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Prévia do material em texto

<p>Alan Hirsch</p><p>Caminhos esquecidos</p><p>Reativando a igreja missional</p><p>Coordenação editorial: Walter Feckinghaus</p><p>Tradução: Daniele M. Damiani Guabiraba</p><p>Revisão: Josiane Zanon Moreschi</p><p>Edição: Sandro Bier</p><p>Capa: Sandro Bier</p><p>Editoração eletrônica: Josiane Zanon Moreschi</p><p>Copyright © 2006 by Alan Hirsch.</p><p>Originalmente publicado em Inglês sob o �tulo</p><p>The forgo�en ways: reac�va�ng the missional church</p><p>by Brazos, a division of Baker Publishing Group, Grand Rapids, Michigan, 49516, U.S.A.</p><p>Todos os direitos reservados.</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)</p><p>Hirsch, Alan</p><p>Caminhos esquecidos : reativando a igreja missional / Alan Hirsch ; tradução Daniele M. Damiani Guabiraba. - - 1. ed. - -</p><p>Curitiba : Editora Esperança, 2015.</p><p>Título original : The forgotten ways : reactivating the missional church.</p><p>Bibliografia.</p><p>ISBN 978-85-7839-098-3</p><p>1. Igreja 2. Missões 3. Pós-modernismo - Aspectos religiosos - Cristianismo I. Título</p><p>14-07928 CDD-266</p><p>Índices para catálogo sistemático:</p><p>1. Missão da igreja : Cristianismo 266</p><p>As citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada</p><p>da Sociedade bíblica do Brasil (1993).</p><p>Todos os direitos reservados.</p><p>É proibida a reprodução total e parcial sem permissão escrita dos editores.</p><p>Editora Evangélica Esperança</p><p>Rua Aviador Vicente Wolski, 353 - CEP 82510-420 - Curitiba - PR</p><p>Fone: (41) 3022-3390 - Fax: (41) 3256-3662</p><p>comercial@esperanca-editora.com.br - www.editoraesperanca.com.br</p><p>“Caminhos esquecidos é um desafio convincente para despertar o instinto empreendedor inato</p><p>da igreja e impulsioná-la para as margens da nossa cultura emergente. Recomendo muito</p><p>este livro, em especial aos que são dotados de ousadia para alinhar o sistema operacional da</p><p>igreja com o coração missional de Deus.”</p><p>Andrew Jones, www.tallskinnykiwi.com</p><p>“Há poucos livros que podem ser descritos por alguém como marcos no campo de missões;</p><p>este é um desses livros. Trata-se de uma leitura essencial para todos os que estão lutando</p><p>contra o principal problema relacionado ao que a igreja pode e deve se tornar.”</p><p>Martin Robinson, autor de Planting Mission – Shaped Churches Today (Racine, WI:</p><p>Monarch Books, 2006)</p><p>“Esta é uma contribuição provocativa e criteriosa para a descoberta do compromisso</p><p>missional eficaz com a cultura ocidental pós-cristã. Com base na própria experiência de</p><p>Alan como pastor-missionário e ilustrado com exemplos de diversos lugares, Caminhos</p><p>esquecidos desafia e equipa tanto as igrejas herdadas quanto as emergentes a recuperarem a</p><p>dinâmica do movimento missional.”</p><p>Stuart Murray Williams, autor de Church after Christendom (Crownhill, UK: Paternoster</p><p>Pub, 2005) e Changing Mission: Learning from the Newer Churches (Londres: Churches</p><p>Together in Britain and Ireland (CTBI), UK, 2006)</p><p>“Retornamos a 30 d.C. Enquanto muitos líderes de igreja tentam, desesperadamente,</p><p>modificar as expressões institucionais do cristianismo na esperança de obter melhores</p><p>resultados, Al Hirsch nos ajuda a compreender a necessidade que temos de nos</p><p>comprometermos outra vez com o movimento em sua forma missional primária.”</p><p>Reggie McNeal, autor de Prática da excelência – 7 disciplinas dos líderes espirituais</p><p>extraordinários (São Paulo: Vida, 2010) e The Present Future: Six Tough Questions for the Church</p><p>(Hoboken, NJ: Jossey-Bass, 2009)</p><p>“Com a atenção de um estudioso dos detalhes e as lições críticas da história, bem como com</p><p>a paixão criativa de um missionário do primeiro século, Alan Hirsch nos chama de volta a</p><p>uma vida de fé flexível, de movimento rápido e livre. Ele resgata o termo ‘missional‘ da vala</p><p>comum de palavras técnicas da igreja durante o processo.”</p><p>Greg Paul, autor de God in the Alley: Being and Seeing Jesus in a Broken World (Shaw Books,</p><p>2004); fundador e diretor do Sanctuary Ministries, em Toronto</p><p>“Alan vem quebrando paradigmas e ideias desafiadoras há anos. Agora, em Caminhos</p><p>esquecidos, Alan descreve os movimentos missionais e nos desafia a reordenar a igreja ao</p><p>redor de sua missão, tudo filtrado por meio de sua profunda experiência pessoal. Você será</p><p>provocado, desafiado e motivado a abraçar o DNA missional e o impulso materializado da</p><p>igreja primitiva em sua própria vida e ministério.</p><p>Ed Ste�er, autor de Breaking the Missional Code (Nashville, TN: B&H, 2006) e Planting</p><p>Missional Churches (Nashville, TN: B&H, 2006)</p><p>“A era da cristandade acabou, mas uma era renovada dos verdadeiros movimentos cristãos</p><p>e discipulado está começando a manifestar-se. Igrejas e líderes que não prestarem atenção às</p><p>análises apresentadas aqui estão sujeitos a serem enganados por um cristianismo que está</p><p>preso no transitório modo da cristandade ou, de modo oposto, está perdido em meio a</p><p>modas passageiras. O foco com base bíblica e centrado em Jesus deste livro o faz sobressair</p><p>a dezenas de outros sobre o mesmo tema. Ele tem que ser lido e ponderado. O alvo da</p><p>análise de Alan Hirsch é histórico, bíblico e teológico.”</p><p>Howard A. Snyder, autor de Radical Renewal (Eugene, OR: Wipf & Stock Pub, 2005), A</p><p>comunidade do Rei (São Paulo: Ultimato, 2004), e Models of the Kingdom (Eugene, OR: Wipf &</p><p>Stock Pub, 2001)</p><p>Este livro é dedicado à afetuosa memória de minha maravilhosa mama judia,</p><p>Elaine, resgatada pelo Messias na plenitude dos tempos. Ela continua viva, não</p><p>apenas em Deus, mas na vida de seu filho grato que a ama. Obrigado, mãe!</p><p>Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria.</p><p>Salmo 90.12</p><p>A������������� ���������</p><p>A minha amada Debra, que, com paciência, amou um homem por vezes indigno de ser</p><p>amado, mostrando-me o que significa servir com generosidade aos pobres.</p><p>A Pat Kavanagh — você sempre será o meu pastor.</p><p>A South Melbourne Restoration Community por me proporcionar uma experiência</p><p>maravilhosa de graça e perdão expressados de modo comunitário.</p><p>A meus colegas nas várias expressões da Igreja de Cristo por sempre me darem corda o</p><p>suficiente para me enforcar. Em especial, a Don Smith por acreditar em mim e criar espaço</p><p>para um “alien”.</p><p>A meus companheiros na Forge Mission Training Network, um agradecimento muito</p><p>especial. Considero esta obra meu legado e contribuição ao desenvolvimento do DNA de</p><p>nosso fantástico e pequeno movimento. Ao compartilhar com vocês esse trabalho especial,</p><p>sinto o grande prazer de Deus.</p><p>A Dean Phelan, Paul Steele e Andy Barker por patrocinar e ajudar, de modo generoso, o</p><p>desenvolvimento dos testes para aptidão missional e do sistema de desenvolvimento de</p><p>perfis APEPD no site.</p><p>S������</p><p>P������� - V��� ������������� �������������</p><p>S���� 1 - A �������� �� �� �����������</p><p>I���������</p><p>Uma jornada de milhares de quilômetros começa com uma única pergunta</p><p>Uma pequena prévia</p><p>Método em meio à loucura</p><p>1. C������ � �������, ����� 1 - C��������� �� �� ����������� ���������</p><p>“South”</p><p>Fase 1: Da morte para o caos</p><p>Fase 2: Tornando-se uma igreja que planta igrejas</p><p>Fase 3: De igreja a movimento orgânico</p><p>2. C������ � �������, ����� 2 - P����������� �������������� � ����������</p><p>Uma visão do helicóptero</p><p>Cristandade-missionaridade</p><p>Tomada missionária</p><p>Nós sempre fizemos desse jeito... não fizemos?</p><p>“É igreja, Jim, mas não como a conhecemos”</p><p>Quem colocou o M em IME?</p><p>S���� 2 - U�� ������� �� ����� �� G����� A���������</p><p>I���������</p><p>mDNA</p><p>Genoma Apostólico</p><p>Missional e igreja missional</p><p>3. O ����� �� ����: J���� � S�����</p><p>Destilando a mensagem</p><p>Ouve, Ó Israel</p><p>Jesus é Senhor</p><p>O centro das coisas</p><p>Quão longe é longe demais?</p><p>4. F������ ����������</p><p>O “pequeno Jesus” na Disneylândia</p><p>A conspiração do “pequeno Jesus”</p><p>Encarnação e transmissão</p><p>Liderança inspiradora</p><p>Liderança como extensão do discipulado</p><p>Começando a jornada com Jesus</p><p>5. I������ ���������-�������������</p><p>Raízes teológicas</p><p>Missional-encarnacional</p><p>Eclesiologia missional ou... Colocando as coisas mais importantes em primeiro lugar</p><p>6. A������� ����������</p><p>Se você quer uma igreja missional, então...</p><p>Uma descrição do trabalho apostólico</p><p>Campo dos sonhos</p><p>Criando redes de significados</p><p>A chave do Genoma Apostólico</p><p>A palavra final</p><p>7. S������� ���������</p><p>Ganhar uma vida:</p><p>lançamento de CDs,</p><p>lançamentos de livros e discussões, saraus (onde as pessoas compartilhavam poesias e</p><p>músicas), bem como noites musicais regulares. Essas são maneiras naturais de as pessoas se</p><p>envolverem organicamente em discussões expressivas, a essência da arte, espiritualidade,</p><p>etc. Tudo isso, além de ofertas regulares de um extenso cardápio de alimentos com bom</p><p>preço e da hospitalidade, formavam o motor econômico do projeto.</p><p>Nossa análise inicial estimou cerca de 60.000 clientes por ano no café. A maioria dessas</p><p>pessoas consumia refeições e ficava conversando no lounge-bar. Por meio da divulgação de</p><p>nossos diversos fóruns interativos, convidávamos pessoas para um diálogo orgânico, onde</p><p>podíamos saber seus nomes e, pelo menos, iniciar um relacionamento. Este não era sobre</p><p>evangelismo evidente no primeiro momento; mas, admitimos, viria a ser posteriormente por</p><p>meio de relacionamentos significativos.</p><p>Aqui estão os números: de 60.000 clientes, metade podia demonstrar interesse nos</p><p>diversos fóruns oferecidos. Dos que expressaram interesse, metade se esforçou para saber</p><p>mais. Dos que se esforçaram para saber mais, apenas metade passou a participar realmente</p><p>de algum grupo. Isso significa que provavelmente cerca de 4.000 pessoas tenham se juntado</p><p>a algum grupo, seja de arte, noites de microfone aberto, espiritualidade ou outros. Se</p><p>acrescentarmos os que iam ao Elevation por outras razões que não a refeição, teríamos um</p><p>local lucrativo e sustentável com sua própria vida cultural e espiritual vigorosa.</p><p>Embora víssemos o Elevation como um espaço de proximidade, uma abordagem</p><p>missional genuína deve visar, em última análise, a criação de comunidades de fé em torno</p><p>de Jesus. Essa é a forma como planejamos o projeto, a fim de que formasse comunidades de</p><p>fé.</p><p>A ideia é apresentada como um raciocínio lógico para tais abordagens de missão na</p><p>esperança de que inspirem outros a fazerem o mesmo. Para a SMRC isso representou um</p><p>novo modo de comprometimento missional. Foi o próximo passo lógico de nossa</p><p>abordagem para missão nessa fase do movimento; uma mudança definitiva do</p><p>predominante modo atrativo no qual a SMRC havia confortavelmente se estabelecido. O</p><p>fracasso no sustento do projeto nos abateu de modo muito duro e me levou a um estado</p><p>depressivo, bem como a um processo de muita reflexão no qual analisei o valor de nosso</p><p>trabalho e a condição espiritual da SRMC especificamente e da igreja no geral.</p><p>Quando as coisas estavam indo mal para nós, os diretores do café fizeram diversos apelos</p><p>especiais para a comunidade eclesiástica ficar por trás do projeto e fazer todos os esforços</p><p>para vir, trazer amigos e desfrutar de uma refeição, uma ou duas bebidas, e ouvir música</p><p>juntos. O que nos desestabilizou, de fato, foi que, mesmo depois de inúmeros apelos</p><p>urgentes, o apoio para o projeto não aumentou de forma significativa. Possivelmente,</p><p>apenas cerca de um terço da igreja abraçou a causa, outro um terço dava um pequeno apoio</p><p>e o outro sequer se preocupou em aparecer. Tenho que dizer: isso realmente mexeu comigo</p><p>e me fez refletir profundamente a respeito do impacto da minha própria liderança e</p><p>ministério na SMRC.</p><p>Como líder-chave, eu tinha que assumir a total responsabilidade pelas más decisões e por</p><p>não conseguir tantos bens quanto deveria – e assim o fiz, porém, uma vez que as pessoas</p><p>estavam cientes do que estava acontecendo e mesmo assim não responderam como</p><p>discípulos maduros deveriam fazer, fui afetado profundamente. Isso me levou a questionar</p><p>o que realmente tínhamos criado no decorrer dos últimos anos de ministério, que, por todas</p><p>as estimativas externas, era uma igreja eficaz e notável. Como alguém avalia os resultados</p><p>de 15 anos de ministério quando chega a isso?</p><p>Minhas reflexões levaram-me a investigar biblicamente como nós realmente medimos a</p><p>eficácia de uma igreja e seu impacto missional. Como sabemos que estamos sendo frutíferos?</p><p>Com que medida nós, como povo de Deus, seremos medidos? Como Deus avalia a nossa</p><p>eficácia? (Não é esse o significado implícito de julgamento?) Evidentemente, porque ele</p><p>julga (Jo 15.1-8; Ap 1-3) e julgará o seu povo (1Pe 4.17). Tudo isso me levou mais uma vez à</p><p>questão sobre a natureza da igreja conforme a Bíblia define e sobre como saber que estamos</p><p>realmente fazendo o que deveríamos fazer. Essas são perguntas complexas que levaram a</p><p>mim, e, de fato, toda a nossa liderança, a uma posição de profundo arrependimento e a um</p><p>novo desenvolvimento e crescimento.</p><p>Para nós como liderança, o ponto da virada foi fazer as perguntas mais difíceis sobre</p><p>como determinar o resultado da igreja. E isso, por sua vez, nos fez questionar novamente</p><p>sobre a natureza da igreja e seu propósito natural de acordo com as Escrituras. Tivemos que</p><p>voltar à essência da função e propósito da igreja no mundo. Para isso, tivemos que</p><p>identificar o que compreendia os componentes essenciais que, juntos, formam uma igreja.</p><p>Qual é o mínimo de uma expressão verdadeira da eclésia? Chegamos à seguinte conclusão –</p><p>a igreja é:</p><p>Uma comunidade com uma aliança: Uma igreja é formada por pessoas, porém, não por</p><p>pessoas que apenas passam o tempo juntas, mas que se unem por um vínculo diferente.</p><p>Há certa obrigação de um para com o outro em torno da aliança.</p><p>Centrada em Jesus: Ele é a nova aliança com Deus, formando, assim, o epicentro de uma</p><p>fé Cristã autêntica. Uma eclésia não é uma simples comunidade de Deus – existem</p><p>muitas outras comunidades religiosas. Somos definidos pelo nosso relacionamento com</p><p>a segunda pessoa da Trindade, o mediador, Jesus Cristo. Uma comunidade com a</p><p>aliança centrada em Jesus participa da salvação trazida por ele. Recebemos a graça de</p><p>Deus nele. No entanto, para constituir verdadeiramente uma igreja, exige-se mais.</p><p>Um verdadeiro encontro com Deus, em Jesus, deve resultar em:</p><p>Adoração, definida como oferecer nossa vida de volta para Deus por intermédio de Jesus.</p><p>Discipulado, definido como seguir Jesus e tornar-se muito semelhante a ele (semelhante</p><p>a Cristo).</p><p>Missão, definida como estender a missão (propósito da redenção) de Deus por meio das</p><p>atividades de seu povo.</p><p>É necessário observar que, tanto na prática quanto na teologia, todos os pontos estão</p><p>interligados de forma profunda, e um informa ao outro a fim de criar o complexo fenômeno</p><p>chamado “igreja”. Essa definição é importante porque faz surgir os aspectos essenciais do</p><p>que constitui uma eclésia de fé.</p><p>Como definimos? Na realidade, o modo como definimos a igreja é crucial porque nos dá</p><p>uma dica direta sobre os elementos críticos de uma autêntica comunidade cristã. Destaca</p><p>também para nós as principais respostas que constituem a espiritualidade cristã, ou seja,</p><p>adoração, discipulado e missão. Seremos avaliados por Deus com base no propósito inato da</p><p>igreja e, então, em nossa capacidade de:</p><p>1. Fazer discípulos: pessoas que estão aprendendo como, e o que significa, tornar-</p><p>se semelhante a Cristo;</p><p>2. Comprometer-se com sua missão para o mundo, que é a nossa missão (seus</p><p>propósitos fluem por meio de nós), e;</p><p>3. Desenvolver a autenticidade, abrangência e profundidade de nossa adoração.</p><p>Se não formos frutíferos nessas áreas, não poderemos afirmar que somos uma igreja fiel</p><p>como Deus deseja que sejamos. Nessa situação, assim como nas sete igrejas do Apocalipse</p><p>(Apocalipse 1 – 3), estamos correndo o risco de nosso candeeiro ser removido. Elas também</p><p>foram julgadas e chamadas ao arrependimento. Porém, para nós, a falha central está</p><p>primeiramente em nossa incapacidade de “fazer discípulos”. Portanto, nossa adoração e</p><p>missão enfraqueceram; não tiveram fundamentos reais. Cheguei à terrível conclusão de que</p><p>edificamos a maior parte da SMRC sobre a areia porque não a edificamos sobre o</p><p>discipulado (Mt 7.26). Mas, qual a utilidade do sal se ele perder seu sabor (Mt 5.13)?</p><p>F��� 3: D� ������ � ��������� ��������</p><p>Na época, nossa avaliação como líderes da South foi que nós, como comunidade, tínhamos</p><p>perdido nossa perspicácia e nosso coração. Quando as aparas caíram, não conseguimos</p><p>formar fontes mais profundas de discipulado e sentido</p><p>persistente de obrigação e missão.</p><p>Para nós, líderes, parecia que não tínhamos valorizado a missão clara de Deus, e, portanto, a</p><p>nossa, como função central da igreja. De fato, para nossa vergonha, até aquele ponto, não</p><p>havíamos visto nenhuma conversão a Jesus durante os dois anos anteriores. E isso no que</p><p>era, possivelmente, uma das igrejas mais receptivas e relevantes em nossa cidade (você não</p><p>tem 40% de frequência de gays e lésbicas, muitos deles ainda não cristãos, sem ser acessível</p><p>e aberto).</p><p>O que estava errado? Nossa avaliação: nós não tínhamos obtido êxito na tarefa de fazer</p><p>discípulos, portanto, não fomos frutíferos na missão. Ao negligenciarmos dois elementos</p><p>essenciais da eclésia, tínhamos nos tornado um pouco mais do que um clube de adoração</p><p>para pessoas modernas alienadas das expressões mais amplas de igreja. As duas outras</p><p>dimensões da eclésia frutífera foram quase esquecidas por completo. Fomos forçados a</p><p>concluir que tudo o que tínhamos feito foi cultivar mais a abordagem consumista no</p><p>cristianismo. Assim como a maioria das igrejas no estilo cristandade moderna, havíamos</p><p>formado um modelo de igreja segundo o modelo consumista e, no fim, pago o preço.</p><p>Soa duro? Os proponentes do crescimento da igreja não nos ensinaram explicitamente a</p><p>imitar o shopping center e aplicá-lo à igreja? Nisso eles foram sinceros, mas não deviam</p><p>estar cientes das ramificações dessa abordagem, pois, no fim, o médio sempre se torna a</p><p>mensagem.21 Eles não estavam cientes do vírus latente no modelo em si – o do consumismo</p><p>e os pecados da classe média. Muito do que pode ser rotulado de “classe média consumista”</p><p>é baseado nos ideais de conforto e conveniência (consumismo), e de segurança e proteção (classe</p><p>média).</p><p>Winston Churchill certa vez observou que damos forma aos nossos edifícios e, depois,</p><p>eles nos dão forma. E como é verdade! Quando construímos nossas igrejas, a arquitetura e a</p><p>forma dizem tudo. Veja isto:</p><p>Na figura acima, a maior parte da igreja é passiva na equação. As pessoas estão no modo</p><p>receptivo e basicamente recebem os cultos oferecidos. Ou seja, são praticamente</p><p>consumidoras. Elas vão para “serem alimentadas”. Porém, essa é uma imagem fiel da igreja?</p><p>A igreja realmente deve ser “um meio de alimentação” de alguma forma para as pessoas</p><p>competentes da classe média que estão desenvolvendo suas carreiras? E para ser honesto, é</p><p>muito fácil para os ministros atender a isto: o entendimento predominante de liderança é o</p><p>de pastor-professor. Pessoas com esse dom adoram ensinar e cuidar das pessoas, e a</p><p>congregação, por sua vez, adora terceirizar o ensinamento e cuidado. Tenho de admitir que</p><p>agora isso parece uma terrível codependência para mim. Seguindo a agenda consumista, a</p><p>igreja em si se torna consumível e provedora de culto, um vendedor de bens e cultos</p><p>religiosos. No entanto, essa abordagem de “provisão de culto” é exatamente o que Jesus não</p><p>fazia. Ele falava por meio de enigmas (parábolas) que evocavam uma busca espiritual nos</p><p>ouvintes. Em nenhum momento ele fez sermões religiosos de três pontos abrangendo todas</p><p>as bases. Seu público tinha que fazer todo o trabalho duro de completar os espaços em</p><p>branco. Em outras palavras, não eram entregues à passividade, mas seu espírito era ativado.</p><p>Para evitar dúvidas, na SMRC passamos de sermões monologistas para discussões</p><p>dialógicas. Tentamos, como loucos, diferentes formas de adoração e ligação com Deus.</p><p>Desenvolvemos um ambiente parecido com uma sala de estar com poltronas em semicírculo</p><p>e arte popular por toda a parede. Tentamos a comunicação multissensorial, e muito mais.</p><p>Porém, no fim, tudo o que havíamos conseguido fazer foi tornar 20% da comunidade ativa</p><p>no ministério, deixando cerca de 80% passivo ou consumidor.</p><p>Na realidade, era como se tivéssemos piorado as coisas para os participantes, pois tudo o</p><p>que fizemos serviu para refinar o consumismo já latente deles. Seu “gosto” pela igreja</p><p>evoluiu. Descobrimos que, se um membro da comunidade saísse da SMRC por qualquer</p><p>razão, sentia muito mais dificuldade de voltar para o estilo de igreja “feijão com arroz”, pois</p><p>tinham adquirido o gosto por “pimenta e alho”, por assim dizer. Descobrimos que muitas</p><p>pessoas que saíram, simplesmente andaram sem rumo e não conseguiram se reconectar em</p><p>lugar algum. Isso foi muito perturbador e nos levou a questionar seriamente qual foi o</p><p>resultado final da nossa forma envolvente de fazer uma igreja alternativa? Isso piorou as</p><p>coisas? Minha resposta alarmante é que eu acredito que sim. Minha lógica é a seguinte:</p><p>À parte do gracioso envolvimento de Deus, se você deseja criar uma igreja</p><p>contemporânea seguindo os bons princípios de crescimento da igreja, há diversas coisas que</p><p>deve fazer e melhorar constantemente:</p><p>Expandir o edifício para permitir o crescimento e planejá-lo novamente junto com as</p><p>linhas indicadas no diagrama “modelo de crescimento da igreja contemporânea”.</p><p>Garantir excelente pregação no estilo contemporâneo tratando de assuntos relacionados</p><p>à vida dos ouvintes.</p><p>Desenvolver uma experiência de adoração inspiradora (aqui, limitada a “louvor e</p><p>adoração”) com uma excelente banda e líderes positivos de adoração.</p><p>Certificar-se de ter um ótimo estacionamento com manobristas para assegurar o</p><p>mínimo de inconveniência em encontrar lugar para estacionar.</p><p>Garantir excelentes programas na crítica área dos ministérios infantil e de adolescentes.</p><p>Faça isso e as pessoas se adaptarão mais facilmente em qualquer lugar.</p><p>Desenvolver um bom programa de grupo de células fundamentado em torno do modelo</p><p>cristão de educação para assegurar cuidado pastoral e um sentido de comunidade.</p><p>Certificar-se de que a próxima semana seja melhor do que a semana anterior para fazer</p><p>com que as pessoas continuem vindo.</p><p>Isso é o que os praticantes do crescimento da igreja chamam de “integração ministerial”.</p><p>A melhora em uma área beneficia o todo e a atenção constante aos elementos da integração</p><p>garantirá o crescimento e aumentará o impacto. O problema é que isso leva direto ao</p><p>consumismo. A igreja com os melhores programas e “mais atraente” tende a conquistar</p><p>mais clientes.</p><p>Vamos testar o seguinte: O que você acha que acontecerá se os elementos da integração se</p><p>deteriorarem ou uma nova igreja com uma programação melhor se estabelecer em sua</p><p>região? Estatísticas por todo o mundo ocidental onde esse modelo predomina indicam que a</p><p>maior parte do crescimento da igreja vem daqueles que “vivem mudando” – pessoas que</p><p>pulam de igreja em igreja com base na percepção e experiência da programação. Há</p><p>pouquíssimo, mas precioso, crescimento por conversão. Ninguém enxerga o problema</p><p>porque “se sente tão bem” e “funciona para mim”. Na verdade, a igreja está em declínio</p><p>pelo mundo ocidental e nós temos, no mínimo, 40 anos de princípios e prática de</p><p>crescimento da igreja.22 Não podemos fazer discípulos com base na abordagem consumista</p><p>de fé. Simplesmente não podemos consumir nosso modo para o discipulado. Todos nós devemos</p><p>nos tornar muito mais ativos na equação de nos tornarmos seguidores de Jesus pelo resto da</p><p>vida. O consumo é prejudicial ao discipulado.23</p><p>Com tudo em mente, sentimos que tínhamos de reedificar a igreja desde a base até as</p><p>funções-chave bíblicas da igreja (Jesus, comunidade de aliança, discipulado, missão e</p><p>adoração). Para toda a liderança, era isso ou haveria renúncia em massa. Aqui estão alguns</p><p>dos fundamentos filosóficos sobre os quais procedemos para reedificar a igreja.24</p><p>1. Queríamos mudar de igreja estática e localizada geograficamente para um</p><p>movimento dinâmico por toda a nossa cidade.</p><p>2. Para garantir que cumpríssemos a ordem da igreja de “fazer discípulos”,</p><p>simplesmente tivemos que inverter a proporção ativo/passivo (de 20/80 para</p><p>80/20) com o objetivo de deixarmos de ser vendedores de bens e serviços</p><p>religiosos. Queríamos que a maior parte da comunidade fosse ativa e se</p><p>envolvesse diretamente na jornada de se tornar como Jesus.</p><p>3. Desejávamos articular e desenvolver um sistema totalmente reproduzível</p><p>criado com base em ideias simples, de fácil integração e transferíveis</p><p>(DNA</p><p>internalizado).</p><p>4. O movimento tinha que ser criado com base em princípios da multiplicação</p><p>orgânica, incluindo o funcionamento como rede de comunicação, não como</p><p>uma organização centralizada.</p><p>5. Finalmente, a missão (e não o ministério) tinha que ser o princípio</p><p>organizacional do movimento.</p><p>g</p><p>E aqui estão as conclusões a que chegamos:</p><p>1. A unidade eclesiástica básica (igreja) tinha que ser muito menor, de modo a</p><p>passar da proporção de ativo/passivo de 20/80 para 80/20. A unidade maior</p><p>simplesmente não consegue permitir a participação máxima de todas as</p><p>pessoas presentes. Em outras palavras, estávamos nos transformando em uma</p><p>igreja em célula. No entanto, não uma igreja em célula exatamente da mesma</p><p>forma como configurada antes (no estilo de Ralph Neighbor et al.), pois,</p><p>segundo o nosso pensamento, esses grupos deveriam se tornar a primeira</p><p>experiência real da igreja em vez de ser apenas uma programação da igreja. Cada</p><p>um desses grupos é uma igreja segundo seus próprios direitos. Essa é uma</p><p>grande mudança.</p><p>2. Não desenvolveríamos apenas uma filosofia de ministério, mas uma aliança e</p><p>práticas essenciais. Por trás desse pensamento estava a crença de que, ao falar</p><p>sobre valores essenciais, o apelo apareceria em primeiro lugar. Ainda observo</p><p>uma série de valores essenciais em toda filosofia de igreja com os quais não</p><p>concordo. Em alguns casos, eles são um pouco mais do que “afirmações</p><p>maternais” em comunidades confessionais. O que queríamos era formar uma</p><p>aliança com uma série de práticas que expressassem e demonstrassem o valor</p><p>essencial.25</p><p>3. Cada grupo (e, portanto, a maioria dos membros individuais do grupo) tinha</p><p>que se comprometer com uma dieta saudável de disciplinas espirituais – a</p><p>única forma de crescer na cristandade da qual tínhamos ciência. Sendo uma</p><p>igreja ligeiramente desobediente, criamos o que chamamos de modelo</p><p>TEMPT.26</p><p>PRÁTICA ESSENCIAL DISCIPLINA ESPIRITUAL</p><p>T Juntos nós seguimos Comunidade ou união</p><p>E Compromisso com as Escrituras Integrar as Escrituras em nossa vida</p><p>M Missão Missão (esta é a disciplina central que une e integra as demais)</p><p>P Paixão por Jesus Adoração e oração</p><p>T Transformação Desenvolvimento de caráter e responsabilidade</p><p>Cada grupo/igreja tinha que estar compromissado com todas as práticas a cada</p><p>encontro para fazer parte do movimento. Como eles fariam isso era totalmente a</p><p>critério deles e dependia do modo de ser de cada um, da liderança e do contexto</p><p>missional do grupo. Nós os encorajávamos a explorar e desenvolver novas maneiras de</p><p>praticar o TEMPT. Chamamos essas igrejas em células menores de grupos TEMPT.</p><p>1. Organizaríamos o movimento em três ritmos básicos: um ciclo semanal</p><p>reunindo os grupos TEMPT; um encontro mensal (tribal) reunindo todos os</p><p>grupos TEMPT em determinada região; e um encontro a cada dois anos de</p><p>todas as tribos em uma rede de movimento amplo. Cada um desses níveis teria</p><p>uma estrutura de liderança apropriada. Discipulado principal, adoração e</p><p>missão ocorreriam no nível dos grupos TEMPT – o DNA do TEMPT garantiria</p><p>isso. A coordenação regional (tribal) asseguraria um desenvolvimento de</p><p>liderança saudável e facilitaria as indicações pastorais e a rede de comunicação</p><p>saudável. A liderança de movimento amplo facilitaria o nível estratégico e,</p><p>então, providenciaria o que, mais tarde, seria chamado de “ambiente</p><p>apostólico”.</p><p>2. Em termos de DNA, além do comprometimento do movimento amplo com as</p><p>práticas do TEMPT, a única exigência para pertencer ao movimento é que cada</p><p>grupo TEMPT se comprometa a multiplicar-se assim que seja possível e</p><p>praticável organicamente. Isso garante uma multiplicação saudável e incorpora</p><p>um sentido permanente de missão.</p><p>Tudo isso não foi feito rapidamente e nem foi fácil. Pessoas acostumadas a “ser</p><p>alimentadas”, de modo geral, relutam em mudar da passividade para a atividade.</p><p>Entretanto, realizamos a transição da igreja ao longo de dois anos utilizando um modelo</p><p>saudável de mudança em que todos eram convidados a dar seu parecer e a participar. A</p><p>South Melbourne Restoration Community (renomeada The Red Network ou simplesmente Red)</p><p>agora está em novo terreno e diante de um novo futuro. Quando passarmos pelos vários</p><p>aspectos do mDNA na seção 2 deste livro, volte a essa história como principal exemplo de</p><p>aplicação dos princípios da igreja missional.</p><p>O estranho é que, após 15 anos de ministério e missão nessa comunidade, Deb e eu</p><p>sentimos que, depois da transição da igreja para novas possibilidades e do</p><p>reposicionamento dela para missão orgânica no século 21, tínhamos um chamado para</p><p>deixar outro projeto missional e explorar algo mais. Embora tenha sido difícil para nós dois,</p><p>e nem sempre fizesse muito sentido, acreditamos que estava totalmente certo.</p><p>Evidentemente, os problemas da igreja em nossa época não podem ser resolvidos sem</p><p>alguma forma de envolvimento subjetivo nas questões do dia a dia. Não é particularmente</p><p>útil ficar em terra seca enquanto tenta dar aulas de natação. Precisamos estar envolvidos.</p><p>Debra e eu ainda estamos aprendendo sobre missão a partir da perspectiva local, pois</p><p>estamos profundamente comprometidos com a prática local. Ao começar algo novo, temos a</p><p>chance de fazer tudo outra vez, esperando não cometer os mesmos erros.</p><p>2</p><p>C������ � �������, ����� 2</p><p>Perspectivas denominacional e translocal</p><p>Nada é mais di�cil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que</p><p>dar início a uma nova ordem de coisas.</p><p>Nicolau Maquiavel, O Príncipe</p><p>Falando sério, pode-se dizer que a igreja está sempre em estado de crise e que sua maior falha</p><p>é se conscien�zar disso ocasionalmente. [...] Talvez, isso aconteça por causa da constante</p><p>tensão entre a natureza essencial da igreja e sua condição empírica. [...] Logo, os muitos</p><p>séculos sem crise para a igreja foram anormais. [...] E, se a atmosfera sem crise ainda dura em</p><p>muitas partes do Ocidente, isso é simplesmente o resultado de uma perigosa desilusão.</p><p>Precisamos saber também que enfrentar a crise é enfrentar a possibilidade de ser</p><p>verdadeiramente igreja.</p><p>David Bosch, Missão transformadora</p><p>U�� ����� �� �����������</p><p>A experiência na SMRC e o posterior movimento de plantação de igreja para subculturas e</p><p>moradores marginalizados que surgiram dele deram-me uma perspectiva da igreja</p><p>missional a partir do ponto de vista de uma igreja local. Este é o ponto principal em que o</p><p>Evangelho de Jesus Cristo envolve pessoas reais em situações da vida real e a igreja precisa</p><p>ajustar seu modo aos novos fundamentos. É a verdadeira linha de frente do Reino de Deus,</p><p>pois se expressa por meio das comunidades locais da fé. No entanto, é, de alguma forma,</p><p>uma perspectiva muito estreita e micromissionária. O que estava faltando era uma</p><p>perspectiva abrangente que levasse em conta uma visão mais global e regional das questões</p><p>estratégicas relacionadas à missão.</p><p>Depois de alguns anos de vários envolvimentos no âmbito denominacional, fui chamado</p><p>para dirigir nosso Departamento de Missão, Educação e Desenvolvimento, efetivamente a</p><p>sala das máquinas e a usina de ideias estratégicas de nossa denominação. Ao mesmo tempo,</p><p>mantive minha função como líder da equipe no movimento emergente. Atuar em duas</p><p>pesadas funções como essas quase me matou, mas foi a melhor coisa que eu poderia ter</p><p>feito, pois me colocou em dois lugares críticos ao mesmo tempo, proporcionando-me uma</p><p>perspectiva estratégica da igreja e do cristianismo. Isso destacou o dilema enfrentado pela</p><p>igreja na(s) cultura(s) global(is) emergente(s). Dirigir uma denominação enquanto, ao</p><p>mesmo tempo, está comprometido com os marginalizados, serviu para acentuar minha</p><p>convicção crescente de que a igreja no Ocidente tinha que mudar e adotar uma postura</p><p>missionária em relação ao seu contexto cultural, ou enfrentaria uma queda acentuada e uma</p><p>possível extinção. Isso gerou muito medo e foi nesse momento de tensão que eu realmente</p><p>passei de olhar a mim mesmo em primeiro lugar como pastor para ser um missionário para</p><p>o Ocidente.</p><p>C����������-��������������</p><p>Edward de Bono, não um teólogo, mas, definitivamente,</p><p>um grande especialista em</p><p>processos de aprendizagem criativos, destaca que, caso exista uma cura conhecida e bem-</p><p>sucedida para uma doença, os pacientes em geral preferem que o médico utilize a cura</p><p>conhecida em vez de buscar desenvolver uma melhor. Contudo, talvez, seja possível</p><p>descobrir curas muito melhores. Ele, com razão, questiona como podemos chegar a</p><p>descobrir uma cura melhor se a cada momento crítico sempre optamos pelo tratamento</p><p>tradicional.27 Pense sobre isso com relação às nossas formas usuais de resolver nossos</p><p>problemas. Não negligenciamos constantemente padrões e formas anteriores de tentar</p><p>resolver problemas teológicos, espirituais e da igreja? Para citar outro Bono, desta vez o da</p><p>banda U2, é como se estivéssemos “presos a um momento e agora não conseguíssemos nos</p><p>livrar dele”.28 Não é de se admirar que nossos pré-compromissos com o modo cristandade</p><p>da igreja e do pensamento nos restrinjam aos sucessos passados e não nos dê soluções reais</p><p>para o futuro. Nós sempre parecemos negligenciar suas respostas pré-concebidas. O</p><p>aprendizado e o desenvolvimento genuínos são, na melhor das hipóteses, um processo</p><p>arriscado, mas sem jornada e risco não pode haver progresso.</p><p>Ninguém, ao olhar para a situação da igreja hoje, pode dizer que no decorrer do último</p><p>século, mais ou menos, as coisas não mudaram fundamentalmente. A realidade com a qual</p><p>lidamos é que, depois de quase dois mil anos de Evangelho, estamos em queda em</p><p>praticamente todo o contexto cultural ocidental. Na realidade, estamos muito mais longe de</p><p>concluir o trabalho do que estávamos no século 3. Até mesmo os EUA, por muito tempo o</p><p>baluarte de uma forma distinta e vigorosa da cristandade cultural, está vivenciado neste</p><p>momento uma sociedade que se afasta cada vez mais da esfera eclesiástica de influência,</p><p>tornando-se genuinamente neopagã. Muita tinta já foi derramada na tentativa de analisar a</p><p>situação. No entanto, raramente nessas avaliações ouvimos um chamado para repensar a</p><p>respeito do modo atual de comprometimento da igreja – a maneira como ela entende e se</p><p>molda em torno de suas principais tarefas. Pouquíssimas vezes ouvimos uma crítica séria</p><p>sobre as frequentes suposições escondidas nas quais a cristandade se baseia.29 Parece que o</p><p>modelo dessa versão altamente institucional de cristianismo está incorporado de modo tão</p><p>profundo em nossa psique coletiva que o colocamos, inadvertidamente, além dos limites da</p><p>crítica profética. Divinizamos tanto esse modo de igreja ao longo de séculos de teologização</p><p>sobre ele que, na verdade, o confundimos com o Reino de Deus, um erro que parece ter</p><p>contaminado o pensamento católico em particular ao longo das décadas.30</p><p>A maioria dos esforços para mudanças na igreja fracassou ao lidar com as diversas</p><p>suposições nas quais a cristandade está fundamentada e se mantém. A mudança de</p><p>pensamento necessária em nossos dias, no ponto de vista da igreja e da missão, deve ser</p><p>radical de verdade, ou seja, deve partir da raiz do problema. Talvez, uma forma de conceber</p><p>isso seja refletir sobre como os computadores e softwares se relacionam. Seguindo a</p><p>abordagem utilizada pelos desenvolvedores dos computadores da Apple, se alguém busca</p><p>constantemente criar um computador melhor, o desenvolvimento sistemático deve ocorrer</p><p>em três níveis, isto é, na linguagem de máquina/hardware, sistema operacional e programas</p><p>do usuário final.</p><p>Programas:</p><p>interface com usuário final</p><p>Sistema operacional:</p><p>mediador entre programa e máquina</p><p>Linguagem de máquina/hardware:</p><p>código básico de hardware</p><p>Esta ilustração mostra que não é útil desenvolver um ótimo software quando o sistema</p><p>operacional e a linguagem de máquina, ou hardware, não irão ou não poderão cooperar</p><p>com ele. Ótimos usuários de programas são limitados na medida em que o restante do</p><p>sistema permanece rudimentar. Existem questões sistêmicas fundamentais que precisam ser</p><p>tratadas. Para criar um produto líder mundial e bem-sucedido, o desenvolvimento deve</p><p>estar atento aos três níveis. Por isso, a Apple avança como um todo integrado.</p><p>Essa é uma metáfora útil com a qual analisar nossas abordagens para mudar e reformar.</p><p>Muitos esforços para revitalizar a igreja visam apenas acrescentar ou desenvolver novas</p><p>programações ou estimular a teologia e a base doutrinária da igreja. Contudo, raramente</p><p>tratamos o “hardware”, ou a “linguagem de máquina”, do qual tudo depende. Isso significa</p><p>que os esforços para fundamentalmente orientar outra vez a igreja em torno de sua missão</p><p>irão falhar, pois o sistema fundamental, no caso do modo da cristandade ou da</p><p>compreensão de igreja, cancela o que o “software” está solicitando. A liderança deve ir mais</p><p>fundo e desenvolver suposições e configurações nas quais mais uma expressão missional da</p><p>eclésia possa ser criada.</p><p>Assim, temos que tratar as questões do modo eclesiástico, até a forma como configurar o</p><p>sistema a partir do qual operamos. Isso exige que nós nos conscientizemos das suposições</p><p>(invisíveis) sobre as quais estabelecemos nossa experiência de igreja e nosso propósito no</p><p>mundo.</p><p>Mudando a história</p><p>Apesar de ouvirmos sobre as tentativas bem-sucedidas de revitalizar as igrejas existentes, o</p><p>resultado geral é muito ruim. Ministros relatam que suas tentativas de revitalizar as igrejas</p><p>que lideram não alcançaram os resultados desejados. Muita energia (e dinheiro) é colocada</p><p>nos programas de mudança com todos os exercícios de comunicação comuns, consultas,</p><p>workshops e assim por diante. No início, as coisas parecem mudar, mas, aos poucos, a</p><p>novidade e ímpeto tendem a enfraquecer e a organização acaba retomando alguma coisa do</p><p>modelo ou configuração anterior. Então, em vez de administrar novas organizações, esses</p><p>líderes acabam administrando os indesejados efeitos colaterais de seus esforços. A razão</p><p>para isso é, na verdade, bem simples, embora seja frequentemente negligenciada: a não ser</p><p>que o paradigma no centro da cultura seja mudado, não poderá existir mudança duradoura.</p><p>Certa vez, perguntaram a Ivan Illich qual era a maneira mais radical para mudar a</p><p>sociedade – era por meio de uma revolução violenta ou de uma reforma gradual? Ele</p><p>respondeu cuidadosamente. Nenhuma delas. Em vez disso, sugeriu que, se alguém</p><p>desejasse mudar a sociedade, teria que contar uma história alternativa. Illich está certo.</p><p>Precisamos reestruturar nossa compreensão, embora com lentes diferentes, com uma</p><p>história alternativa, se desejamos ir além do cativeiro do paradigma institucional</p><p>predominante que claramente domina nossa abordagem atual de liderança e igreja.</p><p>Um paradigma, ou história de sistemas, “é um conjunto de crenças centrais resultantes da</p><p>multiplicidade de conversas e que mantém a unidade da cultura.31 As “pétalas” neste</p><p>diagrama são “as manifestações da cultura que resultam da influência do paradigma”.32 A</p><p>maioria dos programas de mudança se concentra nas pétalas, ou seja, tentam efetivar a</p><p>mudança observando as estruturas, os sistemas e os processos. A experiência nos mostra</p><p>que essas iniciativas geralmente têm sucesso limitado. O consultor de igrejas, Bill Easum,</p><p>está certo quando observa que “seguir Jesus no campo missionário é impossível ou</p><p>extremamente difícil para a maioria das congregações no Ocidente por um motivo: elas têm</p><p>uma história de sistemas que não lhes permitirá dar o primeiro passo fora da instituição</p><p>rumo ao campo missionário, mesmo que o campo missionário esteja logo depois da porta da</p><p>congregação”.33</p><p>Ele continua observando que toda organização é fundamentada em “uma história de</p><p>sistemas básica”. Ele mostra que “isso não é um sistema de crenças. É a história de vida</p><p>continuamente repetida que determina como uma organização sente, pensa e, então, age.</p><p>Essa história de sistemas determina a maneira pela qual a organização se comporta,</p><p>independentemente de como o quadro organizacional está projetado. É o modelo principal</p><p>que forma todos os outros. Reestruture a organização, deixe a história de sistemas no lugar e</p><p>nada mudará dentro da organização. É inútil tentar revitalizar a igreja, ou uma</p><p>denominação, sem, primeiro,</p><p>mudar o sistema”.34 Transpor essa história de sistemas – o</p><p>paradigma, ou modelo de igreja – é, segundo Easum, uma das chaves para a mudança e</p><p>para uma constante inovação.</p><p>Easum observa que a maioria das teorias sobre vida congregacional é inútil desde o</p><p>começo, pois são baseadas em uma visão de mundo institucional e mecânica.35 Ou o que ele</p><p>chama de “comando e controle, história de opressão”. Essa visão é particularmente marcada</p><p>quando você reconhece como as formas predominantes de igreja são diferentes dos modelos</p><p>apostólicos. O movimento iniciado por Jesus foi um movimento orgânico de pessoas, nunca</p><p>foi criado para ser uma instituição religiosa. Nós devemos deixar essa nova, embora antiga,</p><p>história de sistemas infiltrar-se em nossa imaginação e confirmar novamente todas as nossas</p><p>práticas. Nossas organizações precisam ser reevangelizadas. Isso é explorado de forma mais</p><p>profunda no anexo intitulado “Um rápido treinamento em meio ao caos”.</p><p>Sim, mas o que a Bíblia diz?</p><p>Testar nossas suposições eclesiásticas dessa maneira aumenta o nível de desconforto porque,</p><p>para fazer isso, devemos explorar – na verdade, criticar – a configuração institucional</p><p>herdada da igreja na qual a maioria de nós atua e onde obtemos nossa legitimidade. Ao</p><p>fazer isso, não estamos fazendo algo estranho à nossa fé? Não estamos tocando em algo</p><p>sagrado, inviolável? Não, não estamos. Nas Escrituras, descobrimos que, na realidade, existe</p><p>uma boa substância teológica na crítica bíblica consistente das instituições religiosas que se</p><p>desenvolvem tão facilmente com o passar do tempo. Da relutante concessão de Jeová à</p><p>exigência da nação por um rei como as outras nações e a advertência contida nela (1Sm 8.20-</p><p>22) com relação à “antirreligião” de Jesus (Ellul), que lutou incessantemente tanto contra as</p><p>instituições políticas quanto as religiosas em seus dias. Na verdade, ambas foram</p><p>diretamente responsáveis por sua morte. Desde os desafios proféticos do AT, a realeza e</p><p>sacerdócio quase sempre corruptos, até a reapropriação no NT desses cargos na exata</p><p>função e identidade de todo o povo de Deus (1Pe 2.9). Além das percepções de Paulo a</p><p>respeito da natureza dos principados e potestades e do mal impessoal que reside nas</p><p>estruturas e ideologias humanas (os princípios elementares de Gl 4.3-11 e Cl 2.8, 20-23),</p><p>percebemos que a Bíblia sustenta uma advertência totalmente consistente contra a</p><p>centralização do poder em alguns indivíduos e sua concentração em instituições inflexíveis e</p><p>impessoais.</p><p>A religião profética também adverte com relação à ritualização do relacionamento entre</p><p>Deus e o seu povo quando buscam constantemente lembrar Israel sobre a natureza pessoal</p><p>intensa da aliança entre Deus e seu povo. Martin Buber, um comentarista profundo da</p><p>religião profética e dos movimentos religiosos, nos alerta sobre os perigos do</p><p>institucionalismo religioso quando observa que “a centralização e a codificação, incumbidas</p><p>dos interesses da religião, são perigosos para a essência da religião”. Inevitavelmente, este é</p><p>o caso, diz ele, a não ser que haja uma vida muito vigorosa de fé incorporada a toda a</p><p>comunidade, que manifeste uma pressão incessante por renovação da instituição.36 Foi C. S.</p><p>Lewis quem observou que “em toda igreja existe algo que, cedo ou tarde, irá contra o</p><p>propósito básico pelo qual veio a existir. Então, devemos lutar muito duro, pela graça de</p><p>Deus, para manter a igreja focada na missão dada originalmente por Cristo a ela”.37</p><p>Um cristianismo profeticamente consistente significa que devemos continuar</p><p>comprometidos com uma crítica constante de estruturas e rituais que estabelecemos e</p><p>mantemos. Talvez, em vez de chamá-la de</p><p>anti-institucionalismo, um quadro bastante negativo da mente, devemos entendê-la como</p><p>uma forma de “rebelião santa” com base na crítica amorosa à instituição religiosa modelada</p><p>pelos apóstolos e profetas originais38 – “rebeldes santos” que constantemente tentaram se</p><p>livrar das ideologias, estruturas, códigos e tradições dominantes que limitavam a liberdade</p><p>do povo de Deus e restringiam a mensagem do Evangelho que lhes foi ordenado transmitir.</p><p>Isso é religião profética na prática, e permanece sendo um dos elementos essenciais de uma</p><p>verdadeira experiência do cristianismo. É rebelião porque se recusa a se submeter ao status</p><p>quo. No entanto, por se tratar de uma rebelião santa, ela nos direciona à maior experiência</p><p>com Deus que já tivemos.</p><p>Paradoxalmente, embora a rebelião santa represente um desafio real (e visível) para as</p><p>formas estabelecidas de igreja, é também o segredo para sua renovação. Novos movimentos</p><p>são a fonte de grande parte de sua vitalidade, porque são a origem de novas maneiras de</p><p>experimentar Deus e participar de sua missão e, por isso, contêm sementes da renovação</p><p>contínua do cristianismo. Isso acontece porque os novos movimentos despertam a</p><p>centralidade dos principais significados do Evangelho livre das parafernálias das tradições e</p><p>rituais herdados. Como veremos, os movimentos vitais surgem sempre dentro do contexto</p><p>de rejeição pelas instituições predominantes (por exemplo, Wesley e Booth). Porém, como os</p><p>movimentos vigorosos de missão quase sempre geram movimentos de renovação, no fim,</p><p>eles continuarão gerando renovação na vida da igreja no geral (por exemplo, o</p><p>pentecostalismo).</p><p>O desafio para a igreja estabelecida e seus líderes é discernir a vontade de Deus para a</p><p>nossa época, que lhe foi dirigida pela boca de seus rebeldes santos. Leia este texto com essas</p><p>qualificações em mente. Apesar de, às vezes, ele lhe fazer reagir de maneira defensiva, tente</p><p>discernir os vislumbres da verdade que contém. Isso é crítico, pois agora estou convencido</p><p>de que um dos maiores obstáculos para liberar o Genoma Apostólico é nossa fidelidade a</p><p>uma compreensão obsoleta de igreja. Nós apenas temos que descobrir uma maneira de</p><p>empurrar para o passado as oportunas respostas históricas que tão facilmente insinuam-se</p><p>para um povo cuja ideia do que significa ser povo de Deus foi feita refém de um conceito</p><p>menos bíblico de igreja.</p><p>T����� �����������</p><p>Uma das maneiras mais úteis de ler nossa situação vem de uma ferramenta conceitual</p><p>desenvolvida pelo missiologista pioneiro, Ralph Winter.39 O conceito é o da distância</p><p>cultural. Isso foi desenvolvido para avaliar apenas como um grupo de pessoas está longe de</p><p>um comprometimento significativo com o Evangelho.</p><p>Para discernir isso, temos que observá-lo na escala semelhante a esta:</p><p>Cada numeral com o prefixo m indica uma barreira cultural importante para a comunicação</p><p>significativa do Evangelho. Um exemplo óbvio de barreira seria o idioma. Se você tem que</p><p>ultrapassar a barreira do idioma, tem um problema. Outras poderiam ser raça, história,</p><p>religião/visão de mundo, cultura, etc. Por exemplo, no contexto islâmico, o Evangelho lutou</p><p>para fazer progressos importantes, pois religião, raça e história realmente tornam muito</p><p>difícil um compromisso significativo com o Evangelho. Por causa das Cruzadas, a igreja</p><p>cristã prejudicou gravemente a capacidade do povo mulçumano de compreender Cristo.</p><p>Então, podemos colocar a missão para o povo islâmico entre a situação m3 e m4 (religião,</p><p>história, língua, raça e cultura). O mesmo acontece com o povo judeu no Ocidente. É muito</p><p>difícil “falar significativamente” em quaisquer das situações. Com certeza esses exemplos</p><p>são os mais extremos que podemos enfrentar em nossa vida diária, mas não é difícil ver</p><p>como todas as pessoas ao nosso redor se enquadram em algum lugar dessa escala.</p><p>Deixe-me trazer para mais perto de casa: a maioria de nós pode avaliar as pessoas ao</p><p>nosso redor nesses termos. Se você vê a si mesmo ou a sua igreja na posição m0, nós</p><p>poderíamos interpretar nosso contexto da seguinte maneira:</p><p>m0-</p><p>m1</p><p>Pessoas com alguma ideia de cris�anismo que falam o mesmo idioma, têm interesses similares são,</p><p>provavelmente, da mesma nacionalidade e vêm de uma classe semelhante à sua ou da sua igreja. A maioria de</p><p>seus amigos deve se encaixar nesse grupo.</p><p>m1-</p><p>m2</p><p>Aqui está a média não cristã de nosso contexto: uma pessoa com pouca</p><p>consciência real, ou interesse, no</p><p>cris�anismo, mas desconfia da igreja (ouviu coisas ruins). Pessoas assim podem ser poli�camente corretas, ter</p><p>consciência social e serem abertas à espiritualidade. Essa categoria também pode incluir pessoas que foram</p><p>ofendidas no passado por uma experiência ruim com a igreja ou com cristãos. Apenas vá ao bar ou balada local</p><p>para encontrá-las.</p><p>m2-</p><p>m3</p><p>As pessoas neste grupo não têm ideia alguma sobre o cris�anismo. Talvez, façam parte de um grupo étnico com</p><p>impulsos religiosos diferentes ou alguma subcultura marginal. Esta categoria pode incluir pessoas</p><p>marginalizadas pelo cris�anismo WASP40, por exemplo, a comunidade gay. No entanto, esse grupo</p><p>defini�vamente incluirá pessoas contrárias ao cris�anismo da maneira como o compreendem.</p><p>m3-</p><p>m4</p><p>Este grupo pode ser formado por grupos étnicos e religiosos como mulçumanos e judeus. O fato de estarem no</p><p>Ocidente pode melhorar um pouco a distância, mas quase todo o restante é uma barreira a um diálogo</p><p>significa�vo. Eles são extremamente resistentes ao Evangelho.</p><p>Quem assistiu40 ao comovente filme A Missão deve se lembrar da cena em que Jeremy</p><p>Irons aparece como padre Gabriel, um sacerdote jesuíta que entra na floresta da América do</p><p>Sul com a intenção de estabelecer uma missão cristã. Sua tarefa desafiadora é a conversão de</p><p>uma pequena tribo indígena da Amazônia41 que tinha matado anteriormente diversos</p><p>aspirantes a missionários. Quando o primeiro encontro com eles ocorre, cada uma das</p><p>partes está culturalmente muito distante e cautelosa com a outra. Estão separados por</p><p>diversos obstáculos culturais: medo, idioma, cultura, religião, história, etc. Os índios estão</p><p>prestes a matar o padre Gabriel quando ele pega uma flauta e toca uma melodia lírica. Por</p><p>meio do amor universal pela música, ele estabelece uma ponte experimental de</p><p>comunicação sobre o abismo cultural. Esse foi o frágil início de um processo de aprendizado</p><p>por meio do qual, ao longo do tempo, padre Gabriel e seu pequeno grupo de jesuítas</p><p>obtiveram êxito em fazer amizade com os nativos, em aprender a respeito da cultura deles,</p><p>seu idioma e folclore e, por fim, estabelecer uma missão eficaz entre eles. Esse cuidado</p><p>amoroso para com o outro, necessário naquela situação, é verdadeiro para toda missão eficaz</p><p>através das barreiras culturais. E chegou o momento para nós, no Ocidente, aprendermos</p><p>que todas as nossas tentativas de transmitir o Evangelho são agora transculturais. Não</p><p>estamos em uma situação diferente, apenas em uma mais sutil.</p><p>Então, como a ideia da distância cultural se relaciona com a cristandade em nossa</p><p>situação hoje? Bem, a transformação da igreja de movimento marginal para instituição</p><p>central começou com o Édito de Milão (313 d.C), por meio do qual Constantino, o recém-</p><p>coroado imperador que tinha afirmado sua conversão, declarou o cristianismo como religião</p><p>oficial do estado, retirando, assim, a legitimidade de todas as outras religiões.42 No entanto,</p><p>Constantino foi além, acabando por proclamar o cristianismo como a principal religião</p><p>oficial: a fim de fortalecer seu regime político, ele buscou unir Igreja e Estado em um tipo de</p><p>abraço sagrado, e assim, reuniu todos os teólogos cristãos e lhes ordenou que chegassem a</p><p>uma teologia comum que unisse os cristãos no império e, dessa forma, assegurasse o elo</p><p>entre Igreja e Estado. Não é de se admirar que ele também tenha instituído uma organização</p><p>eclesiástica centralizada, com base em Roma, para “governar” as igrejas e unir todos os</p><p>cristãos, de todos os lugares, sob uma instituição com ligação direta com o Estado. Logo,</p><p>tudo mudou, e o que posteriormente foi chamado de “cristandade” estava instituído.</p><p>A criação do sistema da cristandade foi uma estreita, apesar de às vezes preocupante, parceria entre Igreja</p><p>e Estado, os dois principais pilares da sociedade. Ao longo dos séculos, a luta pelo poder entre papas e</p><p>imperadores resultou no domínio ora de um, ora de outro, por certo tempo. Porém, o sistema da</p><p>cristandade admi�u que a igreja estava associada a um status quo que era entendido como cristão e</p><p>�nham interesse em sua manutenção. A Igreja concedeu legi�mação religiosa para as a�vidades do Estado,</p><p>e o Estado concedeu força secular para apoiar as decisões eclesiás�cas.43</p><p>O que está claro é que inúmeras mudanças significativas aconteceram após o acordo de</p><p>Constantino com a Igreja. A fim de vermos nossa própria experiência sobre a cristandade de</p><p>maneira mais clara, é necessário resumir as principais mudanças ocorridas após sua</p><p>imposição. De acordo com Stuart Murray,44 a mudança da cristandade significou:</p><p>A adoção do cristianismo como religião oficial de uma cidade, estado ou império</p><p>O movimento da igreja da margem da sociedade para o centro</p><p>A criação e desenvolvimento progressivo de uma cultura ou civilização cristã</p><p>A suposição de que todos os cidadãos (exceto os judeus) eram cristãos por nascimento</p><p>O desenvolvimento do corpus Christianum, no qual não havia liberdade religiosa e o</p><p>poder político era considerado como divinamente autenticado</p><p>O batismo infantil como símbolo da incorporação obrigatória nessa sociedade cristã</p><p>O domingo como dia oficial de descanso e frequência obrigatória na igreja, com</p><p>penalidades para o não comparecimento</p><p>A definição de “ortodoxia” como a crença comum compartilhada por todos, determinada</p><p>pelos líderes poderosos da igreja apoiados pelo Estado</p><p>A imposição de uma moralidade supostamente cristã em toda a sociedade (apesar de os</p><p>padrões morais do Antigo Testamento serem aplicados de forma regular)</p><p>Um sistema eclesiástico hierárquico, com base na diocese e organização paroquial, que</p><p>era semelhante à hierarquia do Estado e sustentado pelo apoio do Estado</p><p>A construção de grandes e ornamentados edifícios e a formação de congregações</p><p>enormes</p><p>A distinção genérica entre clérigos e laicos, e a relegação do laicato a um papel bastante</p><p>passivo</p><p>O aumento da fortuna da igreja e a imposição do dízimo obrigatório para financiar esse</p><p>sistema</p><p>A defesa do cristianismo através de sanções legais para restringir a heresia, a</p><p>imoralidade e os cismas</p><p>A divisão do globo em “cristandade” e “paganismo” e a promoção de guerras em nome</p><p>de Cristo e da Igreja</p><p>A utilização das forças políticas e militares para impor a fé cristã</p><p>A utilização do Antigo Testamento, ao invés do Novo, para suportar e justificar muitas</p><p>dessas mudanças</p><p>A mudança para cristandade foi completamente paradigmática, e as implicações foram,</p><p>com certeza, desastrosas para o movimento de Jesus que estava transformando o mundo</p><p>romano a partir da base. Rodney Stark, considerado por muitos o mais importante estudioso</p><p>da igreja nesse período, resumiu tudo nesses termos dramáticos:</p><p>Há muito tempo, os historiadores aceitam a afirmação de que a conversão do Imperador Constan�no</p><p>(cerca de 285-337) causou o triunfo do cris�anismo. Pelo contrário, ele destruiu os aspectos mais atraentes</p><p>e dinâmicos, tornando um movimento tão intenso e fundamentado em uma ins�tuição arrogante</p><p>controlada pela elite que muitas vezes conseguiu ser brutal e negligente.45</p><p>O resultado dessas mudanças em termos de distância cultural foi trazer a cultura geral</p><p>com seus grupos de pessoas para a distância cultural da igreja e sua mensagem. Essa</p><p>proximidade cultural durou enquanto a Igreja manteve seu domínio religioso sobre a</p><p>cultura predominante. Esse período foi chamado de cristandade e, significou o domínio às</p><p>vezes completo da Igreja sobre o Estado e a sociedade. Esse domínio foi enfraquecido pelos</p><p>adventos da Renascença e da Reforma (entre os séculos 14 e 16), posteriormente diminuiu e,</p><p>finalmente, chegou ao fim durante o final do período do Iluminismo, ou moderno (entre os</p><p>séculos 19 e 20).</p><p>O Iluminismo buscou estabelecer a razão sobre a revelação por meio da filosofia e da</p><p>ciência, acabando por forçar uma separação entre o poder da Igreja e o do Estado (a</p><p>Revolução Francesa). O Estado, e a esfera pública com ele, foram despojados das influências</p><p>religiosas; o Estado secular nasceu, com a ciência como mediador da verdade e o mercado</p><p>como</p><p>mediador do pensamento. O resultado do período do Iluminismo, entre outras coisas,</p><p>foi a secularização da sociedade e a subsequente marginalização da igreja e de sua</p><p>mensagem. Nós, que vivemos no século 20, sabemos disso muito bem por experiência</p><p>própria. O problema que enfrentamos é que, embora como força cultural sócio-política a</p><p>cristandade esteja morta, e nós vivamos no que foi convenientemente chamado de era pós-</p><p>cristandade, a igreja ainda opera exatamente da mesma forma. Em termos da maneira como</p><p>entendemos e “fazemos” igreja, pouco mudou em 17 séculos.</p><p>Com o fim do período moderno e o subsequente período pós-moderno, as coisas</p><p>começaram a mudar radicalmente. Para alguns, o poder das ideologias hegemônicas chegou</p><p>ao fim, e com isso, o colapso do poder do Estado (por exemplo, a União Soviética) e outras</p><p>formas de “grandes histórias” que unem sociedades ou grupos em uma grande visão. O</p><p>efeito final disso foi o surgimento de subculturas e o que os sociólogos chamam de</p><p>heterogeneização, ou apenas a tribalização, da cultura ocidental. Exatamente como tínhamos</p><p>deduzido a partir do nível local na SMRC, um novo tribalismo nasceu na era pós-moderna.</p><p>Agora, as pessoas se identificam menos por grandes ideologias, identidades nacionais ou</p><p>alianças políticas, e muito menos por grandes histórias, mas por grupos de interesse, novos</p><p>movimentos religiosos (Nova Era), identidade sexual (gays, lésbicas, transexuais, etc.),</p><p>atividades esportivas, ideologias competitivas (neomarxista, neofascista, ecologistas, etc.),</p><p>classe, consumo excessivo (metrossexuais, grunges urbanos, etc.), tipos de trabalho (viciados</p><p>em computador, hackers, designers, etc.), e assim por diante. Em certa ocasião, alguns</p><p>especialistas do ministério de jovens com os quais trabalhei identificaram, em uma hora, 50</p><p>subculturas de jovens facilmente perceptíveis (viciados em computadores, esqueitistas,</p><p>manos, surfistas, punks, etc.). Cada um deles adota sua identidade subcultural com a maior</p><p>seriedade, e então, qualquer resposta missional para eles também deve ser.</p><p>O ponto aqui é a comparação entre a situação da igreja cristã e a nossa: ir além de nossa</p><p>própria referência cultural (m0-m1) e além das barreiras culturais significativas (m1 até m4)</p><p>são coisas totalmente diferentes. O problema é que a igreja cristã mediana tende a ser</p><p>razoavelmente eficiente apenas dentro de sua própria referência cultural (m0-m1). A igreja</p><p>cristã foi criada para isso – chama-se alcançar e arrastar (e eu não estou fazendo piada, é</p><p>como nós, na verdade, operamos). A abordagem sensível a quem busca é o modelo</p><p>impulsionador disso e apenas em casos raros obtém êxito em grande escala.</p><p>Utilizando isso como grade para analisar a distância cultural da igreja no contexto</p><p>ocidental no decorrer dos últimos dois mil anos, teremos algo semelhante a isto:</p><p>Reconheço que esta é uma incrível simplificação da atual situação histórica, mas esse</p><p>diagrama é traçado para destilar a essência das situações em mudança da igreja em termos</p><p>de distância cultural. Observe as diferenças na distância cultural durante os diversos</p><p>períodos de tempo. Observe também a semelhança entre a nossa situação e a da igreja</p><p>primitiva. Há muitos grupos culturais, alguns dos quais se movem em nossa direção, com a</p><p>maioria se afastando de nós. As abordagens missionárias eram/são necessárias em ambas as</p><p>situações. No entanto, não foi esse o caso durante o período da cristandade, pois ela</p><p>homogeneizou a cultura e todos os nascidos naquele período eram considerados cristãos. E</p><p>no meu ponto de vista, foi nesse período que a igreja perdeu seu chamado missionário e</p><p>forma iniciais, seu etos do movimento, e com isso, reprimiu inadvertidamente sua herança</p><p>de Genoma Apostólico.</p><p>Ora, no período pós-moderno, todo o modo de lidar mudou; agora nós estamos de volta ao</p><p>genuíno terreno missional. Na situação contemporânea, a grande maioria das pessoas ao nosso</p><p>redor (por certo na Austrália, no Reino Unido, na Europa e, de modo crescente, nos Estados</p><p>Unidos) varia entre m1 e m3 distante de onde a igreja geralmente está. Nessa situação, a</p><p>atraente superação da igreja não reduzirá mais essa distância. Curso Alpha (grupos</p><p>evangelísticos), cultos evangelísticos e evangelismo por amizade influenciarão dentro de</p><p>nossa própria estrutura cultural (m0-m1), mas dificilmente serão, se é que foram alguma</p><p>vez, eficientes depois disso. Lembre-se do padre Gabriel. Para influenciar além das barreiras</p><p>culturais teremos que adotar uma posição missionária em relação à cultura. Em parte, isso</p><p>significa adotar uma abordagem de envio em vez de uma atraente46, e em parte, significará</p><p>que teremos que adotar práticas melhores nas metodologias missionárias transculturais. De</p><p>qualquer maneira, será necessária uma abordagem muito mais sofisticada do que as</p><p>geralmente utilizadas no momento, e isso exigirá que nós reajustemos nosso paradigma</p><p>sobre a igreja para superar esse desafio. É hora da igreja missionária se levantar e do gigante</p><p>adormecido acordar.</p><p>Falando do curso Alpha, esta marcante ferramenta evangelística tem sido utilizada para</p><p>trazer muitos à fé. Acredito que mais de 3 milhões de pessoas tenham participado dos</p><p>cursos Alpha somente no Reino Unido. Geralmente ele é utilizado pelas igrejas como</p><p>ferramenta evangelística para contribuir com o crescimento numérico da igreja. O</p><p>interessante é que, no Reino Unido, o Alpha é mais bem-sucedido entre os chamados</p><p>“desigrejados” do que entre os genuinamente sem igreja – em outras palavras, os que vieram</p><p>da estrutura m0-m1. E apesar de seu poder evangelístico, visto de uma perspectiva mais</p><p>ampla, ele nada acrescentou ao crescimento da igreja. Com certeza, não há 3 milhões de</p><p>novos membros nas igrejas do Reino Unido como resultado do Alpha. Na realidade, a igreja</p><p>lá ainda está em sério declínio. Dessa forma, o Alpha, longe de ser uma eficiente ferramenta</p><p>missionária, serve, na verdade, como um bom exemplo de como não influenciamos muito</p><p>além de nós mesmos.</p><p>Como isso pode acontecer? Uma grande parte do problema é que, embora muitas pessoas</p><p>desigrejadas cheguem à fé em Jesus por meio do Alpha, parece que elas ainda não querem</p><p>“ir para a igreja”. É novamente o fenômeno: “Jesus sim. Igreja, não”. As pessoas chegam à fé</p><p>em comunidades pequenas e íntimas de amigos, porém, de modo geral, não querem a parte</p><p>da religião organizada do acordo. Essa troca de agendas, às vezes, é compreendida como</p><p>uma estratégia de “atrair e trocar”, o que é geralmente considerado antiético no mundo</p><p>comercial. Então, chegamos agora à incômoda situação em que a expressão predominante</p><p>da igreja (cristandade) se tornou a grande pedra de tropeço na disseminação do cristianismo</p><p>no Ocidente. Aplicando a rede do Genoma Apostólico, eu me pergunto: “E se, em vez de ser</p><p>apenas uma ferramenta de crescimento da igreja, o Alpha se tornasse um movimento de</p><p>multiplicação da igreja – uma nova igreja surgindo como resultado do grupo Alpha e</p><p>reproduzindo-se a partir dali?” Meu palpite é que, ao direcioná-lo com um paradigma</p><p>diferente, ele decolaria. Há muitos elementos do Genoma Apostólico latentes em sua</p><p>estrutura, no entanto, são impedidos por uma compreensão mais institucional da igreja.</p><p>Aqui, vemos o choque dos paradigmas de forma inflexível.</p><p>N�� ������ ������� ����� �����... ��� �������?</p><p>Se você está se sentindo desconfortável neste ponto, permita-me reiterar que a cristandade,</p><p>de fato, não é o modelo bíblico original da igreja primitiva, logo, não precisamos ser tão</p><p>melindrosos com relação a isso. Tudo bem... Deus não vai nos bater se buscarmos uma</p><p>maneira melhor de sermos fiéis e também missionais. O progresso é bom.</p><p>Considera isso errado? Então, vejamos os modelos essenciais da igreja analisados durante</p><p>três eras ou épocas. Elaborei uma grade claramente sociológica a fim de visualizar as</p><p>questões em termos de padronização social e organizacional, pois é útil tentar obter uma</p><p>perspectiva mais objetiva de nossa situação.47 E como essa tabela, como todas as tabelas</p><p>comparativas, é uma simplificação da atual situação (a vida real</p><p>não é tão facilmente</p><p>categorizada), acredito que ela resuma a essência de cada era. Vejamos.</p><p>MODELO APOSTÓLICO E PÓS-</p><p>APOSTÓLICO</p><p>(32 a 312 d.C.)</p><p>MODELO</p><p>CRISTANDADE</p><p>(313 até hoje)</p><p>MODELO MISSIONAL</p><p>EMERGENTE</p><p>(10 anos atrás)</p><p>Local de</p><p>reunião</p><p>Não tem edi�cios sagrados</p><p>dedicados; quase sempre</p><p>clandes�nos ou perseguidos.</p><p>Edi�cios são centrais para a noção</p><p>e experiência de igreja.</p><p>Rejeitam o interesse e a</p><p>necessidade de edi�cios</p><p>consagrados como “igreja”.</p><p>Etos da</p><p>liderança</p><p>A liderança opera com, no mínimo,</p><p>cinco desdobramentos de etos de</p><p>liderança ministerial como em Ef 4</p><p>(apóstolo, profeta, evangelista,</p><p>pastor e mestre).</p><p>Liderança por um clero ordenado</p><p>ins�tucionalmente, criando,</p><p>assim, uma corporação</p><p>profissional operando</p><p>principalmente no modelo pastor-</p><p>mestre.</p><p>A liderança abraça o pioneiro</p><p>modelo inovador, incluindo um</p><p>etos de liderança ministerial</p><p>quíntuplo. Preferencialmente</p><p>não ins�tucional</p><p>Estrutura</p><p>organizacional</p><p>Movimento de base,</p><p>descentralizado, celular.</p><p>Noção ins�tucional hierárquica</p><p>detalhada de liderança e</p><p>estrutura.</p><p>Movimentos de base e</p><p>descentralizados.</p><p>Modelo</p><p>sacramental</p><p>(meios da</p><p>graça)</p><p>Comunhão celebrada como</p><p>refeição comunitária</p><p>sacramentada; ba�smo por todos.</p><p>Crescente ins�tucionalização da</p><p>graça por meio de sacramentos</p><p>experimentados apenas “na</p><p>igreja”.</p><p>Redime, sacramenta outra vez</p><p>e ritualiza novos símbolos e</p><p>eventos, incluindo a refeição.</p><p>Posição na</p><p>sociedade</p><p>A igreja está à margem da</p><p>sociedade ou é clandes�na.</p><p>A igreja é considerada central para</p><p>a sociedade e a cultura ao redor.</p><p>A igreja está, mais uma vez, à</p><p>margem da sociedade e da</p><p>cultura.</p><p>Modo</p><p>missional</p><p>Igreja missionária e encarnacional</p><p>de envio.</p><p>Atra�va (ì“extra�va” em</p><p>ambientes missionais além do</p><p>m1).</p><p>Missional, encarnacional de</p><p>envio. A igreja volta a abraçar a</p><p>postura missional em relação à</p><p>cultura.</p><p>A primeira era dessa grade descreve o movimento estimulante e definitivo de Jesus que</p><p>se espalhou ao longo do Império Romano e, por fim, o subverteu. Quando analisado, fica</p><p>claro que esse foi um fenômeno de base, um movimento de pessoas que carecia de</p><p>instituições mais facilmente explicáveis porque, no contexto de perseguição, era incapaz de</p><p>se estabelecer por completo. Não havia um local-sede e se espalhou utilizando os ritmos</p><p>sociais e estruturas daqueles dias. Esse movimento dinâmico continuou basicamente de</p><p>diversas formas até Constantino. Quando ele entrou em cena, tudo mudou. Absolutamente</p><p>tudo.</p><p>Observe a coluna do meio da tabela (Cristandade), e reconhecerá com facilidade, em</p><p>algum grau, todos os elementos do que normalmente compreendemos como “igreja”. Não é</p><p>verdade que poucos podem compreender a igreja sem um tipo especial de edifício com uma</p><p>forma especial? Nós até chamamos os edifícios de “igrejas” e “vamos para a igreja”. A</p><p>maioria dos líderes na igreja obtém autorização para ministrar a partir de uma instituição</p><p>centralizada chamada denominação. A maioria das pessoas ordenadas por esse sistema está</p><p>dotada nos modelos de pastor-mestre, com graus reconhecidos. Os três outros tipos</p><p>encontrados em Efésios 4 se foram. Isso acontece porque, em uma cultura em que todas as</p><p>pessoas são consideradas cristãs, a igreja só precisa cuidar delas e ensinar a fé. Na maior</p><p>parte das denominações, somente ministros ordenados são autorizados a ministrar os</p><p>sacramentos, que não são mais uma refeição viva e real, mas de onde os símbolos religiosos</p><p>e ideias são destilados e extraídos da experiência da refeição física, e ministrados apenas</p><p>dentro dos limites da igreja e seu ministério oficial. Em alguns lugares, a graça chega a ser</p><p>compreendida como uma matéria a ser ministrada por meio de sacramentos e apenas pelos</p><p>sacerdotes. Na realidade, a graça tornou-se uma “posse” da igreja institucional e não algo</p><p>facilmente experimentado “fora” de sua esfera direta de controle ou influência.</p><p>E a estrutura? As estruturas organizacionais da cristandade estão, no sentido real, há</p><p>mundos de distância da igreja primitiva – algo como comparar os Estados Unidos com a Al</p><p>Qaeda (um sendo uma instituição estabelecida com estruturas centralizadas, políticas,</p><p>protocolos, e a outra, uma rede reticulada operando em torno de uma estrutura simples com</p><p>causa específica). Na era da cristandade, a igreja compreendia a si mesma como central para</p><p>a sociedade, portanto, operava segundo o modelo atrativo. Nessa situação, as pessoas vêm</p><p>para a igreja para ouvir o Evangelho, para serem ensinadas na fé e para participar dos</p><p>sacramentos.48</p><p>Observe que eu não estou dizendo que Deus não usa, e não usou, esse modelo de igreja.</p><p>Também não estou dizendo que as pessoas inseridas nessas estruturas não são cristãos</p><p>sinceros ou genuínos. A maioria de nós teve o encontro com Deus dentro desse modelo.</p><p>Obviamente, ele o utilizou e ainda é encontrado nele hoje. O que estou dizendo é que, por</p><p>causa da drástica mudança das condições, essa configuração de igreja está literalmente “fora</p><p>de moda”. Apenas não será mais suficiente para as mudanças do século 21 – as estatísticas e</p><p>tendências provam isso em todo o contexto cultural ocidental. Não adianta apenas</p><p>reorganizar os aspectos do mesmo modelo sem ir até as raízes do paradigma. Não devemos</p><p>abandonar a cristandade, pois nela está o povo de Deus, no entanto, é necessária uma</p><p>mudança fundamental, uma conversão, se preferir, se for se tornar genuinamente missional.</p><p>Essa mudança é possível, mas não sem um grande realinhamento do nosso pensamento e</p><p>recursos atuais. Como a cristandade está profundamente inserida em nossa imaginação e</p><p>prática, tal mudança, por certo, não acontecerá sem uma vontade política significativa de</p><p>mudar. Será evitada por aqueles com interesses mais importantes no sistema atual.</p><p>“Agora que a longa era de Constantino passou, nós, cristão, nos encontramos em uma</p><p>situação muito mais análoga à dos cristãos do Novo</p><p>Testamento do que à da cristandade pela qual alguns anseiam nostalgicamente”49 O</p><p>teólogo episcopal Robert Webber chama os evangélicos a retomarem uma compreensão e</p><p>experiência de igreja mais pré-constantina.50 Para renovar a nós mesmos, precisamos tocar a</p><p>base com nossas raízes mais profundas. Para invocar e acessar o poder do Genoma</p><p>Apostólico, devemos estar dispostos a fazer uma viagem de descoberta e, portanto, estar</p><p>dispostos a nos distanciarmos daquilo que achamos confiante e seguro e assumir alguns</p><p>riscos. Caso ajude, o que deve, de fato, ser percebido é que a cristandade não foi o modelo</p><p>original da igreja, e, esperamos, não será o último. Já é hora de destronarmos Constantino;</p><p>na medida em que as questões da igreja avançam, parece que ele ainda é o imperador de</p><p>nossa imaginação. A igreja agora enfrenta o desafio de descobrir missão em um novo</p><p>paradigma, enquanto luta para se libertar da mentalidade da cristandade. Ou, nas palavras</p><p>do sempre perspicaz Loren Mead, “Estamos cercados por relíquias do Paradigma da</p><p>Cristandade, um paradigma que, em grande parte, deixou de funcionar. [Essas] relíquias</p><p>nos mantêm presos ao passado e dificultam a criação de um novo paradigma, que possa ser</p><p>tão persuasivo para a próxima geração como o Paradigma da Cristandade foi para a geração</p><p>passada”.51</p><p>“É ������, J��, ��� ��� ���� � ����������”</p><p>É</p><p>É hora de (re)descobrir uma nova história da igreja e de sua missão. Entre na Igreja</p><p>Missional Emergente, IME. Essa forma de eclésia é genuinamente criativa, pois apresenta</p><p>uma imaginação fundamentalmente alternativa à predominante. E é antiga, pois, como</p><p>veremos, parece, sente e se manifesta de forma muito semelhante à apostólica original. Isso</p><p>não é por acaso, porque, como a tese deste livro explorará, a igreja está começando a</p><p>redescobrir seu Genoma Apostólico e o mDNA associado (o complexo central de ideias</p><p>orientadoras, fenômenos, estruturas e experiências) que tornaram os fenomenais</p><p>movimentos de Jesus histórias genuinamente perigosas e ferramentas tão marcantes e</p><p>eficientes da missão redentora de Deus para o mundo. E a boa notícia é que toda a</p><p>comunidade de cristãos, que é o próprio transmissor do Genoma Apostólico, pode</p><p>recuperar a identidade</p><p>perdida se a comunidade estiver disposta a viajar outra vez. Está lá,</p><p>tudo o que precisamos fazer é alcançar o interior.</p><p>O que é proposto aqui (na coluna “missional emergente” da tabela) provém de uma</p><p>importante pesquisa pessoal que me levou pelo mundo a vários contextos. Formou também</p><p>a base da minha obra com Michael Frost em The Shaping of Things to Come: Innovation and</p><p>Mission for the 21st Century Church, então, reportarei ao leitor algumas histórias e mais</p><p>detalhes.52 Entretanto, uma obra mais recente sobre igrejas emergentes de Eddie Gibbs e</p><p>Ryan Bolger inclui uma análise extensiva de 49 comunidades tanto dos Estados Unidos</p><p>quanto do Reino Unido.53 Esse livro é de valor inestimável para a compreensão de alguns</p><p>aspectos notáveis deste movimento.</p><p>O que se segue não é uma leitura forçada da situação, mas uma descrição do atual</p><p>fenômeno da igreja missional emergente que está acontecendo em nossos dias – um</p><p>fenômeno do qual tenho o privilégio de fazer parte através do meu trabalho local, mas</p><p>também, através do maravilhoso ponto de vantagem da Forge Mission Training Network. A</p><p>Forge se considera uma parteira de um novo sonho. Tem um foco estratégico na IME e está</p><p>profundamente envolvida.</p><p>O que estamos observando em nossos dias é o surgimento de novos movimentos e</p><p>comunidades, muitos dos quais ainda estão sem forma e relativamente desorganizados. O</p><p>marcante, em termos de estrutura, é que não há centro nem circunferência real e, mesmo</p><p>assim, graças à Internet e à nova mídia, muitos estão bem conectados por todo o globo. A</p><p>maioria das pessoas na IME parece conhecer umas às outras. Essas comunidades e</p><p>movimentos não sentem que o povo de Deus está irrevogavelmente preso a determinados</p><p>tipos de edifícios. Portanto, novas formas de comunidade cristã estão surgindo em clubes</p><p>(por exemplo, Mosaic, em Los Angeles, NGM, em Londres), cafés (Allellon em Boise Idaho,</p><p>Jeebiz, em Melbourne), às margens dos rios (Church on the Pine, em Brisbane), teatros (The</p><p>Green Room, em Adelaide, Tribe em Los Angeles), pubs e bares (Holy Joes, em Londres),</p><p>clubes esportivos (Ma�hew‘s Party, em Chicago), casas (House2House, igrejas simples), no</p><p>trabalho (Subterranean Shoe Room, em São Francisco, estúdio de tatuagem In the Blood, em</p><p>Pi�sburgh) e prédios de igrejas (Three Nails, em Pi�sburgh, Moot, em Londres). E, ainda</p><p>assim, são expressões reais e autênticas de igreja se minhas definições no último capítulo</p><p>estiverem certas. São extremamente criativas na nova simbolização da fé (chamada em</p><p>vários lugares de movimento de adoração alternativa). São ricas em conversas sobre</p><p>espiritualidade, vida, Jesus, Deus, fé, discipulado e missão – conversas que tentam incluir as</p><p>pessoas de fora da fé. A liderança que surge nelas tende a estar imbuída de um espírito</p><p>criativo e pioneiro. Poucos são ordenados – este é um genuíno movimento popular de base.</p><p>Há uma redescoberta da cristologia e da pessoa de Jesus como ponto central da fé em vez de</p><p>todos os dogmas altamente estilizados e os credos que definiram o modelo da cristandade.</p><p>No todo, trata-se de um movimento bem marginal – não faz sentido que ele tenha um papel</p><p>central na sociedade de forma geral – e mesmo assim, parece estar comprometido com a fé</p><p>na esfera pública. O que é estimulante é o fato de todas essas igrejas terem um coração</p><p>missional, o desejo de alcançar outras pessoas com a mensagem da redenção em Jesus.</p><p>Gibbs e Bolger listam, com foco maior na espiritualidade, as seguintes características das</p><p>igrejas do movimento:</p><p>Identificando-se principalmente com Jesus</p><p>Transformando o espaço secular</p><p>Vivendo em comunidade</p><p>Acolhendo o estranho</p><p>Servindo com generosidade</p><p>Participando como produtores</p><p>Criando como seres criados</p><p>Conduzindo como um corpo</p><p>Orando: “Seja feita a tua vontade”.54</p><p>Essa pesquisa por novas formas de igreja inclui o que muitos chamam de movimento de</p><p>“igreja nos lares” ou “igreja simples”. Considerando que a maioria das pessoas continua</p><p>pensando em “ir para a igreja” como participação no culto em um dos muitos prédios de</p><p>igrejas localizados por toda a comunidade, um novo estudo do Barna Group mostra que</p><p>milhões de adultos estão experimentando novas formas de comunidade espiritual e</p><p>adoração, com muitos abandonando as formas tradicionais.</p><p>O novo estudo, baseado em entrevistas com mais de cinco mil adultos selecionados de modo aleatório por</p><p>toda a nação, descobriu que 9% deles frequentam uma igreja nos lares durante uma semana �pica. Isso</p><p>representa um crescimento marcante na úl�ma década, saltando de um envolvimento de apenas 1% para</p><p>quase dois dígitos. No total, um em cada cinco adultos par�cipa de uma igreja nos lares pelo menos uma</p><p>vez por mês. A projeção desses índices para a população nacional dá uma es�ma�va de mais de 70 milhões</p><p>de adultos que, ao menos, experimentaram par�cipar da igreja nos lares. Durante uma semana �pica,</p><p>cerca de 20 milhões de adultos par�cipam de uma reunião de igreja nos lares. No decorrer de um mês</p><p>�pico, esse número dobra para quase 43 milhões de adultos.55</p><p>Isso é notável. E apesar de nem todas as igrejas nos lares fazerem parte de um fenômeno</p><p>de igreja missional emergente mais amplo (algumas delas são reacionárias, estagnadas,</p><p>conservadoras e pouco inovadoras), elas, contudo, constituem uma pesquisa ativa por</p><p>formas mais simples de igreja que se aproximem do ritmo da vida.</p><p>Como um fenômeno total, a grande pesquisa em andamento em nossos dias, incluindo</p><p>aquelas feitas sobre igrejas nos lares e movimentos de igrejas emergentes, contém as</p><p>sementes do futuro da igreja nos EUA e em todo o mundo. Como observa Gerard Kelly,</p><p>outro importante intérprete dessa situação:</p><p>Grupos experimentais buscando engajar a fé cristã no contexto pós-moderno, com frequência, terão falta</p><p>dos recursos, do perfil e do sucesso das congregações da geração baby boomer56. Por definição, eles são</p><p>novos, não experimentados, rela�vamente desorganizados e com medo da autopromoção. Rejeitam o</p><p>modelo de coorporação dos antepassados boomers, logo, de acordo com os paradigmas existentes, não</p><p>parecem ser significa�vos. Mas, não se engane. Em algum lugar no início e na índole desses grupos</p><p>diversos está escondido o futuro do cris�anismo ocidental. Rejeitá-los é lançar fora as sementes de nossa</p><p>sobrevivência.57</p><p>Outra característica bem marcante é que, em geral, esse fenômeno passa despercebido</p><p>pelos principais observadores da igreja, pois estão à procura de características familiares da</p><p>igreja como a conhecemos por meio da cristandade. Como tal, tende a ser um movimento</p><p>clandestino. Com frequência tive que encarar críticas da IME disfarçadas de perguntas</p><p>pragmáticas como: “Onde isso está funcionando?”, ou fui rejeitado com frases como:</p><p>“Quando eu vir algum sucesso, poderei levar em consideração”. No entanto, está</p><p>funcionando. A resposta está bem debaixo do nosso nariz, mas é como se não a</p><p>p</p><p>enxergássemos porque estamos procurando pelas coisas erradas. Se procurarmos</p><p>determinadas características óbvias no paradigma da cristandade (como edifícios,</p><p>programas, líderes evidentes, crescimento da igreja, organização, etc), perderemos o que</p><p>realmente está acontecendo.</p><p>No entanto, fica ainda melhor: o dr. David B. Barre� e Todd M. Johnson, dois dos</p><p>editores do trabalho estatístico padrão sobre as tendências mundiais chamado World</p><p>Christian Encyclopedia, publicaram algumas estatísticas surpreendentes no relatório anual de</p><p>2001 sobre a missão cristã. Segundo eles, há 111 milhões de cristãos sem uma igreja local.58</p><p>Uma característica muito importante, por essas pessoas terem vindo de nós, é que ainda</p><p>estão tentando resolver a causa de Jesus e estão alienados das expressões atuais de igreja.</p><p>Ministrar para essas irmãs e irmãos sem igreja e insatisfeitos de alguma forma é crítico por</p><p>si só.59 No entanto, mais potencial missional é acumulado com o aumento incomparável do</p><p>grupo que Barre� e Johnson chamam de “independentes”, que, de acordo com eles, hoje</p><p>chega a mais de 20.000 movimentos e redes de comunicação com um total de 394 milhões de</p><p>membros de igrejas por todo o mundo.</p><p>Definido de forma mais abrangente, os movimentos</p><p>neste fenômeno:</p><p>rejeitam denominacionalismos históricos e outras formas centralizadas restritivas de</p><p>autoridade e organização;</p><p>reúnem-se em comunidades de vários tamanhos;</p><p>buscam uma vida focada em Jesus (definitivamente, veem a si mesmos como cristãos);</p><p>buscam um estilo de vida missionária mais eficaz e são um dos movimentos de igreja</p><p>com crescimento mais rápido no mundo. Segundo a estimativa de Barre�, haverá 581</p><p>milhões de membros em 2025. Isso significa 120 milhões a mais do que todos os</p><p>movimentos protestantes juntos!60</p><p>Ora, isso deve fazer qualquer líder cristão parar e observar. Apesar de esse relatório</p><p>estatístico demonstrar a situação do mundo, incluindo o fenômeno chinês, entre outros,</p><p>mesmo que apenas 10% (aposta minha) dos índices citados estivessem relacionados ao</p><p>Ocidente, estaríamos lidando com algo verdadeiramente profundo e marcante. O que</p><p>Barre� e Johnson chamam de movimento independente, eu prefiro chamar de igreja</p><p>missional emergente no contexto ocidental. No entanto, seja qual for a terminologia</p><p>utilizada, isso é muito significativo, pois se trata de um movimento de Jesus não organizado</p><p>ainda em processo. Se estivermos procurando o real crescimento da igreja, aqui está ele. Mas</p><p>infelizmente, se continuarmos olhando por meio das lentes totalmente obsoletas do</p><p>paradigma da cristandade, não conseguiremos enxergá-lo e simplesmente o perderemos.</p><p>Conforme indicado anteriormente, tudo isso me levou a adotar uma identidade e uma</p><p>prática missionárias. A análise acima fez parte da minha “conversão” e eu a apresento aqui</p><p>para sua consideração. Minha própria jornada me levou a investir quase tudo para garantir</p><p>que a IME se estabeleça e comece a ter sucesso. Eu realmente acredito, juntamente com</p><p>Gerard Kelly, que o verdadeiro futuro do cristianismo ocidental reside nesses grupos e</p><p>movimentos inexperientes e essa é uma causa tão valiosa quanto qualquer outra. Alguns</p><p>anos atrás havia poucas razões para ser otimista com relação à nossa situação. Porém, hoje,</p><p>acredito que passamos por algum tipo de massa crítica e há bons motivos para termos</p><p>esperança. Contudo, devemos estar dispostos a realinhar os recursos significativamente,</p><p>investir no futuro, assumir a jornada e experimentar como loucos.61</p><p>Q��� ������� � M �� IME?</p><p>O fenômeno independente da IME, juntamente com a minha pesquisa para descobrir os</p><p>elementos cruciais que formam o Genoma Apostólico, me deram uma real esperança para a</p><p>igreja no Ocidente. O Espírito está se movendo de modo maravilhoso outra vez.</p><p>Movimentos estão sendo despertados e a igreja estabelecida está apenas começando a</p><p>acordar para si mesma e para seu chamado missional. No entanto, transformar a</p><p>cristandade não é uma tarefa fácil. A transição dos modelos da cristandade para modelos</p><p>missionais genuínos não será necessariamente fácil para a maioria das igrejas e de seus</p><p>líderes. Logo, a análise missionária de nossa situação não deve ser evitada, pois, a não ser</p><p>que a enxerguemos pelo que é, jamais mudaremos para nos tornarmos uma expressão mais</p><p>fiel e impactante do povo de Deus.</p><p>A questão vital para as novas igrejas emergentes será sua capacidade de se tornarem</p><p>verdadeiramente missionais. Se falharem nessa transformação também serão outro reajuste</p><p>da cristandade. Uma mera moda passageira. Como veremos ao longo deste livro, as novas e</p><p>emergentes formas de igreja são o resultado de ser missional, e não o contrário. Portanto,</p><p>apresento o mesmo desafio aqui para meus irmãos e irmãs da igreja emergente, assim como</p><p>faço para a igreja estabelecida: se você não quer ser apenas uma moda passageira de igreja,</p><p>não basta adaptar o culto e a espiritualidade para agradar o público pós-moderno; comece</p><p>em outro lugar; coloque o M na equação em primeiro lugar, e o I e o E virão a seguir.</p><p>SEÇÃO 2</p><p>UMA JORNADA AO CERNE DO GENOMA</p><p>APOSTÓLICO</p><p>I���������</p><p>Nesta seção, chegamos ao cerne deste livro. Este material terá relevância imediata para nós</p><p>mesmos e para as comunidades de fé nas quais servimos enquanto tentamos descobrir a</p><p>estranhamente nova, embora antiga, maneira que fez do povo de Deus a mais poderosa força</p><p>transformadora na história. A forma como aplicaremos este material diferirá, dependendo</p><p>de nossa situação: para a igreja estabelecida ou líder que deseja transformá-la em uma igreja</p><p>missional, será crucial desenvolver um processo de mudança saudável a fim de reorientar a</p><p>igreja segundo as formas apostólicas. Isso significará agarrar realmente a situação missional</p><p>que enfrentamos (como nos capítulos 1 e 2), bem como cultivar um processo de</p><p>aprendizagem ativo no contexto do caos (veja adendo). Para o plantador de</p><p>igrejas/missionário pode significar introduzir essas ideias na consciência da comunidade</p><p>inicial (especialmente da liderança) antes de iniciar o projeto, de modo que façam parte da</p><p>equipe de consciência fundamental de plantação de igreja. Para os que ainda estão apenas</p><p>contemplando todos os acontecimentos missionais, espero que esta seção ajude a dar certa</p><p>forma a esses sonhos vitais.</p><p>Seja qual for a situação, eu afirmo que o cultivo e o desenvolvimento de cada elemento do</p><p>mDNA, por si, aproximarão a igreja da sua natureza em sua forma mais fenomenal (por</p><p>exemplo, a igreja primitiva e a China). É um reflexo significativo da capacidade missional</p><p>ter diversos elementos do mDNA do alto ativos na comunidade da fé. Por exemplo,</p><p>qualquer igreja que adota o impulso missionário chegou mais perto de ser um autêntico</p><p>movimento de Jesus. Qualquer igreja que foca em fazer discípulos está, por definição, sendo</p><p>uma igreja mais autêntica, e assim por diante. No entanto, minha teoria é que quando todos</p><p>os seis elementos estão no lugar e informam um ao outro mutuamente, inspirados por seus</p><p>instintos e centro espirituais, e fortalecidos pelo Espírito Santo, algo fundamentalmente</p><p>diferente é ativado. É neste ponto em que, dada as condições corretas, o crescimento</p><p>metabólico e o impacto são catalisados. Um movimento operando com o Genoma</p><p>Apostólico é, na minha teoria, uma forma claramente superior e mais autêntica de eclésia do</p><p>que os que podem ter existido antes.</p><p>Antes de tentar articular os cinco elementos críticos do mDNA nesta seção, seguem</p><p>algumas explicações e definições mais completas de ideias do Genoma Apostólico, mDNA e</p><p>igreja missional.</p><p>�DNA</p><p>A Enciclopédia Britânica define DNA como “... substância química orgânica de estrutura</p><p>molecular complexa encontrada em todas as células orgânicas e vivas, bem como em muitos</p><p>vírus. O DNA codifica as informações genéticas para a transmissão de características hereditárias”.62</p><p>Sua definição no dicionário: “Material autorreplicante presente em praticamente todos os</p><p>organismos vivos. [...] é o transportador de informações genéticas” (ênfase do autor).63</p><p>Isso vai funcionar para os nossos propósitos, pois levam às áreas-chave:</p><p>O DNA é encontrado em toda célula viva (exceto nos vírus mais simples).</p><p>Codifica as informações genéticas para a transmissão das características hereditárias</p><p>além daquelas do organismo inicial.</p><p>É autorreplicante.</p><p>Transporta informações vitais para a reprodução saudável.</p><p>Então o que é o mDNA? O m está inserido simplesmente para diferenciá-lo da versão</p><p>biológica – significa apenas DNA missional. Logo, o que o DNA faz para os sistemas</p><p>biológicos, o mDNA faz para os eclesiásticos. Com este conceito/metáfora, espero explicar</p><p>por que a presença de um mecanismo de guia simples, intrínseco, reproduzível e central é</p><p>necessário para a reprodução e sustentabilidade dos genuínos movimentos missionais.</p><p>Assim como um organismo se mantém junto, e cada célula entende sua função em relação</p><p>ao seu DNA, também a igreja encontra seu ponto de referência em seu mDNA construído.</p><p>Assim como o DNA transporta a codificação genética e, portanto, a vida, de um organismo</p><p>particular, também o mDNA codifica o Genoma Apostólico (a força de vida que pulsava</p><p>pela igreja do Novo Testamento e em outras expressões dos movimentos apostólicos de</p><p>Jesus no decorrer da história).</p><p>É extraordinário</p><p>a igreja como um sistema vivo</p><p>O problema das instituições</p><p>Um etos do movimento</p><p>Estruturas de rede</p><p>Crescimento como o de vírus</p><p>Vamos falar sobre sexo</p><p>Finalmente</p><p>8. C���������, ��� ����������</p><p>“A comunidade para mim” ou “Eu para a comunidade”?</p><p>Liminaridade e communitas</p><p>A Bíblia e a communitas</p><p>Está em todo lugar! Está em todo lugar!</p><p>O mito da communitas</p><p>Ambientes artificiais e a igreja</p><p>O futuro e a forma das coisas por vir</p><p>Missão como princípio organizador</p><p>Além da igreja “ou... ou”</p><p>Então, siga a estrada de tijolos amarelos</p><p>C��������</p><p>A���� - U� ����� ��������� �� ���� �� ����</p><p>Acabamos de adquirir novos pontos de vista</p><p>Mudando a história</p><p>Sobreviver não é o bastante</p><p>Como, então, devemos viver?</p><p>Apareça! Um estudo de caso nas estruturas emergentes</p><p>G�������� �� ������-�����</p><p>B�����������</p><p>P�������</p><p>Você desfragmentou recentemente?</p><p>Às vezes, nosso disco rígido precisa de desfragmentação. Os dados inseridos nele nem</p><p>sempre funcionam de modo ordenado. Quanto mais arquivos você tem e mais programas</p><p>são baixados, mais embaralhado fica seu disco rígido por conta das inserções confusas,</p><p>dispersas e aleatórias pulverizadas ao longo de muito espaço. Panes no computador, falha</p><p>no fornecimento de energia e programa travado apenas aumentam a fragmentação.</p><p>Quanto mais seu disco rígido trabalha para recuperar as informações originais, mais lento</p><p>se torna, mais embaçadas ficam as imagens e tudo fica mais resistente. Como um</p><p>procrastinador em série, tento adiar minha desfragmentação até o computador quase parar.</p><p>A desfragmentação requer que eu não faça nada mais no computador além de limpar toda a</p><p>confusão que minha desorganização e meus erros causaram. Essa limpeza pode levar horas.</p><p>No entanto, uma vez passado pelo processo de desfragmentação, meu disco rígido recupera</p><p>a velocidade e minhas imagens mais uma vez estalam, crepitam e disparam com clareza e</p><p>convicção.</p><p>O cristianismo passou por incontáveis impactos e choques nos últimos 200 anos. Nos</p><p>últimos 500 anos, seu disco rígido original foi apagado diversas vezes, em especial no</p><p>Ocidente, onde quase parou. Em Caminhos esquecidos, uma voz de um lugar que chegou ao</p><p>futuro, primeiramente fornece ao cristianismo do século 21 o melhor desfragmentador de</p><p>disco disponível. Alan Hirsch não apenas traz novidades sobre os assuntos já tratados com</p><p>tanta frequência que estão usados e desgastados, mas também nos apresenta um</p><p>vocabulário e uma visão capazes de ajudar a restaurar o disco rígido original do</p><p>cristianismo ao seu caráter apostólico, que é o resultado líquido da convergência de seis</p><p>elementos orgânicos do mDNA (onde m = missional). “O que o DNA faz no sistema</p><p>biológico”, escreve Hirsch, “o mDNA faz no sistema eclesiástico”.</p><p>No entanto, em primeiro lugar, precisaremos parar de fazer o que estamos fazendo e</p><p>deixar o desfragmentador realizar seu trabalho em nossa mente e ministério. Hirsch tem</p><p>algumas coisas inquietantes para dizer com relação à liderança, consumismo, cultura da</p><p>classe média, Al Qaeda, comunidade, seminários e megaigrejas. Ele nos força a considerar,</p><p>de modo sério, a situação missional na qual estamos e, durante o processo, elimina a frase</p><p>“igreja missional” do frequente uso incorreto. Também precisaremos deixar de cantar</p><p>músicas como “Abrigo no temporal”; parar de desejar equilíbrio, segurança e calma; e parar</p><p>de ter medo de se misturar com a cultura da época ou de estar no centro das coisas. Uma</p><p>coisa é criar uma comunidade contrária à cultura ou uma subcultura cristã, mas é muito</p><p>mais difícil viver como uma “communitas missional-encarnacional” em meio a uma cultura e</p><p>não ser limitado por suas ordens e decretos: estar “dentro”, não ser “de”, tampouco estar</p><p>“fora de”. Quando você abre as janelas para o mundo, como fez o Papa João XXIII, talvez</p><p>não estejamos permitindo que o espírito da época entre tanto quanto permitimos que o</p><p>Espírito Santo saia para soprar onde deseja.</p><p>A igreja para a qual retornaremos quando o desfragmentador de Hirsch tiver concluído,</p><p>entretanto, é uma igreja compromissada com o mundo enquanto preserva a tradição. Ele a</p><p>denomina de IME ou Igreja Missional Emergente. Eu irei me referir a este livro utilizando o</p><p>mesmo sentido, mas com uma anotação adicional.</p><p>Assim como Einstein, que ele gosta de citar, Hirsch descobriu a fórmula que desvenda os</p><p>segredos do universo eclesiástico como a simples fórmula de Einstein com três letras e um</p><p>número (E=mc2) desvenda os segredos do universo físico. Há alguns livros bons o bastante</p><p>para serem lidos até o final. Há apenas alguns livros bons o bastante para serem lidos até o</p><p>final dos tempos. Caminhos esquecidos é um deles.</p><p>Leonard Sweet</p><p>SEÇÃO 1</p><p>A FORMAÇÃO DE UM MISSIONÁRIO</p><p>I���������</p><p>Uma igreja que fixa sua tenda sem procurar constantemente novos horizontes, ou seja, não</p><p>levanta acampamento sempre, não está sendo fiel ao seu chamado. [...] [Nós devemos] negar</p><p>nosso desejo por segurança, aceitar o que é arriscado e viver pela improvisação e tenta�va.</p><p>Hans Küng, The Church as the People of God</p><p>Depois de um tempo de decadência, vem o ponto da virada. A poderosa luz que havia sido</p><p>banida retorna. Há movimento, mas não foi gerado à força... O movimento é natural, surgindo</p><p>de modo espontâneo. O an�go é descartado e o novo é introduzido. Ambas as medidas</p><p>harmonizam com o tempo; portanto, não há resultados prejudiciais.</p><p>An�go provérbio chinês.</p><p>Imagine se houvesse uma força escondida no coração do povo de Deus. Suponha que essa</p><p>força tivesse se desenvolvido na “célula-tronco” embrionária da igreja pelo Espírito Santo,</p><p>mas, de alguma maneira, tenha sido encoberta, perdendo-se no decorrer de séculos de</p><p>negligência e desuso. Imagine que, se fosse redescoberta, essa força escondida poderia</p><p>liberar energias extraordinárias capazes de impulsionar o cristianismo diretamente para o</p><p>século 22 – um equivalente missional para liberar o poder de um átomo. Isso não é algo que</p><p>nós, que amamos Deus, o seu povo e a sua causa, daríamos tudo neste instante para</p><p>recuperar? Hoje, eu acredito que a ideia de potências missionais incorporadas latentes não</p><p>passe de uma mera fantasia. Na verdade, existem forças primitivas encobertas em toda a</p><p>comunidade de Jesus e em todo cristão verdadeiro. Tais forças não só existem, mas são um</p><p>fenômeno claramente identificado que estimulou a maioria dos movimentos notáveis de</p><p>Jesus, talvez, a expressão mais marcante para nós hoje. Essa força extraordinária está sendo</p><p>recuperada em determinadas expressões do cristianismo ocidental, porém, não sem desafios</p><p>significativos e resistência em relação aos modos atuais como fazemos as coisas.</p><p>O fato de você ter começado a ler este livro não significa apenas que está interessado em</p><p>pesquisar mais expressões autênticas relacionadas à eclésia (palavra do Novo Testamento</p><p>para igreja), mas que, de alguma forma, está ciente das mudanças dramáticas no ponto de</p><p>vista mundial ocorridas na cultura em geral no decorrer dos últimos 50 anos.</p><p>Independentemente de como queriam chamá-la, essa mudança do moderno para o pós-</p><p>moderno, ou da modernidade sólida para a modernidade líquida, tem sido difícil para a</p><p>igreja aceitar de modo geral. Encontramo-nos perdidos em meio a uma selva global</p><p>perplexa na qual nossos mapas culturais e teológicos bem usados parecem não funcionar</p><p>mais. É como se acordássemos e nos encontrássemos em contato com uma realidade</p><p>estranha e inesperada que parece desafiar nossas maneiras usuais de lidar com questões</p><p>relacionadas à Igreja e à sua missão. Tudo isso corresponde a um choque futuro eclesiástico</p><p>no qual somos deixados vagando em um mundo que não conseguimos mais reconhecer. Na</p><p>luta para nos agarrarmos à nossa nova realidade, as igrejas e líderes de igrejas se</p><p>conscientizaram, de maneira dolorosa, que nossos conceitos herdados, nossa linguagem e,</p><p>sem dúvida, todo o nosso modo de pensar são inadequados para descrever o que está</p><p>acontecendo tanto em nós quanto ao nosso redor. Os problemas surgiram em uma condição</p><p>não apenas intelectual, mas juntamente com uma intensa crise espiritual, emocional e</p><p>existencial.</p><p>A</p><p>o fato de que no sistema biológico cada célula transporta a codificação</p><p>completa de todo o organismo. E apesar de um tipo específico de célula em um organismo,</p><p>como um músculo ou célula cerebral, geralmente referir-se apenas a uma pequena porção</p><p>do código genético de sua própria estrutura, ele tem a quantidade total trancada dentro</p><p>dele. O organismo inteiro pode ser reproduzido a partir de uma única célula. Portanto,</p><p>passei a acreditar que toda igreja, na verdade, todo cristão, se nascido verdadeiramente em</p><p>Jesus Cristo por intermédio do Espírito Santo, tem toda a codificação do mDNA, logo, tem</p><p>acesso direto ao poder do Genoma Apostólico. Está lá, ocorreu apenas que as formas mais</p><p>institucionais esqueceram ou suprimiram isso, pois sua natureza primitiva e incontrolável</p><p>representa perigo para a própria instituição – é muito diferente e incontida. Os sistemas</p><p>institucionais tendem a testar e organizar por meio de comando e controle hierárquicos</p><p>externos; movimentos missionais orgânicos se organizam através da codificação do mDNA</p><p>saudável presente em casa célula, e então, deixam acontecer. Cole destaca essa diferença ao</p><p>comparar a estrutura externa (exoesqueleto) dos sistemas institucionais com a estrutura</p><p>interna (endoesqueleto) dos sistemas orgânicos.64</p><p>A partir da minha pesquisa sobre movimentos de Jesus, temos a tendência de acessar essa</p><p>codificação poderosa quando enfrentamos um importante desafio adaptativo (uma ameaça</p><p>à existência e/ou uma oportunidade atraente). De que outra maneira podemos explicar</p><p>como a igreja secreta na China ativou o Genoma Apostólico? Eles pareciam saber</p><p>intuitivamente o que fazer quando todas as estruturas de apoio e expressões externas foram</p><p>destruídas. Como podemos explicar isso? Todos os seus edifícios foram nacionalizados,</p><p>todos os seus pensadores foram presos, toda a liderança existente foi assassinada, exilada ou</p><p>presa, e eles foram proibidos de se reunirem sob ameaça de morte e tortura. Como é que,</p><p>sob essas condições, eles pareciam se formar de modo praticamente idêntico ao da igreja</p><p>primitiva? Eles não tinham acesso a materiais como este livro para orientá-los – nem sequer</p><p>tinham Bíblias suficientes.</p><p>Há tempos tenho refletido sobre esse mistério e a única coisa que posso sugerir é que eles</p><p>o encontraram neles mesmos. Ou mais precisamente, essa poderosa codificação está neles por</p><p>meio da obra do Espírito e pelo poder do Evangelho na comunidade. Não há outra maneira</p><p>de explicar isso: já estava lá, e o Espírito de Jesus o ativou no contexto do caos e do desafio</p><p>adaptável. Isso é verdade em todas as situações nas quais a igreja enfrenta uma ameaça séria</p><p>ou uma oportunidade irresistível que a obriga a redescobrir sua verdadeira natureza. O</p><p>Genoma Apostólico, parece, é codificado em toda comunidade por meio de mDNA latente.</p><p>Apenas está enterrado e esquecido pela maioria de nós.</p><p>G����� A���������</p><p>Ao criar essa frase, quero tentar identificar algo muito difícil de “ver”, mas que parece estar</p><p>sempre presente na igreja quando ela está em sua forma mais fenomenal. Não há uma</p><p>palavra ou frase atual para definir esse “espírito” que se infiltrou na igreja do Novo</p><p>Testamento e em outras expressões de formas apostólicas da igreja.</p><p>É tão difícil para nós definirmos o Genoma Apostólico como é para os biólogos definirem</p><p>a ideia de vida. Você alguma vez já tentou definir a palavra vida?65 Ou eletricidade? Ao criar</p><p>a frase, espero ajudar a identificar essa energia principal, a corrente espiritual que parecia</p><p>fazer seu caminho ao longo das pequenas comunidades de fé que transformaram o mundo.</p><p>O Genoma Apostólico, em minha opinião, é o fenômeno total resultante de um complexo de</p><p>experiências multiformes e reais de Deus, tipos de expressão, estruturas organizacionais,</p><p>etos de liderança, poder espiritual, modo de crença, etc. E é a presença ativa, ou a falta dela,</p><p>que faz toda a diferença para a nossa experiência de comunidade de Jesus, missão e poder</p><p>espiritual.</p><p>Intrínseco ao termo Genoma Apostólico está a completa agregação de todos os elementos</p><p>do mDNA que, juntos, formam uma constelação, como era, cada uma derramando luz sobre</p><p>a outra. Pelo diagrama, o Genoma Apostólico, composto da maneira como é por vários</p><p>elementos de mDNA, é algo semelhante a isto:</p><p>Este estranho diagrama transmite de forma visual o complexo fenômeno, os impulsos, as</p><p>práticas, as estruturas, os modelos de liderança, etc, que, juntos, formam o Genoma</p><p>Apostólico. Apresenta também um resumo do trabalho de toda a estrutura desta seção na</p><p>qual tudo será explicado. Os seis elementos descritos aqui formam o fenômeno chamado</p><p>Genoma Apostólico que, por sua vez, energiza e molda todos os movimentos de Jesus em</p><p>qualquer lugar.</p><p>O restante deste livro será uma tentativa de descrever esses aspectos do Genoma</p><p>Apostólico identificando, definindo e traduzindo cada aspecto do mDNA para o nosso</p><p>contexto no Ocidente. Tenho esperança de que, até o final do livro, o leitor seja motivado a</p><p>buscá-los e recuperá-los na vida da igreja. A principal tarefa continua sendo tentar</p><p>identificar esse conceito vago de Genoma Apostólico, pois, na recuperação e ativação dessa</p><p>poderosa herança em todo o povo de Deus, está a grande renovação da igreja no Ocidente.</p><p>Para fundamentar essa ideia um tanto intangível em um exemplo ocidental</p><p>contemporâneo, irei me referir no decorrer de todo o livro à história da Church Multiplication</p><p>Associates (CMA). O CMA é um movimento iniciado nos Estados Unidos, mas agora, tem</p><p>igrejas em 16 países pelo mundo. Não deixe esse nome nada atraente obscurecer o tesouro</p><p>profundo descoberto nesse movimento, que, em seis anos, aumentou para quase 700 igrejas.</p><p>Neil Cole, o fundador e líder do movimento, diz que a história do CMA começa com sua</p><p>história de ser um pastor em uma igreja contemporânea média e bem-sucedida.</p><p>Esse homem de fala mansa tem um coração verdadeiro voltado para os não</p><p>evangelizados, o que o leva a encontros decisivos com pessoas marginalizadas. Essas</p><p>experiências o fizeram pensar cada vez mais a respeito de formas missionais mais genuínas</p><p>de se fazer igreja.66 Imbuído de um dom apostólico, uma audácia inovadora e uma estranha</p><p>habilidade de ver as coisas organicamente, ele iniciou a plantação de um movimento</p><p>missional em Long Beach, Califórnia. As ideias explícitas que conduzem essa igreja, e o</p><p>movimento resultante, são as dos (1) sistemas simples, descentralizados, reproduzíveis e</p><p>orgânicos, e (2) o fazer discípulos. Estes são os princípios de organização declarados</p><p>expressamente, mas há mais coisas sob a superfície. Relaciona-se diretamente com dois dos</p><p>elementos do mDNA, ou seja, fazer discípulos (capítulo 6) e os sistemas orgânicos (capítulo</p><p>7). No entanto, mesmo que a igreja e o movimento não utilizem esses termos, um não tem</p><p>que olhar mais longe para descobrir os outros: todos os seis elementos do mDNA estão</p><p>funcionando de maneiras significativas, apesar de não estarem nomeados explicitamente</p><p>como estão neste livro.</p><p>No CMA, há um impulso missional-encarnacional definido – eles estão “fazendo</p><p>igreja” em quase todo o contexto social concebível – desde estacionamentos de carros até</p><p>cafés, de bares a casas. E não controlam por meio de uma organização central.</p><p>Simplesmente “deixam acontecer” e estabelecem uma rede de contatos para cada grupo</p><p>por meio do fortalecimento dos relacionamentos. Estudaremos sobre isso no capítulo 4.</p><p>O observador será capaz de discernir a influência de certo tipo de liderança em Neil e</p><p>outras que podem apenas ser chamadas de apostólicas. Na realidade, é por meio da</p><p>influência apostólica de Neil que os principais elementos do mDNA foram semeados no</p><p>primeiro lugar. Essa ligação do antigo Evangelho com a autêntica expressão atual é a</p><p>verdadeira marca do ministério apostólico, conforme veremos no capítulo 5.</p><p>Você descobrirá comunidades com missão orientada flexíveis, adaptáveis com base na</p><p>aventura e formadas dentro do contexto de um propósito comum de si mesmo − o que</p><p>será descrito como communitas (congregação) no capítulo 8.</p><p>O Genoma Apostólico está, de fato,</p><p>vivo e bem no movimento. Embora o CMA seja um</p><p>ótimo exemplo disso, não é, de maneira alguma, o único. Analisaremos igrejas e</p><p>movimentos semelhantes ao longo do livro durante a minha tentativa de traduzir para o</p><p>contexto ocidental as descobertas do Genoma Apostólico nos movimentos pós-apostólico e</p><p>chinês. O que é facilmente identificável no exemplo do CMA é que a experiência da igreja e</p><p>de seguir Jesus se tornou muito simples e totalmente reproduzível por praticamente</p><p>qualquer cristão. A incorporação sistemática do mDNA desse movimento se enquadra no</p><p>propósito do DNA em todos os sistemas vivos: codifica sua vida e a torna transferível por</p><p>todos os membros do grupo, não apenas por alguns. Esta é a essência da qual são feitos os</p><p>grandes movimentos, pois contém e opera a partir do Genoma Apostólico presente no cerne</p><p>da eclésia de Deus.</p><p>Estudando esse fenômeno, em determinado estágio, a revelação do plano maravilhoso de</p><p>Deus tornou-se evidente para mim: passei a ver que o Genoma Apostólico está realmente</p><p>latente em todos os cristãos verdadeiros e é, a meu ver, uma das obras do Espírito Santo em</p><p>nós. De alguma maneira misteriosa, quando somos incorporados à família de Deus, todos</p><p>parecemos ser “sementes” carregando todo o potencial do povo de Deus dentro de nós. Se</p><p>você e eu fomos jogados ao vento como uma semente em um campo diferente, o Senhor</p><p>poderia criar uma comunidade de Jesus a partir de nós. Esta é a maravilha de um</p><p>verdadeiro movimento de pessoas. Onde ele é livre e cultivado, a transformação no mundo</p><p>acontece.</p><p>M�������� � ������ ���������</p><p>Os termos missional e igreja missional surgiram com o trabalho de um grupo de praticantes,</p><p>missiologistas e teóricos norte-americanos chamado The Gospel and Our Culture Network</p><p>(GOCN) [O Evangelho e nossa rede cultural], que se reuniu para experimentar e realizar</p><p>algumas das implicações da obra do marcante pensador missionário Lesslie Newbigin. Foi</p><p>ele que, depois de retornar de um período de trabalho na Índia como missionário, percebeu</p><p>como a civilização ocidental era, de fato, pagã. Ele começou a articular a visão que</p><p>precisamos para ver o mundo ocidental como um campo missionário e que nós, como povo</p><p>de Deus dentro desse contexto, precisamos adotar uma posição missionária em relação à</p><p>nossa cultura – exatamente como na Índia, por exemplo.67 Seu trabalho captou a imaginação</p><p>da igreja em crise e em declínio, e moldou o pensamento das gerações.</p><p>Entretanto, a palavra missional tende, no decorrer dos anos, a se tornar bastante fluida e</p><p>foi rapidamente eleita por aqueles que desejam encontrar novas e modernas marcas para o</p><p>que estão fazendo, sejam missionais ou não. Com frequência, a palavra é utilizada como</p><p>substituto de igreja sensível a quem busca, igreja em célula ou outros conceitos de crescimento</p><p>de igreja, obscurecendo, assim, seu significado original. Então, nós o descartamos e</p><p>aparecemos com outro termo?68 Acho que precisamos mantê-lo, porém, reinvesti-lo com um</p><p>significado mais profundo. A palavra resume exatamente a ênfase dos movimentos radicais</p><p>de Jesus que precisamos redescobrir hoje. No entanto, mais do que isso, em minha opinião,</p><p>ela vai ao cerne da natureza e propósito da igreja em si.</p><p>Assim, uma definição funcional de igreja missional é uma comunidade do povo de Deus</p><p>que define a si mesma e organiza sua vida em torno de seu real propósito de ser um agente</p><p>da missão do Senhor para o mundo. Em outras palavras, o verdadeiro e autêntico princípio</p><p>organizacional da igreja é missão. Quando a igreja está em missão, é a verdadeira igreja. Ela</p><p>não é somente um produto daquela missão, mas é obrigada e destinada a ampliar-se, sejam</p><p>quais forem os meios possíveis. A missão de Deus flui diretamente por meio de todo cristão</p><p>e de toda comunidade de fé que aceita Jesus. Obstruir isso é bloquear os propósitos de Deus</p><p>em e por meio do seu povo.</p><p>Se quisermos incorporar esse significado mais profundo em nossa identidade essencial</p><p>como povo de Deus, estaremos no caminho certo de nos tornarmos uma organização</p><p>adaptável. Essa missão pode expressar-se de diversas maneiras nas quais o Reino de Deus</p><p>se expressa – extremamente variado e sempre redentor.</p><p>3</p><p>O ����� �� ����: J���� � S�����</p><p>[...] sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus.</p><p>Porque, ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra [...]</p><p>para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem exis�mos; e um só</p><p>Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele.</p><p>1 Corín�os 8.4-6</p><p>A expansão espontânea da igreja reduzida aos seus elementos é algo muito simples. Não</p><p>requer organização elaborada, nem grandes recursos financeiros, nem muitos missionários</p><p>pagos. No início, pode ser trabalho de um homem, e este homem não aprendeu as coisas</p><p>deste mundo nem enriqueceu com as riquezas deste mundo. [...] O que é necessário é a fé. O</p><p>que é preciso é o �po de fé que, unindo o homem a Cristo, faça-o pegar fogo.</p><p>Rolando Allen, The Compulsion of the Spirit</p><p>Quando Paulo completa sua exploração acerca do mistério do envolvimento de Deus em</p><p>nosso mundo, eleva-se na doxologia em êxtase, substância que nos leva à essência da</p><p>realidade. Ele diz: Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão</p><p>insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! ‘Quem conheceu a mente do Senhor?</p><p>Ou quem foi seu conselheiro?‘ ‘Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense?‘ Pois dele, por ele</p><p>e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém!” (Rm 11.33-36). Como é</p><p>verdade em todos os momentos de profunda inspiração espiritual, a clareza da verdade</p><p>torna-se evidente para Paulo de forma muito simples, e ao articular essas palavras eternas,</p><p>ele nos indica o cerne do entendimento hebraico sobre Deus: “Pois dele, por ele e para ele são</p><p>todas as coisas”. Aqui chegamos ao epicentro da consciência bíblica sobre Deus. E é para este</p><p>centro espiritual que devemos retornar, caso queiramos renovar a igreja em nossos dias.</p><p>Este capítulo tentará reinterpretar nossa fé e nossa caminhada com Jesus à luz do</p><p>entendimento hebraico sobre a vida. Tudo tem início com a confissão básica de Israel,</p><p>chamada Shema Yisrael (Ouve, Ó Israel) baseada em Deuteronômio 6.4.69</p><p>É difícil determinar onde alguém insere o material que, por sua própria natureza, é mais</p><p>do que um “elemento” do Genoma Apostólico. Todos os movimentos cristãos genuínos</p><p>envolvem em seu ponto zero um encontro vivo com o único e verdadeiro Deus, de quem vêm</p><p>todas as coisas e para quem vivemos (1Co 8.6). Um Deus que, no exato momento de nos redimir,</p><p>nos declara como seus por intermédio de Jesus, nosso Salvador. Se falharmos na</p><p>compreensão desse centro espiritual e circunferência dos movimentos de Jesus, jamais</p><p>conseguiremos entendê-los completamente nem suplicar outra vez pelo poder que alcança</p><p>suas vidas e comunidades. Addison, em seu estudo completo sobre os movimentos cristãos,</p><p>está correto ao concluir que eles são mantidos por meio do que chamamos de “fé fervorosa”,</p><p>suscitada pela redescoberta do lugar e importância de Jesus.70 Embora, de alguma maneira,</p><p>isso seja um elemento do Genoma Apostólico, na realidade, é mais do que isso. Essa</p><p>consciência a respeito de Deus permeia todo o fenômeno. Peço que se lembrem disso</p><p>quando começarmos a revelar os vários elementos do mDNA do Genoma Apostólico. No</p><p>final, é tudo sobre Deus.</p><p>D��������� � ��������</p><p>Muitas pessoas, quando questionadas a respeito de como acham que o movimento cristão</p><p>primitivo (e o das igrejas chinesas clandestinas) cresceu tanto, respondem, principalmente,</p><p>que se deve ao fato de serem cristãos verdadeiros – que havia uma autenticidade real e</p><p>contínua à fé, portanto, tinham acesso ao poder do Espírito que estava disponível para eles.</p><p>Presumidamente, se alguém está disposto a morrer pela fé, alguém foi além da crendice fácil</p><p>para as esferas da fé genuína e do amor a Deus. Tal avaliação está correta. Qualquer estudo</p><p>sobre a vida dessas pessoas deve servir de inspiração.</p><p>A perseguição leva o perseguido a</p><p>viver mais perto da mensagem – ele simplesmente se apega ao Evangelho de Jesus e,</p><p>portanto, destrava o poder libertador.</p><p>Mas há algo mais do que isso. Um dos “presentes” que a perseguição parece conferir ao</p><p>perseguido é que ela lhe permite destilar a essência da mensagem, e assim, ter acesso a ela</p><p>de uma nova maneira. Tome o movimento chinês de Jesus como exemplo. Quando todos os</p><p>pontos de referência exteriores foram removidos, quando a maioria de seus líderes e</p><p>teólogos foi assassinada ou presa e todo o acesso a fontes externas foi cortado, as pessoas, de</p><p>alguma maneira, foram forçadas pela circunstância abrupta a destravar alguma coisa</p><p>verdadeiramente potente e convincente na mensagem que levavam como povo de Deus. O</p><p>resultado é um movimento de Jesus inigualável na história. O que está acontecendo aqui e o</p><p>que nós, no Ocidente, podemos aprender a partir disso?</p><p>Sabemos que os movimentos de Jesus perseguidos são forçados à clandestinidade, de</p><p>forma geral, adotam uma estrutura mais parecida com a de célula e são obrigados a confiar</p><p>muito nas redes de relacionamento a fim de se manterem como comunidades cristãs</p><p>autoconscientes. No entanto, para sobreviverem no contexto de perseguição, também têm</p><p>que abandonar todos os impedimentos desnecessários, incluindo o do conceito</p><p>predominantemente institucional de eclésia. Porém, talvez ainda mais significativamente,</p><p>tenham que condensar e purificar a mensagem central que os mantém fiéis e esperançosos.</p><p>Para uma igreja clandestina, toda a confusão de interpretações tradicionais desnecessárias e</p><p>parafernálias teológicas são removidas. Ela não tem tempo nem capacidade interna para</p><p>manter teologias sistemáticas pesadas e dogmas eclesiásticos. Deve “viajar leve”. Portanto,</p><p>todas as complexidades desnecessárias são extraídas e, durante o processo, acontece o</p><p>milagre: o povo descobre a verdadeira mensagem e nasce o movimento. A fé está, uma vez</p><p>mais, ligada de forma muito simples a Jesus, o autor e consumador da fé. Logo, no centro de</p><p>todos os grandes movimentos está a recuperação de uma cristologia simples (conceitos</p><p>essenciais de quem é Jesus e o que ele faz), que reflete com precisão o Jesus da fé do Novo</p><p>Testamento – eles estão literalmente em movimentos de Jesus.</p><p>Contudo, algo mais está solto nessa recuperação da simplicidade, ou seja, a capacidade</p><p>de transmitir rapidamente a mensagem ao longo de linhas de relacionamento. Livre da</p><p>densidade filosófica acadêmica e da dependência de clérigos profissionais, o Evangelho se</p><p>torna profundamente “espirrável”. Essa referência a espirrar não é apenas bizarra. Sabemos,</p><p>a partir de estudos de ideias que a mensagem do Evangelho se espalha em padrões muito</p><p>semelhantes aos de epidemias virais. Sabemos também que, para assumir controle e se</p><p>tornar uma “epidemia”, precisa ser transmitida com facilidade de uma pessoa para outra.</p><p>Para isso, deve ser profunda, mas simples – compreendida facilmente por qualquer pessoa</p><p>e, em muitos casos, por camponeses analfabetos.71 Nesse sentido, o Evangelho, uma vez</p><p>mais, torna-se uma posse das pessoas e não apenas das instituições religiosas que,</p><p>inconscientemente, tornam difícil para as pessoas compreenderem e aplicarem (Mt 23).</p><p>Dadas as condições sociais e religiosas favoráveis, bem como os relacionamentos corretos</p><p>entre as pessoas, ideias facilmente transmissíveis podem criar movimentos poderosos</p><p>capazes de transformar sociedades (no caso da economia, o mercado). Claramente, essa é a</p><p>situação do Evangelho na igreja primitiva bem como na revolução chinesa. Pessoas</p><p>desesperadas e imersas em oração agarradas a Jesus, a confiança no Espírito Santo e a</p><p>destilação da mensagem do Evangelho em uma mensagem simples e organizada de Jesus</p><p>como Senhor e Salvador é o catalisador das potências missionais inerentes ao povo de Deus.</p><p>Este fenômeno de um movimento se identificar, se aperfeiçoar e viver (ou até morrer) por</p><p>sua mensagem é a grande indicação da natureza do Genoma Apostólico e de como</p><p>podemos recuperá-lo no Ocidente. Mas para aperfeiçoar a mensagem em nosso contexto,</p><p>precisamos novamente avaliar seu cerne, ou seja, aquele do tema original da Bíblia: a</p><p>reivindicação redentora de Deus sobre nossa vida.</p><p>O���, Ó I�����</p><p>Como temos visto, o “presente” concedido pela perseguição ao povo de Deus é o</p><p>esclarecimento da mensagem central da igreja. Isso, por sua vez, suscita a pergunta: Qual é</p><p>essa mensagem? Com o que se parece e como fica quando reduzida a algo tão simples? Esse</p><p>estudo sobre os históricos e fenomenais movimentos de Jesus levou-me à conclusão de que a</p><p>resposta está presente na essência de um monoteísmo bíblico genuíno – um encontro</p><p>existencial com o único Deus que nos reivindica e nos salva. Tão simples e, talvez em um</p><p>primeiro momento, tão desencorajador como possa parecer, a convicção de que Deus é</p><p>único está no centro tanto da fé bíblica quanto nos movimentos extraordinários de Jesus na</p><p>história. Essa afirmação irredutível está presente no centro de todas as manifestações</p><p>autênticas do Genoma Apostólico. Este capítulo tentará reinterpretar nossa fé e a caminhada</p><p>de Jesus à luz da compreensão hebraica da vida. Tudo começa com a confissão básica de</p><p>Israel, chamada Shema Yisrael (Ouve, Ó Israel) com base em Deuteronômio 6.4.</p><p>Quando o povo de Deus do Novo Testamento confessa que “Jesus é Senhor e Salvador”,</p><p>não se trata apenas de uma simples confissão de que Jesus é nosso mestre e nós, seus servos.</p><p>Certamente é isso, porém, dado o contexto hebraico dessa confissão, e o fato de Jesus ser o</p><p>cumprimento das promessas messiânicas para Israel, a confissão repercute completamente</p><p>em crenças que remetem à confissão principal de Israel de que “Jeová é o Senhor”. Sendo</p><p>assim, a confissão toca nas possíveis correntes mais profundas da revelação bíblica: temas</p><p>que nos levam diretamente para a natureza de Deus, sua relação com seu mundo e sua</p><p>reivindicação de todos os aspectos de nossa vida, tanto individuais quanto em comum.</p><p>Também está relacionada ao encontro definitivo, à experiência redentora que forma o</p><p>relacionamento da aliança entre Deus e seu povo.</p><p>Para apreciar de modo verdadeiro o poder e centralidade dessa reivindicação, precisamos</p><p>estabelecê-la em seu contexto religioso original – o do pluralismo religioso ou politeísmo. As</p><p>pessoas que viveram no antigo Oriente Próximo eram essencialmente um povo</p><p>profundamente espiritual que reconhecia que a vida era repleta de coisas sacras, místicas e</p><p>mágicas. Havia inúmeros deuses, demônios e anjos, que eram vistos como governantes de</p><p>diferentes esferas da vida.72 A vida era profundamente espiritual, porém, governada por</p><p>inúmeras deidades, muitas das quais não eram personagens muito agradáveis.</p><p>Assim, por exemplo, se você fosse um praticante do politeísmo vivendo naquela época e</p><p>naquele lugar e quisesse retirar água do rio, a jornada o faria passar pelos campos dos quais</p><p>você dependesse, pela floresta e pela queda do rio. O dilema religioso que enfrentaria em</p><p>uma atividade aparentemente simples se deve ao fato de existirem diferentes divindades</p><p>regendo cada um desses aspectos da vida, isso não era algo fácil – era repleto de perigos</p><p>espirituais. A fim de não ofender o Baal do campo pelo qual passaria no decorrer do</p><p>caminho, você precisaria fazer uma oferta sacrificial e realizar rituais religiosos no santuário</p><p>do campo. Então, você teria que passar pela antiga árvore do presságio. Com frequência,</p><p>achava-se que árvores imponentes continham espíritos maus chamados dríades, então, você</p><p>tinha que ter certeza de que não agitaria as dríades e, novamente, precisaria seguir um ritual</p><p>prescrito, exigido para tranquilizar a dríade em particular. Mais uma vez, seu sistema de</p><p>crenças lhe informaria que, caso a deusa do rio ficasse ofendida, ele poderia secar ou</p><p>transbordar, causando catástrofe e sofrimento em ambos os casos. Assim, uma vez</p><p>alcançado o rio, a deusa do rio, uma deidade particularmente imprevisível, também teria</p><p>que ser aplacada com um sacrifício. Portanto, a simples ação de ir até o rio era, na realidade,</p><p>um processo religioso bastante complexo.</p><p>A visão politeísta ia além de rios e campos. Existiam deidades que presidiam em todas as</p><p>possíveis esferas da vida: o estado (políticos), a família, guerra, fertilidade, etc. A vida como</p><p>um politeísta não é apenas complexa (cada deidade tem que ser enfrentada com o decoro</p><p>apropriado), mas é completamente supersticiosa (a menor ação tem grandes consequências</p><p>espirituais) e também perigosa (nem todos os deuses são bons; na verdade, alguns são</p><p>absolutamente maus). Esse era o devastador contexto religioso de Israel.</p><p>E para este contexto vem o Shema.</p><p>Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu</p><p>coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno</p><p>estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando es�ver</p><p>sentado em casa, quando es�ver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as</p><p>como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus</p><p>portões (Dt 6.4-9; ênfase do autor).</p><p>A declaração nesse contexto religioso tem implicações diretas e de longo alcance: o que</p><p>isso significava para a pessoa que estava sob essa reivindicação é que não poderiam mais</p><p>existir diferentes deuses para diferentes esferas da vida, um deus do templo, outro deus dos</p><p>políticos, um deus diferente para a fertilidade no campo e ainda outro para o rio, etc. Pelo</p><p>contrário, Jeová é o ÚNICO Deus que governa sobre todos os aspectos da vida e do mundo.</p><p>Jeová é o Senhor da casa, do campo, dos políticos, do trabalho, etc., e a tarefa religiosa era</p><p>honrar este ÚNICO Deus em e por meio de todos os aspectos da vida. Pois, dele, por ele e para</p><p>ele são todas as coisas (Rm 11.35). Isso não é só o que constitui a base da adoração, como</p><p>veremos adiante, mas também estabelece a agenda para a tarefa religiosa central de</p><p>discipulado. É um chamado para os israelitas viverem sua vida debaixo do senhorio do</p><p>único Deus, e não debaixo da tirania de muitos deuses. Essa é a razão pela qual a aliança</p><p>entre Israel e Jeová começa com uma reivindicação absoluta de Jeová para tudo pertinente à</p><p>vida de Israel e a proibição total dos ídolos e falsos deuses (Ex 20.2-5). “Quando Deus</p><p>invade a consciência do homem, sua confiança na ‘paz e segurança’ desaparece em cada</p><p>canto de sua existência. Sua vida como um todo se torna vulnerável. As divisórias entre as</p><p>câmaras que limitam as explosões ao outro compartimento estão quebradas. Quando Deus</p><p>escolhe o homem, investe nele com toda a responsabilidade para obediência total a uma</p><p>exigência absoluta.”73 O senhorio de Jeová é, ao mesmo tempo, completa e graciosa</p><p>salvação, bem como uma demanda total, sem ressalvas. Na fé bíblica, a salvação e o</p><p>senhorio estão intrinsecamente ligados.</p><p>Portanto, na perspectiva hebraica, o monoteísmo não é uma declaração sobre Deus como</p><p>um ser eterno essencialmente único como o era para os teólogos helênicos, mas uma</p><p>reivindicação existencial de que há apenas um único Deus e ele é Senhor de todos os</p><p>aspectos da vida. Novamente, aqui a natureza concreta e prática do pensamento hebraico</p><p>vem à tona. Os politeístas podem compartimentar a vida e distribuí-la entre muitos poderes.</p><p>Mas, como diz Maurice Friedman, “a [pessoa] de fé no mundo israelita [...] não é</p><p>diferenciada do ‘pagão’ por uma simples visão ‘espiritual’ da divindade, mas pela</p><p>exclusividade de seu relacionamento com Deus e por referência de todas as coisas a ele”.74</p><p>Os monoteístas (cristãos bíblicos autênticos) têm somente um ponto de referência para a vida</p><p>e existência, a saber, Deus. O Shema é o primeiro exemplo dessa reivindicação completa e</p><p>sistêmica de nossa vida. Portanto, trata-se de um chamado para a aliança fiel em vez de ser</p><p>uma declaração da ontologia teológica (natureza do ser).75 As implicações são de longo</p><p>alcance, não apenas para a teologia, mas para a visão mundial – pois orienta o cristão rumo à</p><p>própria vida. Isso deve influenciar a maneira como compreendemos a vida e a própria fé.</p><p>Veja o que diz o teólogo Paul Minear:</p><p>A soberania única de Deus é percebida somente pela luta acirrada contra outros deuses, com todas as</p><p>forças que se opõem à sua vontade. Isso significa dizer que, para os próprios escritores bíblicos, o</p><p>monoteísmo não começa como um estágio da especulação meta�sica, ou como a úl�ma etapa do</p><p>desenvolvimento resultante do politeísmo, nem como consolidação de todos os deuses em um (como no</p><p>hinduísmo), mas quando um único Deus se torna a realidade decisiva para um determinado homem e, por</p><p>meio disso, exige o destronamento de todos os outros deuses.</p><p>Isso ajuda a explicar por que os primeiros cristãos encontraram na total obediência a Jesus a manifestação</p><p>suprema e final de Deus. [...] Aponta para a razão por que, ao morrer com ele para o mundo, eles</p><p>experimentaram o verdadeiro conhecimento de Deus e o verdadeiro poder que vem do Senhor. A</p><p>mensagem da singularidade de Deus intensificou sua luta contra os falsos deuses. Para eles, o conflito com</p><p>os deuses pagãos havia entrado no seu estágio final.</p><p>A crença cristã não consiste em simplesmente dizer: “Há um único Deus”. O diabo sabe disso. Os cristãos</p><p>respondem para Deus pela fé em suas ações, confiando em seu poder, tendo esperança em sua promessa e</p><p>abandonando veementemente o eu para realizar a sua vontade. Apenas no contexto de uma vocação tão</p><p>apaixonada, o conhecimento do Senhor único vive. E esse conhecimento precisa da luta contra o diabo e</p><p>toda a sua obra, mais do que eliminá-la. Somente em obediência incondicional, impulsionada pela paixão</p><p>infinita, resignação infinita e entusiasmo infinito, é que esse “monoteísmo” se manifesta totalmente na</p><p>existência humana, como em Jesus.76</p><p>O “ciúme” de Deus pode ser compreendido dessa forma (Ex 20.5; 34.14; Dt 4.24, etc).</p><p>Trata-se de sua rejeição de compartilhar seu direito exclusivo de governar sobre a vida das</p><p>pessoas. Não é uma resposta emocional negativa da parte de Deus; é apenas a concretização</p><p>de sua reivindicação em oposição à reivindicação dos ídolos.77 O Senhor simplesmente não</p><p>nos dividirá com falsos deuses. No entanto, nos machucaremos e nos feriremos por causa da</p><p>idolatria, e não por causa do “ciúme” de Deus.</p><p>Toda a vida em Deus</p><p>Deus é ÚNICO e a missão da nossa vida é trazer todos os aspectos de nossa vida, em comum</p><p>e individual, para debaixo desse único Deus, Jeová. Esse monoteísmo prático está presente</p><p>no epicentro de Israel e, portanto, no conceito bíblico de fé. A partir dessa confissão fluem</p><p>todas as coisas. Até mesmo o conceito de torah (literalmente “Instruções”) é direcionado</p><p>para o cumprimento disso. Ao ler o Pentateuco, o leitor é imediatamente surpreendido pela</p><p>lógica radical não linear associada a ele. Parece pular de um assunto para outro, de questões</p><p>teológicas sublimes em um versículo para questões aparentemente triviais no versículo logo</p><p>a seguir.</p><p>Um versículo trata da abordagem israelita de Deus no templo. O versículo logo a seguir, do que uma pessoa</p><p>faz quando o jumento de outra cai em uma cova. O seguinte pode muito bem tratar do mofo na cozinha; o</p><p>seguinte, do ciclo menstrual feminino. Parece ser totalmente descon�nuo, perdendo, no geral, a razão</p><p>sequencial que buscamos no texto. O que está acontecendo aqui? Como podemos entender o significado</p><p>disso?78</p><p>Na verdade, há uma “lógica” bem profunda, mesmo que, de certo modo, não linear, na</p><p>Torá; uma lógica que nos ensina a relacionar todos os aspectos da vida com Deus. As</p><p>implicações de seguir a Torá fielmente serão ligar todas as coisas na vida diretamente a</p><p>Jeová, seja o mofo, a adoração do templo ou qualquer outra coisa. Portanto, tudo – o</p><p>trabalho de alguém, a vida doméstica de uma pessoa, a saúde de alguém, a adoração de</p><p>outro – tem importância para Deus. Ele se preocupara com todos os aspectos da vida do</p><p>cristão, e não somente com as chamadas dimensões espirituais.</p><p>Enquanto na tradição espiritual do Ocidente tendemos a considerar o “religioso” como uma categoria da</p><p>vida</p><p>dentre muitas (podemos até chamar os “religiosos” de freiras e monges), a mente hebraica não faz tal</p><p>dis�nção em relação à existência puramente “religiosa”, mas preocupa-se com toda a vida... Toda a vida é</p><p>sagrada quando há um relacionamento com o Deus vivo.79</p><p>A perspectiva hebraica traça uma correlação direta de todo e qualquer aspecto da vida</p><p>com os propósitos eternos de Deus – essa é a lógica intrínseca da Torá. É uma extensão</p><p>natural da reivindicação do monoteísmo, ou seja, que Jeová é Senhor! Na realidade, a Torá</p><p>está treinando nesta orientação; Paulo chega a chamá-la de “professor” (Gl 3.19 – 4.5). Ou</p><p>seja, a Torá (traduzida simplesmente como “Lei” na maior parte das versões em inglês) nos</p><p>ensina segundo a piedade e orientação de Deus e nos leva a Jesus. Essa era e é sua</p><p>verdadeira função.</p><p>Para falar mais explicitamente, não há algo tão sagrado e secular na visão bíblica do</p><p>mundo. Ela pode não fazer parte do mundo que não está sob a reivindicação do senhorio de</p><p>Jeová. Toda a vida pertence a Deus e verdadeira santidade significa trazer todas as esferas</p><p>de nossa vida para debaixo do controle do Senhor. Isso é o que constitui a adoração bíblica,</p><p>o que significa amar Deus de todo o nosso coração, mente e força. Nós analisaremos as</p><p>implicações posteriormente, porém, agora, precisamos considerar como Jesus muda a</p><p>equação.</p><p>J���� � S�����</p><p>A encarnação não modifica a natureza de Deus nem o monoteísmo prático fundamental das</p><p>Escrituras. Ao contrário, ela informa outra vez e reestrutura o monoteísmo em torno do</p><p>principal personagem do Novo Testamento: Jesus Cristo. Agora, nossa lealdade deve ser</p><p>dada ao revelador e salvador. Ele se torna o foco de nossa atenção e o ponto-chave em nosso</p><p>relacionamento com Deus. Nós aderimos a ele – ele não apenas inicia a nova aliança, ele é a</p><p>Nova Aliança.</p><p>Quando a igreja primitiva declara: “Jesus é Senhor”, ela o faz precisamente da mesma</p><p>maneira e exatamente com as mesmas implicações com que Israel declarou Deus como</p><p>Senhor no Shema. Na realidade, a situação religiosa fundamental não tinha mudado muito (e</p><p>nunca muda). O politeísmo ainda era a força religiosa predominante naqueles dias, assim</p><p>como é nos nossos dias. Os nomes dos deuses mudaram daqueles dos cananeus (Baal,</p><p>Asterote, etc.) para os greco-romanos (Vênus, Diana, Apolo, etc.) e de lá para o amor</p><p>romântico, consumismo e religião de autoajuda de nosso tempo, porém, na essência, a</p><p>confissão tem o mesmo apelo e impacto. De fato, esta é precisamente a razão pela qual eles</p><p>tiveram problemas com Roma. Na teologia romana, César era a manifestação física de um</p><p>deus que reivindicava total lealdade. Além disso, era o gênio político de Roma para reunir</p><p>todos os outros deuses das nações subjugadas e trazê-los para debaixo do senhorio de César</p><p>e, assim, criar uma religião que concedia uma unidade religiosa mais profunda aos diversos</p><p>impérios políticos. Um grupo de pessoas poderia manter seus deuses tribais contanto que</p><p>estivessem dispostas a reconhecer que César era o senhor sobre eles. O fato de ser um povo</p><p>conquistado indicava que o deus romano era supremo, e assim, as pessoas geralmente se</p><p>rendiam (exceto os judeus e os cristãos). A finalidade era unificar as religiões do império e</p><p>vinculá-las ao Estado.80 Soa familiar?</p><p>A igreja primitiva recusou essa exigência da soberania de César; recusou-se a ver Jesus</p><p>como uma mera parte do panteão dos deuses em Roma. De fato, a confissão “Jesus é</p><p>Senhor” se tornou, em seus lábios e nesse contexto, uma reivindicação profundamente</p><p>subversiva que, de forma eficiente, questiona a função do César. Os cristãos queriam</p><p>entregar toda a vida sob o senhorio de Jesus e isso significava subverter o senhorio de César.</p><p>Os imperadores compreenderam muito bem isso; então, perseguições terríveis vieram a</p><p>seguir. No entanto, o ponto é que nossos ancestrais espirituais realmente compreendiam o</p><p>significado íntimo do monoteísmo. Eles sabiam que Jesus era Senhor e que tal senhorio</p><p>excluía efetivamente todas as demais reivindicações de lealdade total. Sabiam que isso era o</p><p>centro da fé, logo, não poderiam, não se renderiam a ele.</p><p>Exatamente a mesma coisa aconteceu com os cristãos da igreja clandestina da China: eles</p><p>recusaram a se curvar à exigência do estado comunista sobre sua vida, algo que destronava</p><p>eficazmente o supremo senhorio de Cristo.81 É interessante que essa discordância de</p><p>governança suprema seja a fonte do conflito espiritual em ambos os casos que escolhi para</p><p>demonstrar a natureza do Genoma Apostólico. Em ambos os casos, os cristãos estavam</p><p>dispostos a morrer em vez de negar sua afirmação essencial. Aqui está o centro da confissão</p><p>cristã.</p><p>Monoteísmo moldado por Jesus</p><p>Então, como a revelação do Novo Testamento condicionou a compreensão bíblica sobre o</p><p>monoteísmo? Ao afirmar que Deus é, de fato, trino por natureza, o Novo Testamento revela</p><p>que cada pessoa da Trindade tem uma função particular na experiência da redenção. E</p><p>enquanto definitivamente sugerindo uma complexa trindade de espécies na natureza</p><p>divina, a ênfase geral nas Escrituras está na unicidade de Deus. Os cristãos do NT não</p><p>mudaram nem um pouquinho seu comprometimento principal com o Shema e com o</p><p>monoteísmo, precisamente porque, como tenho tentado articular, eles compreenderam esse</p><p>monoteísmo como confissão central do povo de Deus.82 Até mesmo o Reino de Deus é um</p><p>chamado para viver debaixo do senhorio de Deus (reino = governo de Deus), assim, quando</p><p>Jesus diz em Mateus 6.33, “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e</p><p>todas essas coisas lhes serão acrescentadas”, ele está totalmente de acordo com a dinâmica básica</p><p>do Shema. O reino é a reivindicação do Senhor por nós – é o “fim do negócio” do</p><p>monoteísmo prático.</p><p>O que a revelação do Novo Testamento indica é que a segunda pessoa da Trindade</p><p>executa uma função distinta em relação à redenção, não apenas pela remissão do mundo</p><p>através de sua morte e ressurreição, mas no senhorio efetivo à direita do Pai (Mt 26.64; Mc</p><p>12.35s; 14.62; 16.19; At 2.32s; Rm 8.34). Sentar-se à direita de um rei naqueles dias era</p><p>entendido imediatamente como estando em uma posição executiva favorável.</p><p>No entanto, o ensinamento sobre o senhorio executivo de Jesus vai muito além de</p><p>simplesmente ser colocado em uma posição favorável. Paulo sugere que a real função do</p><p>senhorio, normalmente associada ao Pai, agora passou para Jesus. “Esse poder ele [Deus]</p><p>exerceu em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o assentar-se à sua direita, nas regiões</p><p>celestiais, muito acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa</p><p>mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir. Deus colocou todas as coisas</p><p>debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a</p><p>plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância” (Ef 1.20-23; ênfase</p><p>do autor). Em 1 Coríntios 15.25 e 28, Paulo diz: “Pois é necessário que ele reine até que todos os</p><p>seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. [...] Quando, porém, tudo lhe estiver sujeito, então o</p><p>próprio Filho se sujeitará à aquele que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em</p><p>todos”.</p><p>A essa redefinição do monoteísmo bíblico ao redor da função de Jesus chamarei</p><p>monoteísmo cristocêntrico, pois realinha nossa lealdade a Deus em torno da pessoa e obra</p><p>de Jesus Cristo. Portanto, Jesus se torna o ponto central em nossa relação com Deus, e é a ele</p><p>que devemos prestar total obediência e lealdade. Jesus é Senhor! E esse senhorio está</p><p>expresso exatamente da mesma maneira como no Antigo Testamento. É a reivindicação da</p><p>aliança de Deus sobre nossa vida – o centro imutável da doutrina e confissão cristã. Não se</p><p>trata apenas da natureza do próprio Deus; tem implicações práticas para nossa vida.</p><p>Provavelmente é melhor nos referirmos ao nosso Senhor no que se refere à validade atual</p><p>do Shema:</p><p>Um dos mestres da lei aproximou-se e os ouviu discu�ndo. Notando que Jesus lhes dera uma boa resposta,</p><p>perguntou-lhe: “De todos os mandamentos,</p><p>qual é o mais importante?” Respondeu Jesus: “O mais</p><p>importante é este: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único Senhor. Ame o Senhor, o</p><p>seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas</p><p>forças’. O segundo é este: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Não existe mandamento maior do que</p><p>estes”. (Mc 12.28-31, ênfase do autor)</p><p>Há uma expressão clara do Shema por todas as páginas do NT, somente agora está</p><p>redefinida cristologicamente – e é essa forma de monoteísmo que infunde de forma genuína</p><p>toda a religião bíblica.</p><p>O ������ ��� ������</p><p>Gostaria de reafirmar brevemente o que parece ser um fato óbvio, mas que, com frequência,</p><p>é negligenciado. Para o autêntico cristianismo missional, Jesus, o Messias, desempenha um</p><p>papel absolutamente central.83 Nossa identidade como movimento, bem como nosso destino</p><p>como povo, estão intrinsecamente ligados a Jesus – a segunda pessoa da Trindade. Na</p><p>realidade, nossa conexão com Deus é apenas por intermédio do Mediador – Jesus é “o</p><p>Caminho”; ninguém vem ao Pai senão por ele (Jo 14.6). Isto é o que nos faz claramente,</p><p>cristãos.</p><p>No fundo, o cristianismo é, portanto, um movimento messiânico que busca sempre</p><p>incorporar a vida, a espiritualidade e a missão de seu Criador. Nós o transformamos em</p><p>muitas outras coisas, mas aí está sua absoluta simplicidade. O discipulado, o tornar-se como</p><p>Jesus, nosso Senhor e Criador, está no epicentro da tarefa da igreja. Isso quer dizer que a</p><p>cristologia deve definir tudo o que fazemos e dizemos. Significa também que, a fim de</p><p>recuperar o etos do cristianismo autêntico, precisamos voltar a focar nossa atenção à raiz de</p><p>tudo, reequilibrar a nós mesmos e às nossas organizações em torno da pessoa e da obra de</p><p>Jesus, o Senhor. Isso implica em agir como Jesus em relação ao povo fora da fé; como o</p><p>God’s Squad84, um expressivo movimento missional voltado a motociclistas criminosos em</p><p>todo o mundo coloca: “Jesus Cristo, o amigo dos proscritos”.</p><p>Cristianismo além do sagrado e do secular</p><p>Um monoteísmo genuinamente messiânico, portanto, derruba qualquer noção de falsa</p><p>separação entre o “sagrado” e o “secular”. Se o mundo inteiro e tudo o que nele há pertence</p><p>a Deus e está sujeito à sua reivindicação direta em e por intermédio de Jesus, então, não</p><p>pode haver esfera da vida que não esteja aberta totalmente ao governo do Senhor. Não pode</p><p>haver uma área sem Deus em nossa vida e em nossa cultura.</p><p>Se pegarmos o conselho do atual movimento de adoração alternativo, do qual sou, de</p><p>modo geral, profundamente apreciador, uma das tarefas da igreja no contexto pós-moderno</p><p>é construir “espaços sagrados”, lugares repletos de riquezas e novos simbolismos expressos</p><p>em novas formas de mídia, onde as pessoas sejam capazes de reconhecer Deus de novas</p><p>maneiras. Tudo isso soa correto, porém, quando esse impulso é separado, como ocorre</p><p>frequentemente, da abrangente tarefa de missão (e da contextualização missional), ele</p><p>simplesmente se torna outra maneira de separarmos o sagrado do secular. Ao estabelecer</p><p>um lugar ao qual chamamos de “sagrado” por causa da iluminação, do incenso e do</p><p>sentimento religioso, o que estamos dizendo sobre o restante da vida? Não é sagrado? Não</p><p>podemos fugir da conclusão de que, ao estabelecer o chamado espaço sagrado, por</p><p>implicação, tornamos todo o restante “não sagrado”, atribuindo, por meio disso, um grande</p><p>aspecto da vida à área sem Deus ou secular. Ao seguir os impulsos do monoteísmo bíblico</p><p>em vez de estabelecer alguns espaços sagrados, nossa tarefa é tornar todos os aspectos e</p><p>dimensões da vida sagrados; família, trabalho, diversão, conflitos, etc., e não limitar a</p><p>presença de Deus às zonas religiosas assustadoras.85</p><p>Uso isso como exemplo apenas para destacar a profundidade que o dualismo, incluindo a</p><p>ideia da divisão entre sagrado e secular, alcança em nossa compreensão e como o</p><p>monoteísmo bíblico nos ajuda a desenvolver uma perspectiva da vida toda. O dualismo</p><p>distorce nossa experiência com Deus, com seu povo e com seu mundo.</p><p>As pessoas envolvidas nos paradigmas espirituais dualistas experimentam Deus como</p><p>uma deidade com base na igreja e a religião como uma ocupação bem particular. A igreja é</p><p>basicamente compreendida como lugar sagrado: a arquitetura, a música, a liturgia, o idioma</p><p>e a cultura, tudo colabora para tornar isso um evento sagrado não experimentado em</p><p>qualquer outro lugar na vida da mesma maneira. Em outras palavras, vamos para a igreja</p><p>para sentir Deus e, na verdade, o Senhor está lá (ele está em todos os lugares e,</p><p>particularmente, ama habitar entre o seu povo), mas a maneira como isso é feito pode acabar</p><p>criando uma percepção muito difícil de ser quebrada: de que Deus realmente se encontra</p><p>apenas em tais lugares e de que isso exige uma parafernália sacerdotal/ministerial para</p><p>mediar essa experiência (Jo 4.20-24).</p><p>Essa espiritualidade dualista tem sido chamada de diversas formas, mas, talvez, a ideia</p><p>da desconexão domingo/segunda-feira traga a experiência à tona. Nós experimentamos</p><p>certo tipo de Deus no domingo, mas na segunda-feira a questão é outra – “este é o ‘mundo</p><p>real’, e as coisas funcionam de forma diferente aqui”. Quantas vezes, nós, ministros</p><p>profissionais, ouvimos variações dessa frase? “Você realmente não entende. Não é tão fácil</p><p>para mim como é para você. Você trabalha na igreja com cristãos”, etc. As duas “esferas da</p><p>vida”, sagrada e secular, são entendidas como sendo extremamente diferentes e seguindo</p><p>em direções opostas. É do cristão a escolha de viver de determinada forma na esfera sagrada</p><p>e de outra maneira na secular. É a forma real de como nós fazemos a igreja que transmite a</p><p>mensagem não verbal do dualismo. No fim de tudo, meio-termo é a mensagem. Isso</p><p>contribui para as pessoas basicamente enxergarem as coisas de maneira distorcidas, onde</p><p>Deus é limitado à esfera religiosa. Isso cria um vácuo que é preenchido por ídolos e uma</p><p>adoração falsa ou incompleta.</p><p>Agora, utilizando os mesmos elementos e realinhando-os de modo a se adequarem ao</p><p>entendimento não dualista de Deus, igreja e mundo, podemos reconfigurar da seguinte</p><p>maneira:</p><p>Enxergar as coisas dessa maneira nos leva a adotar uma perspectiva da vida toda em</p><p>relação à nossa fé. Ao recusar o falso dualismo do sagrado e secular, e ao submetermos tudo</p><p>em nossa vida a Jesus, vivemos a verdadeira santidade. Não há nada em nossa vida que não</p><p>deva e não possa ser trazido debaixo do governo de Deus sobre todas as coisas. Nossa tarefa</p><p>é integrar os elementos desiguais que compõem nossa vida e comunidade e trazê-los para</p><p>debaixo do controle do único Deus manifestado a nós em Jesus Cristo.</p><p>Se falharmos em fazer isso, embora confessemos ser monoteístas, podemos acabar</p><p>praticando o politeísmo. As expressões dualistas de fé sempre resultam na prática politeísta.</p><p>Existirão diferentes deuses que governarão diferentes esferas de nossa vida, e o Deus da</p><p>igreja, segundo essa visão, é muito impotente fora da esfera religiosa privatizada. O</p><p>monoteísmo cristocêntrico exige lealdade precisamente onde outros deuses a reivindicam, e</p><p>isso é verdadeiro para nós como o foi para os nossos antepassados espirituais. Para não nos</p><p>enganarmos, estamos rodeados pelas reivindicações de falsos deuses, assim como muitos</p><p>clamam por nossa lealdade e também por nossa vida – como o culto à riqueza e aos deuses</p><p>associados do consumismo. No entanto, essa é a forma pela qual nasceu e se desenvolveu o</p><p>Apartheid na África do Sul. Os cristãos brancos da África do Sul não integraram a situação</p><p>nacional deles debaixo do senhorio de Jesus, e então, um deus falso foi invocado para</p><p>governar sobre os políticos brancos. O resultado foi uma pecaminosa e impiedosa</p><p>devastação do povo negro naquela terra. Quando deixamos de trazer um povo debaixo da</p><p>reivindicação de Jesus, então, ele se torna autônomo e fica suscetível ao governo de outros</p><p>deuses, resultando em muitos pecados.</p><p>Dessa maneira, muitos cristãos acabam praticando o politeísmo. Não é interessante que a</p><p>maioria dos frequentadores de igreja relate uma desconexão radical</p><p>entre o Deus que</p><p>governa o domingo e os deuses que governam a segunda-feira? Quantos de nós vivemos</p><p>como se existissem deuses diferentes para cada esfera da vida? Um deus para o trabalho,</p><p>outro para a família, um diferente quando estamos no cinema ou outro para os políticos.</p><p>Não é de se estranhar que os frequentadores regulares de igrejas não vejam qualquer</p><p>sentido nisso. Tudo isso resulta do fracasso em responder verdadeiramente ao único Deus.86</p><p>Esse fracasso pode ser tratado somente com um discipulado que responda oferecendo todos</p><p>p p q p</p><p>os elementos diferentes de nossas vidas de volta ao Senhor, unificando, assim, nossas vidas</p><p>debaixo do seu senhorio.</p><p>Q��� ����� � ����� ������?</p><p>Talvez, consigamos encerrar este capítulo explorando como essa força central do mDNA</p><p>espiritual guia realmente nossa conduta missional e atividades. Como missionário</p><p>encarnacional, frequentemente me perguntam: “Quão longe nós podemos encarnar? Quão</p><p>longe é longe demais?” É uma boa pergunta. Como podemos saber quando nossas</p><p>tentativas de encarnar o Evangelho não resultam apenas em sincretismo (uma mistura de</p><p>religiões)?87 Acredito que o conceito do monoteísmo cristocêntrico, como definido</p><p>anteriormente, seja nosso guia. Quando a cultura ao redor intervém no senhorio de Jesus e</p><p>de sua reivindicação exclusiva sobre todos os aspectos de nossas vidas, então, o monoteísmo</p><p>funciona como o critério de definição por meio do qual nós podemos discernir entre o</p><p>sincretismo e a missão encarnacional.</p><p>O sincretismo dilui com eficiência a reivindicação do Deus da Bíblia e cria uma religião</p><p>que simplesmente diminui a tensão de viver debaixo da reivindicação de Jesus e conclui</p><p>afirmando apenas os preconceitos religiosos da cultura local. Vamos analisar mais</p><p>profundamente o exemplo do Apartheid já citado, embora pudéssemos usar qualquer</p><p>contexto.88 O que aconteceu na África do Sul é que, em grande medida, o cristianismo</p><p>europeu branco, na verdade, sancionou o preconceito racial e legitimou as opressivas</p><p>estruturas de poder dos brancos da África do Sul em nome de uma doutrina chamada</p><p>“paternalismo cristão”. À medida que essa pequena parte da teologia se acabava social e</p><p>politicamente, resultou no que conhecemos hoje como política do Apartheid.</p><p>Porque isso foi um sincretismo, e não apenas desígnios políticos, é que a vasta maioria</p><p>dos brancos na África do Sul vivia sob um código religioso calvinista – eles são pessoas</p><p>profundamente religiosas (há engarrafamentos para chegar à igreja no domingo). Foram os</p><p>teólogos que deram ao Apartheid sua legitimidade e autoridade originais. Deus, sob a</p><p>influência sincretista dos teólogos do Apartheid, tornou-se um deus racista que justificou a</p><p>supressão dos negros “inferiores”. No entanto, se analisarmos de forma mais simples,</p><p>podemos ver o Apartheid apenas como uma recusa de viver debaixo das reivindicações de</p><p>amor e justiça que fazem parte do que significa adorar o único e verdadeiro Deus. Como</p><p>alguém é capaz de adorar o Deus da justiça agindo de maneira injusta? Obviamente, a</p><p>resposta bíblica é que ninguém é capaz de fazer isso. Nesse caso, agir em amor e justiça para</p><p>com os negros era entendido como ameaça à identidade em progresso e à viabilidade do</p><p>povo africânder, logo, eles retiraram a raça e a política da equação do senhorio de Jesus em</p><p>nome da sobrevivência racial e do domínio. Ou, de outra forma, agindo de maneira</p><p>sincretista, eles elegeram Deus para a agenda racista deles. Paradoxalmente, o restante da</p><p>cultura era muito cristã, mas o deus da política e da vida social era diferente do Deus da</p><p>igreja.</p><p>Talvez outro exemplo da África sirva para esclarecer isso para nós: o genocídio em</p><p>Ruanda, um frenesi assassino que envolveu cristãos professos ativos e igrejas na carnificina.</p><p>Lee Camp comenta sobre isso como sendo um fracasso do senhorio de Cristo.</p><p>Na realidade, o genocídio em Ruanda destaca o fracasso recorrente de grande parte do cris�anismo</p><p>histórico. A proclamação do “Evangelho” frequentemente deixou de enfa�zar o elemento fundamental do</p><p>ensinamento de Jesus e, na verdade, da doutrina cristã ortodoxa: “Jesus é Senhor” é uma afirmação radical</p><p>que está totalmente enraizada nas questões de submissão, de autoridade total e de normas e padrões</p><p>fundamentais para a vida humana. Em vez de disso, o cris�anismo quase sempre buscou aliar-se de forma</p><p>confortável em submissão a outras autoridades, fossem elas polí�cas, econômicas, culturais ou étnicas.</p><p>Poderia a afirmação “Jesus é Senhor” ter se tornado uma das maiores men�ras cristãs disseminadas? Os</p><p>cristãos afirmaram o senhorio de Jesus, mas sistema�camente colocaram de lado o chamado para</p><p>obediência ao Senhor? Pelo menos em Ruanda, com os “hutus cristãos” assassinando os “tutsis cristãos” (e</p><p>vice-versa), “cristão” servia aparentemente como uma marca – uma “espiritualidade” ou “religião” – mas</p><p>não um comprome�mento com um Senhor em comum.89</p><p>O que tudo isso significa na prática para os que buscam recuperar o Genoma Apostólico</p><p>na vida da comunidade de Deus? Em primeiro lugar, implicará o (re)envolvimento direto</p><p>com a confissão central “Jesus é Senhor” e a tentativa de reorientar a igreja em torno dessa</p><p>afirmação de orientação para a vida. Também significará simplificar nossas mensagens</p><p>principais, organizando nossas teologias excessivamente complexas e avaliando por inteiro</p><p>os modelos tradicionais que moldam nosso comportamento e dominam nossa consciência.</p><p>Estou absolutamente convencido de que é a cristologia e, em particular, a cristologia</p><p>primitiva e desimpedida da igreja do NT, que está presente no centro da renovação da igreja</p><p>todas as vezes e em todas as épocas. Infelizmente, a história demonstra de forma ampla</p><p>como nós, como povo de Deus, podemos obscurecer com tanta frequência a centralidade de</p><p>Jesus em nossa experiência como igreja. Há tanta desordem em nossa “religião”, tantas</p><p>afirmações concorrentes a ponto de esta afirmação unificadora central presente no cerne da</p><p>fé ser perdida com facilidade. É notório como Jesus pode ser expulso tão facilmente do meio</p><p>de seu povo. Você já pensou por que em Apocalipse 3.20, Jesus é visto do lado de fora de</p><p>sua igreja batendo à porta e pedindo para entrar? A pergunta que temos de fazer para nós</p><p>mesmos é: “Em primeiro lugar, como ele saiu do meio de seu povo?!” Honestamente, fazer</p><p>a pergunta: “O Jesus real está verdadeiramente em minha comunidade?”, pode ser um</p><p>exercício realmente enervante.</p><p>A fim de recuperar o Genoma Apostólico, temos que aprender qual o significado de</p><p>reequilibrar, retornar para a “fórmula” básica da igreja – precisamos voltar constantemente</p><p>para o nosso Criador e restaurar a nossa fé e vida comum nele. Tudo começa com Jesus,</p><p>tudo termina com ele, e é para Jesus que devemos sempre voltar de quem somos para nos</p><p>reencontrarmos outra vez. (No mínimo, é isso que significa confessar que ele é o Alfa e o</p><p>Ômega.) O cristianismo, em essência, é um “movimento de Jesus”, e não uma religião. A</p><p>confissão “Jesus é Senhor” é um desafio para levar a sério a absoluta e contínua centralidade</p><p>de Jesus para o cristianismo como um todo e, portanto, para a igreja local. Conforme vimos,</p><p>o movimento cristão e a igreja chinesa clandestina descobriram isso como sendo seu centro</p><p>sustentador e orientador em meio ao grande desafio adaptativo. Não é exigido menos de</p><p>nós quando buscamos negociar o desafio do século 21. O elemento do senhorio de Jesus</p><p>nunca deixou de ser o real centro da experiência cristã a respeito de Deus; mas o nosso foco</p><p>sim. O primeiro passo na recuperação do Genoma Apostólico é, portanto, a recuperação do</p><p>senhorio de Jesus em sua absoluta simplicidade.90 É também o lugar para o qual a igreja</p><p>deve retornar constantemente a fim de se renovar. Ele é a nossa Pedra de Toque, nosso</p><p>Centro de Definição, nosso Criador, logo, ele tem a preeminência teológica e existencial na</p><p>vida de seu povo.</p><p>É realmente difícil adorar verdadeiramente o único e verdadeiro Deus, porém, é algo</p><p>central para nossa vida e propósito neste mundo. Não precisamos analisar grandes sistemas</p><p>como o Apartheid ou os horrores</p><p>no genocídio em Ruanda para enxergarmos essa dinâmica</p><p>em ação. Precisamos apenas olhar para dentro de nossas vidas; quando pecamos de modo</p><p>deliberado ou quando nos recusamos a deixar seu governo entrar em todas as dimensões de</p><p>nossas vidas e a responder em obediência, nós efetivamente limitamos o senhorio de Jesus e</p><p>sua reivindicação de governo absoluto (por exemplo, Lucas 6.4691).</p><p>Quando praticamos o discipulado missional da encarnação precisamos sempre manter</p><p>nossos olhos no senhorio de Jesus e nas reivindicações exclusivas consistentes com sua</p><p>natureza. Quão longe é longe demais? Acredito que seja quando nos recusamos a levar os</p><p>aspectos de nossas culturas e de nossa vida debaixo do senhorio de Jesus – simples assim.</p><p>Este capítulo buscou identificar e articular o epicentro do mDNA espiritual e, portanto, o</p><p>elemento crítico do Genoma Apostólico. Os demais elementos na estrutura do mDNA</p><p>espiritual se formam, assim, em torno do monoteísmo cristocêntrico e são guiados por ele –</p><p>eles o assumem. No centro do chamado e da missão da igreja está o desafio de responder a</p><p>Deus com tudo o que somos e tudo o que temos, e então, completar o sentido de nossas</p><p>vidas.</p><p>4</p><p>F������ ����������</p><p>Nós podemos apenas viver as mudanças: não podemos pensar nosso caminho para a</p><p>humanidade. Cada um de nós, todo o grupo, deve se tornar o modelo daquilo que desejamos</p><p>criar.</p><p>Ivan Illich</p><p>A maior prova do cris�anismo para os outros não é a extensão do quanto o homem é capaz de</p><p>analisar de maneira lógica suas razões para acreditar, mas a extensão do quanto, na prá�ca, ele</p><p>firmará sua vida em sua crença.</p><p>T.S. Eliot</p><p>Como já indiquei em várias ocasiões, todos os seis elementos do mDNA têm que estar</p><p>presentes no autêntico Genoma Apostólico para ativar e permear a vida das comunidades e</p><p>movimentos cristãos. Cada elemento é um componente crítico em si mesmo que, quando</p><p>evidente, desenvolve a aptidão missional na comunidade e a aproxima do momento de</p><p>massa crítica quando todos os elementos se intensificam, se unem, informam um ao outro e,</p><p>então, liberam a força potente do Genoma Apostólico. Todos os elementos do mDNA</p><p>pertencem a esse conjunto e todos eles devem estar presentes de formas significativas para o</p><p>Genoma Apostólico manifestar, no entanto, minha experiência própria e observação</p><p>indicam que, talvez, este elemento, ou seja, o do discipulado e o de fazer discípulo seja o</p><p>elemento mais crítico na mistura do mDNA. É assim porque a tarefa essencial do</p><p>discipulado é incorporar a mensagem de Jesus, o Fundador. Em outras palavras, este é o</p><p>elemento estratégico e, portanto, um bom lugar para começar. C. S. Lewis entendeu</p><p>corretamente que o propósito da igreja era aproximar o povo de Cristo e torná-lo como</p><p>Cristo. Ele disse que a igreja não existe para nenhum outro propósito. “Se a igreja não está</p><p>fazendo isso, então, todas as catedrais, clérigos, missões, sermões, e até mesmo a Bíblia, são</p><p>uma perda de tempo.”92.</p><p>Ao lidar com o discipulado e a capacidade relacionada de gerar autênticos seguidores de</p><p>Jesus, estamos lidando com o único e mais crucial fator que determinará, ao final, a</p><p>qualidade do todo – se fracassarmos neste ponto, fracassaremos em todos os outros. Na</p><p>realidade, se fracassarmos aqui, é pouco provável que consigamos realizar quaisquer dos</p><p>outros elementos do mDNA de maneira significativa e duradoura.</p><p>No entanto, ainda mais importante, é a tarefa genuína na qual Jesus concentrou seus</p><p>esforços e investiu a maior parte do seu tempo e energia, isto é, na seleção e</p><p>desenvolvimento daquele grupo heterogêneo de seguidores em cujos ombros trêmulos ele</p><p>colocou todo o movimento redentor que surgiria a partir de sua morte e ressurreição. O</p><p>fundamento de todo o movimento cristão, o movimento religioso mais significativo na</p><p>história, aquele que se estendeu no decorrer dos séculos e para o século 21, teve início por</p><p>meio de atos simples de Jesus de investir sua vida e inculcar seus ensinamentos em seus</p><p>seguidores, bem como transformá-los em autênticos discípulos.</p><p>No fim, Jesus teve que confiar sua causa a seus seguidores, acreditando que eles</p><p>resistiriam fielmente ao teste e, de alguma forma, incorporariam e transmitiriam de modo</p><p>adequado sua mensagem para o mundo. Poderíamos questionar sobre os grandes riscos que</p><p>Deus correu ao entregar o frágil e precário movimento de Jesus a essa tripulação bastante</p><p>improvável. Contudo, o fato de ter sido bem-sucedido está diretamente relacionado à</p><p>verdade de que, por meio do compromisso deles com Jesus, este material humano bastante</p><p>duvidoso se tornou, de alguma maneira, um grupo de verdadeiros discípulos. Jesus, de</p><p>algum modo, ao viver com eles e lhes mostrar o caminho de Deus, obteve êxito ao</p><p>incorporar sua vida e Evangelho neles. Falamos em rolar os dados! E a tentativa quase</p><p>fracassou! Depois de todas as coisas maravilhosas que tinham experimentado durante suas</p><p>viagens com Jesus, todos eles, como homens, abandonaram-no na cruz. “A pedra”, Simão</p><p>Pedro, o negou três vezes! Se Jesus tivesse fracassado nessa crítica tarefa de fazer discípulos</p><p>entre as pessoas que andavam com ele, você não estaria lendo este livro hoje, e eu, por certo,</p><p>não o estaria escrevendo. Eu acredito que esse é o fator crítico.</p><p>É interessante que quando realmente analisamos histórias perigosas de movimentos</p><p>fenomenais, no nível mais simples, elas parecem para o observador apenas sistemas de fazer</p><p>discípulos. No entanto, o engraçado é que nunca parecem passar disso – nunca deixam de</p><p>ser meros fazedores de discípulos. Isso acontece porque é ao mesmo tempo o ponto de</p><p>partida, a prática constante de estratégias, bem como o segredo de todo impacto missional</p><p>duradouro nos e por meio dos movimentos. Quer alguém observe os fenômenos wesleyano,</p><p>franciscano ou chinês, no fundo, eles são essencialmente compostos, e liderados, por</p><p>discípulos, e são absolutamente claros com relação à ordem de fazer discípulos. Por</p><p>exemplo, considere o movimento metodista, fundado na Grã-Bretanha no século 18 por</p><p>John Wesley: depois de um encontro com Deus que mudou sua vida, Wesley começou a</p><p>viajar por toda a Grã-Bretanha com a visão de conversão e disciplina da nação e a renovação</p><p>da igreja em decadência. Ele “não buscou nada além da recuperação da verdade, da vida e</p><p>do poder do cristianismo primitivo e da expansão desse tipo de cristianismo”.93 Dentro de</p><p>uma geração, uma em cada 30 pessoas na Grã-Bretanha se tornou metodista e o movimento</p><p>passou a ser um fenômeno em todo o mundo. Segundo a opinião de Stephen Addison, um</p><p>missiologista que passou a maior parte de sua vida estudando os movimentos cristãos, o</p><p>segredo para o sucesso metodista foi o alto nível de comprometimento com a causa</p><p>metodista esperado dos participantes.94 Essa causa diminuiu a um ponto em que o</p><p>movimento se distanciou de seu etos missional original, ou evangelismo, e do fazer</p><p>discípulos, degenerando-se a um mero legalismo religioso mantido pela instituição, livros</p><p>de regras e clero profissional.</p><p>Para os seguidores de Jesus, o discipulado não é o primeiro passo em direção a uma</p><p>carreira promissora. É, em si mesmo, o cumprimento de seu destino. Nós nunca deixamos</p><p>de ser discípulos no meio do caminho. Contudo, é como se encontrássemos pouco espaço para</p><p>o discipulado radical em nossa vida conjunta como cristãos. Na melhor das hipóteses,</p><p>tendemos a pensar nisso como algo que realizamos com novos convertidos. O dilema que</p><p>enfrentamos hoje com relação a esse assunto é que, embora tenhamos uma linguagem</p><p>histórica sobre o discipulado, nossa prática real está muito longe de ser consistente e, como</p><p>resultado, essa incompatibilidade tende a obscurecer a centralidade do problema. Acho</p><p>oportuno dizer que, na igreja ocidental, em geral, perdemos a arte de fazer discípulos. Isso</p><p>aconteceu, em parte porque reduzimos essa arte à assimilação intelectual de ideias, e em</p><p>parte por causa do impacto contínuo do cristianismo cultural inserido na compreensão de</p><p>cristandade da igreja, e porque o fenômeno do consumismo de nossos dias nos leva na</p><p>direção contrária do verdadeiro caminhar com</p><p>Jesus.</p><p>Pelas razões acima, para mim parece que diminuímos os requisitos para participação na</p><p>comunidade cristã ao menor denominador comum. Entretanto, ao olharmos para esse</p><p>elemento do mDNA quando presente nos movimentos fenomenais, descobrimos como suas</p><p>ênfases realmente são contraditórias – parecem contradizer, de maneira direta, muitas de</p><p>nossas próprias práticas eclesiásticas. Por exemplo, longe de ser “quem busca amigos”, em</p><p>170 d.C. o movimento cristão clandestino tinha desenvolvido o que chamou de catecismo.</p><p>Isso nada mais era do que confissões doutrinárias que vieram posteriormente; envolviam</p><p>rigorosos exames pessoais que exigiam que os participantes demonstrassem por que eram</p><p>dignos de entrar na comunidade confessional.95 Os convertidos não apenas propunham</p><p>perder sua vida, por causa da perseguição da época, mas tinham que provar, em primeiro</p><p>lugar, por que acreditavam que podiam se tornar parte da comunidade cristã. Muitos eram</p><p>rejeitados por serem considerados indignos. Isso é contrário à prática “sensível a quem</p><p>busca”, tão predominante em nossos dias. E foi esse elemento de discipulado vigoroso</p><p>caracterizador do movimento cristão primitivo que foi arruinado pelo dilúvio de</p><p>mundanidade que inundou a igreja pós-constantina quando o nível para se tornar membro</p><p>baixou e a cultura foi “cristianizada”.</p><p>Com exceção da estratégia simples de multiplicar as igrejas de reprodução orgânica, Neil</p><p>Cole, da Church Multiplication Associates, sugere que o segredo para o crescimento marcante</p><p>para 500 igrejas em pouquíssimos anos, basicamente, girou em torno do comprometimento</p><p>resoluto com o discipulado. Ele diz o seguinte a respeito do período anterior: “[Nós]</p><p>começamos articulando esse objetivo profundo para o CMA. ‘Queremos baixar o nível de como</p><p>a igreja é feita e aumentar o nível do que significa ser um discípulo’ “. O raciocínio foi: se a</p><p>experiência com igreja fosse simples o bastante a ponto de qualquer um conseguir fazer</p><p>uma, sendo ela feita de pessoas que pegaram sua cruz e seguiram Jesus a qualquer custo, o</p><p>resultado seria um movimento</p><p>que capacitaria o cristão comum a realizar obras incomuns de Deus. “As igrejas seriam</p><p>saudáveis, férteis e reprodutivas.”96 Se isso estiver certo, muitas de nossas práticas atuais</p><p>parecem estar no caminho errado... parece que tornamos a igreja complexa e o discipulado</p><p>extremamente fácil.</p><p>Com a tarefa principal de discipulado em mente, eles desenvolveram o conceito de Life</p><p>Transformation Groups (LTGs), um sistema simples, reproduzível e fazedor de discípulos</p><p>que, no fim, foi utilizado em todo o mundo e, por sua simplicidade e capacidade de</p><p>reprodução, aproximou muitas pessoas de Jesus e trouxe crescimento ao movimento. O LTG</p><p>simplesmente envolve o principal da leitura da Bíblia, contação de história,</p><p>responsabilidade pessoal e oração. No movimento CMA, é exigido que todos os que se</p><p>denominam cristãos estejam em um LTG, e isso não é algo feito apenas nas fases iniciais da</p><p>vida cristã. Trata-se de um comprometimento contínuo de todos os que estão envolvidos</p><p>nas várias expressões do CMA, incluindo liderança em qualquer nível. Em outras palavras,</p><p>eles são basicamente um movimento de fazer discípulos.97 Neil afirma ser essencialmente a</p><p>combinação das ideias orgânicas da organização e o comprometimento primário com a</p><p>disciplina das nações que levou ao notável crescimento do CMA. Todos os demais</p><p>elementos do Genoma Apostólico estão bem evidentes no CMA, incluindo o impulso</p><p>missional-encarnacional, ambiente apostólico e communitas, bem como a ênfase mais fixada</p><p>nos sistemas orgânicos e discipulado. Na realidade, o CMA é um excelente exemplo</p><p>contemporâneo da genuína expressão do Genoma Apostólico em nossos dias, mas</p><p>precisamos nos atentar à ênfase de Cole no fazer discípulos como o princípio básico</p><p>inegociável de qualquer expressão genuína do cristianismo. Parece que esse apóstolo</p><p>introvertido e despretensioso dos dias modernos construiu sua casa eclesial sobre o</p><p>fundamento correto (Mt 7.24-27).</p><p>A história do CMA se enquadra com a melhor concepção em termos de dinâmica de</p><p>movimento. Steve Addison, um pesquisador sobre a natureza dos movimentos, define cinco</p><p>fases na transmissão de ideias por meio dos movimentos missionários.98</p><p>Em termos simples, elas consistem de:</p><p>Fé fervorosa: Com isso, ele quer dizer um encontro direto e pessoal com o Deus vivo</p><p>seguido por renovação social. Seja este um movimento fundado por Paulo, Wesley,</p><p>Francis, Lutero, Wimber, Madre Teresa ou qualquer outro grande líder cristão que</p><p>tenha fundado um movimento, os movimentos transformadores começam com um</p><p>encontro direto e transformador com Deus.</p><p>Comprometimento com a causa: As pessoas tocadas por Deus dessa maneira entregam</p><p>sua vida para a causa quando articulada pelo movimento. Os níveis de</p><p>comprometimento tendem a ser significativamente altos e catalisam um determinado</p><p>tipo de sinergia proveniente da cooperação mútua e comprometimento.</p><p>Relacionamentos contagiantes: Ideias se espalham como vírus. Ideias poderosas como o</p><p>Evangelho são transmitidas de uma pessoa para outra. Para os movimentos se</p><p>estenderem além da estreita rede de comunicação das pessoas e de uma única geração, é</p><p>necessário haver uma rede de relacionamentos que se torne “contagiosa”.</p><p>Mobilização rápida: É necessário haver um tipo apostólico de liderança e organização</p><p>que se desenvolva e seja capaz de coordenar e aumentar ao máximo os esforços dos</p><p>adeptos do movimento.</p><p>Métodos dinâmicos: É importante que os movimentos estejam aptos a utilizar técnicas e</p><p>métodos inovadores para transmitir a mensagem.</p><p>Aponto tudo isso agora para salientar por que o discipulado é tão importante para o</p><p>impacto missional. As dimensões do discipulado podem se discernidas em qualquer nível:</p><p>encontro com Jesus, comprometimento, relacionamentos contagiosos, mobilização, excluindo, talvez,</p><p>métodos dinâmicos. Na realidade, sem discipulado significativo, não pode haver movimento</p><p>real, logo, não há impacto importante para o Evangelho, por isso ele é tão crítico.</p><p>O “������� J����” �� D�����������</p><p>Antes de continuarmos com a exploração do mDNA do discipulado nos marcantes</p><p>movimentos de Jesus, podemos reconhecer a importância desse aspecto do Genoma</p><p>Apostólico somente quando compreendemos a situação cultural na qual nos encontramos.</p><p>O discipulado resume-se a aderir a Cristo. Portanto, é sempre articulado e experimentado</p><p>em oposição a todas as outras reivindicações concorrentes por nossa lealdade e obediência.</p><p>Na época da igreja apostólica e pós-apostólica, sua obediência a Cristo era contraposta às</p><p>reivindicações dos falsos sistemas religiosos daqueles dias e às exigências por total lealdade</p><p>política a César. Foi a recusa de submeter-se à afirmação de “César como Senhor” que lhes</p><p>causou problemas em um primeiro momento. Para os chineses cristãos, sua lealdade a Jesus</p><p>é contrária primeiramente às exigências incondicionais do Estado totalitário comunista, que</p><p>não atura outros rivais religiosos de seu poder.</p><p>Devido à minha experiência própria no ministério local, descrita nos primeiros dois</p><p>capítulos deste livro, cheguei à conclusão de que, para nós que moramos no mundo</p><p>ocidental, o maior desafio para a viabilidade do cristianismo não é o budismo, com todo seu</p><p>apelo filosófico para a mente ocidental, nem o islamismo, com todo seu desafio apresentado</p><p>à cultural ocidental. Não é a Nova Era que representa tamanha ameaça. De fato, como existe</p><p>uma pesquisa genuína acontecendo nos novos movimentos religiosos, realmente pode ser</p><p>algo benéfico para nós que estamos dispostos a compartilhar a fé em meio à pesquisa. Tudo</p><p>isso é um desafio para nós, sem dúvida alguma, mas acredito que a maior ameaça para a</p><p>viabilidade de nossa fé é o consumismo. De longe, este é o desafio mais abominável e</p><p>insidioso para o Evangelho, pois afeta de muitas maneiras cada um de nós e todos nós.</p><p>Antes de chegar a Cristo, estudei Propaganda e Marketing e quando vejo o poder do</p><p>consumismo e do comércio em nossas vidas, tenho certa dúvida se, em relação ao</p><p>consumismo, não estamos lidando</p><p>neste momento com um fenômeno religioso significativo.</p><p>Se o papel da religião é oferecer um senso de identidade, propósito, sentido e comunidade,</p><p>podemos dizer que o consumismo atende a todos esses critérios. Devido à situação</p><p>competitiva do mercado, os publicitários se tornaram muito insidiosos a ponto de hoje</p><p>estarem usando, de forma deliberada, ideias teológicas e símbolos religiosos a fim de vender</p><p>seus produtos. Mas isso é simplesmente circunstancial ou funcional; sendo assim, atua em</p><p>consistência com sua própria natureza, ou seja, a de sacerdócio oficial de uma religião nova</p><p>e totalmente difundida. A assimilação dos símbolos e rituais religiosos serve apenas para</p><p>reforçar seu apelo à dimensão espiritual da vida. Um executivo da área de publicidade</p><p>confessou há pouco tempo que agora eles estão caminhando rumo ao vazio deixado pela</p><p>remoção do cristianismo da cultura ocidental.</p><p>Muito do que leva o nome de propaganda não passa de uma oferta explícita de um senso</p><p>de identidade, sentido, propósito e comunidade. Hoje, muitos anúncios apelam para uma</p><p>ou mais dessas dimensões religiosas da vida. Considere, por exemplo, a recente propaganda</p><p>de um carro em meu país na qual somos apresentados a uma fantástica comunidade de</p><p>pessoas muito legais cantando em um carro e tendo bons momentos. Durante toda a</p><p>propaganda nada é mencionado a respeito das qualidades do carro, sua capacidade técnica,</p><p>sua disponibilidade, preço; em vez disso, o anúncio é um apelo explícito à necessidade das</p><p>pessoas de serem aceitas como legais. O apelo de venda da propaganda é uma oferta de</p><p>comunidade, status e aceitação por pessoas “maneiras”: basta o consumidor comprar esse</p><p>carro e alcançará o objetivo. Analisados dentro dos parâmetros religiosos, todas as</p><p>propagandas poderão ser vistas dessa maneira. Compre isso e você mudará (Levi Strauss</p><p>chegou até a utilizar a ideia de nascer de novo por meio da compra de seus produtos).99 O</p><p>perspicaz comentarista cultural, Douglas Rushkoff, em seu documentário da PBS sobre o</p><p>consumismo, The Persuaders, observou que os anunciantes e profissionais do marketing</p><p>agora optam por linguagem e simbolismo de todas as principais religiões a fim de vender o</p><p>produto porque sabem que a religião oferece o principal objeto de desejo e que as pessoas</p><p>farão de tudo para conquistar. Se por meio da propaganda, os profissionais do marketing</p><p>apenas conseguirem ligar seus produtos a esse imenso vazio, eles venderão.</p><p>Muitas propagandas não têm nada a ver com os aspectos inerentes ao produto em si. Pelo</p><p>contrário, a propaganda tem tudo a ver com a manipulação do valor e importância que as</p><p>pessoas dão aos produtos e ao relativo status que recebem deles. Em nossos dias, não há</p><p>dúvida de que, como cultura, nós totemizamos os produtos.100 Em outras palavras, ele</p><p>adquiriu importância religiosa para nós.</p><p>Existe uma história real para este fenômeno, que vale a pena revelar para que</p><p>entendamos com o que estamos realmente lidando.101 Quando falamos sobre secularização</p><p>em nossa cultura, nos referimos ao processo pelo qual a igreja foi retirada do centro da</p><p>cultura (como no período da cristandade) e empurrada para a margem. O objetivo explícito</p><p>(como na Revolução Francesa) era criar um campo social secular de modo que o Estado não</p><p>fosse controlado pelas preocupações e domínio da igreja como ocorria antes, mas um campo</p><p>dentro do qual a pluralidade de opiniões, ideias e atividades pudessem competir pela</p><p>atenção e obediência com base no discurso racional, liberdade individual e democracia. Essa</p><p>foi uma parte importante do período chamado Iluminismo, ou Moderno, da história</p><p>ocidental. No entanto, o resultado final desse processo gerou um grande vazio espiritual,</p><p>que foi invadido por inúmeras forças culturais sem precedentes.</p><p>Mesmo com todas as suas falhas, a igreja, até o momento do Iluminismo, desempenhou o</p><p>papel dominante de forma preponderante na mediação da identidade, sentido, propósito e</p><p>comunidade, pelo menos até os primeiros 11 séculos no Ocidente. Seu fim, ou na verdade,</p><p>sua retirada forçada, aconteceu quando duas ou três forças maiores surgiram. Foram elas:</p><p>O surgimento do capitalismo e do livre comércio como mediador de valor;</p><p>O surgimento do Estado-nação como mediador da proteção e provisão;</p><p>O surgimento da ciência como mediadora da verdade e do entendimento;</p><p>Estes se tornaram o domínio público, o domínio da verdade comum. A religião, sob essas</p><p>condições, foi impulsionada para o domínio privado da opinião particular, dos valores</p><p>pessoais e do gosto individual. (Todos nós conhecemos a réplica: “Estou muito feliz que isso</p><p>funcione para você, mas para mim não funciona”.) Não nos expomos mais na esfera pública.</p><p>O cristianismo se tornou uma mera questão de preferência pessoal em vez de verdade</p><p>pública.</p><p>Quando chegamos à metade do século 20, tais forças tinham praticamente substituído por</p><p>completo a igreja em nossa cultura. Hoje, raramente alguém duvida do poder hegemônico</p><p>quase total da economia, do Estado e da ciência em nossas vidas. O resultado é que esses</p><p>são precisamente os lugares onde a vasta maioria das pessoas encontra direção e sentido. E</p><p>conforme nos envolvemos no século 21, a maior força dominante entre as três, a que</p><p>permeia nossas vidas totalmente, é a da economia global e do mercado.102</p><p>Sob essa influência excessiva do mercado, as experiências, na realidade, a própria vida,</p><p>tendem a se tornar mercantilizadas. Em uma economia como essa, as pessoas são vistas</p><p>como meras unidades consumidoras. Todos os bairros giram em torno do templo</p><p>consumista central: o shopping center. Adolescentes andam para cima e para baixo por</p><p>esses corredores desumanos sem objetivo, como se buscassem por uma resposta que, de</p><p>alguma maneira, escapa deles nas vitrines. Seus pais passeiam pelos mesmos shoppings,</p><p>entregando-se a uma dose de “terapia de compras”. Disneylândia, cruzeiros de férias,</p><p>esportes radicais, drogas e outros são experiências consumíveis. Observamos com</p><p>frequência que, na condição pós-moderna, podemos consumir novas identidades assim</p><p>como vestimos roupas novas. Fazemos isso nos mudando para o centro agitado da cidade,</p><p>abandonando tudo e virando reclusos, mudando nossas roupas, trocando de amigos e</p><p>procurando outros novos ou comprando esse ou aquele produto que nos identifica com</p><p>uma nova e mais desejável rede de pessoas. Nessa situação cultural, tudo, até mesmo a</p><p>identidade pessoal e o sentido religioso, tornam-se uma mercadoria que podemos</p><p>comercializar, dependendo dos últimos modismos, ao consumir os novos produtos. Sendo</p><p>assim, fica fácil entender como a “igreja-shopping”, as experiências de adoração extáticas, e</p><p>até mesmo a espiritualidade cristã, passam a refletir o consumismo da fé.</p><p>Este é o nosso contexto missional, e passei a acreditar que, ao lidar com o consumismo,</p><p>estamos lidando com um inimigo excessivamente poderoso propagado pela sofisticadíssima</p><p>máquina da mídia. Essa é a nossa situação, mas também é nossa própria condição pessoal –</p><p>e deve ser tratada caso queiramos ser eficazes no século 21 no Ocidente.</p><p>Religião consumista</p><p>O problema da igreja nessa situação é que, agora, ela é forçada a competir com todas as</p><p>outras ideologias e “ismos” no mercado da religião e dos produtos pela fidelidade das</p><p>pessoas, e tem que fazer isso de modo a refletir a dinâmica do mercado, porque essa é</p><p>precisamente a base de como as pessoas fazem as incontáveis escolhas diárias em suas</p><p>vidas. Na situação moderna e pós-moderna, a igreja é forçada a um papel de ser pouco mais</p><p>do que um vendedor de bens e serviços religiosos. E os consumidores finais dos serviços da</p><p>igreja (a saber, nós) facilmente caem no papel de consumidores individuais exigentes,</p><p>devorando bens e serviços religiosos oferecidos pelo mais recente e melhor vendedor. Hoje,</p><p>a adoração, em vez de ser interessante por atrair com criatividade os corações e mentes dos</p><p>ouvintes, é um mero entretenimento que tem por objetivo proporcionar picos emocionais</p><p>transcendentes para os participantes, muito parecido com o papel dos “feelies”103 em</p><p>Admirável Mundo</p><p>verdade é que o século 21 está se tornando um fenômeno altamente complexo no qual</p><p>o terrorismo, a inovação tecnológica paradigmática, o meio ambiente insustentável, o</p><p>consumismo desmedido, a mudança descontínua e as ideologias perigosas nos confrontam</p><p>em todos os pontos. Diante disso, até mesmo o mais confiante de nós teria que admitir, em</p><p>seus momentos de maior honestidade, que a igreja como conhecemos enfrenta um desafio</p><p>de adaptação muito significativo. A grande maioria dos líderes da igreja hoje relata que está</p><p>ficando cada vez mais difícil para as comunidades vencerem as crescentes complexidades</p><p>nas quais se encontram. Como resultado, a igreja passa por uma forte queda a longo prazo</p><p>no Ocidente. Nessa situação, temos que fazer as seguintes perguntas a nós mesmos: “O</p><p>mesmo engano continuará acontecendo? Temos os recursos herdados para lidar com essa</p><p>situação? Podemos simplesmente reelaborar o entendimento a respeito da cristandade</p><p>provada e verdadeira da igreja que tanto amamos e entendemos e, por fim, em um ajuste</p><p>final do sistema, surgirmos com a fórmula vitoriosa”?1</p><p>Tenho que confessar: não acho que as fórmulas herdadas funcionarão mais. Além disso,</p><p>sei que não estou só nesse ponto de vista. Há muita especulação acontecendo em nossos</p><p>dias, como pesquisa por alternativas de aquecimento. Entretanto, por estarem relacionados</p><p>ao futuro da cristandade no Ocidente, a maioria dos novos pensamentos apenas destaca</p><p>nosso dilema, e geralmente propõe soluções que não passam de revisões de abordagens e</p><p>técnicas do passado. Mesmo muitos dos pensamentos a respeito da chamada igreja</p><p>emergente deixam as suposições predominantes sobre a igreja e missão intactas e focam</p><p>apenas na questão da teologia e espiritualidade em uma definição pós-moderna. Isso</p><p>equivale a uma reelaboração do “software” teológico, enquanto ignora o “hardware” e</p><p>também o “sistema operacional” da igreja. Em minha opinião, isso não será o suficiente para</p><p>chegarmos a uma conclusão. Como olhamos atentos e ansiosos para o futuro e vasculhamos</p><p>nossa história e tradições para restaurar as ferramentas missiológicas da caixa de</p><p>ferramentas da cristandade, muitos de nós ficamos com o triste sentimento de que isso</p><p>simplesmente não vai funcionar. As ferramentas e técnicas que se adaptaram às épocas</p><p>passadas da história do Ocidente parecem não funcionar mais. O que precisamos agora é</p><p>um conjunto de ferramentas. Um novo “paradigma” — uma nova visão da realidade: uma</p><p>mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores, em especial, no modo</p><p>como se relacionam com nossa visão sobre a igreja e a missão.</p><p>Isso não quer dizer que chegar ao nosso passado não faça parte da solução. Faz. A</p><p>questão é apenas esta: de modo geral, nós não voltamos o suficiente; ou melhor, não</p><p>mergulhamos fundo o suficiente por nossas respostas. De vez em quando, temos relances de</p><p>resposta, mas, por causa da natureza radical e perturbadora do remédio, recuamos para a</p><p>segurança do familiar e controlável.</p><p>As reais respostas, se tivermos coragem de buscar por elas e aplicá-las, são, de modo</p><p>geral, mais radicais do que normalmente pensamos e, por isso, abalam nosso sentido de</p><p>lugar no mundo com seu status quo, algo com o qual a igreja, de modo geral, não está</p><p>acostumada. No entanto, hoje, estamos vivendo um tempo em que há uma única solução</p><p>que vai até a raiz do que significa ser povo de Jesus.</p><p>As condições que enfrentamos no século 21 não só representam uma ameaça à nossa</p><p>existência, mas também nos apresentam uma extraordinária oportunidade para</p><p>descobrirmos a nós mesmos de modo a nos guiar para esse complexo desafio de maneira</p><p>ressonante com a energia antiga. Essa energia não apenas nos liga aos impulsos</p><p>maravilhosos da igreja original, mas também nos dá asas com as quais voar. O livro em suas</p><p>mãos agora é um dos que poderiam ser rotulados, de certa maneira, na categoria técnica</p><p>aparentemente maçante de eclesiologia missional, pois explora a natureza dos movimentos</p><p>cristãos e, portanto, a igreja, como moldada por Jesus e sua missão. No entanto, não seja</p><p>enganado pela terminologia desinteressante — a eclesiologia missional é dinamite.</p><p>Principalmente porque a igreja (a eclésia), quando está em conformidade com seu real</p><p>chamado, quando fala a mesma linguagem que Deus, é de longe a maior força poderosa</p><p>para a mudança transformacional que o mundo já viu. Foi assim antes, é assim agora e será</p><p>assim outra vez. Este livro foi escrito na esperança de que a igreja no Ocidente possa, por</p><p>meio do poder do Espírito Santo, acordar e voltar a se comprometer com a maravilhosa</p><p>força presente dentro de nós.</p><p>U�� ������� �� �������� �� ����������� ������ ��� ��� �����</p><p>��������</p><p>Há cerca de quatro anos, participei de um seminário sobre a igreja missional em que o</p><p>palestrante perguntou: “Quantos cristãos vocês acham que existiam no ano 100 d.C?”</p><p>Depois, perguntou: “Quantos cristãos vocês acham que existiam pouco antes de</p><p>Constantino entrar em cena, ou seja, em 310 d.C?”2 Aqui está uma resposta de algum modo</p><p>surpreendente:</p><p>100 d.C somente 25.000 cristãos</p><p>310 d.C cerca de 20.000.000 cristãos</p><p>Então, ele fez uma pergunta que me persegue até hoje: “Como fizeram isso? Como</p><p>cresceram de um pequeno movimento para a força religiosa mais significativa no Império</p><p>Romano em dois séculos?” Agora, esta é a pergunta para iniciar a jornada! A pesquisa sobre</p><p>essa pergunta levou-me à descoberta do que chamarei de Genoma Apostólico (a força</p><p>incorporada na vida e o mecanismo direcionador do povo de Deus) e aos componentes ou</p><p>elementos existentes que o criaram.3 Em resumo, a esses componentes nomeei de DNA ou</p><p>mDNA missional.</p><p>Então, me deixe lhe fazer uma pergunta: Como os antigos cristãos fizeram isso? Antes de</p><p>responder, aqui estão algumas qualificações que você deve levar em consideração em sua</p><p>resposta.</p><p>Eles pertenceram a uma igreja ilegal durante todo esse período. Na melhor das</p><p>hipóteses, eram tolerados; na pior, eram perseguidos de modo muito severo.</p><p>Não possuíam edifícios eclesiásticos como os que conhecemos. Embora os arqueólogos</p><p>tenham descoberto capelas datadas nesse período, com certeza eram exceções à regra e</p><p>pareciam ser casas muito pequenas transformadas.</p><p>Não possuíam sequer as Escrituras como as conhecemos. Estavam reunindo o canon</p><p>durante esse período.</p><p>Não possuíam uma instituição ou forma profissional de liderança geralmente associada</p><p>a ela. Em tempos de relativa calma, os elementos prototípicos de instituição apareciam,</p><p>porém, de acordo com o que consideramos instituição, eles eram, na melhor das</p><p>hipóteses, pré-institucionais.</p><p>Não possuíam cultos sensíveis aos que buscam, grupos de jovens, grupos de louvor,</p><p>seminários, comentários, etc.</p><p>Na verdade, dificultavam a união à igreja. Por volta do final do século 2, os convertidos</p><p>ambiciosos tiveram que passar por um importante período de iniciação para provar que</p><p>eram merecedores.</p><p>Na realidade, eles não tinham coisa alguma que nós comumente empregamos para</p><p>resolver os problemas da igreja e, mesmo assim, cresceram de 25.000 para 20 milhões em 200</p><p>anos! Então, como a igreja primitiva fez isso? Ao responder essa pergunta, talvez,</p><p>consigamos encontrar a resposta da pergunta para a igreja e a missão em nossos dias e em</p><p>nosso contexto, pois nela encontra-se o poderoso mistério da igreja em sua forma mais</p><p>autêntica.</p><p>No entanto, antes que o exemplo do movimento cristão primitivo possa ser rejeitado</p><p>como uma fantasia da história, há outra manifestação, talvez ainda mais impressionante do</p><p>Genoma Apostólico, ou seja, uma força única e explosiva pertencente a todo o povo de Deus</p><p>em nosso próprio tempo, isto é, a igreja clandestina na China. A história deles é</p><p>verdadeiramente marcante: na época em que Mao Tse-Tung assumiu o poder e iniciou a</p><p>purificação sistemática da religião vinda da sociedade, a igreja na China, que foi bem</p><p>estabelecida e modelada basicamente de acordo com os formatos ocidentais devido à</p><p>colonização, foi estimada em quase 2 milhões de adeptos. Como parte dessa perseguição</p><p>sistemática, Mao expulsou todos os missionários e</p><p>Novo de Aldous Huxley, em que as pessoas vão ao cinema apenas para</p><p>terem momentos de êxtase.</p><p>Os expoentes de crescimento da igreja nos ensinaram explicitamente a comercializar e</p><p>adaptar o produto para atender o público-alvo. Eles nos disseram para imitar o shopping</p><p>center, aplicá-lo à igreja e criar a prática de shopping religioso com todos os produtos</p><p>necessários para suprir todas as suas necessidades. Quanto a isso, eles foram sinceros e bem-</p><p>intencionados, porém, também ignoraram totalmente as ramificações de seu conselho, pois,</p><p>no fim, o meio-termo dominou por completo a mensagem.104 A cristandade, atuando da</p><p>forma como faz no modelo atrativo e conduzida por profissionais, já estava suscetível ao</p><p>consumismo, no entanto, sob a influência da prática de crescimento da igreja</p><p>contemporânea, o consumismo se tornou, na verdade, a ideologia impulsionadora do</p><p>ministério da igreja.</p><p>A própria aparência do edifício da igreja nos revela a verdade (consulte o diagrama do</p><p>edifício eclesiástico no capítulo 1). Cerca de 90% ou mais das pessoas que frequentam</p><p>nossos cultos são passivas. Em outras palavras, são consumidores. São beneficiários</p><p>passivos dos bens e serviços religiosos largamente oferecidos por profissionais em</p><p>apresentações e cultos superficiais. Quase tudo o que fazemos nesses cultos, de alguma</p><p>forma padronizados e em “igrejas encaixotadas”, fazemos a fim de atrair participantes e,</p><p>para isso, precisamos tornar a experiência da igreja mais conveniente e confortável. Trata-se</p><p>da última versão religiosa do shopping religioso com todos os produtos necessários e sem</p><p>complicações. Porém, tudo o que estamos conseguindo ao fazer isso é acrescentar mais</p><p>combustível à insaciável chama consumista. Cheguei à terrível conclusão de que nós</p><p>simplesmente não podemos consumir à nossa maneira em direção ao discipulado. O</p><p>consumismo conforme experimentado no dia a dia e o discipulado conforme pretendido nas</p><p>Escrituras simplesmente estão em desacordo um com o outro. E ambos têm por objetivo o</p><p>domínio de nossas vidas, mas, no comércio, é chamado de fidelidade à marca ou</p><p>comunidade de marca.</p><p>Falando sobre a insegurança da situação humana, foi Jesus quem disse: “Portanto, não se</p><p>preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer?’ ou ‘Que vamos beber?’ ou ‘Que vamos vestir?’ Pois os</p><p>pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem,</p><p>pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas”</p><p>(Mt 6.31-33, ênfase do autor). O consumismo é totalmente pagão. Os pagãos correm atrás</p><p>dessas coisas (do grego epizēteō”, buscar, desejar, querer, examinar, procurar). Visto dessa</p><p>forma, o Queer Eye for the Straight Guy, Extreme Makeover, Big Brother e outros reality shows</p><p>são os programas mais pagãos e praticantes do paganismo da TV. Até mesmo os sempre</p><p>favoritos programas de reforma da casa nos paganizam, pois fazem com que nos</p><p>concentremos no que nos escraviza com muita facilidade. Neles, a banalidade do</p><p>consumismo atinge o clímax quando nos é vendida a mentira de que o que nos completará é</p><p>uma nova cozinha, ou a ampliação da casa, ao passo que, na verdade, tudo isso apenas</p><p>aumenta o estresse financeiro e o de nossas famílias.105 Esses programas são muito mais</p><p>fomentadores da incredulidade do que o puro ateísmo intelectual, pois nos atingem no</p><p>ponto em que temos que colocar toda a nossa confiança e lealdade. Muitas pessoas são</p><p>profundamente suscetíveis à sedução idólatra ao dinheiro e a coisas. Fazemos bem em</p><p>relembrar o que o nosso Senhor disse a respeito de servir a dois senhores e de correr atrás de</p><p>coisas (Mt 6.24-33).</p><p>Mark Sayers, um amigo meu, observou que um dos apelos religiosos mais sedutores</p><p>relacionados ao consumismo é aquele que nos oferece o novo imediatismo, uma vida</p><p>alternativa àquela que o céu sempre apresentou na tradição judaico-cristã – a satisfação de</p><p>todos os nossos desejos. Temos nas pontas dos dedos experiências e ofertas que estavam</p><p>disponíveis somente para os reis nas eras anteriores. Oferecido o “céu agora”, desistimos da</p><p>busca final daquilo que pode ser consumido imediatamente, seja um culto, um produto ou</p><p>uma experiência pseudo-religiosa. O consumismo tem todos os traços característicos do</p><p>paganismo puro – nós precisamos vê-lo da forma como realmente é.</p><p>No entanto, não se trata de uma análise objetiva e fria; tenho aplicado essa crítica a mim</p><p>mesmo e em meu ministério e tenho que me arrepender constantemente. Você se lembrará</p><p>de minha narrativa, no capítulo 1, sobre a experiência de iniciar um projeto missionário</p><p>significativo no café chamado Elevation. Quando as dificuldades vieram, não conseguimos</p><p>criar um comprometimento mais forte por parte dos membros da comunidade. Como</p><p>liderança, reconhecemos isso como nosso próprio fracasso; o fracasso de desenvolver</p><p>discípulos. Sem nos concentrarmos intencionalmente em fazer discípulos, nós tínhamos</p><p>cultivado, por descuido, o já iminente consumismo (religioso). Descobri da maneira mais</p><p>difícil que se nós não discipularmos as pessoas, a cultura certamente o fará. Esse foi um</p><p>momento da verdade para mim como líder do movimento e jurei que, a partir daquele</p><p>momento em diante, minhas ações teriam que mudar e, de alguma forma, o fazer discípulos</p><p>se tornaria a atividade central de qualquer coisa que eu fizesse por meio da comunidade</p><p>cristã no futuro.</p><p>Portanto, parece que temos duas opções básicas diante de nós: (1) Tentamos redimir os</p><p>ritmos e estruturas do consumismo como sugere Pete Ward em seu excelente livro sobre</p><p>eclesiologia missional. Ele adverte que, em vez de rejeitar ou denunciar o consumismo,</p><p>devemos considerá-lo como uma oportunidade para a igreja redescobrir sua natureza</p><p>missional e redentora. Ele afirma que no consumismo há uma pesquisa intensa acontecendo</p><p>e a igreja não pode se omitir de comunicar-se de forma significativa dentro desse contexto.</p><p>Ele sugere, portanto, que a igreja se reorganize de forma radical em torno dos princípios do</p><p>consumismo, porém, mantenha sua característica missional.106 (2) De forma alternativa,</p><p>temos que iniciar uma mudança profética completa no controle abrangente do consumismo</p><p>sobre nossas vidas. Essas duas alternativas se tornaram nosso desafio missional e são opções</p><p>reais. Entretanto, minha advertência é: se jantaremos com o diabo, é melhor termos uma</p><p>colher bem comprida, porque estamos lidando com um sistema religioso alternativo bem</p><p>estabelecido para o qual os discípulos de Jesus precisam moldar uma realidade alternativa.</p><p>Uma das maneiras mais eficazes e contrárias à cultura na qual os seguidores de Jesus</p><p>estão formando discípulos é o novo interesse e prática de ordens missionais e monásticas.</p><p>Um desses grupos, chamado Rutba House, desenvolveu doze práticas, ou marcas, para o</p><p>novo monasticismo desafiar o mundanismo da igreja.107 São elas:</p><p>1. Mudança para lugares abandonados da cidade.</p><p>2. Compartilhamento dos recursos econômicos com os companheiros membros</p><p>da comunidade e com os necessitados.</p><p>3. Hospitalidade para o estrangeiro.</p><p>4. Lamento pelas divisões raciais na igreja e na sociedade juntamente com uma</p><p>busca ativa de justa reconciliação.</p><p>5. Submissão humilde ao corpo de Cristo, a Igreja.</p><p>6. Formação intencional de acordo com a maneira de Cristo e com as regras da</p><p>comunidade.</p><p>7. Apoio ao celibato dos solteiros e à monogamia dos casais casados e seus filhos.</p><p>8. Proximidade geográfica com os membros da comunidade que compartilham de</p><p>uma regra de vida comum.</p><p>9. Cuidado com a terra de Deus e apoio às economias locais.</p><p>10. Pacificação em meio à violência.</p><p>Sem dúvida, o leitor concordará que tais práticas apresentam pontos críticos em torno</p><p>dos quais podemos nos opor aos efeitos do consumismo em nossas vidas. Há muitas ordens</p><p>como essa surgindo no contexto ocidental: InnerChange (Estados Unidos e sudeste asiático),</p><p>Urban Neighbors of Hope (Austrália e Tailândia), YFC-New Zealand, são apenas alguns</p><p>exemplos.</p><p>A ����������� �� “������� J����”</p><p>Então, outra vez, por que o discipulado é o elemento crítico, talvez até mesmo central,</p><p>do</p><p>mDNA do Genoma Apostólico? Foi David Bosch quem observou corretamente que “o</p><p>discipulado é determinado pela relação com o próprio Cristo, e não, pela mera</p><p>conformidade com ordens impessoais”. O contexto disso não está na sala de aula (onde</p><p>geralmente acontece o “ensinamento”), nem mesmo na igreja, mas no mundo.108 Para ser</p><p>honesto, o pensamento evangélico reverbera essa ideia. Nós enfatizamos a primazia de nosso</p><p>relacionamento com Jesus, e não meras ideias a respeito dele, e afirmamos ser esse um</p><p>fenômeno para toda a vida, porém, são nossas práticas de estilo de vida, e não, nosso</p><p>pensamento, que constantemente nos desapontam sobre esse assunto.</p><p>Os movimentos apostólicos fazem disso a tarefa principal, pois, quando nós realmente</p><p>pensamos a respeito, talvez esta seja a maior estratégia de todas as diversas atividades da</p><p>igreja. Quando Jesus incumbiu seu povo com a chamada Grande Comissão, o que ele tinha</p><p>em mente? Por que nossa comissão central é fazer discípulos de todas as nações (Mt 28.18-20)?</p><p>Essa pergunta deve nos remeter à real importância e significado do discipulado. Se o</p><p>cerne do discipulado é se tornar semelhante a Jesus, para mim parece que a leitura missional</p><p>desse texto requer que entendamos que a estratégia de Jesus é ter um lote inteiro de</p><p>pequenas versões dele infiltrado em todos os cantos da sociedade, reproduzindo a si mesmo</p><p>em e por meio de seu povo em todo lugar, em todo o mundo. No entanto, essa questão vai</p><p>muito além de modelos sociológicos relacionados à transmissão de ideias em movimentos;</p><p>passa por um dos propósitos centrais da missão de Cristo entre nós. Jesus não somente</p><p>incorpora Deus em nosso reino, mas também, fornece a imagem do ser humano perfeito.</p><p>Paulo nos diz que é nosso destino sermos conformados à imagem de Cristo (Rm 8.29; 2Co</p><p>3.18). Contudo, o relacionamento entre Jesus e seu povo é ainda mais profundo. Nossa</p><p>união mística com Cristo e sua habitação em nós encontra-se exatamente no centro da</p><p>experiência cristã sobre Deus – isso é observado em todo o ensinamento de Paulo a respeito</p><p>de estar “em Cristo” e ele em nós, bem como na teologia de João sobre “permanecer em</p><p>Cristo”. Logo, todas as disciplinas espirituais nos levam em direção a um ponto: semelhança a</p><p>Cristo. Prestemos atenção às palavras atribuídas a Madre Teresa: “Temos que nos tornar</p><p>santos, não porque queremos nos sentir santos, mas porque Cristo deve ser capaz de viver</p><p>sua vida por completo em nós.”</p><p>Assim, Deus em forma de homem, Jesus, é, e deve continuar sendo, o epicentro</p><p>permanente da espiritualidade e teologia cristã. Somos constantemente lembrados de que</p><p>devemos nos tornar semelhantes a Jesus. Essa noção de imitação de Cristo é um dos</p><p>princípios indiscutíveis, tanto do ensinamento de Jesus quanto dos apóstolos. Está implícito</p><p>no discipulado e o imbui em seu significado. Porém, ser um seguidor de Cristo não significa</p><p>imitá-lo literalmente adaptando-o, mas expressá-lo por meio da própria vida de alguém.</p><p>“Um cristão não é uma reprodução artificial [clone] de Cristo... A tarefa do cristão consiste</p><p>em transpor Cristo para as coisas de sua existência diária.”109 A mim parece que seu objetivo</p><p>é transmitir sua mensagem por meio da singularidade da vida de seus seguidores, e isso</p><p>deve ser expresso em todos os aspectos concebíveis de suas vidas. Em resumo, seu objetivo</p><p>é encher o mundo com muitos “pequenos Jesuses”, uma presença (redentora) própria de</p><p>Cristo ativamente em toda a vizinhança e em toda esfera da vida. Esta é Conspiração do</p><p>pequeno Jesus.</p><p>Como deve ser o caso para um movimento sobreviver após o impulso inicial, o fundador</p><p>literalmente deve, de alguma maneira, viver em seu povo, e a vitalidade da mensagem</p><p>subsequente, de agora em diante, depende da disposição e capacidade do seu povo de se</p><p>incorporar com fidelidade a sua mensagem. As histórias e memórias perigosas do fundador</p><p>estão vivas no povo e o chamam para uma vida santa e integrada. De maneira muito real e</p><p>sóbria, temos, na verdade, que nos tornar o Evangelho para as pessoas ao nosso redor, uma</p><p>expressão do verdadeiro Jesus através da qualidade de nossas vidas. Temos que viver</p><p>nossas verdades. Ou, como diz Paulo, nós mesmos somos cartas vivas cuja mensagem está</p><p>sendo lida constantemente por outros (2Co 3.1-3). Na análise final, o meio-termo é a</p><p>mensagem, e os movimentos fenomenais de Deus pareciam ser capazes de expressar a</p><p>mensagem de modo autêntico por meio tanto de sua vida pessoal quanto de sua vida em</p><p>comum.110 Isso é o que a tornou acreditável e transmissível.</p><p>E��������� � �����������</p><p>Intimamente ligada à ideia de imitação de Cristo está a ideia de encarnação que envolve</p><p>modelo e exemplificação. Quando olhamos para os movimentos fenomenais ao longo da</p><p>história, descobrimos que esses movimentos de pessoas encontraram uma forma de traduzir</p><p>grandes temas do Evangelho (o Reino de Deus, a redenção, expiação, perdão, etc.) para a</p><p>vida concreta por meio da encarnação de Jesus de modo profundamente relacional e</p><p>atraente. Por meio disso, o fenômeno Jesus tornou-se um movimento de pessoas e não uma</p><p>filosofia religiosa fechada mediada por uma elite religiosa, como quase sempre ocorre na</p><p>história das religiões.</p><p>Encarnação significa literalmente dar carne a ideias e experiências que nos animem. Caso</p><p>essas ideias e experiências sejam realmente acreditadas e valorizadas, então, devem ser</p><p>vividas. A encarnação é um fator importante na liderança saudável de todas as organizações</p><p>humanas, porém, é absolutamente crucial para a viabilidade e testemunho do movimento</p><p>cristão, e por consequência, para o discipulado e liderança missional.111 E isso não pode ser</p><p>passado apenas por textos e livros: é transmitido sempre por intermédio da vida em si, pelo</p><p>líder à comunidade, do mestre para o discípulo e de cristão para cristão.</p><p>A ideia da encarnação de nossa mensagem salienta, bem como evidência, a verdade que</p><p>buscamos transmitir. É precisamente isso que o discipulado cristão deve buscar alcançar.</p><p>Jim Wallis diz que “a única maneira de propagar a mensagem é vivê-la”.112 Quando</p><p>tentamos traduzir essa ideia de encarnação em termos de estratégia missional com relação a</p><p>como nós impactamos as pessoas com o Evangelho, significa que nós mesmos temos que</p><p>nos tornar uma representação substancial do que, para muitos não cristãos, não passa de</p><p>uma teoria nebulosa. Esse conceito, portanto, não é importante apenas existencialmente</p><p>para uma vida autêntica, ou seja, é absolutamente crucial tanto para a transmissão do</p><p>Evangelho além de nós mesmos quanto para a iniciação e sobrevivência dos movimentos</p><p>missionais. É crítico para a autenticidade e vitalidade da missão da igreja. Para exemplos</p><p>marcantes disso na história da igreja ocidental, precisamos apenas olhar para pessoas como</p><p>São Francisco, que viveu sua mensagem em uma comunidade que incorporou seus</p><p>ensinamentos. Podemos encontrar padrões semelhantes, como por exemplo, Count</p><p>Zinzendorf e os Moravianos.</p><p>Com essas reflexões em mente, ouça Paulo. Tente discernir o significado de encarnação e</p><p>considere seu impacto sobre os outros nos sistemas sociais vizinhos.</p><p>De fato, vocês se tornaram nossos imitadores e do Senhor, pois, apesar de muito sofrimento, receberam a</p><p>palavra com alegria que vem do Espírito Santo. Assim, tornaram-se modelo para todos os crentes que</p><p>estão na Macedônia e na Acaia. Porque, par�ndo de vocês, propagou-se a mensagem do Senhor na</p><p>Macedônia e Acaia. Não somente isso, mas também por toda parte tornou-se conhecida a fé que vocês</p><p>têm em Deus. O resultado é que não temos necessidade de dizer mais nada sobre isso, pois eles mesmos</p><p>relatam de que maneira vocês nos receberam, e como se voltaram para Deus, deixando os ídolos a fim de</p><p>servir ao Deus vivo e verdadeiro. (1Ts 1.6-9 – ênfase do autor)</p><p>Irmãos, sigam unidos o meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão que lhes</p><p>apresentamos. (Fl 3.17)</p><p>[...] não porque não �véssemos tal direito, mas para que nos tornássemos um modelo para ser imitado por</p><p>vocês. (2Ts 3.9)</p><p>Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo boas</p><p>obras. Em seu ensino, mostre integridade e</p><p>seriedade; use linguagem sadia, contra a qual nada se possa dizer, para que aqueles que se opõem a você</p><p>fiquem envergonhados por não poderem falar mal de nós. (Tt 2.7s)</p><p>Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo. (1Co 11.1)</p><p>Como os apóstolos eram basicamente os guardiões do DNA do povo de Deus, a</p><p>encarnação do Evangelho tinha que ser observada como integridade viva na vida deles, a fim</p><p>de que a mensagem obtivesse efeito duradouro. Foi essa consistência entre mensagem e</p><p>mensageiro que validou a mensagem apostólica e cultivou a receptividade nos ouvintes. As</p><p>igrejas paulinas, por sua vez, conseguiam ser fiéis porque tinham observado em Paulo um</p><p>modelo vivo de fidelidade. Consequentemente, os convertidos de Paulo copiaram e</p><p>incorporaram isso, então, outros puderam ver e isso resultou no impacto permanente. Os</p><p>ensinamentos devem se fixar na vida dos seguidores e isso só pode acontecer por meio do</p><p>relacionamento disciplinador.</p><p>Para serem eficientes, os movimentos e ideias centrais associadas a eles têm que enraizar</p><p>na vida de seus seguidores. Se não for assim, o movimento simplesmente não pegará fogo.</p><p>Novamente, não é uma questão de integridade pessoal, mas também de modelo. O modelo</p><p>de um movimento é geralmente estabelecido em um sentido definitivo por seus fundadores.</p><p>Portanto, em termos de dinâmica e missão dos movimentos da igreja cristã, essa noção de</p><p>exemplificação da mensagem é absolutamente crucial para a transmissão da mensagem</p><p>original para além do nosso fundador, para as gerações subsequentes.</p><p>L�������� �����������</p><p>O filme ganhador do Oscar que retrata a vida de Mahatma Gandhi começa com o funeral</p><p>com honras de Estado do notável homem que tanto transformou a Índia. Um comentarista</p><p>norte-americano de rádio narra o sentido da vida dele para o resto do mundo. Durante a</p><p>narração, ele observa que diante deles estava um homem que nunca foi um líder “oficial”,</p><p>nunca ocupou um cargo político nem liderou nenhum sistema político, nunca obteve título</p><p>oficial algum e se considerava um humilde tecelão, mesmo tendo sido uma pessoa que</p><p>transformou a história de seu povo de diversas maneiras e determinou o destino das nações</p><p>no mundo moderno. Ele modificou seu mundo, não por meio de manobras políticas ou</p><p>poder institucional, mas por meio do absoluto poder inspirador de uma vida integrada com</p><p>base em virtudes religiosas, morais e sociais. Por ter sido um exemplo notável de liderança,</p><p>ele ainda influencia o mundo hoje. É de conhecimento geral que ele foi o exemplo e</p><p>inspiração de Martin Luther King Jr. para seu posicionamento no movimento dos direitos</p><p>civis norte-americanos.</p><p>Na realidade, Gandhi foi uma pessoa marcante e alguém digno de ser estudado em</p><p>relação à liderança e aos movimentos sociais. No entanto, o que é particularmente notável é</p><p>o fato de ter obtido sua visão de uma Índia independente pela renúncia à violência e rejeição</p><p>de todas as formas de poder institucional e autoridade. Ele baseava sua mensagem somente</p><p>no que foi chamado de “autoridade moral“. No nosso caso, também podemos chamar de</p><p>autoridade espiritual ou liderança inspiradora. Esta pode ser descrita como um modo único</p><p>de poder social proveniente da integração pessoal e encarnação de grandes ideias, em</p><p>oposição ao poder proveniente de alguma forma de consentimento de autoridade externa e</p><p>estrutural, como a do governo, corporação ou instituição religiosa. Por exemplo, o poder do</p><p>presidente vem primeiramente do cargo ocupado por ele ou ela, o mesmo acontece com o</p><p>general, CEO ou um líder denominacional, e assim por diante. No poder institucional, é a</p><p>instituição humana que confere poder para o indivíduo desempenhar determinada tarefa.</p><p>Portanto, trata-se principalmente de uma fonte externa de poder que impulsiona a função.</p><p>Isso não acontece na liderança inspiradora. Esta envolve um relacionamento entre líderes e</p><p>seguidores no qual um influencia o outro a procurar por objetivos comuns, visando</p><p>transformar seguidores em líderes por conta própria. Isso acontece por causa da atração</p><p>pelos valores e chamados sem oferecimento de incentivos materiais. Baseia-se</p><p>principalmente no poder moral e, portanto, é essencialmente interno.</p><p>O interessante a respeito de Gandhi é que, quando questionado sobre as raízes</p><p>ideológicas de sua filosofia, ele não alegou originalidade alguma em suas ideias: ele disse ter</p><p>aprendido tudo com Jesus de maneira indireta, por meio de Tolstoy. Devemos fazer o</p><p>mesmo voltando nossa atenção diretamente ao nosso fundador. Então, olhemos para ele.</p><p>Quando analisamos a vida e ministério de Jesus, descobrimos que ele também não tinha</p><p>título ou cargo oficial. Não tinha estudo reconhecido oficialmente, não liderou exércitos, foi</p><p>contrário à violência e nos ensinou sobre o poder espiritual transformador do amor e do</p><p>perdão e, mesmo assim, mudou o mundo para sempre. E no maior ato de influência</p><p>espiritual em sua história do mundo, ele se entregou em sacrifício para a redenção do</p><p>mundo. O tipo de poder inerente nesse ato supremo de sacrifício, assim como em todos os</p><p>atos sacrificiais, é o poder não coercivo que influencia por meio do poder espiritual absoluto</p><p>– ele atrai as pessoas para sua influência e as modifica, recorrendo à resposta moral e</p><p>espiritual daqueles que chegam a sua órbita. Jesus tem plena consciência desse poder</p><p>quando diz em João 12.32: “Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”. É o</p><p>poder de seus ensinamentos e a qualidade absoluta de sua vida que modifica o mundo. Ele</p><p>mudou o mundo para sempre sem ser um líder oficial, político ou general. Esta é a liderança</p><p>espiritual autêntica, e a liderança cristã só é autêntica quando reflete esse tipo de autoridade</p><p>e poder espiritual.</p><p>Se necessitarmos de quaisquer outros exemplos bíblicos, não precisamos olhar para</p><p>ninguém mais além de Paulo. Sempre quando defende seu próprio papel apostólico em</p><p>relação aos “falsos apóstolos” (por exemplo, 2 Coríntios), ele não se refere a algum ato de</p><p>“ordenação” por uma instituição que ainda não existe; ao contrário, reporta seus leitores ao</p><p>seu sofrimento pela causa, sua integridade em lidar com isso, seu chamado para ser</p><p>apóstolo pelo próprio Jesus, suas experiências espirituais e sua humildade e “impotência”</p><p>em termos humanos (cf. 2Co 1.1 e Gl 1.1). Dificilmente essa seria a descrição de um CEO</p><p>carismático e com poder; mas aqui novamente nos deparamos com a fonte de um</p><p>verdadeiro poder espiritual por trás de uma ótima liderança. Ela não se encontra nas</p><p>formalidades, mas na mistura do chamado, dom e integridade pessoal.</p><p>Influência é algo difícil de quantificar. No entanto, você a reconhece quando se depara</p><p>com ela. É interessante e também profundo que a palavra no NT para autoridade seja</p><p>exousia, que literalmente significa “fora de si” (fora da substância própria de alguém).</p><p>Quando uma pessoa questiona a natureza da autoridade espiritual nas Escrituras, está claro</p><p>que a autoridade provém primeiramente de dentro para fora e somente depois de fontes</p><p>externas. Ou, para ser mais preciso, a autoridade moral surge como resultado da mistura da</p><p>integridade pessoal, relacionamento de uma pessoa com Deus e riqueza de nossos</p><p>relacionamentos com os demais ao nosso redor. São essas qualidades que devem</p><p>caracterizar a liderança que obtém inspiração a partir de Jesus Cristo.113 Muitos dos</p><p>problemas do mundo estão relacionados com a má utilização do poder e autoridade; e na</p><p>história da cristandade, para nossa grande vergonha, a igreja também tem liderado dessa</p><p>forma com frequência. Basta apenas olhar para as Cruzadas, a Inquisição, a perseguição dos</p><p>cristãos inconformistas e do tratamento para com os judeus para perceber como erramos o</p><p>alvo em relação à autêntica liderança moral.</p><p>Recentemente, fui lembrado de que a melhor crítica a respeito do mal é a prática de algo</p><p>melhor. Sendo assim, qual é a prática de algo melhor nesse caso? Para encontrar esse</p><p>“melhor”, devemos buscá-lo onde a liderança realmente atua: nos movimentos marcantes de</p><p>Jesus na história. É notável o fato</p><p>de que a maioria dos líderes desses movimentos</p><p>missionários perdeu as qualificações necessárias para liderar em nossas igrejas no Ocidente,</p><p>e, no geral, apesar de tudo, o impacto da influência deles ao longo das redes de</p><p>comunicação descentralizadas é muito maior do que o de seus colegas ocidentais de</p><p>instituições centralizadas. Como podemos explicar isso?!</p><p>Conforme mencionado anteriormente, há pouco tempo estive com um extraordinário</p><p>líder apostólico da igreja secreta na China, “Tio L”, que estava liderando um movimento</p><p>clandestino de igreja nos lares com três milhões de cristãos. Esse homem exemplificou a</p><p>autoridade espiritual. Ele não tinha estudo reconhecido oficialmente, nem “cargo” e títulos</p><p>associados, nem uma instituição central real para ajudá-lo na administração e controle das</p><p>dezenas de milhares de igrejas nos lares, e mesmo assim, sua influência e ensinamento eram</p><p>percebidos por todo o movimento. Como ele fazia isso? A única maneira de conseguir tal</p><p>feito é pelo exercício de uma autoridade espiritual genuína de liderança.</p><p>L�������� ���� �������� �� �����������</p><p>Se até agora ainda não estiver óbvio, permita-me dizer de forma mais explícita: a qualidade</p><p>da liderança da igreja é diretamente proporcional à qualidade do discipulado. Se</p><p>fracassamos na área de fazer discípulos, não devemos nos surpreender se fracassarmos na</p><p>área do desenvolvimento de liderança. Acho que muitos dos problemas enfrentados pela</p><p>igreja na tentativa de cultivar liderança missional para os desafios do século 21 seriam</p><p>resolvidos se concentrássemos a solução do problema em algo anterior ao desenvolvimento</p><p>da liderança por si só, ou seja, primeiro o discipulado. O discipulado é primordial; a</p><p>liderança é sempre secundária. A liderança, para ser cristã genuinamente, deve sempre</p><p>refletir a semelhança a Cristo e, portanto, o discipulado.</p><p>Se afirmarmos isso em termos de dinâmica de movimento, pode-se dizer que o alcance de</p><p>qualquer movimento é diretamente proporcional à extensão de sua base da liderança que,</p><p>por sua vez, está diretamente relacionada à qualidade do discipulado. Somente à medida</p><p>que conseguimos desenvolver a iniciativa própria, reprodução e discípulos totalmente</p><p>devotos, poderemos ter a esperança de conseguir realizar o dever da missão de Jesus.114 Não</p><p>existe outra forma de desenvolver genuínos movimentos transformacionais senão por meio</p><p>da crítica tarefa de fazer discípulos. Ou, como Neil Cole ironicamente observa: “Se não</p><p>consegue reproduzir discípulos, você não é capaz de reproduzir líderes. Se não consegue</p><p>reproduzir líderes, você não é capaz de reproduzir igrejas. Se não consegue reproduzir</p><p>igrejas, você não é capaz de reproduzir movimentos”.115</p><p>Se quisermos desenvolver e produzir uma liderança verdadeiramente missional, temos,</p><p>em primeiro lugar, que plantar a semente da obrigação com a missão de Deus no mundo</p><p>nas primeiras e mais elementares fases do discipulado. Depois, essa semente deve ser</p><p>cultivada na liderança totalmente missional. Isto não é ser coercivo nem manipulador, mas</p><p>apenas reconhecer que, como discípulos, somos participantes ativos na missio Dei. Não</p><p>podemos simplesmente criar uma liderança missional quando o DNA da liderança</p><p>missional não foi colocado desde o início nas sementes do discipulado. É exatamente dessa</p><p>maneira que Jesus realiza o discipulado: ele o organiza em torno da missão. Assim que são</p><p>chamados, ele leva os discípulos para uma jornada arriscada de missão, ministério e</p><p>aprendizado. Imediatamente eles se envolvem na proclamação do Reino de Deus, servindo</p><p>o pobre, curando e expulsando demônios. Trata-se de fazer discípulos ativa e diretamente</p><p>no contexto de missão. E o mesmo acontece com todos os grandes movimentos de pessoas.</p><p>Até mesmo o mais novo convertido é engajado na missão desde o início; ele ou ela pode</p><p>chegar a ser herói/heroína espiritual. Se aceitarmos que Jesus forma o primeiro padrão de</p><p>fazer discípulos para a igreja, então, devemos dizer que o discipulado é nossa principal</p><p>tarefa. No entanto, se fazer discípulos está no centro de nossa comissão, então, temos que</p><p>organizá-lo em torno da missão, porque ela é o princípio catalisador do discipulado. Em</p><p>Jesus, eles estão inexoravelmente ligados.</p><p>Isso nos leva à seção final deste capítulo que expõe algo a respeito do caminho em que</p><p>podemos seguir o padrão bíblico de fazer discípulos de forma mais consistente.</p><p>C�������� � ������� ��� J����</p><p>Estamos todos familiarizados com as histórias do Evangelho em que Jesus seleciona um</p><p>grupo de discípulos, vive com eles, ministra com eles e os orienta. Essa abordagem para a</p><p>formação de seguidores era comum em Israel nos tempos de Jesus. A maioria dos rabinos</p><p>iniciava e desenvolvia suas escolas de pensamento por meios semelhantes. Era esse</p><p>fenômeno da vida cotidiana que facilitava a passagem das informações e ideias em situações</p><p>históricas concretas. Isso já foi descrito anteriormente, por isso não será dada continuidade</p><p>aqui. Faço apenas a observação de que essa é a maneira pela qual Jesus formou seus</p><p>discípulos, logo, não devemos achar que somos capazes de formar discípulos autênticos de</p><p>alguma outra forma.</p><p>Poucos negariam que em nossos dias existe uma crise na liderança da igreja no Ocidente.</p><p>Nós nos encontramos enfrentando um desafio adaptativo que necessitará de determinado</p><p>tipo de liderança capaz de nos guiar pelas complexidades do século 21. Neste livro e em</p><p>outros, esse tipo de liderança recebeu o nome de “missional”. E é de uma liderança</p><p>missional que necessitamos. O problema é que a maioria de nossas instituições de</p><p>treinamento é organizada para um treinamento voltado mais à manutenção do líder. Basta</p><p>fazer um levantamento dos tipos de assunto e das pessoas que os ensinam para o ponto ser</p><p>provado. Se vamos aprender a partir de histórias perigosas sobre os movimentos de Jesus e</p><p>tentar nos organizarmos em torno do Genoma Apostólico, temos apenas que descobrir “a</p><p>melhor maneira” de formar líderes.</p><p>Há tempos acredito que a liderança, ou a falta dela, é a chave significativa, tanto para a</p><p>renovação, quanto para a queda da igreja. Se for verdade que a liderança é decisiva para</p><p>nosso sucesso ou fracasso, nós temos que perguntar por que estamos nessa condição atual de</p><p>morte e, depois, buscar solucionar a situação. Isso é de importância estratégica. Se formos</p><p>um pouco mais a fundo, no fim, centralizaremos nossa atenção nas agências e pessoas</p><p>responsáveis pelo treinamento e aprovação da liderança que observou a queda do</p><p>cristianismo nos últimos dois séculos. Algumas perguntas difíceis devem ser feitas com</p><p>relação à forma como treinamos e desenvolvemos a liderança.</p><p>Talvez, a única e mais significativa origem do mal-estar da liderança em nossos dias seja</p><p>proveniente da forma e do contexto em que formamos os líderes. Na maioria das vezes, o</p><p>suposto líder é retirado do contexto da vida comum e ministério para estudar em um</p><p>ambiente um tanto quanto isolado, por até sete anos em alguns casos. Durante esse período,</p><p>eles são submetidos a uma imensa quantidade de informações complexas relacionadas às</p><p>disciplinas bíblicas, teologia, ética, história da igreja, teologia pastoral, etc. E, embora a</p><p>maioria dessas informações seja útil e correta, o perigo para o discipulado nesse cenário é o</p><p>real processo de socialização pelo qual os estudantes passam ao longo do curso. De fato, eles</p><p>são socializados fora da vida comum e desenvolvem um tipo de linguagem e pensamento</p><p>que raramente é compreendido e expressado fora do seminário. É como se, para aprender</p><p>sobre ministério e teologia, nós deixássemos nossos lugares de habitação e pegássemos um</p><p>avião para um mundo maravilhoso de abstração, voássemos por lá por um longo período e,</p><p>depois, quiséssemos saber por que temos problemas para aterrissar novamente.</p><p>Por favor, não me entenda mal, precisamos de um comprometimento intelectual sério</p><p>com as ideias-chave do nosso tempo. O que é realmente preocupante é o fato de esse</p><p>comprometimento ocorrer principalmente em ambientes passivos da sala de aula. Para amar</p><p>Deus com todo o nosso ser, o</p><p>desenvolvimento da liderança tem que inculcar no discípulo</p><p>um amor eterno pelo aprendizado, mas isso pode ser feito de maneira muito mais</p><p>consistente com o etos do discipulado do que com o acadêmico.</p><p>Esse simplesmente não é o modo como Jesus nos ensinou a desenvolver discípulos. E não</p><p>é que Jesus tenha carecido de um modelo apropriado de faculdade – os gregos a haviam</p><p>desenvolvido centenas de anos antes de Cristo e ela estava bem estabelecida no mundo</p><p>greco-romano. A visão de mundo hebraica era orientada pela vida e não se preocupava</p><p>muito com conceitos e ideias em si. Por outro lado, para mim, parece que a faculdade é</p><p>quase toda organizada apenas em torno da transferência de conceitos e ideias. Sendo assim,</p><p>os seminários ou instituições, desenvolvidos com base em um modelo acadêmico</p><p>semelhante, são praticamente incapazes de produzir discípulos e líderes missionais. Não</p><p>significa que não queiram. O problema inerente no seminário é que a bandeja de entrada de</p><p>informações está com a pilha alta enquanto a bandeja de saída de ação e obediência está</p><p>quase vazia. A faculdade demanda passividade nos estudantes, enquanto o discipulado</p><p>requer atividade. Se o discipulado tem a ver principalmente com se tornar como Jesus,</p><p>então, ele não pode ser realizado pela mera transferência de informações fora do contexto da</p><p>vida comum. Conforme tentarei mostrar abaixo, eu simplesmente não acredito que</p><p>possamos continuar tentando e pensando à nossa maneira em uma nova forma de agir, mas</p><p>precisamos agir à nossa maneira em uma nova forma de pensar.116</p><p>Como nos distanciamos tanto do etos do discipulado transmitido a nós por nosso Senhor?</p><p>Como o recuperaremos outra vez?</p><p>A resposta para a primeira pergunta é que a cristandade foi profundamente influenciada</p><p>pelas ideias gregas, ou helenistas, a respeito do conhecimento. No século 4 d.C., a visão</p><p>platônica do mundo tinha praticamente triunfado sobre a hebraica dentro da igreja. Mais</p><p>tarde, foi Aristóteles que se tornou o filósofo predominante para a igreja. Ele também atuava</p><p>sob a estrutura helenista. Basicamente, a visão helenista sobre o conhecimento preocupa-se</p><p>com conceitos, ideias, a natureza do ser, tipos e formas. A visão hebraica, por outro lado,</p><p>preocupa-se principalmente com as questões da existência concreta, obediência, sabedoria</p><p>É</p><p>orientada pela vida e a inter-relação de todas as coisas abaixo de Deus. É um tanto óbvio</p><p>que, como judeus, Jesus e a igreja primitiva atuavam, antes de tudo, de acordo com a</p><p>compreensão hebraica, em vez da helenista.</p><p>O diagrama a seguir tenta ilustrar essa distinção. Se o nosso ponto inicial é pensamento</p><p>antigo e comportamento antigo de uma pessoa ou da igreja, e consideramos ser nossa tarefa</p><p>mudar essa situação, optar pela abordagem helenista significará que forneceremos</p><p>informações por meio de livros e salas de aula a fim de tentar e levar a pessoa/igreja a uma</p><p>nova maneira de pensar e, se tudo der certo, dali a uma nova maneira de agir. O problema é</p><p>que tratando apenas dos aspectos intelectuais da pessoa, não somos capazes de mudar o</p><p>comportamento.</p><p>A suposição do pensamento helenista é que, se as pessoas captarem as ideias certas, elas</p><p>simplesmente mudarão seu comportamento. A abordagem helenista, portanto, pode ser</p><p>caracterizada como uma tentativa de pensar à nossa maneira em uma nova forma de agir. Tanto a</p><p>experiência quanto a história mostram o engano de tal pensamento. Por certo, ele não forma</p><p>discípulos. Tudo o que fazemos é mudar a maneira como a pessoa pensa; o problema é que</p><p>seu comportamento continua praticamente sem ser influenciado. Esse pode ser um exercício</p><p>bastante frustrante, pois, uma vez que a pessoa se encontra em um novo paradigma do</p><p>pensamento, é muito difícil para ela lidar com a situação da qual veio.</p><p>Muitos líderes de igrejas experimentam isso de forma regular: começa com o</p><p>reconhecimento de algum tipo de problema na igreja local junto com o desejo de tratá-lo.</p><p>Então, trabalhando como estão, sob um sistema influenciado pelas visões helenistas do</p><p>conhecimento, eles vão a uma conferência ou a um seminário para obter acesso a diversas</p><p>novas ideias a respeito da renovação da igreja, liderança e missão. O problema é que isto é</p><p>tudo o que conseguem: novos pensamentos. Eles ainda têm que lidar com a congregação</p><p>inalterada. É realmente difícil mudar o comportamento de alguém pela mera obtenção de</p><p>novas ideias, pois o comportamento está profundamente consolidado em nós por meio de</p><p>nossos hábitos arraigados, criação, normas culturais, pensamentos errôneos, etc. Apesar de a</p><p>obtenção de conhecimento ser essencial para a transformação, logo descobrimos que será</p><p>preciso muito mais do que novos pensamentos para nos transformar. Qualquer pessoa que</p><p>lutou contra o vício sabe disso.</p><p>Tenho criticado esse ponto porque esse tipo de abordagem está tão profundamente</p><p>consolidado na igreja ocidental que precisamos vê-lo da forma com é antes de encontrar</p><p>uma maneira melhor. Assim, qual é essa maneira melhor? Você não se surpreenderá ao</p><p>descobrir que ela se encontra na arte antiga de fazer discípulos. Fazer discípulos funciona</p><p>melhor com a compreensão hebraica a respeito do conhecimento em mente. Em outras</p><p>palavras, precisamos levar em consideração a pessoa como um todo na tentativa de</p><p>transformá-la. Também precisamos entender que educar todas essas pessoas dentro do</p><p>contexto de vida e para a vida. A maneira como fazemos isso, na verdade, a maneira como</p><p>Jesus fez, é agir à nossa maneira em uma nova forma de pensar. Essa é claramente a maneira pela</p><p>qual Jesus formou seus discípulos. Eles não só viveram com ele e o observaram em todas as</p><p>circunstâncias possíveis, mas também ministraram com ele, cometeram erros e foram</p><p>corrigidos por ele, tudo dentro do contexto da vida cotidiana. Mais uma vez, essas práticas</p><p>estão presentes em todos os movimentos fenomenais de Deus.</p><p>Então, independentemente de termos pensamento antigo e comportamento antigo, ou</p><p>novo pensamento e comportamento antigo, o próximo passo é colocar as ações na equação.</p><p>Isso não é tão estranho como aparenta ser em um primeiro momento. Os seres humanos são</p><p>sensíveis, criaturas pensantes com um profundo desejo de entender nossas vidas e nosso</p><p>mundo. Sendo assim, temos a tendência de processar as coisas conforme vamos andando.</p><p>Ideias e informações são importantes, porém, de modo geral, são necessárias para guiar</p><p>ações e são mais bem assimiladas e compreendidas no contexto de aplicação à vida. A</p><p>suposição é que transformamos todos esses processos dinâmicos de pensamentos dentro de</p><p>nós em ações. Tudo está relacionado ao contexto (não apenas ao conteúdo). Nós não</p><p>deixamos, conforme suposto pelo modelo helenista, nosso pensamento para trás quando</p><p>estamos praticando nossas ações. Pensamos enquanto agimos e agimos enquanto pensamos.</p><p>De fato, essa é exatamente a maneira pela qual aprendemos a andar, falar, socializar e</p><p>raciocinar em um primeiro momento. Por que supomos que nosso modo de aprender deva</p><p>mudar à medida que ficamos mais velhos?117 Logo, o que estou propondo se assemelha a</p><p>isto:</p><p>Antes de encerrarmos este capítulo, gostaria de apresentar ao leitor um exemplo vivo de</p><p>como alguns sistemas de treinamento estão começando a se reorientar em direção ao etos de</p><p>fazer discípulos na tentativa de formar líderes missionais. Na Forge Mission Training</p><p>Network, formamos o sistema inteiro em torno desse conceito de discipulado ação-</p><p>aprendizado. Nossos dois objetivos são desenvolver missionários para o Ocidente e</p><p>desenvolver um distinto modelo missional pioneiro de liderança. Para fazer isso,</p><p>promovemos um estágio em que o estagiário é colocado em um ambiente onde fique fora de</p><p>sua zona de conforto. Fazemos isso porque, quando as pessoas são colocadas em situações</p><p>que requerem algo além de seu repertório atual de habilidades e dons, ficam muito mais</p><p>abertas para realmente aprender. É chamado de “ser jogado na fogueira”. A maior parte do</p><p>aprendizado dos estagiários se dá por meio de tentativas e, na realidade, fazendo as coisas.</p><p>Eles se encontram regularmente (pelo menos uma vez</p><p>por semana) com o instrutor, que os</p><p>questionará, identificará os problemas, sugerirá ações e lhes apresentará recursos, incluindo</p><p>livros e conferências. Nós realizamos programas intensivos de aprendizado inspirador nos</p><p>quais passamos muitas informações, porém, essas informações são transmitidas apenas</p><p>pelos que demonstraram sua própria capacidade de fazer exatamente aquilo que estão</p><p>ensinando; deixamos somente praticantes missionais ativos ensinarem. Ao empenhar-se no</p><p>treinamento dessa maneira, o estagiário aumenta sua capacidade de captar os problemas,</p><p>resolvê-los e integrá-los. Missão é, e sempre foi, a mãe da boa teologia. Não conseguimos,</p><p>mas temos que ser genuinamente inspirados por esses maravilhosos movimentos de Jesus</p><p>que parecem apenas dar certo por instinto sem toda uma teoria. Essa é uma das obras</p><p>secretas do Espírito Santo, mas acredito também que se trata de uma parte inextricável do</p><p>mDNA constituinte do Genoma Apostólico. Sendo assim, é latente na igreja e nasce em</p><p>situações nas quais a adaptação se faz necessária, exatamente como algumas lembranças</p><p>esquecidas devem ser relembradas quando a situação assim o exige. Aqui está o segredo de</p><p>como a fé é transmitida de pessoa para pessoa ao longo de gerações: a contínua e dinâmica</p><p>megaconspiração sobre o “pequeno Jesus”.</p><p>5</p><p>I������ ���������-�������������</p><p>A Bíblia nos diz que o cristão está no mundo e deve permanecer nele. Os cristãos não foram</p><p>criados com a finalidade de se separarem ou viverem distantes do mundo. Quando a</p><p>separação for causada, será pelo próprio agir de Deus, não do homem... A comunidade cristã</p><p>jamais deve ser um corpo fechado.</p><p>Jacques Ellul, The Presence of the Kingdom</p><p>Não devemos nos incomodar com o fato de (durante diferentes épocas) a fé cristã ter sido</p><p>percebida e experimentada de novas e diferentes maneiras. A fé cristã é intrinsecamente</p><p>encarnacional; portanto, a não ser que a igreja opte por permanecer uma en�dade</p><p>estrangeira, sempre entrará no contexto no qual isso acontece para descobrir a si mesma.</p><p>David Bosch, Missão transformadora</p><p>“Iniciar uma igreja isolada não era uma opção para nós; não nos contentaríamos com</p><p>nada menos do que um movimento de multiplicação de igreja e abandonaríamos todas as</p><p>coisas, até mesmo as bem-sucedidas, que pudessem nos desviar desse objetivo. Descobri</p><p>que há muitos métodos de ministério eficazes que também evitariam a multiplicação.</p><p>Estávamos dispostos a abandonar qualquer coisa que não multiplicasse discípulos, líderes,</p><p>igrejas e movimentos nativos.”118 Com essas palavras corajosas nasceu a Church</p><p>Multiplication Associates (CMA) no centro urbano de Long Beach, Califórnia. Em meio a essas</p><p>palavras, podemos discernir o eco dos impulsos antigos inerentes ao próprio Evangelho de</p><p>Jesus Cristo.</p><p>Neste capítulo, analisaremos o ímpeto e a padronização dos movimentos de Jesus ao</p><p>longo do tempo e do espaço, algo que escolhi chamar de impulso missional-encarnacional.</p><p>O propósito ao combinar essas palavras é ligar duas práticas que, na essência, formam uma</p><p>e realizam a mesma ação. É o tema deste capítulo que, a não ser que abracemos esse modelo,</p><p>nós trancaremos o genoma da igreja apostólica, ou seja, semear e fixar o Evangelho em</p><p>culturas de diferentes grupos e sociedades e, portanto, semear as sementes da rápida</p><p>multiplicação.</p><p>Isso é importante não apenas por razões práticas relacionadas aos movimentos, mas</p><p>porque muito da teologia da missão e encarnação está concentrado nesse impulso. O</p><p>impulso missional-encarnacional é, na verdade, o trabalho externo prático da missão de</p><p>Deus (a missio Dei) e da Encarnação. Logo, está enraizado na maneira exata de como Deus</p><p>redimiu o mundo e em como o Senhor se revelou a nós.</p><p>Apesar desse elemento do mDNA ser tão decisivo como é, trata-se de um dos mais</p><p>facilmente negligenciados, porque é obscurecido por um pensamento muito sincero</p><p>formado em outro modelo e capturado por outra imaginação – o evangelístico-atrativo. É</p><p>difícil criticar a sinceridade genuína do alcance e evangelismo que visa o crescimento da</p><p>igreja. Em muitas coisas, ele está certo, parece certo e, por vezes, é muito eficiente. No</p><p>entanto, passei a acreditar não ser essa a maneira pela qual a igreja primitiva atuou,</p><p>tampouco está presente em outras expressões genuínas do Genoma Apostólico. Assim,</p><p>devemos criticá-la porque é o modelo evangelístico-atrativo que está nos impedindo de</p><p>experimentar o autêntico impulso que reverbera pelos movimentos apostólicos autênticos.</p><p>R����� ����������</p><p>Como vai contra a natureza de nossas práticas herdadas e arraigadas, é importante entender</p><p>bem a dinâmica teológica do impulso missional-encarnacional e as formas nas quais esses</p><p>dois fundamentos entrelaçados da teologia cristã essencial informam nossas práticas e</p><p>comportamentos.</p><p>A missão de Deus</p><p>No decorrer dos últimos quarenta e poucos anos, houve uma grande mudança na maneira</p><p>como nós vemos missão. Alguns definem tal mudança como sendo de uma missão centrada</p><p>na igreja para uma centrada em Deus, como faz Darrell Guder abaixo:</p><p>Passamos a perceber que missão não é apenas uma a�vidade da igreja. Pelo contrário, é o resultado da</p><p>inicia�va de Deus, enraizada nos propósitos de Deus para restaurar e curar a criação. Missão significa</p><p>“enviar” e é o tema central da Bíblia que descreve o propósito da ação do Senhor na história humana. A</p><p>missão de Deus começa com o chamado de Israel para receber a bênção do Senhor a fim de ser uma</p><p>bênção para as outras nações. A missão de Deus revelada na história do povo de Deus registrada nas</p><p>Escrituras ao longo dos séculos alcançou seu clímax revelador na encarnação da obra da salvação de Deus</p><p>em Jesus ministrando, crucificado e ressurreto. [...] Hoje, ela ainda con�nua no testemunho mundial do</p><p>Evangelho de Jesus Cristo de igrejas em todas as culturas.119</p><p>Guder conclui: “Aprendemos a falar sobre Deus como um ‘Deus missionário’. Portanto,</p><p>aprendemos a entender a igreja como o ‘povo enviado’. ‘Assim como o Pai me enviou, eu os</p><p>envio’ (Jo 20.21; cf. 5.36s, 6.44; 8.16-18; 17s)”.120 Assim como Deus enviou seu filho ao mundo,</p><p>também nós somos enviados ou simplesmente um povo missionário.</p><p>Esse “envio” está encarnado e vivo no impulso missional. Em essência, isso é um</p><p>movimento que liga exteriormente uma comunidade ou pessoa a outra. Trata-se do ímpeto</p><p>exterior enraizado na missão de Deus que compele a igreja a alcançar o mundo perdido.</p><p>Portanto, o genuíno impulso missionário é envio, e não, atração. O modelo de missão do NT é</p><p>centrífugo, ao invés de centrípeto, não podendo ser enfatizado ainda mais. Quando Jesus</p><p>compara o Reino de Deus às sementes sendo plantadas, ele não está brincando. Contudo,</p><p>aplicado a nossas práticas missionais, se assemelhará a isto:</p><p>Toda missão genuína é inspirada por isso, então, não deve parecer tão estranho para nós</p><p>(vire o gráfico e ele se parecerá com uma árvore genealógica espiritual). Talvez, o que não</p><p>seja tão familiar seja a aplicação dessa abordagem ao nosso próprio cenário. Temos a</p><p>tendência de ver missão como algo a realizarmos nas “nações pagãs” e não em nossa</p><p>própria nação. Nós evangelizamos aqui e fazemos missão lá. Isso tem sido corretamente</p><p>chamado de “mito geográfico”. Felizmente, está mudando.</p><p>No gráfico, podemos ver a natureza do impulso missional como um “espirro”. No</p><p>entanto, ele também nos permite visualizar exatamente como temos inibido esse movimento</p><p>fora do fluxo. O modelo de cristandade tende a engolir o impulso missional ao substituí-lo</p><p>pelo de atração. Então, embora a igreja local realize de modo genuíno formas de</p><p>evangelismo e alcance, pois mede a eficiência por meio do crescimento numérico,</p><p>programações melhores e aumento das instalações e recursos, ela precisa do impulso de</p><p>atração para suportá-la. A troca é sutil, mas profunda, e o efeito final é impedir</p><p>inconscientemente o movimento para fora que está embutido no Evangelho. Em vez de</p><p>serem plantadas ao vento, as sementes são colocadas em depósitos eclesiásticos, acabando,</p><p>assim, efetivamente com o propósito para o qual foram feitas.121 Ou, retomando a metáfora</p><p>do espirro, nós seguramos o “espirro” quando, primeiramente reprimimos o impulso de</p><p>espirrar. Por isso, o modelo de atração praticamente não pode ter a esperança de impactar</p><p>outras culturas como os movimentos de Jesus foram capazes de fazer.</p><p>A encarnação</p><p>João 1.1-18 forma o texto bíblico central e definitivo que narra para nós a maravilhosa vinda</p><p>de Deus na história da humanidade. Porém, esse texto está longe de ser aquele que</p><p>investigará o mistério. Todos os cristãos admitem que, em Jesus Cristo, Deus se fez</p><p>totalmente presente e veio para o nosso meio em um ato de amor humilde como o mundo</p><p>jamais conheceu.</p><p>Quando falamos a respeito da Encarnação com “E” maiúsculo, nos referimos à humildade e ao ato de amor</p><p>sublime realizado por Deus para entrar nas profundezas do nosso mundo, da nossa vida e da nossa</p><p>realidade, a fim de que a redenção e a consequente união entre Deus e a humanidade pudesse ocorrer.</p><p>Essa “materialização carnal” de Deus é tão radical e total a ponto de qualificar todos os atos subsequentes</p><p>de Deus em seu mundo.122</p><p>Quando Deus veio para o nosso mundo em e por intermédio de Jesus, o Eterno se mudou</p><p>para a vizinhança e habitou entre nós (João 1.14). E o impulso verdadeiro da encarnação, até</p><p>onde conseguimos nos aprofundar nesse mistério, foi que, ao se tornar um de nós, Deus</p><p>pôde alcançar a redenção para a raça humana. No entanto, a Encarnação, e a obra de Cristo</p><p>resultante disso, conquistou mais do que nossa salvação; foi um ato de profunda afinidade,</p><p>uma identificação radical com tudo o que significa ser humano – um ato que revela todo o</p><p>potencial presente no ser com o qual se identifica. Contudo, além da identificação, está a</p><p>revelação: levando sobre si todos os aspectos da humanidade, Jesus é para nós literalmente a</p><p>imagem humana de Deus. Se quisermos saber como o Senhor é, não precisamos olhar nada</p><p>além de Jesus. Podemos compreendê-lo porque ele é um de nós. Ele nos conhece e pode nos</p><p>mostrar o caminho.</p><p>Além disso, podemos identificar, no mínimo, quatro dimensões que estruturam nossa</p><p>compreensão a respeito da Encarnação de Deus em Jesus, o Messias.123 São elas:</p><p>Presença: Em Jesus, o Deus eterno está totalmente presente em nós. Jesus não foi um</p><p>mero representante ou profeta enviado da parte do Senhor; ele era Deus em carne (João</p><p>1.1-15; Cl 2.9).</p><p>Proximidade: Deus, em Cristo, se aproxima de nós não apenas de maneira que sejamos</p><p>capazes de compreender, mas de maneira que possamos ter acesso. Ele não chamou o</p><p>povo apenas ao arrependimento e proclamou a presença direta de Deus (Mc 1.15), mas</p><p>ajudou as pessoas marginalizadas e viveu próximo ao fraco e ao “perdido” (Lc 19.10).</p><p>Impotência: Ao se tornar “um de nós”, Deus toma a forma de um servo e não de alguém</p><p>que governa sobre nós (Fp 2.6ss.; Lc 22.25-27). Ele não nos atordoa com som e shows a</p><p>laser, mas vive como um humilde carpinteiro na afastada Galileia por 30 anos antes de</p><p>ativar seu destino messiânico. Agindo dessa forma, ele evita todas as noções normais do</p><p>poder coercivo e demonstra a nós como o amor e a humildade (impotência) refletem a</p><p>verdadeira natureza de Deus e são a chave para transformar a sociedade humana.</p><p>Proclamação: A presença de Deus não dignificou apenas tudo o que é humano, mas</p><p>proclamou o Reino de Deus e chamou o povo para responder em arrependimento e fé.</p><p>Assim, ele inicia o convite do Evangelho, que está ativo desde aquele dia.</p><p>Talvez possamos ilustrar essas dimensões da seguinte maneira:</p><p>O estilo de vida encarnacional</p><p>A Encarnação não só qualifica os atos de Deus no mundo, mas também deve qualificar os</p><p>nossos. A principal maneira do Senhor alcançar seu mundo foi encarnar-se em Jesus, logo,</p><p>nossa maneira de alcançar o mundo deve ser igualmente encarnacional. Portanto, agir de</p><p>forma encarnacional significa, em parte, que durante nossa missão com os de fora da fé,</p><p>precisaremos exercitar a identificação genuína e afinidade com quem estamos tentando</p><p>alcançar. No mínimo, isso significará provavelmente mudar para uma geografia/espaço</p><p>comum e, então, estabelecer uma presença real e contínua entre o grupo. No entanto, o</p><p>motivo básico do ministério da encarnação é também revelador, a fim de que possam vir a</p><p>conhecer Deus por intermédio de Jesus.</p><p>Dizer que a Encarnação deve informar todas as dimensões da vida individual e comum é,</p><p>por certo, uma indicação incompleta. Ao se tornar um de nós, Deus nos concedeu o modelo</p><p>arquetípico de como a verdadeira humanidade e, por implicação, a verdadeira comunidade,</p><p>devem se parecer e se comportar. Isso tem implicações maiores para nossas vidas, bem</p><p>como para nossa missão. Logo, utilizando a mesma grade, faremos a aplicação para a</p><p>missão do povo de Deus.</p><p>Presença: O fato de Deus ter estado na região de Nazaré por 30 anos sem ninguém ter</p><p>notado deve ser profundamente inquietante para o nosso estilo normal de missão</p><p>envolvente. Isso não tem apenas implicações para nossa afirmação de vida humana</p><p>normal, diz respeito ao tempo, bem como ao relativo anonimato das formas da</p><p>encarnação de comprometer-se com a missão. Há tempo para as abordagens impetuosas</p><p>relacionadas à missão, mas também há tempo para simplesmente tornar-se parte da</p><p>formação inicial de uma comunidade e comprometer-se com a humanidade. Além disso,</p><p>a ideia da presença destaca o papel dos relacionamentos na missão. Se o relacionamento</p><p>é a chave, implica a transmissão do Evangelho, logo, significa apenas que teremos que</p><p>ser diretamente presentes para as pessoas ao nosso redor. Nossas próprias vidas são</p><p>nossas mensagens e não podemos nos retirar da equação da missão. No entanto, uma</p><p>das implicações profundas de nossa presença como representantes de Jesus é que, na</p><p>verdade, Jesus gosta de conviver com as pessoas com as quais nós convivemos. Elas</p><p>captam a mensagem implícita de que Deus, na realidade, gosta delas.</p><p>Proximidade: Jesus se misturou com pessoas de todos os níveis da sociedade. Ele comeu</p><p>com fariseus, com cobradores de impostos e com prostitutas. Se temos que seguir seus</p><p>passos, seu povo precisará estar direta e ativamente envolvido na vida das pessoas que</p><p>buscamos alcançar. Isso supõe não apenas a presença, mas também a disponibilidade</p><p>genuína que envolverá espontaneidade, bem como regularidade nas amizades e</p><p>comunidades nas quais residimos.</p><p>Impotência: Ao buscar agir como Cristo, não podemos confiar nas formas normais de</p><p>poder para transmitir o Evangelho, porém, temos que assumir o modelo de Jesus com</p><p>absoluta seriedade (Mt 20.25-28; Fp 2.5ss).124 Isso nos compromete à servidão e à</p><p>humildade em nossos relacionamentos uns com os outros e com o mundo. Infelizmente,</p><p>a maior parte da história da igreja mostra como assimilamos pouco sobre esse aspecto da</p><p>semelhança encarnacional a Cristo em nosso entendimento sobre igreja, liderança e</p><p>missão.</p><p>Proclamação: O convite do Evangelho começou no ministério de Jesus e permanece vivo</p><p>e ativo até os dias de hoje. A genuína abordagem encarnacional exigirá que estejamos</p><p>sempre dispostos a compartilhar a história do Evangelho com as pessoas do nosso</p><p>mundo. Não podemos simplesmente retirar esse aspecto da equação de missão e</p><p>permanecermos fiéis ao nosso chamado no mundo. Basicamente, somos a “tribo da</p><p>mensagem” e isso significa que devemos garantir a transmissão fiel da mensagem que</p><p>levamos por meio da proclamação.</p><p>Ao viver de forma encarnacional, não apenas moldamos o padrão da humanidade</p><p>estabelecido na Encarnação, mas também, damos espaço para a missão acontecer de</p><p>maneira orgânica. Dessa forma, a missão torna-se algo que “se encaixa” perfeitamente aos</p><p>ritmos comuns da vida, amizades e comunidade, portanto, é completamente contextualizada.</p><p>Logo, essas “práticas” formam uma base de trabalho para uma genuína missão</p><p>encarnacional, porém, elas também nos concedem um ponto de entrada para uma</p><p>experiência autêntica de Jesus e sua missão. Lindy Croucher, uma missionária aos pobres</p><p>em uma ordem chamada UNOH, compara o viver encarnacionalmente à cena de Mary</p><p>Poppins, na qual Mary pega as mãos das crianças e caminha em direção à pintura. Lindy diz</p><p>que, para ela, a</p><p>missão encarnacional tem sido como “caminhar em direção aos</p><p>Evangelhos”. Ela sente que está vivendo dentro dos Evangelhos pela primeira vez.125</p><p>Portanto, a encarnação deve informar a maneira como nos comprometemos com o</p><p>complexo mundo multicultural ao nosso redor. Os membros da InnerChange (uma ordem</p><p>missional entre os pobres) em São Francisco, Los Angeles, Vietnã e Camboja leva isso muito</p><p>a sério. Não apenas porque trabalham com os pobres e essa identificação com as pessoas em</p><p>sua pobreza seja essencial para um diálogo significativo com elas, mas também porque é</p><p>totalmente bíblico. Reflete inteiramente os meios do próprio Deus de nos alcançar. A fim de</p><p>se identificarem com os pobres, todos os funcionários da InnerChange vivem,</p><p>voluntariamente, abaixo da linha da pobreza, gastam 80% de seu tempo na vizinhança e</p><p>trabalham para se sustentarem, para que as pessoas não possam dizer: “Vocês são pagos</p><p>para estar entre nós”. Eles também implantam comunidades de fé locais que se tornam</p><p>parte genuína de vários grupos de pessoas que estão tentando alcançar.</p><p>Esta prática de encarnar o Evangelho faz parte de alguns dos movimentos de pessoas</p><p>mais marcantes hoje. O God’s Squad, ordem missionária que faz missão entre as gangues de</p><p>motoqueiros criminosos, adota a mesma abordagem. Ao longo dos anos, eles se tornaram</p><p>parte real da estrutura da subcultura e estão lá quando as pessoas falam sobre Deus, Jesus e</p><p>sentido, pois todos o fazem a sua própria maneira. Eles trouxeram Jesus para a imaginação</p><p>da cultura clandestina de motoqueiros, da qual são parte vital. No entanto, essa prática não</p><p>precisa ser limitada a subculturas, aos pobres e a grupos étnicos. Deve tornar-se parte de</p><p>nossa prática em lidar com as muitas pessoas existentes em torno de nós na vida cotidiana.</p><p>Hoje, há mais de 60 igrejas-bares na Austrália e, sem dúvida, muito mais no Reino Unido e</p><p>nos Estados Unidos. No desejo de encarnar o Evangelho em um bar, podemos perceber o</p><p>mesmo impulso na obra.</p><p>O ministério encarnacional basicamente significa levar a igreja até as pessoas ao invés de</p><p>trazer as pessoas para a igreja. Em São Francisco, um renomado missionário urbano</p><p>chamado Mark Scandre�e agregou os “4 Ps” da prática encarnacional em sua vizinhança.</p><p>Sendo parte ativa de inúmeros grupos locais de artistas, ativistas comunitários e de</p><p>negócios, ele traz a presença de Jesus para a vida das pessoas, significativamente afastado</p><p>da igreja como elas a conhecem. É difícil medir seu ministério em termos puramente</p><p>numéricos, porém, o que é inconfundível é que este ministério inestimável trouxe o Reino</p><p>de Deus para muito mais perto de diversas pessoas não frequentadoras de igreja do que</p><p>antes.</p><p>Na região de Sea�le/Tacoma, duas igrejas (Soma e Zoë) optaram por colaborar em</p><p>alcançar estudantes e músicos, inserindo-se ativamente nos ritmos sociais desses grupos e</p><p>“desigrejando” suas expressões anteriores de ministério. A fim de fazer isso, elas alugaram e</p><p>compraram imóveis, abriram bares noturnos, cafés e fundaram estúdios de gravação com</p><p>ligação direta com vários músicos da região. Zoë, em particular, tomou medidas drásticas</p><p>para limitar o apelo atrativo do ministério com o intuito de desacostumar os membros da</p><p>frequência consumidora no “culto” e para envolvê-los nas expressões locais de missão.</p><p>Enquanto a frequência passiva nos cultos está baixa, a comunidade agora está muito</p><p>comprometida com diversas expressões da comunidade local, e o alcance missional cresceu</p><p>de modo significativo por meio das práticas encarnacionais. Todos sentem que agora estão</p><p>mais próximos do que significa ser discípulo na comunidade.</p><p>Os Navigators, nos Estados Unidos, estão passando por uma grande reformulação de</p><p>pensamento em torno das abordagens missionais. Um dos mais novos braços do movimento</p><p>chama-se Be�erTogether (melhor juntos) ou apena B2G.</p><p>Liderados pelo visionário Gary Bradley, grupos de amigos estão se unindo para levar o</p><p>Evangelho de Jesus e seu Reino para os ambientes diários como canais de graça e bênção.</p><p>Alertas para onde Deus está trabalhando, seu objetivo é unir-se a ele nas realidades do</p><p>discipulado no contexto missional. O credo deles? “Exatamente onde você está, Deus está</p><p>agindo para retirar as pessoas das trevas, do risco e conectá-las à realidade de conhecer</p><p>Cristo.” Eles também viam o desenvolvimento da encarnação das comunidades</p><p>transformadas em cada esfera da vida. O objetivo de Gary é “ver a história de Jesus</p><p>plantada de novas maneiras entre as próximas gerações”.126</p><p>Em Melbourne, uma grande igreja Pentecostal vendeu sua propriedade e imóveis</p><p>principais para investir em um shopping center local e tornar-se uma presença direta e ativa</p><p>no coração da vida social urbana. No shopping, ela será totalmente responsável por criar a</p><p>estrutura social e injetar espiritualidade em todos os aspectos cruéis da vida moderna. Ela</p><p>não é apenas um investidor financeiro de um projeto lucrativo, mas, no sentido real, estão</p><p>trazendo o Reino para lugares onde as pessoas estão presentes diariamente. A adoração e</p><p>presença cristã chegaram a um espaço público.127</p><p>Estas são somente algumas das muitas maneiras pelas quais as pessoas, igrejas e agências</p><p>missionais estão se afastando da segurança da igreja atrativa e se comprometendo de forma</p><p>missional e encarnacional. O efeito final dessas várias expressões de missão encarnacional é</p><p>semear o Evangelho em áreas locais ou grupos de pessoas, e assim, torná-lo parte da</p><p>estrutura intrínseca da cultura. Além disso, a presença encarnacional genuína proporciona</p><p>um profundo sentido pessoal à missão, bem como gera credibilidade para a proclamação e</p><p>resposta. Jamais devemos subestimar o poder das práticas encarnacionais de trazer o</p><p>Evangelho para perto de qualquer grupo de pessoas.</p><p>Por outro lado, distorcemos o significado da missão encarnacional quando, como</p><p>missionários ocidentais, impusemos modelos denominacionais insipientes para nações do</p><p>Terceiro Mundo. Isso não só diminui a validade da cultura local como separa os cristãos</p><p>locais de sua vizinhança cultural ao transpor uma expressão cultural ocidental em lugar das</p><p>locais. O resultado final é um homem negro pobre no meio da selva na África, vestido com</p><p>túnicas do lado de fora de uma igreja em estilo gótico, chamando as pessoas para adorarem</p><p>de maneiras que raramente fazem sentido até mesmo para as culturas que as iniciaram.</p><p>Nesses casos, nenhuma tentativa é feita para contextualizar (localizar) o Evangelho, nem a</p><p>igreja e, ainda assim, queremos saber por que têm tão pouco efeito duradouro nas</p><p>populações vizinhas. Embora o erro seja mais fácil de ser descoberto no meio da África,</p><p>fazemos a mesma coisa por todo o Ocidente altamente tribalizado hoje.</p><p>Impulsos encarnacionais</p><p>É demais para as dinâmicas locais de missão encarnacional. Quando olhamos para os</p><p>modelos criados pela prática encarnacional ao longo do tempo, vemos algo realmente</p><p>importante, algo que nos leva direto ao Genoma Apostólico. Até onde se sabe a respeito dos</p><p>impulsos missionais dos marcantes movimentos de Jesus, descobrimos que as práticas</p><p>encarnacionais são todas sobre fixar e aprofundar o Evangelho em todo grupo de pessoas,</p><p>assim, elas também podem se tornar povo de Deus. Então, em forma de diagrama, o</p><p>impulso encarnacional será algo parecido com isto:</p><p>Ao agir de modo encarnacional, os missionários asseguram que as pessoas de qualquer</p><p>tribo abracem o Evangelho e o vivam de maneira que seja significativo para sua tribo. Logo, a</p><p>cultura como um todo encontra sua inteireza e redenção em Jesus. Portanto, o Evangelho</p><p>transforma a tribo de dentro para fora, por assim dizer. Em Apocalipse 21–22, somos</p><p>lembrados que durante a grande redenção haverá uma expressão genuína da cultura</p><p>redimida, quando pessoas de todas as tribos, de diferentes línguas e nações, louvarão a</p><p>Deus pelo que fez por elas. É a partir de dentro de suas próprias expressões culturais que as</p><p>nações adorarão.</p><p>M��������-�������������</p><p>O impulso encarnacional obtém sua inspiração a partir da Encarnação, e o impulso missional</p><p>é energizado pela missão de</p><p>Deus. Nas perigosas histórias dos fenomenais movimentos de</p><p>Jesus, esses impulsos se uniram de maneira eficiente para formar uma única abordagem, ou</p><p>seja, o impulso missional-encarnacional. Essa ação dois em um opera de maneira muito</p><p>parecida com as lâminas da tesoura que a tornam uma eficiente ferramenta de corte. Isso é</p><p>tão vital para os movimentos missionais que passei a acreditar ser este um dos elementos</p><p>mais claramente identificáveis do Genoma Apostólico e, portanto, intrínseco à igreja em sua</p><p>forma apostólica. Assim, essa fusão dos impulsos missional e encarnacional será parecida</p><p>com isto:</p><p>Conforme a missão se expande, o Evangelho também é semeado na cultura local. O que</p><p>conseguimos são comunidades de fé que formam uma parte real da cultura a que</p><p>pertencem, sendo também missionais. Uma após outra, elas ampliam a missão recebida ao</p><p>iniciar novos trabalhos missionários para diferentes tribos e grupos de pessoas. Se isso soa</p><p>um pouco teórico, de forma concreta, assemelha-se a Church Multiplication Associates, Urban</p><p>Neighbours of Hope, God’s Squad, InnerChange, Be�erTogether, Stadia e muitos outros</p><p>movimentos que levam essa abordagem a sério. O diagrama ilustra de forma clara as ações</p><p>desses e de outros movimentos que seguem o impulso, ainda que não usem a linguagem</p><p>utilizada neste livro. Certamente, trata-se de um aspecto dos movimentos fenomenais do</p><p>cristianismo primitivo e da China.</p><p>Vamos experimentar e realizar algumas dessas implicações.</p><p>Fazer bebês é divertido</p><p>Em primeiro lugar, não é difícil perceber que a capacidade de reprodução da igreja está</p><p>diretamente ligada a esse impulso. Não é coincidência que pareça muito semelhante à forma</p><p>como todos os sistemas orgânicos se reproduzem e procriam. (Parece uma genealogia, não</p><p>parece?) Exploraremos isso mais adiante quando analisarmos o mDNA chamado sistemas</p><p>orgânicos, porém, é importante observar neste momento que aqui se encontra o impulso</p><p>para a semeadura e reprodução do povo de Deus em toda cultura e grupo de pessoas. Nessa</p><p>visão, cada unidade da igreja pode ser concebida como um saco cheio de sementes: cada</p><p>igreja “engravida” de outras igrejas. E é seguindo esse impulso que a igreja apostólica</p><p>cresce. Frustrar esse impulso é impedir a capacidade de reprodução nata da igreja.</p><p>Se você pensar a respeito, essa é realmente a maneira como todos os poderosos</p><p>movimentos começam. Inicia com um grupo de pessoas apaixonadas por uma causa que se</p><p>reproduz por meio dos sistemas de multiplicação. É totalmente consistente com a teoria de</p><p>como os novos movimentos começam, porém, infelizmente, não da forma como terminam.</p><p>Alguma coisa acontece quando tentamos controlar demais as coisas que servem para</p><p>prender o poder da multiplicação, e o movimento passa para a adição e, depois, para a</p><p>subtração. Foi exatamente isso o que aconteceu no movimento revolucionário de Wesley,</p><p>por exemplo. O wesleyanismo foi de grande influência quando era um movimento de</p><p>pessoas que estava se reproduzindo como louco. Por fim, se centralizou e, quando as</p><p>pessoas buscaram controlar o que estava acontecendo, ele perdeu muito de seu poder de</p><p>realmente mudar o mundo.</p><p>Neil Cole relata que somente 4% das igrejas batistas do sul dos Estados Unidos plantarão</p><p>uma igreja-filha. Inferindo pelas denominações, isso significa que 96% das igrejas</p><p>convencionais nos Estados Unidos jamais darão à luz.128 Cole prossegue:</p><p>Muitos acham que está tudo bem. Ouvi pessoas dizerem: “Temos muitas igrejas. Existem igrejas em todos</p><p>os lugares que estão vazias, por que começarmos outras novas? Não precisamos de mais igrejas, mas sim,</p><p>de igrejas melhores”. Você consegue imaginar tal afirmação sendo feita com relação às pessoas? “Temos</p><p>muitas pessoas. Não precisamos de mais, mas sim, de pessoas melhores. Por que ter mais bebês?” Este é</p><p>um pensamento de curto alcance. Não importa o quanto você ache que a população do mundo está</p><p>grande, estamos apenas a uma geração da ex�nção se não �vermos bebês. [...] Imagine os no�ciários se,</p><p>de repente, fosse descoberto que 96% das mulheres nos Estados Unidos não fossem mais férteis e não</p><p>pudessem ter bebês. No mesmo instante, saberíamos de duas coisas: isso não é natural, logo, há alguma</p><p>coisa errada com a saúde delas. Saberíamos também que nosso futuro corre sério perigo”.129</p><p>O impulso missional-encarnacional é um indicador fundamental da saúde da igreja.</p><p>Entrando no ritmo das coisas</p><p>Em segundo lugar, o impulso missional-encarnacional exige que, como missionários do</p><p>Ocidente, busquemos fixar o Evangelho e, por extensão, a igreja, de modo que se tornem um</p><p>verdadeiro elemento orgânico da estrutura da comunidade anfitriã. Considerando que o</p><p>impulso missional significa que sempre levaremos a sério os grupos de pessoas como</p><p>diferentes sistemas culturais, o impulso encarnacional exigirá que sempre levemos a sério a</p><p>cultura específica do grupo de pessoas – sério o bastante para desenvolver uma comunidade</p><p>de fé que seja verdadeira com o Evangelho e relevante para a cultura que está buscando</p><p>evangelizar. Esse é o significado de contextualizar o Evangelho e a igreja. Quando</p><p>antecipamos a missão com um modelo cultural específico, não podemos evitar a simples</p><p>imposição de uma noção pré-fabricada da igreja em uma determinada comunidade. A partir</p><p>daí, a igreja sempre permanece, de alguma forma, alienada dentro da comunidade maior.</p><p>Ainda mais poderosa é a abordagem indicadora de que temos que buscar desenvolver</p><p>genuínas comunidades de Jesus em meio às pessoas, comunidades que busquem se tornar</p><p>parte funcional da cultura existente e da vida daquele grupo. Uma forma genuinamente</p><p>missional de igreja buscará compreender de dentro os problemas enfrentados pelas pessoas:</p><p>o que as estimula, o que as afasta, o que Deus significa para elas e onde buscam a redenção.</p><p>Procurará observar e entender o ritmo social, bem como as redes de relacionamento do</p><p>grupo que está tentando alcançar. Buscará estimar onde e como elas se reúnem, como tais</p><p>encontros se parecem e o que desejam e, então, tentará articular o Evangelho e a</p><p>comunidade de fé nesses grupos de modo a tornar-se parte genuína da cultura, não algo</p><p>artificial e estranho a ela. A abordagem missional-encarnacional exige identificação com o</p><p>grupo local de pessoas, sensibilidade cultural e inovação corajosa para cumprir de forma</p><p>autêntica sua missão.</p><p>Como diz respeito à cultura e integridade de um grupo de pessoas, a prática missional-</p><p>encarnacional intensifica a estrutura relacional de determinada cultura anfitriã. Isso é</p><p>importante porque o Evangelho e, portanto, o processo de conversão, sempre percorre a</p><p>estrutura relacional de determinada cultura local. Addison observa que os relacionamentos</p><p>pré-existentes são um fator crítico para o crescimento exponencial de um movimento. “Os</p><p>novos movimentos religiosos fracassam quando se tornam redes fechadas ou semifechadas.</p><p>Para um crescimento exponencial contínuo, um movimento deve manter relacionamentos</p><p>abertos com os de fora. Precisam alcançar novas redes sociais adjacentes.”130 Stark</p><p>argumenta que, conforme os movimentos crescem, sua “superfície social” expande</p><p>consideravelmente. Cada membro novo abre novas redes de relacionamento entre o</p><p>movimento e membros em potencial, fazendo com que o movimento continue sendo um</p><p>sistema aberto. As formas de redes sociais serão diferentes de cultura para cultura, “no</p><p>entanto, pessoas constituem estruturas de ligações interpessoais diretas, essas estruturas</p><p>definirão as linhas por meio das quais a conversão procede de modo mais fácil”.131</p><p>Há muitas experiências maravilhosas nessa abordagem ocorrendo por todo o Ocidente.</p><p>Por exemplo, uma nova florescência disso está sendo expressa no ambiente familiar</p><p>suburbano de Perth por um maravilhoso grupo de cristãos tradicionais que usam o nome</p><p>Upstream Communities (chamado antigamente de Backyard Missionaries). Por meio do</p><p>comprometimento de ser semelhante a Cristo e servir sua comunidade, um grupo</p><p>relativamente pequeno de pessoas teve impacto significativo em sua vizinhança. Muitas</p><p>igrejas estabelecidas também estão</p><p>se adaptando às novas condições pela total reformulação</p><p>de seus edifícios e recursos para permitir uma participação mais genuína da comunidade</p><p>mais ampla ao redor, por exemplo, instalações esportivas, centros de aprendizagem, cafés e</p><p>centros médicos. Tive o privilégio de viajar com igrejas bem estabelecidas que venderam</p><p>suas propriedades e compraram outras em shopping centers e ruas principais. Uma delas</p><p>comprou um clube noturno e o está transformando em um centro comunitário. Outras ainda</p><p>adotaram uma abordagem de estilo mais movimentado. Por exemplo, por meio do Missio,</p><p>um movimento de plantação de igreja e centro de treinamento com base em Denver, essa</p><p>abordagem missional-encarnacional está sendo introduzida nos plantadores de igreja desde</p><p>o início. O líder do Missio, Hugh Halter, diz o seguinte:132</p><p>Mudamos de um “modelo atrativo” para uma abordagem “comunidade encarnacional”.</p><p>Limitamos o crescimento por transferência e criamos o momento a partir de uma</p><p>cultura espiritualmente curiosa.</p><p>Aprendemos como “encarnar” o Evangelho de modo a fazer sentido aos santos e</p><p>peregrinos.</p><p>Levamos grandes valores a uma cultura sem valor: sem necessidade de “cultos para os</p><p>que buscam”.</p><p>Estruturamos nossas vidas como líderes, nosso dinheiro e as pessoas de forma a</p><p>impulsionar a atividade missional.</p><p>Mas esse etos parece ser um fator importante esquecido na maneira pela qual a maioria</p><p>das igrejas locais geralmente se compromete com seu contexto. Assim, sua influência e</p><p>impacto em potencial são minimizados. A igreja atrativa não apenas trava o impulso</p><p>exterior do movimento de Jesus como tende a invalidar também o impulso encarnacional. A</p><p>igreja atrativa exige que, a fim de ouvir o Evangelho, as pessoas venham até nós, em nosso</p><p>território e em nossa zona cultural. Na realidade, devem se tornar uma de nós se quiserem</p><p>seguir Cristo. Não posso enfatizar o quão profundamente alienante isso é para a maioria das</p><p>pessoas não cristãs que, de modo geral, estão felizes por explorar Jesus, mas não querem ser</p><p>particularmente “igrejadas” no processo. O modo bíblico, por outro lado, não é trazer as</p><p>pessoas para a igreja, mas levar Jesus (e a igreja) para as pessoas.</p><p>E����������� ��������� ��... C�������� �� ������ ����</p><p>����������� �� �������� �����</p><p>Outra parte fundamental desse aspecto do mDNA está relacionada ao fluxo teológico e</p><p>metodológico da igreja missional. Na Forge Mission Training Network, um sistema de</p><p>treinamento de liderança missional do qual faço parte, trabalhamos duro para fixar a</p><p>seguinte “fórmula” para o comprometimento com a missão na cultura pós-cristã: a cristologia</p><p>determina a missiologia, e a missiologia determina a eclesiologia. Essa é apenas uma maneira</p><p>inteligente de dizer que, a fim de tomarmos a posição correta como movimento missional,</p><p>primeiro precisamos retornar para o fundador do cristianismo e, feito isso, recalibrar nossa</p><p>abordagem desse ponto em diante. A missão cristã sempre começa com Jesus e é definida</p><p>por ele. Jesus é nosso ponto de referência constante – nós sempre começamos e sempre</p><p>terminamos com ele. É Jesus quem determina a missão da igreja no mundo e, portanto,</p><p>nosso sentido de propósito e missão vem de sermos enviados por ele ao mundo.133</p><p>Quando voltamos a Jesus e aprendemos a respeito do comprometimento missional a</p><p>partir dele, descobrimos uma maneira totalmente nova a seu respeito. Redescobrimos</p><p>aquele estranho tipo de santidade tão atraente para as pessoas não religiosas e tão ofensivo</p><p>para as religiosas. Moro no distrito da zona de prostituição e drogas de Melbourne e, com</p><p>base em minha experiência, essas pessoas não gostam de cristãos; contudo, nos dias de</p><p>Jesus, elas gostavam de estar com Cristo e ele com elas. Isso tem que significar alguma coisa</p><p>para nós. Sugiro que, dentro do contexto missional, devemos reaprender o “como fazer”</p><p>sobre missão com ele. Com Jesus, aprendemos como nos comprometer com as pessoas de</p><p>uma maneira totalmente nova e “desigrejada”. Ele andou com “pecadores” e frequentou os</p><p>bares de seus dias (Mt 11.19). Abertamente festejou, jejuou, celebrou, profetizou e lamentou</p><p>de modo a tornar o Reino de Deus acessível e atrativo para as pessoas comuns. Está de volta</p><p>a Jesus por nós.</p><p>Não só nosso propósito é definido pela pessoa e obra de Jesus, mas nossa metodologia</p><p>também. Nosso propósito estabelece a agenda de nossa missiologia. Nossa missiologia</p><p>(nosso sentido de propósito no mundo) deve, então, prosseguir para informar a natureza e</p><p>funções, bem como as formas, de igreja. Em minha opinião, é absolutamente vital que</p><p>coloquemos na ordem correta. É Cristo quem determina nosso propósito e missão no</p><p>mundo, assim, é nossa missão que deve dirigir nossa busca por modelos de como “estar no</p><p>mundo”. Ele pode ser representado da seguinte forma:</p><p>A igreja vem depois da missão</p><p>Por minha leitura das Escrituras, a eclesiologia é a mais fluida das doutrinas. A igreja é uma</p><p>expressão cultural dinâmica do povo de Deus em qualquer lugar. O estilo de adoração, as</p><p>dinâmicas sociais e expressões litúrgicas devem resultar do processo de contextualização do</p><p>Evangelho em qualquer cultura. A igreja deve vir depois da missão.134 Os líderes que dirigem a</p><p>igreja da Inglaterra, na busca pela recuperação da condição missional, encorajam os</p><p>plantadores de igreja a garantir que as perguntas da missão levem às respostas da igreja, e</p><p>não o contrário. “Aqueles que começam as perguntas sobre o relacionamento para a igreja</p><p>existente já cometem o mais comum e perigoso erro. Comece com a igreja e a missão</p><p>provavelmente será perdida. Comece com a missão e a igreja provavelmente será</p><p>fundada.”135 Em primeiro lugar, nós nos comprometemos com a missão encarnacional, e a</p><p>igreja, por assim dizer, vem a seguir. No entanto, se consistente com as práticas</p><p>encarnacionais, essa igreja tomará a forma do grupo cultural que está tentando alcançar. A</p><p>missão no modelo encarnacional é muito mais sensível às formas culturais e ritmos de um</p><p>grupo de pessoas, pois esses são os meios de relacionamento significativos e de influência.</p><p>Portanto, a missão encarnacional compromete as pessoas de dentro de sua expressão</p><p>cultural. Uma vez que, ao ouvir com atenção, a observação, a ligação e a rede de contatos</p><p>missionais essenciais são realizadas, então, a formação das comunidades de Jesus pode</p><p>acontecer. Essa é a única forma de assegurar que a comunidade cristã encarne-se</p><p>verdadeiramente e esteja totalmente contextualizada. Isso pode ser representado em forma</p><p>de diagrama como está a seguir:</p><p>Somente dessa maneira a igreja pode, na verdade, tornar-se parte da estrutura cultural e</p><p>dos ritmos sociais da comunidade anfitriã. Uma vez alcançado isso, pode, portanto,</p><p>influenciar a partir de dentro. Não importa qual grupo seja. Em nossa vizinhança, existem</p><p>literalmente centenas de “tribos” diferentes que podem ser alcançadas de forma significativa</p><p>por tais meios. Por meio da abordagem missional-encarnacional, Jesus é introduzido na</p><p>imaginação e conversa das pessoas de uma forma realmente evocativa.</p><p>Third Place Communities (TPC): Um caso característico do impulso</p><p>missional-encarnacional</p><p>Para encerrarmos essa exploração sobre o impulso missional-encarnacional, é importante</p><p>analisarmos o excelente exemplo de um grupo de pessoas impetuosas realizando-o em</p><p>todos os contextos sociais possíveis nos quais se encontravam. A história é sobre a Third</p><p>Place Communities (TPC), uma agência missionária estabelecida para encarnar as</p><p>comunidades de Jesus no terceiro setor. Para aqueles que não têm conhecimento do termo,</p><p>nosso primeiro setor é a casa, o segundo é o trabalho/escola e o terceiro é onde passamos</p><p>nosso tempo livre. Qualquer lugar onde as pessoas se reúnam por razões sociais pode ser</p><p>um bom lugar para o comprometimento missional. O terceiro setor são bares, cafés, clubes,</p><p>centros esportivos, etc. Para essas comunidades, a “igreja” inicia onde elas estão. Por meio</p><p>dessa abordagem, a TPC teve impacto significativo em Hobart (Austrália) apenas saindo e</p><p>sendo o povo de Deus em lugares públicos. A grande maioria das pessoas que passam</p><p>ministros estrangeiros, nacionalizou</p><p>todas as propriedades eclesiásticas, matou todos os líderes seniores e matou ou prendeu</p><p>todos os líderes do segundo ou terceiro graus, proibiu todos os encontros públicos de</p><p>cristãos sob ameaça de morte ou tortura e, a seguir, continuou a cometer uma das mais</p><p>cruéis perseguições a cristãos registradas na história.</p><p>O objetivo explícito da Revolução Cultural era eliminar o cristianismo (e todas as</p><p>religiões) da China. Ao final do reinado de Mao e de seu sistema no fim dos anos 70 e do</p><p>subsequente levantamento da chamada Cortina de Bambu no início dos anos 80, foi</p><p>permitido que os missionários estrangeiros e os oficiais da igreja retornassem para seu país,</p><p>embora sob rígida supervisão. Eles esperavam encontrar uma igreja dizimada e discípulos</p><p>fracos e abatidos. Mas, pelo contrário, descobriram que o cristianismo tinha florescido além</p><p>do que se imaginava. A estimativa, naquela época, era de cerca de 60 milhões de cristãos na</p><p>China, e aumentando! Desde então, vem crescendo de modo significativo. David Aikman,</p><p>ex-chefe de departamento da revista Time em Pequim, sugere em seu livro Jesus in Beijing</p><p>(Washington: Regenery Publishing, 2006) que os cristãos devem contar mais de 80 milhões.4</p><p>De fato, o fenômeno chinês que estamos observando é o movimento cristão de maior</p><p>transformação significativa na história da igreja. Lembre-se: não diferente da primeira igreja,</p><p>essas pessoas tinham pouquíssimas Bíblias (às vezes, compartilhavam apenas uma página</p><p>no culto caseiro e, então, trocavam-na com outro grupo caseiro). Elas não tinham um clero</p><p>profissional, estruturas oficiais de liderança, organização central nem reuniões em massa, e,</p><p>mesmo assim, cresceram muito rapidamente. Como isso é possível? Como eles fizeram isso?</p><p>5</p><p>Porém, podemos observar padrões de crescimento semelhantes em outros movimentos</p><p>históricos. Steve observa que, ao final da vida de John Wesley, um em cada trinta homens ou</p><p>mulheres ingleses se tornava metodista.6 Em 1776, menos de 2% dos americanos eram</p><p>metodistas. Em 1850, o movimento declarou fidelidade de 34% da população. Como fizeram</p><p>isso? O século 20 presenciou o aumento do pentecostalismo como um dos movimentos</p><p>missionário de crescimento mais rápido na história da igreja. O movimento cresceu de um</p><p>número modesto no início da década de 1900 para 400 milhões no final do século 20. Estima-</p><p>se que até 2050, o pentecostalismo terá 1 bilhão de adeptos em todo o mundo.7 Como eles</p><p>fizeram isso?</p><p>Essas histórias são perigosas porque nos levam a uma jornada que nos chamará para uma</p><p>expressão mais radical do cristianismo do que nós experimentamos atualmente. A tarefa</p><p>central deste livro é tentar e fornecer um nome para esses fenômenos, bem como tentar</p><p>identificar os elementos que o constituem. A esse fenômeno presente nessas histórias</p><p>perigosas chamo de Genoma Apostólico, e aos elementos que o formam denominei de</p><p>mDNA. Eu os definirei de modo mais completo posteriormente. O objetivo deste livro é</p><p>explorar o Genoma Apostólico e tentar interpretá-lo de acordo com nosso próprio contexto</p><p>missional e situação no Ocidente. Esses dois exemplos-chave (da primeira igreja e da igreja</p><p>chinesa) foram escolhidos não apenas porque são movimentos de fato marcantes, mas</p><p>também porque um é antigo e o outro é contemporâneo, então, podemos observar o</p><p>Genoma Apostólico em dois contextos radicalmente diferentes. Também os escolhi porque</p><p>ambos enfrentaram ameaças significativas para sua sobrevivência; nos dois casos, esse fato</p><p>tomou a forma de perseguição sistemática. Isso é importante porque, conforme explicado</p><p>anteriormente, a igreja no Ocidente enfrenta sua forma própria de desafio adaptável quando</p><p>negociamos as complexidades do século 21 – que ameaça nossa sobrevivência.</p><p>A perseguição levou tanto o movimento cristão primitivo quanto a igreja chinesa a</p><p>descobrirem sua verdadeira natureza como povo apostólico. A perseguição os afastou de</p><p>qualquer possível confiança em alguma forma de instituição religiosa centralizada e os</p><p>levou a viverem mais próximos e de forma mais consistente com sua mensagem primária,</p><p>ou seja, o Evangelho. Temos de admitir que, se alguém está disposto a morrer por ser</p><p>seguidor de Jesus, então, muito provavelmente, essa pessoa é um cristão verdadeiro. A</p><p>perseguição, debaixo da soberania de Deus, atuou como meio para manter esses</p><p>movimentos leais à sua fé e confiantes no Senhor; ela os purificou das coisas inúteis e de</p><p>todas as parafernálias desnecessária de igreja. Foi sendo leal ao Evangelho que conseguiram</p><p>livrar o Genoma Apostólico. Essa é uma tremenda lição para nós: quando enfrentarmos</p><p>nossos próprios desafios, precisaremos ter certeza de nossa fé e em quem confiamos, se não,</p><p>há o risco do eventual desaparecimento do cristianismo como força religiosa na história</p><p>ocidental – observe a Europa nos últimos cem anos.</p><p>Em busca da resposta para aquela pergunta, a pergunta de como esses movimentos</p><p>fenomenais sobre Jesus realmente aconteceram, me convenci de que o poder manifestado</p><p>nas histórias perigosas desses dois movimentos marcantes também está disponível para nós.</p><p>O despertar desse potencial dormente tem alguma coisa a ver com a estranha mistura do</p><p>amor passional de Deus, oração e prática de encarnação. A tudo isso, acrescente a seguinte</p><p>mistura: modelos apropriados de liderança (conforme expressado em Efésios 4), a</p><p>recuperação do discipulado radical, formas relevantes de organização e estruturas e as</p><p>condições adequadas para poderem ser catalisadas. Quando esses fatores se unem, a</p><p>situação está amadurecida para que algo marcante aconteça.</p><p>Talvez para encerrar esse conceito vago de potenciais dormentes (ou latentes), lembre-se</p><p>da história de O Mágico de Oz. A personagem central desse filme tão querido é a Dorothy,</p><p>que é transportada em um grande tornado de Kansas para a mágica Terra de Oz. Querendo</p><p>voltar para casa, ela recebe orientações de Glinda, a Bruxa Boa do Norte, que a aconselha a</p><p>seguir para a Cidade das Esmeraldas e lá consultar o Mágico. Na estrada de tijolos amarelos,</p><p>ela ganha três companheiros: o Espantalho, que espera que o Mágico consiga lhe dar um</p><p>cérebro; o Homem de Lata, que deseja que o Mágico lhe dê um coração e o Leão Covarde,</p><p>que espera ganhar coragem. Após sobreviverem a alguns perigos, encontram-se com a</p><p>Bruxa Má do Oeste e com inúmeras outras criaturas horríveis e, por fim, conseguem ver o</p><p>Mágico, apenas para descobrir que ele é uma farsa. Eles saem da Cidade das Esmeraldas</p><p>com o coração partido. No entanto, a Bruxa Má, percebendo a mágica nos sapatos de rubi de</p><p>Dorothy, não os deixa sós. Após o encontro final com a Bruxa Má e seu bando, eles vencem</p><p>a fonte do mal e, então, libertam Oz. Porém, por meio de todas as provações e durante a</p><p>vitória final, eles descobrem que, na verdade, já tinham o que estavam procurando – na</p><p>verdade já tinham durante todo o tempo. O Espantalho é muito inteligente, o Homem de</p><p>Lata tem um coração de verdade e o Leão se mostra muito corajoso. Afinal, não precisavam</p><p>do Mágico. O que precisavam era de uma situação que os forçasse a descobrir (ou ativar) o</p><p>que já havia neles. Eles tinham tudo o que estavam procurando, apenas não haviam</p><p>percebido. Para completar, Dorothy tinha a resposta para o seu desejo desde o começo: ela</p><p>tinha a capacidade de voltar para casa em Kansas durante todo o tempo... em seus sapatos</p><p>de rubi. Ao batê-los um no outro três vezes, ela foi transportada de volta à sua casa em</p><p>p</p><p>Kansas.</p><p>Essa história destaca a pretensão central deste livro e dá uma dica de por que se chama</p><p>Caminhos esquecidos: isto é, todo o povo de Deus carrega em si os mesmos potenciais que</p><p>energizaram o movimento cristão primitivo e que são manifestos hoje na igreja chinesa</p><p>clandestina. O Genoma Apostólico (os potenciais missionais primordiais do Evangelho e do</p><p>povo de Deus) permanece dormente em você, em mim e em toda igreja local que busca</p><p>seguir Jesus fielmente em qualquer momento. Nós simplesmente nos esquecemos da forma</p><p>de acessá-lo e acioná-lo. Este livro foi escrito para nos ajudar a identificar os</p><p>o</p><p>tempo com ela é de não cristãos muito curiosos.</p><p>Hoje, a TPC está em seu quarto ano de missão. Estes ainda são os primeiros dias, ela sente</p><p>que apenas começou a encontrar seu caminho e anda mais próximo do sentido de seu</p><p>chamado, porém, reconhece que está nele por um longo período. Estar envolvido de modo</p><p>encarnacional significa que os membros da comunidade foram transformados em</p><p>missionários genuínos para a sua cidade.</p><p>Em pouco mais de três anos, eles se viram profundamente conectados com uma gama de</p><p>pessoas de uma comunidade mais ampla (não cristã). Muitos desses relacionamentos</p><p>tornaram-se profundos e íntimos quando, no decorrer do tempo, passaram juntos por</p><p>celebrações de noivados, casamentos, aniversários, nascimentos e da vida em geral. Seus</p><p>ritmos missionais incluem hospitalidade semanal ao redor das mesas, servindo a</p><p>comunidade juntos, levantando dinheiro para os necessitados, desfrutando e patrocinando a</p><p>arte e música locais, sepultando pessoas queridas, compartilhando ideias sobre a vida,</p><p>orando juntos e explorando histórias a respeito de Jesus no contexto da vida. Eles viram</p><p>algumas pessoas alcançarem a fé ativa em Jesus e muitas outras estão fechadas a ela.</p><p>Algumas, é claro, ainda estão explorando e outras ainda apenas gostam de fazer parte da</p><p>comunidade e estão bastante envolvidas, mas estão contentes em não explorar além desse</p><p>estágio. No entanto, para todas essas pessoas, quer elas percebam ou não, Jesus neste</p><p>momento habita em seu mundo de modo que são importantes e tangíveis. Agora, quando</p><p>pensam a respeito delas mesmas, do mundo ao seu redor ou de seu trabalho e atividades,</p><p>Jesus faz parte da equação onde não fazia antes.</p><p>No entanto, não se trata apenas de festas e socialização. A TPC constitui-se em diversos</p><p>níveis: alguns deles incluem...</p><p>(Re)verb Mission Community</p><p>Esta é a explícita comunidade de Jesus (igreja). Adotar uma abordagem distintamente</p><p>missional-encarnacional levou-a a encorajar a igreja a emergir a partir da missão, em vez de</p><p>a missão emergir de uma expressão particular de igreja. Portanto, o contexto de missão</p><p>influencia a maneira como a comunidade da fé se reúne. O objetivo é estabelecer muitos e</p><p>diferentes grupos de pessoas centrados em Cristo que expressem sua espiritualidade cristã</p><p>dentro de seu contexto cultural local. Assim, em vez de trazer as pessoas para a igreja, ela</p><p>tenta edificar a igreja em torno de onde as pessoas estão. Os membros da (Re)Verb, portanto,</p><p>gastam a maior parte de seu tempo construindo relacionamentos com as pessoas por meio</p><p>de encontros sociais e no terceiro setor local. No entanto, também se reúnem em grupos</p><p>menores para orar, adorar, discipular e ter comunhão cristã.</p><p>Mercado</p><p>Como a TPC está envolvida com a vida de pessoas não cristãs (elas constituem cerca de 60%</p><p>da comunidade), não levou muito tempo para descobrir que a maioria das pessoas estava</p><p>aberta a um diálogo saudável sobre questões existenciais quando se sentavam juntas, como</p><p>amigos, em um bar para tomar uma cerveja. Após algum tempo, os membros da TPC</p><p>sentiram que Deus os convidava a sustentar essas conversas propiciando um ambiente no</p><p>qual temas existenciais pudessem ser explorados. O mercado foi o resultado: um fórum</p><p>neutro e não prosélito onde as pessoas exploram ideias e filosofias sobre a vida, sentido,</p><p>cultura, identidade e espiritualidade. Pode ser surpreendente que um grupo autodefinido, a</p><p>princípio, como missional tenha criado uma zona neutra, não prosélita. Nisso eles foram</p><p>bastante intencionais. Com o legado da suspeita e desconfiança para com o cristianismo na</p><p>Austrália, eles queriam que as pessoas sentissem que esse era um ambiente seguro para</p><p>explorar ideias relacionadas à vida e ao sentido. Com música tocando ao fundo, as pessoas</p><p>chegam por volta das 8 horas da noite, pegam um drinque no bar e conversam com as</p><p>outras. Meia hora depois, elas se cumprimentam formalmente, relembram os “costumes do</p><p>mercado” (respeito pelas crenças e opiniões uns dos outros) e, então, introduzem o</p><p>apresentador da noite. O palestrante convidado (não necessariamente um cristão) apresenta</p><p>ideias e pensamentos a respeito do tema escolhido, recebendo perguntas e comentários. A</p><p>maioria das pessoas permanece e trava um diálogo informal com o passar de alguns</p><p>drinques. Algumas conversas maravilhosas resultaram dessas noites e, na verdade, isso se</p><p>tornou um pouco do evento cultural em Hobart.</p><p>Casamentos, festas, qualquer coisa... (celebrações de ritos de</p><p>passagem)</p><p>Com o passar do tempo e através de relacionamentos significativos, a TPC teve o privilégio</p><p>de ser convidada a conduzir inúmeros eventos como este para pessoas que encontram no</p><p>bar, no trabalho, em casa ou na universidade. Trata-se de um enorme convite para o mundo</p><p>de pessoas as quais a TPC visa servir. Ela encontrou nas celebrações dos ritos de passagem</p><p>uma excelente forma de construir relacionamentos significativos que abrem as pessoas para</p><p>os problemas da espiritualidade e descobriu que o compartilhamento com as pessoas dessas</p><p>cerimônias de ritos de passagem profundamente significativas foi uma experiência bastante</p><p>missional. Esse se tornou o principal aspecto da missão da TPC, e ela o realiza bem.</p><p>Imagine Tasmania</p><p>Além dessas atividades, Darryn (o líder da TPC) e algumas pessoas de negócios começaram</p><p>um projeto chamado Imagine Tasmania.136 O objetivo desse grupo é imaginar e trabalhar</p><p>nessa direção, tornando a Tasmânia um lugar melhor para todos viverem. O grupo é, em</p><p>grande parte, de não cristãos. No entanto, como um dos pioneiros desse projeto, Darryn</p><p>conseguiu iniciar relacionamentos significativos com muitas pessoas que gostariam de fazer</p><p>de seu mundo um lugar melhor. Essas conversas não teriam acontecido se não fosse o desejo</p><p>de Darryn de criar uma presença encarnacional nelas. Imagine Tasmania é o tipo de</p><p>compromisso a que Mike Frost e eu nos referimos como “projetos compartilhados” em The</p><p>Shaping of Things to Come137 – meios poderosos de comprometimento missional dentro das</p><p>culturas nas quais ministramos.</p><p>Ao concluir este capítulo, é importante reiterar que o impulso missional-encarnacional</p><p>seja, talvez, um dos aspectos mais importantes do Genoma Apostólico porque, ao adotar</p><p>essa abordagem, seremos levados à descoberta natural de muitos outros aspectos do</p><p>mDNA. É crucial porque, sem ele, não iremos a lugar algum, mas continuaremos presos no</p><p>modelo de igreja da cristandade. Para nos adaptarmos aos desafios do século 21, precisamos</p><p>passar por uma mudança fundamental no âmbito de nossos principais impulsos.</p><p>Precisamos mudar do modelo evangelístico-atrativo para o de missional-encarnacional. Essa</p><p>transição pode ser mais bem retomada pela visualização de missão como uma atividade de</p><p>Deus, e não uma atividade essencialmente da igreja. Nós participamos da missão do Senhor,</p><p>e não o contrário. Se isso for reconhecido, em seguida devemos nos comprometer de modo a</p><p>refletir o comprometimento de Deus com o mundo... e isso nos leva diretamente ao impulso</p><p>missional-encarnacional que, de forma clara, marca os fenomenais movimentos de Jesus na</p><p>história.</p><p>Em sua forma mais simples, isso significará permitir que Jesus nos direcione aos</p><p>mercados, aos terceiros setores e às casas de várias pessoas em nossas vidas, ensinando-nos,</p><p>assim, a respeito de como devemos nos comprometer de maneira que sejamos</p><p>verdadeiramente semelhantes a Cristo. Ele nos ensinará como nos tornarmos expressões</p><p>redentoras e encarnadas do Evangelho em cada canto de nossa cultura. O que faria Jesus?</p><p>Ele já nos deu a resposta.</p><p>6</p><p>A������� ����������</p><p>Propósito e princípio, claramente compreendidos e ar�culados, e geralmente compar�lhados,</p><p>são os códigos gené�cos de qualquer organização saudável. Na medida em que você mantém</p><p>propósitos e princípios em comum entre vocês, poderão dispensar o domínio e o controle. As</p><p>pessoas saberão como se comportar de acordo com eles e o farão em milhares de</p><p>inimagináveis maneiras cria�vas. A organização se tornará um conjunto vital e vivo de crenças.</p><p>Dee Hock, Nascimento da era caórdica (São Paulo: Cultrix, 2000)</p><p>A primeira responsabilidade do líder é definir a realidade.</p><p>Max DePree, em Credibility138</p><p>Recentemente, tive o privilégio de ouvir um notável líder, chamado afetuosamente de</p><p>“tio L”139, da igreja clandestina na China. Ele era um homem pequeno, idoso, torto e de fala</p><p>mansa que, naquele momento, estava liderando um movimento de igreja no lar clandestino</p><p>com 3 milhões de cristãos! Ele não tem graduação, mas exibe um maravilhoso intelecto</p><p>imbuído de uma sabedoria adquirida pela experiência de vida. Não tem “escritório” ou</p><p>títulos associados e, mesmo assim, exerce um dom admirável de liderança e chamado. Não</p><p>possui uma instituição central para ajudar na administração e controle das dezenas de</p><p>milhares de igrejas nos lares, porém, sua influência e ensinamento são sentidos por todo o</p><p>seu movimento. Suponho que empregue pouquíssimas pessoas, apesar de liderar milhões.</p><p>Ele foi preso e sofreu muito por sua fé, mas, ainda assim, continuou, em sua idade</p><p>avançada, a desafiar o Estado por meio de seu envolvimento com o movimento clandestino.</p><p>Eu não tinha dúvidas de que, nesse homem inspirador, tinha encontrado um autêntico</p><p>apóstolo. Philip Yancey relata uma experiência similar durante uma viagem recente à China,</p><p>onde encontrou um brilhante e apaixonado líder de 44 anos de idade chamado irmão Shi.</p><p>Quando era adolescente, Shi comandou a Liga da Juventude Comunista de sua província e,</p><p>mais tarde, serviu na Guarda Vermelha. Quando se tornou cristão, foi expulso de sua casa e</p><p>perseguido pelas autoridades. Yancey escreve: “Shi tem que viajar constantemente, fugindo</p><p>da polícia por saídas estreitas. As igrejas nos lares, reconhecendo suas habilidades de</p><p>liderança, o promoveram, e ele agora supervisiona 260.000 cristãos em sua província!”140</p><p>Yancey conta isso maravilhado, dado seu próprio contexto na América, onde as megaigrejas</p><p>são compostas por 1.000 a 20.000 de membros, mas requerem organizações sofisticadas para</p><p>operá-las. Peter Wenz, um líder apostólico de Stu�gart, Alemanha, lidera uma rede de</p><p>igrejas nos lares que cresceu rapidamente para cerca de 250. Em torno de 6.000 pessoas</p><p>participam da celebração semanal na cidade. Ele também conduz cerca de 40 outras redes.</p><p>A apresentação desses notáveis líderes apostólicos forma um bom ponto inicial para este</p><p>capítulo, pois nos remete ao mesmo tipo de perguntas que me levaram, inicialmente, a</p><p>buscar por “essa coisa mágica” que parece avivar os fenomenais movimentos de Jesus da</p><p>história. A pergunta que me perturbou, e ainda continua perturbando, é: “Como eles</p><p>conseguiram fazer isso?” Uma das respostas claras é que não o fizeram sem uma liderança</p><p>significativa. No entanto, isso apenas levanta outra pergunta: “Que tipo de liderança?” Hoje,</p><p>temos todos os tipos de recursos de liderança e treinamento, contudo, estamos em sério</p><p>declínio. Assim, qual era/é a diferença? Essa é uma boa pergunta e merece uma resposta</p><p>igualmente boa.</p><p>Em toda manifestação do Genoma Apostólico, existe uma forma poderosa de influência</p><p>catalítica que se entrelaça, à sua maneira, na rede aparentemente caótica de igrejas e cristãos.</p><p>Não há uma palavra substancial para esse poder social catalítico senão reinvocar a</p><p>linguagem bíblica, apostólica141. Não se trata apenas do poder da doutrina evangélico-</p><p>apostólica (tão poderosa como é em sustentar a fé), mas também a de determinada categoria</p><p>de liderança, ou seja, a da pessoa apostólica. Na realidade, quando mais significativo o</p><p>impacto da missão, mais fácil é discernir esse modelo de liderança.</p><p>A liderança apostólica, como em todos os tipos de influência, é tanto identificada quanto</p><p>medida pelo efeito que tem sobre o ambiente social no qual opera. Nesse termo, está sempre</p><p>presente em períodos de significativa ampliação missional. Tais pessoas podem não chamar</p><p>a si mesmas de “apóstolos”, contudo, a natureza apostólica e o efeito de seu ministério e</p><p>influência são inegáveis.</p><p>S� ���� ���� ��� ������ ���������, �����...</p><p>Vale a pena observar outra vez, neste ponto, que a igreja no Ocidente está enfrentando um</p><p>enorme desafio adaptativo, positivamente, na forma de forçar novas oportunidades e,</p><p>negativamente, na forma de mudança rápida e descontínua.142 Esses desafios iguais</p><p>constituem uma ameaça considerável ao cristianismo, presos à forma constantina</p><p>(cristandade) predominante de igreja, com toda sua rigidez institucional associada. Nossa</p><p>situação é o que o missiologista canadense, Alan Roxburgh, chama de liminaridade.</p><p>Liminaridade, em seu ponto de vista, é a transição de uma forma fundamental de igreja</p><p>para outra, necessitando do papel apostólico.143 Ambientes de mudança descontínua</p><p>requerem organizações adaptáveis e liderança.144 Como o papel apostólico é o responsável e</p><p>capacitado para a ampliação do cristianismo, a situação missionária também requer um</p><p>modelo pioneiro e inovador de liderança para ajudar a igreja a negociar o novo território em</p><p>que se encontra. Isso fica bem claro quando consideramos a igreja missional em ascensão,</p><p>que confia muito no espírito pioneiro inovador e é, portanto, fundamentalmente apostólica</p><p>quanto à sua natureza. No entanto, isso é igualmente verdadeiro para as igrejas</p><p>estabelecidas.</p><p>O chamado da pessoa apostólica é essencialmente a extensão do cristianismo. Assim, ela</p><p>convoca a igreja ao seu chamado básico e ajuda a guiá-la para o seu destino como povo</p><p>missionário com uma mensagem transformadora para o mundo. Todas as outras funções da</p><p>igreja devem ser qualificadas por sua missão para ampliar a missão redentora de Deus por</p><p>meio de sua vida e testemunho. O líder apostólico, então, incorpora, simboliza e re-</p><p>apresenta a missão apostólica para a comunidade missional. Além disso, revela e</p><p>desenvolve os dons e chamados de todo o povo de Deus. Sem o ministério apostólico, a</p><p>igreja se esquece de seu principal chamado ou falha em implementá-lo com êxito.</p><p>Infelizmente, nos sistemas denominacionais em decadência, tais pessoas são “congeladas”</p><p>ou exiladas porque comprometem o equilíbrio de um sistema estagnado. Essa “perda” do</p><p>influenciador apostólico é a responsável por uma das principais razões da predominante</p><p>queda denominacional. Se nós realmente queremos uma igreja missional, devemos ter um</p><p>sistema de liderança missional para impulsioná-la; é simples assim.</p><p>Estou bem ciente das várias reações que este assunto pode evocar. Isso acontece, em</p><p>parte, por causa da confusão entre a função exclusiva e o chamado dos apóstolos originais,</p><p>bem como do ministério apostólico dos dias atuais, ou seja, um dom ministerial que amplia</p><p>mais e evidencia a obra apostólica original, mas não a altera de forma alguma. No entanto,</p><p>outra razão para a reação negativa se dá porque muitos dos que declararam o “apostolado”</p><p>não o fazem com justiça e, no fim, desacreditam essa função vital. Infelizmente, a história da</p><p>igreja está repleta de falsos apóstolos.145</p><p>A única conclusão da pesquisa e estudo que embasam este livro é que o ministério</p><p>apostólico é um elemento distinto de Genoma Apostólico e, por isso, precisamos encontrar</p><p>uma maneira de entendê-lo e voltar a abraçá-lo caso queiramos nos tornar uma igreja</p><p>genuinamente missional. De forma bem simplificada, uma igreja missional precisa de uma</p><p>liderança missional e necessitará mais do que um modelo pastor-mestre de liderança para</p><p>alcançar seu objetivo.146 A liderança sempre concede um ponto estratégico de influência</p><p>para a mudança e renovação missional. Se isso é concedido, então, a pergunta de que tipo de</p><p>liderança naturalmente vem a seguir. A resposta natural é missional e, portanto, tem que</p><p>incluir a ideia de apostólica. Nós apenas temos que restabelecer nossa subserviência histórica</p><p>nessa questão se quisermos chegar ao crescimento e maturidade como movimento missional</p><p>(Ef 4.11ss). Não é mera coincidência o fato de que todas as denominações históricas que, em</p><p>geral, rejeitaram a liderança apostólica, encontram-se em um declínio sistemático há tempos</p><p>em todo o contexto do Ocidente. Sendo assim, este capítulo se concentrará em por que o</p><p>ministério apostólico é necessário e por que se trata de um</p><p>aspecto insubstituível do mDNA.</p><p>U�� ��������� �� �������� ����������</p><p>Basicamente, o ministério apostólico é uma função, e não uma profissão. Profissão, do modo</p><p>como a compreendemos de forma geral, está relacionada a uma posição em uma instituição</p><p>estabelecida e centralizada, e obtém sua autoridade de ser um “profissional” na estrutura</p><p>institucional. Uma pessoa não pode simplesmente encontrar seu nível de “instituição” no</p><p>Novo Testamento e no período pós-bíblico. Por outro lado, a igreja do Novo Testamento tem</p><p>toda a legitimidade de um movimento emergente de pessoas com pouca ou nenhuma</p><p>estrutura centralizada, nenhuma classe ministerial “ordenada” ou profissional, nem</p><p>edifícios eclesiásticos oficiais. Além disso, no contexto de perseguição, quaisquer inclinações</p><p>institucionais latentes que a igreja pudesse ter tido foram retiradas eficientemente pela</p><p>pressão abrupta externa fora de seu controle. O ministério apostólico, que estava bem vivo</p><p>na igreja primitiva, era visto como um dom e chamado de Deus, autenticado por uma vida</p><p>vivida em consistência com a mensagem e reconhecido pelos seus efeitos sobre o</p><p>movimento e seu contexto, ou seja, a extensão da missão de Deus, bem como na</p><p>sustentabilidade e saúde das igrejas. Era crucial para a sobrevivência e crescimento do</p><p>movimento. É difícil ver o cristianismo sobrevivendo de alguma maneira sem essa forma de</p><p>influência e liderança.</p><p>Por que esse ministério em particular é tão importante e parece insubstituível é mais bem</p><p>respondido pela descrição do apóstolo como guardião do Genoma Apostólico e do próprio</p><p>Evangelho. Todos os ministérios apostólicos subsequentes se moldaram com base nesse</p><p>ministério arquetípico do original e nos apóstolos autorizados. Isso é para dizer que ele é a</p><p>pessoa que transmite e incorpora o mDNA.147 Uma vez fixado o mDNA nas comunidades</p><p>locais, o ministério apostólico trabalha para garantir que as igrejas resultantes permaneçam</p><p>leais a ele e não se transformem em algo que Deus não pretende que sejam. Assim como as</p><p>novas igrejas pioneiras, o ministério apostólico forma alicerces naqueles que não os têm. Os</p><p>ministros viajantes no oeste dos Estados Unidos foram exemplos clássicos disso. Eles</p><p>percorriam as pequenas cidades e vilas, pregavam o Evangelho, levavam pessoas a Cristo,</p><p>estabeleciam igrejas e, então, seguiam para a próxima cidade, retornando ao circuito no ano</p><p>seguinte. Os apóstolos da igreja chinesa atuaram exatamente da mesma maneira.148</p><p>No entanto, a importância do ministério apostólico não se limita aos novos movimentos</p><p>missionários. Também tem relevância contínua para denominações estabelecidas. De fato, é</p><p>crucial para a revitalização do processo. Steve Addison, consultor sobre missão e</p><p>crescimento da igreja observa que:</p><p>A função apostólica dentro das igrejas e denominações estabelecidas requer a reinterpretação dos valores</p><p>fundamentais da denominação em vista das exigências da missão hoje. O obje�vo final desses líderes</p><p>apostólicos é afastar a denominação da defesa, e fazê-la voltar à missão. O líder denominacional apostólico</p><p>precisa ser visionário, capaz de sobreviver a importantes oposições dentro das estruturas denominacionais</p><p>e capaz de formar alianças com aqueles que desejam mudar. Além disso, a estratégia do líder apostólico</p><p>pode envolver lançar uma visão e ganhar aprovação para uma mudança de proteção para missão. O líder</p><p>também tem que encorajar os sinais da vida dentro das estruturas existentes e levantar uma nova geração</p><p>de líderes e igrejas a par�r da an�ga. O líder denominacional apostólico precisa garan�r que as novas</p><p>gerações não se deixem “congelar” por aqueles que resistem a mudanças. Por fim, o líder deve</p><p>reestruturar as ins�tuições denominacionais de modo a servir os propósitos missionários.149</p><p>Na essência, a tarefa apostólica é sobre a expansão do cristianismo tanto fisicamente, na</p><p>forma de esforço missionário pioneiro e plantação de igreja, quanto teologicamente, por meio</p><p>da integração da doutrina apostólica à vida dos cristãos e das comunidades das quais fazem</p><p>parte. No entanto, mais do que isso, como guardião do Genoma Apostólico, ele, ou ela, é a</p><p>pessoa que concede o ponto de referência pessoal, bem como o contexto espiritual para</p><p>outros ministérios do povo de Deus.</p><p>Assim, quero sugerir a existência de três funções principais do ministério apostólico,</p><p>ilustrado conforme segue:</p><p>1. Fixar o mDNA explorando novos caminhos para o Evangelho e a</p><p>igreja</p><p>Como guardião (mordomo) do DNA do povo de Deus, o apóstolo é mensageiro e</p><p>carregador do mDNA do cristianismo. Como “aquele que é enviado”,150 leva o Evangelho</p><p>adiante em novos contextos missionais e fixa o DNA do povo de Deus nas novas igrejas que</p><p>surgem naqueles lugares. Essencialmente, o apóstolo é o pioneiro, e é este espírito pioneiro e</p><p>inovador que o marca como único em relação aos outros ministérios. “É de suma</p><p>importância que aqueles que estão incumbidos da liderança translocal e apostólica sejam</p><p>pioneiros. A igreja é chamada para ser um movimento dinâmico, e não, uma instituição</p><p>estática. Por isso, sua liderança deve ser retirada dos que estão na linha de frente da</p><p>expansão da igreja.151</p><p>2. Proteger o mDNA por meio da aplicação e integração da teologia</p><p>apostólica</p><p>No entanto, para proteção do DNA do povo de Cristo, a responsabilidade do ministério</p><p>apostólico não termina com a obra missionária pioneira. Ele também é encarregado da tarefa</p><p>de assegurar que as igrejas permaneçam fiéis ao Evangelho e ao seu etos. Esse aspecto do</p><p>ministério apostólico pode ser descrito como a criação e manutenção da rede de significados</p><p>que mantém o movimento unido. O ministério apostólico faz isso despertando novamente o</p><p>povo para o Evangelho e fixando-o na estrutura organizacional de forma significativa. O</p><p>resultado da rede de significado apostólica é que o movimento se mantém no decorrer de</p><p>muitos anos. E é crucial para a missão translocal. Observe o que os apóstolos bíblicos fazem;</p><p>eles se comprometem com a obra missionária, estabelecem novas igrejas e, uma vez</p><p>estabelecidas, partem para novas fronteiras. Contudo, eles também veem como essencial</p><p>estabelecer rede de contatos entre as igrejas e exortar os discípulos, cultivando a liderança e</p><p>providenciando direção para assegurar a correta apreensão e integração da mensagem do</p><p>Evangelho na vida comum e individual dos ouvintes. Eles são rápidos para acabar com a</p><p>heresia e o erro, removendo potenciais mutações no mDNA.</p><p>Todo ministério apostólico autêntico faz isso. Os apóstolos não são apenas</p><p>empreendedores impetuosos; atuam também como teólogos – ou, ao menos, deveriam, se</p><p>forem genuinamente apostólicos. Esse impulso para assegurar a integridade doutrinária é,</p><p>portanto, outra característica-chave do ministério apostólico e, sem ele, nós não estaríamos</p><p>aqui hoje, pois forma a base da fé cristã. Apesar do reconhecimento de que a exclusiva</p><p>autoridade de ensino dos “doze” foi fundamental e autoritária, e constitui a teologia básica</p><p>da igreja, o ministério apostólico ao longo dos anos tem ambos os elementos nele. Observe o</p><p>ministério de Patrick, John Wesley, Inácio de Loyola, John Wimber, William Booth, William</p><p>Carey e incontáveis apóstolos desconhecidos da igreja chinesa clandestina, por exemplo, e</p><p>você verá esse duplo elemento do missionário pioneiro e do teólogo em atuação.</p><p>À luz desses comentários, podemos perceber como o bispo John Shelby Spong,152 e sua</p><p>marca particular do cristianismo projetado “faça você mesmo” é, de certa forma, perigosa</p><p>para nós hoje. Não estou apenas tentando ser desnecessariamente provocativo aqui – trata-</p><p>se de um problema da vida real para nós. O cristianismo projetado é uma forma de fé</p><p>diluída, consumista e sincretizada que, na minha opinião, dentro do contexto do pluralismo</p><p>e relativismo pós-moderno, se tornou uma ameaça genuína à igreja no Ocidente precisamente</p><p>porque nos distancia do real vigor de nossa mensagem original e primária.153 De muitas</p><p>maneiras, sempre foi uma das principais funções do ministério apostólico manter o</p><p>Evangelho incontaminado e, assim, preservar seu</p><p>poder de Deus para a salvação para as</p><p>futuras gerações (Rm 1.16). Não há dúvidas em minha mente a respeito da maneira como</p><p>Paulo lidaria com o “spongianismo”; ele o veria como um ataque direto ao DNA do</p><p>Evangelho e, portanto, da igreja.</p><p>3. Criar um ambiente no qual os outros ministérios possam surgir</p><p>Você já parou para se perguntar por que, em todas as listas de ministérios, o de apóstolo</p><p>está sempre listado em primeiro lugar? E por que é considerado o mais importante dos</p><p>ministérios (1Co 12.28ss; Ef 4.11)? Ou por que, em Efésios 2.20, Paulo diz que a igreja está</p><p>edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas?154 Não por causa de um conceito</p><p>organizacional hierárquico de liderança, pois tais ideias de liderança não existiam no</p><p>movimento do Novo Testamento (veja a seguir). Pelo contrário, é porque o ministério</p><p>apostólico é o dom fundamental que concede tanto o ambiente quanto o ponto de referência</p><p>para outros ministérios mencionados nas Escrituras.</p><p>A New Covenant Ministries International é uma missão operante nos contextos ocidentais</p><p>que baseia seu ministério honestamente nesse ensinamento a respeito da natureza</p><p>fundamental do ministério apostólico.155 Afirma que não é uma denominação ou</p><p>agrupamento de igrejas; ela se vê apenas como um grupo de pessoas comprometidas com o</p><p>avanço do Reino de Deus por meio de missão e da rede de contatos. Ela se vê como uma</p><p>equipe translocal profético-apostólica unida por um propósito comum e por amizades. No</p><p>entanto, durante o processo de seu ministério, plantou centenas de igrejas, estabeleceu rede</p><p>de contatos com outras centenas e, atualmente, atua em mais de 60 países diferentes. E</p><p>começaram apenas no início dos anos 80.</p><p>Roxburgh diz corretamente que o ministério apostólico é “...fundamental para todas as</p><p>outras funções”.156 Ou seja, ele inicia os demais; constitui o fundamento deles. A partir do</p><p>ministério apostólico, o mDNA é fixado e distribuído entre os vários outros que formam os</p><p>cinco ministérios de Efésios 4 – aos quais chamarei de APEPD (apostólico, profético,</p><p>evangelístico, pastoral e ensino/didático). O fundamento e desenvolvimento do APEPD,</p><p>portanto, é uma extensão natural da natureza protetora do ministério apostólico.</p><p>Desconsiderando isso, alguém poderia dizer que o apostólico cria o ambiente para o</p><p>profético, o profético cria o ambiente para o evangelístico e assim por diante. Utilizando a</p><p>afirmação mais abrangente da estrutura ministerial, a de Efésios 4.7-11, seria algo</p><p>semelhante a isto:</p><p>Se isso estiver correto, e essa é a única maneira pela qual conseguimos explicar por que o</p><p>apóstolo está sempre listado em primeiro lugar como principal chamado, novamente se</p><p>destaca o porquê do “ambiente apostólico” ser um dos cinco elementos-chave do mDNA</p><p>que formam o Genoma Apostólico. Todos os cinco ministérios são necessários para</p><p>produzir, trazer à tona e sustentar todo o ministério no movimento de Jesus. Na realidade,</p><p>os cinco ministérios, em relação dinâmica uns com os outros, são absolutamente essenciais</p><p>para o discipulado vigoroso, igrejas saudáveis e movimentos de crescimento, como veremos</p><p>a seguir.157 Sendo assim, os ministérios APEPD são nascidos da tarefa apostólica de</p><p>guardião do mDNA, sendo que o apostólico é o fundamental. É necessário enfatizar o</p><p>seguinte: a dinâmica da liderança é a de um modelo inspirado no servo, e não de alguém</p><p>que “domina sobre os outros”.</p><p>C���� ��� ������</p><p>Definidas as funções/papéis da pessoa apostólica, podemos agora analisar como o</p><p>ministério apostólico exerce sua influência. Parte da resistência à recepção do ministério</p><p>apostólico em nossas igrejas se dá porque, às vezes, as pessoas que declaram ser apóstolos</p><p>entendem que isso envolve uma abordagem ditatorial para a liderança da igreja. Com muita</p><p>frequência, isso resulta em perda de poder do povo de Deus que, em vez de amadurecer e</p><p>crescer na fé, permanece basicamente como uma criança, sem poder, dependente do poder</p><p>paternal absoluto e opressivo do “apóstolo”. Isso é tanto uma distorção quanto uma</p><p>representação errada do autêntico ministério apostólico. O ministério apostólico é</p><p>autenticado pelo sofrimento e capacitação, não por reivindicações de posição de liderança</p><p>com suas alavancas institucionais.158</p><p>Em nossos dias, acredito que o conceito de CEO predominante de liderança tenha</p><p>agregado o apostólico, assim, muitos que reivindicam o título apostólico, na verdade,</p><p>funcionam como CEOs. Nas Escrituras, o servo sofredor/imagem de Jesus – e não aquela do</p><p>diretor geral – informa e qualifica o papel apostólico. O ministério apostólico obtém sua</p><p>autoridade e poder principalmente da ideia de serviço e chamado, bem como da autoridade</p><p>moral e espiritual, e não da autoridade da posição. Talvez uma maneira útil de explorar a</p><p>natureza da autoridade apostólica seja identificar a forma particular de liderança envolvida</p><p>e ver como ela cria autoridade.</p><p>Em um relacionamento com base na liderança “inspiradora” ou “moral”, tanto os líderes</p><p>quanto os seguidores sobem para os níveis mais altos de motivação e moralidade ao se</p><p>comprometerem com a base dos valores compartilhados, chamado e identidade. Eles estão</p><p>em um relacionamento no qual cada um influencia o outro a ir em busca de objetivos</p><p>comuns, com a meta de inspirar os seguidores a se tornarem líderes por mérito próprio. Em</p><p>outras palavras, a influência ocorre em ambos os sentidos. A liderança inspiradora, por fim,</p><p>se torna genuinamente moral quando sobe ao nível da conduta humana e aspiração ética de</p><p>líderes e liderados, tendo, assim, um efeito transformador em ambos. Sob esse ponto de</p><p>vista, os seguidores são persuadidos a tomar atitudes sem serem ameaçados ou receberem</p><p>incentivos materiais, mas com um apelo aos seus valores. Isso pode ser claramente</p><p>percebido na forma pela qual Jesus desenvolve seus discípulos, bem como no</p><p>relacionamento de Paulo com Timóteo, Tito e outros membros da equipe apostólica, o que</p><p>forma a base de suas cartas para as igrejas.159</p><p>Talvez seja melhor chamarmos esse tipo de influência de “grandeza”. Nesse sentido, ser</p><p>um grande líder é inspirar, evocar e nutrir algo igualmente grande nos seguidores. Por meio</p><p>de uma vida integrada, os grandes líderes lembram seus seguidores daquilo em que eles</p><p>podem se tornar se também basearem suas vidas no conceito misericordioso da</p><p>humanidade estruturada por uma alta visão moral sobre o mundo no qual vivemos.</p><p>Raramente chamamos um líder com importante habilidade técnica ou gerencial de</p><p>“grande”. Não construímos estátuas para celebrar grandes burocratas, não é? É com essa</p><p>compreensão em mente que podemos identificar a “grandeza” espiritual como a substância</p><p>básica que concede uma forma apostólica genuína de liderança com sua autoridade. É a</p><p>forma mais forte de liderança disponível porque desperta o espírito humano, foca nele e o</p><p>mantém unido pelo gerenciamento do sentido compartilhado. Como com tio L e irmão Shi,</p><p>É</p><p>ela tem o poder de unir diversos movimentos sem muita estrutura externa. É o tipo de</p><p>liderança refletida, de forma mística, no caráter de William Wallace no filme Coração Valente:</p><p>um homem que as pessoas seguiam de boa vontade, não porque eram obrigados ou porque</p><p>ele tivesse alguma posição oficial (não tinha), mas porque ele as lembrou a respeito do seu</p><p>direito à liberdade e as ajudaria a obtê-la mesmo que lhe custasse a vida.</p><p>Essa ideia de “grandeza” se enquadra nas explorações de Weber sobre liderança: o líder</p><p>“carismático”, segundo o pensamento de Weber, é a pessoa que geralmente lidera em</p><p>tempos de missão, crise ou desenvolvimento, e sempre desafia de forma radical as práticas</p><p>estabelecidas indo até a “raiz do problema”. As pessoas seguem um líder porque são</p><p>levadas pela crença na manifestação que o autentica e, fazendo isso, se desviam das</p><p>maneiras estabelecidas de fazer as coisas e se submetem à ordem sem precedente que o líder</p><p>proclama. Esse tipo de liderança envolve, portanto, um grau de comprometimento por parte</p><p>dos discípulos que não tem paralelo com outros tipos de liderança estabelecida.160 Uma vez</p><p>mais, Jesus é nosso melhor</p><p>exemplo. Ele requer seguidores de uma forma tão absoluta que é</p><p>chamada de discipulado – o processo de tornar-se como ele.</p><p>Consistente com o movimento de pessoas às quais serve, o ministério apostólico, baseado</p><p>como é na liderança inspiradora-espiritual, envolve um estilo de relacionamento orgânico</p><p>da influência da liderança que evoca propósito, movimento e resposta por parte daqueles</p><p>que entram em sua órbita. Isso é feito com base no chamado compreensível da pessoa</p><p>apostólica, dom espiritual e autoridade espiritual. Assim como toda grande liderança, ele</p><p>cria um campo de influência no qual determinados comportamentos ocorrem.</p><p>O universo onde vivemos é repleto de campos de influência. Embora invisíveis, os</p><p>campos, contudo, afirmam uma influência definida sobre os objetos dentro de sua órbita.</p><p>Existem campos gravitacionais, eletromagnéticos, quânticos, e assim por diante, que</p><p>formam parte da estrutura única da realidade. Essas influências imperceptíveis afetam o</p><p>comportamento dos átomos, objetos e pessoas. No entanto, os campos não existem somente</p><p>na natureza e na física; existem também nos sistemas sociais. Por exemplo, pense a respeito</p><p>do poder das ideias nos acontecimentos humanos; uma ideia poderosa não tem substância,</p><p>mas ninguém pode duvidar de sua influência.</p><p>Nas últimas décadas, os behavioristas organizacionais começaram a perceber que as</p><p>próprias organizações estão amarradas a campos invisíveis, compostos por cultura, valores,</p><p>visão e ética. “Cada um desses conceitos descreve uma qualidade da vida organizacional</p><p>que pode ser observada no comportamento, apesar de não existir em nenhum outro lugar</p><p>fora daqueles comportamentos.”161 São forças invisíveis que afetam o comportamento para</p><p>o bem ou para mal. Podemos sentir a vibração de uma organização, não podemos? Às vezes,</p><p>em um grupo de pessoas, nos sentimos obrigados a nos comportarmos de determinada</p><p>maneira, mesmo que ninguém tenha nos dito explicitamente como. Para aprender o impacto</p><p>de tais campos, apenas olhe para o que as pessoas estão fazendo. Elas captaram a</p><p>mensagem, discerniram o que é verdadeiramente valioso e moldaram seu comportamento</p><p>de acordo com isso. Logo, quando o campo organizacional está repleto de mensagens</p><p>divergentes, quando as contradições informam a cultura organizacional, então,</p><p>incongruências invisíveis se tornam visíveis por meio de comportamentos problemáticos.</p><p>O que é notável é a entrada da verdadeira liderança em uma situação como essa. Com a</p><p>liderança inspiradora, toda a “vibração” muda: as coisas começam a ficar claras, a</p><p>competitividade diminui e as pessoas se sentem livres e mais fortalecidas para realizarem</p><p>suas tarefas; como resultado, a organização ganha foco e energia, tornando-se saudável. O</p><p>oposto é verdadeiro e óbvio: liderança de má qualidade gera organizações não saudáveis.</p><p>Temos apenas que compreender nossa própria experiência para saber a verdade disso.</p><p>Tamanho é o poder das pessoas que incorporam visão e valores – elas trazem inspiração,</p><p>coerência e senso de direção e propósito para as pessoas ao seu redor. Liderança é</p><p>influência. Trata-se de um campo que molda os comportamentos. É a base do autêntico</p><p>poder espiritual e autoridade. Nelson Mandela é um grande líder, não por ter sido</p><p>presidente da África do Sul, mas porque muito antes de ser presidente, era uma pessoa</p><p>profundamente moral que incorporou seu código pessoal de liberdade em sua própria vida.</p><p>É a grandeza de sua vida que dá substância e impacto a sua liderança.</p><p>Para conceituar a liderança como influência, pense em um ímã e seu efeito sobre tiras de</p><p>ferro espalhadas sobre uma folha de papel. Quando as tiras entram na órbita de influência</p><p>do ímã, formam um determinado padrão que todos nós reconhecemos de nosso tempo de</p><p>escola. A liderança faz exatamente a mesma coisa: cria um campo que, por sua vez, influencia</p><p>as pessoas de certa forma, assim como o ímã influencia as tiras de ferro. A presença de um</p><p>grande líder em um grupo de pessoas muda a padronização desse grupo. Por exemplo, a</p><p>aparição de Nelson Mandela entre um grupo de pessoas irá impactá-lo de modo</p><p>significativo. Sua presença física será inconfundível e mudará o clima social do lugar. A</p><p>liderança apostólica qualifica o ânimo dessa influência, a dinâmica da influência atua da</p><p>mesma maneira.</p><p>É precisamente esse campo, essa matriz de apostolicidade, que é crucial para o</p><p>aparecimento da autêntica igreja missional, pois é tarefa do ministério apostólico criar</p><p>ambientes nos quais a imaginação apostólica do povo de Deus possa ser evocada, os dons</p><p>espirituais e ministérios desenvolvidos, e o amor e a esperança inspirados pelo Evangelho se</p><p>façam conhecidos.162 Por exemplo, John Wimber teria exercido exatamente essa forma de</p><p>influência. No decorrer de duas décadas, Wimber alterou a configuração do evangelicalismo</p><p>e ressaltou a função do Espírito Santo na missão e ministério de uma maneira que nos</p><p>mudou para sempre. Ainda sentimos a influência de John Wesley, mesmo que nenhum de</p><p>nós tenha se encontrado com ele. Every Nation Churches and Ministries, um movimento</p><p>missional com base nos Estados Unidos, tem uma visão de plantar centenas de igrejas no</p><p>Ocidente. De forma explícita, utiliza a linguagem e as estruturas do ministério apostólico.</p><p>Um dos objetivos firmados é tornar-se uma igreja apostólica. Veja como o movimento</p><p>descreve o efeito que isso tem sobre as igrejas associadas:</p><p>Quando o foco [apostólico] de alcançar permeia uma congregação, coisas maravilhosas acontecem. Deus</p><p>começa a sondar aqueles que estão buscando uma forma de se envolver em seus propósitos. Famílias</p><p>começam a ser energizadas com um sen�mento de agitação porque percebem que podem fazer a</p><p>diferença na história. Jovens encontram razão para não apenas “ficarem esperando” e tentarem ser</p><p>verdadeiros, mas começam a compreender a visão que não lhes deixa perecer.</p><p>É este �po de atmosfera que produz milagres. A igreja local se torna a entrada para infinitas possibilidades</p><p>a todo cristão. Ocorre também como o principal meio pelo qual o mundo pode ser alcançado para</p><p>Cristo.163</p><p>Aqui está a descrição da influência apostólica sobre a congregação local. Em suas</p><p>palavras, ela cria uma “atmosfera” de expectativa e movimento.</p><p>É mais essa qualidade altamente relacional de liderança de baixo para cima que</p><p>caracteriza a verdadeira influência apostólica. Fomos tão aprisionados pelos conceitos</p><p>hierárquicos de liderança de cima para baixo, de bispos, superintendentes, pastores e líderes</p><p>do tipo CEO, que bloqueamos inadvertidamente o poder latente no povo de Deus. Na</p><p>Austrália, temos uma árvore maravilhosamente grande e difusa chamada figueira de</p><p>Morton Bay. É uma árvore bonita e muito imponente. O problema é que nada cresce</p><p>embaixo dela, porque ela faz uma sombra muito grande. Um estilo de liderança de cima</p><p>para baixo mais autocrático pode ser comparado à figueira Morton Bay. Ela pode ser</p><p>magnificente, mas faz tamanha sombra que nenhuma outra liderança se desenvolve em sua</p><p>sombra.</p><p>O problema da liderança tipo CEO é que ela tende a tirar o poder de outros, e quando,</p><p>por várias razões, o líder precisa deixar o grupo, a organização tem a tendência de</p><p>enfraquecer e não se desenvolver. É exatamente isso que a influência apostólica se esforça</p><p>para não fazer, pelo contrário, o ministério apostólico tenta trazer à tona e desenvolver os</p><p>dons e chamados de todo o povo de Deus. Não cria dependência, mas desenvolve as</p><p>capacidades de todo o povo de Deus com base na dinâmica do Evangelho. Em uma palavra,</p><p>envolve capacitação. Jim Collins, em seu estudo sobre as organizações de destaque, de fato,</p><p>diz que os líderes dominantes e carismáticos são um dos maiores obstáculos para uma</p><p>organização passar de boa para ótima.164</p><p>Paulo não parece ser um líder carismático no parecer de Collins. Ele não domina; talvez,</p><p>seja mais paternal (ele utiliza imagens tanto do pai quanto da mãe) na maneira como</p><p>trabalha (1Ts 2.7ss; Gl 4.19). De fato, em 2 Coríntios 10.1165 e em outros lugares, parece que</p><p>ele realmente perde a “presença” carismática e constantemente</p><p>tem que afirmar sua</p><p>liderança por outros meios.166 Em suas observações a respeito da dinâmica da liderança,</p><p>Pascale et al. também observam que o impacto da liderança catalítica de adaptação parece</p><p>ter pouca relação com a personalidade, carisma ou estilo. Eles pontuam alguns líderes de</p><p>grandes organizações que dificilmente poderia ser chamados de carismáticos, mas que</p><p>administraram a mudança da organização para níveis mais elevados de aprendizagem e</p><p>eficiência em termos de missão estabelecida. Em vez disso, eles sugerem que o líder</p><p>adaptável trabalhe com uma inclinação latente pela organização, que já está presente nela,</p><p>mas aguarda articulação. O líder sente a energia adormecida e, então, ele a catalisa – como</p><p>se semeasse as nuvens com cristais de iodo. Uma mudança adaptativa passa a existir, não</p><p>porque o líder tenha todas as respostas e as exponha em seguida por toda a organização.</p><p>Pelo contrário, o movimento e a adaptação acontecem por causa da interação das emoções</p><p>solidárias no ambiente, das questões do tempo, dos membros da organização e de “um líder</p><p>que pode expressar o desafio de modo a convidar outros para a dança que está sendo</p><p>coreografada à medida que se desenvolve”167. Pode ser útil relembrar o impacto que John</p><p>Wesley teve sobre seus seguidores, a igreja e a sociedade mais ampla ao seu redor. Ele foi</p><p>um clássico líder adaptativo. As coisas simplesmente pareciam acontecer, pois ele tomou</p><p>ciência dos sonhos e impulsos que já estavam latentes no povo liderado e impactado por ele.</p><p>Do mesmo modo, todos os elementos do Genoma Apostólico já estão lá, latentes no</p><p>código do mDNA da igreja; tudo o que a liderança precisa fazer é tomar ciência dele sob o</p><p>poder do Espírito Santo. O líder apostólico o traz à tona; não o cria. Não me entenda mal, há</p><p>um poder real e uma liderança nisso, mas é diferente daquele em que os reis da terra</p><p>dominavam sobre os outros (Mt 20.25-28).168</p><p>Consequentemente, vale observar que uma razão importante por que devemos desconfiar</p><p>da noção hierárquica de liderança de cima para baixo é porque conhecemos, a partir da</p><p>história e da natureza humana, que os sistemas institucionais conferem poder social e o</p><p>concentram no topo. É precisamente por causa da natureza humana que devemos ser</p><p>precavidos com tal poder em mãos humanas. Ele quase sempre corrompe e prejudica a</p><p>estrutura relacional que constitui a igreja. Pouquíssimas pessoas conseguem lidar com isso</p><p>sem se tornarem diferentes; talvez, apenas os mais nobres. A história é bem clara com</p><p>relação a isso. No mínimo, devemos aprender com a trilogia Senhor dos Anéis, em que o anel</p><p>exerce um poder corruptor e poderosamente sedutor sobre aqueles que o usam. Além disso,</p><p>a imagem de servo/escravo da liderança (des)qualifica todas as formas de liderança de cima</p><p>para baixo e estabelece a abordagem de servo de baixo para cima (Rm 1.1; Tt 1.1, etc.). Jesus</p><p>não poderia ser mais explícito quando diz a seus discípulos: “Os reis dos povos dominam sobre</p><p>eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas, vós não sois assim; pelo</p><p>contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é o</p><p>maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós,</p><p>eu sou como quem serve” (Lc 22.25-27 – ênfase acrescentada). Howard Snyder está correto</p><p>quando diz que “o Novo Testamento não ensina a hierarquia como princípio de autoridade</p><p>ou organização na igreja” e que “Jesus parece ser contrário tanto ao abuso de poder quanto</p><p>à estrutura hierárquica sobre a qual o poder estava baseado”.169</p><p>No entanto, há metáforas poderosas que nos ajudam a evitar as noções tentadoras do</p><p>poder coercivo de cima para baixo, aquelas que nos auxiliam na compreensão de nossa</p><p>tarefa de criar ambientes onde a igreja missional possa surgir. Na Forge Mission Training</p><p>Network, gostamos de pensar a respeito de nós mesmos como parteiras de um novo sonho.</p><p>Nossa missão firmada é “ajudar no nascimento e na criação da igreja missional na Austrália</p><p>e em outros lugares”. Embora ela descreva nosso próprio chamado particular, a ideia de</p><p>sermos parteiras é uma imagem bem bíblica e humana de liderança, e eu a recomendo a</p><p>você aqui porque descreve o modelo atual de liderança que informa toda a autêntica</p><p>influência apostólica. Uma parteira auxilia e assiste no nascimento de uma criança. Tudo o</p><p>que ele ou ela faz é garantir que todas as condições estejam favoráveis para um nascimento</p><p>saudável; o nascimento é o resultado de algo além da influência da parteira. É interessante o</p><p>fato de Sócrates chamar a si mesmo de “parteiro” e ver seu papel como o de ajudar outros a</p><p>descobrirem a verdade a respeito deles mesmos. Ele fez isso pelo uso constante de</p><p>perguntas que levavam o aprendiz a suas próprias percepções e observações. Jesus é</p><p>realmente “obstetra” pelo uso de suas perguntas, histórias e parábolas.</p><p>No entanto, talvez seja necessária mais uma imagem dessa qualidade de liderança para</p><p>fixar esse conceito em nossas mentes, e esta é a imagem de um fazendeiro. Um bom</p><p>fazendeiro cria as condições para o crescimento de uma colheita saudável ao lavrar o solo,</p><p>reabastecê-lo com nutrientes, remover as ervas daninhas, disseminar as sementes e regar o</p><p>campo. Ele está totalmente aberto aos ritmos naturais da natureza, que estão fora de seu</p><p>controle e, assim, o fazendeiro confia em Deus para mandar o sol e a chuva. A semente em</p><p>si, nas condições certas, florescerá nesse tipo de ambiente e produzirá boas colheitas. Tudo o</p><p>que o fazendeiro faz é criar o ambiente correto para esse misterioso processo da vida</p><p>acontecer.</p><p>O ministério apostólico funciona exatamente da mesma maneira. Paulo chegar a fazer</p><p>referência a processos orgânicos similares em 1 Coríntios 3.5-9 quando diz:</p><p>Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a</p><p>cada um. Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é</p><p>alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; e</p><p>cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho. Porque de Deus somos cooperadores;</p><p>lavoura de Deus, edi�cio de Deus sois vós.</p><p>Na realidade, a Bíblia está entrelaçada com imagens orgânicas que produzem uma “visão</p><p>ecológica” da igreja e da liderança (sementes, solo, fermento, corpo, rebanho, árvores, etc.).</p><p>Se remodelássemos nossa liderança e as igrejas com essas metáforas orgânicas em mente,</p><p>desenvolveríamos uma vida comum mais fértil. Uma visão orgânica da igreja é muito mais</p><p>rica porque é mais verdadeira e mais consistente com a estrutura interior da vida e da</p><p>cosmologia em si.170</p><p>C������ ����� �� ������������</p><p>Encontrar ministério apostólico da maneira encontrada no tio L é, na realidade, uma</p><p>experiência bem perturbadora, porque levanta uma questão alarmante: se ele não tinha uma</p><p>organização centralizada e os recursos gerenciais comuns que consideramos necessários</p><p>para o funcionamento de organizações, como liderou um movimento de três milhões de</p><p>pessoas? A única conclusão a que podemos chegar é que o tipo de liderança incorporada</p><p>por ele é algo atribuído por meio da estranha combinação de inspiração pessoal, poder</p><p>espiritual, dom, chamado e caráter, bem como a disposição em amar e respeitar as várias</p><p>pessoas e organizações dentro do movimento. No entanto, um elemento crucial é que o tio L</p><p>é, no sentido literal, o pai/iniciador do movimento. Em outras palavras, liderança e</p><p>seguidores basearam-se em um significado comum e compartilhado e no propósito de se</p><p>manterem junto pelos laços espirituais e pessoais, que é a estrutura que pode se estender a</p><p>milhões de pessoas.</p><p>p</p><p>Influência semelhante é exercida por líderes apostólicos no Ocidente, como Mike Breen.</p><p>Como reitor e líder da equipe da igreja de St. Thomas, em Sheffield, Mike liderou a igreja</p><p>anglicana e batista até quando se tornou a maior igreja no norte da Inglaterra, com mais de</p><p>dois mil membros, 80% dos quais tinham menos de 40 anos. Logo depois, Mike e sua família</p><p>se mudaram</p><p>de Sheffield para Phoenix, em 2004, para ser o superior da The Order of Mission</p><p>(TOM), fundada como uma comunidade da aliança de líderes missionários em todo o</p><p>mundo.171 Estabelecida em abril, a TOM surgiu como resultado do entendimento de que “as</p><p>formas institucionais do cristianismo são vazias, tediosas, irrelevantes e têm pouca relação</p><p>com as questões reais da vida da maioria das pessoas não frequentadoras de igreja”. Breen</p><p>focou no desejo das pessoas entre 20 e 30 anos de ter seu próprio lugar e encontrar sentido,</p><p>valor e propósito. Instigado pelo modelo do mosteiro inglês/romano e do padrão celta dos</p><p>evangelistas viajantes, Breen originou o que descreve como ordem missionária global. Os</p><p>que desejam se unir a ela precisam adotar as regras da TOM, que reinterpreta os conceitos</p><p>monásticos tradicionais de pobreza, castidade e obediência como devoção à vida de</p><p>simplicidade, pureza e responsabilidade. Todos os votos são feitos depois de três anos e</p><p>firmados para a vinda inteira. A estrutura da TOM é formada justamente com base nos</p><p>cinco dons de Efésios 4, com cada ministério representado por um “guardião”. Os membros</p><p>da TOM se encontram em grupos e formam comunidades da fé em cafés, bares, escolas,</p><p>universidades, campi, casas, em qualquer lugar que determinarem. A TOM se tornou um</p><p>movimento mundial abrangendo os Estados Unidos, o Reino Unido, a Europa e a</p><p>Australásia. O interessante, no entanto, é que em todo lugar, tornar-se membro da ordem</p><p>continua sendo uma atitude puramente voluntária, e o próprio Breen rejeita todas as ideias</p><p>de liderança de cima para baixo. Ele lidera a partir de uma posição de influência</p><p>inspiradora, com adesão voluntária por parte de todos os membros.</p><p>Outro grande exemplo de movimento apostólico é encontrado na igreja de Northwood,</p><p>no Texas. Northwood é uma grande igreja com mais de dois mil membros que gerou quase</p><p>90 igrejas. Desde o começo, a Northwood tem se concentrado no exterior com a clara missão</p><p>de impactar o mundo, tanto local quanto globalmente. Como resultado, mais de 800 líderes</p><p>plantadores de igreja foram treinados, ensinados ou mentoreados através do Centro de</p><p>Multiplicação de Igrejas de Northwood. Há agrupamentos de igrejas iniciados por</p><p>Northwood em 19 cidades por todos os Estados Unidos. Sessenta e duas novas igrejas foram</p><p>plantadas na rede de comunicação em 2005. Bob Roberts é o excelente líder do movimento e</p><p>escreveu o modelo em seu livro Transformation. Verdadeiro material apostólico!172</p><p>Talvez, outra maneira de analisar como o ministério apostólico exercita sua ampla</p><p>influência sem confiar em formas centralizadas de organização seja visualizá-lo em termos</p><p>de gerenciamento de significado. Se o Genoma Apostólico geralmente se manifesta em</p><p>forma de um movimento composto pelo estabelecimento de rede de agências, igrejas e</p><p>indivíduos (assim como vemos no mDNA dos sistemas orgânicos), ele se mantém unido por</p><p>meio de uma rede de sentido criada pela influência apostólica e pelo ambiente. A liderança</p><p>apostólica faz isso ao se concentrar no estabelecimento de redes de relacionamento no</p><p>sentido e nas implicações do Evangelho, bem como nos relacionamentos estabelecidos por</p><p>meio dela. Cada indivíduo, igreja ou agência relaciona-se com o líder apostólico apenas</p><p>porque é significativo para ele fazê-lo, e não porque é obrigado. Porque o Evangelho é</p><p>implantado e o Espírito Santo está presente em toda a comunidade cristã, o ministério</p><p>apostólico e a liderança são capazes de manter as redes unidas. Assim, pode se parecer com</p><p>isto:</p><p>Um tempo considerável foi gasto na dinâmica desta forma de liderança devido à</p><p>necessidade de enfatizar ser este o aspecto da liderança que informa a verdadeira influência</p><p>apostólica. É esse tipo de liderança que cria o contexto para o surgimento da igreja</p><p>missional.</p><p>A ����� �� G����� A���������</p><p>A igreja missional requer um ministério missional e um sistema de liderança. Na maior</p><p>parte, a igreja da cristandade obscureceu a necessidade de um sistema de liderança</p><p>missional completo, pois a autocompreensão da igreja tornou-se fundamentalmente não</p><p>missional. Como todos os cidadãos eram considerados cristãos, era necessário apenas que os</p><p>ministérios pastoral e de ensino cuidassem e ensinassem a congregação. Por fim, foram</p><p>instituídos como ofícios na igreja e tornaram-se as principais metáforas para a liderança</p><p>eclesiástica. O efeito final é que todo o sistema pesou em favor da manutenção e do cuidado</p><p>pastoral, tornando-os hegemônicos na prática,173 e, portanto, ambos fragmentaram e</p><p>distorceram toda a missão e o ministério da igreja em favor de apenas parte de seu</p><p>chamado.</p><p>A consequência direta disso foi que os ministérios apostólico, profético e evangelístico e</p><p>os estilos de liderança foram marginalizados e efetivamente “exilados” do ministério oficial</p><p>e da liderança da igreja. Isso não significa que esses ministérios tenham desaparecido por</p><p>completo. Longe disso: muitos dentro da vida da igreja atual e histórica têm exercido esses</p><p>ministérios sem, especificamente, receberem o título de “apóstolos” ou “profetas”, porém,</p><p>em geral, perderam a legitimidade e reconhecimento formais, e tentaram ser exercidos fora</p><p>do contexto da igreja local, sistemas denominacionais e seminários.174 Esse “exílio” em parte</p><p>fez surgir o desenvolvimento das agências paraeclesiásticas e ordens missionais, cada uma</p><p>com um foco ministerial reduzido. Por exemplo, o Navigators175 surgiu como resultado do</p><p>chamado para evangelizar e discipular pessoas fora das estruturas da igreja, porque ela não</p><p>era eficiente (ou não estava interessada?) em fazer isso. O Sojourners176 apareceram para</p><p>representar os interesses de justiça social que a igreja, em geral, ignora. A World Vision177</p><p>como agência de ajuda e desenvolvimento é ainda outro exemplo. No entanto, neles foram</p><p>mantidos, geralmente, os estilos de liderança apostólico/profético/evangelístico (APE). Esta</p><p>separação do APE dos estilos pastoral/ensino/didático (PED) foi desastroso para a igreja</p><p>local e prejudicou a causa de Cristo e sua missão.178</p><p>Definição Foco/tarefa</p><p>principal</p><p>Impacto quando</p><p>em sincronia com</p><p>outros ministérios</p><p>Impacto quando</p><p>monopolizado</p><p>Apostólico Essencialmente, o despenseiro do DNA</p><p>da igreja.</p><p>Como “os enviados”, o ministério</p><p>apostólico e a liderança asseguram que o</p><p>cris�anismo seja fielmente transmi�do</p><p>de um contexto a outro e de uma época</p><p>a outra.</p><p>Ampliação do</p><p>cris�anismo</p><p>Guardar e fixar o</p><p>DNA da igreja</p><p>tanto</p><p>teologicamente</p><p>quanto de modo</p><p>missional</p><p>Estabelecer a</p><p>igreja em novos</p><p>contextos</p><p>“Descoberta” de</p><p>outros ministérios</p><p>(A→PEPD)</p><p>Desenvolvimento</p><p>de líderes e</p><p>sistemas de</p><p>liderança</p><p>Perspec�va de</p><p>estratégia</p><p>missional</p><p>Rede de</p><p>comunicação</p><p>translocal</p><p>Manifestação</p><p>saudável do</p><p>Genoma</p><p>Apostólico</p><p>Ampliação da fé.</p><p>Cris�anismo</p><p>autên�co</p><p>Modelo missional</p><p>da igreja é</p><p>adotado</p><p>Rede de</p><p>comunicação</p><p>translocal saudável</p><p>Crescimento da</p><p>igreja e do</p><p>movimento</p><p>Missão pioneira</p><p>Experimentação</p><p>com novas formas</p><p>de igreja</p><p>(encarnacional)</p><p>Manifestações do</p><p>APEPD</p><p>Tendência aos</p><p>es�los</p><p>autocrá�cos de</p><p>liderança</p><p>Muitas pessoas</p><p>feridas na</p><p>organização</p><p>devido à tarefa de</p><p>orientação futura</p><p>do apóstolo</p><p>Muitos desafios e</p><p>mudanças, sem</p><p>uma transição</p><p>saudável o</p><p>bastante; isso</p><p>requer função</p><p>pastoral e de</p><p>ensino</p><p>Profé�co Essencialmente, a pessoa que tem os</p><p>ouvidos inclinados para Deus, age como</p><p>sendo a boca de Deus e, portanto, fala</p><p>por Deus; com frequência em tensão</p><p>com a consciência dominante.</p><p>Narrador da verdade para o cristão.</p><p>Discenir e</p><p>transmi�r a</p><p>Vontade de Deus</p><p>Assegurar a</p><p>obediência da</p><p>comunidade da</p><p>aliança</p><p>Ques�onar o</p><p>status quo</p><p>Obediência da</p><p>igreja e fidelidade</p><p>a Deus</p><p>Fé orientada por</p><p>Deus (menos</p><p>“medo do</p><p>homem”)</p><p>Desafiar a</p><p>consciência</p><p>predominante</p><p>Ação intracultural</p><p>Jus�ça social</p><p>Sen�mento de</p><p>“diversão”</p><p>unidimensional</p><p>para com a</p><p>concepção da</p><p>liderança da igreja</p><p>Par�darismo</p><p>Exclusivo e até</p><p>ofensivo</p><p>Propensão a ser</p><p>muito a�vista e</p><p>dirigido</p><p>Às vezes, um</p><p>sen�mento</p><p>“espiritual”</p><p>demais</p><p>Evangelís�co Essencialmente, o recrutador, carregador</p><p>e comunicador da mensagem do</p><p>Evangelho.</p><p>Narrador da verdade ao infiel.</p><p>Chama para si a responsabilidade</p><p>da</p><p>redenção de Deus em Jesus.</p><p>Tornar clara a</p><p>oferta de salvação</p><p>para que as</p><p>pessoas possam</p><p>ouvir e responder</p><p>em fé</p><p>Recrutar para a</p><p>causa</p><p>Expansão da fé por</p><p>meio da resposta</p><p>ao chamado</p><p>pessoal de Deus</p><p>Crescimento</p><p>orgânico numérico</p><p>do povo de Deus</p><p>Perda da visão</p><p>abrangente e</p><p>saúde comum</p><p>Perspec�vas</p><p>estreitas sobre a</p><p>fé, limitadas ao</p><p>“Evangelho</p><p>simples”</p><p>Pastoral Essencialmente, o pastor cuida do povo Cul�var uma rede Nutrir a fé e a Comunidade</p><p>de Deus e o desenvolve pela liderança,</p><p>treinamento, proteção e disciplina.</p><p>de</p><p>relacionamentos e</p><p>comunidade</p><p>amável e</p><p>espiritualmente</p><p>madura</p><p>Fazer discípulos</p><p>comunidade</p><p>Relacionamentos</p><p>amáveis</p><p>Crescimento no</p><p>discipulado</p><p>Sen�do de ligação</p><p>Adoração e oração</p><p>fechada e não</p><p>missional</p><p>Codependência</p><p>entre igreja e</p><p>pastor</p><p>(complexidade</p><p>messiânica)</p><p>Abordagem de</p><p>“não cause</p><p>problemas” para a</p><p>organização</p><p>Se expressarem-se</p><p>de maneira muito</p><p>“feminina”, os</p><p>homens podem</p><p>ser separados da</p><p>igreja</p><p>Ensino Essencialmente, o ministério que</p><p>evidencia a mente/vontade de Deus de</p><p>modo que o povo de Deus adquira</p><p>sabedoria e compreensão.</p><p>Discernimento</p><p>Direção</p><p>Ajuda a</p><p>comunidade de fé</p><p>a explorar e buscar</p><p>compreender a</p><p>mente de Deus</p><p>Compreensão de</p><p>Deus e da fé</p><p>A verdade guia o</p><p>comportamento</p><p>Autoconhecimento</p><p>Devoção para o</p><p>aprendizado e</p><p>integração</p><p>Dogma�smo</p><p>teológico</p><p>Gnos�cismo</p><p>cristão (“salvo”</p><p>pelo</p><p>conhecimento da</p><p>Bíblia e teologia; a</p><p>Bíblia subs�tui o</p><p>Espírito Santo.)</p><p>Intelectualismo</p><p>Controle por meio</p><p>das ideias:</p><p>farisaísmo (“isso é</p><p>lícito?”)</p><p>Para compreender a natureza diferente de cada um desses ministérios, precisamos</p><p>explorar rapidamente as principais tarefas/funções de cada um, o efeito quando um</p><p>monopoliza e domina separadamente dos demais e o efeito quando é integrado junto com</p><p>outros ministérios. A maneira mais fácil de fazer isso é com uma tabela comparativa.</p><p>Algumas qualificações da APEPD</p><p>Em primeiro lugar, em The Shaping of Things to Come, dissemos que é importante manter em</p><p>mente que ministério é diferente de liderança quanto ao grau e função.179 Efésios 4.7,11s</p><p>atribui os ministérios APEPD a toda a igreja, não apenas à liderança (E a graça foi concedida a</p><p>cada um de nós..., v.7; E ele mesmo concedeu uns para..., v.11). Portanto, tudo está presente em</p><p>algum lugar no APEPD (apostólico, profético, evangelístico, pastoral,</p><p>ensinamento/didático). Eu argumentaria com convicção que o APEPD é, na realidade, uma</p><p>parte do DNA de todo o povo de Deus; em toda estrutura do que significa ser “igreja”. Em</p><p>outras palavras, está latente. Reconhecer isso é crucial para libertar o poder real do</p><p>ensinamento paulino e, como tal, é uma extensão do ensinamento do Novo Testamento a</p><p>respeito do sacerdócio e ministério de todo o povo de Deus. Muito para ministério genérico</p><p>está incorporado na eclesiologia de Paulo. E sobre a liderança?</p><p>Snyder destaca corretamente que a tarefa central da liderança é formar uma comunidade</p><p>ministerial apostólica e fortalecida com carisma com base em Efésios 4.11s.180 A liderança à</p><p>luz do APEPD pode ser compreendida como “um chamado dentro de um chamado”; trata-</p><p>se de uma tarefa distinta que implica em liderar e influenciar o corpo de Cristo, e não</p><p>apenas ministrar. Nem todos os ministros são líderes, isso é bastante óbvio. Assim, a</p><p>liderança incorpora um ministério APEPD em particular concedido ao cristão, porém, o</p><p>amplia e o reorienta, a fim de que se ajuste ao chamado distinto e às tarefas da liderança.</p><p>Em segundo lugar, de acordo com a minha experiência, é raro que uma pessoa atue em</p><p>apenas um desses ministérios. Pelo contrário, nossos chamados ministeriais parecem ser</p><p>expressos mais como um complexo de ministérios, embora atuemos principalmente em um</p><p>deles, dependendo de nosso contexto. Assim, podemos visualizar da seguinte forma:</p><p>podemos ter ministérios primários, secundários e, possivelmente, terciários, todos atuando</p><p>de maneira dinâmica. Cada um informa e qualifica o tipo de ministério principal. Eles</p><p>formarão um determinado complexo ministerial, igual ao tipo de personalidade (vá em</p><p>www.theforgo�enways.org para criar um perfil pessoal de seu ministério [Site em inglês]).</p><p>Por exemplo, uma pessoa pode ser principalmente profética, porém, ter dimensões</p><p>evangelísticas e pastorais também. É possível fazer uma representação em diagrama como</p><p>segue:</p><p>Em terceiro lugar, muitos perguntam se o texto de Efésios é a lista definitiva e final dos</p><p>ministérios. Minha resposta é que é definitiva, mas não necessariamente final. Pode muito</p><p>bem haver outros, no entanto, somente acrescentam à listagem básica encontrada em Efésios</p><p>4 e não podem diminuí-la.181 Talvez, a melhor maneira de dizer seja que a natureza do</p><p>ministério do Novo Testamento é de no mínimo 5 ministérios.</p><p>Em quarto lugar, como os dons espirituais estão relacionados a esses ministérios? Eu</p><p>q g p</p><p>acredito que os ministérios recorrem a todos os diversos dons espirituais conforme</p><p>necessário e conforme Deus agracia. É claro que determinados ministérios recorrem a um</p><p>grupo particular de dons espirituais. Por exemplo, o ministério de ensino, obviamente,</p><p>conta com dom do ensino, sabedoria e outras formas de dons reveladores, mas todos estão</p><p>disponíveis caso a situação necessite deles e assim quiser o Espírito.</p><p>Por fim, o APEPD deve ser e atuar como um sistema: um sistema dentro de um sistema</p><p>vivo que forma a igreja. Todo o texto de Efésios 4 é rico em imagens orgânicas e</p><p>perspectivas (corpo, ligamentos, cabeça, etc.). O ministério cristão jamais deve ser de um ou</p><p>dois ministérios, mas de cinco, e cada estilo de liderança é fortalecido e informado pelas</p><p>contribuições dos demais. Analisemos isso um pouco mais de perto.</p><p>Um mais um é igual a três ou mais</p><p>Deixando as perspectivas mais teológicas à parte, façamos uma rápida análise da igreja</p><p>como sistema social para explorar mais o impacto dos diferentes estilos de liderança.</p><p>Quando fizermos isso, descobriremos que o plano radical de Paulo para o movimento</p><p>cristão é confirmado por melhores técnicas atuais na teoria e na prática da liderança e</p><p>gerenciamento.</p><p>Na maioria dos sistemas de liderança, admite-se a existência de um ou mais dos seguintes</p><p>estilos de liderança:</p><p>O empresário, inovador e revolucionário que inicia um novo produto, serviço ou tipo de</p><p>organização.</p><p>O questionador ou investigador que sonda a percepção e adota questionamentos a</p><p>respeito da atual direção da programação e aprendizado organizacional (agente</p><p>provocador);</p><p>O comunicador e recrutador para a causa organizacional que elabora a ideia ou produto</p><p>e ganha lealdade e confiabilidade para a marca.</p><p>O humanizador ou motivador de pessoas que adota um sistema de relacionamento</p><p>saudável por meio do gerenciamento de significados.</p><p>O sistematizador e filósofo capaz de articular claramente os propósitos e objetivos</p><p>organizacionais de forma a favorecer a compreensão corporativa.182</p><p>Em The Shaping of Things to Come, Michael Frost e eu comentamos que os</p><p>diversos cien�stas sociais u�lizam termos diferentes para as categorias citadas, no entanto, reconhecem</p><p>que elas representam as contribuições vitais que os diferentes �pos de líderes trazem para a organização.</p><p>Na maioria das teorias de gerenciamento de liderança, supõe-se que as agendas conflitantes e as</p><p>mo�vações desses líderes os coloquem em direções diferentes. Entretanto, imagine um sistema de</p><p>liderança e qualquer cenário (coorpora�vo, governamental, polí�co, etc.) no qual o empresário</p><p>revolucionário e o estrategista interajam de forma dinâmica com o incitador do status quo (o</p><p>ques�onador). Imagine que eles estão em um diálogo a�vo e se relacionem com o comunicador</p><p>apaixonado/recrutador, a pessoa que transmite a mensagem além das fronteiras organizacionais e vende a</p><p>ideia(s) ou produto(s). Eles, por sua vez, estão em comprome�mento constante com o humanizador, o</p><p>cuidador, o vinculador social e o sistema�zador e ar�culador de tudo. A sinergia nesse sistema seria</p><p>significa�va em qualquer contexto. Obviamente, a combinação dos diferentes es�los de liderança é maior</p><p>do que a soma de suas partes.183</p><p>Assim como os vários sistemas em nosso corpo</p><p>humano (como os sistemas circulatório,</p><p>nervoso e digestivo) trabalham juntos para sustentar e intensificar a vida, o mesmo acontece</p><p>com todos os sistemas vivos, os vários elementos no sistema inter-relacionam-se e trabalham</p><p>para ampliar uns aos outros. A disfunção é o resultado da quebra entre os vários</p><p>componentes ou agentes dentro do sistema. Quando cada componente opera ao máximo e</p><p>harmoniza com os demais, todo o sistema é intensificado e se beneficia da sinergia, ou seja,</p><p>o resultado é maior do que a soma das partes individuais. Assim é com o APEPD. Quando</p><p>todos estiverem presentes e inter-relacionados de maneira eficiente, o corpo de Cristo</p><p>operará ao máximo. Para utilizar os termos de Paulo em Efésios 4: ele “se aperfeiçoará”,</p><p>“amadurecerá”, “se edificará” e “chegará à unidade da fé”.</p><p>Além disso, na teoria dos sistemas vivos, mudar uma organização para um modelo</p><p>orgânico exige que nós (1) desenvolvamos e intensifiquemos os relacionamentos, (2)</p><p>façamos uma polinização cruzada de ideias de diferentes especialidades e departamentos,</p><p>(3) perturbemos o equilíbrio mudando-nos para a beira do caos e (4) foquemos as</p><p>informações de acordo com a missão organizacional. Desenvolver um sistema APEPD</p><p>totalmente funcional na igreja local, agência missionária ou denominação levará bastante</p><p>tempo até alcançar esse fim.</p><p>Por volta do ano 2000, na South Melbourne Restoration Community, reestruturamos nossa</p><p>equipe de liderança com base nesse princípio, e isso levou a um movimento significativo</p><p>visando a transformação em uma igreja missional. Reestruturando a liderança, conseguimos</p><p>garantir que todos os cinco ministérios fossem representados na equipe, cada um,</p><p>alternadamente, liderando a equipe relacionada aos respectivos ministérios APEPD. Então,</p><p>tínhamos uma equipe apostólica focada nas questões translocal, missional, estratégica e</p><p>experimental enfrentadas pela igreja. Tínhamos uma equipe profética que se concentrava</p><p>em ouvir Deus e discernir sua vontade para nós, atentar-se às questões de injustiça social e</p><p>questionar o status quo da igreja da classe média. Tínhamos uma equipe evangelística cuja</p><p>tarefa era supervisionar e desenvolver o evangelismo e expandir. A tarefa da equipe</p><p>pastoral era desenvolver a comunhão, grupos de célula, adoração e aconselhamento, e</p><p>aumentar a capacidade de amar da igreja. A tarefa da equipe de ensino era criar contextos</p><p>de aprendizagem e desenvolver o amor pela sabedoria e entendimento por meio de estudos</p><p>bíblicos, grupos de discussão teológica e filosófica, etc. Todos eram representados por um</p><p>líder principal na equipe de liderança. De vez em quando, criava-se um debate significativo</p><p>a respeito de quais eram os problemas-chave que a igreja estava enfrentando, e era muito</p><p>estimulante.</p><p>Na qualidade de equipe de liderança, operávamos esse modelo com base na ideia do</p><p>sistema aberto de aprendizagem, que permite que a equipe “se adapte e se separe” e</p><p>“discuta e supere”.184 O termo adaptar refere-se àquilo que une uma organização (unidade).</p><p>Trata-se do etos e propósito comum do grupo. O separar acontece quando, intencionalmente,</p><p>permitimos uma grande diversidade de expressões na equipe (diversidade). O discutir</p><p>refere-se à permissão, até mesmo encorajamento, dado pela liderança à divergência, ao</p><p>debate e ao diálogo a respeito das principais tarefas (dualidade). O superar significa que</p><p>todos coletivamente concordam em ultrapassar um desacordo a fim de encontrar novas</p><p>soluções (vitalidade, “chegar à unidade da fé”).</p><p>Assim, em qualquer questão ministerial, a equipe de liderança estaria pré-comprometida</p><p>com a missão comum do grupo. Fizemos uma aliança para fazer “o que fosse preciso” a fim</p><p>de cumprir nossa missão. Dados os relacionamentos saudáveis dentro da equipe, isso</p><p>significou que permitimos opiniões divergentes de cada membro sem nos sentirmos</p><p>ofendidos. Tivemos que viver juntos, lutar juntos e enfrentar problemas juntos, e nossa</p><p>ligação com Jesus e com essa expressão particular de seu povo foi forte. Foi esse senso de</p><p>adequação que permitiu que cada membro operasse além de suas próprias propensões</p><p>ministeriais e representasse suas perspectivas a respeito do problema em questão. A pessoa</p><p>apostólica apresentava ou criticava, segundo as necessidades, para reanimar a comunidade</p><p>em torno da missão. A profética desafiava tudo e fazia perguntas irritantes a respeito de</p><p>como Deus se adequaria aos nossos grandes esquemas. A evangelística sempre estava</p><p>tentando enfatizar a necessidade de trazer as pessoas à fé e como aquilo que sugeríamos</p><p>alcançaria o objetivo. A pastoral expressava as preocupações sobre como a comunidade</p><p>conseguiria comprometer-se de forma saudável com a questão sustentável, e o teólogo</p><p>tentava discernir sua validade a partir das Escrituras e da história. Portanto, a separação</p><p>permitiu divergência significativa de interesses e houve muitos debates, até mesmo</p><p>discussões. No entanto, não tentávamos resolver o debate e os desacordos muito</p><p>rapidamente (isso levou aos difíceis problemas pastorais). Nós lidávamos com o problema</p><p>até que tivéssemos avaliado todas as opções e tivéssemos, por meio do diálogo e debate,</p><p>chegado à melhor solução; resultado que provavelmente seria o mais verdadeiro ao</p><p>g q p</p><p>chamado, mais fiel a Deus, sensível às necessidades daqueles que ainda não era cristãos,</p><p>sustentável, maduro e teologicamente bem fundamentado.185</p><p>O APEPD, se liderado e direcionado da forma correta, pode operar de maneira</p><p>revigorante. Muitas igrejas parecem preferir uma estrutura mais hierárquica com a</p><p>abordagem de cadeia de comando e, na maioria, são lideradas por pessoas dotadas como</p><p>pastores e mestres. Tais classes ministeriais podem visar evitar conflitos ou concentrar-se</p><p>principalmente nas ideias e não na ação. A cultura organizacional resultante luta para</p><p>encontrar a adequação e divisão, discussão e superação. No modelo operacional, as decisões</p><p>são tomadas de cima para baixo. Há pouco espaço para qualquer interação real e</p><p>participação em torno das tarefas e ideias centrais. Como resultado, em muitas estruturas</p><p>denominacionais e igrejas, os membros “da parte inferior” do sistema podem se sentir</p><p>silenciados e ressentidos.</p><p>A abordagem de baixo para cima para o APEPD cria um sistema de aprendizagem</p><p>saudável: a natureza dinâmica de toda a matriz garante que um sistema de aprendizagem</p><p>aberto resulte de uma organização formada com tais estruturas de liderança. Um olhar mais</p><p>para o exterior, não do tipo status quo (no caso, A, P e E) assegurará a entrada de</p><p>informações a partir do lado de fora do sistema e garantirá o comprometimento dinâmico e</p><p>o crescimento com o ambiente da organização. Os ministérios mais voltados ao sustento</p><p>(como o P e o D) assegurarão que a igreja cresça além de sua capacidade. Tudo, no geral, é</p><p>feito para um bom equilíbrio da saúde da igreja e da adequação missional.</p><p>Parece existir uma maravilhosa “ecologia” para o ministério saudável em ação em total</p><p>funcionamento no sistema APEPD. Ela nos fornece um entendimento teologicamente rico e</p><p>organicamente resistente para ajudar líderes e organizações a se tornarem mais missionais e</p><p>ágeis. Na realidade, seria difícil não ser missional se alguém desenvolve intencionalmente</p><p>isso para a vida do povo de Deus no âmbito local e/ou regional. Estou envolvido em uma</p><p>reconstrução similar em torno da ideia do APEPD para a minha denominação, tanto a nível</p><p>nacional quanto internacional, na forma de um corpo informal, muito talentoso e trinacional</p><p>chamado International Missional Team (IMT). A IMT tem sido a responsável por estímulos</p><p>significativos da causa missionária na minha denominação no Reino Unido, Austrália e</p><p>Nova Zelândia, pois essas ideias foram empregadas em nível estratégico. Digo isso para</p><p>assegurar o leitor que essas ideias estão, na verdade, sendo testadas na prática no âmbito</p><p>local, regional e internacional e, apesar do impacto total ainda não ter tido tempo de ser</p><p>avaliado, não há dúvida de que estejam criando um movimento importante na cultura</p><p>denominacional.</p><p>A ������� �����</p><p>Este capítulo tentou articular</p><p>por que o ambiente apostólico, com tudo o que significa, é um</p><p>componente-chave do Genoma Apostólico. Muito francamente, é difícil imaginar a</p><p>existência de movimentos metabólicos, orgânicos e missionais, muito menos duradouros,</p><p>sem a influência apostólica em suas diversas formas. Isso se dá porque ao ministério</p><p>apostólico é confiado o mDNA da igreja de Jesus, e sem essa manifestação do mDNA em</p><p>sua forma verdadeira, o Genoma Apostólico não pode se manifestar por completo. A</p><p>influência apostólica desperta a igreja para seu real chamado e identidade e, assim, é</p><p>insubstituível. Na melhor das hipóteses, os movimentos e igrejas sem a influência apostólica</p><p>podem apenas captar os aspectos do mDNA; não podem conectá-los nesse todo coesivo e</p><p>sinergético que constitui o verdadeiro Genoma Apostólico. Em parte, esta é a razão para</p><p>chamar a força elementar da igreja de “Genoma Apostólico”. Há algo essencial e</p><p>insubstituível no ministério apostólico, crucial para o surgimento dos movimentos</p><p>missionais como aqueles dos períodos bíblicos e pós-bíblicos e do fenômeno da igreja</p><p>clandestina da China.</p><p>7</p><p>S������� ���������</p><p>O principal es�mulo para a renovação do cris�anismo virá da base e das extremidades, dos</p><p>setores do mundo cristão que estão às margens.</p><p>Harvey Cox, Religion in the Secular City</p><p>... A suposição mais provável é que nenhuma teoria atual de negócios terá validade de 10 anos.</p><p>[...] Contudo, poucos execu�vos aceitam que transformar os negócios requer mudanças</p><p>fundamentais nas suposições com base nas quais os negócios são realizados. Exige-se um</p><p>negócio diferente.</p><p>Peter Drucker, “A Turnaround Primer”</p><p>Este capítulo explorará o próximo elemento crucial do mDNA, as estruturas interiores e</p><p>os sistemas que incorporam o Genoma Apostólico e, portanto, permitem o crescimento</p><p>metabólico (crescimento que acontece exponencialmente e organicamente). Neste capítulo,</p><p>nós investigaremos como a igreja, em sua forma mais fenomenal, (quando manifesta o</p><p>Genoma Apostólico de forma genuína) organiza-se como um organismo vivo que reflete</p><p>mais como Deus estruturou a vida em si, em oposição à máquina, que é uma alternativa</p><p>artificial e inorgânica ao sistema vivo. Aqui, estamos em solo bíblico fértil porque as</p><p>imagens orgânicas da igreja e do Reino são abundantes nas Escrituras; imagens como corpo,</p><p>campo, fermento, sementes, árvores, templos vivos, videiras, animais, etc. Essas imagens</p><p>não são apenas metáforas verbais que nos ajudam a descrever a natureza teológica do povo</p><p>de Deus, mas, na realidade, tratam de assuntos referentes à essência. Portanto, precisarão</p><p>ser redescobertas, abraçadas novamente e reavivadas a fim de nos posicionar como povo de</p><p>Jesus para os desafios e complexidades com os quais nos deparamos no século 21. Devemos</p><p>descobrir uma nova maneira de experimentar a nós mesmos além do paradigma estático,</p><p>mecânico e institucional que predomina em nossa vida eclesiástica.</p><p>Não deve nos surpreender o fato de que as imagens orgânicas da igreja retratam seu</p><p>principal fundo teológico a partir da doutrina bíblica da criação (cosmologia), da visão</p><p>ecológica e, de forma intrínseca, espiritual do mundo, em vez de qualquer outra das demais</p><p>disciplinas que convencionalmente instruíram a liderança e o desenvolvimento de</p><p>organizações. A cosmologia deve nos guiar para um entendimento mais profundo sobre nós</p><p>mesmos e nossa função no mundo.</p><p>Por que não buscamos, na criação, por indícios da forma como o próprio Deus pretendia</p><p>que a autêntica vida humana e comunidade se manifestassem? Tudo na vida carrega as</p><p>digitais de Deus e ele preencheu todos os aspectos dela com vitalidade e inteligência</p><p>intrínsecas. O próprio cosmos parece atuar de uma maneira profundamente inteligente;</p><p>quanto mais descobrimos a respeito dele a partir da ciência, das estruturas dos átomos, dos</p><p>padrões climáticos, da migração dos pássaros, da psique humana, mais grandemente</p><p>genioso tudo parece ser. Do quark até a supernova, o universo parece vibrar com a potência</p><p>viva que nos enche de temor e admiração diante da absoluta onipotência e onisciência do</p><p>Deus Criador.</p><p>Esse Criador do Universo não deve ser estranho a nós. As Escrituras claramente ensinam</p><p>que a Trindade estava totalmente envolvida no início do cosmos e na manutenção de toda a</p><p>vida. Deus, o Pai, fala sobre a existência do cosmos com palavras criativas (Gênesis 1). Como</p><p>Pai, ele é a gênese, a fonte de toda a vida. Cristo é retratado nas Escrituras como o</p><p>instrumento da criação (pois nele, foram criadas todas as coisas – Cl 1.16; Todas as coisas foram</p><p>feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez – Jo 1.3), e seu princípio</p><p>organizacional (Nele, tudo subsiste – Cl 1.17; ... sustentando todas as coisas pela palavra do seu</p><p>poder – Hb 1.3). O Espírito Santo é descrito como a essência da vida/espírito: foi ele quem se</p><p>preocupou com o caos do universo pré-formado e lhe deu forma; foi ele quem completou</p><p>cada átomo do universo com modelo e vivacidade. Desde os átomos até as estrelas, todo</p><p>aspecto da criação aponta para um ser inacreditavelmente inteligente e absolutamente</p><p>poderoso e olha para ele em prol de sua realidade contínua e existência (chamada pelos</p><p>teólogos de criação continuada). O universo declara a glória de Deus e é um fluxo constante</p><p>de conhecimento e revelação do Senhor (Sl 19.1-4).</p><p>Além disso, esse Deus Criador e trino não pode ser dividido. A presença do Senhor</p><p>encontra-se em cada parte do seu universo. Como aponta J. V. Taylor em seu marcante livro</p><p>The Christlike God:</p><p>Em qualquer lugar onde Deus exista, ele existe em totalidade. Em sua infinitude, ele cria o universo, apesar</p><p>de conhecer cada átomo de sua estrutura do interior. A verdade do Deus transcendente e do Deus</p><p>iminente, seu mistério e sua disponibilidade, devem ser man�dos juntos como uma realidade singular,</p><p>dialé�ca para o pensamento humano, mas indivisível em si mesma. O Deus que está nas coisas não é</p><p>secundário ou inferior ao Deus que está além. Sua insondável diversidade trata cada um de nós com uma</p><p>in�midade que supera todos os outros relacionamentos.186</p><p>A doutrina da transcendência de Deus nos informa que Deus está além de sua criação; ele</p><p>é muito maior do que ela, e ela existe nele. No entanto, a doutrina relacionada da eminência</p><p>de Deus nos revela que ele também está totalmente presente até mesmo no menor átomo. Ele</p><p>preenche o universo como também o transcende. Isso quer dizer que todo o cosmos, e a</p><p>própria vida, estão diretamente ligados a Deus e, portanto, estão cheios do mistério sagrado</p><p>da vida divina. Como meio de revelação, a criação pode nos ensinar muito a respeito da</p><p>mente do Senhor da forma como a vida deve ser vivida. Porque é a Trindade que cria este</p><p>mundo, isso não tira nem um pouquinho a atenção da verdade de Deus e sua redenção</p><p>conforme revelado nas Escrituras. A compreensão orgânica sobre o povo de Deus é formada</p><p>aos poucos a partir da criação e das Escrituras.</p><p>Tudo isso é para dizer que uma imagem orgânica da igreja e missão é teologicamente</p><p>muito mais rica do que qualquer concepção mecânica e institucional da igreja que possamos</p><p>imaginar. Isso se dá porque está consolidado pelo senso de relação íntima de Deus e pelo</p><p>investimento em sua criação. Os seguidores de Jesus que buscam basear sua vida comum</p><p>nas maneiras orgânicas encontram nas Escrituras, bem como na criação, uma rica fonte</p><p>teológica para consolidá-la e sustentá-la. Encontrar um modelo de igreja mais próximo à</p><p>vida é se aproximar mais do que Deus pretendia primeiramente na criação. Por exemplo, é</p><p>possível verificar que o fermento aparentemente obscuro e insignificante tem muito a nos</p><p>ensinar a respeito do funcionamento interno do Reino de Deus (Mt 13.33).</p><p>G����� ��� ����: � ������ ���� �� ������� ����</p><p>Como essa grande cosmologia está relacionada com nossa experiência na igreja local? Uma</p><p>das reflexões resultantes dos meus 15 anos de experiência na SMRC é que, quando</p><p>crescemos e começamos a atuar segundo o modelo clássico de crescimento de igreja, ficou</p><p>extremamente difícil encontrar Deus em meio aos aparelhos</p><p>elementos</p><p>constituintes e a (re)ativá-los, para que possamos, mais uma vez, ser um verdadeiro</p><p>movimento de Jesus transformador no Ocidente.</p><p>U�� ������� ������</p><p>Há um glossário de termos no final do livro para auxiliar o leitor com definições e termos</p><p>técnicos encontrados por todo o livro. Há também um apêndice (chamado apropriadamente</p><p>de “Curso intensivo de caos”) que, apesar de não ser essencial para a fluência do texto,</p><p>contém material que informa muito sobre o trabalho presente. Podemos aprender diversas</p><p>coisas surpreendentes sobre a vida, sistemas de vida, adaptação e organizações a partir do</p><p>estudo da natureza e dos sistemas orgânicos, portanto, sugiro enfaticamente ao leitor que</p><p>encare isso. No entanto, coloque seu capacete... é um treinamento intensivo, afinal.</p><p>Como ficará claro no decorrer do livro, estou empenhado na ideia de traduzir as</p><p>melhores práticas na missão desenvolvidas ao longo do último século nos dois terços do</p><p>mundo para o primeiro mundo. O nome dado convenientemente foi abordagem em missões</p><p>para o primeiro mundo, e você descobrirá que sou um ardente cristão. Embora este livro seja</p><p>principalmente a respeito da missão de todo o povo de Deus, ela não está limitada à missão</p><p>corporativa da igreja local ou denominação. A missão deve acontecer em e através de cada</p><p>aspecto da vida, e isso é feito por todos os cristãos, em todos os lugares. Ambas as formas de</p><p>missão, a missão apostólica da comunidade e a expressão individual de missão pelo povo</p><p>de Deus, devem ser ativadas se desejarmos nos tornar uma igreja missional de verdade.</p><p>Há tempos sou estudante da natureza dos movimentos tanto social quanto religioso.</p><p>Tenho tentado aprender o que exatamente faz o movimento funcionar e o que o torna tão</p><p>eficaz na disseminação da mensagem (ao contrário da instituição mais estática). É por meio</p><p>da recuperação do ethos genuíno do movimento que conseguiremos restaurar alguma coisa</p><p>do dinamismo dos movimentos significativos de Jesus na história8. O leitor compreenderá</p><p>esse fascínio pelos movimentos durante todo o livro.</p><p>Outra característica desta obra é a crítica consistente do institucionalismo da religião.</p><p>Como isso pode ser preocupante para alguns, é necessário uma palavra esclarecedora para</p><p>evitar desentendimentos desnecessários posteriormente. Sou um crítico do institucionalismo</p><p>não porque ache a ideia ruim, mas apenas porque, por meio de meus estudos a respeito dos</p><p>movimentos fenomenais de Jesus, cheguei à inquietante conclusão de que o povo de Deus é</p><p>muito mais forte quando tem pouco daquilo que reconhece como instituição eclesiástica em</p><p>sua vida em conjunto. Portanto, para esclarecimento, é preciso deixar clara a distinção entre</p><p>estrutura organizacional necessária e institucionalismo. Conforme veremos, as estruturas são</p><p>absolutamente necessárias para a ação humana cooperativa, bem como para a manutenção</p><p>de certas formas de padrões sociais coerentes. Entretanto, parece que, ao longo do tempo, de</p><p>modo progressivo, as estruturas impessoais das instituições assumem papéis,</p><p>responsabilidades e autoridade pertencentes, de forma legítima, a todo o povo de Deus em</p><p>suas expressões local e fundamental. É neste ponto que as coisas tendem a dar errado.9</p><p>O material em si é estruturado em duas seções.</p><p>Seção 1</p><p>A seção 1 estabelece o cenário fazendo referência a minha própria narrativa a fim de auxiliar</p><p>o leitor na busca de algumas ideias produtivas e experiências que direcionaram meus</p><p>pensamentos e incendiaram minha imaginação. Ao narrar alguns dos temas centrais em</p><p>minha própria história, espero levar o leitor ao que se pode chamar de leitura missional</p><p>sobre a situação da igreja no ocidente e se estenderá no decorrer dos primeiros dois</p><p>capítulos: o capítulo 1 observa a questão a partir da perspectiva de um especialista local</p><p>tentando conduzir um movimento de plantação de igreja complexo no interior da cidade</p><p>por meio de grandes mudanças que estavam ocorrendo ao nosso redor. O capítulo 2 explora</p><p>a situação missional na qual nos encontramos a partir da perspectiva de um nível</p><p>estratégico e translocal.</p><p>Essas duas perspectivas, uma macro e uma micro, são vitais para lidarmos com os</p><p>conceitos de uma igreja missional-encarnacional.</p><p>Seção 2</p><p>Aqui está a questão. Este é o cerne do livro, uma vez que tenta descrever o Genoma</p><p>Apostólico e os elementos constituintes do mDNA que o fazem incendiar.10 Os que são</p><p>impacientes, com tempo restrito ou que sentem que não precisam se ocupar com uma</p><p>leitura missionária da situação da igreja em nosso contexto atual, podem pular para esta</p><p>seção porque a essência real deste livro encontra-se na seção dois de qualquer forma.</p><p>Entretanto, acredito que o leitor será amplamente recompensado pela leitura dos capítulos</p><p>um e dois, então eu o encorajo. Einstein disse que quando a solução é simples, Deus está</p><p>falando. Seguindo esse conselho, tenho tentado discernir os elementos fundamentais que se</p><p>combinam para criar o Genoma Apostólico e para simplificá-los aos componentes</p><p>absolutamente irredutíveis. Há seis elementos simples, mas inter-relacionados, de mDNA,</p><p>formando uma estrutura complexa e viva.11 Eles nos apresentam paradigmas poderosos</p><p>com os quais conseguiremos avaliar nosso entendimento atual e experiências da igreja e da</p><p>missão. São eles:</p><p>Jesus é Senhor: No centro e na circunferência de todo movimento significativo de</p><p>Jesus existe uma confissão muito simples. Simples, mas que vibra completamente com</p><p>as energias principais da fé bíblica, isto é, a afirmação do Único Deus em todos os</p><p>aspectos de toda a vida, e a resposta de seu povo a essa afirmação (Dt ٦.٤-٦). A maneira</p><p>como foi expressa no Novo Testamento e em movimentos posteriores foi simplesmente</p><p>“Jesus é Senhor!” Com essa simples confissão, eles mudaram o mundo.12</p><p>Fazer discípulos: Essencialmente, isso envolve a tarefa insubstituível e para toda a</p><p>vida de se tornar como Jesus pela incorporação de sua mensagem. Talvez, este seja o</p><p>ponto no qual muitos de nossos esforços fracassam. Fazer discípulos é uma tarefa</p><p>central insubstituível da igreja e precisa ser estruturada na fórmula básica de toda</p><p>igreja (capítulo 4).</p><p>Impulso missional-encarnacional: O capítulo 5 explora os dois impulsos dos</p><p>movimentos missionais marcantes, isto é, a dinâmica da confiança exterior e o impulso</p><p>relacionado mais profundo que, juntos, semeiam e fixam o Evangelho em diferentes</p><p>culturas e grupos de pessoas.</p><p>Ambiente apostólico: O capítulo 6 considera outro elemento do mDNA autêntico – a</p><p>influência apostólica e o ambiente fértil criado na iniciação e manutenção dos</p><p>movimentos fenomenais de Deus. Isso estará relacionado ao tipo de liderança e</p><p>ministério exigido para sustentar o crescimento metabólico e impacto.</p><p>Sistemas orgânicos: O capítulo 7 explora o próximo elemento no mDNA, a ideia de</p><p>estruturas apropriadas para o crescimento metabólico. Os movimentos fenomenais de</p><p>Jesus crescem, precisamente, porque não têm instituições centralizadas para impedir o</p><p>crescimento pelo controle. Neste capítulo, descobriremos que os movimentos marcantes</p><p>de Jesus têm a impressão de um movimento, a estrutura de uma rede de comunicação e</p><p>se espalha como vírus.</p><p>Communitas, não comunidade. As formas mais vigorosas de comunidade são as que</p><p>se unem no contexto de uma provação compartilhada ou as que se definem como um</p><p>grupo com uma missão que vai além de si mesmo, iniciando, assim, uma jornada</p><p>arriscada. Muitas preocupações com segurança e proteção combinadas com conforto e</p><p>conveniência nos acalmaram com relação ao nosso verdadeiro chamado e propósito.</p><p>Todos nós amamos aventura, ou não?</p><p>Este capítulo tem como objetivo colocar a aventura de volta à ventura.</p><p>Então, a estrutura do Genoma Apostólico observará algumas coisas como:</p><p>M����� �� ���� � �������</p><p>Conforme indicado acima, a tarefa deste livro é tentar identificar os elementos irredutíveis</p><p>que constituem o Genoma Apostólico e, para isso, utilizarei tanto a primeira igreja quanto a</p><p>igreja chinesa do século 20 como meus casos-teste principais.13 Tendo discernido o que</p><p>parecem ser padrões distintos, tentei</p><p>progressivamente mais</p><p>parecidos com uma máquina requisitados para o “funcionamento de uma igreja”. Com o</p><p>crescimento numérico, parecia que estávamos sendo retirados do ritmo natural da vida, do</p><p>ministério direto e que nossos papéis se tornaram mais gerenciais do que antes. No entanto,</p><p>essa mecanização do ministério não foi sentida apenas pela liderança da igreja; as pessoas</p><p>na igreja estavam sendo programadas como resultado da vida e, portanto, estavam menos</p><p>engajadas nos relacionamentos ativos com as pessoas de fora da comunidade da fé. Dado</p><p>meu amplo ministério, eu sei que essa experiência é endêmica a muitas expressões</p><p>contemporâneas da igreja. Tudo isso levou a um questionamento pessoal a fim de encontrar</p><p>uma abordagem mais orientada para a vida sobre missão, ministério e comunidade e, por</p><p>fim, levou à descoberta do que chamamos de abordagem dos sistemas vivos (veja o anexo “Um</p><p>curso intensivo em meio ao caos”).</p><p>A abordagem dos sistemas vivos busca estruturar a vida comum de uma organização em</p><p>torno dos ritmos e estruturas que refletem a vida em si. Nessa abordagem, procuramos</p><p>investigar a natureza da vida, observar como as coisas vivas tendem a se organizar e,</p><p>depois, tentamos imitar, o mais próximo possível, essa capacidade nata dos sistemas vivos</p><p>de desenvolverem altos níveis de organização, adaptarem-se a diferentes condições e</p><p>ativarem a inteligência latente quando necessário (surgimento). Esse questionamento sobre</p><p>uma forma mais sustentável de vida não está limitado à igreja. Os principais proponentes</p><p>dessa visão apresentam explicitamente “uma ciência de vida sustentável” com base no</p><p>estudo da vida e no respeito por ela (Fritjof Capra, Margaret Wheatley, Richard Pascale, et</p><p>al.)187 Nesses livros, descobri novas metáforas e perspectivas que me inspiraram</p><p>profundamente em minha busca por uma abordagem mais orgânica e orientada para a vida</p><p>e menos programática para a nossa tarefa. Algumas delas incluem:</p><p>Todas as coisas vivas parecem ter inteligência nata. Os sistemas vivos, sejam orgânicos</p><p>na forma (p. ex., um vírus, o ser humano) ou organizações sistêmicas (p. ex., o mercado</p><p>de valores, uma colmeia, uma cidade, uma empresa comercial, até mesmo as formações</p><p>de cristais) parecem ter vida por si só e possuir uma inteligência inerente que envolve</p><p>uma aptidão para a sobrevivência, adaptação e reprodução. Essa capacidade de</p><p>desenvolver formas de vida elevadas está ligada ao que os teóricos da área chamam de</p><p>“inteligência distribuída”. Quando aplicada à teoria organizacional, a tarefa da</p><p>liderança deve desatrelar, aproveitar e direcionar a inteligência distribuída pela criação</p><p>de ambientes onde ela possa se manifestar.</p><p>A vida parece estar profundamente interconectada. A principal ideia operante é a dos</p><p>relacionamentos arranjados em uma rede dinâmica – uma rede de vida e de sentido. A</p><p>teoria dos sistemas vivos reconhece que nós somos sempre parte de um sistema maior;</p><p>pertencemos a uma ecologia composta por sistemas internos e externos com os quais nos</p><p>relacionamentos constantemente. Transtornos em uma parte do sistema implicam em</p><p>uma reação em cadeia que afeta todos os elementos dentro do sistema. Capra chama isso</p><p>de “a rede da vida”. Algumas das implicações são as seguintes: (1) Pequenas coisas</p><p>podem ter consequências grandes no sistema, às vezes, chamadas de “efeito borboleta”</p><p>(a ideia de que uma borboleta batendo suas asas na Amazônia possa causar um furacão</p><p>em outro continente). Jamais devemos subestimar o poder das coisas aparentemente</p><p>insignificantes para afetar um sistema, mesmo que pareçam não ter qualquer</p><p>relacionamento em um primeiro momento. (٢) Um sistema é funcional ou não à medida</p><p>que todas as suas partes são saudáveis e se relacionam umas com as outras de forma</p><p>orgânica. (٣) A maneira de desenvolver um sistema de aprendizagem/adaptativo</p><p>saudável é trazer todos os elementos diferentes para uma comunicação uns com os</p><p>outros.</p><p>Informações trazem mudança: todos os sistemas vivos respondem às informações. Na</p><p>realidade, eles parecem capazes de selecionar informações com base no que lhes é</p><p>significativo ou útil. Portanto, as informações são cruciais para a inteligência, a</p><p>adaptabilidade e o crescimento. O fluxo livre de informações no sistema é vital para o</p><p>crescimento e adaptação.</p><p>Desafios de adaptação e surgimento: pela constante interação com o ambiente, o sistema</p><p>vivo catalisa sua capacidade inerente para adaptar-se às circunstâncias em mudança. O</p><p>fracasso em adaptar-se resulta em declínio e morte. O surgimento (novas formas de</p><p>organização) acontece quando o sistema vivo está no modo de adaptação (e, portanto,</p><p>aprendizagem), todos os elementos no sistema estão se relacionando de forma funcional</p><p>e a inteligência distribuída é cultivada e focada por meio de informações.</p><p>Embora tudo isso possa parecer um pouco esotérico e conceitual, apenas pare por um</p><p>momento e considere como a abordagem dos sistemas vivos se relaciona com a comunidade</p><p>cristã. Seguindo essa abordagem, nós, em primeiro lugar, precisamos admitir que qualquer</p><p>grupo em particular do povo de Deus, se as pessoas forem verdadeiramente dele, tem tudo</p><p>nele mesmo (mDNA latente) para conseguir se adaptar e prosperar em qualquer cenário.</p><p>Temos que aceitar que, dada as condições corretas, a comunidade pode descobrir recursos</p><p>latentes e capacidades que nunca imaginou possuir. A tarefa da liderança missional aqui é</p><p>simplesmente libertar o mDNA dormente no sistema e ajudar a direcioná-lo para os</p><p>propósitos pretendidos por Deus.</p><p>Em segundo lugar, a tarefa da liderança missional é trazer os vários elementos do sistema</p><p>para um inter-relacionamento significativo. Isso exigirá que o líder concentre-se no</p><p>desenvolvimento de uma estrutura em rede, contrária à institucional, para a igreja.</p><p>Devemos nos tornar uma expressão eficiente do “corpo de Cristo” (1Co 12.12-27 não é</p><p>apenas uma metáfora, apesar de tudo; trata-se de uma descrição da igreja em seu inter-</p><p>relacionamento com cada parte de sua cabeça). É muito importante compartilhar</p><p>informações e ideias e a troca de polinização em termos de dons e chamados em torno das</p><p>tarefas comuns (Ef 4.1ss). Devemos trazer todas as partes necessárias do corpo para a</p><p>equação missional caso queiramos, verdadeiramente, funcionar como um corpo. Em</p><p>cenários não eclesiásticos, isso significaria fazer os diversos departamentos e especialistas</p><p>relacionarem-se de modo significativo e compartilhar informações de maneira funcional em</p><p>torno das tarefas comuns, trazendo, por meio disso, a diversidade para uma unidade de</p><p>funcionamento. Parece que nos sistemas vivos, a resposta real é sempre encontrada em uma</p><p>perspectiva mais ampla, quando diversos dons e conhecimento atritarem entre si, novas</p><p>formas de conhecimento e possibilidades surgirão.</p><p>Em terceiro lugar, precisamos mover o sistema em direção à beira do caos, ou seja, ele</p><p>precisa tornar-se bastante responsivo ao seu ambiente. A suposição aqui é que, caso não lide</p><p>com os reais problemas enfrentados por ele, o sistema não se adaptará e, portanto, perecerá</p><p>no contexto de qualquer mudança significativa de adaptação. Enterrar a cabeça na areia</p><p>nunca ajudou o avestruz quando havia um predador na área. Nós precisamos agitar o</p><p>sistema</p><p>em equilíbrio a fim de ativar a jornada de aprendizado e o modelo missional. A</p><p>comunidade precisa tornar-se responsiva e responsável. Alinhar os elementos de um</p><p>sistema em uma rede saudável envolverá imprescindivelmente lidar com disfunções que,</p><p>devido à falência de todas as coisas, são inevitáveis no sistema. Fracassar em lidar com a</p><p>disfunção sempre enfraquecerá a organização ou a saúde da comunidade. Aqui, o conflito</p><p>surgirá (eu prometo) e a tarefa da boa liderança nessa situação é administrá-la e traduzi-la</p><p>de maneira criativa em uma significativa experiência de aprendizagem.</p><p>Em quarto lugar, como os sistemas existem em muitas informações desordenadas, a</p><p>tarefa da liderança aqui será ajudar a selecionar o fluxo de informações e focar a</p><p>comunidade ao redor dele. Não com a finalidade de dominar e tentar predeterminar o</p><p>resultado,</p><p>testar a validade de minhas observações sobre outros</p><p>movimentos significativos na história da igreja, e até onde minha opinião própria permitir,</p><p>encontrei-as totalmente consistentes.</p><p>Além disso, este livro não foi escrito a partir da perspectiva de um acadêmico, mas da</p><p>perspectiva de um missionário e estrategista tentando ajudar a igreja a formular um</p><p>paradigma missional capaz de nos acompanhar pelas complexidades do mundo do século</p><p>21 nas quais somos chamados para sermos fiéis. Portanto, está em traços gerais, e não em</p><p>pequenos detalhes; está consistente com minha própria personalidade e abordagem sobre</p><p>questões, porém, garante também que tenhamos precisamente a figura por inteiro. Estamos</p><p>precisando de um novo paradigma, não apenas um retrabalho daquele que já existe. Logo, é</p><p>o todo que conta e não apenas as partes individuais.</p><p>Assim, o livro é mais prescritivo do que apenas descritivo. Escrevi, em grande medida,</p><p>com o praticante missional em mente. Este livro interessa mais àqueles que estão liderando</p><p>igrejas, iniciando novas formas de comunidade cristã sustentável para o século 21 (o que</p><p>chamarei de igreja missional emergente) e àqueles envolvidos no nível estratégico de</p><p>ministério, isto é, o de movimentos de liderança, igrejas alternativas e denominações.</p><p>Basta dizer que, ao explorar essas ideias, percebo que estou observando atentamente</p><p>coisas muito profundas, coisas que, se recuperadas e aplicadas, podem ter ramificações</p><p>consideráveis para o cristianismo ocidental. Digo isso como alguém que não está afirmando</p><p>por conta própria. Na verdade, como todos os que recebem a graça de Deus, sinto que sou</p><p>um humilde receptor de uma revelação, uma descoberta de algo primordial que tenho o</p><p>privilégio de participar. Este livro é uma tentativa trôpega de articular até mesmo uma</p><p>revelação elusiva da natureza do Genoma Apostólico, algo pertencente ao Evangelho em si,</p><p>logo, a todo o povo que vive por meio dele. Albert Einstein disse que quando estava</p><p>observando os mistérios do átomo sentiu como se estivesse observando coisas marcantes e</p><p>maravilhosas por cima do ombro de Deus. Tenho que admitir que tenho esse mesmo</p><p>sentimento de medo quando olho para essas coisas.</p><p>1</p><p>C������ � �������, ����� 1</p><p>Confissões de um missionário frustrado</p><p>Se deseja construir um navio, não reúna pessoas para comprar madeira, preparar as</p><p>ferramentas, distribuir tarefas e organizar o trabalho, mas ensine-as a desejar o oceano amplo</p><p>e sem limites.</p><p>Antoine de Saint-Exupéry</p><p>Muito mais fracassos são resultado do excesso de precaução do que da ousadia de</p><p>experimentar coisas novas. As fronteiras do Reino de Deus nunca foram avançadas por homens</p><p>e mulheres precavidos.</p><p>J. Oswald Sanders</p><p>Segundo o verdadeiro costume bíblico, uma compreensão confiável da natureza das coisas</p><p>resulta da narrativa; uma história envolvendo os tratados de Deus com os seres humanos na</p><p>aspereza e desordem da real história da humanidade, incluindo as nossas próprias histórias.</p><p>Certa vez, um querido amigo meu me disse que nossas histórias eram vitais porque talvez</p><p>sejam a única coisa que podemos falar com absoluta autoridade, precisamente porque são</p><p>nossas histórias. Durante a preparação para explorar as ideias do que forma o autêntico</p><p>DNA missional, preciso colocar essa pesquisa dentro do contexto de minha própria história,</p><p>pois é resultado do meu empenho pessoal em missão e dos esforços existentes para</p><p>conduzir a igreja a um compromisso missional genuíno que me levaram às conclusões</p><p>apresentadas neste livro. Eu posso falar com autoridade da minha própria história. Tudo o</p><p>que lhe peço, como leitor, é para observar se ela é capaz de informar a sua.</p><p>Então, se o leitor me permitir, contarei minha história; é uma história que transborda</p><p>redenção. Uma história sobre Deus envolvido, ativamente, no caos das pessoas,</p><p>comunidades e organizações em meio às quais tive o privilégio de ministrar pelos últimos</p><p>15 anos. Esse relato não é estranho às ideias deste livro, assim como a narrativa bíblica não é</p><p>estranha às ideias que fundamentam a verdade bíblica, porém, estão em seu contexto e</p><p>passam seu significado histórico.</p><p>“S����”</p><p>Possivelmente, a maior experiência formadora do ministério foi meu envolvimento em uma</p><p>igreja marcante, no centro da cidade, chamada South Melbourne Restoration Comunity</p><p>(SMRC), à qual tive o privilégio de servir como líder por cerca de 15 anos. É um pouco</p><p>difícil falar sobre mais de 140 anos de histórias desta igreja, pois fui apenas mais um que</p><p>chegou tempos depois, em 1989 para ser exato. Porém, para os propósitos deste livro, o</p><p>importante foi notar que essa igreja, originalmente chamada de South Melbourne Church of</p><p>Christ, havia passado pelo padrão, agora familiar, de nascimento (no final do século 19),</p><p>crescimento (na primeira parte do século 20) e rápido declínio que marcou tantas igrejas no</p><p>período pós-guerra em todo o mundo ocidental. Quando minha esposa, Deb, e eu fomos</p><p>chamados para lá como ministros principiantes em 1989, éramos a última tentativa para</p><p>transformação da igreja. Se não conseguíssemos, a igreja havia decidido que acabaria e</p><p>fecharia as portas para sempre. Por causa dessa situação de relativo desespero, a igreja</p><p>estava disposta a se tornar um lugar onde uma comunidade totalmente nova iria se</p><p>desenvolver; e é esta a história com a qual eu mais me identifico.</p><p>Essa história sobre redenção, em particular, inicia com um garoto grego desajeitado e de</p><p>olhos esbugalhados chamado George. George era traficante de drogas e “roadie” (técnico de</p><p>som de bandas) entre outras coisas. Ele acumulou tantas multas por estacionar em lugar</p><p>proibido que não estava disposto a pagá-las. De acordo com a lei local da época, a pessoa</p><p>poderia “passar um tempo na prisão” em vez de pagar as multas; então, George decidiu que</p><p>isso seria melhor do que entregar seus dólares conseguidos de maneira tão dura com as</p><p>drogas. Escolheu ir para a cadeia por dez dias em vez de pagar as multas. Bem, George era</p><p>um tipo de aventureiro (alguns o chamavam de “viajante”) e adorava filosofar sobre a</p><p>natureza das coisas. Naquela época, ele estava explorando uma enorme variedade de</p><p>ideologias religiosas. Quando foi preso, já tinha uma lista longa de religiões pelas quais</p><p>havia passado e era o momento de andar agarrado com a Bíblia. Então, levou a enorme</p><p>Bíblia da família grega de sua mãe para a prisão com ele. Para sua grande surpresa,</p><p>enquanto a folheava, encontrou Deus (ou, ao contrário, Deus o encontrou) e achou nova</p><p>vida em Jesus bem ali na cela da prisão.</p><p>Quando foi libertado, se uniu ao seu irmão, John, tão maluco como ele, que também</p><p>entregou sua vida a Cristo, tornando-se um seguidor. Com zelo característico, os dois logo</p><p>elaboraram uma lista com todos os seus amigos, contatos e pessoas para as quais venderam</p><p>drogas, munidos com uma Bíblia preta na versão King James e o vídeo The Late, Great Planet</p><p>Earth (utilizado por eles mais efetivamente do que a Bíblia),14 e foram ao encontro de todas</p><p>as pessoas da lista. Em seis meses cerca de 50 pessoas tinham entregado sua vida ao Senhor!</p><p>Uma delas veio a se tornar, mais tarde, minha extraordinária esposa, Debra, e outra foi sua</p><p>irmã, Sharon. Elas estavam voltando de uma viagem de LSD quando foram expostas ao</p><p>vídeo e decidiram por Jesus. Como não fazer isso, sob efeito do ácido?</p><p>Foi algo maravilhoso e eu o menciono porque diz muito sobre como Deus opera na</p><p>sociedade marginalizada, nesse caso, por meio da obediência radical de dois irmãos gregos</p><p>meio malucos chamados George e John. Foi como se por intermédio de George e John, Deus</p><p>tivesse resgatado um povo para si do mundo dos mortos de Melbourne. No grupo havia</p><p>gays, lésbicas, góticos, viciados em drogas, prostitutas e algumas pessoas relativamente</p><p>comuns, embora todos tivessem um violento lado animal. Esse grupo de pessoas</p><p>indomadas, seguindo seus instintos espirituais latentes, imediatamente começou a se</p><p>amontoar em casas e construir uma vida juntos. Foi nesse momento, cerca de seis meses</p><p>depois da radical conversão de George, que eu entrei em cena. Apesar de ter</p><p>vindo de um</p><p>passado semelhante, era estudante do primeiro ano de seminário em busca de alguma coisa</p><p>radical para fazer. Por uma série de acontecimentos, e para minha maior surpresa, fui</p><p>chamado para liderar esse grupo maluco. Após refletir, essa ligação com o grupo tornou-se</p><p>o motivo definitivo em minha vida e em minha jornada para me tornar um líder missional.</p><p>A comunidade foi abalada. E como ela acolhia qualquer pessoa que quisesse uma cama, a</p><p>casa principal – planejada anteriormente para ser usada como bordel – ficou lotada de</p><p>pessoas um tanto estranhas. Às vezes, tráfico de drogas ocorria nos cômodos do fundo e</p><p>estudos bíblicos aconteciam na sala de estar lotada. John e George foram presos algumas</p><p>vezes por perturbarem a paz enquanto tentavam expulsar demônios em voz alta de alguma</p><p>vítima inconsciente no quintal. Se tudo isso parece chocante de certa forma, permita-me</p><p>dizer que para todo o significativo caos e ambiguidade em tudo isso, havia algo</p><p>maravilhosamente apostólico naquele grupo de pessoas. Elas pareciam ter forte impacto</p><p>sobre cada pessoa com quem tinham contato. O Espírito Santo era quase palpável naqueles</p><p>momentos. Pelo menos, era como se ele desejasse estar presente no caos. Essa experiência</p><p>também nos apresentou a um modelo de ministério radical na forma de um renomado</p><p>pastor chamado Pat Kavanagh. Pat, um senhor vindo de um mundo bastante diferente, era o</p><p>modelo de amor redentor em meio à bagunça, e foi, em grande parte, por causa dele que a</p><p>comunidade sobreviveu e foi transformada.</p><p>Como este é um livro sobre dinâmicas missionais, é adequado fazer um comentário a</p><p>respeito de uma característica importante dos movimentos de Jesus nesse ponto. Durante o</p><p>estudo da história das missões, uma pessoa pode ser muito previsível afirmando que todos</p><p>os grandes movimentos missionários começam às margens da igreja, entre os pobres e</p><p>marginalizados, e raramente, se ocorrer, no centro. É vital que, ao buscar modelos</p><p>missionais de igreja, saiamos do sufocante equilíbrio do centro de nossos movimentos e</p><p>denominações, partamos para as margens e nos compromissemos na missão verdadeira ali.</p><p>Porém, isso vai muito além de uma simples missão; a maioria dos grandes movimentos</p><p>missionários inspirou movimentos significativos e relacionados à renovação na vida da</p><p>igreja. Parece que, quando a igreja se compromete com as margens, quase sempre traz vida</p><p>ao centro. Isso diz muito sobre Deus, e o Evangelho e a igreja farão bem em prestar atenção</p><p>nisso.</p><p>Para encurtar a história, a maioria do grupo acabou se juntando a nós na South Melbourne</p><p>Church of Christ quando fomos chamados para lá após o término do treinamento do</p><p>seminário. Aqui as duas histórias, e de muitas maneiras, as duas imagens alternativas da</p><p>igreja – uma institucional e em declínio, e a outra enraizada e vigorosa – entram em cena.</p><p>Portanto, se inicia a história marcante da qual tive o privilégio de participar. O que é bem</p><p>marcante aqui é que, escondido nesse grupo de pessoas espontâneo, caótico e não ligado à</p><p>igreja, estão as sementes de um movimento missional ágil e envolvente muito antes de</p><p>sequer sabermos da existência desses conceitos. E embora tome algum tempo de nós, com</p><p>muitas experimentações reflexivas para chegar lá, acredito que eu possa dizer que “South”</p><p>tem agora todos os elementos de, e está no processo de se tornar, um genuíno movimento</p><p>missional na cidade de Melbourne, Austrália.</p><p>Então, o que proponho fazer com o restante do capítulo é tentar articular a série de</p><p>adaptações que tiveram de ocorrer, a fim de que esse recente fenômeno se tornasse um</p><p>genuíno movimento missional. Embutirei algumas bases lógicas para os vários estágios</p><p>durante a narrativa, assim, o leitor conseguirá discernir a evolução do movimento na</p><p>história da South. Três estágios diferentes na vida da comunidade podem ser discernidos.</p><p>São eles:</p><p>F��� 1: D� ����� ���� � ����</p><p>Esta fase envolveu o replantio da igreja estabelecida com uma igreja nova e mais missional.</p><p>Tenho de dizer que, durante o treinamento no seminário, nada me preparou para a</p><p>experiência desses anos. Tudo na minha educação se adequou à manutenção das formas</p><p>estabelecidas e mais institucionais da igreja. A grande maioria das matérias oferecidas era</p><p>teórica e ensinada por teóricos, não praticantes. Assim, tivemos que aprender “na marra”,</p><p>por assim dizer. Por outro lado, talvez, essa seja a única maneira de realmente aprendermos,</p><p>mas, por certo, na época, essa foi a forma escolhida por Deus para, de algum modo, fazer de</p><p>mim um missionário.</p><p>Um pouco sobre o contexto: South Melbourne está localizada à sombra do centro</p><p>empresarial do distrito de Melbourne e, como muitos outros locais ao longo do mundo</p><p>ocidental, tornou-se uma mistura de yuppies, idosos da classe trabalhadora, grupos</p><p>subculturais, uma grande população de gays e esnobes da classe alta. Foi um desafio, para</p><p>dizer o mínimo. Não tenho vergonha de admitir que não fazia ideia do que eu estava</p><p>fazendo. Havia muito pouco quanto à estratégia denominacional funcional ou modelos</p><p>bem-sucedidos para missões dentro desses contextos. Então, em termos de abordagem,</p><p>decidimos que tudo o que faríamos seria formar uma comunidade autêntica de Jesus onde</p><p>todos os que passassem por nosso caminho sentiriam o amor, a aceitação e o perdão de</p><p>qualquer forma. Nós realmente conhecíamos um pouco sobre a graça porque todos a</p><p>tínhamos sentido de maneira convincente. Com base apenas nisso, em uma promessa e</p><p>experiência real de uma comunidade cheia de graça, a igreja nasceu. Atraímos quase todos</p><p>os tipos de gente esquisita da vizinhança, e logo as pessoas começaram a se amontoar nas</p><p>casas comunitárias. Não tínhamos programações reais propriamente ditas ao nosso alcance.</p><p>Simplesmente “formamos a comunidade” e desenvolvemos determinados costumes com</p><p>base na graça para os enfraquecidos.</p><p>À medida que a igreja crescia e se desenvolvia, os mais velhos que fizeram parte da</p><p>história original começaram a lutar com a confusão e a nova vida do lugar. Porém, para seu</p><p>crédito, eles realmente reconheciam que o futuro da igreja estava em uma imagem renovada</p><p>que Deus estava fazendo nascer no meio deles. E não resistiram ativamente a ponto de</p><p>dispensar o novo, algo que acontece com muita frequência em situações semelhantes. Na</p><p>verdade, uma senhora, Isobel, que permaneceu conosco fielmente durante todas as</p><p>mudanças, tentou algumas vezes encontrar outra igreja local menos caótica, mas sempre</p><p>retornava, dizendo que nenhum lugar que visitava tinha a mesma “vida” que nós tínhamos.</p><p>No fim, essa nova adaptação da igreja tornou-se a predominante e, então, começamos a fase</p><p>seguinte.</p><p>F��� 2: T�������-�� ��� ������ ��� ������ �������</p><p>Desde o início, Deus fez nascer em nós um sentimento de obrigação missional para com</p><p>aqueles de fora da igreja. Novamente, não tínhamos como verbalizar isso, mas, de alguma</p><p>forma, sabíamos que estávamos “grávidos” de outras igrejas que alcançariam os grupos de</p><p>pessoas inalcançáveis em nossa cidade. Tínhamos um senso de vocação determinado para</p><p>com aqueles grupos formadores do contexto subcultural no qual vivíamos, os pobres e</p><p>marginalizados; grupos de pessoas de onde muitos de nós viemos e pessoas que, muito</p><p>raramente, frequentariam igrejas estabelecidas como as conhecemos. Novamente, ao fazer</p><p>isso, nós apenas seguimos nossos instintos apostólicos, que passei a acreditar estarem</p><p>latentes no próprio Evangelho. Nesse caso, esses instintos latentes expressaram-se em um</p><p>desejo de transmitir a fé criando-se novas comunidades relevantes ao contexto subcultural,</p><p>porém, fiel ao Evangelho antigo.</p><p>Como tal intenção direcionou à plantação de igrejas, foi nesse momento que começamos a</p><p>discernir que uma mudança fundamental estava acontecendo na cultura ocidental. Era</p><p>início dos anos 90 e o pós-modernismo como fenômeno cultural estava começando a se</p><p>tornar cultura popular. A grande divisão estava acontecendo entre a antiga era moderna e a</p><p>nova era pós-moderna, resultando no desdobramento da cultura em muitas subculturas</p><p>diferentes, o que os teóricos culturais chamam</p><p>de micro-heterogeneização ou, simplesmente,</p><p>subculturalização.15 Nesse grande fenômeno cultural, no centro da cidade de Melbourne,</p><p>tínhamos compreendido intuitivamente que uma forma de neotribalização estava</p><p>acontecendo. Houve uma troca das pessoas que se identificavam com um amplo grupo</p><p>tradicional definido por metanarrativas abrangentes (p. ex., atividades sindicais, ideologia</p><p>política, identidade nacional, grupos religiosos, etc.) por aquelas tantas de grupos</p><p>subculturais menores e emergentes definidos em torno de qualquer coisa, desde interesse</p><p>cultural até preferência sexual. Olhando ao nosso redor de onde estávamos, é como se</p><p>estivéssemos em uma espécie de Papua-Nova Guiné subcultural, com seus 900 idiomas e</p><p>grupos tribais/étnicos. Rapidamente começamos a entender que essa situação questiona</p><p>nossa forma herdada de comprometimento com o trabalho missional. Compreendemos que</p><p>precisávamos nos tornar missionários e que a igreja precisava adotar uma atitude</p><p>missionária dentro do seu contexto. Significou também que os dias da abordagem única</p><p>para todos da igreja estavam contados. Então, nossa história missionária se desenvolveu</p><p>com o objetivo de alcançar grupos específicos nas redondezas urbanas tribalizadas</p><p>recentemente.</p><p>Essa fase deve ter durado cerca de cinco anos. Próximo ao fim dela, havíamos começado a</p><p>articular algumas das ideias que nos energizavam e tivemos que desenvolver um “modelo”</p><p>autoconsciente. Sentíamos que deveríamos nos tornar uma igreja que planta igrejas com</p><p>uma organização regional. Novamente, deduzimos que a maneira de nos comprometermos</p><p>com a missão pela região exigia uma nova forma de organização. Nesse estágio, começamos</p><p>a estudar a natureza dos movimentos e como se organizavam. Assim, nasceu o movimento</p><p>embrionário chamado Restoration Community Network e renomeamos a South Melbourne</p><p>Church of Christ como South Melbourne Restoration Community (SMRC). Logo depois, essa</p><p>rede originou cerca de seis plantações de igrejas em quase 7 anos, algumas das quais foram</p><p>experiências maravilhosas da igreja missional e outras foram gloriosos fracassos. Houve</p><p>muita luta e dor nos fracassos, mas sentimento de grande alegria no sucesso. Porém, em</p><p>tudo aprendemos que, se quiséssemos nos tornar missionais, teríamos que correr sérios</p><p>riscos.</p><p>A primeira igreja plantada foi em St. Kilda, a zona de prostituição em Melbourne, e se</p><p>chamou Ma�hew‘s Party. Tratava-se de uma “igreja de rua” focada em alcançar viciados em</p><p>drogas e prostitutas. No entanto, com o envio subsequente de nossas pessoas com cultura</p><p>de rua, a igreja emissária (SMRC) passou por uma transformação. Tornou-se o que foi</p><p>posteriormente chamado de “Gen-X-church”, com idade média entre 25 e 30 anos e uma</p><p>comunidade de certa forma flexível de quase 400 pessoas, principalmente solteiros, em sua</p><p>órbita. A SMRC era bastante singular, possivelmente até mesmo no contexto mundial e,</p><p>ainda assim, quase 40% da comunidade vinham das subculturas de gays e lésbicas. O que</p><p>tornou tudo ainda mais singular foi o fato de que não tínhamos uma postura pró-gay</p><p>politicamente correta, teologicamente falando, mas, de modo gracioso, chamávamos todas</p><p>as pessoas para seguirem Jesus para sempre, o que para alguns envolvia celibato até o fim;</p><p>outros cujos desejo e vontade eram fortes, buscaram relacionamentos heterossexuais. Ainda</p><p>permanecemos comprometidos em ministrar aos marginalizados, porém, naquele momento</p><p>era exclusivamente para jovens adultos alienados e gays.</p><p>Nosso segundo projeto de plantação de igreja foi para os judeus. Eu sou judeu, e meu</p><p>irmão se tornou cristão pouco tempo depois de minha conversão ao Messias. Ambos com</p><p>base na convicção de que o Evangelho era para os judeus em primeiro lugar (Rm 1.16; 2.9s),</p><p>começamos o Celebrate Messiah Australia. Essa foi uma história marcante com centenas de</p><p>judeus passando a conhecer o Messias; história inédita, pelo menos na igreja da Austrália.</p><p>Hoje, se tornou uma agência independente prosperando à sua maneira. A quarta</p><p>experiência foi no cenário de festa rave/baladas. Achamos muito difícil formar uma</p><p>comunidade em desenvolvimento em um ambiente tão variável e “viajante”, no entanto, foi</p><p>uma grande experiência na missão transcultural e nos divertimos bastante durante as</p><p>tentativas. Então, experimentamos as igrejas nos lares com a classe trabalhadora do</p><p>subúrbio ocidental de Melbourne, porém, infelizmente, por várias razões, elas não se</p><p>mantiveram. Refletirei sobre isso quando falar sobre a incorporação do mDNA. Os fracassos</p><p>podem ser grandes mestres.</p><p>A última experiência missional nessa fase foi decisiva para mim (e acredito que para a</p><p>igreja também). Ao longo dos anos até este ponto, duas coisas importantes tinham</p><p>acontecido. Primeiro, a SMRC, “a nave mãe”, por assim dizer, tinha se estabelecido um</p><p>pouco em relação aos dias turbulentos da comunidade perturbada e caótica. Segundo,</p><p>tínhamos nos tornado conhecidos como uma “igreja legal” e, como resultado, muitos</p><p>cristãos da classe média, que por motivos compreensíveis se afastaram da igreja</p><p>institucional de várias maneiras, se encontraram na comunidade e se firmaram nela. Então,</p><p>enquanto mantinha sua “excelência” e certa vibração alternativa, a South, inadvertidamente,</p><p>havia se tornado segura e com yuppies mais autoconscientes, resultando na perda de sua</p><p>essência. Sem perceber, tínhamos perdido nosso chamado original e o coração missional.</p><p>Na mesma época, e por meio do meu envolvimento com os ministérios translocais com a</p><p>Forge (uma agência de treinamento missionário transdenominacional dirigida por mim) e</p><p>com a minha denominação, minha própria formação e pensamento como um missionário</p><p>para o ocidente se desenvolveram. Comecei a criticar seriamente o modo cristandade da</p><p>igreja e passei a olhar além do modelo atrativo, para aquele que chamaria mais tarde de</p><p>“missional-encarnacional” (impulso exterior e semeadura profunda).3 O impulso missional-</p><p>encarnacional forma um dos seis elementos do DNA missional que mencionarei</p><p>posteriormente neste livro. Neste ponto, basta dizer que tinha me convencido de que o</p><p>conceito herdado da igreja com sua compreensão associada sobre missão surgiu em um</p><p>período quando a igreja havia parado de atuar como movimento missionário, tornando-se,</p><p>portanto, algo falso para ela mesma durante o processo. O modo cristandade de</p><p>comprometimento, que descreverei adiante como evangelístico-atrativo, simplesmente não foi</p><p>o tipo de desafio missionário apresentado a nós dentro de nosso contexto: um contexto que</p><p>exigia mais da metodologia missionária transcultural do que o modelo “alcançar e arrastar”</p><p>utilizado por nós até aquele momento.</p><p>Aqui, apenas devo inserir nosso raciocínio concedendo-lhe um pouco da análise</p><p>missional. Para ilustrar, você verá um gráfico de pizza abaixo que busca indicar o apelo da</p><p>igreja evangélica carismática contemporânea para a nossa população geral da Austrália.</p><p>Com base em minhas leituras de significativas pesquisas de todo o ocidente pós-cristão,</p><p>descobri que, quando pesquisada, a população média não cristã geralmente relatava grande</p><p>interesse em Deus, espiritualidade, Jesus e oração que, reunidos, indicavam uma busca</p><p>importante por sentido em nosso tempo. Porém, as mesmas pesquisas apontavam que,</p><p>quando questionado a respeito do que pensavam sobre a igreja, a média não cristã</p><p>descreveu um alto grau de alienação. É como se, no presente, a maioria das pessoas</p><p>respondessem algo como: “Deus? Sim! Igreja? Não!” Isso pode não ser novidade para</p><p>muitos leitores. Cristãos sensíveis conscientizariam a igreja institucional sobre essa resposta,</p><p>porém, infelizmente, poucos consideraram as implicações para a igreja em termos</p><p>missionais.</p><p>Uma combinação de pesquisas recentes na Austrália indica que cerca de 10 a 15% dessa</p><p>população é atraída para o que podemos chamar de modelo de crescimento da igreja</p><p>contemporânea. Em outras palavras, esse modelo tem um importante “apelo no mercado” em</p><p>torno de 12% de nossa população. As formas mais bem-sucedidas desse modelo tendem a</p><p>ser grandes e altamente profissionalizadas, e principalmente</p><p>para a classe média,</p><p>expressando-se culturalmente pelo uso de linguagem amigável e músicas populares.</p><p>Estruturam-se em torno do “ministério familiar”, portanto, oferecem cultos para diversas</p><p>gerações. Demograficamente falando, tendem a cuidar do que pode ser chamado de</p><p>“segmento dos valores familiares” – cidadãos bons, sólidos e bem-educados, que não</p><p>abusam de seus filhos, pagam seus impostos e vivem, basicamente, o que podemos chamar</p><p>de estilo de vida de classe média. Esse tipo de igreja não só é formado, em grande parte, por</p><p>cristãos que se encaixam nesse perfil. A pesquisa indica que essas igrejas também podem ser</p><p>muito eficientes em alcançar não cristãos que se adaptam à mesma descrição demográfica –</p><p>as pessoas dentro do seu alcance cultural. Ou seja, a igreja não tem que atravessar nenhuma</p><p>barreira cultural importante a fim de transmitir o Evangelho de forma significativa para esse</p><p>contexto cultural.16 Essa situação assemelha-se ao seguinte:</p><p>“Os votos também estão relacionados à intensidade do amor dos americanos pela igreja”.</p><p>Sally Morgenthaler descreve a seguinte estatística para o cenário americano:</p><p>Apesar do que imprimimos em nossos próprios comunicados, os números não parecem bons. De acordo</p><p>com a esta�s�ca de frequência real em 2003, 18% dos adultos vão à igreja em âmbito nacional e esse</p><p>número está caindo. A frequência evangélica (outra vez, números de assentos reais, não de respostas</p><p>telefônicas) contabiliza 9% da população, que representa uma queda em relação aos 9,2% em 1990. A</p><p>frequência principal contabiliza 3,4% da população nacional, queda em relação aos 3,9% da década</p><p>anterior. E os católicos um ponto percentual abaixo no mesmo período de dez anos: 6,2% em relação aos</p><p>7,2% em 1990. Dos 3.098 condados nos Estados Unidos, 2.303 diminuíram a frequência na igreja.17</p><p>Para intensificar o problema que enfrentamos dentro do novo contexto missional no qual</p><p>nos encontramos, George Barna prevê que “até 2025, a igreja local [como a conhecemos hoje]</p><p>perderá aproximadamente metade da sua ‘participação de mercado‘ e formas alternativas</p><p>de experiência de fé e expressão assumirão o controle”.18 Em vista dessas estatísticas,</p><p>podemos deduzir que nos Estados Unidos o atual “apelo de mercado” do modelo em</p><p>crescimento da igreja contemporânea pode chegar a 35% (em oposição aos 12% na Austrália).</p><p>No entanto, apesar do nível de apelo, ela está diminuindo. É hora de repensarmos tudo</p><p>radicalmente, levando em consideração as implicações estratégicas e missionais.</p><p>Questões estratégicas</p><p>Em primeiro lugar, as questões estratégicas: a maioria das igrejas evangélicas, talvez até</p><p>95%, contribui com a crescente abordagem da igreja contemporânea na tentativa de</p><p>aumentar a congregação, apesar do fato de as aplicações bem-sucedidas desse modelo</p><p>continuarem relativamente baixas.19 Essa é uma questão estratégica para nós porque</p><p>diversas recombinações de teoria e prática de crescimento de igreja parecem ser apenas</p><p>soluções às quais temos que recorrer para tentar parar a queda do cristianismo. Parece ser</p><p>nossa única alternativa, e isso pode não ser bom. Soluções com base no crescimento da igreja</p><p>dominam nossa imaginação de tal forma que não conseguimos pensar além daquela</p><p>estrutura nem nos desvencilharmos de suas suposições sobre a igreja e sua missão. E isso é</p><p>trágico, porque parece não funcionar para a maioria de nossas igrejas e para a maioria da</p><p>população. Na realidade, se tornou fonte de frustração e culpa, pois muitas igrejas não têm a</p><p>combinação de fatores que contribuem para uma aplicação do modelo bem-sucedida.</p><p>Questões missionais</p><p>Assim, na Austrália temos a situação um tanto ridícula de 95% das igrejas evangélicas</p><p>lutando umas contra as outras para alcançar 12% da população. Isso se torna um sério</p><p>problema missional porque levanta a seguinte questão: “O que acontece com a maioria da</p><p>população (no caso da Austrália, 85%; nos EUA cerca de 65%) que relatam alienação</p><p>justamente dessa forma de igreja? Como as pessoas podem ter acesso ao Evangelho se</p><p>rejeitam essa forma de igreja? E como seria a igreja para elas nas suas diversas</p><p>configurações? O que está claro a partir da pesquisa na Austrália, pelo menos, é que quando</p><p>entrevistadas sobre o que elas pensam sobre o expressivo crescimento da igreja</p><p>contemporânea do cristianismo, 85% variam de entediado (“bom para eles, mas não para</p><p>mim”) até a repulsão total (“eu jamais iria lá”). Na melhor das hipóteses, podemos tentar</p><p>nos aproximar dos entediados, mas não esperamos alcançar o restante da população com</p><p>esse modelo; as pessoas simplesmente estão alienadas dele e não gostam dele por uma série</p><p>de razões.</p><p>O que está ficando cada vez mais claro é que, se quisermos alcançar essa maioria de</p><p>forma significativa, não conseguiremos isso fazendo mais do mesmo. E apesar de parecer</p><p>que quando nos deparamos com problemas de declínio recorremos, automaticamente, ao</p><p>mais recente pacote de crescimento de igreja para resolver o problema – parece que não</p><p>temos mais para onde ir. No entanto, apenas aumentar a programação, melhorar os efeitos</p><p>musicais e audiovisuais ou agitar o ministério não resolverá nossa crise missional. É</p><p>necessário algo muito mais fundamental.</p><p>Um caso de teste no espaço de proximidade</p><p>Essa combinação de experiência missional e reflexão levou a liderança da South a começar a</p><p>experimentar métodos significativamente mais encarnacionais de missão. Decidimos que,</p><p>dentro do contexto de Melbourne, uma cidade obcecada por comida e por comer fora,</p><p>deveríamos tentar e ver como poderíamos empregar nossa cultura em nosso próprio campo</p><p>de atividade (missional) em vez de esperar que as pessoas viessem até nós (atração). O que</p><p>nos levou a essa conclusão foi fazer perguntas missionárias, como: “Do que se tratam as Boas</p><p>Novas para esse grupo de pessoas?” e “O que a igreja veria e qual seria seu desejo entre esse</p><p>grupo de pessoas?” Ambas as respostas afirmam que nós não temos as respostas completas</p><p>até perguntá-las às pessoas dentro do contexto ativo de missão. Elas exigem que prestemos</p><p>atenção às questões existenciais confrontando o povo enquanto ele passa por esses problemas.</p><p>Por isso, tentamos moldar e formar comunidades de fé de modo que pudessem se tornar</p><p>parte orgânica da sociedade cultural da estrutura sociocultural do grupo de pessoas que</p><p>estávamos tentando alcançar. Para Melbourne, onde todo o terceiro setor está relacionado</p><p>com alimentação e que tem mais cafeterias per capita do que qualquer outro lugar no</p><p>mundo, concluímos que nossa igreja missional deveria redimir o padrão/ritmo social desses</p><p>lugares – reinvestindo-os com significado religioso – e expressando o que quer dizer ser</p><p>povo de Deus dentro do contexto de uma cafeteria ou de um bar. Para concluir, compramos</p><p>um grande restaurante em um distrito cheio de cafeterias e o estabelecemos como um</p><p>“espaço de proximidade”.</p><p>O espaço de proximidade não é uma igreja; pelo contrário, envolve a criação de lugares</p><p>e/ou eventos nos quais cristãos e não cristãos possam interagir significativamente uns com</p><p>os outros; um lugar missional, de fato.20 Chamamos o café de Elevation. Para nós, foi uma</p><p>experiência definitiva: tanto positiva quanto negativa. Positiva porque foi uma maneira</p><p>maravilhosa de fazer missão e abrir caminho para a vida de outras pessoas – e foi uma</p><p>experiência de aprendizado significativa. Negativa porque não conseguimos manter o café</p><p>financeiramente e tivemos que fechá-lo. Iniciamos nossa longa caminhada e o 11 de</p><p>setembro de 2001, aliado a algumas decisões administrativas ruins, nos expulsaram dos</p><p>negócios. Contudo, ainda acredito que, se tivéssemos conseguido realizar negócios</p><p>sustentáveis com nossos propósitos e valores pretendidos, o Elevation teria se tornado uma</p><p>forma muito eficaz de missão em nossa cidade. O desejo impulsionador do projeto era</p><p>envolver as pessoas em um diálogo significativo sobre Jesus e espiritualidade de uma forma</p><p>expressiva e orgânica. Para fazer isso, realizávamos aulas de arte, grupos de drama</p><p>interativo, grupos de discussões filosóficas, workshops de violão,</p>

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