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<p>Disciplina |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 1</p><p>DISCIPLINA</p><p>TEORIA GERAL DA INVESTIGAÇÃO</p><p>E PERÍCIA</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Sumário</p><p>www.cenes.com.br | 2</p><p>Sumário</p><p>Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2</p><p>1 A Investigação ---------------------------------------------------------------------------------------- 3</p><p>1.1 A Investigação Criminal ----------------------------------------------------------------------------------------- 5</p><p>1.2 Histórico da Investigação Criminal ------------------------------------------------------------------------- 11</p><p>1.3 Os Fundamentos da Investigação Criminal -------------------------------------------------------------- 13</p><p>1.4 Os Fins da Investigação Criminal --------------------------------------------------------------------------- 15</p><p>2 Teoria da Investigação Criminal ---------------------------------------------------------------- 19</p><p>2.1 O Garantismo Penal -------------------------------------------------------------------------------------------- 21</p><p>3 As Provas no Processo Penal Brasileiro ------------------------------------------------------- 31</p><p>3.1 A Prova ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 31</p><p>3.2 Meios de Prova -------------------------------------------------------------------------------------------------- 33</p><p>3.3 A Prova Criminal ------------------------------------------------------------------------------------------------ 35</p><p>3.4 A Organização Pericial ----------------------------------------------------------------------------------------- 37</p><p>3.5 O Papel do Ministério Público ------------------------------------------------------------------------------- 39</p><p>3.6 A Perícia como Fator de Promoção da Justiça ---------------------------------------------------------- 41</p><p>3.7 Prova Pericial ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 42</p><p>4 Provas e Perícias ------------------------------------------------------------------------------------ 47</p><p>4.1 A Prova Pericial -------------------------------------------------------------------------------------------------- 48</p><p>4.2 O Perito ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 55</p><p>4.3 Modalidades de Perícia --------------------------------------------------------------------------------------- 58</p><p>5 Referências ------------------------------------------------------------------------------------------- 65</p><p>Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por</p><p>marcadores.</p><p>Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e</p><p>DESCOMPLICADA pelo conteúdo.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 3</p><p>1 A Investigação</p><p>A etimologia da designação "investigação" é derivada do latim, investigatione (in</p><p>+ vestígios + ato), implicando uma ação direcionada para seguir um vestígio e que,</p><p>por conseguinte, levou à sua interpretação como o ato de pesquisa, indagação ou</p><p>investigação. Este conceito evoca a ideia de acompanhar o rastro de uma entidade ou</p><p>de procurar marcas e indícios. O termo "investigação" fez a sua aparição inicial no</p><p>século XV, logo antes do período revolucionário científico que levou à criação da</p><p>ciência moderna (Ginzburg, 1989).</p><p>Investigar não se restringe a uma busca aleatória, mas implica seguir uma</p><p>hipótese previamente aceita e determinar a sua validade ou invalidade. Se esta</p><p>hipótese revelar-se inconsistente à luz de novas informações previamente</p><p>desconhecidas, ela deverá ser substituída ou descartada. Aqui reside a complexidade</p><p>do trabalho investigativo: não se trata apenas de buscar meticulosamente algo que</p><p>estaria ao alcance do público geral, mas sim de alcançar uma conclusão que era</p><p>desconhecida anteriormente (Kuhn, 1962).</p><p>A nomenclatura "investigar" é muitas vezes utilizada em um contexto cotidiano.</p><p>Por exemplo, ao estudar um determinado tópico por meio de um livro, é possível</p><p>alcançar novas conclusões para o indivíduo, no entanto, essas conclusões</p><p>provavelmente não são novas para muitos outros, como os próprios autores do livro.</p><p>O sentido verdadeiro de "investigar" é alcançar conclusões que são inéditas não</p><p>apenas para o investigador, mas para muitos outros. A investigação envolve, além da</p><p>perseverança, inteligência e criatividade, já que é necessário ver além do já observado</p><p>e, preferencialmente, tentar transmitir essa visão de maneira mais clara possível para</p><p>o público (Popper, 1963).</p><p>No contexto de uma concepção teleológica da investigação criminal, é possível</p><p>estabelecer uma comparação com a ciência. Essa comparação pode ser feita tanto a</p><p>partir da perspectiva histórica quanto da lógica do campo do direito, uma vez que</p><p>ambos os campos fornecem aspectos metodológicos que conjecturam uma</p><p>racionalidade específica (Britto, 2014).</p><p>Portanto, é possível referir-se à investigação "como" ciência, se este "como" for</p><p>representado no sentido de uma semelhança, e não de uma total igualdade, por duas</p><p>razões fundamentais (Britto, 2014):</p><p>A investigação criminal é um conceito mais histórico do que científico, pois é</p><p>através da história que se obtém acesso às suas questões intelectuais iniciais,</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 4</p><p>especialmente aquelas que dizem respeito à verdade sobre fatos passados. Assim,</p><p>qualquer ciência que pretenda surgir a partir dela não pode ignorar as questões sobre</p><p>a possibilidade de uma ciência da história;</p><p>Embora a investigação criminal questione as ciências empíricas, seus enunciados</p><p>(teoria e leis) e suas formas de pesquisa (métodos e técnicas), isso ainda não nos</p><p>permite falar de uma ciência da investigação criminal nem desconsiderar a incidência</p><p>da lógica do direito na justificação do conhecimento.</p><p>A investigação "como" ciência possui fronteiras inerentes ao conhecimento, que</p><p>decorrem tanto da natureza histórica da investigação quanto da falibilidade da ciência,</p><p>além de condicionantes ético-jurídicas, sejam eles comuns a qualquer área de saber</p><p>que se pratica em sociedade, sejam os que se impõem por razão de direitos garantidos</p><p>em face da ação de instituições estatais (Britto, 2014).</p><p>É nesse contexto que se afirma a existência de uma lógica do direito, que incide,</p><p>inevitavelmente, na ideia de uma investigação como ciência, nos Estados de direito, e</p><p>nos permite falar de um contexto jurídico da metodologia da investigação criminal,</p><p>que se particulariza por certas normas (princípios e regras) relativas ao crime e ao</p><p>processo penal.</p><p>O entendimento das normas jurídicas da investigação, em diálogo tanto com o</p><p>discurso da história quanto com o da ciência, permite-nos, não apenas esboçar o</p><p>estatuto disciplinar do domínio de saber investigativo-criminal, mas também</p><p>evidenciar a perspectiva epistemológica dessas normas para além da função</p><p>garantista que cumprem no âmbito do direito.</p><p>Trata-se de percorrer as dimensões histórica e científica da investigação criminal</p><p>para reafirmarmos com uma maior força compreensiva a sua dimensão jurídica, e em</p><p>que sentido esta dimensão acaba por sobrepor-se às demais, nos Estados de direito</p><p>que postulam a proeminência da dignidade da pessoa.</p><p>Existem diferenças fundamentais entre a investigação científica e a investigação</p><p>criminal. Um crime geralmente é investigado por um número limitado de pessoas,</p><p>enquanto na ciência, o "crime" é a própria natureza e muitos se questionam</p><p>simultaneamente sobre o tópico, em várias grandes equipes, "competindo" pela</p><p>mesma resposta e, normalmente, compartilhando os resultados uns com os outros</p><p>(Britto, 2014).</p><p>Na investigação criminal, quem, afinal, atribui a culpabilidade não é o</p><p>investigador, mas sim um juiz.</p><p>jurídico,</p><p>as provas desempenham um papel essencial na reconstrução dos eventos criminosos,</p><p>na formação da convicção do juiz e na garantia dos direitos e garantias fundamentais</p><p>dos acusados.</p><p>O sistema de provas no processo penal brasileiro baseia-se em princípios como</p><p>o da busca da verdade real, o contraditório, a ampla defesa e a presunção de</p><p>inocência. Esses princípios visam assegurar que as provas sejam produzidas de</p><p>maneira lícita, transparente e suficiente para a formação de uma decisão judicial justa</p><p>e fundamentada.</p><p>No entanto, a questão das provas no processo penal é complexa e envolve</p><p>diversos aspectos, como a admissibilidade, a obtenção, a valoração e o contraditório</p><p>das provas apresentadas pelas partes. Além disso, surgem desafios relacionados à</p><p>tecnologia, como a utilização de provas digitais e a proteção dos dados pessoais dos</p><p>envolvidos.</p><p>Nesse contexto, é necessário compreender a importância das provas como</p><p>instrumentos de verificação dos fatos e de garantia dos direitos no processo penal. A</p><p>análise criteriosa das provas apresentadas pelas partes, bem como a aplicação dos</p><p>princípios e regras que regem a produção e a valoração dessas provas, são essenciais</p><p>para a busca da justiça e da efetividade do sistema penal.</p><p>Ao explorar o tema das provas no processo penal brasileiro, é fundamental</p><p>compreender as diferentes fontes de prova, como testemunhas, documentos, perícias,</p><p>interceptações telefônicas, entre outras, bem como os meios de obtenção e valoração</p><p>dessas provas à luz do ordenamento jurídico vigente.</p><p>Diante desse contexto, a presente abordagem busca analisar de forma</p><p>aprofundada a questão das provas no processo penal brasileiro, considerando os</p><p>princípios e regras que norteiam sua produção, admissibilidade e valoração, bem</p><p>como os desafios e perspectivas decorrentes do avanço tecnológico.</p><p>3.1 A Prova</p><p>Desejamos agora aprofundar nossa análise sobre o tema da prova, um elemento</p><p>crucial nos estudos da perícia criminal. As provas desempenham um papel</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 32</p><p>fundamental na perícia, pois têm como objetivo principal buscar a verdade e</p><p>determinar a existência ou não de determinado fato. A ação de provar consiste</p><p>essencialmente em evidenciar a presença da verdade dentro dos fatos narrados.</p><p>No contexto jurídico, a prova é caracterizada como os instrumentos utilizados</p><p>pelas partes ou pelo juiz em determinada relação processual com o propósito de</p><p>determinar a veracidade dos acontecimentos ou argumentações ao longo do</p><p>processo. Podemos afirmar, portanto, que a prova é um instrumento de averiguação.</p><p>O objetivo da produção de provas no processo é, em primeiro lugar, obter a</p><p>convicção do juiz a respeito do que as partes alegam. É de suma importância que o</p><p>juiz tenha um conhecimento aprofundado sobre o objeto das disputas jurídicas que</p><p>estão sob seu julgamento, para que suas decisões possam alcançar o nível de</p><p>razoabilidade esperado. Para isso, é necessário que as provas apresentadas durante o</p><p>processo sejam apontadas de maneira idônea e legítima, uma vez que qualquer</p><p>evento, argumentação ou eventualidade que possa dar origem a dúvidas no litígio</p><p>será objeto de análise por meio das provas.</p><p>Nesse sentido, é importante examinarmos a preocupação do legislador em</p><p>esclarecer os elementos que não necessitam de prova. Para tanto, podemos recorrer</p><p>ao artigo 374 do Código de Processo Civil, que estabelece que certos fatos não</p><p>dependem de prova, sendo eles: os fatos notórios, os afirmados por uma parte e</p><p>confessados pela parte contrária, os admitidos no processo como incontroversos e</p><p>aqueles em favor dos quais milita uma presunção legal de existência ou veracidade.</p><p>Os fatos notórios, de acordo com o legislador, são aqueles cuja relevância</p><p>alcançou uma ampla divulgação na mídia. Podemos dizer que são verdades</p><p>observadas por todos dentro de um determinado grupo social. Portanto, para que um</p><p>fato seja caracterizado como notório, não basta apenas a publicidade na imprensa, é</p><p>necessário também que parte da comunidade tenha conhecimento da veracidade</p><p>desse fato.</p><p>No processo civil, um dos tipos de prova admitidos é a confissão ficta, que ocorre</p><p>quando a parte, mesmo sendo intimada, não está presente em juízo ou,</p><p>comparecendo, se recusa a prestar depoimento. Nesses casos, é permitido ao juiz</p><p>aplicar a pena de confissão à parte, conforme previsto no artigo 385 do Código de</p><p>Processo Civil.</p><p>Já no âmbito do direito penal, independentemente de o acusado reafirmar as</p><p>alegações feitas pela vítima, o magistrado poderá dispensar a prova, seguindo o</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 33</p><p>princípio da verdade real. Portanto, no ordenamento penal, é necessário comprovar</p><p>os eventos de forma factual, não sendo suficiente apenas a confissão do acusado.</p><p>Assim, no direito penal, é obrigatória a apresentação de provas categoricamente</p><p>definitivas para a imposição de pena ao réu em julgamento. De fato, é o princípio da</p><p>verdade real que justifica o disposto no artigo 156 do Código de Processo Penal</p><p>brasileiro. Conforme estabelecido nesse artigo, a prova da alegação cabe à parte que</p><p>a fizer, mas é facultado ao juiz, de ofício, ordenar a produção antecipada de provas</p><p>consideradas urgentes e relevantes, além de determinar, durante a instrução ou antes</p><p>de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvidas sobre ponto</p><p>relevante.</p><p>Desse modo, podemos afirmar que, no âmbito do processo penal, o magistrado</p><p>não apenas pode, mas deve incentivar a produção de provas para esclarecer dúvidas</p><p>que possam ter relevância na aplicação de sua sentença.</p><p>Uma das formas de prova aceitas em nosso ordenamento jurídico é a prova</p><p>pericial, que, inclusive, se houver mais de um processo entre as partes, pode ser</p><p>utilizada como prova emprestada caso tenha sido produzida perante o mesmo juízo.</p><p>Além disso, esse tipo de prova também está sujeito ao contraditório.</p><p>Por fim, é fácil compreender que o estudo sobre a prova é parte indispensável</p><p>da Ciência Processual, uma vez que as provas são fundamentais para o desenrolar do</p><p>processo. Um processo sem a presença de provas válidas, embora possa conter</p><p>importantes discussões doutrinárias e jurisprudenciais, não terá êxito em sua</p><p>conclusão. Portanto, para o ordenamento jurídico brasileiro, são consideradas válidas</p><p>as provas que seguem as normas da legislação vigente, bem como os princípios</p><p>doutrinários no âmbito jurídico.</p><p>3.2 Meios de Prova</p><p>Desejamos agora nos aprofundar na análise dos meios de prova, que consistem</p><p>em instrumentos legais cabíveis em um processo para a verificação direta ou indireta</p><p>dos fatos e argumentações apresentados no processo. Nesse sentido, os meios de</p><p>prova podem incluir não apenas aqueles previstos em lei, mas também outros meios</p><p>desde que estejam em conformidade com o ordenamento jurídico vigente.</p><p>O Código de Processo Civil estabelece o direito das partes de utilizarem todos os</p><p>meios legais, bem como os moralmente legítimos, para provar a verdade dos fatos</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 34</p><p>em que se fundamentam o pedido ou a defesa, influenciando eficazmente na</p><p>convicção do juiz, conforme disposto no artigo 369.</p><p>Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios</p><p>legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não</p><p>especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em</p><p>que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na</p><p>convicção do juiz.</p><p>Observa-se, portanto, que as provas no Código de Processo Civil são balizadas</p><p>em termos de moralidade e legalidade, mas não em termos de tipos de provas. O</p><p>âmbito processual menciona explicitamente alguns tipos específicos de provas, como</p><p>as documentais, testemunhais</p><p>e periciais, porém, é pacífico em nossa doutrina e</p><p>jurisprudência que essa lista é apenas exemplificativa e não taxativa.</p><p>No contexto do processo penal, é relevante analisar o artigo 155 do Código de</p><p>Processo Penal, que também faz referência às limitações dos meios de prova.</p><p>Conforme esse artigo, o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova</p><p>produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão</p><p>exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as</p><p>provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Percebe-se, portanto, que,</p><p>independentemente de a prova ter sido obtida por meio de instrumentos legais e</p><p>moralmente aceitos, quando se trata do estado das pessoas, somente será admitida</p><p>caso seja originada de documento público comprobatório, como certidão civil.</p><p>Os incisos LIV e LV do artigo 5º da Constituição Federal de 1988 resguardam o</p><p>princípio do devido processo legal, que é um princípio garantidor do desenvolvimento</p><p>adequado do processo. Provas obtidas por meios que desrespeitam as regras</p><p>expressas no direito processual são consideradas ilegítimas, pois violam o devido</p><p>processo legal. No entanto, parte da doutrina defende a inexistência de flexibilização</p><p>nesse sentido, buscando fundamentação em princípios constitucionais que sustentam</p><p>a concretização do Estado Democrático de Direito, como os direitos fundamentais e</p><p>o devido processo legal.</p><p>Portanto, a questão das provas ilegítimas é realmente complexa, e podemos</p><p>afirmar que, no âmbito criminal, nem sempre é possível aguardar a resolução de</p><p>questões de interesse público. Além disso, tão importante quanto os meios de prova,</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 35</p><p>é necessário abordar os meios de investigação criminal, que estabelecem a forma pela</p><p>qual as provas podem ser obtidas. Assim como os meios de prova, os meios de</p><p>investigação auxiliam na reconstrução dos eventos a fim de esclarecer as alegações</p><p>feitas no processo.</p><p>Podemos identificar três diferenças importantes entre os meios de investigação</p><p>e os meios de prova: o âmbito jurídico, a forma de participação e a finalidade. Em</p><p>relação ao âmbito jurídico, os meios de prova são atividades processuais, enquanto</p><p>os meios de investigação podem ser realizados por autoridades fora da esfera</p><p>processual. Por exemplo, os meios de prova incluem depoimentos testemunhais e</p><p>documentos, enquanto os meios de investigação envolvem atividades externas, como</p><p>busca e apreensão.</p><p>Quanto à forma de participação, os meios de investigação ocorrem sem a</p><p>necessidade de contraditório, podendo ocorrer situações inesperadas para o</p><p>investigado. Por outro lado, os meios de prova são necessariamente abertos e</p><p>ocorrem com o conhecimento de todas as partes do processo, permitindo o</p><p>contraditório.</p><p>Por fim, a diferença mais proeminente é a finalidade buscada por esses meios.</p><p>Enquanto os meios de prova têm como objetivo a reconstrução das situações alegadas</p><p>no processo, os meios de investigação visam a coleta ampla de informações, com a</p><p>finalidade de encontrar dados que possam indicar a ocorrência de um crime passível</p><p>de uma sentença condenatória.</p><p>3.3 A Prova Criminal</p><p>A origem latina da palavra "prova", derivada do verbo "probare", está associada</p><p>ao conceito de esclarecimento, identificação e demonstração de convicção sobre um</p><p>determinado acontecimento. Nesse sentido, a prova desempenha um papel</p><p>fundamental na manifestação da veracidade em relação às declarações que visam</p><p>proteger um direito ou contestar as alegações da parte adversa.</p><p>No entanto, como já mencionado, as afirmações dos fatos feitas no processo</p><p>estão sujeitas a não corresponderem à verdade. Portanto, a prova assume uma</p><p>importância significativa na formação da convicção do juiz. No contexto específico das</p><p>provas criminais, é necessário defini-las como a demonstração da veracidade das</p><p>alegações que influenciam o julgamento da responsabilidade e aplicação de penas</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 36</p><p>por uma infração penal cometida. Assim, o objetivo primordial das provas criminais é</p><p>embasar a convicção do juiz quanto à autoria e materialidade do delito em questão.</p><p>No sistema processual penal brasileiro, adotou-se o modelo denominado</p><p>europeu-continental. Ao longo da história, as provas sempre foram utilizadas como</p><p>ferramentas para a reconstrução dos fatos ocorridos no passado. Em tempos remotos,</p><p>acredita-se que as provas seriam obtidas diretamente de Deus, ou seja, caso o cidadão</p><p>fosse inocente, Deus proveria sustentação à sua inocência.</p><p>Na Idade Média, era comum o uso das chamadas ordálias, que consistiam em</p><p>provas jurídicas para determinar a culpa ou inocência do acusado por meio da</p><p>intervenção de elementos naturais, cujo resultado era interpretado como um juízo</p><p>divino. Exemplos dessas provas incluíam a prova do fogo, na qual o acusado deveria</p><p>carregar barras de ferro em brasa ou caminhar descalço sobre ferros ferventes, e a</p><p>prova da água fervente, na qual o réu deveria retirar objetos submersos em água</p><p>fervente sem sofrer lesões.</p><p>Um autor que aborda de maneira complementar o tema da tortura e confissão</p><p>como meios centrais de prova criminal é Cesare Beccaria, em sua obra "Dos Delitos e</p><p>das Penas". Nessa obra, Beccaria demonstra a transição do processo inquisitivo para</p><p>o acusatório público, destacando a transformação dos meios de prova com a</p><p>necessidade de que eles sejam claros e racionais.</p><p>Com a evolução da sociedade, as pessoas passaram a reconhecer a necessidade</p><p>de considerar os indivíduos como titulares de direitos e garantias individuais. Isso</p><p>levou ao desenvolvimento de princípios como a proibição de tortura, a presunção de</p><p>inocência dos acusados até prova em contrário e o direito de defesa, entre outros.</p><p>Nesse contexto, um marco importante foi a Declaração dos Direitos do Homem</p><p>e do Cidadão de 1789, surgida como uma das consequências da Revolução Francesa.</p><p>Essa declaração reconheceu os direitos naturais dos seres humanos, ou seja, direitos</p><p>inerentes aos indivíduos anteriores à existência do Estado. O Estado passou a respeitar</p><p>e reconhecer esses direitos, o que implicou requisitos mais rigorosos para a admissão</p><p>das provas criminais no processo penal, com base no devido processo legal, obtidas</p><p>de forma justa e julgadas de maneira imparcial.</p><p>Atualmente, compreendemos que, para alcançar a justiça penal, é fundamental</p><p>que as provas criminais sejam submetidas não apenas ao crivo da defesa, mas também</p><p>permitam ao acusado produzir provas contrárias às da acusação. Dentro do processo</p><p>penal, as provas não se destinam meramente a extrair uma verdade de forma</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 37</p><p>inquisitória, como era feito historicamente, mas buscam uma verdade alcançada por</p><p>meio de meios probatórios produzidos pelas partes.</p><p>As provas criminais são consideradas uma garantia individual do acusado, pois</p><p>evitam a arbitrariedade na avaliação dos casos concretos. O processo penal não deve</p><p>ser uma ferramenta de opressão e medo para os cidadãos, mas sim uma garantia de</p><p>justiça e ordem social. No sistema processual penal brasileiro, o juiz forma sua</p><p>convicção pela livre apreciação das provas produzidas em contraditório judicial,</p><p>conforme estabelecido no artigo 155 do Código de Processo Penal.</p><p>Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da</p><p>prova produzida em contraditório judicial, não podendo</p><p>fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos</p><p>informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas</p><p>cautelares, não repetíveis e antecipadas.</p><p>Assim, as provas criminais são reconhecidas como um direito assegurado pela</p><p>Constituição Federal de 1988 para todas as partes relevantes no</p><p>processo penal, desde</p><p>as autoridades policiais durante a fase de inquérito até a defesa do acusado durante</p><p>sua participação no devido processo legal.</p><p>3.4 A Organização Pericial</p><p>A inclusão dos peritos oficiais dentro dos órgãos de polícia é considerada um</p><p>elemento indispensável quando se analisam questões relacionadas à autonomia</p><p>pericial, pois essa inclusão permite uma intervenção mais efetiva da técnica pericial</p><p>dentro do ordenamento jurídico. Nesse sentido, a autonomia pericial recebe apoio de</p><p>organizações e entidades nacionais e internacionais, como a Ordem dos Advogados</p><p>do Brasil, a Organização das Nações Unidas e o Ministério Público, entre outros.</p><p>O apoio à autonomia pericial está centrado na ideia de separação entre a perícia</p><p>e os órgãos policiais, no entanto, é importante analisar o contraponto dessa ideia. A</p><p>atuação da investigação policial pode ser prejudicada quando não há o suporte de</p><p>uma ferramenta fundamental para a investigação criminal. É por meio dos laudos</p><p>periciais que as autoridades policiais podem obter dados objetivos relacionados ao</p><p>crime em questão.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 38</p><p>Apesar dessa dependência entre os órgãos policiais e a perícia criminal, é possível</p><p>defender a atuação pericial autônoma, livre de vínculos ou subordinação a terceiros,</p><p>ou seja, de entidades que possam comprometer a imparcialidade dos exames e,</p><p>consequentemente, a orientação científica dos resultados obtidos.</p><p>Assim como em diversos métodos de investigação científica, a perícia criminal</p><p>deve ser exercida em um ambiente seguro para garantir a imparcialidade, estimulando</p><p>a competência do profissional especializado em alcançar um resultado o mais próximo</p><p>possível da realidade material dos fatos. Os responsáveis pela elaboração dos laudos</p><p>periciais têm a responsabilidade de agir sem restrições, uma vez que seus resultados</p><p>terão um impacto direto na decisão de privação de liberdade de um indivíduo.</p><p>Outro aspecto relevante no estudo da perícia criminal são as garantias que</p><p>devem ser atribuídas aos profissionais envolvidos nesse trabalho. A proximidade</p><p>excessiva desses profissionais com os órgãos responsáveis pela investigação criminal,</p><p>muitas vezes, resulta em uma interferência excessiva desses órgãos no trabalho</p><p>pericial, que deve ser imparcial e científico.</p><p>No Brasil, desde a década de 1980, por meio das associações estaduais de</p><p>criminalística e medicina legal e da Associação Brasileira de Criminalística (ABC), os</p><p>peritos oficiais têm promovido extensas discussões sobre a autonomia conferida aos</p><p>institutos de criminalística e medicina legal em nosso país. Essas associações</p><p>argumentam que uma maior autonomia no trabalho pericial contribuirá</p><p>logisticamente para que os laudos periciais se tornem cada vez mais imparciais e</p><p>mantenham a rigorosidade científica no contexto das provas no ordenamento jurídico.</p><p>Em 17 estados brasileiros, existe a chamada polícia científica como um órgão</p><p>independente das polícias judiciárias. Esse tipo de instituição permite que o perito</p><p>criminal exerça suas funções de maneira independente.</p><p>Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) já se manifestou sobre a</p><p>possibilidade de conceder autonomia à perícia criminal tanto dentro quanto fora dos</p><p>órgãos de polícia. Essa decisão fica a cargo de cada ente federado, que tem a</p><p>competência para determinada investigação, uma vez que se trata de uma questão de</p><p>natureza administrativa.</p><p>A legislação federal que versa sobre as perícias criminais oficiais (Lei n°</p><p>12.030/2009) assegura a autonomia técnica, científica e funcional no exercício da</p><p>atividade pericial de natureza criminal, exigindo concurso público e formação</p><p>acadêmica específica para o cargo de perito oficial.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 39</p><p>Art. 2o No exercício da atividade de perícia oficial de natureza</p><p>criminal, é assegurado autonomia técnica, científica e funcional,</p><p>exigido concurso público, com formação acadêmica específica,</p><p>para o provimento do cargo de perito oficial.</p><p>Por fim, outro ponto relevante sobre a autonomia pericial ocorreu em 2009,</p><p>quando o Decreto n° 7.037 aprovou o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNHD-</p><p>3), estabelecendo que a autonomia pericial é um dos elementos para a promoção dos</p><p>direitos humanos. Esse plano inclui ações programáticas de democratização e</p><p>modernização do sistema de segurança pública, afirmando a importância da</p><p>autonomia funcional dos profissionais peritos, bem como o estímulo à modernização</p><p>dos órgãos oficiais de perícia.</p><p>3.5 O Papel do Ministério Público</p><p>O Ministério Público, como órgão da administração direta do ordenamento</p><p>jurídico brasileiro, teve suas responsabilidades e áreas de atuação estabelecidas na</p><p>Constituição Federal de 1988. Trata-se de um órgão independente, não estando</p><p>subordinado a nenhum dos três Poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário). Conforme</p><p>o texto constitucional:</p><p>Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial</p><p>à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da</p><p>ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e</p><p>individuais indisponíveis.</p><p>§ 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade,</p><p>a indivisibilidade e a independência funcional.</p><p>§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e</p><p>administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor</p><p>ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços</p><p>auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 40</p><p>provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a</p><p>lei disporá sobre sua organização e funcionamento.</p><p>Dessa forma, compreende-se que a Constituição listou exemplificativamente as</p><p>competências do Ministério Público, mencionando apenas funções que estejam em</p><p>consonância com sua finalidade de existência, não se tratando de um rol taxativo de</p><p>atribuições.</p><p>É sabido que, usualmente, a investigação criminal é atribuição da Polícia</p><p>Judiciária, sendo comum que o Ministério Público exerça o controle externo sobre</p><p>esse trabalho.</p><p>É importante ressaltar que a Constituição Federal de 1988 não menciona em</p><p>momento algum a possibilidade de o Ministério Público realizar investigações</p><p>criminais. Analisando o que é afirmado em seu artigo 129, que trata das atribuições</p><p>desse órgão, observamos o seguinte:</p><p>Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:</p><p>I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da</p><p>lei;</p><p>II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços</p><p>de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,</p><p>promovendo as medidas necessárias a sua garantia;</p><p>III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a</p><p>proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de</p><p>outros interesses difusos e coletivos;</p><p>IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação</p><p>para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos</p><p>previstos nesta Constituição;</p><p>V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações</p><p>indígenas;</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 41</p><p>VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de</p><p>sua competência, requisitando informações e documentos para</p><p>instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;</p><p>VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da</p><p>lei complementar mencionada no artigo anterior;</p><p>VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de</p><p>inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas</p><p>manifestações processuais;</p><p>IX - exercer outras funções</p><p>que lhe forem conferidas, desde que</p><p>compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a</p><p>representação judicial e a consultoria jurídica de entidades</p><p>públicas.</p><p>Percebe-se que o rol constitucional das atribuições do Ministério Público é</p><p>apenas exemplificativo. Portanto, embora não mencione explicitamente a</p><p>possibilidade de atuação do Ministério Público nas investigações criminais, também</p><p>não exclui essa eventualidade. Além disso, a Constituição permite que as legislações</p><p>infraconstitucionais regulamentem determinadas atuações.</p><p>Nesse sentido, entende-se que a atuação do Ministério Público em relação às</p><p>investigações criminais deve se limitar ao controle fiscalizatório. No entanto, existe a</p><p>possibilidade de que exerça a função investigativa própria, desde que haja previsão</p><p>em legislação infraconstitucional.</p><p>3.6 A Perícia como Fator de Promoção da Justiça</p><p>O Estado Democrático de Direito, cuja concretização em nosso país se dá por</p><p>meio da observância e aplicação dos princípios normativos estabelecidos na</p><p>Constituição Federal de 1988, tem como um de seus objetivos primordiais conciliar o</p><p>respeito aos direitos humanos com a devida responsabilização dos autores de crimes,</p><p>assegurando-lhes um julgamento que se aproxime ao máximo da justiça.</p><p>Nesse contexto, torna-se evidente a extrema importância da perícia criminal em</p><p>nosso ordenamento jurídico, uma vez que é por meio dela que se estabelece tanto a</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 42</p><p>existência material de um crime quanto sua autoria. A perícia criminal desempenha</p><p>um papel crucial no processo de busca pela justiça.</p><p>É através da perícia que se obtêm ou se negam provas materiais relacionadas à</p><p>ocorrência de um crime, bem como à culpabilidade dos cidadãos acusados de práticas</p><p>delituosas. Consequentemente, é por meio dessa atividade pericial que se tomam</p><p>decisões acerca da liberdade ou privação de liberdade desses indivíduos. Portanto, ao</p><p>afirmarmos que todo cidadão tem direito à justiça, a um julgamento imparcial e</p><p>neutro, estamos também afirmando que todo cidadão tem direito a uma perícia de</p><p>excelência.</p><p>3.7 Prova Pericial</p><p>A prova, em sua essência, consiste naquilo que tem o propósito de estabelecer a</p><p>verdade por meio de verificação ou demonstração, revelando ou confirmando a</p><p>veracidade de um fato. No âmbito da ciência processual, a prova desempenha um</p><p>papel fundamental, sendo um elemento essencial para a tomada de decisões em</p><p>processos penais, que busca mecanismos para o convencimento livre do juiz e,</p><p>consequentemente, a busca pela justiça como premissa fundamental (CORAINI DE</p><p>SOUZA; BONACCORSO, 2017).</p><p>Ao longo dos anos, testemunhal, material e confissão têm sido as três</p><p>modalidades nas quais o conceito de prova evoluiu e foi aplicado. No processo penal,</p><p>a prova pericial se enquadra como prova material e, por ser embasada em</p><p>fundamentos científicos, torna-se a prova de maior importância quando consideramos</p><p>que o Legislador, em 1941, estabeleceu no Código de Processo Penal (Decreto-Lei</p><p>3.689 - 03/10/1941), em seu Artigo 158, a obrigatoriedade e a indispensabilidade do</p><p>exame de corpo de delito em infrações que deixam vestígios.</p><p>Aplicando o Princípio de Edmond Locard, que postula que "cada contato deixa</p><p>um rastro", torna-se imprescindível a realização da perícia no local da infração para a</p><p>identificação dos vestígios ali encontrados, aumentando assim a probabilidade de</p><p>identificação do autor por meio de seu estudo e interpretação.</p><p>Ao abordar o tema, pretende-se explorar o conceito de prova e a evolução da</p><p>perícia criminal no Brasil, assim como sua contribuição para o sistema judiciário</p><p>brasileiro, atribuindo à prova pericial a autenticidade dos fatos e dos elementos</p><p>encontrados na cena do crime, bem como a reconstituição simulada dos fatos. Além</p><p>disso, destaca-se a importância do estudo desse tema e da Criminalística não apenas</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 43</p><p>para os peritos criminais, mas também para todos os envolvidos e atuantes no Direito,</p><p>como juízes, promotores, delegados, advogados e outros interessados.</p><p>A definição de prova, de acordo com o Dicionário Michaelis (2009), é "tudo aquilo</p><p>que serve para estabelecer uma verdade por verificação ou demonstração. Aquilo que</p><p>mostra ou confirma a verdade de um fato". Com base nisso, podemos afirmar que a</p><p>prova demonstra uma verdade por meio de algo, seja material ou não, que evidencia</p><p>ou comprova o ocorrido. A palavra "prova" deriva do latim "probatio", que, em seu</p><p>sentido original, significa examinar, persuadir, demonstrar.</p><p>Greco Filho (2010, p. 185) descreve a prova como todo elemento capaz de levar</p><p>o conhecimento de um fato a alguém. Além disso, o autor destaca que, no processo,</p><p>a prova é todo meio destinado a convencer o juiz acerca da verdade de uma situação</p><p>de fato. Para Madeira Dezem (2008, p. 79), o tema da prova é essencial para a ciência</p><p>processual, uma vez que suas consequências se refletem inexoravelmente na vida das</p><p>pessoas, tornando fundamental a busca pela decisão mais justa possível.</p><p>É evidente o interesse dos estudiosos pelo tema da prova e a preocupação de</p><p>todos em garantir a justiça. Em nosso entendimento, a prova torna-se cada vez mais</p><p>relevante no processo penal, pois é utilizada para estabelecer o direito e comprovar a</p><p>autoria do crime ou a inocência do acusado. A análise da prova pelo juiz, levando em</p><p>consideração os princípios da ampla defesa e do contraditório, bem como a formação</p><p>da acusação e da defesa, baseadas em argumentos dialeticamente trazidos ao</p><p>processo, asseguram a imparcialidade do magistrado na avaliação de ambos os lados</p><p>para a elaboração do julgamento.</p><p>Nesse sentido, Norma Bonaccorso (2009, p. 2) esclarece que o contraditório</p><p>garante a imparcialidade do juiz perante a causa, e o mesmo deve exercê-la na</p><p>preparação do julgamento. O contraditório é considerado uma das garantias</p><p>fundamentais do processo justo, pois reflete a imparcialidade do juiz na valoração do</p><p>que foi dialeticamente apresentado no processo.</p><p>Diante disso, a prova desempenha um papel de destaque ao auxiliar o juiz na</p><p>formação de sua convicção e na fundamentação de sua decisão, não se restringindo</p><p>apenas aos elementos informativos colhidos na investigação, como estabelece o</p><p>Artigo 155 do Código de Processo Penal. O juiz forma sua convicção pela livre</p><p>apreciação da prova produzida em contraditório judicial, utilizando-a como base para</p><p>a tomada de decisão, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 44</p><p>Nesse contexto, é importante mencionar os meios de prova e estabelecer alguns</p><p>conceitos relacionados a eles. Gomes Filho (2005, p. 305) define os meios de prova</p><p>como instrumentos ou atividades por meio dos quais os elementos probatórios são</p><p>introduzidos e fixados no processo. Comoglio (1995, p. 1.206), por sua vez, define os</p><p>meios de prova como aqueles caracterizados pela capacidade de fornecer ao juiz</p><p>resultados probatórios diretamente utilizáveis na tomada de decisão.</p><p>Outra definição é apresentada por Greco Filho (2010, p. 188), que considera os</p><p>meios de prova como instrumentos pessoais ou materiais capazes de trazer ao</p><p>processo a convicção da existência ou inexistência de um fato. Nesse sentido, o</p><p>Código de Processo Penal Brasileiro estabelece os seguintes tipos de prova: exame de</p><p>corpo de delito (prova pericial), interrogatório do acusado, confissão, perguntas ao</p><p>ofendido, testemunhas, reconhecimento de pessoas ou coisas, acareação,</p><p>documentos, indícios e busca e apreensão.</p><p>Dentre todos esses meios de prova mencionados, neste trabalho, daremos</p><p>destaque à prova pericial, que, devido à evolução de seus métodos, ao ser</p><p>fundamentada</p><p>em bases científicas e ao apresentar maior veracidade dos fatos por</p><p>meio de laudos periciais imparciais, tornou-se de suma importância para o processo</p><p>penal.</p><p>A perícia consiste em um meio de prova que leva ao conhecimento do juiz os</p><p>fatos por meio de exames realizados em vestígios encontrados no local do crime. Em</p><p>nossa opinião, a perícia é um dos meios de prova mais confiáveis, pois fornece ao</p><p>processo bases científicas e técnicas para a análise dos vestígios, possibilitando a</p><p>reconstituição dos fatos em muitos casos.</p><p>Segundo Moraes Manzano (2011, p. 28), a expressão "corpo de delito" surgiu no</p><p>direito medieval a partir da evolução da doutrina do "constare de delicto". Essa</p><p>expressão evoluiu para o conceito de "corpo de delito" com o intuito de diferenciar</p><p>crimes que deixam marcas visíveis dos que não deixam, e também passou a ser</p><p>utilizada para se referir aos vestígios encontrados no local da infração.</p><p>O Código de Processo Penal Brasileiro estabelece a obrigatoriedade do exame</p><p>de corpo de delito nas infrações que deixam vestígios. Essa exigência afasta ou reduz</p><p>a possibilidade de aplicação de métodos de tortura para obtenção de confissões</p><p>criminais, bem como acusações infundadas e desprovidas de provas.</p><p>Tucci (1978, p. 204) conceitua o exame de corpo de delito como um meio de</p><p>prova pericial destinado à apuração dos elementos físicos e materiais da prática</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 45</p><p>criminosa, por meio de sua constatação direta e documentação imediata. A mestre e</p><p>perita Bonaccorso (2009, p. 1) destaca que a prova pericial é uma importante</p><p>ferramenta para a reconstrução dos fatos no processo e, na modalidade de exame de</p><p>corpo de delito, é considerada indispensável nas infrações que deixam vestígios.</p><p>Para Greco Filho (2010, p. 207), os exames ou perícias em geral são verificações</p><p>elaboradas por técnicos ou pessoas com conhecimento específico, visando oferecer</p><p>ao juiz informações relevantes para o caso. Portanto, visando à idoneidade da prova,</p><p>o exame de corpo de delito deve ser realizado por um perito oficial, devidamente</p><p>habilitado e com formação acadêmica adequada, para garantir a expertise necessária</p><p>na análise dos vestígios encontrados e fornecer ao juiz uma conclusão embasada.</p><p>Fica evidente que a perícia traz um requisito confiável do que ocorreu no local</p><p>do crime, e a relevância e o destaque da prova pericial no processo penal estão</p><p>relacionados à sua base técnica e, muitas vezes, à possibilidade de reconstituir ou</p><p>demonstrar os fatos de forma mais precisa.</p><p>Paralelamente ao direito penal brasileiro, o direito penal italiano também atribui</p><p>grande importância à prova técnica (prova pericial). Picozzi e Intini (2009, p. 490)</p><p>destacam que "o recurso cada vez mais frequente ao método científico, especialmente</p><p>em casos impactantes, fortalece a tese da racionalidade instrumental do direito penal</p><p>(inclusive na fase de aplicação judicial das normas penais aos casos concretos), graças</p><p>ao uso de conhecimentos empíricos derivados do saber científico".</p><p>Diante disso, conclui-se que o exame de corpo de delito (prova pericial) consiste</p><p>na avaliação científica dos vestígios deixados no local do crime ou na vítima, no caso</p><p>de estupro, por exemplo, visando à resolução de uma infração penal. É notável que o</p><p>legislador brasileiro considerou de grande relevância a realização da perícia, podendo</p><p>a ausência desse exame levar à nulidade do processo.</p><p>Ao analisar a legislação brasileira, percebe-se a evolução e a atenção do</p><p>legislador ao atribuir a responsabilidade de um crime a determinada pessoa. A</p><p>Constituição Federal de 1988 destaca os direitos e garantias fundamentais dos</p><p>cidadãos, buscando evitar tratamentos degradantes ou injustos antes mesmo da</p><p>decisão do juiz, como estabelecido no Art. 5º, LVII: "ninguém será considerado</p><p>culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória".</p><p>A Constituição também estabelece o princípio do contraditório, conforme</p><p>previsto no Art. 5º, inciso LV, garantindo o direito à prova para assegurar às partes os</p><p>recursos necessários para a defesa do acusado.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 46</p><p>O Código de Processo Penal Brasileiro, como mencionado anteriormente, torna</p><p>obrigatório o exame de corpo de delito nas infrações que deixam vestígios,</p><p>fornecendo ao juiz meios materiais para a resolução de um determinado fato</p><p>delituoso.</p><p>Entre todos os meios de prova no processo penal, a prova pericial desempenha</p><p>um papel fundamental ao oferecer uma base científica para uma maior veracidade</p><p>dos fatos. Dorea, Stumvoll e Quintela (2012, p. 15) afirmam que a prova pericial é</p><p>produzida a partir de fundamentos científicos dos elementos materiais deixados pela</p><p>ação criminosa, enquanto as chamadas provas subjetivas dependem de testemunhos</p><p>ou interpretações de pessoas, podendo apresentar uma série de erros, desde a falta</p><p>de capacidade da pessoa para relatar os fatos até a má-fé, em que há intenção de</p><p>distorcer os fatos para evitar a descoberta da verdade, resultando na condenação de</p><p>um indivíduo por um crime que não cometeu, comprometendo a justiça.</p><p>Em nossa visão, a prova testemunhal torna-se cada vez mais frágil, uma vez que</p><p>não se conhece o caráter da pessoa e não se tem certeza de que ela testemunhou</p><p>realmente o fato. Portanto, o juiz pode se basear em uma prova sem plena convicção.</p><p>Da mesma forma, a confissão como prova não possui grande força processual,</p><p>pois sabemos que, muitas vezes, pode ter sido obtida por meio de tortura, deixando</p><p>de ser considerada como a "rainha das provas".</p><p>Madeira Dezem (2008, p. 220) destaca que a experiência do Direito Romano, da</p><p>Inquisição, do regime nazista e do período de exceção no Brasil demonstra que a</p><p>confissão deve ser analisada com cautela e reservas.</p><p>Além disso, Velho, Geiser e Espíndula (2013, p. 444) afirmam que, ao utilizar</p><p>recursos científicos e tecnológicos para oferecer à sociedade uma prova isenta,</p><p>robusta e confiável, a prova pericial cumpre seu papel de verdadeiro e efetivo remédio</p><p>para a elucidação da verdade, refletindo a garantia de imparcialidade do juiz na</p><p>valoração do que foi apresentado no processo.</p><p>Desse modo, compreende-se o interesse do legislador em estabelecer a</p><p>obrigatoriedade da análise dos vestígios encontrados no local do crime por um perito</p><p>oficial devidamente especializado, buscando uma maior aproximação possível dos</p><p>fatos delituosos e da materialidade do crime. Seguindo o princípio da dignidade</p><p>humana e a Constituição Federal de 1988, busca-se sempre a justiça nos processos</p><p>penais, não permitindo que o julgador se baseie apenas em relatos pessoais ou em</p><p>confissões, ressaltando assim a importância da prova pericial.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 47</p><p>4 Provas e Perícias</p><p>No âmbito do processo penal, a prova desempenha um papel fundamental na</p><p>busca pela verdade e na garantia de uma justiça efetiva. Dentre os diversos meios de</p><p>prova existentes, destaca-se a prova pericial, que assume uma posição de destaque,</p><p>especialmente devido aos avanços tecnológicos que têm proporcionado ferramentas</p><p>cada vez mais confiáveis e precisas. Nesse contexto, a prova pericial se apresenta</p><p>como um elemento essencial para o livre convencimento do juiz e para a aplicação do</p><p>direito de forma justa e equitativa.</p><p>O objetivo deste estudo é explorar a importância da prova pericial no processo</p><p>penal, considerando seu papel na busca pela verdade dos fatos e sua contribuição</p><p>para a formação de uma decisão judiciária embasada em elementos técnicos e</p><p>científicos. Para tanto, será necessário examinar a evolução tecnológica que tem</p><p>impulsionado a perícia criminal, bem como as principais características e requisitos</p><p>que conferem à prova pericial o seu destacado</p><p>valor probatório.</p><p>Ao longo desta pesquisa, serão abordados aspectos como a definição de prova</p><p>pericial, sua natureza técnico-científica e sua relação com os demais meios de prova</p><p>existentes. Além disso, serão analisados casos emblemáticos nos quais a prova pericial</p><p>desempenhou um papel determinante na elucidação dos fatos e na busca pela</p><p>verdade material, evidenciando sua relevância no contexto processual.</p><p>Por meio de uma revisão bibliográfica e análise de jurisprudências pertinentes,</p><p>busca-se fornecer uma visão abrangente sobre a prova pericial, explorando seus</p><p>fundamentos teóricos, sua aplicação prática e os desafios enfrentados nessa área.</p><p>Ademais, serão discutidos os critérios de admissibilidade da prova pericial, a</p><p>imparcialidade do perito e sua atuação como auxiliar da justiça, bem como a</p><p>importância da devida valorização dessa prova pelo julgador.</p><p>Em suma, a presente pesquisa tem como propósito destacar a importância da</p><p>prova pericial como um instrumento imprescindível para a busca da verdade e a</p><p>aplicação da justiça no processo penal. Com base em estudos teóricos, doutrinários e</p><p>jurisprudenciais, almeja-se oferecer subsídios para uma compreensão mais</p><p>aprofundada desse meio de prova e contribuir para o aprimoramento do sistema de</p><p>justiça criminal.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 48</p><p>4.1 A Prova Pericial</p><p>A prova desempenha um papel crucial no processo penal, sendo essencial para</p><p>a formação da convicção do juiz e, consequentemente, para a aplicação da justiça.</p><p>Dentre os diferentes meios de prova existentes, destaca-se a prova pericial, que tem</p><p>sido reconhecida como o meio mais importante para a busca da verdade em diversas</p><p>esferas, seja criminal, cível ou trabalhista.</p><p>As áreas de atuação pericial são vastas e cada uma delas possui suas próprias</p><p>classificações, como a perícia ambiental, criminal, médica, contábil, balística, veicular,</p><p>entre muitas outras, tanto no âmbito extrajudicial quanto no judicial. A prova pericial</p><p>é apresentada por meio de exames técnicos conduzidos por profissionais especialistas</p><p>na respectiva área de conhecimento.</p><p>Elementos de prova consistem em fatos ou circunstâncias que embasam a</p><p>convicção do juiz, tais como depoimentos de testemunhas, resultados periciais e</p><p>conteúdo de documentos. Já os meios de prova referem-se ao conjunto de</p><p>instrumentos ou atividades por meio dos quais os elementos de prova são</p><p>introduzidos no processo, tais como testemunhas, documentos e resultados periciais.</p><p>A perícia, por sua vez, pode assumir o status de prova, sendo realizada por peritos</p><p>tecnicamente qualificados para analisar fatos juridicamente relevantes relacionados</p><p>ao litígio. Os peritos podem ser nomeados pelo juiz ou selecionados por meio de</p><p>concurso público.</p><p>As fontes de prova são pessoas ou objetos utilizados para obtenção de provas,</p><p>sendo a denúncia um exemplo dessas fontes. Os meios de investigação da prova, por</p><p>sua vez, são os procedimentos cujo objetivo é obter provas materiais, incluindo, por</p><p>exemplo, a busca e apreensão e a interceptação telefônica.</p><p>Os objetos de prova são os principais ou secundários fatos que requerem</p><p>avaliação judicial e demandam comprovação. No âmbito do processo penal, a prova</p><p>legítima ou lícita é essencial para que o juiz, por meio de seu livre convencimento,</p><p>possa emitir um juízo de valor adequadamente fundamentado sobre o fato em</p><p>questão. Conforme disposto no artigo 155 do Código de Processo Penal:</p><p>Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da</p><p>prova produzida em contraditório judicial, não podendo</p><p>fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 49</p><p>informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas</p><p>cautelares, não repetíveis e antecipadas.</p><p>Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão</p><p>observadas as restrições estabelecidas na lei civil.</p><p>Em qualquer ação penal, existem dois aspectos cruciais a serem comprovados: a</p><p>materialidade e a autoria do crime. Além disso, é fundamental que o juiz tenha</p><p>conhecimento de todas as circunstâncias objetivas (aspectos externos do crime) e</p><p>subjetivas (motivações e características pessoais do agente) que possam contribuir</p><p>para a formação de uma convicção sólida acerca da responsabilidade criminal.</p><p>O juiz tem a prerrogativa de indeferir provas irrelevantes, impertinentes ou</p><p>protelatórias, conforme previsto no parágrafo 1º do artigo 400 do Código de Processo</p><p>Penal brasileiro. Nesse sentido:</p><p>Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada</p><p>no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada</p><p>de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas</p><p>arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o</p><p>disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos</p><p>dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e</p><p>coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.</p><p>§ 1o As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o</p><p>juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou</p><p>protelatórias.</p><p>§ 2o Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio</p><p>requerimento das partes.</p><p>Dessa forma, é fundamental que as circunstâncias envolvidas no caso concreto</p><p>sejam comprovadas, tendo em vista sua relevância na determinação da pena. Assim,</p><p>a função probatória deve se restringir aos fatos pertinentes e úteis para o julgamento</p><p>da ação penal.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 50</p><p>Tipos de Provas Periciais</p><p>O Código de Processo Penal, em seu arcabouço normativo, estabelece uma</p><p>variedade de tipos de prova que podem ser utilizados no processo, com o intuito de</p><p>elucidar a existência e a veracidade dos fatos em discussão. Dentre esses meios</p><p>probatórios, encontra-se o exame de corpo de delito, que configura a prova pericial e</p><p>tem ganhado destaque em virtude da sua imparcialidade e capacidade de fornecer</p><p>uma maior veracidade dos acontecimentos.</p><p>O exame de corpo de delito é de suma importância para a prova forense, pois</p><p>trata-se de uma perícia técnica cujo propósito é comprovar a materialidade de um</p><p>delito por meio da análise de vestígios deixados no local do crime. Esses vestígios</p><p>podem ser classificados em duas categorias, de acordo com sua durabilidade. Os</p><p>vestígios permanentes são aqueles que possuem maior durabilidade, como é o caso</p><p>de crimes de homicídio ou falsidade material. Já os vestígios transitórios são aqueles</p><p>que não deixam marcas permanentes, como no caso de crimes de ameaça verbal ou</p><p>contravenções de importunação ofensiva ao pudor.</p><p>Além disso, o exame de corpo de delito pode ser classificado de acordo com a</p><p>forma de sua verificação. O exame direto ocorre quando o perito realiza a análise</p><p>diretamente sobre os vestígios deixados, como é o caso da análise direta de um</p><p>cadáver ou de um documento materialmente falso. Por outro lado, o exame indireto</p><p>requer que o perito realize análises que não incidem diretamente nos vestígios,</p><p>buscando informações em fontes que não estão prontamente disponíveis, tais como</p><p>depoimentos, fotografias, gravações, objetos encontrados ou prontuários médicos.</p><p>No caso em que não for possível realizar o exame de corpo de delito, seja ele</p><p>direto ou indireto, o Código de Processo Penal, em seu artigo 167, estabelece que a</p><p>prova testemunhal pode suprir essa falta: "Não sendo possível o exame de corpo de</p><p>delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe</p><p>a falta". Contudo, é importante ressaltar que o artigo 158 desse mesmo código traz</p><p>um parágrafo único que prioriza a realização do exame de corpo de delito nos casos</p><p>de crimes envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como</p><p>violência contra crianças, adolescentes, idosos ou pessoas com deficiência. Tal</p><p>dispositivo evidencia a importância do exame de corpo de delito, tornando sua</p><p>realização vinculada à decisão do magistrado quando a infração deixar vestígios.</p><p>O Código de Processo Penal, no artigo 159, prevê a figura do perito oficial,</p><p>determinando que o exame de corpo de delito e outras perícias sejam realizados por</p><p>peritos oficiais, portadores de diploma de curso superior. Adicionalmente, o artigo 184</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 51</p><p>dessa mesma legislação estabelece que a autoridade não pode indeferir a realização</p><p>do exame de corpo de delito, salvo nos casos em que não se mostrar necessário para</p><p>o esclarecimento da verdade: "Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a</p><p>autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária</p><p>ao esclarecimento da verdade".</p><p>Por sua vez, no âmbito do Código de Processo Civil, encontramos a especificação</p><p>de diferentes espécies de provas periciais em seu artigo 464, quais sejam: o exame, a</p><p>vistoria e a avaliação. O exame pericial tem como finalidade a análise e observação de</p><p>pessoas ou objetos, sendo exemplo disso a realização de exames médicos para avaliar</p><p>a saúde física e mental de uma pessoa, ou a análise de material genético para fins de</p><p>investigação de paternidade. Já a vistoria consiste no exame de bens imóveis com o</p><p>objetivo de verificar se estão comprometidos ou danificados. Por fim, a avaliação</p><p>pericial é utilizada para aferir o valor de mercado de determinado bem.</p><p>Em suma, diante de casos em que a solução de um fato duvidoso não seja de</p><p>conhecimento comum, a produção de prova pericial se faz necessária. Conforme</p><p>previsto no artigo 464, §1º, do Código de Processo Civil, existem situações em que</p><p>essa produção não será deferida:</p><p>§ 1º O juiz indeferirá a perícia quando:</p><p>I - a prova do fato não depender de conhecimento especial de</p><p>técnico;</p><p>II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas;</p><p>III - a verificação for impraticável.</p><p>Princípios Constitucionais Característicos das Provas Periciais</p><p>Diversos princípios foram estabelecidos para a organização do Estado de Direito,</p><p>sendo estes observados nas constituições de diversos países, uma vez que são</p><p>responsáveis por definir a estrutura básica, os fundamentos e as bases de determinado</p><p>sistema jurídico.</p><p>O Estado de Direito consiste em um modelo em que a lei orienta tanto a vida</p><p>social quanto a vida estatal. Através da lei, todas as competências e funções dos</p><p>órgãos estatais são definidas, além disso, os cidadãos estão protegidos por</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 52</p><p>mecanismos que lhes conferem o direito de reivindicar quando tais competências não</p><p>forem cumpridas.</p><p>Ao analisar os princípios, é importante, em primeiro lugar, distingui-los das</p><p>regras. Embora apresentem semelhanças em alguns aspectos, cada um possui sua</p><p>relevância no ordenamento jurídico, não podendo ser tratados como equivalentes.</p><p>Dessa forma, os princípios são normas compatíveis com diferentes graus de</p><p>concretização, enquanto as regras possuem caráter de exigência, podendo ou não</p><p>serem cumpridas, sem graus intermediários de concretização.</p><p>Os princípios básicos relacionados às provas, característicos da Constituição</p><p>Federal de 1988, são os seguintes:</p><p>• Princípio da legalidade;</p><p>• Princípio do contraditório e da ampla defesa;</p><p>• Princípio da verdade real;</p><p>• Princípio do livre convencimento do juiz;</p><p>• Princípio da proporcionalidade da lei.</p><p>O princípio da legalidade é a garantia fundamental do devido processo legal.</p><p>Encontra-se previsto no artigo 5º, inciso LIV da Constituição Federal de 1988, o qual</p><p>estabelece que "ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido</p><p>processo legal". Isso significa que todos os atos processuais devem estar em</p><p>conformidade com o que está prescrito na Constituição, sendo que todos os outros</p><p>princípios derivam desse.</p><p>O princípio do contraditório, por sua vez, encontra-se estabelecido no artigo 5º,</p><p>inciso LV da Carta Magna, assegurando "aos litigantes, em processo judicial ou</p><p>administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e ampla defesa, com os meios</p><p>e recursos a ela inerentes". É o instrumento técnico para a efetivação da ampla defesa,</p><p>permitindo às partes envolvidas no processo criminal o direito de participar</p><p>diretamente do exercício da jurisdição.</p><p>No que tange ao princípio da verdade real, é a base para o procedimento judicial,</p><p>buscando investigar como os fatos ocorreram na realidade, não se limitando apenas</p><p>à verdade formal estabelecida. Para isso, o magistrado deve buscar outras fontes de</p><p>prova e utilizar todos os mecanismos disponíveis para a busca da verdade, analisando</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 53</p><p>os elementos probatórios essenciais e lícitos para provar com segurança todos os</p><p>pormenores da infração penal cometida.</p><p>O princípio do livre convencimento do juiz, também conhecido como o princípio</p><p>da livre convicção motivada, estabelece que o juiz forma seu convencimento de forma</p><p>livre, em busca da justiça efetiva e ágil. Conforme o artigo 155 do Código de Processo</p><p>Penal, o juiz forma sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em</p><p>contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos</p><p>elementos informativos colhidos na investigação.</p><p>Por fim, o princípio da proporcionalidade da lei não está previsto expressamente</p><p>na Constituição de 1988, mas é considerado um dos princípios fundamentais quando</p><p>se trata de provas, estabelecendo diretrizes para a distinção entre o que é lícito e</p><p>ilícito. Esse princípio busca equilibrar o interesse que se deseja proteger com a</p><p>necessidade de preservar a intimidade das pessoas.</p><p>Assim, diante de conflitos entre direitos fundamentais, o princípio da</p><p>proporcionalidade busca soluções adequadas por meio da análise da adequação do</p><p>meio utilizado, da necessidade de sua aplicação e da proporcionalidade em sentido</p><p>estrito, garantindo que as medidas adotadas sejam efetivas e proporcionais ao</p><p>objetivo almejado, respeitando os direitos individuais.</p><p>A perícia desempenha um papel fundamental como método interpretativo na</p><p>resolução de conflitos, buscando limitar possíveis excessos legislativos que possam</p><p>restringir os direitos dos indivíduos que deveriam ser protegidos. Dividida em duas</p><p>etapas, a atividade pericial pode ser realizada tanto na fase investigativa quanto na</p><p>fase processual, e é nesse contexto que a autoridade responsável pela perícia e as</p><p>partes envolvidas podem oferecer quesitos para orientar o trabalho do perito.</p><p>Durante a fase de inquérito, o objetivo da perícia é realizar a análise dos vestígios</p><p>antes que possam desaparecer ou sofrer alterações. Em alguns casos, a prova pericial</p><p>exige celeridade, mas é importante ressaltar que, durante a fase de investigação, não</p><p>é assegurado o princípio do contraditório, a menos que a defesa tenha a oportunidade</p><p>de acompanhar a realização da perícia ou quando o Ministério Público possua um</p><p>interesse relevante e designe alguém para essa função.</p><p>As provas periciais nem sempre podem ser reproduzidas em juízo após terem</p><p>sido produzidas durante a fase de inquérito, devido às possíveis alterações a que os</p><p>vestígios podem estar sujeitos. No entanto, de acordo com o artigo 159, parágrafos</p><p>3° e 5°, do Código de Processo Penal, as partes também têm o direito de apresentar</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 54</p><p>quesitos para a perícia.</p><p>§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de</p><p>acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação</p><p>de quesitos e indicação de assistente técnico.</p><p>§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes,</p><p>quanto à perícia:</p><p>I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem</p><p>a prova ou para</p><p>responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os</p><p>quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados</p><p>com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar</p><p>as respostas em laudo complementar;</p><p>II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres</p><p>em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência.</p><p>Após a conclusão da perícia no inquérito, ocorre o chamado contraditório</p><p>diferido ou postergado, que consiste no exercício do direito ao contraditório após a</p><p>realização da prova pericial. Geralmente, é a defesa que contesta a prova pericial,</p><p>raramente o Ministério Público. Apesar do valor significativo da prova técnica, é</p><p>necessário analisar todo o conjunto probatório e, em caso de conflito, o juiz pode</p><p>desconsiderar a perícia, conforme previsto no artigo 182 do Código de Processo Penal:</p><p>"O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em</p><p>parte".</p><p>Dessa forma, o uso do laudo pericial permite ao defensor formular quesitos ou</p><p>solicitar esclarecimentos, mesmo que a situação não possa mais ser reproduzida. Além</p><p>disso, é possível que um perito contratado pela defesa apresente argumentos que</p><p>contestem a perícia anterior, utilizando técnicas aprimoradas e novos dados. Os</p><p>chamados assistentes técnicos, que atuam como peritos das partes, podem</p><p>desempenhar um papel crucial no processo penal.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 55</p><p>4.2 O Perito</p><p>Advindo do latim, a palavra "perito" tem origem em "peritus,a,um" e significa</p><p>"aquele que possui especialização" ou "capacidade ou experiência" em determinada</p><p>atividade. No contexto jurídico, o perito é definido como um técnico designado pela</p><p>justiça para fornecer esclarecimentos necessários e indispensáveis à solução de uma</p><p>demanda processual, por meio de exames específicos. Ele atua como um assessor do</p><p>juiz, desempenhando uma função estatal que envolve a prestação de dados</p><p>instrutórios de ordem técnica e a verificação e formação do corpo de delito.</p><p>O perito assume a responsabilidade de esclarecer uma questão de fato por meio</p><p>da emissão de um laudo, utilizando seus conhecimentos técnicos especializados</p><p>(MIRABETE, 2000, p. 170). Sua atividade é regulada tanto pelo Código de Processo</p><p>Penal quanto pelo Código de Processo Civil, uma vez que a perícia pode ser requerida</p><p>tanto em processos criminais quanto civis. Os peritos, sejam eles criminais ou civis,</p><p>são considerados auxiliares da justiça, possuindo conhecimentos especializados em</p><p>áreas específicas e estando sujeitos à disciplina judiciária e aos mesmos impedimentos</p><p>aplicados aos juízes.</p><p>No direito processual criminal brasileiro, a perícia criminal está inserida no rol das</p><p>provas, que compreende dez tipos distintos de prova, incluindo a prova pericial, o</p><p>interrogatório do acusado, a confissão, as perguntas à vítima, a prova testemunhal, o</p><p>reconhecimento de pessoas ou coisas, a acareação, a prova documental, a prova</p><p>indiciária e a busca e apreensão.</p><p>Ao contrário do processo civil, em que prevalece o princípio da verdade formal,</p><p>baseado nas provas produzidas no processo conforme os argumentos e as provas</p><p>apresentadas pelas partes, no processo penal prevalece o princípio da verdade real,</p><p>que estabelece que "o juiz tem o dever de investigar como os fatos se passaram na</p><p>realidade" (CAPEZ, 2003, p. 26). O trabalho do perito consiste em emitir um parecer</p><p>técnico, que possui a função de um juízo de valor fundamentado cientificamente, indo</p><p>além do senso comum ou do conhecimento jurídico convencional.</p><p>Como regra geral no processo penal, as perícias são realizadas por peritos</p><p>oficiais, que são policiais especializados e integram as instituições de polícia judiciária.</p><p>No entanto, em alguns estados brasileiros, a perícia não está vinculada à polícia, sendo</p><p>realizada por profissionais que estão vinculados a uma superintendência de polícia</p><p>técnica, a qual engloba os institutos de identificação, medicina legal e criminalística.</p><p>Esse complexo geralmente está subordinado à secretaria de Segurança Pública ou de</p><p>Defesa Social do estado.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 56</p><p>O artigo 159 do Código de Processo Penal estabelece que a realização dos</p><p>exames de corpo de delito cabe aos peritos oficiais, que devem ser portadores de</p><p>diploma de curso superior. Na falta de peritos oficiais, o exame pode ser realizado por</p><p>duas pessoas idôneas, preferencialmente com diploma de curso superior na área</p><p>específica relacionada à natureza do exame. Os peritos não oficiais devem prestar o</p><p>compromisso de desempenhar o encargo de forma adequada e fiel. O Ministério</p><p>Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante e o acusado têm o direito</p><p>de formular quesitos e indicar assistente técnico. O assistente técnico atua a partir de</p><p>sua admissão pelo juiz, após a conclusão dos exames e a elaboração do laudo pelos</p><p>peritos oficiais, e as partes são intimadas dessa decisão. Durante o curso do processo</p><p>judicial, as partes têm permissão para requerer a oitiva dos peritos, apresentar</p><p>quesitos e indicar assistentes técnicos, seguindo as devidas formalidades</p><p>estabelecidas pelo código processual penal.</p><p>Desse modo, o perito é o profissional responsável por emitir um parecer que vai</p><p>além de observações técnicas e impressões pessoais, abrangendo também deduções</p><p>baseadas em seu conhecimento especializado. Para desempenhar essa função, o</p><p>perito deve possuir conhecimentos e habilidades especiais, ser um profundo</p><p>conhecedor do assunto em questão e dispor de equipamentos que ampliem sua</p><p>capacidade de observação, permitindo uma análise profunda e científica dos dados</p><p>obtidos. No Brasil, os peritos podem ser oficiais ou ad hoc (não oficiais).</p><p>Particularidades da Atividade do Perito</p><p>A atividade do perito é uma profissão que apresenta características distintas e</p><p>requer uma análise cuidadosa. Para compreender melhor essa atividade, é necessário</p><p>examinar suas modalidades e sua fundamentação legal. Dessa forma, destacam-se as</p><p>seguintes categorias:</p><p>• Peritos oficiais: englobam médicos legistas e peritos criminais,</p><p>conforme estabelecido pelo artigo 159 do Código de Processo Penal.</p><p>• Peritos louvados, nomeados, designados, não oficiais, ad hoc:</p><p>são peritos definidos pelos artigos 159, parágrafos 1° e 2°, do Código de</p><p>Processo Penal, 156, parágrafo 1°, do Código de Processo Civil e 3° da Lei</p><p>nº 5.584/1970.</p><p>• Assistentes técnicos: são peritos indicados pelas partes em</p><p>processos cíveis ou trabalhistas. Sua definição está estabelecida nos</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 57</p><p>artigos 131, inciso I, 421, inciso I, e 422 do Código de Processo Civil, bem</p><p>como no artigo 3° da Lei n° 5.584/1970.</p><p>Além disso, é importante analisar os impedimentos legais para o exercício da</p><p>função de perito. Esses impedimentos podem ocorrer por diversos motivos, tais como</p><p>indignidade (por inidoneidade, incompetência ou interdição temporária de direitos),</p><p>incompatibilidade (devido ao fato de ter prestado depoimento ou opinado sobre o</p><p>objeto da perícia), incapacidade (analfabetos e menores de 21 anos) e suspeição</p><p>(conforme os artigos 280 e 254 do Código de Processo Penal).</p><p>Em relação à profissão, é válido ressaltar que o perito não possui o mesmo papel</p><p>do médico clínico, pois este último deve acreditar no paciente, questionar a validade</p><p>e sinceridade, ter como objetivo o tratamento e atuar com sigilo e descrição (Visum</p><p>et Repetum). Ademais, um médico clínico não pode atuar como perito em um</p><p>processo no qual seu paciente esteja envolvido, devendo declarar-se suspeito ao juiz</p><p>caso seja nomeado perito do juízo.</p><p>Quanto às qualidades do trabalho do perito, podemos classificá-las como ciência,</p><p>técnica e consciência. Essas qualidades são fundamentais para uma</p><p>atuação adequada</p><p>nessa função. Quanto à intervenção do perito, ela pode ocorrer em diferentes</p><p>momentos do processo, como no inquérito, no sumário, no julgamento e após a</p><p>lavratura da sentença.</p><p>Assim como em qualquer outra profissão, o perito é remunerado por seus</p><p>serviços através de honorários. Nesse sentido, temos as seguintes possibilidades:</p><p>• Peritos oficiais: são remunerados pelo Estado.</p><p>• Peritos não oficiais: seus honorários são determinados pelo juiz.</p><p>• Perícias cíveis: os honorários podem ser requeridos judicialmente.</p><p>Portanto, o valor dos honorários a ser definido pode se basear em costumes</p><p>locais, na reputação profissional do perito, nas possibilidades econômicas das partes</p><p>envolvidas, no tempo despendido, na importância e na dificuldade médico-judiciária</p><p>do caso.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 58</p><p>4.3 Modalidades de Perícia</p><p>O sistema processual penal contempla uma variedade de modalidades de provas</p><p>periciais que são aceitas no ordenamento jurídico. Dentre essas modalidades, destaca-</p><p>se o exame de corpo de delito como a mais importante e significativa. O legislador,</p><p>ao redigir o Código de Processo Penal, reconheceu a relevância desse tipo de prova,</p><p>conferindo-lhe tratamento distinto e específico nos artigos 158 e seguintes do</p><p>referido código.</p><p>Antes de adentrar no conceito de exame de corpo de delito, é fundamental</p><p>compreender a natureza dos vestígios e a distinção entre vestígio e corpo de delito.</p><p>Os vestígios são os rastros, pistas ou indícios deixados por algo ou alguém, sendo que</p><p>esses indícios são as alterações observadas no local, em pessoas ou em objetos logo</p><p>após a ocorrência do delito. Essas alterações podem fornecer informações cruciais</p><p>para a elucidação do caso em questão. Nesse sentido, é necessário explorar e analisar</p><p>de forma mais aprofundada o conceito de corpo de delito.</p><p>Exame de Corpo de Delito</p><p>Pode-se afirmar que o corpo de delito é o conjunto de vestígios e elementos</p><p>apreensíveis pelos sentidos deixados pela prática do crime. Esses vestígios podem ser</p><p>encontrados tanto sobre a vítima quanto no local do crime, bem como em</p><p>instrumentos e objetos relacionados ao delito. O corpo de delito desempenha um</p><p>papel fundamental na elucidação do crime e na determinação de sua autoria (BONFIM,</p><p>2010, p. 46).</p><p>A perícia realizada sobre o corpo de delito é conhecida como exame de corpo de</p><p>delito e pode ocorrer de forma direta ou indireta. O Código de Processo Penal, em</p><p>seus artigos 6°, inciso VII, 158, 161, 167 e 168, estabelece as disposições legais</p><p>referentes a esse exame pericial. O referido código destaca a importância do exame</p><p>de corpo de delito, mencionando que é indispensável quando a infração deixa</p><p>vestígios e que não pode ser suprido pela confissão do acusado, uma vez que esta</p><p>pode ser falsa ou visar a proteção do verdadeiro autor do crime (artigo 158).</p><p>É importante ressaltar que o exame de corpo de delito não está restrito a um</p><p>determinado período de tempo, podendo ser realizado em qualquer momento (artigo</p><p>161). Caso os vestígios tenham desaparecido, a prova testemunhal poderá suprir essa</p><p>falta (artigo 167). Além disso, nos casos de lesões corporais, caso o primeiro exame</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 59</p><p>pericial seja incompleto, poderá ser necessário realizar um exame complementar,</p><p>conforme determinado pela autoridade policial ou judiciária (artigo 168).</p><p>O exame de corpo de delito tem como finalidade constatar, definir, interpretar e</p><p>registrar as circunstâncias, pessoas envolvidas e todas as particularidades do delito</p><p>(COSTA FILHO, 2012, p. 22). Portanto, sua realização requer uma abordagem</p><p>minuciosa e cuidadosa por parte do perito, que deverá elaborar um laudo detalhado.</p><p>Vale ressaltar que o exame de corpo de delito engloba diferentes subespécies, tais</p><p>como o exame necroscópico, a exumação, o exame perinecroscópico, entre outros.</p><p>O exame necroscópico é uma das modalidades do exame de corpo de delito e é</p><p>realizado no próprio cadáver, sendo essencial para determinar a causa da morte.</p><p>Conhecido também como necropsia ou autópsia, o exame necroscópico consiste em</p><p>uma análise interna do corpo, visando estabelecer a causa mortis (COSTA FILHO,</p><p>2012). Bonfim (2010) acrescenta que a necropsia envolve inicialmente a realização do</p><p>exame externo do cadáver, seguido pelo exame interno, a fim de determinar a causa</p><p>da morte.</p><p>Em suma, o exame de corpo de delito desempenha um papel central no processo</p><p>penal, fornecendo informações cruciais para a elucidação do crime e a determinação</p><p>da autoria. A realização minuciosa do exame, incluindo a modalidade de exame</p><p>necroscópico, permite que os peritos obtenham evidências cientificamente</p><p>fundamentadas, contribuindo para a busca da verdade e a justa aplicação da lei.</p><p>Exame Necroscópico, “Autópsia” ou Necropsia</p><p>A necropsia, além de buscar determinar a causa da morte, desempenha um papel</p><p>fundamental na investigação criminal, permitindo a identificação de aspectos</p><p>relevantes para a elucidação do crime. Por meio desse exame, busca-se não apenas a</p><p>causa mortis, mas também informações cruciais sobre a trajetória do projétil, o</p><p>número e localização dos ferimentos no cadáver, os orifícios de entrada e saída do</p><p>instrumento utilizado no ato delituoso, entre outros detalhes de interesse forense.</p><p>Além da análise das lesões e ferimentos, o exame de necropsia também é</p><p>utilizado para a determinação do tempo do crime. Os peritos observam os fenômenos</p><p>cadavéricos, tais como livores hipostáticos (manchas roxas decorrentes do acúmulo</p><p>de sangue nas partes inferiores do corpo), rigidez cadavérica, resfriamento corporal,</p><p>grau de putrefação e maceração, a fim de estabelecer o momento aproximado em</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 60</p><p>que ocorreu o óbito. Essas informações são valiosas para a reconstrução dos eventos</p><p>e a análise da dinâmica do crime.</p><p>O exame necroscópico está previsto no artigo 162 do Código de Processo Penal,</p><p>que estabelece o prazo mínimo de seis horas após o óbito para sua realização, a</p><p>menos que os sinais de morte sejam evidentes. Esse prazo tem como objetivo evitar</p><p>equívocos na constatação da morte, especialmente em casos de síncopes, catalepsia</p><p>e outras situações de morte aparente (NICOLITT, 2010, p. 420). Os peritos têm a</p><p>prerrogativa de dispensar o período de espera quando a morte é claramente</p><p>identificada.</p><p>A necropsia deve ser realizada sempre que houver homicídio consumado ou</p><p>morte violenta com suspeita de crime. O procedimento inicia-se com a fotografia do</p><p>cadáver na posição em que foi encontrado, e essas imagens farão parte do laudo</p><p>pericial, seguindo as normas estabelecidas nos artigos 164 e 165 do Código de</p><p>Processo Penal. Vale destacar que esse exame é considerado também um exame de</p><p>corpo de delito, pois sua realização é direcionada à vítima, buscando coletar</p><p>evidências fundamentais para a investigação criminal.</p><p>Assim, o exame necroscópico desempenha um papel crucial na medicina legal e</p><p>na investigação de crimes, fornecendo informações detalhadas sobre a causa da</p><p>morte, a dinâmica do delito e o tempo transcorrido desde o óbito. É por meio dessa</p><p>análise minuciosa que os peritos contribuem para a busca da verdade e a justa</p><p>aplicação da lei no sistema de justiça criminal.</p><p>Exumação para Exame Cadavérico</p><p>A exumação cadavérica é uma modalidade de perícia necroscópica que envolve</p><p>a desenterração do corpo inumado e é realizada com a autorização prévia. Conforme</p><p>destacado por Nicolitt (2010, p. 420), essa medida é adotada quando o exame de</p><p>corpo de delito, na época apropriada, não foi completo ou quando há motivos</p><p>relevantes e supervenientes que justifiquem a sua realização. Nesse sentido, a</p><p>exumação tem caráter complementar, sendo solicitada geralmente diante de</p><p>divergências</p><p>sobre a causa da morte violenta ou suas circunstâncias (BINA, 2009).</p><p>É importante ressaltar que a exumação requer cuidados adequados, uma vez que</p><p>implica na remoção do cadáver do túmulo para a realização de exames. Isso pode</p><p>ocorrer em casos de dúvidas surgidas posteriormente, deficiências no exame anterior</p><p>ou em situações que envolvam questões emocionais das partes. Todos os</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 61</p><p>procedimentos devem estar em conformidade com as disposições legais e seguir as</p><p>formalidades necessárias para evitar a caracterização de crimes, como violação de</p><p>sepulturas e outros delitos relacionados ao respeito aos mortos.</p><p>Conforme estabelecido no artigo 163 do Código de Processo Penal, a exumação</p><p>deve ser previamente agendada pela autoridade responsável, que lavrará um auto</p><p>circunstanciado. O responsável pelo cemitério, seja público ou privado, deve indicar o</p><p>local exato da sepultura, sob pena de desobediência.</p><p>Caso não haja um administrador no cemitério, ou se o administrador se recusar</p><p>a fornecer as informações sobre a inumação, ou ainda se o corpo não estiver no local</p><p>adequado, a autoridade competente deve realizar as devidas diligências para localizá-</p><p>lo, devendo todo o processo ser registrado nos autos.</p><p>Após a exumação e a elucidação de qualquer dúvida em relação à identidade do</p><p>cadáver, os peritos realizarão um novo exame de corpo de delito, a fim de esclarecer</p><p>as questões que motivaram a exumação. Assim como na necropsia, durante a</p><p>exumação, o corpo deve ser fotografado na posição em que for encontrado, e essas</p><p>fotografias devem ser anexadas ao laudo, em conformidade com os artigos 164 e 165</p><p>do Código de Processo Penal.</p><p>Dessa forma, a exumação cadavérica desempenha um papel relevante na perícia</p><p>necroscópica, permitindo a realização de exames complementares e contribuindo</p><p>para a busca da verdade nos casos em que se faz necessário revisitar o local de</p><p>sepultamento. Essa medida, embora delicada, desempenha um papel fundamental na</p><p>produção de provas e na garantia da justiça no âmbito do processo penal.</p><p>Exame Perinecroscópico</p><p>O exame perinecroscópico, cujo termo "peri" deriva de periferia, refere-se à</p><p>perícia realizada na região periférica do cadáver, ou seja, no local ao redor do corpo</p><p>(BINA, 2009). Ao contrário da necropsia, que é realizada no próprio corpo pelo médico</p><p>legista, o exame perinecroscópico ocorre no local do crime, conduzido por peritos</p><p>criminais, e deve ser formalizado por meio de laudos periciais.</p><p>Esse tipo de exame é realizado especificamente em casos de crimes contra a vida,</p><p>cabendo ao exame do local do crime a análise do ambiente nos demais delitos em</p><p>que não haja a presença de um cadáver. Durante o exame perinecroscópico, o perito</p><p>deve observar diversos aspectos, tais como a posição do corpo, o estado das vestes,</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 62</p><p>a presença de armas, manchas de sangue, ferimentos no corpo e a evolução dos</p><p>fenômenos cadavéricos (SILVEIRA, 2012, p. 1).</p><p>Embora o Código de Processo Penal não mencione explicitamente o exame</p><p>perinecroscópico, sua realização está implícita nos artigos 164 e 169, exigindo uma</p><p>interpretação criteriosa ao longo da leitura da norma (BINA, 2009). O artigo 164</p><p>estabelece a necessidade de fotografar o cadáver na posição em que for encontrado,</p><p>assim como registrar todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime,</p><p>permitindo uma análise minuciosa. Vejamos o trecho do referido artigo: "Os cadáveres</p><p>serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na</p><p>medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime."</p><p>Portanto, o exame perinecroscópico desempenha um papel crucial na perícia</p><p>criminal, fornecendo informações fundamentais sobre o ambiente em que o crime</p><p>ocorreu, as circunstâncias relacionadas ao cadáver e eventuais vestígios que possam</p><p>ajudar na elucidação dos fatos. Ao documentar o local do crime de forma detalhada,</p><p>os peritos contribuem para a coleta de provas e auxiliam na reconstrução dos eventos,</p><p>permitindo um melhor entendimento dos acontecimentos e contribuindo para a</p><p>busca da verdade no processo penal.</p><p>Exame do Local do Crime</p><p>Conforme estabelecido no caput do artigo 169 do Código de Processo Penal, o</p><p>exame perinecroscópico é previsto com o objetivo de isolar o local do crime,</p><p>garantindo a preservação dos elementos ali presentes até a chegada dos peritos, que</p><p>serão responsáveis por examinar minuciosamente o local (BINA, 2009). Tal medida se</p><p>faz necessária devido à possibilidade de alteração do estado das coisas, sendo crucial</p><p>que as mudanças sejam devidamente registradas no laudo pericial pelos peritos e</p><p>posteriormente discutidas em relação aos fatos ocorridos.</p><p>Em suma, o exame perinecroscópico tem como finalidade analisar crimes como</p><p>incêndio, furto qualificado por arrombamento ou escalada e outros delitos que</p><p>deixam vestígios, mas não envolvem a presença de um cadáver (SILVEIRA, 2012, p. 1).</p><p>Porém, é importante destacar que esse tipo de exame é realizado apenas no local do</p><p>crime com vítimas fatais, como já abordado anteriormente.</p><p>O exame perinecroscópico desempenha um papel significativo em casos</p><p>relacionados a acidentes de trânsito, uma vez que permite a análise das marcas</p><p>deixadas pelos pneus dos veículos envolvidos (SILVEIRA, 2012, p. 1). Além disso, é</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 63</p><p>amplamente utilizado na perícia de locais onde ocorreram crimes, a fim de verificar a</p><p>disposição dos objetos, a situação de desordem, as marcas e rastros presentes no</p><p>ambiente. É fundamental que os peritos prestem atenção especial a elementos como</p><p>pegadas, impressões digitais, manchas e vestígios, que devem ser cuidadosamente</p><p>coletados, descritos e fotografados. Além disso, amostras de manchas, tintas e</p><p>incrustações devem ser raspadas e enviadas ao laboratório para análise mais</p><p>detalhada (SILVEIRA, 2012, p. 1).</p><p>No contexto de acidentes de trânsito, o exame perinecroscópico permite verificar</p><p>a posição dos veículos envolvidos e os pontos de impacto, auxiliando na identificação</p><p>de possíveis condutas imprudentes, imperitas ou negligentes (NICOLITT, 2010).</p><p>Os artigos 6°, inciso I, e 169 do Código de Processo Penal estabelecem a previsão</p><p>legal desse tipo de perícia, determinando que a autoridade responsável deve isolar o</p><p>local do crime para preservar o estado e a conservação das evidências até a chegada</p><p>dos peritos. Dessa forma, os peritos poderão examinar minuciosamente o local, coletar</p><p>indícios e embasar seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos</p><p>(BINA, 2009). O referido artigo é transcrito a seguir:</p><p>Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido</p><p>praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente</p><p>para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos</p><p>peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,</p><p>desenhos ou esquemas elucidativos.</p><p>Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do</p><p>estado das coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências</p><p>dessas alterações na dinâmica dos fatos.</p><p>Portanto, o exame perinecroscópico desempenha um papel crucial na</p><p>investigação criminal, permitindo a análise detalhada do local do crime e a coleta de</p><p>evidências que são essenciais para a reconstrução dos eventos e a busca pela verdade</p><p>processual.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Provas e Perícias</p><p>www.cenes.com.br | 64</p><p>Exame sobre os Instrumentos do Crime</p><p>O exame perinecroscópico, regulado pelo artigo 171 do Código de Processo</p><p>Penal, abrange os crimes que envolvem destruição ou rompimento de obstáculo para</p><p>subtração de bens, bem como aqueles cometidos por meio de escalada. Conforme a</p><p>legislação, os peritos encarregados desse</p><p>Na investigação científica, quem anuncia uma</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 5</p><p>determinada conclusão acaba sendo a comunidade científica da área estudada, que</p><p>funciona como um tipo de conjunto de juízes, quando finalmente chegam a um</p><p>consenso sobre o fato a ser divulgado.</p><p>Outra diferença pode ser notada quanto aos erros, que apesar de serem possíveis</p><p>em investigações criminais, podem resultar em um crime resolvido e a investigação</p><p>pode ser considerada concluída. Na investigação científica, as conclusões obtidas são</p><p>apenas temporariamente aceitas, até que novos estudos permitam revisar as decisões</p><p>feitas anteriormente e alcancem novas conclusões que de alguma forma englobem as</p><p>antigas.</p><p>A ciência é cumulativa ao incorporar, em cada situação de descoberta, o essencial</p><p>das descobertas prévias. Outra diferença é que, excetuando uma ou outra exceção, é</p><p>possível descobrir a verdade nos casos de investigações criminais, enquanto nas</p><p>pesquisas científicas, a verdade é idealmente alcançável. Chegar realmente na</p><p>verdade, ou melhor, tentar descobrir o erro, torna o trabalho dos investigadores</p><p>científicos contínuo.</p><p>1.1 A Investigação Criminal</p><p>A pesquisa criminológica representa o mecanismo por meio do qual é concluída</p><p>a apuração de incidentes supostamente infracionais e a correspondente autoria,</p><p>partindo do acontecimento ou notícia, com o objetivo de esclarecer sua consonância</p><p>ou dissonância com algum preceito penal especificado. Uma visão mais condensada</p><p>desta atividade é oferecida por Manoel Monteiro Guedes Valente (2009, p. 102),</p><p>conforme o seguinte excerto:</p><p>A investigação criminal, executada pela força policial, busca identificar, coletar,</p><p>preservar, examinar e interpretar evidências concretas, bem como localizar, contatar e</p><p>apresentar provas pessoais que conduzam à elucidação da verdade material</p><p>judicialmente admissível dos fatos que consubstanciam a prática de um delito. Assim,</p><p>a investigação criminal pode ser o propulsor inicial e a base do processo penal que</p><p>decidirá pela condenação ou absolvição.</p><p>Como se pode destacar, o objeto da investigação criminal é a imparcial apuração</p><p>da materialidade e autoria de uma suposta infração penal, por meio da busca de sua</p><p>verdade factual e jurídica com base em um juízo de probabilidade indiciária.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 6</p><p>É também importante salientar que a concepção de verdade perseguida pela</p><p>investigação criminal refere-se à verdade processual (adequada à persecução penal</p><p>como um todo), conforme definido por Luigi Ferrajoli (2014), que a divide entre</p><p>verdade processual de fato e de direito, as quais não podem ser afirmadas por</p><p>observações diretas.</p><p>A verdade processual factual, para o referido jurista, incide em um tipo específico</p><p>de verdade histórica, relativa a conjecturas que advêm de representações passadas</p><p>que não estão abertamente compreensíveis, como por exemplo, a experiência. Por</p><p>outro lado, a verdade processual jurídica é uma verdade que pode ser chamada de</p><p>classificatória, ao se referir à classificação ou qualificação dos eventos históricos</p><p>evidenciados de acordo com as categorias pelo léxico jurídico e elaboradas por meio</p><p>da interpretação da linguagem legal.</p><p>Dado isso, podemos afirmar que a investigação criminal, assim como a</p><p>investigação científica, pretende buscar uma verdade formal aproximada e corrigível,</p><p>sujeita a aperfeiçoamento, com a particularidade de que, na primeira, essa verdade é</p><p>ordinariamente retrospectiva, uma vez que, em regra, diz respeito a fatos passados.</p><p>Ou seja, fatos que não estão mais acessíveis à experiência.</p><p>Portanto, enquanto veículo da busca pela verdade processual (formal), três</p><p>funções fundamentais derivam da investigação criminal (BRITTO, 2014):</p><p>• Preservar a imparcialidade;</p><p>• Preservar a economicidade;</p><p>• Preservar a eficiência da Justiça Criminal.</p><p>Resultando da soma destas três funções o principal bem jurídico tutelado pela</p><p>investigação criminal, a saber, a defesa da ordem jurídica.</p><p>A imparcialidade da Justiça Criminal é mantida pela investigação criminal na</p><p>medida em que esta fornece ao juiz um algoritmo temporário derivado de um órgão</p><p>não comprometido, ou vinculado, nem com a acusação nem com a defesa, assim</p><p>protegendo a investigação de considerações parciais.</p><p>Esta observação foi bem ilustrada no item IV da Exposição de Motivos do Código</p><p>de Processo Penal vigente, ao discorrer sobre o inquérito policial:</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 7</p><p>É ele uma garantia contra apressados e errôneos juízos, formados</p><p>quando ainda persiste a trepidação moral causada pelo crime, nas</p><p>suas circunstâncias objetivas e subjetivas. Por mais perspicaz e</p><p>circunspeta, a autoridade que dirige a investigação inicial, quando</p><p>ainda perdura o alarma provocado pelo crime, está sujeita a</p><p>equívocos ou falsos juízos a priori, ou a sugestões tendenciosas.</p><p>Não raro, é preciso voltar atrás, refazer tudo, para que a</p><p>investigação se oriente no rumo certo, até então desapercebido.</p><p>Por que então, abolir-se o inquérito preliminar ou instrução</p><p>provisória, expondo-se a justiça criminal aos azares do</p><p>detetivismo, às marchas e contramarchas de uma instrução</p><p>imediata e única? Pode ser mais expedito o sistema de unidade</p><p>de instrução, mas nosso sistema tradicional, como inquérito</p><p>preparatório, assegura uma justiça menos aleatória, mais</p><p>prudente e serena (BRASIL, 1941a, p. 2).</p><p>A economicidade da Justiça Criminal é simultaneamente protegida pela</p><p>investigação criminal, ao evitar que acusações infundadas ou temerárias sejam</p><p>indevidamente levadas a juízo. Assim, impedindo que esses tipos de acusações sejam</p><p>submetidos a julgamento, além de proteger os direitos individuais ao impedir que</p><p>inocentes sejam submetidos ao desgaste de um processo penal de maneira</p><p>imprudente.</p><p>Para Aury Lopes Jr. (2001), a função de evitar acusações infundadas é a principal</p><p>fundamentação da investigação criminal, pois, na verdade, prevenir acusações sem</p><p>fundamentos é garantir à sociedade que não haverá abusos por parte do poder</p><p>persecutório estatal. Embora a impunidade possa gerar uma grave inquietação social,</p><p>não menos grave é o mal causado por processar um inocente.</p><p>Essa atividade de "filtro processual", para Aury Lopes Jr. (2001), é plenamente</p><p>concretizada quando consideramos três fatores:</p><p>a) O custo do processo judicial;</p><p>b) O sofrimento que causa ao sujeito passivo;</p><p>c) A estigmatização social e jurídica geral.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 8</p><p>José Pedro Zaccariotto (2005) vai ainda mais longe, ao esclarecer que uma parte</p><p>significativa das notícias de crimes, que diariamente chegam às Delegacias de Polícia,</p><p>referem-se a fatos, por vezes, claramente ilícitos, mas desprovidos de comprovação</p><p>quanto à sua efetiva natureza, seja civil ou criminal, como ocorre com frequência em</p><p>casos permeados por hipotéticos inadimplementos de obrigações, habitualmente</p><p>interpretados como estelionatos e apropriações indébitas, benefício da delicada</p><p>fronteira que delimita o território das mencionadas espécies.</p><p>Nesses e em muitos outros episódios análogos, a investigação criminal não deve</p><p>objetivar a descoberta do autor dos fatos que lhe são apresentados de forma resumida</p><p>e parcial, mas sim, descobrir se estes fatos estão ou não de acordo com alguma</p><p>hipótese criminosa.</p><p>Dessa forma, podemos concluir que, para a efetividade positiva, tanto da</p><p>investigação criminal quanto da investigação científica, é essencial que enigmas,</p><p>fundamentados em fatos com suposição criminosa, constituam indícios de maneira</p><p>concisa e objetiva, uma vez que a metodologia da investigação criminal também não</p><p>é autossuficiente. Ou seja, não é possível que ela floresça no vácuo de informação ou</p><p>na total indeterminação,</p><p>exame devem não apenas descrever os</p><p>vestígios encontrados, mas também indicar quais instrumentos foram utilizados, os</p><p>meios empregados e a época presumida em que o crime foi praticado (SILVA, 2015).</p><p>Por sua vez, o artigo 173 do Código de Processo Penal estabelece diretrizes</p><p>específicas para os casos de incêndio. Nesses casos, os peritos devem examinar</p><p>minuciosamente o local do crime, com o intuito de determinar a causa e o ponto de</p><p>origem do incêndio, bem como avaliar o grau de perigo, a extensão dos danos e seu</p><p>valor, além de investigar outras circunstâncias relevantes para a elucidação do fato</p><p>(BINA, 2009).</p><p>Além da análise dos vestígios e instrumentos utilizados nos crimes, o exame</p><p>perinecroscópico também engloba a verificação da natureza dos objetos empregados</p><p>na prática delitiva. É essencial estabelecer a espécie e a qualidade desses objetos,</p><p>como é o caso do reconhecimento do calibre de uma arma de fogo (RIBEIRO, 2014).</p><p>Nesse contexto, destaca-se a importância da balística forense, uma área da perícia que</p><p>se dedica ao estudo científico das armas de fogo, suas características e os efeitos</p><p>produzidos por seus disparos (FREIRE, 2017). A análise balística permite a identificação</p><p>de armas utilizadas em crimes, o confronto de projéteis e estojos encontrados no local</p><p>do crime com armas apreendidas e a determinação da trajetória dos disparos,</p><p>contribuindo assim para a reconstrução dos eventos e a identificação de possíveis</p><p>autores (BINA, 2009).</p><p>Dessa forma, o exame perinecroscópico desempenha um papel fundamental na</p><p>investigação criminal, fornecendo elementos técnicos-científicos que auxiliam na</p><p>identificação dos métodos empregados nos crimes, na análise dos vestígios</p><p>encontrados e na busca pela verdade processual. A correta realização desse exame,</p><p>com base nas normas e diretrizes estabelecidas no Código de Processo Penal,</p><p>contribui para a produção de laudos periciais robustos e conclusivos, que são</p><p>essenciais para a elucidação dos casos (BINA, 2009; RIBEIRO, 2014).</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Referências</p><p>www.cenes.com.br | 65</p><p>5 Referências</p><p>ALMEIDA, J. C. Os princípios fundamentais do processo penal. São Paulo: Revista dos</p><p>Tribunais, 1973.</p><p>ALVES, R. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 20. ed. São Paulo:</p><p>Brasiliense,1994.</p><p>BACON, F. Novum organum. Tradução de José Aluysio Reis de Andrade. Pará de Minas:</p><p>Virtualbooks, 2002.</p><p>BINA, R. Medicina legal. São Paulo: Saraiva, 2009.</p><p>BONFIM, E. M. Curso de processual penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.</p><p>BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.</p><p>BRASIL. 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São</p><p>Paulo: Revista dos Tribunais.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>Referências</p><p>www.cenes.com.br | 70</p><p>Sumário</p><p>1 A Investigação</p><p>1.1 A Investigação Criminal</p><p>1.2 Histórico da Investigação Criminal</p><p>1.3 Os Fundamentos da Investigação Criminal</p><p>1.4 Os Fins da Investigação Criminal</p><p>1.5 Teoria da Investigação Criminal</p><p>2 A Notícia Crime: dos Vestígios à Prova em Tribunal</p><p>3 As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>3.1 A Prova</p><p>3.2 Meios de Prova</p><p>3.3 A Prova Criminal</p><p>3.4 A Organização Pericial</p><p>3.5 O Papel do Ministério Público</p><p>3.6 A Perícia como Fator de Promoção da Justiça</p><p>3.7 Prova Pericial</p><p>4 Provas e Perícias</p><p>4.1 A Prova Pericial</p><p>4.2 O Perito</p><p>4.3 Modalidades de Perícia</p><p>5 Referências</p><p>situação em que se abordam as notícias de crimes que não</p><p>carregam indicativos mínimos de prática delituosa.</p><p>Por outro lado, o que passa pelo mencionado "filtro processual", com o devido</p><p>desenvolvimento de materialidade e autoria delituosa, resulta em uma maior eficácia</p><p>da Justiça Criminal, permitindo que a parte autora da ação penal ingresse em juízo</p><p>com informações mínimas que possibilitam que o mesmo possa genuinamente</p><p>exercer o jus persequendi, com uma expectativa tangível de condenação admissível.</p><p>Apesar de a instrução preliminar não ser indispensável ao ajuizamento da ação</p><p>penal, esta, em geral, acompanha a inicial acusatória, adquirindo maior autoridade por</p><p>ser instruída com informações adquiridas por um órgão alheio e imparcial em relação</p><p>ao destino da causa.</p><p>Infelizmente, a estigmatização social e jurídica geral é frequentemente</p><p>mencionada pela doutrina processualista penal brasileira. Este fato resulta na</p><p>diminuição da investigação criminal como uma prática unidirecional e monocular,</p><p>destinada exclusivamente para proporcionar a aspiração da parte acusadora do</p><p>subsequente processo penal, cuja condenação seria seu objetivo principal.</p><p>Esta direção, além de estar em claro desacordo com o devido processo legal,</p><p>quando analisada sob uma perspectiva filosófica, desemboca na compreensão da</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 9</p><p>verdade promovida por Michel Foucault (2003). Este pensador acredita que a</p><p>descoberta da verdade é consequência de inúmeras coerções, produzindo na</p><p>sociedade efeitos normatizados pelo poder, além disso, afirma que a verdade é</p><p>determinada e transmitida sob a autoridade dominante de um ou mais instrumentos</p><p>hegemônicos.</p><p>Com tudo isso, percebemos que a investigação criminal, além da compreensão</p><p>reducionista amplamente pacificada na doutrina jurídica de nosso país, deve ser</p><p>realizada buscando a imparcialidade na busca pela verdade formal.</p><p>Ademais, no que concerne à metodologia da investigação criminal, é oportuno</p><p>abordar as lições de André Rovegno (2005), autor que postula que no inquérito policial</p><p>não há uma sucessão de atos que impliquem uma correlação na qual o antecedente</p><p>condicionaria o consequente; também inexiste legislação que prescreva uma ordem</p><p>para tal sucessão, diferentemente do que se verifica nos processos e procedimentos</p><p>(ROVEGNO, 2005).</p><p>A legislação atribui uma ampla margem de discricionariedade à autoridade</p><p>policial judiciária para contemplar as diversas abordagens a serem perseguidas</p><p>(ROVEGNO, 2005). Nesse sentido, a autoridade policial deve empregar todos os meios</p><p>possíveis para alcançar o sucesso da investigação, isto é, buscar a maior aproximação</p><p>possível da verdade.</p><p>No tocante aos direitos fundamentais de investigados e indiciados, a legislação</p><p>processual penal também são fatores que deverão ser perseguidos pela autoridade</p><p>policial judiciária em toda a sua liberdade discricionária conferida pela lei (ROVEGNO,</p><p>2005). Ainda segundo André Rovegno (2005, p. 179) “apenas o destino está fixado: a</p><p>reconstrução, pautada pelo imperativo de busca inarredável pela verdade, de um fato</p><p>que se apresentou preliminarmente como criminoso”.</p><p>Tal como na investigação científica mencionada anteriormente, as normas que</p><p>estruturam a metodologia da investigação criminal possuem apenas uma justificativa</p><p>pragmática. Isso implica que não é viável elaborar listas acerca da verdade na</p><p>investigação científica e, ademais, não é possível antecipar conclusões</p><p>independentemente do caso concreto em questão.</p><p>Entretanto, é indispensável que as normas seguidas pela autoridade policial</p><p>judiciária agreguem não apenas regras compatíveis com as leis da lógica e da ciência,</p><p>mas também que estejam em consonância com o sistema de normas fundamentado</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 10</p><p>numa estrutura jurídica e, além disso, estejam em conformidade com os direitos</p><p>fundamentais dos indiciados e investigados (PEREIRA, 2010).</p><p>É importante destacar a ideia de Eliomar da Silva Pereira (2010) de que os direitos</p><p>fundamentais provocam uma verdadeira intervenção jurídica no método da</p><p>investigação criminal, uma vez que, embora não seja verificado por regras positivas</p><p>necessárias de pesquisa, está restrito por preceitos negativos, que extraem do seu</p><p>campo de probabilidade uma quantidade de caminhos analisados como inadmissíveis</p><p>diante do direito, ou acolhidos exclusivamente sob determinadas espécies.</p><p>No entanto, convém lembrar que, ainda que em menor escala, as investigações</p><p>científicas estão sujeitas a limitações jurídicas decorrentes de direitos fundamentais</p><p>(BIODIREITO, s.d.). Como exemplo disso, temos as questões polêmicas relacionadas</p><p>ao Biodireito, onde o método da investigação científica, a depender do objeto de</p><p>estudo, pode sugerir em transgressão a direitos fundamentais, especialmente aqueles</p><p>relacionados à dignidade da pessoa.</p><p>A investigação criminal ou científica, por sua vez, deve ser conduzida com o</p><p>máximo de diligência e profissionalismo, sempre procurando a verdade e mantendo</p><p>o respeito pelos direitos fundamentais de todos os envolvidos.</p><p>Na investigação criminal, os procedimentos podem incluir coleta de provas,</p><p>interrogatórios, análise de registros, observação e vigilância, dentre outros. O objetivo</p><p>final é reunir evidências suficientes para estabelecer uma ligação conclusiva entre o</p><p>suspeito e o crime, permitindo, assim, que o caso seja levado a julgamento.</p><p>A investigação científica, por outro lado, envolve a formulação de hipóteses, a</p><p>realização de experimentos e observações para testar essas hipóteses, a interpretação</p><p>dos dados resultantes e, finalmente, a elaboração de conclusões que possam ser</p><p>validadas por outros cientistas através da replicação dos experimentos.</p><p>Embora ambas as investigações - criminal e científica - possam ter objetivos</p><p>diferentes, a metodologia de investigação em si possui várias semelhanças. Ambas</p><p>necessitam de um processo rigoroso e estruturado, que deve ser conduzido de forma</p><p>imparcial e objetiva. Além disso, ambas devem estar em conformidade com as leis e</p><p>regulamentos pertinentes e respeitar os direitos fundamentais dos indivíduos</p><p>envolvidos.</p><p>Contudo, é crucial sublinhar que a integridade do processo de investigação, seja</p><p>ele criminal ou científico, é fundamental para garantir que as conclusões tiradas sejam</p><p>justas e precisas. A falha em manter os mais altos padrões de integridade pode levar</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 11</p><p>a erros de julgamento, injustiças e, em última análise, a uma perda de confiança no</p><p>sistema, seja ele judicial ou científico.</p><p>1.2 Histórico da Investigação Criminal</p><p>A prática de empregar conhecimentos científicos para a análise de evidências</p><p>criminais se estabeleceu historicamente desde os primórdios da civilização,</p><p>impulsionada pela necessidade intrínseca de elucidar os fatos envolvidos em atos</p><p>delituosos. Essa prática, no entanto, sempre se pautou em uma metodologia rigorosa,</p><p>caracterizada pela aplicação de regras e padrões estabelecidos tanto na esfera</p><p>científica quanto na jurídica.</p><p>Em eras anteriores, os procedimentos utilizados para a obtenção de evidências</p><p>baseavam-se principalmente em métodos violentos de tortura, na tentativa de extrair</p><p>confissões que, muitas vezes, mostravam-se de questionável confiabilidade. Naquela</p><p>época, era difícil imaginar que a sociedade chegaria ao ponto de ser capaz de</p><p>identificar, de forma tão precisa, o autor de um crime e possuir provas suficientes para</p><p>incriminá-lo. Esse avanço foi possível graças à progressão da abordagem de provas</p><p>em sentido amplo, envolvendo tanto testemunhos quanto evidências materiais.</p><p>Contudo, é importante ressaltar que, globalmente, muitos crimes passaram</p><p>despercebidos por falta de provas materiais concretas.</p><p>Por volta da metade do século</p><p>XIX, especificamente em 1870 na França,</p><p>fotografias começaram a ser utilizadas em fichas criminais. A ideia era que essas</p><p>imagens servissem como um meio de reconhecimento e formação de um banco de</p><p>dados para identificação (Innes, 2003).</p><p>Posteriormente, após várias tentativas, Alphonse Bertillon (1853-1914),</p><p>proeminente criminologista francês, estabeleceu um método científico para o</p><p>reconhecimento de indivíduos e a classificação de suas fichas criminais com base em</p><p>medidas antropológicas (Bertillon, 1896). Este método tornou-se internacionalmente</p><p>aceito e foi utilizado até aproximadamente 1970. Nesse contexto, ferramentas como</p><p>o retrato falado, as fotografias e, posteriormente, a datiloscopia, tornaram-se</p><p>procedimentos complementares.</p><p>Para Bertillon, apenas a antropometria poderia fornecer à justiça provas</p><p>científicas irrefutáveis em relação à identificação de um criminoso reincidente. Este</p><p>policial francês é amplamente reconhecido como o pioneiro da polícia técnica</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 12</p><p>moderna e seu sistema ficou conhecido como "sistema Bertillon" ou "bertillonagem"</p><p>(Cole, 2001).</p><p>A partir deste avanço, surge a ciência da criminalística. No Brasil, a origem da</p><p>criminalística é intrinsecamente ligada ao surgimento da medicina legal, que recebeu</p><p>forte influência da experiência francesa. Durante o período colonial no Brasil, quase</p><p>não foram conduzidas pesquisas científicas sobre medicina legal.</p><p>Foi apenas após 1832, com o surgimento das faculdades de medicina, que teses</p><p>sobre o tema começaram a ser produzidas, principalmente devido à exigência para a</p><p>obtenção do título de graduação. Em torno de 1839, os primeiros trabalhos sobre o</p><p>tema já puderam ser encontrados (Souza, 1999).</p><p>Com o objetivo de evidenciar os métodos científicos para a resolução de crimes,</p><p>surgem os chamados Institutos de Criminalística, também conhecidos como polícia</p><p>técnico-científica. Estes institutos têm como principal objetivo a criação de</p><p>laboratórios criminalísticos para suprir as necessidades de aplicação dos métodos</p><p>científicos na elucidação de crimes.</p><p>A polícia técnica, um órgão da Administração Pública subordinado à Secretaria</p><p>de Segurança Pública na maior parte dos estados nacionais, tem como principal</p><p>função coletar e analisar as provas periciais.</p><p>Os Institutos de Criminalística desempenham um papel crucial na realização de</p><p>perícias criminais, fornecendo aos peritos materiais e ferramentas que podem ser</p><p>essenciais na identificação do responsável e na elaboração do laudo pericial.</p><p>Estes institutos possuem diversas áreas, cada uma especializada em um diferente</p><p>tipo de perícia, podendo-se mencionar, por exemplo, áreas de acidente de trânsito,</p><p>crimes contábeis, informática, áreas de exames, análise e pesquisas – instrumental,</p><p>balística, biológica, bioquímica, física e química, entre inúmeras outras.</p><p>A criminalística e seus métodos de utilização dos estudos de vestígios</p><p>descobertos no local são essenciais para o esclarecimento de crimes. Este</p><p>conhecimento é útil não apenas para os peritos criminais, mas também para os</p><p>operadores do direito que buscam entender a matéria e sua aplicabilidade no âmbito</p><p>penal, visando alcançar credibilidade e autenticidade dos fatos necessários para a</p><p>resolução do conflito.</p><p>De acordo com o Código de Processo Penal Brasileiro, é obrigatório o exercício</p><p>do exame de corpo de delito para os crimes que deixarem vestígios. Isso fornece ao</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 13</p><p>juiz meios materiais para a resolução do apurado fato delituoso, pois se trata de uma</p><p>prova importante, científica e isenta, considerando a materialidade (Brasil, 1941).</p><p>Desde a Constituição Federal de 1988, os direitos e garantias fundamentais dos</p><p>cidadãos são confirmados, visando evitar tratamentos injustos ou degradantes que</p><p>precedam a decisão do juiz. Esta é a presunção de inocência, preceituada no art. 5,</p><p>inciso LVII (Brasil, 1988).</p><p>No mesmo Art. 5, inciso LV, também é previsto o princípio do contraditório,</p><p>observando o direito à prova para assegurar às partes os recursos suficientes a defesa</p><p>do acusado (Brasil, 1988).</p><p>É imprescindível que se busque sempre a justiça nos processos penais, levando</p><p>em consideração o princípio da dignidade humana e a Constituição Federal de 1988.</p><p>Com a prova pericial, então, o magistrado não precisa se ater apenas a fatos</p><p>divulgados por pessoas ou à confissão, que podem ser menos confiáveis.</p><p>1.3 Os Fundamentos da Investigação Criminal</p><p>No cerne das responsabilidades estatais, emerge a salvaguarda inalienável dos</p><p>direitos fundamentais e a implementação equitativa da justiça. Quando surgem</p><p>indícios de uma violação penal, torna-se indispensável que, por intermédio de</p><p>entidades apropriadas, se instaure a persecução penal, um termo que encapsula a</p><p>noção de uma busca meticulosa e ininterrupta para averiguar a veracidade do delito</p><p>e, em decorrência, promover a ação penal apropriada, se for o caso (Marques, 2015).</p><p>Este complexo procedimento é conduzido, no Brasil, pela polícia judiciária nas</p><p>etapas de investigação preliminar e pelo Ministério Público, que pode, eventualmente,</p><p>oferecer uma denúncia formal ao juiz, iniciando assim a ação penal pública (Gomes,</p><p>2007). Portanto, a persecução penal é entendida como uma obrigação estatal de</p><p>promover a justiça penal acusatória e a investigação prévia que a precede, quando</p><p>aplicável (Franco, 2016).</p><p>A investigação criminal pode ser conceituada, em termos simplificados, como</p><p>uma atividade pré-processual, cujo objetivo é a coleta e produção de elementos</p><p>probatórios sobre a materialidade e autoria de um evento criminoso (Tourinho Filho,</p><p>2012). Quando se aborda o tema das diligências, métodos e técnicas de investigação,</p><p>referimo-nos à prática de atos investigativos que usualmente emanam do inquérito</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 14</p><p>policial, uma fase preliminar consideravelmente independente quando contrastada ao</p><p>processo criminal.</p><p>No que tange à esfera criminal, a atividade investigativa possui uma notoriedade</p><p>inegável. A Constituição Federal Brasileira estabelece as autoridades responsáveis pela</p><p>apuração das infrações penais (Brasil, 1988).</p><p>Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e</p><p>responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da</p><p>ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,</p><p>através dos seguintes órgãos:</p><p>I - polícia federal;</p><p>II - polícia rodoviária federal;</p><p>III - polícia ferroviária federal;</p><p>IV - polícias civis;</p><p>V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.</p><p>VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.</p><p>Em adição, o Artigo 4º do Código de Processo Penal expõe que:</p><p>Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais</p><p>no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a</p><p>apuração das infrações penais e da sua autoria.</p><p>Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá</p><p>a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a</p><p>mesma função.</p><p>O Código de Processo Penal (CPP) regulamenta, com um grau de precisão</p><p>admirável, as normas sobre a investigação, tanto no que diz respeito ao inquérito</p><p>policial quanto a leis específicas sobre os métodos de investigação (Brasil, 1941b). Isso</p><p>ocorre devido à natureza sensível dos diversos assuntos que permeiam o julgamento</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 15</p><p>de um processo criminal: direitos como liberdade, honra, intimidade, segurança</p><p>individual e pública.</p><p>O simples ato de instaurar uma ação judicial injustificada pode causar danos</p><p>irreparáveis ao acusado. Por outro lado, a inadequação do processo iniciado pode</p><p>resultar na impunidade de um indivíduo que mereça uma sanção penal.</p><p>A investigação</p><p>criminal policial ocorre quando, após notificação de um crime, o</p><p>sistema policial delega à polícia judiciária a coordenação da investigação preliminar</p><p>da situação, com o objetivo de obter elementos que possam servir para formar a</p><p>convicção do órgão acusador (Nuñez, 2013).</p><p>Dentro do escopo da discricionariedade (o poder concedido para agir de maneira</p><p>autônoma, dentro dos limites da lei, sem restrição ou subordinação a uma conduta</p><p>específica), pode-se observar algumas nuances na postura policial. A Polícia Judiciária,</p><p>embora ostente o nome "judiciária", não está vinculada ao Poder Judiciário nem</p><p>dotada de autoridade judicial. Ela é, de fato, uma entidade da administração pública,</p><p>integrante da estrutura do Poder Executivo (Zaffaroni et al., 2011).</p><p>O caráter administrativo do procedimento de investigação obtido por meio desse</p><p>sistema, aliado à autonomia na condução das investigações, proporciona algumas</p><p>vantagens. Por exemplo, a polícia tem uma amplitude de atuação considerável,</p><p>conseguindo chegar a locais com mais agilidade do que o Poder Judiciário e o</p><p>Ministério Público (Fernandes, 2018). No entanto, o fato de a polícia estar armada e,</p><p>portanto, representar o elemento mais perceptível do controle da criminalidade, pode</p><p>levar à prevalência de ações direcionadas a grupos já estigmatizados, negligenciando</p><p>criminosos de classes sociais mais elevadas. Isso fere os princípios da igualdade</p><p>jurídica (Soares, 2000).</p><p>1.4 Os Fins da Investigação Criminal</p><p>A investigação criminal é uma averiguação metodológica e sistemática orientada</p><p>a estabelecer a veracidade fática sobre um dano penalmente relevante a um bem</p><p>jurídico resultante de uma ação humana. Esta averiguação é empreendida a partir de</p><p>uma hipótese tipificado-legal (no âmbito do direito penal) e conforme as formas</p><p>juridicamente estipuladas (no direito processual penal) (Zaffaroni et al., 2002).</p><p>Este procedimento investigativo não se restringe unicamente a uma etapa do</p><p>processo penal (inquérito), mas, em sinergia com a interpretação jurídica, transcorre</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 16</p><p>por todas as suas fases. Representa a parte do processo destinada a estabelecer a</p><p>verdade fática, antes de se proceder à subsunção dos fatos à norma penal (verdade</p><p>jurídica). Porém, durante a investigação, interpretações preliminares e não definitivas</p><p>são necessárias (Dotti, 2003).</p><p>Investigação e interpretação, assim, não são atividades estáticas que se realizam</p><p>em sequência, mas simultaneamente, embora sem caráter definitivo, até que se</p><p>chegue a uma sentença penal condenatória. Nessa jornada, diversos atores</p><p>processuais intervêm e pesquisas de várias naturezas são conduzidas (Prado, 2011).</p><p>Contudo, a verdade é apenas uma condição necessária (indispensável), mas não</p><p>suficiente para legitimar as ações de pesquisa e sua forma. Existe uma verdade</p><p>processual, validada juridicamente, não uma verdade material. Isso impõe a</p><p>necessidade de distinguir entre um conceito de verdade, que aspira por corresponder</p><p>aos fatos, e critérios de verdade, que no direito são delimitados juridicamente</p><p>(Ferrajoli, 2002).</p><p>São os meios, portanto, não os fins, que justificam a investigação criminal, a</p><p>menos que possamos atribuir a ela fins além da busca pela verdade. Isso faz desta</p><p>verdade um valor dependente de outros valores concorrentes. Se ao direito se impõe</p><p>a prevenção de conflitos, ou sua solução posterior sem recurso à violência, como</p><p>forma de promover a paz, a investigação criminal, na busca por uma verdade, não</p><p>pode gerar mais problemas além dos que tem a resolver, ou mesmo agravá-los</p><p>(Andrade, 2014).</p><p>O escopo da investigação criminal, nesse sentido, é a resolução de problemas</p><p>por meios menos prejudiciais aos direitos fundamentais. Portanto, podemos conceber</p><p>caminhos para uma maior eficácia da investigação:</p><p>• Pelo aumento do poder com uma restrição crescente de direitos;</p><p>• Pelo aumento do saber com uma restrição decrescente de direitos.</p><p>Somente o último pode ser a direção de um aprimoramento da investigação</p><p>como ciência, nas sociedades políticas que adotam a forma de Estado de direito</p><p>(Habermas, 1987).</p><p>O objetivo de uma investigação criminal, contrariamente ao que muitos</p><p>acreditam, não é a obtenção e produção de elementos que comprovem a prática de</p><p>um delito. Afirmar isso seria o mesmo que dizer que toda a instrução preliminar teria</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 17</p><p>como objetivo a demonstração de um delito, desconsiderando outros elementos que</p><p>possam indicar o oposto (Gomes, 2007).</p><p>Com a finalidade de comprovar ou refutar um delito, existe a instrução processual</p><p>propriamente dita, com todos os princípios essenciais a ela, especialmente o</p><p>contraditório e a ampla defesa (Lopes Jr., 2013).</p><p>A busca da verdade real (art. 156 do CPP) visa a reconstrução histórica da situação</p><p>sob juízo, com igualdade das partes no que se refere à produção de provas, que é o</p><p>contraditório e a ampla defesa, de modo que o convencimento judicial da sentença</p><p>seja adequadamente motivado, conforme o princípio do livre convencimento</p><p>motivado ou princípio da persuasão racional (art. 157 do CPP) (Tourinho Filho, 2012).</p><p>Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo,</p><p>porém, facultado ao juiz de ofício:</p><p>I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção</p><p>antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,</p><p>observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da</p><p>medida;</p><p>II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir</p><p>sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre</p><p>ponto relevante.</p><p>Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do</p><p>processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em</p><p>violação a normas constitucionais ou legais.</p><p>§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas,</p><p>salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas</p><p>e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma</p><p>fonte independente das primeiras.</p><p>§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só,</p><p>seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação</p><p>ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da</p><p>prova.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 18</p><p>§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada</p><p>inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às</p><p>partes acompanhar o incidente.</p><p>§ 4o (VETADO)</p><p>§ 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada</p><p>inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão.</p><p>Podemos assim compreender que a investigação preliminar não tem como</p><p>função primária comprovar o delito. Se assim fosse, não seria designada como</p><p>preliminar e quando o procedimento terminasse já se poderia ter a confirmação ou</p><p>negação, ou seja, não seria mais necessário prosseguir o processo. A investigação</p><p>preliminar deve fornecer elementos para que não seja necessário prosseguir com uma</p><p>ação sem fundamento ou fadada ao fracasso (Nucci, 2008).</p><p>Sabe-se que um processo penal traz consigo diversos custos para todos os</p><p>envolvidos. O acusado se submete ao ônus de todo o rito processual penal, com os</p><p>encargos e deveres decorrentes dele e o fator psicológico de estresse e ansiedade</p><p>causados pela espera e desconhecimento do desfecho da ocorrência jurídica</p><p>(Zaffaroni e Pierangeli, 2011).</p><p>Enquanto aguarda, ainda carrega consigo a alcunha de réu. A outra parte, que o</p><p>acusa, seja ela da esfera pública ou privada, mobiliza o sistema judiciário e</p><p>administrativo. Isso custa recursos materiais e ocupa recursos humanos que poderiam</p><p>estar sendo utilizados de outra forma (Moraes, 2009).</p><p>Tendo isso em vista, pode-se compreender que não se deve permitir que uma</p><p>acusação informal dê início à abertura de um processo que não esteja minimamente</p><p>fundamentado com indícios produzidos e alcançados no momento da investigação.</p><p>Inclusive, cada vez mais, busca-se a proteção de direitos fundamentais e contenção</p><p>dos poderes do Estado (Capez, 2012).</p><p>É notado, como consequência, que o direcionamento dado preliminarmente pela</p><p>investigação tem como função abrir caminho para uma possível ação penal de forma</p><p>responsável, seja ela iniciada por um particular ou pelo Estado (Mirabete e Fabbrini,</p><p>2011). Assim, afirma-se que a investigação criminal, seja ela qual for, tem como função</p><p>oferecer elementos que alimentem a acusação e a tornem legítima (Greco, 2009).</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 19</p><p>1.5 Teoria da Investigação Criminal</p><p>A teoria da investigação criminal é um campo de estudo que se dedica a</p><p>compreender e aprimorar os fundamentos, os métodos e as técnicas utilizados na</p><p>condução das investigações no âmbito do processo penal. Essa área de conhecimento</p><p>busca estabelecer diretrizes e princípios que orientem os profissionais envolvidos na</p><p>investigação criminal, como policiais, peritos e promotores de justiça, visando garantir</p><p>a efetividade, a imparcialidade e a legalidade desse importante estágio do processo</p><p>penal.</p><p>A investigação criminal desempenha um papel crucial na busca pela verdade</p><p>material dos fatos, na apuração da autoria e na coleta de provas para subsidiar o juízo</p><p>de valor do magistrado. A teoria da investigação criminal abrange tanto aspectos</p><p>técnicos, relacionados aos métodos científicos e tecnologias utilizados na coleta e</p><p>análise de evidências, como questões jurídicas, concernentes aos direitos</p><p>fundamentais dos investigados e às garantias processuais.</p><p>Nesse contexto, a teoria da investigação criminal visa promover uma abordagem</p><p>sistemática e criteriosa das etapas investigativas, desde o planejamento e a</p><p>delimitação do objeto de investigação até a produção das provas e a elaboração dos</p><p>relatórios periciais. Além disso, busca-se aprimorar os protocolos de atuação dos</p><p>agentes envolvidos, levando em consideração os avanços científicos, as normas</p><p>jurídicas e os princípios éticos que regem essa atividade.</p><p>Ao entender a investigação criminal como um processo técnico-científico,</p><p>embasado em princípios constitucionais e em conhecimentos interdisciplinares, a</p><p>teoria da investigação criminal busca superar desafios e lacunas existentes, visando</p><p>assegurar a qualidade das investigações, a preservação dos direitos fundamentais dos</p><p>envolvidos e a produção de provas válidas e confiáveis no contexto do processo penal.</p><p>Dessa forma, a teoria da investigação criminal desempenha um papel relevante</p><p>na formação dos profissionais da área de segurança pública e da justiça criminal, bem</p><p>como no desenvolvimento de diretrizes e políticas públicas voltadas para a eficiência</p><p>e a legitimidade das investigações criminais. A busca por uma abordagem teórica</p><p>sólida e embasada na ciência contribui para aprimorar os resultados das investigações,</p><p>fortalecer o sistema de justiça criminal e garantir a proteção dos direitos dos cidadãos.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 20</p><p>A Investigação como Pesquisa</p><p>A investigação criminal desempenha um papel fundamental no sistema de</p><p>justiça, sendo o ponto de partida da persecução penal. Além de ser uma atividade que</p><p>busca a aquisição de conhecimento e o desenvolvimento intelectual, a investigação</p><p>possui um caráter público e deve obedecer às normas legais que disciplinam sua</p><p>realização.</p><p>No contexto do direito criminal, a investigação não se limita à mera satisfação</p><p>pessoal ou curiosidade, mas tem como objetivo primordial a satisfação do interesse</p><p>público e a busca pela verdade real. Ela se configura como um preceito indispensável</p><p>para o sistema de justiça criminal, pois é por meio da investigação que se busca</p><p>conhecer os fatos e suas circunstâncias, levantando informações que serão utilizadas</p><p>para a apuração da responsabilidade penal do indivíduo acusado de um crime.</p><p>A investigação criminal perpassa todo o procedimento de apuração, iniciando-se</p><p>com a busca pelo conhecimento do fato e suas circunstâncias e culminando na análise</p><p>e no experimento de uma verdade admissível, embasada nas informações adquiridas</p><p>durante o processo de investigação. Nesse sentido, é um processo que visa coletar</p><p>provas e elementos de informação relevantes para subsidiar a persecução penal.</p><p>Para compreender a investigação criminal em sua plenitude, é necessário analisá-</p><p>la sob dois aspectos: o prático e o jurídico. Sob o aspecto prático, a investigação é</p><p>concebida como um conjunto de atividades formalizadas, previamente estabelecidas</p><p>e legalmente permitidas, que têm como objetivo aprofundar a compreensão da</p><p>materialidade, circunstâncias e autoria de uma infração penal, buscando provas e</p><p>elementos de informação que serão utilizados na persecução penal.</p><p>Já sob o aspecto jurídico, a investigação criminal é uma atividade estatal voltada</p><p>para o esclarecimento de fatos supostamente criminosos. Ela desempenha três</p><p>funções essenciais: a função garantidora, que visa evitar imputações infundadas; a</p><p>função preservadora, que consiste em conservar as provas e os meios de sua</p><p>aquisição; e a função preparatória ou inibidora do processo criminal, que tem como</p><p>objetivo proporcionar a justa causa para a ação penal ou impedir sua instauração.</p><p>É importante ressaltar que, para que a investigação criminal seja efetiva, é</p><p>imprescindível que o Estado respeite os preceitos constitucionais que protegem os</p><p>direitos individuais. As garantias fundamentais estabelecidas na Constituição devem</p><p>ser observadas durante o processo de investigação, uma vez que estabelecem limites</p><p>e proibições às ações que não podem ser realizadas.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 21</p><p>O Garantismo Penal</p><p>A teoria do garantismo penal, elaborada pelo jurista italiano Luigi Ferrajoli em</p><p>sua obra "Direito e razão", engloba um conjunto de teorias penais e processuais cujo</p><p>objetivo principal é assegurar e proteger os direitos fundamentais, como a vida, as</p><p>liberdades civis e políticas, bem como as expectativas sociais de subsistência dos</p><p>direitos individuais e coletivos. Esses direitos são fundamentais para a existência de</p><p>construções abstratas, como o Direito e o Estado Democrático de Direito, e são</p><p>essenciais para a manutenção do Estado.</p><p>O termo "garantismo" surgiu no vocabulário jurídico italiano na década de 1970,</p><p>inicialmente no campo do Direito Penal, embora possa ser ampliado para abranger</p><p>todo o sistema de garantias dos direitos fundamentais. Nesse sentido, o garantismo</p><p>pode ser considerado sinônimo de Estado Constitucional de Direito, em que o</p><p>magistrado possui legitimidade constitucional para amparar os direitos fundamentais</p><p>individuais e coletivos, mesmo que isso contrarie o julgamento da maioria e vá de</p><p>encontro a modelos de abuso dos direitos de punição. O magistrado não deve ignorar</p><p>qualquer violação ou ameaça de perda dos direitos fundamentais já consagrados</p><p>constitucionalmente.</p><p>O sistema de garantismo penal se baseia em princípios básicos, também</p><p>conhecidos como axiomas, que têm como propósito limitar o abuso da punição e</p><p>garantir direitos e credibilidade jurídica. De acordo com a obra clássica de Ferrajoli,</p><p>"Direito e razão" (2014), esses princípios são:</p><p>• Nulla poena sine crimine (não há pena sem crime): Este</p><p>princípio, também conhecido como princípio da retributividade,</p><p>estabelece que não pode haver imposição de pena sem a ocorrência de</p><p>um crime. Isso significa que a punição penal deve ser consequência direta</p><p>e proporcional à prática de uma conduta delitiva. O princípio da</p><p>retributividade visa garantir que a pena seja aplicada somente quando o</p><p>indivíduo comete uma conduta previamente definida como crime pela lei.</p><p>• Nullum crimen sine lege (não há crime sem lei):</p><p>Esse princípio,</p><p>conhecido como princípio da legalidade, assegura que não pode haver</p><p>crime sem uma lei prévia que o defina de maneira clara e precisa. Ele</p><p>estabelece que ninguém pode ser punido por uma conduta que não</p><p>esteja expressamente tipificada como crime na legislação em vigor. O</p><p>princípio da legalidade é um dos fundamentos do Estado de Direito,</p><p>garantindo a previsibilidade e a segurança jurídica.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 22</p><p>• Nulla lex (poenalis) sine necessitate (não há lei penal sem</p><p>necessidade): Esse princípio, também chamado de princípio da</p><p>necessidade ou da economia do direito penal, estabelece que não deve</p><p>haver criação de leis penais desnecessárias ou excessivas. Ele busca limitar</p><p>a intervenção do direito penal somente aos casos em que seja realmente</p><p>necessário para a proteção de bens jurídicos fundamentais. O princípio</p><p>da necessidade visa evitar o uso abusivo do direito penal e a</p><p>criminalização excessiva de condutas que não representem uma ameaça</p><p>significativa à sociedade.</p><p>• Nulla necessitas sine iniuria (não há necessidade sem ofensa ao</p><p>bem jurídico): Esse princípio, conhecido como princípio da lesividade ou</p><p>ofensividade do evento, estabelece que não pode haver necessidade de</p><p>intervenção penal sem a ocorrência de uma lesão ou ofensa a um bem</p><p>jurídico protegido. Ele pressupõe que a intervenção penal só é justificada</p><p>quando há uma afetação significativa de direitos ou interesses legítimos.</p><p>O princípio da lesividade busca evitar a criminalização de condutas que</p><p>não causem danos relevantes à sociedade.</p><p>• Nulla iniuria sine actione (não há ofensa ao bem jurídico sem</p><p>ação): Esse princípio, também conhecido como princípio da</p><p>materialidade ou exterioridade da ação, estabelece que não pode haver</p><p>ofensa a um bem jurídico sem uma ação concreta que a materialize. Ele</p><p>implica que a mera intenção ou pensamento não são suficientes para</p><p>configurar uma infração penal, sendo necessário que haja uma conduta</p><p>externa que afete o bem jurídico protegido. O princípio da materialidade</p><p>visa garantir que apenas condutas efetivas sejam passíveis de punição</p><p>penal.</p><p>• Nulla actio sine culpa (não há ação sem culpa): Esse princípio,</p><p>também conhecido como princípio da culpabilidade ou da</p><p>responsabilidade pessoal, estabelece que não pode haver imputação</p><p>penal sem a comprovação da culpabilidade do agente. Ele pressupõe que</p><p>a responsabilidade penal está vinculada à culpabilidade subjetiva do</p><p>autor, ou seja, à sua capacidade de entender o caráter ilícito do ato e de</p><p>agir de acordo com esse entendimento. O princípio da culpabilidade</p><p>busca evitar a punição de indivíduos que não tenham agido de forma</p><p>consciente e voluntária.</p><p>• Nulla culpa sine judicio (não há culpa sem juízo): Esse princípio,</p><p>conhecido como princípio da jurisdicionalidade em seu sentido amplo ou</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 23</p><p>estrito, estabelece que não pode haver imputação de culpa sem um</p><p>julgamento prévio conduzido por um órgão jurisdicional competente. Ele</p><p>assegura que a determinação da culpa e a imposição de uma pena sejam</p><p>realizadas por meio de um processo legalmente estabelecido, com</p><p>respeito aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da</p><p>ampla defesa.</p><p>• Nulla judicium sine accusatione (não há juízo sem acusação):</p><p>Esse princípio, conhecido como princípio acusatório ou da separação</p><p>entre o juiz e a acusação, estabelece que não pode haver um julgamento</p><p>sem uma acusação formal por parte do Ministério Público ou da parte</p><p>interessada. Ele busca garantir a imparcialidade do julgador, assegurando</p><p>que o juiz atue como um terceiro imparcial e não como parte acusadora.</p><p>O princípio acusatório visa evitar a concentração de poder nas mãos do</p><p>julgador e garantir a equidade do processo penal.</p><p>• Nulla accusatio sine probatione (não há acusação sem prova):</p><p>Esse princípio, conhecido como princípio do ônus da prova ou da</p><p>verificação, estabelece que não pode haver uma acusação sem a</p><p>apresentação de provas suficientes para sustentá-la. Ele impõe à parte</p><p>acusadora o ônus de comprovar a veracidade das alegações feitas contra</p><p>o acusado. O princípio do ônus da prova visa garantir a presunção de</p><p>inocência e evitar condenações injustas baseadas em meras alegações</p><p>sem respaldo probatório.</p><p>• Nulla probatio sine defensione (não há prova sem defesa): Esse</p><p>princípio, conhecido como princípio do contraditório, da defesa ou da</p><p>falseabilidade, estabelece que não pode haver prova sem a possibilidade</p><p>de contraditá-la e contestá-la por parte da defesa. Ele assegura o direito</p><p>do acusado de apresentar sua versão dos fatos, de contestar as provas</p><p>apresentadas pela acusação e de produzir suas próprias provas em sua</p><p>defesa. O princípio do contraditório busca garantir a paridade de armas</p><p>entre acusação e defesa, assegurando um processo justo e equilibrado.</p><p>Dentre esses princípios que regem o garantismo penal, alguns merecem uma</p><p>atenção especial quanto à sua efetividade no contexto da investigação criminal.</p><p>Primeiramente, é relevante discutir a fundamentação das decisões judiciais, que busca</p><p>assegurar às partes envolvidas no processo penal que o magistrado cumpriu</p><p>adequadamente as normas e respeitou os direitos e garantias do acusado, além de</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Investigação</p><p>www.cenes.com.br | 24</p><p>apresentar provas satisfatórias para embasar a presunção de inocência e uma</p><p>condenação adequada.</p><p>Nesse sentido, é necessário avaliar se a investigação criminal foi conduzida de</p><p>forma que o exercício do "poder" prevaleceu sobre a "racionalidade" da decisão</p><p>judicial. Conforme Aury Lopes Junior (2001, p. 47), "o mais importante é explicar o</p><p>porquê da decisão, o que levou a tal conclusão sobre autoria e materialidade. A</p><p>motivação acerca da matéria fática demonstra o saber que legitima o poder, pois a</p><p>pena somente pode ser imposta a quem - racionalmente - pode ser considerado autor</p><p>do fato criminoso imputado".</p><p>Além disso, ao se tratar do princípio da jurisdicionalidade, busca-se manter</p><p>exclusivamente sob a responsabilidade do Poder Judiciário a imposição da pena por</p><p>meio de um processo como um caminho indispensável. Isso implica no direito ao juiz</p><p>natural, na independência da magistratura (que envolve imparcialidade) e na</p><p>submissão exclusiva à lei.</p><p>O princípio acusatório diz respeito à separação das funções de julgar e acusar,</p><p>visando promover a imparcialidade do juiz e limitar sua atuação à provocação prévia</p><p>por meio da ação penal. O juiz deve ser um espectador e não um ator.</p><p>Outro princípio importante é o da presunção de inocência, que determina que o</p><p>acusado deve ser respeitado como inocente até que haja trânsito em julgado de uma</p><p>sentença condenatória que o declare culpado. Esse princípio implica que o ônus da</p><p>prova recai sobre a parte acusadora e exige um processo penal adequado, no qual</p><p>sejam garantidos todos os direitos e garantias do acusado (devido processo legal,</p><p>ampla defesa, contraditório, entre outros), bem como a observância de um julgamento</p><p>final por meio de sentença.</p><p>A presunção de inocência faz com que o magistrado mantenha,</p><p>obrigatoriamente, uma posição negativa em relação ao acusado, não podendo</p><p>considerá-lo culpado antecipadamente. Ao mesmo tempo, exige que o magistrado</p><p>adote uma postura positiva, tratando o acusado verdadeiramente como inocente até</p><p>que se prove o contrário, o que implica também que a fundamentação da sentença se</p><p>apresente como um campo de controle da racionalidade do magistrado.</p><p>Por fim, é necessário destacar o princípio do contraditório, que envolve o</p><p>confronto entre as hipóteses levantadas pela acusação e pela defesa, estabelecendo</p><p>assim uma igualdade de oportunidades (igualdade processual) entre os dois lados.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Notícia Crime: dos Vestígios</p><p>à Prova em Tribunal</p><p>www.cenes.com.br | 25</p><p>Dessa forma, busca-se garantir o princípio da equidade entre as partes, que é o</p><p>pressuposto fundamental da Justiça.</p><p>2 A Notícia Crime: dos Vestígios à Prova em Tribunal</p><p>A notitia criminis é um termo utilizado no âmbito do Direito Penal para se referir</p><p>à notícia ou informação de um crime. Ela desempenha um papel crucial no processo</p><p>de investigação criminal, uma vez que é a partir dela que as autoridades policiais têm</p><p>conhecimento da ocorrência de um delito e podem tomar as providências necessárias</p><p>para apurar os fatos e buscar a responsabilização dos autores.</p><p>Quando uma notitia criminis chega ao conhecimento das autoridades policiais,</p><p>seja por meio de uma denúncia formal, uma comunicação espontânea ou até mesmo</p><p>uma abordagem policial, inicia-se o processo de apuração dos fatos. Nesse momento,</p><p>é fundamental que a notícia do crime seja analisada criteriosamente para que se possa</p><p>avaliar sua veracidade, a gravidade do delito e a necessidade de intervenção imediata.</p><p>A chegada dos policiais ao local do crime é um momento crucial na investigação,</p><p>pois é nesse momento que se inicia a coleta de informações, evidências e</p><p>depoimentos que serão essenciais para o esclarecimento dos fatos. Essa primeira</p><p>resposta policial ao local do crime é conhecida como "primeira resposta" ou "primeiro</p><p>atendimento" e tem como objetivo principal garantir a preservação do local e a</p><p>segurança dos envolvidos.</p><p>A preservação do local do crime é de extrema importância, pois é nele que se</p><p>encontram vestígios, evidências e informações que podem ser cruciais para a</p><p>investigação. Os policiais devem isolar a área, impedir a entrada de pessoas não</p><p>autorizadas e adotar medidas para evitar a contaminação ou destruição dos vestígios.</p><p>A preservação do local é essencial para garantir a integridade das provas e possibilitar</p><p>sua análise posterior pelos peritos criminais.</p><p>Além da preservação do local, os policiais também devem realizar uma série de</p><p>procedimentos no momento da chegada ao local do crime. Entre eles, destacam-se a</p><p>identificação das partes envolvidas, a realização de entrevistas e o registro de</p><p>informações relevantes. A coleta de depoimentos das testemunhas e envolvidos é uma</p><p>etapa fundamental, pois são essas informações que irão auxiliar na reconstrução dos</p><p>eventos e na identificação dos possíveis autores do crime.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Notícia Crime: dos Vestígios à Prova em Tribunal</p><p>www.cenes.com.br | 26</p><p>A chegada dos policiais ao local do crime também envolve a avaliação das</p><p>condições de segurança e a adoção de medidas para garantir a integridade física de</p><p>todos os envolvidos. Em alguns casos, especialmente quando há risco iminente de</p><p>violência, é necessário acionar reforços ou equipes especializadas, como a tropa de</p><p>choque ou a equipe de negociação, para lidar com a situação de forma adequada.</p><p>É importante ressaltar que a atuação dos policiais no local do crime deve pautar-</p><p>se pelos princípios da legalidade, imparcialidade, proporcionalidade e respeito aos</p><p>direitos fundamentais. Eles devem agir dentro dos limites legais, seguindo os</p><p>protocolos e diretrizes estabelecidos, a fim de garantir uma investigação justa e</p><p>eficiente.</p><p>Nesse contexto, a chegada dos policiais ao local do crime marca o início de uma</p><p>série de procedimentos investigativos que têm como objetivo principal a elucidação</p><p>dos fatos e a busca pela verdade processual. A atuação diligente e profissional dos</p><p>policiais nesse momento inicial é fundamental para o sucesso da investigação e para</p><p>a garantia da segurança e da justiça no sistema de justiça criminal.</p><p>Em suma, a notitia criminis e a chegada dos policiais ao local do crime são etapas</p><p>fundamentais no processo de investigação criminal. A análise cuidadosa da notícia do</p><p>crime e a resposta adequada dos policiais no local do fato são essenciais para a coleta</p><p>de informações e evidências que permitirão a apuração dos fatos e a</p><p>responsabilização dos envolvidos. O trabalho diligente e respeitoso dos policiais nessa</p><p>fase inicial da investigação é essencial para garantir a integridade das provas e a busca</p><p>pela verdade no sistema de justiça criminal.</p><p>Durante a chegada dos policiais ao local do crime, um dos principais objetivos é</p><p>identificar, preservar e coletar vestígios que possam fornecer evidências e informações</p><p>relevantes para a investigação. Os vestígios são elementos deixados no local do crime</p><p>que podem fornecer indícios sobre a autoria, a dinâmica dos eventos e outras</p><p>circunstâncias relacionadas ao delito.</p><p>Os exames periciais em locais de crimes têm nos vestígios sua matéria-prima</p><p>essencial. Os vestígios são fontes de informações das quais os peritos extraem dados</p><p>cruciais para a investigação, utilizando metodologia científica em suas interpretações.</p><p>Ao longo do tempo, vários autores se manifestaram sobre a definição de vestígios,</p><p>inicialmente associando-os à natureza material desses elementos.</p><p>Para Anuschat (1933), vestígios são tudo que pode ser percebido como matéria,</p><p>corpo, objeto, etc., com conexão ao crime ou ao criminoso, e que contribui para a</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Notícia Crime: dos Vestígios à Prova em Tribunal</p><p>www.cenes.com.br | 27</p><p>elucidação do crime e determinação da autoria. Zbinden (1957) afirma que vestígios</p><p>são as modificações físicas ou psíquicas causadas por ação ou omissão humana, que</p><p>permitem inferir o evento que os causou, ou seja, o ato criminoso.</p><p>De acordo com os dicionários da língua portuguesa, "vestígio" significa um sinal</p><p>deixado por um ser humano ou animal ao passar por um lugar, como uma pegada ou</p><p>rastro, além de indicar indício ou pista. Por sua vez, "material" refere-se a algo que</p><p>pertence ou se refere à matéria.</p><p>No entanto, a junção desses termos, conforme defende Mallmith (2007), deveria</p><p>proporcionar uma compreensão precisa do sentido de "vestígio material" com a</p><p>adição dos significados individuais. Contudo, no âmbito técnico-científico, a dimensão</p><p>de "vestígio material" extrapola significativamente a mera combinação dessas</p><p>palavras, referindo-se a qualquer corpo, objeto, marca ou sinal que envolve uma</p><p>sequência de procedimentos para sua produção ou disposição em uma determinada</p><p>configuração ou estado.</p><p>Costa Filho (2010) amplia essa definição, afirmando que vestígios são alterações</p><p>materiais no ambiente ou na pessoa que têm ou podem ter relação com o delito ou a</p><p>autoria, contribuindo para sua elucidação ou identificação.</p><p>É importante ressaltar que os vestígios estão presentes na maioria dos locais de</p><p>crime, representando qualquer marca, objeto ou sinal relevante para a investigação</p><p>do fato. É fundamental diferenciar os conceitos de corpo de delito e vestígio: no caso</p><p>de um homicídio, por exemplo, o cadáver é considerado corpo de delito, enquanto</p><p>marcas no chão ou objetos nas proximidades são preliminarmente tratados como</p><p>vestígios. Essa distinção é relevante para hierarquizar a importância dos elementos</p><p>investigados.</p><p>Dessa forma, os vestígios são classificados como verdadeiros, ilusórios ou</p><p>forjados. Os verdadeiros são aqueles diretamente relacionados às ações dos</p><p>envolvidos no crime, enquanto os ilusórios não possuem relação com essas ações,</p><p>apesar de serem encontrados no local do crime. Já os forjados são produzidos</p><p>intencionalmente com o objetivo de alterar a configuração original dos vestígios.</p><p>Os vestígios podem ser classificados de acordo com sua relação com o fato</p><p>(verdadeiros ou ilusórios), sua relação com o autor (absolutos ou relativos), sua</p><p>percepção (latentes ou ostensivos), sua origem (humanos ou não humanos), sua</p><p>duração (transitórios ou permanentes) e sua dimensão (macrovestígios ou</p><p>microvestígios).</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Notícia Crime: dos Vestígios à Prova em Tribunal</p><p>www.cenes.com.br | 28</p><p>No contexto forense, os vestígios biológicos são aqueles</p><p>derivados de</p><p>organismos vivos e podem conter DNA, fornecendo informações valiosas para a</p><p>identificação do autor, enquanto os vestígios entomológicos envolvem o estudo dos</p><p>insetos e outros artrópodes associados a questões criminais, auxiliando na</p><p>determinação do intervalo pós-morte.</p><p>Outros tipos de vestígios incluem os morfológicos, como impressões digitais e</p><p>marcas de ferramentas; os químicos, presentes em locais relacionados a adulteração</p><p>de combustíveis ou produção de drogas; e os físicos, que podem ser suportes de</p><p>vestígios biológicos ou objetos utilizados no crime. Além disso, existem os</p><p>microvestígios, pequenos elementos preservados nos locais de crime que podem se</p><p>tornar indícios criminais, como pólen, cabelos, fibras e minerais.</p><p>Em suma, os vestígios desempenham um papel crucial nos exames periciais em</p><p>locais de crimes, fornecendo informações valiosas para a investigação. Sua correta</p><p>identificação, preservação e análise são fundamentais para a busca da verdade</p><p>processual e a elucidação dos fatos.</p><p>Na prática forense, os vestígios encontrados em um local de crime podem evoluir</p><p>em termos de sua relevância e valor probatório ao longo do processo investigativo e</p><p>judicial. Entretanto, é importante destacar que essa evolução não ocorre de forma</p><p>automática ou linear, e sim com base na análise criteriosa e avaliação conjunta de</p><p>todas as evidências e elementos probatórios disponíveis.</p><p>Um vestígio, por si só, é uma informação objetiva ou material encontrada no local</p><p>de crime. Esse vestígio pode se tornar um indício quando há uma circunstância</p><p>conhecida e provada que, mediante raciocínio lógico, permite concluir a existência de</p><p>outras circunstâncias relacionadas ao fato. O indício é uma inferência ou um sinal que</p><p>pode apontar para a ocorrência do crime ou a participação de determinada pessoa.</p><p>No âmbito do direito processual penal, a noção de indício é essencial para a</p><p>formação da convicção judicial e a busca pela verdade dos fatos. O artigo 239 do</p><p>Código de Processo Penal estabelece que um indício é uma circunstância conhecida</p><p>e provada, que, por meio da indução, permite concluir a existência de outras</p><p>circunstâncias relacionadas ao fato em questão. Essa definição é respaldada por</p><p>autores como Capez (2016), que conceituam indício como uma circunstância</p><p>conhecida e provada que, por meio de raciocínio lógico e método indutivo, leva à</p><p>conclusão sobre um outro fato, partindo do particular para chegar ao geral. Portanto,</p><p>os indícios são sinais demonstrativos do crime, evidenciando sua ocorrência.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Notícia Crime: dos Vestígios à Prova em Tribunal</p><p>www.cenes.com.br | 29</p><p>Posteriormente, com base na análise mais aprofundada dos indícios e sua relação</p><p>com os demais elementos de prova, alguns indícios podem se transformar em</p><p>evidências. As evidências são informações que, após análises e exames periciais,</p><p>estabelecem uma relação clara e manifesta com o crime em estudo. Elas corroboram</p><p>a existência do fato delituoso e são consideradas verdadeiras, claras e incontestáveis.</p><p>Embora o Código de Processo Penal não aborde o conceito de evidência, alguns</p><p>estudiosos consideram que as evidências correspondem aos vestígios que, após</p><p>análises e exames periciais, permitem estabelecer uma relação com o crime em</p><p>estudo. Melo (2017) define evidência como uma verdade clara e manifesta por si</p><p>mesma, que não pode ser negada, refutada ou contestada, sendo algo visível e</p><p>verificável por todos. Dessa forma, enquanto os vestígios representam a informação</p><p>objetiva ou material encontrada em um local de crime, o indício é a circunstância</p><p>conhecida e provada relacionada ao fato, permitindo inferir a existência de outras</p><p>circunstâncias.</p><p>No entanto, é importante ressaltar que a evolução de um vestígio para indício,</p><p>evidência e, por fim, prova no tribunal não é um processo automático. A análise e</p><p>avaliação das evidências é de responsabilidade do sistema judicial, e é por meio desse</p><p>processo que se determina o valor probatório de cada elemento apresentado. É</p><p>necessário que as evidências sejam examinadas em conjunto, considerando sua</p><p>consistência, coerência e a solidez dos argumentos que as sustentam.</p><p>É importante destacar que, embora relacionados, esses conceitos apresentam</p><p>diferenças e podem gerar interpretações equivocadas. Enquanto os vestígios</p><p>englobam elementos objetivos de prova, as evidências restringem-se a informações</p><p>que comprovam de maneira clara a ocorrência do fato delituoso. Já os indícios</p><p>abarcam tanto elementos objetivos quanto subjetivos de prova, permitindo</p><p>inferências e conclusões por meio do raciocínio lógico.</p><p>No tribunal, cabe aos juízes, com base nas regras de avaliação da prova, decidir</p><p>qual é o peso probatório de cada elemento apresentado, incluindo os vestígios,</p><p>indícios e evidências. A prova, por sua vez, é o conjunto de elementos que, avaliados</p><p>em conjunto, levam à formação da convicção judicial sobre a existência ou não do</p><p>crime e a responsabilidade do acusado.</p><p>Portanto, a transformação de um vestígio em indício, evidência e, por fim, prova</p><p>é um processo complexo, que depende da análise criteriosa e da avaliação conjunta</p><p>de todas as informações e elementos probatórios disponíveis ao longo do processo</p><p>investigativo e judicial.</p><p>DEBORA</p><p>Realce</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>A Notícia Crime: dos Vestígios à Prova em Tribunal</p><p>www.cenes.com.br | 30</p><p>Durante o processo judicial, as evidências são submetidas a um rigoroso</p><p>escrutínio legal e avaliação crítica por parte das partes envolvidas, como promotoria,</p><p>defesa e juiz. São considerados diversos critérios para determinar a admissibilidade e</p><p>a relevância das evidências apresentadas, tais como:</p><p>• Legalidade: as evidências devem ser obtidas de acordo com os</p><p>procedimentos legais e constitucionais. Se houver violação de direitos</p><p>fundamentais na obtenção da evidência, ela pode ser considerada</p><p>ilegítima e excluída do processo.</p><p>• Cadeia de custódia: é necessário demonstrar que a evidência foi</p><p>devidamente preservada, documentada e manuseada corretamente</p><p>desde sua coleta até sua apresentação em tribunal, a fim de garantir sua</p><p>autenticidade e integridade.</p><p>• Conexão causal: é preciso estabelecer uma conexão lógica e</p><p>probatória entre a evidência apresentada e o fato delituoso. A evidência</p><p>deve ter relevância direta ou indireta para o caso em julgamento.</p><p>• Confiabilidade e validade científica: se a evidência for baseada</p><p>em análises científicas ou técnicas, sua confiabilidade e validade devem</p><p>ser comprovadas por meio de métodos aceitos e reconhecidos pela</p><p>comunidade científica.</p><p>• Contraditório e ampla defesa: as partes têm o direito de contestar</p><p>a validade e a interpretação das evidências apresentadas, bem como de</p><p>apresentar suas próprias evidências em contraposição.</p><p>Após a análise e admissibilidade das evidências, o juiz ou o júri avaliará seu peso</p><p>probatório durante a fase de julgamento. Essa avaliação envolve considerar a</p><p>consistência, a coerência, a solidez dos argumentos apresentados, a credibilidade das</p><p>testemunhas e peritos envolvidos, entre outros elementos. Com base nessa avaliação,</p><p>o juiz ou o júri formará sua convicção sobre a existência ou não do crime e a</p><p>responsabilidade do acusado.</p><p>Portanto, a transformação de uma evidência em prova no tribunal depende da</p><p>admissibilidade legal, relevância probatória e persuasão exercida pelas partes durante</p><p>o processo judicial. É um processo complexo que envolve a análise crítica das</p><p>evidências, garantindo assim a justa aplicação da lei e a busca pela verdade dos fatos.</p><p>Teoria Geral da Investigação e Perícia |</p><p>As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>www.cenes.com.br | 31</p><p>3 As Provas no Processo Penal Brasileiro</p><p>A questão das provas no processo penal brasileiro é de fundamental importância</p><p>para a busca da verdade e a garantia de um julgamento justo. No contexto</p>

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