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G overnança Corporativa A ntonio Pescum a Junior Código Logístico 59307 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6613-1 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 1 3 1 O objetivo fundamental das organizações transnacionais é o lu- cro e a remuneração dos seus acionistas, com base no desen- volvimento de novas tecnologias, processos e estratégias para ampliação de seus mercados em escala global. A governança cor- porativa colabora para a intensificação desse cenário, regulamen- tando práticas e gestão, a fim de ampliar horizontes para a acu- mulação do capital por essas companhias internacionalizadas. O entendimento da governança corporativa colabora também para o aperfeiçoamento de novas formas de gestão, que podem, inclu- sive, ser aplicadas em diversas empresas não internacionalizadas. A governança corporativa é um importante campo de estudo práti- co para os futuros profissionais que pretendem ter sucesso em suas carreiras em um mundo sem barreiras e limites. Portanto, este livro colabora para o entendimento dessa lógica de operacionalização em um mercado globalizado e amplamente apoiado em transações digitais. Procura-se, neste livro, delinear o novo cenário do capi- talismo, imerso em um processo de intensificação da participação dessas companhias, inclusive por meio de profundas consequências para a economia, como a geração de emprego e renda para todos os países ao redor do mundo. Governança corporativa Antonio Pescuma Junior IESDE BRASIL 2020 © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Vlad_Chorniy/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P563g Pescuma Junior, Antonio Governança corporativa / Antonio Pescuma Junior. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 96 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6613-1 1. Governança corporativa. 2. Programas de compliance. 3. Adminis- tração de empresas. I. Título. 20-63209 CDD: 658.4 CDU: 005.94 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Antonio Pescuma Junior Doutor em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Bacharel em Economia. Professor nos cursos de MBA e consultor. Participante do Grupo de Avaliação de Tecnologias em Saúde – REPATS. Integrante do Comitê de Diálise junto à Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 A Governança corporativa no mundo contemporâneo 9 1.1 Governança corporativa: conceitos e contribuições 9 1.2 O objetivo da governança corporativa 14 1.3 A configuração das empresas no mundo contemporâneo 17 1.4 A transferência da propriedade nas empresas de capital aberto 21 2 A estrutura da governança corporativa 25 2.1 Elementos constitutivos da governança corporativa 26 2.2 Os oito pilares da governança corporativa: uma análise crítica 30 2.3 A importância da OCDE na governança corporativa 34 3 A transparência na governança corporativa 41 3.1 A governança corporativa como instrumento regulador no mercado 42 3.2 Os relatórios financeiros e sua lógica na governança corporativa 47 3.3 O compliance 53 4 Os modelos de governança 60 4.1 Os modelos de governança no mundo 60 4.2 A diversificação nos modelos de governança 65 4.3 Determinantes dos modelos de governança 73 5 A governança corporativa nas organizações 78 5.1 As empresas transnacionais e seu impacto na governança 78 5.2 A governança corporativa no Brasil 85 5.3 As empresas transnacionais na saúde 90 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! A governança corporativa é um tema de extrema importância atualmente, principalmente devido ao cenário de incertezas presentes no mundo moderno, em que as mudanças ocorrem em grande velocidade, nos âmbitos econômico e social. Nesse contexto, temos a presença de grandes grupos de companhias internacionalizadas que possuem total controle sobre a oferta de produtos e serviços para as diversas economias no mundo. Essas empresas, denominadas transnacionais, operam tanto no mercado produtivo como no especulativo, gerando consequências diretas para as pessoas e para todo o ambiente econômico. O objetivo fundamental dessas organizações é o lucro e a remuneração dos seus acionistas, com base no desenvolvimento de novas tecnologias, processos e estratégias para ampliação de seus mercados em escala global. A governança corporativa colabora para a intensificação desse cenário, regulamentando práticas e gestão, a fim de ampliar horizontes para a acumulação do capital por essas companhias internacionalizadas. O entendimento da governança corporativa colabora também para o aperfeiçoamento de novas formas de gestão, que podem, inclusive, ser aplicadas em diversas empresas não internacionalizadas. Logo, a governança corporativa é um importante campo de estudo prático para os futuros profissionais que pretendem ter sucesso em suas carreiras em um mundo sem barreiras e limites. Portanto, este livro colabora para o entendimento dessa lógica de operacionalização em um mercado globalizado e amplamente apoiado em transações digitais. Nesta obra, trazemos a definição de governança corporativa baseada em sua estrutura e em seu impacto no volume dos negócios. Procuramos delinear o novo cenário do capitalismo, imerso em um processo de intensificação da participação dessas companhias, inclusive por meio de profundas consequências para a economia, como a geração de emprego e renda para todos os países ao redor do mundo. No Capítulo 1, abordaremos a evolução da governança corporativa e o entendimento a respeito da dispersão do capital nas empresas. No Capítulo 2, trataremos da estrutura da governança corporativa, de seus pilares fundamentais e do papel da Organização para a Cooperação e APRESENTAÇÃO Desenvolvimento Econômico (OCDE). No Capítulo 3, estudaremos o papel da transparência nos processos de governança, inclusive como um elemento de crucial importância para a credibilidade das companhias e para o retorno dos acionistas. No Capítulo 4, comentaremos a respeito dos modelos de governança e sua aplicabilidade no mundo real. Por fim, no Capítulo 5, iremos discorrer sobre as empresas transnacionais e o seu impacto no desenvolvimento da governança. Tenha uma ótima leitura! A Governança corporativa no mundo contemporâneo 9 1 A Governança corporativa no mundo contemporâneo A governança corporativa é um assunto de grande importân- cia na atualidade, uma vez que fornece elementos para o enten- dimento das grandes corporações presentes no mercado, em um mundo globalizado. Neste capítulo, iremos desenvolver pontos em relação aos es- copos teórico e prático da governança corporativa. Primeiramente, serão apresentados os conceitos da governança corporativa e a sua contribuição para a gestão das empresas. Em seguida, o objeti- vo da governança corporativaserá discutido, principalmente sobre o retorno financeiro aos acionistas e gestores. Além disso, será comentada a configuração das empresas no mundo contemporâneo, com considerações sobre a elevada concentração da oferta de produtos no mercado, que reflete nos preços e na dinâmica da economia. Por fim, será abordada a trans- ferência da propriedade nas empresas de capital aberto, a qual é um movimento de legitimação dos acionistas no processo decisó- rio das grande companhias transnacionais. 1.1 Governança corporativa: conceitos e contribuições Vídeo Estruturar um negócio e viabilizar sua implementação não é um ca- minho completamente tranquilo, especialmente a respeito das incerte- zas sobre a demanda dos consumidores e a aceitabilidade do produto no mercado. Para tentar suprir essa fragilidade, sobretudo em relação ao acesso aos produtos com preços mais atrativos, muitos empreendimentos con- 10 Governança corporativa vencionais optaram pela implementação de estratégias de e-commerce, que ampliam as margens de vendas e a lucratividade. De fato, é uma tendência natural que os empreendimentos migrem para os negócios virtuais, mantendo a estrutura física e o ambiente digital. Isso porque, na internet, os custos de comercialização se tornam mais atrativos; logo, a aceitabilidade, por parte dos consumidores, é ampliada e, por conse- quência, o retorno financeiro para os empreendedores é maior. Comparado ao período em que não havia internet e que os bens e serviços eram adquiridos somente em estruturas no mercado real, no mundo contemporâneo os consumidores adotam um comportamento muito diferente no que diz respeito aos seus desejos de consumo. Isso ocorre devido a um novo padrão, o qual assume uma forma interativa, virtual e imediata, proporcionando, de maneira geral, uma maior pra- ticidade para todos os agentes econômicos. Para as empresas, é opor- tunizada maior agilidade acerca do marketing aplicado, dos custos, dos aspectos logísticos, dentre outros benefícios. Para os consumidores, isso propicia maior liberdade de escolha, em função de uma maior oferta de empresas, de preços e de uma acentuada concorrência, favo- recendo uma ampla gama de oportunidades de negócios. No Brasil, houve um crescimento de e-commerces de 37,59%, em 2019 (PESQUISA..., 2019). Inclusive, esse movimento não é isolado, visto que tanto pequenas e médias empresas quanto grandes corporações apresentam esse novo movimento, em todas as economias no mundo, com diversos arranjos e formatos (ESPECIAL..., 2018). Para se ter uma ideia dessa evolução, vemos, na Ta- bela 1, o total de dinheiro, em dólares, que diferen- tes países em todo o globo movimentaram em 2016. Essa “metamorfose” entre o cenário real e o virtual é um fenômeno irreversível, que tem forte impacto sobre a operacionalidade dos negócios. Para tanto, é exigido um tipo de planejamento para as empresas que possa suprir, com efetividade e aprimoramento constante, esse novo formato e essa nova tendência. Nessa perspectiva, os conceitos administrativos tra- dicionais não conseguem atender essa nova neces- sidade, principalmente por terem, na sua evolução, um modelo de empresa física, pautada em nego- ciações no mundo real, sem toda a interatividade e-commerce: operações comerciais na internet. Glossário Tabela 1 Os dez maiores mercados de e-commerce no mundo China 562.66 Estados Unidos 349.06 Reino Unido 93.89 Japão 79.33 Alemanha 74.46 França 42.62 Coreia Do Sul 36.76 Canadá 28.77 Rússia 20.30 Brasil 18.80 Fonte: Adaptada de Especial..., 2018. A Governança corporativa no mundo contemporâneo 11 que a internet proporciona. Até mesmo a ciência econômica teve que compreender aspectos que antes não eram investigados, tais como o crescimento do dinheiro virtual, a concentração da propriedade e dos negócios na mão de poucos acionistas, as questões sobre o risco, as incertezas e a atual volatilidade que o mercado apresenta. Com base nesse novo formato que as empresas assumem, uma nova concepção de planejamento foi elaborada, envolvendo uma eleva- da concentração dos negócios no mundo virtual e enorme quantidade de dinheiro em circulação no mundo globalizado. Essa nova forma de compreender a realidade das organizações é denominada governança corporativa, que, com seus preceitos, formas de planejamento, regras e toda gama de avaliações, possui o objetivo de maximizar os lucros para os acionistas das grandes corporações. Assim, é uma expressão da ne- cessidade das empresas, das pessoas e do próprio governo. A compreensão do modus operandi das companhias é primor- dial para o crescimento do mundo virtual. Sendo assim, conside- rando o entendimento do funcionamento de uma empresa e da nova realidade que o mundo moderno proporciona, vejamos algu- mas observações a respeito do conceito de governança corporativa e sua evolução ao longo do tempo. A governança corporativa se desenvolve para aprimorar a gestão das empresas emergentes, apresentando um novo modelo de plane- jamento e demonstrando maior flexibilidade perante os movimentos produtivos nos ambientes real e virtual. Com seus fundamentos, ela procura colaborar na otimização dos retornos dos gestores, dos cola- boradores e dos consumidores. Além disso, prioriza o desenvolvimento de condutas que possam minimizar as incertezas de um mercado re- pleto de empreendimentos digitais e, ainda, desenvolve novas formas de financiamento para empresas emergentes. Tornar viável um empreendimento, principalmente em relação aos retornos financeiros auferidos ao longo do tempo, é o principal pres- suposto da governança corporativa. Assim, o foco é proporcionar às empresas maior rentabilidade por meio do delineamento de sinergias positivas entre as pessoas envolvidas na organização e, ao mesmo tem- po, otimizar a capacidade de planejamento financeiro da companhia, tendo como opção, mediante agências de financiamento 2 , um maior aporte de recursos. Qual é a função da governança corporativa? Atividade 1 Modus operandi refere-se ao modo de agir, de operar, seguin- do certos códigos e normas de conduta. Glossário Dentre as agências de financia- mento está o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 2 12 Governança corporativa A governança corporativa é representada por um conjunto de pro- cessos relacionados à gestão de pessoas, às tecnologias e aos recursos que colaboram para a otimização dos resultados nos empreendimen- tos e nos negócios. Ela é efetivada por meio de avaliações periódicas e do delineamento de estratégias, as quais possibilitam ampliar o relacio- namento com: os investidores, o corpo diretivo da empresa, o conselho administrativo, as instituições que regulam e verificam se a companhia atua de acordo com as normas e com outras entidades envolvidas (AN- DRADE; ROSSETTI, 2009). Os empreendimentos de menor poder econômico também são be- neficiados com essa governança. Uma vez que seus princípios podem ser aplicados a esses empreendimentos devido ao novo cenário, que conta com inúmeras empresas no mercado virtual. A governança cor- porativa pode ser entendida como um novo modelo de gestão, que se desenvolve de acordo com as diferentes características de cada mer- cado, priorizando aspectos na produção e aperfeiçoando mecanismos que tornem a rentabilidade palpável pelas companhias. Para que a governança corporativa seja aplicada com um resultado satisfatório, é necessário que as empresas disponibilizem sua proprie- dade aos acionistas. O crescimento dos negócios virtuais favorece esse movimento. Dessa forma, as empresas, tanto reais quanto virtuais, po- dem abrir seu capital, ou seja, compartilhar o seu “valor” no mercado, por meio da comercialização de papéis na bolsa de valores. Por isso, são classificadas como companhias de capital aberto. A aplicação dessa governança nas grandes companhias de capital aberto representa um novo “formato” de planejamento para as empre- sas, principalmente para aquelasque pretendem entrar no mercado de capitais. Portanto, o processo de evolução da governança corporativa tem relação direta com uma maior concentração de empresas no cenário virtual. No entanto, apesar desse elevado número de empresas, há um menor valor de grandes corporações no controle das operações rela- cionadas à oferta, à distribuição e à produção de produtos e serviços no mundo. O controle financeiro das operações é realizado pelo sis- tema financeiro, representado pelos grandes bancos e empresas do segmento que sejam pertencentes ao mercado de capitais. Nessa nova fase do capitalismo contemporâneo, a circulação do di- nheiro é realizada com maior velocidade e maior rentabilidade para as O mercado de capitais é um ambiente onde há a negociação de ações das empresas no mercado acionário. Para mais informações sobre o mercado de capitais, visite o site: https://www.tororadar.com.br/ blog/mercado-de-capitais-o- -que-e-e-como-ele-funciona Acesso em: 02 mar. 2020. Saiba mais A Governança corporativa no mundo contemporâneo 13 operações de compra e venda de produtos e serviços. Para os bancos e para as corretoras de valores 3 é mais prático e viável a criação de um ambiente virtual, proporcionado pela prática do e-commerce. Isso ocor- re graças à agilidade na captação financeira dos retornos realizados pelas empresas para ofertar uma maior quantidade de empréstimos e para dinamizar o mercado na internet. Desse modo, os bancos dominam as finanças globais por meio do oli- gopólio bancário. Um oligopólio é representado pela existência de poucas empresas que controlam o mercado, os preços e a quantidade de produ- tos. Para ilustrar esse fenômeno, vamos analisar o ranking dos maiores bancos no mundo. Observe a Tabela 2, que apresenta os dez maiores bancos e seus respectivos valores, expressos em bilhões de dólares: Tabela 2 Capital dos 10 maiores bancos no mundo (em bilhões de dólares) ICBC (China) 338 Banco de Construção da China 287 Banco de Agricultura da China 243 Bank da China 230 JP Morgan Chase, E.U.A 209 Banco da América, E.U.A 189 Wells Fargo, E.U.A 168 Citigroup, E.U.A 158 HSBC Holdings, Reino Unido 147 Mitsubishi, UFJ, Japão 146 Fonte: Adaptada de Lucro..., 2019. A presença do oligopólio bancário é um fenômeno que colabora para esse domínio financeiro, até mesmo no que diz respeito ao comporta- mento das empresas no mercado, tanto as reais quanto as virtuais. Ba- sicamente, o oligopólio bancário é uma configuração de mercado com poucas empresas, as quais controlam a produção e a distribuição de produtos e serviços, tendo maior poderio sobre os preços praticados. A principal consequência desse arranjo é o aumento dos preços dos produtos oferecidos ao mercado e a utilização de tecnologias exclusi- As corretoras intermedeiam títulos no mercado de ações, com a compra e venda desses produtos. 3 No livro A Hidra Mundial: o Oligopólio Bancário, François Morin, professor emérito da Universidade de Toulouse e conselheiro do Banco Central Francês, comenta sobre o poder dos bancos e as decisões governamentais. De acordo com o autor, os bancos possuem o poder decisório nas políticas implementadas pelos governos no mundo, principalmente em relação às estratégias adotadas pelos estados, como aquelas relacionadas aos gastos gover- namentais. O objetivo primordial do sistema bancário é otimizar os lucros nos endividamentos das famílias e priorizar retornos financeiros mínimos para aque- les que aplicam seu dinheiro. Saiba mais 14 Governança corporativa vas, produzidas pelas empresas nos países de origem. O mercado oli- gopolístico prioriza a utilização de uma baixa quantidade de mão de obra e uma maior utilização de artefatos tecnológicos. Podemos afir- mar, portanto, que é uma estrutura que não possui uma característica concorrencial, pois não existem muitas empresas ofertantes. Para que a governança corporativa possa se desenvolver e aprimorar os seus conceitos, é preciso que o mercado esteja pautado nessa nova configuração, constituída de oligopólios e de um número elevado de empresas no mundo virtual, com amplas possibilidades de captação de acionistas no mercado financeiro. Para ser implementada, a governança corporativa necessita desse ambiente, onde há diversas negociações em andamento e um acentuado volume financeiro para a sua valorização. Quando a governança corporativa é devidamente aplicada, os oligopó- lios legitimam esse cenário e, com a ampliação dos investimentos no contexto produtivo e especulativo, fortalecem as instituições financeiras. 1.2 O objetivo da governança corporativa Vídeo A governança corporativa colabora para um planejamento mais efetivo de uma companhia, visto que proporciona maior transparência nas transações e, acima de tudo, aumenta a credibilidade da empresa perante o mercado. Vamos entender como isso funciona? Primeiramente, é necessário compreender que uma companhia, de capital aberto ou não, sempre teve um relacionamento comercial com o Governo no decorrer da história, tanto em relação ao pagamento de tribu- tos fiscais quanto em relação às regras de operacionalização no mercado. Na atual fase do capitalismo contemporâneo, o Governo assume um papel de regulador do mercado, mas sem participar intensamen- te no controle das operações comerciais entre as empresas no âmbi- to real e virtual. Devido à enorme pulverização 4 das companhias, ao poderio bancário e à maior liberdade das companhias estrangeiras na aquisição de serviços públicos e, sobretudo, no comprometimento fi- nanceiro para o pagamento dos juros da dívida pública, o Estado perde sua legitimidade, ocasionando uma nova configuração para a realidade dos negócios por meio do livre mercado. A liberalização das transações comerciais é uma tendência para a economia brasileira. Além disso, parte dos recursos financeiros do Estado é destinado ao pagamento de juros da dívida pública, com o O termo pulverização refere-se à quantidade de empresas com propriedade ou capital diluídos em ações representativas no mercado de capitais. 4 A Governança corporativa no mundo contemporâneo 15 menor comprometimento para a realização de políticas públicas. Com o pagamento desses juros, o Governo compromete o orçamento da seguridade social 5 , porque o destina à remuneração de investidores, que compraram seus títulos do tesouro, mediante um mecanismo de- nominado Desvinculação de Receitas da União (DRU). O pagamento dos juros da dívida pública é feito a partir do desconto de 20% das verbas que devem ser destinadas à seguridade social. Essa apropriação foi, inicialmente, conduzida em 1995, no momento do sur- gimento do Fundo Social de Emergência (FSE), que posteriormente foi substituído pelo Fundo de Estabilização Fiscal (FEF). No ano de 2000, o FEF foi intitulado de Desvinculação de Receitas da União (DRU). Os dados da ANFIP (2012) mostram que os valores destinados ao pagamento de juros aumentaram de R$32.496 milhões, em 2005, para R$45.860 milhões, em 2010, em valores correntes. Se esses recursos fossem aplicados na seguridade social, certamente as políticas públicas teriam maior efetividade (PESCUMA JR, 2013). Os montantes financeiros do fundo público devem proporcionar aumentos na renda e no emprego da sociedade, com efeitos multiplicadores. Dessa forma, haverá a concretização dos benefícios para a saúde, educação e assistência social destinados à população como um todo (PESCUMA JR, 2013). Diante desse cenário, o Estado perde sua legitimidade. O fortaleci- mento do mercado é preponderante nesse novo contexto, com a go- vernança corporativa demonstrando sua capacidade de predomínio perante todas as situações que se relacionam com as transações co- merciais e financeiras no mundo globalizado. À vista disso, o livre mercado é uma condição para o fortalecimen- to da governança. Com maior liberdade para realizar as operações, o mercado – representado pelas empresas de capital aberto e por aque-las que iniciam suas atividades no mercado virtual – intensifica o seu poderio, uma vez que dispõe de um ambiente favorável para as ações especulativas no mercado de ações. A elevada dispersão das empresas na internet proporciona uma di- ficuldade imensa para as instituições governamentais por causa dos aspectos regulatórios. É praticamente impossível controlar as opera- ções em um mundo globalizado e sem fronteiras. Dessa maneira, os A seguridade social é responsá- vel pelo orçamento destinado para a educação, saúde e assis- tência social no Brasil. 5 16 Governança corporativa instrumentos de regulação do Estado, como a política fiscal e a mone- tária, perdem sua efetividade. A política fiscal, representada pelos gastos governamentais e pela distribuição dos impostos, perdeu o seu predomínio no mundo con- temporâneo. Os estados modernos desempenham um “comporta- mento restritivo” em face desse novo horizonte no futuro. A política monetária, representada pelo aumento ou diminuição das taxas de ju- ros, perdeu sua efetividade. Os bancos são quem determinam o valor dessas taxas, com cobranças para os seus serviços e endividamento de famílias e pequenos empreendedores. A pauta principal em todos os governos está centralizada na refor- ma da previdência, diminuição da participação do Estado na economia, cortes de verbas, dentre outras medidas de caráter restritivo. Para complementar, é interessante observar o debate de um case bastante representativo sobre a França, pois, em tempos recentes, seus repre- sentantes pretendiam realizar uma reforma do sistema previdenciário, com diminuição do direito das pessoas à aposentadoria. Essa discus- são causou uma repercussão negativa na população e uma forte rea- ção dos sindicatos franceses. É primordial que as reformas sejam realizadas, desde que haja ade- quação dos recursos públicos para as áreas sociais. Dessa forma, o Es- tado seria mais flexível com suas políticas. Assim, considerando a perda da legitimidade dos estados nacionais em conduzir as diretrizes relacionadas à regulação do mercado, a go- vernança corporativa assume papel fundamental para organizar as ins- tituições, inclusive com repercussões na bolsa de valores. A governança também colabora para a proteção dos investidores, minimizando impac- tos negativos que possam surgir dos interesses financeiros dos gestores da empresa. Sendo assim, a governança corporativa evolui nesse proces- so marcado pela maior participação do mercado na economia em detri- mento do Estado, com a diminuição das políticas sociais. Para elucidar sua função, vejamos os principais objetivos da gover- nança corporativa: • Tornar as informações sobre as empresas e o mercado transpa- rentes para todos os colaboradores e acionistas. No vídeo Manifestantes voltam às ruas contra reforma da Previdência na França, publicado pelo canal Afpbr, você poderá encontrar mais detalhes sobre o movimento sindical na França. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=_ j84D64hOG4. Acesso em: 12 fev. 2020. Vídeo A Governança corporativa no mundo contemporâneo 17 • Efetivar os processos produtivos reais e virtuais, isto é, propor- cionar o maior lucro por unidade de serviço ou menor custo por produto. • Desenvolver políticas para expansão da empresa, via conselhos diretivos, proporcionando um ambiente próspero para o aprimo- ramento de novos negócios. • Prezar pela ética em todas as negociações, principalmente no tra- tamento dado aos fornecedores e clientes. • Garantir que as empresas mantenham uma postura, diante do mercado competitivo, com o menor número de externalidades negativas. Por exemplo, menores impactos ao meio ambiente; em outras palavras, as companhias devem ser sustentáveis, isto é, devem adotar medidas que não afetem o meio ambiente. Tendo esses objetivos em sua configuração, a governança corpo- rativa deve ainda priorizar os aspectos de maior rentabilidade e lucro. 1.3 A configuração das empresas no mundo contemporâneoVídeo Para tornar o mercado virtual mais rápido, o dinheiro precisa circu- lar com maior velocidade. Desse modo, a criação do mercado virtual, com o e-commerce, configura-se como uma nova estratégia para o seg- mento bancário, com maiores possibilidades de expansão. Sabendo que a governança prioriza o planejamento das empresas nesse novo ambiente, marcado pelo mundo virtual e pela comercia- lização de ações no mercado de capitais, é indispensável compreen- der como o mercado mundial está configurado. O Quadro 1 mostra as empresas, sua configuração no mercado e o grau de concentração expresso pelo poderio financeiro, pela participação no mercado e pelo controle sobre as operações financeiras globais. 18 Governança corporativa Empresas Grau de concentração Configuração no mercado Instituições bancárias Alto Oligopólio Grandes corporações (empresas transnacionais 6 ) Alto Oligopólio Empresas virtuais Baixo Concorrência 7 Empresas reais e virtuais de grande porte Alto Oligopólio Empresas reais e virtuais de pequeno porte Baixo Concorrência Pequenos empreendedores, pessoas jurídicas (MEI) Baixo Concorrência Quadro 1 Configuração das empresas no mundo Fonte: Elaborado pelo autor. Conforme mencionado, as instituições bancárias possuem elevada concentração nas suas atividades, com a oferta de produtos e serviços para as grandes corporações (transnacionais) e para todas as empre- sas (de pequeno ou grande porte), sendo elas virtuais ou não. A lingua- gem bancária se intensifica, se transforma e se fortalece com o apoio da governança corporativa, que conta com seus preceitos de controle, transparência e ética nas operações reais e virtuais. Cabe salientar que o movimento de transformação das empresas reais em virtuais favorece um ambiente propício para o surgimento de empresas que pretendem abrir seu capital ao mercado financeiro. Além disso, as grandes corporações abastecem o mercado com seus produtos e com o controle sobre os preços, estabelecendo um ambien- te de maior segurança para os investidores, uma vez que os lucros as- sumem proporções de elevado vulto. Há uma preocupação constante a respeito dos efeitos que podem ser ocasionados por um planejamento empresarial de pouca efetivi- dade. Esses efeitos, muitas vezes indesejáveis, podem ser minimzados pela governança corporativa com a aplicação de normas e condutas que priorizem a ética na gestão das companhias. A Nestlé, uma grande corporação internacional, possui um faturamen- to de 90 bilhões de dólares, sendo bastante representativa no segmento São empresas internacionais com várias operações no mundo e elevada participação no mercado de ações. 6 Concorrência é quando há grande número de empresas, diversificação das atividades e tendência para diminuição dos preços. 7 vulto: proporções de maior valor. Glossário A Governança corporativa no mundo contemporâneo 19 da alimentação. Por outro lado, devido a escassez de água, muitos ma- nifestantes realizaram protestos no dia do Fórum Mundial da Água, ale- gando que a empresa se apropriou do Aquífero Guarani – maior reserva subterrânea de água no mundo, presente no Brasil, na Argentina, no Pa- raguai e no Uruguai. Apesar de a notícia não ter sido verdadeira, essa fake news poderia ter atrapalhado o planejamento da companhia e a sua ren- tabilidade. Caso a Nestlé não tivesse uma governança corporativa bem im- plementada, certamente teria sido afetada por esse acontecimento, com perdas financeiras e diminuição de sua credibilidade no mercado. Visto que a governança corporativa prioriza o alinhamento das ações e práticas da companhia, a fim de torná-la sólida quando há os riscos, as falsas notícias não ocasionaram a diminuição da credibili- dade da Nestlé. Desse modo, a empresa manteve sua viabilidade na comercialização de seus produtos e na valorização de suas ações no mercado acionário. Além disso, a companhia investe em produtos sau- dáveis, com o objetivo de otimizar as necessidadesdos seus clientes – nos Estados Unidos da América (EUA) esse segmento da companhia movimenta 50 bilhões de dólares anualmente (CAETANO, 2018). Vale ressaltar que a governança corporativa, no seu processo evolu- tivo, apresenta uma maior intensidade em relação a seus fundamentos nas empresas de grande porte, particularmente bancos e grandes cor- porações (transnacionais). Por outro lado, as empresas virtuais passam por um processo de pulverização de sua propriedade no mercado de capitais, com a venda do seu capital pela emissão de ações no mercado acionário. Para que a governança corporativa possa ampliar seu campo de atuação, além de atuar nas companhias de grande porte e interna- cionalizadas, o processo de transformação das empresas reais em vir- tuais precisa ser concretizado com sucesso, com o objetivo de ampliar as possibilidades de expansão para o mercado de ações. Esse processo já vem ocorrendo com intensidade com o surgimento das small caps – empresas menores e virtuais, que abriram seu capi- tal ao mercado acionário. Essa inovação financeira faz parte de toda a estratégia bancária de comercialização de produtos e serviços, e as empresas acabam se consolidando como um novo produto, represen- tado pelas suas ações comercializadas no mercado do meio virtual e de capitais. As inovações fazem parte de todo o processo de valoriza- ção do capital bancário em sua expansão ao longo do tempo e, assim, a governança colabora para intensificar esse processo, se adaptando, evoluindo e se fortificando como um instrumento de gestão. Para mais informações sobre as small caps, visite o site disponível em: https://exame.abril.com. br/mercados/entenda-o-que- -sao-small-caps/. Acesso em: 02 mar. 2020. Saiba mais 20 Governança corporativa Sobre a circulação do capital ou do dinheiro e os incentivos para acelerar tal processo, principalmente por intermédio das “inovações”, Harvey (2010, p. 42, grifo nosso) afirma que: a continuidade do fluxo na circulação do capital é muito impor- tante. O processo não pode ser interrompido sem incorrer em perdas. Há também fortes incentivos para acelerar a velocidade da circulação. Aqueles que podem se mover mais rapidamente pelas diversas fases da circulação do capital acumulam lucros superiores aos de seus concorrentes. A aceleração quase sem- pre leva a maiores lucros. As inovações que ajudam a acelerar as coisas são muito procuradas. A existência de muitas empresas virtuais é um reflexo do poderio do segmento bancário, com todas as suas formas e alternativas de opera- ção. Nesse novo contexto, a governança corporativa colabora para a in- tensificação dos retornos financeiros dos acionistas, pertencentes aos grandes grupos financeiros, tendo como objetivo central aumentar a rentabilidade de suas carteiras. As pequenas empresas, agora represen- tadas pelas small caps, iniciam seu processo de governança priorizando seguir o modelo de gestão adotado pelos grandes grupos internacionais. Vamos entender um pouco mais a respeito desse novo cenário? Por causa da existência de muitas empresas no mercado, tanto real como virtual, aquelas de menor porte decidem abrir seu capital ao mercado de ações, sendo comercializadas e denominadas small caps, que são ações de companhias com um valor de mercado menor em relação às empresas de maior porte. Apesar dessas ações serem de terceira linha, a governança corporativa colabora para garantir uma maior credibili- dade das ações no mercado acionário. Além disso, as small caps são extremamente dependentes dos grandes grupos internacionalizados e dos bancos para suas operações, logo a governança corporativa cola- bora para a intensificação desse movimento, pautado na pulverização ou dispersão de papéis no mercado de capitais. De modo geral, as small caps possuem baixa liquidez na bolsa de valores, com fortes oscilações nos seus preços e elevado poder de va- lorização ou desvalorização, isto é, são extremamente voláteis. Essa volatilidade demonstra um elevado grau de incerteza, que pode ser minimizado com os preceitos de governança corporativa, visto que ela garante maior credibilidade nas operações de comercialização dessas ações. Para o segmento bancário, as small caps se tornaram produtos No momento atual, a gover- nança corporativa praticada pelas companhias é um critério de medida de qualidade. Para mais informações, visite o site: https://www.sunoresearch.com. br/artigos/governanca-corpora- tiva/. Acesso em: 02 mar. 2020. Saiba mais A Governança corporativa no mundo contemporâneo 21 comercializáveis, sendo mais um item em suas “prateleiras”. Assim, as empresas, virtuais, de pequeno ou grande porte, se tornaram uma extensão do segmento bancário. É claro que a emissão de ações, re- presentadas pelas small caps, possibilita angariar uma nova fonte de recursos financeiros por meio da compra dessas ações pelos investi- dores. Assim, as empresas se capitalizam, aumentam o dinheiro dispo- nível para as suas transações comerciais e para novos investimentos, tanto no ambiente real como no virtual. Como as empresas, nessa fase do capitalismo contemporâneo, procuram minimizar as incerte- zas do mercado? Atividade 2 1.4 A transferência da propriedade nas empresas de capital aberto Vídeo Tendo o conhecimento do funcionamento de uma empresa e do seu ciclo produtivo, é possível compreender como o dinheiro é adquiri- do em suas operações. Uma organização empresarial possui algumas estratégias para obtenção de capital ou dinheiro. Vamos entender a respeito de cada uma delas. As operações realizadas por uma empresa são feitas, na maioria das vezes, com um volume de passivo contraído, com o aumento do seu volume ou, ainda, com a diminuição dele, dependendo do movimento do capital da empresa ao longo do tempo. O grau de endividamento não pode ultrapassar a receita da companhia, pois, dessa forma, o lu- cro seria comprometido. Sendo assim, geralmente, os bancos operam com a oferta de empréstimos para sanar as dívidas contraídas pelas empresas. É uma prática comum cobrarem juros abusivos, que resul- tam no aumento do endividamento das empresas, proporcionando um desequilíbrio estrutural expresso pela crise financeira da companhia. Por outro lado, quando a empresa pretende ampliar as suas ins- talações ou diversificar as atividades, os financiamentos representam uma estratégia interessante, com projetos de expansão produtivos. É importante, sob a perspectiva do gestor da companhia, que os juros cobrados pela obtenção do financiamento sejam inferiores àqueles praticados no mercado, principalmente se forem subsidiados, abrindo a possibilidade de, ao longo do tempo, serem sanados pelas receitas da empresa. A taxa de juros pode ser definida como a remuneração que deve ser paga ou recebida por alguma instituição que obteve uma quantia de dinheiro ou que aplicou uma certa quantidade no mercado 22 Governança corporativa de capitais. Dito de outra forma, os juros podem ter um impacto posi- tivo ou negativo para uma companhia, dependendo da estratégia ado- tada para a captação do dinheiro. Se os empréstimos puderem sanar as dívidas, com ampliação das atividades da empresa, consequente- mente, a dívida será diminuída. Caso os financiamentos proporcionem a expansão de novos projetos, com aumento da rentabilidade, as re- ceitas resultantes das operações poderão amortizar o financiamento contraído e proporcionar lucros. Para minimizar essa incerteza sobre a capacidade de ampliação fi- nanceira das empresas, muitas recorrem a algumas alternativas ofere- cidas pelo mercado financeiro. Já que uma empresa sempre terá como objetivo obter lucro nas suas operações, com o mínimo de custos as- sociados a produção de bens e serviços. Assim, a busca de alternativas no mercado de ações é uma opção atrativa, principalmente pelo cresci- mento das empresas virtuais. Quando uma empresa disponibiliza seu capital para outros inves- tidores, por meio da venda das suas ações ao mercado,o aumento do dinheiro disponível é uma consequência direta dessa estratégia. No entanto, para que os investidores possam ter segurança nas ope- rações de compra das ações da empresa, as atividades da companhia têm de ser feitas com total transparência, sem desvios e com ética. Ou seja, é imprescindível que a empresa tenha essa condição em seu ambiente produtivo. A governança corporativa colabora para a con- cretização desse objetivo. A implementação de um planejamento de acordo com a governança corporativa possibilita que uma empresa possua: • Relatórios contábeis bem estruturados, com os valores gastos, as entradas de dinheiro e todo o fluxo das operações perfeitamente detalhados por equipes de auditoria. • Informações transparentes para gestores da companhia e difun- didas aos colaboradores da empresa. • Projetos de expansão bem delineados, com perspectivas para o aumento de empregos e de salários. • Políticas de qualidade, em especial aquelas relacionadas aos pro- dutos e serviços oferecidos ao mercado. Com base no delineamento desses resultados e com relatórios bem construídos e difundidos a todos os agentes que participam da compa- auditoria: processo de averiguação dos dados contábeis da empresa. Glossário A Governança corporativa no mundo contemporâneo 23 nhia, na produção de distribuição dos produtos e serviços, é possível que a companhia possa transferir sua propriedade ou abrir seu capital ao mercado de ações. O instrumento para a efetivação desse objetivo chama-se oferta pública inicial de ações, do inglês Initial Public Offering (IPO), representando um momento significativo para a empresa, com a abertura do seu capital ao mercado. Com o IPO, é possível obter recursos financeiros, uma vez que o processo de alavancagem financeira é con- cretizado. Por outro lado, as operações no mercado financeiro possuem um risco considerável, podendo ocorrer os seguintes efeitos indesejados: • Os investidores preferem não comprar as ações oferecidas pela empresa no IPO. • O custo para a abertura do capital da empresa é superior à entra- da de dinheiro por meio do IPO. • A empresa não consegue remunerar os investidores, devido à fal- ta de capacidade financeira. Portanto, é fundamental que a transparência das operações da empre- sa no mercado seja pautada no fornecimento de relatórios, com descri- ção da movimentação financeira da empresa ao longo do tempo. Assim, o objetivo de minimizar efeitos indesejados pode ser efetivado. A gover- nança corporativa pode colaborar nesse processo, fornecendo subsídios teóricos e práticos e proporcionando um ambiente próspero e eficaz tanto para a companhia como para os colaboradores, clientes e investidores. alavancagem financeira: processo de captação de dinheiro e de sua circulação para a produção de bens e serviços pela empresa. Glossário No vídeo O que é IPO? Tudo sobre IPO, publicado pelo canal Universidade Financeira, você poderá encontrar mais detalhes sobre essa forma de captação de dinheiro. A estratégia fundamen- tal consiste em disponibilizar o capital da empresa para os investidores. Desse modo, a empresa pode se capitalizar, isto é, obter recursos financeiros para suas transações produtivas e especulativas. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=W- T10iWosbSI. Acesso em: 12 fev. 2020. Vídeo Como podemos definir um IPO? Atividade 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A governança corporativa é um instrumento utilizado por grandes grupos financeiros e produtivos, representados por grupos internacionalizados. No en- tanto, por conta do crescimento das empresas virtuais, a governança corpora- tiva assume um novo formato, passando a dar apoio às empresas emergentes. Além disso, a governança contribui para a ampliação das atividades das com- panhias, com desenvolvimento de estratégias que possam minimizar impactos negativos para as empresas que atuam em qualquer tipo de mercado. É de ex- trema importância a compreensão da relação da governança corporativa com os investidores das companhias, principalmente a respeito do volume destina- do para novos investimentos, os quais são proporcionados pela abertura das empresas, no mercado acionário, por meio do IPO. 24 Governança corporativa REFERÊNCIAS ANDRADE, A.; ROSSETTI, J. P. Governança Corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ANFIP. Análise da seguridade social em 2011. Brasília: Associação Nacional dos Fiscais da Previdência, 2012. Disponível em: http://fundacaoanfip.org.br/site/wp-content/ uploads/2012/06/Analise-Seguridade-2011l.pdf. Acesso em: 26 fev. 2020. CAETANO, Rodrigo. A Nestlé muda o cardápio. Istoé Dinheiro, 6 abr. 2018. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/a-nestle-muda-o-cardapio/. Acesso em: 15 fev. 2020. ESPECIAL varejo: o crescimento do e-Commerce no mundo. Transformação Digital, 12 mar. 2018. Disponível em: https://transformacaodigital. com/?s=CRESCIMENTO+ECOMMERCE&t=post. Acesso em: 11 fev. 2020. HARVEY, D. O enigma do capital e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010. LUCRO dos maiores bancos do mundo cresceu 10 vezes na última década. Época Negócios, 19 set. 2019. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Mercado/noticia/2019/09/ lucro-dos-maiores-bancos-do-mundo-cresceu-10-vezes-na-ultima-decada.html. Acesso em: 26 fev. 2020. PESCUMA JR., A. O financiamento da média e alta complexidade do SUS: uma análise dos recursos financeiros da terapia renal substitutiva. São Paulo, 2013. 107f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. PESQUISA mostra que e-commerce cresceu quase 40% no Brasil em um ano. Terra, 15 jul. 2019. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/dino/pesquisa-mostra-que-e- commerce-cresceu-quase-40-no-brasil-em-um-ano,86620018836048185f689ea3bb91d2c 7d7q6snyz.html. Acesso em: 11 fev. 2020. GABARITO 1. A governança corporativa é permeada por um aglomerado de processos que se rela- ciona com a gestão de pessoas, as tecnologias e os recursos financeiros aplicados na instituição. Além disso, prioriza a ampliação dos retornos para os investidores, o corpo diretivo e o conselho administrativo, inclusive com o aumento da credibilidade da or- ganização empresarial perante o mercado. Por fim, desenvolve e aplica normas para o aumento da rentabilidade da empresa ao longo do tempo. Os principais instrumentos para esse objetivo são: os relatórios contábeis e financeiros, as normas de conduta e os padrões éticos para o funcionamento da empresa. 2. Por meio de estratégias de e-commerce no meio virtual, as quais possibilitam ampliar os negócios e aumentar os lucros. A internet proporciona uma redução dos custos operacionais, uma vez que amplia a rentabilidade na venda dos produtos e serviços comercializados. Além disso, propicia a abertura do capital das empresas no mercado acionário ou na bolsa de valores. 3. Um IPO é definido como uma estratégia que a empresa adota para captar recursos fi- nanceiros no mercado de ações. É representado pela venda do capital da empresa ao mercado acionário, por meio de ações que serão comercializadas pelos investidores. Com a venda das ações, a empresa consegue obter dinheiro para as suas atividades no mercado. A estrutura da governança corporativa 25 2 A estrutura da governança corporativa Para que a governança corporativa possa ser implementada com efetividade, é primordial a presença de atores que legitimem um ambiente organizacional conforme os princípios difundidos na organização para o mercado. Operacionalmente, a governança necessita de pessoas que estejam engajadas com o objetivo de tornar as informações financeiras transparentes e que agreguem valor à companhia. Nesse sentido, a configuração de conselhos para o planeja- mento, a administração e a auditoria são fundamentais para que não ocorra nenhum conflito de interesse entre as partes,ou seja, entre colaboradores e acionistas, em todos os níveis de negocia- ção na companhia. Além do alinhamento das pessoas ou atores na governança com a organização, é de extrema importância o forta- lecimento de pilares que legitimem o processo de controle, parti- cularmente em relação ao que reflete nos acionistas e em todas as partes interessadas na longevidade da empresa. A organização deve demonstrar que possui uma estrutura sólida e que trabalha para não desenvolver riscos que possam comprometer a evolução dos negócios e a sua credibilidade perante o mercado em que atua. Neste capítulo, portanto, abordaremos os elementos es- truturais da governança corporativa, com especial atenção aos seus principais atores e à forma como esses atuam no proces- so de gestão. Em seguida, traremos considerações a respeito dos pilares da governança, com a descrição de seus elementos explicativos, os quais são fundamentais para um planejamento adequado a longo prazo. Por fim, discorreremos sobre o papel da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), principalmente no que diz respeito à importância da re- gulamentação realizada por essa instituição, cujo objetivo é mini- mizar os riscos próprios do mercado. 26 Governança corporativa 2.1 Elementos constitutivos da governança corporativa Vídeo A governança corporativa está presente no ambiente corporativo com atores representativos e todo um conjunto de funções, tanto aque- las relacionadas ao ambiente de planejamento como outras pertencen- tes ao âmbito administrativo. A governança é implementada com base em um conjunto de relações entre seus atores representativos, colabo- radores, corpo diretivo e acionistas, por meio de um dimensionamento de poder e decisão, e seu principal objetivo é assegurar a rentabilida- de dos acionistas da organização no mercado acionário. O ambiente organizacional, pautado na governança corporativa, proporciona bons retornos para todo o mercado à medida que os atores representativos executam e implementam suas funções com total plenitude. A rentabilidade da companhia está estritamente relacionada ao conjunto de medidas adotadas por todos os integrantes que participam do processo de governança. Portanto, quanto maior a transparência nas atitudes dos atores, maior será a possibilidade de obter ganhos financeiros, tanto no ambiente produtivo quanto no especulativo (ANDRADE et al., 2009). A estrutura do ambiente da governança é organizada nos seguintes blocos: da propriedade, do controle, da administração e da audito- ria e fiscalização. O processo de governança contempla o conjunto das decisões tomadas pelos atores representativos, com relações de poder de decisão e de medidas para a manutenção do planejamento da companhia. Para assegurar a legitimidade e credibilidade da governança cor- porativa, é fundamental que o ambiente seja configurado mediante as atribuições específicas a cada um dos atores envolvidos na condu- ção dos negócios. Particularmente, podemos pensar em níveis hie- rárquicos, com atribuições que possam interferir no delineamento de toda a cadeia produtiva da empresa e nos reflexos causados no mercado de capitais. Vejamos, então, as atribuições de alguns desses atores. No âmbito da propriedade, temos a Assembleia Geral, o órgão de maior impor- A estrutura da governança corporativa 27 tância em uma empresa de capital aberto, que tem uma responsabili- dade de maior vulto e que envolve os seguintes aspectos: • Verificar quais são os resultados emitidos pelos administradores da companhia. • Definir quais serão as estratégias relacionadas aos novos investi- mentos da organização. • Realizar uma análise sobre a parte estrutural da empresa, princi- palmente com considerações sobre o orçamento. • Definir qual é o melhor momento para emitir papéis no mercado e aumentar o capital disponibilizado pela empresa. • Analisar as possibilidades relacionadas a novas aquisições e fusões realizadas pela companhia 1 . • Aprimorar os estatutos da empresa 2 . • Verificar o desempenho dos administradores e definir novas contratações. • Eleger os membros do Conselho Fiscal, o qual realiza a averigua- ção dos crimes e fraudes financeiras. Ainda no âmbito da propriedade temos o Conselho Fiscal, que é responsável por definir importantes aspectos de conduta a serem adotados na companhia, principalmente aqueles relacionados ao fi- nanceiro. Para que o ambiente da empresa esteja pautado na ética e transparência, é fundamental que o Conselho Fiscal realize algumas funções, com critérios bem definidos, e que, sobretudo, esteja pauta- do em atitudes idôneas e corretas. A princípio, o Conselho Fiscal deve: • Verificar as condutas dos administradores, especialmente em relação aos fluxos financeiros que migram para outros seto- res e às empresas pertencentes ao mercado em que a com- panhia atua. A verificação de desvios de dinheiro é fundamental, especialmente para assegurar aos acionistas que a empresa caminha pautada no prin- cípio de honestidade e transparência. Sobre isso, Saadi e Machado (2017, p. 503), ressaltam que: a corrupção é crime com capacidade de movimentar grandes vo- lumes de riqueza. Esse fenômeno guarda um caráter quase em- presarial, no sentido de que tem por escopo principal o lucro. A Vale a pena verificar o Manual para participação dos acionistas, publicado pela Petrobras. Esse manual traz informações práticas a respeito do papel que a Assembleia Geral desempenha no andamento e na con- dução dos negócios da companhia. Note que as funções dos integrantes da Assembleia Geral es- tão detalhadas no índice do relatório. Disponível em: https://www. investidorpetrobras.com.br/ ptb/1334/680708.pdf Acesso em: 05 mar. 2020. Saiba mais Uma aquisição representa a compra de novas empresas pela companhia, com a consequente ampliação de sua atuação no mercado. Uma fusão corres- ponde à união de duas ou mais empresas, com a configuração de uma nova estratégia e de um novo capital (CAMARGOS; BARBOSA, 2005). 1 Conjunto de regulamentos e regras estabelecidas destinadas ao funcionamento de qualquer tipo de instituição, tanto pública como privada. 2 https://www.investidorpetrobras.com.br/ptb/1334/680708.pdf https://www.investidorpetrobras.com.br/ptb/1334/680708.pdf https://www.investidorpetrobras.com.br/ptb/1334/680708.pdf 28 Governança corporativa vocação própria da criminalidade econômica desafia, portan- to, a aposta que o sistema de justiça historicamente faz para enfrentar o crime: a privação de liberdade. Ora, se o crime é cometido para alcançar ativos de grande valor econômi- co, a resposta estatal será razoável à medida que considerar iniciativas dirigidas a recuperá-los de mãos criminosas em prol dos legítimos destinatários; frequentemente, a própria sociedade. O confisco de bens, direitos e valores é, portanto, medida consoante a estratégia de priorizar a recuperação de ativos auferidos mediante práticas corruptas. Dando continuidade às atribuições do Conselho Fiscal, ele deve: • Realizar uma análise crítica perante o relatório anual financeiro. • Emitir um parecer sobre as demonstrações financeiras geradas pela empresa. • Averiguar se os auditores independentes, contratados pela em- presa, estão realizando um bom trabalho, principalmente com relação à verificação dos resultados financeiros. Segundo Baioco e Almeida (2017, p. 246), a averiguação dos resul- tados contábeis e financeiros representa um passo essencial para a efetividade da governança corporativa nas instituições, “na perspectiva de esses órgãos funcionarem como mecanismo de governança corpo- rativa, sobretudo nas funções de supervisão e fiscalização do processo de elaboração das demonstrações financeiras”. Voltando-se para a atuação da governança corporativa, no que se refere ao ambiente organizacional, temos o Conselho da Ad- ministração, que é o responsável por definir as estratégias para o desenvolvimento das expectativasgeradas aos negócios. Essas expectativas são muito importantes, pois determinam um objetivo a se atingir. Nesse sentido, torna-se essencial promover um am- biente motivacional, que propicia novos empreendimentos a se- rem realizados pela companhia. Ainda com relação ao Conselho de Administração, é fundamental que as suas diretrizes estejam pautadas nos seguintes itens: • Zelar pelos interesses dos proprietários. • Definir qual a performance da diretoria. Como a propriedade deve estar configurada em uma empresa de capital aberto? Atividade 1 As demonstrações financeiras são muito importantes para verificar se a Governança Corpo- rativa é realizada com efetividade. Elas detalham o desempenho da em- presa, principalmente em relação à disponibilidade de dinheiro e à capacida- de para arcar com as dívi- das contraídas. Também é um relevante relatório para ser oferecido aos investidores, a fim de assegurar maior grau de segurança à companhia e ao futuro dos negócios. Saiba mais No vídeo As Teorias Eco- nômicas de Keynes, publi- cado pelo canal de André Azevedo, observa-se que o desenvolvimento de sinergias ou expectativas positivas nos negócios foi muito bem delineado pelo economista John Maynard Keynes, com o estudo do espírito empreendedor ou animal spirits, que desempenha um papel fundamental no desenvol- vimento de novas ideias e empreendimentos. Para saber mais, assista ao vídeo realizado pelo Professor Luiz Belluzo, da Unicamp. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=1pJduyhZgRU. Acesso em: 05 mar. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=1pJduyhZgRU https://www.youtube.com/watch?v=1pJduyhZgRU https://www.youtube.com/watch?v=1pJduyhZgRU A estrutura da governança corporativa 29 • Constatar a concretização das estratégias implementadas e sua viabilidade, em termos de retornos financeiros. • Formalizar a condução de comitês representativos que possam trazer, para a mesa de negociação, aspectos relevantes para o momento econômico da companhia. • Pesquisar e contratar as equipes de auditores independentes. Dando sequência, outro ator de relevância, que permeia as relações de poder em uma companhia de capital aberto, é o Comitê de Audi- toria. Esse comitê é representado por profissionais responsáveis pela verificação de todo o aparato operacional da empresa, com o objetivo de diminuir os riscos relacionados aos negócios. Eles devem supervisio- nar os relatórios financeiros para que os acionistas possam ter todas as informações necessárias para a construção de uma meta que resulte no acúmulo de dinheiro. A averiguação dos relatórios financeiros é papel do Comitê de Au- ditoria e da Auditoria Independente, principalmente para averiguar se a realidade da empresa condiz com o que está expresso nos rela- tórios publicados pela companhia. Os auditores independentes são responsáveis em auditar as demonstrações financeiras, fornecendo uma maior credibilidade ao mercado e aos acionistas. Qualquer tipo de relatório financeiro deve ser auditado para que se ateste sua veracida- de, comprovando, assim, que a companhia registra nos seus controles financeiros a realidade e, desse modo, mantém os princípio éticos. Ainda, com relação aos administradores, temos a Diretoria Executiva, que é subordinada ao Conselho de Administração. Esse conjunto de diretores deve fornecer os relatórios econômicos e financeiros com total competência técnica, sobretudo para não gerar divergências de informação após a auditoria realizada pelos auditores independentes, inclusive em relação à remuneração dos diretores (BEUREN; SILVA; MAZZIONI, 2014). Todos os procedimentos realizados pela companhia, como pro- cessos, rotinas e práticas, devem ser organizados por uma Auditoria Interna, responsável por atuar no controle de todos os elementos cons- titutivos da companhia, principalmente no que diz respeito ao cumpri- mento das normas estabelecidas para o funcionamento da empresa, como normas de vigilância sanitária, por exemplo. Qual o principal papel do Comitê de Auditoria e da Auditoria Independente? Atividade 2 30 Governança corporativa Por fim, é importante mencionar que existem outros atores no am- biente de uma organização com uma governança corporativa. Seriam os atores relacionados ao âmbito produtivo da companhia, como os credores, governos, fornecedores, consumidores e as comunidades. 2.2 Os oito pilares da governança corporativa: uma análise crítica Vídeo A governança corporativa deve priorizar oito pilares fundamentais para sua manutenção a longo prazo. Podemos afirmar que esses pila- res são aspectos aos quais a governança corporativa deve se atentar, a fim de minimizar os riscos e maximizar os retornos que serão obtidos pelos acionistas. No capitalismo, marcado pelo oligopólio e por empre- sas com ações comercializadas no mercado de capitais, é fundamental que as companhias tenham uma diretriz para a realização de uma boa governança, pautada em uma produção que ofereça margens de lucra- tividade e que proporcione um ambiente próspero para os negócios. Afinal de contas, os proprietários mudam com o decorrer do tempo, em especial pela comercialização das ações das empresas no mercado, resultando em uma elevada rotatividade da propriedade. A estrutura de propriedade das companhias é expressa por um elevado número de papéis comercializados na bolsa de valores, com divergências e conflitos; portanto, a propriedade dispersa no merca- do é uma condição necessária para a implementação da governança corporativa, sendo essa um pilar fundamental. No entanto, as decisões acerca das perspectivas da companhia não podem ter como único cri- tério a quantidade de dinheiro captado no mercado de capitais, devido à alta volatilidade (oscilação) e à possibilidade de perdas. Por mais que a governança seja aplicada em uma companhia, se a propriedade está dissipada em ações no mercado, a incerteza permeará suas estratégias e perspectivas em relação ao futuro. Dami et al. (2006, p. 1) relatam sobre a incerteza do papel que a governança desempenha nas companhias de capital aberto, principal- mente devido à imprevisibilidade. A literatura indica que, principalmente em países com alta concentração acionária, a estrutura de propriedade e contro- le é um importante mecanismo interno de controle da gover- nança corporativa, com efeitos na valorização e desempenho das empresas. No Brasil, a relação existente entre governança A estrutura da governança corporativa 31 corporativa-estrutura de propriedade-desempenho mostra-se ainda inconclusiva. Além do pilar propriedade, é fundamental observar que o segun- do pilar, os princípios, permeia qualquer iniciativa relacionada à prática da governança corporativa, com especial atenção aos seus as- pectos universais, que são: justiça, divulgação e prestação de contas e conformidade. A justiça está relacionada a todas as atitudes e diretrizes dos ges- tores da companhia, priorizando a concretização de práticas pautadas num senso de justiça, tanto em relação ao mercado quanto ao impacto nos consumidores e colaboradores, principalmente no que diz respeito às políticas de preços praticadas, que devem ser sem abusos e com total coerência. O outro aspecto universal da governança, que pertence aos seus princípios, é a divulgação e prestação das contas financeiras, a qual deve ser feita com total transparência, inclusive com as informa- ções auditadas e organizadas por auditorias independentes. Por fim, a conformidade tem profunda relação com as boas práticas e com o modo como a empresa atua no mercado, prestando contas e seguindo normas e condutas com base nas leis. Outro pilar de extrema importância são os propósitos da empre- sa, relacionados à maximização do retorno aos acionistas e às partes interessadas na companhia. O grande problema é a conciliação dos in- teresses em jogo, sobretudo pelas características fundamentais do ser humano: a ganância e o desejo de obter mais. Harvey(2011) menciona que o desejo pelo lucro, tanto no mercado especulativo quanto no pro- dutivo, permeia a história dos agentes econômicos ao longo do tempo, sendo um motivo de grande relevância. Ainda, outro pilar fundamental para que a governança seja imple- mentada com um resultado satisfatório está relacionado à definição clara das atribuições de cada um dos atores, os quais pertencem ao âmbito de planejamento e execução de uma companhia de capital aberto. Turnbull (1997) informa que os papéis dos atores, perten- centes à governança corporativa, baseiam-se em quatro modelos. O primeiro é relacionado aos stakeholders, que considera o conjunto de ambições de todos os interessados no funcionamento da com- panhia; dentre eles acionistas, empregados, fornecedores, colabo- radores, comunidade, clientes, meio ambiente e instituições que Eventos climáticos e de saúde pública podem causar danos que repercutem no retorno das ações das empre- sas no mercado de capitais. Um exemplo foi o efeito do Coronavírus na China, que causou impactos desastrosos para a economia mundial. Nesse sentido, os mer- cados financeiros estão desenvolvendo novas estruturas para lidar com efeitos causados seja por fatores climáticos seja de saúde pública, tendo como pilar a diminuição dos riscos. Veja o case da empresa Warburg Pingus, que desenvolveu um mo- delo de governança para amenizar os impactos ambientais ocasiona- dos pelas atividades da empresa e diminuir os riscos dos efeitos climá- ticos em suas operações produtivas. Disponível em: https://www. warburgpincus.com/pt-br/ governanca-ambiental-e-social/ Acesso em: 05 mar. 2020. Saiba mais O vídeo Crises do Capi- talismo (David Harvey), publicado pelo canal TheLeportal, traz uma explicação detalhada dos “ganhos financeiros” pe- los agentes pertencentes ao setor bancário e pelas grandes empresas no mundo globalizado. Disponível: https://www.youtu- be.com/watch?v=OJ6xlbfApAM Acesso em: 13 mar. 2020. Vídeo https://www.warburgpincus.com/pt-br/governanca-ambiental-e-social/ https://www.warburgpincus.com/pt-br/governanca-ambiental-e-social/ https://www.warburgpincus.com/pt-br/governanca-ambiental-e-social/ https://www.youtube.com/watch?v=OJ6xlbfApAM https://www.youtube.com/watch?v=OJ6xlbfApAM 32 Governança corporativa permeiam a empresa no seu funcionamento. O segundo modelo, pertencente ao pilar atribuições, é aquele que prioriza o retorno dado aos acionistas, denominado stewardship, presente nas empre- sas japonesas. O terceiro modelo tem como objetivo priorizar o fun- cionamento da empresa, tendo como base as leis estabelecidas pelo governo; esse modelo tem forte presença na França. Por último, o quarto modelo prioriza as finanças, tendo como objetivo alinhar a atribuição do gestor com contratos e regras para viabilizar os fluxos financeiros da empresa; essa configuração é muito presente nos Es- tados Unidos da América (EUA) e Inglaterra. Vale mencionar que o modelo japonês, apesar de dar atenção aos acionistas, não tem como prioridade o desenvolvimento de uma es- trutura financeira para esse objetivo, uma vez que, na verdade, priori- za maximizar o retorno produtivo e os reflexos ao mercado acionário. Os modelos de comportamento, tendo como fundamento o pilar atri- buições, determinam a governança corporativa no mundo. Enquanto esse pilar tem forte ligação com os papéis desempenhados pelos ato- res na governança, os modelos representativos demonstram o tipo de comportamento que é vinculado a cada um desses papéis, em dife- rentes circunstâncias e em diferentes países. Outro pilar para a concretização da governança corporativa está associado ao poder exercido pelor proprietários, conselheiros e ad- ministradores. Nesse âmbito, há elevada probabilidade de conflitos. Assim, é natural a existência de divergências em relação aos grupos pertencentes ao planejamento da companhia e aos outros atores e, por isso, é fundamental o estabelecimento de regras de conduta di- recionadas aos sócios da empresa. Essas regras devem ser pensadas para minimizar o abuso de poder entre as partes interessadas na con- dução dos negócios da empresa. A adequada distribuição do poder é essencial para que a transparência seja praticada na confecção dos relatórios financeiros, os quais serão fornecidos aos que possuem in- teresse nos negócios da organização. É importante que a governança corporativa esteja pautada em ações e práticas bem definidas, dando uma maior atenção ao papel do conselho de administração, da diretoria da companhia e das equi- pes de auditorias internas e externas. A governança corporativa não Os conflitos de agência representam um grave problema para as em- presas que têm como objetivo implementar uma boa prática de governan- ça corporativa. Os atores possuem interesses distintos: os conselhos priorizam estratégias que possam beneficiar proje- tos vinculados aos seus propósitos; os acionistas vislumbram maiores retornos; e os administra- dores tentam maximizar sua remuneração com resultados a curto prazo. Para saber mais sobre os conflitos de agência, visite o site do Portal Gestão. Disponível em: https://www. portal-gestao.com/artigos/6541-o- -que-%C3%A9-o-conflito-de-a- g%C3%AAncia.html Acesso em: 05 mar. 2020. Saiba mais https://www.portal-gestao.com/artigos/6541-o-que-%C3%A9-o-conflito-de-ag%C3%AAncia.html https://www.portal-gestao.com/artigos/6541-o-que-%C3%A9-o-conflito-de-ag%C3%AAncia.html https://www.portal-gestao.com/artigos/6541-o-que-%C3%A9-o-conflito-de-ag%C3%AAncia.html https://www.portal-gestao.com/artigos/6541-o-que-%C3%A9-o-conflito-de-ag%C3%AAncia.html A estrutura da governança corporativa 33 deve ser traçada em considerações que não possuam uma aplicabi- lidade prática; desse modo, a implementação de sistemas para o de- senvolvimento de estruturas, que possam monitorar as estratégias adotadas, é uma pauta de elevado impacto para o aumento da credi- bilidade da companhia. As boas práticas representam mais um pilar fundamental, por- tanto é necessário fluidez nos canais internos de comunicação da em- presa, bem como no relacionamento com os fornecedores. Com base nessas boas práticas, verifica-se o desenvolvimento de alternativas para minimizar os conflitos de agências 4 , decorrentes das negocia- ções e das estratégias empresariais em andamento. Um pilar que serve como alicerce para o desenvolvimento da governança é o processo de Gestão de Pessoas. O departamento de recursos humanos (RH) deve ter como objetivo verificar as potencialidades dos colaboradores e a implementação de políticas vinculadas à meritocracia, premiando os funcionários de acordo com os resultados atingidos. A produtividade deve ser alcançada considerando uma maior qualidade de vida, que deve ser proporcionada pela empresa aos colaboradores para que o ambiente da companhia seja repleto de perspectivas positivas e, com isso, o desenvolvimento de novas ideias vinculadas ao negócio seja facilitado. O funcionário deve, então, ser contemplado na estrutura da governança, principalmente mediante a concessão de alternativas promissoras, como um plano de carreira adequado e suporte para o desenvolvimento de novos projetos. Para que o processo da governança corporativa possa ter uma boa reputação e para que essa seja mantida a longo prazo, deve-se atentar à longevidade da companhia. Esse pilar está relacionado à durabilidade de uma organização, a qual tem uma relação direta com a condução dos negócios, com a maior integração entre os objetivos internos da companhia, com a perspectiva positiva relacionada aos resultados auferidos, com os atributos e a reputação dos adminis- tradores e, por fim, com as sustentabilidades econômico-financeira, social e ambiental. Esses oito pilares apresentam um dimensionamento vinculado ao ambiente da governança, porém com um cunho determinístico, pois, sem a condução adequada desses pilares é impossível ter uma go- Os conflitos de agências são divergências,em relação ao planejamento de uma empresa, entre os gestores e acionistas. 4 34 Governança corporativa vernança corporativa bem implementada. Assim, é essencial salien- tar que os pilares se reformulam no decorrer do tempo, podendo ter suas características específicas alteradas de acordo com as necessi- dades de cada ramo de atuação e com o contexto histórico das com- panhias no mercado. 2.3 A importância da OCDE na governança corporativa Vídeo A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) abrange 30 países industrializados com maior grau de de- senvolvimento e mantém um conjunto de relações com Organiza- ções não Governamentais (ONGs) e diversas outras sociedades civis e de amplitude internacional. A OCDE colabora para a ampliação da difusão dos princípios da boa governança e para a definição de boas práticas relacionadas ao escopo das organizações, em vários países do mundo. As boas práticas de governança corporativa são priorizadas pela OCDE com o objetivo de desenvolver os mercados para a criação de melhores condições sociais e para o aprimoramento dos mecanis- mos de gestão das grandes corporações no mundo. É claro que os princípios da governança devem estar atrelados à melhoria dos indi- cadores sociais, particularmente àqueles relacionados ao aumento do bem-estar das economias no mundo. Não basta somente priori- zar os ganhos dos acionistas, conselhos, administradores e direto- rias; é preciso proporcionar para o ambiente, repleto de pessoas, as condições para a ampliação de melhorias para assegurar um futuro tranquilo às sociedades. A OCDE procura estipular normas e padrões para que as em- presas possam desenvolver os seus negócios com base em critérios sustentáveis. No capitalismo contemporâneo, é extremamente neces- sário verificar os impactos sociais das atividades das organizações, com o objetivo de dar continuidade a toda a cadeia de produção ou de valor, relacionada às atividades das companhias internacionaliza- das. A cadeia de valor é um aspecto de relevância, acima de tudo por As empresas estatais pos- suem um elevado grau de representatividade nas relações comerciais entre os países, sobretudo no cenário atual, em que as fronteiras geográficas estão ampliadas, em sua maioria devido à globalização. A OCDE criou diretrizes de gover- nança para as empresas estatais, principalmente relacionadas ao combate à corrupção. Para saber mais, acesse o link do site OECD. Disponível em: http://www.oecd. org/daf/ca/soemarket.htm Acesso em: 06 mar. 2020. Saiba mais http://www.oecd.org/daf/ca/soemarket.htm http://www.oecd.org/daf/ca/soemarket.htm A estrutura da governança corporativa 35 proporcionar a geração de emprego e renda nas economias. É neces- sário afirmar que a criação de empregos e renda está diretamente ligada à geração de novas empresas no segmento produtivo. Portan- to, a OCDE prioriza medidas de governança pautadas no desenvolvi- mento econômico, visando a diminuição das desigualdades sociais no mundo. A Figura 1 ilustra o papel da governança no desenvolvimento econômico: Figura 1 Impactos macroeconômicos da governança corporativa: efeitos sobre o desenvolvimento econômico Boas práticas de governança Mercado de capitais M ai or de se nv ol vi m en to Pe ça s- ch av e co m pl em en ta re s Forte proteção legal aos investidores Mercados financeiros mais desenvolvidos Maior desenvolvimento econômico Sistema bancário Fonte: Adaptada de Silveira, 2010, p. 9. A condição fundamental para a concretização do desenvolvimento econômico está atrelada ao aumento dos investimentos produtivos, os quais foram realizados por meio dos recursos financeiros captados no mercado financeiro. Assim, quanto maior for o desenvolvimento do mercado de capitais, maior é a possibilidade de investimentos produ- tivos. No entanto, esse movimento não é verificado desde a crise de 2008, em que houve uma quantidade de dinheiro sem aplicabilidade prática, isto é, sem a geração de empregos na economia. A colaboração da OCDE baseia-se na argumentação a respeito da maior liberdade das economias em transacionar as mercadorias entre os diversos países. Outro ponto de importância está relacionado aos investimentos produtivos e especulativos – que terão os seus retor- nos maximizados nos países e nas corporações que implementarem os princípios de governança –, principalmente os que têm relação com a transparência das informações financeiras e dos mecanismos que possam legitimar os retornos dos acionistas. É importante mencionar No site da OCDE você vai encontrar estatísticas, es- tudos e pareceres sobre a economia, a qualidade de vida e os indicadores. Os princípios da gover- nança corporativa OCDE colaboram para melhorar a eficiência econômica dos mercados. Em 2015, os princípios foram refor- mulados pelo Conselho da OCDE e pela cúpula do G20. Disponível em: http://www. oecd.org/corporate/principles- -corporate-governance/ Acesso em: 06 mar. 2020. Site http://www.oecd.org/corporate/principles-corporate-governance/ http://www.oecd.org/corporate/principles-corporate-governance/ http://www.oecd.org/corporate/principles-corporate-governance/ 36 Governança corporativa que a OCDE prioriza condutas éticas, que estejam dentro dos padrões de sustentabilidade global para a diminuição de impactos negativos ao meio ambiente. Dito de outra forma, A OCDE prioriza a economia, com uma dinâmica que foca em investimentos que proporcionem retornos para as instituições e para a sociedade como um todo. A OCDE tem profundo interesse na melhoria das práticas de go- vernança corporativa nas empresas, sobretudo para proporcionar maior mobilidade do mercado de capitais e contribuir com o processo de desenvolvimento dos diversos países no mundo. Essas contribui- ções podem ser exemplificadas por formas efetivas de investimentos produtivos e menores riscos, com maiores retornos a curto, médio e longo prazo. Como exemplo dessa aplicabilidade, na Itália, inicia-se o processo de reformulação do seu mercado de capitais com a OCDE, justamente na tentativa de acumular uma maior quantidade de recur- sos provenientes das famílias e empresas para promover o desenvol- vimento econômico. Além disso, a OCDE publicou um relatório, em 31 de janeiro de 2020, a respeito da reforma da estrutura de captação de recursos financeiros e da emissão de financiamentos de longo prazo para empresas e famílias italianas, como uma tentativa de dinamizar a economia local por meio da criação de um maior número de oportu- nidades de negócios no âmbito da produção de bens e serviços 5 . De acordo com o relatório OCDE (2020, p.1): a Itália nos últimos anos empreendeu importantes reformas es- truturais para melhorar a saúde financeira das empresas e for- talecer os mercados de capitais como fonte complementar de financiamento corporativo. Estes incluem os planos de poupan- ça individual (PIR), os mini-bonds de estrutura de mercado e o programa ELITE do Borsa Italiana que visa ajudar as empresas a acessar capital e as redes necessárias para expandir. No entanto, mercado italiano de capitais ainda é menos desenvolvido do que muitos outros nas economias avançadas. Consequentemente, permanece um potencial importante para melhorar ainda mais a utilidade de mercado de capitais para empresas e cidadãos italianos. Isso vai exigir a promoção um resultado bem-sucedi- do nas recentes iniciativas, bem como diminuir qualquer tipo de impedimento. Portanto, a OCDE colabora fomentando o desenvolvimento dos mercados especulativo e produtivo, principalmente com a intenção de promover o desenvolvimento econômico e proporcionar a am- Para mais informações, visite o site disponível em: http://www. oecd.org/corporate/OECD-Ca- pital-Market-Review-Italy.htm. Acesso em: 18 mar. 2020. 5 http://www.oecd.org/corporate/OECD-Capital-Market-Review-Italy.htm http://www.oecd.org/corporate/OECD-Capital-Market-Review-Italy.htm http://www.oecd.org/corporate/OECD-Capital-Market-Review-Italy.htmA estrutura da governança corporativa 37 pliação da renda e do emprego. As práticas da governança já foram divulgadas em vários países e promoveram um ambiente propício para o desenvolvimento de novas oportunidades – formuladas pelos atores da governança, tais como os investidores, os empreendedo- res, os governos, os administradores – e, também, para a sociedade de uma forma geral. Devemos ter em mente que não há uma única maneira de imple- mentar o modelo de governança. Como mencionado na seção anterior, cada corporação possui características próprias, apresentando uma ampla diversidade, que está relacionada ao padrão cultural do país de origem e às estratégias de ampliação do capital a longo prazo, tendo em vista o aumento dos negócios no mundo. Segundo a OCDE (2019), o grau de propriedade das corporações é alterado em diversas partes do planeta, com diferentes graus de concentração e com uma variedade de estruturas de governança. Nos EUA, Reino Unido, Canadá e Austrália há uma propriedade mais dispersa, com maior número de empresas listadas na bolsa de valores, enquanto outras jurisdições têm mais ca- racterísticas mistas e, em sua maioria, possuem empresas com acionis- tas, sendo eles os que têm o controle do planejamento das companhias. A pesquisa OCDE (2019) constata o surgimento de um novo padrão, com maior complexidade no conceito de propriedade em todo o mun- do. Assim, o maior desafio para os formuladores de políticas, é propor- cionar desenvolvimentos de modo que se possa fornecer benefícios sólidos para investidores e empreendedores e dinamizar a formação de capital, com alocação eficiente de recursos, promovendo o aprimo- ramento dos negócios. Uma ameaça constante para a implementação da governança cor- porativa no mundo é o risco de uma crise econômica. Apesar de a OCDE priorizar as boas práticas, bem como a emissão de relatórios financei- ros confiáveis, a volatilidade dos mercados financeiros no mundo é um grande problema para a governança, pois, para o mercado de capitais, o mais importante é o ganho financeiro e especulativo, tendo como pressuposto os elevados índices de alavancagem financeira. Inclusive, principalmente após a crise financeira de 2008, os gover- nos no mundo reduziram as taxas de juros, com o objetivo de acele- rar as economias. Quando um país apresenta uma taxa de juros mais baixa, o crédito para a realização de novos negócios fica mais barato A crise financeira de 2008 foi denominada Crise do Subprime, com a desvalorização de várias hipotecas, sendo expressas por dívidas contraídas pelas famílias para compra de casas e ativos imobiliários. Curiosidade 38 Governança corporativa e, com isso, o cenário econômico pode melhorar ao longo do tempo. Por outro lado, qualquer estratégia monetária, nesse caso de redução dos juros, tem um prazo de maturação; desse modo, os resultados não ocorrem imediatamente, mas surgem de modo tênue e brando. No entanto, devido à redução das taxas de juros no mundo, as em- presas e famílias tiveram acesso a uma maior quantidade de dinheiro e de crédito, o que acabou resultando, também, no aumento do endivi- damento. Além disso, houve o acúmulo de títulos de dívida das grandes corporações não financeiras. Segundo dados da OCDE (2020), as cor- porações adquiriram 1.2 trilhões de dólares em 2019, com o aumento dos juros a pagar pelos créditos contraídos. Dito de outra forma, foi realizada uma alavancagem financeira sem uma análise a respeito dos riscos associados (CELIK; DEMIRTAS; ISAKSSON, 2020). Os títulos de dívidas contraídas pelas corporações, apesar de terem aumentado a disponibilidade de dinheiro das companhias, acelerou o ris- co associado, culminando no endividamento. Celik, Demirtas e Isaksson (2020, p. 5) relatam esse momento das grandes corporações no mundo: o crescente estoque em circulação de títulos corporativos está associado a um aumento nas obrigações de pagamento em ter- mos absolutos e relativos. No final de 2019, as empresas não fi- nanceiras em todo o mundo precisavam pagar ou refinanciar um valor sem precedentes de US $ 4,4 trilhões em dívidas de títulos corporativos dentro de três anos. Isso representa um recorde de 32,4% do valor total em aberto de títulos corporativos, acima dos 25% registrados há dez anos. É interessante observar que o risco para as grandes organizações pode desencadear um novo momento de crise econômica, principal- mente pela perda de rentabilidade dessas empresas e pela eminência de um aumento das taxas de juros futuramente. Para minimizar esses riscos, a OCDE, com base na Lei Sarbanes-Oxley, publicada em 2002, defende algumas premissas para evitar abusos financeiros pelos ges- tores das companhias internacionais. A primeira delas se refere ao compliance, que traz normas de conduta e um código de ética imple- mentado, especialmente, em relação aos conflitos de interesse, com o envio destinado a Security Exchange Commission (SEC) 6 para efei- to de registro e fiscalização. Outro item que a lei menciona é o termo accountability, que se trata da prestação das contas realizada com total transparência e submetida aos auditores contratados pela companhia, juntamente à constituição de um comitê de auditoria. Para saber mais sobre essa instituição norte Americana, que tem como objetivo proteger investidores e regular o mercado, visite o site: https://www.sec. gov/. Acesso em: 18 mar. 2020. 6 https://www.sec.gov/ https://www.sec.gov/ A estrutura da governança corporativa 39 Ainda, outro item de relevância é o disclosure, cuja premissa é forne- cer informações o mais rápido possível ao SEC, para evitar prejuízos às companhias. Por fim, a lei coloca na pauta o conceito de fairness, que é o desenvolvimento do senso de justiça por meio da aplicação de multas para fraudes financeiras. Por fim, é importante comentar que essas medidas não eliminam totalmente os riscos, principalmente aqueles relacionados ao processo de alavancagem, um fenômeno presente na gestão das grandes compa- nhias internacionalizadas. A OCDE contribui para a melhoria contínua dos processos produtivos e especulativos no mundo, porém, devido ao alto nível de incerteza, a implementação efetiva dos seus princípios está muito longe de ser totalmente concretizada. Qual a importância da OCDE para a governança corporativa? Atividade 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A implementação da governança corporativa nas empresas de ca- pital aberto é fundamental nesse momento de incerteza nos merca- dos mundiais. O alinhamento dos atores que pertencem ao escopo da governança colabora para intensificar um cenário com maior grau de previsibilidade. No entanto, é importante salientar que a governança corporativa não elimina totalmente a incerteza, sendo isso uma lacuna ainda presente no mercado. A presença da OCDE no processo de governança corporativa contri- bui para ampliar o monitoramento e levantamento de pautas que devem ser analisadas pelo mercado. A sinalização de possíveis problemas finan- ceiros, resultantes da ganância dos gestores, é um problema de suma importância no contexto atual, na medida em que expressa o próprio mo- vimento especulativo nos mercados de capitais no mundo. REFERÊNCIAS ANDRADE, L. P. et al. 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A propriedade deve estar dispersa no mercado, sendo representada por títulos e ações comercializáveis na bolsa de valores. 2. Verificar se os relatórios financeiros foram elaborados com ética e credibilidade. Os dados precisam estar claros e proporcionar confiança aos gestores da empresa e aos acionistas. 3. A OCDE colabora para dar legitimidade aos princípios da governança corporativa no mundo. Ela define boas práticas e normas para serem cumpridas pelas companhias a capital aberto, principalmente em relação aos quesitos de transparência e de ética nas organizações. https://www.academia.edu/29219862/An%C3%A1lise_do_desempenho_econ%C3%B4mico-financeiro_e_da_cria%C3%A7%C3%A3o_de_sinergias_em_processos_de_fus%C3%B5es_e_aquisi%C3%A7%C3%B5es_do_mercado_brasileiro_ocorridos_entre_1995_e_1999 https://www.academia.edu/29219862/An%C3%A1lise_do_desempenho_econ%C3%B4mico-financeiro_e_da_cria%C3%A7%C3%A3o_de_sinergias_em_processos_de_fus%C3%B5es_e_aquisi%C3%A7%C3%B5es_do_mercado_brasileiro_ocorridos_entre_1995_e_1999 https://www.academia.edu/29219862/An%C3%A1lise_do_desempenho_econ%C3%B4mico-financeiro_e_da_cria%C3%A7%C3%A3o_de_sinergias_em_processos_de_fus%C3%B5es_e_aquisi%C3%A7%C3%B5es_do_mercado_brasileiro_ocorridos_entre_1995_e_1999 https://www.academia.edu/29219862/An%C3%A1lise_do_desempenho_econ%C3%B4mico-financeiro_e_da_cria%C3%A7%C3%A3o_de_sinergias_em_processos_de_fus%C3%B5es_e_aquisi%C3%A7%C3%B5es_do_mercado_brasileiro_ocorridos_entre_1995_e_1999 http://www.oecd.org/corporate/Corporate-Bond-Market-Trends-Emerging-Risks-and-Monetary-Policy.htm http://www.oecd.org/corporate/Corporate-Bond-Market-Trends-Emerging-Risks-and-Monetary-Policy.htm https://www.researchgate.net/publication/36407896_Governanca_Corporativa_e_Estrutura_de_Propriedade_no_Brasil_Causas_e_Consequencias https://www.researchgate.net/publication/36407896_Governanca_Corporativa_e_Estrutura_de_Propriedade_no_Brasil_Causas_e_Consequencias https://escoladequadrosmes.files.wordpress.com/2014/01/oenigmadocapital-eascrisesdocapitalismo.pdf https://escoladequadrosmes.files.wordpress.com/2014/01/oenigmadocapital-eascrisesdocapitalismo.pdf http://www.oecd.org/corporate/OECD-Capital-Market-Review-Italy.htm http://www.oecd.org/corporate/OECD-Capital-Market-Review-Italy.htm http://www.oecd.org/corporate/corporate-governance-factbook.htm http://www.oecd.org/corporate/corporate-governance-factbook.htm http://www.scielo.br/pdf/rdgv/v13n2/1808-2432-rdgv-13-02-0484.pdf https://www.academia.edu/30782546/Corporate_Governance_Its_scope_concerns_and_theories https://www.academia.edu/30782546/Corporate_Governance_Its_scope_concerns_and_theories A transparência na governança corporativa 41 3 A transparência na governança corporativa Neste capítulo, faremos uma análise a respeito da aplicação da governança corporativa nas organizações empresariais. Esse é um tema de extrema importância em todo o mundo, especialmente quando o assunto é melhorar a performance de uma empresa e seu processo de gestão. As empresas que seguem os conceitos relacionados à gover- nança corporativa possuem uma maior flexibilidade para obter recursos financeiros e, consequentemente, ampliar sua produção a longo prazo. É importante compreender que a governança de- sempenha um forte papel na regulação dessas organizações, prin- cipalmente com medidas para otimizar os negócios em um cenário no qual eles apresentam uma maior probabilidade de riscos. Abordaremos, assim, o papel da governança corporativa como um instrumento regulador do mercado, com base em uma consideração fundamental: o processo de sua implementação implica uma maior rentabilidade da companhia, tanto em relação aos aspectos produti- vos, às rotinas, à adequação dos protocolos, às questões relacionadas à gestão de pessoas e ao gerenciamento dos custos quanto em rela- ção à construção de um cenário favorável, para a comercialização das ações representativas das empresas, no mercado acionário. Além disso, levantaremos algumas considerações sobre os indi- cadores financeiros e sua lógica na governança corporativa, a fim de demonstrar que sua aplicabilidade é de extrema importância para a diminuição dos impactos de uma crise financeira nas organizações, tornando-as mais eficazes e atribuindo-lhes uma maior adequação aos padrões de conduta estabelecidos pelas companhias. Em segui- da, trataremos sobre o compliance e sua forma de operacionalização, principalmente no que diz respeito à implementação de medidas cor- retivas vinculadas à transparência, à ética e aos padrões de conduta. 42 Governança corporativa 3.1 A governança corporativa como instrumento regulador no mercadoVídeo As empresas no mundo corporativo apresentam sua produção tan- to no ambiente produtivo como no mercado de ações, com estratégias para ampliar os lucros e para promover a sustentabilidade, visando um retorno aos seus acionistas. O objetivo fundamental da governança é proporcionar umcenário de estabilidade aos mercados por meio de boas práticas e do desenvolvimento de indicadores que possam ex- pressar uma situação favorável para novos investimentos que, conse- quentemente, resultariam na geração de emprego e renda nos diversos setores da economia. De maneira mais detalhada, o objetivo da governança é promover o desenvolvimento das companhias para que os acionistas obtenham seus lucros com retornos, que possam ser direcionados ao ambiente produtivo, ampliando as possibilidades e alternativas para novas formas de produção, com maior valor agregado 1 . Na realidade, a governança corporativa contribui para a maximização dos ganhos realizados pelas empresas, com reflexos para o ganho do capital, ou seja, para propor- cionar uma quantidade superior de dinheiro que, sobretudo, supere os gastos realizados pelas empresas na produção ou prestação de serviços. Dito de outra forma, o objetivo da governança corporativa está relacio- nado diretamente à melhoria dos indicadores contábeis e financeiros das empresas, tendo como principal consequência o delineamento de um cenário abundante em possibilidades produtivas e especulativas, nos moldes do sistema capitalista de produção. Na realidade, a situação ideal é quando todos os ganhos realizados retornam ao ambiente produtivo, resultando no aumento do empre- go e da disponibilidade financeira de todos os agentes econômicos 2 pertencentes a um determinado setor de negócios. A governança cor- porativa, por meio dos seus princípios fundamentados na ética e na transparência das informações, prioriza a criação de um cenário de de- senvolvimento econômico. Portanto, ela deve promover a sustentabili- dade, o retorno financeiro em escala global e a melhora das condições de vida das populações em todo o mundo. Com base nessa concepção, percebemos que a governança corporativa assume um papel de regu- ladora dos mercados, no sentido de proporcionar condições favoráveis O valor agregado ou econômico corresponde ao ganho gerado por meio de um processo de produção ou pela prestação de um serviço, descontados os itens de custo. 1 Os agentes econômicos referem- -se às famílias, às empresas, ao Governo e a todo o restante do mundo no que diz respeito aos impactos econômicos. 2 A transparência na governança corporativa 43 para a dinâmica dos principais agregados econômicos 3 , dentre eles a inflação, o nível de emprego, o câmbio e a taxa de juros interna e exter- na praticada entre os países no globo. Estamos em um mundo corporativo que apresenta estratégias espe- cíficas, as quais, dependendo do ramo produtivo, impacta a sociedade como um todo. A governança corporativa proporciona “limites” para a ex- pansão do capital – entendido como o volume de dinheiro que circula no mundo –, com base em critérios de fácil entendimento, tais como: a práti- ca constante da transparência, a confecção de relatórios financeiros efeti- vos e com representatividade e, acima de tudo, o desenvolvimento de um maior nível de interatividade dos mercados (TACHIZAWA; REZENDE, 2000). No entanto, as perspectivas não apresentam sempre uma característica promissora, podendo sofrer oscilações ao longo do tempo. A questão de- lineada aborda certos problemas que devem ser colocados na pauta da discussão, inclusive na observação de que a governança corporativa não é um processo de planejamento que assume uma uniformidade para to- das as empresas. Ou seja, cada companhia desenvolve seus critérios de governança, com o objetivo de satisfazer os anseios dos colaboradores, gestores e acionistas. Portanto, o objetivo da governança pode apresentar certos proble- mas na sua estruturação, sobretudo por não manifestar um grau de uniformidade capaz de proporcionar uma aplicabilidade padrão para qualquer companhia e em qualquer momento, com critérios de maxi- mização dos lucros e retornos para todo o conjunto de colaboradores. O que deve ser colocado em pauta é que cada empresa tem características próprias, com resultados específicos e um delineamento produtivo pe- culiar. Desse modo, a governança corporativa não pode apresentar total legitimidade como reguladora dos mercados no mundo e nos diversos países, principalmente por um problema crucial: a centralidade no pro- cesso de decisão. Silveira (2010, p. 2) aponta para esse problema: a limitação técnica dos tomadores de decisão é outro potencial problema a ser mitigado por mecanismos apropriados de go- vernança. Quando as decisões são concentradas em uma única pessoa, é muito provável que esta não possua todos os conheci- mentos técnicos necessários para as decisões-chave de uma com- panhia, tais como as de investimento, financiamento, marketing, posicionamento estratégico etc. Logo, mecanismos de governança como um conselho de administração qualificado, reunindo pes- soas com diferentes formações e experiências, poderiam levar os empreendedores e executivos a tomarem melhores decisões. Entendidos como variáveis macroeconômicas, as quais são expressas por componentes estruturais, que determinam os resultados das empresas nos mercados. 3 44 Governança corporativa No entanto, essa não é uma realidade comum no ambiente dos ne- gócios e no mercado de uma forma geral. É relevante salientar que a regulação dos mercados sempre foi realizada pelo Estado, por meio de seus instrumentos de política fiscal e monetária. Logo, a governança corporativa e o Estado atuam com o intuito de proporcionar um equilí- brio para a situação econômica, política e social nos diversos ambientes produtivos. Porém, essa é uma situação muito difícil de ser alcançada na sua plenitude (PORTER; KRAMER, 2006). É importante compreender que o nosso principal objetivo é enten- der de que maneira o papel da governança corporativa, como regula- dora do mercado, substitui o papel do Estado, levando em conta sua fragilidade perante o capital internacionalizado 4 , representado por grandes grupos de empresas. Apesar da perda do “poder” dos gover- nos, os estados, no mundo todo, procuram diminuir o impacto das cri- ses econômicas e estimular o desenvolvimento econômico, buscando proporcionar o bem-estar para seus habitantes. No entanto, mediante a extrema volatilidade e dispersão da propriedade das empresas no mercado acionário, os governos perderam sua legitimidade como re- guladores dos mercados e da economia como um todo. A presença de grandes grupos internacionais, representados pelos oligopólios, diminui a participação estatal e aumenta a participação dos mercados no âmbito econômico. Assim, o mercado se tornou o “regula- dor” da realidade econômica. Nessa realidade, temos os estados frágeis em suas políticas, enquanto a governança, no seu papel de regulado- ra, procura delinear o seu espaço no âmbito produtivo e especulativo. Apesar dessa tentativa, sabemos que a governança não apresenta uma dinâmica que possa favorecer todos os mercados em todos os momen- tos, principalmente pela fragilidade dos seus preceitos, com um escopo individual e determinístico. Por esse motivo, a governança corporativa está longe de apresentar o nível de institucionalidade que os estados apresentam. Assim, a governança e o seu processo de regulação pos- suem alguns problemas relacionados ao convívio humano, permeado por conflitos. Silveira (2010, p. 10) aborda esse aspecto: o aprimoramento da governança pode envolver outros custos mais difíceis de contabilizar. Uma maior transparência organiza- cional, por exemplo, poderia prejudicar a posição competitiva da empresa, ao facilitar a observação de suas estratégias pelos con- correntes. A resistência de muitas empresas em adotar padrões Representado pelas ações das empresas de capital aberto. 4 A transparência na governança corporativa 45 mais avançados de governança também pode ser explicada pelo apego dos gestores aos benefícios pessoais proporcionados pelo controle arbitrário e opaco do negócio. Em particular, os administradores (em muitos casos os acionistascontroladores da organização) podem encarar a perda do controle absoluto e discricionário sobre as principais decisões corporativas como um custo substancial da boa governança, bem como a redução do espaço para a realização de operações informais ou de transa- ções negativas aos investidores. Os estados, a princípio, estariam fora do escopo individual e mais próximos do coletivo, com seus instrumentos de política monetária e fiscal, para criar uma dinâmica que possa favorecer a realidade como um todo. Por outro lado, a governança corporativa apresenta um mo- vimento intrínseco, para dentro das companhias, com o principal ob- jetivo de maximizar os retornos, sem uma garantia de proporcionar reflexos para o social e para a sociedade; os conflitos são inerentes a esse processo. A governança desenvolve seus preceitos somente para favorecer seus acionistas, sem refletir no aumento dos investimentos produtivos. De modo geral, a principal causa da crise é a presença do dinheiro e de todo o seu crescimento, no mundo virtual e no especula- tivo, sem um impacto direto na vida das pessoas no mundo concreto. A governança está longe de superar esse impasse nos seus precei- tos. Os estados, por outro lado, podem, com o aumento dos seus gas- tos, proporcionar infraestrutura, renda e toda uma dinâmica para que as empresas possam contribuir para sua dinâmica produtiva e, conse- quentemente, promover a valorização das ações e o retorno para os acionistas – os quais teriam a obrigatoriedade de destinar seu ganho especulativo para fundos de caráter social e deveriam ter como obje- tivo o desenvolvimento econômico dos países e das nações. Na reali- dade, o movimento do capital não pode caminhar somente em uma direção, isto é, não deve somente beneficiar o movimento especulativo, sem ganho real para os agentes econômicos, ou seja, para as empre- sas, as famílias e os governos. Por outro lado, os governos, representados pela sua estrutura tri- butária, não favorecem a devida divisão dos recursos arrecadados para toda a população, com deficiências na distribuição da quantidade de di- nheiro apurado na produção como um todo (GIAMBIAGI; ALÉM, 2011). Outro grave problema é que os investimentos especulativos, represen- tados pela movimentação do dinheiro no mercado de ações, não são 46 Governança corporativa tributados de maneira adequada, proporcionando ganhos geométricos para os acionistas, com informações privilegiadas, e para grandes gru- pos internacionalizados. Tanto o Estado quanto a governança corporativa e seus instrumentos de regulação têm esse problema: o ganho financeiro “estratosférico” de uma minoria de investidores no mercado especulativo. Quando a gover- nança desenvolve seus critérios de controle contábil, financeiro, de ges- tão de pessoas, de transparência e ética, não menciona com clareza qual será a distribuição para todos os acionistas, o que demonstra uma eleva- da fragilidade no escopo da gestão do dinheiro no mercado de capitais. Por outro lado, essa governança, apesar de toda fragilidade, caminha para o seu fortalecimento como entidade, no sentido de se instituciona- lizar e de proporcionar o aumento da sua credibilidade nos mercados e no desenvolvimento de práticas sustentáveis. É um caminho longo, que necessitará de um elevado nível de maturidade de todos os agentes eco- nômicos, inclusive dos governos, nos âmbitos político e social. Para um melhor entendimento dessa problemática, vamos observar o Quadro 1, que demonstra o papel do Estado e da governança como reguladores dos mercados, apresentando as vantagens e desvantagens desses dois entes presentes nos dias atuais. Quadro 1 A governança e sua interação com os governos no mundo corporativo Entidades Instrumentos Vantagens Desvantagens Governos • Política monetária • Política fiscal • Efetividade no aumento de emprego e renda • Controle sobre os agregados econômicos (câmbio, taxa de juros) • Problemas tributários • Perda de representati- vidade • Corrupção Governança corporativa • Transparência • Sustentabilidade (impacto ambiental) • Controle financeiro (relatórios) • Ética • Agilidade • Ganhos financeiros • Projetos de expansão • Ganho excessivo de acionistas • Menor impacto social Fonte: Elaborado pelo autor. A transparência na governança corporativa 47 A governança corporativa desempenha um papel importante na regulação dos mercados, minimizando o impacto de crises financei- ras e maximizando o retorno dos acionistas. As companhias devem ter a implementação de uma governança bem estruturada para su- prir as possíveis perdas nas crises econômicas. Os estados apresen- tam total ineficácia das políticas monetárias e fiscais praticadas. Um exemplo muito marcante foi a queda abrupta das ações devido ao Coronavírus, com repercussões negativas para todas as negociações no mundo. Apesar do controle aparente dos estados, a crise se acen- tuou nos mercados. Os problemas tributários estão relacionados à ineficiência dos estados em arreca- dar de maneira justa e distribuir para a sociedade com igualdade. Piketty (2014) comenta sobre a elevada concentração de renda no mundo, na mão de poucas fa- mílias, representadas por grupos de acionistas majoritários com baixa efetividade tributária, tendo como resultado uma escassez de recursos financeiros para a popu- lação. O Estado intensifica esse processo, pois adota medidas restritivas de controle de gastos, com a justificativa de que não há recursos. De fato, não há recursos para a maior parte da sociedade, por conta da intensificação da concentração do capi- tal (dinheiro virtual) no mercado de ações. A governança corporativa é uma nova tendência, um novo cenário, para as mudanças estruturais que estão por vir, com melhorias na gestão das empresas. Mas, por outro lado, a concentração do capital na mão de poucos é, ainda, um processo que necessita de resolução. Assim, deve-se priorizar uma distribuição de renda mais igualitária e um sistema tributário que pe- nalize menos as classes de menor poder aquisitivo. Qual é o principal objetivo da governança corporativa? Atividade 1 Para saber mais sobre essas repercussões negativas no mer- cado mundial, acesse a matéria disponível em: https://agen- ciabrasil.ebc.com.br/economia/ noticia/2020-03/bolsa-des- penca-764-apos-oms-decre- tar-pandemia-de-coronavirus. Acesso em: 31 mar. 2020. Saiba mais 3.2 Os relatórios financeiros e sua lógica na governança corporativa Vídeo Os relatórios financeiros são extremamente importantes para legi- timar os princípios de governança, principalmente a respeito dos re- sultados ao longo da operacionalização da empresa, como relações de proporcionalidade e crescimento ou decréscimos relacionados às variá- veis analisadas. Os indicadores são instrumentos que verificam o grau de liquidez e o nível de endividamento da companhia e a probabilidade de expansões referentes aos negócios em andamento, com menor ou maior grau de diversificação. Além disso, os indicadores contribuem para a elaboração de relatórios com base em análises fundamentalis- tas, isto é, aqueles que possam trazer, para a discussão, aspectos con- 48 Governança corporativa junturais 5 e de funcionamento da empresa. As companhias priorizam a publicação desses relatórios, sobretudo para demonstrar um pano- rama de credibilidade aos seus acionistas por meio de um “desenho” a respeito do negócio, mencionando particularidades específicas do ramo de atuação e realizando o levantamento de pontos importantes para a tomada de decisão. Dentre os assuntos tratados nos relatórios das companhias de capital aberto, podemos enumerar os seguintes itens: • A descrição dos administradores e gestores de maior represen- tatividade na companhia, com suas políticas, diretrizes e planos futuros para expansão da empresa. • Resumos dos indicadores essenciais de performance, como taxa de lucratividade ou margem sobre as vendas, nível de endivida- mento, evolução das ações no mercadode capitais, dentre outros. • A descrição do negócio pelo mundo, com os principais departamen- tos, canais de distribuição, logística, parceiros potenciais e clientes. • Pareceres e relatórios consolidados, contendo o resumo dos re- sultados mais importantes da empresa ao longo do ano. Existem três demonstrações financeiras básicas: o balanço patri- monial, a demonstração do resultado e a demonstração do fluxo de caixa. Conforme veremos, cada relatório financeiro serve a um pro- pósito específico e fornece informações importantes, que podem ser usadas para tomar melhores decisões de investimento e fortalecer a governança corporativa. Esse relatório é a expressão direta das medi- das adotadas pela governança, medindo o grau de transparência das decisões tomadas pelo corpo diretivo da empresa. 3.2.1 A planilha do relatório financeiro Uma parte significativa do relatório é o balanço. Cada parte do ba- lanço reflete as decisões tomadas pela governança e deve ser divulgada com total transparência, cujos dados disponíveis possam ser checados ou auditados pela equipe de auditoria interna e externa. O balanço re- porta o valor monetário das contas em uma data especificada, que, ge- ralmente, é ao final do último ano ou do trimestre fiscal mais recente. Vamos estudar os ativos, os passivos e os indicadores. 3.2.1.1 Ativos Os ativos são os valores monetários dos objetos de valor que a em- presa possui (como contas bancárias e estoques) e contas devidas por Elementos que alteram a capaci- dade produtiva da empresa, tais como efeitos econômicos, oscila- ções na procura pelos produtos, dentre outros aspectos externos ao funcionamento dessa. 5 A transparência na governança corporativa 49 outros. Os ativos pertencentes à organização são divididos em subclassi- ficações, com base no tipo de ativo. Essa subdivisão se torna importante nas análises, porque muitas tendências e proporções expressam o grau de transparência da empresa conforme o tipo de governança corporativa implementada ao longo do tempo. Os três primeiros grupos são ativos tangíveis. O primeiro grupo – e sempre o listado primeiro no balanço patrimonial – é o ativo circulante. Eles são, também, chamados de atuais, porque estão prontamente dis- poníveis para que a organização financie as operações. O ativo circulante inclui: os saldos monetários de todas as contas em dinheiro; contas a receber (o total de todas as contas pendentes, menos uma provisão para devedores duvidosos); valor monetários do estoque disponível; e outros ativos circulantes, incluindo títulos negociáveis, notas a receber e outras contas, que podem ser convertidas em dinheiro dentro de um ano. O segundo grupo na seção de ativos são os ativos não circulantes, também denominados ativos fixos, e representam os ativos depreciados por muitos anos (ao invés de serem tratados como despesas do ano atual). Todas as propriedades, instalações e equipamentos estão incluí- dos nessa seção. Desse modo, se a empresa compra um ativo de capital – como imóveis, máquinas e equipamentos, automóveis e caminhões ou móveis de escritório –, esse ativo não pode ser tratado como despesa comercial somente do ano em que foi adquirido, mas, sim, depreciado ao longo de vários anos. Portanto, a empresa realiza uma dedução para depreciação a cada ano, até que o valor do ativo seja totalmente depre- ciado. Para muitas empresas, ela também pode ser listada como amor- tização e/ou exaustão. Os períodos de recuperação da depreciação, como são chamados, podem durar entre 3 e 32 anos ou mais, dependendo do tipo de ativo envolvido. O próximo grupo é o ativo diferido, que diz respeito às despesas que se aplicam ao período seguinte e que serão tratadas como despesas no próximo ano. Já o quarto grupo abrange os ativos intangíveis, que são ativos sem valor físico; por exemplo, se você adquirir direitos sobre a marca Eletrolux, terá um ativo intangível porque os compradores solicitam o produto pelo nome. Em outros casos, uma empresa pode adquirir um direito contratual ao comprar um novo negócio. Assim, os ativos são somados e o total é relatado em uma linha do relatório. A soma de todos os passivos e patrimônio líquido resultará no mesmo valor mo- netário que o total de ativos. depreciação: qualquer ativo, como bens e imóveis, deprecia ao longo do tempo, ou seja, fica danificado, perde valor. A depreciação mede essa perda. Glossário 50 Governança corporativa 3.2.1.2 Passivos Os passivos são as obrigações devidas pela empresa. Eles são dividi- dos em grupos, que sempre são listados na mesma ordem. O primeiro grupo é o passivo circulante, isto é, a parcela atual da dívida em longo prazo. Esses são os passivos que serão pagos nos próximos 12 meses. Ne- les, estão incluídas as contas a pagar (valores devidos aos fornecedores); impostos a pagar (para agências locais, estaduais e federais, por folha de pagamento, dentre outros); e 12 meses em pagamentos de empréstimos ou notas em aberto. O segundo grupo corresponde ao passivo não cir- culante, representado por dívidas de longo prazo, como financiamentos, provisões e pagamentos junto a fornecedores de grande porte. Para compreender os relatórios financeiros e sua aplicabilidade para a transparência na governança corporativa, é de extrema impor- tância entender os principais indicadores divulgados pelas empresas de capital aberto, para a análise dos seus investidores no mercado de capitais, e que são elaborados com base no balanço patrimonial. Os indicadores presentes nos relatórios emitidos pelas companhias trans- nacionais fornecem uma direção para os novos investimentos, tanto no âmbito produtivo como no especulativo. Quando uma empresa tem uma governança corporativa efetiva, os relatórios apresentam resul- tados satisfatórios, com perspectivas positivas para os acionistas. Os indicadores são diretamente relacionados com essa governança, prin- cipalmente por demonstrar, de maneira numérica, se ela foi implemen- tada com efetividade. De acordo com Rossetti et al. (2008, p. 317): essa metodologia, além, é claro, de outros modelos, vem contri- buir para a escolha de uma combinação de medidas e indicado- res, integrando um sistema moderno de gestão que permita a mensuração, a informação, a análise de dados, processos e re- sultados. A utilização de indicadores de desempenho da gestão, tanto operacional quanto administrativa, representa um modo efetivo de muita praticidade para a avaliação do plano orçamen- tário. Os indicadores podem ser separados em indicadores de desempenho e indicadores de qualidade, objetivando medidas em bases físicas e medidas em bases qualitativas que integrem um conjunto relevante de dados para melhor compreensão e análise dos resultados obtidos. Por exemplo, quando relacionamos as dívidas contraídas em longo prazo com o total de dinheiro disponível pela companhia, medimos se Para um melhor en- tendimento a respeito dos principais itens que pertencem a um relatório financeiro, acesse os indicadores da empresa Fresenius, uma transna- cional no segmento da saúde. Disponível em: https://www.msn. com/pt-br/dinheiro/stockdetails/ analysis/fra-fre/fi-afryjc. Acesso em: 17 mar. 2020. Saiba mais https://www.msn.com/pt-br/dinheiro/stockdetails/analysis/fra-fre/fi-afryjc https://www.msn.com/pt-br/dinheiro/stockdetails/analysis/fra-fre/fi-afryjc https://www.msn.com/pt-br/dinheiro/stockdetails/analysis/fra-fre/fi-afryjc A transparência na governança corporativa 51 a empresa poderá arcar com elas em longo prazo. Isto é, se o passivo (dívidas) for superior ao ativo circulante (dinheiro disponível), a empresa terá como característica a insolvência. Um outro indicador de impor- tância é a relação entre os imobilizados e o dinheiro em caixa, demons- trando o quanto a empresa é líquida em sua estrutura. Desse modo, se o imobilizado for maior que o dinheiro disponível, a empresa não irá ge- rar dinheiro para arcar com suas compras junto aos fornecedores para pagar salários,dentre outras ações relacionadas aos negócios. Particularmente, nessa situação, a governança corporativa não foi ca- paz de dimensionar adequadamente a estrutura do negócio, causando consequências diretas ao desempenho da empresa. A transparência nos investimentos para a estrutura dessa companhia não foi bem delineada e, certamente, não houve um critério para tomada de decisão referente ao total de dinheiro dispendido para as instalações do seu parque produ- tivo. Quanto maior o grau de transparência, maior será a efetividade em relação aos resultados dos indicadores, demonstrando que a governança corporativa atingiu seus objetivos a respeito de um adequado planeja- mento para a empresa. Dessa forma, os relatórios financeiros expressam uma relação de “cumplicidade”, por meio dos dados numéricos dos indi- cadores, sua interpretação, a adoção de medidas corretivas e o fortaleci- mento da governança nos processos decisório e de gestão na empresa. A figura a seguir ilustra esse processo entre os relatórios financeiros e a governança corporativa, tendo como escopo a transparência rela- cionada aos critérios de decisão do corpo diretivo da companhia. DecisõesRevisões TransparênciaResultados Indicadores Governança Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 1 esclarece quais são as etapas que expressam a relação entre os relatórios financeiros produzidos com seus indicadores, os resultados insolvência: incapacidade de saldar as dívidas contraídas, tendo como consequência a falência da empresa ao longo do tempo. imobilizados: prédios e estrutura produtiva. Glossário Para saber mais a respeito dos indicadores financeiros e sua operacionalização para o processo de implementação da governança corporativa nas em- presas, consulte o link disponível em: https://www.bussoladoin- vestidor.com.br/o-que-sao-indi- cadores-financeiros. Acesso em: 18 mar. 2020. Saiba mais Figura 1 Indicadores e governança no mundo corporativo https://www.bussoladoinvestidor.com.br/o-que-sao-indicadores-financeiros/ https://www.bussoladoinvestidor.com.br/o-que-sao-indicadores-financeiros/ https://www.bussoladoinvestidor.com.br/o-que-sao-indicadores-financeiros/ 52 Governança corporativa auferidos e, por fim, os ajustes feitos pela governança corporativa, que serão necessários para tornar viável o negócio no decorrer do tempo. De uma forma direta, os relatórios financeiros, particularmente os indicado- res, demonstram o grau de aderência das decisões tomadas pelo corpo di- retivo e os resultados obtidos. Quando a empresa possui capacidade para realizar as revisões necessárias, a governança demonstra “seu poder” de alterar um cenário pessimista para uma situação favorável aos acionistas. Na realidade, o movimento das ações no mercado acionário mos- tra as relações entre as decisões tomadas, o grau de transparência e os resultados auferidos. É importante comentar que, ao realizar uma leitura minuciosa de um relatório financeiro, é possível averiguar se as medidas tomadas pela governança corporativa foram implementadas com êxito durante as operações da empresa ao longo de suas ativi- dades. Para que a governança possa demonstrar um elevado nível de transparência, é necessário que os relatórios financeiros, com seus in- dicadores, expressem as seguintes características: 1. Adequação dos requisitos. 2. O grau de conformidade com esses requisitos. 3. Que sejam passíveis para alcançar melhorias adicionais. 4. Que apontem para os requisitos regulatórios que são atendidos. 5. Que devem estar de acordo com as normas ou requisitos. Os relatórios financeiros devem estar em conformidade com um formato universal para facilitar a familiarização e a identificação dos principais itens. Muitas convenções contábeis são propositadamente conservadoras, de modo que é sempre recomendável que os ajustes sejam realizados com o escopo econômico. Como exemplo da aborda- gem conservadora, os ativos são sempre incluídos no custo. Portanto, mesmo que um ativo tenha aumentado significativamente em valor, isso não será refletido na listagem de ativos. Geralmente, os valores atuais no mercado imobiliário são substancialmente mais altos do que os apre- sentados nas demonstrações financeiras, não apenas como resultado da inflação, mas também devido à depreciação. Cabe salientar que as distorções extremas entre o valor do ativo relatado e o valor atual de mercado serão incluídas nas notas explica- tivas. Essas notas contêm muitas informações valiosas e importantes, não apenas sobre ativos, como também sobre todos os segmentos do relatório financeiro. Para verificar se uma empresa realiza relatórios A transparência na governança corporativa 53 financeiros com transparência, aplique uma regra básica: nunca olhe apenas para um ano. Verifique no site da empresa o departamento de relações com investidores e baixe cópias do relatório anual mais recente e dos três ou quatro últimos anos. Veja como a comunicação de informações financeiras varia de um ano para o outro. A alta ge- rência mudou? Se sim, por quê? O quadro de vendas e lucros mudou? A capitalização está melhorando ou depende mais da dívida do que dos ativos? As previsões de cada ano são aprovadas ou são, em grande parte, infladas? Examinando esses relatórios anuais, você obterá uma imagem melhor dos assuntos do que teria em apenas um relatório. Qual a principal contribuição dos relatórios financeiros para o processo de governança corporativa? Atividade 2 3.3 O compliance Vídeo Durante o processo de implementação da governança corporativa é necessário compreender que todas as decisões tomadas pela adminis- tração da empresa devem ser feitas com conformidade, isto é, de acordo com os padrões estabelecidos para a operacionalização da companhia. Os colaboradores e tecnologias associadas, em todos os processos, de- vem estar em um momento adequado para a obtenção de margens de lucro necessárias para os investimentos futuros da empresa. Com rela- ção aos novos procedimentos ou protocolos operacionais, a governança deve implementá-los sem causar uma reação negativa nos colaborado- res. A ética e a transparência permeiam as atitudes perante o planeja- mento da companhia, com o delineamento de práticas de compliance. O compliance deve garantir que os processos estejam de acordo com as conformidades estabelecidas pela governança, com dados nu- méricos de resultado, que possam ser submetidos por auditorias e supervisão jurídica, sempre visando a construção de um cenário positivo para os acionis- tas. Para que o objetivo do compliance seja atingi- do, isto é, para que todos os processos sejam feitos com transparência, é fundamental que a comunica- ção na organização empresarial esteja pautada em sistemas de informações ágeis, por meio de canais abertos, para que o acompanhamento seja realizado com sucesso pelos auditores (SWAMMY; MCMASTER, 2018). Assista ao vídeo, do canal Petrobras, Afinal, o que é compliance? que trata da construção de uma cultura empresarial ética, um elemento muito importante para o enten- dimento do compliance nas organizações. Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=FLpEEY8v14I. Acesso em: 18 mar. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=FLpEEY8v14I https://www.youtube.com/watch?v=FLpEEY8v14I 54 Governança corporativa As informações gerenciais devem ser emitidas para todos os colabo- radores da companhia, os quais devem ter total liberdade para o aces- so aos dados publicados nos relatórios financeiros. Esse ambiente de integridade constitui o compliance em uma empresa de capital aberto, sendo um elemento de extrema importância para assegurar a gover- nança corporativa e os retornos produtivos e especulativos no mercado de capitais. O entendimento dos relatórios é fundamental e, para isso, é muito importante que sejam implementadas ações de compliance. Para que as informações tenham um nível de abrangência signifi- cativa, as empresas investem em departamentos dedicados ao com-pliance, inclusive com um diretor responsável pela sua implementação, com total transparência, em todos os níveis da organização. As empre- sas transnacionais elaboram relatórios de compliance para suas sedes, principalmente com o intuito de legitimar um alto grau de confiabilida- de em suas transações, para que os relatórios financeiros sejam elabo- rados de acordo com a realidade concreta, sem desvios e distorções causados por interesses individuais de pessoas pertencentes ao alto escalão da direção da companhia. Figura 2 O compliance no ambiente produtivo Fonte: Elaborada pelo autor. Processos produtivos/negócios Auditorias Os processos sofreram mudanças Quem? Quando? Etapas/ melhorias Preparo de novo processo O compliance foi efetivo? Novo processo implementado Sim Sim Sim Sim Sim Não Logo, o compliance é um elemento estratégico nas corporações e o investimento para manter uma política baseada na transparência é fundamental para conquistar novos horizontes nos negócios. A Figura 2 ilustra o papel do compliance no ambiente produtivo, por meio da identificação dos aspectos de maior importância nos processos da empresa, sobretudo com o reconhecimento dos pontos de es- trangulamento, sendo representados por fases para melhoria contínua. Cabe salientar que o departamento de compliance deve tornar os relatórios financeiros disponíveis para o diretor executivo e o conselho de administração, com o objetivo de alinhar os interesses, transformando-os em comum a todos e viabilizando as condutas de acor- do com o planejamento realizado pela empresa. Como observamos na Figura 2, o compliance deve se concentrar nos processos produtivos e nos pro- tocolos para o seu funcionamento a fim de otimizar a responsabilidade dos envolvidos. Portanto, a cla- A transparência na governança corporativa 55 reza em torno da responsabilidade é essencial, inclusive quanto aos riscos envolvidos nas operações. Também é importante que o com- pliance esteja perfeitamente adequado às questões éticas e legais, para que todos possam seguir as regras e priorizar as atitudes justas, sem atos de corrupção ou desvios de dinheiro. Logo, é fundamental que seja implementada uma coordenação para garantir que os fluxos de informações, políticas e processos estejam sincronizados e para que os relatórios sejam produzidos de acordo com a realidade da empresa (HILL, 2010). As etapas de implementação do compliance devem seguir um plano de ação bem estruturado, com fases bem definidas. É importante verificar quais serão os custos envolvidos para as mudanças que deverão ser realizadas para alinhar os processos pro- dutivos, principalmente em relação aos futuros benefícios, que serão proporcionados pelos ajustes do compliance. Os CEOs e os conselhos reconhecem a necessidade do compliance para a implementação de novos processos. É preciso avaliar o ambiente em que ele deverá ser aplicado, considerando medidas corretivas adequadas para que as ati- tudes dos colaboradores estejam de acordo com o escopo da empresa, bem como a elaboração de inventários, com a definição de funções para dar andamento às atividades de compliance. O compliance deve incluir a estrutura organizacional, o estilo de gerenciamento e os aspectos culturais da organização, com o delinea- mento das condutas e práticas da base da empresa até o topo, em termos hierárquicos (HILL, 2010). Cabe salientar que os valores éticos são bastante representativos e devem ser incorporados em todos os processos produtivos e de negócios, com destaque para: • O gerenciamento. • As responsabilidades estabelecidas para cada um dos colabora- dores (funcionários). • A prestação de contas. • Os protocolos de comunicação. O compliance deve abordar os processos e riscos, para todos os gerentes, administradores e diretores da organização, que terão res- ponsabilidade operacional e social, porém, contando com o adequa- do suporte da equipe de compliance. Não se pode deixar de analisar as partes associadas, como empresas terceirizadas, alianças, fusões e aquisições realizadas. A empresa Danone, por exemplo, lida com mi- 56 Governança corporativa lhares de fornecedores e distribuidores em vários países no mundo; nessa dinâmica, é uma tarefa bastante complexa alinhar todas as pes- soas, visando um objetivo em comum: a realização de boas práticas, sustentáveis e socialmente amplas, no sentido de ampliar os esforços para a geração de valor para todos os colaboradores da empresa. O compliance é estruturado por uma comunicação efetiva, relató- rios precisos e éticos e o devido monitoramento. Os fluxos críticos de informação são descritos com base nos dados analisados. Com essa descrição são produzidos novos relatórios, considerando adaptações do suporte técnico, análise de riscos, responsabilidade perante o meio ambiente e ampliação das medidas de gerenciamento e controle. De acordo com esse fluxo de ações, os protocolos de monitoramentos são estabelecidos, definindo responsabilidades claras para todos os envolvi- dos. O projeto de compliance é implementado aos poucos para todos os departamentos da empresa e, nesse momento, o treinamento e a edu- cação são elementos fundamentais para que os funcionários entendam os benefícios gerados pelas mudanças e de que modo os protocolos beneficiarão a empresa (TARANTINO, 2016). O departamento de recur- sos humanos deve alinhar os objetivos de conduta dos colaboradores, utilizando medidas de desempenho, principalmente aquelas relaciona- das à produtividade, como o aumento da produção por unidade de mão de obra e a tecnologia utilizada nos processos produtivos e de negócios. Por meio do compliance, incorporado aos processos comerciais e de gerenciamento existentes, novas responsabilidades são trazidas ao cenário produtivo, na estrutura de gerenciamento das unidades individuais, tornando a implementação relativamente direta para os negócios da companhia. De maneira sucinta, o compliance, com suas medidas de controle, tenta maximizar os retornos aos acionistas, principalmente por organizar “a casa”, com medidas de boa condu- ta. Silveira (2010, p. 96), comenta sobre a importância do compliance como medida de controle: por um lado, os defensores da Lei argumentam que seus be- nefícios superam os custos. Particularmente, a adoção de uma estrutura de controles internos mais rígida teria beneficiado as companhias de diversas formas, entre as quais: na tomada de melhores decisões operacionais, na diminuição substancial da ocorrência de fraudes, na obtenção de informações corporativas mais precisas, no aumento do compliance em relação às leis e regulamentações aplicáveis, e, principalmente, na reconquista da confiança dos investidores. A empresa Danone tem o compromisso público com o bem-estar das pessoas, inclusive das crianças, consumidores potenciais da marca. Para manter esse compro- misso, ela mantém o detalhamento de justifi- cativas e parâmetros de controle, de acordo com as políticas de compliance da empresa. Para saber mais, acesse o link disponível em: http://corporate. danone.com.br/uploads/tx_bi- danonepublications/Compromis- so_Publico_Pledge.pdf. Acesso em: 17 mar. 2020. Curiosidade http://corporate.danone.com.br/uploads/tx_bidanonepublications/Compromisso_Publico_Pledge.pdf http://corporate.danone.com.br/uploads/tx_bidanonepublications/Compromisso_Publico_Pledge.pdf http://corporate.danone.com.br/uploads/tx_bidanonepublications/Compromisso_Publico_Pledge.pdf http://corporate.danone.com.br/uploads/tx_bidanonepublications/Compromisso_Publico_Pledge.pdf A transparência na governança corporativa 57 Importante mencionar o acordo de que todos os participantes devem seguir conceitos éticos (condutas éticas) e legais, que obedeçam à legisla- ção brasileira, não cometendo ações de corrupção ou ganhos indevidos em relação aos órgãos públicos nacionais ou internacionais, bem como atitudes que não contribuam para uma concorrência sadia no mercado.Portanto, entre os itens do acordo, temos (ABRAIDI, 2018): • Proporcionar um ambiente que priorize a ética e a transparência nos processos e nas negociações entre todos os envolvidos. • Verificar os impactos na dimensão social e desenvolver atitudes que minimizem os resultados insatisfatórios aos pacientes. • Estimular a livre concorrência e treinamentos e minimizar riscos. • O ambiente organizacional deve ser pautado por profissionais engajados, que troquem informações e que contribuam para o atendimento com base nos protocolos clínicos estabelecidos. • As empresas fornecedoras de equipamentos e insumos não po- dem promover uma prática de gratificações aos gestores, por meio de uma “política de favorecimento”, com viagens, prêmios etc. • O relacionamento entre os fornecedores, distribuidores e empre- sas responsáveis pelo funcionamento das organizações deve es- tar pautado em um comportamento de acordo com a ética e sem favorecimentos. • As empresas envolvidas devem ser responsáveis pelos seus atos perante os profissionais, os agentes públicos, as instituições, as associações e outros atores do segmento. Serão responsáveis por atos de terceiros quando supervisionados pelas empresas contratantes nos termos da lei. • As leis de regulação, portarias do Ministério, bem como os pa- drões para o funcionamento das organizações devem ser segui- dos para que não ocorra um prejuízo físico, moral ou financeiro aos colaboradores e pacientes. • As licitações devem ser realizadas com total transparência e estí- mulo à entrada de novas companhias, com o objetivo de diminuir o impacto nos custos das empresas. A mudança não é uma tarefa fácil de ser conquistada. Para a maior parte das empresas, continuar com o compliance não é uma opção viá- vel, sobretudo devido às mudanças que ocorrem no mundo dos negó- cios, os riscos e as adversidades, como, por exemplo: o aumento dos 58 Governança corporativa custos, a intensificação dos casos de descumprimento e a iminência da probabilidade de auferir falhas nos processos. No entanto, é per- feitamente possível obter um compliance efetivo; algumas empresas, inclusive, já conseguiram e verificaram os benefícios comerciais ao con- sumidor, à mão de obra, aos investidores e à sociedade. As empresas precisam alinhar suas normas de conduta, principalmente para alcan- çar uma maior credibilidade junto ao mercado em que atua, com retor- nos que ultrapassem o desejável, contanto que as sinergias ou atitudes estejam alinhadas para esse objetivo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme estudamos neste capítulo, as empresas que adotam os princípios de governança corporativa proporcionam maior credibilidade ao mercado, aumentam sua rentabilidade e, consequentemente, minimi- zam possíveis situações de estresse nas companhias. A governança cor- porativa envolve , especialmente em relação à construção de estratégias, com base na regulação, um conjunto de processos que possam maximi- zar o bom relacionamento entre os colaboradores, diretores e conselhos administrativos. Além disso, esses processos são voltados para a análise do desempenho da empresa; isto é, se ela executa seu papel no mercado de acordo com as normas de conduta estabelecidas para o aprimoramen- to da gestão como um todo. O gerenciamento dos recursos financeiros das empresas envolvem os aspectos contábeis e aqueles referentes às perspectivas que a empresa possui em relação ao futuro. Os indicadores financeiros expressam esse movimento, apresentando medidas de de- sempenho e o delineamento de cenários para os ajustes que devem ser realizados pela governança. O compliance desempenha um papel de suma importância, à medi- da que os projetos de implementação de novos negócios e a devida ma- nutenção dos já existentes possam ser implementados e estruturados dentro de um ambiente organizacional, que proporcione um conjunto de normas de conduta de acordo com os padrões estabelecidos. Esse maior “engajamento” na organização tem como principal consequência um relacionamento mais efetivo com os investidores, demonstrando que a companhia possui uma maior perspectiva futura para com os rendimen- tos financeiros e a lucratividade. Portanto, o compliance é um elemento que favorece o bom desempenho organizacional em todos os âmbitos, ou seja, no econômico, no político e no social. Como o compliance minimiza as fraudes nas companhias? Qual o seu impacto para os negócios? Atividade 3 A transparência na governança corporativa 59 REFERÊNCIAS ABRAIDI. O ciclo de fornecimento de produtos para a saúde no Brasil. Relatório de Atividades 2018. Disponível em: https://abraidi.com.br/files/pub/Anuario_ABRAIDI_2018_PT.pdf. Acesso em: 14 maio.2020 GIAMBIAGI, F.; ALÉM, A. C. Finanças públicas: teoria e prática no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. HILL, D. G. Data Protection: governance, risk management, and compliance. CRC Press, 2010. PIKETTY, T. O capital no século XXI. 1. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca 2014. PORTER, M. E. KRAMER, M. R. Estratégia & sociedade. Harvard Business Review, v. 84, n. 12, p. 52-66, dez. 2006. ROSSETTI J. P. et al. Finanças corporativas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. SILVEIRA, A. M. Governança corporativa no Brasil e no mundo: teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. SWAMMY, S.; MCMASTER, M. Governance, Compliance, and Supervision in the Capital Markets. Wiley, 2018. TACHIZAWA, T.; REZENDE, W. Estratégia empresarial: tendências e desafios um enfoque na realidade brasileira. São Paulo: Makron Books, 2000. TARANTINO, A. Manager’s guide to compliance: Sarbanes-Oxley, COSO, ERM, COBIT, IFRS, BASEL II, OMB A-123, ASX 10, OECD principles, Turnbull guidance. Hoboken: Wiley, 2016. GABARITO 1. O principal objetivo da governança é proporcionar um ambiente favorável para a companhia, com um grau de segurança aos seus investidores. Dessa forma, todos os recursos adquiridos pela venda de ações podem ser direcionados à ampliação dos ne- gócios, com novos investimentos e maior nível de emprego e de renda nos segmentos produtivos. 2. Fornecer informações a respeito da performance da empresa, com aspectos finan- ceiros e contábeis, bem como com todas as informações sobre o planejamento da companhia. Com base nos relatórios financeiros, é possível adotar medidas corretivas, tendo como escopo a governança corporativa. 3. As fraudes permeiam as organizações empresariais. O compliance, com a implementa- ção de normas de conduta, proporciona um resultado favorável para as negociações, com consequências diretas para a lucratividade da empresa como um todo. 60 Governança corporativa 4 Os modelos de governança É muito importante compreender quais são os itens de maior relevância na governança corporativa, a fim de se verificar quais modelos possuem maior grau de representatividade. Por isso, neste capítulo, abordaremos a configuração da governança corpo- rativa e os itens que diferenciam os diversos modelos praticados no mundo em relação às suas estruturas. Estudaremos o modelo de governança anglo-saxão e o modelo alemão, com o objetivo de compreender as principais diferenças entre um modelo de maior dispersão do capital acionário e um com um perfil mais centralizador. Por fim, evidenciaremos quais são os determinantes da gover- nança corporativa e como desenvolver um olhar crítico a respeito de um determinante fundamental: o retorno aos acionistas. 4.1 Os modelos de governança no mundo Vídeo Os modelos de governança apresentam certas características pecu- liares e graus de diferenciação com aspectos particulares e com crité- rios de análise distintos. De forma preliminar, com o objetivo classificar os diversos tipos de governança, devemos entender a fundamentação teórica que permeia os diversos modelos de governança no mundo. A princípio, temos algumas abordagens que colaboram para a con- cretização desse objetivo. A primeira delas se refere ao escopo teórico de Prowse, o qual tem como delineamento a organização dos conse-lhos de administração e a abordagem de como os conflitos são gerados e solucionados, bem como toda a gama de direitos relacionados às par- tes que são responsáveis pela governança corporativa nas instituições. Prowse (1994, p. 40) menciona sobre o “poder dos acionistas” perante os conselhos de administração das companhias: Os modelos de governança 61 em certo sentido, a estrutura do conselho e sua independên- cia da administração podem estar diretamente relacionadas ao poder dos grandes acionistas, se optarem por exercer seu poder através do conselho. No entanto, a estrutura do conselho e sua independência em relação à administração são regidas pelas regras e regulamentos da legislação societária de um país, e as diferenças aqui podem levar a diferenças na eficácia do conselho como supervisor da política corporativa, independentemente da estrutura de propriedade. O conselho de administração pode ter algumas ferramentas de estímulo, principalmente por meio de comissões baseadas no de- sempenho – particularmente para auferir valor para os acionistas –, algo muito comum nas grandes corporações e que representa um mecanismo interno de compensação que alinha os benefícios da organização aos benefícios privados, representados pela pro- priedade acionária e os custos de operacionalização da companhia, proporcionando, assim, um incentivo a uma administração que maximize o valor do acionista. A política de remuneração aos responsáveis pela gestão pode in- cluir incentivos baseados em indicadores de performance, tais como: margem de faturamento, sustentabilidade da companhia, vendas, entre outras variáveis de representatividade na gestão. Além desses percentuais associados ao desempenho do conselho de administra- ção, pode-se implementar revisões salariais, participação acionária ou propriedade de uma parte da companhia, tendo como objetivo fun- damental alinhar as ações e estratégias para a valorização do capital acionário, que é representado pelo conjunto de ações comercializadas no mercado de capitais. Outra abordagem que colabora para diferenciar os diversos mode- los de governança é a que se baseia em uma concentração maior dos recursos financeiros e o grau de acionistas minoritários. Dito de outra forma, essa abordagem expressa o quanto uma companhia concentra o capital, com maior ou menor dispersão de suas ações representativas no mercado acionário. La Porta, Lopez-de-Silanes e Shleifer (1999) desenvolveram um ín- dice de concentração quantificando o percentual de participantes que possuem carteiras com maior participação acionária. Os autores afir- mam que há uma correlação direta entre a tributação praticada nos Veja a reportagem intitulada Governança no centro das estratégias, que traz informações muito importantes para a definição de cenários, para concretizar opiniões acerca do mercado financeiro, principalmente a respeito da confiabili- dade das empresas e seu desempenho no mercado de capitais. Disponível em: https:// publicacoes.estadao.com. br/empresasmais2018/ governanca-corporativa/ Acesso em: 17 abr. 2020. Leitura 62 Governança corporativa diversos países e o grau de concentração acionária. Isso significa dizer que em países que beneficiam as classes mais ricas com menor tribu- tação, o controle acionário é representado na posse de poucas famí- lias. De fato, a tributação mais acentuada nas famílias de menor poder aquisitivo dificulta o seu acesso ao mercado de capitais, tendo como principal consequência a perda do poder aquisitivo dessas famílias e sua baixa adesão a investimentos no mercado acionário. Para complementar, a concentração do capital em poucas pessoas representa um problema social, com repercussões negativas tanto para as pessoas quanto para as empresas. Altos índices de concentra- ção de capital não expressam igualdade de direitos, tampouco uma boa administração, podendo, na verdade, expressar o contrário: a bai- xa aderência às práticas de governança, principalmente no quesito de transparência das informações, dos dados e das possibilidades de ga- nhos futuros de todos os colaboradores, tanto das companhias como dos consumidores de serviços e produtos ofertados por elas. Berglof (1990) aborda os diferentes modelos de governança ba- seado no objetivo relacionado à estrutura do capital, isto é, se a companhia tem uma maior preocupação com os retornos auferidos no mercado produtivo ou no sistema financeiro. A governança, en- tendida a partir da estrutura de capital das companhias, representa- da por maior ou menor concentração financeira, tanto no mercado produtivo como no especulativo, contribui para a formulação das políticas pautadas na governança, tanto nos países em desenvolvi- mento como nos países desenvolvidos. A composição do capital, ex- pressado pela sua estrutura, proporciona um melhor entendimento a respeito da quantidade de investimentos que são necessários para ampliar a dinâmica na economia. Berglof (1990) ressalta que as em- presas serão classificadas, bem como o seu modelo de governança, tendo como critério fundamental os investimentos financeiros desti- nados aos segmentos especulativo e produtivo 1 . O Quadro 1 a seguir ilustra a composição do capital, em investimen- tos produtivos e especulativos, e as respectivas estratégias de gover- nança para dinamizar a economia. Os investimentos produtivos são entendidos como as operações de compra, venda e comercia- lização de bens e serviços na economia real, representadas por indústrias, comércios e prestado- res de serviços. Os investimentos especulativos pertencem ao âmbito do mercado de capitais, ou seja, referem-se à comercia- lização de ações das empresas listadas na bolsa de valores. 1 Os modelos de governança 63 Quadro 1 A dinâmica das organizações pautadas na rentabilidade financeira Estrutura do capital Composição do capital Estratégia de governança Especulativo Acima de 50% Viabilizar investimentos produtivos Produtivo Acima de 50% Estimular os investimentos especulativos Fonte: Elaborado pelo autor. Uma melhor compreensão dessas e de outras variações observadas na estrutura de capital é essencial não apenas para os formuladores de políticas nos países desenvolvidos, mas também para os países em de- senvolvimento e os que, em transição do planejamento central para a economia de mercado, enfrentam escolhas fundamentais relacionadas a determinar o melhor investimento. A teoria baseada na estrutura de capital contribui para fornecer da- dos a respeito do desempenho do mercado e suas fragilidades, cujo intuito é promover o desenvolvimento econômico e proporcionar im- plicações para uma série de ações para melhorias no quadro macroe- conômico. Dito de outra forma, o modelo baseado na estrutura de capital é um elemento fundamental para tornar efetivas as decisões de investimento das companhias de capital aberto. Para complemen- tar, essa teoria ainda favorece as finanças públicas, na medida em que orienta a tributação sobre as aplicações financeiras para um melhor dimensionamento na esfera produtiva. Por fim, uma teoria da estrutu- ra de capital torna claros vários questionamentos para as instituições que regulam o mercado financeiro e para as decisões relacionadas aos conselhos de administração das empresas. Embora esse modelo abor- de questões pautadas em dois cenários distintos, o especulativo e o produtivo, o resultado principal alcançado com ele é positivo, ou seja, proporciona o entendimento a respeito das alocações relacionadas à propriedade e ao controle. A estrutura de capital oscila ao longo do tempo, principalmente devi- do aos efeitos das incertezas, pois ora há um maior volume de dinheiro das empresas no mercado especulativo, ora há uma maior quantidade no mercado produtivo. Essa configuração que Berglof (1990) desenvol- ve está relacionada ao momento econômico das empresas, aos cená- rios relacionados ao futuro e à perspectiva dos investidores. Portanto, esse modelo de governança tema estrutura de capital como o ponto 64 Governança corporativa fundamental para garantir a diferenciação das empresas de capital aberto em um determinado território, região ou país. É recomendável dizer que esse tipo de modelo auxilia na verificação dos problemas associados à perda de controle financeiro, principal- mente quando as companhias necessitam de uma reorganização ou liquidação completa. Em economia, os bens utilizados pelas empresas, suas tecnologias e pessoas, tornam-se obsoletos com o tempo. Portan- to, como uma tendência natural, devem ser transferidos para outros segmentos produtivos, como uma nova alocação. Esse modelo de go- vernança proporciona esse mapeamento, apontando as circunstâncias para mudanças futuras e para novos planos de investimentos efetua- dos pelas companhias ao longo do tempo. Outra abordagem que contribui para o entendimento dos aspec- tos que diferenciam os modelos de governança é o escopo teóri- co de Franks e Mayer. Franks e Mayer (1996) abordam os aspectos relacionados às forças internas e externas das organizações como elementos constitutivos para diferenciação e definição de mode- los de governança. De acordo com a abordagem dos autores, um modelo de governança pautado nas forças internas terá um maior engajamento das pessoas envolvidas, com uma maior sinergia para a concretização dos objetivos de curto, médio e longo prazo das companhias. Dessa forma, com a minimização das incertezas e uma maior garantia para os investidores institucionais sobre os aspectos relacionados, os investimentos serão efetivamente realizados. Dito de outra forma, quanto maior o controle interno, maior será o grau de aderência às normas e aos processos produtivos; consequente- mente, a governança apresentará um delineamento sólido, pautado em indicadores com valores que possam expressar um resultado positivo, em termos de crescimento nas vendas, ampliação dos mer- cados e bom relacionamento com clientes e os fornecedores. Sobre as forças externas, Franks e Mayer (1996) abordam ques- tões relacionadas à verificação de oportunidades para novos negó- cios, principalmente aqueles ligados a diversificação das atividades produtivas, novos lançamentos de produtos e serviços, entre outros formatos de negócios. A partir de todas essas abordagens, podemos sintetizar algumas ca- racterísticas fundamentais que colaboram para diferenciar os diversos modelos de governança: Os modelos de governança 65 • O tipo de captação financeira – se no mercado especulativo ou no produtivo. • Papel do conselho de administração perante os resultados financeiros. • Grau de concentração acionária e de propriedade. • Proteção aos acionistas de menor representatividade. • Forças internas e externas. Para um melhor entendimento, o Quadro 2 ilustra os teóricos que contribuíram para a compreensão dos aspectos que diferenciam os modelos de governança. Quadro 2 Autores e diferenciação nos modelos de governança corporativa Prowse (1994) Poder acionário La Porta, Lopez-de-Silanes e Shleifer (1999) Índice de concentração do capital nas companhias Berglof (1990) Estrutura do capital Franks e Mayer (1996) Forças internas e externas Fonte: Elaborado pelo autor. De modo geral, os modelos de governança apresentados traçam um panorama para o desenvolvimento da governança no mundo, com suas principais características, sua evolução e a aderência aos preceitos de controle, ética e transparência, princípios fundamentais que devem marcar presença em qualquer modelo implementado por uma compa- nhia de capital aberto. Quais são os critérios de diferenciação dos modelos de governança corporativa? Atividade 1 4.2 A diversificação nos modelos de governança Vídeo Os países apresentam características específicas em relação aos seus mercados, ao papel do Estado na economia, à relação dos inves- tidores perante as empresas e ao perfil cultural dos indivíduos, enten- didos como consumidores. Logo, a tarefa de padronizar os modelos de governança no mundo é algo impossível de se concretizar na sua ple- nitude, mas, por outro lado, algumas características apresentam uma maior intensidade perante outras, principalmente aquelas relaciona- das ao papel dos investidores. 66 Governança corporativa Particularmente, o poder acionário descrito por Prowse (1994) repre- senta um papel fundamental, principalmente por ter uma forte influên- cia em relação aos aspectos decisórios nas companhias internacionais, causando consequências diretas no volume de investimentos para toda a economia. A partir dessa consideração, podemos, então, de modo preliminar, apresentar os modelos de governança no mundo, com base no papel dos investidores e em sua relação com as companhias. Temos, portanto, dois tipos de acionistas, os insiders e os outsiders. As companhias que apresentam uma parte maior de acionistas outsiders desenvolvem sua governança corporativa baseada na publi- cação de relatórios que possam servir de critérios de decisão para os investimentos realizados no futuro. Os acionistas outsiders não parti- cipam diretamente da gestão das companhias, sendo que apenas re- cebem seus dividendos correntes e atuais de maneira especulativa no mercado de capitais. Por outro lado, as empresas internacionais que possuem investidores insiders apresentam maior nível de interação dos funcionários nas decisões tomadas pela companhia, pois o capital é distribuído aos colaboradores dessas empresas, inclusive com uma maior participação do governo no controle acionário de algumas delas. Os acionistas outsiders estão mais presentes nos modelos de gover- nança nos EUA, no Reino Unido, no Canadá e na Austrália (modelo anglo- -saxão). Enquanto que os insiders marcam sua presença em outros países no mundo, sendo a Alemanha um país de elevada representatividade. 4.2.1 O modelo anglo-saxão A presença de um número elevado de investidores, com a proprie- dade do capital pulverizada, é característica fundamental do modelo anglo-saxão. Nesse formato, a gestão é feita sem uma influência direta dos investidores. Portanto, as práticas de governança são delineadas para a manutenção de uma situação favorável para as empresas, sen- do os relatórios financeiros uma expressão natural desse processo de planejamento. As empresas listadas na bolsa devem ter níveis de de- sempenho satisfatórios; caso contrário, desencadeiam-se processos de fusões e aquisições, que geram reflexos hostis para os gestores das companhias. Esse modelo é executado para o mercado, com fortes me- canismos de proteção aos acionistas institucionais. As empresas são financiadas pelo mercado, através da capitalização por meio de emis- Entre os mecanismos de proteção, podemos destacar as operações de hedge, que têm elevada aplicabilidade no merca- do de capitais. Para saber mais, visite o site: https://www.tororadar.com.br/ blog/hedge-o-que-e. Acesso em: 16 abr. 2020 Saiba mais Os modelos de governança 67 sões de ações. O objetivo fundamental desse modelo é o de maximizar o valor da companhia e os retornos dos investimentos. Esse modelo é denominado shareholders oriented. Gadhoum, Lang e Young (2005) afirmam que, no modelo anglo-saxão, é importante considerar algumas características de maior destaque, entre elas: • A estratégia fundamental para a capitalização das empresas está centrada nas operações do mercado financeiro. Os recursos fi- nanceiros são obtidos com a venda das ações das empresas; dessa forma, há uma dependência, por parte do mercado, da ca- pitalização. Ou seja, o risco está associado ao movimento externo de investidores no mercado de capitais. Esse movimento de cap- tação de recursos é denominado equity. • Não há concentração financeira nas mãos de poucos acionistas; a maior parte dos investidores possui uma participação do capital inferior a 15%. O processo decisório nas companhias sofre pouca influência dos grupos minoritários. • O domínio do capital e o planejamento das empresas ocorremde modo independente. A governança corporativa colabora para manter políticas relacionadas à gestão com ética e tem como princípio eliminar benefícios financeiros aos gestores da com- panhia. De maneira resumida, os acionistas querem resultados concretos e sem desvios de informações, portanto os gestores devem priorizar a transparência, acurácia na coleta e análise de dados e atuarem com uma posição ativa, isto é, devem procurar demonstrar ao mercado que a companhia apresenta indicadores sólidos e confiáveis. • A governança corporativa nesse modelo prioriza minimizar os conflitos entre os acionistas e gestores, principalmente por meio do alinhamento das metas, prazos e resultados alcan- çados, em termos financeiros, políticos e sociais. Inclusive, o posicionamento dos gestores deve priorizar a colaboração, de- monstrando que as companhias apresentam um movimento conjunto de sinergias positivas, sem conflitos entre os colabo- radores, gestores e acionistas. • Apesar de grande parte dos acionistas serem minoritários, as proteções legais nesse modelo são fortemente baseadas em princípios de justiça, principalmente com direito a voto perante shareholders oriented: orientado aos investidores pertencentes ao mercado. Glossário 68 Governança corporativa os processos decisórios. Por outro lado, devido à elevada disper- são da propriedade do capital, o impacto dos acionistas nas de- cisões é pequeno. • Há forte presença de outsiders, sendo eles representantes de acionistas ou de grupos de acionistas com maior poder de mer- cado, cuja participação tem forte repercussão nos conselhos ad- ministrativos e colegiados e impacto político nas decisões. Apesar de a maioria estar fora do escopo da decisão, um pequeno grupo controla o rumo das companhias, exigindo retornos satisfatórios e aumento do valor da empresa no decorrer do tempo. • Há uma grande variedade de empresas listadas na bolsa de va- lores, com elevado nível de liquidez, isto é, as ações podem ser comercializadas a qualquer momento, sem um prazo longo para venda ou compra. • Estão presentes leis que regulamentam o segmento acionário, como a Lei Sarbanes-Oxley e a Lei Dodd Frank nos EUA. • Há forte presença da governança corporativa. Preza-se a imple- mentação de boas práticas, com relatórios emitidos por comis- sões e critérios de avaliação pelo mercado perante as empresas listadas na bolsa. Para complementar, o modelo anglo-saxão apresenta um “modo operante” presente nas companhias de capital aberto, principalmente com relação ao processo de gestão. A Figura 1 ilustra os pontos funda- mentais presentes nesse tipo de modelo. Figura 1 O processo de gestão no mode- lo anglo-saxão Missão corporativa Monitoramento do CEO Revisão dos objetivos financeiros Revisão dos planos estratégicos Conformidade Eficácia Fonte: Elaborada pelo autor. Os modelos de governança 69 Monks e Minow (2004) afirmam que os modelos baseados no mer- cado enfatizam o planejamento e a gestão das companhias, obedecen- do o seguinte fluxo de operações: É importante o delineamento e a aprovação de uma missão corporativa. É fundamental que o CEO da empresa seja monitorado, tenha compensações financeiras mediante o desempenho e, se necessário, que viabilize a sua substituição, assegurando uma sucessão de gerenciamento adequada. É fundamental a revisão dos objetivos financeiros da empresa, incluindo a alocação significativa de capital. Deve-se monitorar o desempenho corporativo em relação aos planos estratégicos. É prioritário garantir comportamento ético e a conformidade com leis e regulamentos. Deve-se avaliar a sua própria eficácia Por fim, o modelo anglo-saxão apresenta uma característica funda- mental: a sua orientação é para o mercado e tem objetivos precisos, principalmente aqueles relacionados à captação financeira no mercado de ações com base em estratégias elaboradas para a realização de ope- rações financeiras que possam garantir a rentabilidade da companhia, para assegurar novas captações e movimentos especulativos na bolsa de valores. 4.2.2 O modelo alemão O modelo alemão é bastante diferente do modelo anglo-saxão, principalmente em relação ao capital. Nesse modelo, há maior con- centração da propriedade acionária, não há uma elevada dispersão do capital e os recursos financeiros são originados do sistema bancário. O modelo de governança, nesse caso, é denominado bank oriented, 70 Governança corporativa isto é, as ações das empresas são focalizadas para satisfazer os seus credores potenciais, sendo o sistema bancário bastante representati- vo nesse contexto. Nesse sentido, os bancos assumem um posiciona- mento de controle, bastante presente na estrutura de controle dessas companhias. Portanto, no modelo alemão, diferentemente do modelo anglo-saxão, o mercado de capitais não assume uma maior importân- cia em relação aos aspectos decisórios. Devido a essa característica, temos a presença de investidores insiders e uma maior centralidade da propriedade relacionada ao capital das empresas. Para compreender o sistema pelo qual as empresas na Alemanha são dirigidas e controladas, é preciso investigar toda a sua estrutura e dinâmica, não apenas em relação às instituições, mas também em relação ao contexto social. É importante observar que os quesitos da governança corporativa são apenas uma parte do contexto, pois as pessoas, entendidas como consumidores, são igualmente importantes. O povo da Alemanha tem caráter tão variado e diversificado quanto o de qualquer outra nação; portanto, qualquer generalização é mais ver- dadeira para alguns do que para outros. A razão pela qual vale a pena arriscar generalizações é mostrar que o transplante de estruturas for- mais praticado na Alemanha não produzirá necessariamente padrões idênticos de comportamento em outros países. O senso de cooperação também é evidente na esfera social. As em- presas buscam a lucratividade, mas, por outro lado, existe uma preocu- pação constante com a comunidade, com o povo alemão. A cooperação é entendida como um movimento que trará frutos para a comunidade, o que é entendido como um benefício a todos. Nessa concepção, as decisões financeiras e comerciais não são somente direcionadas para os interesses das empresas, como entidades isoladas, sendo também importante colocar nas pautas de planejamento os resultados para o meio ambiente e para a sociedade como um todo. López-Iturriaga (2009) afirma que os alemães argumentam que os critérios econômicos apresentam resultados em um segundo plano; assim, os números não significam, necessariamente, a totalidade da realidade. Portanto, o modelo alemão de governança é centrado nas pessoas, nos benefícios sociais e nas melhorias para o coletivo. Essa é a prerrogativa adotada pelas empresas. Notadamente, as companhias Os modelos de governança 71 realizam treinamentos com o objetivo de reduzir os desperdícios em potencial, otimizando os processos, mas como uma tentativa conscien- te de produzir pessoas mais bem treinadas para o país. Com esse espí- rito de colaboração, tem-se objetivos de longo prazo, com a ênfase em uma obrigação social atrelada à gestão estratégica. Portanto, os geren- tes industriais alemães, membros dos conselhos de administração e da hierarquia de supervisão, são alinhados nesse aspecto. Os banqueiros também parecem pensar a longo prazo e não esperar resultados muito em breve. Dessa forma, os relatórios anuais compreendem uma pers- pectiva de longo prazo, cuja ênfase está nas medidas para o desenvol- vimento das companhias e da economia como um todo. A relativa falta de importância do mercado de capitais pode ter cau- sas econômicas bastante distintas, mas o comportamento dos bancos, por meio do qual uma alta proporção de poupança é canalizada, reflete diretamente o pensamento predominante: as empresas atuam de ma- neira conjunta, mas, por outro lado, há uma elevada concentração do capital acionário. Em relação às decisões econômicas,é primordial que as empresas de grande porte tenham um comitê econômico externo. Esses comitês têm direito à informação das companhias, incluindo in- formações sobre: • A situação econômico-financeira da empresa, inclusive sobre as perspectivas futuras. • A situação de produção e vendas, com um detalhamento do mer- cado consumidor e das preferências. • O programa de investimentos, inclusive com prioridades de cur- to, médio e longo prazos. • Projetos para racionalização de recursos, com o uso adequado de insumos na planta produtiva. • Mudanças organizacionais, incluindo fusões e aquisições programadas. O conselhos administrativos devem priorizar a codeterminação e ter o direito de participar de decisões (inclusive com a intenção de obter informações sobre as companhias), promovendo confiança, cooperação e harmonia. Os resultados do trabalho desses comitês são bastante positivos, uma vez que geram melhorias em toda a rede A Alemanha apresenta uma economia sólida, tendo como princípio bá- sico a cooperação. O país superou várias crises, inclusive a crise financeira de 2008. Por outro lado, o governo adotou medi- das restritivas para conter os gastos governamentais e diminuir o déficit públi- co, causando desempre- go para muitas pessoas e problemas sociais. Para saber mais, visite o site: https://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2016/01/160131_segre- do_alemanha_economia_ab. Acesso em: 16 abr. 2020. Saiba mais 72 Governança corporativa de relações entre empregador e empregado e políticas de incentivo, inclusive considerando bônus nas remunerações. É interessante ob- servar como o capital, expresso pelo direito de propriedade, é distri- buído entre os principais atores que participam no planejamento das companhias de capital aberto na Alemanha. Rott (2009) aponta algumas características importantes no mo- delo alemão, sobre o qual o sistema bancário desempenha forte influência: os financiamentos são de longo prazo e são a principal fonte de recursos financeiros das empresas. Diferentemente do mo- delo anglo-saxão, o modelo alemão não depende do mercado de capitais para se capitalizar. A propriedade é concentrada, mas o pro- cesso de gestão é compartilhado, não apresentando características autocráticas. O modelo, portanto, é de stakeholders oriented. De acordo com Rott (2009), podemos apontar as seguintes consi- derações sobre o modelo alemão: • Os recursos financeiros são de origem bancária, correspon- dendo à captação de recursos de longo prazo. A relação entre capitalização e PIB na Alemanha apresenta valores percentuais abaixo de 60% nas últimas décadas, ficando bem abaixo dos valores dos EUA, por exemplo, que têm percentuais acima de 100%. Isso mostra que a Alemanha depende menos do merca- do de capitais para seu processo de captação de recursos. • O controle acionário na Alemanha é concentrado nas mãos do Governo e de um pequeno número de investidores. O capital acionário é de mais de 50% para esses grupos minoritários. O artigo intitulado Alemanha: o modelo de capitalismo social e os desafios no limiar do século XXI, publicado pela Revista de Sociologia e Política, da Uni- versidade Federal do Paraná, traz dados interessantes sobre a governança na Alemanha e o delineamento de um modo capitalista de produção mais participativo, que envolve os trabalhadores nos moldes relacionados à gestão. Apesar das mudanças ocorridas nos tempos recentes, as característi- cas institucionais permanecem, com um modelo cooperativo que tem como enfoque o desenvolvimento social. Acesso em: 16 abr. 2020. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782014000300004 Artigo autocráticas: gestões basea- das na opinião de uma única pessoa, com forte tendência centralizadora. stakeholders oriented: envolve a participação dos cola- boradores e de todas as partes interessadas pela empresa. Glossário Para saber mais sobre os dados de capitalização em relação ao PIB na Alemanha, visite o site: https://www.ceicdata.com/pt/ indicator/germany/market-capi- talization--nominal-gdp. Acesso em: 27 abr. 2020. Para saber mais sobre os dados de capitalização dos EUA em relação ao PIB, visite o site: https://www.ceicdata.com/pt/ indicator/united-states/marke- t-capitalization--nominal-gdp. Acesso em: 27 abr. 2020. Saiba mais Os modelos de governança 73 • Observa-se que a proteção aos minoritários não é o objetivo fundamental. Percebe-se uma maior preocupação dada ao in- vestidor. Inclusive, em 1997, com o surgimento de empresas de tecnologias, criou-se o mercado prime 2 Forma de estruturação de empresas de capital aberto relacionadas ao desenvolvimen- to de novas tecnologias. 2 , que incorporou as re- gras do Neuer Markt 3 Mercado alemão que engloba as empresas de tecnologia. 3 , reformulado em 2003. • Há um número pequeno de ações em circulação. Há o predomí- nio de um modelo fechado e de elevada concentração acionária. Quando as empresas emitem as ações, na maior parte das vezes, há apenas um acionista predominante. A liquidez no mercado é baixa. A bolsa de Frankfurt é bastante representativa, sendo o DAX 30 o principal índice de ações da bolsa de valores alemã 4 . O modelo de governança na Alemanha tem como premissa atender os objetivos de todas as partes interessadas e da sociedade de uma forma geral. Por outro lado, essa estratégia é bastante diferente do po- sicionamento dos outros mercados no mundo, principalmente aqueles com maior liquidez, pertencentes ao modelo anglo-saxão. A participa- ção dos colaboradores no processo de decisão das companhias alemãs é uma conduta que vem sendo criticada nos tempos recentes. Portan- to, mediante à elevada internacionalização do capital nos mercados, é uma tarefa árdua manter os preceitos tradicionais do modelo alemão como sendo mandatórios para a elaboração dos processos de gover- nança. A forte presença do segmento bancário no controle das empre- sas incorpora uma lógica de acumulação centralizadora, que inviabiliza a criação de produtos e serviços no mercado acionário alemão, com menores possibilidades de capitalização para as empresas de menor porte, tendo, portanto, um menor reflexo para a geração de emprego e renda na economia. Para verificar o desempenho da bolsa de Frankfut, visite o site disponível em: https://tek.sapo. pt/noticias/negocios/artigos/ alemanha-encerra-mercado-de- -empresas-da-nova-economia. Acesso em: 27 abr. 2020. 4 Comente sobre as caracterís- ticas do modelo alemão de governança. Atividade 2 4.3 Determinantes dos modelos de governança Vídeo A governança corporativa é definida por variáveis que determinam sua configuração, as quais são denominadas fatores determinantes. To- dos os modelos são estruturados e delineados levando em conta seus determinantes estruturais. Cada um deles desempenha um impor- tante papel para a configuração da governança, possuindo um efeito unilateral e com o propósito de gerar resultados bem delineados. Ou seja, os determinantes dos modelos de governança são delineados por atores representativos, com base em suas necessidades, cada um com uma demanda específica. 74 Governança corporativa O Quadro 3 ilustra os principais atores e suas demandas. Quadro 3 Determinantes dos modelos de governança corporativa no mundo Investidores Maximização do valor acionário e o retorno. Colaboradores Participação no capital e reconhecimento. Consumidores Garantias e segurança perante os produtos e servi- ços ofertados pelas empresas. Fornecedores Necessidade de ética nas negociações. Sociedades Geração de emprego e renda, tendo efeitos multi- plicadores. Participação estatal. Estado Tributos auferidos e distribuição. Entidades de classe e ONGs Sustentabilidade ambiental. Fonte: Elaborado pelo autor. Entre os determinantes apontados, o de maior vulto é aquele que representa os interesses financeiros dos investidores (retorno do inves- timento e maximização do valor da empresa), tanto os privadoscomo os públicos. Primordialmente, o financiamento das empresas é realiza- do pela captação de recursos financeiros no mercado de capitais, com a emissão de ações e a realização de transações especulativas. Por isso, há uma necessidade crescente pela capitalização nos mercados. Os modelos de governança devem seguir essa lógica, mantendo a operacionalização das empresas dentro de moldes em que as ações emitidas pelas empresas gerem valor, independentemente do cresci- mento ou decréscimo do quantum de papéis negociados nas bolsas no mundo. Por outro lado, fatores inesperados, como crises financeiras, corrupção e eventos adversos, inviabilizam a governança corporativa como um instrumento pleno e efetivo de gestão corporativa. O que determina os modelos de governança, por fim, é o espírito de ganho especulativo e a manutenção de patamares razoáveis de produção, nas empresas e na sociedade de uma forma geral. Muitos interesses estão relacionados à determinação dos modelos de governança. Sabemos que o elemento que determina a governança corporativa e os seus modelos está muito próximo dos ganhos financeiros auferi- dos por investidores institucionais e de uma elevada concentração de dinheiro fictício, imerso em uma nuvem improdutiva, definida como capital fictício (MARX, 1980), sendo essa concentração, muitas vezes, uma representação direta de ganhos acima do necessário. A conse- Assista ao vídeo de Cientista quer trazer novo modelo de governança ambiental para o Brasil, publicado pelo canal DW Brasil, o qual aborda o trabalho da bióloga Camila Jericó-Daminello, que desenvolveu uma pesquisa a respeito da recuperação de um rio na Alemanha. A cientista discute sobre o papel da governança e a respeito do posicionamento da Alemanha perante os problemas ambientais. Vale a pena! Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=qb7HqRpZ-9Q. Acesso em: 17 abr. 2020. Vídeo quantum: quanto, quantidade. Glossário Os modelos de governança 75 quência direta dessa estratégia são os movimentos de alta e queda da bolsa de valores, sem investimentos realizados no âmbito produti- vo e sem a construção de uma infraestrutura digna para a população em todos os países. O que se percebe é uma elevada concentração de renda nas mãos de poucos e um elevado nível de pobreza no mundo, o que impacta negativamente na vida das pessoas e sobre os peque- nos empreendedores. Harvey (2010) comenta sobre o crescimento da concentração de renda e riqueza no mundo, em termos geográficos, e a relação com a predominância de grandes grupos internacionais nos processos de decisão dos investimentos especulativos e produtivos em todo o mundo. Portanto, vemos que o determinante sociedade é deixa- do de lado nos modelos de governança. Tanto o modelo anglo-saxão como o alemão (mais centralizado) são determinados pelos resultados das empresas e por sua relação com o ambiente especulativo. A única variável que determina realmente a governança é o ganho de capital. Logo, todos os seus preceitos, estraté- gias, princípios, formatos, leis e toda a gama estrutural serão moldados tendo como fator determinante o processo de acumulação financeira. Portanto, esses modelos deveriam estar pautados na maximização dos acionistas e na obrigatoriedade de os retornos auferidos serem inves- tidos no ambiente produtivo, para melhorias no bem-estar de toda a sociedade. Além disso, questões sociais, como condições sanitárias e acesso à habitação, educação e saúde, deveriam ser os fatores determi- nantes da governança corporativa. Para que possamos ter um modelo sadio, é fundamental que os grandes grupos internacionais canalizem esforços para esse objetivo, por meio de parcerias com governos, em- presas e instituições no mundo, pois o dinheiro fictício perderá valor se não houver melhorias nas condições de vida das pessoas e no acesso aos bens fundamentais para a sobrevivência dos povos. Comente sobre os determinantes dos modelos de governança corporativa. Qual é o mais representativo? Atividade 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A governança surgiu como uma resposta das empresas à precarieda- de da regulação prestada pelos Estados Nacionais. Verifica-se a necessi- dade de um conjunto de normas e diretrizes para implementação de um cenário satisfatório nas empresas, que tenha como foco principal a ren- tabilidade financeira. A estrutura das companhias de capital aberto deve priorizar resultados satisfatórios para os acionistas, podendo apresentar maior ou menor dependência em relação ao mercado de capitais. 76 Governança corporativa Para se compreender melhor como é possível atingir tais objetivos, é importante verificar os diferentes modelos de governança praticados. O modelo anglo-saxão representa a preponderância da lógica da gover- nança corporativa no mundo, principalmente pelo elevado nível de liqui- dez que proporciona para as ações emitidas e pela liberdade de entrada e saída de capitais especulativos no mercado de capitais. Por outro lado, o modelo alemão representa maior centralidade do capital, expresso pelo poder dos bancos nos aspectos decisórios das empresas, e apresenta maior possibilidade de um maior grau de endividamento no longo prazo. Apesar das tentativas dos modelos de governança em otimizar os re- tornos dos investidores, constata-se uma enorme lacuna no âmbito social, devido à ausência de recursos financeiros para a ampliação da qualidade de vida das populações e para a viabilização de novos arranjos produtivos, aspectos visíveis para além do ambiente especulativo e centralizador do mercado de capitais. REFERÊNCIAS BERGLOF, E. Corporate control and capital structure: essays on property rights and financial contracts. Estocolmo: Stockholm School of Economics, 1990. Disponível em: https://ex.hhs. se/dissertations/222024-FULLTEXT01.pdf. Acesso em: 24 abr. 2020. FRANKS, J.; MAYER, C. Hostile takeovers and the correction of managerial failure. Journal of Financial Economics, n. 40, 1996. GADHOUM, Y.; LANG, L. H. P.; YOUNG, L. S. F. Who controls us?. 2005. Disponível em: https:// papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=399801. Acesso em: 24 abr. 2020. HARVEY, D. O enigma do capital e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010. LA PORTA, R.; LOPEZ-DE-SILANES, F.; SHLEIFER, A. Corporate ownership around the world. Journal of Finance, v. 54, n. 2, 1999. LÓPEZ-ITURRIAGA, F. J. (ed.). Codes of good governance around the world. Hauppauge: Nova Publishers, 2009. MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. MONKS, R. A.G.; MINOW, N. Corporate governance. Oxford: Blackwell, 2004 PROWSE, S. Corporate governance in a international perspective: a survey of corporate mechanisms among large firms in the United States, the UK, Japan and Germany. BIS Economic Papers, n. 41, jul. 1994. Disponível em: https://www.bis.org/publ/econ41.pdf. Acesso em: 24 abr. 2020. ROTT, R. A systemic evaluation of the German corporate governance code: the battle between inconsistency and persistence. In: LÓPEZ-ITURRIAGA, F. J. (ed.). Codes of good governance around the world. Hauppauge: Nova Publishers, 2009. Os modelos de governança 77 GABARITO 1. Os principais critérios para a diferenciação dos modelos de governança corpora- tiva são: • Poder acionário: representado pelos investidores que capitalizam as empresas por meio da compra das ações emitidas no mercado de capitais. Quanto menor a pulverização de ações, maior o poder acionário. • Índice de concentração do capital nas empresas: retrata o grau de conglomera- ção das companhias e reflete o poder de concentração do capital em atividades e setores produtivos. • Estrutura de capital: assume um caráter produtivo ou especulativo. Quanto me- nor a preocupação com o social, maior será a composição para os investimentos especulativos. • Forças internas e externas: composta de elementos constitutivos das empresas e de investidores. A interação entre os atoresreflete na governança corporativa. 2. O modelo alemão representa um modelo mais centralizador, financiado por recursos bancários e de longo prazo. O mercado de capitais apresenta baixa liquidez, sendo que há uma preocupação constante com os colaboradores no processo de governança. 3. Os determinantes dos modelos de governança são expressos pelos principais atores representativos dos processos de planejamento de uma empresa de capital aberto. São os seguintes: os investidores, os colaboradores, os consumidores, os fornecedores, a sociedade, os estados e as entidades de classe. O que apresenta maior peso em rela- ção à determinação da governança corporativa são os investidores, principalmente em relação ao aspecto de rentabilidade financeira, representada pelo ganho de capital no mercado especulativo, sendo que, na maior parte das vezes, é um ganho improdutivo. 78 Governança corporativa 5 A governança corporativa nas organizações Neste capítulo, estudaremos o papel das empresas transna- cionais (ETNs) na governança corporativa. O delineamento de estruturas produtivas que possam proporcionar cenários promis- sores para essas empresas é o objetivo fundamental das compa- nhias de capital aberto. Trataremos a respeito da lógica de operação dessas companhias em um mundo globalizado. Vamos compreender sobre a governan- ça corporativa no Brasil, com o entendimento do papel do Estado na governança e uma discussão a respeito da estratégia adotada pelas companhias de capital aberto na bolsa de valores para dinamizar os retornos auferidos nas transações realizadas no mercado financei- ro. Será comentado um case sobre as empresas transnacionais na saúde, pautadas na aplicação de processos de auditoria e obtenção de padrões de qualidade. 5.1 As empresas transnacionais e seu impacto na governança Vídeo As empresas transnacionais são representadas por grandes corpora- ções internacionais que centralizam a oferta de bens e serviços no mun- do. São organizadas por uma forma de mercado denominada oligopólio, que conta a presença de poucas companhias em cada setor produtivo na economia. Essas companhias têm total controle sobre os preços pratica- dos no mercado e sobre a quantidade de produtos e serviços disponibi- lizados para os diferentes países, possuem produção em elevada escala e sua obtenção de lucros é significativa em todas as áreas produtivas. A governança corporativa, por sua vez, legitima este processo, criando mecanismos institucionais para a obtenção destes objetivos. escala: produção em elevada quantidade, com um custo unitário por produto pouco significativo. Glossário A governança corporativa nas organizações 79 O estudo intitulado Concorrência sob condições oligopolísticas: contribuição das análises centradas no grau de atomização/concentração dos mercados, de Ana Lúcia Gonçalves da Silva, publicada pela revista Teses, da Unicamp, trata sobre o oligopólio e o seu poder nos mercados. Uma importante discussão nos dias atuais, principalmente em relação ao impacto nos preços praticados por essas companhias nos diversos mercados no mundo. Acesso em: 29 abr. 2020. https://www.eco.unicamp.br/neit/images/stories/arquivos/Teses_Neit/tese_ana_lucia.pdf Artigo É de importância fundamental a compreensão do papel das empre- sas transnacionais como fornecedoras de insumos e tecnologias para todo o mundo, e também de produtos e serviços. É importante destacar que os países em desenvolvimento apresen- tam uma elevada vulnerabilidade perante as transnacionais, principal- mente em virtude da defasagem de conhecimento – entendido como know how –, por exemplo, em relação à proteção por patentes, as quais resguardam as empresas, regulamentando os direitos e a produção de produto, para que, assim, sejam disponibilizados adequadamente à população. O estudo da teoria do subdesenvolvimento, um campo de pesquisa da economia política, colabora para um maior entendimento dos processos históricos e econômicos que circundam essa dependên- cia estrutural (FURTADO, 2004). Para complementar a análise, o arcabouço teórico fornecido por Chesnais (1996) é de elevada representatividade, por detalhar os re- flexos que o capital – entendido como um processo de valorização financeira – pode apresentar no mercado especulativo de ações. Há, portanto, a necessidade de um entendimento sob a ótica produtiva e outro sob o comando dos papéis no mercado especulativo. Nesse contexto, a governança corporativa tem como objetivo proporcionar um cenário para as companhias internacionais que favoreça o lu- cro nos dois ambientes: o produtivo e o especulativo. Os países em desenvolvimento, tais como o Brasil, colaboram para o crescimen- to das empresas internacionalizadas, principalmente pelo elevado grau de dependência produtiva. As empresas transnacionais passaram por estágios de expansão ao longo de sua história. Primeiramente, quando houve o desenvolvimen- to das empresas comerciais, extrativas, agrícolas e de serviços públicos, Para saber mais sobre oligopólios, leia o texto As 10 empresas que con- trolam o mundo, de Livia Aguiar, publicado pela revista Superinteressante. Disponível em: https://super.abril. com.br/blog/superlistas/as-10-em- presas-que-controlam-o-mundo. Acesso em: 29 abr. 2020. Leitura patentes: direitos adquiridos sobre a tecnologia desenvolvida. Glossário 80 Governança corporativa sendo que, nesse estágio, a expansão se deu por meio de um comércio internacional desigual, que se apropriava do excedente produzido nos países periféricos por intermédio de mecanismos de preços e de vanta- gens comparativas 1 , tanto na ótica produtiva como na financeira, e pela concessão de empréstimos internacionais aos países dependentes. Nos anos 1950, empresas estrangeiras de eletrodomésticos, farmacêu- ticas, alimentícias, automobilísticas, petroquímica e de bens de capital se instalaram nos países com maior deficiência produtiva (BRESSER-PEREIRA, 1978). Consolidou-se, assim, uma nova forma de dependência desses país com o exterior: o modelo de subdesenvolvimento industrializado, com um Estado tecnoburocrático-capitalista proporcionando benefícios e isenções, concentrando renda e beneficiando classes de maior poder aquisitivo (BRESSER-PEREIRA, 1978). Sobre isso, cabe salientar que a defi- nição de empresa transnacional não é dada às empresas somente devido às suas atividades no exterior, independentemente de serem comerciais, financeiras ou de extração de recursos. O conceito, na verdade, está es- tritamente relacionado à ampliação da estrutura produtiva dessas com- panhias em mais de um país, com representantes para comercialização e expansão das vendas de modo global (BRESSER-PEREIRA, 1978). Há o pleno interesse por parte das ETNs em assegurar os mercados nos países periféricos para aproveitar as inovações tecnológicas dos países de origem e implementar novos produtos no exterior. Essa di- nâmica favorece a ampliação do ciclo do produto e das taxas de lucro das companhias, ao mesmo tempo em que se economiza com a pro- dução por meio da utilização de mão de obra barata. Isso acaba geran- do um efeito multiplicador na economia local dos países dependentes, mantendo, assim, essa relação entre países desenvolvidos e subdesen- volvidos (BRESSER-PEREIRA, 1978). Sabendo-se que essa “lógica” se en- contra muito presente atualmente, a governança corporativa caminha nesse sentido, com o delineamento das seguintes estratégias: • Desenvolvimento de sistemas de informação para otimizar a transferência do excedente financeiro aos países de origem, de- nominados matrizes. • Acordos “políticos” entre os governos, para obter vantagens comparativas e subsídios. Um exemplo atual é a liberação do capital estrangeiro na saúde, com a promulgação da Lei Federal n. 13.097/2015. países periféricos: países de- pendentes no âmbito produtivo. Glossário Conceito relacionado à teoria econômica do comércio inter- nacional, a qual preconiza que um país iráproduzir os bens e serviços que tiverem maior grau de especialização, produtividade e ganhos de escala. 1 A governança corporativa nas organizações 81 • Criação de barreiras de entrada, inviabilizando a abertura de em- presas nacionais nos países dependentes. • Diminuição na quantidade de empregos, principalmente pela maior utilização de tecnologias no aparato produtivo. • Desenvolvimento e adoção de critérios de qualidade estrangei- ros, como a obtenção de certificações como a International Orga- nization for Standardization (ISO). • Comercialização de novos produtos no mercado acionário, com a diversificação da produção e oferta pública de ações para a cap- tação financeira. É importante dizer que sempre existiu a intenção de transferên- cia do excedente produtivo para o país detentor da tecnologia, o que implica na geração de renda do país subordinado aos interesses eco- nômicos das companhias. A governança corporativa intensifica esse processo. Devemos lembrar que as empresas transnacionais assumem um comportamento de acordo com o objetivo de ampliar os investi- mentos relacionados ao desenvolvimento de novas tecnologias. Cabe, por outro lado, aos governos dos países dependentes desenvolverem mecanismos para minimizar essa “dependência”, principalmente com o desenvolvimento de pesquisas no âmbito científico. O debate sobre a importância das transnacionais no contexto dos países em desenvolvimento é um tema bastante polêmico. Por um lado, temos a dependência, mas, por outro, as empresas estrangeiras desempenham um importante papel para o desenvolvimento econô- mico no mundo, criando emprego e renda. A governança corporativa procura intensificar esse processo implementando preceitos éticos de operação e todo um conjunto de medidas que priorizam a ampliação da escala produtiva dessas companhias no mundo. A partir dessa visão, durante os anos 1950, 1960 e 1970, surgiram discussões entre “nacio- nalistas” e “internacionalistas” a respeito do papel das transnacionais como polos produtivos no mundo. Alguns afirmavam que essas compa- nhias contribuíam para a ampliação do PIB e, portanto, eram benéficas para a geração de emprego e renda. Outros diziam que a transferência de lucro para o exterior era abusiva, mesmo com a implementação de estruturas produtivas locais, e que, por isso, seria necessária maior in- tervenção do Estado no controle dessas remessas financeiras para as sedes das empresas nos países centrais (BRESSER-PEREIRA, 1978). Você sabia que o instituto Fiocruz desenvolve pesquisas e debates acerca do desenvolvi- mento do parque industrial da Saúde no Brasil, principalmente relacionados ao âmbito das inovações e inclusive no combate à Covid-19? Para mais informações, visite o site: https://portal.fiocruz.br/. Acesso em: 20 abr. 2020. Curiosidade 82 Governança corporativa Sabemos que a governança corporativa, no mundo contemporâ- neo, caminha nesse sentido, o de acumulação do excedente financei- ro proporcionado pelos países dependentes. Mas, em contrapartida, a sistemática de operação das grandes empresas, legitimada pela gover- nança corporativa, colabora para o desenvolvimento de novas tecnolo- gias e para o aprimoramento do conhecimento científico. Sob o ponto de vista dos “internacionalistas”, a instalação de estrutu- ras produtivas nos países dependentes seria benéfica para a ampliação do conhecimento técnico, o aumento da oferta de produtos para con- sumo local e a intensificação das sinergias entre os produtores locais e os estrangeiros. No entanto, os “nacionalistas” entendem que as re- messas de dinheiro dessas empresas, denominadas lucros ao exterior, seriam abusivas, desfavorecendo o reinvestimento produtivo, além de favorecerem um mercado exportador com subsídios aos países desen- volvidos (BRESSER-PEREIRA, 1978). Essa discussão, apesar de ter sido conduzida em meados da década de 1970, mantém-se atual para, agora, entender a nova forma que as empresas transnacionais assumem no capitalismo contemporâneo, es- pecialmente em relação a uma esfera financeira entendida como capital fictício. Nesse âmbito, os ganhos financeiros não estão somente na área produtiva, visto que migram, em grande parte, para a ótica especula- tiva 2 . De fato, a governança corporativa tem como principal objetivo a maximização do lucro destinado aos investidores especulativos. No entanto, é primordial que as operações no ambiente produtivo sejam otimizadas, ou seja, que as companhias operem com rentabilidades ele- vadas e projetos de expansão relacionados às suas atividades. O movimento financeiro, expresso pelo retorno produtivo e especu- lativo, assume diversas formas e contextos, com uma velocidade que ultrapassa considerações a respeito de possíveis participações da pro- dução das empresas estrangeiras no PIB. A volatilidade do capital fi- nanceiro não tem “um dono” específico, e as transações são realizadas tendo em vista a maximização dos ganhos e a minimização das perdas. As informações contábeis, de rendimentos, de investimentos e de re- tornos, contidas nos relatórios emitidos pelas empresas transnacionais nessa nova forma do capitalismo contemporâneo, são instrumentos importantes para manter um estado de tranquilidade dos investido- res e, consequentemente, aumentar a rentabilidade das ações dessas companhias no mercado acionário. O conceito de capital fictício nos leva a Marx (1980) e é a expressão da valorização finan- ceira no mercado de ações, com a representação dos papéis das empresas e sua comercialização. 2 A governança corporativa nas organizações 83 As decisões das empresas transnacionais são tomadas com base nos retornos especulativos em mercados acionários, sendo que, naqueles relacionados à ótica produtiva, há uma nova relação entre as finanças e a indústria (CHESNAIS; SAUVIAT, 2003). As ETNs, na configuração do ca- pitalismo contemporâneo, apresentam estruturas oligopolistas imersas no mundo globalizado e se distanciam do modo operante das firmas tra- dicionalmente conhecidas e que estão dentro de um mercado produtivo. As suas relações se misturam, tanto na ótica da produção como no âm- bito da valorização de papéis no mercado acionário, com uma caracterís- tica “técnico-financeira”, isto é, com sua representatividade no mercado de ações e com forte dependência tecnológica dos países periféricos. Dessa forma, esse novo momento do capitalismo, denominado capi- talismo contemporâneo, é permeado por maior flexibilidade monetária, maior internacionalização das empresas e, sobretudo, pela valorização monetária expressa pela negociação de ações no mercado acionário. Nesse sentido, a governança corporativa atua com a construção de sistemas de informação que possibilitem o fluxo contínuo de dinheiro aos países de origem. Chesnais e Sauviat (2003) afirmam que os ganhos financeiros, dominados pelo mundo das finanças e refletidos em opera- ções de compra e venda de ações no mercado das bolsas de valores, são extremamente importantes para o desenvolvimento de mecanismos econômicos que levam à expansão dessas empresas. Ainda, os autores enfatizam que a liberalização econômica e a desregulamentação do mo- vimento de capitais no mundo são fatores fundamentais para a amplia- ção das atividades das ETNs e dos seus investidores institucionais. Serfati (2008, p. 10) comenta sobre a nova forma que as empresas transnacio- nais assumem no capitalismo contemporâneo, permeadas pela gover- nança corporativa e com atividades produtivas e especulativas: As transnacionais, organizadas e estruturadas como grupos de empresas, são um local para uma valorização global do capital, onde a valorização produtiva e a financeira estão estreitamente interligadas. No contexto de um regime macroeconômico glo- bal de acumulação dominado pelo capital financeiro, a lógica financeira assume um papel preeminente nas estratégias das transnacionais. A desregulamentação irrestrita dos mercados financeiros e a multiplicaçãode inovações financeiras (produ- tos e instituições) deram um novo impulso à transformação das empresas transnacionais, que podem ser definidas como grupos financeiros com atividades industriais. 84 Governança corporativa Com base nesse cenário, podemos constatar uma elevada osci- lação no mercado acionário. A criação de novas alternativas em um contexto de instabilidade econômica é um dos objetivos da gover- nança corporativa, principalmente no sentido de viabilizar novos negócios. Como exemplo, podemos mencionar as oportunidades geradas em um cenário de crise. No contexto atual, com o surgimento de epidemias, sempre teremos empresas em expansão e outras em declínio. As companhias ligadas ao segmento da saúde certamente terão maiores vantagens competi- tivas e suas ações terão valorização, sendo que novas oportunidades terão a sua presença assegurada no mercado. Dito de outra forma, a governança corporativa se transforma mediante o contexto econômico e as modificações das atividades presentes nos grandes grupos. Para se valorizar, o capital necessita da transformação dos cenários, das cir- cunstâncias e dos retornos futuros. A presença de poucas empresas transnacionais no mundo favorece acordos para a viabilização dos lu- cros mediante cenários de instabilidade. Portanto, a governança pode se adaptar e se transformar nesse movimento constante de valoriza- ção do capital. A formação de um mercado de oligopólio, com poucas empresas, não é um processo estático; há mudanças nas tecnologias desenvolvidas no decorrer do tempo, com diversos acordos comerciais delineados pela governança e efetuados entre as grandes empresas. As parcerias estratégicas entre as empresas transnacionais, muitas vezes, estão imersas em um conjunto de forças díspares, com a ameaça constante de um participante em relação ao outro. As empresas menores, diante desse quadro com muitas barreiras à participação na produção, devem adotar formas de cooperação com os grandes grupos, no intuito de cobrirem o seu atraso tecno- lógico relacionado à tecnologia incorporada ou à que será imple- mentada no sistema produtivo (PORTER, 1986). Portanto, a governança tem como um de seus objetivos agregar empresas de menor porte às linhas de produção efetuadas pelas grandes companhias. Cabe salientar que o novo regime de acumu- lação do capital, na atual fase do capitalismo, está inserido em um mercado financeiro estruturado. Para Chesnais (1996), a liberaliza- ção econômica e a desregulamentação das bases operacionais de funcionamento das companhias favorecem a criação de um cená- A governança corporativa nas organizações 85 rio no qual a produção de produtos e serviços reflete as condições para a representação dessa empresa internacional nos mercados, e quanto mais garantido for o cenário real, maiores serão as chan- ces de valorização dos papéis no mercado de ações. Quais são as principais caracte- rísticas de uma empresa trans- nacional e qual é a sua forma de operação nos mercados? Atividade 1 5.2 A governança corporativa no Brasil Vídeo Compreender a governança no contexto das organizações brasilei- ras é uma tarefa complexa e exige um grau de reflexão significativo, principalmente se considerarmos que as empresas internacionais rea- lizam suas políticas de governança com reflexos para suas transações comerciais no mundo, e tais políticas visam à rentabilidade financeira e otimização dos ganhos para viabilizar novos negócios. Quando pensamos no Brasil, devemos entender a importância da governança com outra perspectiva, principalmente em relação aos seus benefícios indiretos, como a geração de emprego e renda. O Brasil tem uma representatividade estatal muito significativa, principalmente no que diz respeito à construção de políticas públicas para a concretização de programas que possam contribuir para a melhoria do bem-estar das pessoas como um todo. Apesar das questões problemáticas rela- cionadas ao estado, como casos de corrupção, a governança corpora- tiva no Brasil deve ser entendida com um novo olhar interpretativo, principalmente por considerar aspectos que envolvem a construção de um sistema público que beneficie a operação dos grandes grupos internacionalizados e, por outro lado, por ter uma forte representativi- dade por meio dos direitos adquiridos pelas pessoas após o advento da Constituição de 1988 (DRAIBE; RIESCO, 2006). Portanto, a governança corporativa no Brasil deve ser compreen- dida por meio das ações governamentais para minimizar a miséria, implementar medidas relacionadas à saúde e contribuir para o con- texto internacional, principalmente quanto ao aspecto de regulação adotado pelo Estado perante o mercado. Dito de outra forma, deve- mos entender a governança com base no planejamento das empre- sas internacionais (ETNs) e do Estado, sendo que as ações dessas duas entidades são complementares no decorrer do desenvolvimen- to do cenário econômico brasileiro. Apesar de não termos um “esta- 86 Governança corporativa do ideal”, próximo ao estado de bem-estar europeu, possuímos toda uma agenda de políticas públicas que proporcionam um ambiente adequado para a operacionalização das empresas e para a sociedade como um todo. O Brasil tem uma importante contribuição nesse contexto, princi- palmente em relação a determinados setores estratégicos para a eco- nomia global. De fato, o Brasil aumentou sua influência no sistema político internacional e na estruturação da governança em diversos países, principalmente para a concretização de “demandas potenciais” para as grandes organizações internacionais. Temos vários exemplos nesse sentido: a saúde é prestada para a população por meio do Sis- tema Único de Saúde (SUS) e complementada por convênios e segura- doras privadas; temos uma educação pública e também uma privada, para as classes de maior poder aquisitivo; temos as aposentadorias asseguradas pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e demais planos de previdência disponibilizados pelos bancos e seguradoras. Ou seja, todos os bens públicos são complementados por empresas inter- nacionais ou disponibilizados por essas companhias. A governança no Brasil caminha para o desenvolvimento de condi- ções propícias para a comercialização de produtos e serviços oferta- dos por companhias internacionais. Portanto, a governança no Brasil é pautada por políticas públicas para a concretização dessa lógica entre o Governo e as empresas internacionalizadas. O Quadro 1 ilustra a complementariedade dos serviços públicos e privados (empresas internacionais) em alguns segmentos representati- vos na economia brasileira. Quadro 1 O mix público e privado no Brasil Áreas representa- tivas Governo Transnacionais Saúde Sistema Único de Saú- de (SUS) Presença de grupos internacionais e nacio- nais no fornecimento de insumos, equipa- mentos e na prestação de serviços de saú- de (convênios e seguradoras) 3 Grupos nacionais com maior presença na atenção básica e na produção de fármacos. A alta com- plexidade na saúde é comandada por grupos internacionais. 3 . De grande importância no pós-guerra e em pe- ríodos após o advento de crises econômicas, como a crise de 1929, o estado de bem-estar social rea- liza benefícios para a po- pulação, como o direito à saúde, à educação e a políticas de amparo para as populações de menor poder aquisitivo. Sendo, portanto, completamente oposto ao ideal preco- nizado pelo liberalismo, que prioriza a contenção de gastos e defende a ampliação do mercado para a provisão dos bens e serviços necessários à população. No Brasil, ape- sar das dificuldades, temos o Sistema Único de Saúde (SUS), educação gratuita e assistências como as aposentadorias. OUseja, de certo modo, o Estado mantém uma situação confortável para o mercado oferecer seus bens e servi- ços para as pessoas. Para mais informações, in- dicamos a leitura do artigo Políticas sociais e modelos de bem-estar social: fragilidades do caso brasileiro,da autora Lenaura de Vasconcelos Costa Lobato, publicado pela revista Saúde Debate. Disponível em: http://www. scielo.br/pdf/sdeb/v40nspe/ 0103-1104-sdeb-40-spe-0087.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020. Saiba mais (Continua) A governança corporativa nas organizações 87 Áreas representa- tivas Governo Transnacionais Educação Educação pública Grupos internacionalizados na prestação de serviços educacionais 4 Particularmente no ensino superior, com as aquisições das universidades privadas. 4 . Assistência Aposentadoria (INSS) Planos privados de previdência, ofereci- dos por bancos e seguradoras interna- cionais. C o n s t r u ç ã o civil Planos de habitação para famílias de baixa renda Oferta de imóveis subsidiados por grupos financeiros e bancos. Utilização de insumos e tecnologias para a construção de países no exterior, como a China. Alimentação Setor agroexportador competitivo; vigilância sanitária para averi- guar a qualidade dos alimentos oferecidos à população Grupos internacionais centralizam a ofer- ta de alimentos no país. Fonte: Elaborado pelo autor. Vemos que o Brasil tem uma elevada representatividade no cenário internacional, principalmente por ter uma infinidade de recursos na- turais e por ter um Estado que fornece parcialmente os bens e recur- sos necessários à população. Além disso, o Brasil possui os elementos necessários para fornecer um grau de segurança para os investidores internacionais, sendo esse um quesito fundamental para a implemen- tação de uma governança estruturada nas empresas estrangeiras. Portanto, isso significa dizer que o Risco Brasil 5 O Risco Brasil representa o grau de oportunidade para novos negócios no país, principalmente para investidores estrangeiros. 5 apresenta um valor favorável para a entrada do capital estrangeiro no país, para a comercialização dos produtos estrangeiros e para a acentuação da dependência do Brasil perante os grupos internacionalizados. Para os acionistas, essa é uma condição fundamental para o aumento da rentabilidade dos seus papéis no mercado de ações, contanto que as condições estejam favoráveis para os negócios (BIRKINSHAW; HOOD, 2000). Fatores como guerras, pandemias e problemas políticos po- dem acarretar uma mudança no cenário, desfavorecendo essas gran- des companhias internacionais. É importante mencionar que não basta que a governança esteja pautada nos resultados individuais das empresas e de suas filiais no Brasil. O Estado deve fornecer os elementos para que as empresas in- ternacionais possam prestar suas atividades com vantagens competiti- (Continua) 88 Governança corporativa vas, isto é, para que possam promover a concorrência, sobretudo por meio do apoio à indústria nacional. Dessa forma, podemos ter o desen- volvimento de clusters que possam dinamizar a economia e produzir ganhos para as empresas internacionais sem efeitos negativos para os consumidores, principalmente no que diz respeito à cobrança de pre- ços elevados nos diversos setores. Assim, as empresas internacionais listadas na bolsa de valores te- riam desempenho acima das expectativas, pois poderiam dinamizar o mercado interno e proporcionar oportunidades para outros em- preendimentos de apoio às suas atividades. A cooperação é um pilar importante para a governança, com consequências para o aumento da rentabilidade das empresas e dos acionistas. Dessa forma, confor- me salienta Porter (1998), “os governos devem observar alguns prin- cípios básicos e elementares, de modo a adotar um papel apropriado no reforço da competitividade nacional: encorajar a mudança, promo- ver a rivalidade doméstica, estimular a inovação”. Essa situação não é favorável, pois a implementação de relacionamentos por parte do Governo poderia resultar em benefícios tangíveis e em um maior enga- jamento das empresas transnacionais na economia nacional, para um melhor aproveitamento de seus recursos, gerando, assim, consequên- cias positivas para a governança corporativa dessas empresas no país (ARNOLD; QUELCH, 1998). Um item bastante relevante para a plena efetividade da governança corporativa no Brasil tem relação direta com as inovações no ambiente produtivo, proporcionadas por novas alternativas de desenvolvimento de produtos e serviços. A inserção das empresas estrangeiras no Brasil e o impacto na governança têm profunda relação com o papel dessas companhias no país em que instalam suas filiais. Na maioria dos casos, essas empresas, por serem estrangeiras, ganham um status, impondo limitações para a entrada de novas empresas nacionais nos setores em que atuam. Dessa forma, limita-se a concorrência. As inovações são realizadas nos países de origem dessas companhias, com repercussões para a qualidade dos produtos oferecidos e para o aprimoramento da governança (FROST, 2001). Em relação ao escopo das inovações, é importante destacar que um dos mecanismos utilizados para maximizar a governança nas empresas consiste no aprimoramento de índices relacionados à sustentabilidade clusters: polos para o desen- volvimento interno da economia. Glossário A governança corporativa nas organizações 89 das companhias no Brasil, principalmente com o objetivo de minimizar os impactos negativos ao meio ambiente. A bolsa de valores (B3) im- plementou a construção de um índice que mede o desempenho das principais empresas listadas no mercado de capitais e sua relação com a sustentabilidade, tendo um forte impacto na governança corporativa. Sendo uma iniciativa pioneira na América Latina, o Índice de Sus- tentabilidade Empresarial (ISE) tem como principal objetivo o desen- volvimento de práticas éticas nas companhias e o desenvolvimento de estratégias sustentáveis. Em 2005, foi financiado pelo International Finance Corporational (IFC), parceiro do Banco Mundial e desenvolvido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O ISE é um indicador que realiza análises comparativas entre as empresas listadas na bolsa relaciona- das a critérios de eficiência econômica, justiça social e governança cor- porativa. No ISE, encontram-se também considerações a respeito dos efeitos ao meio ambiente, no âmbito de produção dessas companhias. Esse é um caminho para solucionar os problemas relacionados às políticas públicas, sobretudo no sentido de canalizar recursos para novos investimentos e novas oportunidades. O modelo de desenvol- vimento econômico baseado na dependência das empresas estran- geiras deve ser repensado, a fim de que sejam elaborados critérios que possam dinamizar o mercado de capitais e proporcionar alter- nativas para o fomento de companhias nacionais, com foco na com- plementariedade aos serviços prestados pelas ETNs. Os impactos ambientais estão nessa temática e envolvem o campo das inovações, dos produtos e dos processos, que devem ser feitos considerando um aproveitamento adequado dos recursos humanos, financeiros e do meio ambiente. O projeto Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de valores de São Paulo é um marco importante para o aprimoramento dos preceitos éticos, sociais e ambientais, elementos fundamentais da governança corporativa das empresas. O que o ISE mede é a maturidade das empresas, e não a maior ou menor valorização na bolsa. O ISE é uma tentativa de viabilizar as ações relacionadas às boas práticas e à obtenção de maiores vo- lumes de dinheiro, que poderão ser canalizados para a suplementa- ção das políticas públicas, ainda insuficientes no Brasil. É por essa razão que vários investidores no país começam a adotar princípios de responsabilidade social, que englobam a redução das perdas e B3 é a bolsa de valores oficial do Brasil, com sede na cidade de São Paulo. Em 2017, era a quinta maior bolsa de mercado de capitais e financeiro do mundo, com patri- mônio de 13 bilhões de dólares. Para mais informações, visite o site disponível em: http://www.b3.com. br/pt_br/. Acesso em: 29 abr. 2020. Saiba mais A empresa CPFL Energia aderiu ao ISE em 2005,adotando boas práticas ambientais. Contou com um código de ética e conduta, com uma área de gestão ambiental e um padrão de governança corporativa de “elevado nível”, resultante da ava- liação da bolsa de valores e do New York Stock Exchange. Para mais informações, visite os sites disponíveis em: https://www.cpfl.com.br/Paginas/ default.aspx https://www.nyse.com/index Acesso em: 29 abr. 2020. Curiosidade Veja a lista das empresas que adotaram o ISE para medir o seus desem- penhos e delinear suas políticas de governança. Disponível em: http://www.b3.com. br/pt_br/market-data-e-indices/ indices/indices-de-sustentabili- dade/indice-de-sustentabilidade- -empresarial-ise.htm. Acesso em: 29 abr. 2020. Curiosidade 90 Governança corporativa maiores possibilidades de investimentos no cenários produtivos na economia do dia a dia. Consequentemente, por meio dessa pers- pectiva, a governança no Brasil assume um novo formato, uma nova configuração, com um olhar para o futuro, apesar das instabilidades inerentes do sistema capitalista de produção. 5.3 As empresas transnacionais na saúde Vídeo As empresas transnacionais na saúde são muito importantes para o fornecimento de insumos e tecnologias e para o aprimoramento de inovações na área. A governança corporativa nessas empresas está baseada em proporcionar o cuidado aos pacientes, por meio de um serviço de qualidade e conforme as diretrizes clínicas que permeiam os procedimentos executados nos serviços de saúde. As empresas inter- nacionais da área da saúde devem estar de acordo com os protocolos clínicos reconhecidos mundialmente, para que os tratamentos efetua- dos nas instituições hospitalares sejam feitos com efetividade. Indicamos a leitura do artigo O capital estrangeiro e a privatização do sistema de saúde brasileiro, de Mario Scheffer, o qual aborda a privatização da saúde, com considerações a respeito das possíveis consequências relacionadas à liberalização do capital estrangeiro na saúde. Acesso em: 22 abr. 2020. https://www.scielosp.org/article/csp/2015.v31n4/663-666/ Artigo A governança das empresas transnacionais tem profunda relação com as auditorias realizadas pelas instituições hospitalares, princi- palmente com o objetivo de verificar se os tratamentos realizados foram feitos de acordo com as premissas e normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. É claro que essa compatibilidade entre procedimentos e normas estabelecidas internacionalmente deve ser implementada em sistemas de saúde públicos e privados, não importando a forma de organização que os serviços de saúde assumem em diferentes contextos no mundo. A auditoria na saúde colabora nesse sentido, principalmente com o objetivo de implementar mudanças para melhoria. Até anos bastante Qual o seu entendimento a respeito da governança corpo- rativa no Brasil? Qual a relação entre o Estado e as empresas internacionais? Atividade 2 A governança corporativa nas organizações 91 recentes, a prática de auditoria era amplamente limitada à avaliação da confiabilidade das contas financeiras da empresa, com a intenção de garantir que as boas práticas contábeis estavam sendo seguidas e eliminar quaisquer irregularidades financeiras. Atualmente, os audi- tores financeiros exigem altos níveis de habilidade de investigação e não são avessos a julgar seus relatórios. O conceito moderno do que é uma auditoria é o de uma verificação sistemática e regular do sistema para avaliar se o desempenho da organização ou do grupo de trabalho atende ao desempenho exigido. A auditoria define auditorias de qua- lidade da seguinte forma: exames sistemáticos e independentes para determinar se as atividades de qualidade e os resultados relacionados cumprem os arranjos planejados e se esses arranjos são implementa- dos de modo eficaz e adequado para alcançar os objetivos da empresa. Portanto, a auditoria deve, nos seus princípios, verificar: 1. A compreensão das normas ou requisitos. 2. A conformidade com as normas. 3. Uma adaptação às normas. 4. Os passos necessários melhorias. Os relatórios que a auditoria fornece servem de requisito para dar subsídios para a tomada de decisão, principalmente em relação às novas técnicas que serão utilizadas pela instituição de saúde (MOTTA; LEÃO; ZAGATTO, 2005). A governança nas empresas transnacionais na saúde se apoia na auditoria para verificar a qualidade dos serviços prestados aos pacien- tes e para constatar se os colaboradores e profissionais de saúde estão devidamente adaptados aos protocolos de atendimento internacional- mente reconhecidos. Segundo Dias TCL, et al. (2011, p. 935): A finalidade da auditoria, na atualidade, está relacionada princi- palmente à comprovação de pagamento de contas hospitalares, revendo glosas por meio da elaboração de relatórios técnicos e realizando negociações entre representantes do hospital e de convênios. No futuro, associado à primeira finalidade, a intenção será apontar inadequações da assistência de enfermagem, re- formulando suas práticas, indicando processos de educação em serviço e delineando ações corretivas. 92 Governança corporativa No caso da medicina diagnóstica, por exemplo, a auditoria verifi- ca se os insumos estão sendo usados conforme com os protocolos de atendimento, se não houve desperdício, se o diagnóstico foi realiza- do de maneira correta e se o paciente não teve problemas durante o procedimento do exame. Essa normalidade garante que as empresas internacionais no segmento possam emitir relatórios para os seus acio- nistas, demonstrando que toda a parte operacional de funcionamen- to dos seus serviços ocorre de acordo com os padrões internacionais, com a garantia de um risco mínimo na execução das atividades. Por- tanto, as ações dessas empresas no mercado de capitais se valorizam e os acionistas compram mais papéis das empresas, viabilizando-se um cenário de otimismo no setor. As transnacionais na saúde têm como pressuposto a aplicação de uma governança baseada nas auditorias realizadas nos serviços de saúde, com base em alguns itens de importância: • Os profissionais de saúde Os médicos, enfermeiros, nutricionistas, entre outros, devem executar os tratamentos de acordo com conformidades estabelecidas por órgãos de controle com a maximização do cuidado, com base nos protocolos es- tabelecidos, auferindo o mínimo de desperdícios dos insumos utilizados. • Os artefatos tecnológicos Em uma instituição de saúde, as tecnologias estão presentes em diver- sos níveis de complexidade, em diferentes objetivos. Temos tecnologias relacionadas à medicina diagnóstica, à radiologia, à diálise, entre outras. • O cuidado Os pacientes de um serviço de saúde são atendidos com base na renda e na região em que moram. Os serviços que prestam atendi- mento às pessoas mais ricas têm maior chance de investir em cuidado com maior aporte tecnológico, sendo mais caros, enquanto os serviços que estão localizados em regiões mais pobres terão maior contato com o SUS. Dessa forma, os pacientes determinam a formação do finan- ciamento do serviço, ora sendo mais público, ora sendo mais privado (convênios e seguradoras). • A estrutura A infraestrutura do serviço determina como tratamentos são dispo- nibilizados, em diferentes formatos, de acordo com as diretrizes clíni- Diversos serviços de medicina diagnóstica foram adquiridos pelo Grupo Dasa, gerando consequências para o planejamento dessas em- presas e de seus serviços. No passado, os médicos possuíam o controle dos estabelecimentos; após as aquisições, essa empresa transnacional começou a organizar o mercado com base em estratégias para novos investimentos, por meio do mapeamento dos serviços e da construção de novas perspectivas para o setor. Para conferir algumas aquisições do grupo Dasa, visite o site disponível em: https://setorsaude.com.br/ dasa-adquire-o-laboratorio-de-a- nalises-clinicas-salomao-zoppi/.Acesso em: 29 abr. 2020. Curiosidade A governança corporativa nas organizações 93 cas e toda uma gama de tecnologias, o armazenamento de insumos e uma logística para descarte de materiais. A governança das empresas transnacionais na saúde, na execução de seu planejamento, adota os padrões estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que tem como principal objetivo o desenvolvimento das instituições de saú- de, inclusive por meio do combate de epidemias. A governança corporativa na saúde se baseia nos padrões estabele- cidos pela OMS (WHO EUROPE, 2004), a saber: Padrão 1: as instituições hospitalares devem adotar uma política de promoção da saúde que priorize os cuidados dos pacientes, familiares e funcionários. Padrão 2: os hospitais têm a obrigação de manter avaliações dos pacientes para promoção da saúde, com o intuito de prevenir doenças e promover a reabilitação. Padrão 3: a instituição de saúde deve fornecer aos pacientes infor- mações relacionadas ao seu tratamento e a possíveis consequências. Padrão 4: prioriza-se a qualidade de vida dos funcionários, pacien- tes e familiares que necessitam de um serviço de saúde. Padrão 5: deve-se priorizar um planejamento em saúde comparti- lhado com os fornecedores e colaboradores da instituição hospitalar. A governança nessas empresas deve priorizar a qualidade no atendi- mento, obedecendo princípios éticos e de transparência. A seguir, apre- sentamos os principais aspectos relacionados a essas premissas: • A qualidade é obtida com índices de desempenho. • Os dados de produção devem ser analisados e revisados periodicamente. • A performance é obtida por meio de sinergias positivas entre os colaboradores. • A colaboração é essencial. • Os diversos níveis de complexidade no atendimento devem ser mapeados e organizados de acordo com as necessidades dos pacientes. Fonte: Elaborado pelo autor. A política de governança na saúde tem como importante impacto o dimensionamento dos custos, bem como a qualidade prestada, evitan- Em 2020, verificamos uma crise no planeta devido ao surgimento de um vírus denomi- nado Covid-19. Com base em vários casos observados em um hospital da capital de São Paulo, verificou-se a omissão de um enorme número de contaminados e vítimas dessa moléstia. Diante disso, foi aberta uma auditoria para averiguar essa situação, com reflexos para os fornecedores, representados pelas empresas transnacionais. Para saber mais, visite o site: https://ultimosegundo. ig.com.br/brasil/2020-03-31/ prevent-senior-pode-sofrer- -intervencao-apos-79-mortes- -por-covid-19-em-sao-paulo. html.w Acesso em: 22 abr. 2020. Saiba mais 94 Governança corporativa do-se despesas inesperadas, e o aprimoramento de centros de custos, com a classificação de itens de dispêndio, valores, quantidades utiliza- das e fornecedores (GUERRER; LIMA; CASTILHO, 2015). Também tem profunda relação com as políticas de compliance, no sentido de alinhar a conduta dos profissionais de saúde com princípios éticos e morais, sem acordos ilícitos com fornecedores, com o objetivo de proporcionar relatórios financeiros confiáveis aos acionistas. Dessa forma, a gover- nança deve ter como premissa o aprimoramento de condutas éticas e legais que sigam a legislação brasileira, sem a incidência de corrupção ou ganhos sem justificativa com órgãos públicos nacionais ou interna- cionais, sendo que não deve incentivar atitudes que não promovam uma concorrência no mercado (ABRAIDI, 2017). Por fim, um dos instrumentos em que a governança das empresas transnacionais se baseia são as acreditações 6 . Para que um serviço de saúde obtenha qualidade, é fundamental que seja acreditado. Todas as empresas transnacionais na saúde fornecem insumos e equipamentos ou são gestoras de instituições, portanto é de suma importância que o segmento esteja pautado na obtenção de padrões de qualidade hos- pitalar. Os indicadores de performance colaboram para a acreditação hospitalar na organização dos processos, configurando-se etapas para isso. De acordo com a Organização Nacional de Acreditação (ONA), os primeiros cases desenvolvidos foram na década de 1990, nos estados de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Paraná e do Rio Grande do Sul, e por meio deles foi criado o primeiro guia brasileiro de acreditação hospita- lar. A padronização foi realizada com atores representativos, como as Secretarias de Saúde e o Ministério da Saúde (ONA, 2007). O processo de acreditação engloba um movimento conjunto no mercado da saúde, tendo como principal objetivo aumentar os critérios na qualidade, com base em indicadores e na construção de padrões que possam ser deli- neados para outras instituições de saúde. Ainda, é fundamental salientar que a governança nas empresas transnacionais é um instrumento que aprimora a gestão da saúde, principalmente em relação ao alinhamento das rotinas e da exe- cução dos procedimentos e, sobretudo, como um elemento fun- damental para a obtenção de acreditações com repercussão para a qualidade hospitalar, tanto no âmbito econômico e financeiro como no político e no social. Um exemplo da aplicação de indicadores para sistema de saúde ou para um serviço de saúde é disponibilizado pela plata- forma Proadess, com o desenvolvimento de índices para o acesso dos pacientes aos serviços, à qualidade e à disponibili- dade de tecnologias. Para saber mais, visite o site disponível em: http://www. proadess.icict.fiocruz.br/SGDP-RE- LATORIO_FINAL%20_com_su- mario_atualizadorev%202014.pdf Acessado: 23/03/20 14:40. Acesso em: 22 abr. 2020. Saiba mais Acreditação representa o reco- nhecimento que uma entidade independente especializada tem perante uma instituição que sub- meteu a entidade a verificação sistemática de suas atividades produtivas. Para obter o certi- ficado de qualidade a empresa deve demonstrar segurança nas atividades desenvolvidas junto ao mercado, com total aderência aos padrões internacionais, principalmente com o objetivo de atestar qualidade aos serviços e produtos ofertados. 6 Comente sobre a lógica de operação das empresas transna- cionais na saúde. Atividade 3 A governança corporativa nas organizações 95 CONSIDERAÇÕES FINAIS As empresas transnacionais estão presentes nos segmentos produ- tivos em todas as sociedades do mundo. Elas possuem o conhecimento das tecnologias para a produção dos serviços e produtos e têm amplo domínio nos mercados que atuam com seus negócios. É importante des- tacar que as ETNs estão organizadas no formato de oligopólios bem es- truturados que têm forte influência nos preços e nas quantidades dos produtos oferecidos para os diversos países. As ETNs desenvolvem políticas de governança baseadas na otimi- zação dos resultados produtivos, com o objetivo fundamental de pro- porcionar retornos especulativos aos seus acionistas. No Brasil, temos uma governança permeada por ações de âmbito público, porém insu- ficientes para a plena concretização das necessidades da sociedade de uma forma geral. No entanto, as ETNs procuram desenvolver estraté- gias que maximizem os seus retornos, principalmente com a constru- ção de novos produtos no mercado financeiro. Por fim, na saúde, as empresas transnacionais desempenham um im- portante papel no fornecimento de insumos e tecnologias e intensificam o grau de vulnerabilidade dos países subdesenvolvidos perante a disponi- bilidade desses produtos. REFERÊNCIAS ABRAIDI. 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A governança corporativa dessas empresas internacionalizadas tem como princípio o aumento do lucro dos acionistas e a emissão de seus lucros aos seus países de origem. Intensificam um elevado grau de dependência produtiva nos países subdesenvolvidos, com forte impacto na formação de emprego e renda. 2. O Brasil constitui um forte mercado consumidor para as companhias internacionali- zadas. A governança dessas companhias é pautada no fornecimento de produtos e serviços no mundo, com centralidade no conhecimento científico e das tecnologias utilizadas no âmbito produtivo. O Estado tem importante papel na governança das empresas internacionais, por apoiarem suas ações e por fortalecerem a entrada des- sas companhias no país. Por outro lado, o Estado colabora para uma governança go- vernamental, principalmente por colaborar para a disponibilidade dos direitos adqui- ridos pela população, principalmente a partir da Constituição de 1988. 3. As empresas transnacionais na saúde atuam com a sua política de governança pauta- da nos critérios de qualidade e acreditação. A auditoria colabora nesse sentido, prin- cipalmente por adequar os procedimentos realizados nas instituições hospitalares e as normas estabelecidas por órgãos de controle, como o Ministério da Saúde e as Secretariais de Saúde. Com a aquisição de serviços no Brasil por parte das empresas estrangeiras, delineou-se um novo cenário para a governança corporativa dessas em- presas e para a intensificação da privatização da saúde no Brasil e no mundo. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm http://cebes.org.br/2016/01/capital-internacional-e-suas-consequencias-para-a-assistencia-a-saude/ http://www.euro.who.int/document/e82490.pdf http://www.euro.who.int/document/e82490.pdf G overnança Corporativa A ntonio Pescum a Junior Código Logístico 59307 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6613-1 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 1 3 1 Página em branco Página em branco