Prévia do material em texto
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 62ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE SERRAVILLE – ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Processo nº 00008987-98.2023.4.5.0031 JOANA BRADIBURGO DUMONT, brasileira, solteira, (profissão), inscrita no cadastro de pessoas físicas sob o nº (,,,), residente à Rua das Margaridas, 34, Condomínio Vale Verde, Serraville/RS, cep: (...), com endereço eletrônico: (...), por seu advogado devidamente constituído (instrumento de mandato anexo), vem à presença de Vossa Excelência, fulcro nos arts. 752 e 335 do CPC, apresentar CONTESTAÇÃO ao pedido inicial contra ela ajuizado por FLÁVIO DUTRA, devidamente qualificado nos autos em epígrafe. SINTESE DO PROCESSADO O relato apresentado pelo autor do processo destaca um incidente ocorrido em 15 de março de 2023, onde, segundo sua perspectiva, ele foi vítima de um acidente de trânsito enquanto conduzia seu veículo. Ele atribui a causa do acidente à suposta negligência da outra parte envolvida, que teria dirigido de maneira imprudente, resultando em uma colisão que lhe causou danos físicos e morais significativos. Diante dos eventos descritos, a parte contestante, sentindo-se prejudicada pelas alegações e pelos danos sofridos, optou por buscar reparação legal, recorrendo ao sistema judiciário para proteger e reivindicar seus direitos. Essa situação ilustra a complexidade das disputas de trânsito e a importância do processo legal para resolver tais questões. O sistema judiciário serve como um meio para as partes apresentarem suas versões dos fatos, fornecerem evidências e buscarem um veredicto justo baseado nos princípios do direito. É essencial que ambos os lados de um caso de acidente de trânsito tenham a oportunidade de serem ouvidos, e que um juiz imparcial avalie as circunstâncias, as provas apresentadas e determine a responsabilidade com base na legislação vigente. Acidentes de trânsito podem ter consequências devastadoras, não apenas em termos de danos materiais, mas também no que diz respeito ao impacto na saúde física e emocional dos envolvidos. Quando ocorrem lesões, o processo de recuperação pode ser longo e oneroso, e os danos morais podem afetar profundamente a qualidade de vida das pessoas. Por isso, é fundamental que o sistema de justiça possa oferecer um caminho para a compensação adequada, seja por meio de acordos ou de decisões judiciais, garantindo que os direitos das vítimas sejam respeitados e que haja um senso de justiça e reparação. No contexto legal, a narrativa de cada parte e a qualidade das provas são cruciais. Alegações de negligência exigem uma análise cuidadosa dos detalhes do incidente, como a velocidade dos veículos, as condições da via, o cumprimento das leis de trânsito e o comportamento dos motoristas no momento do acidente. Documentos como relatórios policiais, depoimentos de testemunhas, registros médicos e outras formas de evidência são fundamentais para estabelecer a verdade dos fatos e ajudar na determinação da responsabilidade. PRELIMINARMENTE 1. DA NULIDADE DE CITAÇÃO O Artigo 238 do Código de Processo Civil estabelece claramente o conceito de citação. A ausência de uma citação válida impede a perfeição da relação processual. Para assegurar a abertura efetiva do contraditório e a ampla defesa durante a relação processual, é essencial que a citação seja realizada conforme os termos exatos do Artigo 239 do mesmo código. A partir das informações contidas nos autos, é possível verificar que Joana Bradiburgo tomou conhecimento da ação devido a um erro na citação, que foi enviada para o e-mail de sua tia, cujo primeiro nome é idêntico ao seu. Apesar da possibilidade de citação eletrônica, conforme estabelecido pelo Artigo 246 do Código de Processo Civil, esta deve ser realizada através dos endereços eletrônicos indicados pelo citando no banco de dados do Poder Judiciário, de acordo com o regulamento do Conselho Nacional de Justiça. No caso em questão, foi utilizado um e-mail de terceiro fornecido pelos autores, o que não está em conformidade com as normas legais. O Código de Processo Civil é explícito ao estabelecer, em seu Artigo 242, que a citação será pessoal. Isso, obviamente, não ocorreu durante a instrução processual, tornando a citação nula de pleno direito e violando o direito ao contraditório garantido pela Constituição. 2. DA INDEVIDA CONCESSÃO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA Dessume-se da leitura do disposto no art. 100 do Código de Processo Civil, a possibilidade de impugnação ao pedido de gratuidade de justiça, conforme se apresenta in verbis: Art. 100. Deferido o pedido, a parte contrária poderá oferecer impugnação na contestação, na réplica, nas contrarrazões de recurso ou, nos casos de pedido superveniente ou formulado por terceiro, por meio de petição simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, nos autos do próprio processo, sem suspensão de seu curso. Destarte, verifica-se que quando da interposição da ação de Responsabilidade Civil por Danos Materiais e Morais, o autor alegou que está desempregado, não possuindo condições de arcar com as despesas decorrentes da instrução processo, apresentando, para tanto, carteira de trabalho em branco. Ocorre que tal afirmação não condiz com a realidade econômica deste, até porque, em que pese a juntada aos autos da carteira de trabalho, o autor é proprietário de uma movimentada loja de roupas no centro da cidade. Desta forma, preliminarmente, é imperiosa a revogação do benefício da justiça gratuita concedida ao autor, principalmente, visando não banalizar o instituto. IMPUGNAÇÕES DE MÉRITO DA PRESENTE CONTESTAÇÃO 1. DA EXISTÊNCIA DE CIRCUNSTÂNCIAS IMPREVISÍVEIS E INCONTROLÁVEIS AO CONTRÁRIO DAS AFIRMAÇÕES FEITAS PELO AUTOR, A REQUERIDA EM NENHUM MOMENTO AGIU DE FORMA NEGLIGENTE. O acidente em questão transcorreu em um contexto de intensas chuvas e visibilidade reduzida, circunstâncias climáticas imprevisíveis e incontroláveis que afetaram todas as partes envolvidas. Essas condições adversas tornaram a tarefa de conduzir veículos extremamente desafiadora, elevando significativamente o risco de acidentes. É crucial enfatizar que a contestante, ao dirigir seu veículo, estava em total conformidade com todas as normas de trânsito vigentes, respeitando os limites de velocidade e mantendo uma distância segura dos outros veículos. No entanto, apesar de todos os cuidados e atenção, as condições meteorológicas excepcionalmente adversas tornaram a estrada escorregadia e a visibilidade praticamente nula, o que fez do acidente algo praticamente inevitável. Dessa forma, a parte ré não pode ser responsabilizada pelos danos materiais e morais alegados pelo autor, uma vez que o evento ocorreu devido a circunstâncias completamente fora de seu controle e vontade. Portanto, a improcedência da ação é a medida mais justa, considerando que a contestante não tinha como prever ou mesmo evitar o incidente. 2. DA NÃO OCORRÊNCIA DE DANOS MORAIS No que diz respeito aos danos morais, conforme pleitos constantes da exordial apresentada pelo autor, cabe destacar que a simples ocorrência de um acidente, por si só, não é suficiente para configurar a responsabilidade por danos morais. A responsabilidade por danos morais exige a existência de uma causa direta e comprovada entre a conduta da parte ré e o dano moral alegado. Em outras palavras, deve haver uma relação de causalidade clara e indiscutível entre a ação ou omissão do réu e o sofrimento psicológico experimentado pelo autor. Assim, o simples aborrecimento ou desconforto decorrente de um acidente, por mais desagradável que seja, não configura, por si só, um dano moral indenizável. A jurisprudência exige que o sofrimento psíquico seja significativo, resultando em um abalo emocional substancial que ultrapasse os limites do cotidiano. Assim, contesta-se veementemente a alegação de danos morais causados ao autor em decorrência do acidente. Inequívoco, portanto, que não há evidências sólidas que demonstrem a relação direta entre a conduta da parte ré e o suposto abalo emocional sofridopelo autor. Além disso, as circunstâncias do acidente, conforme anteriormente argumentado, foram imprevisíveis e incontroláveis devido às condições climáticas adversas. 3. CULPA CONCORRENTE Ad cautelam, caso Vossa Excelência não entenda pela improcedência da ação devido à ausência de responsabilidade por parte da contestante, é imperativo considerar a possibilidade de culpa concorrente entre as partes envolvidas no acidente. A culpa concorrente ocorre quando tanto o autor quanto a parte ré contribuem para a ocorrência do evento danoso. Neste sentido, cumpre trazer à elucidação deste D. Juízo que o autor, Flávio Dutra, ao realizar uma manobra abrupta e inesperada, cortando a trajetória da parte ré, também desempenhou um papel significativo no desencadeamento do acidente. Tal conduta, em um momento de condições climáticas adversas, aumentou o risco de colisão. Ademais, as condições climáticas de fortes chuvas e baixa visibilidade demandavam uma condução extremamente prudente por parte de todos os motoristas. A parte ré, ciente dessas condições adversas, manteve uma velocidade compatível com a situação e adotou as precauções necessárias. No entanto, a manobra repentina do autor tornou difícil evitar o acidente, mesmo com a devida prudência. Neste contexto, dessume-se da leitura do art. 945 do Código Civil, "se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano", norma a qual deverá ser aplicada ao presente caso. Dessa forma, a avaliação da responsabilidade deve considerar a contribuição de ambas as partes para o acidente, considerando que o autor também teve participação na ocorrência do acidente devido à manobra abrupta em condições climáticas adversas, requer a Vossa Excelência que, ao analisar a responsabilidade pelo evento, leve em consideração a possível culpa concorrente entre as partes. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS FINAIS Ex positis, requer o recebimento e processamento da presente contestação para o fim de: I. O acolhimento da preliminar aventada, declarando-se a nulidade da citação, procedendo a anulação de todos os atos subsequentes e a revogação das benesses da gratuidade de justiça concedida ao autor, por não ser este pobre na acepção jurídica do termo. II. Quanto ao mérito, em não sendo acolhida a preliminar de nulidade de citação, sejam os autos julgados improcedentes ante a inexistência de responsabilidade por parte da contestante para o evento danoso, condenando o autor ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, à razão de 20% do valor da ação. III. Alternativamente, na remota hipótese de não serem os autos julgados improcedentes, requer a Vossa Excelência que, ao analisar a responsabilidade pelo evento, leve em consideração a possível culpa concorrente entre as partes, reduzindo o valor da indenização. IV. Protesta por todos os meios de direito admitidos para comprovar os fatos alegados. Nestes Termos, Pede e Espera Deferimento. Serraville, dia, mês e 2023. Nome e Assinatura do Advogado OAB/XX n° (...)