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<p>Viviane de Melo Resende Viviane Vieira Leitura e produção de texto na universidade Roteiros de aula EDITORA SERIE ENSINO DE DEG 2010 UnB Scanned by CamScanner</p><p>EQUIPE EDITORIAL Gerente de produção editorial Marcus Polo Rocha Duarte Revisão Anna Luiza de V. Cavalcanti Daniel Fernandes Ramiro Gallas Regina Marques Diagramação e capa Sara Seilert Copyright 2014 by Editora Universidade de Brasília Impresso no Brasil Direitos exclusivos para esta edição: Editora Universidade de Brasília SCS, quadra 2, bloco C, n° 78, edificio OK, andar, CEP Brasília, DF Telefone: (61) 3035-4200 Fax: (61) 3035-4230 Site: E mail: contato@editora.unb.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem a autorização por escrito da Editora. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de Brasília Resende, Viviane de Melo. R433 Leitura e produção de texto na universidade : roteiros de aula / Viviane de Melo Resende, Viviane Vieira - Brasília : Editora Universidade de Brasília, 2014. 204 p. ; 23 cm. ISBN 978-85-230-1043-0 1. Leitura. 2. Produção de textos. 3. Gênero discursivo. 4. Interação. 5. Gêneros acadêmicos. I. Ramalho, Viviane. II. Título. CDU 801.73 Scanned by CamScanner</p><p>Percurso I Linguagem, texto, gênero e intertextualidade Nesta primeira unidade, nosso objetivo é esclarecer alguns conceitos importantes para a reflexão em torno da linguagem e da produção de textos. Entendemos que, apesar de este curso ser de natureza sobretudo prática, a discussão de conceitos teóricos, ligados ao funcionamento social da linguagem, é imprescindível. Por isso começamos por aí. percurso é composto por oito roteiros, dos quais quatro são para a discussão dos conceitos de língua e linguagem, texto, gênero discursivo e intertextualidade. Intercalados com esses, apresentamos quatro roteiros práticos para a aplicação dos con- ceitos estudados. Os roteiros que compõem esta unidade são organizados assim: Roteiro 1 - Língua e linguagem Roteiro 2 - Prática de texto: leitura Roteiro 3 - Texto oral e texto escrito: noção ampliada de texto Roteiro 4 - Prática de texto: reflexão Roteiro 5 - Gêneros discursivos Roteiro 6 - Prática de texto: retextualização Roteiro 7 - Intertextualidade 17 Scanned by CamScanner</p><p>Roteiro 8 Prática de texto: intertextualidade em textos dêmicos Apresentaremos a seguir cada um deles. Roteiro 1 Língua e linguagem Neste roteiro, queremos distinguir língua e linguagem e relacionar os dois conceitos. Trata-se de um roteiro funda- mental porque é a partir que vamos provocar em nossos/as alunos/as um interesse especial pela reflexão linguística - e queremos que eles/as tenham curiosidade sobre o curso e sobre o que faremos juntos/as durante o semestre. Começamos por definir como sistema, como códi- go linguístico composto por um conjunto de regras gramaticais e um conjunto de palavras (léxico ou vocabulário). desafio aqui é fazer os/as alunos/as compreenderem que esse conceito de "re- gras gramaticais" é radicalmente diferente do proposto na gra- mática tradicional. Para isso, abordamos a variação linguística, mostrando a sistematicidade das diversas variantes, com exem- plos ilustrativos. Mostramos que a valorização de certas variantes e a estigmatização de outras é um processo social, não linguístico. A partir da noção de "função comunicativa" da linguagem, mostramos que esta é muito mais ampla que a língua. Usamos o famoso quadro da comunicação de Jakobson para desconstruir a noção de funções da linguagem ensinada nas escolas. Isso porque queremos abordar a multifuncionalidade da linguagem, que é funcionalmente complexa por natureza; queremos que os textosnão "selecionam" funções específicas para cumprir; que quando produzimos textos, simultaneamente comunicamos, estabelecemos relações sociais, nos identificamos, identificamos nossos/as interlocutores/as, representamos o mundo e nossa experiência no mundo. 18 Scanned by CamScanner</p><p>Como leitura básica para esta aula, selecionamos texto "Linguagem, poder e primeiro capítulo do livro Linguagem, escrita e poder, de Gnerre (1998). O mesmo texto servirá de base para o do próximo roteiro. Como leituras complementares ou de preparação para a aula, sugerimos: para a discussão de variação linguistica e com- petência comunicativa, o livro Educação em língua materna, de Bortoni-Ricardo para a reflexão sobre a complexida- de funcional da linguagem, o capítulo "Linguística Sistêmica Funcional e Análise de Discurso Critica", do livro Análise de Discurso Critica (RESENDE; RAMALHO, 2006). Roteiro 2 Prática de texto: leitura Nosso segundo roteiro retoma conceitos teóricos estudados na primeira aula, por meio de um estudo dirigido, e procura associá-los às experiências concretas dos/as alunos/as com en- sino-aprendizagem de lingua portuguesa. Com base em quatro questões adaptadas de Faraco e Tezza (2002), queremos instau- rar debates em grupos de três ou quatro estudantes. Em segui- da, nossa prática prevê um exercício de leitura do poema Rios sem discurso, recuperando os conceitos de língua e linguagem. Assim, exercício é uma prática de leitura e reflexão, com base no mesmo texto de Gnerre que nos serviu de leitura bási- ca para roteiro 1. Essa leitura, além de retomar conteúdos do primeiro roteiro, também prepara debate sobre texto oral e texto escrito, tema do roteiro seguinte. 19 Scanned by CamScanner</p><p>Roteiro 3 Texto oral e escritos noção ampliada de texto Neste cumprimos objetivos de, por um lada, romper com a associação texto escrita por outro romper com a separação escrita Para lograr o primeiro desses objetivos, exploramos uma noção mais ampliada de que tem sido utilizada nos estudos nesse é um conceito amplo para designar toda produção de sentido que possa ser intersubjetivamente compartilhada a partir de um código que pode ou não set a lingua. Assim, temos a possibilidade de pensar em textos escritos, textos orais, textos visuais e textos Depois, mostramos que nem todo texto escrito corresponde ao registro e que nem todo texto oral tende à Com exemplos da prática corriqueira de uso da lingua, queremos que nossos/as alunos/as percebam que produzimos textos escritos em registro informal assim como produzimos textos orais em contextos de maior Assim, mostramos que a distinção formal/informal não coincide diretamente com a e desconstruímos um quadro de normalmente associadas à escrita e à fala, mostrando que há complexidades desconsideradas quando nos atemos apenas às diferenças mais Por meio de um exercício adaptado de Faraco e Tezza (2002), mostramos que a escrita não é a reprodução da fala, que ambas têm distintas, e que isso está na base de muitas das dificuldades que encontramos na produção de textos Para explorar o conceito de multimodalidade, propomos um exercício com charge, que também aproveitamos para in- troduzir a noção de contexto, importante para que possamos, mais para frente, discutir gênero discursivo, um conceito basi- 20 Scanned by CamScanner</p><p>lar em nosso curso, O objetivo aqui é que a turma possa perce- ber que para ler um texto multimodal - isto é, um texto que articula mais de uma modalidade; no caso da charge apresenta- da, a modalidade verbal e a modalidade imagética - não basta "ler as modalidades" separadamente, é preciso compreender o tipo de relação estabelecida entre elas. Além disso, queremos que os/as alunos/as percebam a necessidade de conhecimento prévio do contexto para estabelecimento de sentido. Para finalizar esta aula, tem sido produtivo mostrar para os/ as alunos/as curta-metragem Meow, de Marcos Magalhães. O filme é uma animação que tem apenas oito minutos e está disponível no YouTube e no site Porta Curtas Petrobrás Como quase não utiliza a linguagem verbal, o curta é útil para mostrar que a construção de sentido pode ser realizada por meio de outras linguagens. Como leitura básica para esta aula, selecionamos os tex- tos "A análise de gêneros textuais na relação fala e escrita", do livro Produção textual, análise de e compreensão, de Luiz Antônio Marcuschi (2008a), e "Fala e escrita", capítulo do livro Ler e escrever: estratégias de produção textual, de Koch e Elias (2010). Como leituras complementares ou de preparação para a aula, sugerimos o livro Da fala para a escrita, também de Marcuschi (2008b), e o capítulo "Introdução: o que é e por que estudar a multimodalidade", do livro Multimodalidade e gênero textual, de Leonardo Mozdzenski (2008). Roteiro 4 - Prática de texto: reflexão Neste roteiro, trabalhamos com a letra de Meu caro amigo, canção de Francis Hime e Chico Buarque. Com a reflexão da 21 Scanned by CamScanner</p><p>relação oralidade/escrita no texto, retomamos a discussão do roteiro anterior. Além disso, o objetivo é que, em pequenos gru- pos, os/as alunos identifiquem índices da relação que o texto estabelece com o gênero carta pessoal. Assim, este roteiro ao mesmo tempo retoma o anterior e antecipa o próximo, que tem por tema os gêneros discursivos. Queremos que os/as alunos/as possam refletir também sobre o papel do "jogo" que a canção estabelece com o gênero carta, em termos de seu funcionamento. Para entender a fun- ção dessa relação intergêneros, será necessário refletir também sobre o contexto de produção do texto a canção foi composta em 1976, no contexto de ditadura militar. Além desse exercício de reflexão, sugerimos que os/as alu- nos/as redijam, em duplas, um texto que atualize o gênero carta e contenha as informações trazidas na canção. Outro exercício proposto é a produção de outro texto que jogue com o gênero carta pessoal damos o exemplo de um texto publicitário, mas os/as alunos/as podem pensar em muitas outras possibilidades! Roteiro 5 - Gêneros discursivos Começamos a reflexão acerca dos gêneros discursivos com uma citação de Bakhtin. O objetivo aqui é distinguir os "enun- ciados individuais". isto é, os textos concretos, dos gêneros como potencial abstrato para a produção de textos. Em seguida, nos dedicamos à indagação "por que é im- portante (re)conhecer gêneros?". Com base na noção de gêneros como "tipos relativamente estáveis de textos" ligados a campos específicos da atividade humana, queremos que nossos/as alu- nos/as percebam que, quando interagimos por meio de textos orais e escritos, já temos uma percepção prévia dos tipos de interação dos quais participamos. 22 Scanned by CamScanner</p><p>Para ilustrar isso, tem sido muito produtivo mostrar o filme A morte dos lactobacilos vivos, um curta de pouco mais de dois minutos, produzido por um estudante de pós-graduação, que simula um trailer de cinema. Como os/as alunos/as reconhecem facilmente a relação do curta com o gênero "trailer de cinema", a estratégia é boa para explicar a noção de gênero discursivo como potencial abstrato concretizado em textos empíricos, como conhecimento metagenérico socialmente compartilhado. É importante mostrar aos/às alunos/as que a noção de gênero ultrapassa a forma, referindo-se também aos propósitos comunicativos que pretendemos realizar por meio dos textos. Daí nos dedicarmos à relação entre fatores textuais e fatores contextuais, entre forma e função. Com isso, também queremos associar gênero e cultura. Depois, distinguimos gêneros e suportes. Para essa etapa, tem sido útil trazer para a sala de aula revistas e jornais, para que os/as alunos/as possam manusear a fim de perceber que esses suportes reúnem variados gêneros. Por fim, uma reflexão: pedimos que os/as alunos/as relacionem gêneros específicos a ambientes particulares de interação. Nosso objetivo aqui é que os/as alunos/as compreendam a relevância do conhecimento dos gêneros em sua ação discursiva, na prática. Como leituras básicas para esta aula, selecionamos os textos "Escrita e práticas comunicativas", de Koch e Elias (2010), e "Os gêneros do discurso", do clássico Estética da criação verbal, de Bakhtin (1979). Como leitura complementar ou de preparação para a aula, sugerimos o texto "Gêneros textuais: definição e funcionalidade", de Marcuschi, primeiro capítulo do livro Gêneros textuais e ensino, organizado por Dionísio, Machado e Bezerra (2007). 23 Scanned by CamScanner</p><p>Roteiro 6 Prática de texto: retextualização Para este roteiro, os/as alunos/as devem trazer para a sala de aula uma notícia de jornal, do tipo notícia policial. Em gru- pos, os/as alunos/as devem fazer uma análise de gênero, com base nos textos que trouxeram - o que esses textos têm em co- mum e em que diferem? Como podemos descrever esse gênero? Depois de discutirmos a descrição do gênero com base nos exemplares textuais, vamos juntos/as ouvir a música Domingo no parque, de Gilberto Gil, acompanhando com a letra da can- ção. Vamos observar que se trata de um texto de base narrativa, que traz informações que poderiam compor uma notícia policial. Que informações presentes na canção estariam também em uma notícia policial? Quais faltariam? Quais sobrariam - isto é, quais informações seriam inadequadas para um texto de notícia? Depois desse debate, os/as alunos/a as devem estar prepara- dos/as para escrever textos, simulando o gênero notícia policial e retextualizando informações presentes na canção. É parte da tarefa completar as lacunas e eliminar as informações inade- quadas ao gênero notícia! Roteiro 7 - Intertextualidade A primeira coisa que fazemos nesta aula é levantar o que os/as alunos/as já sabem sobre intertextualidade. Depois, dis- cutimos o conceito com base na noção bakhtiniana segundo a qual "todo enunciado é um elo numa cadeia virtualmente in- finita de enunciados". A partir daí, relacionamos intertextuali- dade, dialogicidade e polifonia. A fim de trazer a discussão para o plano do concreto, pro- pomos dois diferentes exercícios. É possível, entretanto, que no tempo de uma aula dupla não se consiga levar a cabo todos os 24 Scanned by CamScanner</p><p>exercícios propostos, de modo que um deles poderá ser uma tarefa para casa. No primeiro exercício, uma tirinha da personagem Níquel Náusea, de Fernando Gonsales, é útil para mostrar a recontextualização de um texto em outro - o texto estabelece relação intertextual clara com Chapeuzinho Vermelho. O segundo exercício é uma adaptação de Garcez (2004), com base no texto Contrafábula da cigarra e da formiga. Como leitura básica para esta aula, propomos o texto de Koch e Elias (2010) "Escrita e intertextualidade", do livro Ler e escrever: estratégias de produção textual. Como leitura com- plementar ou de preparação para a aula, selecionamos o texto "A construção de sentido no texto: intertextualidade e polifo- nia", retirado do livro O texto e a construção dos sentidos, de Koch (2009). Roteiro 8 - Prática de texto: intertextualidade em textos acadêmicos Para esta prática, os/as alunos/as devem trazer para a sala de aula um artigo acadêmico a sua escolha. Assim, na aula an- terior a esta aproveitamos a ocasião para incentivar a pesquisa no portal de periódicos da Capes, por considerarmos essa uma valiosa ferramenta para estudo e pesquisa. Começamos por retomar a leitura de (2009), concentrando-nos especificamente na seção "Mecanismos operadores da intertextualidade e da interdiscursividade". Em grupos de quatro, os/as alunos/as devem discutir os seguintes operadores: citação, alusão e estilização. O debate deve ser direcionado para a construção de relações intertextuais em textos acadêmicos. Queremos que nossos/as alunos/as percebam o texto acadêmico como um ambiente 25 Scanned by CamScanner</p><p>intertextual que obedece a certas regras para essa Acreditamos que esse conhecimento será muito útil em sua experiência como leitores/as e produtores/as de textos no contexto universitário. Aproveitamos, aqui, para trazer o tema do ao debate. Para a atividade seguinte, o/a aluno/a, individualmente, deve fazer uma leitura de varredura do artigo que trouxe, em busca de relações Deve anotar o que encontrar para, depois, comparar com as impressões dos/as colegas de grupo. Cada grupo deverá estar preparado para uma breve dis- cussão dos resultados de seu trabalho, 26 Scanned by CamScanner</p><p>ROTEIRO 1 Língua e linguagem Atenção! Para esta aula, você deve ler texto GNERRE, M. Linguagem, poder e discriminação. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 5-33. Língua Linguagem - Gramática + Vocabulário - É uma instituição huma- - Uma língua histórica é na, pois resulta da vida em formada de várias línguas sociedade. funcionais: variação por - Filósofos/as, psicólogos/ lugar, por classe social, por as e linguistas frequente- situação, por tempo, por mente salientam que é a sexo, por idade... linguagem que distingue o - Isso implica que os/as fa- ser humano dos outros ani- lantes são poliglotas em sua mais. própria língua: dominam - Tem função comunicati- línguas funcionais diversas. va - a língua é um instru- O que define um/a falante mento fundamental, mas competente? não é único elemento da linguagem. 27 Scanned by CamScanner</p><p>Código Emissor Mensagem Receptor Canal Referente Função Função Função representa- relacional identifica- cional cional Por meio das Usamos as Também com linguagens, linguagens para base no uso das representamos estabelecermos/ linguagens nos nossa mantermos identificamos e cia no mundo. relações sociais. identificamos outras pessoas. Então, onde está o poder (as relações de poder entre seres humanos) - na língua ou na linguagem? Em ambas! poder está na língua pela valorização siste- mática de algumas variantes e pela estigmatização de outras. O poder está na linguagem porque a linguagem é parte das práticas sociais e internaliza as relações de poder. Variação linguística: no espaço (regional/diatópica), no tem- po (geracional/diacrónica), na sociedade 28 Scanned by CamScanner</p><p>Os contínuos de Bortoni-Ricardo (2004): + letrado - letrado + urbano urbano + monitorado monitorado Para refletir: de que maneiras esses contínuos podem se cruzar? O fato de a língua padrão ser um conhecimento desigual- mente distribuído é uma forma de poder? Por quê? 29 Scanned by CamScanner</p><p>ROTEIRO 2 Prática de texto: leitura Atenção! Para esta aula, você deve trazer o texto GNERRE, M. Linguagem, poder e discriminação. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 5-33. Estudo dirigido de GNERRE, M. Linguagem, poder e discriminação. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 1. "As regras que governam a produção apropriada dos atos de linguagem levam em conta as relações sociais entre o falan- te e o ouvinte." Você muda a variante, o estilo que usa de acordo com o/a interlocutor/a, e a situação social de interação? Dê um exemplo. 2. "Somente uma parte dos integrantes das sociedades com- plexas tem acesso a uma variante 'culta' ou 'padrão', consi- derada geralmente 'a língua', e associada tipicamente a conteúdos de prestígio." Isso acontece no Brasil? Há pessoas que são discriminadas pela maneira como usam a língua? Discuta como e por quê. 3. "Escrever nunca foi e nunca vai ser a mesma coisa que falar: é uma operação que influi necessariamente nas formas escolhidas e nos conteúdos referenciais." Explique. 30 Scanned by CamScanner</p><p>4. Reflita: qual é a relevância do conhecimento da norma padrão para sua vida acadêmica? (Adaptado de TEZZA, 2002, p. 82-83.) Tendo em vista o que vimos no roteiro anterior, reflita e responda: 1. Defina língua e linguagem. Qual é a diferença entre os dois conceitos? Como eles se relacionam? 2. Defina variação linguística, procurando relacionar con- ceito aos contínuos de Bortoni-Ricardo (2004). Como esse conceito (de variação linguística) poderia ser associado à produção de textos na univesidade? 3. Qual é a relevância do conhecimento da norma culta para sua vida acadêmica? 31 Scanned by CamScanner</p><p>ROTEIRO 3 Texto oral e texto escrito: noção ampliada de texto Atenção! Para esta aula, você deve ler o texto KOCH, I.V; ELIAS, V.M. Fala e escrita. Lere estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2010, p. Leia também: MARCUSCHI, A. A análise de gêneros textuais na relação fala e escrita. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008a, p. 190-193. Verbal Oral Linguagem Não verbal Escrita Modalidade oral e modalidade escrita da linguagem verbal Interface do pensamento: a passagem do pensamento das estruturas cognitivas para o mundo exterior (pela fala ou pela escrita). Características distintas de existência: realização dife- rente em estrutura e função. 32 Scanned by CamScanner</p><p>Características atribuídas ao texto oral e ao texto escrito: Texto oral Texto escrito Mais repetição Menos repetição Mais turnos conversacio- Menos turnos conversacio- nais nais Mais transitoriedade (pala- Registro permanente vras voam) Organização mental espon- Organização mais elabo- tânea rada Revisão imediata Várias revisões não diatas Uma edição do ato de fala Várias edições do escrito Menor densidade lexical Maior densidade lexical Fragmentação Continuidade Incompletude Especificação Estilo menos monitorado Estilo mais monitorado Elementos Sinais gráficos cos/entonação Interlocutor presente Interlocutor ausente Aprendizagem "natural" Aprendizagem "artificial" 33 Scanned by CamScanner</p><p>As modalidades oral e escrita da linguagem apresentam "gramáticas" próprias. Conforme Faraco e Tezza (2002, 111), ter consciência clara das especificidades de cada uma das mo- dalidades da língua "é um passo importante para se escrever bem, uma vez que escrever não é simplesmente a mas reformulá-la em outra gramática." Exercícios: Leia texto a seguir para exercitarmos um pouco essa "re- formulação" da fala para a escrita. O texto é uma transcrição mais ou menos fiel de um relato oral, feito por um estudante de sétima série em situação natural. História de um acidente de carro É nós távamo voltando né... eu e meu pai... távamo voltando dum teste de teatro que eu fui fazê... dai tava o carro do meu pai e um carro na frente e de repente, não sei que deu na louca do coiso lá... o fusquinha... ele virou assim... sem dá seta nem nada e nem era lugar di virá e o meu pai tava logo atrás dele, tava indo ultrapassá... tava indo ultr... meu pai tava indo ultrapassá o fusquinha. É... né... o coitado virô... daí o meu pai... ele tentou desviá assim... e fez um barulhinho esquisito: ele tentou desviá assim e daí ele foi desviá mais o cara do fusca em veiz de brecá, ele dai bateu na traseira do meu pai, eu não era muito alto assim... então olhei pro céu e vi tudo rodando 34 Scanned by CamScanner</p><p>assim... acho que meu O pai deu três volta rodando, foi... eu falei: Viche Maria, O que tá acontecendo... e daí até aí eu não tava com tanto medo, né... foi uma legal vê as coisinha rodando. Daí, num tava com tanto medo... meu pai... ele mudou de marcha e foi atrás do coitadinho do fusca... e daí eu, ai meu Deus, meu zóio ficô deste tamanho, deu aquela dorzinha na barriga... eu... ai, meu Deus, quê que meu pai vai fazê... - Não, pai, dexa, pai... não corri atrás dele não, pai.. dexe... ele é meio ceguinho mesmo. E sorte que o do fusca caiu e tava relando na roda, ele teve que incostá... daí meu pai incostô lá... junto dele... eu iche... aí o problema, né... e se o cara tivé alguma coisa, né... um pedaço de pau... um revolve... se O... fiquei quietinho no meu canto, né... daí o meu pai lá, falô, brigo com ele: você vai te qui pagá, não sei O... não sei o que lá, daí falô o carinha: Não, tá bom, não, tudo bem... o erro foi meu... tal e tal. o meu pai pegô o documento dele... e falô: - não é que esse "errerererr" menores de dezoito anos... e daí nós voltamo com o carro todo amassado assim... daí, no dia seguinti, meu pai foi no trabalho do cara e cara deu o dinhero e pagô o conserto do carro. 1. Faça uma lista de todas as características da oralidade pre- servadas no texto. 2. Agora reescreva o texto reformulando-o conforme a nor- ma culta do português escrito. Utilize entre 45 e 50 pala- vras, mantendo as informações básicas do texto original. 3. Para finalizar, compare as características listadas na Ques- tão 1 com as características da modalidade escrita. Indique as diferenças. (Adaptado de FARACO; TEZZA, 2002.) 35 Scanned by CamScanner</p><p>O que nos diz nossa experiência com textos orais e escritos? Pense, por exemplo, nos turnos de fala em um chat e nas palestras acadêmicas. Chats são, sem dúvida, textos Conferências são textos orais? Como se relacionam a escrita e a oralidade? Então as características não são tão fixas! A maior parte das características levantadas na tabela pode se referir tanto a textos orais quanto escritos, depen- dendo da formalidade da situação, do contexto de uso da linguagem verbal. Assim, tanto a fala quanto a escrita apresentam: norma padrão situacionalidade normas não padrão coerência registros formais envolvimento registros informais negociação usos estratégicos dialogicidade funções interacionais dinamicidade (Fonte: MARCUSCHI, 2008b) 36 Scanned by CamScanner</p><p>E COMO SÃO AS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA EM NOSSA SOCIEDADE? As interações sociais são multimodais a "comunhão de discursos" não se dá apenas pela palavra escrita, mas agrega diversos sistemas semióticos: verbal, ima- gético, gestual, sonoro... As formas de interação mudam conforme as necessi- dades de cada sociedade e hoje são influenciadas pelo crescente desenvolvimento tecnológico: letramento verbal, imagético, midiático, científico, literário, digi- tal... (DIONÍSIO, 2006). O letramento é um processo social, com tecnologias particulares socialmente construídas e que são utilizadas em contextos institucionais com objetivos particulares (STREET, 1984, p. 97). Exercícios: Leia a charge a seguir e reflita: 1. Como se articulam as modalidades de linguagem presen- tes no texto? 2. Qual é a relevância do conhecimento do contexto para a leitura desse texto? 37 Scanned by CamScanner</p><p>to 0 A NUM I (Folha de S. Paulo, 7 dez. 2009. Disponível em: 38 Scanned by CamScanner</p><p>ROTEIRO 4 Prática de texto: reflexão Leia o texto a seguir, uma canção de Francis Hime e Chico Buarque. Em grupo com mais três colegas, discuta: trata-se de um texto oral ou escrito? Para essa discussão, lembre-se do texto MARCUSCHI, L. A. A análise de gêneros textuais na relação fala e escrita. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008a, p. 190-193. Se julgar necessário, volte ao texto, sobretudo às páginas 192 e 193 Releia a letra da música "Meu caro amigo", procurando perceber índices que apontem para o fato de a música "brin- car" com o gênero carta pessoal. Que elementos do texto nos permitem perceber essa associação com o gênero? Qual é o papel desse jogo da canção com o gênero carta, em termos de seu funcionamento? Lembre que a canção foi composta em 1976. O que essa informação nos traz? Por que é importante conhecer o contexto de sua composição para com- preender plenamente esse texto? 39 Scanned by CamScanner</p><p>Meu caro amigo Meu caro amigo me perdoe, por favor Se eu não lhe faço uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando notícias nessa fita Aqui na terra 'tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas O que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta Muita mutreta pra levar a situação Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo eu não pretendo provocar Nem atiçar suas saudades Mas acontece que não posso me furtar A lhe contar as novidades Aqui na terra 'tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta É pirueta pra cavar ganha-pão Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo eu quis até telefonar Mas a tarifa não tem graça Eu ando aflito pra fazer você ficar A par de tudo que se passa 40 Scanned by CamScanner</p><p>Aqui na terra 'tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta Muita careta pra engolir a transação E a gente tá engolindo cada sapo no caminho E a gente vai se amando que, também, sem um carinho Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever Mas o correio andou arisco Se permitem, vou tentar lhe remeter Notícias frescas nesse disco Aqui na terra 'tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta A Marieta manda um beijo para os seus Um beijo na família, na Cecília e nas crianças O Francis aproveita pra também mandar lembranças A todo pessoal, adeus. Copyright 1976 by TREVO EDITORA MUSICAL LTDA. Rua Lisboa, 74 - São Paulo Brasil. Todos os direitos reservados. Exercícios: 1. Redija, em dupla com mais um/a colega, um texto que atualize o gênero carta pessoal e contenha as informações trazidas na canção. 2. Em dupla com um/a colega, produza outro texto que jo- gue com o gênero carta pessoal - um texto publicitário, 41 Scanned by CamScanner</p><p>por exemplo. Atenção! Agora você não deve produzir uma carta pessoal, mas outro tipo de texto que "brinque" com o gênero carta! 42 Scanned by CamScanner</p><p>ROTEIRO 5 Gêneros discursivos Atenção! Para esta aula, você deve ler O texto KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Escrita e práticas comunicativas. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2010, p. Leia BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003 [1979], p. 277-327. "A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) [...]. O enunciado reflete as condições espe- e as finalidades de cada uma dessas esferas [esferas da atividade humana], não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais -, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção compo- sicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamen- te é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso" (BAKHTIN, 2003, p. 279, grifo do autor). 43 Scanned by CamScanner</p><p>Gêneros textuais /Gêneros discursivos Texto: produto/discurso: processo/gênero: potencial Gêneros sociais Por que é importante conhecer gêneros? A vida social contemporânea exige que cada um de nós desenvolva habilidades comunicativas que possibilitem a interação participativa e no mundo MOTTA-ROTH, 2002, p. 10). Nossas ações sociais são realizadas por meio de processos estáveis de ler/escrever e falar/ouvir. Conhecer gêneros dis- cursivos é importante para entender com mais clareza o que acontece quando usamos a linguagem para interagir em gru- pos sociais. GÊNEROS DISCURSIVOS: potencial para organização textual recorrente em um espaço e tempo (interação humana) - tipos relativamente estáveis de textos (orais e escritos), envol- vendo papéis e relações sociais. Sobre o que se fala Articulação no uso da Como se fala linguagem para alcançarmos Quem fala objetivos Diferentes combinações: repertório de gêneros disponíveis 44 Scanned by CamScanner</p><p>A pergunta para quem estuda gêneros discursivos como descrever e explicar os textos, evidenciando que neles e por meio deles as pessoas produzem, reprodu- zem e desafiam a realidade social. Os gêneros podem ser reconhecidos por sua estabilidade linguística e por seu uso em situações comunicativas recorrentes (convenções de uso): fatores textuais/fatores contextuais. Gêneros são, então, formas estáveis de uso da língua associadas a formas particulares de atividade humana. Gênero/Suporte. Alguns exemplos de gêneros: redação de vestibular, cordel, artigo de opinião, fôlder bancário, reportagem, artigo acadêmico, tese, conto, charge, receita culinária, compra e venda, aula expositiva, apresentação de em congresso... Dê um exemplo! Cada esfera de utilização da língua, de acordo com suas funções e condições específicas, elabora gêneros, ou seja, "enunciados relativamente estáveis do ponto de vista temático, estilístico e composicional" (BAKHTIN, 2003, p. 262). Gêneros são parte de atividades socialmente organizadas. Emergem nos processos sociais em que as pessoas tentam compreender umas às outras suficientemente bem para coordenar atividades e compartilhar significados com vistas a seus propósitos práticos (BAZERMAN, 2005, p. 31). 45 Scanned by CamScanner</p><p>Compreender a noção de talvez seja um dos pontos mais importantes para compreender a própria de língua. Isto porque, na vida real, quando apreendemos uma palavra, ela nunca está sozinha, como puro sentido, pura forma ou puro significado - toda palavra real está envolta numa entonação, numa intenção, num conjunto de gestos e traços que nos colocam imediatamente num sistema concreto de significações sociais (FARACO; TEZZA, 2002, p. 20). Exercício: reflexão Sabendo que nossas ações sociais são realizadas por meio de processos relativamente estáveis de ler/escrever e falar/ouvir, discuta como o conhecimento acerca dos gêneros que circulam nos ambientes em que você interage pode facilitar sua tarefa como leitor(a)/ouvinte e como produtor(a) de textos orais e es- critos nesses contextos. Discuta com seu grupo, levante exem- plos e prepare-se para uma breve apresentação do debate. 46 Scanned by CamScanner</p>