Prévia do material em texto
<p>19</p><p>BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL</p><p>WELITON FAUSTINO RIBEIRO RODRIGUES</p><p>POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE</p><p>PEDRO LEOPOLDO/MG</p><p>2024</p><p>WELITON FAUSTINO RIBEIRO RODRIGUES</p><p>POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social</p><p>Orientador: Prof. Valquiria Aparecida Dias Caprioli</p><p>PEDRO LEOPOLDO/MG</p><p>2024</p><p>Dedico este trabalho...</p><p>agradecimentos</p><p>Ao Prof. ........, meu orientador e amigo de todas as horas, que acompanhou...</p><p>Ao Prof. ........</p><p>Á Profª...</p><p>Aos professores que contribuíram...</p><p>Epígrafe...</p><p>RODRIGUES, Weliton Faustino Ribeiro POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA CIDADE DE BELO HORIZONTE. 2024. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso em Serviço Social pela Universidade UNOPAR, Pedro Leopoldo, 2024.</p><p>RESUMO</p><p>Tem como objetivo Geral realizar um diagnóstico histórico da população em situação de rua município de Belo Horizonte, descrevendo o processo de conformação das ações que são desenvolvidas pelos órgãos públicos responsáveis pela formulação da Política Nacional para a População em Situação de rua. E como objetivos Específicos: explicar como se dá o acesso do poder público à população em situação de rua: quem faz a abordagem; quem constrói e participa do processo, como se dá o acompanhamento e quais são os resultados desta ação e descrever a formulação da política para a população de rua, incluindo o desenho das propostas para o enfrentamento dos seus problemas. A justificativa da escolha do tema deste artigo associa-se a observação do aumento considerável do público de rua no município de Belo Horizonte, e a percepção de como esse grupo é invisível aos olhos da sociedade e principalmente da gestão pública. Podemos listar algumas questões a serem discutidas neste artigo: Quais ações são implementadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela Política Nacional para Inclusão da População em Situação de Rua no município de Belo Horizonte? Quais órgãos públicos são responsáveis pela gestão dessas ações? Foi realizada para este estudo uma pesquisa bibliográfica é baseada e desenvolvida a partir de materiais já elaborados, com a obtenção de informações através da leitura de livros, textos acadêmicos, artigos, monografias, dissertações, teses, revistas, reportagens, informativos, matérias em sites, entre outros.</p><p>Palavras-chave: Gestão pública. Órgãos Públicos. Políticas públicas.</p><p>SOBRENOME, Nome Prenome do(s) autor(es). Título do trabalho na língua estrangeira: Subtítulo na língua estrangeira. Ano de Realização. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em nome do curso) – (nome da instituição de ensino), Cidade, Ano.</p><p>ABSTRACT</p><p>Deve ser feita a tradução do resumo para a língua estrangeira.</p><p>Deixe um espaço entre o abstract e as key-words.</p><p>Key-words: Word 1. Word 2. Word 3. Word 4. Word 5.</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 INTRODUÇÃO 1</p><p>2 DESENVOLVIMENTO 1</p><p>2.1 DESIGUALDADE SOCIAL................................................................................</p><p>2.2 SITUAÇÃO EM BELO HORIZONTE.......................................................................</p><p>3 CONCLUSÃO.........................................................................................................</p><p>REFERÊNCIAS....................................................................................................1</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Falar da situação de rua enquanto condição social ainda é um paradigma desconhecido e carente de informação nas demais camadas sociais. Presume-se que o Estado, com base na Carta Magna deve garantir o acesso ao serviço a todos, incluindo os moradores de rua. Na forma do Artigo 6º, lê-se: “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”</p><p>A população em situação de rua é formada por pessoas inclusas num quadro de risco e vulnerabilidade social, vítimas de um processo socioeconômico excludente e da violência urbana que, na luta pela sobrevivência, concentram-se nos grandes centros urbanos do país em busca de alternativas.</p><p>A justificativa da escolha do tema deste artigo associa-se a observação do aumento considerável do público de rua no município de Belo Horizonte, e a percepção de como esse grupo é invisível aos olhos da sociedade e principalmente da gestão pública.</p><p>Podemos listar algumas questões a serem discutidas neste artigo: Quais ações são implementadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela Política Nacional para Inclusão da População em Situação de Rua no município de Belo Horizonte? Quais órgãos públicos são responsáveis pela gestão dessas ações?</p><p>Tem como objetivo Geral realizar um diagnóstico histórico da população em situação de rua município de Belo Horizonte, descrevendo o processo de conformação das ações que são desenvolvidas pelos órgãos públicos responsáveis pela formulação da Política Nacional para a População em Situação de rua. E como objetivos Específicos: explicar como se dá o acesso do poder público à população em situação de rua: quem faz a abordagem; quem constrói e participa do processo, como se dá o acompanhamento e quais são os resultados desta ação e descrever a formulação da política para a população de rua, incluindo o desenho das propostas para o enfrentamento dos seus problemas.</p><p>Foi realizada para este estudo uma pesquisa bibliográfica é baseada e desenvolvida a partir de materiais já elaborados, com a obtenção de informações através da leitura de livros, textos acadêmicos, artigos, monografias, dissertações, teses, revistas, reportagens, informativos, matérias em sites, entre outros.</p><p>DESENVOLVIMENTO</p><p>Para a realização de nossa pesquisa, que tem como tema “População em situação de rua no município de Belo Horizonte” buscamos alcançar o objetivo geral da mesma – compreender como o modo de produção capitalista e as expressões da “questão social” advindas do mesmo estão diretamente ligadas aos fatores que levam as pessoas à condição de população em situação de rua e como as particularidades sócio-históricas do país influenciam no processo – tendo como procedimento técnico base a pesquisa bibliográfica.</p><p>A pesquisa bibliográfica é baseada e desenvolvida a partir de materiais já elaborados (GIL, 2002). Isto é, a obtenção de informações através da leitura de livros, textos acadêmicos, artigos, monografias, dissertações, teses, revistas, reportagens, informativos, matérias em sites, entre outros. Assim, como forma de se basear e referenciar este trabalho de conclusão de curso, buscamos criá-lo e desenvolvê-lo a partir de pesquisas e estudos já realizados. “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla” (GIL, 2002, p. 45). Ou seja, pode-se dizer que a pesquisa bibliográfica é uma das formas mais ricas de se pesquisar, uma vez que a quantidade de fontes e referências existentes para fundamentar um novo estudo é extensa.</p><p>Além de ser uma pesquisa bibliográfica, o presente trabalho também se encaixa em uma pesquisa explicativa. As pesquisas explicativas “têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos” (GIL, 2002, p. 42).</p><p>DESIGUALDADE SOCIAL</p><p>A existência de um número tão grande de pessoas em situação de rua no Brasil é fruto do agravamento de questões sociais" (BRASIL, 2014, p. 8). Diversos fatores colaboraram para esse agravamento e, consequentemente, para o crescimento da quantidade de indivíduos nessa situação como: “ausência de moradia, trabalho e renda; fatores biográficos relacionados à vida particular do indivíduo, a quebra de vínculos familiares, doenças mentais e uso abusivo</p><p>de álcool ou drogas” (BRASIL, 2014, p. 8).</p><p>Quando se fala da trajetória histórica da população em situação de rua alguns apontamentos podem ser assinalados. Em relação ao surgimento desse fenômeno tem-se a reflexão quanto ao período em que “a revolução industrial encerrou a transição entre o feudalismo e o capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção”. (KLAUMANN, 2018, p. 3).</p><p>A Seguridade Social é assim apontada no Artigo 194 da Constituição Federal: Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.</p><p>Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:</p><p>I - universalidade da cobertura e do atendimento;</p><p>II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;</p><p>III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;</p><p>IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;</p><p>V - equidade na forma de participação no custeio;</p><p>VI - diversidade da base de financiamento;</p><p>VII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados.</p><p>VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados (BRASIL. Constituição daRepública Federativa do Brasil, 1988).</p><p>Esses acontecimentos influenciaram na perda das propriedades dos camponeses, que se viram obrigados a vender a sua força de trabalho nas cidades, porém nem todos se adaptaram à nova realidade e muitos passaram a morar nas ruas. Esses excluídos formaram o chamado exército industrial de reserva, que significou “a força de trabalho que excede as necessidades da produção” ficando a “mercê de toda injustiça em meio a falta de posto de trabalho”. (KLAUMANN, 2018, p. 4).</p><p>De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), durante os anos de 2007 e 2008 foi realizada uma pesquisa em 71 cidades brasileiras com população superior a 300 mil habitantes, abrangendo as capitais (exceto São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre). Segundo essa pesquisa, cujos dados foram divulgados em 2008, há 31.922 indivíduos que utilizam as ruas como moradia, no entanto, tudo indica que esses números são bem maiores, pois cidades relevantes não se incluíram na pesquisa.</p><p>Quando falamos sobre o tema População em Situação de Rua (PSR) na sociedade contemporânea, diversas questões são levantadas a respeito deste assunto tão relevante. Questões como: “por que essas pessoas estão na rua?”, “quais serão os motivos que as levaram até essa situação?”, “será que foi escolha delas estarem na rua?”, “será que não possuem uma família?”, “como elas conseguem sobreviver nessa realidade?”. Vemos, a partir desses importantes questionamentos, que pesquisar sobre essa temática é um grande desafio, porém, extremamente necessário. (BRASIL, 2014, p. 8).</p><p>Contudo, são vários os fatores que envolvem a pesquisa sobre a população em situação de rua. Elementos como a grande desigualdade social existente, a relação entre o capital e o trabalho, o modo como a sociedade capitalista trata e descarta as pessoas e, a falta de atenção e de políticas sociais direcionadas a essa população são fortes causas deste fenômeno. (SILVA, 2006).</p><p>Na contemporaneidade é perceptível o alto número de pessoas em situação de rua nos grandes centros urbanos. O motivo se dá por serem locais com maior circulação de capital e oferta de emprego, consequentemente “mais fáceis” de garantir o sustento, mesmo que de forma precária. Também, por terem mais oportunidades de gerarem renda por conta própria, como os catadores de materiais recicláveis. Outro fator que também justifica o fato de ser um fenômeno majoritariamente urbano é pela maior facilidade de atendimento às necessidades básicas como alimentação, necessidades fisiológicas e higiene (SILVA, 2006).</p><p>A população em situação de rua não é equivalente a um tipo de segmentação. Ela contempla uma característica heterogênea e que estabelece uma diversidade de identidades que são palcos de relações que se perderam na ausência da privacidade do lugar pública (BRASIL, 2008). Considera-se população em situação de rua:</p><p>O grupo populacional heterogêneo que possui a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza áreas públicas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória. (BRASIL, 2008, p. 8).</p><p>A existência desta população é um fenômeno social com crescimento numericamente considerável, visto os grupos espalhados pelos centros urbanos formados por indivíduos, que na busca incessante de encontrar recursos que tornam a vida na rua menos sofrida e difícil, procuram se alojar em regiões próximas aos centros comerciais, espaços com maior circulação de pessoas, rodoviárias e praças (VARANDA; ADORNO, 2004).</p><p>Em relação a permanência na rua, Rosa, Cavicchioli e Brêtas (2005, p. 578) classificam as diferentes situações:</p><p>Ficar na rua (circunstancialmente) significa ficar por um período transitório e ainda mantendo fortes vínculos familiares; estar na rua (recentemente) condiz a diminuição do vínculo familiar e o aumento de novos elos na rua; ser da rua (permanentemente) estabelece a rua em sua moradia definitiva. Seja permanente, recente ou circunstancial, essa permanência pode trazer agravos e contribuir para aumentar as probabilidades do individuo se tornar permanente como ser da rua.</p><p>Em muitos casos, a discriminação rodeia a população em situação de rua, e a sociedade os percebem sob o olhar crítico pela lógica higiênica, vestimentas sujas, falta de banho, embriaguez, uso de substâncias psicoativas que acaba por contribuir na geração de preconceito e consequentemente na exclusão social. Assim, para entender a problemática que envolve as pessoas em situação de rua, Dupas (2001) delimita o conceito da exclusão social e a pobreza, pela falta de acesso a saúde, mas também a justiça, a segurança e a cidadania. É importante destacar que “viver na rua expõe esse grupo populacional a diversos fatores de risco que ampliam sua vulnerabilidade” (BRASIL, 2017, p. 1) como: violências, “preconceito, invisibilidade social, dificuldade de acesso às políticas públicas, alimentação incerta, pouca disponibilidade de água potável, privação de sono e a dificuldade de adesão a tratamento de saúde” (BRASIL, 2017, p. 1), condições aquém do ideal para digna sobrevivência (BRASIL, 2012, p. 52).</p><p>A população em situação de rua “apresenta condições sociais e de saúde bastante precárias, inclusive no que concerne ao acesso aos direitos sociais básicos e constitucionais” (ABREU; OLIVEIRA, 2017, p. 2). A sociedade caracteriza esse público como classes pobres e marginalizadas, cuja falta de acesso ao mercado de trabalho formal, à boa educação, aos serviços de saúde e aos demais serviços públicos dificultam o trajeto na busca por uma mudança de vida.</p><p>Assim, a condição de vivência nas ruas propicia “formas de apresentação social a partir das quais se constroem imagens sociais negativas dos sujeitos” (ABREU; OLIVEIRA, 2017, p. 2), contribuindo para o pré-julgamento e interferindo diretamente nas atitudes e comportamentos dos profissionais que, por consequência prejudica as relações pertinentes à atenção e ao cuidado. Essa relação de negativa aos direitos possibilita a formação de um círculo vicioso aumentando a marginalização, estigma e preconceito por parte dos profissionais dos serviços públicos. (ABREU; OLIVEIRA, 2017).</p><p>A superação desse círculo vicioso depende de extrapolar a fronteira do conhecido, assumindo atitudes de tolerância</p><p>e de respeito às diferenças. Prestar atendimento e estar próximo às populações em situação de rua deveria ser tarefa para todo profissional de saúde, sendo uma exigência ética inerente ao compromisso com a saúde da população do país. (ABREU; OLIVEIRA, 2017, p. 2).</p><p>Quando o cidadão de rua recebe o atendimento adequado, percebe o cuidado que o profissional tem, torna-se possível enxergar além da ferida. A capacitação técnica deve ser acompanhada da capacidade de acolher buscando a compreensão sobre as necessidades do indivíduo, baseando sempre no princípio da equidade. Criar vínculo é uma etapa importante para que o acompanhamento seja humanizado, “exige perseverança e permanência, estabilidade que gera segurança, conhecimento e reconhecimento”. (BRASIL, 2012, p. 27).</p><p>Contudo, são vários os fatores que envolvem a pesquisa sobre a população em situação de rua. Elementos como a grande desigualdade social existente, a relação entre o capital e o trabalho, o modo como a sociedade capitalista trata e descarta as pessoas e, a falta de atenção e de políticas sociais direcionadas a essa população são fortes causas deste fenômeno. Como definição do que é população em situação de rua, trouxemos o art. 1° do Decreto Nº 7.053 de 23 dezembro de 2009, que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPR), onde nos diz que</p><p>(...) considera-se população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória (BRASIL, 2009).</p><p>Silva (2006) traz o apontamento de que a PSR não é uma população homogênea. As pessoas que se encontram nessa situação têm origens diferentes e razões diversificadas. E que, mesmo estando na rua, como abrigo temporário ou moradia, não as tornam pessoas com o mesmo perfil, mesma caracterização e muito menos pertencentes a um único grupo populacional. No entanto, “existem condições ou características comuns que permitem identificá-las como um grupo populacional diferenciado” (SILVA, 2006, p. 97).</p><p>A primeira delas é a pobreza extrema; a segunda, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados; e a terceira; a inexistência de moradia convencional regular e a utilização da rua como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente (SILVA, 2006).Muitas suposições acerca dessa população são feitas, muitos são os preconceitos sofridos cordo com Mattos e Ferreira (2004) a reação comumente que as pessoas têm ao se depararem com a população em situação de rua é de medo, constrangimento, receio de que façam algo, sensação de perigo, comoção, piedade, violência e hostilidade.</p><p>Observa-se, assim, a existência de representações sociais pejorativas, em relação à população em situação de rua, que se materializam nas relações sociais. Vagabundos, preguiçoso, bêbado, sujo, perigoso, coitado, mendigo... São designações comuns dirigidas às pessoas em situação de rua (MATTOS; FERREIRA, 2004, p. 47)</p><p>Iamamoto (2018) ao ressaltar, que a questão social expressa o conjunto das desigualdades da sociedade capitalista madura nos leva a entender que a questão da população em situação de rua é uma expressão das desigualdades produzidas no meio urbano, em face do desenvolvimento do capitalismo. Segundo pesquisas do IBGE (2022), no Brasil no que diz respeito à relação com o trabalho, no primeiro trimestre de 2022, foram contabilizados 11,9 milhões de desempregados.</p><p>As problemáticas sociais relacionadas à pessoa sem trabalho são recorrentes e expressam a desigualdade social, manifestando-se na vida da pessoa em forma da não participação do poder de compra pela falta do trabalho, o que interfere também na vida social e no meio onde está inserido, gerando contradições no bem estar social deste indivíduo. (ANTUNES, 2018).</p><p>Segundo Antunes (2018), no século XXI, bilhões de homens e mulheres dependem do trabalho para sobreviver e se encontram em situação cada vez mais precária, diretamente vitimados pelo desemprego. Ou seja, enquanto o número de trabalhadores e trabalhadoras se amplia globalmente, os empregos diminuem; aqueles que ainda estão trabalhando testemunham a erosão de seus direitos sociais e de suas conquistas históricas, fruto da lógica destrutiva do capital, ao recriar novos modelos de trabalho informal, intermitente, precário, "flexível" nos espaços mais remotos, enquanto expulsa milhões de homens e mulheres do mundo produtivo (no sentido mais amplo), e com isso empobrece ainda mais os níveis salariais daqueles que continuam trabalhando.</p><p>Percebe-se neste contexto que as mulheres, por exemplo, conseguiram seu espaço para o trabalho, porém as lutas pela aceitação da mulher no mundo do trabalho são contínuas, pois as mulheres são as primeiras a serem desligadas de seus cargos, mesmo com tantas lutas conquistadas por direitos as mulheres ainda em pleno século XXI ainda busca por mais igualdade em inúmeras esferas na sociedade sendo uma delas a igualdade salarial entre homens e mulheres (ANTUNES, 2018).</p><p>Sabemos que na longa história da atividade humana, em sua constante luta pela sobrevivência e bem-estar social (já no século XIX nas reivindicações do cartismo britânico), o trabalho é uma atividade vital e abrangente. Mas quando a vida humana é limitada ao trabalho assalariado – como é no mundo capitalista e sua sociedade abstrata do trabalho – ela se torna um mundo de dor, alienação, prisão e unilateralidade. (ANTUNES, 2018).</p><p>Para Castel (1998), a desfiliação social é um processo de ruptura progressiva, no qual o indivíduo, ao não cumprir o compromisso social nas relações de trabalho, é excluído pela sociedade, sendo marginalizado com a perda de seus direitos sociais e reduzido a uma pessoa estragada e diminuída, reclassificado em outra categoria social: vagabundo, preguiçoso, bêbado, mendigo, entre outros termos, nascendo daí o estigma com o qual são marcados aqueles que vivem na condição de moradores de rua.</p><p>No capitalismo, há uma grande variedade de temas e situações que merecem total atenção na perspectiva da proteção social por meio do direito e da cidadania. Preocupantemente, ao intervir nessa realidade, essas questões são vistas como caracterizadas homogeneamente por sujeito e situação, ou seja, diversidade, principalmente no processo de rualização, esse processo de rualização mencionado por alguns autores parte da concepção “oposta do sujeito "vindo da rua", que é entendido como um processo social que se configura a partir de múltiplos condicionantes, e num espaço de tempo” (ABREU; SALVADOR, 2015, p. 02).</p><p>A compreensão mais adequadamente utilizada, pois dá a ideia de movimento é o termo "população em situação de rua". Implícita neste termo está a consciência da gama de situações e diversidade de possibilidades de movimentos encontrados nas ruas e que assim se pode justificar. “O desafio de pensar as “pessoas em situação de rua” para além do estigma que, historicamente, as têm definido, nos conduz à tentativa de entender alguns processos sociais mais abrangentes que podem contribuir para a não fixação de uma essência dessa população” (MÉSZÁROS, 2000, p. 7).</p><p>A existência de pessoas em situação de rua, ou seja, pessoas que fazem da rua seu espaço de subsistência e existência, sobrevivência e moradia, em processo de rualização, foi se transformando ao longo da história. Machado (2012) relata como é o processo de rualização que as pessoas em situação de rua vivenciam. Segundo ela, fazer com que a rua vire moradia não acontece de forma imediata, é um processo gradual, um complexo de situações, de alternativas e de enfrentamento dessa expressa da questão social. (MÉSZÁROS, 2000, p. 7).</p><p>Nesses espaços encontram-se crianças, homens, mulheres, famílias, jovens, adultos, idosos, profissionais do sexo, transexuais,</p><p>migrantes, desempregados, assim como vítimas de violência doméstica, sujeitos vítimas da violência urbana, expulsos das comunidades pelo tráfico de drogas e/ou famílias inteiras, idosos abandonados, foragidos da justiça, egressos do sistema penitenciário, empregados do mercado informal, usuários dependentes de álcool e outras drogas, entre outros. (MÉSZÁROS, 2000, p. 7).</p><p>De agora em diante discorreremos sobre o Modo de Produção Capitalista e o seu desenvolvimento ao longo dos anos. Abordaremos sobre a exploração da força de trabalho da classe operária, vinda da classe capitalista com o propósito de cada vez mais acumular seu capital. Falaremos também do avanço tecnológico, da inclusão das maquinarias e das mudanças no mundo do trabalho. Em seguida, trataremos da superpopulação relativa ou exército industrial de reserva, em suas várias formas, como consequência do crescimento constante do capital. Após isso, inseriremos o tema da população em situação de rua como uma consequência do modo de produção capitalista e uma expressão extrema da “questão social”.</p><p>Para a conclusão da primeira parte desse contexto, trouxemos as palavras de Netto e Braz que resumem bem o MPC e a relação do capitalista com o trabalhador, sendo eles</p><p>dois sujeitos historicamente determinados: o capitalista (ou burguês), que dispõe de dinheiro e meios de produção (que, então, tomam a forma de capital), e aquele que pode tornar-se o produtor direto porque está livre para vender, como mercadoria, a sua força de trabalho – o proletário (ou operário). As classes fundamentais do modo de produção capitalista, assim, determinam-se pela propriedade ou não dos meios de produção: os capitalistas (a classe capitalista, a burguesia) detêm essa propriedade, enquanto o proletariado (o operariado, a classe constituída pelos produtores diretos) dispõe apenas de sua capacidade de trabalho e, logo, está simultaneamente livre para / compelido a vendê-la como se vende qualquer mercadoria; no modo de produção capitalista, o capitalista é o representante do capital e o proletário o do trabalho. (NETTO; BRAZ, 2006, p. 84 – 85, grifo do autor)</p><p>O Modo de Produção Capitalista (MPC) passou por diferentes fases ao longo dos últimos séculos antes de se concretizar no que é atualmente. No início do processo, o que movia a formação do MPC era a produção própria de mercadorias e a troca delas entre pessoas em condições iguais. Eram pessoas que produziam suas mercadorias de acordo com os meios de produção e matéria-prima que possuíam para suprir parte de suas necessidades e ao mesmo tempo trocar por outras mercadorias também necessárias. Esse processo de troca era baseado em pessoas que produziam diferentes itens e trocavam entre si com base naquilo que precisavam para sua subsistência, cada um pagava pela mercadoria do outro com a sua própria e assim funcionava o comércio.</p><p>Em seguida, as mercadorias começaram a ser comerciadas, ou seja, o método de produção era o mesmo, mas já não existia a troca, e sim, a venda dos produtos. A princípio, com preços justos, baseando-se no trabalho próprio e no processo de produção de cada mercadoria. Isto é, o comércio acontecia através da compra e venda de mercadorias, ou seja, todos estavam de igual para igual no mercado na medida em que cada um produzia a sua própria mercadoria para vender. Quem comprava também vendia e quem vendia também comprava, de acordo com as necessidades de cada um. Exemplificando, se M precisava de algo produzido por N e N necessitava do que era produzido por M, ambos vendiam e compravam a mercadoria um do outro, atendendo às necessidades deles.</p><p>Mais adiante, alguns comerciantes criaram a “maldade” de valorizar um pouco mais suas mercadorias e venderem por um preço mais alto, gerando assim, um lucro. Nas palavras de Marx (2013, p. 168) “a circulação de mercadorias é o ponto de partida do capital”.</p><p>Sob esse pressuposto, a força de trabalho só pode aparecer como mercadoria no mercado na medida em que é colocada à venda ou é vendida pelo seu próprio possuidor, pela pessoa da qual ela é a força de trabalho. Para vendê-la como mercadoria, seu possuidor tem de poder dispor dela, portanto, ser o livre proprietário de sua capacidade de trabalho, de sua pessoa. Ele e o possuidor de dinheiro se encontram no mercado e estabelecem uma relação mútua como iguais possuidores de mercadorias, com a única diferença de que um é comprador e o outro, vendedor, sendo ambos, portanto, pessoas juridicamente iguais (MARX, 2013, p. 180).</p><p>Marx (2013, p. 181) chama o indivíduo que vende sua força de trabalho de trabalhador livre, por dois aspectos: o “de ser uma pessoa livre, que dispõe de sua força de trabalho como sua mercadoria, e de, por outro lado, ser alguém que não tem outra mercadoria para vender”. Marx ressalta também que essa relação social de compra e venda da força de trabalho não é uma relação histórico-natural e nem</p><p>algo comum aos períodos anteriores, mas sim, resultado de um desenvolvimento histórico e de revoluções econômicas (MARX, 2013).</p><p>Em seu próprio desenrolar, portanto, o processo capitalista de produção reproduz a cisão entre força de trabalho e condições de trabalho. Com isso, ele reproduz e eterniza as condições de exploração do trabalhador. Ele força continuamente o trabalhador a vender sua força de trabalho para viver e capacita continuamente o capitalista a comprá-la para se enriquecer. [...] É o beco sem saída característico do próprio processo que faz com que o trabalhador tenha de retornar constantemente ao mercado como vendedor de sua força de trabalho e converte seu próprio produto no meio de compra nas mãos do primeiro (MARX, 2013, p. 428).</p><p>2.2 SITUAÇÃO EM BELO HORIZONTE</p><p>Existem hoje mais de 150 mil pessoas vivendo em situação de rua no Brasil, cerca de 18 mil delas em Minas Gerais. No estado, 12 dos 853 municípios mineiros concentram 70% dessa população. Apenas em Belo Horizonte, o número ultrapassa 9 mil.</p><p>Esses são alguns dados disponíveis no Cadúnico e se referem ao mês de maio de 2020. O sistema nacional concentra informações sobre famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza, e é atualizado e alimentado pelas prefeituras, em especial por meio de suas secretarias municipais de assistência social.</p><p>O que mais se destaca nesse trabalho é a conscientização quanto à população de rua, tirando o manto da invisibilidade que a oculta e reconhecendo a sua titularidade para exercer direitos, sobretudo os fundamentais e humanos, colocando em relevo a cidadania dessas pessoas”, observa o desembargador Lailson Braga Baeta Neves, um dos representantes do TJMG no Rua do Respeito.</p><p>A falta de informações sobre essa população é um dos aspectos que revelam essa invisibilidade que o magistrado cita. “Em uma trajetória de 24 anos de trabalho com a população em situação de rua, o Polos de Cidadania sempre percebeu uma grande dificuldade de obter informações acerca desse fenômeno”, conta o professor doutor André Luiz Freitas Dias.</p><p>Um dos coordenadores do Polos de Cidadania, programa transdisciplinar de extensão, ensino e pesquisa da UFMG, o pesquisador extensionista explica que foi justamente essa escassez de informações que inspirou a escolha da palavra “incontáveis” para acompanhar as artes que divulgam os dados.</p><p>Essa palavra vem no sentido de denunciar essa falta de informações confiáveis e precisas sobre esse fenômeno. Infelizmente, ainda não temos censos nacionais, estaduais ou regionais sobre os que vivem nas rua. Eles não são vistos e nem sequer contabilizados. Essas vidas nem ao menos são compreendidas ou consideradas”, declara.</p><p>Por isso, explica André Luiz, muitas vezes, as informações sobre a população de rua acabam ficando restritas aos cadastros realizados no Cadúnico. No entanto, alerta, as informações do sistema não expressam com fidedignidade a realidade, uma vez que há uma significativa subnotificação de dados.</p><p>“A Nota Técnica nº 73, produzida pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), a partir de dados do Cadúnico e de censos do Sistema Único de Assistência Social</p><p>(SUAS), estima que no Brasil, hoje, existam mais de 220 mil pessoas em situação de rua”, observa.</p><p>Essa carência de dados, acrescenta o pesquisador, interfere significativamente na execução das políticas públicas nas cidades, nos estados e no Brasil como um todo, com impactos também na atuação de muitas instituições que participam de alguma maneira da proteção integral dessas populações.</p><p>Em decorrência disso, a preocupação das Políticas Públicas implantadas recai sobre aspectos como inclusão, assistência e desenvolvimento social, por meio de um vínculo que se estabelece, segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social da Prefeitura de Belo Horizonte, entre o usuário e os técnicos do serviço, facilitando para a equipe técnica acolher e escutar as trajetórias de vida desses usuários, identificar as situações de risco social em que se encontram e propor encaminhamentos à rede socioassistencial para ação de promoção e proteção.</p><p>Dessa forma, em 2002, foi criada pela Secretaria Municipal de Belo Horizonte a primeira equipe de Saúde da Família que atende exclusivamente a população em situação de rua.</p><p>Os menores de idade são direcionados a abrigos de crianças e adolescentes pelos Conselhos Tutelares, visto que os usuários maiores de 18 anos são acolhidos em locais que os incentivam na melhoria da qualidade de vida</p><p>nas ruas, assim como de seus abrigos, higiene e alimentação, até que possam reconstruir sua autonomia, em termos de laços afetivos e sociais, e capacidade de trabalho, garantindo a segurança para realizarem o egresso definitivo da situação em que se encontram.</p><p>Em Belo Horizonte/MG, por meio dos CRAS, são realizados pela Secretaria de Assistência Social e Cidadania, juntamente com a Secretaria de Obras e Serviços</p><p>Públicos, cursos de formação para a inserção no mercado de trabalho. Após a instrução em tais serviços prestados, alguns dos instruídos são inseridos na Cooperativa de Catadores, que mantém convênio com a Prefeitura, na área de separação de materiais recicláveis. Devido à falta de documentos, dificuldade de comprovação de endereço ou mesmo vergonha de procurar atendimento médico, a maioria dos moradores de rua não busca auxílio dos serviços de saúde, e é com vistas a esse problema que determinados consultórios móveis funcionam como postos de atendimento, ao circularem na região central da cidade, com o intuito de diagnosticar o estado de saúde e, posteriormente, encaminhar os atendidos a postos de saúde e hospitais da cidade.</p><p>De fato, grande parte das pessoas nessa situação ainda não tem acesso aos programas governamentais. Com base na Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua realizada em 2011,³ 88,5% das pessoas em situação de rua afirmam não receber qualquer benefício dos órgãos governamentais.</p><p>Diferentemente do CREAS, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é responsável pela organização e oferta dos serviços socioassistenciais da Proteção Social Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) a famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade e risco social, com atuação eminentemente preventiva, implementando serviços de Proteção e Atendimento Integral a Famílias (PAIF) e gestão territorial da rede socioassistencial de proteção social básica.</p><p>Dessa forma, é necessário que seja ampliado o vínculo da população em situação de rua com as equipes de saúde, assim como com a população em geral, já que esses indivíduos encontram-se mais vulneráveis em relação ao cuidado familiar e à proteção teoricamente garantida pelo Estado desde a formatação do SUAS, que teve origem na aprovação da Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993,19 denominada Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS).</p><p>Logo, o indivíduo em situação de rua deve estar inserido em políticas que proporcionem o acesso aos benefícios previdenciários e assistenciais e aos programas de transferência de renda, além do acesso a serviços de acolhimento e reinserção familiar e na comunidade.</p><p>Devido a uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, com o objetivo de ampliar a participação social, assim como a amplitude de seu papel na proteção social do brasileiro e na melhoria das condições de vida da população, foi criada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que faz referência ao reconhecimento da política pública de Assistência Social mediante a responsabilidade estatal.</p><p>A Lei nº 11.258, de 30 de dezembro de 2005,7 alterou o parágrafo único do art. 23 da LOAS: “Na organização dos serviços da Assistência Social serão criados programas de amparo: II - às pessoas que vivem em situação de rua”, instituindo a criação de serviços de atendimento direcionados aos moradores de rua como obrigação por parte do Estado, mediante uma compreensão de ação intersetorial.</p><p>Ainda em 2005, houve o I Encontro Nacional sobre População em Situação de Rua, com o intento de debater a Política Nacional para Inclusão Social do Público em Situação de Rua, assim como discutir o Movimento Nacional da População de Rua em atividades dos movimentos sociais. O segundo encontro foi realizado no ano de 2009.</p><p>Previsto na Lei Orgânica da Assistência Social e em debate na IV Conferência Nacional de Assistência Social, foi criado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o SUAS é um sistema público que organiza a Proteção Social Básica, visando à cautela com riscos sociais e pessoais, por meio de programas, projetos, serviços e benefícios destinados a indivíduos e famílias vulneráveis socialmente, e à Proteção Social Especial para aqueles que já se encontram, segundo o MDS, em “situação de risco e que tiveram seus direitos violados por</p><p>ocorrência de abandono, maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre outros aspectos”.</p><p>A saúde da população que vive na rua é fortemente comprometida devido às dificuldades de acesso aos serviços públicos de saúde. É possível reconhecer a ineficácia de alguns instrumentos que não garantem o acesso, a educação e saúde, ainda que de direitos comum a todos que tem o seu espaço privado. Carneiro Junior et al (1998, p. 54) citam os problemas que ainda permanece quanto as políticas de saúde: “acesso, estigma, preconceito, desarticulação entre setores, despreparo profissional, atenção a saúde”. A existência de políticas para este segmento não limita as dificuldades enfrentadas pelos moradores de rua na sua inclusão no sistema de saúde.</p><p>O preconceito, a discriminação, a exclusão, a invisibilidade e a falta de compromisso do poder público prejudicam a inserção de novas medidas que possibilitam a efetivação dos direitos básicos. É essencial haver reorganização quanto aos serviços de saúde levando em consideração a disponibilidade senão imediata, mas resolutiva quanto aos atendimentos a esse grupo social, como inserção no atendimento a consulta; escuta qualificada, informe sobre a oferta de serviços pelo estabelecimento, exposição clara quanto a disponibilidade para novo contato, acolhimento humanizado (DANTAS, 2007).</p><p>A estigmatização dessa população, seja pela aparência pessoal, pela higiene corporal ou por qualquer outra forma é um agravante tanto para quem precisa do serviço e às vezes por sentir medo, vergonha, incômodo, insegurança, deixa de procurar o estabelecimento, quanto para os profissionais de saúde que por absorver sentimento de repulsa pode não ofertar o atendimento digno ao usuário (DANTAS, 2007). A ausência de documentos que comprovem a identificação dos indivíduos também é um entrave para o acesso a unidades de saúde, uma vez que se faz necessária para continuidade no tratamento e agendamentos de média e alta complexidade fora do domicílio (CARBONE, 2000)</p><p>Varanda e Adorno (2004) relatam em seu artigo algumas dificuldades, resistências da população em situação de rua em procurar algum serviço de saúde, preferindo conviver com os agravos da doença até chegar ao ponto de não mais suportar a situação e ser obrigado a deslocar para as unidades de emergências, outros se submetem ao tratamento somente</p><p>quando o serviço de abordagem ou resgate atua e os convencem a deslocar-se para as instituições assistenciais. Nesse contexto, a prevenção, promoção e recuperação da saúde ficam negligenciadas.</p><p>Outro problema citado por Carneiro Junior et al (1998) envolve a inexistência de locais, albergues e instituições adequadas, com profissionais capacitados, que possam acolher os pacientes que moram na rua e possibilitar a continuidade no tratamento quando solicitado, uma vez que a má administração de medicamentos controlados, contínuos, a necessidade de fazer curativos, higiene corporal, ausência dos recursos terapêuticos compromete todo o processo de cura, contribuindo para reincidência ou permanência do agravo.</p><p>Perante todas as dificuldades apresentadas, a saúde das pessoas em situação de rua está “ainda mais comprometida porque são infringidos os princípios da universalidade do acesso aos serviços de saúde, da equidade no acesso as ações e serviços de saúde e da integralidade da assistência”. (HINO; SANTOS; ROSA, 2018, p. 736). Esse cenário necessita de reestruturação e medidas técnicas que garantam a efetividade dos direitos desse grupo populacional.</p><p>A urbanização foi diretamente responsável pela dinâmica social das grandes cidades com a configuração que hoje predomina. Logo, vários problemas sociais emergiram no bojo deste cenário, como a violência e os relacionados à falta de moradia, saúde, assistência social, emprego, educação, lazer, cultura, entre outros. A referência destes temas como problemas ocorre pois eles representam grandes desafios para o Estado e para a sociedade brasileira.</p><p>A industrialização nacional fez crescer uma onda de migração de pessoas oriundas de várias regiões brasileiras principalmente para o sudeste, onde se encontram as três maiores regiões metropolitanas do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte). Essa população migrante buscava oportunidades de emprego e melhoria nas condições de vida, no entanto muitos ficaram excluídos da dinâmica social urbana, habitando ocupações precárias e, em alguns casos, tendo as ruas como abrigo:</p><p>A não incorporação, pela produção capitalista, da força de trabalho disponível na sociedade gerou uma massa de trabalhadores, um excedente das classes subalternizadas, pessoas que migraram das zonas rurais, pessoas com baix ou nenhuma escolaridade e qualificação profissional. Jogada à margem do desenvolvimento e do acesso a bens e serviços, uma parcela significativa dessa população passou a buscar as ruas das cidades como sua única forma</p><p>de sobrevivência. (Secretaria Nacional de Renda e Cidadania e Secretaria Nacional de Assistência Social Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. 2011, p. 14)</p><p>As causas que levam uma pessoa a viver em situação de rua são muitas e possuem muitas variáveis. O fato é que a situação de rua, muitas vezes, torna-se um caminho sem volta e com o passar do tempo, devido as dificuldades que essas pessoas enfrentam diariamente, há um desgaste psicossocial muito grande, o que dificulta a retomada da direção de suas vidas, tornando-os mero passageiros, sem escolha de qual caminho tomar.</p><p>Os fatores motivadores, como dito anteriormente, variam. Abaixo serão expostos alguns dos principais fatores, o que auxiliará na busca do entendimento daquilo que leva uma pessoa a viver nas ruas. Segundo Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, publicada em 2009, realizada sob coordenação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome, são três causas as mais citadas pelos entrevistados que os motivaram à situação de rua: o uso de álcool e/ou outras drogas (35%), desemprego (29,8%) e conflito familiares (29,1%). Segundo a pesquisa, 70% dos entrevistados citaram ao menos um dos fatores acima, mas que em alguns casos os fatores combinam-se entre si.</p><p>Muitas pessoas que se encontram em situação de rua têm como causa o uso de drogas. Por não conseguirem mais ter controle sobre o vício, muitos rompem com todos seus laços sociais e afetivos para viverem nas ruas com o intuito de sustentar o vício. Trata-se de um problema social da maior gravidade e de difícil enfrentamento, seja pelo Poder Público, família ou órgãos não-governamentais. A condição psicofisiológica na qual essas pessoas se encontram torna a abordagem mais complicada e ainda mais difícil é a possibilidade de tratamento e reabilitação.</p><p>O fato de estarem vivendo nas ruas funciona como um catalisador do problema, pois nas ruas estão sujeitos a todos os tipos de vulnerabilidades, como a saúde, violência e oferta em abundância de álcool barato e drogas, principalmente o crack, que é a droga mais consumida entre esses dependentes.</p><p>A família é a primeira instituição socializadora, é no seio familiar que o indivíduo começa a pratica da vida em sociedade. O aprendizado familiar passa por valores, regras e costumes fundamentais na convivência social, portanto a família é a primeira referência que a pessoa recebe. Devido à sua importância para o desenvolvimento da sociedade o Estado garante uma proteção especial a entidade familiar, conforme preconizado no artigo 226, da Constituição da República de 1988: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. Devido à importância da intuição família, o legislador constituinte disse que a família é a base da sociedade, reconhecendo, portanto, a família como sustentáculo da sociedade almejada pela sociedade brasileira.</p><p>No entanto, os conflitos familiares são problemas que atingem várias famílias, independentemente de classe social. Esses problemas familiares podem causar problemas sociais, uma vez que a família tem um papel fundamental no processo de socialização. A desestruturação familiar afeta principalmente os indivíduos em formação, crianças e adolescentes. O comportamento vivenciado no núcleo familiar, muitas vezes, é repetido em sociedade. Os conflitos familiares podem surgir por motivos diversos, como falta de orientação dos pais ou responsáveis, falta de diálogo, violência doméstica, entre outros. No caso dos adolescentes, por exemplo, pode ocorrer uma prática não desejada como forma de desafiar a autoridade que lhe foi imposta, desencadeando problemas com abuso de álcool e/ou outras drogas ilícitas.</p><p>Uma possível causa de conflito familiar pode ser a situação econômica da família, fatores como dívidas e desemprego podem gerar conflitos familiares e os tais conflitos podem levar o indivíduo ao uso imoderado de álcool e ou outras drogas, tornando-se um ciclo vicioso.</p><p>O cotidiano nos grandes centros urbanos segue com os diversos atores sociais desempenhando seus papéis. O compromisso do dia a dia faz com que as pessoas tenham a sua rotina controlada pelo tempo, portanto, entre as idas e vindas não sobra tempo (ou vontade) de prestar atenção em outros detalhes da realidade. As engrenagens das grandes metrópoles impulsionam as rotinas sociais, são tantos os envolvidos, que muitos se tornam invisíveis aos olhos alheios, talvez por realizarem tarefas simples e, logo, não carregam consigo um status social. Outros excluídos do sistema, vivem às margens da sociedade e, portanto, são tidos como “peças” dispensáveis à mecânica social. Assim, não são vistos e nem lembrados, excluídos das benesses e daquilo que a sociedade produz de bom para si, restando aos invisíveis as migalhas deixadas pela sociedade. Muitos passam por eles diariamente, mas simplesmente os ignoram ou não os vê.</p><p>A tecnologia atual contribui para o aumento dos socialmente invisíveis, as pessoas se voltam para seus celulares, smartphones, notebooks e similares, conectam-se à grande rede mundial de computadores, ligam-se a pessoas do outro lado do mundo, mas se desconectam da realidade e das pessoas ao seu redor, não reparando naquilo que acontece ao vivo e em cores. Quem são os invisíveis socialmente no contexto dos centros urbanos? São faxineiros, garis, porteiros guardadores de carros, ambulantes, catadores de papel, engraxates, pessoas em situação de rua, enfim, pessoas que desempenham papéis sociais simples,</p><p>e também aquela parcela de pessoas em situação de rua.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Pode concluir que estão a compreensão que a pessoa em Situação de rua sofre violências de inúmeras formas, transformando - se em uma população invisível aos olhos de uma parcela da sociedade e muitas vezes com negligências do Estado por não investir com maior empenho em políticas públicas para esta população.</p><p>É compreendido que é uma Políticas de Assistência Social foram e são fundamentais para contribuir e enfrentar as expressões da Questão Social deixadas pelo desemprego, pelas drogas e outros fatores que levam a pessoa a um processo de rualização. A resposta da pergunta relacionada ao trabalho em questão teve como ponto positivo, pois o papel das instituições previstas pelo LOAS traz uma grande possibilidades e importância no trabalho realizado para a população em situação de Rua.</p><p>As reflexões realizadas sobre pessoas em Situação de Rua demonstram uma violação por parte dos Direitos Humanos, porque nesse caso muitas pessoas que estão em situação de rua não estão sendo protegidas, sendo desrespeitadas por falta do mínimo para sua sobrevivência. Percebe-se também a falta de políticas de saúde, habitação, educação, e outras, que deveriam estar articuladas nestes casos.</p><p>Com tudo é possível considerar que a intervenção do Serviço Social nesses espaços ocupacionais precisa se dar pelo contato direto com usuário, trabalhando a matricialidade sociofamiliar, assim como, a inserção no mercado de trabalho e encaminhamentos para instancias que tratam da saúde mental e vícios em substâncias psicoativas, tudo realizado a partir de uma visão não discriminatória que venha visar o recomeço pela garantia de direitos de cidadãos e cidadãs que se encontram em extrema vulnerabilidade social.</p><p>E, embora existam as políticas sociais voltadas para a população em situação de rua, ainda são poucas e incipientes e, estas não são alvo prioritário do Governo, e como consequência disso tem-se políticas focalizadas e seletivas com o objetivo de apenas amenizar determinadas situações, isto é, ter uma atenção paliativa mas sem fazer uma reforma nas bases de todo esse fenômeno.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABREU, D. de; OLIVEIRA, W. F. de. Atenção à saúde da população em situação de rua: um desafio para o Consultório na Rua e para o Sistema Único de Saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 33, 2017. Acesso em 05/10/24.</p><p>ABREU, Deidvid de; SALVADOR, Lizandra; PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA, EXCLUSÃO SOCIAL E RUALIZAÇÃO: reflexões para o serviço social. In: Seminário Nacional de Serviço Social, trabalho e política social. Anais. Florianópolis-SC. [s.n.],2015. Acesso em 05/10/24</p><p>ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018. Acesso em 05/10/24</p><p>BRASIL. Governo Federal. Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua. Brasília, 2008. Acesso em 05/10/24</p><p>BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil. 41ª ed. atualizada e ampliada. Brasília: Edições Câmara 2014. Acesso em 05/10/24</p><p>BRASIL. CIT. Resolução Nº 2, de 27 de Fevereiro de 2013. Define diretrizes e estratégias de orientação para o processo de enfrentamento das iniquidades e desigualdades em saúde com foco na População em Situação de Rua no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 2013. Acesso em 05/10/24</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Saúde da população em situação de rua: um direito humano. Brasília, 2014. Acesso em 05/10/24</p><p>BRASIL. Governo Federal. Tipificação nacional de serviços socioassistenciais. Resolução 109, de 11 de novembro de 2009. Diário Oficial da União. Brasília, 2009b. Acesso em 05/10/24</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua. Brasília, 2012. Acesso em 05/10/24</p><p>CARBONE, M. H. et al. Tísica e rua: os dados da vida e seu jogo. 2000. Tese de Doutorado. Disponível em https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/4820/2/187.pdf. Acesso em 05/10/24</p><p>CARNEIRO JUNIOR, N. et al. Serviços de saúde e população de rua: contribuição para um debate. Saúde e Sociedade, p. 47-62. 1998. Disponível em:https://www.scielosp.org/pdf/sausoc/1998.v7n2/47-62/pt. Acesso em 05/10/24</p><p>DANTAS, M. L. G. et al. Construção de políticas públicas para população em situação de rua no município do Rio de Janeiro: limites, avanços e desafios. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Rio de Janeiro, 2007. Tese de Doutorado. Acesso em 05/10/24</p><p>DUPAS, G. Economia global e exclusão social: pobreza, emprego, estado e o futuro do capitalismo. Paz e Terra, 2001. Acesso em 05/10/24</p><p>GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2002. 175 p. Acesso em 05/10/24</p><p>HINO, P.; SANTOS, J. de O.; ROSA, A. da S. Pessoas que vivenciam situação de rua sob o olhar da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 71, 732-740, 2018. Acesso em 05/10/24</p><p>IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade trabalho e formação profissional. 5 Ed. São Paulo: Cortez, 2001. Acesso em 05/10/24</p><p>IBGE. Desemprego. 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php Acesso em 05/10/24</p><p>KLAUMANN, A. da R. Moradores de Rua-Um enfoque histórico e socioassistencial da população em situação de rua no Brasil: a realidade do Centro Pop de Rio do Sul/SC. 2018. Disponível em http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/02/ Alexandre-da-Rocha-Klaumann.pdf. Acesso em 05/10/24</p><p>MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro I: O Processo de Produção do Capital. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2013. Acesso em 05/10/24</p><p>MATTOS, Ricardo Mendes; FERREIRA, Ricardo Franklin. Quem vocês pensam que (elas) são?: Representação sobre as pessoas em situação de rua. Psicologia Social, v.16, n. 2, p. 47 – 58, ago. 2004. Acesso em 05/10/24</p><p>MINISTÉRIO DA CIDADANIA. Assistência Social – O que é. 2019. Disponível em: <https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/assistencia-social/servicose-programas-1/o-que-e> Acesso em 05/10/24</p><p>MINISTÉRIO DA CIDADANIA. CREAS – Centro de Referência Especializado em Assistência Social; Disponível em: <https://bityli.com/QZFz2> Acesso em 05/10/24.</p><p>NETTO, José Paulo. Cinco notas a propósito da “questão social”. In Temporalis. Ano II, n. 3, janeiro a junho de 2001, ABEPSS, Brasília. Acesso em 05/10/24</p><p>MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. Outubro, São Paulo: Instituto de Estudos Socialistas, n. 4, 2000. Acesso em 05/10/24</p><p>ROSA, A. S.; CAVICCHIOLI, M. G. S.; BRÊTAS, A. P. O processo saúde-doença-cuidado e a população em situação de rua. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 13, n. 4, p. 576-582, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n4/v13n4a17.pdf. Acesso em 05/10/24</p><p>SILVA, Maria Lucia Lopes da. Mudanças recentes no mundo do trabalho e o fenômeno população em situação de rua no Brasil1995-2005. 2006. 220 f. Dissertação (mestrado) -Universidade de Brasília. Acesso em 05/10/24</p><p>SILVA, M. L. L. Trabalho e população em situação de rua no Brasil. São Paulo. Cortez, 2009. Acesso em 05/10/24</p>