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<p>Ética, direitos humanos e direitos não</p><p>humanos</p><p>Os limites da liberdade, a liberdade de expressão e a busca por direitos que sejam universais: para</p><p>humanos e não humanos.</p><p>Prof. Ronaldo Pelli Junior</p><p>1. Itens iniciais</p><p>Propósito</p><p>A discussão sobre ética, uma das mais antigas da filosofia, é essencial na tentativa de formular direitos</p><p>humanos e estabelecer uma igualdade entre os homens, o que nos leva a olhar para outros seres, como</p><p>animais e máquinas, a possuírem direitos similares aos dos homens.</p><p>Objetivos</p><p>Listar as diferentes formas de se pensar a ética e os limites impostos pela liberdade de expressão.</p><p>Reconhecer a trajetória — com percalços — dos direitos humanos desde a Grécia Antiga até os dias</p><p>atuais.</p><p>Identificar a luta de outros seres, como os animais não humanos, para conseguir direitos e a</p><p>preocupação de uma ética para máquinas inteligentes.</p><p>Introdução</p><p>Mesmo que seja um assunto discutido há séculos, raramente se chega a uma conclusão sobre como algo</p><p>poderia ser considerado ético. A começar porque a própria noção de ética é controversa por si só: tanto pode</p><p>ser vista como algo bom, certo e justo para um grupo; como pode ser considerada uma prescrição, como os</p><p>códigos para categorias profissionais ou os mandamentos religiosos. Ainda, pode ser classificada como uma</p><p>disciplina da própria filosofia que analisa os limites da ética.</p><p>Ao longo da história, pensadores lutaram com força para ampliar suas vozes e fazer circular suas ideias, por</p><p>vezes consideradas éticas; outras vezes, não. Recentemente, a luta por liberdade de expressão tem se</p><p>convertido em argumento para o compartilhamento de notícias falsas (fake news) e discursos de ódio.</p><p>Uma primeira tentativa de compreender a questão ética está na busca por criar um solo comum para todos os</p><p>homens, isto é, uma ética universal. A Declaração dos Direitos Humanos, publicada pela ONU na metade do</p><p>século XX — mas com raízes nos movimentos revolucionários do século XVIII ou mesmo na Grécia da</p><p>Antiguidade —, pode ser considerada uma tentativa ou o resultado da trajetória da discussão dos direitos</p><p>humanos ao longo dos anos.</p><p>Contemporaneamente, mas no mesmo sentido, chegam críticas de movimentos que veem um tipo de soberba</p><p>no hábito de colocar o homem no centro da discussão político-social-legal em detrimento de outros seres. É</p><p>necessário que haja debates éticos sobre inteligência artificial e como é possível, e até mesmo aconselhável,</p><p>criar figuras jurídicas equivalentes aos direitos humanos para outros seres, como animais não humanos,</p><p>máquinas e até a própria Terra.</p><p>Antes de iniciar seu estudo, ouça a respeito das principais dúvidas sobre Ética, Direitos humanos e Direitos</p><p>não humanos. Ouça!</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>1. Ética e liberdade de expressão</p><p>Definição de ética</p><p>Sem dúvida, a ética é um dos mais antigos temas da filosofia. Aparece nas obras filosóficas desde, pelo</p><p>menos, os grandes nomes do período clássico grego: Sócrates, Platão e Aristóteles (todos nascidos entre os</p><p>séculos V e o III AEC).</p><p>Platão escreveu inúmeros diálogos e, na maioria deles, o seu já falecido mestre Sócrates — que nunca</p><p>escreveu ele mesmo uma única linha e teve sua obra inteiramente registrada por seus alunos — era o</p><p>protagonista. No mais famoso de todos os seus livros e também uma das obras mais importantes da história</p><p>da filosofia, A república, o tema principal é a construção de uma cidade ideal, governada por cidadãos</p><p>superespecializados que orientam suas ações através da ética.</p><p>Monumentos na fachada da Academia de Atenas de Platão e Sócrates. Acima deles,</p><p>estão os monumentos de Atenas, a deusa da sabedoria e Apolo, o deus da verdade,</p><p>que representavam os propósitos da Academia, fundada por Platão por volta de 387</p><p>a.C.</p><p>O método socrático-platônico das definições universais, que parte do princípio que sempre há uma caráter</p><p>comum-universal que abrange toda multiplicidade das particularidades. Por exemplo, a noção comum-</p><p>universal de árvore abrange toda e qualquer árvore no mundo. Tal projeto encontrou muitos críticos — a</p><p>começar por Aristóteles, seu aluno mais notável da Academia —, não por Platão defender a ética, mas por,</p><p>especialmente, defender a possibilidade uma ética comum-universal.</p><p>Platão e Aristóteles são retratados no centro da obra (1509-1511), uma das mais</p><p>famosas pinturas do renascentista italiano Rafael, e representa a Academia fundada</p><p>por Platão por volta de 387 a.C.</p><p>Por outro lado, de um ponto de vista bem específico, ninguém é aético: todo mundo obedece a uma ética</p><p>própria e, se ninguém é aético, o que quer dizer, então, ética? Por que ela é tão importante assim?</p><p>A palavra vem do grego antigo ethos, que significa algo como conjunto de hábitos, costumes e valores de um</p><p>grupo social ou cultura. Os romanos traduziram tal expressão para os termos mos ou moris, que originaram o</p><p>nosso termo moral. Dessa forma, ética seria os códigos visíveis ou invisíveis que determinam o que é o certo e</p><p>o errado, o bom e o ruim, o verdadeiro e o falso para determinada sociedade. O problema é que, mudando de</p><p>geografia, de grupo, de tempo, a ética, então, mudaria.</p><p>Para ficar num exemplo banal, basta pensar nos talheres utilizados para se alimentar ao redor do planeta. Qual</p><p>seria o instrumento “certo”: garfos, facas e colheres? Hashi (ou palitinhos)? As próprias mãos? Pode-se</p><p>imaginar o quanto um japonês tradicional ficaria chocado com alguém cortando com garfo e faca um sashimi.</p><p>Alguns indianos dizem que os talheres de metal</p><p>dão gosto ruim para a comida — daí a escolha</p><p>pelas mãos. E, seguindo ainda no tema</p><p>culinária, há diversos vídeos na internet</p><p>mostrando italianos agoniados porque alguém</p><p>decidiu quebrar o espaguete para fazer caber</p><p>em uma panela pequena.</p><p>Se quisermos elevar um pouco a dificuldade do</p><p>debate, basta lembrar a diferença de</p><p>tratamento para grupos geralmente excluídos</p><p>entre as diversas sociedades ou ao longo da</p><p>história. Até cerca de 150 anos atrás, no Brasil, homens, mulheres e crianças de pele mais escura, africanos ou</p><p>descendentes, poderiam ser considerados, por lei, propriedade de outras pessoas e eram escravizados.</p><p>Em certos países, como a Arábia Saudita, as mulheres não compartilham dos mesmos direitos que os homens:</p><p>até muito recentemente elas não podiam votar nem dirigir veículos. Atualmente, sob o controle dos talibãs, as</p><p>mulheres afegãs sequer podem sair de casa sem a companhia de algum membro homem de sua família.</p><p>Certos grupos religiosos, doutrinas ideológicas, ou mesmo</p><p>países que abertamente consideram uma aberração</p><p>qualquer tipo de comportamento sexual diferente do</p><p>estritamente heterossexual, passível de punição ou, ao</p><p>menos, de um processo de reeducação forçada. Os</p><p>exemplos poderiam prosseguir.</p><p>O argumento aqui é mostrar que as pessoas que defendem</p><p>esses tipos de ações não se consideram “más” ou agindo</p><p>contra a própria “ética”. Sempre houve e sempre haverá uma</p><p>autojustificativa, mesmo para os mais atrozes</p><p>comportamentos ou para muitos deles, ao menos.</p><p>Dessa primeira forma de entender a ética, pode-se tirar uma segunda: ética pode ser vista também como um</p><p>conjunto de regras prescritivas, que vão criar o fundamento para sabermos o que é certo ou errado antes de</p><p>agirmos.</p><p>Exemplo</p><p>É o que acontece com a ética cristã ou estoica, ou, mais especificamente, com os códigos de ética de</p><p>determinadas categorias profissionais, como advogados, médicos, psicólogos, enfermeiros e por aí vai.</p><p>Entretanto, mesmo quando o código de ética está registrado em letra fria, há controvérsias e debates para se</p><p>estabelecer a “verdadeira” interpretação do texto. Lembremo-nos das guerras ao longo da história entre</p><p>diferentes grupos cristãos que leem a mesma Bíblia; ou os grandes debates entre advogados sobre</p><p>determinadas passagens de códigos legislativos. Isso sem falar nas discussões eternas dentro da filosofia</p><p>sobre o que um autor quis “verdadeiramente” dizer.</p><p>Um caso ligeiramente diferente é o da</p><p>autonomia médica, presente no código do</p><p>Conselho Federal de Medicina. Que declara que</p><p>o médico, entre diversos outros direitos e</p><p>deveres, deve</p><p>tanto prejudiciais à saúde humana como por atentar contra a soberania</p><p>alimentar e os ecossistemas.</p><p>No capítulo sobre Pachamama, o texto</p><p>constitucional garante o direito da natureza de</p><p>se reproduzir, de realizar a vida e de regenerar</p><p>seus ciclos vitais. Qualquer pessoa poderá</p><p>exigir o cumprimento desses direitos junto a</p><p>autoridades públicas. Há ainda medidas de</p><p>precaução contra a extinção de espécies, a</p><p>destruição de ecossistemas e a alteração</p><p>permanente de ciclos naturais. A constituição</p><p>do Equador é, até o ano de 2021, a única do</p><p>mundo a reconhecer todos esses direitos à</p><p>natureza.</p><p>Esse tipo de procedimento mostra uma</p><p>tentativa de retirar a posição central do humano</p><p>ao longo da história e garantir a outros entes,</p><p>que são ou deveriam ser igualmente sujeitos de</p><p>direito.</p><p>Claro que, em muitos casos, certos direitos e morais entram em conflito, por não se saber qual é o mais</p><p>importante ou quem precisa ser mais respeitado. O caso dos procedimentos religiosos afro-brasileiros que se</p><p>utilizam de animais em sacrifícios entra em conflito direto com a defesa dos direitos dos bichos. Nesses</p><p>casos, quem tem a prioridade: a liberdade religiosa ou a vida dos existentes? Qual deve prevalecer?</p><p>Vivemos cada vez mais um conflito de mundos, de diferentes metafísicas, éticas e mesmo direitos.</p><p>Devemos aprender, ou reaprender, a viver em comunidade, para que cada um — homem, outros animais,</p><p>robôs, ciborgues, minerais, montanhas, florestas, a Terra, enfim — tenha seu espaço e seja respeitado em</p><p>suas diferenças.</p><p>Direitos da terra e a humanidade</p><p>Veja agora os argumentos necessários para que você possa se posicionar face às questões éticas acerca da</p><p>relação entre os direitos humanos e os direitos da Terra. Confira!</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>Questão 1</p><p>O que é o especismo?</p><p>A</p><p>Categorização dos animais em espécies diferentes, numa tradição que remete a Aristóteles, que começou a</p><p>categorizar os indivíduos.</p><p>B</p><p>Hábito de dividir os seres existentes entre animais, vegetais, fungos, protista e monera.</p><p>C</p><p>Identificação de cada um dos indivíduos de uma espécie específica de animais não humanos.</p><p>D</p><p>Um tipo de classificação mal vista hoje em dia que coloca os seres vivos como superiores aos não vivos.</p><p>E</p><p>Um preconceito que favorece os interesses dos membros de uma espécie em detrimento dos interesses dos</p><p>membros de outras espécies.</p><p>A alternativa E está correta.</p><p>O especismo é um tipo de atitude que julga uma espécie superior às demais. Geralmente é o homem que se</p><p>coloca, de forma injustificada, nessa posição acima das outras espécies.</p><p>Questão 2</p><p>Qual seria o problema de as máquinas superinteligentes herdarem, como legado, o nosso humanismo?</p><p>A</p><p>A complicada relação entre humanos e máquinas, que impediria as inteligências artificiais de aceitarem bem</p><p>os valores dos homens.</p><p>B</p><p>A característica principal do homem é ser feito de carbono e ter vida; já as máquinas têm como elemento</p><p>símbolo o silício e não podem ser consideradas vivas.</p><p>C</p><p>A dificuldade de estabelecer os valores que caracterizariam esse humanismo, além de excluir outros seres</p><p>dessa "equação".</p><p>D</p><p>As supermáquinas não precisam de qualquer valor para conseguirem produzir mais e melhor, para o benefício</p><p>dos próprios homens.</p><p>E</p><p>As inteligências artificiais jamais aceitariam ser submetidas por seres tão pouco inteligentes, como os</p><p>humanos.</p><p>A alternativa C está correta.</p><p>Apesar da boa intenção de deixar algum projeto ético, o humanismo atual é uma proposta pouco inclusiva,</p><p>com dificuldade de estabelecer um solo comum a todos os humanos. Além disso, o humanismo não inclui</p><p>no seu projeto outros seres, a começar pelos animais não humanos.</p><p>4. Conclusão</p><p>Considerações finais</p><p>Percebemos como a discussão sobre ética, moral e valores forçou a criação de um arcabouço legal que</p><p>pretendeu proteger os homens de serem explorados ou vilipendiados por outros homens. Mesmo que os</p><p>direitos humanos até hoje não sejam uma realidade para todas as pessoas, eles são, ao menos, um parâmetro</p><p>de comparação. Para que todas as pessoas saibam o que elas podem reivindicar, como se proteger e aquilo</p><p>que é o mínimo de dignidade.</p><p>Os direitos humanos também serviram para que outros grupos não humanos também pudessem exigir, por</p><p>representação, um tratamento de igualdade. Os direitos de animais não humanos e mesmo da própria Terra se</p><p>tornam essenciais num mundo em que o homem, por estar sempre no centro das decisões, parece só se</p><p>importar consigo.</p><p>A ética também aparece em outras questões bem atuais, como os limites da liberdade de expressão e a</p><p>criação de inteligências artificiais — dois temas que, junto com o Antropoceno, são talvez os mais urgentes</p><p>dos dias de hoje. Isso só mostra como, mesmo sendo uma das disciplinas mais antigas da filosofia, a ética</p><p>ainda não perdeu qualquer importância, nem parece que perderá.</p><p>Neste vídeo, vamos aprofundar os principais conceitos de nosso conteúdo.</p><p>Explore +</p><p>- Desejos não são direitos, do economista Lawrence W. Reed, publicado em 8 de outubro de 2021 no portal do</p><p>Instituto Ludwig Von Mises Brasil.</p><p>- Brasil vive retrocesso na liberdade de expressão, entrevista de Renan Ramalho com Fernando Schüler,</p><p>publicada em 31 de agosto de 2021 no portal da Gazeta do Povo.</p><p>• Veja o episódio Liberdade de expressão da série Ética, com o filósofo Renato Janine Ribeiro, disponível no</p><p>Canal Futura, no YouTube.</p><p>Referências</p><p>ANIMAL ETHICS. Página inicial, 2021. Consultado na internet em: 22 out. de 2021.</p><p>CHANGEUX, J. P. (org.). Fundamentos naturais da ética. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.</p><p>CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Código De Ética Médica - Resolução CFM nº 1.931, de 17 de setembro de</p><p>2009 (versão de bolso). Brasília, 2010.</p><p>GONÇALVES, W. C. Gênese dos direitos humanos na antiga filosofia grega. Rio de Janeiro: Lumen Juris</p><p>Editora, 2007.</p><p>GURGEL, A.; MENEZES FILHO, A. Ética & experimentação animal. Charleston, SC: Edição do Autor, 2013.</p><p>HUNT, L. A invenção dos direitos humanos: uma história. Tradução de Rosaura Eichenberg. São Paulo:</p><p>Companhia das Letras, 2009.</p><p>LATORRE, J. I. Ética para máquinas. Barcelona: Ariel, 2019.</p><p>MARCONDES, D. Textos básicos de ética de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.</p><p>MOYN, S. The last utopia: human rights in history. Cambridge: The Belknap Press of Harvard University Press,</p><p>2010.</p><p>NICKEL, J. Human Rights. In: ZALTA, E. N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Fall 2021.</p><p>Consultado na internet em: 22 out. de 2021.</p><p>NIETZCHE, F. W. Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. São Paulo: Companhia das Letras,</p><p>2007.</p><p>PERELMAN, C. Ética e Direito. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2002.</p><p>PINTO CALAÇA, I. Z.; CERNEIRO DE FREITAS, P. J.; DA SILVA, S. A.; MALUF, F. La naturaleza como sujeto de</p><p>derechos: análisis bioético de las Constituciones de Ecuador y Bolivia. Revista Latinoamericana de Bioética, v.</p><p>18, n. 1, p. 155-171, 2018.</p><p>TRINDADE, J. D. de L. Os direitos humanos na perspectiva de Marx e Engels: emancipação política e</p><p>emancipação humana. Prefácio de Alysson Leandro Mascaro. São Paulo: Editora Alfa-Ômega, 2011.</p><p>TUGENDHAT, E. Lições sobre ética. Tradução grupo de doutorandos do curso de pós-graduação em Filosofia</p><p>da Universidade do Rio Grande do Sul; revisão e organização da tradução Ernildo Stein. Petrópolis, RJ: Vozes,</p><p>1996.</p><p>Ética, direitos humanos e direitos não humanos</p><p>1. Itens iniciais</p><p>Propósito</p><p>Objetivos</p><p>Introdução</p><p>1. Ética e liberdade de expressão</p><p>Definição de ética</p><p>Exemplo</p><p>O que é ética?</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Ética e moral</p><p>Saiba mais</p><p>As divergências entre ética e moral</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Ética e liberdade</p><p>Liberdade: abre as asas sobre nós?</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Liberdade de expressão</p><p>Exemplo</p><p>Quem controla as agências de controle?</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>2. A trajetória dos direitos humanos</p><p>Definição de direitos humanos</p><p>Exemplo</p><p>Plurais e têm como fim acabar com a escravização no mundo</p><p>Universais e inerentes</p><p>a todos os seres humanos</p><p>Prioridades e sua violação é uma grave afronta à Justiça</p><p>Equiparados a estabilidade e a segurança nacional</p><p>Quando os humanos têm direitos</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Fundamentação histórica dos direitos humanos</p><p>Direitos humanos e iluminismo</p><p>Naturais</p><p>Iguais</p><p>Universais</p><p>Direitos humanos e Grécia</p><p>Olhando a realidade pela história</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Crítica aos direitos humanos</p><p>Direitos humanos como alvo de críticas</p><p>Crítica marxista aos direitos humanos</p><p>Direitos humanos e regimes político-econômicos</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>3. Os direitos dos seres não humanos</p><p>Direito dos animais e especismo</p><p>Direitos dos animais em discussão</p><p>Especismo</p><p>Saiba mais</p><p>Quando os animais têm seus direitos</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Direito das máquinas</p><p>As máquinas têm direitos?</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Direitos de diversos seres</p><p>Direitos da terra e a humanidade</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>4. Conclusão</p><p>Considerações finais</p><p>Explore +</p><p>Referências</p><p>indicar o procedimento</p><p>adequado ao paciente, observadas as práticas</p><p>cientificamente reconhecidas e respeitada a</p><p>legislação vigente.</p><p>O problema pode aparecer quando há casos de</p><p>doenças desconhecidas, sem tratamento</p><p>farmacológico reconhecido.</p><p>Por fim, há ainda uma terceira forma de pensar</p><p>a ética: as teorias e concepções da filosofia que tentam estabelecer os limites da própria ética, que buscam</p><p>dentro da ética suas fronteiras e consequências.</p><p>É uma espécie de ética da ética, ou metaética, como se diz em “filosofês”. É esse o principal foco filosófico:</p><p>investigar se há uma “verdade” intrínseca nos valores, de caráter universal, aplicada a todas as situações. Algo</p><p>que não mudaria tanto de um lugar para outro, nem de um tempo para outro.</p><p>O que é ética?</p><p>Neste vídeo, você poderá reconhecer as características do conceito de ética.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Ética e moral</p><p>Muita gente faz um esforço conceitual para diferenciar a ética da moral. A primeira teria uma ligação mais</p><p>forte com um comportamento individual, “natural”, que estaria presente em todas as pessoas,</p><p>independentemente do grupo social, da classe, das crenças e dos desejos que possuímos, e daria certa</p><p>autonomia em relação às influências do exterior. Já a segunda funcionaria como o conjunto de leis desse</p><p>agrupamento, que respeitaria as particularidades dessa comunidade.</p><p>Há diversos problemas em ambos os casos. De início, como</p><p>isolar essa nossa suposta “natureza”, a ponto de ela não ser</p><p>persuadida pelas forças externas?</p><p>Como dizer que há um mundo “interno”, intacto, sem</p><p>influência do que acontece “lá fora”, com as outras pessoas,</p><p>com as nossas relações cotidianas?</p><p>No máximo, daria para dizer que a ética é o filtro “interior”,</p><p>individual, para as regras exteriores, comunitárias — o</p><p>âmbito da moral.</p><p>Em seguida, há uma série de outras questões, por exemplo:</p><p>Responder a essas questões não é fácil! E você não encontra uma resposta unânime para elas. O importante é</p><p>que você, a partir de nosso conteúdo estudado — e do aprofundamento esperado — possa tomar posição</p><p>frente a elas, com certa fundamentação teórica.</p><p>Friedrich Nietzsche.</p><p>Immanuel Kant.</p><p>O pensador alemão Friedrich Nietzsche</p><p>(1844-1900) foi um dos maiores críticos do que</p><p>chamou de moral. Ele associava essa moral a</p><p>um conjunto de valores criados a partir do</p><p>pensamento socrático-platônico, que se</p><p>manteve vigente ao ser, posteriormente,</p><p>adaptado pelo cristianismo .</p><p>Nietzsche propôs filosofar com o martelo, como</p><p>dizia, para explicitar sua intenção de destruir</p><p>esses valores que, segundo ele, nos</p><p>enfraqueciam, nos tornavam menos capazes de</p><p>lidar com a própria vida e toda a sua variedade</p><p>de possibilidades e surpresas.</p><p>Saiba mais</p><p>Adaptado pelo cristianismo No prefácio de Além do bem e do mal, Nietzsche acusa o cristianismo de ser</p><p>uma mera adaptação simplificada e, consequentemente, mais acessível do dogmatismo platônico para o</p><p>povo comum; ou seja, um “platonismo para as massas”.</p><p>Contudo, assim que “quebrou” a moral platônico-cristã, esse pensador, com ou sem intenção, logo colocou um</p><p>outro tipo de proposta de valores, mais “fortes”, em que se encarava com coragem a aleatoriedade da vida,</p><p>em que não haveria uma separação tão óbvia entre razão e emoção, entre bem e mal, entre verdadeiro e falso.</p><p>Ou seja, Nietzsche percebeu que não há vácuo moral: sempre outros valores assumem o posto deixado vazio.</p><p>Mesmo que a moral seja associada a determinado grupo social, portanto perdendo a capacidade de</p><p>universalização, percebe-se, de forma concomitante, que é impossível viver sem uma moral, mesmo</p><p>que implícita.</p><p>Isso porque precisamos recorrer à moral (ou à ética, dependendo de quem fala) quando estamos diante de um</p><p>impasse, quando precisamos tomar uma grande decisão e não temos recursos próprios, imediatos, ou para</p><p>saber qual é a melhor estrada para se pegar na hora da encruzilhada.</p><p>Immanuel Kant (1724-1804) foi outro filósofo que muito se</p><p>debruçou sobre questões ético-morais, exatamente porque</p><p>sabia que havia um limite para o racional e que não era</p><p>possível saber qual é a regra na qual o outro sujeito está se</p><p>baseando para agir.</p><p>Tentando responder a essa demanda, ele formulou o</p><p>chamado imperativo categórico, que pode ser sintetizado</p><p>na seguinte frase: “Aja de tal forma que sua ação possa ser</p><p>considerada lei universal”. Em outras palavras, aja do jeito</p><p>que gostaria que agissem com você. Ainda: considere ética</p><p>toda ação sua, desde que você aceite que façam a</p><p>mesmíssima coisa consigo.</p><p>A proposta de Kant não passou ilesa, entretanto. Entre</p><p>outros apontamentos, seus críticos defendem que, às vezes, ser justo é tratar de maneira desigual os</p><p>desiguais. Dito de outra forma: nem todas as pessoas têm as mesmas necessidades, desejos similares ou uma</p><p>tábua de códigos que se equivalha. Por isso, achar que a “minha” percepção é a melhor para todos parece</p><p>uma falta de conhecimento das subjetividades dos outros indivíduos — e no fundo até egoísmo.</p><p>Uma das principais críticas à ética kantiana afirma que ele apenas atualizou o que foi o padrão ouro</p><p>da moral durante quase todos os últimos 2 mil anos: o cristianismo.</p><p>Desde os Dez Mandamentos até a categorização dos pecados, todo o sistema cristão funcionou para dar</p><p>parâmetros que guiassem seus adeptos a saber o que era o certo e o errado, o que era verdade e o que era</p><p>mentira, e como se poderia garantir uma vida boa no paraíso, após a morte.</p><p>Com o passar do tempo, porém, o cristianismo perdeu a relevância que possuía há séculos. Mesmo que ainda</p><p>haja muitos cristãos no mundo, outras forças (como a ciência) surgiram para colocar em dúvida as propostas</p><p>sacerdotais. Antes mesmo da subida em definitivo da ciência ao altar dos valores morais, outros encontros já</p><p>tinham afetado o monopólio cristão da lei prescritiva. Um caso exemplar foi a chegada dos europeus, nos</p><p>séculos XV e XVI, nas terras que depois receberam o nome de América.</p><p>, quadro de Victor Meirelles que retrata o contato entre as populações nativas e os</p><p>colonizadores europeus.</p><p>Assim que encontraram populções nativas tão diferentes em seus comportamentos e valores, uma série de</p><p>perguntas atravessou a cabeça dos europeus:</p><p>Como tratar os nativos americanos, que seguiam outras éticas que permitiam relacionamentos</p><p>menos monogâmicos, que não tinham pudores excessivos com o corpo, que não veneravam o</p><p>mesmo Deus, que queriam trabalhar apenas o necessário, sem conseguir compreender a pretensão</p><p>europeia de acumular riquezas?</p><p>Parecia claro que não era apenas o cristianismo que sabia lidar com o mundo. Outros modos de viver</p><p>funcionavam tão ou melhor que o europeu e isso precisava ser levado em conta. Ou deveria ser.</p><p>As divergências entre ética e moral</p><p>Com este vídeo, você poderá identificar as possíveis diferenças entre ética e moral.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Ética e liberdade</p><p>Fiódor Dostoiévski.</p><p>Em vários momentos da história, a ética (ou a</p><p>moral) foi vista como aquilo que tentou</p><p>controlar o que se pode ou não fazer. Há uma</p><p>frase muito citada, mas que não aparece</p><p>exatamente assim, de Os irmãos Karamazov,</p><p>obra literária do russo Fiódor Dostoiévski, que</p><p>resume bem a intenção: “Se Deus não existe,</p><p>tudo é permitido”.</p><p>Isto é, Deus (ou um ente que tivesse uma</p><p>importância ética parecida) seria o tampão</p><p>moral que nos impediria de cair no caos</p><p>completo, na desordem total, no vale-tudo.</p><p>Como se apenas uma mão pesada nos</p><p>impedisse de nos destruir por completo.</p><p>Se não houvesse uma lei repressora, nós tenderíamos ao aniquilamento ou, no mínimo, à perda de certos</p><p>traços que nos tornam diferentes de outros seres, a começar pelos outros animais.</p><p>Nessa passagem do livro, o personagem de Dostoiévski dá alguns exemplos do que, para ele, seria o mais</p><p>baixo que o homem poderia chegar: se não acreditarmos na imortalidade da alma, então não haverá mais nada</p><p>amoral, tudo será permitido, até a antropofagia. Considerando que este era um costume de certos grupos</p><p>indígenas das Américas na época da invasão europeia,</p><p>há mais de 500 anos, o contraste moral fica ainda mais</p><p>gritante.</p><p>Antropofagia</p><p>Ato ritual religioso de comer uma ou várias partes do corpo de um ser humano como uma forma de se</p><p>vingar por mortes ocorridas em conflitos anteriores e para adquirir as características de seus inimigos.</p><p>Desenho datado de 1557 de uma cena antropofágica ocorrida no Brasil.</p><p>Para um intelectual urbano russo do século XIX, talvez o ato de comer outros seres humanos fosse um dos</p><p>pontos mais baixos que o homem chegaria. Mas, para um tupi da costa de Pindorama (nome que os indígenas</p><p>dessa etnia davam para a terra que se chamou depois de Brasil), o ato tinha diversas conotações: espirituais,</p><p>existenciais e até éticas. Como equiparar tais noções tão distantes?</p><p>O dilema ético aqui está exatamente em poder analisar a questão proposta da forma mais ampla possível. Aqui</p><p>essas perguntas podem nos ajudar a refletir, mas não nos darão uma resposta pronta: a moral cristã, que</p><p>eliminou o antropofagismo no Brasil, não deveria acontecer? Todos os aspectos culturais de um povo devem</p><p>permanecer sempre intactos?</p><p>Jean-Jacques Rousseau.</p><p>É bastante provável que não sejamos assim tão dependentes de uma lei forte para nos organizar e</p><p>reprimir nossas vontades mais egoístas, mas é notável como os limites impostos pela ética</p><p>aparecem em todos os agrupamentos humanos — e são essenciais para a construção de uma</p><p>sociedade. É preciso estabelecer o que se pode ou não fazer, para criar uma coesão e, assim, nos</p><p>liberar para sermos livres no restante das ações.</p><p>É preciso estabelecer o que se pode ou não fazer, para criar uma coesão e, assim, nos liberar para sermos</p><p>livres no restante das ações.</p><p>Muitos pensadores ao longo da história da filosofia, como o</p><p>suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), consideravam</p><p>que o homem nasce livre, mas precisa se aclimatar à</p><p>sociedade, diminuir seu ímpeto, se adaptar aos códigos</p><p>impostos pela tradição.</p><p>Esses pensadores foram empurrando a fronteira do que se</p><p>podia fazer ou não — ou seja, da moral — a cada vez que</p><p>um impedimento dogmático aparecia.</p><p>Uma das questões primordiais do Iluminismo, por exemplo,</p><p>foi a liberdade de expressão.</p><p>Até o movimento europeu que teve como expoentes Kant,</p><p>os franceses Voltaire, Diderot e Rousseau, e os ingleses</p><p>Hume e Adam Smith, falar o que se pensava podia dar em prisão ou até em morte. Por isso, eles lutaram,</p><p>escreveram, correram riscos para que todos pudessem expressar aquilo que tinham em mente, sem medo de</p><p>serem exterminados por isso.</p><p>A título de comparação do tamanho do risco do simples ato de opinar publicamente — algo banalizado em</p><p>tempos de redes sociais —, lembre-se de como a imprensa foi perseguida na colônia portuguesa das</p><p>Américas. Só se foi permitido ter jornais impressos com a vinda de D. João VI para o Brasil, em 1808. E, ainda</p><p>assim, não era exatamente uma imprensa livre, mas profundamente censurada.</p><p>Liberdade: abre as asas sobre nós?</p><p>Neste vídeo, você poderá aprofundar a complexidade do conceito de liberdade.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Liberdade de expressão</p><p>No Brasil, na segunda metade do século XX, estudantes, artistas, militantes, músicos, operários, escritores,</p><p>em suma, críticos ao regime foram presos, torturados, condenados ao exílio e até mortos por discordarem</p><p>com veemência dos ditadores.</p><p>Vladimir Herzog morto no DOI-CODI de São Paulo.</p><p>Sobreviventes do campo de concentração nazista</p><p>Buchenwald, no leste da Alemanha, quando foram</p><p>resgatados.</p><p>O assassinato do jornalista Vladimir Herzog é</p><p>um dos casos mais famosos que representa</p><p>quão violenta foi a repressão dos militares.</p><p>Em 1975, Vlado, como era apelidado, se</p><p>apresentou espontaneamente para prestar</p><p>depoimentos ao DOI-CODI, órgão militar</p><p>famoso por atacar dissidentes do regime. O</p><p>jornalista foi preso na mesma hora e apareceu</p><p>enforcado, em sua cela, apenas um dia depois.</p><p>Segundo as informações declaradas pelos</p><p>oficiais, ele teria se matado com um cinto de</p><p>pano que prendia sua roupa. Havia, contudo,</p><p>uma grosseira inconsistência na versão</p><p>apresentada pelos militares: na foto divulgada,</p><p>os joelhos do jornalista apareciam encostados no chão, o que impossibilitaria o suicídio.</p><p>Desde o Iluminismo, portanto, a liberdade de expressão se tornou um dos pilares dos regimes que se</p><p>propunham democráticos. Só é possível ter uma democracia se tal direito for respeitado. Recentemente,</p><p>entretanto, o processo se inverteu: utilizando-se desse arcabouço legal, vários atores políticos começaram a</p><p>propagar informações que não condizem com os fatos. Em termos atuais, passaram a divulgar fake news.</p><p>A liberdade de expressão é tratada por quem divulga esses “fatos alternativos” de forma distorcida. Primeiro</p><p>como um valor superior aos demais: nenhum outro direito poderia ser mais importante que este. Segundo:</p><p>como uma desculpa para falar qualquer coisa, não importando se é verdade ou não.</p><p>Na Alemanha, por exemplo, é previsto como crime a</p><p>negação do Shoá, também conhecido como Holocausto, o</p><p>genocídio nazista que matou cerca de 6 milhões de</p><p>pessoas, entre judeus, Testemunhas de Jeová, pessoas</p><p>com deficiências, ciganos, comunistas, homossexuais e</p><p>outros grupos discriminados pelos nazistas.</p><p>Na Ucrânia, não só é proibido ocultar o Holodomor — o</p><p>genocídio soviético da população ucraniana, com cerca de</p><p>12 milhões de mortos pela fome —, como também foi</p><p>proibida a existência de partidos políticos comunistas e</p><p>qualquer símbolo que remeta ao regime socialista soviético.</p><p>Não importa que a liberdade de imprensa, análoga à de</p><p>expressão nesse caso, esteja registrada na Constituição</p><p>daquele país. Há valores maiores do que a possibilidade de</p><p>opinar publicamente. Na realidade, mesmo em democracias bem mais consolidadas que a brasileira, a</p><p>liberdade não é infinita e precisa ser tolhida quando há riscos reais. Mesmo nos EUA, cuja Primeira Emenda à</p><p>Constituição, datada ainda de 1791, já defendia a expressão livre, não é um vale-tudo.</p><p>Precisa ser tolhida</p><p>Essa é outra questão pouco reconhecida como unânime. Nesse sentido, vale conferir os artigos e</p><p>reportagens indicados no Explore +.</p><p>Nenhum direito é absoluto e a liberdade de expressão não é soberana em relação aos demais</p><p>direitos.</p><p>O Estado não interfere em relação a toda e qualquer informação veiculada, mas caso haja um exemplar</p><p>considerado perigoso (planejamento de ataques terroristas, por exemplo), pode haver interferências.</p><p>Enfretamento entre policiais e apoiadores do ex-</p><p>presidente Trump durante a invasão do Capitólio dos</p><p>Estados Unidos em 2021.</p><p>Além disso, no momento histórico em que pouquíssimas empresas privadas controlam o tráfego de</p><p>informação pelo mundo, a relação entre liberdade de expressão, democracia e censura mudou drasticamente.</p><p>Exemplo</p><p>Facebook, Twitter e Google são capazes de desviar o fluxo para certas postagens a partir do quanto se</p><p>investe. Ou seja, não é exatamente um procedimento democrático, mas plutocrata, isto é, com prioridade</p><p>para quem tem mais dinheiro.</p><p>Por outro lado, tais empresas bilionárias também podem, de uma hora para outra, banir certos personagens ou</p><p>conteúdos, como no caso do ex-presidente norte-americano Donald Trump, cuja conta no Twitter foi retirada</p><p>do ar no início de 2021 sob acusação de incitar a violência, é um exemplo do poder dessas companhias. Por se</p><p>tratarem de empresas privadas, que não precisam dar satisfação das suas ações para o público em geral,</p><p>acabam por gerar desconfianças legítimas.</p><p>Para alguns, as acusações ao então presidente</p><p>dos EUA foram óbvios; para outros não! Então,</p><p>sendo uma empresa privada, que não precisa</p><p>dar satisfação das suas ações para o público</p><p>em geral, sempre há uma desconfiança. E</p><p>quando houver perseguição a certos</p><p>personagens que forem contrários à empresa</p><p>em questão (como alegou parte da Imprensa</p><p>Americana, nesse mesmo caso)?</p><p>Ou acontece o problema inverso: certos</p><p>conteúdos, apesar de serem classificados</p><p>como discurso de ódio ou como propagadores</p><p>de informações falsas, muitas vezes são</p><p>mantidos porque têm audiência.</p><p>É o caso de canais de</p><p>propagação de notícias</p><p>inverídicas no Facebook ou no Youtube (do</p><p>Google), por exemplo. Para tornar as coisas ainda mais difíceis, mesmo que uma rede de divulgação caia no</p><p>Whatsapp, que é ligado ao Facebook, ela surge num outro aplicativo de comunicação instantânea.</p><p>E o pior: em vários desses casos, apesar de essas grandes companhias terem códigos de ética, eles são</p><p>ignorados – ou interpretados de forma “criativa” – em prol de outros interesses, como manter a audiência em</p><p>crescimento, engajada, com interações".</p><p>Como insistido inúmeras vezes, não há unanimidade sobre algumas dessas temáticas. E é fundamental</p><p>apresentar, quando possível, outras versões além daquela do "senso comum midiático".</p><p>Assim, a partir desse admirável novo mundo que nos aparece, em que a liberdade de expressão já não é a</p><p>mesma que foi defendida pelos iluministas, uma pergunta aparece com cada vez mais frequência: como</p><p>estabelecer um limite, como propor uma ética para uma rede que é necessariamente ampla e tão</p><p>multifacetada? Ou, para voltar à frase de Dostoiévski: se não há Deus — uma lei, um Estado, uma moral, uma</p><p>ética — tudo é possível mesmo?</p><p>Quem controla as agências de controle?</p><p>Neste vídeo, vamos falar sobre os elementos que nos ajudam a perceber a importância e a complexidade de</p><p>agências de controle das mídias digitais. Vamos lá!</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>Questão 1</p><p>Sabemos que definir o que é ética não é fácil, mas podemos partir de alguns fundamentos teóricos,</p><p>desenvolvidos ao longo da história, a fim de podermos afirmar algo sobre a ética. Nesse sentido, avalie as</p><p>afirmativas abaixo, que têm por objetivo caracterizá-la:</p><p>I. Códigos visíveis ou invisíveis que determinam o que é o certo e o errado, o bom e o ruim, o verdadeiro e o</p><p>falso para determinada sociedade.</p><p>II. Conjunto de regras prescritivas, que vão criar o fundamento para sabermos o que é certo ou errado antes</p><p>de agirmos.</p><p>III. A lógica interna e obrigatória que força participantes de um grupo social a se comportarem de certa</p><p>maneira.</p><p>IV. Valores internos das pessoas, independentemente do tipo de ambiente inserido e da influência recebida.</p><p>Está correto o que se afirma em</p><p>A</p><p>I somente.</p><p>B</p><p>III somente.</p><p>C</p><p>I, II e IV.</p><p>D</p><p>IV somente.</p><p>E</p><p>II, III e IV.</p><p>A alternativa C está correta.</p><p>Mesmo que a ética seja vista como uma lógica interna de determinado grupo, ela não tem um caráter</p><p>obrigatório, mas optativo, de escolha: o homem é livre para escolher ser ético ou não. As demais</p><p>afirmativas apresentam o quanto a ética pode ter sua concepção ampliada.</p><p>Questão 2</p><p>Houve recentemente uma mudança significativa na maneira como a liberdade de expressão é entendida de</p><p>forma geral. Entre as alternativas abaixo, assinale a que melhor explica essa transformação.</p><p>A</p><p>De um período em que a liberdade de expressão não tinha limites, hoje ela começou a ter, desrespeitando a</p><p>democracia.</p><p>B</p><p>De um tempo em que era usada como forma a propagar qualquer informação, hoje se tornou o último bastião</p><p>contra as censuras gerais.</p><p>C</p><p>De uma relação de trocas iguais, democráticas, em que não havia necessidade de a invocar, para um</p><p>momento ainda mais tranquilo em que tal proposta quase é esquecida.</p><p>D</p><p>De um mecanismo iluminista contra as censuras, tal artifício serve hoje como justificativa para se divulgar fake</p><p>news.</p><p>E</p><p>De um jeito de se expressar livremente, hoje se transformou numa forma de comunicação social.</p><p>A alternativa D está correta.</p><p>Apesar de um histórico de lutas para ampliar a liberdade de expressão, tal direito não pode ser visto como</p><p>superior aos demais, muito menos ser usado para divulgar notícias falsas.</p><p>Eleanor Roosevelt, então 1ª dama do EUA, exibe a</p><p>Declaração Universal dos Direitos Humanos publicada</p><p>em espanhol.</p><p>Grande protesto contra a guerra do Vietnã tomou as</p><p>ruas de Amsterdã em 13 abril de 1968.</p><p>2. A trajetória dos direitos humanos</p><p>Definição de direitos humanos</p><p>Talvez a pergunta “quando foram instituídos os direitos humanos?” só tenha uma concorrente na categoria</p><p>dificuldade de responder: é a sua prima “o que são os direitos humanos?”.</p><p>Sabe-se, com certeza, que tal expressão aparece na</p><p>Declaração Universal da Organização das Nações Unidas,</p><p>um documento proferido em 1948 — logo após o genocídio</p><p>promovido por nazistas e fascistas durante a Segunda</p><p>Guerra Mundial — que delimita os direitos fundamentais do</p><p>ser humano.</p><p>Tal declaração, porém, não acabou com as controvérsias e</p><p>contradições.</p><p>Segundo o historiador e jurista norte-americano Samuel</p><p>Moyn, que defende essa onda atual de direitos humanos</p><p>como uma espécie de última utopia humana e aponta a</p><p>década de 1970 como o momento em que a Europa buscou uma identidade fora dos termos da Guerra Fria,</p><p>que separava o mundo entre países alinhados aos EUA capitalistas ou à URSS comunista.</p><p>Além disso, depois da desastrosa saída do</p><p>Vietnã, em 1975, a política externa dos EUA</p><p>mudou para padrões mais liberais, a fim de</p><p>manter relações mais igualitárias com outras</p><p>nações. E, principalmente, foi a década em que</p><p>a aventura colonialista dos países europeus na</p><p>África se dissolveu, ocasionando a libertação</p><p>de diversos povos que até hoje pagam a conta</p><p>dessa longa dominação.</p><p>Isso, claro, sem contar o rescaldo dos grandes</p><p>movimentos populares do fim da década de</p><p>1960, que sacudiram os paralelepípedos das</p><p>ruas de várias cidades do Norte Global, de Paris</p><p>a Berkeley (EUA), passando por Praga, capital</p><p>da então república socialista tchecoslovaca.</p><p>Após tais protestos e modificações do tabuleiro</p><p>mundial, não dava mais para se crer capitalista ou comunista de forma inocente.</p><p>Com a eleição de Margareth Thatcher no Reino Unido, em 1979, e de Ronald Reagan nos EUA, em 1981, os</p><p>direitos humanos se transformaram em uma moeda imperialista.</p><p>Exemplo</p><p>Usando como desculpa o combate às ditaduras comunistas e o perigo do chamado avanço “vermelho”,</p><p>EUA e Reino Unido intervinham diretamente na política interna e externa de países periféricos.</p><p>Contraditoriamente, não se importavam com as violações dos mesmos direitos nesses mesmos países</p><p>periféricos, que seguiam suas cartilhas subservientes e, na maioria dos casos, aderiam às suas políticas</p><p>econômicas neoliberais. Era o caso das ditaduras sul-americanas do período, tais quais as implantadas</p><p>no Brasil, na Argentina e no Chile.</p><p>Essa política de direitos humanos também não aconteceu de forma igual nem ao mesmo tempo em todos os</p><p>países da Europa do oeste — basta lembrar que, paralelamente a esse período, toda a Península Ibérica</p><p>continuava sob o domínio de ditaduras nacionalistas até metade da década de 1970: Portugal se liberta do</p><p>salazarismo, iniciado em 1933, somente com a Revolução dos Cravos, em 1974. Já a Espanha se livraria do</p><p>franquismo — imposto desde o fim da Guerra Civil Espanhola, em 1938 — apenas com a morte do</p><p>“generalíssimo” Francisco Franco, em 1975.</p><p>Demonstração franquista nas ruas de Salamanca, na Espanha, em 1 de janeiro de</p><p>1937.</p><p>Mas, afinal, como definir o que são os direitos humanos?</p><p>Para começarmos a entender esse assunto, é possível citar alguns procedimentos dentro do escopo dos</p><p>direitos humanos: o direito à liberdade de culto e religião; o direito a um julgamento justo, quando se é</p><p>acusado de algum crime; o direito a não ser torturado; e o direito à educação.</p><p>É nesse sentido que, atualmente, os direitos humanos:</p><p>Plurais e têm como fim acabar com a</p><p>escravização no mundo</p><p>Destacam que todos os seres humanos nascem</p><p>livres e iguais em dignidade e direitos, com o</p><p>fim de acabar com a escravização no mundo e</p><p>prevenir genocídios, através de direitos e</p><p>liberdades fundamentais.</p><p>Universais e inerentes a todos os seres</p><p>humanos</p><p>Promovem o respeito e a observância aos</p><p>direitos e liberdades fundamentais do ser</p><p>humano, como um ideal comum a ser atingido</p><p>por todas as nações, independentemente das</p><p>práticas, morais e leis específicas de seus</p><p>países.</p><p>Prioridades e sua violação é uma grave</p><p>afronta à Justiça</p><p>Esclarecem que o pleno reconhecimento e</p><p>respeito aos direitos e liberdades fundamentais,</p><p>para que toda e qualquer pessoa tenha direito a</p><p>uma vida digna, é um requisito inerente à moral,</p><p>à ordem pública e ao bem-estar de toda e</p><p>qualquer nação democrática.</p><p>Equiparados a estabilidade e a</p><p>segurança nacional</p><p>Enfatizam que o direito a uma renda justa e</p><p>satisfatória, que assegure uma existência digna,</p><p>está diretamente relacionado com a</p><p>estabilidade, a segurança nacional, a autonomia</p><p>individual e dos povos, bem como a</p><p>prosperidade nacional e global.</p><p>A Declaração Universal dos Direitos Humanos, já em 1948, nos fornece um bom parâmetro para tentar</p><p>entender o que são, afinal, os direitos humanos: são uma tentativa de criar uma moral — uma ética —</p><p>compartilhada por “todos os membros da família humana”, como escreve a declaração das Nações Unidas</p><p>publicada em 1948. Tais direitos são aquilo no qual todos deveríamos nos basear, por serem as condições</p><p>fundamentais para uma vida digna de toda e qualquer pessoa, sem importar quem ela é ou o que ela faz.</p><p>Quando os humanos têm direitos</p><p>Neste vídeo, você aprofundará o termo direitos humanos em suas nuances.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Fundamentação histórica dos direitos humanos</p><p>Direitos humanos e iluminismo</p><p>Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e</p><p>consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.</p><p>(Art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos)</p><p>Livres, iguais e com espírito fraterno. Desde o seu primeiro artigo, a Declaração Universal dos Direitos</p><p>Humanos não esconde sua principal influência: a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.</p><p>Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de</p><p>1789.</p><p>Declaração de Independência dos Estados Unidos.</p><p>Capa de , de 1762.</p><p>Redigida logo no início da Revolução Francesa, em 1789, o</p><p>icônico documento — cujo lema principal era “liberdade,</p><p>igualdade e fraternidade” — não apenas ignorava o rei,</p><p>como toda nobreza e a Igreja, atribuindo a soberania do</p><p>país ou nação ao seu povo. Destacando que “os direitos</p><p>naturais, inalienáveis e sagrados do homem” são a base de</p><p>qualquer governo.</p><p>O caráter universal dos direitos humanos também já</p><p>aparecia na declaração de 1789, que se refere, ao longo de</p><p>seu texto e de diversas formas, aos homens, sem fazer</p><p>distinção da sua nacionalidade, com apenas uma menção</p><p>ao povo francês. Seu artigo 1º, que ecoa no documento da</p><p>ONU, quase dois séculos depois, já assegurava que “os</p><p>homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”.</p><p>Era tanta liberdade, igualdade e propunha tanta fraternidade que teóricos e políticos anglófilos como Richard</p><p>Price e Edmund Burke, que tinham apoiado a independência norte-americana, em 1776, foram contrários à</p><p>Revolução Francesa, com medo de que ela acabasse provocando o caos.</p><p>Foi contra ela que Burke escreveu Reflexões sobre a Revolução na França, e criou as bases para o</p><p>conservadorismo moderno, que até aceita transformações, mas acredita que as revoltas são movimentos</p><p>extremos demais.</p><p>Aliás, a Declaração de Independência dos</p><p>Estados Unidos da América é outro documento</p><p>que historiadores, como a estadunidense Lynn</p><p>Hunt, defendem como seminais no tema dos</p><p>direitos humanos. A segunda linha do texto de</p><p>1776 já afirma: "Consideramos estas verdades</p><p>autoevidentes: que todos os homens são</p><p>criados iguais, dotados pelo seu Criador de</p><p>certos Direitos inalienáveis, que entre estes</p><p>estão a Vida, a Liberdade e a busca da</p><p>Felicidade".</p><p>Mesmo que haja uma menção ao Criador, o Seu</p><p>trabalho termina ali. O governo era dos homens</p><p>e para os homens. Todos os homens.</p><p>Há uma conexão estreita entre as duas famosas declarações do século XVIII: Thomas Jefferson, o autor da</p><p>declaração americana, estava em Paris 13 anos depois, meses antes da queda da prisão da Bastilha, o evento</p><p>que marca o início da Revolução Francesa. Thomas Jefferson era amigo e muito provavelmente influenciou o</p><p>marquês de Lafayette, que foi um dos redatores do documento de 1789.</p><p>Todas essas declarações revolucionárias respiraram os ares</p><p>críticos e científicos do Iluminismo, que criou as bases</p><p>estruturantes para a proposta da formação de uma</p><p>sociedade, em tese, muito menos estratificada.</p><p>A expressão “direitos do homem”, que ficou bastante</p><p>associada à declaração francesa de 1789, já aparecia na</p><p>obra O contrato social ou princípios do direito político, de</p><p>1762, do iluminista Jean-Jacques Rousseau.</p><p>Em geral, os direitos humanos têm três condições</p><p>características, devem ser:</p><p>Manifestação pelo voto feminino em Nova York, 1912.</p><p>Naturais</p><p>Inerentes aos seres humanos.</p><p>Iguais</p><p>Os mesmos direitos para todo mundo.</p><p>Universais</p><p>Aplicáveis por toda parte.</p><p>Dito de outra forma: todos considerados humanos — mesmo as piores pessoas, mesmo os maiores genocidas,</p><p>os bandidos mais detestáveis e aqueles sujeitos que odiamos — devem usufruir desses direitos. Por isso,</p><p>merecem não serem torturados bem como terem um julgamento e um tratamento justo, igualitário e digno.</p><p>A ironia do processo é que parcelas consideráveis da população tanto dos EUA quanto da França — isso para</p><p>não falar de periferias como o Brasil — não eram incluídas nesses direitos humanos. Isso se mantém, de certa</p><p>forma, até hoje. Quando algum grupo é excluído na hora de votar, por exemplo.</p><p>Pela lei brasileira, menores de 16 anos, os considerados loucos, presos que têm sentença transitada em</p><p>julgado, indígenas vivendo em situação de isolamento, jovens prestando serviço militar obrigatório e</p><p>estrangeiros não são autorizados a participar das eleições. Todos são impedidos por serem considerados</p><p>dependentes, portanto, podendo ser influenciados por outras pessoas.</p><p>Ainda no século XVIII, também eram colocados</p><p>fora dos direitos “universais” aqueles sem</p><p>propriedade, os escravizados, os negros livres,</p><p>certas minorias religiosas (como os judeus) e,</p><p>por último, mas não menos importante: as</p><p>mulheres. Aos poucos, por vezes de forma lenta</p><p>demais, esses segmentos da sociedade foram</p><p>sendo incorporados à ideia de “universal” e</p><p>começaram a usufruir dos direitos humanos.</p><p>O primeiro país a autorizar o voto feminino foi a</p><p>Nova Zelândia, em 1893. No Brasil, as mulheres</p><p>conquistam o direito de votar em 1932. Na</p><p>revolucionária França, elas só foram às urnas</p><p>em 1945, depois da Segunda Guerra Mundial.</p><p>A noção de quem pode ou não receber direitos vai se alargando, vai sendo modificada a partir das</p><p>necessidades, condições e exigências da sociedade. O que é considerado razoável há 200, 300 anos, não é</p><p>mais hoje em dia, um processo que tem bastante influência da moral.</p><p>O próprio Jefferson, redator da declaração de independência norte-americana e terceiro presidente dos EUA,</p><p>era um grande proprietário de escravos — o que causa um enorme constrangimento hoje em dia entre os seus</p><p>compatriotas. Talvez no futuro tenhamos essa mesma vergonha de situações que hoje toleramos e, até</p><p>mesmo, de certa forma, incentivamos, como a extrema desigualdade social.</p><p>Direitos humanos e Grécia</p><p>Essa aparente contradição para os olhos contemporâneos entre um discurso de universalização e uma prática</p><p>que excluía certos grupos sociais é comum desde a época da democracia ateniense na Grécia Antiga,</p><p>comumente considerada o berço da democracia ocidental.</p><p>Hesíodo.</p><p>Pintura de Philipp Foltz que retrata um discurso público do célebre estadista</p><p>ateniense, Péricles.</p><p>Foi lá que o primeiro experimento democrático digno desse nome aconteceu, com a população — isto é,</p><p>homens adultos livres — da cidade-estado de Atenas participando da organização da sociedade.</p><p>Escravizados, mulheres e estrangeiros eram excluídos de todo o processo, entretanto. Na prática, os</p><p>participantes ativos desse sistema atingiam no máximo 20% da população de Atenas.</p><p>De qualquer forma, há quem enxergue também na Grécia de séculos antes de Cristo a origem dos direitos</p><p>humanos. Sofistas e estoicos já tinham, no mínimo implicitamente, uma ideia de igualdade entre os homens.</p><p>Os primeiros, com a sua noção de que o homem é a medida para todas as coisas, e os segundos, colocando a</p><p>razão para reger</p><p>o mundo que, por sua vez, seria pensado de forma a priorizar o bem de todos.</p><p>Outros teóricos enxergam ainda no poeta grego Hesíodo, que teria atuado entre 750 e 650 AEC, o passo</p><p>inicial da caminhada que culminou no direito de todas as pessoas serem tratadas como iguais.</p><p>Se Homero — outro poeta grego do século VIII AEC — ainda</p><p>colocava a vingança como fundamento da Justiça, o que,</p><p>por isso, não leva em conta o valor da vida humana como</p><p>igual, Hesíodo inclui o homem na equação.</p><p>Em Hesíodo, sai o guerreiro, personagem dos épicos</p><p>homéricos, e entra o agricultor, que quer apenas viver uma</p><p>vida tranquila, uma existência justa, que seja regida por</p><p>algum tipo de direito.</p><p>O homem nos poemas de Hesíodo deveria seguir as leis que</p><p>criavam a ordem universal sob pena de receber algum</p><p>castigo de Zeus. Eram castigos ainda muito conectados</p><p>com fatos da natureza, mas que mostravam, de alguma</p><p>forma, a preocupação com a vida do próprio homem.</p><p>A despeito de não se ter uma certidão de nascimento que seja indiscutível — e nunca haverá —, o que se</p><p>pode entender é que todas as vezes que se pensa em direitos humanos se coloca a vida humana, em toda a</p><p>sua dignidade, no centro da questão. Os direitos humanos foram resumidos pelo jurista inglês do século XVIII</p><p>William Blackstone, que os chamou de a “liberdade natural da humanidade", isto é, os "direitos absolutos do</p><p>homem, considerado como um agente livre, dotado de discernimento para distinguir o bem do mal".</p><p>Olhando a realidade pela história</p><p>Com este vídeo, você poderá perceber como a história nos ajuda a entender a realidade.</p><p>O então presidente dos EUA, Jimmy Carter, sorrindo ao</p><p>lado do ditador chileno Augusto Pinochet, em 1977.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Crítica aos direitos humanos</p><p>Direitos humanos como alvo de críticas</p><p>Embora ninguém seja, de forma aberta, contra os direitos humanos — apesar de haver diversas deturpações</p><p>do conceito que levam certos políticos de extrema-direita a reclamar de um enviesamento na sua prática —, a</p><p>maneira como tais direitos foram estabelecidos e usados politicamente ao longo dos séculos fez deles um</p><p>alvo. A começar pelo já mencionado uso de propaganda parcial por políticos reacionários da década de 1980</p><p>que queriam desestabilizar países comunistas.</p><p>É fácil dizer que um país como Cuba, por</p><p>exemplo, não respeita os direitos humanos,</p><p>quando eles abertamente perseguiram</p><p>homossexuais.</p><p>O mais difícil é justificar o silêncio desses</p><p>mesmos políticos diante das torturas, prisões e</p><p>assassinatos dos opositores de ditadores como</p><p>Augusto Pinochet, no Chile.</p><p>Ou o incentivo militar norte-americano ao</p><p>massacre da população de El Salvador, que se</p><p>opunha ao governo de direita. Ou o apoio do</p><p>mesmo país ao grupo dos “Contra”, na</p><p>Nicarágua, que tentava acabar com a Revolução Sandinista, que tinha derrubado um ditador apoiado pelos</p><p>EUA. Isso só para ficar em exemplos que ocorreram na América Latina na década de 1980.</p><p>Mas as críticas não param aí. Teóricos de tradição marxista enxergam na Revolução Francesa um movimento</p><p>que se utilizou da força das classes mais baixas para destronar os chamados primeiro e segundo Estado, isto</p><p>é, a nobreza e o clero, e instalar no poder não os pobres e necessitados, mas uma outra classe intocável: a</p><p>burguesia.</p><p>A mais icônica obra sobre a Revolução francesa, do pintor iluminista Eugène</p><p>Delacroix, , de 1830.</p><p>Banqueiros, grandes industriais e comerciantes assumiram as posições que antes eram dos nobres e dos</p><p>padres. A camada mais desvalida, embora tenha tido participação ativa no movimento revolucionário, foi mais</p><p>uma vez colocada para escanteio quando o processo se estabilizou.</p><p>Há também quem associe os direitos humanos a apenas uma boa intenção que nunca foi concretizada de</p><p>verdade, e a demora para que outros grupos além do segmento de sempre — os homens brancos ricos —</p><p>participassem do jogo democrático corrobora esse tipo de raciocínio. Mesmo que hoje a grande maioria da</p><p>população brasileira tenha acesso ao voto, para continuar no caso já mencionado, em outros temas</p><p>relacionados aos direitos humanos, como a segurança, a liberdade e a igualdade, certos grupos — os de</p><p>sempre — parecem ter mais direitos que outros.</p><p>Para comprovar isso, basta ver a diferença de expectativa de vida entre brancos e negros no Brasil. Ou a cor</p><p>de pele predominante na imensa maioria da população carcerária. Ou a gigantesca diferença de renda entre</p><p>os muito ricos e o resto da população. Qualquer métrica social ou de direitos humanos que for utilizada vai</p><p>mostrar esse abismo.</p><p>Gráfico: Brasil: Taxa de Homicidios de Negros e de Não Negros a cada 100 mil</p><p>Habitantes Dentro destes Grupos Populacionais (2009 a 2019) Extraído de: Diest/</p><p>Ipea, FBSP e IJSN. , 2021, p. 50.</p><p>Ademais, as críticas aos direitos humanos feitas por parte de figuras de extrema-direita, como se tal</p><p>arcabouço fosse uma forma de proteger e incentivar meliantes, apenas disfarçam a tentativa de se manter</p><p>esse tipo de distância entre quem já tem acesso a tais direitos e quem nunca teve.</p><p>Ainda que seja uma árdua tarefa estabelecer valores éticos para um grupo tão heterogêneo quanto a espécie</p><p>humana, os direitos humanos arriscam esse papel.</p><p>O caráter universal desses direitos serve exatamente para criar o mínimo, aquilo que todos podem</p><p>reivindicar e recorrer. A fim de que todas as sociedades humanas sejam mais justas e igualitárias.</p><p>Se seguirmos os direitos humanos, podemos dizer que é ético que todas as pessoas nunca sejam torturadas</p><p>na vida, mesmo que tenham cometido o pior dos crimes. É ético que ninguém seja discriminado por conta de</p><p>sua cor de pele, sua crença, sua orientação sexual, sua identidade de gênero. É ético que todas as pessoas</p><p>tenham as mesmas chances para prosperar na vida, sem importar o meio em que nasceu. É ético que se</p><p>procure colocar em prática a liberdade, a igualdade e a fraternidade.</p><p>Crítica marxista aos direitos humanos</p><p>Os marxistas também reclamam do caráter individualista que estaria implícito nos direitos humanos, como se</p><p>tal categoria judicial não pensasse o todo da sociedade de uma vez, mas pulverizasse cada uma das</p><p>perspectivas. Como estabelecer, por exemplo, o limite da liberdade de cada um? As discussões sobre</p><p>liberdade de expressão, no módulo anterior, mostram como essa demarcação é complicada.</p><p>De toda forma, por um lado é justa essa crítica marxista sobre o caráter individualista dos direitos humanos,</p><p>uma vez que, ao se dividir cada um dos cidadãos em indivíduos, se perde força para exigir mais participação</p><p>política, além de criar um problema acerca da linha que separa os direitos de um indivíduo do seu próximo; por</p><p>outro, ela ignora o âmbito mais singular em que os direitos atuam.</p><p>Quando alguém é torturado, é a sociedade como um todo que está sofrendo, já que precisou</p><p>recorrer a um procedimento vil que ataca a dignidade de um dos seus cidadãos. No entanto, é um</p><p>sujeito único que sente dor. Alguém que tem uma vida pregressa, que tem sonhos e que está</p><p>recebendo na pele a carga dessa violência. Portanto, há sempre duas alçadas sendo entrelaçadas</p><p>ao mesmo tempo: o indivíduo e a sociedade. E ambas devem ser respeitadas.</p><p>Para sabermos o quão longe estamos dessa universalização dos direitos humanos, podemos recorrer a um</p><p>teórico socialista utópico do fim do século XVIII e início do XIX chamado François-Marie Charles Fourier.</p><p>Fourier, percebendo que as propostas de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa não</p><p>foram assimiladas pela sociedade como um todo, propôs um medidor: “o grau de emancipação da mulher</p><p>numa sociedade é o barômetro natural pelo qual se mede a emancipação geral”. Poderíamos atualizar esse</p><p>barômetro com a população negra e indígena, com as pessoas com deficiências, com as pessoas LGBTQIA+ e</p><p>todos os grupos historicamente excluídos.</p><p>Direitos humanos e regimes político-econômicos</p><p>Neste vídeo, Ronaldo Pelli mostra, com exemplos, que o tema dos direitos humanos está presente nos</p><p>diversos regimes político-econômicos existentes, mantendo-se</p><p>por meio de incoerências internas. Confira!</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>Questão 1</p><p>Dentre as opções abaixo, assinale a que apresenta a melhor definição para direitos humanos.</p><p>A</p><p>Órgão governamental que tem por objetivo proteger todo cidadão de qualquer tipo de violência.</p><p>B</p><p>Normas que têm como fim proteger as pessoas de abusos, sejam políticos, legais ou mesmo sociais.</p><p>C</p><p>Arcabouço jurídico que acompanha o homem desde a época dos gregos na Antiguidade e que coloca o</p><p>homem acima de todos os demais seres.</p><p>D</p><p>Procedimento legal utilizado em países da chamada Cortina de Ferro, que forneciam direitos sociais a todos</p><p>os moradores.</p><p>E</p><p>Mecanismo de exclusão que cria uma separação entre homens e mulheres, ricos e pobres, brancos e negros</p><p>etc.</p><p>A alternativa B está correta.</p><p>É difícil determinar com perfeição o que seriam os direitos humanos, mas há como estabelecer uma</p><p>explicação mais genérica que fala sobre as garantias legais para a proteção dos indivíduos de violências</p><p>cometidas em sociedades liberais.</p><p>Questão 2</p><p>Sabemos que ao falar em direitos humanos estamos entrando em um terreno perigoso. Não porque, em sã</p><p>consciência, alguém seria contrário ao fato de as pessoas deverem ter seus direitos protegidos; mas por conta</p><p>de variadas interpretações. Assim, é importante que tenhamos claro quais são as três condições básicas dos</p><p>Direitos Humanos:</p><p>A</p><p>serem naturais, iguais e universais.</p><p>B</p><p>serem livres, igualitários e fraternos.</p><p>C</p><p>serem franceses, norte-americanos e gregos.</p><p>D</p><p>serem uma forma de proteger apenas os bandidos mais detestáveis.</p><p>E</p><p>serem uma exceção que premia apenas humanos direitos.</p><p>A alternativa A está correta.</p><p>Para serem considerados direitos humanos, eles devem ser inerentes aos seres humanos, devem ser os</p><p>mesmos para todo mundo e aplicáveis por toda parte.</p><p>Eduardo Viveiros de Castro.</p><p>3. Os direitos dos seres não humanos</p><p>Direito dos animais e especismo</p><p>Direitos dos animais em discussão</p><p>Se os direitos já são um tema complicado, cheio de interpretações e diferentes ângulos quando os</p><p>contemplados são os humanos, imagine nas situações em que o “público-alvo” é formado por outros sujeitos</p><p>além do humano?</p><p>Para começar a dificuldade, a definição de humano não é unânime entre os diferentes grupos sociais ao redor</p><p>do globo, com suas metafísicas, valores e éticas diversas. Povos que não seguem a tradição ocidental, como</p><p>indígenas de todas as partes da Terra, podem ter formas outras de categorizar o que seria o homem. E não é</p><p>pouca gente.</p><p>Segundo a ONU, há cerca de 370 a 500 milhões de indígenas no mundo, espalhados por 90 países, que vivem</p><p>em todas as regiões geográficas e representam 5 mil culturas diferentes. Cada um com formas diferentes de</p><p>entender sua posição no mundo, sua relação com outros seres, sua definição de homem, seu idioma. Para ter</p><p>uma noção da diversidade, só na região onde está atualmente o estado de Rondônia, há 25 diferentes línguas,</p><p>de famílias totalmente diferentes. Como forma de comparação, a União Europeia tem 24 línguas oficiais.</p><p>Localização geográfica das terras indígenas localizadas no estado de Rondônia.</p><p>Um exemplo sobre as diferentes visões do que é o humano: certos grupos indígenas amazônicos acreditam</p><p>que animais que compartilham corpos semelhantes se veem como gente, enquanto os demais seres seriam</p><p>animais. Tal perspectiva cria um jogo em que o animal que enxerga é “gente”, enquanto os demais, que são</p><p>enxergados, são sempre “animais”, podendo ser o caçador ou a caça.</p><p>Dito de outra forma: para o homem, a onça é uma ameaça, o</p><p>porco, uma presa. Para a onça, que se vê como gente, o</p><p>homem é uma presa. Para o porco, o homem é a ameaça, e</p><p>por aí adiante. Isso é, de maneira muito genérica e</p><p>esquemática, o que os antropólogos brasileiros Tânia Stolze</p><p>Lima e Eduardo Viveiros de Castro conceituaram como</p><p>perspectivismo ameríndio.</p><p>Assim, fica demonstrada a dificuldade de se aplicar os</p><p>direitos “humanos” indiscriminadamente para todo e</p><p>qualquer grupo que consideramos “humanos”. No caso</p><p>desses indígenas, deveríamos incluir na categoria</p><p>“humanos” outros animais?</p><p>Essa é uma questão que acompanha o pensamento filosófico há muito tempo. Como consequência prática, já</p><p>existe um movimento antigo para criar direitos para seres outros que não os homens, a começar pelos animais</p><p>não humanos.</p><p>Richard D. Ryder.</p><p>É possível afirmar que todos os humanos já tiveram ou terão algum contato com os animais não humanos, mas</p><p>os tipos de contato variam enormemente. Enquanto certos animais são classificados como domésticos,</p><p>criados sob o mesmo teto, com regalias dignas de pequenas altezas em certos casos, outros são</p><p>considerados como matáveis, para serem transformados em alimento e vestimenta ou, até mesmo, por puro</p><p>esporte.</p><p>Cria-se, assim, uma hierarquia de importância</p><p>entre os animais, uma hierarquia baseada em</p><p>valores morais já solidificados que resvala, com</p><p>frequência, em preconceitos. Para grande parte</p><p>dos moradores de cidades ocidentais, é comum</p><p>ver o boi e a vaca como comida, e o cachorro</p><p>como um pet.</p><p>Na Coreia, entretanto, é tradição usar cães</p><p>também como alimento. E, antes que viremos o</p><p>rosto, podemos imaginar o que os indianos</p><p>hindus, que tratam vacas como sagradas,</p><p>devem pensar sobre o nosso hábito de</p><p>exterminá-las em matadouros industriais.</p><p>Além do fato de que há outras formas de forçar uma relação de dominação por parte dos homens sobre os</p><p>demais animais. O homem é chamado de animal racional, como se isso fosse um demérito para os outros,</p><p>como se a razão fosse a única forma de inteligência possível.</p><p>Um dos critérios técnicos para medir inteligência é o tamanho do cérebro, ou a quantidade de células</p><p>nervosas versus a extensão do corpo. Por esse critério, polvos são considerados inteligentíssimos, já que têm</p><p>a mesma quantidade de neurônios que cachorros e uma fração do tamanho deles.</p><p>Polvos podem também usar ferramentas, como, aliás,</p><p>corvos, chipanzés e outros animais — o que foi, durante um</p><p>tempo, visto como exclusividade dos homens —, e são</p><p>capazes de reconhecer rostos — procedimento comum a</p><p>muitos outros animais. A lista para mostrar a inteligência de</p><p>animais poderia continuar por longas linhas.</p><p>Além disso, há também a dificuldade de definir o que seria</p><p>inteligência. Aves de rapina, por exemplo, precisam de uma</p><p>visão de longa de distância muito melhor que a do homem;</p><p>primatas têm uma agilidade própria de quem salta de galho</p><p>em galho. Determinado gambá norte-americano se finge de</p><p>morto com tanta perfeição que os seus predadores, que</p><p>não são comedores de carniça, desistem de atacá-lo.</p><p>Especismo</p><p>Novamente, os exemplos são muitos. Todos demonstram que cada animal desenvolveu o que precisou para</p><p>melhor viver em determinado hábitat e isso não o faz necessariamente “melhor” nem mais ou menos</p><p>“inteligente” que indivíduos de outra espécie.</p><p>Esse tipo de hierarquia é chamado de</p><p>especismo: um conceito desenvolvido, ainda no</p><p>século XX, pelo filósofo britânico Richard Ryder,</p><p>que trata do uso dos animais não humanos. Tal</p><p>conceito mostra como é preconceituosa certa</p><p>autoridade reivindicada pelos homens para</p><p>poder usar, da forma como lhe aprouver, todo e</p><p>qualquer outro ser, como se todos os demais</p><p>seres existissem única e exclusivamente para</p><p>servir ao homem.</p><p>Especismo também serve para mostrar que, em</p><p>momentos específicos, usamos certas espécies</p><p>como o parâmetro que julgamos os demais.</p><p>Peter Singer.</p><p>Coelhos usados em testes de laboratório em caixas de</p><p>acrílico.</p><p>Acontece com frequência com o homem, num processo antropocêntrico, em que ele se julga superior aos</p><p>outros. Por esse tipo de argumento, todo sacrifício de outras espécies é válido para que o homem continue a</p><p>viver.</p><p>O filósofo australiano do século XX Peter Singer, famoso por</p><p>suas obras sobre a relação ética entre humanos e animais,</p><p>— seu livro, Libertação Animal é considerado como a obra</p><p>fundadora dos Direitos dos animais — diz que o especismo</p><p>é um preconceito de membros de uma espécie em</p><p>detrimento dos interesses dos membros</p><p>de outras</p><p>espécies.</p><p>Defensores dos animais não humanos tentam, há tempos,</p><p>criar legislações para tratá-los como sujeitos de direitos,</p><p>para protegê-los de serem meros objetos para a vontade</p><p>dos homens.</p><p>Saiba mais</p><p>Peter Singer Como já temos apresentado até aqui, essas questões são sempre muito complexas. Por</p><p>exemplo, é do filósofo australiano o pensamento: “[...] bebês humanos não nascem com a noção de si</p><p>próprios, ou capazes de perceber sua existência; eles não são pessoas. A vida de um recém-nascido</p><p>vale menos que a de um porco, um cão ou um chipanzé; eles não têm senso da própria existência ao</p><p>longo do tempo. Então, matar um recém-nascido nunca é equivalente a matar uma pessoa, isto é, um ser</p><p>que deseja seguir vivendo" (Editorial Gazeta do Povo, 13/12/2014). Seria esse posicionamento fruto</p><p>apenas da necessidade de defesa dos direitos dos animais não humanos!?</p><p>O tema é forte desde o início da relação do homem com os outros animais — ou seja, desde muito tempo. Mas</p><p>ficou mais forte ainda a partir das primeiras declarações sobre direitos humanos, no século XVIII.</p><p>“Os sofrimentos de um animal nos parecem ruins, porque, sendo animais como eles, protestaríamos muito se</p><p>nos fizessem a mesma coisa”, escreve o filósofo iluminista Voltaire, num de seus muitos textos sobre o não</p><p>consumo de carne e o sofrimento causado aos animais.</p><p>Recentemente, a preocupação com os animais tem crescido ainda mais. Segundo pesquisa encomendada pela</p><p>Sociedade Vegetariana Brasileira, 14% dos brasileiros em 2018 se declaravam vegetarianos ou parcialmente</p><p>vegetarianos. Isso representava cerca de 30 milhões de brasileiros. Em 2012, esse percentual era de 8%</p><p>apenas. Isto é, a questão animal está presente cotidianamente para uma parcela razoável da população.</p><p>A alimentação é apenas um pedaço do</p><p>problema. Uma das grandes preocupações dos</p><p>defensores dos direitos dos animais não</p><p>humanos é evitar ou, ao menos, criar</p><p>parâmetros aceitáveis para o uso de cobaias</p><p>em pesquisas científicas.</p><p>Em instituições sérias e preocupadas com o</p><p>bem-estar desses animais, há uma série de</p><p>protocolos para utilizá-los nesses testes, mas</p><p>há quem argumenta que todo e qualquer uso é</p><p>uma violência inaceitável. Ainda mais porque os</p><p>bichos utilizados não ganham qualquer</p><p>vantagem, nem para a espécie, muito menos individualmente.</p><p>Já foi comprovado que inúmeros animais, principalmente os que têm algum tipo de sistema nervoso, são</p><p>sencientes: sentem dor, sensações, sentimentos de forma “consciente”. Então, ao matar um animal, estamos</p><p>matando um ser que tem mais em comum conosco do que, muitas vezes, reparamos ou gostamos de lembrar.</p><p>Quando os animais têm seus direitos</p><p>Neste vídeo, você identificará os argumentos em defesa dos direitos dos animais.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Direito das máquinas</p><p>Em um evento de tecnologia de 2017, na Arábia Saudita, um robô com inteligência artificial chamado Sophia,</p><p>que conversou com o apresentador do evento ao vivo, recebeu, ao fim da entrevista, a cidadania do país</p><p>saudita, como se fosse um ser humano. Era uma ação publicitária para divulgar uma cidade tecnológica</p><p>chamada Neom. Comandada por robôs e inteligências artificiais, tal cidade está sendo construída pela Arábia</p><p>Saudita no meio do deserto.</p><p>Não se sabe exatamente o que essa cidadania proporcionou para Sophia — ou se ela conseguiu direitos de</p><p>homens ou de mulheres, muito diferentes nesse país do Oriente Médio extremamente machista — mas tal</p><p>situação nos leva a pensar sobre a legislação por trás de produtos e tecnologias.</p><p>Cientistas, engenheiros, filósofos, empresários</p><p>e todos que pensam sobre as tecnologias se</p><p>dividem em diferentes formas de encarar os</p><p>problemas que o futuro, nesse âmbito, nos</p><p>reserva.</p><p>Há os que acreditam que vamos subir nossas</p><p>consciências para computadores e encontrar</p><p>uma espécie de vida eterna. Outros imaginam</p><p>uma versão do porvir mais preocupante, com</p><p>robôs parecidos com os saídos de filmes como</p><p>O exterminador do futuro (direção de James</p><p>Cameron, 1984).</p><p>Há ainda aqueles que pensam mais cautelosamente, mas já veem vários problemas com o alcance da</p><p>tecnologia atual.</p><p>Talvez ainda esteja longe o dia em que um robô terá completa autonomia e não precisará de humanos para</p><p>existir — e aí saberemos se a questão sobre seu estatuto legal será, de verdade, o nosso principal problema</p><p>com as máquinas.</p><p>Contudo, a partir de uma mirada filosófica ou ética, as inteligências artificiais (IA) estão, desde que</p><p>apareceram, dando espaço para muitas discussões. A começar debates sobre quais valores serão inseridos</p><p>nesses supercomputadores. O exemplo dos carros sem motorista é sempre mencionado para explicar esse</p><p>paradigma.</p><p>Um carro autônomo do Google em um cruzamento na cidade de Mountain View, na</p><p>Califórnia, em março de 2016.</p><p>Em uma eventual situação de acidente, o carro sem motorista respeita um protocolo já estabelecido</p><p>anteriormente, mas não está claro quem estabelece esse protocolo. É o engenheiro que programou o carro?</p><p>Pode ser personalizado para que cada dono do carro possa escolher a maneira como o seu automóvel vai se</p><p>comportar?</p><p>Tais problemas já acontecem atualmente com casos mais simples. Quando aplicativos de navegação sugerem</p><p>determinadas rotas, mesmo que mais perigosas, com muito mais curvas ou mais sinais de trânsito, porque,</p><p>numa situação ideal, tais caminhos são os que exigem menos tempo para percorrer a distância, já estamos</p><p>vivendo um cenário parecido.</p><p>Há um critério anterior (menor tempo) estabelecido para se chegar do ponto A ao ponto B e todos os demais</p><p>parâmetros são colocados em segundo plano. Não é considerada a preferência do motorista (um caminho</p><p>com menos curvas, por exemplo) ou mesmo sua segurança. Muitas vezes essa desconsideração acontece</p><p>porque tais aplicativos são internacionais e não se adaptam às realidades locais. Outras simplesmente por</p><p>ainda não haver uma tecnologia tão precisa assim ou, ainda, por não haver interesse para esse “detalhe”.</p><p>Mesmo que tais aplicativos possam ser customizados, há sempre limites para a influência que exercemos</p><p>sobre essas tecnologias.</p><p>O melhor exemplo, nesse caso, é o das redes sociais. É</p><p>elucidadora a maneira como os algoritmos priorizam certos</p><p>conteúdos — geralmente mais polêmicos, que geram maior</p><p>engajamento, mais discussões — em detrimento da</p><p>antiquada e chata informação correta.</p><p>Se a questão das redes sociais já está afetando diretamente</p><p>a democracia e o comportamento das pessoas, bem como</p><p>dividindo a sociedade num eterno nós contra eles, tal</p><p>pensamento pode ainda ter outras influências em diferentes</p><p>segmentos.</p><p>Se uma IA for programada para produzir o máximo possível</p><p>numa indústria, ela o fará muitas vezes em detrimento do</p><p>próprio homem. Há um conto do escritor americano de ficção científica Philip K. Dick que expõe bem esse</p><p>aspecto. Autofac, publicado em 1955, mostra uma sociedade completamente arrasada após uma guerra</p><p>nuclear. Nesse cenário, há uma fábrica operada por inteligências artificiais que precisa continuar produzindo,</p><p>mesmo que não haja mais mercado consumidor.</p><p>Não seria, por enquanto, possível “prever o imprevisível”. Se algo ocorrer fora do escopo da programação da</p><p>máquina inteligente, ela não saberá se adaptar às novas condições. Já existem novas versões de</p><p>computadores que são autoprogramáveis, que poderiam criar saídas para situações como essa — ou a</p><p>propaganda quer, dessa forma, que nós acreditemos nas supermáquinas. Mas, nesse caso, ainda não teríamos</p><p>uma solução para como uma inteligência artificial deveria se portar em relação ao humano.</p><p>Gottfried Wilhelm Leibniz.</p><p>Elon Musk.</p><p>Teóricos sugerem que o nosso melhor “legado” para as máquinas seria o nosso humanismo. Pelo lado bom</p><p>dessa interpretação, seria colocar o homem no centro das questões a ponto de impedir que uma máquina</p><p>cause mortes por tentar atingir cegamente suas metas. Mas há diversos lados ruins dessa questão.</p><p>A começar: que homem estaria no centro? Os</p><p>habitantes de países pobres teriam o mesmo</p><p>peso que os de países ricos?</p><p>E os outros seres,</p><p>como os animais não humanos, mencionados</p><p>recentemente, continuariam vistos apenas</p><p>como objetos para o uso humano? Por fim:</p><p>estaríamos vivendo, atualmente, o melhor dos</p><p>mundos possíveis, como disse certa vez o</p><p>filósofo alemão do século XVII e início do XVIII</p><p>G. W. Leibniz?</p><p>Será que no momento atual, com o</p><p>aquecimento global, com a feroz concentração</p><p>de riquezas nas mãos de pouquíssimas</p><p>pessoas, com o aparecimento de pandemias assustadoras, não seria melhor pensar em um outro mundo, em</p><p>que o homem não estivesse tão no centro assim? Em que ele compartilhasse essa centralidade ou</p><p>simplesmente a entregasse para outros seres — para o planeta, por exemplo?</p><p>Isso sem falar no custo — político, social,</p><p>ambiental etc. — que tais inteligências</p><p>artificiais arrastam consigo. Logo após o golpe</p><p>de Estado na Bolívia em 2020, o multibilionário</p><p>do ramo da tecnologia Elon Musk chegou a</p><p>afirmar, de forma parcialmente irônica e</p><p>parcialmente desafiadora, que se deveria dar</p><p>um golpe em quem precisasse para que sua</p><p>empresa continuasse a prosperar.</p><p>Não deve ser coincidência que grande parte da</p><p>reserva mundial de lítio, um mineral essencial</p><p>para a construção de baterias de celulares e</p><p>carros elétricos (ramo de uma das empresas de</p><p>Musk), fica na Bolívia.</p><p>Se quisermos adaptar essa ideia de humanismo para outros modos, seria possível pensar que deveríamos</p><p>determinar um código de ética para as máquinas, diretrizes que elas devem respeitar acima de quaisquer</p><p>outros valores, códigos que não poderiam nunca ser quebrados.</p><p>Mas quem determinaria tal constituição? Quais países teriam poder de influir sobre isso? As nações ricas</p><p>dividiriam o poder com as pobres? E as empresas de tecnologia, cada vez mais poderosas e ricas,</p><p>renunciariam o controle de suas próprias criações para deixar que um conselho plural determinasse como</p><p>suas máquinas deveriam se comportar? E se essas determinações restringirem os lucros dessas empresas?</p><p>É difícil acreditar nisso, considerando que nem mesmo uma regulação externa é bem aceita por essas</p><p>empresas, que logo dizem que estão sendo censuradas.</p><p>O possível surgimento de máquinas mais inteligentes que os humanos coloca a própria humanidade</p><p>a se olhar no espelho.</p><p>Se a razão, como vimos também, é a forma como o homem sempre quis se identificar, encontrar outro ser que</p><p>nos ultrapassa na nossa principal característica nos faz pensar que talvez não seja essa a nossa principal</p><p>característica ou, se for, há outros seres mais “humanos” que nós mesmos.</p><p>As máquinas têm direitos?</p><p>Com este vídeo, você poderá perceber as temáticas mais recentes sobre direitos.</p><p>Montanha Uluru, Austrália.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Direitos de diversos seres</p><p>Uma das consequências diretas de se pensar o mundo colocando o homem no seu centro é o que está sendo</p><p>chamado de Antropoceno: uma nova era geológica em que o principal fator de mudança (termodinâmica,</p><p>geomorfológica, física, climática) não é mais um ente “natural”, mas o homem e suas criações. Uma das</p><p>consequências mais imediatas é a crise ecológica com o aquecimento global e as drásticas deteriorações nas</p><p>áreas habitáveis.</p><p>Como visto, com o homem no centro do mundo, todos os demais entes são apenas matéria-prima para ele se</p><p>utilizar. Os animais não humanos, já mencionados, se transformam em seres para o consumo, com pouco</p><p>espaço para exercitarem suas vidas independentemente.</p><p>Segundo o IBGE, em 2019, havia mais bois que homens no</p><p>Brasil, todos para o corte ou para produção de laticínios,</p><p>mas não são apenas eles que sofrem na mão humana.</p><p>Também os minerais são tratados de maneira similar, como</p><p>um estoque para servir a grandes empresas.</p><p>As florestas são reserva de madeira e futura área de pasto.</p><p>Monoculturas que provocam os esgotamentos nutricionais</p><p>dos solos, que alimentarão outros animais, que, por sua vez,</p><p>servirão de alimento para os humanos. Mesmo com outras</p><p>opções, o fluxo das águas segue sendo canalizado para</p><p>produzir energia.</p><p>Nada tem espaço, menos ainda tempo, para se renovar na própria velocidade. São extraídos de</p><p>forma violenta, retirados industrialmente de seus hábitats para atender o homem.</p><p>Além disso, para alguns grupamentos humanos não ocidentais, certos usos do seu território são considerados</p><p>um sacrilégio. Para dar um exemplo entre muitos: na Austrália, o povo Anangu acredita que todos os seres,</p><p>inclusive os elementos da paisagem, foram criados por seres antigos, seus antepassados. Isso inclui a</p><p>montanha Uluru, um monolito de arenito de 348 metros de altura, que é um dos pontos mais famosos da</p><p>região.</p><p>Por conta do seu aspecto particular, um morro</p><p>vermelho no meio de uma vasta planície, Uluru</p><p>foi, por muitos anos, um ponto turístico que</p><p>atraiu diversos escaladores. Ao longo dos anos,</p><p>porém, houve vários acidentes, inclusive fatais,</p><p>muitos deles provocados pela erosão de</p><p>dejetos industriais deixados pelos turistas. O</p><p>povo Anangu — povo que vivia ali por séculos e</p><p>chegou a ser impedido de habitar o espaço —</p><p>exigia que a montanha fosse fechada.</p><p>O argumento é simples no discurso, complexo</p><p>no subtexto: Uluru é sagrada e deve</p><p>permanecer intocada. O problema é que o</p><p>governo australiano, mesmo depois de devolver</p><p>a terra para os Anangu, liberava as escaladas.</p><p>Apenas em 2019, Uluru foi fechada por completo.</p><p>Há casos ainda em que outros seres não humanos se tornaram sujeitos de direito. O caso mais anedótico</p><p>aparece na Colômbia, para onde o traficante de drogas Pablo Escobar transportou hipopótamos africanos</p><p>Cerimônia de celebração à Pachamama.</p><p>A obra , de Eduardo Gudynas, aborda, entre outros, o</p><p>caso de Bolívia e Equador e sua reorientação ética</p><p>aplicada ao meio ambiente.</p><p>que, após sua morte, se reproduziram sem limites e invadiram as florestas tropicais. Esses hipopótamos,</p><p>atualmente, são considerados uma praga, a maior espécie invasora do mundo. Não há qualquer predador ou</p><p>animal do mesmo porte que dispute os territórios com eles. O governo colombiano estava estudando liberar o</p><p>abate, para diminuir o número de indivíduos, que está em torno da centena, entretanto, em 2021, uma decisão</p><p>judicial os considerou sujeitos de direitos, que não podem ser mortos. Ficou decidido, então, que serão</p><p>utilizados dardos anticoncepcionais.</p><p>Um caso mais paradigmático aconteceu em países vizinhos: Bolívia e Equador. Com a ascensão ao poder de</p><p>presidentes ligados a movimentos indígenas em ambos os países, foi decidido que a constituição dessas</p><p>nações deveria ser reescrita, para, entre outras questões, incluir a variedade dos povos da região. Foi o início</p><p>do chamado novo constitucionalismo latino-americano.</p><p>Ambos os países viraram plurinacionais, mas as</p><p>intervenções judiciárias não pararam aí. Tanto Bolívia</p><p>quanto Equador incluíram em suas legislações as filosofias</p><p>da Mãe Terra — Pachamama — e do bom viver,</p><p>relacionadas com diversos grupos étnico-sociais que</p><p>habitam aquelas áreas muito antes de o primeiro espanhol</p><p>pisar em terras americanas.</p><p>Na Bolívia, apesar de não aparecer na Carta Magna, foi</p><p>criada uma lei específica para reconhecer o caráter jurídico</p><p>da Mãe Terra como sujeito coletivo de interesse público.</p><p>Identifica a interculturalidade como princípio para o</p><p>exercício dos seus direitos, reafirmando a necessidade de</p><p>diálogo e harmonia com a natureza. Um dos artigos da lei afirma que os bolivianos e as bolivianas são parte</p><p>da Mãe Terra, não sujeitos que centralizam e se utilizam de todos os demais seres. Também foi criada uma</p><p>defensoria pública para os interesses da Mãe Terra, que tem como fim zelar pelo cumprimento dos direitos de</p><p>Pachamama.</p><p>O Equador foi além: colocou o direito de Pachamama e do bom viver dentro da própria constituição. Seu artigo</p><p>10 fala que a natureza terá seus direitos reconhecidos, como as pessoas, as comunidades, os povos, as</p><p>nacionalidades, os coletivos. Outros artigos tratam do bom viver e garantem o direito humano à água e a</p><p>alimentos saudáveis e nutritivos. Também é proibida a produção, comercialização ou importação de produtos</p><p>geneticamente modificados por serem</p>

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