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1 Disciplina: Ação e Reação Autora: M.e Luciene Guiraud Revisão de Conteúdos: Esp. Murillo Hochuli Castex Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Luciene Guiraud Ação e Reação 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Revisão de Conteúdos Murillo Hochuli Castex Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA GUIRAUD, Luciene. Ação e Reação / Luciene Guiraud. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 90 p. ISBN: 978-85-5475-400-6 1.Consciência. 2. Ação. 3. Pertencimento. Material didático da disciplina de Ação e Reação – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio ................................................................................................................. 06 Aula 1 – Despertando a consciência ...................................................................... 07 Apresentação da Aula 1 ......................................................................................... 07 1.1 Refletindo a ação ...................................................................................... 07 1.2 Conduta ética e questões relacionadas .................................................... 13 Conclusão da Aula 1 .............................................................................................. 21 Aula 2 – A consciência como princípio ................................................................... 23 Apresentação da Aula 2 ......................................................................................... 23 2.1 Da autoconsciência à consciência cósmica .............................................. 23 2.2 As leis invisíveis impressas na consciência .............................................. 31 Conclusão da Aula 2 .............................................................................................. 40 Aula 3 – A consciência da espiritualidade nas relações ......................................... 41 Apresentação da Aula 3 ......................................................................................... 41 3.1 Pertencimento e identidade ...................................................................... 42 3.2 As ordens fundamentais das relações ...................................................... 47 Conclusão da Aula 3 .............................................................................................. 56 Aula 4 – Espírito, consciência e cérebro ................................................................ 58 Apresentação da Aula 4 ......................................................................................... 47 4.1 Níveis de consciência ............................................................................... 59 4.2 Níveis neurológicos e a aprendizagem ..................................................... 58 Conclusão da Aula 4 .............................................................................................. 76 Índice Remissivo ................................................................................................... 61 Referências ........................................................................................................... 62 6 Prefácio Ação e reação é uma disciplina do curso de pós-graduação em Pedagogia Sistêmica que traz possibilidades de reflexões e compreensão de conceitos de distintas áreas do conhecimento científico na perspectiva de agregar, conectar e ampliar a percepção do todo. As dificuldades encontradas na área educacional, a improdutividade que tantas vezes resulta em angústia e caos na prática pedagógica, os problemas enfrentados no processo de ensino, aprendizagem e nos relacionamentos entre os sujeitos, a velocidade na qual as transformações sociais acontecem, bem como o despreparo para ensinar dentro de um contexto social mutável, conturbado e carregado de incertezas, revelam que é imprescindível alterar o modo de entendimento e atuação nos espaços educativos. Assim, a disciplina Ação e Reação objetiva romper com a exclusividade do pensamento reducionista-mecanicista da ciência tradicional, que aceita somente a materialidade, dominante na prática pedagógica, não o negando, mas sim se conscientizando de que a consolidação de um paradigma científico alternativo, abrangente e integrador, torna o sujeito capaz de prover-se de ideias transformadoras que podem modificar a sua individualidade, bem como as suas práticas e, com isso, reestruturar a instituição social na qual atua. Dessa forma, a disciplina se fundamenta, sobretudo, nos conhecimentos trazidos pelo conceito e princípio quântico de Amit Goswami, pela visão sistêmica de Frijot Capra e Bert Hellinger, perpassando pelo pensamento complexo de Edgar Morin e demais autores que trazem em seus estudos a possibilidade da compreensão do todo, de que os sistemas são totalidades integradas, interconectadas, inter-relacionadas. Diante disso, as reflexões propostas se pautam nas temáticas sobre as leis invisíveis; desordens sistêmicas no ambiente escolar, no ambiente hospitalar e no ambiente corporativo; inclusão e pertencimento; as ações e reações físicas; interação com o ambiente; níveis neurológicos; agrupamento, otimização e soluções de objetivos em interações específicas (pessoas e ambientes); conduta ética e questões relacionadas, tendo como pressuposto devolver unidade àquilo que se encontra separado. 7 Aula 1 – Despertando a consciência Apresentação da aula 1 Muitas são as dificuldades enfrentadas por todos os que exercem suas atividades profissionais na área educacional. A tentativa de se adaptar a uma nova cultura de trabalho requer uma profunda revisão na maneira de ensinar e aprender. Mais do que reconsiderar a ação pedagógica, é necessário o despertar para a consciência de qual ação está sendo posta e de que esta, enquanto causa, gera efeitos que são observados em determinado tempo e espaço. Assim, sejam as açõesassertivas ou não, certamente também o serão as reações de que delas se originaram. É preciso romper certas barreiras e agregar novos conhecimentos, dando lugar a uma nova visão de mundo, pautando-se em uma conduta ética. É o que propõe a temática que estará sendo refletida a seguir. 1.1 Refletindo a ação A forma como professores e pedagogos pensam e entendem educação influenciará significativamente suas ações profissionais. Revisitar a ação que se empreende, no sentido reflexivo da palavra, muitas vezes automaticamente, outras com consciência do que se está fazendo, é condição sine qua non para avançar e evoluir. Nas palavras de Motomura (1995), é uma postura que exige: (...) uma grande abertura de nossa parte. Uma abertura que só é possível quando abrimos mão de nossos arcabouços atuais de pensamento, nossas premissas, nossas teorias, nossa forma de ver a própria realidade, e nos dispomos a considerar uma outra forma de entender o mundo e a própria vida. O desafio maior está em mudar a nossa maneira de pensar... (p. 9). Vocabula rio Sine qua non: locução adjetiva, do latim, que significa “sem a qual não”, faz referência a uma ação ou condição que é essencial. 8 Estudos de Moraes (1996) apontam que a origem das dificuldades da escola se encontra “no modelo da ciência, que prevalece num certo momento histórico, nas teorias de aprendizagem que o fundamentam e que influenciam a prática pedagógica”. (MORAES, 1996, p. 58). Vale ressaltar que há muitos séculos a ciência positivista influencia vários setores da sociedade ocidental e, num ciclo constante, a escola a reproduz desde como se organiza enquanto instituição, passando pelas práticas pedagógicas e também por meio dos conhecimentos que são disponibilizados aos alunos. Para melhor compreensão de como se originou toda a influência que está sendo apontada, o pensamento de Capra (1995) é bastante pertinente. O autor refere-se, em uma de suas obras, ao fato de que o filósofo grego Aristóteles acreditava que a essência somente poderia se tornar real por meio da forma, uma vez que para ele a matéria continha a natureza essencial de todas as coisas. O pensamento ocidental foi dominado durante toda a Idade Média pela filosofia aristotélica (entre os séculos V e XV), cuja compreensão apresentava um mundo espiritual e orgânico. A partir dos séculos XVI e XVII, a visão medieval impulsionada pelas descobertas da Física, Astronomia e Matemática, período caracterizado então pelo que se conhece como revolução científica, “cedeu lugar ao entendimento de que o mundo seria como uma máquina, regido por leis matemáticas exatas” (GOMES et al, 2014, p. 4). Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, René Descartes, Francis Bacon e Isaac Newton são alguns dos mais conhecidos representantes daquele momento histórico, o qual deu origem ao que também é chamado de mecanicismo cartesiano (visão cartesiana, linear). Nas palavras das autoras, O método analítico, um dos símbolos dessa revolução, foi criado por Descartes e consistia no pressuposto de que, quebrando os fenômenos complexos em partes, se poderia compreender o comportamento do todo a partir das propriedades das partes (IBIDEM, p. 5). O modelo de pensamento mecanicista foi avançando ao longo dos séculos e, apesar de em períodos subsequentes outros cientistas resgatarem as ideias aristotélicas que se concentravam na natureza de forma orgânica, como os filósofos Kant e Goethe (séc. XVIII) e o naturalista e zoologista Cuvier (séc. XIX), o pensamento cartesiano/newtoniano perdurou. (GOMES et al, 2014). Para 9 Goswami (1998), “Descartes dividiu a realidade em dois reinos separados – mente e matéria”. (GOSWAMI, 1998, p. 28). Origina-se aí a consolidação do pensamento dominante, ou seja, pautado na lógica, razão e objetividade. Durante os séculos XVIII e XIX surgem algumas correntes ideológicas na Filosofia, como o Iluminismo, o Marxismo, o Idealismo Alemão, o Pragmatismo e o Positivismo. Nesse período (século XVIII), concretizou-se a ruptura entre ciência e religião, separação que teve seu início no final do século XV. Foi uma ruptura gradativa. Primeiramente, rompeu-se a antiga relação entre a filosofia e a ciência, (esta buscava conhecimento independente e metodologicamente comprovado). As duas formas de enxergar o mundo passaram a concorrer, o que, somado à expansão do protestantismo, incentivou a Igreja Católica a endurecer sua doutrina, proibindo a circulação de obras literárias e científicas, entre outras formas de controle – (A Santa Inquisição) (GASPARINI, 2011). Ví deo O filme O Nome da Rosa, baseado no livro de Umberto Eco, retrata o mundo quando dominado pela Igreja Católica, que detinha o saber, educava o povo com vistas à submissão e exercia grande influência sobre muitos governos. Poderá ser visto, de forma bastante realista, a instalação de um tribunal da Santa Inquisição. (1980). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uqL7gn13JoQ De acordo com Rossoni (2003, p. 174), o Positivismo, “que até hoje exerce influência no meio cientifico, afirma que só se pode ter como verdadeiro aquilo que aparece aos nossos sentidos e que pode ser mensurado”. Ideia que contempla a objetividade (por meio do método científico), em detrimento à subjetividade (subordinação da imaginação e da argumentação à observação). Essa corrente filosófica tem como seu principal representante Auguste Comte, considerado o pai da Sociologia. No entanto, o surgimento da Sociologia está vinculado à consolidação do capitalismo moderno e foi reconhecida como ciência a partir dos estudos de Émile Durkheim, no final do século XIX (ARON, 2008). Sendo o Positivismo uma corrente filosófica que traz ainda muitas influências no âmbito educacional, vale ressaltar também a seu respeito que sua 10 gênese ocorreu em um período de profundas mudanças sociais, econômicas, políticas, ideológicas, tecnológicas e científicas, advindas da consolidação do Capitalismo Industrial. A razão tomou lugar de destaque na sociedade do século XIX (VALENTIM, 2010). O século XX trouxe debates no mundo científico, nas mais diversas áreas de conhecimento. Outras visões foram postas e algumas trouxeram embates e resistências. A Biologia Organísmica ou Organicismo surge como um movimento de oposição ao mecanicismo, e dela emerge a Ecologia, cujo estudo compreende as relações que interligam os organismos, a visão dos sistemas vivos como redes. Para Capra (1995), não existe hierarquia na natureza e, sim, redes que se formam dentro de outras redes. Paralelamente à Ecologia, surge a Física Quântica, “que contraria o pensamento newtoniano predominante até então, segundo o qual todos os fenômenos físicos poderiam ser reduzidos às propriedades de partículas materiais rígidas e sólidas” (GOMES et al, 2014, p. 6). Para o pensamento quântico, que entende o universo interconectado, “a origem de todos os problemas que a sociedade enfrenta está na ideia mecanicista de que há um conflito entre espírito e matéria” (GOSWAMI, 2010, p. 8). Pensamento quântico Fonte: https://www.wonderopolis.org/wp- content/uploads/2017/03/Quantum_Physicsdreamstime_xxl_60222747.jpg 11 Assim, a concretização de um novo paradigma científico, tendo como base a Física Quântica, “redescobre a espiritualidade, ao afirmar que é a consciência, e não a matéria, o substrato para tudo o que existe” (op.cit). Dessa forma, os físicos quânticos comprovam em suas pesquisas que “o universo é uma totalidade ininterrupta e indivisível, na qual todos os seres e fenômenos estão interligados numa teia viva”. (ARAÚJO, 1999, p. 167). Nas palavras de Capra (1995), enquanto no pensamento reducionista-mecanicista “as propriedades e o comportamento das partes determinam as do todo”, a situação se inverte no pensamento quântico, “é o todo que determina o comportamentodas partes”. (p.32). Outras ciências avançaram em suas pesquisas dentro da concepção defendida pela Biologia, pela Ecologia e pela Física Quântica. É o caso da Psicologia da Gestalt, que, “liderados por Max Wertheimer e por Wolfgang Köhler, reconheceram a existência de totalidades irredutíveis como o aspecto- chave da percepção”. (CAPRA, 1995, p. 33). Consolida-se então a visão holística, ou seja, a forma de perceber a realidade pelo todo. Ví deo No filme Ponto de Mutação (Mindwalk, 1982), dirigido por Bernt Amadeus Capra, uma cientista, um poeta e um político discutem Física Quântica, Ecologia e os novos paradigmas que poderiam levar a humanidade a caminhar rumo a uma consciência ecológica cada vez maior. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7tVsIZSpOdI Algumas teorias foram tomando corpo, cada qual dentro de sua área de interesse, estabelecendo conexões entre si, buscando aprofundamento e se inter-relacionando. A visão holística evolui para um princípio hologramático, que significa que “não apenas a parte está no todo, mas o todo está na parte”. (MORIN, 2011, p.74). 12 Saiba Mais O princípio hologramático traz a ideia do holograma. O holograma é uma imagem física, concebida por Gabor que, diferentemente das imagens fotográficas e fílmicas comuns, é projetado ao espaço em três dimensões, produzindo uma assombrosa sensação de relevo e cor [...]. O holograma demonstra, portanto, a realidade física de um tipo assombroso de organização, na qual o todo está na parte que está no todo, e na qual a parte poderia ser mais ou menos apta a recriar o todo (MORIN et al.,2003, p. 34). Nessa perspectiva, surge o pensamento sistêmico, o pensamento complexo, o pensamento quântico. Em síntese, surge uma integração de paradigmas. Uma atitude que supõe a convergência de diversas perspectivas, o que só é possível com critérios holísticos/hologramáticos. Nas palavras de Araújo (1999, p. 165), “apontando para a relação dialógica de coexistência fecunda e criadora entre a Ciência, a Arte, a Filosofia e as tradições espirituais”. Assim entendido, a análise prévia que se pode fazer nesse momento é a constatação de que o paradigma holístico e todas as vertentes que nele se baseiam para fazer ciência (visão sistêmica, visão complexa, visão quântica), traz transformações substanciais em pensamentos, percepções e valores, sem a necessidade de romper com o anterior. Afinal, as partes compõem o todo. Entretanto, o todo não pode ser reduzido às suas partes. Como bem cita Morin (2005), as transformações começaram a romper com as verdades absolutas da ciência determinista, mesmo que ainda perdurem. Não dissolvidas, mas sim em metamorfose. Enquanto os físicos acreditavam, em 1900, que sua ciência suprema estivesse quase completa, essa mesma física começava uma nova aventura, arruinando seus dogmas. A pré-história das ciências não terminou no século 17. A idade pré-histórica da ciência ainda não está morta no fim do século 20. Mas em toda parte, cada vez mais, tende- se a ultrapassar, abrir, englobar as disciplinas, e elas aparecerão, pela ótica da ciência futura, como um momento de sua pré-história Isso não significa que as distinções, as especializações, as competências devam dissolver-se. (...) Não haverá transformação sem reforma do pensamento, ou seja, revolução nas estruturas do próprio pensamento. O pensamento deve tomar-se complexo (MORIN, 2005, p.10). 13 Deve-se compreender a necessidade de “considerar o todo em sua complexidade e organização; assim, embora o indivíduo faça parte da família, ele mantém sua individualidade” (GOMES et al, 2014, p. 7), e de buscar um novo olhar sobre áreas pouco exploradas, como as Tradições Antigas, a Parapsicologia, a Teosofia, a Logosofia e demais ciências que foram sido deixadas à margem, embora algumas sendo consideradas pseudociências pela comunidade científica, por não contemplarem os critérios do método científico aceito. No entanto, é notório se ter consciência de que uma linha tênue separa ciência de pseudociência. Diante disso, a reflexão fundamental a ser feita, de acordo com o que Pinto (2014) cita em sua pesquisa, é a de que “há ainda muito trabalho filosófico importante a ser feito sobre a demarcação entre ciência e pseudociência” (p. 21). Dessa forma, buscar analisar e concentrar os estudos em pesquisas de cientistas íntegros e respeitados em seus trabalhos, com uma vasta produção científico-acadêmica, certamente trará credibilidade ao conhecimento que se pretende construir e afastamento dos equívocos amplamente disponibilizados na sociedade, tanto na mídia impressa quanto na virtual. Acima de tudo, é olhar por meio da ética e da responsabilidade. Mas, afinal, o que se entende por ética? O que significa ética atualmente? Como a ética pode interferir na ciência, na vida cotidiana e na prática docente? 1.2 Conduta ética e questões relacionadas Neste momento serão abordados as questões e os estudos que envolvem o que se entende por ética no campo da ciência, mais precisamente da Filosofia, que a estuda. Não será uma abordagem aprofundada, pois não é o propósito, e estará voltada em especial à Educação, à Pedagogia enquanto Ciência da Educação e à formação dos professores. Trazer os conceitos filosóficos sobre ética se torna indispensável no que diz respeito às ações que se pretende refletir, bem como à consciência que se almeja atingir. O aspecto ético deve pautar tanto a prática educativa quanto a formação dos professores, além de também regular o comportamento moral da vida em sociedade. Atualmente, a ética é vista como parte da Filosofia que se propõe a estudar, refletir e tecer considerações a respeito de como as pessoas devem (ou 14 deveriam) se comportar moralmente, relacionando a moral como uma prática, entendida por Cortella (2009, p. 103) como o “exercício das condutas”. Para esse autor, “o que marca a fronteira da nossa convivência [...] é aquela perspectiva para olharmos os nossos princípios e os nossos valores para existirmos juntos [...]”. (CORTELLA, 2009, p.102). Assim, ética se dá a partir das relações que se constituem por meio de um conjunto de princípios morais estabelecidos. Moral e ética estão profundamente interligadas. Enquanto a primeira atua de forma interna e individual, da consciência do ser, a segunda se constitui numa relação social, de forma externa, representada pelo conjunto de normas – a legalidade – e da relação que o indivíduo estabelece com tais normas. (GONZÁLEZ, 1997/1998). Nas palavras de Cortella, em palestra sobre o tema (2006), “a ética se resume em responder três questões da vida humana: querer, poder e dever. Têm coisas que queremos, mas não podemos; têm coisas que podemos, mas não devemos; e têm coisas que devemos, mas não queremos”. Ví deo No vídeo Ética do Cotidiano, os filósofos Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho discorrem a respeito do conceito de ética e o aperfeiçoamento de condutas para a convivência em sociedade. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9_YnlPXKlLU Ao se analisar na perspectiva da ética na ciência, a conduta é a mesma. Afinal, ética é comportamento e, como tal, pauta os fazeres e a respectiva responsabilidade social. Enquanto “a ciência se ocuparia da geração de conhecimento sobre o mundo; a ética, da discussão das ações humanas, no que diz respeito às suas repercussões sobre a felicidade e bem-estar de outros seres humanos ou quaisquer outros seres” (CHIBENI, 2019, p. 1). Assim, exemplificando, a elaboração do material para a disciplina Ação e Reação esteve pautada na ética, respeitando os pensamentos dos autores, os quais fundamentaram a pesquisa, não se apropriando dos conceitos, mas, por meio deles e das reflexões que permitiram, foram criando-se e recriando-se os próprios conceitos das temáticas postas em discussão.O critério utilizado para 15 a seleção das ideias e conceitos postos foi, acima de tudo, pertinente à qualidade profissional dos respectivos autores, ou seja, somente estudiosos das áreas abordadas que têm sua validade no âmbito acadêmico-científico. Nas palavras de Morin (2005), "uma ciência empírica privada de reflexão e uma filosofia puramente especulativa são insuficientes, consciência sem ciência e ciência sem consciência são radicalmente mutiladas e mutilantes..." (p. 11). Fazer ciência com consciência. Nisso incide a responsabilidade moral e ética em fazer ciência. A ética pode ser definida como o comportamento adotado nas relações sociais que se constituem por meio de um conjunto de princípios morais estabelecidos, cuja essência é a empatia e o respeito. Afinal, colocar-se no lugar do outro, imprimir determinada ação de acordo com o que se espera e se entende ser o correto, é uma atitude de consideração. No entanto, agir eticamente e ter confiança de que assim se está fazendo gera, muitas vezes, alguma tensão. Conforme aponta Gonzalez (1997/1998): Tensão entre o ser (o que é) e o dever-ser; ou ainda, entre o ser e as tendências e possibilidades históricas do dever-ser. Tensão a partir da qual flui nossa capacidade (mas também nossa incapacidade) de responder historicamente/socialmente: como penso e como devo pensar? E que possibilidade de pensar de modo alternativo, diverso e/ou adverso ao modo de pensar instituído, dominante, posso (podemos) criar? Como ajo e como devemos agir? Como vivo e como devemos viver? E mais: quais as possibilidades de superarmos nossas atuais formas e meios de agir e viver? E, ainda, que instrumentos, que mediações poderíamos criar para pensar, agir e viver de maneira radicalmente inovadora? (p.172). Tais questões emergem do inconsciente (chamado potentia, na física quântica), da alma, da consciência, em todas as circunstâncias das relações humanas que se estabelecem por meio de atitudes éticas e empáticas. “O mundo no qual eu vivo não é só o mundo de corpos físicos, é também um mundo de sujeitos alheios, outros a mim, e eu sou o conhecimento desta experiência vivenciada” (STEIN, 2003, p. 70 apud GRZIBOWSKI; BAREA, 2015, p. 36). A ética, compreendida dessa forma, está além das normas estabelecidas. Além da razão, a emoção e a sensibilidade a tornarão possível. 16 Para Refletir E como se dão as questões éticas no âmbito educacional e em suas instituições? As relações entre os campos da responsabilidade, da empatia e da ética e suas finalidades no universo educacional devem ser discutidas a partir da ideia do surgir de outra consciência, na qual educação e formação ética se encontrariam obrigatoriamente em via de mão dupla (BASSALOBRE, 2013). Ao imprimir ação nos espaços educativos, deve-se ter uma visão ampla da realidade, de como é aquele espaço, que sujeitos ali circulam, com qual finalidade, quais paradigmas norteiam a ação, o que se pretende alcançar, aonde efetivamente se quer chegar. Estudos de Moraes (1996) apontam que: Ao mesmo tempo em que a educação é influenciada pelo paradigma da ciência, aquela também o determina. [...] Uma ciência do passado produz uma escola morta, dissociada da realidade, do mundo e da vida. Uma educação sem vida produz seres incompetentes, incapazes de pensar, construir e reconstruir conhecimento. Uma escola morta, voltada para uma educação do passado, produz indivíduos incapazes de se autoconhecerem, como fonte criadora e gestora de sua própria vida, como autores de sua própria história (MORAES, 1996, p. 58). A escola, enquanto instituição educacional, é regulada por um paradigma reducionista-mecanicista, influenciada ainda por posturas nas quais a lógica e a racionalidade devem prevalecer, em que mente e matéria, divididas, fragmentadas, não estão em conformidade com a realidade que se mostrou durante o século XX e primeiras décadas do século XXI. Um tempo marcado por interesses diversificados, fragilizado em valores, marcado por crises, violência, desigualdades, corrupção em todos os níveis, desrespeitos generalizados. Uma sociedade cujos valores éticos são capengas. Mas o que faz a escola, diante disso? [...] continua dividindo o conhecimento em assuntos, especialidades, subespecialidades, centrada no professor e na transmissão do conteúdo que, em nome da transmissão do conhecimento, continua [...] produzindo seres subservientes, obedientes, castrados em sua capacidade criativa, destituídos de outras formas de expressão e solidariedade (MORAES, 1996, p. 59). 17 Importante Quando o debate em torno dos aspectos e modos de conduzir as práticas permanece quase que infindavelmente, o que afirmam normalmente os professores? Que são engessados pelo “sistema”, e nada ou pouco fazem para reverter o que está posto. Então, novamente, a discussão leva para as reflexões sobre ética. Certamente aqui há um relativismo moral, uma ética da conveniência, expressão cunhada por Cortella, que em sua ponderação no debate com Barros Filho traduz o modo como se orientam determinadas escolhas. É conveniente apontar para algo ou alguém evitando puxar também para si a responsabilidade de reverter os problemas, os conflitos, o comportamento impróprio do outro. Atitude que se pode considerar como antiética e imoral. Muitas são as ações no âmbito escolar que denotam comportamentos antiéticos e imorais. Culturalmente aceitos às vezes, punidos em outras circunstâncias, justificados pelos mais variados motivos, e que não são responsabilizados pelos conflitos que originam. Há tentativas de solução de problemas sem, contudo, atacar a raiz da situação. O foco é o problema que surge, mas não as variáveis que o originam. “Toda vez que o foco está em alguma coisa, fica descaracterizada a ideia de complexidade, diversidade, pluralidade” (BARROS FILHO; CORTELLA, 2014, p. 17). Poder-se-ia aqui enumerar uma vasta lista de ações que não se pautam na ética, na empatia, na responsabilidade e que estão presentes no interior das instituições educacionais. Não é o propósito desta disciplina. Como dito anteriormente, o objetivo é refletir sobre as ações, despertando a consciência, rompendo barreiras para tal, observando a realidade posta e buscando compreender que há um universo de possibilidades. Entender que sem a nítida consciência do real não o transformamos, nem sequer o aprimoramos e que dentre o universo de possibilidades, a ética é uma escolha. Não há sistema que impeça atitudes e condutas éticas. É muito comum ouvirmos coisas do tipo: “O problema é o sistema”. Aliás, o “problema do sistema” é um argumento que serve hoje como desculpa para tudo. (...) Eu gostaria de lembrar, no entanto, um detalhe: o que há no mundo da vida são pessoas. E seja qual for o sistema, sempre haverá a possibilidade de dizer: “Este jogo eu não jogo”. Não me venham querer fazer acreditar que as condições de vida 18 possam ser tais que eu me veja impedido, em última instância, até mesmo de recusar-me a participar do jogo quando não houver nenhuma possibilidade de que ele seja conduzido como eu quero. Dizer, portanto, que o sistema constrange à corrupção sem que haja nenhuma possibilidade de questionamento me parece extremamente confortável para todos aqueles que buscam, muitas vezes, tirar de si a responsabilidade pelas escolhas diárias [grifo nosso] (BARROS FILHO; CORTELLA, 2014, p. 40). Esse “sistema” que tantas vezes é referendado, uma entidade simbólica para um conjunto de ações, determinações e intenções, tem seu foco no resultado. Entretanto, a ação pedagógica é processo. Consideravelmente uma contradição. Manter o foco no resultado, como considerado anteriormente, é influência de uma visão mecânica, fragmentada, reducionista, que impede o entendimento do todo. Todas as coisas (objetos materiais, pensamentos e ideias, condutaséticas, o valor da religião e da espiritualidade, a interpretação sobre livre-arbítrio, a criatividade na busca do potencial humano) têm sido objeto de dúvidas e conflitos motivados pelas “afirmações categóricas e desmedidas da ciência convencional em prol do materialismo científico” (GOSWAMI, 2010, p. 14). No âmbito das discussões sobre condutas éticas, qual é o resultado possível que tornaria justo o caminho que se utiliza para nele chegar? Para Barros Filho e Cortella (2014), “do ponto de vista ético, é exatamente a justeza do lugar ao qual queremos chegar que fará com que utilizemos apenas meios justos para alcançá-lo” (p. 22). Os fins podem justificar os meios? É imperioso refletir, portanto, quais os fins da ação educativa e quais os meios que se estão lançando mão para tal. São questões pertinentes de serem refletidas nesse momento e durante todo o percurso das ações pedagógicas. Na ciência, nas instituições, na prática docente, no cotidiano, ou em qualquer instância em que se estabeleçam as relações, os valores humanos devem ser considerados prioridade. Dessa forma, a ética tem que ser tratada na perspectiva de emoções, de sensações, de empatia, como dito anteriormente, de altruísmo. Certamente um comportamento altruísta tem significado entrelaçado com a ética. Para Goswami (2015, p. 188), “o esquema conceitual que procura incorporar o comportamento altruísta em nossa norma usual é chamado ética”. Para esse autor, que traz a perspectiva da física quântica como uma nova ciência que se baseia em Deus (consciência não local) e, por meio 19 dele, a possibilidade de recondução da ética e dos valores ao centro da vida humana, “o altruísmo é um comportamento real, empiricamente comprovado, e não é compulsório para todos” (IBIDEM, p. 189). Portanto, durante o século XX e as primeiras décadas do século XXI, ciência e espiritualidade iniciam um processo de reconciliação, por meio dos estudos de alguns cientistas cujos pensamentos contemplam a visão do todo como uma relação entrelaçada das partes. A visão materialista não dá conta de responder a toda complexidade do mundo, da natureza, do ser humano, do universo. Agora, uma parte da ciência redescobre Deus, “um princípio organizador, um princípio criativo causalmente poderoso além da matéria”, (GOSWAMI, 2005, p. 43), matriz divina, consciência, mente natural, mente divina, ondas de infinitas possibilidades, consciência quântica. “alguns o chamam pela expressão mais objetiva campo quântico, ou, seguindo a filosofia oriental, campo akáshico” (LASZLO, 2004 apud GOSWAMI, 2015, p. 27). Akasha é uma palavra em sânscrito que significa céu, espaço ou éter, estudado na Teosofia, no Hermetismo, na Filosofia Hindu, na Psiquiatria, no Espiritismo, no Paganismo e no Ocultismo. Saiba Mais Místicos e sábios têm sustentado, desde há muito tempo, que existe um campo cósmico que interliga tudo nas raízes da realidade e que conserva e transmite informação, um campo conhecido como registro akáshico. Recentes descobertas na física do vácuo mostram que esse campo akáshico é real e tem seu equivalente no campo do ponto zero da ciência, que é subjacente ao próprio espaço. Esse campo consiste em um mar sutil de energias flutuantes do qual emergem todas as coisas: átomos e galáxias, estrelas e planetas, seres vivos e até mesmo a consciência. (LASZLO, 2004). Assim entendido, conceituar ética apenas do ponto de vista material, de comportamento, conduta, atribuindo-a simplesmente a processos cerebrais e redes neurais não produziria uma apreensão completa. Dessa forma, lança-se mão do entendimento, contemplando a visão espiritual, ou seja, num movimento único e pleno, em todas as direções, ondas de energia entrelaçadas, pura 20 energia, vibratória, que produz efeito (reação) e também é a causa (ação) entre corpo, mente, consciência, espírito. Ou seja, “a consciência é o fundamento de todo ser e nossa autoconsciência é Essa consciência” (GOSWAMI, 1998, p. 311). Em síntese, a ética é uma reflexão sobre a moral. Esta define padrões sobre o que se julga ser certo ou errado, bom ou mau, justo ou injusto, legal ou ilegal na conduta humana e na tomada de decisões, em todas as etapas e relacionamentos da vida. Ser ético implica ter empatia, sensibilidade diante das pessoas e situações, altruísmo, integridade, consciência. Na perspectiva quântica, a consciência não é somente individual, ela é consciência cósmica, transcendental, ou seja, “a nossa consciência, não na forma da consciência-ego ordinária, mas como uma consciência superior, na qual somos todos um”. (GOSWAMI, 2018, p. 15). E, nessa perspectiva de unidade, há um conjunto de códigos a serem postos em prática – moralmente, ser ético implica em respeitar determinados princípios para o melhor convívio entre todos. A dimensão moral de cada indivíduo é regida por leis morais invisíveis, oriundas da consciência cósmica, leis universais. Assunto que será abordado em outro momento. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia a obra Consciência Quântica, de Amit Goswami, que mostra uma nova e integradora visão da existência e da origem com base nos princípios da física quântica. Não somos apenas espírito, tampouco puramente matéria: somos todos “consciência quântica”, um conceito divisor de águas para a compreensão da existência. 21 As reflexões realizadas até o momento são uma abertura para mudanças no campo pessoal, profissional e social, centrando no poder de decisão de cada um, no pensamento íntegro e ético, na perspectiva de possibilitar a efetivação de soluções para muitos problemas ainda considerados impossíveis. É imprescindível que se rompam as barreiras postas, que a consciência desperte para outras possibilidades que surgem na forma de entender o mundo e as relações que se estabelecem. A maioria dos problemas atualmente existentes na área educacional persiste há muito tempo, pois ainda o foco se concentra nos resultados, reforça- se a separação de realidades inseparáveis, se vê a mente separada do corpo e conhecimentos desconectados. O desenvolvimento humano depende da capacidade de reflexão, do aprimoramento de habilidades de pensar e saber, de entender que se é mais do que matéria, que há uma essência em cada criatura. Buscar uma educação que priorize a transcendência do ser, que esclareça que há uma consciência além da mente, que permita aceitar a inter-relação e interdependência dos elementos e que reconheça os processos de mudanças, de trocas, de complementaridade, não apenas sob o ponto de vista de processos cerebrais e redes neurais, mas também entre corpo, mente, consciência, espírito. Conclusão da aula 1 Nesta aula foram analisadas as necessidades de rompimento com o paradigma cartesiano que influencia a forma de pensamento do universo educacional, abrindo possibilidades para fazer emergir uma nova visão e, por meio dela e da mudança de pensamentos, considerar a tomada de novas ações. (MOTOMURA, 1995; MORAES, 1996). Para tal, foi feito um breve percurso histórico da ciência na sociedade ocidental, identificando as influências que esta exerce na coletividade, nas práticas pedagógicas, na cultura escolar como um todo. Foi revisto, resumidamente, o período em que o pensamento materialista se originou, ascendendo a visão de que o mundo seria como uma máquina, regido por leis matemáticas exatas. René Descartes criou o método analítico, que consistia no pressuposto de que, quebrando os fenômenos complexos em partes, se poderia 22 compreender o comportamento do todo a partir das propriedades das partes (GOMES et al, 2014). Houve, a partir disso, a divisão da realidade em dois reinos: mente e matéria. As questões relativas à espiritualidade, por não se explicarem por meio da lógica, da razão e objetividade, foram relegadas ao segundo plano.Ciência e religião se dissociam (GOSWAMI, 1998). Durante os séculos XV a XIX, surgem algumas correntes filosóficas entre elas, como o Positivismo, exercendo grande influência no meio científico e afirmando que só se pode ter como verdadeiro aquilo que aparece aos sentidos físicos e o que se pode mensurar. (ROSSONI, 2003). Isso trouxe a ideia que contempla a objetividade (por meio do método científico) em detrimento à subjetividade (subordinação da imaginação e da argumentação à observação). O século XX foi marcado por debates no mundo científico, outras visões foram colocadas e algumas trouxeram embates e resistências, sendo postas como pseudociências, por não contemplarem os critérios do método científico aceito. A Biologia Organísmica ou Organicismo, a Ecologia, a Física Quântica, a Psicologia da Gestalt, começaram a defender a inter-relação, interconexão, a visão do todo, visão holística. Inicia-se então, um novo paradigma científico, tendo como base a Física Quântica, que redescobre a espiritualidade ao afirmar que é a consciência, e não a matéria, o substrato para tudo o que existe. Os físicos quânticos comprovam em suas pesquisas que o universo é uma totalidade ininterrupta e indivisível, na qual todos os seres e fenômenos estão interligados numa teia viva (GOSWAMI, 2010; ARAÚJO, 1999; CAPRA, 1995). O paradigma holístico/hologramático traz transformações substanciais em pensamentos, percepções e valores, sem a necessidade de romper com o anterior. Afinal, as partes compõem o todo. Entretanto, o todo não pode ser reduzido às suas partes. As transformações começaram a romper com as verdades absolutas da ciência determinista, mesmo que ainda perdurem. Não dissolvidas, mas sim em metamorfose (MORIN, 2005). Por existir uma linha tênue separando ciência de pseudociência, se torna necessário seguir critérios na escolha de fundamentação para produção de conhecimentos que se pretende adquirir, adotando sempre uma conduta ética e responsável na elaboração de conceitos científicos, ou seja, fazer ciência com consciência (MORIN, 2005). O aspecto ético deve pautar tanto a prática 23 educativa quanto a formação dos professores, além de também regular o comportamento moral da vida em sociedade. Atividade de Aprendizagem O aspecto ético deve pautar tanto a prática educativa quanto a formação dos professores, além de também regular o comportamento moral da vida em sociedade. Redija um texto que deverá ter no mínimo 5 linhas e no máximo 10 linhas a respeito do que sejam condutas éticas e antiéticas na prática educativa. Exemplifique. Aula 2 – A consciência como princípio Apresentação da aula 2 Tendo em vista as fragilidades e limitações do estatuto da objetividade na realidade do mundo e o discernimento da “consciência” como o substrato para tudo o que existe, neste momento serão abordadas algumas considerações que buscam apresentar determinadas características fundamentais dos seres conscientes, de suas condutas, de suas dimensões morais, regidas por leis invisíveis, oriundas da consciência cósmica, leis universais, bem como sobre as possibilidades da “consciência” enquanto princípio da percepção ou ideia da unidade fundamental de toda existência (somos todos “um”), de que tudo é energia que se expande e vibra. As temáticas a seguir serão refletidas na perspectiva de melhor compreensão do paradigma proposto. 2.1 Da autoconsciência à consciência cósmica Todo rompimento de paradigma remete à ação de sair de um campo da acomodação, gerando o efeito de desconforto e desacomodação, tornando-se um dilema. No entanto, a decisão de mudança está na visão que se tem do sentido da vida e no livre-arbítrio de cada um (apesar de o determinismo mecanicista rejeitar a ideia de que os homens tenham livre-arbítrio). A respeito 24 da possibilidade de mudança, ou transformação, o debate vem de muito tempo, valendo relembrar que: Situam-se nos filósofos pré-socráticos as disputas referentes à querela estabilidade/permanência. Para Heráclito, tudo está em permanente estado de atualização, tudo flui com o passar do tempo, nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois, quando lá voltamos, nem o rio nem nós somos os mesmos. Como conhecer, como ter crenças verdadeiras justificadas em um mundo que desvanece? Outra perspectiva é a de Parmênides, para quem somente existe a possibilidade de conhecer o que permanece, o que é essencial e imutável. Ora, nas mais diversas acepções, a pessoa é algo em permanente estado de atualização (MACHADO, 2016, p. 20). Assim refletido, cabe compreender que, para resolver um problema, há a necessidade de colocá-lo sob uma ótica diferente daquela que o criou. É preciso permitir atualização, abrir para outras dimensões da realidade. Diante das diversas turbulências no cenário social e, em consequência, nos espaços educativos, romper as barreiras, sair do casulo e trazer outros paradigmas para produzir conhecimento é a primeira atitude para se encontrar o caminho para as soluções desejadas. Transformação Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/wp-content/uploads/2017/04/transformacao- do-destino.jpg Diante disso, alguns pesquisadores das mais diversas áreas científicas têm se debruçado em estudos sobre a “consciência”, ampliando a rede dos 25 conhecimentos já elaborados. É uma temática que traz muito impacto no meio científico, assim como também acarreta divergências entre as visões reducionista/mecanicista e holística/hologramática. É difícil perder velhos hábitos. E nisso se inclui a maneira de pensar o mundo. As categorias cartesianas-newtonianas de tempo, espaço, matéria e causalidade estão tão impregnadas na percepção da realidade que influenciam todos os aspectos da forma de se pensar sobre a vida. Não seria diferente com as questões sobre “consciência”. Tais divergências consistem, principalmente, na separação entre matéria e espírito, conforme esclarece Di Biase (2006): O estudo da Consciência fora banido desde o século XVII do domínio da ciência, quando Descartes separou o homem de seu espírito, relegando o assunto às discussões teológicas. Com este seu célebre engano, Descartes originou um grave erro de percepção na filosofia ocidental, provocando uma esquizofrenia cultural geradora de um paradigma materialista em nossa civilização ocidental que se infiltrou e se disseminou progressivamente, nas áreas acadêmicas de nossas universidades. Essa dicotomia cartesiana, reforçada pela grande síntese da física clássica realizada por Sir Isaac Newton, no século XVIII, subjaz ainda hoje na visão de mundo mecanicista e reducionista predominante em nossa época. Além de dividir o homem em mente e corpo, este paradigma cartesiano-newtoniano separou também o homem do universo e de sua fonte espiritual (DI BIASE, 2006, p. 4). Entre as áreas que rompem a dicotomia cartesiana-newtoniana encontram-se, como já sabido, a Física Quântica, a Psicologia em algumas de suas abordagens, a Neurociência por meio de alguns pesquisadores, (estas ciências têm se aprofundado no estudo da “consciência”), a Logoterapia, assim como alguns outros campos do conhecimento, mesmo que ainda timidamente. Há ainda os estudos dos campos entendidos como pseudociência, que buscam conceituar e explicar “consciência” dentro das perspectivas aqui abordadas, como a Parapsicologia, a Psicanálise, a Teosofia. Estas, ainda que na contramão do cientificismo, são apreciadas por produzirem saberes válidos, relevantes e aplicáveis na ampliação dos conhecimentos. A Psicologia Transpessoal é uma abordagem da Psicologia que defende que o ser humano precisa transcender sua psique – pessoal, conectando-se ao todo, ou a outras realidades mais abrangentes – transpessoais, “caracterizada por um estado de consciência superior, que contém todas as experiências anteriores do indivíduoe prossegue no sentido de conduzir o ser humano em 26 direção à transcendência” (PARIZI, 2005, p. 109). Essa ciência entende “o potencial da vivência de uma ampla gama de estados de consciência, em alguns dos quais a identidade pode estender-se para além dos limites usuais do ego e da personalidade” (SIMÃO, 2010, p. 510). Os estudos, em Psicologia Transpessoal, apontam para o entendimento de “estados da consciência que lidam especificamente com a ‘experiência cósmica’, ou seja, com os estudos ditos superiores ou ampliados da consciência” (VALENTE; OLIVEIRA, 2018, p.103). Nesse sentido, Quando afirmamos ‘minha consciência’, logo reportamos a um aspecto puramente pessoal, individual. Mas, à medida que entramos em contato com os estados de consciência individual, ela se amplia, passa por vários estados como o de vigília, o de sonho, sono profundo, sem sonho e estado de superconsciência ou transpessoal. Em cada um destes estados, ela entra em contato com várias realidades diferentes na qual nos encontramos (WEIL, 2017 p. 57 apud VALENTE; OLIVEIRA, 2018, p. 107). Enquanto os estudos clássicos contemplam bio-psicologicamente a “consciência”, essa abordagem busca ir além. “Embora não subjuga nenhum nível do espectro da consciência, a Psicologia Transpessoal dá atenção especial para uma realidade mais sutil [...] que é o campo da espiritualidade” (ARRUDA, 2016, p. 14). Porém, essa realidade é ignorada por outras escolas da Psicologia. Assim, a Psicologia Transpessoal faz a conexão “entre as muitas escolas ocidentais de psicologia e as tradições espirituais do Oriente e do Ocidente” (PARIZI, 2005, p. 109), sendo uma abordagem psicológica consequente e rigorosamente científica. Em síntese, a Psicologia Transpessoal “lança mão de alguns enfoques terapêuticos que ajudam a pessoa a tomar consciência de si, do outro e da natureza até chegar a uma consciência transpessoal ou a uma consciência cósmica” (VALENTE; OLIVEIRA, 2018, p. 111). Consciência cósmica, portanto, nessa perspectiva, traduz uma experiência em que o sujeito vivencia um senso de profunda unidade com o universo, percebendo-se como parte indissociável dele. Assim, consciência cósmica é, então, [...] uma consciência mais elevada do que a do ser humano comum. Esta última é chamada Autoconsciência e é a faculdade sobre a qual repousa toda a nossa vida - tanto subjetiva como objetiva - que não é comum a nós e aos animais superiores, exceto a pequena parte dela 27 que é derivada das poucas pessoas que alcançaram a consciência mais elevada acima citada [consciência cósmica] (BUCKE, 1996, p. 35). Para a Física Quântica, “consciência” é a base de toda existência, é tudo o que existe, no entanto, ainda não há conceito específico definido, pois “qualquer definição que você tente lhe dar será falha, porque a definição, em si, é um fenômeno da consciência, e não o contrário” (GOSWAMI, 2018, p. 25). Para Chopra e Kafatos (2017, p. 159), “vivemos em um estado ilimitado de consciência, ao qual chamamos de universo”. Assim, converge-se a ideia com a Psicologia Transpessoal que entende a “consciência” em nível transcendente, uma vez que “a consciência cósmica criou o universo como um sistema vivo, auto-organizado” (CHOPRA; KAFATOS, 2017, p. 272). Dito isso, a questão que emerge seria: de que forma ocorre a interação com a consciência cósmica? “Interações materiais comportam-se localmente e requerem sinais. Quando a consciência interage com o mundo, não requer sinais, apenas comunicação não local” (GOSWAMI, 2018, p.27). Saiba Mais De acordo com um experimento na Universidade do México, foi comprovado o princípio da não localidade, mostrando como tudo está ligado em um mar primordial de energia não localizável no espaço-tempo. Esse é um dos princípios que justifica, por exemplo, o funcionamento de equipamentos sem uma ligação direta, material. A partir do entrelaçamento quântico, também se interfere na realidade e uns com outros o tempo todo. A consciência é não local, ou seja, está e não está localizada dentro do cérebro. É não material e composta por uma organização de energias bem distante de tudo o que se conhece. Pode-se ver, olhar e vivenciar inúmeras situações, independente dos lugares físicos em que se possa estar. Está tudo conectado. (GOSWAMI, Amit. Deus não está morto: evidências científicas da existência divina. Acesse o livro em: https://books.google.com.br) Entender os conceitos e princípios da Física Quântica exige tempo e aprofundamento, não sendo a proposta nesse momento. Entretanto, para efeito 28 de esclarecimento, vale ressaltar que a comunicação não local pode ser explicada estabelecendo a definição de telepatia, ou seja, comunicação sem a necessidade da presença material, física, entre os que se comunicam e realizada sem sinais. Assim, pode-se determinar que “a comunicação entre aqueles que parecem ser dois objetos distintos, mente e matéria, é mediada pela consciência. Essa é a essência do paradigma quântico” (GOSWAMI, 2018, p.30). Para a ciência materialista, a consciência é diretamente ligada à mente e essa ao cérebro e ao sistema nervoso. Para os materialistas científicos, “tudo é matéria e manifestação da interação material. Hoje, essa é a visão de mundo dominante entre os cientistas” (GOSWAMI, 2018, p. 23). A visão materialista presume que “(...) existe um vínculo necessário entre os estados físicos do cérebro e a consciência ou os estados mentais, embora a natureza exata desta ligação ainda seja um dos grandes mistérios tanto da ciência como da filosofia” (ZOHAR, 1990, p. 39-40). A questão que emerge se dá em como explicar a questão da consciência sem o corpo físico, isto é, essa consciência é passível de sobrevivência sem o cérebro? Nas palavras de Laszlo (2004), Observar o cérebro humano em nada nos ajudará, pois se a consciência continuar a existir depois que a função cerebral cessar, ela não estará mais associada com o cérebro. É mais importante examinar as evidências fornecidas pelos casos em que a consciência não está mais diretamente ligada ao cérebro. É o que ocorre, por exemplo, nas experiências de quase morte (EQMs), nas experiências fora do corpo (EFCs), nas experiências de vidas passadas, em algumas variedades de experiências místicas e religiosas e, talvez as mais significativas de todas, nas experiências de comunicação após a morte (CAMs) (LASZLO, 2004, p. 208). Novamente, diante do que está sendo exposto, pode-se perceber que a ciência clássica em sua visão materialista não dá conta de responder a todas as questões que surgem diante das experiências da vida, nem tampouco das questões de morte, além da morte da própria matéria, é claro. Então, se torna bem complicado reduzir a compreensão às explicações de que a matéria é a base de toda a existência. Além de refutar o que está além da matéria, esse pensamento nega a existência de significado e valores (COELHO, 2010). Assim, a proposta da Física Quântica é oposta, ou seja, indicando uma visão de mundo em que “a consciência, e não a matéria é a base de toda a 29 existência. [Essa afirmação] Sugere um mundo no qual significado e valor podem ser reintroduzidos na ciência como aspectos da consciência além da matéria” (GOSWAMI, 2018, p. 28). Ambas as visões de mundo convergem que é ainda muito difícil definir exatamente o que seja “consciência”, seja na perspectiva de sua natureza, função, base neuroanatômica ou ainda de seu sentido explícito. Segundo Baker (2015, p. 204-205), [...] é com ela [a consciência] que experimentamos a vida. Temos um senso do presente – de viver no agora. E temos uma sensação de passagem do tempo – o passado. Nosso cérebro armazena memórias e nós designamos padrões a elas para lhes dar significado. Podemos fazer simples previsões sobre o futuro, por meio das quais tomamos decisões. [...] Coma teoria quântica se desenvolvendo, diversas maneiras de criar consciência foram propostas [...]. Mas ainda estamos longe de aprender como isso funciona. O fato do fenômeno da consciência ser manifesto por qualquer indivíduo, devido à própria autopercepção e, por isso, não havendo a necessidade de provar sua existência como acontece com os demais fenômenos estudados, acabou fazendo com que a ciência clássica não lhe dedicasse maior atenção, apesar de ser objeto de interesse da Filosofia desde os primórdios. Freud, pai da Psicanálise, deu ênfase em seus estudos aos processos mentais inconscientes, que acabaram se tornando aceitos pela comunidade científica, apesar de algumas controvérsias (SILVA et al, 2003). Na verdade, a natureza da consciência ainda é um mistério, pois, “[...], apesar de ‘todos sabermos como é’, na verdade não sabemos ‘o que é’ a consciência, e nem mesmo podemos afirmar se o ‘como’ de um é igual ao ‘como’ de outro” (SILVA et al, 2003, p. 53). A ideia da consciência como fundamento da realidade vem sendo apresentada ao longo dos séculos por várias tradições místicas do Oriente, e no Ocidente por alguns filósofos como Anaxágoras (500 – 428 a.C.), assim como pela Teosofia, cujos estudos trazem Hermes Trismegistos (por volta de 1.500 a.C a 2.500 a.C.). Dessa forma, a busca pelas verdades e pela compreensão do sentido da vida não começou na modernidade, mas foi a partir dela certamente que os caminhos se bifurcaram (FAGHERAZZI, 2014). Explicar no que consiste a “consciência” é tarefa atribuída aos estudiosos sobre o tema, independentemente de sua forma de ver e interpretar o mundo. A esse respeito, muitas teorias ainda serão ampliadas, discutidas, analisadas. Há 30 a Conscienciologia, considerada pseudociência e que, em seu contexto, a consciência, também chamada de ego, alma, espírito, self ou individualidade, possuiria uma existência própria que transcenderia a vida biológica. Vocabula rio Self: palavra inglesa que indica a própria individualidade e identidade de uma pessoa; o si-mesmo. Estudos de Cavalcanti (2004) revelam que também, atualmente, existe uma nova área de investigação chamada de Física da Consciência. Há a sugestão dos físicos Kafatos e Kafatou do termo “metamente”, para definir essa consciência que está além da mente consciente individual e que é seu fundamento, aquilo do qual surge e do qual está baseada (KAFATOS; KAFATOU, 1994 apud CAVALCANTI, 2004, p. 96). O que é importante ressaltar se relaciona com a certeza de que há um processo de comunicação que atinge diretamente a vida humana, percebido por todos. Essa “consciência” se revela de diversas formas. Trazendo os conhecimentos advindos das Tradições Antigas do Oriente, notam-se convergências com a perspectiva científica, ou seja, tudo é energia, tudo segue princípios e partilha-se de uma determinada ordem. Nas palavras de Pfeifer (2018), à medida que a ciência for expandindo sua visão, [...] e mais e mais cientistas, dos mais diversos campos do conhecimento, forem propondo teorias para explicar essa Realidade Suprema, a maioria das pessoas passará também a perceber que, aquilo que suas religiões sempre falaram (por mais diversas que sejam), finalmente encontra correspondência nas novas afirmações da Ciência, sobre os fatos e as leis da Natureza [grifos nossos] (PFEIFER, 2018, p.1281). Assim, neste momento, a proposta de reflexão se direcionará para uma breve incursão sobre as leis e princípios que regem o universo, trazidas pela visão espiritual e identificadas agora pela ciência. O objetivo será refletir sobre a dimensão de reconhecer o fato incontestável da unicidade em uma mesma 31 consciência cósmica interligada às autoconsciências dispersas pelo planeta. Leis invisíveis aos sentidos físicos, mas presentes e atuantes nas condutas, nas relações humanas e com a natureza. As perguntas que podem estar sendo feitas são: que relação tais reflexões podem ter a ver com a área educacional, com as práticas pedagógicas? No que incide todo esse conhecimento e o que vai acrescentar no âmbito educativo? Que relação tem com a função social da escola no que diz respeito a transmitir os conhecimentos historicamente produzidos? Nas palavras de Bastos (2017, p. 24), “a aquisição deste conhecimento permite instrumentalizar o professor para o compromisso ético e responsável no desenvolvimento de tarefas pedagógicas voltadas à valorização e dignificação da integralidade da pessoa humana”. Assim, é fundamental que o professor internalize e reflita sobre outra forma de se ver e ser no mundo, para que de fato possa dar seu “salto quântico”, ao tomar uma posição de transformar o que está posto em sua atual realidade frente aos condicionamentos obtidos por seus ímpetos, por uma herança genética ou pelo ambiente em que vive (FRANKL, 2012). Afinal, como dito anteriormente, para resolver um problema há a necessidade de colocá-lo sob uma ótica diferente daquela que o criou. Saiba Mais Salto quântico é quando os elétrons se aceleram afastando- se do núcleo e partindo para outra órbita diferente da anterior. Na Física Quântica, quando uma partícula que está num determinado nível energético ganha uma quantidade extrema de energia, ela salta para um nível mais alto. Leia a respeito sobre o efeito disso na vida humana em: https://osegredo.com.br/entenda-o-que-e-um-salto- quantico/ 2.2 As leis invisíveis impressas na consciência Todos os princípios fundamentais básicos encontrados nos estudos esotéricos e espiritualistas das mais diversas ordens se baseiam na filosofia de Hermes Trismegistos (em grego) ou Thoth Tehuti (em egípcio), pastor, filósofo e legislador egípcio (1.500 a.C a 2.500 a.C. aprox.). Os mais antigos preceitos 32 orientais e ocidentais, de acordo com Camaysar (1978), tiveram a sua fonte nos preceitos herméticos originais. Os sete principais princípios herméticos encontram-se num dos mais importantes e influentes textos ocultistas escritos nos Estados Unidos – o Caibalion – que reúne os ensinamentos básicos que regem todas as coisas manifestadas. Os princípios herméticos são, conforme explicita Atkinson (2018, p. 74-83): Princípio do Mentalismo – "O todo é a mente; O universo é mental". Nós existimos na mente do todo. Aquela parte de nós que é divina faz o mundo e tudo que há nele; Princípio da Correspondência – "Assim em cima como embaixo. Assim embaixo como em cima". Nós existimos em todos os planos, tanto astral quanto físico. Especialmente planos independentes do físico; Princípio da Vibração – “Nada para; Tudo se move; Tudo vibra". Tudo está em movimento e vibra no seu próprio ritmo; Princípio da Polaridade – "Tudo é dual; Tudo tem seu par oposto; Gostar e não gostar é a mesma coisa; Os opostos são idênticos por natureza, mas diferentes em níveis; Os extremos se encontram"; Princípio do Ritmo – "Tudo flui; Tudo sobe e desce; O balanço do pêndulo manifesta-se em todas as coisas. A forma como se balança para a direita é a forma como se balança para a esquerda"; Princípio do Gênero – "O gênero está em tudo; Tudo tem um princípio masculino e feminino". A lei da polaridade aplicada. Tudo possui componente e energia do masculino e do feminino e manifesta-se em todos os planos; Princípio de Causa e Efeito – "Toda causa tem seu efeito; Todo efeito tem sua causa; Tudo acontece de acordo com a lei". Não existem coincidências, nada acontece por acaso. Tudo é cíclico. 33 Para cada efeito, há uma causa, e toda causa gera um efeito em algo ou alguém. Ao se observar e refletir sobre esses princípios, pode-se constatar que há correspondentes em algumas das leis físicas identificadas nas pesquisas e descobertas da ciência ocidental. Assim como também podem ser identificadas nas diversas religiões e respectivas escrituras.Nas palavras de Capra (1975, p. 23), “[...] a física moderna nos conduz a uma visão do mundo similar às sustentadas pelos místicos de todos os tempos e tradições. As tradições místicas estão presentes em todas as religiões [...]”. Saiba Mais Muitos são os grupos que dedicam seus estudos sobre princípios e leis universais, numa perspectiva filosófica. Podem ser citados, como exemplo, os grupos de estudo da Teosofia, da Maçonaria, da Ordem Rosacruz, da Logosofia, do Espiritismo (aqui entendido como ciência, de acordo como surgiu por intermédio de Allan Kardec, no século XIX), entre outros. Procuram conduzir o homem ao conhecimento de si mesmo, de Deus, do universo e suas leis. Nas palavras de González Pecotche (2008, p. 8-9) “a Logosofia expressa que a consciência é a essência viva dos conhecimentos que a integram, o que dá ideia de que, quanto mais conhecimento assimila, maior é a atitude consciente do indivíduo”. Compilar todo material em que as leis e princípios universais foram disponibilizados exigiu intensa pesquisa, pois a literatura disponível para abordagem desse tema é limitada. Além do que está posto anteriormente segundo o Caibalion, podem ser citadas outras leis que concluem brevemente esse estudo. Há um conjunto de leis e sub-leis, que são complementares. De acordo com Holliwell (2016), as leis e princípios universais são: Lei do Pensamento; Lei dos Recursos; Lei da Atração; Lei do Receber; Lei do Agradecimento; Lei da Compensação; Lei da Não Resistência; Lei do Perdão; Lei do Sacrifício; Lei da Obediência e Lei do Sucesso. Para outros estudiosos, baseados na tradição védica, as leis cósmicas são: Lei da Atração; Lei da Reflexão; Lei da Manifestação; Lei do Livre Arbítrio; Lei da Consequência; Lei da Harmonia; Lei da Sabedoria e Conhecimento; 34 Lei do Retorno e da Dádiva; Lei da Evolução e Propósito; Lei da Energia; Lei do Desapego; Lei da Gratidão; Lei da Associação; Lei do Amor Incondicional; Lei da Afinidade; Lei da Abundância; Lei da Ordem Universal; Lei da Unidade; Lei do Compromisso e Lei da Eternidade. Ví deo Neste vídeo são apresentadas resumidamente as Leis do Universo, de acordo com Holliwell (2016). São leis que impulsionam o autodesenvolvimento e refleti-las dará maior compreensão sobre como funcionam. A sugestão é aprender a usá-las e ver as grandes diferenças que proporcionam na vida. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2Cr4WTw0bco Pode-se observar que as leis citadas têm correlação direta com os princípios herméticos abordados anteriormente. São leis que, segundo os estudiosos sobre o tema, encontram-se impressas na consciência humana. E, para alguns cientistas da atualidade, podem se tratar de conhecimentos advindos da conexão transpessoal, não local, sutil e abrangente. O universo é mental, como apregoa a lei do mentalismo: Enquanto na visão conservadora, a interação e a comunicação humanas estão limitadas aos nossos canais sensoriais (costuma-se dizer que tudo o que está na mente precisou primeiro estar no olho ou no ouvido), muitos dos principais psicólogos, psiquiatras e pesquisadores da consciência atuais estão redescobrindo o que Einstein já havia percebido e que as culturas antigas sempre souberam: que nós também estamos ligados por conexões mais sutis e mais abrangentes. Na literatura científica atual, essas conexões são chamadas de transpessoais (LASZLO, 2004, p. 90). Quem não tem internalizado, por exemplo, o sentido exato de ação e reação, causa e efeito (ou consequência), que tudo tem seu par oposto, tudo tem um princípio masculino e feminino, tudo flui, tudo vibra, se atrai o que se pensa e sente? Não foram, certamente, apenas explicações pontuais dadas por alguém. São certezas que fluem do interior de cada um, intuitivamente. Fatos que são reconhecíveis nas diversas situações experienciadas na vida. Seriam conexões sutis, abrangentes, transpessoais? De acordo com tal entendimento explicitado por Laszlo (2004), as respostas para tais questões são afirmativas. 35 Poderiam ser conexões com uma consciência cósmica? E de que forma podem ocorrer tais conexões? As respostas podem ser encontradas também nos conceitos da Psicologia Analítica de Carl Jung sobre inconsciente coletivo. Há aproximações relevantes para serem analisadas entre Psicanálise e Física Quântica. Conforme elucida Goswami (2018, p. 93), “além da mente se encontra o mundo dos arquétipos, que o filósofo Sri Aurobindo chamou de supramental. [...] o reino da experiência além da mente também vai além das energias vitais que sentimos”. A representação dos arquétipos é traduzida em sentimentos nobres. Dessa forma, o supramental é igualmente supravital, no qual as intuições, que são sutis, é o seu vislumbre – “o mundo arquetípico do amor, da beleza, da verdade, do bem, da justiça, da plenitude, da abundância e do self”. (IDEM). Vocabula rio Arquétipo: representa o primeiro modelo de algo ou antigas impressões sobre algo. Conceito criado pelo suíço Carl Gustav Jung. Refere-se a conjuntos de imagens primordiais que dão sentido às histórias, passado entre gerações, formando o conhecimento e o imaginário do inconsciente coletivo. Para Goswami (2018), alguns arquétipos são considerados principais (modelos essenciais, também estudados por Carl Jung), segundo os quais a vida deve se nortear. De acordo com Jung (2007), os arquétipos são conjuntos de imagens primordiais originadas de uma repetição constante de uma mesma experiência durante muitas gerações, armazenadas no inconsciente coletivo. Uma forma de pensamento universal, com carga afetiva, que é herdada. 36 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia essa importante obra de Carl Jung: Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. O conhecimento que Jung possui da filosofia ocidental e oriental, da alquimia, do gnosticismo e da literatura adulta e infantil é espantoso. Como explicar que diversos tipos de pessoa tenham conhecimento de determinadas formas de imagens, lendas e mitologia sem que tenham lido ou estudado nada a respeito? Em relação à manifestação das pretensões que o indivíduo tem, quando o desejo de algo se conecta com um desses arquétipos, a possibilidade de se realizar é maior, uma vez que tal desejo estará de acordo com a vontade maior do universo. De acordo com os princípios universais e as perspectivas que se espera alcançar, tendo a mente (consciente e inconsciente) em sincronicidade com os sentimentos, a realidade pode ser cocriada. Numa experiência criativa, sempre se sabe com certeza o que se sabe. “E quando nós, como consciência não local, escolhemos determinada faceta dentre as possibilidades arquetípicas, experimentamos uma intuição” (GOSWAMI, 2018, p. 95). E isso, a intuição, é “a evolução das representações materiais da consciência e de suas potencialidades sutis” (IDEM). A energia vital é a responsável pelos sentimentos. “Quando você vivencia uma emoção internamente, ela envolve o pensamento, mas também envolve um movimento extra, sutil, vital, que a consciência concretiza em sua percepção- consciente interna” (GOSWAMI, 2018, p. 60). Assim compreendido, pode-se perceber que as emoções geram sentimentos, em interdependência com o cérebro. No cérebro há o controle de tais sentimentos, há a sensação, o colapso quântico da experiência subjetiva de sensação, sentimento, pensamento e intuição, permitindo que a mente dê sentido às experiências. “E a emoção se manifesta na consciência, porque é lá 37 que fica o poder de escolha” (IBIDEM, p. 61). Lei do livre arbítrio. O que se sente é pura energia, energia vital. Lei da vibração. Dessa forma, observa-se que matéria e espírito se conectam, numa relação de interdependência (TEILHARD DE CHARDIN; ZILLES, 2001). Então, “tanto o físico quanto o sutil são importantes; precisamos de ambos”. (GOSWAMI,2018, p. 84). Aí reside a compreensão do uno, da conexão entre todas as partes, tanto das que compõem o ser quanto das relações que se estabelecem entre cada um dos seres existentes no universo. Também a respeito desta conexão entre os seres, há leis universais que regem naturalmente as relações dentro de um sistema: Lei da Ordem, do Equilíbrio e do Pertencimento, assunto que será abordado, em especial, noutro momento. Os estudos sobre os chakras são esclarecedores e podem trazer os conhecimentos sobre a interconexão entre matéria e espírito, uma vez que são entendidos como centros de energia, representando os diferentes aspectos da natureza sutil do ser humano (do corpo físico, emocional, mental e energético). Assim também como os estudos sobre a aura (que é o campo eletromagnético gerado pela atividade do corpo vital). De acordo com estudiosos sobre esse assunto, os principais chakras e a aura possuem estreita relação entre si. A aura recebe diferentes denominações, conforme a organização de várias vertentes filosóficas e espirituais: a Teosofia denomina duplo etérico; a Rosacruz, corpo vital; no Vedanta dos hindus, chama- se pranamayakosha; para a Conscienciologia, o nome é holochacra; para os pesquisadores russos, é corpo bioplásmico ou bioplasmático; para os pesquisadores ocidentais, é corpo energético. Vale ressaltar que a compreensão sobre “a função e a importância do corpo vital proporciona uma explicação profunda do sentimento: o que sentimos, como sentimos e onde sentimos” (GOSWAMI, 2018, p. 60). Para Zohar e Marshall (2018), ao acionar os chakras, descobre-se uma energia dinâmica, um elemento importante na elevação da experiência espiritual, pois se trata de uma “energia transformadora, como uma serpentina, desse conjunto de sete locais vitais no corpo [...] abrir caminho de baixo para cima nos chakras é a chave para a transformação pessoal” (p. 156). 38 Ví deo Video explicativo a respeito de chakra, palavra em sânscrito cujo significado é roda de luz. Constitui parte dos estudos e práticas orientais para equilíbrio de corpo e mente dos seres humanos. Os chakras são centros energéticos que representam aspectos diferentes da natureza humana nos aspectos corporal, mental, emocional e energético. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cwOif9hT7LA As ações e reações físicas, na perspectiva posta pela teoria causal newtoniana, deverão ser entendidas de forma distinta do que anteriormente fora considerado verdadeiro, pois somente se aplica “a corpos desprovidos de qualquer movimento ou resistência diferente do outro” (DE NADAI; JARDIM, 2010, p. 160), isto é, “se um sujeito for de encontro a outro, não é possível afirmar que eles irão colidir e a força feita por um será a mesma força contrária feita pelo outro” (IDEM). Na terceira lei de Newton, há a descrição do resultado da interação entre duas forças: para toda ação (força) sobre um objeto, em resposta à interação com outro objeto, existirá uma reação (força) de mesmo valor e direção, mas com sentido oposto. No lugar dessa afirmação, ganha espaço o indeterminismo e as mudanças conferidas pelas descobertas da física quântica. Ou seja, a verdade é criada a partir do olhar de quem está vivenciando a experiência, logo, a reação também estará pautada nisso. Assim, é necessário assumir uma “consciência ética”, principalmente no que condiz com as relações entre humanos, e destes com a natureza em geral. Diante disso, é imperioso refletir e acolher a ideia de que “a relatividade de Einstein e a Mecânica Quântica revolucionaram a maneira com que percebemos o universo e nosso papel na teia viva da criação” (ABDALLA, 2005, p. 148). No entanto, as investigações no meio científico ainda são limitadas no que se refere ao que não está ao alcance dos sentidos, do que transcende. Há uma negação contundente de qualquer possibilidade que se ponha além da matéria, o que demonstra que a ciência clássica não está pronta para aceitar como real o que não é manifesto (LASZLO, 2004). Dessa forma interpretada, nas palavras de González Pecotche, 39 Quando a investigação se detém nas fronteiras do mundo transcendente, é porque o saber comum é insuficiente para penetrar nele. A ciência deve elevar as vistas acima de sua rigidez consuetudinária, para entroncar nas grandes concepções da Sabedoria Universal (GONZÁLEZ PECOTCHE, 2008, p. 5). Cabe perceber que buscar os estudos que contemplam possibilidades e não certezas absolutas, que instigam a busca pelos significados que se extraem dos valores arquetípicos – amor, verdade, justiça, beleza, bondade, abundância –, que permitem a integração do melhor do materialismo científico – a importância do mundo – com o melhor das tradições espirituais – a importância da totalidade (GOSWAMI, 2018), certamente permitirá maior discernimento e clareza diante das circunstâncias da vida, sem com isso negar o valor do senso crítico e do pensamento racional (ZOHAR; MARSHALL, 2018). Afinal, conhecer o todo, pelo todo e por suas partes é ampliar as possibilidades de responder ao máximo das questões levantadas sobre a existência. Diante do exposto, entender a perspectiva dos estudos que abordam a consciência (autoconsciência, consciência cósmica) e todas as questões relacionadas exige uma postura que deverá pôr em xeque a negação daquilo que não se pode provar de acordo com o método científico adotado. A temática aqui debatida está além do que a ciência tradicional adota como verdade. Por um lado, por meio do rigor científico do método analítico proposto por Descartes, afirma-se que a matéria é a base de tudo e que não há evidências comprováveis da existência de um espírito, muito menos de algo superior, transcendente. Por outro lado, também não há comprovações da mesma ciência clássica de que o espírito não seja a base de tudo. A Física Quântica é a possibilidade científica dessa constatação, seguida de outras ciências que têm se debruçado nos conceitos e experimentações por ela apresentados. Da mesma forma, as tradições antigas vêm a acrescentar e encorpar o rol de conhecimentos a respeito da espiritualidade. Os estudos sobre a consciência ainda se encontram em fase incipiente, apesar dos importantes avanços em reconhecê-la como sendo o início de tudo o que de fato existe. Assim, trazer a perspectiva do reconhecimento da espiritualidade como um aspecto importante, essencial e legítimo é de fundamental relevância para que se resgate o sentido e o propósito para a vida, a preservação de valores arquetípicos de amor, verdade, justiça, 40 beleza, bondade, abundância, (entre outros) e os significados que são extraídos desses valores. Conclusão da aula 2 A fim de trazer outros paradigmas na produção de conhecimentos, a disciplina “Ação e Reação” buscou os estudos sobre a consciência no intuito de permitir ampliar a visão sobre a realidade e, com isso, superar as turbulências no cenário social e educacional. É uma temática que traz impacto e acarreta divergências entre diversos aspectos das abordagens reducionista/mecanicista e holística/hologramática. Tais divergências consistem na separação entre matéria e espírito, o homem do universo e de sua fonte espiritual (DI BIASE, 2006). A Psicologia Transpessoal é uma abordagem da Psicologia que defende que o ser humano precisa transcender sua psique – pessoal, conectando-se ao todo, ou a outras realidades mais abrangentes – transpessoais, apontando para o entendimento de estados da consciência ampliados, indo além dos limites do ego e da personalidade e, ao lidar com a experiência cósmica, dá atenção especial para o campo da espiritualidade (SIMÃO, 2010; VALENTE, OLIVEIRA, 2018; ARRUDA, 2016). Essa abordagem da Psicologia faz a conexão entre as muitas escolas ocidentais de Psicologia e as tradições espirituais do Oriente e do Ocidente.
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