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<p>SENTENÇA</p><p>Trata-se de ação de rescisão contratual c/c restituição de valores pagos, ajuizada por XX em desfavor de XX, ambas qualificadas.</p><p>Aduz a parte autora, em síntese, que, em 21/12/2018, adquiriu junto à empresa ré um imóvel no empreendimento denominado XX, localizado à Avenida XX, Setor XX, com entrega prevista para 30/08/2019, o que não ocorreu.</p><p>Por tal razão, solicitou a rescisão do contrato e a devolução das quantias pagas junto à requerida, todavia lhe foi cobrada a multa contratual, o que entende ser inadmissível, visto que a rescisão se deu por culpa exclusiva da empresa ré.</p><p>Assim, ingressa com a presente ação de rescisão contratual c/c devolução dos valores pagos.</p><p>Juntou documentos.</p><p>Em decisão inicial, foi deferido o benefício da justiça gratuita e indeferido o pedido de tutela de urgência (evento X).</p><p>Audiência de conciliação realizada sem acordo (evento X).</p><p>Em evento X, foi determinada a realização de prova pericial.</p><p>Em evento X, a parte ré manifestou pela desnecessidade da produção de prova pericial.</p><p>Em evento X, foi cancelada a realização da prova pericial, bem como decretada a revelia da parte ré.</p><p>Vieram os autos conclusos.</p><p>É o relatório.</p><p>I – FUNDAMENTAÇÃO</p><p>O feito comporta o julgamento antecipado, nos termos do artigo 355, inciso I, do CPC por versar apenas sobre matéria de direito, não se fazendo necessária a produção de provas em audiência.</p><p>Cuida-se de ação rescisória em que a parte autora objetiva rescisão contratual e a consequente devolução do valor pago.</p><p>Aplica-se ao presente caso, o Código de Defesa do Consumidor pois, com a sua edição, visou o legislador harmonizar a sobredita relação de consumo, equilibrando economicamente o relacionamento entre consumidor e fornecedor, propiciando àquele, por conseguinte, a facilitação de seu acesso aos instrumentos de defesa, com o estabelecimento da responsabilidade objetiva aliada à inversão do ônus da prova.</p><p>Assim, tenho que a relação formada entre uma construtora/incorporadora e a adquirente do imóvel é regida pelo Código Protecionista, pois que os contratos firmados são reconhecidamente adesivos.</p><p>Além dos efeitos da revelia, noto que a parte autora trouxe aos autos indícios de que, até a propositura da ação, não houve a efetiva entrega do imóvel objeto do contrato firmado com a ré.</p><p>Analisando o contrato em questão, verifico que restou avençado que a data prevista para entrega das chaves seria em 30/08/2019.</p><p>Dessa forma, tendo em vista que não há provas de que o empreendimento foi disponibilizado ao cliente dentro do prazo previsto em contrato, verifico que houve o atraso na entrega da obra, sem que em nenhuma hipótese pode a ré tentar imputar a terceiros e fatos externos a demora na entrega do imóvel do autor, mormente pelo fato de que existe cláusula de prorrogação que limita o prazo máximo aceitável.</p><p>Nesse sentido:</p><p>APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. ATRASO NA ENTREGA DE INFRAESTRUTURA DE EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO. COMISSÃO DE CORRETAGEM. INOVAÇÃO RECURSAL. CULPA EXCLUSIVA DA PROMITENTE VENDEDORA. DIREITO DE RESTITUIÇÃO INTEGRAL. INVERSÃO DA CLÁUSULA PENAL ESTIPULADA APENAS EM FAVOR DA PARTE VENDEDORA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA. IPTU. JULGAMENTO ULTRA PETITA. EXCESSO. EXTIRPAÇÃO. 1. Em relação à tese afeta à comissão de corretagem, cumpre assinalar que tal alegação não pode ser conhecida, posto que se constitui em inovação recursal, uma vez que a referida matéria não foi objeto de discussão ao longo do processo ou mesmo de exame na sentença recorrida. 2. Comprovado que o atraso na entrega das obras de infraestrutura do loteamento se deu por culpa exclusiva da empresa requerida, esta deve assumir os encargos daí advindos. 3. Ante a culpa exclusiva da vendedora relativamente ao descumprimento dos termos pactuados, deve ocorrer a restituição integral das parcelas pagas pelo comprador (Súmula 543 do STJ). 4. O STJ, em apreciação da matéria em RE, pelo rito dos recursos repetitivos, entendeu ser possível a inversão de cláusula penal prevista apenas em desfavor do adquirente, conforme tese firmada no Tema Repetitivo 971/STJ. 5. Conquanto seja pacífico o entendimento jurisprudencial de que o mero inadimplemento contratual, por si só, não configura dano moral, é inquestionável a decepção daquele que não pode concretizar os seus anseios devido ao descaso injustificado da parte, descumpre sua obrigação e desarticula todo um projeto de vida planejado sobre um imóvel que não supre as expectativas esperadas. 6. Ao teor da Súmula 32 deste tribunal, ?a verba indenizatória do dano moral somente será modificada se não atendidos pela sentença os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da condenação?. 7. Em caso de rescisão de contrato de compra e venda de imóvel por culpa da promitente vendedora, a correção monetária das parcelas pagas, para efeitos de restituição, incide a partir de cada desembolso; e os juros de mora, a partir da citação válida (precedentes). 8. Incorre em julgamento ultra petita o julgador que, ao sentenciar o feito, decide além do que fora pleiteado pelas partes, hipótese em que se impõe o decote do excesso da condenação. APELO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESTA EXTENSÃO, DESPROVIDO. RECURSO ADESIVO DESPROVIDO. SENTENÇA ALTERADA DE OFÍCIO. (TJ-GO – AC: 0413812-92.2016.8.09.0087, Rel. DESEMBARGADOR CARLOS HIPÓLITO ESCHER, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação: 26/04/2021).</p><p>Com base nisso, então, impõe-se responsabilidade à ré pelo atraso na entrega do imóvel.</p><p>Assim, a rescisão contratual ocorre por culpa exclusiva da ré em vista do inadimplemento em entregar o imóvel na data pactuada na avença, fato este que constitui direito subjetivo, da parte autora, à resolução contratual, com a consequente devolução das quantias já pagas, em parcela única, devidamente corrigida.</p><p>A restituição deverá ser de forma integral, sem deduções, nos termos da Súmula 543 do Superior Tribunal de Justiça:</p><p>“Súmula nº 543: Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.”</p><p>Não há que se falar em retenção de quantias referentes à taxa de administração ou outros encargos contratuais que o autor tenha concordado anteriormente, haja vista que a rescisão contratual retorna as partes ao status quo e, ainda, deve-se levar em consideração que o caso dos autos não foi somente atraso na entrega, mas sim, falta de entrega, ou seja, o autor sequer teve a posse do bem.</p><p>Diante do que foi exposto, portanto, entendo razoável deferir à parte autora a restituição integral dos valores por ela pagos, eis que diante rescisão do contrato por culpa da ré, há a necessidade de retorno das partes ao status quo ante, conforme disposto nos artigos 417 e 418 do Código Civil.</p><p>II – DISPOSITIVO</p><p>Ante o exposto, nos termos do artigo 487, inciso I do CPC, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos da parte autora para DECLARAR rescindido o contrato firmado entre as partes e, de consequência, CONDENAR a ré a ressarcir, em parcela única, as quantias comprovadamente pagas a título de entrada e parcelas, corrigidas monetariamente pelo INPC a partir do efetivo desembolso (súmula 43 do STJ), acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir a citação (art. 406 Código Civil).</p><p>Condeno a parte ré ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, os quais fixo em 10% (dez por cento) do valor atualizado da condenação, nos termos do art. 85, § 2º do CPC.</p><p>Publicada e registrada nesta data. Intimem-se.</p><p>Caso ocorra a interposição de recurso de apelação, remetam-se os autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, independente de nova conclusão (art. 1.010, §3°, do CPC).</p><p>Oportunamente, arquivem-se, com as devidas anotações</p><p>e baixas.</p><p>Local, datado e assinado digitalmente.</p>