Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

<p>ARQUITETURA</p><p>SUSTENTÁVEL</p><p>Jaqueline Ramos Grabasck</p><p>Projetos sustentáveis</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Aplicar estratégias sustentáveis em projetos.</p><p> Reconhecer estratégias sustentáveis em projetos de pequena escala.</p><p> Identificar estratégias sustentáveis em projetos de grande escala.</p><p>Introdução</p><p>Alto consumo de energia e ambientes com baixos índices de conforto</p><p>ambiental são fatores determinantes na desvalorização das edificações</p><p>contemporâneas. Para amenizar esses fatores, durante a execução de</p><p>uma edificação ou, até mesmo, com uma simples reforma, podem ser</p><p>aplicados mecanismos que os minimizem e, ainda, possibilitem classificar</p><p>a edificação como sustentável.</p><p>Neste capítulo, você aprenderá algumas estratégias simples, que</p><p>podem ser aplicadas em edificações para torná-las sustentáveis e, ainda,</p><p>reduzir significativamente o consumo de recursos naturais. Além de</p><p>estratégias com aplicabilidade em projetos de pequena escala, você</p><p>verá, também, estratégias para a elaboração de projetos urbanísticos</p><p>sustentáveis, que incentivam a socialização ambiental.</p><p>Estratégias sustentáveis em projetos</p><p>O conceito de sustentabilidade refere-se ao fato de os seres humanos utiliza-</p><p>rem os recursos naturais no presente sem vir a comprometer as necessidades</p><p>das gerações futuras. As estratégicas para se alcançar o desenvolvimento</p><p>sustentável devem abranger as três dimensões da sustentabilidade, isto é, a</p><p>ambiental, a sociocultural e a econômica.</p><p>Busca-se o equilíbrio entre estas três dimensões (Figura 1), a fim de definir</p><p>as seguintes ações como metas, ambientalmente responsáveis, socialmente</p><p>justas e economicamente viáveis, denominadas triple bottom line (MOTTA;</p><p>AGUILAR, 2009).</p><p>Leitores do material impresso, para visualizar as figuras</p><p>deste capítulo em cores, acessem o link ou o código QR</p><p>a seguir.</p><p>https://qrgo.page.link/g1kbz</p><p>Figura 1. As três dimensões da sustentabilidade.</p><p>Fonte: Adaptada de Motta e Aguilar (2009).</p><p>A construção civil apresenta grande influência no cenário econômico, pois</p><p>corresponde a uma das principais geradoras de empregos. Entretanto, também</p><p>é responsável por ocasionar diversos impactos ambientais, como a extração de</p><p>recursos naturais, o aquecimento global, a contaminação da água, do solo e do ar.</p><p>Projetos sustentáveis2</p><p>Roaf (2014) afirma que as edificações são responsáveis pelo consumo</p><p>de mais da metade da energia global e, também, geram mais da metade das</p><p>emissões causadoras das mudanças climáticas devido a elementos extravagantes</p><p>utilizados em edificações contemporâneas.</p><p>Para minimizar os impactos ambientais, todas as edificações deveriam</p><p>ter como base três princípios: projetar para um clima, projetar para o meio</p><p>social e físico e projetar para o tempo, seja dia ou noite, uma estação ou a</p><p>vida útil da edificação — e o projeto que poderá ser adaptado ao longo dos</p><p>anos (ROAF, 2006).</p><p>É preciso adaptar as edificações para que as mudanças climáticas sejam</p><p>estabilizadas, assim como nos adaptarmos à falta de combustíveis fósseis e</p><p>reduzir a poluição insustentável do meio ambiente, a fim de garantir que o</p><p>hábitat humano seja preservado, pois as edificações estão diretamente ligadas</p><p>aos ambientes locais, regionais e globais, compondo também o nicho ecológico</p><p>(ROAF, 2014).</p><p>Motta e Aguilar (2009) indicam as seguintes principais práticas de sus-</p><p>tentabilidade na construção apresentadas pelo Conselho Brasileiro de Cons-</p><p>trução Sustentável (CBCS) e pela Associação Brasileira dos Escritórios de</p><p>Arquitetura (AsBEA):</p><p> aproveitar as condições naturais locais;</p><p> utilizar minimamente terreno e ainda se integrar ao ambiente natural;</p><p> implantar e analisar entorno;</p><p> não provocar ou reduzir os impactos ocasionados no entorno;</p><p> qualidade ambiental interna e externa;</p><p> fazer a gestão sustentável na implantação da obra;</p><p> adaptar as necessidades dos usuários ao longo de sua vida;</p><p> utilizar matérias-primas que priorizem a ecoeficiência;</p><p> reduzir o consumo energético;</p><p> reduzir o consumo de água;</p><p> reduzir, reutilizar, reciclar e dispor os resíduos sólidos conforme le-</p><p>gislações específicas;</p><p> quando houver a possibilidade e for viável, deve-se introduzir inovações</p><p>tecnológicas;</p><p> conscientizar os envolvidos no processo por meio de educação ambiental.</p><p>O aproveitamento das condições naturais locais está ligado tanto ao en-</p><p>torno imediato, ao privilegiar a paisagem, as vistas e as vegetações, quanto à</p><p>topografia do terreno, que deve ser utilizada em consonância com o projeto.</p><p>3Projetos sustentáveis</p><p>O arquiteto deve incorporar a topografia à edificação, utilizando os recursos</p><p>que ela oferece de forma a satisfazer as necessidades dos usuários e gerar o</p><p>mínimo possível de impactos ambientais.</p><p>Ao propor o mínimo de intervenções possíveis no terreno, estamos garan-</p><p>tindo que o meio ambiente seja afetado o mínimo possível pelas interferências</p><p>ocasionadas pela edificação e preservando a sua configuração natural.</p><p>A Casa Bianchi, do arquiteto Mario Botta, pode ser utilizada como refe-</p><p>rência na representação de uma edificação que ocasionou o mínimo possível</p><p>de intervenções no terreno, preservando a natureza e, também, aproveitando</p><p>as condições naturais no terreno, ao privilegiar a paisagem, as vistas e a</p><p>orientação solar (Figura 2).</p><p>Figura 2. Diagrama indicando a configuração do terreno e as projeções visuais da paisagem.</p><p>Fonte: Ching e Juroszek (2012, p. 322).</p><p>A qualidade ambiental interna configura-se efetiva apenas quando a edifica-</p><p>ção proporciona conforto ambiental aos seus usuários. Planeja-se a edificação</p><p>visando o conforto ambiental, térmico, visual, acústico e salubridade mediante</p><p>o uso de condicionamento passivo para se obter eficiência energética, com</p><p>baixo consumo de energia (MOTTA; AGUILAR, 2009). O conforto ambiental</p><p>em uma edificação está diretamente ligado à escolha adequada dos materiais</p><p>a serem empregados e às técnicas e aos métodos construtivos que serão uti-</p><p>lizados na sua execução.</p><p>Já a qualidade ambiental externa está relacionada aos impactos que a edi-</p><p>ficação pode ocasionar em seu entorno, tanto durante a sua execução quanto</p><p>durante o seu uso. Durante a execução, os impactos podem ser minimizados</p><p>com a implantação de um sistema de gestão eficiente e adequado às legislações</p><p>Projetos sustentáveis4</p><p>vigentes. Durante o uso, a edificação não deve gerar desconforto visual aos</p><p>observadores e, também, não deve provocar interferência acústica no entorno</p><p>imediato devido a isolamento inadequado.</p><p>Para que uma edificação se mantenha efetiva ao longo de toda a sua vida</p><p>útil, faz-se indispensável a elaboração de um projeto que se adéque aos usuários</p><p>no decorrer do tempo, seja por meio de pequenas intervenções ou por uma</p><p>análise prévia do que cada usuário pode vir a necessitar no decorrer dos anos.</p><p>Ao utilizar materiais, técnicas construtivas e realizar a gestão da obra,</p><p>pode-se garantir um ótimo desempenho da edificação, a fim de obter eficiência</p><p>construtiva e durabilidade da edificação, desde a etapa de extração, produção</p><p>e reciclagem e utilizando práticas sustentáveis (MOTTA; AGUILAR, 2009).</p><p>A redução do consumo energético pode ser obtida por meio técnicas cons-</p><p>trutivas que amenizem as variações climáticas, proporcionando conforto</p><p>ambiental ao utilizar ventilação cruzada, paredes duplas, vidros duplos e</p><p>materiais com densidade apropriada para a finalidade à qual será aplicado.</p><p>A iluminação natural é uma importante aliada na redução do consumo energé-</p><p>tico: adequar as aberturas conforme a função do ambiente possibilita trabalhar</p><p>com índices luminosos necessários sem que seja preciso utilizar iluminação</p><p>artificial durante o dia.</p><p>Para que haja redução no consumo de água, é possível reaproveitar as</p><p>águas da chuva, implantando sistemas de coleta e filtragem que possibilitem</p><p>a sua utilização para regar os jardins ou para descarga dos vasos sanitários.</p><p>Para entender o processo no qual a água da chuva deve ser submetida</p><p>para vir a ser</p><p>utilizada em uma edificação, acesse o link a seguir.</p><p>https://qrgo.page.link/a77pC</p><p>A redução no consumo se aplica também na minimização dos resíduos</p><p>gerados, que podem ser reaproveitados na própria obra ou enviados para</p><p>reciclagem (Figura 3). Deve-se atentar sempre para que as legislações sejam</p><p>atendidas para que tanto a reciclagem quanto o descarte sejam realizados da</p><p>maneira adequada, produzindo o menor impacto ambiental possível.</p><p>5Projetos sustentáveis</p><p>Figura 3. Usina de reciclagem.</p><p>Fonte: PRS (2014, documento on-line).</p><p>Para que seja implantada a reutilização dos resíduos na própria obra, os</p><p>profissionais que atuam em campo devem estar conscientes dos problemas</p><p>acarretados pela construção civil, mas essa conscientização só ocorre por meio</p><p>da educação ambiental. Ao conscientizar os envolvidos no processo, é possível</p><p>progredir com maior efetividade na implantação de técnicas sustentáveis nas</p><p>edificações.</p><p>As técnicas sustentáveis podem ser elementos simples, que auxiliem no</p><p>conforto ambiental, ou elementos inovadores, que surgem diariamente no</p><p>mercado. Entretanto, inovações tecnológicas nem sempre são viáveis em todas</p><p>as obras devido aos altos custos de mercado.</p><p>Mediante estudos realizados, Motta e Aguilar (2009) concluíram que a</p><p>sustentabilidade deve estar presente em todas as fases de uma construção,</p><p>sendo elas: idealização, concepção, projeto, construção, uso, manutenção e</p><p>final da vida útil.</p><p>Na fase de idealização do projeto, devem ser apresentadas as técnicas e os</p><p>elementos que podem suprir as necessidades dos usuários, sem acarretar impactos</p><p>ambientais. Esses elementos podem ser facilmente aplicados no planejamento</p><p>e na concepção do projeto, sem gerar grandes investimentos financeiros, mas,</p><p>ao final, proporcionando alterações efetivas que acarretam a minimização dos</p><p>impactos ambientais, o conforto ambiental e o bem-estar dos usuários.</p><p>Projetos sustentáveis6</p><p>Ao término da vida útil da edificação, os resíduos de demolição podem</p><p>ser reaproveitados, a fim de serem preservados para reuso e reciclagem</p><p>(MOTTA; AGUILAR, 2009). A reutilização e a reciclagem dos resíduos de</p><p>construção e demolição (RCD) são fatores fundamentais para minimizar</p><p>o consumo de matérias-primas e, consequentemente, reduzir os impactos</p><p>ambientais ocasionados nos processos de extração e produção dos materiais</p><p>de construção.</p><p>Ecoeficiência é definida como a capacidade de gerar bens e serviços melhores, que</p><p>satisfaçam as necessidades humanas, mas que gerem um menor impacto ambiental.</p><p>Quatro eventos apresentaram-se marcantes em relação às condições climáticas</p><p>no planeta. O primeiro evento ocorreu em 2003, quando uma forte onda de calor</p><p>atingiu a Europa e matou mais de 35 mil pessoas, principalmente idosos que residiam</p><p>em edificações vernaculares tradicionais, que não eram adaptadas para situações</p><p>climáticas extremas. O segundo evento ocorreu também em 2003, quando um</p><p>apagão atingiu 50 milhões de pessoas na Costa Leste dos Estados Unidos devido</p><p>a uma forte onda de calor, que resultou na evacuação dos prédios que contavam</p><p>apenas com janelas fixas, levando ao esgotamento do ar para respiração em menos</p><p>de uma hora e elevando as temperaturas internas em poucos minutos. O terceiro</p><p>evento ocorreu em 2005, quando o furacão Katrina inundou Nova Orleans e mostrou</p><p>que até mesmo uma das nações mais ricas do mundo apresenta problemas em</p><p>seu sistema de apoio social. O quarto evento é sentido atualmente por diversas</p><p>nações: o aumento inexorável dos preços dos combustíveis, como petróleo e gás</p><p>natural, devido à eminente falta de abastecimento que deverá ocorrer no decorrer</p><p>dos anos (ROAF, 2014).</p><p>7Projetos sustentáveis</p><p>Estratégias sustentáveis em projetos</p><p>de pequena escala</p><p>Antes de iniciar um projeto, o arquiteto deve realizar um estudo do clima</p><p>e do local, que resultará em premissas para a elaboração do programa de</p><p>necessidades. Com essa análise climática e o programa de necessidades,</p><p>é possível elaborar um projeto que atenda as necessidades de conforto do</p><p>usuário e, ainda, proporcione efi ciência energética (LAMBERTS; DUTRA;</p><p>PEREIRA, 2014).</p><p>No programa de necessidades, são estabelecidas as aspirações do proje-</p><p>tista, o plano de ação resultante e a programação do projeto. As edificações</p><p>devem ser mais eficazes que antigamente para se adaptarem ao mundo, que</p><p>se encontra em constante mudança (ROAF, 2014).</p><p>O ciclo de vida de uma edificação é definido pelas fases de idealização,</p><p>concepção, projeto, construção, uso, manutenção e final de sua vida útil. Motta</p><p>e Aguilar (2009) afirmam que é nas fases de uso e manutenção que ocorrem os</p><p>maiores impactos ambientais, mas, ao inserir estratégias de sustentabilidade</p><p>nas fases de idealização, concepção e projeto, a edificação irá apresentar</p><p>melhor desempenho. Esse requisito é exigido pelas legislações vigentes e</p><p>certificações verdes.</p><p>Na fase de idealização, o profissional realiza o levantamento do terreno e a</p><p>entrevista com os clientes, analisa o entorno imediato e os acessos à edificação</p><p>para vir a criar a conceituação do projeto e o seu programa de necessidades.</p><p>A fase de concepção abrange as informações levantadas na idealização</p><p>do projeto e a estruturação da proposta inicial, apresentando ao cliente as</p><p>perspectivas, os estudos de volumetria, os estudos de planta baixa e as espe-</p><p>cificações para materialização do projeto.</p><p>O projeto arquitetônico apresenta todas as informações necessárias para</p><p>a construção da edificação, como dimensões, especificações de materiais e</p><p>localização para implantação no terreno. O projeto é composto por planta de</p><p>localização, planta de situação, implantação, planta de cobertura, planta baixa</p><p>(de todos os pavimentos a serem executados), cortes, fachadas e detalhamentos.</p><p>A Figura 4 traz como exemplificação as plantas baixas, um corte e as fachadas</p><p>da Casa Bianchi, do arquiteto Mario Botta.</p><p>Projetos sustentáveis8</p><p>Figura 4. Projeto arquitetônico da Casa Bianchi, do arquiteto Mario Botta.</p><p>Fonte: Archinect (2016, documento on-line).</p><p>A fase de uso compreende a utilização da edificação pelos usuários. Nesta</p><p>fase, são instalados ou substituídos alguns equipamentos, como lâmpadas</p><p>e eletrodomésticos, devendo ser priorizada a escolha de equipamentos que</p><p>apresentem eficiência energética e baixo consumo de energia.</p><p>Na fase de manutenção, são realizados os reparados programados e as</p><p>substituições necessárias. É muito importante que, nesta etapa, todos os re-</p><p>síduos gerados sejam descartados corretamente por empresas licenciadas e</p><p>conforme as legislações vigentes.</p><p>No final da vida útil, a edificação não atende mais aos propósitos para os</p><p>quais foi construída e não pode ser alterada por uma simples reforma, devendo</p><p>ser desconstruída ou demolida. Os resíduos gerados devem ser descartados</p><p>corretamente, podendo ser enviados para centrais de reciclagem de RCD ou,</p><p>caso não possam ser reutilizados, enviados para descarte adequado.</p><p>9Projetos sustentáveis</p><p>Roaf (2014) afirma que o segredo para se obter uma residência sustentável</p><p>é garantir que ela apresente diversas possibilidades de adaptação nos dois</p><p>extremos do espectro climático. Uma residência sustentável deve ser adaptada</p><p>às condições climáticas do local e ao terreno no qual se encontra. A aplicação</p><p>de defesas térmicas possibilita a redução no uso de combustíveis fósseis e</p><p>a minimização na instalação de sistemas de energia renovável, garantindo,</p><p>assim, que a edificação seja autossuficiente.</p><p>A forma da edificação apresenta grande influência nas trocas de calor</p><p>que serão ocasionadas entre o meio interno e o externo. Quanto maior for o</p><p>volume de uma edificação, maior será a superfície existente nessa edificação</p><p>para ganhar ou perder calor. A Figura 5 traz a exemplificação de diferentes</p><p>formas de plantas baixas que apresentam a mesma área, mas com superfícies</p><p>diferentes, e as razões em função do perímetro dessas edificações (ROAF,</p><p>2006; 2014).</p><p>Figura 5. Relação entre diferentes volumes</p><p>com a mesma área de planta</p><p>baixa.</p><p>Fonte: Krishan (1995 apud ROAF, 2014, p. 9).</p><p>Para que se tenha conforto em uma edificação utilizando ventilação natural,</p><p>sem sistemas mecânicos de aquecimento e refrigeração e com baixo consumo</p><p>de energia, faz-se necessário compreender e projetar utilizando a relação</p><p>tríplice entre clima, pessoas e edificações (Figura 6).</p><p>Projetos sustentáveis10</p><p>Figura 6. Relação tríplice entre clima, pessoas e edificação.</p><p>Fonte: Roaf (2014, p. 5).</p><p>Em regiões temperadas ou frias, podem ser utilizadas paredes duplas, com</p><p>uma camada de ar interna, o que garante que a edificação não sofrerá tanto</p><p>com as mudanças bruscas de temperaturas, pois há uma camada interna para</p><p>dissipar boa parte do calor ou do frio que se encontra no exterior. Garante-se,</p><p>assim, que as mudanças bruscas de temperaturas não interfiram instantanea-</p><p>mente no interior da edificação.</p><p>Em climas quentes, as edificações devem atuar como dissipadoras de calor,</p><p>devendo apresentar uma razão elevada entre área de superfície e volume. Já as</p><p>paredes que recebem radiação solar direta devem ser protegidas por varandas,</p><p>sacadas e beirais amplos. As varandas e os vestíbulos também proporcionam</p><p>amortecimento térmico entre os espaços internos e externos da edificação,</p><p>e ventilação cruzada e pátios internos também podem ser utilizados para</p><p>dissipar o calor da edificação (ROAF, 2014).</p><p>A ventilação cruzada é uma técnica simples e eficiente para ventilar um</p><p>ambiente; mediante a instalação de aberturas em paredes diferentes e a apli-</p><p>cação de informações obtidas com a análise climática, pode-se criar ambien-</p><p>tes confortáveis e que não necessitam de sistemas mecânicos de ventilação</p><p>(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014). A Figura 7 apresenta exemplos</p><p>de ventilação cruzada, conforme a disposição das aberturas na edificação.</p><p>11Projetos sustentáveis</p><p>Figura 7. Exemplos de ventilação cruzada conforme a</p><p>disposição das aberturas.</p><p>Fonte: Lamberts, Dutra e Pereira (2014, p. 185).</p><p>As janelas, além de proporcionarem iluminação natural e, consequente-</p><p>mente, reduzirem os gastos com energia elétrica, podem atuar como isolantes</p><p>térmicos ao utilizar vidros duplos ou triplos e com acabamentos com baixa</p><p>emissividade ou que apresentem isolamento térmico (ROAF, 2014).</p><p>Em edificações residenciais, deve-se priorizar elementos que utilizem</p><p>o mínimo possível de energia durante o seu funcionamento, o que pode ser</p><p>obtido com técnicas de conservação de energia e princípios de um projeto solar</p><p>passivo, como a utilização de sistemas fotovoltaicos e de aquecimento solar</p><p>de água, que garantem a geração de energia na própria edificação; em alguns</p><p>casos, pode-se utilizar também energia eólica ou hidráulica (ROAF, 2014).</p><p>Sistemas fotovoltaicos e sistemas solares de aquecimento de água reduzem</p><p>o impacto ambiental gerado por uma edificação. Em uma residência, essa</p><p>redução pode chegar a 40% com relação à energia incorporada e à energia</p><p>de uso da residência, enquanto as emissões de CO2 podem apresentar uma</p><p>redução de 35% (ROAF, 2014).</p><p>A forma de refrigeração e o aquecimento de uma residência devem ser</p><p>definidos antes da sua volumetria, pois é preciso estabelecer como esses</p><p>mecanismos serão abastecidos, se haverá a possibilidade de utilizar energia</p><p>obtida gratuitamente do interior da residência ou do seu entorno.</p><p>A escolha dos materiais também tem grande influência na carga térmica de</p><p>uma edificação. Materiais isolantes com diferentes densidades, por exemplo,</p><p>tendem a apresentar resultados diversos, contribuindo significativamente para</p><p>o conforto térmico da edificação (ROAF, 2014).</p><p>Os materiais de construção devem ser obtidos o mais próximo da obra</p><p>possível, ou seja, deve-se privilegiar o uso de materiais locais e que apresentem</p><p>Projetos sustentáveis12</p><p>o mínimo de processamento possível, assim como não apresentem em sua</p><p>formulação toxinas devido a tratamentos químicos (ROAF, 2014).</p><p>Ao obter os materiais próximos à obra, haverá menores índices de emissões</p><p>de poluentes em função do percurso realizado para transportar o material.</p><p>A durabilidade do material deve ser considerada, pois está diretamente</p><p>ligada à vida útil da edificação. Ao criar edificações flexíveis, o profissional</p><p>garante que a vida útil dessa edificação será estendida, ao ser facilmente</p><p>adaptada para outras finalidades aquém da original. Não se pode esquecer,</p><p>também, que a facilidade na reciclagem deve ser considerada no momento de</p><p>sua escolha (ROAF, 2014).</p><p>Um estudo de ventilação adequado é essencial para controlar o ar existente</p><p>em uma edificação e substituir por ar fresco. Os quesitos para ventilação podem</p><p>ser supridos pelo uso de janelas de abrir ou com sistemas mais sofisticados,</p><p>como os sistemas passivos, que são representados pelo efeito chaminé, ou os</p><p>sistemas ativos, que abrangem a ventilação mecânica. Os sistemas ativos só</p><p>serão efetivos caso a edificação apresente um sistema de vedação eficiente;</p><p>caso contrário, caracteriza-se como desperdício de investimento (ROAF, 2014).</p><p>Roaf (2014) sinaliza a importância do ar fresco em uma edificação, que</p><p>considera essencial para: remover a umidade ocasionada pela respiração, la-</p><p>vagem, cozimento e secagem; diluir e remover fumaça, vapores de cozimento,</p><p>odores e poluentes; e fornecer ar para combustão em dispositivos que não</p><p>apresentem uma fonte própria de ar fresco e respirar.</p><p>Na arquitetura, a eficiência energética é um atributo inerente à edificação que propor-</p><p>ciona conforto térmico, visual e acústico, utilizando um baixo consumo de energia.</p><p>Estratégias sustentáveis em projetos</p><p>de grande escala</p><p>Sustentabilidade é um parâmetro evolutivo que se transforma conforme o</p><p>surgimento de novas necessidades e demandas, sejam elas, humanas, espaciais</p><p>ou ambientais. Consequentemente, urbanismo sustentável é um conceito que se</p><p>encontra em constante adequação às necessidades humanas, o que resulta de</p><p>13Projetos sustentáveis</p><p>pesquisas e levantamentos entre as interações dos fenômenos socioculturais,</p><p>econômicos, ambientais e tecnológicos (SILVA; ROMERO, 2010).</p><p>Romero (2007) define cidade sustentável como um assentamento humano</p><p>composto por uma sociedade que tem consciência do seu papel como agente</p><p>de transformação do local, que apresenta uma relação que se dá pela ação</p><p>sinérgica que abrange a prudência ecológica, a eficiência energética e a equi-</p><p>dade socioespacial (Figura 8).</p><p>Figura 8. Sociedade atuando como agente transformador em prol</p><p>da sustentabilidade.</p><p>Fonte: DMYTRO ZINKEVYCH/Shutterstock.com.</p><p>A expansão urbana tende a ocorrer de maneira dispersa, acarretando</p><p>baixa densidade populacional e espalhamento do tecido urbano, que geram</p><p>uma grande estrutura viária com distanciamento entre vias principais e</p><p>edifícios (SILVA; ROMERO, 2010). Esses fatores resultam em cidades com</p><p>fluxo intenso de veículos e trajetos que causam desconforto e insegurança</p><p>aos pedestres.</p><p>Nesse contexto, a rua perde a sua função de espaço de convivência, de</p><p>sociabilidade urbana, e passa a exercer apenas o seu aspecto funcional, criando</p><p>áreas setorizadas e voltando as atividades comerciais para o interior das edifi-</p><p>cações (SILVA; ROMERO, 2010). Essas premissas corrompem a ideia de cidade</p><p>sustentável e a tornam cada vez mais dependente dos recursos mecânicos,</p><p>que são grandes poluidores e causadores de diversos impactos ambientais.</p><p>Em contraponto, como agentes definidores do espaço, os arquitetos e</p><p>urbanistas têm por função criar projetos que incentivem a socialização e</p><p>Projetos sustentáveis14</p><p>apropriação do espaço público, criando áreas mais seguras para a transição</p><p>dos pedestres e mais convidativas para a permanência diária.</p><p>O lugar nasce da integração das forças espaciais, sejam elas naturais ou</p><p>artificiais, com o uso e a apropriação do local pelo ser humano, gerando</p><p>socialização ambiental. A produção da paisagem urbana se dá pela cultura</p><p>ambiental, que inclui a diversidade morfológica edificada com os elementos</p><p>que compõem o espaço público (SILVA; ROMERO, 2010).</p><p>Romero (2007) indica quatro elementos</p><p>essenciais que devem ser compre-</p><p>endidos para que sejam definidos parâmetros para a realização de projetos de</p><p>cidades sustentáveis: enlace, inclusão, previsão e qualidade.</p><p>O enlace compreende a integração das esferas econômica, social e cultural,</p><p>que indica a abordagem de forma integrada do desenvolvimento econômico</p><p>com a habitação acessível, gerando segurança e mobilidade aos usuários, mas</p><p>sem comprometer o meio ambiente (ROMERO, 2007).</p><p>A inclusão visa identificar e alcançar valores e objetivos comuns, con-</p><p>siderando todos os interessados, sem gerar restrições e desigualdades (RO-</p><p>MERO, 2007).</p><p>A previsão busca a otimização de investimentos, a fim de atingir os obje-</p><p>tivos a longo prazo, de maneira fundamentada (ROMERO, 2007).</p><p>A qualidade, finalmente, tem como objetivo manter a diversidade por</p><p>meio de elementos que assegurem a qualidade dos espaços, acarretando a</p><p>qualidade global da vida urbana, e não focando na quantidade de espaços</p><p>gerados (ROMERO, 2007).</p><p>Com esses parâmetros, Romero (2007) propõe a percepção do espaço</p><p>urbano como um todo, mas também com suas particularidades, indicando que</p><p>o espaço deve ser compreendido nas três grandes frentes do urbano, compostas</p><p>pela edificação, pelas redes e pela massa.</p><p>A edificação é definida como a superfície de fronteira, que, formada pelos</p><p>planos verticais, delimita o espaço externo e o espaço interno, assim como</p><p>o público e o privado. Já as redes são definidas como os elementos de base,</p><p>que compreendem os fluxos e formam os planos horizontais, ou seja, as áreas</p><p>de circulações e os caminhos a serem percorridos. A massa compreende o</p><p>entorno, representado pelo conjunto urbano, que abrange a vegetação, a água,</p><p>a construção e o solo.</p><p>A edificação deve atuar como elemento integrador do espaço e propor-</p><p>cionar conforto para os que a circundam. Edifícios com o topo escalonado</p><p>permitem que os raios solares cheguem ao solo durante períodos maiores de</p><p>tempo (Figura 9), enquanto áreas com tratamento paisagístico incentivam a</p><p>socialização nesses locais.</p><p>15Projetos sustentáveis</p><p>Figura 9. Edifício com topo escalonado amplia incidência</p><p>solar no solo.</p><p>Fonte: Hassegawa (2016, documento on-line).</p><p>Para que haja urbanismo sustentável, faz-se necessária a diversidade de</p><p>usos e funções dispostos em um tecido denso e compacto, que se relacione</p><p>com as condicionantes geográficas e ambientais, abrangendo as esferas local,</p><p>regional e nacional (SILVA; ROMERO, 2010).</p><p>A descentralização do comércio e o incentivo ao comércio local estimulam</p><p>os usuários a circular a pé ou de bicicleta pelos bairros, gerando socialização</p><p>entre a vizinhança e tornando as áreas residenciais mais seguras.</p><p>A cidade sustentável privilegia a equidade e a integração social, garantindo</p><p>que todos os usuários possuam acessibilidade igualitária e imparcial, contando</p><p>com acesso às atividades, otimização do custo-benefício e da manutenção do</p><p>projeto pela própria sociedade, assim como distribuindo os custos e benefícios</p><p>gerados pelo espaço (SILVA; ROMERO, 2010).</p><p>A sustentabilidade deve ser aplicada desde a idealização das edificações</p><p>até a configuração do espaço urbano, atendendo as necessidades do usuário</p><p>no ambiente privado e da sociedade no ambiente conjunto.</p><p>Apenas com a implementação de técnicas sustentáveis será possível que o</p><p>ser humano minimize as interferências ocasionadas pelos impactos ambientais,</p><p>seguindo na busca pelo ambiente sustentável e possibilitando que as futuras</p><p>gerações possam vivenciar as belezas naturais existentes atualmente.</p><p>Projetos sustentáveis16</p><p>Acessando o link a seguir, você encontra materiais inovadores que são eficientes</p><p>energeticamente. Não deixe de conferir estas novidades no setor da construção civil.</p><p>https://qrgo.page.link/jnDb4</p><p>ARCHINECT. Bianchi house at Riva San VItale research project. Archinect Discussion</p><p>Forum, 2016. Disponível em: https://archinect.com/forum/thread/149975507/bianchi-</p><p>-house-at-riva-san-vitale-research-project. Acesso em: 04 ago. 2019.</p><p>CHING, F. D. K.; JUROSZEK, S. P. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,</p><p>2012.</p><p>HASSEGAWA, B. Como projetar BIG: 21 projetos, 21 lições de arquitetura. Como Projetar,</p><p>2016. Disponível em: http://comoprojetar.com.br/como-projetar-big/. Acesso em: 04</p><p>ago. 2019.</p><p>INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. Cuidados no reaproveitamento da água da chuva. Inovação</p><p>tecnológica – Tudo o que acontece na fronteira do conhecimento. 25 fev. 2015. Dispo-</p><p>nível em: https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=coleta-</p><p>-uso-agua-chuva#.XUdQWuhKhPY. Acesso em: 04 ago. 2019.</p><p>LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência energética na arquitetura. 3. ed.</p><p>Florianópolis: ELETROBRAS/PROCEL, 2014. Disponível em: http://www.labeee.ufsc.</p><p>br/sites/default/files/apostilas/eficiencia_energetica_na_arquitetura.pdf. Acesso em:</p><p>04 ago. 2019.</p><p>MOTTA, S. R. F.; AGUILAR, M. T. P. Sustentabilidade e processos de projetos de edificações.</p><p>Gestão & Tecnologia de Projetos, v. 4, n. 1, 2009. Disponível em: http://www.periodicos.</p><p>usp.br/gestaodeprojetos/article/view/50953/55034. Acesso em: 04 ago. 2019.</p><p>PRS. Reciclagem de resíduos sólidos na construção civil. Portal Resíduos Sólidos, 2014.</p><p>Disponível em: https://portalresiduossolidos.com/reciclagem-de-residuos-solidos-da-</p><p>-construcao-civil/. Acesso em: 04 ago. 2019.</p><p>ROAF, S. Ecohouse: a casa ambientalmente sustentável. 2. ed. Bookman: Porto Alegre,</p><p>2006.</p><p>ROAF, S. Ecohouse: a casa ambientalmente sustentável. 4. ed. Bookman: Porto Alegre,</p><p>2014.</p><p>17Projetos sustentáveis</p><p>ROMERO, M. A. B. Frentes do urbano para a construção de indicadores de susten-</p><p>tabilidade intra urbana. Paranoá: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, ano 6, n. 4,</p><p>p. 47–62, 2007. Disponível em: http://periodicos.unb.br/index.php/paranoa/article/</p><p>view/10522/9264. Acesso em: 04 ago. 2019.</p><p>SILVA, G.; ROMERO, M. A. B. Novos paradigmas do urbanismo sustentável no Brasil: a</p><p>revisão de conceitos urbanos para o século XXI. In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO</p><p>PARA O PLANEJAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO, SUSTENTÁVEL - PLURIS</p><p>2010, 4., Faro, Portugal, 2010. Disponível em: http://pluris2010.civil.uminho.pt/Actas/</p><p>PDF/Paper216.pdf. Acesso em: 04 ago. 2019.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>CHING, F. D. K.; ECKLER, J. F. Introdução à arquitetura. Bookman: Porto Alegre, 2014.</p><p>LEITE, C.; AWAD, J. C. M. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento</p><p>sustentável em um planeta urbano. Bookman: Porto Alegre, 2012.</p><p>Projetos sustentáveis18</p>

Mais conteúdos dessa disciplina