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<p>EIXO TEMÁTICO: JOGOS E BRINCADEIRAS</p><p>Tema: O corpo e a brincadeira</p><p>Tópico 7 B: O jogo lúdico - A importância da ludicidade para a qualidade de vida</p><p>Habilidades: Conhecer as características do jogo lúdico.</p><p>Para desenvolver este tópico é necessário retomar dois importantes pressupostos dessa proposta, que são: a</p><p>qualidade de vida como requisito para a vivência corporal plena e a ludicidade como essência da vivência corporal.</p><p>Como vimos no texto da proposta, falar em qualidade de vida implica pensar, sobretudo, na dignidade humana, na</p><p>saúde como o estado de bem-estar biopsicossocial dos sujeitos, nas relações desses sujeitos consigo mesmos, com</p><p>o outro, com os meios físico, cultural e social. Isso, por sua vez, implica levar em conta diferentes fatores que atuam</p><p>nas condições de vida dessas pessoas, como os condicionantes das dimensões biológica, psicológica, social, cultural</p><p>econômica, ambiental, lúdica, dentre outras.</p><p>A ludicidade foi considerada como essência da vivência corporal dos alunos que tem como características básicas o</p><p>prazer e o exercício da liberdade, os quais, por sua vez, implicam em realizar escolhas de forma autônoma,</p><p>assumindo quaisquer responsabilidades sobre ela.</p><p>Mas, afinal o que é lúdico?</p><p>Gomes (2004) escreveu um artigo que , certamente trará contribuições para aprofundarmos na temática:</p><p>Nos dicionários da nossa língua, geralmente diversos significados são atribuídos ao lúdico, que é considerado como</p><p>um adjetivo “que tem o caráter de jogos, brinquedos e divertimentos” e integra “a atividade lúdica das crianças”. Para</p><p>a autora essa primeira explicação, além de restringir o lúdico à infância, refere-se apenas aos jogos, aos brinquedos</p><p>e aos divertimentos das crianças, quando existe uma diversidade de manifestações culturais construídas pela</p><p>humanidade e vivenciadas em todos os ciclos da vida, da mais tenra idade à velhice (Ferreira , 1986: p.1051).</p><p>Fazendo uma interessante discussão sobre o tema, Bracht (2003) salientou que o lúdico é um termo amplamente</p><p>utilizado nos estudos sobre o lazer no Brasil. Contudo, o autor constatou que nem sempre os estudiosos se</p><p>preocupam em precisar o significado dessa palavra, deixando lacunas que dificultam a compreensão do lúdico. Com</p><p>essa afirmação, você pode perceber que as dificuldades que incidem sobre o entendimento do termo “lúdico” no</p><p>vocabulário comum também podem ser verificadas na produção acadêmica. Vamos, então, fazer um exame mais</p><p>minucioso de alguns estudos que tratam dessa questão.</p><p>Normalmente, os estudiosos que aprofundam conhecimentos sobre o lúdico não deixam de citar o clássico Homo</p><p>ludens, texto escrito em 1938, por Johan Huizinga. Este autor destaca que, em geral, na língua latina o vocábulo</p><p>ludus era um termo equivalente a jogo, cobrindo todo esse terreno de manifestações culturais. Dessa forma, o latim</p><p>“ludus abrange os jogos infantis, a recreação, as competições, as representações litúrgicas e teatrais e os jogos de</p><p>azar.” (Huizinga, 1993, p.41).</p><p>Bracht (2003) averiguou que é quase uma unanimidade conferir ao lúdico ou a termos equivalentes (tais como:</p><p>práticas lúdicas, universo lúdico, vivência lúdica) características eminentemente positivas. Assim, o lúdico é sempre</p><p>ressaltado como algo interessante, agradável, prazeroso, criativo, autônomo, voluntário e livre, como um fenômeno</p><p>que provoca, nos sujeitos, um estado de agradável sensação. Nessa perspectiva, a essência da ludicidade poderia</p><p>ser traduzida como prazer, júbilo, regozijo e alegria. O autor indaga: porque o termo lúdico recebe esta conotação</p><p>positiva?</p><p>Mesmo que esta interpretação seja muito difundida em nosso meio, sobre ela recaem algumas objeções. Como</p><p>lembra Bracht (2003), ao invés de simplesmente preservar o lúdico no sentido de uma “pureza original” e idealizada,</p><p>o desafio consiste em potencializá-lo numa determinada direção. Como exemplo, o autor cita a ação da indústria</p><p>cultural, quando esta apela para o interesse “natural” da criança pelo jogo, onde ocorre um processo de</p><p>ressignificação que precisa ser compreendido. Através da oferta de determinados objetos, fantasias, da delimitação</p><p>dos espaços e dos tempos, os meios de comunicação de massa estruturam o universo das brincadeiras e jogos</p><p>infantis de maneira que a criança não é protagonista, mas mero objeto de um outro jogo.</p><p>Mesmo não tendo uma visão idealizada sobre o lúdico, muitos autores brasileiros conferem a ele uma conotação</p><p>positiva. Outros pesquisadores ressaltam, ainda, seu caráter subversivo e utópico do lúdico. Vejamos o que pensam</p><p>alguns deles.</p><p>Marcellino (1990) entende o lúdico como um componente da cultura historicamente situada e que pode significar uma</p><p>“experiência revolucionária”. Assim entendido, o lúdico permite não só consumir cultura, mas também criá-la e recriá-</p><p>la, vivenciando valores e papéis externos a ela (Marcellino, 1990). Esse potencial revolucionário do lúdico é citado</p><p>por vários autores adeptos do pensamento de que o lúdico não deve funcionar como válvula de escape, propiciar a</p><p>evasão, comprometer-se com a fuga da realidade e com a quebra da rotina.</p><p>Pinto (1995, p.20) considera-o como vivência privilegiada do lazer que materializa experiência cultural, movida pelos</p><p>desejos de quem joga e coroada pelo prazer. Para a autora, concretizar o lúdico é “renovar relações interpessoais,</p><p>experiências corporais, ambientes, temporalidades e energias; é reencontrar consigo mesmo, com o que gosta e</p><p>deseja; compreender como nossos sonhos se constituem no contexto em que vivemos; transbordar a crítica e a</p><p>criatividade; e saborear o momento presente como possibilidade de vivências de utopias.”</p><p>Na pesquisa realizada com meninos e meninas que trabalham nos canaviais de Pernambuco, Silva (2001, p.18)</p><p>destacou o caráter de subversão e de transgressão da ordem desenvolvidos por meio de ações lúdicas. Essa</p><p>transgressão “deve ser compreendida como um caminho cultural e possibilidade real de construção de níveis mais</p><p>avançados de fazer política, história e cultura.” O autor reconhece que o lúdico não é apenas um reino da fantasia,</p><p>dotado apenas da força transgressora. Além de conter todos os valores citados, contêm também uma relação</p><p>dialética entre consenso e conflito, dor e prazer, alienação e emancipação.</p><p>Alves (2003, p.70), por sua vez, compreende o lúdico como uma dimensão humana que se expressa na cultura, por</p><p>isso mesmo cada sociedade convive com diferentes referências, possíveis de serem identificadas quando se analisa</p><p>a presença deste elemento em seu interior. Homens, mulheres e crianças interferem no meio e sofrem influências</p><p>deste, o que permite a construção de uma “teia de relações”, também lúdicas, onde sujeito e cultura são modificados.</p><p>Compreender esta dimensão nas sociedades é, para a autora, uma tarefa instigante.</p><p>Debortoli (2002) considera a ludicidade como uma das dimensões da linguagem humana, possibilidade de expressão</p><p>do sujeito criador, que se torna capaz de dar significado à sua existência, ressignificar e transformar o mundo. Sua</p><p>percepção da linguagem vai além da fala, pois se trata de expressão, da capacidade de tornar-se narrador.</p><p>Sendo compreendido como uma forma de linguagem humana referenciada na brincadeira, o lúdico pode se</p><p>manifestar de diversas formas (verbal, impressa, gestual, visual, artística, etc.) e ocorrer em todos os momentos da</p><p>vida – no trabalho, no lazer, na escola, na família, na política, na ciência, dentre outros (Gomes, 2004).</p><p>Contrapondo o senso comum, como visto no início deste tópico, para o qual o lúdico é equivocadamente associado à</p><p>infância e tratado como sinônimo de determinadas manifestações da nossa cultura, Gomes (2004, p.145) afirma que</p><p>“as práticas culturais não são lúdicas em si. É a interação do sujeito com a experiência vivida que possibilita o</p><p>desabrochar da ludicidade”. Além disso, o lúdico constitui formas diferenciadas de partilhar a vida social, não apenas</p><p>positivamente como alertado</p><p>por Bracht, mas profundamente marcado pela exaltação dos sentidos e das emoções –</p><p>misturando alegria e angústia, relaxamento e tensão, prazer e conflito, regozijo e frustração, satisfação e expectativa,</p><p>liberdade e concessão, entrega, renúncia e deleite.</p><p>Por isso, o lúdico pressupõe a valorização estética e a apropriação expressiva do processo vivido, e não apenas do</p><p>produto obtido, mesmo quando não se obtém o resultado almejado (por exemplo, torcer ou integrar um time que não</p><p>sai vitorioso de uma partida), prevalece o pensamento de que a vivência valeu a pena, sendo mantido o desejo de</p><p>repeti-la e conquistar novos desafios (Werneck, 2003; Gomes, 2004).</p><p>Pelo exposto, o lúdico pode ser entendido como “expressão humana de significados da/na cultura referenciada no</p><p>brincar consigo, com o outro e com o contexto”, refletindo as tradições, os valores, os costumes e as contradições</p><p>presentes em nossa sociedade. Assim, é construído culturalmente e cerceado por vários fatores, tais como normas</p><p>políticas e sociais, princípios morais, regras educacionais, condições concretas de existência. O lúdico,</p><p>compreendido como uma forma de expressão humana que tem o brincar como referência, representa uma</p><p>oportunidade de (re)organizar a vivência e (re)elaborar valores comprometidos com um determinado projeto de</p><p>sociedade (Gomes, 2004, p.145).</p><p>Para tratar do assunto com os alunos(as) é preciso considerar as discussões acima ao desenvolver todos os</p><p>conteúdos desta proposta para a Educação Física. Articulando a discussão teórica elaborada pela professora</p><p>Christianne Gomes, Leila M. S. M. Pinto (s/d) ajuda-nos a concretizá-la na reflexão abaixo:</p><p>Descanso, divertimento, desenvolvimento pessoal, social, cultural, profissional... Embora as vivências lúdicas, por si</p><p>sós, não dêem conta de dar respostas para todos os nossos problemas, nos ajudam a ser "mais" na vida. E</p><p>beneficiamo-nos de vários modos com essa experiência.</p><p>Ao falarmos em vivências lúdicas estamos nos referindo ao que nossa cultura chama de festa, brincadeira,</p><p>brinquedo, jogo, alegria construídas pelo exercício da liberdade. O lúdico fala de vivências que consideram que a sua</p><p>qualidade está nas pessoas.</p><p>O ponto de partida da vivência lúdica são os sonhos, os desejos dos sujeitos que mobilizam o planejar, o organizar, o</p><p>agir, o saborear, vivendo intensamente as relações estabelecidas nas atividades desenvolvidas no tempo, no lugar e</p><p>com os materiais disponíveis.</p><p>O jogo lúdico estimula o recriar: ter boas idéias e desenvolvê-Ias com espontaneidade e a alegria de dividi-Ias com os</p><p>parceiros. O jogador lúdico quer realizar o que tem prazer e por isso lida com os limites e as possibilidades do que</p><p>faz. Curioso, ele busca sempre novas descobertas: de seus próprios talentos, dos talentos de seus amigos e do</p><p>sucesso do trabalho em grupo. Aprender e reaprender a gostar com capacidade empreendedora e solidariedade são</p><p>desafios permanentes para ele, procurando sempre descobrir o que move as pessoas para a participação com</p><p>autonomia.</p><p>A vivência lúdica nos ensina a reorganizar a vida e o trabalho, descobrindo neles o prazer, a emoção e as</p><p>possibilidades de nos enriquecermos com diversificadas experiências culturais.</p><p>Desenvolvemos habilidades de: lidar com ritmos, sons e palavras; sensibilizar-nos com as letras; relacionar a</p><p>linguagem gestual com a música; usar o corpo de formas diferentes e conscientes; relacionar com as pessoas como</p><p>forma de autoconhecimento; ordenar e reordenar coisas; lidar de modo variado com os números; perceber-nos no</p><p>espaço; conhecer nossa história; recriar experiências; relacionar conhecimentos para resolver desafios; distinguir,</p><p>classificar e usar elementos-chave do meio ambiente; agir com autonomia.</p><p>Do ponto de vista das oportunidades de crescimento, ajuda-nos a não temer mudanças; a descobrir caminhos</p><p>ousados; empenhar no crescimento pessoal e profissional; a ter atenção com a segurança e o prazer em fazer as</p><p>coisas fora da rotina; a desejar, arquitetar e descobrir caminhos de crescimento em tudo que fazemos, lidando com</p><p>os diferentes limites que nos são colocados.</p><p>O lúdico fortalece-nos para conhecer os limites das nossas atividades e alternativas para sua superação, com</p><p>consciência de que as atividades enriquecem. a vida. Cultivamos a esperança de que limites podem ser vencidos e</p><p>de que as superações, mesmo que difíceis, são possíveis se a cada dia investimos nelas e nos empenhamos em</p><p>encontrar caminhos para superar as dificuldades, compreendendo que a alegria é essencial à vida. É importante</p><p>levar a sério a importância da alegria, sabendo que alegria não se compra, não se ganha de presente, conquista-se</p><p>com o exercício da liberdade, com o desenvolvimento do poder de escolha.</p><p>Além disso, a vivência lúdica contribui para entendermos a saúde como um conjunto de condições que viabilizam a</p><p>vida e uma existência digna: respeito, trabalho, habitação, alimento, meio ambiente, cuidado pessoal, lazer, etc. Falar</p><p>em saúde é, sobretudo, falar de um novo trato com o corpo. O corpo não é só o físico, é uma totalidade que sente,</p><p>pensa, decide, age, luta pelos seus direitos, curte o que faz, preserva as relações humanas e o meio ambiente.</p><p>Precisamos nos prevenir contra o sedentarismo, o estresse e tantos outros problemas. Precisamos conhecer melhor</p><p>a nós mesmos, restaurar energias, desafogar tensões, estimular desejos, estreitar amizades, fortalecer alianças,</p><p>curtir a expressividade, reinventar a vida, solidariamente.</p><p>Do ponto de vista da integração social, cultural e profissional, a vivência lúdica nos leva a superar preconceitos;</p><p>desejar conviver, participar e construir saberes e estratégias coerentes; ser habilidoso/habilidosa nas relações</p><p>interpessoais; valorizar o trabalho coletivo e o comunitário; ter responsabilidade social; respeitar e valorizar o outro;</p><p>empolgar com as conquistas das outras pessoas; confiar nas pessoas e ser confiável; desejar e comprometermo-nos</p><p>com os desafios coletivos que organizamos com nossos parceiros; ter prazer e habilidade no trabalho em equipe,</p><p>considerando os participantes parceiros e não adversários.</p><p>Sensibilidade, outro importante beneficio: desejar, decidir, agir e divertir sem sentimento de culpa; ter motivação pelo</p><p>que fazemos e abertura para as oportunidades de desenvolvimento do gosto por fazer e aprender novos fazeres;</p><p>curtir o que fazemos; dar asas à imaginação nos nossos afazeres; gostar de ouvir o outro e com ele dialogar;</p><p>perceber como cada pessoa é e que as pessoas são diferentes; sermos curiosos com as opiniões diferentes e buscar</p><p>compreendê-las; administrar conflitos; valorizar as conquistas desde as mais singelas; buscar a emoção de amar as</p><p>pessoas; identificar-nos afetivamente com as atividades que fazemos; alcançar a emoção de dentro para fora e de</p><p>fora para dentro; reconhecer as pessoas pelo que são e sermos reconhecidos por elas.</p><p>Para avaliar o tópico proponha durante as aulas a discussão sobre o lúdico, de modo que tanto o professor quanto os</p><p>alunos apropriem das reflexões aqui colocadas.</p><p>Para saber mais:</p><p>GOMES, Christianne L. Lúdico. In: ______________ Dicionário Crítico do Lazer. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2004.</p><p>p.141-146.</p><p>PINTO, Leila M. S. M. Lazer: Vivência privilegiada do lúdico. In: Belo Horizonte. Prefeitura Municipal. Secretaria</p><p>Municipal de Esportes. O lúdico e as políticas públicas: realidade e perspectivas. Belo Horizonte: PBH/SMRS, 1995.</p><p>p.18-26.</p><p>__________. A experiência educativa lúdica. In: SALGADO, Maria Umbelina C.; MIRANDA, Glaura Vasques de.</p><p>(Orgas.). Veredas; formação superior de professores: módulo 6, v. 4/SEE-MG, p.23-50. Belo Horizonte: SEE-MG,</p><p>2004.</p><p>Orientação Pedagógica: A importância da ludicidade para a qualidade de vida</p><p>Currículo Básico Comum - Educação Física Ensino Médio</p><p>Autor(a): Vânia de Fátima Noronha Alves</p><p>Centro de Referência Virtual do Professor - SEE-MG/2005</p>

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