1972.</p><p>22. LAING, R. D. A política da Experiência. Vozes, Petrópolis 1974.</p><p>23. LE SHAN, L. “Physicists and Mystics: similarities in a world view”. The</p><p>journ. of transp. psych. Vol. 1, N? 2. 1969.</p><p>24. LE SHAN, L. Toward a General Theory of lhe Paranormal,</p><p>Parapsychology Foundation. Nova Iorque 1973.</p><p>25. LINSSEN, R. Bouddhisme, Taoisme et Zen. Le courrier du livre. Paris</p><p>1972.</p><p>26. LINSSEN, R. Spiritualité de la inatière. Planète. Paris 1966.</p><p>27. LUPASCO, S. Les trois matières. Julliard. Paris.</p><p>28. LYRA, A. Parapsicologia e inconsciente coletivo. Ed. Pensamento. São</p><p>Paulo 1970.</p><p>29. MANGAN, G. L. A review of pubiished research on the relationship of</p><p>some personality variables to ESP scoring levei. Parapsychology Foundation.</p><p>Nova Iorque 1958.</p><p>30. Mc KNIGHT, H. Silva Mind Control-Key to inner kingdoms. Inst. of</p><p>Psychorientology. Laredo 1973.</p><p>31. MITCHELL, E. D. Psychic exploralion. J. White. Nova Iorque 1974.</p><p>32. MONOD, J. Le hasard et la nêcessité. Senil, Paris 1970 c Vozes, 1973.</p><p>33. Osis, K. Deathbed observations by physicians and nurses.</p><p>Parapsychology Foundation. Nova Iorque 1961.</p><p>34. PAYNE, B. Getting there without drugs. Viking Press. Nova Iorque 1973.</p><p>35. PAHNKE, W. H. “Drugs and mysticism”, in The highest state of</p><p>consciousness. Anchor. Nova Iorque 1972, p.257 s.</p><p>36. PRINCÈ, R. and SAVAGE Ch. “Mystical States and the concept of</p><p>regression”, in The highest state of consciousness. Anchor. Nova Iorque 1972,</p><p>p.114 s.</p><p>37. REICH, W. La fonction de 1'orgasme. L’Arche. Paris 1970.</p><p>38. ROGERS, C. “Alguns novos desafios”. Cader. de Psicol. Ano 1. N’ 1.</p><p>Out. 74. Recife.</p><p>39. RHINE, J. B. O novo mundo do espírito. Bestseller. São Paulo 1966.</p><p>40. RHINE, J. B. Novas perspectivas da Parapsicologia. Cultrix. São Paulo</p><p>1971.</p><p>41. SAGERET, J. La vague mystique. Flammarion. Paris 1920.</p><p>42. SCHULTZ, J. H. Le training autogène. PUF. Paris 1965.</p><p>43. SHAPIRO, D. E COL. Biofeedback and Self Control. Aldine. Chicago.</p><p>Annual.</p><p>44. SIVANANDA SWAMI, Haja Toga. Comp. Edit. Americ. Rio 1972, p.87 s.</p><p>45. SKINNER, B. J. Beyond Freedom and Dignitii. Knopf. Nova Iorque 1971.</p><p>46. SRI AUROBINDO. La vie divine. A. Michel. Paris 1973.</p><p>47. TANQUEREY, AD. Précis de Théologie Ascétique et Mystique. Desclée.</p><p>Paris 1923, p.866 s.</p><p>48. TART, CH. “Scientific foundations for the Study of AIIHIHI States of</p><p>Consciousness”. The Journ. of Transp. Psychol. 11)71. N p.93-124.</p><p>49. Tart, Ch. T. Altered States of Consciousness. Wiley. Novit Iorque 1969.</p><p>50. CHARDIN, T. de, La Place de 1'homme dans la nature. Senil. Paris 1956.</p><p>51. TYRRELL, G. N. M. AU delà du conscient. Payot. Paris 1963.</p><p>52. VASILIEV, L. L. OS Misteriosos Fenômenos da Psique Humana. Paz e</p><p>Terra. Rio 1970.</p><p>53. WEIL, P. AS Fronteiras da Regressão. Círculo Brasileiro de Psicanálise.</p><p>Belo Horizonte 1974.</p><p>54. WEIL, P. O Nome Secreto de Deus. Em vias de tradução. 1975.</p><p>55. WEIL, P. A Mística do Sexo. Itatiaia. Belo Horizonte 1975.</p><p>56. WEIL, P. A Esfinge: Estrutura e Mistério do Homem. Vozes, Petrópolis</p><p>1973.</p><p>57. WOLSTENHOLME, G. E. W. e KNIGHT, J. The pineal gland — A Ciba</p><p>Symposium. Livingstone. Londres 1971.</p><p>Programa de Leitura</p><p>de Artigos Agrupados por Ramos</p><p>da Psicologia Transpessoal</p><p>1. O que é Psicologia Transpessoal?</p><p>Sutich, A. J. “Some Considerations regarding Transpersonal Psychology”. The</p><p>journ. of Transp. Psychol. 1969. Ne 1, p.11-20.</p><p>Tart, Ch. T. “Scientific Foundations for the Study of Altered States of</p><p>Consciousness”. The Journ. of Transp. Psychology. 1971. N’ 2, p.93-124.</p><p>2. A Consciência Cósmica, como Reconhecê-la?</p><p>Bucke, R. M. Cosmic Consciousness. Dutton. Nova Iorque 1969. Part III, p.61-82.</p><p>Jung, C. G. Ma vie. Gallimard. Paris 1966, 332-340.</p><p>Deikmann, A. J. “Deautomatization and the Mystic Experience”, in</p><p>Psychiatry. Vol. 29, 1966, p.324-338. Também in Tart, Ch. Altered States of</p><p>Consciousness. Wiley. Nova Iorque 1969, p.23-43.</p><p>3. Métodos de Investigação da Consciência Cósmica.</p><p>• Fundamentos científicos — Goleman, D. “Perspectives</p><p>on Psycho- logy,</p><p>Reality, and the study of Consciousness”. The Journ. of Transpers. Psychol. N’ 1.</p><p>1974, p.73-85 (ver também Tart no item 1).</p><p>• Psicometria — Osis, K., Bekert, E., Carlson, M. L. “Dimensions of the</p><p>Meditative experience”. The Journ. of Transpers. Psychtíl. N? 2, 1973, p.109-135.</p><p>Prince, R. “Are Mystical Experiences Common?” Newsletter Revieiv. Vol.</p><p>VII. N’ 1-2. 1974.</p><p>• Psicofisiologia — Wallace, R. K. and Benson, H. “The Physiology of</p><p>Meditation”, in Biofeedback and Self-Control. Aldine. Annual. Chicago 1972,</p><p>p.28.</p><p>Kasakatsu, A. and Hirai, T. “An electroencephalographic Study on the Zen</p><p>Meditation (Zazen)”. Folia Psychiat. and Neurolog. Japonica. Vol. 20. 1966.</p><p>Também in Tart, Ch. Altered States of Consciousness. A Book of Reading. Wiley.</p><p>Nova Iorque 1969, p.189-501. • Farmacopsicologia — Pahnke, W. H. and</p><p>Richards, J. A. “Impli- cation of LSD and experimental Mysticism”. The Journ. of</p><p>Transper- son. Psychol. Vol. 1, N? 2. 1969, p.69-102.</p><p>Grof, S. “Varieties of Transpersonal Experiences”. The Journ. of Transp.</p><p>Psychol. Vol. 4, N’ 1, 1972, p.45-80.</p><p>• Psicologia Comportamental e Biofeedback •— Kamiya, J. “Operant control of</p><p>the EEG Alpha Rythm and some of its reported effects on Consciousness”, in Tart,</p><p>Ch. Altered States of Consciousness. Wiley. Nova Iorque 1969, p.507-517,</p><p>Mulholland, T. D. Can you realhj turn on with Alpha'! Bucke Memorial</p><p>Society. N’ 1-2, 1972, p.32-40.</p><p>• Psicopatologia — Laing, R. D. A Política da Esperiência. Vozes. Rio 1974,</p><p>p.98-103.</p><p>Barte Nhi. Ioga e Psiquiatria. Civil. Brasil., Rio 1974, p.107-121.</p><p>• Psicanálise — Kenneth Wapnick. “Mysticism and Schizophrenia”. Journ. of</p><p>Transperson. Psychology. Vol. 1, Ne 2, 1969.</p><p>Freud, S. Malaise dans la Civilisation. P. U. F. Paris 1971, p.5-16.</p><p>Prince, R. and Savage, Ch. Mystical States and the concepts of Regression,</p><p>Psycho-Doubleday. Nova Iorque 1972, p.114-134.</p><p>Assagioli, R. “Symbols of Transpersonal Experiences”. The Journ. of</p><p>Transperson. Psychology. Vol. 1, N’ 1, p.33-45.</p><p>• Psicologia Existencial — Maslow, A. “Notes on Being-Psychology”, in The</p><p>farther Reaches of Human Nature. Viking Press. Nova Iorque 1971, p.126-143.</p><p>• Psicologia Evolutiva — Weil, P. “O Homem e sua Evolução”, in Esfinge —</p><p>Estrutura e Mistério do Homem. Cap. 8 e 9. Vozes, Rio 1973, p. 107-124 e 136-</p><p>143 (1973). Ouspanski, P. D. L’Homme et son Evolution possible. Denoel. Paris</p><p>1961, p.49-83.</p><p>• Psicossociologia — Greeley, A. M. and Mc Cready. “The Sociology of</p><p>Mystical Ecstasy; some Preliminary Notes”. Abstract in M. M. Rucke Memorial</p><p>Society News Letters. Vol. VII, Ne 1-2, 1974, p.61. • Ilipnologia — Shcrman, S.</p><p>“Brief Report. Very deep hypnosis”. Journ. of Transp. Psychol. Vol. IV, Ne 1,</p><p>1972, p.87-91.</p><p>Tart, Ch. “Psychedelic Experiences Associated with novel Hypnotic</p><p>Procedure Mutual Hypnosis”, in Tart, Ch. Altered States of Consciousness.</p><p>Willey. Nova Iorque 1969.</p><p>• Abordagem experiencial por especialistas — Baba Ram Dass. Ram Dass</p><p>Lectures at the Maryland Psychiatric Research Center. Part. 1, N’ 1, 1973.</p><p>James, W. “Subjective Effects of Nitrous Oxide”, in Tart, Ch. ■ Altered</p><p>States of Consciousness. Wiley. Nova Iorque 1969, p.359-362. • Tanatologia —</p><p>William, R., Grof, S. “LSD Assisted Psychotherapy and the human Encounter</p><p>with Death”. The Journ. of transperson. Psychology. N’ 2, 1972, 121-150.</p><p>• Onirologia — De Ropp, R. S. The Master Game. Delta. Nova Iorque 1968,</p><p>p.49-70.</p><p>Brunton, P. “Méditation sur le rêve” e “Méditation sur le Sommeil”, in La</p><p>Sagesse du Moi Suprême. Payot. Paris 1969, p.333-342.</p><p>Desoille, “La fonction de sublimation”, in Le rêve éveillé en Psy-</p><p>chothérapie. PUF. Paris 1945, p.356-375.</p><p>• Antropologia Eliade, M. Le Chamanisme. Payot. Paris 1968, 9/17; 36-43. 395-</p><p>397. 1973, p.9-10. 17-28. Castaneda C. .4 Erva do Diabo. Record. Rio.</p><p>• Tentativas de Síntese — Lilly, J. The Center of the Cyclone. Julian Press. Nova</p><p>Iorque 1973, p.143-149 e 162-172.</p><p>Ring, K. “A transpersonal view of consciousness; A mapping of farther inner</p><p>space”. The Journ. of Transpers. Psychol. Vol. 6, Ne 2, 1974, p.125-155.</p><p>Muitos fatos têm contribuído nos últimos anos^ para que surgisse um novo ramo da Psicologia:</p><p>a Psicologia Transpessoal. É um ramo da Psicologia especializada no estudo dos estados de</p><p>consciência. Ela lida mais especialmente Com a “experiência cósmica’ ou os estados ditos</p><p>"superiores’ da consciência. A Psicologia Transpessoal sofre a influência dos diversos ramos</p><p>da psicologia, tanto ocidental como oriental, bem como lança mão de outras ciências.</p><p>Destacamos, de modo especial, a Parapsicologia que estuda certos "poderes paranormais*.</p><p>Tudo indica que estes poderes são concomitantes cum os estados especiais de consciência,</p><p>abordados pelo autor no presente livro, havendo por conseguinte uma relação intima entre</p><p>estas duas especialidades. A Psicologia Transpessoal levanta muitos problemas da</p><p>humanidade e coloca em questão a própria legitimidade da percepção dos cinco sentidos. As</p><p>fronteiras da própria Psicologia estão sendo rasgadas com o advento da Psicologia</p><p>Transpessoal e esperamos que para o futuro haja psicólogos que ousarão investigar a</p><p>possibilidade de haver uma realidade lícita que não está exposta aos cinco sentidos, uma</p><p>realidade na qual o presente, o passado e o futuro estão interligados, na qual o espaço não é</p><p>uma barreira e o tempo desaparece; uma realidade que pode ser percebida e conhecida</p><p>somente quando somos passivamente receptivos, em vez de ativamente inclinados a</p><p>conhecer. É um dos desafios mais excitantes postos à Psicologia. Coleção de grande valor se</p><p>inicia com este 19 volume, em que o autor prova suas qualidades de profundo conhecedor da</p><p>matéria.</p><p>DO MESMO AUTOR: Sua Vida, Seu Futuro / O Corpo Fala / A Criança, o Lar e a Escola /</p><p>Relações Humanas na Família e no Trabalho.</p><p>Tudo indica que estes poderes</p><p>são concomitantes com os estados especiais de consciência</p><p>abordados pela Psicologia Transpessoal, havendo por</p><p>conseguinte uma relação íntima entre estas duas espe-</p><p>cialidades.</p><p>A Psicologia Transpessoal, lançando mão de todas estas</p><p>disciplinas científicas, está caminhando, assim se espera, para</p><p>uma síntese progressiva dos dados, síntese esta que talvez</p><p>conseguirá jogar luz cada vez mais intensa sobre o tão</p><p>complexo assunto da experiência transcendental.</p><p>Resumo das Primeiras Hipóteses e Descobertas</p><p>Ainda é muito cedo para se chegar a um corpo de doutrina</p><p>solidamente estabelecido; pode-se, no entanto, dar uma vista</p><p>panorâmica dos primeiros resultados colhidos, seja através de</p><p>estudos experimentais com controle das variáveis, seja em</p><p>estudos clínicos, seja ainda sob forma de análises</p><p>especulativas.</p><p>Um esforço muito grande tem sido feito para definir</p><p>operacionalmente a Experiência cósmica a fim de que qualquer</p><p>pessoa possa reconhecê-la e distingui-la de outros estados de</p><p>consciência.</p><p>Entre as características isoladas por diversos autores,</p><p>podemos citar estas:</p><p>Unidade: é o desaparecimento da percepção dual Eu-Mundo.</p><p>Inefabilidade: a experiência não pode ser descrita com a semântica usual.</p><p>Caráter noético: um senso absoluto de que o que é vivido é real, às vezes muito</p><p>mais real do que a vivência quotidiana comum.</p><p>Transcendência do tempo-espaço: as pessoas entram numa outra dimensão; o</p><p>tempo não existe mais e o espaço tridimensional desaparece.</p><p>Sentido de sagrado: o senso de que algo grande, respeitável e sagrado está</p><p>acontecendo.</p><p>Desaparecimento do medo da morte: a vida é percebida como eterna, mesmo</p><p>se a existência física é transitória.</p><p>Mudança do sistema de valores e de comportamento: muitas pessoas mudam</p><p>os seus valores no sentido dos valores B de Maslow (Beleza, Verdade, Bondade,</p><p>etc.). Há uma subestimação progressiva dos valores ditos materiais e do apego ao</p><p>dinheiro. 0 “Ser” substitui o “Ter”.</p><p>Outras características têm sido assinaladas, mas não são</p><p>comuns a todas as experiências, como por exemplo: Visão de</p><p>luz deslumbrante, aparição de seres benéficos e às vezes</p><p>maléficos, a concomitância de poderes parapsicológi- cos e</p><p>outras ainda.</p><p>A realidade desta experiência tem sido comprovada</p><p>através de controles eletrocardiográficos e eltroencefalográ-</p><p>ficos; embora haja ainda dúvidas quanto à especificidade</p><p>destas reações, elas indicam que algo diferente se passa na</p><p>fisiologia nervosa dos indivíduos em estado de êxtase, a tal</p><p>ponto que se pode acompanhar, através do ritmo alfa, o início</p><p>e o término da experiência; é verdade que o seu conteúdo</p><p>escapa totalmente a este tipo de medida.</p><p>Estudos de biofeedback colocaram em relevo a eventual</p><p>natureza operante do condicionamento por eletroence-</p><p>falograma; através da retroalimentação, seria possível obter</p><p>estados artificiais de êxtase; o problema é justamente o da</p><p>comparação dos conteúdos ou das vivências entre estes estados</p><p>condicionados por sons e o verdadeiro êxtase místico. Ainda</p><p>não se tem resposta a isto.</p><p>E’ possível, tal como em psicometria, criar testes, ques-</p><p>tionários e inventários e submetê-los a análises estatísticas.</p><p>Algumas experiências já apareceram e têm sido isolados</p><p>tutores específicos através da análise fatorial.</p><p>A Psicanálise, já no tempo de Freud, emitia a hipótese de</p><p>que estes estados — ou “experiência oceânica”, como a</p><p>intitulava talvez com certa ironia o próprio Freud — seriam</p><p>uma regressão ao seio materno. Inúmeras hipóteses têm sido</p><p>examinadas em torno desta tese regressiva; tudo indica que</p><p>existem estados místicos de pseudofusão regressiva nos níveis</p><p>pós-uterino, intra-uterino e pré-uterino; as provas de exis-</p><p>tência de memória celular (ADN, ARN) e de continuidade da</p><p>vida orgânica e inorgânica, levam a pensar que a experiência</p><p>seria na realidade uma regressão ao nível de potencialização da</p><p>energia. Os inúmeros trabalhos sobre o LSD fazem pensar</p><p>numa tese desta natureza.</p><p>Outros estimam que, ao contrário de uma regressão, a</p><p>experiência cósmica seria um estágio superior de evolução.</p><p>Esforços estão sendo feitos atualmente para traçar mapas</p><p>evolutivos e discriminar os estágios de acesso a este tipo de</p><p>experiência. Os mapas de cinco ou sete fases são os mais</p><p>freqüentes, influenciados sem dúvida pelos diferentes sistemas</p><p>de Ioga.</p><p>A nosso ver, não há nenhuma contradição entre a tese</p><p>regressiva e a evolutiva, já que se trata de uma experiência fora</p><p>da nossa dimensão espaço-temporal, onde ir para frente ou para</p><p>trás não faz mais sentido.</p><p>A hipnologia tem também sua palavra a dizer. Estudos</p><p>comparativos estão sendo publicados, visando confrontar es-</p><p>tados hipnóticos nas suas diversas profundidades com a ex-</p><p>periência cósmica; a tese da regressão prevalece aqui também,</p><p>embora tudo indique igualmente que ela se situa no nível de sono</p><p>profundo.</p><p>Como se sabe, a abstinência sexual é assinalada por</p><p>inúmeros autores como sendo um fator importante neste tipo de</p><p>experiência; o êxtase sexual seria substituído pelo êxtase</p><p>cósmico, havendo uma transmutação da energia sexual. O</p><p>orgasmo individual é confrontado com um tipo de orgasmo</p><p>chamado por certos autores de “orgasmo cósmico”.</p><p>Sem dúvida há relações entre regressão, sono (natural ou</p><p>hipnótico), orgasmo e experiência cósmica; que tipo de relações</p><p>é este, resta ainda por determinar.</p><p>A Psicossociologia tem, com certeza, a sua palavra a dizer;</p><p>porque em certos estados místicos aparecem conteúdos mentais</p><p>(Cristo ou Buda por exemplo), ligados diretamente a certas</p><p>culturas religiosas. Este problema está diretamente relacionado</p><p>com a hipótese de Jung segundo a qual o arquétipo seria uma</p><p>forma em potencial energético sobre o qual fatores culturais vêm</p><p>se enxertar. E’ uma hipótese que é preciso cercar de perto do</p><p>ponto de vista experimental.</p><p>Falamos nos arquétipos junguianos. A psicogenética tem</p><p>com certeza a sua palavra a dizer neste assunto bem complexo.</p><p>As experiências com mescalina e LSD, desde Huxley até</p><p>Leary, levantam problemas que merecem análises acuradas, pois</p><p>estão aí as questões das relações entre droga e experiência</p><p>mística e também entre o que é alucinação e realidade.</p><p>Se aceitamos a tese de Leary, temos em nós toda uma</p><p>aparelhagem que nos permite penetrar diretamente, sem passar</p><p>pelos canais da ciência, em todos os domínios científicos,</p><p>humanos, animais, celulares, atômicos e mesmo no “vazio”.</p><p>Segundo tradição muito antiga, esta aparelhagem seria</p><p>localizada na glândula pineal, chamada de terceiro olho pelos</p><p>fisiologistas dos batracianos. Recente simpósio sobre esta</p><p>glândula destacou a existência de células fotossensíveis,</p><p>fonossensíveis e de secreção de um hormônio inibidor das</p><p>glândulas sexuais. Talvez tenhamos aí um aparelho de TV</p><p>multidimensional.</p><p>Importância da Psicologia Transpessoal no Mundo Moderno</p><p>Se confrontarmos os esforços imensos desenvolvidos pela ciência</p><p>ocidental no sentido de se aproximar cada vez mais da Realidade,</p><p>e se, de outro lado, pensarmos na existência de uma possibilidade</p><p>de controle da mente no sentido de uma visão direta desta</p><p>realidade, de uma percepção instantânea, temos de reconhecer</p><p>que vale a pena investir esforços e energia numa investigação</p><p>imparcial e “objetiva” de tal possibilidade, mesmo correndo o</p><p>risco, próprio a toda ciência, de ter emitido uma hipótese sem</p><p>fundamento.</p><p>Mas a Psicologia Transpessoal levanta muitos outros pro-</p><p>blemas cruciais para a humanidade.</p><p>Por exemplo, não sabemos até hoje muito bem o que</p><p>significa uma percepção “normal”, ou mais ainda o que é ser</p><p>“normal”; o conceito de normalidade varia conforme as épocas e</p><p>conforme as sociedades e culturas. A Psicologia Transpessoal</p><p>está a colocar em questão a própria legitimidade da nossa</p><p>percepção dos cinco sentidos e do nosso racionalismo cartesiano,</p><p>fruto de automatismos e condicionamentos adquiridos através</p><p>desses mesmos sentidos.</p><p>Está também colocado em questão</p><p>o processo tradicional de</p><p>classificar como doente mental toda e qualquer pessoa que tem</p><p>percepções inusitadas e provindo de áreas fora dos cinco sentidos</p><p>ou da lógica tradicional. Até que ponto grande proporção de</p><p>pessoas internadas como psicopatas nos hospitais psiquiátricos</p><p>não são, na realidade, pessoas normais que estavam a caminho</p><p>de uma ampliação do seu campo de consciência? Há ai um</p><p>problema grave que a Psiquiatria terá de enfrentar um dia.</p><p>A Psicologia Transpessoal tem também sua palavra no</p><p>fenômeno mundial do uso de drogas, mais particularmente as</p><p>chamadas “Psicodélicas”; tudo indica que os chamados</p><p>“viciados” encontraram verdades ou estão à procura delas.</p><p>Uma ajuda mais eficiente poderá ser dada quando as au-</p><p>toridades repressoras forem melhor esclarecidas sobre a na-</p><p>tureza das experiências psicodélicas e os que estão à procura</p><p>das verdades eternas poderão ser esclarecidos quanto a</p><p>caminhos menos danosos ou mesmo inteiramente seguros.</p><p>As fronteiras da própria Psicologia estão sendo rasgadas</p><p>com o advento da Psicologia Transpessoal; o objetivo e o</p><p>subjetivo, ao se fundirem dentro da Realidade total, cons-</p><p>tituem uma síntese desafiadora para o Psicólogo do futuro.</p><p>Como diz Carl Rogers: “Talvez na próxima geração de</p><p>psicólogos mais jovens, esperançosamente desembaraçados</p><p>das proibições e resistências universitárias, haja alguns que</p><p>ousarão investigar a possibilidade de haver uma realidade</p><p>lícita, que não está exposta aos cinco sentidos, uma realidade</p><p>na qual o presente, o passado e o futuro estão interligados, na</p><p>qual o espaço não é uma barreira e o tempo desapareceu; uma</p><p>realidade que pode ser percebida e conhecida somente quando</p><p>somos passivamente receptivos, em vez de ativamente</p><p>inclinados a conhecer. E’ um dos desafios mais excitantes</p><p>postos à Psicologia”.</p><p>Estas palavras de Rogers, pronunciadas em 1972, pro-</p><p>jetam para um futuro longínquo algo que já está acontecendo</p><p>estes últimos anos. Psicólogos, nem sempre muito jovens,</p><p>estão atacando o problema com todos os meios ao seu alcance,</p><p>acompanhados nesta tarefa por psiquiatras, sociólogos,</p><p>antropólogos, lamas tibetanos, swamis hinduístas e grandes</p><p>místicos da civilização judeu-cristã.</p><p>São estes trabalhos que iremos agora expor de maneira</p><p>mais detalhada, começando pelo problema da definição e</p><p>descrição da experiência cósmica.</p><p>Ao fazê-lo queremos ainda deixar bem claro algumas</p><p>posições que assumimos nesta explanação:</p><p>Algumas Observações Importantes</p><p>1º) Adotamos uma abordagem tipicamente científica no</p><p>sentido ocidental do termo, isto é, colocamo-nos num ponto</p><p>de vista descritivo, “neutro”, procurando citar trabalhos de</p><p>observação ou, quando possível, de experimentação com</p><p>controle rigoroso das variáveis em jogo. Pois como eu já o</p><p>expus no meu livro sobre a Esfinge, estou convencido de que</p><p>se pode abordar estes problemas dentro de uma linha</p><p>behaviorista, incluindo neste termo o comportamento verbal</p><p>através do qual podemos atingir os estados ditos “interiores”.</p><p>2º) O fato de abordarmos e descrevermos vários métodos</p><p>de indução da consciência cósmica integrante de correntes</p><p>ideológicas diversas não significa nenhuma adesão ou re-</p><p>comendação de qualquer uma destas, embora, eu pessoal-</p><p>mente, tenha experimentado algumas delas.</p><p>3º) Ao fazê-lo, me coloquei num ponto de vista experien-</p><p>cial no sentido de Laing. Sei hoje que é possível ter experiên-</p><p>cias interiores fora do pensamento lógico e que este último</p><p>pode ser utilizado depois da experiência. O confronto de</p><p>vários depoimentos ou análises permite aos poucos colocar</p><p>em relevo o que há de comum entre as experiências de</p><p>diversas pessoas.</p><p>4º) Mais especificamente, no que se refere ao espinhoso</p><p>assunto das drogas, como a maconha e o LSD, quero também</p><p>frisar que:</p><p>0 fato de eu citar trabalhos experimentais em nível uni-</p><p>versitário não significa que eu esteja recomendando o uso</p><p>indiscriminado de drogas psicodélicas, uso que está condu-</p><p>zindo muitos jovens a estados descontrolados de psicose.</p><p>5º) Exposições como esta que estamos apresentando po-</p><p>dem levar muitas pessoas a uma procura desesperada de um</p><p>estado permanente e utópico de “Nirvana”, levando-as a que-</p><p>rer viver fora da realidade quotidiana. Quero lembrar aqui que</p><p>os grandes místicos que vi em Ashrams indianos ou mosteiros</p><p>tibetanos também cuidam de assuntos administrativos, de</p><p>detalhes de construção, de assinar cheque e de buscar o leite</p><p>na hora certa. No entanto a maneira de executar estas tarefas</p><p>terrenas é impregnada de uma consciência ampla e de um</p><p>controle da mente nas suas ações quotidianas.</p><p>6º) Dificuldades semânticas devidas a imprecisões e po-</p><p>breza do vocabulário ocidental nos forçarão, às vezes, a usar</p><p>termos sânscritos, tibetanos ou hebraicos, pois estas línguas</p><p>são muito mais desenvolvidas neste terreno. Daremos o seu</p><p>significado na hora oportuna.</p><p>Mais especificamente no que se refere ao termo de “Cons-</p><p>ciência Cósmica”, o usamos, mesmo a título provisório; se de</p><p>vez em quando aparecem outros termos como Estágios</p><p>superiores da Consciência, ASC, Experiência Mística, isto é</p><p>devido ao fato de que há ainda uma certa indeterminação de</p><p>termos na nossa civilização ocidental.</p><p>2</p><p>A Consciência Cósmica</p><p>Sendo a consciência cósmica objeto essencial da Psicologia</p><p>Transpessoal, é bastante lógico que se comece por definir o</p><p>que se quer expressar quando se usa este termo, o que ele</p><p>representa, qual o significado deste significante.</p><p>Esta definição ajudará muito os que lidam com tal tipo de</p><p>experiência, pois será o primeiro meio ao seu alcance para</p><p>diagnosticar o que é experiência cósmica e o que faz parte de</p><p>outros tipos ou níveis de consciência.</p><p>Com efeito, só poderemos definir este tipo de consciência</p><p>ou experiência mediante critérios que permitam reconhecê-lo.</p><p>Mas, antes de descrever estes critérios, esbarramos numa</p><p>primeira dificuldade.</p><p>O Problema dos Sinônimos</p><p>Uma primeira dificuldade surge aqui: a existência de outros</p><p>termos que têm sido usados como designando este tipo de</p><p>experiência, indicados por certos autores como sendo sinô-</p><p>nimos, por outros como expressando, em certos casos, níveis</p><p>diferentes de consciência.</p><p>Quais as semelhanças e diferenças entre os seguintes</p><p>termos?</p><p>— Nirvana</p><p>— Estado de Buda</p><p>—- Experiência Transcendental</p><p>— Consciência Objetiva</p><p>— Iluminação</p><p>— Estado de Graça</p><p>— Estado de Beatitude</p><p>— Estado de Contemplação</p><p>Experiência Cósmica</p><p>Experiência Mística</p><p>Realização Suprema</p><p>Reino dos Céus Sétimo</p><p>Céu Êxtase Místico</p><p>União Estática</p><p>Samadhi</p><p>A diversidade de termos, além de diferenças culturais e</p><p>religiosas, é devida também ao fato de se tratar de experiência</p><p>eminentemente subjetiva e dificilmente comunicável, quando</p><p>não incomunicável.</p><p>Só existe uma certa coerência entre vários termos dentro</p><p>de um sistema filosófico ou religioso. Mas sabemos muito</p><p>pouco quanto às correspondências entre estados de consciên-</p><p>cia obtidos em diversas culturas ou sistemas místicos dife-</p><p>rentes, como, por exemplo, a mística cristã, hinduísta, budista</p><p>ou, ainda, o sufismo.</p><p>Por exemplo, na Mística Cristã, existe a distinção entre</p><p>vários estados de contemplação:</p><p>— A quietude árida ou “noite dos sentidos”</p><p>— A quietude suave</p><p>— A união plena</p><p>— A união estática suave</p><p>— O êxtase árido ou “noite do espírito”</p><p>— A união transformante ou casamento espiritual.</p><p>Estas classificações ou degraus, inspirados em S. Teresa</p><p>d’Âvila e João da Cruz (Tanquerey, A. e Gauthier, J. 1927),</p><p>poderiam ser colocados em paralelo com os estágios dos sufis:</p><p>— “Qurb” ou sentimento da proximidade de Deus obtido pela concentração.</p><p>— “Mahabba” ou perda de si mesmo na contemplação.</p><p>— “Fana” onde se forma a unidade entre a lembrança (Zikr), o sujeito da</p><p>lembrança (Zakir) e o objeto de lembrança, o UM (ou Mazkur).</p><p>— “Baga” que Idries Shah classifica como “Consciência Objetiva” (Goleman</p><p>1972).</p><p>Mesmo no caso do já bem conhecido Samadhi do Ioga de</p><p>Patanjali,</p><p>que nós incluímos na primeira lista, o estudioso</p><p>— ASC (Altered State of Cons-</p><p>ciousness de Tart)</p><p>— Peak-Experience ou Experiência</p><p>Culminante (de Maslow)</p><p>— Experiência de Plateau (de</p><p>Maslow)</p><p>— Satori</p><p>— Experiência Psicodélica</p><p>— União transformante</p><p>— Casamento espiritual</p><p>— HSC (Higher State of Cons-</p><p>ciousness)</p><p>— Experiência Oceânica (de Freud)</p><p>— ESP (Extrasensorial Perception) ou</p><p>PES (Percepção Extra-sensorial)</p><p>(de Rhine).</p><p>encontrará na realidade vários graus (ver, por exemplo,</p><p>Sivananda, 1972).</p><p>Estamos mostrando estes diferentes degraus apenas para</p><p>colocar em evidência que a escolha que fizemos do nome de</p><p>consciência cósmica é num certo sentido arbitrário e poderia</p><p>ter sido qualquer um dos termos da primeira lista; o</p><p>encolhemos por ser mais genérico, embora seja possível que</p><p>um outro surja no futuro, como por exemplo a Experiência</p><p>Transpessoal; o escolhemos também por fazer parte da</p><p>história da Psiquiatria.</p><p>O termo “consciência cósmica” foi escolhido pelo psi-</p><p>quiatra canadense Richard Maurice Bucke (1901), para</p><p>designar um estado de consciência que se situa acima da</p><p>simples consciência comum ao homem e uma parte dos ani-</p><p>mais, ou mesmo da consciência de si mesmo.</p><p>Descrição Sumária e Exemplos</p><p>O termo traduz uma experiência em que determinadas pes-</p><p>soas percebem a unidade do Cosmos, se percebem dentro dela</p><p>(e não fora, como muitos poderiam imaginar); a experiência é</p><p>acompanhada de sentimentos de profunda paz, plenitude,</p><p>amor a todos os seres. Compreende-se de um relance o</p><p>funcionamento e a razão de ser dos universos, a relatividade</p><p>das três dimensões do tempo e do espaço, a insignificância e</p><p>ilusão do mundo em que vivemos, os erros monumentais</p><p>cometidos por muitos seres humanos; uma iluminação</p><p>acompanha muitas destas percepções. A morte é vista apenas</p><p>como uma passagem para outra espécie de existência e o medo</p><p>dela desaparece totalmente. Ela pode ser e é, em geral, o</p><p>resultado de uma longa e lenta evolução; às vezes, no entanto,</p><p>ela constitui o início de uma profunda transformação no</p><p>sentido dos valores mais elevados da humanidade; neste</p><p>último caso ela acontece em momento inesperado.</p><p>Apresento aqui alguns testemunhos, a título de exemplo</p><p>do que se entende por experiência mística.</p><p>Escolhi, em primeiro lugar, o de Jung, por se tratar de um</p><p>discípulo de Freud, cujo valor científico é indiscutível; trata-</p><p>se de uma publicação intencionalmente póstuma, o que</p><p>aumenta, ainda mais, o valor deste documento.</p><p>O segundo é de João da Cruz, que era um místico da</p><p>Igreja Católica e reconhecido como tal.</p><p>O terceiro e o quarto são de amigos meus.</p><p>Uma pesquisa que se realiza na Universidade Federal</p><p>vai nos mostrar, com fundamentos estatísticos — assim</p><p>como Maslow já havia feito — que numa população es-</p><p>colhida por acaso há uma certa porcentagem de pessoas que</p><p>viveram esta experiência.</p><p>Poder-se-ia multiplicar os exemplos; outros o fizeram,</p><p>como Bucke (1901), por exemplo, que analisou 43 casos e fez</p><p>uma estatística da Idade do Iluminismo. Entre outros, cita:</p><p>Moisés, Gedeão, Isaías, Gautama, Sócrates, Jesus, Plotino,</p><p>Dante, Bacon, Pascal, Spinoza, Swedenborg, Gardiner,</p><p>Blake, Balzac. Recomendamos aos leitores estas obras.</p><p>C. G. JUNG: Minha Vida, Gallimard-Paris, 1966, p.338-9</p><p>“Nunca poderia pensar que se pudesse viver um tal episódio, que, de uma</p><p>forma geral, uma beatitude continua fosse possível. Estas visões e estes</p><p>acontecimentos eram perfeitamente reais; não há nada de forçado artificialmente,</p><p>ao contrário, tudo era da maior objetividade.</p><p>Recuamos diante da palavra “eterno”; no entanto, não posso descrever o</p><p>que vivi, senão como a beatitude de um estado intemporal, no qual passado,</p><p>presente e futuro se fundem num só. Tudo o que se produz no tempo estava</p><p>concentrado, aí, numa totalidade objetiva. Nada mais estava separado no tempo</p><p>e nem podia ser medido por conceitos temporais. Poderíamos, de preferência,</p><p>evocar esta vivência como um estado, um estado afetivo que, no entanto, não se</p><p>pode imaginar. Como posso me representar se, simultaneamente, vivo antes-de-</p><p>ontem, hoje e depois-de-amanhã?</p><p>Haveria o que ainda não começou, o que seria o presente mais claro e que</p><p>já teria terminado e, no entanto, tudo isso seria um só. O sentido não poderia</p><p>apreender senão uma soma, uma brilhante totalidade, na qual está contida a</p><p>espera do que vai começar, assim como a surpresa do que acaba de se produzir e</p><p>a satisfação ou decepção quanto ao resultado do que se passou. Um todo indes-</p><p>critível, no qual se está fundido c que, no entanto, se percebe com uma total</p><p>objetividade.</p><p>Diante de uma tal totalidade, fica-se mudo porque é algo apenas concebível.</p><p>A objetividade, vivida neste sonho e nestas visões, diz respeito à individualização</p><p>completa”.</p><p>NOTA: Jung se refere, aqui, a uma «viagem» extraterrena e extra-espacial feita</p><p>em estado de agonia, na qual viu a terra «azul», predisse a morte de seu médico e</p><p>descreveu as visões extraordinárias que o leitor poderá consultar em sua obra citada.</p><p>JOAO DA CRUZ: Obras Completas, Desclée de Brouwer</p><p>Paris, 1958, p.916-7</p><p>"Estava a tal ponto impregnado, absorvido, fora de mim, que permanecia</p><p>em todos os meus sentidos desprovido de qualquer sentir, enquanto que o espírito</p><p>recebeu, como dom, poder ouvir sem ouvir, transcendendo toda ciência.</p><p>Aquele que atinge verdadeiramente este ponto se vê enfraquecer em si.</p><p>Tudo que conheci antes parece-lhe tão baixo e cresce Imito nele a ciência que</p><p>fica sem mais nada saber, transcendendo toda ciência.</p><p>Este saber, originado de não-saber, encerra um poder tão alto, que os sábios e</p><p>seus argumentos não podem vencê-lo; porque o poder deles não saberia atingir o</p><p>não-ouvir, ouvindo, transcendendo toda ciência”.</p><p>PADRE JOSÉ INÁCIO FARAH</p><p>(Testemunho recolhido pelo autor, pessoalmente,</p><p>Í7 de outubro de 197'0</p><p>“Dia 9 de novembro de 1961, entre dez e onze horas da manhã, no</p><p>momento cm que se prepara meu enterro; três médicos cardiologistas do</p><p>Prontocor que trabalhavam na Avenida Barbacena estavam em torno de mim</p><p>e cuidavam de meus últimos momentos. Minha enfermeira particular, Srta.</p><p>Zeni Mendonça, ajoelhada ao meu lado, recitava a Litania da Santa Virgem.</p><p>Um dos médicos chorava.</p><p>Quando se recitava a invocação “Salus infirmorum”, senti-me</p><p>carregado e um outro mundo todo feito de luz e de uma alegria Indizivel se</p><p>abriu diante de mim. Sentia-me feliz, tão feliz que não via mais nada do que</p><p>se passava em torno de mim. Não sentia mais UH dores do meu coração (tivera</p><p>um enfarte); — chorava de alegria; sentia-me realizado.</p><p>De repente, um velho capuchinho se aproxima de mim, barba longa,</p><p>vem em minha direção e se curva; senti sua barba roçar meu rosto, um</p><p>perfume desconhecido na terra exalava de toda a sua pessoa; olha-me, abraça-</p><p>me e diz: “Sou Frei Leopoldo; venho le trazer uma mensagem, meu irmão;</p><p>teu exílio ainda não acabou; viverás ainda o suficiente para continuar minha</p><p>obra na terra; mus sofrerás suficientemente na terra; tem confiança e</p><p>coragem”. Beija-me de novo e desaparece como que evaporando-se. Neste</p><p>momento, abro os olhos e vejo a triste cena, emocionante, descrita acima.</p><p>Senti-me triste, porque vi escapar a felicidade que tanto desejei em</p><p>minha vida; senti a presença de Cristo na luz fulgurante que me contornava.</p><p>Tinha a impressão de possuí-lo, e que ele preenchia tolo o meu ser.</p><p>De volta à realidade terrestre, senti de novo o vazio e a primeira palavra</p><p>que pronunciei, decepcionado pela dura realidade: "O que é que há? Por que</p><p>choram? Tenho fome, dêem-me algo a comer”.</p><p>À minha volta, a alegria era geral; em mim, era a tristeza e eu o deixo</p><p>adivinhar por quê...”</p><p>J. S. — Médico</p><p>“Estava assentado em minha cama, quando, subitamente, vi-me no meio dos</p><p>trilhos de um trem e, à medida que percorria esses trilhos, via a cidade à direita.</p><p>De repente, meu pé direito sai do trilho e bate no solo e olho meu pé para ver</p><p>o que se passava; quando olho minha</p><p>perna direita, atraído por não sei o que,</p><p>encontro-me, subitamente, diante de uma cena dantesca: uma floresta</p><p>extraordinária, na qual os sentidos do homem não tinham mais razão de ser: a lógica</p><p>se tornava ilógica. Assim, sem que fosse necessário olhar, via tudo quase passar em</p><p>torno de mim abaixo e acima; via as folhas no chão; sentia-as ceder, mas não havia</p><p>nenhum som; sentia os galhos das árvores, infinitamente elevados, balançando ao</p><p>vento; pressentia-os mas não os sentia; a copa das árvores se confundia com o</p><p>horizonte; o silêncio era absoluto.</p><p>A uma certa distância, vi, a milhares de quilômetros, um homem e uma</p><p>mulher, assentados, de costas para mim; tive o pressentimento de que me viam,</p><p>assim como pressentia que estava lá para ser apresentado a alguém. Subitamente,</p><p>vi-me nos trilhos; eram duas dimensões diferentes; uma caracterizada pela cidade;</p><p>a outra dimensão caracterizada por esta visão e, agora, reunida na minha visão como</p><p>se fosse uma só realidade.</p><p>Senti-me assentado, de novo, na cama, vestido, como se nada tivesse se</p><p>passado. Eram três horas da tarde. A experiência durou apenas alguns segundos;</p><p>mas tenho a impressão de que vários séculos se passaram.</p><p>Durante todo o dia, senti uma paz indescritível e um amor infinito por todas</p><p>as coisas e pessoas. Esta é a descrição de minha primeira experiência.</p><p>Nunca falei disso a ninguém porque, na minha lógica pessoal, não encontrei</p><p>nenhuma explicação para essa experiência de cuja certeza não tinha nenhuma</p><p>dúvida; tratava-se de algo superior à vida de todos os dias; tinha medo que</p><p>pensassem que se tratava de produto de uma imaginação muito fértil.</p><p>A partir desta experiência, comecei a diagnosticar as doenças à distância, a</p><p>ter intuições quanto a medicamentos que minha formação médica não podia aceitar</p><p>e que salvaram várias vidas; previ, contra toda lógica, várias mortes que nâo pude</p><p>evitar apesar da intervenção de colegas. Não são acontecimentos quotidianos; mas</p><p>quando acontecem nunca erram”.</p><p>O nosso problema, em Psicologia Transpessoal, é de</p><p>investigar com os métodos da ciência tradicional, cujo</p><p>paradigma (Tart, 1971) é todo ele baseado nos cinco sentidos,</p><p>um fenômeno que não somente parece se situar numa área</p><p>fora deles, mas ainda parece pressupor o seu desligamento.</p><p>As investigações feitas até agora mostram que até um cer-</p><p>to ponto uma abordagem clássica é possível. Iremos descrever</p><p>com detalhe os métodos e técnicas utilizados assim como os</p><p>resultados alcançados até agora, começando pela “Análise de</p><p>Conteúdo”.</p><p>Análise de Conteúdo</p><p>É, sobretudo, a partir das descrições de experiências da</p><p>consciência cósmica que se pode ter uma idéia do que se trata.</p><p>Confrontando estas experiências, consegue-se aos poucos</p><p>formar uma imagem sincrética da experiência, embora cm</p><p>linguagem que nem sempre traduz inteiramente a natu- reza</p><p>e a intensidade do fenômeno.</p><p>A história procede da mesma forma quando estuda as</p><p>descrições de personagens contemporâneos a uma certa época</p><p>c procura ver o que há de comum entre estes testemunhos. Se</p><p>eu quero saber como é a lua e não tenho os meios de ir até lá,</p><p>só me resta o recurso de comparar as descrições de vários</p><p>astronautas e procurar quais os pontos comuns destas</p><p>descrições embora eu saiba que nunca poderei sentir e viver o</p><p>que eles viveram; uma “análise de conteúdo” permitirá</p><p>aproximar-me o mais possível do que eles perceberam na lua.</p><p>Poderei, depois, comparar esta análise de conteúdo com</p><p>fotografias, registro de temperatura, de medida de campo</p><p>eletromagnético etc. etc. Mas nada substituirá o registro</p><p>pessoal de impressões como a de se sentir muito leve, mais</p><p>livre e feliz, ou ainda a presença ou ausência de saudade da</p><p>terra.</p><p>Em Psicologia já estamos muito acostumados a comparar</p><p>dados subjetivos entre si e transformá-los em algo “medível”.</p><p>A classificação dos conteúdos num teste de Horschach, num</p><p>Thematic Aperception Test ou ainda num teste de reação à</p><p>frustração de Rozenzweig é um exemplo disto; o teste MM de</p><p>Helena Antipoff, que consiste em descrever as próprias mãos,</p><p>se aproxima ainda mais do que nós queremos dizer; nenhuma</p><p>redação é semelhante; no entanto é possível classificar os</p><p>conteúdos em certas categorias comuns permitindo assim</p><p>tirar todo um diagnóstico da personalidade.</p><p>O primeiro a aplicar um método desta natureza foi Bucke</p><p>(1901), embora sem o rigor que a Psicometria clássica</p><p>exigiria hoje. Ele analisou 43 casos de consciência cósmica;</p><p>além de descobrir que quase todos tiveram a sua revelação em</p><p>tomo dos 30 a 35 anos, observou 11 características comuns às</p><p>descrições colhidas, a saber:</p><p>24</p><p>1. Uma luz subjetiva.</p><p>2. A elevação moral.</p><p>3. A iluminação intelectual.</p><p>4. O senso de imortalidade.</p><p>5. A perda do medo da morte.</p><p>6. . A perda do senso de pecado.</p><p>7. O caráter súbito, instantâneo do acordar.</p><p>8. As características preliminares da personalidade intelectual, moral e</p><p>fisica.</p><p>9. A idade da iluminação.</p><p>10. O encanto adicional a esta personalidade, que faz com que homens e</p><p>mulheres sejam sempre (?) atraídos por esta pessoa.</p><p>11. A transfiguração observada por outrem no sujeito quando a consciência</p><p>cósmica está realmente presente.</p><p>Quando digo que Bucke foi o primeiro a efetuar tal</p><p>classificação de critérios, refiro-me a uma tentativa de análise</p><p>feita por um homem com formação científica. Isto não</p><p>invalida os esforços feitos por teólogos como por exemplo</p><p>Tanquerey e Gauthier (1927), que fizeram o esforço de estudar</p><p>mais de 250 místicos da Igreja Católica. Grande parte do seu</p><p>tratado é consagrado a definir a experiência mística e a</p><p>diferenciá-la do falso misticismo e dos fenômenos</p><p>psicopatológicos. Ao fazer este imenso esforço, os autores</p><p>chegaram a uma perfeita descrição que merece uma análise</p><p>acurada e deveria, sem dúvida, servir de pontç de confronto</p><p>com análises científicas feitas mais recentemente.</p><p>Depois da análise de Bucke, passaram-se quase sessenta</p><p>anos de silêncio nos meios psicológicos, cada vez mais im-</p><p>pregnados de Behaviorismo e preocupados com os aspectos e</p><p>manifestações exteriores do comportamento. A vida interior</p><p>praticamente caiu no esquecimento a tal ponto que, no</p><p>Vocabulaire de la Psychologie de um dos meus mestres, Henri</p><p>Piéron, não se encontra a simples palavra “psiquis- mo”...</p><p>Quanto a “consciência”, ela é definida da seguinte forma:</p><p>“Além do seu sentido moral, a consciência, como o observa</p><p>Hamilton, não é suscetível de definição, já que designa o</p><p>aspecto subjetivo e incomunicável da atividade psíquica, da</p><p>qual, fora de si mesmo, não se pode conhecer nada, a não ser</p><p>as manifestações de comportamento”. E’ este lipo de definição</p><p>que fez com que toda uma geração de psicólogos, ditos</p><p>“científicos”, quase esquecessem da existência da consciência.</p><p>Eu me incluo entre eles. . .. Esqueceram que a própria Ciência</p><p>é o produto direto de um fenômeno de CONSCIÊNCIA...</p><p>Ainda atualmente, alguns behavioristas só se interessam pelo</p><p>“input” e “output”, sem preocupação nenhuma pela “caixa</p><p>preta”. E’ contra estes extremos, em parte justificáveis do</p><p>ponto de vista metodológico, que surgiu a grande reação da</p><p>Psicologia Humanística, com Maslow, A. Watts, Laing entre</p><p>outros; é deste movimento que nasceu a Psicologia</p><p>Transpessoal, onde o Behaviorismo ocupa o seu devido lugar,</p><p>voltando de modo inesperado em muitos métodos, mais</p><p>particularmente o de Biofeedback, como o veremos mais</p><p>adiante.</p><p>A Psicologia Transpessoal retomou a classificação de</p><p>Bucke, e encontramos vários autores preocupados em dotar os</p><p>seus especialistas de critérios que lhes permitam discriminar</p><p>a verdadeira experiência cósmica de manifestações</p><p>psieopatológicas ou simplesmente de fraudes. Através des- tes</p><p>critérios é que pode também surgir uma definição da</p><p>consciência cósmica.</p><p>Vamos, a seguir, dar uma descrição sucinta destes ।</p><p>rllérios.</p><p>Os Critérios da Consciência Cósmica</p><p>Arlhur Deikmann (1966) enumera e descreve uma série de</p><p>características da experiência mística. Estas</p><p>características</p><p>são, segundo ele, as seguintes:</p><p>Realidade</p><p>Percepções não usuais</p><p>Unidade</p><p>Inefabilidade</p><p>fenômenos transensoriais</p><p>Ch. Prince e Savage (1966), num estudo sobre as relações</p><p>da experiência mística e a regressão do ponto de vista psica-</p><p>nalítico, distinguem cinco características diferentes:</p><p>- Renúncia aos interesses terrenos</p><p>- Inefabilidade</p><p>- Qualidade noética (sentido de realidade)</p><p>- Êxtase</p><p>- Experiência fusional</p><p>Walter H. Pahnke (1966), inspirado em W. T. Stace, dis-</p><p>tingue nove categorias que constituem o que ele chama de</p><p>tipologia do fenômeno místico, tipologia que ele considera</p><p>como sendo universal, independente de qualquer religião ou</p><p>cultura. Eis as nove categorias da sua tipologia:</p><p>I, Unidade</p><p>II, Transcendência do tempo e espaço</p><p>III, Estado de humor sentido como profundamente positivo IV, Senso do</p><p>sagrado</p><p>V, Objetividade e realidade</p><p>VI, Caráter Paradoxal</p><p>VII, Pretensa inefabilidade</p><p>VIII, Transitoriedade da experiência</p><p>IX, Mudanças positivas e contínuas nas atitudes e comportamento</p><p>W. H. Pahnke é o primeiro autor a submeter estes crité-</p><p>rios a um controle experimental bastante rigoroso. Fez com</p><p>que um grupo de estudantes de teologia ingerisse uma cáp-</p><p>sula, durante uma cerimônia religiosa, ao som de música e sob</p><p>orientação de monitores treinados em controlar os efeitos da</p><p>droga. Dez estudantes ingeriram psilocibina na cápsula e a</p><p>outra metade um placebo de 200 mg de ácido nicotínico o</p><p>qual provoca sensações de calor e de vibração cerebral,</p><p>chegando o efeito sugestivo ao máximo. Os dois grupos foram</p><p>submetidos a um questionário de 147 itens. Eis as diferenças</p><p>encontradas entre os dois grupos quanto às nove categorias:</p><p>Grupo Experimental Grupo</p><p>Placebo P.</p><p>1. Unidade 62 7 .001</p><p>A, Interna 70 8 .001</p><p>B. Externa 38 2 .008</p><p>2. Transcendência do</p><p>Tempo e Espaço 84 6 .001</p><p>3. Estado de humor</p><p>prof. positivo 57 23 .020</p><p>A, Alegria, graça</p><p>e paz 51 13 .020</p><p>B, Amor 57 33 .055</p><p>4. Senso do sagrado 53 28 .020</p><p>5. Objetividade e realidade</p><p>63 18 .011</p><p>6. Caráter paradoxal 61 13 .001</p><p>7. Inefabilidade 66 18 .001</p><p>8. Transitoriedade 79 8 .001</p><p>9.</p><p>Mudanças estáveis e positivas</p><p>de atitude e de comportamento</p><p>(6 meses depois) 51</p><p>8 .001</p><p>Em relação:</p><p>A. a si mesmo 57</p><p>3 .001</p><p>B. aos outros 40 20 .002</p><p>C. à vida 54 6 .011</p><p>D, à experiência 57 31 .055</p><p>Como se pode constatar, as diferenças são todas signifi-</p><p>cativas. Elas são menores para certos aspectos como o estado</p><p>de humor que foram, com toda plausibilidade, provocados,</p><p>também, pelo ambiente religioso criado durante a experiência</p><p>(Música sacra, rezas etc.), o que influenciou os dois grupos.</p><p>Sugestões para Investigações Futuras</p><p>Características ou critérios dados pelos vários autores citados</p><p>não coincidem inteiramente nem em número, nem em</p><p>qualidade.</p><p>Se cada um deles nos mostra o caminho e a possibilidade</p><p>de dotar a experiência cósmica de critérios que permitam</p><p>reconhecer as suas características principais, ainda são</p><p>necessárias pesquisas mais minuciosas do que as que têm sido</p><p>feitas até agora. Conforme o dissemos mais acima, a técnica</p><p>de “análise de conteúdo” tem que ser aplicada com lodo o seu</p><p>rigor, para se chegar a um certo denominador comum</p><p>permitindo experiências comparativas.</p><p>Dever-se-ia escolher uma mostra de místicos da cristan-</p><p>dade, do hinduísmo, budismo, sufismo, judaísmo e desconhe-</p><p>cidos voluntários contemporâneos, e classificar todas as suas</p><p>frases e afirmações. Far-se-ia um levantamento estatístico das</p><p>categorias encontradas realmente. Nada impede que as listas</p><p>acima referidas ou outras ainda sejam utilizadas nesta</p><p>classificação a título de hipótese, sem no entanto se ater a elas.</p><p>Pela nossa própria investigação, também superficial,</p><p>encontramos características que não são citadas pelos autores</p><p>acima referidos, por exemplo:</p><p>— A sensação de sair do corpo</p><p>— Audição de sons ou do som cósmico</p><p>— A relutância em contar a experiência ou, pelo contrário, uma tendência</p><p>messiânica ou catequética posterior</p><p>— O aparecimento de seres energéticos (santos, deuses, anjos, demônios)</p><p>— A sensação de poder penetrar no âmago de qualquer pessoa, animal,</p><p>material ou universo</p><p>— A capacidade de enxergar vidas passadas ancestrais, filo- genéticas ou de</p><p>reencarnação</p><p>Só depois de ter extraído “a posteriori” as características</p><p>da consciência cósmica é que se poderá dar uma definição</p><p>mais precisa ainda do que a que foi proposta por Bucke no</p><p>início deste século.</p><p>3</p><p>Fundamentos Científicos</p><p>da Psicologia Transpessoal</p><p>Duas Maneiras de Pesquisar a Realidade</p><p>Desde o advento da época científica e tecnológica, tem-se</p><p>observado um predomínio cada vez maior da razão sobre a</p><p>intuição, do “objetivo” sobre o subjetivo, da ciência sobre o</p><p>misticismo.</p><p>Isto até há uns quinze anos atrás. Atualmente uma reação</p><p>está se desenhando, mais particularmente entre a juventude,</p><p>movida por fatores já bastante conhecidos, entre os quais</p><p>podemos citar as descobertas da física moderna, mos- trando-</p><p>nos a relatividade do tempo e do espaço e a inexistência da</p><p>matéria que é, na realidade, energia, a influência <l<> LSD</p><p>abrindo as portas da percepção como o mostrou Huxley com</p><p>a mescalina e as chamadas “filosofias orientais”, mais</p><p>particularmente o Zen e o Ioga, cujas cosmologias se</p><p>aproximam muito das vistas da própria física, mas que</p><p>traduzem para o leigo as conseqüências destas para o</p><p>comportamento diário.</p><p>Assim existem atualmente duas maneiras de se aproxi-</p><p>mar da realidade: a científica e a do que Tart chamou de A SC</p><p>ou Altered States of Consciousness (Estados Alterados da</p><p>Consciência).</p><p>Na realidade esta dicotomização de abordagem da rea-</p><p>lidade já existe há muito mais tempo. Refiro-me aqui à</p><p>existência de escolas esotéricas, tanto no Oriente quanto no</p><p>Ocidente; estas escolas, quando sérias e bem orientadas, são</p><p>detentoras de uma verdadeira tecnologia de acesso à</p><p>percepção direta da realidade, ao que Bergson chamou de</p><p>“dados imediatos da consciência”.</p><p>As perseguições da Inquisição e posteriormente o sar-</p><p>casmo e ceticismo dos homens de ciência entre os quais</p><p>mais particularmente incluímos psicólogos e psiquiatras, fez</p><p>com que estas escolas se abrissem exclusivamente para os</p><p>seus estudantes, os quais até recentemente não gostavam de</p><p>falar das suas experiências pessoais nem da sua filiação a estas</p><p>escolas.</p><p>Vamos analisar agora até que ponto esta oposição e di-</p><p>versidade de abordagem tem fundamento e se as duas espé-</p><p>cies de metodologias são irreconciliáveis. Para isto vamos</p><p>resumir os fundamentos teóricos e as posições metodológicas</p><p>essenciais e básicas das duas correntes de pensamento.</p><p>Comparação das Duas Abordagens</p><p>1») A ciência contemporânea tem os seus fundamentos teóri-</p><p>cos apoiados num conjunto de teorias que se têm revelado</p><p>com o tempo como sendo operacionais e eficazes. Como o diz</p><p>Kurt Lewin, nada mais eficiente do que uma boa teoria; estas</p><p>teorias compreendem vários princípios entre os quais os</p><p>principais são o do determinismo e o da causalidade.</p><p>Lei da Causalidade e Determinismo</p><p>Segundo estes princípios tudo no universo tem uma causa; as</p><p>mesmas causas produzem os mesmos efeitos. Tanto a</p><p>observação cientifica desde Claude Bernard quanto a ex-</p><p>perimentação seguem estes princípios: a variável dependente</p><p>é o efeito, a variável independente é a causa; controlar as</p><p>variáveis experimentais consiste em selecionar entre várias</p><p>causas supostas ou hipotéticas, ou as causas responsáveis pelo</p><p>evento ou efeito focalizados pelo experimentador.</p><p>Nas escolas esotéricas encontramos um princípio equi-</p><p>valente, sob o nome de “lei de causa e efeito” ou lei do “kar-</p><p>ma”. Esta lei é aplicada de modo particular ao comportamento</p><p>humano, o qual também produz efeitos dos quais ele é causa.</p><p>A experimentação é a base mesma do esoterismo. Em</p><p>toda escola esotérica, seja no Ocidente como no Oriente, há</p><p>uma insistência dos gurus e mestres</p><p>em não aceitar nada</p><p>baseado apenas na crença; há um estimulo à experimentação.</p><p>Toda Objetividade é Subjetiva</p><p>2º) A ciência procura, antes de tudo, a «objetividade»; esta</p><p>objetividade consiste, em última análise, em fazer passar toda</p><p>“prova” por um ou vários dos cinco sentidos. Quando o</p><p>experimentador lança mão de aparelhos, ele o faz porque os</p><p>cinco sentidos são insuficientes para alcançar o fenômeno</p><p>procurado, ou porque a habilidade ou força humana impedem</p><p>de produzir o efeito desejado. E’ o que acontece por exemplo</p><p>com a captação de raios infravermelhos ou ultravioletas que</p><p>escapam à nossa visão, ou ondas de rádio ou TV que têm que</p><p>ser transformadas em estímulos sonoros ou visuais. Na</p><p>realidade estas cores ou sons não existem; são apenas o</p><p>registro pelos nossos sentidos de várias energias de</p><p>comprimento de onda variando de um centéssimo a um</p><p>trilhonésimo de metros. Freqüências variando de 10 ciclos a</p><p>1020 ciclos por segundo são percebidas como sons, calor, ou</p><p>cor, conforme’ o receptor que lhe é sensível. A própria matéria</p><p>é vista como sendo “objetivamente” sólida, quando na</p><p>realidade ela é pura energia mais densa que outras formas</p><p>energéticas.</p><p>As escolas esotéricas, sem negar a importância da “obje-</p><p>tividade” científica e dos cinco sentidos, insistem na exis-</p><p>tência de um ou vários outros sentidos, subdesenvolvidos em</p><p>razão direta da hipertrofia dos cinco outros causada por unia</p><p>educação distorcida. Além da nossa consciência de vigília</p><p>onde predominam os cinco sentidos, existem outros níveis de</p><p>consciência. Estes níveis seriam mais objetivos ainda. A</p><p>melhor prova seria a insistência das escolas esotéricas em</p><p>afirmar que tudo na natureza, mesmo a matéria deusa, é, na</p><p>realidade, “vibração energética”. O uso direto destes outros</p><p>sentidos lembra muito certos aparelhos inventados pela</p><p>tecnologia científica atual: rádio, TV, telefone, etc. Voltaremos</p><p>mais tarde sobre estas coincidências entre poderes</p><p>desenvolvidos nas escolas esotéricas, confirmados pela</p><p>Parapsicologia e a tecnologia moderna.</p><p>Vistos pelo prisma da ciência, os níveis de consciência e</p><p>de percepção apontados pelo esoterismo são altamente</p><p>"subjetivos”. Vistos pelos que já experimentaram estes níveis</p><p>dentro ou fora do esoterismo, estes são muito mais objetivos</p><p>ainda do que o que a ciência ocidental já isolou.</p><p>Estamos aqui diante de um choque do que Thomas Kuhn</p><p>(cit. por Tart 1975) chamou de “Paradigmas”. Tart emite a tese</p><p>de que a ciência clássica fundou seu “Paradigma” sobre o que</p><p>chamamos de estado normal da Consciência (Soc). Se for</p><p>comprovado, como o está sendo pela Psicologia Transpessoal</p><p>e anteriormente pelas escolas esotéricas, que existem outros</p><p>níveis de consciência, vistos dentro do primeiro paradigma</p><p>como “Alterados” (ASC), então temos que admitir outros</p><p>paradigmas baseados em outros estados de consciência,</p><p>chegando ao que Tart chamou de CEE ou Ciências de Estados</p><p>Específicos.</p><p>Se Eu Penso Não Sou...</p><p>3º) A ciência ocidental, além de apoiar-se nos cinco sentidos,</p><p>se apóia no uso do pensamento e do raciocínio, mais parti-</p><p>cularmente da lógica. O “Eu penso logo eu sou”, de Descartes,</p><p>impregnou até hoje o pensamento científico.</p><p>O esoterismo também se apóia no raciocínio e na ma-</p><p>temática; a lógica é considerada um instrumento importante.</p><p>Mas há uma diferença fundamental: a entrada em estados</p><p>diferentes de consciência implica no abandono momentâneo</p><p>do pensamento; o “eu penso logo sou” se transforma em</p><p>“enquanto eu penso não sou”. Todos os exercícios e ex-</p><p>periências de concentração visam a eliminar a corrente de</p><p>pensamento da mente, a fim de se chegar a uma percepção</p><p>direta da realidade. Só depois da experiência e baseada na</p><p>memória do que se passou é que a análise lógica e a crítica</p><p>entram em jogo. Se, por exemplo, durante uma experiência, a</p><p>pessoa tem percepção de detalhes do que está fazendo,</p><p>pensando e sentindo um amigo, é possível verificar com este</p><p>amigo se o que foi percebido à distância correspondia a fatos</p><p>reais.</p><p>Validação Consensual</p><p>4º) Como conseqüência do princípio de causalidade e do de-</p><p>terminismo, a ciência exige que os experimentos ou obser-</p><p>vações possam ser repetidos por qualquer pessoa, possibili-</p><p>tando, assim, uma validade consensual, como o lembra Tart.</p><p>No esoterismo também existe a insistência em possibilitar</p><p>a todos os estudantes ou discípulos experimentar por si</p><p>mesmos os métodos e técnicas preconizados.</p><p>O Segredo Protetor</p><p>5º) A validação consensual implica para a ciência ocidental</p><p>que não haja segredo e que sejam postos à disposição do</p><p>público todos os dados e características das condições de</p><p>experimentação, das variáveis independentes usadas etc.</p><p>No esoterismo, pelo contrário, estes dados são comu-</p><p>nicados apenas para os discípulos, o que é um dos fatores de</p><p>desconfiança da ciência oficial. Os argumentos que os mestres</p><p>e gurus costumam fornecer são os seguintes:</p><p>— 0 uso dos métodos oferece certos perigos para o equilíbrio emocional e</p><p>têm que ser dosados os exercícios em função da evolução de cada um.</p><p>0 conhecimento antecipado impede a evolução.</p><p>— As técnicas esotéricas exigem, por parte de quem as usa, uma certa ética,</p><p>sem a qual se arrisca a prejudicar as pessoas. As mesmas técnicas podem ser usadas</p><p>para o bem e para o mal.</p><p>Interessante é que a ciência ocidental começou a abrir</p><p>mão da publicação de muitos trabalhos, movida pelos mes-</p><p>mos motivos. E’ o caso do segredo atômico no campo da fí-</p><p>sica. Nas ciências do comportamento observamos uma ten-</p><p>dência análoga no que se refere à publicação de certos testes</p><p>psicológicos; a psicanálise tem certos aspectos, embora pu-</p><p>blicados, cujos detalhes são transmitidos oralmente em aná-</p><p>lise didática. Ensina-se mais particularmente a evitar o que</p><p>Freud chamou de “análise selvagem”, altamente perigosa</p><p>pura certos pacientes.</p><p>Observadores Treinados</p><p>6º) Como o mostra Tart, a complexidade da ciência exige</p><p>observadores treinados durante longos anos, seja no campo</p><p>das ciências físicas seja no campo das ciências do com-</p><p>portamento.</p><p>O mesmo se dá no esoterismo. Após a primeira «inicia-</p><p>ção», longos anos, às vezes dezenas de anos, são necessários</p><p>para que o discípulo esteja preparado a discernir, entre vários</p><p>fenômenos vividos, o que é verdadeiro e o que é ilusório, ou a</p><p>saber como usar corretamente este ou aquele método de</p><p>concentração ou meditação. Visões de cores, por exemplo,</p><p>têm significados diferentes conforme o estado evolutivo da</p><p>pessoa, ou o foco da sua concentração.</p><p>Quem, como é o meu caso, tem tomado contato bastante</p><p>íntimo com swamis indianos ou lamas tibetanos, só pode</p><p>constatar que estes homens são sujeitos a um treinamento</p><p>ético e técnico que não deixa para trás nenhum laboratório</p><p>universitário ocidental, por melhor que seja.</p><p>Semelhanças e Diferenças</p><p>Em resumo, podemos constatar que, entre a ciência “oficial” e</p><p>as ciências esotéricas, há bastantes semelhanças: princípio da</p><p>causalidade, preocupação em observar e verificar,</p><p>experimentalmente, validação consensual, longo treinamento</p><p>para discriminar as variáveis em jogo, são os principais pontos</p><p>comuns. A diferença fundamental reside no fato de que a</p><p>ciência “oficial” exige observadores e experimenta- dores</p><p>independentes do objeto de estudo e exteriores a este; as</p><p>ciências esotéricas têm como característica essencial o que as</p><p>ciências sociais chamam de “observação participante”, ou algo</p><p>parecido; nas ciências esotéricas o observador ou</p><p>experimentador e o objeto de estudo são os mesmos. No caso</p><p>da consciência cósmica, todos os fenômenos se passam dentro</p><p>do experimentador. Ele “vê” dentro dele, tanto a si mesmo</p><p>como a natureza íntima e a estrutura de qualquer parte do</p><p>universo, seja da estrutura atômica até as galáxias, passando</p><p>por minerais, vegetais, animais ou gente, incluindo a energia</p><p>e sua fonte no vácuo. Além de experimental, o esoterismo é</p><p>experiencial.</p><p>E’ este ponto fundamental, causador de descrença por</p><p>parte da maioria dos</p><p>cientistas “oficiais”. Só os que experi-</p><p>mentaram diretamente a consciência cósmica estão conven-</p><p>cidos da existência e da possibilidade de uma percepção direta</p><p>e interior da realidade.</p><p>A Psicologia Transpessoal procura meios para verificar</p><p>em termos científicos “oficiais” até que ponto as conclusões</p><p>das ciências esotéricas têm fundamento.</p><p>Ciências de Estados de Consciência CEC1 e CEC2</p><p>Voltando às idéias de Tart, a tarefa principal da Psicologia</p><p>Transpessoal é de investigar, dentro dos princípios, crenças,</p><p>estereótipos e hábitos metodológicos próprios ao Paradigma</p><p>da Ciência “Oficial” fundamentada nos cinco sentidos e no</p><p>raciocínio cartesiano, as conclusões e métodos de uma outra</p><p>ciência. Esta outra ciência, o esoterismo, é fundamental num</p><p>outro paradigma que parte de um outro sentido c nível de</p><p>consciência. Se convencionarmos chamar de CEC1 (Ciência de</p><p>Estado de Consciência 1) a ciência convencional e de CEC2</p><p>(Ciência de Estado de Consciência 2) o esoterismo, podemos</p><p>definir a Psicologia Transpessoal como sendo um sistema de</p><p>investigação da CEC2 com a tecnologia de investigação própria</p><p>à CEC1.</p><p>Deste confronto poderá resultar uma modificação de</p><p>conceitos e de metodologia, tanto da CEC1 como da CEC2. É</p><p>aliás o que já está acontecendo: Os swamis modernos citam as</p><p>investigações científicas ocidentais (Sri Aurobindo,</p><p>Vivekananda, Sivananda); o Rosa-Cruz moderno já é uma</p><p>tentativa de síntese. Por seu lado, os primeiros passos da</p><p>Psicologia Transpessoal já se fazem no sentido de realizar</p><p>sínteses como por exemplo a conjugação de registro eletro-</p><p>encefalográfico com técnicas esotéricas de concentração e</p><p>meditação.</p><p>E’ possível também que deste confronto resultem outras</p><p>CEC fundamentadas em níveis de consciência diferentes.</p><p>Tudo leva a supor que isto se dará em relação aos diferentes</p><p>níveis de registro eletroencefalográfico: Além dos níveis Beta</p><p>e Alfa, os níveis Teta e Delta começam a despertar a</p><p>curiosidade dos investigadores.</p><p>Convém observar, “en passant”, que o uso do nível da</p><p>CEC2 para resolver problemas da CEC1 não é nenhuma no-</p><p>vidade; tudo indica que grandes descobertas são produto do</p><p>nível CEC2 seja porque os investigadores faziam parte de</p><p>sociedades esotéricas, seja porque a fonte de inspiração das</p><p>idéias básicas surgiu de outros níveis de consciência. São</p><p>bastante clássicos os exemplos de Poincaré cujas fórmulas</p><p>matemáticas surgiam no bonde inesperadamente e de</p><p>Einstein que insistia em afirmar que a inteligência não é</p><p>o único instrumento de que o homem dispõe dentro de si</p><p>para realizar descobertas; a teoria da relatividade foi</p><p>“intuída” antes de ser demonstrada matematicamente.</p><p>Algumas Hipóteses Básicas</p><p>Ao investigar a CEC2, a Psicologia Transpessoal, como</p><p>parte integrante da CEC1, tem que formular uma série de</p><p>hipóteses, tal como se faz em todos os ramos da CEC1.</p><p>Estas hipóteses podem, depois de formuladas, ser objeto</p><p>de investigação por métodos apropriados e específicos da</p><p>CEC1.</p><p>4</p><p>Hipóteses Básicas</p><p>da Psicologia Transpessoal</p><p>Vamos agora formular algumas das hipóteses que nos</p><p>parecem básicas e promissoras quanto a eventuais</p><p>descobertas. Algumas delas já são objeto de verificação</p><p>experimental; outras serão formuladas em função de</p><p>especulações pessoais; outras, ainda, serão tiradas</p><p>diretamente de conclusões da CEC2. Quando possível,</p><p>daremos um resumo dos fundamentos de cada hipótese.</p><p>Enunciado das Hipóteses</p><p>Antes porém, vamos enunciá-las a seguir; assim o leitor</p><p>terá uma visão panorâmica das mesmas.</p><p>1. Há uma correspondência entre as descrições da experiência em</p><p>consciência cósmica e as conclusões da física moderna.</p><p>2. Existe no homem receptor ou receptores diferentes dos cinco sentidos,</p><p>o qual ou os quais lhe dão acesso a outros aspectos da realidade, quando não</p><p>à realidade total.</p><p>3.Todo instrumento ou aparelho criado pelo homem para perceber ou</p><p>agir sobre o mundo exterior ou interior tem um equivalente dentro dele sob</p><p>forma de órgão, função ou ambos.</p><p>4. A Investigação de áreas lineares ou fora da dimensão tempo-espaço</p><p>só pode ser feita a partir de função ou funções existentes no homem.</p><p>5. A consciência cósmica se situa num nível existente antes do início da</p><p>filogênese, isto é, antes do nascimento, depois da morte, e na fonte da energia.</p><p>6. Todos os processos de entrada na consciência cósmica consistem em</p><p>chegar “in vivo” e com plena consciência de vigília no</p><p>nível definido pela quinta hipótese; eles implicam por conseguinte numa via</p><p>evolutiva, regressiva ou direta.</p><p>7. Existe dentro de cada pessoa um “algo” preexistente ao seu</p><p>nascimento e integrado dentro da área fora do tempo-espaço.</p><p>8. Existe uma relação de coexistência entre a consciência cósmica de</p><p>um lado e de outro lado o PSI e PK, isto é, os poderes chamados paranormais.</p><p>9. Os estágios que levam à consciência cósmica têm correspondência</p><p>no registro eletroencefalográfico, sendo que esta se situa no nível das ondas</p><p>Delta.</p><p>10. A produção de certas vibrações sonoras favorece a entrada na</p><p>consciência cósmica.</p><p>11. Há no homem uma tendência à procura da unidade da existência</p><p>universal, unidade que ele deixou de perceber e viver por uma hipertrofia do</p><p>uso do neocéfalo em detrimento do paleocéfalo, dos cinco sentidos em</p><p>detrimento do “sexto” sentido, do raciocínio em detrimento da intuição.</p><p>12. A força que leva à procura desta unidade fundamental é a</p><p>consciência profundamente gravada no homem da existência de uma</p><p>felicidade absoluta.</p><p>13. Os fenômenos psicopatológicos conhecidos como alucinação são,</p><p>numa proporção ainda desconhecida, manifestações ou visões de formas</p><p>diferentes da realidade quotidiana e constituem sinais de entrada ou</p><p>aproximação da consciência cósmica.</p><p>14.. Os altos estágios da experiência cósmica exigem uma concentração</p><p>energética tal que implicam num desaparecimento ou minimização dos gastos</p><p>de energia comuns ao ego, mais particularmente no que se refere à energia</p><p>sexual.</p><p>15. Existe um fator essencial à entrada na dimensão da experiência</p><p>cósmica, fator conhecido na linguagem popular como “fé”, e na medicina</p><p>como “efeito placebo”.</p><p>16. Técnicas de relax, aliadas à respiração e dissolução de toda</p><p>atividade intelectual, constituem fatores relevantes na entrada da dimensão</p><p>cósmica.</p><p>17. A dissolução do ego através da ampliação do campo da consciência</p><p>dos níveis de realidade, da desidentificação dos diferentes planos</p><p>experienciais e do controle dos diferentes degraus da consciência é o caminho</p><p>para a consciência cósmica.</p><p>Estas hipóteses ou algumas delas deveriam talvez sei</p><p>intituladas de “postulados”, pois toda ciência é baseada em</p><p>certos postulados; postulado é um princípio que, quando</p><p>aplicado na experimentação, conduz à demonstração de</p><p>verdades, a tal ponto que se torna evidente a sua enunciação,</p><p>embora nunca tenha sido ou possa ser objeto de verificação</p><p>direta. Será interessante no futuro fazer um estudo para</p><p>discriminar quais, entre estas hipóteses, constituem um</p><p>"postulado”.</p><p>Um Postulado Subjacente</p><p>Podemos assinalar a este respeito que há provavelmente um</p><p>postulado subjacente ou pelo menos não explicitado, e sem a</p><p>veracidade do qual todas estas hipóteses não teriam razão de</p><p>ser formuladas. Este postulado seria o seguinte: “Existe, além</p><p>da realidade quotidiana percebida através dos nossos cinco</p><p>sentidos e limitada pelo conceito tridimensional de tempo e</p><p>de espaço, uma realidade mais ampla fora da dimensão do</p><p>tempo-espaço, dentro da unidade universal”.</p><p>No fim deste trabalho, voltaremos ainda ao assunto. Va-</p><p>mos passar agora a um estudo sucinto de cada uma destas</p><p>hipóteses.</p><p>As hipóteses iniciais se referem predominantemente à</p><p>natureza e ao processo da experiência cósmica enquanto as</p><p>finais visam esclarecer os métodos que levam a ela.</p><p>Consciência Cósmica e Física Moderna</p><p>1ª HIPÓTESE: Há uma correspondência entre as descrições da experiência</p><p>em consciência cósmica e as conclusões da física</p><p>moderna.</p><p>A verificação desta hipótese é fundamental, pois se efe-</p><p>tivada reforçaria muito o acerto dos que se consagraram no</p><p>estudo da Psicologia Transpessoal.</p><p>Le Shan (1969) propõe por exemplo extrair, dos textos</p><p>das duas categorias de pessoas, afirmações que possam ser</p><p>agrupadas, misturadas e classificadas por juízes que não sa-</p><p>bem nada a respeito da sua proveniência. As classes que Le</p><p>Shan propõe são as seguintes:</p><p>— Relações do homem com as suas percepções.</p><p>— Comparação entre a percepção “comum” e a visão “profunda” da</p><p>realidade.</p><p>— Nova maneira de encarar a natureza das coisas.</p><p>— Relações da lógica e da operação cognitiva para encarar a realidade.</p><p>— Dois aspectos da realidade: o “absoluto” e o mundo da realidade aparente.</p><p>— Realidade, existência e não-existência.</p><p>— Aspecto dinâmico-estático da realidade.</p><p>— Tempo, espaço, matéria e causalidade.</p><p>— Filosofia dos líderes no assunto, métodos de treinamento e objetivos para</p><p>os estudantes.</p><p>Eis um exemplo bastante ilustrativo de duas frases, uma</p><p>de um físico, outra de um místico. O físico é Planck e o místico</p><p>é Vivekananda. O leitor pode procurar adivinhar qual a frase</p><p>do físico e qual a do místico:</p><p>1. “Qualquer tentativa de resolver o problema da causalidade, tempo e</p><p>espaço será vã, pois um esforço muito grande seria necessário para aceitar como</p><p>certa a existência destes três”.</p><p>2. “...podemos estar absolutamente certos no que se refere a um fato</p><p>bastante importante: a validade da lei da causalidade no mundo de realidade é uma</p><p>questão que não pode ser resolvida com o fundamento do raciocínio abstrato”.</p><p>A frase de n" 1 é de Vivekananda e a de n? 2 é de Planck.</p><p>R. Linssen tem desenvolvido bastantes esforços num</p><p>confronto deste tipo chegando à conclusão da semelhança</p><p>entre os pontos de vista do Taoísmo, do Zen, do Ioga</p><p>Tântrico, de um lado, e de físicos como Louis de Broglie,</p><p>Joliot-Curie, Niels Bohr, Oppenheimer (1972), de outro.</p><p>Eis, por exemplo, uma citação de Louis de Broglie, mos-</p><p>trando os limites a que chegou a física: “...o eletrão só pode</p><p>ser considerado um grão na medida em que é suscetível na</p><p>ocasião de se manifestar com toda a sua energia. A onda</p><p>associada ao eletrão não é a vibração física de alguma coisa...</p><p>ela é apenas um campo de probabilidades”.</p><p>Podemos também confrontar as visões dos místicos com</p><p>as afirmações do astrônomo e matemático James Jean</p><p>também citado por Linssen:</p><p>“A tendência da física moderna é reduzir o universo inteiro a ondas e</p><p>exclusivamente a ondas.</p><p>Estas ondas são de duas espécies: ondas cativas que chamamos matéria e</p><p>ondas livres que denominamos irradiação, ou luz.</p><p>Estes conceitos reduzem o universo inteiro a um mundo de luz potencial ou</p><p>real”.</p><p>Podemos confrontar esta afirmação com a de Sri</p><p>Aurobindo:</p><p>"Estamos vendo... que na classificação sâmkhiana dos cinco estados</p><p>elementares da substância, do éter à terra, estes estados são caracterizados por uma</p><p>progressão constante do mais ao menos sutil, a tal ponto que em cima temos as</p><p>vibrações sutis do éter e mi base a densidade mais pesada do estado elementar</p><p>sólido ou terrestre”.</p><p>Confrontos como estes precisam ser desenvolvidos pois</p><p>eles nos esclarecerão onde residem as semelhanças e onde as</p><p>diferenças entre os dois tipos de visão.</p><p>Outros Sentidos</p><p>2 ª HIPÓTESE: Existe no homem receptor ou receptores diferentes dos cinco</p><p>sentidos, o qual ou os quais lhe dão acesso u outros aspectos da realidade,</p><p>quando não à realidade total.</p><p>A expressão “sexto sentido” já é um testemunho de que</p><p>existem na linguagem popular rastros do que foi</p><p>provavelmente e constitui ainda um poder latente no homem.</p><p>Os trabalhos de Rhine sobre o fator PSI e a PES ou</p><p>percepção extra-sensorial vêm ao encontro desta expressão</p><p>popular, confirmando plenamente a sua exatidão. Onde se</p><p>localiza este sexto sentido?</p><p>Descartes, provavelmente influenciado por tradição</p><p>mais mitiga, situava o lugar da alma na glândula pineal. As</p><p>tradições orientais como o Ioga e ocidentais como a teosofia</p><p>e o Rosa-cruzismo falam num terceiro olho.</p><p>Em 1971, o “Ciba Symposium de Londres”, reunindo</p><p>vinte, e seis especialistas do mundo inteiro em glândula pi-</p><p>neal em vertebrados e mamíferos, incluía comunicações</p><p>sobre uma função fotorreceptora extra-retinal; respostas</p><p>cromáticas têm sido registradas em certas espécies de</p><p>batracianos. Estudos sobre uma função fenorreceptora estão</p><p>em curso. Tudo indica que ela tem uma função endócrina,</p><p>participando da síntese da melatonina; esta tem uma função</p><p>inibidora das gônadas sexuais. A escuridão estimula a</p><p>glândula pineal nos ratos e a inibe nos macacos. No</p><p>eletroencefalograma de ratos, a freqüência aumenta</p><p>consideravelmente em ratos pinealotectomizados, o que</p><p>deixa supor uma função inibidora do ritmo</p><p>eletroencefalográfico. Outras descobertas ainda estão sendo</p><p>feitas, mais particularmente no que se refere às relações entre</p><p>a glândula pineal e a função hipotalâmica que tem relações</p><p>diretas com o equilíbrio emocional.</p><p>Qualquer estudioso do esoterismo não pode deixar de</p><p>estabelecer um paralelo entre as técnicas de desenvolvimento</p><p>da consciência cósmica e esta breve e muito incompleta</p><p>descrição dos relatórios deste simpósio. Com efeito, estas in-</p><p>cluem o isolamento dos sentidos, por exemplo: ficar na</p><p>escuridão ou fechar os olhos, diminuição da atividade sexual,</p><p>uso de certos sons ou mantras. De outro lado, os estudos de</p><p>eletroencefalografia colocaram em evidência a presença de</p><p>ondas Alfa, isto é, de ritmo de baixa freqüência em pessoas</p><p>em estado de meditação ióguica ou de Zen. Muitos estudos se</p><p>revelam necessários para estabelecer um paralelo entre todas</p><p>estas observações; é no entanto muito provável que as</p><p>medidas de isolamento dos sentidos, de diminuição da ati-</p><p>vidade sexual, de diminuição das tensões psicossomáticas,</p><p>tenham efeito ativador da glândula pineal, a qual por sua vez</p><p>diminui o ritmo cerebral, permitindo assim condições</p><p>energéticas de desenvolvimento da consciência cósmica.</p><p>Aparelhos do Homem e no Homem</p><p>3ª HIPÓTESE: Todo instrumento ou aparelho criado pelo homem para</p><p>perceber ou agir sobre o mundo exterior ou interior tem um equivalente</p><p>dentro dele sob forma de órgão, função ou ambos.</p><p>A maioria destes órgãos ou funções já foi plenamente</p><p>confirmada pela CEC 1 (Ciência de Estados de Consciência 1</p><p>ou Ciência “Oficial”). Podemos citar como exemplo a visão e</p><p>o olho que têm como correspondente o aparelho foto- gráfico,</p><p>a digestão que corresponde a um laboratório de química ou a</p><p>telecinesia que tem o seu equivalente na teleme- cânica, sem</p><p>contar a telepatia comparada classicamente com o telefone</p><p>ou o rádio.</p><p>Montamos, a título ilustrativo, um quadro sinótico mos-</p><p>trando algumas das principais correspondências que podem</p><p>ser estabelecidas.</p><p>Na primeira coluna colocamos os diferentes níveis ener-</p><p>géticos a que correspondem os instrumentos e aparelhos. Na</p><p>segunda coluna encontraremos estes últimos. Na tercei- i n</p><p>coluna encontramos as funções humanas confirmadas no</p><p>nível da CEC 1. Na quarta coluna encontraremos as funções</p><p>humanas de nível CEC 2 e confirmadas no nível CEC 1. A</p><p>quinta coluna nos dá funções de nível CEC 2 ainda objeto de</p><p>controvérsias no nível CEC 1.</p><p>Ao examinar mais de perto este quadro, vamos constatar</p><p>um fenômeno que merece destaque especial: à medida que,</p><p>na primeira coluna dos níveis energéticos, nos afastamos dos</p><p>níveis perceptíveis pelos cinco sentidos, aumenta nas colunas</p><p>CEC 2 a freqüência de funções humanas pertencentes à</p><p>parapsicologia e chamadas comumente de “supranormais”.</p><p>Parece haver uma relação entre a densidade d' energia e o</p><p>número de funções ditas paranormais. Pode ser que esta</p><p>relação se estenda também à freqüência de fenômenos não</p><p>reconhecidos pela CEC 1 e a outros níveis de CEC.</p><p>E quando se chega ao nível da área fora do tempo-espaço</p><p>verificamos que o instrumento único existente da CEC 1 já se</p><p>situa dentro do homem sob forma de raciocínio matemático.</p><p>Este último</p>

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