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<p>Enquanto o conceito de «motivo de</p><p>consulta» reporta uma descrição de sintomas</p><p>ou problema objetivo, o conceito de «demanda»</p><p>envolve o reconhecimento de uma necessidade</p><p>subjetiva e o desejo de pedir ajuda. Para poder</p><p>atuar em psicologia é necessário que a</p><p>motivação da consulta possa ser expressa de</p><p>forma semelhante a uma demanda.</p><p>Enquanto o conceito de “motivo da</p><p>consulta” se refere à descrição de sintomas ou</p><p>problemas objetivos, o conceito de “demanda”</p><p>implica o reconhecimento de uma necessidade</p><p>subjetiva e o desejo de pedir ajuda. Para poder</p><p>atuar na psicologia é necessário que o motivo</p><p>da consulta possa ser expresso em forma de</p><p>demanda.</p><p>Palavras-chave: Motivo de consulta,</p><p>demanda, psicologia</p><p>RESUMO RESUMO</p><p>DO MOTIVO DE CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>Pau Martínez Farrero</p><p>Palavras-chave: Motivo da consulta,</p><p>demanda, psicologia</p><p>PSICOLOGIA</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM</p><p>(53)</p><p>REVISTA DA ASSOCIAÇÃO ESPANHOLA DE NEUROPSIQUIATRIA,</p><p>Vol. XXVI, Nº 97, janeiro/março de 2006, páginas 53-69</p><p>Machine Translated by Google</p><p>(54)</p><p>4364</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>Neste artigo tentarei demonstrar, em primeiro lugar, que em psicologia o motivo da</p><p>consulta não pode ser dissociado do diagnóstico psicopatológico e, em segundo lugar, que</p><p>para além do motivo da consulta é necessário saber qual é a procura nela implícita, uma vez</p><p>que a demanda Fala da motivação e dos interesses subjetivos do paciente em se envolver</p><p>na solução de seu desconforto.</p><p>“AGENTES TERAPÊUTICOS” EM PSICOLOGIA.</p><p>A pressa em fazer um diagnóstico psicopatológico pode nos fazer esquecer a importância</p><p>do motivo específico da consulta do paciente. O motivo da consulta, ou seja, a causa que</p><p>estimulou o paciente a solicitar a consulta, pode ser erroneamente concebido como</p><p>simplesmente a porta que abre caminho para a exploração dos sinais ou sintomas que</p><p>permitirão o diagnóstico psicopatológico. E neste sentido, uma vez formulado o diagnóstico,</p><p>seja sintomático, estrutural, comportamental, relacional, etc., só resta propor uma terapia</p><p>coerente, relegando o motivo da consulta a um segundo nível de importância, se não</p><p>diretamente ao esquecimento. Talvez essa forma de proceder se deva à influência que o</p><p>método clínico praticado pela medicina teve historicamente na psicologia, que prioriza a</p><p>importância dos aspectos fenomenológicos. Entre os métodos clínicos utilizados por ambas</p><p>as disciplinas existem ligações comuns, uma vez que partilham o mesmo campo de trabalho</p><p>- a patologia - mas também diferenças óbvias, uma vez que o seu objecto de estudo é</p><p>diferente: o somático e o psíquico.</p><p>O MOTIVO DA CONSULTA EM DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO</p><p>Por “agente terapêutico” podemos entender o elemento que entra em contato com</p><p>determinada estrutura do indivíduo, biológico no caso da medicina e psicológico no caso da</p><p>psicologia, conseguindo modificá-lo e produzindo como resultado as melhorias clínicas</p><p>esperadas pelo o paciente ou médico, respectivamente.</p><p>Na cirurgia podemos considerar que o “agente terapêutico” é o médico que realiza a</p><p>intervenção cirúrgica. O paciente, total ou parcialmente anestesiado, espera que o médico</p><p>faça o seu trabalho. Em farmacologia, o “agente terapêutico” é a substância química que o</p><p>medicamento contém, com capacidade de influenciar o metabolismo, provocando as</p><p>alterações esperadas pelo médico. Na psicologia, o agente terapêutico, ou seja, o elemento</p><p>responsável pela modificação de uma determinada estrutura psicológica, é, dependendo das</p><p>diferentes escolas, a interpretação do conteúdo inconsciente do paciente, a adoção de um</p><p>novo estilo cognitivo, numa forma mais saudável de posicionamento diante de um familiar,</p><p>de comportamentos mais adaptados às circunstâncias, registros diários de pensamentos e</p><p>comportamentos, etc.</p><p>A diferença fundamental entre os agentes terapêuticos utilizados na medicina e na</p><p>psicologia é que, no primeiro caso, o agente terapêutico pode atuar sem</p><p>Machine Translated by Google</p><p>Os agentes terapêuticos da psicologia, por outro lado, só podem atuar na medida em que</p><p>levem em conta a inter-relação entre o “paciente-sujeito” e o “paciente-objeto”. Por exemplo,</p><p>quando se diz que o estado depressivo de um paciente se deve ao fato de ele concentrar sua</p><p>atenção exclusivamente nas coisas negativas que lhe acontecem, apela-se ao fato de que o</p><p>"paciente-objeto" sofre de um quadro depressivo. condição porque o "objeto-paciente" -sujeito»</p><p>concentra sua atenção em pensamentos negativos. Ou, quando se explica a um paciente que</p><p>ele deve praticar determinada técnica de relaxamento em um ambiente calmo e livre de</p><p>demandas de seu ambiente, estamos nos referindo ao fato de que essa pessoa deve tentar</p><p>esperar - como “sujeito” - para sentir acalmar -como "objeto"-, para poder aplicar -como "sujeito"-,</p><p>sobre si mesmo -como "objeto"-, a técnica terapêutica.</p><p>Independentemente da forma de compreensão da psicologia a que obedeçam, a existência</p><p>de agentes terapêuticos pressupõe a participação direta da parte subjetiva do paciente, do</p><p>“sujeito-paciente”. Usando os exemplos acima, nenhum paciente pode efetivamente ouvir e</p><p>refletir sobre uma interpretação de seu psicanalista, registrar pensamentos e comportamentos</p><p>em um diário, praticar exercícios comportamentais, etc., se estiver dormindo ou anestesiado, ou</p><p>simplesmente se não estiver. realmente quero ser curado.</p><p>Na medicina, o agente terapêutico atua no “objeto paciente”, ou seja, na sua estrutura fisiológica. O “sujeito-</p><p>paciente” é mero espectador da ação do agente terapêutico, pois esta pode ser realizada sem qualquer grau de</p><p>participação de sua parte. Na cirurgia, por exemplo, o paciente permite que o médico atue sobre ele, como “paciente-</p><p>objeto”, enquanto como “paciente-sujeito” pode permanecer ausente, adormecido ou anestesiado. Tal condição</p><p>permite que a medicina atue inclusive nas costas do “sujeito-paciente” (2,3). É o caso, por exemplo, do paciente que</p><p>se encontra em estado de delírio grave com risco de suicídio e que recebe um sedativo sem o seu conhecimento ou</p><p>mesmo contra a sua vontade.</p><p>necessitando da presença do “paciente como sujeito”, enquanto no segundo isso é impossível.</p><p>O conceito de “paciente como sujeito” pretende referir-se aos componentes subjetivos do</p><p>indivíduo que consulta: o paciente pode ser entendido como um “objeto” que sofre, sobre o qual</p><p>será aplicado um tratamento para aliviá-lo, mas também como “sujeito”. », com maior ou menor</p><p>grau de responsabilidade pelo seu sofrimento e envolvimento na possibilidade de sua cura (1).</p><p>expressamente deseja e compromete-se a fazê-lo.</p><p>Conseqüentemente, enquanto na medicina a ação do médico pode ser dirigida diretamente</p><p>ao "objeto-paciente" na ausência do "sujeito-paciente", na psicologia a ação do psicólogo só</p><p>pode afetar o "objeto-paciente" se é mediada pela participação do «sujeito-paciente». Mais</p><p>especificamente, em psicologia qualquer tipo de tratamento só</p><p>pode ser realizado se o paciente</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>4365</p><p>(55)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>Outro diferencial entre as características dos “agentes terapêuticos” da medicina e da psicologia</p><p>tem a ver com a dor, o sofrimento ou o desconforto que sua ação agrega. Na farmacologia, a</p><p>penetração do composto químico no organismo é imperceptível ao paciente. No caso da psicologia,</p><p>qualquer que seja o tipo de tratamento praticado, a atuação dos “agentes terapêuticos” pressupõe a</p><p>aproximação do paciente, seja mental ou fisicamente, ao que o faz sofrer, com a consequente carga</p><p>de dor.</p><p>É lógico pensar que o paciente só estará disposto a assumir essa sobrecarga de dor ou</p><p>desprazer acrescida do "agente terapêutico" na medida em que perceber que isso afeta efetivamente</p><p>aquela parte de si que ele sente mais profundamente que o incomoda. Por isso, ao perguntar sobre</p><p>o motivo da consulta, o psicólogo deve questionar se, além do que está manifesto, pode haver outra</p><p>motivação mais profunda.</p><p>Portanto, para além do diagnóstico psicopatológico construído a partir das manifestações</p><p>clínicas manifestas e observáveis, o psicólogo deve perguntar-se quais são as motivações do</p><p>paciente em termos do seu bem-estar pessoal ou psicológico, ou seja, o que ele realmente deseja</p><p>em relação ao paciente. e o que você está disposto a fazer para alcançá-lo. Você deve se perguntar:</p><p>o que o levou a consultar e o que deseja alcançar com isso.</p><p>Ou seja, ao considerar um tratamento psicoterapêutico, o psicólogo deve levar em consideração</p><p>que o sucesso dependerá não só de quão capaz ele se sinta para realizá-lo corretamente, mas</p><p>também de quão motivado o paciente esteja para fazê-lo.</p><p>O motivo da consulta pode ter a ver com os sintomas objetivos, mas também com uma</p><p>preocupação subjetiva que o paciente não sabe ou não se atreve a expressar. Por exemplo, quando</p><p>um paciente explica que decidiu pôr fim a um quadro psicopatológico intenso que vem sofrendo há</p><p>meses ou anos, a clínica manifesta justifica o motivo da consulta, mas não informa como a pessoa</p><p>conseguiu. suportou esse desconforto durante todo esse tempo, por que você demorou tanto para</p><p>decidir consultar ou por que fez isso naquele exato momento da sua vida. Tais questões podem falar</p><p>de outros tipos de motivações acrescentadas ou diferentes para libertar-se de traços psicopatológicos</p><p>evidentes.</p><p>MOTIVO DA CONSULTA MANIFESTO VS. MOTIVO LATENTE PARA CONSULTA</p><p>Ou quando uma pessoa com problemas de dependência de determinada substância tóxica chega à</p><p>consulta sob pressão de seus familiares, o motivo da consulta não é necessariamente para superar</p><p>o vício, mas talvez para se libertar de suas demandas sem precisar parar de usar. O mesmo ocorre</p><p>com pessoas que se consultam forçadas por resolução judicial em consequência de um crime, nas</p><p>quais não há conhecimento da doença e cujo único objetivo é obter uma pena reduzida.</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>4366</p><p>(56)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>O motivo óbvio da consulta deve-se à interpretação que o paciente faz do seu</p><p>desconforto, que é mediada pela informação médica ou psicológica de que dispõe,</p><p>pela sua capacidade de compreendê-lo adequadamente, por ter sofrido experiências</p><p>anteriores iguais ou semelhantes, pelo imaginário sociocultural em aquele que vive, etc. (5).</p><p>Por exemplo, um paciente, Miguel, afirma que veio consultar porque não consegue controlar a</p><p>sua raiva, o que por vezes o leva a sentir-se muito agressivo com as pessoas que o rodeiam. Foi</p><p>sua esposa quem recomendou que ele a visitasse após uma discussão conjugal, mas ele também</p><p>acredita que percebe a magnitude do seu problema. Ele explica que certa vez quase foi demitido</p><p>do emprego por causa de uma briga com um colega. Miguel entende que sofre de problema de</p><p>controle de impulsos e precisa de ajuda profissional. Mas podemos nos perguntar se ele</p><p>realmente veio consultar por esse motivo, se de fato sua facilidade em ficar com raiva é o que</p><p>mais o preocupa consigo mesmo. Questionado, Miguel continua a explicar que há muitos anos</p><p>que os seus entes queridos o alertam sobre o seu carácter irritadiço mas que é, sobretudo, agora,</p><p>a sua mulher, quem mais tem insistido nisso. Miguel reconhece que a sua vida social e familiar</p><p>pode complicar-se e vê a necessidade de encontrar uma solução. Porém, até ao momento, o que</p><p>sabemos sobre o motivo da consulta de Miguel é a interpretação que as pessoas próximas dele</p><p>têm feito do aspecto manifesto do seu problema: a sua natureza violenta. Mas não sabemos se</p><p>ele realmente concorda com tal interpretação. Só porque você o adotou como seu não significa</p><p>necessariamente que você acredita nele. Entre o que Miguel ouve os outros pensarem dele e o</p><p>que ele realmente sente que lhe está a acontecer, pode haver uma nuvem de confusão. O</p><p>psiquismo é constituído por uma complexa inter-relação de ideias e sentimentos referentes a si</p><p>mesmo e ao meio ambiente, que têm a ver com o presente, o passado e o futuro, mediados pela</p><p>experiência e pela relação com os outros e com o universo circundante.</p><p>· Motivo manifesto da consulta</p><p>Portanto, fica evidente que às vezes o motivo que o paciente alega como</p><p>justificativa para sua consulta, ou que o psicólogo pressupõe da clínica, ou seja, o</p><p>que se chama de “motivo manifesto ou explícito da consulta” não é o motivo que</p><p>estimulou profundamente paciente consultar, o que se denomina “motivo latente ou</p><p>implícito da consulta” (4).</p><p>· O motivo latente da consulta</p><p>Ver as coisas claramente através desta estrutura nem sempre é fácil.</p><p>A diferença fundamental entre os conceitos “motivo manifesto da consulta” e</p><p>“motivo latente da consulta” é que o segundo refere-se à percepção subjetiva do</p><p>motivo da consulta. O paciente do exemplo anterior, Miguel, ao continuar a questioná-</p><p>lo, soube reconhecer que a sua raiva tinha a ver com a dificuldade de resistir à menor</p><p>crítica, ao menor questionamento que lhe pudesse ser feito.</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>4367</p><p>(57)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>diferente do manifesto</p><p>a) O motivo manifesto da consulta parece irracional ou estranho em relação ao contexto</p><p>em que ocorre.</p><p>Situações em que é provável a existência de motivo latente de consulta</p><p>de certos aspectos de seu caráter. Não há dúvida de que veio porque está sofrendo, mas</p><p>o seu comportamento agressivo não parece ser a principal razão para isso, embora</p><p>reconheça a gravidade das suas consequências. Ao tentar esclarecer o motivo da</p><p>consulta, a psicóloga descobre que o sofrimento de Miguel gira em torno de não suportar</p><p>duvidar de certos aspectos de si mesmo. O comportamento agressivo é apenas o seu</p><p>aspecto manifesto. A dificuldade em tolerar pensar que fez ou está fazendo algo errado é</p><p>o que desencadeia sua raiva. Esse é o motivo latente da</p><p>consulta (6).</p><p>Até aqui parece claro que o motivo da consulta de Laura é ser aconselhada por um</p><p>psicólogo a ler um livro de autoajuda especializado em problemas de relacionamento,</p><p>mas se tivermos em conta que o médico de família e o psiquiatra que a trataram</p><p>anteriormente preferiram encaminhá-la para consultar um psicólogo, melhor do que</p><p>dar-lhe o endereço de um livreiro, é que alguma razão clínica deve ter sido</p><p>considerada. Por outro lado, se Laura esperou pelo protocolo “médico de família-</p><p>psiquiatra-psicólogo” com seus respectivos dias, semanas ou meses de espera antes</p><p>de ser atendida por cada um deles, seria porque talvez por trás da demanda por uma</p><p>autoajuda livro, outro mais angustiante estava escondido. Com efeito, quando a</p><p>interroguei cuidadosamente sobre o seu problema, ela revelou que aquelas</p><p>divergências "sem importância" que por vezes existiam entre ela e o marido eram</p><p>consequência, por exemplo, de um investimento de 24.000 euros que o marido tinha</p><p>feito num negócio que ela não tinham autorizado por ser inseguro e porque, além</p><p>disso, ainda tinham que pagar outra dívida importante que contraíram anos atrás, ao</p><p>mesmo tempo em que tinham a responsabilidade de cuidar e educar três crianças, de sete, quatro e dois anos, respectivamente. .</p><p>Uma paciente, Laura, veio consultar-se com a desculpa de que tudo o que queria</p><p>era algum conselho de livro de autoajuda para resolver um problema que a afetava,</p><p>que ela descreveu como simples e sem importância, que não merecia o tempo que</p><p>qualquer especialista poderia dedicar. para ele Aparentemente, ela havia feito o</p><p>mesmo pedido ao médico de família e ao psiquiatra que a trataram anteriormente,</p><p>mas, segundo Laura, eles não conheciam nenhuma qualificação e decidiram</p><p>encaminhá-la. O problema ao qual ela se referia consistia em uma série de</p><p>divergências “sem importância” sobre alguns aspectos de seu relacionamento com o</p><p>marido. Apesar de aceitar que estas divergências pudessem ser consequência do</p><p>seu carácter autoritário, como vários amigos já haviam sugerido, ela considerou que</p><p>na verdade foi o marido o mais afectado, que respondeu com receios.</p><p>Neste ponto, a paciente conseguiu reconhecer que, independentemente da forma</p><p>como o marido reagiu ao seu caráter hostil, a verdade é que ela também sofreu por</p><p>causa do caráter dele. Esconda esta preocupação por trás do pedido de um livro</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>(58)</p><p>4368</p><p>Machine Translated by Google</p><p>Sandra, de 20 anos, iniciou a visita explicando que estava em consulta com o objetivo de que</p><p>a psicóloga lhe desse alguns conselhos para resolver o “pânico” causado pelo encontro com</p><p>rapazes ou raparigas da sua idade, pois sempre teve medo de se sentir criticada. por eles.</p><p>Com estas palavras pensei ter entendido que ele sofria de um grande problema de</p><p>isolamento social, mas a pouca ansiedade que consegui distinguir nelas não correspondia à</p><p>gravidade da situação que imaginava.</p><p>a autoajuda pode ser entendida como uma tentativa de minimizar a importância que ela dava</p><p>aos problemas que tinha com o marido, a fim de esconder de si mesma a dor e/ou raiva que</p><p>o seu desamparo em relação a eles lhe causava. Tentar resolver esses problemas por meio</p><p>de um livro de autoajuda era como tentar esvaziar a água de uma piscina com uma colher,</p><p>sem reconhecer que ali há água suficiente para se afogar. b) O paciente demonstra pouca</p><p>convicção ou preocupação com o problema</p><p>que afirma sofrer, apresenta-o de forma contraditória ou mostra poucos detalhes sobre o mesmo.</p><p>Sandra continuou dizendo que recentemente rompeu com um grupo de amigos e começou a</p><p>namorar dois amigos. Portanto – continuei pensando – não existia realmente nenhuma</p><p>situação de isolamento social ou, pelo menos, da gravidade que eu havia assumido, já que</p><p>Sandra era capaz de sair de um grupo de amigos e encontrar outro. Isso foi reafirmado</p><p>quando ele explicou que estava repetindo o segundo ano do ensino médio. Ou seja, ele era</p><p>capaz de seguir um curso escolar junto com outros colegas. Em seguida, detalhou diversas</p><p>situações em que se sentiu criticada e insultada por meninos e meninas de sua idade e que</p><p>por isso, aos dezesseis anos, durante as férias escolares, ficou três meses sem sair de casa,</p><p>“Nem para ir procurar pão, por medo de encontrar alguém", disse ele. Mas esta estranha</p><p>fobia acabou quando começou o novo curso, que ele pôde frequentar normalmente desde o</p><p>início. Portanto, a dificuldade em conhecer meninos e meninas da sua idade não parecia ser</p><p>a verdadeira causa da consulta. Para esclarecer a confusão perguntei-lhe que tipo de</p><p>conselho ele esperava receber de mim. Ele respondeu que eu deveria explicar-lhe como fazer</p><p>novos amigos ou como interagir com as pessoas, o que não tirou nenhuma das minhas</p><p>dúvidas. Então perguntei por que ela achava que as pessoas a criticavam. «Acho que é por</p><p>causa da minha aparência física; “As pessoas não gostam de mim”, respondeu ele. Esta</p><p>resposta serviu para dar lugar ao que reconheci como uma preocupação mais autêntica e</p><p>profunda: “Nem gosto de mim mesmo. Eu não gosto do meu rosto. Agora me sinto melhor</p><p>porque fiz uma cirurgia maxilofacial; "Antes eu não conseguia nem sorrir." "Você não gosta</p><p>da aparência do seu rosto?", perguntei. «Nem a minha personagem. Tenho um caráter</p><p>totalmente pessimista. “Quando me mandam ir ao cinema, sempre penso que não vou gostar</p><p>do filme ou que vou encontrar algum grupo de crianças que vai me incriminar.” Antes de</p><p>encerrar a entrevista ele pôde acrescentar outra informação:</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>(59)</p><p>4369</p><p>Machine Translated by Google</p><p>Por si só, este motivo da consulta não justifica porque o paciente decidiu finalmente</p><p>encontrar uma solução naquele momento da sua vida. Se você perguntar sobre isso,</p><p>poderá descobrir outras motivações que explicam essa circunstância.</p><p>Elvira, uma paciente de 36 anos, explica na primeira consulta que vem por causa de</p><p>um estado depressivo que sofre há muitos anos. Ele nunca havia perguntado sobre</p><p>isso antes, mas agora decidiu tentar resolver. Aparentemente, esse quadro depressivo</p><p>começou após o nascimento do segundo filho, há mais de 10 anos. Desde então,</p><p>explica Elvira, nunca mais foi a pessoa que era antes, despreocupada, otimista, etc. Ele</p><p>especifica que seu quadro depressivo consiste em sentimentos generalizados de apatia,</p><p>desânimo, falta de vontade de viver, cansaço, etc. Este é sem dúvida um transtorno</p><p>depressivo de longa data, provavelmente desencadeado pelo nascimento do seu</p><p>segundo filho. Se o motivo da consulta for assim exposto, é possível pensar que algo</p><p>conflituoso despertou em Elvira o nascimento do seu segundo filho que ela ainda não</p><p>conseguiu resolver.</p><p>Mas por que você esperou 10 anos para vir para uma consulta? Por que você está</p><p>vindo agora? Questionada sobre</p><p>isso, Elvira explicou que não aguentaria mais essa</p><p>situação de desânimo e falta de vontade de viver. Pergunto-lhe o que acha que</p><p>aconteceu para que agora sinta que não aguenta mais esta situação pessoal de</p><p>desânimo e falta de vontade de viver. Elvira responde que é uma situação insustentável</p><p>que afeta negativamente o resto da sua família.</p><p>Ainda insatisfeita, continuo a perguntar-lhe o que ela acha que poderia ter sido a causa</p><p>que a levou a considerar agora que o seu desconforto pessoal poderia afetar o resto da</p><p>sua família. Ao especificar a questão desta forma, Elvira esclarece: “Agora, a minha</p><p>filha mais velha apresenta os mesmos sintomas que eu tinha quando nasceu o meu</p><p>filho mais novo”. Portanto, o motivo que levou Elvira a consultar-se não foi simplesmente</p><p>o seu estado depressivo, mas a sua preocupação de que acontecesse com a sua filha</p><p>o mesmo que ela. Quando um paciente procura uma consulta por causa de um distúrbio</p><p>ou problema que já parece crônico, geralmente há a urgência de outro motivo latente</p><p>para a consulta.</p><p>isso sofre.</p><p>Às vezes o motivo da consulta refere-se a um problema antigo, talvez crônico.</p><p>c) O paciente diz que está consultando por causa de um distúrbio ou problema que já existe há muito tempo.</p><p>«Tenho muito mau humor; "Eu desconto em minha família e em mim." Portanto, o que</p><p>realmente preocupava Sandra era a intolerância e o desprezo que sentia por si mesma,</p><p>que projetava nos meninos e meninas da sua idade, contra os quais nada podia fazer,</p><p>e que sem dúvida constituíam o germe da sua raiva e do seu mau humor. Considerei</p><p>que este era o motivo implícito ou latente da consulta, que precisava ser abordado.</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>4370</p><p>(60)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>A diferença entre motivo de consulta e demanda é que enquanto o primeiro pode</p><p>limitar-se à descrição de um conjunto de sinais, sintomas ou problemas de natureza</p><p>objetiva, o conceito de demanda, que obedece à transitividade, envolve a expressão de um</p><p>desejo, a pedido explícito de ajuda. Em psicologia, pela natureza dos “agentes terapêuticos”</p><p>que utiliza, não se pode trabalhar simplesmente a partir do motivo da consulta, pois o</p><p>motivo da consulta é a expressão crua do sofrimento do paciente. Na psicologia, o motivo</p><p>da consulta deve poder ser reformulado em outra expressão que seja praticável, ou seja,</p><p>em uma demanda (9, 10,11, 12).</p><p>CARACTERÍSTICAS DA EXPRESSÃO DA DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>Já apontei anteriormente que a ação dos “agentes terapêuticos” envolvidos na</p><p>psicologia é mediada pela parte subjetiva do paciente, ou seja, se não houver pedido de</p><p>ajuda, desejo de ser ajudado, o psicólogo não tem possibilidade de atuando. Apontei</p><p>também que o paciente só estará disposto a assumir a sobrecarga de dor adicional que a</p><p>ação dos "agentes terapêuticos" da psicologia acarreta na medida em que perceber que</p><p>eles afetam aquilo de si mesmo que ele realmente sente dor ou dor. te faz sofrer. Se o</p><p>paciente for capaz de reconhecer as características de sua dor e compreender o significado</p><p>latente de sua consulta, automaticamente será capaz de sentir o que está ferido em si</p><p>mesmo como algo que precisa ser remediado. Uma vez sentida a necessidade, pode-se</p><p>fazer um pedido de ajuda ao psicólogo, ou seja, uma demanda (7,8).</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>Para que o motivo da consulta seja viável para o psicólogo, é necessário que</p><p>pode ser reformulada em uma demanda com as seguintes características:</p><p>1. Como problema: Em psicologia, exceto no caso das técnicas comportamentais puras, não basta delimitar o</p><p>motivo da consulta a uma descrição dos sintomas, uma vez que não é possível agir diretamente sobre eles. É</p><p>feito sobre as supostas causas que os geraram, sejam pensamentos distorcidos, relacionamentos</p><p>desadaptativos, resistência inconsciente, etc. Na realidade, a psicofarmacologia não intervém diretamente no</p><p>sintoma, mas sim naquilo que considera as suas causas, ou seja, as alterações em determinadas reações</p><p>metabólicas do organismo. Mas, ao contrário da psicologia, a psicofarmacologia se baseia em uma teoria muito</p><p>específica baseada na fisiologia, comum a todas as pessoas, que permite decidir o tipo de agente químico que</p><p>deve ser inoculado no corpo a partir da análise fenomenológica do quadro sintomático. Em psicologia, os</p><p>mesmos sintomas ou condições psicopatológicas podem ser decorrentes de situações e problemas totalmente</p><p>diferentes dependendo de cada indivíduo.</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES (61)</p><p>4371</p><p>Machine Translated by Google</p><p>3. Um problema específico: Às vezes o paciente tem dificuldade em especificar o problema</p><p>ou problemas que consulta, devido à dor que lhe infligem.</p><p>Falar sobre um problema de forma vaga e impessoal é uma forma de fugir daquela dor,</p><p>de escapar dela. Mas, ao contrário, o psicólogo precisa chegar o mais próximo possível</p><p>do problema, para poder observá-lo em todas as suas dimensões e decidir a melhor</p><p>forma de abordá-lo. Não basta, por exemplo, que o paciente explique que vem consultar</p><p>porque não consegue dormir. Você deve esclarecer em quais situações você não</p><p>consegue dormir, desde quando não consegue dormir, quantas horas dorme, em que</p><p>horários do dia, etc. Desta forma é possível descobrir, por exemplo, que a insônia</p><p>começou quando a empresa mudou seu turno de trabalho e ele chegou em casa depois</p><p>das 10 da noite em vez das 5 da tarde, como acontecia antes. Chegar em casa às dez</p><p>da noite significa jantar imediatamente e ir para a cama logo depois, mas só adormecer</p><p>às 3 da manhã; O problema é que ele acorda às 7 horas, que até então era o horário</p><p>habitual para acordar nos dias de semana; Além disso, não consegue tirar uma soneca</p><p>como sempre fazia, pois à uma e meia da tarde já tem que voltar ao trabalho. Explicado</p><p>desta forma, podemos pensar que é normal que o paciente não consiga adormecer ao</p><p>ir para a cama, porque acabou de jantar e também chegou recentemente do trabalho e</p><p>não teve tempo de se esquecer dele e dos seus problemas.</p><p>Podemos entender um problema psicológico como um conflito da pessoa consigo</p><p>mesma ou com os outros. Por exemplo, a pessoa que sofre de agorafobia é alguém</p><p>que deseja ir sozinha a locais públicos ou lotados, mas não se sente capaz de fazê-lo,</p><p>o que causa um desconforto pessoal significativo. Ou também podemos entender que</p><p>uma pessoa tem um problema psicológico quando não consegue se adaptar</p><p>corretamente às situações sociais. Portanto, para que a demanda formulada pelo</p><p>paciente seja praticável pelo psicólogo, ela deve ser especificada na forma de um</p><p>problema pessoal ou inter-relacional.</p><p>2. Como problema pessoal, consigo mesmo ou com os outros: A menos que o grupo familiar</p><p>compareça, o que será discutido mais adiante neste artigo, o psicólogo só pode intervir</p><p>diretamente</p><p>com a pessoa que consulta. Você pode dar orientações ou conselhos para</p><p>o paciente aplicar no relacionamento com outras pessoas, mas é para esse paciente</p><p>que você as explica, para que ele as coloque em prática. A demanda tem que estar</p><p>focada naquilo que preocupa o paciente e o faz sofrer. Ou seja, tem que ser explicado</p><p>como um problema pessoal.</p><p>Por outro lado, se há muitos anos você se levanta na mesma hora para ir trabalhar,</p><p>também é lógico que nessa hora toca uma espécie de despertador interno que</p><p>interrompe seu sono. Se, além disso, o paciente explica que se recusou a aceitar aquele</p><p>turno porque o priva de estar com a família à tarde, mas que a empresa acabou por lhe</p><p>impor, podemos inferir que as dificuldades normais</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>4372</p><p>(62)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>4. Um problema que o paciente sente necessidade de resolver: Quando o paciente é</p><p>questionado sobre o motivo da consulta, pode acontecer que ele se limite a elencar</p><p>os fenômenos psicopatológicos que lhe acontecem, mas ao mesmo tempo demonstre</p><p>indiferença para com eles ., como se isso não estivesse realmente acontecendo com ele.</p><p>5. Problema para o qual o paciente pede ajuda: Pedir ajuda nem sempre é algo fácil e</p><p>confortável, pois envolve descobrir as próprias deficiências na frente de outra pessoa</p><p>(13). Esta é sem dúvida uma situação em que a autoimagem, o orgulho ou o</p><p>narcisismo podem ser enfraquecidos e dar origem a sentimentos de inferioridade e</p><p>vergonha. Embora quem consulta saiba que o psicólogo é um profissional disposto</p><p>a ajudá-lo e com capacidade de compreendê-lo, ele não pode deixar de reconhecê-lo</p><p>como outro ser humano semelhante a ele. Mas sem este pedido de ajuda o psicólogo</p><p>não pode trabalhar, como já referi anteriormente ao referir que a sua intervenção é</p><p>mediada pelo desejo do paciente. Embora possa ser doloroso para o paciente, a</p><p>demanda deve ser sempre formulada como um pedido de ajuda. Não é necessário</p><p>que o paciente expresse explicitamente, mas deve ser registrado implicitamente, de</p><p>modo que se o psicólogo dissesse: "Ou seja, você veio consultar para que eu possa</p><p>ajudá-lo...", o paciente teria para responder afirmativamente.</p><p>Esta aparente falta de contacto com o desconforto que descreve é típica da bela</p><p>indiferença da histeria, mas também pode ser o resultado de mecanismos de defesa</p><p>mais ou menos conscientes, cuja finalidade é manter o sofrimento o mais longe</p><p>possível. Para propor um tratamento psicoterapêutico, não basta que o paciente se</p><p>limite a explicar o que está acontecendo com ele, mas deve demonstrar que isso</p><p>realmente o preocupa. Para que o paciente possa fazer uma reclamação, é</p><p>necessário, por um lado, que ele tenha plena consciência do desconforto causado</p><p>pelos sintomas ou problemas descritos no motivo da consulta e, por outro, que ele</p><p>realmente quero me livrar deles. Antes de iniciar o tratamento psicoterapêutico, é</p><p>necessário que o paciente seja capaz de reconhecer e explicar claramente essa</p><p>dupla necessidade em sua solicitação. Por esta razão é sempre necessário investigar</p><p>além do motivo óbvio da consulta.</p><p>Os malefícios de acostumar o corpo a um horário de sono diferente são agravados</p><p>pelo fato de ter que fazê-lo à força e ao desprazer. Por todos esses motivos, o</p><p>problema de insônia deste paciente pode ser especificado da seguinte forma: O</p><p>paciente sofre de insônia porque não se acostuma a continuar dormindo depois das</p><p>sete da manhã, talvez porque seja esse o horário em que ele realmente gostaria.</p><p>para ir trabalhar.</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>4373</p><p>(63)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>Os dois integrantes de um casal, Lucas e Silvia, passam a se consultar devido à</p><p>angústia dela, de quarenta anos, sobre os rumos que vem tomando sua relação com</p><p>ele, quinze anos mais velho, há muito tempo. Eles têm um filho de seis anos. Ela acha</p><p>que ele tem um problema com a bebida, mas não admite. Ele explica que em casa bebe</p><p>um volume considerável de álcool e que também sai para ir ao bar, de onde volta tonto</p><p>e sem vontade de comer. Há vários meses que vem perdendo peso progressivamente,</p><p>mas não quer ir ao médico. Ela suspeita que Lucas possa estar passando mal e por isso</p><p>procurou o médico de família, que solicitou que fosse feita uma análise assim que Lucas</p><p>quisesse, mas por enquanto ele recusa.</p><p>Lucas atribui o problema de relacionamento a uma causa diferente: Silvia está obcecada</p><p>com a ideia de que ele beba. Quando vai ao bar é para estar com os amigos, mas nem</p><p>sente o gosto do álcool, diz. A sua família, continua ele, também pensa que é Silvia</p><p>quem está a ficar desnecessariamente obcecada com a sua saúde. Silvia contradiz estas</p><p>últimas palavras do marido e afirma que na realidade a família dele pensa o mesmo que ela.</p><p>Quando um casal ou uma família se consulta é porque a relação entre eles se</p><p>deteriorou. Os membros que comparecem são geralmente aqueles que reconhecem o</p><p>seu envolvimento no problema e/ou estão interessados em conseguir alguma mudança.</p><p>Mas, geralmente, para além do motivo comum de consulta, existem os vários motivos</p><p>de consulta de cada um dos membros, que correspondem à sua visão pessoal do</p><p>problema. Se o psicólogo pretende realizar um tratamento familiar e não um conjunto de</p><p>intervenções individuais, deve primeiro garantir que todos os membros conseguem</p><p>estabelecer a mesma procura, a partir da qual possam trabalhar em conjunto. Portanto,</p><p>a demanda deve ser formulada como um problema relacional em que todos os membros</p><p>que vêm consultar estejam envolvidos da mesma forma.</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA QUANDO APARECE UM CASAL OU UMA FAMÍLIA</p><p>Aparentemente, foi a esposa quem insistiu em pedir uma consulta ao psicólogo. Lucas</p><p>veio obrigado, para que ela “não ficasse mais pesada do que já está”, diz o marido.</p><p>Durante a entrevista, Silvia fala com coerência, fundamentando o que explica. Pela</p><p>expressão das suas palavras posso adivinhar a angústia que lhe causa a situação que</p><p>descreve. Lucas fala com frieza, apenas para se defender das acusações da esposa, e</p><p>seus raciocínios, quando existem, se contradizem. Seu único argumento é que Silvia é</p><p>excessivamente obcecada. Para organizar as ideias que surgiram, resolvi mostrar a</p><p>minha opinião. Expliquei-lhes que não poderia saber qual dos dois estava certo no que</p><p>diziam e que, portanto, não tinha escolha senão acreditar em ambos. Disse-lhes que me</p><p>parecia que havia um ponto de acordo entre os dois que era muito claro: ambos queriam</p><p>ficar juntos e sentir-se bem um com o outro. Ambos olharam para mim e assentiram em</p><p>uníssono. Continuei dizendo-lhes que, no entanto, praticamente não havia outros pontos</p><p>de acordo, de encontro entre</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>4374</p><p>(64)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>Lucas sublinhou minhas palavras afirmando que realmente</p><p>acreditava que Silvia estava muito</p><p>preocupada. Continuei dizendo a eles que se Silvia conseguisse se acalmar em relação à saúde</p><p>de Lucas, provavelmente a relação entre os dois melhoraria. E sugeri que ele fizesse um esforço,</p><p>um esforço com o qual ela sem dúvida se acalmaria.</p><p>O esforço consistiu em fazer aquela análise que até então ele havia recusado. Lucas disse, embora</p><p>com certo mau humor, que concordou em fazer uma análise e Silvia voltou a repetir que não</p><p>queria se separar dele. Esta entrevista começou com dois motivos de consulta: “Ajude-o a parar de</p><p>beber”, por parte de Silvia, e “Ajude-a a parar de ficar obcecada com a ideia de que eu bebo”, por</p><p>parte de Lucas. Mas terminou com um pedido partilhado por ambos: “Ajude-nos para que ela não</p><p>tenha que continuar sofrendo pela sua saúde”.</p><p>Portanto, talvez o que eles realmente perguntassem, continuei dizendo, não era como continuar</p><p>vivendo juntos, mas como poder separar-se e continuar a amar-se, tendo em conta que o bem-</p><p>estar de uma criança de seis anos dependia na sua capacidade de apreciação mútua. A esposa</p><p>então explicou que a ideia da separação parecia cada vez mais próxima dela, mas atormentava-a</p><p>pensar que se ela o deixasse ele continuaria a beber e a não se preocupar com a sua saúde até</p><p>que muito provavelmente acabaria gravemente doente. Lucas ouviu sem dizer nada. Mais uma vez</p><p>falei novamente e me dirigi à esposa, insistindo que eu tinha que acreditar no que ambos me</p><p>contavam e, portanto, se ela dissesse que o marido estava em situação de grande risco para a</p><p>própria saúde por beber, de forma incontrolável, seria era evidente, sem dúvida, que muito em</p><p>breve sofreria as consequências. Nenhum deles respondeu para mim, mas seus olhares estavam</p><p>preocupados. Silvia falou com clareza, mas não pude tomar partido da sua argumentação e</p><p>considerar que era o seu marido quem estava errado, pois ambos podiam compreender que eu me</p><p>deixava levar pela sua capacidade de convicção e não por uma razão objectivamente fundamentada.</p><p>Naquele momento percebi que havia um problema que eles compartilhavam e que lhes permitiu</p><p>começar a trabalhar. Eu disse a eles que além da vontade de ficarem juntos e se sentirem bem um</p><p>ao lado do outro, havia outra coisa que eles também concordavam: que ela estava muito preocupada.</p><p>ambos para que pudessem começar a trabalhar juntos para resolver o que estava acontecendo</p><p>com eles: Silvia atribuiu o desconforto do casal ao fato de Lucas beber demais, mas Lucas negou</p><p>a afirmação e considerou que era produto da obsessão de Silvia.</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOSE</p><p>Dependerá do grau de compensação do paciente psicótico no momento de solicitar a consulta</p><p>que ele tenha capacidade de fazer uma demanda clara e coerente sobre algum motivo de</p><p>desconforto. Na verdade, fenomenologicamente, o que caracteriza a psicose é a ausência de</p><p>consciência da doença, o que implica não reconhecer a necessidade ou o motivo para pedir ajuda.</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>4375</p><p>(65)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>Na psicose, pode-se pensar que um indicador de sucesso terapêutico é que o paciente tome consciência</p><p>de sua doença, ou seja, que esteja em condições de formular uma demanda em relação ao seu delirium</p><p>(14).</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS, PUBEROS</p><p>Por definição, a psicose é uma doença crônica, que pode ocorrer com surtos em que o sujeito delira e</p><p>tem alucinações. Ou seja, a psicose em si é motivo de consulta, basta que alguém a articule em forma de</p><p>demanda.</p><p>Às vezes, ao atender um paciente psicótico, principalmente se a solicitação de consulta for de um</p><p>familiar, tem-se a sensação de que não há solicitação do sujeito. Se você também goza de um período de</p><p>certa compensação, o psicólogo pode até passar a acreditar que na realidade não há problema e que os</p><p>familiares o trouxeram por capricho. Quando o paciente psicótico não faz nenhuma exigência, é preciso ouvir</p><p>os familiares que o levam à consulta. Porém, o fato do paciente psicótico concordar em consultar deve ser</p><p>interpretado como a manifestação de algum tipo de demanda.</p><p>Ou seja, nestes casos, a demanda principal deve partir dos pais e deve consistir num pedido de ajuda</p><p>para o filho. Quando os pais se consultam explicando que o pedido vem de um professor ou pediatra, é</p><p>aconselhável que o psicólogo os ajude a compreender o significado desse pedido e que possam torná-lo</p><p>seu. Se não houver uma demanda clara por parte dos pais, se eles não entenderem exatamente por que</p><p>estão levando a criança para consulta e com que finalidade, mesmo que a criança estabeleça um bom</p><p>vínculo com o psicólogo, mais cedo ou mais tarde os pais irão provavelmente interferem ativa ou</p><p>passivamente, impedindo que o tratamento seja realizado corretamente.</p><p>E ALGUNS ADOLESCENTES</p><p>Normalmente, no caso de crianças e adolescentes, ou seja, menores de 12, 13 ou 14 anos, e também</p><p>de alguns adolescentes, quando surge algum problema neles são os pais, professores ou pediatras que o</p><p>detectam. A criança, de qualquer forma, pode se sentir estranha ou até culpada por algum de seu</p><p>comportamento, mas raramente entende que se trata de um problema psicológico pessoal. Geralmente são</p><p>os pais que solicitam a consulta e também são eles que trazem a criança. Ou seja, são eles que autorizam o</p><p>psicólogo a tratar seu filho. Portanto, voltando ao conceito de “agente terapêutico”, podemos afirmar que no</p><p>tratamento de crianças, adolescentes e alguns adolescentes, sua ação é mediada pela parte subjetiva da</p><p>criança, como também ocorre no caso do tratamento de adultos , mas também deve ter autorização dos pais</p><p>ou responsáveis (15).</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>4376</p><p>(66)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>A mãe de Elvira pediu consulta, preocupada com o comportamento da filha de 15 anos.</p><p>Segundo a mãe, Elvira tinha um “caráter muito forte”, motivo de contínuas discussões em</p><p>casa e diversas expulsões da escola. Além disso, Elvira não demonstrava interesse por</p><p>nada, não tinha hobbies nem planos para o futuro. Os pais se separaram quando ele tinha</p><p>4 anos e a relação com o pai tem sido ainda mais difícil. Aparentemente, o pai de Elvira é</p><p>uma pessoa muito rígida, com hábitos que beiram o obsessivo. A principal razão do conflito</p><p>entre Elvira e os seus pais são os maus resultados escolares. Eles estão preocupados que,</p><p>se não passarem no ESO, terão muitas dificuldades no seu trabalho futuro. O pai tenta</p><p>explicar-lhe e irrita-se ao considerar que ela não demonstra interesse em estudar, dando</p><p>origem a disputas por vezes violentas. Já a mãe, para evitar confrontos sérios, optou por</p><p>não falar sobre esse assunto, embora isso a preocupe muito.</p><p>No final da entrevista despediu-se, garantindo-me que Elvira viria no dia seguinte, mas que</p><p>dependeria</p><p>da “empatia” se eu conseguiria que a filha quisesse continuar vindo. Respondi</p><p>que da minha parte faria o que fosse necessário para que houvesse “empatia”, mas fiquei</p><p>pensando que não seria fácil convencer uma menina de 15 anos que não tem interesse em</p><p>nada e que se torna violenta ao ser lembrado das coisas que estão dando errado para ela,</p><p>que ele precisa fazer tratamento psicoterapêutico. Poucos dias depois da entrevista com a</p><p>mãe, chega Elvira. Explico a ela que a mãe dela veio falar comigo porque estava preocupada</p><p>com coisas que estavam acontecendo na escola que a afetavam e porque acreditava ter</p><p>perdido as esperanças. Pergunto o que ela acha que a mãe consultou por esse motivo e ela</p><p>responde que para ela é a mesma coisa.</p><p>Há adolescentes, trazidos à consulta pelos pais, que chegam com uma demanda</p><p>diferente da sua, relacionada ao sofrimento pessoal. Neste caso, é preciso priorizá-lo, mas</p><p>sem descartar a importância da demanda dos pais.</p><p>Quanto às crianças, na medida em que não conseguem compreender que têm um</p><p>problema psicológico, é provável que, à partida, não consigam formular uma exigência com</p><p>a clareza típica de um adulto. O importante é que a criança que os pais trouxeram para</p><p>tratamento consiga reconhecer que existem coisas nela, sejam medos, comportamentos,</p><p>etc., que a fazem sofrer e que entenda que o psicólogo pode ajudá-la.</p><p>“Você também está preocupada, Elvira?” Continuei a questioná-la. “Sim, porque não sei</p><p>calar a boca, às vezes me punem na escola”, respondeu ele. "O que você quer dizer com</p><p>não sabe calar a boca?" “Tenho um carácter muito forte e não sei parar quando é preciso e</p><p>respondo mal ou trato mal os professores e é por isso que me castigam”, disse Elvira. Depois</p><p>de alguns minutos de diálogo sem conseguir descobrir nela qualquer preocupação genuína</p><p>com os problemas que me descrevia, observei que seus olhos começaram a lacrimejar. "É</p><p>isso! -ele disse- Não sei o que há de errado comigo!</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>4377</p><p>(67)</p><p>Machine Translated by Google</p><p>LITERATURA</p><p>Quando menos espero começo a chorar. Acontece comigo em todos os lugares. Às vezes</p><p>estou na aula e começo a chorar, sem saber por quê. Estou conversando sobre futebol ou</p><p>basquete com um amigo e do nada começo a chorar. "Aí eles me perguntam o que há de</p><p>errado e eu não sei o que responder." Aproveitei para dizer a ela: “Elvira, acho que,</p><p>independente do motivo pelo qual sua mãe veio me consultar, há uma coisa em que posso</p><p>te ajudar: saber por que isso acontece com você”.</p><p>3. Moya Ollé, J., «Psicopatologia: interesse do diagnóstico para a clínica. Diagnóstico em</p><p>psiquiatria”, em Monografias Clínicas em Atenção Primária, Aparicio, D. (comp.),</p><p>Barcelona, Doyma, 1992.</p><p>7. Strauss, M., "A primeira consulta com o médico", em Monografias Clínicas em Atenção</p><p>Primária, Aparicio, D. (ed.), Barcelona, Doyma, 1992.</p><p>2. Nasio, D., Cinco Lições sobre a Teoria de Jacques Lacan, Barcelona, Gedisa, 1995,</p><p>página. 126.</p><p>Entendi que era algo preocupante e incômodo para Elvira e que essa exigência não</p><p>contrariava o interesse da mãe pela consultoria de Elvira. Contar para ela que eu poderia</p><p>ajudá-la a entender por que às vezes ela começava a chorar foi uma forma de despertar o</p><p>interesse em continuar a consultoria em uma adolescente trazida pela mãe cujo problema</p><p>era, a princípio, não ter interesse em nada.</p><p>Nova Visão, 1985, p. 38.</p><p>4. Bleger, J., Tópicos de psicologia (entrevista e grupos), Buenos Aires, Ediciones</p><p>Elvira se manifestou em um processo que sua mãe não me contou.</p><p>6. Sierra, JC, Buela-Casal, G., Garzón, A. e Fernández, MA, "A entrevista clínica", em</p><p>Manual de avaliação e tratamentos psicológicos, Buela-Casal, G., e Sierra, JC (comp. ),</p><p>Madrid, Biblioteca Nueva, 2001, p. 45.</p><p>Agradeço a Graziella Baravalle pela supervisão deste artigo e ao Dr. David Chesa pela</p><p>revisão técnica. Graziella Baravalle é psicanalista, membro docente da Fundação Europeia</p><p>para Psicanálise. David Chesa é psiquiatra e conselheiro da área de pesquisa do Centro de</p><p>Saúde Mental Sant Feliu de Llobregat.</p><p>Agradecimentos</p><p>5. Ortuño Sanchez-Pedreño, F., «Comportamento da doença e atitude do paciente em</p><p>relação aos seus sintomas», em Manual do Residente de Psiquiatria, Cervera Enguix,</p><p>S., et al, (comp.), Madrid, Smithkline Beecham, 1997 .</p><p>Neuropsiq., 2003, nº 72, p. 56.</p><p>1. López Herrero, LS, Pérez, A., "A face oculta da tristeza", Rev. Asoc.</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>(68)</p><p>4378</p><p>Machine Translated by Google</p><p>Assoc. Esp. Neuropsiq., 1999, vol. XIX, nº 70, pp. 237-244.</p><p>8. Dor, J., Introdução à leitura de Lacan, Barcelona, editorial Gedisa, 1994,</p><p>14. Gracia, A., Psicanálise e psicose, Madrid, Editorial Síntesis, 2001, pp. 29-31</p><p>Doutor em Psicologia, Centro de Saúde Mental de St. Feliu de Llobregat</p><p>Nova Visão, 1985, p. 36.</p><p>C/. Tiro 6, 9º-5º</p><p>08035 Barcelona</p><p>9. Freud, S., A interpretação dos sonhos, Obras Completas, Madrid, Biblioteca Nueva, 1983,</p><p>p. 689.</p><p>15. Winnicott, DW, Clínica Psicanalítica Infantil, Buenos Aires, Paidós Horme, 1980,</p><p>e 189.</p><p>pág. 159-167.</p><p>Tel.: 93 212 80 23 · Telemóvel: 610 652 655</p><p>Pau Martínez Farrero</p><p>11. Cervilla Sánchez, F., «Demanda e instituição em «Descontentamento na cultura»», Rev.</p><p>10. Lacan, J., Escritos 2, Madrid, Siglo twentyniuno editores, 1975, pp. 665-675.</p><p>pág. 14-19.</p><p>13. Bleger, J., Tópicos de psicologia (entrevista e grupos), Buenos Aires, Ediciones</p><p>Endereço:</p><p>(Sagrat Cor, Serviços de Saúde Mental)</p><p>12. Tizón, JL, Pellegero, N., Sáinz, F., Guadán, I., «O trabalho clínico de uma Equipe de</p><p>Saúde Mental vinculada à Atenção Primária à Saúde com orientação psicossocial.</p><p>Algumas palavras sobre nossos objetivos globais de saúde”, em Cuidados primários em</p><p>saúde mental e saúde mental em cuidados primários, Tizón García, JL (comp), Barcelona,</p><p>Doyma, 1992.</p><p>DO MOTIVO DA CONSULTA À DEMANDA EM PSICOLOGIA</p><p>ORIGINAIS E REVISÕES</p><p>4379</p><p>(69)</p><p>Machine Translated by Google</p>