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<p>CRIMINAL</p><p>COMPLIANCE</p><p>OTAVIO VENTURINI</p><p>Sumário</p><p>AULA 1</p><p>FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO</p><p>COMPLIANCE ....................................................5</p><p>MAS, AFINAL, O QUE É COMPLIANCE?</p><p>AULA 2</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO ..................14</p><p>INTRODUÇÃO AO TEMA E PANORAMA NORMATIVO</p><p>AULA 3</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO ..................19</p><p>CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA</p><p>AULA 4</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO ..................25</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO (LEI Nº 12.846/13)</p><p>AULA 5</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO ..................30</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO (LEI Nº 12.846/13) –</p><p>CONDUTAS PROIBIDAS E SANÇÕES</p><p>AULA 6</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO ..................38</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO (LEI Nº 12.846/13) –</p><p>PRÁTICAS DE COMPLIANCE EM FACE DA</p><p>RESPONSABILIZAÇÃO JURÍDICA</p><p>AULA 7</p><p>CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS</p><p>(LEI Nº 9.613/98) .............................................47</p><p>O QUE É LAVAGEM DE DINHEIRO?</p><p>AULA 8</p><p>CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS</p><p>(LEI Nº 9.613/98) .............................................56</p><p>POLÍTICAS DE COMPLIANCE PARA PLD-FT –</p><p>ENTREVISTA COM ESPECIALISTA</p><p>AULA 9</p><p>CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA</p><p>(LEI Nº 8.137/90) .............................................65</p><p>AULA 10</p><p>CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA</p><p>(LEI Nº 8.137/90) .............................................76</p><p>APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA</p><p>AULA 11</p><p>MELHORES PRÁTICAS EM COMPLIANCE</p><p>TRIBUTÁRIO ....................................................84</p><p>ENTREVISTA COM ESPECIALISTA</p><p>AULA 12</p><p>CRIMES CONTRA A ORDEM ECONÔMICA ...87</p><p>ABUSO DO PODER ECONÔMICO E FORMAÇÃO DE</p><p>CARTEL</p><p>AULA 13</p><p>RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL NO ÂMBITO</p><p>CORPORATIVO ................................................93</p><p>GOVERNANÇA COORPORATIVA</p><p>AULA 14</p><p>ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS ...............100</p><p>INVESTIGAÇÃO CRIMINAL DE CRIMES ECONÔMICOS</p><p>AULA 15</p><p>REPERCUSSÕES JURÍDICAS DAS</p><p>INVESTIGAÇÕES INTERNAS .........................106</p><p>ENTREVISTA COM ESPECIALISTA</p><p>AULA 16</p><p>ACORDOS DE COLABORAÇÃO ....................109</p><p>DEFINIÇÃO E MODALIDADES</p><p>AULA 17</p><p>BENEFÍCIOS DOS ACORDOS DE LENIÊNCIA</p><p>DA LEI ANTICORRUPÇÃO (LEI Nº 12.846/13) E</p><p>SEGURANÇA JURÍDICA ................................122</p><p>AULA 18</p><p>ACORDOS DE COLABORAÇÃO ....................130</p><p>MELHORES PRÁTICAS EM NEGOCIAÇÃO E GESTÃO</p><p>DE ACORDO DE LENIÊNCIA</p><p>AULA 1</p><p>FUNDAMENTOS</p><p>JURÍDICOS DO</p><p>COMPLIANCE</p><p>MAS, AFINAL, O QUE É</p><p>COMPLIANCE?</p><p>“Compliance é um sistema de políticas e</p><p>controles que as organizações adotam para</p><p>impedir violações da lei e assegurar às auto-</p><p>ridades externas que estão adotando medi-</p><p>das para impedir violações da lei.”1</p><p>1 BAER, Miriam H. Governing Corporate Compliance (September</p><p>16, 2009). Boston College Law Review, v. 50, n. 1, 2009; Brooklyn</p><p>Law School, Legal Studies Paper nº 166, p. 10. Disponível em: ht-</p><p>tps://ssrn.com/abstract=1474291. Acesso em: 11 abr. 2020.</p><p>6</p><p>O Decreto nº 8.420/2015, que regulamenta a Lei</p><p>Anticorrupção (Lei nº 12.846/13), apresenta no seu</p><p>artigo 41 a definição de Programa de integridade.</p><p>“Programa de integridade consiste, no âmbito</p><p>de uma pessoa jurídica, no conjunto de meca-</p><p>nismos e procedimentos internos de integrida-</p><p>de, auditoria e incentivo à denúncia de irregu-</p><p>laridades e na aplicação efetiva de códigos de</p><p>ética e de conduta, políticas e diretrizes com</p><p>objetivo de detectar e sanar desvios, frau-</p><p>des, irregularidades e atos ilícitos praticados</p><p>contra a administração pública, nacional ou</p><p>estrangeira.”</p><p>7</p><p>ORIGEM E EXPANSÃO GLOBAL DO</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO</p><p>O compliance anticorrupção surgiu com o U.S.</p><p>Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), em português,</p><p>Lei sobre Práticas de Corrupção no Exterior dos</p><p>Estados Unidos, lei norte-americana aprovada em</p><p>1977, pouco após as investigações do Escândalo de</p><p>Watergate sobre doações políticas ilegais, quando</p><p>se apurou um amplo esquema de corrupção global</p><p>capitaneado por empresas norte-americanas.</p><p>O compliance anticorrupção se expande global-</p><p>mente com a aprovação de convenções interna-</p><p>cionais para o enfrentamento da corrupção, no-</p><p>tadamente: a Convenção da Organização para a</p><p>Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)</p><p>sobre o Combate da Corrupção de Funcionários</p><p>Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais</p><p>Internacionais (1997), a Convenção Interamericana</p><p>contra a Corrupção (1996) e a Convenção das</p><p>Nações Unidas contra a Corrupção (2003).</p><p>8</p><p>PARA QUE SERVE UM PROGRAMA DE</p><p>COMPLIANCE?</p><p>Prevenir, detectar e sanar desvios, fraudes, irregula-</p><p>ridades e atos ilícitos relativos à legislação ou mes-</p><p>mo às políticas internas de determinada empresa.</p><p>CASO ALGUM ILÍCITO VENHA A</p><p>OCORRER, HÁ ALGUMA VANTAGEM</p><p>EM SE TER UM PROGRAMA DE</p><p>COMPLIANCE?</p><p>A Lei Anticorrupção brasileira (Lei nº 12.846/13)</p><p>prevê em seu art. 7º, inciso VIII, que serão levados</p><p>em consideração na aplicação das sanções no âmbi-</p><p>to da responsabilização administrativa a existência</p><p>de mecanismos e procedimentos internos de inte-</p><p>gridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregu-</p><p>laridades e a aplicação efetiva de códigos de ética e</p><p>de conduta no âmbito da pessoa jurídica.</p><p>Do ponto de vista jurídico, trata-se de resposta a</p><p>modelo de responsabilização jurídica que se dire-</p><p>ciona à lógica de responsabilidade objetiva (Art. 2º</p><p>da Lei nº 12.846/2013), em que, para o seu afasta-</p><p>mento, importa menos o elemento subjetivo (dolo/</p><p>9</p><p>culpa) e mais a capacidade de se demonstrar a efe-</p><p>tividade do programa de compliance. São exemplos</p><p>dessa metodologia de responsabilização:</p><p>● responsabilização do sucessor (Merger and</p><p>Acquisition – M&As, em português, fusão e aquisi-</p><p>ção) – necessidade de realização de due diligence</p><p>(diligências apropriaadas) pré-fusão/aquisição;</p><p>● responsabilização por atos de terceiros – neces-</p><p>sidade de reação de due diligence em terceiros;</p><p>● The Bribery Act 2010 (UKBA) ou UK Bribery</p><p>Act– pune a falha na prevenção da corrupção;</p><p>● The U.S. Foreign Corrupt Practices Act (FCPA)</p><p>– devem os issuers (do inglês, emissores) preparar</p><p>e manter livros contábeis, registros e contas que,</p><p>com um nível razoável de detalhe, reflitam de forma</p><p>completa e precisa as transações e as disposições</p><p>dos seus ativos.</p><p>Em síntese, trata-se de metodologia de gestão que</p><p>expressa capacidade de organização, controle, do-</p><p>cumentação e demonstração.</p><p>10</p><p>IMPORTANTE!</p><p>Essa metodologia não se limita à</p><p>legislação anticorrupção, aplicando-se</p><p>igualmente e sobretudo ao combate à</p><p>lavagem de dinheiro e ao financiamento</p><p>do terrorismo (compliance PLD/</p><p>FT, ou compliance para a prevenção</p><p>à lavagem de dinheiro e combate</p><p>ao financiamento do terrorismo) e</p><p>práticas anticoncorrenciais (compliance</p><p>concorrencial). Os mecanismos dessa</p><p>metodologia (por exemplo: treinamentos,</p><p>canal de denúncia, investigação interna</p><p>etc.) também podem ser empregados</p><p>para enfretamento de outras temáticas</p><p>no âmbito interno das organizações (por</p><p>exemplo: combate a fraudes internas,</p><p>práticas discriminatórias ou de assédio).</p><p>11</p><p>CASE ILUSTRATIVO</p><p>● Em 2012, o Morgan Stanley conseguiu demons-</p><p>trar ao Department of Justice (DOJ), Departamento</p><p>de Justiça dos Estados Unidos, que as más práticas</p><p>isoladas de um diretor que eram violadoras do FCPA</p><p>não representavam falha no compliance da organi-</p><p>zação – realizou treinamentos, enviou 35 reminders,</p><p>destinou recursos adequados e dedicados à área de</p><p>compliance.</p><p>● O Morgan Stanley conseguiu afastar a sua res-</p><p>ponsabilidade e deslocá-la integralmente à pessoa</p><p>física do diretor em comento. Como consequên-</p><p>cia, Garth Peterson, por meio do settlement (do</p><p>inglês, acordo) feito com a Security and Exchange</p><p>Commission (SEC), Comissão de Valores Mobiliários</p><p>norte-americana, acabou banido do setor finan-</p><p>ceiro, além de ter que pagar multa de US$ 250 mil.</p><p>Com o DOJ, o settlement resultou em 9 meses de</p><p>prisão.</p><p>O QUE MUDA COM O COMPLIANCE?</p><p>● Compartilhamento da responsabilidade pelo</p><p>controle. A ideia de que executivos escolhidos (dire-</p><p>12</p><p>tores de conformidade corporativa e suas equipes)</p><p>possuem um conhecimento maior da empresa do</p><p>que os investigadores do governo.</p><p>● Departamentos de</p><p>Folha de S.Paulo.</p><p>GRILLO, Cristina; MENCHEN, Denise. Participação no comando de</p><p>esquema tem de ser provada. Folha de S.Paulo, São Paulo, Poder,</p><p>11 nov. 2012, p. A6. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.</p><p>br/fsp/poder/77459-participacao-no-comando-de-esquema-tem-</p><p>de-ser-provada.shtml. Acesso em: 13 abr. 2020.</p><p>99</p><p>AULA 14</p><p>ASPECTOS</p><p>PROCESSUAIS</p><p>PENAIS</p><p>INVESTIGAÇÃO CRIMINAL DE</p><p>CRIMES ECONÔMICOS</p><p>101</p><p>● Panorama do processo criminal: notícia do</p><p>crime, inquérito policial, indiciamento, denúncia,</p><p>instrução, julgamento, recurso, trânsito em julgado.</p><p>● Investigação de crimes econômicos: necessida-</p><p>de de utilização das técnicas especiais de investiga-</p><p>ção – coleta sigilosa de informações e contraditório</p><p>diferido ou postergado.</p><p>● Exemplos de técnicas especiais de</p><p>investigação: busca e apreensão; interceptação</p><p>telefônica; quebra de sigilo telefônico, fiscal e ban-</p><p>cário; e ação controlada.</p><p>O QUE DIZ A LEI Nº 12.850/2013?</p><p>CAPÍTULO II</p><p>DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA</p><p>PROVA</p><p>Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal,</p><p>serão permitidos, sem prejuízo de outros já</p><p>previstos em lei, os seguintes meios de obtenção</p><p>da prova:</p><p>I – colaboração premiada;</p><p>II – captação ambiental de sinais eletromagnéticos,</p><p>ópticos ou acústicos;</p><p>III – ação controlada;</p><p>102</p><p>IV – acesso a registros de ligações telefônicas</p><p>e telemáticas, a dados cadastrais constantes</p><p>de bancos de dados públicos ou privados e a</p><p>informações eleitorais ou comerciais;</p><p>V – interceptação de comunicações telefônicas e</p><p>telemáticas, nos termos da legislação específica;</p><p>VI – afastamento dos sigilos financeiro, bancário e</p><p>fiscal, nos termos da legislação específica;</p><p>VII – infiltração, por policiais, em atividade de</p><p>investigação, na forma do art. 11;</p><p>VIII – cooperação entre instituições e órgãos</p><p>federais, distritais, estaduais e municipais na</p><p>busca de provas e informações de interesse da</p><p>investigação ou da instrução criminal.</p><p>§ 1º Havendo necessidade justificada de manter</p><p>sigilo sobre a capacidade investigatória, poderá ser</p><p>dispensada licitação para contratação de serviços</p><p>técnicos especializados, aquisição ou locação de</p><p>equipamentos destinados à polícia judiciária para</p><p>o rastreamento e obtenção de provas previstas nos</p><p>incisos II e V.</p><p>§ 2º No caso do § 1º, fica dispensada a publicação</p><p>de que trata o parágrafo único do art. 61 da</p><p>Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, devendo</p><p>ser comunicado o órgão de controle interno da</p><p>realização da contratação.</p><p>103</p><p>MEDIDAS ASSECURATÓRIAS/</p><p>CAUTELARES PESSOAIS NO</p><p>PROCESSO PENAL</p><p>● Prisão temporária: Lei nº 7.960/89 – coleta de</p><p>provas/sucesso de uma determinada diligência –</p><p>prazo de 5 dias</p><p>– Imprescindível para as investigações do in-</p><p>quérito policial.</p><p>– Indicada se o acusado não tiver residência</p><p>fixa ou não fornecer elementos necessários ao</p><p>esclarecimento de sua identidade.</p><p>– Se houver fundadas razões, de acordo com</p><p>qualquer prova admitida na legislação penal, de</p><p>autoria ou participação do indiciado.</p><p>● Prisão preventiva: art. 312 do Código de</p><p>Processo Penal – assegurar o resultado das investi-</p><p>gações, a ordem pública ou econômica ou a aplica-</p><p>ção da lei</p><p>– Para garantia da ordem pública, da ordem</p><p>econômica.</p><p>– Por conveniência da instrução criminal.</p><p>– Para assegurar a aplicação da lei penal,</p><p>quando houver prova da existência do crime e</p><p>indício suficiente de autoria.</p><p>104</p><p>MEDIDAS ASSECURATÓRIAS/</p><p>CAUTELARES REAIS NO PROCESSO</p><p>PENAL</p><p>● Sequestro</p><p>– Caberá o sequestro dos bens imóveis, ad-</p><p>quiridos pelo indiciado com os proventos da</p><p>infração, ainda que já tenham sido transferidos</p><p>a terceiro.</p><p>– Para a decretação do sequestro, bastará a</p><p>existência de indícios veementes da proveniên-</p><p>cia ilícita dos bens.</p><p>● Arresto e hipoteca legal</p><p>– Mecanismos de garantia do ressarcimento</p><p>do dano/futura indenização (não tem relação</p><p>com a origem do bem – lícita ou ilícita).</p><p>105</p><p>AULA 15</p><p>REPERCUSSÕES</p><p>JURÍDICAS DAS</p><p>INVESTIGAÇÕES</p><p>INTERNAS</p><p>ENTREVISTA COM</p><p>ESPECIALISTA</p><p>ENTREVISTADA: ANA FLÁVIA</p><p>AZEVEDO PEREIRA</p><p>Mestranda em Direito pela</p><p>Pontifícia Universidade Católica</p><p>de São Paulo (PUC-SP). Advogada</p><p>associada do escritório Cescon</p><p>Barrieu, integrante da área de</p><p>Compliance, Penal Econômico e</p><p>Investigações.</p><p>107</p><p>A entrevista abordou as repercussões jurídicas das</p><p>investigações internas. Dentre os temas abordados,</p><p>destacam-se:</p><p>● requisitos e melhores práticas para que a</p><p>investigação interna produza efeitos jurídicos</p><p>necessários;</p><p>● etapas e formas de conduzir as investigações</p><p>internas;</p><p>● utilização de tecnologias;</p><p>● nemo teneturse detegere – direito de não pro-</p><p>duzir prova contra si mesmo;</p><p>● legislação trabalhista, privacidade e direito de</p><p>permanecer em silêncio;</p><p>● quais pontos devem constar em um relatório de</p><p>investigação interna.</p><p>108</p><p>AULA 16</p><p>ACORDOS DE</p><p>COLABORAÇÃO</p><p>DEFINIÇÃO E MODALIDADES</p><p>Resumidamente, as espécies de acordo de colabora-</p><p>ção24 – colaboração premiada e acordo de leniência</p><p>24 Para uma análise mais ampla e aprofundada dos acordos de co-</p><p>laboração, consulte: DELOITTE; IBDEE. Orientações para celebração</p><p>de acordos de colaboração por empresas. Coordenação de Otavio</p><p>Venturini. São Paulo, agosto de 2018. Disponível em: https://www2.</p><p>deloitte.com/content/dam/Deloitte/br/Documents/risk/Cartilha-</p><p>acordos-Deloitte-IBDEE.pdf. Acesso em: 17 fev. 2020.</p><p>110</p><p>https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/br/Documents/risk/Cartilha-acordos-Deloitte-IBDEE.pdf</p><p>https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/br/Documents/risk/Cartilha-acordos-Deloitte-IBDEE.pdf</p><p>https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/br/Documents/risk/Cartilha-acordos-Deloitte-IBDEE.pdf</p><p>– possibilitam que um réu obtenha a redução de sua</p><p>punição ou mesmo o perdão judicial, desde que co-</p><p>labore de forma efetiva e voluntária com as investi-</p><p>gações, devendo fornecer informações relevantes ao</p><p>deslinde da materialidade e da autoria do ato ilícito.</p><p>Mais do que a mera relação entre “prêmio” e “casti-</p><p>go”, a colaboração premiada e o acordo de leniência</p><p>se apoiam em uma lógica pragmática, fundamenta-</p><p>da na equação dilema do prisioneiro, que integra a</p><p>conhecida Teoria dos Jogos. O dilema do prisioneiro</p><p>é assim narrado pelo economista David Marc Kreps:</p><p>A polícia capturou dois indivíduos suspeitos de um</p><p>crime (e que, de fato, o cometeram juntos). Mas a</p><p>polícia não possui a prova necessária para condená</p><p>-los, devendo libertar os dois prisioneiros, a menos</p><p>que um deles providencie tal prova contra o outro.</p><p>Ela (a polícia) os tem em celas separadas e faz a se-</p><p>guinte oferta: acuse seu colega. Se nenhum de vocês</p><p>acusar ao outro e não for acusado, nós libertaremos</p><p>o primeiro e levaremos o segundo para o juiz, que</p><p>dará a pena máxima permitida por lei. Se vocês se</p><p>acusarem mutuamente, ambos irão presos, mas o</p><p>juiz será piedoso em função de sua cooperação com</p><p>111</p><p>as autoridades.25</p><p>A situação descrita coloca as pessoas suspeitas de</p><p>envolvimento no ato ilícito em estado de descon-</p><p>fiança uma com a outra. Isso porque, sem delatar, a</p><p>pessoa corre o risco de ser delatada e, consequen-</p><p>temente, receber a pena máxima permitida por lei.</p><p>Em razão do sentimento de desconfiança mútua,</p><p>o dilema do prisioneiro tende a gerar instabilidade</p><p>entre os envolvidos e um consequente efeito casca-</p><p>ta no número de delações.</p><p>Há, atualmente, uma série de diplomas legais que</p><p>preveem acordos de colaboração. No âmbito do</p><p>Direito Penal, o instituto já está previsto: a) na Lei</p><p>dos Crimes Hediondos (Lei federal nº 8.072/90),</p><p>artigo 8, parágrafo único;26 b) no Código Penal</p><p>brasileiro, para o crime de extorsão mediante se-</p><p>questro, artigo 159, § 4º;27 c) na Lei dos Crimes</p><p>25 KREPS, David Marc. Game Theory and Economic Modeling.</p><p>Oxford: Oxford University Press, 1990 apud OLAVE, Maria Elena</p><p>León; NETO, João Amato. Redes de cooperação produtiva: uma</p><p>estratégia de competitividade e sobrevivência para pequenas e</p><p>médias empresas. Gestão & Produção, São Paulo, v. 8, n. 3, dez.</p><p>2001, p. 291.</p><p>26 Parágrafo único. O participante e o associado que</p><p>denunciar</p><p>à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu</p><p>desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.</p><p>27 § 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o</p><p>denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado,</p><p>terá sua pena reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela</p><p>Lei nº 9.269, de 1996)</p><p>112</p><p>contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei federal nº</p><p>7.492/86), artigo 25, § 2º;28 d) na Lei de Lavagem de</p><p>Capitais (Lei federal nº 9.613/98), artigo 1º, § 5º;29</p><p>e) na Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas (Lei</p><p>federal nº 9.807/99), artigo 14;30 f) Lei de Drogas</p><p>(Lei federal nº 11.343/06), artigo 41;31 e g) na recen-</p><p>te lei de Combate ao Crime Organizado (Lei federal</p><p>nº 12.850/13), artigo 4º.32</p><p>28 § 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha</p><p>ou coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão</p><p>espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama</p><p>delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.</p><p>29 § 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser</p><p>cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao</p><p>juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por</p><p>pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe</p><p>colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando</p><p>esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações</p><p>penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou</p><p>à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.</p><p>(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)</p><p>30 Art. 14 O indiciado ou acusado que colaborar</p><p>voluntariamente com a investigação policial e o processo</p><p>criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do</p><p>crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total</p><p>ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá</p><p>pena reduzida de um a dois terços.</p><p>31 Art. 41 O indiciado ou acusado que colaborar</p><p>voluntariamente com a investigação policial e o processo</p><p>criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do</p><p>crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no</p><p>caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.</p><p>32 Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder</p><p>o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena</p><p>privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos</p><p>daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com</p><p>a investigação e com o processo criminal, desde que dessa</p><p>113</p><p>No âmbito do Direito Penal, as espécies de</p><p>colaboração premiada se destinam à redução da</p><p>pena de privação de liberdade da pessoa física.</p><p>Essas delações são negociadas, em regra, no mo-</p><p>mento da investigação com o Ministério Público e</p><p>são homologadas pelo Poder Judiciário.</p><p>Na legislação do Direito Internacional Público, a</p><p>Convenção de Palermo (Convenção das Nações</p><p>Unidas contra o Crime Organizado Transnacional),</p><p>de 2000 (art. 26),33 e a Convenção de Mérida</p><p>colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I – a</p><p>identificação dos demais coautores e partícipes da organização</p><p>criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II – a revela-</p><p>ção da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização</p><p>criminosa; III – a prevenção de infrações penais decorrentes das</p><p>atividades da organização criminosa; IV – a recuperação total ou</p><p>parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas</p><p>pela organização criminosa; V – a localização de eventual vítima</p><p>com a sua integridade física preservada.</p><p>33 Artigo 26 Medidas para intensificar a cooperação com as</p><p>autoridades competentes para a aplicação da lei 1. Cada Estado</p><p>Parte tomará as medidas adequadas para encorajar as pessoas</p><p>que participem ou tenham participado em grupos criminosos</p><p>organizados: a) A fornecerem informações úteis às autoridades</p><p>competentes para efeitos de investigação e produção de provas,</p><p>nomeadamente i) A identidade, natureza, composição, estrutura,</p><p>localização ou atividades dos grupos criminosos organizados; ii) As</p><p>conexões, inclusive conexões internacionais, com outros grupos</p><p>criminosos organizados; iii) As infrações que os grupos criminosos</p><p>organizados praticaram ou poderão vir a praticar; b) A prestarem</p><p>ajuda efetiva e concreta às autoridades competentes, susceptí-</p><p>vel de contribuir para privar os grupos criminosos organizados</p><p>dos seus recursos ou do produto do crime. 2. Cada Estado Parte</p><p>poderá considerar a possibilidade, nos casos pertinentes, de</p><p>reduzir a pena de que é passível um arguido que coopere de</p><p>114</p><p>(Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção),</p><p>de 2003 (art. 37),34 todas em vigor no Brasil, tam-</p><p>forma substancial na investigação ou no julgamento dos autores</p><p>de uma infração prevista na presente Convenção. 3. Cada Estado</p><p>Parte poderá considerar a possibilidade, em conformidade</p><p>com os princípios fundamentais do seu ordenamento jurídico</p><p>interno, de conceder imunidade a uma pessoa que coopere de</p><p>forma substancial na investigação ou no julgamento dos autores</p><p>de uma infração prevista na presente Convenção. 4. A proteção</p><p>destas pessoas será assegurada nos termos do Artigo 24 da pre-</p><p>sente Convenção. 5. Quando uma das pessoas referidas no pará-</p><p>grafo 1 do presente Artigo se encontre num Estado Parte e possa</p><p>prestar uma cooperação substancial às autoridades competentes</p><p>de outro Estado Parte, os Estados Partes em questão poderão con-</p><p>siderar a celebração de acordos, em conformidade com o seu direi-</p><p>to interno, relativos à eventual concessão, pelo outro Estado Parte,</p><p>do tratamento descrito nos parágrafos 2 e 3 do presente Artigo.</p><p>34 Artigo 37 Cooperação com as autoridades encarregadas de</p><p>fazer cumprir a lei 1. Cada Estado Parte adotará as medidas</p><p>apropriadas para restabelecer as pessoas que participem ou</p><p>que tenham participado na prática dos delitos qualificados</p><p>de acordo com a presente Convenção que proporcionem às</p><p>autoridades competentes informação útil com fins investigativos</p><p>e probatórios e as que lhes prestem ajuda efetiva e concreta</p><p>que possa contribuir a privar os criminosos do produto do</p><p>delito, assim como recuperar esse produto. 2. Cada Estado Parte</p><p>considerará a possibilidade de prever, em casos apropriados,</p><p>a mitigação de pena de toda pessoa acusada que preste</p><p>cooperação substancial à investigação ou ao indiciamento dos</p><p>delitos qualificados de acordo com a presente Convenção.</p><p>3. Cada Estado parte considerará a possibilidade de prever,</p><p>em conformidade com os princípios fundamentais de sua</p><p>legislação interna, a concessão de imunidade judicial a toda</p><p>pessoa que preste cooperação substancial na investigação ou no</p><p>indiciamento dos delitos qualificados de acordo com a presente</p><p>Convenção. 4. A proteção dessas pessoas será, mutatis mutandis,</p><p>a prevista no Artigo 32 da presente Convenção. 5. Quando as</p><p>pessoas mencionadas no parágrafo 1 do presente Artigo se encon-</p><p>trem em um Estado Parte e possam prestar cooperação substancial</p><p>às autoridades competentes de outro Estado Parte, os Estados</p><p>115</p><p>bém estabelecem o dever de cada Estado Parte</p><p>tomar medidas adequadas para estimular que pes-</p><p>soas envolvidas em ato ilícito façam a delação.</p><p>OS ACORDOS DE LENIÊNCIA</p><p>Há também espécies de acordos de colaboração de-</p><p>nominadas acordos de leniência, que são propostas</p><p>em sede de processo administrativo sancionatório.</p><p>Há duas características relevantes presentes nesses</p><p>acordos que os distinguem das demais espécies</p><p>de colaboração premiada de natureza penal: a) a</p><p>aplicação às pessoas jurídicas; e b) o protagonis-</p><p>mo da administração pública na sua condução e</p><p>celebração.</p><p>A primeira modalidade de acordo de leniência foi</p><p>inserida no ordenamento jurídico brasileiro em</p><p>2000, por meio da Medida Provisória nº 2.055, no</p><p>âmbito da defesa da concorrência. A MP foi confir-</p><p>mada pela Lei do Sistema Brasileiro de Defesa da</p><p>Concorrência de 2011 (Lei nº 12.529/11).</p><p>Em síntese, essa modalidade de acordo de leniên-</p><p>Partes interessados poderão considerar a possibilidade de celebrar</p><p>acordos ou tratados, em</p><p>conformidade com sua legislação interna,</p><p>a respeito da eventual concessão, por esse Estrado Parte, do trato</p><p>previsto nos parágrafos 2 e 3 do presente Artigo.</p><p>116</p><p>cia é conduzida pelo Conselho Administrativo de</p><p>Defesa Econômica (Cade) e prevê a extinção ou a</p><p>redução da penalidade administrativa para pes-</p><p>soas físicas e jurídicas autoras de infração à ordem</p><p>econômica que colaborem efetivamente com as</p><p>investigações.35</p><p>Com base na experiência da Lei Antitruste, foram</p><p>formatadas as modalidades de acordo de leniên-</p><p>cia previstas na Lei Anticorrupção, objeto próprio</p><p>do presente livro. Os acordos de leniência da Lei</p><p>Anticorrupção destinam-se à isenção ou à atenua-</p><p>ção das sanções das pessoas jurídicas responsáveis</p><p>pela prática de atos de corrupção ou de ilícitos ad-</p><p>ministrativos previstos na Lei de Licitação (Lei fede-</p><p>ral nº 8.666/93).</p><p>35 Art. 86. O Cade, por intermédio da Superintendência-Geral,</p><p>poderá celebrar acordo de leniência, com a extinção da ação puni-</p><p>tiva da administração pública ou a redução de 1 (um) a ⅔ (dois ter-</p><p>ços) da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas</p><p>físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econô-</p><p>mica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e</p><p>o processo administrativo e que dessa colaboração resulte: I – a</p><p>identificação dos demais envolvidos na infração; e II – a obtenção</p><p>de informações e documentos que comprovem a infração noticia-</p><p>da ou sob investigação.</p><p>117</p><p>QUADRO 1 – COMPARATIVO DAS ESPÉCIES</p><p>DE ACORDOS DE COLABORAÇÃO</p><p>Colaboração premiada</p><p>Lei Lei das Organizações Criminosas</p><p>Entidade competente Polícia ou Ministério Público, homologado</p><p>pelo Poder Judiciário</p><p>Sujeito Pessoa física</p><p>Tipo de ato ilícito Crime de organização criminosa</p><p>Deveres do delator</p><p>a. Colaboração efetiva e voluntária;</p><p>b. Identificar coautores;</p><p>c. Revelar a estrutura da organização;</p><p>d. Prevenir novos crimes;</p><p>e. Recuperar produto do crime; e</p><p>f. Localizar vítima.</p><p>Benefícios</p><p>a. Perdão judicial;</p><p>b. Redução de até ⅔ da pena privativa de</p><p>liberdade;</p><p>c. Substituição da pena privativa de</p><p>liberdade por restritiva de direitos; ou</p><p>d. Não oferecimento da denúncia (se o</p><p>delator for o primeiro a colaborar e não for</p><p>o chefe da organização criminosa).</p><p>Sigilo Até o recebimento da denúncia</p><p>Efeitos da negociação</p><p>frustrada Vedação do uso da prova</p><p>Consequências do</p><p>inadimplemento do</p><p>acordo</p><p>A Lei não prevê</p><p>Fonte: Baseado em MARRARA, Thiago. Acordos de leniência no proces-</p><p>so administrativo brasileiro: modalidades, regime jurídico e problemas</p><p>emergentes. Revista Digital de Direito Administrativo, São Paulo, v. 2, n. 2,</p><p>p. 509-527, 2015.</p><p>118</p><p>QUADRO 1 – COMPARATIVO DAS ESPÉCIES</p><p>DE ACORDOS DE COLABORAÇÃO</p><p>Programa de leniência – CADE</p><p>Lei Lei Antitruste</p><p>Entidade competente Administração Pública – CADE</p><p>Sujeito Pessoa jurídica e física</p><p>Tipo de ato ilícito Infração à ordem econômica</p><p>Deveres do delator</p><p>a. Identificar envolvidos;</p><p>b. Obter documentos que provem a</p><p>infração; e</p><p>c. Cooperar sempre.</p><p>Benefícios</p><p>a. Extinção da ação punitiva; ou</p><p>b. Redução de 1 a 2/3 da penalidade</p><p>aplicável à pessoa física ou jurídica; e</p><p>c. Imunidade a ações penais diretamente</p><p>relacionadas à prática de cartel para a</p><p>pessoa física delatora.</p><p>Sigilo Sim</p><p>Efeitos da negociação</p><p>frustrada Afastamento da confissão</p><p>Consequências do</p><p>inadimplemento do</p><p>acordo</p><p>Vedação de celebrar novo acordo por 3</p><p>(três) anos</p><p>Fonte: Baseado em MARRARA, Thiago. Acordos de leniência no proces-</p><p>so administrativo brasileiro: modalidades, regime jurídico e problemas</p><p>emergentes. Revista Digital de Direito Administrativo, São Paulo, v. 2, n. 2,</p><p>p. 509-527, 2015.</p><p>119</p><p>QUADRO 1 – COMPARATIVO DAS ESPÉCIES</p><p>DE ACORDOS DE COLABORAÇÃO</p><p>Acordo de leniência – CGU (Anticorrupção)</p><p>Lei Lei Anticorrupção</p><p>Entidade competente Administração Pública – Órgão de Controle</p><p>Interno (CGU)</p><p>Sujeito Pessoa jurídica</p><p>Tipo de ato ilícito Atos de corrupção lesivos à administração pública</p><p>Deveres do delator</p><p>a. Identificar envolvidos</p><p>b. Obter documentos que provem a</p><p>infração; e</p><p>c. Cooperar sempre.</p><p>Benefícios</p><p>a. Não publicação da decisão administrativa</p><p>condenatória;</p><p>b. Isenção da pena de proibição de receber</p><p>recursos do Poder Público; e</p><p>c. Redução de até ⅔ do valor da multa</p><p>aplicável.</p><p>Sigilo Sim</p><p>Efeitos da negociação</p><p>frustrada Afastamento da confissão</p><p>Consequências do</p><p>inadimplemento do</p><p>acordo</p><p>Vedação de celebrar novo acordo por 3</p><p>(três) anos</p><p>Fonte: Baseado em MARRARA, Thiago. Acordos de leniência no proces-</p><p>so administrativo brasileiro: modalidades, regime jurídico e problemas</p><p>emergentes. Revista Digital de Direito Administrativo, São Paulo, v. 2, n. 2,</p><p>p. 509-527, 2015.</p><p>120</p><p>QUADRO 1 – COMPARATIVO DAS ESPÉCIES</p><p>DE ACORDOS DE COLABORAÇÃO</p><p>Acordo de leniência – CGU (Licitações)</p><p>Lei Lei Anticorrupção</p><p>Entidade competente Administração Pública – CGU</p><p>Sujeito Pessoa jurídica</p><p>Tipo de ato ilícito Infração administrativa à licitação</p><p>Deveres do delator</p><p>a. Identificar envolvidos;</p><p>b. Obter documentos que provem a</p><p>infração; e</p><p>c. Cooperar sempre.</p><p>Benefícios</p><p>a. Isenção ou atenuação das sanções</p><p>restritivas ou impeditivas ao direito de licitar</p><p>e contratar.</p><p>Sigilo Sim</p><p>Efeitos da negociação</p><p>frustrada Afastamento da confissão</p><p>Consequências do</p><p>inadimplemento do</p><p>acordo</p><p>Vedação de celebrar novo acordo por 3</p><p>(três) anos</p><p>Fonte: Baseado em MARRARA, Thiago. Acordos de leniência no proces-</p><p>so administrativo brasileiro: modalidades, regime jurídico e problemas</p><p>emergentes. Revista Digital de Direito Administrativo, São Paulo, v. 2, n. 2,</p><p>p. 509-527, 2015.</p><p>121</p><p>AULA 17</p><p>BENEFÍCIOS DOS</p><p>ACORDOS DE LENIÊNCIA</p><p>DA LEI ANTICORRUPÇÃO</p><p>(LEI Nº 12.846/13) E</p><p>SEGURANÇA JURÍDICA36</p><p>36 O conteúdo apresentado segue: GIAMUNDO, Giuseppe;</p><p>VENTURINI, Otavio. Acordos de leniência anticorrupção – MTCGU.</p><p>In: DELOITTE; IBDEE. Orientações para celebração de acordos de</p><p>colaboração por empresas. Coordenação de Otavio Venturini,</p><p>agosto de 2018. Disponível em: https://www2.deloitte.com/con-</p><p>tent/dam/Deloitte/br/Documents/risk/Cartilha-acordos-Deloitte-</p><p>IBDEE.pdf. Acesso em. 17 fev. 2020.</p><p>https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/br/Documents/risk/Cartilha-acordos-Deloitte-IBDEE.pdf</p><p>https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/br/Documents/risk/Cartilha-acordos-Deloitte-IBDEE.pdf</p><p>https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/br/Documents/risk/Cartilha-acordos-Deloitte-IBDEE.pdf</p><p>Os benefícios de qualquer das duas modalidades de</p><p>acordo de leniência da Lei Anticorrupção (leniên-</p><p>cia para infrações de corrupção ou leniência para</p><p>infrações em licitações) referem-se à atenuação ou</p><p>isenção das sanções previstas para a pessoa jurídica</p><p>no próprio diploma ou nos artigos 86 a 88 da Lei nº</p><p>8.666/93.</p><p>123</p><p>Inicialmente, é necessário ter em conta que a Lei</p><p>Anticorrupção prevê duas esferas independentes</p><p>de responsabilização da pessoa jurídica: a esfera</p><p>administrativa e a esfera judicial, cada qual com</p><p>sanções próprias. Por óbvio, a responsabilização</p><p>na esfera administrativa se dá mediante processo</p><p>administrativo, sob a competência da CGU no âmbi-</p><p>to da União; ao passo que a esfera judicial deriva de</p><p>processo judicial, em juízo de natureza extrapenal.</p><p>Em qualquer das esferas, dever-se-á observar estri-</p><p>tamente as regras do devido processo legal.</p><p>Além das diferenças relativas ao procedimento, é</p><p>importante observar que as sanções decorrentes</p><p>do processo administrativo são menos incisivas do</p><p>que as sanções decorrentes do processo judicial. No</p><p>âmbito do processo administrativo, têm-se as san-</p><p>ções de:</p><p>(i). multa, no valor de 0,1% (um dé-</p><p>cimo por cento) a 20% (vinte por cen-</p><p>to) do faturamento bruto do último</p><p>exercício anterior ao da instauração</p><p>do processo administrativo, excluídos</p><p>os tributos, a qual nunca será inferior</p><p>à vantagem auferida, quando for pos-</p><p>sível sua estimação;</p><p>(ii). publicação extraordinária da de-</p><p>124</p><p>cisão administrativa sancionadora; e</p><p>(iii). restrição ao direito de participar</p><p>de licitações ou de celebrar contratos</p><p>com a administração pública.</p><p>Ao passo que, no âmbito do processo judicial, têm-</p><p>se as sanções de:</p><p>(i). perdimento dos bens, direitos ou</p><p>valores que representem vantagem</p><p>ou proveito direta ou indiretamen-</p><p>te obtidos da infração, ressalvado o</p><p>direito do lesado ou de terceiro de</p><p>boa-fé;</p><p>(ii). suspensão ou interdição parcial</p><p>de suas atividades;</p><p>(iii). dissolução compulsória da pes-</p><p>soa jurídica; e</p><p>(iv). proibição de receber incentivos,</p><p>subsídios, subvenções, doações ou</p><p>empréstimos de órgãos ou entidades</p><p>públicas e de instituições financeiras</p><p>públicas ou controladas pelo poder</p><p>público, pelo prazo mínimo de 1 (um)</p><p>e máximo de 5 (cinco) anos.</p><p>125</p><p>Traçado esse brevíssimo panorama acerca das esfe-</p><p>ras de responsabilização e suas respectivas sanções,</p><p>tem-se o ensejo para abordar-se propriamente os</p><p>benefícios da leniência.</p><p>Essencialmente, os benefícios de qualquer das</p><p>duas modalidades de acordo de leniência da Lei</p><p>Anticorrupção limitam-se a isentar ou atenuar as</p><p>pessoas jurídicas apenas das sanções decorrentes</p><p>do processo administrativo e da sanção de receber</p><p>recursos do Poder Público. Para ser mais exato, os</p><p>benefícios trazidos à pessoa jurídica pela celebração</p><p>dos acordos de leniência são:</p><p>(i). isenção da obrigatoriedade de</p><p>publicar a decisão punitiva;</p><p>(ii). isenção da proibição de receber</p><p>de órgãos ou entidades públicas (in-</p><p>clusive bancos) incentivos, subsídios,</p><p>empréstimos, subvenções, doações</p><p>etc., pelo prazo mínimo de 1 (um) e</p><p>máximo de 5 (cinco) anos;</p><p>(iii). possibilidade de redução integral</p><p>da multa para a primeira pessoa ju-</p><p>rídica que firmar o acordo de leniên-</p><p>cia. Para as demais, no âmbito dos</p><p>mesmos atos e fatos investigados, a</p><p>126</p><p>redução da multa em até dois terços</p><p>(⅔) do valor total; e</p><p>(iv). isenção ou atenuação da proi-</p><p>bição de licitar ou contratar com</p><p>a administração pública, no caso</p><p>da modalidade de acordo de le-</p><p>niência prevista no artigo 17 da Lei</p><p>Anticorrupção.</p><p>Os limites do alcance dos benefícios da leniência</p><p>são fatores a serem considerados pela empresa.</p><p>Vale ressaltar que as sanções mais graves, que im-</p><p>plicam o perdimento dos bens, suspensão ou inter-</p><p>dição parcial de suas atividades ou até mesmo na</p><p>dissolução compulsória da pessoa jurídica, não são</p><p>abarcadas pelos acordos de leniência, nos termos</p><p>da LIA.</p><p>Outro dado relevante é que, diferentemente da Lei</p><p>do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência,</p><p>os acordos de leniência da Lei Anticorrupção não</p><p>tornam o colaborar pessoa física imune a ações pe-</p><p>nais. Demais disso, a legislação não integra todos os</p><p>atores e instrumentos normativos que preveem de</p><p>alguma forma a responsabilização de pessoas jurídi-</p><p>cas por ato de corrupção.</p><p>Vale destacar que a pessoa jurídica, antes da en-</p><p>127</p><p>trada em vigor da LAI, já era passível de ser res-</p><p>ponsabilizada e sofrer sanções rigorosas por atos</p><p>de corrupção, sobretudo nos termos da Lei de</p><p>Improbidade e da Lei Orgânica do Tribunal de</p><p>Contas da União (TCU). A Lei de Improbidade (Lei</p><p>nº 8.429/92), que prevê legitimidade do Ministério</p><p>Público e da pessoa jurídica interessada para a</p><p>propositura da ação, permite a extensão dos seus</p><p>efeitos punitivos às pessoas jurídicas beneficiárias</p><p>do ato ímprobo, notadamente em relação às san-</p><p>ções de: a) perda dos valores acrescidos ilicitamen-</p><p>te ao seu patrimônio; b) multa civil; c) reparação</p><p>do dano causado, em estando presentes os requi-</p><p>sitos necessários; e d) proibição de contratar com</p><p>o Poder Público ou dele receber benefícios.37 E a</p><p>Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União (TCU)</p><p>possibilita a declaração de inidoneidade da pessoa</p><p>jurídica pelo órgão, quando da ocorrência de fraude</p><p>comprovada à licitação (art. 46 da sua Lei Orgânica</p><p>– Lei nº 8.443/92).</p><p>De todo modo, verifica-se que as instâncias de</p><p>controle têm procurado consolidar algum grau de</p><p>coordenação. O TCU, por intermédio da Instrução</p><p>Normativa nº 74, estabeleceu cinco fases de mo-</p><p>nitoramento dos acordos de leniência celebrados</p><p>37 GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade</p><p>administrativa. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 269.</p><p>128</p><p>pela Controladoria-Geral da União (CGU). O mesmo</p><p>movimento de aproximação tem se dado em rela-</p><p>ção ao Ministério Público Federal (MPF).38 Medidas</p><p>dessa natureza são essenciais ao êxito dos acordos</p><p>de leniência, pois só com a integração e conforma-</p><p>ção do sistema de combate à corrupção, as empre-</p><p>sas e os diretores responsáveis pela sua condução</p><p>se sentirão atraídos a colaborarem efetivamente</p><p>com as investigações.</p><p>38 Cumpre mencionar o Projeto de Lei nº 105, de 2015, em trami-</p><p>tação no Senado, que acrescenta parágrafo ao artigo 16 da Lei nº</p><p>12.846, de 1º de agosto de 2013, para determinação de que os</p><p>acordos de leniência celebrados por entes da administração públi-</p><p>ca sejam homologados pelo Ministério Público.</p><p>129</p><p>AULA 18</p><p>ACORDOS DE</p><p>COLABORAÇÃO</p><p>MELHORES PRÁTICAS EM</p><p>NEGOCIAÇÃO E GESTÃO DE</p><p>ACORDO DE LENIÊNCIA</p><p>ENTREVISTA COM ESPECIALISTA</p><p>131</p><p>ENTREVISTADO: BRUNO FAGALI</p><p>Mestre em Direito do Estado pela</p><p>Faculdade de Direito da Universidade</p><p>de São Paulo (USP), com dissertação</p><p>sobre “O acordo de leniência da legis-</p><p>lação anticorrupção empresarial brasi-</p><p>leira: o difícil equilíbrio entre sua uti-</p><p>lidade e sua atratividade”. Especialista</p><p>(pós-graduação lato sensu) em Direito</p><p>Administrativo pela Fundação Getulio</p><p>Vargas-Gvlaw (FGV-Gvlaw) e pela</p><p>Pontifícia Universidade Católica de São</p><p>Paulo (PUC-SP) Cogeae. Profissional</p><p>certificado em Healthcare Compliance</p><p>lato sensu pelo Conselho Brasileiro de</p><p>Executivos da Saúde (CBEXs). Formado</p><p>em Direito pela PUC-SP. Atua como</p><p>advogado e como consultor/gestor</p><p>em compliance. Exerceu mandato</p><p>bianual de diretor de compliance de</p><p>uma renomada agência de publicidade</p><p>(2016-2018). Diretor de comunica-</p><p>ção do Instituto Brasileiro de Direito</p><p>e Ética Empresarial (IBDEE). Revisor</p><p>da Revista da Controladoria-Geral da</p><p>União – CGU.</p><p>132</p><p>A entrevista abordou as melhores práti-</p><p>cas em negociação e gestão de acordos</p><p>de leniência. Dentre os temas abordados,</p><p>destacam-se:</p><p>● manifestação de interesse na celebração do</p><p>acordo;</p><p>● negociação do acordo de leniência;</p><p>● acompanhamento da execução e</p><p>monitoramento;</p><p>● declaração do cumprimento e atribuição defini-</p><p>tiva dos benefícios.</p><p>133</p><p>Sumario 01</p><p>Sumario 02</p><p>Sumario 03</p><p>AULA 1</p><p>FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO</p><p>COMPLIANCE</p><p>Mas, afinal, o que é compliance?</p><p>AULA 2</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO</p><p>INTRODUÇÃO AO TEMA E PANORAMA NORMATIVO</p><p>AULA 3</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO</p><p>CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA</p><p>AULA 4</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO (LEI Nº 12.846/13)</p><p>AULA 5</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO (LEI Nº 12.846/13) – CONDUTAS PROIBIDAS E SANÇÕES</p><p>AULA 6</p><p>COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO (LEI Nº 12.846/13) –</p><p>PRÁTICAS DE COMPLIANCE EM FACE DA RESPONSABILIZAÇÃO JURÍDICA</p><p>AULA 7</p><p>CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS</p><p>(LEI Nº 9.613/98)</p><p>O que é lavagem de dinheiro?</p><p>AULA 8</p><p>CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS</p><p>(LEI Nº 9.613/98)</p><p>POLÍTICAS DE COMPLIANCE PARA PLD-FT – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA</p><p>AULA 9</p><p>CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA</p><p>(LEI Nº 8.137/90)</p><p>AULA 10</p><p>CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA</p><p>(LEI Nº 8.137/90)</p><p>Apropriação indébita previdenciária</p><p>AULA 11</p><p>MELHORES PRÁTICAS EM COMPLIANCE TRIBUTÁRIO</p><p>ENTREVISTA COM ESPECIALISTA</p><p>AULA 12</p><p>CRIMES CONTRA A ORDEM ECONÔMICA</p><p>Abuso do poder econômico e formação de cartel</p><p>AULA 13</p><p>RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL NO ÂMBITO CORPORATIVO</p><p>Governança coorporativa</p><p>AULA 14</p><p>ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS</p><p>Investigação criminal de crimes econômicos</p><p>AULA 15</p><p>REPERCUSSÕES JURÍDICAS DAS INVESTIGAÇÕES INTERNAS</p><p>ENTREVISTA COM ESPECIALISTA</p><p>AULA 16</p><p>ACORDOS DE COLABORAÇÃO</p><p>DEFINIÇÃO E MODALIDADES</p><p>AULA 17</p><p>BENEFÍCIOS DOS ACORDOS DE LENIÊNCIA DA LEI ANTICORRUPÇÃO (LEI Nº 12.846/13) E SEGURANÇA JURÍDICA</p><p>AULA 18</p><p>ACORDOS DE COLABORAÇÃO</p><p>MELHORES PRÁTICAS EM NEGOCIAÇÃO E GESTÃO DE ACORDO DE LENIÊNCIA</p><p>Sumario17:</p><p>Sumario18:</p><p>Sumario19:</p><p>Sumario20:</p><p>Sumario21:</p><p>Sumario23:</p><p>Sumario24:</p><p>Sumario25:</p><p>Sumario26:</p><p>Sumario27:</p><p>Sumario28:</p><p>Sumario29:</p><p>Sumario30:</p><p>Sumario31:</p><p>Sumario32:</p><p>Sumario33:</p><p>Sumario34:</p><p>Sumario35:</p><p>corporate compliance com</p><p>funções de definição de políticas e de investigação</p><p>(geração de norma).</p><p>● Normas que defendem o comportamento cum-</p><p>pridor da lei.2</p><p>2 SOUSA, Otavio Augusto Venturini de. Teorias do direito</p><p>administrativo global e standards: desafios à estatalidade do</p><p>direito. 2019. Dissertação de Mestrado – Fundação Getulio Vargas</p><p>Escola de Direito de São Paulo, São Paulo, 2019. p. 47.</p><p>13</p><p>AULA 2</p><p>COMPLIANCE</p><p>ANTICORRUPÇÃO</p><p>INTRODUÇÃO AO TEMA E</p><p>PANORAMA NORMATIVO</p><p>A noção de Sistema Normativo Brasileiro de</p><p>Combate à Corrupção (SNBCC) se fundamenta no</p><p>ideal de enfrentar o fenômeno da corrupção sob os</p><p>seus múltiplos aspectos e por meio das mais varia-</p><p>das modalidades de punição e restrição de direitos.</p><p>Em síntese, pode-se afirmar que a ideia de sistema</p><p>15</p><p>carrega em si uma intenção de unidade/totalidade.3</p><p>Sobre os atos de corrupção pública – entendidos</p><p>genericamente aqui como ato de prometer, ofe-</p><p>recer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem</p><p>indevida a agente público, responsabilizando-se</p><p>também o agente público que solicita ou recebe tal</p><p>vantagem4 –, há a incidência dos mais variados ra-</p><p>3 VETURINI, Otavio; SPINARDI, Felipe. Restrições ao exercício de</p><p>direitos políticos em razão da prática de ato de corrupção: inter-</p><p>faces do Sistema Normativo Brasileiro de Combate à Corrupção –</p><p>SNBCC. 2020. p. 2. (No prelo).</p><p>4 A compreensão jurídica de corrupção pública que propomos</p><p>se pauta em dois conceitos jurídicos básicos “vantagem indevida”</p><p>e “agente público”, uma vez que esses conceitos integram as</p><p>tipificações da legislação penal, da Lei de Improbidade – LIA</p><p>(Lei nº 8.429/92), bem como da Lei Anticorrupção – LAC (Lei nº</p><p>12.846/13). Senão, vejamos: Código Penal – Corrupção passiva:</p><p>Art. 317 – Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou in-</p><p>diretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas</p><p>em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal</p><p>vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.</p><p>(Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003); [...] Corrupção</p><p>ativa: Art. 333 – Oferecer ou prometer vantagem indevida a</p><p>funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retar-</p><p>dar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e</p><p>multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003). LAI: Art.</p><p>9º Constitui ato de improbidade administrativa importando enri-</p><p>quecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial</p><p>indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, em-</p><p>prego ou atividade nas entidades mencionadas nº art. 1º desta</p><p>Lei, e notadamente: [...]. LAC: Art. 5º Constituem atos lesivos à</p><p>administração pública, nacional ou estrangeira, para os fins desta</p><p>Lei, todos aqueles praticados pelas pessoas jurídicas mencionadas</p><p>no parágrafo único do art. 1º, que atentem contra o patrimônio</p><p>público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração</p><p>pública ou contra os compromissos internacionais assumidos pelo</p><p>Brasil, assim definidos: I – prometer, oferecer ou dar, direta ou</p><p>indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira</p><p>pessoa a ele relacionada; [...].</p><p>16</p><p>mos do Direito e dos mais diversos tipos de sanção</p><p>ou restrição de direitos, que vão desde a perda de</p><p>bens à privação da liberdade.5, 6 Vejamos:</p><p>● Código Penal (Decreto-lei nº 2.848/40) – san-</p><p>ção: privação da liberdade;</p><p>● Lei de Crimes de Responsabilidade (Lei nº</p><p>1.079/50) – sanção: perda do cargo e inabilitação;</p><p>● Lei de Ação Popular (Lei nº 4.717/65) – sanção:</p><p>invalidação do ato e pagamento de perdas e danos</p><p>ao erário pelos responsáveis e beneficiários;</p><p>● Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº</p><p>135/10) – sanção: inelegibilidade;</p><p>● Lei de Improbidade (Lei nº 8.492/92) – san-</p><p>ção: perda de bens, função pública, ressarcimento,</p><p>5 Em relação à pessoa física, além do ressarcimento ao erário,</p><p>esta sujeitar-se-á às punições previstas nos microssistemas para os</p><p>atos de corrupção: a perda dos bens ou valores acrescidos ilici-</p><p>tamente ao patrimônio; a perda da função pública; a inabilitação</p><p>para o exercício de função pública; a inelegibilidade; a suspensão</p><p>dos direitos políticos; e, até mesmo, a privação da liberdade, por</p><p>meio de condenação criminal.</p><p>6 Cabe sublinhar que “o ressarcimento ao erário se aproxi-</p><p>ma mais da teoria da responsabilidade civil do que penal ou das</p><p>sanções administrativas, pelo que não se submete ao conceito de</p><p>sanção administrativa nos mesmos termos em que ocorre com</p><p>outras medidas, até porque a obrigação de ressarcir é uma restitui-</p><p>ção ao estado anterior. Fora de dúvida, não se trata de uma sanção</p><p>administrativa, mesmo que assim venha denominada na legisla-</p><p>ção pertinente”. (OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo</p><p>sancionador. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 101.)</p><p>17</p><p>suspensão dos direitos políticos (3-10 anos), multa</p><p>(até 3 vezes o valor do acréscimo, 2 vezes o valor</p><p>do dano ou 100 vezes o valor da remuneração per-</p><p>cebida pelo agente) e proibição de contratar. São</p><p>passíveis de punição o agente público e o terceiro</p><p>beneficiado (pessoa física e jurídica beneficiadas</p><p>diretamente com o ato ímprobo).</p><p>● Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13) – sanção:</p><p>responsabilização objetiva da pessoa jurídica.</p><p>Em razão dessa pluralidade normativa, um único</p><p>ato de corrupção pode enquadrar-se ao mesmo</p><p>tempo na tipificação de várias leis, motivo pelo qual</p><p>o infrator poderá sofrer a incidência cumulativa de</p><p>diversos tipos de sanção (penais, civis, administrati-</p><p>vas e políticas). A hipótese de incidência simultânea</p><p>de regimes e sanções diferentes é uma decorrência</p><p>do princípio da independência das instâncias, que</p><p>se encontra positivado no artigo 12, caput, da Lei</p><p>nº 8.429/927 e no artigo 37, §4º, da Constituição</p><p>Federal (CF).8</p><p>7 Independentemente das sanções penais, civis e administrati-</p><p>vas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato</p><p>de improbidade sujeito às seguintes cominações [...].</p><p>8 Os atos de improbidade administrativa importarão a suspen-</p><p>são dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibi-</p><p>lidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação</p><p>previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. (destaque</p><p>nosso).</p><p>18</p><p>AULA 3</p><p>COMPLIANCE</p><p>ANTICORRUPÇÃO</p><p>CRIMES CONTRA A</p><p>ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA</p><p>A primeira lei relevante sobre o tema é o Código</p><p>Penal, que foi aprovado por meio do Decreto-lei nº</p><p>2.848 de 1940. Dentre as principais práticas defini-</p><p>das nos tipos presentes na Lei Penal que podem ser</p><p>consideradas como espécies do gênero corrupção,</p><p>20</p><p>encontram-se: o peculato (art. 312);9 a concussão</p><p>(art. 316);10 a corrupção passiva (art. 317);11 a cor-</p><p>rupção ativa (art. 333);12 a inserção de dados falsos</p><p>em sistema de informações (art. 313-A);13 o tráfico</p><p>de influência (art. 332)14 etc.</p><p>Além do Código Penal, há as chamadas leis espe-</p><p>ciais penais, que definem práticas criminosas re-</p><p>lacionadas com a corrupção e as apenam com a</p><p>9 O peculato possui a seguinte definição dada pelo art. 312 do</p><p>Código Penal: “apropriar-se o funcionário público de dinheiro,</p><p>valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que</p><p>tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio</p><p>ou alheio”.</p><p>10 A concussão é definida pelo art. 316 do Código Penal como:</p><p>“exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que</p><p>fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vanta-</p><p>gem indevida”.</p><p>11 A corrupção passiva recebe a seguinte definição do art. 317 do</p><p>Código Penal: “solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta</p><p>ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la,</p><p>mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal</p><p>vantagem”.</p><p>12 A corrupção ativa está caracterizada pelo art. 333 do Código</p><p>Penal, como: “oferecer ou prometer vantagem indevida a funcio-</p><p>nário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato</p><p>de ofício”.</p><p>13 A inserção de dados falsos em sistema de informações</p><p>resta</p><p>definida no artigo 313-A do Código Penal como: “inserir ou facili-</p><p>tar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou</p><p>excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados</p><p>ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter</p><p>vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano”.</p><p>14 O tráfico de influência possui a seguinte definição no art. 332</p><p>do Código Penal: “solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para</p><p>outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir</p><p>em ato praticado por funcionário público no exercício da função”.</p><p>21</p><p>sanção de privação da liberdade. Esse é o caso do</p><p>Decreto-lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, que,</p><p>em seu art. 1º, tipifica condutas criminosas relacio-</p><p>nadas às atividades de prefeitos e vereadores na</p><p>condução da administração pública municipal.</p><p>Deve-se ter em conta que a sanção oriunda de uma</p><p>condenação penal representa a medida mais in-</p><p>cisiva de todo o sistema jurídico sobre os atos de</p><p>corrupção, uma vez que pode acarretar a privação</p><p>da liberdade do seu autor (pessoa física), além de</p><p>repercutir em outras esferas de responsabilização.</p><p>Outro dado relevante em relação aos crimes de cor-</p><p>rupção é que cabe, privativamente, ao Ministério</p><p>Público promover a ação penal, em razão de ser o</p><p>órgão titular da ação penal pública, nos termos do</p><p>art. 129, I, da CF.15</p><p>A corrupção passiva recebe a seguinte definição</p><p>do artigo 317 do Código Penal: solicitar ou receber,</p><p>para si ou para outrem, direta ou indiretamente,</p><p>ainda que fora da função ou antes de assumi-la,</p><p>mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar</p><p>promessa de tal vantagem.</p><p>Classificação: delito funcional/próprio (praticado</p><p>15 Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: “I –</p><p>promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei”.</p><p>22</p><p>por agente público) que admite coautoria ou parti-</p><p>cipação de particular (intraneus – art. 30 do Código</p><p>Penal).</p><p>A corrupção ativa está caracterizada pelo art. 333 do</p><p>Código Penal como: oferecer ou prometer vantagem</p><p>indevida a funcionário público, para determiná-lo a</p><p>praticar, omitir ou retardar ato de ofício.</p><p>DETALHE: a corrupção não exige bilateralidade para</p><p>sua caracterização, sendo classificada como crime</p><p>bilateral de tipicidade diversa.</p><p>AGENTE PÚBLICO</p><p>Conceito: “todo aquele que exerce, ainda que tran-</p><p>sitoriamente ou sem remuneração, por eleição, no-</p><p>meação, designação, contratação ou qualquer outra</p><p>forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,</p><p>emprego ou função nas entidades da Administração</p><p>Pública” (art. 2º da Lei nº 8.429/92 – LIA, art. 327</p><p>do CP). Inclusive entidade que receba subvenção,</p><p>benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão</p><p>público (art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92</p><p>– LIA).</p><p>Exemplos: servidores públicos (policial, fiscal da</p><p>receita, juiz); empregados públicos (empregado</p><p>23</p><p>de empresa estatal); comissionados em cargo de</p><p>confiança (secretário, chefe de gabinete); políticos</p><p>(vereador, prefeito, governador); membro de comis-</p><p>são de licitação; diretor de entidade que integre o</p><p>Sistema S; e diretor de organização social.</p><p>VANTAGEM INDEVIDA</p><p>Vantagem indevida implica a mercancia da fun-</p><p>ção pública, isto é, fazer ou deixar de fazer ato</p><p>relacionado à função pública em razão de alguma</p><p>vantagem.</p><p>POLÍTICAS DE COMPLIANCE</p><p>ANTICORRUPÇÃO PARA MITIGAÇÃO</p><p>DOS RISCOS</p><p>● Política de brindes, presentes, hospitalidades</p><p>e doações – deve vedar o oferecimento/entrega de</p><p>coisas que possam configurar “vantagem indevida”.</p><p>● Política de relacionamento com agentes pú-</p><p>blicos – por exemplo: ata da reunião com agente</p><p>público.</p><p>● Demais políticas e mecanismos que integram o</p><p>programa de integridade: canal de denúncia, políti-</p><p>ca de treinamento e comunicação.</p><p>24</p><p>AULA 4</p><p>COMPLIANCE</p><p>ANTICORRUPÇÃO</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO</p><p>(LEI Nº 12.846/13)</p><p>A Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13) representa o</p><p>fechamento de um ciclo, visando punir e afastar do</p><p>26</p><p>ambiente de negócios as empresas corruptas, ra-</p><p>zão pela qual recebeu a alcunha de Lei da Empresa</p><p>Limpa. Os principais objetivos da Lei são:</p><p>● retirar do mercado empresas que são criadas</p><p>para fins ilícitos (por exemplo: organizações de</p><p>fachadas), utilizadas de forma habitual para facilitar</p><p>ou promover a prática de atos de corrupção, ocultar</p><p>ou dissimular interesses ilícitos ou a identidade dos</p><p>beneficiários dos atos praticados; e</p><p>● estimular a prevenção e o combate à corrupção</p><p>em empresas que atuam na legalidade.</p><p>NOVIDADE</p><p>● Responsabilização objetiva da pessoa jurídica</p><p>pela prática de atos contra a administração públi-</p><p>ca, nacional ou estrangeira (corrupção pública) em</p><p>processo administrativo e judicial. Para incidência</p><p>da responsabilidade objetiva, dispensa-se a necessi-</p><p>dade de comprovação de dolo ou culpa do infrator.</p><p>MODALIDADE DE</p><p>RESPONSABILIZAÇÃO</p><p>ADMINISTRATIVA</p><p>● Processo administrativo (PAR).</p><p>● A instauração e o julgamento de processo ad-</p><p>27</p><p>ministrativo para apuração da responsabilidade de</p><p>pessoa jurídica cabem à autoridade máxima de</p><p>cada órgão ou entidade do Poder Executivo.</p><p>● Responsabilização administrativa da pessoa</p><p>jurídica – multa (0,1-20% do faturamento bruto) e</p><p>publicação da decisão.</p><p>MODALIDADE DE</p><p>RESPONSABILIZAÇÃO JUDICIAL</p><p>● Processo judicial – juízo de natureza extrape-</p><p>nal – o rito previsto na Lei de Ação Civil Pública</p><p>(Lei nº 7.347/85).</p><p>● Legitimados para propor a ação – Ministério</p><p>Público, ou Advocacia Pública, ou órgão de repre-</p><p>sentação judicial, ou equivalente, do ente público.</p><p>● Sanções – Perda dos bens que representem</p><p>vantagem ou proveito direta ou indiretamente ob-</p><p>tidos da infração, suspensão ou interdição parcial</p><p>de suas atividades, dissolução compulsória e proi-</p><p>bição de receber incentivos, subsídios, subvenções,</p><p>doações ou empréstimos de órgãos ou entidades</p><p>públicas</p><p>28</p><p>ATENÇÃO!</p><p>A responsabilidade da pessoa jurídica na</p><p>esfera administrativa não afasta a possibi-</p><p>lidade de sua responsabilização na esfera</p><p>judicial.</p><p>Pessoas jurídicas sujeitas:</p><p>● sociedades empresárias e simples, personifica-</p><p>das ou não (sociedades de fato);</p><p>● fundações, associações de entidades ou pes-</p><p>soas (sem fins lucrativos);</p><p>● sociedades estrangeiras que tenham sede, filial</p><p>ou representação no território brasileiro; e</p><p>● empresa pública, sociedade de economia mista</p><p>e suas subsidiárias a sanção de perdimento de bens</p><p>prevista na Lei nº 12.846/13, salvo a suspensão ou</p><p>interdição parcial de suas atividades;</p><p>● dissolução compulsória e proibição de receber</p><p>incentivos (art. 94, Lei nº 13.303/13).</p><p>29</p><p>AULA 5</p><p>COMPLIANCE</p><p>ANTICORRUPÇÃO</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO</p><p>(LEI Nº 12.846/13) –</p><p>CONDUTAS PROIBIDAS</p><p>E SANÇÕES</p><p>31</p><p>CONDUTAS PROIBIDAS</p><p>As pessoas jurídicas serão responsabilizadas</p><p>objetivamente, nos âmbitos administrativo e civil,</p><p>pelos atos lesivos previstos nesta Lei, praticados em</p><p>seu interesse ou benefício, exclusivo ou não (art.</p><p>2º da Lei Anticorrupção – LAI).</p><p>Constituem atos lesivos à administração pública,</p><p>nacional ou estrangeira (art. 5º da LAI):</p><p>● prometer, oferecer ou dar, direta ou indireta-</p><p>mente, vantagem indevida a agente público ou a</p><p>terceira pessoa a ele relacionada;</p><p>● comprovadamente, financiar, custear, patroci-</p><p>nar ou de qualquer modo subvencionar a prática</p><p>dos atos ilícitos previstos nesta Lei;</p><p>● comprovadamente, utilizar-se de interposta</p><p>pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular</p><p>seus reais interesses ou a identidade dos beneficiá-</p><p>rios dos atos praticados;</p><p>● dificultar atividade de investigação ou fiscaliza-</p><p>ção de órgãos, entidades ou agentes públicos, ou</p><p>intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das</p><p>agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do</p><p>sistema financeiro nacional;</p><p>● no tocante a licitações e contratos:</p><p>– frustrar ou fraudar, mediante ajuste, com-</p><p>32</p><p>binação ou qualquer outro expediente, o ca-</p><p>ráter competitivo de procedimento licitatório</p><p>público;</p><p>– impedir, perturbar ou fraudar a realização</p><p>de qualquer ato de procedimento</p><p>licitatório</p><p>público;</p><p>– afastar ou procurar afastar licitante, por</p><p>meio de fraude ou oferecimento de vantagem</p><p>de qualquer tipo;</p><p>– fraudar licitação pública ou contrato dela</p><p>decorrente;</p><p>– criar, de modo fraudulento ou irregular, pes-</p><p>soa jurídica para participar de licitação pública</p><p>ou celebrar contrato administrativo;</p><p>– obter vantagem ou benefício indevido, de</p><p>modo fraudatório, de modificações ou prorro-</p><p>gações de contratos celebrados com a adminis-</p><p>tração pública, sem autorização em lei, no ato</p><p>convocatório da licitação pública ou nos respec-</p><p>tivos instrumentos contratuais; ou</p><p>– manipular ou fraudar o equilíbrio econômi-</p><p>co-financeiro dos contratos celebrados com a</p><p>administração pública.</p><p>33</p><p>ATENÇÃO!</p><p>As condutas relativas a licitações e contra-</p><p>tos também podem configurar crime nos</p><p>termos da Lei nº 8.666/93:</p><p>ART. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das</p><p>hipóteses previstas em lei, ou deixar de obser-</p><p>var as formalidades pertinentes à dispensa ou à</p><p>inexigibilidade:</p><p>Pena – detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e</p><p>multa.</p><p>Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele</p><p>que, tendo comprovadamente concorrido para</p><p>a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da</p><p>dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar</p><p>contrato com o Poder Público.</p><p>34</p><p>ART. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste,</p><p>combinação ou qualquer outro expediente, o</p><p>caráter competitivo do procedimento licitatório,</p><p>com o intuito de obter, para si ou para outrem,</p><p>vantagem decorrente da adjudicação do objeto</p><p>da licitação:</p><p>Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e</p><p>multa.</p><p>ART. 91. Patrocinar, direta ou indiretamente, in-</p><p>teresse privado perante a Administração, dando</p><p>causa à instauração de licitação ou à celebração</p><p>de contrato, cuja invalidação vier a ser decreta-</p><p>da pelo Poder Judiciário:</p><p>Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2</p><p>(dois) anos, e multa.</p><p>35</p><p>SANÇÕES</p><p>Sanções</p><p>administrativas</p><p>Sanções judiciais</p><p>● Multa de 0,1% a</p><p>20% do faturamen-</p><p>to bruto do exercí-</p><p>cio anterior.</p><p>● Publicação</p><p>extraordiná-</p><p>ria da decisão</p><p>condenatória.</p><p>● Proibição de receber</p><p>incentivos, subsídios,</p><p>subvenções, doações ou</p><p>empréstimos de órgãos ou</p><p>entidades públicas (1 a 5</p><p>anos).</p><p>● Perdimento dos bens,</p><p>direitos ou valores obtidos</p><p>da infração.</p><p>● Suspensão ou interdição</p><p>parcial das atividades.</p><p>● Dissolução compulsória</p><p>da pessoa jurídica.</p><p>Fatores considerados para dosimetria das sanções:</p><p>● a gravidade da infração;</p><p>● a vantagem auferida ou pretendida pelo</p><p>infrator;</p><p>● a consumação ou não da infração;</p><p>● o grau de lesão ou perigo de lesão;</p><p>36</p><p>● o efeito negativo produzido pela infração;</p><p>● a situação econômica do infrator;</p><p>● a cooperação da pessoa jurídica para a apura-</p><p>ção das infrações;</p><p>● a existência de mecanismos e procedimentos</p><p>internos de integridade, auditoria e incentivo à</p><p>denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de</p><p>códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa</p><p>jurídica (Decreto nº 8.420/2015) – (também pode</p><p>reduzir a multa de 1% a 4%); e</p><p>● o valor dos contratos mantidos pela pessoa jurí-</p><p>dica com o órgão ou a entidade pública lesada.</p><p>37</p><p>AULA 6</p><p>COMPLIANCE</p><p>ANTICORRUPÇÃO</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO</p><p>(LEI Nº 12.846/13) –</p><p>PRÁTICAS DE</p><p>COMPLIANCE EM FACE</p><p>DA RESPONSABILIZAÇÃO</p><p>JURÍDICA</p><p>39</p><p>VERIFICAÇÃO DE TERCEIROS</p><p>Terceiros, genericamente falando, são fornecedo-</p><p>res, prestadores de serviço e agentes intermediá-</p><p>rios, ou seja, exercem funções auxiliares ou comple-</p><p>mentares à atividade principal de uma empresa.</p><p>POR QUE VERIFICAR OS TERCEIROS?</p><p>A Lei Anticorrupção estabelece responsabilização</p><p>objetiva da empresa pela prática de atos corruptos</p><p>que a beneficiem, exclusivamente ou não, ainda</p><p>que praticados por terceiro.</p><p>O QUE DIZ A LEI?</p><p>Art. 2º da LAI – As pessoas jurídicas serão</p><p>responsabilizadas objetivamente, nos âmbitos</p><p>administrativo e civil, pelos atos lesivos previstos</p><p>nesta Lei praticados em seu interesse ou benefício,</p><p>exclusivo ou não.</p><p>40</p><p>Art. 5º da LAI – Constituem atos lesivos à</p><p>Administração Pública, nacional ou estrangeira [...]</p><p>I – prometer, oferecer ou dar, direta ou</p><p>indiretamente, vantagem indevida a agente</p><p>público, ou a terceira pessoa a ele relacionada.</p><p>DECRETO Nº 8.420/15</p><p>Art. 42. Para fins do disposto no § 4º do art. 5º, o</p><p>programa de integridade será avaliado, quanto</p><p>a sua existência e aplicação, de acordo com os</p><p>seguintes parâmetros:</p><p>III – padrões de conduta, código de ética e políticas</p><p>de integridade estendidas, quando necessário, a</p><p>terceiros, tais como, fornecedores, prestadores de</p><p>serviço, agentes intermediários e associados;</p><p>VIII – procedimentos específicos para prevenir</p><p>fraudes e ilícitos em qualquer interação com o</p><p>setor público, intermediada por terceiros, tal como</p><p>pagamento de tributos, sujeição a fiscalizações, ou</p><p>obtenção de autorizações, licenças, permissões e</p><p>certidões;</p><p>41</p><p>XIII – diligências apropriadas para contratação e,</p><p>conforme o caso, supervisão, de terceiros, tais</p><p>como, fornecedores, prestadores de serviço,</p><p>agentes intermediários e associados;</p><p>§ 1º Na avaliação dos parâmetros de que trata este</p><p>artigo, serão considerados o porte e especificidades</p><p>da pessoa jurídica, tais como:</p><p>III – a utilização de agentes intermediários como</p><p>consultores ou representantes comerciais.</p><p>POR QUE DUE DILIGENCE NA</p><p>AQUISIÇÃO, FUSÃO OU CISÃO?</p><p>A Lei Anticorrupção estabelece a denominada</p><p>responsabilização da sucessora, isto é, a empresa</p><p>que realiza operação contratual de transformação,</p><p>incorporação, fusão ou cisão societária com outra</p><p>empresa corrupta.</p><p>42</p><p>O QUE DIZ A LEI?</p><p>Art. 4º da LAI – Subsiste a responsabilidade da</p><p>pessoa jurídica na hipótese de alteração contratual,</p><p>transformação, incorporação, fusão ou cisão</p><p>societária.</p><p>Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações)</p><p>Art. 227 – A incorporação é a operação pela qual</p><p>uma ou mais sociedades são absorvidas por outra,</p><p>que lhes sucede em todos os direitos e obrigações.</p><p>Art. 228 – A fusão é a operação pela qual se unem</p><p>duas ou mais sociedades para formar sociedade</p><p>nova, que lhes sucederá em todos os direitos e</p><p>obrigações.</p><p>Art. 229 – A cisão é a operação pela qual a</p><p>companhia transfere parcelas do seu patrimônio</p><p>para uma ou mais sociedades, constituídas</p><p>para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a</p><p>companhia cindida, se houver versão de todo o seu</p><p>patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial</p><p>a versão.</p><p>43</p><p>§ 1º Nas hipóteses de fusão e incorporação, a</p><p>responsabilidade da sucessora será restrita à</p><p>obrigação de pagamento de multa e reparação</p><p>integral do dano causado, até o limite do</p><p>patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis</p><p>as demais sanções previstas nesta Lei decorrentes</p><p>de atos e fatos ocorridos antes da data da fusão</p><p>ou incorporação, exceto no caso de simulação</p><p>ou evidente intuito de fraude, devidamente</p><p>comprovados.</p><p>Decreto nº 8.420/15</p><p>Art. 42. Para fins do disposto no § 4º do art. 5º, o</p><p>programa de integridade será avaliado, quanto</p><p>a sua existência e aplicação, de acordo com os</p><p>seguintes parâmetros:</p><p>XIV – verificação, durante os processos de fusões,</p><p>aquisições e reestruturações societárias, do</p><p>cometimento de irregularidades ou ilícitos ou da</p><p>existência de vulnerabilidades nas pessoas jurídicas</p><p>envolvidas;</p><p>§ 2º As sociedades controladoras, controladas,</p><p>coligadas ou, no âmbito do respectivo contrato, as</p><p>consorciadas serão solidariamente responsáveis</p><p>pela prática dos atos previstos nesta Lei,</p><p>restringindo-se tal responsabilidade à obrigação de</p><p>pagamento de multa e reparação integral do dano</p><p>causado.</p><p>44</p><p>FONTES PARA REALIZAÇÃO DE DUE</p><p>DILIGENCE</p><p>A Tabela 1 traz um rol dos principais cadastros go-</p><p>vernamentais de empresas declaradas inidôneas ou</p><p>condenadas por atos de corrupção.</p><p>TABELA 1 – CADASTROS GOVERNAMENTAIS DE</p><p>EMPRESAS NÃO IDÔNEAS OU CONDENADAS</p><p>POR CORRUPÇÃO</p><p>CADASTRO ENDEREÇO ELETRÔNICO</p><p>Cadastro de Empresas</p><p>Inidôneas e Suspensas</p><p>(CEIS)</p><p>http://www.</p><p>portaltransparencia.gov.br/</p><p>sancoes/ceis</p><p>Cadastro Nacional de</p><p>Condenações Cíveis por</p><p>Ato de Improbidade</p><p>Administrativa e</p><p>Inelegibilidade do CNJ</p><p>(CNIA)</p><p>https://www.cnj.jus.br/</p><p>improbidade_adm/consultar_</p><p>requerido.php</p><p>Cadastro Nacional de</p><p>Empresas Punidas (CNEP)</p><p>http://www.</p><p>portaldatransparencia.gov.br/</p><p>sancoes/cnep</p><p>45</p><p>http://www.portaltransparencia.gov.br/sancoes/ceis</p><p>http://www.portaltransparencia.gov.br/sancoes/ceis</p><p>http://www.portaltransparencia.gov.br/sancoes/ceis</p><p>https://www.cnj.jus.br/improbidade_adm/consultar_requerido.php</p><p>https://www.cnj.jus.br/improbidade_adm/consultar_requerido.php</p><p>https://www.cnj.jus.br/improbidade_adm/consultar_requerido.php</p><p>http://www.portaldatransparencia.gov.br/sancoes/cnep</p><p>http://www.portaldatransparencia.gov.br/sancoes/cnep</p><p>http://www.portaldatransparencia.gov.br/sancoes/cnep</p><p>CADASTRO ENDEREÇO ELETRÔNICO</p><p>Entidades Privadas sem</p><p>Fins Lucrativos Impedidas</p><p>(CEPIM)</p><p>http://www.</p><p>portaltransparencia.gov.br/</p><p>sancoes/cepim</p><p>Relação de inabilitados –</p><p>Tribunal de Contas da</p><p>União</p><p>https://contas.tcu.gov.br/ords/</p><p>f?p=INABILITADO:INABILITADO</p><p>Relação de inidôneos –</p><p>Tribunal de Contas da</p><p>União</p><p>https://contas.tcu.gov.br/ords/</p><p>f?p=INABILITADO:INIDONEOS</p><p>Fonte: Elaborada pelo autor.</p><p>46</p><p>http://www.portaltransparencia.gov.br/sancoes/cepim</p><p>http://www.portaltransparencia.gov.br/sancoes/cepim</p><p>http://www.portaltransparencia.gov.br/sancoes/cepim</p><p>https://contas.tcu.gov.br/ords/f?p=INABILITADO:INABILITADO</p><p>https://contas.tcu.gov.br/ords/f?p=INABILITADO:INABILITADO</p><p>https://contas.tcu.gov.br/ords/f?p=INABILITADO:INIDONEOS</p><p>https://contas.tcu.gov.br/ords/f?p=INABILITADO:INIDONEOS</p><p>AULA 7</p><p>CRIMES DE</p><p>LAVAGEM DE</p><p>CAPITAIS</p><p>(LEI Nº 9.613/98)</p><p>O QUE É LAVAGEM</p><p>DE DINHEIRO?</p><p>48</p><p>“A prática de conversão dos proveitos do delito</p><p>em bens que podem ser rastreados pela sua ori-</p><p>gem criminosa. [...] A dissimulação ou ocultação</p><p>da natureza, origem, localização, disposição, movi-</p><p>mentação ou propriedade dos proveitos criminosos</p><p>desafia censura penal autônoma, para além daque-</p><p>la incidente sobre o delito antecedente.” (STF. AP</p><p>470, rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, julgado em</p><p>13.03.2014).</p><p>FASES DA LAVAGEM DE CAPITAIS</p><p>“A primeira é a da ‘colocação’ (placement) dos</p><p>recursos derivados de uma atividade ilegal em um</p><p>mecanismo de dissimulação da sua origem, que</p><p>pode ser realizado por instituições financeiras, ca-</p><p>sas de câmbio, leilões de obras de arte, entre ou-</p><p>tros negócios aparentemente lícitos. Após, inicia-se</p><p>a segunda fase, de ‘encobrimento’, ‘circulação’ ou</p><p>‘transformação’ (layering), cujo objetivo é tornar</p><p>mais difícil a detecção da manobra dissimuladora e</p><p>o descobrimento da lavagem. Por fim, dá-se a ‘inte-</p><p>gração’ (integration) dos recursos a uma economia</p><p>onde pareçam legítimos.” (STF. AP 470, rel. Min.</p><p>Luiz Fux, Tribunal Pleno, julgado em 13.03.2014).</p><p>49</p><p>O QUE DIZ A LEI Nº 9.613/98?</p><p>Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem,</p><p>localização, disposição, movimentação ou pro-</p><p>priedade de bens, direitos ou valores provenien-</p><p>tes, direta ou indiretamente, de infração penal.</p><p>Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e</p><p>multa.</p><p>§ 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar</p><p>ou dissimular a utilização de bens, direitos ou</p><p>valores provenientes de infração penal:</p><p>I – os converte em ativos lícitos;</p><p>II – os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou</p><p>recebe em garantia, guarda, tem em depósito,</p><p>movimenta ou transfere;</p><p>III – importa ou exporta bens com valores não</p><p>correspondentes aos verdadeiros.</p><p>§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:</p><p>I – utiliza, na atividade econômica ou financeira,</p><p>bens, direitos ou valores provenientes de infra-</p><p>ção penal;</p><p>II – participa de grupo, associação ou escritório</p><p>tendo conhecimento de que sua atividade prin-</p><p>cipal ou secundária é dirigida à prática de crimes</p><p>previstos nesta Lei.</p><p>50</p><p>§ 3º A tentativa é punida nos termos do parágra-</p><p>fo único do art. 14 do Código Penal.</p><p>§ 4º A pena será aumentada de um a dois terços,</p><p>se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos</p><p>de forma reiterada ou por intermédio de organi-</p><p>zação criminosa.</p><p>§ 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois</p><p>terços e ser cumprida em regime aberto ou</p><p>semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de apli-</p><p>cá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena</p><p>restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partí-</p><p>cipe colaborar espontaneamente com as autori-</p><p>dades, prestando esclarecimentos que conduzam</p><p>à apuração das infrações penais, à identificação</p><p>dos autores, coautores e partícipes, ou à loca-</p><p>lização dos bens, direitos ou valores objeto do</p><p>crime.</p><p>Bem jurídico protegido: Administração da Justiça.</p><p>Tipo penal derivado ou acessório: isto é, prove-</p><p>niente da prática de qualquer crime precedente.</p><p>Tem, todavia, autonomia frente ao crime principal</p><p>ou antecedente. De acordo com o STF, a lavagem de</p><p>dinheiro “constitui crime autônomo em relação aos</p><p>crimes antecedentes, e não mero exaurimento do</p><p>crime anterior” (STF, AP 470).</p><p>51</p><p>Para receber, no entanto, a denúncia pelo crime de</p><p>lavagem de dinheiro, “deve o juiz verificar a exis-</p><p>tência de indícios da infração penal antecedente</p><p>ou crime-base, o que não significa que deva haver</p><p>condenação prévia. Não se admite, porém, a de-</p><p>núncia por Lavagem de Dinheiro (LD) calcada no</p><p>mero fato da incompatibilidade entre a movimen-</p><p>tação financeira e as declarações de renda (TRF3,</p><p>RSE 200761810118502, Nelton dos Santos, 2ª T., u.,</p><p>21.7.09)”.16</p><p>QUEM PODE PRATICAR A LAVAGEM</p><p>DE DINHEIRO?</p><p>Trata-se de crime comum, ou seja, pode ser pratica-</p><p>do por qualquer pessoa, inclusive o autor do crime</p><p>antecedente ou principal (autolavagem), exigindo-</p><p>se, porém, a prática de conduta autônoma, específi-</p><p>ca de lavagem de dinheiro.</p><p>Crime doloso: o agente criminoso deve ter co-</p><p>nhecimento da origem ilícita dos valores ou ter</p><p>razões substanciais para desconfiar e mesmo as-</p><p>sim assumir o risco de estar participando de uma</p><p>prática de lavagem de dinheiro (dolo eventual).</p><p>16 JUNIOR, José Paulo Baltazar. Crimes federais. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2014. p. 1.069.</p><p>52</p><p>Deve restar evidenciada a intenção de ocultar ou</p><p>dissimular a utilização de bens, direitos ou valores</p><p>provenientes de infração penal.</p><p>Condutas do tipo:</p><p>● verbos (ações) nucleares: a) ocultar: esconder;</p><p>e b) dissimular: esconder algo que existe, mas me-</p><p>diante conduta que faz parecer outra coisa (alterar</p><p>a verdade, camuflar);</p><p>● dado: natureza, origem, localização, disposição,</p><p>movimentação, propriedade;</p><p>● objeto material (o que): bens, direitos e valo-</p><p>res; e</p><p>● proveniência: direta e indiretamente prove-</p><p>niente de infração penal.</p><p>Exemplos: utilizar conta bancária de outra pessoa</p><p>(laranja) para movimentar valores oriundos da prá-</p><p>tica de crimes; transferir bens para terceiros; depo-</p><p>sitar valores em conta não declarada no exterior;</p><p>mesclar valores oriundos de negócios lícitos com o</p><p>produto do crime.</p><p>53</p><p>Dicas de sites de organizações públicas para se</p><p>aprofundar no tema</p><p>Ministério da Economia – Casos & Casos –</p><p>Coletânea Completa de Casos Brasileiros de</p><p>Lavagem de Dinheiro: http://www.fazenda.gov.</p><p>br/centrais-de-conteudos/publicacoes/casos-</p><p>casos/arquivos/casosecasos_coletanea-comple-</p><p>ta_setembro2016.pdf/view</p><p>Grupo de Ação Financeira Internacional – GAFI/</p><p>FATFA: http://www.fatf-gafi.org/publications/me-</p><p>thodsandtrends/documents/best-practices-be-</p><p>neficial-ownership-legal-persons.html</p><p>Condutas equiparadas</p><p>● Converter em ativos lícitos (por exemplo, apli-</p><p>cações financeiras, depósitos bancários, contratos</p><p>de câmbio, valores mobiliários e outros bens) para</p><p>ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos</p><p>ou valores provenientes de infração penal.</p><p>● Adquirir, receber, trocar, negociar, dar ou re-</p><p>ceber em garantia, guarda, tem em depósito, mo-</p><p>vimenta ou transfere para ocultar ou dissimular a</p><p>utilização de bens, direitos ou valores provenientes</p><p>de infração penal.</p><p>54</p><p>http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/casos-casos/arquivos/casosecasos_coletanea-completa_setembro2016.pdf/view</p><p>http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/casos-casos/arquivos/casosecasos_coletanea-completa_setembro2016.pdf/view</p><p>http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/casos-casos/arquivos/casosecasos_coletanea-completa_setembro2016.pdf/view</p><p>http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/casos-casos/arquivos/casosecasos_coletanea-completa_setembro2016.pdf/view</p><p>http://www.fatf-gafi.org/publications/methodsandtrends/documents/best-practices-beneficial-ownership-legal-persons.html</p><p>http://www.fatf-gafi.org/publications/methodsandtrends/documents/best-practices-beneficial-ownership-legal-persons.html</p><p>http://www.fatf-gafi.org/publications/methodsandtrends/documents/best-practices-beneficial-ownership-legal-persons.html</p><p>● Importar ou exportar bens com valores não</p><p>correspondentes aos verdadeiros para ocultar ou</p><p>dissimular a utilização de bens, direitos ou valores</p><p>provenientes de infração penal.</p><p>● Utilizar na atividade econômica ou financeira</p><p>bens, direitos ou valores provenientes de infração</p><p>penal.</p><p>● Participar de grupo, associação ou escritório</p><p>tendo conhecimento de que sua atividade principal</p><p>ou secundária é dirigida à prática de crimes previs-</p><p>tos nesta Lei.</p><p>55</p><p>AULA 8</p><p>CRIMES DE</p><p>LAVAGEM DE</p><p>CAPITAIS</p><p>(LEI Nº 9.613/98)</p><p>POLÍTICAS DE COMPLIANCE</p><p>PARA PLD-FT – ENTREVISTA</p><p>COM ESPECIALISTA</p><p>Entrevistado: André Castro Carvalho</p><p>57</p><p>Pós-doutorado no Massachusetts</p><p>Institute of Technology (MIT), em</p><p>2016, como bolsista do Programa</p><p>Estratégico – DRI (Estágio Pós-Doutoral)</p><p>da Coordenação de Aperfeiçoamento</p><p>de Pessoal de Nível Superior (Capes).</p><p>Bacharel, mestre, doutor e pós-dou-</p><p>tor (2018) pela Faculdade de Direito da</p><p>Universidade de São Paulo (USP). Possui</p><p>certificação em treinamento corporativo</p><p>em Anti-Money Laundering (AML) pela</p><p>International Compliance Association</p><p>(ICA), em 2014-2015, e é certificado em</p><p>AML pela Association of Certified Anti-</p><p>Money Laundering (ACAMS), em 2019.</p><p>É professor da educação executiva em</p><p>Compliance no Insper, na pós-graduação</p><p>em Compliance no Ibmec-SP, na pós-</p><p>graduação em Compliance Digital na</p><p>Universidade Presbiteriana Mackenzie,</p><p>e no mestrado da Escola de Direito do</p><p>Brasil (EDB).</p><p>A entrevista abordou as melhores práticas em</p><p>compliance PLD/FT para prevenção e mitigação de</p><p>riscos de cometimento de crimes de lavagem de</p><p>dinheiro. Dentre os temas abordados, destacam-se:</p><p>58</p><p>● pessoas sujeitas a obrigações referentes à iden-</p><p>tificação dos clientes e manutenção de registros e</p><p>comunicação de operações financeiras;</p><p>● políticas de compliance em PLD/FT.</p><p>Estão sujeitos a obrigações referentes à</p><p>identificação dos clientes e manutenção de</p><p>registros e comunicação de operações financeiras</p><p>pessoas físicas e jurídicas que tenham, em caráter</p><p>permanente ou eventual, como atividade principal</p><p>ou acessória, cumulativamente ou não:</p><p>● a captação, intermediação e aplicação de recur-</p><p>sos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou</p><p>estrangeira;</p><p>● a compra e venda de moeda estrangeira ou</p><p>ouro como ativo financeiro ou instrumento cambial;</p><p>● a custódia, emissão, distribuição, liquidação,</p><p>negociação, intermediação ou administração de</p><p>títulos ou valores mobiliários.</p><p>Sujeitam-se às mesmas obrigações:</p><p>● as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou</p><p>futuros;</p><p>● as seguradoras, as corretoras de seguros e as</p><p>entidades de previdência complementar ou de</p><p>capitalização;</p><p>59</p><p>● as administradoras de cartões de credencia-</p><p>mento ou cartões de crédito, bem como as adminis-</p><p>tradoras de consórcios para aquisição de bens ou</p><p>serviços;</p><p>● as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam ati-</p><p>vidades de promoção imobiliária ou compra e ven-</p><p>da de imóveis;</p><p>● as pessoas físicas ou jurídicas que comercia-</p><p>lizem joias, pedras e metais preciosos, objetos de</p><p>arte e antiguidades;</p><p>● as pessoas físicas ou jurídicas que comerciali-</p><p>zem bens de luxo ou de alto valor, intermedeiem</p><p>a sua comercialização ou exerçam atividades que</p><p>envolvam grande volume de recursos em espécie;</p><p>● as juntas comerciais e os registros públicos;</p><p>● as pessoas físicas ou jurídicas que prestem,</p><p>mesmo que eventualmente, serviços de assessoria,</p><p>consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento</p><p>ou assistência, de qualquer natureza, em opera-</p><p>ções: a) de compra e venda de imóveis, estabeleci-</p><p>mentos comerciais ou industriais ou participações</p><p>societárias de qualquer natureza; b) de gestão de</p><p>fundos, valores mobiliários ou outros ativos; c) de</p><p>abertura ou gestão de contas bancárias, de pou-</p><p>pança, investimento ou de valores mobiliários; d)</p><p>de criação, exploração ou gestão de sociedades de</p><p>qualquer natureza, fundações, fundos fiduciários</p><p>60</p><p>ou estruturas análogas; e) financeiras, societárias</p><p>ou imobiliárias; e f) de alienação ou aquisição de</p><p>direitos sobre contratos relacionados a atividades</p><p>desportivas ou artísticas profissionais;</p><p>● pessoas físicas ou jurídicas que atuem na pro-</p><p>moção, intermediação, comercialização, agencia-</p><p>mento ou negociação de direitos de transferência</p><p>de atletas, artistas ou feiras, exposições ou eventos</p><p>similares;</p><p>● as empresas de transporte e guarda de valores;</p><p>● as pessoas físicas ou jurídicas que comerciali-</p><p>zem bens de alto valor de origem rural ou animal ou</p><p>intermedeiem a sua comercialização; e</p><p>● as dependências no exterior das entidades</p><p>mencionadas neste artigo, por meio de sua matriz</p><p>no Brasil, relativamente a residentes no País.</p><p>IDENTIFICAÇÃO DOS CLIENTES E</p><p>MANUTENÇÃO DE REGISTROS</p><p>As pessoas referidas anteriormente:</p><p>● identificarão seus clientes e manterão cadastro</p><p>atualizado, nos termos de instruções emanadas das</p><p>autoridades competentes;</p><p>● manterão registro de toda transação em moeda</p><p>61</p><p>nacional ou estrangeira, títulos e valores mobiliá-</p><p>rios, títulos de crédito, metais, ou qualquer ativo</p><p>passível de ser convertido em dinheiro, que ultra-</p><p>passar limite fixado pela autoridade competente e</p><p>nos termos de instruções por esta expedidos;</p><p>● deverão adotar políticas, procedimentos e con-</p><p>troles internos compatíveis com seu porte e volume</p><p>de operações;</p><p>● deverão cadastrar-se e manter seu cadastro</p><p>atualizado no órgão regulador ou fiscalizador e, na</p><p>falta deste, no Conselho de Controle de Atividades</p><p>Financeiras (Coaf), na forma e nas condições por</p><p>eles estabelecidas;</p><p>● deverão atender às requisições formuladas pelo</p><p>Coaf na periodicidade, forma e condições por ele</p><p>estabelecidas, cabendo-lhe preservar, nos termos</p><p>da lei, o sigilo das informações prestadas.</p><p>COMUNICAÇÃO DE OPERAÇÕES</p><p>FINANCEIRAS</p><p>As pessoas referidas:</p><p>● dispensarão especial atenção às operações que,</p><p>nos termos de instruções emanadas das autorida-</p><p>des competentes, possam constituir-se em sérios</p><p>indícios dos crimes previstos nesta Lei, ou com eles</p><p>62</p><p>relacionar-se;</p><p>● deverão comunicar ao Coaf, abstendo-se de</p><p>dar ciência de tal ato a qualquer pessoa, inclusive</p><p>àquela a qual se refira a informação, no prazo de 24</p><p>(vinte e quatro) horas, a proposta ou realização:</p><p>– de todas as transações referidas no inciso II</p><p>do artigo 10 da Lei nº 9.613/98, acompanhadas</p><p>da identificação de que trata o inciso I do men-</p><p>cionado artigo; e</p><p>– das operações referidas no inciso I da Lei nº</p><p>9.613/98;</p><p>● deverão comunicar ao órgão regulador ou fisca-</p><p>lizador da sua atividade ou, na sua falta, ao Coaf, na</p><p>periodicidade, forma e condições por eles estabe-</p><p>lecidas, a não ocorrência de propostas, transações</p><p>ou operações passíveis de serem comunicadas nos</p><p>termos do inciso II da Lei nº 9.613/98.</p><p>63</p><p>POLÍTICAS DE COMPLIANCE EM PLD/</p><p>FT17</p><p>● Política Conheça seu Cliente/Know your</p><p>Customer (KYC)</p><p>● Listas internacionais de sanções e embar-</p><p>gos (freeze lists)/Lista da Office of Foreign Assets</p><p>Control (OFAC)</p><p>● Política Conheça seu Fornecedor/Know your</p><p>Supplier (KYS)</p><p>● Conheça seu Funcionário/Know your Employee</p><p>(KYE)</p><p>● Conheça seu Banco Correspondente no</p><p>Exterior/Know your Correspondent Banking (KYCB)</p><p>● Conheça seu cliente PEP/Identificação das</p><p>Pessoas Expostas Politicamente (PEP)</p><p>17 Para uma abordagem completa e aprofundada sobre o</p><p>tema, consultar: RIZZO, Maria Balbina Martins de; ROSA, Ludmila</p><p>Volochen da. Prevenção</p><p>da Lavagem de dinheiro e do financia-</p><p>mento do terrorismo (PLD-FT). In: CARVALHO, André Castro;</p><p>BERTOCCELLI, Rodrigo de Pinho; ALVIM, Tiago Cripa; VENTURINI,</p><p>Otavio. Manual de compliance. São Paulo: Forense: 2019.</p><p>64</p><p>AULA 9</p><p>CRIMES CONTRA</p><p>A ORDEM</p><p>TRIBUTÁRIA</p><p>(LEI Nº 8.137/90)</p><p>Os crimes contra a ordem tributária podem ser</p><p>divididos em cinco grupos: a) sonegação; b) apro-</p><p>priação indébita; c) descaminho; d) crimes funcio-</p><p>nais; e) falsidades. Neste tópico serão abordados os</p><p>66</p><p>crimes de sonegação.</p><p>Antes de tudo, é necessário compreender a diferen-</p><p>ça entre três conceitos:</p><p>● Inadimplemento: falta do pagamento do tribu-</p><p>to, não constitui crime;</p><p>● Elisão fiscal ou planejamento legal tributário:</p><p>prática lícita que visa a evitar a ocorrência do fato</p><p>gerador ou diminuir o valor dos tributos devidos,</p><p>sem a utilização de fraude (critério temporal: con-</p><p>duta realizada antes da ocorrência do fato gerador);</p><p>e</p><p>● Sonegação fiscal: redução ou supressão do</p><p>pagamento do tributo, mediante emprego de frau-</p><p>de (critério temporal: conduta realizada depois da</p><p>ocorrência do fato gerador).</p><p>O QUE DIZ A LEI Nº 8.137/90?</p><p>Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária</p><p>suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição so-</p><p>cial e qualquer acessório, mediante as seguintes</p><p>condutas:</p><p>I – omitir informação, ou prestar declaração falsa</p><p>às autoridades fazendárias;</p><p>67</p><p>II – fraudar a fiscalização tributária, inserindo</p><p>elementos inexatos, ou omitindo operação de</p><p>qualquer natureza, em documento ou livro exigi-</p><p>do pela lei fiscal;</p><p>III – falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, du-</p><p>plicata, nota de venda, ou qualquer outro docu-</p><p>mento relativo à operação tributável;</p><p>IV – elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utili-</p><p>zar documento que saiba ou deva saber falso ou</p><p>inexato;</p><p>V – negar ou deixar de fornecer, quando obri-</p><p>gatório, nota fiscal ou documento equivalente,</p><p>relativa a venda de mercadoria ou prestação de</p><p>serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em</p><p>desacordo com a legislação.</p><p>Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e</p><p>multa.</p><p>Parágrafo único. A falta de atendimento da exi-</p><p>gência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias,</p><p>que poderá ser convertido em horas em razão da</p><p>maior ou menor complexidade da matéria ou da</p><p>dificuldade quanto ao atendimento da exigência,</p><p>caracteriza a infração prevista no inciso V.</p><p>68</p><p>Art. 2º Constitui crime da mesma natureza:</p><p>I – fazer declaração falsa ou omitir declaração</p><p>sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra</p><p>fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de</p><p>pagamento de tributo;</p><p>II – deixar de recolher, no prazo legal, valor de</p><p>tributo ou de contribuição social, descontado ou</p><p>cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obri-</p><p>gação e que deveria recolher aos cofres públicos;</p><p>III – exigir, pagar ou receber, para si ou para o</p><p>contribuinte beneficiário, qualquer percentagem</p><p>sobre a parcela dedutível ou deduzida de impos-</p><p>to ou de contribuição como incentivo fiscal;</p><p>IV – deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo</p><p>com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas</p><p>de imposto liberadas por órgão ou entidade de</p><p>desenvolvimento;</p><p>V – utilizar ou divulgar programa de processa-</p><p>mento de dados que permita ao sujeito passivo</p><p>da obrigação tributária possuir informação con-</p><p>tábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à</p><p>Fazenda Pública.</p><p>Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)</p><p>anos, e multa.</p><p>Bem jurídico protegido: integridade do erário.</p><p>69</p><p>QUEM PODE PRATICAR CRIME</p><p>CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA</p><p>(SONEGAÇÃO)?</p><p>Contribuinte ou responsável, tal como definidos no</p><p>artigo 121 do Código Tributário Nacional (CTN).</p><p>Sujeito passivo da obrigação tributária principal:</p><p>a) contribuinte, quando tenha relação pessoal e</p><p>direta com a situação que constitua o respectivo</p><p>fato gerador;</p><p>b) responsável, quando, sem revestir a condição</p><p>de contribuinte, sua obrigação decorra de dispo-</p><p>sição expressa de lei (por exemplo: o empregador</p><p>que recolhe na fonte o IRPF [Imposto de Renda</p><p>Pessoa Física] de seu empregado).</p><p>Poderá também responder pelo delito em questão</p><p>também [sic] o contador, na medida de sua culpa-</p><p>bilidade, embora não seja contribuinte (TRF3, HC</p><p>20060300003989-5, Ramza, 5ª T., u., 24.4.06).</p><p>José Paulo Baltazar Junior sustenta que o contador</p><p>responderá nos casos em que:</p><p>“[...] a) tendo ciência da existência de simu-</p><p>lação, elaborou a escrita contábil e assinou,</p><p>como procurador da pessoa jurídica, guia</p><p>70</p><p>relativa ao tributo sonegado (STJ, RHC 305,</p><p>Thibau, 6ª T., u., 6.2.90); b) ‘em três exer-</p><p>cícios financeiros, concorreu para a prática</p><p>de redução de tributos federais pelo con-</p><p>tribuinte, inclusive dele partindo as falsas</p><p>informações quanto às indevidas deduções</p><p>de despesas médicas, com instrução e de</p><p>‘Livro-Caixa’’, ainda que tenha sido absol-</p><p>vido o contribuinte, por ausência de dolo.”</p><p>(TRF4, AC 0003895- 09.2004.404.7201,</p><p>Néfi, 7ª T., u., DJ 26.11.10)</p><p>O autor ainda complementa:</p><p>“[...] claro está que não responderá pelo</p><p>crime o contador prestador de serviços</p><p>que simplesmente recebe os documentos e</p><p>informações da empresa, trabalhando fora</p><p>da sede desta, sem condições ou dever de</p><p>verificar a veracidade das informações que</p><p>lhe são prestadas, de forma verossímil.”18</p><p>PESSOA JURÍDICA E</p><p>RESPONSABILIDADE SUBJETIVA</p><p>18 BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes federais. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2014. p. 803.</p><p>71</p><p>De acordo com José Paulo Baltazar Junior:</p><p>“[...] a partir dos indícios e dados formais</p><p>como o contrato ou o estatuto que revelam</p><p>quem era o sócio-gerente, o presidente,</p><p>o diretor, já se pode visualizar quem tinha</p><p>aparentemente o poder de comando na</p><p>empresa, sendo esse dado suficiente para</p><p>o oferecimento e recebimento da denúncia</p><p>[...].”</p><p>Exige-se, entretanto, para condenação:</p><p>“[...] a prova de que tenha poderes de</p><p>gerência. Essa confirmação se dá especial-</p><p>mente pela prova oral, seja pelo interroga-</p><p>tório do próprio réu, que pode admitir que</p><p>administrava a empresa, pela inquirição</p><p>das testemunhas, o fiscal responsável pela</p><p>autuação, os empregados ou ex-emprega-</p><p>dos e até mesmo os clientes da empresa</p><p>arrolados como testemunhas abonatórias</p><p>pela defesa podem revelar quem dirigia os</p><p>negócios e com quem mantinham os seus</p><p>contatos.”19</p><p>19 BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes federais. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2014. p. 801.</p><p>72</p><p>Crime doloso: dolo genérico (posição majoritária),</p><p>admitindo-se, inclusive, o dolo eventual.</p><p>Condutas do tipo:</p><p>● Verbos (ações) nucleares: a) suprimir: o agen-</p><p>te não paga nada; ou b) reduzir: o agente recolhe</p><p>parcialmente o valor devido;</p><p>● Objeto (o que): a) tributo; b) contribuição</p><p>social; e c) qualquer acessório; e</p><p>● Meio: conduta fraudulenta (I – omitir infor-</p><p>mação, ou prestar declaração falsa às autoridades</p><p>fazendárias; II – fraudar a fiscalização tributária,</p><p>inserindo elementos inexatos, ou omitindo opera-</p><p>ção de qualquer natureza, em documento ou livro</p><p>exigido pela lei fiscal.).</p><p>Lançamento definitivo:</p><p>Súmula Vinculante 24 do STF, de seguinte teor:</p><p>“Não se tipifica crime material contra a ordem</p><p>tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei</p><p>nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do</p><p>tributo”.</p><p>Princípio da insignificância:</p><p>Com fundamento no artigo 20 da Lei nº 10.522/07,</p><p>73</p><p>com a redação dada pela Lei nº 11.033/03, bem</p><p>como no artigo 14 da Lei nº 11.941/09, elevado</p><p>pela Portaria nº 75/2012 do Ministério da Fazenda,</p><p>tem-se reconhecido o valor de R$ 20.000,00 (vinte</p><p>mil reais).</p><p>Estado de necessidade (por dificuldade</p><p>financeira) da pessoa jurídica:</p><p>De acordo com José Paulo Baltazar Junior, “ao con-</p><p>trário do que se dá com o crime de apropriação in-</p><p>débita previdenciária (CP, art. 168-A), não tem sido</p><p>admitida a tese defensiva da dificuldade financeira</p><p>em caso de crime de sonegação fiscal”.20</p><p>PARCELAMENTO E PAGAMENTO</p><p>INTEGRAL COMO CAUSAS DE</p><p>SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DA</p><p>PUNIBILIDADE</p><p>● Parcelamento: suspensão da punibilidade e</p><p>de eventual ação penal, enquanto o acusado ou a</p><p>empresa se mantiverem adimplentes com o parce-</p><p>lamento. A suspensão vale para os crimes contra</p><p>a ordem tributária em geral (Lei nº 8.137, arts. 1º</p><p>20 BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes federais. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2014. p. 824.</p><p>74</p><p>e 2º), bem como a sonegação de contribuição pre-</p><p>videnciária (CP, art. 337-A), excluída a apropriação</p><p>indébita previdenciária (CP, art. 168-A), porque os</p><p>débitos decorrentes de contribuições descontadas</p><p>e não recolhidas não podem ser parcelados (Lei nº</p><p>10.666/03, art. 7º).</p><p>● Pagamento integral (o que inclui o principal,</p><p>multa e juros): extinção da punibilidade para os</p><p>crimes contra a ordem tributária em geral (Lei nº</p><p>8.137, arts. 1º e 2º), bem como para os crimes con-</p><p>tra a ordem tributária previdenciária (CP, arts. 168-</p><p>A e 337-A), restando excluído o descaminho (CP, art.</p><p>334) e outros crimes contra a previdência social.</p><p>75</p><p>AULA 10</p><p>CRIMES CONTRA</p><p>A ORDEM</p><p>TRIBUTÁRIA</p><p>(LEI Nº 8.137/90)</p><p>APROPRIAÇÃO</p><p>INDÉBITA</p><p>PREVIDENCIÁRIA</p><p>77</p><p>O QUE DIZ O ARTIGO 168-A DO</p><p>CÓDIGO PENAL?</p><p>Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social</p><p>as contribuições recolhidas dos contribuintes, no</p><p>prazo e forma legal ou convencional:</p><p>Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e</p><p>multa.</p><p>§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:</p><p>I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra</p><p>importância destinada à previdência social que</p><p>tenha sido descontada de pagamento efetuado a</p><p>segurados, a terceiros ou arrecadada do público;</p><p>II – recolher contribuições devidas à previdência</p><p>social que tenham integrado despesas contábeis</p><p>ou custos relativos à venda de produtos ou à</p><p>prestação de serviços;</p><p>III – pagar benefício devido a segurado, quando</p><p>as respectivas cotas ou valores já tiverem sido</p><p>reembolsados à empresa pela previdência social.</p><p>§ 2º É extinta a punibilidade se o agente,</p><p>espontaneamente, declara, confessa e efetua</p><p>o pagamento das contribuições, importâncias</p><p>ou valores e presta as informações devidas à</p><p>previdência social, na forma definida em lei ou</p><p>regulamento, antes do início da ação fiscal.</p><p>78</p><p>§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena</p><p>ou aplicar somente a de multa se o agente for</p><p>primário e de bons antecedentes, desde que:</p><p>I – tenha promovido, após o início da ação fiscal</p><p>e antes de oferecida a denúncia, o pagamento</p><p>da contribuição social previdenciária, inclusive</p><p>acessórios; ou</p><p>II – o valor das contribuições devidas,</p><p>inclusive acessórios, seja igual ou inferior</p><p>àquele estabelecido pela previdência social,</p><p>administrativamente, como sendo o mínimo para o</p><p>ajuizamento de suas execuções fiscais.</p><p>§ 4º A faculdade prevista no § 3º deste artigo</p><p>não se aplica aos casos de parcelamento</p><p>de contribuições cujo valor, inclusive dos</p><p>acessórios, seja superior àquele estabelecido,</p><p>administrativamente, como sendo o mínimo</p><p>para o ajuizamento de suas execuções fiscais.</p><p>79</p><p>SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO</p><p>PREVIDENCIÁRIA</p><p>O QUE DIZ O ARTIGO 337-A DO CÓDIGO</p><p>PENAL?</p><p>Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social</p><p>previdenciária e qualquer acessório, mediante as</p><p>seguintes condutas:</p><p>I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de</p><p>documento de informações previsto pela legislação</p><p>previdenciária segurados empregado, empresário,</p><p>trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a</p><p>este equiparado que lhe prestem serviços;</p><p>II – deixar de lançar mensalmente nos títulos</p><p>próprios da contabilidade da empresa as quantias</p><p>descontadas dos segurados ou as devidas pelo</p><p>empregador ou pelo tomador de serviços;</p><p>III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros</p><p>auferidos, remunerações pagas ou creditadas e</p><p>demais fatos geradores de contribuições sociais</p><p>previdenciárias:</p><p>Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e</p><p>multa.</p><p>80</p><p>§ 1º É extinta a punibilidade se o agente,</p><p>espontaneamente, declara e confessa as</p><p>contribuições, importâncias ou valores e presta as</p><p>informações devidas à previdência social, na forma</p><p>definida em lei ou regulamento, antes do início da</p><p>ação fiscal.</p><p>§ 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena</p><p>ou aplicar somente a de multa se o agente for</p><p>primário e de bons antecedentes, desde que:</p><p>I – (VETADO)</p><p>II – O valor das contribuições devidas,</p><p>inclusive acessórios, seja igual ou inferior</p><p>àquele estabelecido pela previdência social,</p><p>administrativamente, como sendo o mínimo para o</p><p>ajuizamento de suas execuções fiscais.</p><p>§ 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua</p><p>folha de pagamento mensal não ultrapassa R$</p><p>1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz</p><p>poderá reduzir a pena de um terço até a metade</p><p>ou aplicar apenas a de multa.</p><p>§ 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior</p><p>será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos</p><p>índices do reajuste dos benefícios da previdência</p><p>social.</p><p>81</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/Mensagem_Veto/2000/Mv0961-00.htm</p><p>LANÇAMENTO DEFINITIVO EM</p><p>CRIMES CONTRA A ORDEM</p><p>TRIBUTÁRIA:</p><p>Súmula Vinculante 24 do STF, de seguinte teor:</p><p>“Não se tipifica crime material contra a ordem</p><p>tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei</p><p>nº 8137/90, antes do lançamento definitivo do</p><p>tributo”.</p><p>Princípio da insignificância em crimes contra a</p><p>ordem tributária:</p><p>Com fundamento no artigo 20 da Lei nº 10.522/07,</p><p>com a redação dada pela Lei nº 11.033/03, bem</p><p>como no artigo 14 da Lei nº 11.941/09, elevado</p><p>pela Portaria nº 75/2012 do Ministério da Fazenda,</p><p>tem-se reconhecido o valor de R$ 20.000 (vinte mil</p><p>reais).</p><p>Estado de necessidade (por dificuldade</p><p>financeira) da pessoa jurídica em crimes</p><p>contra a ordem tributária:</p><p>De acordo com José Paulo Baltazar Junior, “ao con-</p><p>trário do que se dá com o crime de apropriação in-</p><p>débita previdenciária (CP, art. 168-A), não tem sido</p><p>82</p><p>admitida a tese defensiva da dificuldade financeira</p><p>em caso de crime de sonegação fiscal”.21</p><p>PARCELAMENTO E PAGAMENTO</p><p>INTEGRAL COMO CAUSAS DE</p><p>SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DA</p><p>PUNIBILIDADE</p><p>● Parcelamento: suspensão da punibilidade e</p><p>de eventual ação penal, enquanto o acusado ou a</p><p>empresa se mantiverem adimplentes com o parce-</p><p>lamento. A suspensão vale para os crimes contra</p><p>a ordem tributária em geral (Lei nº 8.137, arts. 1º</p><p>e 2º), bem como a sonegação de contribuição pre-</p><p>videnciária (CP, art. 337-A), excluída a apropriação</p><p>indébita previdenciária (CP, art. 168-A), porque os</p><p>débitos decorrentes de contribuições descontadas</p><p>e não recolhidas não podem ser parcelados (Lei nº</p><p>10.666/03, art. 7º).</p><p>● Pagamento integral (o que inclui o principal,</p><p>multa e juros): extinção da punibilidade para os</p><p>crimes contra a ordem tributária em geral (Lei nº</p><p>8.137, arts. 1º e 2º), bem como para os crimes con-</p><p>tra a ordem tributária previdenciária (CP, arts. 168-</p><p>A e 337-A), restando excluído o descaminho (CP, art.</p><p>334) e outros crimes contra a previdência social.</p><p>21 BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes federais. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2014. p. 824.</p><p>83</p><p>AULA 11</p><p>MELHORES</p><p>PRÁTICAS EM</p><p>COMPLIANCE</p><p>TRIBUTÁRIO</p><p>ENTREVISTA COM</p><p>ESPECIALISTA</p><p>Entrevistada: Elizabeth Martos</p><p>Mestre em Direito Financeiro,</p><p>Econômico e Tributário pela Faculdade</p><p>de Direito da Universidade de São</p><p>Paulo (USP), pós-graduada em Direito</p><p>Tributário pela Pontifícia Universidade</p><p>Católica de São Paulo (PUC-SP).</p><p>Professora e coordenadora no curso</p><p>MBA-Gestão Tributária da Trevisan</p><p>Escola de Negócios, professora assis-</p><p>tente na Cadeira de Direito Tributário</p><p>no mestrado na PUC-SP e ex- conse-</p><p>lheira titular da Segunda Câmara do</p><p>Tribunal Administrativo de Tributos</p><p>e Multas de São Bernardo do Campo</p><p>(SP).</p><p>85</p><p>A entrevista abordou as melhores práticas em</p><p>compliance tributário para prevenção e mitigação</p><p>de riscos de cometimento de infrações à legislação.</p><p>Dentre os temas abordados, destacam-se:</p><p>● o papel de um programa de compliance para</p><p>gestão tributária;</p><p>● melhores práticas em compliance tributário;</p><p>● as principais red flags a que um profissional que</p><p>atua com questões tributárias deve ter atenção;</p><p>● questões polêmicas e atuais da jurisprudência</p><p>nacional.</p><p>86</p><p>AULA 12</p><p>CRIMES CONTRA</p><p>A ORDEM</p><p>ECONÔMICA</p><p>ABUSO DO PODER</p><p>ECONÔMICO E</p><p>FORMAÇÃO</p><p>DE CARTEL</p><p>88</p><p>Art. 4º Constitui crime contra a ordem econômica:</p><p>I – abusar do poder econômico, dominando o</p><p>mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a</p><p>concorrência mediante qualquer forma de ajuste</p><p>ou acordo de empresas;</p><p>II – formar acordo, convênio, ajuste ou aliança</p><p>entre ofertantes, visando:</p><p>a) à fixação artificial de preços ou quantidades</p><p>vendidas ou produzidas;</p><p>b) ao controle regionalizado do mercado por</p><p>empresa ou grupo de empresas;</p><p>c) ao controle, em detrimento da concorrência, de</p><p>rede de distribuição ou de fornecedores.</p><p>Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e</p><p>multa.</p><p>Abuso de poder econômico e cartel também são</p><p>infrações administrativas previstas na Lei de Defesa</p><p>da Concorrência (Lei nº 12.529/11):</p><p>89</p><p>Art. 36. Constituem infração da ordem econômica,</p><p>independentemente de culpa, os atos sob qualquer</p><p>forma manifestados, que tenham por objeto ou</p><p>possam produzir os seguintes efeitos, ainda que</p><p>não sejam alcançados:</p><p>I – limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar</p><p>a livre concorrência ou a livre-iniciativa;</p><p>II – dominar mercado relevante de bens ou</p><p>serviços;</p><p>III – aumentar arbitrariamente os lucros; e</p><p>IV – exercer de forma abusiva posição dominante.</p><p>§ 1º A conquista de mercado resultante de processo</p><p>natural fundado na maior eficiência de agente</p><p>econômico em relação a seus competidores</p><p>não caracteriza o ilícito previsto no inciso II</p><p>do caput deste artigo.</p><p>§ 2º Presume-se posição dominante sempre que</p><p>uma empresa ou grupo de empresas for capaz</p><p>de alterar unilateral ou coordenadamente as</p><p>condições de mercado ou quando controlar 20%</p><p>(vinte por cento) ou mais do mercado relevante,</p><p>podendo este percentual ser alterado pelo Cade</p><p>para setores específicos da economia.</p><p>90</p><p>§ 3º As seguintes condutas, além de outras, na</p><p>medida em que configurem hipótese prevista</p><p>no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam</p><p>infração da ordem econômica:</p><p>I – acordar, combinar, manipular ou ajustar com</p><p>concorrente, sob qualquer forma:</p><p>a) os preços de bens ou serviços ofertados</p><p>individualmente;</p><p>b) a produção ou a comercialização de uma</p><p>quantidade restrita ou limitada de bens ou a</p><p>prestação de um número, volume ou frequência</p><p>restrita ou limitada de serviços;</p><p>c) a divisão de partes ou segmentos de um</p><p>mercado atual ou potencial de bens ou serviços,</p><p>mediante, dentre outros, a distribuição de clientes,</p><p>fornecedores, regiões ou períodos;</p><p>d) preços, condições, vantagens ou abstenção em</p><p>licitação pública;</p><p>II – promover, obter ou influenciar a adoção de</p><p>conduta comercial uniforme ou concertada entre</p><p>concorrentes;</p><p>III – limitar ou impedir o acesso de novas empresas</p><p>ao mercado;</p><p>[...]</p><p>91</p><p>CASE</p><p>2003 – Cartel na Revenda de Combustíveis</p><p>de Lages/SC (PA nº 08012.004036/2001-24).</p><p>Representante: Ministério Público do Estado</p><p>de Santa Catarina. Representadas: Sindicato do</p><p>Comércio Varejista de Derivados de Petróleo –</p><p>Sindipetro/SC, diversos postos e respectivos. O</p><p>Sindipetro/SC foi condenado ao pagamento de mul-</p><p>ta de R$ 55.000,00; os postos de combustíveis, ao</p><p>pagamento de multa equivalente a 15% do seu fatu-</p><p>ramento anual; e as pessoas físicas, ao pagamento</p><p>de 15% da multa aplicada ao respectivo posto de</p><p>combustível.</p><p>SANÇÕES</p><p>● Processo criminal:</p><p>2 a 5 anos de reclusão e multa.</p><p>● Processo Administrativo (CADE):</p><p>0,1% a 20% do faturamento bruto no ano anterior</p><p>ao da instauração do processo (pessoas jurídicas).</p><p>Pessoas físicas são igualmente punidas (administra-</p><p>dores e não administradores) com multas de 1% a</p><p>20% do valor da multa das empresas ou R$ 50 mil a</p><p>R$ 2 bilhões.</p><p>92</p><p>AULA 13</p><p>RESPONSABILIZAÇÃO</p><p>CRIMINAL</p><p>NO ÂMBITO</p><p>CORPORATIVO</p><p>GOVERNANÇA</p><p>COORPORATIVA</p><p>CONCEITO:</p><p>“É o sistema pelo qual as empresas e</p><p>demais organizações são dirigidas, mo-</p><p>nitoradas e incentivadas, envolvendo os</p><p>relacionamentos entre sócios, conselho de</p><p>administração, diretoria, órgãos de fiscali-</p><p>zação e controle e demais partes interes-</p><p>sadas” (IBGC, 2015).</p><p>Boas práticas de governança corporativa para a</p><p>função de compliance: i) engajamento da alta dire-</p><p>ção (tone at the top) e ii) autonomia da função de</p><p>compliance.</p><p>94</p><p>RESPONSABILIDADE CRIMINAL DA</p><p>PESSOA JURÍDICA</p><p>● Regra geral: não há, em regra, responsabi-</p><p>lização criminal de pessoa jurídica, apenas no</p><p>âmbito cível e administrativo (por exemplo, Lei</p><p>Anticorrupção).</p><p>● Exceção à regra geral: a pessoa jurídica respon-</p><p>de criminalmente em condutas e atividades lesivas</p><p>ao meio ambiente.</p><p>95</p><p>Art. 225, § 3º, da CF/88: “As condutas e atividades</p><p>lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,</p><p>pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e</p><p>administrativas, independentemente da obrigação</p><p>de reparar os danos causados.”</p><p>O art. 225, § 3º da CF/1988, encontra-se</p><p>regulamentado no art. 3º e parágrafo único da Lei</p><p>nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais), o qual</p><p>prevê expressamente a responsabilidade penal da</p><p>pessoa jurídica concomitantemente com os agentes</p><p>físicos integrantes de sua governança:</p><p>“As pessoas jurídicas serão responsabilizadas</p><p>administrativa, civil e penalmente, conforme o</p><p>disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja</p><p>cometida por decisão de seu representante legal ou</p><p>contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse</p><p>ou benefício da sua entidade.”</p><p>Parágrafo único: “A responsabilidade das pessoas</p><p>jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras,</p><p>coautoras ou partícipes do mesmo fato.”</p><p>96</p><p>O QUE DIZ O STF?</p><p>“O art. 225, § 3º, da CF não</p><p>condiciona a responsabilização</p><p>penal da pessoa jurídica por crimes</p><p>ambientais à simultânea persecução</p><p>penal da pessoa física em tese</p><p>responsável no âmbito da empresa.</p><p>A norma constitucional não impõe</p><p>a necessária dupla imputação. As</p><p>organizações corporativas comple-</p><p>xas da atualidade se caracterizam</p><p>pela descentralização e distribuição</p><p>de atribuições e responsabilidades,</p><p>sendo inerentes, a esta realidade, as</p><p>dificuldades para imputar o fato ilícito</p><p>a uma pessoa concreta.” (RE 548.181,</p><p>rel. min. Rosa Weber, j. 6-8-2013, 1ª T,</p><p>DJE de 30-10-2014)</p><p>RESPONSABILIDADE PENAL DOS</p><p>REPRESENTANTES DA EMPRESA POR</p><p>AÇÃO E POR OMISSÃO22</p><p>A omissão é penalmente relevante quando o omi-</p><p>tente deveria e poderia agir para evitar o resultado</p><p>(art. 13, § 2º, do Código Penal).</p><p>22 Para aprofundamento na temática, consulte: ESTELLITA,</p><p>Heloisa. Responsabilidade penal de dirigentes de empresas por</p><p>omissão. São Paulo: Marcial Pons, 2017.</p><p>97</p><p>DEVER DE GARANTE</p><p>Fontes do dever de garante - o dever de agir incum-</p><p>be a quem:</p><p>● tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou</p><p>vigilância;</p><p>● de outra forma, assumiu a responsabilidade de</p><p>impedir o resultado; ou</p><p>● com seu comportamento anterior, criou o risco</p><p>da ocorrência do resultado.</p><p>Mas apenas o dever de garante não é suficiente</p><p>para responsabilização criminal da pessoa física!</p><p>Deve-se verificar: capacidade de impedir o resulta-</p><p>do (poder de evitar o resultado) e nexo causal entre</p><p>conduta omissiva e resultado.</p><p>Demonstração do elemento subjetivo na omissão</p><p>imprópria:</p><p>● ciência do contexto do crime;</p><p>● conhecimento do seu dever de garante; e</p><p>● disposição de instrumentos para interromper o</p><p>processo.</p><p>RESPONSABILIDADE CRIMINAL DO</p><p>COMPLIANCE OFFICER</p><p>Eventual responsabilização criminal do compliance</p><p>officer deverá definida a partir da análise:</p><p>98</p><p>● das suas funções e autonomia dentro da estru-</p><p>tura de governança corporativa da organização;</p><p>● fixação de atribuições e parâmetros de res-</p><p>ponsabilidade no programa de integridade da</p><p>organização;</p><p>● atuação do demais administradores da organi-</p><p>zação (vigilância e supervisão).</p><p>Ação Penal nº 470 (O processo do</p><p>“Mensalão”)</p><p>● Responsabilização criminal do compliance</p><p>officer em relação a crimes de lavagem de dinheiro.</p><p>● Teoria do domínio do fato – “suposição” de par-</p><p>ticipação em razão de posição hierárquica.</p><p>Críticas de Claus Roxin: “a pessoa que ocupa a posi-</p><p>ção no topo de uma organização tem também que</p><p>ter comandado esse fato, emitido uma ordem.”23</p><p>23 Entrevista de Claus Roxin concedida à</p>