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<p>DESENVOLVIMENTO E APRENDIZADO</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>Lev Vygotsky, psicólogo russo, desenvolveu a teoria sócio-interacionista, que enfatiza</p><p>a importância das interações sociais no processo de desenvolvimento psicológico.</p><p>Vygotsky abordou o desenvolvimento humano através da abordagem genética, que se</p><p>concentra na origem e evolução dos processos psicológicos. Ao contrário de algumas</p><p>teorias que estruturam rigidamente o desenvolvimento humano, Vygotsky focou na</p><p>dinamicidade e na influência dos contextos sociais e culturais.</p><p>Exemplo: Imagine uma criança pequena aprendendo a falar. Ela depende da</p><p>interação com os pais e cuidadores, que falam com ela e a ajudam a entender e usar a</p><p>linguagem. Sem essa interação, o desenvolvimento da fala seria muito limitado.</p><p>Principais Pontos:</p><p>• Desenvolvimento e Aprendizado: Vygotsky argumenta que o aprendizado é o</p><p>motor que impulsiona o desenvolvimento. O desenvolvimento pleno do</p><p>organismo não pode ocorrer sem o suporte e a interação com outros indivíduos</p><p>da mesma espécie. Ou seja, o aprendizado é essencial para despertar</p><p>processos internos de desenvolvimento.</p><p>2. Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)</p><p>A ZDP é um conceito central na teoria de Vygotsky e refere-se à diferença entre o</p><p>que a criança já pode fazer sozinha e o que ela pode realizar com a ajuda de</p><p>outros.</p><p>• Nível de Desenvolvimento Real: É o nível de habilidade que a criança já</p><p>possui e pode realizar de forma independente. Reflete funções psicológicas</p><p>que estão completamente desenvolvidas naquele momento. Exemplo: Uma</p><p>criança de 5 anos pode construir torres com blocos de forma independente,</p><p>mostrando que essa habilidade está bem desenvolvida.</p><p>• Nível de Desenvolvimento Potencial: Refere-se às habilidades que a criança</p><p>pode desenvolver com a assistência de adultos ou colegas mais experientes.</p><p>Este nível não é fixo e pode mudar conforme o desenvolvimento da criança.</p><p>Exemplo: Uma criança pode aprender a resolver problemas matemáticos mais</p><p>complexos com a ajuda de um professor que a guia através de etapas mais</p><p>avançadas.</p><p>• Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): É a área entre o nível de</p><p>desenvolvimento real e o potencial. A ZDP representa o espaço onde o</p><p>aprendizado mais efetivo ocorre. Aqui, o suporte e a intervenção de outros são</p><p>mais eficazes para promover o desenvolvimento da criança. O aprendizado na</p><p>ZDP leva ao despertar de novos processos de desenvolvimento que ainda não</p><p>estão plenamente consolidados. Exemplo: Se uma criança está aprendendo a</p><p>ler, sua ZDP inclui o processo de aprender a reconhecer palavras novas com a</p><p>ajuda de um tutor, que ajuda a criança a entender e utilizar essas palavras em</p><p>contextos diferentes.</p><p>• O Papel da Intervenção Pedagógica: Para promover o desenvolvimento dos</p><p>alunos, o ensino deve se concentrar na ZDP. A escola tem um papel crucial ao</p><p>direcionar o aprendizado para estágios que ainda não foram completamente</p><p>dominados pelos alunos, ajudando-os a avançar para níveis mais altos de</p><p>capacidade. A intervenção pedagógica não deve ser vista como uma</p><p>abordagem tradicional ou diretiva, mas como um processo de recriação cultural</p><p>e transformação.</p><p>Exemplo: Em vez de revisar a leitura de palavras que a criança já conhece,</p><p>um professor pode introduzir novos livros com vocabulário mais complexo,</p><p>ajudando a criança a expandir suas habilidades de leitura.</p><p>• Imitação e Ajuda Mútua: A imitação não é uma simples cópia, mas uma</p><p>reconstrução criativa que ocorre dentro da ZDP. A ajuda mútua entre alunos e a</p><p>colaboração são vitais, pois facilitam o aprendizado dentro da zona de</p><p>desenvolvimento proximal.</p><p>• Brinquedo e Desenvolvimento: Brincadeiras, especialmente o "faz-de-conta,"</p><p>desempenham um papel significativo no desenvolvimento. Através do</p><p>brinquedo, as crianças criam uma ZDP que permite a prática de ações e</p><p>comportamentos mais avançados. A brincadeira ajuda na transição entre ações</p><p>concretas e ações que possuem significado simbólico, promovendo o</p><p>desenvolvimento cognitivo e social. Exemplo: Quando uma criança brinca de</p><p>médico com seus brinquedos, ela está praticando habilidades sociais e de</p><p>linguagem em um contexto que imita o mundo real, mas de uma forma que ela</p><p>pode controlar e entender.</p><p>3. A Evolução da Escrita na Criança: Abordagem Genética de Vygotsky</p><p>Abordagem Genética da Escrita</p><p>Lev Vygotsky, um dos principais teóricos do desenvolvimento psicológico, abordou a</p><p>evolução da escrita na criança através de uma perspectiva genética. Para Vygotsky, o</p><p>desenvolvimento da escrita é um processo que começa bem antes da criança entrar</p><p>na escola formalmente, e envolve uma série de estágios que refletem a evolução</p><p>cognitiva e social da criança.</p><p>“Pré-História da Linguagem Escrita”</p><p>A “pré-história da linguagem escrita” refere-se aos estágios iniciais do</p><p>desenvolvimento da escrita, que ocorrem antes da criança aprender a escrever</p><p>formalmente. Vygotsky e seu colaborador Aleksei Luria identificaram três fases</p><p>principais neste processo inicial: Esse processo começa antes da escola e evolui em</p><p>várias fases.</p><p>1. Rabiscos Mecânicos:</p><p>o Descrição: Os rabiscos mecânicos são as primeiras tentativas da</p><p>criança de imitar a escrita adulta. Nessa fase, as crianças fazem</p><p>marcas no papel que se assemelham ao formato da escrita, mas sem</p><p>um entendimento real dos símbolos ou das suas funções.</p><p>o Significado: Esses rabiscos não têm um significado claro e não</p><p>representam palavras ou ideias específicas. Eles são essencialmente</p><p>uma imitação do ato de escrever, onde a forma é mais importante que o</p><p>conteúdo.</p><p>o Exemplo: Uma criança de 3 anos pode fazer marcas no papel que</p><p>parecem com letras, mas ainda não tem noção de que essas marcas</p><p>representam palavras ou ideias.</p><p>2. Marcas Topográficas:</p><p>o Descrição: Nesta fase, as crianças começam a fazer marcas que</p><p>seguem um padrão mais organizado na superfície do papel. Estas</p><p>marcas têm uma disposição espacial mais definida, o que reflete uma</p><p>tentativa de organizar a escrita de acordo com um espaço específico.</p><p>o Significado: As marcas topográficas representam uma evolução do</p><p>entendimento das crianças sobre como a escrita deve ser distribuída no</p><p>espaço do papel, mas ainda não são signos com significado específico.</p><p>o Exemplo: Uma criança de 4 anos começa a desenhar linhas e formas</p><p>de forma organizada no papel, tentando criar um padrão ou estrutura</p><p>semelhante à escrita.</p><p>3. Representações Pictográficas:</p><p>o Descrição: As representações pictográficas envolvem o uso de</p><p>desenhos estilizados que servem como formas iniciais de escrita. Esses</p><p>desenhos são mais sofisticados e podem representar objetos, ações ou</p><p>ideias específicas.</p><p>o Significado: Esses desenhos começam a funcionar como signos</p><p>mediadores, ou seja, eles têm a capacidade de representar conteúdos</p><p>específicos e transmitir significados, embora ainda não sejam</p><p>completamente simbólicos ou alfabetizados.</p><p>o Exemplo: A criança pode desenhar uma figura de um sol e entender</p><p>que representa o conceito de “sol”, usando o desenho como uma forma</p><p>primitiva de escrita.</p><p>Transição para a Escrita Simbólica</p><p>• Desenvolvimento dos Signos:</p><p>o Descrição: À medida que as crianças progridem, elas passam da</p><p>representação pictográfica para a escrita simbólica. Na escrita</p><p>simbólica, os signos não são apenas imagens, mas símbolos que</p><p>representam fonemas e palavras, refletindo uma compreensão mais</p><p>avançada da escrita como um sistema de signos.</p><p>o Significado: A escrita simbólica é um sistema que permite a</p><p>representação de significados mais complexos e abstratos, indo além</p><p>dos simples desenhos ou marcas.</p><p>o Exemplo: A criança começa a formar palavras e frases simples, usando</p><p>letras e palavras para expressar ideias, como escrever "mamãe" para</p><p>se referir à mãe.</p><p>Aquisição dos Mecanismos Culturais de Escrita</p><p>• Processo de Aprendizado:</p><p>o Descrição: A assimilação dos mecanismos de escrita ocorre quando a</p><p>criança aprende as</p><p>regras e convenções da escrita dentro de seu</p><p>contexto cultural. Esse aprendizado é influenciado pela educação</p><p>formal, a interação com os outros e a exposição à escrita em seu</p><p>ambiente.</p><p>o Significado: A escrita é vista como um sistema culturalmente</p><p>construído, e seu aprendizado envolve não apenas a prática de</p><p>habilidades técnicas, mas também a internalização das normas e usos</p><p>culturais da escrita.</p><p>• Contexto e Influências:</p><p>o Descrição: O percurso de aprendizado da escrita é contextualizado</p><p>pelas práticas culturais e pelas experiências individuais da criança. O</p><p>desenvolvimento da escrita é afetado pelo tipo de instrução recebida, o</p><p>ambiente de aprendizagem, e a interação com os modelos de escrita.</p><p>o Significado: As experiências de aprendizado e a qualidade da</p><p>instrução têm um impacto significativo no desenvolvimento da escrita,</p><p>influenciando a maneira como a criança internaliza e utiliza os</p><p>mecanismos da escrita.</p><p>Contribuição dos Gestos, Desenhos e Brincadeiras</p><p>• Desenvolvimento Cognitivo:</p><p>o Descrição: O desenvolvimento dos gestos, dos desenhos e das</p><p>brincadeiras desempenha um papel crucial no aprendizado da escrita.</p><p>Essas atividades não apenas promovem habilidades motoras e</p><p>cognitivas, mas também ajudam a criança a compreender e criar</p><p>significados.</p><p>o Significado: A prática de desenhar e brincar ajuda a criança a</p><p>desenvolver uma compreensão mais profunda dos signos e símbolos,</p><p>preparando-a para o aprendizado formal da escrita.</p><p>4. Percepção, Atenção e Memória</p><p>• Percepção: Inicialmente, a percepção é guiada pelas características sensoriais</p><p>inatas e evolui ao longo do desenvolvimento para ser mediada culturalmente. A</p><p>percepção se torna mais integrada, envolvendo conhecimentos prévios e</p><p>informações contextuais. Exemplo: Um bebê pode distinguir entre diferentes</p><p>formas e cores, mas à medida que cresce, começa a reconhecer e interpretar</p><p>essas formas e cores com base em suas experiências e conhecimentos</p><p>culturais.</p><p>• Atenção: Começa como um mecanismo involuntário e neurológico e evolui</p><p>para um controle voluntário através da mediação simbólica. A atenção é</p><p>essencial para filtrar e selecionar informações relevantes, e o controle</p><p>voluntário da atenção continua sendo uma habilidade importante na vida</p><p>adulta. Exemplo: Uma criança pode inicialmente se distrair facilmente com</p><p>estímulos externos, mas com o tempo, aprende a focar em tarefas, como ler</p><p>um livro, ignorando distrações.</p><p>• Memória: Divide-se em dois tipos principais:</p><p>o Memória Não Mediadora: É mais elementar e determinada por</p><p>processos inatos, influenciada diretamente por estímulos externos.</p><p>o Memória Mediadora: Envolve a ação voluntária e o uso de estratégias</p><p>para auxiliar a retenção e recuperação de informações. A memória</p><p>mediada permite uma abordagem mais ativa e consciente do</p><p>armazenamento e uso das informações.</p><p>o Exemplo: No início, uma criança pode lembrar de eventos recentes de</p><p>forma rudimentar, mas com o tempo aprende a usar mnemônicos e</p><p>outras estratégias para lembrar informações de forma mais eficaz,</p><p>como ao estudar para um teste.</p>