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<p>Patologia, Parasitologia</p><p>e Microbiologia Geral</p><p>Prof.ª Ma. Roberta Ribeiro de</p><p>Carvalho</p><p>1ª Edição</p><p>Unis Digital</p><p>Cidade Universitária</p><p>Avenida Alzira Barra Gazzola, 650,</p><p>Bairro Aeroporto. Varginha /MG</p><p>ead.unis.edu.br</p><p>Autoria</p><p>Prof.ª Ma. Roberta Ribeiro</p><p>de Carvalho</p><p>Farmacêutica-Bioquímica graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestre em</p><p>Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Alfenas. Possui especialização em Aná-</p><p>lises Clínicas pela UFJF e Residência em Análises Clínicas no Hospital Universitário pela UFJF.</p><p>Atualmente é docente do Centro Universitário do Sul de Minas UNIS-MG. Tem experiência</p><p>na área de Farmácia Hospitalar e Análises Clínicas com ênfase em Farmacologia, Bioquímica</p><p>e Microbiologia.</p><p>Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1940908740352112</p><p>http://lattes.cnpq.br/1940908740352112</p><p>CARVALHO, Roberta Ribeiro de. Patologia, Parasitologia e Microbiologia GeralPatologia, Parasitologia e Microbiologia Geral..</p><p>Varginha: GEaD-UNIS/MG, 2024.</p><p>XX p.</p><p>1. Patologia. 2. Parasitologia. 3. Microbiologia. 4. Bactérias. 5. Fungos. 6. Ví-</p><p>rus.</p><p>Apresentação</p><p>Prezados alunos,</p><p>Sejam muito bem-vindos à disciplina Patologia, Parasitologia e Microbiologia Geral,</p><p>em que iremos estudar assuntos fundamentais para que você possa compreender processos</p><p>relacionados à saúde-doença.</p><p>Na Patologia vamos entender quais os mecanismos dos processos patológicos em ní-</p><p>veis celulares e moleculares. Iremos, ainda, identificar os agentes agressores, seus mecanismos</p><p>de ação e reações teciduais, incluindo processos inflamatórios, neoplásicos, degenerativos e</p><p>infecciosos. Assim, os conteúdos estudados irão fornecer as bases para o diagnóstico, trata-</p><p>mento e prevenção de diversas doenças.</p><p>Na Parasitologia, iremos estudar a relação parasita-hospedeiro e algumas doenças cau-</p><p>sadas por esses agentes. Já na Microbiologia, iremos estudar as bactérias, fungos e vírus.</p><p>Vocês já devem ter ouvido falar disso tudo, não é mesmo? Mas agora teremos um</p><p>olhar científico, que um Nutricionista necessita para atuar na prevenção de doenças e na pro-</p><p>moção da saúde!</p><p>Para finalizar, vou deixar registrado um trecho de uma poesia do Drummond, que eu</p><p>adoro:</p><p>“O presente é tão grande, não nos afastemos.</p><p>Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”</p><p>Espero que a gente possa crescer juntos! Estou muito animada com mais essa oportu-</p><p>nidade de aprendizado e troca de conhecimentos. E você?</p><p>Ementa</p><p>Introdução ao estudo da Patologia. Lesões celulares re-</p><p>versíveis e irreversíveis. Adaptação celular, distúrbios do</p><p>crescimento e da diferenciação celular. Inflamação e Re-</p><p>paração. Distúrbios hemodinâmicos e dos líquidos. Ne-</p><p>oplasia. Parasitologia: Definições. Relação parasito-hos-</p><p>pedeiro. Principais doenças causadas por protozoários,</p><p>platelmintos, nematelmintos e artrópodes. Perspectivas</p><p>no controle de parasitas. História da microbiologia. Clas-</p><p>sificação e taxonomia. Bacteriologia: Nutrição, cresci-</p><p>mento, metabolismo e diversidade bacteriana. Micolo-</p><p>gia: Morfologia, nutrição, crescimento e metabolismo.</p><p>Virologia: Estrutura, classificação e replicação.</p><p>Sumário</p><p>UNIDADE I - Introdução à Patologia 11</p><p>1.1 Introdução ao Estudo da Patologia 11</p><p>1.1.1 Métodos de Estudo em Patologia 12</p><p>1.2 Adaptação celular 15</p><p>1.2.1 Alteração do número de células: Hiperplasia e Aplasia 16</p><p>1.2.2 Alteração no tamanho da célula: Hipertrofia e Atrofia 18</p><p>1.2.3 Metaplasia 19</p><p>1.3.1 Principais causas de lesão celular 20</p><p>1.3 Lesões celulares reversíveis e irreversíveis 20</p><p>1.3.2 Mecanismos de dano celular 22</p><p>1.3.2.1 Redução da disponibilidade de oxigênio 22</p><p>1.3.2.2 Acúmulo de Radicais Livres 23</p><p>1.3.2 Lesões celulares irreversíveis 24</p><p>UNIDADE2 - Processos inflamatórios, distúrbios hemodinâmicos e neopla-</p><p>sias 30</p><p>Introdução 30</p><p>2.1 Inflamação 30</p><p>2.1.1 Inflamação Aguda 32</p><p>2.1.2 Sinais clínicos na resposta inflamatória 32</p><p>2.1.3 Etapas da inflamação aguda e elementos envolvidos 33</p><p>2.1.4 Inflamação crônica e elementos envolvidos 38</p><p>2.2 Reparação Celular 39</p><p>2.3 Distúrbios hemodinâmicos e dos líquidos 41</p><p>2.3.1 Edema 42</p><p>2.3.2 Hemorragia 43</p><p>2.3.3 Hiperemia 47</p><p>Sumário</p><p>2.3.4 Trombose 47</p><p>2.3.5 Embolia 50</p><p>2.4 Neoplasias 51</p><p>Unidade 1 -</p><p>Introdução à</p><p>Patologia</p><p>Objetivos da Unidade:</p><p>- Identificar os principais processos patológicos, seus mecanis-</p><p>mos e suas consequências.</p><p>- Descrever os principais mecanismos de adaptação celular.</p><p>- Identificar os processos de lesões celulares e os estímulos no-</p><p>civos responsáveis.</p><p>- Determinar as características associadas às lesões reversíveis</p><p>e irreversíveis.</p><p>12</p><p>UNIDADE I - Introdução à Patologia</p><p>1.1 Introdução ao Estudo da Patologia</p><p>Você sabia que “pathos" significa doença ou sofrimento e “logos” significa estudo? Por</p><p>isso dizemos, de uma maneira simplificada, que a patologia se refere ao estudo das doenças.</p><p>Nessa ciência estudamos as alterações tanto morfológicas quanto funcionais das célu-</p><p>las, tecidos e órgãos, procurando entender os mecanismos que estão relacionados ao desen-</p><p>volvimento de várias condições patológicas. Isso é muito importante, afinal, conhecendo es-</p><p>sas alterações, é possível entender as manifestações clínicas e evolução de diversas doenças.</p><p>E, como profissionais de saúde, ao compreender esses processos, podemos atuar não só no</p><p>diagnóstico, mas também na prevenção de doenças e na promoção de saúde!</p><p>Mas, afinal, o que é saúde e o que é doença?</p><p>Saiba mais!</p><p>A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1946, definiu saúde não apenas como a au-</p><p>sência de doença ou enfermidade, e sim como um "um estado de completo bem-estar físico,</p><p>mental e social”. Esse conceito é bastante questionado, afinal, é um estado ideal quase inatin-</p><p>gível.</p><p>Já no Brasil, a Lei no 8.080/1990 define que os níveis de saúde expressam a organiza-</p><p>ção social e econômica do País, tendo a saúde como seus determinantes e condicionantes: a</p><p>alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a edu-</p><p>cação, a atividade física, o transporte, o lazer, o acesso aos bens e serviços essenciais, entre</p><p>outros.</p><p>13</p><p>Nesse contexto, podemos considerar que há uma doença (ou estado patológico) quan-</p><p>do o organismo apresenta uma alteração no seu funcionamento normal, e não consegue se</p><p>adaptar ao ambiente (interno e externo), desencadeando uma série de respostas e levando o</p><p>indivíduo, muitas vezes, à manifestação de diversos sinais e sintomas. Assim, há uma “quebra”</p><p>da homeostase do organismo, e isso pode ocorrer devido a agentes etiológicos tanto internos</p><p>(endógenos) quando externos (exógenos).</p><p>Podemos considerar que a patologia engloba diferentes áreas:</p><p>- Etiologia: é o estudo das causas ou origens das doenças. Entre os fatores etiológicos</p><p>incluem-se os agentes infecciosos (como bactérias, fungos e vírus), fatores ambientais (como</p><p>toxinas, radiações e poluentes), fatores nutricionais (como deficiências ou excessos nutricio-</p><p>nais), fatores genéticos (mutações, doenças hereditárias), etc.</p><p>- Patogênese: é o estudo dos mecanismos de desenvolvimento de uma doença, ou</p><p>seja, “como" determinado processo ocorre. Entre os processos envolvidos, podemos citar a</p><p>resposta inflamatória, alterações celulares e moleculares, etc.</p><p>- Anatomia Patológica: é o estudo das alterações morfológicas dos tecidos, ou seja,</p><p>das lesões que acometem o organismo. Existem alterações e lesões, tanto macroscópicas</p><p>(como úlceras) quanto microscópicas (como necrose, hipertrofia, atrofia).</p><p>- Fisiopatologia: é o estudo das alterações funcionais dos órgãos afetados, como por</p><p>exemplo disfunções orgânicas (como a insuficiência cardíaca, renal ou hepática).</p><p>1.1.1 Métodos de Estudo em Patologia</p><p>Existem diversas técnicas moleculares, citológicas, microbiológicas e imunológicas</p><p>para compreender as mudanças estruturais, bioquímicas e funcionais que ocorrem nas célu-</p><p>las, tecidos e órgãos afetados por doenças.</p><p>O exame de Papanicolau, por exemplo, também conhecido como colpocitológico, é</p><p>um procedimento</p><p>de triagem utilizado para detectar alterações nas células do colo do útero</p><p>14</p><p>que podem indicar de maneira precoce a presença de câncer. Observe na imagem a seguir</p><p>como as células do esfregaço citológico que foram coradas (pela coloração de Papanicolau)</p><p>são visualizadas através de um microscópio.</p><p>A biópsia é um procedimento no qual um pequeno fragmento de tecido é removido</p><p>do corpo para análise macro e microscópica. Na ilustração a seguir é possível observar a re-</p><p>moção de pólipos de um cólon (porção final do intestino grosso) durante a colonoscopia.</p><p>15</p><p>Aplicação profissional!</p><p>Você sabia que a biópsia do intestino delgado pode ser utilizada para confirmar o diag-</p><p>nóstico de doença celíaca, uma condição em que há uma intolerância ao glúten? Além disso,</p><p>biópsias intestinais podem diagnosticar outras patologias, como a doença de Crohn e a colite</p><p>ulcerativa, que podem afetar a absorção de nutrientes.</p><p>Algumas patologias podem ser detectadas a partir de alterações bioquímicas que po-</p><p>dem ser analisadas em exames laboratoriais, a partir de amostras de sangue ou urina.</p><p>Exemplo!</p><p>Em relação às doenças cardiovasculares, por exemplo, as pesquisas começaram a des-</p><p>vendar a associação da cascata de inflamação com o processo de aterosclerose. Hoje, além</p><p>da análise do perfil lipídico tradicional, que inclui a dosagem dos níveis de colesterol, HDL,</p><p>LDL e triglicérides no sangue, a investigação de biomarcadores inflamatórios, como a proteí-</p><p>na C reativa (PCR), vem se tornando uma importante ferramenta clínica para detectar o risco</p><p>cardiovascular.</p><p>16</p><p>Atualmente, as técnicas de biologia molecular, a partir da análise do DNA e RNA, têm</p><p>contribuído significativamente para o entendimento de diversas neoplasias, doenças infeccio-</p><p>sas e até mesmo genéticas!</p><p>Viram como a patologia conta com um enorme arsenal de recursos para estudarmos</p><p>as diversas doenças?</p><p>1.2 Adaptação celular</p><p>Você já parou para pensar que o tempo todo nossas células estão sujeitas a diversos</p><p>tipos de estímulos, agressões e estresses fisiológicos e patológicos?</p><p>Exemplo!</p><p>Um exemplo de estímulo fisiológico seria a realização de um exercício físico, que au-</p><p>menta a demanda de oxigênio e de nutrientes pelos músculos. Já entre os fatores estressores</p><p>patológicos, podemos citar as infecções bacterianas ou virais (que levam à ativação do nosso</p><p>sistema imunológico e de processos inflamatórios), ou então a exposição a drogas (como o</p><p>álcool), ou até mesmo uma lesão mecânica (quando machucamos uma parte do corpo, por</p><p>exemplo).</p><p>Entender como as células respondem a esses diferentes estímulos e estresses é fun-</p><p>damental para a patologia, pois essas respostas podem determinar a saúde ou a doença dos</p><p>tecidos e órgãos. A adaptação eficaz às mudanças fisiológicas é essencial para a manutenção</p><p>da homeostase, enquanto a incapacidade de lidar com estresses patológicos pode levar ao</p><p>desenvolvimento de doenças.</p><p>17</p><p>Conclusão!</p><p>Diante de situações fisiológicas ou patológicas, as células podem percorrer duas vias</p><p>distintas: ou elas sofrem um processo de adaptação e continuam funcionais, ou podem ser</p><p>incapazes de se adaptar, o que leva à lesão celular.</p><p>Os principais tipos de adaptação celular são: hiperplasia, aplasia, hipertrofia, atrofia e</p><p>metaplasia. Vamos estudá-los?</p><p>1.2.1 Alteração do número de células: Hiperplasia e Aplasia</p><p>A hiperplasia refere-se ao aumento do número de células em um tecido ou órgão. O</p><p>processo de hiperplasia pode ser fisiológico. Um exemplo disso é a hiperplasia endometrial</p><p>durante a gestação, que acontece em resposta à estimulação hormonal.</p><p>Após doação para transplante de parte do fígado, a atividade mitótica das células res-</p><p>tantes leva à hiperplasia e, a partir do aumento do número de células hepáticas (os hepatóci-</p><p>tos) ocorre a regeneração do fígado.</p><p>E quando sofremos um corte na pele? Os fibroblastos (que são células envolvidas na</p><p>cicatrização e auxiliam na formação do tecido conjuntivo) se multiplicam, ou seja, acontece</p><p>hiperplasia.</p><p>Na ilustração a seguir, podemos observar uma hiperplasia prostática benigna, uma</p><p>condição médica que se deve à proliferação excessiva das células da próstata, sendo mais</p><p>comum em homens idosos.</p><p>18</p><p>Pense!</p><p>O processo de hiperplasia também pode ser anormal e ter relação com tumores?</p><p>A resposta é sim! Isso porque a hiperplasia patológica pode criar um ambiente propí-</p><p>cio para a proliferação celular descontrolada, característica de diferentes tipos de câncer. O</p><p>aumento da divisão celular pode favorecer a ocorrência de mutações genéticas. Cada vez</p><p>que uma célula se divide, há uma chance de erro na replicação do DNA, aumentando o risco</p><p>de mutações que podem levar ao câncer.</p><p>Já a aplasia é um processo de adaptação celular caracterizado pela ausência ou redu-</p><p>ção significativa na produção de células de um determinado tecido ou órgão. Este fenômeno</p><p>pode ocorrer devido a vários fatores, como radiação, quimioterapia, doenças autoimunes ou</p><p>19</p><p>condições genéticas. A aplasia pode resultar na falência funcional do tecido afetado</p><p>Exemplo!</p><p>Um exemplo de aplasia é a aplasia medular, em que a medula óssea não produz célu-</p><p>las sanguíneas suficientes, levando a uma deficiência em células vermelhas (as hemácias, que</p><p>carreiam oxigênio), células brancas (os leucócitos, nossas células de defesa) e plaquetas (au-</p><p>xiliam no início do processo de coagulação) no sangue. Isso pode causar anemia, infecções</p><p>recorrentes e problemas de coagulação.</p><p>1.2.2 Alteração no tamanho da célula: Hipertrofia e Atrofia</p><p>A hipertrofia é definida como o au-</p><p>mento do tamanho das células. Nessa si-</p><p>tuação não surgem novas células, o que</p><p>acontece é um aumento da quantidade de</p><p>proteínas estruturais e organelas dentro das</p><p>células já existentes. As células musculares</p><p>de quem pratica musculação sofrem esse</p><p>tipo de adaptação!</p><p>Outro exemplo clássico é a hipertrofia cardíaca que acontece em indivíduos hiper-</p><p>tensos, ocorrendo em resposta ao aumento da carga de trabalho no coração. Na imagem a</p><p>seguir podemos observar a hipertrofia ventricular de um coração “gorduroso”.</p><p>20</p><p>Atrofia é a redução do tamanho das células, resultando na diminuição do tamanho de</p><p>um órgão ou tecido. Um exemplo é a atrofia muscular, que pode ocorrer devido à imobiliza-</p><p>ção prolongada. Outras causas seriam perda da inervação, diminuição do suprimento sanguí-</p><p>neo, nutrição inadequada, perda da estimulação endócrina e envelhecimento. Os mecanis-</p><p>mos celulares relacionados à atrofia consistem geralmente numa síntese proteica diminuída</p><p>ou degradação proteica aumentada, ou ambos os fatores associados. É importante destacar</p><p>que, embora as células atróficas tenham sua função diminuída, elas não estão mortas!</p><p>1.2.3 Metaplasia</p><p>Na metaplasia ocorre a mudança no tipo celular de um tecido em outro tipo, adaptan-</p><p>do-se a novos tipos de estresse e ambiente.</p><p>Um exemplo é a metaplasia escamosa no trato respiratório de fumantes, em que o epi-</p><p>télio colunar normal é substituído por epitélio escamoso. Essa adaptação ocorre em resposta</p><p>ao estresse e comumente está presente em áreas com neoplasia.</p><p>21</p><p>1.3 Lesões celulares reversíveis e irreversíveis</p><p>Revendo!</p><p>Uma célula submetida a um estresse fisiológico ou estímulo patogênico pode sofrer</p><p>uma série de adaptações celulares morfológicas e fisiológicas para preservar a sua viabilidade</p><p>e modular a sua função. Mas quando os limites de adaptação são ultrapassados, ocorre uma</p><p>sequência de eventos chamados de injúria celular (lesão celular). Dessa maneira, um estímulo</p><p>torna-se nocivo, levando inevitavelmente a uma lesão celular.</p><p>1.3.1 Principais causas de lesão celular</p><p>• Estímulos físicos:</p><p>- Trauma mecânico: acidentes automobilísticos, um entorse jogando futebol, uma</p><p>contusão muscular, fraturas e feridas por laceração são exemplos. Essas lesões</p><p>frequentemente resultam em ruptura celular, hemorragias, edema e inflamação</p><p>local. No entanto, se o impacto ou a extensão da lesão for muito grande, podem</p><p>levar ao choque (que é uma falência circulatória</p><p>com diminuição da chegada de</p><p>sangue aos tecidos).</p><p>- Variações na temperatura: queimaduras, tanto por frio quanto por calor, podem</p><p>levar a um desequilíbrio hidroeletrolítico, necrose e edema. Você sabia que na</p><p>hipotermia pode haver cristalização de água levando à ruptura da célula? Além</p><p>disso, a vasoconstrição provocada pelo frio pode levar a uma hipóxia.</p><p>- Outros estímulos físicos podem ser a exposição à radiação, descargas elétricas e</p><p>22</p><p>alterações de pressão atmosférica. Você já ouviu falar que os jogadores de futebol</p><p>costumam chegar ao local de partidas em altitudes elevadas com antecedência</p><p>para permitir que seus corpos se adaptem às condições ambientais? Isso porque</p><p>a diminuição da pressão atmosférica causa hipóxia e vasoconstrição periférica,</p><p>dificultando a oxigenação de tecidos.</p><p>• Estímulos químicos: o tempo todo somos submetidos a diversos agentes químicos que</p><p>podem causar danos celulares, como medicamentos, álcool e outras drogas de abuso,</p><p>poluentes ambientais e até mesmo contaminantes alimentares como aflatoxinas e aditi-</p><p>vos químicos.</p><p>• Estímulos biológicos: bactérias, fungos e vírus podem causar diversos tipos de lesão,</p><p>invadindo as células, produzindo toxinas, ou até mesmo desencadeando uma resposta</p><p>inflamatória.</p><p>• Estímulos nutricionais: Distúrbios nutricionais podem ter um impacto significativo</p><p>na saúde celular, tecidual e no desenvolvimento de doenças. A ingestão inadequada</p><p>de nutrientes essenciais, seja por deficiência ou excesso, pode levar a uma variedade</p><p>de consequências prejudiciais para o corpo. Em nível celular, a carência de nutrientes</p><p>importantes pode comprometer as funções metabólicas e estruturais das células, re-</p><p>sultando em lesões celulares.</p><p>Exemplo!</p><p>Por exemplo, a falta de vitaminas antioxidantes, como a vitamina C e a vitamina E,</p><p>pode levar ao estresse oxidativo e danos às estruturas celulares, como as membranas lipídicas</p><p>23</p><p>e o DNA. Isso pode desencadear processos inflamatórios e apoptóticos, contribuindo para a</p><p>progressão de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares e neoplasias.</p><p>1.3.2 Mecanismos de dano celular</p><p>1.3.2.1 Redução da disponibilidade de oxigênio</p><p>Um importante mecanismo de dano celular é a redução da disponibilidade de oxigê-</p><p>nio. A hipóxia é uma condição na qual os tecidos do corpo recebem uma quantidade insu-</p><p>ficiente de oxigênio para manter as funções celulares normais, ou seja, há uma redução da</p><p>disponibilidade de oxigênio. Já anóxia ocorre quando o oxigênio está totalmente ausente.</p><p>Isso pode ocorrer devido a várias razões: quando há uma obstrução de vasos sanguí-</p><p>neos, ocorre redução do fluxo sanguíneo para os tecidos, levando à hipóxia. Também ocorre</p><p>em indivíduos com insuficiência respiratória, com anemias ou em intoxicações por monóxido</p><p>de carbono.</p><p>Quando as células são expostas à hipóxia, várias adaptações e respostas celulares são</p><p>desencadeadas para tentar compensar a falta de oxigênio. No entanto, se a hipóxia persistir</p><p>ou for grave o suficiente, pode levar a danos celulares e disfunção dos órgãos.</p><p>Como consequências da hipóxia para a célula, pode-</p><p>mos citar a diminuição na produção de energia celular. Isso</p><p>acontece porque o oxigênio é necessário para o processo de</p><p>respiração celular, no qual a glicose é degradada para produzir</p><p>energia na forma de ATP (trifosfato de adenosina), levando a</p><p>uma redução na energia disponível para as funções celulares.</p><p>24</p><p>Saiba mais!</p><p>Com a redução de ATP intracelular, há uma diminuição da atividade da bomba de</p><p>sódio e potássio. Isso acaba levando leva ao acúmulo de sódio intracelular e à difusão de</p><p>potássio para fora da célula. O ganho final de sódio resulta na entrada de água na célula, na</p><p>tentativa de equilibrar o potencial hidroeletrolítico celular.</p><p>Isso leva à chamada degeneração hidrópica ou tumefação celular. É uma lesão reversí-</p><p>vel que se caracteriza pelo acúmulo de água no citoplasma da célula, que se torna volumoso.</p><p>Macroscopicamente, os tecidos afetados podem se apresentar com perda do brilho ou pali-</p><p>dez devido à compressão dos capilares e há um aumento de volume e peso do órgão, devido</p><p>ao acúmulo de água. Microscopicamente, entre diversas alterações, podem ser observadas</p><p>células tumefeitas, com vacúolos citoplasmáticos pequenos e claros.</p><p>Além disso, a hipóxia leva ao acúmulo de metabólitos que podem ser tóxicos, como</p><p>ácido lático, que podem causar danos celulares e acidose, já que há ativação da via de respi-</p><p>ração celular anaeróbia.</p><p>Lembrando que se a presença do oxigênio for restaurada, todas essas perturbações</p><p>são reversíveis!</p><p>1.3.2.2 Acúmulo de Radicais Livres</p><p>Radicais Livres (RL) são moléculas que apresentam um elétron desemparelhado na</p><p>sua órbita, o que faz com que elas sejam altamente reativas, capazes de danificar proteínas,</p><p>25</p><p>lipídios e DNA dentro da célula.</p><p>Várias substâncias podem podem aumentar a produção de RL e gerar o chamado es-</p><p>tresse oxidativo. Nessa situação, os radicais livres começam a interagir com os componentes</p><p>celulares, causando a desestabilização das membranas e a ruptura das células. Quando as</p><p>células se rompem, essas moléculas reativas que estavam dentro da mitocôndria são liberadas</p><p>para o ambiente extracelular, aumentando ainda mais a quantidade de RL. Isso cria um ciclo</p><p>vicioso de danos no tecido lesado, levando a processos inflamatórios, à apoptose (morte ce-</p><p>lular programada) ou necrose (morte celular não programada).</p><p>Aplicação profissional!</p><p>Essa cascata de eventos relacionados a radicais livres e estresse oxidativo pode ter</p><p>consequências graves para a saúde, contribuindo para o desenvolvimento de uma variedade</p><p>de doenças, incluindo doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e câncer. Portanto, é</p><p>crucial reduzir a exposição a esses fatores de risco e promover um estilo de vida saudável, rico</p><p>em alimentos antioxidantes, para ajudar a diminuir os efeitos do estresse oxidativo e proteger</p><p>a saúde celular e tecidual.</p><p>1.3.2 Lesões celulares irreversíveis</p><p>Depois de estudarmos diversos estímulos nocivos que podem lesionar as células cor-</p><p>porais, podemos concluir que se eles não forem interrompidos ou se intensificarem, podem</p><p>causar graves danos ao funcionamento e às estruturas da célula, a ponto de ela não conseguir</p><p>retornar suas funções normais. Nesse caso, dizemos que ocorreu uma lesão irreversível, que</p><p>26</p><p>levará à morte da célula.</p><p>Assim, podemos dizer que a morte celular é a perda irreversível das atividades in-</p><p>tegradas da célula, com consequente incapacidade de manutenção dos seus mecanismos</p><p>de homeostasia. Isso pode ocorrer através de danos diretos na membrana plasmática e/ou</p><p>estruturas celulares, ou por estresse oxidativo provocando danos irreversíveis na célula e até</p><p>mesmo pela perda da homeostasia do cálcio celular.</p><p>A morte celular pode ocorrer através de dois processos distintos: apoptose (chamada</p><p>de morte celular programada) ou necrose.</p><p>A morte celular pode ocorrer por apoptose fisiológica ou patológica. Quando há</p><p>apoptose fisiológica, a célula já estava geneticamente programada para morrer em um de-</p><p>terminado momento de sua vida. Já as condições patológicas são decorrentes de agressão</p><p>(física, química ou fatores ambientais). Assim, esse tipo de morte celular pode ocorre como</p><p>um processo de defesa do organismos, diante de lesões celulares por agentes nocivos, mas</p><p>também pode ocorrer pelo envelhecimento celular.</p><p>Na apoptose as células são destruídas de maneira controlada. Ocorre pela ativação co-</p><p>ordenada de uma série de produtos gênicos e eventos moleculares. Há uma fragmentação</p><p>da célula em pedaços envoltos por membranas, e a célula não é destruída por completo.</p><p>Importante!</p><p>A apoptose é um processo fundamental na regulação da densidade normal das po-</p><p>pulações celulares! Você sabia que e a supressão (ou “falha”) da morte celular por apoptose</p><p>pode ser um fator determinante do crescimento de células cancerígenas?</p><p>27</p><p>Diferente da apoptose, a necrose é considerada sempre como um processo patológi-</p><p>co, como resposta</p><p>a uma lesão tecidual. Geralmente atinge várias células ao mesmo tempo, e</p><p>a membrana plasmática é rompida, liberando o conteúdo intracelular. Uma vez que o organis-</p><p>mo não reconhece a necrose como um processo natural do organismo, instala-se no local um</p><p>processo inflamatório. Entre os mecanismos de necrose está a ação degenerativa progressiva</p><p>de enzimas sobre a célula lesada.</p><p>Essa digestão enzimática da célula pode ocorrer através de:</p><p>• Autólise: quando as enzimas degradativas são provenientes de lisossomos das próprias</p><p>células lesadas.</p><p>• Heterólise: quando as enzimas degradativas são extracelulares, provenientes de lisos-</p><p>somos de macrófagos e neutrófilos que migram para o local de morte celular.</p><p>Pesquise!</p><p>A necrose pode ser subdivida em alguns padrões morfológicos distintos: necrose coa-</p><p>gulativa, necrose liquefativa, necrose gordurosa, necrose caseosa, necrose gangrenosa e ne-</p><p>crose fibroide (esta última associada inclusive ao processo de aterosclerose). Vamos pesquisar</p><p>sobre esse assunto?</p><p>A necrose pode evoluir de diferentes maneiras:</p><p>• Absorção: as células de defesa farão fagocitose das células mortas e restos até que a área da</p><p>necrose seja totalmente absorvida.</p><p>28</p><p>• Drenagem: o tecido necrosado é excretado do organismo por uma via natural de con-</p><p>dução (sistema respiratório, digestório, pele).</p><p>• Regeneração: pode acontecer por dois métodos reparativos. Uma maneira é quando</p><p>o tecido necrosado é substituído por um tecido idêntico ao que tinha antes da lesão. Po-</p><p>rém, pode acontecer de o tecido necrosado ser substituído por tecido conjuntivo fibro-</p><p>so. Nessa última situação, o tecido perde suas características morfológicas e funcionais.</p><p>• Calcificação: Sais de cálcio se calcificam nos tecidos moles. Quando a célula morre o</p><p>cálcio presente nas mitocôndrias se depositam no organismo.</p><p>• Encistamento: acontece nos abcessos das necroses de liquefação ou caseosas. Possui</p><p>esse nome devido à membrana produzida em torno do abcesso gerado.</p><p>Para finalizarmos esse assunto, vamos destacar a importância da necrose no diagnós-</p><p>tico laboratorial e na evolução de diversas doenças. Quando acontece a morte celular, as</p><p>células letalmente lesadas liberam diversas proteínas e enzimas na circulação sanguínea, e</p><p>fazer a dosagem dessas substâncias em exames de sangue pode ser muito útil no diagnóstico</p><p>de várias patologias.</p><p>Exemplo!</p><p>O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é considerado uma das principais causas isola-</p><p>das de morte no Brasil. O termo infarto significa que ocorreu a morte das células musculares</p><p>cardíacas, devido a uma isquemia prolongada. Esse processo faz com que algumas proteínas</p><p>e enzimas, como a troponina e a creatina-quinase (CK-MB), sejam liberadas para a corrente</p><p>29</p><p>sanguínea. Por isso, dosagens aumentadas dessas substâncias no exame de sangue pode ser</p><p>uma das maneiras de diagnosticar o IAM. Lembrando que entre os principais fatores de risco</p><p>para as doenças cardiovasculares são: dislipidemia, tabagismo, Hipertensão Arterial Sistêmica</p><p>(HAS), inatividade física, obesidade, Diabetes Mellitus (DM) e dietas não saudáveis!</p><p>Unidade 2 -</p><p>Processos inflamatórios,</p><p>distúrbios hemodinâmicos</p><p>e neoplasias.</p><p>Objetivos da Unidade:</p><p>- Identificar a atuação das células e mediadores envolvidos no</p><p>processo inflamatório.</p><p>- Esquematizar em etapas a inflamação.</p><p>- Compreender os distúrbios hemodinâmicos e dos líquidos.</p><p>31</p><p>UNIDADE2 - Processos inflamatórios, distúrbios hemodinâmicos e neoplasias</p><p>Introdução</p><p>Agora que já conseguimos ter uma visão geral sobre a patologia, entendendo os meca-</p><p>nismos dos processos patológicos em níveis celulares e moleculares, e também os processos</p><p>de adaptação celular, lesões celulares reversíveis e irreversíveis, vamos nos aprofundar um</p><p>pouco mais? Nesta unidade do guia de estudos iremos estudar alguns processos e reações</p><p>teciduais, incluindo processos inflamatórios, distúrbios hemodinâmicos e neoplasias. Vamos</p><p>lá?</p><p>2.1 Inflamação</p><p>A inflamação é uma reação do tecido conjuntivo vascularizado às agressões que nos-</p><p>so corpo constantemente sofre. Geralmente pensamos que a inflamação é algo ruim para</p><p>o organismo, mas isso não é verdade! O desagradável são os sintomas, afinal, a inflamação</p><p>pode trazer dor. A inflamação, na verdade, é um mecanismo de defesa muito importante para</p><p>o nosso organismo, que tenta não só eliminar o agente agressor, mas também nos fazer um</p><p>alerta.</p><p>São objetivos da inflamação:</p><p>• Promover nossa defesa, tentando livrar o organismo</p><p>da causa inicial da lesão celular;</p><p>• Retirar restos teciduais necróticos, realizando uma</p><p>“limpeza” tecidual;</p><p>• Realizar a recuperação do tecido sob lesão.</p><p>32</p><p>Dizemos que o processo inflamatório é uma resposta inespecífica de defesa. Isso por-</p><p>que a inflamação é uma reação geral a qualquer tipo de estímulo agressivo, sendo considera-</p><p>da uma das primeiras linhas de defesa do organismo. É claro que a manifestação clínica pode</p><p>variar de acordo com o órgão atingido mas, no geral, o mecanismo envolvido é bastante</p><p>parecido.</p><p>Qualquer agente agressor é capaz de desencadear uma resposta inflamatória no orga-</p><p>nismo, por isso, são diversas as causas da Inflamação: processos infecciosos, lesões físicas, a</p><p>presença de corpos estranhos, reações imunológicas e até a necrose celular.</p><p>Assim, a inflamação pode estar associada a uma infecção ou não. Dizemos que há</p><p>uma infeção quando há um agente infeccioso presente (pode ser vírus, bactérias, fungos e</p><p>parasitas). Já inflamação é a resposta ao dano que foi causado não só por agentes biológicos,</p><p>mas agentes físicos e químicos também.</p><p>Pesquise!</p><p>Você sabia que alguns alimentos podem causar um processo inflamatório no organis-</p><p>mo? Pesquise a diferença entre intoxicação alimentar e infecção alimentar.</p><p>Bom, apesar de a inflamação poder ser benéfica ao organismo, em algumas situações</p><p>ela pode ser potencialmente lesiva. Isso ocorre quando há efeitos locais ou sistêmicos indese-</p><p>jáveis e aumento de dano tecidual, levando a edema excessivo, dor, febre alta, catabolismo,</p><p>perda de peso e anorexia. Também pode ocorrer em algumas situações uma fibrose excessiva</p><p>durante as cicatrizações, com aderência e limitação de mobilidade articular, por exemplo.</p><p>Muitas vezes utilizamos medicamentos anti-inflamatórios para diminuir as consequên-</p><p>33</p><p>cias nocivas da inflamação!</p><p>2.1.1 Inflamação Aguda</p><p>A inflamação aguda é uma resposta rápida e precoce a um agente agressor, sendo de</p><p>curta duração (pode durar alguns minutos, horas ou até dias). É o que acontece, por exemplo,</p><p>quando batermos o dedinho do pé na quina do móvel, quando temos um corte na pele ou</p><p>sofremos uma queimadura. As etapas da inflamação aguda são bem evidentes, sendo sinto-</p><p>mática, com a presença dos sinais cardinais clássicos: dor, calor, rubor e edema.</p><p>A inflamação aguda pode provocar danos teciduais discretos a graves, e pode destruir</p><p>e eliminar o agente agressor. Quando isso acontece, ou seja, o agente agressor for destruído,</p><p>o processo inflamatório termina e o tecido tende a se recuperar.</p><p>Mas devemos ficar atentos! Isso porque, caso não consiga destruir ou eliminar o agen-</p><p>te agressor, a inflamação aguda pode evoluir para inflamação crônica.</p><p>2.1.2 Sinais clínicos na resposta inflamatória</p><p>A inflamação é um processo biológico complexo que envolve componentes vascula-</p><p>res e celulares, apresentando como 5 sinais clínicos característicos:</p><p>1. rubor (vermelhidão),</p><p>2. calor (aumento da temperatura local),</p><p>3. dor (aumento da resposta sensitiva, em decorrência da compressão do tecido adja-</p><p>cente e da liberação de substâncias químicas),</p><p>4. edema (inchaço causado pelo acúmulo de líquidos no tecido afetado) e</p><p>5. “perda da função” ou prejuízo funcional (comprometimento na funcionalidade do</p><p>tecido).</p><p>34</p><p>Vamos compreender melhor os sinais clínicos a partir do estudo dos mecanismos e</p><p>elementos envolvidos no processo inflamatório.</p><p>2.1.3 Etapas da inflamação aguda e elementos envolvidos</p><p>Assista!</p><p>Veja esse vídeo com uma animação de 1 minuto que sintetiza as etapas da</p><p>inflamação</p><p>que estudaremos a seguir!</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=IDhp3hDB658.</p><p>Quando acontece um dano tecidual ocorre a liberação de diversas substâncias quími-</p><p>cas que irão atuar sinalizando a lesão. Esses mediadores químicos desencadeiam, amplificam</p><p>e controlam a evolução da inflamação.</p><p>Exemplos desses mediadores são histamina, proteínas do sistema complemento, pros-</p><p>taglandinas, histamina, bradicinina, leucotrienos, óxido nítrico e diversas outras citocinas infla-</p><p>matórias (como TNF - fator de necrose tumoral, IL - interleucina).</p><p>Observe na ilustração a seguir, a representação de um macrófago (célula do sistema</p><p>imunológico) liberando citocinas. Esses leucócitos fagocitam (“engolem”) e destroem pató-</p><p>genos, células mortas e detritos celulares.</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=IDhp3hDB658.</p><p>35</p><p>A inflamação é caracterizada tanto por eventos vasculares quanto por eventos celula-</p><p>res.</p><p>Os eventos vasculares estão relacionados às modificações dos vasos sanguíneos que</p><p>estão próximos ao local que sofreu a agressão. Logo após o estímulo lesivo, ocorre uma va-</p><p>sodilatação (os vasos aumentam de calibre), o que provoca o aumento do fluxo sanguíneo</p><p>(hiperemia), que causa calor e rubor (vermelhidão) no local afetado. Além disso, há um au-</p><p>mento da permeabilidade vascular, ocorrendo a formação de espaços entre as células endo-</p><p>teliais que formam o vaso sanguíneo. Isso leva à saída de plasma e proteínas plasmáticas para</p><p>o tecido intersticial, resultando em edema no tecido agredido.</p><p>Saiba mais!</p><p>O edema, que é o acúmulo de líquido e inchaço no local afetado, é um dos respon-</p><p>sáveis por outro sinal da inflamação: a dor. Isso acontece porque o edema pode comprimir</p><p>36</p><p>as terminações nervosas. Mas a dor também é resultado da sensibilização dos nociceptores</p><p>(os receptores da dor) por mediadores inflamatórios que são liberados no local: citocinas,</p><p>quimiocinas e prostaglandinas.</p><p>Vamos falar mais sobre a origem das prostaglandinas? Quando ocorre uma lesão ce-</p><p>lular, a liberação das citocinas pró-inflamatórias como a interleucina 1 (IL-1), faz com que os</p><p>leucócitos liberem a enzima fosfolipase. Essa enzima atua na degradação de fosfolipídios de</p><p>membrana celular, resultando na produção de ácido aracdônico. Nessa etapa entra em ação</p><p>outra enzima: a COX (ou ciclo-oxigenase). A COX, ao atuar no ácido aracdônico, leva à pro-</p><p>dução de prostaglandinas, além de outras substâncias. E as prostaglandinas sensibilizam os</p><p>nociceptores, que atuam em áreas cerebrais responsáveis pela percepção da dor.</p><p>Veja que interessante conhecer essa cascata de eventos! Os medicamentos anti-infla-</p><p>matórios não esteroidais, como nimesulida e ibuprofeno, atuam justamente inibindo a COX.</p><p>Ora, se a COX fica inibida, não haverá produção de prostaglandina e, consequentemente… a</p><p>dor diminui! Também há uma redução da vasodilatação e da permeabilidade vascular, levan-</p><p>do então ao efeito anti-inflamatório.</p><p>Agora que já vimos os eventos vasculares, vamos falar sobre os eventos celulares da</p><p>inflamação aguda, que estão relacionados às células de defesa, os leucócitos (ou glóbulos</p><p>brancos). Existem 5 tipos de leucócitos no nosso sangue, e fazem parte do sistema imune.</p><p>Veja um resultado de exame laboratorial e poderá observar que são contados os seguintes</p><p>tipos de leucócitos no nosso sangue:</p><p>• Neutrófilos ou segmentados: são as principais células envolvidas na inflamação aguda</p><p>e nas infecções bacterianas.</p><p>• Monócitos (quando estão nos tecidos são chamados de macrófagos): células envolvi-</p><p>das principalmente na inflamação crônica.</p><p>37</p><p>• Linfócitos: também células envolvidas especialmente na inflamação crônica e nas in-</p><p>fecções virais. São os linfócitos que produzem os anticorpos.</p><p>• Eosinófilos: células envolvidas especialmente em alergias e parasitoses.</p><p>• Basófilos: células envolvidas especialmente em alergias.</p><p>No processo inflamatório, acontece recrutamento e ativação dos leucócitos. Com o</p><p>aumento da permeabilidade vascular, o fluxo sanguíneo desacelera (chamamos de estase), o</p><p>que permite que os leucócitos se acumulem nas margens dos vasos sanguíneos (marginação).</p><p>Ocorre também a migração dos leucócitos para o local da lesão. Chamamos a passagem dos</p><p>leucócitos pela parede dos vasos sanguíneos de diapedese. A migração dos leucócitos segue</p><p>38</p><p>algumas fases, como captura, rolamento pelo endotélio, adesão firme, transmigração, quimio-</p><p>taxia e ativação.</p><p>Todos esses movimentos orquestrados e coordenados só são possíveis por causa da</p><p>liberação de substâncias quimiotáticas, e esse processo de recrutar os leucócitos é chamado</p><p>de quimiotaxia.</p><p>Os neutrófilos e macrófagos fagocitam os agentes estranhos e tecidos mortos: os fa-</p><p>gócitos, a partir da emissão de pseudópodes, englobam as partículas e formam um vacúolo</p><p>citoplasmático, liberando enzimas lisossômicas que irão degradar o material que foi fagocita-</p><p>do. Além disso, durante esse processo também acontece a liberação de citocinas e fatores de</p><p>crescimento.</p><p>Conclusão!</p><p>Podemos sintetizar que os principais componentes da inflamação aguda são:</p><p>• Reconhecimento do agente agressor</p><p>• Liberação de mediadores químicos</p><p>• Vasodilatação</p><p>• Aumento da permeabilidade vascular</p><p>• Quimiotaxia</p><p>• Chegada de leucócitos no local da lesão</p><p>• Fagocitose</p><p>39</p><p>Download!</p><p>Veja que interessante este artigo científico. COVID-19: Compreendendo a “tempesta-</p><p>de de citocinas”</p><p>Faça o download no link: http://gg.gg/1bd76f</p><p>2.1.4 Inflamação crônica e elementos envolvidos</p><p>A inflamação crônica tem seu estabelecimento lento e gradativo, sendo de duração</p><p>longa, podendo durar meses ou até mesmo anos. Nela, as etapas são mais discretas, ge-</p><p>ralmente é de início assintomático e as manifestações clínicas só surgem com o tempo.</p><p>Entre as causas de inflamações crônicas, estão: inflamações agudas não tratadas, infecções</p><p>persistentes, doenças autoimunes e exposição prolongada a agentes tóxicos. Exemplos de</p><p>inflamações crônicas são hepatite crônica, a artrite reumatoide, a gastrite crônica.</p><p>Diferentemente do que estudamos na inflamação aguda (em que predominava a atua-</p><p>ção dos neutrófilos), na inflamação crônica o predomínio de outras células: as células mono-</p><p>nucleadas!</p><p>Os principais leucócitos mononucleados são os macrófagos que estão nos tecidos</p><p>(quando estão no sangue, são chamados monócitos) ou os linfócitos.</p><p>Outra característica muito importante da inflamação crônica é que ocorre uma des-</p><p>truição tecidual mais significativa. E essa agressão pode levar a uma substituição do tecido</p><p>lesado, especialmente por tecido conjuntivo, levando a uma fibrose. A fibrose pode ser res-</p><p>ponsável por perda da função tecidual, pois o tecido não é reparado e sim substituído por</p><p>tecido fibrótico!</p><p>http://gg.gg/1bd76f</p><p>40</p><p>Aplicação profissional!</p><p>Você sabia que as doenças cardiovasculares como aterosclerose, insuficiência cardía-</p><p>ca, e hipertensão arterial sistêmica constituem as principais causas de óbito no mundo, e que</p><p>a inflamação participa ativamente da patogênese dessas doenças?</p><p>Veja o editorial a seguir, publicado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, que des-</p><p>creve a influência do sistema imunológico nas doenças cardiovasculares.</p><p>https://www.scielo.br/j/abc/a/cnw5gHFHBD7Pf4sVKp3Rjpr/?format=pdf&lang=pt</p><p>2.2 Reparação Celular</p><p>Após o fim do processo inflamatório, acontece o reparo da lesão tecidual. A capacida-</p><p>de do nosso organismo de substituir células lesadas ou mortas e de proceder ao reparo dos</p><p>tecidos após a inflamação é crítica para a sobrevivência.</p><p>Os agentes lesivos ao mesmo tempo que provocam dano no interior das células, dis-</p><p>param uma série de eventos que servem não apenas para conter a lesão (inflamação), mas</p><p>também para preparar as células que não foram letalmente danificadas para a replicação ne-</p><p>cessária à substituição das células mortas.</p><p>De maneira resumida, o processo acontece da seguinte maneira: após a lesão, o fi-</p><p>brinogênio do plasma é transformado em fibrina, o que vai isolar a lesão (casca da ferida)</p><p>e formar um coágulo. Esse isolamento</p><p>impede a penetração de microrganismos. Durante o</p><p>processo inflamatório gerado pela agressão tecidual, os macrófagos secretam uma citocina,</p><p>o fator de crescimento. As células então começam a se multiplicar devido à ação do fator</p><p>de crescimento, fechando a lesão. O fator de crescimento ainda irá atuar nos macrófagos e</p><p>https://www.scielo.br/j/abc/a/cnw5gHFHBD7Pf4sVKp3Rjpr/?format=pdf&lang=pt</p><p>41</p><p>neutrófilos para que estes continuem fagocitando e liberando as citocinas até o fim do reparo</p><p>tecidual.</p><p>Importante!</p><p>O reparo dos tecidos envolve dois processos distintos de proliferação celular. Na re-</p><p>generação há uma substituição das células lesadas por células pelo mesmo tipo celular (sem</p><p>deixar, na maioria das vezes vestígios residuais da lesão). Porém, pode acontecer de o tecido</p><p>lesado ser substituído por tecido conjuntivo fibroso. Nessa última situação, o tecido perde</p><p>suas características morfológicas e funcionais e acontece o que chamamos de fibrose, como</p><p>uma “cicatriz permanente”.</p><p>Tanto o queloide quanto a cicatriz hipertrófica são formas anormais de cicatrização.</p><p>No queloide, que acontece em indivíduos geneticamente predispostos, há um excesso e uma</p><p>desorganização das fibras. Além disso, costuma se formar mais tardiamente e não se restringir</p><p>à área lesionada, podendo, inclusive se expandir ao longo dos anos.</p><p>Já a cicatriz hipertrófica, além de ficar mais restrita ao local da lesão, e com fibras mais</p><p>organizadas, pode regredir em alguns anos ou ser tratada cirurgicamente.</p><p>Mas quais são os fatores que interferem no processo de cicatrização?</p><p>• Existem fatores que são relacionados ao agente agressor:</p><p>- Tipo de agente agressor</p><p>42</p><p>-Tempo de exposição</p><p>•Fatores relacionados ao tecido afetado:</p><p>- Tipo de tecido</p><p>- Suprimento sanguíneo</p><p>• Fatores relacionados ao tecido ao hospedeiro:</p><p>- Estado fisiológico, estilo de vida e doenças pré-existentes</p><p>- Estado nutricional</p><p>Curiosidade!</p><p>Você sabia que o alcoolismo, o tabagismo, diabetes e até hipertensão podem influen-</p><p>ciar no processo de cicatrização? Além disso, indivíduos desnutridos têm dificuldade em for-</p><p>mar cicatriz, devido à ausência de certas proteínas, metais e vitaminas que são importantes</p><p>para a síntese de colágeno.</p><p>2.3 Distúrbios hemodinâmicos e dos líquidos</p><p>A circulação do sangue e a distribuição de líquidos no nosso organismo são processos</p><p>realizados pela ação coordenada do coração, dos vasos sanguíneos e do sistema linfático.</p><p>O sangue tem a função de transportar e fornecer oxigênio e nutrientes, eletrólitos, vita-</p><p>minas, hormônios às células e aos tecidos, e de retirar CO2 e outros produtos do metabolismo</p><p>43</p><p>celular e conduzi-los aos órgãos de desintoxicação e eliminação: fígado e rins.</p><p>Aprofundando nossos conhecimentos em patologia, vamos estudar agora alguns dis-</p><p>túrbios hemodinâmicos e dos líquidos.</p><p>2.3.1 Edema</p><p>O edema é, por definição, o acúmulo de líquido nos es-</p><p>paços intersticiais ou nas cavidades corpóreas.</p><p>O edema pode ser localizado, e receber a nomenclatura</p><p>de acordo com a localização. Por exemplo: edema de braço,</p><p>edema de perna, edema pulmonar, edema de gengiva.</p><p>Já anasarca acontece quando há um edema intenso e ge-</p><p>neralizado, com tumefação profunda do tecido subcutâneo.</p><p>Existem dois tipos de edema:</p><p>• Transudato: Fluido que é basicamente um ultrafiltrado do plasma composto por água,</p><p>eletrólitos, gases dissolvidos, moléculas de baixo peso molecular com poucas proteínas</p><p>e poucas ou nenhuma célula. Geralmente está associado a questões mecânicas e não</p><p>inflamatórias. A hipoalbuminemia (diminuição da albumina no sangue), por exemplo,</p><p>pode levar a uma ascite (acúmulo de líquido na membrana e cavidade peritoneal).</p><p>• Exsudato: fluido ligeiramente turvo, composto por água, eletrólitos, gases dissolvidos,</p><p>rico em proteína plasmáticas e em células sanguíneas (leucócitos). Geralmente é de ori-</p><p>gem inflamatória e ocorre devido ao aumento da permeabilidade vascular.</p><p>As trocas de líquidos e macromoléculas entre o sangue e os tecidos ocorrem especial-</p><p>mente através dos capilares devido aos efeitos opostos de duas forças: a pressão hidrostática</p><p>e a pressão coloidosmótica (ou pressão oncótica). Uma falha nesses processos podem levar</p><p>44</p><p>ao edema.</p><p>As principais causas do edema são:</p><p>• Pressão hidrostática elevada: ocorre na insuficiência cardíaca congestiva, na cirrose</p><p>hepática (hipertensão porta), imobilização (falta da “bomba” muscular responsável pelo</p><p>retorno venoso).</p><p>• Pressão coloidosmótica reduzida: glomerulopatias, desnutrição, cirrose hepática.</p><p>• Obstrução linfática: processos inflamatórios, parasitoses, neoplasias, retirada cirúrgica</p><p>de linfonodos, radioterapia.</p><p>• Retenção primária de sal e água.</p><p>Download!</p><p>Mais um artigo para compor os nossos estudos! Veja que interessante este artigo “As-</p><p>cite: complicação da cirrose”.</p><p>Faça download no link:</p><p>https://revista.unifeso.edu.br/index.php/cadernosdemedicinaunifeso/article/view/1351</p><p>2.3.2 Hemorragia</p><p>Hemorragia é o extravasamento de sangue do espaço vascular para o compartimento</p><p>extravascular – cavidade corpórea, tecido intersticial ou para fora do organismo.</p><p>https://revista.unifeso.edu.br/index.php/cadernosdemedicinaunifeso/article/view/1351</p><p>45</p><p>Existem diversas causas para a hemorragia:</p><p>• Ruptura ou laceração dos vasos sanguíneos (nos traumatismos, por exemplo)</p><p>• Erosão inflamatória ou neoplásica da parede do vaso</p><p>• Aneurismas (dilatação da parede arterial)</p><p>• Hipertensão (aumento da pressão sobre os vasos)</p><p>• Trombocitopenia (redução no número de plaquetas)</p><p>• Alteração nos fatores da coagulação (como a hemofilia, por exemplo)</p><p>Aplicação profissional!</p><p>A vitamina C (ácido ascórbico) é fundamental para a síntese de colágeno. Na sua</p><p>deficiência, uma hipovitaminose conhecida como escorbuto, o colágeno fica defeituoso, es-</p><p>pecialmente nas membranas basais. Isso resulta em fragilidade dos vasos sanguíneos e pode</p><p>levar à hemorragia.</p><p>Veja que interessante esse artigo que relata o caso de escorbuto em uma criança com</p><p>Transtorno do Espectro Autista (TEA)</p><p>https://periodicos.furg.br/vittalle/article/view/14940/10262</p><p>https://periodicos.furg.br/vittalle/article/view/14940/10262</p><p>46</p><p>As hemorragias podem ser internas ou externas. Em alguns casos, a hemorragia pode</p><p>receber nomes específicos:</p><p>• Hematêmese – vômito com sangue</p><p>• Hemoptise – expectoração de sangue</p><p>• Epistaxe – hemorragia nas fossas nasais</p><p>• Hematúria – sangue na urina</p><p>• Melena – sangue nas fezes. Se a hemorragia é “alta” (no início do trato gastrointestinal,</p><p>como no estômago), as fezes ficam escuras. Se a hemorragia é “baixa”, no intestino, as</p><p>fezes ficaram avermelhadas (pois o sangue ainda não foi “digerido”).</p><p>Quando a hemorragia acontece no tecido, de acordo com as características e tama-</p><p>nho do volume de sangue acumulado, podemos diferenciar as hemorragias em:</p><p>• Petéquia: hemorragia puntiforme, pequeninas e averme-</p><p>lhadas, com 1-2 mm de diâmetro – em pele, mucosas ou</p><p>superfícies serosas. Ocorre em trombocitopenia, escorbuto,</p><p>aumento da pressão intravascular local, diminuição fatores</p><p>de coagulação.</p><p>• Púrpuras: manchas hemorrágicas planas, ≥ 3mm de diâ-</p><p>metro – causas semelhantes as da petéquia e traumatismos,</p><p>vasculite, fragilidade capilar, Púrpura Trombocitopênica Idio-</p><p>pática (PTI).</p><p>47</p><p>• Equimoses: caracteriza por manchas hemorrágicas planas,</p><p>1-2 cm de diâmetro, aspecto de borrão, comum nos trauma-</p><p>tismos, em hemofílicos e em cavidade bucal.</p><p>• Hematomas: coleções mais volumosas de sangue, > 2cm</p><p>de diâmetro, em geral por traumatismos, hemofilia.</p><p>As hemácias que foram extravasadas na hemorragia podem sofrer lise ou serem fa-</p><p>gocitadas. A degradação das hemácias extravasadas no tecido subcutâneo faz com que seu</p><p>pigmento, a hemoglobina (que é a proteína que carreia oxigênio no sangue) seja degradada,</p><p>alterando a cor da lesão hemorrágica. No primeiro dia, o hematoma fica vermelho, mudando</p><p>para azul-violáceo nos dias seguintes. Por volta de uma semana, fica esverdeado (pela bilirru-</p><p>bina gerada), e em torno de dez dias,</p><p>fica amarelado, desaparecendo depois.</p><p>A importância clínica e consequência da perda sanguínea vai depender do volume</p><p>de sangue perdido, da velocidade da perda e do local da hemorragia. Uma perda rápida de</p><p>até 20% ou perdas lentas trazem menos impacto no indivíduo saudável. Já uma perda rápida</p><p>acima de 20% pode levar a um Choque Hipovolêmico ou Choque Hemorrágico . A hipoper-</p><p>fusão tecidual sistêmica pode levar a uma lesão generalizada por hipóxia e até morte.</p><p>Saiba mais!</p><p>A anemia é uma condição clínica multifatorial, e é caracterizada por uma diminuição</p><p>48</p><p>no nível de hemoglobina no sangue. Existem diversos tipos de anemia, e uma delas é a anemia</p><p>ferropriva, causada pela diminuição nos níveis de ferro do organismo. Ela pode ser consequ-</p><p>ência de perda sanguínea crônica, pouca ingestão de ferro ou absorção deficiente. Em</p><p>muitos indivíduos a anemia ferropriva é assintomática, mas alguns indivíduos podem cursar</p><p>com os sinais clínicos da deficiência de ferro e diminuição da oxigenação tecidual, que in-</p><p>cluem dor nas pernas, unhas quebradiças, fraqueza, cefaleia, irritabilidade, fadiga e intolerân-</p><p>cia aos exercícios.</p><p>2.3.3 Hiperemia</p><p>A hiperemia é caracterizada pelo aumento da quantidade de sangue em um órgão</p><p>(ou parte dele). Esse aumento do volume sanguíneo pode ser ocasionado por um maior fluxo</p><p>sanguíneo ou pela dificuldade de drenagem (“retorno”) do sangue venoso.</p><p>A hiperemia pode ser fisiológica ou patológica, e o tecido hiperemiado apresenta uma</p><p>coloração mais avermelhada (eritema) que o usual, afinal há uma maior quantidade de sangue</p><p>na região.</p><p>Um exemplo de hiperemia fisiológica ocorre durante a prática de atividade física, já</p><p>que os músculos necessitam de maior aporte de nutriente e oxigênio. É um processo que en-</p><p>volve mecanismos cardiopulmonares e é uma resposta temporária.</p><p>A hiperemia patológica acontece em situações de lesão tecidual, como queimaduras</p><p>e contusões. É muito comum ocorrer hiperemia em tecidos onde há inflamação em curso.</p><p>2.3.4 Trombose</p><p>A hemostasia normal é um processo fisiológico que tem por objetivo manter o sangue</p><p>fluido, livre de coágulos e trombos nos vasos normais. E quando há um corte, o objetivo é</p><p>induzir a formação rápida e localizada de um tampão hemostático nos locais de ruptura vas-</p><p>49</p><p>cular, para interromper o extravasamento de sangue.</p><p>Já a trombose, é o oposto patológico da hemostasia: é um processo patológico carac-</p><p>terizado pela solidificação do sangue dentro dos vasos sanguíneos ou do coração.</p><p>Trombo é a massa sólida que é formada pela coagulação do sangue. Essa massa é</p><p>organizada (camadas) e é composta de plaquetas e fibrina, com aderência de leucócitos e</p><p>hemácias em quantidades variáveis. Temos, então:</p><p>• Trombo – formado na vasculatura íntegra</p><p>• Tampão Hemostático – formado na vasculatura lesada</p><p>Observe na imagem a seguir uma micrografia eletrônica de varredura de um coágulo</p><p>sanguíneo no sangue humano.</p><p>Por outro lado, coágulo é uma massa não estruturada de sangue fora dos vasos ou</p><p>do coração (como quando ocorre sangramento dentro da cavidade peritoneal) ou formado</p><p>pela coagulação após a morte (com a parada da circulação, o sangue tende a se coagular no</p><p>interior dos vasos).</p><p>50</p><p>A trombose resulta então a ativação patológica do processo normal de coagulação</p><p>sanguínea, que pode ocorrer quando existe:</p><p>1) Lesão endotelial — a lesão pode ocorrer por agressão direta causada por bactérias,</p><p>ação de radicais livres, processos inflamatórios, traumatismos, etc. Outras vezes, não</p><p>existe uma alteração morfológica do endotélio, mas sim sua disfunção: isso ocorre na hi-</p><p>percolesterolemia, placa de ateroma, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus.</p><p>Está vendo a importância do nutricionista no entendimento da trombose?</p><p>2) Alterações do fluxo sanguíneo — a redução da velocidade do sangue é um fator im-</p><p>portante na gênese de trombos venosos. Isso pode acontecer na insuficiência cardíaca,</p><p>por exemplo. Por isso também é tão importante que após cirurgias os pacientes voltem</p><p>a se mobilizar e a se movimentar assim que possível. Você já ouviu falar que ficar longos</p><p>períodos imobilizado em uma viagem pode ser um fator de risco para a trombose?</p><p>3) Hipercoagulabilidade do sangue — pode ser provocada pelo aumento no número</p><p>de plaquetas (trombocitose) ou modificações funcionais das plaquetas. Aqui o fator</p><p>genético tem sido cada vez mais reconhecido.</p><p>Pense!</p><p>Agora que entendemos o que é trombose e suas causas, vamos pensar: qual a princi-</p><p>pal consequência da trombose?</p><p>Se você respondeu que os trombos podem obstruir a luz do vasos, você acertou. E as</p><p>consequências podem ser graves: pode levar à isquemia, à trombose venosa profunda (TVP),</p><p>ao infarto agudo do miocárdio (IAM) e embolia pulmonar.</p><p>51</p><p>Entre os fatores de risco estão: varizes, pós-operatórios, obesidade, imobilização pro-</p><p>longada, idade (superior aos 40 anos), uso de anticoncepcionais, gravidez e puerpério, insufi-</p><p>ciência cardíaca, entre outros.</p><p>2.3.5 Embolia</p><p>A embolia é bem parecida com a trombose, e tem as mesmas consequências. A dife-</p><p>rença é que o êmbolo é uma estrutura, uma massa desprendida sendo transportada na cor-</p><p>rente sanguínea (pode ser um elemento sólido, liquido ou gasoso).</p><p>Portanto, o trombo é um coágulo aderido à parede vascular. Já o êmbolo é um corpo</p><p>estranho circulando com o sangue. Ambos possuem a mesma gravidade e causam isquemia</p><p>(diminuição da oxigenação dos tecidos), já que há uma obstrução de vasos sanguíneos.</p><p>Na maioria das vezes (estima-se que em mais de 90% dos casos) o êmbolo é um pe-</p><p>daço de trombo que desprendeu e circulou nos vasos sanguíneos, e por isso usamos o termo</p><p>tromboembolia. Êmbolos mais raros são causados por: bolhas de ar, fragmentos de tumores,</p><p>fragmentos de medula óssea (fratura nos ossos), restos ateroscleróticos (êmbolos de coleste-</p><p>rol) ou corpos estranhos como projéteis.</p><p>E qual o destino dos êmbolos? Livres na circulação, alojam-se em vasos estreitos de-</p><p>mais para permitir sua passagem e com isso resultam em oclusão vascular parcial ou total.</p><p>Como consequência mais grave temos a necrose isquêmica do tecido, que é o infarto.</p><p>A embolia pulmonar geralmente ocorre a partir de êmbolos venosos que se originam</p><p>de trombos nas veias profundas da perna. Em geral, os trombos se despedaçam originando</p><p>vários êmbolos. Os êmbolos são conduzidos através de vasos progressivamente maiores, che-</p><p>gando pela veia cava as câmaras cardíacas direita. Atravessam o ventrículo direito, atingindo</p><p>os vasos sanguíneos pulmonares.</p><p>Entre as consequências da embolia pulmonar estão:</p><p>• Morte súbita – colapso cardiovascular</p><p>52</p><p>• Hemorragia Pulmonar</p><p>• Infarto Pulmonar</p><p>• Hipertensão Pulmonar resultando em Insuficiência Cardíaca Aguda — isso ocorre</p><p>porque o coração faz “força” para o sangue passar pelos pulmões e não consegue, pois, as</p><p>artérias pulmonares estão “obstruídas” pelo êmbolo.</p><p>As condições clínicas que predispõem à tromboembolia pulmonar são as mesmas que</p><p>predispõem a trombose venosa profunda: repouso absoluto, pós-operatório, gravidez, quei-</p><p>maduras, insuficiência cardíaca, metástases, etc.</p><p>Como terapia profilática, podemos citar o uso de anticoagulantes (como heparina),</p><p>antiagregantes plaquetários (como o ácido acetil salicílico) e a fisioterapia de membros infe-</p><p>riores.</p><p>2.4 Neoplasias</p><p>Vamos agora estudar as neoplasias? A neoplasia ocorre quando há uma proliferação</p><p>celular descontrolada e praticamente autônoma. O termo tumor é comumente usado como</p><p>sinônimo, mas foi originalmente usado para os aumentos de volume causados pela inflama-</p><p>ção.</p><p>As neoplasias ou tumores são classificados em malignos ou benignos. Mas, atenção! O</p><p>termo câncer é a denominação genérica usada somente para tumores malignos, e se refere à</p><p>capacidade das células invadirem os tecidos vizinhos (metástase).</p><p>Observe a ilustração de uma célula cancerígena</p><p>em metástase (migrando para outros tecidos ou órgãos</p><p>do corpo).</p><p>53</p><p>O estudo das neoplasias é conhecido como oncologia (“onco" significa</p><p>massa), e é</p><p>muito importante diferenciar as neoplasias de outros crescimentos celulares, que não são ne-</p><p>oplásicos, como hipertrofias e hiperplasias, por exemplo.</p><p>Vamos verificar quais são as principais diferenças entre as neoplasias benignas e as</p><p>malignas:</p><p>Critério Neoplasias Benignas Neoplasias Malignas</p><p>Velocidade de</p><p>crescimento</p><p>Lenta Rápida</p><p>Forma de crescimento Expansiva Expansiva e infiltrativa</p><p>Crescimento à distância</p><p>(metástase)</p><p>Ausente Presente</p><p>As neoplasias benignas apresentam suas células semelhantes às do tecido de origem.</p><p>Seus núcleos não estão alterados, ou seja, a célula neoplásica é indistinguível da normal, po-</p><p>rém, há formação de um arranjo tecidual diferente. Elas não invadem os vasos e não provo-</p><p>cam metástase.</p><p>Já as neoplasias malignas têm crescimento infiltrativo rápido, mitoses frequentes (típi-</p><p>cas e atípicas), invadem vasos, provocam metástase e, assim sendo, provocam hemorragia e</p><p>necrose. Além disso, apresentam células com núcleos alterados: há irregularidades na forma,</p><p>tamanho e número; podem surgir mitoses atípicas, hipercromasia nuclear (grande quantidade</p><p>de cromatina), pleomorfismo (variados tamanhos e formas de núcleo e da célula como um</p><p>todo), etc. O citoplasma dessas células pode ter a relação núcleo/citoplasma alterada. Essas</p><p>54</p><p>características microscópicas são consideradas índices de atipia.</p><p>A nomenclatura das neoplasias benignas geralmente segue a regra de se acrescentar o</p><p>sufixo "oma" ao nome do tecido de origem. Por exemplo: papiloma (origem do epitélio esca-</p><p>moso), adenoma (origem do epitélio glandular), fibroma (do tecido conjuntivo), lipoma ( do</p><p>tecido adiposo) etc.</p><p>Para os tumores malignos, utiliza-se a expressão "carcinoma" para os de origem epi-</p><p>telial e "sarcoma" para os de origem mesenquimal. Por exemplo: carcinoma epidermoide</p><p>(origem do epitélio escamoso), adenocarcinoma (epitélio glandular); fibrossarcoma (tecido</p><p>conjuntivo), osteossarcoma (origem do tecido ósseo) etc.</p><p>Para algumas neoplasias malignas, porém, utiliza-se a regra de nomenclatura das be-</p><p>nignas. Por exemplo: linfomas (origem mesenquimal hematopoiética), melanoma (origem epi-</p><p>telial).</p><p>Apesar de termos tido uma visão geral dos nomes de neoplasias, é importante destacar</p><p>que a nomenclatura desse grupo de lesões está em constante modificação e apresenta cer-</p><p>tas incoerências de padronização. Às vezes, uma lesão que já é sabidamente não-neoplásica</p><p>ainda comporta uma nomenclatura com o sufixo "oma"; é o caso de "granuloma" (processo</p><p>inflamatório crônico).</p><p>Marcadores tumorais são substâncias que podem ser encontradas em quantidades</p><p>acima do normal no sangue, urina ou tecidos do corpo de alguns pacientes com certos tipos</p><p>de tumor. Dosar marcadores tumorais no sangue têm várias utilidades: auxilia no diagnóstico,</p><p>na localização do tumor, no acompanhamento da doença, no estadiamento e prognóstico,</p><p>além de auxiliar na avaliação do tratamento e na detecção de recidivas.</p><p>55</p><p>Exemplo!</p><p>Entre os marcadores tumorais está o PSA (antígeno prostático específico), uma pro-</p><p>teína produzida por células prostáticas normais e anormais. O PSA é encontrado no tecido</p><p>prostático normal, na hiperplasia prostática benigna (HPB) e no tumor de próstata. Existem</p><p>outros diversos marcadores tumorais, que devem ser analisados em conjunto com a clínica e</p><p>outros exames, pois não são específicos somente de neoplasias. O CA-125 é útil para tumor</p><p>de ovário, a AFP (alfafetoproteína) para tumor de fígado, e o CEA (antígeno carcinoembrioná-</p><p>rio) normalmente encontrado em quantidades pequenas no sangue de pessoas saudáveis, é</p><p>utilizado para investigar tumor gastrointestinal.</p><p>Lembra quando estudamos os métodos de estudo em patologia? O diagnóstico de</p><p>neoplasias é um processo complexo que geralmente envolve uma combinação de técnicas</p><p>clínicas, exames de imagem, laboratoriais e patológicas. Entre os exames de imagem, temos a</p><p>ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. A biópsia é um</p><p>procedimento bastante definitivo para o diagnóstico de neoplasias, em que uma amostra de</p><p>tecido é removida e analisada microscopicamente. Após a coleta de uma amostra por biópsia,</p><p>é feito o exame histopatológico: a amostra é processada, corada e examinada ao microscópio</p><p>por um patologista, que irá avaliar a arquitetura tecidual e a citologia. Hoje também é possível</p><p>realizar testes imunohistoquímicos, técnica que utiliza anticorpos específicos para detectar</p><p>proteínas específicas nas células tumorais, além de análises moleculares e genéticas, como a</p><p>PCR (Reação em Cadeia da Polimerase).</p><p>56</p><p>Conclusão!</p><p>Tumores benignos ficam localizados no seu sítio de origem. Somente neoplasias ma-</p><p>lignas (cânceres) são capazes de invadir vasos e causar metástase, levando a um implante tu-</p><p>moral além do tumor primário. Essa disseminação, que permite a célula tumoral se implantar</p><p>à distância, pode acontecer por diferentes vias: hematogênica (na qual o tumor neoplásico</p><p>invade os vasos sanguíneos e faz sua implantação em outra região), linfática (na qual a neo-</p><p>plasia maligna invade vasos linfáticos e migra até outra área) e transcelômica (na qual a disse-</p><p>minação é por meio de ductos, como o ducto biliar).</p><p>UNIDADE I - Introdução à Patologia</p><p>1.1 Introdução ao Estudo da Patologia</p><p>1.1.1 Métodos de Estudo em Patologia</p><p>1.2 Adaptação celular</p><p>1.2.1 Alteração do número de células: Hiperplasia e Aplasia</p><p>1.2.2 Alteração no tamanho da célula: Hipertrofia e Atrofia</p><p>1.2.3 Metaplasia</p><p>1.3.1 Principais causas de lesão celular</p><p>1.3 Lesões celulares reversíveis e irreversíveis</p><p>1.3.2 Mecanismos de dano celular</p><p>1.3.2.1 Redução da disponibilidade de oxigênio</p><p>1.3.2.2 Acúmulo de Radicais Livres</p><p>1.3.2 Lesões celulares irreversíveis</p><p>UNIDADE2 - Processos inflamatórios, distúrbios hemodinâmicos e neoplasias</p><p>Introdução</p><p>2.1 Inflamação</p><p>2.1.1 Inflamação Aguda</p><p>2.1.2 Sinais clínicos na resposta inflamatória</p><p>2.1.3 Etapas da inflamação aguda e elementos envolvidos</p><p>2.1.4 Inflamação crônica e elementos envolvidos</p><p>2.2 Reparação Celular</p><p>2.3 Distúrbios hemodinâmicos e dos líquidos</p><p>2.3.1 Edema</p><p>2.3.2 Hemorragia</p><p>2.3.3 Hiperemia</p><p>2.3.4 Trombose</p><p>2.3.5 Embolia</p><p>2.4 Neoplasias</p>