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<p>SENTENÇA</p><p>Trata-se de ação indenizatória em virtude de acidente de trânsito, ajuizada por XX em desfavor de XX e XX, todos devidamente qualificados.</p><p>Alega a parte autora, em síntese, que na data de 27/03/2012, por volta das 09h50, na BR-153, KM 503, foi vítima de acidente de trânsito, no momento em que o veículo conduzido pelo segundo réu, de propriedade do primeiro réu, invadiu a pista central, sem realizar a devida sinalização, ocasionando o trágico acidente automobilístico.</p><p>Menciona que, em razão do acidente, ficou com sequelas de caráter permanente, que gerou redução da capacidade laborativa, danos estéticos, danos morais, materiais e lucros cessantes, razão pela qual ingressa com a presente ação reparatória.</p><p>Deferido o pedido de justiça gratuita (fl. x).</p><p>Devidamente citado, o réu X pugnou pela improcedência dos pedidos iniciais, sob a alegação de que não foi o causador do acidente (evento X).</p><p>Impugnação à contestação (evento X).</p><p>Em evento X, foi determinada a citação editalícia do réu XX.</p><p>Contestação por negativa geral apresentada pelo curador especial (evento X).</p><p>A parte autora manifestou interesse no julgamento antecipado do feito (evento X).</p><p>Vieram os autos conclusos.</p><p>É o relatório.</p><p>I – FUNDAMENTAÇÃO</p><p>Tenho como praticável o julgamento antecipado da lide. Com efeito, as questões debatidas, de direito e de fato, dispensam a produção de qualquer outra prova, bastando as documentais, existentes nos autos, razão pela qual conheço diretamente do pedido, nos termos do art. 355, inciso I, do CPC.</p><p>Presentes os pressupostos processuais e inexistindo questões preliminares a serem analisadas, adentro ao mérito da demanda.</p><p>Pois bem.</p><p>Por meio desta ação, o requerente pretende a condenação dos requeridos ao pagamento de indenização por danos morais, materiais e estéticos e lucros cessantes em razão de acidente de trânsito, que ocasionou lesões de caráter permanente no autor.</p><p>Os fatos narrados nos autos são causa prevista na Teoria da Responsabilidade Civil Subjetiva, prevista no art. 186, do CC, que dispõe que: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.</p><p>A responsabilidade subjetiva tem por base a comprovação da culpa do lesante, circunstância que se verifica pela constatação de ter havido imprudência, negligência ou imperícia no comportamento lesivo, estabelecendo um nexo de causalidade entre a violação do direito causador do dano e a conduta ilídima.</p><p>Desse liame subjetivo é que se extrai o dever de indenizar, porque revelador de direta associação entre o agir do sujeito e o resultado, daí surgindo a obrigação de indenizar. Isso ocorre ainda que o agente não tenha desejado o resultado final produzido, bastando que tenha portado com culpa.</p><p>Resta claro dos presentes autos a ocorrência do acidente de trânsito, a existência do dano e o nexo causal entre o fato e o dano.</p><p>Em relação à existência do fato, dúvidas não há de que ocorreu o abalroamento entre o veículo do autor e dos réus, conforme se extrai do Boletim de Ocorrência constante na inicial.</p><p>Sobre o acidente de trânsito em discussão assim narra o boletim de ocorrência: “XXXX”</p><p>Desse modo, analisando o fato apurado, tenho que a causa determinante da colisão se deu por culpa exclusiva do V2, de propriedade do réu X, conduzido pelo corréu X, que realizou a manobra de mudança de faixa sem a devida cautela necessária, vindo a ocasionar o acidente relatado, descumprindo as regras dos arts. 28, 34 e 35, Parágrafo único, do Código de Trânsito Brasileiro, in verbis:</p><p>Art. 28 - O condutor deverá, a todo momento, ter domínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito.</p><p>Art. 34 - O condutor que queira executar uma manobra deverá certificar-se de que pode executá-la sem perigo para os demais usuários da via que o seguem, precedem ou vão cruzar com ele, considerando sua posição, sua direção e sua velocidade.</p><p>Art. 35 - Antes de iniciar qualquer manobra que implique um deslocamento lateral, o condutor deverá indicar seu propósito de forma clara e com a devida antecedência, por meio da luz indicadora de direção do veículo, ou fazendo gesto convencional com o braço.</p><p>Parágrafo Único - Entende-se por deslocamento lateral a transposição de faixas, movimentos de conversão à direita, à esquerda e retornos.”</p><p>O réu sabia – ou deveria ao menos prever – que ao se deslocar da faixa esquerda para a central sem os devidos cuidados, poderia, sim, colidir com um veículo que viesse por aquela faixa, no entanto, preferiu desprezar a possibilidade do acidente que, diga-se de passagem, causou danos no veículo e lesões na vítima.</p><p>Desta forma, em considerando o entendimento de que a culpa pelo acidente foi da parte ré, e sendo que é obrigação do condutor do veículo que almeja a transposição de faixas certificar-se de que poderá realizar tal manobra de forma segura, tenho que deva a parte ré indenizar o autor pelos danos materiais sofridos.</p><p>Nesse sentido é o entendimento jurisprudencial:</p><p>RECURSO INOMINADO. REPARAÇÃO DE DANOS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO LATERAL. MUDANÇA DE FAIXA APÓS ULTRAPASSAGEM EM RODOVIA DE PISTA DUPLA. CULPA EXCLUSIVA DO AUTOR. DEVER OBJETIVO DE CUIDADO. MANOBRA EXCEPCIONAL. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005759964, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Regis de Oliveira Montenegro Barbosa, Julgado em 10/12/2015) (grifei).</p><p>RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. MANOBRA DE TRANSPOSIÇÃO DE FAIXA EM RODOVIA. COLISÃO LATERAL EM MOTOCICLISTA. COMPROVAÇÃO DA COMPATIBILIDADE E CORREÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO PARA O CONSERTO DA MOTOCICLETA. 1. Restando comprovado, por intermédio do Boletim de Ocorrência Policial (fl. 18), que o condutor do veículo da ré empreendeu manobra de mudança de faixa, tendo em função disso provocado a colisão lateral na motocicleta do autor, com danos na moto e lesões no autor, indiscutível a responsabilidade da demandada no evento danoso, já que patente a culpa exclusiva de seu preposto. 2. Por outro lado, comprovada a compatibilidade das peças e serviços orçados com os danos verificados na motocicleta e estando o valor pleiteado, ainda que corresponda a aproximadamente metade do valor de mercado da moto, embasado em três orçamentos, não prevalece a impugnação feita à indenização relativa ao conserto da motocicleta do autor. Sentença confirmada por seus próprios fundamentos. Recurso improvido. (Recurso Cível Nº 71002925311, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em 28/04/2011) (grifei).</p><p>De mais a mais, insta salientar que é pacífico o entendimento do TJGO e dos Tribunais Superiores que o proprietário do veículo responde solidariamente com o condutor pelos danos que este causar a terceiros na condução do veículo TJGO, APELACAO CIVEL 275680-74.2012.8.09.0029, Rel. DES. NORIVAL SANTOME, 6A CAMARA CIVEL, julgado em 04/11/2014, DJe 1669 de 13/11/2014. Assim, o réu X, proprietário do veículo causador do acidente, possui responsabilidade solidária em relação ao condutor X.</p><p>Com relação aos danos materiais causados no veículo do autor, este apresentou três orçamentos, os quais guardam proporcionalidade entre si e com os danos causados em seu veículo. Assim, tendo em vista a responsabilidade solidária dos réus, deverão eles reparar os danos materiais causados ao autor, no valor do menor orçamento apresentado, qual seja, R$3.052,03 (três mil e cinquenta e dois reais e três centavos).</p><p>É assente na jurisprudência que não basta simplesmente impugnar os orçamentos apresentados; é preciso produzir prova para elidi-los. Assim, se os orçamentos estão valores elevados, deveria o réu apresentar contraprova idônea que afastasse os orçamentos juntados pelo autor na inicial.</p><p>Não obstante, não se pode levar em conta o valor do veículo que sofreu o estrago, uma vez que os valores das peças são calculados com base em um veículo novo. Além das peças trocadas, tem-se</p><p>ainda o valor pago referente à mão de obra pelo serviço executado.</p><p>Quanto ao pleito indenizatório em virtude do afastamento do serviço, aqui entendido como lucros cessantes, vejo que parte autora não logrou êxito em demonstrar que teve perda de renda no período de afastamento informado na inicial.</p><p>Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o estabelecimento de indenização por lucros cessantes exige comprovação objetiva de que os lucros seriam realizados sem a interferência do evento danoso.</p><p>Assim, não tendo o autor juntado aos autos o comprovante de renda idôneo declarado junto à Receita Federal, torna-se incerta a este juízo a base de cálculo para eventual concessão dos lucros cessantes.</p><p>Pugna, ainda, a parte autora pela condenação dos réus em pensionamento vitalício, nos termos do artigo 950 do Código Civil. Prevê o citado artigo que “se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu”.</p><p>Assim, para que se tenha direito à pensão mensal vitalícia, se faz imprescindível que a parte comprove ao menos uma redução de sua capacidade laborativa, o que não ocorreu na espécie.</p><p>Nesse sentido:</p><p>EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRÂNSITO E PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA. DANO MORAL. ARBITRAMENTO. MAJORAÇÃO. PENSIONAMENTO MENSAL VITALÍCIO INDEVIDO. DESPESAS MÉDICAS FUTURAS AFASTADAS. 1. (...) 2. Não obstante as lesões sofridas pela vítima, se não há prova da redução de sua capacidade laborativa, resta incabível o deferimento do pensionamento mensal pretendido. 3. (...) APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. SENTENÇA EM PARTE REFORMADA. (TJGO, 5ª CC, AC n. 0082234-97.2017, Rel. Des(a). ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO, DJe de 25/01/2021)</p><p>Com efeito, ainda que o autor tenha sido acometido por uma limitação funcional permanente no punho direito, inexistem provas concretas que atestem, ao menos, a redução da sua incapacidade laboral, motivo pelo qual deve ser rejeitado o pedido de pensionamento vitalício.</p><p>Passo à análise do dano estético e dano moral.</p><p>O dano estético, geralmente, é indenizável independentemente dos danos morais suportados pela vítima, considerada a perfeita distinção entre eles (Súmula nº 387 do STJ).</p><p>Outrossim, a condição sine quan non à caracterização do dano estético, que justifica a indenização, é a ocorrência de efetiva e permanente transformação física na vítima.</p><p>A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que o dano estético somente se caracteriza quando existente deformidade que acarrete mudança na aparência física da vítima (STJ – REsp: 1637884 SC 2013/0286689-4, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 20/02/2018, Terceira Turma, Data de Publicação: 23/02/2018).</p><p>Do compulso dos autos, não verifico nenhuma prova do dano estético alegado, razão pela qual o pedido de indenização não merece prosperar.</p><p>O dano moral, por sua vez, é modalidade de responsabilidade civil que busca reparar os prejuízos psíquicos causados à vítima de um ato ilícito ou de um abuso de direito.</p><p>O evento danoso em questão trouxe desconforto, dor, sofrimento, exacerbado ao autor, transtornos estes que acarretam o abalo moral, interferindo em seu ânimo, gerando perturbação emocional em virtude dos fatos a qualquer cidadão.</p><p>Evidente o sofrimento físico e psíquico do autor diante da ofensa à sua integridade física e saúde, conjuntamente às preocupações e transtornos experimentados, além das sequelas que restaram do acidente, tendo tal situação potencial para fazer surgir o direito à indenização. A jurisprudência é pacífica no sentido de afirmar que a ofensa a qualquer direito da personalidade enseja a ocorrência do dano moral.</p><p>Assim sendo, demonstrado nos autos a ocorrência do acidente e do dano dele decorrente, nasce o direito à reparação àquele que injustamente sofreu o prejuízo.</p><p>No caso em apreço, tem-se devida a indenização por danos morais, porquanto, conforme o contexto dos fatos, o autor sofreu transtornos, aborrecimentos que exorbitam o normal dissabor. Assim, arbitro a indenização por danos morais no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais).</p><p>Por fim, quanto ao pedido de condenação da parte autora em litigância de má-fé, denoto que não estão presentes os requisitos autorizadores.</p><p>Embora a parte autora não tenha comprovado os fatos constitutivos do seu direito, em sua totalidade, não identifiquei nenhum elemento capaz de caracterizar a ocorrência da hipótese prevista no inciso III, do artigo 80, do Código de Processo Civil, não havendo, portanto, em que se falar em aplicação das sanções previstas.</p><p>Até porque, o simples fato de a parte autora não ter logrado êxito em parte dos seus pedidos, a meu ver, não pode se interpretado como circunstância caracterizadora da prática de litigância de má-fé.</p><p>II – DISPOSITIVO</p><p>Ante o exposto, com fulcro no artigo 487, inciso I do CPC, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na exordial para CONDENAR os réus a pagar ao autor, o valor de:</p><p>a) R$3.052,03 (três mil e cinquenta e dois reais e três centavos), a título de DANOS MATERIAIS, corrigidos monetariamente desde a data do prejuízo (súmula 43 do STJ) e juros de mora à razão de 1% ao mês, contados do evento danoso (súmula 54 STJ);</p><p>b) R$8.000,00 (oito mil reais), a título de DANOS MORAIS, devendo ser corrigido até a data do efetivo pagamento, sendo que a correção monetária deverá incidir a partir do arbitramento (Súmula 362 do STJ) pelo índice INPC, e os juros de 1% (um por cento) ao mês a partir do evento danoso (Súmula 54 do STJ).</p><p>Face à sucumbência recíproca, com base no art. 86 do CPC, condeno cada parte ao pagamento de metade das custas processuais, bem como dos honorários advocatícios, ora fixados no percentual de 10% sobre o valor atualizado da condenação (art. 85, § 2º, CPC). Ao procurador de cada parte caberá a metade da verba honorária fixada. Suspensa a exigibilidade em relação à autora, observada a gratuidade da justiça (art. 98, § 3º, CPC).</p><p>Fixo honorários advocatícios ao curador especial, no valor correspondente a 04 (quatro) UHD's, a cargo do Estado de Goiás, devendo ser expedida a correspondente certidão.</p><p>Publicada e registrada nesta data. Intimem-se.</p><p>Opostos embargos de declaração, intime-se a parte contrária (embargado) para as contrarrazões, no prazo de 05 (cinco) dias.</p><p>Na hipótese de interposição de recurso apelação, intime-se a parte contrária para que ofereça contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias (CPC, art.1.010, § 1º).</p><p>Havendo recurso adesivo, intime-se a parte contrária para resposta ao recurso (CPC, art. 1.010, § 2º).</p><p>Após o trânsito, arquivem-se com as devidas anotações e baixas.</p><p>Local, datado e assinado digitalmente.</p>