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<p>1</p><p>1</p><p>FORRAGICULTURA E</p><p>PASTAGEM</p><p>AULA 2</p><p>Profª Maria Cecília Doska</p><p>2</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Prezado(a), seja bem-vindo. Aqui, estudaremos as características das</p><p>plantas forrageiras, sua época de melhor crescimento e desenvolvimento, bem</p><p>como de sua semeadura. Também iremos abordar as características morfológicas</p><p>das gramíneas e leguminosas destinadas à alimentação dos animais e como</p><p>ocorrem sua germinação, desenvolvimento, reprodução e morte.</p><p>Os objetivos são: aprender sobre as características das plantas forrageiras;</p><p>conhecer e dominar as principais diferenças entre gramíneas e leguminosas;</p><p>estudar sobre a morfofisiologia das gramíneas e leguminosas.</p><p>Desejamos a você bons estudos!</p><p>TEMA 1 – CONHECIMENTO DAS CARACTERÍSTICAS DAS PLANTAS</p><p>FORRAGEIRAS</p><p>Para garantir a produtividade, a constância e a rentabilidade dos sistemas</p><p>produtivos a base de pastagens, é de suma importância conhecer as</p><p>particularidades de cada planta forrageira e sua correta utilização. Cada espécie</p><p>possui particularidades, que resultaram na grande diversidade de plantas quanto</p><p>às características morfológicas e fisiológicas, às exigências edáfoclimáticas e que</p><p>determinam aptidões variáveis como resistência à intensidade de pastejo,</p><p>exigências em fertilidade e textura do solo, condições de clima e manejo, entre</p><p>outras (Fonseca; Martuscello, 2010).</p><p>Várias são as opções de plantas que podem ser utilizadas para a</p><p>alimentação dos animais ruminantes. O uso de plantas forrageiras como fonte de</p><p>alimento principal para bovinos, ovinos e caprinos é uma das formas mais</p><p>econômicas de forrageamento. Dentro do chamado grupo de plantas forrageiras,</p><p>são encontradas inúmeras espécies de gramíneas e leguminosas, cada qual com</p><p>sua peculiaridade, suas vantagens e seus problemas (Carnevalli, 2019).</p><p>Segundo Herling e Pereira (2016), apesar de tal diversidade, certos</p><p>atributos são desejáveis em todos os tipos de plantas empregadas na alimentação</p><p>animal, como:</p><p>• produção de forragem (matéria verde ou matéria seca);</p><p>• valor nutritivo (composição química e digestibilidade) e aceitação pelo animal;</p><p>• persistência;</p><p>3</p><p>3</p><p>• facilidade de propagação e estabelecimento; e</p><p>• resistência às pragas e doenças.</p><p>Figura 1 – Gado leiteiro sob pastejo</p><p>Crédito: Olga/Adobe Stock.</p><p>Para um melhor entendimento sobre as principais diferenças entre as</p><p>plantas forrageiras denominadas gramíneas e leguminosas, faz-se necessário</p><p>estudar sobre sua taxonomia, ou seja, sua descrição, identificação e nomeação</p><p>de acordo com os critérios estabelecidos, como aspectos morfológicos, genéticos,</p><p>fisiológicos e reprodutivos.</p><p>Ao longo da história, diversos sistemas de classificação de plantas foram</p><p>elaborados, permitindo a ordenação das espécies em grupos, de acordo com</p><p>diferentes conjuntos de atributos (Herling; Pereira, 2018).</p><p>Para que não ocorra dúvidas quanto à classificação taxonômica das</p><p>espécies vegetais, segue um esquema do código internacional de nomenclatura</p><p>botânica para melhor entendimento sobre as denominações encontradas na</p><p>literatura. Conforme Herling e Pereira (2018), a ordenação dessas espécies de</p><p>forma hierárquica, ou seja, de acordo com critérios adotados, é denominada de</p><p>4</p><p>4</p><p>classificação. A identificação é o reconhecimento de uma determinada espécie</p><p>como sendo idêntica a uma anteriormente classificada. Agrupamentos</p><p>taxonômicos de qualquer categoria, por exemplo, ordem, família, tribo, gênero,</p><p>espécie, são designados táxon.</p><p>CÓDIGO INTERNACIONAL DE NOMENCLATURA BOTÂNICA</p><p>Reino: Vegetal</p><p>Divisão: Angiospermae (ou Magnoliophyta) – subdivisão: phytina</p><p>Classe: Monocotyledoneae (ou Magnoliatae ou Magnoliopsida)</p><p>Ordem: Poales</p><p>Família: Poaceae</p><p>Subfamília: Panicoideae</p><p>Tribo: Paniceae</p><p>Gênero: Melinis</p><p>Espécie: Melinis minutiflora</p><p>Para a área de Forragiculta e Pastagens, existem algumas plantas</p><p>forrageiras de maior interesse que pertencem à família Poaceae (gramíneas) e</p><p>Fabaceae (leguminosas). Quando da escolha destas para implantar no sistema</p><p>de pastoreio, devemos considerar suas caracetrísticas agronômicas, tais como:</p><p>potencial produtivo e adaptabilidade às condições bióticas e edafoclimáticas.</p><p>Segundo Carnevalli (2019), nas regiões tropicais brasileiras, as gramíneas</p><p>são tradicionalmente as plantas de pastejo mais exploradas em virtude de</p><p>apresentarem um potencial de produção de forragem duas a três vezes superior</p><p>às leguminosas forrageiras. Porém, tem aumentado o interesse dos</p><p>pesquisadores em pastagens quanto ao uso de leguminosas forrageiras tropicais</p><p>na alimentação animal, na forma de feno, de pastagens e de banco de proteínas,</p><p>uma vez que estas plantas possuem elevado valor nutritivo e também auxiliam na</p><p>fixação simbiótica do nitrogênio atmosférico no solo com bactérias do gênero</p><p>Rizobium.</p><p>5</p><p>5</p><p>Figura 2 – Bactérias Rizobium (fixadoras de nitrogênio atmosférico no solo)</p><p>Crédito: Tomasz/Adobe Stock.</p><p>O estudo da morfolofisiologia das plantas forrageiras pode auxiliar nas</p><p>decisões do manejo de pastagem. As características físicas refletem os</p><p>componentes de produção da planta, como número de perfilhos, número de folhas</p><p>e tamanho delas. Sabendo disso, fica fácil para o profissional escolher qual a</p><p>melhor espécie vegetal trabalhar, qual o melhor manejo de pastoreio adotar e</p><p>quantos animais lotar seus pastos (Carnevalli, 2019).</p><p>TEMA 2 – FAMÍLIA POACEAE (GRAMÍNEAS)</p><p>Fontaneli et al. (2012) descreveram que a família das gramíneas (Poaceae</p><p>ou Gramineae) é uma das principais famílias na divisão Angiospermae e da</p><p>6</p><p>6</p><p>classe Monocotiledoneae (plantas que possuem somente um cotilédone na</p><p>semente). Essa denominação vem do embrião com um só cotilédone por ocasião</p><p>da germinação. Os cotilédones são folhas embrionárias modificadas que a planta</p><p>possui e que têm a função de armazenar reservas que serão utilizadas na</p><p>germinação. Nessa família, estão as gramas (capins), que possuem folhas</p><p>lineares e flores nuas, e as inflorescências, que são espigas, panículas e racemos.</p><p>O fruto é uma cariopse, ou seja, apresenta a semente soldada ao pericarpo em</p><p>toda a sua extensão, como mostra a Figura 3.</p><p>Dentro da família Poaceae, ocorrem 6 subfamílias, 28 tribos, com</p><p>aproximadamente 600 gêneros e 10.000 espécies. No Brasil, ocorrem cerca de</p><p>180 gêneros e 1500 espécies. Na subfamília Panicoideae, principalmente na tribo</p><p>Paniceae, estão os principais gêneros de gramíneas forrageiras de clima tropical.</p><p>Em contraposição, nas de clima temperado, os principais gêneros pertencem à</p><p>subfamília Festucoideae (Herling; Pereira, 2016).</p><p>Segundo os autores citados anteriormente, algumas gramíneas mais</p><p>conhecidas utilizadas na alimentação dos animais são o milho (Zea mays), o trigo</p><p>(Triticum aestivum), o arroz (Oryza sativa), a cana-de-açúcar (Saccharum</p><p>officinarum) e a braquiária (Brachiaria brizantha).</p><p>Figura 3 – Fruto cariopse</p><p>Fonte: kawin302/Adobe Stock.</p><p>7</p><p>7</p><p>Dando continuidade ao nosso estudo, a germinação das sementes das</p><p>gramíneas é do tipo hipógea, ou seja, o hipocótilo, que é a porção compreendida</p><p>entre o cotilédone e a primeira folha, é suprimido e, em consequência, a semente</p><p>permanece no solo (Schultz, 1968). O epicótilo perfura a casca da semente,</p><p>cresce para cima e, alcançada a superfície do solo, desenvolve um colmo com</p><p>folhas. O cotilédone permanece no pericarpo, servindo de reserva sob o solo.</p><p>Esgotadas as substâncias de reserva, ele decompõe-se junto com o restante da</p><p>semente, sem deixar vestígios. A Figura 4 mostra o esquema da germinação</p><p>hipógea das gramíneas.</p><p>Figura 4 – Germinação Hipógea</p><p>Crédito: Nattapon/Adobe Stock.</p><p>Em seguida, inicia-se o desenvolvimento radicular das gramíneas, que é</p><p>dividido em duas fases: primeiro, são formadas as raízes seminais ou</p><p>embrionárias e, posteriormente, as raízes permanentes,</p><p>caulinares ou</p><p>adventícias.</p><p>As primeiras têm origem no embrião. Sua duração é de algumas semanas,</p><p>e apresentam-se cobertas pela coleorriza, que é um órgão de proteção e absorção</p><p>de água e de nutrientes.</p><p>8</p><p>8</p><p>Figura 5 – Germinação, formação das raízes e crescimento nas monocotiledôneas</p><p>Crédito: Nandalal/Adobe Stock.</p><p>As raízes formadas na segunda fase de desenvolvimento, que são as</p><p>permanentes, chamadas de caulinares ou adventícias, são muito numerosas e</p><p>susbtituem as raízes seminais. Estas derivam dos primeiros nós basais, de</p><p>estolões e de outros nós que estejam em contato com o solo (Figura 6). O ciclo de</p><p>vida das raízes permanentes pode ser anual ou perene. As raízes ditas de ciclo</p><p>anual são as que reabilitam-se totalmente durante a estação de crescimento, e as</p><p>perenes são aquelas que se formam durante o primeiro ano, porém seguem</p><p>funcionando no ano seguinte.</p><p>Geralmente o colmo, na maioria das gramíneas, é oco e constituído de nós</p><p>e entrenós. Cada nó tem sua folha correspondente, e, a partir dos nós, surgem os</p><p>brotos ou afilhos, que podem ser intravaginais (desenvolvem-se no interior da</p><p>bainha foliar e nascem sem rompê-la) ou extravaginais (afilhos rompem a bainha</p><p>foliar e desenvolvem-se fora dela). Já os entrenós são cilíndricos e podem</p><p>apresentar-se de duas maneiras: ocos, como ocorre em cereais de inverno, ou</p><p>cheios, como ocorre em milho e em cana-de-açúcar.</p><p>9</p><p>9</p><p>Figura 6 – Raiz das gramíneas</p><p>Crédito: singkham/Adobe Stock.</p><p>Segundo Ruggieri (2016), as folhas das gramíneas, em geral, possuem a</p><p>bainha, que é um órgão alongado em forma de cartucho, que nasce no nó e cobre</p><p>o entrenó, podendo ser maior ou menor que este; a lígula, que é a parte branca e</p><p>membranosa que se localiza na parte superior interna da bainha (pode estar</p><p>presente nas espécies vegetais ou não), no limite com a lâmina foliar; e a lâmina</p><p>foliar, que tem a função de captação da luz solar e do gás carbônico para realizar</p><p>a fotossíntese.</p><p>Segundo a mesma autora, em geral, a lâmina foliar das gramíneas é</p><p>paralelinérvia, ou seja, possui nervuras dispostas de forma paralela e longitudinal</p><p>no limbo da folha, e é representada pelo pecíolo dilatado, que desempenha as</p><p>funções de folha, como mostra a Figura 7.</p><p>10</p><p>10</p><p>Figura 7 – Folha paralelinérvia (nervuras paralelas)</p><p>Crédito: Erik/Adobe Stock.</p><p>TEMA 3 – FAMÍLIA FABACEAE (LEGUMINOSAS)</p><p>A família das leguminosas (Fabaceae ou Leguminosae) pertence à divisão</p><p>Angiospermae, à classe das Dicotiledoneas (plantas que possuem dois</p><p>cotilédones na semente) (Figura 8) e à ordem rosales. Podem ser de porte variável</p><p>(arbustos, plantas de pequeno porte e árvores com folhas compostas) e as mais</p><p>utilizadas como forrageiras são as herbáceas, que são ricas em proteína.</p><p>As flores podem ser hermafroditas (apresentam os dois órgãos sexuais:</p><p>androceu e gineceu), pentâmeras (na maioria), tetrâmeras ou trímeras</p><p>(apresentam cinco, quatro ou três pétalas, respectivamente), com cálice</p><p>persistente e corola caduca (conjunto de pétalas que cai precocemente). O fruto</p><p>é um legume (fruto derivado de um único carpelo, deiscente e que se abre em</p><p>duas fendas) (Figura 9). O embrião tem dois cotilédones, por ocasião da</p><p>germinação.</p><p>11</p><p>11</p><p>Figura 8 – Semente das dicotiledôneas</p><p>Crédito: fancytapis/Adobe Stock.</p><p>Figura 9 – Fruto tipo legume (vagem)</p><p>Crédito: Vasilius/Adobe Stock.</p><p>12</p><p>12</p><p>A família Fabaceae é considerada uma das maiores famílias botânicas do</p><p>reino vegetal, apresentando ampla distribuição geográfica, incluindo 727 gêneros</p><p>e 19.325 espécies. No Brasil, existem cerca de 220 gêneros e 2736 espécies.</p><p>Entre as plantas leguminosas mais conhecidas, estão alfafa (Medicago sativa L.),</p><p>cornichão (Lotus corniculatus L.), ervilha (Pisum sativum L.), ervilhaca (Vicia</p><p>sativa L.), soja [Glycine max (L.) Merril.] e trevos (Trifolium spp.), além de outras</p><p>espécies.</p><p>O tipo de germinação que ocorre nas leguminosas é o denominado epígea,</p><p>em que os cotilédones são levantados acima do solo pelo crescimento do</p><p>hipocótilo (Schultz, 1968) (Figura 10). O primeiro órgão que aparece nesse caso</p><p>é a raiz primária.</p><p>Figura 10 – Germinação Epígea</p><p>Crédito: Nattapon/Adobe Stock.</p><p>Conforme Fontaneli et al. (2012), a raiz primária penetra e se fixa no solo.</p><p>Após isso, a zona da raiz mais próxima à semente começa a crescer. Essa região</p><p>é denominada hipocótilo, que, ao se prolongar, empurra a semente para cima da</p><p>superfície do solo. Os cotilédones, ao se livrarem da casca e ficarem expostos a</p><p>luz, tomam coloração verde. Ao mesmo tempo, começa a se desenvolver o botão</p><p>do caule, junto aos cotilédones. Nessa região, originam-se as folhas propriamente</p><p>ditas. A porção compreendida entre os cotilédones e a primeira folha denomina-</p><p>se epicótilo e, da primeira folha para cima, caule (Figura 11).</p><p>13</p><p>13</p><p>Figura 11 – Germinação, formação das raízes e crescimento nas dicotiledôneas</p><p>Crédito: Nandalal/Adobe Stock.</p><p>Os mesmos autores descrevem que os sistemas de raízes das leguminosas</p><p>resulta do desenvolvimento da raiz primária do embrião e de suas ramificações</p><p>eventuais. A raiz principal, denominada axial ou pivotante, sustenta a planta</p><p>durante toda a vida dela. As raízes adventícias, em geral, faltam ou se</p><p>desenvolvem escassa e tardiamente. Em trevo vermelho, surgem raízes</p><p>adventícias na base dos talos. Em touceiras velhas, observa-se a raiz pivotante</p><p>acompanhada ou substituída por várias raízes adventícias perpendiculares</p><p>(Figura 12).</p><p>O caule é um órgão pode se apresentar das formas mais variadas nas</p><p>leguminosas. Caules aéreos podem ser herbáceos ou lenhosos, cilíndricos ou</p><p>angulosos, porém nunca suculentos (do tipo estoloníferos, escandentes ou</p><p>eretos). A disposição das folhas sobre o caule geralmente é alternada, havendo</p><p>também casos de folhas opostas. Estas são compostas das seguintes partes:</p><p>estípula, pecíolo, ráquis e lâmina composta de folíolos (Fontaneli et al., 2012)</p><p>(Figuras 13 e 14).</p><p>14</p><p>14</p><p>Figura 12 – Raiz das leguminosas</p><p>Crédito: foto76/Adobe Stock.</p><p>Figura 13 – Folhas peninérvias (possuem uma nervura principal de onde partem</p><p>outras secundárias)</p><p>Crédito: Grilez/Adobe Stock.</p><p>15</p><p>15</p><p>Figura 14 – Partes das folhas das leguminosas</p><p>Crédito: Kazakova Maryia/Adobe Stock.</p><p>Conforme o estudado por Fonataneli et al. (2012), o limbo das folhas podem</p><p>ser classificados como:</p><p>• Simples: quando o limbo é único. Ex.: Crotalaria juncea.</p><p>• Composto: quando o limbo se subdivide em folíolos, podendo ser:</p><p>o Folhas pinadas: são aquelas em que os folíolos estão dispostos em</p><p>dupla, em fileiras ao longo do ráquis. Geralmente formam pares de</p><p>inserção oposta ou se alternam sem constituir pares. A lâmina pode ser</p><p>ainda paripenada (número de folíolos pares) ou imparipenada (número</p><p>de folíolos ímpares).</p><p>o Recomposta ou bipinada: quando os folíolos se subdividem em</p><p>foliólulos. Ex.: Leucaenae prosopis.</p><p>o Palmada ou digitada: possui vários folíolos originados/ligados a um</p><p>ponto comum.</p><p>16</p><p>16</p><p>Figura 15 – Folhas pinadas imparipenadas</p><p>Crédito: Marina/Adobe Stock.</p><p>o Folhas trifolioladas: são uma variante comum, em que a folha tem três</p><p>folíolos, como os trevos.</p><p>Figura 16 – Folha trifoliolada</p><p>Crédito: Marina/Adobe Stock.</p><p>17</p><p>17</p><p>TEMA 4 – CLASSIFICAÇÃO DAS PLANTAS SEGUNDO O CICLO DE</p><p>CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO</p><p>Uma das maneiras de se classificar as plantas forrageiras é com relação</p><p>ao período de maior produção de forragem delas no campo, ou seja, em que</p><p>época do ano há maior crescimento e perfilhamento das mesmas. Por conta disso,</p><p>podemos dividir as forrageiras em:</p><p>• Hibernais: são as plantas forrageiras de clima temperado, que crescem em</p><p>condições de dias menos ensolarados. Geralmente possuem menor</p><p>potencial de crescimento em relação as estivais, porém apresentam maior</p><p>valor nutritivo.</p><p>Apresentam caules finos e folhagem tenra. São semeadas</p><p>no outono (tanto as perenes como as anuais), sendo ceifadas durante o</p><p>inverno e também na primavera (Carnevalli, 2019). No estágio de</p><p>florescimento, os rendimentos são maiores, mas menos nutritivos. Na</p><p>Figura 17, podemos observar o período de crescimento destas plantas</p><p>Figura 17 – Ciclo de crescimento das plantas forrageiras hibernais (inverno)</p><p>Crédito: Elias Aleixo.</p><p>• Estivais: são as plantas forrageiras de clima tropical, com elevado</p><p>potencial de crescimento, que possuem colmos grossos e folhas largas.</p><p>Precisam de bastante luz e calor e são sensíveis ao frio intenso,</p><p>permanecendo com vida apenas os órgãos inferiores (raiz e base da</p><p>18</p><p>18</p><p>planta), onde acumulam reservas nutritivas para rebrotar na primavera</p><p>(Carnevalli, 2019).</p><p>São semeadas na primavera, com maior produção no verão e outono.</p><p>Quando entra o inverno, as perenes entram em repouso vegetativo e as anuais</p><p>morrem (Herling; Pereira, 2016). A Figura 18 mostra o ciclo de crescimento destas</p><p>plantas.</p><p>Figura 18 – Ciclo de crescimento das plantas forrageiras estivais (verão)</p><p>Crédito: Elias Aleixo.</p><p>Abaixo seguem alguns exemplos de forrageiras (gramíneas e leguminosas)</p><p>de crescimento hibernal e estival (perenes e anuais):</p><p>• Hibernais: Avena strigosa (Aveia), Lolium multiflorum (Azevém), Vicia</p><p>(ervilhaca), Medicago sativa (Alfafa) etc.</p><p>• Estivais: Zea mays (milho), Panicum (colonião, tanzânia etc), Setaria</p><p>(Setária), Stilozolobium attemmum (Mucuna preta) etc.</p><p>Com relação à duração do ciclo de desenvolvimento das plantas</p><p>forrageiras, que é o tempo de vida de uma planta numa pastagem, inicia-se com</p><p>a germinação das sementes, passando pelas fases de crescimento vegetativo,</p><p>reprodução e morte. As plantas podem ser classificadas como anuais, perenes</p><p>ou bienais.</p><p>19</p><p>19</p><p>As chamadas plantas bienais normalmente permanecem em crescimento</p><p>vegetativo no primeiro ano e apenas no segundo ano entram em período</p><p>reprodutivo e produzem sementes.</p><p>• Anuais: são as plantas forrageiras que tem seu ciclo de desenvolvimento</p><p>iniciado e terminado em até um ano. Todos os anos devem ser semeadas</p><p>para um novo ciclo de pastoreio, pois só admitem um corte.</p><p>• Perenes: são as plantas forrageiras que se formam durante o primeiro ano</p><p>e seguem produzindo no ano seguinte. Não precisam ser semeadas</p><p>anualmente e chegam a produzir por décadas, desde que bem implantadas</p><p>e manejadas.</p><p>Sabendo sobre os ciclos de crescimento e desenvolvimento das plantas</p><p>forrageiras, o técnico da área poderá fazer a melhor escolha de qual leguminosa</p><p>e/ou gramínea irá utilizar para implantar e/ou recuperar uma área de pastagem e</p><p>também planejar e manejar os animais sob pastejo.</p><p>Agora, vamos estudar um pouco sobre as fases de desenvolvimento das</p><p>plantas. Conforme elas crescem, seu valor nutritivo (composição nutricional)</p><p>também começa a variar, pois a quantidade de água e a constituição da parede</p><p>vegetal e do conteúdo celular diferencia-se nas diferentes fases de crescimento</p><p>vegetativo. Isso implica na diferença de concentração dos nutrientes (proteínas,</p><p>lipídeos, carboidratos, vitaminas e minerais) e na sua disponibilidade aos animais.</p><p>Nas figuras 19 e 20, poderemos observar as fases de desenvolvimento das</p><p>gramíneas e leguminosas, respectivamente. Conforme Almeida (2016), as fases</p><p>de desevolvimento são:</p><p>• Fase vegetativa: inicia-se na germinação da semente e emergência da</p><p>plântula. Em seguida, a planta passa pelas fases de desenvolvimento da</p><p>área foliar e perfilhamento.</p><p>• Fase de transição ou alongamento de colmos: é a fase de transição do</p><p>período vegetativo (onde produz folhas e perfilhos) para o período</p><p>reprodutivo. Nesta fase, a planta muda sua estrutura e inicia o alongamento</p><p>de colmos e a emissão das folhas bandeira (últimas folhas a surgirem nas</p><p>plantas, indicando a transição para a produção sementes) para enchimento</p><p>dos grãos da inflorescência. Também chamada fase de emborrachamento.</p><p>20</p><p>20</p><p>• Fase reprodutiva: não ocorre mais emissão de novas folhas. Todos os</p><p>assimilados da planta são destinados ao enchimento e maturação de grãos</p><p>na inflorescência.</p><p>A figura 21 nos ilustra a diferenciação do valor nutritivo das plantas</p><p>forrageiras em seus diferentes períodos de desenvolvimento. Isto é importante</p><p>para a tomada de decisão de qual o melhor período para o pasto ser pastejado</p><p>pelo animais, onde poderão aproveitar melhor os nutrientes oferecidos pelas</p><p>plantas e ter melhor disponibilidade de folhas (massa verde).</p><p>Figura 19 – Ciclo de desenvolvimento das gramínea</p><p>Crédito: ilyakalinin/Adobe Stock.</p><p>Figura 20 – Ciclo de desenvolvimento das leguminosas</p><p>Crédito: ilyakalinin/Adobe Stock.</p><p>21</p><p>21</p><p>Figura 21 – Ciclo das forrageiras (acúmulo de massa verde x disponibilidade de</p><p>nutrientes)</p><p>Fonte: Milkpoint, 2013.</p><p>Crédito: Wasteresley Lima.</p><p>TEMA 5 – MORFOLOGIA DAS GRAMÍNEAS E LEGUMINOSAS</p><p>Caro(a), nos tópicos anteriores, já estudamos sobre algumas</p><p>características morfológicas que diferenciam as forrageiras gramíneas das</p><p>forrageiras leguminosas, tais como nervura das folhas, tipo de frutos e folhas,</p><p>raízes, germinação e crescimento.</p><p>Segundo Herling e Pereira (2018), conhecer a morfofisiologia do</p><p>desenvolvimento, do crescimento das plantas forrageiras e de suas respostas à</p><p>desfolhação é importante para entender e utilizar as ferramentas de manejo da</p><p>pastagem de forma adequada.</p><p>Conforme os autores, a estrutura morfológica das gramíneas é muito similar</p><p>entre as espécies. Cada planta da pastagem é chamada de perfilho ou afilho. Este</p><p>é considerado a unidade de crescimento (unidade vegetativa) das gramíneas</p><p>forrageiras e é formado por um conjunto de fitômeros, que são estruturas</p><p>compostas por nó, entrenó, bainha, lígula, lâmina foliar e gema axilar (Figura 22).</p><p>22</p><p>22</p><p>Figura 22 – Organização de um fitômero (Gramíneas)</p><p>Crédito: Smiles ilustras.</p><p>Nas leguminosas, os fitômeros são compostos de maneira diferente, sendo</p><p>formados por nó, entrenó, pecíolo, estípula, folha (folíolos) e gema axilar. O</p><p>conjunto dos fitômeros consecutivos nas leguminosas compõe a ramificação</p><p>(unidade vegetativa) (Herling; Pereira, 2018) (Figura 23).</p><p>Figura 23 – Organização de um fitômero (Leguminosas)</p><p>Crédito: Davi Souza.</p><p>23</p><p>23</p><p>Este conhecimento nos ajuda a entender a dinâmica de crescimento das</p><p>plantas em uma área de pastagem, onde cada indivíduo botânico terá vários</p><p>fitômeros em fases de crescimento e desenvolvimento diferentes, seja nos</p><p>perfilhos (gramíneas) ou nas ramificações (leguminosas). Vale ressaltar que cada</p><p>gema axial origina um novo perfilho ou ramificação (Herling; Pereira, 2018).</p><p>Dando continuidade ao nosso estudo sobre a morfologia das plantas</p><p>forrageiras, vamos falar um pouco sobre os diferentes tipos de caules que tanto</p><p>gramíneas quanto leguminosas podem apresentar.</p><p>Herling e Pereira (2018) descrevem que o caule possui funções de suporte</p><p>mecânico para os órgãos aéreos da planta (flores, frutos e folhas), é responsável</p><p>pela disposição da parte aérea (arquitetura), transporta sais minerais e água das</p><p>raízes para a parte aérea, além de açúcares, aminoácidos, hormônios e outros</p><p>metabólicos da parte aérea para as raízes.</p><p>Nas gramíneas, podem ser do tipo colmo, dotado de nós e entrenós</p><p>cilíndricos, podem ser ocos ou fistulosos (gramíneas de inverno) ou cheios (milho</p><p>e cana-de-açúcar). A forma de crescimento do colmo determina o hábito de</p><p>crescimento da planta e pode ser do tipo:</p><p>• Ereto cespitoso: o colmo cresce verticalmente ao solo, e, em algumas</p><p>gramíneas, os perfilhos crescem agrupados formando touceiras. Ex.:</p><p>Capim-elefante.</p><p>• Decumbente: os colmos crescem encostados no solo. Ex.: Brachiaria</p><p>decumbens.</p><p>• Rasteiro ou Estolonífero: os colmos crescem junto ao solo e possuem nós</p><p>e entrenós. As raízes e a parte aérea crescem a partir das gemas axilares</p><p>localizadas</p><p>nos nós. O estolão difere dos rizomas, porque estes últimos são</p><p>subterrâneos, brancos e protegidos por escamas (folhas modificadas).</p><p>Já nas leguminosas o colmo geralmente é clorofilado. Os caules eretos</p><p>podem ser classificados como:</p><p>• Herbáceos: os caules são tenros, flexíveis e não possuem parede celular</p><p>lignificada. Ex.: Alfafa.</p><p>• Lenhosos: a parede celular dos caules são lignificadas, rígidas e de grande</p><p>porte; o diâmetro do caule é aumentado. Ex.: troncos das árvores.</p><p>Já os caules rasteiros das leguminosas podem ser classificados como:</p><p>24</p><p>24</p><p>• Estoloníferos: são caules que crescem junto à superfície do solo e</p><p>desenvolvem suas raízes e a parte aérea a partir dos nós. Ex.: Arachis</p><p>pintoi (Amendoim forrageiro)</p><p>As leguminosas também podem apresentar os caules do tipo trepadores,</p><p>que podem ser classificados como (Herling; Pereira, 2016):</p><p>• Volúveis ou escandentes: são estruturas finas e longas que crescem</p><p>enroladas nos mais variados tipos de suporte, mas não apresentam órgão</p><p>de fixação. Usam o próprio caule para se apoiarem. Ex.: Galactia,</p><p>Centrosema e Macroptilium.</p><p>• Sarmentosos: são estruturas finas e longas que crescem enroladas nos</p><p>mais variados tipos de suporte e usam as gavinhas para se apoiarem. Ex.:</p><p>Vicia sativa (ervilhaca).</p><p>Para terminar, vamos falar um pouco sobre as flores e inflorescências das</p><p>plantas forrageiras. Segundo Herling e Pereira (2018), a flor das gramíneas é</p><p>aclamídea (sem cálice e corola), com invólucro constituído por brácteas,</p><p>denominadas glumas, superior e inferior, podendo estarem presentes ambas,</p><p>somente uma ou nenhuma. Podem ser flores solitárias ou dispõem-se</p><p>alternadamente sobre uma ráquila, em espiguetas que se agrupam para formar</p><p>a inflorescência. Um conjunto de flores forma a inflorescência, sendo que a</p><p>unidade desta em gramíneas é a espigueta (podendo ser pedicelada ou séssil).</p><p>As flores são, frequentemente, hermafroditas, pequenas, pouco vistosas,</p><p>adaptadas à polinização pelo vento. Segundo os mesmos autores, a classificação</p><p>das gramíneas baseia-se principalmente nos caracteres da estrutura da</p><p>espigueta e no arranjo das mesmas. Estas quase exclusivamente delimitam as</p><p>subfamílias, tribos e gêneros.</p><p>Os tipos podem ser, conforme Herling e Pereira (2016):</p><p>• Espiga: espiguetas inseridas no eixo principal sem pedicelo</p><p>(sésseis). Ex.: Milho (Zea mays).</p><p>• Cacho ou rácemo: espiguetas inseridas na ráquis através de pedicelo.</p><p>• Cacho composto ou panícula: espiguetas pediceladas inseridas em</p><p>ramificações terciárias e quaternárias da ráquis. Pode ser aberto,</p><p>também chamado panícula laxa (ex.: Panicum, Melinis) ou panícula</p><p>contraída (ex.: Setaria, Pennisetum).</p><p>25</p><p>25</p><p>Já a flor das leguminosas é hermafrodita e diclamídea (apresenta os dois</p><p>verticilos de proteção, cálice e corola). O cálice é gamossépalo (sépalas parcial</p><p>ou totalmente soldadas entre si). As estruturas reprodutivas localizam-se no</p><p>interior da quilha. O Androceu é formado por 10 estames, sendo 9 soldados pelos</p><p>filetes e apenas 1 livre. O gineceu é formado por um ovário súpero, unicarpelar,</p><p>unilocular ou raras vezes bilocular (Herling; Pereira, 2016).</p><p>Segundo os autores citados anteriormente, a polinização depende</p><p>essencialmente da ação de insetos e pode ser autógama (autopolinização) ou</p><p>não.</p><p>As inflorescências mais comuns são:</p><p>• espiga (amendoim forrageiro belmonte e estilosantes);</p><p>• rácemo (siratro);</p><p>• umbela (cornichão); e</p><p>• capítulo (trevos).</p><p>FINALIZANDO</p><p>Caro(a), chegamos ao final da nossa etapa sobre forragicultura e</p><p>pastagem. Aqui, tivemos a oportunidade estudar mais afundo sobre a</p><p>morfofisiologia das plantas forrageiras, aprendendo sobre sua germinação,</p><p>sementes, crescimento vegetativo, raízes, caules, folhas, flores e frutos e quais</p><p>são as principais características que classificam as plantas forrageiras em</p><p>gramíneas e leguminosas.</p><p>Podemos descobrir o hábito de crescimento delas, estudar sobre qual a</p><p>melhor época de plantio, crescimento e aproveitamento nutricional das mesmas e</p><p>como isto pode influenciar no planejamento e implantação dos sistemas de</p><p>pastoreio dos animais.</p><p>Lembrem-se de que o assunto não se esgota neste material, e buscar mais</p><p>bibliografias na área é importante para uma melhor compreensão deste assunto</p><p>tão fascinante e complexo que é o reino vegetal.</p><p>26</p><p>26</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, O. J. I. A dinâmica do crescimento de plantas forrageiras e o manejo</p><p>das pastagens. Pirassununga: FZEA, 2016.</p><p>CARNEVALLI, R. A. Princípios sobre manejo de pastagem. Londrina: Embrapa</p><p>Soja, 2019.</p><p>FONSECA, D. M.; MARTUSCELLO, J. A. Plantas forrageiras. Viçosa: Editora da</p><p>UFV, 2010.</p><p>FONTANELI, R. S.; SANTOS, H. P.; FONTANELI, R. S. Forrageiras para integração</p><p>lavoura- pecuária na região sul-brasileira. Brasília: Embrapa, 2012.</p><p>HERLING, V. R.; PEREIRA, L. E. T. Morfologia de plantas forrageiras. Piracicaba:</p><p>Editora da USP, 2016.</p><p>HERLING, V. R., PEREIRA, L. E. T. Princípios básicos do manejo de pastagens.</p><p>Piracicaba: Editora da USP, 2018.</p><p>MOORE, K. J. E; MOSER, L. E. Quantifying developmental morphology of</p><p>perennial grasses. Lincoln: University of Nebraska, 1995.</p><p>NELSON, C. J. Shoot morphological plasticity of grasses: leaf growth vs. tillering. In:</p><p>LEMAIRE, G et al. (ed.). Grassland ecophysilog y and grazing ecology.</p><p>Wallingford: CABInternational, 2000. p. 101-126.</p><p>RUGGIERI, A. C. Morfologia de gramíneas e leguminosas forrageiras. 2016.</p><p>Disponível em:</p><p><https://www.fcav.unesp.br/Home/departamentos/zootecnia/anaclaudiaruggieri/aula-</p><p>morfologia.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2023.</p>