Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

Prévia do material em texto

<p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 401</p><p>privado, o qual não tornou mais a ser usa-</p><p>do nos reinados seguintes. “Até o reinado</p><p>de d. João I”, diz o sábio acadêmico Tri-</p><p>goso (Mems. da Ac. das Ciências, XI, 174),</p><p>“chamava-se privado aquele conselheiro</p><p>que tinha maior trato e conversação secreta</p><p>com o soberano nos negócios do Estado; e</p><p>os que depois se chamaram validos eram os</p><p>que com ele tinham merecimento, ou graça</p><p>em virtude da qual conseguiam o que lhe</p><p>pediam; porque valer propriamente significa</p><p>“ser útil, servir, e prestar”. Nota o mesmo</p><p>sábio que depois que a dignidade ou ofício</p><p>de privado deixou de existir, começou este</p><p>nome a passar como sinônimo de valido; e</p><p>cita Sá de Miranda, que diz:</p><p>Quem graça ante El-Rei alcança,</p><p>E hi fala o que não deve,</p><p>Mal grande de má privança.</p><p>Peçonha na fonte lança,</p><p>De que toda a terra beve.</p><p>O mesmo poeta:</p><p>Que Deus é fogo que abraza</p><p>Sei-o de um privado seu.</p><p>E noutro lugar:</p><p>Não falemos naquela infirmidade</p><p>De seus validos... etc.</p><p>Neste mesmo sentido disse Camões, fa-</p><p>lando de d. Sancho II:.</p><p>De governar o reino, que outro pede,</p><p>Por causa dos privados foi privado.</p><p>(Lus., III, 91).</p><p>E fazendo alusão a el-rei d. Sebastião:</p><p>Culpa dos reis, que às vezes a privados</p><p>Dão mais que a mil, que esforço e saber</p><p>tenham.</p><p>(Lus., VIII, 41).</p><p>Ainda mesmo depois que a palavra pri-</p><p>vado perdeu a significação histórica de que</p><p>acabamos de falar, e apesar de que alguns</p><p>escritores usaram promiscuamente dos vo-</p><p>cábulos privado e valido, entendemos que</p><p>entre eles há não pequena diferença, como</p><p>indicamos, e que não menos difere dos dois</p><p>o vocábulo favorito. Os bons reis podem</p><p>ter privados que não se desonram a si mes-</p><p>mos com baixezas como os favoritos, nem os</p><p>dominam para proveito próprio como os</p><p>validos; mas que os aconselham privadamente</p><p>para bem, e os servem como leais e desin-</p><p>teressados súbditos. O conde de Castelo</p><p>Melhor foi privado, e talvez valido, mas não</p><p>favorito de d. Afonso VI; os favoritos deste</p><p>eram os Contys. O príncipe da Paz foi va-</p><p>lido de Carlos IV, rei de Espanha, mas não</p><p>se pode dizer que foi seu favorito. O padre</p><p>Vieira foi grande privado de el-rei d. João IV,</p><p>mas não foi seu valido, e ainda menos seu</p><p>favorito. Ouçamos a este grande homem falar</p><p>dos validos, e fazer a diferença entre eles e</p><p>os privados: “Se convém que os reis tenham</p><p>valido, ou não, é problema que ainda não</p><p>está decidido entre os políticos; mas dois</p><p>validos, ninguém há que tal dissesse, nem</p><p>imaginasse” (III, 80). “Os validos hão de</p><p>estimar mais a graça do príncipe que todas</p><p>as mercês que lhes pode este fazer, porque</p><p>esta é a maior. Hão de encher a graça que</p><p>têm dos príncipes com serviços, e não se</p><p>hão de encher com ela de mercês. O maior</p><p>crédito do valido é que a sua privança seja</p><p>privação. Por isso os validos, com mais no-</p><p>bre e heroica etimologia, se chamam priva-</p><p>dos” (II, 98). Quer dizer que os validos,</p><p>para tirarem o odioso deste nome, se dão</p><p>a si mesmos o nome de privados; pelo que,</p><p>na linguagem cortesã, privado vem a dizer</p><p>o mesmo que valido, como diz o mesmo</p><p>Vieira falando de Aman: “A tais soberbas</p><p>e insolências chegam os privados de quem</p><p>não sabe ser rei”. (V, 525). – Predileto é</p><p>“o mais querido entre os que se quer, o que</p><p>mais se ama entre os amados, o que se prefe-</p><p>402 � Rocha Pombo</p><p>re entre os que nos agradam”. O predileto dos</p><p>amigos, dos filhos, dos parentes; passatem-</p><p>po, estudo, manjar predileto; música predileta;</p><p>autor predileto. – Preferido não sugere, como</p><p>predileto, a ideia do motivo, mas só a da es-</p><p>colha. A coisa ou pessoa preferida é “a que se</p><p>escolhe por uma razão qualquer”; a pessoa</p><p>ou coisa predileta é “a que se prefere por ser</p><p>a mais querida, a que mais nos agrada”. –</p><p>Mimoso é termo familiar, e designa “o que</p><p>tem os nossos carinhos especiais; o que em</p><p>linguagem de intimidade se chama também</p><p>mimo (e até melindre, menina dos olhos).</p><p>745</p><p>FECUNDO, fértil, úbere, ubertoso, abun-</p><p>dante, farto; fecundidade, fertilidade,</p><p>uberdade, abundância, fartura. – “Fecun-</p><p>do – diz o sempre seguro mestre – refere-se</p><p>à potência natural de produzir abundan-</p><p>temente. – Fértil refere-se à atualidade da</p><p>produção abundante. Dizemos que um ter-</p><p>reno é fecundo, isto é, capaz de dar grande</p><p>produção; e dizemos que o ano foi fértil, isto</p><p>é, que as terras produziram bem, que houve</p><p>abundância de frutos. A fertilidade ostenta</p><p>as riquezas da fecundidade. Confundem-se</p><p>muitas vezes estes dois vocábulos no uso</p><p>vulgar, já porque a fecundidade e a ferti-</p><p>lidade têm entre si estreitíssima e necessá-</p><p>ria relação, como causa e efeito; já porque</p><p>o povo, considerando as terras, não como</p><p>filósofo, mas sim como cultivador, somente</p><p>atende aos resultados da fecundidade, que</p><p>consistem na efetiva produção, e se manifes-</p><p>tam pela fertilidade. Mas o filósofo, o físi-</p><p>co jamais confundirá estes termos, porque</p><p>sabe que um terreno, um animal, ou uma</p><p>espécie de animais é fecunda quando tem to-</p><p>dos os princípios necessários para dar uma</p><p>abundante produção ou geração; e que o</p><p>terreno ou o animal só é fértil quando esses</p><p>princípios se desenvolvem, e produzem o</p><p>seu efeito. A mesma diferença se observa no</p><p>sentido figurado. O gênio é fecundo, isto é –</p><p>capaz de criar, de produzir. O escritor é fértil</p><p>pela abundância de suas produções. Uma</p><p>grande verdade é fecunda em consequências.</p><p>O homem de Estado, em tal situação de ne-</p><p>gócios, mostra-se fértil em recursos. Quem</p><p>diz que uma nação, v, g., tem sido fértil em</p><p>grandes acontecimentos, exprime simples-</p><p>mente que nessa nação tem havido muitos</p><p>desses acontecimentos. Quem diz que ela</p><p>tem sido fecunda exprime que a nação tem</p><p>em si, e na sua organização política, prin-</p><p>cípios próprios para produzirem tais acon-</p><p>tecimentos. No primeiro caso, podem estes</p><p>ser efeito de algum feliz concurso de cir-</p><p>cunstâncias casuais; no segundo, são sem-</p><p>pre resultados da influência do governo, das</p><p>leis, dos costumes, do espírito público, etc.”</p><p>(S. Luiz, 134). – Úbere é termo poético, e é</p><p>mais usado na forma superlativa ubérrimo. A</p><p>uberdade é mais propriamente “munificên-</p><p>cia do solo, abundância de messe, riqueza</p><p>de produção”; e por isso aproxima-se mais</p><p>de fertilidade que de fecundidade. – Uber-</p><p>toso é outra forma de úbere; e faz referência</p><p>particularmente aos proveitos que se tiram,</p><p>pelo trabalho agrícola, de um solo fecundo.</p><p>– Abundante é o que se produziu tão co-</p><p>piosamente quanto basta para compensar</p><p>o esforço despendido. Há abundância de</p><p>alguma coisa quando essa coisa existe lar-</p><p>gamente, amplamente satisfazendo a todos.</p><p>– Fartura é mais que abundância: o que é</p><p>farto excede às necessidades normais; sacia</p><p>e sobra.</p><p>746</p><p>FELICITAÇÕES, parabéns, congratula-</p><p>ções, saudações, cumprimentos, emboras.</p><p>– Felicitações (também usado no singu-</p><p>lar) e parabéns confundem-se muito no</p><p>uso comum. O primeiro, no entanto, não</p><p>só tem sentido mais extenso, como é mais</p><p>nobre. Pode-se apresentar a um ministro,</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 403</p><p>a um diplomata, felicitações por uma grande</p><p>vitória alcançada no exercício do cargo (e</p><p>não – parabéns). – Parabéns, como a pró-</p><p>pria formação do vocábulo está indicando,</p><p>refere-se aos proveitos, às vantagens que se</p><p>conquistaram. Damos parabéns a um amigo</p><p>pela sua nomeação para um bom ofício;</p><p>damos-lhe felicitações pelo seu aniversário,</p><p>ou pelo bom sucesso de sua esposa. – Sau-</p><p>dações designa apenas o ato de manifestar</p><p>bons desejos, simpatia, respeito; e também</p><p>o ato de “felicitar mais cerimoniosamente”.</p><p>– Cumprimentos enuncia o ato de “render</p><p>homenagem, cumprir deveres de cortesia”. –</p><p>Emboras são ligeiras saudações, por moti-</p><p>vos de pouca monta. Ninguém decerto iria</p><p>dar simples emboras a um amigo que tirou a</p><p>sorte grande... – Congratulações é termo</p><p>que não tem nada de pretensioso, e que é</p><p>indispensável na língua para exprimir o</p><p>ato, não propriamente de felicitar alguém,</p><p>mas “o de se alegrar com alguém”. Felicito a</p><p>vossa, ou a sua família; congratulo-me com a</p><p>minha própria. O rei dirige congratulações ao</p><p>seu</p><p>povo, ou com este congratula-se por algum</p><p>grande sucesso feliz para a nação.</p><p>747</p><p>FELIZ, ditoso, afortunado, venturoso,</p><p>bem-aventurado. – Em dois grupos a estes</p><p>vocábulos refere-se Roq.: “Por isso que a</p><p>fortuna pode ser próspera ou adversa – diz</p><p>ele no primeiro – formou o gênio da língua</p><p>dois adjetivos, compostos deste vocábulo,</p><p>que indicam seu diferente aspeto. Aquele</p><p>que é por ela favorecido chama-se afortu-</p><p>nado; e desafortunado ou infortunado o</p><p>que ela abandona. Entre ditoso e feliz não</p><p>há diferença nenhuma senão a que consis-</p><p>te em ser o primeiro vocábulo português;</p><p>e o segundo, latino. – Venturoso, como</p><p>aqui o entendemos, tem o mesmo valor que</p><p>afortunado, com a diferença – que parece</p><p>referir-se a coisas futuras que esperamos,</p><p>como parece inculcar a palavra mesma (de</p><p>venturas, “que há de vir”). – Bem-aventu-</p><p>rado é aquele que alcançou boa ventura, que</p><p>está no gozo de bem-aventurança; e como</p><p>a verdadeira não se encontra neste mundo,</p><p>chamam-se com especialidade bem-aventura-</p><p>dos os que gozam da vista de Deus no Céu.</p><p>A seguinte frase pode indicar as precedentes</p><p>distinções: Se eu for tão venturoso no negócio</p><p>da salvação como fui afortunado nas coisas do</p><p>mundo, depois de ter vivido ditoso ou feliz</p><p>neste mundo, serei bem-aventurado na eterni-</p><p>dade. Em outro artigo, tratando de feliz e</p><p>afortunado, escreve o mesmo autor: “Estas</p><p>duas palavras têm relação com os bens e as</p><p>vantagens que desfrutam os homens, e com</p><p>a satisfação que experimentam no gozo des-</p><p>tes bens. O homem que possua grandes ca-</p><p>bedais, belas herdades e todos os cômodos</p><p>da vida, é rico e abastado; mas só será feliz</p><p>quando seu ânimo não estiver contristado,</p><p>e o sossego da alma acompanhar as delí-</p><p>cias da prosperidade”. – Afortunada pode</p><p>ser uma pessoa que, sendo pobre, tenha à</p><p>medida de seus desejos tudo que empreen-</p><p>de. – Afortunado significa “favorecido da</p><p>fortuna”; feliz significa “que goza da feli-</p><p>cidade, ou de uma felicidade”. Uma pessoa</p><p>é afortunada por seus muitos bens, por seus</p><p>completos prazeres, pelos grandes favores</p><p>que recebeu da fortuna; é feliz pela satis-</p><p>fação, contentamento e tranquilidade do</p><p>ânimo. – Afortunado supõe uma felicidade</p><p>extraordinária. Diz-se que um homem é feliz</p><p>quando experimenta um prazer muito vivo;</p><p>mas, como os prazeres duram pouco, can-</p><p>sam o espírito, e às vezes degradam o corpo,</p><p>têm lidado em vão os filósofos por saber</p><p>em que consiste a verdadeira felicidade. (S.</p><p>Agostinho, na Cidade de Deus, contou 288</p><p>opiniões diferentes, acerca da felicidade, cap.</p><p>20). Um antigo dizia que “a felicidade con-</p><p>sistia em ter o corpo são, e a alma livre”;</p><p>e um moderno sustentou que a felicidade</p><p>404 � Rocha Pombo</p><p>possível ao homem consistia: “no trabalho,</p><p>que é a vida do corpo; na luz, ou na cultura</p><p>do espírito, que é a vida da inteligência; e na</p><p>caridade, que é a vida do coração”. O mais</p><p>seguro é crer que a verdadeira felicidade não</p><p>se encontra nos bens desta vida, senão na</p><p>bem-aventurança eterna; pois, como disse</p><p>Vieira, “tudo que é terra é desterro, e só</p><p>o Céu, para que fomos criados, é a nossa</p><p>verdadeira e bem-aventurada pátria” (VI,</p><p>289). – Quanto a ditoso e feliz, que Roq.</p><p>não distingue, vale a pena ver o que escre-</p><p>veu S. Luiz: “Ditoso é, segundo a força eti-</p><p>mológica do vocábulo, aquele que goza de</p><p>muitos bens e riquezas. – Feliz é o que goza</p><p>de felicidade; e nós dizemos que goza de</p><p>felicidade (e é feliz, portanto) o homem que</p><p>vive tranquilo e satisfeito na pacífica frui-</p><p>ção dos bens que bastam aos seus desejos.</p><p>Assim, tomando estes vocábulos em todo o</p><p>rigor e propriedade das suas significações,</p><p>pode o homem ser afortunado e ditoso, sem ser</p><p>feliz: e pode ser feliz no meio da desdita e do</p><p>infortúnio. O ambicioso, por exemplo, que</p><p>chega a conseguir o objeto de seus vastos</p><p>pensamentos e desejos; que pode suplantar</p><p>os seus competidores na carreira das hon-</p><p>ras; que subindo, por favor da fortuna, até o</p><p>cume da humana grandeza, avassala e sub-</p><p>juga reinos e impérios, vê ante si ajoelhados</p><p>os outros homens; este ambicioso, digo, é</p><p>sem dúvida afortunado; mas pode não ser</p><p>feliz, e por certo que a felicidade raras vezes</p><p>se encontra acompanhada de tanto aparato.</p><p>Pelo contrário, o homem modesto, que ama</p><p>a verdade e a virtude; que sabe dominar as</p><p>suas paixões, e reger os seus desejos; que vive</p><p>contente com a sua mediocridade; o que re-</p><p>úne a tranquilidade do espírito e a paz do</p><p>coração com a saúde e vigor do corpo, pode</p><p>certamente dizer-se feliz, e contudo não é</p><p>afortunado, nem ditoso. O homem afortunado e</p><p>ditoso logo tem parentes, amigos, lisonjeiros,</p><p>adoradores; mas se a fortuna o desampara,</p><p>tudo isto desaparece. Ele está sempre de-</p><p>pendente dos objetos externos. O homem</p><p>verdadeiramente feliz vive, as mais das vezes,</p><p>desconhecido, e apenas estimado de poucos;</p><p>mas ele não depende nem dos louvores do</p><p>vil adulador, nem dos forçados obséquios</p><p>do pretendente. A sua felicidade está dentro</p><p>do seu próprio coração. O homem mau e</p><p>malvado é, muitas vezes, afortunado no meio</p><p>dos seus crimes; mas nunca pode ser feliz.</p><p>Pelo contrário, o homem virtuoso e verda-</p><p>deiramente sábio pode ser feliz até no meio</p><p>das perseguições e suplícios. O rei mais po-</p><p>deroso, e o homem mais afortunado de toda a</p><p>Ásia admirou-se de saber, pela voz do orá-</p><p>culo, que o mais pobre dos Árcades era o</p><p>homem mais feliz de toda a terra”.</p><p>748</p><p>FERRAMENTA, instrumento, utensílios.</p><p>– “Entende-se em geral por instrumento</p><p>aquilo que serve de causa para produzir um</p><p>efeito. Nós somos os instrumentos do desti-</p><p>no, da Providência. Num sentido mais li-</p><p>mitado, instrumento dizemos de todas as</p><p>coisas materiais que facilitam os meios de</p><p>fazer alguma obra, alguma operação, ou de</p><p>adquirir o conhecimento de algum objeto.</p><p>Entre os instrumentos tomados neste sen-</p><p>tido, chama-se ferramenta àqueles que são</p><p>mais simples em seu feitio, e cuja ação de-</p><p>pende unicamente de um movimento mecâ-</p><p>nico das mãos. Um martelo, uma enxó, um</p><p>escopro são ferramentas que se chamam assim</p><p>por serem geralmente de ferro ou aço. Os</p><p>instrumentos são mais complicados, cuja</p><p>invenção dá a conhecer mais inteligência,</p><p>e que tem por objeto operações não pu-</p><p>ramente mecânicas, mas que são dirigidas</p><p>pela inteligência. A ferramenta pertence</p><p>propriamente às artes mecânicas; e o ins-</p><p>trumento às artes superiores que supõem</p><p>mais instrução e exigem mais inteligência.</p><p>Um oculista, um oficial ótico faz, com as</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 405</p><p>suas ferramentas, microscópios e telescópios,</p><p>que são instrumentos de ótica. Um cuteleiro</p><p>prepara com as suas ferramentas as lancetas e</p><p>bisturis, que são instrumentos de cirurgia. Um</p><p>violeiro faz com suas ferramentas as violas, as</p><p>guitarras, etc., que são instrumentos de músi-</p><p>ca”. (Roq.) – Utensílio abrange a signifi-</p><p>cação das duas palavras precedentes: tanto</p><p>dizemos utensílios de pesca, de carpintaria;</p><p>como utensílios de música. Designa, além dis-</p><p>so, tudo que, mesmo sem ser propriamente</p><p>ferramenta nem instrumento, serve, no entanto,</p><p>para algum uso, ou tem serventia para a exe-</p><p>cução de algum trabalho: utensílios de escri-</p><p>tório, utensílios de mesa, de cozinha, etc.</p><p>749</p><p>FINADO, defunto, morto. “Empregam-se</p><p>estes três vocábulos para significar o homem</p><p>que cessou de viver: aí está a sua sinonímia.</p><p>Mas cada um deles exprime por diferente</p><p>modo a mesma ideia; e nisto consiste a sua</p><p>diferença. – Morto é o termo próprio com</p><p>que significamos precisamente o estado de</p><p>um ser que deixou de ter vida; e por isso</p><p>se diz genericamente, não só do homem,</p><p>mas também dos animais brutos, e ainda de</p><p>outros seres em que consideramos vida. As-</p><p>sim dizemos – homem morto, animal morto,</p><p>planta morta, fogo morto, etc. – Defunto e</p><p>finado são termos figurados que emprega-</p><p>mos, por eufemismo, em lugar de morto,</p><p>mas somente falando do homem, e como</p><p>para disfarçar a ideia triste e desagradável</p><p>que nos excitaria o termo próprio. Assim</p><p>dizemos, à maneira dos latinos, defunto, isto</p><p>é – o que passou o tempo da vida; finado,</p><p>isto é – o que</p><p>fez fim”. (S. Luiz.).</p><p>750</p><p>FLUIDO, líquido. Consultamos, acerca des-</p><p>tes dois vocábulos, grande número de auto-</p><p>res, e quer parecer-nos que Bourg. e Berg.</p><p>puderam, em poucas palavras, condensar e</p><p>resumir quanto em todos vemos de melhor:</p><p>– Líquido (do latim liquidus, que formou o</p><p>verbo liquecere “fundir-se”) dizemos dos cor-</p><p>pos não sólidos, cujas moléculas têm pouca</p><p>consistência, pouca coesão, e que, portanto,</p><p>rolam facilmente umas sobre as outras. Em-</p><p>prega-se esta palavra sem atenção ao grau de</p><p>tendência que tenham as moléculas para a</p><p>separação, e mesmo falando dos corpos que</p><p>mais se aproximam do estado ólido, como</p><p>certas substâncias moles e viscosas: lama</p><p>líquida; um xarope é líquido. – Fluido (do la-</p><p>tim fluere “correr”) acrescenta à ideia de lí-</p><p>quido a de movimento; dizemos fluido um</p><p>líquido que corre: assim a água de um rio</p><p>é líquida considerada em si mesma; é fluida</p><p>se a consideramos corrente. Além disso, as</p><p>moléculas de uma substância fluida têm mais</p><p>tendência para desagregar-se; o que torna</p><p>esta palavra de significação mais extensa que</p><p>líquido, pois tanto se diz da água e dos cor-</p><p>pos análogos, como dos gases, das correntes</p><p>imponderáveis, etc.: o ar é um fluido”.</p><p>751</p><p>FRANCO, sincero, leal. – Segundo Bruns.</p><p>– o homem franco diz o que pensa sem</p><p>disfarce nem hesitação; o homem sincero</p><p>não mente quando diz o seu pensamento; e</p><p>leal é o homem que, mesmo com sacrifício</p><p>próprio, não falta ao que a consciência lhe</p><p>dita com relação às promessas que fez. As-</p><p>sim: o homem franco é aquele que não cala</p><p>o que pensa desde que é necessário dizê-lo;</p><p>o homem sincero, quando fala, nunca diz o</p><p>contrário do que pensa; o homem leal é ab-</p><p>solutamente fiel ao seu dever de consciên-</p><p>cia. O homem sincero pode calar-se para não</p><p>ofender; o homem franco decerto que não</p><p>se apercebe de que a sua sinceridade possa</p><p>magoar; o homem leal é ao mesmo tempo</p><p>sincero e franco, e por isso não cogita das con-</p><p>sequências que possam ter a sua sinceridade</p><p>e a sua franqueza.</p><p>406 � Rocha Pombo</p><p>752</p><p>FRAUDULENTO, doloso; fraude, dolo.</p><p>– Note-se logo que dizemos: causar dolo, e</p><p>não – causar fraude. – Dolo é, pois, o dano,</p><p>o prejuízo; fraude é a astúcia de que se va-</p><p>leu aquele que produziu ou causou o dano.</p><p>Daí a distinção entre doloso e fraudulen-</p><p>to. Dizemos: quebra fraudulenta; e não dolosa,</p><p>conquanto não haja quebra fraudulenta que</p><p>não seja ao mesmo tempo dolosa. Como, po-</p><p>rém, a ideia de dolo já se inclui no vocábulo</p><p>“quebra”, seria redundância dizer – que-</p><p>bra dolosa. – É muito comum, no entanto,</p><p>empregar-se, mesmo no sentido jurídico,</p><p>estas duas palavras dolo e fraude (e os dois</p><p>adjetivos delas derivados) quase sempre in-</p><p>diferentemente.</p><p>753</p><p>FÚTIL, frívolo. – Se se atende ao valor pri-</p><p>mitivo destes vocábulos, “parece que fútil</p><p>é o que facilmente se derrama, se dissipa,</p><p>se evapora; e frívolo, o que facilmente se</p><p>quebra e se faz em pedaços”. Por onde fútil</p><p>significa um pouco mais que frívolo. Dize-</p><p>mos que é fútil uma coisa vã, que não tem</p><p>realidade, que se desvanece como um sopro,</p><p>como o vapor fugitivo. E dizemos que é frí-</p><p>vola uma coisa de pouca monta, de pouco</p><p>valor, de pouca consistência, de pouca so-</p><p>lidez. O homem fútil será aquele que fala</p><p>e obra sem razão, e sem reflexão; em frase</p><p>vulgar, – que não diz coisa com coisa, que</p><p>tudo faz no ar, que não sabe o que diz, nem</p><p>o que faz. E o homem frívolo será o que diz</p><p>coisas de pouca importância; que se ocu-</p><p>pa de objetos de mui pouco valor, etc. Um</p><p>raciocínio fútil será aquele que é vazio de</p><p>sentido e de razão; que só consta de pala-</p><p>vras. E um raciocínio frívolo será aquele que</p><p>tem pouca força e solidez; que facilmente</p><p>se desfaz; que não tem fundamento algum</p><p>seguro. Os bens da vida são frívolos: têm mui</p><p>pouca consistência. As nossas esperanças</p><p>são muitas vezes fúteis: só existem na nossa</p><p>fantasia, e dissipam-se como o fumo.</p><p>754</p><p>FUGA, fugida. – Confundem-se muito es-</p><p>tas duas palavras; e os próprios sinonimis-</p><p>tas que consultamos não estabelecem entre</p><p>elas distinção apreciável. Quase todos en-</p><p>tendem que fuga exprime “uma ideia mais</p><p>extensa, mais ampla e geral que fugida”;</p><p>que o primeiro enuncia a ideia de “fugir</p><p>em todo sentido, em todas suas acepções”;</p><p>e que fugida só se refere “à guerra”. E, no</p><p>entanto, dizemos também: os inimigos em</p><p>fuga desesperada; pôr em fuga os ladrões.</p><p>Parece, pois, que fuga encerra, além da de</p><p>fugida, a ideia de escapula; e que fugida su-</p><p>gere melhor a ideia de caminhada. É frase</p><p>muito usual esta: “Daremos uma fugida até</p><p>lá” (não – uma fuga). “Deu-se ontem a fuga</p><p>dos presos”. “Levaram uma longa fugida até</p><p>a fronteira”.</p><p>755</p><p>FUNDAMENTAL, básico, principal, ca-</p><p>pital. – Fundamental e básico dizem pro-</p><p>priamente – que serve de fundamento, que</p><p>serve de base. A diferença que há, pois, entre</p><p>base e fundamento é a que se deve notar entre</p><p>básico e fundamental: básico se diz daquilo</p><p>que é “como que o princípio; que serve de</p><p>apoio por ser onde começa e como se as-</p><p>senta a construção”; fundamental dizemos</p><p>do que é “como que o alicerce”, o sustentá-</p><p>culo de toda a construção. Argumento bási-</p><p>co, por exemplo (em sentido translato), é o</p><p>que deu princípio à defesa ou à discussão;</p><p>argumento fundamental é aquele em que vai</p><p>apoiar-se toda a defesa, toda a demonstra-</p><p>ção da tese. – Principal é o mais valioso, o</p><p>mais notável, o que desperta mais interesse</p><p>ou atenção entre muitos, ou numa coisa. –</p><p>Capital é o mais alto, o que serve “como de</p><p>cabeça”. Leis, regras, noções principais são as</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 407</p><p>mais notáveis entre as que se apresentam ou</p><p>consideram. Lei capital, ou noção capital será</p><p>a mais importante entre as principais.</p><p>756</p><p>FÚNEBRE, funéreo, funeral, funerário,</p><p>mortuário, exequial, feral, lúgubre, lutu-</p><p>oso. – Todos estes vocábulos sugerem ideia</p><p>de tristeza causada pela morte, ou de coisas</p><p>tão tristes como a ideia de morte. Os quatro</p><p>primeiros do grupo (todos de palavras lati-</p><p>nas formadas de funus “préstito fúnebre”)</p><p>distinguem-se apenas pelo sentido acessó-</p><p>rio dos respetivos sufixos. Dizemos, por</p><p>exemplo: – urna funerária (e não – fúnebre,</p><p>nem funeral, nem funérea); – pompa fúnebre;</p><p>ou – pompa funeral; ou ainda – funérea pom-</p><p>pa (e não – funerária). – Fúnebre, funéreo e</p><p>funeral referem-se, portanto, propriamente</p><p>à cerimônia do enterro, ao acompanhamen-</p><p>to com que se honra o morto. Funéreo e</p><p>funeral são sinônimos perfeitos: Mas entre</p><p>estes dois e fúnebre é preciso notar algu-</p><p>ma distinção. Dizemos – ideias fúnebres, e</p><p>não – ideias funéreas, nem – funerais. Fúnebre</p><p>significa, portanto, além de funeral, e de</p><p>funéreo, o que tem de lúgubre aquilo que</p><p>se refere à morte. – Mortuário se aplica ao</p><p>que pertence ou diz respeito propriamente</p><p>ao morto: câmara mortuária. – Exequial é o</p><p>que se refere à pompa com que se honra ou</p><p>se comemora o sucesso lutuoso. – Feral diz</p><p>também “fúnebre, lúgubre”, e é mais fre-</p><p>quentemente usado na linguagem literária:</p><p>palma feral, cruz feral, signo feral. – Lutuoso</p><p>= que sugere ideia de morte; que inspira</p><p>dor, tristeza de luto: sucesso lutuoso; dia, as-</p><p>peto, cerimônia lutuosa. – Lúgubre pode não</p><p>referir-se, ou não aplicar-se somente a coisas</p><p>que têm relação com a morte. Dizemos –</p><p>dia lúgubre, pensamentos lúgubres, cerimônias</p><p>lúgubres – para exprimir – dia, pensamentos,</p><p>cerimônias que nos inspiram tristeza por</p><p>terem alguma coisa de fúnebres, por serem</p><p>dolorosas e tétricas como se imagina que</p><p>será o silêncio, e o negror dos túmulos.</p><p>757</p><p>FÚRIA, furor (furibundo, furioso, furen-</p><p>te, enfurecido, furial); cólera, raiva, ira</p><p>(colérico, encolerizado, raivoso, enrai-</p><p>vecido, raivado, iroso, irado, iracundo);</p><p>insânia, sanha (insano, sanhudo, assanha-</p><p>do). – Entre fúria e furor há uma diferença</p><p>essencial: a fúria não é mais que o efeito,</p><p>ou a manifestação do furor. É o furor um</p><p>como súbito delírio, ou uma perda momen-</p><p>tânea de consciência, produzida por algum</p><p>grande choque moral, por alguma paixão</p><p>violenta. Destes dois vocábulos derivam-</p><p>se: – furibundo = cheio de</p><p>furor; – furioso</p><p>= atacado de fúria; – furente = posto em</p><p>fúria; – enfurecido = tornado furioso; – fu-</p><p>rial = próprio da fúria, em acesso de furor.</p><p>Ergueu-se o homem furibundo (e este adjeti-</p><p>vo só se aplica ao homem). Homem, vento,</p><p>mar, tempestade, cão furioso. Alma, olhar,</p><p>palavras, gesto furente. Quando enfurecido,</p><p>o bicho é temeroso, o homem é ridículo.</p><p>Dança furial; festa, cena, balbúrdia furial. –</p><p>Cólera, raiva e ira (principalmente cólera</p><p>e ira) dão muitos como sendo sinônimos</p><p>perfeitos. Dizemos, não há dúvida – cólera</p><p>divina, ou – ira divina; cólera ou ira de Deus:</p><p>não diremos, porém – raiva de Deus, con-</p><p>quanto se defina a raiva como manifestação</p><p>de cólera. De ira diz Roq. que “é palavra pu-</p><p>ramente latina, que, segundo uns, vem de</p><p>uro “queimar”, “arder”; e segundo outros,</p><p>vem de ire (quod à se it qui irascitur: hinc qui</p><p>iram deponit dicitur ad se redire. Donat.) Segun-</p><p>do Cícero, a ira é uma paixão impetuosa</p><p>que nos excita a tomar vingança daquele de</p><p>quem nos julgamos ofendidos com injúria.</p><p>A ira e a loucura só se distinguem em durar</p><p>aquela menos tempo que esta, como disse</p><p>Catão o velho: Iratus ab insano non nisi tempo-</p><p>re distat. E o poeta lírico: Ira furor brevis est.</p><p>408 � Rocha Pombo</p><p>– Cólera (e melhor cholera) é palavra latina</p><p>vinda do grego cholê, que significa “bílis”,</p><p>“fel”; e no sentido translato ira, agasta-</p><p>mento. Diferença-se de ira em que se refere</p><p>à “bílis”, suposta causa da ira. Lê-se no</p><p>Palmeirim: “Levantar a cólera a alguém” – que</p><p>é a verdadeira tradução do dito de Aristó-</p><p>fanes que os franceses traduzem: Remuer la</p><p>bile à quelqu’un. Não nos parece que cólera</p><p>seja mais violenta que ira, a não ser que de-</p><p>mos a esta palavra o valor da francesa colère:</p><p>o que seria cometer um grande galicismo;</p><p>antes pensamos que às vezes é até menos</p><p>forte que ira, quando só representa enojo,</p><p>agastamento. (Como, por exemplo, quando</p><p>nos referimos à cólera de Aquiles...) – Raiva</p><p>(do latim rabies) significa, em sentido reto,</p><p>uma doença, que melhor se chama hidrofo-</p><p>bia; em sentido translato é a ira levada ao</p><p>último grau; supõe, não só agitação violen-</p><p>tíssima com furor, senão permanência des-</p><p>te furor, e mais ardente e insaciável desejo</p><p>de vingar-se, sem consideração a nenhum</p><p>respeito, como fazem os cães danados, que</p><p>nem a seus próprios donos poupam: cão</p><p>com raiva seu dono morde – diz um antigo</p><p>provérbio. E nisto diferença-se particular-</p><p>mente de cólera e de ira, que, posto que</p><p>impetuosas, são transitórias, e não cegas e</p><p>implacáveis como a raiva”. – Da diferença</p><p>aí estabelecida entre cólera, raiva e ira pro-</p><p>vém a que se nota entre os respectivos de-</p><p>rivados. – Colérico diz propriamente “ata-</p><p>cado de cólera”; e também se emprega esta</p><p>palavra para designar – o que é propenso à</p><p>cólera, o que facilmente se encoleriza: gênio,</p><p>temperamento colérico. – Encolerizado quer</p><p>dizer – levado à cólera, posto em cólera, cheio</p><p>de cólera. – Como diz S. Luiz, “a termina-</p><p>ção em oso, nos adjetivos, exprime muitas</p><p>vezes a propriedade, a força, a tendência, a</p><p>propensão natural: assim chamamos rixoso,</p><p>estudioso, amoroso, etc., o homem que é</p><p>dado a rixas, que é inclinado aos estudos,</p><p>que tem propensão para os sentimentos de</p><p>amor, etc.” A terminação em undo exprime</p><p>abundância, profusão, excesso, talvez fre-</p><p>quência, profundeza, etc.; assim dizemos</p><p>– venerabundo “o que faz demonstrações</p><p>de profundo respeito”; furibundo “o que</p><p>mostra excesso de furor”; rubicundo “o que</p><p>mostra grande vermelhidão, vermelhidão</p><p>ardente”, etc. A terminação em ado, nos</p><p>particípios perfeitos dos verbos, exprime o</p><p>estado atual passivo do sujeito; a existência</p><p>do atributo do sujeito no tempo ou época</p><p>de que se fala; assim em amado, enfeitado,</p><p>estimado, etc. – Iroso, pois, é propriamen-</p><p>te o homem inclinado à ira64, que tem, da</p><p>sua condição, e como por natureza, facili-</p><p>dade de deixar-se possuir desta paixão; que</p><p>é propenso a irar-se, etc. – Iracundo é o</p><p>homem excessivamente iroso (e também ira-</p><p>do excessivamente); que abunda (por assim</p><p>dizer) nesta paixão; que é violentamente</p><p>dominado dela; cujas iras são frequentes,</p><p>talvez arrebatadas, impetuosas, etc. – Irado</p><p>é o homem que atualmente (ou no momen-</p><p>to) está tomado de ira. – Iroso e iracundo</p><p>“designam a paixão, o hábito da ira: irado</p><p>designa o estado atual do sujeito: por onde,</p><p>pode um homem estar irado sem ser iroso,</p><p>nem iracundo; e pode ter esta paixão, estan-</p><p>do atualmente de ânimo quieto e tranqui-</p><p>lo”. – Distinções análogas devem notar-se</p><p>em relação a raivoso, enraivecido e raiva-</p><p>do: – raivoso significa – “inclinado à raiva;</p><p>suscetível, por natureza, de enraivecer-se</p><p>facilmente”; enraivecido e raivado dizem</p><p>– “atacados de raiva presentemente ou de</p><p>momento”. Estes últimos indicam estado</p><p>[e só se usam mesmo com o verbo estar; e o</p><p>primeiro, raivoso, indica modo de ser, con-</p><p>dição (e só este se usa com o verbo ser)].</p><p>Entre enraivecido e raivado só há diferen-</p><p>ça de intensidade, sendo o primeiro mais</p><p>64 � Irascível é melhor ainda com esta significação.</p>

Mais conteúdos dessa disciplina