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<p>12 Neo-Realismo</p><p>A o f i n a l d e s t e c a p í t u l o , v o c ê :</p><p>· COMPREENDERÁ QUE O NEO-REALISMO É UMA TEORIA SISTÊMICA BASEADA NA IMPOR-</p><p>TÂNCIA DA ESTRUTURA INTERNACIONAL ESTABELECIDA NA ANARQUIA INTERNACIONAL.</p><p>· CONHECERÁ OS TRÊS EIXOS DA ESTRUTURA POLÍTICA INTERNACIONAL: PRINCÍPIO DE</p><p>ORDENAMENTO, DIFERENCIAÇÃO FUNCIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS CAPACIDADES.</p><p>· RECONHECERÁ AS SITUAÇÕES EM QUE OS ESTADOS BALANCEIAM O PODER E EM QUE</p><p>ADEREM AO LÍDER (BANDWAGON).</p><p>O Neo-Realismo aparece no final da década de 1970 com o trabalho de Kenneth</p><p>Waltz, Theory of international politics (1979), como renovação e, ao mesmo tem-</p><p>po, crítica teórica ao Realismo Moderno. A diferença fundamental entre os mode-</p><p>los está na questão do nível de análise: enquanto o Realismo Moderno foca o</p><p>Estado, o Neo-Realismo foca o sistema internacional. A seguir, veremos os princi-</p><p>pais pontos da obra de Waltz, assim como uma discussão do impacto da teoria na</p><p>academia de Relações Internacionais e sobre a nossa compreensão da política</p><p>internacional.</p><p>Kenneth Waltz (1924-)</p><p>Em seu livro, citado anteriormente, Waltz tem a pretensão de apresentar a</p><p>teoria geral de Relações Internacionais, assim como as teorias gerais de outras</p><p>áreas, como a economia ou a administração. Dessa forma, em primeiro lugar,</p><p>Waltz discute o significado de leis e teorias. Para ele, as leis estabelecem as</p><p>relações entre as variáveis. Em outras palavras, as leis determinam o padrão de</p><p>relacionamento entre as variáveis independentes e as variáveis dependentes.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06143</p><p>T</p><p>eo</p><p>ri</p><p>as</p><p>d</p><p>e</p><p>R</p><p>el</p><p>aç</p><p>õ</p><p>es</p><p>I</p><p>n</p><p>te</p><p>rn</p><p>ac</p><p>io</p><p>n</p><p>ai</p><p>s</p><p>144144144144144</p><p>Metodologicamente, a variável dependente é aquela que se deseja explicar e as</p><p>variáveis independentes são aquelas utilizadas para explicar a variável dependen-</p><p>te. Assim, se a relação entre as variáveis dependentes e independentes é invariante,</p><p>a lei é absoluta. Entretanto, se ela for constante, porém não invariante, a relação</p><p>será probabilística, no sentido de que um aumento de x nas variáveis independen-</p><p>tes deve provavelmente produzir um acréscimo de x na variável dependente.</p><p>Já a teoria é definida como um conjunto de leis pertencentes a um compor-</p><p>tamento particular ou a um fenômeno.1 No entanto, é importante notar que as</p><p>correlações entre as variáveis dependentes e independentes não são suficientes</p><p>para estabelecer uma explicação. Tecnicamente, poderíamos correlacionar os</p><p>saltos dos cangurus na Austrália com a taxa de inflação no Brasil, contudo, essa</p><p>relação é espúria, pois é pouco provável que os cangurus na Austrália tenham</p><p>alguma influência real em nossa taxa de inflação. As teorias não são um amon-</p><p>toado de leis e, sim, afirmações que explicam as variáveis dependentes. Portan-</p><p>to, as teorias explicam por que há associações entre as variáveis dependentes e</p><p>independentes. Assim, em última instância, as teorias explicam as leis. Já as</p><p>hipóteses são explicações alternativas para a realidade que são inferidas das</p><p>teorias. Dessa forma, se as hipóteses são confirmadas conclusivamente, elas são</p><p>chamadas de leis.2</p><p>Concluída a tarefa de descrever o significado das teorias em geral, Waltz</p><p>passa a discutir como podem ser classificadas as teorias de política internacional.</p><p>Para ele, as teorias que se concentram em indivíduos ou nações como nível de</p><p>análise são reducionistas, enquanto as que focam o sistema internacional são</p><p>sistêmicas. O reducionismo baseia-se na idéia de que o todo pode ser entendido a</p><p>partir dos atributos e da interação das suas partes. Podemos conhecer o todo a</p><p>partir do estudo das partes. O uso do reducionismo é bastante freqüente nas ciên-</p><p>cias naturais, como na física e na biologia.</p><p>Waltz considera que o reducionismo é inadequado para a compreensão da</p><p>política internacional, fundamentalmente porque, em nível internacional, os dife-</p><p>rentes Estados produziriam resultados similares e diferentes em suas relações, assim</p><p>como Estados parecidos forneceriam resultados diferentes e similares em suas rela-</p><p>ções. Da mesma forma, as mesmas causas podem levar a diferentes efeitos, e os</p><p>mesmos efeitos são, muitas vezes, o resultado de causas diferentes.3 Por exemplo,</p><p>caso consideremos um assunto como as guerras, se dois Estados diferentes produzi-</p><p>1 WALTZ, K. Theory of international politics. Reading: Addison-Wesley, 1979, p. 2.</p><p>2 Ibid., 1979, p. 6-7.</p><p>3 Id., p. 37.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06144</p><p>12</p><p>N</p><p>eo</p><p>-R</p><p>ea</p><p>lis</p><p>m</p><p>o</p><p>145145145145145</p><p>rem políticas externas similares, provavelmente não bastaria estudar as característi-</p><p>cas das unidades da política internacional para compreender o fenômeno da guerra.</p><p>Seria necessária uma visão sistêmica das relações internacionais.</p><p>A visão sistêmica das relações internacionais: O que significa uma visão</p><p>sistêmica? Segundo Waltz,4 uma forma de responder à questão é comparar a visão</p><p>sistêmica com a analítica. O método analítico é reconhecido como o da física</p><p>clássica, em que se reduz o objeto de estudo em suas partes discretas e, desse</p><p>modo, examinam-se as suas propriedades e conexões. Por outro lado, muitas vezes</p><p>as propriedades e interações das partes não são suficientes para se compreender o</p><p>objeto de estudo; é preciso também olhar como os elementos se organizam. As-</p><p>sim, a forma de organização dos elementos altera o comportamento e as interações</p><p>entre as unidades e, portanto, em relações internacionais, haveria a necessidade</p><p>de se usar uma visão sistêmica. Nesse sentido, um sistema pode ser definido como</p><p>um grupo de unidades que interagem entre si. Em um nível, o sistema consiste em</p><p>uma estrutura (o posicionamento das unidades no sistema) e, em outro, dá interação</p><p>entre as unidades.</p><p>As teorias reducionistas explicam os resultados da política internacional por</p><p>meio dos elementos e das combinações dos elementos localizados no nível nacio-</p><p>nal ou subnacional; dessa maneira, as forças internas a um país produzem resulta-</p><p>dos externos e, portanto, o sistema internacional seria apenas o resultado da soma</p><p>dessas forças. As teorias reducionistas são aquelas sobre o comportamento das</p><p>partes e, uma vez explicadas essas partes, o trabalho está feito, pois o sistema é</p><p>simplesmente o resultado da soma dos comportamentos individuais das unidades.5</p><p>Entretanto, será que a política internacional é, de fato, apenas determinada pelos</p><p>gostos e desgostos dos Estados X ou Y? Quer dizer, se as mudanças internacionais</p><p>são explicadas a partir do comportamento dos países, como justificar as similari-</p><p>dades nos resultados internacionais, mesmo com as variações dos atores? Desde os</p><p>conflitos descritos por Tucídides e todos os posteriores, passando pela Guerra Fria,</p><p>até a última Guerra do Iraque, os conflitos parecem nutrir profundas similaridades</p><p>que não poderiam ser explicadas por características internas dos Estados. Portanto,</p><p>faz-se necessária uma teoria sistêmica que seja capaz de explicar a mudança e a</p><p>continuidade na política internacional.</p><p>Em uma teoria sistêmica, parte do comportamento das unidades da política</p><p>internacional e o resultado de suas interações deverão ser encontrados na estru-</p><p>tura do sistema. Uma estrutura política é o equivalente ao campo de forças em</p><p>4 WALTZ, op. cit., p. 39-41.</p><p>5 Ibid., p. 60.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06145</p><p>T</p><p>eo</p><p>ri</p><p>as</p><p>d</p><p>e</p><p>R</p><p>el</p><p>aç</p><p>õ</p><p>es</p><p>I</p><p>n</p><p>te</p><p>rn</p><p>ac</p><p>io</p><p>n</p><p>ai</p><p>s</p><p>146146146146146</p><p>física, ou seja, as interações dentro desse campo certamente são diferentes de</p><p>fora dele. Mas, afinal, o que é uma estrutura? Estrutura refere-se a algo que limite</p><p>os resultados a uma dada fronteira. Por exemplo, os órgãos são estruturas do</p><p>corpo humano, portanto, diante de mudanças de temperatura drásticas, o corpo</p><p>procura compensar e limitar os resultados dos impactos exógenos por meio de</p><p>mecanismos, como tremer para compensar o frio ou suar para compensar o calor.</p><p>Em política internacional, Waltz refere-se à estrutura como uma agência de situa-</p><p>ções limitantes. Nesse sentido, a estrutura estrutura estrutura estrutura estrutura designa um conjunto de condições</p><p>que constrangem os resultados da política internacional a uma</p><p>dada fronteira. As</p><p>estruturas são causas em política internacional, mas não de forma direta e, sim,</p><p>indireta, por meio de duas formas:6</p><p>a. Socialização dos atores.</p><p>b. Competição entre os atores.</p><p>A convivência social dos atores da política internacional, os Estados, assim</p><p>como das pessoas em sociedade, produz certas normas de comportamento que vão</p><p>limitando e moldando o comportamento esperado por parte desses atores. A estru-</p><p>tura por meio da socialização compele os Estados a evitar determinados compor-</p><p>tamentos, mas, tal como em grupos sociais, pode haver ‘rebeldes’. Entretanto,</p><p>esses rebeldes serão punidos socialmente, de forma que ou eles voltam a se com-</p><p>portar de forma socialmente aceitável ou serão eventualmente expulsos do grupo.</p><p>Do mesmo modo que a socialização empurra os atores a reagir de uma certa forma</p><p>padronizada, a competição também trabalha nesse sentido. Como na teoria eco-</p><p>nômica da firma, os Estados competem para sobreviver no sistema internacional, o</p><p>que os leva a se comportar de maneira racional, da mesma forma que a teoria</p><p>econômica prevê que a firma seja uma unidade maximizadora da utilidade e,</p><p>portanto, é o elemento estrutural da competição que a leva a baratear seus custos,</p><p>aperfeiçoar seus processos etc. Nas relações internacionais, a competição leva os</p><p>Estados a proceder racionalmente, de forma que apenas aqueles mais bem-adapta-</p><p>dos sobrevivem no sistema internacional.</p><p>Waltz7 diz que a estrutura é determinada pela forma como as partes se arranjam</p><p>(se posicionam), ou seja, a posição dos Estados uns em relação aos outros no sistema</p><p>internacional é mais importante que as características intrínsecas de cada um deles,</p><p>como seu regime político ou a qualidade de sua liderança. Dessa forma, as mudanças</p><p>estruturais são apenas as que afetam a forma como as partes se arranjam.8</p><p>6 WALTZ, op. cit., p. 70-74.</p><p>7 Ibid., p. 80.</p><p>8 Veja adiante o princípio de ordenamento.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06146</p><p>12</p><p>N</p><p>eo</p><p>-R</p><p>ea</p><p>lis</p><p>m</p><p>o</p><p>147147147147147</p><p>O sistema internacional é estabelecido em termos de sua estrutura, ou seja, a</p><p>regra de posicionamento das unidades umas em relação às outras mais o padrão de</p><p>relacionamento entre as unidades.</p><p>As estruturas domésticas são definidas como hierárquicas, porque as institui-</p><p>ções se relacionam entre si, mas se submetem a um poder central. O princípio deprincípio deprincípio deprincípio deprincípio de</p><p>ordenamentoordenamentoordenamentoordenamentoordenamento estabelece quais as regras básicas dos relacionamentos entre as</p><p>instituições do poder, colocando atribuições exclusivas aos poderes executivo,</p><p>legislativo e judiciário, de forma que todo o ordenamento interno de um Estado é</p><p>definido em torno de “quem manda em quê”. Em termos internacionais, o princí-</p><p>pio de ordenamento nos diz que o sistema internacional é anárquico, porque não</p><p>há uma regra que defina que alguma instituição ou Estado seja superior ao outro e,</p><p>por isso, essa condição de igualdade entre as unidades do sistema internacional</p><p>implica que “ninguém manda em ninguém” na política internacional.</p><p>É importante notar que o posicionamento das unidades não é determinado</p><p>somente pelo princípio do ordenamento, mas também pelas capacidades relati-capacidades relati-capacidades relati-capacidades relati-capacidades relati-</p><p>vasvasvasvasvas das unidades, entendidas como aquilo que elas podem ou não fazer em</p><p>termos da política internacional. As capacidades em termos waltzianos equiva-</p><p>lem ao poder descrito em outras teorias tradicionais, como o Realismo. No en-</p><p>tanto, o foco nas capacidades relativas implica estudar quanto ‘poder’ um país</p><p>tem em comparação ao outro. Portanto, a capacidade militar norte-americana</p><p>pode ser maior que a capacidade militar brasileira que, por sua vez, é maior que</p><p>a capacidade militar uruguaia.</p><p>As estruturas políticas internacionais são definidas pelos seguintes termos:</p><p>1. Princípio de ordenamento: Sistemas domésticos são centralizados e hi-</p><p>erárquicos. O sistema internacional é descentralizado e anárquico. A</p><p>anarquia internacional tem o seu paralelo no conceito de mercado em</p><p>economia, ou seja, é o interesse egoístico e competitivo das unidades</p><p>que, pelo racionalismo, faz com que o sistema funcione. Logicamente,</p><p>as unidades são guiadas pelo instinto de sobrevivência. A sobrevivên-</p><p>cia é um pré-requisito de unidades racionais, mas, uma vez alcançada,</p><p>os objetivos dos Estados podem variar até o ponto de buscar a elimina-</p><p>ção de outras unidades. As mudanças no princípio de ordenamento são</p><p>apenas as de ordem anárquica para hierárquica. E só as desse tipo são</p><p>consideradas mudanças estruturais.</p><p>2. Características das unidades (diferenciação funcional): Em termos do-</p><p>mésticos, as instituições são diferenciadas. Quer dizer, cada instituição</p><p>tem um papel delimitado e há uma relação de subordinação entre as</p><p>partes do sistema doméstico. Já em termos de política internacional, os</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06147</p><p>T</p><p>eo</p><p>ri</p><p>as</p><p>d</p><p>e</p><p>R</p><p>el</p><p>aç</p><p>õ</p><p>es</p><p>I</p><p>n</p><p>te</p><p>rn</p><p>ac</p><p>io</p><p>n</p><p>ai</p><p>s</p><p>148148148148148</p><p>Estados são unidades não diferenciadas entre si. As unidades básicas</p><p>do sistema internacional são os Estados que executam as mesmas fun-</p><p>ções de economia, segurança, educação etc.; portanto, o sentido da</p><p>ausência de diferenciação é dado em termos funcionais.</p><p>Para Waltz,9 existem atores não-estatais na política internacional. No entan-</p><p>to, eles são não relevantes para a sua compreensão porque não podem alterar a</p><p>estrutura internacional. Ou seja, a estrutura é definida pelos grandes atores e não</p><p>pelos pequenos. Analogamente, na economia, as pequenas empresas seguem as</p><p>regras do mercado, enquanto os oligopólios determinam o seu comportamento.</p><p>Ainda assim, poderia ser argumentado que as grandes corporações internacionais</p><p>são várias vezes maiores que a maior parte dos Estados pequenos. Entretanto, a</p><p>resposta neo-realista é que, em primeiro lugar, essas empresas não possuem exér-</p><p>citos que defendam os seus cidadãos; em segundo lugar, as empresas dependem</p><p>de ordens jurídicas estabelecidas pelos Estados e, finalmente, as pessoas não são</p><p>fiéis às empresas e, sim, a seus países.</p><p>Além disso, é importante dizer que os Estados têm a característica de ser</p><p>soberanos, significando que eles decidem por si só como lidar com os seus proble-</p><p>mas internos e externos, incluindo a decisão de procurar ou não ajuda externa.10</p><p>3. Distribuição das capacidades: Como notado nas características das uni-</p><p>dades, os Estados não têm diferenças funcionais entre si e isso caracte-</p><p>riza a anarquia do sistema internacional. Assim, a diferença entre as</p><p>unidades do sistema internacional é dada por variações na capacidade</p><p>de executar as funções similares como defesa, política econômica, pro-</p><p>vimento de serviços de educação e saúde etc. Em termos da política</p><p>internacional, as capacidades entre os Estados devem ser analisadas</p><p>comparativamente (a capacidade relativa), especialmente quando lida-</p><p>mos com a questão de segurança internacional. Isso porque, em um</p><p>sistema no qual o objetivo básico das unidades são a sobrevivência e a</p><p>manutenção de sua posição na estrutura internacional, o elemento da</p><p>capacidade de prover segurança deve ser visto em termos comparati-</p><p>vos com os outros Estados, que podem ameaçar a sua segurança. Nesse</p><p>sentido, as capacidades em relação à segurança devem ser vistas em</p><p>termos da qualidade de liderança do exército, dos seus soldados, de seu</p><p>treinamento, da capacidade da indústria bélica ou de compra de equi-</p><p>pamento militar, da capacidade tecnológica de defesa das fronteiras</p><p>etc. Portanto, avaliar todos esses fatores de forma isolada não explica</p><p>9 WALTZ, op. cit., 1979, p. 93.</p><p>10 Ibid., p. 96.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06148</p><p>12</p><p>N</p><p>eo</p><p>-R</p><p>ea</p><p>lis</p><p>m</p><p>o</p><p>149149149149149</p><p>se, por exemplo, a Índia tem capacidade de se defender de ameaças do</p><p>Paquistão. É a capacidade relativa, essencialmente em termos de segu-</p><p>rança, o elemento central das relações entre os Estados.</p><p>As mudanças nas distribuições de capacidades são consideradas aquelas fei-</p><p>tas dentro do sistema, pois afetam a relação entre as unidades, mas</p><p>não as regras</p><p>de relacionamentos entre as unidades, que somente seriam modificadas em uma</p><p>mudança estrutural, dada pelo princípio de ordenamento, ou seja, uma mudança</p><p>de anarquia para hierarquia.</p><p>Em uma estrutura anárquica, o estado de natureza dos Estados é o da guerra,</p><p>visto que cada um retém a vontade soberana de decidir usar ou não a força em</p><p>relação aos outros Estados. Nesse sentido, os Estados são os únicos atores que detêm</p><p>o monopólio da legitimidade do uso da força, ou seja, os governos são os únicos que</p><p>têm a legitimidade para conter a violência doméstica pela força. Portanto, o tráfico</p><p>de drogas não tem legitimidade para ter armas e munições, enquanto a polícia não</p><p>só possui o monopólio da legitimidade de portar os armamentos, como também de</p><p>utilizá-los contra os traficantes. O mesmo vale para qualquer movimento guerrilhei-</p><p>ro que tenta derrubar a ordem estabelecida. Isso significa que movimentos terroris-</p><p>tas, guerrilheiros, máfias, traficantes e outros ‘vilões’ em geral são entes ilegítimos</p><p>no uso da força em uma ordem de Estados e que, por conseguinte, apenas Estados</p><p>têm legitimidade para usar a força uns contra os outros.</p><p>É importante notar que a anarquia, em termos internacionais, não equivale à</p><p>noção de baderna em termos domésticos. A anarquia internacional encontra o seu</p><p>paralelo em uma economia de mercado, na qual o efeito do mercado nas firmas é</p><p>o de auto-regulação, ou seja, não é o governo que determina a alta ou queda dos</p><p>preços em geral na economia nem cria ou quebra empresas. Na verdade, o efeito</p><p>da estrutura de mercado faz com que as firmas compitam entre si e, inclusive,</p><p>tenham de responder a choques exógenos, como bruscas mudanças de custos cau-</p><p>sadas por alterações de preços de matérias-primas.11</p><p>11 Suponha que haja uma crise de petróleo e o barril comece a subir de preço rapidamente.</p><p>O petróleo é matéria-prima básica para, por exemplo, produzir plástico, que é um dos</p><p>componentes do seu computador. Portanto, a alta do petróleo fará com que a estrutura de</p><p>custos na indústria de computadores seja alterada, e as empresas do setor terão de se</p><p>adaptar a esse choque exógeno, repassando o aumento de custos para o preço ou absorven-</p><p>do-o e, desse modo, consumindo a sua margem. Essa decisão será feita em paralelo àquela</p><p>das outras empresas no mercado e poderá determinar quem sobreviverá e quem morrerá no</p><p>curto e médio prazos. Da mesma forma, a ordem anárquica, por meio da socialização e</p><p>competição, fará com que os Estados busquem dar respostas a choques exógenos como,</p><p>por exemplo, uma onda de ataques terroristas causada por grupos islâmicos radicais.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06149</p><p>T</p><p>eo</p><p>ri</p><p>as</p><p>d</p><p>e</p><p>R</p><p>el</p><p>aç</p><p>õ</p><p>es</p><p>I</p><p>n</p><p>te</p><p>rn</p><p>ac</p><p>io</p><p>n</p><p>ai</p><p>s</p><p>150150150150150</p><p>Finalmente, Waltz12 aborda a questão do balanço de poder dentro do contexto</p><p>de sua teoria neo-realista. Para ele, o balanço do poder parte da premissa de que</p><p>os Estados são unidades que, no mínimo, desejam preservar a si próprios e, no</p><p>máximo, pretendem dominar o universo. Em função desses objetivos, os Estados</p><p>utilizam meios internos para alcançá-los, como estratégias de aumento da força</p><p>militar ou econômica, e meios externos, como tentativas de aumentar o número</p><p>de Estados em sua aliança ou diminuir a aliança de um Estado opositor.</p><p>Por conseguinte, em um sistema competitivo, os Estados tendem, ao olhar para</p><p>as capacidades relativas e para o seu objetivo mínimo de sobrevivência, a buscar</p><p>equiparar minimamente as suas capacidades com as dos outros Estados, especial-</p><p>mente em relação à segurança, porque as capacidades desiguais nesse setor devem</p><p>originar Estados mais fracos. Com o constante medo de ser atacado e destruído pelo</p><p>Estado mais forte, o mais fraco sempre buscará balancear o poder do mais forte na</p><p>tentativa de criar uma condição de equilíbrio de poder.</p><p>Esse mecanismo de auto-regulação também ocorre na economia quando, em</p><p>mercados oligopolísticos, as grandes empresas lutam para, no mínimo, preservar</p><p>suas participações de mercado e, no máximo, aumentá-las. Isso implica a dimi-</p><p>nuição da participação de algumas das outras grandes empresas. Para tanto, as</p><p>empresas utilizam estratégias de preços, lançamentos e marketing na tentativa de</p><p>satisfazer os seus objetivos.</p><p>Os requisitos para que haja balanço de poder são uma ordem anárquica e as</p><p>unidades que desejem, no mínimo, sobreviver. Nesse sentido, a primeira preocupação</p><p>dos Estados não seria a de maximizar o seu poder e, sim, garantir a sua posição no</p><p>sistema internacional e é por isso que, essencialmente, os Estados se ‘balanceiam’.</p><p>No entanto, Waltz13 mostra que, ao contrário do explicado pelo Realismo, os Estados</p><p>não se balanceiam automaticamente, pois eles também podem exibir um comporta-</p><p>mento de grupo (bandwagobandwagobandwagobandwagobandwagonnnnn). Ou seja, no momento em que fica caracterizado que</p><p>um Estado é líder, mesmo que regional, todos os outros tendem a segui-lo, porque eles</p><p>podem querer (assim como as pessoas) estar próximos dos ganhadores. Na competição</p><p>pela liderança, bandwagon é um importante componente da formação da coalizão</p><p>em torno do líder. Em termos do Realismo Moderno, deveria haver um balanço de</p><p>poder entre todos os Estados vizinhos. Mas será que o Canadá ou o México balancei-</p><p>am o poder com os Estados Unidos? Certamente esses Estados seguem os Estados</p><p>Unidos como líder, fortalecendo sua posição como tal. Da mesma forma, é mais</p><p>12 WALTZ, op. cit., p. 116-123.</p><p>13 Ibid., p. 125-126.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06150</p><p>12</p><p>N</p><p>eo</p><p>-R</p><p>ea</p><p>lis</p><p>m</p><p>o</p><p>151151151151151</p><p>provável que vários Estados sul-americanos, como a Venezuela, o Uruguai e o Paraguai,</p><p>sigam a liderança brasileira, em vez de balancear o poder com o Brasil.</p><p>O balanço de poder e bandwagon parecem, nesse sentido, como comportamen-</p><p>tos contraditórios, e a determinação do comportamento do Estado em relação a essas</p><p>duas estratégias é dada pela estrutura internacional. Isso quer dizer que, no caso de</p><p>duas coalizões fortes, os Estados tenderão a se agrupar em torno dos pólos. Os Estados</p><p>secundários devem se engajar em balanço de poder apenas quando fizerem parte de</p><p>coalizões diferentes. Em um mundo multipolar, há uma tendência de agrupamento em</p><p>torno de vários pólos que vão se balancear entre si. E, finalmente, em um mundo</p><p>unipolar, os Estados tendem a se balancear entre si, buscando diminuir a força da</p><p>grande potência mundial, uma vez que a preocupação primária desses Estados é ga-</p><p>rantir sua posição no sistema internacional, em vez de buscar maximizar o poder.</p><p>Apesar de o tema da segurança ser fundamental nas relações entre os Estados,</p><p>para Waltz14 o poder é medido ou traduzido pelas capacidades conjugadas que os</p><p>Estados têm em seus setores políticos, econômicos e militares. Deve-se observar</p><p>que a combinação delas mostra quanto um Estado é poderoso. Ou seja, a capaci-</p><p>dade econômica de um Estado é um componente importante de seu poder, portan-</p><p>to, um Estado realmente poderoso não pode ser caracterizado como tal apenas em</p><p>função de sua força militar e bélica.</p><p>De acordo com Waltz,15 as condições para a manutenção da estabilidade do</p><p>sistema internacional são dadas enquanto o sistema permanece anárquico e quan-</p><p>do não há uma diferença no número de unidades que cause a expectativa de uma</p><p>mudança estrutural. A anarquia é uma condição de estabilidade, pois significa</p><p>uma ordem de Estados. Essa condição está intimamente ligada ao número de uni-</p><p>dades no sistema, ou seja, as grandes variações no número de Estados, tanto para</p><p>mais como para menos, significam a integração e a desintegração deles e, portan-</p><p>to, essas situações vão compelir os Estados a buscar, de todas as formas, continuar</p><p>existindo como tais no sistema internacional.</p><p>Quando comparamos os sistemas unipolares, bipolares e multipolares, qual o</p><p>sistema mais estável? Segundo Waltz,16 o sistema bipolar é mais estável que os</p><p>outros, pois é preciso dois países para haver balanceamento de poder (duopólio).</p><p>Mais de dois pólos implica várias partes tentando barganhar, trazendo instabilida-</p><p>de para o sistema (distúrbio no balanço de</p><p>poder), enquanto apenas uma parte</p><p>indica que outros Estados tentarão diminuir o poder da grande potência pelo temor</p><p>14 WALTZ, op. cit., p. 130.</p><p>15 Ibid, p.161-162.</p><p>16 Id., p. 163.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06151</p><p>T</p><p>eo</p><p>ri</p><p>as</p><p>d</p><p>e</p><p>R</p><p>el</p><p>aç</p><p>õ</p><p>es</p><p>I</p><p>n</p><p>te</p><p>rn</p><p>ac</p><p>io</p><p>n</p><p>ai</p><p>s</p><p>152152152152152</p><p>de que uma ordem unipolar signifique a diminuição de suas soberanias em relação</p><p>à grande potência.</p><p>O Neo-Realismo e a política mundial</p><p>O trabalho de Waltz teve um profundo impacto na academia de relações</p><p>internacionais na década de 1980 e por muito tempo a teoria passou a ser conside-</p><p>rada o mainstream17 das Relações Internacionais. Ainda hoje, boa parte dos acadê-</p><p>micos, especialmente nos Estados Unidos, mas bem menos na Europa, adota a</p><p>teoria como base de seus pensamentos sobre as relações internacionais.</p><p>A maior parte dos teóricos, inclusive não neo-realistas, tende a reconhecer a</p><p>eficiência da teoria em explicar as relações internacionais em grande parte da era</p><p>westfaliana dos Estados modernos, especialmente no período de 1648 a 1945.18 Na</p><p>verdade, grande parte da academia adere à teoria exatamente em função de sua</p><p>atratividade para explicar o contexto da Guerra Fria e, portanto, o período de 1945 a</p><p>1990. Durante a década de 1980, a teoria apenas rivalizou com o Neoliberalismo</p><p>(veja o próximo capítulo), e boa parte do debate teórico entre essas correntes ficou</p><p>restrita a parâmetros muito mais estreitos do que os seus nomes nos levariam a pensar</p><p>(veja o Capítulo 14). Por fim, o período pós-Guerra Fria viu a eclosão de diversas</p><p>teorias e a própria relevância do Neo-Realismo para explicar a política internacional</p><p>nesse período contemporâneo, que passou a ser mais duramente questionado. Cabe</p><p>aqui refletir sobre a importância dessa teoria, especialmente até o final da Guerra</p><p>Fria, deixando a discussão de sua relevância contemporânea para o Capítulo 18.</p><p>Em primeiro lugar, devemos nos ater a compreender mais detalhadamente a</p><p>diferenciação entre o Realismo Clássico-Moderno e o Neo-Realismo. O Realismo</p><p>está largamente baseado na idéia de que (a) os Estados são a unidade básica das</p><p>relações internacionais, (b) os Estados querem poder, seja como meio de sobrevi-</p><p>vência, seja como forma de alcançar outros objetivos de dominação, e (c) os</p><p>Estados comportam-se racionalmente. A grande atratividade do Realismo, histori-</p><p>camente, é sua fácil aplicação, ou seja, a análise do poder dos outros Estados nos</p><p>dá a exata dimensão de suas intenções. Assim, se um Estado vizinho tem um</p><p>crescente poder econômico e militar, devo interpretar isso como ameaça e, por-</p><p>tanto, irei buscar balancear o poder dele, de modo a dissuadi-lo de eventuais</p><p>intenções hostis. Dessa forma, também não é surpresa que o trabalho de Morgenthau,</p><p>17 O mainstream é a corrente teórica dominante em qualquer campo do conhecimento.</p><p>18 SCHROEDER, P. Historical reality vs. neo-realist theory. International Security, v. 19, n. 1,</p><p>p. 108-148, verão de 1994.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06152</p><p>12</p><p>N</p><p>eo</p><p>-R</p><p>ea</p><p>lis</p><p>m</p><p>o</p><p>153153153153153</p><p>complementado em termos práticos por George F. Kennan19 e Henry Kissinger,20</p><p>tenha reorientado a política externa norte-americana para lidar com os efeitos da</p><p>Guerra Fria, especialmente de meados da década de 1950 até meados da de 1970.</p><p>O Neo-Realismo não diverge fundamentalmente dos cânones realistas, mas</p><p>acaba por desvirtuá-los. De fato, os Estados são apontados como as unidades</p><p>fundamentais das relações internacionais, mas, olhando por uma perspectiva</p><p>histórica, por que determinados comportamentos dos Estados se repetem? Os</p><p>realistas, no geral, diriam que é em função da premissa da racionalidade do</p><p>comportamento estatal. Entretanto, Waltz não discorda de que os Estados se</p><p>comportem racionalmente, mas apenas que, ao fazer isso, eles devem levar em</p><p>consideração o comportamento dos outros Estados e, assim, a forma como eles</p><p>se relacionam tem profunda influência sobre o comportamento de cada unidade</p><p>do sistema internacional. Portanto, a diferença fundamental entre o Realismo e</p><p>o Neo-Realismo está na questão do nível de análise, na qual o Realismo atribui</p><p>os resultados das relações internacionais ao comportamento individual dos Esta-</p><p>dos, enquanto o Neo-Realismo atribui esses resultados à estrutura do sistema</p><p>internacional.</p><p>Essa diferença fundamental vai se repetir também na definição do conceito</p><p>de balanço de poder, ao passo que, para Morgenthau, os Estados automaticamente</p><p>se balanceiam. Para Waltz, os Estados podem tanto balancear o poder quanto</p><p>buscar uma estratégia de bandwagon. Qual comportamento o Estado vai perseguir</p><p>dependerá da estrutura internacional e, mais especificamente, de sua posição dentro</p><p>dessa estrutura. Dessa forma, é claro que, durante a Guerra Fria, os Estados Unidos</p><p>e a ex-URSS balanceavam poder da mesma forma que Israel balanceava poder</p><p>com o Egito. No entanto, dentro do contexto da Guerra Fria, é impossível entender</p><p>o conflito local e limitado fora do jogo político mundial bipolar, no qual as grandes</p><p>potências tinham uma relação de ‘patrão’ com as potências locais, que eram suas</p><p>‘clientes’. Ou seja, Israel e Egito também fizeram bandwagon porque a estrutura</p><p>internacional assim impunha, e essa relação patrão-cliente e balanço de poder/</p><p>bandwagon é fundamental para compreender o Oriente Médio, especialmente em</p><p>relação à chamada Guerra do Atrito de 1969/70 e a Guerra de Yom Kippur, em</p><p>outubro de 1973.21</p><p>19 Veja KENNAN, G. F. The source of soviet conduct. Foreign affairs, julho de 1947, p. 566-</p><p>582.</p><p>20 Veja KISSINGER, H. Nuclear weapons and foreign policy. Nova York: Harper, 1957.</p><p>21 Veja a belíssima análise da questão de conflito limitado e relação patrão-cliente em BAR-</p><p>SIMAN-TOV, Yaacov. The israeli-egyptian war of attrition 1969-1970: A case study of</p><p>limited local war. Nova York: Columbia University Press, 1980.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06153</p><p>T</p><p>eo</p><p>ri</p><p>as</p><p>d</p><p>e</p><p>R</p><p>el</p><p>aç</p><p>õ</p><p>es</p><p>I</p><p>n</p><p>te</p><p>rn</p><p>ac</p><p>io</p><p>n</p><p>ai</p><p>s</p><p>154154154154154</p><p>Em termos neo-realistas, a análise das relações internacionais estaria basica-</p><p>mente centrada no chamado terceiro eixo da distribuição do poder, uma vez que</p><p>os outros eixos (princípio de ordenamento e diferenciação funcional das unidades)</p><p>não apresentam diferenças, pois desde 1648 poderíamos dizer que o sistema é</p><p>anárquico e que as unidades não se diferenciam funcionalmente.22 Dessa forma, o</p><p>terceiro eixo nos fornece uma “foto da posição” das unidades umas em relação às</p><p>outras e, conseqüentemente, as mudanças-chave nas relações são aquelas nas</p><p>distribuições de capacidades entre as unidades.</p><p>O Neo-Realismo possui uma forte estrutura teórica e uma legião de adeptos,</p><p>portanto, é inevitável que a construção das teorias de Relações Internacionais,</p><p>após a publicação de Theory of international politics, tenha, de alguma forma, de</p><p>apoiar, modificar, criticar ou desconstruir as idéias neo-realistas.</p><p>Leitura Indicada do Capítulo</p><p>WALTZ, K. Theory of international politics. Reading: Addison-Wesley, 1979. Capí-</p><p>tulos 2 a 5.</p><p>Leitura Complementar</p><p>KEOHANE, R. Neorealism and its critics. Nova York: Columbia University Press,</p><p>1986.</p><p>SCHROEDER, P. Historical reality vs. neo-realist theory. International Security, v.</p><p>19, n. 1, p. 108-148, verão de 1994.</p><p>22 KEOHANE, R. Neorealism and its critics. Nova York: Columbia University Press, 1986,</p><p>p. 14.</p><p>cap12.pmd 28/02/2011, 19:06154</p><p>Parte I - O UNIVERSO CLÁSSICO DAS TEORIAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS</p><p>12 Neo-Realismo</p>