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<p>AULAS DE CRIAÇÃO DE BASE</p><p>DIREITO ADMINISTRATIVO</p><p>Professor Gustavo Fernandes</p><p>(</p><p>Elaborado por</p><p>Luciano Pagotto</p><p>| Advogado, Especialista em Ciências</p><p>Criminais</p><p>pela</p><p>Faculdade</p><p>de</p><p>Direito</p><p>de</p><p>Vitória</p><p>-</p><p>ES</p><p>e</p><p>Direito</p><p>Constitucional</p><p>pelo Curso CEI.</p><p>)</p><p>AULA 24 – BENS PÚBLICOS - PARTE 01</p><p>1. Domínio eminente</p><p>A expressão domínio eminente se refere “ao poder político que permite ao Estado, de forma geral, submeter à sua vontade todos os bens situados em seu território” e significa a disponibilidade potencial que o Estado detém sobre tudo quanto esteja em suas linhas territoriais, em razão de seu poder soberano (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1224). O domínio eminente abrange:</p><p>a) bens públicos;</p><p>b) bens privados; e</p><p>c) bens não sujeitos ao regime normal da propriedade, como, por exemplo, o espaço aéreo e as águas.</p><p>Ainda que não seja proprietário de todos os bens – e aí está a diferença em relação ao simples domínio patrimonial –, o Estado pode instituir regimes jurídicos específicos que afetam o domínio (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1224)</p><p>A expressão domínio eminente também não deve ser confundida com domínio público. É verdade que nas clássicas lições de Hely Lopes Meirelles (2016, pp. 632-3) domínio público é justamente o conjunto de todos os bens sujeitos às normas estabelecidas pelo Estado, ainda que não lhe pertençam, cujos desdobramentos são de</p><p>(</p><p>ASSINATURAS</p><p>|</p><p>DEFENSORIAS</p><p>|</p><p>MAGISTRATURA</p><p>E</p><p>MP</p><p>)</p><p>cunho político (o domínio eminente, um domínio geral e potencial sobre bens alheios) e de cunho jurídico (o domínio patrimonial, sobre os bens que pertencem à pessoa pública). No entanto, parece mais adequada a definição que lhe dá Di Pietro (2019, p. 852).</p><p>A autora reconhece que a expressão “domínio público” é plurívoca e pode ter sentido muito amplo, referindo-se a todos os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno (limitada, ainda assim, ao direito de propriedade); menos amplo, significando o conjunto de bens afetados a um fim público (bens de uso comum do povo e os de uso especial); e estrito.</p><p>2. Bens públicos</p><p>Nos termos do art. 98 do Código Civil, “são públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem”. A redação do art. 98 do Código Civil não deixa dúvida de que os bens de sociedades de economia mista e de empresas públicas, como entidades administrativas de direito privado que são, devem qualificar-se como bens privados. Por conseguinte, o regime jurídico dos bens das pessoas privadas da Administração será, em princípio, o de direito comum, excepcionalmente derrogado por regra especial de direito público (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1228).</p><p>Porém, os bens das empresas estatais que são diretamente empregados na prestação do serviço público se sujeitam a restrições próprias dos bens públicos, por força do princípio da continuidade do serviço público. Essa afetação ao serviço público é o que fundamenta a indisponibilidade desses bens, com todos os demais corolários (STJ, AgRg no AREsp 37.545/SP, j. 7.2.12).</p><p>Inclusive, o STJ fixou tese a esse respeito: “Os bens integrantes do acervo patrimonial de sociedades de economia mista sujeitos a uma destinação pública equiparam-se a bens públicos, sendo, portanto, insuscetíveis de serem adquiridos por meio de usucapião” (Tese 1 da Jurisprudência em Teses, Vol. 124).</p><p>Em sentido contrário, Hely Lopes Meirelles (2016, p. 636) defende que os bens das empresas estatais são bens públicos com destinação especial e administração particular das instituições a que foram transferidos para consecução dos fins estatutários. Conforme ensina, “a origem e a natureza total ou predominante desses bens continuam públicas; sua destinação é de interesse público; apenas sua administração é confiada a uma entidade de personalidade privada, que os utilizará na forma da lei instituidora e do</p><p>estatuto regedor da instituição”.</p><p>Uma única exceção à caracterização de bens públicos como os pertencentes às pessoas públicas seria a previsão da Lei 11.284/2006, que considera florestas públicas aquelas localizadas nos entes públicos e nas entidades da administração indireta, sem fazer distinção entre as de direito público e as de direito privado (art. 3º, I) (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1228).</p><p>Os bens públicos – pertencentes às pessoas jurídicas de direito público –, podem ser de qualquer natureza, como corpóreos, incorpóreos, móveis, imóveis, semoventes, créditos, direitos e ações (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1225; MEIRELLES, 2016, p. 636).</p><p>Questão: A corrente doutrinária que conceitua bens públicos como aqueles que pertencem ao patrimônio de pessoas jurídicas de direito público, mesmo que, por vezes, exclua aqueles bens pertencentes às empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos, bem como os de concessionárias e permissionárias afetados à prestação de serviços públicos, é conhecida como a corrente: exclusivista.</p><p>Corrente exclusivista conceitua como bens públicos todos os bens pertencentes a pessoas jurídicas de direito público.</p><p>Corrente inclusivista conceitua como bens públicos os pertencentes as pessoas jurídicas que integram a administração pública direta ou indireta sejam estas de direito público ou de direito privado.</p><p>Corrente mista conceitua bens públicos como aqueles pertencentes às pessoas jurídicas de direito público e também os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito privado que estejam afetados à prestação de serviços públicos.</p><p>3. Classificação dos bens públicos</p><p>a) Quanto a destinação ou afetação</p><p>O art. 99 do Código Civil estabelece que são bens públicos:</p><p>· os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;</p><p>· os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;</p><p>· os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Ademais, “consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado” (art. 99, parágrafo único).</p><p>O critério dessa classificação é a destinação ou afetação dos bens: os de uso comum do povo são destinados ao uso coletivo, como as praças, as praias, as ruas e as estradas; os de uso especial são afetados ao uso da Administração, ainda que indiretamente, a exemplo das terras dos indígenas, além de cemitérios públicos, aeroportos, escolas e hospitais públicos e bens móveis utilizados na prestação dos</p><p>serviços públicos, não perdendo a característica de bens de uso especial ainda que estejam sendo utilizados por particulares, sob regime de delegação para prestação de serviços públicos (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1232); por fim, os dominicais não têm destinação pública definida, como ocorre com as terras devolutas, com os bens móveis inservíveis e com os prédios públicos desativados (DI PIETRO, 2019, p. 851).</p><p>Questão: As terras devolutas indispensáveis à preservação do meio ambiente são consideradas bens: dominicais de titularidade da União.</p><p>Ainda que não tenham destinação pública definida, como os bens dominicais, são considerados públicos todos aqueles que pertençam às pessoas jurídicas de direito público, ainda que se tenha dado estrutura de direito privado, a não ser que a lei disponha em sentido diverso (CC, art. 99, parágrafo único).</p><p>Não se deve confundir as expressões bens dominicais e bens dominiais. Os primeiros têm caráter residual, tratando-se de uma espécie de bens públicos, segundo o critério classificatório da destinação. Já os bens dominiais indicam, de forma genérica, todos os bens que formam o domínio público em sentido amplo, sem levar em conta a categoria ou destinação (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1233).</p><p>Questão: Considerando-se o regime jurídico dos bens públicos, pode-se afirmar que</p><p>A) a eles não se aplica o princípio</p><p>da função social da propriedade, em razão do regime de impenhorabilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade.</p><p>B) a eles se aplica, com grau diferenciado, o princípio da função social da propriedade, em relação aos bens de uso comum do povo.</p><p>C) a eles se aplica o princípio da função social da propriedade, em grau diferenciado, em relação aos bens dominiais.</p><p>D) a eles se aplica o princípio da função social da propriedade que incide indistintamente e com mesmo grau de intensidade, dada sua função normativa, sobre todo o ordenamento jurídico e sobre o domínio público e particular.</p><p>Questão: Os bens dominicais, também conhecidos como bens do patrimônio fiscal, integram o domínio público, sem destinação determinada, como é o caso da dívida ativa dos entes públicos – CERTO, títulos da dívida ativa sāo bens públicos dominicais.</p><p>Questão: As terras devolutas são</p><p>A) terras de propriedade da União que não têm afetação específica e que, portanto, são consideradas disponíveis – ERRADA, em que pese se tratar de um bem sem afetação, ou seja, sem uma destinação específica, as terras devolutas não específicas da União, podendo ser também dos Estados e Municípios. Ainda assim existem terras devolutas que mesmo estando em áreas Estaduais e Municipais são pertencentes à União, pois são faixas estratégicas - é o caso das terras devolutas indispensáveis à defesa de fronteiras, fortificações e construções militares.</p><p>B) terras públicas que estão afetadas a um uso público, mas que ainda não foram arrecadadas por ações discriminatórias – ERRADA, as terras devolutas não possuem qualquer finalidade para os serviços públicos.</p><p>C) terras públicas ou privadas localizadas em faixas de fronteira, reservas indígenas ou terrenos de marinha.</p><p>D) terras públicas ou privadas consideradas indispensáveis à defesa de fronteira e à preservação ambiental.</p><p>E) terras públicas não incorporadas a patrimônio particular e que não estejam afetadas a qualquer uso público.</p><p>Questão: As terras devolutas são bens públicos destinados à proteção de fronteiras, fortificações e construções militares, razão por que são afetadas como bens de uso especial da União – ERRADO, as terras devolutas são áreas que não são utilizadas para quaisquer finalidades públicas específicas e se enquadram como bens dominicais. Ressalte-se que as terras devolutas pertencem aos Estados, reservando-se a União somente as áreas necessárias à proteção de fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei.</p><p>Info 969: O STF entendeu que não há, nos autos, elementos de prova que atestem que a ação discriminatória proposta pelo Estado abarcou área de domínio da União. Não é evidente, portanto, o domínio prévio da União sobre a área específica. A União alegou que as referidas terras seriam de sua propriedade desde 1872, por anexação. O Estado de São Paulo, por sua vez, alegou que eram terras devolutas, e, por isso, passíveis de alienação a particulares. Apesar de inexistente, à época, qualquer registro imobiliário no sentido de se cuidar de terras devolutas, não se exigiria prova nesse sentido, pois a regra então vigente era no sentido da presunção da natureza devoluta dessas terras. Assim, havia presunção de que eram terras devolutas e cabia à União o ônus de provar que adquiriu as terras por meio de compra ou anexação; que as terras lhe eram úteis; e a exata individuação para fins de saber se elas coincidem com as áreas em relação às quais o estado de São Paulo expediu os títulos que se pretende anular. É possível concluir que a União adquiriu terras na região, mediante compra ou anexação. Entretanto, não há provas de que essas terras tenham sido efetivamente úteis para o suposto fim original a que se prestariam. Além disso, não há qualquer precisão na individuação dessas terras à época da aquisição. A União não se desincumbiu de seu ônus probatório. Por fim, ressaltou a importância da preservação da segurança jurídica sob o ângulo subjetivo. Hoje, a área em questão constitui bairro povoado por muitas famílias, que ali fixaram residência há anos. A área foi edificada e urbanizada ao longo do tempo, por pessoas que agiram de boa-fé. STF. Plenário. ACO 158/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/3/2020</p><p>Art. 20. São bens da União: II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;</p><p>Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.</p><p>Min. Rosa Weber: “O objetivo da ação discriminatória é o deslinde das terras do domínio público, isto é, demarcar, apurar, esclarecer, separar as terras que estão integradas no domínio público. A ação discriminatória concluirá pela demarcação, que é o meio pelo qual se põe termo a todas as dúvidas divisórias, quer entre particulares, quer entre os poderes públicos. Portanto, é a ação pela qual o poder público faz apurar e separar suas terras das terras que estão sob o domínio de terceiros, ou apura as zonas indispensáveis à defesa do País.”</p><p>b) Quanto à disponibilidade</p><p>Os bens públicos podem ser: indisponíveis; patrimoniais indisponíveis; e</p><p>patrimoniais disponíveis.</p><p>Os indisponíveis são os que não têm caráter patrimonial e, por isso, não podem ser alienados ou onerados. O Poder Público tem o dever de conservá-los e mantê-los voltados para a sua finalidade (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1234). São exemplos os bens de uso comum do povo de natureza não patrimonial, como mares, rios e praias.</p><p>Os bens patrimoniais indisponíveis são suscetíveis de valoração e avaliação pecuniária, mas não há disponibilidade da pessoa jurídica de direito público sobre eles enquanto servirem aos fins estatais. São exemplos os bens de uso especial, móveis ou imóveis, como um prédio estatal utilizado para a prestação de um serviço público, e os bens de uso comum do povo de natureza patrimonial, como praças. Os bens patrimoniais disponíveis são os que podem ser alienados nas condições que a lei estabelecer. São os bens dominicais em geral.</p><p>c) Quanto à titularidade</p><p>Os bens públicos podem ser classificados, ainda, quanto à titularidade, em federais, estaduais, distritais e municipais, conforme pertençam à União, aos Estados, ao DF ou aos Municípios.</p><p>4. Regime jurídico dos bens públicos</p><p>4.1 Bens do domínio público do Estado</p><p>Aos bens de uso comum do povo e de uso especial incide o regime jurídico de direito público derrogatório e exorbitante do direito comum. São os bens do domínio público do Estado, ao contrário dos bens dominicais, que são de domínio privado do Estado.</p><p>Conforme conceitua Cretella Júnior (apud DI PIETRO, 2019, p. 853), bens de domínio público são “o conjunto das coisas móveis e imóveis de que é detentora a Administração, afetados quer a seu próprio uso, quer ao uso direto ou indireto da coletividade, submetidos a regime jurídico de direito público derrogatório e exorbitante do direito comum”.</p><p>Por isso, estabelece o art. 100 do CC/02 que “os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar”. Somente poderão ser alienados se ocorrer a chamada desafetação, que retira o bem da dominialidade pública para incorporá-lo ao domínio privado, ainda que do Estado.</p><p>Bem afetado é aquele que está sendo utilizado para dado fim público. Desafetado é o que não está sendo usado para qualquer finalidade pública. Afetação e desafetação são fatos administrativos pelos quais se atribui ao bem público uma destinação pública de interesse direito ou indireto da Administração ou se retira a finalidade pública anterior, respectivamente (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1235). Há quem fale em consagração e desconsagração como sinônimos de afetação e desafetação.</p><p>Di Pietro (2019, p. 856) afirma que a desafetação dos bens do domínio público do Estado, assim como a afetação (de bens dominicais), pode ser expressa, por meio de lei, decreto ou outro</p><p>ato administrativo, ou tácita, que decorre de um fato, sem manifestação de vontade expressa ou por fato da natureza, como a simples desocupação de um imóvel ou a destruição de uma biblioteca pública devido a um incêndio. No mesmo sentido, Carvalho Filho (2019, p. 1236) leciona que até mesmo tacitamente é possível que determinada conduta administrativa produza a afetação ou a desafetação, mostrando-se irrelevante a forma pela qual se processa a alteração da finalidade do bem. O tema, contudo, é controvertido na doutrina.</p><p>De qualquer forma, não se admite a desafetação tácita pelo simples não uso, que não produz tais efeitos, a exemplo de uma rua que deixa de ser utilizada. Neste caso, faz- se necessária a edição de um ato expresso de desafetação (DI PIETRO, 2019, p. 856).</p><p>Fala-se que os bens públicos são inalienáveis. Doutrina de peso, contudo, afirma que a expressão não é tecnicamente correta: o ideal seria falar em alienabilidade condicionada, já que tais bens poderão ser alienados em conformidade com o que a lei dispuser, inclusive consoante se extrai do art. 100 do CC: “Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.”</p><p>Também são imprescritíveis (inusucapíveis), impenhoráveis e não podem ser onerados (dados em penhor, anticrese ou hipoteca), uma vez que que tais garantias são incompatíveis com o regime de impenhorabilidade.</p><p>Questão: Sobre a impenhorabilidade dos bens públicos, pode-se afirmar que: admite exceção para a hipótese de sequestro de bens, nos termos do artigo 100, parágrafo 6°, da Constituição Federal de 1988, e para a concessão de garantia, em condições especialíssimas, em operações de crédito externo, cabendo ao Senado Federal dispor sobre limite e concessões, nos termos do artigo 52, VIII, da Constituição Federal de 1988.</p><p>(</p><p>Súmula</p><p>340-STF:</p><p>“Desde</p><p>a</p><p>vigência</p><p>do</p><p>Código</p><p>Civil,</p><p>os</p><p>bens</p><p>dominicais,</p><p>como</p><p>os</p><p>demais</p><p>bens públicos, não podem ser</p><p>adquiridos por usucapião</p><p>.”</p><p>)</p><p>Questão: Os bens públicos não estão sujeitos à prescrição aquisitiva, salvo os dominicais – ERRADO, conforme súmula 340 STF.</p><p>4.2 Bens do domínio privado do Estado</p><p>Aos bens dominicais incide o regime jurídico de direito privado parcialmente derrogado pelo direito público. No silêncio da lei, são regidos pelo direito privado, mas há normas derrogatórias do direito comum, como a do art. 100 da CF.</p><p>Por isso, dispõe o art. 101 do Código Civil que “os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei”. As condicionantes legais estão previstas na Lei 8.666/93, em especial no art. 17, que exige a demonstração de interesse público, prévia avaliação, licitação (concorrência para os imóveis* e leilão para os móveis, com a previsão de dispensa em algumas hipóteses) e autorização legislativa (este último requisito apenas para os bens imóveis). A Lei 9.636/98 exige, ainda, autorização do Presidente da República para a alienação de bens imóveis da União.</p><p>Tais bens não podem ser penhorados, pois se submetem ao art. 100 da CF, nem objeto de usucapião (CC/02, art. 102), tampouco de oneração (DI PIETRO, 2019, p. 859). Na antiga Lei de Licitações, havia apenas duas exceções à exigência de licitação exclusivamente na modalidade concorrência para a venda de bens imóveis. Pelo art. 19, os bens imóveis da Administração Pública, cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento, poderão ser alienados por ato da</p><p>autoridade competente, observadas as seguintes regras:</p><p>(</p><p>I - avaliação dos bens alienáveis; II - comprovação da necessidade ou utilidade da</p><p>alienação; III - adoção do procedimento licitatório, sob a modalidade de concorrência ou</p><p>leilão.</p><p>)</p><p>A Lei n. 14.133/21 mantém os requisitos, com a diferença de que licitação, em se tratando de bens imóveis, será sempre na modalidade leilão (e não mais concorrência) (art. 76).</p><p>5. Alienação dos bens públicos</p><p>5.1 Alienação dos bens de uso comum e de uso especial</p><p>Para serem alienados, tais bens têm de ser previamente desafetados, passando para a categoria dos bens dominicais. Por isso, afirma a doutrina que a inalienabilidade não é absoluta (DI PIETRO, 2019, p. 862). Com efeito, Meirelles (2016, p. 654) afirma que “os bens públicos, quaisquer que sejam, podem ser alienados, desde que a Administração satisfaça certas condições prévias para sua transferência ao domínio privado ou a outra entidade pública”.</p><p>A respeito dessa inalienabilidade (alienabilidade condicionada) dos bens públicos, há de se fazer registro de uma classificação que grassa na doutrina. Segundo alguns autores, a inalienabilidade relativa dos bens públicos constitui regra, mas há, sim, casos excepcionais de inalienabilidade absoluta, que não permitem, em hipótese alguma, a alienação pela Administração (ALEXANDRE, 2018). Tais casos seriam os seguintes:</p><p>a) Alguns bens de uso comum do povo, insuscetíveis de valoração patrimonial, como mares, rios e lagos (bens indisponíveis por natureza);</p><p>b) Terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais, as quais são consideradas indisponíveis por força do art. 225, § 5º, da CF; e</p><p>c) Terras ocupadas tradicionalmente pelos índios, por serem inalienáveis e indisponíveis, consoante art. 231, § 4º, da CF.</p><p>Questão: É correto afirmar, com relação aos bens públicos, que</p><p>A) os de uso comum podem ser objeto de uso exclusivo por particular a título oneroso ou gratuito e, desde que previamente desafetados, podem ser alienados.</p><p>B) o uso exclusivo por particular só pode ter por objeto os dominicais e os de uso especial.</p><p>C) o uso exclusivo por particular pode ter por objeto os de uso comum, desde que a título oneroso e mediante prévia desafetação.</p><p>D) os de uso comum podem ser objeto de uso exclusivo por particular a título gratuito ou oneroso, mas não podem perder o caráter de inalienabilidade.</p><p>5.2 Alienação dos bens dominicais</p><p>Os bens dominicais, como não possuem destinação pública, podem ser alienados, observadas as exigências da lei (CC, art. 101). A alienação pode ocorrer tanto por meio de institutos do direito privado ( compra e venda, permuta, doação, dação em pagamento) como por instrumentos do direito público ( investidura, legitimação de posse, legitimação fundiária e retrocessão) (DI PIETRO, 2019, p. 863). Para esses institutos de direito público, a licitação é dispensada, já que inexiste competição (DI PIETRO, 2019, p. 864); para as formas privadas de alienação, em regra, exige-se licitação.</p><p>Questão: A alienação de bens públicos móveis inservíveis, embora dispensada a autorização legislativa e a demonstração do interesse público a justificar o ato, está condicionada à modalidade licitatória de concorrência – ERRADO, a alienação de bens móveis inservíveis independe de autorização legislativa (art. 17, II, Lei 8666/93) e é realizada pela modalidade do leilão (art. 22, §5º).</p><p>Questão: É indispensável a autorização legislativa para a extinção, mediante alienação judicial, de condomínio indivisível que possua fração ideal constituída por bem dominical – ERRADO.</p><p>"DIREITO PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. BEM PÚBLICO. AÇÃO DE EXTINÇÃO DE CONDOMÍNIO. FRAÇÃO PERTENCENTE A MUNICÍPIO. POSSIBILIDADE. PRÉVIA AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA. PRESCINDIBILIDADE. 1. É direito potestativo do condômino de bem imóvel indivisível promover a extinção do condomínio mediante alienação judicial da coisa (CC/16, art. 632; CC/2002, art. 1322; CPC, art. 1.117, II). Tal direito não fica comprometido com a aquisição, por arrecadação de herança jacente, de parte ideal do imóvel por pessoa jurídica de direito público. 2. Os bens públicos dominicais podem ser alienados "nos casos e na forma que a lei prescrever" (CC de 1916, art. 66, III e 67; CC de 2002, art. 101). Mesmo sendo pessoa jurídica de direito público a proprietária de fração ideal do bem imóvel indivisível, é legítima a sua alienação pela forma da extinção de condomínio, por provocação de outro condômino. Nesse</p><p>caso, a autorização legislativa para a alienação da fração ideal pertencente ao domínio público é dispensável, porque inerente ao regime da propriedade condominial. 3. Recurso especial a que se nega provimento."(RESP - RECURSO ESPECIAL - 655787 2004.00.59028-0, rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, DJ DATA:05/09/2005)</p><p>a) Compra e venda</p><p>A alienação de bens imóveis é disciplinada na legislação própria de cada ente federativo, a qual, comumente, exige autorização legislativa, avaliação prévia, demonstração de interesse público e licitação, inexigível esta para, entre outros casos, doação, permuta, legitimação de posse e investidura, cujos contratos, por visarem a pessoa certa ou imóvel certo, são incompatíveis com o procedimento licitatório (MEIRELLES, 2016, p. 654). Após o trâmite legal, a alienação é formalizada nos termos da lei civil, mediante escritura pública e transcrição no registro imobiliário.</p><p>A alienação de bens móveis e semoventes tem regras menos rígidas, devendo-se observar a avaliação prévia, a demonstração de interesse público e a licitação, salvo casos específicos. As vendas geralmente ocorrem por leilão, sem maiores formalidades.</p><p>A questão é regulada, sobretudo, pelo art. 17 da Lei 8.666/93 e pelo art. 76 da Lei 14.133/21</p><p>REQUISITOS PARA A VENDA DE BENS IMÓVEIS</p><p>REQUISITOS PARA A VENDA DE BENS MÓVEIS</p><p>Interesse público devidamente justificado</p><p>Interesse público devidamente</p><p>justificado</p><p>Prévia avaliação</p><p>Prévia avaliação</p><p>Licitação (modalidade concorrência, exceto quando se tratar de bens imóveis da administração Pública, cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento, ou de bens imóveis da União, cuja alienação poderá ser feita mediante concorrência ou leilão público, nos termos dos arts. 19 da Lei 8.666/93 e 24 da Lei 9.636/98). Não se exigirá licitação nos casos do art. 17, I, da Lei</p><p>8.666/93.</p><p>Licitação (modalidade leilão, em regra, salvo avaliação superior ao limite da tomada de preços, quando será obrigatória a concorrência). Não se exigirá licitação nos casos do art. 17, II, da Lei 8.666/93.</p><p>Pela nova Lei n. 14.133/21, exige-se sempre leilão. Ademais, as hipóteses de dispensa de licitação estão regulamentadas no art. 76, I.</p><p>Pela nova Lei n. 14.133/21, exige-se sempre leilão. Ademais, as hipóteses de dispensa de licitação estão</p><p>regulamentadas no art. 76, II</p><p>Autorização legislativa</p><p>-</p><p>Autorização do Presidente da República (quando se tratar de bens imóveis da União, conforme art. 23 da</p><p>Lei 9.636/98)</p><p>-</p><p>Questão: Suponha que uma autarquia estadual pretenda alienar alguns imóveis de sua propriedade, objetivando a obtenção de receitas para a aquisição de um imóvel situado em região mais central da cidade e no qual pretende concentrar suas atividades. Considerando o regime jurídico aplicável aos bens públicos, bem como as disposições da Lei federal n° 8.666/1993: as alienações dependem de prévia autorização legislativa, admitindo-se a permuta de imóvel(is) que se pretende alienar por outro que atenda às necessidades atuais de instalação e localização da autarquia, com dispensa de licitação, observados os valores de mercado.</p><p>b) Concessão de domínio</p><p>É “o instrumento de direito público pelo qual uma entidade de direito público transfere a outrem, gratuita ou remuneradamente, bem público de seu domínio” (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1288). Assemelha-se à compra e venda, mas recebe contornos do direito público.</p><p>Se a transferência é para pessoa privada, formaliza-se por escritura pública ou termo administrativo, seguido de transcrição no Registro de Imóveis; para pessoa estatal, independe de transcrição imobiliária e se formaliza pela própria lei (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1289).</p><p>A Lei 8.666/93 trata da “concessão do título de propriedade” de imóveis no art. 17, § 2º, que “nada mais é do que a concessão de domínio” (CARVALHO FILHO, 2019,</p><p>p. 1289). Nos termos do dispositivo, a Administração poderá conceder título de propriedade ou de direito real de uso de imóveis, dispensada licitação, quando o uso destinar-se: I - a outro órgão ou entidade da Administração Pública, qualquer que seja a localização do imóvel; II – a pessoa natural que, nos termos de lei, regulamento ou ato normativo do órgão competente, haja implementado os requisitos mínimos de cultura, ocupação mansa e pacífica e exploração direta sobre área rural, observado o limite de que trata o § 1º do art. 6º da Lei 11.952/2009.</p><p>Nessa hipótese do inciso II, a lei dispensa a autorização legislativa, porém exige a submissão aos seguintes condicionamentos (§ 2º-A): I – aplicação exclusivamente às áreas em que a detenção por particular seja comprovadamente anterior a 1º de dezembro de 2004; II - submissão aos demais requisitos e impedimentos do regime legal e administrativo da destinação e da regularização fundiária de terras públicas; III - vedação de concessões para hipóteses de exploração não-contempladas na lei agrária, nas leis de destinação de terras públicas, ou nas normas legais ou administrativas de zoneamento ecológico-econômico; e IV - previsão de rescisão automática da concessão, dispensada notificação, em caso de declaração de utilidade, ou necessidade pública ou interesse social.</p><p>Além disso, a hipótese do inciso II (§ 2º-B): I - só se aplica a imóvel situado em zona rural, não sujeito a vedação, impedimento ou inconveniente a sua exploração mediante atividades agropecuárias; II – fica limitada a áreas de até quinze módulos fiscais, desde que não exceda mil e quinhentos hectares, vedada a dispensa de licitação para áreas superiores a esse limite; III - pode ser cumulada com o quantitativo de área decorrente da figura prevista na alínea g do inciso I do caput deste artigo, até o limite previsto no inciso II deste parágrafo.</p><p>c) Investidura</p><p>A lei conceitua a investidura como (art. 17, § 3º): I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de área remanescente ou resultante de obra pública, área esta que se tornar inaproveitável isoladamente, por preço nunca inferior ao da avaliação e desde que esse não ultrapasse a 50% (cinquenta por cento) do valor constante da alínea "a" do inciso II do art. 23 desta lei;</p><p>Veja-se que o objetivo é alienar área remanescente de obra pública que, isoladamente, não tem serventia para o Estado, beneficiando o titular da propriedade contígua. I - a alienação, aos legítimos possuidores diretos ou, na falta destes, ao Poder Público, de imóveis para fins residenciais construídos em núcleos urbanos anexos a usinas hidrelétricas, desde que considerados dispensáveis na fase de operação dessas unidades e não integrem a categoria de bens reversíveis ao final da concessão.</p><p>A investidura exige avaliação prévia e preço não superior ao que a lei estabelece (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1290), além de autorização legal, mas há dispensa de licitação (Lei 8.666/93, art. 17, I, “d”), uma vez que a transferência de propriedade só se pode fazer ao particular lindeiro e pelo preço apurado na avaliação prévia (MEIRELLES, 2016, p. 657).</p><p>Questão: investidura é a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de área remanescente ou resultante de obra pública, sendo hipótese de dispensa de licitação, desde que obedecidos os requisitos e limites estatuídos na Lei n° 8.666/1993 – CERTO.</p><p>d) Legitimação de posse</p><p>É “o instituto através do qual o Poder Público, reconhecendo a posse legítima do interessado e a observância dos requisitos fixados em lei, transfere a ele a propriedade de área integrante do patrimônio público” (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1291), ou, em outras palavras, “o modo excepcional de transferência de domínio de terra devoluta ou área pública sem utilização, ocupada por longo tempo por particular que nela se instala, cultivando-a ou levantando edificação para seu uso” (MEIRELLES, 2016, p. 659).</p><p>O tema é regulamentado, primordialmente, pela Lei 6.383/1976, segundo a qual, “o ocupante de terras públicas, que as tenha tornado produtivas com o seu trabalho e o de sua família, fará jus à legitimação da posse de área contínua até 100 (cem) hectares,</p><p>desde que preencha os seguintes requisitos: I - não seja proprietário de imóvel rural; II - comprove a morada permanente e cultura efetiva, pelo prazo mínimo de 1 (um) ano” (art. 29).</p><p>Entre diversos regramentos específicos, destaca-se o constante do § 1º do art. 29, o qual dispõe que a legitimação da posse de que trata o presente artigo consistirá no fornecimento de uma Licença de Ocupação, pelo prazo mínimo de mais 4 (quatro) anos, findo o qual o ocupante terá a preferência para aquisição do lote, pelo valor histórico da terra nua, satisfeitos os requisitos de morada permanente e cultura efetiva e comprovada a sua capacidade para desenvolver a área ocupada.</p><p>Aos portadores de Licenças de Ocupação, concedidas na forma da legislação anterior, será assegurada a preferência para aquisição de área até 100 (cem) hectares, nas condições do parágrafo anterior, e, o que exceder esse limite, pelo valor atual da terra nua (art. 29, § 2º).</p><p>Ademais, a Licença de Ocupação será intransferível intervivos e inegociável, não podendo ser objeto de penhora e arresto (art. 29, § 3º). A Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade) também faz referência à legitimação de posse, como instrumento de política urbana (art. 4º, V, “u”).</p><p>AULA 25 – BENS PÚBLICOS - PARTE 02</p><p>1. Aquisição de bens pelo Estado</p><p>O Estado precisa adquirir bens, das mais variadas espécies, para a realização do fim público. A aquisição dos bens pode ser originária ou derivada. Na aquisição originária, não há uma transmissão de propriedade por manifestação de vontade, pois inexistente a figura do transmitente. É o que ocorre no clássico exemplo da acessão por aluvião, em que se dá o aumento vagaroso de terras à margem de rios, ou por meio da usucapião, ou, ainda, por desapropriação.</p><p>Na aquisição derivada, há uma cadeia de transmissibilidade do bem, isto é, o bem que era do transmitente passa a ser do adquirente mediante condições por eles estabelecidas, que podem render ensejo à discussão sobre vícios de vontade (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1242). Exemplo comum é da aquisição de bem mediante contrato de compra e venda.</p><p>A aquisição pode ser, sob outra perspectiva, contratual, pelos instrumentos do direito privado, como compra e venda, permuta, doação, dação em pagamento; compulsória, por desapropriação ou adjudicação em execução de sentença; o por força de lei, como a concessão de domínio de terras devolutas (MEIRELLES, 2016, p. 663).</p><p>Os bens imóveis de uso especial e os dominicais adquiridos pelo Poder Público ficam sujeitos a registro imobiliário, enquanto os bens de uso comum estão dispensados de registro enquanto mantiverem essa destinação (MEIRELLES, 2016, p. 664).</p><p>2. Uso do bem público pelo particular</p><p>Independentemente da categoria, os bens públicos podem ser utilizados pelas pessoas jurídicas de direito público, bem como pelos particulares. Para categorizar o uso de bens públicos pelos particulares, a doutrina tradicional fala em uso comum ou uso especial (MEIRELLES, 2016, p. 640).</p><p>a) Uso comum</p><p>Cuida-se do uso “que se reconhece à coletividade em geral sobre os bens públicos, sem discriminação de usuários ou ordem especial para sua fruição” (MEIRELLES, 2016,</p><p>p. 641). Não se exige consentimento especial do Estado, mas apenas regulamentações gerais de ordem pública. Ninguém tem o direito de uso exclusivo ou faz jus a privilégios na utilização do bem. Não se exige pagamento para a fruição.</p><p>Questão: O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem – foi considerada como certa.</p><p>Questão: Bens de uso comum do povo, destinados à coletividade em geral, não podem, em nenhuma hipótese, ser privativamente utilizados por particulares – ERRADO, não é verdade que os bens de uso comum do povo não possam, em nenhuma hipótese, ser objeto de utilização privativa por particulares, em detrimento do restante da coletividade. Há alguns exemplos clássicos disto, como a permissão para instalação de banca de jornal em vias públicas, bem como a autorização para que bares e restaurantes disponham mesas e cadeiras nas calçadas em frente a seus estabelecimentos comerciais.</p><p>b) Uso especial</p><p>É “todo aquele que, por um título individual, a Administração atribui a determinada pessoa para fruir de um bem público com exclusividade, nas condições convencionadas. É também uso especial aquele a que a Administração impõe restrições ou para o qual exige pagamento” (MEIRELLES, 2016, p. 642).</p><p>Em suma, são de uso especial não apenas os bens cujo uso é marcado pela privatividade (uso especial privativo), mas também os de uso remunerado, marcados pela onerosidade (uso especial remunerado) e os que exigem consentimento estatal para o uso (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1252-3).</p><p>Todos os bens públicos estão sujeitos a uso especial por particulares, mas estes precisam obtê-lo por contrato ou ato unilateral da Administração. As formas administrativas para o uso especial são as autorizações, permissões e concessões de uso, além dos institutos civis de locação, comodato, enfiteuse etc. (MEIRELLES, 2016, p. 643).</p><p>Questão: As terras tradicionalmente reservadas aos índios são consideradas bens públicos de uso especial da União – CERTO.</p><p>Questão: Os bens de uso especial são aqueles que, por ato formal da administração pública, são destinados à execução dos serviços administrativos e serviços públicos em geral – ERRADO, a destinação pública dada ao bem de uso especial não depende de ato formal. Segundo Di Pietro, bens de uso especial possuem destinação pública atribuída pelo instituto da afetação, que é o ato ou o fato pelo qual um bem passa da categoria de bem do domínio privado do Estado para a categoria de bem do domínio público. Assim, a afetação pode ocorrer de forma expressa, por lei ou ato administrativo, ou de forma tácita, pela própria atuação direta da Administração ou por fato da natureza.</p><p>3. Autorização, permissão e concessão de uso</p><p>a) Autorização de uso</p><p>É o ato administrativo unilateral, precário e discricionário, pelo qual a Administração consente que o particular faça uso privativo de um bem público, com vistas ao interesse privado do beneficiado. Por ser concedido a título precário, pode ser revogado a qualquer tempo, sem ensejar indenização ao particular (DI PIETRO, 2019, p. 873).</p><p>Em alguns casos, o legislador tem permitido a autorização com fixação de prazo (autorização qualificada), a exemplo da prevista no art. 16 da Lei9.433/97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Nesse caso, a revogação extemporânea obrigará o Poder Público a indenizar o particular. Ademais, a autorização de uso de bem público pode ser gratuita ou onerosa e não exige prévia licitação ou autorização legislativa.</p><p>Segundo Hely Lopes Meirelles (2016, p. 644), a autorização de uso não tem forma nem requisitos especiais porque visa apenas a atividades transitórios e irrelevantes para o Poder Público. Exemplos comuns são a autorização de uso de terrenos baldios, de retirada de água de fontes não abertas ao público e de fechamento de ruas para festas comunitárias.</p><p>Questão: Em 5/1/2018, Bruno requereu à administração municipal autorização para promover o fechamento de uma via pública, com o intuito de realizar festa junina em 30/6/2018. Passados 120 dias do pedido, não houve nenhuma resposta do órgão competente. Nessa situação hipotética: o silêncio administrativo não poderia ter sido interpretado como consentimento estatal, razão por que Bruno poderia ter ajuizado demanda judicial a fim de obter do Poder Judiciário provimento que obrigasse a manifestação de vontade da administração.</p><p>Questão: João, observadas as formalidades legais, firmou ato de permissão de uso de bem público com o Estado Alfa, para instalação e funcionamento de um restaurante em hospital estadual, pelo prazo de 24 meses. Passados seis meses, o Estado alegou que iria instalar uma nova sala de UTI no local onde o restaurante está localizado, razão pela qual revogou unilateralmente a permissão de uso. Três meses depois, João logrou obter provas irrefutáveis</p><p>no sentido de que o Estado não instalou nem irá instalar a UTI no local. Inconformado, João buscou assistência jurídica na Defensoria Pública, pretendendo reassumir o restaurante. Ao elaborar a petição judicial, o defensor público informou a João que pleitear judicialmente a invalidação da revogação do ato de permissão é:</p><p>A) inviável, por se tratar de ato precário, mas cabe o ajuizamento de ação indenizatória diante da extinção da permissão antes do prazo previsto – ERRADO, apenas no caso de recursos hídricos.</p><p>B) inviável, por se tratar de ato discricionário, mas cabe o ajuizamento de ação indenizatória diante da extinção da permissão antes do prazo previsto – ERRADO, apenas no caso de recursos hídricos.</p><p>C) viável, eis que, com base no princípio da continuidade dos serviços públicos, João tem direito de explorar o restaurante no prazo acordado, ainda que, de fato, o Estado Alfa fosse instalar a UTI no local;</p><p>D) viável, eis que, apesar de ser um ato discricionário, aplica-se a teoria dos motivos determinantes, de maneira que o Estado está vinculado à veracidade do motivo fático que utilizou para a revogação.</p><p>b) Permissão de uso</p><p>É o ato administrativo, também unilateral, precário e discricionário, pelo qual a Administração consente que o particular faça uso privativo de um bem público, com vistas ao interesse público. Pode ser gratuita ou onerosa e, ao menos em regra, não exige prévia licitação (ao contrário da permissão para prestação de serviço público).</p><p>Pode ser revogada a qualquer tempo, sem dar direito a indenização, salvo se concedida com fixação de prazo (permissão qualificada ou condicionada).</p><p>Em regra, a permissão não confere exclusividade de uso – típica da concessão de uso –, mas, em alguns casos, pode ser deferida com privatividade, desde que assim conste do ato negocial (MEIRELLES, 2016, p. 645).</p><p>São duas as principais diferenças entre autorização e permissão de uso de bem público (DI PIETRO, 2019, p. 875):</p><p>· A autorização confere a faculdade de uso no interesse particular, ao passo que a permissão implica a utilização privativa para fins de interesse público;</p><p>· A autorização cria para o beneficiário uma faculdade de uso, enquanto a permissão obriga o usuário, sob pena de caducidade do uso consentido.</p><p>A permissão qualificada se identifica em quase todos os aspectos com a concessão de uso, sobretudo quanto aos efeitos, mas se diferencia no que toca à formação do ato. A permissão é concedida por ato unilateral, enquanto a concessão configura contrato precedido de autorização legislativa e licitação. Nada obstante, Di Pietro (2019, p. 876- 7) leciona que às vezes a permissão de uso assume forma contratual, tornando-se obrigatória a licitação, nos termos do art. 2º da Lei 8.666/93, com exceção da hipótese estipulada no art. 17, I, “f”.</p><p>Ainda que não exija, em regra, licitação prévia, havendo mais de um interessado na permissão, a Administração deve adotar algum procedimento objetivo para escolha dos beneficiários. Carvalho Filho (2019, p. 1264) defende a exigência de licitação sempre que for possível e houver mais de um. São exemplos as permissões de uso para feiras de artesanato em praças públicas, para restaurantes turísticos e para banheiros públicos. Alguns autores incluem, ainda, a instalação de bancas de jornal e colocação de mesas e cadeiras em frente a bares (MEIRELLES, 2016, p. 645), mas há quem sustente a prevalência do interesse particular nesses casos, razão pela qual configurariam exemplos de autorização de uso (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1264).</p><p>Parece ter mais razão a doutrina tradicional, já que, nesses exemplos, há um misto de interesse público e particular – e não necessariamente preponderância de interesse particular –, assemelhando-se a um serviço de utilidade pública. A permissão seria – como pontua Meirelles (2016, p. 645) – um meio-termo entre a informal autorização e a contratual concessão.</p><p>Questão: Quando o tribunal de justiça consente o uso gratuito de determinada sala do prédio do foro para uso institucional da defensoria pública local, efetiva-se o instituto da permissão de uso de bem público – ERRADO, o instrumento seria cessão (concessão) de uso por ser um ato de colaboração entre repartições públicas: “Cessão de uso é a transferência gratuita da posse de um bem público de uma entidade ou órgão para outro, a fim de que o cessionário o utilize nas condições estabelecidas no respectivo termo, por tempo certo ou indeterminado. É ato de colaboração entre repartições públicas, em que aquela que tem bens desnecessários aos seus serviços cede o uso a outra que deles está precisando. (...) A cessão de uso entre órgãos da mesma entidade não exige autorização legislativa e se faz por simples termo e anotação cadastral, pois é ato ordinário de administração através do qual o Executivo distribui seus bens entre suas repartições para melhor atendimento do serviço. (...) Em qualquer hipótese, a cessão de uso é ato de administração interna que não opera a transferência de propriedade e, por isso, dispensa registros externos.[2]”</p><p>c) Concessão de uso</p><p>É o contrato administrativo pelo qual a Administração faculta ao particular o</p><p>uso privativo de bem público, para que o exerça conforme a sua destinação, com prevalência do interesse público sobre o privado (MEIRELLES, 2016, p. 646). Distingue- se dos demais institutos assemelhados pelo seu caráter contratual e estável.</p><p>É utilizada para atividades de utilidade pública de maior vulto e, por isso, quase sempre beneficia o particular com a fixação de prazo, assegurando-lhe um mínimo de estabilidade no exercício da atividade. Exemplos são o a concessão de uso para instalação de mercados e cemitérios ou a concessão de bens destinados à ocupação por concessionários de serviços públicos.</p><p>A concessão pode ser remunerada ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, devendo sempre ser antecedida de autorização legal e, quase sempre, de licitação, ressalvando-se as dispensas legais (MEIRELLES, 2016, p. 646).</p><p>É marcada pela bilateralidade, já que se trata contrato administrativo, e pela discricionariedade, identificando-se nesse aspecto com autorizações e permissões de uso de bens públicos (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1265).</p><p>d) Concessão de direito real de uso</p><p>É o contrato administrativo pelo qual o Poder Público outorga ao particular o direito real resolúvel de uso de terrenos públicos ou particulares ou sobre o espaço aéreo que o recobre, para os fins legais, de cunho social.</p><p>O instituto é disciplinado pelo Decreto-lei 271/67, arts. 7º e 8º. Pelo art. 7º, é instituída a concessão de uso de terrenos públicos ou particulares remunerada ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, como direito real resolúvel, para fins específicos de regularização fundiária de interesse social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das comunidades tradicionais e seus meios de subsistência ou outras modalidades de interesse social em áreas urbanas.</p><p>A concessão de uso poderá ser contratada, por instrumento público ou particular, ou por simples termo administrativo, e será inscrita e cancelada em livro especial (art. 7º,</p><p>§ 1º), e desde a inscrição da concessão, o concessionário fruirá plenamente do terreno para os fins estabelecidos no contrato e responderá por todos os encargos civis, administrativos e tributários que venham a incidir sobre o imóvel e suas rendas (art. 7º,</p><p>§ 2º).</p><p>A concessão se resolverá em seu termo ou antes dele, nos casos em que o concessionário der ao imóvel destinação diversa da estabelecida ou descumpra cláusula resolutória do ajuste, perdendo, neste caso, as benfeitorias de qualquer natureza (art. 7º,</p><p>§ 3º).</p><p>A sua transferência ocorrerá, salvo disposição contratual em contrário, por ato Intervivos, ou por sucessão legítima ou testamentária, como os demais direitos reais sobre coisas alheias, registrando-se a transferência no competente Registro de Imóveis.</p><p>Para a celebração desse ajuste, exige-se prévia licitação, bem como lei autorizadora (CARVALHO FILHO, 2019,</p><p>p. 1268). Na esfera política federal, a licitação é dispensada se o uso for concedido a outro órgão administrativo (art. 17, § 2º, Lei 8.666/93; art. 76, § 3º, Lei n. 14.133/21,), ou no caso de concessão de direito real sobre imóveis residenciais utilizados no âmbito de programas habitacionais, ou imóveis de uso comercial de âmbito local com área de até 250 m², e inseridos no âmbito de programas de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública (art. 17, I, “f” e “h”, Lei 8.666/93; art. 76, I, “f” e “g”, Lei 14.133/21). Ademais, para a concessão de direito real de uso deverá ser observada a anuência prévia (§ 5º): I - do Ministério da Defesa e dos Comandos da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, quando se tratar de imóveis que estejam sob sua administração; e II – do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência de República, observados os termos do inciso III do § 1º do art. 91 da Constituição Federal.</p><p>O art. 8º, por sua vez, autoriza a concessão de uso do espaço aéreo sobre a superfície de terrenos públicos ou particulares, tomada em projeção vertical, nos termos e para os fins do artigo anterior e na forma que for regulamentada. Percebe-se que são duas as diferenças entre a concessão de uso e a concessão de direito real de uso (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1268): (i) a concessão de uso instaura relação jurídica de caráter pessoal – relação meramente obrigacional entre as partes –, enquanto na concessão de direito real de uso, como o nome diz, há a outorga ao concessionário de direito real; e</p><p>· (ii) os fins da concessão de direito real de uso são previamente fixados na lei reguladora.</p><p>e) Concessão de uso especial para fins de moradia</p><p>O art. 183 da CF – que trata da usucapião especial de imóvel urbano – dispõe que “aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.</p><p>Em que pese a própria CF ter vedado a aquisição de imóveis públicos por usucapião (art. 183, § 3º), o legislador houve por bem adotar instrumento que guardasse similitude com a usucapião especial urbana, como forma de atender às necessidades reclamadas pela política urbana (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1269). Daí adveio a Medida Provisória 2.220/2001, posteriormente alterada pela Lei 13.465/2017.</p><p>Pelo art. 1º, aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural.</p><p>São, portanto, cinco os requisitos:</p><p>(</p><p>posse</p><p>por cinco</p><p>anos até 22 de</p><p>dezembro de</p><p>2016;</p><p>posse</p><p>ininterrupta</p><p>e</p><p>pacífica;</p><p>imóvel</p><p>público</p><p>situado</p><p>em</p><p>área</p><p>urbana;</p><p>destinação</p><p>do uso</p><p>voltada</p><p>à</p><p>moradia</p><p>do possuidor</p><p>ou de</p><p>sua</p><p>família; e</p><p>não</p><p>ser</p><p>proprietário</p><p>ou concessionário</p><p>de</p><p>outro imóvel</p><p>urbano</p><p>ou</p><p>rural.</p><p>)</p><p>A concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de forma gratuita ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil (art. 1º, § 1º), e não será reconhecida ao mesmo concessionário mais de uma vez (§ 2º). Além disso, a lei permite que o herdeiro legítimo continue, de pleno direito, na posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão (§ 3º).</p><p>Pelo art. 6º, o título de concessão de uso especial para fins de moradia será obtido pela via administrativa perante o órgão competente da Administração Pública – ocasião em que a Administração Pública terá o prazo máximo de doze meses para decidir o pedido, contado da data de seu protocolo (§ 1º) – ou, em caso de recusa ou omissão deste, pela via judicial – quando a concessão será declarada pelo juiz, por sentença (§ 3º). O título deverá ser registrado no cartório de registro de imóveis (§ 4º).</p><p>Há, ainda, a concessão coletiva de uso especial para fins de moradia. Pelo art. 2º, nos imóveis de que trata o art. 1º, com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupados até 22 de dezembro de 2016, por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor, a concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de forma coletiva, desde que os possuidores não sejam proprietários ou concessionários, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural.</p><p>Nessa concessão, será atribuída igual fração ideal de terreno a cada possuidor – não superior a duzentos e cinquenta metros quadrados –, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os ocupantes, estabelecendo frações ideais diferenciadas (art. 2º, § 2º). Permite-se, ainda, a contagem do prazo com o acréscimo da posse do antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.</p><p>4. Tutela de uso privativo dos bens públicos</p><p>Existem duas possibilidades de perturbação do uso privativa de bem público:</p><p>a) por terceiros (outros particulares); ou b) pela própria Administração Pública.</p><p>Quando o perturbador é um outro particular, o usuário pode tomar medidas efetivas contra os atos lesivos, recorrendo ao Judiciário ou mesmo à Administração, para que ela adote medidas de polícia. Embora os bens de uso comum do povo e de uso especial estejam excluídos do comércio jurídico, essa extracomercialidade afasta apenas a posse ad usucapionem, mas admite a posse ad interdicta, necessária à proteção da destinação pública dos bens (DI PIETRO, 2019, p. 888).</p><p>Diante do poder público, contudo, não há falar-se em posse do particular sobre área pública. Para o Superior Tribunal de Justiça, o uso de bem público pelo particular sem qualquer título configura mera detenção, aplicando-se, no caso, a súmula 619-STJ:</p><p>(</p><p>“A</p><p>ocupação</p><p>indevida</p><p>de</p><p>bem</p><p>público</p><p>configura</p><p>mera</p><p>detenção,</p><p>de</p><p>natureza</p><p>precária,</p><p>insuscetível</p><p>de retenção</p><p>ou</p><p>indenização por</p><p>acessões</p><p>e</p><p>benfeitorias</p><p>.”</p><p>)</p><p>Quando a perturbação é proveniente da Administração, poderá o usuário recorrer, do mesmo modo, não apenas na via administrativa, mas também na judicial, desde que a atuação da Administração seja reputada ilegítima, mediante prática de atos com desvio ou excesso de poder. Contudo, não pode o usuário se opor à revogação legítima de atos de outorga do uso privativo – autorização, permissão ou concessão. Caso se trate de uso outorgado com prazo estabelecido, o particular fará jus a uma compensação pecuniária (DI PIETRO, 2019, p. 887).</p><p>5. Bens públicos em espécie</p><p>A Constituição Federal trata, nos arts. 20 e 26, dos bens da União e dos Estados. Alguns atos normativos esparsos também trazem disciplina sobre bens, como o</p><p>Decreto-lei 9.760/46 (que enumera os bens da União), o Código de Águas (Decreto 24.643/1934, que classifica as águas públicas em de uso comum e dominicais), o Estatuto da Terra (Lei 4.504/1964, que trata das terras públicas situadas na zona rural), o Código Florestal (Lei 12.651/2012), o Código de Minas (Decreto-lei 1.985/1940), a Lei 9.636/98 etc.</p><p>· Terrenos marginais/reservados:</p><p>Código de Águas (Decreto n. 24.643/1934), art. 14: “os terrenos reservados são os que, banhados pelas correntes navegáveis, fora do alcance das marés, vão até a distância de 15 metros para a parte de terra, contados desde o ponto médio das enchentes ordinárias”. O Decreto n. 4.105/1868 fixou o ponto médio das enchentes ordinárias, conforme medição datada de 1831.</p><p>· Terrenos da marinha:</p><p>Decreto-Lei n. 9.760/1946, art. 2º: “São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três)</p><p>metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar-médio de 1831: a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influência das marés;</p><p>b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés.” Os terrenos acrescidos de marinha são “os que se tiverem formado, natural ou artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimento aos terrenos de marinha” (Decreto-lei n. 9.760/1946, art. 3º).</p><p>(</p><p>Súmula</p><p>650-STF</p><p>:</p><p>“</p><p>os</p><p>incisos</p><p>I</p><p>e</p><p>XI</p><p>do</p><p>art.</p><p>20</p><p>da</p><p>CF</p><p>não</p><p>alcançam</p><p>terras</p><p>de</p><p>aldeamentos</p><p>extintos,</p><p>ainda</p><p>que</p><p>ocupadas</p><p>por indígenas</p><p>em passado remoto</p><p>”.</p><p>)</p><p>Info 1095: É compatível com a atual ordem constitucional a norma que inclui entre os bens imóveis da União as zonas onde se faça sentir a influência das marés (Decreto-Lei nº 9.760/1946, art. 1º, “c”). Os bens pertencentes à União na data da promulgação da Constituição Federal de 1988 foram mantidos em sua titularidade e as zonas de influência das marés são consideradas como terrenos de marinha, os quais integram o patrimônio da União. Ademais, a norma constitucional no sentido de que as ilhas fluviais e lacustres — não pertencentes à União — são de propriedade dos estados-membros da Federação (art. 26, III, CF/88) reforça o previsto no art. 20, I, da CF/88, de modo que outros bens podem ser atribuídos à União na forma da legislação que também se compatibilize com o sistema constitucional. STF. Plenário. ADPF 1008/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/05/2023</p><p>Art. 1º Incluem-se entre os bens imóveis da União: (...) c) os terrenos marginais de rios e as ilhas nestes situadas na faixa da fronteira do território nacional e nas zonas onde se faça sentir a influência das marés;</p><p>Questão: Tratando-se do uso do bem público por particular, no caso de ruas fechadas ao acesso veicular, para montagem de barracas e passagem de desfiles em determinada data festiva, tem-se a modalidade de: uso comum anormal do bem - quanto ao critério da conformidade do uso do bem com sua destinação normal, o uso do bem público é classificado em normal e anormal. O uso normal é aquele exercido em conformidade com a destinação principal do bem. O uso anormal é o uso para fim diferente daquela que é a destinação principal do bem. Quanto ao critério da exclusividade ou não do uso, este pode ser comum ou privativo. O uso é comum quando pode ser realizado em conjunto por várias pessoas e privativo quando o bem é destinado a uso por particulares específicos.</p><p>Questão: Tomando por base a função social da propriedade, é correto afirmar que a doutrina social da Igreja a associa à: função de servir de instrumento para a criação de bens necessários à subsistência de toda a humanidade – CERTO, uma das influências na formulação do princípio da função social da propriedade e da concepção de propriedade como dotada de função social foi a doutrina social da Igreja que defendia que todos os bens deveriam servir ao trabalho e ser bens com caráter universal que contribuíssem para a subsistência de toda a humanidade, conforme leciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro;</p><p>Questão: Sobre os bens públicos, analise as assertivas e identifique com V as verdadeiras e com F as falsas.</p><p>(F) Para a alienação de bem público imóvel, anteriormente adquirido pelo poder público por meio de dação em pagamento, a modalidade concorrência não é a única possível, admitindo-se a utilização do leilão, ficando dispensada a avaliação do bem.</p><p>(V) Uma das características dos bens públicos, inclusive os dominiais, é a imprescritibilidade, pelo que o Superior Tribunal de Justiça entende que a sua ocupação não induz posse em face do poder público, mas mera detenção pelo particular, o qual, entretanto, poderá se valer dos interditos possessórios contra outro particular, em litígio sobre o bem público dominial.</p><p>(F) Os bens públicos são impenhoráveis, salvo os dominicais, que são alienáveis.</p><p>(V) A doação de bens públicos móveis é possível exclusivamente para fim e uso de interesse social após avaliação de sua oportunidade e conveniência socioeconômica quanto à escolha de outra forma de alienação, dispensada a licitação, mas exigindo-se avaliação prévia do bem.</p><p>(V) A autorização de uso de imóvel público por particular é ato unilateral da Administração Pública, de natureza discricionária, precária, portanto, revogável a qualquer tempo, sem ônus para o poder público.</p><p>Questão: A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional, exceto quando a alienação ou concessão de terras públicas tiver por finalidade reforma agrária – CERTO.</p><p>Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária. §1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional. §2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de terras públicas para fins de reforma agrária.</p><p>Info 1077: É constitucional a ratificação de registros imobiliários prevista na Lei nº 13.178/2015, desde que observados os requisitos e condições exigidos pela própria norma e os previstos pela Constituição Federal de 1988 concernentes à política agrícola, ao plano nacional de reforma agrária e à proteção dos bens imóveis que atendam a sua função social. STF. Plenário. ADI 5623/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 25/11/2022</p><p>image1.png</p>

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