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<p>O�cina literária</p><p>Aula 2: O espaço das representações</p><p>Apresentação</p><p>Nesta aula, veremos que o texto literário é um espaço de representação do real. Para isso, trataremos dos conceitos de</p><p>mímesis e catársis bem como da relação entre literatura e cultura.</p><p>Objetivo</p><p>Visualizar a literatura como um processo de universalização de fatos ou situações.</p><p>Compreender o texto literário como algo vinculado às dimensões históricas e ideológicas da sociedade que o produz.</p><p>Veri�car que a linguagem literária deixa o texto aberto a múltiplas interpretações.</p><p>Para iniciarmos esta aula, assista ao trailer do �lme Cartas para Julieta.</p><p>O que é fundamental perceber nessas cenas? Ora, aqui, temos registrada a grande in�uência que a história de amor de</p><p>Romeu e Julieta, contada por Willian Shakespeare, tem na vida de uma sociedade localizada num tempo tão distante</p><p>daquele representado na história literária. No �lme, muitas moças, com seus problemas afetivos, se identi�cam com</p><p>Julieta. Por isso, escrevem cartas, que são colocadas na parede da casa de Julieta, para obterem respostas favoráveis à</p><p>solução de seus con�itos.</p><p>A protagonista do �lme responde a uma dessas cartas e, a partir daí, inicia-se todo um processo de reconstrução de um</p><p>amor que havia se perdido no passado.</p><p>Pois bem, o que isto tem a ver com o tema da nossa aula: o espaço das representações?</p><p>É nítido, através do �lme, que literatura e vida real se interpenetram. Os con�itos, as tensões que fazem parte da nossa</p><p>vida, assim como da vida das personagens do �lme que se reencontram depois de muitos anos, estão presentes na</p><p>literatura. Os dramas vividos pelas personagens do �lme, e por muitos na vida real, são semelhantes àqueles vividos por</p><p>Romeu e Julieta. Portanto, a literatura é um tipo de discurso que representa o real.</p><p>javascript:void(0);</p><p>Em Romeu e Julieta, estão representadas as realidades semelhantes as</p><p>de muitos indivíduos e as de muitas coletividades.</p><p>Para entendermos melhor este universo das representações, temos de conhecer conceitos básicos como mímesis e</p><p>catársis.</p><p>Mímesis</p><p>Mímesis não é um conceito literário, mas �losó�co que serve para explicar a arte. Trata-se de um termo grego que</p><p>signi�ca imitação. Mas, é imitação do quê?</p><p>A arte literária usa a palavra para representar o real. Claro que não é um real exato, mas segundo um determinado olhar. O</p><p>discurso não dá conta, integralmente, do real. Portanto, a imitação do real é segundo os olhos de quem o vê.</p><p>A mímesis é uma relação do signo com o real. Trata-se de uma imitação, mas não de uma cópia.</p><p>Para os pitagóricos, é a representação dos estados de</p><p>alma.</p><p>Para Platão, é a imitação da aparência da realidade, ou</p><p>seja, imagem de imagem ou simulacro da realidade.</p><p>Para Aristóteles, é a imitação das essências. É o</p><p>conhecimento profundo do ser humano e do mundo. É a</p><p>revelação da plenitude do real.</p><p>Para �car mais claro, a mímesis acontece, por exemplo, quando um determinado segmento da sociedade se mostra, ou</p><p>melhor, se revela. É a representatividade das ações deste segmento social.</p><p>Vamos usar, como exemplo, o romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo. O que temos ali? Temos a representatividade das</p><p>classes minoritárias e seus con�itos. As tensões, os con�itos representados, em O Cortiço são coletivos. No romance, o</p><p>cortiço é o grande personagem. Ele protagoniza a história.</p><p>Leitura</p><p>Clique aqui para acessar a obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo, disponível no site Domínio Público.</p><p>javascript:void(0);</p><p>Vamos entender o seguinte: o homem só consegue recriar aquilo que faz</p><p>parte da noção que ele tem de relações sociais ou de contexto cultural.</p><p>Ele jamais se desprende de seu grau de entendimento.</p><p>Neste processo de imitação, cabe ao homem revelar o natural e transformá-lo em patrimônio cultural. Imitar é sempre um</p><p>processo revelador.</p><p>Em O Cortiço, são reveladas e recriadas as realidades de um determinado fragmento social. Estão ali representadas as</p><p>realidades rotineiras de trabalhadores e lavadeiras. Ali estão expressos os valores que compõem esse fragmento social.</p><p>A mímesis, em O Cortiço, está na apreensão do ser humano e do mundo. Isto revelado a partir das tensões coletivas.</p><p>Como exemplo, temos João Romão. Ele é a representação do homem que enriquece através da exploração do outro.</p><p>Roubando Bertoleza, sua amante e semiescrava, explorando os moradores do cortiço e casando com a �lha do Miranda,</p><p>ele adquire ascensão social e econômica. Esta relação, que ele estabelece com os demais, traduz, ou melhor, imita a</p><p>ideologia capitalista que nascia no Brasil da época. É a revelação de que os fortes anulam os fracos dentro de um sistema</p><p>devorador.</p><p> Favelas (Fonte: Pat_Scrap por Pixabay ).</p><p>Devemos ressaltar que a literatura, quando �nge o</p><p>particular, atinge a universalidade.</p><p>A representação do cortiço, feita por Aluísio Azevedo, nos</p><p>transporta para muitos outros cortiços. É possível,</p><p>portanto, pensarmos em outras realidades semelhantes.</p><p>Isso traduz o poder de universalização da literatura.</p><p>Através das classes minoritárias ali representadas,</p><p>visualizamos, por exemplo, as favelas cariocas ou as</p><p>comunidades pobres do nordeste brasileiro.</p><p>Catársis</p><p>Catársis é um termo de origem grega que signi�ca purgação. Na linguagem religiosa, era sinônimo de expiação ou</p><p>puri�cação. Em sentido psíquico, está relacionado à purgação das paixões ou tensões da alma. Faz parte do fenômeno</p><p>literário. É a libertação promovida pela criação artística. Toda arte opera a catársis, porque opera no homem uma</p><p>sensação de prazer, de plenitude. De alguma forma, através da cataras, ocorre uma transformação do leitor.</p><p>Quando lemos ou assistimos a uma tragédia como Édipo Rei, por exemplo, temos, no �nal, uma sensação de libertação.</p><p>Há uma calma. A obra promove um escoamento das emoções.</p><p>Leitura</p><p>Clique aqui para acessar a obra Édipo Rei, de Sófocles, disponível no site Domínio Público.</p><p>javascript:void(0);</p><p>No �nal do romance O Cortiço, Bertoleza morre e o cortiço, espaço tão cheio de vida no início da narrativa, sofre,</p><p>gradativamente, um apagamento. Isto gera no leitor um sentimento de vazio. Há um abrandamento das emoções.</p><p>Leia o fragmento �nal do romance:</p><p>"A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe,</p><p>com uma das mãos espalmada no chão e com a outra</p><p>segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles,</p><p>sem pestanejar.</p><p>Os policiais, vendo que ela se não despachava,</p><p>desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se</p><p>com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes</p><p>que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe</p><p>certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.</p><p>E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando</p><p>moribunda numa lameira de sangue.”</p><p>(AZEVEDO, 1997, p. 118. Disponível em: //www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000015.pdf</p><p>Mímesis e catarses estão sempre interligadas. Podemos dizer que a</p><p>mímesis gera a catarses, pois uma boa imitação do real gera um</p><p>movimento das emoções do leitor, promovendo a sua transformação.</p><p>Linguagem</p><p>javascript:void(0);</p><p>As revelações que o processo mimético estabelece geram múltiplas interpretações do texto. Isso acontece porque a</p><p>linguagem do texto literário é ambígua e vive em permanente estado de atualização. Você sabe o que é linguagem?</p><p>A linguagem é uma das formas de apreensão do real. É qualquer sistema de comunicação que utiliza signos</p><p>organizados de maneira particular. Por exemplo, os gestos dos surdos-mudos são considerados linguagem, pois,</p><p>através dos sinais, estabelecem uma comunicação, veiculando uma determinada mensagem.</p><p>Podemos dizer ainda que a linguagem é a capacidade que o homem tem de expressar seus estados mentais por</p><p>meio da língua, representando o mundo interior e exterior.</p><p> Linguagem de Sinais | Fonte: Photo by Nicole Honeywill on Unsplash</p><p>Qual é a relação entre literatura e cultura? A matéria literária é cultural. Só há literatura onde existe o desenvolvimento de</p><p>uma cultura. Se o texto literário é conotativo, ele revela, no processo de leitura, as diferenças culturais.</p><p>Mas a�nal o que é cultura?</p><p>Trata-se de um complexo de normas, símbolos, mitos e imagens absorvidos pelo homem. Tal complexo determina os</p><p>seus instinto e move as suas emoções. Segundo a antropologia, cultura é o conjunto e a integração dos modos de pensar,</p><p>sentir e fazer de uma comunidade, na tentativa de solucionar os problemas vivenciados no seu interior.</p><p>Se temos cultura brasileira, temos, automaticamente, literatura brasileira. Os textos nascem a partir de sociedades que</p><p>possuem determinada cultura. Dessa forma, língua e literatura estão fortemente vinculadas.</p><p>A literatura se vale da língua para revelar elementos culturais de uma sociedade. A conotação do texto literário tem a sua</p><p>pluralidade de acordo com o universo cultural de falantes e ouvintes ou escritores e leitores. A�nal de contas, eles estão</p><p>presos às diferenças socioculturais.</p><p>Atividade Dissertativa</p><p>QUESTÃO 1</p><p>Mímesis não é um conceito literário, mas �losó�co que serve para explicar a arte. Qual é o material que o autor utiliza para</p><p>exercer a mímesis?</p><p>QUESTÃO 2</p><p>A linguagem é a capacidade que o homem tem de expressar seus estados mentais por meio da língua. Explique por que a</p><p>linguagem literária se diferencia das demais.</p><p>Aula Teletransmitida em LIBRAS</p><p>Assista a versão na Linguagem Brasileira de Sinais da Aulateletransmitida.</p><p>Notas</p><p>Referências</p><p>Próxima aula</p><p>Conceito de gênero literário;</p><p>Objeto e fonte do épico;</p><p>Papel da memória no mundo épico;</p><p>Heróis épicos;</p><p>Narrador da epopeia;</p><p>Plasticidade e claridade.</p><p>Explore mais</p><p>Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Se ainda tiver alguma dúvida, fale com seu</p><p>professor online, utilizando os recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.</p>