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<p>Psicoterapia Infantil através da Psicanálise</p><p>• A psicanálise de crianças passou por muitas limitações até se tornar tratamento</p><p>passível de realização; vários autores acreditavam que só seria possível</p><p>tratamento educativo e o brincar utilizado apenas como recurso para despertar</p><p>na criança disposição e interesse ao tratamento (CAMPOS).</p><p>• A partir da eficácia no tratamento do Caso Hans, no qual o tratamento foi</p><p>conduzido pelo próprio pai do menino, analistas de crianças acreditaram ser</p><p>possível atendê-las em suas casas, mesmo com a falta de capacidade da criança</p><p>em associar livremente, acreditavam que tal método facilitasse a relação com a</p><p>criança. Porém posteriormente observaram que essa situação “complicava</p><p>desnecessariamente a relação do paciente com a família”, sendo imprescindível</p><p>encontrar uma nova técnica para o tratamento infantil. (ABERASTURY, 1992, p.</p><p>60).</p><p>LINHA DO TEMPO</p><p>1882 surgimento</p><p>da psicanálise</p><p>(FREUD)</p><p>1909 Caso Hans</p><p>(menino de 5</p><p>anos fobia de</p><p>cavalo)</p><p>1920 Melaine</p><p>Klein - trabalho da</p><p>psicanálise com</p><p>crianças</p><p>Anna Freud</p><p>(1971)</p><p>1975 Winnicott</p><p>• Melanie Klein, a qual destacou o lúdico não somente como expressão simbólica</p><p>de ansiedades e angústias iniciais vivenciadas pelo bebê em seu processo de</p><p>desenvolvimento. Foi Klein quem tornou possível a aplicação do método</p><p>psicanalítico ao tratamento infantil e a pacientes psicóticos (CAMPOS).</p><p>• Ela expandiu o poder de resultados dos problemas clínicos, introduziu o método</p><p>lúdico e ampliou o campo de análise à infância. Por entender o brincar como uma</p><p>forma da criança expressar seu mundo interno, Klein utilizava a interpretação da</p><p>brincadeira para interpretar conteúdos das fantasias inconscientes, que somente</p><p>a brincadeira evidenciava possível apreender diante de seu vasto simbolismo</p><p>(FULGENCIO, 2008).</p><p>Psicoterapia Infantil na Ótica de Melanie Klein</p><p>• Para Klein (1926/1996), a brincadeira é uma forma de acesso ao inconsciente,</p><p>visto que quando brinca, a criança “fala e diz toda sorte de coisas que tem o valor</p><p>de associações genuínas”, do mesmo modo como um adulto concebe associações</p><p>aos elementos de seu sonho (Klein, 1926/1996, p.159).</p><p>• Assim, entende-se que o método é igual ao de análise com adultos, porém a</p><p>técnica precisa ser moldada ao psiquismo da criança, a qual se comunica via</p><p>brincadeira. Não há um aparelho mental desenvolvido na criança de forma que</p><p>ela seja capaz de expressar-se através de palavras.</p><p>• Klein (1927/1996) acreditava que a ansiedade impedia que as associações verbais</p><p>ocorressem e a representação por meio do brinquedo encontrava-se menos</p><p>investida por essa ansiedade. Deste modo, a autora propôs a análise da</p><p>transferência a partir de interpretações sucintas e claras, de forma a basear-se</p><p>nas expressões próprias da criança para mencionar sua expressividade com o</p><p>brinquedo e simbolismos.</p><p>• Seguiu alguns dos princípios fundamentais de Freud como a exploração do</p><p>inconsciente e análise de transferência como meio para se atingir tal objetivo.</p><p>Mais adiante entre 1920 e 1923 analisou outras crianças, porém o marco para o</p><p>desenvolvimento da técnica foi em 1923 quando analisou uma criança de dois</p><p>anos e nove meses, o caso Rita: a criança que “apresentava cerimoniais</p><p>obsessivos e alternava entre ser ‘um amorzinho’ mesclado com sentimentos de</p><p>remorso e ‘uma ruindade’ incontrolável”.</p><p>• Klein percebe que dentre os vários sintomas que a criança apresentava, a sua</p><p>extrema inibição no brincar tinha origem no seu sentimento de culpa que surgiu a</p><p>partir de um conflito edipiano arcaico. Se a criança apresenta sentimento de</p><p>culpa desde pequena, isso já seria pré-condição para sua análise. Porém, Klein</p><p>ainda se deparava com algumas restrições no seu trabalho, devido à fraca relação</p><p>da criança com a realidade, impossibilitando a de se implicar na análise, como</p><p>por exemplo, a fala restrita, “principal instrumento de um tratamento analítico de</p><p>adultos”. (KLEIN [1927] 1996, p. 27).</p><p>• Através do atendimento realizado com Rita, Klein ([1955] 1991, p.</p><p>154) comprova a contribuição dos brinquedos para a análise e tais</p><p>experiências permitiram que a autora pudesse definir quais seriam os</p><p>brinquedos mais adequados para serem utilizados como ferramenta</p><p>de sua técnica com crianças. São eles: Pequenos homens e mulheres</p><p>de madeira, geralmente de dois tamanhos, carros, carrinhos de mão,</p><p>balanços, trens, aviões, animais, arvores, blocos, casas, cercas, papel,</p><p>tesouras, uma faca, lápis, giz ou tinta, cola, bolas e bolas de gude,</p><p>massa de modelar e barbante, acrescenta-se também um chão</p><p>lavável, água corrente, uma mesa, algumas cadeiras, um pequeno</p><p>sofá, algumas almofadas e um móvel com gavetas.</p><p>• Conceitos-chave na psicoterapia infantil kleiniana:</p><p>• Posições esquizoparóide e depressiva: Klein postulou que a mente infantil se organiza</p><p>em torno de duas posições: a esquizoparóide, marcada pela fragmentação do objeto</p><p>(bom/mau) e pela projeção de partes boas e más de si para o outro; e a depressiva,</p><p>caracterizada pela integração do objeto e pela angústia de perda.</p><p>• Fantasias inconscientes: A criança possui uma vida mental rica em fantasias</p><p>inconscientes, que moldam sua experiência do mundo. Essas fantasias podem ser tanto</p><p>de amor como de ódio, e influenciam suas relações com os objetos (pessoas).</p><p>• Ansiedade persecutória e depressiva: A ansiedade persecutória está ligada à posição</p><p>esquizoparóide e se refere ao medo de ser destruído por objetos internos malignos. A</p><p>ansiedade depressiva, por sua vez, está associada à posição depressiva e se refere ao</p><p>medo de perder o objeto amado.</p><p>• Introjeções: e projeções: A criança introjeta (incorpora) aspectos do objeto e projeta</p><p>partes de si para o objeto. Esses mecanismos de defesa são fundamentais para lidar com</p><p>as ansiedades.</p><p>O Brincar, a Manifestação dos Conteúdos</p><p>Inconscientes e Diminuição da Ansiedade</p><p>Importância do Brincar na Psicoterapia Infantil:</p><p>Expressão do Inconsciente: O brincar é uma linguagem natural da criança. Através</p><p>das brincadeiras, a criança manifesta conteúdos inconscientes que talvez não</p><p>consiga expressar verbalmente.</p><p>Diminuição da Ansiedade: O ato de brincar permite que a criança explore seus</p><p>sentimentos e conflitos de maneira segura e simbólica, ajudando a reduzir a</p><p>ansiedade e o estresse.</p><p>Comunicação e Resolução de Conflitos: Brincar facilita a comunicação entre a</p><p>criança e o terapeuta, permitindo que a criança trabalhe suas questões internas de</p><p>forma lúdica e menos ameaçadora.</p><p>Psicoterapia Infantil na Ótica de</p><p>Donald Winnicott</p><p>• A compreensão do brincar para Winnicott (1975) se deu a partir do</p><p>desenvolvimento daquilo que advém dos fenômenos transicionais.</p><p>Assim sendo, o período transicional é entedido como o momento em</p><p>que a criança inicia a separar-se da mãe. Essa separação já vem</p><p>acontecendo com o desmame. A criança, então, começa a substituir a</p><p>mãe por alguma outra coisa. Para que isso seja possível, é necessário</p><p>que ocorram condições anteriores a esse momento. O ambiente</p><p>precisa ter se adaptado as necessidades do bebê de tal modo que ele</p><p>possa ter adquirido uma confiança em si mesmo e no mundo.</p><p>• “A capacidade de brincar é uma conquista no desenvolvimento</p><p>emocional de toda criança humana” (C. WINNICOTT, 1994, p.49).</p><p>• É com base no brincar, que se constrói a totalidade da existência</p><p>experiencial do homem. Não somos mais introvertidos ou</p><p>extrovertidos. Experimentamos a vida na área dos fenômenos</p><p>transicionais, no excitante entrelaçamento da subjetividade e da</p><p>observação objetiva, e numa área intermediária entre a realidade</p><p>interna do indivíduo e a realidade compartilhada do mundo externo</p><p>aos indivíduos (WINNICOTT, 1975, p. 93).</p><p>Conceitos-chave na psicoterapia infantil winnicottiana:</p><p>•Ambiente suficientemente bom: Winnicott enfatiza a importância de um ambiente que ofereça</p><p>contenção, cuidado e oportunidades para a expressão espontânea da criança. Esse ambiente facilita</p><p>o desenvolvimento do "self" e a capacidade de brincar.</p><p>•Objeto transicional: O objeto transicional (como um cobertor ou um brinquedo especial) é</p><p>fundamental no processo</p><p>de separação da mãe e no desenvolvimento da autonomia da criança. Ele</p><p>representa um espaço intermediário entre o mundo interno e o mundo externo.</p><p>•Brincar: Para Winnicott, o brincar é a linguagem natural da criança, através da qual ela explora o</p><p>mundo, expressa seus sentimentos e constrói sua realidade. Na psicoterapia, o brincar é o principal</p><p>meio de comunicação e de acesso ao mundo interno da criança.</p><p>•Espaço potencial: O espaço potencial é um conceito fundamental na teoria winnicottiana. Ele se</p><p>refere ao espaço entre a mãe e o bebê, onde a criatividade e a imaginação podem florescer. Na</p><p>psicoterapia, o terapeuta busca criar um espaço potencial seguro para que a criança possa</p><p>explorar suas fantasias e seus sentimentos.</p><p>Transicionalidade e o Encontro de Si Mesmo</p><p>Teoria de Winnicott:</p><p>• Objetos Transicionais: Para Winnicott, objetos como brinquedos ou cobertores assumem um</p><p>papel crucial no desenvolvimento emocional da criança. Eles ajudam a criança a transitar do</p><p>mundo interno para o mundo externo, proporcionando segurança e conforto.</p><p>• Encontro de Si Mesmo: O brincar oferece um espaço potencial onde a criança pode ser autêntica</p><p>e verdadeira, facilitando o desenvolvimento do self verdadeiro. Neste espaço, a criança pode se</p><p>conectar com suas necessidades e desejos mais profundos.</p><p>• Importância Terapêutica: - O ambiente seguro e permissivo do brincar ajuda a criança a</p><p>experimentar ser ela mesma, sem medo de críticas ou repreensões, promovendo um sentido de</p><p>identidade e autonomia.</p><p>• - O terapeuta, ao observar e participar das brincadeiras, pode ajudar a criança a explorar e</p><p>compreender seus próprios sentimentos e conflitos.</p><p>Paralelo entre as Teorias e Técnicas Kleiniana e</p><p>Winnicottiana</p><p>Melanie Klein:</p><p>• Brincadeira como Expressão do Conflito Psíquico: Klein via o brincar como um</p><p>meio direto de expressão do inconsciente, onde a criança projetava seus impulsos</p><p>internos e fantasias. Para ela, a brincadeira é um palco para os conflitos internos</p><p>entre impulsos agressivos e amorosos.</p><p>• Técnicas de Observação: Klein usava a observação detalhada das brincadeiras</p><p>para interpretar os estados internos da criança, buscando entender suas</p><p>ansiedades e defesas.</p><p>Donald Winnicott:</p><p>• Brincar como Espaço Potencial: Winnicott enfatizava a criação de um</p><p>espaço seguro e confiável onde a criança pudesse explorar e ser criativa.</p><p>Para ele, o brincar não era apenas uma expressão de conflitos, mas uma</p><p>forma de se encontrar e se desenvolver.</p><p>• A Importância do Ambiente: Winnicott destacava o papel do ambiente no</p><p>desenvolvimento saudável da criança, sendo a presença e a resposta</p><p>empática do terapeuta fundamentais para o processo terapêutico.</p><p>Comparação das Técnicas:</p><p>• Interpretação vs. Acolhimento: Enquanto Klein focava em interpretar os</p><p>símbolos e temas emergentes das brincadeiras, Winnicott dava ênfase em</p><p>criar um ambiente seguro onde a criança pudesse se expressar livremente.</p><p>• Conflito vs. Potencialidade: Para Klein, o brincar era um meio de revelar e</p><p>trabalhar conflitos internos. Para Winnicott, era um espaço onde a criança</p><p>poderia explorar suas potencialidades e experimentar ser.</p>