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Apostila Atuação do Psicólogo no Atendimento Infantil Sumário: Introdução 1. Atuação do Psicólogo no Atendimento Infantil 2. Introdução à Psicanálise Infantil 3. Psicopedagogia Clínica 4. O Desenvolvimento Infantil na Perspectiva de Vigotsky 5. Psicomotricidade e Desenvolvimento 6. Desenvolvimento da Linguagem 7. O Estádio Pré-Operatório ou Simbólico Segundo Piaget Considerações Finais Bibliografia – Literatura Complementar Introdução Psicologia é a ciência que estuda os processos mentais e comportamentais do ser humano, além de suas interações com o ambiente físico e social. O próprio conceito envolve questionamentos, sendo que talvez a mente humana seja a parte mais complexa do ser humano. Para compreendê-la, existe um profissional específico: o psicólogo, capacitado para tratar dos estados mentais, do comportamento das pessoas e de suas interações com o meio que as cercam. A psicologia tem como objetivo imediato a compreensão de grupos e indivíduos, tanto pelo estabelecimento de princípios universais, como pelo estudo de casos específicos, tendo como objetivo final o benefício geral da sociedade. Um pesquisador ou profissional desse campo, pode ser classificado como social, comportamental ou cognitivo. A função dos psicólogos é a de tentar compreender o papel das configurações mentais no comportamento individual e social, estudando também os processos fisiológicos e biológicos que acompanham os comportamentos e explorando conceitos próprios de seu campo de atuação, tais como percepção, cognição, atenção, emoção e inteligência. Psicólogos de orientações diversas, também estudam conceitos como o inconsciente e seus diferentes modelos. Embora em geral o conhecimento psicológico seja construído como método de avaliação e tratamento das psicopatologias, também é direcionado à compreensão e resolução de problemas em diferentes camadas do comportamento humano. A grande maioria dos psicólogos pratica algum tipo de papel terapêutico, seja na psicologia clínica ou no aconselhamento psicológico. Outros dedicam-se à contínua pesquisa científica relacionada aos processos mentais e o comportamento, tipicamente dentro dos departamentos psicológicos das universidades ou outros ambientes acadêmicos. Além dos campos terapêutico e acadêmico, a psicologia aplicada é empregada em outras áreas relacionadas ao comportamento humano, tal como a psicologia do trabalho nos ambientes industriais ou organizacionais empresariais, psicologia educacional, psicologia desportiva, psicologia da saúde, psicologia do desenvolvimento, psicologia forense, psicologia jurídica, dentre outros. Os psicólogos são também os profissionais responsáveis pela elaboração e aplicação dos testes psicológicos e pela construção de escalas que buscam classificar tipos de personalidade, além de determinar os limites do normal e do patológico, no complexo campo de estudos que constitui a mente humana. O desenvolvimento infantil é um processo pelo qual as crianças passam, que vai desde o nascimento até mais ou menos 6 anos de idade. Este processo está associado ao desenvolvimento de habilidades específicas que certificam uma autossuficiência desenvolvida pela criança. Este processo é determinado por marcos, nos quais alguns comportamentos específicos são esperados das crianças a partir de uma determinada idade. São alguns aprendizados diários que permitem que os pequenos se tornem cada vez mais independentes. A psicologia do desenvolvimento infantil tem especificidades que a diferenciam das outras vertentes psicológicas. Sua importância no processo educativo faz com que seja fundamental que todo educador tenha noções do processo de desenvolvimento psicomotor, emocional e cognitivo das crianças. 1. Atuação do Psicólogo no Atendimento Infantil A preocupação dos psicólogos é buscar compreender a finalidades das funções cerebrais tanto no comportamento individual como no comportamento social, pesquisando também os sistemas fisiológicos e biológicos relacionados as funções e aos comportamentos cognitivos. A psicologia estuda conceitos como atenção, personalidade, comportamento, relacionamento, entre outros. Está entre os estudos da Psicologia, também, conceitos como o inconsciente e seus diversos modelos. Embora a psicologia seja constituída com métodos de avaliação e tratamento de psicopatologias, também é voltada para a compreensão de problemas e as suas resoluções nos diversos extratos do comportamento humano. A psicologia atua em áreas direcionadas ao comportamento humano, como em ambientes escolares, por exemplo, e na área da psicologia do desenvolvimento. Com o intuito de promover uma infância saudável a psicologia infantil normalmente utiliza a Ludo terapia como método para atingir o bem-estar familiar e da criança, buscando a prevenção e a solução de conflitos. O universo infantil é mergulhado em um mundo de descobertas, de imaginação e transformações através do contato direto com o desconhecido. Para cada fase dá vida há uma característica e um cuidado específico, e esse cuidado se intensifica ao falarmos da infância. É na fase da infância que a criatividade se expressa naturalmente com grande facilidade, e que os terrores imaginários podem provocar mudança no comportamento e proporcionar medos e fantasias aterrorizantes. Daí que os primeiros contatos afetivos vão proporcionar acolhimento e segurança e espantar os medos para encorajar a vida adulta. A psicologia infantil lança mão do cuidado e a atenção para buscar a saúde mental da criança. Na terapia infantil é construído um espaço em potencial para acolhimento das angústias, medos, inseguranças e também para uma intervenção com os pais. Desta maneira, o psicólogo executa a função de facilitador e mediador, sendo capaz de identificar os conflitos e procurar as melhores alternativas para lidar com eles, assim como orienta os pais a como intervir diante dessas experiências. 2. Introdução à Psicanálise Infantil A psicanálise é uma disciplina científica estabelecida por Sigmund Freud. A psicanálise teoriza um complexo de hipóteses sobre o funcionamento e o desenvolvimento da psique humana. A psicanálise foi pensada como uma tentativa de solucionar o sofrimento psíquico e de compreender o funcionamento mental integralmente. As noções e hipóteses teóricas da psicanálise são formadas e articuladas de forma a construir modelos que forneçam o entendimento dos fenômenos psíquicos. A psicanálise tem seu próprio princípio organizador particular, seu próprio conhecimento real e verdadeiro. Entender sua formação e desenvolvimento demanda questões e relações com outras áreas e teorias do conhecimento, assim como, sua contextualização histórica. A relação com a realidade teórica da psicanálise coloca em evidência uma diversidade de abordagens, com distintos extratos de abstração, conceitos divergentes e linguagens diversas. Entretanto, isso deve ser interpretado em um contexto histórico e cultural e em relação as próprias características do modelo psicanalítico da psique. A psicanálise é uma metodologia psicoterapêutica de investigação empírica e prática. Este método de investigação empírica investiga os conjuntos de significados expressos por meio de ações, palavras e produções imaginárias, tais como, os sonhos, as associações livres, os atos falhos, assim como os delírios, por exemplo. Sendo assim, a psicoterapia ou prática psicoterapêutica refere-se à uma maneira de tratamento, ou seja, a análise, que procura o autoconhecimento e autodesenvolvimento do sujeito analisado. Os elementos contidos no inconsciente só podem ser entendidos à medida que a energia do inconsciente é liberada pelo indivíduo. Sendo assim, o objetivo da psicanálise é conhecer os elementos inconscientes, que antesse encontravam inacessíveis, de modo que o paciente em análise possa liberá-los e assim superá-los. Os diversos desafios da psicanálise demandam do psicanalista um envolvimento sobre os aspectos intersubjetivos da experiência analítica. Isto significa poder formar e construir com o paciente um dispositivo e uma linguagem construídos de maneira adequada para possibilitar o desenvolvimento de uma relação alicerçada na confiança e na sinceridade. Com a chegada da contratransferência na psicanálise estreou uma outra visão a respeito do processo analítico, que não se passa apenas ao lado do paciente, mas também ao lado do analista. Não há a possibilidade que haja um real processo de análise se o psicanalista não se empenha em processos de identificação com o paciente, concordantes ou complementares, e se não tolera também momentos de indistinção e fusão. Os momentos de intensa identificação e ligação intersubjetiva devem se revezar dialeticamente com outros de maior distanciamento e discriminação entre o paciente e o psicanalista. Esta alternância e troca entre vivências de junção e outras de discriminação, ligação e segregação, junção e afastamento, incita os afetos e as representações que proporcionam a formação do sentido assim como a simbolização. O desenvolvimento da análise permite o crescimento da possibilidade reflexiva compartilhada, o que proporciona ao paciente assim como ao analista um olhar mais objetivo de si mesmo. Neste contexto um tanto frágil, o procedimento do psicanalista objetiva trabalhar a partir do segundo olhar, buscando sempre se apropriar das partes mais excêntricas de si mesmo, das assimetrias, de dentro e de fora, do inconsciente e daquilo que intimida o mundo ideal da plenitude narcísica. Sendo assim, o trabalho analítico deve envolver o empenho para ajudar o paciente a se tornar humano em um sentido mais abrangente do que ele foi capaz até o presente momento. Melanie Klein foi uma das mais importantes psicanalistas da história. Foi uma seguidora de Freud que, com genialidade e dedicação à verdade, formou uma escola com pensamentos próprios e diferenciados. Suas teorias resultaram de seus trabalhos com crianças, o que lhe permitiu a investigação psicanalítica dos primeiros meses de vida da criança, contribuindo para o tratamento de pacientes psicóticos. Os três pilares fundamentais da teoria Kleiniana: Inicialmente existe um mundo interno, constituído através das percepções do mundo externo, misturados com as ansiedades do processo emocional do bebê. Portanto, os objetos, as pessoas e também as situações ganham uma interpretação toda especial e singular. Quando o bebê é amamentado pela mãe, o seio materno vem a ser o primeiro objeto de interação do bebê com o mundo externo, tanto que é percebido pela criança como seio bom quando esta é amamentada, quando o bebê não é alimentado na hora em que assim deseja, daí é percebido como seio mau. Como não é possível atender a todos os desejos da criança, invariavelmente a criança adquire os dois registros do seio, um que é bom e outro que é mau. Tal conceito também é bastante relevante no estudo da elaboração de símbolos e do desenvolvimento intelectual. Nos momentos iniciais de vida do bebê após seu nascimento acontecem importantes impactos sobre sua formação psíquica. Originários de fontes internas e externas, estes impactos, que são o primeiro contato com o mundo, a sua interação com a mãe e todo o processo do desenvolvimento para sua pronta adaptação, submetem o bebê em uma atmosfera ativa e rica em estímulos. Segundo Melanie Klein, o instinto interno do bebê propicia a situação de um temor de aniquilamento que promove uma ansiedade persecutória primária. Referentes as razões externas, o nascimento age como fonte primária de ansiedade. No decorrer da interação mãe-bebê, Klein lança mão do termo Objetal para expor a associação parcial que se constitui entre o seio e o bebê, no qual o "Seio" materno promove estímulos libidinais e oral-destrutivos, sendo observado como totalidade pelo bebê. Klein acreditava que entre o 3º e 4º mês de vida do bebê, a distinção entre bom e mau não era integral, sendo assim, permanecia a contradição "seio bom" e "seio mau". A relação entre o bebê e a mãe é estruturada gradativamente por meio das experiências vivenciadas desde o primeiro contato após o nascimento. A vida emocional do bebê passa por alguns processos que Klein expôs como a ação do ego que integra e possibilita a combinação, ocasionando a divisão e a inibição dos sentimentos. No caso das relações objetais formadas pela libido e agressão, amor e ódio, assim como pela angustia e tranquilidade, são resultantes da idealização do objeto. A projeção e introjeção agregadas na fantasia e nas emoções do bebê, proporcionam o desenvolvimento do superego. Tratando-se do desenvolvimento do ego, o bebê passa a lidar melhor com a ansiedade e consequentemente ele altera seus modos de defesa, o que propicia um ascendente no sentido de realidade, que são estimulados pelas relações de ímpeto e gratificação, além das relações contraditórias. Posteriormente, o bebê sente, logo após seu nascimento, dois sentimentos elementares que são o amor e o ódio: ou se ama, ou se odeia. Portanto, pode-se perceber que a criança ama o “seio bom” e detesta o “seio mau” sendo este o fator da origem do conceito de "seio bom, seio mau". A questão é que na fantasia do bebê, este “seio mau”, este objeto interno, vai se vingar do bebê pelo ódio e destrutividade direcionados a ele. Tal medo da vingança é denominado de ansiedade persecutória. Quando se depara com um perigo, por exemplo, quando se está caminhando por um parque e de repente se depara com uma cobra, apresenta-se o instinto de fugir. Esta reação diante do perigo é denominada, na psicanálise, de defesa. A gama de ansiedade persecutória e suas respectivas defesas são nomeados por Klein de “posição esquizoparanóide”. Diante do desenvolvimento do bebê pode-se perceber que o mesmo objeto odiado, o “seio mau”, é o mesmo que é amado, o “seio bom”. O bebê percebe que os dois registros pertencem a uma mesma pessoa. Agora o bebê apresenta o medo de perder o seio bom, pois receia que suas reações de ódio e voracidade o tenham ferido ou aniquilado. Tal medo da perda do objeto bom é denominado por Klein de “ansiedade depressiva”. Este conjunto de ansiedade depressiva e suas respectivas defesas do ego são nomeados por Klein de “posição depressiva”. Este conceito de posições é bastante considerável na escola kleiniana, já que o psiquismo funciona através delas, e todos os outros desenvolvimentos são necessariamente embasados em seu funcionamento. Neste sentido, o desenvolvimento por fases, proposto por Freud, que são a fase oral, a fase anal e a fase fálica, é na escola kleiniana trocado por um elemento mais dinâmico, considerando que as três fases se encontram no bebê desde os três primeiros meses de vida. Klein não descarta essa divisão, muito pelo contrário, mas oferece a elas uma dinâmica até então ainda não encontrada na psicanálise. Diga-se de passagem, é essa palavra que diferencia o pensamento kleiniano do freudiano. Klein acredita que o psiquismo apresenta um funcionamento dinâmico entre as posições esquizoparanóide e depressiva, que começa com o nascimento e termina com a morte. Todos os fatores emocionais, como as neuroses, as esquizofrenias e a depressão, são analisados através dessas duas posições. Por tanto, em uma análise kleiniana, não se trabalha com os conteúdos reprimidos. É necessário “equacionar” as ansiedades depressivas junto com as ansiedades persecutórias. É fundamental que o paciente perceba que o mundo não é uma coisa ou outra, necessariamente, e que é concebível amar e odiar o mesmo objeto, sem temor de aniquilá-lo. Portanto, não resolve trabalhar o sintoma,ou neurose, se não trabalhar os processos que proporcionaram seus surgimentos, as ansiedades persecutórias, assim como, as ansiedades depressivas. 3. Psicopedagogia Clínica A Psicopedagogia se baseia, a princípio, em duas vertentes do saber: a psicologia e a pedagogia. Porém, a psicopedagogia vai além da simples junção destas duas áreas. Isto significa que é muito mais complexa. É uma área da ciência que pesquisa as peculiaridades do processo de aprendizagem dos indivíduos. É uma ciência multidisciplinar, sendo o seu foco de estudo o indivíduo em processo de composição e reconstrução de seu conhecimento. Para entender a atuação do psicopedagogo, temos antes que saber o que a psicopedagogia estuda. É uma área do saber que verifica o processo de aprendizagem humana, sendo o seu foco de pesquisa o indivíduo em processo de construção do conhecimento, suas adversidades e suas dificuldades. A psicopedagogia é uma atuação preventiva e terapêutica, pois a partir do diagnóstico a psicopedagogia procura analisar e identificar, para poder planejar e intervir através do tratamento terapêutico. Sendo assim, o psicopedagogo clínico dá início ao seu trabalho com o diagnostico clinico, que apresentará meios para identificar as causas dos problemas de aprendizagem e assim buscar soluções, através de dispositivos de análise tais como; anamnese, questionários, provas projetivas e operatórias. No diagnóstico clínico, também podem ser utilizadas provas psicomotoras, pedagógicas, de linguagem, de nível mental, entre outras, de acordo com a teoria e metodologia adotadas pelo psicopedagogo. O psicopedagogo é o profissional que trabalha o caráter clínico. A atuação deste trabalho consiste em facilitar e otimizar a aprendizagem, tornando-a prazerosa, orientando o paciente/aluno sobre a melhor maneira de estudar e aprender, que muitas vezes é através da ludicidade. Os psicopedagogos devem estar preparados para orientar crianças e adolescentes com problemas e dificuldades de aprendizagem. A psicopedagogia preventiva se orienta principalmente através da observação e análise profunda de uma situação real. As interações com as áreas do conhecimento, o vínculo direto com a pedagogia e a aprendizagem, as significações apresentadas no momento da aprendizagem, são pesquisadas pela Psicopedagogia com o intuito de contribuir para a análise e reformulação de atuações pedagógicas e para a ressignificação de atitudes peculiares e intrínsecas de cada indivíduo. Distúrbios de Aprendizagem Não é possível definirmos um padrão para a capacidade e velocidade de aprendizagem do ser humano, pois todos nós somos diferentes e possuímos nossas subjetividades e características, como a facilidade para se aprender certas matérias e dificuldade em outras. Visto isso, não há a necessidade de se formular uma metodologia universal, mas sim cabe ao profissional dar contorno e colaborar com a individualidade da criança. Perante essa ausência de padrões do conhecimento é necessário prestar atenção aos exageros, porque muitas vezes eles são nossos aliados na identificação de problemas e distúrbios que assombram o aprendizado do estudante. Por exemplo: uma diferença de alguns meses na alfabetização de algumas crianças é um processo recorrente, portanto pode mais facilmente ser tido como “natural”, enquanto uma grande diferença no desenvolvimento do processo de aprendizagem em relação a maioria das crianças, indica que o indivíduo pode possuir algum incomodo que dificulta seu aprendizado. Assim, o psicopedagogo procura investigar a vida do aluno para compreender qual é o tipo do problema que o aflige, sendo que muitas vezes o problema ocorre na forma de um Distúrbio de Aprendizagem, pois, estima-se que 40% a 42% dos alunos dos países desenvolvidos possuem dificuldades para aprender, e 4% a 6% dos casos possuem origem neurobiológica. Os distúrbios de aprendizagem são dificuldades que afetam a capacidade cognitiva da criança, podendo dificultar seu domínio da escrita, oralidade e resolução de problemas matemáticos. Alguns dos mais conhecidos são: - A hiperatividade: é um distúrbio da atenção, sendo que a criança hiperativa não consegue se concentrar em apenas uma atividade por muito tempo, querendo realizar várias ações simultaneamente, e não conseguindo ficar parada. - A discalculia: é também chamada de “incapacidade matemática”. Ela é um distúrbio que consiste em uma dificuldade para se entender conceitos numéricos e lógicos matemáticos. - A dislexia: conhecida como “incapacidade para ler”. O surpreendente da dislexia é que todos os fatores necessários para a leitura estão presentes na criança e, mesmo assim, esta apresenta a dificuldade. A ansiedade em relação aos assuntos abordados pode contribuir para erros, sendo assim muito provável que as atividades afetadas pelos distúrbios gerem desconfiança na criança, reforçando sua relação negativa e fazendo mais difícil que contorne seu problema. Não existe “cura” para os distúrbios, até porque eles não se tratam de uma doença ou rearranjo do corpo, como é o caso de uma infecção ou resfriado, mas sim de questões que ainda são um mistério para nossa medicina e psicologia, pois elas em parte se devem ao subconsciente e aos processos de funcionamento da mente humana. 4. O Desenvolvimento Infantil na Perspectiva de Vigotsky Entre os autores mais importantes da Psicologia do Desenvolvimento, é importante destacar Vigotsky devido a sua preocupação com a interação social e aos seus estudos direcionados à infância. Vigotsky afirma na sua Teoria Sociocultural que as formas complexas de pensamento são originadas das interações sociais. Vigotsky acredita que a aprendizagem de habilidades cognitivas novas adquiridas pela criança é conduzida por um adulto, ou mesmo por uma criança mais velha, como um irmão ou companheiro de escola, que estrutura a prática de aprendizagem, processo denominado de andaime. Para formar um andaime que seja adequado o condutor deve adquirir e manter a atenção da criança, dar exemplo da melhor tática e adaptar todo o processo a Zona de Desenvolvimento Proximal da criança. Os estudos de Vigotsky a respeito da Zona de Desenvolvimento Proximal são um dos fatores mais interessantes em sua teoria considerando que não pré- define um objeto específico de conhecimento. Cada criança pode se encontrar em uma etapa distinta, mesmo estando na mesma idade. O que o professor precisa saber é como lançar mão disso para que a turma no geral apresente um melhor desenvolvimento. É necessário entender alguns conceitos empregados por Vigotsky para entender melhor sua teoria a respeito do desenvolvimento da criança, tais como: • Dialética e Mediação • Instrumentos e Signos • Pensamento e Linguagem • Percepção e Imaginação • Afetividade O ser humano, ao dialogar com a natureza, pode testar suas hipóteses e planejar mentalmente, corrigindo possíveis problemas que possam aparecer no processo da construção de um objeto. O conceito de que os processos mentais são dependentes das formas ativas de vida num ambiente adequado, transformou-se em um princípio básico da psicologia materialista. Esta vertente psicológica também postula que as ações humanas modificam o ambiente de maneira que a vida mental humana é uma produção das atividades continuamente renovadas, manifestadas na prática social. Vigotsky ressalta o processo histórico-social. Em sua concepção, o sujeito é interativo, visto que adquire conhecimentos originários de relações intra e interpessoais, além da troca com o meio, a partir de um processo designado como mediação. Vigotsky fez distinção entre dois tipos de elementos mediadores: os instrumentos e os signos. Ainda que exista uma relação entre esses dois tipos de mediadores, eles possuem características bastante diversas.A caracterização da utilização de signos e de instrumentos como atividade mediada, dirige o comportamento humano para que estas funções sejam internalizadas. Ao mesmo tempo em que o signo constitui uma atividade interna direcionada para o controle do próprio sujeito, o instrumento se orienta externamente, para o controle da natureza. A apropriação de instrumentos e signos constituem apoios para que a criança realize certas atividades sozinha. O pensamento infantil é influenciado pelas ações da criança e pela investigação dos objetos concretos que manipula e investiga. A utilização de instrumentos evidencia isso, visto que estes servem como mediadores, ao estabelecerem relações para a realização de determinados fins, tais como subir em um banquinho com a intenção de alcançar a prateleira em que está o biscoito, ou usar uma vara para alcançar um objeto. O apropriar-se de formas culturais de comportamento, implica em reconstruir internamente a atividade social, sendo que a base que torna isso possível são as operações com signos. Afirmar que as funções psíquicas do ser humano são de caráter mediatizado, implica em admitir a presença de elementos (signos) com a capacidade de estabelecer ligações entre a realidade objetiva, externa, e o pensamento. A mediação da memória pelo signo torna aquela mais poderosa que a memória não mediada. Por exemplo, se uma criança olha para o símbolo do Burger King e lembra de um dia feliz que passou lá, fica mais fácil para ela interiorizar e e ter acesso a essa informação por meio do signo que ela já conhece. Os signos pressupõem também as representações mentais capazes de substituir os objetos do mundo real. A função simbólica envolve uma capacidade de abstrair o concreto, tornando possível representar objetos em sua ausência. Ao brinca com um cabo de vassoura como se fosse um cavalo, a criança está simbolizando um objeto real por meio de signos. Vigotsky usa o exemplo do gesto que primeiramente o bebê faz para alcançar um objeto. Ao se mover em direção do objeto, seus dedos fazem movimentos que o adulto interpreta como o gesto de apontar e não de pegar. Ao interagir com o adulto e através de sua interpretação, o significado modifica-se do ato de pegar, para o de apontar. Outro processo que ocorre com a criança em seus primeiros anos de vida é o de adquirir a linguagem, em sua relação com o pensamento. A partir do nascimento, as crianças vivenciam um mundo de produtos históricos do trabalho social. Elas desenvolvem a comunicação com os outros a sua volta e aprendem a se relacionar com objetos por intermédio da ajuda de adultos. As crianças adquirem a linguagem e a utilizam para analisar, generalizar e codificar suas experiências. Elas dão nome aos objetos, utilizando expressões estabelecidas de antemão no processo histórico, encaixando esses objetos em categorias e assimilando conhecimentos. A linguagem atua decisivamente na estruturação do pensamento e é ferramenta básica para construir conhecimentos. Ela influencia o desenvolvimento intelectual da criança desde seu nascimento. Porém, a linguagem e o pensamento surgem no instante em que a criança já mostra função simbólica. Expressa-se através das palavras, passando a nomear os objetos, interessada e curiosa por conhecer o nome das coisas, direcionada para o mundo externo, explorando os objetos e a própria fala, evoluindo rapidamente e ampliando seu vocabulário. Vigotsky designou esta fase como fase intelectual da fala, diversa da fase anterior, pré-intelectual, na qual o pensamento e a linguagem ainda não se conectam. A partir desse processo, a fala já expressa um significado e um sentido comum. Inicialmente, a palavra mostra um caráter generalizante, e gradualmente vai se modificando e delimitando sua especificidade. Por exemplo, a criança aprende a falar “au-au”, e inicialmente “au-au” é usado para designar não só os cães, mas também outros animais. Essa fase da fala demonstra a fundamental importância da íntima ligação entre o desenvolvimento da fala e o do pensamento, visto que os significados das palavras são determinados por ambos. Os educadores não devem inibi-las. Devem escuta-las, agindo como mediadores, ajudando também em sua construção intelectual, dando voz as crianças, o que é muito importante. A função inicial da linguagem é ressaltada através das diferentes expressões emocionais, as quais apresentam uma função majoritariamente social. A seguir, surge a fala egocêntrica, que acompanha as ações da criança ao se expressar em voz alta, possuindo uma óbvia função de ajudar no seu planejamento e na sua ação sobre os objetos. Exemplificando: a criança que vai subir em um banco para alcançar o biscoito e diz “Isabela vai subir para pegar biscoito”. A fala egocêntrica está vinculada com a inteligência prática, com a resolução de problemas e com a mediação de instrumentos. De forma diversa da concepção de Piaget, Vigotsky concebe a linguagem como inicialmente influenciada pelo contexto externo, sócio-histórico, passando posteriormente a ter uma função intra-psicológica. As articulações que Vigotsky propõe a partir da conexão entre o pensamento e a linguagem, evidenciam uma verdadeira mudança ao longo do desenvolvimento, demarcado pela transição da dimensão biológica para a sócio- histórica. A linguagem proporciona os conceitos e os modos de organização do real, que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento. Vigotsky postula que a linguagem tem duas funções básicas: intercâmbio social e pensamento generalizante. A função de intercâmbio social é evidente nos bebês, visto que conseguem, através de gestos, expressões e sons, expressar seus sentimentos, desejos e necessidades. A função de pensamento generalizante evidencia-se quando falamos, por exemplo, a palavra galinha. Independentemente de ter visto de perto alguma galinha, ou de comer ou não sua carne e seus ovos, nosso pensamento classifica tal palavra na categoria animais, nos remetendo à sua imagem. Não existe uma separação total entre linguagem e mundo, visto que a realidade se constitui exatamente pela maneira como aprendemos a linguagem e a utilizamos. Desse modo, o contexto em que a criança se insere é de primordial importância para seu desenvolvimento. A percepção é uma função também desenvolvida pela criança em seus anos iniciais. Inserida no diálogo sócio-histórico, a percepção necessita de práticas humanas historicamente determinadas, as quais podem não só alterar os sistemas de codificação utilizados no processamento da informação, mas também determinar a decisão de situar os objetos percebidos, que podem modificar o desenvolvimento histórico. A psicologia moderna diferencia determinados níveis dentro da imaginação, postulando que a imaginação “reprodutiva” se diferencia da imaginação criativa. A imaginação pode estar fortemente conectada à experiência prática ou pode acontecer em um sistema de pensamento lógico- verbal. A psicologia da criança se modifica de uma descrição indiferenciada de fatos sobre a imaginação, para uma análise articulada. Os psicólogos iniciaram com a suposição de que crianças têm uma vida de fantasia vigorosa, ilimitada e acabaram estabelecendo que a imaginação das crianças jovens é compartimentalizada nos limites da memória imediata. Ela possui somente uma natureza “reprodutiva”, sendo que a verdadeira imaginação criativa aparece pela primeira vez num estágio de desenvolvimento posterior. Percebe-se que a imaginação é um pré-requisito básico para processos de desenvolvimento futuros, como a alfabetização e lógica matemática, além de mostrar de modo convincente que a estrutura da atividade cognitiva não fica estática e as formas de processos cognitivos se modificam quando as condições da vida social mudam e quando se adquire rudimentos de conhecimento. Essa análise do ambientea partir da Educação Infantil, possibilita avaliar o quanto fatores externos podem interferir no processo de desenvolvimento cognitivo da criança. Sendo a criança criada em um ambiente sem estímulos, onde ela é estigmatizada como atrasada ou de menor valor, ela não possuirá a motivação necessária para se desenvolver de forma completa. Estará sempre impossibilitada de desenvolver todo seu potencial. Vigotsky realizava diversas críticas às concepções inatista e ambientalista do desenvolvimento humano. A inatista postula que a criança nasce já pronta, somente esperando o amadurecimento se manifestar, enquanto a ambientalista enxerga o indivíduo como uma folha em branco, a qual só reage perante pressões do meio. Entretanto, Vigotsky enxerga o indivíduo como um ser ativo, com a capacidade de modificar a si próprio e o meio em que vive. Algumas abordagens sobre a educação efetuadas por Vigotsky, envolvem o papel da escola e a importância do conhecimento sistematizado. Em sua concepção, a criança inicialmente aprende para posteriormente se desenvolver, construindo seu desenvolvimento, sendo um sujeito ativo em sua construção. Vigotsky demonstra a importância da imitação nas brincadeiras para o desenvolvimento de valores, indicando como o professor deve agir frente a isso. É importante sublinhar que, na abordagem Vigotskiana, o que acontece não é uma somatória entre fatores inatos e adquiridos, mas sim uma interação dialética que ocorre desde o nascimento, entre o ser humano e o meio social e cultural em que está inserido. Na abordagem Vygotskiana para a educação, não existe receita de sucesso no plano pedagógico, mas sim, contribuições para suas reflexões. O diálogo entre teoria e prática pedagógica, propicia reflexões e entendimentos sobre a aplicação da teoria na prática e como a reflexão sobre a prática pode gerar novas teorias, tendo como resultante um ensino-aprendizagem e desenvolvimento constante. Para Vigotsky o afeto e a razão deveriam andar juntos, abordando-se o ser humano como um todo. Vigotsky concebe o humano como um ser que raciocina, pensa, que se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza. Em sua perspectiva, cognição e afeto não estão separados. Vigotsky afirma que a aprendizagem é um processo intrinsecamente necessário para que sejam desenvolvidas na criança as características humanas que não são naturais, mas sim construídas historicamente. Discorre sobre o nível de desenvolvimento efetivo e a área de desenvolvimento potencial. Esclarece que uma boa aprendizagem não se detém na área em que a criança já efetuou seu desenvolvimento, mas sim está sempre à frente ao desenvolvimento. Devido a isso, reflexões sobre os problemas envolvidos na complexa relação das teorias psicológicas e na dimensão da prática educativa, são extremamente importantes. Essa reflexão é muito oportuna, pois as ideias de Vigotsky têm alcançado no Brasil uma significativa repercussão. Devido ao fato de existirem diversas dimensões a serem trabalhadas na escola, como a política, a ética e a histórica, não é eficiente limitar-se a uma só teoria, visto que o próprio Vigotsky foi um pesquisador interdisciplinar. 5. Psicomotricidade e Desenvolvimento Um bom desenvolvimento psicomotor propicia à criança algumas das habilidades básicas para obter desempenho escolar mais satisfatório. A psicomotricidade lança mão do movimento para obter outras capacidades mais elaboradas, como a capacidade intelectual. Sendo assim, a psicomotricidade apoia o desenvolvimento psicomotor do aluno o que o capacita para assimilar melhor as informações. Os movimentos psicomotores exercitados coletivamente ou mesmo individualmente têm como meta assessorar a criança a vivenciar e conhecer melhor seu corpo, assim como, capacitar as habilidades motoras, desenvolver seu equilíbrio, orientar a criança dentro do espaço e do tempo, entre outras. A psicomotricidade é uma ferramenta fundamental, pois ela permite à criança ter a consciência de seus movimentos corporais através das suas emoções. Na psicomotricidade o movimento do corpo não é o mais importante, mas a atuação corporal em si. O corpo é um sistema integrado que se relaciona com o mundo a sua volta, seja no meio físico ou cultural. Para o indivíduo ter plena consciência de seu corpo é necessário obter conhecimentos anatômicos, bioquímicos, psicológicos, entre outros. Estes conhecimentos permitem ao indivíduo fazer uma análise crítica, assim como escolhas e realizações que regulem suas próprias atividades corporais. A Psicomotricidade é uma ciência que tem seu estudo voltado para o ser humano por meio do seu corpo em movimento e em relação ao mundo interno e externo, que estabelece relações com o processo de maturação, em que o corpo inicia suas aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. A Psicomotricidade tem como suporte três aspectos básicos, que são o de movimentação, o intelectual e o afetivo. Sendo assim, o corpo é o lugar onde se dá toda a experiência psicomotora do indivíduo. Também apresenta de maneira dinâmica informações e diversão à criança, possibilitando que ela possa não apenas conhecer seu próprio corpo, mas também que tenha uma formação geral como ser humano. O principal trabalho da psicomotricidade é o desenvolvimento da descoberta do corpo, no campo da investigação da consciência corporal. Tem o propósito de refletir sobre o grau de complexidade envolvido na descoberta do corpo no decurso da Educação Infantil. Há um grande número de crianças que apresentam dificuldade em perceber sua identidade corporal, e mais além, muitas famílias e até mesmo muitas escolas não se preocupam, ou ainda não estão preparadas para ensinar ou proporcionar para as crianças um desenvolvimento corporal adequado. A questão da motricidade do corpo mantém-se ainda hoje como uma das mais importantes questões discutidas diante das atividades corporais, da consciência do próprio corpo e de suas mobilizações. A motricidade associada à educação, propicia o controle e o domínio dos movimentos mais complexos de uma criança. Encontramos dois espaços iniciais para esse aprendizado. O primeiro é a família e o segundo a escola. Um ambiente escolar onde a criança aprende através da psicomotricidade, ou seja, em um ambiente onde ela pode explorar seus movimentos e sua interação com o espaço e os objetos contido nele, nenhuma criança irá querer deixar de frequentar as aulas. Estas crianças entenderão o aprendizado como uma grande diversão. Este espaço lúdico fornecerá, para as crianças, um envolvimento fortíssimo com o saber. Envolvimento que permanecerá por toda a vida, como uma qualidade absolutamente natural. Desenvolvimento psicomotor nos três primeiros anos da criança (baseado na obra de Karl König e Valeria Mukhina) Entre as muitas características do desenvolvimento psicomotor da criança há três pontos principais: • A aquisição do andar ereto, • O aprendizado da língua materna, • O despertar do pensar. Dentro do útero o bebê já apresenta as suas capacidades motoras, mas é após o nascimento que ele passa dominá-las de maneira ordenada. Os seres humanos apresentam vários processos motores. No entanto, considerando todos os processos, o processo mais característico do ser humano é o andar ereto, fator que o submete em constante combate contra a gravidade. Quando a criança consegue caminhar, sendo seu objetivo principal o de conseguir alcançar os objetos desejados, ela passa por obstáculos com descidas, subidas, agachamentos. Diante desta nova etapa do desenvolvimento a criança passa a adaptar-se ao equilíbrio, a dominar o próprio corpo, estender sua percepção visual e conseguir obter objetos que não estão ao seu alcance. O ato de andar é para a criança algo que traz satisfação, e poder dominar esta capacidade passará a ser algo automático. O andar eretoé o primeiro passo a ser dominado pela criança no primeiro ano de vida. Mas para chegar a esse ponto, ela passa por um longo processo de controle dos próprios movimentos, do conhecimento do próprio corpo e suas capacidades. Geralmente, no primeiro trimestre de vida o bebê firma sua cabeça, no segundo trimestre as suas costas e as suas mãos. É o momento em que o bebê começa a apalpar aquilo que consegue alcançar. Já no terceiro trimestre inicia o exercício das pernas, fases estas que irão permitir que, no fim do primeiro ano, o bebê possa andar ereto. O aprender a caminhar, além do domínio motor, representa também a apresentação da consciência do ser humano como algo a parte do mundo em seu redor, ou seja, uma separação do todo. O domínio motor que se desenvolve no primeiro ano da criança quando observado como um processo integral, apresenta também um desenvolvimento da consciência associado a diferença do corpo e do que está fora dele. A possibilidade de andar e segurar é o mesmo que uma autoafirmação. Dentre os movimentos do bebê alguns são naturais e outros são desenvolvidos através da aprendizagem. Tais movimentos inatos desaparecem, cedendo lugar para os movimentos desenvolvidos através do aprendizado. No caso de uma criança que não tenha tido um desenvolvimento psicomotor saudável seus movimentos inatos se mantêm e apresentam-se mais exagerados, e o aprendizado do andar não se desenvolve. A seguir, descrevemos as principais etapas do desenvolvimento do bebê até atingir o andar ereto: • Fixa os olhos. • Cabeça ereta também quando se encontra na posição de bruços • Erguer os ombros quando está de bruços • O olhar se torna ativo, apoia-se utilizando as mãos quando está de bruços, segura os objetos, junta as mãos, mas não usa seus dedos. • Ergue o pescoço e os ombros quando está deitado de costas, também passa a conseguir virar-se, começa a pegar os objetos que vê. • Consegue ficar sentado, e concentrar-se em um ponto móvel que está em relação a outro ponto fixo. • Começam as tentativas de sair em busca dos objetos. • Mantém sentado sem apoio e começa a engatinhar. • Senta-se sozinho, ajoelha-se, consegue manter-se em pé apoiado. • Arremessa objetos. • Põe se em pé com ajuda de apoio. • Mantém-se em pé sem ajuda de apoios e começa a dar os primeiros passos. • Ergue-se para a posição ereta. • Inicia a livre movimentação espacial. • Preensão nos pés e nas mãos. • Sua visão e audição se desenvolvem mais rápido do que os movimentos do corpo. • Desperta interesses por objetos. • Começa a apalpar as mãos enquanto está deitada. • Começa a distinguir o familiar de um estranho. • Acompanha os movimentos dos adultos e conversas • A criança se estica em direção ao objeto e começa a caminhar com as mãos (reptação). • Apanha objetos e depois solta, depois volta a apanhá-los. • Começa a apanhar objetos para obter resultados a partir de sua manipulação. • Começa a andar na posição ereta. • Passa por obstáculos com dificuldade (descer, subir, agachar-se, passar entre obstáculos, etc.) • Se adapta ao equilíbrio e a domina o próprio corpo. Não há um dia exato para criança desenvolver cada uma dessas atividades, nem uma ordem fixa que não possa ser mudada. Esta sequência é a que geralmente é seguida pela maioria das crianças. Ocorre a relação do bebê com o objeto e isso o estimula a andar para alcançar tais objetos. Ocorre uma relação com a gravidade e a percepção do próprio corpo e dos acontecimentos ao seu redor. Após a conquista do andar ereto, a próxima aquisição significativa alcançada pela criança é o desenvolvimento da língua materna. A linguagem é um desenvolvimento essencial para que o desenvolvimento da criança aconteça de maneira harmônica em todas as esferas, seja em relação ao social, ao relacional ou em relação à aprendizagem formal. 6. Desenvolvimento da Linguagem É através da linguagem que a criança, desde cedo, se comunica e é compreendida. A compreensão e a produção da linguagem são um ato espontâneo. Apenas quando mais velha a criança terá iniciado o controle consciente para a utilização da linguagem. Este controle consciente é denominado de habilidade metalinguística. Usar a linguagem, apenas como meio de comunicação é diferente de pensar e ter controle sobre ela. A oralidade depende de processos biológicos determinados pelo meio, sendo que tais processos são ativados no momento que o bebê entra em contato com a linguagem presente em seu meio. A partir daí a criança começa a falar e a compreender sem ter o conhecimento da estrutura da linguagem, nem mesmo das regras existentes para o domínio da língua falada. O aspecto sonoro e os segmentos da linguagem oral são o que desperta a atenção das crianças. Sendo assim, a consciência fonológica se apresenta como uma ferramenta para o processo de aquisição da linguagem escrita. A linguagem oral é uma aquisição que se constrói naturalmente no indivíduo. No entanto, a linguagem escrita, não é construída naturalmente, ela necessita de um processo de aprendizagem prático e direcionado. A linguagem escrita se encontra entre as habilidades metalinguísticas, ou seja, entre as habilidades que são construídas a partir de reflexões e controle exercidos pela criança. A linguagem escrita exige um grau elevado de abstração, elaboração e controle diferentemente do que ocorre com o desenvolvimento natural da oralidade. Apenas o contato da criança com a linguagem escrita, sem algum estímulo direcionado, não garante à criança a aquisição de habilidades para exercer esse nível da linguagem. O processo de aprendizagem da linguagem escrita fundamenta-se na linguagem oral, já que, a nossa escrita baseada em nosso alfabeto representa os sons da fala. Tanto a fala como a escrita têm em comum a expressão do pensamento, porém são diferentes no sentido de que a fala ocorre de forma espontânea e imediata já a escrita se desenvolve a partir da representação do pensamento em sinais gráficos. Segundo a Psicologia Cognitiva da Leitura, o processo de aprendizagem da linguagem escrita é apoiado pelo sistema oral, assim como pelo sistema cognitivo que por sua vez se baseia na informação de sinais gráficos, de modo a expor tal informação em contato com as informações da memória e dessa maneira possibilitar o uso e aplicação da informação por parte de nosso pensamento. A primeira infância é fase mais importante para o desenvolvimento da linguagem infantil. É o período em que a criança desenvolve novas relações com o meio que a rodeia. Através das relações sociais a criança passa a compreender a linguagem. O bebê quando nasce não apresenta nenhum domínio linguístico, seu balbuciar permite aprender qualquer língua, fator que permite que ele aprenda a sua língua materna de maneira tão natural e ágil, assim como poderia aprender qualquer outra língua desde que obtivesse contato direto. É a própria linguagem que se desenvolve em seu interior e não uma forma de mecanismo nato que o torna apto a reconhecer e aprender línguas. A linguagem se apresenta intimamente relacionada ao corpo da criança. Conforme a criança vai se desenvolvendo ela passa também a dominar sua língua materna. Consequentemente ela passa a se expressar e expor seus desejos e suas vontades de maneira mais objetiva. Suas interações sociais vão adquirindo mais qualidade e esse processo se torna essencial para seu desenvolvimento futuro. Descrevemos a seguir as etapas pelas quais a criança passa nesse processo de aquisição da linguagem: (baseado na obra de Karl König e Valeria Mukhina) - Grito - Balbuciar - Escutar os nomes - Imitação - Relacionar palavras e objetos, palavras e pessoas, palavras e situações. - Sentenças uni-vocabulares. 40 a 70 palavras.Período do dizer A criança começa a entender, de modo súbito e espontâneo, que cada coisa tem seu nome. São adquiridas de 400 a 500 palavras. Período do denominar A criança adquire as bases para uma primeira formação primitiva de frase. Surge o impulso de relatar, e este impulso acorda a linguagem; agora chega-se ao que se denomina conversa. Período do argumentar Aquisição da linguagem materna. A criança reage com sensatez à palavra que lhe é falada. O adulto começa a exigir que a criança fale claramente e formule seu pedido com as palavras corretas. A criança assimila o sistema gramatical da língua materna, utilizando até 1500 palavras. A relação entre o adulto e a criança é fator crucial para que a aquisição da linguagem se concretize. Os melhores meios para que se desenvolva a linguagem nesta fase são: as contações de histórias utilizando livros, fantoches, músicas com gestos, repetição de palavras e ações. É necessário proporcionar momentos nos quais a criança precise verbalizar o que quer e o que está sentindo, tanto em relação aos próprios colegas como em relação ao professor. Com o tempo, a linguagem passa a ser o meio principal para as experiências sociais. Com a aquisição da linguagem, a criança desenvolve vários processos psíquicos, como a memória, o diálogo, etc. Esses processos formam a base para o avanço da criança para próxima etapa, o despertar do pensar. O desenvolvimento da mente ocorre através de diversas experiências vividas pela criança, principalmente as executadas com objetos e instrumentos no meio social. Se uma criança nota que um bastão pode ajudá-la a alcançar um brinquedo, ela repetirá a brincadeira de alcançar o brinquedo várias vezes. Em outro momento, a criança repetirá a ação utilizando o bastão para alcançar outros objetos fora do seu alcance, simplesmente por pensar e lembrar do que havia feito anteriormente. Desse modo, foi interiorizada uma ação que poderá ser utilizada para resolver vários tipos de situações semelhantes, sem a necessidade de testar de novo todas as propriedades do objeto. Muitos processos que atribuímos à qualidade de pensamento, são simplesmente o desenvolvimento da linguagem na criança. É a linguagem bem desenvolvida, a memória e a fantasia que possibilitam o nascimento do pensamento e do “eu”. Outra base fundamental para o desenvolvimento do pensamento é a memória. A criança desenvolve a memória em três etapas: primeiro de modo localizado, depois de modo rítmico e por fim de modo lógico. A primeira maneira de recordação surge no primeiro ano de vida, quando a criança associa locais à acontecimentos, como por exemplo ao chorar quando está no trocador. A segunda forma se associa ao ritmo das palavras e dos sons, sendo desenvolvida ao longo do segundo ano. Após a conquista da linguagem ela passa a manifestar a memória lógica. Ao longo do segundo ao terceiro ano de vida, acontece o desenvolvimento da fantasia e do brincar. Até então, obviamente a criança brinca, mas a partir dessa idade ela adiciona a fantasia nas brincadeiras. A fantasia e o brincar estão intimamente ligados, sendo impossível conceber brincadeira sem fantasia e fantasia sem brincadeira. O interesse pela brincadeira de um companheiro auxiliará a criança a estabelecer contato com o outro gradativamente, despertando o interesse de brincar com pessoas próximas e gradualmente compreendendo as regras de convivência. A brincadeira ou a atividade lúdica é parte integrante do desenvolvimento psíquico da criança. Durante o brincar é desenvolvida a percepção visual, a coordenação motora, a atenção, a linguagem, a memória e a imaginação. Algumas atividades podem ajudar na aprendizagem e desenvolvimento infantil, tais como brincadeiras de movimento ao ar livre, artes com a utilização de diversas técnicas, contação de histórias, dança e música, modificação da decoração da sala onde fica a criança. Um ambiente amplo e arejado auxiliará a prática pedagógica. A escola é um ambiente que torna possível à criança experimentar novas relações com o adulto e com outras crianças, bem como proporcionar atividades socialmente necessárias seu desenvolvimento integral. Outro evento que acontece na vida das crianças, neste período entre os 2 e 3 anos de idade, é o nascimento do “eu”. Assim que a linguagem e fantasia, junto com o brincar, se desenvolvem suficientemente, a criança começa a perceber-se como sendo um “eu”. Este conhecimento acarreta um outro ponto típico desta fase da vida da criança: a teimosia. Desde o momento em que aprendeu a andar, diferenciando-se materialmente do mundo circundante, até adquirir a fala e se apoderar de muitos objetos e coisas, a criança não era realmente “eu”, aceitando mais ou menos de bom grado tudo que lhe era imposto. Então, a partir do terceiro ano, ela começa a relacionar tudo isso que conquistou à sua vontade. Esta afirmação é manifestada muitas vezes como teimosia. Os tutores precisam, nesse momento, dar o exemplo do perdão, da paciência e da compreensão, porém colocando limites claros ao comportamento. 7. O Estádio Pré-Operatório ou Simbólico Segundo Piaget No período pré-operatório, entre 2 a 7 anos de vida, ocorre a transição entre a inteligência propriamente sensório-motora e a inteligência representativa. Essa passagem não acontece com uma mutação brusca, mas com mudanças graduais e sucessivas. Após alcançar o pensamento representativo, a criança necessita reconstruir o objeto, o tempo, o espaço, as categorias lógicas de classes e relações, em um novo plano da representação. Esta reconstrução prossegue dos dois aos doze anos, com os estádios pré-operatório e operatório concreto. A primeira fase dessa reconstrução, que Piaget denomina período pré- operatório, é caracterizada pela representação simbólica. A criança não pensa, no sentido estrito desse termo, mas enxerga mentalmente o que evoca. O mundo para ela não está organizado em categorias lógicas gerais, mas está disperso em elementos particulares, individuais, relacionados com sua experiência pessoal. O egocentrismo intelectual é a forma básica assumida pelo pensamento da criança neste ponto. Seu raciocínio ocorre por analogias, por transdução, visto que carece de um verdadeiro raciocínio lógico. A ocorrência da capacidade de representação possibilita o desenvolvimento da função simbólica, principal aquisição desta fase, assumindo as suas diferentes formas: a linguagem, a imitação diferida, a imagem mental, o desenho e o jogo simbólico, entendidas como meios de expressão daquela função. Para Piaget, a transição da inteligência sensório-motora para a inteligência representativa ocorre pela imitação. Imitar, no sentido estrito, quer dizer reproduzir um modelo. Presente no período sensório-motor, a imitação só se interioriza no sexto sub-estágio, quando a criança pratica o “faz-de-conta”, agindo “como se”, através de imitação deferida ou imitação interiorizada. Interiorizando-se a imitação, as imagens são elaboradas e substituem os objetos dados à percepção. O significante dissocia-se do significado, possibilitando a elaboração do pensamento representativo. A inteligência acessa, desse modo, o nível da representação, através da interiorização da imitação que, por seu lado, é favorecida pela instalação da função simbólica. A criança pode acessar, dessa maneira, à linguagem e ao pensamento. Ela pode elaborar também imagens que lhe permitem, de certo modo, transpor o mundo para a sua cabeça. Ao redor de 2 e 5 anos, a criança adquire a linguagem, formando, de algum modo, um sistema de imagens. No entanto, a palavra não possui ainda, para ela, o valor de um conceito, apenas evocando uma realidade particular ou seu correspondente imagístico. Com a necessidade de reconstruir o mundo no plano representativo, ela o reconstrói a partir de si mesma. O egocentrismo intelectualestá no ápice no transcorrer dessa etapa. O predomínio do pensamento por imagens, aprisiona a criança em si mesma. O pensamento imagístico egocêntrico, típico desta fase, pode ser visto no jogo simbólico, em que a criança modifica o real ao sabor das necessidades e dos desejos do momento. O real é modificado pelo pensamento simbólico, na proporção em que o jogo é desenvolvido, ao sabor das exigências do desejo expresso através do jogo. É em função disso que Piaget considera o jogo simbólico como o egocentrismo em estado puro. Um pensamento dominado pelo simbolismo fundamentalmente particular, pessoal e, em função disso, incomunicável, não consiste em um pensamento socializado. Ele não se baseia em conceitos, mas no que Piaget denomina pré- conceitos, que são particulares, no sentido de evocar realidades particulares, possuindo seu correlato imagístico ou simbólico próprio à experiência de cada criança. Entre os 5 e 7 anos, período normalmente designado como “intuitivo”, acontece uma evolução que direciona a criança, gradualmente, à maior generalidade. Seu pensamento agora se baseia sobre configurações representativas de conjunto mais abrangentes, porém ainda está dominado por elas. A intuição é um tipo de ação realizada em pensamento e enxergada mentalmente: transvasar, encaixar, seriar, deslocar, continuam sendo esquemas de ação aos quais a representação assimila o real. Porém, a intuição é, por outro lado, um pensamento imagístico, referindo-se a configurações de conjunto e não mais sobre coleções sincréticas, como no período antecedente. No pensamento da criança entre dois e sete anos, predomina a representação imagística de caráter simbólico. A criança considera as imagens como substitutos do objeto e pensa relacionando as imagens. A criança pode, ao invés de agir sobre os objetos, agir mentalmente sobre seu substituto ou imagem, ao qual ela nomeia. Procedente da interiorização da imitação, a representação simbólica tem o caráter estático da imitação, razão pela qual versa, fundamentalmente, sobre as configurações, em oposição às transformações. Quando se instalam as estruturas operatórias do período seguinte, a imagem vai se subordinar às operações. Na transição da ação sensório-motora para a representação, através da imitação, torna-se possível apreender as ligações entre as operações e a ação, fazendo mais compreensível a origem de determinados distúrbios dos processos figurativos: espaço, tempo, esquema corporal e outros. Considerações finais A Psicologia do Desenvolvimento é uma disciplina básica na Pedagogia, possibilitando conhecer e trabalhar tanto com as crianças como com os adolescentes e adultos. Apoia o educador, indicando quais as habilidades, capacidades e limitações de cada faixa etária, nos vários aspectos da personalidade, auxiliando-o no estabelecimento de programas escolares e metodologias de ensino adequadas, bem como em programas esportivos e recreativos. A teoria de Vigotsky proporcionou, para a Psicologia e para a educação de modo geral, uma nova maneira de enxergar o desenvolvimento humano. Suas teses valorizam a escola e o professor, oferecendo elementos fundamentais para a compreensão da integração entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento, esclarecendo que as conquistas individuais são resultantes de um processo compartilhado, e que o individual é dependente do social. Os três primeiros anos da infância são importantíssimos para todo o desenvolvimento posterior da criança. É durante esse período que ela realiza três grandes conquistas: o andar ereto, o aprendizado da língua materna e as primeiras manifestações do intelecto, com o desenvolvimento do pensar. Os estudos dos autores Karl König e Valeria Mukhina são complementares e demonstram diversos aspectos importantes para que a criança atinja cada uma das três conquistas típicas da primeira infância. Através de tudo isso e das contribuições da Base Nacional Comum curricular, pode-se determinar várias atividades adequadas para cada fase do desenvolvimento da criança, conforme cada campo de experiência e com os eixos estruturantes da educação infantil. É preciso compreender que não é o volume de atividades ou conhecimentos que é importante, mas sim a qualidade deles e o quanto a criança assimila aquilo que é proposto. O professor precisa respeitar as singularidades de cada criança, entendendo as diferentes relações que ele estabelece com o conhecimento. Uma reflexão permanente sobre a prática, a formação continuada, a intencionalidade ao educar são proposições fundamentais para que o processo de ensino-aprendizagem seja bem-sucedido. Assista o filme no link abaixo, complementando suas reflexões sobre o tema: Psicologia do Desenvolvimento Infantil https://www.youtube.com/watch?v=EnRlAQDN2go https://www.youtube.com/watch?v=EnRlAQDN2go Bibliografia – Literatura Complementar BASTOS, Alice Beatriz Barretto Izique. Wallon e Vigotsky: Psicologia e educação. São Paulo: Edições Loyola, 2014. Hanna Segal. Introdução a obra de Melanie Klein, 1ª Edição - 1975, Editora: Imago, ISBN 8531208327 KÖNIG, Karl. Os três primeiros anos da criança: A conquista do andar, do falar, e do pensar, e o desenvolvimento dos três sentidos superiores. 5 ed. rev. e atual. São Paulo: Antroposófica. 2011. MUKHINA, Valeria. Psicologia da idade pré-escolar. 1.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995 PALANGANA, Isilda Campaner. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vigotski: a relevância do social. 6.ed. São Paulo: Summus, 2015. https://pt.wikipedia.org/wiki/Especial:Fontes_de_livros/8531208327
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