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<p>ÁREA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>Mestrado em Educação</p><p>Especialização matriculada</p><p>Formação de Professoresx</p><p>Organização e Gestão de Centros Educacionais As TICs na Educação</p><p>Universidade matriculada</p><p>UNEATLANTICO UNINI-MEXICO UNINI-PORTO RICOx</p><p>DUPLA TITULAÇÃO UNEATLANTICO-UNINI-MX DOPLA TITULAÇÃO UNEATLANTICO-UNINI-PR</p><p>Título proposto:</p><p>Autor/a: REJANE DA SILVA SOUSA</p><p>Usuário do aluno: BRFPMME2911945 E-mail: rejane2015@hotmail.com Grupo:</p><p>Orientador (a) do Projeto Final (PF): Dra. NIVIA IVETTE NUNEZ DE LA PAZ Data: 07/06/2023</p><p>COMPROMISSO DO AUTOR</p><p>Eu, REJANE DA SILVA SOUSA, declaro que:</p><p>O conteúdo deste documento é um reflexo do meu trabalho pessoal e declaro que ante qualquer notificação de plágio, cópia ou falta à fonte original, sou diretamente responsável legal, econômico e administrativo sem afetar o orientador do trabalho, a Universidade e quantas instituições colaboraram no referido trabalho, assumindo as conseqüências derivadas de tais práticas.</p><p>X</p><p>REJANE DA SILVA SOUSA</p><p>Boa Vista, 07/06/2023</p><p>Direção Acadêmica</p><p>Pelo presente documento autorizo a publicação eletrônica da versão aprovada do meu Projeto Final sob o título Mediação de conflitos na escola: Práticas que levam à mudança no campus virtual e em outros espaços eletrônicos de divulgação desta Instituição.</p><p>Informo os dados para a descrição do trabalho:</p><p>Título</p><p>Mediação de conflitos na escola: Práticas que levam à mudança</p><p>Autor</p><p>REJANE DA SILVA SOUSA</p><p>Dra. NIVIA IVETTE NUNEZ DE LA PAZ</p><p>Resumo</p><p>O estudo ora proposto pretende analisar o processo de implantação e desenvolvimento do Projeto Descomplica: Estimulando a Mediação de conflitos na escola, enquanto ferramenta de mediação de conflitos em uma escola da rede pública estadual de Boa Vista, Roraima de modo a compreender as transformações possíveis referentes à</p><p>convivência pacífica e ao cultivo da tolerância no ambiente escolar.</p><p>Programa</p><p>- Mestrado em Educação</p><p>Palavras- chaves</p><p>Mediação de conflitos; escola; ferramenta dialógica.</p><p>Contato</p><p>Atenciosamente,X</p><p>REJANE DA SILVA SOUSA</p><p>RESUMO</p><p>O estudo ora apresentado analisou durante o quarto bimestres do ano de 2019 como ocorreu o processo de implantação e desenvolvimento do Projeto Descomplica: Estimulando a Mediação de conflitos na escola, enquanto ferramenta de mediação de conflitos em uma escola da rede pública estadual de Boa Vista, Roraima a fim de compreender as transformações possíveis referentes à convivência pacífica e ao cultivo da tolerância no ambiente escolar. Para tanto, lançou mão de uma pesquisa desenvolvida a partir de uma abordagem mista (qualitativa e quantitativa), estruturada sob um estudo de caso, no qual foram aplicadas as técnicas de observação, análise documental e aplicação de questionário junto aos alunos da escola estudada. Ademais, se fundamentou nas teorias piagetianas e nos estudos de Sales (2007; 2010), bem como em Battaglia (2004), Schabbel (2002), Vinha (2000) entre outros, a fim de compreender os fundamentos do processo de mediação de conflitos. Percebeu- se com isso que ocorreram modificações na forma como alunos e professores percebem e lidam com os conflitos, de maneira que estes agora procuram promover ações de diálogo que favorecem a convivência pacífica, o que se refletiu ainda que de forma sutil nos rendimentos dos alunos e na maneira como interagem dentro da escola.</p><p>Palavras-chave</p><p>Mediação de conflitos, Escola,Ferramenta Dialógica. Projeto Descomplica.	Comment by Nivia Ivette Núñez de la Paz: Aplicar APA, a separação é por vírgulas...</p><p>ABSTRACT</p><p>The study presented here analyzed during the fourth quarter of 2019 how the implementation and development process of the Decomplicate Project took place: Stimulating Conflict Mediation at School, as a conflict mediation tool in a public school in the state of Boa Vista, Roraima in order to understand the possible transformations regarding peaceful coexistence and the cultivation of tolerance in the school environment. To this end, it used research developed from a mixed approach (qualitative and quantitative), structured under a case study, in which observation techniques, document analysis and questionnaire application were applied to the students of the studied school. Furthermore, it was based on Piagetian theories and on the studies of Sales (2007; 2010), as well as on Battaglia (2004), Schnabel (2002), Vinha (2000) among others, in order to understand the foundations of the conflict mediation process. It was noticed with this that there were changes in the way students and teachers perceive and deal with conflicts, so that they now seek to promote dialogue actions that favor peaceful coexistence, which was reflected, albeit subtly, in the income of the students. students and the way they interact within the school.</p><p>Keywords</p><p>Conflict mediation, School, Dialogic Tool. Uncomplicated Project</p><p>ÍNDICE</p><p>INTRODUÇÃO	7</p><p>CAPÍTULO 1: MARCO TEÓRICO	16</p><p>Disciplina e Indisciplina	21</p><p>Violência e Conflito Escolar	23</p><p>Os Conflitos	26</p><p>A Mediação de Conflitos	31</p><p>A Mediação de Conflitos nas Escolas	46</p><p>CAPÍTULO 2: METODOLOGIA	54</p><p>Enfoque metodológico	54</p><p>Tipo de estudo	56</p><p>Descrição do contexto, dos participantes ou população e o período em que a pesquisa foi realizada	57</p><p>Estudo	58</p><p>CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO	65</p><p>CONCLUSÕES	82</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	87</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Atualmente, é necessário que o espaço escolar seja visto como um espaço de promoção da harmonia social, além, claro, de desenvolvimento cognitivo. Nesse sentido, o que se evidencia é que não há mais, na escola contemporânea, espaço para técnicas arcaicas de resolução de conflitos em ambiente escolar como as punições físicas, castigos e xingamentos. Depois de muito tempo, a sociedade percebeu que tais métodos deveriam ceder lugar a um espaço de diálogo e reflexão sobre os comportamentos e ações. Nesse sentido, escola, enquanto promotora do desenvolvimento pessoal, social e cognitivo do indivíduo, precisa assumir uma postura de mediadora frente aos conflitos com os quais tem que lidar em seu cotidiano. E é através da mediação de conflitos que se pode tornar problema em questão algo positivo a medida em que favorece essa reflexão.</p><p>Os conflitos são parte da sociedade desde que o ser humano começou a viver em comunidade. É claro que, ao longo da história, assumiu diferentes contornos, adequando-se aos diferentes contextos que demandava. Além disso, os conflitos são resultantes das relações de interação entre as pessoas, onde são expressas as relações de poder.</p><p>As escolas públicas da rede estadual de Roraima atendem ao Ensino Fundamental II e ao Ensino Médio. A escola Voltaire Pinto Ribeiro serviu como objeto deste estudo, pois nela foi implantado o sistema de Mediação de Conflitos, por meio de um curso ministrado a alguns alunos, no ano de 2019, com idades entre 13 e 17 anos, por agentes da Defensória Pública do Estado de Roraima.</p><p>Tal curso tornou-se alvo da curiosidade da elaboradora desta dissertação por trazer para dentro de uma escola da periferia de Boa Vista, uma ferramenta que utiliza o diálogo e que forma os próprios estudantes para a resolução dos conflitos dentro da escola e também fora dela, enfatizando uma cultura de paz na comunidade escolar como um todo.</p><p>Nesse sentido, entende-se que inúmeros estudos já foram realizados acerca da implantação da mediação de conflitos dentro e fora do ambiente escolar, e esse fato deu maior ênfase à necessidade de se entender como tal modificação na forma de se encarar um problema tão comumente encontrado nas escolas brasileiras, a violência e os conflitos interpessoais, refletiu na rotina da escola, na forma como o profissional orientador educacional tem atuado e como os próprios alunos têm lidado com as diferenças que enfrentam no cotidiano escolar, desde a implantação da ferramenta de mediação de conflitos.</p><p>LXXVI</p><p>Ademais, este estudo se justifica por contemplar parte de sua estrutura sob uma análise de algumas teorias e estudos já realizados sobre temas relacionados às relações de poder dentro da escola,</p><p>e principal meta a solução da situação de conflito, se faz necessário que haja um ambiente que favoreça o diálogo, para que o mediador possa exercer o papel de facilitador do diálogo que lhe cabe.</p><p>O segundo ponto refere-se à prevenção das situações de conflito. Nesse sentido, a ferramenta de mediação atua como um meio para a chegada a um denominador comum por meio do diálogo e do estímulo para que as partes encontrem uma melhor alternativa que lhes atenda de maneira satisfatória. Nesse sentido, estabelecem-se laços de confiança mútua entre os envolvidos, onde haja o reconhecimento da divergência e da necessidade de se encontrar uma forma de prevenir novas situações de conflito entre as partes.</p><p>Como consequências das ações dos dois primeiros objetivos, o terceiro e o quarto pontos recorrem à transferência de responsabilidade nas decisões das situações de conflito aos próprios envolvidos, estabelecendo um novo paradigma de aprendizagem que contempla a compreensão sobre o que são os direitos e os deveres de cada um.</p><p>Assim, o último, mas não menos importante objetivo, é também relativamente o mais complexo, pois demanda a conscientização das partes envolvidas, incentivando a participação dos conflitantes enquanto mediadores em conflitos de outras partes, como multiplicadores do processo, e em valorização à cidadania e ao papel individual que cada pessoa representa na sociedade.</p><p>Entretanto, Sales (2010) destaca que mesmo diante desses objetivos, o melhor instrumento que o mediador tem em seu poder, é o Código de Ética, no qual estão expressos os valores, normas e o conjunto de diretrizes que servem para orientá-lo a desempenhar adequadamente sua função. No referido código se enumeram diferentes princípios, que podem variar em função das partes e da situação de conflito que ela envolve. No entanto, alguns princípios atendem todas as situações, sendo aceitos de forma consensual na resolução de conflitos e diferenças. Dessa forma, a mediação de conflitos apresenta um procedimento que se fundamenta em alguns princípios fundamentais: a voluntariedade e a liberdade das partes, confidencialidade e privacidade, participação de terceiro imparcial, economia financeira e de tempo, informalidade e oralidade, reaproximação das partes, autonomia das decisões e autocomposição e a não-competitividade (SILVA, 2018).</p><p>A voluntariedade ou também denominada Liberdade das partes, diz respeito à liberdade de escolha que as partes possuem em optar ou não pela mediação. Desse modo, os envolvidos nos conflitos não devem ser coagidos ou ameaçados a aderir pela mediação como meio de solução da situação de conflito (LIMA, 2010), (AQUINO, 1996), Sales (2010). Ademais, os envolvidos gozam da liberdade na tomada das decisões que melhor lhes atendam no decorrer do processo de mediação. Desse modo, a liberdade consiste no princípio mais básico para que ocorra a mediação.</p><p>A confidencialidade e a privacidade são tratadas por Lima (2010) como um dos princípios mais importantes, uma vez que através dela o mediador garante resguardar a dignidade e a privacidade dos envolvidos no processo de mediação. Dessa forma, a autora entende que:</p><p>O mediador não deverá revelar para outras pessoas o que está sendo discutido no processo de mediação. O processo é sigiloso e o mediador possui uma obrigação ética de não revelar os problemas das pessoas envolvidas no processo. O mediador deve agir como protetor do processo de mediação, garantindo sua lisura e integridade. O mediador não revelará seus anseios e problemas para um terceiro (Autor LIMA, 2010, p. 34).</p><p>Assim sendo, o entendimento de que a privacidade e a confidencialidade são princípios importantes para o bom andamento do processo de mediação de conflitos é necessário, uma vez que garante ambiente e atitudes que oportunizem a confiança e o respeito entre as partes envolvidas.</p><p>A participação de um terceiro imparcial refere-se especificamente à figura do mediador no processo da mediação de conflito. Nesse sentido, o mediador atua como um facilitador do diálogo para que as partes cheguem ao melhor resultado possível. Sobre o papel do mediador no processo da mediação, Lima (2010) denota que:</p><p>O mediador deve estar capacitado para assumir essa função. Para tanto, deve ser detentor de características que o qualifiquem a desempenhar esse papel, dentre as quais, ser diligente, cuidadoso e prudente, assegurando a qualidade do processo e do resultado ,( Autor Lima, 2010 p.34).</p><p>Corroborando a essa definição, Egger (2008) aponta quais seriam as ações que não competem ao mediador no processo de mediação de conflitos:</p><p>Analisando o papel do mediador, de forma inversa, podemos apontar algumas atitudes que não lhes são próprias:</p><p>a) o mediador não é juiz, porque nem impõe um veredicto, nem tem o poder outorgado pela sociedade para decidir pelos demais;</p><p>b) não é um negociador que toma parte na negociação, com interesse direto nos resultados;</p><p>c) Não é um árbitro, pois, não emite nenhum parecer técnico, nem decide</p><p>nada.</p><p>Com isso, nota-se que o papel do mediador tratar igualmente e imparcialmente</p><p>as partes envolvidas, não podendo, de forma alguma, segundo Lima (2010, p. 33):</p><p>privilegiar qualquer uma das partes – deve falar no mesmo tom de voz, oferecer o mesmo tempo para que elas possam discutir sobre os problemas, destinar o mesmo tratamento cordial, enfim, o mediador deve agir sem beneficiar uma parte em detrimento da outra (Autor Lima 2010, p. 33).</p><p>Em se tratando do princípio da economia financeira e de tempo, pode-se dizer que os processos de mediação de conflito não geram ônus e não demandam tanto tempo quanto os processos judiciais tradicionais, gerando sim, celeridade e economia aos cofres públicos.</p><p>Quanto à informalidade e à oralidade, Lima (2010) destaca:</p><p>A informalidade significa que que não existem regras rígidas as quais o processo de mediação está vinculado. Não há uma forma única predeterminada de processo de mediação. Os mediadores procuram estabelecer um padrão para facilitar a organização dos arquivos e a elaboração de estatísticas(Autor Lima 2010, p. 33).</p><p>Já o princípio da reaproximação das partes, refere-se à busca exitosa de que as partes acordem nas condições de solução do conflito (Morais, 1999). Dessa maneira, ceder no lugar de brigar significa reaproximar-se, criando um ponto de concordância entre os envolvidos e, por consequência, entendimento.</p><p>O princípio da autocomposição ou autonomia das decisões, explica Lima (2010), relaciona-se com o poder que as partes detêm na decisão de solucionar a situação de conflito. Nesse sentido:</p><p>Somente os indivíduos que estão vivenciando o problema são responsáveis por um possível acordo. O mediador somente facilitará o diálogo, não lhe competindo o poder de decisão (Autor LIMA, 2010, p. 33).</p><p>Por fim o princípio da não-competitividade trata da estimulação da colaboração entre as partes. Assim, não se determinarão perdedores nem ganhadores da causa, uma vez que ambos precisarão ceder em alguns pontos para que possam encontrar uma solução que satisfaça a todos. Sobre isso, Sales (2010) atenta para a importância da boa-fé entre os participantes da mediação.</p><p>Além disso, Sales (2010) aborda a necessidade de que os mediadores devam estar em formação constante, atualizando-se sempre que possível sobre novos recursos que a mediação possa oferecer, garantindo que sua atuação apresente confiabilidade e integridade.</p><p>Egger (2018) define assim, algumas situações, às quais, enquanto ele próprio, mediador de conflitos profissional, não recomenda essa ferramenta na resolução de conflitos. São elas:</p><p>a) Quando há desinteresse das partes em resolver o conflito;</p><p>b) Quando há desequilíbrio de poder entre as partes;</p><p>c) Quando existam casos de violência ou crime;</p><p>d) Quando faltar capacidade a qualquer das partes;</p><p>e) Quando ocorrer desrespeito `as regras de base da mediação.</p><p>Assim, a mediação além de objetivos e princípios bem estabelecidos representa uma ferramenta, um caminho, um processo. E como tal, contempla determinadas etapas que precisam ser seguidas tanto pelos</p><p>mediadores quanto pelos participantes para que transcorra bem e se chegue a uma decisão justa para todos. Sobre essas etapas é que trata o próximo tópico.</p><p>1.4.3 As etapas que compõem o processo de mediação de conflito</p><p>Ao apontar que Paz de Carvalho (2009) entende que não existe uma forma específica para o processo de mediação, Lima (2010) afirma que, no entanto, diversas são as opiniões de estudiosos da área que sugerem que o processo deva ocorrer em três etapas básicas, a saber: pré-mediação, a compreensão do conflito e a resolução.</p><p>Para Sales (2010) a etapa da pré-mediação precisa ocorrer separadamente com cada parte, quando o mediador se apresenta e convida o envolvido a participar voluntariamente do procedimento de mediação, explicando-lhe cada princípio e como ocorrerá o processo. Essa etapa deve servir, de acordo com Lima (2010, p. 35) “para a mudança de posição frente ao conflito e frente ao outro, possibilitando na primeira sessão de mediação, um diálogo pacífico”.</p><p>A fase de compreensão do conflito é aquela na qual o mediador emprega as técnicas necessárias à facilitação do diálogo pacífico entre os participantes e permite que ambos expressem seus pontos de vista acerca da divergência em questão, discorrendo sobre seus interesses, necessidades e expectativas. Nesse momento também é quando os envolvidos externam suas emoções frente ao conflito e falam sobre como o fato impactou sua rotina.</p><p>No terceiro momento, que envolve a resolução do conflito, propriamente dita, o mediador lançará mão de técnicas que favoreçam o processo de negociação entre as partes, de modo a oferecer alternativas para a solução da questão, nas quais todos os participantes sejam beneficiados. Sobre isso, Sales (2010) aponta ainda para o fato de que as etapas podem ocorrer tanto em diversas sessões quanto em apenas uma sessão. O que determinará o tempo que levará o processo de mediação será o entendimento entre os envolvidos, sendo que o mediador encerrará o processo apenas quando houver entendimento entre eles.</p><p>Assim, ao entender a origem, as funções, os objetivos, os princípios e as etapas que envolvem o processo de mediação de conflitos, torna-se importante</p><p>explanar acerca do papel que a escola e, mais especificamente o profissional orientador educacional tem nos conflitos escolares. Sobre esse assunto, se discute no tópico seguinte.</p><p>1.5. A Mediação de Conflitos nas Escolas</p><p>Conceitos errôneos acerca de indisciplina, dos conflitos interpessoais, da existência da necessidade da criação de regras e da função pedagógica que estas representam para o processo de ensino e aprendizagem fazem parte das discussões que envolvem toda a comunidade escolar. Professores concordam e acreditam que a indisciplina relacione-se diretamente com as vivências dos novos tempos, como se a coerção exagerada de outros tempos fosse indispensável à disciplina (entendida aqui como obediência e subserviência), o que revela ainda, como esclarece Rego (1996), dificuldade em adequação aos projetos pedagógicos e às demandas atuais.</p><p>Assim, ao se tratar dos conflitos em ambiente educacional, faz-se imprescindível o estabelecimento de concepções referentes a limites. Destarte, pela visão de Freud (1991) e Durkheim (1974), os limites relacionam-se com a ideia de que a moralidade estaria ligada diretamente à obediência dos limites impostos inicialmente pela sociedade, pela família, e, posteriormente pelos professores e pela escola. Na contramão, Piaget entendia que a conquista da moral seria intrínseca à construção contínua de uma autonomia que envolvia as dimensões afetivas, cognitivas e a interação social.</p><p>Gouveia (2021) percebe a mediação de conflitos como uma importante ferramenta para se estimular uma cultura de paz e de justiça restauradora também nas escolas. No mesmo sentido, Silva (2016, p. 03) discorre:</p><p>A mediação de conflitos na escola vai gerar uma convivência mais saudável. É desta maneira que a cidadania e o enfrentamento da violência têm seus primórdios. Assim, é possível em muitas vezes, fazer com que os indivíduos que estão participando dos conflitos, tentem achar modos de solucionar esses problemas, visando que, ao longo do tempo, com essa prática, ela vá se tornando um hábito, até serem excluídos os conflitos do cotidiano, promovendo a cultura da paz nas escolas e também em qualquer outro ambiente que seja importante a pacificação ( Autor Silva 2016, p. 03).</p><p>Dessa forma, a autora afirma que com a utilização da mediação de conflitos na escola, se tem ainda a intenção de proporcionar aos estudantes a oportunidade de</p><p>diálogos construtivos, do entendimento e do hábito da cooperação e da tolerância em suas rotinas.</p><p>Para De Mateo (2012), diversos programas de mediação que foram desenvolvidos em escolas latinas concluíram que essa ferramenta representa um excelente recurso de auxílio nos processos de pacificação e democratização do ambiente escolar, pois possibilita ao estudante o desenvolvimento de uma postura tolerante e empática, e lhe possibilita ainda o desenvolvimento de suas competências emocionais, de comunicação e de relacionamentos interpessoais. Esses programas estimulam a formação de multiplicadores dos processos de mediação por meio da formação dos próprios alunos como mediadores, proporcionando aos mesmos, aprender as vantagens que a mediação apresenta para suas rotinas.</p><p>De acordo com artigo publicado pelo Portal Jusbrasil (2021):</p><p>Os alunos que participam da mediação escolar apresentam uma melhora na sua consciência individual e social, desenvolvem a comunicação, a escuta e a empatia, importantes habilidades humanas. Além disso, a mediação pode melhorar a capacidade de analisar e resolver os conflitos e compreender melhor as adversidades e desafios da vida (Jusbrasil 2021).</p><p>Aos docentes, por sua vez, a formação e a utilização da mediação de conflitos na escola ampliam a capacidade de compreensão dos conflitos que ocorrem em sala de aula, além, claro, de abrir possibilidade ao diálogo aberto e pacificador sobre temas relevantes. Além disso, a utilização dessa ferramenta possibilita o envolvimento dos pais e responsáveis dos alunos, uma vez que estes poderão participar ativamente das questões de conflito que se relacionam com seus filhos. Ademais, a própria escola como um todo se beneficia com a prática da mediação com a criação de um ambiente mais pacífico e justo.</p><p>Nesse sentido, a mediação de conflitos assume contornos pedagógicos contribuindo para a cultura da paz, da solução amigável e não-violenta das diferenças. Assim, a escola precisa contar com um profissional que esteja preparado para coordenar a implantação e o desenvolvimento da cultura e da prática da mediação na escola. Essa função tão importante cabe ao orientador educacional, tema a ser tratado no seguinte tópico.</p><p>1.5.1 O papel do orientador educacional na mediação de conflitos na escola</p><p>De acordo com Conceição (2010, p. 14), o orientador educacional tem a missão de auxiliar na formação e no desenvolvimento de valores e princípios éticos nos estudantes, bem como no seu desenvolvimento como pessoa, tomando conta também da maneira como ele age sobre o ambiente, interage com os colegas, com o corpo docente e consigo mesmo. Dessa forma, é possível dizer que o orientador educacional é uma espécie de protetor da saúde emocional e do desenvolvimento dos valores morais dos estudantes dentro do ambiente escolar.</p><p>Nesse sentido, Silva (2016, p. 05) fala sobre a função do orientador educacional na estrutura da escola:</p><p>No meio escolar, esses profissionais fazem parte da equipe gestora, juntamente com o diretor e o coordenador pedagógico. Ele tem a função chave de ser o responsável pelo desenvolvimento do aluno, auxiliando no seu crescimento como cidadão, e faz com que cada aluno que passe por ele, possa refletir sobre seus valores éticos e morais e ajuda também a achar a solução para os problemas, e não simplesmente ignorá-los (Autor Silva 2016, p. 05).</p><p>Entretanto, a função do orientador é trabalhar em todos os segmentos da escola, mantendo seu foco sobre o aluno</p><p>e não sobre a parte pedagógica. Sobre isso, Silva (2016) ressalta que o trabalho do orientados consiste em compreender as dificuldades dos estudantes, analisando os contextos e as realidades destes para poder posteriormente orientá-los na melhor solução de seus problemas e angústias.</p><p>Corroborando a esse pensamento, Grinspun (2006, p. 55) vê na figura do orientador educacional um mediador nas relações entre os alunos, que precisa assumir uma postura política, ao compreender que a educação é parte de um contexto maior, social, econômico, cultural, e que o aluno é sujeito protagonista nesse contexto, onde está inserido e mantém suas experiências de vida.</p><p>Pelo exposto, é que se entende que o orientador educacional representa grande importância em sua função, pois, além de orientar, articular, ele torna acessíveis e claras as condições de solução de conflitos e confrontos pelos quais seus alunos passam, direcionando-os ao entendimento desses fenômenos como fundamentais para o seu desenvolvimento enquanto cidadãos e enquanto indivíduos frente aos modelos oferecidos pela sociedade na qual está inserido. Nesse sentido, Silva (2016, p. 07) conclui:</p><p>O trabalho do orientador educacional, é muito amplo e importante, ele está sempre mantendo contato com todos os segmentos da escola, e principalmente precisa conhecer a realidade de cada aluno e da comunidade onde está inserida a escola. Sabemos que muitos conflitos que chegam e que acontecem na escola vêm de fora, sendo da família, das pessoas que mantêm convivência e da comunidade onde mora Autor Silva 2016, p. 07).</p><p>Portanto, outro elemento fundamental para essa discussão é o papel que os alunos exercem na mediação de conflitos na escola, o que será tratado a seguir.</p><p>1.5.2 O papel do aluno na mediação escolar</p><p>Lima (2010, p. 43) afirma que é nas relações que as pessoas vivenciam coletivamente é que residem o desenvolvimento das habilidades, das capacidades e também das personalidades. No período que compreende a adolescência as relações interpessoais representam muita intensidade e significância, o que remete à extrema responsabilidade que os adultos a sua volta, sejam eles pais, parentes, professores, etc, representam frente à formação desses indivíduos.</p><p>É na adolescência que o ser humano se questiona e questiona o mundo ao seu redor. É a fase das descobertas e dos enfrentamentos. Contudo, é também a fase que surgem os conflitos tanto internos quanto externos. Por essa razão, muitas vezes, os adolescentes apresentam comportamentos indisciplinados (GOUVEIA, 2021). Apoiando essa concepção, Lima (2010, p. 44) evidencia:</p><p>Por isso, o aluno geralmente é instável, pode mudar de humor e de interesse pelo saber de forma rápida, são os altos e baixos, que podem se concretizar como indisciplina. Os educadores devem saber que não é todo dia que o aluno vai estar predisposto à aprendizagem, podem haver momentos que ele não vai querer aprender, que o seu interesse vai estar voltado para outros assuntos, como conversas ou brincadeiras, ou assuntos de sua vida pessoal que traz junto consigo para a sala de aula ( Autor Lima (2010, p. 44).</p><p>Nesse sentido, Aquino (1996) compreende que os alunos perdem sua motivação de forma rápida ao se depararem com as normas e com a organização hierárquica que a escola lhe oferece. Nesse sentido, os adolescentes dependem de constantes estímulos por parte tanto da família quanto da própria escola para que enfrente seus problemas de forma assertiva e positiva, bem como, que mantenha uma postura pacífica e disciplinada.</p><p>Ao encontrar na escola um ambiente seguro e protetor, os estudantes se sentem confiantes em desenvolver suas relações sociais com mais leveza. No entanto, essa é uma realidade utópica, pois, como dito logo no princípio desta discussão, os conflitos são inerentes às relações humanas, ou seja, sempre existirão conflitos para aqueles mantiverem contatos interpessoais, independente do contexto em que ocorram.</p><p>Nesse sentido, o aluno assume uma postura de elemento interessado na solução do conflito dentro da mediação. Contudo, Vivaldi (2015) percebe a possibilidade do direcionamento da função de mediador nos processos de mediação de conflitos escolares para os próprios alunos, uma vez que entende que a escola pode realizar a implantação de um plano de convivência e pode lançar mão das ferramentas de mediação de conflitos para tal. Torna-se interessante, de acordo com a autora, realizar a formação de estudantes para atuarem enquanto mediadores junto aos seus colegas, o que representaria uma alternativa à mediação realizada apenas por adultos, pois quem melhor que os jovens para entenderem dos conflitos que os jovens se deparam? No entanto a autora ressalta que a formação desses mediadores precisa ser oferecida por profissionais especializados em mediação.</p><p>Os critérios de escolha dos alunos que receberão a formação precisam também, de acordo com Vivaldi (2015) ser amplamente divulgados e transparentes para a comunidade escolar. Sobre isso, a autora aponta:</p><p>A escolha dos estudantes que atuarão nesse processo deve seguir os mesmos critérios da seleção dos alunos ajudantes (...): jovens reconhecidos pelos pares – e, neste caso, também pelos professores – como confiáveis, respeitosos e justos. Aliás, os mediadores são integrantes das equipes de ajuda e podem ser indicados pelos seus parceiros, caso atendam às especificidades do “cargo’. Com isso definido, é necessário que a escola divulgue amplamente quem são os mediadores, a função que vão exercer e como os demais alunos poderão solicitar ajuda. Uma das possibilidades é colocar no mural de um local de grande circulação todas essas informações ( Autor vivaldi, 2015, p. 4).</p><p>Assim, Silva entende que a mediação de conflitos no ambiente escolar pode ocorrer sob cinco categorias diferentes, sendo que os alunos podem protagonizar a maioria deles. São eles:</p><p>· O modelo aluno ajudante (FERNANDEZ et al, 2002), no qual os alunos são capacitados para atuarem como ajudantes na resolução dos conflitos, onde os alunos maiores mediam os conflitos dos estudantes mais novos.</p><p>· O modelo de mediação em rede (TORREMORRELL, 2005), no qual os alunos mediadores se tornam multiplicadores e formam outros alunos em mediação dos conflitos;</p><p>· O modelo Professor-alunos (TORREGO SEIJO, 2000), onde os educadores, em especial os orientadores educacionais atuam como mediadores em situações de conflitos na escola;</p><p>· O modelo do Programa de Competência Social, desenvolvido na Espanha e que visa a formação de estudantes para favorecer as boas relações interpessoais;</p><p>· O modelo dos Círculos Restaurativos ou Justiça Restaurativa, que se referem a encontros onde as pessoas da comunidade escolar se reúnem para auxiliar nos conflitos da escola por meio do diálogo aberto, buscando estratégias de combate ao Bullying e à violência escolar.</p><p>Isto posto, cabe o entendimento que apresenta Silva (2016, p.09) acerca do aprendizado através da mediação de conflitos. A autora entende que:</p><p>A mediação irá fazer com que esses integrantes da escola estejam preparados para o enfrentamento da heterogeneidade, das diferenças e das tensões próprias do cotidiano, que muitas vezes podem gerar dissenso, desarmonia e até desordem. Podemos ver com clareza, que a grande encarregada de formar valores e habilidades para um bom convívio do dia-a-dia é a escola. Nela ocorrem vários tipos de conflitos, e é por isso que ela deve estar preparada para recebe-los. Os conflitos estão compondo, cada vez mais, o cotidiano dos nossos alunos e constituem práticas saudáveis para obter um bom desenvolvimento humano. Conflitos nas brincadeiras, nos jogos, nas práticas esportivas, entre outros, são considerados saudáveis.” (Autor silva, 2016, p. 09).</p><p>Assim, cabe aqui compreendermos o quanto a mediação de conflitos pode beneficiar o andamento das relações interpessoais dentro do ambiente escolar, de forma que, sem custos efetivos, poderemos angariar resultados significativos na redução dos conflitos, das ocorrências de bullying e violência escolar, bem como refletir</p><p>esses resultados em uma mudança no quadro disciplinar/comportamental dos alunos.</p><p>As demais, a implantação das ferramentas implicadas pela mediação de conflitos nas escolas serve como meio para a promoção de uma paz que ultrapassa os limites da sala de aula, atingindo as famílias e a comunidade como um todo. Esse ultrapassar de limites representa ainda uma tomada de consciência por um expressivo número de pessoas que poderão fazer a diferença no futuro dentro da sociedade. Assim, o capítulo que segue trata da metodologia a qual recorremos neste estudo, onde traçamos um panorama das estratégias utilizadas ao longo da pesquisa, de forma que, nos apoiando nos fundamentos metodológicos teóricos, tivemos a oportunidade de descrever as ações desenvolvidas por nós dentro do processo.</p><p>CAPÍTULO 2: METODOLOGIA</p><p>“Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino”.</p><p>Leonardo da Vinci</p><p>2.1. Enfoque metodológico</p><p>De acordo com Lopes (2020), ao se desenvolver uma pesquisa científica, é primordial considerarmos diversos fatores, tendo como principal deles a abordagem que vamos optar para o trabalho. Neste estudo, optamos por trabalhar sob uma abordagem mista.</p><p>Como o próprio nome sugere, a abordagem mista é resultante do emprego combinado e concomitante das abordagens qualitativa e quantitativa. Sobre isso, Lopes (2020, s/p), defende:</p><p>A área interdisciplinar da pesquisa tem contribuído para o crescente número de pesquisas que adotam a abordagem mista. Como doutora na área interdisciplinar pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), percebo que a compreensão de um objeto de estudo se amplia quando unimos as duas abordagens(Autor Lopes 2020, s/p).</p><p>Dessa forma, em prol da eficiência e da materialidade dos resultados alcançados, entendemos que a abordagem mista seria a mais adequada para a nossa pesquisa. Acerca do conceito de abordagem mista em pesquisa científica, Santos et al (2017, p.03), entendem que:</p><p>O desenvolvimento de uma considerável literatura no campo de métodos mistos de pesquisa data do final da década de 1990, quando formas específicas de abordagem mista foram propostas. Assim, somente nos últimos 20 anos a ideia de metodologia mista concretizou-se como um “novo” campo científico( Autor Santos 2017, p.03) .</p><p>Diante disso, podemos conceituar que o princípio da isonomia significa que a mediação será aplicada de forma igualitária, levando em considerações suas diferenças e desigualdades em si; o princípio da imparcialidade é agir com justiça, sem favoritismo, preferências ou exclusões.</p><p>Sendo assim, podemos considerar que esta seja uma abordagem relativamente recente. Ainda sob esse pensamento, os autores entendem que em uma abordagem de pesquisa mista, precisa existir uma combinação de metodologías e e modo de dados que, mixados mas mantendo sua importancia combinam-se de forma a beneficiar o proceso da pesquisa e torná-lo mais eficiente.</p><p>Assim, percebemos que, para Creswell e Clark (2010), os tipos de pesquisa que são fundamentados em abordagens mistas podem ser de três vertentes diferentes, sendo a primeira denominada como estudo exploratório sequencial QUAL QUAN, que, segundo os autores, tem seu início sob uma etapa qualitativa, seguido por uma etapa quantitativa. Sob essa perpectiva, Galvão et al (2018, p. 10) apontam que “[…] nesse caso, os resultados quantitativos são mobilizados para confirmar ou generalizar os resultados qualitativos.</p><p>O segundo tipo de abordagem mista refere-se ao estudo exploratório sequencial QUAN>QUAL, definido como aquele que tem seu início por meio de uma etapa quanbtitativa, seguido por uma etapa qualitativa. Segundo Galvão et al (2018, p. 10), nesse caso, “[…] os resultados qualitativos são mobilizados para interpretar ou explicar os resultados quantitativos.</p><p>Já o terceito tipo de estudo de abordagem mista se chama estudo de convergência QUAN+QUAL, no qual ocorrem ao mesmo tempo as etapas qualitativa e quantitativa acontecem de maneira concomitante, isto é, os dados qualitativos e quantitativos trabalham de forma complementar. Nesse sentido, Galvão et al (2018, p.</p><p>10) salientam a importancia de haver, quando da análise de dados, “[…] uma integração dos resultados a fim de melhor entender o fenómeno”.	Comment by Nivia Ivette Núñez de la Paz: a frase, cita literal, precisa fechar aspas….</p><p>Portanto, diante dessas definições, podemos entender que nosso estudo se apresenta sob uma abordagem mista, enquanto estudo sequencial QUAL>QUAN, uma vez que lançarmos mão dos dados quantitativos para interpretar e explicar nossos dados qualitativos, isto é, todos os dados quantitativos que coletamos ao longo de nossa pesquisa, servirão de base para explicarmos e compreendermos melhor nossos dados qualitativos, coletados em momentos de observação durante a implantação do Programa Descomplica na escola analisada.</p><p>2.2. Tipo de estudo</p><p>Para este estudo, optamos pela realização de um estudo de caso com metodologia qualitativa. Acerca do estudo de caso, a Fundação Instituto de Administração (2020) entende que um estudo de caso é aquele que “[...] investiga fenômenos através de experiências reais e foca em uma unidade individual, como um grupo, uma organização ou uma comunidade”. Desse modo, Robert E. Stake, citado pela página da FIA (2020), denota que “[…] o objetivo do estudo de caso não é representar o mundo, mas representar o caso.” Nesse sentido, este estudo de caso refere-se ao proceso de implantação do Projeto descomplica, ferramenta de mediação de conflitos apresentado pela Defensoria Pública do Estado de Roraima, em uma escola da rede pública estadual da periferia da capital roraimense, Boa Vista, ocorrido em 2019.</p><p>2.3. Descrição do contexto, dos participantes ou população e o período em que a pesquisa foi realizada:</p><p>Esta pesquisa se desenvolveu em uma escola da rede pública estadual roraimense, localizada na periferia da cidade, envolvendo agentes da Orientação Educacional, Coordenação Pedagógica e Gestão escolar.</p><p>Durante o último bimestre do ano letivo de 2019, a Defensoria Pública do Estado de Roraima propôs à gestão da escola ora em análise, a implantação do Projeto Descomplica, ação que iria implantar naquela instituição ferramentas de mediação de conflitos que envolveriam os alunos como agentes promotores e multiplicadores da mediação de conflitos.</p><p>Nesse período, tivemos a oportunidade de acompanhar o curso de uma semana promovido pela Defensoria, direcionado a um grupo de alunos voluntários que, após finalizarem o referido curso prático, se tornaram os multiplicadores da mediação na escola e teriam a oportunidade de atuar dentro e fora da sala de aula, assim como junto à comunidade escolar e em outras situações em favor da promoção de uma cultura de paz.</p><p>Ademais, tivemos a oportunidade de observar a mediação de conflitos sendo utilizada pela orientação Educacional de forma prática, bem como, de realizar algumas perguntas sobre o êxito da implantação da mediação de conflitos, como e quais vantagens esas ferramentas trouxeram aquele cotidiano escolar.</p><p>LIX</p><p>2.4. Estudo</p><p>Nossa pesquisa foi efetivada junto aos agentes multiplicadores do Projeto Descomplica e aos membros da equipe da Orientação Educacional de uma escola da rede pública roraimense, que trabalham junto à estudantes do Ensino Fundamental II (do 6º ao 9º ano). Nesse sentido, nosso corpus se refere à 20 alunos e 02 orientadores da referida escola, que fizeram parte da implantação do Projeto Descomplica, que foram inicialmente observado durante o curso promovido pela Defensoria Pública do Estado de Roraima e com os quais, posteriormente, foram aplicadas entrevistas (orientadores) e questionários (alunos multiplicadores).</p><p>Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados a pesquisa bibliográfica, a entrevista semiestruturada, a aplicação de questionário e a análise documental. Nesse sentido, a pesquisa bibliográfica serviru como fundamentação para a ação pretendida, fornecendo</p><p>o suporte teórico necessário para a realização tanto do levantamento de dados quanto na triangulação destes para a chegada à uma conclusão que refletiu a realidade de forma séria e comprometida. Sobre a pesquisa bibliográfica, Fonseca (2002) afirma que esta se efetiva:</p><p>[...] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (Autor fonseca, 2002, p. 32).</p><p>Percebemos portanto, que a pesquisa bibliográfica é aquela que se fundamenta no estudo da teoría publicada anteriormente. Nesse sentido, nesse tipo de pesquisa é primordial que o pesquisador busque realizar um compilado sistematizado de conhecimentos conceituais acerca de determinada temática, de forma que os elementos versem de forma harmoniosa, defendendo uma ideia específica, sob diferentes pontos de vista, e que são, de alguma forma, complementares e agregam</p><p>materialidade e fundamentação à pesquisa. Assim, ao optar pela realização de uma pesquisa do tipo bibliográfica, é fundamental que o pesquisador realice leituras, reflita e escreva sobre o que leu, dedicando-se à reconstrução da teoria e ao aprimoramento dos conceitos teóricos.</p><p>Já a entrevista semiestruturada foi aplicada junto aos dois orientadores educacionais da escola, a fim de perceber como ocorreu a implantação da mediação de conflitos, quais as dificuldades encontradas e resultados alcançados em termos pedagógicos e disciplinares naquela instituição. Acerca da entrevista semiestruturada como instrumento de coleta de dados, Gil (2008) avalia esta como uma ferramenta flexível da qual os profissionais que tratam de problemáticas inerentes aos humanos lançam mão a fim de irem além da captação de dados, chegando a diagnósticos e/ou orientações. Isso significa dizer que a entrevista é a busca da compreensão da subjetividade de um fenômeno ou de um indivíduo por meio de depoimentos que revelem seu ponto de vista e, assim contruir um quadro geral sob ese aspecto.</p><p>Descrição da coleta de dados.</p><p>Durante o desenvolvimento da nossa pesquisa, lançamos mão de algumas ferramentas de coleta de dados que nos auxiliaram no melhor entendimento do fenômeno observado. Desse modo, nosso estudo esteve composto sob seis etapas definidas e que conjuntamente conferiram veracidade e efetivaram nossa proposta inicial.</p><p>Assim, a primeira etapa da pesquisa constituiu-se da visita à escola e conversa com a gestão a fim de conhecer a escola e solicitar autorização para acompanhar os procedimentos de implantação do Projeto Descomplica pela Defensoria Pública do Estado de Roraima naquela escola.</p><p>A segunda etapa referiu-se à observação propriamente dita, da implantação do Projeto Descomplica naquela escola. Isso implicou em participar de maneira não participativa, à reunião dos orientadores com os líderes das turmas da escola, e ainda, a duas sessões de conciliação mediadas por dois dos alunos multiplicadores do Projeto descomplica.</p><p>A terceira etapa foi a da aplicação de entrevista semiestruturada junto aos dois orientadores daquela escola, a fim de compreender se os usos das ferramentas de mediação de conflitos implantadas na escola ofereceram mudanças nas ocorrências</p><p>de conflitos, bullying ou violência escolar, além de outras ocorrências com as quais trabalha a Orientação Educacional. Dessa forma, foi possível perceber quais as vantagens que a mediação de conflitos apresentou naquela escola.</p><p>A quarta etapa se efetivou por meio da aplicação de um questionário (vide Apêndice 01) composto por 5 perguntas, junto aos líderes de turma que realizaram o curso de formação de multiplicadores/mediadores do Projeto Descomplica na escola. O número de arguidos foi de 20 alunos multiplicadores-mediadores e contemplou questões de múltipla escola que, após analisados foram contextualizados e deram origem aos gráficos constantes na parte de análise de dados, no capítulo 3 que constituiu a quinta etapa deste registro.</p><p>A sexta e última etapa foi a de registrar, de maneira detalhada e criteriosa, seguindo as especificações técnicas, sistematizando os dados e triangulando os resultados sob a forma deste registro escrito.</p><p>Sabe-se que o ensino nas escolas faz parte de uma sociedade, por meio dele acompanhamos durante anos o desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes na formação de seres pensantes. O ambiente escolar tem sua formação diversificada, com múltiplos professores, com assistentes, gestores, coordenadores, zeladores e outros colaboradores de diversas formações e culturas que visam o trabalho em conjunto na promoção de uma educação exemplar para os discentes.</p><p>Este ensino se divide em diversos níveis, desde o maternal, depois evolui para a educação infantil, ensino fundamental 1 e 2, ensino médio, e após isso os ensinos profissionalizantes, como o ensino técnico ou uma faculdade. Percebe-se que o contexto escolar possui algumas etapas. E para somar com tal direito que inclusive está dentro dos direitos sociais, a educação, o Brasil com muita sapiência e devido a alguns representantes criaram leis como uma garantia, de que a educação atingisse a todas as classes sociais.</p><p>Estas leis atualmente são de suma importância, podemos citar o Plano nacional de Educação (PNE); Base Nacional Comum Curricular (BNCC); Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e outras leis que contribuem na formação educacional. Estas se tornam o alicerce de uma educação com amplo acesso, gratuita e de qualidade. Legislações que permitem que o profissional da educação possua ferramentas durante suas atuações no ambiente escolar.</p><p>A educação tem uma longa história, primeiramente nem todos poderiam estudar, apenas quem era de família nobre, época monárquica brasileira. Após isso, o ensino era oferecido apenas para homens, pois tinha-se o conceito de que o ensino era específico para eles, já que eram ou se tornaram os provedores do lar. Depois foi se criando novas disciplinas escolares com a necessidade da comunidade. Vimos também que houve no início a exclusão de pessoas que apresentavam alguma deficiência. Com o tempo estes preconceitos foram quebrados, pois foi visto que a educação era para todos. Daí começa outras grandes etapas de superação de paradigmas estruturados durante décadas pela sociedade.</p><p>O ensino escolar ganha força, meninos e meninas podem estudar em igualdade e isonomia, mulheres conseguem se qualificar em conhecimentos e na formação profissional, diferenças sociais são quebradas dando apoio para os menos favorecidos de cursarem ensinos educacionais, ganhamos espaço na qualificação de profissionais que tivessem condições para ensinar pessoas com alguma deficiência visual, auditiva, física e mental.</p><p>Atualmente no meio escolar, são necessárias pessoas qualificadas que estejam sempre em processo de construção pedagógica para o desenvolvimento do aluno. Os resultados desta nova metodologia, começa a mudar quando os alunos que possuem algumas deficiências, ganham espaço nas escolas públicas, outro benefício é o contato que eles começam a adquirir com outros colegas e com os profissionais presentes, outro benéfico é o conhecimento que muitos educadores começam a buscar para promover uma boa educação inclusiva para esses alunos. Outro benefício são as adaptações de ensinos pragmáticos e de novas formas de ensinar. Outro benefício é o campo de emprego que cresce com os avanços dos estudos e com a necessidade de observarem que alguns alunos precisam de um acompanhamento mais central.</p><p>Desta maneira podemos esclarecer as diferenças conceituais entre mediador e mediação. O mediador de acordo com o dicionário online de português, é baseada</p><p>Foi nesse contexto que surgiu a proposta da Defensoria Pública do Estado de Roraima em aplicar a implantação de ferramentas de mediação de conflitos e círculos restaurativos na prática. A proposta incluía um curso preparatório para um grupo de alunos que seriam preparados como mediadores de conflitos, bem como multiplicadores das técnicas aprendidas durante o referido curso.</p><p>Diante da aceitação da proposta da defensoria Pública do Estado de Roraima, tivemos nosso pedido para realizar nosso estudo, igualmente aceito, mediante a condição de mantermos os nomes da escola, dos profissionais e dos alunos envolvidos sob sigilo.</p><p>Contudo, tivemos algumas dificuldades em relação ao período, uma vez que a proposta da Defensoria Pública só teve um aceite no final do mês de agost, ou seja, só pode ser efetivamente realizada durante o quarto e último bimestre do ano letivo de 2019. Entretanto, a gestão da escola propôs que déssemos continuidade às observações no ano subsequente, 2020, que iniciaria em março de 2020. O problema reside na ocorrência da suspensão das aulas logo na segunda semana do ano letivo de 2020 em função da pandemia mundial de Coronavirus, COVID -19, que perdurou até o início do ano letivo de 2022, ou seja, até os dias atuais, uma vez que até o final do mês de fevereiro as aulas presenciais ainda permanecem suspensas naquela escola.</p><p>Acreditamos que o tempo apesar de ter sido suficiente para a realização da coleta de dados, poderia ser um fator positivo, se tivéssemos a oportunidade de acompanhar os registros de ocorrências de conflitos e acompanhado as reuniões dos círculos restaurativos a fim de acompanhar a utilização prática das ferramentas de mediação de conflitos naquela escola, e como a implantação das ferramentas representou a diminuição das ocorrências de conflitos, bullying, indisciplina e violência escolar na instituição de ensino e na comunidade escolar como um todo.</p><p>Diante disso, a coleta por meio de observação foi registrada em diário de pesquisa nosso, onde anotamos todos os aspectos observados, fazendo apontamentos.</p><p>Já a entrevista semiestruturada foi elaborada após a etapa de observação e contemplou cinco questões que foram direcionadas às orientadoras da escola, aqui descritas como Orientadora A e Orientadora B.</p><p>O questionário contendo 05 perguntas foi direcionado aos líderes de turma que participaram do curso de formação promovido pela Defensoria quando da implantação do Projeto Descomplica. Nele estavam as seguintes perguntas com respostas de múltipla escolha entre SIM e NÃO (vide Apêndice 01):</p><p>1. Na sua escola você já presenciou ou sofreu algum tipo de bullying ou situação de violência escolar?</p><p>2. Você já foi atendido alguma vez pela equipe da Orientação Educacional?</p><p>3. Acha que os problemas da escola podem ser resolvidos de forma pacífica?</p><p>4. Você sabe o que é mediação de conflitos?</p><p>5. Você acha que o curso de formação de mediadores e multiplicadores do Projeto Descomplica irá ajudar na solução dos conflitos na sua rotina escolar?</p><p>O questionário foi aplicado logo depois do término do curso de formação do Projeto Descomplica, e os alunos tiveram o prazo de dois dias para entregarem suas respostas na Orientação Educacional, onde as recolhemos para serem analisadas. Dessa forma, os meios de coleta de dados seguiram uma sequência que tornou viáveis os procedimentos desta pesquisa.</p><p>Descrição do processo criativo realizado para desenvolver o desenho:</p><p>O público-alvo da nossa pesquisa foi dividido em dois grupos sendo o primeiro do dos profissionais da equipe da Orientação educacional da escola analisada, aqui nominados como Orientadora A e Orientadora B.</p><p>As orientadoras são funcionárias do quadro efetivo da SEED em desvio de função, pois, uma é graduada em pedagogia (Orientadora A) e a outra encontra-se fora de sala de aula por recomendação de afastamento médico. São professoras experientes, que recebem formação continuada para exercerem a função de educação.</p><p>Já o segundo grupo disse respeito ao composto pelos alunos líderes de turmas que fizeram a formação como mediadores e multiplicadores do Projeto Descomplica. Os questionários foram deixados com as orientadoras e estas entregaram aos alunos em questão, durante o período das aulas que sucederam o curso de formação do Projeto Descomplica.</p><p>O registro das observações ocorreu na própria escola, na sala de mídias, local da realização das palestras do curso do Projeto Descomplica, do dia 16 ao dia 20 de setembro de 2019. Contudo, pudemos observar duas reuniões anteriores a essa data, realizadas nos dias 10 de setembro e no dia 12 de setembro de 2019, ambas na sala dos professores, no período da manhã, com a gestão, a equipe da Orientação Educacional e os alunos líderes de turma. A primeira reunião foi para anunciar a parceria com a Defensoria para a implantação do Projeto descomplica na escola e a segunda reunião foi para falar de como aconteceria o curso.</p><p>Aproximação:</p><p>A gestão da escola nos recebeu bem, oferecendo uma visita pelas instalações da escola e falando sobre o trabalho que realizam na Orientação da instituição. A gestora nos apresentou às professoras Orientadoras e solicitou que estas nos acompanhassem e nos auxiliassem durante os procedimentos que iríamos realizar ali.</p><p>As duas orientadoras se mostraram abertas em nos receber e nos auxiliar no que pudessem para que pudéssemos efetivar esta pesquisa de forma assertiva. Os alunos líderes também se mostraram receptivos e responderam ao questionário de maneira voluntária.</p><p>Junto à equipe da Defensoria Pública do Estado de Roraima, nosso primeiro contato foi no primeiro dia do curso com os alunos. Fomos bem recebidos pelos palestrantes que nos autorizaram observar e realizar as anotações. No entanto, não nos foi autorizado tirar fotos pois, nos foi explicado que esses registros pertenceriam ao Projeto Descomplica.</p><p>Desse modo, aplicamos o Termo de Livre Consentimento aos envolvidos (vide Apêndice 02): Orientadores e alunos participantes do curso, que foi entregue na Orientação antes das observações, para serem assinados e devolvidos, nos respaldando acerca dos registros feitos por nós durante o processo deste estudo.</p><p>CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO</p><p>“A pesquisa é ver o que todo mundo viu e pensar o que ninguém pensou”</p><p>Albert Szent-Gyorgyi</p><p>O capítulo que se segue é referente às etapas práticas desta pesquisa. Dessa forma, explicamos aqui o que aconteceu durante a etapa de observação, as entrevistas e a aplicação do questionário, de forma detalhada e sistemática para que se desenhassem nossas análises e discussões que levaram às nossas conclusões.</p><p>Este estudo se realizou em três etapas: a primeira delas foi a observação do curso dado pela Defensoria Pública do Estado de Roraima aos alunos a fim de formá- los como mediadores e multiplicadores do uso das ferramentas de mediação de conflitos naquela escola. Desse modo, a segunda etapa foi de entrevista com as orientadoras e a terceira a aplicação do questionário junto aos alunos mediadores e multiplicadores.</p><p>Assim, demos início ao nosso estudo quando da ocorrência da primeira reunião entre a equipe da orientação e os alunos líderes de turma da escola.</p><p>A primeira reunião da equipe de orientadores com os líderes de turmas da escola se realizou no dia 10 de setembro de 2019, às 09h, na sala de professores e contou com a presença da gestão da escola. A reunião iniciou com um momento de reflexão, no qual a Orientadora A leu um texto que falava sobre ser autêntico e acreditar em si mesmo. Depois, o gestor da escola deu as boas-vindas a todos, apontando o bom trabalho que tanto as orientadoras quanto os líderes de turma tem feito, trabalhando nos projetos propostos com dedicação e empenho.</p><p>Em seguida, a Orientadora B pediu que uma aluna escrevesse a ata da reunião no livro de registros dos líderes de turma, no qual ficam anotadas todas as ações realizadas peloslíderes de turma da escola, como reuniões, decisões, votações, eventos e projetos.</p><p>O gestor seguiu dizendo que havia convocado a reunião por ter uma notícia boa</p><p>para todos os presentes. Que havia recebido a visita de uma equipe representante da Defensoria Pública do Estado de Roraima e que eles fizeram a proposição da realização de um curso de formação de mediadores e multiplicadores para o Projeto Descomplica na escola.</p><p>O gestor explicou que o Projeto Descomplica era um programa paralelo que a Defensoria mantinha junto à comunidade para implantação de ferramentas de mediação de conflitos nas escolas públicas, formando equipes de alunos que, após receberem a formação, desenvolveriam o trabalho de forma independente, agindo como multiplicadores dos conhecimentos que adquiriram.</p><p>A reação dos alunos foi de curiosidade sobre o que seria a mediação de conflitos e como eles poderiam contribuir para que tudo ocorresse corretamente. Diante das perguntas dos alunos, a Orientadora A apontou que era uma formação e que serviria para que eles compusessem uma forma melhor de lidar com os conflitos que existiam na escola até então. Em seguida, a Orientadora A nos apresentou aos presentes, apontando que iríamos acompanhar o processo todos, fazendo registros, com finalidade de uma pesquisa científica. Dessa forma a Orientadora B encerrou a reunião, mediante a entrega dos formulários de inscrição e autorização para o curso que se iniciaria na semana seguinte e ao agendamento da reunião seguinte para o dia</p><p>12 de setembro de 2022, quando os líderes deveriam trazer as documentações necessárias, os formulários de inscrição e a autorização dos pais e/ou responsáveis para que pudessem participar da formação.</p><p>A reunião do dia 12 de setembro de 2019 ocorreu, da mesma forma que a primeira, na sala dos professores, às 09h e contou com as orientadoras, os líderes de turma e a coordenadora pedagógica da escola. Mais uma vez, as orientadoras deram as boas-vindas a todos os presentes, solicitando que fizessem um momento de reflexão naquele instante. O texto lido por um aluno do 8º ano era sobre o mês do Setembro Amarelo, mês de combate e prevenção ao suicídio. Na ocasião, as orientadoras recolheram as inscrições e documentações solicitadas dos alunos, e explicaram como funcionaria o curso que se realizaria na semana seguinte, nos dias 16, 17 e 18, 19 e 20/09/2019, das 8h às 11h, e que todos eles seriam liberados das aulas pela gestão para realizar o curso. Também explicaram a importância de participarem ativamente e de que não deveriam faltar nenhum dia na semana seguinte, salvo diante de justificativa médica ou por parte dos responsáveis, para poder garantir a certificação do curso. Ao final da reunião, os alunos tiraram algumas dúvidas e foram liberados pelas orientadoras para voltarem às salas de aula.</p><p>O Curso:</p><p>Na segunda-feira, dia 16 de setembro de 2019, às 8h da manhã, os alunos foram encaminhados para a sala de informática, onde seria realizado o curso. A equipe da Defensoria Pública do Estado de Roraima estava composta por cinco pessoas, sendo uma defensora pública, duas assistentes sociais e dois psicólogos.</p><p>Inicialmente a equipe se apresentou e solicitou que todos os presentes falassem seus nomes e o que esperavam do curso. Em seguida, apresentaram slides sobre as ações daquela manhã, explicando que o curso teórico-prático era denominado Descomplica: Estimulando a Mediação de Conflitos na Escola. Explicaram que as oficinas se propunham a apresentar os conceitos gerais de conflito, mediação e conciliação e demais temas propostos no conteúdo programático, de maneira aplicada e por meio de técnicas de aprendizado e vivências. Assim, as equipes, durante o primeiro dia de curso, realizaram uma palestra sobre os objetivos da formação, as metodologias que seriam empregadas, as expectativas tanto da equipe quanto dos alunos sobre o curso e como poderiam colocar em prática o que aprenderiam, a forma como os participantes seriam avaliados ao final das oficinas por meio de um questionário. Todas essas ações foram efetivadas por meio de uma roda de conversação, e contou com o apoio do gestor e da coordenadora no primeiro dia. Ademais, a equipe da Defensoria promoveu um lanche aos participantes, com o objetivo de conhecê-los melhor e de confraternizar.</p><p>A segunda oficina seguiu a mesma dinâmica de acolhimento, com uma conversa informal, seguida por apresentação de slides sobre as definições de conflitos e suas repercussões. Depois, foram feitas algumas dinâmicas e uma simulação de conflito entre duas colegas, representadas pelas assistentes sociais da Defensoria. A simulação falava sobre duas colegas em uma situação de bullying, na qual uma constrangia a outra diante dos colegas falando sobre sua aparência. Diante da representação, as palestrantes deram início a outra dinâmica na qual perguntaram aos alunos quais seriam as problemáticas envolvidas na enquete. Os alunos responderam ativamente e as respostas deles foram sendo anotadas em um painel visível a todos na sala. Depois, as palestrantes realizaram uma dinâmica de divisão de grupos, e distribuíram situações que cada grupo deveria encenar para os demais grupos. Pediram ainda que cada grupo escolhesse um elemento para ser o mediador e tentar chegar a uma solução adequada para o problema.</p><p>As apresentações aconteceram após o recreio e seguiram a seguinte dinâmica: um grupo apresentava, as palestrantes perguntavam aos demais se a solução havia sido adequada, os alunos davam sugestões de como achavam que poderia ter sido solucionado o conflito e as palestrantes anotavam no painel. A primeira oficina se encerrou às 11 horas e os alunos foram liberados para voltarem para casa mais cedo.</p><p>A segunda oficina, começou também às 8h, e, desta vez ospsicólogos da equipe foram os palestrantes. Falaram sobre os passos para a conciliação, falaram a respeito dos círculos restaurativos e como uma conciliação ocorre na prática. Mostraram alguns vídeos e livros que tratam do assunto. Dividiram os alunos em trios e solicitaram que estes escrevessem situações de conflito sob a forma de textos e entregassem aos palestrantes que as redistribuiram entre todos. Dessa forma, cada trio recebeu um novo conflito para resolver, mas deveriam, dessa vez, utilizar os passos da mediação que aprenderam naquele dia. A oficina encerrou novamente às 11h e os alunos foram liberados.</p><p>A quarta oficina trabalhou as técnicas de resolução de conflitos (mediação, conciliação, negociação e arbitragem) em situações do tipo “você decide”, onde vídeos eram mostrados e duas opções eram dadas para a finalização do conflito de forma satisfatória para os envolvidos. Os alunos votavam na melhor opção e assistiam a solução escolhida. Depois debatiam acerca das possibilidades que haveriam caso tivessem escolhido a outra alternativa. Por fim, as assistentes sociais fizeram várias simulações com alunos voluntários para que entendesse os passos que a técnica da mediação demanda. Dessa forma, todos os alunos participaram e compreenderam como ocorre o processo da mediação, de forma voluntária e atendendo da melhor forma possível aos envolvidos no conflito, sob uma postura pacificadora.</p><p>Nesse sentido, no dia 20 de setembro de 2019, às 8h ocorreu a última aula do curso de mediadores do Projeto Descomplica. Nesse dia os palestrantes fizeram dinâmicas de divisão de grupos e cada grupo recebeu uma folha onde deveriam anotar o que aprenderam nas oficinas e quais as sugestões que teriam para futuros encontros. Depois, cantaram uma música com os psicólogos e, por fim aconteceu uma ação simbólica de entrega dos certificados de mediadores/multiplicadores do Projeto Descomplica. Ademais, a equipe explicou que, como forma de avaliação da turma, seria produzido um relatório das oficinas baseado no modelo estabelecido pelo Centro de Aperfeiçoamento funcional da Defensoria Pública do Estado, a fim de manter monitoramento e possíveis ajustes ao desenvolvimento das ações dos mediadores naquela escola.</p><p>LXXXI</p><p>A Entrevista:</p><p>Diante do término do curso, na semana seguinte, ocorreu a segunda etapa da nossa pesquisa, com a entrevista semiestruturada à equipe da Orientação Educacional, que ocorreu no dia 25 de</p><p>setembro de 2019, às 10h30min, na sala da orientação, com a Orientadora A e às 15h30min, com a Orientadora B. A entrevista transcorreu de forma tranquila, sendo registrada de forma escrita por nós, e contando com cinco perguntas previamente elaboradas, constituindo-se de um elemento fundamental para nosso estudo.</p><p>Assim, inicialmente conversamos de maneira informal com cada uma das orientadoras para conhecermos as profissionais e formarmos um perfil das mesmas.</p><p>A Orientadora A tem 40 anos, licenciada em Letras pela UFRR e possui Pós- Graduação em Gestão, Administração, Coordenação e Orientação Escolar. Bem como está cursando o mestrado em Educação. Trabalha como educadora há 20 anos, mas como orientadora, estava há 5 anos, sendo 2 anos na escola analisada. A Orientadora A trabalhava no turno matutino, atendendo 10 turmas do 6º, 7º e 8º anos.</p><p>A Orientadora B tem 46 anos, licenciada em Pedagogia e trabalha como Orientadora há 3 anos, todos na mesma escola. Como educadora, trabalha há 24 anos como funcionária do quadro efetivo da SEED, sendo 12 na escola analisada. A Orientadora B trabalha no turno Vespertino, atendendo 10 turmas de 8º e 9º anos.</p><p>Nesse sentido, aplicamos as entrevistas com as orientadoras, sendo as perguntas abaixo relacionadas, seguidas das respostas das orientadoras e contextualizadas à teoria anteriormente citada no Marco Teórico deste estudo. Desse modo, a primeira pergunta foi:</p><p>Na sua escola, quais os maiores desafios quando falamos das relações interpessoais?</p><p>Orientadora A:</p><p>“Somos uma escola de crianças com baixo ou quase nenhum poder aquisitivo. Isso pode parecer que não tenha nada a ver com o comportamente, mas a verdade é que tem relação direta com a violência, o bullying e os conflitos de modo geral. Além disso, as influências externas não páram por aí. Tem alunos daqui envolvidos com drogas, facções do tráfico, tem aqueles que sofrem abuso de variados tipos em casa, e muito mais. Isso tudo, querendo ou não, se reflete aqui dentro, nas salas de aula, e, uma hora ou outra, os conflitos acontecem e a gente tem que estar lá para apagar os incêndios né? Por isso que eu digo que o</p><p>maior dos nossos desafios seja a realidade, o contexto desses alunos, e mais, seria a realidade do aluno refletida na escola. ”</p><p>Orientadora B:</p><p>“O aluno tem dificuldades em reseitar o espaço do outro, de entenderem que não precisam resolver as coisas com agressão verbal ou física. As famílias também não participam muito da vida deles na escola. É a maior dificuldade trazer um pais aqui para conversar... A gente tenta ligar, fala com o aluno, manda bilhete, mas só aqueles que nem sempre precisariam aparecer vem aqui porque se interessam. Outra coisa é que os alunos adolescentes não reconhecem como deveriam a autoridade do professor dentro de sala, sendo desrespeitosos as vezes e levando os estudos de um jeito despreocupados. Aí passam o ano sem fazer quase nada, a família não aparece e quando chega o final do ano e não passam, aí a família vem fazer cobranças. Então, para mim, o maior desafio nas relações são a indisciplina e a falta de respeito com os colegas e com os professores. ”</p><p>Podemos perceber que as duas professoras apresentam demandas diferentes, sendo que a primeira cita a realidade dos alunos como principal dificuldade e a segunda cita a indisciplina. Tanto um quanto o outro problema são realidades nas escolas públicas, e são dificuldades que muitos profissionais enfrentam. A realidade, o contexto influencia de diversas maneiras no comportamento e pode dificultar ainda mais o aprendizado. Por exemplo, um adolescente que cresce tendo como realidade, como comum ao seu cotidiano o furto, tem grande chance de manifestar o mesmo comportamento dentro da escola, gerando conflito. Já o aluno que não tem acompanhamento da família de forma a seguir regras e demonstrar respeito aos mais velhos, ou que escuta que a vida ensina mais que a escola, inevitavelmente terá um posicionamento indisciplinado e pouco respeitoso com os professores e os colegas, gerando conflito também.</p><p>Dessa forma, a segunda pergunta foi:</p><p>Quais as maiores dificuldades em resolver conflitos no ambiente escolar? Orientadora A:</p><p>“A nossa função é tentar solucionar da melhor maneira esses conflitos. Mas às vezes isso fica difícil porque os alunos e as famílias nem sempre colaboram. A gente registra tudo, encaminha para outros setores quando necessário, o</p><p>problema é que se, por exemplo, eu encaminho um aluno ao psicólogo, ele não vai às sessões. Aí dificulta né? Penso que a falta de boa vontade por parte dos envolvidos nas situações também pode ser uma grande dificuldade”.</p><p>Orientadora B:</p><p>“Trazer a atenção do aluno e da família para a importância de se resolver o problema é a maior dificuldade, na minha opinião. Se a gente tenta encaminhar ou tenta resolver na conversa, muitas vezes nem tem a atenção dos envolvidos, e isso desanima, dificulta mesmo. Faz a gente repensar nas estratégias, tentar de outra forma. Às vezes eu recorro à autoridade da gestão para manter a ordem em algumas situações, pois sinto que eles respeitam mais”.</p><p>Entendemos que as dificuldades são comuns às duas orientadoras, a ausência da família, a indisciplina contextualizada, a desvalorização da autoridade. Isso dificulta e desmotiva os profissionais, mas também serve como alerta, motivo para rever as estratégias e repensar as metodologias. A adesão de projetos por parte da Orientação Educacional, abraçados pelas disciplinas e demais componentes da comunidade escolar pode ser uma ajuda na busca por resultados significativos de melhora nas relações interpessoais no ambiente escolar.</p><p>A terceira pergunta feita às orientadoras foi:</p><p>Você recebeu formação para atuar na Orientação Educacional? Como foi que aconteceu?</p><p>Orientadora A:</p><p>“Na verdade, eu sou pós-graduada na área. Contudo, a SEED nos proporciona formação continuada anualmente, através de encontros, palestras e suporte dos cursos de formação do Centro de Formação de Professores de Roraima – CEFORR. São encontros regulares, ao longo do ano, nos quais recebemos suporte teórico-prático para atarmos na Orientação Educacional”.</p><p>Orientadora B:</p><p>“A SEED dá cursos para a gente. Nos reunimos de vez em quando e assistimos palestras e fazemos trabalhos em grupo de planejamento de nossas ações na escola. Acho importante, principalmente porque não tenho formação específica para a Orientação. Acredito que o que me ajuda bastante são as reuniões que</p><p>temos com outros orientadores, para trocarmos experiências e ideias de como resolver nossas dificuldades”.</p><p>O que podemos entender é que a formação continuada seja uma preocupação por parte da SEED-RR, pois esta promove cursos formativos aos orientadores regularmente. Se trata de uma atenção direcionada ao bom andamento da vivência escolar, às equipes orientadoras das escolas que são parte fundamental da gestão de cada escola e que tem um papel importante para a formação de nosso alunado. Nesse sentido, vale lembrar que tratar com pessoas precisa de empatia e amor à profissão para ser um trabalho bem feito, e, ser orientador educacional é uma função essencialmente empática, na qual o profissional busca trazer maior estabilidade emocional e a razão à cada situação-problema, tentando solucionar, da melhor forma possível, cada conflito, ainda que sem muita técnica para tal.</p><p>A quarta questão segue abaixo:</p><p>Você tem conhecimento das ferramentas de mediação de conflitos? Como pensa que funcionam?</p><p>Orientadora A:</p><p>“Li alguma coisa a respeito na pós. Achei bem interessante e procurei mais informação em alguns sites na internet. São aquelas técnicas de conversar e resolver pacificamente né? Acho que tudo é válido para a nossa atuação ser efetiva. Aderir à metodologias novas e renovar nossa prática é importante para valorizar nossas ações. Acho que a mediação de conflitos pode ser de grande ajuda em nossa escola. Só não sei se os alunos entenderam que eles terão que participar ativamente nos círculos e que a colaboração é importante. Achei o curso muito legal para eles. Tudo bem prático e</p><p>dinâmico. Pode ser que tenhamos resultados em breve. Vamos aguardar. ”</p><p>Orientadora B:</p><p>“Até tinha escutado falar a respeito no curso dos orientadores, mas não me aprofundei. Acho que tudo que vem para ajudar é válido. Gostei muito do curso que deram para os alunos. Acho que quando colocarmos em prática saberemos se funciona”.</p><p>A informação é fundamental para a formação do profissional. A mediação de conflitos, apesar de ser uma técnica recente, pode ainda não ter chegado ao</p><p>conhecimento da maioria dos orientadores, o que torna ainda mais importante as ações como da Defensoria Pública do Estado, que leva a mediação de conflitos às escolas públicas. Tais ações são relevantes à medida em que promovem a cultura da paz, e podem envolver os estudantes no processo da resolução dos conflitos, fazendo- os compreender o processo e a necessicade da utilização das técnicas. Dessa forma, a disseminação das técnicas de mediação de conflitos precisa se tornar mais ampla, com a adesão de outras instituições como a Defensoria Pública, no combate à violência escolar, ao bullying e aos conflitos de modo geral.</p><p>Assim sendo, a quinta e última pergunta da entrevista foi:</p><p>Na sua opinião, é válido incluir os alunos nas resoluções dos conflitos que acontecem na escola? Por que?</p><p>Orientadora A:</p><p>“Penso que tudo que vem para incluir é importante. Incluir os alunos nos seus conflitos e nos conflitos que, mesmo não sendo seus, são de pessoas à sua volta é trazê-los à responsabilidade, à tomada de atitude responsável, crítica e exercendo a empatia e a cidadania. Acredito muito que nossos alunos serão excelentes mediadores e que, enquanto multiplicadores, levarão a cultura pela paz para seus colegas. Penso que em breve, nossos registros de ocorrências serão menos intensos devido às ações desses alunos. Só espero que a gestão dê continuidade ao processo, não o deixando cair no esquecimento”.</p><p>Orientadora B:</p><p>“Com certeza! A participação desses alunos fará com que eles mesmos entendam como funciona o trabalho do mediador e tentem resolver de forma pacífica os problemas que surgirem também fora da escola. Ser multiplicador é isso: levar aos outros o que aprendeu, fazer com que a coisa tome força e funcione. Além disso, o nosso trabalho será mais como orientador mesmo, não teremos que agir diretamente no problema, a menos que seja necessário, agindo como conselheiros dos mediadores e dos envolvidos, escutando e colaborando da melhor forma com o círculo restaurativo.”</p><p>Como afirmaram as duas entrevistadas, é fundamental a inserção dos alunos nos processos de resolução de conflitos pois eles conhecem os colegas e suas</p><p>realidades porque fazemparte delas. Ademais, tratar com alguém da mesma idade também é um fator facilitador. Os orientadores atuam como suporte, dando conselhos e propondo soluções, caso necessário, mas a mediação efetivamente é feita pelos próprios alunos.</p><p>Desse modo, pudemos perceber que as entrevistadas estão conhecendo as ferramentas de medicação de conflitos mais a fundo recentemente, e que acreditam no potencial que as técnicas oferecem para auxiliar nas resoluções que precisam ocorrer na escola. Assim, passamos à terceira etapa deste estudo, referente à aplicação dos questionários aos alunos mediadores.</p><p>Os Questionários:</p><p>Os questionários foram previamente elaborados e impressos por nés. Ademais, foram entregues às orientadoras quando da finalização do curso de mediadores e multiplicadores do Projeto Descomplica, para serem entregues aos alunos por elas e devolvidos a nós dias depois. No total, foram 20 alunos</p><p>Nesse sentido, as questões foram de múltipla escolha, com alternativas SIM e NÃO para as respostas. Assim sendo, as questões foram recolhidas e analisadas gerando as considerações e gráficos que se seguem, contextualizados:</p><p>Na sua escola você já presenciou ou sofreu algum tipo de bullying ou situação de violência escolar?</p><p>Os questionários que nos foram entregues revelaram na primeira questão uma unanimidade nas respostas afirmando que todos os alunos arguidos já haviam presenciado ou sofrido algum tipo de conflito interpessoal na sua escola. Sobre isso, é possível entender que a realidade desses alunos é de conviência com situações conflitouosas. Diante dessa realidade, fomos procurar saber mais com as orientadoras, mas apenas a Orientadora A teve como nos receber. Perguntada sobre essa unanimidade representada no gráfico abaixo, a profissional argumentou que:</p><p>“Esses garotos vivem em uma realidade violenta. Para eles a agressão, o bullying e os conflitos fazem parte do cotidiano. Seria natural que trouxessem toda essa carga para dentro da escola. Nossa missão é de orientar que controlem a agressividade e ajam com respeito com os outros, dentro e fora da escola. Mas nem sempre atingimos nosso objetivo, infelizmente” (ORIENTADORA A, 2019).</p><p>Gráfico 01: questão 01</p><p>.</p><p>Fonte: elaboradora da pesquisa (2019)</p><p>Assim, a segunda pergunta do questionário foi: Você já foi atendido alguma vez pela equipe da Orientação Educacional? Sobre essa questão, os aunos responderam de forma dividida, como expressa o gráfico a seguir:</p><p>Gráfico 02: Pergunta 02</p><p>Fonte: Elaboradora da pesquisa (2019)</p><p>Assim sendo, notamos que 13 alunos disseram que já receberam atendimento da Orientação Educacional, enquanto 07 disseram que nunca foram atendidos pela Orientação Educacional. Diante dessas respostas, podemos perceber que existe um bom número de alunos que recebem atendimento da equipe de orientadores educacionais. Perguntada sobre as afirmativas que recebemos, a Orientadora A apontou que:</p><p>“Fazemos todo o possível para atender aos casos que tomamos conhecimento e dar a melhor solução para cada um deles. O que essas respostas me dizem é que estamos no caminho certo e que estamos alcançando uma grande parte dos alunos que precisam de nós. Aqueles que responderam negativamente, provavelmente não precisaram ser atendidos ou preferiram não buscar ajuda, o que também é algo que me preocupa”.</p><p>A terceira questão foi: Você acha que os problemas da escola podem ser resolvidos de forma pacífica? A questão citada gerou as seguintes respostas, expressas no gráfico abaixo:</p><p>Gráfico 03: Pergunta 03</p><p>Fonte: Elaboradora da pesquisa(2019)</p><p>Diante dessas respostas, notamos a descrença, por parte de alguns alunos, que que a cultura da paz seja o caminho para a resolução de conflitos. Acreditamos, mais uma vez, que as respostas desses alunos são sim influenciadas pelos seus contextos e que, por conviverem em uma sociedade onde algo errado é ‘punível’, passível de castigo, subentendem que o diálogo nem sempre seja o caminho para se resolver um problema. Sobre as 12 respostas que disseram que acreditam que a melhor forma de se solucionar os problemas dentro da escola seja a pacífica, temos que reconhecer que foi em grande parte influenciada pela ação das orientadoras que buscam conversar com os alunos, escutar suas demandas, seus anseios e angustias, individualizando suas necessidades de modo que se sintam parte da solução e não do problema. Mesmo assim, pensamos que ainda há um longo processo a sr percorrido em relação à cultura da paz na resolução dos conflitos interpessoais tanto dentro quanto fora do ambiente escolar, pois a punição, o castigo, ainda são alternativas que muitos locais consideram como viáveis, mesmo nos dias atuais.</p><p>A quarta pergunta: Você sabe o que é mediação de conflitos? Revelou que a grande maioria dos alunos desconhece o que entendemos por mediação de conflitos, como mostra o gráfico a seguir:</p><p>Gráfico 04: Pergunta 04</p><p>Fonte: Elaboradora da pesquisa (2019)</p><p>Nesse sentido, é possível notarmos que a mediação de conflitos dentro do ambiente escolar ainda é algo pouco conhecido. Assim, revela-se a importância de que mais projetos como o Projeto Descomplica, promovido pela Defensoria Pública do Estado de Roraima está disseminando nas escolas públicas de Boa Vista. Seria importante fazer com que todas as instituições tomassem conhecimento e implantassem as ferramentas de mediação de conflitos para que houvesse uma significativa</p><p>sobre as principais concepções sobre os conflitos e também sobre a Mediação de Conflitos. Nesse sentido, autores como Foucault, Piaget, Sales, Silva, Lima, entre otros, fundamentaram a discussão teórica que esta dissertação aborda.</p><p>Assim, justifica-se ainda este estudo pela importancia de se valorizar o papel do orientador educacional dentro das escolas, suas relações com os alunos e com as famílias, além de sua importante função dentro da equipe gestora de cada escola.</p><p>Ademais, junstifica-se pela importância que se dá aos alunos enquanto multiplicadores da mediação e da cultura da paz dentro e fora das escolas. Pela confiança dedicada a eles pela Denfensoria Pública Estadual de Roraima ao ministrar o curso dentro da escola, preparando-os para lidar com problemas relevantes para os alunos, seus colegas, e suas famílas, incentivando a justiça restaurativa e a cultura da paz.</p><p>Desse modo, entende-se que este estudo tenha justificativas fundamentadas em fatos, isto é, na existencia dos conflitos interpessoais que acontecem em todas as escolas, em teorías, em Foucault, Lima, Vivaldi, etc, e em se tratar de um tema que tenha muita relevância tanto para as escolas, quanto para os docentes e aqueles que fazem parte de qualquer comunidade escolar.</p><p>Diante da implantação de uma nova forma de se perceber conflitos na escola e solucioná-los de maneira que as necessidades dos envolvidos sejam atendidas satisfatoriamente, levantou-se a seguinte questão: De que modo a implantação da mediação de conflitos como uma ferramenta de transformação contribuiu para a promoção da convivência harmoniosa em uma escola da rede pública estadual de Boa Vista, Roraima?</p><p>Frente a essa problemática principal, lançam-se algumas subquestões que se mostram relevantes diante do contexto no qual se apresentam, diante dos objetivos deste estudo e diante do caso analisado. Assim, elencam-se as subperguntas da pesquisa, sendo a primeira: o que é a mediação de conflitos e como surgiu?; a segunda subpergunta: Como ocorreu a implantação da mediação de conflitos em uma escola da rede pública estadual de Boa Vista, Roraima? A terceira, quais foram as mudanças mais perceptíveis em termos de conflitos na escola? E a última subpergunta: quais procedimentos a escola utiliza atualmente na mediação de conflitos?</p><p>Nesse sentido, coube estipular como objetivo principal desta pesquisa como: Descrever a implantação da mediação de conflitos em uma escola da rede pública estadual de Roraima como uma ferramenta de transformação. Ademais, enumeram-se aquí os objetivos específicos, que se relacionam ao objetivo principal de modo a fornecerem o suporte necessário para que este seja concluído. Dessa forma, pretendemos identificar sob a visão da teoria e também da prática, o processo de mediação de conflitos e sua origem, apontando os possíveis benefícios resultantes da implantação dessa ferramenta nas escolas; compreender o processo de implantação da mediação de conflitos em uma escola pública; analisar as mudanças que ocorreram após a implantação da mediação de conflitos em uma escola pública roraimense; relatar os procedimentos utilizados pela escola na mediação de conflitos.</p><p>Para a realização deste estudo, lançou-se mão, inicialmente, das teorias e estudos já reconhecidos sobre o comportamento humano e as relações entre os indivíduos, que geram, inevitavelmente, geram conflitos. Dessa forma, foram citados neste estudo, inicialmente as teorias de Foucault (1999; 2003) acerca das relações de poder, as concepções de disciplina/indisciplina e a escola enquanto ambiente onde o professor exerce a disciplina de forma controlada sobre os alunos. Citaram-se ainda, Piaget (1973), Vygotsky (1998), Freud (1991) e Durkheim (1974), ao se abordar questões referentes ao desenvolvimento do ser humano e de suas relações e interações com o meio no qual se encontram inseridos. Da mesma maneira, se recorreu a tiba (2003), Bueno (1983) e Betelheim (1978) para se tratar da disciplina baseada no afeto e no respeito.</p><p>Assim, ao se abordar a mediação de conflitos, Chrispino (2007), Silva (2018), Lima (2010), Egger (2018), Gouveia (2021), Silva (2016), entre outros, foram muito importantes. Ademais, nomes como Aquino (1996), Vivaldi (2015), De Mateo (2012), Sales (2010), entre outros, auxiliaram no embasamento teórico que sustentou toda a pesquisa, bem como forneceram subsídios para as discussões relativas à temática que abordamos.</p><p>Quanto ao tipo de estudo dotado para esta pesquisa, optou-se por uma postura de investigação descritiva, concretizada sob a forma de um estudo de caso que tratou da implantação da ferramenta dialógica de Mediação de Conflitos em uma escola da rede pública estadual de Boa Vista, Roraima, localizada na periferia da cidade, envolvendo agentes da Orientação Educacional e estudantes daquela instituição.</p><p>Para tanto, inicialmente se acompanhou a proposta e a implantação da ferramenta através de curso de formação proposto pela Defensoria Pública do Estado de Roraima, por meio de um programa próprio, executado em escolas públicas</p><p>roraimenses e denominado “Descomplica”, realizado no primeiro semestre de 2019, na escola que serviu de objeto de estudo para esta pesquisa. Posteriormente, se observou a aplicação da Mediação de Conflitos na prática, acompanhando o trabalho da Orientação Educacional daquela instituição durante o segundo semestre do mesmo ano, bem como os resultados obtidos em termos de ocorrências de atos infracionais e/ou conflitos interpessoais na escola através dos relatórios da Orientação Educacional.</p><p>A partir de então, deu-se início ao levantamento teórico acerca da temática abordada neste estudo, para que o mesmo tivesse uma fundamentação baseada em argumentos e teorias realmente relevantes e que contribuíssem para a pesquisa e, por conseguinte, para possíveis trabalhos futuros.</p><p>Assim, adentrou-se o ano de 2020, ano em que o mundo foi assolado por uma pandemia e que demandou o isolamento social de todos, incluindo-se aí, e, por que não afirmar, em um primeiro plano, das escolas, alunos e professores. Desse modo, a terceira parte do estudo foi comprometida pois, inicialmente, pretendia-se averiguar se a ferramenta continuaria sendo utilizada e se isso refletiria nos números de casos de conflitos que aconteceram na escola. Diante disso, manteve-se contato apenas virtualmente com a Orientadora Educacional daquela escola, que forneceu os dados do ano anterior por meio de seus relatórios. Por fim, de posse dos dados coletados e das leituras e considerações teóricas, deu-se a fase final deste estudo, consistida pelo registro escrito, que foi orientado e se apresenta em fase de finalização.</p><p>Desse modo, acerca dos resultados aos quais se chegou, é possível afirmar que houve um grande engajamento por parte dos agentes envolvidos: Orientação Educacional e estudantes, de modo que a ferramenta implantada através do curso gerou multiplicadores (alunos) que realizaram também junto aos seus colegas, um “curso” sobre a Mediação de conflitos e como ela funciona.</p><p>As sessões de mediação ocorreram a partir de então, sob a supervisão da Orientadora Educacional, de forma agendada, cumprindo as etapas que a ferramenta estabelece. Dessa forma, os resultados obtidos se consideram satisfatórios pois a ferramenta foi implantada de forma efetiva e pode ser considerada parte da rotina da orientação educacional daquela escola.</p><p>Como resultado prático, as ocorrências em 2020 de conflitos foram gradualmente diminuindo, na mesma proporção em que as sessões de mediação foram se efetivando. Contudo, ainda se registraram alguns casos de conflitos que não foram solucionados por não aceitação da ferramenta de mediação pelas partes envolvidas.</p><p>Outrossim, um resultado pessoal para a pesquisadora deste estudo foi a aprendizagem fundamentada tanto na teoria quanto na prática (fruto da observação realizada na escola) acerca do tema abordado. Foi muito importante conhecer as raízes teóricas que fundamentam a mediação de conflitos, bem como, alguns casos registrados em publicações recentes de</p><p>diminuição da violência escolar, do bullying e dos conflitos interpessoais de modo geral.</p><p>Por fim, a última pergunta: Você acha que o curso de formação de mediadores e multiplicadores do Projeto Descomplica irá ajudar na solução dos conflitos na sua rotina escolar? Se referiru diretamente ao curso que os alunos líderes de turma realizaram, a fim de detectar a satisfação e as expectativas dos alunos depois de terem recebido a formação de mediadores e multiplicadores das ferramentas de mediação de conflitos na sua escola. Diante das respostas expostas no gráfico a seguir, pudemos perceber que todos os alunos têm a intenção de fazer funcionar a dinâmica da mediação de conflitos no seu contexto escolar.</p><p>Gráfico 05: Pergunta 05</p><p>Fonte: Elaboradora da pesquisa (2019)</p><p>Dessa forma, pudemos ter uma noção doque pensam os alunos sobre o curso que realizaram, bem como compreender as expectativas da equipe da Orientação Educacional sobre a implantação das ferramentas de medicação de conflitos na escola analisada. Contudo, pretendíamos acompanhar o uso das ferramentas na escola após sua implantação, mas tivemos alguns percalços que são relatados a seguir.</p><p>O uso das ferramentas: e agora?</p><p>Findada a implantação das ferramentas através da formação dos líderes de turma, a equipe da Orientação Educacional teve um período de formação própria que envolveu grande parte do quarto bimestre. Desse modo, a gestão da escola nos contactou e comunicou que o uso efetivo das ferramentas só ocorreria no ano letivo seguinte, pois, as orientadoras teriam que repassar os procedimentos à toda a equipe docente e a escola, enquanto instituição, deveria realizar uma reunião com os pais para tornar oficial a implantação da mediação de conflitos na instituição. Dessa forma, adiaram nossa observação do uso das ferramentas de mediação para o ano letivo de 2020.</p><p>2020 e a Pandemia: Casos observados</p><p>O início do ano letivo de 2020 ocorreu no dia 27 de janeiro daquele ano. A reunião de pais de abertura do ano letivo se deu no dia 31/01/2020, às 18h, nas dependências da escola. Durante a reunião o gestor anunciou oficialmente que a escola adotaria a mediação de conflitos como ferramenta de resolução dos conflitos escolares e que contaria com a participação dos alunos nos casos enquanto</p><p>mediadores e ainda, que esses alunos teriam a missão de trabalhar em suas turmas como multiplicadores do que aprenderam na formação dada pela Defensoria Pública, por meio do Projeto Descomplica.</p><p>Entretanto, algum tempo depois, mais especificamente no dia 13 de março de 2020, as aulas da rede estadual de Educação do Estado de Roraima foram suspensas por tempo indefinido, devido à declaração do estado de pandemia Mundial causada pelo Coronavírus, COVID-19, o que resultou no isolamento social em regime de quarentena.</p><p>Esse fato trouxe uma reformulação obrigatória a toda a comunidade escolar, uma vez que as aulas tendo sido suspensas, o ano letivo ficou em suspenso também. De acordo com a gestão da escola, inicialmente, a Secretaria Estadual de Educação de Roraima declarou que os primeiros 15 dias da pandemia seriam registrados como antecipação de férias dos funcionários, fossem estes docentes ou não, daquela escola e de todas as escolas estaduais roraimenses. Dessa forma, o calendário escolar ficou em suspenso e dependendo de uma reformulação vinda da Secretaria de Educação.</p><p>Contudo, passados 15 dias, a pandemia ainda não havia acabado, e novos rumos tiveram que ser traçados para educação roraimense, bem como, no Brasil inteiro. Nesse sentido, as aulas foram definitivamente suspensas por tempo indeterminado, e novas metodologias tiveram que ser empregadas em todas as escolas a fim de que o ano letivo não fosse tão prejudicado.</p><p>Iniciou-se então o que chamavam de aula online, trabalho home-Office e, posteriormente, aulas remotas. O ensino remoto tornou-se uma realidade mais rápido do que se esperava. Professores tiveram que adquirir aparelhos e dispositivos tecnológicos ligados à rede de internet, a fim de poder alcançar seu alunado e mediar conteúdos a serem transmitidos os alunos que não possuíam acesso à internet viram se prejudicados e a escola teve que adotar medidas diferenciadas para que esse aluno recebesse a atenção da escola e dos docentes da mesma forma que aquele aluno que tinha acesso à internet.</p><p>Assim, a escola adotou uma postura de busca ativa, onde as orientadoras foram fundamentais de posse dos nomes, telefones, endereços, referências dos alunos ou das famílias as orientadoras passaram a entrar em contato com esses alunos chamando as famílias a responsabilidade de acompanhar a vida escolar dos seus filhos de modo remoto. Responsabilizando paz, alunos e professores por todo o processo educativo então em vigência.</p><p>Assim, mais uma vez, o projeto descomplica passou a ser adiado para quando as aulas retornassem presencialmente. O que não se sabia é que as aulas seriam</p><p>suspensas por um período de dois anos letivos, só retornando, no início de 2022, oficialmente. Com tudo, naquela escola, após a declaração de suspensão da pandemia e retorno das aulas, a instituição passou por uma reforma que durou cerca de quatro meses, mantendo o sistema de ensino remoto até o final da reforma.</p><p>Diante desse fato, nossa pesquisa foi prejudicada novamente e tivemos que encerrar nossa investigação em função das circunstâncias.</p><p>Desse modo, a seguir, apresentamos nossas considerações a respeito da investigação hora apresentada.</p><p>CONCLUSÕES</p><p>Uma investigação de mestrado na área de educação é algo complexo e que requer atenção e dedicação ponto nesse sentido, muitos foram os conflitos que eu encontrei ao longo de minha trajetória durante o meu estudo. O principal conflito que tive foi o estabelecimento de uma pandemia Mundial causada por Coronavírus que fez com que as aulas presenciais fossem suspensas e dificultou o meu contato com a equipe escolar e com os alunos.</p><p>Entretanto, graças a tecnologia e aos benefícios trazidos pela internet pude concluir o meu estudo entrando em contato com os professores orientadores da escola analisada, e buscando informações por meio da internet. Assim, esta etapa do meu estudo refere-se às considerações finais, ou seja, minhas impressões acerca da pesquisa que realizei em uma escola da rede pública estadual de Boa Vista Roraima. Da mesma forma, nesta seção encontram-se as respostas para as perguntas levantadas por mim no início do meu estudo, onde uma a uma, respondo e descrevo detalhadamente minhas impressões sobre cada uma delas nesse sentido, foram quatro as perguntas levantadas que deram sustentabilidade e credibilidade a curiosidade desta elaboradora sobre a temática que abordamos. Ademais todo este estudo estruturou-se e encontrou motivação mediante um questionamento principal, que foi: de que modo a implantação da mediação de conflitos como uma ferramenta de transformação contribuiu para a promoção da convivência harmoniosa em uma escola da rede pública estadual de Boa Vista, Roraima?</p><p>Assim sendo, a primeira questão que advém dessa pergunta principal é: "O que é mediação de conflitos e como surgiu?</p><p>Diante dessa pergunta, entendemos que a mediação de conflitos seja uma excelente ferramenta que nasceu em âmbito jurídico, mas que tem se direcionado aos ambientes educacionais. Contudo, antes de chegar às escolas, permeou as bases comunitárias, através de programas como a Justiça Comunitária, exibindo resultados expressivos na resolução de conflitos menos complexos, por meio do diálogo e da colaboração voluntária. Isso reflete um trabalho realizado de modo crescente e que atingiu os alicerces da sociedade. Desse modo, a escola passou a ser parte do interesse dos órgãos jurídicos que adotavam a mediação, com vistas a dirimir os conflitos existentes em ambiente escolar, de modo mais colaborativo e respeitoso, que atenda às demandas de ambas as partes e que se estabeleça como um elemento racional e objetivo de solução de conflitos.</p><p>Assim, o que pudemos perceber foi que o principal objetivo da mediação de conflitos é o estabelecimento</p><p>de um canal de comunicação entre as partes envolvidas para que estas tenham a oportunidade de solucionar um conflito. Nesse sentido, uma das premissas é a pacificidade, ou seja, que os conflitos sejam solucionados de forma pacífica e respeitosa, trabalhando em prol de se chegar em um acordo que atenda a ambas as partes de modo satisfatório. Para tanto, a ferramenta da mediação baseia sua metodologia tanto na confidencialidade, isto é, na discrição e garantia de respeito aos dados referentes ao conflito, restringindo-os ao cpirculo restaurativo, bem como à boa-fé, que seguindo a mesma linha de pensamento, subentende que os envolvidos ajam de modo ético e que busquem uma solução justa e pacífica.</p><p>Diante disso, podemos concluir que a primeira questão foi sim respondida e que com ela aprendemos muito sobre a temática que escolhemos. Ademais, temos a pretensão de nos aprofundarmos em leituras que versem sobre a mesma temática, a fim de compormos artigos destinados à publicação e/estudos mais aprofundados, servindo este estudo como base de fundamentação motivacional para sua realização.</p><p>Nesse sentido, a segunda pergunta levantada foi: Como ocorreu a implantação da mediação de conflitos em uma escola da rede pública estadual de Boa Vista, Roraima?</p><p>Para responder a essa pergunta, tivemos que recorrer à observação e à conversas informais, bem como a uma entrevista junto às professoras da equipe de orientação escolar. Nesse sentido, pudemos perceber que a implantação da ferramenta de mediação de conflitos teve início antes mesmo da Defensoria Pública Estadual de Roraima manifestar interesse em realizar o curso do projeto Descomplica na escola que analisamos. Isto porque, de acordo com as conversas informais que tivemos junto à equipe gestora, fomos informadas que há 4 anos, a SEED-RR e a Defensoria já haviam realizado um curso de formação para professores orientadores atuarem com a Justiça Comunitária, utilizando a ferramenta de mediação de conflitos. No entanto, a formação não foi efetivamente implantada naquele momento, ficando à espera de uma oportunidade que só apareceu com o Projeto Descomplica. Ademais, no início de 2018, a Defensoria apresentou aos docentes orientadores educacionais o Projeto Descomplica, fazendo com que grande parte das escolas tomassem conhecimento das intenções de implantação do referido projeto nas escolas, dessa vez com os alunos como mediadores e multiplicadores.</p><p>Assim, quando o Projeto Descomplica chegou efetivamente à escola analisada, foi recebido com muitas expectativas por parte da gestão e orientação educacional, que logo encaminharam as documentações para a formalização do início do curso.</p><p>Os estudantes que fizeram o curso se mostraram bastante animados com as possibilidades de atuar como mediadores e multiplicadores da ferramenta, e isso fez com que a escola se envolvesse de modo efetivo logo após a implantação.</p><p>Dessa forma, acreditamos que a segunda pergunta foi respondida plenamente, sendo argumentada aqui, nas considerações como forma de colocação de nosso ponto de vista diante desse contexto.</p><p>A terceira pergunta levantada no início desta investigação foi: “Quais foram as mudanças mais perceptíveis em termos de conflitos na escola?</p><p>Para responder a esse questionamento, precisamos retornar aos dados que levantamos com os questionários e as entrevistas que realizamos. Nesse sentido, registramos sensíveis mudanças logo no início da implantação da ferramenta no comportamento dos estudantes da escola analisada. Entretanto, é possível que essas mudanças se deram em função de que a implantação era “uma novidade” e que todos estavam empolgados com a nova dinâmica recém implantada.</p><p>Verificamos então, em conversas posteriores com as orientadoras que, ao longo do período remoto não foi possível realizar registros de conflitos interpessoais, uma vez que os alunos não estavam presentes nas instalações da escola. No entanto, as orientadoras mantiveram registros sobre as condutas dos alunos também durante as aulas que se realizavam pela internet, através de chamadas coletivas de vídeo. Nesse sentido, foram registrados comentários ofensivos e/ou preconceituosos de diversas formas em algumas situações pontuais.</p><p>Para as orientadoras, não houve a possibilidade de se lançar mão da ferramenta de mediação de conflitos nessas ocasiões, sendo que então, tais episódios foram solucionados por meio de conversas e registros de ocorrências ainda que de forma virtual, resultando em algumas advertências escritas.</p><p>Contudo, ao analisarmos essas situações, percebemos que não houve um esforço real no uso da ferramenta de mediação de conflitos. Para nós, seria interessante que as orientadoras visualizassem os episódios de modo mais amplo, etendendo que poderiam realizar os círculos restaurativos também de modo virtual, através de atendimento em videochamadas. O que seria prudente nesses casos era envolver os alunos que participaram do curso, de modo que estes exercessem o papel de mediadores em todo o rocesso, realizando os convites à conversa, organizando o roteiro do círculo, ainda que virtualmente, e mediando o diálogo mesmo que por videochamadas.</p><p>Acreditamos que, nesses casos, a mediação poderia auxiliar na manutenção da harmonia entre os estudantes, evitando situações de bullying e preconceito que afligissem a saúde mental dos estudantes ou dos docentes.</p><p>Portanto, com relação à terceira pergunta, consideramos que foi respondida e argumentada de modo completo e satisfatório para esta pesquisa.</p><p>A quarta e última pergunta foi: Quais procedimentos a escola utiliza atualmente na mediação de conflitos?</p><p>Ao nos debruçarmos nas narrativas recolhidas durante este estudo investigativo, sentimos a real necessidade de visitarmos na atualidade, período pós- pandêmico, a escola analisada, a fim de verificarmos como a mediação de conflitos está sendo trabalhada mesmo depois de tanto tempo transcorrido.</p><p>Para tanto, visitamos no mês de maio de 2022 a escola em questão e constatamos que a equipe gestora havia sido trocada, assim como a equipe de professoras orientadoras. Desse modo, fomos informadas de que os alunos que realizaram o curso já não estavam entre os alunos da escola e que o projeto Descomplica estava engavetado, literalmente colocado em uma gaveta na secretaria da escola.</p><p>Ficamos muito frustradas com essa perspectiva, que antes era tão promissora e encontrou na burocracia politica, uma vez que cargos de gestão são provenientes de indicações convenientes aos assuntos governamentais, e a não-continuidade de um projeto que se mostrava tão benéfico a longo prazo naquela instituição.</p><p>Diante disso, acreditamos que algumas mudanças precisam ser realizadas nesses contextos, sendo uma delas a proposição de políticas públicas que incentivem o uso da ferramenta de mediação de conflitos nas escolas, como algo fixo, no qual tanto docentes quanto estudantes recebam constante formação, renovando perspectivas e conceitos, de modo que não fique alheia aos contextos das diferentes escolas roraimenses.</p><p>Assim sendo concluímos esta pesquisa, declarando que mesmo tendo enfrentado tantos percalços, tivemos a oportunidade de aprender muito com ela. Nesse sentido, pretendemos nos aprofundar na temática que abordamos, de modo que o assunto da mediação de conflitos se tornou algo de nosso real interesse, bem como, temos a pretensão de realizar de modo voluntário nas escolas públicas serviços referentes à mediação de conflitos e seus usos beneficiando a educação, combatendo o bullying e o preconceito dentro e fora do ambiente escolar.</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>(Almeida, 2016)</p><p>(Aquino, 1996)</p><p>(Bettelheim, 1978)</p><p>(Carvalho, 1996)</p><p>(Chrispino, 2007)</p><p>(Chiaparini, 2018)</p><p>(Creswell, 2010)</p><p>(Durkheim, 2010)</p><p>(Fonseca, 2002)</p><p>(Foucault, 1999)</p><p>(Graal, Microfisica do poder , 1979)</p><p>(Galvão, 2018)</p><p>(Gil, 2008)</p><p>(Gonçalves, 2019)</p><p>(Gonzalez, 1995)</p><p>(Khouri, 1989)</p><p>(Leme, 2009)</p><p>(Lewin, 1971)</p><p>(Lima, 2010)</p><p>(Lopes, 2020)</p><p>(Lugli, 2018)</p><p>(Morgado, 2019)</p><p>(Piagt, 1973)</p><p>(Redorta, 2004)</p><p>(Reço, 1996)</p><p>(Sales, 2010)</p><p>(Santos, 2017)</p><p>(Shantz, 1992)</p><p>(Silva, 2018)</p><p>(Silva, Conflitos interpessoais em Sala de Aula , 2016)</p><p>(Sousa, 2021)</p><p>(Tiba, 2003)</p><p>(Lidando com a Violencia, 2002)</p><p>(Vasconcelos, 2020)</p><p>(Vezzula, 2018)</p><p>(Vicent, 2009)</p><p>(Vigotnkj, 1984)</p><p>(Vinha, 2000)</p><p>(Vivaldi, 2022)</p><p>LXXXVI</p><p>image2.png</p><p>image3.png</p><p>image4.png</p><p>image5.png</p><p>image6.png</p><p>image7.png</p><p>image8.png</p><p>image1.png</p><p>experiências semelhantes às que foram objeto deste estudo.</p><p>Com isso, pelo fato de ter sido realizado em ambiente escolar, de maneira ainda presencial inicialmente, em função da pandemia de Corona Vírus – COVID -19, nosso estudo se mostra muito relevante pois lida com questões que parecem corriqueiras, triviais, mas que influenciam em muito na formação e no desenvolvimento dos nossos alunos, sejam crianças, adolescentes ou até mesmo adultos. Nesse sentido, a mediação de conflitos atua como uma ferramenta poderosa no combate à violência escolar, do Bullying e das ocorrências de conflitos variados dentro do ambiente escolar. Desse modo, fica evidente que a mediação de conflitos, enquanto uma postura que promove a paz dentro e fora do ambiente escolar, precise ser divulgada e praticada de modo a cada vez mais combater as dificuldades trazidas pelos conflitos entre os membros da comunidade escolar.</p><p>Portanto, se trata de uma escolha assertiva e conveniente, visto que a experiência relatada por nós foi vivenciada em uma escola real, da periferia da capital Boa Vista, junto às crianças de realidades socioeconômicas que apresentam muitas dificuldades, o que também pode trabalhar em favor da existência de conflitos dentro e fora da escola. Por isso, a ideia de registrar algo novo, que foi proposto por um órgão público de grande importância como é a Defensoria Pública Estadual, revelou-se como uma maravilhosa oportunidade de trazer mais alento às equipes da Orientação Educacional que alí exerce sua função da melhor maneira quanto possível, sem apoio, sem material de apoio, “se virando como podem” para auxiliar, mesmo sem conhecimento técnico do assunto.</p><p>Além disso, a pesquisa se revelou muito relevante pois, se percebeu, depois de uma conversa informal com a orientadora da escola observada, que é frequente a ocorrência de conflitos nas escolas públicas de Boa Vista, especialmente envolvendo estudantes adolescentes em relações interpessoais e pequenos atos infracionais, que não constituem ação para encaminhamento às autoridades de proteção aos menores e/ou nem justificam encaminhamentos jurídicos. Dessa forma, se compreendeu que esses conflitos eram, geralmente, tratados de forma amadora, já que não existia acesso a uma formação específica para a orientadora nem para os próprios estudantes. A profissional atuava de maneira instintiva, conversando com os envolvidos nos conflitos e procurava levar as partes a entrarem em acordo ou aceitarem as regras da escola, com ou sem vontade própria, e, em caso mais graves, com a imposição da presença dos pais e/ou da gestão da escola.</p><p>O que se notou foi que a chegada e a implantação da mediação “abriu a mente” dos agentes envolvidos nos conflitos, fazendo com que estes percebessem o conflito de forma diferenciada e que visualizassem uma maneira diferente de solucioná-los, consensualmente, voluntariamente e pacificamente.</p><p>Acerca da importância e da relevância de uma educação para a paz, esta é considerada por organizações como a UNESCO como o caminho para a convivência justa dentro e fora das escolas. Dessa forma, a mediação de conflitos comprovadamente, se torna um recurso para a educação pacificadora. Nesse sentido, podemos admitir que a utilização de uma ferramenta de mediação de conflitos como a que foi implantada na escola observada, se mostra como uma grande solução para uma série de problemas e conflitos que ali acontecem.</p><p>A longo prazo, imaginamos que a utilização da mediação de conflitos como ferramenta padrão para decisões e resolução de situações de conflito poderá implicar na promoção da cultura da paz no ambiente escolar. Dessa forma, ao se treinar uma equipe para servir de multiplicadora das técnicas de mediação de conflitos, estaremos incentivando a disseminação da reflexão, da empatia, da solidariedade e da compreensão entre nosso alunado, o que poderá refletir no comportamento dos alunos frente a novas situações de problemas que dependem do seu julgamento para se resolverem.</p><p>Nesse sentido, podemos entender que com esta pesquisa pudemos lançar mão dos princípios encontrados nos arcabouços teóricos que versam sobre a mediação de conflitos, a fim de se conhecer as estruturas que sustentam a ferramenta de mediação de conflitos, além, claro de sua aplicação em ambientes escolares e como esta pode auxiliar na solução harmoniosa de situações de conflitos dentro e fora da escola. Desse modo, o presente estudo apresenta valor teórico embasado em contextos jurídicos que, recentemente foram direcionados aos contextos escolares com vistas à disciplina e boa convivência.</p><p>Assim, esta pesquisa traz em si uma contribuição para um novo modelo de ação nas escolas, onde a disciplina se realiza por meio do diálogo e da cooperação. Isso significa dizer que novas concepções acerca da forma como os indivíduos enfrentam seus problemas está sendo vinculada aos ambientes escolares, sendo este a base da sociedade e que, futuramente, servirá com a referência para o restante da sociedade.</p><p>Assim, esta investigação encontra-se estruturada sob uma pesquisa que investigou tanto teoricamente quanto experencialmente a implantação da ferramenta de mediação de conflitos, avaliando quais mudanças ocorreram no processo e como este se deu efetivamente.</p><p>O primeiro capítulo deste trabalho refere-se ao Marco teórico, o qual busca em estudos anteriores, teorias já comprovadas e pesquisas publicadas fundamentar ideias já conceituadas, mas que são relevantes para o entendimento e para a abordagem da temática levantada pela presente discussão. Dessa forma, tanto autores reconhecidamente experientes quanto artigos publicados em periódicos e acessos à sites e portais da internet serviram como fornte de pesquisa, uma vez que à época desta pesquisa parte do período e que se construiu este registro foi atravessado pela pandemia mundial da Covid-19, o que limitou acesso às bibliotecas locais. Desse modo, todo o marco teórico desta pesquisa teve como fonte principal livros, artigos e publicações on-line.</p><p>Assim, este estudo fundamenta-se no que chamou de “Relações de poder e conflitos escolares” (1.0), onde se aborda a forma como a escola considera sua relação de autoridade/domínio sobre os alunos, baseada nas teorias de Foucault (2003), bem como trata das concepções de disciplina e indisciplina (1.1), sob a visão da sociedade e da Educação. Também se discute o que fundamenta a violência e os conflitos dentro do ambiente escolar (1.2).</p><p>Em 1.3, realiza-se uma discussão a parte sobre os conflitos, que é fundamental para toda a estrutura do capítulo e também do trabalho ora apresentado em si, tratando dos seus conceitos, suas origens e seus principais fundamentos.</p><p>Em 1.4 a mediação de conflitos ganha destaque, desde suas concepções e sua gênese (1.4.1), seus principais objetivos (1.4.2), assim como as etapas que constituem esse procedimento (1.4.3).</p><p>O último tópico (1.5) direciona a mediação de conflitos para dentro do âmbito escolar, discutindo o papel exercido pelos envolvidos, mas dando destaque à figura do orientador escolar (1.5.1) e do aluno (1.5.2) tanto na posição de interessado como parte do conflito quanto das possibilidades de que atue como mediador dos conflitos de seus pares.</p><p>Dessa forma o capítulo relacionado ao Marco teórico estrutura-se para dar fundamento ao capíptulo 2 que trata da Metodologia utilizada na pesquisa que aqui se registra.</p><p>CAPÍTULO 1: MARCO TEÓRICO</p><p>RELAÇÕES DE PODER E CONFLITOS ESCOLARES</p><p>“Quanto mais cedo atue a aprendizagem no campo das relações pessoais, dos pensamentos e sentimentos que configuram os conflitos que nelas se originam, mais fácil será neutralizar as respostas violentas e descontroladas”.</p><p>Sastre e Moreno</p><p>Não raro, enquanto profissionais da educação, ao se colocar em prática o que se acredita ser disciplina, seja dentro da escola de forma geral ou em ambientes específicos e mais restritos como a sala de aula, tende-se a exigir dos estudantes que apresentem determinado tipo de comportamento, ou conduta. Essa conduta, geralmente consiste em aceitar e responder</p><p>de forma positiva às regras e normas preestabelecidas. Contudo, significa também orientar os estudantes a manterem um padrão de atitudes que favoreçam a harmonia e a tranquilidade no ambiente da escola, oportunizando o bom andamento da prática pedagógica e do processo de ensino e aprendizagem como um todo. Sobre a problematização da indisciplina escolar para a prática pedagógica, Aquino (1996) entende que “uma educação se torna possível, precisamente, à medida que o adulto desdobra a diferença que media entre a criança que foi uma vez para outros e essa criança real junto à qual deve sustentar uma palavra educadora”.</p><p>Piaget (1973, p. 314) evidencia que: “todo o homem é um ser essencialmente social, impossível, portanto, de ser pensado fora do contexto da sociedade em que nasce e vive”. Diante disso, é possível entender que o contexto atua sobre o indivíduo, determinando seu comportamento. Sendo o homem um ser social, como afirma o autor, esta procura relacionar-se com indivíduos semelhantes a si de modo equilibrado. Contudo, essas relações de equilíbrio dependem dos indivíduos em si e das possibilidades que as relações entre eles, que, como explica Lima (2010) levam os indivíduos a situarem-se de maneira consciente, estabelecendo seus pontos de vista.</p><p>Torna-se importante ainda, ressaltar a teoria do desenvolvimento de Piaget (1973) que atribui a gradatividade de aprendizado ao longo do desenvolvimento físico</p><p>e emocional dos indivíduos. Para o autor, cada pessoa desenvolve suas capacidades e habilidades mentais e, no mesmo processo, adquire conhecimentos que os possibilitam lidar com possíveis conflitos que lhes ocorram aos quais terão que lançar mão de sua liberdade para fazer as próprias escolhas. Dessa forma, podemos entender que o desenvolvimento humano gera também responsabilidade sobre os próprios atos, e isso tem uma grande importância quando falamos de conflitos interpessoais, uma vez que estes são resultados dos desequilíbrios das interações que as pessoas mantêm. Nesse sentido, essa percepção, que podemos chamar de sentimento de moralidade, refere-se, de acordo com Gonzáles e Padilha (1995), a um agrupamento de condutas, hábitos e representações mentais dos princípios, regras, valores morais. Assim, a moralidade pode ser considerada como a assimilação, a internalização desse conjunto de regras que podem ser individuais ou mesmo coletivas, convencionais.</p><p>Já quando falamos de indisciplina, podemos perceber a definição difere sutilmente do conceito de moralidade, sendo que suas concepções são discutidas há muito, principalmente no âmbito educacional, estando ainda longe de serem consensuais (Lima, 2010). Sobre esse tema, Foucault (2003) trata dessa falta de consenso que reside tanto na complexidade do tema quanto ao excesso de informações e opiniões que o tema demanda. Conceitualmente, a definição de indisciplina molda-se ao contexto no qual acontece, sendo necessário um entendimento do período histórico e cultural que o inspira. De acordo com Lima (2010), tal conceito:	Comment by Nivia Ivette Núñez de la Paz: Uma citação literal não pode constituir um parágrafo! Precisa dialogar com o apresentado, antes ou após a cita…</p><p>“Se relaciona com o conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade, nas diversas classes sociais, nas diferentes instituições e até mesmo dentro de uma mesma camada social ou organismo” (LIMA, 2010, p. 14)</p><p>Desse modo, a autora entende que mesmo a nível individual, a indisciplina assume contornos diferentes, dependendo das experiências e contextos. Isso quer dizer que uma determinada situação pode em determinado momento parecer uma indisciplina e em outro assumir contornos diferentes. A autora ainda sustenta que em relação à educação o mesmo ocorre, uma vez que os critérios de identificação de atos de indisciplina podem receber diferentes formas, de acordo com a idade dos envolvidos.</p><p>Nesse sentido, Foucault (2003) considerou a indisciplina como um fenômeno das sociedades modernas, tendo ênfase em seus estudos que, até os dias atuais sustentam uma compreensão crítica das ações que subsidiam as práticas pedagógicas em relação à prática disciplinar. Acerca do conceito de disciplina e, fundamentado nos estudos da teoria foucaultiana, Kouri (1989) percebe a disciplina como uma forma de exercer dominação em espaços sociais restritos, como a escola, por exemplo. Ainda, em relação ao conceito de disciplina, Foucault em sua obra Vigiar e Punir aborda a disciplina dentro do ambiente escolar, comparando a escola algumas vezes, com instituições rígidas de disciplina que se encontram em igualdade às prisões e aos quartéis, por suas normas arbitrárias e autoritárias de organização, tais como a hierarquia, as regras para falar, as filas, os uniformes. Vale lembrar, como expresso anteriormente, que os conceitos para a indisciplina e para disciplina variam de acordo com os contextos que os demandam. Nesse caso, é importante perceber que o que Foucault propõe relaciona-se ao seu período na história, mesmo que alguns de seus estudos mantenham-se atuais e extremamente relevantes até o momento. Desse modo, o autor explica:</p><p>“A ordenação por fileiras, no século XVIII, começa a definir a grande forma de repartição dos indivíduos na ordem escolar: filas de alunos na sala, nos corredores, nos pátios; colocação atribuída a cada um em relação a cada tarefa e cada prova; colocação que ele obtém de semana em semana, de mês em mês, de ano em ano; alinhamento das classes de idade umas depois das outras; sucessão dos assuntos ensinados, das questões tratadas segundo uma ordem de dificuldade crescente. E nesse conjunto de alinhamentos obrigatórios, cada aluno segundo sua idade, seus desempenhos, seu comportamento, ocupa ora uma fila, ora outra; ele se desloca o tempo todo numa série de casas; umas ideais, que marcam uma hierarquia do saber ou das capacidades, outras devendo traduzir materialmente no espaço da classe ou do colégio essa repartição de valores ou dos méritos” (FOUCAULT, 1999, p. 173).	Comment by Nivia Ivette Núñez de la Paz: Aplicar APA, citaçoes especiais (mais de 40 palavras) tem uma forma específica de aparecer no corpo do texto…</p><p>Verifique!</p><p>Essa visão de Foucault (1979;1999) percebe a escola como um ambiente onde a disciplina é exercida mais especificamente dentro da sala de aula, que representa um ambiente totalmente controlado pelo educador.</p><p>Nesse sentido, para o autor, a constante dominação em seus processos, permite que a escola continue sendo uma instituição consolidada na sociedade moderna dos séculos XVIII a XIX. Indo sob esse viés, portanto, é possível dizer que, sob a concepção foucaltiana, a escola exerce ao mesmo tempo a função de ser um espaço de aquisição tanto do saber quanto do poder, onde se aprende tanto a dominar quanto a se submeter.</p><p>A visão de Foucault acerca do poder é bem específica. Para ele, o poder refere-se à uma ação, às relações entre forças, algo que, segundo Lima (2010) se “exerce na tensão constante das relações sociais e discursivas do cotidiano (p. 15). Desse modo, a autora discorre sobre a não existência de um poder único que assume uma posição fixa e sim, sobre as práticas das relações de poder, que se espalham por todas as estruturas da sociedade. Assim é possível dizer que todo indivíduo, em algum momento, exerce uma relação de poder sobre algo ou alguém, ao mesmo tempo que se submete a elas em algum momento da vida. Nesse sentido, é possível afirmar que os mecanismos dos quais o poder se vale podem ser modificados porque o poder tem caráter relacional, e dele se originam as resistências e lutas que são, assim como o próprio poder, multifacetadas, isto é, acontecem de acordo com as demandas que envolvem seu contexto tanto histórico-cultural quanto relacionado à estrutura social. Sobre essas mudanças e resistências sociais, Lima (2010) aponta que:</p><p>As mudanças sociais advêm da luta constante que se desenvolve em todas as coisas corpos, costumes, leis, moral, linguagem, artes, etc.);</p><p>e pela revolta das pessoas atadas às malhas da rede do poder. Revolta aqui é um sentimento positivo, pois dela brota uma combinação de forças, que permite a produção de algo novo ( Autor LIMA, 2010, p. 16).</p><p>Assim, percebe-se que o poder não existe apenas em um plano negativo, não sendo algo que apenas reprime, impõe limites e castiga, mas uma ação que transforma, liberta e produz conhecimento. Dessa forma, as escolas são sim um local onde ocorrem relações de poder, tanto para a hierarquização e o controle de atitudes, quanto para a produção, aquisição e acúmulo e transmissão de conhecimentos. Nesse sentido, Lima (2010, p. 16) conclui:</p><p>Portanto, a relação poder-saber é recíproca, ou seja, o poder produz saber, e este, por sua vez multiplica os efeitos do poder. Isso se dá especificamente quando o poder elege o corpo dos indivíduos como alvo, não para suprimi-lo, mas aprimorá-lo, adestra-lo , (Autor Lima 2010, p. 16).	Comment by Nivia Ivette Núñez de la Paz: Aplicar APA, citação especial tem outro margem e não se coloca entre aspas...</p><p>1.1. Disciplina e Indisciplina</p><p>Como expresso no tópico anterior, a visão foucaultiana sobre a disciplina tem relação estreita com as definições de poder que o autor teorizou. Contudo, em termos pedagógicos, as temáticas: disciplina e (in)disciplina, assumem contornos mais orientadores do que enfáticos e punitivos, pelo menos nas últimas décadas. Nesse sentido, é sabido que nos tempos dos nossos pais e avós, a disciplina era muito mais punitiva e rigorosa com os estudantes. Com o entendimento de que o diálogo e o reforço positivo, bem como a valorização das conquistas dos estudantes eram ferramentas mais eficientes para combater a indisciplina, a ideia de punição, assim como quase todos os conceitos que envolvem comportamento e sociabilidade, sofreram mudanças de acordo com o contexto que os demandavam. Sobre essa modificação de parâmetros, Lima (2010, p. 17) discorre:</p><p>Durante muito tempo a palavra disciplina designava um processo educativo que procurava obter obediência por meio de castigos corporais, fazendo parte não só dos estatutos escolares como também dos regulamentos das organizações militares de quase todas as nações. Com o progresso da Pedagogia, entretanto, disciplina significa hoje coisa bem diferente: não mais a submissão mediante o emprego da força bruta, mas sim estímulos e apelo aos melhores sentimentos, pela força do exemplo (Autor Lima 2010, p17).</p><p>O que se entende por indisciplina também muda de acordo com o contexto tempo/sociedade. Sobre isso, Aquino (1996) aponta que se trata de uma ação que contribui para o comprometimento da qualidade da prática docente, mas que tem em diferentes fatores sua fundamentação. É o caso do desinteresse dos alunos pelas aulas, a carga horária que cumprem na escola, os conteúdos nem sempre relevantes para as vivências dos estudantes, a desmotivação causada por aulas expositivas e nada dinâmicas, a falta de preparo adequado de alguns professores, entre outros motivos.</p><p>Ao conceituar a disciplina, Bueno (1983, p. 374) destaca que fazem parte dela, entre outros aspectos, “ordem, respeito, obediência às leis, matérias de estudo,</p><p>instrumento de penitência”. Nesse sentido, para o autor, a ação de disciplinar tem relação com atitude de obedecer, respeitar, submeter-se, punir, etc. Entretanto, o vocábulo disciplina, tendo sua origem etimológica na palavra latina discípulo, e refere- se a alguém que aprende. Sobre ser discípulo, Lima (2010, p. 17) evidencia que:</p><p>Ser discípulo não é apenas aprender com habilidade os fatos específicos, mas captar através de um mestre, a imagem de quem deseja mirar, imitar alguém que admirar. Indisciplina, é exatamente o oposto. Não há ordem, obediência, e nem tampouco seguimento e imitação ,(Autor Lima 2010, p. 17).</p><p>Desse modo, ao se considerar os estudos feitos pelo psicanalista norte- americano Bettelheim (1978), entendemos que a disciplina se aliceça em valores que o indivíduo carrega por admiração, afeto, e sentimentos positivos em relação à outros indivíduos que vivem de acordo com eles. Dessa maneira, o autor entende que, por exemplo, seremos bons porque presenciamos alguém que amamos sendo bons e se o imitarmos, seremos alvo do seu afeto.</p><p>Para Bettelheim (1978), portanto, o ato de disciplinar precisa ser firme, mas ao mesmo tempo oferecer exemplo a ser seguido. Concordando com Bettelheim (1978), Lima (2010, p. 18) aponta para o fato de que “a disciplina é sinônimo de trabalho, afeto e respeito mútuo”. Contudo, a disciplina enquanto ação enfrenta desafios dentro da escola cada vez maiores. Dentre esses desafios, está a violência escolar. Sobre isso, Lima (2010, p. 18) enfatiza:</p><p>A violência no sistema social está refletindo nas escolas. A dificuldade disciplinar dos alunos cresce a cada momento, interferindo e dificultando a aprendizagem e o fazer do professor na sala de aula, o profissional consciente deve compreender que a remoção de tais obstáculos é uma tarefa que exige do diretor e dos professores muito empenho” (Autor Lima 2010, p. 18).</p><p>As causas de indisciplina, na verdade não possuem muita ligação com o corpo docente propriamente dito, muito embora ocorra em suas instalações ou por intermédio dela, as causas que geram a indisciplina estão desassociadas da instituição.</p><p>O ambiente acadêmico acaba simulando uma sociedade simulada dentro de suas paredes, onde se torna mais perceptível tais atos de indisciplina, porém o que ocorre quanto a real circunstância dos fatos é que aquele que, fora das paredes reconfortantes da academia, que seria facilmente entendido como a vítima da violência social pode ter esse valor distorcido ao ponto de empregar da mesma espécie de</p><p>violência dentro das paredes da escola, muito embora também possa haver casos em que ocorram atos de indisciplina unilateral, originária e arbitrária, seja de um (a) aluno</p><p>(a) ou de algum agente integrante do corpo docente, funcionários, professores, diretores, etc.</p><p>Entretanto, tal tarefa não pode recair apenas sobre os ombros da gestão e dos docentes e sim de toda a comunidade escolar, incluindo-se aí os pais, funcionários, a comunidade externa da escola e até mesmo os próprios alunos.</p><p>1.2. Violência e Conflito escolar</p><p>A violência é diária e constantemente presente no ambiente escolar, contemporaneamente essas espécies de violências praticadas destroem a relação e consequentemente os vínculos existentes entre as pessoas, mas para tanto existem saídas que podem ser estudadas, exploradas e principalmente, compartilhadas, tais como as práticas de mediação.</p><p>Consequentemente vivemos no próprio cotidiano uma serie questões que atualmente se inserir nelas se tornou algo comum, um exemplo é participar de meios na qual a violência se insere presente, como atributo o conflito e a violência nas escolas tem se agravado por desigualdade que estão além da vista do professor é nesse ambiente deteriorado que acontece as manifestações educacionais, gerando a falta de aprendizagem e violência.</p><p>Aquino (1996) levanta um questionamento interessante acerca do que realmente significa, quais as características da indisciplina escolar. Nesse sentido, o autor questiona ainda quais as estratégias que melhor se adequam no enfrentamento desse fenômeno que adentra a vida escolar cada vez mais cedo, levando a reflexão tanto sobre a problemática em si como sobre as situações concretas que ocorrem no cotidiano escolar.</p><p>Se faz oportuno lembrar que a violência e a indisciplina escolar não são fenômenos exclusivos das escolas da rede pública de ensino, podendo ocorrer em escolas particulares (AQUINO, 1996, p. 40). Acerca da indisciplina enquanto fenômeno típico do ambiente escolar, afirma:</p><p>A indisciplina seria, talvez, o inimigo do educador atual, cujo manejo as correntes teóricas não conseguiram propor de imediato, uma vez que se trata de algo</p><p>que ultrapassa o âmbito estritamente didático-pedagógico, imprevisto ou até insuspeito do ideário das diferentes teorias pedagógicas (Autor Aquino1996, p. 40)</p><p>Destarte, é perceptível no ambiente escolar a crescente</p><p>preocupação com a indisciplina dentro das escolas, o que faz com que essa temática tenha sido e continuará sendo abordada em inúmeros estudos científicos na área educacional. Desse modo, as atitudes indisciplinadas, as transgressões às regras na escola, a depredação do patrimônio público, os pequenos furtos, além das agressões físicas e psicológicas, que caracterizam o Bullying são o resultado do estabelecimento da indisciplina nas escolas (FERREIRA, apud AQUINO, 1996).</p><p>Para Lima (2010) a violência escolar na atualidade, quando ocorre, contribui para a destruição dos vínculos existentes entre os indivíduos, prejudicando as relações interpessoais. A autora aponta como uma solução o entendimento do conflito enquanto fenômeno resultante da indisciplina e das relações interpessoais dos alunos, bem como o estabelecimento de procedimentos de mediação para que os próprios estudantes aprendam a lidar com seus conflitos e que entendam a importância de uma justiça restaurativa, onde todos ganham e aprendem a conviver melhor em sociedade.</p><p>Nesse sentido, as relações existentes entre docentes e discentes também são temáticas de estudos e pesquisas que tentam chegar a uma compreensão acerca de como essas relações: professor/aluno, aluno/aluno, aluno/família, entre outras, se estabelecem dentro e fora da escola e como delas, muitas vezes resultam situações de transgressão de normativas e também de violência escolar. Entre os muitos estudiosos, cabem ser citados em destaque, Tiba (2003), Carvalho (1996) e Vasconcelos (2000).</p><p>Para Tiba (2003) os comportamentos indisciplinados mantém relação estreita com os aspectos anteriormente mencionados e sustentados também por Aquino (1996) acerca dos motivos que geram a indisciplina. Nesse sentido, o autor acrescenta à essa lista de motivos ainda, as problemáticas que envolvem as propostas curriculares, as metodologias que não atendem adequadamente as demandas das capacidades dos alunos, o fato de os alunos terem que assistir suas aulas sentados e de maneira estática e ainda, o fato de que, na maioria das vezes, o único saber valorizado dentro da relação estabelecida em aula é o do professor, uma vez que, muitas vezes, os conhecimentos prévios dos estudantes não são devidamente considerados. Tudo isso aliado à uma falta de autonomia na construção do conhecimento, faz com que o cenário para a ocorrência das ações de indisciplina esteja pronto.</p><p>Para Tiba (2003), ainda se deve levar em consideração o estágio de desenvolvimento que o estudante está atravessando, pois, cada estágio demanda uma ação diferente frente a indisciplina. Ainda de acordo com o autor, as ocorrências de indisciplina geram ainda a falta de respeito pelas pessoas e também pelos bens alheios, problema que vem se intensificando nas últimas décadas. Entre as principais atitudes indisciplinadas, seguindo essa mesma linha de pensamento, Lima (2010, p.</p><p>29) cita o uso de álcool, cigarro e outros entorpecentes, intimidades sexuais, masturbação em sala de aula, brigas e violências físicas e verbais, assim como causar danos ao patrimônio escolar e dos professores, riscar a lataria ou furar os pneus dos carros dos professores, por exemplo. Tais atitudes deixam de ser apenas indisciplinares e assumem status de infracionais. A autora salienta que nesses casos, não cabe ao professor tratar o aluno e sim à equipe gestora que, em geral, contempla um profissional responsável pelo tratamento desses conflitos: o orientador educacional. Entretanto, antes de entrar no papel exercido pelo orientador na mediação de conflitos na escola, se abordará a questão do próprio conflito em sua gênese e suas particularidades a seguir.</p><p>1.3. Os Conflitos</p><p>Para Lugli (2018), a realidade atual mostra-se sob um cenário no qual as pessoas têm demonstrado e cultivado sentimentos de violência, intolerância e desonestidade. A autora afirma que, em função disso, as relações interpessoais são retratos desse tipo de comportamento, mostrando-se permeadas por conflitos diversos que com o tempo e sem solução, se intensificam em função das condutas daqueles que portam características de intolerância e violência.</p><p>Simmel (1938), Giddens e Sutton (2014), Lugli (2018), Silva (2018), Curbelo (2005), entre outros estudiosos, apontam os conflitos como inerentes às relações humanas, uma vez que o ser humano é um ser social e que estabelece interações com outros indivíduos a fim de assegurar sua identidade, seu aprendizado e até mesmo a própria sobrevivência. Para Giddens e Sutton (2014), “os conflitos são tão antigos quanto a sociedade”, exercendo influência nos acontecimentos históricos e expansões da humanidade sobre o planeta Terra. Sobre isso. Curbelo (2005, p. 42) enfatiza que os conflitos estão presentes durante toda a vida do indivíduo, do nascer à sua morte, da criação de algo ao seu estabelecimento.</p><p>A expansão colonial ocidental se baseou na exploração declarada de populações-alvo e recursos naturais, porém, ao criar novas relações de conflito por uma área geográfica mais extensa o colonialismo também incentivou a maior interconectividade global (Autor giddens; sutton, 2014, p. 138).</p><p>Já na opinião de Georg Simmel (1858-1919), o conflito é um meio de “associação humana em que as pessoas são colocadas em contato entre si e por meio da qual se pode alcançar a união” (2016). Nesse sentido, Giddens e Sutton (2014) não percebem o conflito como um término de relações e interações. Nota-se ainda que o argumento do qual Simmel (1938) lança mão é de que o conflito impulsiona as partes ao reconhecimento, mesmo que estejam em lados opostos.</p><p>Quanto à origem do termo conflito, este vem do Latim conflictus e significa, em livre tradução, chocar. Sendo relacionado à forças opostas, ese termo é aplicado tanto para situações internas quanto externas, envolvendo o encontro de forças contraditórias, mas de igual intensidade (LEWIN, 1971). Sob o mesmo aspecto, Vicentim (2009) denota que a palavra conflito é utilizada para denominar e/ou caracterizar forças divergentes ou contrárias. No mesmo sentido, Lugli (2018) cita Redorta (2004) ao enfatizar que os conflitos se originam de diferentes fontes que podem ser psicológicas, fisiológicas, biológicas, entre outras. Sendo parte integrante “da vida e da atividade social, quer contemporânea quer antiga” (CHRISPINO, 2007 apud LUGLI, 2018), podendo ainda ter origem nas diferenças de interesses, de aspirações, vontades e desejos.</p><p>Para Chiavenato (2004) e para Silva (2016), existem dois tipos de conflitos sendo estes o conflito interno e o conflito externo. O conflito interno pode ser intrapessoal ou interno do ser, e ambos envolvem dilemas de ordem pessoal; já o conflito externo apresenta-se em diferentes níveis, como: interpessoal, intergrupal, intragrupal, intra-organizacional e interorganizacional e envolvem mais de um protagonista. Sob a concepção construtivista, os conflitos podem ser intraindividuais ou interindividuais (LUGLI, 2018). No entanto, Chiaparini et al (2018) e Leme (2009) ressaltam que os conflitos não são sinônimos de violência, embora recebem comumente esse rótulo. Portanto, nem sempre um conflito envolverá violência. Os conflitos são sim, situações de oposição, muitas vezes, fruto das interações sociais. Sob ese viés, Leme (2009) dá como exemplos de conflitos as diferenças de ideias, as críticas ou mesmo esbarrões acidentais, diferentemente da violência, que pode ocorrer no momento em que um ou mais envolvidos na situação de conflito decidem lançar mão da força para modificar a situação, forçando o outro a submeter-se. 	Comment by Nivia Ivette Núñez de la Paz: Não pode dar "quebra de secção" em cada página...verifique e modifique</p><p>Nessa perspectiva, Lugli (2018) percebe que o problema (conflito) não se estabelece na existência de ideias contrárias, mas na forma como as pessoas enfrentam essas diferenças e solucionam tais questões.</p><p>Em geral, se percebe como ideia de conflito algo sempre negativo, desgastante e que precisa ser evitado. Contudo, segundo a teoria construtivista piagetiana, “os conflitos são ótimas</p><p>oportunidades para trabalharmos valores e regras. [...] Sua ausência reflete relações de respeito unilateral.” (VINHA, 2000, p. 1-2). O enfrentamento desses conflitos é a chave para o seu entendimento, segundo Leme (2004). No mesmo sentido, Lugli (2018) ressalta que um conflito pode ser considerado positivo ao favorecer o desenvolvimento humano, uma vez que por meio dele desenvolve-se o processo de equilíbrio e autorregulação. A mesma autora afirma ainda que as situações de conflito promovem o desequilíbrio nas interações entre os pares, levando os protagonistas à uma situação de reflexão sobre as formas que disõem para reconstituir a reciprocidade. Destarte, evidenciam-se aí os conflitos construtivos e os destrutivos. De acordo com Shantz e Hartup (1992) apud Lulgi (2018) os conflitos construtivos são aqueles que oportunizam o autoconhecimento, o conhecimento do outro e o crescimento da relação interpessoal. Já os conflitos destrutivos são aqueles que geram a violencia por não dispôr da solução para a situação, e comprometem assim o desenvolvimento enquanto processo.</p><p>Para Leme (2004), os conflitos interpessoais utilizam recursos afetivos, emocionais e cognitivos. Desse modo, percebe-se que o sujeito ao lançar mão desses recursos, tenha a capacidade para solucioná-los, mas, em grande parte das vezes não o faz por apresentar dificuldades afetivas. Mesmo sabendo que o estabelecimento das relações interpessoais ocorrem fundamentadas no equilibrio existente entre a razão e a emoção, essa última se estabelece como um propulsor para a ação propriamente dita, em muitos casos. Nesse viés, é possível afirmar que a ocorrência de situações de conflito é fundamental para que o sujeito se desenvolva sociomoralmente, uma vez que estes proporcionam o aprendizado de valores, regras e o ato de reconhecer os sentimentos do outro e os próprios.</p><p>Todavia, Vinha (2003) destaca que um dos problemas das formas como são abordados os conflitos é que estas não promovem a oportunidade de vivenciar situações conflituosas, naturais das relações humanas, o que não contribui para que os alunos possam construir formas mais justas, cooperativas, responsáveis, não violentas e respeitosas de se relacionar. Sob ponto de vista semelhante, Almeida (2016, p. 75) aponta que:</p><p>Por serem essenciais à vida humana e possuírem um potencial para estimular a criatividade e provocar mudanças construtivas tanto pessoais quanto pessoais, não devem ser negados ou suprimidos. [...]. São em si inevitáveis e o que pode transformá-los em algo positivo ou negativo são as ações escolhidas para lidar com eles. (ALMEIDA, 2016, p. 75).</p><p>A autora afirma que, portanto, cabe a cada indivíduo comprometer-se em apresentar comportamento condizente com as relações de harmonia independentemente do tipo destas. Igualmente, Spengler e Bolzan (2012) ressaltam o aspecto salutar dos conflitos, distanciando-se da ideia de que estes sejam fenómenos patológicos, e percebendo-os como eventos fisiológicos importantes mesmo quando negativos. Afirmam, portanto, que “uma sociedade sem conflitos é estática”. (2012, p.47).</p><p>Dessa forma, Chrispino (2007, p. 15), ao ver o conflito como “toda opinião divergente ou maneira diferente de ver ou interpretar algum acontecimento”, aponta que essas divergências acompanham todas as pessoas desde a mais tenra infância até o fim da vida. Nesse sentido, em seus estudos Chrispino (2007) propõe um comparativo sob uma perspectiva histórico-científica, no qual reuniu quatro dos principais estudiosos do comportamento humano, do desenvolvimento natural, social, psicológico e comportamental da humanidade, onde aponta as visões de Freud, Darwin, Marx e Piaget acerca do conflito, sua origem e propósito.</p><p>Assim sendo, Chrispino (2007) aponta que Freud analisou principalmente os conflitos existentes entre o desejo e a proibição, que são resultantes dos comportamentos de repressão e defesa em função do que chama de “luta pelo dever” (CHRISPINO, 2007, p. 15). Já Darwin analisou os conflitos que ocorrem entre o sujeito e o meio que o cerca, sendo consequência dos processos de diferenciação e adaptação que fundamentam a luta pela garantia da existência.</p><p>Marx, na opinião de Chrispino (2007), observou a existência dos conflitos entre as classes sociais. Dessa forma, para ele, tais conflitos seriam o produto da estratificação social e da hierarquia que fundamentam a luta pela igualdade. Por fim, Chrispino (2007) analisa os conflitos sob a visão do “pai da pedagogia”, Jean Piaget, que os estudou através das suas teorias do desenvolvimento humano. Para Piaget, os conflitos são inerentes a esse desenvolvimento e estão presentes nas decisões e experiências de cada indivíduo. Nesse sentido, os conflitos nascem das diferenças e dão origem à aprendizagem e à resolução de problemas, o que completa o processo de entendimento sobre si e a luta por ser. (CHRISPINO, 2007, p. 15).</p><p>Percebe-se, portanto, que o conflito não mantém relação direta com o errar ou com o acertar, mas com as diferentes posições defendidas frente a outras que as antagonizam.</p><p>1.4. A Mediação de Conflitos</p><p>A mediação de conflitos, de acordo com Lima (2010), tem sido aplicada de modo maciço, provavelmente por conta da relevância de uma educação mediadora, em especial com vistas à administração de situações de indisciplina e infrações como a violência e os conflitos que acontecem no ambiente escolar. Se evidencia portanto, a necessidade de se discutir as principais concepções e as origens da mediação de conflitos, ferramenta que nasceu no âmbito jurídico, mas que tem galgado espaços cada vez mais proeminentes na área educacional em função da busca de uma justiça restaurativa e uma educação para a paz.</p><p>Segundo o Portal Mediação On Line, MOL (2020), a Mediação refere-se ao procedimento não-adversarial no qual um indivíduo imparcial auxilia facilitando a comunicação entre dois ou mais indivíduos que estejam envolvidos em uma situação de conflito, através de determinadas técnicas, visando o entendimento e a resolução da situação de conflito pelos prórpios envolvidos, de forma cosciente e voluntária. Para Vezulla (2018), a ideia de sentar-se para dialogar e tentar resolver um problema refere-se a apenas um dos aspectos da mediação. Para o autor, a proposta da mediação enquanto técnica restaurativa é imensamente rica pois promove o desenvolvimento harmonioso do convívio social que pode fazer a diferença nas vidas de pessoas que convivem diariamente com a exclusão e com o individualismo, em uma sociedade onde funciona o regime do “cada um por si”. Assim, entende que a mediação se revela como uma forma de possibilitar às pessoas que se identifiquem socialmente, que se coloquem no lugar do outro e que escutem uns aos outros. Trata- se, portanto, de uma maneira de solucionar um impasse de forma voluntária, através do diálogo e do estabelecimento de acordos. Neste sentido, Tomás (2010, p.27) destaca que, a mediação de conflitos represente a maneira mais eficaz e assertiva de se encontrar um consenso e de se prevenir futuros conflitos.</p><p>Nas concepções de Vygotsky (1998), a mediação se refere a um processo entendido como uma forma de esclarecimento aos envolvidos em conflito, acerca das teorias da aprendizagem, levando-os à conscientização da existência de diferentes visões de mundo, bem como de diferentes formas de se perceber as ações uns dos outros.</p><p>Sabendo-se que a cada dia caminhamos para uma ‘normalização’ do conflito dentro da escola, e que este se manifesta de diferentes formas dentro e fora da comunidade escolar, tendo efeitos destruidores em caso extremos, prejudicando até mesmo a convivência segura no ambiente escolar e fora dele, a mediação de conflitos apresenta-se como uma alternativa de resgatar valores e o respeito entre os educandos. A educação para a convivência e para a gestão assertiva e positiva dos conflitos promove a cultura de paz e desenvolve uma cidadania consciente do seu papel na sociedade. Nesse sentido, Morgado e Oliveira (2019, p. 48-49) abordam a mediação enquanto forma de resolução</p><p>para situações de conflito que:</p><p>Oferece e proporciona aos envolvidos no conflito, um espaço ideal para desenvolver, quer naqueles que desempenham o papel de mediadores, quer naqueles que como mediados trabalham em conjunto para resolução do seu problema, a capacidade de respeito mútuo, comunicação assertiva e eficaz, compreensão da visão do outro e aceitação da diferente percepção da realidade. Trata-se de um meio de resolução de conflitos não litigioso e baseado no consenso, é propício ao desenvolvimento de soluções criativas, preservando a relação entre as partes em conflito (Autor Morgado e Oliveira, 2019, p. 48- 49).</p><p>Na opinião de Vezzulla (2018, p. 15), a mediação refere-se à técnica destinada à resolução de conflitos que vem apresentando à sociedade grande capacidade e eficiência com relação aos conflitos interpessoais, uma vez que por meio dela as partes envolvidas buscam conjuntamente uma solução que seja benéfica a ambas para o conflito. O papel do mediador, nesses casos, torna-se de um facilitador que direciona as melhores ideias ao fim comum e que se adeque à situação exposta. Para isso, esse mediador lança mão de técnicas, critérios e raciocínios que tornaram o entendimento mais natural.</p><p>Quando se trata da mediação em âmbito educacional, a mediação assume contornos diferentes, caracterizando-se por possibilitar, dentro do ambiente escolar, o desenvolvimento de uma aprendizagem de valores e princípios, bem como o que recomenda a UNESCO (A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), uma educação para a paz, além de uma nova percepção do que seja um conflito e como resolvê-lo. Assim, pode-se notar que a mediação de conflitos seja uma ferramenta fundamental para a cultura da paz que, conforme o documento da UNESCO denominado Declaração por uma Cultura de Paz (1999):</p><p>Artigo 1º: Uma Cultura de Paz é um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados: a) No respeito à vida, no fim da violência e na promoção e prática da não violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação; b) [...] c) [...] d) No compromisso com a solução pacífica dos conflitos; Artigo 3º: O desenvolvimento pleno de uma Cultura de Paz está integralmente vinculado: a) À promoção da resolução pacífica dos conflitos, do respeito e entendimento mútuos e da cooperação internacional; No mesmo documento, consta que a educação é considerada um meio crucial para a construção da Cultura de Paz (UNESCO, 1999): Artigo 4º A educação, em todos os níveis, é um dos meios fundamentais para construir uma Cultura de Paz. Neste contexto, a educação sobre os direitos humanos é de particular relevância (Autor UNESCO, 1999).</p><p>Assim sendo, é possível entender que a mediação atua na sociedade como uma potente ferramenta agente de transformação no modo de convivência, pois um dos seus principais fundamentos reside na voluntariedade, ou seja, na ação de convidar os envolvidos a participar do processo de forma voluntária, estimulando-os a solucionarem seus problemas de uma maneira que fique bem para ambas as partes. A partir do momento em que os envolvidos se percebem como protagonistas de um processo que pretende chegar a um denominador comum de forma pacífica, existe a possibilidade de se construir um ambiente e, por que não, uma relação de convivência restaurativa, empoderando os envolvidos e lhes oportunizando a gestão de suas próprias divergências e o estabelecimento de decisões criativas e de comum acordo.</p><p>1.4.1 Quando surgiu a Mediação de Conflitos</p><p>Para Lascoux (2006), a mediação de conflitos surgiu com a introdução de um terceiro elemento nos conflitos, isto é, alguém que, de forma imparcial, realizasse uma intervenção na disputa entre duas partes opostas. Para o autor, enquanto verbete, a palavra mediação designaria justamente a “intervenção humana entre duas partes” (MENEZES. FERRI, 2013, p. 1548). Nesse sentido, a palavra mediação teria surgido em 1694, na Enciclopédia Francesa. Assim, as autoras complementam afirmando que a mediação da Grécia Antiga pode ser então considerada como a “pré-história” da mediação.</p><p>A mediação de conflitos é, por si, uma ferramenta utilizada pelo ambiente jurídico. Entretanto, vem ganhando espaços cada vez maiores em áreas diversificadas, a exemplo do ambiente educacional. Com isso, se faz necessário um entendimento das origens dessa ferramenta que se tornou tão importante tanto para o</p><p>alcance da solução de diferentes causas jurídicas quanto para o estabelecimento de uma justiça e educação restaurativas.</p><p>Para Silva (2018), ao analisarmos situações históricas acerca da mediação de conflitos, é preciso que tenhamos em mente que o conflito é o que gera a situação de mediação. Assim, vemos as relações entre os homens, sejam estas familiares ou sociais, são passíveis de gerar conflitos. Portanto, o autor aponta que os conflitos podem surgir em diferentes contextos e sob variadas formas, de acordo com o contexto histórico e cultural onde ocorra.</p><p>Nesse sentido, Leite (2018) entende que a mediação enquanto atividade humana, acompanhou as civilizações ao longo da história, mas que é necessário reconhecer que esse recurso tem alcançado um status de fenômeno que ultrapassa as fronteiras e pode ser encontrado em culturas, religiões e costumes mundo a fora. Corroborando a esse pensamento, Ferrari et al apud Menezes e Ferri (2013) afirmam que a mediação não nasceu na contemporaneidade e que, teve seu berço nas civilizações clássicas, especificamente na Grécia Antiga, “passando pelo Código Hamurabi, Antigo Egito e pelo Antigo testamento”. Ademais, a mediação já era utilizada ainda na antiga China, como aponta Silva (2018):</p><p>Neste contexto, a frase “olho por olho, dente por dente” diferenciou-se na antiga China em especial pelas inspirações de Confúcio. Assim, graças a seus pensamentos pela busca da harmonia através do equilíbrio do mundo e da felicidade dos homens. Para os chineses, o equilíbrio das relações sociais estava em primeiro plano. Diante dos conflitos, e pensar em uma solução pacífica, deve-se observar todos os meios possíveis de negociação de controvérsias, estas, precisam ser executadas com diplomacia, bons ofícios, mediação, conciliação e arbitragem (SILVA, 2018, p. 02). Para Viana (2009),</p><p>Desse modo, observa-se que no mundo, frente a evolução e o desenvolvimento das civilizações, o comportamento do ser humano é catequizado a não revidar, deixar de fazer justiça com as próprias mãos, e a perceber que a melhor opção é o diálogo e o entendimento para que possa prevalecer a justiça. Contudo, a própria história dessas mesmas civilizações nos mostra que os seres humanos são também instintivos, que a revanche, que revidar é importante para que se garanta o orgulho e o ego fortalecido; prova disso foram as inúmeras batalhas e guerras pelas quais a humanidade já passou, muitas delas por motivos que poderiam talvez ser considerados menores do que representaram à sua vez. Leite (2018) aponta que a mediação é utilizada milenarmente pelas culturas e civilizações orientais, havendo, por exemplo, entre os chineses, uma instância institucional da mediação que é parte</p><p>obrigatória dos procedimentos que levam ao acesso à justiça, ou seja, ao sistema judiciário.</p><p>Tão natural quanto esse instinto humano de revidar e se manter do lado mais forte, é o sentimento de indagação quando das decisões que não estão sob nosso controle. Desse modo, questionar, por exemplo, decisões judiciais não é incomum. Para Silva (2018) essas questões nada mais pretendem que a celeridade da justiça. Sobre isso, o autor denota:</p><p>Assim, o que se procura é a celeridade e a satisfação dos interesses, principalmente os não tutelados pelo processo judicial, tentando na negociação entre as partes uma pacífica resolução. Na cultura oriental, por exemplo, a mediação sempre fez parte da cultura dos judeus, chineses e japoneses, arraigada nos costumes e nos rituais religiosos. A mediação era a forma mais comum de resolução de conflitos nas comunidades chinesas, onde predominava a convivência</p><p>familiar e a presença do chefe de família que se utilizava da sabedoria para solucionar os problemas surgidos (SILVA, 2018, P. 02).</p><p>Para Fonseca e Costa (2010), a mediação de conflitos é utilizada há milênios por culturas como a cristã, a judaica, a hinduísta, a islâmica, a confucionista, a budista e até mesmo pelos indígenas. Os autores afirmam ainda que na antiga civilização romana, já era utilizado os procedimentos in iure, que, em livre tradução significa frente ao juiz, e in iudicio, que quer dizer na presença de mediador ou árbitro. Cabe aqui evidenciar que “no ordenamento ático e, posteriormente, no ordenamento romano republicano, a mediação não era reconhecida como instituto de direito, mas sim, como regra de mera cortesia”.</p><p>De acordo com Chistopher W. Moore as tradições judaicas de solução de conflitos foram transportadas para as comunidades cristãs emergentes, que olhavam Cristo como mediador supremo. É possível encontrar na Bíblia (I Timóteo 2:5-</p><p>6) referência a Jesus como mediador entre Deus e o homem. Este conceito de intermediário foi utilizado para justificar o papel do clero como mediador entre a congregação, Deus e os crentes. Até a Renascença, a Igreja Católica na Europa Ocidental e a Igreja Ortodoxa no Leste Mediterrâneo foram, certamente, as principais instituições de mediação e administração de conflitos da sociedade ocidental. Sendo responsabilidade do clero a mediação em assuntos familiares, criminais e disputas diplomáticas entre a nobreza” (VIANA, 2009, p. 02).</p><p>Entretanto, com o crescimento das cidades e as diferentes formulações que passaram as famílias, essa forma de solucionar os conflitos foi ficando menos acessível, uma vez que as pessoas já não se conheciam tanto, e o senso de</p><p>comunidade foi se perdendo ao longo do tempo. Com isso, Cabral (2007) aponta que o desenvolvimento das cidades e da própria humanidade, trouxe consigo a necessidade de substituir os sistemas informais por um sistema formal de resolução de diferenças, o que deu origem aos Sistema Judiciário. Sobre essa forma de resolução, Silva (2018) ressalta que o povo judeu cultiva um ritual milenar que orienta os seus líderes religiosos, os rabinos, quando ocorrem divórcios. Essa prática se aproximaria em semelhança, à mediação como a entendemos atualmente. Na mesma direção, o autor discorre sobre as diferentes resoluções de conflitos trabalhistas e disputas comerciais nos séculos XIX e XX que lançaram mão de sistemas semelhantes aos processos da mediação, bem como cita a existência de uma figura japonesa milenar que representaria um mediador de conflitos: o chotei. Sobre esse personagem tão importante para os japoneses, Leite (2018) comenta:</p><p>No Japão existe a figura milenar chamada chotei que atua nos conflitos de direito de família, operando quase uma conciliação quase judiciária, sendo mesmo uma das atividades jurisdicionais (Autor leite, 2018).</p><p>Corroborando à autora supracitada, Silva (2018) explica que a figura do chotei é que encaminha a solução do conflito para uma comissão formada pelos conciliadores e por um magistrado, todos funcionários nomeados pelo Supremo Tribunal. Para os autores, o chotei seria o responsável por uma mediação prévia obrigatória para o acesso aos processos jurídicos formais, que era utilizado em conflitos familiares, principalmente nos casos de divórcios.</p><p>Quanto à utilização da mediação pelo mundo, na África, Cabral (2007) denota que é costume a realização das chamadas juntas familiares, que são convocações de assembleias que são lideradas por associações ou concílios de cidadãos respeitados na comunidade que atuam como mediadores. Na Nova Zelândia e também na Austrália as mediações ocorrem com a mediação de auditores e também de juízes. Sobre outros países que utilizam a mediação, Silva (2018) evidencia a existência de registros que versam acerca da mediação adotada de modo interdisciplinar em países como o México e a Colômbia. Além disso, o autor fala que a América Latina, como um todo, aderiu à mediação de conflitos enquanto meios alternativos para solução de disputas, tendo ganhado espaço naquelas sociedades por volta dos anos 1990, o que valeu um direcionamento para a descentralização das decisões administrativas judiciais e na adoção efetiva da mediação de conflitos e da justiça restaurativa</p><p>recomendada pelo Conselho Econômico e Social das Nações unidas, sob a resolução nº1.999/96. Sobre isso, Silva (2018) ressalta:</p><p>A Argentina adota a mediação de forma legal instituída pela Lei nº24.573-92. Ao lado dos Estados Unidos, a mediação desenvolveu-se na Grã-Bretanha impulsionada pelo movimento “Parents Forever”, que focava na composição de conflitos entre pais e mães separados e ensejou a fundação do primeiro serviço de mediação em 1978, na cidade de Bristol, pela assistente social Lisa Parkinson, como se tratava de projeto universitário que contou com estudantes de variadas localidades, logo a prática da mediação expandiu-se por toda a Inglaterra. Pela facilidade do idioma inglês, rapidamente a mediação desenvolveu-se também na Austrália e no Canadá (SILVA, 2018, p. 10).</p><p>Foi portanto, na década de 70 que nasceram os primeiros centros de mediação, nos Estados Unidos, que ficaram conhecidos como Programa de Mediação Comunitária e tinha como objetivo ser um local onde a comunidade pudesse se reunir e resolver seus problemas (FONSECA e COSTA, 2010).</p><p>Ainda nos Estados Unidos, na década de 1980, devido aos resultados positivos obtidos pelo Programa de Mediação Comunitária, os procedimentos e atividades utilizados pelo Programa foram levados para dentro das escolas, a fim de que os estudantes aprendessem a mediar seus próprios conflitos.</p><p>Contudo, Fonseca e Costa (2010) ressaltam que a mediação só foi introduzida no Brasil nos anos 80, como forma de combater a insatisfação com a morosidade do Sistema Judicial, atuando como uma Justiça Informal, isto é, como uma alternativa para solucionar algumas disputas. Sobre isso, Cabral (2007, p. 355) entende:</p><p>A mediação de conflitos tem evoluído muito no Brasil, tanto na parte legislativa, quanto na parte prática. Embora ainda seja confundida com a conciliação, trata-se de instituto bem mais complexo e completo na solução de conflitos envolvendo relações continuadas ( Autor Cabral 2007, p. 355).</p><p>Isso reflete que a sociedade brasileira tem aderido aos métodos que a mediação de conflitos proporciona, pois este acelera os procedimentos de justiça que no país, são característicos por sua lentidão.</p><p>Assim sendo, cabe-nos a análise dos procedimentos que envolvem a mediação de conflitos. Tais elementos são tratados no tópico a seguir.</p><p>1.4.2 Princípios e Objetivos da Mediação de Conflitos</p><p>Para Fonseca e Costa (2010), a mediação de conflitos se constitui de uma ação facilitadora de comunicação entre as partes envolvidas em uma disputa, com o auxílio de um terceiro elemento que seja imparcial e neutro, para que as partes confrontem seus pontos de vista e encontrem soluções de forma consensual e que beneficie à ambas. Para os autores, a mediação de conflitos já não é novidade em diversos países, tanto por sua utilização milenar quanto por sua popularização após o Século XX.</p><p>Diante disso, se entende que a mediação representa uma ação, uma tentativa de se chegar de forma voluntária a um acordo neutro, mediado por um terceiro indivíduo que intervém no processo de maneira pontual e desestruturada, a fim de orientar e não de ter um papel ativo na situação. Nesse sentido, Viana (2009) aponta que:</p><p>“O que se pretende com a mediação é permitir outro ângulo de análise pelas partes, pois, ao invés de continuarem enfocando apenas suas posições, esta técnica facilita que elas voltem sua atenção para os verdadeiros interesses envolvidos” (VIANA 2009, p. 02).</p><p>Para Sales (2010), a mediação de conflitos enquanto processo, apresenta quatro principais objetivos, sendo eles: a solução do conflito, a prevenção da má- gestão de situações de conflitos, a conscientização dos direitos, também tida como a inclusão social e a cultura da paz. Nesse sentido, tendo como primeira</p>(Silva, Conflitos interpessoais em Sala de Aula , 2016)
(Sousa, 2021)
(Tiba, 2003)
(Lidando com a Violencia, 2002)
(Vasconcelos, 2020)
(Vezzula, 2018)
(Vicent, 2009)
 (Vigotnkj, 1984)
(Vinha, 2000) 
(Vivaldi, 2022)
LXXXVI
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