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<p>A clínica psicanalítica</p><p>na atualidade</p><p>Prof.º Diogo Bonioli Alves Pereira</p><p>Descrição</p><p>A clínica psicanalítica na contemporaneidade diante dos novos</p><p>sofrimentos psíquicos, de uma infância pós-moderna, dos avanços das</p><p>pesquisas em neurociência e com a oferta massiva pela utilização dos</p><p>meios digitais como novo espaço de escuta clínica.</p><p>Propósito</p><p>A compreensão dos conceitos psicanalíticos para a sociedade atual,</p><p>com seus desafios, políticas e ética específicas permite a reflexão</p><p>crítica dos novos paradigmas e garante a sua aplicabilidade na clínica</p><p>contemporânea.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 1/57</p><p>Objetivos</p><p>Módulo 1</p><p>As novas manifestações do sofrimento</p><p>psíquico</p><p>Reconhecer os novos sofrimentos psíquicos da sociedade</p><p>contemporânea.</p><p>Módulo 2</p><p>A clínica psicanalítica com crianças</p><p>Analisar a forma da clínica psicanalítica com a criança pós-moderna.</p><p>Módulo 3</p><p>Psicanálise e neurociência</p><p>Identificar a associação dos conceitos psicanalíticos à neurociência.</p><p>Módulo 4</p><p>A utilização dos meios digitais</p><p>Analisar as possibilidades da clínica psicanalítica mediada pelos</p><p>meios digitais.</p><p></p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 2/57</p><p>Introdução</p><p>Tendo se passado vários anos após a criação da Psicanálise e</p><p>diante de diversas mudanças culturais e políticas, a Psicanálise é</p><p>(re)convocada a manter seus questionamentos acerca da</p><p>aplicabilidade de teorias na clínica com pessoas de seu tempo e</p><p>se suas concepções ainda conseguem explicar a dinâmica da</p><p>sociedade com seus inventivos próprios.</p><p>É de opinião comum aos psicanalistas que a topologia</p><p>(consciente, pré-consciente e inconsciente), o modelo estrutural</p><p>(ego, superego e id) e a psicodinâmica do inconsciente se</p><p>mantêm hígidos até hoje. No entanto, tal como a análise é</p><p>interminável, a constante dedicação aos estudos psicanalíticos e</p><p>suas aplicações às novas demandas humanas e sociais precisam</p><p>ser sempre revisitadas pelos psicanalistas para responder ao</p><p>sofrimento psíquico individual e coletivo.</p><p>Neste tema, reconheceremos os novos sofrimentos psíquicos da</p><p>nossa sociedade e apontaremos as atuais direções de debate.</p><p>Claro que não é possível abordar todas as novas formas de</p><p>sofrimento, mas existem nuances essenciais que ajudarão a</p><p>pensar sobre novas demandas que, certamente, baterão à sua</p><p>porta como profissional.</p><p>1 - As novas manifestações do sofrimento psíquico</p><p>Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de reconhecer os novos sofrimentos psíquicos</p><p>da sociedade contemporânea.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 3/57</p><p>A Psicanálise e a felicidade</p><p>A felicidade não é uma ideia nova, pois as buscas por ela foram</p><p>registradas nos mitos e poemas arcaicos. Ela tornou-se objeto de</p><p>questionamentos para a Filosofia clássica e desembocou na teoria</p><p>psicanalítica, criada por Sigmund Freud, em Viena, no século XVIII.</p><p>Um dos textos clássicos da Psicanálise, Formulações sobre os dois</p><p>princípios do acontecer psíquico (1911), busca explicar o funcionamento</p><p>básico do aparelho psíquico por meio de dois princípios reguladores que</p><p>realizam os processos psíquicos primários e secundários, a saber, o</p><p>princípio do prazer e o princípio da realidade.</p><p>Enquanto o princípio do prazer predominantemente busca a constante</p><p>obtenção do prazer no mesmo instante que se afasta do desprazer, dos</p><p>atos que possam provocar desprazer, a atividade psíquica se recolhe em</p><p>forma de recalque ao julgar a realidade insuportável e, ao negá-la, evita a</p><p>frustração.</p><p>O estado de felicidade alcançado na primeira relação com o seio</p><p>materno jamais retornará, assim como o objeto que concedeu essa</p><p>satisfação.</p><p>A primeira falta, depois da satisfação, inaugura o princípio da realidade</p><p>e o processo de alucinação do seio que também jamais retornará para</p><p>satisfazer da mesma forma que da primeira vez.</p><p>Essa memória de felicidade será recobrada na graça da criança quando</p><p>mostrar sua autossuficiência e inacessibilidade narcísica.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 4/57</p><p>De acordo com Laskoski et al. (2013), o século XXI tem como marca a</p><p>passagem do paradigma da modernidade para a pós-modernidade,</p><p>momento em que tudo se hiperboliza, perde a medida e fica</p><p>contraditório.</p><p>Re�exão</p><p>Enquanto a modernidade foi viabilizada pela cultura industrial, a pós-</p><p>modernidade (ou hipermodernidade ou segunda modernidade) é</p><p>marcada pela popularização das tecnologias da informação e da</p><p>comunicação que provocou uma horizontalização do laço social,</p><p>causando uma desorientação de valores e referenciais que atingem as</p><p>formas de relacionamentos e trabalho. Tal desorientação angustia o</p><p>homem frente ao aumento da liberdade que lhe foi oferecida.</p><p>Cabe ao psicanalista levar em consideração que a</p><p>Psicanálise deve ser reinventada em cada escuta, e</p><p>não se escravizar aos conceitos preestabelecidos,</p><p>pois, estando a clínica sustentada no dispositivo da</p><p>palavra, tem arraigada em si a necessidade da</p><p>recriação ininterrupta na leitura dos impasses</p><p>simbólicos que causam os sintomas de modo</p><p>individual, demonstram sua posição subjetiva e sua</p><p>relação com os objetos.</p><p>Gênero: novas discussões da</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 5/57</p><p>sexualidade</p><p>A sexualidade, em todos os sentidos, não pertence à ordem da natureza,</p><p>mas a um efeito de fala que atua no processo da constituição da</p><p>identidade do sujeito humano e que desnaturaliza o sexo na medida em</p><p>que não se possui um instinto sexual que visa a um objeto natural e com</p><p>única finalidade de reprodução da espécie.</p><p>Uma evidência de que a sexualidade é processo não natural é que ela</p><p>pertence à linguagem. Ela pode ser vista nos animais que não possuem</p><p>sofrimentos ligados ao sexo, justamente por serem regidos apenas por</p><p>condutas universais e inatas que não possibilitam a hesitação do seu</p><p>encontro com o objeto sexual. A sexualidade infantil é definida por Freud</p><p>como perversa polimorfa, isto é, capaz de obter prazer pela substituição</p><p>do objeto natural com qualquer outro objeto. Isso demonstra que todos</p><p>os seres humanos já passaram pela perversão e que raras vezes algum</p><p>traço da perversão ficaria ausente na sua vida sexual futura. Em suma, o</p><p>corpo, para a Psicanálise, é pulsional, dirigido pela libido e busca a</p><p>satisfação.</p><p>Saiba mais</p><p>Antes que as letras GLS pudessem aparecer na década de 1990, os</p><p>estudos psicanalíticos já se debruçavam sobre as diversidades na</p><p>sexualidade. O que sob o termo freudiano se dizia sobre os invertidos</p><p>absolutos, invertidos anfígenos e invertidos ocasionais, hoje se aplica</p><p>sob o significante de gays, bissexuais e queer.</p><p>Freud trata a diversidade sexual como natural, embora existam aqueles</p><p>que a percebem como uma compulsão patológica. Portanto, se existe</p><p>um sofrimento psíquico, este incide sobre a segunda condição. Freud</p><p>ainda insiste ao dizer que:</p><p>(...) vários fatores permitem</p><p>ver que os invertidos não são</p><p>degenerados.</p><p>(FREUD, 1996, p. 131)</p><p>Agora, vamos ver alguns acontecimentos importantes sobre a</p><p>discussão da sexualidade:</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 6/57</p><p>Olhar para a diversidade também nos insere na dificuldade de</p><p>estabelecer uma relação direta entre sexo e gênero. Exemplo disso está</p><p>nos transexuais e nos intersexuais, que nos ensinam que corpo e</p><p>heterogeneidade não estão na ordem do organismo, mas da</p><p>subjetividade.</p><p> 1930</p><p>Com a antropóloga Margaret Mead, a construção</p><p>histórica do gênero ganhou um maior contorno</p><p>quando se atribuiu a sexualidade como um papel.</p><p> 1949</p><p>A filósofa</p><p>faz o discurso ter erro, dicotomias e falhas. O manejo</p><p>da linguagem para ouvir a sexualidade é clímax da ação analítica,</p><p>característica imprescindível para estabelecer o campo psicanalítico,</p><p>mesmo que on-line.</p><p></p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 50/57</p><p>Portanto, o campo psicanalítico não é o espaço físico do consultório,</p><p>embora isso possa muitas vezes influenciar positivamente para sua</p><p>constituição. A estrutura desse campo é equivalente à estrutura da</p><p>linguagem, pois ele é determinado pelo significante que emerge na fala</p><p>e na sexualidade.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 51/57</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>Com o estabelecimento do isolamento social causado pela</p><p>pandemia do covid-19, os profissionais de orientação psicanalítica</p><p>foram impelidos a mudar as sessões de análise presenciais para</p><p>virtuais. As sessões de psicoterapia podem ser consideradas</p><p>psicanalíticas desde que</p><p>A</p><p>mantenham a regra fundamental da Psicanálise: o</p><p>uso do divã.</p><p>B</p><p>mantenham a regra fundamental da Psicanálise: a</p><p>associação livre.</p><p>C</p><p>mantenham a regra fundamental da Psicanálise: o</p><p>tempo de 50 minutos.</p><p>D</p><p>mantenham a regra fundamental da Psicanálise: o</p><p>dinheiro pago no dia da sessão.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 52/57</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>Para que uma sessão de psicoterapia seja considerada de</p><p>orientação psicanalítica, faz-se necessário aplicar a única regra,</p><p>também chamada de regra fundamental ou regra de ouro, a</p><p>associação livre. Sem ela, não é possível ter acesso ao inconsciente</p><p>e aos seus conteúdos. Embora o divã, o tempo, o dinheiro e a</p><p>entrevista preliminar sejam elementos importantes para a</p><p>Psicanálise, estes são recomendações, e não regra, podendo ser</p><p>mudados ou flexionados de acordo com a necessidade.</p><p>Questão 2</p><p>O mundo virtual oferece novos desafios para a Psicanálise quando,</p><p>por exemplo, um ato do inconsciente passa a ser visto em</p><p>dispositivos tecnológicos. O maior problema da virtualização e da</p><p>tela é que</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>E</p><p>mantenham a regra fundamental da Psicanálise: o</p><p>tratamento de ensaio ou entrevista preliminar.</p><p>A</p><p>os problemas oftalmológicos podem ser obstáculos</p><p>na psicoterapia.</p><p>B</p><p>as lesões neurológicas são provocadas pela luz azul</p><p>das telas.</p><p>C</p><p>a virtualização como matriz geradora de desejo faz</p><p>aumentar a queixa de “vazio interior”.</p><p>D</p><p>as amizades virtuais sem sinceridade e os golpes</p><p>financeiros causam suicídio.</p><p>E</p><p>as redes de relacionamentos virtuais aumentam o</p><p>divórcio e a traição.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 53/57</p><p>A virtualização permite o surgimento de um novo voyeurismo que</p><p>deseja ser visto sendo satisfeito com consumos perfeitos. Isso</p><p>aumenta as exigências na medida em que o ócio e o tédio deixam</p><p>de ser espaços criativos e são ocupados pela tela.</p><p>Considerações �nais</p><p>Estudando a clínica psicanalítica na atualidade, conseguimos</p><p>compreender o quanto os conceitos da Psicanálise não estão</p><p>ultrapassados, mas requerem uma elasticidade para compreender e se</p><p>aplicar aos novos sofrimentos psíquicos da sociedade contemporânea:</p><p>a clínica e a estrutura da criança pós-moderna; repensar a interface com</p><p>as novas descobertas na neurociência e a promoção de uma clínica</p><p>mediada pelas tecnologias da informação e comunicação.</p><p>Enquanto caminhamos na tênue linha entre proteger a civilização e</p><p>sofrer as coerções da nossa liberdade impostas por ela, assistimos ao</p><p>surgimento de novos desafios na pós-modernidade que suscitam um</p><p>desafio à finalidade do ser humano em ser feliz. Esse debate já</p><p>privilegiado por Freud não cessou diante das hipermídia, hiperconsumo,</p><p>hiperinformação (hiperinform-ação e hiperin-formação), mas, ao</p><p>contrário, tais coisas exigiram que o sujeito se exponenciasse em um</p><p>hiperindivíduo que deveria atender a todas as demandas sociais já</p><p>estabelecidas e às novas, gerando um duplo narcisismo.</p><p>O atual desafio e objetivo da Psicanálise é refletir sobre os novos</p><p>sintomas, novos destinos para as pulsões e novas formas de estruturas</p><p>de atendimentos clínicos para que proporcionem aos novos sujeitos</p><p>acesso à escuta de dores, questões e demandas.</p><p>Podcast</p><p>Neste podcast, o especialista irá refletir sobre os novos sofrimentos</p><p>psíquicos da sociedade contemporânea; a clínica e a estrutura da</p><p>criança pós-moderna; repensar a interface com as novas descobertas</p><p>na neurociência e sobre a promoção de uma clínica mediada pelas</p><p>tecnologias.</p><p></p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 54/57</p><p>Explore +</p><p>Os psicólogos clínicos costumam escolher uma abordagem psicológica</p><p>para orientar os seus trabalhos psicoterapêuticos. Aqueles que</p><p>escolhem a abordagem psicanalítica não podem esquecer que o</p><p>Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem regras que orientam as</p><p>práticas mediadas pela Internet. Pesquise as legislações atuais e fique</p><p>atento sobre as resoluções que atualizam as condições sobre o covid-</p><p>19.</p><p>Neste estudo, falamos bastante sobre Lacan e sobre transferência. Para</p><p>conhecer melhor quem era Lacan e como ele manejava a transferência</p><p>com seus pacientes, pesquise um documentário chamado Um encontro</p><p>com Lacan, no YouTube.</p><p>Por fim, não deixe de assistir no YouTube à aula sobre Lacan e as figuras</p><p>de linguagem entre metáfora e metonímia, as duas figuras de linguagem</p><p>que marcam o inconsciente como estrutura. Isso vai lhe ajudar a</p><p>compreender algumas citações de Lacan.</p><p>Referências</p><p>BARBAN, P.; TFOUNI, L. A virtualidade, a tela e o sujeito: um exame</p><p>psicanalítico sobre a hipermodernidade. Entremeios, Revista de Estudos</p><p>do Discurso, v. 19, n. 19, p. 95–108, 30 dez. 2019.</p><p>BUTLER, J. Gender trouble: feminism and the subversion of identity.</p><p>Nova Iork e Londres: Routledge, 1990.</p><p>CARNEIRO, H. F. Sujeito, sofrimento psiquico e contemporaneidade:</p><p>uma posição. Revista Mal-estar e Subjetividade, v. 4, n. 2, p. 277–295,</p><p>set. 2004.</p><p>DAVIDOVICH, M. M.; WINOGRAD, M. Psicanálise e neurociências: um</p><p>mapa dos debates. Psicologia em estudo, v. 15, n. 4, p. 801–809, 2010.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 55/57</p><p>FERENCZI, S. (1928/1992) A elasticidade da técnica psicanalítica. In:</p><p>Sándor Ferenczi. Obras completas, v. IV. São Paulo: Martins Fontes,</p><p>1992.</p><p>FIGUEIREDO, L. C. A virtualidade do dispositivo de trabalho psicanalítico</p><p>e o atendimento remoto. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 42, n. 42, p.</p><p>61–80, 5 ago. 2020.</p><p>FLORSHEIM, D. B. A fotografia e a “descoberta” da histeria. Psicologia</p><p>USP, v. 27, p. 404–413, dez. 2016.</p><p>FREUD, S. Fragmentos da análise de um caso de histeria. In: Edição</p><p>Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund</p><p>Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. VII (1901-1905).</p><p>FREUD, S. Pulsões e destinos da pulsão. In: Obras Psicológicas de</p><p>Sigmund Freud. Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente [1911]. 1.</p><p>ed. Rio de Janeiro: Imago, 2004.</p><p>GONÇALVES, A. P. et al. Transtornos do espectro do autismo e</p><p>psicanálise: revisitando a literatura. Tempo psicanalitico, v. 49, n. 2, p.</p><p>152–181, dez. 2017.</p><p>GONDAR, J. Psicanálise on-line e elasticidade da técnica. Cadernos de</p><p>Psicanálise | CPRJ, v. 42, n. 42, p. 37–45, 4 ago. 2020.</p><p>LACAN, J. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.</p><p>LAPLANCHE; PONTALIS. Vocabulário da psicanálise. Tradução de Pedro</p><p>Tamen. São Paulo: Martins Fontes, 1992.</p><p>LASKOSKI, P. B. et al. A hipermodernidade e a clínica psicanalítica.</p><p>Revista Brasileira de Psicoterapia,</p><p>v. 15, n. 2, p. 14–24, 2013.</p><p>MANTILLA, M. J. Psicanálise e neurociências: contornos difusos? Notas</p><p>em torno da noção de plasticidade cerebral. História, Ciências, Saúde-</p><p>Manguinhos, v. 24, p. 143–155, nov. 2017.</p><p>MONJO, R. Philosophie et politique des âges de la vie. Enfance et</p><p>justice. In: Repenser l’enfance? Paris: Hermann, 2011. p. 67–84.</p><p>QUINET, A. As 4 + 1 condições da análise. 10. ed. Rio de Janeiro: Jorge</p><p>Zahar, 2005.</p><p>ROSA, M. D.; LACET, C. A criança na contemporaneidade: entre saber e</p><p>gozo. Estilos da Clinica, v. 17, n. 2, p. 359–372, 1 dez. 2012.</p><p>Material para download</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 56/57</p><p>Clique no botão abaixo para fazer o download do</p><p>conteúdo completo em formato PDF.</p><p>Download material</p><p>O que você achou do conteúdo?</p><p>Relatar problema</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 57/57</p><p>javascript:CriaPDF()</p><p>Simone de Beauvoir distinguiu fêmea de</p><p>mulher, formulando a máxima de que não se nasce</p><p>mulher, se torna mulher.</p><p> Entre 1950 e 1960</p><p>Os médicos e psicólogos americanos distinguiram</p><p>o gênero do sexo biológico.</p><p> 1970</p><p>A discussão de gênero retornou à Psicanálise por</p><p>meio do teórico Robert Stoller, quando já se</p><p>estabelecia o gênero como uma porção masculina</p><p>e feminina em alguém, época em que os</p><p>intersexuais eram teorizados e cunhava-se o termo</p><p>“identidade de gênero” para se referir à convicção</p><p>do próprio sujeito sobre o seu papel, a sua forma de</p><p>se perceber em relação ao próprio gênero.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 7/57</p><p>Essa nova inscrição lógica nos coloca frente à necessidade de repensar</p><p>a normalidade e a patologia sexual perpassada unicamente pelo viés</p><p>biológico, visto que o gênero é uma busca do encontro do sujeito pela</p><p>sua identidade, mesmo que nunca possa encontrá-la e resolvê-la</p><p>totalmente.</p><p>Lacan (2003) diz que a sexualidade faz um furo no Real, não existindo</p><p>ninguém que escape às dificuldades decorrentes desse furo. Dessa</p><p>forma, o modo de organização do gênero se associa à sua identidade de</p><p>tal modo que a vida é uma epopeia em resolver o embaraço do sujeito</p><p>com a coisa sexual.</p><p>Lacan</p><p>Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981) foi um psicanalista francês.</p><p>Não existem relações estreitas entre um hibridismo</p><p>psíquico e o hibridismo anatômico, da mesma forma</p><p>que a identidade de gênero e a orientação sexual não</p><p>são determinadas biologicamente. Resta-nos</p><p>compreender que, em qualquer insurgência contra</p><p>essa liberdade, não se trata de questionar a dinâmica</p><p>fisiológica ou psíquica da comunidade LGBTQIA+, mas</p><p>uma crítica à sua existência e institucionalização.</p><p>A tentativa de reduzir as diferenças sexuais às explicações cerebrais</p><p>supondo que o tamanho ou o funcionamento de uma área poderia</p><p>influenciar na identidade ou orientação sexual é inútil e injustificada,</p><p>porquanto isso pertence muito mais ao desenvolvimento do que às</p><p>teorias do pré-determinismo hormonal.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 8/57</p><p>A teoria psicanalítica esclarece que a inversão não tem relação com</p><p>exibição de nenhum desvio grave da norma social e que não prejudica a</p><p>eficiência intelectual e ética. Resta-nos creditar aos detratores da</p><p>comunidade LGBTQIA+ o local do verdadeiro sofrimento psíquico e/ou o</p><p>distúrbio e/ou a perversão, porquanto insista a perseguição residindo na</p><p>transgressão aos costumes da civilização, isto é, da norma, da violência</p><p>e da eficiência social.</p><p>Atenção!</p><p>A violência contra pessoas da população LGBTQIA+ deve ser</p><p>problematizada por todos os profissionais da saúde mental. Primeiro,</p><p>porque nenhum ser vivo merece sofrer qualquer forma de violência; em</p><p>seguida, porque amar é condição essencial para a saúde mental.</p><p>Novas conversões histéricas</p><p>A crença disseminada por alguns grupos de que a Psicanálise se limitou</p><p>aos estudos da neurastenia não tem correspondência com os escritos</p><p>técnicos da Psicoterapia da Histeria quando Freud qualifica a</p><p>neurastenia como um quadro clínico monótono e se concentrou no</p><p>esclarecimento da distinção entre ela e a neurose obsessiva e a neurose</p><p>de angústia.</p><p>A histeria clássica possui o sintoma como seu escriba ou intérprete e</p><p>está submetida à ordem fálica, isto é, ao operado nome-do-pai. Por</p><p>outro lado, a nova histeria se identifica com o traço do pai, e não com o</p><p>seu sintoma, não sendo mais um sintoma dependente da relação com o</p><p>outro, mas consigo mesmo. A nova histeria não acontece somente na</p><p>relação simbólica, mas é acrescida de sofrimento no imaginário</p><p>baseado em um desejo de não ter furos e se manter sozinho.</p><p>Re�exão</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 9/57</p><p>A dimensão paterna incide para organizar o gozo no corpo por meio da</p><p>nomeação, inscrevendo uma estrutura clínica neurótica e afastada da</p><p>perversão e da psicose. O corpo da antiga histeria era retalhado e perdia</p><p>suas partes pela neurastenia; agora, a nova histeria, sem o nome-do-pai,</p><p>desfaz a relação palavra-corpo e deixa de ser retalhada. É furada. É sem</p><p>palavras porque tem um imaginário sem nomeações; enquanto o gozo</p><p>já existia antes da nomeação e do nome-do-pai ,só passaria a ter um</p><p>sentido, uma borda ou uma regra mediante a aquisição da sua</p><p>nomeação que pudesse organizá-lo e submetê-lo. Porém, na nova</p><p>histeria, o enigma não está mais na leitura fálica, então emerge como</p><p>necessidade de mais-de-gozar, no exagero, no hiperconsumo.</p><p>Como exemplo de novas conversões histéricas, podemos pensar como</p><p>as fotografias estão longe de ser representações fiéis da realidade,</p><p>sendo conceitos transcodificados em cenas.</p><p>As fotos são mais do que registros, são as capturas de uma linguagem</p><p>que está para além do tempo e espaço, pois não existe imagem sem</p><p>imaginação. Nesse sentido, a fotografia passou a ser influenciada pela</p><p>subjetividade humana, pelos valores, pelas expectativas, resumindo,</p><p>pela sexualidade (FLORSHEIM, 2016)</p><p>Em tempos de popularização e imersão das redes</p><p>sociais baseadas em imagens e vídeos, a questão do</p><p>que se deve tornar público perpassa a dicotomia do</p><p>que se deseja exibir e aquilo que o desejo deve negar.</p><p>O desejo de ser desejado e a angústia de ser</p><p>“cancelado” é o que define o modo como alguém</p><p>deseja ser visto.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 10/57</p><p>Os hiper: novos sintomas de</p><p>desamparos</p><p>Com os avanços tecnológicos e a sua popularização, passamos a usar</p><p>termos como hipertexto e hipermercado. Claro que não ficaria de fora o</p><p>momento de reclamar pelo hiperindivíduo e o hiperconsumo. Por meio</p><p>da conectividade e da globalização, a informação ficou mais veloz, mais</p><p>intensa e mais acessível. Esse movimento alterou a concepção de</p><p>liberdade e de hedonismo. Ora, enquanto na era industrial o consumo</p><p>era um parâmetro de distinção social e status, atualmente o consumo</p><p>representa acesso à felicidade e à liberdade de ser singular.</p><p>O consumo não é um reconhecimento social, mas um</p><p>prazer narcísico de poder dar satisfação para si</p><p>próprio, de estar acima da maioria. A característica da</p><p>pós-modernidade é a ditadura do mais-de-gozar. Esse</p><p>é o superindivíduo! (LASKOSKI et al., 2013).</p><p>O superindivíduo vive um individualismo narcisista que possibilita um</p><p>certo relativismo moral e normativo no qual seus interesses sobrepõem</p><p>ao coletivo e formam uma rigidez afetiva e emoções embotadas.</p><p>O sintoma desse cenário é uma “identidade fluida”, circunstancial e</p><p>perpassada pela performance.</p><p>Vazio, seu consumismo é o desejo que os objetivos e as coisas</p><p>forneçam a solução para o enigma da sua existência: comprar passa a</p><p>preencher um espaço.</p><p>A negação do limite do consumo:</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 11/57</p><p>É o mesmo que falar de um gozo</p><p>excessivo de um objeto encravado</p><p>no corpo, mas que ao mesmo tempo</p><p>possa esconder aquilo que de mais</p><p>sexual pode servir à psicanálise”</p><p>(CARNEIRO, 2004, p. 289)</p><p>Como o hiperindivíduo não pode provar outra realidade senão a das</p><p>sensações, a superficialidade forma a identidade e se confunde com</p><p>ela. O pensamento passa a funcionar por meio de imagens e a</p><p>humanidade contemporânea fica condenada à superficialidade e à</p><p>decepção (LAKOSKI et al., 2013).</p><p>Para que a frustração e o desprazer não acometam o hiperindivíduo na</p><p>mesma proporção que o seu desejo narcísico, enquanto se tem tempo,</p><p>recorrer à regressão infantil revela-se um lugar seguro por já ter sido</p><p>experimentado como espaço de satisfação. Não é ingênuo que se</p><p>dissemina avatares e danças que buscam repetir os mesmos prazeres</p><p>do eu-ideal.</p><p>Re�exão</p><p>Outras formas de regressão infantil podem ser vistas no extremo apego</p><p>às religiões que provocam emoções e sensações extrassensoriais; a</p><p>constante tentativa de explicar a religião pela ciência ou a</p><p>transformação da ciência em religião, como aconteceu com a física</p><p>quântica, a busca de coaches e métodos infalíveis que garantam um</p><p>futuro profissional próspero, a busca pelo prazer desenfreado e pleno, e</p><p>a procura de um trabalho em que se possa ganhar mais para gastar</p><p>mais.</p><p>Outro fenômeno esperado fora da regressão é a incapacidade de</p><p>sustentar qualquer dúvida. O negacionismo da ciência é o exemplo mais</p><p>atual que temos sobre o quanto o excesso e a velocidade da informação</p><p>não são certezas de produção de conhecimento.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 12/57</p><p>Não podemos deixar de destacar outro sintoma moderno: os “nem-</p><p>nem”.</p><p>Trata-se de uma nova geração composta por aqueles que nem</p><p>trabalham, nem estudam, nem procuram emprego formal.</p><p>Estima-se que, no Brasil, existam 11,6 milhões de jovens, entre 15 e 29</p><p>anos, que compõem esse grupo.</p><p>Essa população é maior que toda a população de Portugal em julho de</p><p>2021.</p><p>Os novos sintomas de desamparo e a</p><p>clínica psicanalítica</p><p>Neste vídeo, o especialista reflete sobre os novos sintomas de</p><p>desamparo e a clínica psicanalítica.</p><p></p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 13/57</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>O mal-estar na civilização [1930(1929)] visa explicar o conflito</p><p>existente entre o princípio do funcionamento do aparelho psíquico,</p><p>o princípio do prazer e a civilização. Nesse sentido, qual seria a</p><p>fonte do antagonismo entre as exigências das pulsões e a</p><p>civilização?</p><p>Parabéns! A alternativa A está correta.</p><p>O antagonismo consiste na coerção para adiar ou negar a própria</p><p>pulsão visando a que os outros sujeitos façam a mesma manobra</p><p>psíquica, em igual proporção, para que todos possam ter garantido</p><p>A</p><p>O antagonismo se baseia nas restrições e coerções</p><p>impostas na civilização que fazem adiar ou deixar a</p><p>obtenção do prazer como forma de manter-se na</p><p>cultura.</p><p>B</p><p>A fonte do antagonismo é a religião, que promete a</p><p>felicidade eterna no Paraíso, e não na Terra, lugar de</p><p>purificação e trabalho.</p><p>C</p><p>O antagonismo se baseia na imposição do trabalho</p><p>e do estudo como forma de sustentar a parte social</p><p>que não consegue prover seus sustentos com</p><p>dignidade.</p><p>D</p><p>O antagonismo está em priorizar os aspectos</p><p>filosóficos e conceituais da ciência médica em</p><p>detrimento dos aspectos do desejo hormonal.</p><p>E</p><p>O antagonismo é um plano secular para promover</p><p>um processo psíquico regressivo infantil para o</p><p>sistema capitalista promover as fantasias e o prazer.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 14/57</p><p>o direito e o acesso ao prazer. A relação do princípio do prazer e do</p><p>mal-estar é estabelecida sobre a liberdade da obtenção do prazer.</p><p>Questão 2</p><p>A sexualidade continua sendo o principal ponto de discussão na</p><p>teoria psicanalítica. No entanto, surgiram novas discussões nesse</p><p>campo em nossa contemporaneidade, sobretudo no que tange ao</p><p>conceito de gênero. Assim, quanto a tratamentos de gênero,</p><p>podemos afirmar que</p><p>Parabéns! A alternativa E está correta.</p><p>A sexualidade é um processo que pertence à linguagem, portanto</p><p>distanciado dos instintos biológicos e mais próximo da pulsão e da</p><p>identidade. Sendo a linguagem o que sustenta a subjetividade do</p><p>sujeito, existe uma dificuldade em estabelecer uma relação direta</p><p>entre sexo e gênero, sendo cada sujeito uma forma única de</p><p>vivência de gênero e identidade de gênero.</p><p>A</p><p>a sexualidade obedece a uma lógica biológica e</p><p>unicamente associada à procriação, sendo a análise</p><p>quantitativa dos hormônios a explicação do seu</p><p>papel.</p><p>B</p><p>a cultura pouco influencia na dinâmica da função</p><p>sexual e que a diversidade sexual está inserida no</p><p>campo da perversão.</p><p>C</p><p>a sexualidade é um campo que se associa</p><p>diretamente à identidade e que, por isso, é fácil de</p><p>se resolver e as dificuldades são do campo da</p><p>psicopatologia.</p><p>D a disforia sexual é a causa da diversidade erótica.</p><p>E</p><p>a sexualidade está para além do binário</p><p>homem/mulher, heterossexual/homossexual e está</p><p>para além do biológico.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 15/57</p><p>2 - A clínica psicanalítica com crianças</p><p>Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de analisar a forma da clínica psicanalítica com</p><p>a criança pós-moderna.</p><p>A constituição infantil em Freud</p><p>A infância sempre fez parte da história da teoria psicanalítica, tornando-</p><p>se uma característica marcante desde os seus primórdios no que se</p><p>refere à sexualidade infantil e às lembranças que os pacientes traziam</p><p>sobre os primeiros anos de vida.</p><p>Durante todo o período de 1892 a 1899, Freud conseguiu demonstrar de</p><p>que forma a sexualidade, a pulsão, o recalque, a fantasia e o</p><p>determinismo psíquico formam a base e o fundamento do psiquismo a</p><p>partir da infância.</p><p>Atenção!</p><p>Aquilo que nos determina durante a infância é esquecido com o tempo,</p><p>traçando o conceito de amnésia infantil. São justamente esses traços</p><p>os mais constituintes da nossa personalidade, visto que são</p><p>esquecidos, porém não apagados. O que, principalmente, permanecerá</p><p>recalcado serão as fantasias de sedução e a sexualidade perverso-</p><p>polimorfa do desenvolvimento psicossexual, fazendo com que o adulto</p><p>porte sempre o lado infantil.</p><p>Três obras mais modernas de Freud reincidirão no tema da criança: O</p><p>pequeno Hans, em que Freud teoriza sobre não ser a infância em si que</p><p>se apresenta ao setting terapêutico, mas os desejos, fantasias,</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 16/57</p><p>lembranças e recordações que só aconteceriam mais adiante na vida da</p><p>criança. Em Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância e Uma</p><p>recordação de infância de Dichtung und Wahrheit, o pai da Psicanálise</p><p>retoma a conclusão de que as recordações seriam fantasias originadas</p><p>na infância e impossíveis de acessar pela via da memória, mas que</p><p>serão reconstruídas no próprio percurso da análise.</p><p>Juntamente com esse grande arcabouço teórico estruturado para</p><p>compreender a criança, não podemos deixar de lado o início da pulsão</p><p>do saber que começa pela dúvida edípica: de onde vêm os bebês. A</p><p>seguir veremos uma ilustração que representa uma resposta para esta</p><p>questão.</p><p>Quando Lacan (2003) relê o caso Hans, consegue demonstrar que</p><p>aquilo que o menino trata na sua sessão analítica estava</p><p>constantemente relacionado à elaboração das teorias sexuais infantis,</p><p>tais como a diferença entre os sexos, a relação de coito, a gravidez, o</p><p>nascimento e outras fantasias.</p><p>Está na falta do recalque ou na incompletude dela a</p><p>razão das teorias sexuais infantis, pois somente depois</p><p>do recalque é que o sujeito conquista a capacidade de</p><p>operar por metáforas; antes disso, apenas operava no</p><p>campo da metonímia, como partes da verdade.</p><p>A criança na contemporaneidade:</p><p>entre o saber e o gozo</p><p>O questionamento que mais retorna aos debates sobre a infância está</p><p>em torno de saber se as crianças de hoje podem ser comparadas ou</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 17/57</p><p>referenciadas com as crianças que os teóricos clássicos estabeleceram.</p><p>Por certo, desde que a criança nasce, é um ser da fala na medida em</p><p>que se coloca disponível às trocas sensórias-motoras, de linguagem</p><p>verbal e gestual, na atenção ao que a embala, envolta nos ciclos de</p><p>alegrias e lutos desde o nascimento até as necessidades viscerais.</p><p>Isso perpassa</p><p>e se enraíza nas trocas com os outros em sua ausência e</p><p>presença, o que, aos poucos, vai formando o seu ser na solidão, visto</p><p>que a falta do outro obriga a criança a uma regressão.</p><p>Essa teorização acerca da imersão na linguagem permanece até os dias</p><p>de hoje. No entanto, quando analisamos a contemporaneidade, Rosa e</p><p>Lacet (2012) sugerem a presença de duas novas interferências:</p><p>1. A perda do sentimento de infância;</p><p>2. As reconfigurações familiares – incluindo paternidade,</p><p>maternidade e parentalidade.</p><p>Essa teorização acerca da imersão na linguagem permanece até os dias</p><p>de hoje. No entanto, quando analisamos a contemporaneidade, Rosa e</p><p>Lacet (2012) sugerem a presença de duas novas interferências:</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 18/57</p><p>A sociedade contemporânea tem multiplicado as fases da vida e</p><p>tornando-as cada vez mais diversificadas, individualizadas e</p><p>enfraquecendo uma visão de sequência de percurso entre as etapas da</p><p>história individual.</p><p>Um exemplo muito claro é a transformação do chá de bebê em uma</p><p>festa, a invenção do chá de revelação, a comemoração do “mesversário”</p><p>e a despedida da fraldinha, cada vez maiores e com a imersão de</p><p>elementos festivos que só estariam presentes nos aniversários (MONJO,</p><p>2011).</p><p>Essa multiplicação de datas comemorativas amplia a infância do modo</p><p>anterógrado ao mesmo tempo que atende ao desejo narcísico dos pais.</p><p>A teoria da libido afirma a existência do narcisismo primário na criança.</p><p>Embora tenhamos dificuldade de observá-la de modo direto, é mais fácil</p><p>deduzi-la por meio das atitudes dos pais afetuosos com seus filhos,</p><p>uma revivescência e uma reprodução do seu próprio narcisismo.</p><p>Quanto mais os pais foram limitados em seus desejos</p><p>pelos efeitos da cultura e da modernidade, maior será a</p><p>tendência de dispensar a criança das obrigações das</p><p>regras e limitações que foram obrigados a acatar,</p><p>renunciando ao próprio narcisismo.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 19/57</p><p>A consequência disso é que os pais transferem a falta do privilégio que</p><p>tiveram, desejando que as crianças tenham melhor sorte, fazendo-as</p><p>terem menos frustrações e aumentando o período de fantasias.</p><p>Esse papel ideal (ou idealizado) que as crianças passaram a ocupar na</p><p>cultura, isto é, de seres sem defeitos ou falta, é como um espelho</p><p>narcísico para os pais e passa a ocupar o lugar de gozo. Essa</p><p>convocação narcísica que as crianças precisam atender gera um</p><p>processo estruturante e identificatório que deve estender essa suposta</p><p>satisfação ou plenitude (gozo) para toda a família.</p><p>Re�exão</p><p>O resultado disso é uma inversão, pois, onde os pais deveriam transmitir</p><p>para prole a falta, passam a delegar a demanda de preenchimento</p><p>totalizante da falta para os filhos em direção ao Outro (grande outro).</p><p>Nesse cenário, o sintoma mais comum é ansiedade por completar algo</p><p>que não compete apenas à sua falta. A convivência com o desejo</p><p>ilimitado e infinito potencializa o consumo do indivíduo com a busca de</p><p>objetos como meio de tamponar a falta do “ser feliz”. A compulsão por</p><p>terminar tarefas mais desafiantes, como nos novos jogos de infindáveis</p><p>tarefas, desafia a limitação do gozo mediante a extinção do limite e a</p><p>contemplação efetiva do cumprimento dos objetivos.</p><p>O processo educativo esperado consistiria em os pais poderem</p><p>transmitir aos filhos os limites do gozo, real problema do pequeno Hans.</p><p>A Psicanálise entende por limite do gozo a ciência de que jamais</p><p>seremos totalmente satisfeitos, assim como é impossível satisfazer</p><p>todas as necessidades.</p><p>Diante da ansiedade e do imperativo do consumo para não assumir o</p><p>limite do gozo, as tecnologias da informação e comunicação têm</p><p>ocupado um papel essencial na medida em que as imagens dispensam</p><p>o pensamento e oferecem microfragmentos de gozo ao desejo de um</p><p>objeto perdido e ao objeto de desejo dos seus pais, ainda mais</p><p>desconhecido pela criança.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 20/57</p><p>O fluxo das imagens das redes sociais corrobora o desejo de viver uma</p><p>fantasia de um lugar sem a falta, isto é, sem limites para o gozo; e, para</p><p>uma falta de objeto a ser alcançado e a outros difíceis de alcançar, de</p><p>modo que a frustração torna-se ambivalente, pois ora ela aparece e ora</p><p>ela é vencida (ROSA; LACET, 2012).</p><p>No outro lado do gozo, temos o saber. O que funda o saber é a lei, isto é,</p><p>a castração. A pergunta de onde vêm os bebês traz para a criança a</p><p>possibilidade da vida de um irmão/irmã que poderá lhe impor limitações</p><p>ao desejo de ser plenamente desejado pelos seus pais. Portanto, cuidar</p><p>para ser o desejo de quem quer ser desejado cria a necessidade de</p><p>suprir os desejos dos seus progenitores. Para evitar o abandono, ouvir a</p><p>responsabilidade e a autoridade, origina-se um laço simbólico que</p><p>dispensa as ameaças e agressões, mas cria um desejo por um saber</p><p>que possa suprir o desejo dos outros que lhe importam.</p><p>Atenção!</p><p>A busca desse saber infantil confluirá para o comportamento de</p><p>pretensão à ciência e à “verdade”, que é frontalmente contrária ao</p><p>comportamento “mimado” e a regressões infantis. Dessa maneira, a</p><p>aceitação aos achados científicos e os hábitos de estudos estão</p><p>diretamente associados ao lugar de sujeito que a criança possa vir a</p><p>ocupar mediante o saber, da mesma forma que o negacionismo, a</p><p>insubordinação jurídica e as desordens sociais têm ligação com a falta</p><p>de limites do gozo.</p><p>Trabalho, direção e �m da análise</p><p>com crianças</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 21/57</p><p>A clínica psicanalítica com crianças apresenta situações e diferenças</p><p>que criam uma especificidade necessária para a compreensão da</p><p>psicodinâmica daquele sujeito. A primeira diferença consiste em a</p><p>criança se encontrar em um momento anterior ao recalque ou antes do</p><p>seu desfecho, entre o recalque originário e o recalque edípico. Ora, tendo</p><p>ainda a criança não completado o processo de recalque, não estará</p><p>totalmente inscrita nos significantes primordiais que formarão a sua</p><p>estrutura. Isso permite experenciar e acompanhar os sintomas</p><p>neuróticos ainda em sua constituição e algumas queixas ainda não</p><p>perpassam pela reconstrução de uma lembrança ou signos</p><p>transformados pelo recalque. Aí está a nossa questão principal:</p><p>Como tratar um sujeito que ainda se encontra em</p><p>constituição?</p><p>Nosso ponto de partida é que a clínica psicanalítica com crianças é uma</p><p>clínica da antecipação do sujeito. Durante o período da análise de um</p><p>infantil, o trabalho e a direção do tratamento estão atravessados pelo</p><p>período de latência. Isso quer dizer que a sexualidade ainda não está</p><p>organizada e a amnésia infantil não foi estabelecida. Essa falta de</p><p>organização de significantes por meio da castração foi a razão da</p><p>angústia do pequeno Hans, que necessitou de uma intervenção para</p><p>estabelecer o limite do seu gozo, visto ter sido retirado do lugar que</p><p>ocupava na relação imaginária com a mãe, fazendo surgir a fobia como</p><p>suplência para situar uma nova organização por meio de uma série de</p><p>alarmes. O fantasma de devoração desse lugar da relação simbiótica</p><p>com a mãe (deixar de existir como desejo da mãe) era amenizado pelo x</p><p>caso ele se mantivesse afastado dos cavalos.</p><p>Criança utilizando artigos de adultos.</p><p>As crianças devem ser escutadas a partir de seus próprios desejos,</p><p>embora sejam investidas por um modelo sexual que vai além de sua</p><p>possibilidade subjetiva, como a quantidade cada vez maior de</p><p>conteúdos escolares, atividades extras e a adultização pelas roupas,</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 22/57</p><p>aparelhos e instrumentos</p><p>que antes seriam apenas restritos aos</p><p>adultos.</p><p>As agendas das crianças passaram a estar lotadas de atividades que</p><p>sobrecarregam de compromissos que destacam as tarefas do brincar,</p><p>em nome do ideal que a família deseja para si e o mesmo tônus para a</p><p>rejeição da frustração narcísica dos pais.</p><p>Comentário</p><p>O paradoxo do tratamento psicanalítico com as crianças é que, ao</p><p>mesmo tempo que as crianças são autônomas, dependem dos adultos</p><p>quando não são capazes de responder por si, falar sobre si ou buscar a</p><p>realização do desejo. Essa ambiguidade é retornada na medida em que</p><p>não são elas que buscam o tratamento para si, mas sempre por queixa</p><p>de terceiros, como em um pedido de “consertar” ou para transformá-las</p><p>em crianças “ideais”, com corpos dóceis, afáveis e sem problemas.</p><p>A procura de tratamento psicológico para crianças vem aumentando no</p><p>Brasil, dados os imperativos e investimentos em torno desse público</p><p>incitado pelas demandas da pós-modernidade. Nesse cenário, a</p><p>Psicanálise vem sendo provocada para responder com técnicas e</p><p>fundamentação teórica para sustentar uma clínica que interroga, maneja</p><p>e transforma o sujeito que a determina.</p><p>O método psicanalítico de intervenção com crianças na</p><p>contemporaneidade exigirá uma mudança de perspectiva que faça</p><p>sustentar as duas principais vias de acesso psicanalítico, a saber:</p><p></p><p>Associação livre</p><p></p><p>Interpretação dos sonhos</p><p>Mas como uma criança faz isso?</p><p>Por meio do brincar. Esse brincar usará os inúmeros objetos da</p><p>realidade da criança que, cada dia mais, avança em direção ao mundo</p><p>virtual, com excesso de estímulos e muitas informações. Tal processo</p><p>irá requerer do analista o que Ferenczi (1928-1992) chama de</p><p>“elasticidade técnica” para direcionar uma leitura dos sintomas e</p><p>promover um melhor enquadre.</p><p>Ferenczi</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 23/57</p><p>Sándor Ferenczi (1873-1933) foi um psicanalista húngaro, um dos mais</p><p>próximos colaboradores de Freud.</p><p>Exemplo de consultório em que as crianças podem interagir livremente.</p><p>Aqui o enquadre precisa tomar a nossa atenção. Assim como oferecer</p><p>um espaço de escuta confortável para um adulto, a criança precisa ter</p><p>igual atenção. Quando se pensa no cuidado com as cores do</p><p>consultório, o conforto do divã, a intensidade da luz, a temperatura e</p><p>lugar das cadeiras, é comum que a maioria imagine um consultório para</p><p>pacientes adultos.</p><p>No caso das crianças, a elasticidade técnica precisa propiciar um</p><p>ambiente em que a criança tenha objetos à mão e conforto para</p><p>manipulá-los, acessibilidade para seguir o seu desejo e brincar com tudo</p><p>o que vier à sua mente, como se estivesse falando tudo o que vier à</p><p>cabeça.</p><p>Não podemos esquecer que, estando sobre o pressuposto psicanalítico,</p><p>o que importa na psicoterapia é o sujeito inconsciente, aquele que</p><p>deseja, que insiste e não resiste. Esse sujeito do inconsciente não tem</p><p>idade e é anterior aos processos cognitivos, que estarão sempre em</p><p>segundo plano no curso do tratamento. Esse sujeito emerge dentro da</p><p>técnica da associação livre, que, no caso das crianças, dada a limitação</p><p>de verbalização, externaliza o desejo que se repete por meio do brincar,</p><p>eis o discurso.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 24/57</p><p>A função do brincar não abrange somente a descarga emocional, mas é</p><p>a possibilidade de demonstrar a sua verdade como sujeito, tal como um</p><p>escritor ativo, que busca ajuda para os seus medos de objetos e medos</p><p>internos, suas ansiedades e angústias, que articulam o real, o simbólico</p><p>e o imaginário. A criança, enquanto brinca, repete e elabora ou repete</p><p>até elaborar, com a diferença de que ela não recorda, como a referência</p><p>do texto de Freud Recordar, Repetir e Elaborar. Dessa vez, a criança não</p><p>recorda, pois repete o que viveu e está vivendo.</p><p>Por certo, o sintoma de uma criança é um sinal da existência de um ser</p><p>desejante, mas que falhou diante da castração e investiu na fantasia</p><p>uma atitude de se ajustar entre o desejo e as exigências do mundo</p><p>externo. Por um lado sabemos que, como adultos, chegamos ao fim de</p><p>um tratamento quando:</p><p>Temos diante de nós uma</p><p>história clínica inteligível,</p><p>coerente e sem lacunas</p><p>(FREUD, 1996, p. 28)</p><p>Por outro lado, como um segundo objetivo, sabemos que a psicoterapia</p><p>termina quando todos os sintomas são eliminados e substituídos por</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 25/57</p><p>pensamentos conscientes reparando os danos à memória do paciente.</p><p>Mas diante da criança, além da eliminação dos sintomas, é a elaboração</p><p>de novos significantes contra a alienação no ideal daqueles que são o</p><p>seu objeto de desejo para que sejam desejadas.</p><p>Os diferenciais da clínica</p><p>psicanalítica infantil</p><p>Neste vídeo, o especialista reflete sobre os diferenciais da análise com</p><p>criança: o paradoxo, o setting, os objetivos, as formas de intervenção e a</p><p>brincadeira.</p><p></p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 26/57</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>Os estudos psicanalíticos sobre o infantil foram de extrema</p><p>importância para a compreensão da constituição dos sintomas</p><p>histéricos, pois foi possível</p><p>A</p><p>entender que a pulsão do saber é intrínseca ao</p><p>período de puberdade.</p><p>B</p><p>saber que é a infância em si que deve ser</p><p>considerada na análise.</p><p>C</p><p>associar o infantil à pulsão, ao determinismo</p><p>psíquico, ao recalque e à sexualidade.</p><p>D</p><p>compreender que a criança não é sujeito da sua</p><p>história e não pode ser da sua análise.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 27/57</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>As descobertas sobre a infância são essenciais para compreender</p><p>as bases da sua psicodinâmica, tal como os processos da pulsão</p><p>do saber que começa na infância, aos primeiros destinos das</p><p>pulsões, o determinismo psíquico e o processo de recalque. Dessa</p><p>forma, podemos compreender que o paciente sempre é o sujeito de</p><p>sua história e o que se recorda da infância não é tão importante</p><p>quanto o que ele é capaz de elaborar sobre ela.</p><p>Questão 2</p><p>O método psicanalítico de intervenção com crianças na</p><p>contemporaneidade mantém seus pressupostos sobre o</p><p>inconsciente e sua primazia sobre os processos cognitivos, a</p><p>associação livre e a interpretação dos sonhos. No entanto, esses</p><p>processos são observados de modos diferentes, pois eles</p><p>acontecem por meio</p><p>Parabéns! A alternativa D está correta.</p><p>Para um enquadre da clínica psicanalítica com crianças, é de suma</p><p>importância compreender que, diferentemente dos adultos, a</p><p>E entender que a amnésia infantil são as memórias</p><p>apagadas que não constituirão nossa</p><p>personalidade.</p><p>A da entrevista com os pais.</p><p>B</p><p>da anamnese com as crianças, incluindo as suas</p><p>lembranças.</p><p>C</p><p>de entrevistas constantes com os familiares e</p><p>professores, se for o caso.</p><p>D do brincar.</p><p>E</p><p>das narrativas sobre como foi a semana do paciente</p><p>e o cumprimento das tarefas estabelecidas.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 28/57</p><p>criança utiliza o brincar como forma de associar livremente e</p><p>utilizar o processo de condensação e deslocamento tal como nos</p><p>sonhos.</p><p>3 - Psicanálise e neurociência</p><p>Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de identi�car a associação dos conceitos</p><p>psicanalíticos à neurociência.</p><p>Um mapa de debates</p><p>O debate entre a Psicanálise e a neurociência jaz desde os primórdios</p><p>dos estudos de Freud com M. Charcot. Se, por um lado, temos a</p><p>neurociência como um estudo científico do sistema nervoso, por outro,</p><p>temos os estudos psicanalíticos</p><p>que abordam a histeria como um</p><p>sintoma que apenas aparenta ser do sistema nervoso, mas tem origem</p><p>psicológica inconsciente. Desde então, a associação com esses</p><p>saberes possui contornos difusos e interfaces que desafiam uma</p><p>articulação.</p><p>Em 1915, Freud precisou enfrentar a obscuridade teórica em torno da</p><p>pulsão [trieb] e a sua relação com o estímulo [reiz]. A dificuldade da</p><p>temática estava na necessidade de um aprofundamento teórico que</p><p>pudesse explicar os limites e a amplitude do que é orgânico daquilo que</p><p>seria psíquico. A partir daí, conseguiu conceituar que (FREUD, 2004):</p><p> O estímulo pulsional</p><p>Nã d d t d ó i i t i</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 29/57</p><p>Dessa forma, mais uma vez Freud consegue distinguir o que é da</p><p>natureza biológica e o que seria da natureza psíquica, projeto tomado</p><p>pela primeira vez em 1885 na diferenciação entre as paralisias</p><p>periférico-medular, cerebral e histérica. Afinal, é típico da histeria a</p><p>aproximação entre diferentes doenças nervosas orgânicas.</p><p>Atualmente, esse cenário de debates da possibilidade de articulação</p><p>entre a Psicanálise e as neurociências tem sido dividido em três</p><p>principais grupos, a partir de seus pressupostos. Segundo Davidovich e</p><p>Winograd (2010), temos as seguintes escolas:</p><p>Faz uma espécie de elogio ao método experimental e culpa o</p><p>pouco crescimento da Psicanálise por não se sustentar em</p><p>métodos empíricos objetivos e no teste das suas hipóteses. A</p><p>Psicanálise deveria importar o modelo das ciências naturais para</p><p>tornar mais sólidos os seus conceitos, viabilizar a observação</p><p>Não vem do mundo externo, mas do próprio interior</p><p>do organismo; é sempre constante e a fuga não</p><p>produz qualquer serventia. A pulsão surge sob o</p><p>signo de necessidade, que, para ser suspensa, deve</p><p>ser satisfeita por meio de uma ação direcionada e</p><p>específica.</p><p> O estímulo simples</p><p>O estímulo simples age em um único impacto,</p><p>podendo ser neutralizado em uma ação apropriada.</p><p>Hibridização </p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 30/57</p><p>direta dos processos mentais e evitar que se torne obsoleta. O</p><p>objetivo central é aproximar a Psicanálise da neurociência</p><p>cognitiva para avançar na construção de um novo instrumental</p><p>teórico ao reescrever a metapsicologia com bases científicas,</p><p>fundando a Neuropsicanálise.</p><p>É marcado pela recusa ao diálogo entre a neurociência e a</p><p>Psicanálise de modo a imputar a ideia de uma submissão aos</p><p>modelos cientificista e biotecnológico. O argumento central da</p><p>crítica à associação está na reafirmação de que a Psicanálise</p><p>não deveria ser considerada uma ciência. Para esta escola, a</p><p>Psicanálise se desenvolveria a partir das ciências conjecturais,</p><p>visto que a fisiologia gera obstáculos impossíveis para</p><p>compreender a natureza e estrutura da histeria. O corpo que</p><p>estrutura o sujeito é a linguagem e isso faz com que a pulsão,</p><p>embora tenha sua base biológica, seja movida por uma estrutura</p><p>lógica e não instintual.</p><p>O que importa é o diálogo entre a neurociência e a Psicanálise</p><p>para que aconteça a manutenção da especificidade, evitando os</p><p>extremos do isolamento e do hibridismo. Os pressupostos que</p><p>dirigem essa forma de diálogo estão na recusa da absorção total</p><p>da linguagem das ciências naturais como método de explicação;</p><p>a postura não reducionista com exaustivas descrições da</p><p>experiência subjetiva pelos termos biológicos; a adoção do viés</p><p>pluralista sobre a teoria e o método de investigação do aparelho</p><p>psíquico; o reconhecimento da importância do corpo biológico</p><p>como método de investigar a necessidade inconsciente que ele</p><p>impõe e determina ao psiquismo e à interdisciplinaridade para</p><p>colaborar nas investigações sem formar uma hierarquia de</p><p>importância. A evidência em que se baseia essa abordagem são</p><p>os mecanismos de defesa que emergem, especificamente, no</p><p>aparelho cognitivo, portanto, sua ação técnica também incide no</p><p>entendimento do pensamento, desde que se comprometa com a</p><p>sua origem inconsciente.</p><p>Isolamento </p><p>Interlocução </p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 31/57</p><p>O inconsciente e o consciente</p><p>O inconsciente e o consciente: contornos</p><p>difusos?</p><p>Os neurocientistas do século passado ainda acreditavam que o cérebro</p><p>só se desenvolvia durante a infância e que era um órgão que não</p><p>poderia ser modificado. No entanto, a escuta das histéricas interveio</p><p>com a teoria do trauma, que propunha uma forma de “ligação” ou</p><p>“desligamento” de conexões neurais que, inicialmente, poderiam ser</p><p>(re)produzidas por meio da hipnose, estabelecendo, dessa forma, uma</p><p>possibilidade terapêutica para os sintomas que não eram explicados em</p><p>termos fisiológicos, uma vez que estes não apresentavam lesões,</p><p>vejamos agora uma imagem a respeito:</p><p>Essa constatação levou à necessidade de repensar a arquitetura do</p><p>cérebro, sua temporalidade e possibilidade de mudança ao longo da</p><p>vida e fez modelar o conceito de neuroplasticidade como característica</p><p>desse órgão. Dessa forma, poderíamos conceber que novas conexões</p><p>poderiam ser realizadas, outras desligadas ou religadas. Mais tarde, a</p><p>neuroplasticidade dirigida tornou-se uma técnica para provocar</p><p>mudanças comportamentais, inclusive por meio do nascente método</p><p>psicanalítico (MANTILLA, 2017).</p><p>Saiba mais</p><p>No entanto, o que não se pode esquecer é que o inconsciente é</p><p>dinâmico, vivo, estruturante da consciência e estruturado. Dinâmico quer</p><p>dizer que ele tem um funcionamento distinto da consciência e é possível</p><p>de ser reconhecido, e esse funcionamento é anterior à consciência e sua</p><p>determinante: o princípio do prazer e o princípio da realidade.</p><p>Esses princípios impactam e estruturam os sujeitos antes mesmo que</p><p>sejam capazes de falar, mas não os eximem de serem atravessados</p><p>pela linguagem do outro que ocorre por meio do desejo da criança.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 32/57</p><p>Tal desejo é um afeto mediado pela fala que irá se ligar às suas</p><p>necessidades internas e externas por meio de uma cadeia de</p><p>significantes que o introduzirá como um ser falante. O sujeito habitará</p><p>na linguagem. Esse inconsciente implícito formado pela linguagem</p><p>também pode se tornar explícito por ela.</p><p>A Psicanálise se fundamenta na relação do homem com a</p><p>fala, jamais fora disso.</p><p>Equivoca-se quem pensa que o inconsciente só pode ser acessado via</p><p>consciência. Desde Freud, entendemos que as vias clássicas de acesso</p><p>ao inconsciente são os sonhos, os sintomas e os atos falhos,</p><p>acrescentando os chistes. Freud afirma que todos estes servem como</p><p>escribas do inconsciente, pois utilizam a linguagem para manifestar os</p><p>conteúdos pulsionais do sujeito. Um escriba capta e registra além do</p><p>que se diz pela língua, simboliza os afetos e descreve a realidade e o</p><p>estado mediante um juízo afetivo. De forma semelhante, o inconsciente</p><p>pode ser acessado durante a sessão analítica quando o sujeito emerge</p><p>com seu discurso. Lacan (2003) especifica que isso acontece quando o</p><p>paciente muda o tempo cronológico para o momento crítico do sujeito.</p><p>Esse é o momento em que se recorda de algo ou associa lembranças.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 33/57</p><p>O que temos nesse surgimento do sujeito é exatamente a associação</p><p>livre, que, sem palavras, é o próprio inconsciente que possibilita uma</p><p>reconstrução na análise por meio da elaboração.</p><p>A neuroplasticidade e a Psicanálise</p><p>A visão neuromolecular dos fenômenos sociais e psicológicos provoca</p><p>uma tendência para a produção materialista da humanidade em que a</p><p>subjetividade é construída pelo corpo e o cérebro. Dessa maneira, as</p><p>emoções, sentimentos, escolhas,</p><p>humores, personalidades, tomadas de</p><p>decisão, aptidões, inteligências e outros processos subjetivos são</p><p>resultados de processos neuroquímicos, constituindo um sujeito</p><p>somático que sofre por um distúrbio de desequilíbrio na química do</p><p>cérebro e é feliz por um equilíbrio cerebral.</p><p>Aparentemente, nesse terreno, a noção de plasticidade cerebral</p><p>possibilita um diálogo para a compreensão da natureza, estrutura e</p><p>dinâmica da subjetividade por meio dos seguintes fatores:</p><p>Modelagem</p><p>Modi�cação</p><p>Recuperação</p><p>A Psicanálise se propõe a contribuir com seus conhecimentos</p><p>psicodinâmicos. Assim, o desejo e a transferência tornam-se a força</p><p>motriz para a implementação da neuroplasticidade.</p><p>Ora, qualquer mudança, seja em um tratamento psicanalítico, médico ou</p><p>uma condução para a plasticidade cerebral, é certamente impactada</p><p>pela expectativa crédula e pelo poder que o paciente concede ao médico</p><p>por meio da confiança e empatia.</p><p>Comentário</p><p>Não se trata de apenas executar as orientações ou ingerir o remédio,</p><p>também o paciente investe na relação de confiança com o profissional</p><p>e, ao ingerir o remédio, reforma a certeza de que está fazendo algo que</p><p>alguém de sua estima prescreveu.</p><p>Mais tarde, na discussão sobre o entrecruzamento linguístico que</p><p>ocorre durante o processo de transferência, Lacan (2003) aponta o</p><p>diferencial da função da síntese que define o ego na neurociência,</p><p>enquanto o ego na Psicanálise está na função dinâmica.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 34/57</p><p>As mudanças mais profundas em direção à cura estão na possibilidade</p><p>de fazer emergir o sujeito psicodinâmico em detrimento do Eu sintético</p><p>e biológico. Assim, podemos entender que a neuroplasticidade tem uma</p><p>forte ligação com a transferência.</p><p>O autismo e a Psicanálise</p><p>Pelo viés da Psicanálise, vamos analisar a natureza inconsciente e do</p><p>desenvolvimento do autismo. Partiremos de uma análise histórica sobre</p><p>as relações do autismo com a Psicanálise, segundo Gonçalves et al.</p><p>(2017):</p><p> 1930</p><p>O primeiro registro científico de autismo e sua</p><p>relação com a Psicanálise se deve a Melanie Klein,</p><p>por meio do caso Dick. Trata-se de um menino de</p><p>quatro anos sem uma entidade nosológica para</p><p>caracterizar os sintomas. Na época, o menino</p><p>recebeu o diagnóstico de “demência precoce” e</p><p>esquizofrenia pela Psiquiatria. Ambos os</p><p>diagnósticos não preenchiam todos os critérios</p><p>segundo a avaliação de Klein.</p><p> 1942</p><p>Kanner publicou seus estudos sobre onze crianças</p><p>com distúrbios autistas do contato afetivo, nos</p><p>i li ti t i b d</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 35/57</p><p>quais explicava que o autismo estaria baseado nas</p><p>relações afetiva e simbiótica entre mãe e bebê, que</p><p>dificultariam as relações sociais. Pela primeira vez,</p><p>o autismo angaria uma discussão nas dimensões</p><p>psicológica, social e biológica.</p><p> 1944</p><p>Bruno Bettelheim esboçou a teoria da “mãe-</p><p>geladeira”, que atribuiu a causa do autismo a um</p><p>problema na matriz relacional da família, que</p><p>consistia nas dificuldades de interações afetivas,</p><p>principalmente na composição da mãe frígida e pai</p><p>ausente.</p><p> Meados de 1950</p><p>Houzel assume o conceito de psicose infantil ou</p><p>psicose precoce para o autismo, que passa a ter</p><p>uma nosologia própria. Nessa mesma época,</p><p>Margareth Mahler desenvolveu um modelo</p><p>explicativo do autismo chamado “separação-</p><p>individuação”, em que o estado simbiótico por um</p><p>tempo é um autismo normal e, caso perdure, tratar-</p><p>se-ia de um estado autístico.</p><p> Entre 1980 e 1990</p><p>Laznik-Penot, de acordo com a teoria lacaniana,</p><p>conceituou os comportamentos autísticos pela</p><p>dificuldade da criança em constituir a sua imagem</p><p>corporal resultante do processo da relação</p><p>simbiótica da mãe com seu filho.</p><p> 1992</p><p>O autismo retorna sob o termo “psicopatia autista</p><p>da criança”, pois embora com aparência normal,</p><p>h i di ti t d fi iê i i ã</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 36/57</p><p>Atualmente, a principal ideia adotada pela Psicanálise acerca da</p><p>fundamentação do autismo baseia-se na foraclusão do nome-do-pai, o</p><p>mesmo fenômeno que gera a estrutura clínica da psicose.</p><p>É ele que permite o reconhecimento de um aspecto psíquico falante e</p><p>que impossibilita a formação do sintoma. Procura-se investir no</p><p>diagnóstico precoce para que as intervenções ocorram o mais rápido</p><p>possível e com menor prejuízo (GONÇALVES et al., 2017).</p><p>Agora sigamos para as principais formas de tratamento sob o viés</p><p>psicanalítico. Como não existe um manual, podemos dizer algumas</p><p>linhas gerais sobre os principais aspectos a serem observados durante</p><p>a psicoterapia:</p><p>É realizado para pontuar a emergência das particularidades de</p><p>cada sujeito para que o analista ofereça uma sustentação egóica</p><p>ao paciente ajudando na constituição da sua própria voz. Trata-</p><p>se de um papel muito similar ao da mãe na edificação da</p><p>personalidade do filho. Por se tratar de uma patologia do vínculo,</p><p>os recursos técnicos devem privilegiar vínculos e interações.</p><p>Esse movimento inaugura um espaço transicional para um</p><p>estágio de identificação e imitação para expressar a angústia e</p><p>experiência. Isso consolidará sua percepção do seu corpo,</p><p>expressão emocional e simbolização. A marca da transferência</p><p>deve ser por meio do acolhimento, espontaneidade e</p><p>criatividade. O analista se permite estar disponível para um</p><p>registro de um erotismo que possibilite conhecer o objeto-causa</p><p>de desejo do autista e, caso for necessário, seus objetos</p><p>havia distinta deficiência na comunicação,</p><p>competências sociais e relações sociais.</p><p>O manejo da transferência </p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 37/57</p><p>transicionais. A ecolalia (distúrbio da linguagem característico</p><p>do TEA no qual são repetidas as palavras que a outra pessoa</p><p>falou) pode reeditar o estádio do espelho para o reconhecimento</p><p>do Eu e do outro.</p><p>Consiste na atenção ao desenvolvimento da capacidade</p><p>simbólica, principalmente por meio da ênfase no jogo simbólico.</p><p>As estereotipias e os automatismos devem ser interpretados</p><p>para oferecer uma interpretação tal como uma angústia a fim de</p><p>proporcionar uma elaboração por meio do fantasiar. Outra</p><p>questão diz respeito ao destino da pulsão que precisa ser</p><p>construída por meio do processo de identificação permeado pela</p><p>imitação, caso necessário. A estruturação psíquica acontece por</p><p>meio da articulação do mundo autossensorial da criança com a</p><p>subjetividade do terapeuta. Essa articulação subjetiva permite</p><p>criar um circuito pulsional para que o paciente dê sentido ao seu</p><p>comportamento fazendo uma rearticulação de significantes e</p><p>significados. Para inserir a criança com TEA na economia do</p><p>gozo, isto é, nos limites da castração, o analista possibilita a</p><p>vivência da alteridade de descobrir e acessar soluções para</p><p>relacionar-se com seu próprio gozo e propiciar a singularidade de</p><p>si e a alheia.</p><p>É realizada através da escuta que o analista faz dos elementos</p><p>verbais que o paciente traz nas próprias cadeias de significante.</p><p>Normalmente, a pessoa tem dificuldade de ser escutada e</p><p>compreendida. Ao estabelecer com o analista um laço de</p><p>comunicação, o gozo é demarcado como limite e o olhar pode se</p><p>tornar intencional.</p><p>No tratamento do transtorno do espectro autista (TEA), as</p><p>técnicas não podem ser de cunhos determinista e organicista, ao</p><p>contrário, “a posição do analista frente à subjetividade – na sua</p><p>antecipação ao se colocar no lugar do outro – é que facilitará</p><p>para a criança a tomada para si das representações simbólicas e</p><p>externas” (GONÇALVES et al., 2017, p. 172).</p><p>A reestruturação psíquica </p><p>A aquisição de linguagem </p><p></p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio#</p><p>38/57</p><p>A clínica psicanalítica no atendimento</p><p>de crianças com TEA</p><p>Neste vídeo, o especialista reflete sobre os pressupostos e técnicas do</p><p>psicanalista no atendimento de crianças com TEA.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 39/57</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>Cada abordagem psicológica tem um modo próprio de abordar as</p><p>diversas questões mentais. Nesse caso, a Psicanálise tem uma</p><p>orientação muito específica voltada para o inconsciente e os</p><p>destinos das pulsões. No caso do autismo, a Psicanálise considera</p><p>que sua natureza</p><p>Parabéns! A alternativa A está correta.</p><p>A releitura de Lacan (2003) aponta para a exclusão daquele que</p><p>executa a castração na criança, visto ser nesse momento em que</p><p>ele/ela será introduzido no mundo simbólico. A castração impõe a</p><p>lei e insere o indivíduo na linguagem, tornando-se sujeito do</p><p>A se baseia na foraclusão do nome-do-pai.</p><p>B se forma por acidentes cerebrais.</p><p>C se transmite apenas pela genética.</p><p>D se submete ao relacionamento espiritual.</p><p>E se baseia na formação do pré-consciente.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 40/57</p><p>inconsciente. A exclusão dessa figura foi chamada de foraclusão do</p><p>nome-do-pai.</p><p>Questão 2</p><p>A neuroplasticidade já foi apresentada por Freud quando este</p><p>afirmou a existência de predisposições inatas e influências</p><p>originadas pelos anos da infância que formariam as condições para</p><p>amar, as pulsões e suas formas de satisfações e desejo pelas</p><p>metas. Para tudo isso, a Psicanálise demonstra que a condição</p><p>para maior eficácia da neuroplasticidade seria o que chamamos de</p><p>Parabéns! A alternativa D está correta.</p><p>A neuroplasticidade nos desafia a repensar o cérebro como um</p><p>órgão que é passível de mudanças e novas conexões. O que a</p><p>Psicanálise nos lembra é que a “molecularização” da vida é um</p><p>reducionismo e que a relação entre médico-paciente é igualmente</p><p>importante à conduta terapêutica adotada.</p><p>A análise pessoal.</p><p>B lembranças infantis.</p><p>C remédios.</p><p>D transferência.</p><p>E simpatia.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 41/57</p><p>4 - A utilização dos meios digitais</p><p>Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de analisar as possibilidades da clínica</p><p>psicanalítica mediada pelos meios digitais.</p><p>Psicanálise on-line</p><p>Vamos iniciar nossa digressão para avaliar a possibilidade da clínica on-</p><p>line pelo que se baseia o tratamento psicanalítico.</p><p>O fundamento da terapia psicanalítica está na concepção de que a</p><p>inconsciência de determinados processos anímicos seja a causa dos</p><p>sintomas. Para chegar a esse conteúdo, existem recomendações (ou</p><p>condições) para o tratamento e uma única regra que são resultantes das</p><p>experiências clínicas do próprio Freud.</p><p>Vejamos, agora com mais detalhes estas recomendações:</p><p>Única regra: a regra fundamental ou a regra de ouro para o tratamento</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 42/57</p><p>psicanalítico é a obediência ao método da associação livre, ao qual o</p><p>paciente se compromete a falar tudo o que lhe vier à mente e o</p><p>terapeuta se compromete em aplicar uma atenção flutuante. A</p><p>associação livre marca o início da análise e por onde ela deve sempre</p><p>(re)começar.</p><p>Condições: baseiam-se nas recomendações que Freud faz aos que</p><p>exercerão a Psicanálise, principalmente no texto Sobre o início do</p><p>tratamento (1913), que, seguindo Quinet (2005), agrupamos em 4+1</p><p>condições para análise, a saber:</p><p>(1) O tratamento de ensaio;</p><p>(2) O uso do divã;</p><p>(3) A questão do tempo;</p><p>(4) A questão do dinheiro;</p><p>(+1) O término da análise.</p><p>Agora, avaliaremos brevemente as principais recomendações para os</p><p>atendimentos psicanalíticos no cenário on-line que podem sofrer</p><p>influências com a mudança no espaço físico do consultório tradicional.</p><p>Também conhecido como entrevistas preliminares, diz respeito</p><p>às sessões que têm como objetivo avaliar se pacientes têm</p><p>indicações para o tratamento psicanalítico e se o analista tem</p><p>arcabouço teórico e pessoal para lidar com questões do</p><p>paciente. Esse período termina com o estabelecimento da</p><p>transferência e de ligar o paciente ao seu tratamento. A Internet</p><p>pode ser um lugar repleto de fantasias onde a escuta do sintoma</p><p>e o estabelecimento da transferência podem ser prejudicadas</p><p>pela mediação do encontro no espaço entre o analista e o</p><p>paciente.</p><p>Freud apresenta o conselho de deitar o paciente no divã e o</p><p>analista ficar acomodado atrás dele, sem que se vejam. Mesmo</p><p>que o setting on-line possa não contar com uma estrutura física</p><p>do divã, evitar o olho no olho também facilita ao analisando não</p><p>se colocar em postura de entrevista, mas manter a associação</p><p>livre, em que ele mesmo possa se ouvir ao invés de fazer-se</p><p>ouvir.</p><p>O tratamento de ensaio </p><p>O divã </p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 43/57</p><p>O tempo de cada sessão deve ir contra o tempo do neurótico que</p><p>estabelecerá as bases para constituir a finitude da análise e o</p><p>término. O inconsciente é atemporal e a experiência da fala é na</p><p>linguagem que abarca o não dito, não se reduzindo ao que deve</p><p>ser dito para o analista. Somente com o campo desconectado do</p><p>tempo cronológico é que se possibilita a reflexão e o surgimento</p><p>do sujeito. Mas o que fazer quando na tela o relógio do sistema</p><p>operacional contabiliza o tempo ou o aplicativo da chamada</p><p>expõe a duração cronológica? Saber identificar se o paciente</p><p>consegue distinguir que “tempo não é dinheiro” é retirá-lo do</p><p>sintoma fetichista ou substitutivo de que está investindo pelo</p><p>tempo na sua cura ou que pagou pela sessão por um</p><p>determinado tempo quantitativo, e não qualificado pelo</p><p>significante. O tempo não pode ser outro analista que estabelece</p><p>garantias, gerencia, determina ou vigia.</p><p>Esta recomendação é mais uma precaução do que uma</p><p>explicação. Ela diz respeito a informações precoces que o</p><p>analista pode dar em forma de solução acreditando ser isso uma</p><p>forma de tratamento O tratamento psicanalítico não é uma</p><p>psicoeducação. A via intelectual não resolverá nenhum sintoma.</p><p>Assim, podemos afirmar que a associação livre e as 4+1 condições são</p><p>suficientes para sustentar a especificidade da clínica psicanalítica</p><p>mediada pelas tecnologias de comunicação conectadas à Internet,</p><p>como no exemplo a seguir.</p><p>O dinheiro e o tempo </p><p>O término da análise </p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 44/57</p><p>Virtualidade, tela e sujeito</p><p>A linguagem do mundo virtual é mediada pelos aparelhos da tecnologia</p><p>da informação conectados à Internet e pelos aplicativos que formam</p><p>conexões sociais ou conexões individuais para troca de mensagens</p><p>instantâneas. Esse mundo que provoca os sujeitos em duas dimensões</p><p>(dicotomia realidade e virtualidade) também faz suscitar outras pulsões</p><p>e desejos, bem como novos sintomas, novas formas de subjetivação,</p><p>alienação, separação e compulsão à repetição (BARBAN; TFOUNI, 2019).</p><p>Felicidade instantânea provocada com a atenção nas mídias sociais.</p><p>A virtualidade que dispensa o deslocamento do corpo e insere os</p><p>acessos por outra via que desafia o espaço-tempo propicia a criação de</p><p>itens virtuais para serem desejados e consumidos.</p><p>A cultura-tela inaugura a visualização, os “likes” e o mais-que-gozar para</p><p>afirmar que somos sempre mais felizes no mundo virtual.</p><p>Agora vamos olhar um pouco para a tela. Esse componente serve como</p><p>um novo estádio do espelho que constituirá um novo corpo para o</p><p>sujeito, dessa vez, além da virtualização de um Eu que vive e se constitui</p><p>para o outro no mundo real,</p><p>também precisa surgir para um lugar virtual,</p><p>com uma identidade própria e que precisa atender às demandas e</p><p>exigências de um gozo infinito que não se goza.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 45/57</p><p>Virtualização do Eu, em busca da atenção de outros.</p><p>Por meio da tela surge um novo voyeurismo que deseja ser visto e ser</p><p>desejado por relações e consumos perfeitos.</p><p>Re�exão</p><p>O maior problema dessa virtualização é o aumento da dimensão do</p><p>desejo do sujeito duplamente insatisfeito exprimido pelas duas</p><p>realidades e, sendo a virtual mais hedonista e com os limites de</p><p>castração mais tênues, faz aumentar as queixas de “vazio interior”.</p><p>Para Barban e Tfouni (2019), as redes fizeram com que o ócio e o tédio</p><p>perdessem espaço para a geração da criatividade, além de assenhorar o</p><p>sujeito da responsabilidade de se comprometer com o destino das suas</p><p>pulsões. Antes, o tempo de ócio era ocupado com invenções e</p><p>imaginação.</p><p>Agora, por meio da tela, o espaço virtual assume o lugar de matriz</p><p>geradora de desejo que ao mesmo tempo deseja e preenche o desejo,</p><p>que jamais será satisfeito no mundo físico. Quem está no ócio stalkeia e</p><p>faz refresh nas páginas das redes em busca de novos desejos</p><p>disfarçados de novos conteúdos.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 46/57</p><p>Na medida em que se busca o virtual como escolha de</p><p>sentido, mais ainda o sujeito deve ser imerso na</p><p>virtualização de si, dando-se em alienação. O preço</p><p>disso pode ser um ego pressionado pelos limites do</p><p>que é verdadeiro ou falso, podendo escolher o que é</p><p>fantasioso em detrimento da realidade.</p><p>Por fim, voltamos nossa atenção ao novo fenômeno da repetição. Tal</p><p>como proposto pela Psicanálise, a repetição é o que aponta para um</p><p>objeto perdido (das Ding) e impossível de reencontrar. Assim como a</p><p>coisa perdida, que não está em palavras e reside no Real, dessa vez os</p><p>objetos de consumos virtuais são envoltos das características virtuais e</p><p>o mundo da Internet passa a ser o Novo Real.</p><p>Flexibilização da técnica psicanalítica</p><p>para a Internet</p><p>Para conseguir ser transferida para um setting mediado pelas</p><p>tecnologias da informação e da comunicação, pesquisadores e</p><p>psicanalistas empreenderam esforços para elaborar os meios de</p><p>garantir uma reflexão que auxiliasse essa nova forma de trabalho.</p><p>Veja algumas conjunturas que possibilitam o trabalho psicanalítico on-</p><p>line:</p><p>Mas afinal, o que é a elasticidade técnica? É a saída da posição</p><p>de saber do analista para se colocar de modo mais horizontal na</p><p>situação clínica, afinado ao paciente, sentindo com ele caprichos</p><p>e humores, mantendo ao mesmo tempo a associação livre. Ao</p><p>receber o paciente, o analista também acolhe as suas</p><p>Elasticidade técnica </p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 47/57</p><p>circunstâncias que igualmente devem ser levadas em conta, sob</p><p>pena de não poder realizar o tratamento.</p><p>Essas considerações nos colocam frente à possibilidade de que</p><p>os pacientes poderiam dizer coisas que não diriam numa sessão</p><p>presencial, ou ao contrário. Falar na intimidade de certos lugares</p><p>da casa, olhar para objetos pessoais, a ausência do tempo de</p><p>deslocamento, pode afetar a associação livre.</p><p>Ao contrário do que o senso comum estabelece, não são as</p><p>paredes do consultório, o “clima” ou o conjunto poltrona-divã que</p><p>formam lugar para a técnica. A verdade é que a Psicanálise</p><p>prescinde do enquadramento interior do analista que, no lugar do</p><p>suposto saber, assume uma dimensão ética para uma escuta</p><p>qualificada, implicada e reservada. A associação livre é</p><p>endereçada à atenção flutuante do analista e é no interior do</p><p>analista que se sustenta a sua transferência com a Psicanálise.</p><p>O enquadramento interior do analista é o que determinará o que</p><p>é uma parte variável ou interveniente do que acontece durante a</p><p>sessão e o que faz parte da matriz ativa, isto é, onde reside o</p><p>núcleo do trabalho da Psicanálise. A disposição de esperar</p><p>interferências e invasões do setting exigirá do analista uma</p><p>maior entrega na técnica da atenção flutuante para considerar o</p><p>que é uma defesa inconsciente ou uma intercorrência fortuita.</p><p>Esse enquadre sob medida exigirá um conhecimento muito</p><p>maior de cada analisando para uma ciência do que é pertencente</p><p>a uma realidade interna ou externa. O que é uma ressonância,</p><p>uma simbolização ou uma resistência.</p><p>Segundo Laplanche e Pontalis (1992, p. 514), a transferência é “o</p><p>processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre</p><p>determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação</p><p>estabelecida com eles, e, eminentemente, no quadro da relação</p><p>analítica”. Esse processo é uma repetição de vivências infantis</p><p>no qual são deslocados valores, direitos e afetos para objetos e</p><p>por onde acontece o tratamento psicanalítico via interpretação</p><p>da sua modalidade e resolução. A transferência é igualmente um</p><p>deslocamento dos afetos infantis para a figura do analista, que</p><p>pode manter ou terminar a relação terapêutica ao mesmo tempo</p><p>Enquadramento interior </p><p>Transferência </p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 48/57</p><p>em que também pode erguer-se como resistência. Pela</p><p>transferência, o analisando concede um lugar para o analista.</p><p>Agora vamos a um percalço no setting on-line:</p><p>Re�exão</p><p>A transferência sobre os objetos. Estando o paciente num espaço</p><p>íntimo, repleto de objetos que falam de suas relações afetivas, podem</p><p>emergir palavras que talvez não sejam creditadas ao analista ou a</p><p>afetos que poderiam não ser suscitados caso não estivessem</p><p>encerradas na situação privada de casa ou trabalho. Será que algo seria</p><p>falado se não estivesse on-line?</p><p>Do mesmo modo, outra situação reclama a necessidade de cuidado:</p><p>A transferência com as imagens dos aplicativos de</p><p>comunicação.</p><p>A imagem do paciente durante a sessão pode favorecer a exposição ao</p><p>espelho em que o seu Eu pode ser vigiado, julgado, medido, desejado.</p><p>Esse fenômeno pode contribuir para mudar a direção da fala para si</p><p>mesmo e, com isso, todo o trabalho da transferência pode retornar ao</p><p>plano do imaginário e do narcisismo ao invés da escuta de si e do</p><p>analista que fala do lugar do Outro.</p><p>Ver a si mesmo pode tornar uma entrevista entre o paciente e sua</p><p>imagem especular fazendo com que o espaço entre dois, paciente e</p><p>analista, se torne um espaço entre três ou entre paciente-paciente.</p><p>08/08/2024, 15:05 A clínica psicanalítica na atualidade</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03752/index.html?brand=estacio# 49/57</p><p>A técnica psicanalítica pela Internet</p><p>Neste vídeo, o especialista refletirá sobre as principais considerações e</p><p>cuidados que o psicanalista deve ter no atendimento remoto.</p><p>O campo psicanalítico e a psicanálise</p><p>on-line</p><p>Mesmo on-line, o que faz uma psicanálise verdadeira é a qualificação da</p><p>fala, da sexualidade e do suposto saber. O lugar da fala, para quem se</p><p>fala e o que se fala é constituição de uma psicanálise verdadeira.</p><p>Atenção!</p><p>O campo psicanalítico, também chamado de campo lacaniano, não é o</p><p>espaço físico do consultório, mas um campo formado pela linguagem.</p><p>Portanto, esse campo de linguagem instituído entre analista e paciente</p><p>por uma ética específica de escuta independe da estrutura física,</p><p>podendo ser aplicado ao ambiente virtual. O compromisso do analista é</p><p>sustentar que o que se trata nesse campo não é o saber, nem a</p><p>consciência, mas o desejo do Outro e da sua fala.</p><p>Sobre a escuta da sexualidade, a Psicanálise trata de um furo no saber e</p><p>quem faz esse furo é a sexualidade. É Lacan (2003) quem recorda que o</p><p>inconsciente nunca acerta tanto quanto ao errar. Quando se fala que a</p><p>sexualidade faz o furo no saber é o mesmo que dizer que é a</p><p>sexualidade que</p>

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