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<p>SOCIOLOGIA</p><p>Na aula anterior, apresentamos de forma breve Auguste Comte e sua</p><p>teoria, bem como os impactos do positivismo no Brasil. Nas páginas a seguir</p><p>será apresentado aquele que levou a Sociologia para dentro da universidade</p><p>e ampliou o escopo investigativo desta ciência. Durkheim foi aquele que a</p><p>partir de seus estudos desenvolveu o método sociológico.</p><p>Bons estudos!</p><p>AULA 3</p><p>SOCIOLOGIA</p><p>FUNCIONALISTA</p><p>Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da psicologia entenderá</p><p>como ela alcançou o seu estatuto de cientificidade. Além disso, terá a oportunidade</p><p>de conhecer as três grandes doutrinas da psicologia, behaviorismo, psicanálise e</p><p>Gestalt, e as áreas de atuação do psicólogo.</p><p>▪ Compreender o conceito de psicologia</p><p>▪ Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia</p><p>▪ Conhecer as áreas de atuação do psicólogo.</p><p>São objetivos desta aula:</p><p>▪ Contextualizar o momento histórico que contribuiu para o</p><p>desenvolvimento da teoria funcionalista.</p><p>▪ Analisar a teoria funcionalista de Émile Durkheim.</p><p>▪ Apresentar os conceitos da teoria funcionalista.</p><p>3 AS PRIMEIRAS TEORIAS SOCIOLÓGICAS</p><p>Vimos que os primeiros traços da ciência da sociedade moderna foram</p><p>desenhados de maneira conservadora na busca de um caminho de ordenamento</p><p>social frente as novidades trazidas pela vida industrial. Cientificamente falando foi um</p><p>método que se atrelava a outras ciências para explicar o momento presente, assim</p><p>como fez Comte. No entanto, a necessidade entre alguns pensadores era elaborar um</p><p>método próprio que contemplasse o que o progresso técnico-científico propunha</p><p>(MASSELLA, 2011).</p><p>Èmile Durkheim viveu entre 1858 e 1917, período no qual Inglaterra e França</p><p>se direcionavam para a 2ª Revolução Industrial. É a fase também que o movimento</p><p>da Comuna de Paris entre 1870 e 1871, deixou grandes marcas na sociedade</p><p>francesa. A tomada de poder pelos trabalhadores, mesmo que durante um período</p><p>curto, exigiu do governo francês a organização de uma força militar eficaz (MORAES,</p><p>2017).</p><p>Ao mesmo tempo foi necessário uma estruturação de novas bases sociais e</p><p>econômicas. Outro ponto histórico que pauta as observações de Durkheim foi o</p><p>processo expansionista das principais nações europeias. Inglaterra, Espanha, França</p><p>e tardiamente a Alemanha, se lançaram nos continentes africano e europeu a fim de</p><p>conquistar novos protetorados e riqueza (MORAES, 2017).</p><p>Durkheim estudou na França e na Alemanha e em 1887 assumiu uma cadeira</p><p>na Faculdade de Bordeaux no sul francês. Em sua estadia nesta faculdade ele fez seu</p><p>doutorado que se tornou um guia para a teoria criada por ele, intitulado “ Da divisão</p><p>do trabalho social”, em 1893 (SELL, 2016).</p><p>Ainda em 1887 foi convidado a fazer parte da Universidade de Sorbonne, em</p><p>Paris. Em 1913 ele inaugurou a disciplina “Ciência da educação e sociologia”. Assim,</p><p>gradativamente, foi a primeira vez que a universidade teve espaço representativo na</p><p>produção do conhecimento sobre as questões da sociedade. Além disto, Durkheim</p><p>fundou a revista de sociologia L’anne Sociologique.</p><p>A partir de então estava aberto o caminho para o que se consolidou como a</p><p>chamada Escola de Sociologia Francesa. Dela são representantes, além de</p><p>Durkheim, Marcel Mauss, Maurice Halbwachs, François Simiand, entre outros. Este</p><p>movimento foi bastante importante e encontrou ecos aqui no Brasil durante a formação</p><p>da Universidade do Estado de São Paulo em 1934 (SELL, 2016).</p><p>Émile Durkheim morreu em 1917, ano em que eclodiu a Revolução Russa.</p><p>Suas principais obras foram:</p><p>• Da divisão do trabalho social</p><p>• As regras do método sociológico</p><p>• O suicídio</p><p>• As formas elementares da vida religiosa</p><p>Como professor ele também deixou sua contribuição sobre o papel da</p><p>educação na formação do sujeito social. Sua formulação sobre este aspecto defendia</p><p>que cada indivíduo era composto por duas partes constitutivas. De um lado estava o</p><p>seu ser individual composto a partir da sua base familiar e valores. Em</p><p>complementação a esta parte do ser se somaria o ser social, ou seja, à medida em</p><p>que o homem começava a participar da vida coletiva, ele passaria por um processo</p><p>de socialização (SELL, 2016). A escola, principalmente a educação infantil, era a porta</p><p>de entrada para o que a sociedade já tinha de acúmulos culturais e sociais.</p><p>É com base neste contexto histórico que a Sociologia passou a ser encarada</p><p>com outros olhos já no final do século XIX. A chegada do século seguinte consolidaria</p><p>crescentemente a necessidade de interpretação e formulações de ações que</p><p>permitissem intervir e entender quais as melhores alternativas para a vida pautada</p><p>pela urbanização e o capitalismo.</p><p>3.1 A teoria funcionalista de Èmile Durkheim</p><p>Para Durkheim, a Sociologia se caracterizaria como a ciência das instituições</p><p>sociais, da sua transformação e do funcionamento da sociedade (DURKHEIM, 2019).</p><p>Assim, tal pensador, formado numa das principais universidades da França, elaborou</p><p>um método independente para a Sociologia.</p><p>Ele estava preocupado em defender a ideia de que</p><p>a explicação da vida social tem seu fundamento na sociedade, e não no</p><p>indivíduo (...) o que ele deseja ressaltar é que uma vez criadas pelos homens,</p><p>as estruturas sociais passam a funcionar de modo independente dos atores</p><p>sociais, condicionando suas ações (SELL, 2016, p. 82).</p><p>Estas estruturas a que se refere o autor acabam tendo um peso muito maior na</p><p>vida de cada indivíduo do que o seu próprio ser individual. Na identificação do peso</p><p>das interferências na constituição do sujeito, o conjunto das ações sociais exerceria</p><p>muito maior campo de formação no ser, em detrimento dos valores construídos a partir</p><p>da sua valoração individual.</p><p>É neste ponto que a contribuição de Durkheim sobressai. Ele identifica que a</p><p>sociedade exerce um peso sobre a vida das pessoas. Isso se dá com tal intensidade</p><p>que acaba, em alguns momentos, levando o indivíduo à exaustão chegando ao</p><p>suicídio, por exemplo.</p><p>Seus estudos buscavam compreender o contexto político e como este</p><p>contribuía para uma “degeneração moral” da sociedade (SILVA; SANTOS, 2019, p.</p><p>153). Ainda que o debate moralizante estivesse presente, assim como em Comte a</p><p>diferença neste momento é que se tratava de encontrar respostas próprias da vida</p><p>social e não preso em métodos de outras ciências.</p><p>Assim sendo, precisavam de um método exclusivo que levasse à explicação</p><p>sociológica. Por mais que a construção positivista tivesse feito história e conseguido</p><p>seguidores mundo a fora o método de investigação sociológica requeria</p><p>aperfeiçoamento frente à rápida transformação propalada pelo avanço capitalista. À</p><p>ciência caberia a busca pelo entendimento da ação humana.</p><p>3.1.1 Os fatos sociais</p><p>Durkheim define a Sociologia como sendo “a ciência dos fatos sociais, modo de</p><p>agir, pensar e sentir exteriores aos indivíduos e dotados de poder e coerção em virtude</p><p>do qual se impõem” (2019, p. 43). Desta maneira, o estudo dos fatos sociais é o</p><p>caminho para a interpretação sociológica. Por meio deles se investigam os</p><p>condicionantes e o peso das instituições na vida social.</p><p>A primeira regra estipulada pelo autor é estudar os fatos sociais como coisas:</p><p>A necessidade de considerar o fato social uma coisa decorre da importância</p><p>de se perceber sua existência imaterial – uma coisa com particularidades</p><p>próprias, externa aos indivíduos e que atua efetivamente sobre eles,</p><p>determinando suas ações. Embora essa definição não seja sentida, por ser</p><p>internalizada e ser inconscientemente aceita, ela existe e demonstra a</p><p>intensidade de sua força quando se tenta rompê-la (SANTOS, 2019, p. 154).</p><p>Ao caracterizar os fatos sociais como a “maneira de agir, pensar e sentir que</p><p>se impõe ao indivíduo”</p><p>(MASSELLA, 2011, p. 44) ele abriu as portas para entender</p><p>como a coesão social era alcançada. Durkheim identifica que vivendo em sociedade</p><p>nem toda a ação dos indivíduos são livres e autônomas, mas sofrem a influência, por</p><p>vezes pesada, da sociedade sobre o indivíduo.</p><p>Retomando o exemplo da educação e apresentando uma das características</p><p>identificadas por Durkheim, o processo educativo era o caminho primeiro para a</p><p>internalização de condutas para a vida em sociedade. Por meio dele as crianças</p><p>passaram a seguir regras, a adquirir determinados hábitos, como obediência ao</p><p>professor e, consequentemente, aos mais velhos (QUINTANEIRO, 2002).</p><p>Este processo de socialização conduziria a criança a crescer acreditando que</p><p>o trabalho era necessário e não que este e outros hábitos lhes havia sido passado por</p><p>meio de uma coerção da sociedade sobre ela. Mesmo adultos eram incapazes de ter</p><p>este discernimento e dariam continuidade ao modelo produzido pela sociedade a que</p><p>estivesse inserido (QUINTANEIRO, 2002).</p><p>Ao observar o ser social resultante deste processo de socialização observa-se</p><p>que o peso das duas metades que o compõe são distintos. A face individual não se</p><p>sobrepõe ao ser social. Pelo contrário, ele ganha maior campo e passa a ser</p><p>dominante na composição deste sujeito (SILVA; SANTOS, 2019). Ao observar o todo</p><p>ele será uma parte constituinte da engrenagem que forma a sociedade.</p><p>Durkheim identifica três pontos que caracterizam os fatos sociais. Uma primeira</p><p>é a exterioridade. Nela fica evidenciado que os fatos sociais existem e atuam de modo</p><p>independente da vontade dos indivíduos. São anteriores aos indivíduos e agem sobre</p><p>ele sem que sejam percebidos. Foram culturalmente produzidos e reproduzidos pelas</p><p>gerações de épocas diferentes (SILVA; SANTOS, 2019). O ponto complementar que</p><p>caracteriza os fatos sociais é a generalidade. Eles abrangem toda a coletividade e</p><p>existem em todos os lugares.</p><p>Por fim, a última característica diz respeito à coercitividade dos fatos sociais.</p><p>Uma vez em sociedade os homens precisam estar em conformidade com aquilo que</p><p>leva à uniformidade e reprodução social. Sendo assim, o papel dos fatos sociais é agir</p><p>com coerção sobre os indivíduos para que não haja anomia num determinado</p><p>momento.</p><p>3.2 A Consciência coletiva e a construção da coesão social</p><p>A teoria funcionalista consiste em “identificar a função do fato social,</p><p>compreendendo sua relação de causa e efeito dentro do sistema social” (SANTOS,</p><p>2019). Portanto, esta teoria diz respeito a forma de organicidade existente dentro da</p><p>sociedade. Por outro lado, ela busca verificar a função que o fato social exerce sobre</p><p>a sociedade.</p><p>O autor faz referência a uma categoria de análise chamada solidariedade. É ela</p><p>que vai manter os vínculos dos mais diferentes indivíduos numa sociedade, seja qual</p><p>for a origem, a cultura ou os valores. A solidariedade é a forma como a sociedade se</p><p>organiza exercendo seu poder de coerção sobre as pessoas e estas acabam dando</p><p>origem à coesão social.</p><p>É como se falássemos em partes de uma engrenagem que funcionam perfeitas</p><p>e ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, é papel da solidariedade manter a coesão</p><p>dentro do processo de divisão social do trabalho. Espera-se, portanto, que os</p><p>resultados sejam alcançados (SILVA; SANTOS, 2019). No caso do período estudado</p><p>pelo autor, o desenvolvimento da sociedade capitalista.</p><p>Mas a solidariedade é dividida em dois campos: a solidariedade orgânica e a</p><p>solidariedade mecânica. Cada uma cumprindo um papel complementar na construção</p><p>da coesão social. Durkheim chegou a esta conclusão a partir da observação da divisão</p><p>do trabalho social. Em sociedades mais tradicionais e menos complexas a divisão do</p><p>trabalho é, consequentemente, mais simples e objetiva. Estaria aqui a solidariedade</p><p>mecânica (SILVA; SANTOS, 2019).</p><p>Já as sociedades complexas como aquela que ele observava na França e que</p><p>passava por transformações constantes fosse no campo ou na vida urbana e cada</p><p>vez mais industrializada, a divisão do trabalho social acabava por ser mais</p><p>fragmentada. É sobre esta que repousa a solidariedade orgânica, a qual determina o</p><p>ritmo de socialização.</p><p>3.2.1 A solidariedade mecânica</p><p>Como apresentado anteriormente a solidariedade mecânica é o tipo de elo</p><p>presente em sociedades simples e com pouca divisão do trabalho social. Não há laços</p><p>profundos entre os membros deste modelo de organização. Um ponto importante que</p><p>marca este tipo de solidariedade é a necessidade de um poder impositivo sobre seus</p><p>membros que em algum momento podem quer agir de forma autônoma.</p><p>A manutenção dos pontos que mantêm cada indivíduo dentro da estrutura é</p><p>dada por ela. Romper com os valores estabelecidos é exemplarmente punido. A</p><p>exemplo disto o direito repressivo é o caminho para mostrar como que sair do pré-</p><p>estabelecido pode ser ruim para o funcionamento da sociedade. Um crime foi</p><p>cometido e como tal, precisa ser corrigido para que outros membros não tentem sair</p><p>fora das regras.</p><p>É quando aparece uma outra característica que sustenta a teoria sociológica</p><p>funcionalista, o poder da consciência coletiva. Neste contexto,</p><p>Por consciência coletiva entende-se a soma de crenças e sentimentos</p><p>comuns à média dos membros da comunidade, formando um sistema</p><p>autônomo, isto é, uma realidade distinta que persiste no tempo e une as</p><p>gerações. A consciência coletiva envolve quase que completamente a</p><p>mentalidade e a moralidade do indivíduo: o homem “primitivo” pensa, sente e</p><p>age conforme determina ou prescreve o grupo a que pertence (LAKATOS,</p><p>2019, p. 14).</p><p>Pela citação anterior verifica-se que Durkheim remonta a um ponto comum a</p><p>Comte que é a consciência coletiva. Esta característica ocorre porque para ambos há</p><p>erros na sociedade em que viviam. Este poder que o todo, representado pela</p><p>consciência coletiva, exerce sobre o sujeito, é o caminho para procurar melhorar a</p><p>socialização e diminuir os pontos negativos encontrados na sociedade. A consciência</p><p>comum passa a ser substituída pela consciência coletiva.</p><p>3.2.2 A solidariedade orgânica</p><p>A solidariedade orgânica é típica de sociedades em que a divisão do trabalho</p><p>social é profunda e bastante fragmentada. O funcionalismo de Durkheim apresenta</p><p>que</p><p>Institui-se então um processo de individualização dos membros dessa</p><p>sociedade que passam a ser solidários por terem uma esfera própria de ação.</p><p>Com isso ocorre uma interdependência entre todos e cada um dos demais</p><p>membros que compõem tal sociedade. A função da divisão do trabalho é,</p><p>enfim, a de integrar o corpo social, assegurar-lhe a unidade. É, portanto, uma</p><p>condição de existência da sociedade organizada, uma necessidade</p><p>(QUINTANEIRO, 2002, p. 74).</p><p>Portanto, quanto maior for o grau de divisão social do trabalho maior é a</p><p>necessidade de haver a solidariedade mecânica como meio para o funcionamento da</p><p>engrenagem maior que é a sociedade como um todo. O desenvolvimento desta</p><p>divisão do trabalho, percorre paralelamente o aprofundamento da consciência coletiva</p><p>que, como visto, deixa a consciência individual em segundo plano e coloca a</p><p>consciência coletiva como alimento para a manutenção da ordem.</p><p>Na análise de Silva e Santos (2019, p. 165), Durkheim formula algumas</p><p>problematizações para orientar sua investigação sociológica: “como um conjunto de</p><p>indivíduos passam a constituir uma sociedade? De que forma relações individuais</p><p>passam a uma relação de consenso? E como uma sociedade vai aos poucos se</p><p>configurando?”. As respostas a tais perguntas ele deu no livro “Da divisão do trabalho</p><p>social”.</p><p>Nesta obra o autor afirma que cada membro da sociedade ocupa um</p><p>determinado lugar na estrutura da instituição. Como se fosse um corpo composto por</p><p>seus membros, ela é representada na obra pela indústria. Para ser um todo,</p><p>organizava-se por elementos hierárquicos e complementares. As individualidades são</p><p>sobrepostas por valores morais e normas</p><p>generalizantes. Nesta divisão o principal</p><p>ponto é o ser coletivo e não o ser individual (MASSELLA, 2011).</p><p>Durkheim está diante do que há para a sua época e construindo elementos</p><p>teóricos significativos que contribuíram para explicar o alcance que a Sociologia</p><p>chegaria a ter. A solidariedade orgânica identificada por ela nas sociedades modernas</p><p>é o que daria o ritmo e o grau de desenvolvimento para sua população. Por sua vez,</p><p>o grau de consciência coletiva também estaria mais aprofundado (SILVA; SANTOS,</p><p>2019).</p><p>Pensando no contexto em que isso tudo se dava, quanto maior o nível de</p><p>solidariedade orgânica maior a capacidade de desenvolvimento da visão capitalista</p><p>do mundo. Ao mesmo tempo em que o individualismo era deixado de lado nas ações</p><p>orgânicas na vida particular ele predominava. Estava aberto, portanto, as portas para</p><p>que as características da sociedade moderna se desenvolvessem: o individualismo, o</p><p>egoísmo e a competitividade.</p><p>Nesta sociedade os recursos de punição também serão requeridos em maior</p><p>medida. O sistema penal será mais amplo e ferir as regras é como se estivesse ferindo</p><p>não à lei, mas à confiança de cada um que faz parte daquela vida coletiva. Enquanto</p><p>que na solidariedade mecânica a punição poderia passar pela mão da comunidade ou</p><p>de algum líder, na solidariedade orgânica há as instituições responsáveis por</p><p>acompanhar e punir os crimes cometidos. Para Quintaneiro (2002) quanto maior a</p><p>estrutura do direito mais complexa é a sociedade. O direito penal, o direito civil, o</p><p>direito administrativo ou o internacional são exemplos.</p><p>No Brasil estas ideias também estiveram presentes na medida em que a</p><p>necessidade de se elaborar uma dinâmica social eficaz durante a urbanização e</p><p>industrialização brasileira foi ocorrendo. Mas, as principais marcas se fizeram sentir</p><p>na elaboração de uma estrutura educacional pautada pelo funcionalismo a partir do</p><p>movimento da Escola Nova na década de 1930.</p><p>3.3 O Suicídio</p><p>Viu-se que os fatos sociais são gerais, exteriores e coercitivos sobre o</p><p>indivíduo. Em cada ser sobrepõe os aspectos sociais em detrimento da consciência</p><p>individual. Ao observar isto, Durkheim concluiu que esta pressão pode chegar a tal</p><p>ponto levando o sujeito a agir contra si próprio. Ele parte do ato extremo de uma</p><p>pessoa sobre ela mesma, ou seja, o suicídio, para investigar como a sociedade tem</p><p>culpabilidade por esta ação individual (SILVA; SANTOS, 2019).</p><p>O mau funcionamento desta engrenagem apontaria para um problema social.</p><p>Dentre as questões problematizadas pelo autor estava o suicídio. Por meio da</p><p>investigação deste fato social Durkheim pôde investigar o que não funcionava</p><p>corretamente na sociedade. Caracterizou diferentes tipos de suicídio, mas apontava</p><p>para a carga de responsabilidades, cobranças e coerções exercidas pelo meio social</p><p>que levava ao suicídio (MASSELLA, 2011). A religião, a exposição social e a</p><p>dificuldade de socialização foram alguns apontamentos que explicavam este ato</p><p>extremo dos indivíduos.</p><p>Durkheim, elaborar uma profunda pesquisa de dados, apresentando vários</p><p>tipos de suicídio. Seu estudo levou em consideração a metodologia sociológica e não</p><p>as análises de outras ciências como a psicologia. Identificou que cada país tem a</p><p>ocorrência de um tipo predominante de suicídio. Mas o que está presente em todos</p><p>eles são a baixa adesão aos valores sociais ou, pelo contrário, a presença exacerbada</p><p>da sociedade sobre o indivíduo.</p><p>Foram três os tipos de suicídio construídos pelo autor. O primeiro deles é o</p><p>suicídio egoísta. De acordo com Quintaneiro, “a depressão, a melancolia, a sensação</p><p>de desamparo moral provocadas pela desintegração social tornam-se, então, causas</p><p>do suicídio egoísta” (2002, p. 79). Este tipo de suicídio em muitos momentos era a</p><p>consequência da ausência social na vida da pessoa.</p><p>O segundo tipo de suicídio encontrado pelo sociólogo foi o altruísta. Neste,</p><p>foram incluídos os suicídios cometidos por maridos infiéis ou por idosos com doenças</p><p>terminais. O olhar da sociedade sobre estas pessoas que traíram ou que dão trabalho</p><p>na velhice é o condicionante para o extermínio da vida. É, então, a sociedade</p><p>interferindo na vida do outro (MASSELLA, 2011).</p><p>Por último, o suicídio anômico, é o que mais se ligava às sociedades modernas,</p><p>na leitura do pensador (QUINTANEIRO, 2002). A explicação é porque a sociedade se</p><p>distancia do indivíduo e predomina as paixões individuais. Com o crescimento</p><p>acelerado das cidades e o ritmo cada vez mais intenso da produção o sujeito se</p><p>distanciava das normas e regras e se aproximava do desequilíbrio.</p><p>Com base nestas informações é possível perceber a riqueza trazida por</p><p>Durkheim para a compreensão da sociedade moderna. À medida em que cada um se</p><p>encontra envolvido na divisão social do trabalho e lhe é incutido a ética do dever não</p><p>há tempo para pensar autonomamente com críticas e proposituras dissonantes. Ao</p><p>indivíduo cabe a conformação.</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA</p><p>DIAS, R. Introdução à Sociologia. SP: Pearson, 2010.</p><p>DIAS, R. Sociologia Clássica. SP: Pearson, 2014.</p><p>DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. RJ: Vozes, 2019.</p><p>FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia, 2ª edição. Grupo GEN, 2010.</p><p>LAKATOS, E. V; MARCONI, M. A. Sociologia Geral. Grupo GEN, 2019.</p><p>MASSELLA, A. B. Durkheim e a vida social como essencialmente moral. In: Revista</p><p>Cult. 2011.</p><p>MORAES, L. M. História contemporânea da Revolução Francesa à Primeira</p><p>Guerra Mundial. SP: contexto, 2017.</p><p>QUINTANEIRO. Um toque de clássicos. Marx, Durkheim e Weber. BH: Editora da</p><p>UFMG: 2002.</p><p>SELL, C. E. Sociologia clássica. Marx, Durkheim e Weber. RJ: Vozes, 2016.</p><p>SILVA, S. e SANTOS, C. L. dos Introdução ao pensamento social clássico.</p><p>Curitiba: Intersaberes, 2019.</p>