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<p>Você sabia que seu material didático é interativo e multimídia?</p><p>Ele possibilita diversas formas de interação com o conteúdo, a qualquer hora e de qualquer lugar. Mas na versão</p><p>impressa, alguns conteúdos interativos são perdidos, por isso, fique atento! Sempre que possível, opte pela versão</p><p>digital. Bons estudos!</p><p>Qual é a pertinência de se estudar o silêncio?</p><p>O interesse por este conceito tem movido as artes, a política, a música e diversas formas de interlocução social, além</p><p>de ser o foco de estudo desta webaula.</p><p>Unidade 2 - Seção 1</p><p>Compreensões do silêncio</p><p>Por um lado, muitas pessoas já abordaram de algum modo a relação dos sujeitos com o silêncio. Por outro lado,</p><p>o modo de pensar o silêncio não é suficiente para a sua compreensão.</p><p>Muitas vezes, pensamos que só as palavras dizem, aprendemos que só elas significam e que o silêncio seria sua</p><p>ausência material. É comum a ideia de que o silêncio não diz, não significa, é como um vácuo na comunicação, um</p><p>espaço vazio ou, no mínimo, de pouca importância. No entanto, não é assim: o silêncio é essencial na</p><p>linguagem. Sem silêncio, não há dizer.</p><p>A palavra (que existe, apesar do silêncio) não é algo que existe para eliminá-lo, ocupar seu espaço: ela existe graças</p><p>ao silêncio, ou seja, palavra e silêncio se relacionam de modo fundamental (fundador). Segundo Orlandi (2007b, p.</p><p>102):</p><p>O silêncio não fala, ele significa, pois é inútil traduzir o silêncio em palavras: é possível, no</p><p>entanto, compreender o sentido do silêncio por métodos de observação discursivos. </p><p>Tal como as palavras, o silêncio também não é transparente. “Ele é tão ambíguo quanto as palavras, pois se</p><p>produz em condições específicas que constituem seu modo de significar”, diz Orlandi (2007b, p. 103).</p><p>Por exemplo: se ninguém era contra a abolição séculos atrás, por que nos dias de hoje ainda há problemas</p><p>relacionados ao racismo? O ponto é: o modo como o “negro” era discutido. Ou melhor dizendo: o lugar que</p><p>ele ocupava nas discussões. Ser favorável à abolição funciona de modo indissociável com ser favorável ao "negro".</p><p>Essa relação automática silencia o fato de que “negro” pode ser significado de modo a endossar justamente aquilo</p><p>que o coloca em uma posição "inferior".</p><p>Pela observação dos diferentes discursos, podemos reconhecer fatos que nos remetem à importância do silêncio:</p><p>O discurso religioso, no qual Deus representa a onipotência do silêncio.</p><p>Discurso religioso Discurso jurídico Discurso científico Discurso amoroso</p><p>A hipótese formulada por Orlandi (2007b) é a de que o silêncio é matéria significante; é, pois, o real do</p><p>discurso. O homem sempre busca significar, fazendo ou não uso de palavras. “No início é o silêncio. A linguagem</p><p>vem depois”, diz a autora. E prossegue: “quando o homem, em sua história, percebeu o silêncio como significação,</p><p>criou a linguagem para retê-lo” (ORLANDI, 2007b, p. 27).</p><p>Análise do Discurso</p><p>Silêncio</p><p>Unidade 2 - Seção 1</p><p>19/09/2024, 11:45 ana_dis_u2_s1_wa</p><p>https://www.colaboraread.com.br/integracaoAlgetec/index?usuarioEmail=luiscrobleda%40gmail.com&usuarioNome=LUIS+CARLOS+ROBLEDA&disciplinaDescricao=&atividadeId=4342378&atividadeDescricao=CW… 1/2</p><p>Outro desafio que a compreensão do silêncio impõe é o fato de que:</p><p>✓ Ele não fala, significa.</p><p>✓ Ele não é interpretável, é compreensível.</p><p>✓Há sentido nas palavras e há sentido no silêncio, mas são sentidos diferentes.</p><p>Então, se tentarmos fazer o silêncio falar, ele vai significar diferentemente. Só é possível atingir sua instância de</p><p>significação através de seus efeitos.</p><p>Palavras versus silêncio</p><p>Falar com palavras já é uma forma de tentar controlar o silêncio como deriva possível, como horizonte, como</p><p>potencialidade para a diferença. Quando você escolhe uma formulação com palavras acaba por produzir limites no</p><p>dizer.</p><p>Já o silêncio abre para muitas possibilidades, porque este limite ainda não está marcado. Também é importante</p><p>atentar para o fato de que “o silêncio recorta o dizer. Esta é sua dimensão política” (ORLANDI, 2007b, p. 55).</p><p>“O silêncio não é imediatamente visível e interpretável. É a historicidade inscrita no tecido textual que pode</p><p>‘devolvê-lo’, torná-lo apreensível, compreensível. Desse modo, o trabalho com o silêncio implica a consideração</p><p>dessas suas características” (ORLANDI, 2007b, p. 60).</p><p>Incompletude da linguagem</p><p>A reflexão sobre o silêncio permite compreender melhor um aspecto linguageiro fundamental: a incompletude da</p><p>linguagem. Embora seja comum a ideia de que é possível dizer tudo, ou seja, que podemos/devemos produzir textos</p><p>completos, perfeitos, acabados, ela não se sustenta.</p><p>A incompletude é fundamental na linguagem: é a base da polissemia, é o que torna possível o múltiplo,</p><p>diferentes (novos/outros) sentidos. É importante entender que a incompletude não tem a ver com ser inteiro,</p><p>mas com fechar a significação, isto é, dar a “palavra final”.</p><p>Por fim, vale acrescentar que os efeitos provisórios de fechamento (completude) também se dão por relações de</p><p>poder. No entanto, o dizer é sempre aberto, sempre passível de outros sentidos. Nesse sentido, silêncio,</p><p>incompletude e interpretação se inter-relacionam.</p><p>19/09/2024, 11:45 ana_dis_u2_s1_wa</p><p>https://www.colaboraread.com.br/integracaoAlgetec/index?usuarioEmail=luiscrobleda%40gmail.com&usuarioNome=LUIS+CARLOS+ROBLEDA&disciplinaDescricao=&atividadeId=4342378&atividadeDescricao=CW… 2/2</p>