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<p>Ninguém educa ninguém, ninguém se educa</p><p>sozinho: as pessoas se educam na relação, me-</p><p>diatizados pelo mundo.</p><p>Paulo Freire (1975, p. 19)</p><p>DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO</p><p>Sabemos que o meio ambiente não pode ser</p><p>reduzido a preocupações com a ecologia –</p><p>uma área das ciências biológicas – ou com a</p><p>natureza – os seres humanos nem sabem</p><p>mais o que é “natureza” (...) O meio am-</p><p>biente é tão completamente penetrado e re-</p><p>ordenado pela vida sociocultural humana</p><p>que nada mais pode ser chamado com cer-</p><p>teza de apenas natural ou social. A natureza</p><p>transformou -se em áreas de ação nas quais</p><p>precisamos tomar decisões políticas, práti-</p><p>cas e éticas (Beck, Giddens; Lash, 1997).</p><p>Enfrentamos agora uma crise ambien-</p><p>tal nunca vista na história, que deve -se à</p><p>enormidade de nossos poderes humanos.</p><p>Pois tudo o que fazemos tem efeitos colate-</p><p>rais e consequências não antecipadas que</p><p>tornam inadequadas as ferramentas éticas</p><p>que herdamos do passado. Um filósofo</p><p>contemporâneo, Hans Jonas, descreveu,</p><p>com uma simplicidade contundente, a crise</p><p>ética de profundas incertezas em que nos</p><p>achamos: “nunca houve tanto poder ligado</p><p>com tão pouca orientação para seu uso”.</p><p>Pois é, tecnologias altamente impactantes</p><p>nos chegam sem manual de instruções ou</p><p>bula.</p><p>É com certa perplexidade que deve-</p><p>mos assumir a nossa responsabilidade hu-</p><p>mana pelos graves problemas socioambien-</p><p>tais contemporâneos. As crises econômicas,</p><p>as profundas desigualdades sociais, as alte-</p><p>rações no clima constituem apenas a face</p><p>mais visível de um fenômeno mais amplo e</p><p>historicamente situado, conhecido como</p><p>“mudanças socioambientais globais”, cujo</p><p>enfrentamento não pode ser adiado.</p><p>Há uma forte demanda dos sistemas</p><p>de ensino, educadores, estudantes e cida-</p><p>dãos a respeito da educação ambiental em</p><p>razão da crescente percepção de que é ne-</p><p>cessário enfrentar os complexos desafios</p><p>ambientais contemporâneos e melhorar a</p><p>qualidade do ensino. O contexto atual re-</p><p>força o reconhecimento do papel transfor-</p><p>mador da educação, exigindo a revisão da</p><p>11</p><p>Educação integral</p><p>em escolas sustentáveis</p><p>Políticas públicas para os desafios</p><p>da contemporaneidade</p><p>Rachel Trajber</p><p>Caminhos da educação integral no Brasil 173</p><p>referência superficial da transversalidade</p><p>contida na normatização da educação am-</p><p>biental no ensino formal, que em geral se</p><p>apresenta desconexa, reducionista, desarti-</p><p>culada e insuficiente.</p><p>Tudo isso impõe uma proposta de</p><p>educação que ressignifica sua função social</p><p>a partir da complexidade, supera a dissocia-</p><p>ção sociedade/natureza e mantém uma re-</p><p>lação dialógica e transformadora com o</p><p>mundo. Nela, o atributo “ambiental”, na</p><p>tradição da educação ambiental brasileira e</p><p>latino -americana, não é visto como mera</p><p>função adjetivante para especificar um tipo</p><p>particular de educação, mas constitui -se em</p><p>elemento identitário que demarca um cam-</p><p>po de valores e práticas, mobilizando atores</p><p>sociais comprometidos com uma prática</p><p>político -pedagógica emancipatória. Faz</p><p>parte de uma perspectiva de educação inte-</p><p>gral e transformadora capaz de promover</p><p>uma outra ética e uma nova cidadania – a</p><p>ética e cidadania ambiental.</p><p>Este debate, em todos os âmbitos e</p><p>nas áreas do conhecimento, em especial na</p><p>educação, se dá no enfrentamento de imen-</p><p>sos desafios e proposições em diversos pla-</p><p>nos:</p><p>1. o desafio planetário; a educação ambien-</p><p>tal atua criticamente na superação de</p><p>padrões predatórios da vida e na busca</p><p>de uma educação que realize alternativas</p><p>civilizatórias e societárias.</p><p>Mais do que mudar apenas valores, a educação</p><p>ambiental assume a sua parte no enfrentamen-</p><p>to dessa crise, radicalizando seu compromisso</p><p>com mudanças de comportamentos, senti-</p><p>mentos e atitudes, em conjunto e com reflexos</p><p>para a totalidade dos habitantes de cada terri-</p><p>tório. Uma educação que se propõe a fomen-</p><p>tar processos continuados, estimulando o re-</p><p>conhecimento da biodiversidade, da diversi-</p><p>dade cultural, étnica, juntamente com o</p><p>fortalecimento da resistência da sociedade a</p><p>um modelo devastador das relações humanas,</p><p>das nossas relações com os demais seres vivos e</p><p>com o planeta. (Sorrentino; Trajber, 2007)</p><p>O momento atual, marcado pela</p><p>ocorrência de diversos desastres ambientais,</p><p>amplia a necessidade de compreendermos a</p><p>complexa multicausalidade, prevermos seus</p><p>efeitos e vislumbrarmos mudanças radicais.</p><p>Já não basta mais seguir o antigo jargão am-</p><p>bientalista de “pensar globalmente e agir lo-</p><p>calmente”. O desafio atual consiste em</p><p>aprender a simultaneidade do pensar e agir</p><p>local e globalmente.</p><p>Essa visão reafirma valores e ações</p><p>pro postas por documentos da sociedade</p><p>civil, em especial o Tratado de Educação</p><p>Ambiental para Sociedades Sustentáveis e</p><p>Responsabilidade Global (Tratado...</p><p>[1992?]), a Carta da Terra (Carta... 2000) e</p><p>a Agenda 21. Dizem os signatários do Tra-</p><p>tado ([1992?], p. 1):</p><p>Nós signatários, pessoas de todas as partes do</p><p>mundo, comprometidos com a proteção da</p><p>vida na Terra, reconhecemos o papel central</p><p>da educação na formação de valores e na ação</p><p>social. Nos comprometemos com o processo</p><p>educativo transformador através de envolvi-</p><p>mento pessoal de nossas comunidades e na-</p><p>ções para criar sociedades sustentáveis e equi-</p><p>tativas. Assim, tentamos trazer novas esperan-</p><p>ças e vida para o nosso pequeno, tumultuado</p><p>mas, ainda assim, belo planeta.</p><p>Ela acontece durante a Década da</p><p>Educação para o Desenvolvimento Susten-</p><p>tável, iniciativa das Nações Unidas sob a</p><p>coordenação da Unesco, que afirma:</p><p>O Programa Educação para o Desenvolvimento</p><p>Sustentável trata fundamentalmente de valores,</p><p>tendo como tema central o respeito: respeito ao</p><p>próximo, incluindo as gerações presentes e futu-</p><p>ras, à diferença e à diversidade, ao meio ambien-</p><p>te e aos recursos existentes no planeta que habita-</p><p>mos. A educação nos torna aptos a nos enten-</p><p>174 Jaqueline Moll e colaboradores</p><p>dermos, a entendermos o próximo e os</p><p>vínculos que nos unem ao entorno natural e</p><p>social. Esse entendimento serve de base dura-</p><p>doura para alicerçar o respeito. Junto com o</p><p>senso de justiça, responsabilidade, exploração</p><p>e diálogo, o Programa Educação para o Desen-</p><p>volvimento Sustentável objetiva nos levar a</p><p>adotar atitudes e práticas que permitirão a to-</p><p>dos viver uma vida plena, sem carecer do in-</p><p>dispensável. (Nações Unidas, 2005, p. 19 –</p><p>itálico no original)</p><p>2. o desafio educacional se dá na própria</p><p>práxis educativa. Vale retomar a concep-</p><p>ção freireana das pessoas aprenderem</p><p>mediatizadas pelo mundo, na qual se</p><p>enfatiza a dimensão sociopolítica, com a</p><p>formação da consciência crítica no pro-</p><p>cesso de organização e mobilização das</p><p>classes populares.1 Freinet também en-</p><p>fatiza o contato com a natureza como</p><p>mediação educativa, ao enfatizar que “a</p><p>natureza permanece sempre como o</p><p>meio mais rico e aquele que se adapta às</p><p>necessidades variáveis dos indivíduos.</p><p>Não deve haver escola maternal sem</p><p>meio natural (...) [assim como] não po-</p><p>derá haver escola primária sem meio na-</p><p>tural” (Freinet, 1973, p. 46 e 71, grifo</p><p>nosso). Esses autores não excluem a di-</p><p>mensão da natureza e da cultura. A pers-</p><p>pectiva crítica de Paulo Freire e a natu-</p><p>ralizante de Freinet, no contexto atual,</p><p>readquirem nova força de convocação</p><p>com um significado ampliado de um</p><p>mundo em transição, que precisa ressig-</p><p>nificar a mediação educativa para as ba-</p><p>ses de sustentação da vida e do bem-</p><p>-estar no planeta.</p><p>Uma curiosidade nessa relação natu-</p><p>reza/cultura aparece na abordagem de Fri-</p><p>tjof Capra que mostra o termo “cultura” na</p><p>antiguidade ligado ao processo de cultivo</p><p>de plantas e cereais, ou de criação de ani-</p><p>mais (agricultura, monocultura...), que no</p><p>Renascimento recebeu uma extensão meta-</p><p>fórica para o cultivo da mente humana. No</p><p>século XX, quando o conceito antropológi-</p><p>co de cultura torna -se dinâmico, múltiplo,</p><p>complexo e polissêmico – em significados e</p><p>enfoques – a palavra designa “o modo espe-</p><p>cífico de vida de um povo ou grupo social”,</p><p>ou seja, dizemos a cultura árabe, a cultura</p><p>empresarial, a cultura escolar (Capra, 2002,</p><p>p. 98).</p><p>A educação, portanto, aponta para</p><p>trajetórias transformadoras das subjetivida-</p><p>des, das relações sociais, das culturas e das</p><p>condições objetivas de vida2 a serem per-</p><p>corridas pelas escola e suas comunidades,</p><p>verdadeiros “lugares de locução onde se ex-</p><p>perimenta habitar uma educação que não</p><p>cede de sua crença e de sua aposta em que</p><p>um outro mundo é possível” (Carvalho,</p><p>2004, p. 20). Trata -se de “promover a com-</p><p>preensão dos problemas socioambientais</p><p>em suas múltiplas dimensões: geográficas,</p><p>históricas, biológicas, sociais e subjetivas</p><p>[...] formando uma atitude ecológica dota-</p><p>da de sensibilidades estéticas, éticas e políti-</p><p>cas sensíveis à identificação dos problemas</p><p>e conflitos que afetam o ambiente em que</p><p>vivemos” (Carvalho, 2004, p. 20 -21).</p><p>Diversas políticas públicas e iniciati-</p><p>vas do Ministério da Educação voltadas a</p><p>temas e questões ambientais foram criadas</p><p>para lidar com o desafio de a educação</p><p>tornar -se “um processo de politização e pu-</p><p>blicização da problemática ambiental por</p><p>meio do qual o indivíduo, em grupos so-</p><p>ciais, transforma a si mesmo e a realidade”.3</p><p>(Loureiro 2004, p. 81 -82). Nesse sentido,</p><p>destacam -se os Parâmetros Curriculares</p><p>Nacionais elaborados em 1997, que in-</p><p>cluem o meio ambiente entre os temas</p><p>transversais; acompanhados dos Parâme-</p><p>tros em Ação – Meio Ambiente na Escola.</p><p>Desde 2004, com a criação da Secretaria de</p><p>Educação Continuada, Alfabetização e Di-</p><p>Caminhos da educação integral no Brasil 175</p><p>versidade (SECAD) no MEC, a educação</p><p>ambiental adquiriu uma visão sistêmica.</p><p>Foi realizada a Formação Continuada de</p><p>Professores em Educação Ambiental em to-</p><p>dos os estados, tanto presencial como a dis-</p><p>tância pela Rede de Formação para a Diver-</p><p>sidade (UAB/Capes/Secad), envolvendo</p><p>milhares de professores.</p><p>Desenvolvidas respectivamente em</p><p>2003, 2006 e 2009 pelo Órgão Gestor da</p><p>Política Nacional de Educação Ambiental,</p><p>a I, II e III edições da Conferência Nacio-</p><p>nal Infantojuvenil pelo Meio Ambiente e,</p><p>em 2010, a Conferência Internacional</p><p>Infanto -Juvenil Vamos Cuidar do Planeta,</p><p>tiveram a participação de 47 países e envol-</p><p>veu milhares de escolas e estudantes. Como</p><p>desdobramento da Conferência de Meio</p><p>Ambiente na Escola, foi fomentada a cria-</p><p>ção da Comissão de Meio Ambiente e Qua-</p><p>lidade de Vida (COM -Vida). Com meto-</p><p>dologias inovadoras, participativas e demo-</p><p>cráticas, as conferências são vistas como</p><p>“pretexto pedagógico” para a inserção de</p><p>conceitos complexos e contemporâneos di-</p><p>retamente nas escolas.</p><p>Entretanto, em tempos de mudanças</p><p>socioambientais globais, o processo peda-</p><p>gógico requer uma reflexão consistente para</p><p>que a superação da distância entre o pensar</p><p>e o fazer possa acolher valores mais condi-</p><p>zentes com as premissas da sustentabilidade</p><p>socioambiental. Neste momento é funda-</p><p>mental gerar uma nova cultura na comuni-</p><p>dade escolar.</p><p>Contribui com tal necessidade uma</p><p>abordagem interessante proposta por Tim</p><p>Ingold.4 O autor parte da antropologia eco-</p><p>lógica, na qual se apresenta o conhecimen-</p><p>to e a aprendizagem como indissociáveis</p><p>das práticas e das relações das pessoas com</p><p>o ambiente em que os seres vivos habitam,</p><p>interagem e se movimentam. Nas palavras</p><p>de Ingold (2000):</p><p>Ao habitar o mundo, nós não apenas agimos</p><p>sobre ele ou realizamos coisas para ele, mas,</p><p>mais do que isso, nós nos movemos junto com</p><p>ele. Nossas ações não transformam o mundo,</p><p>elas são parte do mundo transformando a si</p><p>mesmo.5</p><p>3. o desafio político -pedagógico, com a</p><p>emergência de novos desafios educa-</p><p>cionais e socioambientais. Além de tor-</p><p>nar -se um espaço republicano de acesso,</p><p>permanência e aprendizagem de quali-</p><p>dade para o exercício democrático da ci-</p><p>dadania, a escola pública precisa repo-</p><p>sicionar -se em busca de uma concepção</p><p>integral da prática educativa, com mo-</p><p>dos sustentáveis de vida.</p><p>Para Jaqueline Moll (2010), viabilizar</p><p>uma educação integral envolve:</p><p>[...] a reinvenção da prática educativa escolar</p><p>no sentido de seu desenclausuramento, de seu</p><p>reencontro com a vida, do desenrijecimento</p><p>de seus tempos, da interlocução entre os cam-</p><p>pos do conhecimento em função da com-</p><p>preensão e da inserção qualificada no mundo.</p><p>No reencontro com a vida coloca -se a perspec-</p><p>tiva de um projeto educativo que, ancorado na</p><p>instituição escolar, possa recriar seu sentido na</p><p>relação com outros interlocutores, outros es-</p><p>paços, outras políticas e equipamentos pú-</p><p>blicos.6</p><p>Ganha sentido assim a relação orgânica de</p><p>complementaridade existente entre a educa-</p><p>ção integral e a ambiental. A compreensão</p><p>qualificada no mundo realiza -se metodologi-</p><p>camente pela articulação dos espaços de edu-</p><p>cação formal e não formal, pela aproximação</p><p>da escola e sua comunidade, pela integração</p><p>de saberes das forças sociais locais e pela con-</p><p>solidação de uma ética do cuidado, respeitan-</p><p>do todas as formas de vida.</p><p>Esse constitui um campo inovador de</p><p>políticas públicas de educação no Brasil: edu-</p><p>cação integral e sustentável. Nesse campo, a</p><p>educação integral alinha -se com a educação</p><p>ambiental, ao integrar a escola e a vida, con-</p><p>forme seus objetivos estabelecidos no Decreto</p><p>176 Jaqueline Moll e colaboradores</p><p>7.083/2010, ao “convergir políticas e progra-</p><p>mas de saúde, cultura, esporte, direitos huma-</p><p>nos, educação ambiental, divulgação científi-</p><p>ca, enfrentamento da violência contra crianças</p><p>e adolescentes, integração entre escola e comu-</p><p>nidade, para o desenvolvimento do projeto</p><p>político -pedagógico de educação integral”.</p><p>Para a educação ambiental, as propo-</p><p>sições constitucionais7 e legais8 brasileiras</p><p>encontram respaldo e concretude nos “es-</p><p>paços educadores sustentáveis” assumidos</p><p>como um princípio do Programa Mais</p><p>Educação (Decreto no 7.083/2010).9 E o</p><p>Fundo Nacional para o Desenvolvimento</p><p>da Educação Básica (FUNDEB, aprovado</p><p>em 2007), permite o financiamento desses</p><p>ideais de integralidade e sustentabilidade.</p><p>4. o desafio da educação integral realizada</p><p>em escola sustentável, torna esta um espa-</p><p>ço educador sustentável. Numa sociedade</p><p>que se caracteriza pela circulação de tan-</p><p>tas identidades e diversidades e, espe-</p><p>cialmente, no cenário dos espaços edu-</p><p>cadores sustentáveis, pensar a educação</p><p>é pensá -la diferente.</p><p>Nesse contexto, a escola precisa se</p><p>reinventar a cada dia, perpetuando -se por</p><p>meio de suas relações com o ambiente,</p><p>acompanhando os processos de mudanças</p><p>socioambientais. Assim, será capaz de fazer</p><p>uma educação de qualidade, integral e</p><p>transformadora, que seja capaz de estimu-</p><p>lar os processos investigativos, a pesquisa, a</p><p>interpretação da paisagem, a compreensão</p><p>da realidade local e global e a construção de</p><p>identidades próprias, individuais e coleti-</p><p>vas, orientadas pedagogicamente.10</p><p>Em um país megadiverso como o Bra-</p><p>sil, as escolas precisam construir sua identi-</p><p>dade em processos mais próximos das co-</p><p>munidades e suas necessidades, dos biomas</p><p>e suas bacias hidrográficas, vinculadas com</p><p>a realidade, considerando as especificidades</p><p>regionais, ambientais, culturais. A combi-</p><p>nação da educação integral em escolas sus-</p><p>tentáveis amplia e potencializa a produção</p><p>do conhecimento na escola, por opção de</p><p>quem acredita que a escola não é mera re-</p><p>produtora de um sistema de ensino estag-</p><p>nado, dominador e predatório, mas produz</p><p>conhecimentos e novas formas de convi-</p><p>vência.</p><p>ESPAÇOS EDUCADORES</p><p>SUSTENTÁVEIS</p><p>A inspiração para construir escolas como</p><p>espaços educadores sustentáveis originou -se</p><p>no Programa Município Educador Susten-</p><p>tável, que cria uma unidade municipal (área</p><p>urbana e rural integradas) de vida educado-</p><p>ra, solidária e sustentável (Brandão, 2005,</p><p>p. 147). Espaços educadores sustentáveis</p><p>são aqueles que têm a intencionalidade pe-</p><p>dagógica de constituir -se em referências de</p><p>sustentabilidade socioambiental, isto é, es-</p><p>paços que mantêm uma relação equilibrada</p><p>com o meio ambiente, compensam seus</p><p>impactos com o desenvolvimento de tec-</p><p>nologias apropriadas, permitindo a quali-</p><p>dade de vida para as gerações presentes e</p><p>futuras.</p><p>Sustentabilidade11 talvez</p><p>seja um dos</p><p>conceitos mais disputados da contempora-</p><p>neidade. Ele envolve a noção de sociedades</p><p>sustentáveis, um todo complexo de natu-</p><p>reza -sociedade -cultura, em suas dimensões</p><p>multifacetadas, sempre em movimento di-</p><p>nâmico de interdependência e diversidade:</p><p>econômica, ecológica, ambiental e demo-</p><p>gráfica, além da social, cultural, política, es-</p><p>piritual. Essas dimensões são complemen-</p><p>tares e constituem -se mutuamente a partir</p><p>de fluxos e processos em equilíbrio (sempre</p><p>instável, posto que humano), organizam -se</p><p>Caminhos da educação integral no Brasil 177</p><p>e integram -se sem fragmentações ou isola-</p><p>mento e, principalmente, sem que uma</p><p>pretenda a hegemonia ou a dominação das</p><p>demais. Tais sociedades são capazes de ga-</p><p>rantir o bem viver das pessoas, o equilíbrio</p><p>ecológico, a cidadania e a justiça distributi-</p><p>va para as atuais e as futuras gerações.</p><p>Na prática do fazer educativo, trata -se</p><p>de vivenciar espaços e tempos sustentáveis</p><p>na escola e na comunidade: uma escola sus-</p><p>tentável. Isso implica a readequação (refor-</p><p>ma ou construção) dos prédios escolares e</p><p>seu entorno com critérios de sustentabili-</p><p>dade, como qualidade de vida; ecoeficiên-</p><p>cia; plantio agroecológico; conforto térmi-</p><p>co, acústico e visual; acessibilidade; gestão</p><p>ambiental democrática, ou seja, participa-</p><p>ção, direitos humanos, alimentação, trans-</p><p>porte, consumo responsável. Tais caracte-</p><p>rísticas devem reorientar a formação de</p><p>professores e promover a inserção das temá-</p><p>ticas de sustentabilidade ambiental nas ati-</p><p>vidades curriculares e no desenvolvimento</p><p>de materiais didáticos, como prevê o inciso</p><p>V, art. 2º do Decreto no 7.083/2010 – Pro-</p><p>grama Mais Educação, ao incorporar na</p><p>educação integral o que propõe o Plano</p><p>Nacional sobre Mudança do Clima.12</p><p>A iniciativa da SECAD/MEC, por in-</p><p>termédio da Coordenação -Geral de Educa-</p><p>ção Ambiental, começou pela inserção em</p><p>documentos governamentais a ideia de es-</p><p>paços educadores sustentáveis e escolas sus-</p><p>tentáveis, vinculado -os ao Plano Nacional</p><p>sobre Mudança do Clima.13 Com isso, foi</p><p>possível também debater o conceito em ou-</p><p>tros foros de educação e meio ambiente,</p><p>sendo que durante a Conferência Nacional</p><p>de Educação (CONAE), a Moção de Esco-</p><p>las Sustentáveis foi aprovada pelo plenário</p><p>com a subscrição de milhares delegados</p><p>presentes, além de diversas entidades de</p><p>abrangência nacional participantes.</p><p>O plenário da I CONAE apoiou:</p><p>A implementação do Plano Nacional sobre</p><p>Mudança do Clima, que prevê a criação de es-</p><p>paços educadores sustentáveis nas escolas e</p><p>universidades brasileiras para o urgente en-</p><p>frentamento das mudanças socioambientais</p><p>globais. A inclusão do Programa Mais Educa-</p><p>ção e a Educação Integral, que tem por princí-</p><p>pios a integração entre as políticas educacio-</p><p>nais e sociais em interlocução com as comuni-</p><p>dades escolares e o incentivo à criação de</p><p>espaços educadores sustentáveis com a reade-</p><p>quação dos prédios escolares, incluindo a aces-</p><p>sibilidade, e à gestão, à formação de profes-</p><p>sores e à inserção das temáticas de susten-</p><p>tabilidade ambiental nos currículos e no</p><p>de senvolvimento de materiais didáticos (De-</p><p>creto nº 7.083/2010, inciso V, art. 2º).</p><p>As deliberações do GT Matriz Energética</p><p>para o Desenvolvimento com Equidade e</p><p>Responsabilidade Socioambiental do Conse-</p><p>lho de Desenvolvimento Econômico e Social</p><p>(CDES), que afirma: “para que a educação</p><p>ambiental seja efetiva e contribua para a miti-</p><p>gação dos efeitos das mudanças do clima e a</p><p>formação de uma nova cidadania, foi consen-</p><p>so nas discussões entre os conselheiros que as</p><p>instituições de ensino sejam incubadoras de</p><p>mudanças concretas na realidade social articu-</p><p>lando três eixos: edificações, gestão e currícu-</p><p>lo” (Relatório nº 1, Sustentabilidade e eficiên-</p><p>cia energética, aprovado em novembro de</p><p>2009).</p><p>E propôs:</p><p>Que o documento final da CONAE inclua a</p><p>educação ambiental qualificada, encaminhe</p><p>esta proposta para o Plano Nacional de Edu-</p><p>cação (PNE 2011 -2020), reafirmando a ur-</p><p>gência de tornar os estabelecimentos de ensino</p><p>espaços educadores sustentáveis e referências</p><p>de uma educação transformadora que enfrente</p><p>os desafios da contemporaneidade.</p><p>Trata -se, portanto, de uma interven-</p><p>ção nas políticas públicas que pode gerar</p><p>transformações profundas, cujos reflexos</p><p>começam a ser vislumbrados nas relações</p><p>entre a escola e o mundo que baseiam -se</p><p>em alguns eixos pedagógicos:</p><p>178 Jaqueline Moll e colaboradores</p><p>-</p><p>mente situado, consciente de sua exis-</p><p>tência, seus sonhos, valores e sentimen-</p><p>tos, porém entrelaçado no marco de um</p><p>projeto coletivo da humanidade. É a</p><p>ética do cuidado14 redefinida em um</p><p>contexto social mais amplo e expandin-</p><p>do -se em círculos excêntricos que ini-</p><p>ciam com o nosso corpo, a família, a es-</p><p>cola, o bairro, o município, o estado, a</p><p>nação, o planeta, o universo... Essas</p><p>ideias são reafirmadas no parecer de mé-</p><p>rito das Diretrizes Curriculares Gerais</p><p>Nacionais para a Educação Básica, apro-</p><p>vado pelo Conselho Nacional da Edu-</p><p>cação e publicado em julho de 2010,</p><p>onde se lê o seguinte trecho:</p><p>Educar exige cuidado; cuidar é educar, envol-</p><p>vendo acolher, ouvir, encorajar, apoiar, no sen-</p><p>tido de desenvolver o aprendizado de pensar e</p><p>agir, cuidar de si, do outro, da escola, da natu-</p><p>reza, da água, do planeta. Educar é, enfim, en-</p><p>frentar o desafio de lidar com gente, isto é,</p><p>com criaturas tão imprevisíveis e diferentes</p><p>quanto semelhantes, ao longo de uma existên-</p><p>cia inscrita na teia das relações humanas neste</p><p>mundo complexo. Educar com cuidado signi-</p><p>fica aprender a amar sem dependência, desen-</p><p>volver a sensibilidade humana na relação de</p><p>cada um consigo, com o outro e com tudo o</p><p>que existe, com zelo, ante uma situação que</p><p>requer cautela em busca da formação humana</p><p>plena. (Brasil, 2010c)</p><p>Integridade – capacidade de exercitar a</p><p>visão complexa e vivenciar o sistema</p><p>educativo desenvolvendo uma práxis</p><p>coerente, entre o que se diz e o que se</p><p>faz. Um espaço que propõe o enraiza-</p><p>mento dos conceitos trabalhados na</p><p>ação cotidiana. Segundo a Wikipedia,</p><p>Integridade significa a qualidade de</p><p>alguém ou algo ser íntegro, de conduta</p><p>reta, pessoa ética, educada, imparcial.</p><p>São exemplos de integridade: a vida ín-</p><p>tegra, a integridade [...] do nome, da</p><p>imagem e dos sentimentos. [...] A moral</p><p>de uma pessoa não tem preço e é indis-</p><p>cutível.15</p><p>-</p><p>tar as diversas referências, acadêmicas</p><p>ou populares, os valores de cada biorre-</p><p>gião. De relações dialógicas depende a</p><p>capacidade de transformar a escola em</p><p>um espaço republicano – a coisa públi-</p><p>ca, de todos, de aprendizagem ao longo</p><p>da vida – e de democracia.</p><p>É interessante trazer aqui, ainda que</p><p>superficialmente, o pensamento de Rai-</p><p>mon Panikkar, filósofo indiano. Ele dis-</p><p>tingue o mais conhecido no mundo oci-</p><p>dental como diálogo dialético, no qual</p><p>os interlocutores confrontam e debatem</p><p>enunciados contraditórios ou em con-</p><p>flito, do diálogo dialogal.</p><p>O diálogo dialogal emergente na filo-</p><p>sofia indiana existe em especial nas rela-</p><p>ções interculturais. Nesse sentido, pode-</p><p>-se referir a diálogos interculturais quan-</p><p>do debate sobre leis, moral, religião e</p><p>também educação, em que diferentes vi-</p><p>sões de mundo estão implícitas e não são</p><p>desveladas pelos interlocutores. Estes</p><p>correm o risco de construírem suas rela-</p><p>ções em termos de verdadeiro ou falso,</p><p>aquilo que de fato é diferente, diverso.</p><p>Panikkar faz com que desapareçam al-</p><p>gumas certezas centradas no universo do</p><p>racionalismo moderno e as transforma no</p><p>pluriverso. No pluriverso, os saberes locais,</p><p>tradicionais e originários, derivados de di-</p><p>versas culturas e visões de mundo, podem</p><p>manter um diálogo, sem necessariamente</p><p>definir que uma única visão (por exemplo,</p><p>a ocidental, científica, hegemônica) preva-</p><p>leça sobre as demais (Panikkar, 1979 apud</p><p>Ebehard, 2008). Sociedades sustentáveis</p><p>convivem no pluriverso.</p><p>Caminhos da educação integral no Brasil 179</p><p>ESCOLAS SUSTENTÁVEIS</p><p>Transformar uma escola em um espaço</p><p>educador sustentável pressupõe mudanças</p><p>revolucionárias de pensamento,</p><p>percepções</p><p>e valores que derivam da formação de cons-</p><p>ciência crítica dos atuais padrões societários</p><p>de competição, expropriação, individualis-</p><p>mo, entre outros.</p><p>Há diversos programas de escolas sus-</p><p>tentáveis atualmente em curso no mundo,</p><p>tais como as Eco -escolas (uma rede promo-</p><p>vida pela UNESCO), Escolas Saudáveis de</p><p>diversos matizes em quase todos os países</p><p>do mundo. Como política pública institu-</p><p>cionalizada, a Austrália tem grandes avan-</p><p>ços com a Iniciativa Australiana de Escolas</p><p>Sustentáveis (AuSSI, Australian Govern-</p><p>ment, 2010). Esta iniciou, em 2006, com</p><p>20 escolas e atualmente conta com mais de</p><p>300, a partir de uma parceria entre o gover-</p><p>no australiano, os estados e territórios, ten-</p><p>do em vista apoiar todas as escolas e suas</p><p>comunidades rumo à sustentabilidade. A</p><p>iniciativa trata de questões sociais e finan-</p><p>ceiras, disponibilizando recursos para as es-</p><p>colas.</p><p>A Inglaterra avançou bastante na im-</p><p>plantação de escolas sustentáveis estabele-</p><p>cendo metas para que todas as escolas</p><p>tornem -se sustentáveis até 2010, com indi-</p><p>cadores e recursos para essa área. A Estra-</p><p>tégia Nacional (The National Framework)</p><p>envolve três componentes interligados: um</p><p>compromisso com o cuidado, uma pers-</p><p>pectiva integrada de currículo, prédio e en-</p><p>gajamento da comunidade e a seleção de</p><p>oito portas de entrada ou temas de susten-</p><p>tabilidade.16</p><p>No Brasil, o projeto de escolas susten-</p><p>táveis é uma intervenção de políticas públi-</p><p>cas que requalifica a educação ambiental e</p><p>produz mudanças concretas na vida coti-</p><p>diana da escola face à emergência das mu-</p><p>danças socioambientais globais. O esque-</p><p>ma mostrado na figura abaixo ilustra um</p><p>tripé básico – de espaço físico, gestão e cur-</p><p>rículo – que envolve as múltiplas temáticas</p><p>a serem consideradas quando se fala de uma</p><p>maior interação escola -comunidade no fo-</p><p>mento a espaços educadores sustentáveis.</p><p>Torna -se importante combinar esses</p><p>itens, transformando -os em conhecimento</p><p>sistematizado, capaz de ser reproduzido em</p><p>outros espaços e com força suficiente para</p><p>gerar novos hábitos de uma vida sustentá-</p><p>vel que tenham capacidade para se dissemi-</p><p>nar no entorno (Figura 11.1).</p><p>FIGURA 11.1 Escolas sustentáveis: articulação de três eixos.</p><p>PRÉDIO</p><p>Adequações para baixa</p><p>emissão de carbono e</p><p>conforto ambiental e</p><p>bem -estar.</p><p>COM -VIDA</p><p>Energia, água,</p><p>transporte, consumo,</p><p>alimentação, resíduos</p><p>sólidos, justiça ambiental,</p><p>direitos humanos.</p><p>PPP</p><p>Saberes e fazeres</p><p>que fomentam</p><p>culturas voltadas à</p><p>sustentabilidade.</p><p>ESCOLA</p><p>SUSTENTÁVEL</p><p>Espaço</p><p>Currículo Gestão</p><p>180 Jaqueline Moll e colaboradores</p><p>O espaço físico sustentável</p><p>A concepção, a arquitetura, o uso e o fun-</p><p>cionamento dos prédios escolares servem</p><p>de base para as ações coordenadas. Tal con-</p><p>cepção pode incluir desde a escolha do lo-</p><p>cal – aproveitando a topografia e a luz na-</p><p>tural; a preocupação com a adequação ao</p><p>bioma e a paisagem, com o entorno – até os</p><p>materiais de construção usados.</p><p>O aumento da eficiência energética</p><p>nas novas construções escolares, bem como</p><p>em reformas das construções existentes,</p><p>pode reduzir consideravelmente o consu-</p><p>mo de energia, a conservação dos recursos</p><p>hídricos e sistemas de saneamento com eco-</p><p>nomia para os cofres públicos, reduzindo a</p><p>emissão de gases de efeito estufa. Além dis-</p><p>so, é fundamental cuidar da estética, do</p><p>conforto (térmico, auditivo, visual) de cada</p><p>sala de aula com foco no bem -estar e na</p><p>melhoria da saúde ambiental da comunida-</p><p>de escolar.</p><p>Anísio Teixeira pensava no papel pe-</p><p>dagógico da organização do espaço escolar:</p><p>“uma nova educação pede uma nova arqui-</p><p>tetura” (Japiassu, 2006, p.17).17 Sua pro-</p><p>posta arquitetônica servia de apoio a uma</p><p>nova e ousada concepção das práticas esco-</p><p>lares, com seis tipos de programas arquite-</p><p>tônicos diferentes de escola -classe e Escola-</p><p>-Parque vinculados a uma filosofia escola-</p><p>novista.18</p><p>Freinet e Freire realçam a dimensão</p><p>natural e cultural do mundo como media-</p><p>ção pedagógica na formação da consciência</p><p>crítica orientadora da prática política. Nes-</p><p>sa linha, sem excluir a atenção à consciên-</p><p>cia dos fatores econômico -políticos que</p><p>condicionam a própria práxis social, a ex-</p><p>periência de uma escola sustentável cria</p><p>condições para vivenciar a relação física</p><p>com a natureza e reavaliar as relações pes-</p><p>soais com os outros. Ela favorece a tomada</p><p>de consciência ante a própria subjetividade</p><p>e a própria identidade pessoal e cultural,</p><p>permitindo ampliar e aprofundar as possi-</p><p>bilidades de relação com os outros.</p><p>Para Freinet, o meio natural na escola</p><p>é mais importante do que os edifícios, que</p><p>devem ser remodelados, ou seja, organiza-</p><p>dos em salas comuns, articuladas com ofici-</p><p>nas exteriores especializadas. Assim, torna-</p><p>-se fundamental repensar o ambiente no</p><p>sentido de torná -lo integrador, educador,</p><p>saudável e sustentável, o que implica sua</p><p>adequação em termos arquitetônicos e de</p><p>saúde pública. Isto é, redesenhar os espaços</p><p>de acordo com um ambiente de aprendiza-</p><p>gem e produção do conhecimento.</p><p>Aqui não cabe entrar em detalhes téc-</p><p>nicos sobre construções sustentáveis. Basta</p><p>mencionar que existem iniciativas interes-</p><p>santes que permitem planejar um prédio</p><p>escolar com adequações biorregionais lo-</p><p>cais. Um exemplo excelente é o guia Caixa</p><p>Selo Casa Azul, que pretende “ser útil a to-</p><p>dos os estudantes, profissionais e empresas</p><p>da área de construção que busquem contri-</p><p>buir para o desenvolvimento sustentável</p><p>[...]”(John; Prado, 2010), podendo tam-</p><p>bém inspirar e apoiar outros órgãos gover-</p><p>namentais, como o Fundo Nacional de De-</p><p>senvolvimento da Educação (FNDE) e ins-</p><p>tâncias estaduais e municipais voltadas para</p><p>a construção de escolas.</p><p>O guia está organizado em duas par-</p><p>tes. A primeira apresenta os principais im-</p><p>pactos socioambientais da cadeia produtiva</p><p>da construção e, em consequência, as ne-</p><p>cessidades de transformação do setor com</p><p>vistas à sustentabilidade. A segunda parte</p><p>traz capítulos diretamente relacionados aos</p><p>principais desafios da agenda de construção</p><p>sustentável.</p><p>Para além da arquitetura da edificação</p><p>escolar, deve ser trabalhada a paisagem do</p><p>entorno da escola – com hortas agroecoló-</p><p>Caminhos da educação integral no Brasil 181</p><p>gicas19/pomares, arborização;20 áreas de la-</p><p>zer/esporte; outros espaços coletivos dis-</p><p>poníveis (quadras, bibliotecas, anfiteatro,</p><p>praças, Unidades de Conservação,21 par-</p><p>ques, jardins, hortos florestais) no bairro e</p><p>no município. Muitas práticas da escola</p><p>podem beneficiar a comunidade, movi-</p><p>mentando a economia local em torno de</p><p>ações, como segurança alimentar e comér-</p><p>cio justo.</p><p>Gestão socioambiental</p><p>A gestão dos espaços nas instituições de</p><p>ensino interage diretamente com a cons-</p><p>trução civil, fazendo com que projetos,</p><p>ações, estudos e avaliações sobre ecoeficiên-</p><p>cia energética, resíduos sólidos, alimenta-</p><p>ção, transportes sejam permanentes e arti-</p><p>culados.</p><p>A sustentabilidade social pressupõe</p><p>gestão participativa, que trabalha com a</p><p>gestão de pessoas e de recursos físicos e fi-</p><p>nanceiros em dimensões como democracia,</p><p>equidade e diversidade (etnicorracial, gêne-</p><p>ro, cultural, regional). A implantação e im-</p><p>plementação da Comissão de Meio Am-</p><p>biente e Qualidade de Vida (COM -Vida),</p><p>é uma ação estruturante fundamental na</p><p>gestão socioambiental.</p><p>A COM -Vida foi uma deliberação da</p><p>I Conferência Nacional Infanto -Juvenil</p><p>pelo Meio Ambiente de 2003, que incor-</p><p>porou a proposta de Paulo Freire de forma-</p><p>ção dos Círculos de Cultura idealizados</p><p>como espaços de trabalho, pesquisa e vivên-</p><p>cias que possibilitam a construção coletiva</p><p>do conhecimento. “Onde todos têm a pala-</p><p>vra, onde todos leem e escrevem o mundo”.</p><p>Decorre da mobilização para a pri-</p><p>meira conferência o aparecimento dos Con-</p><p>selhos Jovens de Meio Ambiente, mais tar-</p><p>de consolidados como Coletivos Jovens de</p><p>Meio Ambiente e, em seguida, a Rede de</p><p>Juventude e Meio Ambiente pela Sustenta-</p><p>bilidade (REJUMA).22 São grupos infor-</p><p>mais de jovens e organizações juvenis que</p><p>se mobilizam em torno da temática socio-</p><p>ambiental, seguindo</p><p>três princípios: “jo-</p><p>vem escolhe jovem”, “jovem educa jovem”</p><p>e “uma geração aprende com a outra”.23</p><p>O respeito à democracia, à diversida-</p><p>de e aos direitos humanos integra -se às es-</p><p>colas sustentáveis de maneira orgânica, a</p><p>partir de uma agenda positiva. A susten-</p><p>tabilidade social confronta -se com as graves</p><p>questões do preconceito, da discriminação</p><p>e do bullying24 presentes no ambiente es-</p><p>colar. Tais questões, além de acentuar as de-</p><p>sigualdades, não são adequadamente trata-</p><p>das pelos profissionais da educação por fal-</p><p>ta de conhecimento ou habilidades na</p><p>percepção ou gestão de conflitos ocultos ou</p><p>explícitos.</p><p>Algumas questões emergentes a serem</p><p>debatidas e mensuradas pelas instituições</p><p>de ensino envolvem a redução do consumo</p><p>de água e eletricidade – ecoeficiência ener-</p><p>gética e a adoção dos 5R. São eles: refletir</p><p>sobre os processos socioambientais de pro-</p><p>dução e consumo, desde a matéria prima</p><p>até o descarte; recusar, ou seja, evitar con-</p><p>sumir produtos que causem danos ao meio</p><p>ambiente, às relações sociais ou à nossa saú-</p><p>de; reduzir a geração de lixo, o que significa</p><p>evitar o consumo exagerado e desnecessá-</p><p>rio, como o de produtos descartáveis; des-</p><p>perdiçar menos, consumir o necessário;</p><p>reutilizar, isto é, dar uma nova utilidade a</p><p>materiais que, na maioria das vezes, são</p><p>considerados inúteis e descartados; reciclar</p><p>ou transformar algo usado em algo novo</p><p>por meio de processos industriais.</p><p>A gestão de uma escola sustentável</p><p>envolve também a racionalização dos trans-</p><p>portes pela comunidade escolar; alimenta-</p><p>ção natural e saudável com produção local</p><p>182 Jaqueline Moll e colaboradores</p><p>(horta agroecológica, compras solidárias) e</p><p>oferta de alternativas para reduzir o consu-</p><p>mo de carne.</p><p>Currículo sustentável</p><p>Espaços educadores sustentáveis enfrentam</p><p>grandes desafios para mudar as formas de</p><p>pensar e agir a partir das interações dinâmi-</p><p>cas entre ambiente, cultura e sociedade, em</p><p>uma perspectiva contemporânea. Nesse</p><p>sentido, a inserção curricular da educação</p><p>ambiental no Projeto Político -Pedagógico</p><p>das instituições de ensino de forma multi/</p><p>inter/pluri e transdisciplinar promove a</p><p>construção do conhecimento com uma</p><p>postura crítica, ética e transformadora de</p><p>valores que reorientem atitudes para a cons-</p><p>trução de sociedades sustentáveis.</p><p>O currículo organiza o tempo dentro</p><p>e fora da escola por meio de ações/ativida-</p><p>des educativas para o alcance da sua finali-</p><p>dade. Os conteúdos devem considerar os</p><p>elementos da cultura local, sua história, o</p><p>patrimônio material e seus costumes. E, so-</p><p>bretudo a partir dos anos finais do ensino</p><p>fundamental, há condições para desenvol-</p><p>ver o raciocínio crítico, prospectivo e inter-</p><p>pretativo das questões socioambientais, fa-</p><p>vorecendo a cidadania ambiental (Lipai,</p><p>Layargues; Pedro, 2007).25 Torna -se então</p><p>a educação integral e integrada com o mun-</p><p>do e a biosfera, como afirma Jaqueline Moll</p><p>(2010):</p><p>Trata -se de reaproximar os tempos da vida dos</p><p>tempos da escola, entendendo -os em seu con-</p><p>tinuum. Trata -se de avançar na qualificação do</p><p>espaço escolar como espaço de vida, como es-</p><p>paço de conhecimentos e valores, como espaço</p><p>no qual a vida transita em sua complexidade e</p><p>inteireza, como espaço no qual cada estudante</p><p>possa conhecer as artes, as ciências, as ma-</p><p>temáticas, a literatura para que possa, tam-</p><p>bém, ressituar -se na cidade, compreendendo-</p><p>-a, com preendendo -se e incorporando -se a</p><p>ela.26</p><p>Processos formativos</p><p>para escolas sustentáveis</p><p>A partir desses três princípios pedagógicos</p><p>foi pensado o Processo Formativo em Edu-</p><p>cação Ambiental: Escolas Sustentáveis e</p><p>COM -Vida. Um curso de extensão na mo-</p><p>dalidade a distância, com duração de 90</p><p>horas,27 gerado pelo MEC em parceria com</p><p>três universidades, envolve no debate todo</p><p>o coletivo escolar, ou seja, direção, profes-</p><p>sores, estudantes, funcionários, integrantes</p><p>da comunidade. É importante ressaltar que</p><p>as atividades propostas exigem vinculação a</p><p>uma escola para que o cursista mobilize sua</p><p>escola, ou “adote” uma.</p><p>Os princípios que regem o processo</p><p>formativo “são caracolianos, por acreditar</p><p>na escola como uma espiral de possibili-</p><p>dades e descobertas e por apresentar uma</p><p>proposta de aprendizagem circular, que não</p><p>se fecha e permanece inacabada na incom-</p><p>pletude de avançar e recuar, de ensinar e</p><p>aprender. Uma escola sustentável considera</p><p>que o território é o espaço que constrói as</p><p>identidades, ou seja, um currículo cultural</p><p>do sujeito, da comunidade escolar e tam-</p><p>bém da sociedade brasileira.” (Sato; Traj-</p><p>ber, 2010).</p><p>Na introdução ao material didático</p><p>do Processo Formativo, constam os conteú-</p><p>dos desenvolvidos em três módulos:</p><p>No módulo 1 partimos do EU, buscando o</p><p>ENGAJAMENTO individual. O exercício da</p><p>Pegada Ecológica pretende incitar a reflexão</p><p>sobre as marcas que deixamos no mundo devi-</p><p>do à satisfação de nossas necessidades e dese-</p><p>jos. Por meio de exercício de memória recupe-</p><p>ramos nossa história, a história de nossa famí-</p><p>Caminhos da educação integral no Brasil 183</p><p>lia e dos nossos antepassados na relação com o</p><p>ambiente.</p><p>No módulo 2 caminhamos até o OU-</p><p>TRO, ou os outros com quem convivemos,</p><p>em busca do exercício da RESPONSABILI-</p><p>DADE. Somos chamados a perceber o territó-</p><p>rio escola: o nível de cuidado com o local, bem</p><p>como os pactos e diretrizes firmados por meio</p><p>do Projeto Político -Pedagógico. Queremos</p><p>com isso estabelecer um marco zero, que servi-</p><p>rá de referência para sonhar o diferente, uma</p><p>base para a mudança desejada. Como produ-</p><p>tos desse módulo esperamos a criação ou revi-</p><p>talização da COM -Vida e o mapeamento so-</p><p>cioambiental da escola. Essas serão nossas fer-</p><p>ramentas para a ação transformadora que</p><p>torna a escola um espaço educador susten-</p><p>tável.</p><p>No módulo 3 projetamos nossa escola no</p><p>planeta para perceber o MUNDO e adentra-</p><p>mos as múltiplas possibilidades de atuação na</p><p>busca da SUSTENTABILIDADE. Partindo</p><p>da planta baixa da escola que temos, começa-</p><p>mos a empreender o movimento para o dese-</p><p>nho da escola que queremos, por meio de um</p><p>cardápio de ecotécnicas. Pensando um projeto</p><p>de mudança, temos como produto esperado</p><p>desse módulo a elaboração de uma proposta</p><p>concreta de intervenção na realidade escolar.</p><p>No processo formativo considera -se o</p><p>sujeito (estudante) percebido no mundo,</p><p>suas relações no mosaico social da escola e</p><p>seu entorno (comunidade) e no desenvolvi-</p><p>mento de atividades, projetos e planos que</p><p>se entrelaçam com o local (bairro, municí-</p><p>pio educador sustentável), promovendo di-</p><p>álogos entre os conhecimentos científicos,</p><p>culturais e saberes locais.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Se ao poder público cabe o papel de indu-</p><p>tor de políticas, de regulador e de estimula-</p><p>dor de inovações tecnológicas para a socie-</p><p>dade, aos estabelecimentos públicos de en-</p><p>sino cabe incentivar a demonstração e a</p><p>experimentação com vistas à comunicação</p><p>e disseminação de conhecimento. Nesse</p><p>sentido, a educação que dá acesso à ciência</p><p>e tecnologia é uma área onde deve haver</p><p>uma causa comum a ser alcançada, defen-</p><p>dendo firmemente o papel dos critérios lo-</p><p>cais na determinação de como ciência e tec-</p><p>nologia devem ser usadas (Nações Unidas,</p><p>2005, p. 40).</p><p>Portanto, nos trabalhos de pesquisa,</p><p>de laboratório nas escolas, a tecnologia deve</p><p>sempre ser aplicada com os objetivos de</p><p>sustentabilidade; a aprendizagem descon-</p><p>textualizada e fragmentada da ciência e tec-</p><p>nologia, bem como seu distanciamento dos</p><p>saberes locais, pode anular os esforços si-</p><p>multâneos de proteger o meio ambiente e</p><p>prover as necessidades pessoais e econômi-</p><p>cas das pessoas.</p><p>Assim, o estabelecimento da educação</p><p>integral em escolas sustentáveis é muito</p><p>mais do que a soma das suas partes. Exem-</p><p>plificando, a criação de um espaço educa-</p><p>dor sustentável precisa ser percebida pela</p><p>comunidade escolar como um espaço que</p><p>envolve toda a escola, sendo o grande mo-</p><p>tor de inovação e de criação e produção de</p><p>informação original na escola. Do contrá-</p><p>rio, essa rica experiência poderá fechar -se</p><p>em si mesma, em atividades</p><p>fragmentadas e</p><p>fará com que torne -se mais um projeto sem</p><p>continuidade.</p><p>Com a clareza de que a carga de mu-</p><p>dar o mundo não depende só da educação,</p><p>nem das escolas e muito menos de cada</p><p>pessoa que participa desses processos sem o</p><p>apoio direto do poder público. A escola,</p><p>contudo, continua a ser o local destinado à</p><p>aprendizagem, possibilitando a emergência</p><p>do pensamento crítico sobre a realidade so-</p><p>cioambiental e a consequente ação trans-</p><p>formadora dessa mesma realidade. Vale</p><p>lembrar as palavras de Margaret Mead:</p><p>“nunca duvide que um pequeno grupo de</p><p>184 Jaqueline Moll e colaboradores</p><p>cidadãos preocupados e comprometidos</p><p>possa mudar o mundo. De fato, é só isso o</p><p>que tem mudado”.28</p><p>Para concluir, uma poesia:</p><p>Difícil de entender; me dizem, é a sua poesia,</p><p>o senhor concorda?</p><p>– Para entender nós temos dois caminhos:</p><p>o da sensibilidade que é o entendimento</p><p>do corpo;</p><p>e o da inteligência que é o entendimento</p><p>do espírito.</p><p>Eu escrevo com o corpo Poesia não é para</p><p>compreender mas para incorporar</p><p>Entender é parede: procure uma árvore.</p><p>Manoel de Barros</p><p>Arranjos para Assovio,</p><p>1980, XV, p. 37</p><p>NOTAS</p><p>1. Paulo Freire (1993, 2000) e Pedagogia do oprimido</p><p>(Freire, 1993) tomou o conceito de consciência crítica</p><p>a partir da ação e da reflexão (práxis) decorrentes do</p><p>diálogo e da cooperação entre agentes empenhados</p><p>nas lutas sociais.</p><p>2. Baseado no filósofo francês Félix Guattari (1990),</p><p>que propõe a relação dessas três ecologias.</p><p>3. Ver entre a multiplicidade de concepções, pers-</p><p>pectivas e de distintas posturas politico-pedagógi cas</p><p>da educação ambiental, a chamada transformadora,</p><p>que questiona de forma dialética a realidade de vida</p><p>de cada grupo social, inclusive a escola.</p><p>4. Tim Ingold foi estudado por Isabel Cristina de</p><p>Moura Carvalho e Carlos Alberto Steil (2009).</p><p>5. Citação extraída de Isabel Cristina de Moura Carva-</p><p>lho e Carlos Alberto Steil em “Habitus Ecológico e</p><p>a Educação da Percepção: fundamentos antropoló-</p><p>gicos para a educação ambiental.” In: Educação &</p><p>Realidade v.34, nº3 [set/dez 2009], Faced/UFRGS,</p><p>p. 90. Ingold, Tim The perception of the environment:</p><p>essays in livelihood, dweling and skill. London and</p><p>New York: Routledge, 2000.</p><p>6. Jaqueline Moll. “Educação Integral na perspectiva</p><p>da reinvenção da escola: elementos para o debate</p><p>brasileiro. Educação Integral” .</p><p>Acesso em 3 de novembro de 2010.</p><p>7. Constituição Brasileira de 1988, Capítulo V – Do</p><p>Meio Ambiente. art. 225. Todos têm direito ao meio</p><p>ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso</p><p>comum do povo e essencial à sadia qualidade de</p><p>vida, impondo -se ao Poder Público e à coletividade</p><p>o dever de defendê -lo e preservá - lo para as presentes</p><p>e futuras gerações. § 1º – Para assegurar a efetividade</p><p>desse direito, incumbe ao Poder Público: VI – pro-</p><p>mover a educação ambiental em todos os níveis de</p><p>ensino e a conscientização pública para a preservação</p><p>do meio ambiente.</p><p>8. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional</p><p>Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei</p><p>nº 9.795/99 da Política Nacional de Educação</p><p>Ambiental: art. 1o Entendem -se por educação</p><p>ambiental os processos por meio dos quais o indi-</p><p>víduo e a coletividade constroem valores sociais,</p><p>conhecimentos, ha bilidades, atitudes e competên-</p><p>cias voltadas para a conservação do meio ambiente,</p><p>bem de uso comum do povo, essencial à sadia</p><p>qualidade de vida e sua sustentabilidade. art. 2o A</p><p>educação ambiental é um componente essencial e</p><p>permanente da educação nacional, devendo estar</p><p>presente, de forma articulada, em todos os níveis</p><p>e modalidades do processo educativo, em caráter</p><p>formal e não formal.</p><p>9. São princípios da educação integral, no âmbito</p><p>do Programa Mais Educação: I – a articulação das</p><p>dis ciplinas curriculares com diferentes campos</p><p>de conhecimento e práticas socioculturais; II – a</p><p>constituição de territórios educativos para o desen-</p><p>volvimento de atividades de educação integral,</p><p>por meio da integração dos espaços escolares com</p><p>equipamentos públicos como centros comunitários,</p><p>bibliotecas públicas, praças, parques, museus e cine-</p><p>mas; III – a integração entre as políticas educacionais</p><p>e sociais, em interlocução com as comunidades esco-</p><p>lares; IV – a valorização das experiências históricas</p><p>das escolas de tempo integral como inspiradoras da</p><p>educação integral na contemporaneidade; V - o in-</p><p>centivo à criação de espaços educadores sustentáveis</p><p>com a readequação dos prédios escolares, incluindo</p><p>a acessibilidade, e à gestão, à formação de professo-</p><p>res e à inserção das temáticas de sustentabilidade</p><p>ambiental nos currículos e no desenvolvimento de</p><p>materiais didáticos; VI - a afirmação da cultura dos</p><p>direitos humanos, estruturada na diversidade, na</p><p>promoção da equidade étnico -racial, religiosa, cul-</p><p>tural, territorial, geracional, de gênero, de orientação</p><p>sexual, de opção política e de nacionalidade, por</p><p>meio da inserção da temática dos direitos humanos</p><p>na formação de professores, nos currículos e no</p><p>desenvolvimento de materiais didáticos; e VII - a</p><p>articulação entre sistemas de ensino, universidades e</p><p>escolas para assegurar a produção de conhecimento,</p><p>Caminhos da educação integral no Brasil 185</p><p>a sustentação teórico -metodológica e a formação</p><p>inicial e continuada dos profissionais no campo da</p><p>educação integral.</p><p>10. Sato e Trajber, Revista Pátio.</p><p>11. Sustentabilidade: desde que começou a se difundir,</p><p>na década de 1980, como parte da expressão “desen-</p><p>volvimento sustentável”. Para se ter uma dimensão</p><p>dessa disputa, existem cerca de 80 definições para</p><p>desenvolvimento sustentável que baseiam -se no</p><p>enunciado clássico do Relatório Brundtland, segun-</p><p>do o qual a expressão trata do “desenvolvimento que</p><p>satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer</p><p>a capacidade das gerações futuras de suprir suas</p><p>próprias necessidades”.</p><p>12. O Plano Nacional sobre Mudança do Clima</p><p>(PNMC) foi lançado em dezembro de 2008 pelo</p><p>Governo Federal. Estabeleceu, entre outras, uma</p><p>meta de reduzir em 40% a média anual de desma-</p><p>tamento no período 2006 -2009, em relação à média</p><p>dos 10 anos anteriores (1996 -2005), para evitar a</p><p>emissão de cerca de 4 bilhões de toneladas de dió-</p><p>xido de carbono. Em 2009, foram estabelecidos os</p><p>princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos para</p><p>implementação da Política Nacional de Mudança do</p><p>Clima (Lei no 12.187/09). No PNMC consta um</p><p>parágrafo que resume a proposta de construirmos</p><p>escolas sustentáveis de educação integral: “Imple-</p><p>mentação de programas de espaços educadores</p><p>sustentáveis com readequação de prédios (escolares</p><p>e universitários) e da gestão, além da formação de</p><p>professores e da inserção da temática mudança do</p><p>clima nos currículos e materiais didáticos.” [Parte</p><p>IV.4, item 12].</p><p>13. Escolas sustentáveis trazem a possibilidade concreta</p><p>de “visualização” da importância de uma educação</p><p>ambiental substantiva, concreta e transformadora.</p><p>Diferentemente de outros documentos, resoluções,</p><p>legislações ambientais nacionais ou internacionais,</p><p>em que a educação ambiental é sempre citada como</p><p>uma forma de treinamento, capacitação, formação</p><p>de professores e técnicos, no Plano Nacional so-</p><p>bre Mudança do Clima (PNMC) egerou -se uma</p><p>oportunidade de estabelecer metas de médio e</p><p>longo prazos que sejam mensuráveis para avaliar a</p><p>redução de emissões de carbono pelas escolas e suas</p><p>comunidades.</p><p>14. Por ética do cuidado, termo cunhado por Leonar-</p><p>do Boff (Saber Cuidar: ética do humano, 1999),</p><p>entende -se: “um consenso mínimo a partir do</p><p>qual possamos nos amparar e elaborar uma atitude</p><p>cuidadosa, protetora e amorosa para com a realida-</p><p>de... Esse afeto vibra diante da vida, protege, quer</p><p>expandir a vida”.</p><p>15. . Acesso</p><p>em 3 de novembro de 2010.</p><p>16. . É interessante notar que no site oficial</p><p>do Ministério da Educação inglês consta uma tarja</p><p>que informa: “um novo</p><p>governo do Reino Unido</p><p>assumiu o cargo em 11 de maio de 2010. Como</p><p>resultado, os conteúdos deste site podem não refletir</p><p>a política do governo atual.” No novo site indicado,</p><p>, ainda em constru-</p><p>ção, nada consta sobre escolas sustentáveis.</p><p>17. Dórea, Célia. Anísio Teixeira e a arquitetura escolar:</p><p>planejando escolas, construindo sonhos. Tese de dou-</p><p>torado, UNEB/em Impulso, Piracicaba, 17(44):</p><p>107 -109, 2006.</p><p>18. Movimento criado por um grupo de intelectuais na</p><p>década de 1920, que ganhou impulso após a divul-</p><p>gação do Manifesto da Escola Nova (1932), em que</p><p>defende -se a universalização da escola pública, laica</p><p>e gratuita. Entre os seus signatários estava Anísio</p><p>Teixeira.</p><p>19. Há inúmeros projetos de hortas escolares. Um</p><p>deles, o “Educando com a Horta Escolar”, é fruto</p><p>de uma cooperação técnica entre a Organização das</p><p>Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação –</p><p>FAO, e o Fundo Nacional de Desenvolvimento</p><p>da Educação (FNDE/MEC), e é encontrado em</p><p>. O kit</p><p>do Programa Mais Educação, macrocampo Educa-</p><p>ção Ambiental inclui: carrinho de mão, plantador,</p><p>rolos de barbante, tesouras de podar, pás, sachos,</p><p>dois enxadões, três regadores de plástico, quatro</p><p>enxadas, seis colheres de muda, além de arame e</p><p>sementes diversas.</p><p>20. Árvores nos dão frutos, sombra, reduzem o ruído e,</p><p>sobretudo durante a fase de crescimento, sequestram</p><p>carbono da atmosfera.</p><p>21. UC são áreas protegidas por lei para garantir a pro-</p><p>teção do ecossistema e sua biodiversidade. Conforme</p><p>os diferentes tipos previstos na lei que instituiu o</p><p>Sistema Nacional de Unidades de Conservação</p><p>(Lei SNUC no 9.985/00), há os parques nacionais,</p><p>onde só se admitem pesquisas e visitação controlada;</p><p>as florestas nacionais e reservas extrativistas, que</p><p>preveem alguns usos da área, sem devastar; e áreas</p><p>de proteção ambiental, que admitem a atividade</p><p>econômica associada à proteção ambiental. Existem</p><p>também reservas privadas e Centros de Educação</p><p>Ambiental. Na Estratégia Nacional de Educação</p><p>Ambiental em UC (ENCEA) estão previstas ativi-</p><p>dades com escolas e no âmbito do Programa Mais</p><p>Educação há recursos de custeio para a realização de</p><p>visitas.</p><p>22. Cf. a organização dos Coletivos Jovens e REJUMA</p><p>no site .</p><p>23. Ver publicação Formando COM -Vida, Comissão de</p><p>Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola – Cons-</p><p>186 Jaqueline Moll e colaboradores</p><p>truindo Agenda 21 na Escola. Disponível na internet,</p><p>um guia para aprofundar ações e relações na escola</p><p>e seu entorno.</p><p>24. A palavra bullying, em inglês, refere -se a um com-</p><p>portamento comum de espezinhar, desqualificar e</p><p>agredir os outros.</p><p>25. “Educação ambiental na escola: tá na lei”, artigo</p><p>no livro Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas</p><p>em educação ambiental na escola, publicado pela</p><p>Coordenação Geral de Educação Ambiental do</p><p>Ministério da Educação, e Departamento de Edu-</p><p>cação Ambiental do Meio Ambiente, e UNESCO,</p><p>em 2007.</p><p>26. Jaqueline Moll. “Educação Integral na perspectiva</p><p>da reinvenção da escola: elementos para o debate</p><p>brasileiro. Educação integral.” .</p><p>Acesso em 3 de novembro de 2010.</p><p>27. Curso aberto para 2500 participantes, sendo 150</p><p>escolas do Ensino Médio Integral e Inovador de 17</p><p>estados brasileiros. Foi oferecido pelo Ministério</p><p>da Educação, por meio da Rede de Educação para</p><p>a Diversidade/SECAD e CAPES/Sistema Univer-</p><p>sidade Aberta do Brasil. O curso foi concebido</p><p>e ofertado pelas universidades federais de Mato</p><p>Grosso (UFMT), Mato Grosso do Sul (UFMS) e</p><p>Ouro Preto (UFOP), com a Coordenação Geral de</p><p>Educação Ambiental CGEA/DEIDHUC/SECAD/</p><p>MEC, 2010.</p><p>28. “Never doubt that a small group of thoughtful,</p><p>committed citizens can change the world. Indeed,</p><p>it is the only thing that ever has”.Margaret Mead,</p><p>antropóloga norte americana (1901 – 1978), em</p><p>. Acessado em 3 de novembro de 2010.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>A CARTA da Terra em ação. 2000. Disponível em:</p><p>.</p><p>AUSTRALIAN GOVERNMENT. Australian Sus-</p><p>tainable Schools Initiative. 2010. 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