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<p>Mariana Zancan</p><p>A TERAPIA</p><p>MEDICAMENTOSA COMO</p><p>PARTE DA ATENÇÃO</p><p>INTEGRAL AO PACIENTE</p><p>NA SAÚDE MENTAL</p><p>Sumário</p><p>INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 4</p><p>OS PSICOFÁRMACOS NA ASSISTÊNCIA</p><p>EM SAÚDE MENTAL: A TERAPIA</p><p>MEDICAMENTOSA ALIADA À</p><p>ASSISTÊNCIA PSICOSSOCIAL NA</p><p>ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL ���������������������� 5</p><p>PRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS</p><p>PSICOFARMACOLÓGICOS ��������������������������� 10</p><p>FARMACOCINÉTICA ������������������������������������ 12</p><p>MOVIMENTO DO FÁRMACO NO</p><p>ORGANISMO: ADMINISTRAÇÃO,</p><p>ABSORÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E</p><p>EXCREÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS ������������������ 15</p><p>O PLANEJAMENTO TERAPÊUTICO</p><p>PARA ADESÃO TERAPÊUTICA, A FASE</p><p>AGUDA DOS QUADROS; A PREVENÇÃO</p><p>DE RECAÍDAS NAS FASES DE</p><p>CONTINUAÇÃO, E AS DECISÕES PARA</p><p>A PREVENÇÃO DE RECORRÊNCIAS</p><p>NAS FASES DE MANUTENÇÃO DO</p><p>TRATAMENTO MEDICAMENTOSO �������������� 27</p><p>2</p><p>QUESTÕES LEGAIS, ÉTICAS E</p><p>ECONÔMICAS DO TRATAMENTO</p><p>MEDICAMENTOSO EM SAÚDE MENTAL ����� 33</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������������� 37</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS &</p><p>CONSULTADAS �������������������������������������������� 38</p><p>3</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O entendimento das experiências relacionadas ao</p><p>uso de psicofármacos na saúde mental ultrapassa</p><p>a centralidade no usuário e permanece ligando a</p><p>ação terapêutica necessária ao cuidado e alterna-</p><p>tivas existentes de não uso medicamentoso. Da</p><p>mesma forma, é importante configurar e articular</p><p>a reforma psiquiátrica com seus marcos teóri-</p><p>cos, acarretando transformação das práticas. Os</p><p>avanços nas pesquisas com fármacos, incluindo</p><p>os psicofármacos, acentuou a crença do poder</p><p>desses medicamentos desconsiderando, muitas</p><p>vezes, o fato de serem coadjuvantes terapêuticos.</p><p>Assim, faremos uma discussão acerca desta</p><p>temática e trataremos da farmacologia, ciência</p><p>base aos estudos sobre as interações entre um</p><p>organismo vivo e determinadas substâncias –</p><p>sejam elas de origem natural ou quimicamente</p><p>obtidas –, permitindo a elucidação dos processos</p><p>envolvidos na absorção de medicamentos, a fim</p><p>de avaliar a influência deles no metabolismo, seja</p><p>com relação ao efeito que um medicamento causa</p><p>no organismo, correspondente à farmacodinâmica,</p><p>ou em relação ao efeito que o organismo exerce</p><p>sobre o fármaco, correspondente à farmacocinética</p><p>dos medicamentos.</p><p>4</p><p>OS PSICOFÁRMACOS NA</p><p>ASSISTÊNCIA EM SAÚDE</p><p>MENTAL: A TERAPIA</p><p>MEDICAMENTOSA</p><p>ALIADA À ASSISTÊNCIA</p><p>PSICOSSOCIAL NA</p><p>ATENÇÃO EM SAÚDE</p><p>MENTAL</p><p>Os avanços na saúde pública no Brasil foram</p><p>significativos com o advento da Sistema Único</p><p>de Saúde (SUS). Atrelado a isso, os progressos</p><p>tecnológicos da indústria farmacêutica têm leva-</p><p>do à evolução cada vez mais segura e eficaz dos</p><p>medicamentos. Verdadeiramente, sua utilização</p><p>tornou-se prática corriqueira para aumentar a qua-</p><p>lidade e a expectativa de vida da população. Dessa</p><p>forma, preconiza-se o acesso aos medicamentos,</p><p>bem como seu uso racional de maneira que seja</p><p>valorizado e aperfeiçoado o serviço de Assistência</p><p>Farmacêutica (AF). Ainda, a Organização Mundial</p><p>da Saúde (OMS) diz que o uso racional de medi-</p><p>camentos por parte dos pacientes que realmente</p><p>necessitam considerando suas condições clínicas,</p><p>doses adequadas individuais e por tempo neces-</p><p>5</p><p>sário ao seu tratamento são menos onerosos para</p><p>a sociedade e para o Sistema de Saúde.</p><p>Coordenada pelo Ministério da Saúde, a Política Na-</p><p>cional de Saúde Mental é uma das ações do Governo</p><p>Federal compreendida por diretrizes e estratégias que</p><p>organizam a assistência à população com necessidades</p><p>específicas de atendimentos voltados aos transtornos</p><p>mentais e abusos de substâncias psicoativas. Tais</p><p>diretrizes envolvem todas as esferas governamentais:</p><p>Governo Federal, Estados e Municípios. A estrutura de</p><p>atendimento é definida pela Rede de Atenção Psicos-</p><p>social (RAPS), instituída pela Portaria MS/GM nº 3.088,</p><p>de 23 de dezembro de 2011.</p><p>Para conhecer mais sobre Política Nacional de Saúde</p><p>Mental, Álcool e outras Drogas, confira a referência a</p><p>seguir: BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional</p><p>de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas. Brasília, DF,</p><p>2018. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/</p><p>publicacoes/politica_atencao_alcool_drogas.pdf.</p><p>Neste sentido, o uso de psicofármacos estava</p><p>indicado para controle de sintomas mais difíceis</p><p>de lidar, como forma de preparar o paciente para o</p><p>tratamento psicoterápico. Atualmente, preconiza-se</p><p>a relação médico-paciente e a psicoterapia para</p><p>o enfrentamento dos conflitos, da mesma forma</p><p>que se busca as causas para tal, dando também</p><p>SAIBA MAIS</p><p>6</p><p>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_atencao_alcool_drogas.pdf</p><p>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_atencao_alcool_drogas.pdf</p><p>oportunidade ao paciente de uma reorganização</p><p>interna e no âmbito de suas relações. No entanto,</p><p>os psicofármacos receberam tanto destaque que</p><p>acabaram ocupando um lugar central, fazendo</p><p>com que o paciente tivesse o falso pensamento</p><p>que seria capaz de curar-se “sozinho” sem a inter-</p><p>venção de outro.</p><p>A regulação do controle dos psicofármacos fun-</p><p>damenta-se de acordo com a Portaria SVS/ MS</p><p>344/98, que versa sobre as normas para a pres-</p><p>crição e venda de psicofármacos; a RDC 58/2007/</p><p>ANVISA, que dispõe sobre o aperfeiçoamento do</p><p>controle e fiscalização de substâncias psicotró-</p><p>picas anorexígenas e outras providências; a RDC</p><p>67/2007/ ANVISA, que trata sobre Boas Práticas</p><p>de Manipulação de Preparações Magistrais e Ofi-</p><p>cinais para uso Humano em Farmácias; e a RDC</p><p>27/2007/ ANVISA, que dispõe sobre o Sistema</p><p>Nacional de Gerenciamento de Produtos contro-</p><p>lados – SNGPC. Todos esses controles têm por</p><p>meta promover o esclarecimento e a educação</p><p>de todos os profissionais de saúde, diretamente</p><p>relacionados a substâncias e medicamentos contro-</p><p>lados, de forma a permitir que os pacientes tenham</p><p>melhores resultados no manejo do seu transtorno</p><p>neuropsicológico e possa, assim, contribuir para</p><p>uma melhor qualidade de vida da população em</p><p>geral (Ministério da Saúde, 2011).</p><p>7</p><p>Dados epidemiológicos mostram que, no Brasil,</p><p>cerca de 13% dos fármacos consumidos pela popu-</p><p>lação envolvem as classes de benzodiazepínicos,</p><p>antidepressivos, neurolépticos, anticonvulsivantes</p><p>ou estimulantes do Sistema Nervoso Central, que</p><p>representam as principais classes de psicofárma-</p><p>cos disponíveis para manejo dos mais diversos</p><p>transtornos.</p><p>Em relação ao cuidado em saúde mental, existe</p><p>uma considerável diferença entre o número de</p><p>pessoas afetadas e o número de pessoas que</p><p>recebem cuidados e acompanhamento, mesmo</p><p>em condições severas. Além disso, há que se</p><p>considerar que o medicamento, para além de ser</p><p>uma droga aceita e utilizada mundialmente como</p><p>um dos mais importantes recursos terapêuticos</p><p>da medicina moderna, é uma droga de abuso e se</p><p>mau utilizada pode causar muitos males, como</p><p>dependência, síndrome de abstinência e distúrbios</p><p>comportamentais.</p><p>O tratamento dos transtornos mentais com psico-</p><p>fármacos inclui o manejo dos sintomas, isto é, seu</p><p>uso está limitado a casos em que há realmente</p><p>necessidade, sendo que seu uso se justifica pela</p><p>relação risco-benefício, depois de terem sido</p><p>exploradas outras alternativas e recursos. Esses</p><p>medicamentos não devem ser tratados como</p><p>panaceias, mas como recurso de primeira opção</p><p>8</p><p>em diversos casos, complementares em outros e,</p><p>sem dúvida, não úteis em outros tantos.</p><p>É necessário conhecer a eficácia, os riscos e efeitos</p><p>indesejáveis, assim como todos os outros procedi-</p><p>mentos terapêuticos. A multicausalidade dos trans-</p><p>tornos, a complexidade dos sintomas e a influência</p><p>das interações psicossociais exigem que o manejo</p><p>desses distúrbios envolva uma atenção mais com-</p><p>plexa com uma abordagem conjunta de intervenções</p><p>farmacológicas, psicoterápicas e psicossociais, a</p><p>fim de que o plano de tratamento seja abrangente</p><p>e amplo, ponderando também a necessidade de</p><p>inclusão de outros tipos de intervenções.</p><p>Os psicofármacos inegavelmente possuem efeitos</p><p>positivos. No entanto, deve haver corresponsabi-</p><p>lização entre terapeuta, usuário,</p><p>serviço e família</p><p>para reduzir os impactos negativos do transtorno</p><p>mental, estimulando a autonomia do usuário, con-</p><p>siderando suas condições sociais, econômicas</p><p>e culturais, além de promover o resgate da sua</p><p>cidadania para, assim, promover sua reinserção</p><p>na sociedade. Com efeito, é posto que, na medida</p><p>em que se respeita a autonomia, se reconhece o</p><p>indivíduo como possuidor de certos pontos de</p><p>vista, cabendo a ele mesmo deliberar e tomar</p><p>suas decisões, elaborar seu próprio plano de vida</p><p>e ação, embasado em crenças, aspirações e valo-</p><p>res próprios, mesmo que divirjam da sociedade.</p><p>9</p><p>PRESCRIÇÃO DE</p><p>MEDICAMENTOS</p><p>PSICOFARMACOLÓGICOS</p><p>Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),</p><p>psicofármacos, também chamados de drogas psi-</p><p>cotrópicas, são substâncias psicoativas com ação</p><p>direta no Sistema Nervoso Central. Nessa classe</p><p>de medicamentos estão incluídos os analgésicos</p><p>opioides, os ansiolíticos, os antidepressivos, os</p><p>antipsicóticos e os anticonvulsivantes. Sua co-</p><p>mercialização é regulada pela Portaria 344/1998,</p><p>instrumento legal sanitário que define as diretrizes</p><p>de uso das substâncias e medicamentos que estão</p><p>sujeitos ao controle especial.</p><p>Estes medicamentos, os psicotrópicos, estão</p><p>classificados na Lista “A3” (receita de cor amare-</p><p>la), Lista “B1” e “B2” (receita de cor azul), e devem</p><p>ser liberados somente mediante a retenção de</p><p>prescrição.</p><p>O profissional que prescreve esta droga é o mé-</p><p>dico, idealmente o profissional que trabalha com</p><p>a especialidade de psiquiatria e neurologia, por</p><p>esses profissionais terem um perfil de prescrição</p><p>diferenciado, pelo conhecimento mais aprofundado</p><p>que possuem acerca das propriedades farmaco-</p><p>lógicas dos psicotrópicos, bem como os riscos</p><p>10</p><p>inerentes a sua utilização. Outrossim, é de suma</p><p>importância todos os profissionais envolvidos</p><p>na atenção do paciente terem conhecimento do</p><p>medicamento prescrito, seu valor farmacêutico,</p><p>evitando possíveis erros no ato do manejo dos</p><p>medicamentos, com especial atenção para os psi-</p><p>cotrópicos. Dessa forma, melhor será a segurança</p><p>e eficácia da terapêutica para o paciente.</p><p>11</p><p>FARMACOCINÉTICA</p><p>A farmacocinética é a área da farmacologia que</p><p>descreve os processos de administração, absor-</p><p>ção, biotransformação e de eliminação das drogas</p><p>pelo organismo. O conhecimento e a aplicação</p><p>dos conceitos farmacocinéticos possibilitam o</p><p>entendimento da escolha da concentração, poso-</p><p>logia e via de administração a ser utilizada para</p><p>determinado fármaco, fornecendo a base para o</p><p>seu uso seguro e racional.</p><p>Os processos de absorção, distribuição, biotrans-</p><p>formação e eliminação dependem da passagem do</p><p>fármaco pelas membranas celulares. Basicamente,</p><p>os fármacos podem atravessar as membranas pelos</p><p>mecanismos de difusão passiva, por transporte</p><p>mediado por carreadores, ou por endocitose. Vamos</p><p>agora entender mais sobre esses mecanismos de</p><p>transporte (Figura 1).</p><p>12</p><p>Figura 1: Mecanismos de transporte utilizados para a pas-</p><p>sagem dos fármacos pelas membranas celulares</p><p>Fonte: Brunton et al, 2016.</p><p>y Difusão passiva: grande parte dos fármacos são</p><p>absorvidos por esse mecanismo. Nesse processo,</p><p>fármacos lipossolúveis atravessam as membranas</p><p>lipídicas por meio de difusão, sendo o gradiente</p><p>de concentração sua força motora. O fármaco se</p><p>movimenta de regiões de alta concentração para</p><p>regiões de baixa concentração até que o equilíbrio</p><p>seja atingido.</p><p>y Transporte mediado por carreadores: a difusão</p><p>facilitada e o transporte ativo são mecanismos de</p><p>transporte mediados por carreadores proteicos.</p><p>Na difusão facilitada, os fármacos atravessam a</p><p>13</p><p>membrana celular através de proteínas transpor-</p><p>tadoras transmembranas especializadas, sem o</p><p>gasto de energia, e o gradiente de concentração</p><p>também é a força motriz para esse processo de</p><p>transporte. A difusão facilitada possibilita o trans-</p><p>porte de moléculas grandes ou hidrossolúveis que</p><p>não conseguem passar passivamente pela mem-</p><p>brana. Enquanto isso, o transporte ativo envolve</p><p>proteínas transportadoras dependentes de energia.</p><p>Pela quebra da molécula de adenosina trifosfato</p><p>(ATP), essas proteínas estruturais da membrana</p><p>são capazes de transportar moléculas de fármacos</p><p>contra seu gradiente de concentração.</p><p>y Endocitose: esse processo permite o transpor-</p><p>te de moléculas do meio extra para o intracelular,</p><p>através da invaginação da membrana plasmática</p><p>e formação de vesículas endocíticas. Essas vesí-</p><p>culas são “engolfadas” para o interior da célula.</p><p>Moléculas de fármacos com alto peso molecular</p><p>podem ser transportadas através desse processo.</p><p>14</p><p>MOVIMENTO DO FÁRMACO</p><p>NO ORGANISMO:</p><p>ADMINISTRAÇÃO,</p><p>ABSORÇÃO, DISTRIBUIÇÃO</p><p>E EXCREÇÃO DAS</p><p>SUBSTÂNCIAS</p><p>A farmacocinética é responsável por determinar</p><p>o início, a intensidade e a duração da ação de um</p><p>medicamento. Para tanto, o entendimento dos</p><p>processos farmacocinéticos de absorção, distri-</p><p>buição, biotransformação e eliminação se fazem</p><p>necessários.</p><p>O primeiro importante movimento é a administração</p><p>do fármaco. Quando os fármacos penetram no</p><p>corpo em locais distantes do tecido ou órgão-al-</p><p>vo, devem ser transportados pela circulação para</p><p>o local de ação indicado. Para entrar na corrente</p><p>sanguínea, um fármaco deve ser absorvido do seu</p><p>local de administração. Assim, a absorção descreve</p><p>a entrada do fármaco no organismo. Apesar disso,</p><p>nem todas as vias de administração resultam em</p><p>quantidades similares de fármaco que alcançam a</p><p>circulação sistêmica e o tecido-alvo. De fato, para</p><p>alguns fármacos, e certas vias de administração, a</p><p>quantidade absorvida pode acabar sendo apenas</p><p>15</p><p>uma pequena fração da quantidade administrada.</p><p>Assim, a taxa e a eficiência da absorção do fár-</p><p>maco diferem conforme a via de administração</p><p>dele. As duas principais vias de administração</p><p>dos fármacos são a enteral e a parenteral. As</p><p>vias enterais envolvem o sistema gastrointestinal</p><p>(GI) para a administração do fármaco. As vias de</p><p>administração parenteral são todas as rotas de</p><p>absorção que não estão associadas ao sistema</p><p>GI e que usam os sistemas vascular, musculoes-</p><p>quelético, pulmonar e cutâneo para os locais de</p><p>administração (tabela 1).</p><p>Tabela 1: Vias de administração dos fármacos e</p><p>características</p><p>Via Padrão de</p><p>absorção</p><p>Utilidade</p><p>especial</p><p>Limitações e</p><p>precauções</p><p>Intrave-</p><p>nosa</p><p>A absorção é</p><p>evitada</p><p>Valiosa para</p><p>uso em</p><p>emergências</p><p>Aumenta o</p><p>risco de efeitos</p><p>adversos</p><p>Os efeitos</p><p>podem ser</p><p>imediatos</p><p>Permite a titu-</p><p>lação da dose</p><p>Em geral,</p><p>as soluções</p><p>precisam</p><p>ser injetadas</p><p>lentamente</p><p>Adequada para</p><p>grandes volu-</p><p>mes e substân-</p><p>cias irritantes,</p><p>ou misturas</p><p>complexas, des-</p><p>de que diluídas</p><p>Geralmente</p><p>é necessária</p><p>para proteínas</p><p>de alto peso</p><p>molecular</p><p>e fármacos</p><p>peptídicos</p><p>Inadequada</p><p>para soluções</p><p>oleosas ou</p><p>substâncias</p><p>pouco solúveis</p><p>16</p><p>Via Padrão de</p><p>absorção</p><p>Utilidade</p><p>especial</p><p>Limitações e</p><p>precauções</p><p>Sub-</p><p>cutânea</p><p>Imediata, no</p><p>caso de solu-</p><p>ções aquosas</p><p>Adequada para</p><p>algumas sus-</p><p>pensões pouco</p><p>solúveis e para</p><p>instilação de</p><p>implantes de</p><p>liberação lenta</p><p>Inadequada</p><p>para grandes</p><p>volumes</p><p>Lenta e prolon-</p><p>gada, no caso</p><p>das preparações</p><p>de depósito</p><p>As substâncias</p><p>irritantes po-</p><p>dem causar dor</p><p>ou necrose</p><p>Intra-</p><p>muscu-</p><p>lar</p><p>Imediata, no</p><p>caso das solu-</p><p>ções aquosas</p><p>Adequada</p><p>para volumes</p><p>moderados,</p><p>veículos oleo-</p><p>sos e algumas</p><p>substâncias</p><p>irritantes</p><p>Contraindica-</p><p>da durante o</p><p>tratamento</p><p>anticoagulante</p><p>Lenta e prolon-</p><p>gada, no caso</p><p>das preparações</p><p>de depósito</p><p>Adequada</p><p>para a auto-</p><p>administração</p><p>(por exemplo</p><p>insulina)</p><p>Pode interferir</p><p>com a inter-</p><p>pretação de</p><p>alguns exames</p><p>diagnósticos</p><p>(por exemplo</p><p>creatinoquina-</p><p>se)</p><p>Inges-</p><p>tão oral</p><p>Variável, depen-</p><p>de de muitos</p><p>fatores</p><p>Mais con-</p><p>veniente e</p><p>econômica,</p><p>geralmente é</p><p>mais segura</p><p>Depende da</p><p>adesão do</p><p>paciente e a</p><p>biodisponibili-</p><p>dade pode ser</p><p>errática</p><p>Fonte: BRUNTON, CHABNER, KNOLLMANN, 2016.</p><p>A etapa seguinte da farmacocinética consiste na</p><p>absorção do fármaco, que consiste na passagem</p><p>do fármaco de seu local de administração para a</p><p>17</p><p>corrente sanguínea.</p><p>As propriedades físico-quími-</p><p>cas do fármaco, bem como as características da</p><p>membrana, influenciam esse processo. Na Tabela 2,</p><p>você poderá verificar alguns dos principais fatores</p><p>que influenciam a absorção.</p><p>Tabela 2: Fatores que alteram a absorção dos fármacos</p><p>Fator Descrição</p><p>Tamanho da</p><p>molécula do</p><p>fármaco</p><p>Moléculas pequenas têm maior facilidade</p><p>em se difundir pelas membranas celulares.</p><p>Fármacos grandes como, por exemplo, algu-</p><p>mas proteínas têm dificuldade em permear as</p><p>membranas, sendo necessária sua administra-</p><p>ção diretamente no local de ação.</p><p>pH</p><p>Muitos fármacos são ácidos ou bases fracas.</p><p>Esses fármacos podem se encontrar na forma</p><p>conjugada ou ionizada, de acordo com o pH do</p><p>meio em que se encontram:</p><p>Fármaco ácido: HA H+ + A-</p><p>Fármaco básico: BH+ B + H+</p><p>A forma não ionizada desses fármacos (sem</p><p>cargas) apresenta maior lipossolubilidade.</p><p>Portanto, os fármacos ácidos ou bases fracas</p><p>apresentam maior facilidade em passar as</p><p>membranas quando estão nas suas formas</p><p>não ionizadas (HA, para ácidos fracos, e B,</p><p>para bases fracas). A relação entre as formas</p><p>conjugada ou ionizada de um fármaco é dada</p><p>pelo seu pKa e pH do meio. Assim, fármacos</p><p>ácidos são absorvidos em locais em que o pH</p><p>é ácido. Enquanto isso, fármacos básicos são</p><p>absorvidos em ambientes com pH básico</p><p>18</p><p>Fator Descrição</p><p>Área dispo-</p><p>nível para</p><p>absorção</p><p>Ambientes com maior área superficial faci-</p><p>litam a absorção dos fármacos. A mucosa</p><p>intestinal, por exemplo, facilita a chegada dos</p><p>fármacos ao sangue, pois apresenta uma su-</p><p>perfície cheia de microvilosidades, que aumen-</p><p>tam a superfície de contato com os fármacos.</p><p>Fluxo</p><p>sanguíneo</p><p>Órgãos com maior fluxo sanguíneo favorecem</p><p>o processo absortivo.</p><p>Tempo de</p><p>contato do</p><p>fármaco com</p><p>a superfície</p><p>de absorção</p><p>O tempo de contato entre o fármaco e as</p><p>membranas celulares determina a extensão da</p><p>sua absorção. Fármacos administrados por via</p><p>oral e que ficam por pouco tempo em contato</p><p>com a mucosa do trato gastrintestinal (por</p><p>exemplo, na diarreia), podem ter sua absorção</p><p>reduzida. Contudo, um esvaziamento gástrico</p><p>lento retarda a chegada do fármaco ao intesti-</p><p>no, o que pode reduzir a velocidade com que é</p><p>absorvido.</p><p>Fonte: BRUNTON, CHABNER, KNOLLMANN, 2016.</p><p>A biodisponibilidade representa a fração de fár-</p><p>maco que chega à corrente circulatória na sua</p><p>forma inalterada, após sua administração. Na</p><p>via intravenosa, o fármaco é administrado dire-</p><p>tamente na circulação sistêmica. Desse modo, a</p><p>via intravenosa (IV) apresenta biodisponibilidade</p><p>total (1 ou 100%). Com exceção da via IV, as de-</p><p>mais vias de administração sempre apresentam</p><p>perdas do fármaco até a sua chegada ao sangue,</p><p>e sua biodisponibilidade é inferior a 1 (ou 100%).</p><p>A forma farmacêutica do medicamento, a solubi-</p><p>19</p><p>lidade do fármaco e o metabolismo de primeira</p><p>passagem são alguns fatores que influenciam na</p><p>biodisponibilidade.</p><p>Biodisponibilidade é uma palavra usada para descrever</p><p>a porcentagem na qual uma dose do fármaco chega</p><p>ao seu local de ação. Também se aplica à velocidade</p><p>e à extensão da entrada do fármaco na circulação</p><p>sistêmica. Por exemplo, um fármaco administrado</p><p>por via oral, primeiramente, precisa ser absorvido pelo</p><p>trato gastrointestinal (TGI), mas a absorção pode ser</p><p>influenciada pelas características da preparação do</p><p>fármaco e por suas propriedades físico-químicas. Após a</p><p>absorção, o fármaco absorvido passa pelo fígado, onde</p><p>podem ocorrer metabolismo e excreção biliar antes</p><p>mesmo que ele chegue à circulação sistêmica e seja</p><p>distribuído para seus locais de ação. Se a capacidade</p><p>metabólica ou excretora do fígado e do intestino for</p><p>grande, a biodisponibilidade do fármaco será reduzida</p><p>significativamente (efeito de primeira passagem).</p><p>Após a absorção ou administração do fármaco</p><p>pela via IV, ele passa da corrente circulatória para</p><p>o líquido intersticial e, então, para as células dos</p><p>tecidos. Essa etapa farmacocinética é denominada</p><p>distribuição.</p><p>A distribuição do fármaco é afetada por fatores</p><p>fisiológicos, como débito cardíaco, fluxo sanguíneo</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>20</p><p>regional, permeabilidade capilar e volume do tecido,</p><p>como também pelas características físico-químicas</p><p>do fármaco, como lipossolubilidade e afinidade</p><p>por proteínas plasmáticas e teciduais.</p><p>Inicialmente, os fármacos se distribuem para órgãos</p><p>com maior irrigação sanguínea, por exemplo, rins,</p><p>fígado e pulmões. A chegada e interação do fárma-</p><p>co com tecidos menos irrigados, como músculo</p><p>esquelético, pele e tecido adiposo, é mais lenta.</p><p>Alguns fármacos circulam no sangue ligados a</p><p>proteínas plasmáticas, tais como a albumina, gli-</p><p>coproteína ácida alfa-1 e globulinas. Essas prote-</p><p>ínas atuam como reservatórios e podem retardar</p><p>a distribuição do fármaco. Somente a fração livre</p><p>do fármaco está em equilíbrio entre os líquidos</p><p>extra e intracelular. Portanto, à medida que a con-</p><p>centração de fármaco livre reduz, em função da</p><p>sua liberação nos diferentes tecidos e eliminação,</p><p>o fármaco ligado se solta da proteína. Essa pro-</p><p>priedade também pode limitar a biotransformação</p><p>e a filtração do fármaco.</p><p>Após a entrada do fármaco no organismo, o</p><p>processo de eliminação já inicia. O organismo</p><p>elimina fármacos e outras moléculas exógenas</p><p>pelos processos de biotransformação e excreção.</p><p>A biotransformação consiste no metabolismo do</p><p>fármaco. Esse processo ocorre para tornar molé-</p><p>21</p><p>culas lipofílicas em mais hidrofílicas. Os fármacos</p><p>com maior lipofilicidade apresentam maior dificul-</p><p>dade em serem eliminados do organismo porque,</p><p>apesar de esses fármacos serem filtrados pelo</p><p>glomérulo renal, são facilmente reabsorvidos pela</p><p>circulação sistêmica em função da sua afinidade</p><p>pelas membranas celulares. Para que possam ser</p><p>eliminados, fármacos lipofílicos primeiramente</p><p>são biotransformados em moléculas mais polares.</p><p>Há uma outra via para administração de medicamentos:</p><p>a administração no sistema pulmonar consiste nas vias</p><p>intranasal e de inalação. Essa administração pode ser</p><p>indicada para efeitos locais ou sistêmicos.</p><p>Mas quais as vantagens da administração de medica-</p><p>mentos por esta via?</p><p>Absorção quase instantânea do fármaco, pois o aces-</p><p>so à circulação é rápido, uma vez que é grande a área</p><p>de superfície pulmonar, além disso evita a perda pelo</p><p>metabolismo de primeira passagem hepática.</p><p>As reações de biotransformação são classificadas</p><p>em dois grupos: reações de fase I e reações de fase</p><p>II. As reações de fase I, também chamadas de rea-</p><p>ções não sintéticas ou catabólicas, se constituem</p><p>por oxidação, redução, hidrólise, ciclização ou des-</p><p>ciclização. Nessas reações, grupos hidrofílicos (p.</p><p>REFLITA</p><p>22</p><p>ex., -OH, -NH2, -SH) são introduzidos ou liberados</p><p>na molécula do fármaco, tornando-o mais polar.</p><p>Grande parte das reações de fase I são catalisadas</p><p>pelas enzimas da família citocromo P450 (CYP).</p><p>Quando os produtos das reações de Fase I são</p><p>polares o suficiente, eles podem ser excretados</p><p>facilmente. Contudo, muitos metabólitos de Fase</p><p>I passam por uma reação subsequente.</p><p>As reações de fase II são também chamadas de</p><p>sintéticas, anabólicas ou de conjugação e são</p><p>constituídas por acetilação, metilação e conjuga-</p><p>ções. Nessas reações, os produtos de fase I são</p><p>conjugados a moléculas endógenas, altamente</p><p>hidrofílicas. Normalmente, o metabólito é conju-</p><p>gado a ácido glicurônico, ácido sulfúrico, ácido</p><p>acético ou a um aminoácido como, por exemplo,</p><p>a glicina. Essas reações resultam em moléculas</p><p>altamente polares, normalmente inativas, e que</p><p>são facilmente eliminadas. As reações de biotrans-</p><p>formação ocorrem principalmente no fígado. Com</p><p>menor frequência, essas reações também podem</p><p>ocorrer no trato gastrintestinal (TGI), nos pulmões,</p><p>na pele, nos rins e no cérebro.</p><p>Fármacos absorvidos em órgãos do TGI, como</p><p>estômago e intestino, entram na circulação portal</p><p>antes de alcançar a circulação sistêmica. Tais</p><p>fármacos estão sujeitos à biotransformação por</p><p>23</p><p>enzimas metabolizadoras localizadas na parede</p><p>intestinal e, principalmente, no fígado. Esse processo</p><p>é denominado metabolismo de primeira passagem</p><p>e faz com que a biodisponibilidade oral seja reduzi-</p><p>da, já que a quantidade de fármaco inalterado que</p><p>de fato chega à circulação sistêmica é reduzida.</p><p>Grande parte das interações medicamentosas ocorre</p><p>por alteração do metabolismo dos fármacos. Alguns</p><p>fármacos podem induzir ou inibir o metabolismo de</p><p>outro, alterando sua farmacocinética. Alguns fármacos,</p><p>inclusive, podem aumentar a taxa de síntese ou reduzir</p><p>a taxa de degradação do complexo enzimático P450,</p><p>sendo chamados indutores enzimáticos.</p><p>A indução enzimática pode provocar o aumento do</p><p>metabolismo de outros fármacos, que são biotransfor-</p><p>mados pelo P450. Esses fármacos podem ter sua ação</p><p>limitada, pois acabam sendo eliminados precocemente.</p><p>Para os fármacos que são metabolizados em metabó-</p><p>litos ativos, a indução enzimática pode fazer com suas</p><p>concentrações plasmáticas aumentem rapidamente,</p><p>exacerbando sua toxicidade. Alguns fármacos podem</p><p>ocasionar a inibição enzimática por se ligar ao P450 e</p><p>reduzir a sua atividade. Esse mecanismo faz com que</p><p>fármacos metabolizados por essa enzima permaneçam</p><p>por mais tempo na corrente circulatória, elevando suas</p><p>concentrações plasmáticas e tissulares.</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>24</p><p>A excreção consiste na saída do fármaco do orga-</p><p>nismo. Ela pode ocorrer por diferentes vias, sendo</p><p>a urinária a principal. A excreção pelo sistema renal</p><p>envolve os processos de filtração glomerular, secre-</p><p>ção tubular e reabsorção. Os fármacos hidrofílicos</p><p>são facilmente eliminados por essa via. Eles são</p><p>filtrados pelo glomérulo e permanecem no túbulo</p><p>renal, pois não têm afinidade pelas membranas</p><p>celulares.</p><p>Entretanto, alterações da função renal afetam o</p><p>processo de excreção do fármaco. A insuficiên-</p><p>cia renal, por exemplo, pode limitar a excreção</p><p>de fármacos e de outras substâncias exógenas,</p><p>ocasionando seu acúmulo no organismo.</p><p>Além da excreção renal, a excreção biliar e pulmonar</p><p>são importantes modalidades de saída do fármaco</p><p>do organismo. Suor, leite materno, lágrimas, fezes</p><p>e saliva também representam algumas vias de</p><p>excreção.</p><p>A Figura 2 apresenta as correlações entre absor-</p><p>ção, distribuição, ligação às proteínas plasmáti-</p><p>cas, metabolismo e excreção de um fármaco e</p><p>sua concentração nos locais de ação, bem como</p><p>a distribuição de fármaco livre nos diferentes</p><p>compartimentos.</p><p>25</p><p>Figura 2: Distribuição do fármaco nos diferentes compar-</p><p>timentos do organismo</p><p>Fonte: Brunton, Chabner e Knollmann, 2016.</p><p>26</p><p>O PLANEJAMENTO</p><p>TERAPÊUTICO PARA</p><p>ADESÃO TERAPÊUTICA,</p><p>A FASE AGUDA DOS</p><p>QUADROS; A PREVENÇÃO</p><p>DE RECAÍDAS NAS FASES</p><p>DE CONTINUAÇÃO, E</p><p>AS DECISÕES PARA</p><p>A PREVENÇÃO DE</p><p>RECORRÊNCIAS NAS</p><p>FASES DE MANUTENÇÃO</p><p>DO TRATAMENTO</p><p>MEDICAMENTOSO</p><p>A recuperação do melhor estado de saúde, com</p><p>alívio dos sintomas, e a redução de incapacidades e</p><p>recaídas passam pelo uso racional de medicamen-</p><p>tos associado a outras modalidades terapêuticas.</p><p>Porém, um dos grandes problemas encontrados</p><p>na prática clínica é o uso irregular ou o abandono</p><p>da terapêutica medicamentosa por portadores de</p><p>transtorno mental.</p><p>Existem alguns fatores que predizem a má ade-</p><p>são ao tratamento medicamentoso, dentre eles:</p><p>27</p><p>a dificuldade de acesso ao medicamento, a com-</p><p>plexidade da terapia medicamentosa, a dificuldade</p><p>de suporte familiar, os efeitos colaterais, a crença</p><p>de que a medicação é ineficaz, o entendimento</p><p>de cura frente à remissão da sintomatologia e a</p><p>dificuldade em lembrar de tomar o medicamento.</p><p>Este fenômeno de adesão é um importante desafio</p><p>para todos profissionais de saúde mental, porque</p><p>a não adesão impacta no aumento da frequência</p><p>e da intensidade das crises, o número de hospitali-</p><p>zações ou reinternações e, consequentemente, na</p><p>oneração do sistema de saúde. Outrossim, a não</p><p>adesão se relaciona ao aumento da procura por</p><p>atendimento nos serviços de emergência, ao aumen-</p><p>to das taxas de suicídio e à piora do prognóstico,</p><p>assim como no impacto negativo na qualidade de</p><p>vida dos portadores de transtorno mental.</p><p>A não adesão à terapêutica medicamentosa, se não</p><p>identificada adequadamente pelos profissionais</p><p>de saúde, repercute em ajustes desnecessários,</p><p>como por exemplo a inclusão ou substituição de</p><p>medicamentos e aumento da dose frente em fun-</p><p>ção da possível não efetividade do medicamento</p><p>anteriormente prescrito. A adesão ao tratamento</p><p>medicamentoso por parte dos pacientes com</p><p>indicação para tal em determinado momento não</p><p>garante a adesão posterior, porque o significado</p><p>atribuído pelo indivíduo ao uso do medicamento</p><p>28</p><p>e a motivação para fazê-lo não são permanentes,</p><p>acabam sofrendo influência de sua vivência e de</p><p>suas experiências prévias. Dessa forma, preconiza-se</p><p>a atenção e monitoramento no que diz respeito ao</p><p>uso de medicamentos destes pacientes aderentes</p><p>ao tratamento.</p><p>Os pacientes podem acreditar que a terapia medi-</p><p>camentosa é ineficaz por não observarem melhora</p><p>no seu estado de saúde e, dessa forma, tendem</p><p>a descontinuar a terapia. Por outro lado, quando</p><p>percebem a redução dos sintomas (associado a</p><p>redução das suas limitações e sofrimentos), que</p><p>impacta na qualidade de vida e na sensação de</p><p>bem-estar, são atribuídos aos portadores de trans-</p><p>tornos mentais em uso medicamentoso – essa</p><p>percepção de melhora impacta positivamente na</p><p>continuidade do tratamento. No entanto, existe o</p><p>olhar voltado ao fato da relação positiva da sensação</p><p>de bem-estar e da interrupção do tratamento, uma</p><p>vez que o indivíduo não percebe a necessidade de</p><p>seguir a terapêutica pela ausência dos sintomas</p><p>do transtorno. Acredita estar recuperado e prioriza</p><p>como se sente no seu dia a dia, não pautando sua</p><p>decisão em seguir a terapêutica medicamentosa</p><p>nas possíveis complicações que podem vir a ocor-</p><p>rer em função do abandono ou ao uso irregular do</p><p>medicamento.</p><p>29</p><p>A presença de comorbidade psiquiátrica que ne-</p><p>cessita do uso de mais de um medicamento e os</p><p>regimes complexos de tratamento associam-se à</p><p>baixa adesão à terapia medicamentosa. Para além</p><p>disso, os sintomas da depressão, como a falta</p><p>de energia e iniciativa, dificuldades na tomada de</p><p>decisões, desesperança e ideias de menos valia,</p><p>podem por si só impactar na adesão à terapêutica</p><p>medicamentosa, porque o portador de transtorno</p><p>mental, na medida em que se sente desmotivado</p><p>para viver, apresenta-se mais propenso à não ade-</p><p>são. E, por fim, quando se considera um transtorno</p><p>grave, que impõem limitações à vida dos pacientes,</p><p>a terapia medicamentosa é um recurso altamente</p><p>eficaz na atenuação da susceptibilidade e severi-</p><p>dade do transtorno, o que favorece o uso correto</p><p>dos medicamentos recomendados e prescritos.</p><p>Outros fatores ainda podem ser considerados,</p><p>como barreiras para a adesão ao uso de medica-</p><p>mentos como o longo período de tratamento e o</p><p>uso contínuo das medicações. Contudo, há relatos</p><p>de que essa associação possa ser inversa porque</p><p>os portadores de transtorno mental com maior</p><p>tempo de tratamento podem aderir mais ao uso</p><p>do medicamento, muito em função da tomada de</p><p>consciência do benefício da medicação, especial-</p><p>mente após períodos de não adesão constantes,</p><p>no qual puderam conviver com a carga imposta</p><p>30</p><p>pela piora dos sinais e sintomas do transtorno. É</p><p>válido pontuar que entre as consequências da não</p><p>adesão estão maior risco de recaída, hospitalização</p><p>e suicídio, sendo que o risco de suicídio foi estima-</p><p>do de cinco a sete vezes maior entre os pacientes</p><p>que não aderem à terapia medicamentosa.</p><p>Nesta mesma linha de raciocínio, deve-se falar</p><p>acerca da regularidade da ingesta medicamento-</p><p>sa e da participação da família nesta terapêutica.</p><p>O esquecimento da ingesta do medicamento é</p><p>considerado predição de má adesão. O fato de</p><p>não contar com suporte e auxílio na supervisão</p><p>e administração dos medicamentos prescritos</p><p>também impactam negativamente na adesão,</p><p>principalmente se houver esquema medicamen-</p><p>toso complexo ou então diante da presença de</p><p>dificuldades funcionais expressivas do paciente.</p><p>Além do auxílio e supervisão da administração</p><p>medicamentosa, os familiares são importantes</p><p>para acompanharem o paciente em consultas, ad-</p><p>quirirem os medicamentos e reforçar a motivação</p><p>desta e de outras terapias, bem como conseguem</p><p>constantemente avaliar aptidões e limitações dos</p><p>portadores de transtorno mental para executarem</p><p>sozinhos a administração da medicação. O apoio</p><p>familiar, na forma de incentivo ou através da parti-</p><p>cipação direta dos familiares, tanto nos cuidados</p><p>integrais ao portador de transtorno mental quanto</p><p>31</p><p>na aquisição dos medicamentos, é considerado</p><p>um facilitador na dinâmica complexa do uso dos</p><p>medicamentos prescritos para o tratamento do</p><p>transtorno mental.</p><p>32</p><p>QUESTÕES LEGAIS,</p><p>ÉTICAS E ECONÔMICAS</p><p>DO TRATAMENTO</p><p>MEDICAMENTOSO EM</p><p>SAÚDE MENTAL</p><p>A separação dos processos psíquicos normais</p><p>dos patológicos não pode prescindir dos modelos</p><p>humanísticos para a completa apreensão dos fe-</p><p>nômenos mentais. É necessário integrar diferentes</p><p>referencias teóricos, como o psicológico, o social e</p><p>o biológico. Além disso, o conceito de normalidade</p><p>e de saúde em psicopatologia é muito controverso.</p><p>Diferentemente do que ocorre em outras áreas da</p><p>saúde, não existe uma única teoria ou um único</p><p>agente etiológico que explique o fenômeno dos</p><p>transtornos mentais.</p><p>Não há um único referencial psicopatológico capaz</p><p>de englobar toda complexidade do ser humano.</p><p>Cada modelo apresentado terá suas fortalezas e</p><p>limitações. Diante das situações clínicas, caberá</p><p>ao psicólogo compreender o indivíduo da forma</p><p>mais completa possível e, consequentemente,</p><p>utilizar o referencial mais adequado a cada caso</p><p>e a cada momento.</p><p>33</p><p>Conhecendo os múltiplos conceitos de saúde</p><p>mental, normalidade e psicopatologia, fica claro</p><p>que não é possível realizar um conceito definitivo</p><p>de saúde mental. Qualquer modelo de doença men-</p><p>tal será, inevitavelmente, limitado e incompleto. A</p><p>classificação das doenças mentais foi realizada</p><p>por um conselho de especialistas da associação</p><p>américa de psiquiatria e publicado no Manual</p><p>Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais</p><p>(DSM, do inglês Diagnostic and Statistical Manual</p><p>of Mental Disorders), que atualmente se encontra</p><p>em sua quinta edição (DSM-5), lançada em 2013.</p><p>A classificação internacional das doenças (CID)</p><p>segue modelo semelhante ao DSM.</p><p>O conselho elaborador do DSM optou por utilizar o</p><p>conceito psicopatológico categorial: cada transtorno</p><p>mental é descrito como um conjunto de sinais e</p><p>sintomas descrito ao longo de determinados critérios</p><p>diagnósticos. São utilizados vários conceitos de</p><p>normalidade, havendo predomínio da normalidade</p><p>funcional, ou seja: o transtorno mental ocorre a</p><p>partir do ponto em que os sinais e sintomas apre-</p><p>sentados causam limitações objetivas no trabalho,</p><p>na vida conjugal, no relacionamento familiar, no</p><p>desempenho acadêmico e no convívio social ou</p><p>ao menos grande sofrimento psíquico subjetivo</p><p>(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).</p><p>34</p><p>Os sintomas que levam a esse sofrimento nominado</p><p>“clinicamente significativo” podem ser experiências</p><p>vivenciadas na normalidade (como tristeza, medo</p><p>ou ansiedade), porém em intensidade, frequência</p><p>e duração exacerbados. Também podem ocor-</p><p>rer sintomas que normalmente não ocorrem na</p><p>normalidade, como é o caso das alucinações de</p><p>delírios. Vale ressaltar que qualquer experiência</p><p>que faça parte de um contexto religioso, cultural</p><p>ou político-partidário nunca pode ser considerada</p><p>sintoma ou doença mental.</p><p>Há que se falar que no Brasil, muito embora existam</p><p>programas de distribuição gratuita de medicamen-</p><p>tos para tratamento de enfermidades crônicas, os</p><p>portadores de transtorno mental passam por falhas</p><p>no fornecimento do medicamento por parte dos</p><p>serviços públicos de saúde. Os medicamentos que</p><p>não são fornecidos gratuitamente e que apresentam</p><p>interrupção ou falhas na sua dispensação podem</p><p>fazer com que os usuários tenham dificuldade em</p><p>aderir à terapêutica medicamentosa pela sua inca-</p><p>pacidade de custear a compra dos medicamentos,</p><p>pois, ao considerar uma renda baixa e muitas ve-</p><p>zes inferior a um salário mínimo, a pessoa sequer</p><p>consegue arcar com suas necessidades básicas</p><p>como alimentação, vestuário e moradia.</p><p>Convém ponderar acerca do uso de psicofárma-</p><p>cos na saúde mental, visto que pela sua grande</p><p>35</p><p>popularização, surgem questionamentos em re-</p><p>lação ao seu uso indiscriminado. A temática da</p><p>medicalização da vida cotidiana, como promessa</p><p>de um estado de felicidade e satisfação plenos,</p><p>tendem a servir como instrumento de modelagem</p><p>do comportamento humano para a construção</p><p>ilusória de um sujeito sem conflitos, sem limita-</p><p>ções e sem angústias. Neste sentido, a crítica não</p><p>se refere ao uso do medicamento no tratamento</p><p>em saúde mental, pois seria uma insensatez, ao</p><p>considerar que o avanço dos recursos farmaco-</p><p>lógicos tem permitido a redução do sofrimento</p><p>de pessoas com transtornos mentais. Porém, a</p><p>censura volta-se ao seu uso como terapêutica</p><p>absoluta. A medicalização na saúde mental deve</p><p>ser um instrumento que permita a expressão da</p><p>liberdade, da singularidade e a reinserção social</p><p>do usuário e não a modelagem de seu comporta-</p><p>mento, o aprisionamento e a alienação.</p><p>36</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Os conceitos de saúde mental e doença mental</p><p>são dinâmicos e sofrem influência do momento</p><p>histórico em que estão inseridos. Muitas pessoas,</p><p>quando ouvem falar de saúde mental, relacionam</p><p>com doença mental. Porém, a saúde mental abran-</p><p>ge o bem-estar consigo mesmo e com os outros,</p><p>aceitando as exigências da vida e identificando seus</p><p>limites. Para os profissionais de saúde, conhecer</p><p>esses conceitos é fundamental, pois norteiam a</p><p>sua prática de assistência.</p><p>Para compreender a ação terapêutica dos fármacos</p><p>no organismo humano, é preciso conhecer quanto</p><p>da dose administrada do medicamento consegue</p><p>chegar e por quanto tempo permanece no seu lo-</p><p>cal de ação. Tais informações podem ser obtidas</p><p>através do conhecimento do perfil farmacocinético</p><p>do fármaco, que envolve o processo de absorção,</p><p>distribuição, metabolismo (biotransformação) e</p><p>excreção.</p><p>37</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>& Consultadas</p><p>AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION.</p><p>Manual diagnóstico e estatístico de transtornos</p><p>mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,</p><p>2014.</p><p>BORBA, L. O. et al. Adesão do portador de</p><p>transtorno mental à terapêutica medicamentosa</p><p>no tratamento em saúde mental. Revista da</p><p>Escola de Enfermagem da USP [online]. 2018,</p><p>v. 52. Disponível em: https://www.scielo.br/j/</p><p>reeusp/a/7b7JHCXthM4FkPTBHwTxPLf/?lang=</p><p>pt. Acesso em: 28 de dezembro de 2022.</p><p>BRUNTON, L. L.; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN,</p><p>B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de</p><p>Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH,</p><p>2016. [Minha Biblioteca].</p><p>DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e</p><p>semiologia dos transtornos mentais. 3. ed.</p><p>Porto Alegre: Artmed, 2019. [Minha Biblioteca]</p><p>ELISABETSKY, E. (Org.). Descomplicando a</p><p>psicofarmacologia: psicofármacos de uso</p><p>clínico e recreacional. São Paulo: Blucher, 2021.</p><p>[Minha Biblioteca].</p><p>https://www.scielo.br/j/reeusp/a/7b7JHCXthM4FkPTBHwTxPLf/?lang=pt</p><p>https://www.scielo.br/j/reeusp/a/7b7JHCXthM4FkPTBHwTxPLf/?lang=pt</p><p>https://www.scielo.br/j/reeusp/a/7b7JHCXthM4FkPTBHwTxPLf/?lang=pt</p><p>FERREIRA, R. C. C. Psicopatologias:</p><p>Fundamentos, Transtornos e Consequências da</p><p>Dependência Química. São Paulo: Érica, 2015.</p><p>[Minha Biblioteca].</p><p>GREENBERG, R. P.; DEWAN, M. J. OLIVEIRA,</p><p>I. R. D. Um delicado equilíbrio: a contribuição</p><p>dos fatores psicossociais aos tratamentos</p><p>biológicos dos transtornos mentais. In:</p><p>OLIVEIRA, I. R.; SCHWARTZ, T.; STAHL, S. M.</p><p>Integrando psicoterapia e psicofarmacologia:</p><p>Manual para clínicos. Porto Alegre: Grupo A,</p><p>2015. [Minha Biblioteca].</p><p>GUIMARÃES-FERNANDES, F. et al. Clínica</p><p>psiquiátrica: guia prático. 2. ed. ampl. e atual.</p><p>Santana de Paraíba-SP: Manole, 2021. [Minha</p><p>Biblioteca].</p><p>MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde Mental no SUS:</p><p>As Novas Fronteiras da Reforma Psiquiátrica.</p><p>Relatório de Gestão 2007-2010. Janeiro de 2011.</p><p>Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/</p><p>publicacoes/saude_mental_fronteiras_reforma_</p><p>psiquiatrica.pdf. Acesso em: 28 de dezembro de</p><p>2022.</p><p>SENA, E. P. D. Psicofarmacologia clínica:</p><p>farmacologia básica e uso das principais</p><p>medicações. Rio de Janeiro: MedBook Editora,</p><p>2011. [Minha Biblioteca].</p><p>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_mental_fronteiras_reforma_psiquiatrica.pdf</p><p>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_mental_fronteiras_reforma_psiquiatrica.pdf</p><p>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_mental_fronteiras_reforma_psiquiatrica.pdf</p><p>SCHATZBERG, A; F; DEBATTISTA, C. Manual de</p><p>Psicofarmacologia Clínica. 8. ed. Porto Alegre:</p><p>Artmed, 2017. [Minha Biblioteca].</p><p>Introdução</p><p>Os psicofármacos na assistência em Saúde Mental: a terapia medicamentosa aliada à assistência psicossocial na atenção em Saúde Mental</p><p>Prescrição de medicamentos psicofarmacológicos</p><p>Farmacocinética</p><p>Movimento do fármaco no organismo: administração, absorção, distribuição e excreção das substâncias</p><p>O planejamento terapêutico para adesão terapêutica, a fase aguda dos quadros; a prevenção de recaídas nas fases de continuação, e as decisões para a prevenção de recorrências nas fases de manutenção do tratamento medicamentoso</p><p>Questões legais, éticas e econômicas do tratamento medicamentoso em Saúde Mental</p><p>Considerações finais</p><p>Referências Bibliográficas & Consultadas</p>