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<p>CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ</p><p>FEPI</p><p>COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO</p><p>ITAJUBÁ</p><p>2020</p><p>Unidade 6</p><p>Unidade 1.</p><p>O Processo de Paráfrase</p><p>Textual</p><p>Cristiane Rodrigues de Oliveira</p><p>Stella Maris Rodrigues Simões</p><p>- 2</p><p>Já discutimos que todas as aulas desta disciplina têm como base o texto, que é a unidade</p><p>de comunicação humana, atravessando nossas relações pessoais, profissionais, e, agora, também,</p><p>as do âmbito acadêmico.</p><p>O texto, além de cumprir determinadas premissas, precisa estar adequado à situação</p><p>comunicativa na qual está inserido, uma vez que cada tipo ou gênero textual apresenta</p><p>especificidades que devem ser respeitadas. Além disso, todos os elementos constantes em um texto</p><p>devem estar “amarrados” por meio de um mecanismo lógico, que faça sentido e seja claro para o</p><p>leitor.</p><p>Dessa forma, entendemos como um bom texto aquele que elenca todas as premissas</p><p>exigidas para a construção textual e, simultaneamente, atende ao tipo de texto solicitado, devendo</p><p>estar adequado à situacionalidade comunicativa.</p><p>Ao produzirmos um texto, oral ou escrito, verbal ou não verbal, articulamos em unidade</p><p>sentidos já disponíveis na sociedade. Sendo assim, todo texto pode ser parafraseado em outro. A</p><p>paráfrase é um recurso de intertextualidade que consiste em trabalharmos com</p><p>sentidos disponíveis de um texto em outra organização textual.</p><p>- 3</p><p>Observe as manchetes apresentadas abaixo:</p><p>Figura 1 –Manchetes parafrásticas.</p><p>Apesar de construídas de modos distintos e apresentarem palavras diferentes, as duas</p><p>manchetes trabalham em uma relação muito próxima quanto a um sentido: o de que a empresa Vale</p><p>disponibilizará valores aos parentes das vítimas. É importante lembrar que nenhuma paráfrase fará</p><p>a transmissão dos mesmos sentidos de um texto, pois não existe relação sinonímica perfeita em</p><p>nenhuma língua. Podemos exemplificar isso analisando os verbos doar e pagar, em que no primeiro</p><p>parece circular uma ideia de escolha por caridade, uma ajuda ou um apoio; e no segundo , o sentido</p><p>de obrigação, de pagamento de quem deve algo.</p><p>- 4</p><p>Realizamos muitas paráfrases em um ambiente acadêmico, principalmente ao escrever o</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso, no qual devemos sustentar nosso dizer em autores que já</p><p>trabalharam com o tema. No entanto, a paráfrase não se trata de um recurso exclusivo na</p><p>construção de textos de caráter acadêmico, ela pode ser vista também em gêneros dos mais</p><p>diversos, como na poesia, crônica, contos, propaganda, entre outros (SARMENTO, 2006). Da</p><p>mesma forma, na oralidade há também formulações parafrásticas quando ocorre uma recriação sem</p><p>que os sentidos sejam alterados significativamente.</p><p>Agora, pensaremos de modo mais detalhado sobre a relação entre o processo de paráfrase no</p><p>texto escrito, a fim de desenvolver habilidades necessárias à escrita acadêmica.</p><p>A paráfrase no texto escrito</p><p>Escrever nem sempre é tarefa fácil. Para escrever um bom texto, é necessária a</p><p>reunião de diferentes habilidades, como domínio dos recursos linguísticos presentes no idioma,</p><p>leitura e compreensão de textos, conhecimentos de mundo, entre outros, colocando-as à prova,</p><p>em diferentes momentos, como durante a trajetória acadêmica e ao longo da vida profissional</p><p>(GARCIA, 2010).</p><p>- 5</p><p>Figura 2 - Requisitos para uma boa produção textual</p><p>Fonte: Pixelbliss/Shutterstock.com</p><p>A prática da escrita, por vezes, é entendida como algo subjetivo, o que não é verdade</p><p>(GARCIA, 2010). Segundo Nicola (2014), a produção textual apoia-se em aspectos bastante</p><p>objetivos, como: leituras constantes e variadas; domínio de vocabulário; compreensão das</p><p>intencionalidades comunicativas; articulação das ideias; reflexão sobre o tema que será abordado;</p><p>aplicação de recursos linguísticos; conhecimento da modalidade culta da língua; e adequação do</p><p>texto à situacionalidade comunicativa. Assim, a escrita irá fluir e tornar-se consistente enquanto</p><p>prática em diferentes contextos comunicativos.</p><p>Como, então, escrever um bom texto?</p><p>Escrever requer um exercício constante de aperfeiçoamento, por isso, certas noções</p><p>devem ser postas em prática. A primeira delas é a clareza das ideias, a qual deve ser obtida a</p><p>partir do uso de palavras que sejam essenciais na transmissão da mensagem. A simplicidade</p><p>também torna o texto mais limpo, conciso e natural, por isso, na construção das frases, orações e</p><p>- 6</p><p>períodos, é importante privilegiar sempre o uso da ordem direta (sujeito, verbo e complementos).</p><p>Veja que, para o leitor, é mais natural a sequência “eu te vejo rica” do que a estrutura “rica te vi eu</p><p>já”.</p><p>Lembre-se de que princípios como o da coesão e da coerência devem prevalecer ao longo</p><p>do texto. A coesão é a conexão estabelecida entre as partes de um texto (frases, orações,</p><p>períodos), por meio de conectivos (conjunções, preposições, pronomes e advérbios), além de</p><p>outros recursos presentes na língua. Já a coerência é a lógica na apresentação do conjunto das ideias,</p><p>configurando, assim, uma uniformidade textual.</p><p>Veja: “O transporte público ajuda na diminuição de emissão de poluentes no ar, no entanto</p><p>deve ser melhorado. Com a depreciação dos transportes urbanos e da coletivização, tornou-</p><p>se mais cômodo para grande parte da população a individualização nos automóveis.” No</p><p>trecho, há várias imprecisões, entre elas, a falta de clareza, problema que compromete</p><p>muito a qualidade de um texto. Perceba que um texto que não está adequado aos critérios</p><p>de qualidade, não é capaz de transmitir com eficiência a mensagem desejada.</p><p>Aline Silveira</p><p>Além disso, em uma produção textual, deve-se atentar à expressividade, originalidade e</p><p>seleção lexical (escolha das palavras). Cada palavra pertence a uma classe gramatical e, quando</p><p>empregada em um enunciado, possui uma função específica. Em uma sentença, as palavras</p><p>agregam sentido, à medida que são postas uma ao lado da outra.</p><p>Assim, é imprescindível perceber que cada palavra possui uma expressividade intrínseca e</p><p>que, um contexto ou outro, poderá assumir diferentes significados. Um substantivo concreto,</p><p>por exemplo, quando comparado a um abstrato, pode ser considerado com mais expressividade,</p><p>assim como o específico ao genérico. Isto porque o substantivo concreto carrega em si uma noção</p><p>objetiva do que ele significa, e não possui relação direta com nenhuma ação; ao contrário do</p><p>abstrato, que, por sua vez, carrega em si uma ligação direta com a ação (BECHARA, 2015).</p><p>Veja que “criança” é um substantivo genérico, mas o termo “menina” consegue restringir,</p><p>especificar, ou seja, ao enunciarmos “menina de 6 anos”, o texto se tornará mais expressivo.</p><p>7</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>Não trazem fluência ao texto os usos: de palavras ou expressões desgastadas, como “hoje em</p><p>dia”; de voz passiva analítica, como “será feito”, “será revisto”; de chavões, clichês, modismos;</p><p>assim como palavras de pouco uso corrente (SARMENTO, 2006).</p><p>Aline Silveira</p><p>Há, ainda, a questão da gramaticidade. Nem sempre textos gramaticalmente perfeitos</p><p>representam bons textos. Há situações comunicativas em que o emprego da linguagem</p><p>formal não cabe, por não atender à situacionalidade. Imagine as falas do personagem Chico</p><p>Bento (dos quadrinhos criados por Maurício de Sousa) sendo escritas de acordo com a norma culta</p><p>da língua? Não seria verdadeiro, certo?</p><p>Assim, um bom texto se constrói com base:</p><p>• na clareza de organização das ideias;</p><p>• na expressividade do conjunto de palavras que se elenca ao longo do texto;</p><p>• na simplicidade das estruturas escolhidas para elaboração</p><p>dos enunciados;</p><p>• no uso da ordem direta da frase (sujeito, verbo e complementos, nesta ordem);</p><p>• na originalidade;</p><p>• e na escolha da seleção vocabular (lembrando que cada palavra tem em si uma carga</p><p>expressiva).</p><p>Sem estas aplicações, certamente, a qualidade do texto estará comprometida. A seguir,</p><p>retomaremos a noção de paráfrase, e refletiremos em quais situações ela deverá ser empregada.</p><p>Paráfrase</p><p>Um texto nem sempre é escrito com base em nossas próprias ideias. Nesse sentido, atuamos</p><p>com uma paráfrase. Parafrasear um texto é recriá-lo em outras palavras, sem que se alterem as</p><p>ideias originais (SARMENTO, 2006); é, portanto, apoiar-se no sentido transferido de uma</p><p>mensagem, mas sem efetuar uma cópia idêntica do que foi redigido.</p><p>8</p><p>Figura 3 - Parafrasear é reescrever com as próprias palavras</p><p>Fonte: Tinatin, Shutterstock, 2017.</p><p>A paráfrase é um recurso de intertextualidade, ou seja, quando um texto retoma o outro</p><p>de modo parcial ou integral. Ela é um importante recurso para a construção textual, e deve ser</p><p>usada especialmente em textos de caráter acadêmico, didáticos, visto que há a necessidade de</p><p>conferir legitimidade ao que está sendo exposto ao leitor. Entenda que a paráfrase não é uma</p><p>cópia idêntica, isto configura plágio; e também não é citação direta, que se faz por meio de</p><p>indicação de aspas no trecho citado.</p><p>Como construir textos a partir de</p><p>Como vimos, os textos podem ser paráfrases de outros. Para usar este recurso, na produção textual,</p><p>de maneira a atingir os objetivos, é preciso conhecer os tipos de paráfrases (SARMENTO, 2006).</p><p>• Reprodutiva</p><p>Por meio da paráfrase reprodutiva, ocorre a reprodução de um texto (ou de um trecho),</p><p>desdobrando a ideia original com outras palavras, sem que haja cópia, ou citação</p><p>direta. Neste caso, deve-se referenciar o autor parafraseado, conforme o exemplo explorado no</p><p>quadro a seguir.</p><p>9</p><p>Figura 4 - Exemplo de paráfrase reprodutiva</p><p>Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Sarmento (2006).</p><p>Aline Silveira</p><p>Note que, na citação direta, o autor foi referenciado com a página, enquanto que na paráfrase ele</p><p>é citado apenas com o ano de publicação da obra.</p><p>• Criativa</p><p>Por meio desta paráfrase, expandimos o sentido original do texto (ou parte dele),</p><p>objetivando construir outro. Neste caso, não haverá discordância com a ideia inicialmente</p><p>proposta pelo autor original do texto parafraseado, uma vez que este será uma referência para a</p><p>recriação. Ou seja, neste tipo de paráfrase, o sentido original desdobra, alcançando novos</p><p>significados.</p><p>A paráfrase criativa também é conhecida como paródia. Por exemplo, a partir do famoso</p><p>verso de Gonçalves Dias, “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”, poderíamos criar</p><p>um texto como “Minha terra tem romeiras que rezam com o patuá”.</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>A paródia é também uma releitura, realizada, porém, em tom imitativo e jocoso. O objetivo de</p><p>uma paródia é distorcer ou criticar, positiva ou negativamente, ideias originais.</p><p>Aline Silveira</p><p>10</p><p>• Estrutural</p><p>Trata-se da paráfrase que recorre à estrutura presente em um determinado texto, para a</p><p>criação de outro texto (ou apenas de um novo trecho). Não é necessário referenciar o autor</p><p>parafraseado, além disso, costuma-se manter a estrutura do texto original. Veja: em “o artista é</p><p>antes de tudo um grande observador do mundo”, poderíamos parafrasear para “o professor é</p><p>antes de tudo um grande pensador do mundo”. Trocam-se as palavras, os sentidos,</p><p>mantendo sempre a estrutura sintática presente no texto que será parafraseado.</p><p>Como vimos, há vários requisitos e recursos nos quais podemos nos apoiar para</p><p>construirmos bons textos. Nesse sentido, conhecer e produzir paráfrases se torna essencial,</p><p>especialmente, em certas situações comunicativas, como em textos acadêmicos. Nela, nos</p><p>apoiamos para construir textos que tenham fundamentação teórica.</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>Para escrever bem, não basta apenas conhecer as premissas exigidas para um bom texto.</p><p>Também é necessário praticar – e muito – até que se atinja um determinado nível de domínio</p><p>da escrita. É preciso que o redator se torne um crítico corretor do próprio texto e perceba</p><p>quando é necessário reescrevê-lo. Lembre-se de que um bom texto é aquele que apresenta o</p><p>máximo de clareza na apresentação das ideias.</p><p>Aline Silveira</p><p>Fechamento</p><p>Vimos, ao longo do conteúdo, que existem algumas premissas para que a produção textual</p><p>alcance as qualidades que lhe são intrínsecas. Assim, escrever bem demanda prática, domínio</p><p>de recursos linguísticos e, sobretudo, capacidade de compreender o que se lê e de transmitir a</p><p>ideia desejada.</p><p>11</p><p>Referências</p><p>BECHARA, Evanildo. Moderna gramática da língua portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro: Nova</p><p>Fronteira, 2015. FRANCO, Cláudia Pereira da Cruz. Intertextualidade e produção textual. Rev.</p><p>Icarahy. Prog. de Pós-Graduação do Instituto de Letras – UFF. Rio de Janeiro, 2011.</p><p>Disponível em: <http://www.revistaicarahy.uff.br/revista</p><p>/html/numeros/6/dlingua/CLAUDIA_FRANCO.pdf. Acesso em: 8 ago. 2017.</p><p>GARCIA, Othon Moacir. Comunica ao em prosa moderna. 17. ed. Rio de</p><p>Janeiro: FGV, 2010. NICOLA, Jose de. Gramatica e texto. Sao Paulo:</p><p>Scipione, 2014.</p><p>SALVADOR, Arlete; SQUARISI, Dad. A arte de escrever bern: um guia para jornalistas e</p><p>profissionais do texto.</p><p>Sao Paulo: Contexto, 2004.</p><p>SARMENTO, Leila Lauar. Oficina de Redação. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006.</p><p>SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21. ed. São Paulo:</p><p>Cortez Editora, 2000. BANDEIRA, Manuel. Apresentação da poesia brasileira. São Paulo:</p><p>Cosaic Naify, 2009.</p><p>http://www.revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/6/dlingua/CLAUDIA_FRANCO.pdf</p><p>http://www.revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/6/dlingua/CLAUDIA_FRANCO.pdf</p>