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AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTERNACIONALIZAÇÃO 
DA SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. José Benedito Caparros Junior 
 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
O objetivo desta segunda etapa é entender como a saúde está ambientada 
internacionalmente, informação cada vez mais relevante aos profissionais de 
diversas áreas. Muito vem sendo discutido sobre isso nas relações internacionais, 
em especial porque, a partir dos anos 1990: “[...] a saúde passou a ser 
considerada como um fator importante para o crescimento econômico e o 
desenvolvimento social, com reflexos na política externa, na soberania nacional, 
no comércio, na segurança nacional, no turismo, nos direitos humanos e nos 
programas de meio ambiente.” (Fortes; Ribeiro, 2014, p. 367). 
Diante disso, para alcançarmos nosso objetivo, nosso percurso 
metodológico está dividido nestes cinco tópicos: 
1. Conceito de saúde 
2. Determinantes sociais da saúde (DSS) 
3. Saúde internacional 
4. Saúde global 
5. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 
Conforme iremos perceber ao longo desta etapa, esses cinco tópicos 
possuem relação bastante íntima entre si e, portanto, se faz necessário estudá-
los conjuntamente. 
TEMA 1 – CONCEITO DE SAÚDE 
Você já deve ter se deparado com o conceito de saúde, ao longo de sua 
jornada acadêmica e profissional, não é mesmo? Mas, será que existe um 
conceito acabado para saúde? Isto é, existe um conceito único, perfeito e que não 
seja questionado pela academia e sociedade em geral, sobre o tema? Não, não 
existe! Por essa razão, abordar esse assunto é de suma importância para nós, 
visto que precisamos adotar e explorar um conceito de saúde para balizar nossas 
discussões, daqui para a frente. Assim sendo, neste primeiro tópico, inicialmente 
iremos discutir as dimensões que categorizam os conceitos (superados ou 
vigentes) de saúde e, posteriormente, o conceito de saúde por nós adotado. Além 
disso, evidenciaremos as críticas existentes sobre ele e, por fim, explicaremos 
o motivo pelo qual ele foi adotado. 
 
 
3 
Mas, antes de apresentarmos uma reflexão sobre o conceito de saúde, 
precisamos estar cientes de que, no mundo, há pluralidade de conceitos sobre 
tudo que pudermos imaginar, o que significa que todo e qualquer assunto possui 
inúmeras definições e que, portanto, esses assuntos não param de ser pensados 
e repensados. Em outras palavras, nenhum conceito é estático e nem imutável. 
Isso pode parecer estranho à primeira vista, mas esse é o cenário ideal para o 
progresso científico, acadêmico, profissional e social. Ou seja: aceitar e abraçar 
múltiplos olhares e interpretações sobre um determinado assunto é o melhor 
caminho para um aprimoramento. 
No que se refere especificamente ao conceito de saúde, podemos refletir 
acerca de seu significado com base em duas dimensões, quais sejam: 
1. conceitos superados, mas que foram abandonados, ao longo da história, 
pela qual é possível observar a evolução da concepção de saúde; 
2. conceitos vigentes, pela qual é possível observar conceitos 
contemporâneos coexistindo. 
No que se refere aos conceitos superados, Scliar (2007, p. 29) argumenta 
que conceitos de saúde podem ser “[...] analisados em sua evolução histórica e 
em seu relacionamento com o contexto cultural, social, político e econômico, 
evidenciando a evolução das ideias nessa área da experiência humana”. Por 
exemplo, na Europa Medieval 
[...] a influência da religião cristã manteve a concepção da doença como 
resultado do pecado e a cura [saúde] como questão de fé; o cuidado de 
doentes estava, em boa parte, entregue a ordens religiosas [...]. 
Procurava-se evitar o contra naturam vivere, viver contra a natureza. O 
advento da modernidade mudará essa concepção religiosa. (Scliar, 
2007, p. 33) 
Em outros termos, “o conceito de saúde é resultante de representações 
históricas que foram se alterando conforme as sociedades se organizavam” 
(Fogaça, 2018, p. 17). Isto é, a humanidade se deparou com inúmeros conceitos 
de saúde, ao longo dos seus vários períodos históricos1, da Pré-História à Idade 
Contemporânea. E, já na Idade Contemporânea, a humanidade presenciou os 
longos e significativos passos que a ciência deu rumo a uma nova conscientização 
sobre as doenças, compreendendo como elas funcionam, buscando e 
 
1 A divisão da história é um método para separar a história em períodos cronológicos com 
características comuns. Classicamente, dividem-se os períodos históricos da seguinte forma: Pré-
História (período anterior a 4000 a.C.); Idade Antiga (de 4000 a.C. a 476 d.C.); Idade Média (de 
476 a 1453); Idade Moderna (de 1454 a 1789); e Idade Contemporânea (de 1789 em diante). 
 
 
4 
concebendo novas maneiras de retardá-las ou pará-las, além de reconhecendo 
que a ausência de doença pode não ser viável, em muitos casos (Felman; 
Sampson, 2020). 
Saiba mais 
Em seu artigo História do conceito de saúde, o médico e professor Moacyr 
Scliar (2007) fornece e discute informações e tece uma reflexão interessantíssima 
acerca da evolução histórica do conceito de saúde. Segundo o autor, a 
compreensão de saúde reflete uma dada conjuntura social, econômica, política e 
cultural, não representando a mesma coisa em todas as épocas. O artigo pode 
ser lido em: 
<https://www.scielo.br/j/physis/a/WNtwLvWQRFbscbzCywV9wGq/?lang=pt>. 
Em especial nas últimas décadas, os conceitos vigentes de saúde 
ultrapassaram os limites físicos do corpo humano, passando a levar em 
consideração questões de ordem social e cultural. Atualmente, entende-se que, 
para se ter saúde, é preciso que haja equilíbrio entre o corpo, a mente e o meio 
social em que se está inserido (Felman; Sampson, 2020). 
Dentre alguns conceitos vigentes de saúde, destaca-se aquele publicado 
em 2011 no British Medical Journal (BMJ), em que se diz o seguinte: que a saúde 
é a “[...] capacidade de adaptação e autogestão em face de desafios sociais, 
físicos e emocionais” (Hubber et al., 2011, citados por Almeida Filho, 2018, p. 
120). No entanto, o conceito de saúde ora adotado antecede a esse, o qual foi 
cunhado por meio da promulgação da Constituição da Organização Mundial da 
Saúde (OMS). De acordo com esse documento, a saúde é “[...] um estado de 
completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de 
doença ou de enfermidade” (OMS, 1946). Justifica-se a adoção desse conceito 
de saúde porque foi a partir de seu estabelecimento que o bem-estar social 
passou a ser visto como um dos pilares da saúde, afinal a saúde está intimamente 
ligada ao ambiente social e às condições de vida e trabalho dos indivíduos 
(Svalastog et al., 2017). 
No entanto, não podemos fechar nossos olhos para as críticas existentes 
ao conceito de saúde da OMS (1946), lembrando que, conforme já conversamos, 
não existem conceitos únicos, perfeitos e inquestionáveis tanto pela academia 
quanto pela sociedade de modo geral. Segre e Ferraz (1997) argumentam que o 
conceito da Constituição da OMS (1946) é irreal e utópico, pois não pode ser 
 
 
5 
alcançado pela sociedade, pautando-se em uma perfeição inatingível. Essa 
argumentação não está errada, pelo contrário. Trata-se de uma crítica com 
fundamentos sólidos, relevantes e práticos. Afinal, o que seria um estado de 
completo bem-estar físico, mental e social? Será que existiria uma solução 
objetiva para isso? 
Apesar disso, podemos entender o conceito como um norte para a 
sociedade, ou seja, como um ideal a ser perseguido a fim de que políticas públicas 
na área da saúde sejam mais bem formuladas e tornem-se objeto de discussões 
sérias e frutíferas, seja no âmbito nacional, seja no âmbito internacional. Conforme 
ressalta Caponi (1999, p. 3, citado por Lunardi, 1999, p. 27), “é possível entender 
este ‘máximo de bem-estar’ como algo desejável de ser alcançado, uma máxima 
que deva, como um direito inalienável do homem, ser insistentemente buscada e 
procuradapor todos os homens”. 
Em 2018, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas, 2018) publicou 
o documento Health indicators: conceptual and operational considerations, no qual 
defende o conceito de saúde da OMS (1946), argumentando que ele ainda é 
válido para a contemporaneidade e considerando-o um avanço em relação à 
definição fornecida pelos modelos biomédicos que eram dominantes até a sua 
publicação. 
TEMA 2 – DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE (DSS) 
A ideia-chave para estudarmos os DSS, neste tópico, é a desigualdade 
entre indivíduos, grupos ou populações. Enquanto alguns possuem abundância 
de oportunidades, outros sobrevivem em ambientes precários e sem oportunidade 
para alcançarem uma vida digna. É nesse sentido que reside a importância de 
entendermos os DSS, os quais fazem referências à “[...] distribuição de poder, 
renda, bens e serviços e às condições de vida das pessoas, e o seu acesso ao 
cuidado à saúde, escolas e educação; suas condições de trabalho e lazer; e o 
estado de sua moradia e ambiente” (O que é, [20--]). Como veremos a seguir, os 
DSS têm uma influência importante nas iniquidades em saúde e, em países de 
todos os níveis de renda, a saúde e a doença seguem um gradiente social: quanto 
mais baixa a posição socioeconômica de um dado indivíduo ou grupo, pior a sua 
saúde. 
Para atendermos ao objetivo pedagógico deste tópico, a proposta de 
estudo é composta pela exploração do conceito de DSS, pelo conhecimento 
 
 
6 
sobre quais profissionais possuem participação fundamental na elaboração e 
execução de políticas públicas concernentes a esse tema e, por fim, de alguns 
dos principais DSS. 
Quando se fala em saúde e longevidade, o que vem a sua mente? Muitas 
pessoas, especialmente os leigos, pensam em profissionais da área da saúde 
cuidando de pessoas enfermas em hospitais, clínicas e consultórios. Todavia, 
sabemos que essa se trata de uma visão limitada sobre o assunto, não é mesmo?! 
O conhecimento e a prática dos profissionais da área vão além dos muros dessas 
instituições. Afinal, a saúde também engloba o bem-estar social e, portanto, os 
DSS. 
Para a OMS, o conceito de DSS é o seguinte: são fatores não médicos 
“[...] que influenciam os desfechos de saúde. São as condições em que as 
pessoas nascem, crescem, trabalham, vivem e envelhecem, e o conjunto mais 
amplo de forças e sistemas que moldam as condições da vida cotidiana” (Social, 
[S.d.], tradução nossa). Em outras palavras, esses fatores afetam a saúde da 
população, pois determinam a que as pessoas têm acesso e o que podem fazer 
para melhorar sua qualidade de vida, bem-estar e saúde. Por exemplo, as 
pessoas com maior nível de renda têm melhores condições de saúde, pois têm 
acesso a melhores serviços de saúde, medicamentos, água potável, educação e 
assim por diante. Por outro lado, as pessoas com baixa renda tendem a ter menos 
acesso a esses elementos. Consequentemente, podemos reafirmar que, quanto 
menor a posição socioeconômica de um país, pior tende a ser a saúde, nesse 
país. 
De acordo com uma publicação realizada pela Fundação Oswaldo Cruz – 
Fiocruz (O que é, [20--]), o estudo dos DSS na América Latina emerge na década 
de 1970, buscando compreender os limites das tecnologias médicas em face dos 
problemas de saúde e, consequentemente, dando maior atenção aos fatores 
socioeconômicos pertinentes à relação saúde-doença. 
Para a OMS, profissionais da área da saúde possuem participação 
fundamental para a criação de políticas públicas que visem combater a 
iniquidade em saúde, diminuindo seus impactos negativos nas comunidades 
(Social, [S.d.]). A OMS lista alguns dos principais DSS com potencial para 
influenciar positiva e negativamente a saúde de uma nação, quais sejam: 
• renda; 
• segurança pública; 
 
 
7 
• saneamento básico; 
• educação; 
• emprego; 
• qualidade de vida e no trabalho; 
• alimentação; 
• habitação; 
• meio ambiente; 
• desenvolvimento da primeira infância; 
• inclusão social e não discriminação; 
• serviços de saúde acessíveis e de qualidade decente. 
Ainda de acordo com a OMS, os DSS são responsáveis por entre 30% a 
55% dos desfechos de saúde no mundo. No entanto, os DSS constituem assunto 
multifacetado e complexo, que engloba uma série de áreas do conhecimento. 
Apesar disso, as dificuldades não podem ser suspensivas para que a equidade 
em saúde seja pensada, repensada e perseguida, longe disso! A realidade social 
só poderá ser alterada quando os DSS, embora muito complexos, forem objeto 
de profunda reflexão e pauta para a formulação de políticas públicas (Social, 
[S.d.]). 
Uma das formas de se atingir um resultado positivo, com isso, é mediante 
a implementação de programas de saúde que atendam às necessidades 
específicas aos grupos vulneráveis. É preciso que esses programas sejam 
acessíveis e que não excluam nenhum grupo da população. Além disso, é 
necessário que as pessoas tenham acesso a informações sobre as possibilidades 
de assistência e tratamento que lhes estão à disposição. Dessa forma, para que 
a redução das desigualdades seja alcançada, a participação da sociedade civil 
também se faz primordial. Afinal, são muitos os desafios a serem combatidos e, 
consequentemente, as ações a serem implementadas para o enfrentamento das 
iniquidades relacionadas à saúde (Social, [S.d.]). 
TEMA 3 – SAÚDE INTERNACIONAL 
Não se pode negar que a saúde é um dos temas mais relevantes para as 
relações internacionais, sendo objeto de muitos debates em fóruns internacionais, 
na formulação e adesão a tratados, na criação de organizações internacionais 
(OIs), sejam governamentais (OIGs), sejam não governamentais (OINGs) e assim 
 
 
8 
por diante. Embora não possamos determinar com precisão o período em que a 
saúde se tornou um assunto de preocupação internacional, o século XX tem uma 
grande importância histórica para o assunto (McInnes; Lee, 2013). 
Assim sendo, neste tópico abordaremos a saúde internacional, tratando 
sobre seu conceito e suas principais características, bem como do surgimento 
e evolução do termo e sua concepção. 
Em 1913 aparece pela primeira vez o termo saúde internacional, cunhado 
pela Fundação Rockefeller (Fortes; Ribeiro, 2014). O conceito para o 
termo é o seguinte: esforços internacionais “[...] [de] controle de doenças 
infectocontagiosas, no combate à desnutrição, à mortalidade materna e 
infantil e em atividades de assistência, principalmente nos países 
denominados menos desenvolvidos” (Fortes; Ribeiro, 2014, p. 369). Em 
termos práticos, conforme ensinam Birn, Pillay e Holtz (2017, p. 62-63): 
[...] a maior parte das atividades em saúde internacional não é 
compartilhada entre nações equivalentes; elas refletem a ordem política 
e econômica internacional, na qual a “assistência” internacional é 
“provida” pelas nações ricas e industrializadas e “recebida” pelos países 
pobres e subdesenvolvidos. 
Adicionalmente, cabe salientar que um dos grandes focos da saúde 
internacional era o controle de epidemias que possuíam potencial para atravessar 
as fronteiras entre os Estados, isto é, que exigiam um controle internacional 
(Ribeiro, 2016). 
A saúde internacional possui três características fundamentais, quais 
sejam: 
1. fundamentar-se em bases práticas, médicas e biológicas (Fortes; Ribeiro, 
2014, p. 370); 
2. estabelecer uma relação vertical entre países ricos e pobres, em que os 
primeiros concedem ajuda aos segundos (Ribeiro, 2016); 
3. evitar que doenças infectocontagiosas, muitas vezes decorrentes de baixa 
qualidade de vida e acesso escasso à saúde, ultrapassassem as fronteiras 
e cheguem aos países desenvolvidos (Ribeiro, 2016). 
 No entanto, conforme estudamos em conteúdos anteriores, a globalização 
é o pano de fundo para todas as práticas das relações internacionais. Assim, com 
a evolução desse processo, a partir dos anos 19902, a saúde internacional sofreu 
 
2 Início da quarta fase da globalização (globalizaçãocontemporânea). 
 
 
9 
intensas críticas e, em razão disso, passou por um profundo processo de 
ressignificação. 
TEMA 4 – SAÚDE GLOBAL 
Conforme lecionam Fortes e Ribeiro (2014, p. 368), “o processo da 
globalização é o motor da evolução do termo ‘saúde global’, que carrega desafios 
e oportunidades no campo da saúde”. Nessa nova abordagem, busca-se 
compreender e melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas em todo o mundo, 
com base em estudos e intervenções no que se referem às mudanças sociais, 
econômicas, políticas e ambientais. Para, então, compreendermos o que é saúde 
global, estudaremos seu conceito, suas características e sua ligação com a 
saúde internacional. 
De acordo com os ensinamentos de Buss e Tobar (2017, p. 24), o “[...] 
termo saúde global vem, desde a década de 1990, paulatinamente substituindo a 
terminologia anterior, consagrada como saúde internacional”. Enquanto a saúde 
internacional era caracterizada pelo assistencialismo e pelo controle de doenças 
infecciosas com potencial para ultrapassarem as barreiras dos Estados, a saúde 
global possui um significado ampliado e mais coerente com o mundo 
contemporâneo. Todavia, ressalta-se que seu conceito ainda não é preciso e 
muito vem sendo discutido sobre, especialmente por ser algo novo na sociedade. 
Segundo investigação realizada por Ribeiro (2016), a saúde global pode 
ser entendida de várias formas. Apesar disso, o conceito a ser por nós adotado 
é aquele proposto por MacFarlane, Jacobs e Kaaya (2008, citados por Ribeiro, 
2016): “melhorias de condições de saúde ao redor do mundo, redução das 
disparidades e proteção contra ameaças globais que não respeitam fronteiras 
nacionais”. 
A saúde global possui, assim, duas características importantes, sendo 
elas: 
1. senso de responsabilidade coletiva; 
2. multiprofissionalismo e interdisciplinaridade. 
 No que se refere ao senso de responsabilidade coletiva, no escopo da 
saúde global é reconhecida a existência de problemas e ameaças à saúde de 
todos os povos e que, portanto, não podem mais ser combatidos isoladamente 
pelos Estados (Ribeiro, 2016). Essa nova forma de pensar a saúde no ambiente 
 
 
10 
internacional é a grande responsável pela transição dos paradigmas da saúde 
internacional para a saúde global. Como consequência disso, se faz necessário 
esforços de cooperação internacional entre os Estados. Nesse sentido, Sampaio 
e Ventura (2016, p. 153) afirmam que: 
A saúde global traz a ideia de que a saúde das pessoas do mundo deve 
ser sustentada por um esforço coletivo internacional, sem desprezar-se 
as especificidades locais. Deve-se, portanto, buscar compreender os 
fenômenos locais em articulação com as questões globais. O objetivo 
principal da ideia de saúde global é o de superar as dificuldades 
mundiais de saúde de forma coletiva e cooperativa, sem fronteiras. 
Em adição a isso, a saúde global se caracteriza também por 
multiprofissionalismo e interdisciplinaridade, baseando-se especialmente nos 
saberes e práticas das ciências biológicas, humanas e sociais (Ribeiro, 2016), 
cujo objetivo é o alcance da melhoria e da equidade em saúde para todos, no 
mundo. Em outros termos, a saúde global constitui-se por “[...] diversas 
disciplinas: medicina, ciências sociais, economia, epidemiologia, relações 
internacionais, geografia, antropologia, entre outras” (Nigro; Perez, 2016). Nas 
palavras de Koplan et al. (2009, tradução nossa): 
a saúde global é uma área de estudo, pesquisa e prática que prioriza a 
melhoria da saúde e a equidade em saúde para todas as pessoas, em 
todo o mundo. A saúde global enfatiza questões, determinantes e 
soluções transnacionais de saúde; envolve muitas disciplinas dentro e 
fora das ciências da saúde e promove a colaboração interdisciplinar [...]. 
Isso significa que, diferentemente do que ocorria no escopo da saúde 
internacional, a saúde global não se fundamenta apenas em bases médicas e 
biológicas, pelo contrário. Conforme explica Ribeiro (2016): 
No documento final da Cúpula Mundial de Saúde de 2014, em Berlim, 
denominado “Saúde é mais que medicina”, logo no primeiro item 
ressalta-se que a saúde tem um enorme impacto no desenvolvimento 
social e econômico, em todo o mundo, e que nada é mais importante 
que a saúde para o indivíduo – para que possa viver com dignidade e 
desenvolver o seu potencial – e para a sociedade em geral. Constata-
se, portanto, que a saúde tem reflexos na produção e produtividade dos 
países, mas também na política externa, na soberania e segurança 
nacional, no comércio, no turismo, nos direitos humanos e nos 
programas de meio ambiente. 
Com base no conceito e nas características comentadas, bem como no 
conceito de saúde explorado no primeiro tópico, podemos afirmar que a saúde 
passou a ser “[...] considerada majoritariamente um bem público global: que não 
seja excludente, isso é, que ninguém ou nenhuma coletividade seja excluída de 
 
 
11 
sua posse ou de seu consumo; e que seus benefícios sejam disponíveis a todos” 
(Fortes; Ribeiro, 2014, p. 368). 
Sem embargo, não podemos desconsiderar que a noção de saúde global 
é uma evolução e que, portanto, ainda possui ligação com algumas ideias de sua 
antecessora. Em outras palavras, na saúde global ainda há a preocupação com a 
filantropia internacional e com a propagação de doenças infecciosas 
transnacionalmente; mas ela não se limita a isso. 
TEMA 5 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) 
Ao avançarmos com o estudo, acreditamos que você tenha percebido que 
existe estreita relação entre o conceito de saúde proposto pela OMS (1946), os 
DSS e a saúde global. Esses assuntos são congruentes, na medida em que 
trabalhamos em prol de uma sociedade que busca justiça e equidade para a 
população mundial, isso influenciando direta e indiretamente no bem-estar e na 
saúde humana. Agora, para finalizar, trabalharemos com os ODS, que seguem o 
mesmo sentido. 
De antemão, vale salientar que os 17 ODS foram inspirados no sucesso 
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), porém com apresentação 
de novas questões, tais como: mudança climática global, desigualdade 
econômica, inovação, consumo sustentável, paz e justiça etc. Os objetivos são 
interligados, ou seja, o sucesso de um ODS envolve responder a questões que 
estão associadas a outros objetivos (ONU, 2015). 
Para a Organização das Nações Unidas (ONU), “os Objetivos de 
Desenvolvimento Sustentável (ODS) são um apelo global à ação para acabar com 
a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em 
todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade” (Sobre, [20--]). Os 
ODS foram propostos pela ONU e ratificados pelos seus Estados-membros em 25 
de setembro de 2015, entrando em vigor em 1º de janeiro de 2016 e almejando o 
cumprimento das metas até 31 de dezembro de 2030. São 17 os ODS, os quais 
se desdobram em 169 metas. Esses objetivos, e suas metas, abordam questões 
importantes como as mudanças climáticas, a erradicação da pobreza, a redução 
da desigualdade, a educação de qualidade, a saúde, a responsabilidade 
econômica, a ação contra a corrupção e a promoção de sociedades inclusivas, 
pacíficas e sustentáveis (Sobre, [20--]; ONU, 2015). 
 
 
12 
Embora exista um objetivo específico para tratar de temas relativos à saúde 
(ODS 3), a abordagem do tema não está restrita a esse objetivo, pelo contrário 
(Silveira; Sousa, 2022). Se tomarmos como base os DSS, teremos claro que todos 
os objetivos influenciam, direta ou indiretamente, na saúde e no bem-estar das 
populações mundiais. Afinal de contas, é possível desassociar a saúde de outras 
esferas da vida, como: igualdade de gênero, proteção da água, trabalho justo e 
assim por diante? Não, não é possível. Em outros termos: não é possível viver 
com saúde em ambientes doentes. 
Todavia, os esforços não se restringem à decisão de líderes mundiais, 
governos e gestão pública. Os ODS devemnortear também o trabalho de 
organizações não governamentais (ONGs), empresas privadas e todos nós, como 
pessoas. Isto é, todos nós temos um papel e um compromisso com os ODS. Mas, 
cabe destacar que a colaboração do setor privado é essencial, nesse sentido, para 
alcançarmos as 169 metas dos 17 ODS, já que esse setor é detentor de grande 
poder econômico e, por essa razão, capaz de impulsionar inovações e novas 
tecnologias. 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
ALMEIDA FILHO, N. O que é saúde? Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2013. 
BIRN, A.; PILLAY, Y.; HOLTZ, T. H. Textbook of Global Health. Oxford: Oxford 
University Press, 2017. 
BUSS, P. M.; TOBAR, S. Diplomacia em saúde e saúde global: perspectivas 
latino-americanas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2017. 
CAPONI, S. A proposito del concepto de salud. Florianópolis: UFSC, 1997. 
FOGAÇA, T. K. Geografia da saúde. Curitiba: InterSaberes, 2018. 
FORTES, P. A. de C.; RIBEIRO, H. Saúde global em tempos de globalização. 
Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 366-375, abr./jun. 2014. Disponível 
em: <https://www.scielo.br/j/sausoc/a/3SZQCBNKhKBWJWbq3LbQtpz/>. Acesso 
em: 25 jan. 2023. 
KOPLAN, J. P. et al. Towards a common definition of global health. The Lancelet, 
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20, n. 1, p. 26-40, jan. 1999. Disponível em: 
<https://core.ac.uk/download/pdf/303964063.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2023. 
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Press, 2013. 
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RIBEIRO, H. Saúde global: olhares do presente. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 
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Disponível em: <https://dssbr.ensp.fiocruz.br/dss-o-que-e/>. Acesso em: 25 jan. 
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OMS – Organização Mundial da Saúde. Constituição. Nova York, 22 jul. 1946. 
ONU – Organização das Nações Unidas. Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável. Nova York, 2015. 
OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde. Health indicators: conceptual 
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14 
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	INTRODUÇÃO
	TEMA 1 – CONCEITO DE SAÚDE
	TEMA 2 – DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE (DSS)
	1
	2
	TEMA 3 – SAÚDE INTERNACIONAL
	4
	TEMA 4 – SAÚDE GLOBAL
	TEMA 5 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

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