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<p>1</p><p>RESENHA DO LIVRO</p><p>“ MATRIZES DO PENSAMENTO PSICOLÓGICO”</p><p>DE</p><p>LUÍS CLÁUDIO MENDONÇA FIGUEIREDO</p><p>2</p><p>CAPÍTULO I</p><p>A CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO</p><p>EMERGÊNCIA E RUÍNA DO SUJEITO</p><p>Na Idade Moderna surge a redefinição das relações sujeito/objeto: A razão</p><p>contemplativa cede lugar à “razão” e à ação instrumental. A partir de Francis Bacon,</p><p>enfatiza-se o caráter operante das relações entre homem e mundo, o sujeito possui o status</p><p>de senhor de direito da natureza, cabendo ao conhecimento transformá-lo em senhor de</p><p>“fato”. Descartes compartilha com Bacon a mudança, no sentido de um interesse utilitário.</p><p>O conhecimento científico subordinando-se à utilidade, à adaptação e ao controle,</p><p>modelando-se a prática científica pela ação instrumental alcançou realce cada vez maior.</p><p>Com o passar do tempo, desdobrando-se a tradição utilitária, a aplicação prática do</p><p>conhecimento, deixa de ser apenas condicionante externo e passa a justificar e motivar a</p><p>pesquisa. A possível e desejável aplicação prática do conhecimento, ao motivar</p><p>profundamente a pesquisa, faz com que ocorra a ruptura, de uma forma, na qual as teorias</p><p>do conhecimento ainda manifestavam-se sob o modelo da razão contemplativa, que</p><p>buscava os fundamentos absolutos do conhecimento, na razão (Descartes) e na</p><p>experimentação (Bacon), para uma que fundamentava-se cada vez mais na</p><p>instrumentabilidade do conhecimento, cujos procedimentos e técnicas definem-se nos</p><p>termos de controle, cálculo e teste.</p><p>O “real” objeto desta ciência é o real tecnicamente manipulável, na forma do</p><p>controle e na forma simbólica do cálculo e da previsão exata. A ciência e a produção</p><p>tecnológica, por terem os mesmos projetos e meios empregados nas atuações produtivas,</p><p>progridem juntas, amparando-se e incentivando-se mutuamente. Ambas encarnam um</p><p>projeto único e visam o mesmo objeto, da mesma forma. Bacon afirma que o ser humano</p><p>possui tendências inatas ou adquiridas que bloqueiam ou deformam a leitura objetiva da</p><p>natureza; diz também que a mente humana foi possuída por ídolos e falsos preceitos e que</p><p>existe dificuldade para a verdade penetrar e ser absorvida e apreendida. Instala-se a partir</p><p>de Bacon, uma atitude cautelosa e suspeitosa do homem para consigo mesmo. A produção</p><p>do conhecimento produtivo pela objetividade e a ação instrumental, necessariamente</p><p>enfrentam uma dificuldade; o auto-conhecimento e o auto-controle seriam preliminares</p><p>indispensáveis. Tem-se por disciplina do espírito o objetivo das regras metodológicas, as</p><p>quais definirão a própria prática científica, ou seja, a disciplina do método é o que</p><p>especifica o cientista.</p><p>Emerge com Descartes, a dúvida metódica; a nova ciência tem nela, seu</p><p>procedimento fundamental. Na doutrina dos ídolos assim como na dúvida metódica</p><p>encontram-se todos os discursos de suspeição que a Idade Moderna elaborou, identificando</p><p>e extirpando, ou neutralizando a subjetividade empírica. A base segura para se validar e</p><p>fundar o conhecimento objetivo, no entanto, continuou sendo para Bacon, a evidência</p><p>empírica que além de sua dificuldade de obtenção ainda exigia uma constante higiene</p><p>mental. Hegel e Marx inauguram um outro ponto de vista, onde surge a desconfiança em</p><p>Highlight</p><p>3</p><p>relação ao sensível, ao imediatamente dado. Nessa concepção, todo conhecimento é</p><p>mediado e construído. Desenvolvia-se a suspeita dirigida à experiência sensorial e numa</p><p>outra tradição, a própria razão tinha seu valor e limites investigados. David Hume reduziu</p><p>os processos mentais a fenômenos associativos apontando para a aprendizagem como sendo</p><p>origem das categorias e operações do pensamento. Hume inicia o procedimento que</p><p>desqualifica a lógica como reitora incondicional do discurso científico e a coloca como</p><p>resultado da experiência, portanto, condicionada e relativa. O que exige cautela, diante da</p><p>própria razão.</p><p>Não se encontra com facilidade, movimentos intelectuais que compartilhem</p><p>simultaneamente as suspeitas, diante das teorias e dos dados, da razão e da observação e</p><p>suspeitas generalizadas diante dos afetos e das motivações. Isto reduziria o sujeito ao</p><p>desespero e à condenação (por ilusória), de qualquer pretensão ao conhecimento objetivo.</p><p>O niilismo Nietzschiano é o que mais se aproxima deste limite. Com Peirce e Popper a</p><p>busca do fundamento absolutamente seguro do conhecimento foi substituída pela</p><p>especificação de um procedimento, de uma lógica da investigação, que diante da</p><p>impossibilidade de extirpar o subjetivismo e a arbitrariedade, no início da pesquisa, possa</p><p>promover um processo infinito de auto-correção, no qual a verdade objetiva se coloca como</p><p>idéia reguladora. A época define-se pela presença destes ataques ao sujeito empírico do</p><p>conhecimento, pelas táticas contra sua inclusão indesejada, pelo sítio armado em torno da</p><p>subjetividade.</p><p>O sujeito empírico é concebido como fator de erro, de ilusão. Constitui-se e tenta-</p><p>se colonizar um novo campo, “o da natureza interna” ou “intimo”. Este projeto carrega uma</p><p>contradição peculiar: justifica-se por se presumir que a natureza interna seja essencialmente</p><p>hostil à disciplina imposta pelo método científico e por isso deva ser neutralizada. Mas, por</p><p>outro lado, o objetivo seria submeter a natureza interna às mesmas práticas de pesquisa e</p><p>portanto de controle, que se firmaram e desenvolveram na interação com a natureza</p><p>externa. O sujeito, então é atravessado por uma sucessão de rupturas. As ciências naturais</p><p>repousam na pressuposição de uma exterioridade entre a prática da pesquisa e seu objeto, o</p><p>confronto nitidamente delimitado e rigidamente controlado entre sujeito e objeto, o que</p><p>promove a multiplicação e o refinamento dos instrumentos conceituais e teóricos de</p><p>descrição, previsão e controle. Mas, a Psicologia que nasce no bojo das tentativas de</p><p>fundamentação das novas ciências acaba por destinar-se a jamais encontrar seus próprios</p><p>fundamentos e nunca satisfazer os moldes de cientificidade que motivaram seu próprio</p><p>surgimento.</p><p>EMERGÊNCIA E RUÍNA DO SUJEITO</p><p>Numa sociedade agrária, a identidade social era pré-definida pela cultura em</p><p>função de eventos biográficos, quase que totalmente. O indivíduo era o que a comunidade</p><p>definia, ao menos em grande medida. A nova forma de organização social, a convivência é</p><p>marcada pelas relações instrumentais e pela luta entre interesses particulares opostos, o que</p><p>dá margem para o surgimento de uma subjetividade diferenciada em relação à identidade</p><p>social pré-definida existente na sociedade agrária. Surge uma imagem de indivíduo legada</p><p>pelo iluminismo e presente no liberalismo clássico: capaz de discernimento, capaz de</p><p>cálculo na defesa de seus interesses etc., enfim: capaz de independência em relação à</p><p>autoridade e à tradição.</p><p>Mais tarde, quando a sociedade entra em crise, com as guerras, as lutas operárias,</p><p>as recessões, os bolsões da miséria urbana, o indivíduo privado passa a ser visto como</p><p>4</p><p>egoista, imediatista, sem condições de autocontrole em benefício do social, tornando-se</p><p>assim o bode expiatório. Esta perspectiva instrumental da administração racionalizada</p><p>também aparece no projeto de constituição de uma psicologia como ciência do individuo e</p><p>(inúmeras vezes) contra o indivíduo. Observa-se: de um lado o indivíduo para si,</p><p>irredutível; do outro lado, o indivíduo para o outro, um suporte de papéis sociais e pré</p><p>definidos. Um, objeto de uma psicologia que não é ciência; o outro, objeto de uma ciência,</p><p>mas não chega a ser psicologia.</p><p>CONCLUSÕES</p><p>Nota-se, ao se reconstituir as condições sociais, econômicas e culturais existentes</p><p>no projeto de uma Psicologia Científica que lhe criam o espaço e definem seu significado,</p><p>oposição entre o caráter considerado pré-científico do sujeito, somado ao caráter pré-social,</p><p>ou anti-social</p><p>campo das</p><p>ciências naturais, o romantismo nunca exerceu grande influência, mas, no campo das</p><p>ciências morais, não apenas influenciou, mas, também frutificou e passou sérias</p><p>transformações que dizem respeito fundamentalmente à atividade crítica autoreflexiva que</p><p>oferece às ciências morais, um terreno seguro, epistemologicamente falando-se. A</p><p>neutralização do sujeito caracteriza o ideal cientifico dos estruturalismos, colocando-os</p><p>como uma espécie de positivismo das ciências humanas e tal índole cientificista levam as</p><p>ciências humanas estruturalistas para bem próximo das ciências naturais, distinguindo-se no</p><p>entanto pela persistência em considerar as noções de significado, de sistemas simbólicos,</p><p>como definidoras de seus objetos específicos. Os estruturalismos, julgam superar a</p><p>oposição entre compreender e explicar: compreende-se uma determinada mensagem,</p><p>quando se aplica à mesma, de modo mais ou menos automático, mais ou menos,</p><p>exploratório, mais ou menos consciente, a gramática que a gerou, ou se é capaz de</p><p>reproduzi-la.</p><p>ORIGENS DOS ESTRUTURALISMOS: A PSICOLOGIA DA FORMA</p><p>A matriz estruturalista, em sua origem trás movimentos intelectuais que</p><p>revolucionaram no final do séc 19 e inicio do 20 a psicologia, a teoria da literatura e a</p><p>lingüística. A psicologia da forma, ofereceu consistente alternativa na Europa à velha</p><p>psicologia elementarista, associacionista e introspeccionista. Nos EUA coube ao</p><p>funcionalismo e ao behaviorismo esta missão. Wundt reconhecera a complexidade dos</p><p>fenômenos da experiência imediata. Von Ehrenfels em 1890 aponta a existência de</p><p>qualidades formais, configuracionais, como dimensões dos elementos que existem apenas</p><p>no contexto dos conjuntos estruturados a que se integram. Qualidades que pertencem à</p><p>configuração e não a cada uma de suas partes. Os autores gestaltistas da escola de Berlim</p><p>assumiram de maneira completa, criticas ao elementarismo, ao negar a realidade</p><p>independente dos elementos, como Von Ehrenfels, extendendo a idéia de uma estrutura</p><p>organizadora a todos os níveis e áreas da experiência. Alguns experimentos engenhosos nas</p><p>áreas da percepção da memória, das soluções de problemas permitem observação sem</p><p>nenhuma introspecção de como os sujeitos organizam seus campos. Se há nisso alguma</p><p>universalidade estará segura a viabilidade da tarefa de descrever objetivamente e</p><p>cientificamente, explicar o comportamento> O conceito de geltalt passa a unificar todos os</p><p>reinos da natureza e do espírito e o isomorfismo psicofísico expulsa a subjetividade</p><p>introduzida no inicio pela descrição e compreensão da experiência imediata. Consuma-se o</p><p>rompimento da psicologia da forma, com as ciências morais ou do espírito e apesar de</p><p>argumentação contrária, revela-se a índole positivista do gestaltismo.</p><p>ORIGENS DOS ESTRUTURALISMOS: OS FORMALISTAS RUSSOS</p><p>A noção de forma, contemplada pelos gestaltistas exerceu influência notável</p><p>sobre a teoria das artes plásticas enquanto na Rússia se desenvolvia uma teoria da</p><p>literatura formalista e estruturalista. Ler as obras literárias, pondo de parte o psicologismo</p><p>e o sociologismo e visando a obra mesma de modo a captar nela, não as intenções do autor</p><p>ou o efeito das pressões sociais, porém sua estrutura imanente e seus procedimentos</p><p>constitutivos. Os formalistas vêem a obra literária fundamentalmente como uma forma que</p><p>não deixa transparecer uma idéia ou conteúdo; ela é o conteúdo em sua manifestação</p><p>sensível, a única em que pode este conteúdo subsistir. Importa na análise da forma detectar</p><p>24</p><p>princípios de organização, técnicas construtivas. A matriz é Urphänomen (Goethe) dos</p><p>contos fantásticos, como a Urplanze o era dos vegetais, contudo um objeto construído e não</p><p>um objeto da imediata experiência, alvo da intuição concreta.</p><p>ORIGENS DOS ESTRUTURALISMOS: A LINGUISTICA DE SAUSSURE</p><p>Na época em que a Alemanha desenvolvia-se a psicologia da forma, na Rússia a</p><p>teoria formalista da literatura, na França ocorria o impacto do lingüista suíço Saussure . A</p><p>lingüística estrutural teve peso na formação do estruturalismo moderno. A contribuição de</p><p>Sausser ocorreu no plano conceitual e metodológico, ao distinguir langue e parole, isto é o</p><p>sistema lingüístico e a fala. No estudo da língua apresenta-se a descrição do conjunto de</p><p>regras, que é o código de diferenciação e de oposição.</p><p>NOVOS RUMOS PARA OS ESTRUTURALISMOS: A GRAMATICA GERATIVA</p><p>Na década de 50 nos EUA desenvolveu-se uma corrente de estudos lingüísticos</p><p>lideradas por Chomsky, conhecida por “Gramática Gerativa Transformacional”. Chomsky</p><p>critica a lingüística estruturalista por permanecer em um nível demasiado empírico e</p><p>descritivo, com isto tornando-se incapaz de compreender a mais importante e original</p><p>característica da linguagem humana: sua criatividade. Aqui novamente o Urpänomen</p><p>goethiano. Por baixo da estrutura da mensagem que aparece na forma de discurso outra</p><p>forma mais decisiva, a forma criadora de formas. A lingüística estruturalista tomara</p><p>principalmente a forma aparente como objeto, mas uma teria completa da linguagem,</p><p>deveria exatamente se voltar para a forma interna que Chomsky denomina estrutura</p><p>profunda. O essencial na teoria de Chomsky é a tese: “a competência lingüística é universal</p><p>e a estrutura psíquica de todas as línguas é semelhante, apenas variando nas regras de</p><p>transformações e isso permite que se traduzam mensagens de uma língua para outra”.</p><p>Chomsky associa-se neste ponto ao racionalismo dos séculos XVII e XVIII , afastando-se</p><p>do romantismo que enfatiza o particularismo dos sistemas lingüísticos. Chomsky resolve o</p><p>velho problema das ciências compreensivas: fornecer interpretação verdadeira de</p><p>fenômenos culturais históricos psicológicos estranhos ao universo do intérprete.</p><p>ESTRUTURALISMO NA ANTROPOLOGIA E NA PSICOLOGIA</p><p>Os lingüistas estruturalistas facilitaram a importação por outras ciências humanas</p><p>dos conceitos e métodos lingüísticos, ao inserirem suas disciplinas claramente, nos</p><p>contextos mais amplos destas ciências. Saussure situa a lingüística dentro da semiologia</p><p>que teria como objetos os sistemas simbólicos todos e também processo de comunicação</p><p>operantes no emaranhado da vida social. Nos anos recentes esta versão da matriz</p><p>estruturalista tem efetivamente exercido grande influência nos estudos da chamada</p><p>psicologia cognitiva e também na psicologia social. A lingüística pertence ao conjunto das</p><p>ciências sociais e ai ocupa lugar excepcional; não é uma ciência social como as outras mas</p><p>a que os maiores progressos realizou, a única que pode reivindicar o nome de ciência;</p><p>chegando a formular um método positivo, vindo a conhecer a natureza dos fatos pela sua</p><p>análise.</p><p>A metodologia da lingüística, caso se aplique ao sistema de comunicação social</p><p>que marca a passagem do natural ao social, se aplicará ainda com mais razão, aos sistemas</p><p>simbólicos mais independentes da natureza, mais convencionais e arbitrários, como a</p><p>mitologia, os rituais, as religiões e a arte. Em Levi Strauss, a antropologia se pretende</p><p>ciência semiológica, situando-se resolutamente no nível da significação. Na antropologia</p><p>25</p><p>estruturalista uma nova imagem de homem surge que é a de um ser simbólico e</p><p>simbolizante, sempre imerso num mundo de significados incessantemente estruturando seu</p><p>universo em um sistema significativo.</p><p>Na Psicologia vinculam-se a desdobramentos da psicologia da forma, repercussões</p><p>do estruturalismo, em particular na influência exercida por Kurt Lewin. F.Heider com sua</p><p>teoria das relações interpessoais que se baseia numa dinâmica orientada pelo</p><p>balanceamento, está na trilha de Lewin. Há uma tendência à congruência, ao equilíbrio, a</p><p>boa forma, no campo das interações pessoais. Além de Heider, também há Festinger com</p><p>sua teoria racionalista da motivação que atribui tendência ao sujeito para buscar</p><p>compatibilidades em suas representações atitudes e sentimentos.</p><p>São questões</p><p>extremamente atuais no contexto de consideração das alternativas teóricas e metodológicas</p><p>da psicologia contemporânea.</p><p>ROMANTISMO, ESTRUTURALISMO E PSICANÁLISE</p><p>Freud reconheceu e registrou a influência que o levou à Faculdade de Medicina:</p><p>um ensaio de Goethe sobre a Natureza que ele ainda adolescente ouvira. Mas a relação da</p><p>Psicanálise com a filosofia da natureza romântica, assim como com a problemática</p><p>romântica da expressão e compreensão de textos vai muito além deste primeiro encontro.</p><p>Uma das categorias essenciais do ideário romântico é o conflito. Também o cientificismo</p><p>alemão mecanicista e/ou funcionalista, assimilou a idéia de forças naturais em conflito.</p><p>Freud, ao apontar o interesse possível de ser despertado, nas ciências, pela</p><p>Psicanálise, contempla a linguística: linguagem não é somente a fala, mas o conjunto dos</p><p>gestos e outra atividade psíquica como a escrita. Assim, a Psicanálise é uma ciência do</p><p>sentido, mas não do sentido imediato. Então, não é na linha divinatória, da revivência, da</p><p>empatia, da valorização da consciência espontânea, do intérprete ou do interpretado que se</p><p>move Freud. Ele elabora um dos ataques mais consistentes contra o desregramento</p><p>subjetivista, proposto pelos românticos e pelos intuicionistas.. A Psicanálise é uma ciência</p><p>mediata do sentido e um empreendimento eminentemente antifenomenológico.</p><p>A Psicanálise aproxima-se dos estruturalismos, e surgem projetos de fusão. No de</p><p>Lacan, é à ciência estrutural da linguagem que se recorre, na busca da terminologia e das</p><p>leis adequadas, à dinâmica da vida psi. O inconsciente está estruturado como uma</p><p>linguagem é a frase mor de Lacan. Mas há controvérsias: Benveniste, por exemplo, é um</p><p>lingüista que confronta, linguagem estricto sensu e simbolismo do inconsciente,,</p><p>concluindo que este teria mais afinidade com a estilística que com a lingüística. A</p><p>simbólica psicanalítica aparentaria-se mais com a retórica que com a ciência da linguagem.</p><p>De todo modo, ao enfoque estrutural caberia ainda a análise dos estilos da fala e do</p><p>simbolismo inconsciente.</p><p>CAPÍTULO XI</p><p>MATRIZ FENOMENOLÓGICA E EXISTENCIALISTA</p><p>As ciências da compreensão e da interpretação, com dificuldades enfrentam o</p><p>problema da verdade. Como produzir, identificar, fundamentar, uma interpretação</p><p>verdadeira? Os estruturalismos e a fenomenologia representam respostas alternativas para o</p><p>referido problema. Autoproclamam-se adequados para construir disciplinas compreensivas</p><p>rigorosamente cientificas. Os estruturalismos concebem o rigor em termos metodológicos,</p><p>prioritariamente. Assim sendo exigem empenho máximo na formalização dos conceitos das</p><p>26</p><p>hipóteses dos procedimentos analíticos. A fenomenologia, no entanto, preocupa-se</p><p>essencialmente com o rigor epistemológico e promove a radicalização do projeto de análise</p><p>critica, dos fundamentos e das condições de possibilidade do conhecimento.</p><p>A FENOMENOLOGIA E A QUESTÃO EPISTEMOLÓGICA</p><p>O projeto cartesiano busca um fundamento absoluto e indubitável para o</p><p>conhecimento. Para Husserl esta busca corresponde à intencionalidade. Descarte alcançou o</p><p>sujeito pensante, mediante o exercício da dúvida metódica, como sendo a única evidência</p><p>de que não se pode duvidar. Na opinião de Husserl, porém, Descartes não aprofundou sua</p><p>investigação epistemológica, retornando muito rapidamente do eu penso ao mundo natural,</p><p>restabelecendo muito cedo a confiança nos dados empíricos. Para Husserl evidências</p><p>apoditicas, às quais a fenomenologia deve se ater e a respeito das quais pode se constituir</p><p>como ciência rigorosa, serão os atos da consciência intencional, isto é, a consciência de</p><p>alguma coisa e seus respectivos objetos imanentes. A fenomenologia estabeleceria relações</p><p>com todas as ciências, mas com as ciências humanas, estabeleceria relações particulares.</p><p>O ENCONTRO DA FENOMENOLOGIA COM AS CIÊNCIAS HUMANAS</p><p>Husserl encerra suas meditações cartesianas apontando na direção de uma</p><p>mudança nas relações entre conhecimento empírico e subjetividade, como as estabelecidas</p><p>no objetivismo cientificista. Para Husserl o esclarecimento do homem é uma pré-condição</p><p>onde deve-se fundamentar o conhecimento do mundo. A fenomenologia herda a disposição</p><p>iluminista de abolição dos preconceitos e das crenças mal-fundadas. A fenomenologia é um</p><p>anti-romantismo e manifesta-se oposta ao historicismo de Hegel e Dilthey defendendo a</p><p>legitimidade de um conhecimento invulnerável. Esposa com máxima fidelidade a</p><p>perspectiva cartesiana e kantiana, radicalizando e opondo-se à vertente objetivista do</p><p>iluminismo, opondo-se ao naturalismo e ao ceticismo psicologista. Da superação dos</p><p>preconceitos, emerge uma egologia e assim aproxima-se das ciências do espírito articuladas</p><p>sob inspiração romântica. A separação entre sujeito e objeto é abolida na fenomenologia.</p><p>Seus objetos são os objetos da consciência para consciência. Seu método é a contemplação</p><p>imediata, destes objetos tais como se dão, na experiência espontânea e pré-reflexiva.</p><p>Segundo Husserl a fenomenologia é capaz de fundar a filosofia do espírito. A única que</p><p>poderia orientar a psicologia, a sociologia, a antropologia, e a historia, como ciências</p><p>compreensivas. A fenomenologia exerceria, em relação às ciências do sujeito, uma função</p><p>rectora, fornecendo-lhes os instrumentos conceituais , necessários à prática da compreensão</p><p>que supere o nível do senso comum e que se possa rigorosamente validar.</p><p>AS ESTRUTURAS DA CONCIÊNCIA TRANSCENDENTAL</p><p>As ciências compreensivas foram influenciadas pelas descrições fenomenológicas</p><p>da estrutura geral da consciência profundamente. A intencionalidade da consciência é</p><p>conceito de Brentano (1838-1917), psicólogo austríaco e professor de Husserl e Freud. É a</p><p>consciência em ato, oposta à consciência enquanto conteúdo. A temporalidade da</p><p>consciência refere-se a que: toda consciência intencional é uma síntese no tempo. O</p><p>conceito de horizonte de consciência refere-se a que: a consciência intencional em qualquer</p><p>modo que se dê a atualidade explicita, consciência de algo e potencialidade implícita,</p><p>conjunto de estados passados antecipados, sugeridos etc., em relação ao qual, o objeto em</p><p>foco adquire significado para o sujeito. A experiência pré-reflexiva está sempre adiante da</p><p>reflexão e assim a compreensão da vivência é tarefa essencialmente inacabada.</p><p>27</p><p>OS MODOS DA CONSCIÊNCIA TRANSCENDENTAL E AS ONTOLOGIAS</p><p>REGIONAIS</p><p>A fenomenologia caminha para estruturas típicas especiais, a partir das descrições</p><p>das estruturas gerais da consciência. Surgem as fenomenologias da percepção, da</p><p>imaginação, etc (Merleau – Ponty, Sartre, dentre outros).</p><p>A INFLEXÃO ROMÂNTICA NA FENOMENOLOGIA DE M. SCHELER</p><p>O filósofo, psicólogo e sociólogo M. Scheler (1874- 1928) discípulo de Dilthey e</p><p>Husserl é a figura paradigmática do processo de redirecionamento da fenomenologia</p><p>convertida em método das ciências humanas compreenssivas. Graças à obra de Scheler a</p><p>fenomenologia afasta-se da orientação que lhe deu Husserl que desembocara no</p><p>subjetivismo metodológico. Uma auto-percepção puramente interna e psíquica é ficção.</p><p>Scheler parte para uma estética tipicamente romântica assumida pelos formalistas e</p><p>futuristas na mesma época. Com Scheler a fenomenologia transformou-se no método de</p><p>investigação das formas expressivas, mas a fenomenologia dos simbolismos nunca focara</p><p>os sistemas lingüísticos enquanto objetos independentes da subjetividade. O foco será a</p><p>fala, a expressão concreta de uma intencionalidade.</p><p>AS DOUTRINAS EXISTENCIALISTAS</p><p>Sobre a psicologia, a fenomenologia influiu como ciência compreensiva e foi em</p><p>grande parte mediada pelas doutrinas existencialistas. O método fenomenológico, ao ser</p><p>sistematizado, despertou no inicio do século vinte, em muitos a esperança de que se</p><p>proporcionasse a descrição da existência concreta, um rigor ainda não alcançado. É</p><p>necessária, contudo</p><p>uma distinção entre, por exemplo, K. Jaspers, Heidegger e Sartre.</p><p>A PSICOPATOLOGIA DE K.JASPERS</p><p>K.Jaspers foi não apenas a figura de maior destaque de uma das correntes</p><p>existencialistas, mas um pioneiro das ciências compreensivas: psicopatologia e psiquiatria.</p><p>“O existir não é objetividade”. Em Jaspers temos mais um filosofar existencialista, que uma</p><p>filosofia dogmática existencialista. Este filosofar relaciona-se duplamente com as ciências.</p><p>As relações entre ciências do homem e filosofias existencialistas, diferem daquelas em que</p><p>se baseiam as ontologias de Heidegger e Sartre, duramente criticadas por Jaspers.</p><p>ANALITICA E PSICANALISE EXISTENCIAL</p><p>Binswanger (1881-1966) é um dos grandes nomes da psiquiatria fenomenológica e</p><p>criador da análise existencial que se deriva de Heidegger. O seu livro, “Ser e Tempo”</p><p>influenciou Binswanger. A psicanálise existencial não promete cura, adaptação,</p><p>tranqüilidade e sim autocompreensão, liberdade, responsabilidade, angústia.</p><p>A ANTIPSIQUIATRIA EXISTENCIAL MARXISTA</p><p>David Cooper e Ronald Laing sofreram influência de Sartre, neomarxista. O homem é o ser</p><p>cuja existência precede a essência. A vida não é determinada por, nem expressão de, uma</p><p>realidade material ou ideal que a anteceda cronológica ou logicamente. A existência é</p><p>contingente e gratuita. Mas o outro ameaça perenemente a existência. O homem é um</p><p>processo essencialmente incompleto de totalização e não uma totalidade acabada e</p><p>28</p><p>determinada. Diz Cooper que se deve compreender o que o sujeito faz com o que lhe é feito</p><p>e o que ele faz do que ele é feito.</p><p>Para Laing e Cooper, a gênese da esquizofrenia e a solução terapêutica desta, e a</p><p>própria caracterização deste quadro clínico, remetem ao sistema de interações sociais, que</p><p>no conjunto da sociedade e de forma crítica, no seio da família, configuram o projeto de</p><p>loucura. O pessimismo existencialista é bastante atenuado, no momento em que a</p><p>antipsiquiatria se propõe como terapêutica existencial, o que a aproxima da psiquiatria</p><p>alternativa norte-americana. que se inspira na psicossociologia funcionalista, e com o mito</p><p>da comunidade desalienada, do pensamento político romântico.</p><p>O PROBLEMA DA COMPREENSÃO NAS DOUTRINAS EXISTENCIALISTAS</p><p>A imbricarão dos existencialismos na velha problemática romântica da expressão e da</p><p>interpretação das formas expressivas, tendo de um lado como exemplo o neo-marxismo de</p><p>Sartre e do outro a ontologia Heideggeriana com seus desdobramentos teve resultados. O</p><p>homem é para si mesmo e para os outros um ser significante , pois não se pode jamais</p><p>compreender o menor de seus jestos sem que se supere o puro presente explicando-o pelo</p><p>futuro. É um criador de signos. Utiliza alguns objetos para designar outros ausentes e</p><p>futuros. O homem constrói signos por ser significante em sua natureza e é significante por</p><p>ser superação dialética de tudo que é simplesmente dado.</p><p>Gadamer diz que em Heidegger “ compreender não éummodo de comportamento do</p><p>sujeitoentre outros, mas o modo de ser do próprio dasein”. Essencialmente o ser ai é uma</p><p>relação original do sujeito com o mundo, em que este é o mundo projetado pelo Daisein</p><p>como horizonte de suas possibilidades de ser. Não há como a razão ser exercitada fora do</p><p>prévio horizonte das tradições, dos preconceitos, mas pertencer a uma tradição e a</p><p>aplicação do projeto de compreensão antecipada que daí recorre não excluem a</p><p>racionalidade e a critica. Mas a consciência em que se pode manifestar à irredutível</p><p>alteridade do outro é a consciência aberta para o dialogo e a busca do consenso.</p><p>CAPITULO XII</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS</p><p>A PROBLEMÁTICA DA DIVERSIDADE E DA UNIDADE</p><p>A multiplicidade de enfoques metodológicos seria o grande problema da</p><p>constituição cientifica da psicologia? A diversidade instalou-se na constituição da</p><p>psicologia desde sua origem. A duração desde a origem da psicologia desta diversidade,</p><p>desta multiplicidade de abordagens, sua persistência seria outro aspecto problemático a ser</p><p>estudado.</p><p>Sendo assim, poderia a psicologia ser considerada, efetivamente, e com o</p><p>propósito de romper com este problema, como sendo “a ciência da conduta?” A conduta é</p><p>finalizada, é uma unidade funcional. É sob a regência do funcionalismo, portanto, que se</p><p>faria a unificação.</p><p>A interpretação funcional da conduta é exatamente a mesma; o sentido da conduta</p><p>é sempre o de restabelecer a unidade do organismo quando este se acha ameaçado pela</p><p>tensão inerente a uma necessidade fisiológica ou adquirida.</p><p>29</p><p>A SUPERAÇÃO E A DURAÇÃO DA DIVERSIDADE</p><p>Constitui-se o sujeito individual num contexto histórico e determinado</p><p>culturalmente: fora deste processo ele simplesmente não teria qualquer existência.</p><p>É necessário sublinhar o caráter histórico das relações entre o cientista e o seu</p><p>objeto.</p><p>“O que a ciência nos oferece é um quadro da natureza, isto é, uma relação</p><p>ordenada do homem e da matéria” (Serge Moscovici).</p><p>O conhecimento cientifico não seria apenas conhecimento de um objeto que se</p><p>transforma efetuado por um sujeito que também se transforma, mas fundamentalmente, um</p><p>conhecimento das formas históricas das relações práticas que a humanidade instaura com a</p><p>matéria criando e recriando assim as ordens naturais.</p><p>As diferentes matrizes se refletem e expressam formas diferentes de relações</p><p>humanas, a opção individual entre as correntes psi é uma questão ética , não cientifica, mas</p><p>sem ser absolutamente uma questão para qual só existem soluções irracionais e arbitrarias.</p><p>Um dos mecanismos de defesa contra a incerteza é o dogmatismo, não se deve esquecer</p><p>disto, pois, não é atôa que lado a lado ecletismo pragmático agnóstico e dogmatismo</p><p>acrítico irracionalista lado a lado campeam na psicologia.</p><p>COMENTÁRIO:</p><p>A Psicologia em todas as suas facetas e nuances mostra-se multifacetada</p><p>pluripresente e multiatuante na sociedade hoje. Apesar da complexidade, ou antes, graças a</p><p>Ela pode-se perceber nas diversas tendências e linhas da Psicologia algo relacionado, algo</p><p>que parece comum: quer seja no discurso nomotético e quantificador quanto na gestalt</p><p>assim como no lado romântico da Psicologia, quanto ao sujeito (ou o que quer que lhe</p><p>chamem, quer seja organismo, etc.), sempre portar de uma forma ou de outra , sua</p><p>singularidade. Se organismo, contingência, se gestalt, parte do todo, se procedente de</p><p>vitalismo uma outra instância...</p><p>É interessante observar no entanto, um fato curioso: dentro do curso de Psicologia,</p><p>se a singularidade aparece, às vezes, tem que ser massacrada? Tem-se, obrigatoriamente</p><p>que fazer parte do bando? É o tudo e o nada do 4º Reich?</p><p>FIM?</p><p>do indivíduo privado de um lado, e do outro lado a necessidade de submeter</p><p>a subjetividade a leis, descobrindo aí regularidades que possibilitem seu controle e a</p><p>coloquem a serviço do domínio técnico da Natureza e da reprodução social. Daí, a ciência</p><p>psi, tende a constituir-se, vendo-se na obrigação de reconhecer e desconhecer seu objeto.</p><p>Ao não o reconhecer, não se legitima como ciência independente e pode ser anexada à</p><p>outras modalidades de conhecimento. Mas ao não o desconhecer, não se legitima como</p><p>ciência, pois não se submete aos requisitos da metodologia científica, nem resulta na</p><p>formulação de leis gerais com caráter preditivo. Abre-se um campo de conflitos que não é</p><p>acidental. Este, não parece que possa vir a ser unificado, por qualquer meio que o seja.</p><p>Antes, as divergências parecem refletir as contradições do próprio projeto que enraízam-se</p><p>por sua vez na ambigüidade da posição do sujeito e do indivíduo na cultura ocidental</p><p>contemporânea.</p><p>CAPÍTULO II</p><p>A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO</p><p>No plano teórico a Psicologia reproduz a ambigüidade de seu objeto: o sujeito é</p><p>dominador e dominado; o indivíduo é liberto e reprimido. No conjunto da Psicologia nos</p><p>deparamos com um complexo de relações sincrônicas que se caracteriza pelo antagonismo</p><p>entre diversas concepções irredutíveis entre si. De um lado, escolas e movimentos gerados</p><p>por matrizes cientificistas, onde a especificidade do objeto, ou seja, a subjetividade e a</p><p>singularidade tendem a ser desconhecidas e surge uma imitação dos modelos e práticas das</p><p>ciências naturais. Do outro lado escolas e movimentos gerados por matrizes românticas e</p><p>pós românticas, onde atos e vivências de um sujeito, dotados de valor e significado para ele</p><p>são valorizados, ou seja, a especificidade do objeto é reconhecida, reivindicando-se total</p><p>independência da Psicologia em relação às demais ciências, mas, há carência de segurança</p><p>e de cientificidade e assim buscam-se novos moldes científicos.</p><p>MATRIZES CIENTIFICISTAS</p><p>MATRIZ NOMOTÉTICA E QUANTIFICADORA</p><p>É a que define a natureza dos objetivos e procedimentos de uma prática teórica</p><p>realmente científica. Busca ordem natural nos fenômenos psi e comportamentais,</p><p>classificando e procurando leis gerais, mantendo caráter preditivo. Hipotetização, cálculo e</p><p>5</p><p>mensuração definem a lógica experimental. Assim orientam-se a práticas de controle do</p><p>ambiente natural, no qual inserem-se aspectos da vida social.</p><p>MATRIZ ATOMICISTA E MECANICISTA</p><p>Procura relações deterministas ou probabilísticas. Mantém concepção linear e</p><p>unidirecional de causalidade. Considera-se o real como sendo elementos que em diferentes</p><p>combinações, causam mecanicamente os fenômenos complexos daí derivados. Abriga</p><p>rígida noção de causalidade onde ocorre inexorável encadeamento de causas e efeitos. Ao</p><p>substituir o determinismo pelo probabilismo reduz a ambição de conhecimento sem alterar</p><p>o a-historicismo mecanicista. Salta à vista a incompatibilidade entre o mecanicismo e um</p><p>sujeito capaz de agir transformando e inovando. Esta matriz foi muito influente apenas na</p><p>pré-história da Psicologia por suas pretensões e realizações eminentemente científicas.</p><p>MATRIZ FUNCIONALISTA E ORGANICISTA</p><p>Exerceu e ainda exerce sobre o pensamento psi influência, mais poderosa que a</p><p>matriz atomicista e mecanicista. A noção de causalidade funcional, surge, recuperando-se a</p><p>noção de causa final de Aristóteles. A causalidade circular, na qual um efeito é também</p><p>causa e uma causa é efeito de seu efeito é cogitada. Considera-se a funcionalidade de um</p><p>orgão, de um mecanismo, etc., como algo que remete ao todo de que faz parte e assim</p><p>apenas se define na interdependência das partes deste todo. A análise então, obedece regras</p><p>diferentes das que do atomicismo emanam. Substitui-se a sub-divisão da matéria</p><p>(atomicismo) pela análise dos sistemas funcionais. Dispensa-se atenção aos processos</p><p>temporais. Os seres vivos têm uma história de desenvolvimento. E outra evolutiva. Divide-</p><p>se em submatriz ambientalista e submatriz nativista. Ao superar o atomicismo e o</p><p>mecanicismo, regata as noções de valor e significado. É um estruturalismo biológico que se</p><p>funda na idéia de complementaridade num sistema, onde o conflito é visto como</p><p>patológico, o que talvez seja acertado para a Biologia mas traz para a Psicologia,</p><p>conseqüências. A dimensão ética do comportamento, essencial e diferenciadora do</p><p>comportamento humano, transforma-se em técnica de sobrevivência. Aparecem a noções</p><p>pragmáticas de conveniência e adequação. Uma técnica de sobrevivência mostra-se</p><p>adequada e conveniente se elimina ou reduz o conflito e restabelece a harmonia e a</p><p>complementaridade.</p><p>MATRIZES CIENTIFICISTAS E IDEOLOGIAS CIENTÍFICAS</p><p>A partir de todas as matrizes cientificistas, surge na Psicologia a idéia de</p><p>conhecimento útil. Mas, deve-se avaliar a utilidade tanto no nível prático quanto no</p><p>simbólico. Um dos mais antigos focos permanentes na pesquisa psi é a elaboração de</p><p>técnicas: psicométricas, de treinamento, de ensino, de persuasão, etc... Mas, à Psicologia do</p><p>século XX coube além disso, fornecer legitimações, pela necessidade de se dar às práticas</p><p>sociais de controle e dominação a necessária legitimidade que debilmente é negada pelo</p><p>liberalismo. Entende-se que uma tecnologia psi é possível e não há mal em usá-la: quem</p><p>garante é a ciência. A pesquisa de base é a fiadora maior da possibilidade de se aplicar ao</p><p>subjetivo os modelos das ciências naturais possibilitando que se submetam os fenômenos</p><p>subjetivos à interesses tecnológicos. Este esforço de legitimação mostra-se necessário: as</p><p>práticas de dominação e controle social estão sujeitas à contestação emanada, na Psicologia,</p><p>das matrizes românticas.</p><p>6</p><p>MATRIZES ROMÂNTICAS E PÓS-ROMÂNTICAS</p><p>Nelas, o que foi excluido pelas matrizes cientificistas é recolhido, no que se</p><p>denomina de vitalismo naturista: o qualitativo, o indeterminado, o espiritual, etc. Os</p><p>vitalistas, são a favor da vida e contra a razão. O sujeito, por não se reconhecer na sua</p><p>ciência, na imagem refletida pela ciência, desiste da ciência. Surge o interesse estético no</p><p>lugar do interesse tecnológico. Anulam-se as diferenças entre sujeito e objeto, entre ser e</p><p>conhecer. Esta matriz está profundamente enraizada no senso comum da prática psi e nas</p><p>representações sociais da Psicologia.</p><p>MATRIZES COMPREENSIVAS</p><p>Existem três grandes linhas compreensivas: o historicismo ideográfico, o</p><p>estruturalismo e a fenomenologia. O primeiro busca a captação da experiência como se</p><p>constitui na imediata vivência do sujeito. Propõe que se decifre e interprete as</p><p>manifestações vitais, culturais e psicológicas, ou seja, atribui às ciências do espírito uma</p><p>tarefa hermenêutica. Mas como resolver o problema da verdade? Como escolher entre</p><p>interpretações conflitantes? Uma das soluções para o problema da compreensão foi</p><p>proporcionada pelos estruturalismos.</p><p>Nestes, o trabalho de interpretação tenta modelar-se pela hipotetização, pelo</p><p>cálculo e teste de hipóteses, característica das ciências da natureza. A intenção é reconstruir</p><p>as estruturas geradoras de mensagens, as regras que controlam inconscientemente a</p><p>organização das formas simbólicas e os discursos. Mas é na fenomenologia que vamos</p><p>encontrar uma tentativa de superação, do cientificismo, ao qual os estruturalistas</p><p>sucumbem, assim como do historicismo. Os objetos, então, não são os eventos naturais,</p><p>mas os fenômenos, aquilo que à consciência aparece. Assim os eventos psi não são coisas</p><p>no mundo, mas, constitutivos do mundo.</p><p>A fenomenologia denuncia como irremediavelmente cético ao historicismo</p><p>idiográfico. O ceticismo seria uma conseqüência do relativismo radical historicista. A</p><p>fenomenologia descobre que o ser humano não tem essência alguma pré definida.</p><p>Compreender o indivíduo são ou doente, implica em reconstruir seu mundo, explicitar</p><p>horizontes que confiram sentidos</p><p>a seus atos e vivências, desvelando o seu projeto</p><p>existencial. Na base de tudo encontra-se um sujeito e suas escolhas.</p><p>MATRIZES ROMÂNTICAS, PÓS-ROMÂNTICAS E IDEOLOGIAS</p><p>PARARRELIGIOSAS</p><p>As matrizes cientificistas secretam ideologias científicas. As matrizes românticas e</p><p>pós-românticas, com exceção dos estruturalismos que fazem a balança pender para o outro</p><p>lado, secretam ideologias pararreligiosas. O indivíduo, a liberdade e imagens afins são</p><p>colocados no altar, sem que se analisem as condições concretas de realização de tais</p><p>pressupostos. As ideologias científicas afirmam ser o sujeito um objeto como qualquer</p><p>outro para o exercício do poder, legitimando a dominação com o manto da ciência, mas as</p><p>ideologias românticas completam: independentemente de questões menores de dominação e</p><p>poder, a liberdade é indestrutível, o indivíduo é livre, a escravidão é uma opção. Legitima-</p><p>se assim, o retraimento do sujeito sobre si mesmo. Entre as ideologias de um e de outro</p><p>lado, ocorre complementação.</p><p>7</p><p>PERSPECTIVAS ATUAIS</p><p>O projeto de unificação filosófica e metodológica permanece atual, mas parece</p><p>inviável. Desde Watson, até Skinner, na Psicanálise ou em Piaget, percebe-se a mesma</p><p>intenção. Diante da impossibilidade da unificação surgem projetos de partilha. Karl Jaspers</p><p>distribuiu os fenômenos psi entre uma ciência da natureza e uma ciência do espírito. S.</p><p>Koch aceita como inevitável a diversidade na Psicologia e preconiza a anexação das</p><p>diversas áreas às disciplinas mais próximas. Há quem defenda a permanência da</p><p>duplicidade epistemológica e metodológica, tal como Nuttin, para quem existe a</p><p>intencionalidade e as leis da natureza, sem que se possa excluir uma ou outra. Howaarth,</p><p>assume ótica pragmática e reúne tradição humanista e psicologia mecanicista e acaba</p><p>incorrendo num ecletismo embelezado. O ecletismo tem sido a maneira que se tem</p><p>encontrado predominantemente na comunidade profissional da Psicologia, para enfrentar as</p><p>contradições do projeto de independência científica da Psicologia. Mas assim, as</p><p>contradições ficam camufladas, travestidas de complementaridade e a própria natureza do</p><p>projeto é subtraida do campo da reflexão e da crítica.</p><p>CAPITULO III</p><p>MATRIZ NOMOTÉTICA E QUANTIFICADORA</p><p>A ciência em qualquer de suas práticas e específicos procedimentos, busca tornar</p><p>para o homem, mais compreensível um domínio de sua experiência. As ciências naturais</p><p>com a sua procura de compreensão da realidade assentam-se na crença de uma ordem</p><p>natural, uma ordem à parte dos sujeitos que a experimentam. Esta não é uma crença gratuita</p><p>nem se trata de um mero expediente de conveniência; origina-se na e justifica-se pela</p><p>historia da espécie homo sapiens. Nossa espécie caracteriza-se pela produção da própria</p><p>existência, através do trabalho que por um lado exige e por outro testa a capacidade que</p><p>temos para formar idéias que reproduzem regularidades naturais; estas idéias orientarão a</p><p>fabricação de instrumentos e a codificação de técnicas produtivas. O trabalho é a forma</p><p>mais completa e poderosa do ser humano adaptar-se ao ambiente, sobre o mesmo</p><p>exercendo algum controle. Respostas adaptativas padronizadas com formas e condições de</p><p>ocorrência dependentes essencialmente da informação filogenética existem no nível mais</p><p>simples.</p><p>A crença na ordem que a ciência assume é a crença na ordem assumida e</p><p>legitimada pelo trabalho. O ser humano anda em busca de regularidades que lhe permitam</p><p>prever; é um traço característico de nossa espécie. A crença na ordem natural dirige o</p><p>pesquisador na busca de sistemas classificatórios recortando a realidade de acordo com as</p><p>diferenciações mais verdadeiras e ou mais inconvenientes e também de leis gerais que</p><p>possam descrever de modo mais conveniente ou aproximados relações entre os fenômenos.</p><p>Sistemas classificatórios e leis têm valor de hipótese e precisam sofrer correção sempre que</p><p>se revelem insuficientes para proporcionar descrições e explicações satisfatórias.</p><p>A ORDEM NAS APARÊNCIAS</p><p>A ciência pode se propor a apenas organizar os dados aparentes sem pretensão de</p><p>representar a ordem objetiva. Taxionomias são concebidas como “mecanismos de</p><p>descrição, cálculo e previsão”, sem dimensão ontológica. A preocupação com salvar as</p><p>aparências dá lugar a uma proliferação de dispositivos ad hoc numa interminável sucessão</p><p>de ajustes que acabam, ao se superporem, também contradizendo-se.</p><p>8</p><p>A ORDEM NATURAL</p><p>Copérnico, Kepler e Galileu e Descartes imbuíram nova função à matemática:</p><p>expressar as “leis da natureza”. Previsão e cálculos exatos obviamente não foram deixados</p><p>de lado. Sobretudo esta previsão é condicionada por uma abstração, que naturalmente</p><p>exclui o sensível para trabalhar apenas com o inteligível, com o puramente racional.</p><p>Haverá uma substituição: o mundo da experiência cotidiana saturado de</p><p>significados e de valores afetivos e estéticos intenções e desejos, dá lugar a um mundo em</p><p>que a pesquisa e a teorização são fins pra um universo geométrico e mecânico,</p><p>matematizável e homogêneo. Esta homogeneização acaba com divisão do cosmos, porém</p><p>impõe-se a tarefa de oferecer descrições e explicações unitárias.</p><p>A ruptura epistemológica, que foi uma das grandes façanhas dos precursores da</p><p>física, ou seja, a superação e afastamento da experiência sensível para construção de um</p><p>objeto teórico original, construída pela razão e objeto da experiência intelectual, foi uma</p><p>lição. Apenas a este objeto se aplica de maneira exata as leis da matemática. Assim a</p><p>experiência cientifica foi se tornando cada vez mais abstrata e purificada.</p><p>A EXPANSÃO DA ORDEM NATURAL</p><p>O espírito de exatidão, da mensuração e da análise experimental surgiu através de</p><p>Lavoisier. Os estudos biológicos também avançaram na direção da biologia científica.</p><p>A ORDEM NATURAL DOS FENÔMENOS PSICOLÓGICOS E</p><p>COMPORTAMENTAIS.</p><p>Submeter os fenômenos psi aos procedimentos da matemática, possibilitando a</p><p>criação de uma Psicologia empírica, foi algo negado pr Kant. O projeto de uma</p><p>psicometria, no entanto, surgiu no século XVIII com Chrstian Wolff. Em momento algum</p><p>arrefeceu o impulso nomotético e quantificador.</p><p>RAÍZES SOCIOCULTURAIS DA QUANTIFICAÇÃO PSICOLÓGICA</p><p>Hoje se aceita como objetivo de uma observação acerca do homem, a elaboração</p><p>de leis gerais, em linguagem matemática, descrevendo regularidades dos fenômenos</p><p>psíquicos e comportamentais, proporcionando previsões exatas, mas isto soava a ainda bem</p><p>pouco tempo, como contra-senso, perante a natureza especial da subjetividade.</p><p>Estender o pensamento nomotético e quantificador ao homem e particularmente</p><p>ao sujeito individual encontrou obstáculos diversos, culturais, ideológicos, religiosos, etc, e</p><p>teve que se preceder de transformações sociais que modelaram uma natureza humana,</p><p>criando uma imagem de homem que tornou o próprio homem acessível, objeto aos</p><p>procedimentos das ciências naturais.</p><p>Assim houve melhores condições de expansão da economia mercantil. O</p><p>surgimento da psicologia enquanto ciência natural associa-se à expansão da economia</p><p>mercantil, graças às transformações sociais que esta proporcionou, mas associa-se também</p><p>às crises desta economia, a exigir novas técnicas de controle social, uma ativa intervenção</p><p>do Estado, além disto, a legitimações para as novas formas de exercício de poder.</p><p>Coube em parte à Psicologia fornecer técnicas e ideologias, e as práticas sociais</p><p>criaram pré-condições para que se tornasse aceito um tratamento cientificista da</p><p>subjetividade, por introduzir na vida do indivíduo o formalismo, a quantificação, e a</p><p>sujeição as leis supostamente naturais da sociedade. O tratamento cientificista devolve por</p><p>9</p><p>seu turno à sociedade, a imagem na qual as características da vida cotidiana, são fixas e</p><p>mostradas como fatos naturais.</p><p>Não se pode negar a cientificidade de muitas descrições e explicações da</p><p>Psicologia</p><p>principalmente as mais relacionadas ao campo biológico, mas ao estender-se a</p><p>todas as formas e níveis de fenômenos psi e do comportamento o pensamento nomotético e</p><p>quantificador ao não revelar as origens sócio culturais de suas próprias possibilidades de</p><p>existência, a Psicologia cientificista acaba contribuindo para que se legitime práticas sociais</p><p>e interesses correspondentes, o que torna muito comum os produtos das matrizes</p><p>românticas, confundir os planos de análise, rejeitando junto com a ideologia cientificista,</p><p>conservadora ou progressista, a própria ciência.</p><p>CAPÍTULO IV</p><p>MATRIZ ATOMICISTA E MECANICISTA</p><p>O movimento dos seres inanimados sempre intrigou o homem. Em busca de</p><p>previsão e controle, torna-se importante a resolução desta questão. Tem-se que dominar os</p><p>fenômenos naturais. Estes são, em grande medida, movimentos. Exercício do domínio</p><p>implica em se produzir movimento no mundo físico. Todo movimento é interpretado como</p><p>efeito de ação exercida sobre o corpo que se move.</p><p>Durante séculos o ocidente aderiu ao ponto de vista de Aristóteles, quanto ao</p><p>movimento. Este ponto de vista superava o antropomorfismo do senso comum, apesar de</p><p>animista. Aristóteles admitia a existência de um movimento violento que seria produzido</p><p>por um mecanismo obedecendo a uma intenção estranha ao corpo movente. Mas, este</p><p>movimento não explica o movimento dos astros, de uma pedra que se move caindo de uma</p><p>montanha, ou da fumaça de uma chaminé. Estes seriam movimentos naturais, segundo</p><p>Aristóteles: cada corpo se move na direção de seu lugar natural. Para Aristóteles, há uma</p><p>causa final que gera e dirige os movimentos físicos. Mas os movimentos violentos</p><p>permaneciam em sua dinâmica, na obscuridade. Autores medievais propuseram o impetus:</p><p>potencia que impregna o corpo, a partir de sua associação com o motor, podia se acumular</p><p>e dissipar, seria, segundo Benedetti, passível de descrição matemática. Na Idade Média, a</p><p>física do impetus desalojou a física de Aristóteles, mas a noção de impetus, afinal de contas</p><p>é antropomórfica. A matematização é maneira de ordenar as aparências.</p><p>AS ORIGENS NA FÍSICA</p><p>A princípio, também Galileu aderiu à física do impetus, mas mediante sua</p><p>fragilidade, terminou por lançar as bases da física científica. Rompeu com Aristóteles e o</p><p>senso comum, ao conceber o movimento no vácuo, num experimento imaginário, o que o</p><p>conduziu à lei da inércia que atribui o mesmo valor e as mesmas propriedades ao repouso e</p><p>ao movimento. O movimento é dotado de autonomia e sua permanência é automática. A</p><p>aceleração e a direção são concebidas como procedentes de causas externas ao corpo que se</p><p>move, mas o movimento em si independe de força que o puxe como meta, ou causa final,</p><p>ou o empurre como ação que lhe foi impressa. Aos fatores causais de aceleração e direção</p><p>denomina-se causas eficientes: antecedem o movimento e lhe imprimem direção e</p><p>velocidade. O passado determina o presente e o presente ao futuro: é o conceito de</p><p>causalidade mecanicista. Homogeneíza-se o universo. Com a homogeneização, propiciada</p><p>pela matematização, surge a ressurreição do atomismo de Demócrito. Este concebia o real</p><p>como sendo composto de mínimas partículas, invisíveis, combinadas em diversas formas</p><p>10</p><p>observáveis. Ao se postular que estes elementos seriam os realmente objetivos vai-se</p><p>desqualificar a sensibilidade e valorizar a razão como via de acesso ao real. Foi a mecânica</p><p>de Newton que sintetizou a matematização e a atomização. Engendrou-se o universo como</p><p>um grande mecanismo, um imenso relógio. Ali se condensava a idéia de movimento</p><p>automático, perfeição mecânica, determinismo estrito e quantificação. Surge uma nova,</p><p>abrangente e sistemática concepção da Natureza que se opõe radicalmente às concepções</p><p>aristotélicas. A síntese newtoniana tornou-se exemplo de cientificidade e matriz de teorias e</p><p>pesquisas em outras áreas de conhecimento.</p><p>EXTENSÕES DO ATOMICISMO E DO MECANICISMO</p><p>A química veio chegando a decomposições cada vez mais precisas, embora mais</p><p>tarde contribua com o antielementarismo e com o antimecanicismo quando mostra a</p><p>importância de configurações e sínteses originais. Na biologia o atomicismo insinuou-se</p><p>através da anatomia. Na Psicologia Científica, o elementarismo (atomicismo) e o</p><p>mecanicismo tiveram também repercussões e uma matriz na teoria do conhecimento teve</p><p>grande importância na Psicologia. Tentou-se reduzir o conhecimento e os fenômenos</p><p>mentais a uma combinação de elementos primitivos.</p><p>ATOMICISMO E MECANICISMO NA PSICOLOGIA</p><p>As ciências naturais estudam os elementos buscando uma ordem objetiva; a</p><p>perspectiva atomicista na Psicologia levou a que se buscasse estudar os elementos átomos</p><p>da consciência: as sensações. Isto, na sua relação de dependência com o organismo que as</p><p>vive. Para Titchener, identificar estes elementos é em grande parte a tarefa da Psicologia,</p><p>mediante introspecção controlada e altamente treinada, evitando-se o erro de estímulo, o</p><p>qual seria relatar algo do objeto, ao invés de relatar somente as sensações simples e</p><p>primitivas que oferece a experiência. Na obra de Ebbinghaus sobre a memória também está</p><p>presente o atomismo e o mecanicismo.Em algumas versões do behaviorismo também se</p><p>encontram o atomicismo e o mecanicismo, embora oscilem entre atomicismo/mecanicismo</p><p>e funcionalismo organicista. Alguns behavioristas são marcadamente mecanicistas, a ponto</p><p>de excluir intenções e propósitos, ficando-se com o conceito de automatismos. Em sua</p><p>maioria, os behavioristas preconizam, no entanto, embora nem sempre de maneira</p><p>consistente, análises molares do comportamento. Afastam-se também do mecanicismo e</p><p>aderem a explicações funcionais da aprendizagem que se baseiam no sucesso ou fracasso</p><p>adaptativo das respostas. Exclui-se, do discurso científico, por razões metodológicas ou</p><p>metateóricas, os conceitos mentalistas, mas, embora promovam uma visão da aprendizagem</p><p>como processo automático, chegam a postular variáveis organísmicas motivacionais e</p><p>cognitivas. Por influência do funcionalismo, reduz-se o automatismo comportamental.</p><p>Condutas motivadas e instâncias de escolha e decisão são incompatíveis com a imagem de</p><p>passividade e reatividade pura, ocasionada pela matriz mecanicista. Não se pode concordar</p><p>com a idéia, amplamente divulgada que associa o behaviorismo, fundamentalmente ao</p><p>atomicismo e ao mecanicismo.</p><p>RAIZES SOCIOCULTURAIS</p><p>A organização social e técnica do trabalho industrial ocasionaram o surgimento e</p><p>consolidação do atomicismo e do mecanicismo. Mas o simples prestígio não explica a</p><p>11</p><p>importação deste modelo para a Psicologia. É necessário que práticas sociais</p><p>institucionalizadas forneçam condições para o funcionamento do sujeito se equiparar aos</p><p>processos impessoais e padronizados da natureza inanimada e às formas de movimento das</p><p>máquinas. De início, o atomicismo e o mecanicismo se manifestaram nos primórdios da</p><p>Psicologia Industrial. Muitos psicólogos experimentalistas viram como possível e desejável</p><p>contribuir para adaptar o homem à máquina e à linha de montagem. A vivência da prática</p><p>mecanizada através do trabalho, nas condições que surgiram a partir de Taylor, Fayol e</p><p>Ford, faz com que o movimento assuma o lugar da conduta. Esta vivência junto com a</p><p>desvalorização da consciência, como fator causal, prepara o terreno para explicações</p><p>mecanicistas em Psicologia.</p><p>Este terreno, não fica nunca aplainado totalmente. Tem havido forte resistência ao</p><p>mecanicismo, gerada por vezes dentro dos próprios quadros das ciências naturais com o</p><p>funcionalismo, outras vezes geradas nos quadros das ciências humanas e da filosofia,</p><p>correspondentes à própria resistência engendrada nas práticas sociais.</p><p>CAPITULO V</p><p>MATRIZ FUNCIONALISTA E ORGANICISTA NA PSICOLOGIA AMERICANA</p><p>LIMITES DO ATOMICISMO E DO MECANICISMO</p><p>A matriz mecanicista e atomicista sobre os seres vivos encontrou</p><p>e tem encontrado</p><p>resistência. Reprodução, desenvolvimento e autoconservação desafiaram o poder</p><p>explicativo do atomicismo e do mecanicismo. Estes fenômenos indicam uma especificidade</p><p>nos seres vivos que aponta par algo dentro deles. Superficialmente os seres vivos são</p><p>matéria tão acessível quanto qualquer outra aos procedimentos da física e da engenharia.</p><p>Mas nos seres vivos há mecanismos sui generis. Surgiu então nova ciência e com ela os</p><p>conceitos de organismo, função, evolução, desenvolvimento.</p><p>FUNÇÃO, ESTRUTURA E GENESE</p><p>Organismo e função são conceitos decisivos na biologia. As disciplinas biológicas</p><p>são estabelecidas sob o conceito de adaptação. A biologia recupera de certa forma a causa</p><p>final aristotélica que a física moderna afastou do discurso cientifico passa a vigorar uma</p><p>causalidade teleonômica ao lado da eficiente. Identificar as funções de um fenômeno</p><p>biológico é o primeiro passo na busca de sua explicação, então o funcionamento global é</p><p>pressuposto nas operações analíticas e a analise funcional sempre necessariamente uma</p><p>analise sistêmica e estrutural. Os conceitos que caracterizarão a biologia são: função,</p><p>estrutura e gênese. Na teoria dos sistemas abertos encontrou expressão este conjunto de</p><p>noções, o qual fornece o modelo das interações adaptativas dos seres vivos e seus</p><p>ambientes. A adaptação é meta continuamente perseguida pelo ser vivo, mediante</p><p>coordenação de atividades submetidas ao controle de suas próprias conseqüências, por meio</p><p>de um fluxo constante de retro-informação. Daí emerge a idéia do equilíbrio, estado de</p><p>estabilidade relativa, ativamente procurado, mantido e se necessário, recuperado, com a</p><p>auto-regulação fisiológica do desenvolvimento ontogenético e da evolução filogenética.</p><p>12</p><p>OS REFLEXOS DO FUNCIONALISMO NA PSICOLOGIA</p><p>Tanto no plano ontológico quanto no plano metodológico manifesta-se a presença</p><p>da matriz funcionalista e organicista na Psicologia. Toda Psicologia que se pretende uma</p><p>ciência natural adota modelo funcionalista instrumentalista dos fenômenos mentais e</p><p>comportamentais. Percepção, memória, pensamento, afetividade, motivação, aprendizagem,</p><p>são compreendidos como processos adaptativos o que aponta para uma intencionalidade,</p><p>consciente ou puramente objetiva, manifesta ou encoberta. Por sua própria amplidão no</p><p>campo da Psicologia ocorre uma enorme variedade ou diversificação do legado</p><p>funcionalista, organicista. O panorama torna-se confuso, graças às influências cruzadas do</p><p>funcionalismo, com vestígios do mecanicismo e do atomismo, como por exemplo, na</p><p>Psicologia da aprendizagem norte americana, na qual a dimensão estrutural, embora não</p><p>eliminada, permanece dissimulada, em segundo plano. Assim, é preciso analisar autor por</p><p>autor, para se descrever com alguma fidelidade, a versão de Psicologia funcional que cada</p><p>qual elabora.</p><p>O MOVIMENTO DA PSICOLOGIA FUNCIONAL</p><p>O grande precursor do funcionalismo na Psicologia é William James (1842-1910),</p><p>mas houveram outros representantes notáveis desta corrente chamada Psicologia funcional,</p><p>que nos EUA se desenvolveu no final do século XIX e inicio do XX tais como J. Dewey, J.</p><p>Angell, J. Baldwin. Nestes autores os ingredientes fundamentais do funcionalismo</p><p>biológico são encontrados. Os seres vivos exibem uma intencionalidade ao se</p><p>comportarem. Seus comportamentos distinguem-se dos comportamentos mecânicos dos</p><p>seres inanimados, pois são articulados e hierarquizados, visando uma meta e encontrarem-</p><p>se submetidos a sistemas de auto regulação que asseguram a persecução da meta frente as</p><p>resistências impostas pelo ambiente. Comportamentos não são movimentos, são operações.</p><p>A consciência é uma operação seletiva e auto reguladora das táticas comportamentais.</p><p>Operação pressupõe interesses e que se identifiquem os interesses, corresponde à analise</p><p>funcional dos processos psi e comportamentais. Estudar estas operações mentais e</p><p>comportamentais opõe-se à análise atomística da reflexologia de Tichener e do</p><p>elementarismo de Mach. A oposição ao atomismo, com a decorrente defesa de análises</p><p>molares e sistêmicas liga o pensamento dos funcionalistas a Kant. Mas, aqui as estruturas</p><p>transcendentais são naturalizadas e seu caráter apriorístico é matizado, pois são</p><p>interpretados como estruturas orgânicas e epistemológicas, resultantes de uma história</p><p>natural e de uma experiência individual. No conjunto do movimento da Psicologia</p><p>Funcionalista, pode-se encontrar interpenetradas, análises funcionais, estruturais e</p><p>genéticas, característica metodológica básica da matriz funcionalista e organicista.</p><p>A PSICOLOGIA COMPARATIVA</p><p>Estudar o comportamento animal para conhecer o desenvolvimento da vida</p><p>mental na escala filogenética e buscar a origem da inteligência humana foi iniciado por</p><p>Darwin, continuado por Romanes, Morgan, Thorndike, Jennings, dentre outros. O pano de</p><p>fundo deste projeto de Psicologia comparativa é a hipótese da continuidade evolutiva de</p><p>Darwin.</p><p>OS BEHAVIORISMOS</p><p>A partir do início do século XX organizou-se nos EUA um movimento</p><p>behaviorista representando uma conjunta influência de várias tradições filosóficas e</p><p>13</p><p>científicas. Os positivismos, o pragmatismo, aparecem claramente no pensamento de Mach.</p><p>Com o behaviorismo de Watson, os primeiros atacados foram a introspecção e a vida</p><p>interior. Mas há em Watson, tanto o ideário funcionalista quanto algo do ponto de vista</p><p>atomicista e mecanicista. Em Watson o funcionalismo é compreensivo mas nada</p><p>explicativo. O mecanicismo prevalece em termos de explicação e assim ele rejeita a lei do</p><p>efeito de Thorndike, vendo nela vestígios de mentalismo, pois a mesma sugere</p><p>intencionalidade, o que o positivismo não poderia admitir.</p><p>Watson procurou na fisiologia do reflexo respaldo científico que o legitimasse. A</p><p>reflexologia e a teoria do condicionamento reflexo são a promessa de uma Psicologia</p><p>fundamentada em eventos observáveis e submetido a leis objetivas. De maneira ainda mais</p><p>acentuada o elementarismo e o mecanicismo está no behaviorismo de Guthrie. Hull e</p><p>Spence destacaram-se na evolução do behaviorismo rumo a uma purificação metodológica,</p><p>com base numa opção funcionalista.</p><p>O APOGEU DO FUNCIONALISMO BEHAVIORISTA</p><p>Tolman e Skinner assumiram integralmente, cada qual ao seu modo o legado</p><p>funcionalista. Tolman foi quem provavelmente mais contribuiu para o desenvolvimento de</p><p>uma Psicologia funcional. Trouxe para o movimento a preocupação com o rigor</p><p>metodológico e a prática da experimentação. No entanto, a solução mais original está em</p><p>Skinner, batizada por ele de Behaviorismo Radical. A ciência do comportamento de</p><p>Skinner assenta-se no conceito elaborado por ele, de comportamento operante. No conceito</p><p>de comportamento operante de Skinner é resguardada a natureza voluntária do</p><p>comportamento instrumental. O comportamento operante é emitido pelo organismo e não</p><p>eliciado por estimulação. Skinner prescindiu de todo mecanicismo associacionista e de todo</p><p>estruturalismo cognitivista. A organização do comportamento não se localiza no sujeito,</p><p>mas nas suas relações com o ambiente. O conceito de tríplice contingência de reforçamento</p><p>é uma outra forma de se referir ao comportamento operante. Na dimensão genética, Skinner</p><p>admitiu a existência de uma prévia organização, na forma de um sistema de respostas</p><p>reflexas e na forma de padrões instintivos de tendências inatas, pela seleção natural</p><p>modeladas, mas para ele em sua maior parte as formas de adaptação ao meio, nos</p><p>organismos superiores localiza-se durante a vida do indivíduo.</p><p>CAPITULO VI</p><p>MATRIZ FUNCIONALISTA E ORGANICISTA NA PSICOLOGIA EUROPÉIA,</p><p>NA PSICANÁLISE E NA PSICOSSOCIOLOGIA</p><p>A matriz funcionalista e organicista e em especial a biologia evolutiva darwiniana</p><p>comandaram as pesquisas sobre interação adaptativa em cada espécie. Vários autores</p><p>formularam o projeto de se estudar o comportamento no contexto da evolução com</p><p>métodos da biologia. Assim o vitalismo é superado e o mecanicismo é combatido, por não</p><p>apreender intencionalidade no comportamento. O atomismo reduz as unidades funcionais</p><p>significativas a um amontoado de elementos, mas, o sucesso do animal é assegurado, não</p><p>pela existência desses elementos, mas por sua coordenação e hierarquização. Então se deve</p><p>buscar, ao se procurar compreender o comportamento, uma análise de frente ampla,</p><p>buscando-se os elementos de um conjunto, os quais somente serão compreendidos</p><p>simultaneamente, ou não o serão de maneira alguma.</p><p>14</p><p>FUNCIONALISMO NA PSICOGENÉTICA DE PIAGET</p><p>A formação biológica e a preocupação epistemológica conduziram Piaget à</p><p>Psicologia. Com seu trabalho quis buscar uma forma de integrar numa teoria científica do</p><p>conhecimento as duas áreas, biologia e psicologia, integrando os fenômenos cognitivos ao</p><p>contexto de adaptação do organismo ao meio. Encontra-se em Piaget uma obra das mais</p><p>completas, consistentes e articuladas, enquanto um representante do funcionalismo</p><p>organicista em Psicologia. Em Piaget dissolvem-se os limites entre filosofia, biologia e</p><p>Psicologia, mas os métodos e conceitos da biologia é que dominarão, ao longo de sua</p><p>carreira. Baldwin, Janet, Claparede, foram precursores de Piaget na Psicologia. Nas</p><p>primeiras obras de Piaget há indícios da influência de Freud. Em consonância com o</p><p>funcionalismo pragmatista norte americano, Piaget vê na ação concreta, motora, a origem</p><p>dos níveis superiores de adaptação. A ação é coordenada, decorrente da estrutura orgânica</p><p>do sujeito e dotada de lógica. Piaget focou o estudo das estruturas cognitivas, mas</p><p>acreditava, sendo funcionalista, na indissociabilidade dos fenômenos mentais e</p><p>comportamentais. Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo, ocorre em paralelo com o</p><p>desenvolvimento das formas de afetividade e com as formas de existência social.</p><p>Evidenciam-se na obra de Piaget os pontos de vista da fisiologia da autoregulação e da</p><p>embriologia. Ele assumiu uma posição que o distingue bastante de outros autores no que</p><p>toca à evolução.</p><p>FUNCIONALISMO NA PSICANÁLISE FREUDIANA</p><p>A psicanálise de Freud apresenta grande riqueza e vem passando por</p><p>reformulações de tal forma que admite várias leituras.. Algumas dessas leituras, em certos</p><p>aspectos relacionam-se à presença da matriz funcionalista e organicista. Mas, a obra de</p><p>Freud é tributária de diversas tradições, filosóficas, filológicas, teológicas e místicas, mas</p><p>também tradições científicas. Estas, mais explicitadas. O próprio Freud afirma que a</p><p>psicanálise é uma ciência natural. Mas, em sua obra aparecem lado a lado uma fisiologia de</p><p>caráter mecanicista e uma biologia funcionalista. A psicanálise, porém, nada tem de</p><p>eclética. As diversas tradições foram integradas num conjunto que é original e pode-se falar</p><p>de uma pré-história da Psicanálise, onde o que a embasou ainda pode ser analisado</p><p>isoladamente. Para Freud, nada acontece por acaso. Todos os fenômenos se encontram</p><p>inter-relacionados e são de tal forma indissociáveis. Nenhuma parte se esclarece sem a</p><p>relação com o conjunto. Em Freud a visão organicista é assumida em sua inteireza. Mas, o</p><p>determinismo absoluto de Freud não é o mecanicista mas o funcional. Sem se eliminar a</p><p>idéia de um determinismo mecanicista onipresente, a explicação dos fenômenos psi, no</p><p>entanto deve responder à questão: para que serve? Tudo tem um sentido e uma função.</p><p>Nada é casual. O desenvolvimento da personalidade é visto como um processo de</p><p>diferenciação (colocando Freud na tradição da embriologia) e é uma história de sofrimento</p><p>e adaptação. A Psicanálise afasta-se das mais típicas manifestações do funcionalismo ao</p><p>enfatizar a existência do conflito.. Nos EUA a assimilação da Psicanálise foi condicionada</p><p>pelo domínio do ponto de vista funcional. Atribui-se ao ego maior autonomia em relação ao</p><p>superego e uma ênfase maior na adaptação do indivíduo. A ênfase na adaptação e na</p><p>harmonia é característica da escola culturalista, inspirada pelo funcionalismo americano</p><p>através da antropologia principalmente. Atenua-se a tensão entre o prazer e a civilização,</p><p>quando se afirma que a vida psíquica é nada mais que um produto do meio.</p><p>15</p><p>FUNCIONALISMO NA PSICOSSOCIOLOGIA</p><p>Na psicossociologia a matriz funcionalista organicista associa-se às obras de</p><p>Durkhein, Malinowski, Radcliffe-Brown, Parson, Merton, etc. O modelo funcionalista de</p><p>sociedade é estruturado em torno das noções de função e complementaridade. A sociedade</p><p>é vista como um organismo. Cada parte desempenha função complementar às demais e essa</p><p>complementaridade é essencial ao funcionamento da vida social.</p><p>Na psicologia social existe a teoria dos papéis e o manual de Lindsey e Aronson,</p><p>condensa as principais lições em termos psicológicos, da sociologia funcionalista. Um dos</p><p>grandes nomes do funcionalismo foi Mead que se tornou, no entanto, mais conhecido na</p><p>sociologia que na psicologia.</p><p>Embora a psicossociologia funcionalista tome a sociedade como sendo</p><p>essencialmente harmoniosa, não desconhece a existência de conflitos. Em forma de crises,</p><p>sendo que o tema das disfunções sociais, remete à idéia de patologias. Então, de certa</p><p>forma, absolve-se o sujeito, na crítica sociologizante, por seus maus comportamentos. O</p><p>problema está na sociedade e não no indivíduo.</p><p>Hoje o senso comum encontra-se impregnado de modelo funcionalista de</p><p>sociedade. Além das divergências teóricas o senso comum aproxima as escolas psicológicas</p><p>divergentes e com facilidade maior as inspiradas na matriz funcionalista organicista. Na</p><p>questão genética, onde a matriz funcionalista tem um de seus focos, surgem questões que</p><p>irão separar em suas respostas, ambientalistas e nativistas na Psicologia.</p><p>CAPITULO VII</p><p>SUBMATRIZES AMBIENTALISTA E NATIVISTA NA PSICOLOGIA</p><p>O AMBIENTALISMO PSICOLÓGICO</p><p>Surge no século XIX a “inspiração ambientalista nos estudos da experiência</p><p>sensorial”, tais como, por exemplo, os estudos de Helmholtz (1821-1894) em psicofísica e</p><p>psicofisiologia. Para este autor a percepção dos objetos é aprendida; insere-se, portanto no</p><p>que leva ao empirismo epistemológico de Berkeley” século XVIII”. HELMHOLTZ afirma</p><p>que as qualidades da sensação devem ser consideradas como sensação pura e real mas a</p><p>maioria das percepções do espaço é produto de experiência e treinamento. Habito e</p><p>memória embora produzidos através de processos inconscientes e automáticos, conferem às</p><p>sensações puras uma estrutura não atribuível, apenas ao fenômeno sensorial. Lidar com</p><p>objetos sobre diversos pontos de vista ensina o sujeito a percebê-los como único objeto</p><p>apesar das diferenças de foco. A conclusão inconsciente (termo de Helmholtz) possibilita</p><p>compensar as deformações impostas pelas diversas perspectivas obtendo-se uma constância</p><p>de forma. As variações propiciadas pelas mudanças de iluminação acarretam conseqüências</p><p>na percepção das cores que são compensadas pela aprendizagem obtendo-se constância na</p><p>percepção da cor. O caráter inconsciente dos efeitos da aprendizagem faz com que se</p><p>tornem bastante difícil perceber isoladamente o papel do presente, do passado e de</p><p>experiências. A aprendizagem perceptiva também se revela na seleção de elementos</p><p>sensoriais importantes na composição da imagem com que se percebe um objeto. O critério</p><p>de conveniência existe e comanda esta seleção, ou seja, o critério da adaptação. Não</p><p>observamos exatamente nossas sensações senão quando úteis no reconhecimento de objetos</p><p>externos. Antes, pelo contrário, deixamos de lado as sensações sem importância para os</p><p>objetos.</p><p>16</p><p>A aprendizagem nas obras de “Ebdinghaus” e “Thorndike” já não era, ao fim do</p><p>século XIX, um recurso meramente interpretativo, na explicação, quer filosófica quer</p><p>fisiológica, dos fenômenos. No auge do movimento behaviorista (século XX), recebeu a</p><p>psicologia da aprendizagem um intensivo tratamento, o maior já acontecido em relação</p><p>a</p><p>um tema de psicologia cientifica. Watson posicionou-se equilibradamente, de início, entre</p><p>empirismo e nativismo, no entanto se inclinou mais e mais para uma opção ambientalista</p><p>radical. O que refletiu um movimento amplo na psicologia americana. Assim o conceito de</p><p>instinto sofreu crítica severa, tanto por questões empíricas, quanto por questões</p><p>metodológicas. Além disto, a opção ambientalista, mostrou-se manifestação de posturas</p><p>ideológicas e políticas.</p><p>Houve retraimento da importância atribuída ao organismo e negação do caráter</p><p>ativo do sujeito do comportamento. Enfatizar o controle ambiental faz com que se atenue a</p><p>imagem funcionalista de autoregulaçao: resulta o sujeito reagente sem espontaneidade e</p><p>direção própria. O ambientalismo radicalizado criou condições para combinação de</p><p>funcionalismo e mecanicismo, característicos de grande parte da psicologia norte-</p><p>americana, mas enfatizar o controle ambiental não conduz necessariamente a estes</p><p>compromissos, aja vista a obra de Skinner.</p><p>O ambientalismo/empirismo é nítido, explicitamente, em Skinner, podendo ser</p><p>inferido do seu discurso ou de sua prática de pesquisa. Ocorre uma suposição: os motivos</p><p>primários da ação são em numero bastante reduzido. Skinner afirma: a maior parte dos</p><p>reforços são condicionados, cultural e historicamente determinados, na espécie humana. As</p><p>condutas adaptativas são reforçadas. A prática de pesquisa de Skinner, baseia-se</p><p>principalmente nos conceitos de estímulos e respostas representativas. Skinner quer</p><p>elaborar leis empíricas que possam descrever a dinâmica do comportamento, em termos de</p><p>Sd -R - Sr supondo implicitamente que estas seriam leis gerais e sua aplicação à casos</p><p>particulares dependeria de ajustes de parâmetros. Qualquer estímulo poderia mostrar-se</p><p>estímulo discriminativo pra qualquer resposta; qualquer reforço poderia exercer efeitos</p><p>sobre qualquer resposta antecedente: é a eqüipotencialidade de estímulos e respostas. Isto</p><p>baseia todo o projeto científico de Skinner, no qual há uma critica à “botanização” da</p><p>psicologia, ou à sua redução, a uma pura descrição de comportamentos particulares e</p><p>situações, o que conduz a que se suponha que a experiência e as contingências ambientais,</p><p>são os determinantes únicos do comportamento. O comportamento tem uma estrutura que</p><p>não reflete a estrutura do organismo, mas a estrutura das relações do organismo com o</p><p>meio. A conduta adaptativa em sua estruturação de classes funcionais de respostas</p><p>operantes emergiria completamente da historia do individuo; então a tendência é</p><p>desconhecer que existam classes estruturais que precedem e interferem com as formações</p><p>das classes funcionais.</p><p>Admite-se as classes estruturais, mas no campo das respostas reflexas apenas,</p><p>negando-se que condutas adaptativas complexas e de caráter instrumental, possam estar</p><p>submetidas a uma estruturação biológica e hereditária. Supervaloriza-se a plasticidade do</p><p>comportamento considerando-se que tudo pode ser aprendido. Também se supervaloriza a</p><p>aleatoriedade da variabilidade comportamental, sobre a qual se aplica a seletividade da</p><p>conseqüência do reforço; minimiza-se, ou nega-se efeitos de estados motivacionais e de</p><p>estímulos ambientais, na indução de comportamentos específicos e assim restringe-se a</p><p>faixa de variabilidade sujeita à seleção.</p><p>Skinner, nunca abandonou a imagem do organismo ativo, emitindo respostas,</p><p>atuando sobre e modificando seu ambiente. Sua originalidade explicita-se na simultânea</p><p>17</p><p>lealdade ao funcionalismo e ao radical ambientalismo, então, se designa como sendo não</p><p>mecanicista, apesar de ambientalista, nem cognitivista, apesar de funcionalista, pois realça</p><p>a intencionalidade da conduta.</p><p>O NATIVISMO PSICOLÓGICO</p><p>As tradições racionalistas e nativistas revelaram-se na psicofisiologia de Müller</p><p>(1801-1858). Muller postulou energias específicas dos “nervos” que pela estimulação</p><p>externa ou interna dariam aos fenômenos sensoriais suas qualidades. Uma pancada, no</p><p>ouvido produz um som, no olho uma luminosidade, noutra parte do corpo, mera sensação</p><p>táctil. Muller naturalizou o apriorismo transcendental de Kant convertendo num apriorismo</p><p>fisiológico, pois afirmou a especificidade de cada via sensorial. Na psicofisiologia</p><p>contemporânea, Maturana, com os seus trabalhos acerca da estrutura da experiência visual</p><p>da rã (função da estrutura do olho deste animal), inseriu-se na tradição de Müller e também</p><p>de Von Uexküll, para quem o ambiente de cada espécie, não é o que as ciências da física e</p><p>da química descrevem, mas um conjunto articulado de estímulos com valor e significado</p><p>para o animal.</p><p>Foi com Lorenz que o conceito de instinto retornou, mas livre do mentalismo.</p><p>Lorenz mostra segurança quanto a uma diferenciação entre comportamentos sujeitos a</p><p>aprendizagem e comportamentos inatos. No homem o inato se retrai, mas não é eliminado.</p><p>Recentemente, Chomsky e seus seguidores manifestaram-se pelo nativismo; situam-se na</p><p>tradição da lingüística racionalista cartesiana e do pensamento romântico organicista.</p><p>Segundo Chomsky o fenômeno lingüístico essencial é o aspecto criativo do uso da</p><p>linguagem: “a fala não está determinada pela associação fixa de palavras à estímulos</p><p>externos ou à estados fisiológicos” . O pensamento de Chomsky representa o estruturalismo</p><p>e não se insere na tradição funcionalista.</p><p>OS INTERACIONISMOS</p><p>As respostas ambientalistas e nativistas nunca são encontradas na forma pura e</p><p>exclusiva, pois isto destruiria a característica principal dos fenômenos vitais: os elementos</p><p>estruturais no organismo e no ambiente são coordenados uns com os outros. Assim, o</p><p>organismo adapta-se ao ambiente, e o ambiente, inclusive o interno ambiente, ao organismo</p><p>se adapta: eis o que mantém a vida.</p><p>A estrutura orgânica é inseparável da estrutura ambiental, não existem</p><p>isoladamente e suas existências expressam mútua coordenação. Na Psicologia como ciência</p><p>natural, veda-se a possibilidade de uma exclusiva opção, seja pelo controle ambiental, seja</p><p>pelo controle organísmico. Organismo e ambiente definem-se em termos de</p><p>interdependência. É natural, portanto, existir uma terceira força entre o ambientalismo e o</p><p>nativismo, buscando uma síntese que apreenda o organismo e o ambiente como integrantes</p><p>de uma totalidade que se auto-sutenta.</p><p>Baldwin, Loyd Morgan e Poulton, assim como Waddington e Piaget, associaram-</p><p>se à ênfase nas interações reciprocamente determinantes, entre organismo e ambiente e</p><p>entre a história da espécie e do indivíduo. A história do individuo, implicando na</p><p>supervalorização da aprendizagem e da experimentação, num determinado ambiente e a</p><p>ênfase na história da espécie, implicando na sobrevalorização do organismo, na</p><p>determinação do curso em que se desenvolve e na qualidade de suas experiências e de suas</p><p>reações.</p><p>18</p><p>Em Freud encontra-se outro exemplo, da adesão ao interacionismo, porém nem</p><p>tão explícitos, embora bastante ambíguo. No trabalho de Freud, surge como tendo um</p><p>caráter essencial, o conflito. Natureza e ambiente, de modo especial o ambiente social</p><p>encontram-se indissoluvelmente associados e integram como pólos um antagonismo. O</p><p>indivíduo se desenvolve refletindo o conflito que há entre o natural (instinto) e o que o</p><p>ambiente físico e social lhe oferece, possibilidades que são restritivas. Os resultados dos</p><p>conflitos tornam a personalidade simultaneamente natural e social; desaparece a separação</p><p>entre influências biológicas e influências sociais. O indivíduo não existe dissociado do</p><p>ambiente, em nenhum espaço e temporalidade. O indivíduo, se constitui exatamente no</p><p>processo, entre natureza e sociedade.</p><p>Além de Piaget e Freud que assumiram o interacionismo, autores de áreas mais</p><p>marcadas pelos extremos, ambientalismo e nativismo, aproximaram-se da terceira posição.</p><p>A dicotomização do comportamento inato e aprendido foi atacada por D. Hebb e F.ª Beach</p><p>que mostraram ser</p><p>todo comportamento, dependente, tanto de hereditariedade como de</p><p>experimentação. Beach nega a utilidade do conceito de instinto, enquanto definido como ‘o</p><p>que não é aprendido’. Inato, enquanto conceito, deve-se evitar, no contexto dos estudos da</p><p>ontogênese, quando passa a designar uma fixidez de desenvolvimento, oposta a plasticidade</p><p>comportamental.</p><p>Skinner também aderiu ao interacionismo. O ponto de vista interacionista sempre</p><p>se manteve vivo e atuante e hoje ele tende a tornar-se o ponto de vista dominante, além do</p><p>ambientalismo e do nativismo. Estas posições extremadas, no entanto, ainda permanecem e</p><p>procurar entender o contexto cultural que a tempos vem lhes garantindo a dominância e</p><p>assegurando sua sobrevivência, ainda hoje, pode ser útil.</p><p>Skinner admite a determinação genética da aprendizagem e a existência de</p><p>padrões instintivos, modelados, contudo, pelas contingências naturais que determinaram a</p><p>evolução da espécie.</p><p>RAÍZES SOCIOCULTURAIS DAS SUBMATRIZES AMBIENTALISTA E</p><p>NATIVISTA</p><p>O empirismo epistemológico teve o seu apogeu associado à luta antidogmática e</p><p>contra a autoridade não legitimada pela razão e pelo consenso, da nova ciência. Diante da</p><p>necessidade da natureza, ou melhor, do imperativo da cultura, põe-se o próprio homem,</p><p>como réu. Quando a cultura se torna a única referência, tudo é nomeável, desde o</p><p>organismo e todas as indiferenciáveis formas orgânicas, até os sentimentos. Dentro desta</p><p>contradição, qual seja, entre a cultura instituída pelo homem e o homem enquanto fruto</p><p>deste meio, pode-se questionar como caberia qualquer transformação.</p><p>Ambientalismo e nativismo radicais dirigem-se ao sustentáculo de autoritárias</p><p>concepções de exercício do poder enquanto a posição interacionista se volta para a</p><p>legitimação do auto controle; assim sendo, contém um potencial crítico, relacionado às</p><p>formas vigentes de sociabilidade. A autoregulação é fenômeno essencial da matéria</p><p>orgânica e conceito fundamental da biologia. Em Piaget encontra-se talvez a figura mais</p><p>exemplar da posição interacionista numa perspectiva funcionalista o que o torna merecedor</p><p>do titulo do mais completo funcionalista. Em Freud, o interacionismo corresponde à</p><p>realização plena do ideal funcionalista e liberal; encontra-se integrado, numa original</p><p>combinação com a teoria do conflito, a qual rompe com a matriz funcionalista organicista.</p><p>Houve um rompimento. Mas também, com a concepção da psicologia como ciência natural.</p><p>19</p><p>E aqui surge a possibilidade de olharmos as alternativas que se oferecem, no que se</p><p>denominou “matrizes românticas e pós-românticas” (Figueiredo).</p><p>CAPITULO VIII</p><p>MATRIZ VITALISTA E NATURISTA</p><p>Não se pode dizer que as matrizes românticas e pós-românticas articulam-se com</p><p>um mesmo tronco, assim como sucede com as matrizes mecanicista e funcionalista em</p><p>relação à nomotética e quantificadora. Pode-se, no entanto, observar entre elas uma certa</p><p>afinidade, na especificação do objeto da Psicologia e na denúncia da inadequação ou</p><p>mesmo da insuficiência dos métodos das ciências naturais, para o estudo dos fenômenos</p><p>subjetivos.</p><p>O BERGSONISMO: UM EXEMPLO</p><p>A obra de Bergson é representativa de algumas orientações intelectuais e afetivas,</p><p>bem específicas, presentes nessas linhas e em especial em algumas formulações ecléticas e</p><p>do senso comum. É como introspeccionista que Bérgson inicia sua reflexão filosófica e se</p><p>mantém sempre atento às informações, impressões e sentimentos que lhe chegam por essa</p><p>via que ele considera privilegiada. Justifica-se, com um ponto de vista cartesiano,</p><p>afirmando ser a existência a respeito da qual se tem segurança e que se conhece melhor, a</p><p>existência pessoal. Em seus primeiros trabalhos versou sobre dados da consciência e sobre</p><p>memória.</p><p>Em Bérgson, instaura-se a mística da fluidez e da indeterminação, com pretensão</p><p>de representar uma posição metacientífica. Bérgson não nega a importância da ciência</p><p>natural em relação matéria orgânica, mas estabelece uma interdição, quanto ao estudo</p><p>naturalista dos fenômenos vitais, em particular com relação à Psicologia. A ciência, produto</p><p>do intelecto, nada entende da vida. A Psicologia Científica é um contra senso. A promessa</p><p>de previsão e controle é uma farsa. O que esperar de uma Psicologia que renuncia ao status</p><p>de ciência, se apresenta como metafísica, denuncia a lógica e o conceito, recusa as</p><p>faculdades intelectuais e coloca as próprias colocações em perigo? Bergson se vale da</p><p>experiência estética e tenta justificar a viabilidade da apreensão intuitiva dos fenômenos</p><p>vitais.</p><p>A psicologia metafísica não é um corpo de doutrinas e menos ainda um arsenal de</p><p>técnicas e instrumentos. Sob este ponto de vista a psicologia metafísica é uma arte delicada</p><p>e sutil da qual a própria idéia de utilidade deve ser afastada pra que não se caia na</p><p>perversão. Mas, embora não tenha utilidade, no entanto, tem um interesse: promover</p><p>comunhão entre o indivíduo e o fluxo vital, do qual faz parte e que o constitui. Este é o</p><p>interesse que permeia a obra de Bérgson e o leva ao exagero de estetização nas idéias e no</p><p>estilo. Sem os ornamentos do estilo o trabalho de Bergson pode ser percebida, como</p><p>incoerente, pobre, inócua, baboseiras. Sua obra antecipa várias correntes da Psicologia</p><p>contemporânea que sequer o mencionam como precursor.</p><p>O HUMANISMO ROMÂNTICO</p><p>A institucionalização da profissão de psicólogo não é compatível com a noção de</p><p>Bergson de Psicologia, pois esta supõe uma prática mais para os grandes inspirados:</p><p>artistas, santos, heróis. Uma boa parte das seitas psi que existem nas grandes metrópoles</p><p>20</p><p>culturais e são importadas para o Brasil, são marcadas por essas idéias de psicólogo guru.</p><p>Essa perspectiva é forte nos humanistas. Cura, reeducação, solução de problemas, são</p><p>substituídos pela esperança na fruição do sujeito por ele mesmo em termos estéticos,</p><p>entregando-se à corrente da vida, impetuosa e criativa. Um barato. O objetivo da terapia,</p><p>seria libertar a energia vital. Para tanto, deve-se abolir as restrições sociais. A uniformidade</p><p>do modelado pelo social deve ser substituída pela diversidade do autêntico, do individual.</p><p>Em Bérgson, o misticismo da criação e da indeterminação, associa-se ao</p><p>intuicionismo e à desvalorização da lógica e do conceito; o autêntico é o pré simbólico,</p><p>aquilo que não se pode comunicar, a experiência pessoal e intransferível. A linguagem deve</p><p>permanecer na berlinda e intervenções não verbais ou antiverbais ganham simpatia. No</p><p>corpo e pelo corpo, no gesto pelo gesto; nos movimentos vicerais, os motivos autênticos e</p><p>sentimentos genuínos.</p><p>O IRRACIONALISMO CONFORMISTA</p><p>Entre os filósofos modernos, o intuicionismo irracionalista e o vitalismo não são</p><p>exclusividade de Bérgson. O discurso do anti-racionalismo psicológico pode ser visto nele.</p><p>Divulga-se uma visão otimista e positiva da condição humana. A energia vital não</p><p>depende, para ser liberada, de nenhuma condição de vida concreta. Basta uma nova atitude,</p><p>a ser obtida por meio da terapia. O retorno ao subjetivo via intuição, com vistas a uma</p><p>pretensa liberação das forças vitais, que jazem amortecidas, é de tal forma banalizado e ao</p><p>senso comum da prática psi incorporado, preenchendo um vácuo teórico e outorgando certa</p><p>consistência à prática profissional, entre ecléticos, que surge uma tentativa de analisá-lo,</p><p>em sua dimensão ideológica.</p><p>Supõe-se no bergsonismo e em outras versões do humanismo, assim como na</p><p>gestáltica, em outras terapias corporais, na bioenergética, etc., que a realidade psi tenha</p><p>uma existência pré-simbólica e anti-simbólica. Mas não se cogita que a libertação desses</p><p>conteúdos vitais possa comprometer a vida socialmente falando-se. O subjetivismo de</p><p>Bérgson é anêmico, sem capacidade de resistência efetiva, contra a massificação, a</p><p>estereotipia, a repressão, sendo que o próprio irracionalismo bergsoniano não compromete</p><p>ninguém, com uma crítica</p><p>radical da racionalidade estreita, reduzida à pura</p><p>instrumentalidade, pois é muito bem comportado.</p><p>O funcionalismo, parece representar, principalmente em suas versões mais</p><p>interacionistas que superam a visão de ambiente e organismo independentes, o velho</p><p>liberalismo burguês em sua forma viril e progressista; o vitalismo naturista, parece que</p><p>corresponde à forma feminina e magoada do liberalismo. O vitalismo reduz-se a uma</p><p>ideologia sem valor cognitivo. Inverte os valores dos termos em oposição, ordem e</p><p>história, razão e vida. Renega a racionalidade e o impulso crítico. No plano do</p><p>conhecimento nenhuma ambição rigorosa, mas delicada intuição dos sentimentos da</p><p>subjetividade, enfim. A nenhuma das outras matrizes cabe tão bem o conceito de romântica.</p><p>CAPITULO IX</p><p>MATRIZES COMPREENSIVAS: O HISTORICISMO IDIOGRÁFICO E SEUS</p><p>IMPASSES</p><p>DESDOBRAMENTOS E DIFERENCIAÇÕES DO ILUMINISMO</p><p>Iluminismo, na obra de Adorno e Horkheimer, designa uma tradição cultural que é</p><p>crítica e combate as tradições. Tem por objetivo libertar o sujeito para o desempenho sem</p><p>21</p><p>entraves, de seu poderio técnico-manipulatório, sobre a Natureza, submetendo-a a sua</p><p>próprias finalidades. A crítica deve ser livre, racional e soberana. Espera-se da crítica o</p><p>desbloqueio, ou a quebra de todos os bloqueios que limitam o homem em seu progresso de</p><p>um domínio teórico e prático. Neste processo impiedoso, o iluminismo separa</p><p>constantemente o sujeito (do poder e do conhecimento), do objeto. Na Idade Moderna, o</p><p>iluminismo traz a exaltação do sujeito como senhor do Universo. Mas, como pré-condição</p><p>para o exercício do poder, também exalta o objeto.</p><p>A oposição ao cientificismo objetivista no pensamento psicológico decorreu, ou da</p><p>metafísica bergsoniana, ou de uma posição crítica mais radical ao Iluminismo: o</p><p>romantismo. Mas, a vertente subjetivista do Iluminismo, foi incorporada, às tradições do</p><p>pensamento psicológico, no contexto da problemática romântica e assumindo muitas de</p><p>suas proposstas.</p><p>CARACTERIZAÇÃO DO ROMANTISMO</p><p>O romantismo opõe-se ao Iluminismo. Na segunda metade do século XVIII a</p><p>dominância do Iluminismo era incontestável. Então, dominava a matriz atomicista e</p><p>mecanicista. Goethe identificava-se com o Iluminismo, porém não aceitava suas limitações.</p><p>Desenvolveu então uma nova forma de ciência que exerceu mais tarde, considerável</p><p>influência na formação do ideário romântico. Empenhou-se Goethe na constituição de uma</p><p>ciência anti-newtoniana. Os românticos herdaram da obra científico-poética de Goethe</p><p>vários aspectos que em nada influíram nos rumos das ciências naturais do século XIX. Em</p><p>contrapartida, encontraram-se no cerne de muitas das ciências morais ou humanas e</p><p>também das reflexões estéticas e metafísicas.</p><p>É preciso que se saiba que existem distinções entre o romantismo alemão, o</p><p>funcionalismo e o intuicionismo de Bergson, com os quais o romantismo aparenta alguma</p><p>semelhança. Também os românticos renegam o indivíduo independente, racional, crítico,</p><p>em favor da coletividade, porém, com a pressuposição e com a promoção da comunicação</p><p>entre particulares e não sua aniquilação.</p><p>O ROMANTISMO E AS HUMANIDADES</p><p>O romantismo não proporcionou nenhuma solução metodológica às ciências</p><p>naturais, mas inspirou uma série de ciências morais. As humanidades tem fenômenos</p><p>espirituais e culturais como objetos, nos quais o pesquisador se reconhece de alguma forma.</p><p>Não faz sentido buscar a neutralização do sujeito em nome de uma objetividade absoluta.</p><p>As ciências morais, ao invés de repousar sobre e acentuar a separação entre sujeito e objeto,</p><p>supõe e promove a aproximação entre eles.</p><p>A CRÍTICA DA RAZÃO COMPREENSIVA</p><p>Durante o século XIX houve uma preocupação em definir a metodologia das</p><p>ciências morais. Schleiermacher sobressaiu-se com suas contribuições para a arte da</p><p>compreensão, ou seja, a hermenêutica. Wilhelm Dilthey (1833-1911) se propôs</p><p>desempenhar nas ciências morais, o papel de Kant nas ciências naturais do século XIII,</p><p>explicitando as condições de possibilidade do conhecimento histórico. Nas obras de Dilthey</p><p>não se encontram orientações metodológicas precisas, como as influenciadas pelo</p><p>positivismo nos trabalhos acerca das ciências naturais podem ser encontradas pelo leitor</p><p>moderno. Trata-se de uma reflexão critica que define a natureza do sujeito e do objeto e as</p><p>relações entre estes, numa concepção peculiar desta forma de conhecimento. O trabalho de</p><p>22</p><p>Dilthey posiciona-se no campo da ontologia e da epistemologia e não no campo da</p><p>metodologia. Dilthey retoma uma distinção já insinuante no espírito do tempo: a diferença</p><p>radical entre as ciências naturais e históricas. Isto marca o repúdio do romantismo e do</p><p>cientificismo iluminista que procuravam cada um ao seu modo, englobar as práticas</p><p>cientificas num mesmo construto epistemológico.</p><p>Durante o século XIX as ciências naturais não se deixaram influenciar</p><p>profundamente pelo romantismo e além disto, geraram novas produções metodológicas na</p><p>tradição iluminista que superaram as limitações de sua própria versão mecanicista, com a</p><p>biologia funcionalista e com os avanços na física e na química, corroendo o universo de</p><p>Newton. No entanto, o romantismo sobrevivera e se consolidara nas ciências morais.</p><p>Dilthey definiu as ciências naturais como sendo explicativas, pois seu procedimento é na</p><p>elaboração de leis gerais, com a explicação de acontecimentos particulares subsumidos</p><p>nestas leis. Já, as ciências morais e históricas são ciências do espírito e sua meta não é a</p><p>explicação, mas a compreensão de seus objetos. Compreender é elucidar a experiência</p><p>vivida, manifesta por meio dos atos comunicativos. Os atos comunicativos sempre são atos</p><p>de um indivíduo, histórica e culturalmente datados que se articulam ao conjunto da</p><p>biografia individual que se integra ao sistema total das formas culturais. Somente nesta</p><p>articulação com um conjunto, do individuo e da sociedade, o ato adquire sentido e pode ser</p><p>compreendido, como momento e expressão de uma totalidade histórica e biográfica.</p><p>Mas se o limite do psicologismo é o irracionalismo, já o limite do historicismo é o</p><p>ceticismo e o conjunto de regras interpretativas, caso elaborado, resolvendo a contradição</p><p>entre a universalidade e a singularidade, não seria um produto histórico? Assim solapam-se</p><p>as bases da ciência do espírito: a interpretação já não pode visar as verdades das mensagens</p><p>INTERPRETAÇÃO E VERDADE</p><p>Em vários arraiais psicológicos a preocupação com a verdade não é acentuada.</p><p>Variantes do discurso Diltheyano, na psicologia clinica, aparecem com freqüência. Os</p><p>humanistas, por exemplo, usam e abusam desta terminologia: compreensão significado, etc.</p><p>Assim, operam na redução destes conceitos ao nível do vitalismo pré-crítico, ou, de</p><p>bergsom. Em que condições poderemos expressar sobre a compreensão verdadeiras? O</p><p>núcleo da compreensão, encontra-se na valoração do espírito.</p><p>CAPÍTULO X</p><p>MATRIZES COMPREENSIVAS: OS ESTRUTURALISMOS</p><p>A PROBLEMÁTICA ESTRUTURALISTA</p><p>A noção de organismo, central na matriz funcionalista, também aparece no ideário</p><p>romântico, sendo que ela, traz consigo, em ambos os casos, o enfoque anti-elementarista,</p><p>globalizante, sistemático. Na biologia, no entanto, a noção de organismo liga-se à noção de</p><p>complementaridade. As partes do todo, adquirem significado funcional, ajustando-se umas</p><p>às outras, complementando-se com harmonia na promoção da interação adaptativa do</p><p>organismo ao meio externo a este, mantendo o meio interno dentro da faixa de variação que</p><p>seja compatível com a conservarão da vida. O disfuncional, o patológico é puramente</p><p>negativo; é o acidental que se opõe ao essencial; é a desintegração contra-posta à</p><p>cooperação orgânica entre os componentes do todo</p><p>23</p><p>No romantismo as noções de organismo, totalidade, ou forma, supõe</p><p>interdependência mas não complementaridade e não excluem o conflito. No</p>

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