Prévia do material em texto
<p>ANATOMOFISIOLOGIA DOS</p><p>SISTEMAS BIOQUÍMICOS E</p><p>CELULARES</p><p>AULA 3</p><p>Prof.ª Patrícia Carla de Oliveira</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>O sistema imunológico é constituído por diferentes tipos de moléculas,</p><p>células, tecidos e órgãos, com a capacidade de reconhecer e gerar uma resposta</p><p>contra todo e qualquer antígeno externo, seja ele uma partícula alergênica, seja</p><p>um microrganismo patogênico. Células cancerosas também são reconhecidas e</p><p>eliminadas por esse sistema de defesa, sendo a especificidade e a capacidade</p><p>de memória duas características marcantes do sistema imune.</p><p>Desenvolveremos, nesta abordagem, o entendimento a respeito do</p><p>funcionamento do sistema imunológico, de forma a alcançar os objetivos abaixo:</p><p>• compreender o mecanismo de formação das células sanguíneas por meio</p><p>da hematopoiese;</p><p>• identificar o espasmo muscular, a formação do tampão plaquetário e o</p><p>processo de coagulação sanguínea como importantes mecanismos</p><p>responsáveis por impedir a hemorragia quando pequenos vasos</p><p>sanguíneos são lesados;</p><p>• discorrer sobre a formação da linfa a partir do líquido intersticial filtrado</p><p>para os vasos linfáticos e sua posterior drenagem para a corrente</p><p>sanguínea;</p><p>• caracterizar a imunidade inata e a imunidade adaptativa e a importância</p><p>do sistema imune na defesa contra agentes infecciosos e estranhos ao</p><p>organismo.</p><p>TEMA 1 – HEMATOPOIESE</p><p>A hematopoiese é o processo pelo qual as células sanguíneas (elementos</p><p>figurados do sangue) se formam na medula óssea vermelha presente no tecido</p><p>ósseo esponjoso de alguns ossos do corpo, como os do quadril, costelas,</p><p>esterno, coluna vertebral e extremidades dos ossos longos. Nestes locais, as</p><p>células presentes na medula óssea possuem a capacidade de se diferenciar em</p><p>diversos tipos celulares, como hemácias, leucócitos e plaquetas. Por essa razão,</p><p>são denominadas células-tronco pluripotentes.</p><p>As células-tronco pluripotentes respondem a estímulos hormonais e</p><p>geram outros dois tipos de células-tronco: as células-tronco mieloides e as</p><p>células-tronco linfoides. Células-tronco mieloides darão origem às hemácias,</p><p>3</p><p>plaquetas, basófilos, eosinófilos, neutrófilos e monócitos, enquanto as células-</p><p>tronco linfoides originam os linfócitos B e T (Figura 1).</p><p>Figura 1 – Hematopoiese</p><p>Créditos: Designua/Shutterstock.</p><p>A produção dos eritrócitos é denominada eritropoiese e acontece a uma</p><p>taxa de aproximadamente 2 milhões de células por segundo. Nesse processo,</p><p>um precursor celular perde seu núcleo antes de adentrar a corrente sanguínea</p><p>e passa a se chamar reticulócito, terminando seu desenvolvimento em hemácia</p><p>cerca de 1 a 2 dias depois.</p><p>A membrana celular das hemácias vai se desgastando, visto que essas</p><p>células se comprimem nos vasos sanguíneos em meio à circulação do sangue</p><p>e, por esse motivo, seu tempo médio de vida é de 120 dias. Macrófagos do baço,</p><p>fígado e medula óssea fagocitam hemácias desgastadas e separam as porções</p><p>heme e globina da hemoglobina, onde a proteína globina é decomposta em</p><p>aminoácidos para posterior utilização na síntese proteica, enquanto o ferro da</p><p>4</p><p>porção heme se associa com a transferrina e volta à medula óssea para</p><p>fabricação de nova hemoglobina.</p><p>Quanto maior a quantidade de glóbulos vermelhos no sangue, maior a</p><p>oxigenação tecidual e os rins exercem uma importante função no controle da</p><p>produção dessas células. Quando a taxa de eritropoiese está baixa devido à</p><p>anemia, por exemplo, a menor oxigenação é reconhecida nos rins e estes</p><p>produzem o hormônio eritropoietina (EPO) que é transportado até a medula</p><p>óssea para estimular a produção de novos eritrócitos.</p><p>Em relação à produção dos glóbulos brancos, cada tipo de leucócito está</p><p>adaptado a um determinado tipo de defesa contra agentes estranhos (Figura 2).</p><p>Como existe constante contato do organismo com antígenos por meio da boca,</p><p>nariz e pele, o ciclo de vida da maioria dos leucócitos é de apenas alguns dias,</p><p>ou até de algumas horas, dependendo da infecção.</p><p>Figura 2 – Funções dos leucócitos</p><p>Tipo Grupo Função Aparência</p><p>microscópica</p><p>Neutrófilos</p><p>Granulócitos</p><p>Fagocitose para destruição de</p><p>bactérias</p><p>Eosinófilos Defesa contra vermes, parasitas e</p><p>reações alérgicas</p><p>Basófilos Liberação de histamina e heparina</p><p>em reações alérgicas</p><p>Linfócitos</p><p>Agranulócitos</p><p>Células B: produção de anticorpos</p><p>Células T: defesa contra vírus</p><p>Monócitos</p><p>Diferenciação em macrófagos para</p><p>realizar fagocitose</p><p>Créditos: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock.</p><p>5</p><p>A produção das plaquetas se dá através da diferenciação de algumas</p><p>células mieloides em megacarioblastos, que, por sua vez, se desenvolvem em</p><p>megacariócitos. Estes se dividem em fragmentos na medula óssea vermelha e</p><p>são envelopados pela membrana plasmática do megacariócito antes de serem</p><p>liberados para a corrente sanguínea. As plaquetas têm um ciclo de vida que varia</p><p>entre 5 a 7 dias e são fagocitadas por macrófagos no baço e fígado.</p><p>TEMA 2 – HEMOSTASIA</p><p>A hemorragia de pequenos vasos sanguíneos pode ser impedida por meio</p><p>de uma sequência de respostas rápidas, locais e cuidadosamente controladas</p><p>denominadas hemostasia. O espasmo vascular é uma dessas respostas e</p><p>consiste na contração da musculatura lisa do vaso sanguíneo danificado, o que</p><p>reduz a perda de sangue por alguns minutos a algumas horas. Inicialmente</p><p>acontece por reflexo dos receptores de dor e à medida que as plaquetas se</p><p>acumulam no local, liberam substâncias que intensificam a vasoconstrição.</p><p>Além de diminuir o fluxo sanguíneo no vaso danificado, as plaquetas se</p><p>aderem no local e a formação do tampão plaquetário diminui a falha na parede</p><p>do vaso sanguíneo, interrompendo a perda de sangue.</p><p>Todavia, ao sair do corpo, o sangue sofre coagulação, processo</p><p>caracterizado pela formação de um coágulo composto por fibras insolúveis e</p><p>proteicas chamadas de fibrina, que aprisiona os elementos figurados do sangue</p><p>(Figura 3). Essa fibrina se separa da porção líquida amarelada chamada soro,</p><p>composta pelo plasma sanguíneo sem as proteínas de coagulação. Para que</p><p>isso aconteça, é necessária uma sequência de reações químicas, que</p><p>dependem de fatores de coagulação, como o Ca2+, enzimas produzidas no</p><p>fígado e moléculas associadas às plaquetas.</p><p>A lesão do vaso sanguíneo estimula a liberação da enzima protrombinase,</p><p>que converte a proteína hepática protrombina na enzima trombina. A trombina,</p><p>por sua vez, converte a proteína hepática fibrinogênio em fibrina insolúvel,</p><p>responsável pela formação dos filamentos do coágulo citados anteriormente.</p><p>Uma vez formado, o coágulo tampona o local da lesão e impede a perda</p><p>sanguínea. Na sequência, os fibroblastos formam um novo tecido conjuntivo e</p><p>novas células epiteliais reparam o revestimento do vaso.</p><p>6</p><p>Figura 3 – Hemostasia</p><p>Créditos: Designua/Shutterstock.</p><p>Quando coágulos sanguíneos se formam em vasos intactos, a enzima</p><p>hepática fibrinogênio é incorporada a esse coágulo, se transforma em plasmina</p><p>e dissolve o coágulo, digerindo os filamentos de fibrina, um processo</p><p>denominado fibrinólise. Vários fatores contribuem para a formação de coágulos</p><p>dentro dos vasos sanguíneos, como aterosclerose, traumas ou infecções. Nesse</p><p>caso, a coagulação no vaso é chamada trombose e o coágulo é denominado</p><p>trombo, que pode se dissolver pela fibrinólise ou se locomover pelo sangue,</p><p>aumentando o risco de acidente vascular encefálico, insuficiência renal e infarto</p><p>quando bloqueia o fluxo sanguíneo e, consequentemente, impede a oxigenação</p><p>nos tecidos cerebral, renal e cardíaco, respectivamente.</p><p>7</p><p>TEMA 3 – CIRCULAÇÃO LINFÁTICA</p><p>Todos os dias, cerca de 20 litros de líquidos são filtrados dos capilares</p><p>sanguíneos em direção aos espaços entre as células de todos os tecidos</p><p>corporais. Por esse motivo, esse líquido é denominado líquido intersticial e, ao</p><p>ser direcionado aos capilares linfáticos, passa a</p><p>se chamar linfa. A linfa é</p><p>responsável pela drenagem de aproximadamente 3 litros de líquidos de volta ao</p><p>sangue (Figura 4), sendo o retorno restante de competência dos próprios</p><p>capilares sanguíneos.</p><p>Essa atividade de drenagem do líquido intersticial contribui para a</p><p>manutenção do equilíbrio hídrico corporal e impede que as proteínas plasmáticas</p><p>vitais sejam perdidas. Além disso, os lipídeos e proteínas lipossolúveis do trato</p><p>gastrointestinal são transportadas pelos vasos linfáticos até o sangue, e como o</p><p>tecido linfático é rico em linfócitos, consegue iniciar respostas imunológicas</p><p>importantes contra microrganismos específicos ou células alteradas.</p><p>Figura 4 – Circulação linfática</p><p>Créditos: VectorMine/Shutterstock.</p><p>8</p><p>A passagem do líquido intersticial em direção aos capilares linfáticos se</p><p>dá quando a pressão é maior dentro do líquido intersticial e, por isso, as células</p><p>endoteliais dos capilares linfáticos se afastam levemente, permitindo a entrada</p><p>do líquido. Entretanto, quando a pressão é maior dentro da linfa, as mesmas</p><p>células endoteliais se aderem e não permitem a passagem do líquido de volta</p><p>aos tecidos, fato importante para que a drenagem seja eficiente.</p><p>Ao receberem a linfa, os capilares linfáticos a transportam para vasos</p><p>linfáticos maiores e estes, por sua vez, a encaminham em direção aos</p><p>linfonodos. Os linfonodos removem substâncias estranhas por meio da filtração,</p><p>fagocitose e reações imunes, permitindo que o transporte da linfa continue pelos</p><p>vasos linfáticos até os ductos linfáticos.</p><p>O ducto linfático torácico drena a linfa do lado esquerdo da cabeça, do</p><p>pescoço e do tórax, do membro superior esquerdo e do corpo inteiro abaixo das</p><p>costelas, descarregando a linfa na junção das veias jugular interna esquerda e</p><p>subclávia esquerda. Já o ducto linfático direito drena a linfa do lado superior</p><p>direito do corpo em direção à junção das veias jugular interna direita e subclávia</p><p>direita, retornando ao sangue.</p><p>Quando acontece alguma obstrução no sistema linfático, como um</p><p>linfonodo infectado ou vaso bloqueado, por exemplo, o acúmulo de líquido</p><p>intersticial nos espaços teciduais é chamado edema. O aumento da pressão</p><p>sanguínea e a ausência de contração muscular em indivíduos paralisados</p><p>também causam edema, pois nessas situações a velocidade de formação do</p><p>líquido intersticial é maior do que sua filtração para os capilares linfáticos.</p><p>TEMA 4 – IMUNIDADE INATA</p><p>A função fisiológica do sistema imune é a defesa contra microrganismos</p><p>infecciosos, substâncias estranhas não infecciosas e produtos de células</p><p>danificadas. Essa defesa é dividida em duas categorias principais de respostas</p><p>coordenadas e sequenciais denominadas imunidade natural (inata) e imunidade</p><p>adquirida (adaptativa).</p><p>A imunidade inata é essencial nas primeiras horas ou dias após a</p><p>infecção, antes que as respostas adaptativas tenham se desenvolvido, pois é</p><p>mediada por mecanismos que já existem antes da ocorrência de uma infecção e</p><p>facilita rápidas respostas contra invasores. Além disso, a imunidade inata é um</p><p>9</p><p>participante decisivo na eliminação de tecidos mortos e na iniciação do reparo</p><p>após o dano tecidual.</p><p>A imunidade inata é inespecífica e pode ser representada pelas barreiras</p><p>externas, como a pele e mucosas, bem como inflamação, febre, proteínas</p><p>antimicrobianas e alguns tipos de glóbulos brancos, que fazem parte das defesas</p><p>internas do corpo (Figura 5).</p><p>Figura 5 – Imunidade inata</p><p>Créditos: Ph-HY/Shutterstock.</p><p>A pele e as secreções mucosas que revestem as superfícies internas dos</p><p>sistemas respiratório, digestório e genital são consideradas barreiras físicas, pois</p><p>qualquer agente infeccioso que tente penetrar no corpo precisa atravessar essas</p><p>superfícies, na maioria das vezes impermeáveis aos microrganismos. Isso</p><p>explica por que cortes e arranhões que rompem essas barreiras são</p><p>frequentemente seguidos por infecção. O sebo produzido pelas glândulas</p><p>sebáceas e o pH baixo da pele também contribuem para a eliminação de</p><p>organismos patogênicos.</p><p>10</p><p>Pelos e cílios presentes nos epitélios de revestimento das cavidades</p><p>nasais e na traqueia conseguem reter poeira e microrganismos, que ficam presos</p><p>no muco e podem ser eliminados para fora do corpo. A tosse e o espirro</p><p>contribuem para a eliminação desses agentes, e a deglutição do muco permite</p><p>que o suco gástrico do estômago os destrua.</p><p>A enzima chamada lisozima está presente na lágrima, no suor, na saliva,</p><p>nas secreções nasais e líquidos corporais, sendo capaz de decompor a parede</p><p>celular de determinadas bactérias. A lágrima lava os olhos de substâncias</p><p>irritantes e infecciosas, enquanto a saliva lava a cavidade oral, reduzindo a</p><p>colonização da boca por microrganismos. Além disso, a acidez estomacal destrói</p><p>a maioria das toxinas bacterianas; a diarreia e o vômito são respostas</p><p>importantes quando o alimento ingerido está contaminado; o fluxo de urina limpa</p><p>a uretra, e as secreções vaginais impedem a proliferação de patógenos no</p><p>sistema genital feminino.</p><p>Algumas substâncias antimicrobianas são produzidas quando os</p><p>invasores conseguem ultrapassar as barreiras físicas e químicas citadas</p><p>anteriormente. Células infectadas por vírus, por exemplo, liberam interferons</p><p>(IFNs) capazes de estimular a produção de proteínas que inibem a replicação</p><p>viral; o sistema complemento é formado por proteínas que intensificam as</p><p>respostas imunes, alérgicas e inflamatórias; as proteínas de ligação de ferro</p><p>diminuem a disponibilidade desse mineral para o crescimento microbiano e</p><p>proteínas antimicrobianas (PAMs) são produzidas pelas glândulas sudoríparas,</p><p>neutrófilos, macrófagos e plaquetas para a destruição dos invasores.</p><p>Vale lembrar que o aumento da temperatura corporal no processo febril</p><p>intensifica a ação dos interferons, inibe o crescimento de alguns microrganismos</p><p>e acelera o processo de reparo. A próxima linha de defesa é representada por</p><p>tipos especiais de glóbulos brancos denominados fagócitos e células NK (natural</p><p>killer). Macrófagos e neutrófilos são as principais células fagocíticas e digerem</p><p>fragmentos microbianos em seu interior, enquanto as células NK são capazes</p><p>de destruir patógenos e células cancerosas.</p><p>Danos teciduais desencadeiam respostas do sistema imune conhecidas</p><p>como inflamação. Este processo tem início quando as histaminas liberadas por</p><p>mastócitos, basófilos e plaquetas, promovem a vasodilatação e consequente</p><p>aumento do fluxo sanguíneo no tecido danificado, além do aumento da</p><p>permeabilidade dos vasos sanguíneos, permitindo a chegada de substâncias de</p><p>11</p><p>defesa na região. Dessa forma, é possível entender que sintomas como calor e</p><p>vermelhidão são decorrentes da maior quantidade de sangue no local, o edema</p><p>se deve ao líquido que extravasa dos capilares sanguíneos e a dor é</p><p>consequência do aumento da pressão pelo edema e também da lesão de</p><p>neurônios por toxinas microbianas.</p><p>Na sequência, um coágulo é formado na região para aprisionar possíveis</p><p>microrganismos e células fagocíticas iniciam seu trabalho na degradação desses</p><p>organismos. O conjunto dessas estruturas forma o pus, que é drenado e</p><p>absorvido ao longo dos dias após o final da infecção.</p><p>TEMA 5 – IMUNIDADE ADAPTATIVA</p><p>A resposta imune adaptativa é mediada por células chamadas linfócitos e</p><p>seus produtos, os anticorpos. Os linfócitos B e T são os principais linfócitos</p><p>envolvidos na imunidade adaptativa aos antígenos, definidos como qualquer</p><p>partícula, substância ou organismo que o sistema de defesa reconheça como</p><p>estranho. Dessa forma, as propriedades do sistema imune adaptativo refletem</p><p>as propriedades dos linfócitos que medeiam essas respostas. São elas:</p><p>• especificidade e diversidade: respostas imunes são específicas para</p><p>antígenos distintos ou para diferentes porções deste, como uma proteína,</p><p>um polissacarídeo ou outra macromolécula;</p><p>• memória: as respostas a uma nova exposição</p><p>ao mesmo antígeno são</p><p>mais rápidas, de maior magnitude e, com frequência, quantitativamente</p><p>diferentes da primeira resposta imune (ou primária) àquele antígeno;</p><p>• autotolerância: o sistema imune de cada indivíduo normal é capaz de</p><p>reconhecer, responder e eliminar antígenos estranhos (não próprios)</p><p>enquanto não reage prejudicialmente aos antígenos do próprio indivíduo.</p><p>A imunidade adaptativa pode ser mediada por células e, por isso, é</p><p>conhecida como imunidade celular. Além das células B, esse tipo de imunidade</p><p>adaptativa conta com dois tipos de célula T: as células T citotóxicas, que matam</p><p>as células-alvo hospedeiras, e as células T auxiliares, que ajudam as células de</p><p>defesa tanto inatas quanto adaptativas. A imunidade mediada por células é</p><p>eficiente contra microrganismos intracelulares, células cancerosas e tecidos</p><p>transplantados.</p><p>12</p><p>A imunidade adaptativa também pode ser mediada por proteínas</p><p>denominadas anticorpos e, nesse caso, as células B se diferenciam em</p><p>plasmócitos e estes produzem e liberam os anticorpos. A imunidade mediada</p><p>por anticorpos atua contra patógenos extracelulares presentes nos fluidos</p><p>corporais como o sangue e a linfa. A Figura 6 representa os principais</p><p>componentes da imunidade adaptativa.</p><p>Figura 6 – Imunidade adaptativa</p><p>Créditos: Ph-HY/Shutterstock.</p><p>Como muitas cópias do antígeno costumam estar presentes no corpo</p><p>durante uma infecção, o reconhecimento de um antígeno por um linfócito</p><p>estimula a proliferação e a diferenciação dessas células, aumentando</p><p>acentuadamente o número de linfócitos capazes de reconhecer esse antígeno.</p><p>Esse processo é conhecido como expansão clonal e o aumento do número de</p><p>células de defesa possibilita uma resposta de memória se o mesmo antígeno for</p><p>novamente encontrado no futuro. É por esse motivo que as respostas imunes</p><p>adaptativas levam mais tempo para ter importância funcional, tipicamente 4 a 5</p><p>dias após a resposta imune inata.</p><p>13</p><p>Os anticorpos podem atacar os antígenos de diversas maneiras. Entre</p><p>elas destaca-se a neutralização do antígeno, quando a ligação de um anticorpo</p><p>ao seu antígeno específico neutraliza toxinas bacterianas e a fixação de vírus</p><p>nas células para posterior infecção. Além desse exemplo, os anticorpos podem</p><p>promover a aglutinação de antígenos que são fagocitados com mais eficiência</p><p>pelos fagócitos.</p><p>Neste momento, vale ressaltar a diferença entre a imunidade ativa e a</p><p>imunidade passiva. A imunidade ativa é aquela em que o organismo é estimulado</p><p>a produzir células de defesa e anticorpos e é dita natural quando, após a</p><p>exposição ao patógeno, as células de defesa sensibilizadas produzem memória</p><p>a esse antígeno. A imunidade ativa artificial, por sua vez, é promovida pelas</p><p>vacinas, que estimulam as respostas imunes mediadas por células e por</p><p>anticorpos, levando à produção de células de memória.</p><p>A imunidade passiva é aquela em que o corpo recebe os anticorpos</p><p>prontos naturalmente, no caso da passagem dessas proteínas da mãe para o</p><p>feto por meio da placenta e do leite materno, ou artificialmente, no caso das</p><p>injeções intravenosas de anticorpos em casos de infecção pela bactéria</p><p>causadora do tétano, por exemplo.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Nas doenças autoimunes, o sistema de defesa não apresenta</p><p>autotolerância e ataca os tecidos da própria pessoa. Geralmente, as doenças</p><p>autoimunes se manifestam no início da fase adulta e são mais frequentes em</p><p>mulheres do que em homens.</p><p>As células B e T autorreativas são deletadas ou inativadas durante um</p><p>processo de seleção que, aparentemente, não é 100% eficiente. A partir de</p><p>estímulos não totalmente conhecidos e de certos genes que tornam a pessoa</p><p>mais suscetível, a autotolerância se rompe e leva à ativação de células B e T</p><p>autorreativas. Essas células então geram respostas imunes mediadas por</p><p>células ou anticorpos contra os autoantígenos.</p><p>A partir dessas informações, pesquise as principais características e</p><p>possíveis tratamentos para as doenças autoimunes listadas abaixo.</p><p>• diabetes mellitus tipo 1;</p><p>• artrite reumatoide;</p><p>14</p><p>• lúpus eritematoso sistêmico;</p><p>• tireoidite de Hashimoto;</p><p>• doença de Crohn;</p><p>• alopecia areata.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Nesta abordagem, foram elucidados os principais mecanismos das</p><p>respostas imunológicas do corpo humano. Para isso, iniciamos com a</p><p>compreensão a respeito da produção dos elementos figurados do sangue: as</p><p>hemácias, os leucócitos e as plaquetas. A eritropoiese, produção dos eritrócitos</p><p>na medula óssea, normalmente ocorre na mesma velocidade em que essas</p><p>células são removidas da corrente sanguínea pelo baço, fígado e medula óssea</p><p>a cada 120 dias. Os leucócitos, por sua vez, têm um ciclo de vida bem mais curto</p><p>devido à sua especificidade na defesa contra antígenos.</p><p>A hemostasia compreende uma série de respostas, como o espasmo</p><p>vascular, a formação de um tampão plaquetário e a coagulação sanguínea, de</p><p>forma a impedir a perda de sangue quando pequenos vasos são danificados.</p><p>Para manter esse controle hemostático, a fibrinólise dissolve coágulos que</p><p>possam ser formados no interior de vasos não danificados.</p><p>De volta ao contexto do sistema imune, nosso corpo apresenta respostas</p><p>específicas de acordo com o tipo de antígeno encontrado pelas células de</p><p>defesa. Na imunidade inata, as barreiras físicas e químicas oferecidas pelo</p><p>organismo, apesar de inespecíficas, desencorajam partículas estranhas e</p><p>patógenos a entrarem e provocarem doenças.</p><p>Já na imunidade adaptativa, de caráter específico, compreende a</p><p>produção de células e anticorpos para a destruição de antígenos específicos,</p><p>apresentando como propriedades principais a especificidade e diversidade, a</p><p>memória e a autotolerância.</p><p>15</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABBAS, A. K. Imunologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Guanabara Koogan, 2019.</p><p>_____.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia básica: funções e distúrbios</p><p>do sistema imunológico. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.</p><p>AIRES, M. de M. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.</p><p>COICO, R.; SUNSHINE, G. Imunologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara</p><p>Koogan, 2010.</p><p>HALL, J. E.; HALL, M. E. Guyton & Hall: tratado de fisiologia médica. 14. ed. Rio</p><p>de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.</p><p>MOURÃO JR., C. A. Fisiologia humana. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara</p><p>Koogan, 2021.</p><p>TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 16.</p><p>ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2023.</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>TEMA 1 – HEMATOPOIESE</p><p>TEMA 2 – HEMOSTASIA</p><p>TEMA 3 – CIRCULAÇÃO LINFÁTICA</p><p>TEMA 4 – IMUNIDADE INATa</p><p>TEMA 5 – IMUNIDADE ADAPTATIVA</p><p>NA PRÁTICA</p><p>FINALIZANDO</p><p>REFERÊNCIAS</p>