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<p>- -1</p><p>Interpretação do Direito</p><p>Tributário</p><p>Raquel Puti de Souza</p><p>Introdução</p><p>Na interpretação do Direito Tributário, ocorre a aplicação dos dispositivos do Código Tributário Nacional,</p><p>focando na importância da norma para o estabelecimento e exercício da competência tributária. Nesse contexto,</p><p>de que forma podemos interpretar o Direito Tributário para que ocorra o estabelecimento da competência</p><p>tributária? De que forma é exercida a competência tributária? Como podemos entender os conceitos tributários?</p><p>Acompanhe os estudos deste tema e obtenha as repostas para essas perguntas.</p><p>Ao final desta aula, você será capaz de:</p><p>• compreender os aspectos gerais da interpretação do Direito Tributário, identificando sua relevância</p><p>para o estabelecimento e exercício da competência tributária.&nbsp;</p><p>Noções gerais sobre a interpretação do Direito</p><p>Tributário</p><p>Os conceitos para os estudos da legislação tributária encontram-se resumidos nos artigos 107, 108, 109, 110,</p><p>111 e 112 do Código Tributário Nacional. Dessa forma, a interpretação desse ramo do Direito consiste em dar</p><p>sentido ao pensamento do legislador no momento em que elaborou a lei.</p><p>•</p><p>- -2</p><p>Figura 1 - Legislação e o Código Tributário Nacional</p><p>Fonte: vasabii, Shutterstock, 2019.</p><p>Assim, deve-se interpretar a legislação buscando a exploração de seu verdadeiro sentido, designando com</p><p>exatidão e significado suficiente para abarcar as hipóteses de sua aplicação pela norma.</p><p>Passemos agora ao estudo dos conceitos e institutos jurídicos relativos ao Direito Tributário.</p><p>Interpretação do Direito Tributário</p><p>Conforme o Código Tributário Nacional, a legislação tributária deve ser interpretada em consonância com suas</p><p>disposições. Além disso, não havendo disposição expressa, a autoridade que aplicará esta legislação deve</p><p>analisar cada caso a partir: a) da analogia, b) dos princípios gerais do Direito Tributário, c) dos princípios gerais</p><p>do Direito Público e d) da equidade. Além disso, a analogia não pode implicar a exigência de tributo não previsto</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>Para interpretar uma norma, deve-se observar os conceitos jurídicos que ela aborda, bem</p><p>como o alcance do seu conteúdo. O jurista deve procurar obter uma linguagem única e</p><p>homogênea, empregada pelo legislador ao mencionar os conceitos no artigo elaborado.</p><p>- -3</p><p>do Direito Público e d) da equidade. Além disso, a analogia não pode implicar a exigência de tributo não previsto</p><p>em lei, assim como a equidade não pode permitir a dispensa do pagamento do tributo (BRASIL,1966, arts. 107 e</p><p>108).</p><p>Figura 2 - A legislação tributária regulamenta a interpretação da cobrança de tributos</p><p>Fonte: Zerbor, Shutterstock, 2019.</p><p>Conforme o CTN, os princípios gerais do Direito Privado podem utilizar-se dos seus conceitos e formas, porém,</p><p>sem definição dos respectivos efeitos tributários. Ademais, a lei tributária não pode alterar a definição, o</p><p>conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas do Direito Privado que sejam utilizados, direta ou</p><p>indiretamente, pela Constituição Federal, constituições dos Estados ou leis orgânicas do DF ou dos Municípios,</p><p>definindo ou limitando competências tributárias (BRASIL, 1966, arts. 109 e 110).</p><p>Ainda de acordo com o CTN, será interpretada literalmente a legislação tributária que dispuser sobre suspensão</p><p>ou exclusão do crédito tributário, outorga de isenção ou dispensa de obrigações tributárias. Além disso, a lei</p><p>tributária, nas definições de infrações ou penalidades, deve ser interpretada de forma favorável ao acusado, em</p><p>caso de dúvida quanto à capitulação legal do fato; à natureza ou circunstâncias materiais do fato, assim como sua</p><p>extensão; à autoria, imputabilidade ou punibilidade; e à natureza da penalidade aplicável ou sua graduação</p><p>(BRASIL, 1966, arts. 111 e 112).</p><p>Lembre-se de que o CTN possui algumas particularidades, porém, é possível interpretá-lo como qualquer outro</p><p>ramo do Direito, aplicando, inclusive, subsidiariamente, norma de Direito Civil, princípios gerais do Direito,</p><p>analogia e os próprios princípios gerais do Direito Tributário. Isto porque os princípios não são normas sobre</p><p>interpretação, mas orientações que o intérprete deve seguir (SABBAG, 2017).</p><p>Destaca-se que, no art. 108, estão as medidas de integração das normas tributárias, criando métodos que o</p><p>aplicador da lei deve seguir. Tais métodos serão utilizados para preencher lacunas que não foram sanadas pelos</p><p>artigos, leis e decretos expressamente regulamentados no ordenamento jurídico.</p><p>- -4</p><p>Figura 3 - Integração das normas tributárias na resolução de lacunas da legislação</p><p>Fonte: Shutterstock, 2019.</p><p>Assim, há lacunas quando uma norma deixa de regular determinada situação, e esta não regulamentação gera</p><p>uma insatisfação ao suposto titular do direito. O “vazio” da lei fere o ordenamento jurídico, devendo ser</p><p>preenchido para que haja a satisfação do sistema jurídico (SABBAG, 2017).</p><p>A interpretação de conceitos, institutos e formas</p><p>para o estabelecimento das competências</p><p>tributárias e o seu exercício</p><p>O aplicador da legislação tributária deve ir além da literalidade, exceto nos casos de compreensão estrita</p><p>(SABBAG, 2017), em que a lei será insuficiente para solucionar o caso concreto, tornando-se indispensável o</p><p>processo de integração.</p><p>Ainda conforme o art. 108 do CTN, a ordem de interpretação a ser seguida refere-se ao fenômeno de integração</p><p>da legislação tributária (SABBAG, 2017), em que, primeiramente, o intérprete deve utilizar a analogia; em</p><p>seguida, se for necessário, os princípios gerais de Direito; e por último a equidade. É importante destacar que o</p><p>processo de integração, mesmo sendo regulamentado em lei, deve ser realizado em face do caso concreto, com</p><p>peculiar observância às características dos tributos.</p><p>Nesse sentido, para Sabbag (2017), a integração está dentro da interpretação. Caso o intérprete não identifique o</p><p>significado de algum comando, por alguma lacuna, fará a devida interpretação pelas formas da integração. Desse</p><p>modo, não havendo possibilidade de interpretar a norma tributária, recorre-se à integração do Direito, ou seja,</p><p>quando a lei for omissa, o intérprete decidirá o caso pelo uso de analogia, costumes e princípios gerais do Direito.</p><p>- -5</p><p>Percebe-se, assim, que a analogia não pode ser utilizada para exigir tributo, pois a instituição e a cobrança do</p><p>tributo ocorrem somente por meio da lei. Dessa maneira, quando surgir conflito entre legalidade e analogia, deve</p><p>prevalecer o primeiro. Vale lembrar de que os princípios gerais de Direito Tributário e de Direito Público não</p><p>possuem hierarquia, pois é a Constituição Federal quem afirma a igualdade e boa-fé, dispensando os preceitos do</p><p>artigo 108 do CTN (SABBAG, 2017).</p><p>Também é possível ao intérprete utilizar um princípio mais específico do Direito Tributário em vez de um</p><p>princípio do Direito Público, pois os princípios do Direito Público são considerados auxiliadores na integração da</p><p>norma tributária. Assim, a equidade aparece como um dos instrumentos de integração (SABBAG, 2017).</p><p>Trata-se, para Sabbag (2017), da mitigação do rigor da lei, seu abrandamento para adequá-la ao caso concreto.</p><p>Dessa forma, a equidade atua corrigindo as injustiças que a aplicação rigorosa e inflexível da lei poderia</p><p>proporcionar sem, contudo, dispensar o pagamento do tributo.</p><p>Importa mencionar ainda que, quanto às modalidades interpretativas, não há uma hierarquização, pois são vias</p><p>complementares, e não taxativas.</p><p>De acordo com o CTN, no seu art. 109, os princípios gerais do Direito Privado serão usados para pesquisas de</p><p>definição de conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não serão utilizados para análise e</p><p>definição dos efeitos tributários (BRASIL, 1966).</p><p>Portanto, com esse artigo a lei visa estabelecer uma hierarquia de métodos para a interpretação da norma.</p><p>Analisando-se o art. 109, juntamente com o art. 110, é possível concluir que se prioriza o método sistemático.</p><p>Porém, analisando apenas o art. 109, isoladamente, subentende-se que deve ser privilegiado o método</p><p>teleológico ou a interpretação econômica do fato gerador</p><p>(SABBAG, 2017).</p><p>Dessa forma, os conceitos de Direito Privado não serão modificados ou utilizados para definir ou limitar</p><p>competências tributárias, assim, a norma tributária deve aplicar os conceitos definidos pelo Direito Privado</p><p>quando se tratar de competência de tributos, não podendo aplicar-lhes entendimento diverso. Significa que se</p><p>privilegia mais a lei como fonte do Direito Tributário do que a jurisprudência (SABBAG, 2017).</p><p>SAIBA MAIS</p><p>No caso de ausência expressa de norma legal, os agentes públicos devem utilizar a analogia;</p><p>em seguida, os princípios de Direito Tributário; na ausência, os princípios gerais de Direito</p><p>Público e, por fim, a equidade. Para ter clareza sobre a correta interpretação do Direito</p><p>Tributário, consulte o Código Tributário Nacional (1966), “Interpretação e Integração da</p><p>Legislação Tributária”.</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>É importante destacar que o parágrafo 1º, do art. 108, do CTN, traduz um conceito que já era</p><p>pacífico na doutrina e sobre o qual, hoje, no Estado Moderno de Direito, não se aceitam mais</p><p>discussões. Trata-se da proibição de exigência de tributos por analogia.</p><p>- -6</p><p>Figura 4 - Análise do Imposto de Renda como exemplo de interpretação do Direito Tributário</p><p>Fonte: Paul Maguire, Shutterstock, 2019.</p><p>Por autonomia do Direito Tributário, entende-se que os conceitos de Direito Privado possuem consequências</p><p>próprias quando aplicados na norma tributária. Acerca da ilicitude da elisão, este método considera tributável o</p><p>fato que não apresente correspondência entre a forma e o conteúdo, considerando-se efeitos econômicos que a</p><p>lei declara como hipótese de incidência.</p><p>A arbitrariedade do juiz consiste em entender o que é ou não é um fato gerador tributável, partindo da análise do</p><p>conteúdo econômico previsto pela norma. Ademais, a ideia de justiça está ligada a métodos que são mecânicos e</p><p>casuais de arrecadação, então, se um fato econômico foi praticado e estava previsto na norma como tributável, a</p><p>quantia devida deverá ser exigida pelo Fisco.</p><p>A cobrança do tributo pode ser classificada, então, como a aplicação do princípio da legalidade, pois a</p><p>administração pública deve ter todos os seus atos pautados pela aplicação da lei (SABBAG, 2017).</p><p>EXEMPLO</p><p>Quando um contribuinte deixa de pagar Imposto de Renda, sua declaração cairá na malha-fina,</p><p>portanto, deverá prestar declarações à Receita Federal do Brasil. Assim, ao julgar esse caso, o</p><p>aplicador da lei – que, no caso, é o fisco, representado pela pessoa do auditor fiscal – se baseará</p><p>nas normas expressas no Código Tributário Nacional para exigir o crédito do respectivo</p><p>contribuinte.</p><p>- -7</p><p>Fechamento</p><p>Neste tema, vimos que o aplicador da lei pode se deparar com um caso prático para o qual não existe dispositivo</p><p>legal, o que resulta em interpretar a legislação tributária e integrar as normas para que possam ser aplicados os</p><p>conceitos de analogia; depois, os princípios de Direito Tributário, seguidos dos princípios gerais de Direito</p><p>Público e a equidade.</p><p>Nesta aula, você teve a oportunidade de:</p><p>• compreender os aspectos gerais da interpretação do Direito Tributário, identificando sua relevância</p><p>para o estabelecimento e exercício da competência tributária.&nbsp;</p><p>Referências</p><p>BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas</p><p>gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966.</p><p>SABBAG, E. de M. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de Direito Tributário</p><p>•</p><p>Introdução</p><p>Noções gerais sobre a interpretação do Direito Tributário</p><p>Legislação e o Código Tributário Nacional</p><p>Interpretação do Direito Tributário</p><p>A legislação tributária regulamenta a interpretação da cobrança de tributos</p><p>Integração das normas tributárias na resolução de lacunas da legislação</p><p>A interpretação de conceitos, institutos e formas para o estabelecimento das competências tributárias e o seu exercício</p><p>Análise do Imposto de Renda como exemplo de interpretação do Direito Tributário</p><p>Fechamento</p><p>Referências</p>

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