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<p>noções gerais de direito notarial e registral 	aula 01</p><p>PROF. ME. GUSTAVO CASAGRANDE CANHEU</p><p>1. Evolução histórica</p><p>1.1 Cartório, Notário e Tabelião</p><p>IDADE MÉDIA: a palavra “CARTÓRIO” tem origem nos chamados cartulários, coleções de documentos notariais que eram depositados em igrejas, mitras, mosteiros, arquivos reais e etc., que tinham objetivo conservar os documentos lavrados pelos notários medievais.</p><p>Os cartulários eram voltados sobretudo à conservação e prova de propriedade dos bens de grandes corporações monásticas ou às mitras, que possuíam grandes patrimônios, constituídos por centenas de prédios (tanto em propriedade plena quanto em senhorio direto – prédios foreiros).</p><p>Observa-se, ainda nesta época histórica, estrutura semelhante à do atual Direito Notarial e Registral brasileiro em Portugal, onde destacam-se, dentre outros, o Cartório do Mosteiro de São João de Tarouca, o Cartório da Sé de Viseu, o Cartório da Câmara da Torre de Moncorvo, o Cartório do Convento de Tomar e até o da Universidade de Coimbra.</p><p>Se observa, já neste primeiro momento histórico, que a finalidade dos registros cartorários era a mesma dos dias atuais, ou seja, territorialidade, concentração, segurança, perpetuidade, autenticidade, eficácia probatória e etc.</p><p>Já a expressão “TABELIÃO” tem origem nos tabelliones romanos, que eram os escribas profissionais dedicados à escrituração dos negócios jurídicos dos particulares; após a queda do Império Romano, estes profissionais começaram a utilizar na prática o título de notarius, expressão hoje traduzida como “NOTÁRIO”.</p><p>No século XII, nos países de influência do direito romano, os termos Notário e Tabelião eram considerados sinônimos, designando o antigo tabelião do Império Romano.</p><p>O primeiro documento público de que se tem notícia com o título notarius dado ao seu redator, é um instrumento de 1034, celebrado entre particulares, em que VITEMIRO DONIZI e sua mulher entregaram a SUARIO PELAGIZI e sua mulher bens imóveis para pagamento de certo compromisso com garantia fidejussória, lavrado e registrado no Cartório de São Simão da Junqueira (Tombo, livro IV), Portugal.</p><p>1.2 Do Registro de Imóveis</p><p>O primeiro sistema registral imobiliário conhecido é o Sistema Alemão, que organizava as propriedades em feudos (terras concedidas como pagamento pelos serviços prestados nas guerras). O senhor feudal era o verdadeiro proprietário das terras e os vassalos eram apenas os titulares do domínio útil. O senhor feudal transferia o domínio útil através de registro nos livros públicos</p><p>Com a extinção do sistema de feudos na Europa, após a Revolução Francesa, criou-se a base do atual sistema registral brasileiro, que subordina a aquisição da propriedade aos critérios de livre iniciativa e à lei de oferta e da procura, permitindo a transferência da propriedade plena</p><p>No Brasil, o primeiro sistema registral denominou-se Sistema Sesmarial, que se baseava na doação da domínio útil pela Coroa Portuguesa das propriedades privadas denominadas Capitanias. Os capitães e suas famílias, escolhidos pela Coroa, recebiam uma área de 10 léguas chamada Sesmaria, isenta de tributos. As 50 léguas restantes eram do Reino. Os capitães poderiam doar estas terras a terceiros, para cultivo, sob pena de, se não doassem ou cultivasse, perdê-las novamente para a Coroa (terras devolutas). Era a própria Coroa Portuguesa quem registrava os títulos respectivos. Este sistema vigorou até 17/07/1822.</p><p>Quadro Fundiário 1:</p><p>TERRAS DA COROA:</p><p>a) próprias;</p><p>b) sesmariais (cessão de uso);</p><p>c) devolutas.</p><p>Após a independência do Brasil, foram estabelecidos os seguintes sistemas registrais;</p><p>Lei Orçamentária 317/1843: criou o primeiro registro geral de hipotecas;</p><p>Lei 6601/1850: primeira lei de terras, discriminou os bens de domínio público dos particulares; criou o registro paroquial das terras possuídas no Império (obrigando os proprietários, inclusive rurais, a registrarem suas terras);</p><p>Lei 1.237/1864: criou o registro geral, considerando a transcrição como modo de transferência do domínio e ordenando a escrituração, em seus livros, de todos os direitos imobiliários (criou a prenotação);</p><p>Decreto 169-A/1890: consagrou o princípio da especialização (art. 3º);</p><p>Decreto 451/1890: estabeleceu o sistema de registro torrens e criou a expressão matrícula</p><p>Código Civil de 1916: tornou o registro imobiliário uma instituição pública com a função de operar a transmissão do domínio, por ser considerado um dos meios de aquisição da propriedade imóvel (arts. 530 a 533).</p><p>Lei 6.105/73 (Lei dos Registros Públicos): segue parcialmente o sistema alemão, por considerar que só assento presume a propriedade (só o registro transfere o domínio da propriedade imobiliária); no entanto, aqui a presunção de propriedade é apenas juris tantum (princípio da fé pública), e não absoluta como no sistema alemão; instituiu a obrigatoriedade e a unicidade da matrícula; determinou a necessidade de perfeita identificação das partes e dos bens sujeitos a registro (princípio da especialidade subjetiva e objetiva); aprimorou o processo de retificação (atualizado recentemente pela Lei 10.931/2004).</p><p>QUADRO FUNDIÁRIO 2 – REPÚBLICA</p><p>- Terras Públicas (REGISTRO GERAL DE TERRAS PÚBLICAS):</p><p>a) Terras Próprias do Império</p><p>b) Terras Devolutas</p><p>- Terras Particulares (REGISTRO DO VIGÁRIO ATÉ 1864 e REGISTRO GERAL):</p><p>a) Propriedade adquirida por meio de compra e venda</p><p>b) Propriedade adquirida por revalidação dos títulos de sesmarias</p><p>c) Propriedade por legitimação posse de moradia e cultivo</p><p>QUADRO FUNDIÁRIO 3 – ATUAL</p><p>- PROPRIEDADES PÚBLICAS:</p><p>a) Bens de uso comum do povo (NÃO POSSUEM REGISTRO/INDIVIDUALIZAÇÃO)</p><p>b) Bens de uso especial (REGISTRO DE IMÓVEIS)</p><p>c) Bens dominicais (REGISTRO DE IMÓVEIS)</p><p>PROPRIEDADES PRIVADAS</p><p>(REGISTRO DE IMÓVEIS)</p><p>1.3 Registro Civil de Pessoas Naturais</p><p>Os primeiros registros existentes no Brasil, durante o período colonial e no início do período imperial, eram de atribuição da Igreja Católica, à época a religião oficial do estado. Os livros de registro de batismos, casamentos e óbitos ocorridos no território brasileiro durante este período encontram-se atualmente nos arquivos da Cúrias Metropolitanas.</p><p>O art. 16 da Lei 8.159/91 estabelece que os registros civis de arquivos de entidades religiosas produzidos antes da vigência do Código Civil de 1916 são de interesse público e social.</p><p>O sistema de Registro Paroquial, no entanto, tornou-se inócuo após o início da imigração e o processo de abolição da escravatura no Brasil. Muitos imigrantes professavam outras religiões, assim como boa parte dos escravos libertos, que não seguiam a religião católica.</p><p>Lei 1.144/1861: criou o registro civil de nascimentos, casamentos e óbitos das pessoas não católicos, que eram feitos em livros próprios dos escrivães dos Juízos de Paz</p><p>Decreto 5.604/1874: criou os cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais, então a cargo do Escrivão do Juizado de Paz em cada freguesia do Império (os livros desse período continham todo tipo de pessoa, imigrantes, indigentes, libertos, alienados e até condenados)</p><p>Lei 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos): estabelece que os serviços de registros públicos ficarão a cargo de serventuários privativos nomeados de acordo com o estabelecido nas Leis de Organização Administrativa e Judiciária do Distrito Federal e nas Resoluções sobre a divisão e Organização Judiciária dos Estados (art. 2º), devendo o registro de nascimentos, casamentos e óbitos ficarem a cargo de um ofício privativo</p><p>Constituição Federal 1988: dispõe que os serviços de Registro Civil das Pessoas Naturais serão exercidos por delegação do Poder Público, em caráter privado (art. 236).</p><p>Lei 8.935/1994: estabelece que em cada sede municipal deverá haver um Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais, e nos municípios de significativa extensão territorial, haverá um Oficial em cada sede distrital (art. 44, §§ 2º e 3º).</p><p>2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL</p><p>(Lei 8.935/94 e Lei 10.169/2000)</p><p>O art. 236 da Constituição Federal de 1988 estabelece que os serviços notariais e de registro serão exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público</p><p>Dispõe, ainda, que o ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção por mais de seis meses</p><p>A delegação da atividade se dá por ato administrativo complexo, através do qual a Administração Pública atribui a ente privado serviços que lhe seriam próprios:</p><p>Aprovação em Concurso Público</p><p>Investidura</p><p>Outorga</p><p>Exercício</p><p>Nem sempre, no entanto, foi assim, como bem historia LEONARDO BRANDELI (Teoria Geral do Direito Notarial. São Paulo: Saraiva, 2011, fls. 34/51):</p><p>No Brasil colônia, as capitanias tinham a atribuição de nomear tabeliães e escrivães; porém, se a Coroa Portuguesa readquirisse os direitos conferidos aos donatários, os tabeliães passavam a ser nomeados pelo Poder Real. O provimento dos cargos de tabelião dava-se por meio de DOAÇÃO, sendo o donatário investido de um direito vitalício, ou até mesmo por compra e venda ou sucessão causa mortis; esta era a forma de provimento de todos os cargos públicos na América colonial e também na Espanha; o cargo de escrivão exigia um nível mínimo de alfabetização; a concessão do cargo de tabelião envolvia uma prova de aptidão.</p><p>Em 11 de outubro de 1827 foi editada lei regulamentado o provimento dos ofícios de Justiça e Fazenda, proibindo a transmissão a título de propriedade de tais ofícios, que passaram a ser concedidos a título de SERVENTIA VITALÍCIA a pessoas dotadas de idoneidade para tanto e que servissem pessoalmente (não se exigia, no entanto, formação jurídica e nem tempo de prática na função).</p><p>Em cumprimento a disposto na Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969 (que alterou a CF de 1967), a Lei 5.621/70 incluiu na competência dos Tribunais de Justiça para organização judiciária de cada estado/ente federativo, a “organização, classificação, disciplina e atribuições dos serviços auxiliares da Justiça, inclusive tabelionatos e ofícios de registros públicos; sendo assim, os notários e registradores passaram a fazer parte do quadro de SERVIDORES DA JUSTIÇA, do assim chamado “foro extrajudicial”, sendo, pois, em análise técnica, funcionários públicos, o que levou alguns estados a passarem a realizar concursos públicos para o provimento de tais cargo, embora ainda não se exigisse o grau de bacharel em direito (o antigo Código de Organização Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul (Lei n. 7.356/80), em seu art. 125, caput , preceituava: “As serventias do Foro Extrajudicial são oficializadas, excetuados os Tabelionatos e os Ofícios Distritais e de Sede Municipal, e os respectivos cargos isolados, de provimento efetivo, serão providos mediante concurso público, obedecidos os critérios e exigências da lei”.</p><p>Após a Emenda 22/82, a CF de 1967 passou a ter em seu artigo 208 a seguinte redação, que consistia em privilégio a determinadas pessoas para que não passassem por concurso público: “Fica assegurada aos substitutos das serventias extrajudiciais e do foro judicial, na vacância, a efetivação, no cargo de titular, desde que, investidos na forma da lei, contem ou venham a contar cinco anos de exercício, nessa condição e na mesma serventia, até 31 de dezembro de 1983”. Tal situação perdurou até a CF/1988.</p><p>Após a entrada em vigor da CF/88 e do estabelecimento da obrigatoriedade de concurso público para o ingresso na atividade notarial e registral, não mais passou a valer o privilégio previsto no art. 208 da antiga CF para as serventias que vagassem, sendo necessário o seu provimento por CONCURSO PÚBLICO (nesse sentido: STF, RE no Recurso Ordinário em MS 17.423/MG, DJU 14-10-2004, p. 226; RE 302739 AgR/RS, relator ministro Nelson Jobim, 2ª Turma/STF, DJ 26-4-2002).</p><p>MAS, NO ATUAL CONTEXTO CONSTITUCIONAL, TABELIÃES E REGISTRADORES CONTINUAM SENDO SERVIDORES PÚBLICOS? NÃO!</p><p>No atual desenho constitucional o Tabelião e o Registrador não são servidores públicos, mas sim AGENTES PÚBLICOS. Segundo CARVALHO FILHO, são eles “colaboradores do Poder Público, muito embora não sejam ocupantes de cargo público, mas sim agentes que exercem, em caráter de definitividade, função pública sujeita a regime especial” (Manual de Direito Administrativo, 20 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008).</p><p>Os Tabeliães e Registradores são particulares que recebem, após aprovação em concurso público, a incumbência de execução de um serviço público e o realizam “em nome próprio, por sua conta e risco, segundo as normas do Estado e sob a permanente fiscalização do delegante” (HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 26. ed., São Paulo: Malheiros, 2001).</p><p>A Lei 8.935/94 (Lei dos Notários e Registradores) regulamentou o art. 236 da CF, dispondo sobre a natureza e os fins dos serviços notariais e de registro, dos titulares dos serviços e seus prepostos (escreventes e auxiliares), das atribuições, do ingresso na atividade, da responsabilidade civil e criminal, das incompatibilidades e dos impedimentos, dos direitos e deveres, das infrações disciplinares e penalidades, da fiscalização pelo Poder Judiciário, da extinção da delegação e da seguridade social.</p><p>O art. 3º desta lei estabelece que o notário e o registrador são AGENTES DELEGADOS do Poder Público, na esteira do que também deixa claro o atual texto constitucional.</p><p>Em resumo, atualmente Tabeliães e Registradores não pertencem ao quadro de servidores públicos; não são servidores públicos.</p><p>Como ensina LUÍS PAULO ALIENDE RIBEIRO: “os notários e registradores, embora exercentes de função pública, não são funcionários públicos, nem ocupam cargos públicos efetivos, tampouco se confundem com os servidores e funcionários públicos integrantes da estrutura administrativa estatal. Por desempenharem função que somente se justifica a partir da presença do Estado — o que afasta a ideia de atividade exclusivamente privada —, inserem-se na ampla categoria de agentes públicos, nos termos acolhidos de forma pacífica pela doutrina brasileira de direito administrativo” (REGULAÇÃO DA FUNÇÃO PÚBLICA NOTARIAL E DE REGISTRO. São Paulo: Saraiva, 2009).</p><p>3. Natureza e fins dos serviços notariais e de registro</p><p>3.1 Natureza Jurídica</p><p>Como dito anteriormente, a atividade notarial e registral tem natureza jurídica de serviço público, ainda que prestada em caráter privado</p><p>Os serviços em questão são delegados a profissionais do direito dotados de fé pública (art. 3º, Lei 8.935/94). Em razão disso, os atos emanados dos serviços notariais e registrais (assim como dos demais serviços públicos), gozam de presunção relativa de veracidade</p><p>Em resumo, os serviços notariais e de registro são serviços públicos exercidos em caráter privado por um profissional do direito em razão de delegação, organizados técnica e administrativamente</p><p>3.2 Fins dos Serviços</p><p>O art. 1º da Lei 6.015/73 dispõe que os serviços concernentes aos registros públicos tem como finalidade garantir “autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”</p><p>O art. 1º da Lei 8.935/94 define como fins dos serviços notariais e registrais “garantir publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”</p><p>3.2.1 PUBLICIDADE</p><p>A publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos. A publicidade, nas palavras de EDUARDO PACHECO RIBEIRO DE SOUZA visa atribuir segurança às relações jurídicas, permitindo a qualquer interessado que conheça o teor do acervo das serventias notariais e registrais (Noções fundamentais de Direito Registral e Notarial. Série Direito Registral e Notarial. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 22)</p><p>A publicidade, no entanto, não é absoluta, e sofre algumas restrições nos serviços registrais e notariais, vejamos:</p><p>Registro Civil das Pessoas Naturais:</p><p>- a certidão de nascimento de filhos havidos fora do casamento não será fornecida com o teor da declaração</p><p>ou da averbação a esse respeito (art. 45, Lei 6.015/73);</p><p>- a averbação da alteração de nome em razão de sentença judicial que reconheça fundada coação ou ameaça decorrente de colaboração na apuração de crime, não constará das certidões emitidas em relação ao mesmo registro (art. 57, §7º, Lei 6.105/73);</p><p>- alteração de prenome e gênero de transexuais (artigos 516 a 523, CNN);</p><p>- as certidões de nascimento lavradas em virtude de sentenças concessivas de adoção (de menor de idade) ou em que haja averbação nesse sentido (adoção de maior de idade) serão fornecidas sem qualquer menção ao mandado judicial ou à sua origem (parágrafo único, art. 95, Lei 6.105/73).</p><p>Obs: em todos esses casos, somente será fornecida certidão de breve relatório; a expedição de certidões de inteiro teor (constando as alterações em questão), somente podem ser concedidas com autorização judicial (§3º, art. 19, Lei 6.015/73)</p><p>b) Tabelionato de Protestos</p><p>Certidões de protestos cancelados só podem ser fornecidas ao próprio devedor ou por ordem judicial (art. 27, §2º, Lei 9.492/97)</p><p>c) Tabelionato de Notas</p><p>As certidões de escrituras públicas de testamentos, enquanto não comprovado o falecimento do testador, deverão ser expedidas apenas a seu pedido ou de seu representante legal, ou ainda, mediante ordem judicial (art. 110 do CNN), que estabelece medidas a serem adotadas pelas serventias extrajudiciais em âmbito nacional para adequação à Lei Geral de Proteção de Dados - Lei 13.709/2018):</p><p>“Art. 110. A certidão de testamento somente poderá ser fornecida ao próprio testador ou mediante ordem judicial.</p><p>Parágrafo único. Após o falecimento, a certidão de testamento poderá ser fornecida ao solicitante que apresentar a certidão de óbito”.</p><p>A emissão e o fornecimento de certidão de ficha de firma e dos documentos depositados por ocasião de sua abertura somente poderão ser realizados a pedido do titular referido nos documentos, seus representantes legais e mandatários com poderes especiais ou mediante decisão judicial (art. 106 do CNN).</p><p>Na 11ª Sessão Ordinária da Comissão de Proteção de Dados do CNJ, realizada no dia 23/11/2023, decidiu-se que os pedidos de certidão notariais deverão ser realizados, preferencialmente, em formato digital, do qual deverá constar a identificação do solicitante, assim como a motivação, exceto quando o requerente for o próprio titular dos dados, mantendo- se, assim, um prontuário que poderá ser solicitado por este, a fim de cumprir a autodeterminação informativa.</p><p>Quando for solicitada certidão notarial por pessoa diversa do integrante do ato, seu representante legal ou mandatário com poderes especiais, o tabelião deverá informar ao solicitante sobre a existência de dado sensível no documento, conforme definido no art. 5º, II, da Lei n. 13.709/2018. Assim, o tabelião poderá, conforme o contexto e motivação do solicitante, acatar o requerimento e lavrar a certidão requerida com tarja no dado sensível quando não for necessário, conforme a finalidade indicada pelo solicitante da certidão. No caso de tarjamento, deverá constar da certidão: “Esta certidão é cópia fiel e integral do ato notarial, com exceção do elemento considerado dado sensível, nos termos do art. 5º, II, da Lei 13.709/2018”.</p><p>3.2.2 AUTENTICIDADE</p><p>A autenticidade é a qualidade do que é confirmado por um ato de autoridade, criando presunção juris tantum de veracidade, legalidade e legitimidade, isto é, os atos praticados por tabeliães e oficiais de registro são considerados regulares e legais enquanto não forem desconstituídos por decisão judicial amparada em prova conclusiva que venha a atestar a sua falsidade, irregularidade ou desvio de finalidade.</p><p>Vale ressaltar que a autenticidade não se refere ao negócio causal ou ao fato que dão origem ao ato praticado, mas exclusivamente sobre o ato notarial ou registral.</p><p>3.2.3 SEGURANÇA JURÍDICA</p><p>A segurança decorre da certeza quanto ao ato e sua eficácia, e de sua imutabilidade (garantia de preservação do conteúdo do ato notarial ou de registro). O aperfeiçoamento do controle de lançamentos e dos cadastros registrais (civis e imobiliários), a descrição pormenorizada dos bens e a identificação completa das pessoas e dos titulares de direitos reais, salvaguarda os interesses das partes e de terceiros, e permite a aferição da boa-fé de quem pratica qualquer ato com base nestes registros.</p><p>3.2.4 EFICÁCIA</p><p>É a garantia de que os atos notariais e de registro estão aptos a produzir efeitos jurídicos inclusive perante terceiros (efeitos erga omnes).</p><p>Os atos notariais e especialmente os registros tem eficácia CONSTITUTIVA (provocam a aquisição, alteração ou a extinção de direitos; tais como: registro de casamento; emancipação; registro de ato constitutivo de empresa; aquisição de propriedade imóvel); ASSECURATÓRIA ou COMPROBATÓRIA (comprovam a veracidade e a autenticidade de atos ou fatos aos quais se reporta; tais como: registro de óbito por morte presumida; registro de contratos particulares); e CONSERVATÓRIA (colocam a salvo os documentos e títulos lavrados e registrados, perpetuando-os; tais como: testamentos públicos; registro de contratos particulares de aquisição de bens imóveis; registro de pacto antenupcial)</p><p>3.3 COMPETÊNCIAS E TIPOS DE SERVIÇOS DELEGADOS (art. 5º, Lei 8.935/94)</p><p>3.3.1 Tabelionatos (Tabeliães)</p><p>Tabelionato de Protesto (Lei 9.492/97): lavrar e registrar protesto de títulos de crédito e outros documentos de dívidas e acatar a desistência do credor; protocolo e intimação do devedor; acolhimento de devolução ou aceite; recebimento do pagamento do título.</p><p>Tabelionato de Notas (Lei 8.935/94): lavrar escrituras públicas; lavrar procurações e testamentos públicos; aprovar testamentos cerrados; lavrar atas notariais; reconhecer firmas; autenticar cópias (art. 7º)</p><p>3.3.2 Registros Públicos (Oficiais de Registro)</p><p>Registro Civil das Pessoas Naturais: registro de nascimentos, casamentos, óbitos, natimorto, emancipações, interdições, ausências, tutelas, adoção e opção de nacionalidade (art. 29, Lei 6.015/73)</p><p>Registro Civil de Pessoas Jurídicas: registro de contratos e atos constitutivos de sociedades simples em geral; das associações sem fins lucrativos; das fundações de direito privado (entidades civis, religiosas, pias, morais, científicas, literárias); registro de oficinas impressoras, jornais, periódicos, empresas de radiodifusão e agências de notícia (arts. 114 e 122 da Lei 6.015/73).</p><p>Registro de Títulos e Documentos: registro, microfilmagem ou digitalização de contratos ou títulos para simples conservação do conteúdo – competência residual (art. 127, Lei 6.105/73).</p><p>Registro de Imóveis: abertura de matrículas; registro de escrituras públicas ou sentenças de transmissão ou oneração de direitos reais; registro de instituição de bem de família; registro de hipotecas; registro de penhoras, arrestos e sequestros de bens imóveis; registro de usufruto sobre bens imóveis; registro de pactos antenupciais; etc. (art. 167, Lei 6.105/73).</p><p>3.4 DO INGRESSO NA ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL</p><p>Segundo o disposto no §3º, art. 236, CF, o ingresso na atividade notarial e de registro se dá através de aprovação em concurso público de provas e títulos</p><p>Os concursos, de acordo com os artigos 14 a 19 da Lei 8.935/94, são realizados pelo Poder Judiciário, com a participação obrigatória, em todas as fases, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Ministério Público e de um notário e um registrador</p><p>Resolução 81/2009, CNJ (regulamenta os concursos públicos para outorga de delações de Notas e Registro):</p><p>A Comissão Examinadora dos concursos será composta por um Desembargador, que será seu Presidente, por três Juízes de Direito, um Membro do Ministério Público, um Advogado, um Registrador e um Tabelião cujos nomes constarão do edital.</p><p>Competem à Comissão Examinadora do Concurso a confecção, aplicação e correção das provas, a apreciação dos recursos, a classificação dos candidatos e demais tarefas para execução do concurso, sendo facultada a delegação de tais atribuições, ou parte delas, assim como o auxílio operacional,</p><p>à instituição especializada contratada ou conveniada.</p><p>Aplica-se aos membros da Comissão Examinadora os seguintes motivos de suspeição e impedimento: a) os previstos nos artigos 134 e 135 do CPC quanto aos candidatos inscritos no concurso; b) o exercício de magistério em cursos formais ou informais de preparação para concurso para a outorga das Delegações de Notas e de Registro, até 3 (três) anos após cessar a referida atividade; c) a existência de servidores funcionalmente vinculados ao examinador ou de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, cuja inscrição haja sido deferida; d) a participação societária, como administrador, ou não, em cursos formais ou informais de preparação para concurso público para a outorga das Delegações de Notas e de Registro, até 3 (três) anos após cessar a referida atividade, ou contar com parentes nessas condições, até terceiro grau, em linha reta ou colateral (§5º-A do art. 1º da Resolução 81/2009, inserido pela Resolução 478/2022, ambas do CNJ).</p><p>Os motivos de suspeição e de impedimento deverão ser comunicados ao Presidente da Comissão de Concurso, por escrito, até 5 (cinco) dias úteis após a publicação da relação dos candidatos inscritos no Diário Oficial (§5º-B do art. 1º da Resolução 81/2009, inserido pela Resolução 478/2022, ambas do CNJ).</p><p>Caso sejam delegadas pela Comissão do Concurso alguma ou algumas das suas atribuições a integrantes da instituição especializada contratada para realizar o certamente, a estas pessoas, cujos nomes devem constar do edital, aplicam-se as regras de suspeição e impedimento (§6 do art. 1º da Resolução 81/2009, inserido pela Resolução 478/2022, ambas do CNJ).</p><p>Os concursos deverão ser realizados semestralmente ou, por conveniência da Administração, em prazo inferior, caso estiverem vagas ao menos três delegações de qualquer natureza; e deverão ser concluídos impreterivelmente no prazo de doze meses, com a outorga das delegações, contado da primeira publicação do respectivo edital de abertura do concurso (art. 2º da Resolução 81/2009).</p><p>1/3 (um terço) das delegações vagas será destinada, por concurso de provas e títulos, à REMOÇÃO daqueles que já estiverem exercendo a titularidade de outra delegação, de notas ou de registro, em qualquer localidade da mesma unidade da federação que realizará o concurso, por mais de 02 (dois) anos, na forma do artigo 17 da Lei Federal nº 8.935/94, na data da publicação do primeiro edital de abertura do concurso.</p><p>Nos autos do Procedimento de Controle Administrativo (PCA) nº 0008735-17.2021.2.00.0000, entendeu o CNJ que o prazo de dois anos em questão refere-se ao tempo que o delegatário já removido deve manter-se em uma mesma serventia para que possa participar de novo concurso de remoção. No entanto, em decisão liminar, o STF, através do Min. Gilmar Mendes, nos autos do MS nº 38.878 suspendeu os efeitos dessa decisão em relação em relação às partes impetrantes, entendendo que o CNJ deu “interpretação patentemente equivocada aos requisitos temporais previstos nos arts. 17 e 18 da Lei Federal nº 8.935/1994, art. 3º da Resolução CNJ nº 81/2009”.</p><p>2/3 (dois terços) das delegações vagas serão destinadas, por concurso de provas e títulos, ao INGRESSO daqueles que preencherem os requisitos previstos no art. 14 da Lei Federal nº 8.935/94.</p><p>O art. 37, inciso VIII, da CF, estabelece que a lei reservará percentual de vagas em concursos públicos para pessoas com deficiência. Trata-se de ação afirmativa destinada à integração social das referidas pessoas.</p><p>O Decreto Federal nº 3.298/99, que regulamentou a Lei Federal nº 7.853/89, prevê a reserva de no mínimo 5% das vagas oferecidas, e a Lei Federal nº 8.112/90 prevê a reserva de no máximo 20% das vagas. Se este número, pelo cálculo do número de vagas for fracionado, deverá ser elevado até o primeiro número interior subsequente, ou seja, arrendonda-se para cima, desde que não ultrapasse o limite máximo (STF, MS 26.310, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 20/09/2007, DJ 31/10/2007).</p><p>Por meio da Resolução 382/2021 e da Resolução nº 478/2022, o CNJ alterou a redação da Resolução 81/2009 para incluir a necessidade de reserva de vagas aos NEGROS, para os quais não pode ser instituída nota de corte ou cláusula de barreira na prova objetiva seletiva.</p><p>§ 1º Serão reservadas aos negros o percentual mínimo de 20% (vinte por cento) das serventias vagas oferecidas no certame de provimento, aplicando-se a Resolução CNJ nº 203/2015.</p><p>§1º-A É vedado o estabelecimento de corte ou qualquer espécie de cláusula de barreira aos candidatos negros na prova objetiva seletiva, bastando o alcance da nota 6,0 (seis) para que o candidato seja admitido às fases subsequentes (incluído pela Resolução nº 478/2022).</p><p>§ 2º A reserva de vagas aos negros será aplicada sempre que o número de serventias oferecido no concurso público for igual ou superior a 3 (três).</p><p>§ 3º Caso a aplicação do percentual estabelecido nos parágrafos anteriores resulte em número fracionado, este será elevado para o primeiro número inteiro subsequente, em caso de fração igual ou maior que 0,5 (cinco décimos, ou diminuído para o número inteiro imediatamente inferior, em caso de fração menor que 0,5 (cinco décimos).</p><p>O critério de escolha das serventias reservadas aos candidatos negros e com deficiência será o sorteio, após a divisão das serventias vagas em 3 (três) classes, por faixa de faturamento, na forma do Anexo do Provimento n. 74/2018 da Corregedoria Nacional de Justiça (§4º do art. 3º da Resolução 81/2009, incluído pela Resolução 478/2022, ambas do CNJ).</p><p>Os tribunais instituirão, obrigatoriamente, comissões de heteroidentificação, formadas necessariamente por especialistas em questões raciais e direito da antidiscriminação, voltadas à confirmação da condição de negros dos candidatos que assim se identificarem no ato da inscrição. As comissões em questão deverão funcionar preferencialmente no ato da inscrição ou após a publicação do resultado final do concurso, de acordo com os critérios de conveniência e oportunidade de cada tribunal (§§5º e 6º do art. 3º da Resolução 81/2009, incluídos pela Resolução 478/2022, ambas do CNJ).</p><p>Requisitos para inscrição:</p><p>nacionalidade brasileira;</p><p>capacidade civil;</p><p>quitação com as obrigações eleitorais e militares; ser bacharel em direito, com diploma registrado, ou ter exercido, por dez anos, completados antes da publicação do primeiro edital, função em serviços notariais ou de registro;</p><p>comprovar conduta condigna para o exercício da atividade delegada (certidões negativas e cartas de referência).</p><p>Provas:</p><p>1ª Fase (Prova objetiva de Seleção): constituída de questões de múltipla escolha sobre as disciplinas de Registros Públicos, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito Penal, Direito, Processual Penal, Direito Comercial, Conhecimentos Gerais e Língua Portuguesa (tem caráter eliminatório; somente são considerados habilitados e convocados para a Prova Escrita e Prática os que alcançarem maior pontuação, incluídos os empatados na última colocação, dentro da proporção de 12 CANDIDATOS POR VAGA, em cada opção de inscrição).</p><p>2ª Fase (Prova Escrita e Prática): consiste numa dissertação e na elaboração de peça prática, além de questões discursivas (tem caráter eliminatório e classificatório; somente serão considerados habilitados para a Prova Oral os candidatos que obtiverem na Prova Escrita e Prática nota igual ou superior a 5,0). A prova escrita e prática valerá 10,0 pontos. PESO 5</p><p>3º Fase (Prova Oral): consiste na arguição dos candidatos pelos membros da Comissão Examinadora (tem caráter eliminatório e classificatório; somente serão considerados aprovados os candidatos que obtiverem nota igual ou superior a 5,0). A prova oral valerá 10,0 pontos. PESO 4</p><p>As provas terão peso 9,0 (nove) e os títulos peso 1 (um) – art. 10 da Resolução 81/2009, com redação dada pela Resolução 478/2022, CNJ)</p><p>4ª Fase (Exame de Títulos):</p><p>exame de títulos valerá, no máximo, 10 (dez) pontos, observado o seguinte: PESO 1</p><p>exercício da advocacia ou de delegação, cargo, emprego ou função pública privativa de bacharel em Direito, por um mínimo de três anos até a data da primeira publicação do edital do concurso (2,0);</p><p>exercício de serviço notarial ou de registro, por não bacharel em direito, por um mínimo de dez anos até a data da publicação do primeiro edital do concurso (art. 15, § 2º, da Lei n. 8.935/1994) (2,0);</p><p>exercício do Magistério Superior na área jurídica pelo período mínimo de 5 (cinco) anos, mediante admissão no corpo docente por concurso ou processo seletivo público de provas e/ou títulos (1,5); mediante admissão no corpo docente sem concurso ou processo seletivo público de provas e/ou títulos (1,0);</p><p>Doutorado reconhecido ou revalidado, em Direito ou em Ciências Sociais ou Humanas (2,0); Mestrado reconhecido ou revalidado, em Direito ou em Ciências Sociais ou Humanas (1,0); Especialização em Direito, na forma da legislação educacional em vigor, com carga horária mínima de trezentos e sessenta (360) horas aula, cuja avaliação haja considerado monografia de final de curso (0,5);</p><p>exercício, no mínimo durante 1 (um) ano, por ao menos 16 horas mensais, das atribuições de conciliador voluntário em unidades judiciárias, ou na prestação de assistência jurídica voluntária (0,5);</p><p>período igual a 3 (três) eleições, contado uma só vez, de serviço prestado, em qualquer condição, à Justiça Eleitoral (0,5).</p><p>A nota final do candidato será a média ponderada das notas das provas e dos pontos dos títulos, de acordo com a seguinte fórmula: NF = [(P1X4) + (P2X4) + (TX2)] / 10</p><p>A classificação final será feita segundo a ordem decrescente da nota final, considerado aprovado o candidato que alcançar a média igual ou superior a 5,0 (cinco).</p><p>Em caso de igualdade da nota final, para fim de classificação, terá preferência, sucessivamente, o candidato com: a) Maior nota no conjunto das provas ou, sucessivamente, na Prova Escrita e Prática, na Prova Objetiva e na Prova Oral; b) Exercício da função de Jurado; c) Mais idade.</p><p>Publicado o resultado do concurso, os candidatos aprovados serão convocados para sessão pública de escolha e outorga (a escolha é feita por ordem de classificação e por grupos/critérios), vedada a inclusão de novas vagas após a publicação do edital.</p><p>A critério dos tribunais, poderão ser realizadas ATÉ 3 (TRÊS) AUDIÊNCIAS DE ESCOLHA. Só poderão participar da 2ª e 3ª audiências os candidatos que compareceram pessoalmente à 1ª audiência ou enviaram mandatário habilitado, e não tiveram oportunidade de escolher as serventias que permaneceram vagas. Nas audiências de re-escolha poderão ser ofertadas todas as serventias cujo exercício não tenha se aperfeiçoado, além das serventias renunciadas, restando excluídas somente as que vagaram após a publicação do edital (§§3º e 4º do art. 2º da Resolução 81/2009, incluídos pela Resolução nº 478/2022, ambas do CNJ).</p><p>Após a outorga, a investidura na delegação deverá ocorrer perante o Corregedor Geral da Justiça ou o magistrado por ele designado, no prazo de 30 dias, prorrogável por igual período, uma única vez (termo de investidura); o exercício da atividade notarial ou de registro deverá ter início dentro de 30 dias, contados da investidura, perante o Juiz Corregedor local (termo de início de exercício).</p><p>3.5 FÉRIAS, LICENÇAS, APOSENTADORIA E AFASTAMENTOS DO NOTÁRIO E DO REGISTRADOR</p><p>O Tabelião e o Registrador podem se ausentar da serventia apenas por motivo justificado (férias, licença médica, licença maternidade, participação em congressos e outros eventos jurídicos e etc.) previamente informado à Corregedoria Geral de Justiça. Nessa hipótese, cabe ao titular informar o nome do seu substituto que responderá pelo expediente</p><p>Não há prazo mínimo ou máximo para cada licença ou período de férias</p><p>Os Tabeliães e Registradores estão, em regra, subordinados ao regime geral de previdência (INSS), e estão sujeitos apenas à aposentadoria voluntária (desde que decorrido o tempo mínimo de 10 anos de exercício da atividade; e atingida a idade mínima de 65 anos, para homens, e 60 anos para mulheres; ou desde que tenha ao menos 35 anos de contribuição e 60 de idade, se homem, e 30 de contribuição e 55 de idade, se mulher), não se lhes aplicando o disposto no art. 40, §1º, II, da CF a respeito da aposentadoria compulsória</p><p>O notário ou registrador que desejar concorrer a mandato eletivo, afastar-se-á do exercício do serviço delegado desde a sua diplomação (art. 72 do CNN, com a redação que lhe deu o Provimento 161/2024).</p><p>No caso de serem eleitos, é vedada expressamente a cumulação do exercício do cargo eletivo com a delegação notarial e registral, da qual deverá o eleito se licenciar pelo tempo do mandato. Nesse caso, a atividade será conduzida pelo escrevente substituto com a designação contemplada pelo art. 20, §5º da Lei 8.935/94 (§2º do art. 72 do CNN).</p><p>Vale lembrar que o Tabelião ou Registrador que exercerem mandato eletivo terão o direito à percepção integral dos emolumentos gerados em decorrência da atividade notarial e/ou registral que lhe foi delegada (§3º do art. 72 do CNN).</p><p>4. DOS DIREITOS E DEVERES DOS TABELIÃES E REGISTRADORES</p><p>4.1 Direitos</p><p>O notário e o registrador gozam de independência no exercício de suas atribuições, só perderá sua delegação nos casos previstos em lei e têm direito a (artigos 28 e 29 da Lei 8.935/94):</p><p>I – receber os emolumentos integrais pelos atos praticados no exercício da delegação;</p><p>II – exercer opção, nos casos de desmembramento ou desdobramento de sua serventia; e</p><p>III – organizar associações ou sindicatos de classe e deles participar.</p><p>INDEPENDÊNCIA NO EXERCÍCIO DAS ATRIBUIÇÕES</p><p>O notário e o registrador dispõem de independência e autonomia na prática dos atos que lhe são próprios, que, em regra, independem de autorização judicial.</p><p>Todos os atos necessários à organização da serventia e dos serviços, bem como os relativos à execução dos serviços independem de autorização judicial tais como: contratação ou a dispensa de auxiliares e escreventes; troca ou aquisição de mobiliário ou de equipamentos de informática; organização interna dos serviços e a sua distribuição entre os prepostos; contratação de serviços terceirizados de limpeza, segurança e manutenção.</p><p>No entanto, trata-se, à evidência, de independência RELATIVA, posto que todos a atividade dos notários e registradores será fiscalizada pelo Poder Judiciário (Juiz Corregedor Permanente e Corregedoria Geral de Justiça)</p><p>DIREITO À PERCEPÇÃO DE EMOLUMENTOS</p><p>Emolumentos, nas palavras de WALTER CENEVIVA, “correspondem, na atividade privada, ao preço do serviço”.</p><p>Na atividade notarial e registral, no entanto, não há que se falar em preço, razão pela qual nos parece mais adequada a definição de LUIZ GUILHERME LOUREIRO, para quem os emolumentos correspondem à remuneração fixada por lei a que os notários e registradores fazem jus pela prática dos atos que lhes são próprios. Remuneração sui generis, é bem verdade, posto que paga diretamente pelos usuários do serviço, não pelo ente delegante dos mesmos (o Estado).</p><p>Os emolumentos possuem natureza tributária, classificando-se como taxas remuneratórias de serviços públicos, como já decidiu o STF (ADI 1.378-MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 30.11.1995, plenário, DJ 30.05.1997). Por esta razão sujeitam-se aos princípios constitucionais da legalidade, da isonomia e da anterioridade.</p><p>É a Lei Federal 10.169/2000 que estabelece as normas gerais para a definição dos emolumentos dos serviços notariais e registrais; as normas específicas, entretanto, como a fixação dos próprios valores de cada serviço, devem ser disciplinadas em leis estaduais.</p><p>Por serem os emolumentos espécie de remuneração, a eles NÃO SE APLICAM AS REGRAS DE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA previstas no art. 150, VI da CF/88. Se os serviços não são prestados pelo Estado, que não é quem percebe os emolumentos, a Fazenda Pública (federal, estadual e municipal), como regra, está obrigada ao pagamento das custas</p><p>e emolumentos pelos serviços cartorários (assim já decidiu o STJ, no REsp nº 413980/SC, rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 04.05.2006).</p><p>Nada impede, no entanto, que a legislação estadual crie hipóteses de isenção, beneficiando as pessoas jurídicas de direito público e os órgãos da administração pública, direta ou indireta.</p><p>Vale ressaltar que o atual CPC, no art. 98, IX, estabelece que a gratuidade da justiça compreende apenas os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da prática de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o benefício tenha sido concedido.</p><p>A concessão de qualquer gratuidade nos serviços prestados pelos Notários e Registradores, depende, a nosso ver, da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro de tais serviços durante a sua prestação. A garantia da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro para os particulares que prestam serviços públicos, sempre que modificadas unilateralmente pelo Estado as regras de tal prestação, está prevista no art. 104 da Nova Lei de Licitações (Lei 14.133/2021), estabelece que a Administração Pública tem a prerrogativa de modificar unilateralmente os contratos, para melhor adequação às finalidades de interesse público, devendo nesse caso rever as “cláusulas econômico-financeiras do contrato (...) para que se mantenha o equilíbrio contratual”</p><p>Ainda que tal lei se refira a serviços cuja delegação (em sentido amplo) tenha ocorrido por meio de licitação e contratação administrativa, o que se costuma classificar como delegação contratual, e os serviços notariais e registrais sejam transferidos a particulares por determinação constitucional após aprovação em concurso público, o que se classifica como delegação constitucional, não nos resta dúvida de que ambas são equivalentes quanto à sua essência e suas regras de manutenção.</p><p>O Supremo Tribunal Federal já se posicionou no sentido da necessidade de manutenção do equilíbrio econômico-financeiro mesmo nas delegações constitucionais, para que não se tornem as mesmas desinteressantes do ponto de vista de quem as recebe. Na ADI 1800-DF (Plenário, j. 06.04.1998, rel. Min. Nelson Jobim), o Ministro Marco Aurélio Mello assim afirmou:</p><p>“Ora, podemos interpretar esse preceito pinçado e potencializando o vocábulo “delegação”, olvidando normas contidas na própria Constituição? Olvidando os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade que são ínsitos à Constituição Federal, à Lei Maior do País? Penso que não (...). A referência à delegação não me sensibiliza, porque o serviço deve ser exercido e sabemos que existem despesas; sabemos que, no caso, os Cartórios devem contratar empregados, devem funcionar em um certo local, e, portanto, têm despesas a serem executadas. Indispensável é que haja uma fonte de receita. O Estado, pela simples circunstância de lançar mão da delegação, não pode, sob pena de desrespeitar-se o texto da própria Carta da República, chegar ao ponto de inviabilizar o serviço que esta delegação visa a alcançar ”. (grifos nossos)</p><p>Mais recentemente, o CNJ, em decisão proferida nos autos do Pedido de Providências nº 0006123-58.2011.2.00.0000, que teve como relator o Conselheiro Fabiano Silveira, expressamente afirmou a necessidade de observação de tal equilíbrio para a concessão de gratuidades:</p><p>“a percepção de emolumentos pelo notário, como contraprestação do serviço público que o Estado presta ao particular, por seu intermédio, é condição imprescindível para o titular fazer frente a despesas de custeio da Serventia, de remuneração de pessoal e de investimentos, além da retirada dos próprios dividendos a que faz jus pela delegação que lhe foi outorgada. Nesse sentido, a adequada prestação de serviços, que depende da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro das serventias extrajudiciais, passa a demandar, de fato, a contrapartida do Poder Público pelos custos dos atos oferecidos gratuitamente aos cidadãos" (grifo nosso).</p><p>Na decisão proferida nos autos acima mencionados, datada de 06/05/2014, o CNJ recomendou a vários Tribunais de Justiça do país que elaborassem propostas legislativas para garantir o ressarcimento integral de todos os atos gratuitos praticados pelos Serviços de Registros e de Notas em razão de inúmeras previsões legais de gratuidade, como era o caso da previsão do antigo CPC a respeito das escrituras públicas de separação, divórcio e inventário e partilha.</p><p>DIREITO DE EXERCER OPÇÃO, NOS CASOS DE DESMEMBRAMENTO OU DESDOBRAMENTO DE SUA SERVENTIA</p><p>Desmembramento é a divisão da área territorial de competência do notário ou registrador (quando ocorre, por exemplo, a divisão de uma comarca e com isso a criação de uma nova serventia).</p><p>Na área notarial tal fenômeno é raro, já que os Tabeliães recebem sua delegação vinculada ao território de um município, e mesmo que se crie um segundo serviço de notas na mesma cidade, isso não diminui a competência originária do anterior, daí não haver direito a opção nesses casos (no entanto, se um Distrito for elevado a categoria e Município, terá o Oficial ou Tabelião que recebeu a delegação original o direito de optar por uma das delegações incidentes no novo Município).</p><p>Desdobramento é a separação dos serviços acumulados em um determinado serviço; trata-se de espécie de descentralização, em que os serviços até então acumulados numa única serventia passam a ser divididos em duas após a criação de uma nova serventia (quando há o desdobramento de um cartório que acumule notas e protesto em duas serventias, criando-se uma nova em razão do volume dos serviços e da viabilidade econômica – nesse caso, o titular da antiga serventia terá o direito de optar por um dos serviços, notas ou protesto, sendo o outro encaminhado a delegação por meio de concurso de provas e títulos).</p><p>DIREITO DE ORGANIZAR ASSOCIAÇÕES OU SINDICATOS DE CLASSE E DELES PARTICIPAR</p><p>Trata-se de norma complementar à regra constitucional de liberdade associativa (art. 9º, CF), que permite aos Tabeliães e Registradores o direito de livre associação, sem qualquer interferência ou intervenção do Poder Público delegante e do Poder fiscalizador.</p><p>4.2 Deveres</p><p>Os notários e registradores estão adstritos, no cumprimento de suas funções, à observância dos deveres previstos no art. 30 da Lei 8.935/94, que estabelece os deveres funcionais implícitos na natureza do ofício exercido.</p><p>Da mesma forma, no Estado de Goiás os delegatários devem cumprir as obrigações estabelecidas no artigo 39 do Código de Normas e Procedimentos do Foro Extrajudicial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás 2021 (Provimento 46/2020), que estabelecem normas de defesa e proteção ao usuário dos serviços.</p><p>Também deve ser observado o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei Federal 13.146/2015), que estabelece aos notários e registradores a obrigação de assegurar o acesso irrestrito aos seus serviços às pessoas com deficiência, reconhecendo sua plena capacidade civil (art. 83 em c/c art. 6º, EPD).</p><p>São deveres dos Notários e Registradores:</p><p>I – manter em local adequado, devidamente ordenados, livros, fichas, arquivos, documentos, papéis, microfilmes, sistemas de computação da serventia, além das cópias dos dados armazenados, respondendo por sua segurança, ordem e conservação;</p><p>II – atender as partes com eficiência, urbanidade e presteza;</p><p>III – atender prioritariamente as requisições de papéis, documentos, informações ou providências que lhes forem solicitadas pelas autoridades judiciárias ou administrativas para a defesa das pessoas jurídicas de direito público em juízo;</p><p>IV - manter em arquivo, físico ou digital, leis, regulamentos, resoluções, provimentos, regimentos, ordens de serviço e quaisquer outros atos que digam respeito à atividade;</p><p>V – proceder de forma a dignificar a função exercida, tanto nas atividades profissionais como na vida privada;</p><p>VI – guardar sigilo sobre a documentação e os assuntos de natureza reservada de que tenham conhecimento em razão</p><p>do ofício;</p><p>VII – afixar em local visível, de fácil leitura e acesso ao público, as tabelas de emolumentos em vigor e suas notas explicativas, bem como aviso de sugestões e reclamações com os endereços e contato do Fórum local, Corregedoria-Geral da Justiça e Ouvidoria do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás;</p><p>VIII – observar os emolumentos fixados para a prática dos atos;</p><p>IX – fornecer recibo ou nota fiscal aos usuários, que discrimine os valores pagos a título de Emolumentos, de Taxa Judiciária, de Imposto sobre Serviços – ISS e de cada Fundo Estadual, mantendo-se arquivada a segunda via por meio físico ou eletrônico;</p><p>X – observar prazos legais fixados para a prática dos atos do seu ofício;</p><p>XI – fiscalizar o recolhimento dos impostos incidentes sobre os atos que devem praticar;</p><p>XII – facilitar, por todos os meios, o acesso à documentação existente às pessoas legalmente habilitadas;</p><p>XIII – encaminhar ao Juízo de Registros Públicos as dúvidas suscitadas pelos interessados, obedecida a sistemática processual fixada nos artigos 198 e seguintes da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973;</p><p>XIV – observar as normas técnicas estabelecidas pelo Juízo competente;</p><p>XV – manter em arquivo os livros e atos eletrônicos, mediante cópia de segurança feita em intervalos não superiores a 24 (vinte e quatro) horas, preferencialmente ao final do expediente, sem prejuízo da formação dos livros obrigatórios;</p><p>XVI – garantir que seja dispensado atendimento prioritário às pessoas com deficiência, aos idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, às gestantes, às lactantes, às pessoas com crianças de colo e aos obesos, mediante garantia de lugar privilegiado em filas, distribuição de senhas com numeração adequada ao atendimento preferencial ou implantação de serviço de atendimento personalizado e alocação de espaço com acessibilidade;</p><p>XVII – manter atualizados seus dados pessoais e informações da serventia junto ao Sistema Extrajudicial Eletrônico – SEE da Corregedoria-Geral e do sistema Justiça Aberta do Conselho Nacional de Justiça, devendo comunicar, em até 48 (quarenta e oito) horas, as alterações porventura ocorridas;</p><p>XVIII – acessar diariamente o sistema Malote Digital, promovendo o atendimento das mensagens existentes de acordo com o nível de prioridade assinalado;</p><p>XIX – implantar políticas, procedimentos e controles internos de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo no âmbito da serventia;</p><p>XX – promover o cumprimento das obrigações administrativas, trabalhistas, fiscais e previdenciárias;</p><p>XXI – manter uma cópia deste Código de Normas acessível ao público;</p><p>XXII – dar cumprimento à ordem judicial de registro, averbação ou anotação oriunda de comarca diversa, independentemente da aquiescência ou de despacho de “cumpra-se” do juízo do local de cumprimento, ressalvados os casos de retificação, restauração e suprimento no registro civil das pessoas naturais, desde que satisfeitos os emolumentos, se devidos.</p><p>XXIII – admitir pagamento dos emolumentos, das custas e das despesas por meio eletrônico, a critério do usuário, inclusive mediante parcelamento (inciso XV do art. 30 da Lei 8.935/94, incluído pela Lei 14.382/2022).</p><p>image2.jpg</p><p>image3.png</p><p>image4.png</p><p>image5.png</p><p>image6.png</p><p>image7.png</p><p>image8.png</p>

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