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<p>DIREITO</p><p>CONSTITUCIONAL</p><p>Prof. Gustavo Americano</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 ESTADO: ELEMENTOS, FORMA DE ESTADO, FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO ............... 5</p><p>1.1 ESTADO: CONCEITO E ELEMENTOS INTEGRANTES ....................................................... 5</p><p>1.2 SISTEMAS E FORMAS DE GOVERNO E FORMAS DE ESTADO ......................................... 6</p><p>2 DIREITO CONSTITUCIONAL: ORIGEM, FONTES E OBJETO ................................................... 12</p><p>2.1 CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL ................................................................... 12</p><p>2.2 NATUREZA DO DIREITO CONTITUCIONAL ................................................................... 12</p><p>2.3 OBJETO DO DIREITO CONSTITUCIONAL ...................................................................... 12</p><p>2.4 ESPÉCIE OU DIVISÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL.................................................. 13</p><p>2.5 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL ...................................................................... 13</p><p>3 CONSTITUCIONALISMO ....................................................................................................... 14</p><p>3.1 IDEIA ............................................................................................................................ 14</p><p>3.2 MOVIMENTOS ............................................................................................................. 14</p><p>4 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ................................................................................. 18</p><p>4.1 ORIGEM ....................................................................................................................... 18</p><p>4.2 FORMA ........................................................................................................................ 18</p><p>4.3 MODODE ELABORAÇÃO .............................................................................................. 19</p><p>4.4 ESTABILIDADE .............................................................................................................. 19</p><p>4.5 CONTEÚDO .................................................................................................................. 20</p><p>4.6 EXTENSÃO ................................................................................................................... 21</p><p>4.7 CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE POLÍTICA E SOCIAL ...................................... 22</p><p>4.8 FINALIDADE OU FUNÇÃO ............................................................................................ 22</p><p>4.9 IDEOLOGIA ................................................................................................................... 23</p><p>5 PODER CONSTITUINTE ........................................................................................................ 24</p><p>5.1 IDEIA INICIAL, TITULARIDADE E CLASSIFICAÇÃO ......................................................... 24</p><p>5.2 PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO ............................................................................ 24</p><p>5.3 PODER CONSTITUINTE DERIVADO OU INSTITUÍDO OU DE 2º GRAU .......................... 26</p><p>5.4 PDER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL OU TRANSNACIONAL ................................... 31</p><p>5.5 PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL OU TRANSNACIONAL ................................ 32</p><p>6 APLICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO ................................................. 34</p><p>7 APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS ............................................................ 36</p><p>7.1 DOUTRINA NORTE-AMERICANA .................................................................................. 36</p><p>7.2 DOUTRINA DE JOSÉ AFONSO DA SILVA ....................................................................... 36</p><p>8 INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO .................................................................................. 40</p><p>8.1 CLASSIFICAÇÕES DA INTERPRETAÇÃO ........................................................................ 40</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 2</p><p>8.2 CORRENTES INTERPRETATIVAS NORTE AMERICANAS ................................................ 41</p><p>8.3 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ..................................................... 41</p><p>8.4 METODO CLÁSSICO ..................................................................................................... 41</p><p>8.5 MÉTODOS PRÓPRIOS .................................................................................................. 42</p><p>8.6 PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ................................................... 43</p><p>9 DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO: SENTIDOS, CONSTITUCINALISMO, NORMAS</p><p>CONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONAIS, ESTRUTURA E ELEMENTOS ....................................... 46</p><p>9.1 SENTIDOS CLÁSSICOS E MODERNOS DE CONSTITUIÇÃO ............................................ 46</p><p>9.2 TEORIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONAIS ................................ 47</p><p>9.3 ESTRUTURA ................................................................................................................. 48</p><p>9.4 ELEMENTOS ................................................................................................................. 49</p><p>10 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ........................................................................................... 51</p><p>10.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 51</p><p>10.2 FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ........................................... 51</p><p>10.3 OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ........................ 54</p><p>10.4 PRINCÍPIOS QUE REGEM A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL NAS RELAÇÕES</p><p>INTERNACIONAIS ..................................................................................................................... 54</p><p>10.5 MODELO DE DEMOCRACIA ......................................................................................... 55</p><p>10.6 SEPARAÇÃO DE PODERES ............................................................................................ 56</p><p>11 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .............................................................. 58</p><p>11.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS x DIREITOS HUMANOS ..................................................... 58</p><p>11.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS x GARANTIAS FUNDAMENTAIS ........................................ 58</p><p>11.3 CLÁUSULA GERAL DE COMPLEMENTARIEDADE .......................................................... 58</p><p>11.4 DIIREITOS FUNDAMENTAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS ....................................... 59</p><p>11.5 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDMENTIS EM GERAÇÕES OU DIMENSÕES .......... 60</p><p>11.6 TITULARIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .......................................................... 61</p><p>11.7 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................... 62</p><p>11.8 EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................... 63</p><p>12 DIREITOS FUNDAMENTAIS .............................................................................................. 65</p><p>12.1 DIREITO À VIDA ........................................................................................................... 65</p><p>12.2 DIREITOS RELACIONADOS ÀS LIBERDADES ................................................................. 67</p><p>12.3 DIREITO À IGUALDADE ................................................................................................ 79</p><p>12.4 DIEITOS RELACIONADOS À SEGURANÇA JURÍDICA ..................................................... 82</p><p>12.5 DIREITOS RELACIONADOS À PRIVACIDADE ................................................................. 90</p><p>12.6 DIREITOS RELACIONADOS AO DIREITO PENAL ............................................................ 96</p><p>13 DIREITOS SOCIAIS .......................................................................................................... 103</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL</p><p>incompatível com a nova ordem</p><p>constitucional, serão por ela tácita e automaticamente revogadas, por</p><p>ausência de recepção.</p><p>Além dos três efeitos acima mencionados, necessário o conhecimento da definição</p><p>dos institutos jurídicos da desconstitucionalização, recepção e repristinação de</p><p>normas, sendo assim apresentados:</p><p>• Desconstitucionalização: Essa teoria que, diga-se de passagem, não é</p><p>adotada pelo nosso ordenamento jurídico, defende que a nova Constituição</p><p>não revoga as normas da Constituição anterior, mas as recepciona, porém,</p><p>com status infraconstitucional.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 35</p><p>Interessante pontuar que Jorge Miranda ensina sobre o fenômeno da “recepção</p><p>material de norma constitucional”, em que uma nova Constituição pode determinar</p><p>que parte da Constituição pretérita permaneça em vigor, ainda que por pouco</p><p>tempo, com status constitucional.</p><p>• Recepção: Quando da inauguração de uma nova ordem jurídica, a legislação</p><p>infraconstitucional com ela compatível materialmente é por ela</p><p>recepcionada.</p><p>Saliente-se que a legislação infraconstitucional anterior à nova Constituição com</p><p>essa incompatível será não recepcionada.</p><p>Ressalte-se que, com apego ao tecnicismo, necessário destacar que esse fenômeno</p><p>não se trata de uma revogação de normas, haja vista que a revogação apenas ocorre</p><p>com atos da mesma hierarquia e natureza, ou seja, apenas uma lei ordinária revoga</p><p>uma lei ordinária.</p><p>• Repristinação: O fenômeno da repristinação consiste em volver vigência à</p><p>normas que já foram revogadas, destacando que esse fenômeno só é</p><p>admitido de forma excepcional e desde que expressamente.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 36</p><p>7 APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS</p><p>Inicialmente, necessário salientar que toda e qualquer norma constitucional</p><p>apresenta juridicidade, possuindo eficácia, seja jurídica ou social, distinguindo-se</p><p>apenas no grau de eficácia.</p><p>E feito esse alerta, podemos então passar a análise das principais classificações sobre</p><p>a aplicabilidade das normas constitucionais.</p><p>7.1 DOUTRINA NORTE-AMERICANA</p><p>A clássica doutrina americana, seguida por Ruy Barbosa, distingue as normas</p><p>constitucionais, quanto a sua aplicabilidade, em duas espécies:</p><p>• Normas autoexecutáveis ou self-executing ou self-enforcing ou self acting</p><p>ou autoaplicáveis ou bastantes em si: São normas constitucionais completas,</p><p>bastantes em si mesmas, podendo ser aplicadas de pronto, sem necessidade</p><p>de regulamentação pela legislação infraconstitucional.</p><p>• Normas não-autoexecutáveis ou not self-executing ou not silf-acting ou não</p><p>autoexecutáveis ou não aplicáveis ou não bastantes em si: São normas</p><p>constitucionais incompletas, que não são bastantes em si mesmas, haja vista</p><p>que necessitam da existência de legislação infraconstitucional,</p><p>regulamentando o preceito constitucional, para serem aplicadas.</p><p>7.2 DOUTRINA DE JOSÉ AFONSO DA SILVA</p><p>O professor José Afonso da Silva, em sua obra de monografia, intitulada</p><p>Aplicabilidade das Normas Constitucionais, as classificou da seguinte forma: A)</p><p>Normas de eficácia plena; B) Normas de eficácia contida e; C) Normas de eficácia</p><p>limitada.</p><p>NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA</p><p>Desde a entrada em vigor do Texto Constitucional, essa norma produz ou tem a</p><p>possibilidade de produzir todos os seus efeitos, citando, como exemplo, a seguinte</p><p>norma constitucional: Art. 5º, II, CF: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de</p><p>fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. As normas de eficácia plena possuem as</p><p>seguintes características:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 37</p><p>• Autoaplicabilidade: Não dependem de legislação infraconstitucional</p><p>posterior regulamentadora para que seus efeitos sejam alcançados;</p><p>• Não restringíveis: Por mais que venha a ser elaborada uma legislação</p><p>abordando o assunto tratado pela norma constitucional, esta jamais poderá</p><p>restringir a aplicação de seus efeitos;</p><p>• Aplicabilidade direta, imediata e integral: Não dependem de norma</p><p>regulamentadora para produzir seus efeitos, sendo aplicada ao caso concreto</p><p>sem intermediação legislativa; estão aptas a produzir seus efeitos desde o</p><p>momento em que é promulgada a Constituição Federal e; por não podem</p><p>sofrer limitações ou restrições por eventual legislação infraconstitucional.</p><p>NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA OU PROSPECTIVA OU</p><p>REDUTÍVEL OU RESTRINGÍVEL</p><p>Desde a entrada em vigor do Texto Constitucional, essa norma tem a possibilidade</p><p>de produzir todos os seus efeitos, porém, pode vir a ter os seus efeitos restringidos,</p><p>contidos, por regulamentação legal posterior, citando, como exemplo, a seguinte</p><p>norma constitucional: Art. 5º, XIII, CF: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício</p><p>ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.</p><p>Veja que a norma constitucional assegura a liberdade constitucional e, desde 5 de</p><p>outubro de 1988, todos poderiam exercer qualquer trabalho, ofício ou profissão.</p><p>Porém, em determinadas situações, em que está presente um potencial lesivo da</p><p>atividade profissional a ser exercida, restrições ao exercício profissional pode incidir,</p><p>como é o caso do desempenho da profissão de médico.</p><p>As normas de eficácia contida possuem as seguintes características:</p><p>• Autoaplicabilidade, por não dependerem de legislação infraconstitucional</p><p>posterior regulamentadora para que seus efeitos sejam alcançados, ou seja,</p><p>antes de eventual e futura regulamentação os direitos decorrentes daquela</p><p>norma constitucional podem ser exercitados de maneira plena, sendo que</p><p>apenas após eventual regulamentação é que haverá eventual restrição ao</p><p>exercício do direito;</p><p>• Restringíveis, haja vista que estão sujeitas a restrições ou limitações de</p><p>efeitos, seja por uma legislação infraconstitucional ou por outra norma</p><p>constitucional;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 38</p><p>• Aplicabilidade direta, imediata e, possivelmente, não integral,</p><p>respectivamente, não dependem de norma regulamentadora para produzir</p><p>seus efeitos, sendo aplicada ao caso concreto sem intermediação legislativa;</p><p>estão aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que é</p><p>promulgada a Constituição Federal e; estão sujeitas a limitações ou</p><p>restrições.</p><p>Importante consignar que a legislação infraconstitucional que pode restringir o</p><p>alcance de uma norma constitucional de eficácia contida deve observar o seguinte:</p><p>A) Não pode aniquilar o direito, ou seja, seu núcleo essencial deve ser</p><p>preservado;</p><p>B) A restrição deve ser razoável e proporcional.</p><p>NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA</p><p>Com a entrada em vigor do Texto Constitucional, essa norma não tem a possibilidade</p><p>de produzir os seus efeitos, necessitando, para tanto, de regulamentação futura por</p><p>legislação infraconstitucional, citando, como exemplo, a seguinte norma</p><p>constitucional: Art. 37, VIII, CF: “o direito de greve será exercido nos termos e nos</p><p>limites definidos em lei específica”.</p><p>As normas de eficácia limitada possuem as seguintes características:</p><p>• Não-autoaplicabilidade, por dependerem de legislação infraconstitucional</p><p>posterior regulamentadora para que seus efeitos sejam alcançados, ou seja,</p><p>antes de eventual e futura regulamentação os direitos decorrentes daquela</p><p>norma constitucional não podem ser exercitados, sendo que apenas após</p><p>eventual regulamentação é que haverá a possibilidade, em regra, do exercício</p><p>do direito;</p><p>• Aplicabilidade indireta, mediata e não integral, haja vista que,</p><p>respectivamente, dependem de norma regulamentadora para produzir seus</p><p>efeitos, sendo aplicada ao caso concreto somente com intermediação</p><p>legislativa; a promulgação da Constituição Federal não é suficiente para que</p><p>possam produzir todos os seus efeitos e; possuem um grau de eficácia restrito</p><p>quando da promulgação do Texto Constitucional.</p><p>Ressalte-se que o professor José Afonso da Silva subdividiu</p><p>as normas de eficácia</p><p>limitada em dois grupos:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 39</p><p>• Normas declaratórias de princípios institutivos ou organizativos: São as</p><p>normas constitucionais que dependem da regulamentação por legislação</p><p>infraconstitucional para que instituições e órgãos previstos na Constituição</p><p>Federal venham a ser estruturados e organizados, citando, como exemplo, a</p><p>seguinte norma constitucional: Art. 88: “A lei disporá sobre a criação e</p><p>extinção de Ministérios e órgãos da administração pública.”.</p><p>• Normas declaratórias de princípios programáticos ou normas</p><p>programáticas: São as normas constitucionais que estabelecem programas a</p><p>serem desenvolvidos pelo legislador infraconstitucional na execução de</p><p>políticas públicas, citando, como exemplo, a seguinte norma constitucional:</p><p>Art. 196. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante</p><p>políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de</p><p>outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua</p><p>promoção, proteção e recuperação.”</p><p>Saliente-se que mesmo recebendo a classificação de normas constitucionais de</p><p>eficácia limitada, elas, como dito, possuem eficácia jurídica, sendo dotadas de dois</p><p>efeitos: A) Efeito Negativo: Consiste na revogação de disposições anteriores em</p><p>sentido contrário e na proibição de leis posteriores que se oponham a seus</p><p>comandos. B) Efeito Vinculativo: Consistente na obrigação de que o legislador</p><p>infraconstitucional venha a editar a legislação regulamentando o preceito</p><p>constitucional.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 40</p><p>8 INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO</p><p>8.1 CLASSIFICAÇÕES DA INTERPRETAÇÃO</p><p>QUANTO AO SUJEITO</p><p>Quanto ao sujeito, a interpretação pode ser classificada em A) doutrinária, B)</p><p>judicial; C) autêntica; D) aberta, que pode ser sistematizada da seguinte forma:</p><p>• Doutrinária: É a interpretação feita pela doutrina, por meio de livros,</p><p>pareceres, artigos e outros. De acordo com Luis Roberto Barroso, é o</p><p>“produto do trabalho intelectual dos jurisconsultos, professores e escritores</p><p>em geral. Também os advogados, elaborando teses jurídicas e ousando</p><p>criativamente na defesa dos interesses que patrocinam, prestam importante</p><p>contribuição de cunho doutrinário.” [Interpretação e Aplicação da</p><p>Constituição, p. 118.]</p><p>• Judicial: É a interpretação realizadas pelos Magistrados, Tribunais e Cortes</p><p>Superiores.</p><p>• Autêntica: É a interpretação que é conferida pelo próprio legislador [lei</p><p>interpretativa].</p><p>• Aberta: É a interpretação realizada por aqueles que são seus destinatários. É</p><p>uma classificação que decorre de teoria elaborada por Peter Harbele,</p><p>denominada Sociedade Aberta dos Intérpretes Constitucionais, que entende</p><p>que a interpretação da norma constitucional não pode ser realizada apenas</p><p>pelo Poder Judiciário, mas por todos os seus destinatários.</p><p>QUANTO AOS EFEITOS</p><p>Quanto aos efeitos, a interpretação pode ser classificada em A) declarativa; B)</p><p>restritiva e C) extensiva, que pode ser sistematizada da seguinte forma:</p><p>• Declarativa: A interpretação não reduz, nem amplia, o sentido da norma</p><p>constitucional.</p><p>• Restritiva: A interpretação reduz o sentido da norma constitucional, haja</p><p>vista que o legislador disse mais do que pretendida.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 41</p><p>• Extensiva: A interpretação elastece o sentido da norma constitucional, haja</p><p>vista que o legislador disse menos do que pretendia.</p><p>8.2 CORRENTES INTERPRETATIVAS NORTE AMERICANAS</p><p>INTERPRETATIVISTAS E NÃO INTERPRETATIVISTAS</p><p>Existem duas correntes doutrinárias que se posicionam em relação a interpretação</p><p>da Constituição pelos Magistrados, a saber: A) interpretativistas e B) não-</p><p>interpretativistas, sendo assim sistematizadas: Interpretativistas: Os</p><p>interpretativistas entendem que os Magistrados devem limitar sua atuação à análise</p><p>e aplicação dos preceitos constitucionais, não podendo, quando da realização da</p><p>atividade judicante, promover uma atividade hermenêutica que transcenda o que</p><p>diz a literalidade do texto legal. Não-interpretativistas: Os não-interpretativistas</p><p>entendem que os Magistrados devem pautar suas atuações dentro dos ideais de</p><p>justiça, liberdade e igualdade e para aplicação efetiva desses valores é dado ao</p><p>Magistrado uma autonomia que lhe permite transcender o que diz a literalidade do</p><p>texto legal.</p><p>8.3 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL</p><p>Para promover uma interpretação do texto constitucional, além das técnicas de</p><p>interpretação clássica [gramatical, histórica, teleológica, dentre outras], métodos</p><p>próprios e específicos devem ser utilizados.</p><p>8.4 MÉTODO CLÁSSICO</p><p>MÉTODO JURÍDICO OU HERMENÊUTICO CLÁSSICO</p><p>Método de interpretação desenvolvido por Friedrich Carl von Savigny e Ernest</p><p>Forsthoff, que apresenta a ideia de que a norma constitucional deve ser interpretada</p><p>da mesma forma como o é a legislação infraconstitucional, podendo ser, então,</p><p>adotados os métodos A) literal ou gramatical; B) lógico; C) teleológico; D) histórico</p><p>e; E) sistemático, que podem ser sistematizados da seguinte forma:</p><p>• Literal ou gramatical: Interpretação que consiste em utilizar a etiologia da</p><p>palavra, com o uso das técnicas gramaticais.</p><p>• Lógico: Interpretação que se utiliza de raciocínios lógicos.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 42</p><p>• Teleológico: Interpretação que objetiva extrair os fins, os escopos, os</p><p>propósitos da norma.</p><p>• Histórico: Interpretação que busca a vontade existente no momento da</p><p>elaboração da norma.</p><p>• Sistemático: Interpretação que considera a norma dentro do arcabouço</p><p>normativo que ela está inserida e não isoladamente.</p><p>8.5 MÉTODOS PRÓPRIOS</p><p>Os métodos próprios de interpretação da norma constitucional consistem nos</p><p>seguintes:</p><p>MÉTODO TÓPICO PROBLEMÁTICO</p><p>Método de interpretação desenvolvido por Thedor Viehweg que ensina que o</p><p>intérprete parte de um problema para chegar à norma.</p><p>MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR</p><p>Método de interpretação desenvolvido por Konrad Hesse que ensina que o</p><p>intérprete parte de uma pré-compreensão da norma constitucional para solucionar</p><p>o problema.</p><p>CIENTÍFICO ESPIRITUAL OU INTEGRADOR</p><p>Método de interpretação desenvolvido por Rudolf Smend que ensina que se deve</p><p>buscar valores implícitos existentes na Constituição. E J. J. Gomes Canotilho ensina</p><p>que “o recurso à ordem de valores obriga a uma ‘captação espiritual’ do conteúdo</p><p>axiológico último da ordem constitucional. A ideia de que a interpretação visa não</p><p>tanto dar resposta ao sentido dos conceitos do texto constitucional, mas</p><p>fundamentalmente compreender o sentido e realidade de uma lei constitucional,</p><p>conduz à articulação desta lei com a integração espiritual real da comunidade (com</p><p>os seus valores, com a realidade existencial do Estado).” [Op. cit., p. 1196.]</p><p>MÉTODO NORMATIVO ESTRUTURANTE</p><p>Método de interpretação desenvolvido Friedrich Muller que ensina que a norma não</p><p>se confunde com o texto, sendo esse apenas a ponta do iceberg, devendo, portanto,</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 43</p><p>o intérprete buscar compreender todo o domínio normativo, conhecendo a</p><p>realidade social.</p><p>8.6 PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL</p><p>Para promover uma interpretação do texto constitucional, além dos métodos acima</p><p>mencionados, princípios próprios e específicos devem ser aplicados, a saber:</p><p>• Princípio da Unidade da Constituição: A Constituição é una, devendo ser</p><p>interpretada como um todo e não deve ter suas normas interpretadas de</p><p>maneira isolada, de forma a evitar eventual contradição entre as normas</p><p>constitucionais, de modo que eventual conflito entre normas constitucionais</p><p>será sempre aparente. Com apoio no Princípio da Unidade da Constituição,</p><p>extrai-se a conclusão de:</p><p>1ª) Inexistência hierárquica entre normas Constitucionais;</p><p>2ª) Inexistência de normas constitucionais originárias</p><p>inconstitucionais.</p><p>• Princípio</p><p>da Eficiência ou Máxima Efetividade: O intérprete da norma</p><p>constitucional deve extrair e atribuir o sentido que lhe confira a maior</p><p>efetividade social possível, maximizando seus efeitos e extraindo todas as</p><p>suas potencialidades.</p><p>• Princípio da Justeza ou Conformidade Funcional ou da Correição Funcional:</p><p>O agente ou órgão encarregado de interpretar a norma constitucional jamais</p><p>pode chegar a uma conclusão que subverta, que altere, o esquema</p><p>organizatório traçado pelo Poder Constituinte Originário. Ou seja, por meio</p><p>de uma interpretação, as regras de competência estabelecidas</p><p>originariamente jamais podem ser alteradas.</p><p>• Princípio da Concordância Prática ou Harmonização: Os bens jurídicos</p><p>protegidos constitucionalmente devem ser harmonizar e em caso de conflito</p><p>deve ser analisado na aplicação do caso concreto, acautelando-se para que</p><p>não haja o sacrifício total de um deles em detrimento do outro. Com esse</p><p>princípio compatibiliza-se direitos fundamentais que, eventualmente,</p><p>estejam em conflito.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 44</p><p>• Princípio da Força Normativa: De acordo com Konrad Hesse, toda norma</p><p>Constitucional é revestida de real eficácia jurídica e não poderia ser diferente,</p><p>caso contrário, figuraria apenas como “letra morta em papel”.</p><p>• Princípio da Interpretação conforme à Constituição: Diante de uma norma</p><p>infraconstitucional plurissignificativa, também, conhecida como polissêmica,</p><p>ou seja, que permite diversas interpretações, a interpretação que deve</p><p>prevalecer é aquela que mais se aproxime do sentido que lhe preserve sua</p><p>constitucionalidade. Essa também é uma leitura do Princípio da Economia</p><p>Legislativa ou Princípio da Conservação das Normas, permitindo a</p><p>conservação da norma no ordenamento jurídico, com prevalência da</p><p>Constituição. Saliente-se que a aplicação desse princípio não pode resultar</p><p>em uma interpretação totalmente separada daquela objetivada pelo</p><p>Legislador, sob pena de ofensa ao Princípio da Separação dos Poderes.</p><p>Existem duas modalidades de interpretação conforme a Constituição:</p><p>A) Com redução de texto e;</p><p>B) Sem redução de texto.</p><p>Sobre a primeira modalidade, a doutrina ensina que “o Judiciário, malgrado</p><p>considere a norma constitucional, entende que um pequeno trecho, uma palavra, é</p><p>inconstitucional, suprimindo-a, portanto.” Martins, Flávio. Curso de direito</p><p>constitucional - 6ª edição 2022 (p. 747). Saraiva Jur.</p><p>Sobre a segunda modalidade, a doutrina ensina que “Trata-se da verdadeira</p><p>interpretação conforme à Constituição, pois, nesse caso, o Judiciário não declara</p><p>parte da lei inconstitucional. Apesar de existir interpretação plausível pela</p><p>inconstitucionalidade da norma, o Judiciário opta pela interpretação segundo a qual</p><p>a lei é constitucional. [Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição</p><p>2022 (p. 748). Saraiva Jur.]</p><p>E a interpretação conforme à Constituição sem redução de texto ainda apresenta</p><p>duas subespécies:</p><p>A) Com fixação da interpretação constitucional, em que o Poder Judiciário</p><p>entende que a norma é constitucional desde que interpretada da forma como</p><p>fixada e;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 45</p><p>B) Com exclusão da interpretação inconstitucional, em que o Poder Judiciário</p><p>entende que a norma é constitucional desde que não interpretada de certa</p><p>maneira.</p><p>• Princípio do Efeito Integrador: A interpretação sempre deve ser responsável,</p><p>de mordo que a integridade política e social sempre seja preservada.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 46</p><p>9 DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO: SENTIDOS,</p><p>CONSTITUCIONALISMO, NORMAS CONSTITUCIONAIS</p><p>INCONSTITUCIONAIS, ESTRUTURA E ELEMENTOS</p><p>9.1 SENTIDOS CLÁSSICOS E MODERNOS DE CONSTITUIÇÃO</p><p>Quando se estuda os sentidos clássicos da Constituição, necessário se faz promover</p><p>uma associação do autor com o sentido por ele proposto:</p><p>• Sentido Sociológico: Ideia: A Constituição não pode ser compreendida</p><p>simplesmente como uma norma jurídica, mas, sim, como um fato social. E,</p><p>para tanto, Ferdinand Lassale promoveu a distinção entre Constituição real e</p><p>efetiva x Constituição escrita ou jurídica. A Constituição real e efetiva seria a</p><p>soma dos fatores reais de poder que dominavam determinada sociedade em</p><p>determinada época, ou seja, a Constituição era o que a nobreza, o clero, a</p><p>burguesia, os militares, quando estavam no poder, diziam ser constituição.</p><p>Ao passo que a Constituição escrita ou jurídica tinha a missão de reunir, em</p><p>um documento formal, os fatores reais de poder que dominavam aquela</p><p>sociedade. E diante disso, caso a Constituição escrita ou jurídica não refletisse</p><p>em seu texto os fatores reais de poder vigentes, não passaria de mera “folha</p><p>de papel”. Assim, de acordo com o autor, a Constituição deve ser</p><p>compreendia mais como um fato social do que como uma norma jurídica,</p><p>priorizando o ser em detrimento do dever ser, devendo corresponder aquilo</p><p>que é fruto dominante em uma sociedade.</p><p>• Sentido político: Ideia: A Constituição deve ser compreendida como uma</p><p>decisão política fundamental, deve ser compreendida como as normas que</p><p>estruturam e organizam os elementos fundamentais de um Estado. E para</p><p>tanto, Carl Schmitt promoveu a distinção entre Constituição x Leis</p><p>constitucionais. A Constituição corresponderia àquelas normas de grande</p><p>envergadura constitucional, como, por exemplo, os direitos e garantias</p><p>fundamentais, as normas referentes a organização do estado, bem como as</p><p>normas referentes à separação dos poderes. Ao passo que as Leis</p><p>constitucionais seriam aquelas normas que formalmente estão inseridas</p><p>dentro do texto constitucional, porém, são de envergadura menor, haja vista</p><p>que poderiam, perfeitamente, serem disciplinadas, exclusivamente, pela</p><p>legislação infraconstitucional. Exemplo: Se Carl Schmitt, analisasse a</p><p>Constituição Federal de 1988, classificaria o art. 242, §2º como uma lei</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 47</p><p>constitucional, mas classificaria o art. 5º como Constituição, propriamente</p><p>dita. Art. 242, §2º, CF. O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de</p><p>Janeiro, será mantido na órbita federal.</p><p>• Sentido jurídico: Ideia: A Constituição deve ser entendida como uma norma</p><p>jurídica pura, que não sofre influência de qualquer consideração de cunho</p><p>social, cultural, político, ideológico, apenas caráter normativo, um dever-ser.</p><p>O intérprete não deve analisar a qualidade da norma [boa ou má, moral ou</p><p>imoral] porque tal análise estaria fora do Direito. E, para tanto, Kelsen</p><p>promoveu a distinção entre Constituição no sentido lógico-jurídico x</p><p>Constituição no sentido jurídico-positivo. A Constituição no sentido lógico-</p><p>jurídico seria a norma hipotética fundamental, que estaria no mundo do</p><p>pressuposto e que serviria de fundamento lógico transcendental para a</p><p>Constituição no sentido jurídico-positivo. E essa seria a norma suprema,</p><p>localizada no ápice da pirâmide normativa. Todas as normas que lhe estão</p><p>abaixo lhe devem obediência, devendo harmonizar com seus ditames, sob</p><p>pena de serem consideradas inconstitucionais. A Constituição no sentido</p><p>lógico-jurídico não encontra fundamento de validade no direito posto, mas,</p><p>sim, no plano do pressuposto lógico, em valores metajuridicos. Seria algo no</p><p>seguinte sentido: “cumpra-se a Constituição e as leis”. Assim, resultou a</p><p>criação da Teoria da Construção Escalonada do Ordenamento Jurídico.</p><p>9.2 TEORIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONAIS</p><p>Aproveitando a relação com os temas, Sentidos Político e Jurídico da Constituição,</p><p>idealizados, respectivamente, por Carl Schmitt e Hans Kelsen, necessário destacar</p><p>que não existe hierarquia entre normas constitucionais originárias e derivadas. E</p><p>todas elas, até mesmo o citado art. 242, §2º, da Constituição Federal possuem o</p><p>mesmo status hierárquico normativo.</p><p>Porém, merece destaque a teoria elaborada pelo alemão Otto Bachof, denominada</p><p>Normas constitucionais inconstitucionais,</p><p>em que é feita a defesa da possibilidade</p><p>de existir normas constitucionais originárias inconstitucionais.</p><p>Otto Bachof defende a existência de duas espécies de normas constitucionais: A) As</p><p>cláusulas pétreas, que não podem ser abolidas do texto magno e; B) As normas</p><p>constitucionais originárias</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 48</p><p>E com base nessa distinção, Bachof defende que as cláusulas pétreas seriam</p><p>superiores às demais normas constitucionais e que, portanto, poderiam servir de</p><p>parâmetro de constitucionalidade para as normas constitucionais originárias.</p><p>Assim, para o citado autor, normas constitucionais originárias poderiam ser</p><p>declaradas inconstitucionais caso fossem de encontro com eventual norma</p><p>insculpida em dispositivo constitucional de cláusula pétrea.</p><p>Porém, necessário salientar que o ordenamento jurídico brasileiro não acolhe a</p><p>mencionada teoria, estando aqui as cláusulas pétreas no mesmo patamar</p><p>hierárquico das demais normas constitucionais originárias.</p><p>9.3 ESTRUTURA</p><p>De uma maneira geral e analisando especialmente a Constituição Federal de 1988, é</p><p>possível dividi-la em 3 [três] partes, a saber:</p><p>1ª Parte: Preâmbulo: Parte da Constituição que não se encontra no domínio do</p><p>Direito, que se encontra no domínio da política, sendo apenas uma consagração da</p><p>ideologia que marcava o pensamento do Poder Constituinte Originário no momento</p><p>da promulgação do texto constitucional, podendo ser utilizado, no máximo, como</p><p>vetor interpretativo das demais normas constitucionais, nada mais por não estar,</p><p>como dito, no âmbito do Direito.</p><p>Três teorias discutem sobre a natureza jurídica do Preâmbulo da Constituição</p><p>Federal de 1988, a saber:</p><p>Teoria da irrelevância jurídica: Entende que o Preâmbulo da Constituição se</p><p>encontra no domínio da política, consagrando apenas o pensamento que</p><p>permeava os ideais do Poder Constituinte Originário naquele momento.</p><p>Teoria da plena eficácia: Entende que o Preâmbulo da Constituição se</p><p>encontra no domínio do Direito e possui a mesma eficácia jurídica de</p><p>qualquer outra norma existente na parte dogmática ou nas disposições</p><p>transitórias.</p><p>Teoria da relevância jurídica indireta: Entende que o Preâmbulo da</p><p>Constituição se encontra no domínio do Direito, tendo, portanto, natureza</p><p>jurídica, mas diferindo das demais normas constitucionais, por não possuir a</p><p>mesma relevância e eficácia jurídica das normas existentes na parte</p><p>dogmática ou nas disposições transitórias.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 49</p><p>Das três teorias acima, que discutem sobre a natureza jurídica do Preâmbulo da</p><p>Constituição, a doutrina majoritária, bem como o Supremo Tribunal Federal</p><p>adoraram a Teoria da irrelevância jurídica.</p><p>2ª Parte: Dogmática: A parte dogmática da Constituição é o seu texto constitucional</p><p>propriamente dito, e no nosso caso, na Constituição Federal de 1988 vai do art. 1º</p><p>ao art. 250, que se inicia com os Fundamentos da República Federativa do Brasil e</p><p>finaliza no estudo atinente aos Índios.</p><p>3ª Parte: Transitória: Com o escopo de evitar a ocorrência de um colapso normativo</p><p>em virtude da instauração de uma nova ordem constitucional, a parte transitória das</p><p>Constituições visa, em regra, promover uma integração entre a antiga ordem</p><p>constitucional à nova ordem constitucional. No nosso caso, na Constituição Federal</p><p>de 1988 são os 144 [cento e quarenta e quatro] artigos que compõe os Atos das</p><p>Disposições Constitucionais Transitórias.</p><p>9.4 ELEMENTOS</p><p>Apesar de a Constituição ser una, a doutrina a divide em elementos, a fim de</p><p>promover uma sistematização do todo para fins didáticos. E, com base na doutrina</p><p>do professor José Afonso da Silva, os elementos constitucionais foram agrupados em</p><p>5 [cinco] categorias, a saber:</p><p>• Elementos orgânicos: São as normas constitucionais que regulamentam a</p><p>organização e estruturação do Estado e do Poder. E na nossa Constituição</p><p>Federal estão previstos no “Título III”, que trata da organização do Estado,</p><p>bem como no “Título IV”, que trata da organização dos Poderes.</p><p>• Elementos limitativos: São as normas constitucionais que limitam os poderes</p><p>do Estado, além de garantirem a efetivação de Direitos Fundamentais. E na</p><p>nossa Constituição Federal estão previstos no “Título II”, que trata dos</p><p>Direitos e Garantias Individuais e Coletivos; Direitos da Nacionalidade e</p><p>Direitos Políticos e dos Partidos Políticos. Atenção: O Título II da Constituição</p><p>Federal prevê, também, Direitos Sociais, que são liberdades positivas,</p><p>prestações positivas que devem ser implementadas pelo Estado em favor do</p><p>cidadão. E tais direitos, apesar de previstos no Título II não podem ser</p><p>considerados como elementos limitativos.</p><p>• Elementos socioideológicos: São as normas constitucionais que objetivam</p><p>que um estado de bem-estar social seja alcançado, ou seja, são normas que</p><p>preveem prestações positivas que devem ser implementadas pelo Estado em</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 50</p><p>favor do cidadão. E na nossa Constituição Federal estão previstos no “Título</p><p>II”, especificamente em seu Capítulo II, das normas que tratam sobre os</p><p>Direitos Sociais, além de estarem previstas, também, no Título VII, intitulado</p><p>Da Ordem Econômica e Financeira, bem como no Título VIII, intitulado Da</p><p>Ordem Social.</p><p>• Elementos de estabilização constitucional: São as normas jurídicas</p><p>constitucionais que são destinadas a promover uma solução de eventual</p><p>conflito constitucional, além de promover uma defesa da própria</p><p>Constituição Federal, bem como das instituições democráticas. E na nossa</p><p>Constituição Federal podem ser extraídos como elementos de estabilização</p><p>constitucional as normas referentes ao controle de constitucionalidade, que</p><p>objetivam a defesa do texto da constituição, bem como aquelas relacionadas</p><p>a intervenção em entes políticos:</p><p>• Elementos formais de aplicabilidade: São as normas constitucionais que</p><p>estabelecem regras da aplicação de institutos previstos na própria</p><p>Constituição. E na nossa Constituição Federal está previsto, por exemplo, no</p><p>art. 5º, §1º, que assim dispõe:</p><p>Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a</p><p>guarda da Constituição, cabendo-lhe: I. processar e julgar,</p><p>originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato</p><p>normativo federal ou estadual e a ação declaratória de</p><p>constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;</p><p>Art. 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal,</p><p>exceto para: [...];</p><p>Art. 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos</p><p>Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:</p><p>Art. 5º, §1º, CF. As normas definidoras dos direitos e garantias</p><p>fundamentais têm aplicação imediata.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 51</p><p>10 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS</p><p>10.1 INTRODUÇÃO</p><p>O primeiro título da Constituição Federal é denominado “Dos Princípios</p><p>Fundamentais” e se refere aos valores basilares que orientaram tanto a elaboração,</p><p>quanto os passos presentes e futuros que devem ser realizados pela República</p><p>Federativa do Brasil.</p><p>Esse título é dividido basicamente em 3 [três] institutos fundamentais, a saber: A)</p><p>Fundamentos da República Federativa do Brasil; B) Objetivos fundamentais da</p><p>República Federativa do Brasil; C) Princípio de regência das relações internacionais.</p><p>10.2 FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL</p><p>Os fundamentos da República Federativa do Brasil são apresentados no art. 1º da</p><p>Constituição Federal e representam os pilares, a base, do nosso ordenamento</p><p>jurídico constitucional.</p><p>O art. 1º da Constituição Federal apresenta a seguinte redação:</p><p>Antes de analisar especificamente os fundamentos da República Federativa do</p><p>Brasil, necessário compreendermos pontos específicos do caput do art. 1º, referente</p><p>à:</p><p>• Forma de Governo e;</p><p>• Forma de Estado.</p><p>Forma de Governo: Existem duas formas de governo: A) Monarquia</p><p>e; B) República.</p><p>Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união</p><p>indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-</p><p>se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I. a</p><p>soberania; II. a cidadania; III. a dignidade da pessoa humana; IV. os</p><p>valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V. o pluralismo</p><p>político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce</p><p>por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta</p><p>Constituição.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 52</p><p>• Monarquia: Em uma Monarquia temos o governo de “um só”, em que o</p><p>poder é concentrado na figura do Rei. Essa forma de governo apresenta as</p><p>seguintes características: 1) Irresponsabilidade política do governante; 2)</p><p>Transmissão do poder pelo vínculo de hereditariedade e; 3) Permanência no</p><p>poder de maneira vitalícia.</p><p>• República: A forma de governo republicana foi idealizada para implementar</p><p>a soberania popular, haja vista que o governante administra a res pública, ou</p><p>seja, a coisa pública, um bem que não pertence a ele, mas, sim, a toda a</p><p>coletividade. Essa forma de governo apresenta as seguintes características:</p><p>1) Responsabilidade política do governante, pelos seus atos de governo e</p><p>gestão; 2) Poder recebido pelo critério da eletividade, ou seja, por meio de</p><p>eleições populares e; 3) Permanência no poder de maneira temporária</p><p>Forma de Estado: Conforme ensinamentos do professor José Afonso da Silva, “O</p><p>modo de exercício do poder político em função do território dá origem ao conceito</p><p>de forma de Estado. Se existe unidade de poder sobre o território, pessoas e bens,</p><p>tem-se Estado unitário. Se, ao contrário, o poder se reparte, se divide, no espaço</p><p>territorial (divisão espacial de poderes), gerando uma multiplicidade de organizações</p><p>governamentais, distribuídas regionalmente, encontramo-nos diante de uma forma</p><p>de Estado composto, denominado Estado federal ou Federação de Estados”. Assim,</p><p>percebe-se a existência de duas formas de estado:</p><p>• Estado Unitário: Existe apenas um centro de poder, ou seja, apenas um</p><p>poder para toda população. A tomada de decisões fica a cargo do Governo</p><p>Nacional. No Brasil, a forma de estado unitária foi adotada na Constituição</p><p>de 1824, sendo abolida apenas em 1889. Hoje, em direito comparado, temos</p><p>um Estado Unitário, por exemplo, na França, Chile, Uruguai e Paraguai.</p><p>• Estado composto: Existe mais de um centro de poder e se apresenta com as</p><p>seguintes espécies:</p><p>Confederação: Espécie de estado composto que se origina em um</p><p>tratado internacional, sendo que as suas unidades parciais são dotadas</p><p>de soberania, possuindo, portanto, o direito de secessão, ou seja, a</p><p>permissibilidade de se desvencilhar do todo.</p><p>Federação: Espécie de estado composto que se origina de uma</p><p>Constituição, sendo que as suas unidades parciais são dotadas de</p><p>autonomia, não possuindo, portanto, o direito de secessão, tendo em</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 53</p><p>vista viger em um Estado Federal o Princípio da Indissociabilidade,</p><p>também conhecido como Princípio da Indissolubilidade.</p><p>Feitos esses esclarecimentos, fica fácil, agora, compreender a primeira parte do</p><p>caput do art. 1º da Constituição Federal, quando traz: “A República Federativa do</p><p>Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal</p><p>[...].”.</p><p>Dessa forma, analisando a norma acima destacada, podemos afirmar que A) a nossa</p><p>forma de governo é uma República e; B) a nossa forma de estado é uma Federação,</p><p>inexistindo, portanto, a possibilidade de as unidades parciais [União, Estados-</p><p>membros, Distrito Federal e Municípios], pretenderem se desvencilhar da nossa</p><p>República Federativa do Brasil, haja vista que a eles não é dado o direito de secessão.</p><p>Feitos esses esclarecimentos, podemos analisar, então, os fundamentos da</p><p>República Federativa do Brasil, que são os seguintes:</p><p>• Soberania: A República Federativa do Brasil não se curva, não se subordina a</p><p>nenhum outro Estado, na ordem internacional, nem a nenhum outro ente</p><p>político, na ordem interna.</p><p>• Cidadania: A República Federativa do Brasil tem um compromisso direto com</p><p>o povo e, por um dos seus pilares ser a cidadania, pode-se afirmar que existe</p><p>uma busca pela participação popular nas decisões políticas que irão guiar os</p><p>rumos do nosso Estado.</p><p>• Dignidade da pessoa humana: A República Federativa do Brasil, com a edição</p><p>da Constituição Federal de 1988, se preocupou, de sobremaneira, com a</p><p>figura do ser-humano que, a partir de então, passou a ocupar lugar de</p><p>destaque, sendo ponto central de tutela do nosso Estado.</p><p>• Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: A República Federativa do</p><p>Brasil adotou como sistema econômico o capitalismo e os valores do trabalho</p><p>e da livre iniciativa são tutelados pelo nosso ordenamento jurídico.</p><p>• Pluralismo político: A República Federativa do Brasil garante aos seus</p><p>cidadãos uma ampla liberdade de convicção política, eliminando qualquer</p><p>forma de autoritarismo de grupo dominante, motivo pelo qual garante que</p><p>diferentes grupos sociais possam participar do processo político de formação</p><p>da vontade nacional.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 54</p><p>10.3 OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL</p><p>Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil estão previstos no art.</p><p>3º da Constituição Federal de 1988 da seguinte forma:</p><p>Os objetivos fundamentais devem ser compreendidos como aquilo que é almejado</p><p>pela República Federativa do Brasil como um “Estado perfeito”. Porém, para a</p><p>construção desse “Estado perfeito” necessário se faz a concretização de ações. E,</p><p>exatamente por isso, é que cada um dos incisos do art. 3º é materializado por um</p><p>verbo no infinitivo: construir, garantir, erradicar, reduzir e promover.</p><p>10.4 PRINCÍPIOS QUE REGEM A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL NAS RELAÇÕES</p><p>INTERNACIONAIS</p><p>Os princípios que regem a República Federativa do Brasil nas relações internacionais</p><p>estão previstos no art. 4º da Constituição Federal de 1988 da seguinte forma:</p><p>Veja que todos os princípios elencados no art. 4º da Constituição Federal</p><p>apresentam um ponto comum: garantia da paz. Não existe nenhum princípio que</p><p>fuja desse ideal, haja vista que foi uma norma inspirada na Carta da Organização das</p><p>Nações Unidas, de 1945, que visa tutelar o respeito aos direitos e liberdades do</p><p>indivíduo, manutenção da paz e segurança internacional.</p><p>Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República</p><p>Federativa do Brasil: I. construir uma sociedade livre, justa e</p><p>solidária; II. garantir o desenvolvimento nacional; III. erradicar</p><p>a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais</p><p>e regionais; IV. promover o bem de todos, sem preconceitos de</p><p>origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de</p><p>discriminação.</p><p>Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações</p><p>internacionais pelos seguintes princípios: I. independência nacional;</p><p>II. prevalência dos direitos humanos; III. autodeterminação dos</p><p>povos; IV. não-intervenção; V. igualdade entre os Estados; VI. defesa</p><p>da paz; VII. solução pacífica dos conflitos; VIII. repúdio ao terrorismo</p><p>e ao racismo; IX. cooperação entre os povos para o progresso da</p><p>humanidade; X. concessão de asilo político.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 55</p><p>Saliente-se que o parágrafo único do art. 4º prevê que “A República Federativa do</p><p>Brasil buscará a integração Econômica, Política, Social e Cultural dos povos da</p><p>América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de</p><p>nações.”.</p><p>Assim, deve-se ter atenção para a busca integrativa da República Federativa do</p><p>Brasil, que gira em torno dos seguintes pontos: Integração Econômica; Integração</p><p>Política; Integração Social; Integração Cultural.</p><p>E essa integração deve ser buscada entre os povos da América Latina, com um</p><p>objetivo</p><p>comum: formar uma comunidade latino-americana de nações.</p><p>10.5 MODELO DE DEMOCRACIA</p><p>O parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal tem a seguinte redação:</p><p>Sobre esse dispositivo, necessário sabermos que o regime democrático pode ser</p><p>classificado da seguinte forma:</p><p>• Democracia direta: Modelo de democracia caracterizado pelo exercício do</p><p>poder sem a presença de intermediários. Atualmente, é pouco utilizada,</p><p>sendo observada a sua presença em alguns cantões da Suíça, de pequena</p><p>dimensão territorial. [Jaime Barreiros Neto, 2022, p. 24]</p><p>• Democracia Indireta ou Representativa: Modelo de democracia marcado</p><p>pela pouca atuação efetiva do povo no poder, uma vez que ao povo, neste</p><p>momento, cabe apenas escolher, através do exercício do sufrágio, seus</p><p>representantes políticos, de forma periódica. [Jaime Barreiros Neto, 2022, p.</p><p>24]</p><p>• Democracia Semidireta ou Participativa: Modelo de democracia dominante</p><p>no mundo contemporâneo, caracteriza-se pela preservação da</p><p>representação política aliada, entretanto, por meios de participação direta do</p><p>povo no exercício soberano no Estado. Na democracia semidireta, o povo</p><p>exerce a soberania popular não só elegendo representantes políticos, mas</p><p>também participando de forma direta da vida política do Estado, através dos</p><p>Art. 1º, Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce</p><p>por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta</p><p>Constituição.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 56</p><p>institutos da democracia participativa [plebiscito, referendo e iniciativa</p><p>popular de lei]. [Jaime Barreiros Neto, 2022, p. 24]</p><p>Dentre os três modelos acima apresentados, necessário saber que a República</p><p>Federativa do Brasil adotou o modelo de uma democracia semidireta ou</p><p>participativa, ao dispor que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de</p><p>representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”.</p><p>Saliente-se que, como regra, temos representantes eleitos que adotam as decisões</p><p>políticas que irão reger a República Federativa do Brasil. Porém, temos instrumentos</p><p>da democracia direta em nosso ordenamento jurídico-constitucional, a saber:</p><p>Plebiscito e Referendo: São institutos jurídicos disciplinados na Lei</p><p>9.709/1998 e se tratam de consultas formuladas ao povo para que delibere</p><p>sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa</p><p>ou administrativa.</p><p>Iniciativa popular: É a possibilidade, prevista no art. 61, §2º, da Constituição</p><p>Federal, de os cidadãos deflagrarem, iniciarem, o devido processo legislativo</p><p>constitucional, no que tange a elaboração de Leis Complementares e Leis</p><p>Ordinárias:</p><p>10.6 SEPARAÇÃO DE PODERES</p><p>O art. 2º da Constituição Federal dispõe que “São Poderes da União, independentes</p><p>e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”.</p><p>A norma acima colacionada consagra a teoria da Separação dos Poderes, elaborada</p><p>por Montesquieu, formada pela ideia de que os três poderes de um Estado</p><p>[Legislativo, Executivo e Judiciário] devem atuar de maneira harmônica, porém,</p><p>separadas, evitando, portanto, que exista uma concentração de poderes nas mãos</p><p>de uma única pessoa, o que era típico do Estado Absolutista.</p><p>Em sua obra “O Espírito das Leis”, Montesquieu ensina que cada Poder deveria</p><p>desempenhar uma função específica prioritariamente, podendo, também, exercer</p><p>funções de outros poderes.</p><p>E, assim, todos os Poderes desempenham tanto funções típicas, quanto funções</p><p>atípicas.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 57</p><p>A título exemplificativo, o Poder Legislativo desempenha funções típicas de legislar,</p><p>quando elabora atos normativos, bem como de fiscalizar, quando, por meio de</p><p>Comissões Parlamentares de Inquérito, fiscaliza atos de interesse público. Mas,</p><p>também, desempenha funções atípicas, de natureza administrativo-executivo,</p><p>quando promove a organização de seus serviços internos, bem como de natureza</p><p>julgadora, quando o Senado Federal julga o Presidente da República por crimes de</p><p>responsabilidade.</p><p>Em complemento, hoje se fala em um Sistema de Freios e Contrapesos [Checks and</p><p>Balances System], que consiste no controle do Poder pelo próprio Poder, ou seja, um</p><p>determinado Poder, seja ele o Legislativo, Executivo ou Judiciário exerceria, de</p><p>maneira autônoma sua função, porém, seria controlado pelos outros Poderes,</p><p>devendo, dessa forma, trabalhar em harmonia com os demais.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 58</p><p>11 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>11.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS X DIREITOS HUMANOS</p><p>A expressão Direitos Humanos é uma expressão utilizada, especialmente, em Direito</p><p>Internacional, ao passo que a expressão Direitos Fundamentais é utilizada,</p><p>especialmente, em Direito Constitucional. Porém, saliente-se que ambos possuem o</p><p>ponto comum de proteger e promover a dignidade, liberdade e igualdade.</p><p>11.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS X GARANTIAS FUNDAMENTAIS</p><p>Ressalte-se que Direitos Fundamentais e Garantias Fundamentais são institutos</p><p>jurídicos que não se confundem, merecendo ser feita a seguinte distinção:</p><p>• Direitos Fundamentais: São normas que possuem conteúdo declaratório. Ex.</p><p>Liberdade de locomoção [art. 5º, XV, CF].</p><p>• Garantias Fundamentais: São normas de conteúdo assecuratório. Ex. Habeas</p><p>Corpus [art. 5º, LXVIII, CF].</p><p>Dessa forma, os Direitos Fundamentais são os objetos, os bens jurídicos, as</p><p>prerrogativas que são tuteladas pelo ordenamento jurídico, ao passo que as</p><p>Garantias Fundamentais são os instrumentos assecuratórios que possibilitam que</p><p>seja evitada uma lesão a esse bem jurídico tutelado [caráter preventivo] ou, então,</p><p>reparar essa lesão praticada [caráter repressivo].</p><p>11.3 CLÁUSULA GERAL DE COMPLEMENTARIEDADE</p><p>A Constituição Federal, em seu art. 5º, §2º, dispõe que “Os direitos e garantias</p><p>expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos</p><p>princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República</p><p>Federativa do Brasil seja parte”.</p><p>A norma consagra uma verdadeira cláusula geral de complementariedade, se</p><p>apresentando como uma normal geral inclusiva, que permite afirmar que o rol dos</p><p>Direitos Fundamentais não se esgotam na Constituição Federal, haja vista que outros</p><p>direitos figuram como Direitos Fundamentais adotados por nosso ordenamento</p><p>jurídico, mesmo que não previstos no Texto Superior, desde que decorrentes de A)</p><p>princípios adotados pela Constituição ou B) de tratados internacionais celebrados</p><p>pela República Federativa do Brasil.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 59</p><p>Sobre o Duplo Grau de Jurisdição, a doutrina ensina, “Todavia, a jurisprudência</p><p>majoritária do Supremo Tribunal Federal reconhece-o como direito fundamental,</p><p>embora não previsto expressamente na Constituição. Primeiramente, decorreria do</p><p>devido processo legal (art. 5º, LIV, CF). Outrossim, aplicado à seara penal, decorreria</p><p>do art. 8º, do Pacto de São José da Costa Rica, que o assegura expressamente.”</p><p>[Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1109). Saraiva</p><p>Jur.]</p><p>Um direito fundamental implícito na nossa Constituição é o Direito à Busca da</p><p>Felicidade [the pursuit of happines], sendo objeto de proposta de Emenda</p><p>Constitucional para introdução no rol do art. 6º, bem como tendo sido utilizado</p><p>como fundamento pelo Supremo Tribunal Federal para reconhecer a união</p><p>homoafetiva como entidade familiar:</p><p>11.4 DIREITOS FUNDAMENTAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS</p><p>O art. 5º, §3º, da Constituição Federal dispõe que “Os tratados e convenções</p><p>internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do</p><p>Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão</p><p>equivalentes às emendas constitucionais.”.</p><p>Aqui, interessa apontar que os tratados internacionais sobre direitos humanos</p><p>podem ingressar no ordenamento jurídico brasileiro com duas hierarquias</p><p>diferentes,</p><p>a saber:</p><p>Trecho do voto do Ministro Celso de Mello no julgamento da ADPF</p><p>132: “entendo que a extensão, às uniões homoafetivas, do mesmo</p><p>regime jurídico aplicável à união estável entre pessoas de gênero</p><p>distinto justifica-se e legitima-se pela direta incidência, dentre outros,</p><p>dos princípios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade,</p><p>da segurança jurídica e do postulado constitucional implícito que</p><p>consagra o direito à busca da felicidade, os quais configuram, numa</p><p>estrita dimensão que privilegia o sentido de inclusão decorrente da</p><p>própria Constituição da República (arts. 1º, III, e 3º, IV), fundamentos</p><p>autônomos e suficientes aptos a conferir suporte legitimador à</p><p>qualificação das conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como</p><p>espécie do gênero entidade familiar”.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 60</p><p>Os seguintes tratados internacionais ingressaram no ordenamento jurídico com</p><p>status equivalente a de uma Emenda à Constituição:</p><p>11.5 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS EM GERAÇÕES OU DIMENSÕES</p><p>O jurista tcheco-francês Karel Vasak classificou os Direitos Fundamentais em 3 [três]</p><p>gerações. Porém, antes de abordar cada uma dessas espécies, ressalte-se que, hoje,</p><p>prefere-se a utilização da palavra “dimensões” em detrimento de “gerações”, haja</p><p>visto que “a expressão “geração” dá a ideia de substituição do velho pelo novo. Bem,</p><p>não é o que ocorre com os direitos fundamentais. Uma nova dimensão de direitos</p><p>fundamentais não substitui a primeira. Pelo contrário, ambas coexistem e se</p><p>complementam, motivo pelo qual é preferível utilizar a expressão dimensão.”</p><p>[Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1141). Saraiva</p><p>Jur.]</p><p>Passa-se, então, a abordagem de cada uma delas:</p><p>1ª Dimensão: Marco: Passagem de um Estado Absolutista autoritário para um</p><p>Estado de Direito. Ideia: Os Direitos Fundamentais de 1ª dimensão caracterizam-se</p><p>Hierarquia equivalente a de uma</p><p>Emenda à Constituição:</p><p>O tratado internacional tem que preencher um requisito material, qual seja:</p><p>dizer respeito a Direitos Humanos, bem como preencher um requisito</p><p>material, qual seja, ser aprovado pelo mesmo rito de uma emenda à</p><p>Constituição [aprovação em 2 turnos de votação + votação das duas Casas</p><p>Legislativas + Quórum qualificado de 3/5 dos membros.]</p><p>Hierarquia Supralegal:</p><p>Caso os tratados internacionais preencham o requisito material, qual seja,</p><p>dizer respeito a Direitos Humanos, mas não preencha os requisitos formais</p><p>acima apontados.</p><p>Aqui, o tratado ingressa no ordenamento jurídico, na pirâmide do</p><p>escalonamento normativo, acima da legislação infraconstitucional, porém,</p><p>abaixo da Constituição Federal.</p><p>Decreto nº 10.932, de 10.1.2022: Promulga a</p><p>Convenção Interamericana contra o Racismo, a</p><p>Discriminação Racial e Formas Correlatas de</p><p>Intolerância, firmado pela República Federativa do</p><p>Brasil, na Guatemala, em 5 de junho de 2013;</p><p>Convenção Internacional sobre os Direitos das</p><p>Pessoas com Deficiência e seu respectivo Protocolo</p><p>Facultativo − Convenção de Nova Iorque</p><p>Tratado de Marraqueche: Facilita o acesso a obras</p><p>publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou</p><p>com outras dificuldades para aceder ao texto</p><p>impresso.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 61</p><p>pela conquista do respeito às liberdades individuais, marcado por um absenteísmo</p><p>estatal, ou seja, um não fazer do Estado, uma liberdade negativa, referente a uma</p><p>não ingerência indevida do Estado no domínio privado.</p><p>2ª Dimensão: Marco: A Revolução industrial acarretou péssimas situações de</p><p>trabalho, o que fez eclodir movimentos como o Cartista, na Inglaterra, e a Comuna</p><p>de Paris, na Franca, que reivindicavam melhorarias trabalhistas. Ideia: Com o</p><p>fracasso do Estado Liberal, surge um Estado Social, com consagração de Direitos</p><p>Sociais, Econômicos e Culturais. Conquistou-se, aqui, liberdades positivas, direitos</p><p>prestacionais, exigindo um fazer do Estado, a fim de que esse levasse determinados</p><p>bens jurídicos a quem não tivesse acesso.</p><p>3ª Dimensão: Com base nos Princípios da Solidariedade e da Fraternidade, que</p><p>devem permear todas as formações sociais, deve-se promover uma tutela efetiva</p><p>interesses e bens de titularidade difusa e coletiva. São direitos meta ou</p><p>transindividuais, que pertencem a uma coletividade de pessoal, em que se pode citar</p><p>como exemplo o meio ambienta devidamente sadio.</p><p>4ª Dimensão: Norberto Bobbio defende que os Direitos Fundamentais de 4ª</p><p>dimensão seriam aqueles decorrentes dos avanços da engenharia genética; lado</p><p>outro Paulo Bonavides sustenta uma ideia de globalização de Direitos</p><p>Fundamentais, entende que esses direitos seriam decorrentes da democracia,</p><p>informação e pluralismo.</p><p>5ª Dimensão: Da mesma forma que na geração anterior, aqui, também, não existe</p><p>um consenso doutrinário. Paulo Bonavides sustenta que a 5ª Dimensão estaria</p><p>compreendida pelo Direito à Paz Universal, um direito supremo da humanidade.</p><p>Outra parte da doutrina defende, ainda, que a 5ª dimensão, abarcaria “o dever de</p><p>cuidado, amor e respeito para com todas as formas de vida, bem como direitos de</p><p>defesa contra as formas de dominação biofísica geradores de toda sorte de</p><p>preconceitos.” [Ingo Wolfgang Sarlet, op. cit., p. 313.]</p><p>11.6 TITULARIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>Dispõe o art. 5º da Constituição Federal que “todos são iguais perante a lei, sem</p><p>distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros</p><p>residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à</p><p>segurança e à propriedade”.</p><p>Por uma interpretação literal do texto, pode-se afirmar que os titulares dos Direitos</p><p>Fundamentais são apenas os brasileiros e estrangeiros residentes no país.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 62</p><p>Porém, a doutrina majoritária, bem como a jurisprudência do Supremo Tribunal</p><p>Federal, são adeptos à corrente ampliativa sobre o tema. E, assim, com base na</p><p>característica da Universalidade dos Direitos Fundamentais, os brasileiros, sejam</p><p>natos ou naturalizados; os estrangeiros, de passagem, de passeio; as pessoas</p><p>jurídicas, sejam elas de direito público ou privado, podem ser, sim, titulares de</p><p>Direitos Fundamentais.</p><p>Merece destaque o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal:</p><p>Porém, sempre tenham em mente que cada o exercício dos Direitos Fundamentais</p><p>deve ser feito de acordo com a compatibilidade da natureza jurídica, isso porque,</p><p>por exemplo, uma pessoa jurídica não é titular do direito fundamental à liberdade</p><p>de locomoção.</p><p>11.7 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>As principais características dos Direitos Fundamentais podem ser assim</p><p>sistematizadas:</p><p>• Limitabilidade ou Relatividade: Não existem direitos fundamentais</p><p>absolutos, todos eles, inclusive, o proto direito do nosso ordenamento</p><p>jurídico, o direito à vida pode ser relativizado em algumas situações.</p><p>• Concorrência: Direitos Fundamentais podem ser exercidos simultaneamente,</p><p>ou seja, o exercício de um direito fundamental não aniquila outro aplicável à</p><p>espécie.</p><p>• Inalienabilidade: Por serem desprovidos de conteúdo econômico</p><p>patrimonial, os Direitos Fundamentais não podem ser alienados ou</p><p>comercializados.</p><p>STF: A garantia de inviolabilidade dos direitos fundamentais, salvo as</p><p>exceções de ordem constitucional, se estende também aos estrangeiros</p><p>não residentes ou domiciliados no Brasil. O caráter universal dos direitos</p><p>do homem não se compatibiliza com estatutos que os ignorem. A</p><p>expressão residentes no Brasil deve ser interpretada no sentido de que a</p><p>Carta Federal só pode assegurar a validade e o gozo dos direitos</p><p>fundamentais dentro do território brasileiro. (HC 74.051, voto do Min.</p><p>Marco Aurélio, 2ª Turma, j. 18-6-1996).</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 63</p><p>• Irrenunciabilidade: Embora possa deixar de exercer, o titular de um Direito</p><p>Fundamental não pode dele dispor.</p><p>• Imprescritibilidade: O transcurso de</p><p>determinado lapso de tempo não</p><p>impede que o exercício do Direito Fundamental seja levado a efeito pelo seu</p><p>titular.</p><p>11.8 EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>Sobre a eficácia dos Direitos Fundamentais, merece destaque as seguintes teorias</p><p>elaboradas sobre o tema, a seguir:</p><p>• Teoria da Eficácia Vertical dos Direitos Fundamentais: Os Direitos</p><p>Fundamentais foram concebidos para serem aplicados nas relações entre</p><p>Estado e Particular.</p><p>• Teoria da Eficácia Horizontal ou Privada ou Externa dos Direitos</p><p>Fundamentais: Trata-se da possibilidade de aplicação dos Direitos</p><p>Fundamentais nas relações entre particulares.</p><p>• Eficácia Diagonal dos Direitos Fundamentais: Trata-se de aplicação dos</p><p>Direitos Fundamentais nas relações entre Particulares, com o destaque que</p><p>essa relação é marcada por uma grande desigualdade fática, como, por</p><p>exemplo, as relações de cunho trabalhista.</p><p>Sobre a Teoria da Eficácia Horizontal ou Privada ou Externa dos Direitos</p><p>Fundamentais existem teorias dela decorrentes, que defendem, cada um do seu</p><p>ponto, como os Direitos Fundamentais são aplicados nas relações privadas, a saber:</p><p>• Teoria da Ineficácia Horizontal: Com origem nos Estados Unidos, defende</p><p>que os Direitos Fundamentais são aplicáveis apenas nas relações entre Estado</p><p>e Particular. Porém, para contornar a rigidez da situação, foi criada a doutrina</p><p>do state action, que equipara certos atos privados a atos estatais, permitindo,</p><p>então, a aplicação dos Direitos Fundamentais nas relações privadas.</p><p>• Teoria da Eficácia Horizontal Direta; Os Direitos Fundamentais são aplicáveis</p><p>diretamente nas relações privadas, independentemente de intermediação</p><p>legislativa, porém, tal aplicação não deve se dar na mesma intensidade das</p><p>relações particular e Estado, a fim de não aniquilar a autonomia privada.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 64</p><p>• Teoria da Eficácia Horizontal Indireta: Com origem na Alemanha, defende</p><p>que os Direitos Fundamentais não permeiam no cenário privado de maneira</p><p>direta, sendo necessário intermediação legislativa para que seja viabilizada a</p><p>sua aplicação.</p><p>• Teoria Integradora: Robert Alexy defende que primordialmente, para</p><p>aplicação dos Direitos Fundamentais nas relações privadas, o ideal é que se</p><p>tenha uma intermediação legislativa. Mas, na ausência de lei disciplinando tal</p><p>situação, a aplicação dos Direitos Fundamentais pode se dar de maneira</p><p>direta, sem necessidade de intermediação legislativa.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 65</p><p>12 DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>12.1 DIREITO À VIDA</p><p>O Direito à Vida é tutelado pelo art. 5º, caput, da Constituição Federal, nos seguintes</p><p>termos: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,</p><p>garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade</p><p>do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos</p><p>seguintes: [...].”</p><p>A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, assinada na Conferência</p><p>Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José, Costa Rica, em</p><p>22 de novembro de 1969, dispõe expressamente sobre o Direito à Vida em seu art.</p><p>4º, merecendo destaque o seguinte:</p><p>4.1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve</p><p>ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém</p><p>pode ser privado da vida arbitrariamente.</p><p>4.2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá</p><p>ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de</p><p>tribunal competente e em conformidade com lei que estabeleça tal pena,</p><p>promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá</p><p>sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente.</p><p>4.3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam</p><p>abolido.</p><p>4.4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos,</p><p>nem por delitos comuns conexos com delitos políticos.</p><p>4.5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da</p><p>perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem</p><p>aplicá-la a mulher em estado de gravidez.</p><p>4.6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou</p><p>comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não</p><p>se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de</p><p>decisão ante a autoridade competente.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 66</p><p>No momento que o inc. LXVII, do art. 5º da Constituição, veda, como regra geral, a</p><p>adoção de penas de morte em nosso ordenamento jurídico, tem-se, mais uma vez,</p><p>uma demonstração de tutela do direito à vida:</p><p>Ressalte-se que, como regra geral, tem-se a impossibilidade de adoção de pena de</p><p>morte, em virtude da tutela da preservação do Direito à Vida; porém,</p><p>excepcionalmente, é possível a sua utilização, em casos de guerra declarada, nos</p><p>termos do art. 84, XIX, da Constituição Federal [guerra declarada pelo Presidente da</p><p>República, com autorização do Congresso Nacional ou, eventualmente, ratificação],</p><p>o que demonstra uma relativização constitucional desse direito.</p><p>Frise-se que a possibilidade de adoção de pena de morte, em nosso ordenamento</p><p>jurídico, apenas é possível excepcionalmente e por se tratar de um direito</p><p>fundamental individual, previsto no art. 5º, XLVII, da Constituição Federal, não é</p><p>possível sua supressão, via Emenda Constitucional, por se tratar de um direito</p><p>petrificado no Texto Constitucional, ante a limitação material imposta ao Poder</p><p>Constituinte Derivado Reformador pelo art. 60, §4º, da Constituição Federal.</p><p>Saliente-se que o Direito à Vida também foi relativizado pelo legislador</p><p>infraconstitucional, especificamente, quando foi permitido o abortamento nos casos</p><p>legalmente permitidos, em gravidez decorrente de estupro ou caso não exista outra</p><p>forma de salvar a vida da gestante.</p><p>Por fim, necessário se faz destacar que o Supremo Tribunal Federal, quando do</p><p>julgamento da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamenta n. 54, permitiu,</p><p>da mesma forma, a relativização do direito à vida, ao permitir o abortamento de</p><p>Art. 5º, XLVII. não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra</p><p>declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de</p><p>trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;</p><p>Art. 60, §4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda</p><p>tendente a abolir: [...] IV. os direitos e garantias individuais.</p><p>Código Penal: Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:</p><p>Aborto necessário: I. se não há outro meio de salvar a vida da</p><p>gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: II. se a</p><p>gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento</p><p>da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 67</p><p>fetos anencefálicos, merecendo destaque a transcrição abaixo com o seguinte</p><p>julgado em frase:</p><p>Por fim, ressalte-se a prolação de importante julgado, proferido pela 1ª Turma do</p><p>Supremo Tribunal Federal, com eficácia inter partes, em sede de julgamento de</p><p>Habeas Corpus, oportunidade em que a Corte entendeu que a interrupção da</p><p>gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada pela própria gestante (art.</p><p>124) ou com o seu consentimento (art. 126) não é crime.</p><p>Deve-se ter atenção a forma como esse julgado pode ser cobrando em prova, haja</p><p>vista que não se trata de uma decisão com eficácia erga omnes, muito menos</p><p>oriunda do Plenário da Suprema Corte. Porém, seu conhecimento é importante,</p><p>oportunidade em que foi firmada a seguinte ideia:</p><p>12.2 DIREITOS RELACIONADOS ÀS LIBERDADES</p><p>A liberdade, em sentido amplo, é tutelada pelo art. 5º, caput, da Constituição</p><p>Federal, nos seguintes termos: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de</p><p>qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no</p><p>País a inviolabilidade do</p><p>direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à</p><p>propriedade, nos termos seguintes:”.</p><p>E, ao longo do texto constitucional, várias espécies de liberdades receberam a devida</p><p>atenção e tutela do Legislador.</p><p>LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO</p><p>Julgado em Frase: Não é crime o abortamento de feto anecéfalo, não</p><p>se configurando tal conduta um injusto penal. (ADPF 54, Relator(a):</p><p>Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 12/04/2012,</p><p>ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 29-04-2013 PUBLIC 30-04-</p><p>2013 RTJ VOL-00226-01 PP-00011)</p><p>Julgado em Frase: A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da</p><p>gestação provocada pela própria gestante (art. 124) ou com o seu</p><p>consentimento (art. 126) não é crime. (HC 124306, Relator(a): Min.</p><p>MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO,</p><p>Primeira Turma, julgado em 29/11/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-</p><p>052 DIVULG 16-03-2017 PUBLIC 17-03-2017)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 68</p><p>A liberdade de locomoção é um direito fundamental previsto no art. 5º, incs. XV e</p><p>LXI, da Constituição Federal, com as seguintes redações:</p><p>Caso esse direito fundamental seja ameaçado ou seja efetivamente violado, para</p><p>evitar tal lesão ou reparar a lesão perpetrada, surge a possibilidade de utilização da</p><p>garantia fundamental do Habeas Corpus, prevista no art. 5º, LVIII, da Constituição</p><p>Federal, com a seguinte redação:</p><p>Essa garantia constitucional, também conhecida como remédio constitucional,</p><p>surgiu em 1.215, na Carta Magna Libertatum. O rei João-Sem-terra, em troca de sua</p><p>permanência no poder, reconheceu determinados direitos à burguesia, dentre os</p><p>quais foi previsto e garantido o direito de locomoção e como garantia de exercício a</p><p>esse direito, previu-se no documento o habeas corpus.</p><p>Em nosso ordenamento jurídico, a teoria brasileira do Habeas Corpus foi prevista</p><p>pela primeira vez no Código Penal de 1832.</p><p>Como visto, essa garantia pode ser usada tanto de maneira preventiva, oportunidade</p><p>em que o Poder Judiciário emitirá um Salvo-Conduto ao Impetrante, ou de maneira</p><p>repressiva, oportunidade em que será concedida uma Ordem de Habeas Corpus,</p><p>instrumentalizada com a expedição do pertinente Alvará de Soltura.</p><p>Essa garantia fundamental, gratuita, diga-se de passagem, não prevê maiores</p><p>formalidades na sua impetração, podendo ser manejado por qualquer pessoa,</p><p>nacional ou estrangeira, natural ou jurídica, inclusive menores de idade,</p><p>independente de representação ou assistência ou de capacidade postulatória ou de</p><p>obediência a pressupostos processuais ou condições da ação.</p><p>Art. 5º, XV: É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,</p><p>podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer</p><p>ou dele sair com seus bens.</p><p>Art. 5º, LXI, CF: Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por</p><p>ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente,</p><p>salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,</p><p>definidos em lei.</p><p>Art. 5º, LXVIII: Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer</p><p>ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade</p><p>de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 69</p><p>Mas, atenção, haja vista que apesar de a pessoa jurídica ser legitimada a impetrar o</p><p>Habeas Corpus, ela apenas o poderá fazer na qualidade de Impetrante, visando</p><p>beneficiar terceira pessoa, jamais na condição de Paciente, tendo em vista uma</p><p>incompatibilidade lógica na sua utilização, vez que, por se tratar de uma ficção</p><p>jurídica, jamais terá comprometido eventual tutela de sua liberdade de locomoção.</p><p>Foque no fato de que o Habeas Corpus apenas pode ser manejado quando a</p><p>liberdade de locomoção estiver ameaçada ou tiver sido violada, não sendo possível,</p><p>portanto, seu manejo, em face de decisões condenatórias cuja pena de multa seja a</p><p>única cominada; decisões que decretam perda de função pública; com o objetivo de</p><p>trancar procedimentos referentes à crimes de responsabilidade ou; quando já</p><p>extinta a pena privativa de liberdade.</p><p>Habeas Corpus Coletivo: Saliente-se a permissibilidade, chancelada pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal, atinente a possibilidade de impetração de Habeas Corpus Coletivo,</p><p>com o escopo de conferir a maior amplitude possível para a tutela do direito de</p><p>liberdade de locomoção, propiciando, também, a máxima eficácia ao mandamento</p><p>constitucional da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, LXXVIII, da</p><p>Constituição Federal, bem como ao princípio universal da efetividade da prestação</p><p>jurisdicional.</p><p>Ressalte-se que, apesar de não existir uma previsão expressa no ordenamento</p><p>jurídico para a impetração coletiva do remédio constitucional, de acordo com o</p><p>Supremo Tribunal Federal, existem dois dispositivos legais, previstos no Código de</p><p>Processo Penal, que, indiretamente, por via obliqua, permitem sua impetração:</p><p>A norma prevista no art. 654, §2º, do Digesto Processual permite a expedição de</p><p>ofício de ordem de habeas corpus quando constatado violação a liberdade</p><p>locomoção, ao passo em que a norma prevista no art. 580 confere a possibilidade de</p><p>extensão da ordem para todos que se encontram na mesma situação.</p><p>Art. 580. CPP: No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25),</p><p>a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em</p><p>motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal,</p><p>aproveitará aos outros.</p><p>Art. 654, §2º, CPP: Os juízes e os tribunais têm competência para</p><p>expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de</p><p>processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer</p><p>coação ilegal.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 70</p><p>E, por fim, saliente-se que, diante da inexistência de regramento legal sobre a</p><p>debatida impetração coletiva, o Supremo Tribunal Federal entendeu que, utilizando-</p><p>se a técnica da analogia, no que diz respeito aos legitimados, deve-se aplicar o art.</p><p>12 da Lei 13.300/2016, que traz os legitimados para a propositura do Mandado de</p><p>Injunção Coletivo, a saber:</p><p>• Ministério Público;</p><p>• Defensoria Pública;</p><p>• Partido Político com representação no Congresso Nacional;</p><p>• Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente</p><p>constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano.</p><p>Segue abaixo a ementa do julgado com o seguinte julgado em frase:</p><p>LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO</p><p>A liberdade de manifestação de pensamento é apresentada por uma cláusula geral,</p><p>prevista no art. 5º, IV, da Constituição Federal, que apresenta a seguinte redação: “É</p><p>livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.”.</p><p>Veja que a regra é a liberdade de manifestação de pensamento, porém, como todos</p><p>os direitos fundamentais devem ser exercícios com base em marcos civilizatórios</p><p>mínimos, eventual abuso cometido no exercício de um direito fundamental estará</p><p>sujeito a responsabilização nas esferas cível e/ou criminal, motivo pelo qual a norma</p><p>constitucional, no exercício desse direito, vetou o anonimato.</p><p>Temática debatida dentro da liberdade de manifestação de pensamento diz respeito</p><p>ao discurso de ódio, hate speech, que constitui manifestações de ódio, desprezo ou</p><p>intolerância proferidas em face de determinados grupos de indivíduos, geralmente,</p><p>marcados por uma vulnerabilidade étnica, racial, religiosa, sexual, dentre outras. E o</p><p>Julgado em Frase: É possível a impetração de Habeas Corpus Coletivo,</p><p>mesmo sem previsão legal para tanto, figurando como legitimados os</p><p>mesmos para a impetração do Mandado de Injunção Coletivo. (HC</p><p>143641, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,</p><p>julgado em 20/02/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-215 DIVULG</p><p>08-10-2018 PUBLIC 09-10-2018)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 71</p><p>questionamento que é feito é se essa forma de manifestação estaria tutelada pela</p><p>liberdade de manifestação de pensamento.</p><p>E a resposta só pode ser negativa, tendo o Supremo</p><p>Tribunal Federal já consignado,</p><p>por mais de uma vez, que essas espécies de manifestações não guardam guarida no</p><p>Texto Constitucional.</p><p>Interessante pontuar alguns julgados proferidos pelo Supremo Tribunal Federal que</p><p>estão diretamente relacionados com a liberdade de manifestação de pensamento,</p><p>que trazem as seguintes ideias:</p><p>Julgado em Frase: Liberdade de expressão não tutela opiniões criminosas,</p><p>discurso de ódio ou qualquer atentado contra o Estado Democrático de</p><p>Direito. STF. Plenário. AP 1044/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado</p><p>em 20/4/2022 (Info 1051).</p><p>Julgado em Frase: Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado</p><p>em plataforma de “streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada</p><p>parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em</p><p>uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira. Rcl 38782/RJ, rel.</p><p>Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3.11.2020. (Rcl-38782)</p><p>Julgado em Frase: Lei Estadual que proíbe, no âmbito da programação das</p><p>emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, religioso é</p><p>inconstitucional por violar a liberdade de expressão e religiosa. (ADI 2566,</p><p>Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: Min.</p><p>EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 16/05/2018, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO DJe-225 DIVULG 22-10-2018 PUBLIC 23-10-2018)</p><p>Julgado em Frase: A prática do proselitismo, ainda que feita por meio de</p><p>comparações entre as religiões (dizendo que uma é melhor que a outra) não</p><p>configura, por si só, crime de racismo. (RHC 134682, Relator(a): Min. EDSON</p><p>FACHIN, Primeira Turma, julgado em 29/11/2016, PROCESSO ELETRÔNICO</p><p>DJe-191 DIVULG 28-08-2017 PUBLIC 29-08-2017)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 72</p><p>Julgado em Frase: Não é necessária autorização do biografado, de eventuais</p><p>coadjuvantes ou de seus familiares a fim de que seja publicada uma obra</p><p>biográfica. (ADI 4815, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno,</p><p>julgado em 10/06/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-</p><p>2016 PUBLIC 01-02-2016)</p><p>Julgado em Frase: Denúncia anônima, por si só, não permite a instauração,</p><p>pela Autoridade Policial, de Inquérito Policial, sendo necessária a realização</p><p>de diligências preliminares para certificar (HC 106152, Relator(a): Min. ROSA</p><p>WEBER, Primeira Turma, julgado em 29/03/2016, PROCESSO ELETRÔNICO</p><p>DJe-106 DIVULG 23-05-2016 PUBLIC 24-05-2016)</p><p>Julgado em Frase: Discurso de ódio religioso não é tutelado pela cláusula da</p><p>liberdade de expressão. (RHC 146303, Relator(a): Min. EDSON FACHIN,</p><p>Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em</p><p>06/03/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-159 DIVULG 06-08-2018 PUBLIC</p><p>07-08-2018)</p><p>Julgado em Frase: O injusto penal de desacato é tanto constitucional quanto</p><p>convencional, não sendo tutelado pela liberdade de expressão. (HC 141949,</p><p>Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 13/03/2018,</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO DJe-077 DIVULG 20-04-2018 PUBLIC 23-04-2018)</p><p>Julgado em Frase: Manifestação favorável a liberação da maconha é tutelada</p><p>pela liberdade de expressão, mas, nesses eventos, não pode ocorrer a</p><p>participação de crianças e adolescentes, bem ser realizado o consumo de</p><p>substância psicotrópica. (ADPF 187, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal</p><p>Pleno, julgado em 15/06/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-102 DIVULG</p><p>28-05-2014 PUBLIC 29-05-2014 RTJ VOL-00228-01 PP-00041)</p><p>Julgado em Frase: Edital de concurso público não pode prever a eliminação</p><p>de candidato com tatuagem, salvo se a tatuagem ofender valores</p><p>fundamentais da República Federativa do Brasil. (RE 898450, Relator(a):</p><p>Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 17/08/2016, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-114 DIVULG 30-05-2017</p><p>PUBLIC 31-05-2017)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 73</p><p>Sobre os dois últimos julgados [Marcha da Maconha e Tatuagem e Concurso</p><p>Público], apontamentos devem ser feitos.</p><p>Conforme se verifica do penúltimo aresto colacionado, o Supremo Tribunal Federal</p><p>liberou os eventos intitulados Marcha da Maconha, porém, duas consignações</p><p>importantes devem ser feitas, a saber: 1ª) Nesses eventos não é permitida a</p><p>participação de crianças e adolescentes e; 2º) Nesses eventos não é possível o uso</p><p>de qualquer substância entorpecentes, haja vista que tal conduta ainda permanece</p><p>tipificada em nosso ordenamento jurídico.</p><p>Por fim, sobre o último julgado, apesar de consignado na ementa, necessário</p><p>salientar que caso a tatuagem viole valores constitucionalmente assegurados será</p><p>possível eventual restrição do candidato no certame público.</p><p>Um exemplo seria um candidato que tivesse tatuado a foto do terrorista Osama Bin</p><p>Laden, em total afronta a um dos princípios que regem a República Federativa do</p><p>Brasil nas suas relações internacionais, qual seja: repúdio ao terrorismo [art 4º, VIII,</p><p>Constituição Federal].</p><p>LIBERDADE RELIGIOSA</p><p>Esse Direito Fundamental decorre da conjugação de dois dispositivos</p><p>constitucionais, art. 5º, VI e VII, da Constituição, que possuem, respectivamente, a</p><p>seguinte redação: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo</p><p>assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a</p><p>proteção aos locais de culto e a suas liturgias” e “É assegurada, nos termos da lei, a</p><p>prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação</p><p>coletiva”.</p><p>Esse direito fundamental goza de uma ampla tutela em nosso ordenamento jurídico,</p><p>abrangendo a liberdade de escolha da religião, de aderir a qualquer seita religiosa,</p><p>de mudar de religião, de não aderir a religião alguma [direito de apostasia], de ser</p><p>ateu, dentre outras formas de manifestações religiosas.</p><p>Nesse ponto, merece ser salientado o enunciado 403 do Conselho da Justiça Federal,</p><p>que aborda a temática da liberdade religiosa e possui a seguinte redação:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 74</p><p>E, aliado à 1ª parte do art. 19, I, da Constituição Federal, que assim dispõe “É vedado</p><p>à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: estabelecer cultos</p><p>religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter</p><p>com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança”, permite-se</p><p>afirmar que: A República Federativa do Brasil é um Estado: -leigo, -laico, -não</p><p>confessional, não adotando, portanto, nenhum vínculo oficial com nenhuma forma</p><p>religiosa.</p><p>Feitos esses apontamentos e compreendido o alcance do instituto, necessário</p><p>colacionar o Preâmbulo da Constituição Federal e questionar e a invocação à</p><p>proteção de Deus viola a laicidade do nosso Estado:</p><p>E a resposta para o questionamento é negativa. Porém, para sua fundamentação, é</p><p>necessário compreendermos a natureza jurídica do Preâmbulo da Constituição</p><p>Federal, destacando as principais teorias que debatem sobre o tema, a saber:</p><p>A Teoria da Irrelevância Jurídica defende que o Preâmbulo não está no domínio do</p><p>Direito, não possuindo força normativa-jurídica, encontrando-se no domínio da</p><p>política, sendo uma consagração dos valores que permeavam o pensamento do</p><p>Poder Constituinte Originário no momento da promulgação da Constituição Federal,</p><p>podendo, no máximo, ser considerado como um vetor interpretativo das normas.</p><p>Enunciado 403, CJF: O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença,</p><p>previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa</p><p>que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou</p><p>sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que</p><p>observados os seguintes critérios: A) capacidade civil plena, excluído o</p><p>suprimento pelo representante ou assistente; B) manifestação de vontade</p><p>livre, consciente e informada; e C) oposição que diga respeito exclusivamente</p><p>à própria pessoa do declarante.</p><p>Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia</p><p>Nacional Constituinte para instituir</p><p>| 3</p><p>13.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 103</p><p>13.2 TEORIAS ..................................................................................................................... 104</p><p>13.3 TEORIA DA RESERVA DO POSSÍVEL ........................................................................... 104</p><p>13.4 TEORIA DO MÍNIMO EXISTENCIAL............................................................................. 105</p><p>13.5 PROIBIÇÃO DO RETROCESSO .................................................................................... 105</p><p>14 DIREITOS DA NACIONALIDADE ...................................................................................... 106</p><p>14.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 106</p><p>14.2 ESPÉCIES E CRITÉRIOS DA NACIONALIDADE .............................................................. 106</p><p>14.3 BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS .................................................................. 107</p><p>14.4 QUASE NACIONAIS .................................................................................................... 110</p><p>14.5 DISTINÇÃO ENTRE BRAZILEIROS NATOS E NATURALIZADOS E ESTRANGEIROS ........ 110</p><p>14.6 PERDA NA NACIONALIDADE ...................................................................................... 111</p><p>15 DIREITOS POLÍTICOS E PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................ 114</p><p>15.1 DIREITO AO SUFRÁGIO .............................................................................................. 114</p><p>15.2 ELEGIBILIDADE ........................................................................................................... 114</p><p>15.3 VOTO ......................................................................................................................... 120</p><p>15.4 PERDA OU SUSPENSÃO DOS DIREITS POLÍTICOS ...................................................... 122</p><p>15.5 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO ...................................................... 123</p><p>15.6 PRINCÍPIO DA ANUALIDADE ...................................................................................... 124</p><p>15.7 PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................................................. 125</p><p>16 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA ................................................................. 127</p><p>16.1 FEDERALISMO ............................................................................................................ 127</p><p>16.2 SOBERANIA E AUTONOMIA ....................................................................................... 129</p><p>16.3 UNIÃO ........................................................................................................................ 131</p><p>16.4 ESTADOS-MEMBROS ................................................................................................. 132</p><p>16.5 MUNICÍPIOS ............................................................................................................... 134</p><p>16.6 DISTRITO FEDERAL ..................................................................................................... 137</p><p>16.7 TERRITÓRIOS FEDERAIS ............................................................................................. 137</p><p>16.8 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS .............................................................................. 137</p><p>16.9 JULGADOS IMPORTANTES SOBRE O TEMA ............................................................... 139</p><p>17 PODER LEGISLATIVO ...................................................................................................... 143</p><p>17.1 ESTRUTURA ............................................................................................................... 143</p><p>17.2 ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL ................................................................ 143</p><p>17.3 ATRIBUIÇÕES DA CÂMARA DOS DEPUTADOS ........................................................... 144</p><p>17.4 ATRIBUIÇÕES DO SENADO FEDERAL ......................................................................... 145</p><p>17.5 PODER DE CONVOCAÇÃO .......................................................................................... 145</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 4</p><p>17.6 ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS .............................................................................. 146</p><p>17.7 PERDA DO MANDATO PARLAMENTAR ...................................................................... 150</p><p>17.8 REUNIÕES .................................................................................................................. 152</p><p>17.9 COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO ......................................................... 155</p><p>18 PODER EXECUTIVO ........................................................................................................ 159</p><p>18.1 ESTRUTURA ............................................................................................................... 159</p><p>18.2 AUSÊNCIA DO CHEFE DO EXECUTIVO........................................................................ 160</p><p>18.3 LICENÇA PARA VIAGEM AO EXTERIOR ...................................................................... 161</p><p>18.4 ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA .......................................................... 161</p><p>18.5 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ............................................... 164</p><p>19 PODER JUDICIÁRIO ........................................................................................................ 170</p><p>19.1 ESTATUTO DA MAGISTRATURA ................................................................................. 170</p><p>19.2 GARATIAS DO PODER JUDICIÁRIO: INSTITUCIONAIS E FUNCIONAIS ........................ 174</p><p>19.3 QUINTO CONSTITUCIONAL........................................................................................ 178</p><p>19.4 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL .................................................................................. 179</p><p>19.5 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA .............................................................................. 183</p><p>20 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ........................................................................ 186</p><p>20.1 REQUISITOS PARA INSTITUIÇÃODO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE EM UM</p><p>ORDENAMENTO JURÍDICO .................................................................................................... 186</p><p>20.2 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS APLICADOS AO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE .. 186</p><p>20.3 NORMAS PRAMÉTRICAS ............................................................................................ 187</p><p>20.4 BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE .......................................................................... 191</p><p>20.5 OBJETO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ................................................. 191</p><p>20.6 ESPÉCIES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ............................................... 193</p><p>20.7 CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUIONALIDADE ................................................. 194</p><p>20.8 CONTROLE JURÍDICO DE CONSTITUCIONALIDADE .................................................... 195</p><p>20.9 ABSTRATIVAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO .................................................................. 197</p><p>20.10 TERIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES ............................ 197</p><p>20.11 CLAÚSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO .................................................................. 198</p><p>20.12 TIPO DE INCONSTITUCIONLIDADE ......................................................................... 199</p><p>20.13 AÇÕES EM ESPÉCIE ................................................................................................ 201</p><p>Atualizada em Abril/2023</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 5</p><p>1 ESTADO: ELEMENTOS, FORMA DE ESTADO,</p><p>FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO</p><p>1.1 ESTADO: CONCEITO</p><p>um Estado Democrático, destinado</p><p>a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a</p><p>segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça</p><p>como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem</p><p>preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem</p><p>interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,</p><p>promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da</p><p>República Federativa do Brasil.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 75</p><p>Já a Teoria da Plena Eficácia Jurídica defende que o Preâmbulo possui a mesma</p><p>eficácia jurídica, a mesma densidade normativa que as demais normas que compõe</p><p>a parte dogmática da Constituição Federal [arts. 1º a 250], bem como a parte</p><p>Transitória do Texto Magno [arts. 1º a 144].</p><p>Por fim, a Teoria da Relevância Jurídica Indireta defende que o Preâmbulo faz parte</p><p>das características jurídicas da Constituição Federal, entretanto, não deve ser</p><p>confundido com as demais normas jurídicas desta.</p><p>Destaque-se que, para contornar essa aparente antinomia entre normas</p><p>constitucionais, adotou-se, tanto na doutrina majoritária, quando pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal a Teoria da Irrelevância Jurídica do Preâmbulo da Constituição,</p><p>motivo pelo qual a laicidade do nosso Estado não resta comprometida pela</p><p>invocação que é feita à proteção de Deus na parte preambular do texto</p><p>constitucional.</p><p>Veja a manifestação da Corte Suprema sobre a temática, com o julgado em frase:</p><p>Por fim, diretamente relacionados com a temática da liberdade religiosa, merece</p><p>destaque os seguintes julgados, com as respectivas sínteses prévias:</p><p>Julgado em Frase: O Preâmbulo A) serve para certificar a legitimidade e a</p><p>origem do novo texto; B) trata de proclamação de princípios, de</p><p>consagração do pensamento que permeava o Poder Constituinte Originário</p><p>no momento da promulgação do texto constitucional; C) não integra o</p><p>bloco de constitucionalidade; D) não tem força normativa, não criando</p><p>direitos, nem estabelecendo deveres. STF. Plenário. ADI 2076, Rel. Min.</p><p>Carlos Velloso, julgado em 15/08/2002.</p><p>Julgado em Frase: É inconstitucional lei estatual que determina que escolas</p><p>públicas e bibliotecas públicas mantenham um exemplar da Bíblia Sagrada.</p><p>(ADI 5256, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em</p><p>25/10/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-217 DIVULG 04-11-2021 PUBLIC</p><p>05-11-2021)</p><p>Julgado em Frase: É constitucional lei estatual que permite o sacrifício de</p><p>animais em cultos de religiões de matriz africana. (RE 494601, Relator(a):</p><p>MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,</p><p>julgado em 28/03/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-251 DIVULG 18-11-</p><p>2019 PUBLIC 19-11-2019)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 76</p><p>LIBERDADE RELIGIOSA, FILOSÓFICA E POLÍTICA</p><p>Como regra, a Constituição prevê que nenhuma pessoa sofrerá privação de seus</p><p>direitos em virtude de sua crença religiosa, filosófica ou política. Porém, caso essa</p><p>pessoa invoque sua(s) crença(s) para se eximir de obrigação legal a todos imposta e</p><p>recusar a cumprir prestação alternativa fixada em lei, poderá vir a sofrer sanções</p><p>políticas, com a suspensão de seus direitos políticos.</p><p>Para compreensão desse cenário, deve ser feita a leitura conjunta do art. 5º, VIII, e</p><p>art. 15, IV, ambos da Constituição Federal:</p><p>Saliente-se que, apesar do art. 15 da Constituição Federal, em seu rol, não especificar</p><p>quais hipóteses dizem respeito a casos de perda e quais dizem respeito a casos de</p><p>suspensão dos direitos políticos, apesar de termos conhecimento de posição</p><p>doutrinária em sentido contrário, entendemos ser mais prudente levar para a prova</p><p>que a recusa de cumprimento de obrigação legal a todos imposta e prestação</p><p>alternativa é uma hipótese de suspensão dos direitos políticos, tendo em vista a</p><p>dicção do art. 438 do Código de Processo Penal:</p><p>Julgado em Frase: É permitido a alteração de data e horário de</p><p>concurso público para candidato que invoque escusa de consciência</p><p>religiosa, desde que presente a razoabilidade da alteração, a</p><p>preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não</p><p>acarrete ônus desproporcional à Administração pública, que deverá</p><p>decidir de maneira fundamentada. (RE 611874, Relator(a): DIAS</p><p>TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,</p><p>julgado em 26/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO</p><p>GERAL - MÉRITO DJe-068 DIVULG 09-04-2021 PUBLIC 12-04-2021)</p><p>Art. 5º, VIII, CF: Ninguém será privado de direitos por motivo de crença</p><p>religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para</p><p>eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir</p><p>prestação alternativa, fixada em lei;</p><p>Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou</p><p>suspensão só se dará nos casos de: [...] IV. recusa de cumprir obrigação</p><p>a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 77</p><p>LIBERDADE INTELECTUAL, ARTÍSTICA OU CIENTIFICA OU DE COMUNICAÇÃO</p><p>A Constituição Federal veda, de maneira expressa, qualquer forma de censura,</p><p>impedimento ao exercício da liberdade constitucional objeto de estudo, ou de</p><p>licença, necessidade de autorização prévia para seu exercício, conforme prevê seu o</p><p>art. 5º, IX:</p><p>E sobre esse direito constitucional, necessário se faz destacar os seguintes julgados</p><p>a ele relacionados, com os respectivos julgados em frase:</p><p>Art. 438, CPP: A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa,</p><p>filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob</p><p>pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço</p><p>imposto.</p><p>Art. 5º, IX, CF: É livre a expressão da atividade intelectual, artística,</p><p>científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.</p><p>Julgado em Frase: Retirar produto audiovisual de circulação configura</p><p>censura, o que não é admissível em uma sociedade democrática e pluralista</p><p>como a brasileira. (Rcl 38782, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma,</p><p>julgado em 03/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-034 DIVULG 23-02-</p><p>2021 PUBLIC 24-02-2021)</p><p>Julgado em Frase: Retirar matéria jornalística de sítio eletrônico afronta a</p><p>liberdade de expressão e de informação, além de constituir censura prévia.</p><p>(Rcl 22328, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em</p><p>06/03/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 09-05-2018 PUBLIC</p><p>10-05-2018)</p><p>Julgado em Frase: Não é necessário autorização da pessoa biografada, de</p><p>eventuais coadjuvantes ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas</p><p>ou ausentes, para publicação de biografia. (ADI 4815, Relator(a): Min.</p><p>CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 10/06/2015, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-2016)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 78</p><p>LIBERDADE PROFISSIONAL</p><p>O art. 5º, XIII, da Constituição Federal garante o direito à liberdade profissional, nos</p><p>seguintes termos: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,</p><p>atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.”.</p><p>É um direito que se encontra revestido em uma norma constitucional de eficácia</p><p>contida, também conhecida como de eficácia prospectiva ou restringível, que, desde</p><p>a entrada em vigor do Texto Constitucional, tem a possibilidade de produzir todos</p><p>os seus efeitos, porém, pode vir a ter os seus efeitos restringidos, contidos, por</p><p>regulamentação legal posterior.</p><p>Saliente-se que não são todas as atividades profissionais que podem ser restringidas</p><p>pelo legislador infraconstitucional, mas, tão somente, aquelas que apresentem um</p><p>potencial lesivo; motivo pelo qual a profissão de Delegado de Polícia, Promotor de</p><p>Justiça, Magistrado, cujos profissionais lidam diariamente com restrições a direitos</p><p>fundamentais, foram regulamentadas; e as profissões de fotógrafo e músicos não</p><p>foram regulamentadas, merecendo destaque</p><p>o seguinte julgado com sua ideia</p><p>basilar:</p><p>LIBERDADE DE REUNIÃO</p><p>A liberdade de reunião em local público, para fins pacíficos, é direito fundamental</p><p>previsto no art. 5º, XVI, da Constituição Federal, que independe de autorização</p><p>estatal para seu exercício:</p><p>Julgado em Frase: A exigência de que o leiloeiro preste caução para o</p><p>exercício da profissão é compatível com a Constituição Federal, tendo</p><p>em vista a norma prevista em seu art. 5º, XIII. (RE 1263641, Relator(a):</p><p>MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES,</p><p>Tribunal Pleno, julgado em 13/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO</p><p>REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-259 DIVULG 27-10-2020 PUBLIC</p><p>28-10-2020)</p><p>Art. 5º, XVI, CF: todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,</p><p>em locais abertos ao público, independentemente de autorização,</p><p>desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para</p><p>o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade</p><p>competente.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 79</p><p>José Afonso da Silva entende que o direito à liberdade de reunião é uma verdadeira</p><p>“liberdade-condição”, porque, sendo um direito em si, constitui também condição</p><p>para o exercício de outras liberdades: de manifestação do pensamento, de expressão</p><p>de convicção filosófica, religiosa, científica e política e de locomoção. Exige,</p><p>portanto, para seu exercício, os seguintes requisitos:</p><p>Recentemente, o Supremo Tribunal Federal enfrentou o alcance da expressão</p><p>“prévio aviso” e, conforme julgado abaixo, entendeu ele é aperfeiçoado com</p><p>qualquer forma de veiculação da informação de que o direito de reunião será</p><p>exercido:</p><p>12.3 DIREITO À IGUALDADE</p><p>O direito à igualdade é previsto na Constituição Federal, no art. 5º, caput, bem como</p><p>no seu inc. I, com a seguinte redação:</p><p>Reunião pacífica:</p><p>Julgado em Frase: A exigência constitucional de aviso prévio</p><p>relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de</p><p>informação que permita ao poder público zelar para que seu</p><p>exercício se dê de forma pacífica ou para que não frustre outra</p><p>reunião no mesmo local. (RE 806339, Relator(a): MARCO AURÉLIO,</p><p>Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em</p><p>15/12/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 80</p><p>E, hoje, é um direito composto por 3 [três] dimensões, conforme veremos.</p><p>A igualdade formal ou processual foi uma conquista do Liberalismo Clássico e</p><p>promoveu um tratamento igualitário entre os indivíduos, porém, sem levar em</p><p>consideração, eventual, desnivelamento natural, diferença, existente entre os</p><p>sujeitos de direito. E, na nossa Constituição Federal encontra-se prevista no art. 5º,</p><p>caput, bem como no seu inc. I, da Constituição Federal.</p><p>Porém, tratar todos de maneira igual, sem levar em consideração eventual diferença</p><p>existente, apesar de ter sido uma grande conquista para a época, com a evolução da</p><p>sociedade, se mostrou insuficiente.</p><p>E, assim, surge a igualdade real ou substancial ou material que garante e tutela que</p><p>pessoas em situação de igualdade devem receber tratamento igualitário; mas</p><p>quando estiverem em situação de desequilíbrio, isso deve ser considerado e essa</p><p>diferença levada em consideração na concretização da situação. E, na nossa</p><p>Constituição Federal, a igualdade real ou substancial ou material está prevista no art.</p><p>3º, IV, que assim dispõe:</p><p>Importante instrumento que objetiva concretizar a igualdade real ou substancial ou</p><p>material são as Ações Afirmativas, que são medidas especiais e temporárias,</p><p>adotadas ou determinadas em políticas públicas ou programas privados, com os</p><p>objetivos de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantir a</p><p>igualdade material e compensar perdas provocadas pela discriminação e</p><p>marginalização.</p><p>Como exemplos de ações afirmativas podemos citar as quotas raciais em concursos</p><p>públicos e a Lei Maria da Penha.</p><p>Art. 5º, CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer</p><p>natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no</p><p>País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à</p><p>segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I. homens e mulheres</p><p>são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.</p><p>Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa</p><p>do Brasil: IV. promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,</p><p>raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 81</p><p>O princípio da igualdade material permite levar bens jurídicos a indivíduos que não</p><p>possuem acesso, promovendo uma participação equitativa nos bens sociais,</p><p>efetivando uma inclusão social de pessoas que estavam às margens da sociedade, o</p><p>que somente pode ser alcançado com a efetivação de uma “justiça distributiva”</p><p>[John Rawls].</p><p>Atente-se para o fato de que toda e qualquer política, referente a uma ação</p><p>afirmativa, direta ou indiretamente, discrimina o segmento que não foi tutelado pela</p><p>medida, o que pode gerar uma discriminação inversa ou reversa. Assim, para que a</p><p>ação afirmativa não padeça de inconstitucionalidade, ela deve observar os critérios</p><p>de proporcionalidade.</p><p>Por fim, a igualdade como reconhecimento decorre do respeito que se deve ter para</p><p>com as minorias, sua identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais</p><p>ou quaisquer outras, retirando fundamento do retromencionado art. 3º IV, da</p><p>Constituição Federal.</p><p>Ainda, no campo teórico e diretamente relacionada a aplicação do Princípio da</p><p>Isonomia, necessário se faz o conhecimento da Teoria da Discriminação Indireta ou</p><p>Teoria do Impacto Desproporcional (Disparate impacte doctrine) ou Teoria do</p><p>Impacto Adverso, em que condutas, seja do âmbito público ou privado, tidas formal</p><p>e aparentemente como neutras, quando de sua aplicação prática acarretam</p><p>prejuízos desproporcionais a determinados grupos, categorias ou classes de pessoas.</p><p>Como aplicação do Direito à Igualdade, necessário colacionar os seguintes julgados,</p><p>com as respectivas ideias basilares:</p><p>Julgado em Frase: Estabelecimento de limite de idade em concurso</p><p>público apenas é legitimo quanto as atribuições do cargo assim</p><p>exigirem. (ARE 874851 AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira</p><p>Turma, julgado em 15/03/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-068</p><p>DIVULG 12-04-2016 PUBLIC 13-04-2016)</p><p>Julgado em Frase: Em virtude do Princípio da Igualdade, a remarcação</p><p>de teste de aptidão para candidata gestante (e lactante) independe de</p><p>previsão em edital. (RE 1058333, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno,</p><p>julgado em 21/11/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 24-</p><p>07-2020 PUBLIC 27-07-2020)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 82</p><p>12.4 DIREITOS RELACIONADOS À SEGURANÇA JURÍDICA</p><p>Inicialmente, destaque-se que, ao tutelar o direito à segurança, o art. 5º da</p><p>Constituição Federal tutela a segurança jurídica, que é um direito de 1ª dimensão, e</p><p>não a segurança pública que, por sua vez, é um direito de 2ª dimensão, previsto no</p><p>art. 6º da Constituição Federal:</p><p>PRINCÍPIO DA LEGALIDADE</p><p>O Princípio da Legalidade, com origem no surgimento do Estado de Direito e previsão</p><p>no art. 5º, II, da Constituição Federal, é apresentado da seguinte forma: “Ninguém</p><p>será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.</p><p>Julgado em Frase: É constitucional a ação afirmativa de cota racial.</p><p>(ADC 41, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em</p><p>08/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-180 DIVULG 16-08-2017</p><p>PUBLIC 17-08-2017)</p><p>Julgado em Frase: É inconstitucional lei que preveja requisitos</p><p>diferentes entre homens e mulheres para que recebam pensão por</p><p>morte. (RE 659424, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,</p><p>julgado em 13/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO</p><p>GERAL - MÉRITO DJe-280 DIVULG 25-11-2020 PUBLIC 26-11-2020)</p><p>Julgado em Frase: Lei que proíbe que policiais exerçam</p><p>a atividade de</p><p>advocacia não fera o princípio da isonomia. (ADI 3541, Relator(a):</p><p>Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2014,</p><p>ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-057 DIVULG 21-03-2014 PUBLIC 24-03-</p><p>2014)</p><p>Art. 5º, CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer</p><p>natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes</p><p>no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à</p><p>segurança e à propriedade, nos termos seguintes:</p><p>Art. 6º, CF: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o</p><p>trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a</p><p>previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a</p><p>assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 83</p><p>A criação do Princípio da Legalidade, com submissão dos particulares e do Poder</p><p>Público ao império legal, foi uma insurgência a toda e qualquer forma de</p><p>manifestação de poder autoritário e antidemocrático do Estado.</p><p>Saliente-se que tal princípio apresenta-se em duas dimensões diferentes, a saber:</p><p>1ª) Para o Direito Público: O Poder Público apenas pode atuar e cumprir</p><p>dentro dos limites que é determinado ou autorizado pelo ordenamento</p><p>jurídico, incorrendo em um critério conhecido como critério da subordinação</p><p>à lei.</p><p>2ª) Para o Direito Privado: Ao passo que o Particular pode fazer tudo aquilo</p><p>que não seja proibido, vedado, pelo ordenamento jurídico, incorrendo em um</p><p>critério conhecido como critério de não contradição à lei.</p><p>ESTABILIDADE DAS RELAÇÕES JURÍDICAS</p><p>O art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, tutela 3 [três] institutos jurídicos, quais</p><p>sejam: A) direito adquirido, B) ato jurídico perfeito e; C) coisa julgada ou caso</p><p>julgado, nos seguintes termos: “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato</p><p>jurídico perfeito e a coisa julgada.”</p><p>Os institutos podem ser assim definidos:</p><p>• Direito Adquirido: São os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa</p><p>exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou</p><p>condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.</p><p>• Ato Jurídico Perfeito: O ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em</p><p>que se efetuou. Aperfeiçoamento de todos os elementos considerados</p><p>necessários à validade do ato.</p><p>• Coisa Julgada ou Caso Julgado: A decisão judicial de que já não caiba recurso.</p><p>O esgotamento de todos os módulos processuais capazes de influir na decisão</p><p>judicial. Revestida dessa eficácia, a decisão judicial não pode mais ser alvo de</p><p>alteração.</p><p>Saliente-se que existem três situações em que não se é possível alegar o instituto do</p><p>Direito Adquirido, a saber: A) Em face de uma nova Constituição; B) Em face de</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 84</p><p>mudança de padrão monetário (mudança de moeda); C) Em face de mudança de</p><p>regime jurídico estatutário.</p><p>E, pelo fato de inexistirem direitos fundamentais absolutos, como já dito e repisado,</p><p>necessário salientar que existe exceção constitucional à estabilidade das relações</p><p>jurídicas, como, por exemplo, a retroatividade da lei penal benéfica [novatio legis in</p><p>mellius], prevista no art. 5º, LX, da Constituição Federal, com a seguinte redação: “A</p><p>lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”, que pode desconstituir uma</p><p>situação, em tese imutabilizada pelo manto da coisa julgada.</p><p>PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO</p><p>O art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, dispõe que “A lei não excluirá da apreciação</p><p>do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.”, o que configura o Princípio da</p><p>Inafastabilidade da Jurisdição.</p><p>E, assim, é permitido acionar o Poder Judiciário sempre que se estiver presente uma</p><p>ameaça ou uma lesão a um direito, o que demonstra a possibilidade de uma atuação</p><p>tanto preventiva quanto repressiva, excluindo e demonstrando a inexistência do</p><p>Princípio da Jurisdição Condicionada ou Instância Administrativa de Curso Forçado,</p><p>que se exige, antes de acionar o Poder Judiciário, o exaurimento das instâncias</p><p>administrativas.</p><p>Ressalte-se que existem situações em que a parte é obrigada a exaurir instâncias</p><p>administrativas prévias antes de acionar o Poder Judiciário, como por exemplo em</p><p>questões atinentes à A) Justiça Desportiva, B) impetração de Habeas Data, C)</p><p>algumas ações previdenciárias, D) descumprimento de Súmula Vinculante, dentre</p><p>outras:</p><p>Algumas vozes doutrinárias se levantam no sentido de apontar para a</p><p>inconstitucionalidade da Lei de Arbitragem, ao fundamento de que, ao se valer do</p><p>procedimento, o interessado, posteriormente, não poderia questionar a o mérito da</p><p>Art. 217, CF: É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-</p><p>formais, como direito de cada um, observados: §1º O Poder Judiciário só</p><p>admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após</p><p>esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.</p><p>Sum. 02, STJ: Não cabe o habeas data se não houve recusa de informações</p><p>por parte da autoridade administrativa.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 85</p><p>decisão perante o Poder Judiciário, o que violaria o princípio da inafastabilidade da</p><p>jurisdição.</p><p>Porém, tal entendimento não prospera, haja vista que a legislação, em nenhum</p><p>momento, impõe a utilização da arbitragem, que apenas é instaurada caso o</p><p>interessado manifeste sua vontade nesse sentindo, inexistindo imposição para</p><p>tanto.</p><p>Ondas Renovatórias de Acesso à Justiça: Ligado ao princípio da inafastabilidade da</p><p>jurisdição, Mauro Cappelletti e Bryant Garth produziram um ensaio para o “Projeto</p><p>de Florença”, oportunidade em que, com base em uma observação empírica, entre</p><p>as dificuldades de acesso ao Poder Judiciário e o que foi feito para promover sua</p><p>superação, identificaram 3 [três] ondas renovatórias no processo evolutivo de</p><p>acesso à ordem jurídica justa, assim esquematizada:</p><p>DEVIDO PROCESSO LEGAL, CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA</p><p>Tais institutos jurídicos são apresentados em dois dispositivos constitucionais, que</p><p>apresentam a seguinte redação:</p><p>Ondas Renovatórias</p><p>1ª Onda Renovatória</p><p>Entrave: Custos de</p><p>acesso ao Poder</p><p>Judiciário.</p><p>Lei de Assistência</p><p>Judiciária Gratuita,</p><p>Defensoria Pública e</p><p>Advogados Dativos.</p><p>2ª Onda Renovatória</p><p>Entrave: Legitimidade</p><p>para tutelar bens</p><p>coletivos</p><p>Lei de Ação Civil</p><p>Pública, com instituição</p><p>de legitimidades</p><p>especiais para tutela dos</p><p>direitos transindividuais.</p><p>3ª Onda Renovatória</p><p>Entrave: Uma única</p><p>possibilidade, dentro do</p><p>Poder Judiciário, para</p><p>resolver um conflito de</p><p>interesses.</p><p>Justiça Multiportas, com</p><p>possibilidade de se</p><p>utilizar formas</p><p>alternativas de solução</p><p>dos conflitos, como</p><p>conciliação, arbitragem,</p><p>mediação, dentre</p><p>outros.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 86</p><p>Devido Processo Legal: O devido processo legal impede que um indivíduo seja</p><p>privado de seus bens ou de sua liberdade sem que antes tenha sido observado uma</p><p>sequência concatenada e sucessiva de atos processuais e procedimentos</p><p>previamente dispostos em lei, oportunidade em que ao final deverá ser proferida</p><p>uma decisão proporcional, razoável, justa.</p><p>O devido processo legal nem sempre teve essa definição, isso porque na época da 1ª</p><p>Dimensão dos Direitos Fundamentais, vigorava a dimensão formal ou processual do</p><p>instituto e, com o surgimento de novos anseios sociais, passou-se a se exigir uma</p><p>dimensão material ou substancial do instituto.</p><p>Isso porque, o Devido Processo Legal Formal ou Processual se satisfazia com a</p><p>observação de uma sequência concatenada de atos processuais previamente</p><p>estipulada em lei. Porém, essa dimensão, apesar de ter sido uma grande conquista</p><p>na época, culminava em decisões desarrazoadas, desproporcionais, injustas.</p><p>Para aperfeiçoar tal situação, surgiu, então, a segunda dimensão do Devido Processo</p><p>Legal, qual seja, a Material ou Substancial, que entende que os direitos</p><p>fundamentais devem ser tutelados com base nos critérios</p><p>da razoabilidade e</p><p>proporcionalidade.</p><p>Os Princípio da Proporcionalidade e Razoabilidade não são princípios constitucionais</p><p>expressos, retirando, portanto, seus fundamentos de validade do Devido Processo</p><p>Legal na sua dimensão material.</p><p>Sobre o devido processo legal, necessário a colação do julgado abaixo com a seguinte</p><p>ideia prévia:</p><p>Art. 5º, LIV, CF: Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o</p><p>devido processo legal;</p><p>Art. 5º, LV, CF: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e</p><p>aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,</p><p>com os meios e recursos a ela inerentes;</p><p>Julgado em Frase: Lei estadual que proíbe a Administração Pública de</p><p>contratar empresa que tenha nos seus quadros empregado condenado</p><p>por crime ou contravenção fere o devido processo legal e a</p><p>intranscendência da pena, sendo, portanto, inconstitucional. (ADI 3092,</p><p>Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 22/06/2020,</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO DJe-204 DIVULG 14-08-2020 PUBLIC 17-08-2020)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 87</p><p>Contraditório: A ideia do contraditório é a de assegurar às partes o direito de serem</p><p>cientificadas de todos os atos e fatos havidos no curso do processo, podendo</p><p>manifestar-se e produzir as provas necessárias antes de ser proferida a decisão</p><p>jurisdicional, sendo composto, portanto, de 3 [três] elementos, a saber: Direito à</p><p>cientificação: A parte adversa deve estar ciente da existência da demanda ou dos</p><p>argumentos da parte contrária. Direito de participação: Possibilidade de a parte</p><p>oferecer reação, manifestação ou contrariedade à pretensão da parte contrária.</p><p>Possibilidade real de influenciar na decisão.</p><p>Ampla Defesa: Constitui no direito que todo indivíduo, submetido a um</p><p>procedimento administrativo ou judicial, tem de ser patrocinado por profissional</p><p>legalmente habilitado, com direito de escolha desse profissional, podendo exercer</p><p>sua autodefesa.</p><p>Importante pontuar que, apesar de um dos elementos da ampla defesa ser a defesa</p><p>técnica, o Supremo Tribunal Federal editou enunciado de Súmula Vinculante,</p><p>chancelado pelo n. 05, com a seguinte redação:</p><p>Apesar de não concordamos, é enunciado sumular que se encontra válido, sendo</p><p>aplicável aos casos postos a apreciação e, especialmente, cobrado em provas de</p><p>concursos públicos.</p><p>Sobre a autodefesa, na espécie “direito à audiência”, necessário salientar ter sido</p><p>ela que fundamentou a instituição da Audiência de Custódia, que é o direito que o</p><p>indivíduo tem, uma vez preso, de ser conduzido e apresentado à uma autoridade</p><p>judicial, no prazo máximo de 24 [vinte] quatro horas, para que haja uma análise</p><p>sobre a legalidade e necessidade da prisão, bem como se os Direitos Fundamentais</p><p>do Flagranteado foram respeitados.</p><p>Hoje, o instituto encontra-se previsto no Código de Processo Penal, no art. 3º, §1º,</p><p>com a seguinte redação:</p><p>Súmula Vinculante 5: A falta de defesa técnica por advogado no processo</p><p>administrativo disciplinar não ofende a Constituição.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 88</p><p>Lembrando que encontra previsão, também, na Convenção Americana Sobre</p><p>Direitos Humanos, assinada na Conferência Especializada Interamericana sobre</p><p>Direitos Humanos, San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, sem seu art.</p><p>8.1, com a seguinte redação:</p><p>PRINCÍPIO DO JUIZ OU JUÍZO NATURAL E DO PROMOTOR NATURAL</p><p>O art. 5º, LIII, da Constituição Federal dispõe que “Ninguém será processado nem</p><p>sentenciado senão pela autoridade competente.”, apresentando, portanto, os</p><p>Princípios do Juiz e do Promotor Natural.</p><p>O Princípio do Juiz Natural objetiva assegurar ao acusado o direito de ser submetido</p><p>a processo e julgamento não apenas no juízo competente, como também por órgão</p><p>do Poder Judiciário regularmente investido, imparcial e, sobretudo, previamente</p><p>conhecido segundo regras objetivas de competência anteriormente estabelecidas.</p><p>Em consequência, veda-se a criação de tribunais ou juízos de exceção, assim como a</p><p>designação de magistrado para atuar, especificamente, em um determinado caso.</p><p>De acordo com o Princípio do Promotor Natural, ninguém será processado senão</p><p>pela autoridade competente, vedando-se, portanto, a designação de membro do</p><p>Ministério Público para atuar em caso específico, quando isso implicar abstração das</p><p>regras gerais de atribuições estabelecidas anteriormente à prática da infração penal.</p><p>Durante algum tempo houve discussão acerca do fato de o art. 5º, LIII, da</p><p>Constituição Federal realmente agasalhar o Princípio do Promotor Natural, o que foi</p><p>pacificado no Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do PP 13142,</p><p>merecendo destaque, também, a síntese abaixo:</p><p>Art. 3º-B, §1º, CPP: O preso em flagrante ou por força de mandado de</p><p>prisão provisória será encaminhado à presença do juiz de garantias no</p><p>prazo de 24 horas, momento em que se realizará audiência com a presença</p><p>do Ministério Público e da Defensoria Pública ou de advogado constituído,</p><p>vedado o emprego de videoconferência. (Incluído pela Lei nº 13.964, de</p><p>2019)</p><p>8.1.Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e</p><p>dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,</p><p>independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração</p><p>de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se</p><p>determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista,</p><p>fiscal ou de qualquer outra natureza.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 89</p><p>E, umbilicalmente ligado a norma existente no inc. LIII, tem-se o inc. XXXVII que</p><p>dispõe que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”.</p><p>O dispositivo promove uma garantia de limitação do poder estatal ao proibir a</p><p>criação de órgão julgador criado para processar e julgar um caso específico, haja vista</p><p>que, conforme art. 8º da Convenção Americana de Direitos Humanos todo indivíduo</p><p>tem o direito de ser ouvido por um juiz ou tribunal competente, independente e</p><p>imparcial, estabelecido anteriormente pela lei:</p><p>RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO</p><p>Incluído na Constituição Federal, no art. 5º, LXXVIII, por atuação do Poder</p><p>Constituinte Derivado Reformador, Emenda à Constituição n. 45, o Princípio da</p><p>Razoável Duração do Processo prevê o seguinte:</p><p>Saliente-se que o que a Constituição Federal garante é um processo que tenha uma</p><p>duração razoável, de acordo com a complexidade do objetivo envolvido no litígio.</p><p>Julgado em Frase: O Princípio do Promotor Natural, previsto no art. 5º,</p><p>LIII, da Constituição Federal, apresenta uma dupla garantia. Uma para a</p><p>coletividade que tem certeza de que somente será processada por um</p><p>membro do Ministério Público prevista investido em suas atribuições.</p><p>Outra para o próprio membro do Ministério Público que sabe que não</p><p>sofrerá designações casuísticas para atuações. (HC 67759, Relator(a):</p><p>CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 06/08/1992, DJ 01-07-</p><p>1993 PP-13142 EMENT VOL-01710-01 PP-00121)</p><p>8.1.Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e</p><p>dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,</p><p>independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na</p><p>apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que</p><p>se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista,</p><p>fiscal ou de qualquer outra natureza.</p><p>Art. 5º, LXXVIII, CF: A todos, no âmbito judicial e administrativo, são</p><p>assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a</p><p>celeridade de sua tramitação. (Incluído pela EC 45/2004).</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 90</p><p>A celeridade deve ser garantida e observada na tramitação de seu procedimento,</p><p>com a implementação do processo judicial eletrônico, malotes digitais para</p><p>comunicação entre Juízos, realização de audiência via sistema audiovisual, dentre</p><p>outros.</p><p>12.5 DIREITOS RELACIONADOS À PRIVACIDADE</p><p>INVIOLABILIDADE DOMICILIAR</p><p>Como regra, a casa é asilo inviolável do indivíduo. Mas, como todo direito</p><p>fundamental pode ser objeto de relativização, essa inviolabilidade pode ser afastada</p><p>em situações constitucionalmente previstas, merecendo destaque a transcrição da</p><p>disposição constitucional que trata sobre instituto:</p><p>Saliente-se que para compreensão da norma constitucional, necessário se faz a</p><p>compreensão do alcance das palavras “casa”, “dia” e “noite”.</p><p>Casa: Para fins de Direito Constitucional, “casa” deve ser compreendido como todo</p><p>e qualquer compartimento habitável, desde que ocupado, abrangendo escritórios,</p><p>oficinas, garagens, quartos de hotéis, trailers, etc.</p><p>E o fato do local ser habitado é importante para a definição do instituto, haja vista</p><p>que o Superior Tribunal de Justiça entende que a “falta de mandado não invalida</p><p>busca e apreensão em apartamento desabitado”: (HC 588.445/SC, Rel. Ministro</p><p>REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 25/08/2020, DJe</p><p>31/08/2020)</p><p>Relacionado a temática em estudo, o Superior Tribunal de Justiça entente que</p><p>quando se trata de local aberto ao público a norma constitucional não deve incidir:</p><p>Art. 5º, XI, CF: A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela</p><p>podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de</p><p>flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,</p><p>por determinação judicial.</p><p>Julgado em Frase: Local aberto ao público não recebe a proteção</p><p>constitucional da inviolabilidade domiciliar. (Desembargador Convocado do</p><p>TRF 1ª Região), Sexta Turma, julgado em 6/12/2022, DJe de 15/12/2022.)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 91</p><p>Porém, tal situação não se confunde com a situação em que um determinado</p><p>indivíduo habita um prédio público abandonado, bem de uso especial. Aqui, incide a</p><p>proteção constitucional, dando-se destaque à interpretação extensiva que é dada ao</p><p>instituto jurídico-constitucional “casa”:</p><p>Dia e noite: Para a definição do deve ser considerado dia ou noite, necessário se faz</p><p>a combinação de dois critérios, a saber:</p><p>• Critério temporal, que entende dia como aquele período compreendido das</p><p>06h00min até as 18h00min e noite todo o período subsequente e;</p><p>• Critério físico-astronômico, que entende dia como o período compreendido</p><p>entre a autora e o crepúsculo e noite todo o período subsequente.</p><p>Conforme se verifica da transcrição do dispositivo constitucional, a relativização da</p><p>inviolabilidade domiciliar pode ocorrer, a qualquer momento, seja dia ou noite, em</p><p>casos de: Flagrante, Desastre ou para Prestar socorro.</p><p>E, em casos envolvendo o cumprimento de ordem judicial, a relativização apenas</p><p>pode ser efetivada durante o dia.</p><p>Dúvidas inexistem de que diversos agentes da área de segurança pública praticaram</p><p>atos configuradores de abuso de autoridade, ao relativizaram a regra da</p><p>inviolabilidade domiciliar e adentrarem em determinada casa ao argumento de que</p><p>nas suas interdependências estaria ocorrendo alguma situação flagrancial.</p><p>Com o escopo de trazer contornos objetivos à atuação dos agentes de segurança</p><p>pública, bem como garantir a preservação dos Direitos Fundamentais, tanto o</p><p>Superior Tribunal de Justiça, quanto o Supremo Tribunal Federal, promoveram a</p><p>distinção entre “fundadas razões justificantes” x “mera intuição policial”, surgindo</p><p>um critério a ser seguir para se permitir ou não a relativização do direito.</p><p>Para as Cortes Superiores, uma mera intuição policial não é capaz de permitir a</p><p>relativização da inviolabilidade domiciliar; é necessário que estejam presentes</p><p>fundadas razões, devidamente justificadas, de que no interior da residência esteja,</p><p>Julgado em Frase: O fato de o indivíduo habitar o prédio abandonado</p><p>de uma escola municipal não descaracterizaria o conceito de domicílio,</p><p>para fins de proteção constitucional. (AgRg no HC n. 712.529/SE, relator</p><p>Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 25/10/2022, DJe</p><p>de 4/11/2022.)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 92</p><p>realmente, ocorrendo a prática de um injusto penal, sob pena de responsabilização</p><p>administrativa, civil e criminal do agente, bem como nulidade dos atos praticados.</p><p>Vejam os julgados que enfrentaram a temática, com as ideias nucleares:</p><p>Julgado em Frase: A atitude suspeita de um dos moradores da residência,</p><p>por si só, não dispensa investigações prévias ou mandado judicial para ser</p><p>realizada a violação do domicílio. (AgRg no HC n. 708.400/RS, relator</p><p>Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, julgado em 12/12/2022,</p><p>DJe de 15/12/2022.)</p><p>Julgado em Frase: Denúncia anônima, amparada por diligências prévias para</p><p>a constatação de sua veracidade, podem configurar fundadas razões para a</p><p>relativização da inviolabilidade domiciliar para verificação da ocorrência de</p><p>tráfico de drogas. (AgRg nos EDcl no RHC n. 143.066/RJ, relator Ministro</p><p>Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado em 19/4/2022, DJe de</p><p>22/4/2022.) (RHC 83.501/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,</p><p>julgado em 06/03/2018, DJe 05/04/2018)</p><p>Julgado em Frase: Comportamento suspeito de indivíduo que empreende</p><p>fuga ao ver uma viatura policial não permite, por si só, a relativização da</p><p>inviolabilidade domiciliar, necessitando de diligências complementareis ou</p><p>mandado judicial. STJ. 6ª Turma. HC 695980-GO, Rel. Min. Antonio</p><p>Saldanha Palheiro, julgado em 22/03/2022 (Info 730).</p><p>Julgado em Frase: A autorização judicial que permite o ingresso em</p><p>domicílio, não significa um salvo contudo para vasculhar todo o interior da</p><p>casa, em uma pescaria probatória, por configurar desvio de finalidade do</p><p>ato. STJ. 6ª Turma. HC 663055-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado</p><p>em 22/03/2022 (Info 731).</p><p>Julgado em Frase: Desde que presentes fundadas razões de ocorrência de</p><p>flagrante delito, a entrada de policiais, sem autorização judicial, em quarto</p><p>de hotel, configura-se licita. (HC 659.527/SP, Rel. Ministro ROGERIO</p><p>SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/10/2021, DJe 25/10/2021)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 93</p><p>INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E IMAGEM</p><p>O art. 5º, X, da Constituição Federal dispõe que “São invioláveis a intimidade, a vida</p><p>privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo</p><p>dano material ou moral decorrente de sua violação”. A Norma Constitucional tutela</p><p>os institutos da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, que podem</p><p>ser assim definidos: Intimidade: É o direito que o indivíduo tem de estar só, em seu</p><p>momento de preservação. Vida privada: É o direito que o indivíduo tem se ver</p><p>respeitado no seu seio privado, sem a intervenção de outrem. Honra: Se apresenta</p><p>em duas espécies, honra objetiva, que é a visão da sociedade sobre o indivíduo,</p><p>como ele qualificado no meio social, bem como honra subjetiva, que é a visão do</p><p>próprio indivíduo sobre sua pessoa, como ele se autoqualifica. Imagem das pessoas:</p><p>É a representação da pessoa, por meio de desenhos, fotografias e outros, podendo</p><p>ser apresentada como imagem-retrato, que é o conceito de imagem visualmente</p><p>perceptível, abrangendo tudo que puder ser concretamente individualizado, com</p><p>todos os aspectos que individualizam a pessoa: corpo, voz, etc.; bem como imagem-</p><p>atributo, que são as qualidades intrínsecas da pessoa: prestigio, reputação no meio</p><p>social, etc.</p><p>Julgado em Frase: Para ingresso em domicílio, em hipótese de flagrante</p><p>delito, exige-se justa causa, fundadas razoes, aferidas de modo objetivo e</p><p>devidamente justificadas, não servindo mera intuição policial. (HC</p><p>616.584/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em</p><p>30/03/2021, DJe 06/04/2021)</p><p>Julgado em Frase: A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é</p><p>lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões,</p><p>devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa</p><p>ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade</p><p>disciplinar,</p><p>civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados.</p><p>(RE 603616, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em</p><p>05/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-</p><p>093 DIVULG 09-05-2016 PUBLIC 10-05-2016)</p><p>Julgado em Frase: A mera intuição acerca de eventual traficância praticada</p><p>pelo recorrido, embora pudesse autorizar abordagem policial, em via</p><p>pública, para averiguação, não configura, por si só, justa causa a autorizar o</p><p>ingresso em seu domicílio, sem o consentimento do morador.(REsp</p><p>1574681/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado</p><p>em 20/04/2017, DJe 30/05/2017)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 94</p><p>No que diz respeito ao direito à imagem, necessário colacionar o enunciado da</p><p>Súmula 403 do Superior Tribunal de Justiça, que incorpora regra de responsabilidade</p><p>civil objetiva, nos seguintes termos:</p><p>SEGURANÇA DAS COMUNICAÇÕES PESSOAIS</p><p>O art. 5º, XII, da Constituição Federal assim dispõe “é inviolável o sigilo da</p><p>correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações</p><p>telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a</p><p>lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.”.</p><p>A norma constitucional tutela 4 [quatro] direitos fundamentais, todos eles</p><p>diretamente ligados com o direito à privacidade, a saber: A) comunicação telefônica;</p><p>B) correspondência, C) comunicação telegráfica e; D) comunicação de dados.</p><p>Para relativização das comunicações telefônicas é necessário ordem judicial, sendo</p><p>necessário a presença, o colorido do Direito Penal, por ser exigido a presença de</p><p>investigação criminal ou instrução processual penal.</p><p>Lado outro, o sigilo das correspondências, das comunicações telegráficas e das</p><p>comunicações de dados podem ser relativizados por determinação de outras</p><p>autoridades.</p><p>Conforme previsão existente no art. 1º, §3º, da LC 105/2001, é conferida à Receita</p><p>Federal a possibilidade de determinar a quebra de sigilo bancário</p><p>independentemente de autorização judicial. Da mesma forma, uma Comissão</p><p>Parlamentar de Inquérito, em âmbitos federal e estadual, poderá promover</p><p>diretamente a relativização desse direito fundamental ao sigilo, prevalecendo o</p><p>entendimento, em âmbito doutrinário, de que uma Comissão Parlamentar de</p><p>Inquérito, em âmbito municipal não possui esse poder. Lado outro, Autoridades</p><p>Policiais e membros do Ministério Público necessitam de autorização judicial para</p><p>afastarem o sigilo bancário.</p><p>Vejam os julgados que enfrentaram a temática:</p><p>Súmula 403, STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela</p><p>publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou</p><p>comerciais.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 95</p><p>Para além dos julgados acima, necessário conhecer a peculiaridade de que o</p><p>Supremo Tribunal Federal considerou constitucional a previsão legal de que o</p><p>Corregedor Nacional de Justiça promova a requisição direta de dados sigilosos em</p><p>processos ou procedimentos administrativos de sua competência regularmente</p><p>instaurado para apuração de infração por sujeito determinado, mediante decisão</p><p>fundamentada e baseada em indícios concretos da prática do ato:</p><p>STJ: Não é possível a quebra de sigilo de dados informáticos estáticos</p><p>(registros de geolocalização) nos casos em que haja a possibilidade de violação</p><p>da intimidade e vida privada de pessoas não diretamente relacionadas à</p><p>investigação criminal. (Desembargador convocado do TJDFT), Quinta Turma,</p><p>por unanimidade, julgado em 15/03/2022, DJe 28/03/2022.</p><p>STF: É possível que o Fisco requisite de instituições financeiras informações</p><p>sobre movimentações bancárias sobre os contribuintes, sem intervenção do</p><p>Poder Judiciário. ADI 2390/DF.</p><p>STJ: É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo</p><p>Ministério Público. O STF não autorizou que o Ministério Público faça a</p><p>requisição direta (sem autorização judicial) de dados fiscais, para fins criminais.</p><p>STJ. 3ª Seção. RHC 83233-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em</p><p>09/02/2022 (Info 724).</p><p>STJ: É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de</p><p>contas de titularidade da Prefeitura Municipal, com o fim de proteger o</p><p>patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário.</p><p>HC 308.493-CE.</p><p>STJ: Não há ilicitude das provas por violação ao sigilo de dados bancários, em</p><p>razão do compartilhamento de dados de movimentações financeiras da</p><p>própria instituição bancária ao Ministério Público. Isso porque não se trata de</p><p>informações bancárias sigilosas relativas à pessoa do investigado, senão de</p><p>movimentações financeiras da própria instituição. RHC 147.307-PE, Rel. Min.</p><p>Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma,</p><p>por unanimidade, julgado em 29/03/2022.</p><p>STF: A administração do presídio, com fundamento em razões de segurança</p><p>pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode,</p><p>sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41,</p><p>parágrafo único, da LEP, interceptar a correspondência que seria dirigida ao</p><p>preso. STF. 1ª Turma. HC 70814, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em</p><p>01/03/1994.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 96</p><p>Por fim, destaque que os dados obtidos de maneira sigilosa, por algum legitimado</p><p>para tanto, devem permanecer em sigilo, não sendo possível a sua publicização,</p><p>conforme decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, quando do</p><p>julgamento do MS 25940: “Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário,</p><p>telefônico e fiscal devem ser mantidos sob reserva. Assim, a página do Senado</p><p>Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por meio da quebra de sigilo</p><p>determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI)”.</p><p>12.6 DIREITOS RELACIONADOS AO DIREITO PENAL</p><p>TRIBUNAL DO JÚRI</p><p>Sobre direitos relacionados ao Direito Penal e Processo Penal, iniciamos o estudo</p><p>com a análise do Tribunal do Júri, com previsão no art. 5º, XXXVIII, com a seguinte</p><p>redação: “é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,</p><p>assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos</p><p>veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”.</p><p>Os crimes que são submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri são os dolosos</p><p>contra a vida que se resumem a: Homicídio, Induzimento, instigação ou auxílio a</p><p>suicídio ou a automutilação, Infanticídio e Aborto.</p><p>Julgado em Frase: O Corregedor Nacional de Justiça pode requisitar</p><p>diretamente dados sigilos em processos ou procedimentos</p><p>administrativos de sua competência. (ADI 4709, Relator(a): ROSA WEBER,</p><p>Tribunal Pleno, julgado em 30/05/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-112</p><p>DIVULG 08-06-2022 PUBLIC 09-06-2022)</p><p>Art. 121, Código Penal: Matar alguém: [...].</p><p>Art. 122, Código Penal: Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar</p><p>automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: [...].</p><p>Art. 123, Código Penal: M]atar, sob a influência do estado puerperal, o</p><p>próprio filho, durante o parto ou logo após: [...].</p><p>Art. 124, Código Penal: Provocar aborto em si mesma ou consentir que</p><p>outrem lho provoque: [...].</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 97</p><p>Questão importante diz respeito ao foro de prerrogativa de função e o Tribunal do</p><p>Júri, devendo ser fixado o seguinte cenário:</p><p>• Foro de Prerrogativa de Função na Constituição Federal: Se houver</p><p>instituição de competência especial por prerrogativa de função na</p><p>Constituição Federal, haverá afastamento da norma geral. Ex. Art. 29, X, CF,</p><p>que estabelece que os Prefeitos são julgados pelo Tribunal de Justiça.</p><p>• Foro de Prerrogativa de Função exclusivamente na Constituição Estadual:</p><p>SV 45: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro</p><p>por prerrogativa</p><p>de função estabelecido exclusivamente pela Constituição</p><p>Estadual.</p><p>PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, ANTERIORIDADE E IRRETROATIVIDADE</p><p>Os Princípios da Legalidade, Anterioridade e Irretroatividade da Lei Penal vêm</p><p>previstos no art. 5º, XXXIX e XL, com a seguinte redação:</p><p>O Princípio da Legalidade, também conhecido como Princípio da Reserva Legal,</p><p>garante que um indivíduo não pode ser condenado pela prática de um fato que não</p><p>era, no momento da conduta, uma situação prevista como injusto penal. E, da</p><p>mesma forma, não poderá sofrer qualquer restrição sancionadora que não esteja</p><p>prevista em Lei.</p><p>O Princípio da Anterioridade da Lei Penal decorre do Princípio da Reserva legal e</p><p>proíbe a responsabilização criminal por atos que tenham sido praticados em</p><p>momento anterior a entrada em vigor da lei que definiu a conduta como uma</p><p>infração penal.</p><p>Por fim, o Princípio da Irretroatividade da Lei Penal estabelece que uma lei penal</p><p>que estabelece uma situação mais severa, mais restritiva, não pode retroagir para</p><p>Art. 125, Código Penal: Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:</p><p>Art. 126, Código Penal: Provocar aborto com o consentimento da gestante:</p><p>Art. 5º, XXXIX: Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem</p><p>prévia cominação legal;</p><p>Art. 5º, XL: A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 98</p><p>prejudicar a situação do Réu. Porém, ressalte-se que existe possibilidade de a lei</p><p>penal retroagir para alcançar situações pretéritas desde que, de alguma forma,</p><p>venha a beneficiar a situação Réu.</p><p>RACISMO, AÇÃO DE GRUPOS ARMADOS E CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS</p><p>Racismo: Previsto no art. 5º, XLII, da Constituição Federal, com a seguinte redação:</p><p>“a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de</p><p>reclusão, nos termos da lei;”</p><p>Ação de grupos armados: Previsto no art. 5º, XLIV, da Constituição Federal, com a</p><p>seguinte redação: “constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos</p><p>armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;”</p><p>Crimes equiparados a hediondos: Previsto no art. 5º, XLIII, da Constituição Federal,</p><p>com a seguinte redação: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de</p><p>graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,</p><p>o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os</p><p>mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;”.</p><p>Atenção ao fato de que são imprescritíveis a prática de racismo e a ação de grupos</p><p>armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático,</p><p>inexistindo imprescritibilidade punitiva no que diz respeito aos crimes equiparados</p><p>a hediondos. E, todos eles são inafiançáveis.</p><p>Em reforço questão atinente a tortura, ressalte-se que o inc. III, do art. 5º, da</p><p>Constituição Federal, dispõe que “ninguém será submetido a tortura nem a</p><p>tratamento desumano ou degradante;”.</p><p>Por fim, saliente-se que, no julgamento do Habeas Corpus 154248, o Supremo</p><p>Tribunal Federal entendeu que o crime de injuria racional é espécie de racismo,</p><p>motivo pelo qual, também, é imprescritível e inafiançável.</p><p>Julgado em Frase: O crime de injúria racial, espécie do gênero racismo, é</p><p>imprescritível. (STF - HC: 154248 DF 0067385-46.2018.1.00.0000, Relator:</p><p>EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 28/10/2021, Tribunal Pleno, Data de</p><p>Publicação: 23/02/2022)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 99</p><p>PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA DA PENA</p><p>Princípio previsto no art. 5º, XLV, da Constituição Federal, com a seguinte redação:</p><p>“nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar</p><p>o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos</p><p>sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.”</p><p>Prevê que a pena não pode ultrapassar a pessoa do condenado. Porém, é possível</p><p>que a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens sejam</p><p>executadas contra os sucessores, pois seriam efeitos da condenação diversos da</p><p>pena. Já a multa, por ser uma pena, não pode ser cobrada dos sucessores.</p><p>PENAS PERMITIDAS E PROIBIDAS</p><p>A Constituição Federal, em seu art. 5º, XLVI e XLVII, traz um rol de penalidades que</p><p>podem ser adotadas em nosso ordenamento e penalidades que não podem ser</p><p>adotadas, com a seguinte redação:</p><p>Especificamente sobre a pena de multa, necessário destacar que o Superior Tribunal</p><p>de Justiça entende que o seu inadimplemento impede a extinção de punibilidade do</p><p>apenado:</p><p>PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA</p><p>O art. 5º, XLVIII, da Constituição Federal dispõe que “a pena será cumprida em</p><p>estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do</p><p>Art. 5º, XLVI, CF. a lei regulará a individualização da pena e adotará,</p><p>entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda</p><p>de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou</p><p>interdição de direitos;</p><p>Art. 5º, XLVII, CF. não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de</p><p>guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c)</p><p>de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;</p><p>Julgado em Frase: O inadimplemento da pena de multa obsta a extinção</p><p>da punibilidade do apenado. (STJ - AgRg no REsp: 1850903 SP</p><p>2019/0355868-8, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,</p><p>Data de Julgamento: 28/04/2020, T5 - QUINTA TURMA, Data de</p><p>Publicação: DJe 30/04/2020)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 100</p><p>apenado”. E, na mesma linha, seu inc. L assim dispõe “às presidiárias serão</p><p>asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o</p><p>período de amamentação”.</p><p>Ligado a esse dispositivo constitucional, tem-se as Regras Mínimas para Tratamento</p><p>de Presos, também chamadas de “Regras de Mandela”, que prevê que as diferentes</p><p>categorias de apenados devem ser mantidos em estabelecimentos separados ou em</p><p>diferentes zonas de um mesmo presídio, sendo que nesse último caso devem ser</p><p>separados por gênero, idade, antecedentes penais, razões da detenção e medidas</p><p>necessárias a aplicar.</p><p>PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU DA NÃO CULPABILIDADE</p><p>O Princípio da Presunção de Inocência, também conhecido por Princípio da Não</p><p>Culpabilidade, vem previsto no art. 5, LVII, da Constituição Federal com a seguinte</p><p>redação: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença</p><p>penal condenatória;”.</p><p>Ressalte-se que é com base nesse princípio, que o Superior Tribunal de Justiça</p><p>entende que inquéritos policiais e ações penais em curso não podem ser utilizadas</p><p>para prejudicar o Acusado, agravando sua pena base:</p><p>E sobre essa temática, necessário se faz o conhecimento sobre os seguintes julgados:</p><p>Súmula 444, STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais</p><p>em curso para agravar a pena-base.</p><p>Julgado em Frase: É constitucional a regra do Código de Trânsito que impõe a</p><p>aplicação de multa e infrações administrativas aos motoristas que se recusem</p><p>a fazer bafômetro, exames clínicos ou perícias visando aferir influência de</p><p>álcool ou outra substância psicoativa. STF. Plenário. RE 1224374/RS, Rel. Min.</p><p>Luiz Fux, julgado em 18 e 19/5/2022 (Repercussão Geral – Tema 1079) (Info</p><p>1055).</p><p>Julgado em Frase: Se o indivíduo possui contra si uma condenação criminal</p><p>transitada em julgado, ele não poderá ser vigilante, mesmo que já tenha</p><p>cumprido a pena há mais de 5 anos. (REsp 1597088/PE, Rel. Ministro</p><p>HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/08/2017, DJe</p><p>12/09/2017)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 101</p><p>PRISÃO</p><p>O art. 5º, LXI, da Constituição Federal, dispõe que “ninguém será preso senão em</p><p>flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária</p><p>competente, salvo nos casos de transgressão</p><p>militar ou crime propriamente militar,</p><p>definidos em lei;”.</p><p>Essa restrição da liberdade de locomoção, bem como o local onde o detido se</p><p>encontre deve ser comunicada ao Juiz competente e à família do preso ou à pessoa</p><p>por ele indicada, conforme prevê o art. LXII da Carta Magna.</p><p>Com o recebimento da comunicação da detenção, o Juiz competente deve realizar</p><p>uma audiência, conhecida por Audiência de Custódia, que tem por objetivo verificar</p><p>a legalidade da prisão realizada, se os direitos fundamentais do indivíduo foram</p><p>preservados, além de ser feita uma análise da possibilidade de concessão de</p><p>liberdade provisória ao Apresentado.</p><p>Na Audiência de Custódia, o Magistrado deverá verificar se os seguintes direitos</p><p>foram observados, desde o momento da detenção até sua apresentação:</p><p>Caso a prisão seja considerada ilegal, por não obedecer ao que prevê a legislação de</p><p>regência, será ele relaxada conforme prevê o art. 5º, LXV, da Constituição Federal,</p><p>que assim dispõe “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade</p><p>judiciária”.</p><p>Caso a prisão seja considerada legal, será ela homologada pelo Juiz, passando-se a</p><p>análise da possibilidade de concessão de liberdade provisória ao Apresentado,</p><p>conforme prevê o art. 5º, LXVI, da Carta Magna, que tem a seguinte redação</p><p>“ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade</p><p>provisória, com ou sem fiança;”.</p><p>Art. 5º, XLIX. é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;</p><p>Art. 5º, LVIII. o civilmente identificado não será submetido a identificação</p><p>criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;</p><p>Art. 5º, LXIII. o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de</p><p>permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de</p><p>advogado;</p><p>Art. 5º, LXIV. o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua</p><p>prisão ou por seu interrogatório policial;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 102</p><p>DIREITO DE QUEIXA SUBSIDIÁRIA</p><p>O art. 5º, LIX, da Constituição Federal, dispõe que “será admitida ação privada nos</p><p>crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”.</p><p>Como é cediço, o titular da ação penal pública é o Ministério Público, sendo</p><p>responsável pelo oferecimento de Denúncia no prazo estabelecido pela lei. Porém,</p><p>caso o órgão ministerial quede-se inerte no oferecimento da Denúncia, surge para a</p><p>Vítima ou seus Representantes a possibilidade de promoverem uma Ação Penal</p><p>Subsidiária da Ação Penal Pública, ou seja, surge para eles a possibilidade do direito</p><p>de queixa.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 103</p><p>13 DIREITOS SOCIAIS</p><p>13.1 INTRODUÇÃO</p><p>O Constitucionalismo Moderno se apresentou em dois momentos distintos. Em um</p><p>primeiro momento, com um viés Liberal e, em um segundo momento, com um viés</p><p>Social.</p><p>Os ideais liberais fracassaram, isso porque um absenteísmo estatal não era mais</p><p>suficiente, surgiu-se a necessidade de exigir do Estado uma postura ativa, com o</p><p>escopo de promover o Princípio da Igualdade, levando bens jurídicos a quem não</p><p>tinha acesso. E, diante disso, surge o Constitucionalismo Social, que é um segundo</p><p>momento do Constitucionalismo Moderno.</p><p>A grande conquista do Constitucionalismo Social foram os Direitos Sociais, que são</p><p>direitos de 2ª Dimensão, que se apresentam como prestações positivas a serem</p><p>implementadas pelo Estado (Estado Social de Direito) e tendem a concretizar a</p><p>perspectiva de uma isonomia substancial e social.</p><p>Os primeiros documentos constitucionais que positivaram Direitos Sociais em seus</p><p>textos foram os seguintes: Constituição Mexicana, de 1917; Constituição de Weimar,</p><p>na Alemanha, de 1919; Constituição Brasileira, de 1934</p><p>Constituição do México, de 1917: A Constituição Política dos Estados Unidos</p><p>Mexicanos, de 1917, foi “A primeira Constituição que atribuiu o caráter de</p><p>fundamentalidade aos direitos sociais, ao lado das liberdades públicas e dos direitos</p><p>políticos” Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1753).</p><p>Saraiva Jur.</p><p>Constituição de Weimar, Alemã, de 1919: Conforme ensinamentos de Flávio</p><p>Martins, a Constituição de Weimar “Foi pioneira na previsão da igualdade entre</p><p>marido e mulher (art. 119), na equiparação de filhos legítimos e ilegítimos (art. 121),</p><p>na tutela estatal da família e da juventude (art. 119 e 122), mas tem importância</p><p>histórica marcante na previsão de disposições sobre educação pública e direito</p><p>trabalhista, a partir do art. 157.” (2022, p. 1756).</p><p>Constituição Brasileira, de 1934: Inspirada das Constituições Mexicanas, de 1917, e</p><p>Alemã, de 1919, a Constituição Brasileira de 1934 foi a primeira, em nosso</p><p>ordenamento jurídico, a prever direitos sociais.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 104</p><p>E a nossa atual Constituição Federal, traz em seu art. 6º, um rol exemplificativo, não</p><p>taxativo, de Direitos Sociais, nos seguintes termos:</p><p>Interessante destacar que a Emenda Constitucional nº 114, de 2021 incluiu um</p><p>parágrafo único ao art. 6º da Constituição Federal, conferindo o direito a uma renda</p><p>familiar básica ao brasileiro em situação de vulnerabilidade:</p><p>13.2 TEORIAS</p><p>Diversas teorias debatem sobre a aplicação dos Direitos Sociais, merecendo</p><p>destaque as seguintes:</p><p>13.3 TEORIA DA RESERVA DO POSSÍVEL</p><p>De forma singela, podemos sintetizar essa teoria da seguinte forma: Surgimento:</p><p>Alemanha, em 1970; Ideia: Limitações fáticas e jurídicas que impedem a</p><p>concretização de Direitos Sociais.</p><p>Apesar de recepcionada essa Teoria por nossa doutrina e jurisprudência, ela sofreu</p><p>adaptações em relação aos termos originais [alemã], haja vista que em sua</p><p>concepção original essa teoria era utilizada para se referir aquilo que era</p><p>razoavelmente concebido como devido em âmbito social, afastando pretensões</p><p>desproporcionais e irrazoáveis.</p><p>Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o</p><p>trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência</p><p>social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos</p><p>desamparados, na forma desta Constituição.</p><p>Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá</p><p>direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em</p><p>programa permanente de transferência de renda, cujas normas e</p><p>requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação</p><p>fiscal e orçamentária.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 105</p><p>13.4 TEORIA DO MÍNIMO EXISTENCIAL</p><p>Quem, pela primeira vez, em nosso ordenamento jurídico, trabalhou com essa teoria</p><p>foi o professor Ricardo Lobo Torres, em artigo intitulado “O Mínimo Existencial e os</p><p>Direitos Fundamentais”.</p><p>De acordo com o autor, o Mínimo Existencial compreende “condições mínimas de</p><p>existência humana digna que não pode ser objeto de intervenção do Estado e que</p><p>ainda exige prestações estatais positivas”.</p><p>Ressalte-se que não existe consenso sobre os direitos que compõe o Mínimo</p><p>Existencial, merecendo destaque o pensamento da professora Ana Paula de Barcelos</p><p>que defende que direitos relacionados à educação, saúde, assistência em caso de</p><p>necessidade e acesso ao Poder Judiciário compõe o mínimo existencial.</p><p>Por fim, saliente-se que o Mínimo Existencial, que é o mínimo necessário para que</p><p>uma pessoa tenha uma coexistência digna, não se confunde com Mínimo Vital que</p><p>se reduz a questão da sobrevivência física, sendo aquele muito mais amplo que este,</p><p>tendo o Superior Tribunal de Justiça já enfrentado a questão:</p><p>13.5 PROIBIÇÃO DO RETROCESSO</p><p>Essa teoria, de origem alemã, remonta ao ano de 1970, também é apresentada com</p><p>as seguintes denominações “vedação do retrocesso”, “prohibición de regresividad”,</p><p>“ratchet effect”, “efeito cliquet”, e guarda relação direta com o Princípio da</p><p>Segurança Jurídica.</p><p>Essa teoria entende que os Direitos Sociais devem ser trabalhados com a ideia de</p><p>cumulação sucessiva no ordenamento jurídico e não</p><p>uma retrocessão ou ausência</p><p>de progressividade. Deve-se ter em mente que é vedado a redução do nível dos</p><p>direitos sociais dos cidadãos.</p><p>STJ: “o mínimo existencial não se resume ao mínimo vital, ou seja, o mínimo</p><p>para se viver. O conteúdo daquilo que seja o mínimo existencial abrange</p><p>também as condições socioculturais, que, para além da questão da mera</p><p>sobrevivência, asseguram ao indivíduo um mínimo de inserção na ‘vida’</p><p>social”. [AgRg em Aresp 790.767/MG]</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 106</p><p>14 DIREITOS DA NACIONALIDADE</p><p>14.1 INTRODUÇÃO</p><p>A nacionalidade é o vínculo jurídico político que une um determinado individuo a</p><p>um determinado Estado, fazendo com que este passe a ser titular de direitos e,</p><p>também, de deveres perante esse ente soberano.</p><p>14.2 ESPÉCIES E CRITÉRIOS DE NACIONALIDADE</p><p>Existem duas espécies de nacionalidade, a saber:</p><p>• Nacionalidade Primária ou Originária ou Involuntária ou de 1º grau: É a</p><p>nacionalidade imposta, de maneira unilateral, independentemente da</p><p>vontade do indivíduo, pelo Estado, no momento do seu nascimento.</p><p>• Nacionalidade Secundária ou Adquirida ou Voluntária ou de 2º grau: É a</p><p>nacionalidade que se adquire por vontade própria, depois do nascimento.</p><p>No nosso ordenamento jurídico, a nacionalidade primária está ligada aos casos de</p><p>nacionalidade nata e a nacionalidade secundária aos casos envolvendo</p><p>naturalização.</p><p>Existem dois critérios de aquisição da nacionalidade, a saber:</p><p>• Critério do Jus soli ou critério da territorialidade: A definição da</p><p>nacionalidade é dada pelo critério do local de nascimento do indivíduo, ou</p><p>seja, pelo território de seu nascimento.</p><p>• Critério do Jus sanguinis ou critério do sangue: A definição da nacionalidade</p><p>é pelo critério do sangue, da ascendência, ou seja, o que determina a</p><p>nacionalidade, de acordo com esse critério, são seus vínculos de</p><p>ancestralidade.</p><p>Saliente-se que ambos os critérios não precisam ser utilizados isoladamente, sendo</p><p>permitida a aplicação conjunta dos critérios, conforme ficará demonstrado.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 107</p><p>14.3 BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS</p><p>Para balizar o estudo dessa temática, necessário se faz a colação do art. 12 da</p><p>Constituição Federal com os seguintes apontamentos:</p><p>Art. 12. São brasileiros:</p><p>I. natos:</p><p>a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de</p><p>pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de</p><p>seu país;</p><p>Ponto 1: Aqui tem-se o critério do jus soli. E, além disso,</p><p>para que não se adquira a nacionalidade brasileira,</p><p>mesmo nascendo no Brasil, é necessário que ambos os</p><p>pais estrangeiros estejam a serviço de seu país ou que</p><p>um deles esteja apenas acompanhando o outro.</p><p>Ponto 2: O território brasileiro deve ser compreendido</p><p>como a soma do território material com o território por</p><p>extensão. O território material compreende o solo e o</p><p>subsolo, as águas internas, o espaço aéreo</p><p>correspondente e o mar territorial, que compreende</p><p>uma faixa de 12 milhas marítimas de largura. O conceito</p><p>de território por extensão é extraído do art. 5º, §1º, do</p><p>Código Penal, compreendendo os navios e aeronaves</p><p>públicos, onde quer que estejam e os navios e aeronaves</p><p>privados que estiverem dentro do Brasil ou em alto mar.</p><p>b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe</p><p>brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da</p><p>República Federativa do Brasil;</p><p>Ponto 1: Aqui tem-se o critério do jus sanguinis, somado</p><p>a um critério funcional.</p><p>Ponto 2: De acordo com a doutrina, a expressão “estar</p><p>a serviço da República Federativa do Brasil” significa</p><p>“estar a serviço do Estado Brasileiro, numa missão</p><p>diplomática, ou a serviço da Administração Pública</p><p>direta ou indireta, federal, estadual ou municipal.”</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 108</p><p>[Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª</p><p>edição 2022 (p. 1821). Saraiva Jur.]</p><p>c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe</p><p>brasileira, desde que sejam registrados em repartição</p><p>brasileira competente ou venham a residir na República</p><p>Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de</p><p>atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;</p><p>Alínea “c” 1ª parte: Aqui tem-se o critério do jus</p><p>sanguinis somado a um critério do registro. E por</p><p>repartição competente deve ser compreendido como</p><p>repartição consular.</p><p>Alínea “c” 2ª parte: A opção pela nacionalidade</p><p>brasileira é um ato personalíssimo que deve ser</p><p>postulado perante a Justiça Federal, após o indivíduo</p><p>atingir a maioridade.</p><p>II. naturalizados:</p><p>a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade</p><p>brasileira, exigidas aos originários de países de língua</p><p>portuguesa apenas residência por 1 ano ininterrupto e</p><p>idoneidade moral;</p><p>Ponto 1: Os requisitos da naturalização ordinária estão</p><p>previstos na legislação infraconstitucional,</p><p>especificamente no art. 65 do Estatuto do Imigrante [Lei</p><p>13.445/2017].</p><p>Ponto 2: Para os originários de países de língua</p><p>portuguesa [Angola; Açores; Cabo Verde; Moçambique;</p><p>Portugal; Timor Leste], exige-se apenas os dois</p><p>requisitos constitucionais acima mencionados.</p><p>Ponto 3: Mesmo que todos os requisitos estejam</p><p>preenchidos, seja da legislação infraconstitucional, seja</p><p>da Constitucional Federal, não terá o estrangeiro direito</p><p>subjetivo a naturalização, haja vista que tal ato é</p><p>considerado um ato de soberania do Estado. Nas</p><p>palavras de Valério Mazzuoli: “Não existe direito público</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 109</p><p>subjetivo à naturalização, a qual é sempre discricionária</p><p>do governo e se opera em atenção aos interesses</p><p>nacionais, mesmo que o requerente satisfaça todos os</p><p>requisitos necessários à sua concessão” [Op. cit. p. 694]</p><p>b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na</p><p>República Federativa do Brasil há mais de 15 anos</p><p>ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram</p><p>a nacionalidade brasileira.</p><p>Ponto 1: A norma constitucional exige residência</p><p>regular, portanto, não é possível estender sua aplicação</p><p>aos imigrantes ilegais.</p><p>Ponto 2: A norma constitucional, ao exigir que o lapso</p><p>temporal de 15 anos seja ininterrupto, não impede a</p><p>ausência temporária do estrangeiro, podendo ele se</p><p>ausentar temporariamente do território nacional.</p><p>Ponto 3: [...] segundo entendimento doutrinário e</p><p>jurisprudencial, ao contrário da naturalização ordinária,</p><p>preenchidos os dois requisitos da naturalização</p><p>extraordinária ou quinzenária, o estrangeiro terá direito</p><p>subjetivo à naturalização.” [Martins, Flávio. Curso de</p><p>direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1838). Saraiva</p><p>Jur.]</p><p>Especificamente sobre a naturalização, a Constituição Federal de 1988 não prevê a</p><p>naturalização tácita ou grande naturalização ou nacionalização unilateral, como</p><p>aconteceu na vigência das Constituições de 1824 e 1891, mas tão somente</p><p>naturalização expressa, que se divide em: A) ordinária e B) extraordinária, podendo</p><p>ser esquematizada da seguinte forma:</p><p>• Naturalização ordinária: Prevista no art. 12, II, “a”, da Constituição Federal,</p><p>bem como no Estatuto do Imigrante, em situações que não se cria um direito</p><p>público subjetivo para o pretenso indivíduo. Isso porque, mesmo que o</p><p>Requerente preencha todos os requisitos legais para a concessão da</p><p>naturalização, a palavra final fica sob um juízo de conveniência e</p><p>oportunidade política da autoridade competente, por se tratar de ato de</p><p>soberania estatal do Chefe do Poder Executivo Federal.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 110</p><p>• Naturalização extraordinária: Prevista no art. 12, II, “b”, da Constituição</p><p>Federal, em situação que se cria um direito público subjetivo para o pretenso</p><p>indivíduo. Isso porque, preenchidos os requisitos constitucionais [residência</p><p>ininterrupta por mais de 15 anos + ausência de condenação penal], o</p><p>Requerente adquire o direito público subjetivo, o direito potestativo,</p><p>de</p><p>adquirir a nacionalidade brasileira.</p><p>14.4 QUASE NACIONAIS</p><p>Os quase-nacionais são estrangeiros, especificamente estrangeiros oriundos do país</p><p>Portugal, aos quais são atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, conforme</p><p>dicção da norma prevista no art. 12, §1º, da Constituição Federal:</p><p>Vejam que os portugueses não perdem a sua cidadania e, por consectário,</p><p>continuam sendo portugueses, estrangeiros, mas podendo exercer os direitos</p><p>conferidos aos brasileiros, desde que não sejam vedados e haja, como visto, a</p><p>reciprocidade para brasileiros em Portugal. E, o gozo dos direitos políticos no Brasil</p><p>importa em suspensão do exercício dos mesmos direitos em Portugal.</p><p>14.5 DISTINÇÃO ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS E ESTRANGEIROS</p><p>Em razão do Princípio da Igualdade, a Lei não pode estabelecer distinção entre</p><p>brasileiros natos e brasileiros naturalizados. Apenas a Constituição Federal pode</p><p>estabelecer eventual tratamento diferenciado nesse sentido.</p><p>E a nossa Constituição Federal apresentou 4 [quatro] grupos de situações em que é</p><p>conferido um tratamento diferenciado ao brasileiro nato, a saber;</p><p>• Cargos exclusivos de brasileiros natos: Conforme dispõe o art. 12, §3º, da</p><p>Constituição Federal, são cargos exclusivos e que apenas podem ser</p><p>ocupados por brasileiros natos os seguintes: Oficial das Forças Armadas,</p><p>Carreira Diplomática, Ministro de Estado da Defesa, Ministro do Supremo</p><p>Tribunal Federal, Presidente do Senado Federal, Presidente da Câmara dos</p><p>Deputados, Presidente e Vice-Presidente da República.</p><p>Art. 12, §1º: Aos portugueses com residência permanente no País, se</p><p>houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos</p><p>inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 111</p><p>• Funções exclusivas de brasileiros natos: 6 [seis] assentos existentes no</p><p>Conselho da República são destinados e apenas podem ser ocupados por</p><p>brasileiros natos, merecendo destaque a transcrição da norma constitucional:</p><p>• Extradição Passiva: Impossibilidade de extradição de brasileiro nato: A</p><p>norma constitucional prevista no art. 5º, LI, impede que brasileiro nato seja</p><p>extraditado, permitindo a extradição apenas de estrangeiros e brasileiros</p><p>naturalizados.</p><p>• Propriedade de empresas jornalísticas e de radiofusão sonora e sons e</p><p>imagens: A Constituição Federal, em seu art. 222, estabelece que a</p><p>propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e</p><p>imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos,</p><p>ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede</p><p>no País.</p><p>14.6 PERDA NA NACIONALIDADE</p><p>Sobre a perda da nacionalidade brasileira, necessário colacionar a norma prevista no</p><p>art. 12, §4º, da Constituição Federal:</p><p>Art. 89, CF: O Conselho da República é órgão superior de consulta do</p><p>Presidente da República, e dele participam: I. o Vice-Presidente da</p><p>República; II. o Presidente da Câmara dos Deputados; III. o</p><p>Presidente do Senado Federal; IV. os líderes da maioria e da minoria</p><p>na Câmara dos Deputados; V. os líderes da maioria e da minoria no</p><p>Senado Federal; VI. o Ministro da Justiça; VII. seis cidadãos</p><p>brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo</p><p>dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo</p><p>Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos</p><p>com mandato de três anos, vedada a recondução.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 112</p><p>Veja que, como regra, o nosso ordenamento jurídico não admite a dupla</p><p>nacionalidade, salivo nas hipóteses previstas nos incisos I e II acima transcritos.</p><p>Inciso I: A hipótese prevista no inciso I é denominada como perda punição e é</p><p>aplicável única a exclusivamente para casos envolvendo brasileiros naturalizados,</p><p>podendo ser aplicada somente por ação judicial, proposta pelo Ministério Público</p><p>Federal, perante a Justiça Federal.</p><p>Com o cancelamento da naturalização do estrangeiro ele não poderá, mais uma vez,</p><p>se naturalizar brasileiro, sendo-lhe franqueado como única alternativa a propositura</p><p>de Ação Rescisória em face da sentença judicial transitada em julgado que decretou</p><p>a perda de sua nacionalidade.</p><p>Inciso II: A hipótese prevista no inciso II é denominada perda mudança e é aplicável</p><p>aos brasileiros natos, hipótese em que a perda da nacionalidade independe de ação</p><p>judicial e se concretiza em âmbito de procedimento administrativo, conforme se</p><p>depreende do julgado abaixo:</p><p>Art. 12, §4º, CF: Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:</p><p>I. tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de</p><p>atividade nociva ao interesse nacional;</p><p>II. adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: A) de reconhecimento de</p><p>nacionalidade originária pela lei estrangeira; B) de imposição de</p><p>naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado</p><p>estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o</p><p>exercício de direitos civis;</p><p>STF: CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. BRASILEIRA NATURALIZADA</p><p>AMERICANA. ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO NO EXTERIOR. FUGA PARA O BRASIL. PERDA</p><p>DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA EM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO REGULAR.</p><p>HIPÓTESE CONSTITUCIONALMENTE PREVISTA. NÃO OCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE OU</p><p>ABUSO DE PODER. DENEGAÇÃO DA ORDEM.</p><p>1. O Supremo Tribunal Federal é competente para o julgamento de mandado de</p><p>segurança impetrado contra ato do Ministro da Justiça em matéria extradicional. (HC</p><p>83.113/DF, Rel. Min. Celso de Mello).</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 113</p><p>A doutrina ensina que “Essa hipótese se aplica tanto aos brasileiros natos como os</p><p>brasileiros naturalizados. Assim, se um brasileiro nato se naturaliza americano,</p><p>português, argentino etc., perderá a nacionalidade brasileira, em regra. Trata-se de</p><p>um resquício no direito brasileiro do “princípio da aligeância”. [Martins, Flávio. Curso</p><p>de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1857). Saraiva Jur.]</p><p>Porém, existem duas situações em que a Constituição Federal admite a dupla</p><p>nacionalidade, a saber:</p><p>• Reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;</p><p>• Imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro</p><p>residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu</p><p>território ou para o exercício de direitos civis;</p><p>Por fim, merece destaque o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal sobre</p><p>perda de nacionalidade:</p><p>2. A Constituição Federal, ao cuidar da perda da nacionalidade brasileira, estabelece</p><p>duas hipóteses: (i) o cancelamento judicial da naturalização (art. 12, § 4º, I); e (ii) a</p><p>aquisição de outra nacionalidade. Nesta última hipótese, a nacionalidade brasileira só</p><p>não será perdida em duas situações que constituem exceção à regra: (i)</p><p>reconhecimento de outra nacionalidade originária (art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a</p><p>outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição de permanência</p><p>em seu território ou para o exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, b).</p><p>3. No caso sob exame, a situação da impetrante não se subsume a qualquer das</p><p>exceções constitucionalmente previstas para a aquisição de outra nacionalidade, sem</p><p>perda da nacionalidade brasileira.</p><p>4. Denegação da ordem com a revogação da liminar concedida. (MS 33864, Relator(a):</p><p>Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 19/04/2016, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO DJe-200 DIVULG 19-09-2016 PUBLIC 20-09-2016)</p><p>Julgado em Frase: Brasileiro, titular de green card, que adquire</p><p>nacionalidade norte-americana, perde a nacionalidade brasileira e pode ser</p><p>extraditado pelo Brasil. (MS 33864, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO,</p><p>Primeira Turma, julgado em 19/04/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-200</p><p>DIVULG 19-09-2016 PUBLIC 20-09-2016)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 114</p><p>15 DIREITOS POLÍTICOS E PARTIDOS POLÍTICOS</p><p>15.1</p><p>E ELEMENTOS INTEGRANTES</p><p>De acordo com Dalmo Dalari de Abreu, Estado deve ser entendido como “A ordem</p><p>jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em</p><p>determinado território.”</p><p>E para a formação de um Estado, necessário se faz a presença de 4 [quatro]</p><p>elementos, a saber:</p><p>• Povo;</p><p>• Território;</p><p>• Soberania e;</p><p>• Governo.</p><p>No que tange ao primeiro elemento [povo], necessário se faz promover uma</p><p>distinção entre ele e População, Nação e Cidadão, podendo ser sistematizado da</p><p>seguinte forma:</p><p>• Povo: Conjunto de cidadãos [nacionais] de um Estado. Unidos pelo vínculo da</p><p>nacionalidade.</p><p>• População: Expressão numérica dos habitantes de um Estado. Natos,</p><p>naturalizados, estrangeiros e apátridas.</p><p>• Nação: Comunidade histórica, cultural, étnica, linguística e tradicionalmente</p><p>homogênea.</p><p>• Cidadão: Pessoa que goza de direitos políticos.</p><p>Sobre o elemento Território, esse deve ser entendido como o espaço geográfico</p><p>dentro do qual o Estado exercita seu poder de mando, sua soberania.</p><p>No que diz respeito ao elemento Soberania, além de sua conceituação, é necessário</p><p>compreender os seus efeitos. A ideia de soberania pode ser sintetizada como o poder</p><p>de mando de última instância em uma sociedade politicamente organizada, sendo</p><p>que esse poder projeta efeitos tanto internos quanto externos: da seguinte forma:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 6</p><p>• Efeito interno: É compreendido como aquele poder superior a todos os</p><p>demais.</p><p>• Efeito externo: É compreendido como a independência em seu</p><p>relacionamento com os outros Estados e com as organizações internacionais,</p><p>não se sujeitando ou subordinando a nenhuma delas.</p><p>A ideia de Governo consiste na possibilidade de o Estado impor sua vontade sobre</p><p>os outros e exigir o cumprimento das leis. É a capacidade de editar as normas e de</p><p>fazê-las cumprir.</p><p>1.2 SISTEMAS E FORMAS DE GOVERNO E FORMAS DE ESTADO</p><p>Importante a distinção entre os institutos jurídicos de Sistema de Governo, Formas</p><p>de Governo e Formas de Estado.</p><p>SISTEMAS DE GOVERNO</p><p>Existem quatro formas de Sistemas de Governo: A) Presidencialismo, B)</p><p>Parlamentarismo, C) Semipresidencialismo ou Sistema misto, D) Sistema diretorial,</p><p>que podem ser assim sistematizados:</p><p>• Presidencialismo: Sistema de Governo criado nos Estados Unidos, pela</p><p>Constituição norte-americana de 1787, para substituir a figura do monarca,</p><p>em uma situação que as funções de Chefe de Estado e de Chefe de Governo</p><p>reúne-se em uma única pessoa; que exercerá suas funções por mandato</p><p>temporário, podendo perder o cargo apenas em caso de condenação pela</p><p>prática de crime de responsabilidade.</p><p>• Parlamentarismo: Sistema de Governo criado na Inglaterra, em uma situação</p><p>em que a função de Chefe do Estado é exercida pelo Presidente ou Monarca,</p><p>a depender da espécie do sistema [Parlamentarismo Republicano ou</p><p>Parlamentarismo Monárquico] e a função de Chefe de Governo é exercida</p><p>pelo Primeiro-Ministro. Saliente-se que, no Parlamentarismo, o Chefe de</p><p>Governo [Primeiro-Ministro] não tem um mandato determinado</p><p>permanecendo no cargo enquanto tiver a maioria e a confiança do</p><p>Parlamento.</p><p>Sobre eventual demissão do Primeiro-Ministro, em virtude do voto de desconfiança,</p><p>Dalmo Dalari de Abreu explica que “Se um parlamentar desaprova, no todo ou num</p><p>importante aspecto particular, a política desenvolvida pelo Primeiro-Ministro,</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 7</p><p>propõe um voto de desconfiança. Se este for aprovado pela maioria parlamentar,</p><p>isso revela que o Chefe de Governo está contrariando a vontade da maioria do povo,</p><p>de quem os parlamentares são representantes. Assim sendo, deve demitir-se”.</p><p>Saliente que o Presidencialismo brasileiro apresenta uma dinâmica peculiar, no qual</p><p>o poder conferido aos Parlamentares vai além da elaboração e votação de leis, tendo</p><p>eles participação nas decisões de governo, inclusive em indicações de cargo no Poder</p><p>Executivo. Assim, para viabilizar a governabilidade é necessária essa coalizão entre</p><p>Legislativo e Executivo, recebendo, então, a denominação de Presidencialismo de</p><p>Coalizão.</p><p>As principais diferenças entre esses Sistemas de Governo, são as seguintes:</p><p>Presidencialismo Parlamentarismo</p><p>O Presidente é o Chefe de Estado e o</p><p>Chefe de Governo</p><p>O Primeiro-Ministro é apenas chefe de</p><p>governo</p><p>O presidente é escolhido pelo povo O Primeiro-Ministro é escolhido pelo</p><p>Parlamento</p><p>O Presidente tem mandato determinado O Primeiro-Ministro não tem mandato</p><p>determinado</p><p>O Legislativo não pode tirar o Presidente,</p><p>salvo por crime de responsabilidade</p><p>O Primeiro-Ministro deve se demitir</p><p>quando perde a maioria do Parlamento</p><p>O Presidente da República não pode</p><p>dissolver o Legislativo</p><p>O Primeiro-Ministro pode dissolver o</p><p>Parlamento e convocar novas eleições</p><p>• Semipresidencialista: Sistema adotado na França, Finlândia e Portugal,</p><p>apresenta traços do Presidencialismo e Parlamentarismo. Como explica</p><p>Flávio Martins, “No sistema semipresidencialista, há dois órgãos eleitos pelo</p><p>sufrágio direto: o Presidente e o Parlamento. Da mesma forma, há dupla</p><p>responsabilidade do governo (do gabinete), perante o Presidente da</p><p>República e perante o Parlamento. Outrossim, existe a possibilidade de</p><p>dissolução do Parlamento por decisão e iniciativa autônomas do Presidente</p><p>da República. O Presidente tem poderes de direção política próprios.” [Curso</p><p>de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 2049). Saraiva Jur.]</p><p>• Diretorial: No sistema Diretorial, todo o poder do Estado é concentrado no</p><p>Parlamento. Porém, a função executiva é exercida por uma junta de governo,</p><p>que recebe os poderes via delegação do Parlamento. A função executiva é</p><p>exercida por um órgão colegial, o Diretório, que é eleito pelo Parlamento,</p><p>sendo suas funções exercidas por um período certo. Ressalte-se não existir</p><p>um chefe de Estado autônomo, sendo essas funções exercidas pelo Diretório.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 8</p><p>FORMAS DE GOVERNO</p><p>Na concepção aristotélica, existe três formas de governo: a Monarquia, que é o</p><p>governo de um só; a Aristocracia, que é o governo de mais de um; a República, que</p><p>é o governo em que o povo governa no interesse do povo.</p><p>Existem duas espécies de Formas de Governo: a Monarquia e a República, que</p><p>podem ser assim sistematizadas:</p><p>• Monarquia: A ideia é de “Governo de um só”, ou, “Poder de um só”. Na</p><p>Monarquia o poder concentra-se com o Rei ou com o Monarca. E apresenta,</p><p>basicamente, as seguintes características: A) Irresponsabilidade política do</p><p>Governante; B) Hereditariedade; C) Vitaliciedade.</p><p>O art. 99 da Constituição brasileira de 1824 afirmava que “A pessoa do Imperador é</p><p>inviolável, e sagrada: ele não está sujeito a responsabilidade alguma.”.</p><p>Sobre a vitaliciedade saliente-se que o Monarca exerce o poder enquanto viver ou</p><p>enquanto tiver condições para governar. Em 2014, o Rei Juan Carlos I, da Espanha,</p><p>optou por abdicar o trono em favor de seu filho.</p><p>• República: Essa forma de governo foi idealizada para implementar a</p><p>soberania popular, lembrando que a etiologia da palavra República significa</p><p>“coisa pública” ou “coisa de todos”. E apresenta, basicamente, as seguintes</p><p>características: A) Responsabilidade política do Governante; B) Eletividade; C)</p><p>Temporariedade.</p><p>1) Irresponsabilidade política do governante;</p><p>2) Transmissão do poder pelo vínculo de</p><p>hereditariedade e;</p><p>3) Permanência no poder de maneira vitalícia.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 9</p><p>FORMAS DE ESTADO</p><p>As formas de estado existente podem ser basicamente sistematizadas da seguinte</p><p>forma:</p><p>• Estado Unitário: No Estado Unitário tem-se apenas um centro de poder, ou</p><p>seja, apenas um poder para toda população. A tomada de decisões fica a</p><p>cargo do Governo nacional. No Brasil, a forma de estado Unitária ou Simples</p><p>foi adotada desde a primeira constituição [1824] até a Proclamação da</p><p>República, em 1889.</p><p>DIREITO AO SUFRÁGIO</p><p>A Constituição Federal, em seu art. 14, caput, dispõe que a soberania popular será</p><p>exercida pelo sufrágio universal, destacando que existem dois aspectos compõe o</p><p>direito de sufrágio, a saber: Alistabilidade: É o direito de votar, também conhecido</p><p>como capacidade eleitoral ativa. Elegibilidade: É o direito de ser votado, também</p><p>conhecido como capacidade eleitoral passiva.</p><p>ALISTABILIDADE</p><p>De acordo com o Código Eleitoral Brasileiro, o alistamento eleitoral é a primeira fase</p><p>do processo eleitoral, tratando-se de um procedimento administrativo cartorário</p><p>que compreende dois atos: a qualificação e a inscrição do eleitor, se apresentando</p><p>como duas espécies: Obrigatório: Para os indivíduos com idade compreendida entre</p><p>18 anos e 70 anos. Facultativo: Para os indivíduos com idade compreendida entre</p><p>16 anos e 18 anos, maiores de 70 anos de idade, bem como para os analfabetos.</p><p>Quanto a esses últimos [analfabetos], tenha em mente o seguinte: podem votar,</p><p>porém, não podem candidatar a nenhum mandato eletivo</p><p>Ressalte-se que o alistamento eleitoral e o voto são proibidos, nos termos do art. 14,</p><p>§2º, para os estrangeiros e para os militares conscritos, durante o serviço militar</p><p>obrigatório.</p><p>15.2 ELEGIBILIDADE</p><p>CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE</p><p>A elegibilidade, também, conhecida como capacidade eleitoral passiva, é o direito a</p><p>ser votado. E para o exercício desse direito, necessário se faz a presença de</p><p>condições cumulativas, a seguir discriminadas: A nacionalidade brasileira: Para se</p><p>candidatar a determinado mandato eletivo, a pessoa deve ser brasileira nata ou</p><p>naturalizada, não se podendo perder de vista que os cargos de presidente e vice-</p><p>presidente da República são privativos de brasileiros natos. O pleno exercício dos</p><p>direitos políticos: Assim, o pretenso candidato não poderá estar com seus direitos</p><p>políticos perdidos ou suspensos, nos termos do art. 15 da Constituição Federal. O</p><p>alistamento eleitoral; O domicílio eleitoral na circunscrição; A filiação partidária:</p><p>Nosso ordenamento jurídico não admite candidaturas avulsas, como é permitido nos</p><p>Estados Unidos, devendo o pretenso candidato estar filiado a um partido politico. A</p><p>idade mínima de: A) 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 115</p><p>Senador; B)30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito</p><p>Federal; C)21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,</p><p>Vice-Prefeito e juiz de paz; D)18 anos para Vereador.</p><p>Em regra, essas condições de elegibilidade devem ser aferidas no momento do</p><p>registro da candidatura. Porém, a condição da idade mínima deve ser verificada no</p><p>momento da posse. Inobstante, em virtude da Lei 13.165/2015, a idade mínima para</p><p>o cargo de vereador deve ser aferida no momento do registro da candidatura e não</p><p>no da posse, como para os demais cargos públicos eletivos.</p><p>CONDIÇÕES DE INELEGIBILIDADE</p><p>As condições de inelegibilidade são as situações que, caso presentes, privam o</p><p>individuo de concorrer a um mandato eletivo e subdividem em:</p><p>A) Absolutas, que somente podem ser previstas na Constituição Federal e</p><p>privam o indivíduo, de maneira integral, a concorrer a qualquer mandato</p><p>eletivo e;</p><p>B) Relativas, que podem ser previstas tanto na Constituição Federal, quanto</p><p>em Lei Complementar [Lei da Ficha Limpa: Lei Complementar 64/90] e privam</p><p>o indivíduo, de maneira temporária, a concorrer a determinado mandato</p><p>eletivo.</p><p>Os casos de inelegibilidade absoluta são os seguintes:</p><p>• Estrangeiros [inalistáveis];</p><p>• Durante o serviço militar obrigatório, os conscritos [inalistáveis];</p><p>• Analfabetos.</p><p>Os casos de inelegibilidade relativa são os seguintes:</p><p>• Inelegibilidade relativa para um 3º mandato sucessivo: Os chefes do Poder</p><p>Executivo [Prefeito, Governador e Presidente] não podem ser eleitos para um</p><p>terceiro mandato sucessivo, tendo previsão no art. 14, §5º, da Constituição</p><p>Federal:</p><p>Art. 14, §5º: O Presidente da República, os Governadores de Estado e do</p><p>Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no</p><p>curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período</p><p>subseqüente.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 116</p><p>Ressalte-se que pretensas candidaturas em Municípios diversos, em terceira</p><p>linha sucessiva, é considerada pelo Tribunal Superior Eleitoral como uma</p><p>burla a vedação do terceiro mandato, situação que ficou conhecida como</p><p>Prefeito Profissional ou Itinerante:</p><p>• Desincompatibilização: Caso os Chefes do Poder Executivo [Prefeito,</p><p>Governador e Presidente da República], caso pretendam concorrer a outros</p><p>cargos [não estamos falando de reeleição], devem renunciar aos respectivos</p><p>mandatos até 6 [seis] meses antes do pleito para o cargo que pretendam</p><p>concorrer, conforme prevê o art. 14, §6º, da Constituição Federal:</p><p>De acordo com Flávio Martins, “Caso um desses três queira se candidatar a</p><p>qualquer outro cargo público eletivo (se o prefeito quiser se candidatar a</p><p>governador, se o governador quiser se candidatar a senador etc.), deverá</p><p>TSE: “[...]. Recurso contra expedição de diploma. Mudança de domicílio</p><p>eleitoral. ‘prefeito itinerante’. Exercício consecutivo de mais de dois mandatos</p><p>de chefia do executivo em muncípios diferentes. Impossibilidade. Violação ao</p><p>art. 14, § 5º da Constituição Federal. [...]. 2. A partir do julgamento do Recurso</p><p>Especial nº 32.507/AL, em 17.12.2008, esta c. Corte deu nova interpretação</p><p>ao art. 14, § 5º, da Constituição Federal, passando a entender que, no Brasil,</p><p>qualquer Chefe de Poder Executivo - Presidente da República, Governador de</p><p>Estado e Prefeito Municipal - somente pode exercer dois mandatos</p><p>consecutivos nesse cargo. Assim, concluiu que não é possível o exercício de</p><p>terceiro mandato subsequente para o cargo de prefeito, ainda que em</p><p>município diverso. 3. A faculdade de transferência de domicílio eleitoral não</p><p>pode ser utilizada para fraudar a vedação contida no art. 14, § 5º, da</p><p>Constituição Federal, de forma a permitir que prefeitos concorram</p><p>sucessivamente e ilimitadamente ao mesmo cargo em diferentes municípios,</p><p>criando a figura do ‘prefeito profissional’. 4. A nova interpretação do art. 14, §</p><p>5º, da Constituição Federal adotada pelo e. TSE no julgamento dos Recursos</p><p>Especiais nos 32.507/AL e 32.539/AL em 2008 é a que deve prevalecer, tendo</p><p>em vista a observância ao princípio republicano, fundado nas ideias de</p><p>eletividade, temporariedade e responsabilidade dos governantes. [...] (Ac. de</p><p>27.5.2010 no AgR-REspe nº 4198006, rel. Min. Aldir Passarinho Junior.)</p><p>Art. 14, §6º, CF: Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República,</p><p>os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem</p><p>renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 117</p><p>renunciar ao atual mandato até seis meses antes do pleito eleitoral.” [2022</p><p>(p. 1972).]</p><p>• Inelegibilidade relativa reflexa, em razão do parentesco: Essa</p><p>inelegibilidade, diferente das duas anteriores, não macula o próprio agente</p><p>político, mas, sim, o conjunge e os parentes até 2º grau dos Chefes do Poder</p><p>Executivo [Prefeito, Governador e Presidente da República].</p><p>De acordo com o art. 14, §7º, da Constituição Federal, o cônjuge e os parentes</p><p>dos Chefes do Executivo não podem se candidatar a mandato eletivo no</p><p>território onde aqueles exerçam jurisdição, salvo se já forem titular de</p><p>mandato eletivo e candidato a reeleição:</p><p>O quadro sinóptico abaixo traz uma dimensão da materialização da norma:</p><p>Cônjuge e Parentes</p><p>do (...)</p><p>Não poderão se candidatar aos seguintes cargos</p><p>(...)</p><p>Presidente Nenhum cargo eletivo no país, seja ele municipal,</p><p>estadual ou federal.</p><p>Governador Nenhum cargo no mesmo Estado, ou seja, aos</p><p>seguintes cargos: Vereador ou Prefeito de</p><p>qualquer município do respectivo Estado,</p><p>Deputado Estatual</p><p>e Governador do respectivo</p><p>Estado, Deputado Federal e Senador nas vagas do</p><p>respectivo Estado.</p><p>Prefeito Vereador ou Prefeito</p><p>Ressalte-se a existência de atecnia normativa no omento em que a</p><p>Constituição Federal utilizada a palavra “jurisdição”, quando deveria utilizar</p><p>a palavra “circunscrição”, haja vista que aquela é reservada aos membros do</p><p>Poder Judiciário.</p><p>De acordo com o Supremo Tribunal Federal, as hipóteses de inelegibilidade</p><p>previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo de seis meses, são</p><p>aplicáveis às eleições suplementares:</p><p>Art. 14, §7º: São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e</p><p>os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do</p><p>Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito</p><p>Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses</p><p>anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à</p><p>reeleição.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 118</p><p>Essa inelegibilidade se aplica ao companheiro e companheira na constância</p><p>da união estável, bem como nas uniões homoafetivas, conforme</p><p>entendimento do Tribunal Superior Eleitoral.</p><p>Saliente-se que tentativas de burla à vedação da inelegibilidade relativa</p><p>reflexa/pelo parentesco foram perpetradas, com a dissolução do vínculo</p><p>conjugal, pelo divórcio, no curso do mandato, o que obrigou o Supremo</p><p>Tribunal Federal a editar o enunciado da Súmula Vinculante 18:</p><p>Porém, como a dissolução do vínculo conjugal pode se dar tanto pelo</p><p>divórcio, quanto pela morte, posteriormente à edição da Súmula Vinculante,</p><p>o Supremo Tribunal Federal relativizou o enunciado da Súmula em casos</p><p>envolvendo a morte do Chefe do Executivo no curso do mandato:</p><p>STF: CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.</p><p>REPERCUSSÃO GERAL. PREFEITO AFASTADO POR DECISÃO DO TRE. ELEIÇÃO</p><p>SUPLEMENTAR. PRAZO DE INELEGIBILIDADE. ART. 14, § 7º, DA</p><p>CONSTITUIÇÃO FEDERAL. APLICAÇÃO. 1. As hipóteses de inelegibilidade</p><p>previstas no art. 14, § 7º, da Constituição Federal, inclusive quanto ao prazo</p><p>de seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares. Eleição</p><p>suplementar marcada para menos de seis meses do afastamento do</p><p>prefeito por irregularidades. 2. Recurso improvido. (RE 843455, Relator(a):</p><p>Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 07/10/2015, ACÓRDÃO</p><p>ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-018 DIVULG 29-01-2016</p><p>PUBLIC 01-02-2016)</p><p>Súmula Vinculante 18: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no</p><p>curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14</p><p>da Constituição Federal.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 119</p><p>• Inelegibilidade relativa em relação aos militares: De acordo com o art. 14,</p><p>§8º, da Constituição Federal, o militar alistável é elegível, atendidas as</p><p>seguintes condições: 1ª) se contar menos de 10 anos de serviço, deverá</p><p>afastar-se da atividade; 2ª) se contar mais de 10 anos de serviço, será</p><p>agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no</p><p>ato da diplomação, para a inatividade:</p><p>Por fim, destaque-se que Lei Complementar poderá estabelecer outros casos de</p><p>inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade</p><p>administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa</p><p>do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do</p><p>poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na</p><p>administração direta ou indireta, conforme dicção da norma prevista no art. 14, §9º,</p><p>da Constituição Federal.</p><p>A Lei Complementar que regulamentou esse dispositivo constitucional é a Lei</p><p>Complementar 64/1990, conhecida como Lei da Ficha Limpa.</p><p>STF: CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. MORTE DE PREFEITO NO CURSO DO</p><p>MANDATO, MAIS DE UM ANO ANTES DO TÉRMINO. INELEGIBILIDADE DO</p><p>CÔNJUGE SUPÉRSTITE. CF, ART. 14, § 7º. INOCORRÊNCIA. 1. O que orientou a</p><p>edição da Súmula Vinculante 18 e os recentes precedentes do STF foi a</p><p>preocupação de inibir que a dissolução fraudulenta ou simulada de sociedade</p><p>conjugal seja utilizada como mecanismo de burla à norma da inelegibilidade</p><p>reflexa prevista no § 7º do art. 14 da Constituição. Portanto, não atrai a</p><p>aplicação do entendimento constante da referida súmula a extinção do</p><p>vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges. 2. Recurso extraordinário a</p><p>que se dá provimento. (RE 758461, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI,</p><p>Tribunal Pleno, julgado em 22/05/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO</p><p>REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-</p><p>2014)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 120</p><p>15.3 VOTO</p><p>De acordo com o art. 60, §4º, II, da Constituição Federal, o voto, em nosso</p><p>ordenamento jurídico, apresenta as seguintes características:</p><p>• Direto: O voto é direto, haja vista que somente o eleitor pode exercê-lo, ou</p><p>seja, não pode se valer de mandatário ou interposta pessoa para o exercício</p><p>do ato. A doutrina ensina que “Voto direto é aquele em que o eleitor escolhe</p><p>diretamente seu representante (presidente, governador, deputado, senador,</p><p>vereador etc.), sem intermediários. O povo vai diretamente às urnas e escolhe</p><p>seus representantes. Importante frisar que há uma exceção prevista na</p><p>Constituição, de voto indireto: ocorrendo a vacância dos cargos de presidente</p><p>e vice-presidente da República nos dois últimos anos do mandato, “a eleição</p><p>para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo</p><p>Congresso Nacional, na forma da lei” (art. 81, § 1º, CF).” [Martins, Flávio.</p><p>Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1954). Saraiva Jur.]</p><p>• Secreto: O voto é secreto, haja vista que a cabine eleitoral é inviolável e</p><p>ninguém deve revelar os candidatos em que votou, merecendo destacar que</p><p>o Supremo Tribunal Federal entendeu que é inconstitucional a lei que</p><p>determina que, na votação eletrônica, o registro de cada voto deverá ser</p><p>impresso, justamente por violar essa característica do voto:</p><p>In</p><p>el</p><p>eg</p><p>ib</p><p>ili</p><p>d</p><p>ad</p><p>e</p><p>Absolutas</p><p>Somente podem ser previstas</p><p>na Constituição Federal e</p><p>privam o indivíduo, de</p><p>maneira integral, a concorrer</p><p>a qualquer mandato eletivo</p><p>Estrangeiros [inalistáveis]</p><p>Durante o serviço militar obrigatório, os</p><p>conscritos [inalistáveis]</p><p>Analfabetos</p><p>Relativas</p><p>Previstas tanto na</p><p>Constituição Federal, quanto</p><p>em Lei Complementar [Lei da</p><p>Ficha Limpa: Lei</p><p>Complementar 64/90] e</p><p>privam o indivíduo, de</p><p>maneira temporária, a</p><p>concorrer a determinado</p><p>mandato eletivo</p><p>Inelegibilidade relativa para um 3º</p><p>mandato sucessivo</p><p>Desincompatibilização</p><p>Inelegibilidade relativa reflexa, em</p><p>razão do parentesco</p><p>Inelegibilidade relativa em relação aos</p><p>militares</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 121</p><p>• Universal: O voto é universal, haja vista é um direito político reconhecido a</p><p>todos os nacionais do país, independentemente da pertinência a dado grupo</p><p>ou a dada classe ou da apresentação de certa qualificação. Preenchidos</p><p>requisitos constitucionais mínimos, todos podem votar e ser votados.</p><p>Saliente-se que, hoje, em nosso ordenamento jurídico, o sufrágio é</p><p>universal, mas é necessário conhecer outra espécie de sufrágio, qual</p><p>seja: o sufrágio restrito, que se apresenta nas seguintes espécies: A)</p><p>Capacitário: Prevê critérios concernentes à qualificação ou à</p><p>capacidade do eleitor, especialmente no que diz respeito ao preparo</p><p>ou à habilidade intelectual. B) Censitário: Concede-se o direito do voto</p><p>apenas a quem disponha de certa condição ou qualificação econômica.</p><p>Atenção: O que distingue o sufrágio universal do restrito não é o fato</p><p>de existirem restrições ao exercício do poder democrático, mas sim a</p><p>razoabilidade, ou não, de tais restrições. [Jaime Barreiros Neto, 2022,</p><p>p. 31]</p><p>STF: CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. LEGITIMIDADE DO CONGRESSO</p><p>NACIONAL PARA ADOÇÃO DE SISTEMAS E PROCEDIMENTOS DE ESCRUTÍNIO</p><p>ELEITORAL COM OBSERVÂNCIA DAS GARANTIAS DE SIGILOSIDADE E</p><p>LIBERDADE DO VOTO</p><p>(CF, ARTS. 14, 60, § 4º, II). MODELO HÍBRIDO DE</p><p>VOTAÇÃO PREVISTO PELO ART. 59-A DA LEI 9.504/1997. POTENCIALIDADE DE</p><p>RISCO NA IDENTIFICAÇÃO DO ELEITOR CONFIGURADORA DE AMEAÇA À SUA</p><p>LIVRE ESCOLHA. CAUTELAR DEFERICA COM EFEITOS EX TUNC. 1. A</p><p>implementação do sistema eletrônico de votação foi valiosa contribuição para</p><p>assegurar a lisura dos procedimentos eleitorais, mitigando os riscos de fraudes</p><p>e manipulação de resultados e representando importante avanço na</p><p>consolidação democrática brasileira. 2. A Democracia exige mecanismos que</p><p>garantam a plena efetividade de liberdade de escolha dos eleitores no</p><p>momento da votação, condicionando a legítima atividade legislativa do</p><p>Congresso Nacional na adoção de sistemas e procedimentos de escrutínio</p><p>eleitoral que preservem, de maneira absoluta, o sigilo do voto (art. 14, caput, e</p><p>art. 60, §4º, II, da CF). 3. O modelo híbrido de votação adotado pelo artigo 59-</p><p>A da Lei 9.504/97 não mantém a segurança conquistada, trazendo riscos à</p><p>sigilosidade do voto e representando verdadeira ameaça a livre escolha do</p><p>eleitor, em virtude da potencialidade de identificação. 4. Medida cautelar</p><p>concedida para suspender, com efeito ex tunc, a eficácia do ato impugnado,</p><p>inclusive em relação ao certame licitatório iniciado. (ADI 5889 MC, Relator(a):</p><p>GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2018, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO DJe-187 DIVULG 28-07-2020 PUBLIC 29-07-2020)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 122</p><p>• Periódico: O voto é periódico, haja vista que condições devem ser propiciadas</p><p>para permitir que aos cidadãos seja conferido de tempos em tempos,</p><p>escolher seus representantes.</p><p>15.4 PERDA OU SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS</p><p>Dentro dessa temática, a primeira informação que deve ser apresentada é a de que</p><p>é vedada a cassação de direitos políticos, ou seja, a retirada arbitrária dos direitos</p><p>políticos.</p><p>Porém, lado outro, é permitida a perda ou suspensão dos Direitos Políticos,</p><p>conforme dicção do art. 15 da Constituição Federal:</p><p>O grande problema que gravita em torno desse dispositivo constitucional é que ele</p><p>não estabelece qual(is) é(são) a(s) hipótese(s) de perda e de suspensão dos direitos</p><p>políticos.</p><p>Porém, de antemão, necessário salientar que, conforme ensinamento doutrinário,</p><p>“Embora o mencionado dispositivo legal não estabeleça as diferenças entre ambas</p><p>as penalidades constitucionais, podemos afirmar que a perda se dá por prazo</p><p>indeterminado e a suspensão se dá por prazo determinado.” [Martins, Flávio. Curso</p><p>de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 1987).]</p><p>E a grande divergência gira em torno do inciso IV, haja vista que parte da doutrina</p><p>entende tratar-se de hipótese de perda e outra parte entende tratar-se de hipótese</p><p>de suspensão.</p><p>Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão</p><p>só se dará nos casos de:</p><p>I. cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;</p><p>II. incapacidade civil absoluta;</p><p>III. condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus</p><p>efeitos;</p><p>IV. recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,</p><p>nos termos do art. 5º, VIII;</p><p>V. improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 123</p><p>Porém, como o Código de Processo Penal, em seu art. 438, dispõe que tal situação é</p><p>uma hipótese de suspensão dos direitos políticos, essa é a posição mais segura a ser</p><p>adotada:</p><p>Assim, em conclusão, defende-se que a única hipótese de perda dos direitos políticos</p><p>é a prevista no inciso I, qual seja, cancelamento da naturalização por sentença</p><p>transitada em julgado; sendo todas as demais hipóteses de suspensão dos Direitos</p><p>Políticos.</p><p>Por fim, no que tange à situação posta no inciso III, necessário destacar que a</p><p>suspensão de Direitos Políticos será aplicada mesmo nos casos de substituição da</p><p>pena privativa de liberdade por restritiva de direitos:</p><p>15.5 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO</p><p>A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo [AIME] tem seu âmbito de cabimento</p><p>restrito, apenas podendo ser proposta, perante a Justiça Eleitoral, nos casos em que</p><p>Art. 438, CPP: A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa,</p><p>filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob</p><p>pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço</p><p>imposto.</p><p>STF: PENAL E PROCESSO PENAL. SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS.</p><p>AUTOAPLICAÇÃO. CONSEQUÊNCIA IMEDIATA DA SENTENÇA PENAL</p><p>CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO. NATUREZA DA PENA IMPOSTA</p><p>QUE NÃO INTERFERE NA APLICAÇÃO DA SUSPENSÃO. OPÇÃO DO</p><p>LEGISLADOR CONSTITUINTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A regra de</p><p>suspensão dos direitos políticos prevista no art. 15, III, é autoaplicável, pois</p><p>trata-se de consequência imediata da sentença penal condenatória</p><p>transitada em julgado. 2. A autoaplicação independe da natureza da pena</p><p>imposta. 3. A opção do legislador constituinte foi no sentido de que os</p><p>condenados criminalmente, com trânsito em julgado, enquanto durar os</p><p>efeitos da sentença condenatória, não exerçam os seus direitos políticos. 4.</p><p>No caso concreto, recurso extraordinário conhecido e provido. (RE 601182,</p><p>Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE</p><p>DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 08/05/2019, DJe-214 DIVULG 01-</p><p>10-2019 PUBLIC 02-10-2019)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 124</p><p>se comprove que o candidato foi eleito ou diplomado graças ao: A) Abuso do poder</p><p>econômico; B) Atos de corrupção ou; C) Fraude.</p><p>Conforme prevê o art. 22 da Lei Complementar 64/1990, os legitimados para a</p><p>propositura da demanda são:</p><p>A) Partidos Políticos,</p><p>B) Coligações,</p><p>C) Candidatos e</p><p>D) Ministério Público Eleitoral.</p><p>Saliente-se que o prazo decadência para a propositura da demanda é de 15 dias,</p><p>contados da diplomação, devendo a demanda tramitar em segredo de justiça,</p><p>respondendo o autor, na forma da lei, caso litigue de maneira temerária ou de má-</p><p>fé.</p><p>Apesar de a Constituição Federal dispor que a AIME tramitará em segredo de justiça,</p><p>o Tribunal Superior Eleitoral já decidiu que o seu julgamento deve ser público: “O</p><p>trâmite da ação de impugnação de mandato eletivo deve ser realizado em segredo</p><p>de justiça, mas o seu julgamento deve ser público” (Res. n. 21. 283, de 5-11-2002,</p><p>rel. Min. Ellen Gracie).</p><p>Por fim, destaque que a presente demanda não admite desistência ou composição</p><p>entre as partes.</p><p>15.6 PRINCÍPIO DA ANUALIDADE</p><p>Segundo art. 16 da Constituição Federal, a lei que alterar o processo eleitoral entrará</p><p>em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até 1 ano</p><p>da data de sua vigência.</p><p>Assim, apesar de a lei que modificar o processo eleitoral entrar em vigor</p><p>imediatamente, ela apenas poderá ser aplicada às eleições que venham a ocorrer</p><p>pelo menos `anos depois de sua vigência.</p><p>Destaque que o Supremo Tribunal Federal entende que a aplicação retroativa da Lei</p><p>Complementar 64/1990 [Lei da Ficha Limpa] não fere o princípio em questão,</p><p>ressaltando que esse já era o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 125</p><p>15.7 PARTIDOS POLÍTICOS</p><p>É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados</p><p>a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos</p><p>fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:</p><p>I. caráter nacional;</p><p>II. proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo</p><p>estrangeiros ou de subordinação a estes;</p><p>III. prestação de contas à Justiça Eleitoral;</p><p>IV. funcionamento parlamentar de acordo com a lei.</p><p>É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e</p><p>estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes</p><p>e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de</p><p>escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua</p><p>celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as</p><p>candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus</p><p>estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.</p><p>Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil,</p><p>registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.</p><p>Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à</p><p>televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente:</p><p>I. Obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% dos</p><p>votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da</p><p>Federação, com um mínimo de 2% dos votos válidos em cada uma delas; ou</p><p>As inelegibilidades da Lei Complementar n. 135/2010 incidem de imediato</p><p>sobre todas as hipóteses nela contempladas, ainda que o respectivo fato seja</p><p>anterior à sua entrada em vigor, pois as causas de inelegibilidade devem ser</p><p>aferidas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura,</p><p>não havendo, portanto, que se falar em retroatividade da lei. (Ac. de 30-9-</p><p>2010 no AgR-RO n. 60.998, rel. Min. Arnaldo Versiani).</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 126</p><p>II. Tiverem elegido pelo menos 15 Deputados Federais distribuídos em pelo</p><p>menos 1/3 das unidades da Federação.</p><p>Ao eleito por partido que não preencher os requisitos acima previstos é assegurado</p><p>o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os</p><p>tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos</p><p>recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão.</p><p>É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.</p><p>Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os</p><p>Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o</p><p>mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa</p><p>causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração de partido</p><p>para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros fundos</p><p>públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão.</p><p>Sobre os Partidos Políticos, destaque que o Supremo Tribunal Federal entende que</p><p>as contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos</p><p>são inconstitucionais, lado outro as contribuições feitas por pessoas físicas são</p><p>consideradas válidas:</p><p>STF: [...] A preliminar de inadequação da via eleita não merece acolhida, visto</p><p>que todas as impugnações veiculadas pelo Requerente (i.e., autorização por</p><p>doações por pessoas jurídicas ou fixação de limites às doações por pessoas</p><p>naturais) evidenciam que o ultraje à Lei Fundamental é comissivo, e não</p><p>omissivo. [...]. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente</p><p>procedente para assentar apenas e tão somente a inconstitucionalidade</p><p>parcial sem redução de texto do art. 31 da Lei nº 9.096/95, na parte em que</p><p>autoriza, a contrario sensu, a realização de doações por pessoas jurídicas a</p><p>partidos políticos, e pela declaração de inconstitucionalidade das expressões</p><p>“ou pessoa jurídica”, constante no art. 38, inciso III, e “e jurídicas”, inserta no</p><p>art. 39, caput e § 5º, todos os preceitos da Lei nº 9.096/95. (ADI 4650,</p><p>Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2015,</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO DJe-034 DIVULG 23-02-2016 PUBLIC 24-02-2016)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 127</p><p>16 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA</p><p>16.1 FEDERALISMO</p><p>IDEIA INICIAL</p><p>Quando se trabalha o instituto do Federalismo, surgem três ideias basilares, que</p><p>podem ser assim sintetizadas:</p><p>1ª Ideia: Denominação feita à relação existente entre as diversas unidades da</p><p>Federação, tanto entre si, quanto com o Governo Federal.</p><p>2ª Ideia: É um sistema político em que Municípios, Estados e Distrito Federal,</p><p>sendo independentes um do outro, formam um todo que valida um governo</p><p>central e federal, que governa sobre todos os entes.</p><p>3ª Ideia: É um sistema de governo, em que várias unidades parciais se reúnem</p><p>para formar um Estado; cada um conservando sua autonomia.</p><p>MOVIMENTOS DE FORMAÇÃO</p><p>O Federalismo apresenta tipologias, também conhecido como Movimentos de</p><p>Formação, que podem ser assim sistematizados:</p><p>A) Federalismo por movimento centrípeto ou por agregação;</p><p>B) Federalismo por movimento centrífugo ou por desagregação</p><p>No Federalismo por movimento centrípeto ou por agregação, a Federação se origina</p><p>da união de entes antes soberanos, que renunciam à parcela da soberania, para a</p><p>formação da federação. E como exemplo podemos citar os seguintes países: Estados</p><p>Unidos da América, Alemanha e Suíça.</p><p>No Federalismo por movimento centrífugo ou por desagregação a Federação se</p><p>origina de um Estado unitário, que se divide. Há, assim, a desagregação (divisão) do</p><p>poder central, nas novas unidades que se formam. No entanto, parcela maior deste</p><p>poder continua com o Estado central, que restringe a autonomia dos estados-</p><p>membros. E como exemplo podemos citar o Brasil, desde 1891.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 128</p><p>ESPÉCIES</p><p>Existem espécies de Federalismo, que podem ser sistematizadas da seguinte forma:</p><p>O Federalismo Dual ou Dualista caracteriza-se por uma repartição horizontal de</p><p>competências entre a União e os Estados Membros. A Constituição divide as</p><p>competências de forma equilibradas. Como a repartição é horizontal, pode-se dizer</p><p>que os entes estão no mesmo plano/patamar. Isso porque as entidades autônomas</p><p>são distintas, estanques, não se comunicam. A divisão é feita de maneira rígida, não</p><p>havendo interferência de um em outro e muito menos cooperação ou</p><p>interpenetração entre os entes.</p><p>O Federalismo Cooperativo flexibiliza o modelo de Federalismo Dual. O Federalismo</p><p>cooperativo surge com o Estado do Bem-Estar Social, com o exercício das atribuições</p><p>de modo comum ou concorrente, promovendo-se uma aproximação entre os entes</p><p>políticos.</p><p>O Federalismo Simétrico é apresentado pela doutrina com ideias diferentes. A</p><p>primeira ideia apresentada defende que o Federalismo Simétrico seria o típico</p><p>federalismo, pressupõe a adoção de um modelo tradicional com as características</p><p>dominantes de uma federação clássica, quais sejam: Soberania do Estado federal;</p><p>Descentralização política; Existência de uma Constituição rígida; Existência de um</p><p>órgão guardião da Constituição; Inexistência do direito de secessão.</p><p>O Federalismo Assimétrico é apresentado, também, pela doutrina com ideias</p><p>diferentes. A primeira ideia apresentada defende que é um federalismo atípico. É</p><p>aquele em que há um rompimento com as linhas tradicionais do federalismo</p><p>simétrico. E como exemplo, cita-se o Brasil, haja vista que na federação brasileira</p><p>temos algumas características que nenhuma outra federação do mundo possui,</p><p>como, por exemplo, a consagração de um Município ser um ente federativo. A</p><p>segunda ideia apresentada defende que o Federalismo Assimétrico apresenta uma</p><p>diversidade de cultura, língua ou desenvolvimento. Ex. Canadá.</p><p>O Federalismo de Integração caracteriza-se por uma repartição vertical de</p><p>competências, nas quais há uma relação de sujeição dos Estados em relação à União.</p><p>Há o fortalecimento do ente central em detrimento dos entes periféricos. O</p><p>professor André Ramos Tavares ensina que “No extremo, o federalismo de</p><p>integração será um federalismo meramente formal, cuja forte assimetria entre</p><p>poderes distribuídos entre as entidades componentes da federação o aproxima de</p><p>um Estado unitário descentralizado, com forte e ampla dependência, por parte das</p><p>unidades federativas, em relação ao Governo da União federal”.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 129</p><p>Ressalte-se que o §único do art. 23 da Constituição Federal dispõe</p><p>que “Leis</p><p>complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o</p><p>Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do</p><p>bem-estar em âmbito nacional.”, o que dá conta que nosso ordenamento tende para</p><p>a adoção de um modelo de Federalismo Cooperativo.</p><p>ALTERAÇÃO DA FORMA FEDERATIVA DE ESTADO</p><p>A forma federativa de Estado foi incluída pelo Poder Constituinte Originário, no art.</p><p>60, §4º, da Constituição Federal, como cláusula pétrea, o que implica em afirmar</p><p>que tal instituto não pode ser objeto de supressão do nosso ordenamento jurídico:</p><p>16.2 SOBERANIA E AUTONOMIA</p><p>Importante a diferenciação dos institutos da Soberania e Autonomia. A Soberania é</p><p>o poder supremo que permite que uma Nação se autodeterminar perante as demais</p><p>Nações e Organizações Internacionais A Autonomia consiste no conjunto de</p><p>capacidades atribuídas pela Constituição aos Entes Políticos, a fim de que possam</p><p>atuar dentro de suas esferas de competência.</p><p>Necessário que se tenha em mente que o Titular da Soberania é a República</p><p>Federativa do Brasil; porém, quem Exerce a Soberania em nome da República</p><p>Federativa do Brasil, é o ente político União.</p><p>Lado outro, quem possui autonomia são os entes políticos União, Estados-Membros,</p><p>Distrito Federal e Municípios. E essa autonomia consiste nas seguintes capacidades:</p><p>Capacidade de Autogoverno: Elegem diretamente os membros dos poderes</p><p>Legislativo e Executivo.</p><p>Capacidade de Autoadministração: Podem exercer livremente as</p><p>competências legislativas, tributárias e executivas delimitadas pela</p><p>Constituição.</p><p>Capacidade de Auto-legislação: Capacidade de os entes políticos elaborarem</p><p>suas próprias leis.</p><p>Art. 60, §4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda</p><p>tendente a abolir: I. a forma federativa de Estado; II. o voto direto, secreto,</p><p>universal e periódico; III. a separação dos Poderes; IV. os direitos e garantias</p><p>individuais.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 130</p><p>Capacidade de Auto-organização: Estados-membros tem Constituições</p><p>próprias e Municípios tem Leis orgânicas próprias.</p><p>REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL</p><p>Sobre a República Federativa do Brasil, os seguintes dispositivos precisam ser</p><p>destacados:</p><p>CONDUTAS VEDADAS AOS ENTES POLÍTICOS</p><p>Quando do estudo dos Direitos e Garantias Fundamentais, foi estudado a Liberdade</p><p>Religiosa, direito previsto no art. 5º, VII e VIII da Constituição Federal, que</p><p>compreende a Liberdade de escolha da religião, Liberdade de aderir a qualquer seita</p><p>religiosa, Liberdade (ou o direito) de mudar de religião [direito de apostasia],</p><p>Liberdade de não aderir a religião alguma [direito de apostasia] e a Liberdade de ser</p><p>ateu.</p><p>O art. 19 do Texto Magno traz três condutas vedadas aos Entes Políticos, a saber:</p><p>Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos</p><p>Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado</p><p>Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]</p><p>Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do</p><p>Brasil. §1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o</p><p>hino, as armas e o selo nacionais.</p><p>Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do</p><p>Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,</p><p>todos autônomos, nos termos desta Constituição.</p><p>Art. 210, §2º: O ensino fundamental regular será ministrado em língua</p><p>portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de</p><p>suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 131</p><p>E a conjugação das duas normas constitucionais permite afirmamos que o Brasil é</p><p>um país: Leigo, Laico, Não confessional.</p><p>Por fim, merece destaque o seguinte aresto do Supremo Tribunal Federal:</p><p>16.3 UNIÃO</p><p>A União é um ente político dotado de dupla personalidade, internamente é uma</p><p>pessoa jurídica de direito público interno, componente da Federação brasileira.</p><p>internacionalmente representa a República Federativa do Brasil em suas relações</p><p>internacionais.</p><p>A União detém a titularidade de determinados bens, conforme dicção do art. 20 da</p><p>Constituição, a saber:</p><p>Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos</p><p>Municípios: I. estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,</p><p>embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus</p><p>representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma</p><p>da lei, a colaboração de interesse público; II. recusar fé aos documentos</p><p>públicos; III. criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.</p><p>STF: O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto</p><p>às religiões [ADPF 54, rel. min. Marco Aurélio, j. 12-4-2012, P, DJE de 30-4-</p><p>2013]</p><p>Art. 20. São bens da União:</p><p>I. os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;</p><p>II. as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações</p><p>e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação</p><p>ambiental, definidas em lei;</p><p>III. os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio,</p><p>ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou</p><p>se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os</p><p>terrenos marginais e as praias fluviais;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 132</p><p>Sobre os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal, necessário destacar o</p><p>enunciado de Súmula 650 do Supremo Tribunal Federal:</p><p>16.4 ESTADOS-MEMBROS</p><p>O processo de formação de um novo estado pode se dar de três formas distintas, a</p><p>saber:</p><p>Incorporação ocorre uma fusão entre dois ou mais estados, dando origem à</p><p>formação de um novo estado ou território federal.</p><p>Subdivisão ocorre uma cisão do estado originário, que se transforma em novos</p><p>estados ou territórios.</p><p>Desmembramento, um estado, já formado, cede parte de seu território geográfico,</p><p>a fim de que um novo estado ou território seja formado [desmembramento para</p><p>IV. as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as</p><p>praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que</p><p>contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço</p><p>público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;</p><p>V. os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica</p><p>exclusiva;</p><p>VI. o mar territorial;</p><p>VII. os terrenos de marinha e seus acrescidos;</p><p>VIII. os potenciais de energia hidráulica;</p><p>IX. os recursos minerais, inclusive os do subsolo;</p><p>X. as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-</p><p>históricos;</p><p>XI. as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.</p><p>Súmula 650, STF: Os incisos I e XI do art. 20 da CF não alcançam terras de</p><p>aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado</p><p>remoto.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 133</p><p>formação de novos estados ou territórios] ou para acrescer a um território de outro</p><p>ente político, sem que haja criação de uma nova unidade [desmembramento para</p><p>anexação].</p><p>Para que qualquer desses processos seja realizado, é necessário que três requisitos</p><p>sejam preenchidos, a saber:</p><p>A) Plebiscito, que é um instrumento da democracia direta, uma forma de</p><p>consulta à população, diretamente interessada, abarcando tanto a população</p><p>da área desmembrada quanto da área remanescente, de acordo com o</p><p>Supremo Tribunal Federal:</p><p>B) Projeto de Lei Complementar e;</p><p>C) Aprovação da Lei Complementar.</p><p>E tais pontos estão previstos no art. 18, §3º, da Constituição Federal, que possui a</p><p>seguinte redação:</p><p>STF: Sendo o desmembramento uma divisão territorial, uma separação, com</p><p>o desfalque de parte do território e de parte da sua população, não há como</p><p>excluir da consulta plebiscitária os interesses da população</p><p>da área</p><p>remanescente, população essa que também será inevitavelmente afetada.</p><p>O desmembramento dos entes federativos, além de reduzir seu espaço</p><p>territorial e sua população, pode resultar, ainda, na cisão da unidade</p><p>sociocultural, econômica e financeira do Estado, razão pela qual a vontade</p><p>da população do território remanescente não deve ser desconsiderada, nem</p><p>deve ser essa população rotulada como indiretamente interessada.</p><p>Indiretamente interessada – e, por isso, consultada apenas indiretamente,</p><p>via seus representantes eleitos no Congresso Nacional – é a população dos</p><p>demais Estados da Federação, uma vez que a redefinição territorial de</p><p>determinado Estado-membro interessa não apenas ao respectivo ente</p><p>federativo, mas a todo o Estado Federal.</p><p>[ADI 2.650, rel. min. Dias Toffoli, j. 24-8-2011, P, DJE de 17-11-2011.]</p><p>Art. 18, §3º: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou</p><p>desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou</p><p>Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente</p><p>interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei</p><p>complementar.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 134</p><p>16.5 MUNICÍPIOS</p><p>A criação de novos Municípios é disciplinada pelo art. 18, §4º, da Constituição</p><p>Federal, que apresenta a seguinte redação:</p><p>Para uma melhor compreensão da norma, melhor se faz a análise dos requisitos na</p><p>seguinte ordem sequencial:</p><p>A) Lei Complementar Federal estabelecendo o período dentro do qual isso</p><p>poderá ocorrer;</p><p>B) Divulgação de Estudos de Viabilidade Municipal;</p><p>C) Plebiscito;</p><p>D) Aprovação por Lei Ordinária Estadual.</p><p>Saliente-se que a Lei Complementar Federal que deve estabelecer o procedimento e</p><p>período dentro do qual novos Municípios poderão ser criados ainda não foi</p><p>promulgada, o que implica em afirmar que todos os Municípios que forem formados</p><p>serão inconstitucionais, porque inexiste o diploma normativo exigido pela</p><p>Constituição Federal, sendo ele o primeiro requisito para a criação, incorporação,</p><p>fusão ou desmembramento de Municípios.</p><p>E sobre essa temática, necessário se faz a colação do seguinte julgado:</p><p>Porém, mesmo ante a ausência da Lei Complementar, foram criados diversos</p><p>Municípios sem a observância do requisito imposto na Constituição Federal, o que</p><p>Art. 18, §3º: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou</p><p>desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou</p><p>Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente</p><p>interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei</p><p>complementar.</p><p>Julgado em Frase: O STF reconheceu a mora do Congresso Nacional em</p><p>editar a Lei Complementar prevista no §4º do art. 18 da Constituição</p><p>Federal e estabeleceu um prazo razoável para que a omissão legislativa</p><p>fosse sanada. [ADI 3.682, rel. min. Gilmar Mendes, j. 9-5-2007, P, DJ de 6-</p><p>9-2007.]</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 135</p><p>implicou na necessidade de acrescentar o art. 96 ao Ato das Disposições</p><p>Constitucionais Transitórias:</p><p>Assim, convalidou-se a criação dos Municípios criados até 31.12.2006, em</p><p>inobservância à exigência constitucional, tendo sido consignado que os criados</p><p>posteriormente seriam considerados inconstitucionais.</p><p>E sobre essa temática, necessário a colação dos seguintes julgados:</p><p>Art. 96, ADCT. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação</p><p>e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de</p><p>dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do</p><p>respectivo Estado à época de sua criação. (Incluído pela Emenda</p><p>Constitucional nº 57/2008)</p><p>STF: O processo de emancipação municipal viciado não pode ser corrigido</p><p>por mera retificação legislativa, sem a observância do artigo 18, § 4º, da</p><p>Constituição Federal. Deveras, uma vez criada a nova entidade federativa,</p><p>não se admite a alteração da lei que a formalizou sem novo processo de</p><p>incorporação, fusão ou desmembramento, com prévia consulta</p><p>plebiscitária às populações envolvidas. O plebiscito consultivo conflui para</p><p>concretizar o princípio da soberania popular, da cidadania e da autonomia</p><p>federativa, de forma que as populações afetadas possam exercer</p><p>efetivamente suas prerrogativas de autogoverno. A criação, fusão,</p><p>incorporação ou desmembramento municipal produz efeitos de ordem</p><p>social, política e econômica, com sensíveis ressonâncias tributárias e</p><p>institucionais, as quais afetaram de forma direta e imediata a população</p><p>envolvida. Nesse prisma, a consulta plebiscitária é verdadeira condição de</p><p>procedibilidade da norma que altera limites municipais, constituindo</p><p>relevante meio de exercício da soberania popular. [ADI 1.825, rel. min.</p><p>Luiz Fux, j. 15-4-2020, P, DJE de 20-5-2020.]</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 136</p><p>STF: A redação original do art. 18, § 4º, da CF/1988 condicionava a criação de</p><p>municípios à edição de lei estadual, obedecidos os requisitos previstos em Lei</p><p>Complementar estadual, e a uma consulta prévia, mediante plebiscito, às</p><p>populações diretamente interessadas. Esse procedimento simplificado, que</p><p>delegou exclusivamente à esfera estadual a regulamentação dos parâmetros</p><p>para a emancipação, propiciou a proliferação de entes municipais no Brasil após</p><p>a promulgação da Constituição de 1988. Atento a essa realidade, o constituinte</p><p>derivado alterou o texto constitucional e dificultou a criação de municípios,</p><p>restringindo a fragmentação da federação. O art. 18, § 4º, da CF/1988, com</p><p>redação dada pela EC 15/1996, passou a exigir, além dos requisitos</p><p>anteriormente previstos, a edição de lei complementar federal e a divulgação</p><p>prévia dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na</p><p>forma da lei. (...) A atual dicção desse dispositivo constitucional impõe a</p><p>aprovação prévia de leis federais para que os Estados sejam autorizados a iniciar</p><p>novos processos de emancipação municipal. Até que isso ocorra, leis estaduais</p><p>que versem sobre o tema são inconstitucionais. [ADI 4.711, rel. min. Roberto</p><p>Barroso, j. 8-9-2021, P, DJE de 16-9-2021.]</p><p>STF: Com o advento da EC 57/2008, foram convalidados os atos de criação de</p><p>Municípios cuja lei tenha sido publicada até 31-12-2006, atendidos os requisitos</p><p>na legislação do respectivo Estado à época de sua criação. [ADI 2.381 AgR, rel.</p><p>min. Cármen Lúcia, j. 24-3-2011, P, DJE de 11-4-2011.]</p><p>STF: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei 7.619/2000, do Estado da Bahia,</p><p>que criou o Município de Luís Eduardo Magalhães. Inconstitucionalidade de lei</p><p>estadual posterior à EC 15/1996. Ausência de lei complementar federal prevista</p><p>no texto constitucional. Afronta ao disposto no art. 18, § 4º, da Constituição do</p><p>Brasil. Omissão do Poder Legislativo. Existência de fato. Situação consolidada.</p><p>Princípio da segurança jurídica. Situação de exceção, estado de exceção. (...) A</p><p>exceção resulta de omissão do Poder Legislativo, visto que o impedimento de</p><p>criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios, desde a</p><p>promulgação da EC 15, em 12 de setembro de 1996, deve-se à ausência de lei</p><p>complementar federal. Omissão do Congresso Nacional que inviabiliza o que a</p><p>Constituição autoriza: a criação de Município.(...) Julgamento no qual foi</p><p>considerada a decisão desta Corte no MI 725, quando determinado que o</p><p>Congresso Nacional, no prazo de dezoito meses, ao editar a lei complementar</p><p>federal referida no § 4º do art. 18 da Constituição do Brasil, considere,</p><p>reconhecendo-a, a existência consolidada do Município de Luís Eduardo</p><p>Magalhães. Declaração de inconstitucionalidade da lei estadual sem pronúncia</p><p>de sua nulidade. Ação direta julgada procedente para declarar a</p><p>inconstitucionalidade, mas não pronunciar a nulidade pelo prazo de 24 meses,</p><p>da Lei 7.619, de 30 de março de 2000, do Estado da Bahia. [ADI 2.240, rel. min.</p><p>Eros Grau, j. 9-5-2007, P, DJ de 3-8-2007.]</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 137</p><p>16.6 DISTRITO FEDERAL</p><p>No julgamento da ADI 3756, o STF decidiu que o DF não é estado e nem Município,</p><p>mas sim uma unidade federada com competência parcialmente tutelada pela União.</p><p>16.7 TERRITÓRIOS FEDERAIS</p><p>Os Territórios Federais não mais existem em nosso ordenamento jurídico, mas são</p><p>considerados autarquias territoriais que integram a União, e sua criação,</p><p>transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em</p><p>Lei Complementar.</p><p>Diferentemente do Distrito Federal, os Territórios Federais podem ser divididos em</p><p>Municípios, tem seu Governador nomeado pelo Presidente da República, após</p><p>aprovação do Senado Federal [Art. 84, XIV, CF] e elegem um número fixo de 4</p><p>Deputados.</p><p>16.8 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS</p><p>Competência Exclusiva: A competência exclusiva é atribuída a uma entidade</p><p>federada com exclusão de todas as demais, sem possibilidade de delegação.</p><p>Competência Privativa: A competência privativa, é atribuída a uma entidade</p><p>federada, porém, com possibilidade de delegação a outra, conforme prevê o art. 22,</p><p>§ único, da Constituição Federal: “Lei complementar poderá autorizar os Estados a</p><p>legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.”.</p><p>Competência Concorrente: A competência corrente estabelece um condomínio</p><p>legislativo entre mais de um ente político com atuação em níveis distintos. Porém,</p><p>necessário destacar que, conforme prevê o art. 24 da Constituição Federal, os</p><p>Municípios estão excluídos dessa espécie de competência, apesar de poderem</p><p>legislar quando o assunto for de interesse local:</p><p>Competência Comum: Por fim, a competência comum, que é essencialmente</p><p>administrativa, é aquela que é atribuída entre todos os entes federados, conforme</p><p>prevê o art. 23 da Constituição Federal:</p><p>Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar</p><p>concorrentemente sobre:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 138</p><p>COMPETÊNCIA CONCORRENTE</p><p>Quando se fala em Competências Concorrentes, deve-se ter em mente que cabe ao</p><p>ente político União a edição de Normas Gerais. E, aos Estados cabe a Competência</p><p>Suplementar. Se a União não editar as normas gerais, os Estados podem exercer a</p><p>competência plena sobre o assunto. E no caso de, posteriormente, a União editar</p><p>essa Norma Geral, a norma do Estado terá sua eficácia suspensa.</p><p>As competências concorrentes vêm disciplinadas no rol do art. 24 da Constituição</p><p>Federal:</p><p>Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e</p><p>dos Municípios:</p><p>Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar</p><p>concorrentemente sobre:</p><p>I. direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;</p><p>II. orçamento;</p><p>III. juntas comerciais;</p><p>IV. custas dos serviços forenses;</p><p>V. produção e consumo;</p><p>VI. florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo</p><p>e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da</p><p>poluição;</p><p>VII. proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e</p><p>paisagístico;</p><p>VIII. responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens</p><p>e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;</p><p>IX. educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,</p><p>desenvolvimento e inovação;</p><p>X. criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 139</p><p>COMPETÊNCIA DOS ESTADOS</p><p>Sobre os Estados-membros necessário salientar que lhes são reservadas as</p><p>competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição [competência</p><p>residual].</p><p>Porém, é importante destacar duas competências constitucionais que são</p><p>reservadas aos Estados-membros:</p><p>A) Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os</p><p>serviços locais de gás canalizado, vedada a edição de medida provisória para</p><p>a sua regulamentação.</p><p>B) Os Estados poderão, mediante Lei Complementar Estadual, instituir</p><p>regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas</p><p>por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o</p><p>planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.</p><p>16.9 JULGADOS IMPORTANTES SOBRE O TEMA</p><p>COMPETÊNCIA DA UNIÃO</p><p>XI. procedimentos em matéria processual;</p><p>XII. previdência social, proteção e defesa da saúde;</p><p>XIII. assistência jurídica e Defensoria pública;</p><p>XIV. proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;</p><p>XV. proteção à infância e à juventude;</p><p>XVI. organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.</p><p>Julgado em Frase: Lei federal não pode conceder anistia a policiais e</p><p>bombeiros militares estaduais que praticaram infrações disciplinares.</p><p>(ADI 4869, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em</p><p>30/05/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-118 DIVULG 17-06-2022</p><p>PUBLIC 20-06-2022)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 140</p><p>COMPETÊNCIA DOS ESTADOS-MEMBROS</p><p>Julgado em Frase: É inconstitucional a lei estadual que proíbe utilização de</p><p>pontos na renovação da CNH. (ADI 5482, Relator(a): CELSO DE MELLO,</p><p>Tribunal Pleno, julgado em 24/08/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-229</p><p>DIVULG 16-09-2020 PUBLIC 17-09-2020)</p><p>Julgado em Frase: É inconstitucional lei estadual que discipline a instalação de</p><p>antenas transmissoras de telefonia celular (ADI 2902, Relator(a): EDSON</p><p>FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-</p><p>143 DIVULG 09-06-2020 PUBLIC 10-06-2020)</p><p>Julgado em Frase: Lei estadual que obriga concessionárias a instalarem</p><p>bloqueadores de celular é inconstitucional. STF. Plenário. ADI 3835/MS, Rel.</p><p>Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, ADI</p><p>5253/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, ADI 5327/PR, Rel. Min Dias Toffoli, ADI</p><p>4861/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/8/2016 (Info 833).</p><p>Julgado em Frase: Lei estadual não pode fixar prazos para as empresas de</p><p>planos de saúde. (ADI 4701, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal</p><p>Pleno, julgado em 13/08/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-163 DIVULG 22-</p><p>08-2014 PUBLIC 25-08-2014)</p><p>Julgado em Frase: É inconstitucional lei estadual que concede isenção da</p><p>tarifa de energia elétrica para os consumidores atingidos por enchentes. STF.</p><p>Plenário. ADI 7337 MC-Ref/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em</p><p>01/03/2023 (Info 1084).</p><p>Julgado em Frase: É formalmente inconstitucional lei estadual que proíba</p><p>linguagem neutra nas escolas. STF. Plenário. ADI 7019/RO, Rel. Min. Edson</p><p>Fachin, julgado em 10/02/2023 (Info 1082).</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 141</p><p>COMPETÊNCIA DOS MUNICÍPIOS</p><p>Julgado em Frase: É constitucional lei estadual que proíbe, no âmbito de seu</p><p>território, a fabricação, a venda e a comercialização de armas de brinquedo</p><p>que simulam armas de fogo reais. (ADI 5126, Relator(a): GILMAR MENDES,</p><p>Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-007</p><p>DIVULG 17-01-2023 PUBLIC 18-01-2023)</p><p>Julgado em Frase: Lei estadual pode exigir assinatura física de idosos em</p><p>operação de crédito. (ADI 7027, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal</p><p>Pleno, julgado em 17/12/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-012 DIVULG 24-</p><p>01-2023 PUBLIC 25-01-2023)</p><p>Julgado em Frase: É inconstitucional lei estadual que proíba os planos de</p><p>saúde de restringir tratamentos para pessoas com autismo e com</p><p>deficiência. (ADI 7172, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado</p><p>em 18/10/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-217 DIVULG 26-10-2022</p><p>PUBLIC 27-10-2022)</p><p>Julgado em Frase: É inconstitucional lei municipal que concede gratuidade a</p><p>idosos nas salas de cinema, de segunda a sexta-feira. STF. 2ª Turma. ARE</p><p>1307028/SP, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar</p><p>Mendes, julgado em 22/11/2022 (Info 1077).</p><p>Julgado em Frase: Lei municipal pode obrigar a substituição das sacolas</p><p>plásticas comuns por sacolas biodegradáveis.</p><p>STF. Plenário. RE 732686/SP,</p><p>Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/10/2022 (Repercussão Geral – Tema 970)</p><p>(Info 1073).</p><p>Julgado em Frase: É inconstitucional lei municipal que disponha sobre a</p><p>instalação de estação rádio base (ERB) em seu território. (ARE 1370232 RG,</p><p>Relator(a): MINISTRO PRESIDENTE, Tribunal Pleno, julgado em 08/09/2022,</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG 12-</p><p>09-2022 PUBLIC 13-09</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 142</p><p>Julgado em Frase: É inconstitucional lei municipal que dispõe sobre a</p><p>autorização e exploração de serviço de radiodifusão comunitária. (ADPF 335,</p><p>Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 30/08/2021,</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 15-09-2021 PUBLIC 16-09-2021)</p><p>Julgado em Frase: É constitucional lei municipal que estabelece que os</p><p>supermercados ficam obrigados a colocar à disposição dos consumidores</p><p>pessoal suficiente nos caixas, de forma que a espera na fila não seja superior</p><p>a 15 minutos. (RE 839950, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno,</p><p>julgado em 24/10/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-081 DIVULG 01-04-</p><p>2020 PUBLIC 02-04-2020)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 143</p><p>17 PODER LEGISLATIVO</p><p>17.1 ESTRUTURA</p><p>O Poder Legislativo desempenha funções típicas, de 1) legislar e; 2) fiscalizar,</p><p>podendo ser uma fiscalização político-administrativa, bem como econômica-</p><p>orçamentária; bem como funções atípicas, de 3) administrar e; 4) julgar.</p><p>Em âmbito federal, o Poder Legislativo é bicameral, sendo exercido pelo Congresso</p><p>Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.</p><p>A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo</p><p>sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal, ao</p><p>passo que o Senado Federal se compõe de representantes dos Estados e do Distrito</p><p>Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.</p><p>Na Câmara dos Deputados, o número total dos parlamentares que a compõe</p><p>[Deputados Federais], bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal,</p><p>será estabelecido por Lei Complementar, proporcionalmente à população,</p><p>procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que</p><p>nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de 8 [oito] ou mais de 70</p><p>[setenta] Deputados, destacando que o mandato dos Deputados Federais é de 4</p><p>[quatro] anos.</p><p>Apesar de não existirem, hoje, Territórios Federais, podem, perfeitamente, serem</p><p>criados, desde que cumpridos os requisitos constitucionais, e, nesse caso, a regra</p><p>acima não é aplicada, haja vista que cada Território elegerá 4 [quatro] Deputados.</p><p>No Senado Federal, cada Estado e o Distrito Federal elegerão 3 [três] Senadores, com</p><p>2 [dois] suplementes e mandato de 8 [oito] anos, ressaltando que a representação</p><p>de cada ente político será renovada de 4 [quatro] em 4 [quatro] anos,</p><p>alternadamente, por 1/3 [um terço] e 2/3 [dois terços].</p><p>17.2 ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL</p><p>O Congresso Nacional, de acordo com o art. 49 da Constituição Federal, possui</p><p>competências exclusivas, sendo as principais as seguintes:</p><p>I. Resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais</p><p>que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 144</p><p>II. Autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a</p><p>permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele</p><p>permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei</p><p>complementar;</p><p>III. Autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem</p><p>do País, quando a ausência exceder a quinze dias;</p><p>IV. Aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de</p><p>sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;</p><p>V. Sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder</p><p>regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;</p><p>VI. Julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e</p><p>apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;</p><p>VII. Fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos</p><p>do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;</p><p>VIII. Apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras</p><p>de rádio e televisão;</p><p>IX. Escolher 2/3 [dois terços] dos membros do Tribunal de Contas da União;</p><p>X. Autorizar referendo e convocar plebiscito.</p><p>17.3 ATRIBUIÇÕES DA CÂMARA DOS DEPUTADOS</p><p>A Câmara dos Deputados, de acordo com o art. 51 da Constituição Federal, possui</p><p>competências privativas, sendo as principais as seguintes:</p><p>I. autorizar, por 2/3 [dois terços] de seus membros, a instauração de processo</p><p>contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de</p><p>Estado;</p><p>II. proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não</p><p>apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura</p><p>da sessão legislativa;</p><p>III. eleger membros do Conselho da República.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 145</p><p>17.4 ATRIBUIÇÕES DO SENADO FEDERAL</p><p>O Senado Federal, de acordo com art. 52 da Constituição Federal, possui</p><p>competências privativas, sendo as principais as seguintes:</p><p>I. processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes</p><p>de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da</p><p>Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza</p><p>conexos com aqueles, destacando que nesse caso funcionará como</p><p>Presidente do julgamento o Presidente do Supremo Tribunal Federal;</p><p>II. processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros</p><p>do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério</p><p>Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos</p><p>crimes de responsabilidade, destacando, da mesma forma, que nesse caso</p><p>funcionará como Presidente do julgamento o Presidente do Supremo</p><p>Tribunal Federal;</p><p>III. aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha</p><p>de: a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; b) Ministros</p><p>do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República; c)</p><p>Governador de Território; d) Presidente e diretores do banco central; e)</p><p>Procurador-Geral da República;</p><p>IV. aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em sessão secreta,</p><p>a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente;</p><p>V. suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada</p><p>inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;</p><p>VI. aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício,</p><p>do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato;</p><p>VII. eleger membros do Conselho da República;</p><p>17.5 PODER DE CONVOCAÇÃO</p><p>O art. 50 da Constituição Federal prevê o Poder de Convocação do Poder Legislativo,</p><p>nos seguintes termos: “A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de</p><p>suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de</p><p>órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem,</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 146</p><p>pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando</p><p>crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada.”</p><p>Trata-se de norma de reprodução obrigatória, que deve ser respeitada pelos</p><p>Estados-membros. Assim, pelo Princípio da Simetria, os Estados-membros devem</p><p>obedecer ao modelo previsto na Constituição Federal, podendo convocar apenas</p><p>autoridades do Poder Executivo e não do Poder Judiciário ou do Ministério Público,</p><p>conforme se verifica do julgado abaixo:</p><p>Assim, eventual Constituição Estadual que preveja disposição diferente daquela</p><p>traçada pelo art. 50 da Constituição Federal estará maculada pela eiva da</p><p>inconstitucionalidade.</p><p>17.6 ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS</p><p>O Estatuto dos Congressistas,</p><p>normas previstas na Constituição Federal, a partir do</p><p>art. 53 e seguintes, garante aos Parlamentares prerrogativas para que possam</p><p>exercer seu mandato com liberdade e independência, assegurando, portanto, a</p><p>independência do Poder e a liberdade de seus Membros.</p><p>E, por se tratar de prerrogativas institucionais não podem ser renunciadas pelos</p><p>Parlamentares, pois dizem respeito ao exercício do mandato e não à figura da pessoa</p><p>do Parlamentar.</p><p>Segundo o Min. Alexandre de Moraes, as imunidades parlamentares surgiram como</p><p>corolário da defesa da livre existência e da independência do parlamento no sistema</p><p>constitucional inglês (MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 21. ed. São</p><p>Paulo: Atlas, 2007.), existindo duas espécies de imunidade parlamentar:</p><p>A) Imunidade material, que garante aos Parlamentares inviolabilidade por</p><p>opiniões, palavras e votos, com previsão no art. 53 da Constituição Federal: e</p><p>B) Imunidade formal, que pode ser de duas espécies, a saber:</p><p>Julgado em Frase: O Poder de Convocação do Legislativo Federal é norma de</p><p>reprodução obrigatória pelos Estados-membros. (ADI 5300, Relator(a):</p><p>ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 20/06/2018, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO DJe-128 DIVULG 27-06-2018 PUBLIC 28-06-2018)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 147</p><p>B.1) Em relação a prisão, que garante que, via de regra, os</p><p>Parlamentares não poderão ser presos. A exceção encontra-se no</p><p>texto do art. 53, §2º, da Constituição Federal e;</p><p>B.2) Em relação ao processo, que garante ao Parlamentar o foro por</p><p>prerrogativa de função no Supremo Tribunal Federal, bem como a</p><p>possibilidade de a Casa respectiva sustar o andamento da ação penal,</p><p>com previsão no art. 53, §2º, da Constituição Federal, sendo assim</p><p>mais detalhadas:</p><p>• Imunidade material ou inviolabilidade ou freedon of speech: Prevista no art. 53</p><p>da Constituição Federal e garante que os Parlamentares [Deputados Federais e</p><p>Senadores] são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,</p><p>palavras e votos.</p><p>Tendo em vista que inexistem Direitos Fundamentais absolutos; que o instituto da</p><p>imunidade material deve ser exercício com base em marcos civilizatórios mínimos, o</p><p>entendimento atual do Supremo Tribunal Federal não faz mais distinção se a</p><p>manifestação foi feita dentro do Parlamento ou fora dele, devendo, sempre, ser</p><p>necessário que a manifestação tenha relação com o exercício do seu mandato [STF.</p><p>1ª Turma. PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco</p><p>Aurélio, julgado em 10/3/2020 (Info 969).], bem como:</p><p>• Imunidade Formal em relação ao processo: Caso uma denúncia contra um</p><p>Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, venha a ser</p><p>recebida pelo Supremo Tribunal Federal, este dará ciência à Casa respectiva, que,</p><p>por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus</p><p>membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. O pedido de</p><p>sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45</p><p>[quarenta e cinco] dias do seu recebimento pela Mesa Diretora, ressaltando que,</p><p>por se tratar de prerrogativa e não de privilégio, a sustação do processo suspende</p><p>a prescrição, enquanto durar o mandato.</p><p>Julgado em frase: Entendimento superado: Para incidir a imunidade</p><p>parlamentar material, independente do âmbito espacial, é necessário que a</p><p>declaração tenha conotação política, não sendo permitido abusos. (REsp</p><p>1642310/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado</p><p>em 15/08/2017, DJe 18/08/2017)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 148</p><p>• Imunidade Formal em relação à prisão freedon from arrest: Previsto no art. 53,</p><p>§2º, da Constituição Federal, prevê que desde a expedição do diploma, os</p><p>membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de</p><p>crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de 24 [vinte e</p><p>quatro] horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus</p><p>membros, resolva sobre a prisão.</p><p>Assim, os membros do Congresso Nacional, em regra, não podem ser presos antes</p><p>de uma condenação definitiva. Apenas excepcionalmente poderão ser presos, caso</p><p>estejam em flagrante delito de um crime inafiançável, que, de acordo com o art. 5º,</p><p>incisos XLII, XLIII e XLIV, da Constituição Federal e o art. 323 do Código de Processo</p><p>Penal, são os seguintes:</p><p>A) Racismo;</p><p>B) Tortura;</p><p>C) Tráfico de drogas;</p><p>D) Terrorismo;</p><p>E) Crimes hediondos;</p><p>F) Crimes cometidos por ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem</p><p>constitucional e o Estado Democrático.</p><p>Ressalte-se que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que é</p><p>possível, também, a prisão dos Parlamentares decorrente de sentença judicial</p><p>transitada em julgado. [STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min.</p><p>Cármen Lúcia, 26/6/2013 (Info 712)].</p><p>Saliente-se que os Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades materiais e</p><p>formais garantidas aos Deputados Federais e Senadores, tendo em vista disposição</p><p>expressa constitucional, em seu art. 27, §1º, e entendimento do Plenário do</p><p>Supremo Tribunal Federal [ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT,</p><p>rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em 8/5/2019</p><p>(Info 939).]</p><p>Porém, atenção ao fato de que os Vereadores gozam, nos termos do art. 29, VIII, da</p><p>Constituição Federal, de inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no</p><p>exercício do mandato e na circunscrição do Município, possuindo, portanto,</p><p>imunidade material, sem, contudo, possuírem imunidade formal em qualquer uma</p><p>de suas espécies.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 149</p><p>Por fim, dentro do Estatuto dos Congressistas, necessário fazer menção a 3 [três]</p><p>institutos, a saber:</p><p>A) Foro de prerrogativa de função;</p><p>B) Limitação ao dever de testemunhar e</p><p>C) Isenção do serviço militar do Parlamentar, assim esquematizados:</p><p>• Foro por prerrogativa de função: Os Deputados e Senadores, desde a expedição</p><p>do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.</p><p>Atente-se para que caso um Parlamentar venha a perder seu mandato parlamentar,</p><p>o procedimento deve ser remetido para o Juízo competente, deixando Supremo</p><p>Tribunal Federal de ter jurisdição sobre o caso, tendo em vista a regra da atualidade</p><p>do mandato.</p><p>Porém, interessante anotar que o Supremo Tribunal Federal entende pela</p><p>possibilidade de prorrogação de sua competência criminal originária quando esse</p><p>parlamentar perder o seu mandato, mas, sem solução de continuidade, investir-se</p><p>em novo mandato federal em Casa Legislativa distinta:</p><p>Registra-se, também, que o Supremo Tribunal Federal tem entendimento no sentido</p><p>de prorrogar sua jurisdição quando o Parlamentar renunciar ao seu mandato após o</p><p>término da instrução processual, especificamente, após a intimação para</p><p>apresentação das alegações finais:</p><p>Julgado em frase: Os Vereadores possuem apenas imunidade material e</p><p>limitada a circunscrição do Município onde exercem a vereança. (RE 600063,</p><p>Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO</p><p>BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 25/02/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO</p><p>REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-090 DIVULG 14-05-2015 PUBLIC 15-05-</p><p>2015).</p><p>Julgado em frase: Admite-se a excepcional e exclusiva prorrogação da</p><p>competência criminal originária do Supremo Tribunal Federal, quando o</p><p>parlamentar, sem solução de continuidade, encontrar-se investido, em novo</p><p>mandato federal, mas em casa legislativa diversa daquela que originalmente</p><p>deu causa à fixação da competência originária. STF. Plenário. Pet 9189, Rel.</p><p>Min. ROSA WEBER, Relator(a) p/ Acórdão: Edson Fachin, julgado em</p><p>12/05/2021.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 150</p><p>Quando se trata da instauração de Inquérito Policial em face de Parlamentar,</p><p>necessário destacar que: 1º) A Polícia Federal não está autorizada a instaurar</p><p>de</p><p>ofício o Inquérito Policial; 2º) Para a instauração do Inquérito Policial é necessária</p><p>autorização do Supremo Tribunal Federal; 3º) Não é necessária licença da respectiva</p><p>Casa Legislativa para a instauração do Inquérito Policial.</p><p>• Limitação ao dever de testemunhar: Os Deputados e Senadores não serão</p><p>obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do</p><p>exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles</p><p>receberam informações.</p><p>• Isenção do serviço militar: A incorporação às Forças Armadas de Deputados e</p><p>Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de</p><p>prévia licença da Casa respectiva.</p><p>Por fim, destaca-se que as imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão</p><p>durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de 2/3 dos</p><p>membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do</p><p>Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.</p><p>17.7 PERDA DO MANDATO PARLAMENTAR</p><p>A Constituição Federal estabelece que perderá o mandato o Deputado ou Senador:</p><p>I. que infringir qualquer das proibições acima estabelecidas, oportunidade em</p><p>que a perda do mandato será decida pela Casa Legislativa respectiva;</p><p>II. cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar,</p><p>como, por exemplo, além de outros casos definidos no Regimento Interno, o</p><p>abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a</p><p>percepção de vantagens indevidas, oportunidade em que a perda do</p><p>mandato será decida pela Casa Legislativa respectiva;</p><p>Julgado em frase: A renúncia ou posse em outro cargo com foro de</p><p>prerrogativa de função em outro Tribunal prorrogará a jurisdição do</p><p>Supremo Tribunal Federal caso feita após a intimação para as alegações</p><p>finais. (AP 937 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno,</p><p>julgado em 03/05/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-265 DIVULG 10-12-</p><p>2018 PUBLIC 11-12-2018)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 151</p><p>III. que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das</p><p>sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta</p><p>autorizada, oportunidade em que a perda do mandato será simplesmente</p><p>declarada pela Mesa da Casa Legislativa respectiva, de ofício ou mediante</p><p>provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político</p><p>representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa;</p><p>IV. que perder ou tiver suspensos os direitos políticos, oportunidade em que</p><p>a perda do mandato será simplesmente declarada pela Mesa da Casa</p><p>Legislativa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus</p><p>membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,</p><p>assegurada ampla defesa;</p><p>V. quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta</p><p>Constituição, oportunidade em que a perda do mandato será simplesmente</p><p>declarada pela Mesa da Casa Legislativa respectiva, de ofício ou mediante</p><p>provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político</p><p>representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa;</p><p>VI. que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado,</p><p>oportunidade em que a perda do mandato será decida pela Casa Legislativa</p><p>respectiva.</p><p>Sobre o item II, pergunta-se: em procedimento de cassação de mandato por quebra</p><p>de decoro parlamentar é permitido a intervenção do Poder Judiciário? Em regra,</p><p>não. Entendeu o Supremo Tribunal Federal, no julgado do MS 34.327/DF, que a</p><p>intervenção do Poder Judiciário em procedimentos legislativos, como é o caso,</p><p>apenas pode se dar em uma das seguintes hipóteses, em observância ao Princípio da</p><p>Deferência:</p><p>A) Para assegurar o cumprimento da Constituição Federal;</p><p>B) Para proteger direitos fundamentais; ou</p><p>C) Para resguardar os pressupostos de funcionamento da democracia e das</p><p>instituições republicanas.</p><p>Sobre o item VI, pergunta-se: a condenação criminal acarreta a perda automática</p><p>do mandato eletivo do Deputado Federal ou Senador? Sobre essa temática,</p><p>necessário registrar a existência de divergência entre as Turmas do Supremo</p><p>Tribunal Federal, devendo ser anotado o seguinte cenário:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 152</p><p>• 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal: Entende que deve ser feita uma</p><p>distinção, a saber:</p><p>Se o Parlamentar sofrer uma condenação a uma pena superior a 120</p><p>[cento e vinte] dias em regime fechado: A perda do cargo será uma</p><p>consequência da condenação, devendo a Mesa da respectiva Casa</p><p>Legislativa apenas declarar a perda. E o fundamento utilizado pauta-</p><p>se na no art. 55, III, e §3º, haja vista que aquele Parlamentar que for</p><p>condenado a uma pena dessa monta, necessariamente, deixará de</p><p>comparecer, na sessão legislativa, à mais de 1/3 das sessões</p><p>ordinárias, merecendo ser transcrito as disposições constitucionais:</p><p>Se o Parlamentar for condenado a uma pena em regime aberto ou</p><p>semiaberto: A condenação não gerará a perda automática do cargo,</p><p>devendo a respectiva Casa Legislativa deliberar sobre a perda do</p><p>mandato.</p><p>• 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal: Entende que sempre a Casa Legislativa</p><p>deve deliberar sobre a perda do mandato.</p><p>Por fim, saliente-se que caso o Parlamentar se ausente de suas funções por período</p><p>superior a 120 [cento e vinte] dias, o suplente será convocado e, vagando o mandato</p><p>parlamentar e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem</p><p>mais de 15 [quinze] meses para o término do mandato.</p><p>17.8 REUNIÕES</p><p>O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro</p><p>a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro, sendo que as reuniões marcadas</p><p>para essas datas serão transferidas para o primeiro dia útil subsequente, quando</p><p>Art. 55, CF: Perderá o mandato o Deputado ou Senador: [...]; III - que deixar</p><p>de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões</p><p>ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta</p><p>autorizada;</p><p>§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa</p><p>da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus</p><p>membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,</p><p>assegurada ampla defesa.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 153</p><p>recaírem em sábados, domingos ou feriados, e não será interrompida sem a</p><p>aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias.</p><p>A Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão em sessão conjunta para:</p><p>I. inaugurar a sessão legislativa;</p><p>II. elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços comuns às</p><p>duas Casas;</p><p>III. receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da República;</p><p>IV. conhecer do veto e sobre ele deliberar.</p><p>Sessão Preparatória: O art. 57, §4º, da Constituição, ao dispor sobre a Sessão</p><p>Preparatória, dispõe que “A partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura,</p><p>cada uma das Casas, reunir-se-á em sessões preparatórias, para a posse de seus</p><p>membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 [dois] anos, vedada a</p><p>recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente.”</p><p>Anote que o Supremo Tribunal Federal, diante do art. acima apontado, entende que</p><p>os Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal não podem ser</p><p>reconduzidos para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente.</p><p>Porém, faz uma importante distinção, qual seja: a recondução não pode se dar</p><p>dentro da mesma legislatura, ou seja, dentro do período compreendido de 4</p><p>[quatro] anos. Por outro lado, é possível a reeleição dos Presidentes da Câmara dos</p><p>Deputados e do Senado Federal em caso de nova legislatura, merecendo ser</p><p>anotado o seguinte entendimento:</p><p>Atenção ao fato de que o Supremo Tribunal Federal entende que essa norma não é</p><p>de reprodução obrigatória pelos estados-membros, especialmente no que diz</p><p>respeito a seguinte parte: “vedada</p><p>O que ocorre após a tomada de decisões é que irá determinar a espécie do Estado</p><p>Unitário, sendo elas:</p><p>1.Estado Unitário Puro ou Centralizado: Nessa espécie de Estado</p><p>Unitário o poder é exercido apenas um órgão central, que vai atuar em</p><p>todas as áreas, existindo, portanto, uma absoluta centralização do</p><p>Poder. Como exemplo de Estado Unitário Puro ou Centralizado tem-se</p><p>o Vaticano.</p><p>Segundo Darcy Azambuja, “o tipo puro do Estado simples é aquele em que somente</p><p>existe um Poder Legislativo, um Poder Executivo e um Poder Judiciário, todos</p><p>centrais, com sede na capital. Todas as autoridades executivas ou judiciárias que</p><p>existem no território, são delegações do Poder central, tiram dele sua força; é ele que</p><p>as nomeia e lhes fixa as atribuições. O Poder Legislativo de um Estado simples é único,</p><p>nenhum outro órgão existindo com atribuições de fazer leis nesta ou naquela parte</p><p>do território”</p><p>2.Estado Unitário Descentralizado Administrativamente: Nessa</p><p>espécie de estado Unitário, existe uma divisão entre A) a tomada das</p><p>decisões políticas e; B) a execução dessas decisões políticas. O órgão</p><p>central mantém toda a concentração de poder, porém o cumprimento</p><p>1) Responsabilidade política do governante, pelos seus</p><p>atos de governo e gestão;</p><p>2) Poder recebido pelo critério da eletividade, ou seja,</p><p>por meio de eleições populares e;</p><p>3) Permanência no poder de maneira temporária.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 10</p><p>das ordens emanadas pelo órgão central cabe a determinados órgãos</p><p>criados pelo Governo Nacional. Assim, tem-se que a tomada de</p><p>decisões políticas e feita pelo Governo Nacional. E para a execução das</p><p>decisões políticas são criadas pessoas para que, em nome do Governo</p><p>Nacional, as administrem, as executem, atuando como um longa</p><p>manus do Governo Nacional.</p><p>3.Estado Unitário Descentralizado Administrativa e Politicamente:</p><p>Nessa espécie de Estado Unitário, apesar o Governo Nacional manter</p><p>tota a concentração de poder, o cumprimento das ordens por ele</p><p>emanadas cabe a determinados órgãos criados pelo Governo</p><p>Nacional, que, somado a isso, ainda tem a opção de escolher a melhor</p><p>medida a ser adotada. Ou seja, além de cumprir a decisão do órgão</p><p>central, os entes podem escolher a melhor alternativa a ser seguida.</p><p>• Estado Composto: Aqui existe mais de um centro de Poder dentro do Estado,</p><p>existindo as seguintes espécies:</p><p>1.Confederação: É uma espécie de Estado Composto que se origina</p><p>em um Tratado Internacional, sendo que as suas unidades parciais são</p><p>dotadas de soberania, possuindo, portanto, o direito de secessão, ou</p><p>seja, a permissibilidade de se desvencilhar do todo.</p><p>2.Federação: É uma espécie de Estado Composto que se origina em</p><p>uma Constituição, sendo que as suas unidades parciais são dotadas de</p><p>autonomia, não possuindo, portanto, o direito de secessão, tendo em</p><p>vista viger em um Estado Federal o Princípio da Indissociabilidade,</p><p>também conhecido como Princípio da Indissolubilidade.</p><p>A etiologia da palavra Federal decorre de foedus, foederis, que significa pacto,</p><p>aliança, sendo, portanto, a união de vários Estados, que sedem parcela de sua</p><p>autonomia para formação do Estado Federado.</p><p>A ideia de Federação tem origem nos Estados Unidos, em virtude da independência</p><p>das ex-colônias britânicas. Essas colônias, quando se declararam independentes se</p><p>uniram para a formação de um país, formado por unidades autônomas.</p><p>As principais diferenças entre a Confederação e a Federação são as seguintes:</p><p>Confederação Federação</p><p>É uma pessoa de Direito Público É mais que uma pessoa de Direito Público</p><p>Seus membros são soberanos Seus membros são autônomos</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 11</p><p>Os entes estão ligados por um Tratado ou</p><p>Convenção Internacional</p><p>Os entes estão ligados por uma</p><p>Constituição</p><p>É permitido o direito de secessão Não é permitido o direito de secessão</p><p>OBSERVAÇÕES IMPORTANTES</p><p>Com essas ponderações, fica fácil a compreensão do art. 1º da Constituição Federal,</p><p>que apresenta a seguinte redação:</p><p>Assim, a forma de governo adotada por nosso ordenamento jurídico é a Republicana;</p><p>a forma de estado adotada é uma Federação, em que não é permitido o direito de</p><p>secessão, ante ao Princípio da Indissociabilidade ou Indissolubilidade.</p><p>Saliente-se que a forma federativa de estado, nos termos do art. 60, §4º da</p><p>Constituição é considerada cláusula pétrea, não podendo ser objeto de deliberação</p><p>de proposta de Emenda à Constituição, ou seja, uma cláusula granítica, imutável, em</p><p>nosso ordenamento jurídico.</p><p>Saliente-se que o Brasil, tradicionalmente, adotou o Presidencialismo em</p><p>praticamente todas as suas Constituições, exceto na de 1824 e inobstante ter sido</p><p>utilizado por pouco tempo o parlamentarismo.</p><p>No que tange a forma de governo republicana, apesar de ela não constar</p><p>expressamente como uma cláusula pétrea, no art. 60, §4º, da Constituição Federal,</p><p>de acordo com a doutrina majoritária, bem como entendimento do Supremo</p><p>Tribunal Federal, á República deve ser compreendida como uma cláusula pétrea</p><p>implícita.</p><p>Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados</p><p>e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e</p><p>tem como fundamentos:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 12</p><p>2 DIREITO CONSTITUCIONAL: ORIGEM, FONTES E OBJETO</p><p>2.1 CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL</p><p>O Direito Constitucional não se restringe mais apenas ao estudo da Constituição:</p><p>2.2 NATUREZA DO DIREITO CONSTITUCIONAL</p><p>O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público. E sobre o Direito Público</p><p>necessário destacar distinção realizada pela professora Maria Helena Diniz, que</p><p>leciona que “o direito público seria aquele que regula as relações em que o Estado é</p><p>parte, ou seja, rege a organização e atividade do Estado considerado em si mesmo</p><p>(direito constitucional), em relação com outro Estado (direito internacional) e em</p><p>suas relações com os particulares, quando procede em razão de seu poder soberano</p><p>e atua na tutela do bem coletivo (direito administrativo e tributário). O direito</p><p>privado é o que disciplina as relações entre particulares, nas quais predomina, de</p><p>modo imediato, o interesse de ordem privada, como compra e venda, doação,</p><p>usufruto, casamento, testamento, empréstimo etc.”</p><p>2.3 OBJETO DO DIREITO CONSTITUCIONAL</p><p>O Direito Constitucional tem por objeto “o conhecimento científico e sistematizado</p><p>da organização fundamental do Estado, através da investigação e estudo dos</p><p>princípios e regras constitucionais atinentes à forma do Estado, à forma e ao sistema</p><p>de Governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, à composição e</p><p>funcionamento de seus órgãos, aos limites de sua atuação e aos direitos e garantias</p><p>•“o direito constitucional é um intertexto aberto. Deve muito a experiências constitucionais,</p><p>nacionais e estrangeiras; no seu ‘espírito’ transporta ideias de filósofos, pensadores e políticos”</p><p>[...], não sendo “um singular movimento de rotação em torno de si mesmo, mas sim um gesto de</p><p>translação perante outras galáxias do saber humano”.</p><p>Pensamento de Canotilho:</p><p>•conceitua Direito Constitucional como sendo “o ramo do Direito Público que investiga e</p><p>sistematiza as instituições fundamentais do Estado, bem como estabelece a origem, a forma, o</p><p>desenvolvimento e os limites da aquisição e do exercício do poder, tendo como elemento central</p><p>a Constituição. Em outras palavras, Meirelles Teixeira definiu o Direito Constitucional como sendo</p><p>“o conjunto de princípios e normas que regulam a própria existência do Estado moderno, na sua</p><p>estrutura e no seu funcionamento, o modo de exercício e os limites de sua soberania, seus fins e</p><p>interesses fundamentais” [Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (pp. 317-318). Saraiva</p><p>Jur.]</p><p>Segundo Flávio Martins:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 13</p><p>fundamentais”. [Martins, Flávio. Curso de direito constitucional -</p><p>a recondução para o mesmo cargo na eleição</p><p>imediatamente subsequente”, merecendo ser anotado o seguinte entendimento:</p><p>Julgado em frase: Não é permitida a recondução de Membro da Mesa para</p><p>o mesmo cargo, na eleição imediatamente subsequente. Porém, tal vedação</p><p>se aplica dentro da mesma legislatura, não tendo lugar em caso de nova</p><p>legislatura, situação em que se constitui Congresso novo. (ADI 6524,</p><p>Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/2020,</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 05-04-2021 PUBLIC 06-04-2021)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 154</p><p>E, além disso, merece destaque o fato de que o Supremo Tribunal Federal, no</p><p>julgamento das ADI 6684/ES, ADI 6707/ES, ADI 6709/TO e ADI 6710/SE, fixou as</p><p>seguintes teses:</p><p>1ª) A eleição dos membros das mesas das assembleias legislativas estaduais</p><p>deve observar o limite de uma única reeleição ou recondução, limite cuja</p><p>observância independe de os mandatos consecutivos referirem-se à mesma</p><p>legislatura;</p><p>2ª) A vedação à reeleição ou recondução aplica-se somente para o mesmo</p><p>cargo da mesa diretora, não impedindo que membro da mesa anterior se</p><p>mantenha no órgão de direção, desde que em cargo distinto; e;</p><p>3) O limite de uma única reeleição ou recondução, acima veiculado, deve</p><p>orientar a formação das mesas das assembleias legislativas que foram eleitas</p><p>após a publicação do acórdão da ADI 6.524, mantendo-se inalterados os atos</p><p>anteriores.</p><p>Saliente-se que o Congresso Nacional pode ser convocado de maneira</p><p>extraordinária nas seguintes hipóteses:</p><p>I. pelo Presidente do Senado Federal, em caso de decretação de estado de</p><p>defesa ou de intervenção federal, de pedido de autorização para a decretação</p><p>de estado de sítio e para o compromisso e a posse do Presidente e do Vice-</p><p>Presidente da República;</p><p>II. pelo Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara dos Deputados</p><p>e do Senado Federal ou a requerimento da maioria dos membros de ambas</p><p>as Casas, em caso de urgência ou interesse público relevante, em todas as</p><p>hipóteses deste inciso com a aprovação da maioria absoluta de cada uma das</p><p>Casas do Congresso Nacional.</p><p>E, na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente deliberará</p><p>sobre a matéria para a qual foi convocado, sendo vedado o pagamento de parcela</p><p>indenizatória, em razão da convocação, merecendo destaque o fato de que o</p><p>Julgado em frase: A norma prevista no art. 57, §4º, da Constituição Federal</p><p>não é uma norma de reprodução obrigatória. (ADI 6721 MC-Ref, Relator(a):</p><p>ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 27/09/2021, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO DJe-248 DIVULG 16-12-2021 PUBLIC 17-12-2021)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 155</p><p>Supremo Tribunal Federal entende que essa vedação é extensível, também, os</p><p>Deputados Estaduais:</p><p>17.9 COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO</p><p>Ideia: A Comissão Parlamentar de Inquérito é uma comissão temporária constituída</p><p>dentro do Poder Legislativo, seja ele Federal, Estadual, Distrital ou Municipal, criada</p><p>para, dentro de prazo certo, investigar determinado fato de interesse público, com</p><p>gozo de poderes próprios de autoridades judicial, além de outros que estejam</p><p>previstos no respectivo Regime Interno.</p><p>Criação: A criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito configura o que é</p><p>conhecido como Direito Público Subjetivo das Minorias, haja vista que sua</p><p>instalação não se submete a nenhum juízo discricionário de nenhuma autoridade ou</p><p>órgão, bastando o preenchimento dos seguintes requisitos, conforme decidido pelo</p><p>Supremo Tribunal Federal no MS 37760 MC-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso,</p><p>julgado em 14/4/2021 (Info 1013):</p><p>1º) O requerimento de 1/3 dos membros das Casas Legislativas;</p><p>2º) A indicação de fato determinado a ser apurado; e</p><p>3º) A definição de prazo certo para sua duração.</p><p>Veja o seguinte julgado:</p><p>Julgado em frase: O Parlamentar não pode receber remuneração pela</p><p>convocação decorrente de sessão extraordinária. (ADPF 836, Relator(a):</p><p>CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 03/08/2021, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO DJe-159 DIVULG 09-08-2021 PUBLIC 10-08-2021)</p><p>Julgado em frase: A instauração de inquérito parlamentar está vinculada,</p><p>unicamente, à satisfação de três (03) exigências definidas, de modo taxativo,</p><p>no texto da Lei Fundamental da República: (1) subscrição do requerimento</p><p>de constituição da CPI por, no mínimo, 1/3 dos membros da Casa legislativa,</p><p>(2) indicação de fato determinado a ser objeto da apuração legislativa e (3)</p><p>temporariedade da comissão parlamentar de inquérito. (MS 26441,</p><p>Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 25/04/2007, DJe-</p><p>237 DIVULG 17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 EMENT VOL-02387-03 PP-</p><p>00294 RTJ VOL-00223-01 PP-00301)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 156</p><p>Poderes de uma Comissão Parlamentar de Inquérito: Sobre a temática poderes de</p><p>uma Comissão Parlamentar de Inquérito, necessário ter em mente a literalidade da</p><p>disposição Constitucional, art. 58, §3º: “As comissões parlamentares de inquérito,</p><p>que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros</p><p>previstos nos regimentos das respectivas Casas”.</p><p>Porém, é necessário fazer uma distinção precisa, com base no entendimento do</p><p>Supremo Tribunal Federal, sobre os reais poderes de uma Comissão Parlamentar de</p><p>Inquérito.</p><p>É permitido à uma Comissão Parlamentar de Inquérito:</p><p>• Determinar diligências que reputarem necessárias;</p><p>• Requerer a convocação de Ministros de Estado, Secretários de Estado</p><p>ou Secretários Municipais, de acordo com a esfera de atuação; se</p><p>criada em âmbito federal, estadual ou municipal;</p><p>• Tomar o depoimento de autoridades, com atenção para o fato de que</p><p>o Supremo Tribunal Federal entende que Governador de Estado não</p><p>pode ser obrigado a depor em Comissão Parlamentar de Inquérito</p><p>instaurada no âmbito do Congresso Nacional, merecendo anotação o</p><p>julgado abaixo:</p><p>• Ouvir os investigados;</p><p>• Inquirir testemunhas sob compromisso;</p><p>• Requisitar da administração pública direta, indireta ou fundacional</p><p>informações e documentos;</p><p>• Realizar inspeção in locu;</p><p>Julgado em frase: Comissão Parlamentar de Inquérito, em âmbito federal,</p><p>não tem o poder de convocar Governadores de Estado para prestarem</p><p>depoimento. (ADPF 848 MC-Ref, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno,</p><p>julgado em 28/06/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-209 DIVULG 20-10-</p><p>2021 PUBLIC 21-10-2021)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 157</p><p>• Efetuar prisões em flagrante em caso de crime praticado na presença</p><p>dos membros da Comissão;</p><p>No que tange a temática da “quebra de sigilos”, deve ser feita uma distinção se a</p><p>quebra é pretendida por uma Comissão em âmbito federal, estadual ou distrital ou</p><p>se em âmbito municipal, devendo assim ser esquematizado:</p><p>• Comissão Parlamentar de Inquérito Federal, Estadual ou Distrital:</p><p>Pode determinar a quebra de sigilos, seja ele fiscal, bancário e de</p><p>dados telefônicos.</p><p>• Comissão Parlamentar de Inquérito Municipal: Não pode determinar</p><p>a quebra de sigilos, seja ele fiscal, bancário e de dados telefônicos.</p><p>Além disso, um questionamento, também, precisa ser enfrentado: Se uma</p><p>testemunha, devidamente intimada, não comparece para depor perante uma</p><p>Comissão Parlamentar de Inquérito, qual consequência? Nesse caso, é necessário</p><p>que a Comissão Parlamentar de Inquérito requeira, ao juiz criminal da localidade em</p><p>que ela resida ou se encontre, sua condução forçada, nos termos do art. 218 do</p><p>Código de Processo Penal.</p><p>E, por fim, o investigado pode se recusar a comparecer perante os trabalhos de</p><p>uma Comissão Parlamentar de Inquérito na qual seria ouvido? Aqui é necessário</p><p>apresentar, previamente, dois cenários distintos que existem dentro da 2ª Turma do</p><p>Supremo Tribunal Federal, a saber:</p><p>• Ministros Gilmar Mendes e Celso de Melo: Entendem que o comparecimento do</p><p>Acusado perante os trabalhos é facultativo, podendo não comparecer.</p><p>E, caso</p><p>decida comparecer, terá garantido o direito ao silêncio, a assistência de um</p><p>advogado, de não prestar o compromisso de dizer a verdade e não sofrer</p><p>nenhum constrangimento.</p><p>• Ministros Edson Fachin e Carmem Lúcia: Entendem que o comparecimento do</p><p>Acusado perante os trabalhos é obrigatório, devendo comparecer. Porém, da</p><p>mesma forma que a solução acima apontada, comparecendo, terá garantido o</p><p>direito ao silêncio, a assistência de um advogado, de não prestar o compromisso</p><p>de dizer a verdade e não sofrer nenhum constrangimento.</p><p>E, como a votação sobre essa temática acabou empatada, no julgamento do HC</p><p>171438/DF prevaleceu a decisão mais favorável ao paciente, estabelecendo-se</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 158</p><p>então que o comparecimento do Acusado perante os trabalhos é facultativo,</p><p>podendo não comparecer, merecendo destaque a seguinte anotação:</p><p>Por fim, atente-se ao que não é permitido a uma Comissão Parlamentar de Inquérito:</p><p>I. Não permitido à uma Comissão Parlamentar de Inquérito:</p><p>II. Promover interceptação telefônica [Matéria sujeita a Cláusula de Reserva</p><p>de Jurisdição];</p><p>III. Decretar a indisponibilidade de bens do investigado [Matéria sujeita a</p><p>Cláusula de Reserva de Jurisdição];</p><p>IV. Decretar qualquer medida cautelar, como arresto, sequestro, prisões</p><p>preventivas, temporárias, ou qualquer outra medida cautelar real ou pessoal</p><p>[Matéria sujeita a Cláusula de Reserva de Jurisdição].</p><p>Julgado em frase: Investigado não pode ser conduzido coercitivamente para</p><p>depor perante uma Comissão Parlamentar de Inquérito. (HC 171438,</p><p>Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 28/05/2019,</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO DJe-204 DIVULG 14-08-2020 PUBLIC 17-08-2020)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 159</p><p>18 PODER EXECUTIVO</p><p>18.1 ESTRUTURA</p><p>O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos</p><p>Ministros de Estado.</p><p>A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á,</p><p>simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último</p><p>domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término</p><p>do mandato presidencial vigente.</p><p>A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele</p><p>registrado.</p><p>Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político,</p><p>obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.</p><p>Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova</p><p>eleição em até 20 dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois</p><p>candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos</p><p>votos válidos.</p><p>Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento</p><p>legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação.</p><p>Se remanescer, em segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação,</p><p>qualificar-se-á o mais idoso.</p><p>O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do</p><p>Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a</p><p>Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a</p><p>união, a integridade e a independência do Brasil, exercendo um mandato de 4</p><p>[quatro] anos que, nos de acordo com a Emenda Constitucional 111/2021, terá início</p><p>em 5 [cinco] de janeiro do ano seguinte ao de sua eleição.</p><p>Se, decorridos 10 dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente,</p><p>salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.</p><p>Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o</p><p>Vice-Presidente.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 160</p><p>O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas</p><p>por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para</p><p>missões especiais.</p><p>18.2 AUSÊNCIA DO CHEFE DO EXECUTIVO</p><p>Inicialmente, sobre o tema ausência do Chefe do Executivo, necessário fazer a</p><p>distinção entre os institutos jurídicos do impedimento, que corresponde a uma</p><p>ausência temporária, e vacância, que corresponde a uma ausência definitiva.</p><p>O Presidente da República possui um substituto natural, que é o Vice-Presidente da</p><p>República, bem como substitutos eventuais, que são o Presidente da Câmara dos</p><p>Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.</p><p>Atente-se ao fato de que caso os substitutos eventuais do Presidente da República</p><p>sejam réus em processos criminais, perante o Supremo Tribunal Federal, estes não</p><p>poderão exercer a função presidencial:</p><p>Caso o cargo presidencial fique acéfalo, ou seja, sem qualquer representante, com</p><p>uma ausência definitiva tanto do Presidente quanto do Vice-Presidente da</p><p>República, necessário se faz o seu preenchimento, porém, deve-se atentar ao</p><p>seguinte detalhe:</p><p>Vacância nos 2 [dois] primeiros anos do exercício do mandato presidencial:</p><p>Eleições diretas, com convocação da população para ir às urnas serão</p><p>realizadas no prazo de 90 [noventa] dias, depois de aberta a última vaga.</p><p>Vacância nos 2 [dois] últimos anos do exercício do mandato presidencial:</p><p>Eleições indiretas, serão realizadas pelo Congresso Nacional, no prazo de 30</p><p>[trinta] dias, depois de aberta a última vaga.</p><p>Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus</p><p>antecessores, instituto conhecido como mandato tampão.</p><p>Julgado em Frase: Caso os substitutos do Presidente da República sejam réus</p><p>em processo criminal, não poderão assumir as funções presidenciais. (ADPF</p><p>402 MC-Ref, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: CELSO DE</p><p>MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 07/12/2016, PROCESSO ELETRÔNICO</p><p>DJe-177 DIVULG 28-08-2018 PUBLIC 29-08-2018)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 161</p><p>Essa exposição é sintetizada pelo art. 81 da Constituição Federal, que possui a</p><p>seguinte redação:</p><p>Mas, deve ser destacado que a norma acima colacionada não se trata de norma de</p><p>reprodução obrigatória pelos Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, ou</p><p>seja, os entes políticos não precisam seguir o modelo de vacância traçado ela</p><p>Constituição Federal, devendo ser anotado o seguinte:</p><p>18.3 LICENÇA PARA VIAGEM AO EXTERIOR</p><p>O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do</p><p>Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a 15 [quinze] dias, sob</p><p>pena de perda do cargo, sendo que tal disposição vem prevista no art. 83</p><p>Constituição Federal.</p><p>E os Estados-membros devem seguir o mesmo modelo traçado pelo Poder</p><p>Constituinte Federal, não podendo dispor um lapso temporal inferior a 15 [quinze]</p><p>dias para que incida o controle da Assembleia Legislativa dos Estados sobre a</p><p>ausência de seu chefe do Executivo.</p><p>18.4 ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA</p><p>Compete privativamente ao Presidente da República:</p><p>I. nomear e exonerar os Ministros de Estado;</p><p>II. exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da</p><p>administração federal;</p><p>Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República,</p><p>far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. §1º Ocorrendo</p><p>a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para</p><p>ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso</p><p>Nacional, na forma da lei.</p><p>Julgado em Frase: O art. 81 da Constituição Federal não é norma de</p><p>reprodução obrigatória pelos Estados-membros. (ADI 1057, Relator(a): DIAS</p><p>TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 17/08/2021, PROCESSO ELETRÔNICO</p><p>DJe-214 DIVULG 27-10-2021 PUBLIC 28-10-2021)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 162</p><p>III. iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos na</p><p>Constituição Federal;</p><p>IV. sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos</p><p>e regulamentos para sua fiel execução;</p><p>V. vetar</p><p>projetos de lei, total ou parcialmente;</p><p>VI. dispor, mediante decreto, sobre: A) organização e funcionamento da</p><p>administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação</p><p>ou extinção de órgãos públicos; B) extinção de funções ou cargos públicos,</p><p>quando vagos. Obs.: O Presidente da República poderá delegar essa</p><p>atribuição aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao</p><p>Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas</p><p>delegações.</p><p>VII. manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus</p><p>representantes diplomáticos;</p><p>VIII. celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo</p><p>do Congresso Nacional;</p><p>IX. decretar o estado de defesa e o estado de sítio;</p><p>X. decretar e executar a intervenção federal;</p><p>XI. remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião</p><p>da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as</p><p>providências que julgar necessárias;</p><p>XII. conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos</p><p>órgãos instituídos em lei; Obs.: O Presidente da República poderá delegar</p><p>essa atribuição aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou</p><p>ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas</p><p>respectivas delegações.</p><p>XIII. exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os</p><p>Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus</p><p>oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos;</p><p>XIV. nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo</p><p>Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios,</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 163</p><p>o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central</p><p>e outros servidores, quando determinado em lei;</p><p>XV. nomear os Ministros do Tribunal de Contas da União;</p><p>XVI. nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o</p><p>Advogado-Geral da União;</p><p>XVII. nomear membros do Conselho da República;</p><p>XVIII. convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa</p><p>Nacional;</p><p>XIX. declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo</p><p>Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das</p><p>sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou</p><p>parcialmente, a mobilização nacional;</p><p>XX. celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;</p><p>XXI. conferir condecorações e distinções honoríficas;</p><p>XXII. permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças</p><p>estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam</p><p>temporariamente;</p><p>XXIII. enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de</p><p>diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta</p><p>Constituição;</p><p>XXIV. prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de 60 dias após a</p><p>abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;</p><p>XXV. prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; Obs.: O</p><p>Presidente da República poderá delegar a atribuição de provimento de cargos</p><p>públicos aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao</p><p>Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas</p><p>delegações.</p><p>XXVI. editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 164</p><p>18.5 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA</p><p>CRIME DE RESPONSABILIDADE</p><p>Os Chefes do Poder Executivo, seja em âmbito federal, estadual, distrital ou</p><p>municipal, estão sujeitos ao regime de crime de responsabilidade, que são infrações-</p><p>político administrativas que sujeitam o agente político à pena de perda do cargo e</p><p>inabilitação para o exercício de função pública.</p><p>Ressalte-se, de início, que o Supremo Tribunal Federal entende que a competência</p><p>para definir atos que configurem crime de responsabilidade, bem como as</p><p>respectivas regras de processo e julgamento, é da União, tendo sido, inclusive,</p><p>editada a Súmula Vinculante 46:</p><p>E, dessa forma, Constituições Estaduais que disponham sobre o instituto devem ter</p><p>tais disposições declaradas inconstitucionais, merecendo destaque o seguinte</p><p>julgado:</p><p>A Constituição Federal, dispõe em seu art. 85 que são crimes de responsabilidade os</p><p>atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e,</p><p>especialmente, contra:</p><p>I. a existência da União</p><p>II. o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério</p><p>Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação</p><p>III. o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais</p><p>IV. a segurança interna do País</p><p>Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a</p><p>definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das</p><p>respectivas normas de processo e julgamento.</p><p>Julgado em Frase: Estados-membros não podem legislar sobre crimes de</p><p>responsabilidade, por se tratar de competência da União. (ADI 4791,</p><p>Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2015,</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO DJe-076 DIVULG 23-04-2015 PUBLIC 24-04-2015)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 165</p><p>V. a probidade na administração</p><p>VI. a lei orçamentária</p><p>VII. o cumprimento das leis e das decisões judiciais</p><p>Caso venha a cometer um crime de responsabilidade, o Presidente da República será</p><p>submetido a julgamento perante Senado Federal, após autorização pela Câmara dos</p><p>Deputados, por 2/3 de seus membros [Procedimento Bifásico], conforme se</p><p>depreende da redação dos arts. 51, I e 52, I, todos da Constituição Federal:</p><p>Ressalte-se que o julgamento de crime de responsabilidade cometido por</p><p>Governador de Estado será feito por um Tribunal Especial, comporto por 5 [cinco]</p><p>membros do Poder Judiciário, no caso Desembargadores, 5 [cinco] membros da</p><p>Assembleia Legislativa do Estado, sob presidência do Presidente do Tribunal de</p><p>Justiça, nos termos do art. 78, §3º, da Lei 1.079/1950:</p><p>Por fim, o julgamento de crime de responsabilidade cometido por Prefeito será feito</p><p>pela Câmara dos Vereadores, nos termos do art. 4º do Decreto Lei 201/1967:</p><p>Art. 51, CF. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I. autorizar,</p><p>por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o</p><p>Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;</p><p>Art. 52, CF. Compete privativamente ao Senado Federal: I. processar e julgar</p><p>o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de</p><p>responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da</p><p>Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza</p><p>conexos com aqueles;</p><p>Art. 78, §3º, Lei 1.079/1950: Nos Estados, onde as Constituições não</p><p>determinarem o processo nos crimes de responsabilidade dos</p><p>Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei, devendo, porém, o</p><p>julgamento ser proferido por um tribunal composto de cinco membros do</p><p>Legislativo e de cinco desembargadores, sob a presidência do Presidente do</p><p>Tribunal de Justiça local, que terá direito de voto no caso de empate. A</p><p>escolha desse Tribunal será feita - a dos membros do legislativo, mediante</p><p>eleição pela Assembléia: a dos desembargadores, mediante sorteio.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 166</p><p>Retornando à figura do agente político do Presidente da República, necessário</p><p>salientar que, nos termos do art. 14 da Lei 1.079/19950, qualquer cidadão em pleno</p><p>gozo de seus direitos políticos pode denunciar o Presidente da República, por crime</p><p>de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.</p><p>Saliente-se que o Presidente da Câmara dos Deputados não é obrigado a receber a</p><p>denúncia apresentada pelo cidadão, realizando um juízo prévio de sua</p><p>admissibilidade, podendo, inclusive, rejeitá-la liminarmente, caso entenda que a</p><p>peça é inepta ou não esteja</p><p>revestida de suporte probatório mínimo [justa causa],</p><p>conforme julgado abaixo colacionado:</p><p>E a leitura do art. 86 da Constituição Federal aponta para o fato de que a denúncia,</p><p>em face do Presidente da República, tecnicamente seria admitida pela Câmara dos</p><p>Deputados.</p><p>Saliente-se que a doutrina majoritária, seguindo uma interpretação literal da</p><p>Constituição, entende a Câmara dos Deputados realiza um juízo de admissibilidade</p><p>da acusação, o que, por consectário, com tal ato, implicaria a vinculação e</p><p>obrigatoriedade do Senado Federal em processá-lo.</p><p>Porém, o Supremo Tribunal Federal, entende que a Câmara dos Deputados não faz</p><p>um verdadeiro juízo técnico de admissibilidade da peça acusatória, mas apenas</p><p>implementar uma condição de procedibilidade do procedimento, a fim de que este</p><p>seja enviado para o Senado Federal, órgão responsável para realizar o verdadeiro</p><p>Art. 4º, DL 201/67: São infrações político-administrativas dos Prefeitos</p><p>Municipais sujeitas ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e</p><p>sancionadas com a cassação do mandato: [...].</p><p>Julgado em Frase: O Presidente da Câmara dos Deputados não é obrigado a</p><p>receber a Denúncia apresentada contra o Presidente da República. (ADPF</p><p>378 MC, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min.</p><p>ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2015, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO DJe-043 DIVULG 07-03-2016 PUBLIC 08-03-2016)</p><p>Art. 86, CF. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois</p><p>terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante</p><p>o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o</p><p>Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 167</p><p>juiz de admissibilidade, merecendo destaque o trecho do voto do Min. Roberto</p><p>Barroso, quando o julgamento do MS 30672:</p><p>Admitida a acusação contra o Presidente da República, por 2/3 da Câmara dos</p><p>Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal,</p><p>nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de</p><p>responsabilidade.</p><p>E, com o recebimento da denúncia pelo Senado Federal, o Presidente da República</p><p>ficará suspenso de suas funções pelo prazo de 180 [cento e oitenta] dias para que</p><p>possa se dedicar à sua defesa, ressaltando que se, decorrido o prazo de 180 [cento e</p><p>oitenta] dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do</p><p>Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.</p><p>CRIME COMUM</p><p>Quando o Presidente da República comete um injusto penal, necessário se faz a</p><p>verificação se esse injusto está ou não relacionado com o exercício das funções</p><p>presidenciais, formando-se o seguinte panorama:</p><p>• Injusto penal praticado pelo Presidente da República e relacionado com o</p><p>exercício das funções: O Procurador-Geral da República oferece Denúncia</p><p>contra o Presidente da República perante o Supremo Tribunal Federal. Antes</p><p>de recebê-la deverá encaminhá-la à Câmara dos Deputados para que este</p><p>órgão decida se o processo poderá ser instaurado ou não. Caso autorizado a</p><p>instauração do processo e, recebida a peça acusatória, o Presidente ficará</p><p>suspenso de suas funções pelo prazo de 180 [cento e oitenta] dias, a fim de</p><p>que possar dedicar à sua defesa, ressaltando que, se decorrido o prazo de 180</p><p>[cento e oitenta] dias o julgamento não estiver concluído, cessará o</p><p>afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do</p><p>processo.</p><p>(...) a Câmara dos Deputados somente atua no âmbito pré-processual, não</p><p>valendo a sua autorização como um recebimento da denúncia, em sentido</p><p>técnico. Assim, a admissão da acusação a que se seguirá o julgamento</p><p>pressupõe um juízo de viabilidade da denúncia pelo único órgão competente</p><p>para processá-la e julgá-la: o Senado.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 168</p><p>A necessidade de prévia autorização da Câmara dos Deputados, bem com o foro de</p><p>prerrogativa de função no Supremo Tribunal Federal configuram o instituto da</p><p>imunidade formal conferida ao Presidente da República.</p><p>E, como as regras de imunidade devem ser interpretadas restritivamente, o Supremo</p><p>Tribunal Federal entende que ela “não se estende para os codenunciados que não</p><p>se encontrem investidos nos cargos de Presidente da República, Vice-Presidente da</p><p>República e Ministro de Estado. A finalidade dessa imunidade é proteger o</p><p>exercício regular dos cargos de Presidente (e Vice) da República e de Ministro de</p><p>Estado, razão pela qual não é extensível a codenunciados que não se encontrem</p><p>investidos em tais funções.” STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327</p><p>AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgados em 14 e 19/12/2017 (Info 888).</p><p>Além disso, tal imunidade é exclusiva do Presidente da República. Os Governadores</p><p>de Estado, para serem processados criminalmente pelo Superior Tribunal de Justiça,</p><p>não dependem de prévia autorização da Assembleia Legislativa do Estado,</p><p>ressaltando que, caso algum documento jurídico preveja essa necessidade, ele</p><p>deverá ser considerado inconstitucional:</p><p>Além disso, em que pese o Presidente da República ficar suspenso do exercício de</p><p>suas funções quando do recebimento de denúncia pelo Supremo Tribunal Federal,</p><p>da mesma forma, tal prerrogativa não se estende ao Governador de Estado:</p><p>Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I. autorizar, por</p><p>dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente</p><p>e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;</p><p>Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois</p><p>terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante</p><p>o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o</p><p>Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.</p><p>Julgado em Frase: É vedado às unidades federativas instituírem normas que</p><p>condicionem a instauração de ação penal contra o Governador, por crime</p><p>comum, à prévia autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior</p><p>Tribunal de Justiça dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de</p><p>medidas cautelares penais, inclusive afastamento do cargo. (ADI 4764,</p><p>Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO</p><p>BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO</p><p>DJe-178 DIVULG 14-08-2017 PUBLIC 15-08-2017)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 169</p><p>• Injusto penal praticado pelo Presidente da República e não relacionado com</p><p>o exercício das funções: Caso o injusto penal não esteja relacionado ao</p><p>exercício das funções presidenciais, ou caso ele tenha sido praticado antes do</p><p>início do mandato presidencial, nos termos do art. 86, §4º, da Constituição</p><p>Federal, o Presidente da República não poderá ser denunciado, devendo ser</p><p>aguardar o término do mandato para que ele possa responder perante o juízo</p><p>competente, por fazer jus a imunidade penal especial e temporária. E, por se</p><p>tratar de prerrogativa e não de privilégio, durante esse lapso temporal, o</p><p>prazo prescricional também fica suspenso.</p><p>Julgado em Frase: O recebimento da Denúncia, em desfavor do Governador</p><p>de Estado, por crime de responsabilidade, não implica em sua suspensão</p><p>automática das funções. (ADI 4764, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,</p><p>Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado</p><p>em 04/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 14-08-2017</p><p>PUBLIC 15-08-2017)</p><p>Art. 86, §4º, CF: O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não</p><p>pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 170</p><p>19 PODER JUDICIÁRIO</p><p>19.1 ESTATUTO DA MAGISTRATURA</p><p>O instituto conhecido como Estatuto da Magistratura incorpora normas</p><p>constitucionais que disciplinam os direitos e deveres funcionais dos Magistrados,</p><p>instituindo, a fundo, um verdadeiro estatuto orgânico do Poder Judiciário.</p><p>O Poder Judiciário é composto dos seguintes órgãos:</p><p>I. Supremo Tribunal Federal;</p><p>II. Conselho Nacional de Justiça, com sede na Capital Federal;</p><p>III. Superior Tribunal de Justiça;</p><p>IV. Tribunal Superior do Trabalho;</p><p>V. Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;</p><p>VI. Tribunais e Juízes do Trabalho;</p><p>VII. Tribunais e Juízes Eleitorais;</p><p>VIII. Tribunais e Juízes Militares;</p><p>IX. Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.</p><p>Para compreensão do Poder Judiciário, antes de adentrar no estudo pontual dos</p><p>órgãos que o compõe, necessário a compreensão do Estatuto da Magistratura, que</p><p>traz os direitos, deveres e prerrogativas que devem ser observadas pelos</p><p>Magistrados brasileiros, cujos principais pontos são os seguintes:</p><p>➢ Ingresso na carreira: O ingresso na carreira da Magistratura se dá mediante</p><p>concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos</p><p>Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito,</p><p>no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações,</p><p>à ordem de classificação, sendo que o aprovado no certame ingressará na</p><p>carreira como Juiz de Direito Substituto.</p><p>Ponto 1: Os três anos de prática jurídica são conhecidos como</p><p>“quarentena de entrada” e está previsto em uma norma constitucional</p><p>de eficácia limitada. Porém, o Supremo Tribunal Federal exige o</p><p>requisito da quarentena de entrada com base, inclusive, em resolução</p><p>do Conselho Nacional de Justiça. Resolução n. 75 do Conselho Nacional</p><p>de Justiça.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 171</p><p>Ponto 2: Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, o</p><p>lapso temporal de 3 anos de atividade jurídica é contado da data de</p><p>conclusão do curso de Direito:</p><p>Ponto 3: Conforme, também, entendimento do Supremo Tribunal</p><p>Federal, o lapso temporal dos 3 anos de atividade jurídica deve ser</p><p>comprovado no momento da inscrição definitiva do certame:</p><p>Ponto 4: De acordo com a Resolução n. 75 do Conselho Nacional de</p><p>Justiça, a expressão “atividade jurídica” compreende: A) Aquela</p><p>exercida com exclusividade por bacharel em Direito; B) O efetivo</p><p>exercício de advocacia, inclusive voluntária, mediante a participação</p><p>anual mínima em cinco atos privativos de advogado em causas ou</p><p>questões distintas; C) O exercício de cargos, empregos ou funções,</p><p>inclusive de magistério superior, que exija a utilização preponderante</p><p>de conhecimento jurídico; D) O exercício da função de conciliador</p><p>junto a tribunais judiciais, juizados especiais, varas especiais, anexos</p><p>de juizados especiais ou de varas judiciais, no mínimo de 16 horas</p><p>mensais e durante 1 ano; E) O exercício da atividade de mediação ou</p><p>de arbitragem na composição de litígios.</p><p>➢ Promoção: A promoção na carreira se dá por 2 [dois] critérios alternados, a</p><p>saber: A) antiguidade e B) merecimento, consignando, de antemão, que o</p><p>Magistrado que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do</p><p>STF: Segundo entendimento da Corte, a norma impugnada veio atender</p><p>ao objetivo da EC n. 45/2004 de recrutar, com mais rígidos critérios de</p><p>seletividade técnico- profissional, os pretendentes às carreiras. Assim,</p><p>“os 3 anos de atividade jurídica contam-se da data da conclusão do</p><p>curso de Direito e o fraseado ‘atividade jurídica’ é significante de</p><p>atividade para cujo desempenho se faz imprescindível a conclusão de</p><p>curso de bacharelado em Direito”. ADI 3.460/DF, Rel. Min. Carlos</p><p>Britto, j 31.08.2006, DJ de 15.06.2007.</p><p>STF: A comprovação do triênio de atividade jurídica exigida para o</p><p>ingresso no cargo de juiz substituto, nos termos do inciso I do art. 93 da</p><p>Constituição Federal, deve ocorrer no momento da inscrição definitiva</p><p>no concurso público e não na posse. RE 655.265, Rel. orig. Min. Luiz</p><p>Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j. 13.04.2016, DJE de 08.08.2016.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 172</p><p>prazo legal, não será promovido, não podendo devolver o processo ao</p><p>Cartório sem o devido despacho ou decisão.</p><p>➢ Critério do merecimento: A aferição do merecimento é feita conforme o</p><p>desempenho da atividade judicante e pelos critérios objetivos de</p><p>produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela frequência e</p><p>aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento.</p><p>➢ Para que um Magistrado seja promovido na carreira, pelo critério do</p><p>merecimento, pressupõe-se 2 [dois] anos de exercício na respectiva entrância</p><p>e integrar a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não</p><p>houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago, ressaltando a</p><p>obrigatoriedade da promoção do Magistrado que figurar por 3 [três] vezes</p><p>consecutivas ou 5 [cinco] vezes alternadas na lista de promoção por</p><p>merecimento</p><p>➢ Critério da antiguidade: Por esse critério, será promovido na carreira o</p><p>Magistrado mais antigo e na apuração de antiguidade, o tribunal somente</p><p>poderá recusar o Magistrado mais antigo pelo voto fundamentado de 2/3 de</p><p>seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa,</p><p>repetindo-se a votação até fixar-se a indicação.</p><p>➢ Subsídio: O subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a</p><p>95% [noventa e cinco por cento] do subsídio mensal fixado para os Ministros</p><p>do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais Magistrados serão</p><p>fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as</p><p>respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a</p><p>diferença entre uma e outra ser superior a 10% [dez por cento] ou inferior a</p><p>5% [cinco por cento], nem exceder a 95% [noventa e cinco por cento] do</p><p>subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores.</p><p>➢ Residência na comarca: O juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo</p><p>autorização do tribunal.</p><p>➢ Remoção ou disponibilidade: O ato de remoção ou de disponibilidade do</p><p>Magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da</p><p>maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça,</p><p>assegurada ampla defesa.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 173</p><p>➢ Publicidade dos atos processuais dentro do Poder Judiciário: Todos os</p><p>julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas</p><p>todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em</p><p>determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a</p><p>estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do</p><p>interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.</p><p>➢ Motivação das decisões administrativas dentro do Poder Judiciário e</p><p>quórum das decisões disciplinares: As decisões administrativas dos tribunais</p><p>serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo</p><p>voto da maioria absoluta de seus membros.</p><p>➢ Órgão Especial representativo do Plenário do Tribunal: Nos tribunais com</p><p>número superior a 25 [vinte e cinco] Julgadores, poderá ser constituído Órgão</p><p>Especial, com o mínimo de 11 [onze] e o máximo de 25 [vinte e cinco]</p><p>membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais</p><p>delegadas da competência do Tribunal Pleno, provendo-se metade das vagas</p><p>por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno.</p><p>➢ Não interrupção da atividade jurisdicional: A atividade jurisdicional será</p><p>ininterrupta, sendo vedado férias coletivas em 1º e 2º graus de jurisdição, ou</p><p>seja, Magistrados de 1ª e 2ª instancia, funcionando, nos dias em que não</p><p>houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente.</p><p>➢ Proporcionalidade do número de Magistrado na comarca: O número de</p><p>juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e</p><p>à respectiva população.</p><p>➢ Possibilidade de delegação de atos: Os servidores poderão receber</p><p>delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente</p><p>sem caráter decisório, ou seja, os atos de cunho decisório apenas podem ser</p><p>praticados pelos Magistrados.</p><p>➢ Imediatidade de distribuição</p><p>dos processos: A distribuição de processos será</p><p>imediata, em todos os graus de jurisdição, seja em 1º ou 2º graus de</p><p>jurisdição, bem como em todos os Tribunais Superiores.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 174</p><p>19.2 GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO: INSTITUCIONAIS E FUNCIONAIS</p><p>Ao Poder Judiciário é assegurado determinadas garantias, que podem ser</p><p>consideradas como A) garantias institucionais, que são asseguradas à instituição do</p><p>Poder Judiciário, bem como B) garantias funcionais, que são asseguradas ao membro</p><p>do Poder Judiciário, no caso, aos Magistrados, para que possam desempenhar suas</p><p>funções com autonomia e independência. E podem ser assim sistematizadas:</p><p>Como garantias institucionais devem ser destacadas a autonomia administrativa e</p><p>financeira que é garantida ao Poder Judiciário e que, também, podem ser assim</p><p>sintetizadas:</p><p>• Autonomia Financeira: Dentro de limites estipulados conjuntamente com os</p><p>demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias, ao Poder Judiciário é</p><p>garantida autonomia para elaborar suas próprias propostas orçamentárias. A</p><p>legitimidade para o encaminhamento das propostas compete A) no âmbito</p><p>da União: aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais</p><p>Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais e; B) no âmbito dos</p><p>Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais</p><p>de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais.</p><p>A Constituição Federal prevê a possibilidade de as propostas</p><p>orçamentárias do Poder Judiciário A) não serem encaminhadas dentro</p><p>do prazo previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias [LDO] ou B)</p><p>serem encaminhadas em desacordo com os limites financeiros</p><p>previstos, o que faz surgir os seguintes cenários distintos:</p><p>A) Não encaminhamento da proposta no prazo previsto na Lei</p><p>de Diretrizes Orçamentárias [LDO]: O Poder Executivo</p><p>considerará, para fins de consolidação da proposta</p><p>orçamentária anual, os valores aprovados na Lei Orçamentária</p><p>vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados no §1º</p><p>do art. 99 da Constituição Federal.</p><p>B) Encaminhamento da proposta, porém, em desacordo com</p><p>os limites financeiros previstos no §1º do art. 99 da</p><p>Constituição Federal: O Poder Executivo procederá aos ajustes</p><p>necessários para fins de consolidação da proposta</p><p>orçamentária anual.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 175</p><p>Saliente-se que durante a execução orçamentária do exercício, não</p><p>poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações</p><p>que extrapolem os limites estabelecidos na Lei de Diretrizes</p><p>Orçamentárias [LDO], exceto se previamente autorizadas, mediante a</p><p>abertura de créditos suplementares ou especiais.</p><p>• Autonomia Administrativa: O Poder Judiciário possui autonomia</p><p>administrativa, executiva, e poderá promover sua organização interna, com a</p><p>criação e divisão de órgãos específicos, concessão de licença, férias, dentre</p><p>outros, a seus servidores. Enfim, administrando toda a complexa estrutura do</p><p>Poder Judiciário.</p><p>Como garantias funcionais deve ser ressaltado que os Magistrados gozam de 3 [três]</p><p>garantias constitucionais, a saber: A) vitaliciedade, B) inamovibilidade e; C)</p><p>irredutibilidade de subsídios, podendo ser assim esquematizadas:</p><p>• Vitaliciedade: Para conquistar a garantia da vitaliciedade, em 1º Grau de</p><p>Jurisdição, é necessário o exercício de 2 [dois] anos de atividade judicante. A</p><p>partir de então o Magistrado será considerado vitalício e apenas poderá</p><p>perder o cargo por sentença judicial transitada em julgado. Porém, antes de</p><p>adquirir a vitaliciedade, a perda do cargo poderá ocorrer por deliberação do</p><p>Tribunal a que o juiz estiver vinculado.</p><p>Ponto 1: Quando os membros oriundos da Advocacia ou do Ministério</p><p>Público assumem vagas que decorrem do quinto constitucional, a</p><p>vitaliciedade é adquirida imediatamente.</p><p>• Inamovibilidade: Os Magistrados são considerados inamovíveis da localidade</p><p>onde desempenham suas atividades judicantes, garantia esta que é</p><p>estendida, também, para os Juízes Substitutos. Porém, não se trata de</p><p>garantia e absoluta e, se razões de interesse público assim justificarem, o</p><p>Magistrado poderá ser movido de uma comarca ou seção judiciaria para</p><p>outra.</p><p>Art. 99, CF. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia</p><p>administrativa e financeira. §1º Os tribunais elaborarão suas</p><p>propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados</p><p>conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes</p><p>orçamentárias.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 176</p><p>Ponto 1: A garantia da inamovibilidade, de acordo com o Supremo</p><p>Tribunal Federal, alcança tanto o Juiz Titular, quanto o Juiz Substituto:</p><p>• Irredutibilidade de subsídio: A garantia prevê que o subsídio dos Magistrados</p><p>não poderá sofrer qualquer forma de redução. Porém, a pergunta que deve</p><p>ser respondida é se essa garantia é uma garantia real, que deve acompanhar</p><p>eventual perda econômica da moeda, ou uma garantia nominal, em que o</p><p>que não pode sofrer redução é a cifra indicada no momento em que entrou</p><p>em exercício do cargo? O Supremo Tribunal Federal entende que essa</p><p>garantia é uma garantia nominal.</p><p>Condutas vedadas aos Magistrados: A Constituição Federal prevê que é vedado, é</p><p>proibido, aos Magistrados o que se segue:</p><p>I. Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de</p><p>magistério;</p><p>II. Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;</p><p>III. Dedicar-se à atividade político-partidária;</p><p>IV. Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de</p><p>pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções</p><p>previstas em lei;</p><p>V. Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de</p><p>decorridos 3 [três] anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou</p><p>exoneração.</p><p>Foro de prerrogativa de função: O foro por prerrogativa de função é uma</p><p>prerrogativa constitucional segundo a qual alguns agentes públicos serão</p><p>processados e julgados criminalmente (não engloba processos cíveis) por</p><p>STF: A inamovibilidade é, nos termos do art. 95, II, da CF, garantia de</p><p>toda a magistratura, alcançando não apenas o juiz titular como também</p><p>o substituto. O magistrado só poderá ser removido por designação, para</p><p>responder por determinada vara ou comarca ou para prestar auxílio,</p><p>com o seu consentimento, ou, ainda, se o interesse público o exigir, nos</p><p>termos do inciso VIII do art. 93 do Texto Constitucional. (MS 27.958, Rel.</p><p>Min. Ricardo Lewandowski, j. 17.05.2012, Plenário, DJE de 29.08.2012).</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 177</p><p>determinados Tribunais (TJ, TRF, STJ, STF). O objetivo é de um julgamento imparcial</p><p>e livre de pressões pelos órgãos de cúpula do Poder Judiciário.</p><p>Os Magistrados da Justiça Estadual e do Distrito Federal e Territórios, bem como os</p><p>membros do Ministério Público Estadual, tanto em crimes comuns quanto em crimes</p><p>de responsabilidade, são julgados pelos Tribunais de Justiça respectivos, com a</p><p>ressalva da competência da Justiça Eleitoral, por se tratar de competência da Justiça</p><p>Especializada que, pelo Princípio da Especialidade, prevalecerá caso exista algum</p><p>injusto eleitoral.</p><p>A existência do foro por prerrogativa de função representa uma exceção ao princípio</p><p>republicano e ao princípio da igualdade. Assim, existe a necessidade de que normas</p><p>constitucionais que excepcionem esses princípios sejam interpretadas sempre de</p><p>forma restritiva.</p><p>E aqui é necessário se atentar para um ponto específico, haja vista o Supremo</p><p>Tribunal Federal já interpretou de maneira restritiva o foro de prerrogativa de função</p><p>dos seguintes agentes:</p><p>A) Deputados Federais e Senadores;</p><p>B) Ministros de Estados;</p><p>C) Governadores e;</p><p>D) Conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais.</p><p>No que tange a membros do Poder Judiciário, de 1º e 2º graus de jurisdição,</p><p>necessário se faz delinear o seguinte cenário: Desembargadores:</p><p>Superior Tribunal</p><p>de Justiça; Juízes de Direito: Tribunal de Justiça.</p><p>Porém, ressalte-se que os Desembargadores dos Tribunais de Justiça continuam</p><p>sendo julgados pelo Superior Tribunal de Justiça mesmo que o crime não esteja</p><p>relacionado com as suas funções, não incidindo, nesse caso, eventual interpretação</p><p>restritiva do instituto:</p><p>Julgado em Frase: Mesmo que o crime cometido pelo Desembargador não</p><p>esteja relacionado com as suas funções, ele será julgado pelo Superior Tribunal</p><p>de Justiça. (QO na APn 878/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE</p><p>ESPECIAL, julgado em 21/11/2018, DJe 19/12/2018)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 178</p><p>19.3 QUINTO CONSTITUCIONAL</p><p>Com o escopo de promover uma oxigenação no pensamento dos Tribunais, com</p><p>contribuição de novas experiências, oriundas de outras carreiras, a Constituição</p><p>Federal, em seu art. 94, trouxe previsão do instituto do quinto constitucional, nos</p><p>seguintes termos:</p><p>Apesar de o art. 94 acima só se referir explicitamente aos Tribunais Regionais</p><p>Federais e Tribunais e Justiça, a regra do quinto constitucional está prevista,</p><p>também, para os Tribunais do Trabalho (arts. 111-A, I; 115, I) e o seu procedimento</p><p>orienta a composição do STJ (art. 104, parágrafo único).</p><p>Vejam que 1/5 dos lugares do 2º Grau de Jurisdição será composto de profissionais</p><p>oriundos tanto da Advocacia quanto do Ministério Público, que, além de possuírem</p><p>notável saber jurídico e reputação ilibada, devem ter mais de 10 [dez] anos de</p><p>exercício de atividade profissional.</p><p>Para que esses agentes, oriundos da Advocacia e do Ministério Público, façam parte</p><p>da composição dos Tribunais de Justiça ou Tribunais Regionais Federais, um</p><p>procedimento específico deve ser observado, que pode ser assim sistematizado:</p><p>• Indicação pelos órgãos de classe: Os respectivos órgãos de classe escolhem</p><p>e indicam os nomes de 6 [seis] profissionais, que entendem serem os mais</p><p>qualificados para compor o 2º Grau de Jurisdição.</p><p>• Lista sêxtupla e tríplice: Esses nomes são enviados aos Tribunais de Justiça</p><p>ou Tribunais Regionais Federais em uma lista, conhecida como lista sêxtupla.</p><p>Ao receberem a lista sêxtupla, os Tribunais reduzem os 6 [seis] nomes</p><p>recebidos para apenas 3 [três] nomes.</p><p>Art. 94, CF: Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos</p><p>Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de</p><p>membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de</p><p>advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez</p><p>anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos</p><p>de representação das respectivas classes.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 179</p><p>19.4 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL</p><p>Nomeação para o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal: A nomeação é</p><p>feita pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria</p><p>absoluta do Senado Federal. Nessa investidura, inicialmente, o Presidente da</p><p>República escolhe o nome e faz a sua indicação para o Senado Federal. Na sequência,</p><p>a Comissão de Constituição Justiça e Cidadania, em votação secreta, emite parecer</p><p>[facultativo] sobre o nome. Após, o indicado, em arguição pública, é sabatinado e,</p><p>ato seguinte ocorrerá, em votação secreta, a deliberação plenária sobre o nome no</p><p>Senado Federal. A indicação, para ser aprovada, deve receber, pelo menos, 41 dos</p><p>81 votos, ou seja, maioria absoluta. E, aprovado o nome pelo Senado Federal, o</p><p>Presidente da República nomeará o novo Ministro, momento em que este será</p><p>vitaliciado.</p><p>Principais competências: O Supremo Tribunal Federal é o guardião do ordenamento</p><p>jurídico-constitucional e suas principais competências podem ser divididas em A)</p><p>competências originárias e B) competências derivadas, assim sintetizadas:</p><p>A) Competências originárias: Processar e julgar:</p><p>A.1) A ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo</p><p>federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei</p><p>ou ato normativo federal, bem como o pedido de medida cautelar das</p><p>ações diretas de inconstitucionalidade;</p><p>A.2) Nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-</p><p>Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios</p><p>Ministros e o Procurador-Geral da República;</p><p>A.3) Nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade,</p><p>os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e</p><p>da Aeronáutica, ressalvada a hipótese de conexão com crimes de</p><p>responsabilidade, porventura, praticados pelo Presidente da</p><p>República, hipótese em que o julgamento caberá ao Senado Federal,</p><p>nos termos do art. 52, I, da Constituição Federal; os membros dos</p><p>Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de</p><p>missão diplomática de caráter permanente;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 180</p><p>A.4) O habeas corpus, sendo paciente o Presidente da República, o</p><p>Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, Ministros do</p><p>Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da República, os</p><p>Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da</p><p>Aeronáutica; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do</p><p>Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do</p><p>Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral</p><p>da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;</p><p>A.5) O litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a</p><p>União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;</p><p>A.6) As causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o</p><p>Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas</p><p>entidades da administração indireta;</p><p>Ponto 1: De acordo com o entendimento do Supremo Tribunal</p><p>Federal para que sua competência incida em virtude da norma</p><p>prevista no art. 102, I, “f”, da CF/88, é indispensável que, além</p><p>de haver uma causa envolvendo União e Estado, essa demanda</p><p>tenha densidade suficiente para abalar o pacto federativo, ou</p><p>seja, uma causa ou conflito que possa resultar em ofensa às</p><p>regras do sistema federativo. Vejam:</p><p>Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I. processar e</p><p>julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de</p><p>responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes</p><p>da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma</p><p>natureza conexos com aqueles;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 181</p><p>A.7) A extradição solicitada por Estado estrangeiro;</p><p>A.8) O habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou</p><p>quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos</p><p>atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal</p><p>Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única</p><p>instância;</p><p>A.9) A revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;</p><p>A.10) A reclamação para a preservação de sua competência e garantia</p><p>da autoridade de suas decisões;</p><p>A.11) A execução de sentença nas causas de sua competência</p><p>originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos</p><p>processuais;</p><p>A.12) A ação em que todos os membros da magistratura sejam direta</p><p>ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos</p><p>STF: Diferença entre conflito entre entes federados e conflito</p><p>federativo: enquanto no primeiro, pelo prisma subjetivo,</p><p>observa-se a litigância judicial promovida pelos membros da</p><p>Federação, no segundo, para além da participação desses na lide,</p><p>a conflituosidade da causa importa em potencial</p><p>desestabilização do próprio pacto federativo. Há, portanto,</p><p>distinção de magnitude nas hipóteses aventadas, sendo que o</p><p>legislador constitucional restringiu a atuação da Corte à última</p><p>delas, nos moldes fixados no Texto Magno, e não incluiu os</p><p>litígios e as causas envolvendo Municípios como ensejadores de</p><p>conflito federativo apto a exigir a competência originária da</p><p>Corte. STF. Plenário.</p><p>ACO 1.295-AgR-segundo, Rel. Min. Dias</p><p>Toffoli, julgado em 14/10/2010.</p><p>STF: Não se pode confundir conflito federativo com conflito de</p><p>entes federados. Nesse sentido: “O conflito federativo</p><p>qualificado para atrair a competência do STF não se confunde</p><p>com a mera controvérsia entre entes federativos.” STF. 1ª</p><p>Turma. AC-AgR 2.536, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em</p><p>22/10/2018.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 182</p><p>membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou</p><p>indiretamente interessados;</p><p>A.13) Os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça</p><p>e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e</p><p>qualquer outro tribunal;</p><p>A.14) O mandado de injunção, quando a elaboração da norma</p><p>regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do</p><p>Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,</p><p>das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da</p><p>União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo</p><p>Tribunal Federal;</p><p>A.15) As ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o</p><p>Conselho Nacional do Ministério Público.</p><p>B) Competências derivadas ordinárias: Processar e julgar, em recurso</p><p>ordinário:</p><p>B.1) O habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o</p><p>mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais</p><p>Superiores, se denegatória a decisão;</p><p>B.2) o crime político;</p><p>C) Competências derivadas extraordinárias: Processar e julgar, em recurso</p><p>extraordinário,</p><p>C.1) As causas decididas em única ou última instância, quando a</p><p>decisão recorrida: C.1.1) contrariar dispositivo desta Constituição;</p><p>C.1.2) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; C.1.3)</p><p>julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta</p><p>Constituição. C.1.4) julgar válida lei local contestada em face de lei</p><p>federal.</p><p>Para que o recurso Extraordinário seja admitido e o mérito recursal seja enfrentado,</p><p>como preliminar recursal, o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das</p><p>questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, demonstrando que a</p><p>demanda tem uma repercussão que transcende aos limites do conflito</p><p>intersubjetivo, com importância do ponto de vista econômico, social, político ou</p><p>jurídico, sendo que o reconhecimento de inexistência de repercussão geral apenas</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 183</p><p>poderá ser acolhido por manifestação de 2/3 [dois terços] dos membros do Supremo</p><p>Tribunal Federal.</p><p>19.5 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>I. 1/3 dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e 1/3 dentre</p><p>desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice</p><p>elaborada pelo próprio Tribunal;</p><p>II. 1/3, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público</p><p>Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados</p><p>na forma de constituição do quinto constitucional, previsto no art. 94 da</p><p>Constituição Federal.</p><p>Principais competências: As competências do Superior Tribunal de Justiça podem</p><p>ser divididas em A) competências originárias e B) competências derivadas, assim</p><p>sintetizadas:</p><p>A) Competências originárias: Processar e julgar:</p><p>Art. 1.035, CPC: O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não</p><p>conhecerá do recurso extraordinário quando a questão constitucional nele</p><p>versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo. §1º Para efeito de</p><p>repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões relevantes</p><p>do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os</p><p>interesses subjetivos do processo.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 184</p><p>A.1) Nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito</p><p>Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos</p><p>Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos</p><p>Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais</p><p>Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os</p><p>membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os</p><p>do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;</p><p>A.2) Os mandados de segurança e os habeas data contra ato de</p><p>Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da</p><p>Aeronáutica ou do próprio Tribunal;</p><p>A.3) Os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das</p><p>pessoas mencionadas no item A.1 acima, ou quando o coator for</p><p>tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da</p><p>Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da</p><p>Justiça Eleitoral;</p><p>A.4) Os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado</p><p>o disposto no art. 102, I, "o", da Constituição Federal, bem como entre</p><p>tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a</p><p>tribunais diversos;</p><p>A.5) As revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados;</p><p>A.6) A reclamação para a preservação de sua competência e garantia</p><p>da autoridade de suas decisões;</p><p>A.7) Os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e</p><p>judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e</p><p>administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da</p><p>União;</p><p>A.8) O mandado de injunção, quando a elaboração da norma</p><p>regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade</p><p>federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de</p><p>competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça</p><p>Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;</p><p>A.9) A homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de</p><p>exequatur às cartas rogatórias;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 185</p><p>B) Competências derivadas: Processar e julgar, em recurso ordinário:</p><p>B.1) Os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos</p><p>Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito</p><p>Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;</p><p>B.2) Os mandados de segurança decididos em única instância pelos</p><p>Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito</p><p>Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;</p><p>B.3) As causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo</p><p>internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente</p><p>ou domiciliada no País;</p><p>C) Competências derivadas especiais: Julgar, em recurso especial, as causas</p><p>decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou</p><p>pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a</p><p>decisão recorrida:</p><p>C.1) Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;</p><p>C.2) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei</p><p>federal;</p><p>C.3) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja</p><p>atribuído outro tribunal.</p><p>Funcionarão junto ao Superior Tribunal de Justiça:</p><p>I. A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados,</p><p>cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o</p><p>ingresso e promoção na carreira;</p><p>II. O Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a</p><p>supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e</p><p>segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes correcionais,</p><p>cujas decisões terão caráter vinculante.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 186</p><p>20 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>20.1 REQUISITOS PARA INSTITUIÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE EM</p><p>UM ORDENAMENTO JURÍDICO</p><p>Para que seja instituído o controle de constitucionalidade em um ordenamento</p><p>jurídico, dois requisitos, indispensáveis, devem ser observados, a saber: Existência</p><p>de uma constituição rígida: Uma Constituição que apenas pode ser modificada,</p><p>alterada, por um procedimento mais solene, mais dificultoso, do que o</p><p>procedimento de alteração da legislação infraconstitucional.</p><p>Saliente-se que a nossa</p><p>Constituição Federal, quanto a alterabilidade, é classificada como rígida. Existência</p><p>de um órgão, com competência constitucional, para realizar a tutela do</p><p>ordenamento jurídico-constitucional: No nosso ordenamento jurídico, o art. 102 da</p><p>Constituição Federal dispõe que “Compete ao Supremo Tribunal Federal,</p><p>precipuamente, a guarda da Constituição”</p><p>Preenchidos os dois requisitos acima mencionados, pode ser instituto o controle de</p><p>constitucionalidade em um dado ordenamento jurídico.</p><p>20.2 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS APLICADOS AO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>As ações de controle de constitucionalidade se inserem dentro do que é conhecido</p><p>por processo coletivo especial, haja vista que em uma Ação Direita de</p><p>Constitucionalidade, em uma Ação Declaratória de Constitucionalidade ou em uma</p><p>Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, não existe um conflito</p><p>intersubjetivo de interesses, não existem partes litigantes.</p><p>Diante disso, o que existe em controle de constitucionalidade são atos de</p><p>fiscalização dos Poderes, em um processo objetivo, no qual inexiste contraditório</p><p>formal.</p><p>E, por ser um processo objetivo e não subjetivo, disposições especiais são aplicáveis,</p><p>como, por exemplo, a impossibilidade: De propositura de Ação Rescisória; De</p><p>desistência da ação proposta; De se alegar a suspeição do Julgador.</p><p>Veja o que diz a Lei 9.868/1999:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 187</p><p>No que diz respeito a impossibilidade de se alegar suspeição do Julgador, saliente-se</p><p>que o Supremo Tribunal Federal tem entendimento de que, se o próprio, Ministro,</p><p>por razões de foro íntimo, firmar a sua não participação no julgamento, essa</p><p>disposição é validada:</p><p>Saliente-se, também, que, no julgamento das ações de controle de</p><p>constitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal não fica adstrito aos fundamentos</p><p>jurídicos invocados pelo autor da demanda, ou seja, a causa de pedir é aberta,</p><p>significando que todos e qualquer norma que compõe o Bloco de</p><p>Constitucionalidade, tema que estudaremos adiante, pode ser utilizado pela Corte</p><p>Supremo nas suas razões de decidir:</p><p>20.3 NORMAS PARAMÉTRICAS</p><p>As normas paramétricas são as normas de referência violadas, os padrões</p><p>normativos com hierárquica equivalente à das normas constitucionais que restaram</p><p>violados.</p><p>E, com base nessa ideia, alguns questionamentos precisam ser elucidados, a saber:</p><p>1º) Toda a Constituição Federal pode ser considerada como parâmetro para fins de</p><p>Art. 5º, Lei 9.868/1999. Proposta a ação direta, não se admitirá desistência.</p><p>Art. 26, Lei 9.868/1999. A decisão que declara a constitucionalidade ou a</p><p>inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação</p><p>declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios,</p><p>não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.</p><p>Julgado em Frase: As hipóteses de impedimento e suspeição restringem-se aos</p><p>processos subjetivos; logo, não se aplicam, ordinariamente, ao processo de</p><p>fiscalização concentrada de constitucionalidade, salvo se o próprio julgador</p><p>firmar sua não participação no julgamento. (ADI 6362, Relator(a): RICARDO</p><p>LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 02/09/2020, PROCESSO</p><p>ELETRÔNICO DJe-288 DIVULG 07-12-2020 PUBLIC 09-12-2020)</p><p>Julgado em Frase: A causa de pedir, nas ações de controle de</p><p>constitucionalidade, é aberta. (ADI 3796, Relator(a): Min. GILMAR MENDES,</p><p>Tribunal Pleno, julgado em 08/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-168</p><p>DIVULG 31-07-2017 PUBLIC 01-08-2017)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 188</p><p>Controle de Constitucionalidade? 2º) Tratados Internacionais podem ser</p><p>considerados como parâmetros para fins de Controle de Constitucionalidade? 3º) A</p><p>base normativa principiológica implícita pode ser considerada como parâmetro para</p><p>fins de Controle de Constitucionalidade?</p><p>Em resposta ao primeiro questionamento, necessário destacar que a Constituição</p><p>Federal é estrutura em 3 [três] partes distintas, a saber:</p><p>• Preâmbulo;</p><p>• Parte dogmática [Arts. 1º a 250];</p><p>• Disposições transitórias [Arts. 1º a 144 do ADCT].</p><p>Das três partes acima mencionados, o Preâmbulo é a parte da Constituição que não</p><p>se encontra no domínio do Direito, que se encontra no domínio da política, sendo</p><p>apenas uma consagração da ideologia que marcava o pensamento do Poder</p><p>Constituinte Originário no momento da promulgação do texto constitucional,</p><p>podendo ser utilizado, no máximo, como vetor interpretativo das demais normas</p><p>constitucionais, nada mais por não estar, como dito, no âmbito do Direito, tendo</p><p>nosso ordenamento jurídico adotado a Teoria da irrelevância jurídica, no que diz</p><p>respeito a natureza jurídica do preâmbulo constitucional.</p><p>As demais partes encontram-se no domínio do Direito.</p><p>Assim, o preâmbulo é a única parte da Constituição Federal que não serve como</p><p>parâmetro para o controle de constitucionalidade, já que, segundo entendimento do</p><p>Supremo Tribunal Federal, ele não tem caráter normativo.</p><p>Todas as demais partes [dogmática e transitória] podem ser utilizados como normas</p><p>paramétricas, normas modelos, em sede de controle de constitucionalidade.</p><p>Em resposta ao segundo questionamento, sobre os tratados internacionais,</p><p>necessário colacionar o que dispõe o art. 5º, §3º, da Constituição Federal:</p><p>Assim, devemos esclarecer que um tratado internacional de direitos humanos, pode</p><p>ingressar no nosso ordenamento jurídico com dois status diferentes, a depender do</p><p>preenchimento dos requisitos material e formal, a saber:</p><p>Art. 5º, §3º, CF: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos</p><p>humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois</p><p>turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão</p><p>equivalentes às emendas constitucionais.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 189</p><p>• Status de emenda à Constituição: Caso um tratado internacional preencha o</p><p>requisito material, ou seja, a matéria nele estabelecida diga respeito à</p><p>direitos humanos, e preencha, também, os requisitos formais, ou seja, seja</p><p>aprovado em cada Casa do Congresso Nacional + 2 turnos de votação +</p><p>quórum qualificado de 3/5 dos votos dos respectivos membros, esse tratado</p><p>internacional será incorporado no nosso ordenamento jurídico com status de</p><p>emenda à Constituição, se posicionando no ápice do ordenamento jurídico.</p><p>• Status supralegal: Caso um tratado internacional preencha o requisito</p><p>material, ou seja, a matéria nele estabelecida diga respeito à direitos</p><p>humanos, porém, não preencha os requisitos formais previstos no art. 5º,</p><p>§3º, da Constituição Federal, acima mencionados, esse tratado internacional</p><p>será incorporado no nosso ordenamento jurídico com status supralegal,</p><p>acima da legislação infraconstitucional, porém, abaixo da Constituição</p><p>Federal.</p><p>E, com base na premissa exposta, a resposta para o segundo questionamento é</p><p>depende, haja vista que não é todo e qualquer tratado internacional que pode servir</p><p>como parâmetro para fins de controle de constitucionalidade, mas, tão-somente,</p><p>aqueles que foram incorporados no nosso ordenamento jurídico com status de</p><p>emenda à Constituição.</p><p>Hoje, os seguintes documentos internacionais podem ser utilizados como parâmetro</p><p>em controle de constitucionalidade, a saber:</p><p>• Convenção da Organização das Nações Unidades sobre o Direito das Pessoa</p><p>com Deficiência e seu protocolo adicional e;</p><p>• Tratado de Marraqueche, que tem por escopo facilitar o acesso a obras</p><p>publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras</p><p>dificuldades para ter acesso ao texto impresso;</p><p>• Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas</p><p>Correlatas de Intolerância.</p><p>E esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal colocado na ADI 2030, de</p><p>relatoria do Min. Gilmar Mendes, julgado em 09/08/2017.</p><p>Por fim, quanto ao terceiro questionamento, sobre a possibilidade de</p><p>princípios</p><p>constitucionais implícitos servirem como parâmetro em controle de</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 190</p><p>constitucionalidade, a resposta é afirmativa, devendo ser considerada toda a ordem</p><p>constitucional global. E, aqui é interessante lembrar que os princípios da</p><p>razoabilidade e da proporcionalidade, princípios constitucionais implícitos, que</p><p>retiram seu fundamento de validade do devido processo legal material, são</p><p>constantemente utilizados como normas paramétricas em sede de controle de</p><p>constitucionalidade.</p><p>Assim, em conclusão, podem ser consideradas normas paramétricas as seguintes:</p><p>• Disposições dogmáticas e transitórias da Constituição Federal;</p><p>• Tratados internacionais sobre Direitos Humanos, aprovados em cada Casa do</p><p>Congresso Nacional, em 2 [dois] turnos de votação e com quórum qualificado</p><p>de 3/5 dos votos dos respectivos membros [art. 5º, §3º, CF] e;</p><p>• Princípios constitucionais implícitos.</p><p>Ainda dentro dessa temática, outra pergunta deve ser respondida, que gira em torno</p><p>da modificação da norma paramétrica no curso de uma ação em controle</p><p>concentrado de constitucionalidade. E duas situações podem ocorrer:</p><p>• A lei era constitucional sob a égide do parâmetro original, mas em virtude</p><p>de uma Emenda à Constituição tornou-se incompatível com a Constituição</p><p>vigente: Nesse caso, a ação proposta restará prejudicada e o conflito terá de</p><p>ser revolvido no pleno da revogação, haja vista que o novo parâmetro</p><p>revogou, portanto, a lei que era objeto de impugnação.</p><p>• A lei era inconstitucional sob a égide do parâmetro original, mas em virtude</p><p>de uma Emenda à Constituição tornou-se compatível com a Constituição</p><p>vigente: Aqui, diferentemente da hipótese anterior, não há que se falar em</p><p>revogação da lei objeto de impugnação, pois não se admite, no Brasil, a</p><p>convalidação de vício congênito de inconstitucionalidade, também conhecida</p><p>como o fenômeno da “constitucionalidade superveniente”. Assim, a lei</p><p>objeto de impugnação deve ser nulificada perante a Constituição que</p><p>vigorava à época de sua edição, em homenagem ao Princípio da</p><p>Contemporaneidade.</p><p>Veja que esse entendimento foi firmado pelo Supremo Tribunal Federal na ADI</p><p>145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 191</p><p>20.4 BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>A expressão bloco de constitucionalidade foi cunhada pelo francês Louis Favorreu</p><p>para designar normas com status constitucional, abrangendo, assim, outras normas</p><p>que não somente aquelas postas na Constituição Federal e que, por consectário,</p><p>serviriam como parâmetro em controle de constitucionalidade.</p><p>Existem duas espécies de bloco de constitucionalidade, a saber:</p><p>• Bloco de constitucionalidade em sentido amplo: Abrange não apenas as</p><p>normas constitucionais, mas também normas infraconstitucionais</p><p>vocacionadas a desenvolver a eficácia de preceitos da Constituição, isto é,</p><p>normas necessárias a desenvolver direitos garantidos na Constituição</p><p>Federal. A título exemplificativo, nossa Constituição Federal dispõe em seu</p><p>5º, XXXII, que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”.</p><p>Assim, de acordo com a acepção ampla, o Código de Defesa do Consumidor</p><p>poderia ser considerado uma norma paramétrica para fins de controle de</p><p>constitucionalidade.</p><p>• Bloco de constitucionalidade em sentido estrito: Entende que compõe o</p><p>bloco de constitucionalidade o seguinte: A) Disposições dogmáticas e</p><p>transitórias da Constituição Federal; B) Tratados internacionais sobre Direitos</p><p>Humanos, aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 [dois] turnos</p><p>de votação e com quórum qualificado de 3/5 dos votos dos respectivos</p><p>membros [art. 5º, §3º, CF] e; C) Princípios constitucionais implícitos.</p><p>E, como visto, pela conceituação do bloco de constitucionalidade em sentido estrito,</p><p>essa foi a espécie de bloco adotada por nosso ordenamento jurídico (ADI 595/ES e</p><p>ADI 514/PI).</p><p>20.5 OBJETO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>Nesse ponto do estudo, dois questionamentos devem ser enfrentados: 1º) O que</p><p>pode ser objeto em controle de constitucionalidade? 2º) O que acontece quando</p><p>esse objeto é revogado ou alterado no curso de uma ação de controle de</p><p>constitucionalidade?</p><p>Quanto ao primeiro questionamento, não é produtivo memorizar quais atos podem</p><p>ser e quais atos não podem ser objeto de controle de inconstitucionalidade, haja</p><p>vista que temos uma vasta gama de atos que podem o ser, como por exemplo:</p><p>Emendas constitucionais, Leis complementares, Leis ordinárias, Leis delegadas,</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 192</p><p>Medidas provisórias, Decretos legislativos, Decretos autônomos, incluindo os</p><p>decretos delegados, Constituições estaduais e suas emendas, Regimentos internos</p><p>dos tribunais e casas legislativas, Outros atos dotados de força normativa, tais como</p><p>resoluções e pareceres aprovados pelo chefe do Executivo.</p><p>A melhor compreensão é a de que todo ato normativo dotado de generalidade e</p><p>abstração, ou seja, que retira seu fundamento de validade diretamente da</p><p>Constituição Federal, sem norma interposta, pode ser objeto de controle de</p><p>constitucionalidade.</p><p>Assim, o Supremo Tribunal Federal endente que é cabível a propositura de ações em</p><p>controle de constitucionalidade em face de decreto autônomo, que retira</p><p>fundamento de validade diretamente da Constituição Federal e, portanto, é dotado</p><p>de generalidade e abstração. STF. Plenário. ADI 6121 MC/DF, Rel. Min. Marco</p><p>Aurélio, julgado em 12 e 13/6/2019 (Info 944).</p><p>Porém, lado outro, a Corte Suprema entende que não é cabível a propositura de</p><p>ações em controle de constitucionalidade em face de decreto regulamentar, por não</p><p>retirar seu fundamento de validade diretamente da Constituição Federal. STF.</p><p>Plenário ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info</p><p>905).</p><p>E, inclusive, entende ser cabível a propositura de ações em controle de</p><p>constitucionalidade em face de Resolução do Tribunal Superior Eleitoral, por ser</p><p>dotada de generalidade e abstração. STF. Plenário ADI 5122, Rel. Min. Edson Fachin,</p><p>julgado em 3/5/2018 (Info 900).</p><p>Por fim, quanto ao segundo questionamento, necessário compreender o que</p><p>acontece caso um objeto seja revogado ou alterado no curso de uma ação de</p><p>controle de constitucionalidade. E, assim, dois cenários se formam, a saber:</p><p>• Regra: Caso o ato normativo seja revogado no curso de uma ação de controle</p><p>de constitucionalidade haverá perda superveniente do objeto e a ação será</p><p>extinta, sem resolução do mérito. E, caso um ato normativo seja alterado no</p><p>curso de uma ação de controle de constitucionalidade, será necessário</p><p>realizar o aditamento da Petição Inicial e caso não seja realizado o</p><p>procedimento será, também, extinto sem resolução do mérito:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 193</p><p>• Exceções: O Supremo Tribunal Federal verificou que objetos de controle de</p><p>constitucionalidade eram revogados com o escopo de evitar a apreciação da</p><p>constitucionalidade pela Corte Suprema, o que motivou que a Corte criasse</p><p>exceções à regra acima apresentada, a saber:</p><p>Exceção 1: Não haverá perda superveniente do objeto caso seja</p><p>demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi</p><p>revogada de forma proposital a fim de evitar que o Supremo Tribunal</p><p>Federal a declarasse inconstitucional e nulificasse os efeitos por ela</p><p>produzidos. Nesse caso, o mérito da demanda será enfrentado.</p><p>Exceção 2: Não haverá perda superveniente do objeto se ficar</p><p>demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido em outro</p><p>diploma normativo, em demonstração de continuidade normativa.</p><p>Exceção 3: Não haverá perda superveniente do objeto caso o Supremo</p><p>Tribunal Federal tenha julgado o mérito da ação sem ter sido</p><p>comunicado previamente que houve a revogação da norma atacada.</p><p>Ainda sobre a temática do objeto, necessário destacar que, como regra, o Supremo</p><p>6ª edição 2022 (p.</p><p>319). Saraiva Jur.]</p><p>2.4 ESPÉCIES OU DIVISÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL</p><p>São matérias integrantes do Direito Constitucional, conforme ensinamentos de</p><p>Paulo Bonavides: A) Direito Constitucional Positivo, Particular ou Especial: É aquela</p><p>disciplina que se ocupa do estudo de uma determinada Constituição, promovendo</p><p>uma análise dos princípios e regras de um determinado Estado. B) Direito</p><p>Constitucional Comparado: É aquela disciplina que se ocupa do estudo dos</p><p>diferentes ordenamentos jurídico-constitucionais de diversos países. C) Direito</p><p>Constitucional Geral: É aquela disciplina que se ocupa do estudo de uma Teoria</p><p>Geral do Direito Constitucional, sem realizar um estudo de uma Constituição</p><p>específica.</p><p>2.5 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL</p><p>O estudo das fontes de determinada disciplina análise as suas origens, os meios pelos</p><p>quais essa disciplina se exterioriza.</p><p>As fontes são classificadas em fontes materiais, que são os fatos e elementos pelos</p><p>quais se fazem nascer o instituto, bem como em fontes formais, que correspondem</p><p>à forma de elaboração técnica do material.</p><p>No caso do Direito Constitucional, a Constituição é a principal fonte formal do Direito</p><p>Constitucional. Porém, não pode ser considerada a única, devendo ser levado em</p><p>consideração, também, os costumes, a doutrina, os princípios gerais do Direito</p><p>Constitucional e a jurisprudência.</p><p>E as fontes materiais do Direito Constitucional são os elementos materiais, racionais,</p><p>ideais e culturais da sociedade, dos quais emana o Direito Constitucional.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 14</p><p>3 CONSTITUCIONALISMO</p><p>3.1 IDEIA</p><p>O Constitucionalismo deve ser entendido como teoria / movimento, oposta ao</p><p>absolutismo, ao poder arbitrário, que visa a limitação dos poderes do Estado,</p><p>indispensável à conquista e efetivação de Direitos Fundamentais, possuindo,</p><p>portando, duas ideias centrais: Limitação de poder e Garantia de direito.</p><p>Ao longo da história o Constitucionalismo não se desenvolveu de forma idêntica,</p><p>motivo pelo qual alguns autores preferem a expressão Movimentos Constitucionais</p><p>em detrimento à Constitucionalismo.</p><p>Assim, é possível dividi-lo em três fases: A) Constitucionalismo Antigo; B)</p><p>Constitucionalismo Moderno, com viés liberal e social e; C) Neoconstitucionalismo,</p><p>conforme será abordado a seguir:</p><p>3.2 MOVIMENTOS</p><p>Os movimentos constitucionais podem ser sistematizados nas seguintes fases: A)</p><p>Constitucionalismo antigo; B) Constitucionalismo moderno, com uma versão liberal</p><p>e outra social; C) Neoconstitucionalismo</p><p>E a compreensão das características principais é indispensável, merecendo destaque</p><p>a sistematização abaixo.</p><p>CONSTITUCIONALISMO ANTIGO</p><p>Karl Loewestein identificou que as primeiras manifestações formais de movimento</p><p>constitucionalista foram encontradas na antiguidade, no povo hebreu e grego. O</p><p>povo hebreu, por meio do regime teocrático, promovia uma limitação do poder pelas</p><p>“regras divinas”, que eram aplicadas tanto aos governados quanto aos governantes.</p><p>CONSTITUCIONALISMO MODERNO</p><p>Prevalece que a Idade Moderna se inicia em 1453, com a tomada de Constantinopla</p><p>pelos turcos otomanos. E, no final do século XVI, nasce o Estado moderno,</p><p>absolutista, com representantes [monarcas] tocados pelo poder divino na terra.</p><p>Dois documentos podem ser elencados como marcos do Constitucionalismo</p><p>moderno:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 15</p><p>A) Constituição dos Estados Unidos da América de 1787) e;</p><p>B) Constituição da França de 1791.</p><p>Inicialmente, o Constitucionalismo moderno se apresentou com um viés liberal,</p><p>buscou a consagração de valores relacionados à liberdade, proteção à propriedade</p><p>privada, aos direitos individuais e uma busca pelo absenteísmo estatal, ou seja, uma</p><p>proibição de ingerência indevida do Estado na esfera privada.</p><p>E, visto de maneira global, se apresentou como duas manifestações distintas, a</p><p>saber: A) Constitucionalismo Clássico e; B) Constitucionalismo Social.</p><p>A primeira forma de manifestação, Constitucionalismo clássico ou liberal, inicia-se</p><p>no século XVIII e perdura até a 1ª Guerra Mundial, com um pensamento liberal de</p><p>não intervenção do Estado na esfera privada, marcado por direitos fundamentais de</p><p>1ª dimensão.</p><p>A segunda forma de manifestação, Constitucionalismo social, surge em virtude da</p><p>falência do liberalismo, tendo em vista as desigualdades sociais geradas, além da</p><p>exploração da classe trabalhadora. E esse novo modelo constitucional passou a exigir</p><p>prestações positivas pelo Estado em favor dos cidadãos, visando à redução das</p><p>desigualdades geradas, sendo marcado por direitos fundamentais de 2ª dimensão.</p><p>Os documentos que, pela primeira vez, incorporaram direitos prestacionais ou</p><p>sociais em seus Textos, foram os seguintes: A) Constituição Mexicana (1917) e; B)</p><p>Constituição Alemã de Weimar (1919).</p><p>CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO OU NEOCONSTITUCIONALISMO</p><p>Essa nova etapa do Constitucionalismo surge após a 2ª Guerra Mundial e não</p><p>contesta o que foi conquistado pelos movimentos constitucionais anteriores, mas,</p><p>sim, aperfeiçoá-las estabelecendo novos paradigmas.</p><p>Com apoio no postulado normativo da Dignidade da Pessoa Humana, tendo em vista</p><p>as atrocidades que foram cometidas nos regimes nazistas e fascistas em face dos</p><p>seres-humanos, esse movimento constitucional colocou a Constituição no ápice do</p><p>ordenamento jurídico, reconhecendo sua supremacia, com conteúdo condicionante</p><p>da validade do ordenamento jurídico.</p><p>Os principais documentos que marcam esse movimento constitucional são:</p><p>A) Constituição alemã, de 1949 [Lei Fundamental de Bonn] e;</p><p>B) Constituição da Itália, de 1947.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 16</p><p>Assim, o Neoconstitucionalismo ou Constitucionalismo contemporâneo,</p><p>Constitucionalismo avançado ou Constitucionalismo de direitos pode ser assim</p><p>sistematizado:</p><p>A) Marco histórico: Pós 2ª Guerra Mundial. Após a 2ª Guerra Mundial</p><p>concluiu-se o quanto foi nocivo o positivismo “legicentrista”, haja vista que,</p><p>até então, diversas atrocidades foram praticadas com apoio na lei.</p><p>B) Marco filosófico: O marco filosófico desse movimento constitucional é o</p><p>declínio, a falência, do positivismo jurídico, com inauguração de uma nova</p><p>fase denominada pós-positivismo.</p><p>C) Marco Teórico: O marco teórico do Neoconstitucionalismo é uma grande</p><p>mudança de paradigma decorrente do reconhecimento da “força normativa</p><p>da Constituição”, passando esse documento a ter, além de força normativa,</p><p>um caráter vinculante e de cumprimento obrigatório.</p><p>Necessário se faz elencar as principais consequências que foram geradas por esse</p><p>movimento constitucionalista, na práxis do Direito Constitucional, podendo elencar</p><p>as seguintes:</p><p>1ª) Reconhecimento da eficácia dos princípios constitucionais, que passam a</p><p>ser concebidos como espécie de norma jurídica.</p><p>Os princípios devem ser compreendidos, então, como espécie de norma</p><p>constitucional, com caráter amplo, poroso, impreciso, abstrato e indeterminado com</p><p>vista concretizar o senso de justiça ou equidade.</p><p>Assim, os princípios que antes eram considerados como meras intenções,</p><p>recomendações, passam a ser espécies de novas.</p><p>2º) Expansão da jurisdição constitucional. E, como bem observado por Luis</p><p>Roberto Barroso, “antes de 1945, vigorava na maior parte da Europa um</p><p>modelo de supremacia do Poder Legislativo, na linha da doutrina inglesa de</p><p>soberania do Parlamento e da concepção francesa da lei como expressão da</p><p>vontade geral. A partir do final da década de 40, todavia, a onda</p><p>constitucional trouxe não apenas novas constituições, mas também um novo</p><p>modelo, inspirado pela experiência americana: o da supremacia da</p><p>Constituição” [Op, cit.]</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 17</p><p>3º) Surgimento de uma hermenêutica constitucional, tendo em vista que os</p><p>métodos e princípios de interpretação de uma Constituição não são idênticos</p><p>Tribunal Federal apenas poderá manifestar e, eventualmente, declarar a</p><p>constitucionalidade ou inconstitucionalidade dos atos normativos apontados na</p><p>Petição Inicial.</p><p>Porém, necessário ressaltar a existência do instituto da inconstitucionalidade por</p><p>arrastamento ou atração ou por reverberação normativa ou consequencial ou</p><p>consequente ou derivada, que se dá quando uma norma é considerada</p><p>inconstitucional por ser dependente de outra que foi declarada inconstitucional. É o</p><p>exemplo em que uma lei é declarada inconstitucional e, por consequência, o decreto</p><p>que a regulamenta também extirpado do ordenamento por arrastamento.</p><p>20.6 ESPÉCIES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>Julgado em Frase: A revogação de ato normativo no curso de uma ação</p><p>de controle de constitucionalidade, em regra, acarreta a extinção da</p><p>demanda sem apreciação do mérito, por perda superveniente do</p><p>objeto. (ADI 1931, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,</p><p>julgado em 07/02/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-113 DIVULG 07-</p><p>06-2018 PUBLIC 08-06-2018)</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 194</p><p>O controle de constitucionalidade se distingue em 3 [três] espécies, podendo ser</p><p>assim esquematizadas:</p><p>• Em relação ao momento: Preventivo x Repressivo. O controle preventivo se</p><p>dá antes da produção de efeitos do ato normativo no ordenamento jurídico.</p><p>Ao passo que o controle repressivo incide a partir do momento da produção</p><p>de efeitos do ato normativo no ordenamento jurídico.</p><p>• Em relação ao órgão: Jurídico x Político x Misto. O controle jurídico é</p><p>realizado por um órgão pertencente ao Poder Judiciário. Ao passo que o</p><p>controle político é realizado por um órgão alheio a estrutura do Poder</p><p>Judiciário. Por fim, o controle de constitucionalidade misto prevê que certos</p><p>atos somente se sujeitam a controle político, enquanto outros só podem ser</p><p>controlados por órgãos jurisdicionais, como acontece na Suíça.</p><p>• Em relação à extensão: O controle total ocorre quando toda a lei ou todo o</p><p>dispositivo são incompatíveis com a norma constitucional. Ao passo que o</p><p>controle parcial ocorre quando parte de uma lei ou de um dispositivo é</p><p>incompatível com a Constituição.</p><p>Sobre o controle parcial, necessário destacar que o Supremo Tribunal Federal pode</p><p>declarar a inconstitucionalidade de apenas uma palavra ou expressão de um ato</p><p>normativo, desde que sejam autônomas e não alterem o sentido da norma, por</p><p>incidir aqui o Princípio da Parcelaridade.</p><p>Atenção ao fato de que tal princípio não é aplicável a questão referente ao veto</p><p>presidencial, que, se parcial, deve abranger o texto integral de artigo, parágrafo,</p><p>inciso ou alínea, nos termos do artigo 66, §2º, da CF:</p><p>20.7 CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>Especificamente em relação ao controle repressivo de constitucionalidade,</p><p>necessário salientar que, como regra, sua competência é atribuída ao Poder</p><p>Judiciário.</p><p>Porém, excepcionalmente, os Poderes Legislativo e Executivo podem realizar essa</p><p>forma de controle de constitucionalidade, em situações especificas e determinadas.</p><p>Art. 66, §2º, CF: O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de</p><p>parágrafo, de inciso ou de alínea.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 195</p><p>No caso do Poder Legislativo, tais situações dizem respeito a pontos envolvendo</p><p>Medidas Provisórias e Leis Delegadas.</p><p>No que tange às Medidas Provisórias, o art. 62 da Constituição Federal dispõe que</p><p>em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar essa</p><p>espécie normativa e, após sua edição, deve ser promovida sua submissão ao</p><p>Congresso Nacional para apreciação. No Congresso Nacional, antes de adentrar no</p><p>mérito da Medida Provisória, cada uma das Casas Legislativa realizará um juízo</p><p>prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais, quais sejam:</p><p>relevância e urgência. E caso o Poder Legislativo verifique os pressupostos</p><p>constitucionais da edição do ato não estavam presentes, rejeitará a Medida</p><p>Provisória.</p><p>Veja que nessa situação, o Poder Legislativo realizou um controle formal repressivo</p><p>de constitucionalidade da norma. Formal porque o Presidente da República não</p><p>observou a forma determinada pela Constituição Federal, qual seja, observância do</p><p>binômio relevância e urgência. Repressivo porque, desde a edição do ato pelo</p><p>Presidente da República, a Medida Provisória já estava produzindo efeitos no</p><p>ordenamento jurídico, tendo sido dele extirpado.</p><p>No que diz respeito às Leis Delegadas, o art. 68 da Constituição Federal reza que as</p><p>leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a</p><p>delegação ao Congresso Nacional. No momento em que o Poder Legislativo delega</p><p>poderes ao Presidente da República para exercer uma função atípica legislativa, é</p><p>feita uma delimitação dos poderes. E, caso o Chefe do Poder Executivo exorbite dos</p><p>limites da delegação legislativa, o Congresso Nacional, nos termos do art. 49, V, da</p><p>Constituição Federal, poderá sustar o referido ato.</p><p>Veja que, também, nessa situação o Poder Legislativo realizou um controle</p><p>repressivo de constitucionalidade da norma, haja vista que no momento da</p><p>elaboração da Lei Delegada pelo Presidente da República, ela já estava produzindo</p><p>efeitos no ordenamento jurídico, tendo sido dele extirpado.</p><p>Em sequência, no caso do Poder Executivo, tal situação diz respeito a possibilidade</p><p>do Chefe do Poder Executivo negar o cumprimento de um ato normativo que</p><p>considere inconstitucional.</p><p>20.8 CONTROLE JURÍDICO DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>O controle jurídico de constitucionalidade se apresenta nas seguintes espécies, a</p><p>saber:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 196</p><p>• Controle concentrado: Realizado por órgão ou tribunal especial,</p><p>taxativamente indicado pelo ordenamento jurídico, para exerce controle de</p><p>constitucionalidade e os efeitos de sua decisão são os seguintes:</p><p>• Controle difuso: Permite a todo e qualquer juiz ou tribunal o controle de</p><p>constitucionalidade no exercício da jurisdição constitucional e os efeitos da</p><p>sua decisão são os seguintes:</p><p>• Controle abstrato: Faz a aferição da constitucionalidade do ato sem situá-lo</p><p>no plano concreto de incidência fática e os efeitos de sua decisão são os</p><p>seguintes:</p><p>• Controle concreto: A avaliação da questão constitucional se efetiva de forma</p><p>vinculada à incidência concreta do ato fiscalizado e os efeitos da sua decisão</p><p>são os seguintes:</p><p>Ex tunc;</p><p>Erga omnes;</p><p>Vinculantes.</p><p>Ex tunc;</p><p>Inter partes;</p><p>Não Vinculantes.</p><p>Ex tunc;</p><p>Erga omnes;</p><p>Vinculantes.</p><p>Ex tunc;</p><p>Inter partes;</p><p>Não Vinculantes.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 197</p><p>20.9 ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO</p><p>Após declarar a inconstitucionalidade de um ato normativo, em sede de controle</p><p>difuso de constitucionalidade, que apresenta efeitos ex tunc, inter partes e não</p><p>vinculantes, o Supremo Tribunal Federal, tinha a sua disposição o art. 52, X, da</p><p>Constituição, que apresenta a seguinte redação:</p><p>Porém, o entendimento clássico era o de que o Senado Federal tinha</p><p>discricionariedade para promover a suspensão ou não da execução da lei.</p><p>Alterando a sentido interpretativo da norma, mesmo sem alteração de seu texto</p><p>gramatical, promovendo, portanto, uma mutação constitucional do art. 52, X, da</p><p>Constituição Federal, o Supremo Tribunal Federal passou a entender que a nova</p><p>intepretação do dispositivo é a de que o papel do Senado Federal, no controle de</p><p>constitucionalidade, é simplesmente o de, mediante publicação, divulgar a decisão</p><p>proferida pela Corte Suprema. E, o Pretório Excelso pode impingir àquela decisão</p><p>proferida em sede de controle difuso, típicos efeitos das decisões proferidas no</p><p>controle abstrato, quais sejam: A) Erga omnes; B) Vinculantes; situação que ficou</p><p>conhecida como abstrativização do controle difuso:</p><p>20.10 TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES</p><p>Ressalte-se que a Teoria da Abstrativização</p><p>ao de interpretação de uma lei, apesar de existir pontos de contato entre eles.</p><p>4º) Maior protagonismo do Poder Judiciário, responsável por exigir a</p><p>implementação de políticas públicas e das normas constitucionais, que não</p><p>podem mais serem consideradas meras promessas do Poder Constituinte</p><p>Originário. E esse protagonismo consiste em uma participação maior e mais</p><p>intensividade do Poder Judiciário na concretização e efetivação de valores</p><p>constitucionais.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 18</p><p>4 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES</p><p>4.1 ORIGEM</p><p>Quanto à origem, as Constituições podem ser classificadas em:</p><p>• Outorgadas ou impostas ou ditatoriais ou autocráticas ou Cartas</p><p>Constitucionais: São aquelas Constituições que são impostas ao povo por</p><p>obra do agente revolucionário-ditatorial, sem qualquer participação popular</p><p>na sua formação. Exemplos: Constituições brasileiras de 1824,1937 e 1967 e</p><p>a EC nº 01/1969.</p><p>• Democráticas ou populares ou promulgadas ou votadas: Ao contrário das</p><p>outorgadas, o seu nascimento das Constituições Democráticas é fruto de</p><p>amplo debate popular, como concretização do processo democrático.</p><p>Exemplos: Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988.</p><p>• Cesaristas ou bonapartistas ou plebiscitárias: São pseudo Constituições</p><p>democráticas. Isso porque em um primeiro momento são outorgadas por</p><p>obra do agente revolucionário-ditatorial. Porém, em um segundo momento,</p><p>com o escopo de lhe conferir um caráter de legitimidade, são submetidas a</p><p>um referendo popular.</p><p>• Dualistas ou Pactuadas: São Constituições fruto de pactos celebrados entre</p><p>duas forças antagônicas de poderes, uma que se encontra em ascensão e</p><p>outra que se encontra em declínio, em enfraquecimento. Então, um pacto é</p><p>celebrado com o escopo de equalizar o exercício do poder.</p><p>4.2 FORMA</p><p>Quanto à forma, as Constituições podem ser classificadas em escritas ou</p><p>instrumentais ou dogmáticas, que, por sua vez, se subdividem em codificadas ou</p><p>unitárias e legais ou variadas ou pluritextuais e; não escritas ou costumeiras ou</p><p>consuetudinárias.</p><p>• Escritas ou instrumentais ou dogmáticas: São as Constituições que foram</p><p>elaboradas por um órgão encarregado da tarefa de sistematizar em um</p><p>documento solene as matérias que foram eleitas para constar no Texto</p><p>Constitucional, subdividindo-se em:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 19</p><p>Codificadas ou unitárias, as matérias eleitas se encontram</p><p>sistematizadas em um único texto, podendo ser citado como exemplo</p><p>a Constituição Federal de 1988 e;</p><p>Legais ou variadas ou pluritextuais, as matérias eleitas se encontram</p><p>dispersadas em vários documentos solenes.</p><p>• Não escritas ou costumeiras ou consuetudinárias ou históricas: São as</p><p>Constituições cujas normas estão espalhadas por diversas fontes normativas,</p><p>como leis, costumes, jurisprudência, acordos e convenções. Atente-se as</p><p>Constituições não escritas possuem, sim, normas escritas. E como exemplo</p><p>pode ser citado a Constituição inglesa.</p><p>4.3 MODO DE ELABORAÇÃO</p><p>Quanto ao modo de elaboração, as Constituições podem ser classificadas em:</p><p>• Dogmáticas ou sistemáticas: São as Constituições elaboradas por um órgão</p><p>constituído com essa finalidade, de acordo com os dogmas e valores que</p><p>estão presentes naquele momento, naquela nação, subdividindo-se em</p><p>ortodoxas, que refletem uma única ideologia e heterodoxas ou ecléticas, que</p><p>refletem ideologias distintas. Entende-se que a Constituição Federal de 1988</p><p>é classificada, quanto ao modo de elaboração, como dogmática heterodoxa.</p><p>• Históricas ou costumeiras: São as Constituições criadas de acordo com os</p><p>valores históricos consolidados na consciência daquela nação ao longo do</p><p>tempo.</p><p>4.4 ESTABILIDADE</p><p>Quanto à estabilidade, as Constituições podem ser classificadas em:</p><p>• Imutável ou granítica ou intocável ou permanente ou eterna: São as</p><p>Constituições cujo texto jamais pode ser alterado.</p><p>• Superrígida: São as Constituições que possuem um núcleo de normas</p><p>imutáveis [cláusulas pétreas], e outro núcleo de normas que apenas podem</p><p>ser alteradas por um procedimento legislativo mais dificultoso do que aquele</p><p>de alteração da legislação infraconstitucional. Ressalte-se que o Ministro</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 20</p><p>Alexandre de Moraes entende que a Constituição Federal de 1988 é do tipo</p><p>superrígida. Porém, essa é uma posição minoritária e o Supremo Tribunal</p><p>Federal não a adota pois entende que as matérias previstas em cláusulas</p><p>pétreas podem ser alteradas, o que não se permite é a supressão do núcleo</p><p>duro do objeto de tutela, isto é, não se permite uma abolição e aniquilação</p><p>dos preceitos petrificados.</p><p>• Rígida: São as Constituições cujo texto apenas pode ser alterado por um</p><p>procedimento legislativo mais dificultoso do que aquele de alteração da</p><p>legislação infraconstitucional. A posição majoritária é a de que a Constituição</p><p>de 1988 é do tipo rígida.</p><p>• Semirrígida ou semiflexível: São as Constituições que possuem um núcleo de</p><p>normas que apenas podem ser alteradas por um procedimento legislativo</p><p>mais dificultoso do que aquele de alteração da legislação infraconstitucional</p><p>e outro núcleo de normas que podem ser alterados da mesma forma que a</p><p>legislação infraconstitucional. A Constituição Imperial de 1824 foi um</p><p>exemplo do tipo Constituição semirrígida ou semiflexível.</p><p>• Flexível: São as Constituições cujo texto é alterado pelo mesmo</p><p>procedimento de alteração da legislação infraconstitucional, inexistindo</p><p>qualquer peculiaridade que torne seu procedimento de alteração mais</p><p>dificultoso.</p><p>4.5 CONTEÚDO</p><p>Quanto ao conteúdo, as Constituições podem ser classificadas em:</p><p>• Material ou substancial: As Constituições que recebem essa classificação se</p><p>preocupam, na verdade, em regular os aspectos fundamentais que devem</p><p>estruturar um Estado, tais como, forma de Estado, forma de Governo,</p><p>estrutura do Estado, organização dos Poderes, Direitos e Garantias</p><p>fundamentais, estando tais normas inseridas ou não em um documento</p><p>escrito. As normas que regulam os aspectos retromencionados,</p><p>independentemente de estarem inseridas em um documento solene</p><p>intitulado Constituição, formarão a Constituição material daquele Estado que</p><p>adota essa classificação.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 21</p><p>Frise que as normas de uma Constituição do tipo material não precisam estar</p><p>positivadas em um texto constitucional, podendo estarem em um esparso de</p><p>normas, tendo em vista que o que importa aqui é o conteúdo, a essência.</p><p>• Formal: As Constituições que recebem essa classificação não se preocupam</p><p>exclusivamente com o conteúdo, como as Constituições materiais, mas, sim,</p><p>se as normas estão inseridas em um documento escrito solenemente</p><p>elaborado e intitulado “Constituição”, ou seja, se preocupam mais com a</p><p>forma, com a rotulagem em detrimento da matéria. Em uma Constituição do</p><p>tipo formal todas as suas normas possuem caráter constitucional,</p><p>independente do conteúdo que estampam.</p><p>A Constituição brasileira é classificada tradicionalmente como formal. Porém, por</p><p>restringir a Constituição ao que positivado no texto solene, sem importar com o</p><p>conteúdo, essa classificação passou a ser criticada pela doutrina, especialmente os</p><p>adeptos da Teoria do Bloco de Constitucionalidade.</p><p>E essa crítica é bem sintetizada pela doutrina, especialmente, ante a redação do art.</p><p>5º, §3º, da Constituição Federal de 1988: “cada vez mais se chega à conclusão de que</p><p>a Constituição brasileira não se resume ao texto constitucional aprovado em 1988,</p><p>com as supervenientes emendas. Destarte, a Constituição brasileira, que sempre foi</p><p>formal, circunscrita ao texto constitucional, está “se materializando”, motivo pelo</p><p>qual parte da doutrina entende que, em vez de material ou formal, a Constituição de</p><p>1988 passou a ser mista. [Martins, Flávio. Curso de direito constitucional - 6ª edição</p><p>2022 (p. 423). Saraiva Jur.]</p><p>4.6 EXTENSÃO</p><p>Quanto à extensão, as Constituições podem ser classificadas em:</p><p>• Analíticas ou prolixas ou extensas ou longas: São Constituições que possuem</p><p>conteúdo extenso, tecendo a minucias disposições que poderiam,</p><p>perfeitamente, serem tratadas pela legislação infraconstitucional. São</p><p>Constituições típicas de estado de bem-estar social.</p><p>• Sintéticas ou concisas ou sumárias ou curtas ou breves: São Constituições</p><p>que possuem conteúdo curto, restringindo-se a disciplinar os elementos</p><p>substancialmente materiais, tais como, forma de Estado, forma de Governo,</p><p>estrutura do Estado, organização dos Poderes, Direitos e Garantias</p><p>fundamentais. Ex. Constituição norte-americana.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 22</p><p>4.7 CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE POLÍTICA E SOCIAL</p><p>Quanto à correspondência com a realidade política e social ou classificação</p><p>ontológica [Karl Loewenstein], as Constituições podem ser classificadas em A)</p><p>Normativas, B) Nominativas ou Nominais e; C) Semânticas, sendo assim</p><p>sistematizadas:</p><p>• Normativas: São as Constituições que efetivamente conseguem regular o</p><p>processo político do Estado e, por consectário, o texto constitucional guarda</p><p>perfeita sintonia com a realidade política e social vivenciada por aquela</p><p>nação.</p><p>• Nominativas ou Nominais: São as Constituições que buscam, que objetivam,</p><p>regular o processo político do Estado, mas não conseguem perpetrar esse</p><p>escopo.</p><p>• Semânticas: São as Constituições que não têm por objetivo regular a o</p><p>processo político do Estado, servindo apenas como um instrumento de</p><p>manutenção dos agentes políticos no poder.</p><p>4.8 FINALIDADE OU FUNÇÃO</p><p>Quanto à finalidade ou função, as Constituições podem ser classificadas em:</p><p>• Garantia ou funcional ou negativa ou liberais ou texto reduzido: São as</p><p>Constituições cujas normas possuem o papel primordial de proteger os</p><p>cidadãos contra o poder arbitrário do Estado, garantindo aos cidadãos</p><p>liberdades negativas, ou seja, uma não intromissão indevida do Estado na</p><p>vida privada do cidadão.</p><p>• Constituição-dirigente ou aspiracional ou plástica ou programática: São as</p><p>Constituições cujas normas traçam diretrizes que devem nortear a ação</p><p>estatal na implementação das políticas públicas.</p><p>• Constituição-balanço ou constituição-registro: São as Constituições cujas</p><p>normas são destinadas a reger a ordem constitucional de um Estado durante</p><p>determinado lapso temporal estabelecido pela própria Constituição.</p><p>Ultimado esse prazo, é elaborada uma nova Constituição, com adaptação do</p><p>texto para a nova realidade que irá se reger.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 23</p><p>4.9 IDEOLOGIA</p><p>Quanto à ideologia ou objeto ideológico, as Constituições podem ser classificadas</p><p>em:</p><p>• Liberais: São Constituições que incorporam o ideal de uma não intervenção</p><p>do Estado na ordem econômica e social, sendo marcada pelo ideal do Estado</p><p>Mínimo. Ex. Constituição norte-americana.</p><p>• Sociais: São as Constituições que incorporam o ideal uma intervenção do</p><p>Estado na ordem econômica e social.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 24</p><p>5 PODER CONSTITUINTE</p><p>5.1 IDEIA INICIAL, TITULARIDADE E CLASSIFICAÇÃO</p><p>Segundo José Afonso da Silva, Poder Constituinte “é o poder que cabe ao povo de</p><p>dar-se uma constituição. É a mais alta expressão do poder político, porque é aquela</p><p>energia capaz de organizar política e juridicamente a Nação”. [Poder Constituinte e</p><p>Poder Popular, p. 67.]</p><p>O Poder Constituinte deve ser entendido como um gênero, do qual decorrem 4</p><p>[quatro] espécies, a saber: A) originário, B) derivado, C) difuso e D) supranacional,</p><p>cada um deles desempenhando uma função específica, conforme se demonstrará.</p><p>Tratando o Poder Constituinte como gênero, a doutrina moderna, entende que a sua</p><p>titularidade pertence ao povo e tal entendimento é extraído do parágrafo único do</p><p>art. 1º da Constituição Federal, que assim dispõe: “Todo o poder emana do povo, que</p><p>o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta</p><p>Constituição.”.</p><p>5.2 PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO</p><p>IDEIA INICIAL, ESPÉCIES, CLASSIFICAÇÃO, NATUREZA JURÍDICA, CARACTERÍSTICAS,</p><p>FORMAS DE EXPRESSÃO</p><p>Ideia: O Poder Constituinte Originário, também recebe as nomenclaturas: inicial,</p><p>inaugural, genuíno, de 1º grau, e é o responsável por inaugurar, pela primeira vez,</p><p>uma ordem constitucional em um determinado Estado, bem como por romper,</p><p>completamente, com uma ordem constitucional anterior, inaugurando uma nova</p><p>ordem constitucional.</p><p>Espécies: A) Histórico ou Fundacional: Responsável por estruturar, pela primeira vez,</p><p>uma ordem constitucional em um determinado Estado. B) Revolucionário:</p><p>Responsável por romper com uma ordem constitucional inaugurando uma nova</p><p>ordem constitucional, ou seja, todas manifestações posteriores ao Poder</p><p>Constituinte Histórico ou Funcional são manifestações do Poder Constituinte</p><p>Revolucionário.</p><p>Natureza Jurídica: Existem duas correntes que divergem sobre a natureza jurídica</p><p>do Poder Constituinte Originário, a saber: A) Corrente Positivista e B) Corrente</p><p>Jusnaturalista, com as seguintes ideias: Corrente Positivista: Defende que o Poder</p><p>Constituinte Originário é um Poder Político, por não ser criado pelo ordenamento</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 25</p><p>jurídico e por ser, então, um poder de fato ou político, que retira seu fundamento</p><p>de validade da força social. É a corrente adotada por nosso ordenamento jurídico.</p><p>Corrente Jusnaturalista: Defende que o Poder Constituinte Originário é um Poder</p><p>Jurídico, haja vista que sua manifestação está subordinada, condicionada às normas</p><p>de Direito Natural, um direito que se encontra acima do direito positivo.</p><p>Características do Poder Constituinte Originário: O Poder Constituinte Originário</p><p>apresenta as seguintes características:</p><p>• Inicial: Seja inaugurando, pela primeira vez, uma ordem constitucional em um</p><p>determinado Estado, seja rompendo, por completo, com uma ordem</p><p>constitucional anterior. Um novo Estado Constitucional sempre será</p><p>inaugurado com sua manifestação.</p><p>• Autônomo: O Poder Constituinte Originário tem autonomia para eleger as</p><p>matérias que estarão presentes na nova ordem constitucional.</p><p>• Ilimitado juridicamente: O Poder Constituinte Originário não precisa</p><p>respeitar eventuais limites impostos pela ordem constitucional anterior.</p><p>• Incondicionado: O Poder Constituinte Originário não se submete a nenhuma</p><p>forma de manifestação pré-estabelecida, inexistindo, portanto, forma</p><p>condicionada de sua apresentação.</p><p>• Poder de Fato / Político: O Poder Constituinte Originário é uma manifestação</p><p>da força social, tendo natureza “pré-jurídica”, haja vista que sua manifestação</p><p>antecede a elaboração e inauguração da ordem constitucional positiva.</p><p>• Latente / Permanente: O Poder Constituinte Originário não se esgota com a</p><p>inauguração da nova ordem constitucional, permanece em estado de</p><p>latência, de repouso, podendo acordar desse estado a todo e qualquer</p><p>momento em que se faça necessário sua atuação.</p><p>Formas de expressão: O Poder Constituinte Originário pode se manifestar, em um</p><p>ordenamento jurídico, de duas maneiras:</p><p>A) Outorga, em que a nova ordem constitucional é imposta por obra</p><p>unilateral do agente revolucionário ou;</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 26</p><p>B) Assembleia Nacional Constituinte, também, conhecida por Convenção,</p><p>em que existe um processo democrático, plural, para a inauguração da nova</p><p>ordem constitucional.</p><p>5.3 PODER CONSTITUINTE DERIVADO OU INSTITUÍDO OU DE 2º GRAU</p><p>IDEIA INICIAL E ESPÉCIES</p><p>Ideia: O Poder Constituinte Derivado, também, recebe as nomenclaturas: instituído,</p><p>constituído, secundário, de 2º grau ou remanescente e, por ser uma criação do</p><p>Poder Constituinte Originário, tem a função jurídica de alterar formalmente o texto</p><p>constitucional e conferir aos Estados-membros a capacidade de elaborarem suas</p><p>próprias Constituições Estaduais.</p><p>Espécies: O Poder</p><p>Constituinte Derivado apresenta 3 [três] espécies, a saber: A)</p><p>Reformador, B) Decorrente e; C) Revisor.</p><p>PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR</p><p>Ideia: É o poder jurídico responsável por alterar o texto da Constituição Federal, por</p><p>meio de um procedimento formal, decorrente do devido processo legislativo</p><p>constitucional, situação que é materializada por meio das Emendas à Constituição.</p><p>As principais características do Poder Constituinte Derivado Reformador são as</p><p>seguintes:</p><p>• Secundário: Tem sua origem na própria Constituição, sendo, portanto, um</p><p>poder de direito. Conforme ensina Flávio Martins, “Ao contrário do poder</p><p>originário, que, por ser anterior à Constituição, é um poder de fato, e não de</p><p>direito, o poder derivado é exatamente o contrário: é um poder de direito,</p><p>regulamentado pelo direito.” [Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022</p><p>(p. 635). Saraiva Jur.]</p><p>• Condicionado: Existe forma preestabelecida na Constituição para a sua</p><p>atuação, a fim de que a Constituição possa ser alterada, forma esta</p><p>instrumentalizada pelas Emendas à Constituição.</p><p>Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:[...]</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 27</p><p>• Limitado: Encontrando-se limites na própria Constituição, conforme será</p><p>detalhado no capítulo abaixo.</p><p>LIMITAÇÕES AO PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR</p><p>O Poder Constituinte Derivado Reformador encontra limitações, a saber: A)</p><p>limitações temporais; B) limitações circunstanciais; C) limitações formais ou</p><p>procedimentais ou processuais e D) limitações materiais ou substanciais, sendo que</p><p>a primeira delas [limitações temporais] é a única que não tem previsão em nosso</p><p>ordenamento jurídico, sendo elas detalhadas da seguinte forma:</p><p>• Limitações Temporais: Impedem a alteração do texto da Constituição Federal</p><p>durante determinado lapso temporal. Essa limitação, como dito, não existe</p><p>em nossa atual constituição, porém, já existiu na Constituição do Império de</p><p>1824:</p><p>• Limitações Circunstanciais: Impedem a alteração do texto da Constituição</p><p>Federal na vigência de circunstâncias excepcionais, em que a livre</p><p>manifestação do poder constituinte esteja ameaçada. Essa limitação está</p><p>prevista na Constituição Federal de 1988, no art. 60, §1º:</p><p>• Limitações Formais, procedimentais ou processuais: Impõe a observância de</p><p>determinadas formalidades durante o processo de alteração do texto da</p><p>Constituição. Elas podem ser:</p><p>A) Formais subjetivas: Estão relacionadas a fase de iniciativa da</p><p>Proposta de Emenda à Constituição, em situação em que apenas</p><p>legitimados especiais podem deflagrar esse procedimento. Essa</p><p>limitação está prevista na Constituição Federal de 1988, no art. 60, I a</p><p>III:</p><p>Art. 174, Constituição do Império. Se passados quatro annos, depois</p><p>de jurada a Constituição do Brazil, se conhecer, que algum dos seus</p><p>artigos merece roforma, se fará a proposição por escripto, a qual deve</p><p>ter origem na Camara dos Deputados, e ser apoiada pela terça parte</p><p>delles.</p><p>Art. 60º, §1º, CF: A Constituição não poderá ser emendada na vigência</p><p>de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 28</p><p>B) Formais objetivas: Estão relacionadas às formalidades existentes no</p><p>procedimento posteriores a fase de iniciativa, quais sejam: quórum de</p><p>3/5, dois turnos de votação, não existe sanção ou veto do Presidente,</p><p>promulgação e publicação pelas mesas da Câmara dos Deputados e do</p><p>Senado Federal. Essa limitação está prevista na Constituição Federal</p><p>de 1988, no art. 60, §§2º e 3º:</p><p>• Limitações Materiais ou Substanciais: Impede que determinados conteúdos</p><p>sejam retirados do texto da Constituição Federal, com o escopo de preservar</p><p>a identidade material da Constituição, proteger institutos e valores essenciais</p><p>do Estado, bem como assegurar a continuidade do processo democrático,</p><p>sendo que tais disposições são conhecidas como cláusulas pétreas, cláusulas</p><p>intangíveis, cláusulas de eternidade, cláusulas entrincheiradas ou cláusulas</p><p>encravadas na pedra. Essa limitação está prevista na Constituição Federal de</p><p>1988, no art. 60, §4º:</p><p>Atenção: Cláusulas pétreas implícitas: A doutrina entende que a</p><p>impossibilidade A) de se alterar o titular do poder constituinte</p><p>Art. 60, CF: A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:</p><p>I. de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados</p><p>ou do Senado Federal; II. do Presidente da República; III. de mais da</p><p>metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação,</p><p>manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus</p><p>membros.</p><p>Art. 60, §2º, CF: A proposta será discutida e votada em cada Casa do</p><p>Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se</p><p>obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.</p><p>Art. 60, §3º, CF: A emenda à Constituição será promulgada pelas</p><p>Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o</p><p>respectivo número de ordem.</p><p>Art. 60º §4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda</p><p>tendente a abolir: I. a forma federativa de Estado; II. o voto direto,</p><p>secreto, universal e periódico; III. a separação dos Poderes; IV. os</p><p>direitos e garantias individuais.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 29</p><p>originário e o titular do poder constituinte derivado reformador, B) de</p><p>se violar as próprias limitações expressadas, bem como; C) de se</p><p>alterar o Sistema Presidencialista e a Forma Republicana de Governo</p><p>são cláusulas pétreas implícitas.</p><p>PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE</p><p>Ideia: É o poder jurídico, derivado da capacidade de auto-organização dos Estados-</p><p>membros, prevista no art. 25 da Constituição Federal e concedido pelo art. 11 do Ato</p><p>das Disposições Constitucionais Transitórias, que permite que esses entes políticos</p><p>elaborem suas próprias Constituições Estaduais.</p><p>O Poder Constituinte Derivado Decorrente apresenta duas espécies:</p><p>A) Inicial, instituidor ou institucionalizador, responsável pela elaboração da</p><p>Constituição do Estado;</p><p>B) De revisão estadual ou de 2º grau, responsável por alterar o texto da</p><p>Constituição do Estado.</p><p>Saliente-se que o Poder Constituinte Derivado Decorrente é conferido apenas aos</p><p>Estados-membros e ao Distrito Federal, não sendo extensível aos Municípios.</p><p>As principais características do Poder Constituinte Derivado Decorrente são as</p><p>seguintes:</p><p>• Secundário: Tem sua origem na própria Constituição, sendo, portanto, um</p><p>poder de direito. Conforme ensina Manoel Gonçalves Ferreira Filho, “ele</p><p>retira sua força do Poder Constituinte originário, e não de si próprio, como</p><p>ocorre com o Poder Constituinte originário”. [Op. cit., p. 112.]</p><p>Art. 25, CF. Os Estados organizam-se e regem-se pelas</p><p>Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta</p><p>Constituição.</p><p>Art. 11, ADCT. Cada Assembléia Legislativa, com poderes</p><p>constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um</p><p>ano, contado da promulgação da Constituição Federal,</p><p>obedecidos os princípios desta.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 30</p><p>• Condicionado: Como ensina Flávio Martins, “Ao contrário do poder originário,</p><p>que não possui formas preestabelecidas de manifestação, o poder decorrente</p><p>possui formas já determinadas na Constituição: em se tratando dos Estados,</p><p>trata-se das constituições estaduais (art. 25, caput, CF), e, em se tratando do</p><p>Distrito Federal, trata-se da Lei Orgânica do Distrito Federal (art. 32, caput,</p><p>CF).” [Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 634). Saraiva Jur.]</p><p>• Limitado: Encontrando-se limites na própria Constituição, conforme será</p><p>detalhado no capítulo abaixo.</p><p>LIMITAÇÕES AO PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE</p><p>Conforme visto, o art. 25 da Constituição Federal dispõe que “Os Estados organizam-</p><p>se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta</p><p>Constituição.”</p><p>Assim, necessário esclarecer quais os princípios constitucionais que os Estados-</p><p>membros devem observar ao elaborarem suas Constituições Estaduais.</p><p>E, a observância deve se dar a seguinte linha de princípios:</p><p>• Princípios Constitucionais Sensíveis ou Enumerados ou Apontados: São os</p><p>limites fixados no art. 34, VII, a-e, da Constituição Federal, a saber:</p><p>• Princípios Constitucionais Estabelecidos ou Organizatórios: São as normas</p><p>previstas na Constituição Federal que proíbem os Estados-membros de</p><p>praticarem determinada conduta, como, por exemplo, a norma prevista do</p><p>art. 19 da Constituição Federal que impede o estabelecimento, por Estado-</p><p>membro de culto religioso oficial.</p><p>Art. 34, VII, CF: assegurar a observância dos seguintes princípios</p><p>constitucionais: A) forma republicana, sistema representativo e</p><p>regime democrático; B) direitos da pessoa humana; C) autonomia</p><p>municipal; D) prestação de contas da administração pública, direta e</p><p>indireta. E) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de</p><p>impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências,</p><p>na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços</p><p>públicos de saúde.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 31</p><p>• Princípios Constitucionais Extensíveis: São as normas previstas na</p><p>Constituição Federal que, por simetria devem ser observadas pelos Estados-</p><p>membros, como, por exemplo, a forma de investidura em cargos eletivos:</p><p>PODER CONSTITUINTE DERIVADO DE REVISÃO</p><p>Ideia: Consistiu na possibilidade conferida pelo art. 3º do Ato das Disposições</p><p>Constitucionais Transitórias de se realizar uma revisão do texto da Constituição, após</p><p>decurso do lapso temporal de 5 anos, da sua promulgação, por um procedimento</p><p>mais simplificado do que daquele decorrente das Emendas à Constituição.</p><p>5.4 PODER CONSTITUINTE DIFUSO OU MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL</p><p>O Poder Constituinte Difuso deve ser compreendido como um mecanismo informal</p><p>de alteração do sentido interpretativo do texto da Constituição Federal,</p><p>implementado pela Mutação Constitucional, também conhecida por Vicissitude</p><p>Constitucional Tácita ou Mudança Constitucional Silenciosa ou Processo de</p><p>Informação de Mudança da Constituição.</p><p>Art. 19, CF. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos</p><p>Municípios: I. estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-</p><p>los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus</p><p>representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na</p><p>forma da lei, a colaboração de interesse público; II. recusar fé aos</p><p>documentos públicos; III. criar distinções entre brasileiros ou</p><p>preferências entre si.</p><p>Art. 28, CF. A eleição do Governador e do Vice-Governador de</p><p>Estado, para mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro</p><p>domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de</p><p>outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do</p><p>término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6</p><p>de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o</p><p>disposto no art. 77 desta Constituição.”</p><p>Art. 3º, ADCT: A revisão constitucional será realizada após cinco</p><p>anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da</p><p>maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão</p><p>unicameral.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm#art77</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 32</p><p>A mutação constitucional pode ocorrer de três formas, a saber:</p><p>• Mudança de interpretação da Constituição;</p><p>• Praxe constitucional;</p><p>• Construção constitucional.</p><p>Mudança de interpretação da Constituição: De acordo com Flávio Martins,</p><p>“Hipótese mais frequente, a mudança da interpretação da Constituição pode ser feita</p><p>por qualquer intérprete da Constituição, mas principalmente pelo Judiciário (e, claro,</p><p>pelo guardião da Constituição Federal, o STF). Embora o texto constitucional</p><p>permaneça o mesmo, a interpretação do texto é alterada.” [Curso de direito</p><p>constitucional - 6ª edição 2022 (p. 651). Saraiva Jur.]</p><p>Praxe constitucional: De acordo com o autor citado, “a praxe constitucional é uma</p><p>reiteração de atos políticos que acabam por alterar o sentido da Constituição, sem</p><p>alteração do seu texto. [Curso de direito constitucional - 6ª edição 2022 (p. 656).</p><p>Saraiva Jur.]. E exemplifica da seguinte forma: “Exemplo contemporâneo de mutação</p><p>constitucional decorrente da praxe constitucional é a devolução da Medida</p><p>Provisória, claramente inconstitucional, pelo presidente do Senado Federal (que</p><p>também é o presidente do Congresso Nacional). Embora não haja previsão</p><p>constitucional para tal, tornou-se uma prática política brasileira o ato do presidente</p><p>do Senado diante de uma Medida Provisória claramente inconstitucional editada</p><p>pelo presidente da República, que, em vez de ser submetida à análise do Congresso</p><p>Nacional, é imediatamente devolvida ao Chefe do Poder Executivo.”</p><p>Construção constitucional: É uma criação doutrinária ou jurisprudência, inovadora,</p><p>do sentido da Constituição, como ocorreu na Constituição de 1891 com a “teoria</p><p>brasileira do habeas corpus”. Segundo José Afonso da Silva, “a construção</p><p>constitucional é uma forma de interpretação fecunda na medida em que, partindo</p><p>de uma compreensão sistemática de princípios e normas constitucionais, constrói</p><p>instituições explicitamente não previstas”.</p><p>5.5 PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL OU TRANSNACIONAL</p><p>O professor Marcelo Neves demonstra a tendência mundial de superação do</p><p>“constitucionalismo provinciano ou paroquial pelo transconstitucionalismo”, mais</p><p>adequado para solução dos problemas de direitos fundamentais ou humanos e de</p><p>organização legítima de poder.</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 33</p><p>E, assim, baseado, na ideia de uma cidadania universal, fala-se em um Poder</p><p>Constituinte Supranacional, que transcende os limites geográficos de um Estado,</p><p>regendo diversas nações.</p><p>De acordo com Flávio Martins, “Consiste na elaboração de uma só Constituição</p><p>aplicável a vários países. Cada país abre mão de uma parcela de autonomia, elege</p><p>seus representantes que farão parte de uma Assembleia Legislativa Transnacional e</p><p>elaboram uma só Constituição. Trata-se de uma decorrência do processo de</p><p>globalização, experimentado principalmente na União Europeia.” [Curso de direito</p><p>constitucional - 6ª edição 2022 (pp. 660-661). Saraiva Jur.]</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL | 34</p><p>6 APLICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO</p><p>NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO</p><p>A atuação do Poder Constituinte Originário, ao elaborar uma nova Constituição e</p><p>romper completamente com a ordem constitucional anterior, criando uma nova</p><p>ordem constitucional, promove o surgimento de um novo Estado</p><p>Nesse momento, com o surgimento de uma nova ordem constitucional, três efeitos</p><p>se estabelecem, a saber:</p><p>• 1º efeito: Ocorre a revogação integral da Constituição anterior, ou seja, a</p><p>Constituição anterior é extirpada completamente do ordenamento jurídico.</p><p>• 2º efeito: A legislação infraconstitucional editada sob a égide da antiga ordem</p><p>constitucional, caso seja compatível materialmente com a nova ordem</p><p>constitucional, será por ela recepcionada. Necessário salientar que para a</p><p>recepção da legislação infraconstitucional é necessário apenas uma</p><p>compatibilidade material dela com a Constituição, não sendo necessário uma</p><p>compatibilidade formal. Veja que o Código Tributário Nacional [Lei</p><p>5.172/1966] foi editado na vigência da Constituição de 1946, com a roupagem</p><p>de Lei Ordinária, e apesar da Constituição Federal de 1988 prever a</p><p>necessidade de edição de Lei Complementar para o estabelecimento de</p><p>normas gerais sobre Direito Tributário, o Código Tributário foi em grande</p><p>parte recepcionado, naquilo em que suas normas guardassem</p><p>compatibilidade material com a atual ordem constitucional.</p><p>• 3º efeito: A legislação infraconstitucional editada sob a égide da antiga ordem</p><p>constitucional, caso seja materialmente</p>

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