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<p>Unidade 2 - Dos agravos, dos embargos de declaração, dos recursos e dos embargos de divergência</p><p>Introdução ao novo CPC</p><p>A Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, que criou o novo Código de Processo Civil, trouxe mudanças importantes no âmbito das impugnações judiciais. De um modo geral, o novo texto legislativo promoveu uma redação mais restritiva na tentativa de influenciar os indicadores de recorribilidade em primeira e segunda instância do Poder Judiciário brasileiro.</p><p>As mudanças trazidas pelo novo Código de Processo Civil foram influenciadas, sobretudo, pela alta quantidade de críticas direcionadas ao Código de Processo Civil anterior, referente a 1973. A atual versão traz algumas limitações nas modalidades recursais. Uma das modificações de maior relevância foi o estabelecimento de uma uniformidade nos prazos para interposição de recursos, a fim de se atingir a tão almejada celeridade na resolução de conflitos judiciais e, consequentemente, propiciar um melhor acesso à justiça no Brasil.</p><p>O relatório anual do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2018 apresentou os índices de recorribilidade no Poder Judiciário brasileiro nas categorias de recorribilidades externas e internas. O índice de recorribilidade externa refere-se à quantidade de recursos direcionados às instâncias superiores ou aos órgãos julgadores que possuem competência de revisão de decisões proferidas por órgãos de instâncias inferiores. Alguns exemplos de recursos de recorribilidade externa são as apelações, o agravo de instrumento, os recursos especiais e os recursos extraordinários. Por outra parte, o índice de recorribilidade interna é a proporção de recursos direcionados ao órgão jurisdicional que proferiu a decisão. Os exemplos de recursos de recorribilidade interna que podemos citar são os embargos declaratórios e os agravos internos (CNJ, 2018).</p><p>De um modo geral, o relatório do CNJ aponta que os índices de recorribilidade externa e interna aumentam conforme intensifica a instância do Poder Judiciário. Nesse passo, os índices de recorribilidade são, de um modo geral, maiores nas segundas instâncias e nos Tribunais Superiores.</p><p>A nova redação do Código de Processo Civil adotou como princípio norteador a diminuição da morosidade processual no Brasil. Embora as mudanças textuais sejam visíveis e importantes, o texto legislativo manteve certa complexidade nos sistemas de recursos. O artigo 994 do Código de Processo Civil apresenta nove modalidades, apesar da supressão de algumas espécies recursais, além da limitação de algumas possibilidades existentes. São elas: apelação; agravo de instrumento; agravo interno; embargo de declaração; recurso ordinário; recurso especial; recurso extraordinário; agravo em recurso especial ou extraordinário; e embargos de divergência (BRASIL, 2015). Para esta disciplina, serão devidamente estudados o agravo de instrumento; os embargos de declaração e de divergência; e os recursos ordinário, especial e extraordinário.</p><p>Conforme mencionado, um dos grandes impactos na dinâmica processual trazida pelo novo Código de Processo Civil é a unificação de prazos para a interposição de recursos, de 15 dias úteis, com exceção para os embargos de declaração, que sofreram uma redução no prazo para cinco dias.</p><p>No que se refere aos efeitos dos recursos de impugnação da decisão judicial, as decisões impugnadas poderão gerar efeitos imediatos. Ademais, a sua eficácia não será mais impedida pela interposição de novos recursos. Além disso, é previsto nos artigos 1.032 e 1.033 do Código de Processo Civil a possibilidade de aplicação do princípio da fungibilidade na interposição de recursos especiais e extraordinários. É importante ressaltar que a fungibilidade dos embargos de declaração permite que esses recursos possam ser utilizados como agravo interno, conforme seja necessário e oportuno (BRASIL, 2015).</p><p>Outra mudança importante trazida pelo Código de Processo Civil de 2015 é o fim dos chamados embargos infringentes. Em seu lugar, passou a ser utilizado o julgamento colegiado. Além dos embargos infringentes, o novo Código decretou o fim do agravo retido, pelo bem do prazo do processo a partir de então (BRASIL, 2015).</p><p>Por fim, entre os artigos 976 e 987 do Código de Processo Civil é prevista a ampliação do julgamento em casos repetitivos, por meio da inclusão de incidente de resolução de demandas repetitivas (BRASIL, 2015). Entretanto, apesar das mudanças legislativas e da intenção em otimizar as respostas judiciais, o acesso à justiça segue sendo bastante criticado pela população e pelos meios de comunicação no Brasil. Muitos usuários ainda consideram que os processos judiciais não findam em prazo satisfatório, como gostariam.</p><p>Os embargos de divergência</p><p>Os embargos de divergência, disponíveis nos artigos 1.043 e 1.044 do Código de Processo Civil, foram idealizados a fim de resolver os problemas internos dos tribunais.</p><p>Os embargos de divergência têm a função primordial de uniformizar a interpretação das decisões judiciais. O advento do novo Código de Processo Civil de 2015, por intermédio do artigo 947, trouxe consigo o incidente de assunção de competência, capaz de afetar casos importantes aos colegiados superiores. Nesse passo, esses colegiados decidirão com eficácia erga omnes e efeito vinculante os casos futuros (BRASIL, 2015).</p><p>A redação do novo Código de Processo Civil não delimita o cabimento da divergência quanto ao seu mérito ou quanto às questões processuais relativas à admissibilidade. Os embargos de divergência possuem uma abrangência bastante ampla. Por isso, a divergência entre o acórdão, objeto dos embargos, e o paradigma, ou o objeto de comparação, deverá ser devidamente comprovada, de modo a possibilitar uma verificação adequada desta divergência pelo órgão julgador competente.</p><p>O Superior Tribunal de Justiça (STJ) exige a comprovação da divergência, por intermédio da cópia autenticada do suposto paradigma, capaz de comprovar a referida divergência, ou mediante repositório contendo a transcrição dos trechos do dissídio. Nesse passo, não basta referir a decisão divergente, é necessário apresentar o cotejo analítico, capaz de esclarecer os fundamentos de divergência de uma decisão para com a outra. Além disso, a divergência deverá abranger todos os fundamentos do acórdão recorrido.</p><p>A interposição de embargos de divergência não causa efeito suspensivo. Entretanto, caso haja necessidade de suspensão da decisão judicial, será necessário enviar o pedido por meio de petição endereçada ao relator. Os efeitos gerados pelos embargos de divergência são o direito de obstar a formação da coisa julgada e o efeito devolutivo.</p><p>Os embargos declaratórios e os vícios na decisão judicial</p><p>Os embargos de declaração imprimem uma abrangência completa, de modo a garantir a sua plena eficácia. O recurso está previsto no artigo 1.022 do Código de Processo Civil e visa sanar os vícios decorrentes do dever de motivação da jurisdição, por meio de decisões judiciais proferidas sob um texto obscuro, contraditório, omisso e com erros materiais (BRASIL, 2015).</p><p>A função dos embargos de declaração foi expandida em 2015 e passou a considerar os vícios elencados no artigo 489, § 1º, do Código de Processo Civil, mais precisamente nos incisos IV e VI, que são a ausência de enfrentamento decisório e de “enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento” (BRASIL, 2015).</p><p>Os embargos de declaração obedecem a um preceito constitucional de direito do jurisdicionado a obter uma decisão devidamente fundamentada. Entre os vícios elencados no artigo 1.022 do Código de Processo Civil, está previsto o de decisão obscura (I), ou seja, a decisão que carece de alguns elementos que permitem a parte identificar os fundamentos. Esse é o caso de decisões repletas de termos grifados em língua estrangeira e de decisões contraditórias (I) e sem fundamentação lógica capaz de configurar a conclusão (BRASIL, 2015).</p><p>O erro material (III) ocorre</p><p>quando a decisão proferida carece de erro de digitação e imprecisão nos dados, facilmente verificáveis. O erro de digitação da redação da sentença não condiz com a intenção do juiz que a proferiu (BRASIL, 2015).</p><p>O vício de omissão de decisão judicial (II) ocorre quando o texto da decisão deixa de manifestar alguma tese ou argumento firmado em julgamento. A descrição sobre omissão na decisão judicial está inserida no artigo 489, § 1º, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).</p><p>Além dos vícios na decisão judicial dispostos no artigo 1.022 do Código de Processo Civil, durante o processo de interposição de embargos de declaração é possível invocar matérias de ordem pública. Os recursos de embargos de declaração geralmente são endereçados ao mesmo juízo que proferiu a decisão judicial impugnada, de modo a exercer um duplo grau de jurisdição. Os efeitos desse tipo de recurso são os devolutivos e interruptivos, de acordo com o artigo 1.026 do Código de Processo Civil. Em alguns casos, os embargos de declaração gerarão efeito suspensivo, nos termos do artigo 1.026, § 1º, do Código de Processo Civil, quando houver fundamento relevante. De modo diverso ao que ocorre com o agravo de instrumento, destinado a reformar ou anular decisão interlocutória, neste caso, será julgado por acórdão ou por decisão monocrática do relator (BRASIL, 2015).</p><p>Os embargos de declaração são destinados a sanar os vícios formais das decisões judiciais. É importante frisar que o novo Código de Processo Civil criou um dispositivo, no artigo 1.026, parágrafos 2º, 3º e 4º, que visa coibir eventuais interposições de recursos com a finalidade de procrastinar o processo judicial. A pena cominada para esse tipo de intervenção é o pagamento de multa.</p><p>Os embargos de declaração, de um modo geral, visam decisões com um alto grau de fundamentação, capazes de contrapor todos os argumentos mencionados no processo. Nesse passo, de acordo com o artigo 1.022 do Código de Processo Civil, uma decisão não é considerada suficientemente fundamentada quando:“Não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, enfrentar a conclusão adotada pelo julgador” (BRASIL, 2015), bem como aquela que “deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento” (BRASIL, 2015).</p><p>Por outra parte, o julgador não é obrigado a responder a todos os pontos de discórdia, caso já tenha motivação suficiente para proferir sua decisão.</p><p>Quando, porventura, um juiz seleciona um argumento frágil para finalizar sua decisão, acaba por intimidar os possíveis litigantes de fazer o uso do direito ao duplo grau de jurisdição. De acordo com o professor de Direito da Universidade do Estado do Pará, Michel Ferro e Silva, e com o advogado, Leonardo Costa Norat, esse comportamento: Passa a renegar a efetividade da inafastabilidade da prestação jurisdicional motivada e, mais grave que isso, censura os aplicadores do direito em levantar questões jurídicas mais complexas ou que possam servir para uma mudança de paradigma no futuro, posto que possivelmente tais argumentos ou serão de plano negados e, assim, abdicada a discussão dos demais argumentos, ou sequer serão analisados, uma vez escorada a jurisdição em ponto que for mais confortável julgar (SILVA; NORAT, 2020, p. 34).</p><p>Uma discussão jurídica deve ser fundamentada em caso concreto. Quando bem fundamentada, poderá ser aplicada em outras situações jurídicas semelhantes, sob um caráter de norma geral. Para isso, deverá ser identificada a razão processual que deverá relacionar-se aos fatos relevantes percussores da causa e dos motivos jurídicos determinantes.</p><p>O agravo de instrumento e a proposta de taxatividade mitigada</p><p>Conforme pode ser observado, o novo Código de Processo Civil trouxe muitas modificações. Entre as mais destacadas, podemos citar as modificações no sistema recursal e no sistema preclusivo. Dentro do sistema recursal, o legislador estabeleceu um rol taxativo para as hipóteses de cabimento dos recursos de agravo de instrumento, de modo a privilegiar o juízo de primeiro grau e, assim, reduzir a elevada quantidade de recursos no sistema judiciário, sobretudo em segundo grau.</p><p>Frente a isso, alguns questionamentos surgiram a respeito de algumas hipóteses que não constam no rol taxativo do Código de Processo Civil, mas que precisam ser arguidas em caráter de urgência. A princípio, a doutrina apresenta três possíveis soluções: o cumprimento da taxatividade; a interposição de mandado de segurança contra ato judicial; e a possibilidade de uma interpretação extensiva do agravo de instrumento.</p><p>No final de 2018, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou o entendimento sobre o precedente de arguir agravo de instrumento sob uma taxatividade mitigada, sob alegação de demanda urgente. A decisão do STJ, entretanto, acarretou um amplo debate acerca dos possíveis impactos de uma interpretação aberta da norma jurídica no sistema processual. Antes do Código de Processo Civil de 2015, o agravo de instrumento era utilizado nos casos em que fosse constatado urgência de provimento, com probabilidade de causar dano grave e lesão irreparável à parte interessada. A disposição legal de 1973 tinha natureza altamente subjetiva e era largamente utilizada na prática forense.</p><p>Foi a partir da Lei n. 13.105 que esse quadro foi alterado. A intenção do legislador competente foi justamente restringir as hipóteses de cabimento desse recurso, tendo em vista a enorme quantidade de agravos de instrumento interpostos, com interferência direta na morosidade da justiça brasileira. Foi nesse passo que o Código de Processo Civil de 2015 extinguiu o agravo retido.</p><p>Com relação ao recurso de agravo de instrumento, ele deve ser interposto de acordo com o rol taxativo disposto no artigo 1.015 do Código de Processo Civil. No caso de hipóteses fora do Código de Processo Civil, deverão ser recorridas na condição de apelação, algo previsto no artigo 1.009, § 1º, do Código de Processo Civil. Essas duas hipóteses promovem dois possíveis cenários: (I) ao tratar de decisão elencada no rol taxativo, o agravo de instrumento deverá ser interposto dentro do prazo sob pena de preclusão imediata e/ou (II) no caso de a decisão não integrar o rol estabelecido, a preclusão não se operará de imediato (BRASIL, 2015).</p><p>Ocorre que em alguns casos não previstos no artigo 1.015 do Código de Processo Civil, como o caso de indeferimento de prova pericial, o autor deverá interpor apelação sob alegação de cerceamento do direito de defesa. Entretanto, caso o pedido seja acolhido, todos os procedimentos realizados até então serão considerados nulos e o processo regressará de modo a ensejar a repetição de todo o processo de instrução (BRASIL, 2015). Nesse aspecto, muitos debates acadêmicos sobre algumas situações urgentes não acobertadas pelo artigo 1.015 do Código de Processo Civil foram gerados.</p><p>A primeira hipótese desse dilema residiria na possibilidade de cabimento do mandado de segurança contra ato judicial não citado no rol taxativo do artigo 1.015 do Código de Processo Civil, mas que possuísse uma essência de urgência para o reexame do caso que deveria ser imediatamente analisado. Caso o contrário, ensejaria o perecimento do direito.</p><p>Por outro lado, alguns juristas, como Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017), afirmam que o uso indiscriminado do mandado de segurança poderia causar um certo desviamento de seu propósito. Apesar disso, a doutrina e a jurisprudência aceitam o uso do mandado de segurança em situações de extrema urgência e contra decisões consideradas absolutamente desproporcionais para a parte e nos casos de proteção imediata ao direito líquido e certo do impetrante.</p><p>Uma segunda hipótese seria a realização de uma interpretação extensiva do rol apresentado no artigo 1.015 do Código de Processo Civil. Nessa hipótese, alguns juristas sustentam que a presença de um rol taxativo não impediria uma interpretação extensiva, ou analógica, dos</p><p>casos de cabimento do agravo de instrumento. Porém toda interpretação extensiva da lei acarreta certa insegurança jurídica. Além disso, o objetivo de elencar um rol taxativo para interposição de agravo de instrumento foi idealizado justamente como um modo de desobstruir a justiça. O desvio à essa regra poderia gerar um efeito contrário, ou seja, acumulá-la ainda mais (BRASIL, 2015).</p><p>Diante de tantas divergências sobre o assunto, houve a necessidade de o STJ determinar um posicionamento sobre o assunto. Nesse passo, o STJ, por intermédio de uma votação acirrada, chegou ao entendimento de que o rol das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento possui uma taxatividade mitigada, de modo a permitir uma interpretação extensiva da norma em questão. Como já se podia esperar, esse posicionamento do STJ gerou uma série de divergências no meio jurídico e acadêmico.</p><p>Entre eles, é destacado o posicionamento manifestado pela Ministra Maria Thereza de Assis Moura.</p><p>CITANDO</p><p>Em resposta à manifestação da relatora, a ministra Nancy Andrighi, pelo julgado n. 1704520/MT, a ministra Maria Thereza de Assis Moura proferiu seu voto divergente à proposta de interpretação extensiva do artigo 1.015 do Código de Processo Civil: “Vem-me desde logo a dúvida: como se fará a análise da urgência? Caberá a cada julgador fixar, de modo subjetivo, o que será urgência no caso concreto? Se for assim, qual a razão, então, de ser da atuação do STJ na fixação da tese, que em princípio, deve servir para todos os casos indistintamente? (....)” (STJ, 2018, p. 65).</p><p>A admissibilidade do agravo baseado em conceitos subjetivos consequentemente gerará mais recursos para o Poder Judiciário brasileiro. De acordo com o pesquisador do Núcleo de Pesquisas Avançadas em Direito Processual Civil Brasileiro e Comparado (NUPAD), João Victor Carloni de Carvalho, e com a professora assistente da faculdade de Direito da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Yvete Flávio da Costa, “o acolhimento da teoria da “taxatividade mitigada” gerará um verdadeiro cenário caótico, imprevisível e de insegurança jurídica, deturpando todo um sistema recursal e preclusivo elaborado pela vontade do legislador” (2019, p. 146).</p><p>Os recursos ordinário, especial e extraordinário</p><p>Os recursos ordinários não sofreram mudanças significativas com o advento da nova legislação processual. Dessa maneira, esse recurso continua sendo interposto em seu tribunal de origem.</p><p>Posteriormente, o presidente ou vice-presidente do tribunal determinará a intimação do recorrido que, em um prazo de 15 dias, deverá apresentar suas contrarrazões, conforme prescrito pelo artigo 1.028, § 2º do Código de Processo Civil.</p><p>Findo prazo, os autos seguirão para o Tribunal Superior correspondente, independentemente do juízo de admissibilidade.</p><p>AS NOVIDADES NOS RECURSOS EXCEPCIONAIS NA NOVA LEGISLAÇÃO PROCESSUAL</p><p>Os recursos excepcionais – especial e extraordinário – são, geralmente, interpostos nos Tribunais Superiores.</p><p>A legitimidade para a interposição de recurso especial ocorre à medida que há ofensa à lei/norma federal. De modo distinto, o recurso extraordinário deve ser interposto quando há demanda de análise de matéria em âmbito constitucional pertinente.</p><p>Entretanto, quando surge uma pluralidade de pedidos ou de matérias em um mesmo acórdão e, sobretudo, quando esses pedidos detiverem natureza diversa e autônoma entre si, caberá a concomitância de recursos especiais e extraordinários de uma única vez.</p><p>Durante a vigência do Código de Processo Civil anterior, de 1973, o jurisdicionado com um caso idêntico permanecia em um limbo processual sem sequer vislumbrar uma solução possível acerca da recorribilidade correta. Contudo, no novo Código de Processo Civil de 2015, acrescentou-se o princípio da fungibilidade entre os recursos excepcionais, ou seja: tanto no caso de interposição de recurso especial na hipótese de recurso extraordinário quanto vice-versa. Cabe ressaltar que a aplicação de fungibilidade será permitida tão somente quando houver uma dúvida considerada plausível.</p><p>De acordo com o professor de Processo Civil da Universidade de Rondônia (FARO), Vinícius Silva Lemos, “pelo princípio da primazia de mérito e a possibilidade criada nos art. 1.032 e 1.033, o novel ordenamento imaginou uma saída processual para a eventual omissão de um ou ambos Tribunais Superiores, quando houver essa negatividade sobre o cabimento recursal” (2015, p. 384-385). Em vias de regra, haverá admissibilidade em algum tribunal que julgará o recurso interposto por sua natureza e, em último caso, pela fungibilidade.</p><p>A mutação processual, entretanto, deverá ser completa. Para tanto, há necessidade de complementação e adaptação recursal para que o recorrente possa adequar o recurso à nova situação, através de uma fundamentação detalhada sobre o requisito de admissibilidade, dentro do prazo de 15 dias. A utilização do princípio da complementariedade, além de eficaz será compulsória conforme o ministro-relator, que poderá discordar da eventual fungibilidade com base no parágrafo único do artigo 1.032 do Código de Processo Civil. Caso isso ocorra, o juiz determinará, por fim, a devolução dos autos.</p><p>Desta maneira, a aplicabilidade do princípio da fungibilidade requer dúvida plausível; caso contrário, incorrerá em erro grosseiro. Conforme preleciona o artigo 1.032 do Código de Processo Civil, quando houver interposição de recurso equivocado o recorrente, por fim, terá oportunidade de reaproveitar o recurso que será automaticamente direcionado ao respectivo órgão competente. Para tanto, será necessário remetê-lo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para processamento e julgamento.</p><p>Todo esse processo poderá ser, do mesmo modo, realizado de maneira inversa, caso se trate de um recurso extraordinário com vias de ser enquadrado como recurso especial. A decisão caberá ao relator do processo, através de sua discricionariedade, para decidir monocraticamente.</p><p>Acrescenta-se que a possibilidade de fungibilidade dos recursos excepcionais, trazida pelo novo Código de Processo Civil, pode ser considerada um avanço legislativo, em vistas a uma priorização do direito material em detrimento da rigidez formalista e operacional do processo civil.</p><p>Além de todas as mudanças mencionadas, o novo Código de Processo Civil de 2015 destacou a prática de mediação e de conciliação como método de valorização do diálogo, de autocomposição e de participação ativa das partes e de seus respectivos procuradores. Assim, a mediação e a conciliação auxiliam a simplificar a burocracia procedimental, de modo a garantir a rápida solução dos processos judiciais sem desprezar as garantias constitucionais da Carta Magna.</p><p>Resolução de demandas e recursos repetitivos no novo Código de Processo Civil</p><p>Com a finalidade de melhor adequar o novo Código de Processo Civil à complexa sociedade de massas e, consequentemente, ao aumento do acesso à justiça desde o surgimento da Constituição Federal de 1988, a nova legislação processual buscou o máximo de sistematicidade e efetividade nas demandas processuais e nos recursos repetitivos.</p><p>Nesse sentido, o artigo 522 do Código de Processo Civil sinaliza que o julgamento de casos repetitivos ocorre por meio de decisão proferida em incidente de resolução de demandas repetitivas (I) e/ou em recursos especiais e extraordinários repetitivos (II) (BRASIL, 2015).</p><p>Assim, o incidente de resolução de demandas repetitivas no novo Código de Processo Civil prevê o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica em processos que contenham a mesma controvérsia em questões que envolvam direito material e/ou processual. A competência para o julgamento das demandas repetitivas será dos tribunais ordinários e, nesse passo, a decisão proferida no incidente terá efeito vinculante em relação aos órgãos de jurisdição subordinados ao tribunal que proferiu a decisão.</p><p>TÉCNICAS DE DISTINÇÃO DE PRECEDENTES E RECURSOS REPETITIVOS</p><p>Para uma melhor compreensão das técnicas de distinção nos precedentes e recursos repetitivos, faz-se necessária</p><p>uma análise apurada do conceito jurídico de “distinção”, disposto no novo Código de Processo Civil no artigo 489, §1º, VI e no artigo 1.037, §9º.</p><p>DICA</p><p>O livro recém lançado denominado de Recursos no novo Código de Processo Civil (2021) e de autoria do professor e desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Décio Luiz José Rodrigues, disciplina sobre todos os recursos estudados por esta disciplina sob a luz das mudanças trazidas pela nova legislação processual.</p><p>O primeiro dispositivo reitera a necessidade de fundamentação da sentença civil, de modo a destacar a hipótese de distinção do precedente judicial alegado no caso concreto, ao passo que o segundo refere-se à hipótese de distinção em relação aos recursos especial e extraordinário repetitivos.</p><p>As técnicas de distinção estão disponíveis na rede mundial de computadores e inseridas nos artigos 927, §5º e 979, § 1º do Código de Processo Civil. Nesse sentido, as regras processuais preveem uma decisão judicial fixadora, com base no precedente e na questão afetada nos casos repetitivos.</p><p>De acordo com o professor de Processo Civil da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), Carlos Fernando de Barros Autran Gonçalves, “esta comunicação na rede de informática possibilita a democratização do processo civil, por meio da transparência dos elementos identificadores da vinculação ao precedente e da afetação ao recurso repetitivo” (2018, p. 24).</p><p>Além disso, a rede facilita o emprego das técnicas de distinção, tanto a técnica de distinção relacionada ao precedente quanto a técnica de distinção em relação à tese no recurso repetitivo.</p><p>Contudo, cumpre salientar que, no direito brasileiro, há diferenças entre precedente e analogia que não devem ser desprezadas. Nesse passo, de acordo com o artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, a analogia, basicamente, é cabível quando há omissão da lei e sua fonte é, portanto, supletiva (BRASIL, 1942).</p><p>Por outro lado, os precedentes detêm fontes complementares. Isso posto, sua função é complementar à interpretação da lei, de modo a garantir estabilidade e coerência ao direito, assim como está previsto no artigo 926 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).</p><p>A nova legislação processual, em suma, exige que a argumentação seja, de fato, consistente quanto ao seu aspecto particular, conforme é prelecionado no artigo 489, §2º, §3º do Código de Processo Civil. O princípio da boa-fé se impõe sobre a decisão judicial, de modo a obter o que pode ser considerado como uma boa conduta judicial no processo civil. Os princípios correlatos à boa-fé, como a segurança jurídica, a isonomia e a cooperação processual, podem ser encontrados no artigo 927 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).</p><p>A isonomia dos julgados em face dos elementos de identificação e de distinção do precedente ou de direito afetada no recurso repetitivo não garante, tão somente, a igualdade, mas o direito à diferença. Assim, a política judiciária sobre os precedentes e os recursos repetitivos têm por objetivo o aperfeiçoamento da gestão democrática da justiça.</p><p>A interpretação jurídica da lei visa garantir que o direito seja estável e coerente. Para tanto, é necessário reforçar os pressupostos de colaboração no processo civil, sem qualquer tipo de hierarquização. A ideia é incentivar uma postura dialógica e de boa-fé processual. Ademais, a interpretação jurídica não pode ser entendida como uma tarefa exclusiva do juiz, mas como uma experiência que requer a legítima participação dos atores na atividade jurisdicional de maneira absolutamente ampla.</p><p>O princípio da cooperação processual permite o reconhecimento de todos os elementos de identificação e de distinção do precedente implicado no processo de democratização do direito. Além disso, espera-se que a tecnologia da informática não seja capaz de substituir o humanismo em vias de um processo justo e devidamente democrático.</p><p>O documentário Sem Pena (2014), dirigido pelo cineasta Eugênio Puppo, discute os efeitos da morosidade da justiça devido ao atual, entre outros motivos, acúmulo de processos criminais na justiça brasileira. O resultado dessa realidade é o Brasil configurar-se como a 3ª maior população carcerária do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos e a China.</p><p>CURIOSIDADE</p><p>Em uma matéria publicada no site do G1 (2019), foi constatado que, de acordo com dados apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no final do ano de 2017 os processos pendentes em todas as instâncias da justiça totalizavam 80,1 milhões. Um ano depois, em 2018, o número de processos acumulados era de 78,7, o que configurou uma queda de 1,2%. Essa sinalização de queda na quantidade de processos no Poder Judiciário brasileiro foi a primeira desde o ano de 2009, quando o CNJ começou a aplicar a atual metodologia.</p><p>image1.png</p><p>image2.png</p>

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