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<p>UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO LATINO AMERICANA</p><p>2019</p><p>DISCIPLINA: TÓPICOS ANTROPOLÓGICOS II: ANTROPOLOGIA DAS EMOÇÕES</p><p>DOCENTE: PROFA. LORENA FREITAS</p><p>DISCENTE: STHEPHANNE AMARAL</p><p>RESUMO: O CAMPONÊS E SEU CORPO. PIERRE BOURDIEU</p><p>O sociólogo francês Pierre Bourdieu fez um estudo no Béarn, sudeste da França no ano de 1960 sobre a história dos homens camponeses solteiros. Neste estudo ele entrevistou estes homens solteiros, e também alguns indivíduos que moravam no campo, próximo desses camponeses. O fato é que há um número expressivo de homens solteiros em uma comunidade rural francesa e Bourdieu associa a alta taxa de celibato com a posição econômica e social em que esses indivíduos estão inseridos.</p><p>Bourdieu percebe que as jovens camponesas mesmo que ainda inseridas no campo, carregam em si a construção de uma educação que as colocam dentro dos parâmetros sociais urbanos, através dos estudos, conversas entre elas e outras mulheres que saíram do campo para morarem na cidade e relatam suas experiências nas cidades.</p><p>A jovem camponesa vê na mudança para a cidade a possibilidade de emancipação e libertação dos costumes do campo, que vão além do trabalho pesado e solitário, e esta objetificação pela cidade, pela modernidade e o conjunto de padrões culturais urbanos acaba levando muitas famílias a enviarem suas filhas para a cidade com a finalidade de estudarem ou trabalharem como costureiras.</p><p>Por outro lado, o jovem camponês não tem traçado em sua história de vida a ideia de sair do campo, pois este muitas vezes seguirá os passos do seu pai de prosperar sua fazenda e construir sua família no campo.</p><p>Outro fenômeno válido de se ressaltar é o profundo distanciamento entre a sociedade masculina e a sociedade feminina no campo. Não há quase ou nenhuma comunicação entre os jovens solteirxs, restando a estes socializarem e compartilhar espaços de interação apenas em bailes promovidos na zona rural ou vilarejos próximos conhecidos como bourg. Estes bailes são como Bourdieu traz no texto a única ocasião socialmente aprovada de encontros entre os sexos (Bourdieu, 1960).</p><p>O baile de Natal é o mais apropriado para estes grupos se encontrarem, visto que os outros bailes e feiras são destinados mais às famílias e casais. Dentro deste baile de Natal é possível observar o conjunto de fatores que levam estes jovens ao distanciamento. Se do lado feminino estão as jovens que absorvem para si a ideia de encontrar um marido moderno e da cidade, do outro lado só encontram os jovens camponeses com todo seu conjunto cultural e suas características que são julgadas de longe pelas mulheres. As jovens estão atentas desde a vestimenta que os homens vestem que são assimiladas com a condição econômica, até a forma como andam e se comportam, e isto como Bourdieu traz é uma das limitações masculinas de se exteriorizarem, se mostrando muitas vezes tímidos e retraídos por conta desta série de fatores que dão signos postos como padrões inferiores e pouco civilizados descritos como pouco sociável, grosseiro, carrancudo, coruja, e até pouco amável com as mulheres que os desvalorizam.</p><p>Para Bourdieu, mesmo que este jovem tente acompanhar a modernidade em sua atividade profissional, como o uso de tecnologias mais modernas, ou o contato mais próximo com as cidades, este não se livra do “jeito camponês”, ou seja, seu conjunto de características culturais que são construídas no campo. Bourdieu fala que essa consciência infeliz de seu corpo, faz com que o homem camponês se enxergue de forma inferior, adotando maneiras introvertidas e dificuldades para se aproximar das mulheres, pois este sabe que elas o enxergam como inferior por ser camponês.</p><p>A dança é uma das limitações destes homens, pois a vergonha de seu modo de andar e parecer ridículo o excluí das rodas de dança, mesmo que este seja o único momento que ele tem para se encontrar com outras mulheres e poder conhecer alguém que talvez possa casar.</p><p>Há também as normas culturais que regem a expressão de sentimentos e está fragiliza ainda mais o camponês, desde seus primeiros anos ajudando seus pais no campo ele já é exprimido de demonstrar seus sentimentos através das palavras, ele enxerga em seus pais os padrões de controle das emoções e isto o prejudica na vida adulta quando ele tem que se comunicar com uma mulher. Essas barreiras da fala e do comportamento acarretam no homem camponês uma vida de solidão que o acompanha até seus últimos dias. A solidão vivida pelos camponeses solteiros o torna mais fechado e tímido ainda, pois todos da zona rural comentam e o julgam por não conseguir ter uma esposa e construir uma família.</p><p>Há depoimentos de mulheres que moram próximas aos camponeses solteiros e reclamam da falta de higiene em suas fazendas, atribuindo a sujeira e bagunça a falta de uma mulher (esposa) na fazenda para administrar essas questões que não são vistas como importantes para o camponês. Há deterioração das terras que faltam mão-de-obra para ajudar no cuidado, pois o camponês não constrói família, então, logo não tem filhos para ajudar na fazenda. Por mais que alguns camponeses tenham uma posição econômica de prestígios diante dos outros camponeses, isto não basta para que ele seja escolhido por uma jovem camponesa, pois para elas a ascensão se dá muito mais pela exclusão dos costumes camponeses do que pela condição econômica.</p><p>O camponês solitário muitas vezes perde o ânimo de cuidar de suas terras, se vê desanimado por não ter para quem cultivar suas terras e deixá-las como herança. Atrelado a esse sentimento de impotência há pressão das famílias, que muitas vezes acaba piorando o quadro de insatisfação e incapacidade consigo mesmo por não ter uma esposa e filhos.</p>

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