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<p>11</p><p>Instituto de Ciências Humanas</p><p>Curso de Serviço Social</p><p>Campus: Campinas/Swift</p><p>Ana Carolina Lopes Geraldo</p><p>Paola Kevellyn Soares Cabral</p><p>Justiça Restaurativa:</p><p>O Fazer do Assistente Social no Processo Restaurativo.</p><p>CAMPINAS</p><p>2022</p><p>Ana Carolina Lopes Geraldo</p><p>Paola Kevellyn Soares Cabral</p><p>Justiça Restaurativa:</p><p>O Fazer do Assistente Social no Processo Restaurativo.</p><p>Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Serviço Social apresentado à Universidade Paulista - Swift</p><p>Profa. Orientadora: Ma. Silmara Quintana</p><p>CAMPINAS</p><p>2022</p><p>Ana Carolina Lopes Geraldo</p><p>Paola Kevellyn Soares Cabral</p><p>Justiça Restaurativa:</p><p>O Fazer do Assistente Social no Processo Restaurativo.</p><p>Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Serviço Social apresentado à Universidade Paulista - Swift</p><p>Profa. Orientadora: Ma. Silmara Quintana</p><p>Aprovado em:</p><p>BANCA EXAMIADORA</p><p>____________________/__/__</p><p>Profª Ma. Silmara Quintana.</p><p>Universidade Paulista – SWIFT</p><p>____________________/__/__</p><p>DEDICATÓRIA</p><p>A nós pela perseverança em um tema tão pouco abordado e com tão pouca prática em nossa cidade.</p><p>AGRADECIMENTOS</p><p>Primeiramente a Deus pela conquista e força nessa caminhada da graduação, visto que não foi um processo fácil, mas de muito aprendizado ao percorrer do nosso curso.</p><p>As nossas famílias que estiveram durante todo o processo da graduação, pela paciência, pelo cuidado, pelo amor, pelo apoio, e por toda ajuda nos momentos que precisamos e por toda estrutura que tivemos em todo esse momento da nossa vida.</p><p>Agradecimento a nossa querida orientadora professora e coordenadora Silmara Quintana que muito nos ensinou durante essa longa jornada, que nos trilhou, nos norteou e nos apontou diretrizes durante todo o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, somos muito gratas pela ajuda e por sempre acreditar em nosso potencial, gratidão.</p><p>Enfim, muito obrigado a todos que de forma direta e indiretamente nos apoiaram e contribuíram para que este Trabalho de Conclusão de Curso pudesse ser realizado de uma forma vitoriosa.</p><p>“Diz-se violento o rio que tudo arrasta, mas não se dizem violentas as margens que o oprimem. ”</p><p>Bertolt Brecht</p><p>RESUMO</p><p>A presente pesquisa reflete sobre a Justiça Restaurativa e o seu diálogo com o Serviço Social. Buscando compreender o papel do assistente social como facilitador da escuta compassiva nesse processo. Além de, compreendermos o seu fazer profissional e os diferentes ângulos visto através do olhar profissional. A partir de uma metodologia que compreendeu uma abordagem qualitativa com objetivos descritivos e exploratórios de conteúdos encontrados em relatórios nacionais sobre práticas restaurativas, disponíveis em livros, artigos públicos, sites etc, considerando tanto para coleta como para análise o método dialético. Foram muitos caminhos árduos para identificar a atuação de facilitadores que registram suas práticas, de forma a inspirar e subsidias novos facilitares, e em especial profissionais de serviço social.</p><p>Palavras Chave: Assistente Social, Prática Restaurativa.</p><p>ABSTRACT</p><p>This research reflects on Restorative Justice and its dialogue with Social Work. Seeking to understand the role of the social worker as a facilitator of compassionate listening in this process. In addition, we understand their professional work and the different angles seen through the professional eye. Based on a methodology that comprised a qualitative approach with descriptive and exploratory objectives of content found in national reports on restorative practices, available in books, public articles, websites, etc., considering both the dialectical method for collection and analysis. There were many arduous paths to identify the role of facilitators who record their practices, in order to inspire and subsidize new facilitators, especially social service professionals.</p><p>Keywords: Social Worker, Restorative Practice.</p><p>LISTA DE SIGLAS</p><p>SINASE: Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo.</p><p>ONU: Organização das Nações Unidas.</p><p>PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.</p><p>APEOESP: Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo.</p><p>JR: Justiça Restaurativa.</p><p>CREAS: Centro de Referência Especial Assistência Social.</p><p>CRAS: Centro de Referência Assistência Social.</p><p>SEDUC:  Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.</p><p>CFESS: Conselho Federal de Serviço Social.</p><p>PEP: Projeto Ético Política.</p><p>ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES</p><p>TABELAS</p><p>TABELA 1: Tipos de Círculos.................................................................................20</p><p>GRÁFICO</p><p>GRÁFICO 1: Motivadores Da Agressão.................................................................29</p><p>GRÁFICO 2: Formas de ofensas ............................................................................30</p><p>SUMÁRIO</p><p>INTRODUÇÃO	11</p><p>Capítulo I	12</p><p>1.	O SURGIMENTO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA E SEUS CONCEITOS.	12</p><p>DESVELANDO A JUSTIÇA RESTAURATIVA	12</p><p>1.1 RESGATE HISTÓRICO.	13</p><p>1.2 ADOÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NO BRASIL	14</p><p>2. METODOLOGIAS PARA ALCANÇAR PRÁTICAS RESTAURATIVAS	15</p><p>2.1 CÍRCULOS RESTAURATIVOS – DOMINIC BARTER	16</p><p>PRÉ-CÍRCULO	16</p><p>CÍRCULO RESTAURATIVO	17</p><p>PÓS-CÍRCULO	18</p><p>3. ORIGEM DOS CÍRCULOS DE CONSTRUÇÃO DE PAZ	18</p><p>3.1 PROCESSOS CIRCULARES – KAY PRANIS	18</p><p>3.2 A PREPARAÇÃO PARA UM CIRCULO	19</p><p>4. O OLHAR PARA O AUTOR DO ATO QUE GEROU O CONFLITO	19</p><p>5. KAY PRANIS ESTABELECE OS TIPOS DE CÍRCULOS DE PAZ	20</p><p>5.1 O ASSISTENTE SOCIAL COMO FACILITADOR NAS PRÁTICAS RESTAURATIVAS	22</p><p>CAPÍTULO II	23</p><p>DESVELANDO PRÁTICAS RESTAURATIVAS	23</p><p>METODOLOGIA DA PESQUISA	23</p><p>6.1 RELATÓRIO DA PESQUISA	26</p><p>6.2 ESPAÇO ESCOLAR E A INSERÇÃO DAS PRÁTICAS RESTAURATIVAS	26</p><p>6.3 LEVANTAMENTO DE DADOS:	28</p><p>CAPITULO III	33</p><p>SUPERANDO EXPECTATIVAS AMPLIANDO SABERES	33</p><p>7. Detalhes do Levantamento de Dados	33</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS	39</p><p>REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS	41</p><p>APÊNDICES	43</p><p>ANEXOS	43</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Este trabalho tem como foco principal, trazer à tona como são realizadas as práticas restaurativas e suas abordagens. Objetivando, salientar a importância de sua implementação no universo escolar, familiar e comunitário, em que possivelmente haja a existência de situações conflituosas que necessitam do processo restaurativo. Dissertaremos sobre como é realizada a atuação do Assistente social e seu fazer profissional nas Práticas restaurativas que compõe a Justiça Restaurativa, trazendo consigo a importância de um olhar diferenciado e transformativo durante o decorrer desse processo.</p><p>Nosso tema tem como foco ressaltar a importância que o Profissional do Serviço Social na área sociojurídica, das práticas restaurativas. Salientar as ações desenvolvidas e o resultado positivo das práticas restaurativas no ambiente escolar e na rede intersetorial de serviços, programas e projetos. A justiça restaurativa é um novo olhar sobre justiça, numa perspectiva de cultura de paz.</p><p>Deste modo, seguiremos abordando no primeiro capítulo sobre o surgimento da justiça restaurativa e seus conceitos, trazendo à tona os tipos de círculos, e de que forma cada um deles se torna crucial na hora da aplicação das práticas restaurativas nos diferentes espaços.</p><p>No capítulo dois buscaremos tratar sobre o lócus da pesquisa, a realidade das práticas restaurativas nas escolas brasileiras. Trazendo sua essência e quais os dados obtidos até atualmente no âmbito brasileiro.</p><p>No terceiro e último capítulo, analisaremos os resultados obtidos através da pesquisa realizada, para compreender de que forma sua aplicação gera impactos nas escolas em que ela é inserida.</p><p>Capítulo I</p><p>1. O SURGIMENTO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA E SEUS CONCEITOS.</p><p>DESVELANDO A JUSTIÇA RESTAURATIVA</p><p>Howard Zehr reconhecido como um dos pioneiros da Justiça Restaurativa. Criou o primeiro Centro de Justiça Comunitária nos estados unidos. Um programa para reconciliação entre a pessoa que recebe o ato de violência e o autor do ato, sendo esse</p><p>Art. 9º – Nos procedimentos restaurativos deverão ser observados os princípios da voluntariedade, da dignidade humana, da imparcialidade, da razoabilidade, da proporcionalidade, da cooperação, da informalidade, da confidencialidade, da interdisciplinaridade, da responsabilidade, do mútuo respeito e da boa-fé.</p><p>Parágrafo Único - O princípio da confidencialidade visa proteger a intimidade e a vida privada das partes.</p><p>image1.png</p><p>um dos primeiros programas voltado para a reconciliação. Zehr dirigiu esse centro e atualmente ele atua e dá suporte para esse trabalho.</p><p>Segundo Zehr (2010), a Justiça Restaurativa possui três dimensões, quais sejam: princípios e valores, comunidade e as práticas restaurativas.</p><p>Os princípios, ou ações-chave apontada por Zehr (2010), da Justiça Restaurativa são:</p><p>1.Focar os danos e consequentes necessidades da vítima, e também da comunidade e do ofensor; 2. Tratar das obrigações que resultam daqueles danos (as obrigações dos ofensores, bem como da comunidade e da sociedade); 3. Utilizar processos inclusivos, cooperativos; 4. Envolver a todos que tenham legítimo interesse na situação, incluindo vítimas, ofensores, membros da comunidade e da sociedade; 5. Corrigir os males (ZEHR, 2012, p44 e 45).</p><p>A prática restaurativa configura-se como um método que busca, de maneira geral, a amenização de conflitos entre duas ou mais partes envolvidas em uma situação conflituosa. Tendo como característica principal, a inserção de um espaço de conversa entre as partes envolvidas, visando garantir a reparação dos danos e um ambiente de comunicação e trocas para a superação dos conflitos gerados.</p><p>De acordo com a Resolução 2002/12 da Organização das Nações Unidas – ONU.</p><p>Essa abordagem propicia uma oportunidade para as vítimas obterem reparação, se sentirem mais seguras e poderem superar o problema, permite os ofensores compreenderem as causas e consequências de seu comportamento e assumir responsabilidade de forma efetiva, bem assim possibilita à comunidade a compreensão das causas subjacentes do crime, para se promover o bem estar comunitário e a prevenção da criminalidade (ONU, 2002).</p><p>Sendo assim, a prática restaurativa objetiva através do diálogo entre as partes, garantir que os envolvidos consigam chegar em uma conclusão harmoniosa, aonde tanto quem recebe o ato, quanto o autor da violência possam superar esse obstáculo, sem a necessidade rompimento dos vínculos causadas pelo conflito. As Práticas Restaurativas buscam também através desse encontro, atuar garantindo que todas as partes envolvidas tenham plena satisfação durante o processo, além da responsabilização pelo ato cometido e a superação do obstáculo vivido.</p><p>A prática restaurativa tem como premissas: o compromisso, transparência, respeito de todas as partes, voluntariedade, sensibilização, solidariedade. Visando reparar o mal causado, para que haja a restauração desses danos, pacificação e restauração dos vínculos dos participantes.</p><p>1.1 RESGATE HISTÓRICO.</p><p>A justiça restaurativa teve seu início de fato em 1970 pelo psicólogo Albert Eglash, tendo como base para resolução de conflitos sua experiência com detentos. Foi realizada uma pesquisa com base nesse trabalho e apresentada em 1975 no Primeiro Simpósio Internacional sobre Restituição, realizado em Minnesota, nos Estados Unidos e publicado em 1977 “Beyond Restitucion Creative Resttitucion” (Além da Restituição, Restituição Criativa).</p><p>Esse modelo de justiça tem suas raízes provindo de culturas indígenas do Canadá onde os indígenas usavam esse senso de justiça para restauração da comunidade e das relações.</p><p>Um dos primeiros países a implantar as práticas restaurativas foi a Nova Zelândia em 1989, que reformulou o Sistema de Justiça da Infância e Juventude para diminuir casos de reincidência de jovens infratores na justiça penal juvenil. Nova Zelandia ficou conhecida como um dos países pioneiros na implementação. E anos após implementarem na justiça penal juvenil, implementaram também na justiça criminal de adultos.</p><p>1.2 ADOÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NO BRASIL</p><p>O tema “Justiça Restaurativa”, começa ganhando movimento nos países que possuem a adoção do Common Law (Lei Comum). Baseando-se no direito inglês, a principal fonte para as tomadas de decisões dos casos atuais, é fundamentando-se através dos casos similares julgados anteriormente (Jurisprudência).</p><p>No Brasil, os debates sobre Justiça Restaurativa surgem meados de 2005, através de um projeto chamado “Promovendo Práticas Restaurativas no Sistema de Justiça Brasileiro”. Projeto este, que foi elaborado pela Secretaria da Reforma do Judiciário/ Ministério da Justiça, que mais tarde realizou outros projetos- pilotos de Justiça Restaurativa, juntamente com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento/PNUD. Por outros meios, o movimento foi ganhando reconhecimento aos poucos, recebendo apoio de instituições públicas, e agências internacionais.</p><p>Com o surgimento da Lei 9099/95, há um avanço no que diz respeito a implementação da justiça restaurativa no âmbito Brasileiro, uma vez que esta vige a introdução da oportunidade, permitindo assim a inserção do processo restaurativo no Brasil. (Artigo 1° - Os juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da justiça ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência.)A lei 9099/95 prevê a composição civil (art.74 e parágrafo único), a transação penal (art.76) e a suspensão condicional do processo (art.89).</p><p>Outro avanço que diz respeito a implementação da JR, é a Lei 12.594/2012, conhecida como Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), que regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas aos adolescentes em conflito com a lei, padronizando o atendimento e o processo de apuração das infrações cometidas.</p><p>§ 1o Entende-se por SINASE o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em conflito com a lei (BRASIL, 2012).</p><p>De forma que, mesmo que através um passo de cada vez, aos poucos vão surgindo mais possibilidades da plena aplicação Justiça Restaurativa no Brasil, buscando garantir a restauração de danos causados em situações de conflitos, compreendendo como ocorre o fenômeno que ocasionou o conflito e trabalhando com ele para que haja a sua resolução.</p><p>A justiça restaurativa se sustenta em três pilares ou conceitos centrais: dano, obrigações e engajamento. O primeiro pilar é o dano, que remete às necessidades da vítima e à garantia da centralidade no processo, logo, em JR, fazer justiça é preocupar-se com a vítima, identificar suas necessidades e reparar o dano sofrido concreta e simbolicamente. O segundo é o das obrigações, que define que aquele que provoca um dano deve ser estimulado a se responsabilizar pela reparação e, para tanto, deve compreender o dano em sua extensão e assumir o compromisso de, na medida do possível, repará-lo concreta ou simbolicamente. O terceiro é o engajamento ou participação, que sugere que os afetados pelo dano possam participar do processo judicial, recebendo informações e se envolvendo no processo decisório.</p><p>2. METODOLOGIAS PARA ALCANÇAR PRÁTICAS RESTAURATIVAS</p><p>Para a realização das práticas restaurativas existem diferentes modalidades como: declaração afetiva, pergunta restaurativa, círculo de paz, círculo restaurativo, reunião restaurativa, conferência familiar, entre outras. Buscam através de sua aplicação, um espaço para que os envolvidos no conflito interajam buscando encontrar um meio de solucionar e superar aquele obstáculo. As práticas restaurativas podem ser aplicadas em diversos lugares, com pessoas de faixa etárias diferentes ou pertencentes à grupos diferentes, sejam em escolas, em família, espaços comunitários. Seu objetivo é o mesmo, garantir que os vínculos, entre as pessoas que estão participando do processo, sejam fortalecidos.</p><p>2.1 CÍRCULOS RESTAURATIVOS – DOMINIC BARTER</p><p>Durante esse processo, é importante destacarmos a importância da escuta e mediação autor do conflito e quem recebeu ele, realizado pelo facilitador, buscando que dentro daquele espaço, seja clarificada todas as ideias, afim de que as partes envolvidas consigam chegar em um acordo sem a necessidade de qualquer</p><p>punição. O facilitador visa durante todo o trajeto, transformar a relação de conflito em uma relação harmoniosa. O facilitador ou Pacificador, busca sempre a reparação dos danos causados, assegurando que todos os envolvidos durante o procedimento, sintam-se confortáveis para que haja a troca de comunicação. Podemos dividir esse procedimento em três etapas: Pré-Círculo, Circulo e Pós-Circulo.</p><p>Uma resposta não violenta ao conflito procura aproximar as pessoas, ao invés de distanciá-las. Tanto em casa, no trabalho, na escola, como na justiça formal, nossa resposta é organizar, em separar as pessoas e às vezes de puni-las com a ideia de que isso traz mais segurança comunitária. (BARTER, 2017/08, Rio de Janeiro).</p><p>PRÉ-CÍRCULO</p><p>O pré-Círculo, é o momento aonde o facilitador se coloca a par de todas as informações do processo que gerou o conflito. É durante esse momento, em que ele analisa e busca compreender sobre todos os fatos que ocorreram e levaram até o momento do conflito, a partir daí são realizados encontros com as partes (em momentos separados), vítima, infrator e os demais envolvidos no processo, para a compreensão do que será abordada durante o círculo. Para que ocorra a realização do encontro, logicamente, é necessário que todos os envolvidos estejam aptos e sintam-se confortáveis para participar do processo restaurativo. Buscando também compreender que para de fato acontecer o círculo, é necessário que todos entendam suas partes do fato ocorrido e que será foco do encontro.</p><p>Para a iniciação do pré-círculo o facilitador quem apresenta o processo, os propósitos, ele quem cria as pré-condições e ele quem ouve o ator do ato ou a pessoa recebeu e ouve ambas as partes com uma escuta empática sem julgar o “errado ou certo”, visando definir com cada um o fato a ser abordado no círculo.</p><p>Umas das qualidades que o facilitador precisa para um bom círculo é que ele seja paciente, tenha humildade, tenha uma escuta profunda, disposição para lidar com incerteza, habilidade para compartilhar suas responsabilidades, a autopreparação, deve preparar as partes, planejar os pontos específicos do círculo e entender e aceitar que todos merecem respeito independente do que aconteceu.</p><p>O pré-círculo é para justamente abordarem os fatos ocorridos com a escuta, e o porquê esses círculos restaurativos.</p><p>CÍRCULO RESTAURATIVO</p><p>1. A abertura e apresentação, buscando acolher todas as partes envolvidas.</p><p>2. O momento em que ocorre a discussão sobre o círculo restaurativo e qual o seu intuito.</p><p>3. A discussão do fato ocorrido, a visão de todos os lados em relação ao acontecido, momento de escuta e compreensão. Utilizando este espaço como momento de reflexão.</p><p>4. Entender as necessidades das partes, a auto responsabilização do fato acontecido.</p><p>5. Momento de fechamento, aonde os participantes podem sugerir alternativas para a superação do acontecimento. Durante o momento do acordo, os envolvidos são livres para sugerirem ideias quanto a resolução do conflito. Após a tomada de decisão, o acordo é assinado pelas partes presentes, levando para a realização do Pós-Circulo (CLAUDIA MACHADO, LEOBERTO BRANCHER, TANIA TODESCHINI, 2008, p.15).</p><p>O círculo Restaurativo, é o momento em que o facilitador faz o papel de mediador entre as partes envolvidas no conflito, buscando garantir que ambas possam se comunicar e serem ouvidas ao mesmo tempo.</p><p>PÓS-CÍRCULO</p><p>O pós-círculo, é momento de encontro com todas as partes do círculo restaurativo, para análise e compreensão do que foi declarado no acordo e se de fato este sendo cumprido. Essa etapa é realizada com todos os participantes que estavam presentes no círculo e no momento do acordo, visando garantir que o acordo está sendo efetuado por todas as partes, e se existe a necessidade de dar continuidade ou acrescentar novos etapas no processo.</p><p>2. Processo restaurativo significa qualquer processo no qual a vítima e o ofensor, e, quando apropriado, quaisquer outros indivíduos ou membros da comunidade afetados por um crime, participam ativamente na resolução das questões oriundas do crime, geralmente com a ajuda de um facilitador. Os processos restaurativos podem incluir a mediação, a conciliação, a reunião familiar ou comunitária (conferencing) e círculos decisórios (sentencing circles) ONU,2002/12.</p><p>3. ORIGEM DOS CÍRCULOS DE CONSTRUÇÃO DE PAZ</p><p>A origem dos círculos tem sua tradição comum entre os indígenas da América do Norte, mas comum entre os primeiros indígenas da nação canadense que desenvolveu os círculos como forma de resolução de problemas, e essa resolução era por um bastão que era passado de um em um no círculo e a pessoa que estivesse com o bastão falava e ninguém poderia interromper. Entendiam que o crime era considerado uma desconexão com os valores pessoais e com os valores comunitários e que o ato cometido não era apenas contra uma pessoa, mas para com toda a comunidade. O juiz canadense Barry Stuart quem de fato deu início aos círculos, onde adaptou essas ideias a sua corte. E essas ideias expandiram.</p><p>3.1 PROCESSOS CIRCULARES – KAY PRANIS</p><p>O círculo de paz, vinculado com os processos circulares de Kay Pranis, buscam através da metodologia dos vínculos entre pessoa e comunidade, estabelecer um espaço para trocas de conversas, para resolução e superação de questões vividas pelas pessoas presente no círculo. Este processo é uma das estratégias utilizadas pelas Práticas Restaurativas, objetivando criar um ambiente seguro para um debate das questões vividas, para troca de experiências, sentimentos a fim de que, através do diálogo possam surgir formas de superar o conflito existente.</p><p>3.2 A PREPARAÇÃO PARA UM CIRCULO</p><p>O círculo é um ambiente criado para a finalidade de um diálogo intencional e estruturado, pautado em valores e diretrizes. O círculo tem por finalidade encontrar/ resolver problemas e soluções e fortalecer os vínculos. Antes de iniciar o círculo é dialogado entre todos os participantes como vai começar, quais os assuntos a falar primeiro antes dos assuntos mais difíceis de abordar e como acontecerá. É pautado em diretrizes para que não haja mais tarde algum conflito com as regras propostas, e para que o ambiente seja tranquilo e seguro para todos.</p><p>É função do facilitador criar um espaço de respeito e seguro para que os participantes se sintam à vontade e quando necessário ajudar o grupo a ter um ambiente de respeito. Normalmente os círculos compõe de um facilitador e um co-facilitador.</p><p>Elementos que são essenciais para a construção do círculo de paz:</p><p>Sentar todos os participantes num círculo, Cerimônia de abertura, Peça central, Valores e diretrizes, Objeto da palavra, Perguntas norteadores, e Cerimônia de fechamento (PRANIS, 2010, p.16).</p><p>4. O OLHAR PARA O AUTOR DO ATO QUE GEROU O CONFLITO</p><p>Quando falamos sobre Justiça Restaurativa, e seus métodos para alcançar a resolução dos conflitos gerados, muitas vezes esquecemos de dar a devida atenção ao causador do ato, o que levou este a cometer tal ato? Por que este age dessa forma? São perguntas a serem levadas em consideração no momento em que estamos participando desse processo.</p><p>Em muitos casos, de violência, bullying, se faz necessário um olhar atento a pessoa causadora do ato também, uma vez que está presente em sua vida a existência de conflitos internos, frustrações e até mesmo violência, sejam eles causados dentro de casa, na rua ou em outros ambientes onde está criança convive. E a resposta para essas situações são passa-las as outras pessoas, como forma de descontar a raiva ou por ter aprendido daquela maneira, usando a violência como resposta ao invés do diálogo.</p><p>É necessário identificarmos essas situações, e buscar compreender o autor do conflito, sempre enxergando este como ser humano, e não como alguém que cometeu um crime, ou um ato de violência e ser caracterizado apenas por aquela situação.</p><p>Por isso é importante durante um processo restaurativo buscar entender o que levou aquele conflito a acontecer, por que o autor do conflito agiu de tal maneira, quais são os sentimentos sentidos por ele. Buscando</p><p>sempre escuta qualificada, um espaço aberto para a troca de conversas segura, entender as partes do conflito individualmente e como um todo. O autor do conflito merece como o receptor a chance de ser ouvido e de poder participar dos círculos restaurativos. Entender que um erro não define toda a sua percussão histórica, e que a partir daquele momento em diante, este pode mudar suas alternativas para lidar com conflitos.</p><p>5. KAY PRANIS ESTABELECE OS TIPOS DE CÍRCULOS DE PAZ</p><p>Quando abordamos o tema Círculos Restaurativos, é importante colocarmos em pauta os tipos de círculos existentes e de que forma eles buscam garantir através de sua individualidade, o mesmo objetivo de restauração dos danos apontados. Dentre eles:</p><p>CÍRCULOS</p><p>Círculos Conflitivos</p><p>Estes são executados em casos judiciais, aonde uma das partes envolvidas, busca um plano de sentenciamento entre todos envolvidos, dessa forma possuindo um valor de ação judicial. O círculo de sentenciamento é acompanhado pelo poder judiciário, e seu intuito é que haja a responsabilização pelos danos cometidos, e a superação do mesmo.</p><p>Círculos Não-Conflitivos</p><p>Esses círculos não possuem ligamento com o sistema de justiça, sua aplicação se dá em situações que não envolvam conflitos, sendo seu objetivo um espaço para conhecimento, fortalecimento das relações, e o incentivo de trocas de episódios vivenciados pelos participantes</p><p>Círculo De Diálogo</p><p>Através do diálogo, as partes envolvidas buscam compartilhar suas ideias sobre determinada pauta da roda. Dessa forma partilhando conhecimento com os demais participantes, gerando informações e reflexões sobre o assunto.</p><p>Círculo De Compreensão</p><p>Momento para os participantes buscarem compreender as partes do conflito, para poderem chegar ao que resultou no conflito e em sua resolução.</p><p>Círculo</p><p>De Restabelecimento</p><p>Busca compartir com os demais, os traumas, desconfortos, situações dolorosas. Importante salientar que não há a obrigatoriedade.</p><p>Círculo De Apoio</p><p>A finalidade deste círculo é dar suporte para quem esteja vivenciando uma situação difícil ou complicada no momento.</p><p>Círculo De Construção De Senso Comunitário</p><p>Esse círculo pode ser útil no incentivo de ações coletivas e na promoção da corresponsabilidade (responsabilidade mútua).</p><p>Círculo De Reintegração</p><p>O objetivo deste círculo é realizar a integração de uma pessoa que tenha se afastado de sua comunidade e os participantes dela.</p><p>Círculo De Celebração</p><p>Busca criar um espaço para celebrar conquistas realizadas entre uma ou várias pessoas, incentivando e elogiando suas capacitações.</p><p>(PRANIS,2010)</p><p>5.1 O ASSISTENTE SOCIAL COMO FACILITADOR NAS PRÁTICAS RESTAURATIVAS</p><p>O Assistente social se faz de grande ajuda no processo restaurativo, já que, este faz o papel de sensibilizador e pacificador nas relações fragilizadas, garantindo que todos os participantes desfrutem de seu momento de fala e escuta, e se sintam verdadeiramente compreendidos e ouvidos durante o momento do encontro. Além de, garantir que os vínculos não sejam rompidos, e que não haja a necessidade de utilizar quaisquer tipos de punição, o profissional quando inserido no campo das práticas restaurativas, possibilita atuar, buscando compreender e identificar todo o meio vivido pela comunidade: vulnerabilidades, desigualdade social, situações de direitos violados. O Assistente Social, trabalhando como facilitador, consegue garantir que nenhuma das situações de vulnerabilidade aconteçam ou continuem acontecendo, garantindo a vida plena de todas as partes, identificar a situação de dano e assegurar a sua reparação.</p><p>CAPÍTULO II</p><p>DESVELANDO PRÁTICAS RESTAURATIVAS</p><p>METODOLOGIA DA PESQUISA</p><p>A delimitação do tema busca compreender sobre Práticas Restaurativas, e como se dá a atuação do assistente social presente neste meio frente a resolução de situações conflituosas no ambiente escolar. Partindo deste ponto destacamos as seguintes delimitações:</p><p>Considerando que uma pessoa que recebe o ato de violência tenha a iniciativa de participar do processo de práticas restaurativas, de que forma a esta pode buscar iniciar um procedimento restaurativo junto ao autor da violência? Este também pode ser quem inicia a busca pela resolução de conflitos? A comunidade escolar, é um espaço aonde as crianças e adolescentes estão se desenvolvendo, construindo ideias, se preparando para a vida adulta, além de que, boa parte da vida dos alunos sejam desenvolvidas durante o período escolar. Neste período, é notório que o número de situações conflituosas seja significativo, uma vez que, casos de violência, bullying, exclusão, evasão escolar, influência ao uso de drogas ou bebidas alcóolicas, podem ser recorrentes durante esse período. Como é possível identificar essas relações conflituosas? De que forma ocorre as práticas restaurativas no ambiente escolar; de que forma o assistente social consegue através de sua atuação, articular e contribuir mostrando o diferencial do olhar transformativo durante o processo restaurativo de danos? Entender as motivações e necessidade que geraram conflitos e atos infracionais.</p><p>Quem realiza a prática restaurativa é o facilitador, fazendo o encontro dos envolvidos na situação de conflito, porém tanto o autor quanto o receptor do ato conflituoso podem ter a iniciativa de buscar participar do processo restaurativo, além de terem livre arbítrio para escolher participar ou não do processo circular; no ambiente escolar as práticas de violência podem ocorrer de várias formas.</p><p>O cyberbullying, bullying, xingamentos e até agressões tanto físicas como verbais. Nesses casos, se faz necessário possuir um olhar atento aos sinais e sobre o que está acontecendo nas escolas. Por muitas vezes é possível perceber através do desempenho dos alunos em aula, na indisciplina e casos de violência presentes no âmbito escolar. Uma vez que inserido as práticas restaurativas na comunidade escolar, cabe aos facilitadores presente na escola, identificar as situações conflituosas e a partir deste ponto, trabalhar com os personagens presente no momento de conflito para a restauração da relação e superação do trauma.</p><p>O/A Assistente Social, trabalhando com as práticas restaurativas, consegue vislumbrar com clareza as situações de violação de direitos, atos de violência e situações de conflitos. Além de compreender através de suas competências: ético-político, teorico-metodologico, técnico-operativo, as situações vividas pelos indivíduos, reconhecendo as múltiplas expressões da questão social, respeitando sua realidade, com a finalidade garantir que haja a resolução da situação problema e a relação harmoniosa entre as partes.</p><p>Neste contexto, como objetivo geral obtivemos: Desdobrar a temática Práticas Restaurativas e como ela dialoga com o Serviço Social Escolar, e sua relevância.</p><p>E os demais, objetivos específicos: Reconhecer sobre o processo da Justiça Restaurativa e sua influência, tal como sua atuação nos ambientes escolares. Entender como funciona a implementação dessas práticas, sua elaboração, e desenvolvimento, além de identificar como é realizada a escuta e o processo colaborativo entre autor e o receptor do ato conflituoso no universo escolar. Assimilar como o assistente social pode exercer e contribuir com sua atuação nas práticas restaurativas, no universo escolar, e de que forma a sua atuação vem a contribuir nos ambientes em que haja conflito.</p><p>A realização da pesquisa se deu através do embasamento teórico; com procedimento de levantamentos de dados bibliográficos, utilizando autores, pesquisas, leis, artigos referentes a essa temática. Objetivando compreender sobre as práticas restaurativas e papel do assistente social com facilitador deste processo restaurativo. Executando estudo aprofundado sobre o que é a prática restaurativa, desdobrando os preceitos da temática, os espaços onde esse processo foi inserido e de que forma se dá a atuação do assistente social neste âmbito.</p><p>O foco inicial se distanciou do nosso alcance,</p><p>como pesquisadoras, posto que ainda que no Município de Campinas/SP existe uma legislação própria de Práticas Restaurativas, Lei nº 15.846 de 3 de dezembro de 2019, que Institui a Política Pública de Justiça Restaurativa e o Programa de Justiça Restaurativa no âmbito do município de Campinas, não objetivemos retorno dos órgãos competentes sobre relatórios de práticas restaurativas.</p><p>Incansavelmente buscamos a Secretaria Municipal de Educação, onde fomos encaminhadas para vários representantes que atuam em processos circulares, mas não nos foi encaminhado, ainda que solicitado, relatórios que indicam as práticas restaurativas realizadas, e uma perspectiva de seu alcance e mudança de paradigmas frene a situações de conflitos especialmente do foco da pesquisa sobre bullying.</p><p>Em contato com a equipe interdisciplinar do Sistema de Justiça, Vara da Infância e Juventude de Campinas foram informados que existem os relatórios das práticas Restaurativas para cada caso facilitado, contudo não existe a sistematização em relatórios onde seja indicado os aspectos quantiqualiltativos.</p><p>Diante da ausência de sistematização de informações alteramos a metodologia, abrindo o universo da pesquisa, a nível nacional, em busca de registros de práticas restaurativas que indiquem a metodologia utilizada e os resultados para superação dos conflitos e retomada de espaços de convivência coletiva de paz.</p><p>Assim utilizamos a metodologia com abordagem qualitativa, com procedimentos bibliográficos, em busca de relatórios de profissionais interdisciplinares, que registram informações sobre práticas restaurativas, e através do método dialético organizamos as informações e a analisamos nesse relato de pesquisa.</p><p>Infelizmente não com o detalhamento desejado posto que aguardamos até março do corrente ano o retorno do órgão do município de Campinas antes de abrir a delimitação do tema a nível nacional, o que suscita um olhar menos minucioso pelo tempo acadêmico para entrega da presente monografia.</p><p>6.1 RELATÓRIO DA PESQUISA</p><p>O projeto a princípio tinha como objetivo a análise do fazer do assistente social no processo restaurativo, como é a atuação profissional deste nas práticas restaurativas, como facilitador. Entender como funciona a implementação dessas práticas, sua elaboração, e desenvolvimento, além de identificar como é realizada a escuta e o processo colaborativo entre autor e receptor de ato no universo escolar.</p><p>Foram realizados vários contatos com a Secretaria de Educação Municipal de Campinas, onde é sabido que as práticas restaurativas vêm sendo desenvolvidas, por ser divulgado no Grupo Gestor Municipal de Justiça Restaurativa. Contudo não nos foi encaminhado o número de práticas restaurativas realizadas no universo escolar, nem tão pouco acordos estabelecidos.</p><p>Em contato com o sistema de Justiça, equipe interdisciplinar da Vara da Infância e Juventude da comarca de Campinas, sobre casos que foram encaminhados e que se utilizou práticas restaurativas, obtivemos a informação que não há a sistematização de dados.</p><p>Diante do desafio entre dados objetivos de práticas restaurativas realizadas, e a ausência de documentos oficiais com as respectivas informações, foi necessário proceder a uma pesquisa com foco ampliado em produções publicitadas de outras realidades e municípios.</p><p>6.2 ESPAÇO ESCOLAR E A INSERÇÃO DAS PRÁTICAS RESTAURATIVAS</p><p>O Período escolar, por se tratar de um período em que as crianças e adolescentes passam predominantemente boa parte de sua vida, se torna um espaço de trocas de experiências, comunicação. É neste período que podemos identificar situações de conflitos como: Bullying, uso de substâncias químicas, comportamento agressivos. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), entre os estudantes, 37% declararam ter sofrido algum tipo de violência, como bullying e discriminação. Atitudes essas que podem prejudicar a longo prazo a vida dos demais colegas que vivenciam essas situações de conflito.</p><p>A escola é o ambiente onde se consolidam as interações sociais dos alunos, por isso, é um dos locais de melhor observação para a ocorrência da indisciplina (PINGOELO & HORIGUELA, 2010, p.01).</p><p>Por se tratar de um espaço onde o foco é a aprendizagem de uma maneira leve, e espaço harmonioso entre os estudantes, se faz de suma importância a presença de profissionais capacitados que busquem identificar situações de vulnerabilidade, violência, que estejam prejudicando a longo prazo a vida dos estudantes, sendo um destes profissionais, o assistente social. Através da identificação das situações de conflitos e danos encontrados na comunidade escolar, o assistente social usando a ferramenta das práticas restaurativas, consegue, juntamente com as partes envolvidas busca trabalhar, através do processo restaurativo, a reparação dos danos causados, utilizando o círculo como um espaço de troca mútua de comunicação, garantindo então que ambas as partes resolvam as situações conflituosas, sem a necessidade de romper os vínculos. Garantindo que estes consigam chegar em um acordo pleno para ambas as partes e desfrutar de um ambiente escolar saudável e pleno.</p><p>O assistente social na área da justiça restaurativa atua como facilitador restaurativo. Executando o trabalho de escuta e comunicação. O profissional luta pelos direitos de todas as pessoas, acompanha, orienta através do estudo social, perícias sociais, pareceres, elaborar programas e projetos e desenvolver a atividade em conjunto com as varas da infância e juventude, para garantir acesso aos serviços jurídicos.</p><p>Desta forma é importante enfatizarmos sobre a importância da intervenção do profissional do Serviço Social nas práticas restaurativas, mediando as situações de conflitos, e relacionamentos, corrigindo as situações de violência, reparando as lesões provocadas, valorizando a escuta e fala durante todo o processo restaurativo. Numa perspectiva, de assegurar aos participantes desta prática, absoluta garantia de direitos, a restauração e superação dos obstáculos vivenciados, a plenitude da relação entre as partes. O assistente social comprometido com a filosofia da justiça restaurativa atua como facilitador restaurativo. Executando o trabalho de escuta e comunicação. O profissional luta pelos direitos de todas as pessoas, acompanha, orienta através do estudo social, perícias sociais, pareceres, elaboração programas e projetos e desenvolve o trabalho em rede de garantia de direitos, sendo preservado e buscando fortalecer os vínculos familiares e comunitários.</p><p>Diante disso, se faz muito importante valorizarmos o papel do Assistente Social, presente nas práticas restaurativas, e nos diferentes ambientes em que ela pode ser inserida e exercida pelo profissional.</p><p>(...) as seguintes qualidades são úteis para realizar esta tarefa: Paciência, Humildade, Escuta atenta e profunda, Aceitação de que todos merecem respeito, Disposição para lidar com a incerteza, Habilidade para compartilhar responsabilidade (PRANIS, 2011, p. 09).</p><p>O profissional qualificado e apto a executar todas essas ações, consegue se certificar que durante todo o processo, haverá um espaço seguro e positivo para os participantes conseguirem, juntos, vencer o abalo causado pela situação, e restaurarem o relacionamento. Que todas as etapas sejam concluídas com êxito e todos os indivíduos, as partes do processo, comunidade, consigam se sentir satisfeitos com o resultado obtido através do processo de restauração.</p><p>6.3 LEVANTAMENTO DE DADOS:</p><p>Um dos dados obtidos da pesquisa é o relato de uma experiência desenvolvida em 4 escolas da rede pública e privada de Porto Alegre/RS. Foram selecionadas quatro escolas para participarem do piloto contendo a duração de 10 meses, sendo duas escolas estaduais, uma escola particular e uma municipal. Com iniciativas esparsas de introdução de práticas de Justiça Restaurativa nas escolas desde 2005, no ano de 2007, o Projeto Justiça 21 passa a ter como objetivo prospectar as possibilidades de recepção</p><p>de práticas restaurativas na promoção da cultura de paz no meio escolar através da implantação de Círculos Restaurativos em escolas. Foi realizado durante o processo um diagnóstico situacional de forma a identificar zonas de maiores conflitos e tensão que, como uma fonte de geração de conflitos.</p><p>Três escolas do piloto participaram da pesquisa na etapa referente à opinião dos alunos do ensino fundamental. Foi realizada uma amostragem, selecionando alunos de 4ª e 7ª série, correspondendo 113 alunos ao total. Mais de 25% dessas crianças apontaram haver momentos em que não se sentem bem na escola. Quase 10% dessas declaram sentirem-se muito mal no ambiente escolar. Frise-se que a principal causa do medo são os próprios colegas (12,8%), sendo que mais de 10% dos alunos admitem sentir medo de ir à escola, mas não revelam o motivo de tal sentimento; 8,9% apontam o professor como causa do temor; e 5% definem a tarefa de aula como a principal dificuldade. As principais formas de ofensas que ocorrem entre os alunos do ensino fundamental são apresentadas na figura 1:</p><p>Figura 1 – Formas de ofensas comuns que ocorrem entre os alunos do ensino fundamental. Projeto piloto Justiça para o Século 21, 2007</p><p>· Rir do outro</p><p>· Bater</p><p>· Esconder, quebrar ou roubar coisas do outro</p><p>· Indiferença</p><p>· Ameaças/ chantagem</p><p>· Apelidos</p><p>Nesse período de acompanhamento do piloto nas escolas, foram realizados nove pré-círculos, sete círculos e seis pós-círculos. Um dos alunos, participante do Círculo Restaurativo, em uma escola municipal, na condição de autor, cujo fato consistia em passar o período todo circulando em sala de aula, passou a ter um melhor desempenho escolar, que refletiu numa diminuição de sua agressividade com os demais colegas e num envolvimento nas tarefas propostas pela professora através da maior participação da família na escola, bem como de uma maior atenção de sua educadora com ele.</p><p>Em uma das escolas estaduais, uma das meninas que participou de dois Círculos Restaurativos, na condição de autora, cujo fato era a agressão física contra colegas, passou a não exercer mais esse tipo de conduta, inseriu-se em um grupo de dança na escola e tornou-se líder de turma, deixando de ser vista como uma “liderança negativa”. Frisa-se que a família passou a ser assistida pela rede de apoio da comunidade. Em outro círculo, o fato originário referia-se à negativa de diálogo entre duas colegas da mesma classe da 6ª série. Através da realização do pré-círculo e do círculo foi possível, efetivamente, às pessoas envolvidas refletirem sobre as causas-raiz do fato, que remetiam a um problema anterior, e que, depois de esclarecido, possibilitou melhor qualidade nas relações das meninas, incluindo encontros fora do ambiente escolar no período do pós-círculo.</p><p>Como muitos professores foram chamados para fazer parte do projeto nas escolas, eles analisaram os fatos que levam os alunos a cometerem agressões, na tabela 1 ressalta a perspectiva.</p><p>Tabela 1 – Fatores Motivadores da Agressão na Perspectiva dos Professores. Projeto de Pesquisa Justiça para o Século 21 – Porto Alegre, 2007</p><p>Fatores motivadores da agressão</p><p>%</p><p>Personalidade, caráter</p><p>Status, modelo social</p><p>Racismo, intolerância</p><p>Gênero</p><p>Outros fatores</p><p>Quase não há agressões</p><p>79,3</p><p>38</p><p>33,8</p><p>23,9</p><p>9,9</p><p>5,3</p><p>Para os professores, 100% das agressões possuem cunho verbal, isto é, são insultos, ameaças e xingamentos. Em 86,3% dos casos, essas ofensas desencadeiam também agressões físicas. Outras formas de agressões, como isolamento, rejeição e pressão psicológica (rir de alguém, importunar) corresponderam a 77,7%; chantagens, roubos e destruição, 20,6%; e cerca de 5,3% dos professores não identificam agressões relevantes na escola.</p><p>Outro caso observado foi a aplicação das práticas restaurativas na escola pública de Santana no Paraná: E.E Professor José Ribamar Pestana. No ano de 2014, o ministério público lança o Projeto Ciclo Restaurativo para Trabalhar Conflitos na Escola Ribamar Pestana tendo como convidado: Comunidade Escolar, Pais, Conselho Tutelar, CREAS e CRAS.</p><p>Em 2017[footnoteRef:2], cria-se seu interior do Estado do Paraá/SP o Núcleo de Práticas Restaurativas objetivando trabalhar os valores que orientam a formação da paz, como também da construção da convivência pacífica no ambiente escolar. Segundo os dados da Escola Ribamar Pestana; A escola foi grata por essa parceria com o Ministério Público, na questão não violência no interior da escola, pois antes, agressões, desrespeitos, discriminações, indisciplinas, excesso de faltas e evasões eram presentes no cotidiano escolar. [2: São divulgadas inúmeros avanços no que tange a implantação de práticas restaurativas na rede de proteção e sistema de garantia de direitos. Mas o detalhamento das práticas tem se limitada as pesquisas acadêmicas. Isso nos suscita quanto devemos avançar no registro de nossas praticas profissionais, e as publicar, favorecendo uma visão de todos os esforços envidados para se efetivar uma cultura de paz no território nacional.]</p><p>Segundo os dados da escola, aos poucos com a aplicação dos círculos restaurativo, foram- se mostrando mudanças nos tratamentos com os alunos, além de transformar o ambiente escolar, um espaço mais agradável e harmonioso. Com a realização dos círculos diários, o diálogo, a acolhida, escuta com os alunos, forma surgindo resultados positivos na escola.</p><p>Porém a escola ressalta que obtiveram grandes obstáculos no decorrer dessa trajetória, tendo em vista que existe a falta de iniciativa de alguns professores de sentar com os alunos para discutir o porque de algumas situações, existe o distanciamento do dialogo e relação dos alunos com os professores resultando no despreparo afetivo e profissional e a conduta de alguns alunos que não demonstram mudança.</p><p>Obstáculos esses que são vividos e encontrados diariamente pelos docentes, que buscam através dessas experiências, aos poucos vence-los e garantir ao estudantes a existência de mais resultados positivos ofertando espaços de escuta e comunicação. Buscando manter o compromisso com a proteção da Criança e do Adolescente trazendo assim a aplicação das práticas restaurativas como forma de resolução pacífica dos conflitos.</p><p>Isso conforme nos relatam Rute Helena da Silva Gama, Girlene Barcelar Lima, Maria De Jesus Pedreira Ferreira (2019, p. 184) “Afinal, é necessário que a escola e seus atores se façam integrantes deste espaço buscando sempre uma convivência harmoniosa e equilibrada.”</p><p>Um outro relato sob a perspectiva de uma professora que passou pela experiencia das praticas restaurativas nas escolas estaduais de Fortaleza.</p><p>Aqui na escola participamos eu e um outro professor do curso ofertado pela SEDUC em 2017 sobre os círculos de construção de paz e mediação de conflitos. O professor que foi comigo, ele foi no seu dia de folga, não tinha nada, ele não tinha nada de bônus na escola, ele ia ao dia de folga dele, mas ele ia, a gente ia toda sexta-feira para o curso, que aconteceu em uma outra escola [...] , foram alguns meses e as temáticas que nós tratamos lá no curso, elas me ajudaram, elas me ajudaram [uma pausa] enquanto coordenadora da escola, elas me ajudaram enquanto uma pessoa que participava de uma dinâmica de escola, com mais de mil alunos, as práticas restaurativas me ajudou enquanto pessoa sabe, me ajudou a ter sensibilidade pra outras questões na escola, [...] desenvolvendo essa prática com os alunos ouvi depoimentos incríveis, do tipo “tia gostei muito do círculo”, “agora consigo perdoar aquela menina ouvindo ela falar no círculo” [...] foram muitas coisas, muitas falas tocantes. Até com o pessoal da limpeza consegui fazer um círculo restaurativo devido um probleminha que aconteceu, um conflito entre eles mesmos, e você nem imagina como eles gostaram, até pediram de novo [...], mas que pena que não temos uma ação voltada só pra isso, falta mais pessoal a ser qualificado na escola (PROFESSORA 1, 2019) (Escola 6).</p><p>A trajetória percorrida escolhida veio da pesquisa exploratória em seis escolas estaduais em Fortaleza, que já desenvolvem</p><p>alguma abordagem restaurativa no cotidiano escolar. Dentre estas, priorizou-se entrevistar um(uma) docente que atuam com a Justiça Restaurativa. Além dessas ferramentas, utilizou-se a observação direta e diário de campo. Objetivando, a partir da escolha de vários instrumentais, uma aproximação mais intensa do fenômeno desejado.</p><p>Entendemos que existem inumeras ações sendo desenvolvidas enquanto pesquisavamos justiça restaurativa e suas praticas, mas urge superar a ausênica do registro das intervenções profissionais, sejam essas interdiscilinares, para que a divulgação se processe de forma mais ampla e desenhada sobre os vários olhares de quem supera conflitos e se harmoniza para uma convivência de paz.</p><p>CAPITULO III</p><p>SUPERANDO EXPECTATIVAS AMPLIANDO SABERES</p><p>7. Detalhes do Levantamento de Dados</p><p>A delimitação do tema busca compreender sobre Práticas Restaurativas, e como se dá a atuação do assistente social presente neste meio frente a superação de situações conflituosas no ambiente escolar. Partindo deste ponto destacamos as seguintes delimitações:</p><p>Considerando que uma pessoa que recebe o ato de violência tenha a iniciativa de participar do processo de práticas restaurativas, de que forma a esta pode buscar iniciar um procedimento restaurativo junto ao autor da violência? Este também pode ser quem inicia a busca pela resolução de conflitos? A comunidade escolar, é um espaço aonde as crianças e adolescentes estão se desenvolvendo, construindo ideias, se preparando para a vida adulta, além de que, boa parte da vida dos alunos sejam desenvolvidas durante o período escolar. Neste período, é notório que o número de situações conflituosas seja significativo, uma vez que, casos de violência, bullying, exclusão, evasão escolar, influência ao uso de drogas ou bebidas alcóolicas, podem ser recorrentes durante esse período. Como é possível identificar essas relações conflituosas? De que forma ocorre as práticas restaurativas no ambiente escolar; De que forma o assistente social consegue através de sua atuação, articular e contribuir mostrando o diferencial do olhar transformativo durante o processo restaurativo de danos? Entender as motivações e necessidade que geraram conflitos e atos infracionais.</p><p>Os desafios que se apresentam à escola, hoje, surgem não só devido àquilo que não conseguiu cumprir, mas também às novas e diferentes transformações que estão se operando na sociedade atual. E aqui se inclui o tema em questão – a violência –, cabendo à escola pensar e refletir sobre os fenômenos sociais que têm surgido com maior intensidade. (Almeida (2009, p. 23)</p><p>Por detrás de toda violência cometida, nos diferentes espaços do nosso cotidiano, existe a presença de um outro fator que leva aquela pessoa a cometer o ato, é importante compreender que o ato por si só não ocorre do “nada”.</p><p>A alusão ao termo violência não pode estar separada do contexto que “implica referenciar valores e normas” que se modificam “no tempo e no espaço das relações sociais”. Nas formações sociais do passado, por exemplo, o sentido atribuído à violência estava mais diretamente associado à “existência de dano físico” ao passo que, nas sociedades atuais, a emergência de novas sensibilidades amplia o significado e o alcance do termo, vinculando-o às práticas de “discriminação por cor, sexo, idade, etnia, religião, escolha sexual; situações de constrangimento, exclusão ou humilhação”. A ampliação dos provedores de significados alusivos à violência sugere que os processos de investigação sobre o tema não devem ser “determinados a priori, mas apreendidos nos coletivos onde se desenvolve a pesquisa” (BONAMIGO, 2008, p. 206).</p><p>Nas escolas de Porto Alegre onde foram feitas as pesquisas bibliográficas, é visível que as presenças das práticas restaurativas tiveram um impacto notavelmente diferente. Percebe-se que o objetivo em comum, é a resolução de conflitos dentro do ambiente escolar, além da compreensão do porquê acontece de fato os atos de violências que se manifestam de várias formas.</p><p>A violência na escola remete a questões específicas de seu espaço, mas também, tem a ver com as condições objetivas do território, do espaço social que se situa, ou melhor dizendo, “A violência “da” escola ocorre “na” escola e “dentro da escola”, mas pode acontecer que ultrapasse os muros do estabelecimento” (ABRAMOVAY, 2005 p. 20).</p><p>A análise da figura 1 transparece detalhes sobre os tipos de ofensas que acontece nas escolas. É sempre o padrão de: bater, xingar, rir do colega, ameaçar entre outras formas de agressão e ofensas dentro desses espaços. E por causa dessas atitudes, o ambiente escolar por muitos motivos, torna-se tóxico e perigoso. Mas as práticas restaurativas no ambiente escolar têm como objetivo, garantir que os atos de violência, sejam dialogados e refletivos em suas causas e que gere nos indivíduos que propagam a violência perceberem o que o ato gera em si e no outro. Há uma certa efetivação na propagação dessa metodologia, mas não há muitos relatos sobre como se dá a efetivação de fato das práticas no universo escolar, dificultando assim a compreensão objetiva e também subjetiva dessa prática transformativa.</p><p>A Justiça Restaurativa e as práticas restaurativas são presentes no cotidiano das reflexões sobre a cultura de paz, suas metodologias de intervenção, ou ainda as formas que são desenvolvidas, mas nos casou muito estranhamento, e por dizer decepção que há poucos registros, Chamamos aqui de um hiato entre as ações efetivadas e a sua publicitação cientifica, que podem ser um fator limitador para se ter maiores investimentos humano, financeiros e estruturais para que se amplie projetos de Práticas Restaurativas especialmente no universo escolar.</p><p>Essa filosofia ainda que nova no Brasil, 2005 – 2022, são 17 anos, tendo como iniciantes educadores e juízes, demonstra um grande potencial para o processo de transformação para a Cultura de Paz.</p><p>A primeira hipótese levantada: Quem realiza a prática restaurativa é o facilitador, fazendo o encontro dos envolvidos na situação de conflito, porém tanto o autor quanto o receptor do ato conflituoso podem ter a iniciativa de buscar participar do processo restaurativo, além de terem livre arbítrio para escolher participar ou não do processo circular; posto que no ambiente escolar as práticas de violência podem ocorrer de várias formas.</p><p>Na segunda hipótese, o cyberbullying, bullying, xingamentos e até agressões tanto físicas como verbais. Nesses casos, se faz necessário possuir um olhar atento aos sinais e sobre o que está acontecendo nas escolas. Por muitas vezes, é possível perceber através do desempenho dos alunos em aula, na indisciplina e casos de violência presentes no âmbito escolar. Uma vez que inserido as práticas restaurativas na comunidade escolar, cabe aos facilitadores presentes na escola, identificar as situações conflituosas e a partir deste ponto, trabalhar com os personagens presente no momento de conflito para a restauração da relação e superação do trauma.</p><p>A última hipótese levantada foi que o/a Assistente Social, trabalhando com as práticas restaurativas, consegue vislumbrar com clareza as situações de violação de direitos, atos de violência e situações de conflitos. Além de compreender através de suas competências: ético-político, teorico-metodologico, técnico-operativo, as situações vividas pelos indivíduos, reconhecendo as múltiplas expressões da questão social, respeitando sua realidade, com a finalidade garantir que haja a resolução da situação problema e a relação harmoniosa entre as partes.</p><p>Para uma presença mais efetiva do/a assistente social nas políticas de educação urge a implementação da Lei Nº 13.935/2019 que dispõe sobre a prestação de serviços de Psicologia e de Serviço Social nas redes públicas de educação básica.</p><p>Na prática, isso significa, por exemplo, promover novas ações que mostrem a importância e a urgência da inserção desses/as profissionais (assistentes sociais e psicólogos/as) na educação básica, dando destaque para as contribuições no desenvolvimento,</p><p>na aprendizagem e no enfrentamento às questões e desafios do cotidiano escolar, em uma sociedade marcada profundamente pela desigualdade (CFESS, 2019).</p><p>Entendemos que a contribuição da leitura sociocritica do/a assistente social poderá impulsionar as práticas restautivas no ambiente escolar, numa perpesctiva da não punição, do reconhecimento da violação de direitos, e ainda a não revitimização da pobreza e da extrema pobreza, reverberada como indisciplina, dificuldade de aprendizagem dentre outras.</p><p>Neste contexto, como objetivo geral obtivemos: Desdobrar a temática Práticas Restaurativas e como ela dialoga com o Serviço Social Escolar, e sua relevância. Que foi parcialmente atingido, considerando que a pesquisa nos remete a clareza da importância e dos processos que vem sendo desenhado nacionalmente da implantação de Justiça Restaurativa no sistema de Justiça e a disseminação das práticas restaurativas. No que tange ao diálogo com o Serviço Social, percebe-se que as iniciativas são individuais e ainda falta uma perspectiva a nível de categoria profissional, ainda que se perceba com clareza o diálogo possível pela ótica da justiça social.</p><p>O primeiro objetivo específico que se levantou foi reconhecer sobre o processo da Justiça Restaurativa e sua influência, tal como sua atuação nos ambientes escolares. Esse objetivo ficou limitado, posto que as pesquisas falam muito da Justiça Restaurativa, mas especialmente pela limitação de nosso tempo na construção desse relatório, não foram localizados relatos científicos, mais atualizados, com dados quantiqualitativos que sustentem o caráter inovador e efetivo da mudança de paradigma de punição para restauração no universo escolar.</p><p>O segundo objetivo específico foi entender como funciona a implementação dessas práticas, sua elaboração, e desenvolvimento, além de identificar como é realizada a escuta e o processo colaborativo entre autor e o receptor do ato conflituoso no universo escolar. Esse objetivo não foi atingido, pois não estão sendo desenvolvidos registros minuciosos do processo em termos de ato, reflexões durante a prática restaurativa, acordos e acompanhamentos pós pratica restaurativa.</p><p>O terceiro e último objetivo específico é assimilar como o assistente social pode exercer e contribuir com sua atuação nas práticas restaurativas, no universo escolar, e de que forma a sua atuação vem a contribuir nos ambientes em que haja conflito. Esse objetivo foi atingido parcialmente, posto que a filosofia da Justiça Restaurativa e suas práticas como metodologias de intervenção, com certeza fazem um diálogo possível e interessantíssimo com o Projeto Ético Política – PEP do Serviço Social, contudo não está registrado o diálogo ainda que plenamente factível entre serviço social e justiça restaurativa.</p><p>Apresentamos como dialogo possível os 11 princípios do PEP (CFESS, 1993), que indicam nosso compromisso profissional com a justiça social com equidade de direitos e acesso em se respeitando eticamente o desenvolvimento individual e social de cada ser social.</p><p>I-Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais;</p><p>II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo;</p><p>III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras;</p><p>IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida;</p><p>V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;</p><p>VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças;</p><p>VII. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual;</p><p>VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero;</p><p>IX. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos/as trabalhadores/as;</p><p>X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;</p><p>XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física.</p><p>A perspectiva de um novo olhar, de “trocar as lentes” (ZEHR, 2010) traz para a sociedade um novo paradigma, onde crianças e adolescentes sejam de fato reconhecidos como sujeitos de direitos em situação peculiar de desenvolvimento, quando fazemos o recorte das práticas restaurativas para o universo escolar.</p><p>Muitos estudantes ainda sentem-se inseguros no espaço escolar, seja pelo medo da rejeição, do bullying, do julgamento, não somente dos outros colegas, como também de professores e os demais responsáveis no espaço educacional. Perdurando até o momento em que este deixará a escola, criando assim uma pessoa retraída, que possui medo de impor opniões, que se sente insegura em muitos espaços da sua vida.</p><p>É possível visualizar através das pesquisas utilizadas, que o papel da práticas restaurativas, aplicadas nos ambientes escolares, se mostra de grande resultados e desenvolvimentos positivos nas vidas dos estudantes. Uma vez que, a utilização dessa abordagem, da escuta qualificada, dos ambientes para trocas, para a mediação de conflitos, gera um espaço mais leve e propenso para as crianças se sentirem abertas, seguras para se desenvolverem.</p><p>Esse nos apresenta como um presente ao serviço social, para se aproximar da Justiça Restaurativa, e de suas práticas, para romper com os ciclos de violência impetrado pelo sistema que reconhece liberdades individuais mercadologicas em detrimento de liberdades individuais com equidade de acesso, de compromisso consigo e como outro numa perpesctiva de coletividade, de transformação do projeto societário que reconhece o viver um espaço a ser transgredido para finalmente ser humanizado.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>É importante compreendermos a dimensão das práticas restaurativas e sua aplicação nos ambientes escolares, trazendo consigo a ideia de criar como resultado, um espaço aberto para o crescimento dos estudantes, sem a presença de relações conflituosas. Previnindo situações que possam gerar resultados mais graves.</p><p>Através dos estudos realizados, foi possível vislumbrar que a realização das práticas restaurativas nos poucos espaços que a aplicam, apesar de escasso nos Estados e munícipios brasileiros, demonstraram a eficácia de sua metodologia presente no ambiente escolar. Criando um espaço de abertura para a superação e mediação dos conflitos.</p><p>Foi possível observar que no espaço escolar transmitia medo e insegurança para os alunos que o frequentam, muitas vezes gerados por outros alunos e até professores da rede de ensino. Já posteriormente, com a aplicação das práticas e dos circulos restaurativos, encontramos um espaço totalmente distante do que foi posto de primeiro momento, onde os alunos que participaram demonstraram resultados e uma grande evolução no processo.</p><p>Quando existe a presença dessa metodologia é possível observar uma resposta positiva no que diz respeito a todas as partes presentes no âmbito escolar, diferentes das escolas que não buscam formas de prevenir situações de violência, e de relações de conflitos. Nesses casos, é possível analisar, que a escola não passa aos estudantes a ideia de um espaço acolhedor. Mas a superação da ideologia vigente, objetiva oferecer ao</p><p>aluno um ambiente onde possam se expandir e adquirir novos conhecimentos de uma maneira mais pacífica e tranquila.</p><p>É valido ressaltar, que a escola é a extensão da educação repassada pela família, além de se tornar um período que perdurará por muito tempo na vida das crianças e adolescentes, de forma que eles se desenvolveram, se autoconheçam. Dessa forma é importante criarmos um ambiente seguro para que de fato aconteça essa evolução sem a existência de amarras conflituosas ou situações que possam prejudicar ou trazer consequências na vida dos estudantes, em formato de reverberação das violações de direitos impetradas pelo projeto neoliberal.</p><p>Nota-se que ainda há muito que se fazer referente a aplicação das práticas restaurativas nos diferentes espaços educacionais, existe uma caminhada longa para que de fato, consigamos garantir mais e mais espaços dessas práticas e dos círculos restarativos nas escolas brasileiras.</p><p>É imprescindivel como profissionais garantir de nos diferentes espaços, seja a escola um deles, o pleno desevolvimento da população e que não haja a existência de situações que gerem discriminação e preconceito.</p><p>De forma que é importante enfatizarmos sobre a importância da intervenção do profissional de Serviço Social nas práticas restaurativas, facilitando o diálogo em situações de conflitos, e relacionamentos, possibilitando a superação de situações de violência, transformando as lesões provocadas, valorizando a escuta e fala durante todo o processo restaurativo. Numa perspectiva, de assegurar aos participantes desta prática, absoluta garantia de direitos, a restauração e superação dos obstáculos vivenciados, a plenitude da relação entre as partes.</p><p>REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>BARBOZA, Vinícius Iran. JUSTIÇA RESTAURATIVA E SERVIÇO SOCIAL: Aproximações e distanciamentos. Florianópolis SC. 2017. Disponível em: < https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/180147/101_00113.pdf?>. Acesso em: 05 de junho de 2021.</p><p>FERREIRA, M. LIMA, G. GAMA, R. As Práticas Restaurativas e a Escola: Um estudo de caso em uma Escola Pública de Santana- AP. Paraná, 2019. Revista Ciências da Sociedade (RCS), Vol. 3, n. 6, p.173-187, Jul/Dez 2019. Disponível em: http://ufopa.edu.br/portaldeperiodicos/index.php/revistacienciasdasociedade/article/view/1307/710. Acesso em 19 de abril de 2022.</p><p>GROSSI, P. AGUINSKY, B. SANTOS, A. Justiça Restaurativa nas escolas de Porto Alegre: desafios e perspectivas. Porto Alegre, 2007. Disponível em: <https://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/7897/2/Justica_Restaurativa_nas_escolas_de_Porto_Alegre_desafios_e_perspectivas.pdf >. Acesso em 10 de abril de 2022.</p><p>Justiça para o Seculo 21: instituindo práticas restaurativas: círculos restaurativos como fazer? manual de procedimentos para coordenadores/ compilação, sistematização e redação Claudia Machado, Leoberto Brancher, Tânia Benedetto Todeschini. - Porto Alegre, RS: AJURIS, 2008. Disponível em:< http://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/justica_restaurativa/manual_de_praticas_restaurativas_falta12>. Acesso em: 05 de junho de 2021.</p><p>ONU. Resolução 2002/12. Princípios básicos para utilização de programas de Justiça Restaurativa em matéria criminal. Trad. de Renato Sócrates Gomes Pinto. Disponível em:< https://juridica.mppr.mp.br/arquivos/File/MPRestaurativoEACulturadePaz/Material_de_Apoio/Resolucao_ONU_2002.pdf>. Acesso em 03 de junho de 2021.</p><p>PRANIS, K.. Processos Circulares. (Trad.Tônia Van Acker). São Paulo: Palas Athena, 2010.</p><p>PINGOELO, Ivone & HORIGUELA, Maria de L. Morales. A percepção dos Professores Sobre o Bullyng. Artigo publicado no I Congresso de Pesquisa em Psicologia e Educação Moral: Crise de valores ou valores em crise? Campinas SP. 2009. Disponível em: http://bullyingbr.com/artigo1.html >. Acesso em 03 de junho de 2021.</p><p>SILVEIRA, Bruna Nathaly. O SERVIÇO SOCIAL E AS PRÁTICAS RESTAURATIVAS NA EDUCAÇÃO: Construindo Educação em Direitos Humanos. Ponta Grossa PR. CRESS PR, 2019. Disponível em: < http://www.cresspr.org.br/anais/sites/default/files/SERVICOSOCIALEASPRATICASRESTAURATIVASNAEDUCACAO-ConstruindoEducacaçaoemDireitosHumanos.pdf>. Acesso em: 05 de junho de 2021.</p><p>ZEHR, Howard. Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça. São Paulo: Palas Athena, 2008. Disponível em: < https://www.amb.com.br/jr/docs/pdfestudo.pdf>. Acesso em 04 de junho de 2021.</p><p>APÊNDICES</p><p>ANEXOS</p><p>Anexo I</p><p>Lei nº 13.185/15, de 06/11/2015 A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:</p><p>Art. 1º  Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o território nacional.</p><p>§ 1º  No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimidação sistemática (bullying) todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.</p><p>§ 2º  O Programa instituído no caput poderá fundamentar as ações do Ministério da Educação e das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, bem como de outros órgãos, aos quais a matéria diz respeito.</p><p>Art. 2º  Caracteriza-se a intimidação sistemática (bullying) quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda:</p><p>I - ataques físicos;</p><p>II - insultos pessoais;</p><p>III - comentários sistemáticos e apelidos pejorativos;</p><p>IV - ameaças por quaisquer meios;</p><p>V - grafites depreciativos; 5960 A Justiça Restaurativa no Ambiente Escolar Instaurando o Novo Paradigma</p><p>VI - expressões preconceituosas;</p><p>VII - isolamento social consciente e premeditado;</p><p>VIII - pilhérias. Parágrafo único. Há intimidação sistemática na rede mundial de computadores (cyberbullying), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial.</p><p>Art. 3º  A intimidação sistemática (bullying) pode ser classificada, conforme as ações praticadas, como:</p><p>I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente;</p><p>II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores;</p><p>III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar;</p><p>IV - social: ignorar, isolar e excluir;</p><p>V - psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar;</p><p>VI - físico: socar, chutar, bater; VII - material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;</p><p>VIII - virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social.</p><p>ANEXO II</p><p>Projeto de lei n.º 7.006, de 2006</p><p>Art. 1° - Esta lei regula o uso facultativo e complementar de procedimentos de justiça restaurativa no sistema de justiça criminal, em casos de crimes e contravenções penais.</p><p>Art. 2° - Considera-se procedimento de justiça restaurativa o conjunto de práticas e atos conduzidos por facilitadores, compreendendo encontros entre a vítima e o autor do fato delituoso e, quando apropriado, outras pessoas ou membros da comunidade afetados, que participarão coletiva e ativamente na resolução dos problemas causados pelo crime ou pela contravenção, num ambiente estruturado denominado núcleo de justiça restaurativa.</p><p>Art. 3° - O acordo restaurativo estabelecerá as obrigações assumidas pelas partes, objetivando suprir as necessidades individuais e coletivas das pessoas envolvidas e afetadas pelo crime ou pela contravenção.</p><p>...</p><p>Art. 7º – Os atos do procedimento restaurativo compreendem: a) consultas às partes sobre se querem, voluntariamente, participar do procedimento; b) entrevistas preparatórias com as partes, separadamente; c) encontros restaurativos objetivando a resolução dos conflitos que cercam o delito.</p><p>Art. 8º – O procedimento restaurativo abrange técnicas de mediação pautadas nos princípios restaurativos.</p>

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